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As moças raptadas para casar no Seridó antigo

No Seridó antigo, principalmente nos séculos XVIII e XIX, a maioria dos


casamentos eram arranjados, em alguns casos as noivas só conheciam seus maridos no
dia da cerimonia de casamento. Essas cerimônias em linhas gerais, tinham interesses
aumentar laços, ou de manter determinado patrimônio no seio familiar, visto a grande
existência de casamentos consanguíneos. A sociedade era extremamente patriarcal.

Mas além do casamento arranjado existia também o que se dava através do rapto
da moça. Embora não figurasse em nenhum código civil, parecia ser uma pratica
comum, não era vista como imoral, e sim como uma maneira de burlar o poder
patriarcal que não permitia que suas moças casassem livremente, uma reação contra o
abuso de poder. Esse tipo de casamento via rapto era muito comum quando o pai da
moça era totalmente contra o enlace, fosse por considerar sua filha “menor de idade”
para os padrões da época ou por considerar que o pretendente era de classe social
inferior.

Após se esgotarem todos as possibilidades os jovens enamorados, que


dificilmente se viam e quando tinham a oportunidade de trocar -poucas palavras
conversavam:

- Voce já falou com o velho meu pai? Dizia a moça

- Não, nem falo. É tempo perdido, você tem coragem de fugir?

- Tenho.

- Pois então, vou lhe raptar.

- Quando?

- Quando você quiser, amanhã, hoje mesmo, já.

- Nesse caso, é melhor de madrugada, logo depois que o galo cantar a primeira
vez eu estarei lhe esperando atras do curral.

O primeiro cuidado do rapaz, antes de levar a cabo seus planos, era


procurar a casa de uma família respeitável e respeitada, para confiar-lhe em
deposito a moça que pretendia “roubar” dos pais. Como era de praxe, ninguém
se recusava a prestar semelhante serviço. Geralmente a família que “guardava” a
moça, dava todos os passos para a realização do casamento que selaria a
romanesca aventura

Após ambos combinarem os detalhes da arrojada aventura, e em uma


bela madrugada, quando menos se espera o par amoroso desaparecia vencendo a
galope estradas e veredas. Os vizinhos ao despertarem já sabiam que se tratava
de uma moça que fora raptada. No trajeto da casa onde tinha “roubado” a moça
até chegar no lugar combinado para deixá-la, o rapaz, precisava ser digno, leal e
cavalheiro, sem atentar contra a inocência de sua amada, pois se o fizesse seria
considerado um desonrado pelo resto da vida.

Na casa de onde fugiu a moça havia sempre um reboliço danado. O chefe


da família praguejava como um possesso, acusando sua esposa inocente de ser
alcoviteira da filha, a culpada de toda desgraça.

Em linhas gerais o pai da moça não negava a licença para o casório da


filha raptada do seio de sua casa, mesmo que o rapaz fosse de uma família pobre
financeiramente. Entretanto os mais rancorosos cortavam relações com as filhas
e até deserdavam do testamento ou inventario, privando-as do dote de casamento
e herança. Mas a grande maioria aceitava e acabava fazendo as pazes com a filha
e o genro. O pai já conformado dizia: - é caso consumado, o que não tem
remédio, remediado está! Para que fazer barulho se amanhã havemos de chegar
as boas? Então esses pais perdoavam a “loucura” e abençoavam as filhas e
abraçavam os genros se preparando alegremente para criar seus filhos.

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