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UNIVERSIDADE ROVUMA

FACULDADE DE CIÊNCIAS NATURAIS , MATEMÁTICA E ESTATISTICA


CURSO DE FÍSICA, 3 ANO-2022

Texto de apoio sobre o corpo dos números reais

Definição axiomática do conjunto de números reais como corpo ordenado e completo.

A teoria axiomática visa definir o conjunto de números reais considerando um certo número
de propriedades tomadas como axiomas.

Os axiomas dividem-se em três grupos: axiomas de corpo, axiomas de ordem e axiomas de


extremo superior.

1. Axiomas de corpo

O conjunto dos números reais IRestá munido de duas operações, adição e multiplicação,
cujas propriedades vão ser tomadas como axiomas:

a) Axiomas de adição

A1. A adição é uma lei de composição interna; isto é, x, y  IR, z  IR : x  y  z ;


A2. A adição é associativa; isto é, x, y, z  IR, x  ( y  z)  (x  y)  z  y  (x  z) ;
A3. A adição é comutativa; isto é, x, y  IR, x  y  y  x ;

A4. Existe um elemento neutro para a adição em IR, o número zero 0 ; isto é,
0  IR : x, IR, x  0  0  x  x ;
A5. Todo número real admite oposto real para a adição; x  IR, x' IR : x  x'  x' x  0 .
b) Axiomas de multiplicação

A6. A multiplicação é uma lei de composição interna; isto é, x, y  IR, z  IR : x.y  z ;
A7. A multiplicação é associativa; isto é, x, y, z  IR, x.( y.z)  (x.y).z  y.(x.z) ;
A8. A multiplicação é comutativa; isto é, x, y  IR, x.y  y.x ;
A9. Existe um elemento neutro para a multiplicação em IR, o número um 1 ; isto é,
1 IR : x, IR, x 1  1 x  x ;
A10. Todo número real diferente de zero admite oposto real para a multiplicação;
x  IR \ 0, x' IR : x  x'  x'x  1.
A11. A multiplicação é distributiva em relação a adição; isto é,
O docente: Nelson Bonifácio Somar 1
x, y, z  IR, x  ( y  z)  x  y  x  z ;
Observação: é de notar que a multiplicação é distributiva à direita e à esquerda o que não
acontece com a divisão que é apenas distributiva à esquerda e não à direita, como explica o
exemplo a seguir:

Considerando a operação 2  4  6, tem-se:

O docente: Nelson Bonifácio Somar 2


2  4  6  2  4  2  6 4  6 2  4  2  6  2
1º caso) 2 10  8  12 2º caso) 10 2  8 12
20  20 20  20

No 1º caso define-se a distributividade à direita pois o factor 2 distribui-se para elementos à


sua direita e no 2º caso define-se a distributividade à esquerda pois o factor 2 distribui-se
para elementos à sua esquerda. Contrariamente a divisão,

2   4  6 
2 2

4 6 4  6  2  4  6
2 10 2 2

1º caso) 10 12 2º caso) 10  2  2  3
1 5 55

5 6
0,2  0,83333...

No 1º caso não se conserva a igualdade mas no 2º caso, conserva-se a igualdade nos dois
membros. Assim, conclui-se que a divisão é distributiva à esquerda e não à direita em
relação à adição.

Estes axiomas conferem a IR,, a estrutura de corpo.

2. Axiomas de ordem

Admite-se que existe um conjunto IR   IR (os números reais positivos) que verifica os
seguintes axiomas:

A12. Se x e y pertencem a IR  , o mesmo acontece com a x  y e x  y ; isto é,


x, y  IR   x  y  IR   x  y  IR  ;
A13. Zero não pertence a IR  e dado um número real diferente de zero ou esse numero ou
seu simétrico pertencem a IR  ; isto é, x  IR \ 0, x IR   x  IR 
Estes axiomas conferem a IR a estrutura de corpo ordenado.

Os símbolos , ,  e  definem-se do seguinte modo:

x  y significa y  x  IR 

y  x significa x  y

x  y significa x  y  x  y

x  y significa y  x

O docente: Nelson Bonifácio Somar 3


Estes axiomas ajudam a demonstrar todas as regras de cálculo envolvendo desigualdades.

Exemplo:

1) a, b, c  IR, a  b  b  c  a  c (propriedade transitiva)

Por definição, a  b  b  c  b  a  IR   c  b  IR  e por A12.


b  a  IR   c  b  IR   b  a  c  b  IR  , por A5, A3 e A4.

b  a  c  b  IR   c  a  IR   a  c

Logo se a  b  b  c  a  c, a, b, c  IR.

2) Quaisquer que sejam os números reais a e b , uma e só uma das proposições é


verdadeira:

ab
ba
ab
Com efeito, existe sempre a diferença b  a de dois números reais e é um número real;

Por A13, b  a  IR  ou  b  a   IR  ou b  a  0

Donde a  b ou a  b  IR  ou b  a

Ou seja a  b ou b  a ou b  a .

3) a  b  a  c  b  c a, b, c  IR. (Monotonia da adição).

Por definição,

a  b  b  a  IR 

b  a  IR   b  c  a  c IR 
b  a  c  c  IR 

Por A1 e A3,

b  a  c  c  IR   b  c  a  c IR 

E por definição, b  c  a  c   IR   a  c  b  c

4) a  b  c  0  a  c  b  c, a, b  IR (Monotonia parcial da multiplicação)

Por definição, a  b  c  0  b  a  IR   c  IR 

O docente: Nelson Bonifácio Somar 4


Por A12, b  a  IR   c  IR   b  a   c  IR 

Por A11, b  a c  IR   b  c  a  c  IR 


E por definição, b  c  a  c  IR   a  c  b  c

Exercícios

1) Com base nos conhecimentos adquiridos neste texto, prove que:


a) Se a  b  c  d  a  c  b  d;a, b, c, d  IR ;
b) Se a  b  c  0  a  c  b  c;a, b, c  IR .
3. Axioma de extremo superior

Este axioma também chamado axioma da completude ou de continuidade apenas se verifica


em IR e não em Q e é da máxima importância.

Alguns termos são relevantes para a sua compreensão:

a) Limites superiores ou majorantes

Seja M , um subconjunto não vazio de IR e haja um número b , tal que: M  x  IR : x  b


O número b diz-se limite superior ou majorante de M e ao conjunto formado por todos


números não inferiores a b recebe o nome de conjunto dos majorantes.

b) Supremo ou extremo superior

Um número b diz-se extremo superior ou supremo dum conjunto não vazio M , se possuir as
seguintes propriedades:

 b é um majorante de M ;
 Nenhum número menor que b é majorante de M .
c) Máximo

Um número b diz-se máximo de um conjunto não vazio M , se for supremo de M e b


pertence ao conjunto M .

d) Limites inferiores ou minorantes

Seja M , um subconjunto não vazio de IR e haja um número a , tal que: M  x  IR : x  a


O número a diz-se limite inferior ou minorante de M e ao conjunto formado por todos


números não superiores a a recebe o nome de conjunto dos minorantes.

O docente: Nelson Bonifácio Somar 5


e) Ínfimo ou extremo inferior

Um número b diz-se extremo superior ou supremo dum conjunto não vazio M , se possuir as
seguintes propriedades:

 a é um minorante de M ;
 Nenhum número menor que a é minorante de M .
f) Mínimo

Um número a diz-se mínimo de um conjunto não vazio M , se for ínfimo de M e pertence


ao conjunto M .

Exemplo:

Sendo A  x  IR :  3,5

 5, é conjunto dos majorantes de A ;


 5 é supremo de A ;
 A não tem máximo;
  ,3 é conjunto dos minorantes de A ;
  3 é ínfimo de A ;
  3 é mínimo.

Actividade

Considere o conjunto D  x  IR :  4,17

Indique:

 conjunto dos majorantes de D ;


 supremo de D ;
 máximo de D ;
 conjunto dos minorantes de D ;
 ínfimo de D ;
 mínimo de D .
4. Axioma de completude

A14. Todo o conjunto não vazio de números reais A que é limitado superiormente, tem
supremo em IR . Este último axioma faz com que IR seja uma estrutura de corpo ordenado e
completo.

O docente: Nelson Bonifácio Somar 6


Obs.: O ínfimo e o supremo devem ser elementos do domínio no qual se define o conjunto.
 
Por exemplo, os conjuntos: C  x  Q : x 2  2 e D  x  IR : x 2  2 ambos admitem

O docente: Nelson Bonifácio Somar 7


minorantes e majorantes mas só o conjunto D possui ínfimo e supremo. Este
facto justifica- se pela possibilidade de se estabelecer uma correspondência
biunívoca entre os pontos da recta com os números reais pois o mesmo não se
verifica em Q, se a cada elemento de Q corresponde um ponto na recta, a cada
ponto da recta já não corresponde um número racional.

O docente: Nelson Bonifácio Somar 8

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