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Considerações Iniciais

(Necessárias)

Essa fanfic não será uma leitura de fácil compreensão, portanto farei
algumas considerações iniciais necessárias para que se situem no contexto a
qual passa:

- Não defini um ano exato de acontecimentos para que possuísse mais


liberdade de criação. Ela cita muito Era Vitoriana, portanto remete ao
século XIX, acontecendo entre aproximadamente 1837 a 1901.

- Nesta história o cenário geo-político está dividido e focado em:

• Reino Unido (que é fragmentado em muitos Reinos antigos, cada um com


seu próprio rei e território).

• Reino Franco/ou França (nesta versão a França é uma unidade inteira, não
dividida em outros reinos, e sim como uma nação sólida. Há duques,
condes, mas somente um rei).

- A homossexualidade nesta história não será um tabu para a sociedade.


Obviamente nesta época jamais haveriam príncipes assumidamente gays em
matrimônio com outros homens.
Mas, se eu tivesse que aprofundar a história dos dois para uma luta pelo
amor homoafetivo então perderia o enredo principal.
Portanto:
Os príncipes/reis tinham liberdade total de se casarem com princesas ou
outros príncipes, não havendo objeção alheia quanto à sua orientação
sexual.
- A Anisia dos Tronos em si (será melhor explicado na própria história) é,
em suma, uma "escola para príncipes".
No intuito do Reino Unido (que nessa história é uma nação completamente
dividida em muitos reinos) e França manterem relação de paz, os francos,
sob supervisão do rei francês, organizam uma 'escola' para supervisionarem
os príncipes britânicos e verem se estão aptos para se tornarem reis.

- O que soa confuso agora será melhor entendido durante a leitura.

- Fiz muitas pesquisas para escrever essa história, no entanto ainda há partes
que vêem da minha própria imaginação. Em caso de dúvidas, não hesite em
perguntar!

• Aviso. Vocês irão odiar o Harry no começo, igual todos os outros da fic
odeiam. Essa é a intenção.
Mas Louis irá fazê-los justamente enxerga-lo pelo outro lado da moeda. •

How to Wear a Crown is about to begin •••


Prólogo

Príncipe William de um antigo e milenar condado, Riverland. Em busca de


sua coroação.

Todos os anos, entre os Reinos da Gra-Bretanha, há a chamada Anistia Dos


Tronos.

Os líderes mais jovens e potenciais de cada Reino se reúnem no Palácio de


Vidro durante três meses, em que são testadas suas virtudes e capacidades
de convívio pacífico antes de se consagrarem oficialmente como futuros
reis.

Louis não se sentia intimidado. Ele vivia sóbrio, austero e possuía nobreza
não apenas no sangue como no coração. No entanto, todos alertavam sobre
o maior empecilho desta prova de harmonia e equilíbrio...

O intragável e odiado príncipe de Malta, Harry Styles.


Chapter One

Episode: Louis William Tomlinson

"Você nasceu para a coroa".

Louis nunca foi de se acomodar com um 'talvez'.


Ele admitia em seu dicionário mental 'sim' ou 'não', excluindo meio termos.

E de tal modo prosseguia sua vida contrariado com a mediocridade da


civilização.

Não era uma pessoa que absorvesse respostas rasas. Nem que admitisse
algo morno.
Para ele, frio ou quente.
Muito ou nada.

Sua generosidade e carisma, no entanto, não o permitiriam destratar quem


não compartilhasse de suas mesmas ideologias, ele agiria cordialmente
como o cavalheiro cortês seja com um nobre de estamento superior, ou com
um mero camponês.

Pensava, até mesmo, que haviam camponeses e servos indescritivelmente


mais interessantes e sólidos do que muitos afortunados sem propósito.

Talvez fosse sua personalidade forte e determinada que o fizera 'o promissor
futuro de Riverland'.

Embora possuísse quatro irmãos, todos rapazes formados e de boa índole,


sempre fora ele quem seu pai mais favorecia para herdar a coroa.

Julian, Heric, Christopher e Roger eram jovens naturalmente ambiciosos,


demoraram a acatar a decisão de Mark para ser Louis quem iria representar
o vosso reino na temporada de verão no Palácio de Vidro. Contudo, isso não
impediu que o rei vigente se lembrasse que entre os cinco filhos, somente
um segredava no coração um potencial descomunal para alguém de sua
idade.

Tomlinson sempre fora a criança que corria primeiro para os braços da mãe
Johanna com uma flor recém-colhida de algum canteiro, entregando-a
contente pelo ato, enquanto seus irmãos continuavam a brincar de pular
pelo pátio do palácio.
Além de também ter tido destaque na área acadêmica, com seu
deslumbramento insaciável pela erudição, ganhou uma biblioteca no castelo
só para ele como presente de seu décimo quarto aniversário.

E, para finalizar, ele possuía aquele sorriso.


O sorriso de Afrodite, diria Johanna.
O sorriso com o brilho sereno do despertar da manhã em primaveras,
acolhedor e quente que remetia-vos ao pôr do sol nos finais de tardes de
verão, e vibrante e atraente como as constelações visíveis em noites de céu
limpo e cálido.

Louis era possuidor de uma beleza natural e única. E certamente isso seria
um valioso tributo futuro, quando fosse a hora de desposar com um príncipe
ou princesa.

Quanto mais belo e interessante demonstrasse ser, melhores pretendentes


traria. E tal fato era necessário para a continuação do reinado durante
próximas gerações.

- Sente-se preparado, querido?

Sua mãe o questionara em certo anoitecer, após uma grande festa ter
acontecido no palácio a qual seu pai o obrigou a ter a primeira experiência
como anfitrião.

'Chá Celestial da Primavera concedida por William Tomlinson" - refletia-se


em dourado nos convites brancos. 'Chá' era um modo casual de designar um
encontro ao entardecer para que as senhoras e senhoritas sentassem ao redor
da mesa servindo-se de um agradável Yorkshire Tea enquanto os homens
perambulavam pelo salão de festa com taças de vinho e risadas
escandalosas.

- Querido? - Johanna o chamou novamente, presumindo que seu filho não


houvesse lhe escutado antes. - Sente-se preparado?

Louis reprimiu pela primeira vez em muito tempo uma inclinação


desgostosa de responde-la um sincero 'não sei'.
Mas, ele não se definia e nem apreciava a ideia de ser alguém sem
extremos.
Portanto, julgou que 'sim' seria o caminho.

E com a resposta positiva, Johanna concordou entusiasmada, certa de que


no café da manhã seguinte contaria a Mark que havia tido uma confirmação
oficial de que William Tomlinson seria o próximo rei de sucessão de
Riverland.
( Se fosse aprovado na Anistia dos Tronos, claro, mas isso era algo
irremediavelmente incontestável, já que se tratava de Louis.... Certo?)

.....

Notas da autora: Oioi (de novo).


Cá estou com mais uma fanfic. Ficarei alternando atts entre essa e My
Disgusting Reasons - que logo rumará para o final.

Pretendo atualizar toda semana, provavelmente de domingo, mas como


esses são os primeiros caps farei att dupla hoje.

Espero que gostem! Obrigada por tudo!❤


Chapter Two

Episode: Welcome to the Glass Palace

- É adorável! Eu prometo. - Johanna dizia enquanto as criadas terminavam


de guardar os pertences do garoto nas grandes malas de couro. - Imagine
um formidável palácio, todo adornado de cristal, onde se relacionará com
tantos príncipes diferentes, e até mesmo algumas princesas!

- Princesas? - Louis questionou surpreso, ajudando a dobrar suas


vestimentas embora as criadas insistissem para não o fazer. - Era de meu
achismo que fosse exclusivo a rapazes.

- Bom, teoricamente, é. Mas são realizados múltiplos eventos formais em


que convidam princesas de muitos reinos. Querem avaliar o comportamento
de vocês na presença de damas.

Louis soltou um ruído como 'humf' em concordância ao que sua mãe o


explicava.

- Como se esses rapazes precisassem de garotas para se satisfazerem... -


Johanna murmurou debochada.

As criadas ao seu redor seguraram visivelmente o riso. Louis se limitou a


sorrir, negando com a cabeça.

- Este seu jeito descabido e irônico fará-me falta, vossa majestade. -


Tomlinson reverberou, aproximando-se da mulher de cabelos longos de cor
semelhante aos seus próprios e olhos acolhedores, maternais.

Johanna seria o oposto de Louis. Ela estava sempre comentando, rindo ou


contando histórias que escapuliam das normas de etiqueta esperadas. Havia
algo em sua voz que sempre fascinou o pequeno príncipe, ela transmitia
conforto como um raio de sol que queimava-o no interior. Intenso e
despreocupado.

- Espero um dia encontrar uma pretendente que se faça uma rainha como a
senhora. - afirmou emocionado, impedindo que aquela saudade premeditada
de passar três meses distantes de seu reino e família afogassem sua
confiança.

- Você diz, uma imprudente desmiolada? - Johanna sugeriu de bom humor,


ganhando finalmente um riso de Louis. Ele não fora capaz de contê-lo, nem
mesmo as criadas (que se desculparam envergonhadas por tal feito).

- Não. - o príncipe garantiu, tomando as mãos de sua mãe com uma


delicadeza exímia. -Alguém que saiba ser feliz sem se limitar por etiquetas.

- Um tanto contraditório isso vindo do dono delas, não acha?

Outro sorriso ameaçou bordar os lábios finos do príncipe.


Contudo, ele se manteve rígido e em silêncio.

- Eu e seu pai nos conhecemos no Palácio de Vidro, em uma noite de gala


promissora. Assim como seus avós paternos. - acrescentou a rainha. -
Talvez a tradição esteja lá para nossa família. - piscou atrevida antes de
selar carinhosamente a testa do filho e deixar o aposento para cuidar de seus
próprios afazeres.

***

Após os cinco dias restantes no castelo de Riverland e uma última


celebração provida de bebidas e aperitivos em excesso aberto a todos do
Reino, o aclamando príncipe - potencialmente futuro Rei - entrou na
carruagem de elegante porte com o brasão da família esculpido: uma grande
figura branca de bordas douradas e uma flor de lis central de ouro. Uma
iluminura simplória e delicada que retratava fielmente a personalidade de
seus líderes.

Louis utilizou as muitas horas de viagem para divagar sobre sua família.
Ele sorria dócil a cada memória saboreada.
Crescer sendo o irmão do meio entre outros quatro era quase uma afronta ao
seu lema de viver em extremos e evitando médias.
Embora, ele jamais ousasse reclamar.

Acreditava que ter nascido exatamente entre todos os filhos o cedera a


oportunidade de viver em constante aprendizagem e ensinamento, tendo a
oportunidade de descobrir o mundo sob os olhos de Julian e Heric, e de
introduzir o mundo para os olhos novatos de Chris e Roger.

Fora espectador e protagonista no crescimento.


E talvez isso o tenha rendido uma grande habilidade de avaliação externa e
senso crítico.
Além de, certamente, tornar-se o xodó da rainha, já que enquanto os dois
mais velhos seguiam fielmente o pai para aprenderem tarefas de um rei, ele
auxiliava a mãe na criação e supervisão dos menores.

Houve uma fase complicada na vida dos residentes do suntuoso palácio.


Louis recordava-se bem. Johanna havia engravidado pela sexta vez.

A parteira - amiga da família desde o casamento real - havia adiantado que


seria uma menina. O formato da dilatação de Johanna indiciava algo e a
parteira garantia que seria uma princesa.

Não poderiam estar mais contentes. Uma pequena garotinha estava a


caminho para uma família já imensa e repleta de amor.

Lottie foi o nome escolhido por Louis.


Talvez ele tenha tido a intenção de alimentar um pouco o próprio ego ao
selecionar um nome que parecesse derivar do seu. Ela seria sua garotinha, o
príncipe sempre desejou uma irmã.

Mas, com o surgimento de complicações puérperas, a rainha acabou


perdendo sua filha, que nascera morta.

Foi o primeiro grande choque no Reino em muito tempo de serenidade.


Uma semana de luto, choros e lamentações.
Louis, porém, manteve-se firme. Evidentemente triste em seu interior,
contudo demonstrando-se otimista e sorrindo incentivador como forma de
apoio para a desolada rainha.

- Senhor? - uma voz masculina despertou-o do transe. - Chegamos.

****

- Este é o Salão dos Homens, vossas altezas têm acesso ilimitado a ele
sempre que estiverem com tempo livre. - um cavalheiro francês chamado
Don Luminiére guiava-os pelos cômodos.

Louis admitia que o Palácio de Vidro, apesar de despojar de dimensões


menores das que considerara, era excêntrico e confortavelmente fino.
Possuía um ar gracioso com quatro andares, tetos altos, cortinas de renda
francesa, lustres de cristais nórdicos, móveis de madeira nobre, aparadores
de mogno com anjos esculpidos, esculturas de mármore adornando os
imensos salões e, sobretudo, os próprios 'vidros', que acabavam por
nominar o 'Palácio de Vidro'.

A maioria das paredes dos salões eram substituídas por janelas de vidro que
íam do teto aos rodapés.
Algumas salas não dispunham deles, de acordo com Don Luminiére eram
escritórios ou recintos particulares, no entanto não teriam acesso a elas a
menos que fosse previamente definido.

No terreno adiante do jardim de inverno havia uma estufa de plantas raras, e


no noroeste estava localizada uma igreja de teto feito de vitrais coloridos.
Um ar divino, esquecido e afastado de toda a estrutura pomposa, que
remetera a Louis um espaço aconchegante e pouco visitado. Perfeito. Ele
decerto aproveitaria alguns dias para ler livros escondido naquela estrutura
pragmática. Algo o remetia a paz, a qual prezava em demasiado.

- Os cronogramas serão fixados na porta de vossos aposentos, onde haverão


duas criadas particulares a sua espera, que lhe auxiliarão em todas as tarefas
que forem solicitadas.
- Conhecer-las-emos ainda neste dia? - um jovem interviu.
Ele era alto, de corpo magro e fios escuros em um topete perfeito. Príncipe
Zayn Malik, de Arlen.

Seus olhos agitados entregavam que sua inquietação seria algo a se


trabalhar no processo de torna-los aptos para serem reis.
Um rei deve manter-se calmo sob qualquer circunstância, distinguir
inexoravelmente o exterior do interior, mantendo este recluso para si
mesmo.

Don Luminiére, contudo, não pareceu se incomodar. Quiça estivesse


acostumado com o alvoroço dos primeiros dias de treinamento.

- Sim, vossa alteza. - respondeu-o gentil, curvando-se em cumprimento real.


- Elas já estão no terceiro andar, dos aposentos, arrumando as roupas de
cama e os pertences que trouxeram de vossos reinos.

Com um silêncio de concordância, o cavalheiro prosseguiu.

- Como sabem, a Anistia dos Tronos é um acordo estabelecido há centenas


de anos pelo rei Franco para com os reinos que são considerados amigos,
nesta nação da Grã-Bretanha. Como forma de preservar a Paz entre ingleses
e francos, determinara-se que cada príncipe escolhido para suceder o cargo
do rei, de seu próprio reino, terá que passar por uma avaliação de três meses
no Palácio de Vidro, monitorado por olheiros do rei franco, a fim de
garantir que os selecionados serão aptos de redigirem uma nação em
completa anistia com as outras.

Os olhos alheios brilharam em empolgação.

- Para tanto exigimos que vocês sigam as regras, participem das atividades
que visam melhoria da etiqueta, reforço acadêmico, e provas em que
testaremos vossas capacidades de liderarem exércitos, trabalharem em
equipe, arquitetarem planos de fuga, e principalmente, administrarem
reinos, sendo bons anfitriões e líderes respeitáveis.

Talvez os olhares agora estremecessem de medo.


- Exigimos aquilo que se exige em qualquer rei: imponência, soberania e
austeridade. Sendo inexoravelmente condenados atos de agressão,
desentendimentos e ausência nas tarefas solicitadas. Isto é uma Escola para
príncipes cujo seu encerramento se dará com uma cerimônia de valor
simbólico que simula a coroação dos que passarem nas avaliações.
Caso contrário vo-

- Vocês voltarão para o vosso reino e tentarão no ano seguinte, novamente. -


uma voz imprudente e desafiadora interrompeu Don Luminiére.

Todas as cabeças voltaram-se imediatamente para o dono da inconveniente


interrupção.

E, sim, era exatamente quem esperavam ser.


A lenda.

O Príncipe de Malta.
O garoto de altura exagerada, olhar predador e dissimulado, e esbanjador de
uma pose incrivelmente insolente.

Tudo sobre o príncipe Harry Edward Styles era um advérbio de modo. No


caso, incrivel-mente.

Uma incrível e repugnante mente.

Sua reputação planava entre os reinos, deixando todos ali cientes de quem
era.

- Não acertei? - ele questionou em deboche, atuando uma careta confusa. -


Jurava que seu discurso terminava assim, Lulu.

Don Luminiére estreitou os olhos para a figura petulante, não se permitindo


exaltar os ânimos.

- De certo, vossa Alteza. - respirou fundo. Parecia desejar recobrar seus


miolos, voltando-se para os demais príncipes. - Se não cumprirem
devidamente as regras, acabarão sendo repetentes na Anistia dos Tronos,
tendo seus irmãos representando-vos na próxima temporada, ou, se for por
decisão do rei vigente, vocês mesmo retornarão no ano seguinte para tentar
novamente.

- Escola de Príncipes possuí o dom da reprovação, afinal. - Príncipe Harry


murmurou, seguindo um risinho irônico.

- Exato. Poderão vossas altezas acabarem falhando. - pronunciando tal frase


Don Luminiére encarou com um pouco de firmeza um príncipe no meio de
tantos. Um olhar específico para um príncipe específico.

Poderiam-no descrever como um charmoso cavalheiro loiro, de olhos azuis


e sorriso encantador. No entanto, tratava-se de Niall Horan, o futuro
herdeiro do trono de Ravena, de origem irlandesa e fama manchada.

Sabe-se que era a segunda temporada do príncipe no Palácio de Vidro e


apenas isso.
Não era comum que histórias feitas lá fossem esclarecidas para o exterior.
No entanto, nada impedia que os reinos especulassem.

A especulação mais aclamada se baseia em um fato: Niall odeia o príncipe


Harry Edward Styles.

Sua aversão pelo outro é inegável tanto quanto a separação natural de água
e óleo de cozinha em um recipiente.

Ninguém efetivamente entende o porquê. E, apesar da curiosidade atiçar os


ouvidos alheios, nada foi confirmado... Até então.

Ao receber atenção dos demais o príncipe Niall Horan devolveu o olhar


direto de Don Luminiére com seu rosto enrubescendo-se a medida que
tomava consciência de quantos rapazes o avaliavam.

Foi inevitável que se encolhesse um pouco, perdendo a postura ereta


suposta para reis.

- Ou, ao invés de repetentes. - Don Luminiére retomou sua fala. - Poderão


se consagrar como verdadeiras mobílias deste palácio . Certo, vossa alteza?
Seu alvo era claro.
Mas as palavras ácidas não diluíram a postura arrogante do príncipe Harry
Edwart Styles, que imediatamente repuxou seus lábios em um sorriso
divertido.

- Ora, ora, eu os visito há cinco temporadas e já me consideram parte da


equipe? Que grande honra, Lulu.

Sua réplica arrancara suspiros surpresos de todos os príncipes afetados. No


entanto, Louis e Niall pareciam ser exceção.

O príncipe Tomlinson flagrou Niall revirando seus olhos azuis de modo


incordial e entediado.
Ele próprio, embora, somente encarou o senhor Styles por breves segundos
até retornar sua atenção a Don Luminiére, com uma serenidade intocável
em seu rosto, como se estivesse assistindo a uma cena desinteressante e
rotineira.

Louis nunca fora de alimentar intrigas.


Enquanto seus irmãos faziam ameaças uns para os outros ao disputarem
com extrema competitividade quaisquer jogos em seus tempos de meninice,
William costumava fita-los quieto, concentrado em sua própria vitória em
vez de tentar inibir as dos outros.

Agora não seria diferente.


Nada que acontecesse sem seu envolvimento, tomaria vossa participação.
Tornar-se rei exigia plenitude.
Certamente ele reparara na insolência sem tamanho do príncipe de Malta,
porém nunca encaixara-se em sua persona julgar desnecessariamente.

- Espero que esta sexta seja vossa última, alteza. - Don Luminiére disse sem
se permitir abalar, devolvendo um sorriso quase natural e gentil. Encenado
demais, embora.

- Quem sabe.

Harry Edward Styles lançou um piscadela audaciosa.


E o mundo tremeu pela tempestade antecipada.

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Notas da autora: sei que é só o começo, mas o que estão achando?

O tamanho dos capítulos serão variados, ora compridos ora curtos.

Até domingo!❤
Chapter Three

Episode: Harry Edward Styles

- Vossa Alteza. - as duas saudaram simultaneamente, reverenciando-o.

Louis nunca apreciou o fato de estar em um estamento superior.

As criadas de seu palácio em Riverland sempre foram consideradas amigas


por sua mãe, a incomparável rainha Johanna. Portanto, desde pequeno ele
se acostumara a trata-las da maneira que tratava os demais.

Certamente sua discrição e quietude nunca o permitiram criar vínculos com


os funcionários reais. Não que ele não o fizesse por julga-los inferiores, mas
por sua personalidade fechada o tornar alguém de mínima interação.

- Senhoritas. - Louis respondeu, reparando devidamente nas criadas


temporárias.

Uma delas era uma graciosa garota, que deveria beirar seus dezesseis, de
pele pálida e olhos verdes. Pareciam assustados e nervosos.
Já a outra talvez fosse alguns anos mais velha, e mais experiente, com sua
postura serena e pele bronzeada, fios louros e lisos.

As duas usavam coques altos e trajavam vestidos simples e delicados,


sinalizando lamentavelmente uma juventude destinada ao serviço.

- Arrumamos suas vestimentas nas cômodas, e tomamos liberdade para


enfeitar seu quarto com alguns porta-retratos que encontramos no fundo da
mala. Espero que não se importe. - a loira disse. - Meu nome é Jezebel e
esta é Lorena, minha irmã, perdoe-me sua conduta retraída, é sua primeira
temporada servindo no Palácio.
- Não há motivos para se redimirem. - Louis garantiu.

Jezebel concordou com um sorriso agradecido, afagando discretamente o


ombro de sua irmã. Ela era muito fisicamente diferente da loira alta e
morena, tendo seus cabelos castanhos, uma pele muito pálida e estatura
baixa.

Por certo, Lorena não parecia devidamente preparada para servir algum
príncipe, levando-se em conta as normas de etiqueta as criadas eram
supostas a se comportarem formalmente, sem permitirem que seus
sentimentos fossem expostos na presença de vossa alteza, com rostos
neutros e ações mecânicas.

No entanto, o jeito assustado da pequena fez com que Louis se simpatizasse


imediatamente com as duas.

- O senhor irá se trocar ou permanecerá com este traje? Costuma-se esfriar


consideravelmente com o cair da noite.

Tomlinson não vestia nada mais do que uma blusa de casimira abotoada
com o colarinho levantado, casaca azul marinho, e calças longas de
tonalidade escura. Além de suas abotoaduras de ouro enfeitando todo seu
traje.

- Riverland é uma terra de pouco sol, estou acostumado com baixas


temperaturas, não se preocupe.

- Nós iremos listar todas as manhãs suas tarefas diárias e traremos tudo
aquilo que necessitar, vossa alteza. Deixe-nos saber caso precise de
qualquer coisa. - Jezebel informou, cruzando os braços atrás das costas.

- Perfeitamente compreendido. - Tomlinson garantiu, aproximando-se da


grande janela de vidro de seu quarto e observando afora.

A paisagem era deslumbrante.


O jardim de inverno do palácio, embora fosse verão, ainda mantinha uma
aparência fria e nostálgica.
Fora um projeto do artista franco André Le Nôtre, e consistia em uma longa
trilha de canteiros de flores frescas em tom azulado, hortências violeta
pálido e esculturas vitorianas que desembocavam em um bosque.

O bosque era um verdadeiro labirinto de verdura, bem guarnecido, de


plantas sinuosas e estátuas envelhecidas. O clássico era luxo.

- Por obséquio, poderiam-me informar onde há a biblioteca deste palácio? -


o príncipe pediu, com os olhos ainda presos no jardim, percebendo uma
figura solitária caminhando pelo labirinto de flores.

- Último andar, vossa alteza. - uma voz mais baixa e tímida respondeu,
despertando a curiosidade de Louis por ser a primeira manifestação verbal
de Lorena, intimidada pela atenção do maior estando voltada para si. -
Última porta do corredor.

Louis assentiu de breve e elegante, e enquanto rumava seus passos para sair
do quarto foi interceptado por Jezebel.

- Vossa Alteza? Se me permite informa-lo, no primeiro dia de estadia é


realizado o banquete dos príncipes. Às sete em ponto no salão leste,
segundo andar.
Alguns príncipes optam por socializarem na Sala dos Homens antes do
jantar.

- Eu costumo me reservar mais, mas parece que esta não seria a melhor
opção por aqui, hum? - Tomlinson disse com um pequeno sorriso ajeitado,
conformando-se a si mesmo. - Agradeço por me avisar, a visitação na
biblioteca ficará para depois então.

***

O Salão do Homens estava barulhento.


Era incomum os príncipes em seus próprios reinos terem alguém das
mesmas faixas etárias para conversarem. Normalmente se relacionavam
apenas com seus conselheiros, velhos que os regravam e transmitiam
ensinamentos sobre a monarquia.
Portanto, estarem rodeados de outros jovens que passam pelas mesmas
rotinas cansativas que as suas soava-lhes libertador.

Ao adentrar no recinto, a primeira visão de Louis foi para uma estante de


folhetos, que continham algumas notícias atualizadas dos reinos.

Então, notou os príncipes dispostos em roda, dialogando entusiasmados e


risonhos, em exceção a alguns poucos que se sentavam isolados presos em
leituras diversas, como Niall Horan, sentado sozinho na poltrona do canto
com uma tragédia heróica gregoriana em mãos.

Aproximou-se do grupo numeroso oferecendo um sorriso cordial, sendo


introduzido imediatamente no assunto: algo sobre a construção de um
grande canal no centro de Galiza, que estava a gerar polêmica entre os
ingleses devido ao pomposo projeto subterrâneo.

Nada que tomasse grande atenção de Tomlinson, o qual mantinha-se manso


apenas concordando em acenos graciosos.

- Hey, você é filho do Rei Mark, de Riverland, não? - um jovem de camisa


de linho branco liso, calção justo preto para dentro de suas longas botas de
montaria o indagou. A simplicidade de seus trajes quase o remetiam a um
camponês com título errôneo de príncipe. - Meu pai, Rei de Bristok, fechou
bons acordos comerciais com o seu. - completou humilde.

Louis sorriu contido.

- Soube desses tratados, estava por trás de alguns acordos. Fico feliz de
nossos reinos serem amigos.

- Suponho que em um futuro próximo, quando formos nós os líderes,


deveremos cultivar a condescendência.

- Se for de minha parte, não haverá subjeção a isso.

- Bom, sou Liam. Liam Payne. E é uma honra conhecê-lo. - estendeu-lhe a


mão, sendo retribuído por Louis, que o cumprimentou com delicadeza.
- Príncipe William. - se apresentou de maneira mais formal, porém não
arrogante, logo que esboçou um sorriso gentil. - Digo o mesmo.

Ambos permaneceram em uma conversa avulsa de política e atualidades


quando um baque seco e forte ressoou no salão, calando todos os príncipes
e os fazendo olhar para a origem de tal.

Cuja inconveniência provinha da figura peculiar e destemida de Harry


Edward Styles, que estava muito satisfatoriamente ciente de toda a atenção
recebida.

Ele não se importara com os olhares curiosos, e muito menos com os


desgostosos, seu sorriso parecia jovem, e inabalável.

Apenas sua vestimenta já seria motivo para polêmica:


Seu tronco era coberto por uma veste de ombros largos e quadris
curvilíneos de tonalidade verde abacate com detalhes em fios de prata.
Calções visivelmente justos combinavam com a peça chamativa de cima, a
qual ocultava quase que inteiramente sua camisa branca de seda.
Nos pés calçava sapatos de couro cinza com fivelas de prata pura.
Sua mão esquerda apoiava-se em uma bengala decorativa de madeira escura
com a extremidade superior em formato da cabeça de uma cobra.
Desconfia-se que nos olhos da mesma estavam cravados um par circular de
esmeraldas.

A roupa extravagante apenas reforçava sua personalidade forte, com um ar


arrogante inconfundível.

- Es-plên-di-do. - disse em tom elevado, pausadamente. - Vejo que


repetimos a cerimônia da socialização todas as temporadas.

O silêncio continuou como um sufoco de espanto. Por Céus, aquele homem


não possuía um pingo de nobreza.

Muito se ouvia nas ruas sobre o príncipe de Malta. Ninguém esperava que
os rumores de seu estrondoso caráter fosse tão reais da maneira que eram.
Harry desfilou vagarosamente de rosto erguido, avaliando os rapazes de
todo o ambiente com seu nariz empinado.
Demorou um tempo a mais prendendo sua atenção em Niall Horan com um
sorriso maldoso esculpindo sua face, sendo retribuído por uma expressão
nada amigável do mesmo.

- Meus pais alertaram-me para não me aproximar dele. - Liam cochichou no


pé do ouvido de Louis. - Provavelmente todos os pais alertaram isso a seus
filhos.

- Os meus não. - Louis comentou distraidamente, seus olhos observando


com calma e indiferença ao episódio da frente.

Ao contrário dos outros que encaravam tudo aquilo com espanto,


Tomlinson parecia nunca abandonar sua pose neutra, piscando lento e sem
emoção evidente.

Harry fitou o grupo arrastando seus passos para perto, logo estando no
centro dele.

- Vejo que minha reputação me precede. - balbuciou diante a quietude. -


Não é como se me intimidassem, queridos. Estou apenas aqui para motiva-
los aos melhores três meses de suas vidas.

- Não o escutem! - uma voz de fora da roda se exaltou. Niall.


Ele ainda estava na poltrona, no entanto seu rosto vermelho sinalizava a
vontade reprimida de se levantar de lá para agredir o de cabelos cacheados.

- Sua chance já se foi, pobre Niall. Não seja egoísta de impedir os outros. -
Harry retrucou com deboche. - Eles irão aprender. - murmurou a ultima
parte como um sussurro a si próprio, girando trezentos e sessenta graus para
visualizar o rosto de cada um.

Ele amava ver a indignação presente neles. O ódio ou o receio. Diversas


reações expressas.
Sorria presunçoso para os que não continham o repúdio e sibilavam
lamentações inaudíveis.
Para os outros ele era a personificação do diabo. Sujo e carregado de
pecados. Pronto para infectar quem tocasse.

- Previsivelmente frágeis. - grunhiu divertido, balançando sua bengala no ar


ainda no meio do grupo.

Isso alimentava seu ego de uma maneira doentia e reversa.

Mas, por uma fração de segundos, seus olhos detectaram um rosto que não
expressava raiva, medo, choque ou nada além de plena serenidade.

Sua sobrancelha arqueou divertidamente para o príncipe de cabelos lisos e


olhos demasiadamente azuis que pareciam indiferentes à sua cena.

Ele se aproximou, talvez na expectativa que tal movimento intimasse o


outro a reagir. Contudo, foi em vão.

Harry engoliu seu orgulho ferido e decidiu ignorar o ocorrido, retomando a


pose cínica.

- Estarei dando uma festa particular em meu aposento, depois do banquete.


- informou suspirando com falsa empolgação. - É um com um lenço
vermelho amarrado na maçaneta, justamente para diferenciar dos demais... -
Harry se aproximou de um dos príncipes, lançando-o uma expressão
sugestiva. - Assim vocês devem saber qual é o aposento certo para
encontrarem a diversão.

Quando você quer causar uma boa primeira impressão, deve bajular os
demais.
Mas quando você quer perpetuar uma primeira impressão, deve assusta-los.

E foi exatamente isso que Styles fez, rumando seus passos barulhentos para
fora do Salão rindo baixo sarcástico com a certeza de que por mais um ano
havia eternizado sua imagem na memória dos ingênuos jovens.

****

Notas da autora: sei como o começo parece maçante e estagnado, mas é


necessário para criar toda a base da história e construção dos
personagens/cenários.

❤ não desistam de mim


Chapter Four

Episode: From the Dinning Table

Quando o sol se pôs no horizonte, encerrando a luminosidade natural que


clareava grande parte do palácio de vidro, os príncipes foram se recolhendo
aos poucos para seus aposentos, no intuito de se vestirem apropriadamente
para o primeiro banquete de gala.

As criadas ocasionalmente costuravam novos trajes para os rapazes, no


entanto, como era o começo da temporada e ainda não haviam tido tempo
de tirarem suas medidas, eles teriam que utilizar peças trazidas de casa, o
que era um pouco revelador, visto que isso realçaria instantaneamente quais
seriam os costumes e as riquezas de cada reino refletidas no poder
aquisitivo, ou melhor, vestuário de seus príncipes.

O salão de jantar que realizariam o banquete era específico para verão -


sim, havia o de inverno, primavera e outono, também - tendo paredes altas
em amarelo claro e um amplo espaço guarnecido de esculturas de
andorinhas-azuis, que migram para a região durante a estação mais
aquecida (menos congelante) do ano, esculpidas a ouro.
As cortinas compridas eram de seda e cediam a sensação de airosidade,
assim como as cores claras e amistosas que pintavam o cômodo por inteiro.

A extensa mesa de jantar era de mogno, e se situava abaixo de um


deslumbrante lustre de cristais.
Toda a louça, aliás, foi feita com porcelana fina ou vidro desenhado.

Os príncipes, embora acostumados com a elegância já rotineira em seus


próprios castelos, estavam maravilhados diante o faustoso salão de verão.

Conforme chegavam tomavam seus lugares em cadeiras de sua preferência,


a maioria optando por se sentar nas do meio receosos de se destacarem ao
estarem perto das pontas.
Até que só haviam dois lugares desocupados para os dois príncipes
restantes.

Não que eles estivessem atrasados, contudo os outros desejaram


anteciparem-se justamente tomados pela ansiedade de interagirem entre si e
realçarem laços amistosos.

Ao passo que o tintilhar produzido por quem parecia ser o mordomo


principal do palácio com o impacto da ponta de uma colher em um castiçal
de prata ressoou, sinalizando o início do jantar, duas figuras adentraram
quase que no mesmo momento, passando pelo arco dourado sem terem
notado a presença um do outro.

O primeiro muito distraído encarando com insolência todos os espectadores


de sua chegada.

Mas foi então que ele reparou a atenção não ser voltada apenas para si,
como também a um outro príncipe que aparentemente também apreciava
ser pontual em eventos.

O segundo, no caso, andava impassível para quem o observava. Ao invés de


pisar naquele chão de mármore antes do horário determinado na intenção de
fortalecer relações sociais, decidiu aproveitar aquelas horas para ler eu seu
aposento.
Não era de reparar muito, mantendo-se neutro conforme rumava para um
dos únicos assentos disponíveis: uma das pontas da mesa.

E claro, era o príncipe William, vestido com um fraque e calça de


tonalidade acizentada escura em harmonia com seu colete marinho e em
contraste ao lenço azul claro envolvendo seu pescoço. Enfeitava-se com
abotoaduras de prata em formato de flor de lis, representando o brasão de
seu reino.

Seu andar firme e robusto lapidavam um ar de dominância primorosa, e


suas vestimentas discretas entregavam uma elegância refinada, sóbria,
própria do dandismo.
Acomodando-se no último lugar vago, na ponta oposta da mesa, estava o
príncipe Edward, tentando sufocar o incômodo por não ter retido
unanimemente os olhares em si graças à chegada daquele príncipe moreno.

No entanto, seria fácil perder-se na beleza exuberante e sempre polêmica de


Harry.
Ao contrário do que se mede nas etiquetas supostas em um banquete
formal, ele vestia sua casaca em tonalidade clara, azul Royal, inteiramente
bordada com fios de ouro que desenhavam flores pelo tecido, uma camisa
de seda branca com mangas bufantes e uma calça de cor semelhante justa
em seu corpo. Se essas peças já não eram o suficiente para gerar
burburinhos espantosos sobre si, então seu par de botas douradas seriam.

A pele pálida vislumbraria uma inocência e fragilidade imensuráveis se não


fosse pelo sorriso superior que adornava a face do príncipe, ou por seus seis
anéis de rubis e safiras valorizando os magros e compridos dedos.

O mascote, a bengala de cascavel, era um adereço obrigatório.

Tudo que se relacionava a Harry era estrondoso.


E a consequência disso eram olhares de devoção por alguns, desgosto por
outros, fascínios contidos... E indiferença, por um único.

Harry Styles conhecia aquele. Conhecia que o futuro herdeiro do trono de


Riverland era William Tomlinson.

Ele sempre estudava a reputação de quem seriam seus próximos


companheiros de temporada antes de vê-los pessoalmente.

Sabia que o príncipe William não era de desviar sua atenção facilmente ou
se abandonar a postura austera de um rei - como o resto deles esquecia de
manter - portanto não se importava pelo fato de também não arrancar
reações do outro.

- Se seguirem a tradição de sempre.... - Harry cantarolou para ninguém


específico enquanto os criados depositavam as entradas ocultas sob tampas
de prata para cada um dos rapazes - O primeiro curso será sopa Aletria.
No mesmo momento os criados removeram as tampas revelando
exatamente o que o cacheado premeditara, líquido fervido e temperado com
tomate, alho e cebolas. Um prato camponês, popular, porém bem apreciado.

- Previsivelmente tradicionais. - comentou com um falso suspiro chateado.

Os príncipes, até então em silêncio, foram iniciando a degustação de suas


apetitosas sopas enquanto engatavam assuntos adversos entre si.

Liam, por sorte, estava sentado em uma posição perto da de Louis e fez
questão de elogiar a escolha de seus trajes, visto que apesar de serem
simples, destacava-se das dos outros, talvez pela pose de rei que Tomlinson
já adquirira desde menino.

- Seu lenço é lindo. Adorei o broche dele. - reparou o príncipe de Bristok,


apontando para a tal peça de Louis, que sorriu cordial.

- É uma andorinha-azul, julguei apropriado para a ocasião, e confesso que


me acendi ao tomar consciência de que este salão é inteiramente enfeitado
por elas.

- São as aves que migram para onde há o verão, sim?

Tal argumento talvez tenha impressionado um pouco o príncipe de


Riverland, que não imaginava que o outro saberia do fato, visto que não era
uma curiosidade muito interessante para a maioria os jovens.

- Certamente.

- Foi uma boa referência então. - Liam piscou gentil, sendo retribuído por
mais um agradecimento singelo de Tomlinson.

Aos seus olhos, Louis era uma figura impenetrável.


Não demonstrava seus sentimentos ou pensamentos. Nem mesmo esboçava
reações para aquilo que acontecia ao redor.
Pouco participativo e muito neutro.
Embora soasse como uma pessoa séria e formal demais para construir uma
laço de amizade, ele decidira que tentaria, já que gostara do jeito retido do
mesmo.

No segundo curso os empregados reais ofereceram-vos frutos do mar: truta


e withebait , além de pequenas porções de ostras frescas pra quem fosse
apreciador destas iguarias. Tudo meticulosamente selecionado para
conceder a sensação de refrescância.

Príncipe Zayn Malik possuía um riso alto e uma diversão jovial,


conquistando naturalmente seus colegas de palácio que começaram a se
enturmar rápido com o rapaz. Alguns disfarçavam olhares de encanto aos
olhos acastanhados, contudo ele mesmo não parecia nota-los ou sequer
devolver o charme que vos era direcionado.

Ao passo que o main course (pratos principais) foram servidos, sendo


reveladas vieiras cozidas com margarina e cordeiro, e os príncipes se
acomodando com o clima suave e amistoso, os murmúrios tornaram-se
conversas paralelas em que quase todos participavam, em exceção a alguns.

- Alguém... - uma voz se sobressaiu de repente das demais, calando o


falatório e ganhando a atenção alheia. Harry, até então ignorado e excluído
dos debates aleatórios (simplesmente porque a maioria o temia), passou a
dizer em voz alta, cutucando graciosamente com a ponta do garfo um
pedaço de batata. - Alguém aqui sabe a história das andorinhas-azuis?

As feições confusas dos presentes esclarecia uma pergunta que Styles não
se impedira de fazer.
O silêncio transparecia o que ele intuía.

- Como imaginei. - murmurou com arrogância e prepotência carregadas. -


Permita-me injeta-los uma cultura saudável-

Mas antes que continuasse seu discurso, uma voz calma e melodiosa
ressoou da outra ponta da mesa.

- São pássaros que se acasalam em temperaturas quentes. Migram para onde


há verão. - Príncipe William respondeu.
Harry o fitou, procurando desafio ou qualquer afronta em seu tom.
No entanto, não havia.

Tomlinson não manifestava qualquer sinal de indelicadeza ou contestação.


Seus olhos não o desafiavam, pelo contrário, dissera aquilo com uma
educação e discrição inconfundíveis.

- Eu não questionei a razão das andorinhas simbolizarem esta estação,


Príncipe William. - Harry replicou, tentando não soar tão rude. Contudo,
seu jeito de superioridade e sua necessidade de ser o doador da verdade
denunciavam seu caráter manchado. - Trata-se da história delas.

O moreno de olhos azuis assentiu singelamente, não objetando-o.

- Presumo que se refira à Progne. - Louis proferiu com suavidade, ateando


espanto e surpresa em Styles, que, mesmo contrariado ao engolir seu
orgulho, viu-se confirmando relutante. Aquilo fora uma afronta à sua
vaidade intelectual.

Sua pose prepotente perdeu o sustento durante alguns segundos de


displicência até que disfarçasse a apatia e recompusesse o sorriso soberbo,
ignorando fielmente o assunto anterior e passando a encarar os outros
príncipes.

Ele era tão estranho.

- Então, queridos, como vejo que estamos chegando ao final do banquete


reforço meu convite para uma comemoração particular e privada em meu
aposento. - cantarolou insolente, recebendo expressões ainda mais
espantadas para sua afirmação.

Aqueles príncipes foram criados à base de disciplina extrema, com normas


de etiqueta que redigiam até mesmo como se sentarem em privadas. E,
embora seus comportamentos estivessem involuntariamente mais relaxados
pela convivência entre jovens de suas idades, ouvir algo sujo e imoral feito
aquilo era um baque de grande efeito.
Alguns imediatamente franziram o nariz de desgosto.
Mas para outros houve uma curiosidade irrompendo seu valores
individuais, ameaçando corromper a postura que lhes foi imposta por duas
décadas de existência, em que lutavam contra a ascendência de desejos
obscuros e conflitantes.

Apesar da personalidade intragável e desprezível, ninguém estaria sendo


honesto se não admitisse que Harry Edward Styles era absurdamente
charmoso.
Havia algo perdido no mar de esmeraldas em seus globos oculares que
soava tóxico para a sanidade. Era uma verdadeira tentação pecaminosa
encara-lo, e um desafio o fazer sem perder o fôlego.

A intensidade transpirada em seu ar petulante poluía a estabilidade física e


mental de quem o aspirasse.

Ele era o próprio Jardim do Éden.


E seu sorriso convidativo parecia sussurrar 'pronto para morder a maça?'

Quando os empregados serviram a sobremesa, pequenos eclairs


acompanhados de uma taça de vinho doce, Harry Styles arrastou
ruidosamente sua cadeira, levantando-se sem nem tocar no prato.

Os príncipes o olharam em expectativa enquanto o arrogante rapaz de


cabelo longo fitava-os esboçando sua melhor feição predadora.

- Aos que me esperam, estarei voltando para o meu aposento. - molhou os


lábios, inclinando-se sobre a mesa um tanto intimidador. - Não é essa a
sobremesa que me apetece. - anunciou piscando um dos olhos, triunfante. -
Agora, cavalheiros, se me dão licença...

Trajado sob todos os adereços chamativos e a bengala de cascavel, deu meia


volta e rumou afora do salão, transformando toda atmosfera amena de antes
em uma tensão indissolúvel e constrangedora.

Os jovens finalizavam o saboroso doce quando uma voz pouco conhecida


dissipou-se provinda de uma região central na mesa.
- Não o escutem. Ele é o próprio veneno daquela cobra que apoia suas
mãos.

Niall Horan aconselhou, seu cenho sempre muito franzido, seu rosto
adornado pelos fios louros claros semelhantes ao retrato de divindades
gregas.

Seu tom era sério e seco.

Príncipe Horan se levantou com um suspiro, não erguendo o rosto.

- Ele não vai desistir até desmoralizar cada um de vocês. Não deturpem
seus valores pelo ego frágil do príncipe Edward. - finalizou, saindo à passos
robustos do recinto.

Os burburinhos alheios se alastraram como fogo em palha depois do


incidente, ora ou outra se alterando entre olhares pensativos criados pela
curiosidade que crescia em cada um para saber quem visitaria o aposento de
Styles, quem se entregaria ao pecado, quem julgaria quem se entregasse.
Quem eles eram. E quem Harry os faria ser.

E alheio a todo o alarde em torno da situação estava Louis, que após rejeitar
o eclair - nunca foi apreciador de chocolate - mas bebericar com uma calma
prazerosa o vinho doce, estendeu-se suavemente de pé, com uma expressão
serena, e se curvou em uma reverência de despedida.

Já no conforto de seu aposento, Louis dedicou alguns minutos escrevendo


cartas à sua família antes de se deitar.
Dispensou as criadas para que elas pudessem dormir mais cedo, tendo em
vista que seria desnecessário segura-las com ele a toa.

Todavia, depois de gastar o que ele deduzira em duas horas encarando o teto
sem de fato adormecer, Tomlinson cedeu à insônia.
Ela sempre o atormentava, e na maioria das vezes ele se rendia.

Levantou-se cuidadoso com uma ideia em mente. Sabia que há esse horário
da madrugada todos os príncipes já dormiam, portanto, seria perfeito.
Calçou os chinelos e removeu o pijama, vestindo uma calça de malha fria e
uma blusa branca lisa ao invés. Seria impertinente caminhar nas
dependências do palácio tão desarrumado.

Andou calmo pelo corredor, não de fato surpreso quando presenciou alguns
príncipes saírem de um quarto distante com seus cabelos desordenados,
assustados e quase como ladrões fugitivos temendo serem pegos em
flagrante.
Supostamente eram os que aceitaram as ofertas perturbadoras de Harry. E
provavelmente quem agora carregava culpa, ou, então, um novo prazer na
desinibição.

A contaminação com o vírus dos pecados e imoralidade transmitidos pelo


príncipe de Malta começara a se propagar entre os príncipes da temporada.
A questão era: quantos deles se infectariam?

A sorte dos dois ou três que circulavam pelo corredor cambaleantes - talvez
devido à bebidas, ou alguma substância ilícita - temendo por suas
reputações era que quem se depara com suas imagens deturpadas havia sido
Louis. Louis e sua indiferença para o que cada um fazia com a própria vida.

Ao invés, Tomlinson evitou olhar para o rosto deles e identifica-los. Não


queria ser indelicado a esse ponto.

Quando alcançou as escadas e subiu ao último andar recordou-se das


instruções de Jezebel para chegar na biblioteca.
E, sem grandes dificuldades pelo costume de morar em uma residência
suntuosa e imensa, encontrou o espaço resguardado para a leitura.

Não era tão grande quanto a biblioteca que tinha para si em Riverland, mas
bastaria para entrete-lo, além de parecer aconchegante estar envolto da
companhia de livros enquanto a luz natural do luar iluminava parcialmente
o lugar, tendo a claridade escoada pelas grandes janelas de vidro.

Pegara um exemplar da literatura grega Odisseia - que era de fato um de


seus livros preferidos, e optara por lê-lo de pé, apoiado na janela e
aproveitando a luminosidade da lua para enxergar as miúdas letras.
Perdera-se no tempo.
Alcançava quase o oitavo capítulo quando escutou-o reverberar
debochadamente:

- Então sabe mesmo sobre Progne, hum? Esplêndido.


Chapter Five

Episode: Blue Lagoon

Não foi necessário aguçar os ouvidos para estar ciente de quem entrara na
sala:

O Príncipe de Malta com seu traje de dormir - que era nada menos que uma
camisola de seda cinza, onde já se viu? - envolto em um roupão felpudo. Os
cabelos completamente desgrenhados como quem acabou de despertar de
um sono profundo - ou orgia profunda, no caso - concedia-o um ar
selvagem, em compactuo com seus imensos e gélidos olhos verdes,
naturalmente famintos.

Ao adentrar na biblioteca, Harry começou um andar lento sem rumo exato,


quase em círculos, cercando o elegante futuro rei de Riverland.

Louis era irremediavelmente belo. E intrigante.

Harry era extravagante. E intragável.

Styles podia sentir seus pelos se arrepiando com a rala aproximação, sem de
fato compreender a razão. Mas a existência daquele príncipe neutro e
indiferente para a sua presença era uma afronta ao seu orgulho.

- Presumo que não tenha escutado minha pergunta.... - Harry murmurou


diante ao silêncio dos olhos azuis, que filtravam-o sem julgamento ou
qualquer demonstração de empolgação. - Vossa Alteza. - verberou
debochado.

Louis muito embora se limitou a marcar a página que estava lendo do


Odisseia e fechou o livro.
- Peço vosso perdão pela distração, não é educado de minha parte realizar
uma leitura na companhia de outro cavalheiro, hum? - Tomlinson disse com
sua voz serena, cordial, tratando de apoiar o exemplar em cima da
escrivaninha e ceder um olhar legítimo e aguçado a Styles. - Qual foi sua
pergunta, de fato?

O incômodo de sua alma energética em contraste com a tranquilidade


segura do menor era perceptível. Harry mal segurava o ímpeto de franzir o
nariz pela formalidade exagerada. Qual é, eles estavam sozinhos de
madrugada em uma biblioteca. Será que o Príncipe de Malta jamais
abandonava a fantasia de rei?

- Uh, eu o indaguei sobre a autenticidade do uh... - Harry proferia


desconcertado, em busca da retomada de sua pose insolente, que parecia
afetada demais no momento para surgir. - Sobre a autenticidade do seu
conhecimento a respeito da Progne.

Louis imediatamente arqueou uma sobrancelha, intrigado e um pouco


confuso.
Harry prosseguiu, sentindo-se mais recuperado:

- Disse-me no jantar que entende a história das andorinhas-azuis....

Oh. Agora Harry parecia um bobo! Sua tentativa de soar prepotente e


superior foi transformada em uma manifestação desnecessária.

E, mesmo trajado com uma blusa branca simples e uma calça lisa, Louis
ainda parecia um elegante e austero príncipe, explicando em um tom
centrado e rouco:

- Segundo a mitologia grega, Filomena era casada com o rei Tereu, com
quem teve um filho. Porém, Tereu acabou se apaixonando pela irmã da
esposa, Progne, o que consequentemente gerou confusão e
desentendimento. Os três foram, então, castigados pelos deuses do Olimpo
e transformados em aves, sendo a nova forma de Progne uma andorinha.

Aos poucos a feição de Harry foi se maliciando, até que um sorriso maldoso
e desafiador bordasse a pele de porcelana polida.
- Creio que se esquece do que há nas entrelinhas, príncipe. Justo a melhor
parte.

- Esqueço?

- Bom, como sabe, na mitologia grega existem muitas histórias de pessoas


que foram enclausuradas ou isoladas para evitar que falassem....

Louis concordou com um aceno, visivelmente interessado.


Ele apreciava histórias.
E Harry se sentiu brevemente anestesiado por despertar algum cativo no
princípe.

- A irmã de Progne, Filomena, era casada com o rei de Trácia, Tereu. Um


dia Tereu foi à casa de Progne buscar-la para que visitasse o casal.
No entanto durante o regresso ao reino, ele a violou. - Styles sentou-se na
quina da escrivaninha, balançando os longos dedos ao assistir a luz da lua
reluzir seus anéis. - Envergonhado pelo próprio ato, o rei cortou a língua de
Progne e a prendeu em uma cabana na floresta, de modo que ela nunca
fosse capaz de contar o ocorrido nem escapar do cativeiro.

Louis escutava aquilo com seu rosto limpo de expressões, se estava


horrorizado com a fábula, não transparecia.

- Progne costurou uma tapeçaria onde relatava todo o ocorrido, a qual


eventualmente chegou na posse de Filomena. Ao descobrir a
monstruosidade do marido Filomena resgatou sua irmã e ambas planejaram
uma vingança.

O olhar de Harry escureceu, o canto de sua boca se arqueando em um


sorriso sátiro.

- As duas mataram o filho do rei, que também era o de Filomena, e


serviram-no de jantar sob a forma de um guisado, assistindo-o saborear
prazerosamente. Então, vossa alteza, pode presumir o que vem a seguir?

- Os três por certo são punidos pelos deuses gregos, sendo transformados
em pássaros, o que significa o silenciamento físico como castigo final. -
Louis respondeu, encarando Harry no fundo dos olhos sem se intimidar ou
desviar o olhar, de modo que todos o faziam por não suportar a intensidade
transmitida pelo cacheado.

- Tire-me uma curiosidade, na sua opinião, por que Progne, digo,


andorinhas, representariam metaforicamente o verão?

- Creio que estaria constantemente fugindo do frio, de uma forma alegórica,


o qual representaria seus pecados e traumas.

- Não é estranho alguém com a capacidade de ter cometido algo tão frio
buscar calor ao seu redor?

- Ela o faz justamente para se recuperar. Quentura é reconfortante.

- Abrigam-se onde sabem que estão mais aptas para brilhar?

Louis negou veementemente, balançando sua cabeça.

- Abrigam-se onde sabem que suas sombras serão incapazes de alcança-las.


Deve ser o modo de encontrarem segurança.

As palavras do príncipe de Riverland tornaram-se ácido ao estômago de


Harry, que as digeria atônito e um pouco frustrado.

A pose ereta de Tomlinson era igual e completamente diferente da de


Styles. Enquanto o primeiro transluzia a donaire esperada de um membro
real, o segundo esbanjava arrogância crua e mesquinhez.

Apesar de ter se remoído com todo o diálogo maçante, Harry procurou


reafirmar a postura condescendente, desacomodando-se da escrivaninha e
se erguendo, mantendo contato visual quase opressor em Louis.

E nada, literalmente nada, parecia ser capaz de abalar a calmaria dos olhos
azuis. Oh, Harry queria enfiar essa serenidade em sua bunda e muitas outras
coisas também. Não reclamaria se fosse o contrário. Mas a figura do jovem
de beleza primorosa ateava fogo em seu curto pavio.
E o curto pavio de Styles possuía dois fins: excitação ou ódio.
A personalidade autêntica de Tomlinson instigava ambos.

Com passos programados e sensuais Harry se aproximou-se dele, vestindo o


sorriso mais lascivo com o abuso das joviais covinhas. Ele sabia que era
irresistível, modéstia nunca lhe coube bem.

- Interroguei-me durante a madrugada toda se eventualmente o príncipe de


Riverland apareceria para a after party. - Styles cantarolou. Era o seu jogo:
demonstre-se descontraído quanto a um assunto e capte a reação que
causará.

Os olhos azuis de Louis permaneciam fixos ao seu, a expressão facial não


se alterando por nada. Ele não enxergava nem um pingo de excitação nas
esferas azuis glaciais. Completamente displicente.

- Perdoe-me se deste por falta de minha ausência, alteza. - o moreno


reverberou, passando a encarar distraído através da janela de vidro a
paisagem mórbida da madrugada banhada pela lua, não mais em seu
apogeu, mas ainda sombreando as árvores que ao fundo cercavam os
jardins. - Infelizmente não é de meu apreço estes convites.

Harry franziu o nariz afilado, contrariado.

- Bom, com todo o respeito, seus irmãos são mais divertidos que você.
Outro Tomlinson devia ter vindo em seu lugar.

- Conhece meus irmãos? - Louis indagou genuinamente curioso, inabalado


pelo tom hostil que Styles usara.

- Milorde. - Harry falou debochado. - Eu conheço muita gente. Já estive em


Riverland com o meu pai, comparecemos em um evento de reinos que o seu
pai organizara. Seus irmãos são, indiscutivelmente, mais simpáticos que
você. Alguns deles sabem aproveitar. - sussurrou a última parte, inaudível
ao austero futuro rei.

A intenção de desprezo de Styles teve um efeito muito contrário do que


previra:
Louis elevou minimamente o canto de um dos lábios, um pequeno sorriso
lateral divertido, embora dispusesse de uma visão periférica de seu perfil -
visto que Tomlinson estava entretido com o exterior do castelo - ele sabia e
até sentia a diversão do Príncipe William.

- Garanto que são. - foi a réplica de Louis, inspirando fundo com a


graciosidade de um anjo, expirando ao retomar o contato visual com
Príncipe Edward.

Harry se sentia desarmado. Sua tentativa de rebaixa-lo foi frustrada.


Mordeu o interior da bochecha afim de conter a raiva, escurecendo um
pouco sua feição de modo que a sensualidade se substituísse a uma de
desejo predador.

- Sabe? Ainda é tempo de voltar atrás. - o mais alto insinuou com seu
melhor tom sedutor, atrevendo-se a parar em uma distância mínima de
Louis, levando seus longos dedos a relarem a costura da gola em V bufante
de sua blusa branca.

O peitoral alheio parecia tão macio, e mesmo que houvesse o tecido


separando-o da pele quente, Harry era capaz de sentir o calor e a suavidade
advinda daquela epiderme bronzeada sob seu toque razo. Talvez este fosse o
primeiro defeito de Tomlinson, esperavam que príncipes possuíssem a pele
branca dos nobres europeus, já Louis diferenciava-se do padrão com sua
tonalidade beijada pelo sol.

Com muita força interior o Príncipe Edward desviou seu olhar da clavícula
afundada e apetitosa do moreno - considerando que só o ato da
aproximação tenha extrapolado todas as etiquetas supostas em um
cavalheiro - e fitou as esferas azuladas. Ou melhor, as lagoas azuis, já que
Harry constatou que além da cor ser semelhante a das lagoas, eram tão frias
quanto.

Seu orgulho foi imediatamente ferido.

Louis não esboçava o desejo ardente que era esperado ao realizar tal ação
com qualquer ser humano que tenha hormônios.
Uma de suas sobrancelhas estava levemente arqueada, e ele o encarava um
pouco confuso, um pouco descontraído e até mesmo divertido.

Mas que porra?

- Eu não me rebaixo aos caprichos carnais, vossa alteza. - Louis disse sem
falha na voz. Ela calma e tranquila. - E não se deve à questão de conduta. -
explicou. A diversão em suas lagoas azuis foi substituída por certo cuidado,
como se ele buscasse palavras que não fossem quebrar o ego do
extravagante príncipe. - Todavia eu sou um admirador de amor cortês. E
não pretendo espalhar meus dotes sentimentais para qualquer outro.

Quem ele pensava ser para achar que sua rejeição afetaria o Príncipe Harry
Edward Styles? Francamente.
O moreno podia ter toda uma beleza extraordinária e singular, mas não era
o único indivíduo belo deste palácio. E muito menos alguém apto para
entristecer o arrogante Príncipe Edward em toda a sua majestosa glória.

E ainda mais encaixa-lo em um termo tão indigno - 'qualquer outro' - Harry


não era um 'qualquer' e nunca seria.

Engolindo o dicionário de ofensas - ele precisava se demonstrar superior e


inabalável - Styles revirou sutilmente os olhos dando alguns passos para
trás, se afastando.

- Es.plên.di.do - disse pausadamente, forçando um riso debochado. - Temos


aqui um príncipe encantado que acredita em contos de fada...
É uma pena que não passam de fábulas, querido, espero que não se
machuque tanto com esta desilusão.

- Irei correr o risco. - Louis proferiu sóbrio.

- Quem sou eu para te acordar deste sonhozinho, não é? - Harry soltou uma
gargalhada irônica, meneando a cabeça e murmurando com ênfase antes de
desaparecer pelo corredor - Tenha uma bom final de noite, vossa alteza.
Chapter Six

Episode: Two kings sharing a kingdom

Com o nascer do sol no horizonte e o início da movimentação de criadas e


empregados reais pelo palácio para organizar tudo que fosse preciso, os
príncipes começaram a despertar.

O cafe da manhã era servido às oito em ponto, sem permissão para atrasos,
e às dez dava-se inicio ao cronograma da temporada.

Durante a semana ao menos seis horas de todas as tarde eram dedicadas a


aulas de história geral, economia, geografia e política, onde junto com a
explicação oral de sábios anciões os príncipes recebiam livros grossos para
leitura individual.

Em cada dia recebiam aulas práticas de uma atividade especializada:


segunda-equitação, terça-esgrima, quarta-instrumentos musicais (podiam
escolher entre flauta, harpa, piano ou violino), quinta-etiqueta geral ou
lógica, sexta-lutas de espada, sábado-treinamentos sobre recepção e
planejamento de eventos, domingo-eventos em si (banquetes, festas,
jantares).

Além de também, diariamente, possuírem obrigação de participarem de


exercícios extras que lhes eram impostos, indo desde a recepção de
hóspedes reais do exterior para tratar de diplomacia, até simulações de
planejamento tático de guerras.

Príncipes que ganharem destaque, cumprirem a conduta, e se revelarem


merecedores, receberão regalias adversas de acordo com suas notas e
eficiência.

***
As frutas estavam frescas e saborosas, derretiam na língua e cediam
sensação de refrescância e leveza matinal.

No entanto, o clima o oposto delas. Maçante, pesado e sufocante.

Ou melhor, tudo estava realmente bem enquanto faltavam dez minutos para
às oito, quando a refeição era oficialmente iniciada, os príncipes chegaram
ao salão A - onde refeições comuns e rotineiras seriam servidas, nada muito
extravagante e uma mobília clássica e nobre - adiantados para conversarem
e socializarem.

O príncipe moreno de longos cílios, Zayn Malik, relatava o quão adoráveis


foram as criadas ao enfeitarem seu aposento com muitos dos porta-retratos
que trouxera de seu reino, amenizando a saudade precoce da família.
Os demais sorriam simpáticos e encantados, iniciando um debate sobre suas
famílias e costumes.

Era uma conversa cordial e doce, estabelendo harmonia entre os jovens


educados.

Contudo, bastou o bater das oito da manhã que mais alguns príncipes que
preferiam ser pontuais - William Tomlinson, Niall Horan, claro, e outros
três - chegaram, alocando-se em assentos disponíveis das mesas.

O problema era que um deles se chamava Harry Edward Styles.


Harry Edward Styles e sua bengala de cascavel, e seus cachos esvoaçantes,
e suas roupas desnecessariamente extravagantes (algo como uma capa de
caxemira egípcia na cor púrpura e botas de montaria de couro prateado), e
seus olhares intensos, e suas covinhas insinuantes, e sua beleza excepcional,
e sua maldade ainda mais excepcional. Tudo isso combinado com um
sorriso malicioso e uma pose arrogante.

Foi de imediato.
E reação de alguns era observa-lo curiosos, enquanto outros específicos
enrubesciam e tensionavam os músculos - Louis teria percebido que não tão
coincidentemente eram os que vagavam aflitos pelo corredor durante a
madrugada deixando o aposento de Styles.
- Hum, que manhã deslumbrante, não é mesmo? - Harry cantarolou,
puxando uma cadeira vazia e se acomodando nela, com os olhos passando
por todos os príncipes. - Eu tenho um fascínio por bom humor matinal ao
ser combinado com a brisa aquecida do verão.

- Bom Dia, Príncipe Edward! - Zayn saúda com sua simpatia exímia,
sorrindo gentil.
Talvez ele houvesse saído de um livro de conto de fadas, toda sua gentileza,
ingenuidade e beleza inalcançáveis.

- Oh, Bom Dia, querido. - Harry piscou para ele, lançando-o um beijo no ar.
Para então depois forçar uma expressão de surpresa e bater com a palma da
mão na testa. - Onde estão os meus bons modos? Vejo que esqueci de
desejar um bom dia para todos vocês! Ow, perdoem-me, deve ser pela
madrugada agitada que tive na companhia de ilustres cavalheiros, hum?

Ouve-se pessoas engolindo a seco.


E vê-se o incômodo e incredulidade chocar a expressão de muitos.

O vírus da imoralidade claramente já havia infectado alguns.


Quando este se disseminaria entre aqueles que prezavam os valores e
conduta?

Harry riu debochado.


Definitivamente logo.

****

- .... o que chamávamos de vassalagem. O acordo era selado com um beijo


entre o suserano e o vassalo...

Um ancião nórdico contava no centro da grande sala em formato de coliseu.

Os alunos sentaram-se em fileiras ovais de mogno dispostas ao redor de um


pequeno palco, onde velhos sábios apareciam para ensinar-lhes sobre
diferentes campos de conhecimento.
Há duas horas o assunto estava travado em Idade Média. A maioria dos
jovens, não acostumados a aulas tão maçantes com duração de seis horas
seguidas (tendo intervalo somente no almoço), queriam gentilmente enfiar
esse idoso em uma balsa e envia-lo para o oceano. Mas, claro, eles seriam
futuros reis e não podiam sequer cogitar pensamentos tão maldosos.

- Já que eles selavam acordos com beijo, eu não me importaria de fazer o


mesmo por aqui... - uma voz negligente se sobressaiu no fundo da sala,
tendo uma rápida repercussão já que a maioria se sentia enteada.

Os rapazes começaram a rir baixinho, lançando olhares de canto de olho


para a figura peculiar de Harry.

- Deseja compartilhar alguma opinião conosco, vossa alteza? - o senhor


interrompeu o próprio monólogo, olhando severamente na direção do
cacheado.

- Ah, Ruperts, meu velho, pra que todo esse stress, ahm? - Styles reverberou
com um sorriso sapeca, recebendo expressões de espanto por toda sua
ousadia petulante . - Já assisti essa mesma aula por cinco anos seguidos.

- Insolente - 'Ruperts' murmurou, meneando a cabeça. - Se não há nada de


produtivo para acrescentar, permaneça quieto.

O velho estava prestes a continuar sua explicação - 'muito interessante' -


quando Styles esticou seu braço, chamando-lhe atenção.

- O quê? - falou perdendo sua paciência.

- Acho que tenho algo de produtivo para acrescentar. Uma ideia!

- Prossiga. - falou contrariado, querendo rolar os olhos.

- E se encenássemos uma cerimônia de solenidade? Hum? Creio que


demonstrações ao vivo despertariam muito mais o interesse dos nossos
alunos reais... Não estou certo?

Os garotos, menos tímidos e mais entusiasmados pela personalidade


intrigante de Styles, começaram a se manifestarem em concordância,
despertando-se da monotonia que as últimas horas estavam sendo.

Ruperts sem muitas opções, afinal, concordou com um aceno.

- Então, quem quer representar o suserano e o vassalo?

- Já que eu sugeri, não acho nada mais justo do que representar o suserano. -
Harry interveio, levantando-se da carteira de mogno e rumando para o
centro da sala.

- Quem deseja encenar o vassalo, então? - o ancião se voltou aos príncipes,


notando-os recatados em seus assentos.

- Já que ninguém se dispôs, posso escolher um? - Styles indagou, mudando


o peso de um pé para o outro com um brilho maldoso nas orbes.

Ruperts concordou, esperando que Harry apontasse.

Os meninos pareciam genuinamente assustados com a ideia de terem que se


apresentar na frente de todos, no entanto quem esteve sob a mira de Styles,
não.

- Príncipe William, me diga, como são os espetáculos em Riverland? -


Harry questionou abrindo um sorriso lateral.

- Eu diria que dispomos de teatros formosos, embora não seja grande o


número de artistas. - Louis respondeu com seus ombros erguidos e os olhos
calmos.

Tomlinson se pôs de pé sereno, entendendo perfeitamente onde o cacheado


queria chegar, caminhando poucos passos até alcançar o centro, visto que
ele já estava alocado em uma posição próxima.

- Veremos se você pode representar. - Styles provocou.

- Não tanto quanto vossa alteza, garanto. - Louis replicou. E embora sua
voz estivesse ausenta de pretenções ou duplos sentidos, as palavras haviam
soado ácidas para Harry, e o atingiram em cheio.
- Já sei. - o ancião se pronunciou, ao que os dois príncipes estavam um ao
lado do outro, esperando ordens. - Vamos inverter os papéis, Príncipe
William será o suserano, e Príncipe Edward o vassalo.

- Espere, o que? O que você disse? - Harry grunhiu, uma leve irritação se
fazendo presente.

- Não me leve a mal, vossa alteza, mas o Príncipe William dispõe de uma
imagem muito mais condescendente e soberana que a sua. Se estamos aqui
para encenar, que se encaixem então adequadamente nos papéis.

Os punhos do maior se fecharam. Embora Ruperts estivesse apresentando


um ponto justo - se fosse para atuar como um nobre, não haveria ninguém
naquela sala que transparecesse uma imagem mais austera do que Louis -,
Harry tinha certeza de que sua decisão se baseava em um ímpeto de
vingança por seu comportamento impudente.

As esferas verdes enfurecidas se enfezaram ainda mais ao notarem a


satisfação do príncipe de Riverland para toda a situação.

- Bom, a partir de agora vossas altezas serão membros de Igreja e


testemunhas da cerimônia de solenidade que estão prestes a assistir. Nesse
momento estamos dentro de uma igreja, no século XIV. Príncipe William,
você é um rei, o mais poderoso suserano, e Príncipe Edward você é o
vassalo, um senhor feudal de grandes posses. - o ancião anunciou, pedindo
que os dois se posicionassem de frente um para o outro.

- Esta prática é conhecida pelo juramento de fidelidade e lealdade. Que


comecemos a homenagem!

Harry e Louis foram instruídos para encenar conforme o que era ditado por
Rupert, localizando-se no centro do palco enquanto o velho sábio ia para
um canto, descrevendo o ato.

- Durante a cerimônia, o vassalo deve ajoelhar-se em submissão-

- Que diabos?! - Styles reverberou revoltado, assustando todos os presentes


por xingar publicamente, contudo o ancião não parecia surpreso, estava
acostumado com o príncipe.

- Não blasfeme, Príncipe Edward, vocês estão supostamente numa Igreja.

- Enfie essa Igreja no seu-

- Continuando! - Ruperts elevou o tom, retomando suas falas. - O Vassalo


deve se ajoelhar em submissão e colocar suas mãos entre as mãos do
suserano.

À muito contragosto e uma indignação entalada em sua garganta, Styles se


ajoelhou diante Louis, estendendo suas mãos atadas para a figura do
moreno, que as cobriu com seus dedos macios delicadamente.

Ele havia sido tão suave em seu gesto que Harry mal sentia o toque tenro
das palmas pressionando os nós de seus dedos.

- O Vassalo deve jurar ao Suserano Fidelidade e Lealdade, prestação de


serviços militares, e auxílio sempre que o suserano apresentar alguma
necessidade. - a voz de fundo do ancião ressoou, esperando que assim fosse
feito.

Styles bufou.

- Eu te juro ser leal e fiel, prestar apoio no quesito militar e te ajudar


sempre que você necessitar. - enfatizou a última parte, puxando um pouco o
canto do lábio em um sorriso debochado e sujo.

- Em troca - Ruperts prosseguiu - o Suserano deve garantir ao seu vassalo o


uso de domínio de terras, o exercício de um cargo e
objetos materiais. Era dessa forma que a nova relação social entre nobres
estava firmada.

Tomlinson acenou em entendimento, pousando sua atenção no garoto de


joelhos que o fulminava contrariado. Tragou o ar profunda e lentamente,
entrando em seu papel.

- Vassalo, juro-te acessibilidade às minhas terras, a possibilidade de exercer


o cargo de conselheiro real, jóias e um novo castelo. - pronunciou focado e
sério.

- Eu não quero ser um conselheiro real. Eu quero ser um rei também! -


Styles protestou, rangendo os dentes, dando um jeito de cravar suas unhas
no casulo que as mãos de Louis faziam ao redor das suas.

- Príncipe Edward! - Ruperts repreendeu imediatamente, raivoso. - Se você


não seguir a linha suposta na encenação que vossa alteza mesmo propôs irá
receber uma advertência em seu primeiro dia da temporada!

- Mas eu quero ser um rei também! Pelo amor, não sou obrigado a me
submeter a isso! - Styles rebateu, sua birra infantil tornando-se óbvia e
intragável.

- Certo. - Louis de repente interveio, recuando o toque pela dor sentida com
o perfurar de sua pele, embora não transparecesse o incômodo. - Você pode
ser um rei também.

Harry se calou, uma expressão de vitória se iluminando na face jovem.

- Não, Não! - o ancião se lamentou. - Um rei suserano não pode permitir


que seu vassalo seja rei também!

- Sou supostamente o rei, não? - Tomlinson rebateu, jamais abandonando a


pose soberana e autoritária do líder que representava ser - Portanto, decreto
que este vassalo também será rei. Dividiremos o trono - determinou.

Os resmungos de Styles instantaneamente se calaram, mesmo que seu


orgulho não fosse se desmanchar para nada que insinuasse gratidão.

O ancião, sentindo-se preso em uma trama maçante e desnecessária -


deveria ter aprendido que nada que venha da mente de Harry é de fato
produtivo - relevou o episódio, finalizando a cerimônia:

- Para que a verdade e a seriedade fossem conferidas à situação, era


necessária a conjunção carnal, feita por meio de um beijo, também
reforçava uma situação de reciprocidade entre o suserano e o vassalo. O
corpo era então empregado como instrumento simbólico de uma séria
comunhão.

Ao finalizar o monólogo todos os olhares se voltaram intrigados para os


dois príncipes no centro do palco.

Harry cometeu o erro de estabelecer contato visual com Louis ainda


ajoelhado.

As lagoas azuis eram intensas. Ele se sentiu pequeno. E se esqueceu que


não sabia nadar.
Por um momento, pensou que se afogaria nelas.

As mãos se desataram para que Styles pudesse se estender de pé.


E, ao contrário do usual, ele não foi capaz de expressar sua malícia e
presunção com um sorriso torto ou um olhar lascivo.

Styles, pela primeira vez em muito tempo, estava inexpressivo.


Ele realmente cogitou se era um mal súbito que fulminaria com um ataque
cardíaco ou um derrame cerebral.

As pessoas notaram a pose arrogante se desvencilhar do corpo esguio


durante alguns segundos, os ombros sempre retos se encurvando e a cabeça
sempre erguida pendendo para o lado, enquanto o príncipe de cachos sofria
aparentemente de um delay.

A lagoa azul se aproximou da gramínea de verão. Sim, gramínea de verão.


Eram olhos verdes muito ardentes e cheios de inquietação em contraste aos
azulados profundos e congelados.

Contradizendo as especulações, foi Louis quem aproximou seus rostos,


visto que Harry ainda se mantinha um pouco desligado, e ainda de olhos
abertos selou brevemente os lábios do príncipe arrogante, que sem sua
bengala de cascavel não parecia tão assustador.

Styles não tivera tempo de retribuir o toque ou devolve-lo o calor de seus


lábios carnudos, Príncipe William já havia se afastado.
- O juramento está selado. - o Suzerano decretou, curvando-se em
reverência para Styles, e então para o resto dos alunos e ancião, rumando
seus passos para retornar ao seu assento na sala.

Harry piscou rápido recobrando a consciência e fez o mesmo, sem


cantarolar nenhuma de suas tolices casuais, estranhamente quieto e
comportado.

A aula prosseguiu com o monólogo enfadonho sobre costumes e valores


feudais, com um ancião muito animado e vertiginoso para príncipes muito
esgotados e sem realmente vontade de estarem lá.

Uma hora depois e a chuva fraca ainda precipitava lá fora.


As criadas ainda arrumavam os aposentos e com a ajuda de alfaies
produziam novos trajes aos príncipes.
Os cozinheiros reais ainda finalizavam o almoço.
Os garotos ainda ameaçavam desmaiar de tédio.

Tudo prosseguia normalmente.

Em exceção a Styles, que encarava com uma grande confusão e curiosidade


suas mãos, inexplicavelmente trêmulas, assim como seu estômago, um
pouco revirado. Ou mesmo a sensação cálida e sufocante como uma
ansiedade que esvaía de suas veias muito gradualmente.

Ele cogitou estar ficando doente.


Mas não sabia que tipo de doença seria.
Chapter Seven

Episode: Hades & Zeus

A primeira semana se passara em um piscar de olhos.

A pior parte, por senso comum, eram as aulas teóricas em que seus traseiros
se amorteciam após horas em contato com a madeira rija e desconfortável
das carteiras.
Os anciãos disseram que isso era uma lapidação das virtudes de paciência e
resistência que são esperadas dos futuros reis.
Alguns reviraram os olhos.

Os ensinamentos extracurriculares e as atividade específicas foram


recebidas de bom grado, e ao final do sábado alguns príncipes já iam se
destacando e ganhando reconhecimento.

Príncipe William, por exemplo, recebera créditos no que se atrelava ao


campo acadêmico, respondendo sempre cordial e correto quando os
anciãos faziam aulas dinâmicas e testavam o conhecimento dos príncipes.

Ainda na segunda-feira eles passaram por sua primeira experiência naquele


palácio de Equitação. Cada um deles ganhou um cavalo para realizar a
montaria durante a temporada.

Diga-se de passagem que o professor de equitação era um homem esguio e


rígido, exigindo postura tanto dos jovens em comandar os cavalos quanto
em guia-los para treinar os primeiros saltos em um campo aberto.

A maioria dos príncipes estavam acostumados a andar de cavalo em seus


reinos, o que facilitara parcialmente as atividades. No entanto, não bastava
prática para se sair bem, e sim a química e relação que se estabelece entre o
domador e o animal.
Muitos deles não conseguiram conduzir de primeira os bichanos, os quais
eram naturalmente calmos, mas que barulhos altos ou movimentos bruscos
os deixavam ariscos.

Exigiam para tanto paciência e compreensão dos príncipes, que evitavam


efetuar números grandiosos ou saltos difíceis.

Em exceção, claro, à Harry.


Harry parecia ser uma exceção a tudo.

O Príncipe Edward já tinha intimidade com seu cavalo, já que insistira para
ficar com o mesmo durante as seis temporadas, e o nomeara de Hades.

Era um equino Mustang de pelagem negra com crinas longas, brilhantes.


Corpulento e intimidador.

O cacheado exibia-se correndo com Hades o mais rápido possível no


perímetro do campo, fazendo-o saltar energético todos os obstáculos com
maestria exímia, um sorriso superior e uma postura dominante.

Ele parecia desconectado do mundo, estando em sua própria realidade cheia


de adrenalina. E embora realizasse números invejáveis pela área de
treinamento, ainda assim extrapolava o comportamento que um rei, ou
mesmo príncipe, deve transparecer ao cavalgar, tomando as rédeas veloz
demais, audacioso demais, e nem um pouco requintado - apesar de alguns
acharem que havia uma elegância peculiar em todas as suas extravagâncias.

Príncipe Niall Horan teve o reconhecimento principal nesta área. Seu


desempenho foi incrível - devido a ele estar na segunda temporada do
Palácio e também já conhecer seu cavalo (um Paint Horse branco com
manchas castanhas, esguio e gracioso) - executando acrobacias avançadas e
cavalgando perfeitamente.
Mesmo que não possuísse nem metade da agilidade de Harry Styles com
Hades, Niall dispunha de uma postura majestosa, trotando em seu equino
com altivez, pose ereta de príncipe e desenvoltura soberba de um rei.

O treinador deles sorriu satisfeito para o resultado com os príncipes


iniciantes, instruindo-os a levá-los eles próprios seus cavalos até o estábulo,
em vez de acionarem os empregados reais, na intenção de criar vínculos de
afeto com os bichanos.

Enquanto acariciava o focinho de Hades, Príncipe Edward notou que o


abrigo ao lado do seu cavalo no estábulo pertencia ao cavalo de Tomlinson.

Ele havia ficado com o suntuoso Appaloosa branco de crina platinada, patas
fortes e musculoso.

- Ele se chama Cretino. - Harry eventualmente murmurara a Louis,


enquanto o menor escovava suavemente sua crina na comparticipação
vizinha.

O Príncipe William o encarou com condescendência, e mesmo com sua


personalidade crua e jeito reservado, esboçou um sorriso educado a Styles.

- Você o conhece?

- Eu quem o batizei com esse nome. - Harry respondeu, revirando os olhos.

- Posso lhe perguntar o por quê?

- Porque... - cantarolou, apontando um dedo na direção do equino albino. -


Esse cavalo me odeia. Quando me arrisquei a cavalgar nele, em épocas
passadas, tentou levar-me ao chão e ainda coicear.

Príncipe William não foi capaz de segurar-se, soltando um breve riso,


cordial porém não premeditado.

- Ao menos vejo que se dá extremamente bem com o seu cavalo. - Louis


reverberou, sinalizando para o grandioso Mustang preto.

- Oh. Sim. Este é Hades. E eu sou o único que consigo me aproximar dele
sem que fique irritado e agitado. - Styles murmurou orgulhoso, sorrindo
para seu cavalo.

- Creio que Zeus não será exclusividade minha, por infortúnio ele me
parece simpático, embora não seja um admirador seu.
- Zeus? Quem é Zeus? - Harry torceu o nariz.

- Meu equino. - Louis o revelou, acariciando uma última vez sua longa
crina branca. - Presumo que estou no direito de renomea-lo, haja em vista
que 'Cretino' não é um nome adequado para ninguém.

****

O restante das aulas específicas - esgrima, etiqueta, lutas de espada, ... -


foram puramente teóricas. Dado ao fato dos príncipes ainda estarem em sua
primeira semana de curso ninguém se atreveria, por exemplo, a colocá-los
frente a frente com objetos pontiagudos em finalidade de se golpearem.

Diga-se de passagem que embora a maioria possuísse certo treinamento


prévio, não era algo a se arriscar.

Portanto nestes dias eles os instruíam as regras dos esportes, e seu


funcionamento demonstrado.
Apenas isso.
O que contribuiu para que não houvessem outros destaques - a não ser na
aula de etiqueta em que tanto Príncipe William quanto Príncipe Liam
apresentaram um desempenho faustoso, atuando formidavelmente na
encenação de um julgamento - em que os príncipes eram reis e precisavam
condenar camponeses imorais.

Louis ficou responsável pelo caso de um homem que supostamente ateara


fogo em um patrimônio público, condenando-a a dez anos presa no
calabouço.

Já Liam pegara um caso de adultério, não vendo outra saída senão


sentencia-la a morte - tendo que adultério era visto como um pecado
extremo.

Os outros alunos, apesar de não manterem a pose durante toda a encenação


ou pronunciarem falas formais e neutras o suficiente, também se saíram
bem.
Até ser a vez de Harry Styles, que já sentou no trono real do cenário com
seu jeito petulante, rodopiando a cascavel.
Logo em seguida entraram dois atores, ditos como homens homossexuais os
quais ambos eram casados com mulheres e as traíam estabelecendo relações
sexuais, para que o príncipe os condenasse.

Seu sorriso aumentou e ele dispensou todo o primeiro ato de anunciar


formalmente o julgamento.

Sua primeira fala foi, na verdade, algo como:

- Hum, então os danados andaram pulando a cerca? Eu vos entendo, falta


algo nas mulheres, apesar de esplêndidas elas não têm o glamour entre as
pernas.

E isso bastou para Harry ser expulso dessa atividade, levando sua primeira
advertência, e arrancando risadas incontroláveis dos demais príncipes.

O Príncipe Edward ainda estalou um beijo no ar para os dois homens do


julgamento, sibilando 'me incluam na relação, docinhos' mesmo ciente de
que era tudo simulação.

****

Então, depois de um sábado em que aprenderam a como recepcionar


adequadamente eventos como chá da tarde, escolhendo o tipo certo de
aperitivos e comportamento esperado de um anfitrião, foram informados
que no dia seguinte participariam de um verdadeiro e primeiro chá da tarde
no Palácio, com a presença de diplomatas húngaros.

Domingo não foi tão fácil considerando que os húngaros não se


comunicavam com a mesmo idioma que o aclamado inglês, ou nem francês
(que era de domínio necessário), e sim húngara.

Os príncipes foram divididos em grupos de seis e cada grupo seria


responsável por receber um diplomata, servindo-o e 'falando' sobre os
tratados comerciais regentes entre reinos da Hungria e reinos britânicos.

Falar foi o verdadeiro desafio.


Como estabeleceriam uma comunicação sem sair da pose de um 'rei' e não
possuindo conhecimento algum da linguagem deles?

Bem, o dicionário veio a calhar.


Ainda muito complicado.
A partir desse evento, os príncipes tiveram uma clara dimensão da
dificuldade cobrada na Anistia dos Tronos. Seria um verão de descobertas.

A principal delas proveio do grupo do Príncipe William que, realmente


ficou de queixo caído, ao presenciarem Louis balbuciando algumas frases
no idioma húngaro, sem falhar. Apesar de não ser tão fluente, conseguiu se
virar com sua postura sublime e comportamento augusto, recebendo elogios
do diplomata responsável, e olhares surpresos dos príncipes de sua equipe.
- mesmo que Tomlinson somente acenasse em agradecimento para toda a
bajulação -.

Assim, ao cair da noite e despedida dos diplomatas, que avisaram voltar em


quatro semanas quando esperavam que todos estivessem mais treinados e
prontos para tratarem de fato de novos acordos - já que nenhum foi
estabelecido pela falta de compreensão linguística - os príncipes retornaram
aos seus aposentos.

Viu-se nestes setes dias uma acensão moral do Príncipe William, o


fortalecimento social entre os príncipes, a aprendizagem árdua que
enfrentarão, e, principalmente, a maior frequência de príncipes que se
esgueiravam pelo corredor durante a madrugada, saindo nas pontas dos pés
do aposento com o lenço vermelho amarrado na maçaneta de ouro,
pertencente a Harry Edward Styles.

Os boatos são que seu exército de admiradores secretos estava ganhando


novas proporções.
Afinal, quem resiste ao pecado e a imoralidade quando estes possuem olhos
verdes e um cetro de cascavel?

***

Notas da autora:
Gente, novamente, perdoe-me pela monotonia da história, mas esta -
especificamente - carece de uma construção aprofundada de personagens
para que os mistérios dela em si possam fazer sentido.
Aliás no próximo capítulo, se não me engano, irá começar o suspense.

Eu lanço dois capítulos por semana.


Portanto, vocês preferem que de domingo faça att dupla (os dois de uma
vez), ou um no domingo e outro na quarta?
Chapter Eight

Episode: How to Wear a Crown

(Notas da autora: queridos, a partir de agora o fruto da história em si


começa a se desenrolar.
Preciso que fiquem atentos às datas - vocês logo saberão do que.

Farei um breve concurso ao longo da fanfic. Quem desvendar o mistério


primeiro, vence. Colocarei as informações sobre isso nas notas finais.)

Em decorrência aos grandes esforços aplicados no evento de domingo, a


administração real do Palácio de vidro os prometeu um próximo domingo
mais estimulante: trariam princesas para uma bela noite de valsa.

Mas claro, até lá haveriam ainda seis dias de atividades e aulas trabalhosas.
A recompensa não é justa sem o empenho anterior.

No despertar de segunda-feira, não só os príncipes como também alguns


empregados reais tiveram uma surpresa ao flagrar uma espécie de 'jornais'
empilhados na mesa de leitura do Salão dos Homens.

Os jovens, sempre em seus poucos momentos vagos, se concentravam no


salão para debaterem política ou conversas triviais, confraternizando
rodeados de petiscos e frutas frescas, na companhia de silenciosos livros ou
assuntos adversos.

Ao adentrarem no lugar após concluírem as seis horas de matéria de história


maciça - com um tempo livre de trinta minutos antes da Equitação, foram
surpreendidos com cerca de dez cópias de papel estirado sob tinta preta
fresca.

Nem mesmo os empregados sabiam dizer quem os colou ali ou escreveu.


Gregory, de Solvang, apanhou-o nas mãos e recitou as palavras em voz alta
para o aglomerado de curiosos empoleirados ao seu redor.

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"How to Wear a Crown"

Coroas de Diamantes, Capas de veludo, Cetros de esmeraldas.... Isso é um


resumo do que você pode visualizar ao pensar em dinastias reais.

Mas, deixe-me confidenciar-lhe algo:


O segredo é que príncipes não são príncipes, e sim atores.

Jovens carregando o peso do ouro sobre suas cabeças, vestindo sorrisos


cordiais, distribuindo uma nobreza soberba.

O que há por baixo então de suas coroas?

Atenção: se você não for alguém curioso e invasivo, nem tente essa leitura.
Dedico-a para todos os personagens narrados, e desde já me desculpo pela
intromissão em suas vidas.

Para os interessados, desejo boas vindas ao mundo das polêmicas, em que


príncipes escondem muita poeira sob seus sapatos caros.

Esta é a minha primeira temporada no castelo e, sinceramente, nos últimos


sete dias já presenciei mais do que imaginariam.

Se você virar a página, poderá ficar a par de tudo.

_______________________________

Os príncipes se entreolharam chocados. O nervoso passando diante seus


olhos, como se cada um temesse pela própria pele.

- Eu não acho que devíamos nos submeter a isso. Soa-me como um jogo
sujo e mal intencionado. - o príncipe Andrew de Western, com seus cabelos
lisos na cor mel e uma beleza inconfundível, reverberou.
Os outros concordaram lentamente, a curiosidade entrando em conflito com
a necessidade de autopreservação.

- Ele tem razão. Isso não nos levará a lugar algum, e quem quer que o tenha
escrito, não o fizera de boa índole. Devemos nos livrar das dez cópias
mantendo-as intocáveis.

Ao passo que Gregory juntava a pilha de jornais para descarta-la, uma voz
prepotente interviu, seguido de um príncipe petulante agarrando um dos
exemplares.

- Espere, espere, espere. - Harry reverberou, sorrindo para os olhares


fulminantes dirigidos ao seu ato. - Isso é a coisa mais interessante que eu
presenciei em seis temporadas. Querem mesmo desperdiçar a chance de
uma possível adrenalina?

- Este é o tipo de armadilha feita para nos causar intriga, Príncipe Edward. -
Andrew se pronunciou, tentando tirar a folha da posse dos longos dedos,
adornados com anéis e maldade. - Não precisamos nos expor dessa forma.

- Quem não deve, não teme, querido. - Styles argumentou, sorrindo


lateralmente. - A menos que todos aqui devam...

- Não importa. - um terceiro príncipe retrucou. - Nós chegamos no acordo


de depredar os exemplares. É o que faremos.

- Cory, certo? - o cacheado proferiu, referindo-se ao jovem atrevido de


mexas loiras. - Me diz, o que fez de tão errado para negar-me o direito de
livre arbítrio?

- Eu não estou o negando direito nenhum! - o príncipe rebateu na defensiva,


suas esferas castanhas se acanhando.

- Ótimo. - Harry concordou vitorioso, piscando sua arrogância. - Já que é


assim ninguém está na autoridade de me impedir de manter uma cópia,
hum? E ler em voz alta!
- Ora, seu- Andrew tentou avançar em Styles, sendo impedido por diversas
mãos sóbrias e cientes da consequência que agressões físicas podem trazer.

E nada seria mais desdenhoso do que a expressão debochada do intragável


herdeiro do trono de Malta.

- Quem não quiser escutar que tampe os ouvidos. - Harry decretou, subindo
e se erguendo de pé em uma poltrona para narrar a segunda página do jornal
em alto som.

Por mais que se opusessem ao caso, ninguém era realmente tão indiferente
ao ponto de sair do salão e deixar de escutar as fofocas.

_______________________________

"How to Wear a Crown"

Segunda-feira, 08/06

Não deve ser novidade o fato de que príncipes regidos pela honra e boa
conduta durante duas décadas estejam a procura de uma ruptura.

Portanto, essa busca indireta da liberdade parece ter encontrado seu


caminho na existência de Harry Edward Styles.

Os boatos são reais.


O futuro herdeiro de Malta existe e é exatamente como o julgam:
A serpente.
A serpente do Jardim do Éden.
Senhores, ele até mesmo possui uma bengala de cobra.

O fato é: o pecado está atraindo Eva.


E alguns já morderam a maça.

Os rumores de que príncipes vêm sendo flagrados percorrendo os


corredores do terceiro andar de madrugada têm sua autenticidade.

Alguns já reconhecidos são Zack, príncipe de primeira linhagem do Reino


de Torque, Wilson, de Lindeia, e Arthur, o filho único do glorioso rei Cezar
de Atlanta.

Outros que não foram identificados até o momento terão seus nomes
divulgados em um futuro próximo.

O que suas famílias reais diriam se soubessem?


Será que eles adormecem de consciência limpa ao deitarem a cabeça no
travesseiro após uma tórrida madrugada com Príncipe Edward?

Cuidado com a cobra, senhores, algumas picadas podem ser mortíferas.


E o veneno se espalha rápido.

Att: Sua Fonte Anônima.

________________________________

Não é necessário relatar a incredulidade e choque alheios quando Styles


finalizou a leitura, certo?

- Não devemos permitir que esses jornais se espalhem para fora do Palácio.
Jamais. - Gregory alertou, piscando confuso e sem jeito pelas revelações.

Os príncipes cujos nomes foram revelados deixaram imediatamente - e


discretamente - o salão, retornando para seus aposentos onde poderiam
esconder a vergonha e derrota.

- Concordo. - Andrew reforçou. - Duvido que qualquer informação sobre


nós e o que fazemos estejam a salvas tendo um impostor na roda.
Se qualquer escândalo vazar, estamos todos perdidos. Deixem que a poeira
abaixe e esqueçamos do ocorrido.

Os receosos rapazes concordaram imediatamente com o herdeiro de


Western, engolindo a seco como se suas gargantas houvessem se secado
tanto quanto um deserto.

- Ora, Ora. - Styles riu irônico. - Vejo que tenho um fã. Seja quem estiver
por trás disso: Obrigado pela parte que me toca, digo, a serpente. Carolina,
minha cascavel, agradece a referencia também. - balançou graciosamente a
bengala mencionada no ar, as esmeraldas cravejadas em seus olhos de
madeira.

- Pelo amor, ele colocou nome em uma bengala. - Andrew resmungou,


meneando a cabeça.

- Isso te incomoda, honey? - Styles indagou, descendo da poltrona e


andando em direção ao príncipe com um ar desafiador.

- Na verdade, você me incomoda. Não está vendo o que sua diversão idiota
provocou em uma semana?

Harry abaixou a cabeça iniciando um riso irritante.


Os jovens ao redor os encaravam assustados, ninguém mais se sentindo
seguro com a possibilidade de ter informações a seu respeito vazado.

Ao que a risada sátira de Styles cessou, o mesmo ergueu o rosto lentamente,


suas orbes verdes em um tom escuro e um sorriso malvado bordando a linda
e intolerável face.

Os lábios finos se aproximaram do ouvido de Andrew, o qual tencionou


sem reação.

- Querido, tudo que eu faço é oferecer meu pólen. A culpa não é minha se
as abelhas se atraem.

Dito isso Harry piscou-lhe sacana recuando os passos e se virando, um


exagero em seus movimentos enfatizando sua saída dramática da cena
enquanto ele se afastava dos príncipes, rumando à porta sem olhar para trás.

****

________________________________

How to Wear a Crown

Terça-feira, 09/06
Cavalheiros, é com muita surpresa que venho publicar minha segunda
edição de jornal no dia seguinte ao primeiro.

Não que eu tenha estipulado um dia exato para escrevê-lo, isso é com
vocês. Conforme me dão o que falar, eu falo.

E já que ontem foi uma tarde agitada no Glass Palace, sinto-me na


obrigação de comentar a respeito do incidente.

Como sabem, o Príncipe Andrew Huston de Western sofreu um acidente


durante a última aula de equitação, enquanto trotava com seu Morgan de
pelagem escura nos arredores do estábulo após o término das aulas.

Quem os vira no primeiro treino da semana passada não diria que aquele
equino é agitado. Muito pelo contrário, um dos bichanos mais dóceis da
cavalaria.

O que o fizera correr desnorteado de um segundo para o outro, pondo a


prova a vida do Príncipe Andrew?

Especulações, meus caros.


Ouvi algumas teorias suas em que o cavalo tenha se assustado com algum
estrondo, ou um inseto.

Aqui vai uma notícia fresca e de primeira mão: aquele equino tem pavor de
cobras.
Escutei sem querer o cuidador dele murmurar .

Qual a relevância disso?


Pensei que só haveria uma pessoa entre todos capaz de conhecer os
cavalos tão bem, como se estivesse há várias temporadas perambulando
pelo estábulo.

Podem acreditar em mim, ou não. Mas também foi encontrada cobra falsa
de pelúcia no quarto de Harry Edward Styles.

Coincidência? Hm, não acredito.

Andrew segue bem- uma das pernas quebradas apenas, e um corte na testa.
Apesar disso, eu não acho que alguém esteja seguro com uma verdadeira
cobra a solta.

- E eu não me refiro à de pelúcia, ou à Carolina -

Att: Sua Fonte Anônima

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(Notas da autora:
sobre o concurso.

Não sabia exatamente o que fazer de prêmio mas imagino que o vencedor
possa escolher um tema/enredo de uma fanfic e eu escreverei o que elx
quiser.
Combinaremos direito depois.

A única coisa que você deve fazer é ser o primeiro a desvendar quem está
por trás do jornal, How to Wear a Crown e o por quê disso.

Nesse primeiro capítulo não dá para se ter um palpite, e creio que


demorará algum tempo até que você possa criar uma boa teoria.
Assim que tiver a sua pronta me envie por mensagem, você pode muda-la
no máximo tres vezes.

Até a próxima. Xx)


Chapter Nine

Episode: Touché

- Como você ousa?! - Andrew mancava com sua perna esquerda engessada
para atravessar apressadamente o salão do almoço.

Devido suas fraturas do dia anterior havia sido dispensado das aulas
teóricas, podendo se recuperar melhor no conforto de seu quarto com o
auxílio de suas criadas.

No entanto, assim que amanheceu com o jornal deixado ao pé da porta de


seu aposento - assim como os todos os príncipes também obtiveram seus
exemplares da mesma maneira - imediatamente se enfureceu.

Suas criadas sentiram-se imediatamente culpadas por te-lo entregue o


manuscrito enquanto levavam seu almoço em uma bandeja de prata, razão
pelo qual o príncipe engoliu a dor da fratura e se vestiu mais
adequadamente, exigindo que algum empregado real o ajudasse a descer as
escadas.

Rumou desconcertado para o Salão A onde os jovens estariam tendo sua


segunda refeição do dia e não hesitou ao escancarar a imensa porta, a raiva
estampada em seu belo rosto.

Procurou-o com o olhar, encontrando-o sentado perto da ponta degustando


seu suco de frutas.

- Você! - reverberou quase em um berro, esforçando-se para se aproximar


da figura petulante que o encarava surpreso pela intimação nervosa.

Harry vestia uma calça branca larga com uma típica camisa de mangas
compridas bufante florida em tons de rosa, concedendo-o uma imagem
pacífica de quem dificilmente teria acometido uma maldade com outro
garoto de modo tão bárbaro.

No entanto, aparências enganam.

E era necessário se lembrar que a bengala do glorioso Príncipe de Malta não


possuía formato de cobra a toa.

- Eu? - Harry indagou repuxando um sorriso sacana lateral, afastando sua


cadeira para trás e se erguendo de pé enquanto levantava as mãos para o
alto, em uma fingida rendição.

- Seu patife! - Andrew xingou-o, parando em sua frente. O dedo apontado


para o nariz afilado de Styles.

- Mas o que fiz dessa vez para deixa-lo tão fora de órbita? - Harry falou
com uma voz triste forçada. - Oh deus, escutei que deveria estar de repouso,
não lhe fará bem esses esforços.

- Cale a boca! Como pôde, seu idiota?!

Todos os príncipes ficaram em alerta, levantando-se assustados pela


proporção que aquilo poderia tomar.

- Especifique-se, cavalheiro. - Harry continuou com sua expressão de


'inocência' pintada em um tom de deboche, enquanto as cores que Andrew
via em sua frente eram avermelhadas, quentes, que o remetiam a sangue.

- Você sabe! Usou uma cobra pra assustar meu cavalo?! Tudo isso por quê?!
Porque eu deixei claro que sua personalidade egocêntrica e prepotente
destruiria a moral alheia?

- Oh! Mas quanta hipocrisia, meu Deus! Ontem mesmo presenciei o senhor
e uma roda de outros jovens discursando sobre como não devemos dar
ouvidos aos burburinhos que esse escritor anônimo pretende causar... -
Harry dizia, olhando desinteressado para os próprios dedos longos
adornados de anéis caros. - ... E agora, basta a primeira matéria com
acusações para a minha pessoa que você vem me julgar? Isso é feio, hum.
- Harry Edward Styles, é bom que você não esteja envolvido nisso ou eu
juro que lhe quebro o pescoço agora mesmo!

O sorriso que tanto se prendia no rosto insolente do príncipe arrogante


aumentou.

- Eu não afirmei que fui eu. Em momento algum.

Andrew estreitou os olhos castanhos para as esferas verdes poluídas,


buscando abrandar a exaltação de alguma maneira.

- Mas também não neguei. - Styles acrescentou, uma risadinha petulante


escapulindo de seus lábios ao passo que o príncipe avançava furiosamente
em sua direção, com um punho fechado pronto para acertar-lhe um soco,
mas impedido devido às limitações que sua perna engessada o causavam.

Outros príncipes se prontificaram no mesmo instante, indo segura-lo e


impedi-lo de se machucar ou machucar Styles, que fitava-o expressando
tédio.

- Você é o próprio diabo! Vai queimar no inferno! - Andrew vociferou,


sendo sustentado por braços que bloqueavam suas tentativas de se
desvencilhar e agredir o descarado sujeito do cetro de cascavel.

As palavras, de algum modo, despertaram o interesse de Harry, o qual parou


gradativamente de sorrir adotando uma postura mais séria.

Ele andou alguns passos para frente, curvando-se a medida que seu rosto
pairava alinhado ao de Andrew.

- Querido, eu vivo no próprio inferno. - Edward sussurrou em um timbre


audível para quem estivesse próximo. - E arrasto quem puder comigo.

Com a voz rouca selando o que seria um desfecho horroroso para o cenário
de um almoço - em que ninguém realmente teve apetite para a sobremesa -
Styles se endireitou e o lançou um último sorriso de lábios fechados, olhos
perversos e juras ocultas.
Afastou-se e saiu do salão, deixando dentro dele pessoas espantadas com o
comportamento dos dois e o príncipe de Western jurando que ainda daria a
volta por cima.

****

Ao entardecer daquela mesma terça-feira, quando os ânimos gerais haviam


se acalmado embora uma tensão densa pairasse no ar seco de um verão
quente, os príncipes rumaram para o campo de treino portando o sabre nas
mãos e vestindo-se adequadamente com máscaras e jaquetas protetoras do
esporte.

Andrew fora obrigado a retornar ao seu aposento para descansar


devidamente durante três dias.

A administração real foi acionada, tomando ciência do incidente e


prometendo providências até o final de semana. Eles não poderiam de fato
acusar Harry Edward Styles sem provas concretas - mesmo que no fundo
soubessem os limites e traquinagens do príncipe que esteve lá e já causou
problemas durante outras cinco temporadas.

- Prontos para o verdadeiro Esgrima? - o treinador Jordan questionou,


ordenando que eles se enfileirassem lado a lado para 'ensina-los' algumas
instruções práticas, visto que na semana passada aprenderam somente
informações teóricas do esporte.

Conforme ditava os passos e demonstrava os golpes, segurando firmemente


o sabre e golpeando o ar com precisão - sinceramente, ele estava lecionando
príncipes que provavelmente já lutaram com espadas verdadeiras e sem
proteção alguma com seus conselheiros. Fazia parte da programação de
'como criar um garoto que tornar-se-á um futuro destemido rei'. Espadas
costumavam ser um extra nas brincadeiras de pega-pega.

- Irei coloca-los em duplas para treinarem suas primeiras partidas. - o


treinador avisou, separando aleatoriamente jovens.

Ao final, suas escolhas foram fascinantes.


- Harry Edward Styles e Louis William Tomlinson.

Enquanto Harry se apressava para tomar sua posição com o típico queixo
erguido e seu casual orgulho ostensivo pesando talvez mais do que as joias
que enfeitavam exageradamente seu corpo, Louis andava devagar em
passos secos porém delicados, que remetiam a uma pluma planando no ar e
simultaneamente ao estrondo de um raio cortando o céu no apogeu de uma
tempestade.

Um de frente para o outro.

Fazia cerca de uma semana desde que as gramas de verão repousaram sobre
as lagoas azuis, e nenhuma outra vez desde então.

Apesar de Harry até ter preferido evitar contato desnecessário com o


príncipe que ferira facilmente seu orgulho, não fora uma escolha sua a
distância entre os dois.

O Príncipe William era simplesmente inalcançável. Ele não interagiria por


pura vontade com os outros e raramente era flagrado transitando no Salão
dos Homens ou jogando conversa fora com qualquer um deles.
Geralmente, Louis passava como um fantasma nas aulas e refeições.

Calado. Focado. Austero. Sóbrio demais para uma realidade de coroas e


cortejos, onde todos nasceram em berços de ouro - no sentido denotativo da
frase - e cresceram como protagonistas de contos de fada.

Tomlinson parecia ser a exceção. Ele era o rei da fábula. Um jovem que
nunca exerceu o estereótipo de um príncipe, nascendo em um atalho direto
para o trono e a administração de algo maior.

A sua presença bastava para que quem estivesse próximo sentisse sua
dominância natural, o respeitasse sem motivos aparentes como se ele de
fato possuísse uma grande coroa de ouro cravejada de diamantes invisível
sobre os fios acastanhados.

Ninguém - além de Liam Payne - nem ao menos se submetia a missão


impossível de tornar-se amigo de alguém tão reservado quanto Tomlinson.
Liam era o único que realmente fazia questão de estar por perto de Louis
quando este dava as caras - o que já era de uma inexorável raridade - em
espaços comuns.

Claro, se conversassem com o Príncipe William e tentassem estabelecer um


diálogo, Louis seria um agradável ouvinte e intelectual transmissor de
ideias. No entanto, era preciso que você fosse até ele e desenvolvesse um
assunto, caso contrário o príncipe optaria pelo isolamento, na companhia de
livros clássicos com títulos em latim ou na língua franca.

Harry, particularmente, sentia certa aversão pelo jeito tranquilo e inabalável


de Louis. Não ser capaz de atingi-lo o irritava.

- Pronto para perder? - Styles provocou enquanto os dois faziam uma


reverência de iniciação, intersectando suas armas.

Tomlinson não o respondeu, embora. Era uma coisa sua, desde menino,
cresceu com cinco irmãos extremamente competitivos que ameaçavam e
pressionavam uns aos outros durante os jogos, intimidando-os. O garoto do
meio, Louis, era o único que evitava escutar as insinuações, focando-se no
jogo. E ganhando na maioria de vezes.

Quando o tintinar dos sabres preencheu o silêncio do campo, os príncipes já


atacavam e se esquivavam dos golpes, abaixando-se ou dando passos para
trás elegantemente, sendo ressaltada a importância de nunca perderem a
etiqueta de um 'rei' durante seus movimentos.

Precisavam ser graciosos. Delicados. E rígidos.

Harry era um verdadeiro desafio.


Ele desenvolvera uma grande habilidade para o Esgrima, agindo rápido e
cordial, igual um leão feroz encurralando uma presa.
Sua mão segurava firme a 'arma', buscando formas de atingir o corpo
menor.

O uso de máscaras eram essenciais para a proteção, e, não tão


surpreendentemente, Harry possuía um traje diferente. Enquanto toda a
vestimenta para os demais príncipes era inteiramente branca (desde as luvas
ao plastrão), Styles mandara confeccionar em sua segunda temporada no
Palácio um figurino próprio, tendo como Azul Maya a principal cor de suas
composições - em exceção à mascara, que era em uma extravagante
tonalidade Índigo com fios de prata se abraçando e entrelaçando até
formarem desenhos de flores de lis.

Ele sempre seria o destaque.


Ele gostava disso.

O que ele não gostava era do fato de Louis não vacilar nenhuma vez diante
dos seus ataques, mantendo-se firme na defensiva, sem brechas ou falhas,
desviando fervorosamente de suas investidas, o que frustrava Harry.

Então o cacheado teve uma ideia. Distrai-lo.

- Diga-me, vossa alteza. - Harry balbuciou, esticando rapidamente seu braço


sem sucesso devida à rápida reação de Louis. - Não tens medo de ser meu
adversário visto a minha reputação dos últimos acontecimentos?

O semblante concentrado do menor não se alterou, olhando antenado para o


leão com suas armadilhas.

- Últimos acontecimentos?

- Oh, ora, não me diga que é tão recluso ao nível de não estar a par dos
escândalos vigentes. Não acredito.

- Honestamente. - Louis reverberou, desviando de um novo movimento e


começando contra-atacar, pegando Harry desprevenido pela sua agilidade
marcante e golpes firmes. - Não me inteirei no assunto, não é de minha
persona atentar-me a intrigas.

- Então você não pensa que fui eu quem colocou a cobra?

- Foi?

Styles recuou alguns passos somente para dar um impulso mais preciso em
seus próximos movimentos, disposto a perder uma perna pela vitória da
partida.
- Eu nunca conto os meus segredos. - Harry reforçou, com uma nova
estratégia de ataque lateral, que foi percebia rapidamente por Louis, o qual
se esgueirou para trás e bateu com as pontas dos sabres, entornando o do
príncipe para baixo. - Assim como você? Presumo.

- Não sou um homem de segredos, vossa alteza. - Tomlinson rebateu,


apresentando um sorriso lateral simpático embora seu olhar se mantivesse
atento para o Esgrima.

- Blasfêmia. - Harry contestou, conseguindo pela primeira vez uma brecha


na defesa das lagoas azuis, estando há milímetros de ter acertado o ombro
alheio e ganhar a partida. - Não há ninguém que resista uma vida sem
privacidade.

- Pois bem, segredos é o caminho oposto de privacidade. Eles existem


unicamente para que sejam expostos.

- Isso não faz o menor sentido. - Styles argumentou, flexionando os joelhos


e executando um ataque baixo, novamente quase acertando Tomlinson e
vencendo.

- Você precisa transparecer aquilo que não quer que os outros saibam sobre
você. Quanto mais debaixo de seus narizes estiver, menos enxergarão. É um
grande provérbio chinês.

- Sem fundamento algum. Chineses não passam de banqueiros querendo


trapacear nos acordos comerciais.

- Estão corretos pelo provérbio, embora. Aqueles que buscam se fantasiar


em uma armadura que não vos pertencem, menos escondem suas
verdadeiras fraquezas. - Louis reverberou, sereno, com uma neutralidade
exímia.

Harry, no entanto, franziu seu cenho. Cada minuto mais sedento pela vitória
de fazê-lo engolir essa mansidão, junto com uma derrota vergonhosa, para
então escutar daqueles lábios finos atrevidos um 'Touché', de quem
reconhece a perda do jogo.
- Isto é sobre mim, vossa alteza, hum? Seja direto.

- Eu não me refiro a ninguém específico. É apenas um provérbio.

- Pois pra mim foi uma referencia clara. Estamos em um novo jogo e eu não
sabia? Está me transmitindo morais?

- Não sou alguém para tal. - Louis replicou. Os sabres batendo em volume
alto. - Guardo a moral para mim próprio.

- Oh, jura? Isso é patético. - Harry caçoou, revirando deselegante os olhos. -


Mas vamos, eu te desafio, me fale um ditado que mais se atribuiria ao meu
ser.

- Não acho necessário.

- Uma. Apenas uma. Ande. - instigou, segurando o sabre com firmeza e


aplicando mais força nas batidas.

- Certo. Eu lhe diria que não é pela força que se vence.

- Bobo. - Styles riu. - Isso me soa como discurso de gente fraca.

Rebateu um contra-ataque sendo quase violento.

- Força física é um artifício para fracos de mente, Príncipe Edward.


Respeito não se conquista através da opressão.

Um riso arrogante e debochado escapuliu da boca vermelha - talvez fosse


uma pigmentação de cosméticos, sempre estava vermelha demais - de Harry
Styles.

- Olhe para mim, Louis. Eu estou no controle de tudo. Sendo quem quero e
fazendo o que sou. - Harry proferiu, sorrindo insano ao reparar o descuido
de Louis ao querer defender-se com passos bambos para trás, causando a
desproteção de seu lombar esquerdo, facilitando a vitória de Harry, que
bastaria uma distensão rápida do braço para nocaute-lo.
Contudo, ao aproximar-se rumando um alvo no corpo de Tomlinson, o
mesmo desviou com um giro surpresa, pegando-o desprevenido e
atingindo-o certeiro em sua clavícula.

Louis ganhou.

- Essa é manha. Você precisar fazer com que pensem que estão no controle,
até demonstra-los o contrário - Príncipe William pronunciou tenro,
livrando-se da máscara branca, endireitando sua postura, e, pondo os braços
para trás das costas formalmente, enquanto assistia o adversário de cabelos
compridos e cacheados removendo a máscara Indigo estampada de flores
com sua respiração ofegante e pose curvada.

Os olhos verdes de grama de verão se arregalaram ao notar que o dono das


lagoas azuis nem sequer possuía uma respiração desregulada, ou mesmo
apresentava sinais de exaustão.

Ele continuava distinto, intocado, como quem terminara de jantar e não


quem estivera praticando um esporte estratégico e ardiloso. O que fez
parecer uma vitória fácil, sem muita resistência por parte do adversário -
embora Harry tenha muita habilidade para esgrima.

Louis aguardava calado. Harry sabia o que ele esperava e seu estômago
corroía sua honra.

- Touché. - Harry murmurou a contragosto, tendo que (contra sua vontade)


reconhecer a derrota.

Louis concordou com um aceno da cabeça, estendendo a mão para que


Styles correspondesse o cumprimento amistoso entre jogadores.
Era parte da etiqueta da elite educada.

Ao unir suas palmas em um aperto condescendente, Harry notou o calor


natural que Tomlinson emanava - e não só pela epiderme.

- Foi um bom jogo, vossa alteza. - Tomlinson elogiou, sorrindo com


cordialidade.
Contudo, Harry estreitou seus olhos verdes de uma maneira provocativa,
aproximando seus rostos sem quebrar o contato visual.

- Eu vou ter a minha revanche, príncipe. - ameaçou, uma covinha maldosa


afundando a bochecha. - Espere e verá.

**^
Chapter Ten

(Notas da autora: Att quíntupla hoje. Aproveitem!

______________________________

"How to Wear a Crown"

Sábado, 13/06

Salve, salve príncipes em formação.

Há quantos dias não vos direciono minhas palavras? Talvez quatro.


Senti a fobia de ressaltar que amanhã teremos o primeiro evento festivo
com a presença de princesas.

Damas, hum?
O que me dizem sobre isso?
Não sei vocês, mas eu tenho a sensação de que este domingo promete.

Mas vamos lá conversar sobre as fofocas desde terça-feira.

Não foi surpreendente a explosão do Príncipe Andrew durante aquele


almoço? Ninguém deveria tira-lo a razão de querer arrancar as tripas de
Harry Styles.

O charmoso futuro rei de Malta (em algum futuro distante, aparentemente)


não negou e nem confirmou sua participação no crime. O que significa que
ele pode não ter honra, porém é honesto, já que isso foi mais do que uma
confissão de seu ato.

A administração real pouco se moveu, o que me faz pensar que talvez


Harry possua um pouco de impunidade nesse sistema. Não seria estranho
crer nisso visto que eles, como qualquer outro, devem estar ansiosos para
se livrarem eternamente da presença intragável do Príncipe Edward deste
palácio.

A possibilidade de uma sétima temporada do príncipe deve lhes soar como


um pesadelo, o que os leva a relevar algumas de suas peripécias.
Faz sentido, não?

Outro acontecimento memorável foi a vitória do tenro herdeiro de


Riverland sobre Harry.
O Esgrima nunca soou tão efervescente.

Por falar no promissor futuro rei de Riverland... Por onde anda esse Louis
William Tomlinson?
Muito se comenta a seu respeito em círculos sociais dos quais se ausenta.
Ele é visto como um rei precoce, destacando-se pelo ar de soberania
mesclado com canela e lavanda. Uma combinação peculiar para uma
personalidade mais peculiar.

Seu sumiço é evidente no palácio, revelando que sua presença só é


saboreada durante as aulas, e em tempos vagos é como se nem sequer
houvesse um príncipe de cabelos castanhos, pele bronzeada e olhos
incrivelmente azuis habitando o palácio.
Qual é o seu segredo, Louis? Esconde sua amante nos aposentos?

Vamos falar sobre a nova moda do momento: Zayn Malik.


Ou deveríamos nos referir a ele como a beldade da temporada?
Suas íris acastanhadas e longas pestanas vêm arrancando o suspiro de
muitos rapazes por aí.
Não é a toa que sua simpatia e elegância o enriquecem ainda mais de
nobreza, tendo tudo aquilo que os demais visam.

O boato é que há muitos salivando pelo rostinho de ouro, sendo um deles o


implacável Harry Edward Styles.
Zayn Malik aceitaria?

Voltando a menciona-lo: sim, a dinastia Styles (em sua forma pecaminosa e


suja) está mais forte do que antes. Talvez seja essa sua desprezível
arrogância que o atribui um diferencial.
Alguns denominam isso de petulância.
Já outros, de charme.

Helia, de Cartum, Riven, de Medici, e Logan, de Virgilia, são os novos


nomes identificados de quem têm se esgueirado pelos corredores durante a
madrugada, deixando o quarto de Harry com roupas amassadas e cabelos
desgrenhados.

Ainda há pouco a se falar sobre tais ocorrências, mas espero que o


domingo honre as promessas.

Ponham suas máscaras para o baile, príncipes:


Soube que fazer escondido é bem mais interessante.

Att: Sua Fonte Anônima.


Chapter Eleven

Episode: Diana

Domingo.
Finalmente domingo.
Uma manhã de ansiedade e gracejos.
Uma manhã de expectativa e medições.

Medições?
Sim. Os alfaiates reais se apresentaram nos aposentos dos príncipes logo no
nascer do sol - oh, um sol de verão, daqueles que os raios dourados
sacrificam sua pureza e penetram no céu límpido -, fitas métricas enroladas
em seus pescoços e sorrisos amistosos acompanhados de um 'sinto muito
por apresentar-me tão cedo, vossa alteza, mas devemos iniciar as medições
e costuras imediatamente para que vossos trajes de gala estejam prontos até
a iniciação do evento'.

Os príncipes, embora exaustos e com sono, deviam recordar-se que ser um


rei é se submeter a qualquer contratempo e compromisso visando o
cumprimento de etiquetas e reputação.
Estética é um dos ramos da Soberania, infelizmente.

- Vossa Alteza? - uma voz melodiosa e tímida escoou pelo quarto ainda
escuro. - Tenho permissão de abrir as cortinas? O alfaiate está prestes a
chegar.

Louis esfregou os olhos, inspirando fundo.

Ele nunca foi alguém difícil de despertar, embora sua insônia geralmente o
mantivesse acordado encarando o teto até tarde da noite e acabasse por
desregular completamente o sono.
- Claro. - proferiu com a voz rouca e um pouco grogue. - Bom dia Jeze-

No entanto, assim que o tecido vermelho grosso das cortinas foi afastado e
a claridade invadiu o espaço, Tomlinson se surpreendeu ao notar Lorena ali,
com um pequeno sorriso tímido e uma bandeja de café da manhã em mãos.

Honestamente ele não acreditava que veria a garota.


Era Jezebel, sua irmã alta e loira, quem vinha acorda-lo e transmitir suas
tarefas diárias, sendo Lorena apenas a assistente calada e reclusa que
espanava o quarto ou prestava serviços que não exigissem interação.

- Oh. Bom dia, Lorena. - Louis saudou, sentando-se no colchão e pedindo


que a mesma depositasse a bandeja sobre o criado-mudo. - É uma surpresa
vê-la, confesso.

As bochechas da menina tornaram-se rosadas diante a pele pálida, que se


distraía espalmando a costura de seu vestido de criada.

- É, b-bem... - iniciou gaguejando, parando por alguns segundos até


recobrar alguma confiança . - Jezebel está com o alfaiate, auxiliando ele
para separar tecidos e sugerindo moldes, ela é boa com moda. Pediu para
que eu trouxesse seu café.

- Compreendo.

- Ela acha que isso é bom. Que eu me soltaria mais. - adicionou em baixo
tom, numa luta interna entre se encolher instintivamente ou manter a
postura ereta.

Tomlinson acenou em ciência, avaliando o comportamento recatado e


assustado da moça. Ele meio que sentia sua insegurança. E ele meio que,
pela primeira vez, desejou sair de sua figura neutra de futuro rei para
abraça-la igual Johanna fazia com todos os filhos quando chovia forte e os
trovões os assustavam.

- Você tem medo de mim? - Louis indagou, ao invés. Para não deixá-la
desconfortável com o direcionamento de uma pergunta íntima, ele ocupou
sua atenção com o café da manhã, mastigando as uvas verdes sem caroço
com uma tranquilidade esclarecedora.

- N-não. - Lorena negou imediatamente. - É-é só que... - tomou um suspiro


profundo, mordiscando o canto dos lábios vermelhos. - Isso é grandioso
demais, sabe?

Os olhos vibrantes azuis desviaram-se da xícara branca de porcelana para as


grandes orbes verdes arregaladas.

Louis bateu levemente ao seu lado do colchão sinalizando para que ela se
sentasse.

- Eu não posso, vossa alteza. Não é permitido. - ela negou veemente,


recuando passos para trás.

- Isso é uma ordem, Lorena. - Tomlinson disse, apesar de sua voz não ser
autoritária e sim suave e gentil.

A garota assentiu lentamente e se ajeitou constrangida na cama, encarando


o próprio colo em que o tecido de sua veste preta contrapunha-se com um
avental de babados brancos.

- Então, o que é grandioso demais? - Louis questionou, oferecendo-a um


dos biscoitos doces (que teve o ímpeto inicial de rejeitar por educação, mas
que, claro, a insistência de Tomlinson fez com que aceitasse de bom grado).

- Trabalhar no Palácio de Vidro. - murmurou com a voz abafada por estar


mastigando ao mesmo tempo. Se a governanta principal assiste a cena
Lorena estaria provavelmente condenada. - E-eu sei que para que quem vê
de fora é-é apenas a criadagem. M-mas ser uma criada real é um grande
título para nós, que morreremos humildes.

- Não é 'apenas a criadagem'. - Tomlinson desmistificou. - Nós todos temos


a mesma importância em um castelo.

Lorena lançou-lhe uma feição de 'não força', a qual Louis arqueou


levemente os lábios pela petulância inocente da menina.
- Por favor. - ela grunhiu com um toque de ironia, um suspiro
descompensado. - Nós sabemos que não é assim.

A face delicada e simétrica do príncipe encarou-a firme, o semblante


tornando-se sério.

- Sabe, Lorena, há um provérbio chinês, um dos que eu gosto, que diz que
depois de uma partida de xadrez, o rei e o peão, e todas as peças, são
guardadas na mesma caixa. Não importa qual é relevância dela no jogo, elas
acabam indo para o mesmo espaço, embaralhadas.

Tomlinson pausou, encarou um quadro na parede oposta pintada por um


renomado artista italiano, anjos brincavam nas nuvens em um céu dourado.

Piscou lentamente, fitando a morena novamente.

- Você entende a metáfora nisso?

- A-acho que sim. - murmurou com um misto de esclarecimento e


perturbação visíveis.

- Nós somos iguais. Eu e você. E no fundo, talvez, muito mais do que


acredite. Nascemos com uma meta previamente estipulada. É um corredor
escuro em que afirmam a luz estar atrás da porta, do outro lado, tendo-nos
que guiarmos até alcança-la. Ao menos é como uma coroa me soa, não sei
qual o funcionamento para os empregados reais.

Os lábios inferiores de um rosado pálido eram macerados pelos dentes da


menina, que mordia-os para amenizar a ansiedade.

Ela tomou uma lufada de ar, certa de que dialogar com Louis era realmente
fácil.

- A gente cresce escutando dos adultos que se formos bonitas o suficiente, e


eficientes o suficiente podemos ser selecionadas para trabalhar em Palácios.
É-é o mais próximo de um 'sonho de princesa' que devemos ter.

- Você o realizou então?


- E-eu não consegui por mérito próprio, claramente. - Lorena confessou,
sentindo a pele esquentar. - Minha irmã, Jezebel, que os pediu. Ela tem uma
boa reputação por seus serviços eficazes, se eu estou aqui os créditos são
dela. Eu sei que não sou preparada o bastante para servir membros da
família real.
Parece pouca coisa, mas é muita, tem muitas regras e etiquetas que eu já
devo ter quebrado.

- Etiquetas são sobrestimadas. - Louis proferiu, notando a garota prender


um riso porque (sério?), o príncipe mais formal de todo o palácio, com pose
natural de rei, estava criticando as regras? O sistema?

Enquanto ambos se olhavam com sorrisos suspensos, a porta fora


suavemente aberta, surgindo de lá Jezebel acompanhada do alfaiate.

Alguns príncipes estavam atrás dos dois, no corredor, espiando pelas frestas
da cabeça o que tanto espantara a criada loira e o alfaiate.

Claro.
Lorena, sentada ao lado do Príncipe William na cama.
Lorena, uma criada.
Sentada.
No.
Colchão.

Os olhos azuis de Jezebel estavam arregalados pelo flagra, seu rosto se


enrubesceu por ser sua irmã ali.

Isso era totalmente contra a ética.


Extrapolou qualquer limite que um empregado deve se basear ao tratar de
sua alteza.

O alfaiate encarava alguns alfinetes que carregava em uma bola de tecidos,


sem graça.

E um grupo de alguns príncipes curiosos, dentre eles Liam Payne, Zayn


Malik, Andrew e Cory, também piscavam atônitos pela proximidade
imprópria dos dois.
Ele era um futuro rei.
Não devia nem sequer direcionar palavras que não se relacionassem a
ordens ou dúvidas à pessoas de estamento tão inferior ao seu.

Ainda mais Louis William Tomlinson.

- Lorena. - Jezebel sussurrou como repreensão e uma feição advertida,


avisando-a por sinais discretos para se levantar dali.

A garota de somente dezessete anos se levantou imediatamente,


envergonhada, mantendo uma pose encolhida perto da irmã.

O alfaiate adentrou o aposento, virando-se para fechar a porta com um


gracioso 'com licença vossas altezas' para os príncipes ainda mortificados
encarando a cena, trancando-a em seguida e finalizando o episódio.

- E-eu-

- Conversamos mais tarde. - Jezebel interrompeu Lorena, lançando-a um


olhar aguçado.

- Não se preocupem, a culpa foi minha, eu que a ordenei para sentar-se ao


meu lado. - Tomlinson alegou, levantando-se com sua postura soberana já
transparecida.

O alfaiate pingaterreou, disfarçando a situação.

- Bom, vossa alteza, estou aqui para tirar algumas medidas, certo? Está
pronto?

...

O salão de Inverno fora o escolhido.

E, embora estivesse verão, não poderiam ter selecionado um espaço mais


adequado para o evento, o qual prometia uma abertura majestosa para a
presença de princesas pela primeira vez nesta temporada.
Guarnecido de cores nobres, como tonalidades divagando do púrpura à
malva, em suas longas cortinas e estatuetas de anjos em mármore, a grande
área impressionaria qualquer amante de artes e estética, estabelecendo um
íntimo de uma harmonia elegante e apurada.

Neste evento fora estabelecido o uso facultativo de máscaras para príncipes,


e obrigatório às princesas. Ninguém compreendeu ao certo o ponto deste
regulamento, mas regras são regras e cabe a todos cumprirem.
Talvez fosse pela auto preservação das jovens beldades, que sob seus longos
vestidos e cabelos volumosos não passariam despercebidas pelos
cavalheiros com suas vontades reprimidas e hormônios aflorando na pele.

Não era difícil príncipes e princesas terem casos rápidos e momentâneos


durante esses longos eventos, portanto, poupar a identidade da garota era
um meio fiel de conservar sua reputação intocada.

O tema da noite seria: Ophelia.

Ophelia era uma orquestra sinfônica romena conhecida e aclamada em


todos os reinos britânicos e francos, sendo tradição contrata-los almejando
gloriosidade.

Às (exatamente) sete da noite (pontualidade britânica exímia) - entre o sol


rosado poente e o entardecer do infinito - os príncipes foram conduzidos ao
Salão de Inverno.

Suas primeiras ações adentro do ambiente espaçoso foram avaliar uns aos
outros.
Não necessariamente com desejo lúbrico - talvez necessariamente para a
maioria - mas sobretudo julgando aquilo que lhes impressionava, seja de
uma maneira boa ou ruim.

A maioria dos alfaiates apostaram na tradicional casaca preta de


acabamento de cetim com calças ajustadas em suas pernas, lenços bufantes
brancos em seus pescoços adornados com um broche representando o
brazão de seus respectivos reinos, sapatos envernizados, bengalas
sofisticadamente simples e lisas - de madeira clara, em geral - e
preenchimento visual com joias, que eram o charme em seus trajes
simbolizando suas fortunas e enriquecendo seus corpos magros.

Uma influência do dandismo - moda da época vitoriana que pregava a


simplicidade na roupa masculina, tecidos lisos e cores primárias - foi
notavelmente disseminada entre o vestuário de gala.

Isso não diminuía a beleza de ninguém, no entanto.

Niall Horan permanecia um personagem de heroísmo romântico com seus


olhos azuis e fios loiros, vestindo unanimemente azul marinho.

Zayn Malik, o considerado mais belo, estava refinado em uma formatação


padrão às demais, embora suas longas pestanas e cabelo em gel - com uma
única e singela mexa caindo-lhe graciosamente pela testa - constatassem
que não haveria nada de mais comum para vestir que não o tornaria um
destaque nítido.

Outro com grande enfoque foi, claro, o príncipe-rei mais cobiçado da


temporada. Príncipe William que, diferente dos outros, pediu ao alfaiate
uma tonalidade clara para a ocasião, afirmando que o tema Ophelia lhe
remetia aos tempos de meninice em que se apaixonava pela vida todas as
noites de apresentação orquestral, esgueirando-se no parapeito da sacada de
seu quarto para observar os 'eventos de adultos' que seu pai, rei,
recepcionava no jardim de inverno, contratando músicos clássicos e
oferecendo vinho e violinos.
Isso o expedia a uma sensação de leveza.
E a leveza não seria decifrada em uma cor tão sóbria e imponente como
preto.

Mas sim em uma cor ingênua e harmônica como um fraque e calça de


creme claro fechado até a metade, contrastando com sua camisa de Azul
Ópalo em abotoaduras de prata maciça. Dispensou o uso de um lenço e
broche substituindo-os por uma gravata de seda prateada com o brasão de
Riverland talhado com fios de ouro branco.

Um lindo relógio de pulso de ouro pendia de sua mão direita. Foi um


presente do pai - o qual ganhou do avô- cujo, de acordo com Johanna, era
usado em todos os eventos em sua temporada (muitos anos atrás), inclusive
naquele que conheceu sua avó.
O mesmo para Mark e Johanna, que em um baile de tema 'A Flauta do
Anjo' conheceram-se e se apaixonaram, compartilhando um beijo cálido sob
a lua e o relógio.

Aparentemente tratava-se um artifício de sorte casamenteira, e Louis


decidiu aderir por via das dúvidas.

Mas certamente a noite seria enfadonha sem um pouco de extravagância


exagerada e polêmica maldosa. Essa combinação tinha nome, sobrenome e
cachos achocolatados.

Ninguém acreditaria que as peças de Harry Edward Styles foram costuradas


em menos de quinze horas. Talvez ele houvesse importado as roupas. Ou
alfaiates extras.
Era simplesmente muito.

Uma combinação controversa de um fraque comprido, que ía até na altura


dos joelhos, e uma calça boca de sino. Ambos na mesma tonalidade de:
rosa. Rosa bebê.
Chamativo. Pra. Caralho.

Além de uma camisa branca com uma gola de babados volumosos - em


renda branca, botinhas envernizadas, e sua casual bengala de cascavel,
Harry extrapolou qualquer limite ao usar uma gargantilha de pedrinhas
delicadas de diamantes rende ao pescoço, daquelas que princesas possuíam
- e que definitivamente não era comum para moda masculina.

Seus cabelos estavam mais esvoaçantes que de costume, os cachos grandes


como se houvesse utilizado bobs para enrola-los e aperfeiçoar o formato.
Fios sedosos e aparentemente macios.

Ao adentrar o recinto com um ar entediado, os outros príncipes


imediatamente encararam a figura peculiar, arregalando os olhos em
julgamento.
A repercussão negativa e perturbadora de suas escolhas animou sua
autoestima reversa e estranha. Ele gostava de causar surpresa e choque nas
pessoas, da maneira que fosse.

- Que lugar esplêndido, não? - clamou melodiosamente, forçando um


sorriso amplo. - Espero que nos divirtamos muito esta noite, longe de mim
desperdiçar a oportunidade de um cortejo, embora prefira veemente o
realizar com homens.

Um dos príncipes que assumidamente admirava Harry e o idolatrava


platonicamente se aproximou da figura esguia e sorriu insinuante.

- Presumo que não haverá objeção quanto a isso.

- Não. Nunca há, na verdade, querido. - Styles respondeu em seu rejeito


arrogante. - Não há nada que resista ao desejo da cobra. Carolina atrai a
todos.

Balançando a bengala no ar, o Príncipe Edward se transportou para a ala de


bebidas servindo-se de um ponche de morango, inaugurando a mesa de
drinks - embora os empregados tenham o lançado olhares temerosos e
repressivos, porque os príncipes eram instruídos a limitarem o teor
alcoólico da noite, devendo usufruí-los somente no final, como redige a
etiqueta.

Ophelia chegou logo depois. Um grupo composto de onze músicos e um


maestro. Eles não falavam inglês fluente então foi necessário um diplomata
tradutor para ajuda-los a se comunicarem.

" Bune de noapte, prinți! "


(Boa Noite, príncipes!)
O velho maestro, com seus cabelos platinados e rugas rodeando os olhos
pequenos, saudou, rumando graciosamente para um canto afastado do salão
com a orquestra sinfônica.

"Sper sa se bucure de spectacol!"


(Espero que gostem do espetáculo).
A melodia se iniciou com acordes agudos dos violinistas, para que então os
flautistas dessem continuação em harmonia aos harpistas.

Tudo se transformou em uma bela música romena, uma massagem aos


ouvidos e uma revitalização espiritual.

Os príncipes formaram rodas de conversa em que debatiam animadamente


diversos assuntos, bebendo ponches e beliscando os aperitivos servidos
pelos garçons.

Liam Payne logo ao avistar Tomlinson o puxou para um canto, oferecendo-


o uma taça de vinho Pinot, que foi aceita de bom grado pelo menor.

- Ansioso para hoje? - Liam indagou, virando a cabeça para os lados à


medida que as primeiras princesas adentravam no salão.

- Inquieto, eu diria.

- Inquieto? - franziu o nariz confuso.

- É uma tradição de família casar-se com uma princesa conhecida durante a


temporada no Palácio de Vidro. Foram em eventos como esse que meu avô
avistou minha avó, e meu pai beijou minha mãe.

- Que romântico, príncipe. Pressuponho que matrimônio não lhe será um


problema visto que és de uma beleza surreal, desejado secretamente pela
maioria de nós. - Payne comentou, sorrindo-o educado.

- Agradeço o elogio, embora discorde quanto ao que se refere à facilidade


de esposar-me. Sou um fiel credor do amor cortês, apesar de dificilmente
me apegar sentimentalmente a alguém. Adivinho que será um desafio
deixar de lado minha persona reservada e permitir-me relacionar sem que
isso se torne sufocante e exagerado.

- Qual seria a dama ideal, então?

- Definitivamente uma alma discreta, um coração bondoso e propenso a


criação de um ambiente familiar. Ao mesmo tempo anseio por uma
personalidade sólida, firme, a quem poderei recorrer quando necessário e
confiar sempre que precisar.

- Descrição física?

- Não sou de me apegar a aparências, no entanto não cabe a mim


desmistificar que beleza é um dote relevante. Eu tenho uma propensão a
gostar de romances heróicos vitorianos, o que me faz criar expectativas ao
que se refere a um perfil delineado pela delicadeza de um anjo, e a
soberania de um líder.

- Soa-me que busca pela pessoa perfeita, vossa alteza. Temo que não
encontrará uma mente que se encaixe em todos os pré-requisitos.

- Bom, eu gosto da imprevisibilidade da vida. Estou disposto a surpresas.


Mas e você, Príncipe Liam?

- Não faço ideia, honestamente. Soube de alguns nomes que estarão


presentes hoje, minhas criadas me informaram a respeito de algumas
princesas.

- Entendo. Alguma lhe desperta interesse premeditado?

- Erh.... Vou descrevê-las conforme as reconhecer por baixo de suas


máscaras. - Payne informou, avaliando visualmente as figuras femininas
que adentravam no salão, com seus vestidos rodados, bordados, e máscaras
brilhantes tampando parcialmente os rostos.

- Oh! Aquela da direita é Pamela Greench, uma britânica que sempre recebe
muita atenção. - afirmou, apontando para um par de princesas loiras de
coque alto, olhos acizentados e ambas com vestimentas delicadas em tom
alaranjado. - És filha do rei Aron , de Tucson.
Sua irmã é tão prestigiada quanto ela, Livia Greench, fisicamente parecidas,
personalidades opostas. A primeira é a mais velha e muito madura enquanto
a segunda vive plenamente as virtudes da juventude.

Ao passo que concordava sem muito demonstrar interesse, Liam indicou


entusiasmado para outro lado, onde uma jovem de longas tranças ruivas,
vestido Rosa Cherry blossom, e lábios cheios de gloss furta-cor andava em
companhia de alguns príncipes encantados em direção à mesa de ponches.

- Victoria York, do condado de Salute, ao norte. Possui dotes valiosos e


contatos com grandes potências comerciais, além da beleza genuína.

Príncipe Liam prosseguia com as apresentações das princesas que


conseguia identificar mesmo com as máscaras limitando os traços faciais,
no entanto Louis parecia um pouco desatento.

No meio de um monólogo, Payne percebeu que o príncipe de olhos azuis


fitava fixamente a direção leste.

- William? - chamou-o. Louis nem assim desviara-lhe o olhar.

- Quem é ela? - assinalou com a ponta de seu nariz.

Liam seguiu seu alvo intrigado, sorrindo-o imediatamente ao compreender.

Inconfundível.
Incomparável.
E - ainda com uma máscara preta cintilante cobrindo-lhe a face, ela ainda
era a lenda.

Seus olhos verdes se sobressaiam ainda mais em contraste ao preto.


Pareciam olhos de gato. Grandes. Intensos. Reluzentes.

- Vossa Alteza, apresento-lhe a lenda: Diana Oiselle. Princesa francesa do


condado de Louve. Filha do majestoso duque Gran Pierre, e arqueira
profissional nas horas vagas.

A jovem - ao contrário da maioria - possuía seus cabelos soltos, com cachos


grossos e castanhos.
O vestido que despojava era um verde escuro, não muito armado - ou
melhor, relativamente justo em sua cintura, tendo um caimento solto a partir
do quadril, cheio de pedras bordadas.

Andava com um ar confiante pelo salão, de braços dados a um garoto - que


Liam justificou ser seu irmão mais novo. Havia uma delicadeza singular em
seus passos firmes, e um sorriso avermelhado ante a pele extremamente
pálida de seu corpo.

- Ela é realmente um desafio, é o que dizem. Vem a eventos do castelo há


muitas temporadas e até hoje não deixou-se levar por ninguém. Muito
cobiçada. Pouco interessada.

Louis concordou em silêncio com um aceno singelo, sua atenção ainda


presa a garota.

***

Zayn Malik caminhava despreocupado com duas moças o acompanhando,


cada uma de um lado seu, conversando assuntos triviais e sorrindo
docemente para o que diziam.
Elas precisavam ir embora para seus reinos, suas carruagens as
aguardavam, e ele - como o cavalheiro cortês - se ofereceu para leva-las até
a porta do castelo.

Isso até trombar bruscamente com um corpo.

O corpo se reergue e as cores de rosa bebês foram chamativas o suficiente


para reconhecê-lo instantaneamente.

- Oh! Príncipe Edward, como vai? - indagou gentil, as damas encarando


curiosas para o príncipe de longos cachos e gargantilha de diamantes, que
passara a encarar a situação desconcertado.

Ele precisou de um segundo para deixar de piscar atônito e retomar sua


postura ultrajante.

- Ah, Zayn, que desastre sou. Sinto muito pelo esbarrão. - falou, um sorriso
grande e sem dentes bordando seus lábios (que se você reparasse com zelo,
perceberia ser completamente forçado).

Malik, embora, resguardava um coração muito ingênuo e bondoso em sua


caixa torácica para sequer notar. Ele era realmente um dos únicos que não
olhava diferente para Harry por seu jeito 'peculiar', ou mesmo sua reputação
manchada, tratando-o a todo momento com cordialidade e nobreza.

- Não se desgaste, foi a minha culpa também. Mas me diga, está


aproveitando a festa?

Estando acostumado a ser tratado com muita atenção por Harry Styles - que
parecia disposto desde o início determinado a juntar Zayn no grupo dos
príncipes fugitivos de seu quarto durante a madrugada - o moreno estranhou
o comportamento agitado de Harry, que desviava seus olhos verdes em
direção à escadaria principal a cada dois segundos, parecendo alheio do que
diziam.

- Er, Vossa Alteza? - tentou novamente, confuso.

Styles piscou rapidamente, alternando seu olhar para Zayn e as duas


princesas - embora estivesse claramente perturbado e distraído.

- Está tudo bem? Houve algo? - perguntou, inclinando-se ligeiramente para


observar melhor a escadaria e detectar algo de incomum.

- Não. - Harry negou com uma feição nervosa, substituindo-a para a calma
insolente logo depois. - Eu só devo ter bebido um pouco demais. Preciso ir
agora. Foi um prazer encontrá-lo Zayn. - dito isso puxou-lhe a mão a
plantou um beijo ralo em seu dorso. - O mesmo para vocês, princesas. -
repetiu o ritual, selando as mãos pequenas e delicadas das garotas sem
muito interesse.

***

"How to Wear a Crown

Segunda-feira, 15/06

Visto que ontem foi uma noite de muita celebração, admito minha decepção
pela falta de polêmicas que eram supostas a aparecerem.

Diferente do que se acreditava, os príncipes desta temporada realmente


sabem se controlar e demonstrarem um comportamento adequado diante
uma moça.

O que mais se assistiu foram cenas de conversas amistosas, oferecimento


de ponche, deleite quanto a orquestra musical - Ophelia e bajulações
fracas e inocente.

No entanto, vale ressaltar que houve sim uma pérola do evento.

Senhoras, Senhores, trago a vocês uma informação quente e fresca sobre o


inesperado ter ocorrido.

O Príncipe William foi flagrado subindo às escadarias do Palácio de Vidro


e levando para seu quarto uma princesa.

Não qualquer princesa.


Vinda diretamente do condado franco de Louve, a bela jovem Diana
Oiselle.
O jeito seguro e a aparência singular constatou-se ser de agrado ao
paladar exigente do regrado Louis William Tomlinson que - diferente do
que se achava - não é tão condizente às regras assim.

Estaria o Príncipe William quebrando as regras de decência esperadas de


um cavalheiro em sua primeira oportunidade?
Ele de fato acabou de contradizer tudo que se dizia a seu respeito?

Quem é verdadeiramente o futuro rei de Riverland? E quais novas


surpresas sua personalidade instável nos aguarda?

Vistam seus óculos de sol porque a previsão é de que o fogo que queima
suspenso no céu esteja prestes a descer para o solo.

Att: Sua Fonte Anônima."

***

(Notas da autora: Algum palpite de quem está por trás do jornal?

O que a atitude de Louis deve significar?)


Chapter Twelve

Episode: Your Song

- Bom dia, Príncipe William. - clamou com uma reverência graciosa.

Louis piscou os olhos, dobrando meticulosamente as mangas de sua camisa


de seda branca enquanto observava firmemente seu reflexo no espelho.

- Bom dia, Lorena.

- Jezebel trouxe seu café mais cedo e o depositou no criado mudo, depois
foi resolver outras tarefas pendentes. Há algo em que lhe possa ajudar?

- Na verdade, há. Minha tinta preta acabou. Preciso de mais tinta fresca,
pode providenciar pra mim?

A criada morena franziu o nariz parecendo confusa, Louis acrescentou


rapidamente.

- É para escrever cartas à minha família. Você sabe, eu amo escrever. Gosto
de deixá-los cientes de que estou bem.

- Oh, sim, vossa alteza. Retornarei assim que possível.

Tomlinson concordou, ajeitando a franja que insistia em cair sobre sua testa
logo que crescera mais do que o suficiente.

O que soou dois minutos depois, a porta foi aberta, Lorena adentrando com
dois potes de vidro preenchidos de tinta fosca e fresca.

- Isso é o bastante, vossa alteza?


- Sim. Com certeza. Foi rápida. - exclamou em agradecimento.

- Há uma divisão na ala dos criados com uma espécie de estoque para
abastecimento de tudo que julgam ser necessidades dos príncipes. Se
necessitar de mais delas, me deixe saber.

- Obrigado. - disse satisfeito, depositando os potes sobre um prateleira de


madeira do quarto. - Hoje terei aula do que mesmo?

- Quarta-feira. Aulas regulares de política, seguida da atividade específica


de instrumentos musicais.

- Certo. É o que é.

***

Após seis horas acompanhados de um ancião calvo com de voz monótona,


tudo que a maioria dos príncipes não desejavam era que a aula de tarde
fosse de instrumentos.

Não que eles desgostassem, no entanto era consensualmente a menos


favorita dentre todas as outras - em que geralmente seus esforços físicos
desestressavam seus corpos entediados.

Para Louis, embora, era sua favorita.

Cada príncipe estava suposto a escolher um instrumento de sua preferência


e pegar prática nele até que tocasse com perfeição - fazia parte do
desenvolvimento intelectual de um futuro rei.

A maioria optava por violino ou piano de corda, contudo, Louis sempre


almejara tocar harpa.
Apesar de soar como o mais fácil, não era.

Ele já sabia manusear as cifras de um piano, possuía certa familiaridade


com as cordas do violão, e agora estava pronto para aprender a dedilhar
suavemente as notas sinfônicas em uma delicada harpa de ouro, a qual era
disponível para uso durante as aulas.
O professor principal era um adulto, chamava-se Dingo, e contava com a
ajuda de muitos outros auxiliares. Um pra cada príncipe.

Todos os músicos auxiliares eram obrigados a terem conhecimento fluente


em todos os instrumentos, e eles ficavam à mercê da preferência que seu
príncipe demonstrasse.

Tomlinson encontrou-se com Paul, seu instrutor particular no canto do


estúdio de música, ganhando a admiração do mesmo por escolher tal
instrumento - que era uma escolha rara para jovens.

Eles passaram os primeiros trinta minutos em ensinamentos teóricos sobre


as notas da harpa celta - composta por cordas estendidas em uma moldura
dourada aberta, que, na execução, se dedilha, dispondo de pedais
rudimentares que afetam a afinação das cordas, gerando sons cromáticos.

Com suas primeiras tentativas Louis revelou-se um aluno de aprendizagem


fácil, executando com sucesso os acordes iniciais, tentando transformar
aquilo em uma composição harmônica.

- Aprendeste rápido, vossa alteza, estou impressionado. - Paul elogiou. -


Talvez se afinar dois graus mais agudos obtenha um som mais limpo.

- Agradeço seu conselho. Ajustarei imediatamente.

Duas horas se transcorreram. A sala era uma bagunça de sinfonias, uma


salada de melodias feitas por diversos meios.

Louis Tomlinson - com sua harpa e uma vontade fervorosa de domina-la -


não foi considerado o aluno destaque, embora.

Esse título pertenceu a Niall Horan e sua habilidade extraordinária com a


flauta.
Sentado em um canto afastado, com seu instrutor, Niall soprava poesia de
seus lábios, e aos poucos os outros jovens foram parando o que faziam para
escuta-la. Escutar palavras transformadas em composição musical, ritmadas
como um soneto, rimadas de modo singular.
Diz-se que canções traduzem sentimentos.
Niall soava como uma libertação poética deles. O príncipe que pouco
conversava ou confiava nas pessoas estava demonstrando, em sílabas não
ditas e notas bem entoadas, que ele era um poço de talento subestimado.
E havia muito potencial ali.

Os demais, com seus olhos de admiração, esperaram que finalizasse para


preencherem o silêncio com aplausos altos.
Aplausos que causaram o enrubescer da pele quente do loiro, remoendo
uma alegrias contida e se limitando a olhar brevemente para cima com um
meio sorriso de agradecimento.

Estava tudo tão calmo.


Tão certo e harmônico...

Parecia que havia algo faltando.


Algo de errado.

Foi nesse instante - em meio a devaneios de concórdia e sorrisos fascinados


- que alguns príncipes começaram a notar a ausência de alguma coisa.

Ou melhor, alguém.

Como se estivessem a espera do empecilho que estragaria o momento com


seu trejeito arrogante e comentários esnobes.

Foi assim que deram por falta do príncipe Harry Edward Styles que, se
alguém houvesse se importado o suficiente para reparar, estava sumido
desde segunda, ausentando-se das aulas teóricas e práticas, dos almoços,
cafés e jantares, e nem mesmo dando o ar das graças do Salão dos Homens.

****

- Senhor, precisará de nós para mais algum serviço? - Jezebel indagou-lhe,


desamassando a borda de seu avental de babados brancos.
Lorena estava logo atrás dela, olhando Louis através de suas orbes verdes
claras tímidas e um sorriso contido no rosto.
- Não, garotas, está tarde já, peço que vão descansar assim como eu. Têm
feito muito por mim. - Louis disse, fazendo uma breve reverência para as
duas, que o fitaram perplexas depois disso.

Um membro da família real jamais deve se encurvar diante uma figura


inferior, como uma criada. Era a etiqueta.

Mas isso não parecia impedir o futuro rei de Riverland de demonstrar


respeito e submissão para duas moças com tão pouco a oferecer além de
suas mãos de obra.

Apesar de parecerem ainda desconcertadas e incrédulas, elas o devolveram


a reverência e se despediram, desejando uma noite de sonhos bons e
deixando seu aposento.

Louis pôde inspirar fundo ao estar sozinho.


Mas, ele sabia. Não estava sozinho.
Estava acompanhado de sua fiel insônia, que o manteria acordado
provavelmente até pouco antes do sol raiar, quando seu corpo cederia de
exaustão.

Pensou o que seria dessa vez.

Durante algumas madrugadas ele escrevia.


Em outras, lia livros diversos que buscava na biblioteca.
Quando estava inspirado, desenhava.

No entanto, nenhuma destas atividades pareciam agrada-lo no momento.


Uma súbita coceira na ponta de seus dedos sinalizavam que seu coração
palpitava pela harpa. Ele queria tocar. Definitivamente queria tocar.

Apesar de seguir as regras de conduta a finco, não havia nenhuma que o


impedisse de utilizar especificamente o estúdio de música durante a
madrugada. Talvez não tenham a estabelecido por conveniência, já que
ninguém possivelmente iria dedilhar composições após meia-noite.

Portanto Louis não enxergou problema em apropriar-se da harpa celta


durante algumas horas, enquanto o sono não caísse em suas pálpebras.
Além do que, a sala possuía um revestimento de isolamento acústico,
ninguém se incomodaria com aquilo.

Determinado, Tomlinson abandonou seu pijama de ceda e colocou uma


calça de malha fina preta, uma camisa branca simples e rumou descalço
mesmo para o andar debaixo, estreitando os olhos na intenção de enxergar o
caminho em meio ao breu da noite.

Sombras formadas pela luz da lua - infiltradas através das janelas de vidro
sem cortinas - refletidas em móveis, cedia ao trajeto um ar sombroso e
mitológico, principalmente as esculturas de anjos e divindades gregas.

Ele sabia que estava perto após cruzar toda a parte central do palácio,
desviando discretamente de um ou outro guarda que realizava a patrulha
noturna.

Foi ao empurrar sutilmente a maçaneta do estúdio, que surpreendeu-se ao


escutar a música.

Estava muito escuro para distinguir quem era, ou o que tocava. Ele reprimiu
a surpresa e adentrou rapidamente a sala, fechando rápido a porta atrás de si
para abafar o som vibrante.

Percebeu ser da área dos pianos de corda.


Era uma melodia de piano.

Estrondosa.
Forte.
Intensa.

Pelo o que escutava, sentia. Sentia muito.


A música possuía uma profundidade espiritual tão sólida que era quase
absorvida por seus poros.

Os acordes eram pressionados com uma rapidez espetacular, tocados em


uma mescla de primeira e terceira oitavas, compondo um som grave e
energético, como o efeito de um trovão explícito em teclas de piano.
Era ... Demasiado.
Parecia sacudir a sala, arrepiar a pele e embaralhar a audição.

Mas, sob toda intensidade monstruosa e agressiva das notas - pressionadas


principalmente em um conjunto de dó-mi-sol simultaneamente e da deriva
apressada que a mão direita exercia sobre a terceira oitava - havia algo
perdido ali.

Havia um sentimento no miolo da coisa.


Não era só música.
Era um grito abafado e sufocante.
Era uma união de sons secos e penetrantes que diziam muito além daquilo.

Havia solidão.
Havia dor.

Parecia uma névoa de confusão em que uma pequena lágrima se dispersava


em seu centro.

Um pedido de socorro mudo, e um grito de desespero surdo.

Aquilo soava como uma tortura para os ouvidos. Soava como uma
composição musical que não significava poesia, e sim uma pintura abstrata.

Louis quase se sentiu um sinestésico ao conseguir enxergar através daquele


som ácido uma tela, pintada com cores sólidas e nostálgicas como um Azul
Oxford atrelado ao Preto fosco em pinceladas largas e aleatórias. E no foco
de toda a disposição sombria, havia um pingo azul claro derramado em seu
meio, como uma lágrima pura e triste prestes a deslizar.

Completamente atordoado, Tomlinson fez o seu melhor para comandar as


pernas a se moverem, tateando as paredes do estúdio até chegar no armário
onde se guardavam objetos básicos e pequenos, como palhetas, baquetas,
cordas extras e fósforos para acenderem as lamparinas.

Ele pegou cuidadosamente uma lamparina de base de cobre e cúpula central


de vidro e retirou um fósforo de uma caixinha.
Fechou o armário silenciosamente e andou às cegas pelo grande cômodo,
esforçando-se para não tropeçar em fios ou instrumentos.

Ao perceber ter finalmente chegado na frente da origem de toda aquela


música vomitada continuamente, apoiou a lamparina sobre a cauda do
enorme piano preto de corda e acendeu o fósforo, lançando luz sobre o
ambiente.

A luz aniquilou as sombras.


E incendiou seu interior.

Foi imediato quando a claridade atingiu o perímetro ao redor do artefato.

E revelou-se ali o músico,


Revelou-se a presença do intragável Harry Edward Styles.

Sua alma se expondo e sendo inflamada pelas chamas de uma madrugada


trágica de verão.
Chapter Thirteen

Episode: When You were Gone

A melodia ressoada pelas tecladas interrompeu-se imediatamente.

Os grandes e arregalados olhos verdes denunciavam o susto ao ser de


repente descoberto.

O último acorde tocado antes de intromissão - um sustenido da primeira


oitava - ainda escoava seu som solitário pelo estúdio engolido no silêncio.

A figura bagunçada dos cachos selvagens e pálpebras inferiores inchadas


encarava-o como se estivesse diante uma assombração.
Talvez fosse isso, visto que era madrugada e subitamente uma lamparina se
ascendera em sua frente, revelando um jovem.

Não era qualquer jovem:


O Príncipe William e suas lagoas azuis.

Nenhum deles se atrevera a dizer absolutamente nada por um momento.


Louis tentava demonstrar-se impassível apesar da surpresa estar estampada
em sua face.

- Foi extraordinário. - Tomlinson elogiou com uma admiração educada


presente na voz.

- Ninguém te ensinou a bater na porta antes de entrar?! - Styles retrucou


rude, arqueando uma das sobrancelhas com um desdém hesitante.

- Não creio que escutaria meras batidas quando há um som estrondoso no


interior, vossa alteza.
- Bem, bisbilhotar é uma falta de educação tremenda. - Harry acusou,
levantando-se bruscamente do banquinho e se afastando.

- Eu estava apreciando a música, isso é tudo.

- Pelo menos serviu para deixá-lo de queixo caído então, hum? Aposto que
não esperava tanto talento em uma só alma... - cantarolou com uma
superioridade visivelmente encenada, sorrindo sem mostrar os dentes
enquanto andava com passos dançados ao redor do piano.

Styles vestia pijamas de flanela amarelo e quentes. Simples. O oposto de


qualquer extravagância que constantemente esbanjava.
Não parecia Harry. Não parecia o príncipe dos cachos esvoaçantes que
desfilava por aí com anéis caros nos dedos e uma bengala de cobra.

- Confesso que me surpreendi mais pelo o que sua música transmitiu. -


Tomlinson respondeu, flagrando o maior parar abruptamente e entornar-se
para ele com um olhar fulminante.

- O que quer dizer com isso? - questionou em tom seco, que nem sequer
intimidou qualquer célula de William.

- Que é quase possível se afogar na intensidade exprimida. As teclas são


sufocantes e entregam uma solidão e tristeza cruas, vossa alteza.

A mandíbula bem delineada de Harry travou-se instantaneamente, seus


olhos verdes se escurecendo com um ódio primitivo a medida que ele
aproximava-se de Louis com passos ameaçadores.

Estava a centímetros de distância, fitando com fervor as lagoas azuis, sua


respiração trêmula.

Era como uma fera aprisionada em um corpo humano, o qual Louis não
recuara nem um milímetro. Ele não temia ninguém, muito menos o jeito
hostil do Príncipe de Malta.

- Você está enganado! - exclamou, rangendo os dentes. - Traduziu a música


erroneamente e agora acha que sabe alguma coisa!
- Eu não precisei traduzi-la. O significado era gritado na composição. -
Tomlinson afirmou com uma voz calma, serenamente. Piscando lentamente
suas pestanas em contraste à inquietação de Harry.

- Cale a boca. - reverberou. - Você não tinha o direito de invadir esse espaço
e não tem o direito de opinar sobre mim! - acusou, sua pele avermelhada e
uma postura vacilante. - Está insinuando o quê?! Que sou deprimido e
sozinho?!

Styles afastou-se um passo, soltando uma gargalhada debochada enquanto


pressionava a palma da mão sobre o estômago.

- Pelo amor, Príncipe William. Olhe para mim. Você realmente acha que eu
tenho qualquer resquício de tristeza com todo o ouro que me cerca, todas as
pessoas que me idolatram? - voltou a diminuir a distância entre eles,
estando com seus rostos alinhados para exclamar pausadamente, em um
sussurro maldoso: - Você tem é inveja de mim.

Louis não revirou os olhos.


Não riu sarcástico.
Não respondeu com um comentário arrogante.

O que acabou por surpreender Styles, já que uma das opções acima era
exatamente o que faria em sua posição.

Tomlinson apenas proferiu, com uma voz firme e uma expressão séria.

- Você não precisa provar nada para mim, ou se justificar. Se isso é uma
verdade, mantenha-a para você, vossa alteza. Quando você nega algo de
maneira insistente, acaba por estar negando a si próprio.

Sua fala calma e profunda ateou ainda mais fogo no interior de Harry. Ele
estava tentando engolir a saliva e sorrir forçado balbuciando qualquer frase
superficial para demonstrar desinteresse naquilo, mas estava sendo em vão,
não podia reprimir o ódio que aquela insinuação propagava em suas veias.

- Eu não acredito que ela seja sufocante. Creio que é apenas


incompreendida. - Tomlinson acrescentou.
- Pare de falar sobre mim! - -Styles resmungou, perdendo a cabeça e
empurrando Louis por seu peitoral. O que surpreendentemente não o fez
mover ou perder o equilíbrio. Tomlinson parecera uma muralha e o fato de
sua tentativa de agressão não ter surtido efeito o deixou maluco.

- Eu estava falando sobre a música.

Styles calou-se, parando de empurra-lo e deixando seus braços penderem no


ar, a respiração ofegante sendo o único barulho do ambiente.
Sua exaltação basicamente o entregou, dispôs em uma bandeja de prata o
orgulho ferido.

Um ar denso pairava entre as paredes de isolamento acústico, a lamparina


com sua luz próxima de apagar, ao que o súbito descontrole de Harry era
substituído por uma calmaria duvidosa.

Depois do que se soaram cinco minutos de um silêncio incômodo e uma


tensão não dissipável, Harry finalmente ergueu os ombros, retomando a
postura inatingível dos sentimentos inabaláveis. Suas esferas perigosas na
cor de gramas de verão não atingiam verdadeiramente as lagoas azuis.
Pareciam frias. Impenetráveis.

Príncipe Edward esboçou um sorriso - quase perturbador - e se inclinou


para sussurrar ao pé da orelha de Tomlinson.

- Eu o desprezo.

Segredado aquilo, marchou afora do estúdio de música com uma


graciosidade arrogante, sem olhar para trás.

***

Harry Styles se ausentou das aulas e de todas as reuniões sociais nos


próximos dias.
Nem mesmo no domingo, quando outro evento com a presença de princesas
ocorreu - Banquete do Cristal - ele fez questão de aparecer.
Harry havia se tornado um habitante fantasma, e quando o assunto foi
questionado a Luminiére - o governante real do Palácio - o mesmo
respondeu que era normal seu isolamento nesta semana do ano.

Porque na segunda-feira seria aniversário de morte de sua irmã, Gemma


Styles.

"How to Wear a Crown

Segunda feira, 21/06

Hoje, a maioria sabe, completam-se dez anos exatos desde que a


primogênita de Des Styles, graciosa princesa de Malta - Gemma Styles -
partiu (em uma polêmica história).
Ninguém sabe exatamente do que, mas a especulação é que tenha pego
tuberculose ainda na adolescência.

Seu fiel e entristecido irmão, Harry Edward Styles, está supostamente ainda
muito abalado e abatido com tal tragédia, visto que dera um chá de sumiço
na última semana.
Quem diria que Príncipe Edward possui afinal sentimentos puros e
verdadeiros naquele coração petrificado?

Seja como for, não perdeu grande coisa.


Ao menos não na celebração de domingo: Banquete de Cristal. Em que um
lindo jantar sob candelabros de cristais indianos reluziram os fios sedosos
das princesas.

Agora, com mais tempo de experiência e conforto, os príncipes estão


finalmente se soltando, tendo alguns sido flagrados levando princesas para
espaços privados e particulares como é de se esperar.

Nem uma delas foi possível identificar pela restrição facial das máscaras,
mas deduz-se que em sua maioria eram dinamarquesas.

Já Louis William Tomlinson reafirmou sua preferência por princesas


francesas, levando discretamente mais uma para seu aposento.
Em suma, o mais importante ao que se refere a hoje é nossa descoberta de
um ponto fraco do inabalável Harry Styles. Gemma.

Att: Sua Fonte Anônima."

Ao finalizar a leitura em voz alta, o príncipe Gregory enrolou a 'carta',


olhando para a roda de príncipes que se formara ao seu redor, curiosos pela
polêmica da vez.

Eles estavam no Salão dos Homens, descansando durante dez minutos após
o café da manhã antes que o sinal ressoasse indicando a continuação das
aulas teóricas monótonas.
Se surpreenderam ao adentrar o local e encontrarem mais uma pilha daquilo
que estava virando rotina com a tinta preta fresca cintilando o título 'How to
Wear a Crown'.

Suas feições foram substituídas de interessadas para culpadas, com um


sentimento ruim pesando na consciência por saberem que Harry Edward
Styles estaria em uma fase difícil... Mesmo que o repugnassem em sua
maioria.

Cory estava prestes a comentar:

- Pobre Príncipe Ed-

Quando a porta do salão foi bruscamente aberta, revelando o corpo esguio


sob um longo rob vermelho de veludo, cachos perfeitamente ondulados e
muitas joias adornando seu corpo.

Um sorriso grande cheio de dentes bordava o rosto de porcelana pálida de


Harry Styles.

- Esplêndido! - saudou alegremente. - Todos já estão reunidos, será mais


fácil para anunciar.

Balançava com deleite a cascavel de madeira Carolina no ar, rindo um


pouco pelas expressões aterrorizadas dos demais príncipes.

- A-anunciar o que? - Gregory indagou, engolindo o choque.


- Oh! Mas é claro: uma festa! Uma gloriosa festa em meu próprio aposento
que eu serei anfitrião! Será hoje, depois das aulas ao pôr do sol e surgir da
lua, estarei esperando-vos para uma comemoração surpreendente!

***

Notas da autora: Qual é a impressão que você tem do Harry?


Chapter Fourteen

Episode: You don't know him

Ninguém entendia Harry Styles geralmente.


Mas, neste momento, perceberam que não compreendiam sua persona
menos ainda.

Aquele seria supostamente o aniversário de morte de sua irmã... E ele


estava dando uma festa?

Celebrar no começo da semana não era uma novidade ao se tratar do


intragável e insaciável príncipe de Malta, no entanto, em meio a um dia
fúnebre, de alguém de seu próprio sangue... Era inescrupuloso.

Seria ele monstro a esse nível?

Os príncipes constataram que sim ao chegarem em seu aposento às oito da


noite.

O fato dos quartos reais serem de uma dimensão exagerada possibilitava a


realização de eventos particulares sem a objeção da administração do
Palácio, afinal, os jovens eram maiores de idade, da corte e estavam em seu
próprio recinto... Não havia formas de impedi-los.

Ao empurrarem cuidadosamente a grande porta de madeira com uma lenço


vermelho amarrado na maçaneta - assinatura registrada de Styles - quem
nunca estivera lá antes (não o faziam visitas noturnas) ficou de queixo
caído.

No decorrer das temporadas Harry, que fez questão de consagrar aquele


aposento como seu em todas elas, foi decorando pouco a pouco, trazendo
mobílias de seu próprio Palácio em Malta, reformando e pintando as
paredes.
Ele basicamente se apropriou do lugar que já se tornara seu 'Palácio de
verão' de tantos meses dessa estação que passara lá.

A entrada desembocava em uma sala de estar relativamente grande, onde as


paredes foram encapadas com papel de parede de camurça vermelho,
cedendo uma aspecto luxuosamente macio para quem as tocasse; o chão
todo de mármore claro também coberto por um tapete de pelo creme persa
em formato redondo; havia uma mesa de granito oval no centro do cômodo
onde jazia um vaso contento dois compridos ramos de Kadupul, a flor mais
cara do mundo; algumas mesas postas de último instante ofereciam cúpulas
grandes de ponche rosa, provavelmente uma mistura de suco de morango e
champanhe.
Se o ambiente já não era fino o suficiente, um enorme lustre inteiro disposto
com uma espécie de cortina de cristais pendurava-se no teto sinalizando que
uma vida de ostentações pode ser muito bem representada em somente um
espaço de trinta metros quadrados.

- Entrem, queridos! - a voz melodiosa de Harry ressoou para além do arco


de ouro que separava a suntuosa sala de estar do seu verdadeiro quarto.

E aquilo definitivamente não poderia ser considerado um quarto. Talvez 'O


inferno de Lúcifer' se encaixasse mais adequadamente na descrição.
O interior era inteiramente vermelho, parecendo que estava em chamas. Em
labaredas ardentes de um ambiente lúbrico com cheiro de selva e aspecto
lascivo.
As janelas de vidro cobriam todo o lado de uma parede, indo do teto ao
rodapé de madeira escura.
Um aparador de mogno bem detalhado localizava-se no canto leste do
aposento, abrigando uma coleção impressionante de whiskys nas mais
variadas garrafas.

Outra característica forte era a presença de espelhos. Muitos deles, em sua


maioria ocupavam boa parte das paredes. Até no teto grudara-se um.

A cama king size, no centro do recinto, era no estilo dossel, tendo vigas de
madeira fincadas em suas quatro extremidades sustentando um majestoso
conjunto de cortinas de tule vinho, quase transparentes, o qual faziam com
que o colchão (e seu conjunto de fronhas e colcha bordados) parecesse um
verdadeiro mar de sangue. À frente da cama estava um longo divã camurça
vermelho forte, onde, naquele momento, Harry se encontrava deitado.

Oh.
Mas nada naquele quarto equivalia em luxuosidade e devassidão quanto à
figura imoral que os observava sorrindo presunçosamente.

O verdadeiro diabo dos olhos verdes, famintos e maldosos.

Harry, esparramado no estofado com sua perna direita esticada e a esquerda


dobrada, esperava para assistir as diversas reações dos maculados e
inocentes príncipes, atraídos para o covil da cobra.

O Príncipe de Malta trajava nada mais nada menos do que uma blusa branca
de babados volumosos na gola, justa em seus ombros, punhos e torso,
demarcando sua fina cintura ao estar modelada por um aparente corset -
sim, corset - de couro preto, apertando suas costelas e barriga, sobre a
blusa.
Quem diabos usa um corset feminino?
E ainda em cima da vestimenta (e não sob ela, como as princesas
costumavam o fazer para delinearem melhor suas silhuetas por baixo do
vestido).
O corset, no entanto, deixava-o mais belo, cedia excentricidade e uma
vulgaridade desmedida com curtas cordas amarradas em laços frontais em
uma elegância descomunal para tal tipo de peça.

Pregueada em torno de seu pescoço estava uma capa larga preta simulando
uma mistura de nobreza e romantismo vitoriano.
A calça justa em mesmo tom harmonizava-se com os sapatos envernizados,
e tudo contribuía para o olhar selvagem ao ser somado com a rebeldia dos
longos cachos, metade soltos e a outra metade - superior - presos em um
choque alto.

Os jovens ficaram de queixo caído.


E não sabiam se era de espanto ou excitação, porque sinceramente, aquilo
estava além dos limites.
- Sejam bem-vindos, estou feliz por me acompanharem nesta noite es-plên-
di-da! - Styles reverberou, levantando-se do divã com os lábios rosados
(aquilo era batom?) puxados em um sorriso malicioso, balançando a capa
para trás, enquanto andava rumo ao aparador e apanhava a garrafa de
champanhe e uma taça, erguendo-as no alto.
- Será divertido.

***

Com o passar das primeiras horas mais príncipes foram chegando e


chegando, até que o aposento espaçoso estivesse lotado, pessoas na sala de
estar bebericando ponche, pessoas sentadas em rodas no chão debatendo
trivialidades e, sobretudo, pessoas idolatrando Harry.

O Príncipe Edward mantinha-se sentado no centro do colchão, rodeado de


príncipes que o encaravam fascinados conforme mordiscava o canto dos
próprios lábios em meio a monólogos superficiais sobre suas conquistas e
joias.

Quando o relógio marcava onze da noite, o Príncipe William resolveu


comparecer brevemente no evento - a pedido de Liam, que o insistira
durante o jantar - e não era como se fosse conseguir dormir cedo de
qualquer modo.

Vestindo materiais simples como conjunto preto de fraque acolchoado nos


ombros e calça social, adentrou o recinto, olhando curioso para o tecido
vermelho amarrado na maçaneta.

Ao chegar, foi logo abordado por um grupo de colegas rindo animadamente


e oferecendo-o ponches, o qual ele rejeitou educadamente e se pôs a
procura de Liam.
A maioria dos rapazes estavam em estado inicial de embriaguez e apesar de
não se achar no direito de julgar ninguém, Louis não compactuava com
álcool (ou com qualquer tentação que dissimulasse sua responsabilidade).

Avistou Payne próximo ao arco dourado, segurando uma taça de


champanhe enquanto conversava com o Príncipe Zayn Malik e Thomas
Gallagher (de Alfena).
Aproximou-se do grupo, saudando-os formalmente.

- Altezas.

Príncipe de Bristok, Liam Payne, imediatamente virou-se para o de olhos


azuis com um sorriso entusiasmado.

- Não acredito que veio! Que surpresa! - Payne clamou, apertando


sutilmente o ombro de Tomlinson.

- Realmente é quase um milagre vê-lo aqui, vossa alteza. - Zayn interviu,


olhando carinhosamente para Louis.

- Não é exatamente minha área de interesse, mas confesso ser revigorante


dar um suspiro para longe da rotina. - Príncipe William proferiu,
averiguando o lugar brevemente como um todo.

Se estava perplexo por flagrar Harry Styles com dois príncipes sentados em
seu colo, um em cada coxa, paparicando-o e torcendo seus dedos nos
cachos macios com as bocas ralando-lhe o pescoço, Louis realmente não
demonstrou.

Na realidade, nada que viesse do futuro herdeiro do trono de Malta, seria


um verdadeiro baque.
As façanhas de Styles eram imprevisivelmente previsíveis.

O que certamente os surpreendia era a maneira que seus seguidores estavam


abandonando em cada vez maior frequência a autopreservação e normas de
decência para agarrarem-se firmemente na imoralidade oferecida por Harry.
O pecado estava penetrando seus poros e guiando-os a cederem os valores
éticos cultivados até então. Esta seria uma nova era, onde o hedonismo
estaria personificado em cachos de cor chocolate e olhar penetrante.

Styles seria pior que a serpente do Jardim do Éden. Os príncipes mordiam a


maça sem poderem resistir ao seu encanto.

- Ele é impossível. - Zayn comentou sorrindo, negando com a cabeça ao


passo que fitava o cenário lúbrico ocorrendo sob as véus de tule do dossel.
Embora estivesse com dois príncipes sobre si, ainda haviam mais três
sentados ao seu redor, conversando animadamente com o Príncipe de Malta.

- Eu não compreendo o que veem nele, honestamente. - Liam murmurou,


torcendo o nariz.

- Harry possui um charme natural. Ele tem um carisma atraente o suficiente


para convencê-los a se lançarem de uma ponte.

- Para mim, ele é um exibido, sem sentimentos algum. Soube que semana
retrasada, sábado, rasgou maldosamente a foto de família que Tyler trouxera
para o palácio, tudo isso porque o rapaz o afrontara durante uma aula de
estratégia de luta. - Liam revelou, recebendo uma expressão abismada de
Thomas. - Disseram que quando Tyler estava ausente de seu aposento,
assim como as criadas, Harry invadiu e removeu a foto do porta-retrato,
picando-a em pedaços e espalhando pela cama, de modo que seus pedaços
formassem a letra 'H'.
O príncipe ficou inconsolável com aquilo, era um item de significado
inestimável.

- Harry pode ser um patife quando quer. - Zayn murmurou em


concordância. - Mas creio que é porque ele está tentando manter as
aparências.

- O que quer dizer com isso?

- Nem todos são instintivamente malvados. Eu já conversei com Harry


Styles. Conversei sobre equinos. Eu vi a paixão em seus olhos pelo cavalo
que usa durante a equitação, o Hades. Há uma bondade genuína em si que
talvez Harry seja orgulhoso demais para demonstrar ao mundo. - Malik
revelou, observando pacificamente o sorriso presunçoso do cacheado ao
flagra-lo encarando-o. - Talvez ele só esteja perdido em si mesmo.

- Bobagem. - Thomas rebateu. - Depois do incidente com Andrew, eu não


consigo enxerga-lo de boa forma. Eu assisti a queda do príncipe, ele poderia
ter morrido coiceado tudo porque Harry estava o castigando infantilmente
por ter sido contrariado por Andy. Nada justifica.
Liam assentiu e Zayn deu de ombros.
No entanto, Louis não reagiu, somente continuou com as lagoas azuis fixas
na cena, digerindo silenciosamente todo o diálogo o qual não participara.

- Queridos! - Styles de repente berrou rindo.


Podre de bêbado.

Afastando delicadamente os corpos amontoados de si, tomou impulso e


levantou-se cambaleante da cama, acenando com os braços para chamar a
atenção de todos.

O rosto sempre pálido de porcelana estava pintado com um tom rosado,


indícios que o alcoolismo fizera-o vítima de seus sintomas.

- Guardei-os uma surpresa!

Inclinou-se tonto para o criado mudo e retirou de uma das gavetas um


grande pote de vidro cheio de pó branco.

- Isso é areia? - um garoto perguntou ingênuo, fitando confuso o recipiente.

- Oh! Meu jovem, sua inocência me excita. - Harry reverberou, rindo


nasalado. - Esta 'areia' é o que eu chamo de pó da felicidade!

A maioria dos príncipes - que realmente não sabiam o que aquilo


significava porque nunca tiveram o mínimo contato com substâncias ilícitos
em seus reinos (sempre rodeados de conselheiros e tutores apresentando-os
apenas as maneiras corretas) - acreditaram, crendo que se tratava de um
doce.

- Nós o recebemos pelas narinas, e tudo parecerá leve então. - Styles


manipulou, fazendo com que os rapazes se aproximassem de si.

- Isso é cocaína. - uma voz se sobressaiu em tom agudo.

As cabeças voltaram-se em busca de sua origem.

- Isso se chama cocaína. - Príncipe William repetiu. - Se vão se arriscar,


precisam estar cientes exatamente do que é.
- Oh, vejo que temos um cientista na festa. - Harry satirizou. - O que és
agora? O pai deles?

- Não estou dizendo o que devem ou não fazer.- Louis disse, mantendo uma
expressão neutra. - Mas precisam ter o mínimo conhecimento.

- Pelo amor d-

- O pó se chama cocaína, e é uma espécie de alucinógeno. Quando você


aspira, ela age diretamente no sistema nervoso central, com efeito
semelhante ao de anfetaminas, causando uma euforia intensa e rápida,
seguida de um profundo relaxamento.

Os olhos alheios brilharam pela descrição do que parecia ser a pílula da


felicidade, animados com a ideia de passarem por essa experiência.

- Mas a cocaína aumenta o risco de o usuário ter um ataque cardíaco,


derrame cerebral, convulsões ou insuficiência respiratória, sendo que
qualquer um destes pode resultar em morte súbita. - Louis complementou,
piscando lento para o horror estampado na face dos príncipes ao alerta-los
sobre as consequências.

- Não deem ouvido a esse estraga prazeres, vamos lá. - Harry murmurou
entredentes, fulminando Tomlinson.

- Vocês têm tendência a ficar facilmente viciados e as pessoas que a usam


não comem nem dormem adequadamente. Podem experimentar taquicardia,
espasmos musculares e convulsões. E talvez sintam paranóias furiosas,
hostis e ansiosas.

Finalizando seu monólogo, a maioria dos príncipes haviam recuados seus


passos, afastando-se de Harry e o pote de pó branco, demonstrando-se
apreensivos com a decisão.

- Ora, ora. Mas você não consegue segurar esse seu jeito pessimista nem
por um segundo, não é mesmo Príncipe William? - Harry debochou,
arrastando-se cambaleante para próximo dele.
- Não fiz nada além de alerta-los, vossa alteza. - Tomlinson pronunciou,
encarando com intensidade as gramíneas de verão enfurecidas.

- Bom, já que não é capaz de mudar essa sua indiferença pra tudo, talvez
seja a hora de ir embora, vossa alteza. - Styles enfatizou irônico.

Ele se preparava para se afastar ao que tropeçou no próprio pé direito e


pendeu bambo para o lado, contudo as mãos ágeis de Louis o seguraram
pelo cotovelo a tempo, impedindo que caísse e o reerguendo.

Seus braços se afastaram birrentos da sustentação de Tomlinson, como se


fosse culpa do menor sua iminente queda.

- Obrigado. - cuspiu contrariado, lembrando que sua postura superior


deveria prevalecer-se sobre o orgulho. Ele ainda era um príncipe, afinal. -
Mas agora, pode ir.

Louis prensou os lábios como se estivesse repreendendo um riso, porém o


resto de sua feição mantinha-se inabalada, olhando-o neutro ao reverberar
calmo e melodiosamente:

- Como desejar, vossa alteza. Tenha uma boa noite.

Acenou educadamente com a cabeça e se virou para o grupo de Liam, Zayn


e Thomas, despedindo-se com uma breve reverência antes de virar-se no
próprio eixo e andar tranquilo em direção à saída.

****

Horas transcorridas e Louis ainda estava acordado em seu quarto, lendo um


livro de diplomacia germânica.

A insônia não se importava com horário, evidentemente. Muito menos com


a regulação saudável do seu sono.

Honestamente neste momento ela parecia querer-lo desperto em plenas três


e meia da madrugada como nunca antes.
Sentindo-se cansado da leitura densa, Tomlinson depositou o exemplar de
quatrocentas páginas na superfície de seu criado mudo e levantou-se da
poltrona de couro marrom, observando sem interesse os detalhes de seu
aposento.

Sendo o oposto do de Styles, o recinto separado para o Príncipe William era


de uma elegância fina e tradicional, preservando mobília com estofados de
cor de escura - puxados para o marrom em sua maioria - e cômodas de
mogno grande.
Seu colchão não era um dossel - o que ele agradecida, porque não se
imaginaria dormindo em uma espécie de ninho de cortinas, porém tão
grande quanto o do seu próprio quarto em Riverland.

Ele sentia saudades de sua família, mas procurava não remoer muito o
assunto na mente, sabia que se o fizesse seu coração se apertaria ainda mais,
o que era completamente desnecessário pois essa seria uma fase passageira,
de transformação pessoal, para que finalmente retornasse a Riverland apto
para a posse do trono quando seu pai decidisse repassa-lo.

Só uma fase passageira de transição.


Passageira.

Inspirando lentamente ele andou em círculos pelo perímetro, dispersando


pensamentos e almejando o sono.
Ao parar próximo a janela e olhar através dela, notou que chovia.

E como chovia!

Não havia percebido antes o barulho das gotículas colidindo contra o vidro,
mas agora que o notara poderia apreciar a paisagem bucólica e clichê de
uma tempestade inundando o espaço afora, engolindo pela escuridão,
enquanto mantinha-se seguro e aquecido em seu aposento.

Espremendo os olhos e esforçando-se para enxergar melhor o jardim de


inverno e o movimento icônico das árvores que dançavam no ritmo da
ventania, Louis surpreendeu-se ao flagrar a sombra de uma figura solitária
mergulhando-se na tempestade.
Graças a intensa penumbra, pouco conseguia visualizar além de uma
silhueta escura vagando entre a trilha de coníferas, próximo das damas da
noite e outras flores frescas, segredando novamente sua solidão para o luar
e infiltrando-se mais e mais no breu dos jardins.

Reconheceu o caminhar rebolado e ultrajante. Meio bêbado, talvez.

Harry se afogava. E ninguém sabia.

Se era em si próprio, ou no mar de seus pesadelos, ninguém se importava.

Expirando fundo, Louis desviou o olhar para o chão durante alguns


segundos, remoendo em sua mente onde havia guardado seu guarda-chuva.

***

Notas da autora: então, antes de concluir a maratona de hoje gostaria de


fazer um rápido resumo do que estou tentando transmitir nessa fanfic.

Vocês irão perceber ao decorrer dela que os personagens, a coroa, tudo


isso é uma alegoria para a vida real.
Problemas que nós temos, que eles têm - porque ninguém é perfeito - e
escondemos no fundo das fantasias que vestimos diariamente.

Cada personagem aborda uma personalidade diferente, uma dificuldade


própria, e um modo de lidar com tal único.
Pode não parecer, mas cada um deles sofre em silêncio por suas próprias
merdas, vive com seus defeitos que serão aos poucos revelados.
Alguns escondem melhor.
Outros nem tanto.

Obrigada pelo carinho, por divulgarem (não só essa, como todas as minhas
fanfics - principalmente Perfectly Insane) no Twitter.
O amor de vocês pelas histórias é incrível.

Até a próxima maratona de atts!


Chapter Fifteen

(Notas da autora: não me aguentei de segurar esse capítulo.


Por favor, escutem o capítulo inteiro com a música da mídia, deem replay
quando acabar).

Episode: Talking to the Moon

Os passos afundados nas poças profundas do solo faziam com que as barras
de sua calça se encharcassem.

Louis nem reparara, embora.

Ele piscava determinado com seu guarda-chuva preto velho (foi o único que
encontrou no fundo do armário de mogno, onde as criadas guardavam itens
básicos) protegendo-o superficialmente da enxurrada que condenava a
região - não que isso evitasse com que se molhasse, pois honestamente o
vento soprava de tal forma que a tempestade torrencial atingisse-o por
inteiro.

Inevitavelmente tremia de frio, enquanto que a franja molhada insistia em


cair sobre seus olhos e dificultar a visão - que já era limitada.

Toda a nobreza e resplandecência do jardim de inverno se transformara em


um covil de sombras místicas e tenebrosas, um lugar frio que ninguém diria
ser a mesma paisagem gloriosa que és quando o sol ilumina o exterior e
realça a beleza dos canteiros de flores frescas.
Se havia um ponto bom na dada circunstância era que o olfato poderia
deliciar-se com o aroma da terra molhada pela chuva, um típico cheiro
prazeroso e bucólico.

Príncipe William sentia o sufoco enquanto se arrastava cegamente próximo


à trilha de coníferas. Estava muito escuro, a água embaçava o caminho, e a
penumbra das árvores desorientava-o visualmente.
Quanto mais se afastava no longo corredor de coníferas em direção norte,
menos enxergava qualquer coisa.

Mas ele não desistiria.


Era um Tomlinson.
Louis William Tomlinson.
Desistir nem foi uma hipótese considerada em sua mente.
Quando se dispunha a algo, ia até o final.

E o inconsequente príncipe de Malta era esse tal algo do momento.

Entre um suspirar e outro, buscando aflitamente oxigênio em toda essa


situação asfixiante, ele flagrou um vulto, alguns metros a diante, de uma
figura ajoelhada próximo a uma árvore.

Harry.

Pela localização exata da figura, Tomlinson teve que sair do trajeto


asfaltado e se submeter a pisar no solo argiloso que, por conta da
tempestade, estava completamente lamacento, mergulhando suas chinelas e
parte da calça na terra pastosa.

Aproximando-se o suficiente do corpo ajoelhado, pôde escuta-lo.

Escutou perfeitamente...
Seu choro.

Um choro soluçado, estrondoso e quase descontrolado, parecia a


consequência de um desespero tremendo o qual Harry não era capaz de
conter.

Não mesmo.

Styles resfolegava e retornava a choramingar, enterrado com suas pernas no


solo viscoso, ora desferindo socos no próprio colo e ora apoiando as palmas
da mão no chão para se sustentar.
Sustentar-se é complicado quando você carrega um peso que não pode
suportar.
Ele resistia bem.
Sim, ele resistia.

Mas nesse momento ele podia se libertar. Ele podia se afundar sem que o
impedissem, sem que o vissem, se que o julgassem.

É como se ele quisesse se afogar naquilo, nele próprio.


É como se ele quisesse ser parte daquela tempestade, porque dentro de seu
corpo havia uma pior. Intermitente. Constante. Estrondosa. E eterna.

É como se ele fosse um pedregulho arremessado no rio, e agora estivesse


afundando... Afundando.
Suas lamentações não seriam ouvidas.
Suas súplicas não seriam atendidas.
E ele não pararia de afundar até que repousasse de vez no fundo do rio.

Se estava escuro lá fora, imagina em seu interior.

Quando Louis se aproximou, pairando atrás de si, Harry não notou. Ele
provavelmente estava alheio de qualquer realidade além da sua.

Tomlinson não queria invadir sua privacidade, não pretendia ultrapassar seu
espaço e muito menos ouvir sua lamúrias.
Mas Styles começou a praticamente berra-las ao alento, e foi inevitável não
atentar-se para as palavras balbuciadas aos prantos pelo jovem ajoelhado na
lama.

- Geeeeem!

Ele estava a chamando.


Possivelmente bêbado - ou só farto de viver muito sóbrio.

- Geeem, Geeeem, Geeem. - cantarolava ofegante, pegando punhais de terra


e espremendo-as em suas mãos enquanto os cachos ensopados grudavam-se
por todo o rosto.

Após murmúrios estridentes semelhantes - todos chamando sua irmã - o


choro penetrante se atenuou, dando lugar para uma torrente desolação
emocional.

Harry ergueu sua cabeça para cima, apontada para o céu. A tempestade
tornava impossível que abrisse os olhos, então os manteve fechados.

Ele respirava tão profundamente que parecia em iminência de ceder.

- À-Às vez-vezes.... - o inconsolável príncipe começou a dizer, em tom


casual, como se estivesse dialogando (ou tentando, se suas tremedeiras
permitissem) com ninguém específico, ainda que a ouvinte fosse
extremamente específica e só não estivesse fisicamente presente.

Resfolegou, engolindo saliva e forças para prosseguir seu monólogo.

- Às vezes, quando está chovendo, eu penso sobre você, G. Eu penso sobre


você em toda essa distância, todas as nuvens e anos entre nós. - Harry
abaixou a face, contendo o desespero. - Eu penso se você está bem, como o
céu se parece, se está aproveitando algo aí. Eu penso sobre os tempos em
que não havia nenhuma nuvem nos separando, e a sua felicidade era a
minha felicidade.

Tomlinson se encontrava em uma guerra interna entre se afastar e provê-lo


aquele desabafo pessoal (que não era de seu direito ter acesso) ou
permanecer ali.

Não sabia o que valia mais naquela hora: ter suas revelações particulares
em paz (ele não devia simplesmente tossir a seco para interromper seu
momento), ou não ser abandonado por outra pessoa.

Talvez um novo abandono não pudesse ser cogitado para alguém prestes a
se perder (se já não estivesse perdido) e contrair hipotermia.

- Eu penso sobre quando éramos pequenos e você vivia me perguntando se


flores sentiam dor quando suas folhas eram arrancadas... nunca chegávamos
a uma conclusão. Hoje eu saberia responder.

Um relâmpago clareou a paisagem, iluminando sua face enfestada por


gotículas.
Inspirando, exausto, Harry finalizou:

- Às vezes, quando está chovendo, eu fico imaginando se também chove


onde você está agora.

Isso teria sido um desfecho bonito, se a tragédia não implementasse, pois


Styles voltou a chorar descompensado, curvando-se para a frente de modo
que pressionasse o braço em seu estômago para inibir uma faca invisível
sendo introduzida continuamente através dele.

- Hipotermia certamente não o ajudará.

Seus ombros imediatamente pararam de se chacoalhar.


Ele ficou estático, embora não pudesse conter as lágrimas e muito menos os
soluços cortantes que ainda escapavam.
Seu peito ardia.

E alguém havia presenciado este seu estado deplorável.


Pela voz, soube que não era qualquer alguém.
Era o pior que poderia intervir naquele instante.

A dor agravou-se.

- Eu vou lhe dizer uma vez. Apenas uma vez. - Harry sussurrou fracamente,
sem sequer se virar para trás para encara-lo, olhando fixo para baixo. Sua
voz quase não podia ser ouvida devido ao barulho dos trovões que
entrecortavam impiedosamente o céu. - Vá embora.

Mas, aparentemente, sua ordem não foi atendida. Talvez tenha surtido efeito
reverso pois passou a perceber que a chuva não o atingia mais, e sim a área
que excedia à circunferência de proteção ao seu redor.

Não precisou se mover para entender que havia um guarda-chuva suspenso


sobre si.

Ele não conteve nem outro suspiro antes que seu choro voltasse, mais forte
ainda, se possível. Embrulhou seus braços em torno de seu torço, buscando
autoproteção, agarrando-se com medo de cair.
Ali estava Harry Edward Styles.
Talvez, o verdadeiro Harry Edward Styles.
Em que as joias não o alcançavam e sua colcha de fios egípicios não
poderia aquecer realmente as partes que precisavam de calor.

Louis não interviu em sua crise. Nem ao menos tentou levanta-lo de lá e


abriga-lo no Palácio já que havia um temporal arruinando o sistema
imunológico dos dois e ameaçando-os de contrair pneumonia.

O Príncipe William era uma estátua. Não se mexia. Não dizia. Apenas
segurava o guarda-chuva e protegia-os minimamente do dilúvio cruel.

Isso porque... Porque naquele instante Harry não precisava de palavras, de


conforto alheio, de vestes de seda ou bengalas de cobra.
Ele só precisava sentir sozinho suas dores - sem estar de fato sozinho, e
batalhar contra seus demônios.

Talvez tenha se transcorrido quase uma hora e meia dado ao fato do céu
antes selado pelo breu da madrugada estar finalmente alvorecendo. A chuva
havia se diluído para chuviscos.

As pernas dormentes de Tomlinson permaneciam erguidas na posição


original, e seu braço - que formigava fazia alguns bons minutos- nunca
falhou ou retrocedeu na missão de firmar a umbrela preta entre seus corpos.

Fadiga e resistência possivelmente jamais foram postas tão a prova quanto


naquele dia. Eles eram atenuados somente pela distração do cheiro
revigorante de terra molhada. Era tudo.

As sombras monstruosas acabaram por se revelarem árvores conforme o


preto acizentado dava lugar para o marrom, o verde, a vibração da palheta
reconfortante que coloria a natureza.

Nenhuma sensação de sufoco vai embora de súbito. São estágios. Aquilo


era um estágio imediatamente sucessor do pânico e prévio da calmaria.
Quando ainda não estão estáveis ou nem muito instáveis.
Você poderia sentir o frio. Apesar do término da tempestade, a brisa úmida
era completamente nostálgica e servia como lembrete da devastação.
Soava exatamente como uma fase de abrandamento cálido e lacônico.

A figura encolhida e ajoelhada no solo lamacento também não realizara


movimentos consideráveis, mantendo-se contraído em uma espécie de
casulo humano.

Harry não chorava ou emitia ruídos. Seus choramingos se encerraram há


um período e agora o tremelicar de seus ombros se cessava gradualmente.

- Por que ainda está aqui? - sua voz completamente rouca eventualmente o
indagou.

A primeira resposta que veio à mente de Louis, para ser sincero, era um
raso 'não sei'.
Mas ele podia fazer melhor que isso desde que 'não sei' é um termo fora de
seu vocabulário.
Ele precisa sempre saber. É uma necessidade. Um vício.

Ele tinha controle sobre suas ações e 'não sei' lhe parecia uma réplica
preguiçosa e porca a qual ele prometeu nunca se submeter.

Divagando a fundo, ele concluiu saber.

Sua mãe o ensinara a ser educado, atencioso e, sobretudo, solidário.


Johanna traspassou para os cinco filhos a virtude do amor, seja por
conhecidos ou pelo próximo.

Tomlinson cativava uma compaixão incrivelmente grande no coração.


Ele só era reservado demais. E quieto.

Mas sua inexpressão e certa neutralidade facial não implicavam no impulso


altruísta de ternura que guardava para os outros.

Calado, em seu próprio canto e personalidade, observava o mundo,


atentava-se ao que importava, preocupava-se e emendava as pontas soltas
que estavam sob seu alcance.

Com o Príncipe Edward não seria diferente.


Ele era um humano. Agora mais do que nunca.
Ele era importante.
E tinha pontas soltas.
Talvez muitas delas.

Devido a sua demora, perdido em divagações, Harry se virou, ainda


ajoelhado, direcionando seu olhar impaciente para ele.

Seu rosto estava inchado. E tinha algumas espinhas - o que significava que
todos os dias cobria a pele com maquiagem para esconde-las.
Mas, com a luminosidade crua e pura do nascer do sol, até mesmo suas
imperfeições pareciam belas. Seus olhos verdes estavam claros, cansados, e
perdidos. Harry dispunha de uma beleza natural injusta, e seus cachos, que
começavam a se secar - ficando bagunçados e armados -, assemelhavam-se
a cascatas fartas adornando a epiderme pálida feita de porcelana fina.

Um autêntico príncipe que nunca se aparentou tão príncipe quanto agora, ao


que cosméticos não o mascaravam e sua luz intrínseca era muito mais
brilhante que qualquer safira de sua posse.

- Por que ainda está aqui? - repetiu a pergunta, transparecendo irritação e,


principalmente, impaciência.

- Porque você importa. - Louis respondeu, simples e direto. - Você importa,


Harry.

Styles não era capaz de dizer o que mais o abalou na frase.

Só o fato de tê-lo chamado por 'Harry' - assim, familiar e casual - já era algo
a se discutir. Porque aquilo foi tão... Tão relevante, sabe?

Príncipe William havia abandonado as etiquetas, ignorado as normas,


ultrapassado formalidades porque ele teve sensibilidade de perceber que a
situação era delicada. Que ele não estava lidando com um colega de trono,
herdeiro de um Reino.

Ele estava lidando com um cara que passara as últimas horas chorando e
que precisava de conforto, de qualquer forma. E usar 'Harry' revelava um
tratamento íntimo e afetuoso.
Uma vela aquecera seu interior, descongelando uma pequena porção do
iceberg.

Tomlinson flagrara o pontual segundo em que sua feição se quebrou em um


misto de espanto e transtorno. O segundo em que as orbes de esmeraldas
enfraqueceram e sua postura tipicamente orgulhosa recuou, visivelmente
afetado, enquanto as pupilas dançavam cegas e confusas digerindo
inquietamente a sinceridade do moreno.

Harry não conseguiu dizer nada.

Talvez porque não desejasse.


Ou talvez porque as palavras houvessem evaporado de sua boca ao que suas
veias experimentavam de uma adrenalina queimante, e ele estava
desconcertado e tocado demais para falar.

De qualquer modo, aquilo se tornou denso. E estranho.

Styles em uma espécie de paralisia.

Louis não alterando de fato a neutralidade de suas expressões mas


devolvendo-o um olhar firme e fiel, e que, incerto da situação, limitou-se a
baixar o guarda-chuva e sacudi-lo, dispersando o excesso de umidade para
fecha-lo de vez - já que o clima finalmente dera-os uma trégua e os raios
solares iniciais os aqueciam superficialmente e se dispunham a secar as
vestimentas encharcadas.

Mesmo depois de embalar a lona preta e amarra-la com a cordinha, usando


o cabo da umbrela de apoio ao braço cansado - uma bengala improvisada -
Louis notou que Harry não havia se movido, meio inerte da realidade.

Os pássaros cantarolavam as melodias da manhã como se fossem despertar


as flores e árvores de um longo sono. Era revigorante o cheiro fresco da
natureza. As cores vibrantes deixavam a paisagem mais prazeirosa,
especialmente quando o sol banhava-as com um iluminar dourado, o
verdadeiro ouro da existência.
Lindo, lindo, lindo.

Reconfortante.

Harry Styles foi se levantando, estendendo-se de pé com uma careta - de


fatiga e formigamento nos membros, expondo seu vestuário totalmente sujo
de terra pastosa.

Ali, erguido, eles se encaravam de igual para igual, com suas alturas
alinhadas e a exaustão entregue na feição de ambos.
Eles precisavam dormir.
Precisavam se despedir e dormir.

Após um oblíquo silêncio - entrecortado pelos pingos solitários vindos das


folhas das coníferas nas poças de água remanescentes, Tomlinson indagou
em um cochicho.

- Qual foi sua descoberta? Para a sensibilidade tátil das flores em questão de
dor? Disse a ela que teria uma resposta sobre assunto de que sentem ou não
dor igual humanos...

Ele se referia ao monólogo anterior de Harry para Gemma.

Styles demorou a compreender, piscando confuso e torcendo levemente o


nariz.

Mas logo que captou a menção, abaixou a cabeça - sim, era complicado e o
constrangia horrores, ele estava sem seus escudos habituais.

- Eu tenho uma teoria própria, em que o fato de flores não possuírem


células sensoriais não impede que verdadeiramente se aflijam como nós.

- Isso é cientificamente improvável. Ainda menino, eu mesmo testei e


conclui.

- E como chegou a tal conclusão?

- Eu fiz um experimento. Plantei um roseiral e removi quase todas as suas


folhas. Ainda assim elas se desenvolveram. Se houvessem sofrido pela
perda de uma parte de seus corpos, haveriam murchado. Elas não sentem
dor quando as ferimos.

- Você não é uma planta pra ter certeza. - Styles criticou.

- Eu provei cientificamente.

- Mas isso não significa que você deve machuca-las para descobrir, talvez
elas só não demonstrem. Pessoas seguem em frente mesmo quando estão
debilitadas, por que rosas não poderiam?

- Porque são rosas... - Tomlinson disse de cenho sutilmente franzido, como


se fosse óbvio.

- E pessoas são pessoas... - Harry rebateu, com jeito similar ao de Louis,


contra argumentando-o no mesmo nível para indicar que elas são tão
importantes quanto seres-humanos.

Príncipe William piscou intrigado, sentindo-se subitamente desarmado pela


veracidade de sua tese - e a profundidade dela.

Ele vivia constantemente lendo livros dos mais diversos tópicos, se


inteirando em áreas científicas, políticas, econômicas.
Estudava e absorvia informações que lhe proporcionavam uma visão erudita
do mundo.
E muitas vezes esquecida de injetar um pouco de sensibilidade nela.

Acostumado a solidificar tanto as coisas, limita-las a respostas máximas,


esquecia-se que a vida deveria ser um equilíbrio entre extremos, embora
odiasse o pensamento de mediação esta era essencial.

- Parece que eu lhe roubei as palavras, vossa alteza. - Styles ralhou com um
pouco de orgulho nas bordas, pronunciando 'vossa alteza' de sua típica
maneira desdenhosa e debochada, contudo, não suprimiu o surgir de um
pequeníssimo sorriso lateral (que parecia verdadeiro e honesto - o oposto de
qualquer outro esboçado anteriormente).
Aquele sorriso diluiu a seriedade da sua fala.
E ela não era encenada.
Nem cantarolada.
Nem sátira.
Ou arrogante.

Sua fala era curta, uma pitada atrevida, com um toque de insolência
programada mas comedida, havia um tempero de humor e cheirava a
audácia.

Ela era Harry Styles. Pura e cruamente.

Harry Styles -aparentemente- recuperado e restabelecido.

- Touché. - Tomlinson proferiu divertido em rendimento, assistindo o


sorriso do Príncipe cacheado ampliar-se genuíno.

Eles se encararam um último momento, e seus olhares selaram um acordo


silencioso de que aquele episódio estava encerrado.

Harry despediu-se com um breve aceno de cabeça - que continha um


'Obrigado' não verbalizado -, afastando-se a passos lentos e largos de um
Louis estático, em direção ao Palácio.

Sua sombra solitária e imprevisível se distanciando entre os canteiros do


jardim.

Louis proferira "Touché" da mesma forma que Harry o fez ao ser derrotado
pelo Príncipe de Riverland no Esgrima.

Harry.
Perdeu naquele dia.
Mas, de uma maneira estranha, ganhou agora.

E não ganhou apenas a discussão sobre o sentimento das flores.

Ganhou algo a mais.


Chapter Sixteen

(Notas da autora: eu escutei att quádrupla?)

Episode: Meeting at Night

- Diga-me, Cindy, como está a dor na coluna esta manhã? - perguntou


gentil, caminhando lentamente pelo quarto a procura de seu broche delicado
de borboleta.

- Melhorou, vossa alteza. - disse um pouco derretida. Era inevitável não se


fascinar pela simpatia adorável de Zayn Malik.

O Príncipe de Arlen possuía um charme sedutor natural. Era irresistível.


Nem suas criadas, por mais treinadas para se manterem neutras e formais,
conseguiam desviar a atenção do belo par de olhos castanhos, ainda mais
quando o dono deles era tão atencioso.

- Tire o próximo final de semana para descanso, sim?

- Não posso, vossa alteza. É contra as regras. Devo me apresentar


diariamente junto a Kristen todas as manhãs.

- Kris irá dar conta do recado, não é querida? - Zayn murmurou,


mencionando a criada de cabelos presos em coque que arrumava os lençóis
do colchão.

- Sim. Sim, vossa alteza.

- Além do que, este será o final de semana do Baile da Borboleta, mal me


haverá tempo para residir este aposento. Estaremos ocupados demais
socializando e tudo aquilo a mais... - disse descontraído, uma careta
engraçada bordando sua feição ao que as jovens tentaram repreender uma
risada.
Ele era divertido.

Cindy saíra para conferir se alguma correspondência havia sido deixada em


frente a porta, retornando segundos depois com um papel em mãos.

- Há uma carta para o senhor, Príncipe Malik. - informou se aproximando e


estendendo o envelope.

- É de minha família? - perguntou esperançoso, seus olhos brilhando em


antecipação.

- Er, não. Diz aí que o remetente é o Príncipe Edward, de Malta.

Malik assentiu em compreensão. Não parecia surpreso, e sim decepcionado


por não ser de seus parentes, que até agora não o retornaram uma
correspondência sequer.

- Certo. Obrigado, querida. - murmurou, escorando-se na janela e


aproveitando a luz natural da bela manhã para lê-la.

Cindy e Kristen se entreolharam curiosas, não podiam fazer muito por isso,
era uma ocorrência intrigante. Várias cartas de admiração anônimas e
assinadas chegavam diariamente na porta do aposento do príncipe, mas esta
era a primeira escrita por Harry.

- O que diz aí?! - Cindy, a garota mais jovem e inquieta, atreveu-se a


questionar. Malik vivia dando-as liberdade para participarem de sua vida,
incentivando-as a cumprirem um papel mais íntimo e amistoso.

Conforme Zayn finalizava a leitura arqueara uma das sobrancelhas.

- É um poema. - proclamou. - Presumo que tenha mandado para todos os


príncipes, visto que não há meu nome específico como destinatário.

- Um poema? - Kristen franziu o cenho. - Fala sobre o quê?

- É de um poeta vitoriano, Robert Browning. Chama-se Meeting at Night.

- Pode nos ler, vossa alteza? - Cindy pediu, iluminada.


- Claro. - Zayn se dispôs sorrindo, segurando firme a carta e recintando em
seu melhor tom:

Meeting at Night

The grey sea and the long black land;


And the yellow half-moon large and low;
And the startled little waves that leap
In fiery ringlets from their sleep,
As I gain the cove with pushing prow,
And quench its speed i' the slushy sand.

Then a mile of warm sea-scented beach;


Three fields to cross till a farm appears;
A tap at the pane, the quick sharp scratch
And blue spurt of a lighted match,
And a voice less loud, thro' its joys and fears,
Than the two hearts beating each to each!

- Robert Browning,

_________________________

( Encontro à Noite)

(O mar cinzento, a longa terra escura,


Baixa, ampla, meia-lua amarelada,
E as ondas em alarme a se impelir
Em ígneos atos vindos ao dormir;
Com proa em riste chego à enseada,
E afogo a rapidez na areia impura.

Milha de praia quente, odor de mar;


Três campos a cruzar, até o recanto;
Um bater na vidraça, o lesto riscado
E jato azul de um fósforo inflamado;
Voz menos alta, em seu temor e encanto,
Então dois corações: soar soar.)
- Robert Browning,

________________________

- O que isso deveria significar? - uma delas indagou enquanto Zayn


enrolava o papel para guarda-lo na gaveta de sua escrivaninha.

- Não deve significar, nem é suposto a ser facilmente compreendido. Isso


significa Harry Styles, em sua personificação fiel.

****

Ao entardecer daquela quarta-feira os príncipes se reuniram no estúdio para


mais uma aula instrumental.

A última semana havia sido um tanto monótona - deveriam admitir - sem a


presença extravagante do Príncipe Styles e seus exageros .

Pouco havia se escutado do futuro herdeiro de Malta desde segunda-feira,


quando fizera uma breve aparição no Salão dos Homens com o convite de
uma celebração grotesca, e anfitriara uma festa de desregramento e
libertinagem em seu próprio aposento.

Festa, a qual, não passou despercebida na edição de terça-feira de How to


Wear a Crown, quando uma pilha de folhetos descrevia superficialmente a
madrugada polêmica da segunda-feira, alegando que imprevistos ocorreram
e que o clima ficou estranho quando Harry desapareceu de sua própria festa
no meio da madrugada, deixando os demais - embriagados - convidados
completamente confusos.

O rodapé do jornal trazia uma frase comtroversa:


Afinal, Harry Styles é o lobo ou o cordeiro?

De qualquer maneira, após um período relativamente longo com a ausência


de Harry, os príncipes definitivamente não esperavam recebê-lo na quarta,
assistindo sua magnífica (e inesperada) entrada na sala de música com um
sorriso cheio de dentes e olhos presunçosos.
O mesmo esnobe de sempre com sua bengala Carolina e os anéis cintilando
riqueza em seus dedos.

- Esplêndido, meus caros. - foi sua primeira frase em tanto tempo, atraindo
a atenção imediata de quem já posicionava em seus instrumentos.

O instrutor musical de Styles era um loiro jovem, ele o guiou para a ala dos
violinos, onde Harry cumprimentou quem estava por perto com selar
sedutor no dorso de suas mãos e estalou beijos no ar para quem ainda o
olhava.

Durante os vinte minutos iniciais, em que o lugar costuma se transformar


em uma bagunça de sons, timbres e melodias, quem assistia o Príncipe
Edward de relance percebia facilmente sua interação íntima com o instrutor,
uma troca de sorrisos tortos e aproximações desnecessárias enquanto o
jovem professor articulava os braços de Harry na posição correta para
manusear o violino e sussurrava orientações em seu ouvido.

- Você não parece ter grandes dificuldades com o piano. - uma voz
despertou o devaneio de Malik, fazendo com que virasse o rosto para a
origem dela, o jovem do piano ao lado.

- Príncipe Payne. - saudou, esboçando um sorriso doce e educado. - Bem,


eu toco piano desde os meus sete anos. Para ser honesto só estava com
preguiça de aprender outro instrumento então decidi praticar esse mesmo,
dispensei até o meu instrutor.

Os dedos magros relavam suavemente a superfície das teclas brancas, uma


feição de prazer calmo enfatizando sua adoração por pianos.

- Oh, entendo. Eu também sei tocar, mas fazia algum tempo que eu não
treinava, então quero especializar-me para depois aprender outro
instrumento.

- Tente começando pelas clássicas, costumam ser mais fáceis para uma
abordagem inicial.

- Você já toca todas?


- A maioria. Mas ultimamente tenho me concentrado mais em composições
próprias.

- Toque uma para mim. - Payne pediu. Sua expressão interessada tornou
impossível rejeitar o desejo.

Zayn assentiu um tanto acanhado. Ele não sentia vergonha facilmente, mas
compartilhar uma melodia de sua autoria era pessoal, ele estaria expondo
uma parte sua para o exterior.

Conforme começou a dedilhar as notas musicais, revelou uma música


harmônica.

A trilha iniciava-se lentamente, intensificando à medida que as notas


ficavam mais agudas.

No final, demonstrou-se algo delicioso de se escutar.

- Lembra-me uma canção de ninar. - Liam comentou.

- É porque é. Era uma das canções que minha mãe me cantava quando eu
ainda estava no berço. Eu sempre registrei seu vocal na memória e de
alguma forma tentei traduzir para o piano.

Havia algo na voz de Zayn que entregava sua comoção ao tocar no assunto.
Os olhos piscando um pouco perdidos e visivelmente emocionados.

- Como a chama? - Payne indagou, fingindo não perceber a vulnerabilidade


do outro e procurando distrair sua mente atordoada.

- Hm... Nunca pensei a respeito. Não me lembro o verdadeiro nome da


canção de ninar.

- Batize-a com o seu próprio. - incentivou-o.

As longas pestanas piscaram rápidas enquanto o príncipe parecia


concentrar-se.

- Cotton Candy Tears.


- Lágrimas de algodão doce?

- Sim, o que acha?

- Perfeito. É leve, e viciante. Adequa-se na descrição embora não creia que


seja a verdadeira razão por trás do título. - Payne opinou, sorrindo
lateralmente.

Zayn concordou quieto, limitando-se a levantar da banqueta e acenar em


despedida, rumando ao seu aposento.

Liam observou aquilo confuso.

***

Era sábado, noite de baile. Ou melhor, final de semana.


Haveriam duas festas seguidas, portanto, as princesas se hospedariam no
Palácio de Vidro de sábado para domingo.

O Baile seria divido em dois dias, porque cada um representava uma fase. O
primeiro se chamava Nympha, lagarta/pupa em latim.
E o segundo, Papilio, borboleta.

Diziam que esse evento, diferente do primeiro baile, não seria uma
homenagem às damas, e sim, aos príncipes, representando a metamorfose
que os transformariam em reis.
Sempre haveriam metáforas nas entrelinhas, caberia a eles entender.

Uma delas, talvez a mais clara, seria justamente a pernoite das princesas no
palácio.

Isso soa como algo banal, mas certamente era uma prova.

Para você mudar de forma, precisa passar por uma série de transformações
anteriores. Elas estariam transcritas em pequenos detalhes.

Um príncipe, ao ser rei, deve possuir maturidade. Responsabilidades.


A chance de passar a madrugada perto de belas jovens parecia a tentação
perfeita para demonstrarem seu espírito fraco, ou então - se soubessem
ponderar a situação - sua grande resistência, sua capacidade de ser superior
aos gritantes hormônios.

Seria constatado quais príncipes sairiam de sua fase largada e retornariam


domingo como borboletas, e quais não.

Apostas?
Chapter Seventeen

Episode: Metamorfose

Segundo andar. O andar com quartos de hóspedes para as princesas.


O andar que seria visitado por alguns príncipes fugitivos durante a
madrugada, que se esgueirariam no corredor torcendo para que não os
flagrassem.

Moral nunca foi tão relativa, hum?

O evento de sábado, Nympha, fora definido para acontecer no salão de


inverno, quando as lagartas geralmente se envolviam no casulo que
caracterizava a fase intermediária da pupa, a última antes de atingirem o
apogeu e se tornarem uma borboleta.

E como o requintado tema sugeria, aquilo deveria parecer sufocante.


Deveria parecer sufocante porém fino. Aquecido e transformador.

Toda a decoração se resumiu a cores escuras.


Marrom fosco era o que prevalecia - principalmente as cortinas longas, os
tapetes egípcios e mobília de mogno.
Pouco escapava-se dessa monotoniedade de tons.

O ambiente parecia um tanto deprimente, e a música de Ópera ao fundo


reforçava a sensação nostálgica que os príncipes provavam ao adentrar
curiosos no local.

A maioria seguira o padrão visual esperado para a noite. Roupas


elegantemente lisas e de tom neutro opaco.

Louis usava um elegante conjunto todo preto, apenas com um colarinho de


laço vermelho no pescoço, seu topete arrumado para o lado e o precioso
relógio de bolso pendurado em seu pulso. Ele era sexy. Incrivelmente sexy.
E não era a toa que as princesas sempre o encaravam por mais tempo do
que o de costume.

Já as damas foram gradualmente chegando, ao passo que a lua aproximava-


se do apogeu, e as cúpulas de ponche se esvaziavam.

A maioria dos jovens estava agindo cordialmente - e como ópera não é


exatamente uma trilha que requer danças e valsas, eles apenas as puxavam
para conversar.

Alguns irmãos das princesas também haviam sido convidados, e suas


presenças eram intimidantes de um certo modo, pois estavam observando a
interação dos príncipes com suas irmãs, e afastando-os sutilmente.

Tomlinson não pareceu encontrar dificuldades nisso, embora. Ele circulava


o grande salão com um copo de conhaque na mão.

Cada um de seus braços era segurado por uma princesa. Lidia, uma bela
dama do Reino Franco Bordoux, pendia no direito, com um longo vestido
verde musgo realçando sua pele pálida e os cabelos loiros. Ao lado
esquerdo estava a tão destemida Diana, que havia sido flagrada com Louis
no primeiro Baile que tiveram, com uma veste sem grandes curvas e seus
fascinantes cachos castanhos movendo-se soltos na altura da cintura.
E, até mesmo, o próprio irmão mais novo de Diana acompanhava-os no
debate, fascinado pelo rosto delicado do futuro herdeiro de Riverland.

Príncipe William revelava-se cada vez mais proeminente diante cortes reais,
estabelecendo boas relações e fortificando contatos que seriam importantes
ao seu próprio reino.

Já na ala oposta do salão havia uma movimentação nada suave e discreta.


Uma pequena roda de damas se formara ao redor de Harry Edward Styles, o
que era de se esperar, visto que havia algo encantador em sua maneira suja
de sorrir e lançar provocações no ar para que levitassem sem a menor
vergonha.
Vestido totalmente fora do esperado para a ocasião, com um fraque e calças
justas verde menta, ele basicamente assinalava uma placa de 'estou aqui
para chamar a atenção' sobre sua cabeça.
Não seria difícil avistar alguém com uma cor tão vistosa cobrindo seu
corpo, ainda mais quando uma gargantilha de diamantes adornava-lhe o
pescoço, cintilando uma beleza ultrajante e uma ousadia irremediável.

Ele era a quebra de todas as normas de etiqueta, e a imposição de novas


delas.

E, aquilo, soava estranhamente excitante para as inocentes garotas, que se


viam enfeitiçadas pela maneira arrogantemente sensual que Harry falava,
gesticulando suavemente com as pontas dos longos dedos ao o fazer.

- Mas, vossa alteza não deveria usar roupas de tonalidade escura? Não era
obrigatório? - uma delas, a de coque alto que Styles não se esforçara para
guardar o nome, indagou genuinamente curiosa.

- Darling, nada é obrigatório a um príncipe. - murmurou debochado. - Mas,


se quer saber, esse código estético é para simular a fase sem cor e monótona
de lagarta formando seu casulo. Seria contra minha persona aderir ao
manual.

- Por quê?

- Porque eu já sou a borboleta. - cantarolou petulante e direto, apontando


para si próprio e para o verde menta em destaque. - Eu já nasci colorido,
não preciso passar pela fase crisálida quando tenho asas grandes o
suficiente para alçar vôo por aí.

- Isso é um pouco... Prepotente.. - uma princesa jovem e ingênua comentou


baixinho, recebendo então o olhar intenso das gramas de verão.

- Eu sei. - foi o que Harry murmurou. - E estupendo também.

***
Durante o tranquilo baile, entre o serviço de degustação de aperitivos feitos
com camarão e o embebedamento através de muita champanhe de morango
e ponche de uva, os príncipes começaram a se animar, conversando em tons
elevados, rindo mais frequentemente, e até arriscando passos de dança -
com um fundo inusitado de ópera.

A maioria se divertia sem requerer muito. Alguns em debates sujos, outros


com a presença feminina ateando fogo em seus corpos.

Enquanto tudo se convertia a baderna, Zayn Malik estranhamente estava em


seu próprio canto, afastado de toda a bajulação que geralmente o seguia
para onde fosse, até mesmo das belas princesas que o laçavam pelo olhar
descaradamente.

Escorado na grande janela, com uma taça de champanhe em sua posse e os


devaneios perdidos ao fitar a paisagem exterior que aquela janela dava
acesso - um jardim com uma fonte romana jorrando jatos de água pela boca
de um anjo de mármore, típico - não percebeu a aproximação de alguém.

- Uma moeda por seus pensamentos. - escutou uma voz familiar ressoar em
seus ouvidos, tirando-o do transe.

Sorriu educadamente ao encontrar Príncipe Payne ali, bebericando um copo


de ponche enquanto devolvia o sorriso gentil.

- Honestamente eu quem deveria pagar para dize-los em voz alta, se fosse o


caso. Beiram o tédio.

- Não estou ocupado, no momento. Coloco-me à disposição para eles. -


Liam insistiu, escorando-se na parede, amassando a grossa cortina marrom
com o apoio de seu corpo sobre ela.

Zayn pareceu debater internamente durante um momento, piscando devagar


seus longos cílios. Ele nunca se importou de desabafar com alguém, estava
feliz em manter sua realidade em modo privado.

Ao ponderar um pouco, suspirou.


- Bem, é só que meus pais não me respondem. Nenhuma carta. - Malik
proferiu com uma certa agonia entonada em sua fala.

- Eles devem ter tido algum imprevisto, ou então a carta se extraviou. -


Liam tentou conforta-lo.

- Na verdade, minha mágoa não é por não ter recebido notícias deles, e sim
por não estar surpreso que isso aconteceria.

Era a quarta semana, e enquanto diariamente os jovens recebiam


correspondências remetentes de seus familiares, lendo-as animados e com
saudade, tudo que Zayn tinha eram declarações de amor platônico em
anônimo, as quais ele sequer guardava.

- Eles não se preocupam. Não se importam. Ao menos não o suficiente para


quererem se comunicar ou ao menos responderem uma das sete cartas que
os envio semanalmente. É frustrante.

- Devo imaginar.

- Sinto muito por amua-lo com minhas queixas, vossa alteza. - Zayn se
desculpou, chacoalhando a taça com um constrangimento natural.

Para quem deveria se sentir superior, tendo tantos admiradores e elogios o


embalando por onde quer que fosse, deveria soar patético vitimizar-se em
qualquer situação que fosse.

- Por que eles não se importam? - Príncipe Payne indagou, revelando


interesse genuíno no assunto, como se não estivessem em uma noite de
celebração e espairecimento após uma árdua semana atarefada.

Sua pergunta pegou Zayn desprevenido. Aquilo era tão pessoal.

- E-eu.. Bem, eu fiz coisas no passado que não os agradaram. É isso.

Liam percebeu sua hesitação e não o impeliu a prosseguir, limitando-se a


concordar com um aceno de cabeça e sorrir pequeno, com compaixão,
levando seu copo de ponche para tintinar suavemente à taça de Zayn, em
uma menção de brinde.
Após ambos virarem boa parte da bebida em suas gargantas, Payne
murmurou sua deixa:

- Não deveriam condenar erros com falta de afeto, isso por si só já é um


erro. Ninguém pode se abster da função familiar, nada justifica. - Liam
disse, uma comedida revolta exposta no tom que usou, o que acabou por
intrigar Zayn pela relevância que dera ao pouco que o revelara, observando-
o enquanto o mesmo se afastava em direção à algumas damas suecas.

Depois de finalizar sua bebida, sentiu-se cansado o suficiente para se


abrigar no conforto de seu aposento, marchando com passos discretos em
direção à saída - não seria pertinente de um cavalheiro abandonar a festa
antes do toque de recolher.

No entanto, quando estava próximo das escadarias, uma mão segurou seu
antebraço.

Virou-se surpreso para flagrar Harry Styles ali, sorrindo-o amplamente.

- Mas já vai tão cedo, milorde? - indagou, forçando uma careta de


decepção.

- Não estou em uma noite boa. - foi o que usou para se justificar,
depositando uma boa quantidade de gentileza e paciência para lidar com o
insistente herdeiro de Malta.

- Devo supor que é pelas cartas nunca entregues de seus pais, sim?

- Como sabe disso?

- Ora, ora. As paredes deste palácio tem ouvido e olhos, não é difícil ficar a
par da situação quando você está rodeado de vidro.

- Bom, não reluto ao confirmar sua suposição. Mas, já que está


relativamente tarde, dou-me o direito de descan-

- Jura? Seus pais realmente o abominam pelo incidente com Coral? - Styles
interviu, uma expressão de inocência e dúvida encenadas perfeitamente.
Os olhos do moreno se arregalaram instintivamente, pego desprevenido.

- C-omo s-

- Não vá me dizer 'como sabe disso?'. É deselegante repetir perguntas. -


Harry murmurou insolente, um sorriso lateral querendo aparecer. - Mas,
para sua felicidade, eu o explico que estou ciente do acontecimento por ser
conhecido de Coral. Durante uma das visitas que realizei em seu reino, seu
pai, rei de Arlen, me apresentou a garota com segundas intenções, dá para
acreditar?!

- Eu não sei do que está falando. - Zayn respondeu e imediatamente o deu


as costas, querendo subir depressa as escadarias.
No entanto, o monólogo de Harry, lançado ao alento, o conteve.

- Não acho que foi justo dos seus pais se horrorizarem tanto com a história.
Digo, você e Coral são meio irmãos, só por parte de pai, não deviam se
chocar ao os flagrarem transando atrás do depósito, certo?

Deus.
Malik voltou-se rapidamente para perto de Harry, ofegante. O breve
discurso soou como um trovão rachando-se na tempestade, desarmando-o e
chocando-o.

Styles lambia o lábio inferior com uma petulância visível.

- Incesto é um tabu muito forte nesse século, eu não o tiro a razão, Coral é
uma bela garota, e vocês nem conviveram na infância, certo? Não é toa que
seus hormônios falaram mais alto ao receberem-na em Arlen pela primeira
vez.

- O que está tentando, Príncipe Edward? Como descobriu? - sua súplica era
urgente. E paupável.

- Já o revelei, conheci pessoalmente Coral, ela me contou. Contou-me como


o pai de vocês passou a repugna-lo e sua mãe nem olhou mais diretamente
nos olhos. Você carrega um pecado nas costas o qual não se livrará tão
cedo, e o preço a se pagar está sendo caro pelo o que vejo, mesmo dois anos
depois de ter acontecido.

- Eu não deveria ter me deixado levar. Não deveria. - Malik confessou em


um lamento arrependido, fechando os olhos com pesar.

- A culpa não é só sua. Se ela fez foi porque também quis. Por que apenas
condenaram você? Talvez por causa dos boatos anteriores que já se deitara
com um primo de segundo grau? É algum fetiche seu relacionar-se com
sangue de seu sangue? - Harry proferiu, estendendo a mão para repousar em
um sinal de apoio no ombro de Zayn.

- Foram deslizes. Todos comentem deslizes. - Malik se defendeu, embora


não estivesse confiante sobre isso.

- Acredito que sim. - o cacheado cantarolou, levando a ponta de seu dedo


indicador para traçar a mandíbula de Zayn, vagarosamente. - Mas não acho
justo que finalize a noite de modo deprimente desse jeito. Eu ficaria
contente em ajudá-lo, mais tarde, colocando-me fielmente à sua
disposição... Para tudo. Agora estou ocupado com algumas damas.

Os olhos castanhos levantaram-se instantaneamente para os verdes intensos


de Harry, que já o fitavam nebulosos.

- Não me sinto a von-

- Esse segredo não é o seu único, correto? Parece que as consequências


acarretadas diante o episódio, bem, trouxeram-lhe um demônio que o vigia
insistentemente. Será que o chamariam de doente? Como todos o
enxergariam se descobrissem que-

- Harry! - Zayn advertiu em alerta, ofegante, desesperado. - Por favor.

Ele simplesmente não entendia como o cidadão de Malta tinha todos os Àz


na manga.

- Reconsidere a minha proposta? - sugeriu, suas pestanas piscando


perversamente, da forma intimidante que somente ele poderia o realizar. -
Estarei à sua espera. - decretou por final, a voz calma, serena. Plenitude em
suas chantagens.

***

Mais tarde naquele final de evento, enquanto subia das escadas


preguiçosamente, Styles se atentou com um detalhe.

Deduzira que estaria sozinho no corredor dos aposentos, já que as luzes


estavam apagadas.
Mas, se surpreendeu ao ver a distância Louis Tomlinson adentrando o
quarto acompanhado de duas damas: Diana e Lidia, as duas risonhas e
animadas.

Espremeu a visão em Diana, avaliando-a perplexo até a cabeça da


perseverante princesa cheia de cachos achocolatados desaparecem no
recinto, deixando-o inconsolavelmente abalado e intrigado. Diana.

***

How to Wear a Crown

Sábado, 26/06

Parece que domingo mal começou e eu já venho trazê-los a bomba desta


manhã.

Primeiro, debatemos da audácia de alguns príncipes ao serem flagrados


perambulando de madrugada pelo segundo andar, aonde as princesas estão
oficialmente hospedadas.

Parece que a moralidade não é um adversário competente quando se trata


de tentações hedonísticas, hum?
O aclamado príncipe Gregory foi um deles, saindo discretamente o
dormitório de Hailey Sheldman, uma britânica conhecida por seus grandes
dotes artísticos (e talvez novos outros).

Mas, o choque verdadeiro, vem ao ser divulgado, em primeira mão, que


Zayn Malik foi visto perambulando não pelo segundo andar das princesas,
e sim pelo terceiro andar dos príncipes.
Alguma aposta mais sólida de que ele tenha finalmente cedido aos encantos
do intragável Príncipe de Malta, Harry Styles?

**

Notas da autora:

Eu sei que o que Harry parece fazer com Zayn é muito pesado.
Mas não é exatamente o que acontece e vocês vão entender mais pra frente.
Não o detestem tantoo.
Chapter Eighteen

Episode: Butterfly

Ao contrário de toda a decoração maçante do dia anterior, no domingo a


festança foi realizada no salão da primavera, guarnecido de enfeites
coloridos e vibrantes, cores pastéis e cintilantes, alusão à resplandecência
da borboleta que saiu de seu casulo e deve viver o apogeu de sua existência.

Mas, certamente os príncipes não entraram em contato com tal local tão
cedo. A celebração seria para o anoitecer, antes disso haveriam de participar
de um piquenique real com as princesas, e então se reunirem no Salão dos
Homens até que desse o horário da segunda etapa do baile.

Vestidos devidamente adequados para a ocasião - com peças leves, soltas e


lisas - foram todos guiados para o jardim, onde seus cafés da manhã seriam
servidos ao ar livre sobre lençóis estendidos no chão e frutas frescas
misturadas com o aroma das bromélias.

Nada melhor do que iniciar um dia sendo parte de um ambiente limpo e


revitalizante. Ao menos foi o discurso (desnecessário) do Príncipe Edward
ao pisar na grama e sentir o sol queimando sua pele.

- Embora eu deteste me queimar, parece que a gestão teve uma boa


iniciativa ao nos tirar daquele Palácio sufocante, hum? - Styles cantarolou,
aproximando-se da roda dos demais rapazes com um ar superior e uma
insolência descabida.

Nessas quatro semanas Harry conseguira atrair um número considerável de


adeptos, ou seja: admiradores.
Alguns príncipes simplesmente o idolatravam - seja secreta ou
assumidamente.
Bom, era claro o quanto o cacheado se destacava. Não somente por seus
cachos macios, ou beleza natural, mas também pela ousadia persistente em
suas escolhas de vestimenta.
Por exemplo no dia de hoje que, à medida que todos optaram por calças
flaneladas e camisas de algodão, Styles surgiu sob uma calça justíssima no
corpo de couro branco, camisa amarelo claro com bordas de renda e um
blaser formal branco, com uma lapela pregada no bolso superior.
Uma Fedora cobria parte de sua cabeça. Havia um laço nela que combinava
com a tonalidade vibrante do visual em geral.
E claro, apoiando-se em sua fiel Carolina.

Seu jeito diferente de ser - e a parte destemida de jamais oculta-lo - era


provocante para jovens criados à base de regras rigorosas e códigos de
etiqueta.

Portanto, bastara Harry levar seus passos para a visão pública que três deles
já vieram paparica-lo, rodeando-o com elogios sobre sua aparência
impecável e sorrisos apaixonados.

Não é a toa que sempre flagrava-se rapazes deixando os aposentos de Styles


durante a noite.
Mas, dessa vez, eles possuíam competição.
Uma competição insuperável.

Pois, de braços dados a Harry, estava Zayn Malik. O belo herdeiro de Arlen.
O garoto de aparência promissora que derretia os hormônios de qualquer
um com um breve piscar.

Os dois chegaram juntos... O que chocou a todos, honestamente.

E, mesmo que a edição de How to Wear a Crown tenha alegado que Zayn
passara a noite com Harry, ninguém dera a devida importância.

Não tanto quanto estavam dando agora, seus queixos indo ao chão
conforme Styles sorria galanteador para o moreno e Zayn retribuía com
algumas falas - não parecia muito animado, sinceramente.
Ao chegarem no círculo social, Harry se apressou a acalmar os ânimos
entristecidos dos garotos que também o desejavam e se sentiam enciumados
com a atenção exclusiva que vinha sendo cedida a Zayn.

- Relaxem queridos. Esta é uma manhã estupenda demais para criar rugas
de ciúmes. Vocês sabem que, de noite, há Harry para todos vocês. - Styles
reverberou sorrindo torto.

E então as princesas começaram a sair do palácio, caminhando majestosas


pelo jardim.

Oh, as damas. As formosas damas - a maioria com os cabelos soltos pela


informalidade da ocasião - e seus cílios longos e vestidos mais justos, que
delineavam bem suas cinturas e arrastavam-se na altura dos tornozelos.

Conforme traziam seus corpos delicados para perto, alguns rapazes se


afastavam da roda para se dirigirem a elas - sutilmente, aproveitando a
oportunidade de acompanhar damas em piqueniques.

Styles piscou surpreso ao capturar a imagem do Príncipe de Riverland,


William, caminhando próximo aos canteiros na presença de Diana. Um
sorriso cúmplice esboçando a face dos dois enquanto as orbes verdes
assistiam intrigado a cena, sua mente parecendo processar a mil por hora.

- Se me dão licença, queridos, tenho algo a resolver. - Harry avisou para os


príncipes remanescentes, distanciando deles a passos apressados para dentro
do palácio, uma expressão determinada brilhando em seu rosto.

...

O piquenique transcorreu normalmente, você sabe, tudo aquilo que pessoas


da corte teriam direito de comer em um banquete porém idealizado ao ar
livre, sob um sol quente de verão refrescado pela penumbra das árvores.

Já o cair da noite soava mais promissor.

Soava mais estupefaciente, isso era certo, ao menos se tornou quando às


oito e meia, quando o ponche de abacaxi e aperitivos começaram a ser
servidos, Harry entrou, fantasiado.

Sim, fantasiado.

Mais do que o normal, digo.

Ele era uma mescla de exagero e superficialidade, contrariando novamente


a conduta aguardada para o baile - ou indo além dela.

Sim, ele compadecera com o pedido de que as vestimentas do príncipes


fossem em tom claro - harmoniosos.

Mas, deve-se ressaltar, que também acrescentou ao seu visual o adjetivo


'chamativo'. Muito chamativo.

Enquanto os demais príncipes esbanjavam elegância em seus conjuntos de


cor creme, cáqui e bege em tonalidades pouco carregadas, Harry viera para
contradizê-los.

Chegou desfilando um modelito próprio, que havia sido produzido por um


alfaiate famoso em seu reino.
Harry era a borboleta.
Era a figura ostensiva dos grandes olhos de esmeralda, com um paletó
inteiro de cor rosa salmão com desenhos de flores brancas costurados por
todo ele. As calças eram da mesma cor e tecido, blusa interna na cor preta
com gola em V e abotoada pela metade, tendo botinhas de cano curto
prateadas em seus pés, uma gargantilha delicada - de apenas um ponto-luz
no pingente central -, e sua típica bengala de cascavel sendo balançada no
ar.

Seus cachos estavam mais volumosos naquela noite. Mais selvagens que o
normal. E ele parecia avidamente mais maldoso que de costume, o imenso
sorriso debochado entregava-o.

Talvez ele estivesse mais bandeiroso do que as próprias princesas e seus


vestidos armados, com as mangas justas e a parte de cima do corpo
enfeitada com babados cobrindo o ombro, a saia em forma de trombeta com
muito volume na parte de trás e a forma adquirida junto com o espartilho,
como uma ampulheta. A anca projetada horizontalmente para trás.
Elas eram verdadeiras bonecas submetidas a vestimentas coloridas e
pesadas, penteados de meio coque com seus fios artificialmente cacheados e
pó de arroz em excesso deixando seus rostos ainda mais pálidos.

De qualquer maneira, aquilo era uma reunião para simular,


metaforicamente, o aparecimento de uma última fase da borboleta, a que
todos geralmente creem ser sua mais bela.

Tudo estava se resumindo a danças ao som de um bom clássico no piano,


melodias animadas e perfeitas para tirar as damas para valsarem.
E era o que estava acontecendo.

Bailando suavemente, Louis conduzia a princesa Diana Oiselle em uma


valsa calma.
A dama francesa concedia-o sorrisos laterais de devoção e piscava seus
lindos olhos verdes com graciosidade.

- Com licença. - uma mão puxou-a sutilmente pelo ombro, fazendo com que
Tomlinson e a princesa de Louve interrompessem seu passo imediatamente,
para virarem-se ao indivíduo que vos chamara. - Será que pode me permitir
uma dança com o Príncipe William, doçura?

- Bem, se não me chamar de doçura novamente, pode qualquer coisa. -


Diana respondeu-o secamente. Oh, Harry havia se esquecido do
temperamento naturalmente ácido da bela garota. Imponente e desafiadora.

Manteve contato visual com ela, não baixando a guarda, ele não abriria mão
de sua pose prepotente por ela, não importa o quão autoritária soasse.

(Mesmo que seu interior estivesse estremecendo graças as suas suspeitas


recentes de quem se tratava realmente essa moça).

- Perdoe-me. - murmurou, soltando um riso sátiro. - Não estou acostumado


com garotas que não gostam de bajulação.

- Há uma diferença entre bajulação e respeito, vossa alteza. - a francesa


respondeu, seu sotaque ainda forte, e um ar destemido expelindo de si.
Eles se encararam por alguns segundos antes que ela acenasse
debochadamente para Harry e se retirasse de seu caminho.

- Wow, agora vejo o que gostou nela, tão intragável quanto você, Príncipe
William. - Styles proferiu, acompanhando Diana com o olhar enquanto a
mesma se afastava para a mesa de bebidas.

- Se me achas tão intragável, por que está pedindo-me uma dança, vossa
alteza? - Louis indagou neutro, embora uma certa provocação estivesse
sendo incitada em seu tom.

Styles o fitou, um sorriso petulante repuxando em seu rosto.

- Eu tenho meus motivos, milorde. - enfatizou com desdém, dando um


passo a frente e acabando com a distância que separava seus corpos. - Mas,
agora, irá recusar-me uma dança? Não sou digno o bastante para toma-lo o
tempo apenas por não me nominar Diana Oiselle?

Louis olhou-o impassível, concordando com um aceno e fazendo uma breve


reverência para Harry, sinalizando o começo da dança.

Styles permaneceu ali, ereto, piscando sua arrogância para fora com o
sorriso perverso fixo nos lábios.
Carolina largada em um canto do salão.

Assim eles se moldaram no encaixe suposto de valsa, com a mão pequena


de Tomlinson repousando delicadamente na cintura de Harry enquanto o
mesmo apoiava seu braço preguiçosamente no ombro do moreno.

Suas mãos direitas se uniram, entrelaçando os dedos em um calor corporal


energético o suficiente para quebrar a superioridade fria de Styles durante
uma fração de segundos em que ele encarou perturbado para suas mãos
juntas, os nós dos dedos de Louis envoltos pelas pontas de seus próprios
dedos cheios de anéis, e uma sutileza no toque de sua pele macia e
aveludada.

Harry inspirou fundo sentindo-se desarmado e desviou a atenção perplexo


para as lagoas azuis alinhadas ao seu rosto, que o encaravam quase
inexpressivas, a não ser pelo toque de preocupação que havia nelas.

Era certo de que o Príncipe William não esquecera do incidente da funesta


segunda-feira, envolvendo lágrimas, lamentações e uma tempestade. E
Styles gostaria tanto que ele não se recordasse, porque então toda vez que o
observasse no fundo de suas pupilas, enxergaria a piedade pelo estado
deplorável que o cacheado estivera aquela madrugada.

O momento vulnerável e avoado de Harry, assim como todos os momentos


da vida, foi superado, e ele logo piscou rápido para recobrar sua postura
mesquinha e expressão maligna típica, expulsando qualquer resquício de
abalo remanescente e adotando o olhar predador que o denotava.

- Diga-me, Príncipe William, o que tem achado da noite?

- Agradável. - Tomlinson respondeu, cordial. Conduzia habilidosamente os


passos da valsa, fazendo com que Harry acompanhasse seu ritmo. - O
clima, sobretudo. Há uma quentura úmida lá fora que me satisfaz.

- Bom, há uma quentura úmida aqui dentro também, se é que me permite


dizer. - Styles se encontrou dizendo, não podendo conter seu ímpeto de falar
o que o vinha a mente sem o menor pudor.

Louis o ignorou, embora.

Nem sequer pareceu ceder um pouquinho à provocação de Harry, mantendo


o olhar firme.

- Oh, vamos lá, milorde, assim você me insulta. O modo como rejeita
quaisquer de minhas investidas faz com que eu me sinta recusado. Não
pensei que fosse tão sem coração assim.

- Sinto muito, vossa alteza. Não é de minha pretensão corresponder a esses


tipos de capricho.

- Por que? Por causa das normas de etiqueta? Você acredita que tem uma
conduta a seguir?

- Certamente.
- Pois ouça o que digo, querido. Isso é desperdício. E esse é um conselho
que não se aplica só nesta situação, como em qualquer outra:

Styles inspirou fundo e começou a proferir, milagrosamente sério dessa vez,


sem piscares irônicos ou cantarolais.

- Um dia você não vai mais rir. Um dia você não vai mais chorar. Um dia
você não vai mais poder fazer o que já teve vontade. E um dia, quando
fechar os olhos para sempre, viverá uma noite eterna em que anjos lhe
manterão fisicamente adormecido. Darling, a vida é efêmera e você está
deixando que a sua escorra pelo ralo.

- Eu sei como aproveita-la do meu modo, vossa alteza, posso garanti-lo.

- Disso eu estou ciente. - Harry rebateu, um tom de quem insinua sobre algo
embaçado em sua voz. Tomlinson o encarou intrigado e um pouco confuso,
não compreendo o que aquilo deveria significar.

Após um silêncio e rodopios improvisados, Styles prosseguiu:

- Mas enfim, quando o questionei sobre o baile, fazia referência ao tema.

- Bom, devo confessar que não o aprovei.

Styles arqueou uma das sobrancelhas, curioso.

- Não? E por que não?

- Você sabe, é sem propósito algo assim se estudarmos a fundo. - Louis


alegou, realizando um movimento em que jogava Harry para trás, fazendo-o
com que se arqueasse segurando-o pela base das costas com seu braço.

- O que quer dizer com 'sem propósito'? - Príncipe Edward indagou logo
que se reergueu e retornou para o posicionamento tradicional. - O que há
contra borboletinhas?

- O inseto ao nosso ver que só é belo e fascinante em seu último estágio. Os


humanos tendem literalmente a sentir nojo das borboletas quando elas ainda
são larvas ou lagartas, mas eles facilmente as apreciam quando há um par
de asas primorosas e vibrantes enfeitando seus corpos.

- Qual seu ponto?

- A sociedade é tão hipócrita e doentia que trata a todos como borboletas


em fases constantemente.
Você não irá dar valor a alguém até que este lhe atraia, ignorando que o
conteúdo que havia em sua alma permanece o mesmo, o que muda é sua
aparência. Nós vivemos por ela. Superficialidade não é muito de meu
agrado.

- Controverso afirmar isso quando és um príncipe prestes a vestir uma coroa


de rei cheia de diamantes, não?

- Nem sempre estamos o fazendo por agrado, Príncipe Edward.

- Sinceramente, eu sou um dos que prefere também a borboleta já formada.

- Elas continuam sendo os mesmos insetos que eram em suas fases


primárias. A diferença é que estão com uma nova fantasia agora.

Sua fala foi o suficiente para lançar um sufoco dilacerante ao peito de


Harry, o qual travou um pouco os passos respirando fundo e se esforçando
para continuar.
Ele sentiu como se aquilo fosse pra ele. E como se Louis soubesse
exatamente a maneira de atingi-lo.

Sendo assim, ele precisava contra-atacar. E seria agora.

Em meio à valsa lenta, Harry aproximou ainda mais seu rosto do de Louis
(que para variar permaneceu inabalado com isso) e levou seus lábios
rosados para o pé de seu ouvido, cochichando.

- Deseja saber a real razão de minha presença, milorde?

Louis não o respondeu verbalmente, mas seu silêncio foi uma deixa para
que continuasse.
- Acontece que eu descobri o seu segredo.

A dança imediatamente se cessou, Tomlinson afastando-lhe para que


pudesse o encarar devidamente, avaliando a feição presunçosa de Styles.

As gramas de verão pareciam finalmente ter despertado uma verdadeira


comoção das lagoas azuis, que no momento estavam mais para piscinas
profundas com uma tonalidade mais escura.

- O que quer dizer com isso?

- Eu diria que a tinta preta fresca é o suficiente para que adivinhe. - Harry
revelou, sorrindo ainda mais amplamente quando a expressão antes serena
de Louis mostrou-se genuinamente deturpada e atônita.

Os olhos azuis fixaram-se com um pingo de exaltação e outro de susto nas


grandes orbes verdes.

- Não é possível.

- Você não é um bom jogador de esconde-esconde, Tomlinson. Parece que


encontrei uma das falhas. E ela certamente colocaria a prova sua moral e
valores, você sabe.

- Certo. O que busca em troca do sigilo? - o de olhos azuis cedeu.

- Na hora certa, você saberá. - Harry falou piscando uma das pestanas e se
afastando de Louis, distanciando-se vitorioso.
Chapter Nineteen

Episode: Secrets burn as much as fire

- Certo, na aula de lógica de hoje iremos simular um ataque de bárbaros,


imaginando que somos líderes de uma pequena península a qual somente
sua porção norte tem ligação com o resto do continente. - o ancião
formulou, sinalizando para que os príncipes se sentassem.

De quintas-feiras eles geralmente alternavam entre aula de etiquetas e aulas


de lógica. Hoje soava promissor, pela primeira vez teriam ensinamento
sobre estratégias.

Um sala especial fora selecionada onde uma mesa redonda imensa se


situava em seu centro. Sobre ela havia um tabuleiro - que honestamente
parecia um jogo de xadrez - com um grande mapa desenhado e ao redor
dele peças pequenas que figuravam navios de guerras e tropas de soldado.

- Primeiro a se pensar, senhores: por qual lado estão vindo.

Ao informar isso, apontou para as embarcações que cercavam a costa


inteira da península.

- Nesse caso, a resposta seria todos. Bárbaros sabem como atacar e são
brutos quando o fazem. Portanto, próximo passo é compreender: quais são
suas prioridades de salvação. Comida? Riquezas? Vamos lá, debatem.

Vozes diversas clamavam suas opiniões:

- Riquezas.

- O exército, para podermos contra-atacarmos na hora certa.


- A população. Crianças e velhos principalmente.

- Água e Comida.

Até que uma delas fez com que todas as outras se calassem:

- Uh, minha Carolina, Zaynie, e meus amados príncipes!

Não precisava mencionar quem fora a origem de tal sugestão.

O ancião se limitou a repreender Harry pelo olhar, porque honestamente ele


não poderia levar nada a sério?

- Calma. Eu só estava descontraindo. Mas se querem minha sinceridade de


nada adianta salvar uma de suas coisas. Seu reino continuará devastado
depois. O jeito é impedir que eles alcancem a costa.

- E como pretende isso, vossa alteza? - um príncipe indagou intrigado. -


Não há como bater de frente quando estamos cercados.

- Alianças, meu caro. Alie reinos vizinhos o suficiente para que cada porção
ilhada tenha uma defesa.

- Isso não faz sentido. - Liam rebateu. - Depois ficará em uma dívida eterna
com cada um dos que te ajudaram.

- Você prefere ficar endividado ou ter sua população dizimada, Príncipe


Liam? - Harry tinha um ponto. Ele era bom nisso. - Com o tempo é possível
retribuir todos os favores aos reinos vizinhos, mas se você for
completamente saqueado pelos bárbaros, então esse é o fim.

O ancião, que assistia aquilo com interesse, concordou levemente


surpreendido pela boa tática de Harry. Embora estivesse aprimorando-a
durante as últimas cinco temporadas, ele parecia realmente dinâmico nesta.

- Estou gostando deste rumo. Mais alguém com algum plano?

- Cavalo de Tróia. - Tomlinson de repente sugeriu.


- É uma proposta muito ousada, Tomlinson, visto que na própria Guerra de
Tróia os gregos não obtiveram sucesso com isso. Por que nós teríamos?

- Faríamos uma estratégia diferente. Deixaríamos vinte bases secretas


construídas, não necessariamente sendo cavalos, uma a cada raio de porção
de terras. Levaríamos a população para o miolo do reino onde estariam a
salvos. Nas áreas litorâneas, desertas, haveriam apenas os esconderijos.

- Não faz sentido. - um príncipe argumentou.

- Talvez faça. - uma voz surpreendente se sobressaiu.

Todos viraram seus rostos para a origem dela.


Niall Horan.
O herdeiro de cabelos loiros e olhos claros que nunca se pronunciava e
sempre se mantinha afastado.

- Os bárbaros são povos de ataque direto. Eles não têm táticas de guerra
senão avançar contra as possíveis tropas em um jogo sangrento.
Quando eles adentrassem os limites do reino, não encontrariam ninguém.
Então nossas tropas usariam esse momento de confusão deles, enquanto
tentam compreender o que está acontecendo, para deixar as bases secretas e
ataca-los de surpresa. - Horan completou, devolvendo um olhar firme para o
Príncipe William, o qual assentiu agradecido.

- E também, seria de bom grado ainda mantermos alianças com os reinos


vizinhos, da forma que Príncipe Edward sugeriu, para garantirmos a vitória.
- Louis acrescentou, sentindo o sorriso zombeteiro de Styles para si.

Esses últimos três dias - depois da ameaça de Harry no baile de domingo -


têm sido desgastantes.
Para onde Tomlinson andava, Styles parecia segui-lo esboçando um olhar
pretensioso, carregava um ar de discórdia.

Harry sabia.
E Louis não poderia permitir que espalhasse. Fora um deslize seu, talvez o
primeiro como príncipe maturo e responsável, mas era simplesmente
inevitável e agora não havia jeito de deixar que aquilo estragasse toda uma
imagem digna que construíra.

Honestamente ele ainda se demonstrava inabalado por fora, ignorando o


modo ácido e as insinuações que lhe eram lançadas em cada oportunidade
que o arrogante cacheado encontrava - estava sendo claramente divertido
para ele possuir algum controle sobre o indomável príncipe de Riverland.

Quando o sol baixou-se e os príncipes foram liberados para gastar o resto da


quinta da maneira que quisessem, com horário vago, parte deles foi
descansar em seus aposentos e parte se reuniu no Salão dos Homens para
debater qualquer assunto que surgisse.

Príncipe William nunca se sentiu alguém muito social, ele preferia


resguardar-se em seu próprio canto na companhia de uma boa leitura. No
entanto, ultimamente tudo que vinha fazendo era permanecer recluso em
seu aposento para evitar encontros inconvenientes com o dono de Carolina,
sendo assim ele resolveu afastar-se da rotina monótona e juntar-se aos
demais jovens no salão.

Adentrando pelas grandes portas de madeira nobre, avistou naturalmente a


roda de conversa, todos rindo animados, gesticulando e dialogando
enquanto bebericava xícaras de chá quente.

Pelo canto do olho reparou nas poltronas de leitura onde um deles lia
solitariamente algo como um conto romântico grego.
Niall Horan.

Muito mistério circundava sua imagem.


Se Louis cultivava fama de recluso, Niall era então o antipático. Ninguém
nem sequer tentava chama-lo para os eventos ou debates pois tinha plena
certeza que o loiro recusaria o convite sutilmente.

- Agatha? - Louis perguntou ao se aproximar, lendo o título em letras


douradas do exemplar antigo entre suas mãos.

Niall levantou o olhar da página e direcionou-o a Louis, oferecendo um


pequeno sorriso educado.
- Sim. É um clássico não descoberto.

Tomlinson acenou.

- Nunca ouvi falar sobre este livro.

- Oh, é sobre uma garota que viveu em Atenas, como um diário.

- Soa interessante.

- Serve para distração. - Niall admitiu, dando de ombros. - Aliás, você não
deveria estar falando comigo, pode lhe trazer consequências.

Louis piscou confuso.

- Como assim?

- Oh, você com certeza é um dos A para ele.

Havia algo desdenhoso em sua na voz. Intrigante. Intrigante o suficiente


para levar Tomlinson a se sentar em uma cadeira almofadada próxima de
Horan.

Talvez sua feição perplexa tenha delatado a incompreensão daquilo,


impelindo Niall a explicar melhor.

- Harry Styles.

- Perdoe-me, vossa alteza, mas ainda não entendo o que quer dizer.

- Certo. Vou te explicar como as coisas funcionam na mente de Harry. -


entoou, fechando seu livro de vez e depositando-o sobre as coxas enquanto
se concentrava apenas em Louis. - Há um ciclo encrostado neste Palácio, é
como um jogo doentio o qual ele repete todas as temporadas e já começou
nessa.

Tomlinson assentiu, claramente perturbado.


- Harry gosta de ser o centro das atenções, como deve ter reparado. Mas ele
também ama o controle que tem em suas mãos. É um narcisista impiedoso
que não se contém até ser idolatrado por todos, ganhando a simpatia de um
por um.

- O que ele ganha o fazendo?

- Deve ser um modo de provar a si mesmo alguma coisa, eu não sei. A


questão é que ele os divide em grupos. Há o A, o B e o C, de acordo com
quem mais o atrai. Além destes, ele escolhe seu favorito. E o seu favorito é
o que irá tratar com mais adoração. Presumo que o Principe Zayn Malik
tenha entrado sob seu alvo para este verão.

- Quem você era? - Louis perguntou com um olhar astuto. - Você esteve na
temporada passada, suponho que seus estudos sobre o Príncipe Edward
tenham um fundamento experimental.

O que pegou Niall de surpresa, sinceramente. Porque sua respiração


engatou e ele não parecia ter saliva para engolir.

- Eu fui o que não deu o braço a torcer. - proferiu rígido. - O único, na


verdade. Eu costumava ser apaixonado demais por uma garota para permiti-
lo me usar de brinquedo. Ele queria desmoralizar a todos, e eu vivia
constantemente tentando abri-los os olhos para o monstro que Harry é.

- O que aconteceu, então?

- Ele conseguiu o que queria. - Niall pronunciou de modo que soasse como
um sussurro em um quarto escuro e sombrio. - Ele destruiu o que eu tinha,
sem remorso algum.
Para Harry é um desafio divertido ferrar com quem lhe convém.

- Eu sei que não é de minha persona inteirar-me em algo tão particular, mas
se me permite indaga-lo, como veio a repetir de temporada?

- Começou com provocações baixas. Ele fazia coisas e colocava a culpa em


mim, fazia com que acreditassem nele. Ele intimidava quem se opusesse
assim ninguém o interromperia. Harry me levava ao limite, e certo dia eu
simplesmente não aguentei e perdi os miolos, eu o empurrei e o desferi a
maior quantidade de socos que pude até que me afastassem.

Era possível enxergar ódio através das íris escurecidas do jovem loiro.

- Naquela hora eu soube que havia perdido.


Ele se levantou com um sorriso enorme enquanto seu nariz e boca jorravam
sangue, porque viu que a administração me reprovaria e eu não teria acesso
à coroa naquele ano.
Eu perdi a honra em meu reino, perdi a garota que amava pois ela se casou
com um príncipe que se tornaria rei antes de mim, e perdi qualquer vontade
de existir.

Dos lábios de Louis nada saiu, ele assentiu lentamente sem transparecer
seus verdadeiros pensamentos para a revelação, observando calmamente o
ódio de Niall esvaindo-se aos poucos.

- Harry é horrível. Ele quer que os outros sejam tão horríveis quanto ele
porque se afundar em companhia soa menos pior. - Horan proclamou um
último momento, como uma conclusão que encerraria o assunto. - Eu já
percebi o quanto ele te persegue, Styles deixa óbvio seus objetivos. Não
permita que ele consiga, Louis. Você tem uma reputação muito forte para
zelar.

Tomlinson mais uma vez concordou com um menear da cabeça, puxando


um sorriso pesado em seus lábios como um boneco de cera.

- Agradeço o conselho, vossa alteza.

****

Não foi novidade para ninguém quando naquele domingo, no Baile das
Velas,
Harry Styles adentrou o salão de inverno de braços dados a Zayn Malik.

Durante aquela semana sempre que a figura esguia de cabelos cacheados se


esgueirava pelo corredor, o príncipe de Arlen e seu topete majestoso estava
por perto, em seu perímetro de visão.
Isso não impedia que Harry flertasse com todos os outros, embora. Muito
menos que príncipes e mais príncipes fossem flagrados deixando seu quarto
durante a madrugada, a diferença era que um deles, Zayn, permanecia fixo
lá.

Hoje, quando anunciaram que este seria o último baile com a presença de
princesas por um tempo, Harry levantou-se no mesmo instante e ordenou
que seus alfaiates e os alfaiates de Zayn produzissem trajes que
combinassem entre si, como um verdadeiro capricho bizarro de casal.

A ocasião era especial. Além de significar uma despedida temporária das


damas, também havia um teor de encanto no tema 'Baile das Velas'.

Advinha de uma tradição oriental de culto aos antepassados.

No âmbito da dinastia britânica, isso era traduzido para uma noite em que
não era permitido acender os lustres suspensos no céu, somente candelabros
de porte pequeno e velas de mesa, o que concedia um ambiente mais escuro
e poético a todo o evento.

O salão pareceu mais mágico ao ser inteiramente decorado por estatuetas de


anjos de mármore branco, aparadores de vidro, e uma grande área destinada
à valsa melancólica às escuras.

As princesas já haviam deixado de usar máscaras para cobrirem suas


identidades, visto que as sombras cumpriam tal papel.

Era fascinante a ideia de bailar, comer, beber e suspirar ao redor de velas


singelas. Uma calmaria destoante da rotina agitada dos príncipes.

Harry, em particular, estava deslumbrante - e ninguém hoje poderia negar.


Não mesmo.

Ele sempre seguia um caminho para seu vestuário. Pegava o tema, e o


exagerava.
Os bailes em geral eram sempre grandiosos e requintados, então suas
roupas deveriam apresentar-me mais suntuosas e chamativas ainda.
Mas, naquele domingo, não. Porque o evento clamava por sutileza, leveza e
suavidade. Existia um tempero romântico em tudo aquilo que incitava seu
ímpeto de destaque a acalmar-se.

Mais uma vez ele surpreendeu a todos. E dessa vez foi por quão
exageradamente belo estava vestido com uma camisa branca de manga
comprida, bufante nos ombros e com babados volumosos no peitoral, sua
barra presa sob a costura fina da calça justa de malha preta, e sapatos
envernizados.
Pronto.
Somente isso.

Não havia nem um fraque estampado complementar. Nem um smoking.

E, embora o código de moda pedisse pelo tradicional combo de casaca,


colete e calção, Harry estava estupendo e elegante com somente uma
camisa de caxemira bordada.

Para não divergir tanto do habitual, ele era acompanhado pela fiel bengala
de cascavel Carolina e aquele par de esmeraldas coladas em seus olhos.

Os cabelos cacheados e sedosos estavam presos para trás em um rabo


ordinário, porém alguns fios encaracolados desprendidos por seu rosto
concediam-no uma graciosidade desmedida.

Os lábios tão vermelhos.


A pele tão macia.

Ele estava lindo.


Lindo.

E nem mesmo o príncipe considerado mais belo da temporada, Zayn Malik


- com seus longos cílios e um vestuário tradicional em tom preto (feito sob
medida para combinar com o de Harry) - conseguia rouba-lo o enfoque e as
admirações.

- Fascinante! - Styles murmurou assim que adentrou o local, piscando


surpreso para a ambientação divina que as velas propiciavam.
Alguns minutos depois as princesas chegaram.
E a festa começou.

***

- Não está aproveitando muito?

A voz de Liam acordou-o do transe, fazendo-o imediatamente retomar a


postura e sorrir cordial.

Zayn vinha sendo a nova estátua do baile, sua figura solitária parada em um
canto, escorada na janela enquanto uma taça de champanhe pesava em sua
mão.
Ele era a personificação do silêncio ultimamente.

E havia algo errado, pois aquela alma naturalmente gentil, extrovertida, e


simpática havia se convertido para um corpo ausente dela, sempre curvado,
e sem emoção.

Ninguém se importava realmente.


Ninguém realmente se importa com os outros, ao menos não naquele lugar.

As pessoas pensam que sua beleza te deixa imune da solidão.


Mas a verdade era que elas só amplificam a solidão porque a maioria dos
que se aproximam veem atraídos pelo o que você oferece por fora e, Deus,
como ele queria que alguém chegasse pelo conteúdo de dentro.

Como todos nós queremos, silenciosamente, que se importem


genuinamente, que as coisas não se limitam a um 'como você está?' robótico
para que se sintam satisfeitas consigo mesmas por 'terem feito sua parte e
demonstrado preocupação'.

Eles não ligam para a resposta, honestamente. O que vale é terem


questionado e se certificado que aquilo bastaria.

Nunca basta.

- Estou aproveitando, sim. - Zayn respondeu tentando encenar um


entusiasmo. O que foi em vão e só reforçou seu desânimo.
- O que está acontecendo, vossa alteza? - Liam eventualmente indagou,
procurando encontra-lo com o olhar, talvez encontra-lo dentro de si próprio.

Malik o encarou de volta, parecendo desconfortável.

- O que quer dizer com isso?

- Você não tem sido você por um tempo.

O Príncipe de Bristok falou. Desse modo. Cru e direto. Igual uma bala de
pólvora chicoteando o ar.

Suas esferas castanhas pareciam firmes e avaliadoras enquanto percorriam


seu rosto inteiro.

- Você não me conhece o suficiente para uma alegação tão forte. - Zayn
rebateu na defensiva.

- Porque você ainda não me permitiu.

Malik deu um passo para trás. A bala o atingiu.

- Harry está me esperando. - ralhou secamente. - Com licença.

Não era culpa dele, no entanto.


Isso poderia ser mais um chamego barato de mais uma pessoa que queria
chegar até ele contemplando sua aparência física, o que apenas o magoava
mais. Estava farto desse tipo de aproximação.

- Eu também estou. - foi o que Zayn escutou enquanto rumava seus passos
para qualquer direção.

***

O baile chegara na fase inicial das valsas.

Poucos de fato dançavam até que a orquestra principal preenchesse a sala


com suas sinfonias clássicas e animadas.
Por enquanto era a parte lenta.
Apenas violinos e melodia branda.
Os arcos ralando nas cordas e produzindo sons agudos, profundos,
enfatizando a magia de estar em um salão iluminado por velas (algumas
aromáticas).

Louis particularmente era um dos que dispensavam as primeiras danças


apenas para apreciar a sensação da música calma de olhos fechados.
Nesse momento, embora, ele estivesse com suas lagoas azuis abertas, fixas
em um pensamento distante enquanto observavam cegamente um
candelabro pousado sobre um aparador.

A chama consumindo o pavio e aquecendo a parafina, a qual derretia em


pingos cremosos e endurecia-se contra o metal frio do candelabro dourado.
Fogo.
laranja.
Amarelo.

Fogo.
Tão inebriante de se assistir.
Hipnótico.

- A maior invenção do homem, não? - uma voz entrecortou o espaço


silencioso que o circundava enquanto perdido no próprio mundo, trazendo-
o para a realidade dos violinos e bailes.

Tomlinson não precisou desviar a atenção das velas para saber de quem se
tratava.

- Se não fosse o fogo, de nada seria o ser-humano. A única espécie que o


aproveita, enquanto as outras lidam como uma ameaça à sua sobrevivência.
- Harry acrescentou, encurtando a distância entre eles e parando ao seu
lado, rente ao seu corpo, fitando o perfil do rosto viril e delineado com
perfeição do príncipe de Riverland.

Com o contraste das sombras parecia ainda mais tentador.


Louis finalmente piscou para longe do candelabro e levou seu campo visual
para o horizonte, assistindo agora as pessoas valsando na penumbra da
noite.

- Os animais o temem por medo de morrer carbonizados. - Tomlinson


proferiu, pela primeira vez correspondendo ao diálogo, em um fio de voz
inexpressivo e austeramente articulado.

Ouviu-se um breve riso insolente de Harry. Ele não podia controlar seu
deboche, podia?

- E você, Príncipe William, me diga... Tens medo de se queimar? -


questionou sem resistência nenhuma, cruamente insinuante.

Isso finalmente fez com que Louis devolvesse seu olhar, virando a cabeça
roboticamente com o queixo erguido.

E talvez houvesse uma vela acesa por trás deles, porque seus olhos verdes
pareciam gozar de uma fogueira presunçosa.

As labaredas quentes que abrasavam as gramas de verão eram apagadas


instantaneamente pela água gelada das lagoas azuis.

- Temo que o fogo és um mal necessário. - Tomlinson respondeu sem


hesitar, não se abalando naquela batalha silenciosa.

- Acho que é o que estamos próximos de descobrir. - Styles o disse,


carregando toda a insolência descarada.

A neutralidade nos traços do herdeiro de Riverland falhou um pouco,


delatando seu desentendimento, o que claramente aumentou a diversão do
outro.

O sorriso zombeteiro ampliou-se até que Harry aproximasse lenta (e


perigosamente) seus lábios do pé do ouvido direito de Louis, não
desconectando a corrente de olhares um segundo sequer.

Para então segredar em um sussurro:


- Às oito e meia, durante a valsa principal da noite, esteja no meu quarto.

Antes que Tomlinson tivesse a chance de contesta-lo, Harry colou sua boca
na orelha esquerda avisando:

- Lembre-se que segredos queimam tanto quanto fogo, darling.

E se afastou.
Sumiu.
Como uma névoa.
Ou como a fumaça densa resultante de um corpo em chamas.

**

Notas da autora: até a próxima! ❤


Chapter Twenty

(Notas da autora: não me aguentei e lancei mais esse. Só vai.


Na parte que for sugerida, coloquem a música do capítulo)

Episode: Under the Black Ink

Seus passos faziam eco no corredor vazio e completamente escuro,


pouquíssimas velas permitindo que enxergasse ao menos o caminho para a
tão polêmica porta com o lenço vermelho amarrado na maçaneta.

Assim que a alcançou, teve que conter um suspiro de ansiedade.


Adentro do aposento, no compartimento da área da sala de estar, a mesa de
centro estava cercada de velas aromáticas. Cheiro de ipês.

Louis piscou um pouco atordoado devido ao silêncio e avançou para a área


principal do quarto em si, onde o dormitório abrigava a king size em dossel,
cômodas e closet.

Estava vazio também.

E cheio de velas.... nos aparadores, entre as garrafas de whisky; nos cantos


das paredes - longe das cortinas, pelo amor, não precisavam atear fogo
naquilo -; sobre os criados mudos, cômodas e, principalmente, em volta do
divã vermelho.

Velas de diferentes tamanhos. Cores (embora fossem vermelhas em sua


maioria) e odores.

Uma mistura inebriante em que canela e lavanda se sobressaíam


dependendo da região que você estivesse.
Tomlinson caminhou calmo e avaliativo pelo espaço, piscando lento para
toda a ambientação calorosa e intensa que aquilo era, um pouco sufocante
honestamente.

Até mesmo sobre a imensa cama havia uma bandeja com velas.

E, ainda com tantas delas, o aposento continuava escurecido, luxuoso e


lascivo. Os detalhes em dourado cintilando quando refletidos pela
luminosidade dos candelabros de ouro, você não poderia esquecer de que
pertencia à corte ao estar em um lugar assim, onde a extravagância estava
diluída no oxigênio.

- Sente-se na cadeira, Príncipe William. - sua voz cantarolada entrecortou a


quietude, apesar da imagem de Harry não estar visível naquele cômodo.

Louis supôs, no entanto, que ele estava no closet, visto que o som hostil de
sua fala originara-se daquela direção.

Observando ao redor Tomlinson notou uma cadeira posta no meio do nada,


próximo da entrada. O que o espantou, na verdade, era que ao lado dela
havia uma grande folha branca e um pote de tinta ao lado.

Soube que não haveria outra saída senão seguir suas ordens.

Com passos desconfortáveis Príncipe William finalmente se ajeitou no


estofado, de frente para a cama e o divã, coçando os pulsos porque de
repente uma agonia instaurara-se em seu interior, e Harry era um bom
jogador por ter removido-o da pose austera para um príncipe visivelmente
incomodado.

- Muito bem, darling. Estupendo. - sua voz debochada voltou a ricotear o ar.

- Saia logo do armário, vossa alteza. - Louis pediu perdendo sua paciência,
aquele atrevido o tirava dos limites como nada nem ninguém.

Então a porta de madeira foi aberta em um baque seco.

- Eu já saí há muito tempo do armário, querido.


Foi a primeira frase de um Harry inacreditavelmente ousado surgindo em
seu campo de visão.

De um Harry que vestia um robe. Sim, um robe branco de seda.


Um robe branco de seda que parecia ser fino e reluzente, com uma cauda
longa ao ponto de arrastar-se no chão - igual a porra de um vestido de noiva
- enquanto Styles andava.

Os cachos - antes presos em um rabo ordinário - estavam soltos e mais


volumosos do que nunca, concedendo-o uma aparência descabidamente
selvagem porque aquilo era um absurdo.

Um absurdo.

Louis tem certeza que seus lábios estavam muito vermelhos pois ele
provavelmente enterrara-os no gloss, e que Harry não vestia absolutamente
nada sob aquele roupão.

Ninguém deveria supostamente aparecer em público seminu. A menos que


você fosse prostituto... E não um príncipe. (Ou a menos que ambos
estivessem desejando uma lua de mel, o que definitivamente não era o
caso).

Talvez a felicidade estampada no rosto de Harry tenha vacilado uma pitada


ao reparar que o olhar de Louis sobre si não era propriamente desejo, e sim
espanto.

Ele vivia se sentindo diminuído diante a nítida rejeição do herdeiro de


Riverland - o que em suma não deveria importar, mas importava por ferir
seu orgulho.

Louis, aliás, estava surpreendentemente belo com aquele conjunto de


camisa de manga comprida branca, com suspensórios prendendo de suas
calças pretas sociais aos ombros - seguindo o código românico exigido para
o Baile das Velas - tendo seu smoking pendurado na ponta da cadeira
devido ao calor das velas.
O cabelo sedoso estava moldado em um topete perfeito à base de gel, e seus
olhos - oh, aquelas lagoas azuis - pareciam mais profundas que o usual.
Eram um convite para se afogar nelas.

Ele estava ali, sentado com uma postura tensa, uma perna dobrada sobre a
outra e os braços descansando no colo. Louis jamais demonstrava o
nervosismo, embora estivesse inspirando em descompasso e engolindo
saliva mais do que o normal. Isso tudo porque simplesmente compreendia
que estava nas mãos de Harry, impotente naquela situação.
Uma barco à deriva esperando que o vento o soprasse.
Talvez Styles quisesse naufraga-lo.

- Temo que as normas da decência não tenham falado tão alto quanto suas
vontades primitivas, certo? - Harry sibilou, um sorriso perigoso sendo
exibido à medida que caminhava saltitante no perímetro do cômodo,
circundando a cadeira onde Louis estava acomodado. - Criado sob normas e
normas como todos nós, quem diria que o impecável Louis William
Tomlinson cometeria tal delito.

- Vá direto ao ponto, por fa-

- Em uma sociedade tão regrada qualquer precaução é pouca, eu sentia que


havia algo acontecendo com você, milorde - Styles interrompeu-o,
ignorando sua súplica. - Foi quando decidi investir nesse meu sexto sentido
infalível, e chegar nestes... Exemplares.

Harry apanhou uma pilha de papéis de debaixo de sua cama, chacoalhando-


as insolentemente de modo provocativo.

Suor frio se formou na palma da mão de Tomlinson.

- Eu finalmente descobri o que você tanto fazia com aquela quantidade de


tinta preta excessiva. Aprenda, vossa alteza, essas paredes têm ouvido e
você deveria agradecer por ter sido eu quem juntou os pontos e chegou a
isso. - suspirou preguiçoso. - Encontrei escondido atrás da estante da
biblioteca a evidência do que realmente acontece quando traz damas para
seu aposento..
Harry virou as folhas para frente, revelando retratos de princesas esboçados
com tinta preta em traços finos e minuciosos, delineando os corpos
curvilíneos, completamente nus.
Cada página apresentava uma dama em uma nova pose, a maioria delas
deitadas na cama de Louis com seus cabelos soltos e seus seios fartos, até
mesmo os pelos pubianos foram registrados nos desenhos.

- Você certamente sabe que é proibido retratar pessoas nuas. O que piora
considerando que elas não são só moças da alta sociedade, como são
princesas. E pior, você é um príncipe. - Harry proferiu encenando uma
expressão de repreensão desdenhosa enquanto girava sozinho pelo quarto.

- Do que lhe chamariam? Pervertido, talvez? Príncipe com a moral


arruinada, poderia ser preso por desrespeito ao pudor alheio com a simples
comprovação de que estes esboços vos pertence. E o que se diria então das
princesas que aqui foram expostas? Elas seriam açoitadas pelos pais,
apedrejadas por concordarem com tal indecência.

Louis inspirou fundo, desarmado. Ele tinha de confessar que Harry estava
certo. Ele tinha de arcar com as consequências, sejam quais fossem.

Sempre possuiu essa inclinação à arte, e descobriu no retrato íntimo uma


maneira de se libertar um pouco do peso da coroa, de fazer algo que
destoasse do 'politicamente correto'. Louis era jovem ainda, e parecia que
qualquer pequena ação gerava penalidades inexoravelmente graves.

- Você venceu, vossa alteza. O que deseja de mim? Riquezas? Eu posso


pagar pelo seu silêncio. - Tomlinson se viu dizendo, de repente se sentindo
um infrator, fora das leis. Isso o entristecia. Seus olhos estavam
profundamente perdidos, como piscinas de águas claras.

Harry negou veemente com a cabeça, suprimindo um sorrisinho petulante -


que talvez indicasse ironia ou vitória. Ele se aproximou de Louis e o
entregou calmamente suas folhas grafitadas.

(Coloquem a música do capítulo)*


Então retrocedeu os passos e se sentou quase deitado no divã, apoiando o
cotovelo direito no encostamento do móvel, o robe escondendo parte de seu
corpo, as pernas esticadas sobre o sofá.

A figura pecaminosa sendo engolida luxuosamente no veludo vermelho,


enquanto seus olhos mantinham uma conexão intensa com as lagoas azuis.

Harry virou sua cabeça para o lado, na direção do menor, olhando por cima
do ombro e apoiando seu queixo no mesmo, proferindo lenta e suavemente
enquanto a manga de seu robe escorregava pelo seu antebraço, deixando a
clavícula desnuda.

- Eu quero que você me desenhe como uma de suas garotas francesas.

Tomlinson piscou desconcertado, assentindo vagarosamente ainda avoado.


Pensou que era uma brincadeira de mal gosto, no entanto Harry proferiu
aquilo com tanta suavidade e firmeza que ...

Okay.

Okay.

- O material está ao lado da cadeira. - Styles informou, sinalizando para a


página branca e o pote de tinta repousados no chão.

Louis apanhou-os trêmulo, buscando retomar a soberania.

- Posso buscar o cavalete em meu quarto?

***

Duas horas transcorridas e eles ainda estavam ali.

Louis, sentado com a coluna ereta e o braço esquerdo se articulando


meticulosamente - ele era canhoto, com a caneta preta em seus dedos se
movendo habilidosamente pela folha, criando traços e traços, dando vida às
formas reconhecíveis.
Ele ora ou outra desviava a atenção do trabalho e olhava por trás do
cavalete de madeira - o qual buscara em seu horas atrás - para a figura
imóvel de Harry Edward Styles.

O Príncipe de Malta estava apoiado no divã em uma pose sensual e


insinuante, seus ombros expostos onde o robe de seda não alcançava, assim
como suas pernas, nuas a partir dos joelhos de modo provocativo.
O tecido abraçava bem e delineava seu corpo voluptuoso, tão pálida quanto
o tom de sua pele, dando um grande destaque aos seus lábios artificialmente
rosados.

Oh, e havia Coralina também. Harry insistiu para deixar a bengala aparecer
no retrato, tendo sua mão esquerda sustentada na cabeça da cascavel, o par
de esmeraldas nada modesto se sobressaindo.

Ele mantinha a mesma feição excitante e intensa, seus grandes olhos verdes
não abandonaram os de Tomlinson um segundo sequer - mal piscavam,
permanecia com o queixo erguido e a boca um pouco entreaberta. Seus
cachos o caíam da melhor maneira.

Ele era a figuração da beleza.

Da imensuravelmente beleza carnal, evocando a lascívia tentação


hedonística e pecaminosa.
A personificação do lobo em pele de cordeiro. Do diabo com auréolas e
asas de anjo.

Ele era o príncipe desvergonhado, desvirtuado, petulante que com suas duas
covinhas graciosas e um olhar quase ingênuo parecia representar a
inocência.

A inocência em contato com uma iminente malícia mundana.

Haviam aberto os portais do céu, mas era no inferno que se festejava.


Harry era o convite perfeito.

E Louis queria expressar isso. Expressar tudo isso no retrato.


Com suas obras, procurava atribuir o máximo de expressividade encontrada
no cenários. As princesas representavam geralmente a graciosa fragilidade
jovial, traduzida em delicadeza e suavidade. E mesmo que Louis não
pintasse com tintas coloridas, ele conseguia sombrear os traços e conferir ao
desenho toda a manifestação desejada.

Em Harry, no entanto, encontrou um potencial incrível. Ele tinha muito a


oferecer com sua postura superior e personalidade intragável.
Era uma batalha entre harmonia e exagero.
Sua aparência desafiadora poderia ganhar contrastes estupendos sobre um
papel branco.

Príncipe William contornava agora suas ancas, mordendo o lábio em


concentração pois estava próximo do final.

Traçar o olhar inebriante de Harry foi um verdadeiro desafio, havia tanto a


ser transmitido que uma caneta de tinta preta não parecia bastar.

Ele era uma figura fascinante de ser representada, emanava lubricidade e


poderio. Exalava nobreza e luxo.

Mordia os lábios continuamente para deixá-los mais inchados, informara ao


artista que os queria bem carnudos - e fizera uma observação para seus pés,
pois não gostava deles, e queria-os desenhados sem deformidade.

O jogo de luzes causado pela iluminação escassa e determinante das velas


ao redor do divã fora decisivo para a produção dos sombreados, e de
repente aquela reprodução artística aparentava dizer muito, transmitir
muito, significar muito.

Era tanta atribuição em uma só imagem.

Era tanta desenvoltura, turbulência, despudor, libertinagem.

Era a quebra definitiva de Louis para a boa conduta, e sua irreverência com
relação a dogmas e crenças oficialmente aceitos.
Não que ele fosse cometer outros delitos, mas a execução oficial do
primeiro deles (e o reconhecimento de tal) já era uma enorme ruptura aos
antigos preceitos "louisianos" de existência, em que elevar o tom de voz
soava inaceitável e termos como "não sei' eram considerados porcos e
preguiçosos.

Mas quem diria que este mesmo príncipe de cera e normas estaria
desenhando outro príncipe seminu.

Não qualquer um, embora.


Príncipe Edward.

O arrogante herdeiro de Malta. Aquele que, estatizado ali, naquela pose,


parecia honestamente irresistível, cheio de tons pecaminosos e razões do
porquê ser odiado.

Do porquê ser intolerado.

Do porquê ser incompreendido.

E se havia alguma boa descrição para o resultado de sua tela, agora


preenchida com linhas grossas, finas, escuras, clareadas.... Era
"moderadamente lasciva, ilimitadamente provocante; odiável e amável;
intensa, instável e radiante; fascinante; mas, sobretudo, incompreendida.
Inescrutável"

De fato, o título que dera para seu trabalho estava escrito no canto esquerdo
superior, com letras deitadas e corridas.

"Inescrutável".

- Está pronto. - anunciou ao Príncipe Edward, o qual imediatamente se pôs


de pé, esticando seus membros dormentes e se aproximando finalmente do
cavalete, genuinamente curioso para uma conclusão daquilo tudo.

E ao circular o corpo um pouco curvado e exausto de William, ele chegara


instantaneamente ao seu veredito:
Ficara magnífico.
Louis havia absorvido cada detalhe de Harry e traduzido em tracejares
minuciosos.

Nem se o orgulho de Styles fosse maior que este palácio ele seria capaz de
negar a si mesmo ou verbalmente o quanto Louis era talentoso e
transformara sua foto em uma imagem tão expressiva e marcante.

Ele quase se sentia vivo no desenho.


Talvez estivesse até mais vivo no desenho do que pessoalmente.

Era uma obra tão íntima e gloriosa, merecedora de reconhecimento, digna


de ser enquadrada e pendurada na sala principal de seu próprio palácio
(claro, isso se retratos seminus não fossem vistos com tanta indecência
perante a sociedade).

Seu rosto magro, seu nariz afilado, seus olhos inebriantes e energéticos,
suas clavículas desnudas, a forma que o robe moldava suas curvas
corporais, o detalhe dos músculos de suas finas canelas, seus pés
(melhorados), seus cabelos reproduzidos como cascatas indomáveis, seus
lábios cheios entreabertos, sua fiel bengala, Carolina.

Absolutamente tudo gritava Harry Styles naquilo.


E Harry, sendo o narcisista que é, não poderia estar mais satisfeito - e até
lisonjeado.

- Você faz uma bela arte. - Styles segredou em um elogio relutante, se


sentindo patético por proferir um julgamento sóbrio a Louis, dando-lhe o
braço a torcer e admitindo sua admiração pelo resultado.

- Arte não é o que faço, arte é o que vejo. - Tomlinson rebateu, virando o
rosto para cima, encarando firmemente Harry. - Meu trabalho é só
transcrever para o papel. Você foi um bom modelo, vossa alteza.

Príncipe Edward assentiu em concordância, um pouco atordoado pela


conexão visual que os dois estabeleciam, nadando nas lagoas azuis
imperceptivelmente.
- Posso guarda-la para mim? - indagou, apontando para o papel.

- Claro. - Louis aceitou, levantando-se da cadeira e apanhando a obra.

Styles franziu levemente o cenho naquele segundo em que estavam um de


frente para o outro, Louis logo esticando o papel para si.

Apanhou-o com cuidado, quase idolatrando o retrato.

Tomlinson se abaixou novamente dessa vez para pegar as suas próprias


obras com imagens das princesas, segurando-as embaixo do braço.

- Eu estou impressionado, honestamente. - Harry proferiu, e não havia o


típico sarcasmo em sua voz, soava genuíno e sincero.

- Espero que não me persiga mais para ameaças.

Styles não foi capaz de soltar um risinho.


Um risinho divertido.

- Temo avisa-lo que sou eloquente, muito persuasivo, quando desejo algo a
meu favor, Príncipe William.

- Eu já percebi, Príncipe Edward.

Ambos trocaram uma expressão de cumplicidade cordial.


Que não significava nem um pouco o fim daquela batalha silenciosa por
orgulho e soberania.
Mas que era um ponto final ao menos para aquela noite de baile a qual eles
passaram o tempo inteiro no aposento de Harry.

Louis estava prestes a se virar e ir embora quando os longos dedos de Styles


prenderam-o pelo cotovelo.

- Espere. - Harry proferiu, ganhando novamente a atenção do menor. -


Poderia me explicar o porquê de ter nomeado a obra como 'Inescrutável'? -
pediu, visivelmente curioso, enquanto observava todos os detalhes de sua
representação.
- Pelo significado.

- E o que significa?

- Impossível de ser escutado, investigado, compreendido; impenetrável,


incompreensível, insondável. - recitou sem hesitar.

- Está querendo dizer alguma coisa?! - Harry questionou, próximo de entrar


na defensiva enquanto arqueava uma das sobrancelhas.

- Um artista sempre tenta dizer muito.

- E isso é sobre mim ou o meu desenho?

- Pensei que fossem a mesma coisa. - Tomlinson deu de ombros, virando-se


em seu eixo e seguindo para a saída do aposento.

Assim que estava no limite do compartimento da sala de estar, na porta que


levaria ao corredor dos quartos do palácio, acabou trombando com Zayn
Malik, o qual olhou-o surpreso porque - wow - Louis William Tomlinson
estava sendo flagrado deixando o quarto de Harry.

- Príncipe William?

Louis apenas apertou protetoramente sua pilha de desenhos embaixo do


braço agradecendo pelo escuro que estava o lugar.

- Boa noite, Príncipe Malik. - se limitou a reverberar educadamente antes de


seguir às pressas para seu quarto.
Charpter Twenty One

Episode: His Weakness

- Estou me sentindo um pouco cansado para o Esgrima de hoje, se for


honesto, Cindy. - Zayn grunhiu, lançando-se na cama após o almoço,
debatendo internamente entre se arrumar para a aula de tarde ou ignora-la e
dormir.

A criada que espanava a mobília parou seu afazer para olha-lo de canto.

- Talvez devesse tomar um tempo livre, vossa alteza. É totalmente aceitável


se distanciar por um dia da rotina.

Kristen, que costurava com um alfaiate um novo traje para ser usado no
evento do próximo domingo sentados no canto do quarto, levantou-se
imediatamente e se aproximou do Príncipe de Arlen, colocando uma
remenda de tecido em seu pulso.

- Hum, acho que essa tonalidade de azul marinho combinou perfeitamente


com a sua pele. - murmurou reflexiva.

- Krisss. - Zayn choramingou cansado, afastando seu pulso daquele retalho.


- Será que pode me dar alguma atenção?

Kristen e Cindy estavam já acostumadas com a maneira de Malik de trata-


las sem formalidade alguma, lidando com elas mais como se fossem amigas
do que serviçais.

- Cindy está correta. Se o senhor se sente indisposto, descanse. - decretou,


honestamente mais preocupada com a costura da roupa que deveria ficar
pronta em cinco dias e que estava suposta a ser algo muito grandioso e belo
devido a importância do próximo Baile: receberiam o rei Franco.
- Ótimo, seguirei o conselho das duas e hibernarei hoje. Não me acordem a
menos que o castelo pegue fogo.

Assim que o disse, batidas escoaram na porta de seu aposento. Cindy largou
o espanador sobre o criado-mudo e foi atende-la.

- Talvez pegue fogo mesmo. - a criada sussurrou assim que abriu uma
pequena fresta para ver quem era.

Zayn sentou-se no colchão olhando curioso para ela.

- Quem é?

- Príncipe Edward. - informou-o piscando rápido.

- Não deixe que en-

- Boa tarde, meus caros! - Styles saudou forçando a porta e escancarando-a


o suficiente para que adentrasse sem consentimento algum.

Sua figura limpa e energizada apareceu na entrada, fazendo com que todos
o encarassem assustados pelo atrevimento.
Deveriam estar acostumados, sinceramente.

- Eu preciso ter uma palavrinha com o Príncipe de Arlen, meninas. Se


importam de nos deixarem a sós?

Kristen franziu o nariz visivelmente contrariada pela interrupção de seu


trabalho, mas elas não poderiam contestar qualquer ordem de um príncipe,
então suprimiu os resmungos e sinalizou para que o alfaiate fosse com ela
terminarem as composições na sala de costura dos empregados.
Já Cindy encarou um pouco perplexa o espanador porque ela precisava
concluir o serviço e também não se sentia a vontade permitindo que Zayn,
alguém tão amável e gentil, tivesse tanto contato com uma alma intragável
como a de Styles.

Lançando-a um olhar tranquilizador Malik transmitiu algo como 'está tudo


bem, Cin, pode ir' e ela assentiu, sendo a última a sair e fechar a porta atrás
de si.
Ao estarem a sós Zayn Malik finalmente inspirou fundo, transparecendo sua
impaciência.

- O que quer, Harry?

- Nossa, mas qual cobra te mordeu hoje, Zayne? - murmurou formando um


biquinho nos lábios e se aproximando de sua cama. - Infelizmente não foi a
minha.

- Nojento. - Malik cuspiu negando com a cabeça para sua falta de senso.

- Eu quis dizer a Carolina, seu pervertido. Se sua mente está afogada em


malícia a culpa não é minha.

Harry subiu no colchão descalçando suas botinhas, para então rastejar-se ao


centro dela, próximo de Zayn Malik, que recuou atordoado.

- Harry, não estou com o mínimo de vontade para nada hoje, eu gostaria de
ficar sozinho.

- Ouch. - Styles grunhiu, uma careta magoada tomando-lhe conta. - Vamos


Zayn, sem procrastinar. Vamos aproveitar para nos ausentarmos do Esgrima
juntos e tornar essa tarde produtiva.

Sua sugestão veio acompanhada da irresistível intensidade das orbes verdes,


que o fitavam desejosas e radioativas, mas que, infelizmente, não
alcançavam poderio algum sobre o herdeiro do trono de Arlen.

- Pare de persuadir, que saco. - xingou, o que honestamente deveria ser um


insulto vindo da boca de um príncipe, suposto a jamais blasfemar ou perder
a boa conduta.

No entanto isso não incomodou Harry nem um pouco, o qual sentou em seu
colo, uma perna em cada lado de seu corpo.

Os lábios insistentes de Styles moveram-se habilidosamente para seu


pescoço, raspando ali com um toque aveludado.

Ele era insaciável.


- Você fica por cima hoje, o que me diz, hum? - Harry ralhou, movendo
suas nádegas em círculos sobre a região pélvica do moreno. - Não vê o quão
necessitado estou disso?

Seu jeito, contudo, obteve o efeito contrário ao que Zayn empurrou Harry
com força para o lado, fazendo-o cair de costas atordoado no colchão.

- Basta, Harry! - rugiu nervoso. Seus olhos escurecidos diziam tudo. - Não
vou mais tolerar essa sua manipulação barata, saia já do meu quarto ou eu
juro que te mato aqui mesmo.

Por um segundo, ou talvez uma fração dele, a expressão de Harry decaiu,


realmente desabou, e ele parecia ofendido e constrangido pelo modo o qual
foi tratado, mas tratou rapidamente de lidar com a rejeição e retomar as
rédeas da situação, levantando-se da cama em um salto e puxando um
sorriso arrogante.

- Temo que suas escolhas ocasionarão consequências, Príncipe Malik. Sabia


que Coral é uma das princesas cotadas para participarem dos bailes no meio
da temporada? E se, não sei, de repente vazasse a informação de que vocês,
meio irmãos de sangue, houvessem tido um caso incestuoso anos atrás?

- Não ouse, Harry. - Zayn ameaçou, avançando na direção do maior. - Você


já me teve como queria, por que não pode simplesmente me deixar em paz
agora?!

- Porque você é diferente. - Styles proferiu, fechando o sorriso e o


encarando firme e sério. - E eu o desejo perto de mim.

Não era mentira.


Nunca seria.

Todos sabiam como além de dominar uma beleza sublime, invejável, Zayn
também era verdadeiro. Ele tinha uma bondade genuína em seu coração de
forma que todos os elogios e adorações não alterassem em nada seu estado
de espírito humilde e gentil.
O herdeiro de Arlen era alguém digno do trono, do título, da aparência.
Ele se destacava naturalmente.
Harry adorara-o e o ambicionara logo de início.

- Bom, não é recíproco, vossa alteza. - Zayn cuspiu, seu jeito ácido
esclarecendo que nenhuma insinuação de Styles o conquistaria. - Agora, se
me dá licença, eu quero dormir em paz.

- Zayn, é sério, eu preciso de você nesse momento, por favor. - algo em sua
voz soava um desespero cru. - E eu não estou mais me referindo a sexo.

- Eu. Não. Me. Importo. - Malik rebateu pausadamente, piscando sua


irritação para fora. Ele estava saturado de aguentar os caprichos e dramas de
Harry. Principalmente a manipulação.

Zayn não compreendeu que o sentido de 'precisar' ia além do significado


sexual.

Um aceno curto e rígido realizado por Harry foi o bastante para finalizar
aquele cenário.
Ele foi embora à passos pesados.

E até o resto da semana, Styles não foi o mesmo.

Não o incomodou mais, também. Nem o procurou para importuna-lo com


ameaças rasas.

Mas também se tornou mais recluso, e quem olhasse para Harry durante as
aulas teóricas e práticas, os banquetes e cafés da manhã, não o
reconheceriam.

Ele sorria sem dentes, cordial, fazia um comentário inconveniente ou outro,


porém nada na frequência do seu costume.
Permanecia quieto, a maioria das vezes pensativo, poupando os jovens de
sua conversa afiada.

Aparentava ter perdido o ânimo. E mesmo sob suas roupas excêntricas e


caras faltava algo.
Isso era notável.
Tanto que na edição de How to Wear a Crown o que mais era discutido pelo
escritor anônimo era seu sumiço repentino, sua mudança de humor e
inúmeras teorias diferente do porquê estava assim, do que ocasionara seu
exílio pessoal.

Nem mesmo sábado, em que os príncipes ficavam com mais horas vagas
entre as aulas, houve indícios do volumoso cabelo cacheado, ou de
indivíduos se esgueirando pelo corredor de madrugada fugitivos do covil do
pecado.

As coisas estavam meio paradas e honestamente ninguém compreendia o


que acontecia, e ninguém teria como pergunta-lo porque Harry não os dera
intimidade o suficiente.
E, sobretudo, ninguém se importava.

Isso não os atingia diretamente, então por que se preocupar?

As relações sempre foram superficiais. Tanto quanto Harry.


Talvez ele estivesse passando por crises existenciais ou qualquer merda do
tipo, quem honestamente ligava? Todos têm suas próprias vidas para
cuidarem.

Domingo, portanto, as coisas saíram mais dos eixos.

Claro, Styles ainda dava seus sorrisos desdenhosos e forçados, mas tudo
piorou quando ele surgiu com roupas... Normais.

Normais não - elegantes e caras, refinadas, requintadas. Mas isso é 'normal'


para homens da alta sociedade que espirram ouro.
Era um fraque e calça lisas na cor vinho, uma lapela delicada presa no bolso
do casaco, colete e camisa pretas.

Ele estava formal, e, evidentemente belo, mas aquilo não era Harry.

Dandismo não combinava com Harry.


Harry deveria estar envolto de cores chamativas, jóias vistosas, anéis de
ouro branco, gargantilhas, gloss labiais.

Harry era Harry.

E aquele não era Harry.

Todos se apavoraram um pouco ao presenciar o estranho príncipe de


cabelos encaracolados compridos adentrando solitário no salão, segurando
Carolina com força, sorrindo forçado e mais pálido que o normal.
Suas roupas, que costumavam dizer tanto sobre si, pareciam vazias. Assim
como ele.

Notaram também a distância de Zayn Malik com o herdeiro repetente de


Malta. Os dois se mantinham longe e nunca trocavam olhares.
(Alguns príncipes adoradores de Harry comemoraram silenciosamente).

De qualquer modo, o baile teve o mesmo início de sempre: empregados


começaram a servirem os aperitivos (degustação de queijos) e ponches, os
violinistas chegaram - tocando uma bela valsa francesa.

Aquela noite era especial porque simplesmente o rei Franco estaria


presente.
E ele era a figura mais influente da época, sendo a razão pelo qual os
príncipes se submetiam a essa 'escola'. Para que o reino Franco e os
pequenos reinos britânicos permanecessem em anistia, mantendo relações
comerciais e alianças.

O rei chegou no Palácio com trinta minutos de atraso - ele podia, claro, e
sua presença soberana fez com que todos os jovens príncipes se curvassem
em uma reverência coletiva de imediato.

As apostas de quem seria o primeiro corajoso a puxa-lo para conversar


foram para o ralo quando Liam Payne se aproximou, estendendo sua mão
cordialmente.

Todos juraram que Harry o faria - aquele arrogante cheio de confiança.


Mas, inesperadamente, Styles teve uma reação contrária, ele estremeceu ao
avistar a imagem austera do líder franco, dando passos para trás com uma
expressão de terror.

Louis, que estava do outro lado do salão, segurando uma taça de martini, o
assistiu com um olhar astuto.
Muito astuto.
Compreendendo exatamente a razão disso.

Horas antes, ainda na manhã daquele domingo Tomlinson resolvera retornar


ao aposento após o café, encontrando Lorena costurando um par de luvas
para que usasse no evento da noite.

"Estão ficando lindas" Tomlinson comentara fechando a porta atrás de si e


se aproximando da garota, que desviara sua concentração para o príncipe.
Ele sabia o quão tímida ela era e que qualquer oportunidade de
aproximação seria boa, elogiando-a quando possível para que ganhasse
segurança.

"Espero que fiquem mesmo" suspirou sorrindo "A opinião do Rei da França
é realmente importante em todos os aspectos". Lorena comentou, fitando-o
com aqueles olhos verdes claros enquanto sorria envergonhada.

"Ele visitou Riverland alguns verões atrás, não parecia ser uma pessoa
difícil de lidar" Tomlinson argumentou, recordando das tardes em que o rei
ficara hospedado em seu castelo, tratando de assuntos comerciais com
Mark.

"Bem, não é o que Harry diria". Lorena soltou, um pouco de sarcasmo


borrando sua voz, o que fez Louis piscar intrigado imediatamente.

"O que isso significa?" O príncipe indagou, tentando engolir a curiosidade


mas com a mente um pouco nublada para se importar.

"Eles não se dão bem, o rei da França humilha o Príncipe Edward" Lorena
explicou, largando uma das luvas pronta em cima do criado-mudo e
trabalhando na costura da outra. "Ao menos foi o que eu escutei por ai".
Louis continuou com uma feição surpresa no rosto, e ao nota-la, Lorena
prosseguiu:

"Pelo o que eu entendi o rei da França é amigo de infância do Rei de Malta,


pai do Harry. E os boatos são que ele implica com o príncipe desde a
primeira temporada".

"Alguma razão específica para tal?"

"Eu não sei. Talvez por conhecer o garoto desde pequeno seja exigente com
ele. Mas definitivamente deve intimida-lo. Escutei que na primeira
temporada do Príncipe Edward, o rei franco esnobou ele, e o humilhou na
frente de todos os outros".

"Isso soa contraditório. És amigo do pai do príncipe, e ainda o trata mal."


Louis fez a observação, desconfiado com o assunto.

"Bom, Príncipe Edward não é exatamente alguém amistoso, não sabemos


como ele se comporta dentro de seu próprio palácio em Malta, certo?
Dizem que temos mil e uma caras, e com cada pessoa vestimos uma nova.
Qual seria a dele?"

Aquele diálogo com Lorena o deixou intrigado, porque ela tinha um ponto.
Todos conheciam Harry Edward Styles.
Ou melhor, achavam que conheciam.

Não era humanamente viável que aquela máscara arrogante e os anéis de


safira o acompanhassem vinte e quatro horas por dia, nos trezentos e
sessenta e cinco do ano.
Deveriam - precisariam - haver momentos em que ele ria por alegria, livre
de deboche, livre de orgulho.

Todos conheciam Harry Edward Styles.


Mas quem conhecia Harry?
Só 'Harry'?

O mesmo Harry que chorara solitário naquela funesta madrugada, sob a


tempestade impiedosa, lamentando para a irmã falecida.
O mesmo Harry que tratava seu cavalo, Hades, como um filho, e fazia
questão de toda pós aula de equitação afagar seus pelos e escova-los como
se fossem os próprios fios do cabelo.

O mesmo Harry que há uma semana mudara da água para o vinho e parecia
estar com o rabo entre as pernas, quase pálido enquanto se afastava da
figura grandiosa do rei franco.

Quem tomara algum segundo de sua ocupada vida para se questionar como
andava a saúde mental e física do Príncipe 'asqueroso'?
Ninguém, porque ele não merecia o zelo ou carinho alheio, certo? Afinal,
ele era um idiota na maior parte do tempo...

Mas, francamente falando, quem raios não é um idiota na maior parte do


tempo?

Quantas vezes você não se segura para fazer um comentário maldoso?


Quantos acessos de raiva você não dá por coisas pequenas? Quantas
lágrimas já não desperdiçou por quem não as valia?
Conclusão de ouro do dia: tudo isso te fez ser idiota, você só soube
esconder bem.

Enquanto Harry... Harry fazia questão de transparecer sua estupidez, quase


como se quisesse parecer estupido.

Há uma corrente filosófica a qual alega que aquilo que você mais se faz ser
por fora, é o que menos é por dentro. Do que mais esnoba, é o que mais lhe
falta.
Dos sorrisos que entrega, poucos são verdadeiros.

Louis começou a acreditar fielmente nesta teoria enquanto avaliava o


comportamento retraído de Harry naquela noite.

Mas, foi quando anunciaram a hora da valsa principal da coroa, que tudo
desmoronou. Pois na ausência de princesas e damas para os acompanharem,
eles deviam escolher seu par em um dos outros príncipes, bailando sob a
supervisão do rei franco.
Francamente isso era mais um modo subliminar para que o rei avaliasse
quais seriam as escolhas de alianças futuras, visto que os príncipes
dançariam com quem possuíssem mais amizade entre si, o que
provavelmente penduraria até depois da temporada e geraria pactos inter-
reinais quando fossem coroados.

E era inegável a importância da ação como um todo, pois demonstravam


indiretamente ao rei Franco com quem estavam dispostos a se aliarem.

Pouco a pouco eles se uniam e encontravam seus pares, conduzindo-os ao


centro do salão.

- Hey, Liam? - uma voz hesitante interrompeu uma conversa animada de


Payne na roda de príncipes.

O herdeiro de Bristok se voltou para o dono dela, sentindo-se surpreso ao


deparar-se com Zayn Malik.

- Sim?

- Importaria-se em dançar comigo? - indagou, embora já houvesse uma fila


de rapazes atrás de Zayn esperando para convida-lo. - Eu sei que fui rude da
última vez que nos comunicamos, não era uma semana boa eu estava
estressado, ansioso e-

- Aceito o convite. Será uma honra. - Payne interrompeu seu monólogo,


sorrindo sincero e fazendo uma breve reverência de iniciação, antes de
estendê-lo o braço para que o acompanhasse.

O número de príncipes remanescentes estava diminuindo.

O mais surpreendente, no entanto, era que Harry estava sozinho em um


canto, completamente solitário e piscando perdido para a cena ao redor.

Não era surpresa que os príncipes evitassem se aproximar dele sob a


supervisão do rei da França, porque, claro, Harry não mantinha uma boa
imagem de si - seis temporadas sendo repetente- e ninguém se atreveria a
associar sua própria imagem à dele, correr o risco de mancha-la por ter
proximidade com alguém tão indigno de honra.

Era aquela velha história do "serve na cama, mas não fora dela".

O jogo em que um usava o outro, mas no final Harry era só um jovem


adulto cheio de merdas em suas costas e nenhum voluntário para ajuda-lo a
limpa-las.

- Com licença, Príncipe William.

Tomlinson piscou atordoado, olhando para um belo Niall com lenço


amarrado no pescoço olhando-o esperançoso.

Atrás de Horan, no entanto, também estavam muitos outros rapazes


querendo a companhia de Louis William Tomlinson na valsa, pois além de
belo, o jovem também era erudito e influente - o que deveria significar
muito sob os olhos do rei; por alguma razão idiota, todos estavam atrás de
uma aprovação dele, mesmo não fazendo tanto sentido, afinal em um futuro
próximo, depois de coroados, gozariam do título supremo tanto quanto. A
única diferença era que seriam reis britânicos.

- Príncipe Horan. - Louis se curvou para Niall, demonstrando respeito.

- Bem, me concederia essa dança? - Niall propôs, ganhando um sorriso


simpático do outro.

- Seria uma honra, vossa alteza... Se eu já não tivesse um par. Perdoe-me. -


Tomlinson se redimiu, afastando-se de lá em uma direção exata sem nem
assistir a reação surpresa de Horan.

Cruzava o salão com os braços cruzados atrás das costas, em uma pose
soberba, queixo erguido e as lagoas azuis cálidas, completamente ciente de
que era observado pelo rei durante seu percurso.

Ao chegar em seu destino, reverenciou Harry, o qual o encarou chocado e


confuso.

Louis, no entanto, deu-lhe o braço, dizendo:


- Gostaria de ser a minha dupla, Príncipe Edward?

Seu convite bastou para que o espanto de Edward se amplificasse mil vezes,
levando-o a torcer o nariz, uma pitada de orgulho ainda beirando sua voz,
mas a surpresa se
sobressaindo.

- O-o quê?

- Concede-me esta valsa? - repetiu, esperando paciente para a reação de


Styles.

- O que está tentando? Quer cometer um suicídio moral ao dançar comigo


na presença do rei franco?! - Harry sussurrou incrédulo, alternando o olhar
entre o rosto pacifico de Louis para a figura austera com uma coroa sobre a
cabeça sentada em uma espécie de trono. - É um tipo de fetiche seu, igual
ao de pintar o erotismo? Hein, o que está tentando?!

- No momento? Hum, dançar com alguém teimoso. - Tomlinson respondeu,


um pequeno sorriso lateral repuxando seu lábio esquerdo, quebrando a
neutralidade para delatar sua diversão.

***

Sei que demorei para postar, desculpem a garota aqui! ❤


Estou muito desanimada ultimamente, pra escrever ou pra qualquer coisa,
então não está sendo tão fácil publicar, mas eu prometo continuar (já tenho
até o capítulo 31 pronto, então não se preocupem).

Eu tenho a sensação que essa Fanfic não funcionou, não sei porque mas
acho que os leitores não estão gostando muito. Eu entendo que ela seja bem
maçante na escrita, mas eu juro que conforme o tempo passa ela vai
ficando mais emocionante e tals.
Deem uma chance pra ela, por favorzinho?

Amo vocês, até logo ❤


Chapter Twenty Two

Episode: That night full of silence

- Você é um pouco imprevisível, não acha? - Styles indagou, porém já


aceitando o braço erguido de Tomlinson e se juntando a ele em direção ao
centro do salão, para que valsassem.

Honestamente ele ainda estava perturbado com tudo aquilo.

- Por quê? - Louis questionou, reverenciando-o conforme as normas para


então acabar com a distância entre seus corpos, entrelaçando os dedos
direitos de Harry nos seus e descansando sua mão na cintura fina do outro.

Styles suspirou antes de dizer com uma careta óbvia:

- Porque você sabe exatamente o que isso significa, não se faça de idiota
Príncipe William, está sujeitando sua reputação ao dançar comigo. - Harry
explicou.

E ele parecia tão...


Sentido.

Sentido de várias formas.

Havia uma clara mágoa ao o proferir, como se doesse admitir que ele não
era uma companhia digna.
Mas também, na borda de suas emoções, estava um resquício de comoção.
O que era raro e quase milagroso flagrar Harry comovido por algo. Ele
estava genuinamente aliviado - sim, aliviado era a palavra - que alguém o
escolheu. Que alguém o puxou daquele canto solitário e vergonhoso de se
estar.
Alguém quis algo além de se aproveitar de seus convites hedonísticos.
E isso era... Era uma coisa.

Styles se viu de repente suprimindo um sorriso bobo nos lábios pelo quão
grato estava - mesmo que jamais fosse engolir seu orgulho para verbaliza-
lo.

- É apenas uma dança, vossa alteza. - Tomlinson afirmou, como para


diminuir a proporção.

Naquele segundo seus corpos se sincronizaram em um arraste lento para


trás e para frente.
Harry piscou amolecido diante a afirmação, abaixando levemente a cabeça.

- Às vezes. - sussurrou, talvez mais para si próprio do que para o


entendimento de Louis. - Tudo que as pessoas precisam são de pequenas
demonstrações.

- Fico honrado de lhe proporcionar esta, então. - Tomlinson inferiu, fazendo


com que Styles o direcionasse um olhar firme e um pouco inseguro,
enquanto o moreno puxava o canto de seu lábio em um meio sorriso terno.

Ele parecia quente. Não no sentido lascivo do termo - okay, Louis


Tomlinson sempre seria quente nesse sentido - mas, por ora, quente no
propósito afável. Acolhedor.

Acolhedor.

Ele era como o primeiro dia de primavera em países de zona temperada,


igual o Canadá, após um longo inverno rigoroso, quando os raios de sol
finalmente tendem a surgir pela manhã e derreter as espessas camadas de
neve sobre o solo.
Louis parecia um cobertor quente envelopando um sem-teto, protegendo-o
das brisas frias da madrugada ao se morar na rua.

As lagoas azuis não aparentavam neutras e monótonas como usualmente,


neste momento havia uma emoção intencional nelas, como se Tomlinson
soubesse exatamente que Harry precisava de qualquer afeto nesse instante.
Aquele sorriso. Aquele olhar. Era definitivamente o verão. O calor irradiado
aquecia Styles em partes que ele nem percebera estarem congeladas.

- Você está sempre tentando me salvar. - Príncipe Edward alegou, engolindo


uma grande quantidade de saliva em seguida para recobrar a consciência. -
Eu não sou uma donzela em apuros.

- Você não precisa ser uma donzela pra estar em apuros.

Suas mãos esquerdas se uniram em um toque escasso, suspensas entre o


eixo de seus rostos, à medida que giravam em torno do contato, o braço
direito de ambos posicionado atrás das costas, mantendo seus olhares
presos.

- Mas eu não estou.

Tomlinson suspirou, mordendo o interior da bochecha imperceptivelmente.

- Eu acho que todos nós estamos um pouco quebrados. Todos nós fazemos
pedidos mudos de socorro. Todos nós, às vezes, estamos silenciosamente
esperando sermos resgatados. - Louis proferiu, um pouco distante, sua
pronúncia soando perdida entre os acordes dos violinos e os passos
sincronizados da valsa.

- Diga por você. - Styles contestou, buscando transparecer alguma


confiança (que não sabia de onde tirar). - E-eu estou bem.

No entanto aquilo soou francamente como um miado. Um miado de um


gatinho birrento e teimoso, que não tinha donos, e morava na rua. Um
gatinho machucado, e muito agressivo.

Você o ignoraria e o deixaria passando frio no canto da calçada porque ele


ameaçava te atacar? E se talvez lhe transmitisse raiva?

Ele é um risco para a sua saúde caso se aproxime.

Mas, se você o larga, quem o pega?

Quem realmente se predisporia a cuidar dele?


Ninguém, obviamente.

- Oh, jura? - havia uma gota de ironia na voz de Tomlinson (o que foi uma
surpresa para ambos, porque o herdeiro de Riverland nunca abria mão de
sua austeridade e cordialidade). - E por que você não pode simplesmente ser
você hoje?

- Não sei do que está falando. - Harry reverberou, seus dentes rangendo,
transmitindo uma raiva iminente através das gramas de verão, ou musgos, já
que as esferas verdes estavam mais escurecidas que o usual.

- Não estou vendo um único diamante em todo o seu traje.

- E? - indagou desdenhoso, suprimindo um suspiro quando Tomlinson o


girou em seu eixo, grudando seu corpo em suas costas, segurando-o
suavemente, um contato ralo porém inesperado.

- Não sorriu uma única vez desde que entrou no salão. Nem mesmo os seus
sorrisos falsos.

Eles rodopiaram novamente, Harry se virando de frente para Louis,


franzindo a sobrancelha.

- Não preciso estar sorrindo para demonstrar que estou feliz. - defendeu,
desviando sua atenção das lagoas profundas e levando-as para o horizonte,
em direção nordeste, avistando com facilidade o rei Franco sentado em seu
grande 'trono' improvisado enquanto assistia ao baile atentamente.

Harry tropeçou no próprio pé, recompondo-se e piscando o desconcerto


para fora.

- Onde está Carolina? - Louis questionou, seu tom delatando desafio


implícito.

- No canto do salão. - respondeu-o com um ar vitorioso, sentindo-se bem


por te-lo driblado neste último questionamento.

- E o Harry? Onde ele está? - Tomlinson finalizou, quase penetrando-o com


aquele olhar inquisidor e conclusivo.
Esse filho da puta.
A sensação de vitória que Harry saboreava foi imediatamente substituída
por uma amarga, ácida, azeda, a qual ele engoliu pela garganta como se
fosse uma enorme bola de pelo, inspirando com dificuldade.

Suas palavras haviam sumido.


Ele desejou - com todo o seu ser - berrar "eu estou bem aqui, seu merda",
mas.... Ele estava?

A pele já branca de Styles empalideceu. Os olhos que encararam as lagoas


azuis estavam nebulosos, atordoados e de repente sentindo-se hidrofóbico.

Como Louis conseguia derruba-lo tão facilmente?

E o Harry? Onde ele está?

Onde?

- Honestamente, eu não estou o vendo nesse instante. - o príncipe de


Riverland adicionou. - E não acho justo que Harry Styles esteja ausente
deste baile incrível só porque um rei francês não o aceita como és.
Se você o topar por aí, avise que o estarei esperando nos jardins, à meia-
noite.

Dito isso, Tomlinson fez uma reverência final para o espantado Harry Styles
e recuou os passos, prestes a se afastar, pois a valsa havia se encerrado e os
príncipes teriam um intervalo para degustarem melhor os queijos, vinhos,
socializarem e apreciarem a música clássica.

Harry não parecia consciente do que fazia quando agarrou o antebraço de


Louis ao notar que o moreno se distanciava, impedindo-o de prosseguir.

Tomlinson piscou atordoado pela intervenção física repentina e informal,


virando-se para o príncipe de cachos que tinha uma expressão desesperada
esculpida nos traços delicados de seu rosto.

- Não me deixe sozinho.


Parecia muito para se suportar. Parecia que não ter sua usual fantasia
extravagante o recobrindo o deixava completamente vulnerável e frágil.
Talvez diamantes fossem uma armadura.
Talvez deboche fosse seu escudo.
Talvez arrogância fosse sua espada.

Porque atacar é mais fácil do que se defender.


Porque se defender exige estabilidade, e, sinceramente, havia alguém mais
instável que Styles?

- Príncipe William? - uma voz o saudou, era um duque francês, não só um


qualquer, mas Grand Pierre.
O pai da majestosa francesa Diana.

Louis cedeu-o seu foco durante um minuto, enquanto escutava-o proclamar


sobre o quanto Diana falava bem dele, que era um príncipe especial e
honrado.

Isso porque você não sabe sobre os retratos que fiz de sua filha nua.
Tomlinson pensou, uma onda de culpa aglutinando sua pose de futuro rei,
sorrindo educado para o monólogo incessante de um dos franceses mais
ricos e influentes.

Ao conseguir uma breve brecha entre um assunto e outro, ele se esgueirou


da conversa pedindo licença e virando a cabeça na direção que Harry
estava.

Estava.

Porque o príncipe havia sumido. Não só daquela posição, como de todo o


salão do Baile.

Quase meia hora depois o próprio rei Franco o puxou para um diálogo.

- Meu caro Príncipe William, quanto tempo! Como estão as coisas em


Riverland? Como Johanna e Mark estão? - o soberano saudou, sua coroa
vistosa de diamantes pendendo mais para a esquerda de sua cabeça.
Uma súbita vontade de respondê-lo rude com um 'Como eu vou saber se
não estou lá?' o atingiu. E Louis se chocou ao perceber, porque esse era o
tipo de ímpeto que jamais acontecera, nunca foi de sua persona nem sequer
realizar uma réplica tão crua, afiada e desrespeitosa como aquela - ainda
mais com o rei Franco que sempre o tratou com tanta gentileza.

Mas então um apito vermelho chacoalhou sua mente o alertando que talvez
ele não fosse tão honesto e gentil assim já que era capaz de intimidar o
inabalável Príncipe Edward.
Deveria ter acometido um grave crime para gerar tal proeza - não que Harry
não tenha provocado talvez, mas..

- Presumo que estejam bem, vossa majestade. - Louis disse ao invés,


reverenciando-o um pouco contrariado. (Contrariado?).

- Fico contente em escutar isso, sua família é bela. Tenho plena convicção
que quando Mark lhe passar o trono manteremos relações amistosas,
Príncipe William. Será um rei faustoso.

O sorriso que o menor o ofereceu quase não alcançava o próprio rosto,


falhando miseravelmente em parecer natural.

- Sei que sim, vossa majestade.

- Se posso lhe aconselhar algo, meu caro, é que mantenha distância do


herdeiro de Malta. Ele não é uma boa companhia ou influência. - alertou em
um sussurro, espalmando amigavelmente as costas de Louis, que concordou
com um aceno, em silêncio.

****

Era meia-noite.
Era uma meia-noite de névoas.

Ao finalmente sair para o jardim de modo discreto começou a caminhar


sem rumo entre os canteiros.
De longe, o avistou.
Avistou as curvas de sua sombra solitária.

Sentou-se ao seu lado no banco, percebendo o quão frio o metal estava.

Harry não se manifestou de primeira, embora.


Permaneceu com o rosto abaixado, curvado para frente com seus braços
apoiados sobre os joelhos.

- Ele nunca gostou de mim - Styles eventualmente proferiu, entrecortando o


silêncio. E esse foi um ótimo começo de diálogo.

Tratava-se claramente do rei Franco.

Louis manteve-se calado, piscando seu campo de visão para o horizonte


onde estrelas beijavam os precipícios e a lua cheia, redonda, enaltecia a
eternidade diluída no céu.

- Acho que meu jeito descomedido o incomodava. - Styles continuou após


alguns segundos, batucando a ponta de seus sapatos elegantes na terra
compacta. - De acordo com sua opinião eu era excêntrico de um modo
ruim.

Ele suspirou. Havia claramente uma dor contida em sua fala, havia
nostalgia também e uma pitada de desdém (porque não seria Harry se não
houvesse desdém).

- Eu não acho que exista um modo bom ou ruim de ser. - Louis


eventualmente se pronunciou. - Você é o que é apenas.

Styles o encarou em silêncio por breves segundos, para retomar seu olhar ao
chão.

- Ele e meu pai são muito amigos, sempre está nos visitando em Malta.
Desde que eu era uma criança ele me perseguia em suas estadias. - proferiu
penosamente, imitando a voz julgadora do rei. - "Muito afeminado, muito
extravagante, muito expressivo".
Um corvo solitário entrecortou em um voo rasante pela trilha de coníferas,
pousando delicadamente na borda de uma fonte vitoriana. Styles passou a
fita-lo com a feição neutra, distante, quase avoada.

- Por que você o teme? - Tomlinson indagou intrigado. - Qual a razão do


seu medo?

- Não é medo. É trauma. - Harry disse em um fio de voz, inspirando


lentamente. - Avisava-me que seus conselhos eram para o meu próprio bem,
e que... As punições também seriam caso eu não p-progredisse. Se eu fosse
substituir meu pai, para o trono de Malta, e quisesse ser bem sucedido,
devia... ser normal.

Uma brisa gelada alcançou a superfície de suas epidermes, arrepiando suas


espinhas. Louis conservou sua postura ereta, Harry, porém, se curvou e se
encolheu um pouco, abraçando-se com os próprios braços em busca de
calor.

O que soou dois minutos de quietude passados, o maior quebrou-o por fim:

- Como eu não mudei, durante minha adolescência ele.... Ele... - mas suas
palavras não se soldavam em sua língua, uma trava mental as impediam de
serem libertas. - Me punia, ele...

Seu rosto, embora, o delatou.


Seu rosto contorcido em um pânico branco, um desespero traumático,
foram o bastante para traduzir o que a parcial revelação não pôde.

Harry literalmente se congelou, sua respiração quente formando fumaça ao


passo que era expirada por sua boca, em contato com o ar gelado da
madrugada.

Tomlinson se sentiu totalmente atordoado.


Pior, ele não foi capaz de conter sua indignação, abandonando a pose
inexpressiva para arregalar os olhos, amostrando a incredulidade das lagoas
azuis.
- Ele o visitava, intimamente, em seu quarto? - Louis se viu questionando,
colérico, no entanto esforçando-se para não se demonstrar tão alterado.

Styles não o respondeu.


Não verbalizou sua resposta.
Mas engoliu a seco.
E isso o bastou para revela-lo a verdade.

Louis ficou revoltado.

Em toda a sua existência nunca presenciou tamanha desumanidade dentro


de seu Reino. Assediadores eram indubitavelmente condenados - algumas
vezes à pena de morte - e pagavam pelo crime monstruoso que cometiam.

Sua mãe, rainha Johanna, jamais permitiria tamanha podridão ocorrendo


nos limites de seu território, muito menos rei Mark.

Assim, descobrir que Harry era abusado em seu próprio palácio de seu
próprio reino pelo rei Franco era repugnante.
Foi uma faísca que ateou fogo no pavio de Tomlinson. Uma raiva primitiva
consumindo seus dogmas e boa conduta.

O garoto era constantemente estuprado em sua adolescência e ninguém


fazia absolutamente nada?

Antes que pudesse solidificar sua reação e inúmeras perguntas, Harry se


virou com um olhar de súplica e o pediu:

- Por favor, eu lhe peço, não diga nada a respeito, nem agora ou nunca. É
um assunto encerrado. E morto.

Isso era muito injusto.


Isso era muito terrível.
Isso era muito nojento.

E Louis estava suposto a concordar com um aceno de mãos atadas?

Ok, Harry tinha trauma e não queria tocar na ferida.


Mas, porra, aquele rei era vangloriado por toda a nação, tido como
exemplo, sendo que havia gritos de dor e súplica de Harry escondidos por
baixo de sua impecável coroa.

E os pais de Harry Styles?


Nada fizeram?
Ao menos sabiam?

Louis Tomlinson nunca se nominou alguém curioso ou intrometido, mas ele


não podia simplesmente saber de uma informação impactante como essa e
apenas menear a cabeça em um aceno, forçando-se a esquecer o dito e
seguir com sua vida.

Era frustrante. Era frustrante se sentir impotente.

Ele não conseguia.

Portanto, tudo o que fez, quase ao próprio pedido de Harry, foi se levantar
do banco rígido e gelado e se afastar, encaminhando seus passos pesarosos
para dentro do palácio e guardando-se em seu aposento.

Tudo sem proferir uma sílaba.

Styles o implorou para não proferi-la.

Ele apenas acatou.

Chegando em seu grandioso quarto, no entanto, acabou por aceitar uma


xícara de chá quente de Lorena, que antes dormia sentada na poltrona do
canto.

Ele se assustou com sua presença no recinto àquela hora da madrugada,


ainda mais que a garota estava adormecida de modo tão desconfortável na
poltrona. Mas sorriu. Não reprimiu um sorriso ao perceber que talvez ela
tenha ficado lá o vigiando, pelo cuidado e ligação que os dois
desenvolveram nessa temporada.

Louis a sentia como uma irmã mais nova, sempre querendo protegê-lo e
esperando retornar ao quarto para garantir que estava bem.
Ao acorda-la ela o ofereceu para trazer uma xícara de chá, o qual aceitou de
bom grado, e foi finalmente se deitar em seu próprio lugar, no quarto dos
empregados.

Enquanto assoprava a fumaça densa que evaporava do líquido quente,


Tomlinson se escorou na grande janela de seu quarto, assistindo ao cenário
de Harry ainda sentado no banco do jardim, na mesma posição, sendo
engolido pela neblina e talvez pelos seus próprios demônios.
Chapter Twenty Three

Episode: Enemy

- Cavalheiros, devo lembra-los que esta será nossa última semana de aulas
regulares antes que comecem os sete dias de provas. - Don Luminiére
(ninguém entendia sua função no palácio) avisou-os enquanto os príncipes
sonolentos apreciavam o café da manhã na grande mesa do Salão A, sendo
interrompidos pela pronunciação do homem. - E qu-

- Sete dias de provas? - Gregory indagou, confuso.

O cavalheiro francês o olhou com um ar de repreensão pela interrupção de


seu monólogo.

- Sim, vossa alteza. Na semana que vem vocês farão provas diariamente,
tanto teóricas quanto nas atividades de tarde. Segunda, por exemplo, prova
de história e política pela manhã, hipismo após o almoço. Haverão duelos
de espada, apresentação instrumental e afins no decorrer da semana.

- É obrigatório? - um príncipe aleatório questionou, o que sinceramente


provocou uma série de risadas porque 'Dãr, o que você acha?'

Don Luminiére nem se deu o trabalho de responde-lo.

- Como estamos chegando na metade da temporada, essas avaliações serão


importantes para acompanharmos o desempenho de vocês até aqui.
Realmente esperamos que se saiam bem. - proferiu, piscando sua seriedade
afora acompanhado de um sorriso educado. - Agora, se me dão licença.

Após sua reverência de despedida, o informante saiu do salão, deixando os


príncipes mais desanimados ainda.
Ótimo. Provas.

- Lulu é uma gracinha, não acham? - a voz melodiosa e irritante de Harry se


sobressaiu nos resmungos, despertando o revirar de olhos da maioria dos
jovens entediados.

Ótimo. Provas. E Harry.

(Deve-se ressaltar que bastou o rei Franco ir embora com o nascer do sol
que o emaranhado de cachos já surgira na classe com seus típicos trajes
chamativos, seu sorriso grosseiro e os anéis nos dedos. Como um passe de
mágica, Harry estava de volta. Ele, Carolina, diamantes, e tudo mais que o
compunha).

Era terça-feira. Após o café e o fim das aulas de geopolítica os jovens foram
para o campo.

- Semana que vem haverá o duelo do Esgrima, como foram avisados. -


treinador Jordan reverberou. - Hoje já irei dividir as duplas e fazer um pré-
ensaio. O vencedor da próxima semana receberá um troféu de honra.

Dito e pensado, aos poucos ele ía informando os nomes dos adversários,


iniciando um clima de competição no ambiente.

A tensão foi quadruplicada quando a seguinte fala espantou os ouvidos


alheios.

- Harry Edward Styles, de Malta, e Niall Horan, de Ravena.

Então veio o silêncio.

Silêncio.

Olhos arregalados voltados para os dois extremos, um onde o esguio


príncipe dos cabelos cacheados sorria perversamente, e o outro em que
cabelos loiros e olhos azuis estavam quase petrificados de ódio fulminando
os verdes.

Naquele instante todos souberam: algo de ruim aconteceria.


***

Tomlinson batalhava com Andrew, cuja perna que havia machucado no


acidente com o cavalo ainda doía, o que o fazia mancar em um ou outro
movimento.

Percebendo sua dificuldade de articulação, Louis evitava ataques brutos


contra o príncipe, deixando brechas para que o mesmo tivesse ao menos
chances de vencer.

- Vejo que está me dando uma colher de chá hoje, Príncipe William. Não há
o porquê disso. - Andrew murmurou sorrindo lateralmente.

- Isso é apenas um treino. Não garanto que facilitarei durante torneio. - o


futuro herdeiro de Riverland replicou, saindo por alguns segundos da
postura sólida para transparecer seu humor enquanto ria levemente.

- Não imaginei que o faria. - deu um passo para trás, esquivando da ponta
do sabre. - Minha perna deveria estar melhor. - eventualmente comentou,
suspirando profundamente quando uma fagulha de dor o serpenteou.

A fratura provocada no joelho aparentemente incomodava seu caminhar,


levando-o a vacilar e mancar em alguns momentos.

- Cair do cavalo não é muito fácil. - Andrew reforçou, gargalhando


divertidamente pelo próprio trocadilho.

- Aposto que não. - Tomlinson eventualmente murmurou, desviando de uma


investida lateral. - Especialmente quando está chovendo e a terra fica toda
lamacenta. Chovia muito naquela tarde, não?

- Ugh, aquele maldito Harry! - o príncipe rugiu, desviando durante uma


fração de segundos seu olhar em direção ao cacheado.

- Como pode ter tanta certeza de que foi ele? - Louis indagou, sinalizando
para que desse um intervalo e descansassem um pouco.

Logicamente ele não pediu o intervalo por cansaço próprio, e sim ao


perceber que Andrew estava prestes a desfalecer, suprimindo as fisgadas na
perna mas pretendendo engoli-las ao invés de ferir seu orgulho.

Atordoado, o príncipe ferido de Western concordou com um aceno para a


pausa temporária e fincou o sabre na terra, apoiando seu peso nele como
uma bengala.

- Bom, tenho certeza que foi ele. - proferiu, retomando o diálogo. - Estava
escrito naquele jornal.

- Bom, e quem garante que o jornal não mente? - Louis rebateu, colocando
seus braços atrás das costas em uma pose ereta.

- Quem o escreve é provavelmente um de nós, pretendendo passar o tempo


livre criando discórdias e delatando pecados, soa divertido se não fosse
perverso. - Andrew argumentou, piscando pensativo. - Não acho que quem
quer que esteja por trás disso forjaria algo assim.

- Talvez o escritor anônimo tenha uma aversão a Harry e tenha o feito


justamente para culpa-lo. Pode tudo não passar de uma mentira.

- Harry não negou quando o acusei.

- Mas também não assumiu. - Louis acrescentou.

- Ele é mais esperto do que isso, deve tê-lo feito por saber que errou. Nós
conhecemos sua reputação, afinal.

- Concordo. - Tomlinson pronunciou. - Mas e a do escritor anônimo?


Conhecemos a reputação dele?

Os dois jovens realizaram uma troca de olhar profunda, traduzida para uma
sensação intensa e sóbria.

Já, no outro lado do campo, dois outros príncipes eram assistido


atentamente pelos demais enquanto duelavam.

Golpes firmes. Precisos. Agitados.


- Ainda não desistiu, honey? - Styles indagava, encenando um bocejo de
tédio enquanto manuseava habilmente seu sabre, rebatendo com facilidade
as técnicas de Niall.

- Irei te vencer no esgrima. - Horan respondeu, afoito, aplicando golpes


mais fortes.

- Eu não estava falando do esgrima. - Styles replicou, saindo da defesa e


ameaçando ataques.

- O que quer dizer com isso? - O loiro questionou franzindo a sobrancelha.

- Querido, pensa que eu não noto o modo que me encara? Você ainda sente
raiva e está em busca de sua vingança. - disse-o, flexionando mais os
joelhos para golpeia-lo por baixo.

- Posso reter rancor, Harry, mas garanto que não sou cru como você ou
mesmo sujo. Eu tenho minha honra a zelar.

- Honra? - grunhiu debochado, abrindo aquele seu sorriso de escárnio que


só o herdeiro de Malta era capaz. - Meu caro, você a perdeu quando se
revelou um príncipe repetente. Qual tem sido a reação de seus pais, hum?
Soube que ainda sentem tanta vergonha desse fato que abafam qualquer
divulgação midiática em Ravena.

As orbes azuis claras, suaves, de Niall escureceram-se imediatamente, ao


passo que seu corpo foi tomado por tamanha raiva que seus movimentos se
tornaram brutos e violentos, quase como se estivesse reprimindo o ímpeto
de espetar a porra da cabeça cheia de cachos.

- Não é de sua conta nada sobre a minha vida! Qual é o seu problema?! -
Horan rugiu, pisando em falso ao recuar de uma investida de Harry e
acabando por tropeçar em uma pedra, o que o fez perder o equilíbrio e cair
de costas na grama.

- Niall, Niall. Quantas vezes terei de lhe provar que você não tem a menor
chance comigo, hum?
Styles não relevou o deslize do príncipe, apontando a ponta de seu sabre
sobre seu peito ofegante apesar de Horan estar esparramado no chão ao
desequilibrar-se.

Olhava-o sob seus cílios, de nariz empinado e um sorriso debochado


adornando o rosto de porcelana.

Visto daquele ângulo, com uma pose soberba e superior, Harry parecia
ainda mais arrogante, zombando a vulnerabilidade de Niall e esfregando-a
em sua cara.

- Ande, darling, seja um cavalheiro decente e reconheça sua perda. -


Príncipe Edward provocou, afundando um pouco mais a ponta de seu sabre
no tecido grosso do colete que o menor usava.

- Touché. - Niall finalmente rezingou entredentes.

O sorriso de Harry ampliou-se ainda mais.

- Até semana que vem, onde perderá publicamente... Mais uma vez.

- Eu irei te derrotar, Harry. Farei você engolir essa sua insolência.

- Uhh, sonhe. - Styles riu, piscando-lhe um dos olhos antes de afastar-se


para a saída do campo.

Niall suspirou, pronto para se levantar, quando notou uma mão estendida
em sua direção.

Louis oferecia-lhe apoio.

Ele o aceitou, segurando com força até estender-se de pé, espanando a


traseira da calça para dispersar os flocos de terra.

- Está tudo bem? - Príncipe William certificou-se, recebendo um dar de


ombros completamente derrotado do loiro.

- Eu não vou conseguir, não serei capaz de vencê-lo nesta batalha.


- Não se continuar indo pelo caminho errado. - Tomlinson informou,
acompanhando Niall para dentro do palácio ao serem dispensados pelo
treinador Jordan.

- Como assim?

- Bem, você está guerreando com a mesma tática do Príncipe Edward.


Força. Estão jogando de força contra força.

- Certo, mas?

- Mas força não o levará a nenhum lugar, vossa alteza. Se quer vencê-lo, ou
vencer qualquer indivíduo que recorra sempre à força, precisa de uma
estratégia melhor, como agilidade.

- Agilidade?

Tomlinson assentiu.

- Quem opta por golpes brutos só enfrenta de frente. Vá pelos cantos, use o
cérebro ao invés dos braços. - proferira enquanto adentravam na ala das
escadarias.

- É um bom conselho, Príncipe William, embora confesso estar surpreso por


ter pensado que fosse amigo de Harry, visto que valsaram juntos no baile de
domingo e foi corajoso o suficiente para ignorar sua reputação perante a
autoridade do rei Franco.

- Talvez eu seja. - Louis disse, referindo-se a 'ser amigo do herdeiro de


Malta'. - Mas nada me impede de também ser seu colega. Entende, vossa
alteza? Nós não precisamos criar lados como se isso fosse uma disputa de
vidas. Somos jovens, criando estruturas e planos, há mais a se concluir do
que alimentar um conflito interno.

- Soa-me verdadeiro, vossa alteza. - Niall o falou, sorrindo terno e contente.


- Agradeço pelo conselho.

- Disponha.
****

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How to Wear a Crown

Quarta-feira, 14/07

Presumo que estranharam meu sumiço, sim?


Garanto que não foi proposital, acontece que as informações estavam
escassas para renderem qualquer edição com mais de um parágrafo.

O fato é: baile do domingo passado, dia 11, foi repleto de surpresas.

Além da presença do rei da França, claro, parece que a ruptura da ligação


de Malta-Arlen, digo, Harry e Zayn, se oficializou, dado que nenhum dos
dois se aproximou durante o evento ou trocaram um único olhar.

Será que o mais cobiçado príncipe dos olhos de mel se enjoou de toda a
extravagância e superficialidade ambulante que é Harry Edward Styles?

Outro choque foi, na realidade, o paradeiro do Príncipe Edward. Porque,


de maneira alguma, aquele jovem sem anéis nos dedos ou joias costuradas
em seu traje era o mesmo príncipe que desfilou de rosa salmão no baile da
borboleta.

O palpite mais forte é claro: sua discórdia à "vossa majestade".


Não se sabe com exatidão sobre o que há entre os dois, mas os boatos
alegam que em todas as temporadas Harry Edward Styles parecia diferente
e assustado em bailes que contaram com a presença do rei, o que delata a
poeira que há por baixo deste tapete.
Um detalhe é certo: o rei de Malta, pai de Styles, é amigo do rei da França.
Por que seu filho não pode ser?

Pensando que a noite não ficaria mais estranha, ocorre a valsa dos
príncipes, em que o par de Harry Edward Styles (que honestamente parecia
desolado e solitário em seu canto) foi o sucessor do trono de Riverland, o
aclamado jovem Louis William Tomlinson, que desafiou o
comprometimento de sua imagem e reputação, pela massa de pecados que
significa estar em companhia de Styles.

Não sendo o suficiente, flagra-se o Príncipe Edward e o Príncipe William


em um encontro particular noturno, nos jardins.

Será que o moreno dos olhos azuis é o novo affair da cobra? Ou então o
confidente?
Essa história poderá ser reveladora.

E a empolgação momentânea amplifica-se ao ter ciência de que na próxima


semana o oponente de Harry será justamente seu arqui-inimigo declarado,
Niall Horan.

Quais as apostas para a tragédia final?

Att: Sua Fonte Anônima.

______________________________

••• notas da autora: relaxem, o que aconteceu no baile será falado no próx
cap. ❤
Chapter Twenty Four

Episode: Midnight Talks

A Drinking Song

Wine comes in at the mouth,


And love comes in at the eye;
That's all we shall know for truth
Before we grow old and die.
I lift the glass to my mouth,
I look at you, I sigh.

- W. B. Yeats

[Uma Canção de beber

O vinho entra na boca,


E o amor entra nos olhos;
Isso é tudo o que devemos saber pela verdade
Antes de envelhecer e morrer.
Ergo a taça em minha boca,
Eu olho para você, suspiro.

- W. B. Yeats]

- O que acha que ele quis dizer com isso? - Lorena indagou, seus braços
atrás das costas e um olhar curioso ao passo que Louis terminava de recitar
a carta, sentado ereto em seu colchão enquanto a lamparina do criado-mudo
iluminava a superfície do papel. - Ele deixou a mesma carta na porta de
todos os príncipes.
- Hum, deve ser mais outro de seus devaneios. Têm se tornado frequentes
há um tempo, sim?

- Já é a segunda vez que deixa bilhetes poéticos na porta de todos.

- Bom, ao menos Harry tem um bom pendor para literatura, William Butler
Yeats é renomado por seus poemas vitorianos.

- Achas que o Príncipe de Malta quer dizer algo com essas citações? Um
código secreto? - a criada questionou, piscando rápido.

- Creio que por trás de cada gesto seu há um significado, intencional ou


espontâneo.

- Qual seria o deste? Me soa muito específico e sentimental.

Tomlinson elevou o foco da carta para a jovem dos cabelos castanhos,


sorrindo complacente. Ela o lembrava um pouco de sua mãe, Rainha
Johanna, esse jeito sincero e verdadeiro, demonstrando nitidamente suas
emoções sem priva-las pelas normas de conduta.

Tanto é que já devia ser quase onze da noite, horário que as empregadas
reais estavam supostamente em seus próprios quartos e os príncipes
deveriam descansar em paz, preparando-se para o dia seguinte.

Jezebel cansara de repreender sua irmã pelo costume de ocupar o Príncipe


William com suas divagações até tarde da noite, embora Louis sempre
garantisse que não era incômodo nenhum a presença da mais nova, uma
companhia divertida, diria.

Portanto, foi uma surpresa geral quando àquele ponto da quarta-feira muito
após o jantar escoaram-se fracas batidas na porta de seu dormitório,
advertindo que alguém pedia para adentrar.

Lorena e Louis se entreolharam desconfiados antes de Tomlinson sinalizar


para que ela atendesse.

Assim que a porta foi destrancada e aberta em um grande vão, a figura de


Harry Edward Styles foi revelada.
A figura de Harry devidamente trajado, com as mesmas peças lisas do
jantar, e um sorriso que imediatamente se murchou ao avistar a garota.

Ele parecia desconcertado por definitivamente não esperar que outra pessoa
além de Louis estivesse naquele quarto, assustado por ter sido flagrado ali.

Já Lorena escancarou a boca, transparecendo visivelmente seu espanto,


demonstrando-se em um misto de choque e confusão para o herdeiro de
Malta.

Se Louis estava surpreso ou perplexo, ele claramente não expôs nada além
de um sorriso cordial e um aceno com a cabeça, sempre inatingível e
austero.

- Príncipe Edward. - saldou calorosamente. - A que devo a honra?

Harry inspirou um pouco aturdido, tentando manter a postura e não


balbuciar.

- Gostaria de conversar com você em particular, se não for incômodo. -


admitiu em uma linha tênue entre desconforto e altruísmo, olhando agora
significativamente para Lorena, esperando que ela entendesse a deixa.

A garota virou-se para Tomlinson com uma expressão inquiridora,


certificando-se de que aquilo estava Okay.
Com um breve consentimento silencioso e uma olhar reconfortante, ela
engoliu seu incômodo e relutância, acatando a ordem.

- Tenham uma boa noite, vossas altezas. - reverenciou-os contrariada e saiu,


deixando-os sozinhos.

Harry adentrou e fechou a porta, tropeçando no processo e recompondo-se


atrapalhado.

Pela quase queda, seu rosto enrubesceu e ele gastou alguns segundos
alisando seu smoking preto, dissipando o constrangimento.

- Bem, essa foi uma entrada inovadora. - Tomlinson observou, esperando


quebrar qualquer tensão.
- Não ria de mim. - Styles grunhiu, estreitando as sobrancelhas.

- Mas eu nem sequer sorri. - rebateu com um ar divertido, tocado pelo modo
envergonhado que o príncipe de Malta ficara após o incidente.

Harry revirou os olhos.


Os olhos, aliás, que haviam notado como as lagoas azuis pareciam mais
claras e límpidas naquela noite, decorando perfeitamente o corpo do jovem
moreno, vestido com roupas simples e confortáveis no aconchego de sua
cama.

O quarto do herdeiro de Riverland era tão básico se comparado com o de


Harry, sem todo aquele luxo, extravagância, dorsel ou camurça... E ainda
assim era infinitamente mais agradável, mais próximo de um recanto
particular. De um lar.

Tudo dizia sobre sua personalidade, havia quase um Louis em cada mobília
de ébano maciço, uma elegância requintada e fina, sem exageros, porém
vistosa.
Completamente o oposto do interior do quarto de Styles, cujos móveis
cheiravam a verniz, eram lustrados, brilhantes. Onde as cortinas cobriam
quase paredes inteiras e os tapetes egípcios gozavam de fios de tecido
dourado.

E não apenas a aparência dos locais diziam muito sobre si.


O de Louis, por exemplo, era um ambiente reservado, somente ele e as
criadas tinham acesso - e Harry agora também, aparentemente. Um recanto
dele e de seus livros.

Já o de Styles significava um espaço completamente público e invadido por


vários outros rapazes diariamente, o lenço vermelho amarrado na maçaneta
da porta sinalizando que aquela era a toca do hedonismo, o covil da cobra.
O Jardim do Éden.

Tudo, todos os detalhes ao redor deles era gritante, e o fato de Harry


Edward Styles, o cara das joias e diamantes, estar ali, parado no meio do
aposento refinado de Louis, com seu corpo esbelto e cachos luxuosos,
destoante das cores neutras e escuras do cômodo, parecia um enfeite posto
no lugar errado da árvore de natal. Colorido demais. Vibrante demais.
Forçado demais.

Ele era um pedacinho de gelo por dentro e se demonstrava ser uma figura
calorosa por fora, enquanto que Louis aparentava-se um floco de neve fria
por fora, mas possuía um calor inconfundível em seu interior.

No final, tudo se resume àquilo que você quer ser para os outros, em vez de
si mesmo.

- Então, Príncipe. - Tomlinson pingaterreou, ajeitando-se no colchão e


sinalizando para que Harry se sentasse também. - Sobre o que vieste
conversar?

Harry olhou por alguns segundos para a cama como se ponderasse o que
deveria fazer, então optou por acomodar-se na poltrona que estava ao lado,
cruzando as pernas formalmente.

- Na verdade... - sua voz estava meio fraca e relutante. - Nada específico, eu


só...

Sua garganta parecia fechada, ou então as palavras haviam se extinguido em


sua mente. Harry balbuciava visivelmente desconcertado.

- Veio para passar o tempo, correto? - Louis concluiu, oferecendo um


sorriso gentil. - Fez bem, Lorena já estava para dormir a esse horário, e eu
ficaria entediado com minha insônia.

Styles concordou, talvez aliviado por não ter que verbalizar o que pretendia
falar.

- Eu também estava. - acrescentou, piscando rápido. - Digo, entediado.

- Os príncipes não quiseram pernoitar nesta quarta? - Louis indagou,


desviando sua atenção para a poesia que o próprio Harry deixara em todas
as portas. Ele a guardou em uma gaveta, não ousando indagar ao remetente
dela o porquê daquilo ou a mensagem que pretendia passar. Era claramente
particular.
- Eu estava cansado para recebe-los, de qualquer forma. - Harry deu de
ombros, pendendo a cabeça para o lado direito e ignorando o fato de
Tomlinson estar mexendo na carta do poema. - Creio que devo te agradecer
pelo apoio que.. - forçou uma tosse seca. - Deu a mim, no baile passado.

Louis, que agora o encarava sereno com um sorriso lateral quase


preguiçoso, meneeou a cabeça negando veemente.

- De modo algum. Fiz o que achei certo.

- Como sempre. - Styles disse com a voz um pouco debochada, não


contendo o revirar de olhos, o qual Tomlinson achou engraçado e optou por
tirar o melhor disso.

- Então você vem até o meu aposento para zombar de mim, entendi.

- Prometi a mim mesmo que não o faria, mas você o torna uma missão
impossível.

- Eu sou o impossível aqui?

- É uma disputa difícil, confesso.

- Presumo que temos um vencedor indiscutível.

- Você? - Harry acusou, repuxando seus lábios em um sorriso bem-


humorado e alegre.

- Não force a amizade, Príncipe Edward. - Tomlinson rebateu. - Sabemos


quem venceria entre nós a categoria do 'intragavelismo'.

Por um momento, uma fagulha serpenteou por trás das orbes de esmeraldas.
Um brilho quente acendeu-as de modo que se parecessem com faróis, ou
com pisca-piscas de natal - a sentença mágica natalina induzindo-as ao
espírito de esperança.

Por um momento, Harry se viu engolindo a seco algumas vezes e


arregalando os olhos, o choque se evidenciando em sua expressão de
espanto, como se houvesse escutado o maior absurdo de sua vida, como se
Louis acabasse de xingar verbalmente todos os dogmas eclesiásticos na
frente de um papa, como se o segredo das pirâmides egípcias estivesse
sendo revelado e acusando extraterrestres de terem ajudado na construção.

Por um momento, tudo pareceu demais.

Perplexo demais.
Impactante demais.
Utópico demais.

A palidez em sua face declarava o suficiente para que Louis enrugasse sua
testa em uma expressão confusa, transmitindo um 'o que foi?' diante todo o
alvoroço.

Mas antes que formasse palavras para interroga-lo, Harry se adiantou,


dizendo em uma voz sobrecarregada, hesitante e trêmula (com insegurança
salpicada nas bordas).

- O que quis dizer com isso?

- Com o que?

- É que... Acabou de insinuar que... - Styles ia proferindo claramente


desconcertado. - Temos uma amizade.

Tomlinson inclinou a cabeça para a direita, tão confuso quanto antes.

Harry parecia verdadeiramente atordoado.

- Sim, e? - Louis insistiu, aturdido pela incredulidade alheia.

- Nenhum príncipe quis ser meu amigo antes. - Styles segredou, fixando
suas pupilas na figura do moreno, nas lagoas azuis, a complexidade exibida
naqueles vincos faciais.

- Eles não têm muita culpa por isso, certo? - Tomlinson indagou. Sincero e
doloroso.
- Então... por que você quer? Por que q-quer ser meu amigo? - algo ali
soava como um grunhido de dor.

Era o gato de rua, abandonado e arisco, que tinha uma ferida ardendo em
sua costela, e se sentia ofendido e perdido.

Harry poderia parecer o leopardo predador na pele externa, mas


honestamente sempre seria o gato pequeno e frágil sem-teto sob todas
aquelas camadas de epiderme, tecidos, veias e órgãos.

Não era o seu corpo que o fazia um humano, e sim sua insegurança. Sua
insegurança - bem escondida quase sempre - o trazia a humanidade que o
ouro e os diamantes constantemente o tiravam.

- Porque sim. - Louis respondeu, sem relutância ou explicações


aprofundadas. Com todo seu jeito firme e decidido. Com toda sua postura
de um rei grandioso e maduro. Não vacilando um segundo sequer.

Foi apenas por essa razão que Styles acreditou na sinceridade dele.
Por essa razão que ele se limitou a assentir em concordância com o decreto
pouco elaborado do menor.

- Mas me diga, Príncipe Edward, está preparado para a semana seguinte de


provas e duelos? - Louis indagou na intenção de descontrai-los.

Harry pareceu tomar algumas lufadas profundas de ar até que se


recuperasse e se situasse melhor.

- Honestamente, você deveria se sentir aliviado por não ser o meu


adversário em nenhuma das competições, poupa-se de muitas derrotas. -
Styles debochou, retomando a pose costumeira. Talvez fosse seu disfarce
natural, ou sua barreira.

- Você lembra que eu te derrotei no Esgrima, certo? - Tomlinson lembrou,


sorrindo lateralmente de uma forma quase ousada.

Edward arqueou uma das sobrancelhas, contrariado.


- Ainda terei minha revanche, você lamberá a ponta do meu sabre. - Styles
proferiu, dando-se conta de algo e imediatamente adquirindo uma expressão
aguçada. - No sentido decente, claro.

Louis, no entanto, ignorou a insinuação pervertida e expressou uma feição


serena, calma.

- Ficarei honrado de perder para você, então.

- Ah, qual é? Cadê seu orgulho próprio? Não me venha dizer que não ficaria
deprimido diante uma derrota.

- Há coisas mais impactantes do que perdas e vitórias em jogos, vossa


alteza.

- Jura? Porque para mim não. Não há nada mais prazeroso do que escutar
seu adversário reconhecendo o fracasso ao murmurar Touché com aquela
indignação azeda nos lábios. - reverberou, piscando anestesiado.

- Talvez você devesse rever seu conceito para felicidade, Príncipe Edward.

- Está a me aborrecer, darling. Não me venha dizer que felicidade significa


a ti um casamento estável com a esposa perfeita, uma dupla de filhos em
Veneza durante um verão cálido.

- Talvez um reinado promissor e cidadãos satisfeitos seria a minha resposta,


mas um casamento estável é algo a se almejar.

Harry torceu o nariz.

- Estabilidade é superestimada. - Styles argumentou. - Tantos e tantos casais


cheios de votos de ouro enquanto rugas de tristeza adornam-lhe as faces.
Qual é a diversão de um relacionamento sem os obstáculos e quedas no
meio?

- Quedas? Você é um apreciador de precipícios? - Louis questionou,


aprofundando o assunto que nem mesmo eles direcionavam.
- Talvez eu seja um. - Harry balbuciou, estreitando os olhos verdes, quase
inaudível.

Tomlinson fingiu não ter escutado a intensidade da fala, optando por mudar
o rumo da conversa.

- Certo, desde que fui criticado assim, me resuma o que é felicidade na sua
concepção.

O herdeiro de Malta ponderou por algum tempo, correndo seu olhar


sonhador pelo teto com um sorriso arrogante no rosto.

- Creio que uma noite de sereno, sob o céu limpo da Grécia, degustando
uma fatia de queijo brie combinada com uma taça de Chardonnay ao som
de violinos no fundo e a companhia de algum escritor vitoriano, Yeats
provavelmente.

- Para escutar um recital de poesias ao vivo, presumo.

Harry encarou Louis, grandes covinhas presunçosas afundadas em suas


bochechas coradas.

- Não, porque eu tenho fetiche com escritores.- confessou rindo, o que


imediatamente quebrou a postura austera de Louis e o despertou um
arregalar incrédulo das lagoas azuis e uma feição que certamente se traduzia
em 'qual é o seu problema de me contar algo do tipo?'.

Mas dos lábios finos de Tomlinson não se escapou sequer uma risada, ele
engoliu a diversão e proferiu em um tom sério - porém visivelmente
brincando.

- Exigiria que eles narrassem um poema durante o ato?

Assim foi a vez de Styles demonstrar-se espantado. Realmente não esperava


que Louis adentrasse na zombaria suja - logo o príncipe mais rígido e
soberbo.

- Não. Seria bizarro. E eu provavelmente ficaria assustado. - Harry retrucou


atordoado ao imaginar a cena, não se aguentando e fazendo uma careta de
nojo engraçada. - Mas, sinceramente, você deveria se inspirar em mim.

- O que diz?

- Felicidade, meu caro. Está colocando-a em um patamar clichê. - Styles


discorreu. - População contente, matrimônio perfeito, herdeiros bem
sucedidos, reinado pacífico... Essa é a resposta da maioria dos príncipes.

- Bom, é o mais próximo de um futuro ideal que consigo imaginar. - Louis


declarou, pensamentos sólidos colidindo em sua cabeça sobre como esses
itens estiveram sempre em sua lista mental.

- Não seja assim.

- E por que não?

- Isso é o mais próximo de um futuro medíocre que um jovem rei terá


partindo desse ponto. - Styles possuía uma linha de raciocínio que estava se
tornando interessante a William, desde que ele era um amante de debates
reflexivos. - Você não é uma cabeça com uma coroa, você não é um decreto
de uma nova lei, você não é um pretendente a procura da princesa com
grandes dotes ou um líder que sorri e promete aos cidadãos um ano
próspero. Louis, você é... - as palavras foram se perdendo e diminuindo de
volume conforme Harry as pronunciava. Um relâmpago de consciência o
atingiu ao notar que chamou o príncipe informalmente pelo primeiro nome.
Um relâmpago de consciência o atingiu ao perceber quão confortável se
sentia para divagar seu monólogo sincero.

Sinceridade.

Sinceridade. Um termo quase inexistente para Harry, será que ele já foi
algum momento completamente sincero quando adicionava sarcasmo e
deboche para mascarar suas verdadeiras significações?

- Eu sou...? - Louis instigou, evidentemente curioso e um pouco inquieto


sobre aquilo. Sobre o diálogo estranho que eles estavam tendo em plena
madrugada.
- Você é mais do que um futuro rei. Você é muito mais.

Havia uma fagulha de ternura sob as gramas de verão, havia um carinho


escondido na frase que parecia doce como mel e quente como o sol, e talvez
valores ocultos por trás de cada sílaba.
O que importa, honestamente, era que o Príncipe Edward soava verdadeiro
e sério como nunca antes, de modo que ele nem estivesse sob a mesma
fantasia de todos os dias.

E, como se reparasse nessa transparência involuntária, ele rapidamente


engoliu o bolo em sua garganta e qualquer resquício da personalidade
gentil, restaurando a armadura à la Harry Styles.

- Bom, resumindo: evite essa coisa patética de querer estabilidade e


mesmice. É trágico. - Harry decretou, encenando uma jogada dramática de
sua cabeça com um suspiro profundo. - Há tanto a se viver, há tantos vinhos
caros em Portugal, ou peças de teatro francesas. Há tantas florestas
orientais, e, oh, a moda ocidental! O que quero dizer é, tem muito além de
contratos comerciais para se estabelecer com o mundo.

- Você me soa como um libertino bêbado de utopias. Um visionário


inspirado em um romance vitoriano idealizando grandezas e se
embebedando de delírios existenciais.

- Está me criticando, Príncipe William? - questionou com irritação


salpicando em sua voz.

- Pelo contrário. - Louis garantiu, olhando-o no fundo dos olhos para que
Harry fosse capaz de agarrar a sinceridade transmitida pelas lagoas azuis. -
Eu o invejo. Você consegue ter um olhar leve e colorido da realidade, de tal
forma que a maioria de nós não é capaz, vossa alteza. Admiro-o pela
concepção espirituosa que estabelece aos menores detalhes, por mais
supérfluos que sejam.

Harry piscou algumas vezes desconcertado até se inclinar para frente da


poltrona, esticando por instinto seus braços em direção a Louis e
apanhando-lhe os pulsos.
Segurava-os suavemente, envolvendo-os as mãos quentes e os dedos
longos.

- Eu posso lhe ajudar. - declarou, aparentando um pouco fora de si e perdido


em algum eixo paralelo. -Eu posso lhe ajudar a repudiar a sobriedade e
apreciar a vida por outros parâmetros, Louis. Se me permitir-

- Não desejo mudar a mim mesmo, vossa alteza. Admiro seu


desprendimento intelectual mas-

- Mas, como todos que me julgam, não gostaria de ser como eu, certo?
Afinal quem quer ser o príncipe maluco com os pés na lua e o desprezo da
família. - Styles murmurou cheio de desdém, entendendo que Louis era no
fundo mais um dos que o achavam um estúpido que não sabe se portar ou
pensar da maneira suposta a um futuro rei. Ele recuou o contato físico e
restaurou sua posição original na poltrona.

Louis ignorou sua fala debochada, prosseguindo:

- Mas são poucos os domadores de tal virtude. Você não se torna especial,
você nasce especial.

- Eu não sou especial. - Harry imediatamente exclamou baixo, quase tímido


e inseguro.

- Você meio que usa camurça às sete da manhã, isso é no mínimo...


Peculiar? - Louis acusou rindo levemente, o que provocou uma troca de
olhares cúmplices porque o Príncipe William acabara de falar uma frase
sem formalidade alguma e ainda recheada de provocação, e aquele sorriso
branco e alinhado denunciava o frescor do momento o qual eles estavam
mergulhados.

- A camurça é uma peça chave em meu vestuário! - Styles se defendeu


divertido, posicionando a mão contra o peito como se estivesse realmente
magoado.

- E aquelas luvas de seda na aula de etiqueta em grupo? Foram mesmo


necessárias?
- Elas evitaram que minhas mãos tocassem em germes.

- Mas tudo o que fizemos foi aprender a cumprimentar pessoas de modo


cordial e educado. Literalmente nos limitamos a acenos e ralo contato físico
treinando uns com os outros.

- Exatamente. Tocar em germes. - O cacheado enfatizou, o que certamente


foi um comentário maldoso mas naquele instante estava salpicado com
humor (humor negro) e talvez não tenha sido na intenção de inferiorizar os
demais príncipes, ao menos foi o que Louis depositou suas esperanças e se
limitou a negar com a cabeça. - Sinto que ficou sem argumentos, Príncipe
William.

- Bem, nem sequer disse metade. Deveria mencionar que o senhor anda por
aí acompanhado de uma bengala com formato de cobra? E literalmente a
batizou com um nome?

Harry diminuiu o sorriso ao escutar a frase, transformando sua feição


risonha em uma nostálgica, piscando sua ternura enquanto as orbes
esverdeadas se prendiam em um ponto fixo do colchão.

- Carolina é especial. Ela tem um significado. - informou tão baixo que


soou como um segredo lançado ao relento, não necessariamente na intenção
de ser compartilhado, mas um comentário para si próprio que acabou sendo
verbalizado.

Tomlinson escutou, embora.

E comovido pelo carinho que Harry esbanjara ao se pronunciar, questionou


mais.

- Posso saber qual é? - indagou, sua expressão pura e genuinamente


interessada naquilo que Styles guardaria para si até seu túmulo, já que
provavelmente a maioria de suas coisas eram confidenciais e ele raramente
revelava para qualquer outro.

Louis meio que sentia que haviam coisas ...


De Harry. Sim, coisas de Harry. Como uma pasta imaginaria de um
gaveteiro esquecido onde todos os significados de suas manias bobas
estavam descritos, onde todos os porquês de seus comportamentos e sonhos
estavam traduzidos, e onde o verdadeiro Harry poderia ser encontrado.
Por fora você enxerga suas cores, seus sorrisos e assiste aos seus costumes
esquisitos e conduta lamentável... Mas, la dentro, trancafiado sob mil
fechaduras, haviam respostas. Não necessariamente justificativas - alguns
atos jamais serão justificados - mas respostas.

Isso não era exclusivo de Harry, embora. A maioria das pessoas, na


concepção de Louis, são esse conjunto intrínseco de arquivos pessoais em
oposição a o que há externamente.
Se fosse explicar em uma analogia mais ampla, seríamos como a Anatomia
e a Fisiologia, em que na primeira você estuda o corpo em si, e na segunda
o seu respectivo funcionamento.

O problema é que poucos, poucos mesmos, se importam o bastante ou se


dispõe a conhecerem algo além do anatômico, a julgar sem ser pelo o que
parece às suas vistas - porque, claro é mais fácil -, e buscar ir a fundo em
seu conhecimento, se preocupando em descobrir a razão por trás daquilo.

Unanimemente Harry parecia não ter ninguém ao seu redor que quisesse
verdadeiramente entende-lo. Sim, haviam alguns que o idolatravam e
ficavam a sua mercê para qualquer desejo.. Mas... Mas no fundo eles
estavam se aproveitando.
E quem não se aproveitava, o julgava, ou o repudiava, ou o criticava...

Ninguém queria honestamente compreender alguém tão temperamental,


maldoso e ácido. E não podia-se nem mesmo culpa-los por isso, porque
Harry na maioria das vezes agia como um imbecíl.

Mas... E se alguém houvesse se importado? E se alguém engolisse o


orgulho e se sentasse em sua frente apenas para observa-lo em silêncio, sem
as luzes douradas reluzindo suas jóias?

E se alguém houvesse se interessado anteriormente pelo motivo dele se


irritar facilmente? Ou por que acorda cedo toda manhã e geralmente faz
caminhadas solitárias pelo jardim? Por que ele se importa tanto com o luxo?
Ou até mesmo o que há por trás de sua obsessão com prazeres carnais?
A coisa é... Pessoas tem seus motivos. E estes geralmente são ignorados
pois abrevia-las por suas ações e estereotipa-las é menos trabalhoso do que
buscar entende-los.

Bom, Louis estava lá, certo?


Ele estava lá e não se importava em ceder seu tempo ou qualquer valor que
estivesse abrindo mão para escuta-lo.

Louis não via problema em ser alguém - possivelmente o primeiro - a


demonstrar-se verdadeiramente cativado pela história de Harry.

Talvez fosse o que Harry precisasse todo esse tempo... Um par de ouvidos e
um pouco de atenção.

Styles fazia tantas besteiras para ter atenção geral que no fundo era outro
tipo de atenção que ele carecia.

E Louis não se incomodava de ser alguém para lembra-lo que ele


importava. Ele e suas manias idiotas, e sua infância ou qualquer coisa que
ele se sentisse confortável a revelar.

Quando você adota um animal de rua, você nunca será capaz de saber pelo
o que ele passou, mas você terá uma leve noção a partir dos traumas que ele
trouxer do passado.

E Harry - aquele gatinho arisco e sem-teto - aparentava ser alguém com


muitos deles, embora escondesse-os bem.

- Me conte, Príncipe Edward, por que Carolina lhe é tão especial? -


Tomlinson insistiu, oferecendo um olhar sereno e tranquilo.

Styles desviou seu foco para o próprio colo, subitamente sentindo-se muito
tímido e impotente para aquilo.

Era só...era só um grande passo, entende?


Era uma parte dele, e ele não estava acostumado a publicar partes dele para
ninguém.
A partir de uma decisão incerta e um suspiro falho sua voz finalmente
entrecortou o ambiente, soando mais reservada do que gostaria.

- Quando eu entrei aqui, digo, na minha primeira temporada, eu ainda era


muito... Jovem. - Styles pingaterreou, piscando rápido como para disfarçar
sua comoção no assunto. - Honestamente, era bobo também, pirralho,
entende? Enquanto a maioria já tinha sua maioridade e agia como jovens
adultos eu estava na fase de adolescente. Tornei-me o mascote da
temporada.

Harry soltou um riso breve desdenhoso.


Suas gramas de verão estavam fixas no mesmo ponto e ele aparentava estar
profundamente distante, avoado em sua divagação, sentindo as sensações
que as próprias palavras causavam. Louis se absteve de qualquer
comentário, permanecendo atento às revelações.

- Uma vez, durante uma aula de equitação, um dos príncipes sofreu um


acidente quando seu cavalo se assustou com uma cobra. E ele caiu de costas
e acabou por fraturar uma costela.

Tomlinson assentiu, flagrando a profundidade da lembrança que Harry


vivia.
Ele era tão intenso em tudo que falava, tudo que transmitia.

- Os outros príncipes imediatamente se reuniram para um desafio estupido


de caçar a cobra que havia fugido para dentro do estábulo. Eu estava no
meu canto e observava quieto, mas... Mas eu não me aguentei quando eles a
capturaram e começaram a tortura-la.

Os olhos verdes de Harry - e toda a resplandecência daquele tom - pareciam


aguados, desfocados, ameaçando se quebrar em comoção.

- Eles atiravam pedras nela enquanto a cobra corria para a floresta. Ela foi
evidentemente acertada no percurso por uma das grandes e parecia doloroso
demais para ela continuar rastejando e se salvar.

- Príncipe Edward? - Louis chamou, cuidadoso.


Styles estava um pouco trêmulo e atônito demais para responde-lo.
- A cobra simplesmente desistiu de lutar pela vida e ficou imobilizada,
recebendo mais pedradas como se aquilo fosse um castigo por ter assustado
o cavalo.

Uma lágrima solitária escapou da pálpebra inferior de Harry enquanto ele


engolia um bolo em sua garganta.

- Eles me puxaram até lá, eu era o mascote e como pareciam sempre em


busca de algo que me atingisse perceberam que eu estava perturbado com
aquilo. Entregaram-me pedras na mão e ordenaram que eu as atirassem
nela.

A mão direita de Styles se fechou, agarrando com força o tecido macio de


sua calça.

- E-eu não queria. A cobra estava praticamente já morta, mal se mexia, não
havia necessidade daquilo. É um animal, apenas igual a nós, e ninguém
deve machucar um animal. - sua voz se quebrou. - Eles estavam me
pressionando e foi difícil de suportar, tudo que fiz foi correr como um
covarde em direção ao palácio.

Styles soava como uma taça de vidro fina, fácil de quebrar.

- Como eu era o mascote, eles me puniram.

- Puniram-o? - Louis repetiu, preocupado.

- Ao me acharem dentro do palácio eles primeiro me bateram, me bateram


de verdade. Mas eu já estava acostumado, porque, você sabe - uma risada
sem humor - um pirralho afeminado demais, o perfeito motivo de chacota.

A acidez de seu tom era o suficiente para delatar o quanto de rancor ele
tinha pelo episódio.

- Essa punição não me incomodou. Eu estava satisfeito por não ter


participado daquela monstruosidade. Bem, até que de noite, quando fui ao
meu quarto para deitar-me, deparei-me com o corpo da cobra, morta, em
cima do meu colchão.
- Isso é deplorável. - Tomlinson bufou, indignado.

Styles relevou sua fala e permaneceu com a cabeça avoada, inspirando


lentamente.

- A partir daquele dia eu percebi que... eu era mesmo um idiota. E prometi


que ninguém nunca mais passaria por cima de mim.

- Então você se transformou em quem é hoje?

- Eu diria que foi uma construção gradual. - respondeu prendendo o lábio


inferior entre os dentes.

- Sente-se orgulhoso por isso? De ter aberto mão de quem era para se tornar
alguém odiado e repudiado pela maioria? - Louis indagou, curto e doloroso.
Ele nunca mediu muito suas palavras, eram sempre honestas demais
independente do quão cruas e esmagadoras soassem. - Valeu a pena?

- Eu nunca me esforcei para tal.

- Você não me respondeu a pergunta. Valeu a pena, vossa alteza?

Harry por fim levantou sua cabeça e encarou-o significativamente com suas
orbes frias.

- Louis, quando eles te temem, eles te respeitam. - cantarolou, quase


forçado e encenado, a perversidade salpicada nas beiradas.

- Então por que você continua a trazer nos dias de hoje fragmentos do
passado? Por que ainda anda com a cobra de bengala? Presumo que ela
tenha importância inestimável.

Harry se calou em um silêncio consciente.


Ele nunca admitiria suas rachaduras, suas cicatrizes.

Mas Louis era persistente.

- Me diga, vossa alteza, qual a razão de Carolina acompanha-lo nos dias de


hoje? - insistiu.
O príncipe dos longos cachos suspirou em derrota como se realizasse que
não haveria outra saída senão confessar.

- Ela é o fragmento de quem um dia fui. - admitiu, desviando o olhar para


cima, o teto escuro. - Uma última parte minha que eu não posso abandonar.

Louis não disse nada. Nem precisou. Era claro que tinha consagrado seu
ponto e sugado de Harry a revelação previsivelmente auto-esclarecedora.

- Gostaria de ter conhecido o antigo Harry. - Tomlinson proferiu, no


entanto.

- O antigo Harry gostaria de ter te conhecido também. - disse-o segurando


um pequeno sorriso lateral. - Você é uma pessoa agradável. Às vezes. -
acrescentou com um toque de provocação. - Quando não está sendo um
"pré-rei" robótico, me vencendo nos duelos ou falando como se fosse um
velho ancião de oitenta anos.

- Sou o que sou. - Príncipe William deu de ombros, descontraído,


sustentando uma expressão suave no rosto. Ele era a personificação da
calmaria.

- Eu sei. - Harry replicou, um grande sorriso agora bordado em sua face de


porcelana, onde estava implícito e subtendido uma possível continuação
para a frase "eu gosto de você dessa forma".

Styles suspirou, encarando significantemente as orbes azuis delicadas. Um


pensamento bobo o paralisou, e ele não foi capaz de conte-lo para si antes
de estar compartilhando com o príncipe.

- Talvez se as coisas tivessem acontecido em uma ordem diferente, e


estivéssemos na primeira temporada, você e o antigo Harry poderiam ter se
apaixonado e vivido um romance vitoriano clichê. - Harry sentenciou,
reparando na maneira confusa de Louis para sua afirmação. - Eu costumava
ser um tolo romântico, facilmente impressionável. Você sabe, apenas
dezessete anos nas costas e muitas poesias do Yeats teriam me levado até
você.
- Talvez. - Louis replicou, piscando hipnotizado durante alguns segundos
com aquela hipótese rondando seu cérebro e criando um cenário paralelo
em que Harry e ele protagonizavam um capítulo de paixão. A imagem era
perturbadora, pois ele quase conseguia materializar detalhadamente aquilo -
com a exceção de que em sua visão, não se tratava de um antigo Harry, e
sim do Harry atual, o qual ele conhecia as extravagâncias e o humor ácido.

Após um silêncio estranho, Tomlinson olhou para o relógio de ponteiros na


parede oposta a cama, refletindo o quão tarde estava - quase duas da manhã
- e que sua insônia parecia prestes a ceder espaço para um cansaço
iminente.

Seu ato não passou despercebido por Harry, que imediatamente tratou de se
levantar um pouco sem graça, esticando o tecido da calça que se amassara.

- Bom, vejo que é hora de me retirar. - anunciou, piscando rápido e


eufórico.

- Foi uma boa conversa. - Louis decretou, sua voz calma e quase
preguiçosa, um sorriso extenso formando rugas nas laterais dos olhos azuis.

- Obrigado, vossa alteza. - desdenhou uma última vez (ora, era engraçado) e
fingiu uma reverência irônica, rindo no final. - Tenha uma boa noite.

Talvez fosse exatamente essa atenção que Harry tanto almejara ganhar.

***

Notas da autora: heeeyy gente. Eu vou ficar um tempo sem postar aqui por
enquanto.
Um porque preciso trabalhar na parte de divulgação dessa fic, eu sou
péssima nisso.

E dois porque não tenho estado muito inspirada, preciso encontrar algo
que me traga fertilidade artística.

❤ até uma próxima. Prometo que quando voltar farei uma longa maratona.
Chapter Twenty Five

Episode: Just a human

Seus olhos se entreabriram com dificuldade na manhã seguinte quando as


camadas grossas das cortinas se afastaram e os primeiros raios solares
veranistas iluminaram o interior do aposento.

- Bom dia, vossa alteza. - Jezebel cumprimentou, despertando-o de vez do


estado adormecido.

Louis segurou seu bocejo e apenas levantou os braços para se espreguiçar,


sorrindo docemente para as duas criadas que já faziam suas tarefas iniciais.

- Uh, eu definitivamente não gostei dessa cor, por que não escolheram o
verde em um tom mais claro? - Lorena resmungou em um canto do quarto,
pendurando o terno verde musgo elegante que confeccionaram para Louis
vestir naquele dia.

Jezebel revirou seus olhos para a fala da irmã, depositando a bandeja com
uma xícara de chá quente no criado-mudo, curvando-se ligeiramente em
direção ao corpo do príncipe repousado no colchão.

Sua feição de tédio era bem auto-esclarecedora, mas ainda assim ela
sussurrou para que somente Louis escutasse.

- Ela me contou que o Príncipe Edward veio o visitar na noite passada. E


está rabugenta sobre isso desde então.

Tomlinson arqueou uma das sobrancelhas em confusão.

- Uh, Lorena não gosta do herdeiro de Malta perto do senhor, ela crê
veemente que ele acabará sujando a imagem do senhor, ou o abalando de
algum modo. - Jezebel acrescentou.

Louis não pôde segurar uma breve risada incrédula para aquilo, porque
sinceramente foi hilário de se escutar e Lorena deveria ser considerada o ser
mais adorável desse planeta.

A jovem olhou do outro lado do cômodo para os dois que cochichavam,


bufando audivelmente.

A partir dessa demonstração Louis decidiu que era a hora de ter uma
conversa com sua fiel companheira de dezessete anos e um temperamento
típico de adolescentes.

- Jezebel, será que poderia deixar-me alguns minutos a sós com Lorena? -
pediu educadamente, sendo retribuído com um breve aceno em
concordância e uma última reverência antes que a loira saísse do quarto.

Qualquer outra criada provavelmente sentiria inveja da relação que Louis e


Lorena estabeleciam, mas Jezebel não se importava, de fato. Ela estava feliz
pela irmã mais nova estar mais descontraída e menos reclusa no palácio, e
sabia que isso tudo era graças ao dono dos olhos azuis mais profundos de
Riverland.

- Então, pretende revelar-me o motivo de todo esse mau-humor? -


Tomlinson iniciou, sentando-se na cama e apanhando sua xícara de chá.

- Sim. - ela disse sem rodeios, largando seu serviço atual e indo se
acomodar ao lado do príncipe.

Foi mais fácil e direto que pensou que seria, Louis concluiu.

- Eu temo que a presença de Harry influencie o senhor. - a garota dos olhos


verdes suspirou. - Vejo que estão cada vez mais próximos e os boatos que
escuto sobre esse príncipe na sala dos empregados preocupa-me
terrivelmente.

- Lor-
- Ele leva outros príncipes para o quarto toda noite, corteja damas casadas,
cria armadilhas para as pessoas! Louis, ele é malvado. Eu sinto que ele é
malvado.

Louis parou e se recordou do diálogo que tivera certo tempo passado, onde
Zayn criara um bom ponto.

- Ele não é malvado, ele só é... Incompreendido.

- Como pode saber disso? E se estiver o manipulando? E se ele só quer


tentar levar o senhor para a cama?

Isso foi um pouco fora dos limites, sinceramente. Porque ela era uma
criada, e estava insinuando coisas terríveis sobre um príncipe, sobretudo
mencionando que a intenção do mesmo era atrair Tomlinson para seu covil.

Louis não se abalou com sua fala, embora.


Ele permaneceu com o semblante calmo e compreensivo.

- Ele só está em busca de um amigo, Lorena. - rebateu, a voz lenta e firme,


como se estivesse explicando algo para uma criança, ou talvez uma filha
teimosa.

Ela, no entanto, não pareceu convencida, cruzando os braços em frente ao


peito com uma postura rígida.

- Sinto que está sendo enganado, vossa alteza. É um sexto sentido meu
avisando que isso não acabará bem. Além de que o senhor é uma pessoa tão
boa, de coração puro, relacionando-se com um homem... - seu nariz se
franziu em uma careta de repúdio. - Intragável, maldoso e perverso.

- Não acho que ele seja verdadeiramente assim. É só uma defesa natural.

- E se ele se voltar contra o senhor? E se o ferir?

- Ele não irá. - Louis garantiu, com tanta certeza e confiança que até
aparentava-se um vidente seguro de suas previsões futuras.

- O que quer dizer com isso?


- Certo. Vamos criar uma situação hipotética aqui, okay?

A garota assentiu, abaixando um pouco o orgulho.

- Há esse animal de rua-

- Pode ser um cachorrinho? - interrompeu-o, perguntando com seus olhos


brilhando em entusiasmo. Céus, ela o lembrava tanto sua mãe com esse
jeito espontâneo.

- Sim, pode ser um cachorrinho. - Louis aceitou, sorrindo comovido. - Bem,


então há esse cachorrinho sem dono, que mora nas ruas.
Ele vive constantemente sozinho, e é extremamente agressivo, não permite
que ninguém se aproxime.

- Por quê?

- Bom, talvez isso seja da sua própria personalidade, ou talvez seja um


trauma do abandono, não sei dizer.

- Certo.

- Um dia um indivíduo decide se aproximar do animal, porque ele parece


triste e solitário, mas quando estica sua mão para afaga-lo, ele o morde.

Os olhos de Lorena se arregalaram, e ela escancarou um pouco a boca,


parecendo verdadeiramente intrigada com o conto.

- Então, evidentemente, ele se afasta do bichano e vai embora, como todos


os outros.

Ela concordou.

- Outro dia, essa mesma pessoa se aproxima de novo, incitado pela tristeza
que aquele cachorrinho sempre carrega no fundo do olhar. E, novamente,
ele é mordido. Mas, dessa vez, ele não vira as costas ou desiste. Ele
permanece ali, próximo, e aos poucos leva sua mão para perto do animal. O
cachorrinho não permite que ela faça carinho, no entanto também não o
ataca como anteriormente.
- Uh, isso é altruísta.

Louis negou, replicando:

- Isso é humano.

Após um silêncio de consciência, Lorena piscou inspirada, ansiosa para a


continuação.

- Aos poucos, entre tentativas e progressos, o indivíduo se aproximava mais


e mais do cachorrinho arisco, até um dia ser capaz de toca-lo sem que o
mordesse. Ele o acariciou, e conquistou sua simpatia, sendo uma exceção
para o jeito revoltado do animal.

Tomlinson bebeu a última gota de seu chá e devolveu delicadamente a


xícara de porcelana para a bandeja, virando-se com suas mãos livres para a
Lorena, encarando-a significativamente.

- Com o tempo, ele teve a sua amizade, e decidiu levar o cachorrinho de rua
para a própria casa, onde não se sentiria mais solitário, não sofreria maus-
tratos ou se assustaria com as madrugadas sombrias. - pausou, respirou e
prosseguiu. - Me diga, Lorena, o cachorro irá mordê-lo novamente?

- Não.

- Irá ataca-lo?

- Não.

- E sabe por que não? Porque a pessoa ganhou sua confiança. Ele
obviamente avançava em cima dos outros antes porque ataque era sua
melhor forma de defesa, uma vez que você está sozinho.

Lorena assentiu calada, em um momento de compreensão nítida do assunto


e aonde Tomlinson queria chegar com aquilo.

- E por que o senhor se disporia tanto a ser essa pessoa logo para Harry
Styles?
Louis inspirou fundo, levando sua cabeça em direção à janela do lado, onde
sabia que veria exatamente a figura de Harry caminhando sozinho pelos
jardins, da mesma maneira que o príncipe fazia todas as manhãs, era
praticamente uma rotina - não importa o quão fria amanhecesse- ele sempre
estaria perambulando em meio aos canteiros, parecendo sem rumo e um
pouco perdido, ora parando para apanhar uma flor, ora sentando-se em um
dos banquinhos de madeira para observar em silêncio o canto harmônico
dos pássaros.

A pergunta de repente recebeu um sentido extenso e honesto para ele.

Por que ele se sujeitava à tarefa de ser amigo de Harry?

Fixou um último momento suas orbes no corpo magro e alto do príncipe, o


qual naquele exato segundo estava aspirando o aroma do roseiral, com o
nariz próximo de uma linda rosa branca, na parte central do jardim,
próximo à trilha de coníferas.

- Porque eu acredito que ninguém merece se sentir solitário. - foi sua


resposta, proferida como um baque surdo e impactante.

- Mas como Harry é solitário se há sempre tantos o paparicando ou


visitando-o nas madrugadas?

Louis retornou seu foco para a imagem genuinamente curiosa de Lorena,


esperando que ela apanhasse a essência de suas palavras, porque
honestamente o ambiente já era poético o bastante com a luz escassa do sol
iluminando seu rosto de perfil em pinceladas pálidas, e uma janela de vidro
transparecendo a imagem de um Harry Styles mergulhado em flores e
nostalgia, Yeats certamente seria capaz de escrever um poema bucólico e
teatral baseando-se naquele episódio.

- Às vezes. - ele começou, pensando em uma boa continuação. - Estar


rodeado de pessoas que não se importam é um dos sintomas mais trágicos
da solidão.

Isso bastou para calar a garota, parecendo o suficiente para captar toda uma
moral túrgida como desfecho.
- Ele é só um humano. Nós todos somos. Nós todos merecemos um pouco
de carinho, sim? - acresceu.

Lorena passou a acompanhar o olhar de Louis para afora da janela,


observando com ele Styles se afastando dos jardins de flores para o trajeto
das coníferas, sendo engolido pela névoa restante da madrugada e um
mundo vazio só dele que provavelmente ninguém conheceria.
Chapter Twenty Six

Episode: when it started

Eles estavam estagnados no meio-fio do último domingo antes da iniciação


da semana de 'testes e duelos'.

E, infelizmente, o evento organizado não fora um baile com a presença de


formosas princesas, vinho seco e escargot. Muito menos uma apresentação
de violinos enriquecida com a voz aguda do operista em uma trilha doce
vitoriana.

Aquilo era incrível, toda a magnificência dos lustres dourados e cheios de


cristal soava como o modo perfeito para finalizar uma semana agitada de
aulas e treinamentos.

No entanto, não foi o que esteve os esperando.

Em vez de alguma cerimônia elaborada e relaxante aquele domingo recebeu


um grupo de diplomatas franceses para palestras políticas e simulações de
debates.
Nada mais exaustivo, honestamente.

O ponto positivo sobre isso foi que os jovens foram liberados às 17 horas e
a partir de então teriam tempo livre para dormirem, socializarem no Salão
dos Homens, estudarem ou, você sabe, irem à festa particular que Harry
estava organizando para aquele final de noite, que, de acordo com sua visão
inconveniente, deviam celebrar o último momento antes de passarem pelo
inferno de provas que os aguardavam para a manhã seguinte.

Ponche. Libertinagem. Orgia. E Felicidade.


Foi esta a descrição do evento cantarolada durante o almoço quando os
informou que todos estavam convidados. Aqueles olhos verdes perigosos
fitavam firmemente rosto por rosto durante a anunciação, enfatizando a
promessa de experiências memoráveis.

***

Caminhava através do extenso corredor com o atrito da sola de seus sapatos


sendo o único barulho ressoando pelo local.

Ele não queria nada além de conhecer os arredores internos e externos do


Palácio, pois nessas semanas de estadia não encontrara tempo o suficiente
para tal.

Liam Payne se acomodara com uma vida mais humilde que a dos demais
príncipes. Em seu reino, Bristok, o palácio real era de proporções
relativamente menores, e a família renegara muitos dos benefícios que
deveriam lhes ser concedidos por direito, como a promoção de banquetes
particulares - eles sempre deixavam aberto para a população, sobretudo aos
menos afortunados que não teriam o que comer -, confecção de vestuário
menos incrementado, dispensa no uso de joias.
O rei ensinara aos seus filhos sobre a prática do Dandismo, e a importância
de passar a vida pregando simplicidade.

Portanto, desde cedo Liam aprendera a não distinguir pessoas por seu
estamento, e se for muito honesto consigo mesmo a única vez que se
apaixonara fora aos dezessete anos, por uma de suas criadas, Sophia. A bela
jovem beirava os dezenove e possuía um par de olhos quentes, assim como
o sorriso mais acolhedor que ele já vira.

Ela era seu sonho.


Mas, infelizmente, antes mesmo que o príncipe pudesse alcançar a
maioridade e declarar seus sentimentos, a moça contraiu pneumonia e veio
a falecer. Foi o perfeito quase conto de fadas que acabou como um
pesadelo.

Tal linha de pensamento sobre seu romance fracassado veio a se desfazer


quando Príncipe Payne se assustou com um barulho agudo vindo de uma
das salas.
Piscando o susto para fora ele percebeu que o som viera de uma sala
aleatória no corredor escuro, e ele quase se sentiu em uma armadilha
bizarra.

Recompondo-se o suficiente, então, tomou fôlego e abriu uma fresta da


porta, chocando-se completamente.

- Oh meu deus! Você está bem?

***

Suspirava entre uma dosagem de seu chá de canela e ervas cidreiras e Oscar
Wilde. O Retrato de Dorian Gray sustentado pela articulação de seus dedos
direitos enquanto a mão esquerda ocupava-se segurando a alça da xícara de
porcelana.

Era algo comum ultimamente, já que a insônia consumia qualquer cansaço


e não o permitia um descanso mental antes das quatro da manhã. Até lá ele
se aventurava em releituras das suas obras favoritas, acomodado na poltrona
da biblioteca estrategicamente localizada ao lado da grande janela de vidro,
onde a luminosidade da lua permitia-o enxergar a superfície do papel e todo
o conjunto de palavras que o encantavam.

Louis vivia constantemente nesse seu próprio espaço. Desde pequeno. Não
era raro tardes em que Johanna procurava pelo filho do meio em todo o
palácio, encontrando-o sozinho em alguma sala escura enquanto seus quatro
irmãos brincavam no jardim.

E isso não se dava porque o garoto era tímido ou retraído, pelo contrário,
seu carisma e humildade conquistavam facilmente simpatia . Mas...
Tomlinson cultivava um fascínio na solidão, em contrapartida à sua própria
opinião de que ninguém deveria se sentir sozinho, ele próprio a apreciava.

Ele apreciava escutar o som da sua respiração profunda, piscar em meio à


penumbra do cômodo, criar pensamentos aleatórios em sua mente,
cantarolando uma melodia ou saboreando alguma memória.
Eram só... Aqueles momentos que, você sabe, precisa parar de procurar no
mundo aquilo que deveria encontrar em si mesmo.
Amor?
Razões?
Propósitos?

- Uma moeda por seus pensamentos?

Uma voz entrecortou o grito mudo de seu devaneio.

Durante alguns segundos Louis piscou rápido, retornando à realidade. A


realidade em que você usa oxigênio para sobreviver, e sorrisos para
enganar. A realidade em que Harry Edward Styles estava apoiado no
batente da porta, agora completamente aberta, a luz do corredor
sombreando suas curvas.

Tomlinson tratou de fechar delicadamente o Retrato de Dorian Gray,


descansando-o em seu colo.

Lançou-o um sorriso calmo.

- Príncipe Edward. - saudou, levantando-se.

Harry adentrou a biblioteca, vestindo roupas amassadas como um calção


azul marinho - um pouco (muito) apertado, que ia até os tornozelos - e uma
camisa branca de malha fria, envolto em um grosso rob de pelos
acizentados.

Ele parecia verdadeiramente brega, e verdadeiramente embriagado. E um


tanto exausto, talvez.

Ao se aproximar da figura serena, seu sorriso se expandiu.

- Imaginei que estaria aqui.

- Procurara-me em meu aposento? - Tomlinson indagou, confuso pela


perseguição de Harry.
- Yeap. - Styles disse, estalando a língua do céu da boca. - Também já
imaginava que não compareceria a minha festa. - fez um bico magoado com
os lábios.

O poder do álcool.

- Sabes que não é o tipo de evento de meu feitio. - alegou, mencionando


implicitamente a 'orgia' que havia sido prometido para os convidados. - Não
era para estar acontecendo?

- Hum?

- A festa... - Tomlinson acresceu, vendo a feição incerta de Harry se


transformar em algo como uma esclarecida.

- Oh, sim. - balbuciou, compreendendo. - Bom, estava entediado. - deu de


ombros, pendendo a cabeça para o lado direito. - Então os expulsei.

- Ao menos se divertiu. - Louis constatou, um sorriso bem-humorado


bordando sua face enquanto apontava para todas as marcas roxeadas e
vermelhas pelo pescoço desnudo de Styles.

Ao se dar conta, Styles esboçou uma expressão um pouco desconcertada,


esfregando e tentando tampar inutilmente todas as impressões coloridas
contrastando com sua pele extremamente pálida.

Novamente, deu de ombros, sem graça.

Tomlinson não impediu que uma breve risada escapasse de seus lábios, mas
então ele meio que se deu conta de algo.

- Eles... Hm, você não.. Não fez isso enquanto estava bêbado, certo? -
certificou-se, piscando com um olhar apurado e preocupado para o maior. -
Ninguém lhe abusou ou algo assim..?

Styles durante uma fração de segundo - uma rápida fagulha de uma margem
mínima de tempo - pareceu congelar as pupilas em um ponto fixo,
engolindo uma quantidade grande de saliva. Mas, sucessivamente, encarou-
o com olhos cegos, libertando uma gargalhada (que honestamente soava
como um riso forçado), rindo de modo que o sorriso não alcançasse as
gramas de verão, e o som não concedesse autenticidade para seus atos.

Okay.
Talvez não fosse apenas álcool.
Talvez fossem alucinógenos.

- Não saberia lhe responder, ou sequer lembrar, Louis. - Harry replicou. E


havia uma pitada de aborrecimento, e duas de sinceridade mascarados na
usual ironia de sua fala.
Além do que, ele o chamou pelo primeiro nome, o que significava uma
coisa: ele estava fodidamente alto, e fora de si, e acabara de incluir Louis
em alguma lista mental de intimidade, intimidade o bastante para trata-lo
sem as formalidades esperadas.

Tomlinson somente acenou uma vez em concordância, preferindo manter-se


calado.
Ele estudava com uma profundidade exímia o exterior de um Harry de
cabelos bagunçados e sorriso cansado.

- Portanto, suponho que tenha algo a me dizer, visto que me procurou em


plenas três e meia da manhã, certo? - Louis averiguou.

- Eu só, bem... Bem.

- Queria companhia? - Tomlinson sugeriu desde que Harry parecia sem jeito
demais para concluir a própria frase e admitir qualquer coisa que ferisse seu
orgulho.

- Sim.

- Entendo. - Louis proferiu, depositando o exemplar de Oscar Wilde sobre a


mesa com um pequeno sorriso gentil e acolhedor. - Não é como se eu
conseguisse dormir, de qualquer maneira. Sobre o que quer debater?

Styles adotou uma postura mais séria, fitando-o naquela intensidade ardente
que suas orbes verdes azuladas pudessem queima-lo.
- Louis. - sussurrou.

- Sim, Príncipe Edward?

Eles estavam a uma distância segura, caso contrário seria um grande risco
ficar próximo de Harry quando ele aparentava mais agitado do que nunca,
como se uma dose excessiva de adrenalina circulasse por suas veias naquele
instante. Talvez fosse exatamente o caso.

- Vamos correr pelo jardim e nadar no lago privado que há no leste? -


propôs, ainda em um sussurro, sua feição sólida se desmanchando para uma
animada. - Eu conheço esse lugar como a palma de minha mão, sei de um
lago escondido.

Drogas. Não use.

Tomlinson torceu o rosto em uma incredulidade óbvia, porque sinceridade


Harry era um desmiolado, sem noção alguma.

- O quê? - insistiu, atordoado. Aquilo deveria ser uma brincadeira sua.


Sério.

- Vamos correr e pular na água. O vencedor é quem mergulhar primeiro.

- Har- Vossa alteza. - Louis corrigiu-se, quase escapulindo seus bons


modos, mas (honestamente) Harry e suas ideias absurdas o levavam a um
completo nível de perturbação. - Está ciente de que estamos no meio da
madrugada, certo?

- Completamente, honey. E...?

- Está frio lá fora. A água provavelmente registra uma temperatura


congelante.

- Levamos toalhas extras. - deu-o a solução sem nem pensar, na ponta da


língua.

Novamente, mantenha-se longe de substâncias ilícitas.


- Não estamos sequer permitidos a sair do quarto e perambular pela
biblioteca, quem dirá sair do palácio, Príncipe Edward. - Louis atestou com
suas lagoas azuis arregaladas, como se fosse óbvio e desnecessário até
mesmo verbalizar um fato desses.

- Não há patrulha nas portas dos fundos, perto da ala dos empregados.
Podemos sair por lá.

Harry dizia aquilo com tanta certeza. Com tanta simplicidade. Nem parecia
que ele estava trazendo uma proposta tão utópica quanto aquela.

E ainda... Ainda tinha aquele entusiasmo cintilando suas íris esverdeadas.


Uma esperança quase infantil de quem aguarda o consentimento dos pais
para se aventurar em um escorregador.

- Vossa alteza, não sei aonde sua cabeça está no momento, mas é evidente
que não há chance alguma de que eu corresponda à uma sugestão como
essa, especialmente nessas condições.

- Pare com essa chatisse de um velho rabugento. Vamos lá, sair um pouco,
respirar o sereno e-

- Não seja maluco. - Tomlinson interrompeu. E ele foi ligeiramente seco e


inflexível em sua ação, o que o levou a um arrependimento amargo.

A animação contida de Harry foi instantaneamente esvaída de seu corpo, o


sorriso ansioso diminuindo gradualmente.

Eles caíram em silêncio.

As mobílias de ébano escuro aparentavam como sombras de monstros ao


que a lua não lhes alcançava completamente.
A biblioteca estava subitamente menos acolhedora e maior.
Grande demais para apenas os dois.
Havia uma distância grande entre eles.

Harry quebrou a quietude, indagando-o com a voz tão baixa que fora um
verdadeiro desafio escuta-lo.
- Qual é o seu maior defeito?

Ele perguntou. Harry perguntou aleatoriamente, surpreendendo Tomlinson


ao ponto de ele franzir levemente as sobrancelhas, divagando.

- Eu diria que... introvertido, provavelmente.

Styles negou veemente imediatamente à sua resposta.

- Errado. Errado.

O corpo esguio e alto moveu-se pela sala, aproximando-se tanto quanto


podia de Louis, o suficiente para que inclinasse sua cabeça em sua direção e
levasse sua boca ao pé da orelha do futuro líder de Riverland (futuro líder o
qual manteve-se rígido em sua pose, não falhando uma respiração ou
batimento cardíaco. Como ele ao menos era apto para permanecer tão
impassível diante a presença forte e sexy de Harry?)

- Direi-lhe qual é seu maior defeito. - o herdeiro de Malta afirmou,


cochichando diretamente em seu ouvido. - Você é muito estável.
Controlador. Você quer ter controle sobre as coisas. Quer que elas se
mantenham em ordem e firmes.

- Não creio que isso seja um defeito, vossa alteza.

Styles endireitou o corpo, afastando sua cabeça da do de olhos azuis e rindo


satiricamente.

- Permita-me lhe dizer uma coisa, vossa alteza. - enfatizou debachado do


vocativo. - A ideia de segurança, de que pode se sentir seguro é infantil e
covarde. - Harry proferiu, olhando-o fixamente, com uma prepotência nas
bordas de seu tom, contudo com honestidade presente no centro deste. - E te
impede de ter experiências, mesmo as boas.

Louis não esboçou uma reação facial para sua alegação, continuando
sustentando seu olhar, escutando educadamente o que quer que Styles
estivesse dizendo.
- Enquanto você se recusa a se riscar, está se recusando a viver. A vida
começa onde o conforto termina. - Harry acrescentou, um sorriso lateral de
covinha afundando atrevidamente. - Então, eu irei lhe repetir uma segunda
vez, Príncipe William. Uma corrida pelos jardins, um mergulho no lago, e
uma constatação de que estou completamente certo.

Tomlinson não o respondeu verbalmente, ele parecia prestes a ser


convencido, e um pouco tocado e reflexivo também.

Reparando na hesitação do de olhos azuis, Harry se abaixou alguns


centímetros para que alinhasse suas alturas e rostos, transmitindo a maior
quantidade de sinceridade que houvesse dentro de si.

- Você não precisa ser sempre 'o politicamente correto'. - pronunciou. - Às


vezes, você pode interpretar só um jovem de vinte e poucos anos fazendo
burrices que jovens de vinte e poucos anos estão supostos a cometer. E
ainda assim, continuará sendo Louis William Tomlinson. O futuro
promissor de seu reino.

Havia uma juventude... Uma juventude eternizada na personalidade de


Harry Styles que talvez o levaria a repetir frases motivadoras como essas
até os quarenta anos.

Ele parecia ser o tipo de adulto que acordaria no meio da noite para tocar
piano. E que esconderia-se embaixo da cama para se ausentar dos
compromissos do dia quando os criados fossem procura-lo pela manhã.

Ele parecia ser o tipo de rei que celebraria datas aleatórias, como o 'Dia de
Usar Rosa Salmão', e promoveria chás-da-tarde com conhaque misturado
nas bebidas.

Ele era o tipo de jovem que vestia gargantilhas femininas e estampas


destoantes e chamativas em jantar com códigos rígidos de vestimenta...

Portanto era meio que óbvio que para transformar-se em um homem


polêmico era questão de tempo. Não haviam moldes à la Harry Styles com
frequência, o que consequentemente tornava sua peculiaridade algo...
Subestimado, ele merecia mais enfoque.
As pessoas deveriam entender que Harry Styles era uma peça única de um
quebra-cabeça próprio.

Essa ideia assim soou tentadora para Tomlinson.


E ideia da... Liberdade.
Embora ainda estivesse afastada e imaterializada, ela existia.

- A coroa é um enfeite pesado, Louis. Lembre-se que tira-la da cabeça é


necessário eventualmente para o sangue circular propriamente por suas
veias.

Louis levou sua atenção novamente a Harry, sustentando aquele olhar


silencioso durante exatos quatro segundos até balbuciar.

- É bom que esteja pronto para aspirar poeira, vossa alteza.

E antes que Styles pudesse traduzir as palavras em seu cérebro, Louis já


havia saído da biblioteca à passos apressados em direção à escadaria, e da lá
para o jardim.

**

então, heyy aqui estou eu depois de algum tempo.

Ultimamente minha áurea de escrita não está produtiva exatamente, então


eu demoro um pouco a postar, mas estarei me esforçando melhor após a
facul.

Eu estou escrevendo uma outra fanfic também para quando esta e My


Disgusting Reasons acabar (ps: irei atualizar ela brevemente, prometo). E
procuro alguém que possa betar essa nova fic que eu escrevo pra mim, não
só betar mas me dizer como está ficando, ou acrescente ideias.

É uma AU inspirada na ideia do auhouis, em que Harry é um anjo da


guarda e se apaixona por um humano.
Eu já tenho alguns capítulos prontos.
Se alguém tem vontade de me ajudar com ela me chame na DM por favor

Chapter Twenty Seven

*votem e comentem, bom capítulo!* +edit: gente, este cap aborda o tema
de transtornos alimentares, se você não se sente confortável com o assunto
por favor pule a parte de ziam

Episode: Under the Carpet

- Oh meu deus! Você está bem?!

Liam piscava nervoso, adentrando o cômodo tão rápido quanto podia,


correndo em direção ao príncipe curvado com a cabeça enfiada em um
balde de madeira.

Segurou-os pelos antebraços buscando oferece-lo alguma sustentação


enquanto o corpo se encolhia cada vez que uma nova ânsia parecia atingi-
lo.

Aguardou simplesmente espantado enquanto o jovem vomitava diretamente


no balde, não sendo capaz de ver o seu rosto e completamente não
entendendo a razão de ele estar ali, naquela sala escura e aleatória àquela
hora da noite.

Quando os barulhos pareceram cessar e alguns minutos de imobilidade total


se passaram em meio ao silêncio, o príncipe começou a endireitar sua
postura , e no momento que sua face foi desvinculada do abrigo do balde,
ele pôde enxerga-lo superficialmente a partir luz escassa provinda do
corredor através de uma fresta da porta.

Zayn.

- Príncipe Malik? - Liam murmurou surpreso, e imediatamente mais


preocupado. - Você está bem? O que aconteceu?
Os olhos de Zayn pareciam opacos, um pouco crus, enquanto estabeleciam
comunicação com os seus.

- Apenas passei mal. - o futuro herdeiro de Arlen se limitou a dizer,


engolindo um bolo seco em sua garganta.

O cheiro estava honestamente horrível mas Liam nem sequer o sentia, seu
cérebro muito transtornado com os acontecimentos recentes para processar
qualquer outra coisa.

- P-Por que estava aqui? Vomitando nessa sala? - continuou com um


interrogatório, tentando dar sentido ao contexto.

Zayn parecia verdadeiramente alerta e tenso, segurando trêmulo o balde


com ambas as mãos. Sua pele estava ligeiramente um tom mais pálido.

- Porque ninguém me ouve aqui. Se eu passasse mal em meu próprio


banheiro poderia acabar por acordar outros príncipes de dormitórios
vizinhos com o som.

Havia um desespero cru em suas palavras que alertavam uma desconfiança


em Payne, levando-o a franzir as sobrancelhas em uma expressão
avaliativa.

- Como veio parar nesse... Cômodo? - O jovem de Bristok perguntou


relutante, piscando aguçadamente e estremecendo com um arrepio em sua
espinha. - Você... Você faz isso constantemente?

Seu nervosismo se amplificou quando Zayn se recusou a da-lo uma


explicação, virando-se de costas para repousar o balde no chão.

O silêncio era quase sufocante, e a realidade e gravidade da situação


começou a atingir a consciência de Liam.

- Oh, meu Deus. - Payne balbuciou, cobrindo sua boca com a ponta dos
dedos em um choque mudo. - Você tem alguma doença? Alguma doença
grave?
Zayn soltou um silvo, como uma risada debochada, fitando-o em suas
pestanas longas e uma feição de ironia, levemente rabugenta, e levemente
depravada.

- Não. - disse secamente, dando passos firmes pelo lugar tomado de breu
(como se ele conhecesse aquele espaço com a palma de sua mão de modo
que se localizasse na iminente escuridão, atenuada pelo resquício de
claridade da porta).

Locomovendo-se a um canto ao fundo, onde Liam já não era capaz de vê-lo


mais, o moreno se sentou em um banco de madeira longo, daqueles usados
em capelas, cujos crentes se acomodam para passar as cerimônias e
rezarem.

Payne esforçou-se para segui-lo, guiando-se cegamente no espaço até topar


a ponta do pé com a própria ponta do pé de Zayn.

- Então por que, sabe, vomita frequentemente? Sofre de refluxo? - indagou,


sua voz perdida no silêncio obscuro daquela sala.

Alguns instantes de quietude se instauraram para serem finalmente


quebrados pela voz enfraquecida e hesitante de Malik.

- Porque eu preciso ficar bonito.

O modo como ele enfatizou o final de sua fala, o modo como 'bonito'
pareceu carregar um peso muito grande para uma só palavra soou
sufocante. Soou um termo de valor raso, mas significado profundo.

Ele via beleza como .. Uma necessidade.


Ele havia aprendido a 'ser belo', a agradar esteticamente as pessoas.

Era dessa forma que Zayn Malik equilibrava o peso de sua coroa?

- Bonito? - Liam repetiu, testando como aquilo soava diferente em seus


próprios lábios, onde a dimensão árdua que Zayn concedia a isso era
diferente para si.

Ele meio que estava espantado também.


- Você faz isso para.. - gaguejou, repentinamente tonto com toda a
incredulidade travada em seu cérebro. - Para.. estar bonito?

Quão individual e relevante era a sentença da beleza para cada um?

Qual era o limite de superficialidade no quesito físico da coisa quando


existia um universo de intelectualidade e paixão no interior?

Ou melhor, um corpo continuaria sendo sempre um corpo. Um conjunto de


células, vivas e mortas, trabalhando em conjunto e delineando as estruturas
humanas, mas...
elas só serviam para constituir os aspectos carnais dos indivíduos, e isso era
extremamente relativo e controverso, afinal, suas estruturas físicas não
deveriam limitar sua natural essência.

Ao menos, era o que Liam Payne sempre achou do assunto.

No entanto, era um tema claramente pessoal, e talvez possuísse percepções


contrárias onde um grau de relevância muito maior estava injetado em suas
entrelinhas.

- Isso é tudo que eu tenho. - Zayn ocasionalmente balbuciou, com um tom


conformado e calmo, e quase doloroso de ser traduzido.

Liam Payne estava mais do que indignado (indignado era um breve


eufemismo, para ser sincero) de como o mundo, a sociedade, ou o próprio
Zayn fizera-se acreditar que ele se resumia em seu exterior.

Como podia ignorar absolutamente tudo que ele possuía, todo o caráter e a
compaixão, para simplesmente abreviar-se a beleza.

Soava extremamente errado, mas, novamente, ninguém poderia padronizar


sua linha de raciocínio e esperar que todos enxerguem a vida diante o
mesmo ponto de vista. Era só... Lamentável que Zayn fora instruído a criar
essa visão deturpada e fragilizada de si.

Payne não estava no direito de repreende-lo, e sinceramente acreditava


tampouco ajudaria-o se somente o desse uma lição de moral sobre como ele
estava errado sob sua opinião, eles não tinham intimidade, Zayn não
confiaria em suas palavras só porque são fortes, e, sobretudo, ele muito
possivelmente mantinha suas próprias razões e porquês (por mais errôneos
que fossem) para cultivar tal sentimento.

Um simples 'você está tratando aparência como uma virtude maior que sua
nobreza interior' não funcionaria. Não nesse momento. Não nessas
condições.

Ele precisava ensina-lo de maneira paciente, abordando-o com calma, pelas


bordas, conhecendo seus motivos e tentando passar por cima deles.

Portanto, naquele momento, Liam não se viu em outra solução senão


engolir o bolo de oposição ardente em sua garganta e se limitar a respirar
profundo, buscando alguma brecha que serviria de começo.

Malik aparentava debilitado o suficiente. Ele carecia de um tratamento


calmo, não brusco.

Liam ponderou que talvez pudesse conserta-lo, se fosse aos poucos, se


servisse um pedaço da verdade em cada refeição até que possuísse uma
porção inteira de argumentos e razões que convencessem-o.

Convencessem-o que ele não era a porra de um espelho para refletir o que
os demais indivíduos esperavam enxergar através de seu corpo. E sim
através de seu coração.

Para isso, um passo de cada vez.

- Você tem a mim também. - pronunciou, tateando o ar até que conseguisse


se sentar no banco ao lado do moreno.

- Eu não quero sua pena. - Malik garantiu, na defensiva.

- Tudo que estou te oferecendo é minha amizade.

Apesar do escuro total naquele canto do quarto, Liam meio que sentia Zayn
encarando-o, e se fosse palpitar ainda alegaria que havia um vinco em suas
sobrancelhas de desconfiança.
- Onde estamos, aliás? - Payne questionou, querendo desviar o curso da
conversa para algo menos pesaroso.

- É uma sala de marcenaria. Eles constroem os bancos e algumas peças de


madeira aqui, e concertam-as também.

- É um pouco intimidante para mim, você não se assusta de vir sozinho de


madrugada?

Zayn soltou um breve riso.

- Não. Eu me acostumei. Além de ser boa por não ter janelas e alguém
dificilmente, você sabe, me flagrar. - encolheu seus ombros.

- Oh, eu senti a indireta. - Liam murmurou em um tom divertido. -


Desculpe-me pela invasão.

Payne não estaria apto para ver, mas Zayn negou sutilmente com sua
cabeça.

- Eu quem me desculpo por você ter, er, presenciado isso. É nojento, eu sei.

- Se é nojento, por que insiste?

- Porque eu preciso. - afirmou sem vacilar, quase robótico e muito sólido.

- Se eu tentasse mostra-lo o oposto, você estaria disposto a me


compreender? - o herdeiro de Bristok perguntou cuidadoso, seu tom calmo
e lento.

- Não iria adiantar, honestamente, você acabaria perdendo tempo. Mas eu


aprecio sua sujeição.

- Certo. - replicou-o em concordância, embora claramente fosse uma


mentira porque ele estava realmente disposto a fazê-lo parar com aquilo.
Por ora, não se oporia.

- Você pode, uh, manter isso em sigilo? Como um grande segredo? - Zayn
pediu (lê-se suplicou) em sua pele frágil e pequena, visivelmente inseguro.
- Meus lábios são túmulos, vossa alteza. Não se preocupe.

***

- Eu pensei que soubesse correr, vossa alteza. - Louis esbravejou, brecando


seus passos ao alcançar a metade do jardim, entre a porta dos fundos pela
ala dos empregados (que foi verdadeiramente um desafio de sair já que
qualquer barulho poderia acorda-los) e a trilha das coníferas.

O frio da madrugada não parecia atingi-lo enquanto uma adrenalina


desconhecida lançava descargas por suas veias. Louis degustava um sabor
de libertação enquanto recuperava o fôlego, rindo da maneira desengonçada
que Harry vinha praticamente saltitando igual um filhote de alce em sua
primeira tentativa de corrida.

Após cerca de vinte segundos Harry o alcançava no meio-fio de canteiros


de bromélias que, mergulhadas no breu da noite, pareciam sombras
abstratas sobre vasos vitorianos.

Logo que estava próximo do menor, Styles diminuiu a velocidade dos


passos até finalmente parar, parecendo genuinamente esgotado ao curvar-se
para frente e apoiar-se nos joelhos, ofegante.

- Não é tão fácil quando você dispõe de dois pés esquerdos. - Harry arfou,
tomando uma longa lufada de ar, ainda arqueado naquela posição. - E tem
asma.

- Asma? - Tomlinson repetiu instantaneamente preocupado, formando um


vinco em suas sobrancelhas e agachando-se na altura da figura cacheada
inclinada. Ele estava prestes a esticar seu braço e repousar delicadamente a
mão no ombro de Harry em demonstração de apoio, no entanto antes que a
palma aproximasse de sua pele coberta pela fina cobertura do tecido, Styles
levantou a cabeça e encarou seu movimento.

As orbes verdes, gramas de verão, em um primeiro momento fitaram


hipnotizadas o pulso fino de Louis, e então quase em uma velocidade
surpreendentemente foram guiadas para a profundidade das lagoas azuis.
- Eu estou bem. - garantiu-o com a voz suave, endireitando sua postura com
a respiração estabilizada.

Tomlinson também se recompôs para estuda-lo minuciosamente, deixando


o braço cair ao lado do corpo, concordando por fim com uma pingaterreada
seca.

- Vamos apenas caminhar até lá, sim? Não precisamos de um incidente.

- Oh céus, deveria ter trazido minha Carolina, ela realmente gosta de


passeios noturnos ao ar livre. - Styles gralhou, andando novamente em
direção à trilha, onde supostamente ele garantiu que existia uma segunda
trilha secreta que levava para o lago.

Havia uma paixão no modo que Harry dissera aquilo que declinou a
possibilidade de se tratar de um dos comentários debochados.

Ele era um pilar exótico. Parecia sustentar uma personalidade de


extravagâncias imensuráveis, interessantes e incompatíveis com o mundo
real, onde príncipes possuem uma conduta padrão a seguir para a maneira
de ser e pensar.

Ele era como a quebra do sistema, a queda da coroa, um novo continente


não descoberto em um planeta colonizado por mentes alienadas e corpos
uniformizados.

Tomlinson começou a encara-lo um tanto admirado por toda a juventude


que abrasava de seus olhos, semelhante a um visionário bêbado em seus
próprios delírios.

Se fosse compara-lo a um dos lugares que já visitara em suas viagens


quando menor, talvez fosse o norte da África, onde algumas cidades eram
povoadas por tribos peculiares.

Tribos peculiares que falavam línguas diferentes e gesticuladas, uma terra


de clima sempre quente e colorida.
Apesar dos demais julgarem o país como um jardim de pobreza e sem
nobreza alguma, quem realmente se aventurasse desbravaria um universo
de inspiração.
E claro, também haviam conflitos internos que só quem residisse lá saberia
a dimensão e o modo de lidar.

Talvez Harry Styles fosse uma personificação do norte da África. Sempre


subestimado. Intimidante para alguns. Rejeitado pela maioria. Julgado por
todos.

- Carolina gosta de passeios noturnos? - Louis indagou, piscando


interessado para aquilo.

- Oh, sim. Ela tem hábitos propensos à libertinagem, você sabe. - Harry
murmurou chutando a grama com as pontas dos sapatos, um sorriso
carinhoso brincando em seus lábios.

- Talvez ela tenha puxado ao dono, então. - Louis sugeriu com um ar


atrevido, o que gerou uma expressão de fascínio pela parte de Harry,
genuinamente surpreso pela forma com que Tomlinson se expressou,
descontraído, fora de sua fantasia formal de futuro rei que custava a
abandonar.

- De certo ela é uma cobra moderna. - Harry rebateu. - Oh, cuidado onde
pisa, agora entraremos no trajeto escondido, é possível haverem cobras e
aranhas.

Tendo o avisado, Príncipe Edward guiou-os para ultrapassarem uma


pequena abertura entre duas grandes coníferas, onde o mato não era aparado
ou cuidado como no restante do jardim.

Eles rumaram através da escuridão, em silêncio, concentrados em enxergar


o mínimo possível para que ao menos não tropeçassem em raízes de árvores
ou esbarrassem em enormes teias. Harry ía na frente - e claro, ele encontrou
um graveto comprido no chão e usou-o como um cajado, ora se apoiando
como uma bengala, ora usando para empurrar galhos de folhas e obstáculos
da passagem.

Quando Louis começou a se questionar onde estava com a cabeça para


aceitar uma insanidade dessas, Harry anunciou:
- Aqui estamos, meu caro.

Não era exatamente o lugar que Tomlinson imaginara ao ser vinculado à


imagem de Harry.

Sendo um espaço frequentado pelo cacheado, acreditou que estariam diante


um grande lago, iluminado, com estátuas requintadas e talvez pequenas
adegas de vinho escocês em algum canto secreto. E quiça houvesse um
chafariz - vindo de Edward, nunca se duvida nada.

Mas, pelo contrário.

Aquilo era um paradoxo de toda a representatividade estereotipada e


absolutamente previsível de Harry.

Aparentava-se como um lugar esquecido, ignorado, onde um lago pequeno


se localizava rodeado por algumas rochas de médio porte pintadas pelos
musgos, relvas em cada centímetro quadrado e algumas daquelas flores
rasteiras que nascem em ambiente úmido liberando um aroma que talvez
fosse perfeito para caracterizar a madrugada: 'infinita e refrescante'.

Quem fosse buscar em mapas dificilmente identificaria aquele diminuto


santuário, afinal estava resguardado entre basicamente um círculo de
árvores altas de troncos retorcidos, o que acabava por dificultar o
rastreamento daquele pedaço de paraíso perdido com cheiro de grama
misturada ao lodo.

- Como que... - Louis iniciou a pergunta, esforçando-se para engolir toda a


adoração imediata pela paisagem e começar um questionário. - Como que
você descobriu isso aqui?! - gesticulou a sua volta, absorto no êxtase,
sentindo-se como uma criança que capturou uma fada atrás de seu
travesseiro.

Harry varreu a área com suas íris radiantes e o peito aquecido só por estar
lá.

- Na minha primeira temporada. Acidentalmente eu peguei um exemplar na


biblioteca que mostrava a planta de todo o território ao redor da construção
do Palácio. - revelou, cutucando a grama com seu graveto-cajado. Um
garoto inquieto. - Constatava-se que antes da construção do Glass Palace
existia um lago para umidificação do terreno, quando antigamente este
território era habitado por camponeses.

O príncipe dos longos cachos tombou a cabeça para trás, observando a


malha do céu estrelado que era visível entre as copas das árvores.
O perfil de seu rosto era banhado pela luz refletida da Lua, iluminando-o.
Céu limpo.
Alma limpa.

- Portanto, eu resolvi investigar. E descobri que o lago foi propositalmente


abandonado por considerarem-o sem utilidade, pequeno demais, degradado,
tomado por musgos. - Harry endireitou a cabeça, retornando o olhar para
William. - Fora dos pré-requisitos e padrões exigidos pela sociedade real.

- Eles nem sequer tentaram ajudá-lo? Limpa-lo? Construir canais ou utiliza-


lo para irrigação?

Styles esboçou um pequeno sorriso lateral, afundando o buraquinho


gracioso de sua bochecha, mais conhecido como adorável covinha.

- Eles não dão segundas chances para o que encaram como inferior. -
respondeu. E de alguma maneira seu argumento tomou outras proporções
de significado. Seu argumento soou pessoal, embora sua voz se mantivesse
firme, com uma determinação calma e neutralidade mascarando a seu
incômodo.

- Talvez devessem. - o menor rebateu, convicto e sério o bastante para que


enfatizasse sua opinião.

E Harry entendeu.

Entendeu que um diálogo secundário estava sendo estabelecido entre as


entrelinhas, implicitamente.
Portanto, sem jeito e um mais tocado do que desejava, tratou de disfarçar
sua emoção, tossindo a seco e fitando os anéis de seu dedo.
- De qualquer forma, eu encontrei esse lugar, temos um ao outro desde
então. - deu de ombros.

- Presumo que tenha valido a pena. - Louis comentou, maravilhado por toda
aquela natureza rejeitada.

Harry concordou.

- Esse é o meu esconderijo. - decretou, orgulhoso.

Mas ainda assim, parecia um tanto contraditório sob a visão de Louis o


esconderijo de Harry ser tão diferente da própria imagem dele.
Como se o jovem cheio de adornos luxuosos estivesse deslocado no meio
de insetos, matagal, e gimnospermas velhas, as quais, sob a penumbra da
noite, davam a impressão de serem sombras de monstros.

- Não faz muito jus a sua personalidade. - Louis contestou, assistindo um


sapo pulando perto deles. Seu coaxo era engraçado.

- Darling, é bom ter um templo isolado, onde a riqueza não alcança e os


lustres de cristal não iluminam. Soa-me reconfortante. - proferiu extasiado,
sorrindo.

Tomlinson encarou-o verdadeiramente confuso.

- O quê? - Harry indagou ao notar a expressão inquieta do menor.

- É que.. Sabe, é estranho escutar isso vindo logo de você, o filho do ouro,
com todo o respeito.

Styles virou o rosto para frente, repuxando a boca minimamente para cima
em um sorriso brando enquanto vislumbrava o reflexo da lua na água
parada.

- Bem, estamos no meio da madrugada, fora dos limites permitidos do


Palácio. É estranho isso vindo logo de você, o filho das normas, com todo o
respeito. - zombou ao final.
Os lábios finos e educados de Louis se entreabriram para um iminente
rebate de autodefesa, no entanto, em ausência de palavras, fechou-os
novamente, seu cérebro incrivelmente espantado pelo repentino
reconhecimento de que Harry tinha um ponto, e não podia estar mais certo.

- A coisa é que... - O herdeiro de Malta voltou a dizer, agachando-se na


beira do lago e esticando seu dedo indicador para toca-lo, afundando-o na
água extremamente fria. - É que no fundo todos nós precisamos de um
abrigo para fugirmos de nós mesmos ocasionalmente.

Harry afastou a mão ao julgar a temperatura extrema demais, levantando-se


e virando-se de frente para Tomlinson, levando seu olhar suave para
encontrar a expressão comovida do calado príncipe.

- É como emergir seu rosto para a superfície enquanto pratica o nado, dando
impulso e inspirando o quanto é capaz, devolvendo oxigênio ao pulmão.
Tão revigorante quanto o momento que seu rosto se ergue para fora da água
e você pode finalmente.. Respirar. - pronunciou com uma feição sonhadora
acendendo de si. Styles sussurrou a última parte: É libertador, não acha?

Dentro daquelas palavras, dentro de Harry de fato, parecia existir uma


pequena caixa preta trancafiada com muitos cadeados, no fundo de sua
mente, onde o verdadeiro Harry estava escondido.

Ora ou outra você conseguia escutar alguns pedidos de socorro. Ou então


gritos de agonia vindos de dentro.

Ora ou outra você piscava e quase jurava de ter visto um curto vislumbre de
sua verdadeira essência, como se durante alguns segundos ele emergisse de
seu interior, ultrapassando os cadeados, e se materializando bem a sua
frente.
Essa era uma das vezes.

Em que ele soava... Verdadeiro.


E a ironia estava longe.
E a coroa mais ainda.
Um garoto de cabelos cacheados no ápice de sua juventude, traços
atenuados entre delicados e másculos, jeito de quem tem planos
promissores para o futuro. Um idealizador.

É libertador. Você não acha?

A pergunta de Harry ressoou no fundo da mente do príncipe de Riverland,


provocando o retorno daquela sensação de adrenalina, como se ele soubesse
exatamente a resposta e o quão agradado e satisfeito estava por ter corrido
pelos jardins, escapado do Palácio, rido do modo desengonçado de Styles,
deparado-se com um resquício de um espaço abandonado onde o reflexo da
lua o remetia a um conforto inédito. Onde ele foi permitido simplesmente...
Voar para fora de sua carapaça e se renovar.

- Completamente, vossa alteza. Libertador. - confessou, suspirando


anestesiado.

- Chame-me de Harry. - o outro pediu. - Porque eu o chamarei de Louis.

- Não sei se me acostumo.

- Oh, pelo amor, é só pronunciar o 'a' depois de 'H' e adicionar o 'rry' com
algum sotaque. Não é difícil. - Styles persuadiu, sorrindo travesso.

O que acabou conquistando uma breve risada divertida de Louis.

- Certo, certo. Harry. Feliz?

- Extremamente, Louis. Agradeço pela mudança.

- Eu quem agradeço por ter me trazido aqui, ao seu esconderijo. -


Tomlinson verbalizou, soando franco e legitimamente grato.

Harry fixou sua atenção nos olhos vibrantes de Louis, notando o quão
destoante era o tom de suas lagoas azuis no sereno do luar.
Deus, ele sempre se afogava nelas.

- Você.. Você sabe, esse pode ser o nosso esconderijo. Eu não me importo
de compartilha-lo. Sempre que quiser vir, não precisa de meu
acompanhamento. Sei que gosta de ler e sugiro deitar-se naquelas pedras
para aproveitar a claridade da lua, e a umidade do ar. Eu lhe darei um mapa
com instruções de como chegar aqui.

- Bem, talvez eu queira a sua companhia. - Louis rebateu.

E aquilo bastou para pegar Harry desprevenido, levando-o a inspirar falho.


Seu coração estava disparando contra o seu peito alto e rápido. Oh, Deus.
Ele teria um derrame.

- Será sempre um prazer. - Styles respondeu cuidadosamente, pressionando


a palma de sua mão contra o próprio peito esquerdo para sentir os
batimentos cardíacos estranhos, querendo para-los de alguma maneira.
Acalmem-se, inferno.

O comportamento atordoado e ligeiramente desconcertado do maior passou


despercebido por Louis, que somente mirou seu olhar na água estagnada.

- Pensei que fôssemos nadar. - reproduziu irônico, lembrando-se da


proposta inicial maluca de Styles que incluía mergulhar na água congelante
como um desafio.

Isso fez com que Harry despertasse - felizmente - de seu transe, piscando
rápido até recobrar a consciência e tentar normalizar os impulsos de seu
coração.
Ele estava avoado o suficiente para não compreender nada.

- O que disse? Pode repetir?

- Disse que pensei que fôssemos nadar.

- Oh. O meu plano era fingir que eu pularia para o ver submergindo
sozinho. - Harry segredou, rindo pela indignação paupável do moreno. -
Jamais tive a intenção de entrar nesse lago, ele é fundo e eu não sei nadar.

- Jura?

- Sim, uma vez me aventurei a pular adentro sem considerar a profundidade


e me debati assustado ao perceber que meus pés não tocavam o chão. A
minha sorte foi que consegui esticar totalmente o braço e agarrar a borda.

- Você poderia ter boiado.

- Meu desespero não permitiria. E eu também não sei boiar.

- Posso te ensinar. - Louis se ofereceu. Ele era um excelente nadador,


embora não fosse comum frequentar lagos devido ao frio constante do
continente na maior parte do ano, ele e sua família sempre nadavam em
cachoeiras americanas ao visitarem reinos amigos estrangeiros na América.

- Aprecio a oferta, mas recuso. Sou claramente uma negação com controle
motor e, sobretudo, não tenho fôlego para isso.

- Compreensível. - Louis proferiu. - Faz bem, além do mais lagoas são


traiçoeiras.

Harry desejou revirar os olhos, pronunciando debochadamente um 'Jura?


Porque eu literalmente me afogo nas suas todas as vezes'. Mas ele se
segurou. E ao invés se limitou a assentir quieto.

- Em alguns pares de minutos o sol deve nascer no horizonte, caso não


queira sair naquele jornalzinho de fofocas como o 'Príncipe que perdeu a
moral e mordeu a maça da serpente, flagrado fora de seu aposento' eu
sugiro que voltemos para o Palácio.

- Esse autor realmente tem algo contra você, huh?

- Eu ainda irei descobrir quem está por trás dessa palhaçada. - Harry
professou, assistindo Louis piscar lentamente em concordância, atento.

Ao passo que rumavam pela trilha de coníferas com céu alvorecendo e os


primeiros cantos dos pássaros anunciando o fim da madrugada, ambos não
paravam de bocejar.

- Isso irá nos render grandes olheiras. - Príncipe Edward resmungou,


esfregando as têmporas, referindo-se a aventura que tiveram e que
consequentemente os fez perder todas as possíveis horas que tinha para
dormir, já que em tempo cronometrado seriam despertados pelas criadas e
inseridos na rotina puxada.

- Obrigado, novamente. Por tudo. - Louis insistiu ao alcançarem a escadaria


interna, após se esgueirarem como fugitivos pela porta dos fundos, na ala
dos empregados - que não estavam despertados ainda, amém.

Harry não o respondeu. No entanto, sorriu.

E seu sorriso pareceu doce e ligeiramente carinhoso.

Assim, eles se despediram e cada um foi para o seu próprio quarto.


Louis riu internamente ao flagrar Lorena adormecida toda desajeitada na
poltrona, roncando alto. Ela sempre o esperava para conversas aleatórias de
madrugada, e como ele não voltou, a menina acabou por pegar no sono
completamente contorcida no estofado.

Seria de suma importância os príncipes descansarem, pois nessa semana se


iniciariam as provas e duelos.

E, honestamente, nenhum deles estavam prontos para proporção de


acontecimentos que estavam próximos de estourar os vidros daquele
Palácio.

***

Notas da autora: bom, acho que começa a ficar claro que a partir de agora
nós vamos percebendo quem eles realmente são por baixo da coroa, seus
problemas e suas inseguranças.

O momento que vocês esperam está chegando.

Até a próxima! (E bons vestibulares para quem irá concorrer).


Chapter Twenty Eight

Episode: That's what you deserve

A temida semana começou.

E com ela toda a rivalidade mantida em sigilo dos príncipes, porque claro,
embora as competições de nada valessem ainda eram uma forma de se
sobressairem e mostrarem-se melhores um que o outro. Afinal, não é a
regra de funcionamento da vida? Demonstração de suposta superioridade?

Durante a manhã de segunda-feira tudo se resumiu a um extenso teste


manuscrito de história geral e antiguidade. Ruperts, o velho ancião, havia
informado que só seria cobrado o mais importante da matéria. Os príncipes
desprenderam então que a matéria inteira tem sua singular importância haja
visto que haviam mais de setenta perguntas no questionário, indo desde
feudos até Iluminismo.

De tarde, após devidamente alimentados, fizeram parte de olimpíadas de


hipismo, tendo incluso saltos da valas e desvio de obstáculos com seus
cavalos de modo que transpirassem elegância e donaire através do campo,
correndo e trotando para ganhar pontos com suas apresentações.
Os lugares nos pódios pertenceram a Niall Horan, George Huston e Liam
Payne, respectivamente.

O que, honestamente, foi muito injusto para Harry. Ele tinha tanta
experiência com equitação, ele domava tão intensamente Hades e pulava
mais alto que todos. E ainda era subestimado devido a julgarem-o sem
requinte em suas manobras, alegando que Styles não possuía a desenvoltura
soberba esperada para futuros reis.

No entanto, alguns observadores - como Louis - diriam que sua


extravagância era de um primor peculiar que havia sido declinado pelos
outros por falta de coragem.

Coragem de compreender que nem tudo deveria ser levado tão ao pé da


letra sobre manuais de conduta e normas comportamentais.

Assim que se deu conta do próprio pensamento, Tomlinson piscou


atordoado porque sua opinião estava se contradizendo à seu persona e ele
vinha se tornando hipócrita em seu modo de teorizar a vida e o de pratica-
la.

Se pudesse culpar alguém por isso, seria Harry Styles e sua persistência em
se tornar o antagonismo de tudo aquilo que Louis consideraria nobre, e
ainda parecer singularmente nobre sob os olhos azuis, levando-o a quebrar
conceitos e até se arriscar em provar alguns.

Mas Louis era homem o bastante para não se acovardar e colocar a culpa
nos outros.
Ele entendia que a 'culpa' era dele.
E que, honestamente, se ele gostou da madrugada insana que Harry o
proporcionou (mesmo que isso resultasse no surgimento de um par de
olheiras) era porque estava apenas adormecido em si o instinto de... Se
aventurar, Styles somente despertou a adrenalina que nem mesmo Louis
cogitara existir.

Portanto, foi meio que automático quando Tomlinson acabou por abandonar
involuntariamente sua pose serena e quieta de usualmente entre todos os
príncipes que aplaudiam Niall, Liam e George no pódio, para caminhar para
próximo de Harry, enquanto a figura esguia e um pouco corcunda se
afastava do grupo puxando seu grande Hades em direção ao estábulo.

Louis não chegou a de fato correr, muito menos acelerar o passo (isso não
era agradável ou fino, mas - novamente- não foi o que sua mente sugeriu há
horas atrás quando corria livre pelo jardim silencioso), portanto apenas
alcançou o mais alto quando este já estava na entrada do estábulo,
praticamente estático, guiando o Mustang preto com cuidado para seu
compartimento.
Os outros príncipes somente haviam concordado que os empregados
guardassem seus bichanos após as apresentações, mas Harry fora o único
que mantivera Hades consigo até depois de anunciarem os melhores, para
então ele mesmo retirar seu cavalo.

Isso não significava que os outros príncipes eram bastardos insensíveis.


Mas, eles apenas não tinham tanto vínculo com os equinos? Considerando
que seriam temporários em sua vida, servindo-os durante aquela temporada
e para exclusivamente a finalidade das aulas de segunda - um literal
instrumento de trabalho, eles não viam os animais realmente como um
pedaço da família.

Só que, bem, isso significava que Harry via.


Por que aquela era o quê? Sua sexta temporada.
E em todas elas ele estava lá com Hades.
Mas, ainda assim, a questão instigava um pouco a curiosidade de William.

Logo que o alcançou, próximo da entrada do estábulo, a voz melodiosa e


calma do menor ressoou:

- Você e Hades têm uma sincronia incrível, Príncipe Edward.

Pelo primeiro segundo Styles pareceu tomado de susto. Ele estava de costas
puxando suavemente as rédeas do equino para frente quando escutou Louis
emergir do nada e soltou um suspiro involuntário, pulando levemente.

Mas, depois, Styles logo se virou para ele com a cara um tanto neutra senão
por um sorriso leve e pequeno pintando sua expressão.
Parecia existir uma leve irritação devido ao recente susto e intromissão em
um momento particular dele, no entanto, simultâneo àquilo, Harry
aparentava genuinamente satisfeito pela presença do futuro de Riverland
ali.

É só que... Seu sorriso não estava acompanhado pelo brilho dos olhos igual
normalmente.

- Obrigado. - foi o que respondeu, alisando a crina escura e macia do


bichano.
Era algo realmente hilário de se assistir.

Harry Styles, todo vestido sob uma combinação de montaria chique, sendo
suas botas cano alto de couro legítimo marrom, uma camisa branca de seda
com a barra presa sob calças justas e um cinto com a fivela dourada (era
ouro) selando o contrato que definia implicitamente que Harry teria que ser
assim em todas as ocasiões. O que não implicaria muito a nada, se ele
particularmente não estivesse no meio de um estábulo com forte odor de
fezes, guiando um animal maior que ele, com fenos grudando nas suas solas
e tornando aquela imagem uma legítima contradição, onde o príncipe
parecia um empregado vestido à la Paris.

O 'porém' era que ainda com aquele retrato deturpado e incômodo que não
se condizia, Harry simplesmente parecia encaixado na perfeita situação. Em
sua perfeita forma.

Ele nunca esteve tão deslocado e bem acomodado em uma cena tão
perfeitamente.

Em que, mesmo com seu figurino exagerado cobrindo-lhe o corpo, sua


riqueza não era capaz de alcança-lo. O ouro de seu cinto se tornou uma peça
secundária quando a essência era a imagem do jovem de cachos
acastanhados estendido no meio de fenos e fezes, sendo alguém humilde,
tratando o animal com todo o amor que duvidavam existir nele.

Aquilo era tão Harry.

- Eu acho injusto de fato que vocês não tenham ganho um lugar no pódio, o
número foi magnífico. - Louis eventualmente comentou, o que fez com que
Harry o olhasse de canto, orgulhoso demais para demonstrar sua comoção.

Mas, passado um tempo, ele não se sentiu apto a conte-la.

- Você acha? - questionou, seu rosto todo voltado para o menor em uma
expressão de expectativa. As gramas de verão estavam claras e - Harry
conseguia ser extremamente expressivo através delas - delatavam seu
desânimo, que foi rapidamente substituído por esperança com a afirmação
de Louis.
- Sim. Vocês me surpreenderam. O último salto foi particularmente o meu
favorito. Era como se pudessem voar.

Louis complementou, adicionando um misto de empolgação e orgulho na


feição de Harry.

Talvez parcela de sua alegria se desse pela constatação de que Tomlinson...


Bem, Tomlinson havia assistido sua performance com vigor. E havia
gostado. E estava elogiando.
E que se danasse todas as opiniões negativas a seu respeito porque pela
primeira vez existia alguém o aplaudindo. E não por algum segundo
interesse. Ou intimidação.

O aplaudindo sinceramente.

Styles se obrigou a retornar para a realidade, e retomar sua pose um pouco


sólida e menos embriagada por sensações que levavam a boca de seu
estômago tremer como os grandes sinos de igrejas que badalam em fortes
estrondos.
Talvez houvesse um par deles dentro de si, tocando sem parar.

- Nós não nos importamos com aquilo. - Harry mentiu, dando de ombros.
Referindo-se ao lugar no pódio que ele e Hades definitivamente mereciam
ter conquistado.

Louis não comprou sua negação, embora. Ele sabia - Harry deixara claro
como água - o quanto gostava de vencer. Então, estar sempre condenado a
se esgueirar de destaque por mero pre-julgamento alheio devia meio que
ferir um pouco sua dignidade.

- Pois mereciam. - foi o decreto final de William. Styles levou seus olhos
para as lagoas azuis - lindas, oh, muito lindas - com um sorriso sem dentes,
de agradecimento, que ele esperava que Louis captasse a honestidade
contida ali. E a gratidão, principalmente.

Assim Styles começou a trotar rumo ao compartimento de Hades para


finalmente guarda-lo para o descanso, com Louis andando em seu encalço,
silencioso, apenas observando.
Harry sempre mostrava-se focado em seu cavalo, e mesmo depois de deixa-
lo na cela ele ainda entrou para escovar suas crinas com uma escova de
cerdas flexíveis, acariciando-o com a outra mão.
Louis jurou te-lo escutado conversando com ele também, como se pudesse
entendê-lo em sua linguagem humana. E ele pode ter se enganando, mas
ouviu um 'Louis' no meio desses sussurros entre os lábios do jovem de
Malta e as orelhas enormes de Hades.

- O que foi? - Harry subitamente indagou, referindo-se ao modo que Louis


encarava-os fixamente, um pouco inexpressivo.

- Nada, é só que... Bem, é interessante ver a maneira afetuosa que o trata, de


fato.

- Como poderia ser diferente? Ele é o meu grande ajudante. - replicou,


apoiando-se em uma estrutura de madeira no interior do compartimento
enquanto olhava para William com os braços cruzados.

- A maioria dos príncipes não tem sequer um décimo da conexão que


aparenta ter com Hades. Eu mesmo me incluo nessa lista, embora Zeus seja
um ótimo companheiro.

Styles deu de ombros, virando-se em busca de algo.

- Eu não sei. É só.. Que há essa coisa entre mim e esse lindo Mustang desde
o início. - ia murmurando enquanto apanhava uma sacola no canto e de lá
retirava algumas cenouras.

Logo que Hades notou as leguminosas, soltou um alto relincho, batendo


com suas pernas contra o chão sem conter sua animação.

Harry aproximou-se de Hades levando as cenouras cuidadosamente para a


enorme boca do animal, que parecia prestes a engolir seus dedos juntos
cada vez que mordia um pedaço do vegetal.

- Então foi uma reciprocidade imediata? Formada na primeira temporada?

- Sim.
- Oh, veja. Isso é bom. A maioria de nós não se apega aos equinos por
sabermos que é uma relação com prazo de validade para apenas três meses,
mas você se permitiu, você sabe, ser fiel a Hades desde o início... Quando
não imaginava que acabaria por reencontrá-lo por mais alguns pares de
temporadas.

- Prazo de validade? - Styles repetiu, terminando de alimentar o bichano


com as cenouras e passando a se limitar em massageia-lo na altura do
pescoço.

- Sim. Eles são completamente efêmeros para nós. Três meses e pronto,
toda a construção sentimental que criou com o cavalo durante esse tempo
será provavelmente esquecida quando retornar para o reino e para seus
cavalos fixos que lá residem.

Harry permaneceu em silêncio por algum momento, parecendo pensativo ao


somente encarar Hades.

Então ele se despediu do cavalo com um cumprimento próprio em que


puxava a cabeça do Mustang para grudar na sua, e saiu da cela, andando
para o lado de Louis.

- Se você parar para analisar, absolutamente a vida e tudo que há nela é


efêmero. - Harry eventualmente proferiu enquanto os dois caminhavam
através do longo estábulo, para a saída. - Então seria besteira considerar
algo por ser 'fixo'. Fixo é só um 'temporário prolongado'. - complementou,
parando ligeiramente de andar e se virando em seu eixo no intuito de
visualizar o rosto inteiro de Tomlinson. - O que importa não é quanto ficou
e durou. O que importa é o quanto isso te marcou nesse breve período.

Louis se viu assentindo surpreendido, piscando estupefato pelas palavras


marcantes de Harry e como tudo nele parecia gritar poesia e arte.
Chapter Twenty Nine

Episode: She knows

- Hey. - o tom amistoso e simpático teria sido bom em algum outro instante
do dia. Mas definitivamente não após múltiplas horas de prova escrita de
geopolítica em que a maioria descobriu ser uma verdadeira merda em
relações internacionais.

Portanto 'Hey's felizes e ligeiramente animados não eram permitidos para


aquele horário, quando os príncipes iam se alocando em assentos sortidos
para terem seu almoço com vincos na sobrancelhas e bocejos exaustos.

Mas como Zayn Malik era realmente uma criatura educada, ele engoliu a
frustração pela vida e se limitou a esboçar um sorriso.

- Olá Príncipe Payne.

Zayn não tinha certeza. Mas parte de si jurava que Liam vinha o
perseguindo - há dois dias, mais especificamente.

Ele teve essas desconfianças logo na manhã seguinte ao encontro nada


agradável da madrugada de domingo. Após servir-se no café - com alguns
melões frescos cortados e um copo de suco de laranja e gengibre - Malik
escolheu um local mais afastado do centro para lanchar em paz e jurou que
ainda assim, nesse processo, estava sentindo-se observado.
Bastou virar-se para o lado para flagrar os olhos castanhos de Liam
pousados em si, enquanto ele o assistia comer como se aquilo fosse a coisa
mais interessante do mundo.

Zayn se esforçou para ignora-lo.


Contudo, novamente, no almoço e jantar, parecia que de onde estivesse era
perseguido por um olhar cauteloso, sentindo-se estudado por Liam. Isso até
mesmo o deixou inquieto durante as refeições, porque ele estava
pressionado a comer sob a supervisão de alguém que sabia o que
aconteceria horas mais tardes.

O herdeiro de Arlen, na madrugada anterior, passava através do seu ritual


de 'beleza' quando, escorado no balde de sempre, escutou um ruído do lado
de fora da porta, vindo do corredor.
Ele imediatamente correlacionou o estrondo com Liam Payne porque
honestamente quem mais estaria às três da manhã espreitando próximo da
porta para confirmar que Zayn estava ali, se expondo àquilo novamente.

O que foi sinceramente o cúmulo.

Malik se chateara por toda essa intromissão sem consentimento em sua


vida, de modo que ele estivesse sendo estudado igual um experimento que
apresentava comportamento alterado.

Okay. Ele entendia essa primeira estranheza para aquele hábito compulsivo
seu. Ele entendia a preocupação. E também até compaixão.

Mas, se em algum instante ele enxergasse o mínimo de pena nas orbes


acastanhadas aquilo seria o suficiente e ele não se seguraria para dar um
basta naquela perseguição de Payne.

- Como está hoje? - Liam o indagou, vindo se sentar ao seu lado no almoço.

Servido de um prato de salada bem guarnecido com sementes variadas Zayn


se virou em seu eixo.

- Bem.

- Tem certeza? - Payne insistiu, ganhando um arquear de sobrancelhas de


Zayn por acha-lo intrometido, quando na verdade tudo que ele estava
fazendo era manter um diálogo fático e casual.
- Sim. Por que está me perguntando? - soou mais rude do que o esperado.
Seu humor vinha sendo um empecilho para si próprio ultimamente.

- Eu.. Só estou. - Liam o respondeu, a voz calma temperada com receio. -


Checando apenas.

- Por que está me perseguindo?! Eu sei cuidar da minha própria pele,


entende?!

Seu tom seco foi meio que uma surpresa para os dois. Não só os dois, como
todos os príncipes que escutaram a forma rude que Malik tratara o herdeiro
de Bristok, com vincos em sua expressão e o canto dos lábios em linha reta,
sua respiração levemente ofegante.

Zayn não podia acreditar que havia agido desse jeito, tão primitivo e
desrespeitoso. Ele estava sobrecarregado com seu segredo descoberto e se
sentia sufocado sobre o assunto. Ainda assim isso não era justificativa para
agir agressivamente e ignorar sua própria personalidade que evitava ao
máximo discórdias.

Ele estava perdido.

Encarava o rosto assustado de Liam que nem sequer piscava.

- Desculpe, eu perdi o apetite. - Zayn se levantou ruidosamente, colocando


o lenço branco que estava em seu colo em um baque contra a mesa.

Antes que chorasse de humilhação no meio de todos, virou-se e rumou à


saída. No entanto, ainda teve o infeliz deslumbre de encontrar o olhar astuto
de Harry, o maldito cacheado o qual mantinha um sorriso debochado
porque ele sabia o que estava acontecendo.

Harry sempre sabe de tudo.

***

Horas mais tarde e os príncipes - ou a maioria deles, em exceção a Zayn -


estavam no campo de treinamento, segurando sabres lustrados, vestidos
apropriadamente para os duelos de Esgrima.
- Veremos quem pode vencer. - o treinador anunciou antes de chamar as
duplas, uma por uma.

****

_______________________________

"How to Wear a Crown"

Quarta-feira, 28/07

Ora, ora, parece que um verdadeiro palácio nunca pode realmente viver em
completo silêncio não é?

Pois bombas explorem quando as coroas não são capazes de reter algum
equilíbrio.

Talvez algo grande que vocês não esperavam estar ocorrendo seja essa
conexão duvidosa entre os herdeiros de Arlen e Bristok.
Estamos nos referindo aos adorados da temporada Zayn Malik e Liam
Payne que passaram por um momento embaraçoso durante o almoço do
dia anterior.

Boatos são que Zayn se exaltou e acabou elevando o tom para o contido
Payne, que não tentou segui-lo quando o belo príncipe abandonou a
refeição, deixando para trás olhos surpresos e bocas escancaradas.

O que há por trás disso? Qual é o motivo de Malik ter se revoltado tão cedo
pela manhã?
Veja Zayn, eu entendo que isso o faz perder o apetite, mas comer é preciso
às vezes, sim?

Bom, como se não bastasse todo o alarme matutino, a tarde de terça-feira


trouxe mais tumulto.

A começar pela derrota de Harry Edward Styles.

Niall Horan o derrotou no esgrima de uma forma astuta, com seus


movimentos bem estudados e executados.
O duelo foi disputado à risca, e para quem observou de longe diriam que
Harry pareceu surpreso com a estratégia e agilidade que Niall acabou por
demonstrar, pegando Styles desprevenido.

Talvez essa arrogância em subestimar a capacidade alheia do Príncipe


Edward termine afogando-o em seus próprios males, logo que seu espanto
foi visível quando Horan passou a ataca-lo pelas bordas, e mais ainda ao
levar uma espetada na região do seu lombar, murmurando 'Touché"
inacreditado.

Cada pequena agitação no Palácio apenas serve para enfatizar o quão


pouco se conhece os príncipes. Até que eu os faça conhecê-los de verdade.

Att: Sua Fonte Anônima.

_____________________________

****

Louis lia em seu estado de calmaria um livro de prosas francesas o qual


encontrou na Biblioteca de tarde, e não viu problema em pegar emprestado.

Deveria ser próximo das onze. Era nesse horário que geralmente Lorena o
traria uma xícara de chá de camomila adocicado com mel e se sentava na
poltrona para que eles conversassem sobre absolutamente qualquer coisa
que viesse em suas mentes. Mas provavelmente não hoje.

A menina, embora jovem em seu máximo da adolescência, era uma boa


ouvinte e conselheira, ela sabia a hora certa para sorrir encantada com as
histórias de família que Tomlinson relatava, ou distribuir otimismo ao se
tratar de notícias não tão boas - como recentemente que Johanna o enviou
uma carta avisando que seu irmão Eric estava com pneumonia.

Lorena e ele pouco trocaram palavras aquela noite da carta, ela apenas ficou
ali, sentada, piscando seus longos cílios de boneca enquanto reprimia
bocejos para que o príncipe não percebesse quão cansada estava. Talvez sua
presença fosse crucial.
Jezebel e Lorena vinham brigando constantemente nos últimos tempos, o
que acabava por deixar uma certa tensão toda vez que elas estavam no
quarto simultaneamente limpando, costurando ou qualquer coisa.

Lorena não contou muito sobre o que ocorria, embora parecesse


verdadeiramente chateada com a distância entre elas, a morena garantia a
Louis que era fase de irmãs e que atritos faziam parte. Tomlinson ficou
intrigado naquele momento porque ele nunca teve irmãs, meninas
adolescentes para discutir. Os garotos eram geralmente mais reservados e
com raridade entravam em brigas - a não ser em jogos, sua família era
muito competitiva.

No entanto, especificamente nesse começo de semana ele ainda não havia


se encontrado com Lorena. Pelo fato desses dias serem basicamente testes e
provas e duelos não havia a necessidade de que duas criadas ficassem
transitando no aposento, e já que não havia necessidade de costurar trajes
chiques os alfaiates também estavam dispensados, e os próprios jovens
precisavam de espaço para estudarem e se concentrarem.

Portanto, desde domingo Tomlinson era apenas recebido diariamente por


Jezebel, quem vinha fazer a limpeza geral no cômodo pela manhã e se
prontificava a ajuda-lo a se arrumar. Fora isso era por sua conta.

A loira também parecia abatida. Ela e Louis não eram tão próximos quanto
ele era com Lorena, mas ainda assim o futuro rei se esforçou para melhorar
a relação deles e convidar Jezebel a se sentar com ele a fim de conversarem.
Contudo, ela negou, avisando que não seria prudente uma criada se
acomodar próximo de um príncipe, muito fora dos padrões estipulados para
uma conduta adequada.

Isso automaticamente gerou um período de reflexão conflituoso em Louis.


Jezebel e Lorena eram irmãs completamente opostas. Cada lado de uma
moeda.

Jezebel sempre seguindo normas, agindo cordial e educada. Limpava, sorria


pequeno, reverenciava-o e saia.
Lorena sempre se sentando para diálogos aleatórios com o moreno, rindo
exagerada, compartilhando seus pensamentos e contando fofocas da área
dos empregados - mesmo que Tomlinson pedisse para que ela não o fizesse,
porque era muito rude e deselegante.
Ela era apenas uma criança no fundo, sendo obrigada a crescer da maneira
que lhe foi imposta, servindo pessoas de alta hierarquia.
Ela era natural, e espontânea, e havia esse seu jeito ousado de dizer coisas e
gesticular coisas que tornava tudo mais leve e fácil de se engolir.

Se em um universo paralelo Louis se visse tendo que escolher alguma delas


para casar - não necessariamente elas, mas pessoas que compartilhasse de
uma personalidade semelhante - ele se via pegando alguém que se parecesse
com a pequena dona dos olhos verdes brilhantes, Lorena.

O que o assustou, honestamente.

Sua vida inteira pensou que acabaria se casando com uma moça reservada e
introvertida, igual a si próprio. Uma moça que aceitaria um casamento
simples, e que fariam votos matrimoniais sucedidos de um beijo casto. Seu
futuro com ela seriam três filhos, todos poliglotas e extremamente
educados, para passarem um verão no sul de Nice, provando cafés pouco
adocicados e torradas francesas enquanto discutiam a economia vigente.

Mas então, ele se sabota ao aceitar que essa pessoa que ele idealizava era o
oposto do que no fundo queria.

Ele almejava alguém que parecesse sua mãe.


Alguém com um sorriso fácil, e demonstrações espontâneas. Alguém que
não se importaria de chorar em seu ombro - porque chorar era "ato de
fraqueza" - e que Louis também poderia usar o ombro para chorar se um dia
fosse conveniente. Alguém com mente aberta e olhos juvenis.

Alguém que no fundo fosse seu oposto, porque às vezes ele se sentia
cansado de si mesmo.
Então essa pessoa seria um escape, e o levaria para um outro lado da vida.
Todos os dias sendo uma aventura - com desfecho positivo ou negativo.
Alguém que soubesse aproveitar as pequenas coisas. Que ele poderia
chamar para tomar chá de noite e estabelecer conversas diversas. Que
contaria segredos deitados na cama antes de adormecer. Que ele levaria
para conhecer o mundo, norte da África talvez, e cavalgassem pelo deserto,
ou fizessem uma fogueira noturna. Que não se importasse com sua mania
de fazer retratos nus, e que gostasse de arte. Que o acompanhasse em
exposições de arte e saraus.
Que desse mais atenção para os filhos do que para a coroa.
Que o mostrasse um novo mundo dentro do seu.

Alguém para o confirmar que acreditar em amor cortês valeu a pena todo
esse tempo.

Obviamente isso não se tratava minimamente de Lorena, porque ela era


como uma irmã adotiva o qual ele nutria um grande carinho pela
genialidade forte.
Mas, enquanto não encontrasse uma pessoa que se encaixasse em suas
metáforas e completasse suas poesias, a garota era uma excelente
companhia que o remetia um pouco à sua mãe, e o fazia se sentir mais
próximo de casa.

Seria mentira se afirmasse que não sentira falta de Lorena nesses três dias.
Embora Harry tenha resgatado-o na madrugada de domingo de sua insônia
insuportável, nas outras madrugadas ele somente se sentava na cama e lia
algum exemplar, com uma mínima esperança de que a menina entraria pela
porta para mais uma de suas sessões de descontração e chás.

Assim, nessa madrugada de quarta ele nem sequer esperava que ela
aparecesse quando foi surpreendido pela porta ressoando dois toques leves.
Era o código deles. Dois toques. Um em cada extremidade dela.

A maçaneta foi girada sem realmente esperar por seu consentimento, o que
o fez rir porque ela era atrevida e um pouco negligente mas ele achava-a
engraçada.

Lorena adentrou com um grande sorriso quase infantil no rosto e duas


xícaras de chá na mão - um para ela, sim ela sempre se via no direito de
beber também e Louis nunca discordou, murmurando baixo:
- Hey, príncipe!

Tomlinson inspirou animado, fechando o livro e se ajeitando melhor no


colchão enquanto a garota ia saltitante acomodar-se na usual poltrona.

Seu braço se estendeu em direção ao jovem de Riverland, oferecendo-o o


recipiente branco aquecido pelo líquido esverdeado emanando uma fumaça
cheirosa.

Oh, chás.

- Admito que me perguntei por onde andastes, Lorena. Senti sua falta. -
Louis admitiu, sorrindo doce para a morena que piscou feliz.
Seu dezesseis anos, toda sua juventude materializada em seus traços faciais
e expressionistas.

- Oh! É sobre isso que gostaria de comunicar, na verdade, de pedir


conselhos.

- Pois bem, me conte o que andou aprontando. - Tomlinson falou com um


sorriso lateral travesso, levando a porcelana a sua boca para bebericar a
bebida que tanto apreciava.

Lorena, embora, somente arqueou uma das sobrancelhas em uma feição


visivelmente confusa.

- Espere só... Um sorriso meio torto, um toque ousado na fala, nada que me
remetesse a uma linguagem requintada... O que te aconteceu? Que mudança
é essa?! - foi dizendo deixando seu espanto claro, apontando
acusadoramente seu dedo indicador em direção a Louis como se ela
soubesse. - Quem é você e o que fez com o Príncipe William?!

Louis não se segurou ao soltar uma breve risada, formando rugas no canto
de seus olhos daquele modo adorável que ele fazia involuntariamente. Mas,
então, novamente ele os surpreendeu ao revirar os olhos meio que
zombeteiro e meio carinhoso para toda a situação.
Essa foi possivelmente a primeira vez que rolou seus olhos ironicamente em
toda sua existência, ou ao menos em algum grande período.

- Uou, eu estou ficando assustada agora, de fato. - Lorena murmurou, quase


horrorizada e ponderando se nesse intervalo que esteve afastada Louis
sofreu de um desvio de personalidade.

O próprio príncipe se sentia assustado com essas... Mudanças.


Ele não se recorda de como chegou aonde chegou. Nem do que fez para
isso. Mas ele não se sentia mais ele ultimamente.

- Certo. Agora vamos ao real assunto em que você irá desabafar o que te
ocorre. - Tomlinson desviou o rumo da conversa (que ele não se sentia apto
para tratar).

Lorena suspiro dramaticamente, jogando seu corpo contra o encosto da


poltrona com os braços esticados para cima.
Absolutamente sem modos algum para uma criada, ou para qualquer dama.
Ela era só ela com seu corpo meio miúdo e as orbes curiosas de quem não
viu um milésimo do mundo - e provavelmente jamais teria a chance de ver.

- Ok. Diga-me sua opinião, Louis. - pediu, coçando a nuca um tanto incerta.
- Você acha possível gostar de duas pessoas simultaneamente?

Tomlinson piscou confuso.


Ao notar, ela se explicou melhor:

- Do tipo, os dias árduos para vocês são conhecidos como os de


oportunidades para algumas criadas que ganham repouso e podem usar esse
período para socializar com outros empregados.Eu estou sendo cortejada
por dois deles e não consigo realmente escolher um. E eu sei que isso soa
muito como uma adolescente em seus hormônios mas eles realmente são
tão diferentes um do outro que eu fico com o coração acelerado para ambos.

- De quem se trata?

A menina pingaterreou, sua pele esquentando e corando.


- Um se chama Leroy, e ele é um dos empregados que trabalha na cozinha.
Tem cabelos ruivos e um sorriso lindo. Nos encontramos na segunda de
manhã, já que fui dispensada do serviço nessa semana costumo ficar
transitando pela área dos empregados, ou na cozinha. - disse, rindo travessa
antes de adicionar. - E claro, roubando alguns petiscos quando ninguém vê.
A coisa é que em uma dessas minhas missões de roubar uma pequena fatia
de bolo, Leroy me flagrou. Eu me caguei nas calças.

Louis franziu o nariz involuntariamente para seu termo chulo, lançando-a


um olhar repressivo em seguida. Ele não costumava reclamar de seu jeito
ou ações, mas quando ela extrapolava acabava por entrar na fantasia de
'irmão mais velho' e lançar-lhe expressões significativas.

- Okay, me desculpe. Quis dizer, eu fiquei com medo. - Lorena rolou os


olhos para ele.
Sinceramente a intimidade entre os dois era algo a se ponderar. - Mas então
Leroy riu e disse que não havia problemas. Nós conversamos vagamente
sobre comida e foi isso. No entanto, ao anoitecer, eu encontrei uma cesta
em cima da minha cama com fatia de doces e algumas frutas. O que foi tão
cavalheirismo que me derreteu.

- Ele foi generoso, realmente. - Louis concordou, colocando a xícara agora


vazia sobre o criado-mudo. - Então quem é o segundo a lhe roubar o
coração.

- O segundo é Brandon. Ele é um guarda, faz patrulhas noturnas ao redor do


palácio. Algumas vezes ele faz plantões durante o dia. Eu o conheci terça-
feira. Ele estava rondando o campo enquanto vocês participavam daquele
esporte com cavalos. Ele é loiro e tem olhos claros. Eu estava o observando
de longe e Brandon me flagrou. Brandon veio até mim e nos falamos
durante o restante de sua patrulha.

Louis sorriu divertido.


Não se surpreendera que Lorena arranjava tão fácil admiradores. A garota
era extremamente adorável e cativava quem conhecesse.

- Qual o desfecho da situação?


- Desastre provavelmente. Hoje eu encontrei Leroy pela manhã, ele me
entregou uma flor com um petit gateau. O que o fez tomar advertência pois
a chefe de cozinha descobriu.
E no começo da noite, enquanto vinha para cá mais cedo para
conversarmos, esbarrei em Brandon e ele me puxou para falar de uma
viagem que fez uma vez na França, quando foi solicitado para escoltar o rei.
Por essa razão me atrasei e cheguei a essa hora em seu aposento.

Tomlinson assentiu, ouvindo-a.

- Então cá estou, confusa e não entendo quem amo e devo presentear com...
Você sabe, um beijo.

A menina soava tão ingênua e pura, de quem estava querendo entregar seu
coração depressa por achar alguma brecha.
Louis não poderia culpa-la, ele sabia que, sendo uma criada, em semanas de
serviço normal não disporia de tempo para escapar do trabalho e encontrar
pretendentes. Era raro a criadagem estabelecer relações amorosas em
temporadas da Anistia dos Tronos. Todavia, ainda assim, ele acreditava que
era muito cedo para ela se declarar apaixonada quando aquilo significava
evidentemente seu medo de ficar sozinha.

- Ouça, Lorena. - William suspirou, ajeitando-se melhor no colchão. - Eu


não sou a melhor pessoa para aconselha-la nesse campo amoroso... Mas, o
suficiente que sei é que existem diferentes maneiras de rotular seus
sentimentos.

Ela pendeu a cabeça para o lado, atenta.

- Imagine que você está caminhando por uma rua. - Tomlinson pediu. -
Então você vê uma casa enorme, a maior do bairro. Uma construção
gloriosa que prende sua completa atenção. Você não sabe quem mora lá
dentro, mas certamente em sua idealização será um homem robusto, forte e
atraente.

- Com toda certeza. - Lorena riu.


- Bem, isso, nessa analogia, seria o significado de estar encantada. Você não
conhece realmente a pessoa, mas imagina como seja a partir de algo que
sabe sobre ela. E vive teoricamente com uma imagem idealizada a respeito
dela.

O jovem príncipe esperou que Lorena concordasse ou desse qualquer sinal


de que havia entendido para continuar.

- Partindo de outro ponto, há agora uma casa. E ela é pequena, e a tintura


externa parece desgastada. No entanto, você sabe que quem mora lá é um
indivíduo incrível, e isso faz com que o fato da casa estar mal conservada
não signifique absolutamente nada. Esta é a sentença ao se estar
apaixonado. Você não se importa realmente com o exterior, pois seu
coração está na essência da pessoa, e aparência é um tributo irrelevante pois
aprecias o que há lá dentro.

- Você leu isso em algum livro ou só está inspirado mesmo?

Louis segurou sua vontade de revirar os olhos pra a provocação da garota,


ignorando-a ao invés.

- E tem uma última metáfora. Pense agora em um terreno baldio.

- Terreno baldio?

- Sim, um vasto espaço vazio, só grama e terra.

- Okay, feito. - ela disse, os olhos fechados no processo enquanto realmente


materializava o que Louis ia relatando em sua mente.

- Você tem a pessoa. Mas você não tem a casa.


Assim, dia após dia vocês vão empilhando tijolos. Um por um. Lado a lado.
Esse, minha cara, é o valor do amor.

- Como assim? - ela franziu o nariz, abrindo imediatamente as grandes


orbes para enfatizar sua indignação.

- É algo que se constrói gradualmente, entende? Pedacinhos que os dois vão


untando, tijolos que vão se encaixando, porque são vocês quem erguerão a
própria casa. Ela é um fator secundário, logo que não importa qual a
moradia, no final um se torna o lar do outro.

Um silêncio estabeleceu-se entre eles.

Nesse intervalo os dois somente piscavam as pestanas com uma conexão


visual silenciosa.

- Oh meu deus, ele está te inspirando. - Lorena ocasionalmente sussurrou,


tampando a boca com uma feição exasperada.

- Ele? - Louis repetiu, completamente transtornado.

Ela não respondeu verbalmente, porém meneou um 'sim' com sua cabeça.

- Ele quem? - Príncipe William insistiu.

Quando a criada abriu a boca para falar, o diálogo deles foi bruscamente
interrompido por gritos desesperados vindos de fora do corredor.

Algumas súplicas soaram claras e específicas.

- Alguém ajude! Principe Horan está em apuros!

***

Notas da autora: Se preparem para o circo pegar fogo, e a coisa em si


acontecer.
Chapter Thirty

Episode: He's a liar

- Bom dia, altezas. - Don Luminiére saudou ao que os ponteiros indicava


cinco para as oito.

Os príncipes estavam tendo o café da manhã no Salão A, respirando fundo


antes de retornarem para uma prova teórica de conduta e etiquetas (o que
honestamente achavam desnecessária, mas ao menos bastava ter bom senso
para sua nota ser boa) quando o cavalheiro que já conhecia adentrou o
espaço com sua usual expressão neutra e uma postura impecável.

Todos pararam imediatamente para escutarem com curiosidade a respeito


do que tanto esperavam notícias.

- Bom, como sabem, houve um incidente ontem envolvendo o futuro


herdeiro de Ravena, Niall James Horan. Irei esclarecer os boatos agora. -
anunciou, cruzando os braços atrás das costas. - Príncipe Niall foi
intoxicado.

Alguns desavisados - aqueles que dormiam na hora do ocorrido - grunhiram


em surpresa. Não era o tipo de notícia reconfortante para se receber durante
o café, certo?

- Próximo da madrugada passada Niall sentiu uma palpitação no peito. De


súbito sua respiração ficou ofegante e ele teve um quadro de tremedeiras
intermitentes.
Os doutores o salvaram, e ele está estável agora. Mas o palpite é que Niall
tenha sofrido uma intoxicação.

- Piada! - uma voz se sobressaiu, atraindo a repentina atenção de todos da


sala.
Andrew estava de pé, em um canto do refeitório, com seu rosto vermelho e
uma expressão claramente furiosa. - Vocês sabem que estão amenizando a
situação! Eu vi com os meus próprios olhos todo o alarde! Eu vi Niall sendo
socorrido enquanto parecia prestes a ter uma convulsão! Intoxicação é
eufemismo, aquilo estava mais para envenenamento!

Os príncipes uivaram em espanto com toda a declaração de Andrew,


exasperando-se ao que olhavam em expectativa para a réplica de Dom
Luminiére, o qual procurava manter-se firme embora sua falta de reação
estivesse evidente.

- Admita, pelo amor de Deus.

- Certo. - o cavalheiro murmurou, cedendo. - Não é algo que temos como


comprovar, mas o Príncipe Horan nos informou que os sintomas
começaram desde o jantar, o que nos leva a crer que sua comida estivera
batizada.
Pensamos na possibilidade de ter sido um descuido geral, mas apenas o
senhor Niall apresentou os sintomas, provando ser algo específico ou uma
reação alérgi-

- Sério? Vocês ainda têm duvida de quem está por trás disso? - Andrew
voltou a reverberar, fazendo com que a sala entrasse em um silêncio tenso. -
Olhem ao redor, quem está faltando aqui?

Eles sabiam quem era.


Era fácil notar tanto sua ausência quanto sua faustosa presença.

- Quem iria por todos os santos se ocupar em perder o tempo para ferrar
com alguém? Quem possui rixa com Niall James Horan? Quem é cruel e
vingativo?!

- Vossa alteza, por fav-

- Não, Dom Luminiére. Está óbvio e claro assim como o sol do meio dia
que Harry Edward Styles é o culpado! E por alguma razão vocês ainda
tentam relevar suas ladainhas! Eu estou cheio disso, honestamente. Nós
somos obrigados a aceitar tudo que aquela cobra depravada faz de braços
cruzados.

Dito - berrado - a acusação, o príncipe exaltado marchou à passos pesados


em direção à porta, saindo como um trovão do salão.
Dom Luminiére nada mais proferiu, calando-se em um consentimento
implícito para tudo que foi alegado. Ele apenas desejou um bom resto de
dia para os demais e deixou o lugar tão forasteiro quanto entrou.

Deixou o lugar cheio de jovens chocados e de certo modo indignados pela


mais pura verdade.
Príncipe Andrew tinha feito um ponto.
Por todas as temporadas Harry Styles deveria agir de maneira intolerável, e
ainda assim não sofria as devidas punições - porque por mais que nunca
fosse aprovado na Anistia dos Tronos, ainda assim ele supostamente
deveria ser condenado permanentemente à coroa de seu reino.

Ele não merecia absolutamente nada.


Era arrogante, prepotente, maléfico.

E mesmo seus fiéis seguidores sentiram um arrepio cruzando suas espinhas


ao se realizarem da verdadeira serpente que viviam enaltecendo.

Naquele restante de tarde, as provas ocorreram em quietude.


Uma quietude estrondosa.

E nem sequer no jantar Harry Styles foi corajoso o suficiente para dar as
caras.

****

Então, não foi difícil entender que a última refeição da quinta-feira havia
sido um tanto perturbadora.

Os príncipes aguardaram discretamente a aparição de Harry. O que não


aconteceu.
Isso não descontraiu o clima de fato.
Serviu para que os burburinhos aumentassem, e no final aquilo se tornara
uma mistura de calada cesar, carne de cordeiro ao molho rosé, conversas
paralelas sobre a falta de limites de Harry e condolências pela situação de
Niall.
Alguns até mesmo se lamentaram por nunca terem feito questão de serem
amigos do loiro, que por si só se isolava no Palácio.
Mas prometeram que seriam a partir de então.

Prometeram visita-lo na tarde de sexta com alguns arranjos de flores e


ofertas de amizade - será que seria realmente amizade quando a motivação
foi o peso em suas consciências?

E entre um gole do suco de amoras, Liam Payne passou a encarar Zayn


Malik enquanto o mesmo sequer tocara no prato.
Ele parecia pior e mais afetado a cada dia.
Desde a ocorrência em que Zayn se exaltara, nunca mais trocaram uma
palavra.

O príncipe de Arlen estava distante, e pálido, e seu rosto muito fino e


magro.
Seu corpo honestamente tinha um aspecto doente, denegrido.
A imagem do moreno dos longos cílios que tanto fora cultuada no começo
da temporada estava se desfarelando para algo negativo e motivo de
cochichos. Além de que aquela última edição de How to Wear a Crown
soou bem específica ao mencionar a falta de apetite de Zayn, como se
soubesse exatamente.

***

Você nem ao menos tem algo no estômago para esvaziar.


Sua mente continuava pulsando.
Mas ele meio que havia tornado aquilo um ritual, e o fato de não ter tocado
em seu jantar não impedia suas finas pernas de se esgueirarem do aposento
ao bater da meia-noite para direcionar-se silenciosamente à sua usual sala
escura.
Zayn Malik não entendia o porquê insistia nisso.
No entanto, era um impulso mais forte que ele.

Era o impulso que o levava constantemente para o isolamento noturno a fim


de 'ficar bonito'.
Era o impulso que o fez parar nesse momento na frente da porta e empurra-
la devagar, certificando-se que nenhum guarda fazia patrulha por ali.

Mas, quando abriu uma fresta suficiente para sua passagem, tomou um
grande susto ao deparar-se com a figura de Liam Payne agachada em meio
ao escuro, segurando contra o peito o seu balde de madeira destinado para..
você sabe.

- Que porra você está fazendo? - Zayn perguntou em tom exasperado,


repreendendo-se mentalmente pelo descuido de praticamente gritar e expor-
se aos guardas.

Adentrou rapidamente a sala fechando a porta atrás de si, e com um dos


fósforos que levava no bolso - para acender velas nas madrugadas que o
escuro o intimidava muito - ele raspou-a contra a aspereza da caixinha,
ateando fogo em sua extremidade arredondada.
A partir da rasa luminosidade do fósforo ele recebeu uma visão melhor do
que acontecia.

Aproximou-se temeroso, não suprimindo um suspiro de alívio ao constatar


que o balde estava vazio, Liam somente carregava-o contra si.

Liam o qual não se movera desde a chegada de Zayn, limitando-se a erguer


o rosto para cima, vislumbrando a imagem do príncipe de Arlen com uma
expressão desordenada.

- O que está fazendo? - Malik indagou novamente, num tom sussurrado


dessa vez. - Oh, merda. - amaldiçoou quando o fósforo já consumido pela
chama queimou-lhe a ponta dos dedos até que apagasse-o em um sopro.

Teve de apanhar outro para clarear o espaço, mas então buscou por uma
pequena lamparina que não resultasse em outra queimação de dedos.
Ao encontrar, retornou ao seu posto inicial, perto de Liam, depositando a
lamparina no chão.

- Vamos, estou esperando respostas. - exigiu, realmente perdendo a


paciência.

- Você me disse sobre beleza. Penso que talvez esteja certo. Se faz isso
tendo esse corpo magro, imagino então eu, com tantos quilos amais, quão
longe do ideal estou. - Payne ia proferindo, e cada palavra aterrorizava
ainda mais o príncipe. - Talvez eu deva aderir aos seus métodos.

O coração de Zayn falhou uma batida.

- O-O que? Não, não-

- É assim que se faz, certo? Eu comi em demasiado no jantar mesmo, prec-

Malik nem sequer permitiu Liam terminar a frase, agachando-se e


agarrando o balde pelas bordas.

- Eu não vou deixar que você faça isso. Liam, você não vai entrar nessa. -
alertou, tentando puxar o recipiente com força da posse do maior, que por
ser mais forte não cedeu, tornando aquilo uma espécie de cabo de força.

- Eu só vou provar sua tática. - Payne se defendeu, torcendo mentalmente


para que seu objetivo com toda essa cena fosse bem sucedido.

- Pare de ser um tolo! - Malik reverberou, soando genuinamente


desesperado. - Liam! Por favor! - advertiu.

E apenas porque sua voz estava beirando uma aflição extrema, Payne parou
de insistir, permitindo que o balde fosse arrancado de si.

A euforia do momento foi instantaneamente substituída para um silêncio


gritante, com Zayn ligeiramente trêmulo, apertando o balde com firmeza,
como se estivesse dependendo dele para não despencar de algum abismo
seu.
Já o herdeiro de Bristok piscava calmo, estudando cuidadosamente a reação
estranha de Zayn.

- Você seria um idiota se houvesse feito isso. - Malik balbuciou, quebrado.

- E por quê?

- Porque acabaria se machucando por algo... Que não vale a pena. -


segredou, a cada palavra um timbre menos audível, finalizando com um
suspiro profundo enquanto seus olhos se fixaram no chão, a cabeça mantida
baixa.

- Eu não teria me arriscado. - Liam confessou. - Mas eu precisava que você


falasse em voz alta que você está se machucando por algo que não vale a
pena.

- Não me importo. Eu não tenho mais cura nesse quesito. - Malik decretou.

- Seu distúrbio tem cura, no caso, é entender que você tem muito mais a
oferecer do que estética.

- É engraçado escutar isso na teoria, quando na prática o mundo vive de


aparências. - Zayn balbuciou sob sua respiração pesada.

- Você está generalizando. Talvez a parte medíocre e ignorante do mundo


viva de aparências. - Payne concordou. - Mas sempre haverá uma melhor
que entenderá que aparência é algo manipulável, enquanto que virtudes
verdadeiras são razões reais para admirar alguém.

- Bem, não quando esperam que você seja bonito o bastante para atrair
alguém respeitado, bem posicionado e digno.

- Primeiro que: se algum indivíduo se relaciona com o outro somente pelo o


que o atrai fisicamente, ele já não é respeitável e bem posicionado. Muito
menos digno. Eu o chamaria melhor de fútil.
Segundo que, por que caralho você relaciona beleza com... Isso?! - Liam
apontou para a figura do moreno, segurando o balde de madeira entre os
braços, gesticulando fielmente o que pretendia transpassar.
Aquilo soou como uma flecha no coração de Zayn, que resfolegou, negando
com a cabeça.

- Porque eu preciso manter o meu peso. Eu preciso de um corpo que agrade


a sociedade tanto quanto me agrade. Isso é beleza.

- Beleza? Procure no dicionário. - Liam grunhiu frustrado e exasperado. -


Provavelmente a primeira definição será algo como 'manifestação do belo'.
Você sabe o que é belo para mim, Zayn? Belo é acordar na manhã e assistir
um nascer de sol com o céu limpo.
Belo é o céu estrelado em noite de lua cheia.
Belo é o par de asas coloridas de uma borboleta.
Belo, beleza... significa uma virtude que te desperte encanto, autenticidade,
interesse.
É, supostamente, uma coisa agradável e que te faça se sentir bem. Ela vem
de dentro para fora.
Pois então me diga, como você cogita 'estar bonito' quando os métodos que
aplica para alcançar são o oposto disso? Afetam sua saúde?!

- Eles são o que me mantém firme. Eles me garantirão uma boa esposa, ou
esposo. Algum pretendente decente, que resulte em uma união de tronos
épica. Essa é a minha forma de conseguir. - Zayn sussurrou.

Merda.
Era um assunto tão delicado, porque quiça a devida importância que Liam
dava aquilo não fosse um décimo da que Zayn dava.

Não seria ao todo fácil de convencê-lo a qualquer coisa.

Payne respirou fundo, indo sentar-se ao lado de Zayn no piso frio, rente a
sua magra estrutura.

- Todos estamos submetidos a esse universo plastificado, sabe? Em suma, a


maioria compete para se parecer com um molde padronizado de beleza,
porque é ignorante demais para aceitar sua própria forma de encanto. É isso
que você pretende? Ser outro boneco de plástico? Porque essa não é uma
atitude de rei, é uma atitude de alienado.
Os ombros de Zayn caíram.

- Eu só estou tentando ser bo-

- Você é bonito. - Liam o interrompeu, enviando-o um olhar honesto. - Você


é lindo. Mas, Zayn, você também é inteligente, e bondoso, e simpático, e
altruísta. Você tem outras mil qualidades. Pare de enfatizar tanto seu visual,
ou tornará sua beleza um defeito. Você não tem que ir atrás de alguém que
te veja como um pedaço de carne agradável.

As palavras causaram algum impacto.


Liam pôde ver um pequeno nó confuso e um conflito interno ocorrendo por
trás do par de olhos castanhos e longos cílios.

Depois de um par de segundos Zayn assentiu, ainda em silêncio.

- Eu não tenho o poder de transformar suas atitudes. Meu discurso pode ou


não ter adiantado para alguma coisa. Quem decide é você. - Payne suspirou.
- Boa noite, príncipe.

E se levantou, saindo da sala em passos quietos, deixando para trás Príncipe


Malik em estado de atordoamento, e estático.

***

A madrugada de quinta ainda era, embora, algo a se vangloriar.

Não pelo clima tenso que se dissipou quando cada um rumou ao seu próprio
aposento, e sim porque talvez fosse a primeira madrugada daquela
temporada em que o verão se fizesse tão presente.

Estando em uma área de temperaturas noturnas sempre frias - mesmo em


verões - era de se admirar de que naquele luar o uso de casacos não fosse
necessário. Apenas uma malha fina e uma calça com pano liso de algodão
talvez.

Oh, mas Louis acrescentou ao seu vestuário um par de suspensórios


também.
Ele estava pronto para sua caminhada noturna, a qual tinha um propósito
desde que avistara uma figura esguia e solitária passeando pelo jardim
através da janela de seu quarto. Dessa vez, Harry parecia ter tomado um
caminho diferente do usual, seguiu para o lado sudeste dos canteiros, em
que nem Louis saberia dizer onde desembocava.

Portanto, apressou-se para ficar pronto e descobrir.


Chapter Thirty One

Episode: The First Collision (escutem a música do cap)

Diante seus passos calmos entrecortando o sereno da noite - noite de lua


cheia aliás, Louis foi se guiando sem rumo, não tendo certeza de qual
caminho Harry seguira.

Jardins palacianos são enormes. O breu do luar não ajudava muito.

Ele andava tranquilo, embora. Orientou-se pelo próprio instinto entre os


canteiros altos e o aroma floral das damas-da-noite, ao leste. E ao sul.

No que soaram sete minutos depois, Louis começou a sentir o vestígio da


presença humana naquela direção, vendo de longe alguma claridade de luz
amarela se destoando de toda a escuridão.

Seu caminhar o levou a um coreto (é a imagem salva na mídia). Um coreto


redondo e iluminado. Um coreto com estrutura grega em tom creme e
colunas de padrão jônico, ramos das plantas entrelaçados a suas grades e
um ar de requinte romântico vitoriano aperfeiçoando o ambiente.

E, em uma extremidade deste, estava a verdadeira alma do espaço.

Harry estava parado como uma estátua no cenário.

Seus voluptuosos cachos eram as únicas que delatavam sua identidade,


embora.
Ao menos de costas o vestuário do maior parecia precário, e um pouco sujo.
Nada requintado e styliano.

Era uma camisa de mangas longas branca - com marcas beges de gordura
ou rastros de bolor estampando-a - e uma calça simples preta, sem
curvaturas ou tecidos finos, um tanto larga em suas pernas.

Ele se assemelhava a um camponês após um dia de trabalho.

Louis não precisou chama-lo ou reafirmar sua presença, Harry nem mesmo
virado para si ouviu-o chegando e, de algum modo, soube que era ele.

- Parece que está sempre me seguindo... - Styles murmurou, virando-se em


seu próprio eixo. - Príncipe Louis.

Ao flagra-lo de frente, foi constatado o estado miserável que Harry - de


fato- se encontrava.
As vestimentas abarrotadas, seu cabelo ligeiramente desgrenhado e oleoso,
a ausência de Carolina ou a palidez de sua pele não eram nem um grande
indício se comparados a expressão dos olhos.

Seus olhos estavam na mesma tonalidade verde clara usual, no entanto com
um aspecto exasperado, inquietos, e sobretudo perdidos.

Havia um incômodo por trás deles que instigou Louis instantaneamente.

Eles estavam há bons passos de distância e ainda assim era como se um


certo terror que Styles se esforçava para mascarar pudesse ser transmitido a
Tomlinson, de modo que ele simplesmente captasse que alguma coisa
estava errada.

Harry nunca fazia contato visual que não fosse invasivo e pretensioso. Ele
nunca sustentava contatos visuais se certamente não estivesse em uma
posição superior ou em seu comportamento insinuante.

Mas, naquele momento, sim.

Ele permaneceu com suas pupilas fixas nas de Louis sem ousar se
movimentar. É como se estivesse agoniado internamente e aquele olhar
significativo fosse um aviso de emergência.

Louis escutou um grito no silêncio de seus olhos.


E se perguntou se isso era um sinal de incêndio: Harry estava em chamas
por dentro e ninguém ousaria saber.

Alguma coisa só... Estava muito errada. (Como sempre).

- Vai ficar calado? - sua voz um tanto grogue e falha insinuou, embora a
ironia não alcançasse ou se tornasse legítima naquele momento.

- Perdão, o que disse? - O herdeiro de Riverland indagou, piscando suas


divagações para fora.

- Comentei que tenho a impressão de que está me seguindo sempre. - Harry


replicou, soando mais como um resmungo rabugento porém forçado.

- Só quando acho que deseja ser encontrado, Harry. - o menor disse. E


claramente sua frase surtiu algum efeito em Harry desde que foi impactante
o suficiente para que ele desviasse sua atenção do rosto delicado de Louis
para o lado ou qualquer direção.

A resposta não verbal e involuntária de Harry se resumiu a um fraco suspiro


enquanto seu silêncio era a confirmação de que as coisas não estavam em
ordem.

O cacheado andou alguns passos do meio do coreto para o canto direito,


onde apoiou seus braços na grande e passou a fitar o que estivesse na frente
de seu campo de visão, possibilitando a Louis somente uma imagem um
pouco distante de seu perfil.

Louis estava se esforçando para agir o mais natural que conseguisse apesar
de haver um ímpeto de questionar Styles o que havia de errado.

Bem, ele não precisou ter esse trabalho, Harry eventualmente ressoou suas
palavras de forma dolorida ao adentrar no assunto:

- Por que você ainda se importa? - foi o que interrogou primeiro,


aparentando mais estar em um monólogo do que direcionando uma
pergunta a Louis. Seu tom expressava incredulidade genuína enquanto
meneava sua cabeça em negação. - Eu não entendo. - soprou indignado, um
pouco mais baixo, para enfim finalizar com o rosto voltado a Príncipe
William em um misto de cansaço e atordoamento - Você não escutou dos
boatos?

E Louis entendeu.
Naquele segundo ele ligou os pontos, a situação fez sentido e se esclareceu.

O incidente.
Harry estava sendo culpado por todos.
Claro.

E aquilo... o machucava. Mesmo que não admitisse ou não quisesse


demonstrar, rejeição tem um limite. E talvez a maior parte do repudio que
era voltado para si fosse consequência de suas ações, mas parte também
eram graças a imagem que o circundava e que não faziam questão de
desconstruir.

Talvez ser odiado e acusado por tudo de ruim que acontecia naquele palácio
o chateasse mais do que qualquer um imaginasse.

Louis não seria um idiota como os outros.

- Não. Não escutei. - Tomlinson mentiu. Era óbvio que ele havia escutado,
assim como todos que estavam no café da manhã o qual Luminiére
anunciou o ocorrido.

Harry abaixou ainda mais a cabeça.

- Eles acham que fui eu quem envenenei Niall. Que eu tentei matá-lo. -
Styles quase cochichou de tão fraco que saiu, como se estivesse
envergonhado de até mesmo pronunciar tal afirmação.

Louis, que até então estava do lado de fora do coreto - sendo parte da cena
ainda em meio ao jardim - subiu os degraus da estrutura oval adornada com
luzes, os três que haviam, calmamente.

Calado, passou a observar despreocupado o seu redor, brevemente


encantado por toda a essência de um romance vitoriano que era aquilo.
Após ter tido o suficiente do ambiente, retornou para a conversa deles,
quase como se estivessem tratando de algo trivial igual o clima,
perguntando em um tom casual e leve:

- Foi você?

Harry não o disse nada durante os próximos dois minutos. Nesse meio
tempo tenso Louis sustentou o olhar fixo em suas costas, não sabendo qual
era a feição do herdeiro Malta.

De repente, escutou-o murmurar (sátira escorregando pelas bordas, e


lamentação no centro).

- Você não iria acreditar em mim. - sua réplica veio acompanhado de um


dar de ombros, de forma que parecesse que Harry achasse que qual fosse
sua alegação, Louis jamais de fato acreditaria nele. Porque honestamente...
quem acreditava?

- Não foi o que perguntei. - Tomlinson rebateu, direto. - Foi você? Foi você
quem envenenou Niall?

Mais um período sem pronunciações.

As palavras pareciam ter sumido de Harry ao que ele nada dizia,


aumentando o suspense no ar.

Porém, seus ombros começaram a tremer levemente e então sua cabeça


estava se balançando de um lado para o outro em negação, até que de seus
lábios algo audível finalmente saísse.

- Não. - soprou, firme e quebrado.

Harry parecia pronto para o que vinha a seguir, estava preparado para
escutar Louis rindo de sua negação como se falasse 'ah, claro, e eu sou um
pirata', ou qualquer deboche humilhante que com certeza viria das outras
pessoas.

Porque, veja, o que realmente valia a palavra de Harry quando ele é


conhecido por ser um grande filho da puta egocêntrico e egoísta?
Manipulador, perverso, pervertido...

Harry Edward Styles estava sinceramente pronto, até em expectativa para


qual seria a resposta zombeteira que Louis lançaria sobre si.

Mas....

- Então os mande se foderem.

Talvez o queixo de Styles tenha ido ao chão.


Ele até se virou rápido, certo de que ouviu errado.

- O que disse? - Harry pediu, agora com os olhos percorrendo o rosto de


Louis em busca de alguma sanidade nele.

No entanto Louis permaneceu impassível ao repetir:

- Eles que se fodam. Mande-os se foderem.

E Harry não se lembra de alguma vez na vida ter ficado assim perplexo -
nem ao transar com um príncipe embaixo da mesa de jantar enquanto
acontecia um banquete no Palácio de Vidro, três temporadas atrás.

Ele cogitou estar doente e delirando. Escutou coisas.

Seu espanto estava claro enquanto seus olhos pareciam ter o dobro de
tamanho do tão arregalados que ficaram.

Aquilo foi o suficiente para que Louis entendesse que ele não diria nada por
estar preso em uma espécie de choque interno, o que o levou a esclarecer
melhor:

- Harry, você não tem que se construir em torno da imagem que as pessoas
guardam de você. - Louis ia proferindo, procurando clarear toda sua
honestidade em cada frase. - Você não tem que insistir em se defender deles
caso duvidem da sua palavra. Se não foi você, então isso basta. Você sabe a
verdade. Se eles vão continuar te acusando ou não, deixe que falem. Quem
liga? Eu acredito em você.
Styles aparentava prestes a ter um colapso emocional de tão tocado que
estava.
Sua respiração de repente ficou muito ofegante, como se fosse ter um
ataque de asma ou chorar impotente.

Seu peito subia e descia tão bruscamente que o ar escapava por seus lábios
entreabertos, à medida que seus olhos estavam estatísticos nos de Louis,
ligeiramente marejados.

Harry andou três passos bambos para frente.

- Não fui eu também que armou aquilo da cobra falsa com Andrew. Eu juro.
- Harry sussurrou, sua voz se perdendo no sereno da noite, em iminência de
desabar.

- Eu sei. - Louis sussurrou convicto de volta, embora aquilo fosse bobagem


já que não havia ninguém por perto para escuta-los.

- Como? - Styles franziu as sobrancelhas, comovido demais para pensar em


esconder suas expressões.

- Você nunca cogitaria a ideia de assustar alguém ou algo com uma cobra,
nem mesmo um cavalo. Não quando tem um carinho tão grande pela
história de Carolina. - Louis afirmou, de uma maneira que tornara certo de
que ele nunca comprara a ideia de que Harry estivera por trás do
acontecimento no passado.

Harry abria e fechava a boca, sem falar nada propriamente.

- E eu não creio que você seria capaz. - Louis acrescentou, tomando as


rédeas da conversa já que Harry estava frágil demais para sequer participar.
- Você não é uma pessoa ruim, Harry. - constatou, inspirando fundo. - Mas
você permite que as todos tenham essa imagem de você, porque ela te
remete a algo poderoso e inquebrável.
Você quer ser forte por fora porque se sente frágil por dentro.

A esse ponto Styles realmente estava a um nanômetro de despencar em um


abismo mental. Respirando pesado e piscando com força, as luzes do coreto
iluminado-o devidamente.

A camisa grudava em seu corpo devido ao suor.


Ele nunca esteve tão deplorável quanto agora, Deus.

Meio inerte da realidade, meio chocado com ela, fitando Louis com uma
intensidade descomunal.

- Merda. - Styles xingou baixinho.

Ele não deu nenhum tempo de compreensão antes de avançar seus passos
em direção a Louis, sem aviso, e jogando seus braços com pressa em torno
do pescoço do outro - como se precisasse se agarrar nele para não cair.

Antes até mesmo de Tomlinson entender o que estava acontecendo Harry


aproximou seus rostos em tempo recorde, e tomou seus lábios
desesperadamente.

Desesperado.

Era a palavra ideal para descrever o ato de Styles, o qual seus beiços se
movimentavam em um colapso físico, onde após exatos oito segundos
Louis finalmente despertou e aceitou aquilo.

Aceitou Harry sugando-o como se houvesse esperado muito por esse


momento. E como se precisasse dele agora.

Louis estava visivelmente surpreso, e ainda assim fechou os olhos e


permitiu que Harry abraçasse seu pescoço agitado, apertando-os um contra
o outro no calor veranista da noite.

Primeiro foi um encaixe de lábios molhados.


Um encaixe meio inconsciente e impulsivo
que levou a Harry pedir passagem exasperado para que sua língua viesse a
encontrar a de Louis, como um encontro de amantes separados por uma
vida, ofegante. .

O gosto de Louis era adocicado, com resquício de canela - certamente do


chá que ele tomara no jantar, já Harry oferecia um sabor inusitado de
cerejas.

Tomlinson sempre desconfiara que seus lábios eram extremamente rosa por
um motivo. Só não tinha certeza que provinha de um gloss labial com sabor.

Suas línguas giravam em sincronia, ora ou outra fazendo sons de estalo.

Toda a euforia de Harry - quase agressiva e animalesca - estava se


condensando para calma, como se aquilo o levasse a um nível de paz, como
se um beijo estivesse traduzindo inicialmente seu desespero e por fim o
sossegando.

Harry suspirava contra o rosto de Louis, aparentando-se perdido naquilo,


perdido em movimentar e embalar seus beiços cheio de intensidade, cheio
de... De algo que cutucava a boca de seu estômago há algum tempo.

Era como provar o céu.


Styles se sentia flutuando suspenso em uma nuvem, buscando se unir cada
vez mais contra o corpo de Louis prestes a embolarem-se em uma mesma
pessoa.

Ele estava sendo um tanto sufocante ao pressionar tão firmemente suas


bocas, quase gemendo ao escorregar sua língua contra a áspera do menor.

Ele estava tão perdido naquilo que não notara sua própria perna esquerda se
levantando e a direita se encaixando entre as de Tomlinson, completamente
inebriado pela sensação de êxtase que o tomara.

- Harry. - Louis exclamou em advertimento, o afastando minimamente para


trazer algum oxigênio aos seus pulmões visto que se fosse depender de
Styles eles jamais interromperia o beijo para respirar. E, veja, ar é
importante também.

Harry desuniu seus lábios um tanto ofegante, distanciando seus rostos para
que pudesse olhar nas lagoas azuis, deparando-se com elas brilhantes,
encarando-o de volta.
O príncipe de Malta se deu conta do quanto estava pressionando Louis
contra a grade, e o quanto estava apertando-se nele como se a qualquer
segundo fossem se tornar uma única peça.
Talvez ele também tenha se dado conta que havia sudo sufocante demais
para o menor.

E ficou atordoado com seu próprio comportamento, confuso por ter agido
sob um impulso primitivo de agarra-lo sem seu consentimento.

Envergonhado de si próprio, Harry lançou a Louis um último olhar


indecifrável antes de dar alguns passos para trás, se virar e descer as
escadas do coreto, sumindo pelos jardins e largando o futuro rei de
Riverland um pouco trêmulo e confuso, pálido. Piscando afoito na tentativa
de digerir os últimos trinta minutos.

•••

Notas da autora:
Eh isto.
Kkkkkk até a próxima att, amo vcs
Chapter Thirty Two

(Depois de séculos sem atualizar, aqui estou finalmente. Dedico a


atualização a Sara que sempre divulga todas as minhas fanfics e me deu
inspiração a continuar escrevendo esta).

Episode: Not the One

Ao que Louis retornou para seu aposento naquela noite, uma certeza se fez
clara em sua mente: Harry era um completo desastre insano.

Ele o beijou. Harry, pelo santo, onde estão seus escrúpulos?

Louis se deixou ser beijado?

E por onde foi toda a ética construída há tanto tempo?

- Louis? Está tudo bem? - Lorena o questionou eventualmente, ele nem a


tinha notado no cômodo estendendo-o uma xícara com chá e oferecendo
uma expressão confusa.

Para onde havia ido sua pose austera?

- Yeah, está. Está sim. - ele escolheu responder ao invés, pela primeira vez
em anos não tendo conhecimento de onde botava os pés e o quanto se
afundaria.

A partir de aquele ocorrido, ele denominou mentalmente Harry como


Catástrofe.

***

Na manhã seguinte os príncipes foram despertos antes do raiar do sol.


E, pois bem, devido aos últimos ocorridos a semana de provas foi
cancelada.

Eles teriam alguns dias livres para pensar, dissipar a tensão e tudo mais.
Não é todo dia que um dos membros reais com uma coroa prometida
sofrem uma tentativa de envenenamento dentro de um palácio suposto a ser
seguro.

O café da manhã foi servido no Salão A com a típica reverência e conduta


que deve se adequar aos padrões da realeza. Os funcionários agiam como se
nada houvesse acontecido enquanto os jovens se mantinham calados, em
expectativa para a chegada de um certo príncipe de cachos.

Harry Edward Styles em sua gloriosa casualidade surgiu com cinco minutos
de atraso, quando todos já estavam acomodados saboreando morangos e
pequenos bolos de massa leve.

Ele vinha acompanhado de Don Luminiére, os dois em uma conversa de


sussurros e troca de olhares ao que a atenção unânime do salão voltara-se
para aquilo.

Styles estava vestido com peças lisas de tonalidade clara, um lenço de seda
rosa pastel enrolado em seu pescoço. Em cima de sua casaca creme havia
uma pequena flor fixa com um broche brilhante. Ele era a personificação da
elegância descomunal com uma bengala desnecessária e sapatos de verniz.
E embora sua roupa não diferisse do seu usual, a expressão quieta e
desconfortável divergia.

Bastou um segundo ao se sentar em uma mesa mais afastada do centro para


que Andrew se levantasse exaltado.

- Você só pode estar brincando, certo?! - ele cuspiu, piscando sua


indignação para o cavalheiro Don Luminiére, o qual manteve-se calmo
como se já estivesse esperando pela polêmica.

Alguns outros príncipes se juntaram na manifestação de desavenças.

- Ele literalmente é o principal suspeito de tentar matar a droga de um de


nós e nada foi feito?! - uma segunda voz infere.
- Espera que tomemos nossas xícaras de chá ao lado de um monstro como
Styles? Pelo amor, aonde foi parar a ética desse lugar? Niall Horan não é
uma prova de que devem afastá-lo do palácio?! - Andrew finalizou,
apontando ferozmente o dedo na direção de Harry.

Os olhos verdes esmeralda do tão odiado príncipe desviaram seu foco para
o chão, e talvez essa fora a primeira vez que Harry se demonstrou
genuinamente rebaixado diante qualquer situação na frente de um público.
Era de se esperar que um sorriso debochado surgisse em seu rosto, e não
que ele o abaixasse.

Toda a fachada de superioridade e indestrutibilidade se desmanchara como


papel diluído em água e isso foi sobretudo estranho para quem assistisse.

- Não foi ele, vossas altezas. - Luminiére interveio, proferindo com


determinação diante toda a algazarra que se formava de vozes e protestos
jogados no ar. - Não podemos acusa-lo sem provas. O príncipe Harry
Edward Styles negou participação ou envolvimento em qualquer acaso que
se relacione ao abominável ocorrido. Ele afirmou estar em seu próprio
aposento durante toda àquela tarde.

- E vocês acreditam? Sinto pelo tumulto, mas alguém de fato acredita que
depois de tanto aprontar conosco, até mesmo ter provocado um acidente
que poderia ter sido fatal enquanto eu cavalgava, que esse repudiável
indivíduo o qual detesta abertamente Niall Horan, e perdeu
vergonhosamente no duelo no esgrima, não está por trás disso?! - Andrew
verbalizou aturdido, olhando em volta como se chamasse os outros para
unirem-se a ele e provarem seu ponto.

Um silêncio extremo entrecortou a sala, levando Styles a morder o lábio


inferior enrubescendo ... porque o que ele poderia fazer? No fundo sabia
que tudo era uma colheita de todo o mal que plantou e semeou ao longo dos
anos com sua reputação e personalidade intragáveis.

- Por favor, senhor, nós-

- Eu acredito.
Uma voz cortou a finalização de Andrew.

Uma voz decidida e firme.

Todas as cabeças se viraram rapidamente em busca da fonte.

- Eu acredito. E enquanto vossa alteza, ou alguém não puder provar


concretamente que foi ele quem o envenenou, ninguém possui o direito de
aponta-lo como culpado. - Louis impôs, sua feição impassível porém em
uma pose claramente defensiva.

Os príncipes ao redor escancaram as bocas em choque. Quem em sã


consciência defenderia um idiota como Harry?

Andrew se calou. Talvez porque não teria argumentos para contraria-lo, ou


talvez porque o espanto roubara sua capacidade de pensar. Entre todos os
antigos fiéis amantes de Styles, todos os que deliberadamente o julgavam...
seria o mais fechado e politicamente correto deles que compraria a causa.

Naquele instante Harry levantou o rosto pela primeira vez, tão descrente
quanto os demais.
Sua pele rosada e seus grandes olhos estavam mais arregalados que o
possível, dirigidos com uma perturbação visível para Tomlinson. Ele estava
só.. perdido? E provavelmente tocado?
Muito tocado.

O príncipe de Riverland havia deixado claro na noite anterior que ele


acreditava em Harry.

Mas uma coisa é você apoiá-lo em um desabafo, e outra é defendê-lo


enfrentando todos aqueles que estariam prontos para apedrejar o futuro rei
de Malta até que o esfolassem vivo.

- Louis está certo. - Zayn se pronunciou em sua mesa. - Nenhum de nós está
acima das leis. O que é justo, é justo.

Apesar dos bufos e murmúrios descontentes ninguém ousou rebatê-los.


Até mesmo Andrew que mantinha-se em pé se limitou a revirar os olhos e
menear a cabeça em negação, retomando seu assento.

- Estaremos investigando o atentado. As aulas estarão suspensas essa


semana e ninguém está permitido a sair das dependências do Palácio, nem
mesmo ir para o jardim. Assim que chegarmos a uma conclusão os
deixaremos atualizados. Até lá, passar bem, vossas altezas. - Don
Luminiére proclamou, reverenciando-se cordialmente para enfim sair do
salão.

Como era de se esperar tal decisão desagradou quase todos os jovens.


Harry continuou sendo o alvo de seus olhares raivosos de quem cultivava
na mente a certeza de que aqueles cachos e longos dedos adornados de
pedrarias pertenciam ao responsável de uma atrocidade.

O ambiente tornara-se tóxico o bastante para que Styles, ineditamente


intimidado, desistisse de suas frutas frescas e se levantasse.

Sentiu o derramamento da raiva ostensiva em seus ombros- o que,


normalmente, não o afligiria naquela intensidade, mas que de repente soava
extrema e insuportável para que um humano absorvesse. Não quando em
todas as faces estavam estampadas acusações impertinentes que o tornavam
um impiedoso assassino. Ele não precisava lidar com isso. Ele não queria
essa sensação pra si novamente.
Não dessa vez em que ele era inocente.

Foi-se ligeiro embora rumo ao andar dos aposentos, equilibrando-se sobre


Carolina de modo que parecesse precisar dela para não tropeçar no chão
sendo o desastrado que era.

Claro que Harry deu um jeito de no meio do trajeto despejar desajeitado um


bilhete para Louis, em frente de onde este estava bebericando um pouco de
chá frio. Não esperou um segundo para ver sua reação e marchou afora do
salão com toda aquela antiga magnificência completamente abalada.

Tomlinson pingaterreou disfarçadamente - ou quase cuspiu o líquido para


fora da boca - haja em visto que cada par de olhos estavam direcionados
para ele e o bilhete em repouso.
Ele não era de se importar com o que quer que estivessem pensando, mas
não era burro de saber que ligariam os pontos e concluiriam erroneamente
sobre os dois. Ele não estava com Harry. Ele não era mais um de seus
amantes anônimos que o visitava de madrugada. Ele não defendera o
príncipe de Malta por ser outro súdito encantado pela sua arrogância.

Tomlinson era neutro. Não queria ser vinculado a qualquer imagem


deturpada de si. Não queria pertencer ao grupo que desprezava Styles. Nem
ao grupo que o idolatrava.

E talvez esse recado nada discreto ao lado do prato de croissants fosse um


sinal de que ele estivesse caminhando para um lado da história a qual não
queria estar.

Intencionalmente não pegou o papel de imediato, apesar de puxa-lo para si


para evitar que curiosos bisbilhotassem a escrita.
Deu cinco minutos até que as atenções alheias estivessem mais dispersas e
os assuntos tratados se enrolassem em torno de fofocas ou teorias de
conspiração.

Devolvendo a xícara de chá ao pires de porcelana, finalmente o leu.

"Encontre-me na despensa da ala leste. Meia noite. H."

Catástrofe.

****

- Não acha que o que o senhor fez foi muito arriscado? - ela o indagou com
uma expressão preocupada.

- Ao que se refere? - Louis fez-se de desentendido, detendo-se em folhear


novamente o livro.

Após o café da manhã Tomlinson preferiu gastar toda sua tarde lendo na
biblioteca alguns contos fantasiosos nórdicos. Estórias sobre vikings e
povos bárbaros. Não que isso tenha sido um sucesso ao todo, porque
sinceramente sua cabeça estava um pouco embaralhada e os pensamentos
inquietos não permitiam que ele se concentrasse nos parágrafos.

A coisa era que o que aconteceu na noite passada naquele coreto iluminado
foi perturbadora.
Ele não imaginaria que Harry o agarraria.
Nunca.
Ele não poderia prever nem em milhões de anos.

Lógico, Louis não era um idiota. Muito pelo contrário, ele notara alguns
piscares atravessados que às vezes Styles o enviava. Styles fazia isso com
qualquer par de pernas que andasse.

Mas era diferente.

A maneira presunçosa que o Príncipe Edward encarava alguns dos jovens


que abertamente mantiveram relações com ele na temporada era o oposto
do que ele continuamente cedia a Louis.

A sedução estava presente.


Mas ela não era o destaque.
Não costumava ser.
Parecia um pouco mais real, sólido. Menos ardente e talvez... genuíno.

Tomlinson se certificara que as ultimas lembranças que eles compartilharam


tiveram sido memoráveis, intensas e honestas.

Ele estava disposto a aceitar Harry. A demonstrar-lhe apreço amigável.

Amigável.

Ele guardara algum carinho por Styles e seus jeitos excêntricos de sorrir, de
pensar e viver.

Se for honesto consigo, ele aprendeu com Harry. Tem aprendido e


transformado suas perspectivas.

No entanto, ele não concordara em beija-lo.


E o pior é: ele também não o impediu.

Ele não rejeitou quando os lábios famintos do maior desbravaram sem


pudor algum os seus.
Embora tenha tomado um grande susto... ele o correspondeu.

E céus. Como?

Como ele não o empurrou e o repreendeu por aquilo?

Como ele permitiu - e até contribuiu - para que o cenário se transformasse


de repente de um triste episódio de autodepreciação para uma valsa
descompassada de bocas e ofegos?

O que raios acontecera com ele?

Quanto mais se questionava sobre, mais frustrado se sentia.

Quando mais jovem já havia claramente se envolvido com algumas poucas


damas que cruzaram seu espaço em bailes (ele não era de ferro).

Mas... há um bom tempo conforme amadurecera, colocara em sua mente


que se resguardaria para algo verdadeiro. E grandioso.

Algo que merecesse repetições e melodias clássicas envoltas de valsas,


champanhe e paixão. Algo que não fossem beijos desajeitados trocados
atrás das escadas durante cerimônias em seu reino.

E muito menos algo que se assimilasse com um instante confuso no jardim


de um palácio, justamente com o príncipe mais petulante e publicamente
despudorado da temporada.

Isso não soava estável, não soava seguro ou adorável.

Isso soava catástrofe.


Simples assim.

Ainda mais considerando o bilhete que Harry clamara por sua presença na -
pelo amor de Deus - despensa da ala leste enquanto estavam supostos a
dormir.

Louis não sabia suas intenções.


Mas esperava que fossem cordiais.
Porque esse não era ele. E ele precisava esclarecer a Styles que ele não
pretendia fazer parte daquele harém que o príncipe detinha sob suas asas.

Esse nunca foi ele.


Tomlinson cultivara displicência para quaisquer tentações sexuais que
houvessem ao seu redor.

Ele simplesmente não estava interessado.

Em momento algum se aproximou ou foi gentil com Harry tendo segundas


intenções.

Então, quiçá, essa era a forma que Styles encontrara de 'recompensa-lo'.


Talvez Harry quisesse agradecer o companheirismo de Louis entregando-se
para ele como se entregara para tantos outros.

Talvez essa fosse a maneira que o rapaz dos olhos verdes correspondesse
sua simpatia.... o que seria totalmente errado, porque Harry jamais deveria
se sentir na obrigação de retribuir o afeto de qualquer um dispondo-se para
a pessoa. Ele não deveria se colocar em uma posição tão vulnerável por
agradecimento.

Ugh.

Era só difícil saber o que aquele lapse deveria significar e Louis não se via
capaz de lidar com esse tipo de situação.

Portanto, após horas gastas inutilmente na biblioteca ele finalmente voltou


ao seu quarto e chamou Lorena para conversar e distraí-lo.

E la estavam eles.

Que por mais que Tomlinson se esforçasse para desviar o rumo dos
diálogos... sempre voltava para Harry.
- É só que... todo mundo está falando, entende? Isso virou fofoca entre os
empregados reais. Todos comentam como foi estranho que você o defendeu.
- ela insistiu.

Uma criada de dezesseis anos e sua cabeça ingênua.

Louis não poderia culpa-la pela curiosidade e inconveniência.

- Eu fiz o que julguei correto. - deu de ombros. - Ele recebe críticas o


suficiente e apoio nenhum.

- Eu sei mas... não é arriscado assimilar sua imagem com a de.. Harry?
Príncipes não vivem sobretudo de aparência?

Louis desviou o olhar preguiçosamente do livro que segurava para observar


a menina sentada na cadeira de madeira, sem postura alguma, curvando a
cabeça em desentendimento.

- Você condenaria a sua por ele? - Lorena continuou.

Subitamente aquilo despertou um gatilho de defesa que ele não sabia


possuir em seu interior.

- Harry não é uma reputação. Ele é um homem. - Tomlinson proferiu. -


Associar-me a ele não compromete a minha integridade, mas sim a de quem
julgar-me por isso.

A fala um tanto ríspida do príncipe instaurou um silêncio um pouco


constrangedor.

- Eu sou um homem de princípios, Lolo. - Louis disse em um tom suave,


buscando atenuar a situação. - Se eu não acreditasse que ele é inocente
nesse caso, não me intrometeria.

- Talvez o senhor não o conheça direito. - ela respondeu negando com a


cabeça. - Eu me importo com você, Louis. É complicado assisti-lo se
vinculando a uma pessoa com uma bagagem suja nas costas.
- Eu não estou me vinculando a ele. - Tomlinson rebateu um tanto eufórico,
o que levou Lorena a sorrir divertida.

- Você parece como um príncipe normal ultimamente. E não como meu avô,
se eu tivesse um.

Louis riu brevemente pra ela.

- O que quer dizer com isso?

- Você se expressa mais. E demonstra mais. Você me chama de 'Lolo' às


vezes. Você se abre um pouco mais pro mundo cada dia que ele parece se
abrir mais pra você. Quando eu te espero aqui e acabo adormecendo, eu
sempre sei que você está fora com o Príncipe Edward. Há alguma coisa
acontecendo, e mesmo que não me conte o que é, eu sinto que está
mudando você.

As palavras da garota cruzaram o cérebro de Tomlinson, que a encarou


quieto.

Ele desviou seu foco para um relógio de bolso que repousava sobre o
criado-mudo, notando faltar três minutos para meia-noite.

Suspirou.

- Preciso ir. Tenho algo a fazer.

- Tipo... se encontrar com ele? - ela ergueu uma das sobrancelhas. - Não sou
burra. Essas paredes têm ouvidos. Sei que ele lhe deixou um bilhete durante
o café da manhã. Bastar somar um mais um.

- Eu... preciso ir. Agora. - Louis se estendeu de pé, marchando


silenciosamente para a porta.

- Qual área? - escutou-a indagar já fora de seu aposento.

- Dispensa leste. - informou baixo, não disposto a acordar ninguém do


corredor.
- Desça as escadas. Segunda divisa à esquerda. Dobre o corredor principal
na terceira porta.

Ele assentiu calado.

***

Ainda debatendo internamente se aquilo era aceitável, Louis guiou


hesitantemente seus passos para onde estava suposto ir.

Ele não saberia exatamente localizar uma despensa na ala leste quando o
palácio era um lugar incrivelmente grande e os príncipes pouco podiam
explorar devido à falta de tempo.

Mas, aparentemente isso não foi seu maior problema, não quando entre
cumprimentar formalmente um ou outro guarda que fazia a patrulha noturna
ele sentiu duas mãos o agarrarem e o puxarem bruscamente para dentro de
um pequeno espaço.

Louis, embora não tenha gritado ou se exaltado tanto pelo susto, ainda
perdeu o fôlego, observando em alerta o escuro que o circundava, sendo
empurrado para uma parede.

Ao menos até que as luzes foram acesas, revelando um local


consideravelmente grande para uma despensa (afinal do que seriam os
palácios sem essas dimensões ambiciosas e desnecessárias?) e um Harry
Edward Styles com uma feição de alívio, camisola de seda branca comprida
e cabelos bagunçados.

- O que foi isso? - Louis questionou, afastando-se da presença de Harry e


indo discretamente para o outro lado da sala cheia de suprimentos pessoais..

- Temia que se perdesse. Este Palácio é como um labirinto confuso. Só


aprendi a me localizar apropriadamente depois de três temporadas. - Styles
respondeu, piscando lentamente com seus olhos verdes muito presos nas
aclamadas lagoas azuis. Quase se embebedando delas.
Louis desviou o rosto para cima, estudando a prateleira dos vidros de
tintaria preta para cartas.

- Por que me chamou aqui, vossa alteza? - Tomlinson optou em ir direto ao


ponto.

- V-você... - Harry começou sem jeito, batucando a perna sem algum ritmo
definido contra o chão de madeira, balançando Carolina entre seus dedos.
Ele era honestamente a definição da inquietude. - Bem, você me defendeu.

- Certo, e? - Louis insistiu, não compreendendo o que aquilo significava.

- Você me defendeu na frente de todos. - Harry reforçou, para se dar ênfase


naquilo. Como se se tratasse de um ocorrido surreal. Sua expressão
atordoada como nunca. - Você os desafiou, afirmando seu posicionamento
e... Céus, você me defendeu.

- Eu acho que você já disse isso segundos atrás. - Louis murmurou em um


tom divertido, repuxando um sorriso.

Um sorriso que foi desmanchado em uma mínima fração de tempo ao que


Harry largou a bengala em um baque mudo contra o chão e avançou, de fato
avançou, contra o corpo de Louis.

Veio em sua direção expondo seu olhar vidrado e quase extasiado e


novamente agarrando-o pelo pescoço, tendo um déjà-vu da noite passada
em que uma imagem de um certo príncipe de cabelos cacheados se lançava
desesperadamente contra si.

Seus braços se firmaram segurando Louis e seus lábios encontraram sem


precisar de qualquer mapa o caminho para os do menor, como se soubessem
exatamente a maneira certa de chegar.

Ele os pressionou fechados, necessitados, engolindo a respiração surpresa


de Tomlinson para si, como se ela já o pertencesse por direito.

E, simultâneo a toda a ferocidade da ação, ele ainda era suave e macio,


como a textura do veludo sendo esfregada contra sua pele, com a veneração
de algum amante da natureza cultuando a morte do sol ou o nascimento da
lua.

Ele era harmônico igual o canto de andorinhas e extremo como a erupção


de um vulcão.

Harry era uma metamorfose poética se afogando em lagoas ou no que quer


que ele considerasse Louis.

E Louis... Louis era um poço de confusão e espanto, pego desprevenido,


que não teve tempo para ordenar suas ações antes que se visse aceitando a
repentina invasão, aceitando Harry movimentar seus beiços com uma
sincronia imaginária.

Aceitando que Harry estava abrindo a boca.

E agora deixando-a aberta como se esperasse que Louis fosse encontra-lo.


Fosse buscar sua língua para que as duas dançassem uma valsa apressada
sob o céu de sua boca.

Que foi o que aconteceu.

Nesse instante, tudo se perdeu.

Não haviam responsabilidades, não haviam pendências que não se


resumissem a um beijo eterno entre mortais.

Que não se resumissem a como Louis estava segurando firme a cintura de


Styles.

E como Styles expressava-se perdido naquilo, cada vez mais animado e


afobado beijando-o como se amanhã fosse o apocalipse e meteoros internos
estivessem rompendo com sua sanidade.

Mas, atingido por um desses meteoros, Louis recuperou alguma linha de


raciocínio em que o lembrava que aquele era Harry Edward Styles - a saliva
de Harry Edward Styles, e que ele estava correspondendo novamente uma
catástrofe. E que apesar de seus ofegos por ar e a forma musical e adorável
como o dono de Carolina lamuriava ao ter sua língua chupada... aquilo
ainda era uma imprudência.

Catástrofe.

Alertado por seu bom senso usual, Louis segurou ambos os seus pulsos
firmemente, almejando impedi-lo.

O que, ter seus movimentos repreendidos, estranhamente pareceu ter


agradado o Príncipe de Malta, porque ele deixou um pequeno gemido
contido e gracioso escapar por seus lábios em aprovação.

Pense com a cabeça superior.


Ela é superior por alguma razão.

Louis puxou-o para trás pelos pulsos, afastando suas bocas.

E Harry... talvez não tenha se importado tanto, ou estava extasiado demais


para tal, pois continuou com seu ímpeto de aproximar seus rostos para
capturar seus lábios novamente.

- Vossa Alteza. - Louis sussurrou em alerta.

- Shh!

- Príncipe Edward. - reforçou firme, virando seu rosto para o outro lado e
empurrando-o levemente pelos ombros para trás. - Por favor.

- É só que... é só que Louis, você é tão... tão gentil e bom para mim. Eu-

- Eu não estou fazendo ou sendo nada com intenções secundárias na mente,


Vossa Alteza. - Tomlinson rebateu com um tom ligeiramente frio, fazendo
questão de encara-lo no fundo de seus olhos enquanto o dizia para expor a
verdade sob suas palavras.

- Eu sei! - Harry proferiu de imediato, balançando a cabeça. - Eu sei que


esse não é você e que você não espera nada em troca de sua solidariedade
comigo.
Styles assemelhava-se perdido em seus pensamentos. Deu alguns passos
distanciando-se e passou a caminhar de um lado para o outro da despensa,
reflexivo e alterado.

- Mas é que... eu não sei explicar. Você é tão bom, e ninguém nunca... você
sabe, foi assim... e eu fico atraído e-

- Não podemos prosseguir com esse caso. - Louis o cortou. - Se você se


recorda de nossos diálogos, deve se lembrar dos meus comentários sobre
questões amorosas e sexuais. Eu não tenho intenção de me relacionar por
casualidades, vossa alteza.

- Ugh! Eu sei também! - Styles grunhiu em frustração. - O papo de amor


cortês e tudo mais. A pessoinha perfeita que irá lhe completar e preencher
seu coração com todos aqueles clichês.

Embora houvesse deboche visível no tom de Harry, não era tão duro ou
crítico.

Louis ignorou o sarcasmo.

- Bom, exato. E claramente nós não somos compatíveis-

- Você acha que eu não sei?! Diabos, Tomlinson é óbvio que eu não estou
nem próximo de me adequar nesses padrões mórbidos e entediantes que
você espera de alguém. - Styles bufou, revirando os olhos. - É só que... você
é bom, e gentil, e tudo que eu não sou, e ainda fodidamente quente-

Louis tentou não escutar o palavreado, ainda que estivesse um tanto


anestesiado e desnorteado pelos últimos acontecimentos.

Ele estava até mesmo espantado que Harry não tenha usado seus apelidos
como 'meu caro, querido, darling ou honey' de seu jeito forçado ainda.

Era um Harry sem armaduras e constrangido e desengonçado. Sem toda sua


glória e esmeraldas.
Um mortal problemático.
- ... E eu estou só de camisola na sua frente, então pelo amor de Deus, você
não pode abandonar sua pose de cavalheiro por um segundo? - Styles
suspirou angustiado, já direcionando-o de novo aquele olhar predador e
faminto, levando-se para próximo de Louis, que por sua vez procurava se
esquivar e aumentar a distância entre eles.

- Vossa Alteza... - sussurrou repressivo, sentindo suas costas colidirem com


uma parede de prateleiras e achando-se sem escapatória das garras de Harry.

- Por favor Louis, por favor. - pediu unindo seus peitorais, rosto à
centímetros do de Louis. Sua respiração já desregulada.

Os longos dedos cheios de anéis se prenderam em torno das mãos de Louis,


direcionando-as lenta e discretamente para suas próprias bochechas rosadas,
como se pedisse silenciosamente que ele o acariciasse suavemente ali.

Foi necessária muita força de vontade para que Tomlinson fechasse os


olhos, desejando que as suas necessidades primitivas não passassem por
cima de toda sua ética, reforçando quem ele era e como nunca antes havia
sido tão testado dessa maneira.

Ao que a ponta se seu indicador tocou a bochecha de Harry - enquanto o


maior guiava-o para isso - ele sentiu a pele se afundar.

Abriu seus olhos para flagrar Styles sorrindo.

E não parecia um sorriso sujo, ou perverso ou debochado.

Era um sorriso calmo, um pouco quente e sedutor.

E com a merda de uma covinha que adornava e enriquecia sua beleza muito
mais do que um diamante ou maquiagens poderiam.

Louis sentiu a barra de sua camisola de seda raspar contra sua panturrilha
desnuda. O tecido fino e gelado reforçando a luxúria e simplicidade do
momento.

Não.
Ele instantaneamente retesou o movimento de suas mãos, desvinculando-as
da posse de Harry e rapidamente pegando seus pulsos e os apertando, como
para impedi-lo de novo daquilo.

Esquecendo que... esse era aparentemente um ponto fraco de Styles, pois


sua feição se desmanchou para uma de deleite enquanto ele mordia seu
lábio inferior ainda sorrindo em aprovação. Lascivo.

- Por que tenho a impressão de que gosta quando prendo seus pulsos? -
Louis indagou baixo, inspirando com dificuldade.

Harry fitou fundo nas orbes azuis, expondo toda sua voracidade. Levou seus
lábios para o ouvido de Tomlinson, segredando provocativo:

- Eu não gosto. Eu adoro.

Catástrofe.

Louis ofegou.

Ele sabia que poderia ser forte.

Ele se sentia em uma armadilha, recordou-se daquele jornal anônimo onde a


imagem de Styles é esculpida como a tentação para o pecado, a própria
serpente que induziu Adão a morder a maçã.

Será que era assim que Harry conseguia tudo?


Que ele atraia quem ele queria para seu covil?
Será que era com essa confiança e palavras decoradas que ele convencia
quem estivesse em sua mira a ceder?

- Harry, não. - Louis negou quando os lábios do maior buscavam ardentes


pelos seus.

- Beije-me. Pare de resistir. - suplicou, tocando seus narizes. - Eu preciso


disso.

- E-eu não posso. - Louis gaguejou, sua garganta secando.


Foi quando escutou um choramingo vindo de Styles, igual uma criança
sendo contrariada.

- Eu estou atraído por você. É inevitável. - Harry encaixou superficialmente


suas bocas, repetiu. - Inevitável.

Louis desmoronou sua muralha nesse segundo, sendo persuadido por toda a
situação. Talvez isso fosse compreensível porque ele era um humano, jovem
e não estava cometendo crime algum...

Só... um deslize.

Literalmente.
Um deslize de beiços molhados e perdidos e desesperados.

Suas línguas girando apressadas ao que Harry se prensava mais e mais


contra si, começando a ser perceptível que por baixo daquela malha
requintada havia uma corpo em chamas.

Havia sedução e vulnerabilidade. O modo que Styles se expunha, se


entregava. Emitia sons paradisíacos.

Havia um relevo duro contra sua coxa.

Louis apertou com mais força seus pulsos. Mudou-os de posição colocando
Harry contra as prateleiras.

Styles gemeu abertamente contra sua boca.


Ofegando.
Desesperado.
Necessitado.

Chamando-o. Tentando-o.

- Me faça seu. Me faça seu. - reforçou como um mantra, arqueando


levemente as costas e esfregando sua virilha contra a coxa de Tomlinson
como para provar seu calor. - Não vês como estou ardendo por ti, querido?

Querido.
Querido.

De repente a mente de Louis travou.

E ele o largou.

Louis se afastou descrente, andando cegamente para trás como o diabo


fugindo da cruz.

Harry o lançou uma expressão confusa e desolada.

- O que houve? - questionou, retomando a respiração.

Louis negou com a cabeça.

- Isso não pode acontecer.

- Pensei que se permitiria aventurar por ao menos uma vez. - comentou com
uma pitada de decepção nas bordas.

Mas, ele era uma Catástrofe. Louis precisava manter-se são.

Então, colocou a maior quantidade de honestidade pintada em suas lagoas,


com uma pose um pouco mais dura e estável, sua voz determinada.

- Harry, não serei mais um de seus totens expostos na parede dos que você
conseguiu por um mero capricho de auto-estima.

Aquilo pareceu atingi-lo.

Aquilo pareceu atingir Harry mais do que deveria.

Aquilo - aquela frieza - foi uma flecha contra seu estômago.

Styles até mesmo posicionou a palma de sua mão contra a barriga, para
estancar o suposto sangramento da ferida.

Ele piscou aturdido, talvez magoado.


- Mas.. e-eu... Mas, c-com você... - gaguejou, uma umidade não usual
acumulando-se nas pálpebras. - Lou, você é.. é diferente.

Sua insegurança e seu desconforto estavam condenando a sensibilidade de


Tomlinson.
Contudo, ele ... ele fazia o correto.

- Exatamente. Eu não cedo às suas provocações. - proclamou. Direto e seco.

Virou-se sem nenhum suspiro ou checagem de qual seria a reação de Harry,


e foi embora para seu aposento.
Chapter Thirty Three

Episode: The Walls Can Hear Us

- Eu ainda não acredito no que aconteceu esta manhã. - Liam sussurrou,


meneando a cabeça em negação.

Era perto da meia noite e ele e Zayn estavam encolhidos em algum canto
daquela sala escura de concertos onde o Príncipe Payne o encontrara aquela
vez.
Desde então isso era aparentemente uma coisa.

Há duas noites Malik não ousara usar o balde para despejar toda sua última
refeição.
Não quando seu esconderijo fora invadido sem qualquer concessão por
Liam, que simplesmente adentrava e sentava calado ao seu lado, encarando-
o atentamente como em expectativa. Como se não fosse uma presença meio
incômoda dada às circunstâncias.

Zayn sentia vontade de gritar porque obviamente não estava ali escondido
esperando uma companhia para conversar. Ele queria fazer a sua coisa e ir
embora.

No entanto, não era fácil com alguém o fitando firmemente.


Inconveniente.

O que o restava era engolir sua frustração e distrair seu pensamento sobre
'beleza' com algum diálogo trivial.
O que o restava era suprimir seu ímpeto de ferir seu psicológico e, ao invés,
fingir estar atento ao que quer que Liam estivesse o revelando.

- Digo, o Príncipe Willian é obviamente um indivíduo justo e bondoso,


mas... defender Harry Edward Styles? Isso não me soa pertinente.
Zayn suspirou, tentando busca-lo com os olhos apesar da escuridão.

- Por que você odeia Harry? - perguntou casualmente.

Um pequeno silêncio rodeou-os até que Payne finalmente se pronunciasse,


sua fala um tanto incomodada.

- É só que... ele não é uma boa pessoa. Ele manipula os outros, se faz de
inocente-

- Refere-se ao que aquele jornal anônimo diz?

- Também. A história do acidente de Andrew pareceu muito conveniente,


certo?

- Não sabemos se aquilo também não é uma mentira.

- Bom, mas sabemos que Harry é. É tão claro quanto o sol sua arrogância e
prepotência, a maneira como nos esnoba. Por que você o defende? Não foi
ele quem o usou de marionete semanas atrás? Ele não o chantageou?

Zayn desviou o olhar desconfortável, inspirando fundo.

- Como você sabe disso?

- Todos sabemos. Através de How to Wear a Crown ficou esclarecido que


ele estava o usando. Além de que em um baile vocês apareceram com trajes
combinando. Isso não parece ser de seu interesse. Ele não parecia ser... até
que, de repente, vocês não se desgrudavam.

- Harry descobriu essa ... obsessão que eu tenho com o meu peso. Ele
incrivelmente sempre descobre tudo. Também tem conhecimento de um
incidente que eu me envolvi no passado, a razão pelo qual minha família
não se orgulha de mim ou nem me manda cartas perguntando como estou.
Ele resolveu me chantagear naquela época, ameaçando expor-me.

- Viu? Harry é um idiota. Aposto que ele o obrigou a...


- Eu o permiti a isso. Não foi sem meu consentimento. Não é como se sexo
fosse um tabu dentro daquele aposento. Claro, também não é como se eu
fosse encantado por ele ou algo assim.

- E ainda, depois de tudo, não o despreza? - Payne questionou atordoado.

- No momento em que eu o empurrei e o avisei que estava fora de sua


maluquice... Harry aceitou. Acreditei que cumpriria com suas promessas
maldosas e me colocaria em alguma situação embaraçosa... mas ele só
aboliu a chantagem.

- Ainda sim. Não foi certo nem que ele tenha começado ela. Ameaçar
alguém aproveitando-se de seu corpo é nojento. - Liam reforçou, raiva
vazando nas bordas de suas palavras. - Harry é... é-

- Humano. - Zayn interveio. - Talvez um humano mimado e um pouco


estúpido que faz o que for preciso para ter o que deseja. Um humano sem
qualquer bom senso. Acredita que... - uma curta risada reverberou de sua
garganta. - Acredita que ele pediu para que eu pintasse suas unhas? Na
primeira noite que fui para seu quarto, ao me notar tenso e incomodado, ele
nem sequer ousou se aproximar de mim com presunção. Pediu somente que
eu pintasse suas unhas com uma base rosa bebê e trançasse seus cachos.
Dormimos com uma distância segura entre nós.

Liam torceu o nariz.

- Na segunda noite um grupo de príncipes surgiu em seu aposento para...


sexo. E, durante as primeiras horas, tudo que Harry fez foi conta-los
algumas histórias engraçadas que leu em livros e vivenciou em seu Reino.
Ele gosta de ser divertido. Eu pensei que fosse diferente lá dentro, entende?
Que parecesse uma verdadeira orgia e nada mais. Mas, não, ele os contagia
antes.. Talvez parecesse até... - a frase de Zayn se desfez incompleta no ar.

- Até o que? - o Príncipe de Bristok repetiu, intrigado.

- Até que ele se sente mais, hum, confortável quando está sendo agradável
aos outros, do que presunçoso ou perverso.
- Por que diz isso?

No instante que Zayn ia respondê-lo, ambos os rapazes escutaram passos


apressados repercutindo do outro lado da porta, pelo corredor principal.

Acharam estranho àquela hora da noite alguma correria estar ocorrendo no


Palácio, o que os levou se imediato a associar isso com algum tipo de
invasão ou iminência de ataque.

Levantaram-se afoitos e ao abrirem a porta para espiar constataram que


eram alguns Príncipes correndo em direção à ala leste.

- O que está havendo? - Zayn questionou para o grupo.

- Uma boa polêmica, aparentemente. - um jovem aleatório informou, sem


interromper sua silenciosa corrida.

Liam e Zayn se entreolharam antes de decidirem checarem por conta


própria.

Ao alcançarem o suposto local, um amontoado de príncipes espiava a fresta


de uma porta.

Isso não seria de fato uma anomalia, haja em visto que as aulas estavam
suspensas, ninguém era obrigado a adormecer ou acordar cedo e o tédio os
aglutinaria se não fosse pelos babados reais.

Mas, o que eles observavam em si era o problema.

- Eu não vos disse?! - Andrew, um dos mais próximo da porta, sussurrou,


quase inaudível. Apontava incessantemente para o cenário de dentro
daquela sala. - Era óbvio que havia imoralidade envolvida nesse estranho
relacionamento dos dois! Louis não defenderia Harry a troco de nada,
Styles está manipulando-o também para ter aliados que o livrem do
julgamento! Ele está por trás do envenenamento de Niall! E está usando
William para acoberta-lo!

Alguns suspiros de espanto alheio tomaram a roda.


- Mas o que raios está havendo ai? - um jovem mais afastado indagou,
incapaz de enxergar pela fresta.

- Harry e Louis estão se beijando! - Andrew reforçou exaltado.

- O que é essa sala? - Malik perguntou para Liam, estreitando seu olhar à
porta de madeira praticamente fechada onde um amontoado de curiosos
espiava em quietude.

- É uma despensa. - Payne disse-o negando com a cabeça, incrédulo. - Onde


estocam itens pessoais para os príncipes.

- E como tem ciência disso?

Liam encarou-o de canto.

- Eu venho aqui buscar tinta quando pretendo escrever cartas para a minha
família. - respondeu-o hesitante. - Sei que não é permitido que nós
tenhamos acessos a esses tipos de área do Palácio, mas odeio dar mais
trabalho para as minhas criadas.

Zayn concordou em silêncio, assistindo aquilo sem muita paciência.

Esperou mais três segundos antes de se intrometer, andando para o meio do


grupo e empurrando-os até que estivesse ao lado de Andrew, de frente para
a porta.

O príncipe que costuma arrancar suspiros dos demais carregava essa


expressão indignada, bufando audivelmente para chamar a atenção.

- Querem saber de algo? Que droga de direito vocês pensam ter para invadir
a privacidade de alguém dessa forma? Perderam a porra dos escrúpulos?

E isso foi talvez o segundo grande choque da noite.

Porque, primeiro, um príncipe blasfemar publicamente já era raro de se


flagrar.
Mas... Zayn Malik - o jovem dos longos cílios e charme inconfundível,
doce e educado- blasfemar publicamente, demonstrando-se completamente
irritado, era como o apocalipse.

Os demais continuaram encarando-o abobados.

- Vamos, andem, saiam daqui e busquem o que fazer em seus próprios


aposentos! - ordenou, gesticulando para que se afastassem.

Andrew, contudo, não moveu-se um milímetro.

- O que há com você, Príncipe Malik? - enfrentou-o, descrente.

Zayn se virou para ele.

- O que há comigo?! Pelo o que me recordo, vossa alteza, você foi o


primeiro a se pronunciar logo que aquele maldito jornal anônimo surgiu
pela primeira vez no Salão dos Homens. Condenou aquilo por divulgar
informações impróprias e desnecessárias, ferindo a privacidade alheia, nos
expondo em prol de intrigas. - Malik cuspiu - É uma vergonha que esteja
instigando-os a espionarem a vida de outrem para alimentar essa discórdia.
Então, pare de ser um hipocrita e dê o fora.

A este ponto, a maioria deles já havia se dispersado, e os poucos que


sobraram no corredor piscavam atordoados com a curta explosão de Zayn.

Andrew não o deu qualquer resposta, mas bufou e fez questão de esbarrar
em seu ombro com certa força ao dirigir-se para longe do grupo
remanescente, incentivando que o resto deles seguissem rumo a seus
próprios aposentos.

Até que sobrassem Liam e Zayn.

- O que fez foi altruísta. - Payne comentou enquanto eles próprios se


afastavam do local.

Zayn negou.
- O que fiz foi justo. Andrew pode ser um idiota quando quer, não duvido
que esteja por trás de todos os problemas desse Palácio.

- Acha que ele pode ser o autor daquele jornal? - Payne questionou-o,
fitando-o fixamente ao que chegaram no andar dos quartos e pararam para
se despedir.

- Acho que quem quer que seja tem suas próprias razões. E eu não duvidaria
se fosse ele. Ou qualquer um de nós.

****

Era previsível que no dia seguinte, quando após um café da manhã


estranhamente silencioso, os príncipes se deparassem com uma nova
remessa de jornais posicionados sobre a mesa do Salão dos Homens.

_________________________________

31/07

How to Wear a Crown

Então, encontros noturnos são aparentemente um costume geral entre os


príncipes deste Palácio, certo?

Não seria tão chocante delatar sobre mais um destes... se não se tratasse
especificamente de Louis William Tomlinson de Riverland com (pasmem)
Harry Edward Styles, de Malta.

Nossas esperanças de que ele honrasse o peso de uma coroa foram


trancadas na despensa. Literalmente.

Pegos em flagrante.

Significaria isso uma nova dupla de amantes?


Uma parceria inconveniente entre Reinos que não possuem correlação
alguma entre si?
Aparentemente não é de hoje que as monstruosidades de Styles têm sido
acobertadas pela (frágil) ética do Príncipe William.

Desde que o baile em homenagem ao rei Franco ocorreu, alguma relação


aparenta se fortalecer entre os dois.
Deveríamos considerá-la o Apocalipse?
Deveríamos considerá-la o começo de um romance épico e trágico?

Louis William Tomlinson, abra-te os olhos, nem todos são capazes de


enxergar no escuro.

Att,
Sua Fonte Anônima.

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Por sorte, Louis Tomlinson decidira naquele dia que levantaria-se mais
tarde, aproveitando para reparar suas horas de sono perdidas para a insônia
durante as últimas semanas.

Ele não estava ciente do jornal até o momento de abrir seus olhos,
deparando-se com o aposento ensolarado e suas duas criadas o encarando
apreensivas.

Pelo que sabia, Jezebel e Lorena estavam se desentendendo ultimamente, e


muito faziam para não ocuparem o mesmo cômodo simultaneamente.
Portanto, despertar com o vislumbre das duas juntas sussurrando entre si era
no mínimo desesperador.

- Bom dia, Vossa Alteza. - Jezebel foi a primeira a saúda-lo, reverenciando-


o formalmente.

- Hm, bom-

Louis não teve tempo de respondê-la apropriadamente. Não sem antes ser
bruscamente interrompido pela menina dos cabelos castanhos e expressão
inquieta.
- Louis, não surte! Mas ... uma coisa aconteceu. - proclamou piscando
rápida, preocupada.

E, Céus, ele não tivera nem um instante para se situar entre a divisão
instável entre sonhos e realidade que já parecia ter adentrado algum
pesadelo.

- O que aconteceu? - ele indagou, esforçando-se para manter a voz limpa e


mascarar a agonia que o afligia.

- Bom, ao amanhecer uma nova leva daqueles jornais anônimos de


polêmica alheia foram publicados. - A criada loira, mais velha, iniciou.

Louis fechou seus olhos novamente, temendo o que era previsível de se


escutar.

- Não acho que devemos o revelar, és um assunto dele o qual não estamos
supostas a nos meter. - Jezebel disse para a irmã, incomodada com a reação
de Tomlinson. Não estava acostumada a flagra-lo tão expressivo.

- O quê? Lógico que devemos! Ele é o meu protegido! Não vou permiti-lo
entrar em choque publicamente. - Lorena interveio, uma posição defensiva
contra a irmã, que lhe enviou uma feição irritada.

- Garotas? Ainda estou aqui. - Príncipe William interferiu, suspirando e


voltando seu foco para Lorena. - Conte-me, o que há?

- Isto. - a garota replicou, esticando seu braço para cima da cômoda onde
havia um exemplar do jornal e estendendo-o cuidadosamente.

Conforme o príncipe lia as palavras que a tinta preta formatava no papel,


sua aparência caia em descrença.

Ele não... fazia ideia de que havia sido perseguido.


Quando saiu da despensa, o corredor estava tão vazio quanto no minuto que
chegou.

De repente, a significância o bateu.


- Jezebel, poderia me deixar a sós com Lorena? - pediu gentilmente,
conquistando um sorriso da criada mais jovem por saber que ele recorreria
por seus conselhos e assistência.

- Claro. Com licença, vossa Alteza. - Jezebel se despediu, trancando a porta


atrás de si.

Imediatamente Lorena se jogou contra a poltrona, ajustando-se


confortavelmente.

- Então, como se sente? - optou por se certificar.

O príncipe não a respondeu durante os próximos minutos.

- Louis?

- Foi você. - ele reproduziu, firmemente.

Ela arregalou os grandes olhos verdes, incrédula.

- O quê?!

- Foi você. - repetiu.

- Você perdeu os escrúpulos?! - quase berrou exaltada, levantando-se em


um pulo da poltrona. - Como assim fui eu?!

- Você foi a única que sabia. Eu lhe segredei, é a única ciente dos meus
passos. - acusou, sua respiração acelerada.

- Louis, isso não significa que fui eu! Como pode sequer pensar que eu
estou por trás de algo sem sentido como essa baboseira?!

Ele desviou o olhar, não aguentando presenciar o modo magoado que as


falas deixavam os lábios finos da menina.

- Pensa realmente que eu armaria qualquer coisa para lhe atingir? - ela
prosseguiu, ganhando sua atenção novamente. Sua voz estava falha e ele se
esquecia que jogar acusações nas costas de uma pobre garota de dezessete
anos era extremamente insensível.

- Lorena, é só que.. não havia nenhuma outra pessoa por perto.

- Ou talvez você estivesse detido demais na situação para notar. Poderia


literalmente ser qualquer um deste Palácio espiando entre as frestas e ainda
seu primeiro palpite sou eu. - seus enormes olhos começaram a marejar, ela
dando um passo em falso para trás enquanto negava com a cabeça em
decepção.

- Lore-

- Você realmente pensa que uma criada destinada a lavar roupas e limpar
quartos, que se ilude com a ideia de que pode ter alguma amizade com
alguém da realeza, escreveria artigos dedurando pessoas a fim de atingir o
único que lhe estendeu a mão todo esse tempo? - falou em baixo tom,
andando cegamente de costas até estar contra a porta.

- Eu sinto muito. - Tomlinson tentou se desculpar, aproximando-se dela


apreensivo.

- E, também, por que raios essa exposição o atinge tanto? Não é você quem
afirma que príncipes vivem de aparências? Não é você que se abstém desses
estereótipos pra viver fiel a si mesmo? - ela o devolveu afiada.

- Ainda sou eu. - tentou se defender, embora a incerteza estivesse


praticamente paupável.

- Jura? Porque, para mim, sua exaltação é uma prova de que tens sido um
grande hipócrita, permitindo que a imagem alheia que construíram de você
esteja afetando a que tens de si próprio. O que quer que eles estejam
fofocando sobre suas ações... essas opiniões nunca importaram antes, por
que importariam agora? Você vive defendendo Harry, mas, na verdade, se
remói ao ter sua reputação vinculada a dele.

Deus. Não era isso.


Não era isso.
Louis precisava rebater a ela que não era isso.
Porque, claramente, sua inquietação de ter sido noticiado aos amassos com
o futuro de rei de Malta não se devia ao fato de que ele o achava uma
pessoa indigna de ter seu afeto.

É só que... aquilo não era a situação deles.


Não era romance.
Foram momentos. Momentos confusos e catastróficos.

Harry Styles era abertamente reconhecido por fazer esse tipo de coisa.
E Louis só não gostava da ideia de acreditarem que ele seria parte de seus
súditos. Não quando o príncipe de Riverland cultivava um coração
romântico e uma crença em amores reais e sorrisos apaixonados e
fidelidade.

Harry e Louis possuíam propósitos opostos.

Porém, novamente, ele se esclareceu.

Lorena estava certa.

Tomlinson se tornara mais um dos que julgavam Harry pelo o que ele
costuma fazer. Mais um dos que não apreciam estar associados a ele. Mais
um dos que o diminuíam.

E, sinceramente, o que o levava a ser superior a Styles?


Nada.

Ele não era nem qualificado para alegar que Harry no fundo não seria
alguém romântico.
Ele não tinha esse poder de definir nada a seu respeito.

E, sobretudo, se houve beijo, é porque foi recíproco.


Harry não quis sozinho.
Tomlinson também quis.

E estava na hora de ter honra para lidar com as consequências.


Pois agarrar-se com Harry não influi no seu caráter, mas não enfrentar seus
próprios preconceitos sim.

- Eu pensei que fosse melhor do que isso, Louis. - ela grunhiu, secando uma
lágrima ao que corria desolada para fora do aposento.

Eu também. Ele verbalizou mentalmente, atingido pela mesma expressão de


dor e decepção de Lorena que viu nos olhos feridos de Styles madrugada
passada.

****

Caminhava de cabeça baixa, honestamente com remorso da vida, enquanto


almejava ter sua primeira refeição do dia e apressar-se para o Salão C, onde
os demais príncipes deveriam estar esperando pelo almoço.

Louis, desatento como ia, ofegou assustado ao esbarrar seu ombro


rudemente com o de outrem, levantando o rosto de imediato para desculpar-
se...
Encontrando um Harry olhando-o assustado.

Suas gramas de verão estavam arregaladas, revelando apreensão, e


circulavam por seu rosto como se estudassem a reação de Tomlinson.

Harry, em seu total, estava muito diferente do que costumava exibir. Do


indivíduo seguro de si e prepotente que faria algum comentário mesquinho
pelo esbarrão... ele mal poderia ser reconhecido com seu jeito incrivelmente
tímido e inseguro, fitando Louis como se esperasse que ele fosse surtar e
berrar com ele, descontar seu provável descontentamento pela delação do
jornal. Quase temendo que seu único amigo iria abandoná-lo.

Avaliando-o hesitante com a respiração presa e, pelo amor de Deus, Louis


não era um monstro e nem pretendia ser. Ele reconhece que foi insensível
na despensa, mas nunca teve intenção de machucar Harry (nem pensava ser
possível).

- Boa tarde, vossa Alteza. - Tomlinson saudou, buscando soar o mais limpo
que fosse capaz dadas as circunstâncias.
- Você não está tipo... pirando? - Harry ousou questionar diretamente.

Louis respirou fundo. Certo.

Pegou delicadamente a manga da camisa de malha de Styles e puxou


consigo em direção ao seu quarto.

- O que está fazendo? - o futuro rei de Malta indagou, andando confuso


atrás de si até que Louis trancasse a porta.

- As paredes podem nos escutar. - Tomlinson explicou, encarando-o


propriamente ao que Harry se recompunha e se acalmava gradualmente. - E,
para a sua primeira pergunta, a resposta é não. Não mais.

Styles arqueou uma sobrancelha desconfiado.

- Tem certeza?

- Lembra-se quando me disse que todos pensavam que você era o culpado
pelo envenenamento de Niall e eu o aconselhei a os mandarem mentalmente
se foderem?

Um pequeno brilho reascendeu na face de Harry, um sorriso quase


carinhoso tomando conta de si.

- Como poderia me esquecer daquela sua ousadia repentina?

- Pois, seguirei este mesmo conselho. Eu não os devo nada. Nem você.

Harry assentiu lentamente em concordância, uma covinha lateral se


afundando em sua bochecha direita.

- Eu peço perdão pela minha arrogância ontem. Você não merece ser
julgado por ninguém, principalmente por mim.

E sua honestidade estava sendo além do suficiente, porque a breve redenção


de Louis parecia causar uma inquietação irremediável em Harry, o qual se
balançava para frente e trás sobre seus calcanhares.
- Está tudo bem? - Tomlinson perguntou um tanto relutante, prevendo que
teria um segundo déjà vu no instante em que Harry abandonou seu estado
agitado para se lançar em sua direção.

Mas, para sua surpresa, ele não o submeteu a nenhuma outra situação.
Não semelhante às últimas, ao menos.

Seu rosto não se alinhou ao de Louis e seus narizes não se tocaram.

O maior afundou o rosto no vão de seu pescoço, no entanto, apertando-o


contra si.

Abraçando-o.

Sua respiração um pouco pesada contra a epiderme de Tomlinson, que ainda


surpreso não fez muito além de piscar desnorteado.

- Desculpe-me por ter sido tão impulsivo e inconveniente, por coloca-lo


numa posição embaraçosa e expositiva. - escutou Styles cochichar.

Aquilo era inesperado em tantos níveis, afinal, quando alguém imaginaria


que Louis e Harry acabariam se abraçando, sendo amigos, se desculpando e
criando essa relação que eles vinham construindo?

Quando imaginariam que Harry teria muitas faces, e permitiria que somente
Louis pudesse lidar com a sua mais vulnerável, e provavelmente sincera.

Tomlinson precisou de alguns segundos paralisados para finalmente


absorver.

Ele não costumava abraçar ou ser abraçado por ninguém que não fosse sua
família, especialmente Johanna com aquele calor materno insubstituível.
Ele não costumava abraçar por não ser considerado um gesto tão formal.

Ele não costumava abraçar em prol da conduta.

Mas, honestamente, o que significava conduta neste instante? Em que Harry


Edward Styles - conhecido pela fama de perversidade - o filhote perdido
que ele decidira resgatar e então pisara em cima durante a última
madrugada, estava depositando confiança o suficiente e se redimindo.

Foi quando os braços de Louis enfim ganharam vida e circundaram


firmemente o corpo magro de Styles, apertando de volta, devolvendo aquela
sensação de acolhimento que estranhamente os embalava.

- Tudo bem. - sussurrou em troca, encostando a lateral de seu rosto contra


os cabelos cacheados e macios e um tanto oleosos (por que não? Ninguém é
perfeito) do outro. - Tudo bem, Harry.

E, embora segundos depois eles tenham se afastado um do outro com


expressões sem graça, Louis tem alguma convicção de ter ouvido Harry
proferindo quase inaudível algo como "Você é mesmo incrível" pra si
próprio.

- Confesso estar um pouco surpreso. - Tomlinson confessou, ao que Harry


se afastava para ir embora. - Você não tentou me beijar.

Um pequeno sorriso divertido apareceu daquela pele de porcelana delicada.

- Como o filósofo Tomás de Aquino pregava: escolha entrar no mar pelos


pequenos riachos.

***

Notas da autora: Hey gente, eu sei que vocês esperam pela interação de
Larry ansiosos e sei que essa história parece enrolar demais.

É só que... acho que as coisas têm uma ordem cronológica para acontecer.
Louis não iria de uma hora para outra amar Harry. Ele carrega seus
próprios princípios e não é pela beleza e charme de Styles que aceitaria se
relacionar com ele do dia para a noite.

Eu acho que vocês irão gostar mais de como as coisas entre eles
caminharão daqui para frente, espero que sim. É necessária uma
construção exata de sentimentos que quebre a barreira que ambos têm ao
redor de si para se protegerem.
• Quanto ao autor do jornal, alguém tem um palpite?

Atenção: prepararem-se para o próximo capítulo. Creio que irão amar.


(Talvez uma att dupla hoje?)

Att, sua Autora um pouco sumida mas persistente Xx


Chapter Thirty Four

Episode: I Would Miss You.

Louis não o viu durante os próximos dias.


Era como se, apesar de tudo, eles ainda precisassem de um pouco de
distância para que a poeira abaixasse.

E embora estivesse honestamente esperando um grande alarde da nova


polêmica, nenhum príncipe ousou importunar Tomlinson ou questiona-lo
algo relacionado à veracidade do que foi exposto. Sua postura
condescendente e sua discrição ainda impunham uma dose suficiente de
respeito e reverência aos demais.

O único episódio que teve que lidar com o assunto foi quando Liam
discretamente tocou seu cotovelo no jantar da noite seguinte e cochichou
para si.

- Então, o que está havendo?

E, mesmo que seu tom fosse amistoso e não exatamente inquiridor, Louis
não se sentiu à vontade de relatar sobre para seu amigo, futuro herdeiro de
Bristok, respondendo com um ar de desentendido.

- Oh, seu salmão também está um pouco cru? Pensei que fosse apenas o
meu, você pode pedir para que eles troquem, se for o caso.

Liam o encarou confuso, como se houvesse um terceiro olho no centro de


sua testa, mas ao menos foi compreensível e encerrou o assunto.

Tomlinson e Styles não interagiam publicamente, ou internamente.


Louis estava momentaneamente focado em se redimir com Lorena, e Styles,
por sua vez, recuperava sua autoconfiança, e com ela a pose usual, mais
extravagante e imponente.

Niall James Horan retornara para o convívio público, e fora instruído a não
dialogar sobre o envenenamento até domingo, quando a administração real
exporia as provas que obteve e proclamaria seu decreto final.

Obviamente havia uma tensão ainda condensada. Muitos olhares


intimidantes sendo enviados diretamente a Harry. Alguns olhares de pena
para Niall, que se colocara em uma posição ainda mais reclusa. E um
silêncio geral que, para ser honesto, soava barulhento.

Dentro dos aposentos de Louis, contudo, tudo que ele vinha repugnando era
a falta de palavras de Lorena.

Ela deixara claro sua mágoa quando ele tentou puxar assunto na manhã
seguinte e ela fingiu não escuta-lo, reverenciando-se, agindo sob a conduta
esperada e parecendo uma cópia de Jezebel, distante e impessoal. Não que
Tomlinson fosse culpa-la.

Com um pouco de paciência e deixando seu orgulho de lado, Louis


persistiu.
Pediu ajuda para Jezebel, almejando conselhos de como conquistar a irmã
dela, e dos que obteve um lhe chamou a atenção.

O sonho de Lorena era ter posse de um vestido de princesa. Jezebel o


revelou que desde pequena ela olhava sonhadora para os modelos que as
jovens da realeza se exibiam. Com o passar dos anos ela aprendeu a se
colocar em seu lugar e lembrar-se que isso não estava reservado para
criadas. Criadas servem os nobres. Esse é o trabalho.

Portanto, na noite de Sábado, farto de tantos dias silenciosos e noites em


que sua companheira de diálogos o ignorara, Tomlinson a abordou.

Ela arrumava o conjunto de cama quando Louis, sentado na poltrona,


solicitou que ela parasse o serviço e olhasse para o que havia debaixo da
cama.
Apesar de sua visível relutância e desconfiança, ainda era uma garota de
dezessete anos um tanto curiosa, que acabou cedendo e se ajoelhando para
buscar com os olhos uma grande caixa azul marinho, presa com um laço de
cetim branco.

- O que é isso? - indagou-lhe trazendo a caixa para cima da cama.

Obstinado, Tomlinson se levantou e foi ao seu lado, colocando a maior dose


de honestidade em suas palavras.

- Eu não sou um homem tão justo quanto queria. No final do dia, não passo
de um jovem de vinte e três anos carregando o peso muito grande de uma
coroa e meus próprios pecados.
Preciso que me perdoe, Lorena. Eu não deveria ter lhe acusado daquele
modo, nem duvidado de seu caráter.

A morena lançou-o uma expressão pensativa, e então estudou o embrulho


novamente.

- Isso é para mim? Você não pode me comprar.

- Eu sei. É só um complemento para as minhas desculpas, e um


agradecimento por ter sido uma boa amiga.

Ela assentiu desconfiada, puxando a ponta do laço e destampando a caixa.

Sua boca se entreabriu ao que seus olhos brilharam para o que viram.
Dedos trêmulos apanharam o tecido ao que ela trouxe o vestido para fora da
caixa. O vestido era rosa, com pedrarias na barra e corpete na cintura,
realçando a saia rodada de três camadas.

Lorena gastou alguns minutos admirando com uma veneração silenciosa o


presente, até retornar seu foco para Louis, um tanto estonteada.

- O vestido é lindo. Só que eu sou uma criada. Não posso aceitá-lo.

- Ser uma criada não te proíbe de possuir coisas que lhe agradem.

A menina suspirou. Sua juventude condenada e seus sonhos minimizados.


- Ouça, Lou. Eu não vou mentir e dizer que não estou um pouco magoada,
porque ainda estou. - revelou-o, guardando o vestido. - Porém eu me
conheço, sei que em alguns dias me sentirei melhor.

- Tudo bem, Lolo.

- Mas... - ela começou, visivelmente relutante. - Como em agradecimento


pelo vestido, e por seu gesto nobre de se redimir, porque sejamos sinceros,
você é um futuro rei e não precisa se desculpar com uma criada-

- Lo-

- Deixe-me finalizar. - pediu séria, aproximando-se dele. - Mas como em


agradecimento, irei lhe segredar uma informação que escutei circulando
pela ala dos empregados.

Louis assentiu, atento.

- A administração real vem fazendo uma busca em sigilo por provas ou


informações que resolvam o caso de Niall. E ontem foi encontrado um
pequeno frasco no armário do Príncipe Edward. Pelo o que investigaram,
era veneno.

Suas palavras entrecortaram a mente de Tomlinson como uma bala.

- Ele estava realmente por trás do incidente, Lou.

Ele não está.


Não está.

- E por que me revelou isso? - indagou confuso.

- Porque amanhã, pela manhã do domingo, irão promulgar o julgamento


final do crime, e expulsarão Harry do palácio.

Louis pisou em falso para trás, paralisia correndo em suas veias.


Que diabos?
- Pensei que fosse querer se despedir dele esta noite, enquanto há tempo. -
Lorena finalizou, um sorriso triste delatando sua solidariedade com Louis...
porque no fundo ela sabia o quanto ele poderia se abalar com esse veredito,
por mais que o próprio jamais verbalizasse.

Tomlinson concordou com um aceno rápido de cabeça, assistindo-a pegar


delicadamente a caixa com o presente, e sair de seu aposento.

Ele tardou alguns segundos até retomar uma linha de raciocínio e ir em


busca de respostas, ou despedidas.

***

Se for honesto consigo, foi ligeiramente angustiante para Louis quando


Harry não atendeu a porta de seu quarto.

De primeira, Tomlinson ficou aliviado ao não flagrar um lenço vermelho


amarrado na maçaneta dourada, porque ele era inteligente o bastante para
compreender aquele sinal. Especialmente ao se tratar do 'covil da cobra', ou
'jardin do Éden'.

Mas, assim que deu leves batidas - esforçando-se para não despertar os
demais príncipes e atrair uma plateia de madrugada - ele não teve sucesso
também.

E a angústia o toma pelo pensamento de que já haviam expulsado-o do


Palácio de Vidro.
Seria conveniente, pois talvez a administração real tenha optado por
discrição e realizado o julgamento em sigilo, enquanto todos dormiam,
evitando novas polêmicas.

Tomlinson não conseguiria dizer exatamente o quê nessa questão estava o


incomodando. Mas era como uma pequena dor desconfortável na
extremidade de seu estômago, ou um zumbido insistente em seu ouvido,
que o levava a crer que a ideia de Harry ter ido embora o deixara um tanto...
vazio.
Ele, acostumado com a neutralidade, imparcialidade das coisas... se via
inquieto na possibilidade de um fim para aquilo que nem sequer começou.

Uma ardência estranha o alertando uma mensagem que seus neurônios


preferiam não traduzir.

Afinal, Louis ainda era humano. E se apegar nas pessoas que convivia era
Okay. Principalmente em alguém que ele certamente nutria apreço e
admiração.

Afugentado em um sufoco mental, o príncipe de Riverland resolveu dar sua


última tentativa de encontrá-lo, supondo algum lugar que Harry pudesse
estar.
E como um letreiro iluminado clareando sua mente, uma hipótese o
entusiasmou.

O esconderijo de Styles.

Com o silêncio dos corredores e a patrulha da guarda noturna usual, Louis


fez seu caminho através das escadarias dos fundos, que desembocavam na
saída dos jardins.

Não era de se admirar que, apesar de verão, o sereno do luar embalava-o


com ventanias geladas, fazendo-o abraçar seu tronco a fim de manter seu
calor corporal o máximo que pudesse.

Ele estava confuso com as direções que o levaram até lá pela primeira vez.
Não era exatamente um percurso iluminado ou fácil. Tudo que Louis se
recordava era de ter seguido uma trilha independente na floresta, ao leste.
Claro, o detalhe é que naquela noite Harry o guiara.

E, agora, sozinho, isso parecia impossível.

As sombras das coníferas o assustavam ao se balançar pelas rajadas


ocasionais do vento, e sem os cantos dos passarinhos ou qualquer zumbido
aquilo soava tão... solitário.
Era, de fato, uma cenário melancólico, bonito, bucólico e trágico para se
estar.
Louis praticamente poderia enxergar tudo que Harry representava nessa
trilha.
Louis praticamente poderia imagina-lo cruzando esses arbustos retorcidos
completamente sozinho durante três meses, pelos últimos seis anos.

E isso parecia triste, um pouco sombrio e meio poético nas beiradas, no


entanto talvez fosse essa a exata razão do porquê Harry tornara aquele lugar
o seu santuário pessoal.

- Se eu fosse você, não daria outro passo afrente. - escutou a voz rouca que
buscava ressoar subitamente, levando-o a próximo de um infarto.

Foi quando Tomlinson deixou de se focar no chão para observar ao redor,


constatando que chegara exatamente onde almejava.

O lago reluzia o formato oval da lua e algumas das estrelas mais cintilantes.
Em um segundo plano da paisagem estava a figura curvilínea, sentada com
as costas apoiadas em um tronco e a cabeça inclinada para trás.

Louis piscou um pouco perplexo, quase suspirando seu alívio.

- É sério, você quase pisou na lápide do Frog.

Tomlinson torceu levemente o nariz perplexo, encarando o que quer que


aquilo deveria significar.

E um passo adiante realmente havia pequena pedra, como em formato da


lápide, em cima de um amontoado de terra.

Provavelmente lendo sua feição atônita, Styles inspirou fundo e se pôs a


explicar.

- Bem, algumas semanas atrás eu encontrei um sapo morto perto do lago.


Chorei alguns minutos, nomiei-o de Frog e enterrei-o aí. Haviam velas até
alguns dias atrás, mas como a chuva apagava eu desisti de acendê-la.
Louis concordou um tanto perturbado.
Okay.
Como se aquilo fosse algo normal.
O que - vindo de Harry - deveria ser.

- Você é uma criatura muito peculiar, Príncipe Edward. - Tomlinson


proferiu, aproximando-se da figura singular e sentando-se em frente a ele,
encostando-se no tronco de uma árvore do mesmo modo que Harry o fazia.

Styles soltou uma risada sarcástica, uma careta atrevida tornando explícito o
óbvio.

- Não sou eu quem desenha princesas nuas.

Lógico que ele mencionaria.

Louis arregalou levemente os olhos tossindo a seco, desconcertado.

Eles passaram alguns minutos sem dizer nada, apenas... sentindo a natureza,
e permitindo-se sujarem seus traseiros com terra enquanto admiravam a lua
refletia no lago.

- Eu vim lhe comunicar algo, Harry. - Tomlinson finalmente proferiu,


tentando não soar exaltado.

Diante o silêncio do maior, ele prosseguiu.

- Foi encontrado veneno em seu armário. Eles irão expulsa-lo amanhã, logo
cedo.

Silêncio.

Harry fitava fixo cegamente algum ponto no horizonte, provavelmente a


copa de uma árvore.

- Eu sei. - foi o que o replicou algum tempo depois.

- Como?
- Minha criada me revelou hoje após o almoço.

A voz de Styles soava monótona e distante, igual sua expressão neutra,


piscando lento sem qualquer vida.

- Não fui eu. O frasco nunca esteve lá até resolverem fazer uma vistoria.
Armaram para mim.

De algum jeito, Louis sabia, antes mesmo de Harry confirmar.

- Eu sinto muito. - foi o que o Príncipe de Riverland pôde pensar em


reproduzir em uma situação como essas. - Mas, esse não é o fim. Talvez o
deixem retornar ano que vem. Você ainda terá seu trono.

Styles soltou uma risada sem humor, negando com a cabeça. Como uma
piada interna que Tomlinson não ousou questionar.

- Eu não me importo com o trono. Que venham outras dez temporadas. -


disse amargamente.

- Como assim?

- Se eu quisesse ter me tornado rei antes, Louis, eu já teria o feito, anos


atrás. - Harry proferiu, quebrando qualquer linha de raciocínio segura que o
menor poderia estabelecer.

- O que isso quer dizer? Você... você burla as regras de propósito? Você se
faz ser repetente de propósito? - Louis questionou, não medindo qualquer
esforço para disfarçar seu espanto. - Harry? Por quê?

Porque, sinceramente, nada era coerente ao se tratar do príncipe de cabelos


cacheados e olhos muito verdes.

No entanto, Styles não parecia disposto a revelá-lo qualquer coisa sobre


aquilo. Mantendo-se calado.

Seu silêncio dizia muito, embora.


Após um momento frágil, sem outros pronunciamentos ou proclamações
desastrosas, Harry por fim o quebrou, desviando a atenção do que quer que
ele estivesse dando nos últimos vinte minutos, para encarar Louis.

Diretamente nas lagoas azuis.

E é como se houvesse um peso maior sendo transmitido das esferas


esverdeadas. Uma pitada de melancolia, carregada com sutileza e nostalgia.

- Sabe, das outras vezes, quando eu recebia uma intimação para deixar o
Palácio devido à ferir normas ou quaisquer motivos, eu costumava dar de
ombros e sorrir. - Harry proferiu. - E, agora, isso me soa tão... complicado.

- Por qual razão?

O príncipe estudou a expressão prendida de Louis, recuando em seguida.

- Eu não sei. - Styles mentiu, fitando constrangido seus dedos tocando as


plantas que cresciam ao redor das raizes daquela árvore.

Louis concordou em consentimento.

- Na verdade, eu sei. - soltou rapidamente, grunhindo em descontentamento


pela própria confissão, como se desejasse engolir as palavras para si. Harry
inspirou fundo. - Você.

- Eu? - Tomlinson repetiu, confuso.

Merda.
Harry não queria ter que explicar.
Bufou.

- Você me deu algo que ninguém nunca me deu, Louis. - admitiu, hesitante.
- Uma chance.

Tomlinson encarou-o suavemente.

Encarou um Harry, de perfil, incrivelmente sem jeito olhando para o lago,


com seus cachos bagunçados salpicando nos ombros, seus longos cílios
encostando nas bochechas quando piscava, sua pele pálida e possivelmente
fria, seu corpo esguio encolhido em que suas pernas espremiam-se contra
seu peito, e a malha simples que cobria-lhe o corpo não parecia o suficiente
para o sereno de uma madrugada.

Ele encarou, sobretudo, sua juventude.

Entre todos os príncipes, Harry era o único que não aparentava ter tido sua
essência jovial arrancada. Sua juventude ainda estava traduzida naqueles
cachos, e em seu jeito diferente de encarar o mundo a sua volta. Sua
juventude ainda estava lá quando ele lançava os sorrisos atrevidos, ou ria -
sincera ou forçadamente - para as próprias histórias que contava aos outros.

E, por baixo dos anéis e gargantilhas, no final do dia, ele era mais um
garoto, forçado a amadurecer - ou nem tanto - cedo, e ter um peso muito
grande sobre seus ombros.
Um peso que, aparentemente, Harry se recusava a carregar. E se esquivava
o quanto podia.

Louis engatinhou - Deus, ele nem se reconhecia mais - para mais próximo
de Harry, sentando ajoelhado em sua frente, numa distância segura e
confortável.

- Ouça, Harry. - pediu, a voz branda e macia. - Mesmo que não admita, eu
sei que você se sente inferior às vezes. E indigno e pequeno. Mas, você não
é.

Styles entreabriu os lábios, sem exatamente saber como lidar com alguém o
elogiando - sem que fossem elogios sobre sua aparência ou insinuantes.

- Acredite em mim. Sem joias, sem veludo, sem Carolina e sem nada que o
dê a sensação de poder, você continua sendo inteligente e carismático,
divertido e altruísta. Você continua tendo valor. Um valor que o ouro não
pesa, e a reputação não compra.

Louis inspirou antes de prosseguir, certificando-se de acrescentar o máximo


de honestidade para que Harry captasse.
- A grandeza não consiste em receber as honras, mas em merece-las.

E isso foi o bastante.


O bastante para que Harry estivesse piscando emocionado, suas gramas de
verão muito arregaladas, olhando para Louis como se de repente ele fosse
um anjo.

Harry estava tocado, e lisonjeado, e tentando prender esse sorriso bobo que
fazia sua pele esquentar e o coração acelerar, quase podendo-o escutar
diante o silêncio seguinte.

Aquela retorcida na boca de seu estômago estava o consumindo no


momento, e ele podia jurar que a lua nunca esteve tão bela, e que as estrelas
mais cintilantes.

Havia uma sinfonia estranha e harmônica e quente e confortável em si.


Talvez ele estivesse apelando para um polissíndeto mental, mas era difícil
de pensar quando sua cabeça parece girar numa órbita própria.

Ugh, de repente toda sua vontade era de abraçar Louis e chorar em


agradecimento, beijar a palma de sua mão com uma veneração delicada e
inspirar seu perfume até o amanhecer.

Contudo, ele quase se esquecia que não podia o fazê-lo. Porque Louis não o
desejava. Não era recíproco e nunca seria. E ele deveria respeita-lo mais do
que já respeitou alguém.
Louis era precioso, e raro. Ele não ousaria estraga-lo.
Louis era uma peça de arte vitoriana que você deveria somente admirar de
longe.

Harry, depois de muito devaneio e muitos suspiros perdidos, se esforçou


para se recompor, ao menos o mínimo antes de Tomlinson ler em seus olhos
algo que não estava suposto.

- Há essa citação de Blaise Pascal. - Styles reproduziu ocasionalmente,


lançando uma pequena pedra com uma força calculada, para que esta
quicasse três vezes na superfície da água antes de afundar - Ele diz ser
crucial que determinemos o que é mortal em nós, e o que é eterno, e que
prezemos as coisas eternas.

- Pensei que tenha me dito no estábulo sobre não existir nada fixo. E sim,
um temporário prolongado.

- Mesmo tudo sendo, sobretudo, efêmero, você tem sua imortalidade em


mim, Louis. - Harry segredou, em tom de promessa, sorrindo triste mas
sincero para o menor.

Louis piscou aturdido, acenando lentamente sem saber o que responde-lo.

- O céu irá começar a clarear em duas horas, deveríamos descansar um


pouco enquanto há tempo. - Tomlinson sugeriu.

Os dois se levantaram, espanando-se para remover a terra de suas calças.

- Você deve ir. Ficarei mais um pouco para me despedir do meu santuário. -
Harry informou, tocando suavemente o tronco da árvore que agora a pouco
estava encostado, como em devoção. - Não sei se ainda terei permissão para
retornar ano que vem. Uma suposta tentativa de assassinato não se
esquipara aos motivos que me levaram a ser reprovado nas temporadas
passadas

Louis concordou sem nada proferir. Talvez ele estivesse certo. Talvez o
banissem do Palácio.

Novamente, aquela estranha sensação de fim os levando a trocas de olhares


desanimados.
Como se não soubessem o que fazer. Ou estivessem sem coragem para tal.

- Sabe, como devo ter mencionado... - Harry iniciou, repreendendo um


sorriso divertido e presunçoso. - o antigo e ingênuo Harry, da primeira
temporada, acharia apropriado finalizar esse trágico episódio com algo
passional.

Louis arqueou uma das sobrancelhas, confuso.


- Ele adoraria ter o direito de um último beijo. Só para poder ter essa
lembrança, entende?

Sério? Louis negou descrente com aquilo, não se impedindo de rir. Harry
nunca mudaria, mesmo.

- Bem, e o que Harry atual diria disso? - Tomlinson questionou, as


ruguinhas adoráveis adornando ao lado de suas lagoas azuis.

Styles sorriu abertamente, as covinhas se afundando com delicadeza, e


aquele olhar calmo contrastando com a pose descontraída que ele pretendia
manter. Suspirando.

- Ele meio que encarnou o antigo Harry neste exato instante. E meio que
morreria por um desfecho poético para esta tragédia.

Louis soltou uma breve risada, e Harry o acompanhou. Eles estavam tão
leves. Poderiam flutuar.

E, como um pequeno milagre, Tomlinson encurtou a distância entre eles,


passando um de seus braços pela cintura de Harry, e levando a outra mão
para moldar sua nuca.

Styles respirou falho pela surpresa, não imaginando que realmente fosse
acontecer.

Seu coração quase pulando para fora quando Louis se aproximou, tocando
com cuidado seus lábios nos dele. Encaixando-os sem pressa.

E isso era tão diferente do que estavam acostumados. Tão diferente


daquelas duas noites em que se agarraram como animais famintos e
desesperados.

Mas, com uma intensidade maior. Uma intensidade gentil.

Suas línguas se reencontrando, se acariciando.

Harry suspirando em deleite, sorrindo em meio ao beijo pois aparentemente


ele tinha esse costume agora. As borboletas voando e pinicando seu
estômago, e o sua pulsação tão alta.

Ele poderia desmaiar.

Posicionou suas mãos (patetica e romanticamente - ele se martirizaria sobre


isso depois) em ambas as bochechas de Louis.

Seus corpos juntos ondulavam-se em sincronia, até que Tomlinson


empurrasse Harry contra a árvore novamente, de forma cuidadosa - como se
ele fosse frágil demais, obtendo uma melhor sustenção.

O beijo lento, o mais lento que Styles já teve, parecia molhado e quente
como o inferno. Louis puxava seu lábio inferior e o mordiscava, e era
também o paraíso.

Céus.

Não tardou tanto para que se desatassem.

Louis sorriu com carinho no final do beijo.


Harry sentiu na palma de suas mãos aquele sorriso.

E aquilo tinha gosto de despedida.

***

Eram quase quatro da manhã quando Tomlinson adentrou silenciosamente o


Palácio pelos fundos, subindo para o andar dos quartos.

Mas, antes de retornar ao seu aposento para descansar, ele precisava passar
no de outro alguém. Havia uma missão a ser feita.
Chapter Thirty Five

Episode: Justice

[...]

- Eu não entendo. Não acho que posso fazer o que me pede, Vossa Alteza.

- Você deve. Eu não viria lhe solicitar algo se não estivesse certo disso.

- Mas não me soa justo.

- Injusto seria se fizesse o contrário - suspirou. - Ouça, compreendendo que


seja difícil cogitar tal sugestão, confie em mim, pois eu estou confiando em
você.

- E-eu... não sei.

- A decisão é sua. Cumpro meu propósito esforçando-me para abrir-te os


olhos, e enxergar a verdade. Cabe a ti deliberar por teus próprios
julgamentos.

***

Registrava-se exatamente nove horas da manhã no grande relógio do Salão


A quando os príncipes tiveram o tempo do café da manhã encerrado para
serem convocados para a Sala de Assembleias.

Ela se localizava no oeste do palácio, onde eram realizadas reuniões da


corte e até mesmo a própria simulação de coroação ao encerramento da
temporada.
Ninguém parecia surpreso, e sim ansiosos. No final, tratavam-se de
príncipes jovens com sede de polêmicas e novidades - igual quaisquer
outros.

O lugar imitava um tribunal. Espaçoso, limpo, em formato oval em que no


centro, sobre o palco de madeira, estava o corpo administrativo real do
palácio, e Niall James Horan.

Assim que todos se acomodaram devidamente nos bancos, silenciosos e


prendidos no cenário, Don Luminiére começou o julgamento.

- Bom dia, Vossas Altezas. Como informado previamente, hoje estaremos


promulgando o veredito sobre o incidente que ocorreu há algumas noites
atrás e culminou no envenenamento do príncipe de Ravena, Niall Horan.

O respectivo príncipe dos fios loiros abaixou a cabeça, como se estivesse


embaraçado por haver tantos olhares presos a si.

- Foi encontrado pela manhã de ontem um frasco de veneno, no armário do


jovem Harry Edward Styles.

Um conjunto de suspiros e múrmuros espantados ressoou entre as paredes,


a atenção alheia sendo direcionada de imediato para a figura sentada na
primeira fileira de bancos, com seus cabelos cacheados um tanto oleosos e a
bengala de cascavel sendo balançada entre seus dedos.

Ele se levantou.
Sua postura petulante enquanto caminhava - desfilava - até o centro do
palco, sustentando uma expressão de deboche, e revirando seus olhos.

Harry praticamente se arrastou até o meio, encarando visivelmente


entediado Don Luminiére e ignorando o resto das pessoas que o estudavam
em choque.

- Vamos acabar logo com isso, podemos? - questionou irônico, apoiando


seu peso na bengala enquanto meneava a cabeça.
O corpo administrativo fitou-o repressivos pelo seu comportamento - e
provavelmente cansados disso porque esta era a sexta vez que Styles estaria
ali sendo julgado por sua conduta (sendo que neste ano a gravidade da
situação era muito maior).

- Já sabemos como tal cenário termina, hum? - soltou um riso debochado. E


sinceramente se os demais já achavam Harry um irresponsável, sem senso
algum de auto-preservação.... agora eles o viam como um desmiolado
completo. - Vocês se lamentam, julgam-me pela minha petulância, dizem
que sentem muito e que estou expulso do Palácio pelo bem da humanidade.

Harry cruzou os braços em frente ao peito.


Oh, ele nunca seria alguém ajuizado, certo?

- Poupemos a enrolação, Lulu.

Don Luminiére franziu o cenho em desgosto, não respondendo verbalmente


para sua provocação.
Ele deveria estar acostumado, honestamente. Styles e toda sua presunção e
desobediência estavam consagrados ali.

- Apesar de seu péssimo desempenho moral, Vossa Alteza, presumo que


tenha se precipitado quanto ao seu destino. - o cavalheiro proferiu,
mantendo sua pose ereta e neutra.

Harry não pôde evitar arquear uma das sobrancelhas em confusão.

- Permita-me esclarecer. A todos. - deu um passo a frente, seu ar superior


aguçando a curiosidade alheia.

- Era só o que me faltava. - Zayn escutou Andrew sussurrar a si próprio,


algumas fileiras de distância. E se Malik pudesse acerta-lo com um
machado dem ser condenado, ele o faria.

- Bem, de fato o veneno foi encontrado nos aposentos do senhor Styles. O


que sentencia consequentemente Harry Edward Styles como culpado. -
Luminiére prosseguiu, relevando o falatório.
O silêncio era estrondoso da sala. Uma tensão salpicada nas bordas que
fazia o ar rarefeito.

- Porém, o Príncipe de Ravena, Niall James Horan, fez questão de retirar


qualquer possível acusação contra vossa pessoa, e encerrar o caso. E
embora nós, da administração real, não estejamos anuídos com tal decisão,
Niall tem, como vítima, a deliberação decisiva. - acrescentou, levando tanto
Harry quanto os outros presentes escancararem a boca em total
incredulidade.

Harry, com seus olhos verdes, bonitos e cansados, muito arregalados,


encarou perplexo a figura impassível de Niall, acomodado quietamente em
seu assento, mordiscando o lábio inferior.

- Decreto este julgamento encerrado. - Don Luminiére pronunciou,


retirando-se da sala seguido dos outros membros do Palácio e de Niall.

Alguns indivíduos resmungaram contrariados enquanto Harry, muito


atônito, permanecera fitando a imagem das costas de Horan ao que este
deixava o local acompanhado da corte administrativa.

E, se algum dia ele já se sentiu perturbado, hoje tornara qualquer


sentimento anterior um eufemismo.

Era tudo muito fodido e insano para se absorver.

***

- Por favor, já é tarde, vá embora.

- Alguns minutos. É tudo que peço. - Harry insistiu, pela sétima vez,
encostando sua testa contra a porta fechada, esperando magicamente que ela
se destrancasse.

- Eu não gosto de interações noturnas. Principalmente sua, Vossa Alteza. -


respondeu debochado.

- Você sabe que não é para isso que estou aqui. - insistiu. E pelo amor, ele
precisava entender o que se passava.
Levado pelo cansaço da persistência, Niall bufou, levantando-se de sua
cama e abrindo a porta, permitindo que Harry adentrasse.

Styles piscou sem jeito ao se depararem, levando seus passos constrangidos


para o interior do aposento.

- Sua teimosia venceu. Dou-lhe três minutos. Nada mais ou menos. E se não
for embora ao ter tal limite excedido, juro voltar atrás com a minha decisão.
- Niall avisou, direto e frito.

Seu maxilar estava um pouco travado de nervosismo.


E, Okay, isso era mais do que uma prova para Harry de que ele ainda o
odiava, mas ainda necessitava de um porquê de não tê-lo expulsado do
Palácio quando teve sua chance.

- Preciso de uma explicação. - Styles informou, um tanto rígido e sério, com


o cenho franzido, fora de sua fantasia extravagante e tudo mais.

- Imaginei que viria. Mesmo que estivesse na esperança que não o fizesse.

- Não estou aqui para ser rude ou insulta-lo, Horan. Gostaria somente de um
único motivo que justificasse o que fez por mim. - Harry admitiu.

- Não fiz isso por você. - Niall foi rápido ao contradizê-lo. - Fiz por Louis.

- Por Louis? - sua mente se embaralhou.

E, certo, talvez houvesse um grande ponto de interrogação visível na testa


de Styles. Se ele pensara que a situação não ficaria mais complexa ele
estava irremediavelmente enganado.

- Louis me procurou hoje. - Niall informou, andando indiferente pelo


perímetro de seu quarto, não abandonando a firmeza de sua voz. - Ele
garantiu que estavam armando para você. Ele me prometeu que você não
era o verdadeiro culpado.

- Oh. - Harry soltou um riso sarcástico. - Quer que eu acredite que você
deixou de me sentenciar no julgamento porque outro príncipe deu sua
palavra de que eu não estava envolvido? Honestamente, nós dois sabemos
que não há nada senão raiva direcionada a mim neste seu coração, Horan.

- Louis é o príncipe mais justo que conheço, Styles. Se ele está certo de que
não foi você, é porque não foi. Não é de meu feitio condenar um inocente.

- E, milagrosamente, você optou por anular qualquer acusação contra a


pessoa que mais odeia deste Palácio? - Styles negou com a cabeça,
divertido. Ele não conseguia se conter ou calar a boca, conseguia?

Niall olhou-o impassível, caminhando sem se intimidar para próximo de


Harry.

- Não sou como você, Vossa Alteza. Eu não jogo sujo para vencer. - o
príncipe dos fios louros sedosos cuspiu, estreitando os olhos, amargamente.

Talvez o que Niall tenha dito serviu como uma grande lição para a
petulância de Harry, pois toda sua atitude arrogante se desmanchou no
segundo que a verdade por trás daquelas palavras o atingiu com força.

Se estivessem no esgrima, Harry diria Touché.

Mas, como este não era particularmente um jogo esportivo, e sim a vida
real, Styles precisava reconhecer os seus erros, porque aquilo - uou - aquilo
era uma boa razão para se aprender com eles.

Então, ele disse o que raramente dizia - com a pele mais pálida que o
comum:

- Eu sinto muito, Niall.

E lá estava, ineditamente, um Harry Styles. Não com sua figura esguia


erguida. Não com seu sorriso debochado. Nem com a presunção ou
insolência à amostra.
Um Harry Styles de rosto limpo. Parecendo sincero. Parecendo
arrependido.

Neste seu 'sinto muito' talvez houvesse muito embutido no pouco. Uma
redenção que generalizava meses e muitos episódios de terror.
Não estava tão explícito ao que se referia, mas soava pertinente e profundo.
Profundo o suficiente para deslizar pelas camadas que foram se depositando
com o tempo, fases de rancor, mágoa e repugnância.

Niall, se estava surpreso com Styles se redimindo, não demonstrou. Às


vezes, palavras não tapam buracos.

O príncipe se limitou a inspirar fundo, cruzando os braços atrás das costas,


ponderando.
Tardou alguns segundos piscando calmo até que abandonasse aquela sua
pose inabalável e concreta para algo mais sentimental, franzindo as
sobrancelhas enquanto levava seu olhar para o chão.

- Desculpas não mudam as coisas, Styles. Elas não desfazem o casamento


da mulher que um dia amei. Elas não devolvem minha dignidade perante
meu reino, ou anulam a temporada que estou como repetente. Desculpas
não concertam os seus erros. - Horan reproduziu, assistindo Harry assentir
quieto em concordância, suas esmeraldas opacas pela culpa que
possivelmente o atormentava.

Ele não era a mesma criatura maléfica que costumava ser. Não podia ser. O
antigo Harry jamais pediria perdão, ou se arrependeria de suas maldades.
Ele provavelmente riria irônico e faria alguma piada suja.

- De qualquer modo, embora tenha feito isso a pedido de Louis, eu agradeço


por ter recuado. Não fui eu quem tentou envenena-lo. Sei que estraguei
muito sua vida por impulso, Niall. Mas eu nunca o mataria. - Harry
proferiu, um tom honesto e triste.

Estava prestes a se virar para ir embora quando Horan o impediu,


segurando-o suavemente pelo cotovelo.

Styles voltou a encara-lo confuso.

- Desculpas não concertam os seus erros, Harry. - Niall reforçou. - Mas são
um começo para evitar que os cometa novamente. Seja alguém melhor.
Faça isso por si próprio. - e largou-o. Permitindo-o que saísse. A mente de
Harry tão carregada de pensamentos quanto quando chegou.
***

Consequentemente, a vida no Palácio prosseguiu.


As aulas.
Provas.
E aquilo que um príncipe tem que cumprir em sua grade curricular.

Durante toda a semana seguinte, tudo que Harry desejava era agradecer
Louis.

Ele desejava pular em seu colo e sussurrar duzentos 'Obrigados' enquanto


abraçava-o o mais forte que pudesse.
Ele desejava afastar aqueles fios lisos de sua franja que ocasionalmente
caíam em seus olhos, e meio que observa-lo em uma veneração silenciosa.
Ou escrever algum poema que fizesse uma analogia de como Louis era
incrível e brilhante, e deveria ser cultuado como a Lua.

Certo.
Estes pensamentos específicos estavam o levando à loucura.
Porque, Céus, Harry não se lembra de ter permitido que fosse bombardeado
com ideias do tipo.

Ele não tinha escolhido se sentir vulnerável e facilmente impressionável por


qualquer outra pessoa antes.

E, okay, talvez não fosse tanta surpresa que ele estivesse encantado por
Tomlinson. Porque, sim, Louis era fodidamente quente, e tinha um sorriso
bonito, e para piorar haviam aquelas duas bolinhas de gude em tonalidade
azulada hipnotizantes que ele chamava de olhos (ou lagoas azuis, nas horas
vagas).
Louis era inteligente, seguro, confiante, soberbo e digno.

Ugh, ele era a droga de um pacote completo.


Uma obre da arte esculpida por Afrodite.
E para piorar ainda parecia ser incrível de cama.

Merda.
E, principalmente, ele era tão bom com Harry.
Ele o tratava bem, gentil, respeitoso.
Ele não se aproveitava dele.
E o olhava como... como se Harry valesse mesmo alguma coisa. Como se
merecesse sua atenção e respeito.

Styles tinha necessidade de enfatizar o quanto aquilo significava para ele. O


quanto a benevolência de Louis transcendia seu corpo físico.

Ele era belo em níveis que Harry jamais julgou qualquer quadro pintado à
óleo ser. Nem mesmo os de John Everett Millais (que continuamente o
deixava com lágrimas nos olhos ao admirar).

E, apesar desse seu ímpeto de querer colocar Louis em um altar para


venera-lo (okay, os limites foram ultrapassados), ele ainda tinha essa
consciência.

Consciência de que Tomlinson - nesses cinco dias úteis - não o olhara uma
vez sequer durante as aulas.

Consciência de que não poderia persistir em agarra-lo pelos cantos do


Palácio e desrespeita-lo dessa forma.

Consciência de que não deveria nem mesmo agradecê-lo por ter convencido
Niall a livra-lo do julgamento, porque Louis não era desse tipo. Ele não agia
esperando reconhecimento. Não fazia coisas boas esperando devoluções.
Ele era discreto e ligeiramente fechado. Não ensejando que Styles o
enchesse de abraços enquanto suspirava 'amém, meu salvador' (muito gay
até para Harry).

E, a julgar pela distância que sucumbiu entre os dois nessa semana, Harry
duvidava até mesmo que Louis estivesse interessado em dialogar com ele.

Harry também tinha uma consciência pior.


Consciência de que em todos os episódios que príncipes bateram na porta
de seu aposento de madrugada em busca de prazer, ele gozara com um
nome específico ressoando no fundo de sua subconsciência. Inferno.
***

No domingo, para compensar o tumulto gerado nas últimas incidências do


Palácio, os príncipes foram recompensados com um baile.

Um baile cheio de princesas.

E era meio estúpido o fato de convidarem princesas como se elas fossem


um presente de consolação, porque elas não eram objetos e sim pessoas que
mereciam mais respeito do que aparentemente estavam tendo. Mas, claro,
todo o patriarcado imperial estava estruturado em princípios considerados
corretos para a mentalidade daquela época.

Os príncipes não reclamariam.

Havia uma orquestra de música clássica, Canalés de baunilha e rum


crocantes por fora e macios por dentro, vinhos diretamente de Bordeaux, e
um clima descontraído de valsa e risadas. Jovens tendo o melhor do mundo.

Louis Tomlinson estava particularmente prendido à uma figura.


Do outro lado do Salão seus olhares eram correspondidos pelos da graciosa
princesa dos olhos verdes e cabelos encaracolados.

Diana o direcionava sorrisos discretos enquanto bebericava do Ponche e


conversava com alguma outra princesa.

Ele estava apenas esperando uma oportunidade surgir para ir ao seu


encontro.

Minutos mais tarde e a princesa que a acompanhava foi puxada para dançar
com um príncipe, deixando-a sozinha no canto.

Tomlinson sorriu satisfeito mentalmente, pronto para levar seus passos em


sua direção, quando seu movimento foi bruscamente cessado por uma mão
puxando-o pelo ombro.

Ele nem precisou se virar para saber de quem vinha aquela ação meio rude
e deselegante.
- Não se aproxime dela, Louis. - Harry sussurrou por trás, ao pé de seu
ouvido. - Não faça isso, por favor.

- Por qual razão não deveria? - Tomlinson indagou, ainda encarando-a


fixamente, ao que ela lançava uma expressão visivelmente decepcionada
pela interrupção de Harry.

- Confie em mim, eu tenho um mau pressentimento sobre essa garota. Não


posso explica-lo melhor, mas peço que me escute.

Styles afrouxou o aperto em seu ombro, ainda mantendo-se próximo de


Louis, quase colando seu peito nas costas do menor.

- O que me sugere, então? - Tomlinson devolveu-o, finalmente virando-se


para propriamente avalia-lo.

Harry prendeu um suspiro para a beleza impiedosa de Louis naquela noite.


O modo como sua franja estava para o lado, um pequeno resquício de barba
mal feita, seu fraque azul marinho e seus olhos muito penetrantes
averiguando-o. Sua pose neutra deixara de ser algo irritante sob sua
perspectiva, para algo sexy, provocativa e quente.

E, merda, Harry deveria aprender a se controlar.

- Desenhe-me.

Ou não deveria.

Tomlinson arqueou sua sobrancelha.

- Perdão?

- Desenhe-me. Posso ser um modelo muito melhor do que pensa - Harry


praticamente suplicou - Você me tem, não precisa dela.

E, apesar de suas roupas estarem exuberantes como sempre (bem, ele


sentira falta de vestir estampas rendadas na cor verde menta - e claro, da
gargantilha de diamantes), Harry soava simples, decidido e determinado,
piscando seus longos cílios rapidamente e batucando inquieto Carolina
contra o chão.

- Cumprirei o que mandar. - Harry acrescentou insistente.

- Está a disposto a seguir todos os meus comandos? - Louis questionou-o


com a voz firme.

Um pequeno sorriso lateral repuxou o canto dos lábios de Styles.

- Poderá fazer absolutamente tudo que desejar comigo, milorde. - sussurrou


de uma forma que talvez (propositalmente) tenha saído suja.

- Pois bem, que assim seja. - Louis decretou com sua feição séria, passando
a rumar para fora do Salão sem sequer lançar uma despedida para Diana.

Harry o seguiu, não contento seu sorriso de vitória e muito menos a


ansiedade ardente que já culminava seu interior.

Deus o dê forças.

***

Notas da autora: no próximo capítulo 'coisas' se desenrolam, então se você


não curte hot pode pular, ou então ler o final apenas! ❤

[ gente por conter conteúdo explícito o próximo cap - que eu já postei - está
bloqueado. Se não estiver constando pra vocês, tira a fic da biblioteca e
adiciona novamente]
Chapter Thirty Six

* leiam com qualquer música que acharem sexy ou a anexada da mídia -


me indiquem músicas sexys tb? *

Episode: My Biggest Sin

- Posso fazer o retrato no seu aposento? Gosto de como seu divã vermelho
contrasta com a sua pele, possibilita-me criar um jogo de sombreados no
papel. - Tomlinson pediu, andando mais a frente enquanto Harry tentava
acompanha-lo e simultaneamente não desmaiar.

- Pode, claro.

- Certo, vá indo primeiro, preciso buscar o material no meu quarto. Esteja


despido para quando eu chegar.

Styles literalmente travou no lugar com seus olhos muito arregalados


assistindo Louis sumir pelo corredor.

Seu estômago se retorceu e ele jurou que teria um derrame cerebral porque
ficar nu próximo de Louis seria sua morte.

***

Minutos seguintes Tomlinson adentrou o aposento, certificando-se de


amarrar um lenço vermelho na maçaneta de Styles para garantir que
ninguém interromperia.

Carregava uma tela média e uma sacola com tintas, pincéis e alguns pares
de panos.
Ele se deu o direito de abandonar o fraque azul marinho no mancebo e se
sentir mais confortável com somente sua camisa branca básica, decote em
V e bufante nas mangas, calça preta justa no quadril porém larga nas
canelas.

Jogou seu cabelo para trás uma última vez antes de propriamente se deparar
com o príncipe Edward.

Harry estava sentado no divã com as pernas cruzadas, envolto de um robe


de seda de tecido fino rosa. Parecia inquieto e tinha uma certa ansiedade
estampada em seu sorriso nervoso.

- Pegou tudo? - questionou em um fio de voz, esforçando-se para soar


relaxado, ao que Louis montava o cavalete de madeira e posicionava a tela
no ângulo que satisfizesse seu planejamento.

- Yeah. - Tomlinson respondeu sem dar muita atenção, separando um pincel


de cerdas longas e macias.

- Bom. - Harry resmungou, inspirando fundo ao notar Louis caminhando


em sua direção.

- Então, coloque isto e livre-se do roupão. - Tomlinson ordenou,


entregando-o uma espécie de gargantilha de couro preta com uma fivela
prateada.

Harry teve que repreender um grunhido frustrado porque eles nem haviam
começado e o autoritarismo de Louis já estava arrepiando seus pelos.
Quão desastroso seria se ele já ganhasse uma ereção no primeiro segundo
após ficar nu?

Styles assentiu com a cabeça, apanhando a quase 'coleira' e ajustando-a em


seu pescoço. Ele estava realmente se esforçando para não embaraçar a si
próprio.

Foi surpreendente como a timidez o sucumbiu no instante que ele começou


a empurrar o material rosa de seda para fora de seus ombros.
Honestamente Harry costumava ficar mais pelado do que com roupas, ele
sabia que seu corpo - em sua totalidade - era grandioso e invejável, ele
adorava as curvas de seus quadris e a maciez de sua coxa. Mas, de repente,
estar despido na frente de Louis parecia um bom motivo de retração.

- Não tenha vergonha, Harry. Um artista precisa reconhecer o território que


estará adentrando em sua obra.

Adentrando?
Por favor, Divindades do Tesão e Ereções, não me deixem ter uma hoje. -
obstinadamente repetia em sua consciência. Styles assentiu calado,
engolindo a seco enquanto jogava o robe para traz do divã, expondo-se
completamente, olhando inseguro para qual seria a reação de Tomlinson
(pois talvez uma fagulha de decepção o atingiria no caso do menor ignora-
lo como sempre).

No entanto, Louis não desviou sua atenção para longe, pelo contrário,
avaliou com calma cada pedaço exposto de Styles.

Estudou hipnotizado seu longo pescoço, os ossos sobressalentes das


clavículas, seu peitoral delicado e magro, seus mamilos redondos em uma
tonalidade entre castanho claro e rosado, os gominhos laterais da cintura,
seu umbigo pequeno, as entradas de sua pélvis que desembocavam
triangularmente no membro, as coxas fartas e musculosas, as panturrilhas
longas e os pés com dedos compridos.

Styles por instinto se encolheu um pouco em torno de si, torcendo para suas
bochechas não enrubescerem.

- Gosta do que vê, milorde? - perguntou a Louis, almejando preservar sua


fantasia ousada e deixar de lado sua hesitação.

- Você é lindo, Harry. - Tomlinson admitiu, para sua surpresa (coração, não
dispare agora, talvez ele seja capaz de flagrar-te pulsando impiedosamente
contra meu peito) - Creio que não serei apto para retratar um milésimo de
sua pulcritude.

- Bem, veremos o melhor que pode fazer. - Styles rebateu, ligeiramente


desafiador.
Louis soltou um riso fraco - muito fofo, se for honesto - e concordou,
retornando à sacola e trazendo alguns panos consigo.

Panos os quais Harry encarou confuso ao que Tomlinson balançava-os no


ar.

- O que pretende com eles? - questionou-o assustado.

- Tenho alguns planos para você. - Louis informou, umedecendo o lábio


inferior com a ponta da língua. - Pelo o que me recordo, foi prometo a mim
a possibilidade do que eu desejasse.

Harry assentiu relutante, o nariz um pouco franzido em nervosismo.

- E o que deseja? - indagou-o.

Louis sorriu determinado daquela forma sedutora que faria Harry se atirar
de um penhasco.

- Obscenidade. - proferiu, direto e decidido, encarando o maior estendido


no divã com uma ardência vibrando sua pele.

Se Styles não teve um infarto ao escutar aquela palavra, ele certamente


infartou com a próxima proposta.

- Irei vendá-lo, coloca-lo na posição que preciso que esteja, para enfim
começar a retrata-lo. - Louis anunciou, não cedendo outro segundo para que
Harry protestasse antes de colocar uma faixa sobre seus olhos, amarrando-a
atrás de sua cabeça, atento para não amassar seu cabelo.

Louis escovou seus cachos com suavidade para salpica-los com um ar de


bagunça.

Harry nada mais enxergava.

E ele se sentia incendiado sobre essa ideia.

Foi quando seus batimentos cardíacos estavam prestes a se normalizar que


eles dispararam de vez, pois Tomlinson agarrou seus pulsos e posicionou-os
para cima, com os braços esticados.

- Louis... - Harry murmurou sob um ofego, em alerta e desespero. - Se eu


fosse você não faria isso.

Ele não conseguiu se reprimir, e um leve grunhido escapou de sua garganta


ao que Louis amarrou seus pulsos com um pouco de força na beirada do
divã, prendendo-os ao estofado.

O príncipe de Riverland suspirou contido pela maneira submissa que Harry


estava deitado naquele cenário. Seria perfeito.

Ele ainda lutava contra os panos que o aprisionavam, debatendo-se no divã.

- Acalme-se, Styles. Ou terei que apertar o laço com mais força para não se
desfazer. - Tomlinson reverberou, afundando a ponta de seu dedo indicador
na têmpora direita de Harry.

Sua pele era delicada. Lisa. Aveludada.


Ele desejara traçar cada centímetro dela.

- Isso o incomoda? Se me disser para parar, Harry, eu imediatamente


interromperei o que estiver fazendo e o liberarei. - Louis prometeu, sua voz
cedendo e soando mais preocupada.

Styles inspirou fundo.

- Não... não me incomoda. - deixou de sacudir os braços, suspirando. -


Mas... você sabe o que acontece ao repreender meus movimentos, Louis.
Esteja ciente disso.

Tomlinson sorriu para si mesmo, aproximando sua boca da orelha de Harry.

- Eu estou. - sussurrou.

E, pelo estúpido provocador que é, apertou os panos contra a pele fina de


seus pulsos, levando Harry a trincar sua mandíbula, engolindo um gemido.

- Droga.
- Tenho seu consentimento para conhecer seu corpo?

- O quê?! - engasgou.

- Para um resultado detalhado, gosto de reconhecer os perímetros da minha


matéria-prima.

Styles resfolegou.

- No baile lhe dei permissão para fazer o que quisesse comigo. - afirmou. -
Minha concessão está de pé.

- Ótimo. - Louis rebateu, afundando novamente a ponta de seu indicador


contra sua têmpora e descendo com lentidão pela sua bochecha até colocá-
lo sobre seus lábios, sentindo a respiração ofegante de Harry assopra-lo.

O toque do menor era firme e gentil simultaneamente. Harry poderia chorar


e pedi-lo para jamais remover o contato físico de seu dedo sobre sua boca.
Era delicado e concedia-o uma sensação acolhedora.

Então, inesperadamente, Styles sentiu as cerdas do pincel rolando para


baixo de seu pescoço, em movimentos brandos, como se Louis o pintasse
embora elas estivessem secas e ele soubesse que aquilo era uma
provocação.

- Cada pincelada, Harry, é como dar vida a um pedaço de você. - escutou-o


afirmar impassível.

Louis arrastava o pincel suavemente sobre sua epiderme, contornando sua


clavícula.

Era tudo muito sensual. E tentador. E droga, Harry estava prestes a manda-
lo se foder porque sinceramente ele não achava que seria capaz de se
control-

- Oh. - Styles lamuriou involuntariamente ao sentir as cerdas ao redor de


seu mamilo esquerdo.
Harry contraiu seu abdômen, suspirando e tentando libertar seus pulsos por
instinto. - seu maldito provocador.
- Peço que não se movimente, Harry. Estou estudando-o anatomicamente.

- Filho da pu- Louis. - Styles gemeu entredentes, tentando expressar sua


raiva porém sendo interrompido pela explosão de prazer ao ter uma
superfície escovando contra seu bico, impelindo-o e eriçando-o com aquele
atrito áspero e persistente.

Era inevitável que Louis não se hipnotizasse pelo jeito submisso de como
Harry se encolheu durante o espasmo, com sua boca curvada reproduziu
resmungos baixos e rapidamente mordeu os próprios lábios para repreendê-
los.

Não poderia ser mais erótico a forma que os músculos sob o pincel se
tensionaram conforme Tomlinson percorreu sem pressa pelo seu peitoral.

Quando Louis teve a ideia de retratar a tentação e o pecado de seu corpo


desnudo, ele percebeu.
Percebeu que não era talentoso o suficiente para sequer registrar aquilo.

Harry era lindo e sedutor. A própria Obscenidade personificada.

Se pudesse, Louis arrastaria a língua sobre sua pele, molharia-o em cada


milímetro dela, só para escuta-lo grunhindo em deleite. Portanto, ao invés,
ele tomou o pincel como uma extensão de seu toque, usando-o para senti-lo
indiretamente.

Piscando fascinado pelo estado de Harry, Tomlinson molhou a ponta do


objeto em um vidro de água limpa.

Louis circundou seu outro mamilo, tendo o garoto arqueando as costas e


cruzando as pernas.
Ele ofegou com o contato molhado, sentindo-se torturado de um jeito
gostoso, viciante e frustrante.

- Eles são perfeitamente redondos. - o menor comentou, magnetizado pelos


bicos eriçados.
- E estão muito sensíveis. - Harry rebateu, buscando por ar. - Pare de excita-
los.

Seu corpo estava trêmulo, e mesmo sendo considerando o sexo sob pernas,
Harry nunca estivera com seus sentidos tão aguçados, e borboletas
pinicando a parede de seu estômago com ideia de Louis o tocando.

- Não se mova. - o príncipe ordenou.

- Eu não estou. - contradisse fracamente, fincando suas unhas contra a


palma das próprias mãos querendo conter-se e não delatar o quão atiçado se
encontrava naquela situação.

- Sua parte inferior está, na verdade, bem inquieta. - Louis encarava seu
pau, o qual levanta-se e enrijecia-se, evidenciando as veias grossas que
marcavam a epiderme rosada.

Harry era incrivelmente quente.

E estava incrivelmente envergonhado.

Tentou, instintivamente, cobrir seu membro com as pernas, espremendo-o


entre as coxas mas - porra - falhando e acabando gemendo no processo com
o atrito que elas lhe causaram.

Não lembrava de ter ficado duro desse modo em alguma outra ocasião.

- Não se esconda. Ele é parte da obra-prima.

Harry estava agoniado por ter sua mobilidade limitada, não poder assistir a
cena gloriosa de Louis estudando-o. No entanto, ele imaginava.

Colocou seus pensamentos em direção automática para leva-lo aonde


ansiassem. Materializou no fundo de sua consciência a figura austera e
sóbria de Louis o fitando com desejo, substituiu a sensação das cerdas do
pincel o delineando para uma idealização em que Tomlinson esfregava sua
barba rala contra si.
Se o príncipe de Riverland queria brincar com ele, portanto, ele não
recusaria a oportunidade.

- Toque-o Louis. - Styles suplicou sussurrado, abaixando as pernas e


esticando-as, cedendo a visão inteira de seu membro já ereto e pulsante,
ardendo em necessidade. - Por favor.

Louis suspirou em uma guerra interna, repreendendo seus ímpetos e suas


vontades primitivas. Mas não foi forte o bastante para totalmente se conter.

Levou a ponta do pincel para traçar a veia que se sobressaia do pênis. Harry
se retorceu bruscamente com aquilo e choramingou - fodidamente
choramingou - repuxando os braços para se desvincular.

- Você está me torturando. - Styles acusou com um biquinho, não achando


tempo para se recompor até senti-lo friccionando as cerdas molhadas contra
a fenda de seu pau.

E ele gemeu, surpreendentemente alto .

Porque era uma sensação de prazer estranha em sua região muito sensível,
impotência. E, embora ele sempre tenha sido um tanto barulhento e muito
receptivo na cama, não se recorda de se entregar como agora para outro
alguém.

Era Louis.
E o fato de ser Louis ali o reconfortava e o deixava insano.

Tomlinson continuou obstinado a salpicar o pincel na cabeça de seu


membro, ora ou outra deslizando-o para a extensão e o caminho das veias.
Ele estava um pouco viciado no modo que Harry se contorcia, mal podendo
respirar, mal podendo gemer.

- Oh meu - - Hm. - grunhiu, apertando sua mandíbula e pressionando o


interior de suas coxas contra as próprias bolas. - Louis.

- Você é lindo, Harry. - confessou, acompanhando-o se embolar de prazer


com uma quase veneração.
Seu elogio teve um efeito imediato na cabeça de Styles - nas duas - pois sua
fenda expeliu uma quantidade razoável de pre-gozo quente contra sua
barriga lisa e pálida.

Atentado pelo princípio artístico da coisa, Louis mergulhou as cerdas contra


o líquido ralo, traçando o pincel contra o lábio de Styles, pintando os beiços
maltratados pelos dentes das tantas vezes que os mordeu com o branco
transparente de seu próprio pré-gozo.

Harry estava ofegante e ligeiramente confuso com o que quer que


Tomlinson estivesse fazendo, porque ele claramente desejava tê-lo dando
atenção para seu membro, ao invés.

Depois de pintar-lhe a boca, Louis resolveu satisfazer as súplicas


choramingadas de Styles e delinear as veias de seu pau, espalhando o
líquido como se fosse tinta sobre uma tela - o que em uma analogia
distorcida poderia ser.

- Louis, toque-me com a sua mão. Eu preciso senti-las. - Styles grunhiu, e


apesar de que adoraria concedê-lo seu pedido, Louis desceu o pincel mais
para baixo.

- Afaste suas pernas. - exigiu, sua voz prestes a vacilar porque aquilo era
demais e Harry era demais para sua saúde mental.

Styles não tardou nenhum segundo antes de animadamente obedecer sua


ordem, expondo-se para o príncipe, cujo olhar faminto gravou cada detalhe
de seu buraco delicado na mente, um convite para o pecado.

Engolindo sua admiração, Louis roçou o pincel nas bordas de seu botão
rosado.

Harry, no entanto, suprimiu um silvo de sua garganta, sentindo o prazer


espalhar-se por suas fibras com a umidade das cerdas - que o lembravam a
de uma língua - acariciando e incendiando.
Visualizou em meio ao escuro a imagem de Louis com o rosto afundando
ali, lambendo-o sem piedade.
Ele enrolou o pincel mais adiante no buraco apertado do príncipe,
penetrando-o, esfregando-o contra suas paredes sedosas enquanto Harry
estava se afundando tão forte, ondulando seu corpo e querendo projeta-lo
para baixo para engolir a maior quantidade de atrito que conseguisse,
querendo se preencher, querendo se anestesiar.
Ele empurrava suas ancas com tamanha firmeza contra o instrumento que
Louis até teve se pressionar seus quadris para baixo, temendo que sua
bunda quebrasse o cabo de madeira.

Louis quase teve a responsabilidade de parar quando os gemidos eróticos e


altos de Harry começaram a soar como soluços agudos, mas se absteve ao
que ouviu-o chamando seu nome.

- Lou - Oh - Lou, pressione-o contra mim, mais forte, por favor.

Ele era submisso e amava se sentir restrito.


Soava como o canto de uma sereia atraindo sedutoramente o marinheiro
para afoga-lo no fundo do mar.

Mas, repentinamente, Louis interrompeu-se, olhando em devoção Harry


mordendo violentamente o canto do lábio inferior, suor escorrendo por sua
nuca e fazendo sua epiderme brilhar.

- Não pare. Por Deus, não pare. Dê-me um orgasmo, meu rei.

Seu coração se apertou estranho ao escuta-lo chamando de 'meu rei', e sua


inspiração falhou.

Tomlinson piscou perplexo, esclarecendo em sua mente que aquela era a


cena perfeita. Ele deveria retrata-lo naquele instante. Fotógrafa-ló através
da pintura enquanto estava ofegante, acumulando pré-gozo em seu
estômago, com as pernas abertas e a necessidade traduzida em cada célula.

- Onde está indo? Louis? - Harry chamou-o frustrado ao ter a impressão de


que o príncipe havia se afastado, uma sensação fria e vazia da distância, da
ausência de seus toques e provocações.
Já acomodado no banco de frente para o cavalete, Louis separava novos
pincéis e a tinta preta.

- Vou pintá-lo agora.

- O quê?! - reproduziu sua indignação. - Você só pode estar brincando, não


é?

Havia uma irritação clara no tom de Harry, a qual Tomlinson ignorara


facilmente, deslizando com suavidade seus traços sobre a tela branca,
inspirado.

- Não se mexa, por gentileza. Pretendo captar seus detalhes na posição em


que está.

- Por gentileza, vá se foder. - Harry resmungou agoniado.

- Pensei que houvesse me prometido posar como eu quisesse. - comentou,


não se abalando pelo estresse do maior com sua frustração sexual.

Styles choramingou persistente, agora determinado a repuxar os braços que


ainda estavam presos sobre sua cabeça.

- Lou, por favor, solte meus pulsos. Eu preciso me aliviar. - Harry soluçou,
inquieto. - Eu preciso me masturbar forte ou eu juro que meu pau irá cair.

Tomlinson arqueou as sobrancelhas, dando uma checagem rápida para seu


grande membro, sólido igual pedra, as bolas adquirindo uma tonalidade
roxeada que por um momento o deixara com pena da situação deplorável do
garoto.

- Prometo me apressar. Quanto mais contribuir, mais depressa finalizo. -


prometeu-o, obrigando-se a pintar em traços grossos e menos detalhados.

- Oh, vá logo. É sério. Eu quero gozar. - Harry implorou, soando quente,


lascivo e exatamente da maneira que Louis precisava que fosse para
ressaltar o objetivo da pintura.
Em um período tortuoso de vinte minutos tudo que se escutava ressoar entre
as paredes do aposento eram os gemidos e choramingos sofridos de Harry -
o qual mantivera sua ereção intacta e fodidamente dolorida (ele não
conseguia manda-la embora, não quando sabia estar sendo assistido pelo
Príncipe William).

Louis sabia que aquela finalização estava longe de ser decente e realista,
que os formatos estavam crus e sem sombreamento. Ele sabia que aquilo
não era nem um milésimo do que almejara.... mas... mas ele também era
humano, e seu coração estava despedaçado ao assistir Harry chorando -
literalmente deixando que lágrimas escorressem por sua bochecha -
enquanto se contorcia de tesão.
Então, o resultado de sua obra tornara-se uma importância secundária
quando ele se levantou do banco e caminhou para próximo do menino.

- Irei liberta-lo agora, Harry. - informou, sorrindo triste mesmo que ele
estivesse vendado.

- Tem certeza? Você já acabou? E-eu posso aguentar mais tempo se for
preciso. - Styles certificou, e merda ele era tão encantador e gentil, ao ponto
de colocar o trabalho de Louis na frente de sua necessidade.

- Tenho. Você foi um ótimo modelo. - garantiu-o, desamarrando seus pulsos


mais brancos que o normal, devido o impedimento da passagem apropriada
de corrente sanguínea.

Styles logo abaixou os braços, apertando os pulsos para amenizar a dor que
os panos causaram.

E, por fim, Louis se agachou ao lado de divã e desatou o pano que vendava-
o, assistindo Harry abrir devagar os olhos, piscando desnorteado a fim de se
acostumar novamente com a claridade do quarto.

Seus olhos verdes estavam marejados e ligeiramente vermelhos, a umidade


excedendo o canto de suas pálpebras.

A primeira imagem que Harry teve ao situar sua visão foram as profundas
lagoas azuis, deixando-o sem fôlego de imediato.
Louis estava próximo, avaliando e assegurando-se que ele estava bem.
Mas, sério, como Harry poderia estar bem tendo uma maldita ereção
exposta e dois pares de esferas azuis infinitas direcionadas completamente a
ele?

- Louis, me beije. - pediu em um sussurro, fitando fixamente sua boca com


uma expectativa surreal. - Beije-me, é só o que eu peço.

Tomlinson piscou surpreso, mas decidiu não pensar - ele já causou miséria
o suficiente no outro por hoje - e levou cuidadosamente seu rosto para ainda
mais perto do de Harry.

Depositou um selinho suave sobre seus lábios entreabertos, degustando o


sabor metálico de seu sangue pela força que Styles havia mordido-os
durante a noite para manter-se silencioso (o que foi meio em vão,
honestamente).

E então selou-os de novo, agora movimentando-os em um beijo molhado e


ardido, com Harry suspirando profundamente em deleite e descendo sua
mão para finalmente aliviar a ereção entre suas pernas.

Louis, de olhos fechados, certamente não podia ve-lo se masturbar, mas ele
sabia que Harry estava bombeando incansavelmente seu próprio membro
pelo modo que seu corpo inteiro acabava tremendo com os espasmos e seus
gemidos entrecortavam o beijo.

Tomlinson chupou sua língua com avidez, levando Styles a perto de uivar
de satisfação enquanto sua mão masturbava seu pau provavelmente na
velocidade da luz.

Era sedutor - e quase fofo - os suspiros de prazer que Harry dava, ou então
quando ele afastava rapidamente sua boca para gemer livre e ofegar por ar.
Sobretudo, era fascinante presencia-lo arqueando as costas ao se aproximar
de seu tão esperado orgasmo.

- Está - Oh - está vendo o que c-causa em mim, meu rei? - Styles


choramingou, fechando os olhos em êxtase, acumulando uma nova onda de
lágrimas nas bordas.
Pela forma que seus músculos se tensionaram e seu abdômen se contraiu
Louis poderia afirmar que Harry gozaria em poucos minutos, ele parecia
insaciável com a própria mão e soluçava sem ar.

Louis sorriu. Porque ele era encantador até mesmo acariciando


furiosamente seu pau, fazendo a cabeça sumir e aparecer entre seus dedos
como se sua vida dependesse disso.

Talvez ele se martirizasse mais tarde, mas movido por um ímpeto estranho
Tomlinson guiou seus lábios a depositarem um beijo casto na bochecha de
Harry, o qual, coincidentemente, chegou ao seu ápice naquele instante,
emitindo uma lamúria alta e vindo em jatos longos e grossos contra seu
estômago, o corpo todo delicadamente se sacudindo pelos choque de prazer.

Louis se levantou para arrumar suas coisas enquanto Harry tentava


recuperar o fôlego e aproveitar a nuvem de satisfação pós-orgasmo que
deixara seus pensamentos turvos, uma sensação de alívio eclodindo em seus
neurônios.

Guardando o frasco da tinta posto na sacola, Tomlinson se sentou no banco


esperando limpar os pincéis no recipiente onde a água estava diluída em
uma substância própria para aquilo.

Com a mente focada e distraída nem sequer percebeu Harry se aproximando


dele, puxando o cavalete para trás e impedindo-o de continuar a limpar as
cerdas.

Ao despertar com o ruído da madeira arrastada contra o piso, levantou a


cabeça em confusão, flagrando Styles ainda nu sorrindo travesso para si.

- O que aconteceu Ha-

Antes que concluísse a frase Harry já havia sentado em seu colo, colocando
as pernas em cada lado de seu corpo.

Ele parecia cansado. Contente. E sujo - no sentido literal, pois seus cabelos
estava úmidos de suor, havia gozo espalhado em seu tronco, resquício de
lágrimas em suas têmporas e sangue saindo das feridas de sua boca.
- Hey. - Styles saudou animado, parecendo uma criança adorável e animada.

- Hm, precisa de algo? - Louis perguntou um pouco desconcertado e


confuso, não sabendo ler os olhos iluminados e o sorriso bem humorado,
com covinhas afundadas, do maior.

- Você poderia me limpar, Lou? - pediu, piscando docemente em uma


inocência fingida que fez Tomlinson rir. Ele era atrevido demais para sua
sanidade.

- Certo... - concordou, puxando um pano limpo da sacola.

Começou, no entanto, afastando os cachos suados, puxando-os para trás e


pegando um elástico que Harry o entregou para prendê-los em um coque.

- Eu não sei fazer coques. - admitiu, torcendo o nariz pelo resultado meio
desarrumado que obteve, algumas mexas escorregando do elástico e
deslizando para frente do rosto de Styles, que apenas riu sem se importar.

Assim Louis secou as lágrimas de seu rosto e, com o polegar, limpou o


sangue de seus lábios com um cuidado imenso, temendo machuca-lo.

O que, imediatamente, levou Harry a sorrir encantado sob seu toque,


suspirando e se odiando por estar suspirando (desde quando ele era tão
impressionável nesse nível?).

Por fim, segurando o pano, Louis limpou as trilhas de gozo do seu


abdômen, esfregou suavemente o tecido em seu tronco até que ele estivesse
devidamente limpo.

E aquele brilho inédito e cegante ainda estava lá. Ainda estava


transcendendo as gramas de verão, ou esmeraldas reluzentes, enquanto
Harry encarava fixamente Louis, com um grande carinho e admiração, seu
sorriso meio bobo e muito bonito.

- O que foi? - Tomlinson questionou, incerto.

Styles estendeu suas mãos corajosamente para segurarem seu rosto, com
suavidade, as pontas dos dedos acariciando-o.
- Obrigado. Este foi o orgasmo mais diferente e intenso que eu já tive.

- Agradeça suas próprias mãos ágeis pelo serviço. - respondeu humorado,


balançando suas pernas e, consequentemente, Harry - ainda pelado! - em
seu colo de brincadeira. Quase o fazendo cair.

Styles revirou os olhos, em seguida lançando-o uma expressão suja


enquanto arqueava suas sobrancelhas sugestivamente.

- Elas só trabalharam com tanta vontade assim porque estavam inspiradas


com a sua presença.

Os dois riram. Jovens e cansados. Nesta bolha agradável de conforto e


leveza.

Até que, subitamente, Harry fechasse sua expressão feliz para uma
ligeiramente zangada - e enciumada.

- Ei, então era isso que pretendia fazer com Diana hoje? - indagou
visivelmente chateado e irritado.

- Só se ela me inspirasse desse modo. - respondeu provocando-o, ele estava


prestes a sorrir insinuante (e Céus, ele literalmente não se reconhecia mais).

Styles formou um bico com os lábios, contrariado.


Louis passou o polegar para desfazê-lo, tentando evitar que as feridas
sangrassem novamente. Mas, claro que Harry morderia seu dedo de
propósito e manteria-o preso entre seus dentes.

- Ouch.

- Saiba que sou uma opção muito melhor do que ela, Louis. Infinitamente
melhor. - gabou-se, depositando um selinho inesperado em seus lábios.

Tomlinson concordou em silêncio, meio confuso pelo fato de como estavam


e estiveram agindo ultimamente.

- Posso lhe perguntar por que se esquivara de mim durante esta semana? -
Harry interrogou direto.
- Eu não me esquivei.

- Procurei-o algumas noites em seu aposento, na biblioteca e até mesmo no


lago, sem ter sucesso algum. Sei que sofre de insônia, então por onde
andara nestas noites?

- Conhece aquela capela que há mais afastada do Palácio? Atrás dos jardins
das coníferas?

- Uh, sim.

- Descobri que aquele lugar é muito silencioso de noite, perfeito para ler.
Não fica tão frio e os vitrais coloridos parecem milagrosos ao refletirem a
luz da lua. Gosto de me isolar.

Harry assentiu, meio deslumbrado e hipnotizado com a sensualidade que


esbanjava ao simplesmente pronunciar as frases com seriedade.

- Bem, preciso ir. Já deve ser madrugada e amanhã haverão mais aulas. -
Louis anunciou, dando leves tapas na coxa do maior para que ele levantasse
de seu colo.

Logo que os dois estavam de pé e Tomlinson estava pronto para sair, Harry
o chamou com um leve toque em seu antebraço.

- Sim?

- Diga-me antes, qual o nome de sua obra? - Styles perguntou, fitando a tela
nos braços de Louis com um retrato seu (vulnerável e excitado) pintado em
tinta preta.

Tomlinson ponderou durante alguns segundos, em silêncio, por fim


encarando Harry nos olhos antes de respondê-lo.

- 'Meu Maior Pecado'.

***
notas da autora: Gostaram? Sou ruim escrevendo hot mas prometo
melhorar.

PS: GENTE assistam Those People (é um romance gay). E percebam como


a personalidade de Sebastian - acho que é dele - lembra a do Harry dessa
fic.
Chapter Thirty Seven

(gente vocês comentam e elogiam tanto ela que eu me inspiro e


escrevo/posto rápido demais. Socorro. Obrigada ???)

Episode: Broken Mirror

- Acho formidável a ideia de abrir os banquetes do palácio para o povo. -


Zayn admitiu. - Pretendo levar este costume de vocês para aplicar em Alren
quando for coroado rei.

Liam sorriu, olhando para um canteiro de flores Delfínio azuis celeste.

Ambos caminhavam distraídos pelo jardim de inverno.


Zayn estava ciente de que não se livraria facilmente do outro ou teria seu
momento de privacidade, então se obrigou a aceitar o convite e acompanha-
lo em um passeio noturno.

- Meu pai sempre nos pregou que é importante enxergarmos nossos


cidadãos como família. Ter as refeições com eles é como reunir os tios, tias,
primos distantes. - Payne confessou, tendo Zayn encarando-o um pouco
fascinado. - O que foi?

- Nada. É só... muito legal escutar isso, sabe? No meu reino eu sinto como
se nem minha própria família fosse minha família. - deu de ombros.

E por um momento ocorreu em Liam que aquilo era errado, muito. E que,
embora o outro não quisesse compartilha-lo seus maiores pecados que o
levavam constantemente a julgamento, desafeto não era uma penalidade
plausível, não com alguém que já se auto sabotava tanto quanto Zayn, que
se machucava porque via na beleza uma escapatória da vida que tinha.
Movido por um impulso maior, segurou o príncipe pelo cotovelo,
impedindo-o de prosseguir seu caminho.

- O que há de errado?

E nessa pergunta talvez muitas respostas fossem possível anexar.


Porque, honestamente, tudo.

- Nada. Eu não sei. - Zayn tentou desconversar, livrando-se discretamente


do aperto de Liam para tentar retomar seus passos.

Mas Liam não recuou.

- Enquanto manter tanto para si mesmo, Vossa Alteza, estará se


sentenciando a enfrentar todos os seus demônios sozinho. Alguns de nós
preferimos. Mas para outros o peso é maior. - proferiu, esperando soar tão
firme e gentil quanto seu pai soava ao aconselha-lo com seus problemas. - E
está tudo bem aceitar ajuda, isso não faz de você menos forte. Nós somos
soldados nos protegendo diariamente, algumas batalhas não se ganham sem
reforços.

Liam queria desesperadamente que Malik absorvesse suas palavras.


Captasse as intenções delas em relação a tudo que o incomodasse, e
sobretudo seu distúrbio com o peso.

Para Zayn aquilo teria sido grande. E importante.

Porque no final quantos de nós não esperamos secretamente que alguém


demonstre se importar?

Quantos de nós não gritamos mudos por pedidos de socorros que ninguém
consegue escutar?

Quão frustrante é se sentir completamente sozinho mesmo não teoricamente


estando?

- Eu sempre fui muito sexualizado. Por todos. - Malik confessou,


sussurrando o mais baixo que pudesse. Seu olhar se desviou do de Liam
para dirigir-se a um ornamento de pedra qualquer do jardim. - O meu Reino
está falindo. E meus pais nunca viram potencial de Rei em mim, no entanto,
sou o único menino que tiveram para herdar o trono.

Liam assentiu em choque.

- Eles achavam que eu era ruim lutando de espadas, péssimo nas aulas de
estratégias, e muito retraído para governar. Mas, admitiam que eu saía bem
nos códigos de etiqueta. - parecia dolorosa a forma que Zayn revelava sua
rejeição, como se ela deteriorasse seus sentimentos a cada segundo do dia. -
Minha mãe então passou a enxergar uma solução para isso. Para a ascensão
econômica de Alren. Ao invés de me instruírem para crescer e me tornar
um bom príncipe, instruíram-me para crescer e me tornar um bom marido.

Distanciando-se de Liam, Zayn agachou-se no gramado e apanhou uma flor


amarela e pequena dente-de-tigre que quase se escondia no meio das
folhagens.
Aproximou-a do nariz e inspirou seu perfume.

Logo em seguida levantou-se e estendeu-a a Payne, que pegou de sua mão


visivelmente perturbado.

- Eles cortaram todas as minhas outras tarefas, desde o esgrima até


ensinamentos matemáticos. Tudo que eu tinha meu dia inteiro seriam as
aulas de etiqueta. - Zayn soava vazio. - Mas, claro, minha mãe dizia para eu
me agarrar a isso, porque essa era a minha chance, se eu aprendesse a me
portar elegantemente, se eu conseguisse uma boa conduta de
comportamento e me tornasse um cavalheiro vistoso, então alguém iria me
escolher no futuro, e nossas preocupações acabariam.

Liam piscou indignado.

- Não me escolheriam por amor, não me escolheriam pela minha


inteligência. Escolheriam a mim porque eu seria bonito e refinado. E eu
devia tal ato ao meu povo, precisava honra-los, salva-los da miséria. Desde
que eles não poderiam contar comigo como um bom líder, então minha
esposa ou marido ofereceriam dotes que enriqueceriam-nos, e meu único
papel nisso, nesse ambicioso planejamento de vida que me foi oferecida, era
atrair um casamento com a minha beleza, com um sorriso complacente e o
cabelo bem penteado, era saber como encantar alguém andando de queixo
erguido e expressando-me com uma boa dicção.

- Eu sei que isso no total já é a coisa mais errada e desgostosa que ouvi,
mas... o que de pior aconteceu? O que houve para que eles te
abandonassem?

- Dada as condições, eu cresci voltado a isso. Voltado a ser um bom


galanteador, a cortejar as princesas ou príncipes de Reinos prósperos que
estivessem visitando nosso Palácio. Meu pai sussurraria o nome de quem eu
devia tentar agradar, e eu iria atrás da pessoa. Todo evento a mesma coisa. -
Zayn respirou fundo. - Até que Coral, uma filha que meu pai teve em um
relacionamento passado e precoce, quando era jovem e ainda príncipe, foi
passar uma temporada conosco. Nós nunca tivemos contato como irmãos e
éramos estranhos um para o outro.

- Incesto? - Liam sugeriu, tendo Malik concordando com um breve aceno.

- Nós nos aproximamos no começo, e ela era divertida. Estar com ela era
diferente de estar com os outros, porque todos os jovens com quem estava
permitido a ter contato eram alvos de interesse ao reino, e isso soava
forçado. Então, quando eu beijava Coral, por mais que ela fosse minha irmã
postiça, parecia leve e casual. - Zayn mordeu os lábios ao proferir, temendo
a reação e o julgamento que encontraria nos olhos de Payne.

Porém Payne manteve-os inexpressivos, somente esperando a conclusão da


história.

- Eu prometi a mim próprio que não seriam mais do que beijos. Mas eu era
jovem, e me deixei levar. Nós estávamos tendo nossa primeira vez atrás dos
depósitos do Palácio quando meus pais nos flagraram. - Zayn tossiu,
constrangido. - Eles ficaram obviamente horrorizados, e disseram que eu
perdi a única coisa que poderia me salvar, minha dignidade. Se algum
pretendente soubesse disso, me largaria. Eu sou a queda de Arlen. Se não
me há dignidade, resta-me esperar que a beleza externa valha algo.

Escutar esse tipo de revelação era como ser acertado por uma flecha.
Porque... uou... Liam entendia que Zayn talvez tenha se deixado levar um
pouco na situação... mas quem não erra? No final ela era uma garota como
outra qualquer, e eles não se conheciam então mal poderiam se considerar
irmãos.

E o buraco enorme que os pais cavaram no próprio peito do garoto desde


que ele era pequeno?! O criaram não para ser feliz, mas para fazer seu
noivo ou noiva feliz já que precisavam de uma união de Reinos?

Tudo tão maçante e repugnante para absorver.

Liam não sabia exatamente como se pronunciar diante esta confissão. Ele
entendia que suas palavras não mudariam algo, que a influência que o rei e
a rainha tiveram no psicológico de Zayn seria muito maior que a sua, e que
a parte destruída e rasgada de seu coração jamais seria recomposta, porque
a capacidade que os outros têm de nos ferir é muito mais forte do que a que
nós temos para curar.

Uma vez que alguém desconstrói a boa ideia que você guarda de si próprio,
ela é perdida. Ela é jogada e substituída por uma ruim.

Afinal, é tão mais fácil nós nos odiarmos do que nos amarmos. Basta, às
vezes, um pequeno comentário para desmontar nossos sentimentos.... quem
dirá toda a educação de uma criança a base de ideais superficiais e
depreciativos como foi com Zayn.

Payne jogou a flor amarela no chão, usando suas duas mãos livres para se
firmarem no ombro de Malik, apertando-os para transmitir alguma firmeza.
Encarou-o sério - fazendo questão de não deixar nenhuma gota de pena ou
julgamento (porque não é o que ele precisava).

- Você não pode continuar se espelhando nisso, não pode continuar


pensando que é certo estar impecável por fora enquanto há tantos pedaços a
serem remendados por dentro. - Liam pronunciou, à beira de ter uma crise
de tão frágil que Zayn parecia agora.

- Eu preciso. T-talvez se... se eu sair daqui com um bom pretendente ao meu


lado, talvez eles me p-perdoem... talvez eles mandem cartas o-ou voltem a
me considerar um filho. - Malik segredou, seus olhos escuros se marejando
nas boras, em iminência de desabar. - Essa é a minha chance, Liam. - ele
balbuciou, quebrado.

Quebrado e estilhaçado como um espelho de vidro lançado contra a parede.

E, que nessa analogia, perfeitamente se encaixada. Porque, no final, era isso


que Zayn significava.

Ele significava um espelho. Que deveria refletir aquilo que agradaria os


outros, aquilo que as pessoas desejassem, aquilo que eles pudessem
admirar.

E, de tantas maneiras era errado, porque um espelho tem dois versos, e


enquanto todos estavam vendo o belo reflexo de um, por trás do outro
estariam as rachaduras enormes, estariam os pedaços que se descolaram e
se perderam para sempre.

Zayn era o espelho quebrado.

E Liam duvidada que ele fosse capaz de até mesmo reconhecer seu estado,
pois o próprio príncipe não se enxergava mais como um humano, e sim um
objeto.

Talvez, se Payne o colocasse na frente de um espelho real, ele não


conseguiria encontrar o seu reflexo.

- Você não precisa de um pretende, Zayn. - Liam murmurou triste,


suspirando. - Você precisa de amor. E não de qualquer amor.

Zayn piscou algumas lágrimas, fitando-o sem forças.

- De amor próprio.

***

Louis deveria estar se martirizando com a consciência pesada e seus miolos


estourando.

Deveria.
Porque não estava.

Ele decidira se alocar em uma bolha de ignorância e contenção onde seus


pensamentos não o condenariam por seus pecados.

Ele decidira naquela noite que voltou ao quarto que não queria entender.
Não queria decodificar o que suas ações significavam e o peso que um dia
fariam sobre seus ombros.

Ele decidira aceitar a sua idade, e não se culpar por ceder às vertigens que a
juventude nos sucumbe, aproveitando-se da nossa propensão à
impulsividade e desequilíbrio.

Não era delito dele. Louis não poderia ter imaginado que o filhote de
gatinho arisco e perdido que ele metaforizava para Lorena - aquele que ele
teria trazido para casa eventualmente - atacaria-o assim. Literalmente
avançando em Tomlinson, sem chance alguma de defesa.

Porque, convenhamos, Harry Edward Styles era a figura mais cativante e


singular de todo o planeta.

Para os gregos, não adianta lutar contra a fatalidade.

Harry era sua fatalidade.

Louis não costumava encara-lo de um jeito que não fosse amistoso.


Até que Styles vinha. E tentava. E conseguia.

Tão ardente e imprevisível.

Era confuso questionar-se a respeito dessa situação então Tomlinson estava


obstinado a manter-se seguro em sua bolha, na zona de conforto em que
perguntas como 'Por que você está correspondendo a tal causalidade?' não o
afetariam.

Ele - Louis William Tomlinson - optara por abster-se do autoconhecimento,


ou auto-reconhecimento no momento.
Ele se colocaria em um modo automático de vida que seria mais fácil de
existir.
Afinal, bastaria um mês.
Um mês e alguns dias.
Algumas semanas....

E tudo se acabaria.

Ele retornaria para Riverland com a permissão de ter uma coroa em sua
cabeça, e faria de sua vida uma missão eterna para honra-la.

Ele colocaria a felicidade nos rosto de seu povo, e lutaria por ela.

Ele almejaria orgulha-los, da-los um reinado estável e ensinar seus futuros


filhos a assegurar a prosperidade.

Este era seu planejamento.

Harry Styles seria uma história no seu livro que teria acrescentado um
pouco de adrenalina. A história a qual ele se permitiu sair de seu eixo
suposto de comportamento e cedido à espontaneidade.

Porque o outro príncipe era jovem, e belo, e divertido, e intrigante.


Porque Harry era intenso.
E, sobretudo, precisava de alguém que estivesse lá por ele.

Era tão óbvio como Styles se sentia solitário. E como ele tinha total
consciência de que ninguém de fato se importou antes com seu bem-estar
nesse Palácio.

Ninguém provavelmente segurou sua mão enquanto ele tremia após drogar-
se.
Ninguém procurou-o ou enfrentou uma tempestade quando ele chorou de
saudades da irmã.

E Harry valia uma tempestade, valia uma pneumonia e valia ter pessoas
demonstrando que ele era digno de atenção.

Louis sempre se dispôs a ser alguém que o trataria como merece.


E ele continuaria, independentemente dos contratempos.
Mesmo que soasse complicado manter essa relação delicada entre os dois,
ele não pretendia abandona-lo, ou rejeita-lo.

Talvez Styles estivesse só tão acostumado a levar as coisas para o lado


hormonal, que desejar Louis fosse uma consequência de seus hábitos.

Ou talvez ele só tivesse muito carente por algo mais afetuoso e sincero do
que costumava ter.

Tomlinson não saberia definir.


Mas, ele estaria lá por ele.
Nesse breve período que os restavam, ele seria o que Harry precisasse que
ele fosse.

***

E Harry aparentemente precisava que ele fosse bastante coisa.

Precisava que ele fosse paciente (ao fazer questão de manda-lo algumas
piscadelas presunçosas em toda santa ocasião que os dois estivessem em
uma mesma sala - com tantos outros príncipes presentes - até que Louis
desviasse o olhar sem jeito).

Precisava que ele tivesse muita energia, porque Harry decidira que fazer
suas caminhadas matinais nos fundos dos jardins seria melhor na presença
de Louis - justo o príncipe que sofria de insônia e mal tinha tempo de
aproveitar as poucas horas de sono antes de ter batidas insistentes em sua
porta e um jovem importunando-o em busca de companhia.

Precisava que ele soubesse ser um bom filtro (Louis se esforçava demais
nisso) e ignorasse grande parte de seus comentários maldosos sobre os
outros príncipes. Tomlinson descobriu que o humor negro de Styles seria
pior do que imaginara ao presencia-lo cochichando secretamente no ouvido
direito de Marley, um príncipe abertamente surdo.

E, principalmente, precisava que Louis fosse aquilo que ele definitivamente


não é: expressivo.
Harry gostava de contar histórias. Ele adorava, de verdade.
Durante as caminhadas matinais - enquanto Tomlinson praticamente se
acostumava com o fato de estar desperto antes das sete - Harry andava
saltitante, saudando as flores ('ei, vejo um novo botão nascendo! Você é tão
belo, meu querido, será uma rosa esplêndida como eu'), cantando e
assoviando, revelando acontecimentos triviais de seu reino.

E se Louis ousasse somente assentir, Harry reclamaria que ele parecia um


peixe morto, ou sua tia-avó Gertrudes, e que as plantas estavam mais vivas
do que ele.

Harry também não tinha muitos limites.


Ou senso.
Ele continuamente se esquecia de quem Tomlinson era, e tornava a trata-lo
com toda essa intimidade crua, sem se privar de dizê-lo ou fazê-lo nada.
Como na vez em que entre a aula de instrumentos musicais e o serviço de
jantar, no Salão dos Homens, ele puxou Tomlinson para um canto e
começou a divagar sobre o problema que enfrentou na madrugada.

"Louis, eu juro, eu vi um conjunto de pena e tinteiro em cima de minha


cama, que Amélia deixou para eu escrever cartas, e fiquei
instantaneamente excitado!"

Louis arregalou os olhos ao captar o que disse, desconcertado com a


informação inconveniente, e antes que pudesse repreendê-lo Harry ainda
continuou, pegando uma enciclopédia com a capa grossa e rígida que estava
na mesa ao lado deles e erguendo em sua direção, buscando enfatizar.

"Mais duro do que isso! Muito duro, mesmo".

Harry não sabia o que era espaço pessoal. E era um pouco sufocante,
porque Louis acreditava que se o permitisse, ele até mesmo ficaria o
acompanhando no banheiro enquanto estivesse tomando banho ou usando a
privada.

Aonde quer que Louis estivesse, se Styles o flagrasse ía atrás.


E, embora asfixiante, ainda era um pouco adorável a forma que Harry sorria
sincero, com suas covinhas se afundando e os olhos brilhando de alívio, ao
achar Louis no salão do almoço, ou em qualquer lugar que se encontrassem.
Ele imediatamente corria em sua direção e suspirava, como se houvesse
reencontrado um item importante perdido à séculos. (Em alguns episódios
William teve que se esquivar das tentativas de beijo nada discretas de
Styles).

Seria muito visível e óbvio a todos os príncipes de como Harry Styles e


Louis Tomlinson estavam próximos.

Haviam cochichos e suposições inválidas e desnecessárias.


Louis possivelmente se deparou com mais de duas edições de How to Wear
a Crown relatando que eles não se distanciavam, e que Harry parecia ter
dois faróis por trás de seus olhos verdes acesos em cada momento que
fitava o menor.

Era um modo de existência diferente do que o Príncipe William tivera


planejado para sua temporada, em que ele virara alvo principal de notícias e
polêmicas ao ser deflagrado como o jovem que finalmente mordeu a maça
da serpente - e ainda devorou até o caroço (Harry riu muito ao seu lado com
isso, e ficou importunando-o com piadas sujas a respeito durante o resto da
semana).

Nesta noite de sexta-feira Louis não o dera o ar de sua presença.

Fazia um pouco mais de uma semana desde que ao desenhar Styles


Tomlinson aparentemente assinara um contrato secreto que dava permissão
ao maior para se vincular a ele como unha e carne.

Ele não estava reclamando, Louis realmente não estava. A companhia de


Harry era divertida e ele percebia que Styles estava feliz em ter alguém
junto para escutar suas histórias e mostrar interesse no que quer que
dissesse (até quando ele dialogava com formigas com uma voz estridente e
infantil).
A coisa é que ... Louis sempre gostou muito de ficar só, de ter um momento
para ele no dia, em que houvesse o silêncio e seus livros. Em que sua
cabeça se desligava e sua paz interior florescia.

Portanto, ter um jovem príncipe acordando todas as manhãs, sentando na


cadeira mais próxima da sua na maioria das refeições e às vezes até o
visitando de noite para tagarelar trivialidades era... uma pitada maçante.

Naquela noite, Louis se dera o direito de descansar.


Ele recusara descer para o jantar e pedira que Lorena trouxesse-o algum
livro da biblioteca com uma xícara de chá e biscoitos.

Ele agradecia mentalmente por Lorena não estar tendo crises de ciúmes por
ter seu posto de conselheira noturna evidentemente substituído pela criatura
dos cachos compridos. Nas poucas oportunidades que tinham de se
comunicar, ela revelava como estava seu relacionamento com Brandon, o
jovem guarda - a quem ela preferiu do que Leroy, o cozinheiro, e de como é
estranho se ligar a alguém.

Como é estranho o pensamento de em tão curto prazo permitir que uma


outra pessoa seja parte de sua vida, e o de consentimento involuntário para
que ela mude o que você costumava conhecer, e ligeiramente o que
costumava ser.
Louis preferiu não debater a respeito.

Estava fazendo uma releitura - pela quinquagésima vez - de Oscar Wilde,


em seu Retrato de Dorian Gray, com um sorriso descansado e as costas
apoiadas à tantos travesseiros.
Tranquilo e prazeroso.

Até... até que as cinco batidas ressoassem em sua porta.


O que o remetia à Styles - porque era um código que o outro criara de
reproduzir cinco batidas para avisar que estaria adentrando.

Louis engoliu sua frustração de não finalizar o segundo capítulo antes que o
ambiente calmo se desmanchasse e Harry estivesse em seu campo de visão,
com suas gramas de verão mais arregaladas que o normal, o encarando.

- Louis? - seu tom parecia inquieto.

- Hey. - arqueou uma das sobrancelhas desconfiado.

- Você está bem? Sente-se doente? - ele parecia muito preocupado. Fechou
a porta atrás de si e se sentou na cama, estudando-o, procurando indícios de
febre ou algo assim.

- Estou perfeitamente bem, Vossa Alteza.

- Oh. Então... por que não foi jantar hoje? Sem fome?

- Eu só queria um tempo afastado.

Então a expressão de Harry se transformou em uma de compreensão, seu


cenho se franzindo levemente e os cantos da boca se decaindo em
desânimo.

- De mim, certo? Eu sei. Sei que é de mim. Sei que estou sendo muito...
hm... invasivo? Eu estou sugando suas energias? Me avise se estiver, ok?
Você não precisa fingir que está satisfeito só para me fazer feliz-

- Harry.

- E-eu entendo... entendo que é difícil ter um segundo indivíduo invadido


seu espaço pessoal t-todos... todos os minutos. Eu só não estou a-
acostumado, mas prometo me ... segurar-

- Harry.

- Só n-não... só não se afaste, sim? Não deve se afastar, er, nunca. Quando
eu estiver sendo um incômodo me avis-

- Harry Edward Styles. - Louis proferiu, curvando-se em sua direção,


estendendo os braços e capturando o rosto de Styles entre suas mãos,
forçando-o a encara-lo propriamente.

Harry mordia nervosamente o lábio inferior e Tomlinson franziu o nariz em


repressão para isso, pois seus lábios facilmente sangravam e não era justo
maltrata-los desse modo.

Louis passou a almofada do polegar direito delicadamente sobre eles para


interrompê-lo de se machucar e então olhou-o firme.
Naquele instante ele se sentiu egoísta por cada vez em que teve o
pensamento de ordenar que Harry se afastasse um pouquinho para ele
respirar... porque, aquilo era Harry.

Aquela bola de insegurança.

Styles nunca teve a quem recorrer nesse Palácio por seis anos, e agora que
tinha estava compensando as chances perdidas e criando uma zona de
conforto nova.

Não era justo Louis se sentir nem minimamente estressado por ter
desencadeado essa reação nele, afinal, era tudo que ele estimulara-o a ser...
sincero e feliz.

- Ei, garoto, está tudo bem. Não pire, certo? Eu não vou deixá-lo. -
Tomlinson disse, devagar e gentil, acariciando as laterais de suas
bochechas. - Eu só queria ler um pouco, mas também... já li este livro
repetidas vezes... é um favor que me faz vindo aqui! Eu ficaria entediado se
não viesse.

As rugas de tensão de Styles se suavizaram instantaneamente, dando lugar


para um sorriso meio bobo e largo que iluminou-o ao ouvir aquilo de Louis,
levando-o a inspirar fundo em alívio.

- Certo. Obrigado. E, apesar de eu completamente saber que você está


tentando fazer com que eu me sinta melhor, juro-te ser menos... hm,
grudento. Não é saudável para nós.

- Não é porque não nos falemos durante algumas horas que isso significa
que o abandonei, Harry. Sem se desesperar novamente, hm?

Harry concordou, afastando-se e se sentando reto, enfiando a mão no bolso


de sua calça mais larga.

Ele continuou com ela lá, parecendo como se segurasse algo de dentro, e
aparentando-se hesitante quanto ao que era.

- O que há aí? - Louis perguntou, quebrando o silêncio.


- Hm, não é nada. É só que... eu estava pensando, sabe, o que acha de ouvir
alguma história enquanto, bem-

- Enquanto... - o príncipe incentivou.

Harry puxou sua mão de novo, abrindo-a entre os dois, revelando um frasco
de tinta cosmética densa azul bebê.

- Enquanto pinta minhas unhas?

- Eu-

- Você não precisa se não quiser, ou se não gostar. É só que... não sei,
parecia uma boa ideia na minha cabeça estúpida antes-

Oh.
Existiam esse momentos.
Esses momentos conflitantes.

Em que às vezes Harry seria aquela borboleta estrondosa e extravagante,


com seu sarcasmo desmedido e palavras um tanto ofensivas.

E haviam ... essas vezes. Vezes como agora.


Em que Harry era um poço de insegurança, medos e maciez.

- Será um prazer. - Louis se adiantou a garantir, tendo Styles olhando-o


surpreso, se aproximando e entregando o potinho de esmalte entusiasmado.

- Ótimo. - comentou, tentando suprimir um sorriso.

- Mas nunca o fiz antes.

- Para quem pinta retratos exímios como você, preencher unhas com tinta
será fácil. - Harry prometeu.

E nos primeiros cinco minutos ele guiou-o com comando, de como ter
cuidado para não extravasar ou borrar as laterais, e não acumular esmalte
nas pontas.
As unhas de Harry eram delicadas e bonitas, e Louis precisava admitir que
o esmalte as realçava divinamente. Ele ficava ainda mais belo com elas, e
vivo. Era gritante como pequenos detalhes o favoreciam nesse nível.

- Nunca o presenciei de esmalte antes.

- A administração não permite. Devo removê-los antes do café. No entanto,


quando as pinto, permaneço a madrugada inteira admirando-as. - Harry
revelava distraído, assistindo Louis focado em finalizar seu dedo médio
com uma paciência invejável.

Ele ficava ainda mais sexy ao ter a mão de Styles apoiada em sua coxa,
enquanto permanecia ligeiramente curvado passando o pincel em suas
unhas.

- Você gostaria de ouvir um conto grego enquanto isso? - Harry ofereceu.

Louis concordou em silêncio, sorrindo mesmo que pela posição Styles não
visse.

- Então, Ganímedes era um príncipe de Tróia, e ele costumava ser famoso


por trazer uma beleza rara, despertada na puberdade. Quem o encarava, se
encantava.

Styles puxou a mão que Louis terminara, dando-o a outra.

Analisou seu trabalho com as pupilas dilatas, quase tornando seu orgulho
paupável por estarem tão bem feitas.

- De acordo com a mitologia, quando Zeus foi ao seu encontro, não resistiu
e se apaixonou perdidamente pelo rapaz. Mas ele não poderia tê-lo
exatamente. Ele era... inalcançável. - Styles murmurou, soando um tanto
distante. - Assim, Zeus se transformou em uma águia para rapta-lo, e
manteve-o como prisioneiro no Olimpo.

Louis levantou a cabeça, piscando perplexo.

- Onde leu essa história?


Harry deu de ombros.

- Não lembro. Em algum livro de contos. O que achou?

- Perturbador. E abusivo. Você não pode raptar alguém, levar uma pessoa
contra a sua vontade, esperando que ele o ame de volta.

- Eu sei. - Styles sorriu triste, assentindo. - Acho que Zeus só ficou


desesperado para tê-lo, mesmo que suas medidas tenham ultrapassado os
limites.

- Isso é obsessão, não amor.

- Às vezes. - Harry ponderou. - Você desencadeia alguma obsessão. Você se


sente sufocado por querer tanto alguém que... que não sabe como lidar.

Louis permaneceu em silêncio, soprando as unhas ao finalizar o dedo


mindinho.

- O que achou? - perguntou, vendo o resultado do que fez.

- Nada mal para um principiante. - Styles provocou, porém sorriu com


carinho. - Mas, e você... o que achou?

- Você parece mais delicado de unhas pintadas.

Louis elogiou. E isso fez com que Harry desviasse o olhar para o chão,
enrubescendo sua pele para um vermelho claro. Ele mordia timidamente seu
lábio, a mente turva com pensamentos.

- Certo. Hm, então acho que devo dormir. Sabe, há este ser que adora fazer
passeios naquele jardim congelante pelas manhãs, e ele provavelmente
ficará furioso se eu não conseguir acordar às seis. - Tomlinson disse
descontraído, esperando que Harry compreendesse e fosse para seu próprio
aposento.

Mas Harry somente soltou uma risada e continuou ali, parado, encarando-o.

Louis forçou uma tosse para desperta-lo... e nada.


- Harry?

- Hm?

- Você... não vai para, hm, seu quarto?

- Oh. Sim. Sim, vou... - Styles suspirou, levantando-se constrangido.

- Boa noite. - Tomlinson se despediu, no entanto, Harry tinha outros planos.

Ele se aproximou mais e se abaixou, olhando tão fixamente para as lagoas


azuis que parecia quase maníaco.

Louis prendeu a respiração pela mínima distância de seus rostos, um pouco


incerto quando Harry esfregou cuidadosamente o seu nariz com o dele.

O príncipe de Malta pressionou, singelamente, seus lábios. Em um gesto


casto e macio e lento.
Fazia uma semana e poucos dias desde que se beijaram pela última vez, e
era como se Harry houvesse esperado por essa oportunidade todo este
período, tardando a separa-los.

- Boa noite, Lou.

***

Notas da autora: Hey, gente.


Sei que este capítulo pareceu meio parado (comparado com os últimos).

Mas eu não escrevo direcionando tudo ao romance.


Em Perfectly Insane eu busquei retratar da cura psicológica a partir de
experiências pessoais.

E nessa eu tento trazer a discussão sobre problemas que nossa sociedade


vive, problemas nossos que sempre banalizam, mas que são degradantes e
precisamos retratar.

Espero que estejam aproveitando. Eu quero muito ajudar quem puder


através da escrita.
* Qual é a impressão maior que vocês têm da relação atual de Harry e
Louis?
Qual personagem vocês particularmente preferem ou se assimilam?


Chapter Thirty Eight

Episode: Hate This Baby

- Perdoem-me por interromper o café da manhã, Vossas Altezas. - Don


Luminiére proferiu ao adentrar o Salão A.

E ninguém estava tão surpreso.


Dada as tantas vezes que pararam de apreciar sua comida para prestarem
atenção a qualquer novidade ou polêmica que fossem passadas durante suas
refeições, esta seria somente mais uma.

- Venho informa-los que as atividades convencionais desta terça-feira e até


o domingo estarão suspensas. Após o almoço farei o anúncio de um projeto
inédito desta temporada. Estejam no Hall principal.

***

Eles pensavam que se tratava de uma nova leva de provas teóricas.


Alguns sugeririam trabalhos diplomáticos.

Mas, o que realmente era, não passaria como hipótese para ninguém de lá.

Ninguém a não ser Liam Payne.

Porque era o Príncipe de Bristok quem estava estendido ao lado de Don


Luminiére para o pronunciamento.

Ele parecia um pouco eufórico e entusiasmado com o que quer que fosse
enquanto os demais honestamente só encaravam os dois entediados.
Participar de uma escola para Príncipes não era exatamente como
imaginavam que seria - com festas todo dia, vinho e damas.
- Pois bem, conforme dito anteriormente, hoje estarei divulgando o projeto
da semana. Ele foi sugerido e elaborado com o auxílio de Liam James
Payne. - proferiu inexpressivo, seu sotaque francês repuxando o fina das
palavras. - Prefere explicar o que há por trás dele, vossa alteza? - indagou a
Payne.

Liam deu um passo a frente de onde estava com Luminiére- meio que no
superior da escadaria, olhando os demais jovens da dinastia amontoados no
nível térreo.

Coçou a garganta e tonalizou a voz do jeito que talvez um rei o fizesse ao


proclamar coisas importantes ou pronunciamentos adversos.

- Estive pensando recentemente em como nós nos focamos em sempre


aprender as mesmas coisas, a nos especializarmos nestas tarefas usuais e de
como isso é limitador. - iniciou, sério e determinado. - Uma princesa é
educada para se tornar uma mãe exemplar, enquanto nós nos voltamos ao
governo do reino.

Harry revirou os olhos.


Oh, como ele preferiria estar deitado em sua cama conversando com
Carolina.

- Mas, sob o meu ponto de vista, este pensamento está ultrapassado. Nós
temos todos os deveres de sermos líderes e pais tão bem preparados quanto
elas, para quando futuramente, na geração de nossos herdeiros, saibamos
cria-los apropriadamente. - Liam tentou, contudo não pôde evitar olhar para
Zayn nesta parte do discurso, o qual fitava retraído o chão de mármore.

Alguns dos príncipes demonstraram-se confusos, porque o que raios ele


estava sugerindo?

- Nunca é tarde para nos adequarmos a isso. Devemos, e podemos, começar,


por exemplo, agora. A responsabilidade de colocar uma criança no mundo
vai além da reprodução, temos que situa-la e prepara-la para ele.

- O que está insinuando, Vossa Alteza? - algum príncipe impaciente


questionou direto.
- Nossa tarefa de quarta à domingo será cuidarmos de uma criança. -
anunciou, assustando todos os presentes.

Don Luminiére se pôs para uma explicação mais aprofundada.

- Cada um de vocês apadrinhará uma criança específica, que nós dois


selecionamos minuciosamente de acordo com seus perfis. Cuidarão vinte e
quatro horas por dia, e, com sorte, estabelecerão vínculos e amadurecerão a
partir da experiência.

Os olhos alheios se arregalaram.


A sala ficou silenciosa com toda tensão de preocupação e desespero
esclarecida no rosto dos príncipes, que em sua maioria não passavam de
jovens que mal conseguiam cuidar de si próprios.

- Amanhã pela manhã chamaremos príncipe por príncipe em meu escritório


para apresenta-los a seus respectivos filhos temporários adotivos. Estejam
prontos. - Don Luminiére finalizou, reverenciando-os. - Até mais, Vossas
Altezas.

Se todos queriam o pescoço de Liam pendurado no lustre do Salão,


ninguém atreveu o fazer, ou confronta-lo.

Liam subiu para o andar dos aposentos mais rápido que pôde, deixando um
tumulto de príncipes indignados e exasperados para trás.

Pelos próximos minutos tudo que se ouvia entre eles eram resmungos e
comentários alarmados.

- Por Céus, aquele maldito há de perder as bolas. - Harry grunhiu, rangendo


os dentes frustrado.

- Qual o problema? - Louis perguntou, piscando neutro para todo o cenário


e os burburinhos que se repercutiam.

- Eu definitivamente odeio crianças. Odeio. Elas me odeiam de volta. É


recíproco. Não há chance alguma de isso funcionar. - Harry declarou, e com
um suspiro exagerado no drama puxou Louis pelo pulso para que fossem
tomar chá ou qualquer coisa que o desestressasse.

Ele ainda era uma diva na maior parte do tempo.

***

Quando Louis adentrou aquele escritório, sua primeira impressão poderia


ter sido muitas.

Como como aquelas estantes eram incrivelmente altas e o carpete felpudo.

Como como o ambiente parecia confortável e cheirava a livros.

Como como possivelmente houvessem mais livros aqui do que na própria


biblioteca do Palácio.

Mas, tudo que sua mente focou foi, na verdade, a garota dos cabelos loiros e
trançados que estava entre Don Luminiére e Liam, encarando-o assustada e
silenciosa.

- Não se engane, Louis. Charlotte é tudo, menos quieta e taciturna. - Liam


proferiu, rindo.

Tomlinson se aproximou calado, observando o território que estaria


mergulhado a partir dessa manhã.

Quando o nome da garota foi anunciado, seu coração se apertou.


Porque aquele teria sido o nome de sua irmã mais nova se ela não houvesse
falecido no parto.

E ele obviamente sabia que aquela menina não era ela, pois se tivesse tido a
chance de existir, sua irmã já seria mais velha, com seus sete anos.
E esta provavelmente não passava dos cinco.

Mas, de qualquer modo, era uma coincidência arrepiante.

Charlotte o avaliava com suas orbes castanhas, estudando-o de volta.


- Ela tem quatro anos. É filha de pastores humildes do Reino vizinho. Lottie
foi descrita pelos pais como muito agitada, energética e cheia de adrenalina.
Eles premeditaram que ela seria quieta em um primeiro instante por estar
tímida, mas sugeriram se preparar porque posteriormente será difícil mantê-
la parada. - Liam sorriu gentil conforme recitou a ficha da menina.

E deveria ter algum erro.


Louis deu um passo em falso para trás porque eles selecionaram uma
criança que seria completamente o seu oposto.

A ideia de cuidar de alguém não era em si perturbadora. Ele, sendo filho do


meio de cinco rapazes, segurou no colo seus dois irmãos mais novos.

Mas, a ideia de cuidar de alguém agitado, sim.

Porque por mais frenéticos que seus irmãos tivessem sido, pouco afetaram o
comportamento de Tomlinson. Enquanto eles pulavam e corriam pelo
jardim do palácio em Riverland, Louis leria sossegado seus livros no
próprio quarto.

O que é, sem dúvidas, muito diferente de ter uma garota sob sua supervisão
e responsabilidade que o colocaria possivelmente em situações que ele não
saberia lidar.

Louis suspirou fraco, evitando demonstrar qualquer reação diante do caso.

- Certo, Príncipe Payne.

- Cuide bem dela, Vossa Alteza. - Don Luminiére ordenou, impulsionando-a


para frente ao empurra-la suavemente pelas costas.

Sem um manual exato de uma suposta conduta para isso, Tomlinson engoliu
a seco e se agachou na altura dela, tentando soar o mais gentil que pudesse.

- Estará segura comigo, Lottie. Eu me esforçarei para ser um irmão mais


velho temporário bom para você. - prometeu, ganhando um pequeno sorriso
da menina.

***
Enquanto Louis já estava tendo seus primeiros ensinamentos de
sobrevivência alternativa com Charllote - como, por exemplo, uma menina
pode ser muito mais sapeca e agitada que garotinhos quando quer, Harry
fora convocado para receber a sua pequena grande responsabilidade no
escritório.

Ele caminhou quase desfilando para perto de Don Luminiére.


Deixara explícito seu descontentamento com a situação, enfatizando o
revirar de olhos imprudente ao estar próximo dos dois.

Batucou Carolina contra o assoalho, assoviando petulante como sempre.

Sua pose era de tédio e sua vestimenta estava gritando por repressão.
Ele estava sob seu conjunto menos formal de camisa bufante amarela clara
e a calça caqui. Adornando sua cabeça havia uma Fedora camurça marrom.

- Bom, haja em vista que buscamos não só oferecê-los uma experiência


voltada à paternidade, como também amadurece-los para a vida em geral,
nós escolhemos uma criança que achamos adequada para sua
aprendizagem, Príncipe Edward.

- Certo, Lulu. - respondeu sarcástico. - Então cadê ela?

Foi quando Liam, que encarava-o sério, se pronunciou, virando-se para trás
e apanhando alguma coisa em uma cesta.

- Enxerguei a importância de lhe darmos um grande desafio em mãos. -


Payne informou.

E se Harry já desconfiava veemente que o outro príncipe o odiava, agora ele


teve certeza.

- E, seu desafio é, de fato, minúsculo. - acrescentou, mostrando do que se


tratava.

Daquela cesta retirara um pequeno embrulho de cobertores, cujo de uma


fresta escapava uma mão pequenininha, com dedinhos menores que o
tamanho da menor unha de Harry.
Styles arregalou suas esmeraldas, aflito.

Ele simplesmente se congelara com aquela cena.

E Liam parecia rir internamente de sua desgraça pessoal.

- O que seria melhor para ensiná-lo a ser finalmente um adulto, do que lidar
com um bebê? - Payne satirizou, estendendo o nenem em sua direção.

- Você só pode estar brincando?! - Harry rebateu, piscando incrédulo e


afoito, olhando desesperadamente Don Luminiére a procura de ajuda. -
Lulu, que piada de mal gosto é essa?

- Essa é Mackenzie. - Liam advertiu, sorrindo divertido. - Ela é a criança


mais nova das que escolhemos para os príncipes. A única bebê, na verdade.
Tem quatro meses. Sua mãe faleceu pouco depois do parto, ela mora com o
pai, que é comerciante. Por ser nova carece de cuidados extras que
esperamos que você tenha.

- Seus filhos de uma va-

- Como, por exemplo, fazer mamadeiras. Uma a cada duas horas. - Payne
interferiu, antes que Harry xingasse. - trocar fraldas e ninar. Todos os
utensílios e suprimentos que precisa estão na dispensa da cozinha, sua
criada foi instruída estritamente a não ajuda-lo nisso, Vossa Alteza. Ou a
intenção de aprendizagem seria em vão.

Styles encarava o bebê sendo entregue a ele com o nariz franzido.

- Não sejam loucos, eu mal sei como pegar esse pacotinho no meu colo,
quem dirá tomar conta disso. - Harry afirmou contrariado, distanciando-se
deles.

- Vossa Alteza, isto é uma tarefa avaliativa. Se se recusar a participar,


tomarei as devidas previdências. - Don Luminiére alertou, inabalado.

Harry bufou.
Negou com a cabeça.
Choramingou.
E por fim pegou aquele montinho de cobertas dos braços de Liam,
segurando-a sem jeito.
Prendeu sua bengala entre o braço e a costela e desajeitadamente saiu da
sala.

***

- Entãooo, você é sempre assim? - Lottie indagou Louis no primeiro


segundo em que este a levou para conhecer seus aposentos. - Acanhado?

Tomlinson sorriu brevemente, assistindo-a observar ao redor do quarto com


seus olhos castanhos arregalados e uma surpresa gigante.

- Um pouco. - admitiu. - Gostou daqui?

- É enormeeee. - cantarolou, correndo para pular na cama. - Talvez maior do


que a minha casa!

Isso soava triste, porque Louis cresceu e teve sua infância sendo mimado
em um Palácio maior que este, ele não consegue imaginar uma realidade
alternativa em que seus pais deveriam comprar alimentos ou livros, lutando
para sobreviver até o final do mês.

Tomlinson piscou anestesiado, pegando um livro de fábulas da prateleira de


exemplares que trouxe consigo, e se sentou no colchão ao lado da pequena.

- Você quer escutar algum conto? - ofereceu.

Aquilo era difícil.


Interagir.

Ela o olhou ponderante, sua timidez se esvaindo.

- Pode ser mais tarde? Antes de mimir?

- Claro. Quais os planos para agora, então?

- Brincar? Pega-pega?
Oh Céus.

Louis nem ao menos se recorda de ter aceitado correr atrás de seus irmãos
quando mais jovem. Ele não era do tipo que apreciava suar e se cansar a
toa.

Mas, aquele olhar... aquele olhar em expectativa da garota com trancinhas


adoráveis no cabelo, aquele olhar parecia ser da espécie que abonaria
guerras e conquistaria qualquer um.

Parecia a ingenuidade materializada na estrutura de alguém que pouco se


realizara com o mundo, e ainda tinha tudo para viver.

Uma onda emocional o atingiu ao se remoer o que teria sido diferente se


Johanna não houvesse perdido o bebê.
Como sua irmã teria influenciado-o e se, por ter próximo dos quatorze
naquela época, ele cederia aos encantos da criança e se permitiria brincar de
qualquer coisa que ela pedisse.

- Vamos? Ou não? - Charlotte repetiu, torcendo o nariz em paciência.

- Eu lhe dou cinco segundos de vantagem. - ele cedeu, tendo-a sorrindo


amplo e correndo para a outra extremidade do quarto.

***

- Ouça, eu não a quero. Não a quero. Então, se puder fazer o favor de parar,
irá me deixar muito menos aborrecido. - Harry resmungou, pressionando as
pontas dos dedos nas laterais da testa, massageando o local.

Mackenzie não parara de chorar nos últimos dez minutos.

Bastou ele coloca-la sobre sua cama, o dossel macio e vermelho, que a bebê
aguou seus pequenos olhos e formou um biquinho.
Naquele instante em diante, ele declarou odia-la.

- Deus, que pênis de silicone eu joguei na cruz para merecer isso? - bufou.
Harry decidiu que largar aquela miniatura de gente em sua cama e esperar
calmamente que ela parasse de berrar não estaria funcionando em nenhum
momento próximo.

Ele teria que achar o problema.

- É fome? - ele perguntou a si mesmo. - Será que essa coisinha não mamou
ainda?

Caminhou em direção à cômoda onde havia deixado um estoque de


mamadeiras prontas - o que não foi fácil, porque ele descobriu ser péssimo
em esquentar leite, não tinha noção de como manusear o fogão e acabou
subornando um empregado da cozinha para auxilia-lo.

Apanhou o frasco de plástico com leite morno dentro e levou ao ninho de


cobertas, chacoalhando-o em frente à neném.

- Viu? Viu o que tenho? Se eu te der isso você ficará enfim quieta?

A garota piscou algumas lágrimas ainda antes de se silenciar, fitando-o


atenta.

- Ótimo. Negócio fechado. - Harry cantarolou animado.

Como o verdadeiro estúpido que é, posicionou a mamadeira em cima do


bracinho dela e se afastou, certo de que ela - com quatro meses e ossos
frágeis - saberia segurar aquele frasco enorme e pesado de leite

- Ande minha querida. O que foi? Precisa que eu beba por você também? -
reclamou impaciente, cruzando os braços em frente ao peito.

Ela era teimosa assim?

- Pensei que estivesse com fome..

Harry divagava desconfiado, sem entender por que Mackenzie não


simplesmente cumpria sua parte do acordo e bebericava o leite que o deu
um trabalho desgraçado para preparar.
- Espere um momento... será que - será que você não sabe fazer isso
sozinha? - sua mente se iluminou em compreensão . - É isso! Você não
sabe!

Styles acomodou-se no colchão, fitando-a com o nariz retorcido.

- Oh, pobre criaturinha, não é dotada de muita inteligência aparentemente.


Se não consegue nem mamar uma mamadeira, como irá um dia.... - deu de
ombros. - Deixe para lá.

Certo.

Harry ponderou como agir, fazendo um biquinho com os lábios porque


estava sendo complicado.

Após bufar irritadiço, pegou-a em suas mãos e relutantemente trouxe-a para


seu colo, firmando-a sobre seu braço esquerdo.

- Irei te amamentar, coisinha. E depois disso é melhor que durma e poupe


minha beleza.

***

Mackenzie não dormiu após mamar.

Ela, na verdade, tornou a chorar novamente.

O que estava próximo de levar Harry à loucura.

- Oh não, não, não. O que foi agora? - choramingou, suspendendo-a no ar


em busca de algum machucado.

Foi quando aquele odor forte e horrível o atingiu, e Harry esteve tentado a
larga-la no ar para tampar seu nariz.

- Por Deuses, você é um filhote de gambá?

Esforçando-se para ignorar o nojo, Styles a colocou deitada sobre o colchão


novamente e puxou sua fralda para baixo, estremecendo ao olhar dentro.
- Que horror! - exclamou assustado, lançando-se para trás. - Você está
totalmente borrada! Não espere que eu a limpe, né? Porque eu não irei.

Ela exprimia seus pequenos olhos claros em chateação, prestes a chorar


novamente.

Harry correu para pegar uma fralda nova de pano, pomadas e talco,
enfiando-os em uma bolsa de couro preto e transpassando por seu ombro.

- Não se preocupe, fedorentinha. Irei leva-la ao nosso salvador.

Com uma animação descomunal para a devida situação, Harry agarrou a


para si e, com Carolina na outra mão, saiu pelo corredor.

****

Styles não pensou duas vezes ao torcer a maçaneta da porta de Louis sem
nem bater.

Honestamente ele nem mesmo tinha como.


Estava se sentindo um cabideiro ambulante com essa bolsa transversal cheia
de coisas de bebê, e de fato um bebê - que por sorte não chorava naquele
segundo - perto de despencar de seu colo.
Ele era um desastre.

Ao adentrar desesperado no aposento alheio, Styles paralisou.

Era só que... a cena diante dele enviara um calafrio por sua espinha.

Porque, surpreendentemente, ali no centro do cômodo estava um Louis com


o penteado bagunçado, suor escorrendo por sua testa, a camisa visivelmente
abarrotada e uma venda cobrindo seus olhos.

Ele parecia ofegante, mas sorria. Sorria amplo. Esticando os braços no ar


como se procurasse alguém.

Harry não percebera estar sorrindo tão abobado e inerte. Ao menos não até
que um outro ser invadisse sua visão.
- Oi, quem é você? - a garota que surgiu de Deus sabe onde perguntou em
meio ao silêncio, fazendo-o pular e soltar um grito estridente de susto.

Seu grito despertou a pequena Mackenzie do estado calmo e a pôs em uma


nova onda de choros manhosos.

- Oh, não... - Styles grunhiu.

Louis, perturbado com todos os sons que ouvia, tirou sua venda para
averiguar o que ocorria.

- Seus pais nunca a ensinaram a não falar com estranhos? Por que estava
falando comigo? - Harry perguntou rudemente para a garota, que franziu o
cenho contrariada.

Ela era uma criança de quatro anos, pelo amor.

- Meus pais me ensinaram a não bisbilhotar, os seus não? - devolveu-lhe tão


ácida quanto podia.

Harry rangeu os dentes. Estava envergonhado por ter sido flagrado


encarando Louis escondido.

- Ei, ei, ei... - Tomlinson resolveu intervir, colocando-se entre Harry e


Charlottie. - O que está acontecendo aqui?

- Eu quem pergunto. - Harry respondeu. - O que aconteceu com você?

Ele se referia claramente ao estado de Louis.

- O que quer dizer com isso?

- Não sei, Louis. - sorriu atrevido. - É estranho. Você me parece um ser


humano normal nesse instante, não um alienígena mecanizado.

- Bem, esta é Lottie. - Tomlinson apresentou a menina das tranças loira,


ignorando a provocação de Harry.
- Ei, pivetinha insolente, não toque em Carolina! - Styles advertiu ao que
ela ameaçava esticar seu dedo para esfrega-lo na esmeralda brilhante que
constituía o olho da cobra.

- Harry, deixe de ser tão cruel, é só uma criança.

A expressão rabugenta de Styles decaiu um pouco, dando lugar para uma


desconcertada.

- Eu só.. eu só não me dou bem com elas. - explicou hesitante, suspirando


em seguida. - Mas, bem, está claro para mim que você gosta. Então te
trouxe um presentinho. - estendeu-o o montinho de cobertas lilás que
enrolavam todo o corpo do bebê.

Antes que Louis pudesse reagir, Lottie que assistia a cena debaixo, começou
a se animar.

- Oh meu Deus! Isso é um neném? É um neném?- intuiu, pulando agitada.

- Isso é uma neném. - Harry interveio, revirando os olhos. - É a


fedorentinha.

Louis arqueou uma das sobrancelhas.

- A fedorentinha está fedorentinha, então, Louis, por favor e por tudo que
há de mais sagrado, dê um jeito nela. - implorou, desesperado porque o
príncipe não parecia disposto a pega-la ou sequer se mover.

- Harry, ela é a sua responsabilidade.

- E você, meu caro, é o nosso salvador. Então faça o que um salvador faz, e
nos salve.

- Não irei cuidar dela por você.

Styles adoraria estar na beira de um penhasco para se atirar em queda livre.

- ... Mas posso ensiná-lo e orientá-lo, para que seja capaz de trata-la da
maneira correta. - Louis adicionou.
E bem, era melhor do que nada.

Harry bufou em concordância.

Nos próximos dez minutos Tomlinson obrigou Harry não só observar como
trocava fraldas, como de fato participar.

Ele o instruiu a limpar o bubum do bebê com um daqueles panos úmidos e


passar uma pomada de aloe vera.

Styles forjou uma ânsia no mínimo seis vezes.

A tarde foi gasta com Louis sendo intimado por Charlottie a procura-la pelo
Palácio, fingir interagir com seus amigos imaginários, e fazer cócegas em
sua barriga, enquanto Harry permanecia nos aposentos de Tomlinson
esperando-o retornar.

No jantar, o Salão estava uma bagunça.

A maioria dos príncipes ainda não tinham se acostumado com suas crianças
adotivas temporárias e enfrentavam dificuldades em mantê-las por perto.

Alimenta-las foi um estorvo.

Louis tinha que procurar Lottie a todo momento desde que ela parecia
obstinada a ignorar seus comandos e se divertir com as outros de sua idade.

Zayn não lidava com tantos problemas. O garoto que fora selecionado para
ele era Kevin. Kevin era incrivelmente tímido e envergonhado, tinha origem
mestiça, olhos assustados, cabelos lisos e corpo rechonchudo.
Os dois jantavam lado a lado em silêncio, Malik ora ou outra tentando
puxar assunto ou incentivando-o a se juntar naquela algazarra de baixinhos.

- Por que não vai brincar e fazer novos amigos depois que comer, Kevin? -
sugeriu, sorrindo doce.

O menino terminou de mastigar um pedaço de frango lentamente, piscando


um pouco desnorteado.
- Eles não iriam querer brincar comigo. - respondeu, sem levantar a cabeça.

- Ahm? Como assim? Por que não iriam?!

- Porque eu sou gordinho. E estranho. - Kevin segredou, encerrando o


assunto sem dar alguma oportunidade para Zayn prolonga-lo, ou mesmo
digeri-lo.

Foi quando Malik inspirou fundo pensando que só podia ser obra do karma.
Ou melhor, do Liam.

***

Depois do jantar Tomlinson colocou Lottie sobre seus ombros - porque ele
desconfia que ela jamais aceitaria ir dormir e parar de correr - e levou-a
contra sua vontade para o aposento, deparando-se com Harry ainda ali,
cochilando com Mackenzie no colo.

Não tardou para a neném chorar de fome e Styles despertar emburrado,


ameaçando tacar a mamadeira em sua cabeça - Louis interveio antes de
qualquer acidente.

Tomlinson se sensibilizou pelo desgaste de Harry, e se dispôs a amamentar


Mack, enquanto Styles saía para se banhar.

Charlottie, que aparentemente adorava nenens que se assemelhassem a


bonequinhas, ficou assistindo-a com veneração, contando alguma historinha
de princesa ao que a pequena terminava de beber leite.

Eram onze da noite quando Harry retornou para seu posto de babá, entrando
no aposento de Louis vestido com seu pijama de algodão sem cerimônia
alguma.

***

- É um inferno nossas criadas estarem dispensadas pelo resto da semana,


Amelia cuidaria dela por mim. - Styles reclamou.
- Exatamente por esse motivo que todas estão dispensadas. - Louis
adicionou, franzindo o cenho para a maneira que Harry estava ninando
Mackenzie.

Ele tinha prometido escovar as madeixas sedosas de Lottie antes que ela se
deitasse, mas a cada segundo que presenciava Styles supervisionando
aquela bebê uma agonia o sucumbia.

- O que está fazendo? Não é assim que se segura um neném, Harry. Ela é
frágil, não é como carregar um amontoado de livros. - repreendeu, largando
a escova de cabelos de lado para dar atenção àquela coisa depravada.

- Realmente. - Harry revirou os olhos. - Um amontoado de livros não


costuma ser tão barulhento e faminto.

- Talvez se você a desse um pouco de carinho ela gostasse mais de você. -


Louis sugeriu.

- Não quero que goste de mim. - Styles fechou a expressão, encarando a


serenidade da garotinha em seus braços. - Só quero que ela durma logo.

- Dê-me. Eu a ninarei. - Tomlinson cedeu. - Penteie Charlottie, ao menos.

A garota se sentou na frente de Harry entregando-o a escova, a qual Styles


aliviadamente pegou.

- É, isso eu sou bom em fazer.

Louis reteve o corpo minúsculo em seu colo, venerando os traços delicados,


as ruguinhas de seu rosto, o cabelo ruivo ralinho. Ela estava calma o
fitando, suspirando satisfeita conforme o maior a balançava suavemente.

- Não parece ser tão difícil. - Harry eventualmente comentou, sorrindo


admirado para a imagem de Louis com um bebê.

Charlottie já estava com seus fios escovados e sua camisola rosa,


engatinhando para dormir no lado do colchão que o príncipe de Riverland
estipulara.
- E não é. - Tomlinson garantiu-o. - Tente, venha.

Styles concordou relutante, receoso de que Mackenzie abandonasse o


estado sonolento e ficasse agitada.

- Abra os braços, Harry. E pegue-a contra seu peito. - Louis orientou,


entregando-o a garotinha.

Harry concordou e mecanicamente obedeceu.

- Isso, mas seja mais gentil, não tenha medo dela. - Tomlinson quase riu,
porque o herdeiro de Malta simulava uma aparência de pavor. - Ela não irá
engoli-lo, você consegue.

Com seu jeito desconfiado, Styles apertou-a mais contra si, vendo seus
olhinhos piscarem lentamente.

- Faça movimentos leves e lentos, nine-a. - Louis instruiu por fim, sorrindo
um tanto orgulhoso de como Mackenzie caiu em um sono tranquilo,
ressonando baixo e parecendo macia como uma flor.

- Obrigado. - Harry agradeceu, tentando não demonstrar-se tão maravilhado


quanto se sentia por ter feito a criatura finalmente dormir. - Apesar de eu ter
certeza que a fedorentinha acordará em breve para mamar de novo.

Louis riu negando com a cabeça.


Porque aquele jovem era impossível.

Tomlinson virara para checar sua garota.


Lottie também já suspirava adormecida. Ela era linda.

Cansado, Louis entrou em sua camisa de malha fina - relevando totalmente


o olhar de Harry nada discreto em seu corpo durante o processo - e se
locomoveu para o seu lado do colchão, pronto para descansar.

- Feche a porta quando sair, Harry. - Tomlinson pediu, apertando suas


pálpebras exausto de tanta energia gasta.

Mas, claro, aquilo tudo se tratava de Harry Edward Styles.


E Harry tinha outros planos quando, ao invés de se retirar, possivelmente se
deu o direito de permanecer.

Louis prendeu a respiração assustado ao sentir a cama se afundando na


outra extremidade, no entanto, não se pronunciou a respeito, continuando
com os olhos cerrados e o pensamento de que Harry era uma dose
exagerada de petulância.

E de como, infelizmente, aquilo soava uma ambiente natural e familiar.

***

Ughh eu sinto que to atualizando muito rápido.


Assim não tem graça, preciso ser menos ansiosa com essas coisas :/ .

Na real que esse cap e o próximo seriam meio que um só, mas como eles
ficaram meio grandes teria que postar separado.
Chapter Thirty Nine

Episode: Broken On the Inside

Quando Tomlinson despertou na manhã seguinte - com o braço de Lottie


descansando sobre seu rosto e quase impedindo-o de respirar - Harry e
Mackenzie já haviam ido.

Louis se espreguiçou e acordou a garota, que deu alguns resmungos mas


aceitou tomar o café.

Ela estava particularmente encantada pela variedade gigantesca de frutas e


bolos que eram servidos. Seus olhos quase se marejaram ao encarar o
pedaço de torta de maça e canela.

Ligeiramente distraído, Tomlinson mal a notou pegando um pano


decorativo da mesa e roubando um grande pedaço de bolo de chocolate.

- Ei, Lottie, o que está fazendo? - Louis sussurrou em seu ouvido,


assustando a menina que o encarou intimidada por ter sido pego no flagra.

Suas bochechas ficaram vermelhas de vergonha.

- Vou levar pros meu pais. - ela revelou. - Eles nunca comeram chocolate
antes. Posso?

Louis sorriu comovido.

- Meu anjo, não será necessário. Eu prometo que quando a temporada


acabar, eu os visitarei e levarei muitos bolos. O que acha?

Lottie piscou rápido, visivelmente emocionada.


- Muitos bolos? - repetiu anestesiada.

- Muitos.

Para um indivíduo de quatro anos, a gratidão que brilhou em seus olhos era
praticamente paupável.
É como se ela estivesse vendo materializado algum herói grego das estórias
que Tomlinson a contou.

- Lou, você é mesmo como um irmão mais velho.

Louis assentiu, subitamente emocionado. Porque, pela primeira vez, ele


estava se sentindo mais do que um jovem destinado a governar e honrar
uma coroa... ele se sentia humano.

***

- Então, eu devo apenas, hm, bater com esse bastão na bola e tentar fazer
com que ela passe pelo arco? - Kevin questionou atento, balançando o taco
de madeira pelo ar.

- Exatamente. - Zayn confirmou. - É assim que pontuamos no croquet.

- Parece muito fácil. - o menino alegou, mirando no primeiro arco.

- Acredite é muito mais difícil do que apare-

- Consegui! - de repente comemorou, levando Malik a olha-lo surpreso


porque ele genuinamente tardara alguns meses para ser decente nesse
esporte.

- Mentira. Como fez isso? - indagou atônito.

Kevin veio saltitando em sua direção, um sorriso orgulhoso no rosto.

- Meu pai sempre me falou que sou bom com esportes e jogos no geral. É o
que mais gosto de fazer. - explicou-se. - Geralmente eu pratico coisas ao ar
livre no jardim de casa.
Havia uma essência desgastada nos olhos daquele menino que intrigava
Zayn.

Porque ele parecia sorrir, e parecia contente em alguns momentos... mas


também parecia solitário e inseguro.

Não falava com ninguém - a não ser Malik, após muita persistência.

Não demonstrava-se animado para interagir com outras crianças.

E tinha um brilho apagado ao revelar sobre sua rotina e vida em geral.

Ele só... honestamente, Zayn sentia haver partes rachadas nele. E crianças
com seis anos não deveriam ter partes rachadas. Elas deveriam ter alegria,
inocência, entusiasmo e paixão.

- Ei, será que poderíamos brincar de ... hm, tênis? É meu favorito. - Kevin
sugeriu.

- Claro. - aceitou, embora exercitar e correr de um lado para o outro com


uma raquete não fosse exatamente uma atividade que o interessasse. - Só
temos que pegar o equipamento. Deve estar no armazém.

Kevin concordou e os dois foram caminhando juntos em busca dos


acessórios.

- Então, me conte, como é ir para a escola inglesa? Você vai, não é? - Zayn
questionou curioso, recebendo uma confirmação silenciosa do menor. - É
que eu nunca tive a chance de ir, fico curioso de como é.

- Você não está, tipo, numa escola nesse momento?

- Escola de Príncipes é basicamente um treinamento, não de fato um lugar


que nos estimule a nos tornarmos adultos inteligentes.

- Bem, para mim parece tão ruim quanto a escola.

- Você não gosta dela? - Zayn franziu o cenho. Ir para a escola inglesa
particular não era privilégio de muitos, a maioria dos filhos de camponeses
humildes sequer tinham condição.

- Não. - Kevin admitiu. Sincero e direto.

- Pensei que fosse uma boa ocasião para praticar esportes que careçam de
times.

O menino diminuiu o sorriso instantaneamente.

- Eles não me deixam entrar nos times. Porque eu não tenho o porte físico
para um jogador adequado.

Zayn arregalou os olhos, gelo correndo por suas veias.


Ele queria proferir palavras de conforto, palavras que contrariassem a
injustiça da causa, palavras que incentivassem-o a ser maior que isso.

Mas como sua mente estava nublada, os pensamentos condensados, e o


raciocínio turvo, ele não fez nada além de assentir.

***

Louis Tomlinson não diria estar espantado com aquela cena.

Ela deveria - deveria - ser perturbadora, mas, após algumas lições


desprendidas da convivência com Styles, ele realmente nem se importou.

Nem se importou ao ter se deparado com Harry segurando uma borboleta


tamanho bebê no meio do jardim.

Na verdade, o fato de Styles estar portando Mackenzie vestida com uma


fantasia rosa com grandes asinhas de cetim de borbolea e uma touca de
antenas era muito mais adorável do que desconcertante.

- Louis! Graças a Deus! Pensei que jamais chegaria. - Harry cantarolou,


vindo ao seu encontro com aquele pacote chamativo no colo, pendendo-a
para trás.

Tomlinson pensou em repreendê-lo por não carrega-la direito mas ele a


colocou em uma droga de fantasia de borboleta, você não deve contestar
alguém que tenha chego a esse ponto.

- Perdoe-me pelo atraso, Lottie me fez ler uma fábula antes de vir.

- Oh, e cadê a pirralha?

Louis lançou-o uma expressão fria a qual Harry optou por se corrigir.

- Quis dizer, a menininha. Cadê a menina?

- Foi brincar com os amigos que fez no Palácio.

- Ugh, você é tão sortudo. Se tivessem me selecionado uma criança mais


velha ela também poderia estar por aí com os outros e me livrar do cargo de
babá pela tarde. - Styles revirou os olhos.

E, claro, Louis o ignorou. Porque ele aprendera a filtrar aquelas partes


desnecessárias e inconvenientes que vinham no pacote Harry Styles.

- Bem, como Mackenzie está? - indagou, estendendo o dedo para a neném,


que sem cerimônias o agarrou e tentou levar para a boca como uma
chupeta.

- A fedorentinha me presenteou com um kilo de cocô pela manhã. Tive que


sair às pressas do seu aposento para pegar uma nova fralda. No almoço
tomou duas mamadeiras e... para minha infelicidade... não dormiu após
mamar.

Mackenzie sorriu daquele jeito fofo de bebês para Louis, o qual piscou
encantado.

- Parece que esta garota é ligada na tomada. Nunca vi um neném tão novo
permanecer todo esse tempo desperta.

- Você já cuidou de outro bebê antes? - Louis questionou divertido, porém a


expressão de Harry se tensionou um pouco.

- Não.
- Então, bem, deveria saber que vai de organismo para organismo. Às vezes
ela é só uma menininha agitada que reparará as supostas horas de sono
depois do banho, ou de madrugada.

Harry concordou, inspirando fundo.

Eles começaram a andar entre o trajeto de arbustos altos, conversando sobre


coisas triviais enquanto ora ou outra Styles achava ser uma boa ideia
confundir Mackenzie com uma borboleta de verdade e esfrega-la em um
canteiro de flores.
Em um desses momentos, um espinho acabou perfurando sua mãozinha e
os dois enfrentaram uma crise de choro pela próxima meia-hora.

"Harry, onde estão os seus escrúpulos?!"

"Sinto muito, esqueci-os em Malta. Pensei que fedorentinha fosse amante


da natureza".

"Talvez ela seja, desde que não tenha um espinho cortando sua pele".

Assim, eles descobriram que Harry não tinha noção alguma.

- Vamos, aquiete-se! - Styles ordenou perdendo a paciência, balançando-a


em seu colo um pouco rude.

- Ela não é uma boneca de pano, não a chacoalhe desse jeito!- Louis
ordenou com sua voz firme. A típica voz firme que levava o príncipe dos
cachos selvagens e macios a engolir a seco e divagar sobre a beleza
(dominante) excessiva que alguém tem direito de apresentar.

- Vou cantar uma música então. - declarou decidido, sorrindo um pouco


maldoso para a criança, que berrava contrariada.

Harry guiou-os para se acomodarem em um banco, e equilibrou a menina


de pé em seu colo, mantendo-a ereta pelos braços - apesar de ela claramente
estar em desacordo com a posição incômoda.

- Crianças manhosas que são más, más más.... principalmente as que me


chateiam demais, mais, mais... Sabe o que lhes acontecem ? - O príncipe
cantarolava forçando-a a dançar, movimentando seus bracinhos. - Elas são
devoradas por... tribos rivais!

Mackenzie diminuiu o volume de seus choramingos, mais atenta a Harry


assoviando.

- Devoradas! - Styles repetiu com uma entonação arrepiante, sucedido do


bebê chorando à plenos pulmões novamente.

- Merda, Harry! - Louis grunhiu zangado.

E de imediato os assobios irritantes de Harry cessaram.


E consequentemente a choradeira estridente diminuiu.

Era como se um meteoro houvesse caído entre eles porque o príncipe de


Malta encarava Louis com um espanto desmedido.
Seus olhos pareciam duas bolas de tênis de tão grandes e verdes e
esbugalhados que ficaram, sua boca igualmente aberta.

Eles permaneceram nesse silêncio por dois minutos.

Dois minutos que nem Mackenzie ousara emitir outro barulho.

Harry então virou seu rosto para a bebê, mantendo a feição de choque.

- Você ouviu isso, fedorentinha? - ele sussurrou para a neném, que pendeu
sua cabeça para a esquerda (com aquela toca de antenas bizarras que ele
obrigara o alfaiate confeccionar pela manhã). - Ele blasfemou!

Tomlinson não aguentou ou suprimiu o ímpeto de revirar seus olhos.


E os revirou.

- Sério, Har-

- Oh meu Deus! Ele xingou! Louis William Tomlinson xingou em alto bom
som! Estaríamos nós existindo em um universo alternativo?!

Sinceramente Louis nem se sentiu culpado por tê-lo feito. Ele sabia que a
convivência com Harry geraria algumas consequências inevitáveis em sua
personalidade... e okay, porque ele percebeu que xingar era um pouco
libertador.

E totalmente o oposto do seu usual.

Sua mãe Johanna provavelmente o lançaria um olhar reprovador se o visse


agora. Ou então se acabaria de rir. Porque era um tanto patético um jovem
adulto estar divagando sobre amaldiçoar algo com palavras consideradas
rudes.

- Ele não soa sexy para porra quando fala insultos? - escutou Harry ainda
comentando a respeito com a neném. - O que eu não daria para um recital
de palavreados?! - uma pausa dramática e sua aparência se acendeu de
malícia. - Ops, eu daria tudo.

Louis teve que rir disso. Styles era um inconveniente nato.

E, quiçá, essa risada espontânea tenha sido um pedaço do paraíso para


Harry, que testemunhou fascinado o canto puro dos anjos e as ruguinhas
meigas que se afundaram nas laterais das lagoas azuis.

Estava traduzida nas lentes esmeraldas a idolatria que fez o príncipe dos
cachos congelar o tempo para observa-lo como um espetáculo teatral. Louis
e o sorriso imortal.

Sua súbita paralisia alertou até mesmo Mackenzie, que satisfeita por não
estar mais sendo obrigada a dançar e também distraída da ferida de seu
dedo acabou se silenciando, amenizando o choro para curtos espasmos
soluçados.

- Ele é um homem e tanto, não é borboletinha? - Styles fingiu cochichar


para a bebê, embora tivesse dito em volume o suficiente para que Louis
escutasse-o, o qual, sem jeito, desviou o olhar, forçando uma tosse.

Pela primeira vez - já em um estado muito mais calmo - Mackenzie


começou a desabrochar um sorriso, direcionado para Harry.
Sua expressão parecia macia e adorável, com aquele par de olhos azuis
grandes demais para seu pequeno rosto, e o cabelinho ruivo escondido pela
touca.
Ela o fitava enfeitiçada, sendo sustentada no colo de Harry por seus
antebraços desengonçados. E no momento os caracóis castanhos mais
conhecidos como cabelo pareciam interessantes o bastante para que ela
decidisse toca-lo.

No instante em que flagrou a minúscula mão avançando em direção aos


seus cachos mais longos, Harry retesou, frisando o cenho descontente.

Contudo... aquele brilho natural da pele doce da menina, e a maneira que


suas bochechas se acumulavam ao sorrir divertida... aquela inocência
materializada e ingenuidade imaculada... elas o impediam de repreende-la.

Elas o impediam de desviar sua atenção de sua beleza genuína.

Elas o impediam de fazer honestamente qualquer coisa que não fosse


encara-la em uma veneração particular.

Harry piscou atônito, incapaz de se mover. Se fosse em outra situação,


intuiriam que o puseram sob hipnose.

Em uma curta fração de segundo Mackenzie alcançara alguns fios e


enrolara em seus dedos gordinhos, puxando-os por instinto.

O movimento fizera Harry resmungar de dor, despertando do devaneio. Seu


grunhido combinado com o grande bico chateado que formou com os lábios
foi entendido como uma careta engraçada à neném, levando-a à uma crise
de riso babada.

Mackenzie ria estonteada para Styles, que, surpreso pela reação contagiante
da menor, não teve forças de impedir que um sorriso delicado se repuxasse
aos poucos em sua boca, sincero e inevitável.

Para Louis, que assistia tudo sendo um telespectador fora daquela bolha, era
claro como o dia que Harry estava maravilhado com ela, e emocionado e
anestesiado.
Ele emitia uma luz boa ao seu redor, criando uma conexão especial com a
criança. Ele parecia tocar um milagre com o coração, inerte do exterior.

Era meio puro e singelo, e talvez foi a intensidade do momento ou a


cortesia afetuosa do sorriso de Harry que fez com que Tomlinson
naturalmente sorrisse sozinho, remoendo uma emoção estranha na boca de
seu estômago.

Porém, abrasivo igual uma faísca caindo sobre palha, toda a construção
delicada e frágil...se...quebrou.

De um átimo ao outro o cenário se transformou completamente.

A adoração perceptível nos traços de Styles foi decaindo para algo...


melancólico.

Os olhos verdes rapidamente se marejaram e escureceram, e embora a


alegria infantil ainda estivesse evidente em Mackenzie, a de Harry havia
desaparecido, deixando resquícios de um sentimento desconhecido que por
certo o consumia internamente.

Louis presumiu que uma coisa de errada o apunhalou, certeiro e rápido,


provocando-o uma dor obscura refletida na forma que o canto de seus
lábios decaíram e seu olhar para a bebê se tornou ligeiramente maníaco.

- Harry? - tentou chama-lo, ou tira-lo daquilo. Seja lá o que 'aquilo' fosse.

Mas as sobrancelhas dele se franziam, unindo-se no centro de sua testa cada


minuto mais. Ele a fitava espantado tal qual o faria se estivesse encarando
uma assombração. Aparentava-se distante da órbita real, preso em um
pesadelo acordado, procurando em vão na face de Mackenzie.

- Harry Styles? - Louis ralhou, em um tom alto, puxando o outro príncipe


pelo cotovelo em advertência, porque pelos raios do Olimpo o que
acontecia com esse homem?

Harry pulou de abrupto num sobressalto, levantando-se imediatamente do


banco com Mackenzie contra o peito, suas asas de borboleta um tanto
amassadas pela maneira desleixada que ele a segurava.
Ele parecia exasperado e ofegante, abrindo e fechando as pálpebras
depressa, atordoado.

- Ei, o que foi? O que houve? - Tomlinson indagou, sua preocupação


sobressaindo em sua voz.

O menor também se pôs de pé, andando para próximo de Styles - que


caminhava perdido de um lado para o outro, queria alcançá-lo e confronta-
lo. Queria tira-lo de seu estado de choque súbito, conforta-lo e reencontrar
alguma parte de sua alma que se arrefeceu no caminho.

Todavia, soava impossível.

Soava impossível intercede-lo quando ele estava visivelmente alucinado, se


afastando, se afogando em um mar que Louis não podia navegar, não podia
salva-lo.

Na mente do futuro rei de Riverland, Harry poderia estar delirando por


causa de alucinógenos- não era novidade a ninguém que metade de sua
matéria constituía-se de drogas.

Mas... simultâneo a essa hipótese... Louis meio que sabia - meio que sentia -
que aquilo estava além de um delírio psicológico. Aproximava-se de um
delírio sentimental.

- Alteza, por favor, ouça-me. - pediu, buscando acalmar-se para não piorar
sua agonia. - Você vai assusta-la. Você vai assustar Mackenzie. - inferiu
firme, encontrando o olhar de Harry.

Gradualmente a poeira abaixou. Styles ainda carregava aquela espécie de


sofrimento contido em sua feição, mas estava notoriamente empenhando-se
a se acalmar.

Seu desespero se silenciou.

- Você está bem?

Harry engoliu a seco, uma camada de suor rolando pela pele pálida.
Louis preparava-se para repetir a pergunta quando Styles tomou a frente da
situação e acenou em concordância com a cabeça, embora não verbalizasse
uma resposta.

- Você quer conversar a respeito disso? - ofereceu.

E Céus, como Tomlinson desejava que Harry dissesse sim, concordasse em


desabafar. Por algum motivo, ter presenciado seu sufoco fulminante fez
com que uma parte de si agonizasse junto. Fez com que uma sensação
terrível de dormência e impotência o aglutinassem.

Fez com que ele privasse o ímpeto de embala-lo em seus braços, recitando
frases de conforto.

Mas Harry não quis expor sua tristeza.


Ele a tragou o melhor que pôde e forçou um sorriso.

- Preciso ir. A fedorentinha tem que mamar. - informou, o tom monótono e


vazio, antes de seguir para fora da trilha do jardim sem sequer hesitar.

***

Louis não viu Harry pelo resto do dia.


Ou da noite.

Quando Harry reapareceu publicamente na sexta, no café da manhã, com


Mackenzie no colo, ele continuava afastado.
Não viera conversar com Louis. Ou com ninguém.

Ele estava em seu canto, cuidando meio roboticamente da bebê e desviando


o olhar toda vez que Tomlinson o encarava inquiridor.

Louis percebia que aquele comportamento anormal não era especificamente


com ele. Era com todos. Era com o mundo. Era com o próprio Harry.

Existia uma ponte que o separava do mundo neste momento a qual ninguém
- nem Tomlinson - teria permissão de cruzar.
Quando, em uma noite há muitas semanas atrás, Harry murmurou sobre ser
um precipício... ele não estava mentindo.
Agora ele soava exatamente como um.

Fodido e Imprevisível.

Mas Louis nunca teve medo de altura.

E ele estava a um passo de pular.

- O que há com você? - Tomlinson questionara após o jantar, interceptando


Harry antes que ele se refugiasse em seu aposento com a neném no colo e
uma discrição que não combinava com sua postura estrondosa.

Styles piscou nervoso em um instante inicial, mas então prosseguiu seu


trajeto, reproduzindo em uma voz cantarolada e artificial.

- Não sei ao que se refere, meu caro.

E, apesar dessa teimosia e da fuga óbvia de Harry, Louis não desistiu.

Ele o seguiu enquanto o príncipe subia as escadarias, enquanto o príncipe o


ignorava determinado até alcançar a porta de seu quarto.

Mas Louis nunca foi de se satisfazer com respostas mal finalizadas, e


impediu-o de adentrar o aposento com um aperto firme em seu ombro.

- Harry, merda, fale comigo. - quase suplicou (isso, suplicou).

Ele esperava que sua entonação desesperada surtisse efeito.


Ou que a palavra suja trouxesse-o seu humor de volta.

No entanto, tudo que obteve foi Harry finalmente se virando para encara-lo,
não simulando normalidade, sem se proteger com uma fantasia. Parecendo
real e ferido. Seus olhos ligeiramente marejados e vermelhos.

- Louis, por favor, deixe-me sozinho. Eu preciso de um tempo, certo? - e


sua voz estava rouca, e quebrada, e fraca.
E Louis sentiu o chão sob seus pés se rompendo como em um terremoto.
Ele não se lembra de quando exatamente criou um vínculo tão forte com
Harry ao ponto de se importar dessa maneira, de coloca-lo na órbita de seu
universo onde o primeiro pensamento que circula em sua mente é 'o que há
de errado?'.

Ele não se imaginava - nunca - intervindo na vida pessoal de qualquer outro


individuo assim, parecendo um intrometido desmedido.

Mas, aí, vinha Harry.


Harry manipulador e irresponsável.
Harry impulsivo e petulante.
Harry solitário e problemático.

Era como uma receita que produzisse um personagem de um romance


vitoriano, ou o eu lírico perdido de alguma poesia de Yeats.

Sua descrição bibliográfica traria uma composição trágica. Requintada.


Viciante.

No sumário as informações estariam uma desordem.

E no decorrer haveriam trechos ilegíveis.

Porque, afinal, isso era Harry.


Um livro de capa dura com bordas douradas que agrada quem vê, mas, por
dentro, cheio de folhas caídas, palavras rasuradas e capítulos sem final.

Ele era uma história incompleta que não podia ser lida.
Muitos elogiaram a capa, mas ninguém procurou as páginas faltando.

E Louis começara a se sentir frustrado com essa ideia.

Contudo, diante daquele cenário, ele tinha que respeitar a fragilidade de


Harry. Ele tinha que acatar seu pedido. E tinha que sorrir reconfortante e
deixá-lo sozinho.

***
Depois de colocar Charlottie para dormir, ressentido que em dois dias seria
sua despedida, Louis resolveu se comunicar com sua mãe.

Há alguns dias parara de responder suas cartas.


Uma das razões era por estar ocupado.
E a outra.... se resumia ao fato de Johanna ter perguntado sobre Harry.

Tomlinson mencionara semanas atrás de estar tendo uma relação amistosa


com o herdeiro de Malta.

E desde então, sua mãe mantém uma curiosidade sobre o tal príncipe.

De certo Harry é uma lenda nos demais reinos.


Ele até já visitara Riverland em companhia de seu pai - apesar de Louis não
tê-lo encontrado.

E era compreensível e normal que Johanna viesse a interroga-lo sobre a


verdadeira face de Styles, o que ele representava.
Todavia, Louis não possuía uma réplica.

Ele nem ao menos sabia.

Cogitara revela-la que Styles era um produto manufaturado da corte com


uma bengala denominada Carolina e piadas sujas na ponta da língua.
Porém, seria uma definição muito pobre para se tratar de alguém tão
singular.

Tomlinson pensou em adicionar: um cavalheiro de gostos peculiares e


atitudes indecentes..
Mas, honestamente, quem era Louis para julga-lo ou rotula-lo?

Uma parte de seu subconsciente - a provavelmente influenciada pela


presunção de Harry - advertiu satírico "também ama ser amarrado".

Se fosse narrar cada pedaço de Styles para Johanna, seria necessário envia-
la uma cartografia de escala absurda, um pergaminho com a extensão de um
país, pinturas e retratos que exprimissem sua beleza exuberante.
Portanto, vendo que era inconveniente qualquer um desses detalhamentos,
Tomlinson eventualmente desistira de responder aquela carta.

Só que naquela noite havia algo diferente.


Louis sentiu que sabia o que dizer, em meio às colisões de sua mente e
conflitos internos, sentiu e escreveu:

"Ele faz o quebrado parecer belo,


E o forte parecer invencível,
Ele anda com o universo sobre seus
ombros,
Fazendo-o parecer como um par de asas".

***

Era sábado.
O último dia oficial dos príncipes com seus 'afilhados' temporários antes de
propriamente se despedirem deles em uma cerimônia de banquetes no
almoço de domingo.

E, embora a maioria não houvesse tido tempo para estabelecer vínculos


muito fortes, havia ainda aquele sentimento difícil de despedida. Aquela
tensão melancólica disseminada no ar como um vírus, decaindo sobre as
expressões tristes dos jovens.

Eles nem cogitariam chegar ali. Aprendendo a cuidar de si próprios e de


crianças simultaneamente.
Aprendendo qual seriam os desafios futuros, quando tivessem em seus
palácios seus próprios filhos.
Antes, soava intimidador e uma tarefa que largariam na mão das mulheres.
Agora, soava emocionante.

Portanto, na tarde daquele sábado, todos estavam liberados a utilizarem


qualquer parte do Palácio que desejassem para brincar - salvo às salas
privativas e proibidas - internas e externas.

Enquanto muitas crianças corriam pelos jardins jogando algum esporte em


equipe, Kevin e Zayn estavam empoleirados no salão de instrumentos.
Malik queria ensina-lo a tocar piano, mas o garoto parecia muito distraído
observando silenciosamente através da janela os outros meninos jogando
algo, arremessando petecas no alto, gritando animados.

Subitamente Kevin se levantou do banquinho do piano que estava


acomodado ao lado do príncipe e andou quase hipnotizado para mais
próximo da janela, ficando na frente dela com suas mãos espalmadas no
vidro, assistindo melhor a brincadeira dos outros.

Tocado pela cena, Zayn sorriu triste. Ele queria distrai-lo com alguns
acordes de piano, no entanto sabia que incentivar seu gosto musical não era
o que esta criança de seis anos desejava no momento.

Malik se estendeu de pé, caminhando para perto do menor. No entanto,


antes que intervisse, Liam Payne adentrou a sala, com um baque ruidoso da
grande porta de madeira.

- Boa tarde, Vossa Alteza. - Liam saudou, não parecendo surpreso por
encontra-los ali.

- Liam. Oi. - Zayn ligeiramente sorriu.

Contudo, a atenção do futuro rei de Bristok estava completamente presa na


figura do menino rente à janela.

- Oh, Kevin. O que há? - indagou, recebendo um olhar tímido do mais


novo. - Está assistindo seus colegas brincarem em times lá fora? Mas... hm,
Zayn não o contou?

Malik piscou confuso.

- Contei o que?

Liam inspirou fundo, indo para o centro do cômodo com os braços cruzados
atrás das costas.

- Não contou que ele não pode fazer o que anseia, ou ser o que deseja,
porque suas condições físicas o impedem de tal.
Neste mesmo instante os olhos de Zayn se arregalaram em descrença, a pele
empalidecendo mais do que o usual. Ele sibilou inaudível um que porra
está dizendo? que foi efetivamente ignorado por Payne.

- Porque, Kevin, o seu peso, a sua aparência... elas supostamente


determinam sua capacidade. - Liam prosseguiu, impassível. - Elas definem
o que será. E a verdade é que... elas te limitam e te impedem de viver.
Certo, Zayn?

Tanto Kevin quanto Liam passaram a encara-lo. O primeiro, com um olhar


assustado de um filhote acorrentado por caçadores.

A esse ponto, a palidez de Malik não era nada comparada com o desespero
de sua face, os olhos incrivelmente marejados enquanto os lábios tremiam.

- Olhe nos olhos da criança, e enxergue a si mesmo. - Payne instruiu,


determinado. - Veja-se. Se você não se acha suficiente por causa das suas
inseguranças, se você não sente capaz, então Kevin também não será.

- L-liam... - Zayn suplicou, a voz quebrada e as pernas bambas. - Liam.


Pare. Por favor, pare. Ele é só... ele é só uma criança.

Ele estava desesperado, porque era evidente o quão abalado um garoto de


seis anos ficaria escutando esse tipo conversa.

- Você também era só uma criança, Zayn. - Liam afirmou, suavizando um


pouco o tom. - Mas agora você é um adulto, preso no passado.

Zayn fechou com força os olhos, ajoelhando-se no chão, de frente para


Kevin.

- Não... não o dê ouvidos, Kevin. - instruiu-o, tentando inutilmente tapar


suas orelhas com as palmas trêmulas de suas mãos.

- Não, Zayn. Ele precisa ouvir. Você precisa ouvir. Ou você o revela agora
mesmo que seu exterior é mais importante do que qualquer outra
característica boa que ele tem, que seu porte físico e sua beleza são os
únicos que valem de seu potencial... - Liam advertiu, elevando a entonação.
E aquilo soava como estarem dentro de um tornado. A ventania, o barulho,
a destruição.
Zayn gostaria de construir uma casa resistente em volta deles para protegê-
los.
Mas ele sabia que no fundo era um sem-teto, desabrigado.

- ... ou diga-o o que deve dizer a si próprio, Zayn.

Malik assentiu fracamente, lágrimas escorrendo pelas laterais de seus olhos.

Ele encarou Kevin, no fundo de sua alma.


Ele se viu ali.

Ele se viu naquele olhar perdido.


Ele se viu nos medos, inseguranças.
Ele se viu naquela autodepreciação.

Ele lembrou das noites que chorou no quarto, com medo de que acabasse
sozinho.
Das noites que chorou pensando que nunca seria suficiente.
Das noites que despejou todas as suas refeições em um balde porque
acreditava ser o único caminho.

De repente, a imagem de Kevin foi substituída por uma sua. De um Zayn


com seis anos, já sendo instruído a crescer para casar. Já sendo ensinado
que sua beleza era a última oportunidade.

Ele estava se encarando.


E, talvez, não fosse possível mudar quem ele foi, o que ele costumava
acreditar.
Mas ele podia mudar quem é no presente. No que acredita.

- Ouça. - Zayn finalmente disse à criança. - V-Você não merece isso. Você
não merece pensar que... vale pouco. Não merece crescer se
menosprezando.

Cada palavra que saía de seus lábios, tinha o gosto amargo do


reconhecimento.
- Você não é um espelho. V-Você não tem que refletir o que os outros
desejam enxergar. Eu sei que... - suspirou. - Eu sei que é difícil se aceitar, é
difícil se amar, mas.. você precisa gostar de si por ser uma boa pessoa.

Zayn limpou as lágrimas que escorriam de seus olhos com as costas das
mãos.

- Seu físico, sua aparência ... ela não vai ter dar o que você deseja. É tudo
uma grande mentira. Ela te torna obsessivo, e vazio. - mordeu o lábio
inferior. - E a única forma de se sentir preenchido... é valorizar o que há
dentro de você.

Um toque suave foi depositado em seu ombro, e Malik sabia que era Liam
tentando conforta-lo.

- Você é lindo, Kevin. Mas não é só lindo. Você é inteligente, e cativante, e


bondoso. Ninguém tem que perceber isso além de você. A sua opinião
sobre si é mais relevante do que a de qualquer outro.

O menino assentiu calado. E, tudo bem, porque ele era muito novo para
entender tudo, e entender a intensidade e veracidade do que lhe era
informado.

- Você só precisa ter um pouco de fé... você merece se sentir importante. -


Zayn balbuciou por fim, fungando.

E entre perceber que desmoronava, e certificar-se que Kevin estava sorrindo


triste para ele, Zayn envolveu seus braços no garoto, abraçando-o e
metaforicamente ansiando abraçar seu 'eu' de muitos anos atrás.

- Você também merece. - escutou Kevin cochichar timidamente para ele.

Desvinculou-se do garoto e o fitou, inspirando fundo, repuxando os cantos


dos lábios para cima.

- Eu sei.

***
Na noite de sábado, os príncipes e seus afilhados foram presentados com
uma bela surpresa de terem seu último jantar servido ao ar livre, sob o
sereno da lua e o clima ameno do verão.

Um conjunto de mesas e tendas com luzes douradas foi montado


especificamente para a ocasião, e uma variedade de sucos cítricos e
melodias instrumentais instaurava esse ar aconchegante.

Em um assento um pouco mais afastado dos demais, Harry segurava uma


mamadeira na boca de Mackenzie, certificando-se que não havia leite
escorrendo pelas bordas de sua boquinha, ou que ela não engasgaria.

Com uma roupa um pouco menos chamativa, seus cabelos presos em um


coque desleixado e Carolina esquecida no quarto, tudo que ele representava
no momento era um jovem mais maduro e responsável, cuidando
unicamente do pequeno embrulho em seus braços.

- A meia esquerda dela caiu no chão. - escutou uma voz baixa intercede-lo,
fazendo-o olhar para cima.

Niall Horan acenou em saudação e se abaixou, pegando a respectiva meia


lilás e entregando a Harry, que com as mãos ocupadas não pôde apanhar.

- Pode colocar no pé dela por mim?

- Claro.

O príncipe fez o que lhe foi pedido, e então se sentou na cadeira ao lado da
de Harry, que o encarou de soslaio em desconfiança.

- Onde está a sua criança? - perguntou curioso.

- Brincando. Stuart fez um amigo agora a pouco, creio que com Kevin, o
garoto de Zayn. - Niall explicou, buscando-o com os olhos pela área e
suspirando aliviado com flagra-lo correndo atrás de Kevin.

Harry assentiu em silêncio, voltando sua atenção para Mackenzie.


- É surpreendente pensar em como você se transformou nesses últimos dias
de um jovem mimado para um que parece até pronto para filhos. - Horan
comentou.

- Não foi como se tivesse escolha.

- Você poderia ter neglicenciado esse projeto. Nós dois sabemos que se
você não compactua com algo, não há nada que o obrigue a fazer.

Harry respirou fundo. Desviando o olhar para o horizonte e fixando-o em


fonte de água vitoriana, onde há estátuas anjos de mármore.

- Não há como negar que criara uma conexão com essa bebê, Harry. - Niall
advertiu. - Mas não pode se envolver tanto, ou ficará sofrendo pelo resto da
vida quando ela for embora. Porque ela tem uma família, e pertence a outro
lugar.

Styles o ignorou. Niall prosseguiu.

- Todos percebemos como você está... recluso ultimamente. E parece


chateado e ligeiramente revoltado. - Niall iniciou, hesitante. - E isso é
normal, afinal você se apegou a ela e-

- Vocês não entendem. - Styles interrompeu. - Não é... não é isso.

E antes que desse chance para Horan questiona-lo (pois ele parecia disposto
a confrontar seu estado emocional - o que era perturbador e gentil) Harry se
levantou e se retirou, retornando para o aposento.

***

Antes de se deitar, Louis ajudou Charlottie a fazer desenhos.


Ela tinha muito interesse em pinturas então ele providenciou sem delongas
alguns papéis e tinteiros coloridos para a garota.

Sentados lado a lado, ela se esforçava para retratar algo que Tomlinson não
sabia traduzir.
Estavam algumas bolinhas, e formatos desproporcionais, todos dentro de
um grande retângulo.

- O que é isso, Lottie?

- Oh, somos nós. Na minha primeira noite aqui deitados na cama gigante. -
ela sorriu, apontando para as figuras respectivas. - Esta sou eu, com cabelo
compridos, vê? Este do lado é você. E esses são Harry e sua nenenzinha.

Com uma fixação muito grande pelo desenho, Louis suspirou anestesiado.
Uma sensação de carinho circulando por suas veias.

- Ficou muito bonito. - elogiou.

- Obrigada. - a menina colocou o material de lado, virando-se totalmente


para Louis com seus olhos marejados. - Você promete que irá me visitar?

Louis pendeu a cabeça, sorrindo calmo.

- Eu amo minha família, quero voltar para casa e ver o papai e a mamãe.
Mas também sei que quando estiver lá, irei sentir falta daqui.

- Claro que a visitarei. Com muitos bolos, lembra?

- Estarei ansiosa esperando vocês. - proferiu, traçando corações com a ponta


do dedo indicador sobre a bochecha de Louis.

- 'Vocês'?

- Você e Harry. Ele é engraçado. Um pouco malvado. Mas parece ser legal.
E muito bonito. Eu gosto dele. - Lottie admitiu, soando doce e honesta.

Louis sorriu complacente, olhando para ela.

- Eu também.

***

Notas da autora: olha quem está aqui de novo, a autora afobada.


Hey, primeiro preciso me desculpar: postei o capítulo sem revisar direito e
vi que fiz uma confusão com o nome das crianças - a qual não quer se
consertar. Perdoem-me, por favor.

Segundo, vou fazer uma breve reflexão sobre o que aconteceu nesse
capítulo.
Auto-aceitação é um processo longo. Complicado. E sufocante.
Não tem sempre efeito ou mudanças radicais.
Zayn conseguiu finalmente reconhecer que ele vale.
Esse é um passo importante.
E eu espero que vocês também reconheçam e façam das palavras dele as
suas.

E, terceiro, o plot que eu queria chegar em relação ao Harry finalmente


veio.
Acho que vocês começarão a ligar os pontos a partir de agora.

Mas... Alguém tem algum palpite do que aconteceu com ele?

PS: se preparem, próximo capítulo há smut (novamente, se não se sente


confortável lendo, por favor, não o faça - será hbottom).

Amo vocês. Obrigada por todo o apoio com a fanfic no Twitter, e me


desculpem se ela soa chata ou enrolada. Eu a tive planejada cada capítulo,
cada coisa para acontecer nesta ordem. Tudo fará mais sentido no final.


Chapter Forty

Episode: Take me to Church

Foram muitas tentativas.


Realmente foram.

Mas... mesmo que sua consciência estivesse limpa - lembrando-o a todo


instante que ele fizera o possível - ainda assim havia aquela voz persistente
no fundo de sua mente... instigando-o a tentar de novo.

Desde que os príncipes deram um último abraço em suas crianças


temporárias no almoço de domingo e aquela atmosfera deprimente perdurou
pelo resto do dia... Louis não falou com Harry.

Não porque ele não quis. Ou porque ele não tentou.

Mas porque Harry não quis.


Harry tornou as coisas claras ao se esgueirar de sua proximidade, indo
discretamente para o andar de cima todas as vezes que Louis aparentava
disposto a iniciar um diálogo.

Era frustrante para Tomlinson, que até a pouco reclamava internamente


sobre não haver um segundo em que Harry o permitisse respirar.... e agora,
tudo que ele fazia era se afastar.
Era parecer distante, vazio e solitário.

Mesmo que suas roupas estivessem tão extravagantes quanto o normal, elas
vestiam uma pessoa diferente. Uma pessoa que não combinava com
espalhafato, que precisamente deveria usar um fraque cinza o qual fizesse
jus a seu humor atual.
Aos poucos, no decorrer inicial da semana, Tomlinson discretamente
sentava-se na cadeira ao lado da sua nas aulas teóricas, e, quando longe,
estudava-o minuciosamente. Suas expressões, seus gestos, seus pequenos
sorrisos forçados.

Aquilo reproduzia um estranho jogo invertido, em que de repente era Harry


Styles o mais reservado e silencioso entre eles.

A próxima interação que Louis obteve - enfim - com o garoto dos cachos
longos foi na quarta-feira.

Ele reparou que Styles não descera para o café, nem almoço ou janta.
Decerto ele sabia que o príncipe recebera suas refeições privadas no quarto,
mas... ele ainda precisava demonstrar que se importava. E que sentia sua
falta.

Então, sem divagar muito sobre, pediu que Lorena preparasse uma bela
cesta de frutas frescas com algumas velas aromáticas dispersas entre os
morangos e as cerejas.
Ele mesmo levou a cesta até os aposentos de Harry, o qual não o atendeu ao
ser chamado.

Com um gosto amargo de frustração Louis deixou-a na soleira da porta e se


foi.

Tomlinson pensou que aquele fora o ápice do que poderia lidar. Ele não era
acostumado a perseguir tanto alguém e decretou, por fim, sua desistência.
Harry precisava de tempo e espaço.

Na quinta-feira seguinte despertou com Jezebel entregando-o um bilhete


deixado para ele na porta em anônimo.

Era um poema de William Burtler Yeats:

"Nem temor nem esperança assistem


Ao animal agonizante;
O homem que seu fim aguarda
Tudo teme e espera;
Muitas vezes morreu,
Muitas vezes de novo se ergueu.
Um grande homem em sua altivez
Ao enfrentar assassinos
Com desdém julga
A falta de alento;
Ele conhece a morte até ao fundo —
O homem criou a morte.

- W. B. Yeats."

Louis nem precisaria se atentar na caligrafia para concluir quem fora o


autor daquilo.
Tudo gritava Harry Styles.

***

Os dias se passaram.

Com a retomada da rotina, das tarefas e banquetes... as coisas foram


melhorando.

Ao menos, para Louis.

Porque ele se viu capaz de se distrair daquela situação sufocante e relevar a


porção do seu subconsciente que o aconselhava a continuar tentando.

Mas Louis não era um herói.


Ele não usava capa ou tinha superpoderes.
Ele não salvava pessoas.
Ele não podia salvar Harry.

Louis era um príncipe próximo a se tornar rei.


Esta era sua missão neste Palácio, e ultimamente ele desviara sua
dedicação, esquecendo-se dos reais objetivos e obrigações que cabiam a si.

O que não era justo:

Nem com sua família - que o selecionara para o trono dentre os cinco filhos.
Nem com seu povo - que mereciam um líder soberbo e devoto.

Nem consigo mesmo.

Eventualmente Louis retornou ao posto do aluno dedicado, que maravilhava


os anciãos e impunha respeito aos demais.
O aluno que mantinha-se neutro diante das polêmicas e fofocas, e imparcial
quando viessem inclui-lo em debates.
O príncipe reservado e intrigante, que ultimamente estava próximo de Niall
Horan e que aproveitava de sua companhia nas horas vagas para discutir
algum livro ou política.

Louis era Louis.


Mas Louis não se sentia Louis.

Porque... apesar de sua postura usual estar ali, de seu desempenho despontar
outra vez, e de sua reputação ser a mesma... ele não era.

Enquanto reverenciava formalmente outros príncipes no Salão dos Homens


e se alocava na roda de diálogos ele sentia que faltava algo.
Faltava alguém.

Enquanto era consumido pela insônia nas madrugadas um pedaço do seu eu


antigo retomava o controle do corpo para remoer as lembranças passadas,
em que Harry vinha importuna-lo. Em que Harry vinha fazê-lo insinuações.
Em que Harry vinha disseminar seu humor negro até que Louis o
repreendesse. Em que Harry ora o guiava em uma aventura até o lago, ora o
pedia para pintar suas unhas, e ora o puxava para dentro de uma despensa.

Enquanto Louis recebia elogios e era condecorado por sua complacência,


seu interior agonizava em reconhecimento de que aquilo estava errado.
Porque, há um bom tempo, tudo que ele desejava era ceder ao pecado dos
olhos verdes, cachos bagunçados e sorriso sujo.

***

Faltavam menos de quatro semanas para o fim da temporada.


O entusiasmo dos príncipes de finalmente retornar aos seus reinos
contrastava com o aborrecimento da realização que este seria o fim de um
ciclo, o fim de suas juventudes e da única oportunidade que tiveram para
interagir com jovens de suas mesmas faixa etárias.

No fundo, as riquezas, os diamantes e o trono não compensariam a sentença


de perderem sua jovialidade tão precocemente, de serem condenados a
priorizar sempre um reino inteiro ao invés deles próprios, e de tomarem
decisões que eclodiriam em prosperidade ou miséria alheia.

Era só... muito.

***

Louis vinha evitando permanecer em seu aposento depois da meia-noite.


Era certo de que não seria apto para dormir antes das três, e como estavam
no último mês, ele decidira que aproveitaria mais o restante do Palácio do
que ficar aprisionado entre quatro paredes.

Em algumas madrugadas mais frias ele se refugiava no aconchego


silencioso de biblioteca, deitava no carpete empoeirado e encontrava algum
livro para reler.

Nas noites amenas e ligeiramente quentes, o lago do leste - o qual Harry o


concedera àquela vez o direito de usufruir - se tornava o seu abrigo.

E, em outros momentos, esgueirava-se para mais distante, visitando a


pequena catedral abandonada em uma área mais afastada do Palácio.
Ele achava encantador visita-la quando o céu estava limpo e os corpos
celestes muito visíveis, pois a luminosidade da lua se infiltrava nos vitrais
que ficavam no teto da capela e reluziam luzes coloridas em mosaico por
todos os cantos.

Os vitrais de anjo ornamentados em vidraça azul se dispunham ao redor da


imagem de Cristo e Maria, na posição principal. Ao estarem alinhados
perpendicularmente com a lua, refletiam um feixe claro que estendia-se
pelo perímetro total do lugar.
Havia lá a disposição tradicional de uma igreja, com um corredor de bancos
de madeira - onde Louis geralmente se empoleirava para admirar o teto
adornado dos vidros mágicos- e um santuário com uma mesa no centro e
alguns anjos em cima.
Na parede atrás do altar estava pendurada uma estátua enorme de Jesus na
cruz, com sua cabeça caída, a expressão abatida e a impressão de que seus
olhos sempre o encaravam aonde quer que você estivesse naquela capela -
um pouco assustador de madrugada.

Naquela noite, especificamente, Louis fora agraciado com uma Lua cheia e
um céu sem nuvens para esconde-la, o que tornara consequentemente a
igreja abandonada sua aventura mais adequada para a ocasião.

Como sempre fazia, levara consigo um exemplar de poemas. Era inspirador


e artístico recita-los em alto tom para ninguém em particular ao que sua voz
produzia eco.

Ao adentrar distraído na catedral não captou nada além do ranger da porta


pesada de mogno, talhada com bordas douradas enferrujadas.

Se ele não havia escutado-o antes, ao fechar a porta e estar no suposto


silêncio pacífico... finalmente escutou.

Escutou alguns ruídos - que poderiam pertencer à ratos ou insetos se não


estivessem acompanhados de soluços profundos.

Louis caminhou pelo corredor entre os bancos procurando a fonte dos sons
estrangulados até que, no canto esquerdo, se deparou com uma figura
espalhada no chão, de frente para o altar, com as pernas esticadas e as
costas apoiadas na parede lateral, em sua posse estava uma garrafa de rum.

Era como um déjà-vu, ele estava destinado a sempre encontrar Harry em


seu estado mais vulnerável e machucado. Justo Louis, que nunca soube
muito como lidar com pessoas tristes.

E Harry... Harry parecia bem triste.


Parecia um corvo solitário voando entre colinas em meio à uma tempestade,
buscando um lugar que sirva de abrigo mas nunca o encontrando.

Miserável em sua aparência.


Miserável em sua existência.

- Então.. você vai ficar aí encarando? - Styles eventualmente indagou com a


voz embargada, levantando finalmente a cabeça e fornecendo a Louis um
vislumbre de sua feição decaída.

Seus olhos estavam vermelhos e inchados, assim como o rosto em geral.


Olheiras escuras pintavam a área abaixo das gramas de verão
(avermelhadas o bastante para serem consideradas gramas de outono), e os
lábios inferiores ensanguentados - porque era sua mania, morde-los com
nervosismo.

Harry era como um anjo expulso do paraíso condenado a ser seu próprio
inferno pessoal.

Louis engoliu a seco.

- O que há com você? - perguntou, em um fio vocal, piscando atordoado.

- Eu estou chorando, não está vendo? - embora ele tentasse soar áspero e
arrogante, suas tentativas foram falhas. Era incontestável que ele não
passava de um vaso estilhaçado usando seus próprios cacos pontudos como
uma arma de defesa.

Mas Louis não se intimidou - ele jamais se intimidava - nem cedeu. Ao


invés, neutralizou sua face de preocupação, e endireitou a postura para uma
firme, com os braços cruzados atrás das costas.

- Por quê? - questionou-o, ignorando a ponta da lança invisível que


cutucava seu coração ao assistir um caminho de lágrimas trilhar as
bochechas rosas de Styles enquanto ele não parecia ter forças para reprimi-
las.
Porém sua intromissão não foi bem vista. Harry franziu suas sobrancelhas
irritado.

- Pelo amor de Deus, cuide da sua vida. - ordenou emburrado, erguendo a


garrafa, levando-a infame em direção à boca.

- Eu estou tentando. - Louis soltou uma breve risada nasalada, meneando a


cabeça em negação para si mesmo (porque ele simplesmente não podia
acreditar no que estava prestes a dizer) - Mas ela é teimosa e não entende
que álcool não é o caminho.

Harry interrompeu seu movimento de imediato.


Paralisando-se com a abertura da garrafa à dois centímetros dos seus lábios
entreabertos.
Seus globos oculares vagarosamente subindo para fixarem-se assustados em
Louis, o qual o encarava de volta impassível, com o rosto limpo como se
não tivesse acabado de dizer algo grandioso.

Algo que tenha feito os batimentos cardíacos de Harry pulsarem em


iminência de um ataque, no ritmo de uma melodia agitada de piano de
cordas; que tenha anestesiado-o de forma que se sentisse sob efeito de
alucinógenos; ou que o desarmara de qualquer barreira metafórica.

- O que aconteceu? - Louis repetiu, consolidando uma entonação


determinada.

Harry enrugou o nariz. Agora confuso não sabendo se escutou direito o que
Tomlinson havia proferido anteriormente.

Porque, talvez, fosse sua mente o pregando uma peça, consumindo sua
fragilidade para agrada-lo com aquilo que desejasse ouvir.

Louis não seria alguém que reportaria-o uma frase de carga tão intensa
ainda vestindo sua pose inabalável e imparcial

- Nada. Nada aconteceu. - Harry bufou, perdido. - Isso não é um livro, ou


um filme. Não sou um personagem de uma estória. Sou humano e humanos
choram sem precisar de motivos. Choram porque ficam tristes e se sentem
frágeis, por coisas que aconteceram há anos e ainda te fazem se colocar
nesses papéis patéticos.

Louis concordou em silêncio, agachando-se até que estivesse de joelhos,


engatinhando para mais próximo de Harry e sentando-se, por fim, ao seu
lado.

Ele podia sentir o olhar desconfiado de Styles sobre si, e como o garoto
repetia um ritual de empurrar o tufo de cachos que atrapalhava sua visão e
em seguida secava as pálpebras com as costas da mão.

Os príncipes caíram nesse silêncio, que não era tenso ou constrangedor. Era
só... aconchegante e seguro, com uma pitada divina realçada pelos vitrais
religiosos que refletiam cores sobre eles.

Louis foi o primeiro a se pronunciar.

- Por que se afastou de mim?

Sua pergunta não foi nada tão grandiosa, contudo, impactante para que
Harry fechasse os olhos, expirando.

Em um único e rápido movimento, lançou a garrafa obliquamente para


longe. Resultando em um estrondo agudo do baque que ela reproduziu ao
colidir contra a beirada de um banco de madeira e se estilhaçar em centenas
de fragmentos, o líquido espirrando junto.

- Não interessa.

- Se eu estou questionando, é porque interessa.

Exasperado, Styles bateu com os punhos contra as próprias coxas.

Se Louis fosse uma pessoa sã, ele não provocaria alguém que acabou de
quebrar uma garrafa. Dentro de uma catedral. Fazendo com que um
santuário sagrado fedesse à álcool doce.

Mas, Louis não era são.


- Por que se importa tanto?! - Harry grunhiu.

E isso se tornou uma ligeira repetição da noite trágica e tempestuosa,


quando Louis abrigou-os sob um guarda-chuva ao que Styles chorava aos
gritos, bêbado, pela irmã falecida.

E, novamente, la estava ele, o príncipe de Malta, não entendo o porquê de


Tomlinson procura-lo, oferecê-lo ajuda, querer salva-lo. Independentemente
da situação, Harry continuaria se sentindo indigno dessa atenção, incrédulo
de que havia alguém ali por ele.

- Porque você importa, Harry. - Louis reafirmou, identifico àquele antigo


episódio, esperando internamente que ao reforçar essa frase ele faria um dia
Styles acreditar.

E... o olhar que Harry o deu.... foi cortante.


Não no sentido de rude.
No sentindo emocional.

Porque Styles conseguia ser tão expressivo com seus gestos, e aquele olhar
representava justamente o olhar que um cão de rua abandonado faz ao ser
acariciado por um indivíduo que, comovido, tomou um tempo de sua vida
para demonstrar afeto ao animal.

Styles fitava-o com reverência, de modo que Louis fosse uma santidade
resgatando a alma de um ateu. De um ateu que deixara de acreditar na
salvação há muito tempo.

Aquela expressão em sua face, honestamente, traduzia toda a gratidão que


um ser-humano perdido, carente, e menosprezado exibiria caso lhe
entregassem uma dose de amor.

- Eu... eu estava... - Harry se esforçou, limpando a garganta e esperando


ocultar a comoção que o atingira, as lágrimas de emoção. - Eu estava
determinado a liberta-lo... liberta-lo de mim.

Louis o fitou atentivo, estudando-o.


Harry não parecia embriagado.
Só... ferido.

- Você merece mais. Você merece mais do que isso. - Styles disse, a voz
amarga, apontando pra si mesmo com desprezo. - Você merece tanto, Louis.

- Creio que sou apto para tomar este tipo de decisão sozinho, Harry. Cabe a
mim saber o que quero, e quem desejo manter comigo.

- Eu sei. - Harry disse, um tom quebrado e suave, fitando-o nos olhos em


compreensão. - No entanto, você não o faria. Você nunca me rejeitaria
porque você é bom, Louis Tomlinson.

Havia uma ponta de desespero esculpida em seus gestos. Desde a maneira


rápida que ele piscava, até sua respiração falha, e os soluços ofegantes.

- Mas eu não. Eu não sou uma boa pessoa. - decretou, desviando sua
atenção ao horizonte da igreja, no oposto onde estava a bagunça de vidros e
rum em uma poça larga. - Eu tomei decisões erradas o suficiente para que
elas estragassem o que havia de benévolo e honroso em mim.

Louis desceu a vista para as próprias mãos, ponderando. Até que enfim se
exprimisse.

- Nos bastidores da vida, todos somos ao mesmo tempo heróis e vilões,


protagonistas e antagonistas. A questão é que a maioria de nós só expõe o
lado heróico e decente, porque é mais fácil viver de aplausos do que de
insultos.

Tomlinson fez uma pausa, permitindo-se levar sua mão para buscar a de
Harry - que repousava ainda na própria coxa.

Styles observou sua ação atônito, assistindo com uma expectativa silenciosa
o segundo em que os dedos de Louis se entrelaçaram delicadamente com os
seus.

- Você não é um vilão. É alguém que preferiu ser retratado como um.
Alguém que aceitou os insultos, e os xingamentos, em prol do poder, com
medo de que em nenhum dia escutaria os elogios verdadeiros por suas
virtudes.

- Eu não consigo ver uma única virtude minha da qual esteja se referindo. -
Harry confessou inseguro.

Louis sorriu com ternura, apertando suavemente sua mão.

- Borboletas não podem enxergar as próprias asas. Mas o resto do mundo


pode. - Tomlinson declarou, tendo Harry desmanchando um pequeno
sorriso tímido em meio às lágrimas. - Você. Você é extraordinário e,
enquanto não reconhece isso, nós reconhecemos.

Porra.
Só... porra.

Era a única palavra que se acendia na mente de Harry. Porque seu corpo
estava tremendo e seu estômago estava gelado.

Ele estava inquieto e não tinha controle de suas ações.

Não pôde se impedir de subir em Louis, sentando em seu colo com as


pernas uma em cada lateral de seu quadril.
Tomlinson arfou em surpresa, mas não o repreendeu ou o expulsou.
Enquanto uma de suas mãos ainda permanecia entrelaçada com a de Harry,
ele utilizou a livre para escovar os cachos suados, colados na testa do
príncipe, para trás.

- Quando eu era mais novo, ainda inocente e ingênuo... eu morreria para


escutar alguém dizer que eu não precisava tentar tanto ser perfeito, que eu
era suficiente e bastava. - Styles segredou, enfiando seu rosto no vão que
havia entre o pescoço de Louis e sua clavícula.

- Ninguém nunca o valorizou? - Tomlinson questionou, escutando-o fungar


dolorido.

- Minha irmã. Minha irmã era a única que não criticava minha
personalidade, ou julgava-me por ser... você sabe, afeminado.
Louis escovou suas costas em reconforto com a ponta dos dedos, dissipando
a tensão que sucumbiu Styles ao mencionar Gemma.

- Mas então ela se foi. - disse sufocado. - E aquela corda que me impedia de
cair em meu próprio abismo estourou. Eu fui me perdendo, eu fui fodendo
tudo ao meu redor. Até sobrar o que há hoje.

Harry levantou a cabeça, expondo novamente sua face úmida de lágrimas.

- O que você vê em sua frente, Louis, é uma carcaça. As sobras danificadas


do que um dia foi um homem, ou melhor, um garoto de verdade.

Louis de imediato negou em um aceno, desenlaçando suas mãos para ter


ambas livres.

Certificando-se que Harry assistia-o focado, posicionou suas palmas nas


bochechas do príncipe, moldando-as com sutileza.
Então levou-as para seu pescoço, traçando linhas imaginárias que o fazia
estremecer.

Por fim, diante a feição confusa do maior, Louis pegou outra vez em suas
mãos, movendo-as para o espaço entre seus rostos e, em um último
momento, arrastando-as para sua boca, a qual selou beijos castos nos nós de
cada dedo de Harry, nas rugas de suas palmas, nas veias de seus pulsos...
tudo sob o olhar atônito do outro.

- Está vendo? Eu posso toca-lo. Você ainda é um homem. Um homem de


verdade. E homens de verdade não desistem da bondade que ainda os resta.
Eles lutam para serem uma melhor versão de si mesmo. - Louis anunciou
firme, soltando-o.

Harry tremulou a boca como se fosse falar algo que não saísse, porque
qualquer sílaba que estivesse na ponta de sua língua desaparecera.

Portanto, seus olhos verdes passaram a fitar inquietos os beiços secos de


Tomlinson, escavando-os mentalmente com seus próprios.
- Harry? - Louis chamou-o, estranhando a súbita quietude do príncipe, que
agora o encarava com um jeito ligeiramente maníaco.

- Eu não queria corrompê-lo. Não queria tirar essa sobriedade amadurecida


que você esbanja. Mas... mas é tão, tão, difícil me segurar. - lamentou-se,
agarrando a gola da camisa de Tomlinson e puxando-o para si, trazendo
desesperado o rosto de Louis a milímetros do seu. - Você é um vício. E eu
sou péssimo com vícios. - seus olhos se encontraram. Os de Harry pareciam
doloridos. - Depois que os provo, me torno muito dependente. - declarou,
antes de mover sutilmente seus lábios até que estivessem pressionando os
de Louis, com veemência e vigor.

E, naquele instante, tudo sumiu. As confissões que ardiam, as lágrimas que


queimavam, a rejeição que o sufocava... foram embora.

Foram embora quando Harry encaixou a boca de Louis na sua de modo que
engoliu suas palavras, seus elogios e conselhos. De modo que se fortaleceu.

O ambiente mórbido, melancólico e depressivo foi substituído por um em


que anjos cantavam no fundo uma melodia harmônica enquanto seus lábios
deslizavam com fervor um contra o outro.

O tradicional Harry e seu fogo inapagável ressurgiu, tendo-o abrindo sua


boca em um convite formidável para que Tomlinson colocasse sua língua.

Louis não hesitou. Por nenhum segundo.

Eles nem se recordavam de estarem em uma igreja, ou em qualquer lugar


além de presos nessa bolha de suspiros, línguas molhadas sendo chupadas,
bocas insaciáveis e respirações ofegantes.

O fato era que Harry se entregava de uma maneira que simplesmente ter o
lábio mordiscado o fazia choramingar em deleite, e Louis não podia evitar,
ele adorava sua submissão.

Todos os escrúpulos que Styles já não possuía evaporaram ao que


Tomlinson chupou sua língua lentamente, causando um efeito direto de
quentura em seu corpo inteiro, repercutindo principalmente nas áreas
inferiores, em que seu membro ganhara vida mais rápido do que nunca.

Ele podia sentir.


Ele podia sentir tudo.

Podia sentir cada centímetro de sua pele se aquecendo sob o toque de Louis.
Podia sentir sua mente se relaxando com uma onda de satisfação.
Podia sentir suas bolas pressionadas com uma força calculada sobre o pau
coberto de Tomlinson, e seu próprio pau sendo espremido contra o abdômen
do outro.

Louis estava duro.


Harry nunca o presenciara duro antes.
E isso soava como o paraíso.

Porque porra esta era sua definição (carnal) de céu.

- Louis. - Styles gemeu baixo ao que o príncipe direcionou os lábios para


sua orelha.

Louis chupou a pele sensível abaixo dela, usando a ponta da língua molhada
para contorna-la, fazendo com que Harry tremesse em seu colo, com um
resmungo manhoso reverberando de sua garganta.

Não satisfeito, Louis desceu sua boca em linha reta, descansando-a no


pescoço de Harry, onde, sem dá-lo tempo de recuperar, começou uma série
de beijos úmidos misturados com mordidas, maltratando a pele macia de...
um jeito bom.

O príncipe angulou a cabeça para trás, perdido na sensação, afogado no


êxtase de saber que era Louis ali, Louis quem estava chupando seu pescoço
com tanta avidez - melhor ainda do que vinha sonhando nas últimas noites
(e vergonhosamente acordando com as calças meladas na manhã seguinte).

Era tudo tão erótico, desde os sons estalados que os lábios de Louis
produziam ao fazer sucções e deixar marcas coloridas contra a pele antes
pálida de Styles, até a aparência deprava do príncipe sentado sobre si, com a
cabeça jogada e os olhos cerrados, soltando resmungos (um pouco fofos) e
necessitados.

- Louis. - Harry chamou, fraco porém determinado, fazendo com que


Tomlinson parasse seu serviço no pescoço (se ele gastou dois ou três
segundos observando um pouco assustado as manchas vermelhas gigantes
que seus dentes assinalaram ali foi inevitável), dando-o atenção.

Havia essa luxúria em suas pupilas dilatadas que esclarecia completamente


suas intenções. Era sujo e delicioso. Era a representação de Harry Styles.

Com um sorriso malicioso acendendo em seu rosto, Harry encarou no fundo


das lagoas azuis e disse:

- Permita-me mostra-lo a língua que sei rezar.

( coloquem a música do capítulo - Take to Church - e ouçam até enjoar).

A parte consciente de Louis logo se manifestou, colocando-o sobre o


reconhecimento de que eles estavam sob o teto sagrado de uma catedral.

Tomlinson empurrou Harry com delicadeza para sair de seu colo, esperando
fugir.

Contudo, no momento que se pôs de pé para escapar, Harry também se


levantou, ainda portando aquela aparência predadora e lasciva,
encurralando-o contra a parede.

- Harry, você é maluco?

- Depois de triste, eu fico com tesão. - Styles admitiu, sua voz rouca, como
se fosse uma desculpa boa o suficiente para qualquer alegação.

- Não posso. Estamos em uma capela. Isso seria... isso seria errado de tantas
maneiras. Iria além de pecar. - Louis esforçou-se para manter-se são e não
gaguejar (e não ceder). O que provocou a extensão do sorriso sórdido que o
outro o lançava.
- Aproveite que está em uma instituição religiosa, Tomlinson. - sussurrou,
com a boca colada na sua. - E me deixe orar em você.

Harry caiu de joelhos em sua frente.

E, a partir daí, Louis sabia que não teria forças de recusar.

Não quando Styles puxou a barra de sua calça para baixo enquanto o
encarava com devoção irradiando de suas orbes verdes (escuras).

Não quando seus dedos hábeis despiram-o totalmente e aqueles grandes


olhos se fixaram em seu membro rígido e pulsante, hipnotizados, os lábios
crispando em ansiedade.

Harry não tardou para abocanhá-lo, parecendo faminto de prazer, e


completo de desejo.

Seus lábios avermelhados envolveram a cabeça de seu pau do modo mais


erótico que poderiam, provocando um sufoco em Louis que, após tanto
tempo sem atividades sexuais, sentia-se desarmado. A caminho do inferno.

Sua boca pegou um ritmo frenético de descer e subir, espalhando saliva e a


usufruindo para deslizar com maior facilidade, engolindo-o da ponta à base
eufórico, como se estivesse saciando suas fantasias (e estava, porque Louis
e seu pau deveriam ser a oitava maravilha dos tempos da Belle Epoque).

Harry fazia de propósito. Apertava sua língua contra o caminho da veia


grossa de propósito porque rapidamente aprendeu que Louis suspirava em
deleite ao executa-lo.
E, também intencionalmente, amava lambuzar a fenda da cabeça antes de
sopra-la, só para ouvir Tomlinson grunhindo com a mandíbula trincada.

Harry sabia onde por as mãos. Sabia que deveria fecha-las em volta das
bolas inchadas de Louis para tê-lo tremendo as coxas devido aos espasmos
de prazer.

Porque Harry era, em uma analogia muito distorcida, um deus do sexo


pregando sua palavra dentro da porra de uma igreja.
E Louis não diria nada senão amém.

- Controle-me. - Harry pediu de repente, guiando as mãos de Louis para


agarrarem seus cabelos.

Tomlinson suspirou, anestesiado. Ele honestamente tinha medo de


machuca-lo mas algo o dizia que Styles não era frágil (não nesse quesito).

Portanto, teve sua primeira tentativa empurrando-o fundo contra seu pênis,
sentindo-o esbarrar na garganta do príncipe ao que o nariz de Harry
alcançou seu abdômen.

- Porra. - Louis não pôde evitar xingar. O que fez com que Styles
imediatamente o olhasse ainda com o pau na garganta de olhos arregalados.

A visão das orbes de esmeraldas, com com cachos selvagens e seu pau
completamente abrigado na garganta do outro, Louis estremeceu.

- Porra, Harry.

E, ao escutar Tomlinson xingando e gemendo seu nome, Styles quase subiu


ao céu.
Fechou os olhos com força em uma satisfação tão intensa que sentiu o
próprio pau expelindo pré-gozo, precisando desesperadamente gemer por
aquilo.

Mas, que devido às condições atuais, de ter algo literalmente no espaço de


suas cordas vocais, seu gemido saiu abafado, estimulando o pau de Louis, o
qual apoiou-se na parede, certo de que cairia se não houvesse esse suporte,
suas pernas inaptas para sustentar seu peso.

Louis sabia que se aquela sensação o sucumbisse novamente ele não


poderia impedi-la.

- Harry, pare de me chupar. - ordenou, puxando-o com cuidando pelos


cabelos para trás, afastando-o de seu membro excitado.

Harry parecia drogado.


Ele piscava devagar, com esse ar quase avoado, as bochechas coradas e
pupilas enormes.

- Fiz algo de errado? - perguntou confuso, levantando-se.

- Não, não, de modo algum. - Louis se apressou para negar. - Você é


incrível demais, tanto que se me chupasse de novo eu viria de imediato em
sua boca.

Styles sorriu.
E aquilo parecia ser carinhoso apesar da situação.

- Eu não me importaria de engolir cada gota de seu prazer. - informou,


inspirando fundo. - Mas fico feliz que não tenha gozado, tenho planos
maiores para hoje.

Louis sentiu os batimentos cardíacos acelerando.


O que deveria ser patético porque ele estava sem calças, com o mastro pra
cima dentro de uma catedral.

- O que deseja? - perguntou, assistindo Styles desmanchar o sorriso em uma


feição mais firme... e necessitada.

- Quero que me toque, Louis. Quero que espalme sua mão, seu calor, em
todo o meu corpo. Quero que chupe meus mamilos enquanto masturbe meu
pau com força. - disse manhoso, sem hesitar. Ele expirava sensualidade, e
uma beleza inocente que nem suas palavras sujas poderiam corromper.

Ele parecia um anjo..


Até mesmo seu vestuário consistia em uma camisola de seda branca.
Talvez asas não fossem mais um pré-requisito para o cargo.
Ou então, a punição para anjos pervertidos fosse justamente não voar.

Louis desviou seu olhar por um breve instante, fixando-o em uma extensa
mesa de mogno vazia mais em destaque, na zona central de frente da
capela. Sua mente com pensamentos errados e turvos que o remetiam a um
arrependimento por ao menos cogita-los.
Mas, Harry, percebeu.
E seguiu seu olhar.
E encontrou-o pairado naquela mesa.
E sorriu.

Porque a ideia do errado é a maior tentação que há.

Aproveitando-se do devaneio de Louis, ele o prendeu pelo pulso e o puxou


consigo até estarem na borda da mesa, Tomlinson observando-a silencioso,
quase em paralisia.

- Isso seria pecado. - Louis reproduziu, aparentando-se distante com uma


entonação robótica.

Harry soltou uma curta risada debochada.

Mas Louis não reagiu.


Ele continuou ali, inerte da realidade.

Foi então que Styles se sentou na beirada da mesa, ele próprio se despindo
da camisola e atirando-a em qualquer direção. Seu pau estava duro e
levantado, implorando para ter um pouco de fricção.

- Você tem medo. - Harry analisou, num fio de voz. - Você tem medo de que
se se entregar agora, não haverá mais volta. Porque sabe que resistir à
tentação fica mais difícil depois que já pecou uma vez.

Tomlinson ergueu o rosto, concordando em desistência com um aceno.

- Mas, se quer saber, eu já vivo no próprio inferno, Lou. - Harry admitiu. - E


o único paraíso para onde sou enviado é quando estou sozinho com você.

O príncipe de Riverland o fitou atônito.

Percebendo que Harry não era um anjo, nem o diabo.

Ele era o paraíso.


- Minha igreja não oferece absolvições - Louis afirmou. - Ela só me diz:
Louve entre quatro paredes. - as lagoas azuis se escureceram. - E é isso que
eu farei agora.

Assistindo Styles sorrir de um jeito indecente, Tomlinson avançou para


beija-lo, entrelaçando suas línguas com ondulações eróticas que atearam
fogo em Harry, o qual arqueou-se para trás, expondo seu peitoral desnudo
deixando claro o que almejava.

Louis lambeu os próprios lábios tendo o vislumbre de seus mamilos


eriçados, lembrando de como ficaram lindos e arrepiados sob seus pincel, e
imaginou qual seria o estrago então com a sua boca.

Sem se segurar, curvou-se para baixo, inspirando próximo do peito


esquerdo de Harry e escutando seus batimentos. Eram fortes, rápidos, e
soavam como uma canção ensaiada de Dionísio.

- Tenha-os. Você não imagina o quanto ansiei por esse momento, Louis. -
Styles suplicou arrastado, erguendo-se mais para que a boca de Tomlinson o
tocasse.

Fascinado, Louis raspou seus lábios contra o bico do mamilo, fazendo com
que Harry se desmanchasse em um suspiro.

Colocou sua língua para fora e salpicou em toda a circunferência rosada,


pressionando-a calma e ansiosamente, testando-o, e recebendo uma réplica
maravilhosa ao que Styles gemeu manhoso um adorável 'por favor'.

Louis percebeu que quanto mais chupasse seu peito, mais Harry se
libertava, começando a emitir sons cada vez mais altos e tremer todo seu
tronco com espasmos de prazer.

Era fácil agrada-lo.


Harry era muito sensível e suscetível ao seus toques, chegando perto de
berrar sufocado quando Tomlinson mordiscou o mamilo esquerdo enquanto
massageava com a digital dos dedos o direito.
Ele provocava-o, e Harry não reclamava. Ele só pedia por mais - de seu
jeito chorado e desesperado que surtia um efeito não muito nobre entre as
pernas de Louis.

Tomlinson sentiu pena ao reparar em como deixara os mamilos inchados e


vermelhos, e ainda assim Harry aproveitava e usufruía de seus pequenos
estímulos... assim, decidiu que queria oferecê-lo mais.

- O-Oh, Lou, você é tão bom e- Harry literalmente travou ao perceber que
além de ter a boca de Louis em seu peito, agora sua mão acabara de
descer.... e apertar seu pau.

E esse seria o fim. Harry sabia.


Ele morreria para ter seu pau nas posses de Louis. E agora ele tinha.

Seu fim.

Louis durante alguns segundos permaneceu com a mão parada, saboreando


a realização da vontade que teve desde que pintou Harry nu.

Seu membro pulsava e era quente contra sua palma, e, provavelmente


impaciente pela paralisia do menor, Styles mesmo começou a impulsionar
seu quadril para cima, tentando receber alguma fricção lá.

Mas, ele não conhecia Louis.

E iria aprender agora que Tomlinson sabe exatamente o que fazer. E como
fazer.

Em um instante Styles grunhia impaciente pela falta de contato, e no


outro.... ele reprimiu um grito, de surpresa e prazer denso, ao que Louis
começou a masturba-lo sem piedade, serpenteando sua mão para cima e
abaixo em toda a extensão com uma velocidade precisa para fazer a mente
de Harry girar.

- Oh, m-meu deus. Louis. Lou. - Styles gemia à plenos pulmões,


satisfazendo-se com a ideia de que Tomlinson estava lambendo seu mamilo
e tocando seu pau com essa agilidade.
Era belo e poético a satisfação que seus lábios reproduziam em uma
abertura oval, entregando o quanto ele amava aquilo.

E, como se o pobre garoto já não estivesse com lágrimas se acumulando nos


olhos, choramingando com a sensação intensa que Louis o provocava, o
príncipe de Riverland resolveu ir além.

Harry quase ía reclamar (se fosse capaz de interromper seu próprios


gemidos) pela ausência de fricção ao que Louis afastou-se de seu tronco.

Contudo, Harry quase teve um ataque ao que Tomlinson colocou-o mais ao


centro da mesa, empurrando-o pelo ombro para que ele se deitasse sobre
ela, totalmente estendido na superfície de madeira com as pernas dobradas e
os pés pressionados contra as beiradas.

A visão que Styles dispunha então era do teto. Do teto de vitrais coloridos
... que, em questão de um segundo, ficou turva desde que Louis retomou os
movimentos em seu pau.

Já a visão de Louis era outra. Era redonda e parecia macia. Fazia com que
sua vontade de devora-la fosse maior que sua conduta ou qualquer merda
que se atrevesse a impedi-lo de aproximar o rosto de suas nadegas brancas e
selar um beijo sobre seu buraco.

Harry imediatamente tensionou de susto. E então relaxou. E, quando


Tomlinson começou a estimula-lo com a língua naquela região, ele viu o
céu.

Louis grunhiu, sentindo nada além de Harry ao seu redor e não demorou
muito até ele circular a língua na entrada do garoto, provando-o
despudoradamente.

Harry soltou um silvo estridente quando balançou os quadris de volta para a


língua de Louis, agarrando o ritmo ao que o príncipe começou a empurra-la
uma e outra vez contra a pele antes de se curvar profundamente em seu
buraco segundos depois.
- Oh merda, sim, meu rei! Oh meu ... Mm! - Harry choramingou,
movimentando-se incrivelmente rápido contra o rosto do menino, desejando
mais e mais.

Louis podia sentir que seu próprio cuspe escorria por seus lábios, seu
queixo e suas bochechas e, se isso não fosse o mais quente além dos
gemidos incrivelmente gritados, desesperados, de Harry, ressoando em eco
na catedral, então ele não sabia o que mais era.

Ele imaginava que Styles era barulhento pela forma que gemera na noite
que o pintou, mas não fazia ideia do quanto.
Se ele estivesse em sua órbita responsável, se atentaria na possibilidade de
alguém escuta-los de fora, mas honestamente naquele cenário tudo que o
importava era Harry entregue, com lágrimas escapando de seus olhos,
perdido em uma zona de prazer que o deixava se contorcendo sobre a mesa.

Harry era insaciável e repetia um mantra de Mais mais mais até que
Tomlinson enrolasse a ponta da língua para dentro de sua entrada,
esfregando-a asperamente contra suas paredes internas, causando-o
espasmos que o levavam a tensionar os músculos internos, arquear as costas
e agitar as pernas.

- Oh, Lou, Lou. Pare! N-Não, continue. Continue, por favor. Espere, Pare! -
Styles era essa bagunça de gemidos incoerentes que Tomlinson se esforçava
para filtrar os que faziam sentido dos que passavam dos limites ("isso
mesmo, me coma a fundo, meu rei").

Tomlinson ainda masturbava-o na velocidade da luz, concentrando-se em


satisfazer seu pau inteiramente melado de pre-gozo - que não parava de ser
expelido da fenda - e não se afogar na própria zona de saliva que estava o
buraco de Harry.

- Louis, pare, ou eu vou gozar. Eu vou gozar, oh Deus! - Harry alertou


desesperado o suficiente para que Tomlinson interrompesse todos os seus
movimentos, e desvinculasse seu rosto de sua bunda, endireitando-se e
escutando o estalo que sua coluna fez ao estar ereta novamente após tanto
tempo.
Assim, Styles levantou a cabeça, com uma expressão de desagrado.

- Por que parou? - indagou contrariado.

E Louis quis da-lo um peteleco na testa.

- Porque você mandou eu parar. - deu de ombros, confuso.

- O quê?! Não, não, você não deve levar em consideração nada que saia da
minha boca quando estou perto do meu orgasmo. - Harry proferiu,
formando um bico descontente com os lábios.

Ele parecia cansado, suado e bonito. O suor formando uma película


cintilante em todo o seu corpo.

As luzes dos vitrais coloriam-o, tendo uma reflexão de tonalidade vermelha


acobertando de seu pescoço para baixo, erótico e sensual, enquanto seu
rosto era iluminado por um feixe branco, que o remetia à algo cristalino,
imaculado.

Por um momento de distração, Tomlinson fitou a mão de Styles, que


descansava sobre o próprio estômago.

- Vejo que deixou as unhas pintadas. De preto. - constatou, sorrindo com


uma pitada de orgulho realçada.

- Eu quero que eles todos e suas regras malditas vão se foder. - Styles
respondeu, piscando com adoração para suas unhas, reluzindo-as na frente
de sua face.

- Isso me inclui?

Harry abaixou a mão lentamente, repuxando o canto da boca lascivo e


insinuante.

- Não. Você... eu quero que você foda a mim.

Tomlinson concordou enfeitiçado, envolvendo seus dedos no pulso do


príncipe e puxando-o para fora da mesa.
Harry pulou da borda, aterrizando em frente a Louis, rente a ele.

Os dois se encaravam, o som de suas respirações superficiais sendo o único


a entrecortar o silêncio.

- Consuma-me. - Styles sussurrou. - Faça-me seu, Louis, no chão deste


altar.

Tomlinson riu brevemente.

- Isso é alguma cerimônia de casamento distorcido? - Louis rebateu, a voz


leve e descontraída.

Contudo, Harry não o acompanhou. Ele permaneceu sério, fitando-o


afundo.

- O que você diria? Qual seria sua resposta se isso realmente fosse?

E sua pergunta soava séria demais no contexto.

Ele o encarava em alguma expectativa estranha que fez o menor divagar


sobre como eles conseguiam ir de assuntos eróticos para sóbrios assim.

Tomlinson se calou, um tanto assustado pela ansiedade retratada nas orbes


verdes do príncipe dos cachos.

Então, desarmado, Harry disfarçou sua expressão visivelmente


decepcionada, e, em um átimo, retomou a situação, reformulando-a para um
ponto secundário.

- Louis William Tomlinson, você aceita foder Harry Edward Styles por livre
e espontânea vontade? - Harry indagou, balançando as sobrancelhas pra
cima e para baixo.

- Aceito. - Louis respondeu sorrindo, em um fio de voz.

- Bem, então está esperando o que para beijar a noiva, quer dizer, vir me
foder?
Louis parou de esperar. E fez o que Harry insinuou, colando seus lábios
com uma paixão lenta, intensa, e calma.

Segurou-o pela nuca enquanto ambos, ainda se beijando, começaram a


agachar, até que estivessem ajoelhados, saboreando a presença um do outro
nessa atmosfera inflamada de luxúria.

Foi natural quando Harry se inclinou para trás, nu e vulnerável, com seu
pescoço coberto de marcas vermelhas (que lembravam tinta sobre tela),
deitando-se parcialmente com os cotovelos mantendo seu tronco arqueado.

- Hora da lua de mel, meu rei. - disse com um ar presunçoso, assistindo com
idolatria Louis retirando a própria camisa e largando-a de qualquer jeito no
canto.

Harry pendeu a cabeça para o lado ao ter Louis avançando sobre ele,
deitando-se por cima e fazendo, consequentemente, com que seus membros
eretos se encontrassem.

Era decisivo e glorioso, Tomlinson poderia descrever essa cena e


transforma-la em poesia. Harry era o eu lírico da era romântica, idealizado,
materializado, e descrito como o inalcançável.

Louis levou dois de seus dedos para a própria a boca, umedecendo-os a fim
de desliza-los pela entrada de Harry, para prepara-lo melhor.

Todavia, Styles negou com a cabeça.

- Apesar de eu apreciar essa gentileza que você pretendia, e poder gozar


com a visão do lindo príncipe chupado os dedos para me tesourar, eu recuso
a oferta. - cantarolou.

- Harry. - Louis o deu aquele olhar preocupado. - Irá doer se não estiver-

- Não se preocupe. Ficarei bem. - Styles o assegurou. - Quero que me abra


com seu glorioso pau, Louisss.

Tomlinson concordou, apoiando-se em seu antebraço para não colocar tanto


do seu peso sobre Harry, porque independentemente do quão garantisse
estar bem ele ainda o enxergaria como uma peça frágil que merece ser
tratado com delicadeza.

Louis bombeou rapidamente seu membro, espalhando pre-gozo para


lubrifica-lo ao máximo.

Mordeu o lábio enquanto esfregava a cabeça de seu pênis contra o buraco


de Harry, o maior grunhindo os dentes desesperadamente antes de soltar um
som. "Rápido" Harry disse fracamente.

Tomlinson deslizou aos poucos para dentro, sentindo as paredes quentes de


Harry o englobarem.

Styles já estava com os olhos fechados, inspirando fundo em preparação.


Não parecia estar com dor, só anestesiado, e satisfeito ao ser completamente
preenchido.

- Tão bom. - comentou, mordendo os lábios.

Louis concordou em um aceno, extasiado demais para verbalizar uma


resposta.

Então, Tomlinson saiu e entrou de novo.


E de novo.
Acostumando-se com a sensação gostosa e inebriante de ter Harry ao redor
de si.

Já nas primeiras investidas Styles choramingara em aprovação, começando


a lançar seu quadril para baixo para encontrar seus movimentos... e engolir
a maior quantidade que pudesse de seu pau.

- Eu amo seu pau - Harry comentou, embora tenha sido imediatamente


interrompido por um gemido inesperado quando o príncipe passou a
arremeter nele com um ritmo constante.

Louis olhou para Harry, cuja mão estava sentada em seu peito enquanto ele
saía e entrava de volta, a boca do outro se abrindo sobre o impacto e
escoando lamúrias necessitadas.
- Merda, Harry. - ele xingou, já acelerando o ritmo ao que Styles mexia os
quadris para obter mais do pau de Louis como ele simplesmente não
conseguisse o suficiente.

Louis fechou olhos brevemente, apenas querendo se concentrar em


encontrar aquele ponto em Harry que o tornaria fraco. Ele fez o esforço
para encurralar seus quadris de volta enquanto Harry tremia, o príncipe
gritando enquanto Louis gemia fraco em seu ouvido.

- Você gosta disso? Gosta de ser penetrado com força, princesa? - Louis
provocou ao apertar a cintura do menino, angulando-o de modo a atingir
sua próstata com precisão, assistindo o universo de Styles desmoronar ao
que este lançou a cabeça para trás, abrindo a boca para gemer no entanto tão
anestesiado que nenhum som saiu. Sua respiração estava desregulada e
ofegante e Tomlinson estaria mentindo se negasse que não sentira um pouco
de orgulho por deixá-lo nesse estado.

- Sim, porra, sim. - Harry choramingou, tentando rolar os quadris para


sentir a cabeça do pênis de Louis acertar sua próstata novamente.

Quanto mais forte Louis se aprofundava em seu ponto sensível, mais alto o
príncipe lamentava de prazer e arranhava o peitoral de Louis com suas
unhas pintadas.

O prazer se alastrando por cada célula dois dois, levando Tomlinson a


xingar palavrões que ele nem conhecia com a expiração pesada e suor
escorrendo por suas costas.

Harry era como uma flor desabrochando sob seu toque. Macio igual as
pétalas da rosa. Delicado e encantador.

Os sons que ele reproduzia eram estridentes e altos. E Louis amava como
Harry não se prendia ou escondia seu prazer. Pelo contrário, ele deixava
claro para o príncipe (ou qualquer um que resolvesse circular a região da
catedral) o quanto gostava de sexo. O quanto gostava de ser fodido. O
quanto gostava de Louis o tomando para si.
Tomlinson olhou entre eles, notando como o pau de Harry estava tão
molhado e rígido. Com cada impulso, mais pre-gozo espirrava como se
estivesse tentando conter a vinda de seu real gozo.

- Oh meu Deus Louis! Foda ali mesmo. Mais uma vez, p-por favor! - Harry
choramingou ao que continuava a trazer seu quadril para baixo para
encontrar as investidas de Louis que estava surrando seu pau logo em sua
próstata, arremetendo impetuosamente no exato lugar.

As mãos livres de Harry já estavam chegando para brincar com seus


próprios mamilos. Eles sempre foram bastante sensíveis. O apertar e
beliscar entre seus dedos trêmulos só aumentou seu prazer.

Os únicos barulhos para os próximos minutos foram gemidos e soluços de


Harry, os xingamentos igualmente altos de Louis e o som obsceno e
constante de pele batendo contra pele.

Neste ponto, Harry estava quase em lágrimas, amassando os mamilos com


força, costas arqueadas e pau pulsante. Tremendo-se pelos intensos
espasmos.

- Eu - eu sou estou tão perto! - Harry gemeu, seus choramingos agudos


saindo como um mantra, uma sequência constante de "Louis" deixando seus
lábios enquanto suas lágrimas finalmente rolavam pelas bochechas.

Harry estava em um estado de felicidade tão puro, sua cabeça estava alta
nas nuvens, nem mesmo lhe dando forças para mover suas ancas de volta
para retornar os impulsos, permitindo que Louis dominasse o ritmo e
penetrasse-o com a velocidade máxima, obrigando Styles a firmar seus pés
no chão e resfolegar em busca de oxigênio.

- Estou perto! Muito perto! L-Louis oh meu ... merda! - Ele interrompeu
suas próprias palavras no pescoço de Louis, com mais lágrimas em seus
olhos.

- Goze, Harry. Você está tão molhado. Eu posso sentir isso. Você está
apenas implorando para gozar. - Louis rosnou entre seus impulsos finais.
Seus próprios músculos começaram a doer, mas ele podia sentir seu
estômago apertar e seu ápice se aproximando rapidamente.

Com mais três investidas certeiras em sua próstata, Harry veio com um
estridente gemido no ombro de Louis, espalhando jatos longos de gozo pelo
peitoral de ambos.

Segundos depois com um último impulso profundo, Louis gozou dentro do


príncipe, murmurando um 'Caralho, Haz' que ele esperava esquecer mais
tarde.

Louis despencou exausto ao lado de Harry, a respiração muito ofegante para


se regular em algum momento próximo. Tudo em sua mente nublada
divagava sobre como Harry era maravilhoso tendo um orgasmo, e que a
forma que seus traços se paralisavam em prazer poderia ser um dia
retratados em uma tela por Louis - o que seria estranho pinta-lo enquanto o
fodesse, mas Tomlinson se recusaria a pedir que outra pessoa fizesse esse
serviço por ele.

- Você é do tipo que dorme depois de gozar? - escutou Harry eventualmente


perguntar, virando seu rosto para deparar-se com Styles o encarando
intensamente.

- E-eu... não sei. Acho que seria muito desrespeito. Dormir sem remorso
com Jesus me encarando não parece pertinente. - Louis respondeu, sentindo
uma pontada de culpa ao encontrar o olhar neutro da estátua de Jesus na
cruz sobre ele. - Como se já não bastasse ter pecado dentro de sua capela.

- Bem, teoricamente foi dentro de mim, então não sei se isso conta. - Harry
riu, levantando-se.

Louis reprimiu uma risada, pensando que cometeu delitos o suficiente para
adicionar outros pecados na lista, e se pôs de pé, procurando suas roupas.

Encontrou somente a calça.... já que ao observar Harry flagrou-o limpando


o esperma de seu peitoral com a camisa de Tomlinson.

- Sério, Harry? - resmungou, bufando descrente.


Styles o lançou um sorriso fofo, com a pele corada, que desarmaria
qualquer repressão.

- Perdão. Minha camisola é egípcia, seria um pecado arruina-la. - disse em


trocadilho, vestindo-a.

- Você é terrível. - Louis comentou, pegando de volta sua camisa suja e


limpando-se das faixas de sémen que haviam espirrado em seu abdômen.

Deveria ser próximo das três da manhã e era necessário que eles fossem se
deitar para não despertarem cansados e com sono na manhã seguinte.

Contudo, no caminho entre os bancos, enquanto caminhavam lado a lado


em silêncio, Harry parou e apontou para um canto no chão.

- Oh, veja, o que é isso?

Louis reconheceu, agachando-se para apanha-lo.

- É o livro de poemas que eu trouxe para ler antes de... bem, te achar.

Styles o puxou sem educação alguma de sua mão, averiguando a capa


vermelha.

- É de Yeats, ele é meu poeta favorito. - Tomlinson acrescentou. - Eu sei


que é o seu também.

Harry folheava as páginas distraído até finalmente levantar seu rosto e


encarar Louis.

- Qual a sua poesia favorita? - O príncipe de Riverland questionou diante o


silêncio do maior.

Tardou alguns minutos para que Louis obtivesse uma reação de Harry, que
após uma visível hesitação, recitou.

- Se a um espelho e depois a outro,


pergunto se tudo vai bem
não é por vaidade:
procuro o rosto que tinha
antes do mundo o transformar.

***

Styles avisou Louis que ficaria um tempo ainda na capela, pois gostaria de
ler sozinho e se perder em seus próprios devaneios.

Eles se despediram com um beijo molhado, e Harry acrescentou quase


inaudível um 'Obrigado, Lou' em sua boca, antes de Tomlinson desejar boa
noite e sair.

Já em seu aposento, Louis ainda demorou uma hora sem que o sono o
levasse, bombardeado pelas lembranças do episódio recente e de sensações
estranhas no interior de seu estômago.

O sol estava prestes a nascer quando Tomlinson escutou um barulho


estranho vindo da porta, como se alguém estivesse claramente lá sem
pretenção alguma de adentrar, e acendeu o abajur.

Nos segundos seguintes um papel deslizou pela soleira, e quem quer que
estivesse lá foi embora.

Desconfiado, Louis levantou-se de sua cama e o tomou entre os dedos,


desembrulhando a folha amassada.

De imediato reconheceu ser um poema retirado do livro de Yeats.

"Ele deseja os tecidos bordados do paraíso

Tivesse eu os tecidos bordados do paraíso,


Adornados com luz dourada e prateada,
Os azuis, sombrios e escuros tecidos
Da noite e da luz e da meia-luz,
Eu os estenderia sob seus pés:
Porém, sendo pobre, tenho apenas meus sonhos;
Eu estendi meus sonhos sob seus pés;
Pise suavemente porque você está pisando em meus sonhos."

***

Notas da autora: ❤
Chapter Forty One

Episode: Welcome to the Jungle

- Você nunca imaginou o porquê de Liam Payne nunca estar sendo exposto
no jornal? - Andrew interrogou Zayn, enquanto este tentava ler uma
enciclopédia no Salão dos Homens. - E de manter toda essa linha de
perfeição sob uma cautela estudada?

Malik bufou com um reviro de olhos.


Ele honestamente não gostava da presença de Andrew. Julgava-o um
homem de má índole e pretenções asquerosas.

Portanto, preferiu se esquivar da pergunta.

- Com licença, Vossa Alteza, não percebe que estou ocupado com minha
leitura? - Malik rebateu, trincando a mandíbula em um sinal óbvio de
irritação.

Mas Andrew não cedeu.


Ele ousou ir além ao se sentar na poltrona ao lado da de Zayn, inclinando-se
para mais próximo dele. Seu olhar parecia sério e determinado.

- Todos nós sabemos que ele tem meio que uma queda por você. E, se
nossas desconfianças estiverem certas, você pode nos ajudar a fazer uma
armadilha para ele.

Malik o encarou incrédulo, pois em qual mundo paralelo esse indivíduo


residia ao ponto de sequer crer que Zayn toparia qualquer coisa do tipo.

- Você perdeu seus escrúpulos? - o príncipe de Arlen grunhiu, fechando a


mão em punho. - Liam não está por trás dessa baixaria, ele é superior.
Agora, não me surpreenderia se descobríssemos que és você o autor
anônimo. - acusou.

Se pudesse, Zayn cuspiria em sua cara para finalizar seu desfecho triunfal.
Mas tomar advertências não era um pensamento agradável logo ao final da
temporada.

Assim sendo, o príncipe enfurecido fechou a enciclopédia e se levantou,


ansiando em sair daquele Salão o quanto antes.

- No fundo você tem suas desconfianças, Vossa Alteza. - escutou Andrew


reverberar mais distante. - Só não quer aceita-las.

E Zayn realmente se esforçou para que no resto do dia conservasse seus


pensamentos longe do que o que foi-lhe dito, porque Okay, Liam era o
único a saber de seu distúrbio com o peso (e coincidentemente tê-lo sendo
referido na edição de dias depois) - mas alguém poderia estar facilmente
espionando-os. E, certo, Liam tinha mesmo essa atmosfera majestosa ao seu
redor... o qual não é nada demais. E, bem, Payne abertamente repudiava a
existência de Harry... contudo, ele não acha que aquele príncipe do sorriso
bondoso seria milimetricamente capaz de jogar tão baixo para prejudicar
alguém.

Sua maior suspeita o levava a Andrew.


Andrew e seu jeito arrogante e impulsivo.

***

Quando Louis entreabriu suas pálpebras pela primeira vez naquela manhã,
ele se sentia renovado.
Apesar das poucas horas de sono, seu cansaço não era tão gritante, e sua
cabeça não doía.

Ele acordou com a imagem de Jezebel com um espanador de pó balançando


sobre a superfície empoeirada de alguns aparadores de madeira que Louis
julgava inúteis.
Ela não havia o notado e assoviava uma melodia distraidamente, até que
Tomlinson bocejasse e a fizesse pular em alerta.

- Oh, Vossa Alteza, perdoe minha conduta. Tenho péssimos hábitos


incontroláveis de sempre cantarolar. Desprezo o silêncio. - a criada dos
cabelos loiros disse envergonhada, e essa foi muito provavelmente a maior
fala que ela já tenha direcionado ao príncipe.

Louis imediatamente negou, levantando-se da cama.

- Não se preocupe, Jezebel. Eu não me incomodo. - garantiu-a, assistindo-a


encara-lo de um jeito perplexo por uma fração de segundos até que
retomasse uma expressão reservada e mais neutra.

- Bem, ainda assim, devo ser mais cuidadosa.

E havia essa formalidade nela que há um tempo atrás, no início da


temporada, era considerada exemplar sob a perspectiva de Louis... e que,
agora, soava forjada e vazia.

Esse devaneio de como ele costumava ser um indivíduo semelhante - ou até


mais impassível que Jezebel - o assustara. Ele notou que essas convenções
morais sobre comportamento acabam por criar abismos que o impedem de
se relacionar com os outros de uma forma espontânea.

Antes de adentrar o Palácio de Vidro Louis nem sequer conversava com sua
família sem colocar termos decorados e pronomes excessivos no meio das
frases.
E, honestamente, averiguando a fundo... isso soava horrível. Soava horrível
trata-los de um modo igual ao que tratava desconhecidos, visitantes
estrangeiros e diplomatas.

Sua mãe merecia ter mais de seu afeto. Seus irmãos e pai também.

E tudo que ele os fornecera era essa máquina humana que pouco se
exprimia, e que quando o fazia sempre era sólido e privado, não os cedendo
espaço para que de fato entrassem em sua vida. E o conhecessem além da
pele e osso.
Conhecessem essa versão descontraída, otimizada e mais humanitária que
ele vinha descobrindo dentro de si.

Se Louis escavasse um pouco mais, talvez, encontraria sua juventude


intocada e os sonhos e ilusões de menino que ele nunca se permitiu usufruir.

- Você está bem, senhor? - ouviu Jezebel chama-lo, interrompendo sua


divagação.

- Oh, sim, sim, estou.

Louis piscou atordoado enquanto ela concordava e se virava para retomar


suas tarefas, indiferente.

Ele esperava jamais voltar a ser seu antigo eu.

- Ew, o que é isso?! - a voz alta de Lorena o assustou, já que ele nem havia
notado quando ela chegara no aposento.

A criada mais nova fazia uma careta, apanhando a camisa suja de ... gozo...
que Louis esquecera no canto da cômoda. Merda!

Ao que ela desamassou e esticou a camisa entre as mãos, revelando as


manchas secas estampadas sobre o tecido fino, Louis arregalou os olhos.

- Oh, eu... derramei chá nela. - Tomlinson mentiu, mantendo sua melhor
expressão confiante a fim de não se delatar.

Mas Lorena continuou incerta.


Ela arqueou somente uma das sobrancelhas antes de aproximar seu nariz de
uma das manchas e inspirar o odor para detectar o que podia ser.

Louis teve que reprimir uma ânsia com essa cena, jurando que a imagem de
sua jovem criada cheirando os rastros de gozo de Harry era perturbador o
bastante para atormenta-lo nos próximos vinte pesadelos.

- É, tem cheiro de chá branco mesmo. - Ela concluiu após alguns segundos
apurando.
Tomlinson nem teve voz pra verbalizar uma resposta e se limitou a
concordar com um aceno meio assombrado.

- Enfim, Lou, hoje em vez de terem a aula regular de instrumentos musicais


da quarta-feira, esta será substituída pela aula de caça.

- Aula de caça? - Louis indagou confuso.

Jezebel, a qual estava quieta até então, pronunciou-se:

- Sim, Vossa Alteza. É uma tradição no último mês da temporada os


príncipes serem submetidos à aulas de caças para lapidar tal habilidade,
embora a maioria esteja muito acostumada a pratica-la em seus próprios
reinos. Aqui só disponibilizam arcos e flechas, armas de fogo são proibidas.

- É por isso que demorei para chegar, fui buscar... seu uniforme de caça
maravilhoso! - Lorena acrescentou entusiasmada, apontando para onde
pendurara o vestuário padronizado e refinado que consistia em colete de
couro, uma camisa de caxemira e calças culotes parecidas com as de
montaria. Todas em tonalidades neutras para não chamarem atenção e
espantarem os animais.

***

Louis às vezes gostaria de não ser ligeiramente hipócrita e seguir à ferro


seus próprios dilemas.
Como, não é pela razão de Harry estar sempre buscando por atenção alheia
com seus trajes chamativos que Tomlinson tivesse o direito de coloca-lo em
qualquer estereótipo "espalhafatoso".

Todavia, ainda assim, o príncipe de Riverland seria um mentiroso se


negasse que não pudesse praticamente visualizar a figura esguia de Styles
com seus cachos soltos e volumosos, sob uma grande capa vermelha e
peças extravagantes, com um conjunto de arco e flechas maior que os de
Robin Hood, saltitando entre os demais como se monopolizasse a floresta.

Mas, claro, de Harry não pode se esperar nada e - simultaneamente - pode


se esperar tudo.
Pois no instante que a última leva de príncipes saiu da carruagem
(desnecessária, já que a floresta era uma extensão dos jardins e eles eram
príncipes saudáveis, podiam andar com as próprias pernas) e Louis pisou no
solo compacto, a primeira impressão que teve foi de ter desembarcado em
um velório.

Ali, quase no centro da roda de príncipes que chegaram em traslados


adiantados, encontrava-se o célebre herdeiro de Malta, Harry Edward
Styles, que - para a maior surpresa de Louis - estava tudo, menos radiante
ou colorido.

Conforme se aproximava mais, piscando lento com a mente transtornada,


Tomlinson constatava que Harry estava de fato vestido apropriado para um
velório.

Suas indumentárias eram completamente pretas. Desde as botas de bico fino


para as calças justas, a jaqueta de linho cru, e um lenço de seda no pescoço.
Em sua cabeça, ao invés do tradicional chapéu de caça nobre com a pena
lateral, Harry usava a porra de um véu de reza. Véu preto. Cobrindo
superficialmente seu rosto e cabelos.

E, no final de tudo, embora Styles não trajasse nada multicolorido, ainda


assim conseguia ser excêntrico e se destacar.

Logo que o avistou, Harry abandonou qualquer conversa que estivesse


tendo com aquele grupo de príncipes para interagir com o (seu) príncipe.

Ele não parecia nada entusiasmado, nem mesmo enquanto reverenciava


Louis de sua maneira zombadora e irritante.

- O que o ocorreu? - Tomlinson perguntou sem delongas, atordoado pelo


véu ... e Deus Cristo até as unhas pintadas acabaram combinando com esse
visual. - Onde estão suas roupas brilhantes? Cadê Carolina?

- Querido isto não é uma comemoração. - Harry alegou com desprezo,


franzindo o nariz. - É um enterro. Não submeteria minha preciosa Carolina
a um evento fúnebre.
Sua voz soava irônica e colérica, ao que sua pose rígida declarava
facilmente seu posicionamento contrário à aquilo.

- Essa... fantasia de viúva desfalecida era mesmo necessária?

- Ela expressa meu luto. - Harry disse, franzindo as sobrancelhas, como se


fosse óbvio e um absurdo contesta-lo.

Por um momento Louis fitava Styles pensando no que dizer, e no outro ele
já havia o perdido de vista.

Harry andava de um canto ao outro inquieto, olhando a sua volta.

- O que está procurando? - Louis perguntou, sentindo sua paciência indo


aos poucos já que seguir Styles igual um animal de estimação (ou uma mãe
preocupada com essa criança agitada) não exatamente o agradava.

- Procuro algo que sirva de palco.

- O quê?!

- Um tronco de árvore, uma pedra grande, ou... ou... - Harry continuava


percorrendo o perímetro, tendo agora a atenção de alguns príncipes que
passaram a assistir os dois em diversão.

- Harry, estamos na borda de uma floresta não have-

- Ali! Perfeito! - Styles comemorou, apontando para uma espécie de tronco


cortado e não tardando antes de correr saltitante até lá.

Louis inspirou fundo.


Expirou.
Contou até dez.
Ele não tinha disposição para acompanhar essa euforia de Harry portanto
permaneceu estatístico de onde estava, observando calado no que aquilo
resultaria.

- Ei, vocês! Isso mesmo, todos vocês! - Styles chamou, sobre a 'plataforma',
para que os príncipes se aproximassem. - Venham, por favor, tenho algo a
pronunciar!

Partindo-se do fato de que Harry sempre carregaria a fama polêmica de sua


persona, todos foram curiosos para perto dele, amontoando-se em volta de
onde Styles mantinha-se elevado sobre o tronco, gesticulando como um
verdadeiro líder.

- Tenho uma proposta para sabotarmos essa aula de caça! - anunciou


entusiasmado. - Se todos nos unirmos e-

- Você ficou louco? - algum príncipe interviu, os demais iniciando risadas


discretas daquilo.

- Nem ao menos me permitiu explicar! - Harry rebateu, parecendo


visivelmente aborrecido.

- Não há explicação, Vossa Alteza. Queres anular a aula menos tediosa que
podemos ter destes três meses! - uma segunda voz (mais educada) afirmou,
levando Harry a fechar seus punhos com força nas laterais do corpo.

- Estúpidos, egoístas! - xingou-os, causando assim uma imediata e


comunitária crise de risos.

- Sério, Styles? - Andrew confrontou-o, empurrando quem estivesse


atrapalhando o caminho até estar na frente de Harry, olhando-o por baixo. -
Logo você, com toda sua moral digna, pretende nos xingar? Sobretudo com
esses... trapos patéticos.

E era quase paupável a discórdia instaurada entre os dois.

Apesar do véu esconder parcialmente o rosto de Harry, seu rubor de raiva e


seu olhar mortal se sobressaiam.

Foi quando ele explodiu.

- Vocês consideram isso um esporte para nobreza?


- berrou, respirando ofegante. - Pois eu o considero um massacre do que há
de nobre em nós!
As risadas cessaram.

Louis queria não estar sorrindo com essas gotículas de orgulho derramadas
em seu interior enquanto esforçava-se para conservar uma postura neutra.

Mas, Harry era extraordinário, e ele sequer percebia o quanto.

- Harry Edward Styles! - uma entonação grossa interceptou o silêncio,


fazendo com que todos se voltassem para o dono dela: Don Luminiére.

Contudo o herdeiro de Malta não se intimidara, e ainda prosseguiu (jogando


com a própria sorte):

- Para os humanos, a caça é arte e diversão. Mas garanto que nenhum destes
animais se divertem enquanto flechas perfuram seus órgãos vitais.

Sua voz era calma agora. E carregava uma quantidade de aborrecimento e


revolta excessivos.

- Alguém o cale, pelo amor. - Andrew resmungou.

- Vossa Alteza, caso não pare ago-

- E querem saber o que? - Harry interrompeu-o, piscando sua indignação


para fora. - No final, homens não passam de animais selvagens, a única
diferença é que não matamos somente pela nossa sobrevivência. - cuspiu. -
Matamos por crueldade.

- Basta, Príncipe Harry! Ou o expulsarei da temporada, neste instante


imediato, novamente por tentativa de rebelião! - Don Luminiére alertou,
firme e severo. - Desça, e cumpra seu papel de aluno. Obedeça nossas
regras porque nós não toleraremos nem outra algazarra.

O ambiente antes alegre de príncipes animados fora condenado para um


tenso, com Harry aterrizando no chão e encarando Don Luminiére
indiferente, os ombros eretos como se o enfrentasse.

O cavalheiro não recuou.


- Irei concedê-lo uma último chance. Irá caçar como os outros, e trazer-me
suas presas como prova do desempenho até o final de noite. - declarou,
irredutível.

E Harry estava prestes a protestar antes que Louis se colocasse em sua


frente, de forma que soubesse que as próximas palavras do príncipe de
Malta o encaminhariam para uma expulsão se ele não intervisse.

- Harry irá caçar, senhor. - Tomlinson prometeu, pondo Styles atrás de si


como uma barreira de proteção. - Eu mesmo o acompanharei para assegurar
seu êxito.

Essa garantia do vistoso e honrado futuro rei de Riverland pareceu bastar


para que Don Luminiére se afastasse dos dois e prosseguisse com o início
da aula, somente dando as instruções do que todos deveriam fazer e os
limites que poderiam avançar para que não se expusessem em risco de se
perderem.

***

Enquanto caminhavam sozinhos, lado a lado, segurando nos ombros a bolsa


com os equipamentos de arco e flecha, Tomlinson realmente não esperava
gratidão de Harry.

Todavia, não esperava essa raiva que estava sendo-o direcionada.

- Ugh, eu não pedi uma babá! - Harry reclamava como um mantra, de dois
em dois segundos. - Quem você pensa que é para ousar falar por mim?'

- Alguém que evitou que o descartassem da temporada... pela sexta vez. -


Louis rebateu, inabalado.

- Eles não o fariam. Não pela mesma causa.

- O que quer dizer com... espera, já foi expulso por essa específica situação
antes?

- Primeira temporada. Recusei-me a participar desta atrocidade até


enxotarem-me do palácio. - Styles revelou, seguido de um revirar entediado
de olhos. - Desde aquele episódio, todos os anos venho me esquivando
dessas malditas aulas... finjo doenças, desmaios.. eles não tomam
providências, de fato. Seria bizarro me removerem do sistema com uma
punição repetida. O máximo que Luminiére faria se eu retornasse de mãos
vazias seria uma advertência inofensiva.

- Por que está aqui então?

Harry o encarou de soslaio, não imobilizando os passos ao responde-lo.

- Porque um príncipe intrometido, o qual me importo muito, deu sua


palavra e se comprometeu a me fazer levar um bicho morto. - confessou,
suspirando. - E embora eu esteja me fodendo para o que pensem de mim,
jamais causaria-o qualquer dano.

Tomlinson parou de andar, remoendo essa culpa que o atingiu.

- Bem, creio que este príncipe deva-o portanto um pedido de desculpas.

Ao notar que Louis estava estático há uma boa distância atrás, ele também
interrompeu sua caminhada, permanecendo estático sem se virar para
encarar Tomlinson.

- Um pedido de desculpas? - Harry soprou debochado. - Querido, você me


deve um tratamento de relaxamento porque só a ideia de que animaizinhos
estão sendo mortos em um perímetro perto de mim por puro entretenimento
já me deixa em iminência de um surto.

Louis sorriu com carinho, embora Harry estivesse de costas e não pudesse
vê-lo.

- Você foi altruísta subindo lá e defendendo sua causa.

Styles revirou os olhos, cruzando os braços na frente do peito.

- Fiz o que qualquer um faria.

- Bem, eu não tive essa coragem. - Tomlinson revelou.


Harry inclinou ligeiramente a cabeça para o lado, em noventa graus,
surpreso.

- O que?

- Também sou contra a matança selvagem. - Louis admitiu, inspirando


fundo. - Porém me mantive silenciado, não tive essa bravura que você teve
para me sobrepor dos demais e reafirmar meu posicionamento.

Se Harry negasse que não se sentira um pouco aquecido, não só por


descobrir que Tomlinson não condizia com aquele ato macabro, mas
sobretudo por ser considerado altruísta... e ganhar méritos por um ato
'corajoso' seu, ele estaria mentindo.

Porque, vamos lá, não era comum que ele fizesse ações merecedoras de
congratulação. O que Styles geralmente recebia eram críticas, julgamentos e
menosprezo.

- Então, também não concorda com os termos da predação? - indagou,


disfarçando sua pequena felicidade.

- Nunca concordei. Sou um principiante. Quando mais jovem meu pai me


incentivava a treinar com pássaros que voavam em seus ciclos migratórios.
Eu detestava. Ao crescer o suficiente para contestar suas ordens esgueirei-
me destas atividades, enquanto meus irmãos transformavam aquilo em um
evento de família.

Harry queria pular em seu colo e abraçá-lo e dizer o quão aliviado se sentia
por saber que Louis não era um assassino impiedoso como os outros (o que
era hipocrisia sua de qualquer forma).

Mas.... Styles não iria parabeniza-lo. Tomlinson não estava cumprindo nada
além de sua obrigação.

E mesmo que fosse Louis e que o príncipe dos cachos desejasse enaltecê-lo
só por sua existência, ele ainda tinha desvanecimento para não dar o braço a
torcer ou abandonar seu jeito melindroso.
Assim, Harry seguiu por outro rumo o assunto:

- E só para lembrá-lo, aquela Princesa Diana que você vive indo atrás nos
bailes é uma arqueira. Não duvido que ela treine em animais. - cantarolou, a
voz respingando veneno e desdém.

- Bom, ela não está aqui agora. - Louis constatou, a postura erguida, sem se
abalar. - E mesmo que estivesse, não faria diferença.

- O que está insinuando?

Ao questionar, Harry escutou Louis se aproximando por trás, seus passos


encurtando a distância que os separava até ter a percepção de sua presença
muito rente a ele.

- Eu sei qual é o meu alvo. Sei como mirar. - Tomlinson decretou


sussurrando em seu ouvido, encostando o peitoral em suas costas. - E eu
não erro a pontaria.

- Lance a flecha, caçador. - Harry finalmente se virou para ficar de frente


para ele, respondendo-o com um pouco de desafio escorrendo nas bordas. -
Mas tome cuidado para não acertar o coração. É mortal.

- Já disse que sou bom de mira.

- Às vezes. - Harry iniciou, seus olhos sérios e energéticos o fitando. - você


tem um objetivo diferente do que pensa.

- Eu tento ser competente, Vossa Alteza.

- Pensei que não passasse de um principiante. - Styles insinuou, sorrindo em


claro sinal de defrontação ao que puxava o véu preto para cima,
descobrindo seu rosto.

- Depende do exercício mencionado. - Louis respondeu, flagrando Harry


inclinando e alisando provocativamente a lateral de seu pescoço com a
ponta de seu nariz.
- Mostre-me em qual área é profissional. - Harry cochichou, depositando
um beijo estalado onde a gola de sua camisa não cobria.
O contato fez os pelos de Tomlinson se arrepiarem, e ao notar tal efeito,
Harry sorriu vitorioso.

Mas Louis não deixaria barato. Ele sabia jogar essa disputa de provocações
e estava disposto a vencer.

- Especifique suas insinuações, Harry. - ordenou, descendo suas mãos para


enlaçar os pulsos do príncipe com uma força calculada que o fez suspirar.

Styles repuxou um canto dos lábios, em um meio sorriso sujo. As gramas de


verão sendo regadas pelas lagoas azuis que devolviam a intensidade.

- Quero que mire dentro de mim, mi lorde. - proferiu, piscando um olho em


presunção. - Bem no meio de minha bunda.

Ele era desavergonhado. E isso era incrível. Incrivelmente excitante.

Só suas palavras já afetavam a área inferior de Louis, que, completamente


surpreso pela insinuação sem rodeios de Harry, recuou, dando um passo em
falso.

Contudo, isso só serviu de combustível para que Styles começasse a se


despir. Peça por peça enquanto o encarava.

Descartou o véu, as botas. Livrou-se das meias, jaqueta e calças sem hesitar.
E, por último, levou seus longos dedos para desfazer o nó do lenço que
cobria seu pescoço que, quando exposto, revelou extensas manchas
vermelhas, roxeadas... a assinatura que Louis escrevera sobre sua pele na
madrugada anterior.

Tomlinson rezava para não desmaiar (Deus provavelmente não escutaria


mais suas preces após... o incidente na capela).

Só não era justo que Harry fizesse essas coisas assim, como se fosse tão
simples e fácil.
Não era justo ter a visão do príncipe nu, em sua gloriosa forma, e,
simultâneo a essa oferta de paraíso, sua consciência gritar avisos de fuga.

Styles o fitava tão confiante, parecia determinado e em expectativa, com


essa áurea delicada, incendiosa, que ocasionaria o fim da sanidade humana.

- Harry, estamos ao ar livre. Qualquer um poderia nos ver, nos escutar.


Você não é exatamente silencioso. - conforme Louis advertia, nem ele
próprio conseguia absorver seus argumentos. - E nos flagrariam pelados.

- Pelados? Qual é o problema? Nudez é libertadora, meu bem. - Styles


contestou, descendo o olhar para seu próprio órgão genital e, sem pudor
algum, trouxe sua mão para toca-lo, bombeando lenta e preguiçosamente
para cima e para baixo.

Tomlinson se sentia um fraco por não ser apto de desviar a atenção daquilo.
O pau de Harry endurecia a cada movimento, a cabeça sumindo e
reaparecendo entre o aperto de seu punho.

- Nós fomos concebidos quando nossos pais estavam sem roupas, nascemos
sem elas. - alegou, mordendo o lábio inferior ao que sua masturbação
excitava-o mais. - O que o faz pensar que estar despido é um crime?

- É muito arriscado. - sua boca afirmava, apesar de seu membro duro


delineando o tecido da calça discordasse abertamente. E é para essa ereção
visível que Harry agora olhava sem disfarçar, aumentando a velocidade de
suas investidas. Ele literalmente lambeu os beiços, preso àquilo.

Se Louis fosse responsável, ele se viraria e iria para longe da tentação. Mas,
suas pernas tinham outros planos. E, aparentemente, seu pau também.

Ainda imóvel e hipnotizado, Tomlinson assistiu o príncipe interromper o


trabalho em seu membro e afastar sua mão de lá, fornecendo a imagem de
seu pênis completamente ereto, vermelho e com as veias proeminentes
pulsando.

Foi meio involuntário e inevitável quando Louis descartou os equipamentos


de arco e flecha dos ombros, puxou seu colete para fora de seu corpo, e em
seguida empurrou suas calças para baixo, chutando-as longe. Removeu cada
pedaço de tecido que o englobasse, e, pouco depois, já inspirava fundo
sentindo as brisas frias batendo contra a superfície de sua epiderme.

Oh, o sabor da imprudência era viciante.

E isso poderia tanto ser metaforizado para o episódio de Adão e Eva, com
ambos nus na natureza sendo instigados para pecar.

Harry, o qual sorria ansioso, passou a lentamente agachar-se no chão,


descendo... descendo, até estar pressionando os joelhos contra a terra
argilosa.

- Venha buscar sua presa, caçador. - Styles sibilou provocativo, piscando


lento em uma falsa inocência. - Soube que a recompensa é alta.

E qualquer fiapo de austeridade que ainda salvava Louis de si mesmo,


estourou.
Seus pés conduziram-no passo a passo ao encontro do príncipe, quase como
se flutuasse magnetizado atraído pelo grande ímã que era Harry Styles.

Quando estava perto o bastante, Harry curvou-se propositalmente para


frente, suspendendo seu corpo com o apoio de suas mãos. Ficando de
quatro.
Exposto.
Entregue.
Esperando.

E, ainda assim, não quebrara a conexão visual que mantinham, por nenhum
segundo.

Mas, diante daquela cena, a reação de Louis foi meio que o oposto do que
Harry supunha.

Tomlinson não demonstrou-se à beira de um surto de tesão como previra.


Tomlinson não abriu um sorriso lateral sacana igual os outros príncipes com
quem Harry já esteve fizeram ao te-lo de quatro no chão.
Tomlinson não devorou explicitamente sua bunda com ela arrebitada para
ele.

Todavia, Louis andou para frente de Styles.

E naquele instante Harry pensou ter decifrado o que o outro desejava,


abrindo a boca no aguardo que Louis direcionasse seu pau ereto para sua
garganta, ao que ele permanecia naquela posição...

... o que não aconteceu.

Pois o que Louis realmente fez foi se abaixar até que estivesse agachado na
altura de Harry, inclinando a cabeça para alinha-la à de Styles.

- Levante-se, Harry. - Tomlinson pediu com a voz baixa, levando o


respectivo príncipe a unir as sobrancelhas em confusão, franzindo o nariz.

- O quê?

- Eu não irei fazer sexo enquanto estiver assim. - decretou, aparentando-se


muito sério e firme. - Eu não me sentiria bem se fizesse isso.

A feição de Styles caiu automaticamente, toda sua confiança antes exibida


se transformou para olhos feridos e os cantos da boca curvados para baixo.

Tudo que sua mente processava era que Louis Tomlinson não o cobiçava da
maneira que ele acreditara.

Ele não era suficiente. Nem estando totalmente aberto com a esperança de
que o agradaria.

- E-eu sinto muito... - Styles murmurou constrangido, reerguendo-se e


acomodando-se sentado sobre suas pernas dobradas. - Achei que.. hm,
gostaria. - soltou um riso nasalado sem humor. - Devo parecer patético
agora.

Tomlinson arregalou os olhos, negando veemente.


- Não, você entendeu errado, não é isso. - garantiu, desesperado e culpado
por ocasionar um sentimento de insegurança em Harry sendo o contrário do
que pretendia.

- Então por que não me quis daquele jeito?

E havia essa grande colher de dúvida em Styles que fez Louis refletir sobre
como é fácil levá-lo de um estado de empoderamento para um frágil e
ferido em um período tão curto, como se Harry cultivasse uma imagem
destruída de si e a escondesse sob uma fina camada de falsa auto-confiança.
Bastava um comentário mal elaborado para escorregar aos seus pontos
fracos.

- Porque... porque você não é um brinquedo sexual, Harry. - Louis advertiu.


- Eu amo submissão, mas ela não deve expô-lo em situações que você
pareça diminuído e inferior, não quando está pressionando as palmas de
suas mãos e os ossos dos joelhos contra uma superfície áspera e suja.

As palavras de Louis pareciam perto de alcançar Harry, embora ele ainda


estivesse incerto da veracidade delas.

Afinal, era muito mais natural se rebaixar e colocar a culpa em si, do que
entender que Tomlinson estava na verdade planejando protegê-lo.

- Você merece ser tratado como uma princesa, e não como um animal. Eu
não o uso por sexo, e... essa posição, nessas circunstâncias.... soa-me tão
impessoal, tão vazia. - Tomlinson explicou, suavizando a expressão e
levando sua mão ao rosto de Harry, prendendo gentilmente as madeixas
encaracoladas que caíam sobre seus olhos atras de sua orelha enquanto o
príncipe o fitava quieto.

- Você é lindo. E eu o desejo. Se quiser repetir-la quando estivermos em


uma cama, em cima de um colchão macio que não o machuque, eu não me
importarei. - Louis afirmou, sorrindo pequeno e arqueando uma das
sobrancelhas. - Mas ainda podemos improvisar por aqui.

Harry finalmente concordou, com um aceno curto e atordoado, aceitando a


mão que Louis o estendera ao que os dois se levantaram juntos.
Foi quando eles estavam de pé, com seus corpos colados em uma
observação muda, que Harry caiu em si.

Que Harry digeriu (após muita dificuldade) o que Louis o disse, como o
tratou e quais foram suas intenções.

Era só... estranho crer que alguém havia de fato impedido-o de se submeter
à posição que a maioria das pessoas com quem teve relações sexuais o
ordenavam a cumprir.

Styles, no fundo, agia em modo automático. Ele sempre sabia o que fazer,
como fazer, como satisfazer os outros por experiência própria. Possuía essa
espécie de manual que o instruía às melhores formas de dar prazer. Porque
sexo era sexo.
E isso estava okay até então, afinal, ninguém nunca reclamou ou se
importou muito em como ele se sentia.

Mas... Louis sim.

Louis ignorou suas tendências humanas de se aproveitar da situação e tirar


o máximo dela para colocar Harry em primeiro lugar.

E talvez o motivo de Styles ter desconfiado tanto era por nunca ter sido
posto em primeiro lugar antes, e ... presenciar alguém o privilegiando...
chegava a soar um absurdo. Uma utopia.

Tomlinson era sua utopia.

- Porra. - Styles sussurrou em reconhecimento, piscando rápido e


procurando pelas lagoas azuis.

Ao encontra-las, Harry suspirou. Ele não podia evitar transparecer sua


alegria, com esse sorriso maravilhado de covinhas e orbes esmeraldinas
marejando-se de comoção.

- Obrigado, Lou. - proferiu sincero, apoiando sua testa na de Tomlinson e


fechando os olhos (ele esperava não estar sendo muito meloso ou algo
assim, mas era inevitável). - Muito obrigado.
Aquele momento poderia ser descrito como uma versão melhorada de Adão
e Eva, em um final feliz sem pecados e deslizes.

Mas bem...

- Aliás. - Louis segredou, falando contra a boca de Harry. - Você é quente


pra porra de qualquer jeito. - e em um átimo agarrou um punhal de seu
cabelo próximo da nuca, aplicando certa força ao segurar seu cachos
amassados.

Quando Styles entreabriu a boca para arfar - surpreso tanto pelo gesto
quanto pelo palavreado, Louis juntou seus lábios, em um beijo profundo e
molhado.

Suas línguas deslizavam dentro da boca de Harry com uma calma erótica e
lasciva, abraçando-se em ondulações estimulantes.
Ora ou outra eles intercalavam mordidas um tanto fortes.

Louis contornou a boca de Styles com a ponta de sua língua, molhando-a e


provocando uma sensação quente no interior do maior, culpada por excita-
lo de imediato.

Antes mesmo de notar, Harry já havia agarrado o pulso de Louis e o puxado


para que Tomlinson estivesse com a mão em seu pau.

- Bata para mim. - Styles pediu, pressionando ósculos estalados pela


mandíbula do outro. - E eu baterei para você. - acrescentou, já esfregando
sua palma na cabeça do membro do príncipe.

Tomlinson começou a bombear sem rodeios o pênis pulsante para cima e


para baixo, torcendo um pouco o pulso da forma que ele sabia que Harry
adorava (o que foi comprovado quando o primeiro choramingo escapou da
garganta do maior).

Styles tentou acompanhar o ritmo do qual era masturbado para reproduzi-lo


em Louis, que com sua personalidade menos barulhenta, se limitava a dar
longos suspiros ou grunhir baixo.
A partir disso tudo ficou muito tórrido.

O cenário se condensou para uma bagunça de punhetas molhadas com paus


se roçando no processo enquanto disputavam silenciosamente quem
conseguia bombear o pau do outro com mais velocidade - tendo que lidar
com a onda paralisante de prazer que sofriam ao estar sendo masturbados
impetuosamente.

Eles tentaram se beijar, o que resultou em dentes raspando ao que as bocas


seguiam mais focadas em gemer.

Harry já alcançava seu nível de sons altos, gemendo uma série de 'Oh!'
adoráveis e excitantes que não preocupariam tanto Louis se eles não
estivessem ao ar livre, em iminência de serem pegos no flagra por qualquer
príncipe que estivesse caçando no perímetro.

- Por que a ideia do perigo é tão gostosa? - Styles comentou, fechando os


olhos com força ao sentir Louis pressionando o polegar em sua fenda,
cobrindo a digital do príncipe de pré-gozo. - Oh, sim, Lou!

A esse ponto Harry já projetava seus quadris para cima, estocando seu pau
na mão de Louis como se ele precisasse de toda a fricção que pudesse ter,
esforçando-se para não perder o fôlego e se concentrando em retribuir o
prazer ao príncipe, estimulando trêmulo o membro de Tomlinson.

Era difícil manter alguma linha de coordenação para conseguir respirar,


gemer, ondular sua pélvis e ainda masturbar Louis ao mesmo tempo.
Harry não se achava forte para ignorar essa satisfação esmagadora que se
espalhava por seu corpo e anestesiava seus músculos, levando-o a perder as
forças das pernas por consequência.

- Louis, preciso que entre em mim, por favor. - Styles suplicou, o estômago
se retorcendo só com o pensamento de estar sendo fodido entre árvores com
a ameaça de escuta-los. - Preencha-me.

E, Céus, o pau de Tomlinson expeliu uma faixa de pré-gozo só pelo pedido


de Harry.
Eles perceberam que punhetas não seriam mais suficiente.
Ao menos não se quisessem gozar com Styles chorando o nome de Louis ao
passo que este xingasse sem cerimônias contra a boca carnuda do maior.

- Tenho uma condição. - Louis advertiu, desvinculando-se de Harry à


procura do que precisava.

Ao localiza-lo, apanhou e mostrou para Styles.

- Vou cobrir sua boca com seu lenço preto. - determinou, já esticando-o ao
redor do rosto de Harry. - não precisamos de ninguém atirando em nós
supondo que somos gazelas copulando.

- Ei, meus gemidos não são tão estridentes assim! - Styles se defendeu,
porém permitindo que Louis atasse essa espécie improvisada de mordaça
com um nó firme, restringindo seu poder de fala.

- Perdoe-me, amor . Não podemos correr esse risco. - Louis proferiu,


deixando um beijo casto na têmpora de Harry antes de empurra-lo
sutilmente para trás, até que as costas do príncipe colidissem contra uma
árvore.

Se Styles pudesse propriamente falar algo, ele diria: Caralho!


Porque ou captou errado, ou Tomlinson o chamou de 'amor'.
E, mesmo que não tenha sido com a intenção carinhosa ou romântica, ainda
era... ainda era algo a se considerar. Tanto que surtiu efeito instantâneo em
Harry, o qual gemeu abertamente sem ser tocado nem nada, só de ouvi-lo
chamando com aquele apelido.

E gemer com um pano amarrado em sua boca não era de todo ruim. Ele só
não seria apto para formular frases, mas qualquer som que sua garganta
emitisse ainda escoaria para fora, ligeiramente embaçado.

- Pule em meu colo. - Tomlinson sugeriu.

Harry obedeceu, com um impulso circundou as cinturas de Louis com suas


pernas e segurou-se firme no príncipe com os braços em volta de seu
pescoço, olhando fixo para ele com aquela merda de mordaça entre os
lábios (que no fim das contas o deixou com um aspecto ainda mais sensual
e provocador).

Depois de estabilizar-se com o menino agarrado a ele como um coala, Louis


inspirou fundo guiando seu membro lubrificado naturalmente pelo pre-gozo
que escorreu para a entrada de Harry, assistindo-o suspirar em expectativa.

Ainda era um tanto desafiador transar nessas condições, mas Tomlinson pôs
tudo de si ao adentrar em uma só estocada completamente em Harry, que
lamuriou em deleite ao ter essa invasão precisa entre suas paredes internas
cheias de nervos sensíveis.

Louis começou a entrar e sair, projetando seu quadril para cima ao que
Styles o ajudava acompanhando suas investidas para baixo.

Aos poucos foram estabelecendo um ritmo nem tão rápido nem tão divagar,
mas gostoso o bastante para prendê-los naquela bolha de satisfação onde o
mundo afora não importava. Tudo que importava era o suor entre seus
peitorais colados, deixando escorregadio para que Styles deslizasse para
cima toda vez que Louis arremetesse com mais firmeza.

Tudo que importava eram os dedos de Harry se curvando e seus


choramingos sôfregos, seus olhos se apertando fechados em um prazer
calmo e arrebatador.

- Porra, princesa, você é i-incrível. - Louis proclamou no ouvido do maior,


antes de inclina-lo para que Harry ficasse apoiado no tronco e ele pudesse
mete-lo no ângulo que sabia que o levaria ao céu.

Mas Harry era insaciável, além de estar sendo fodido contra uma árvore,
tendo o pau de Louis cada investida mais próximo de seu ponto sensível,
ele ainda arqueou seu peitoral para frente, explicitamente esperando que
Tomlinson o chupasse.

Louis tinha certeza de que se Styles não estivesse amordaçado ele


imploraria com suas lamentações manhosas algo como "Lou, chupe meus
mamilos".
E, claro, quem era ele para recusar.
Certificando-se que seus braços sustentavam Harry de uma forma segura,
ele se curvou para seu peito, e fechou os lábios em torno de seu mamilo
direito, sentindo as pernas do príncipe tremerem em sua cintura.

Rodeou sua língua pelo anel rosado e chupou avidamente a bolinha, toda
essa sucção fazendo imediatamente com que Harry gritasse abafado.

- Hmmm - ele gemeu estridente, esgotado e extasiado com o ritmo mais


depressa que Louis o estocava e seu mamilo sensível sendo maltratado com
a língua do menor.

Quando Tomlinson rolou os quadris para cima angulados em uma direção


exata, a cabeça de seu membro surrou a próstata de Harry, e aquele foi o
fim do príncipe.

Nem mesmo o pano impediu que Styles gemesse exasperado


(potencialmente chamando a atenção alheia), abrindo seus olhos verdes e os
arregalando.

As pálpebras estavam marejadas e aquele olhar só poderia ser traduzido em


Foda aí de novo.

- Suas costas, Harry! Elas vão ficar arranhadas é melhor para-

Antes que Tomlinson concluísse a frase Styles literalmente o deu um tapa


fraco na cabeça, lançando-o uma expressão repreendedora.
Afinal, honestamente, o que seriam alguns arranhões nas costas quando ele
e Louis transavam ao ar livre?

Ele poderia lidar com isso mais tarde.

Agora, tudo que necessitava era do pau de Louis estocando com força em
sua bunda sem parar naquele local abençoado pelos deuses que o faria
chorar.

- Oh, merda. Certo. Depois cuidaremos das feridas que ficarem. - Louis
garantiu (meio que para si mesmo e seu ímpeto de preocupação) .
Louis inspirou fundo e deu a Harry um segundo, antes de retomar as
estocadas em um ritmo frenético.

Styles engasgou de susto, não cogitando que Tomlinson começaria


novamente tão rápido e profundo, batendo contra sua próstata
incessantemente.

Aquilo incendiou Harry e o pôs a ofegar desesperado como se não houvesse


oxigênio, seus olhos aguando-se e sua garganta reverberando uma
sequência de gemidos roucos que vinham conforme Louis entrava e saia,
arremetendo sem piedade alguma e ainda pondo sua boca no outro mamilo.

Styles delirava.

E Louis realmente tentava se focar em fornecê-lo o que ele precisava, mas


era difícil quando sua mente estava turva com a pressão que as paredes de
Harry faziam em seu pau - quente e macia, e simultâneo a penetra-lo ainda
buscava sugar seu mamilo, o que tornara-se um desafio desde que suas
estocadas estavam tendendo a ficarem mais brutas e o corpo de Harry
consequentemente deslizava um pouco para cima, nem o atrito com o
tronco da árvore estabilizando-o.

O ato de lamber seu peito foi se transformando em dentes desajeitados


arranhando-o, e Harry soluçava porque aquilo era demais para ele. Doía e
excitava-o ao mesmo tempo, conduzindo-o para as portas de onde sua
cabeça giraria e ele perderia seu senso de existência.

Era poético assistir Styles mordendo o lenço para impedir-se de reproduzir


seus típicos gemidos escandalosos, inspirando falho enquanto se contorcia
inquieto, como se estivesse sendo inteiramente tomado por um prazer
insuportável.

- Porra, porra, porra.. - Louis xingou muito próximo de seu ápice,


arduamente segurando-o e retardando porque ele não viria antes de Harry.

Portanto, almejando proporcionar um orgasmo imediato ao príncipe, Louis


equilibrou-o em apenas um de seus braços, libertando o outro para agarrar o
pênis vermelho e sólido que se balançava entre eles a cada vez que Harry
era estocado.

Styles, que se firmava com as mãos segurando nos ombros de Tomlinson,


passou a fincar suas unhas, quase perfurando a pele bronzeada do menor.

Ao sentir seu membro sendo masturbado na velocidade da luz, em conjunto


com choques brutos em sua próstata... Harry se perdeu.

Styles arqueou as costas lançando a cabeça para trás, apoiando-a contra o


tronco da árvore, mantendo seus olhos fechados e a boca aberta em um
grito mudo, espasmos sucumbindo-o de forma que seus músculos se
tencionassem e suas coxas tremessem.

- Venha pra mim, princesa.

- Hmmm - foi o último choramingo manhoso escoado do fundo de sua


garganta, antes que Louis pressionasse afundo o pau naquele adorado lugar,
embranquecendo completamente sua mente e o guiando para uma dimensão
onde ele flutuava, sentindo-se leve.

Para Louis, que observara-o durante todo seu orgasmo, ele flagrou o
segundo em que lágrimas rolaram pelas bochechas coradas de Harry ao que
seu pau ainda era estimulado com precisão, a cabeça sumindo e
reaparecendo entre os dedos de Tomlinson até que a fenda espirrasse os
primeiros jatos de sêmen denso.

Louis continuou masturbando-o até depois da última gota de gozo de Harry


ser expelida, torcendo o pulso para prolongar o prazer do príncipe que agora
soluçava trêmulo devido a sensibilidade.

Assistir Styles entregue ao prazer no estado mais cru que houvesse, sob a
claridade do dia e o cantos dos pássaros, já bastaria para que Louis se
desmanchasse dentro dele.

Portanto, após uma última estocada, dura e certeira, ele sentiu seu corpo se
anestesiar, a extremidade de seu abdômen se retorcendo ao que ele grunhia
enfiando o rosto no vão do pescoço de Styles, tendo seu pau se desfazendo
no interior do príncipe em faixas quentes e longas de gozo, o qual Harry
estremeceu com a sensação porém sorriu satisfeito.

Quando Styles finalmente aterrizou no chão, com as pernas totalmente


fracas e dormentes, ambos se encontravam em um estado deplorável,
cansados e suados.

Louis desatou o nó de sua "mordaça", acompanhando enquanto Harry


crispava os lábios esboçando uma careta (adorável).

- Cristo, suas costas estão todas fodidas, Harry! - Tomlinson apontou,


assustado ao notar as marcas vermelhas que se concentravam
principalmente no centro. Algumas tão feridas que acumulavam até
gotículas de sangue.

Mas... ao invés de se espantar com o que lhe fora informado, Harry se


limitou a sorrir meio abobado ao que fitava o príncipe de Riverland.

- Você não me ouviu?! - Louis reforçou confuso por essa reação - Ou é um


fetiche arrebentar sua pele contra a aspereza de uma árvore?!

- Não, não, é que você blasfemou tão naturalmente que eu fiquei surpreso. -
Harry explicou, ainda piscando fascinado. - É notável como tem se
transformado, Louis.

- São só algumas palavras indevidas. - Tomlinson se justificou, indo a


procura de suas peças de roupa.

- Este foi nosso segundo sexo em um período menor do que vinte e quatro
horas. - apontou, aquele sorriso atrevido acusando-o. - Ou melhor, em
menos de doze horas.

E, bem, Louis esperou que alguma pontada de culpa o assombrasse ao se


dar conta destes fatos.... mas nada veio.

Literalmente nada.

Tomlinson ignorou esse devaneio inconveniente e passou a se vestir de


novo.
- O que achou? - Styles eventualmente indagou ao que os dois já estavam
devidamente trajados e aquele véu preto bizarro de viúva de luto retornara
para a cabeça de Harry.

- Hm, de tran-

- Não, Deus. De ficar nu perante a natureza, em sua forma mais natural.

Tomlinson suspirou.

- A nudez é libertadora. - admitiu, repetindo a frase que Harry o citara mais


cedo e se dando o direito de puxar aquele véu para descobrir o rosto de
Styles, porque ele se sentia dialogando com uma freira na missa - e, por
favor, sem outros pecados.

Styles piscou iluminado, como se existissem pequenas lascas de ouro


reluzindo sua face ao passo que era tocada pelo sol. Jovem e belo.

Mas, então, essa projeção de entusiasmo se esvaiu subitamente, ele


franzindo o cenho em realização.

- Oh, merda. Logo o sol deverá se pôr e eu não cacei nenhum bichinho. -
proferiu com o desespero visível.

- Você não precisa caçar. - Tomlinson garantiu, levando Styles a olha-lo


confuso. - Vamos em busca de animais já mortos, assim forjamos alguns
cortes neles e os entregamos para Luminiére.

- Você... você faria isso por mim? Mentiria para o Lulu? - Harry perguntou,
piscando lento em uma expressão abobada.

- Você sabe que sim, Harry. Devemos nos apressar antes de escurecer.

***

Demorou cerca de duas horas até que eles estivessem prontos para retornar
ao palácio.

Foi um processo difícil de se enfrentar.


Primeiro tudo soava promissor e genial quando concluíram que seria fácil
encontrar as presas que os outros príncipes deixaram pela floresta em suas
próprias caçadas, pois assim elas já demonstrariam sinais de perfuração de
flechas e serviriam perfeitamente para a situação.

Contudo, o desastre caiu logo que se depararam com a primeira carcaça de


um coelho.
Ele havia sido atingido no pescoço e permanecia estatelado no chão.

Louis se agachava para apanha-lo quando se assustou com um soluço


estrangulado. E ao olhar para trás visualizou Harry Styles chorando
completamente desolado, com o rosto enterrado nas mãos e os ombros
tremendo incessantemente.

A mesma coisa aconteceu com os próximos quatro bichinhos mortos que


Tomlinson capturou.
Era de cortar o coração tanto vislumbrar a morte injusta que os condenou,
quanto assistir impotente Harry se esgoelar em choros.

Não havia nada que Louis pudesse dizer para conforta-lo, então ele só
permitia que o príncipe expusesse seu luto pelo sangue derramado dos
animais indefesos.

Ao final, Harry teve que ajudar a carregar um filhote de cervo morto, pois
Tomlinson já tinha seus braços ocupados levando os outros.

E, conforme voltavam a pe para o Palácio, Louis encarava tristemente


Styles ao que este apertava o corpo sem vida do jovem cervo contra seu
peito, abraçando-o protetoramente em seu braços com lágrimas pingando de
sua mandíbula para a cabeça mole do animal.

As roupas pretas nunca fizeram tanto sentido.

***

No final da noite, após Harry entregar suas supostas presas com um terrível
ódio no olhar para Don Luminiére, ele e Louis se esgueiraram na cozinha
principal. Estavam famintos e haviam perdido o horário do jantar.
Roubaram algumas sobras e frutas e comeram escondidos na biblioteca
escura.

Desde tarde Styles não pronunciara nenhuma outra palavra, e Louis não o
forçaria porque sentia que ele estava emocionalmente muito debilitado para
se manifestar.

Eles jantavam em silêncio, sentados encolhidos no chão sobre o carpete, em


meio às estantes altas de livros, Louis averiguando o estado de Harry
enquanto o príncipe mastigava sem vontade ou ânimo, olhando para a lua
através da grande janela de vidro.

Tomlinson percebeu Styles movimentar distraído os lábios como se


estivesse falando sozinho.

Ele se esforçou muito para fazer uma leitura labial, decodificando "nem
temor, nem esperança assistem ao animal agonizante" e soube de imediato
que Harry recitava mentalmente um poema de Yeats, o qual deixara-o
escrito em bilhete dias anteriores.

Louis percebeu perfeitamente quando o jovem cabisbaixo dos longos


cachos sibilou os versos finais "ao enfrentar assassinos, com desdém julga
a falta de alento" pausou, piscando lentamente "ele conhece a morte até o
fundo - o homem criou a morte". E uma última lágrima solitária escorreu
por seu rosto.

***

- Então, boa noite, Harry. - Tomlinson proferiu seguido de uma reverência,


se despedindo de Styles na passagem de seu aposento.

- Boa noite, Lou. - respondeu-o amuado, adentrando o cômodo, ainda


abatido, prestes a fechar a porta.

Contudo o futuro rei de Riverland enfiou seu pé no vão, impedindo que


Styles já a trancasse.
- Amanhã cedo virei aqui cuidar das feridas de suas costas, como
prometido. - Louis declarou, tendo Harry aflorando um pequeno sorriso
sincero em sua face.

- Certo. Obrigado mesmo. - respondeu em voz baixa. - Sonhe com os anjos,


príncipe. - desejou, enfim fechando-se sozinho em seu quarto.

***

Naquela noite Louis sonhou com Harry.

***

Notas da autora: vou dar uma pista, nesse capítulo o autor anônimo esteve
presente ou foi mencionado.
Façam suas apostas.

PS: uma menina no tt sugeriu que eu criasse um grupo sobre a fanfic, para
quem tiver interesse debater suas teorias e tals. Se vocês estiverem a fim
disso me mandem seus usuários ou então número de tel por aqui ou inbox.

Meu tt é: @eversincehazst // conversem comigo por lá :)


Chapter Forty Two

[coloquem a música da mídia quando eu avisar❤]

Episode: Home

Louis sempre cumpria suas promessas.

E não foi diferente quando ele se levantou mais cedo que o comum naquela
manhã, esperando cuidar das feridas de Harry. As das costas, por ora.

Teria que se apressar e fazê-lo antes que as aulas teóricas começassem e o


café da manhã fosse servido.

Para tanto, pediu ajuda à Lorena, não explicando-lhe exatamente as razões -


e ela surpreendentemente não o importunou com suas mil perguntas e
curiosidade juvenil - que o buscou um kit de primeiros-socorros.

Ele aproveitou que a maioria dos jovens ainda estavam adormecidos em


seus aposentos e se esgueirou no corredor em direção ao quarto de Styles.

Tomlinson não sabia se Harry já se levantara. Normalmente o príncipe de


Riverland flagraria-o em suas caminhadas matinais pelo jardim da janela de
seu quarto, no entanto, a julgar pela visível tristeza que o sucumbiu após o
incidente dos animais mortos, ele não achava que Harry sequer saíra de sua
cama.

Na dúvida, deu leves batidas contra a porta. E esperou.

Esperou.

E começou a escutar alguns barulhos vindo de dentro, como passos pesados


de um lado para o outro.
Se colasse sua orelha rente à fresta da fechadura quiçá captasse alguns
sussurros exaltados.

Quando pensou que Styles não o atenderia propositalmente por estar com
companhias, a porta foi aberta, revelando um Harry ainda de camisola e
respiração desregulada, encarando-o afoito e hesitante.

Ao invés de convidar Louis para entrar, ele próprio saiu do quarto para o
corredor de frente ao príncipe, trancando a porta atrás de si.

- Então... olá, o que houve? Não é muito cedo para estar de pé? - indagou
meio frenético, e se Louis não o conhecesse o suficiente ele diria que estava
sob efeito de alucinógenos, mas toda aquela inquietação só poderiam
significar outra coisa. Ele estava escondendo algo.

- Bom dia para você também, Vossa Alteza. Conforme prometido, vim
cuidar de seus machucados. - Tomlinson informou, apontando para o kit de
primeiros socorros que deixara no chão.

- Hm, certo... - respondeu coçando a nuca, olhando ao redor como se


procurasse saídas para esse tormento mental que ele passava. - Bem,
podemos fazer isso em seu aposento?

- O que há, Harry? - Louis confrontou, uma de suas sobrancelhas arqueada


em desconfiança. - Estou certo de que quaisquer príncipes que estivessem
fazendo-o companhia não se importariam de partir nesse momento, a menos
claro que você os quei-

- Não, não, não, Lou! - Styles interviu gesticulando com as mãos. - Não é
nada do que pensas!

Tomlinson concordou, ainda encarando-o à espera de alguma explicação


viável.

- Ouça, Harry, não podemos ir para o meu quarto pois minhas criadas já
estão lá.
- Exatamente por isso que não podemos fazer nada aqui. Minha criada está,
hm, cumprindo seu serviço.

- Você só tem uma criada?

Harry acenou em concordância.

- Desde a primeira temporada, fiz questão de mantê-la para mim. Só preciso


de uma, dela. - argumentou, e a afeição por trás de suas palavras era
paupável.

Então Louis compreendeu o significado daquilo e o porquê de Harry


parecer tão... agitado. Porque, se ela era a única moça que trabalhava para
ele nestes seis anos deveria ser especial, especial para o príncipe.

Deveria ser bela, jovem, e - pelo amor - muito cobiçada, afinal, não era
novidade que príncipes cedessem aos encantos das serviçais presas em seus
aposentos. Não era mais nem tabu relações sexuais entre eles.

A feição de reconhecimento que se acendeu em Tomlinson deve ter sido


muito óbvia porque Styles imediatamente traduziu-a, arregalando
novamente os olhos.

- Também não é isso! - advertiu. - Pare de me enxergar como um pervertido


desmedido, Príncipe William! - repreendeu-o, embora um sorriso meio
indecente estivesse desflorando.

Louis estava prestes a rebater com algo satírico e inquiridor quando Harry
bufou e agarrou seu pulso.

- Certo, certo... venha, vamos. Vou te apresentar para ela. - avisou em


desistência, puxando-o enfim para adentrar o cômodo.

- Espere... não é arriscado? E se ela nos dedurar?

Styles riu brevemente, logo expondo carinho em seu olhar.

- Ela sabe mais de mim do que qualquer um. Fique tranquilo. - admitiu,
parando-os na pequena divisão da entrada antes de se voltar outra vez para
Tomlinson, relutante. - Ela também sabe sobre, hm, você. Então não se
assuste.

Sem que Louis verbalizasse uma resposta - se limitando a sorrir tenro -


Styles os conduziu para a maior área do aposento, onde sua criada limpava
alguns quadros pendurados na parede com um espanador.

Harry forçou uma tosse seca até que ele detivesse sua atenção.

- Hum, Louis esta é... Amélia. E Amélia... este é Louis. - intermediou,


olhando incerto entre os dois.

[notas da autora: yau, Amélia de perfectly insane está de volta!]

Amélia era, na verdade, uma senhora de cabelos brancos, rechonchuda,


ligeiramente corcunda. Ela era baixinha e naquele instante encarava Louis
fixamente, um sorriso meio maravilhado entre suas rugas proeminentes.

- Oh, céus! Você é ainda mais bonito do que ele vive dizendo! - a idosa
proclamou, largando o espanador sobre o aparador de mármore para
caminhar na direção dos dois.

Louis olhou de soslaio para Harry, flagrando-o negando com sua cabeça
para si próprio, de olhos fechados, suas bochechas muito vermelhas.

Quando ela estava próxima, Tomlinson se inclinou para frente,


reverenciando-a - o que deveria ser considerado uma infâmia, quebra de
conduta, um príncipe curvar-se para criadagem, e não o contrário.

Mas ela não pareceu surpresa. Pois provavelmente era tratada com a mesma
veneração por Harry diariamente.

- E também é muito cavalheiro! - a senhora acrescentou, apoiando a mão


sobre o ombro de Louis com delicadeza. - Não é a toa que meu menino não
para de falar sobre você!

- Ami! Não! Você jurou que não faria isso! - Styles interrompeu, parecendo
a personificação do constrangimento.
- Baixe esse tom de voz comigo, garoto. - ela rebateu. E Tomlinson se
sentiu intrigado pela ousadia da criada ao repreender o príncipe, que
imediatamente se calou, aparentando-se contrariado como uma criança
censurada em público.

- Mas você prometeu. - ele alegou sussurrando, seus lábios formando um


biquinho chateado.

- Certo, bem... - Louis se manifestou, ciente de que uma guerra entre os dois
seria instaurada se ele não fizesse. - Harry, devemos começar os curativos
logo, antes que o café seja servido.

- Você tem razão.

- Preciso que tome rapidamente uma ducha para limpar os cortes com água
morna. Não esfregue ou friccione a região com uma esponja natural. -
instruiu-o, tendo Styles concordando e rumando para o seu banheiro
privativo.

Antes de fechar-se lá ele enfiou seu rosto num vão, encarando Amélia.

- Por favor, Ami, não me faça me arrepender de ter trazido-o para cá, sim? -
pediu com uma voz mansa.

Ela o ignorou, fingindo-se prestes a apanhar o espanador para retomar o seu


serviço.

Contudo, no momento que Harry fechou a porta do toalete, Amélia largou o


objeto de limpeza e se virou para Tomlinson com um sorriso doce.

- Não me leve a mal, meu caro, eu só gostaria de conversar brevemente com


você para saber se é digno de minha confiança.

Algo estava confuso. Porque... não haviam motivos para que ela o
configurasse toda essa importância.

- Tudo bem. - ele assegurou. - Mas por que ele não queria nos apresentar?
Amélia conseguiu visualizar a confusão da mente do príncipe, levando-a a
piscar perplexa.

- Céus, você ainda não percebeu? És um tanto lerdo para quem todos
louvam a inteligência - soltou uma risadinha atrevida. - Harry não quer que
eu o revele sobre como ele não tira seu nome da boca, lindinho.

- Oh, jura? - Louis comentou surpreso.

- Jovem, desde o primeiro dia desta temporada meu menino me perturba:


"Ami, Jesus, Louis é tão lindo!" , "Louis sorriu para mim hoje, você
acredita?", "ele cheira à jasmins!" - satirizou, forçando uma tonalidade
aguda e cantarolada que Tomlinson teve que se impedir de rir por ser
exatamente Harry.

Ela era uma figura e Louis poderia imagina-la cortando as asas de Styles
quando ele fosse petulante ou agisse como um menino malcriado.

- Mas... espera. - Amélia eventualmente resmungou, fitando o príncipe de


Riverland com o nariz franzido. - Não entendo... você é baixinho.

- Obrigado, eu acho. - Tomlinson respondeu, colocando a mão sobre o peito


fingindo chateação, apesar de um sorriso divertido delatar seu humor.

- Não, não, não é isso meu jovem. Não estou te julgando. Só estou confusa
pela sua altura já que Harry se gaba repetidamente sobre quão grande você
é.

E, Okay. Talvez Louis não quisesse exatamente descobrir o que o futuro rei
de Malta cochichava a respeito do tamanho de suas intimidades (ele estava
lisonjeado, embora).

- De qualquer modo... - Amélia prosseguiu. - Não faz ideia de como isso


tudo é uma novidade? Harry com você!

- Bem, seu menino se relaciona na verdade com muitos outros príncipes


além de mim, senhora. Não é inédito.
- Se me chamar de senhora uma segunda vez eu irei lhe puxar a orelha,
baixinho! - ela advertiu, tendo Louis gesticulando em rendição. - Você é
especial para Harry o que o torna consequentemente especial para mim.
Chame-me de Ami.

Tomlinson assentiu.
E essa ousadia lhe soou como um carinho familiar da avó que nunca
conheceu mas sempre sonhou.

- Sabe, fico feliz que Harry tenha você agora. Nestas últimas temporadas fui
designada como chefe da limpeza, mal posso ficar aqui fazendo-o
companhia, só venho pela manhã para arrumar as coisas. Sei como meu
menino se sentia solitário de madrugada, quando não havia ninguém para
escuta-lo. Eu tentei fazê-lo trocar de criada, mas é um rapaz teimoso.

Amélia então se sentou na borda da cama e depositou alguns tapinhas no


espaço ao lado para que Louis se acomodasse.

Obedecendo-a, Tomlinson se virou para ela, ocorrendo-o de que talvez a


senhora com quem Harry estava durante os últimos seis anos pudesse
concedê-lo informações que jamais seriam obtidas por Styles.

Talvez Louis ganhasse algumas peças do quebra-cabeça que montasse o


príncipe.

- Vocês sempre foram próximos? Refiro-me, a senhora e Styles?

A idosa olhou para frente, com o pensamento distante. Sorriu em nostalgia.

- Na primeira temporada, quando ele descobriu que eu seria sua criada,


Harry ficou revoltado. Ele não entendia por que haviam designado-o uma
velha como criada já que os demais príncipes receberam criadas jovens e
belas.- revelou, esboçando uma careta. - Sabe como ele me chamava? De
'ruguinhas'!

E Louis não pode evitar rir, porque isso era muito Styles.

- Creio que a senhora o repreendeu devidamente.


- Repreendi devidamente? - ela repetiu ironicamente. - Jovem, eu puxei o
cabelo dele e o dei uma boa quantidade de broncas! Com o tempo, Harry
passou a me respeitar.

- Como?

- Bom, ele era um garoto doce, apesar de tudo. Ingênuo, tímido e delicado.
Meu menino sofria muito na mão dos outros. Frequentemente retornava
chorando para seus aposentos. Com o tempo fui ganhando sua confiança,
até que ele viesse se abrigar em meus braços.

Louis manteve-se calado, digerindo aquela retorção dolorosa em seu


coração.

- Harry foi maltratado na primeira temporada. Ele apanhava, era ameaçado,


era punido. E, ainda assim, preservava uma bondade incondicional dentro
dele. Eu soube desde aquele ano que ele seria diferente.

A expressão afável de Amélia foi se fechando enquanto seus olhos


piscavam mais lentamente.

- Então Harry foi expulso do Palácio por se recusar a caçar. E, ao retornar


no ano seguinte, tudo mudou. - segredou em um sussurro. - Ele não era o
mesmo. Ele estava arrogante, frio e distante. Harry não sorria mais com a
alma, era como se sua alegria houvesse se esvaído. Ele tinha só dezoito
anos e... e.. agia com despudor exagerado, insolência, ódio. Ninguém
entendia de fato o que ele era, o que ele queria... e muito menos o que
aconteceu para deixa-lo daquele jeito.

A criada baixou a cabeça e suspirou.


Tomlinson pensa ter flagrado uma lágrima escorrendo entre as rugas de suas
bochechas.

- Mas ele preferiu me conservar como sua criada. Fez essa exigência. Foi
então que eu percebi que ele precisava de mim, que essa decisão significava
um pedido de socorro mudo. - inspirou fundo. - Depois de muito insistir, ele
me confessou. Confessou o que houve, o que o levou a ser quem era agora.
- E o qu-

- Não poderei dizê-lo, Louis. Sinto muito, contudo temo que o passado de
Harry pertence unicamente a ele.

Louis concordou.
Ela estava certa.
Não seria justo ele arrancar as passagens sigilosas da vida de Harry. Não
seria justo ele ter acesso aos fragmentos obscuros sem sua concessão.

- No entanto, posso assegura-lo que não é uma história bonita. - Amélia


prosseguiu. - Ele ter me contado nos reaproximou, Harry poderia encenar o
príncipe intragável que fosse desta porta para fora, mas aqui dentro, ainda
que tentasse esconder, eu enxergava perfeitamente os resquícios da
amabilidade daquele garoto que estivera na temporada passada.

- Harry é forte. Não me surpreende que ele tenha se reerguido.

- Ele não se reergueu ao todo. Meu menino ainda sentia, ele ainda chorava.
E, já que eu precisava chefiar a área da limpeza, não conseguia mais fazê-lo
companhia de noite. Então, talvez para não ficar tão solitário, começou a
atrair príncipes para seu aposento.

E, de alguma maneira, Tomlinson imaginou.


Vislumbrou o lampejo de um príncipe sentado só em sua cama, sendo
amaldiçoado por seus demônios, precisando ser ouvido, precisando ser
salvo.

Vislumbrou Styles se afogando em seu desespero, com aquele mesmo


aborrecimento que Louis assistiu no dia que correu atrás de Harry, o qual
suplicou por distância com a fragilidade esculpida em suas pupilas.

Vislumbrou Harry chorando anualmente nos aniversários da morte de


Gemma sem ninguém o consolando.

- Ano a ano meu menino foi depositando mais superficialidade ao seu redor,
constituindo novas barreiras de proteção sob imodéstia, desrespeito, jóias e
sexo. Ele se perdeu de si próprio, e eu pensei que nunca mais se encontraria.
- Amélia passou a encarar Louis, entrelaçando sua mão trêmula ao do
príncipe. - E, enfim, você o encontrou.

- Eu nã-

- Você vem promovendo mudanças naquele rapaz. Você vem escavando as


camadas de prepotência e insensibilidade, permitindo que eu tenha contato
com a versão original do verdadeiro Príncipe Edward. A feliz e sincera.

Neste momento, em que Louis pensava em alguma possível resposta, os


dois começaram a escutar Harry cantando uma canção francesa de dentro
do banheiro.

Sua voz saía abafada pelo chuveiro, e ele era um pouco desafinado, e
errava o vocabulário, mas soava original, espontâneo e tão Harry.

Foi involuntário e inevitável ao que tanto Amélia quanto Louis, que


olhavam fascinados na direção que a cantoria exagerada ressoava, passaram
a sorrir, carinho irradiando da feição de ambos.

A criada desviou sua atenção novamente para Tomlinson, comprovando que


ele ainda encarava quase hipnotizado a porta do banheiro, um sorriso
discreto pela algazarra de Styles e de seus acordes destonados.

- Louis, se pretende algum dia corresponder ao que ele sente por você... -
Amélia iniciou, levando o príncipe a fita-la de olhos arregalados, em
posição de alerta. - Há algo que precisa saber.

E Louis desejava responde-la que ele não pretendia.


Que eles não pretendiam.
Que o que eles tinham era um capítulo passageiro de suas existências, com
prazo de validade definido pelo fim da temporada. Menos de quatro
semanas.

Ele poderia informa-la que os dois aparentemente haviam selado esse


acordo não discutido em que determinavam que aquilo que cultivavam era o
tipo de coisa que você faz sem divagar a respeito, sem rotular mentalmente.
Ele a diria que Harry não tem sentimentos por ele e vise e versa, que só
gosta de sua presença porque Tomlinson demonstra se importar.

Mas, Louis não queria desaponta-la, não queria acabar com suas esperanças
visíveis de que o príncipe de Malta se relacionasse firmemente com alguém.
Não queria nem iria reproduzir seu discurso ensaiado do porquê eles não
funcionariam juntos ou... ou... bem, funcionariam.

Não vinha ao caso.

Portanto, limitou-se a assentir calado, para que ela prosseguisse.

- Harry está despedaçado. - a idosa decretou, firme e sólida. - E ele não quer
que você o concerte.

Tomlinson engoliu a seco.

- Ele necessita que você ame as rachaduras, os cantos trincados e os


pedaços faltando. Ele precisa que você ame suas partes quebradas.

Havia essa obstinação na criada que delatava toda a relevância que ela
depositava em Harry. Igual um anjinho da guarda.

- Mas, veja, pessoas quebradas te amarão de volta muito mais do que as


inteiras conseguiriam. - Amélia proferiu. - Quando um feixe de luz escoa
pela fresta da porta, eles se agarram a ela com medo de um dia retornarem
ao breu. - apontou para o único porta-retrato pendurado na parede do
aposento, de Harry e Gemma abraçados. - Porque uma vez que ele esteve no
escuro, aprendeu a apreciar tudo aquilo que brilha.

Louis saboreou um gosto estranho nas bordas de seus lábios. Amargo e


doce, simultaneamente.
E ele não previa se emocionar, mas seus olhos se marejaram por reflexo.

- Quando meu menino costumava chorar comigo, eu o contava a fábula do


plebeu, onde havia este plebeu que desejou à sua fada madrinha ser um
príncipe. Ele ganhou uma coroa, diamantes e ouro. - Amélia se levantou,
indo apanhar o espanador. - Mas como toda magia tem um preço, a desta
era que ninguém amaria-o de verdade, porque ama-lo seria como amar a
fantasia, e não o homem que a veste.

Com o espanador na mão, Amélia retomou disfarçadamente seu serviço,


fingindo limpar as hastes do dossel.

- Todas as noites o príncipe se lamentava por sua vida, desejando quebrar o


feitiço. Quando sentiu-se desesperançado, um segundo príncipe bondoso o
presenteou com um espelho, alegando ser uma prova de amor.

Tomlinson piscava hesitante, prevendo o final.

- E ele não entendeu como aquilo seria uma prova de amor até encarar sua
reflexão no presente, e perceber que se ele se despisse, a imagem refletida
se despiria também.

Amélia olhou no fundo das orbes de Louis, atendo-se a transmiti-lo a


essência.

- O segundo príncipe demonstrou-o, na verdade, que nós somos quem


queremos ser. Ele o fez remover as peças caras, até que naquela pele só
houvesse o plebeu de sempre. Ele quebrou o feitiço. - a criada sorriu. - Isso
foi amor.

O barulho do registro do chuveiro se interrompeu.


Harry havia finalizado o banho.

Sem jeito e desarmado, Louis se pôs de pé, apanhando o kit de primeiros


socorros, separando os itens que seriam úteis.

Antes de Styles destrancar-se e sair do banheiro todo enrolado em uma


toalha, Amélia se inclinou em Louis e apertou seu pulso.

Tomlinson a fitou alarmado, encontrando-a com determinação em seus


traços.

- Ouça, Harry nunca verbalizará que sente algo por você, porque ele não se
acha digno de tê-lo, ele jamais se verá merecedor da sua atenção, Louis. -
cochichou, os dois cientes de que o respectivo príncipe já estava rodando a
fechadura, prestes a retorcer a maçaneta. - Mas, ele deixará claro nos
pequenos gestos e nos sorrisos. Não se faça de cego só por Harry mantê-lo
surdo.

E, no próximo segundo, Amélia já estava espanando os móveis, Louis


inspirando devagar pelo baque, e Harry desfilando cheio de si pelo quarto,
com a maldita toalha rosa cobrindo desde seus mamilos até os joelhos.

- Pronto para me curar, Louis?

***

Conforme Tomlinson passava algodão com uma pomada sobre as feridas,


ele se indagou quantas outras haviam sem estarem expostas, e quais ele
poderia remediar.

Porque... talvez esse fosse o real propósito de estar em uma "escola de


príncipes". Não por aulas que já teve em seu reino, nem lutas de espada as
quais domina desde criança. Mas, para ser um príncipe em sua totalidade.

E príncipes não deveriam só governar reinos e zelar pelo bem de seu povo.
Eles deveriam zelar pelo bem alheio, em prol humanitário.

Se nenhum dos outros nas antigas temporadas quis cuidar de Styles - e pelo
contrário, o destruíram - qual era o propósito da realeza?
Por que quem pagou o preço da coroa foi somente Harry?

- O que tanto devaneia, Vossa Alteza? - Harry questionou intrigado,


estremecendo quando Tomlinson pressionou álcool em um machucado
aberto.

Eles estavam sentados na cama, Harry na frente de Louis resmungando com


a ardência das feridas ao que este tratava de suas costas.

Amélia havia deixado os dois a sós (não antes de Styles se despedir com um
beijo carinhoso em sua testa, proferindo provocativo 'até amanhã,
ruguinhas!' e tendo sua orelha puxada como punição).
- Nada. Só estou distraído. - Louis disse-o, colando esparadrapos nos
arranhões com suavidade.

- Você está com fome? - Harry interrogou, curvando seu pescoço para trás,
de modo que enxergasse Louis de ponta cabeça enquanto o príncipe
finalizava o serviço.

- Não muita.

- O que acha de termos nossa refeição no quarto? - sugeriu, balançando as


sobrancelhas sugestivamente.

- A administração não aprovaria nos entregar refeições privadas, a menos


que estejamos doentes ou-

- Louis. - Harry interrompeu, revirando os olhos petulante. - Eu estava


sugerindo que eu fosse seu café da manhã.

E... er.

- Hm, eu não estou muito empolgado para transar agora. - confessou,


fechando a caixa dos medicamentos. As costas de Styles quase toda com
curativos.

Harry se virou de frente para ele, dispondo de uma grande protuberância


sob a toalha de banho a qual mantivera seus quadris cobertos.

- Merda, tarde demais. - reclamou, olhando lamentavelmente para sua


própria ereção.

- Céus, como... - Louis iniciou, inevitavelmente encarando-a junto,


espantado. - Como isso se formou? Nós nem ao menos nos beijamos?!

As bochechas de Styles adquiriam uma tonalidade avermelhada, ao que ele


mordia os lábios.

- Bem, você estava me tocando... e estava ardendo, doendo, entende? -


admitiu, claramente envergonhado.
- Seus níveis de masoquismo superam minha compreensão, Harry. -
Tomlinson rebateu, sorrindo tenro para o rapaz.

- Nah, está tudo bem. Pode ir. - garantiu-o.

Harry fez menção de se levantar, no entanto, o futuro rei de Riverland o


impediu.

- Eu o disse que não estava inspirado para sexo, e não que me recusaria a
satisfazê-lo.

- O quê? - Styles repetiu ligeiramente abobado.

- Será uma honra agradá-lo. - Louis garantiu. E a forma incrédula que Harry
reagiu o conduziu a crer que ninguém costumava proporciona-lo um
orgasmo sem visar seus próprios interesses.

Ninguém se importava o mínimo para considerar também o que Harry


precisava. Porque Harry não era a porra de um brinquedo sexual, não estava
suposto a ter prazer só quando fosse para dividi-lo com outra pessoa. Ele
deveria ter as suas necessidades atendidas sob quaisquer circunstâncias.

- Eu não- Você não precisa dar prazer só pra mim, Lou. Eu posso me aliviar
sozinho, vá para o caf-

Louis não o permitiu prosseguir.


Ele agarrou Harry pelo pulso e o puxou para si, fazendo com que o príncipe
tombasse em cima de seu corpo desajeitadamente.

Tomlinson desceu sua mão determinado a adentrou-a sem delongas na


toalha, rodeando o membro saliente, rijo e quente de Styles com um aperto
firme, que obrigou Harry a firmar as mãos nos ombros de Louis para não
cair.

- Louis. Se você fizer isso de novo será como puxar uma alavanca. - Harry
advertiu. - E não haverá volta. Então eu sugiro que pare e-

Louis apertou o pênis novamente, com mais força, sentindo-o pulsar contra
sua palma e a boca de Styles avançar na sua para que Tomlinson engolisse
seu gemido, evitando que ele escoasse alto entre as paredes e chamasse
atenção alheia.

Concentrado, Louis iniciou a masturbação com uma velocidade calculada


para que somente o excitasse mais, não o bastante para fazê-lo vir.

Ele não enxergava suas próprias ações, desde que a toalha tampava
completamente a visão, contudo jurava que o pênis de Harry estaria em um
tom vermelho escuro, com as veias proeminentes, latejando quase como
uma poesia erótica sendo descrita no ato.

Quando Louis raspou o polegar por sua glande, Harry grunhiu contra a sua
boca, seu corpo inteiro tremendo no colo do menor.

Tomlinson descolou seus lábios dos dele e os trouxe para a orelha de Styles,
sussurrando:

- Ouça o que irá acontecer. - ordenou, tendo Harry suspirando falho. - Eu


irei deitar, e você removerá sua toalha. Virá por cima de mim e sentará no
meu rosto, para cavalgar enquanto o lambo sem parar.

Esse conjunto de palavras afetaram instantaneamente Styles, resultando em


um jorro de pre-gozo transbordando de sua fenda ao que seu cérebro
esbranquiçou.

Presenciando a falta de ações de Harry, Louis pressionou o dedo novamente


contra sua fenda, espalhando o líquido pela cabeça e melando-se no
processo.

Ainda com Styles o encarando paralisado, Louis conduziu seu próprio dedo
até sua boca, chupando-o com suas bochechas afundadas o resquício do
fluído expelido pelo pau de Harry.

- E então? Está esperando o quê para se mover? - Tomlinson indagou


insinuante.

Harry piscou atônito, concordando com Deus sabe lá o quê, e saindo de seu
colo, permitindo que Louis deitasse completamente no colchão.
Uma vertigem o atingiu, fazendo com que Styles ficasse subitamente tímido
para despir-se sobre o rosto de Louis.
E ele não entendia o porquê, afinal, vamos lá, Harry tinha uma lista longa
de despudor... mas... com Louis era diferente, sempre era diferente. E,
mesmo que eles já houvessem transado e feito isso antes, era inevitável que
essa insegurança ocasionalmente sobrecarregasse seu peito.

Mas Louis percebeu.


E logicamente tomou as rédeas da situação.

Segurou Styles pelas ancas ainda cobertas pela toalha e o guiou


delicadamente até que o príncipe pudesse pousar suas nádegas sobre seu
peitoral.

- O que o aflige, Haz? - perguntou, sua voz calma.

- Não sei. Vergonha? - sugeriu tímido. - Às vezes, do nada, eu sinto como se


você me fizesse reencarnar o meu antigo 'eu'. O 'eu' que ficaria rubro de
estar nu na frente de alguém.

Essa confissão de Harry deveria ter travado Louis. Deveria tê-lo colocado
em uma nuvem de choque por corresponder exatamente ao que Amélia o
dissera.

Todavia, surpreendentemente, surtiu um efeito oposto. Louis se sentiu


contente, e estranhamente realizado.

- Você é lindo. - Tomlinson proferiu, puxando a toalha para longe de Harry,


aos poucos expondo centímetro por centímetro de sua epiderme.

O atrito que o têxtil causava ao alisar seu membro enquanto era removido
provocou a retomada dos sentidos carnais de Styles, que engoliu o
constrangimento e suspirou ansioso pelo o que vinha.

Ao desnuda-lo totalmente, Louis usufruiu de uma imagem que nem em seus


sonhos materializaria. Pois Harry estava acomodado em seu peitoral, com
seu pênis ereto quase encostando em seu queixo, e o príncipe olhando-o de
cima em uma expectativa desmedida.
- Vamos, monte em minha cara. - incentivou, assistindo Harry concordando
e se erguendo, até que seu traseiro estivesse alinhado à face de Tomlinson,
pairando sobre ela.

Ficou meio escuro depois disso.


A última paisagem que Louis propriamente teve foi a da entrada pequena e
comprimida do outro descendo, descendo, ao ponto que as regiões íntimas
de Styles tampassem a claridade e seu nariz fosse afundando em sua bunda.

Assim, ao que Louis estendeu sua língua para cima, circulando a região
sensível, Harry chiou, contorcendo-se.

Tomlinson nunca se cansaria de enfatizar o quanto adora como Styles é


receptível e suscetível aos mínimos estímulos.

Então, Louis definiu um compasso em que ele lambia todo o perímetro de


sua entrada para depois instiga-lo, enfiando sua língua cada vez mais
adentro, aproveitando que sua abertura estava ali, apetitosa e molhada pela
própria saliva.

Ele tinha gosto de maça verde e Tomlinson agradeceu pelo banho que
acabara de tomar - onde possivelmente se preparara internamente para o
caso de ser lambido (Styles era muito precavido).

Cansado do ralo contato, Harry gemeu contrariado. Eles esperava que


Tomlinson tivesse pena de sua situação e entendesse que sua ereção doía e
ele precisava gozar em algum período breve.

- Lou, por favor, me dê mais. - choramingou, descendo sua bunda ainda


mais até que Tomlinson quase morresse asfixiado.

E Okay, Louis pararia de provoca-lo.

Portanto, além das lambidas ao redor, Louis endureceu sua língua e


começou a penetra-la por inteiro em Styles, sentindo suas paredes se
contraírem e Harry tremelicar de uma forma adorável sobre ele.
Iniciou um entra e sai em Harry que o pôs em combustão, e sendo o
insaciável que é não tardou para que o príncipe perdesse o autocontrole e
viesse a movimentar-se em sincronia.

Harry amava os choques que seus nervos internos sensíveis recebiam com o
músculo úmido e macio da língua de Tomlinson, só a ideia de estar
montado sobre a face do príncipe de Riverland levava-o à loucura.

- Hm, isso, isso... - Styles gemeu arrastado, pegando um ritmo mais bruto e
arqueando todo o corpo enquanto sacudia seu quadril para a boca do menor.
Ele apoiou suas mãos na cabeceira adornada da cama, obtendo uma melhor
sustenção para remexer-se contra sua língua.

Facilmente o príncipe dos cachos perdeu-se no paraíso, entreabrindo seus


lábios para permitir que seu prazer fosse extravasado por sua boca,
gemendo em deleite, os olhos fechados e os dedos dos pés torcidos.

Era muito melhor do que cogitara, ele não podia ajudar seus quadris que
estavam tentando se afundar completamente no rosto de Louis nessa
posição.

Louis, por sua vez, podia sentir as coxas de Harry abraçarem suas orelhas e
os lados de sua cabeça ainda mais apertados, fazendo com que ele
penetrasse mais afundo sua língua no buraco agora suficientemente
molhado do menino. Ele gemeu contra sua pele, sentindo Harry gritar pela
vibração antes de ter uma onda de espasmos forte.

- Porra, Lou. Hm- Mais, mais... - Styles choramingou abertamente,


balançando seus quadris incrivelmente rápido.

Seu próprio cuspe começara a escorrer de seus lábios para seu queixo, e
talvez Louis saísse com seu nariz quebrado pela força que Harry aplicava
contra ele, mas nada o impediria de prosseguir só para escutar os gemidos
desesperados do príncipe, somados com o baque erótico e intermitente do
casco de madeira da cabeceira batendo na parede atrás dele cada vez que
Harry empurrava suas ancas contra o rosto de Louis.
Ele enrolou a língua mais adiante no buraco comprimido de Styles,
esfregando-a contra suas paredes aveludadas ao que o príncipe abandonava
sua noção, entrando no estado em que seus olhos se umedeciam com
lágrimas delatando sua satisfação.

Ocasionalmente Harry controlava tudo, pelo jeito que ele cavalgava,


montando para cima e abaixo como se fosse um pau, segurando Louis até o
ponto em que o único que ele podia fazer era foder o menino com a língua e
nada mais .

Tomlinson começou a gemer fracamente contra a bunda de Harry, as mãos


agarrando fortemente as coxas brancas macias, fazendo com que as marcas
vermelhas de pressão aparecessem contra sua pele.

Almejando-o tortura-lo de tesão, Louis levou cegamente sua mão esquerda


para o pênis rígido do príncipe, bombeando com o mínimo de coordenação
que poderia ter simultâneo a estar com nádegas balançando em sua cara. E,
para jogar Harry ao seu máximo, ergueu seus dedos da mão direita,
empurrando-os até pressionassem o mamilo do príncipe.

Harry gritou.

- Eu n-não... eu não vou a-aguentar. - gemeu a plenos pulmões, revirando


os olhos. - T-tenho que... Oh.... gozar.

E ninguém poderia culpar seu desespero, pois era evidente que ter Louis
lambendo sua entrada impiedosamente já seria o suficiente, mas sua mente
ainda processava a masturbação contínua em seu pau e a sensação deliciosa
do bico de seu mamilo eriçado sendo apertado com precisão. Era tudo tão
insuportavelmente quente e delicioso.

Louis sentiu como se ele estivesse ofegante para o ar neste momento, como
Harry estava empurrando-se mais e mais forte contra seu rosto, sufocando-
o. Seus pensamentos eram nebulosos, mas tudo o que ele podia pensar era
continuar devorando-o e indo mais profundo.... e profundo, tão profundo
quanto podia antes que Harry estivesse se contorcendo, chorando de prazer,
e sentando em uma investida final até que a fenda de seu pênis jorrasse com
força.
Infelizmente a posição não permitia que Tomlinson visualizasse a beleza de
Styles durante seu orgasmo, mas ele perfeitamente idealizou o cenário exato
em que o príncipe lançou a cabeça para trás, seus músculos se tensionando
e seus lábios se partindo até que a última palavra que dissesse com lágrimas
rolando por seu rosto fosse 'Louis'.

Harry gozava e o mundo aplaudia.


Maça verde nunca teria o mesmo sabor depois daquilo.

Após um minuto aguardando os intensos espasmos atenuarem, o príncipe


olhou para baixo com as orbes verdes aquosas, enquanto Louis esforçava-se
para regular a respiração, saliva pingando e rolando pelas bochechas em
uma lambuzeira imensa.

Não tardou para que eles se desvinculassem e Harry apanhasse lenços de


sua gaveta (novamente: precavido), atendo-se a limpar superficialmente o
gozo de seu abdômen, e com um outro lenço secou a saliva extravasada
pela epiderme de Louis.

Eles estavam de pé, Styles raspando com suavidade (e uma ternura


disfarçada) o pano pelos lábios de Tomlinson, encarando a própria ação
fascinado.

As lagoas azuis eram tão mais límpidas sob a claridade do sol, e aqueles
beiços inchados e muito vermelhos soavam como um convite irrecusável
para Harry, que, não sendo capaz de se impedir, colou sua boca na de Louis
em um beijo calmo, sem língua... só provando... provando um pedaço
daquilo que teria gosto de céu.

E ele voava.

Ao descolar seus lábios, Harry sentiu-se ruborizar pois Tomlinson ainda o


fitava com uma certa fixação, como em um estudo particular.

Almejando quebrar aquele estado constrangido, Styles sussurrou


presunçoso:

- Vamos comer? Depois de gozar tenho fome. - sugeriu.


Um pequeno e carinhoso sorriso se acendeu em Louis. Ele assentiu ainda
em silêncio, pronto para seguir rumo à cozinha (eles perderam o horário do
café e o início das aulas teóricas, puf), meio que acostumado com o fato de
terem que roubar as sobras escondidos - o que se o revelassem antigamente
sobre isso Louis riria em descrença. Pois ele nem se reconhecia mais como
um príncipe.

Mas Harry interferiu, prendendo-o pelo antebraço até que detivesse sua
atenção.

- Eu sei que ultimamente tudo que tenho feito é te agradecer, porque você é
honestamente uma benção e sua bondade está ficando repetitiva. - Styles
suspirou, mordendo o interior da bochecha. - Hm, de novo, obrigado Louis.
Obrigado por curar minhas feridas.

Harry poderia ter acrescentado 'as das costas'.

Mas ele não especificou quais.

***

[ * ponham a canção da mídia* ]

Durante o resto daquele dia e tarde Louis viveu em modo automático,


distraído e meio distante, nem sequer se manifestando nas aulas e
atividades.

Ao anoitecer se isolou na biblioteca. Optou por se abster do jantar


comunitário e se alocou por horas em um canto da biblioteca escura,
encostado ma estante, a cabeça pendendo para a direita ao que seus olhos
observavam cegamente o céu, através da grande janela de vidro.

- O que está fazendo? - aquela voz muito conhecida e rouca intercedeu-o


eventualmente, da porta de biblioteca.

E, apesar de Harry nem poder ter avistado Louis de onde estava, ele
simplesmente sentia a presença do outro.
Deveria ser tarde, Louis não sabia.
Ele havia abandonado a noção do tempo, tendo apenas ciência de que seu
traseiro já estava amortecido e seu cérebro mal processava o que quer que
estivesse o incomodando.

- Pensando. - Tomlinson respondeu monótono.

Harry concordou com um aceno, indo se sentar ao lado de Louis, apoiando


as costas na estante, rente à sua lateral.

- Posso pensar com você?

Tomlinson sorriu, seu foco ainda preso na suntuosa lua cheia, levando
Harry a sorrir junto.

- Sinta-se à vontade.

- Certo. - Styles estalou a língua no céu da boca. - Então... sobre o que


estamos pensando?

- Você já se sentiu assustado com a ideia do futuro? - Louis questionou, ele


parecia distraído e distante.

Harry riu brevemente.

- A minha vida toda.

- Eu nunca o senti antes... até agora. - Tomlinson admitiu, engolindo a seco.


- Como enfrentar isso?

- Bem, evite divagar a respeito. - Styles deu de ombros. - Defina poucos


pontos que são imprescindíveis e deixe que o destino trace o resto por você.

Louis desviou finalmente o olhar da lua para Harry, fitando-o intrigado.

- E quais são os seus pontos?

- Eu espero nunca me cansar do céu noturno, das tempestades, de assistir o


creme criando formas curiosas sobre meu café. - Harry sibilou, inspirando
fundo. - Eu espero nunca crescer para me tornar alguém que não enxergue
mais beleza nas pequenas coisas.

E foi aí - especificamente - que Louis aceitou mentalmente que estava


apaixonado.

Porque... se apaixonar por Harry não foi como cair em paixão e rotular a
queda como amor.
Apaixonar-se por Harry foi natural, como entrar em uma casa sentindo que
aquele era seu lar.

***

Notas da autora: PLAU!

PS: gente, descobri que sou burra e não sei criar grupo no twitter. Alguém
pode fazer uma gentileza para essa autora perdida e criar um grupo da
fanfic?

Assim, quem quiser participar deixa o user aqui (os que se manifestaram no
capítulo passado já anotei) e vamos ser uma família feliz. ❤
Chapter Forty Three

Episode: What He Hides

Quando Louis despertou com o rosto amassado contra o travesseiro naquela


manhã algumas coisas vieram na sua cabeça:

Primeiro: ele não havia respondido novamente a carta que sua mãe o
enviara porque se tratava - ainda - de Harry.

Segundo: ele estava... apaixonado. Pois é, esse pensamento não mudou


nessas poucas horas de sono, infelizmente.

Terceiro: sua vida não fazia qualquer sentido.

E, okay, ele não era iludido de imaginar que seu destino ocorreria da
maneira que pôs no papel durante toda sua existência.
Mas, encontrar um marido ou esposa que seguissem sua linha de
idealização era o mínimo.

E, agora, a pessoa certa não parecia exatamente certa.


E estranhamente um sentimento de alívio aquecia seu peito.

- Bom dia, Lou. - a voz suave da criada o removeu dos devaneios, o


fazendo desviar sua atenção para o rosto amuado de Lorena ao que esta
servia chá de camomila em uma xícara sobre o criado-mudo.

- Hey, Lolo. Já é hora das aulas? Eu me atrasei? - indagou exasperado.

A criada imediatamente negou com a cabeça.

- Não, não é. Eu sinto muito por tê-lo acordado mais cedo é que... er-
- Diga, o que a incomoda? - Louis questionou, puxando-a delicadamente
pelo pulso para que se sentasse em sua frente.

- Eu preciso conversar. Com alguém. Qualquer pessoa. - ela admitiu, dando


de ombros. - É difícil não ter ninguém.

- Bem, você tem a mim, a sua irmã e a Brandom, não?

A garota piscou seus olhos aguados, rindo sem humor.

- Na verdade, não. Eu literalmente só tenho a você.

- E quanto aos outros? - interrogou. Tomlinson não podia impedir essa


preocupação que o tomava ao se tratar de Lorena, porque, bem, ela é doce,
e o remete à família, o remete à sua mãe.

- Jezebel não fala mais comigo.

Foi quando o cérebro de Louis deu um nó.

- O quê? Por quê?

- Há um tempo ela vem se comportando estranha. Ela me encara estranho, e


age distante. - decretou, negando a si própria com a cabeça. - É como se
escondesse um segredo de mim.

- Você já tentou conversar com Jezebel? Às vezes, é só um momento ruim.


Talvez ela esteja com ciúmes de Brandon.

- Bom, não é mais como se precisasse. Nós terminamos. - revelou.

- Por que terminaram?

Lorena mordia o lábio inferior enquanto baixava a cabeça. Ela parecia


envergonhada, o que significava que possivelmente...

- Eu o trai, Lou. Sei que é horrível, mas eu o trai com Leroy. Lembra-se
daquele cozinheiro que mencionei uma vez estar confusa a respeito? - suas
bochechas estavam rosas. - E alguém me dedurou. Contou a Brandon.
- Isso é tão... feio, Lolo. - e, certo, Louis pode ou não ter incorporado o
papel do irmão mais velho conferindo algumas lições de moral para a
caçula, mesmo que ele não tenha muita experiência a respeito de
relacionamentos. - Você pisou nele, nós não podemos pisar nas pessoas
como se fossem folhas secas que caíram das árvores ao chão.

Ela suspirou, concordando em silêncio.

- Eu estou decepcionado com você.

- Eu também. - Lorena sussurrou.

Por um instante, Louis refletiu aquilo.


Refletiu o que exatamente uma traição seria.

O fim da paixão?
Ou as tentações gritando mais alto que ela?

***

Durante o café da manhã Tomlinson estranhamente não avistou Harry.

Hoje, ao invés de se reunirem no Salão A como de costume, os príncipes


foram instruídos a terem a primeira refeição do dia no salão do jantar, onde
todos sentavam em torno desta extensa mesa circular, com um pano de
linho branco estendido sobre ela e as peças de louça de porcelana brilhando
com os feixes de luz escorridos através das grandes janelas de vidro.

Era tudo meio celestial, e poético. E Louis naturalmente relacionaria isso


com Harry, porque ele tinha esse conjunto de fraque amarelo claro que
combinaria perfeitamente para a ocasião e... que merda Louis estava
pensando?!

Tudo bem, não havia nada de errado com isso.


Styles provavelmente só acordara atrasado e decidira abster-se da refeição
comunitária.
... o que não deixava de ser uma pena porque ele adoraria essas taças de
cristal com fatias de kiwi adornando as bordas, e suco de morango dentro
mas...

Conforme todos se alocaram, Louis preferindo uma posição na ponta da


mesa, e Liam vindo para seu lado direito, a comida foi servida.
E ela consistia em confeitaria francesa, frutas e suco, da forma que
geralmente eram no outro Salão.

- Como tem estado, Príncipe William? - Payne ocasionalmente o indagou,


lançando-o um sorriso gentil.

E Louis estava prestes a devolvê-lo tal educação quando se assustou, pois


algo prendeu sua perna.

Seus olhos se arregalaram e sua respiração ficou ofegante com a


possibilidade de ser um ratinho.

- Está tudo bem? - Liam se certificou, olhando-o desconfiado.

Tomlinson não gostava de fazer cena.


Ele costumava ser tão impassível que poucos sequer previam o que ocorria
com ele.

- Está sim, apenas meu talher que caiu. - Louis disse-o em tom neutro,
normalizando os traços.

Inspirando fundo em um mantra particular de que o ratinho que estivesse


em sua perna não o morderia, ele finalmente tomou coragem para verificar,
disfarçadamente curvando-se para baixo da saia da mesa.

E, certo, aquilo com certeza não era um ratinho, a menos que ratos tivessem
cabelos cacheados, olhos enormes verdes e um sorriso perverso em seus
rostos.

- Harry?! O que faz aqui?! Por que está debaixo da mesa? - sussurrou,
rezando para que nenhum outro príncipe escutasse e interrompesse seu café
para bisbilhotar o porquê de Louis estar praticamente inclinado
conversando com Deus sabe o que.
- Bom dia, Lou! - Harry saudou, piscando lento com aquela inocência
forçada que exprimia 'catástrofe'. - Pensei em retribuir o que fez por mim
ontem!

Tomlinson nunca deixou seu queixo cair como agora.

- Você é insano?! Aqui? Agora?

Styles, o qual estava muito encolhido em sua frente, se limitou a assentir.


Um biquinho gracioso formatava seus lábios embora aquela essência
presunçosa o acompanhasse.

- Não, Harry! Está louco? Se nos flagrarem seremos expulsos! - reverberou


exaltado.

- Então tome cuidado para que não desconfiem. - Styles disse assim, fácil e
simples, com um dar de ombros.

E no momento que uma porção de xingamentos escorregou para sua boca,


Louis sentiu uma mão apertar sutilmente seu ombro.

- Vossa Alteza? O que foi? Está tudo bem? - escutou Liam de longe.

Ainda encarando fixo Harry em advertência, Tomlinson respondeu.

- Sim, sim, só uma inconveniência em minha calça. Não se preocupe.

E, sem escapatória, teve que se reerguer, retomando a postura em seu


assento.
Seu cabelo devia estar ligeiramente desarrumado e sua expressão um pouco
assustada, pois Payne o lançou uma feição divertida mas não ousou
comentar nada.

Com o coração disparado, Tomlinson se esforçou para ignorar o instante em


que a mão quente de Harry começou a toca-lo na panturrilha.

Ele precisava comer seu Flan de baunilha sem se permitir ceder às


provocações de Harry.
Ele precisava.
Precisava.

Mas, então, os dedos longos de Styles passaram a traçar um caminho


somente de subida por suas duas pernas, o que enviou um arrepio por todos
os pelos de Louis.

Quando suas malditas mãos se afundaram nos botões de sua calça,


Tomlinson ofegou. Xingou-se mentalmente por não ter vestido um calção
sob ela, facilitando a vida de Harry que logo entrara em contato com seu
pau.

E aquilo soava como uma guerra esquisita em que Styles dedilhava a


extensão de seu membro para excita-lo enquanto Louis se focava em pensar
sobre coisas que fariam-o murchar na hora, impedindo de conceder uma
ereção para a felicidade Harry.

Certo.
Ele poderia fazer isso.

Ele poderia pensar sobre como coelhos gritam estranho quando copulam e
então o macho cai estremecido no chão.

Ou ele poderia pensar que Harry está passando a porra do polegar por sua
glande e como é maravilhoso.

Não!

Ele iria divagar então a respeito das olimpíadas de críquete que ocorreram
ano passado em seu Reino, e o desastre que seus irmãos demonstraram ser
neste esporte.

Ou... merda... sua mente divagaria para o príncipe escondido de joelhos em


sua frente que agora estava comprimindo suas bolas determinado, ao que
masturbava depressa o pau de Louis.

Tomlinson realmente - realmente - se obrigou a discutir mentalmente sobre


plantas carnívoras que devoram insetos...
Mas... Seu membro foi envelopado por uma cavidade quente e úmida, ou
seja, Harry estava chupando-o e-

- Porra! - Ele grunhiu, trancando os dentes.

Por sorte a maioria dos príncipes estavam distraídos com seus próprios
debates - não cogitando a possibilidade de um deles estar sendo chupado
em público na cadeira ao lado - e ninguém o escutou. A não ser,
obviamente, Liam.

- Louis? - chamou-o.

Louis engoliu a exasperação e fingiu ignora-lo, ele não poderia demonstrar


nada ou talvez os dois fossem expulsos da temporada e, céus, ele mataria
Harry com suas próprias mãos se isso acontecesse.

Apertando com força os talheres ele se obstinava a cortar o pudim flambado


em pedacinhos menores, próximo de tritura-los desesperado.

Porque, vejamos, Tomlinson não costumava se expor em situações de risco,


que não fossem estáveis e corretas. E, agora, por ironia do destino, após ter
sexo em uma capela e em uma floresta, havia um príncipe com o rosto
afundado entre suas coxas, engolindo seu pau de cima abaixo, e novamente
para cima, e novamente para baixo. Nesse ritmo que trazia Louis para um
ponto não seguro em que sua garganta grunhia sem seu consentimento.

E, er, todos deveriam estar pelo menos o olhando de soslaio.

- Porra, porra, porra... - ele sibilou inaudível, percebendo que com as mãos
livres Harry apertava suas bolas, masturbava o que não podia chupar, e
esfregava a língua despudoradamente sobre sua fenda.

Era tudo demais e Louis estava perdendo a fé que mantinha sobre si no que
condizia sua força de vontade, sua resistência pessoal.

Um choque o paralisou logo que Styles aplicou uma pressão deliciosa com
a sucção de suas bochechas contra as veias proeminentes de seu pênis, e
infelizmente Tomlinson não previu que, sim, gemeria.
Ele gemeu. Não tão alto, mas chamativo o bastante para que os demais
jovens o fitassem estranhando nada discretos.

Sabendo que seu rosto estaria escarlate de vergonha, Louis apanhou a taça
de suco de morango, suas mãos soando frio e trêmulas.

- Você vai infartar? - Payne piscou de olhos arregaladas, ganhando um


breve aceno negativo do príncipe de Riverland.

Para não ter que falar, Tomlinson grudou sua boca na borda da taça,
tardando muito mais tempo para de fato bebê-lo.

Todavia, obviamente, Harry é essa maldição sem qualquer senso, que não
satisfeito pelo alvoroço que causava no menor, aproveitou que uma das
mãos de Louis repousava sobre o estofado da cadeira para puxa-la,
guiando-a até o topo de sua cabeça.

Louis quase era capaz de ouvir em uma mensagem telepática Harry


murmurando com seu olhar sacana 'Comande-me'.

Ele fechou o punho em um maço de seus cabelos, os cachos amassados


fortemente, o que ocasionou em Styles gemendo contra seu pênis, enviando
essa vibração que o fez literalmente cuspir o suco de volta para a taça.

Louis não lembrava o nome do príncipe que estava sentado em oposição a


ele, mas flagrou a careta de nojo que o direcionou ao presenciar aquela
lambança. E ele não poderia culpa-lo.

E só culparia o maldito Harry - o qual parara de chupa-lo, esperando que


Tomlinson guiasse seus movimentos e o ritmo.

E, porra, Louis desejou muito lutar contra esse ímpeto, preserva-lo estático
até que o horário do café da manhã terminasse.

Mas, sério, seu pau estava latejando, fodidamente duro, Harry tinha o
oferecido a chance de penetra-lo em sua garganta e a hipótese de gozar
silenciosamente em presença de outras pessoas era no mínimo excitante.

Ele nem sequer cogitava que era amante do perigo ... até hoje.
Com a respiração ofegante, e acumulando a maior quantidade de Flan que
coubesse em sua boca para abafar potenciais futuros grunhidos, Louis
começou discretamente a empurrar a cabeça de Harry para baixo, sentindo-
o envelopar seu membro.

Era extasiante e uma bagunça úmida.


Se alguém o assistisse de longe, e estudasse o combo de suas expressões em
compasso com o gesto de seu braço escondido atrás da mesa, alegaria que
Louis estava se masturbando.

Porém, ninguém percebeu. Ou, ao menos, se percebeu não se manifestou.

Recobrando um pouco mais de confiança, Louis instruiu Harry para


apressar o ritmo, nesse vai e vem de sua cabeça à base do pênis, fazendo-o
encostar o nariz facilmente em seu abdômen.

Foi ficando mais e mais macio, e vez o outra Louis ouvia-o engasgar e
parava, mas Styles beliscava o interior da sua coxa em repressão,
ordenando-o indiretamente a prosseguir.

- Hm, merda. - Tomlinson ofegou, xingando mudo em deleite, atendo-se a


engolir o ultimo pedaço do pudim prevendo que estava perto de gozar.

Portanto, conduziu o ato de Harry em uma velocidade maior, aumentando


seu prazer sem que tivesse mais controle ou consciência.

Espasmos musculares o atingiram, o interior de seu corpo se aquecendo e


aquela satisfação o sufocando, sentindo-se como a tampa de um champanhe
prestes a estourar.

Louis tremeu, sendo tomado por descargas que o atravessavam, e, por fim,
suspirou junto a um grunhido, tendo os dentes de Harry raspando sutilmente
suas veias antes de puxa-lo para trás e ejacular com força em seus lábios.
Jatos aliviados e longos.

Ele demorou alguns segundos para cessar suas contrações, finalmente


retornando à realidade, em que príncipes o encaravam perturbados, ele
estava suando o bastante para que sua franja se colasse em sua testa, e
Harry guardava e fechava sua calça.

Tomlinson rezou para que nenhum deles tenham desconfiado (o que Deus
por certo o ignorara, pois ele acabou de gozar na mesa - e todas as refeições
são sagradas / Harry e ele tinham algo com mesas).

Relevou essas feições curiosas que eram postas sobre si e limpou a


garganta, fechando-se para seu jeito neutro e soberbo, bem.

***

Louis foi descobrindo aos poucos a denotação de estar apaixonado.

Antes, para ele, 'paixão' nunca foi mais do que um tema retratado em livros
de romance. Cem, trezentas, quinhentas páginas discorrendo
detalhadamente estórias impossíveis, trágicas e belas.

Paixão é algo vago.

Louis sabia quais são os efeitos, as contra-indicações... mas, até então, sua
compreensão se resumia a essa espécie de 'bula', que o precave do que há
por vir.
Todavia, da mesma forma que um medicamento reage diferente em cada
organismo... a paixão também.

Quando constatou estar apaixonado por Harry, Louis não o fez porque de
repente seu coração palpitou e suas pupilas dilataram; não o fez porque de
um segundo ao outro o príncipe se transformou naquilo que ele jamais se
veria sem; não o fez por, naquele instante, ter se impressionado e decidido
que assim seria...

Você não se apaixona pelo momento.


Você não se apaixona por um conteúdo.
....Você se apaixona pela pessoa.

E uma pessoa é uma junção de muitos momentos e conteúdos.


Ele se apaixonou por Harry porque Harry disse que Louis parecia patético
sendo tão neutro quanto costumava ser. Desafiou-o. Enfrentou-o.

Ele se apaixonou por Harry porque Harry o presenteou com uma amostra
do que viver supostamente significa. E isso o mudou.

Ele se apaixonou por Harry porque Harry, mesmo se vangloriando de todas


as coisas caras que o rodeia, ele ainda conversa com flores, ele ainda aponta
para as estrelas e sorri.

Ele se apaixonou por Harry porque Harry o deu um espelho, obrigou-o a


encarar sua própria imagem... e descobrir que aquela não era a sua real
versão.

Louis não encontrou Harry.


Harry o encontrou.

E Harry não é o esposo responsável com a mente focada no reino,


psicológico estável e cheio de condutas.

Harry é aquele antigo filhotinho de rua resgatado, é o vaso quebrado e o


menino perdido. Harry é belo, triste, atrevido, carismático, encantador.

Harry é uma constelação. O que faz sentido pois são as constelações que
guiam os marinheiros de volta pro lar.

E, porra, aquilo soava perfeitamente como o lugar que Louis moraria.

Portanto, quando naquela noite Tomlinson ponderou sobre a última carta de


sua mãe - a qual havia convenientemente escrito 'Como Harry o faz se
sentir?' ... a única resposta que o veio à mente foi:

"Em casa".

***

Quatro dias se passaram.


Tomlinson não tinha notícias de Harry desde o incidente do... café da
manhã, porque o mesmo havia desaparecido.

E ele estaria mais surpreso se não estivesse habituado com esses sumiços
causais, esses eventuais comportamentos duvidáveis.

Quando buscou ajuda à Amélia tudo que ela o retribuiu foi um sorriso triste
e um pedido para que ele não desistisse de seu menino, pois Harry era
complicado.

Ela o alertou que o problema de gostar de alguém estilhaçado é que muitas


vezes você acaba se cortando com os caquinhos soltos, se espetando nos
fragmentos pontudos.
E Louis pensou Okay, nada que alguns curativos não fossem resolver.

Na noite de sábado Tomlinson foi se deitar cedo, entediado. Contudo, o


destino tinha um plano diferente, pois acima de seu colchão havia este
pequeno bilhete:

""Encontre-me nos jardins. H x.""

***

Aquela era particularmente uma madrugada fria, e nem o fato de ser verão
contribuiu para que Louis se sentisse ao menos aquecido com o casaco de
linho marrom que vestiu por cima da blusa branca de pijama.

Por sorte não teve que caminhar tanto.


Harry estava sentado no célebre banco metálico entre os canteiros de flores,
onde eles uma vez trouxeram fedoren- Mackenzie.

Conforme se aproximava, Louis constatava que Styles parecia avoado, seu


rosto estava sério, meditativo.

- Boa noite, Príncipe Edward. - Louis saudou, não recebendo nem um


mínimo sinal entusiasmado de Harry. E, certo, agora ele confessava sua
preocupação - O que está fazendo?
- Pensando. - disse-o com um tom distante, a cabeça tombada para cima,
fitando fixamente o céu.

E, quem sabe, aquilo era um déjà-vu.

- Posso pensar com você? - perguntou, embora não realmente houvesse


esperado por um consentimento antes de se sentar ao seu lado, estudando
sua face tensa de perfil.

Eles ficaram nesse silêncio por alguns minutos.


Que não era confortável, nem tenso.
Era meio que um silêncio de hesitação.

Hesitação até que Styles resolvesse revelar o que o perturbava:

- Acho que estou fodido. - foi tudo o que disse em um fio de voz, quase
assombrado.

Tomlinson não tinha certeza se deveria aprofundar-se nesse assunto,


possivelmente Harry não explicaria muita coisa.

Para tanto, optou por uma tentativa de descontração:

- Bem, você quase nos fodeu naquela manhã. - proferiu rindo, para enfatizar
que era uma brincadeira.

Contudo, Harry não acompanhou seu humor.


Pelo contrário, ele desviou o foco das estrelas e o direcionou para o
príncipe.

- Sinto muito mesmo por isso, Louis. Eu não pretendia nos arriscar nesse
nível. Mas... foi preciso. - confessou. Firme e inquieto.

Louis franziu o cenho totalmente confuso.

- O que quer dizer com 'foi preciso'?

- E-eu... era uma armadilha.


- Para mim?!

- Não! - Styles negou imediatamente, desmanchando um pouco de sua


expressão frenética para uma mais suave. - Para o autor de How to Wear a
Crown.

- Aquele jornal de fofocas besta? Por que está tentando desvendar isso?

- 'Jornal besta'? - Harry repetiu incrédulo. - Louis, essa merda quase me fez
ser expulso do Palácio por algo que não fiz. Duas vezes.

A maneira que Styles afundava suas unhas contra a própria palma da mão, e
a respiração desregulada, conduziram Tomlinson a crer que o príncipe
estava a beira de um surto.

Contudo, Louis não vacilou em sua postura. Se Harry já estava aflito, ele
precisava se demonstrar seguro. Precisava transmitir resistência.

- Então... aquilo foi um teste? - o futuro rei de Riverland indagou, juntando


os pontos.

Styles acenou em concordância.

- Sim, aquilo foi um teste. O autor é esperto, assiste os meus passos. Ele
saberia que eu estava debaixo daquela mesa entre as suas pernas... e ainda
assim se manteve quieto. Não divulgou.

E, Okay, Harry era muito inteligente e calculista.

- Seja quem for que está armando contra mim não vem publicando nada- o
príncipe de Malta adicionou, engolindo a seco.

- Pensei que fosse algo bom.

- Não é. - negou prontamente. - Se ele não está se manifestando agora, se


não relatou sobre nosso boquete no café da manhã, é porque se prepara para
uma exposição de verdade, algo maior.
Tomado por esse novo instinto protetor, Louis estendeu seus braços e
englobou o rosto de Styles entre suas mãos, massageando suas têmporas
com as pontas dos dedos macios.

- Enquanto ele estiver armando para você sem provas, com crimes forçados,
você estará protegido, Harry. - garantiu-o.

- Este é o problema. - Styles rebateu, piscando atordoado. - E quando ele


passar a ter provas?

- Forjadas? - interrogou confuso.

Mas Harry se desvinculou de seu toque, virando o rosto para frente com
uma inspiração profunda.

- Não. - disse relutante. - ... as que podem expor coisas verídicas que
realmente me ponham em risco.

Louis descobriu sobre si que sua versão apaixonada não era exatamente a
que passaria a mão na cabeça de seus erros. Não de todos.

Um temor aglutinou o interior de Tomlinson, levando-o a perguntar meio


sufocado:

- O-o que você fez, Harry?

Styles analisou-o, desanimado.

- A questão não é só o que fiz. É o que sou.

E Louis provavelmente poderia arrancar mil significados dessa frase mas


nesse instante sua mente tinha pensamentos o suficiente colidindo entre si
em um jogo de 'deveria saber' e 'não quero saber'.

- Você... você tem noção de quem é o escritor anônimo? Quem pode odiá-lo
tanto a ponto de te vigiar, te perseguir?

Harry soltou uma risada nasalada irônica, bufando em seguida.


- Poderiam ser muitas pessoas. - informou, jogando a cabeça para trás para
retomar sua observação cega do céu, a entonação vazia. - Eu fiz muitos me
odiarem. Eu roubei muitas coisas. Roubei pequenos pedaços de suas vidas,
em que eu tenha gasto seu tempo ou machucado-os de alguma forma. -
segredou, fechando as pálpebras com força. - Essa é a pior coisa que se
pode roubar: o tempo de alguém. Porque isso, meu caro, você não tem
como devolver depois.

- Certo, e destes tantos... haveria alguém com motivos fortes o bastante para
ansiar destruí-lo deste modo? Você causou algum problema que justifique
essa raiva? - Louis indagou, internamente desejando que ele negasse. -
Algum que não há reparo?

Harry abriu os olhos marejados, descendo-os para as lagoas azuis.

- Sim. - sibilou, sem delongas.

Sua confirmação reagiu como uma flechada no peito de Tomlinson,


porque... amar o outro não te deixa cego, é você quem escolhe ser submisso
às consequências ou sensato diante delas.

Louis não queria ter se apaixonado por um jovem que carrega um grande
delito, seu pai o ensinara que o limite que se pode proteger quem ama é, se
ao fazê-lo, não está abandonando sua própria honra.

Sempre há dois lados em uma moeda.

- E se minhas apostas estiverem certas... - Harry prosseguiu friamente,


encarando com seus traços congelados. - ... não terei salvação.
Chapter Forty Four

Episode: Addicted

Quando Tomlinson afastou suas pálpebras pela primeira vez naquela manhã
de domingo, ele ofegou assustado.

Não é tão comum que a primeira visão de seus dias fosse o príncipe de
Malta.

- O que faz aqui?! - indagou rouco de sono, piscando atordoado. Porque


talvez ele ainda estivesse adormecido... nesse sonho de um universo
paralelo.

Mas Harry sorriu com seu típico ar prepotente, então o universo não seria
tão paralelo assim.

- Vim acorda-lo. - anunciou, cantarolando.

E, Okay.
Louis não tinha saúde para acompanhar as mudanças de humor do príncipe.
Não mesmo.

Na madrugada Styles aparentaria-se nervoso, totalmente apreensivo e...


horas mais tarde ele surgiria sorrindo, suspirando, expondo seu lado
extravagante com essas roupas espalhafatosas e Carolina em sua mão (?).

... Bem, Louis não era assim.


Ao menos ele não se esquecera do episódio anterior.
E mesmo se quisesse, seu coração continuaria pesado com essa luta interna
entre continuar camuflando Harry como o garoto bom injustiçado, ou
aceitar que talvez ele escondesse seu passado tão bem por medo de
descobrirem que por trás dos diamantes há mais do que fragilidade. Há
culpa.

Tomlinson ainda sentia aquela queimação interna esquisita por estar


próximo do príncipe, contudo, ele não era como um personagem das
poesias líricas - o que aceitava e confortava seu par romântico sob qualquer
circunstância imposta. Não. Louis levou muitos anos da vida criando essa
personalidade firme, decidida e prudente. Ele costumava agir com a razão, e
ter certeza de seus atos.

Ele não pensava que paixão é sinônimo de guerra, a qual você escolhe um
lado pelo qual lutará até o fim.
Para ele, paixão deveria ser sinônimo de arte, em que o pintor aceita que
alguns borrões são apagáveis e outros acabam estragando a tela.

E, Céus, ele desejava tanto que Harry continuasse sendo uma obra-prima
sob sua perspectiva. Ele desejava mantê-lo assim, bonito e admirável. E,
obviamente todos cometem erros, mas a intuição de Louis apontava que os
daquele príncipe seriam piores do que cogitara.

- Como chegou tão cedo? Lorena ou Jezebel não estavam aqui? - Tomlinson
questionou suspirando, estralando seus ossos da maneira que fazia ao se
espreguiçar.

Harry, que estava sentado na poltrona encarando-o, revirou petulante os


olhos.

- Aquela moreninha meio baixa, que parece um duende tagarela, estava


aqui. Expulsei-a gentilmente. - garantiu.

E, 'gentilmente' provavelmente significou um 'cai fora, minha cara' mas


Louis optou por não divagar a respeito antes de se arrepender com as
conclusões.

- Hm, certo. Então... bem, o que veio fazer além de me acordar? -


Tomlinson indagou, levantando-se da cama. - Não é meio tarde para
caminhadas matinais?
- Não vim pelas caminhadas, estou terrivelmente fatigado hoje. Vim para te
ver.

- Ver-me? - Louis repetiu desconfiado.

Harry se pôs de pé em sua frente, balançando-se meio frenético com com


braços atrás das costas.

- Sim, e propô-lo uma missão.

- Harry, vá direto ao ponto. Ao que se refere?

- Operação Autor, o que acha? O nome soa muito óbvio e exagerado, certo?
- Styles começou a monologar, fazendo uma careta para si próprio. - Yeah,
não ficou tão adequado quanto planejei, que tal Operação Kiwi? Não é
sugestivo e eu gosto dessa fruta-

- Harry. - Louis advertiu, interrompendo-o. Ele levou sua mão para repousar
suavemente contra a bochecha do maior, afagando o local em um carinho
calmo que deteve totalmente a atenção do príncipe. Styles assistia sua ação
fascinado. - Vamos, diga-me o plano.

- V-você... você vai mesmo entrar nessa comigo? Mesmo sem saber
exatamente a história? - questionou atônito.

Tomlinson trouxe de volta sua mão para o lado do corpo, olhando


desprevenido para o chão.

- Uma hora você terá que me contar o que fez, Harry. Uma hora próxima. -
avisou. - Mas até lá eu estou nessa com você. Eu irei ajuda-lo a desmascarar
o covarde anônimo por trás do jornal. - decretou com um meio sorriso.

E, porra, Styles percebeu as lagoas azuis tão profundas em si. Ele não se
conteve e avançou em Louis, rodeando seus braços no pescoço do outro em
um abraço forte, enfiando seu nariz entre os maços bagunçados do cabelo
do príncipe recém desperto. Louis circundou sua cintura.

- Yay, certo, certo... vamos pegar ele. - Harry murmurou, quase sufocando-o
em seu aperto. - Vamos pegar ele, meu salvador.
Eles passaram um período nessa bolha confortável de um abraçado eterno,
em que nenhuma das partes demonstrava-se disposta a largar primeiro... até
que, é, percebessem que seus músculos estavam dormentes.

Desataram-se sem graça, Louis sendo o primeiro a retomar a postura e se


pronunciar.

- Bem, suponho que tenha um plano.

- Sim. Hoje haverá o baile. E as princesas estarão convidadas. - Harry


anunciou. Ele parecia astuto e obstinado. - Nunca pensei que diria isso, mas
preciso que vigie Diana, fique junto a ela.

- Diana Oiselle?! - Louis rebateu imediatamente. - Ficou doido? Ela sequer


frequenta este Palácio, Harry, não tem como ser a fonte anônima disso.

- Confie em mim, Lou. Há algo nela que... enfim, e se ela estivesse aliada
com alguém? E se-

- Styles. Creio que esteja julgando-a precipitadamente por mera intolerância


sua. Você ficará paranóico se debitar a responsabilidade deste jornal em
cada indivíduo que não o descer.

Styles negou exasperado.

- Ouça-me, por Deus homem teimoso! - resmungou, dando um peteleco


desnecessário no ombro de Louis.

Quando Tomlinson bufou em silêncio, tomou isso como consentimento para


prosseguir.

- Eu tenho meus motivos, acredite. Não posso descartar nenhum suspeito. E


ela está na mira.- Harry se explicou, expondo a maior quantidade de
sinceridade que conseguisse. - Mesmo que não acredite em minhas
hipóteses, peço que faça isso por mim.

Louis soltou uma risada nasalada meio irônica (ele estava se transformando
na versão atrevida de Harry Styles), todavia, concordou.
- Tudo bem, amor. Posso vigia-la hoje.

amor.

Como ninguém é de ferro Harry roubou um beijo estalado dos lábios de


Louis pelo apelido que causou um alvoroço naquelas borboletas irritantes
de seu estômago. Ele não estava apto para se repreender.
Mas, assim que o fez, saiu sorrateiramente de seu aposento, com uma feição
ousada que Louis teve que engolir o sorriso.

***

Na parte da noite, após Jezebel preparar Tomlinson com indumentárias


pretas e uma lapela de rosa vermelha, colarinho alto e sapatos de verniz,
Louis se dirigiu ao salão de cerimônias com esse plano em mente.

Ele sabia que Diana não era culpada.


Ela era uma princesa determinada e séria, com esse ar majestoso e
imponente. Louis não sentia como se aquilo fosse uma fantasia protegendo
a real personalidade depravada.

Mas, claro, Harry solicitou seu auxílio, e a Operação Kiwi não funcionaria
sem ele.

Não tardou para que, entre os adornos de mármore, os lustres de cristais, os


vinhos doces e recitais instrumentais, Louis a encontrasse.

Diana era certamente muito vistosa e bela, possuía esses cachos graciosos
compridos, seus olhos verdes grandes e um estilo elegante próprio de uma
futura rainha. Ficara linda nos quadros que pintara, não sentia-se
constrangida de posar nua.

Ela estava, naquele momento, dançando divertidamente com uma outra


princesa, e Louis resolveu observa-la mais de longe, distraindo-se com uma
taça de champanhe.

Já em em uma outra parte do extenso Salão Zayn conversava animadamente


com um grupo de moças adoráveis, que não estavam exatamente o
enchendo de elogios, somente dialogando sobre assuntos aleatórios e
engraçados, e Malik se sentia aliviado por não ser sexualizado por elas.

Mas, claro, Andrew viria eventualmente interrompe-lo com essa atmosfera


irritante e insinuante para cima de si.

- Donzelas, importam-se se eu tirar este príncipe de vocês, para uma dança?


- perguntou com um sorriso forçado para as jovens, as quais assentiram
prontamente.

- Você só se esqueceu, Vossa Alteza, de que a primeira permissão que deve


obter é a minha. E eu não desejo bailar com você, muito obrigado. - Zayn
rebateu, a língua afiada. Virou-se de costas e tentou se distanciar.

Contudo ainda sentia a presença de Andrew o perseguindo. Persistente,


Inconveniente, Idio-

- Se não desejar valsar, então somente me ouça. - o príncipe pediu,


puxando-o pelo ante-braço.

Malik bufou. Ele não conseguiria fugir disso.

- O que quer, inferno?! - indagou exasperado, tomando a atenção de alguns


príncipes curiosos.

Andrew arqueou uma das sobrancelhas pela elevação de seu tom, fazendo
com que Zayn se envergonhasse de sua falta de educação, mesmo que este
estúpido merecesse.

- Dou-lhe um minuto. - avisou, amaciando a voz.

- Bem, um minuto basta. - garantiu, olhando ao redor. - Lembra quando o


avisei que Liam era um suspeito potencial para o jornal anônimo?

- Ah, não. De novo essa história? Você não se cansa de insistir em


baboseiras sem fundamento?!

- Se é uma baboseira sem fundamento, por que não testa só para


comprovar? Creio que se está tão certo de si não haveria problema em tirar
uma prova real.

Zayn trincou a mandíbula.

- Pare com isso. - ordenou, querendo realmente soca-lo e quebrar seus


dentes. - Não tenho que me submeter a nenhuma manipulação barata sua
para comprovar nada a ninguém.

Andrew riu nasalado, visivelmente irônico, ao que meneava a cabeça em


negação. E havia essa falsa segurança nele que arrepiava Malik.

- Compreendo, Zayn, Liam é muito soberbo e fiel para isso. Só... não diga
que não avisei depois... - murmurou insolente. - Porque, sabe, ninguém é
perfeito. E as pessoas que mais se esforçam para ser, são as que escondem
os piores segredos.

***

Zayn não tinha mente fraca.


Ele jamais permitiria que Andrew se infiltrasse com suas teorias esdrúxulas
em sua cabeça.
Não.

Mas, enquanto assistia de longe Liam sorrindo gentilmente para um grupo


de colegas, parecendo macio e muito educado, ele se perguntava quais
seriam seus pecados. O que, especificamente, o levava a depositar lágrimas
em seu travesseiro, escorrendo involuntariamente do canto de suas
pálpebras antes de dormir.

Afinal, é ligeiramente impossível que alguém não disponha de assuntos


inacabados, de arrependimentos ou demônios que os persiga.

E, embora o Príncipe Payne esbanjasse essa áurea sólida e saudável, deveria


haver algo debaixo do tapete, alguma poeira, nem que fosse mínima.

Zayn entrou em conflito consigo mesmo.

***
Louis não supunha que vigiar uma pessoa seria tão tedioso quanto estava
sendo. Algumas taças já se acumulavam vazias na mesa próxima e ele.

Outra coisa que o incomodava era o fato de Harry estar sumido. Ele não
havia aparecido desde o início do baile e Louis se indagava se esta era uma
parte do plano ou não. E, seu sexto sentido, opinava na segunda opção.
Existia esse gosto amargo na boca de seu estômago a respeito de Styles que
ele precisava diluir (e álcool não funcionava).

- Com licença, Vossa Alteza. - uma voz intercedeu seus devaneios, levando-
o a fitar Niall distraidamente.

- Oh, Príncipe Horan. Como vai?

Niall sorriu pequeno.

- Bem, obrigado.

- É ótimo vê-lo aqui, geralmente não costuma comparecer em bailes, sim? -


Louis comentou.

- Sou extremamente reservado. E quem preciso não está nesse baile.

Tomlinson sorriu, atendo-se a ignorar sua curiosidade. Ele nunca foi


intrometido e não pretendia ser agora.

- Aproveitando sua companhia, gostaria de novamente agradecê-lo por ter


poupado o Príncipe Edward. Graças a você e seu bom senso de julgamento
ele não foi expulso do Palácio.

Horan o olhou de soslaio, a expressão fechada.

- Não se preocupe, Louis. - sussurrou.

- Não foi Harry. Sei que no final as informações ficaram jogadas no ar, mas
não foi-

- Eu sei. - Niall interrompeu-o, neutro.


- Como? - Tomlinson perguntou um pouco confuso, porque ele confiava em
Styles. Ele confiava que Harry não seria capaz. Mas... Niall confiava
também?

De início, quando Horan aceitou revogar as acusações contra o príncipe, ele


pensou que ele estava o fazendo por insistência sua, por uma aposta cega na
intuição de Tomlinson.

... e não porque confiava em Harry.


Aliás, ele supostamente seria o primeiro a ter motivos para condena-lo.

Niall o encarou em silêncio, sem parecer com qualquer pretenção de


respondê-lo.

- Vim aqui na verdade para lhe perguntar sobre uma pessoa, Louis.

- Certo. Quem?

- Jezebel. - afirmou, sem delongas.

E um baque seco estrondou no interior do cérebro de Tomlinson.

- O qu-

- Com licença. - alguém intercedeu. Louis olhou atordoado para o lado,


deparando-se com Diana sorrindo amigável em sua direção. - Príncipe
William?

- Hey, tudo bem? - ele respondeu forçando a melhor entonação


entusiasmada que pudesse apesar de sua linha de raciocínio se voltar para
Niall.
Todavia, o loiro já havia se afastado.

- Sim, sim. Questionei-me por que não me procurara antes, Louis. Pensei
que mantivéssemos nossa relação sob tintas. - Diana piscou um dos olhos,
divertida. Seu sotaque francês era forte e sua personalidade mais ainda.

Tomlinson gostava dela.


Ele se veria casando com ela em um futuro.
.... se seu coração não estivesse em desacordo com isso.

Porque, aparentemente, corações são traiçoeiros e firmam posicionamentos


contrários ao que deviam.

Percebendo que já estava prestes a devanear a respeito de Styles (de novo),


Louis inspirou fundo, assistindo Diana olhando-o em expectativa.

- Ah, perdoe-me, tenho estado ocupado ultimamente. Não dedico tanto do


meu tempo para a pintura mais.

- Ocupado com Harry? - ela rebateu rindo.

E, certo, deveria haver um limite de tombos que um ser-humano pode


suportar em um dia.

A feição assustada de Louis o delatou para a princesa, que revirou os olhos


satiricamente.

- Não sou burra, Vossa Alteza. Vi como trocaram olhares aquela outra vez
no baile, e que saíram juntos logo em seguida. - explicou-se, estalando a
língua no céu da boca. - Seu segredo está bem guardado.

Tomlinson estudou sua pose descontraída com uma ligeira desconfiança.


Ela parecia ser muito esperta, e corajosa. E se... e se Harry opinara no
certo?

- Não é um segredo. - Louis disse, endireitando sua coluna com os traços


faciais inabaláveis. - Não tenho o porquê de omitir que tenho estado com
Harry, não é nenhuma vergonha para mim. A questão é que sou um homem
reservado, prefiro proteger minha vida particular. Mas, se alguém expor
minha relação com Príncipe Edward, eu não negaria.

Diana continuou o encarando astuta, repuxando um pequeno sorriso.

- Tenho certeza que sim.

Louis se sentiu brevemente sufocado, buscando Harry com o olhar pelo


Salão.
A ausência do príncipe de Malta o trouxe um pressentimento ruim.

- Excusez-moi, Vossa Alteza. - Tomlinson proferiu gentil antes de dar as


costas para ela, e ir depressa a procura de Styles.

***

Louis nunca se acostumara muito com 'sentimentos'.

Por ter sido impassível a sua existência toda ele não sabia como
monopoliza-los, organiza-los, reconhecê-los. Para tanto, se limitava a
maquia-los sob neutralidade e indiferença.

Mas, mesmo que por fora não houvesse uma linha de decepção formada em
sua face, seu estado de espírito estava demasiadamente esmagado.
Porque, ali, na porta dos aposentos de Harry, havia o tradicional lenço
vermelho rodeando a maçaneta, que só poderia significar uma coisa.

... exatamente a coisa que Louis comprovou ao adentrar o cômodo.

Pois, no centro do quarto, estavam quatro príncipes e Harry sobre a cama.

Tomlinson sentiu seu mundo desmoronando lasquinha por lasquisa... e,


ainda assim, por fora, ele era essa muralha resistente, piscando um pouco
rápido porém aparentemente firme.

O pensamento de que talvez ele tenha se enganado o apedrejou. Talvez não


fosse recíproco. Talvez Harry não sentisse como se ele fosse especial, como
se ele fosse um porto de segurança. Talvez Harry o desejasse para essa
casualidade confortável, e não uma possível união estável entre Reinos.

À medida que digeria aquele cenário em câmera lenta, os cantos do coração


de Tomlinson se trincavam.

E, tudo bem, ninguém estava nu, nem Harry. Mas eles estavam sentados em
roda sobre o colchão, o que consequentemente o induzia a crer que aquilo
aconteceria em breve.
E... ninguém havia notado a presença de Louis, bem, até agora, porque
Louis os faria notar.

- Todos vocês. - Tomlinson eventualmente proclamou, o tom alto e limpo. -


Fora deste quarto.

Naquele momento o Príncipe Edward, o qual antes sorria distraído com os


demais, paralisou sua expressão, virando a cabeça assombrado para Louis,
fitando-o com essas orbes verdes arregaladas com remorso escorrendo das
pálpebras.

Um deles franziu o cenho contrariado.

- Dê o fora você. - o tal príncipe rebateu debochado, levantando-se e


caminhando de peito estufado, desafiador, para frente de Louis.

Seu comportamento provocante não fez com que Tomlinson retesasse um


único passo para trás sequer, permanecendo indiferente à sua defrontação.

- Eu só direi uma segunda vez - Louis decretou, olhando-o sem ceder - Saia.

E, honestamente, aquele príncipe persistente quiçá sofresse de complexo de


superioridade por ter a audácia rir irônico.

- Oh, e quem raios te dá o direito de nos expulsar?! - grunhiu irritadiço.

Eles se encararam naquela atmosfera tensa, e se você fosse um figurante da


cena poderia alegar que a qualquer instante o príncipe explodiria em Louis,
enquanto este revidaria com essa frieza tranquila e segura.

- Eu. Eu o dou. - Harry de repente se manifestou, sua voz baixa


(envergonhada), encolhido na cama. - Vão embora, por favor.

Visivelmente revoltados, todos obedeceram e encaminharam-se para a


porta, inclusive o que enfrentara Tomlinson, enfatizando sua raiva ao
esbarrar propositadamente em seu ombro no trajeto de saída.

Louis não revidou. Ele era superior. Não sujava as mãos a troco de tão
pouco.
O clique da porta fechando escoou como um baque ruidoso.

E, então, eram só os dois. Harry e Louis.

Harry e Louis naquele cômodo grande e bem mobiliado, silencioso,


amargo.

- Foi para isso que me mandou ficar com Diana? O plano era, efetivamente,
me manter afastado para que se refugiasse em seu aposento? - Tomlinson
ocasionalmente indagou, destemido.
Ele sequer piscava e parecia ligeiramente machucado se você o estudasse a
fundo, no entanto, ainda existia esta armadura sólida que o fornecia uma
imagem erguida, indestrutível.

Styles negou de imediato com a cabeça, pondo-se de pé frenético. Ele vestia


peças básicas e macias, seus cabelos oleosos e sua respiração desregulada.

- O quê? Não, não, não, Lou. Eu re-realmente precisava que você.. que você
me ajudasse na missão. E-eu-

- Se almejava uma orgia privada, não havia o porquê de me manter


ocupado. Sua vida não é da minha conta, Príncipe Edward.

E Harry sentiu como aquilo soou vazio e distante, o desespero o


consumindo.

- Louis! Eles não estavam aqui por sexo! Nós não íamos transar! - garantiu,
exasperado, ofegante.

Tomlinson arqueou uma das sobrancelhas, incerto.


Foi quando Harry avançou nele, repousando quase em cima de seu corpo,
que Louis percebeu suas pupilas dilatadas.

- Lou, e-eu... eu não tenho relações sexuais apropriadas com ninguém desde
que nós... na capela.. - sussurrou, seus lábios a centímetros dos do menor, o
qual continuava imóvel.

Foi meio inevitável não amenizar essa postura distante, porque Louis
confiava em Harry (ele queria muito confiar) e essa sensação de alívio pelo
príncipe não ter se relacionado com outros durante o período em que eles se
tornaram .. uma coisa.. o aqueceu novamente.
Oh, então é dessa forma que o ciúmes funciona.

- Eu não consigo mais ter orgasmos com outras pessoas. Eu não consigo
gemer outro nome além do seu. Eu nem quero. - Harry sibilou, suspirando.
Suas gramas de verão aparentavam- se sinceras, pesando sobre as lagoas
azuis sem relutar.

- O que todos faziam aqui então? - Tomlinson questionou derrotado. Ele


odiava assemelhar-se a um bisbilhoteiro.

Styles fechou seus olhos, apertando suas pálpebras em um incômodo


silencioso. Ao abri-los, pareceu determinado.

Sem verbalizar uma resposta enfiou q mão no bolso de sua calça,


removendo-a e estendendo na frente de Louis um saquinho transparente
guarnecido de pó branco.

- Oh, claro, cocaína. - Tomlinson reverberou, uma considerável pitada de


menosprezo exacerbado em sua entonação.

Porque, sim, ele sempre teve consciência de que nestas 'reuniões' privadas
de Styles muitos tipos de drogas eram gratuitamente oferecidos.
Mas, ainda, parte sua mantinha essa fé boba de que o príncipe não usava-a
com frequência, ao menos não recentemente.

E tudo foi, enfim, esclarecido. Por exemplo, sobre como Harry consegue
surgir com uma aparência impecável e agitada logo após suas quedas, suas
recaídas psicológicas ou surtos mentais. Como ele lapida facilmente
sorrisos energéticos depois de secar as lágrimas das bochechas e sobre
como sua personalidade transborda extravagância, fantasia, alvoroço.
Explicava o porquê do príncipe dormir pouco (deitando-se no final da
madrugada e levantando-se cedo para caminhadas matinais), e se alimentar
mal, com apetite limitado.

- É só um meio de me manter são. - Harry disse na defensiva, apertando a


embalagem contra seu peito como se estivesse consolando-a ou se
consolando.

- Drogando-se? Vivendo sob alucinógenos? Soa um tanto paradoxal para


mim. - Louis rebateu, inflexível.

- Querido, sobriedade é a maior causa de meu enlouquecimento. Curvo-me


perante a liberdade que eles proporcionam. - Styles cantarolou, fitando o
pequeno saco de cocaína com uma idolatria particular.

- Sim, a liberdade da dependência, correto? Aquela em que você é escravo


do consumo, em uma pseudo-alforria, afundando-se na ilusão de que as asas
que as substâncias te dão compensam as correntes que o prendem a elas. -
argumentou, mais áspero do que pretendia.

Céus. Tomlinson compreendia que não era ao todo culpa do príncipe essa
dependência desgastante, afinal, ele estava sendo vítima de suas
composições químicas, das consequências, dos efeitos colaterais.

No entanto, Louis não iria se render junto à situação. Ele não podia aceitar
que o outro ingerisse drogas saboreando uma falsa emancipação da
melancolia.

- Seja um rei valente, Harry. Não fuja de seus demônios, oponha-se a eles.
Criar universos menos dolorosos por meio de drogas é o que um covarde
faz. - Tomlinson atestou, amaciando a voz - Não se vence guerras rendendo-
se aos inimigos.

- Você não entende. - Styles fungou, abraçando a si próprio subitamente


desarmado. - Eu já perdi muitas batalhas, não consigo me submeter a
outras.

- Todo dia é uma batalha diferente, eu sei. Porém nenhuma vitória é válida
se houver trapaça.

- Você fala como se entorpecentes fossem ilegais em nossas terras. - inferiu,


sorrindo sátiro. - Mas, se você quer minha opinião-

- Não. - Louis o interrompeu. - Eu tenho a minha.


E aquilo traçava notoriamente uma linha tênue entre o que Tomlinson
poderia lidar, e o que não. Separando os pedaços de Harry que seriam
considerados admissíveis e os que precisavam de pequenos consertos.

Amélia o alertara que Styles não desejava ser consertado, só amado. Mas...
desde quando assistir submisso um indivíduo se mutilar com seus próprios
cacos quebrados é um modo de protegê-lo?'

Ele não se fingiria de cego.

- Harry. - Louis iniciou, rompendo o gelo. - Eu não posso interferir na sua


vida. Você é crescido. Você sabe no que se envolve.

Styles assentiu, prestes a sorrir suave, contudo Tomlinson prosseguiu:

- Mas eu também sei no que eu me envolvo. E eu não me envolvo em


situações que sejam contrárias aos meus posicionamentos. Sinto muito, não
sou o príncipe adequado para estar ao seu lado.

Louis deu-lhe as costas para ir embora.

E aquele seria o típico episódio trágico de uma peça, resumido pelo fim do
que nem começou.

Porque... Louis queria salva-lo, queria salva-lo de si próprio.


Mas não se pode salvar alguém que não se vê em apuros.

- N-não. - Harry choramingou, agarrando-o pelo antebraço angustiado,


quase o beliscando no processo. Ao que Louis se virou para ele, com sua
feição muito obstinada e rígida, o príncipe dos cachos amuou - Não se vá,
por favor, por favor. V-você tem que ficar para cuidar de mim, lembra?!
Nós so-

- Reis tomam decisões. - Tomlinson interveio. - Portanto renuncie a elas,


Harry, ou renuncie a mim.

E suas palavras soaram perseverantes o bastante para firmar a


irredutibilidade do príncipe de Riverland. Não era fácil debitar sentenças
pesadas sobre os ombro de Styles. Louis nem dispunha desse direito. Mas
essas eram suas condições.

Harry, o qual encarava-o mudo, não realizou qualquer gesto ou fez menção
de pronunciar nenhuma vez nos próximos cinco minutos.

E isso gerou uma preocupação em Tomlinson por desconfiar que ou ele


entrara em paralisia devido às drogas ou ele se recusara a promulgar sua
escolha. Não seria justo Louis larga-lo lá, naquele estado, no meio do
quarto. Ele quase recuou o seu decreto, porém Styles finalmente agiu.

Ele piscou duas vezes e se afastou, indo robótico em direção ao armário.


Entrou nele e tardou a sair, trazendo consigo uma caixa fechada de porte
médio de madeira.

Ao retornar para frente de Louis, o estendeu a caixa, insinuando para que o


outro a apanhasse. Seu rosto estava limpo de qualquer expressão.

Automaticamente, Tomlinson tomou posse dela, e ao fazer Harry ainda


colocou sobre a tampa o saquinho que antes segurava.

- O que é isso? - Louis perguntou confuso, agachando-se e pondo-a sobre o


chão. Separou a pequena embalagem e puxou a tampa para cima, revelando
o recipiente inteiro preenchido com múltiplos tipos de entorpecentes: ervas,
cogumelos, cocaína, pílulas que Tomlinson nem suspeitava para que
serviam.

Louis levantou-se, largando-a lá, erguendo-se completamente abobalhado


pela quantidade de substâncias presentes ali.

- Este era todo o meu estoque. - Harry disse, claramente esforçando-se para
conservar sua feição impassível. Ele parecia decidido, apesar de haver
pingos de apreensão diluídos no verde de seus olhos. - E agora é seu. Livre-
se da maneira que preferir.

Tomlinson engasgou, decaindo sua expressão para uma perplexa, fitando-o


desnorteado.
- Você tem certeza?

Styles balançou a cabeça em concordância mudo.

E... uou. Merda. Ele de fato estava disposto a abrir mão daquilo que o
sustenta no cotidiano por Louis.

Por Louis.

Louis, maravilhado, sequer se recordou dos bons modos ao jogar-se contra


o príncipe, envelopando-o com seus braços, ao que este devolveu-o
satisfeito este abraço sentimental.

O rosto de Tomlinson estava afundado em seus cabelos, cada expiração


mais profunda levitava uma mecha de cachos. Seu coração palpitava
aquecido e ele sentia a bochecha macia de Harry pressionada contra sua
orelha.

- Por que escolheu a mim? - Louis sussurrou, expondo sua comoção.

- Eu o disse que sou péssimo em lidar com vícios. - Harry reproduziu,


inspirando fundo e dolorido. - E, entre todos, temo que você é o principal.

Porra.

- Não me compare com vícios, eles não são saudáveis. - Tomlinson


reclamou, elevando sua face para próximo da de Styles, o qual esfregou o
nariz com veneração na têmpora do menor.

- Você pode ser a exceção boa, Lou. - miou manhoso, tocando a boca dele
com a sua em um contato calmo.

No entanto, Louis adquiriu traços mais sérios, olhando-o hesitante.

- Você sabe que não será fácil, certo? Nestes próximos dias sem drogas em
seu organismo enfrentará uma abstinência complicada.. - advertiu.

Harry sorriu triste.


- Eu quero vencer essa batalha sem trapacear. - afirmou, piscando um olho
encantador. - Creio ter o melhor escudeiro, meu Príncipe William.

- Achei que considerava-me um vício. Não se supera um vício com outro. -


Louis respondeu bem humorado, cutucando a cintura de Styles até que ele
emitisse uma risada. - Pois uma hora ou outra precisa-se quebrar essa
dependência com os dois.

A risada de Harry foi cessando, retendo-se em um olhar doce, as esmeraldas


grandes encarando Louis fixamente, com um ar nostálgico.

Ele suspirou e encostou sua testa na de Tomlinson, ainda mantendo conexão


visual com as lagoas azuis.

- Eu estou acostumado com a ideia da perda. - Harry cochichou, sorrindo


triste - Mesmo que doa depois, eu sei que aproveitei enquanto pude.

Louis quase sentia a insinuação pessoal por trás das palavras. Ele quase
escutava os gritos ocultos na frase. Ele sentia o amargo na língua.

- Minha irmã costumava me alertar que amar é não ser egoísta. - fez uma
pausa. - Quando chega a hora, você deixa a pessoa ir, e diz 'tchau tchau,
meu bem, o mundo é seu, e eu também'. - Harry sussurrou, e ao olhar para
Louis com seus olhos distantes e marejados, sua expressão estava banhada
com um sofrimento contido.

Tomlinson não interrompeu a divagação obscura de Styles, atendo-se


somente a espalmar suas costas com carinho, almejando acalma-lo.

Assim, Harry fitou-o emocionado, proferindo um tanto vazio:

- Hoje eu digo isto para as drogas. - ajoelhou-se e repetiu o mantra ensinado


pela sua irmã, raspando a ponta dos dedos nas embalagens adversas. Ao se
estender de pé, fitou cegamente as orbes azuis, embora parecesse preso em
um devaneio - E quando for a hora, eu direi a você.

Em seguida o príncipe perdido continuou sibilando inaudível, em um


monólogo interno, e se Louis estivesse certo de sua leitura labial, ele
traduziria "porque se você ama, você deixa partir".

Talvez Harry Edward Styles fosse como um daqueles remédios de tarja


preta, o qual a bula está escrita com letras tão pequenas que você não é
capaz de ler, mas ainda assim tem uma leve noção do quão forte a dose é,
das suas consequências, do estrago que pode causar se não for lidado da
maneira correta. Você o entende superficialmente.

E Louis sentia que, portanto, morreria de overdose.

***

Notas da autora: pessoas do grupo de htwac não me matem pelo atraso,


amo muito vocês.
Chapter Forty Five

Episode: Save Yourself

- Então você não usa mais drogas? - Amélia o perguntou ligeiramente


desconfiada enquanto limpava a superfície do espelho com um pano úmido.

- Yeah, não. - revelou-a sorrindo, espreguiçando-se desleixado sobre a


cama.

- E está pronto para encarar o mundo sóbrio, meu menino?

- Mais do que pronto, ruguinhas. - afirmou bem-humorado, provocando-a


com aquele apelido que ele sabia que a faria jogar o pano úmido com sabão
em cima dele. - Eu não preciso delas. Estou limpo.

***

Harry descobriu que precisava delas dois dias depois.

Harry descobriu que abstinência era um verdadeiro inferno.

Harry descobriu que suas tentativas de não recorrer a Louis e demonstrar


que ele era muito forte e resistente estavam indo por água a baixo.

Mas, ainda assim, se impediu de voltar atrás, chaveou a porta de seu


aposento em todas as próximas noites para que nenhum príncipe fosse
importuna-lo para uma sessão grupal.

Dia a dia o sufoco era maior, seu estômago se revirava, sua cabeça doía.
Harry sentia-se suprimido de sua própria existência, estando presente nela
como um ator coadjuvante. Ele escutava os ruídos distantes, olhava
cegamente para o seu redor, notava Amélia trazendo-o as refeições
particulares (mesmo que ela não devesse permanecer com ele em outros
turnos senão da manhã). Tudo - tudo - que sua mente materializava era um
vazio, um vazio que só poderia ser preenchido pelas substâncias químicas
que o fariam enxergar a vida colorida novamente.

Sem morfina, a dor parecia insuportável. E ele precisava manda-la embora.

Ele queria tocar o sol com a ponta dos dedos e sorrir. Ele queria pôr seus
pensamentos no lugar onde a tristeza mal alcançasse.
Ele queria ter seu coração disparando com a cocaína, lembrando-o que ele
ainda estava vivo - apesar de muitas vezes não querer.

Harry só desejava uma dose de felicidade. Uma pétala da rosa do jardim,


mesmo que para isso se ferisse nos espinhos.

Desejava escutar o canto dos anjos ao fechar os olhos, a cabeça rodando


neste ritmo celestial, não cedendo espaço para as vozes que o perseguiam.
Mas os anjos haviam fugido, ele se questionava onde estavam refugiados e
se poderia resgata-los em breve.

Harry desejava uma colher de loucura, apesar de aparentemente ter ingerido


frascos dela e se afogado sem perceber.

Ele preferia olhar seu reflexo no espelho com suas roupas espalhafatosas
para representar o êxtase que corrompia-o no interior. Não havia mais
êxtase.

Era tudo diferente. Tudo triste e silencioso.


Porque, neste mundo recatado, as margaridas não pareciam tão amarelas, e
elas não o respondiam quando ele tentava puxar assunto. Styles cogitou que
elas estivessem de mal dele, e depois se angustiou com a possibilidade de
ter perdido o dom de compreender plantas.

Ele se sentia ferido. Com ossos fraturados e órgãos faltando. Seu organismo
não trabalhava como antes, fazia-o fraco, fazia-o doente.
Harry não via borboletas em cada canto do quarto, nenhuma pousava mais
em seus braços. Harry não se recordava de ter mergulhado neste lago,
naufragando por não saber nadar.

Era como tudo parecia. Um lago frio. E ele acorrentado no fundo.


Sem respirar.
Só queria oxigênio.
Só queria ar nos pulmões.
Não haviam peixes para fazê-lo companhia, apenas esta escuridão
silenciosa, imerso na água. O corpo trêmulo e os lábios sussurrando 'por
favor'.

Uma ânsia sucumbia-o, ele se encolhia sob os lençóis.


Salve-o.

Frieira. Quantos edredons eram necessários para aquecê-lo internamente?


Salve-o.

Até que em cinco dias limpo o que o restara era a carcaça de um homem,
com cabelos sujos e despenteados, olheiras roxas destacando-se na pele
extremamente pálida, e ossos salientes da clavícula pela falta de nutrientes.
Salve-me.

****

No domingo seguinte, faltando agora exatamente três semanas para o


término da temporada, Harry despertou sufocado. Ele gritou por Amélia
que, desesperada, ficou à beira de um ataque cardíaco.

Styles jogou-se para fora da cama, alegando que enquanto estivesse em


repouso, as flores não conversariam mais com ele, e borboletas o
rejeitariam. Ele pediu que ela o vestisse apropriado para uma caminhada
matinal, informou que se estivesse com um aspecto belo a natureza o
perdoaria.

Foi quando Amélia se esgueirou pelo corredor e bateu na porta de Louis,


suplicando por auxílio, porque seu menino estava surtado.
Em todos aqueles dias Tomlinson tentara obstinadamente visitar Harry...
mas era sempre barrado pelo mesmo.

Harry não permitiu que ele entrasse uma vez sequer, não desejava que
ninguém o flagrasse naquele estado deplorável. Ele era como uma maça
podre e murcha que despencou da árvore.

Louis se ofereceria de prontidão a acompanhar Styles em sua caminhada,


todavia, sabendo que o mesmo recusaria, pediu que Amélia atrasasse um
pouco o príncipe para que ele se aprontasse e se escondesse nos jardins
antes que Harry chegasse.

Agachado miseravelmente dentro de uma moita (sério, o que ele não faz por
Harry?), com alguns galhos pinicando-o e folhas grudado em seu cabelo,
Tomlinson esperou.

Esperou. E ele detestava esse horário em que o sol está nascendo, pois a
temperatura ainda é congelante e tem essa brisa para piorar.

Entre suspirar com dor nas pernas pela posição e se indagar como sua vida
chegou a este nível ele escutou passos fortes entrecortarem o ambiente.

Espiou pela fresta dos ramos e teve que reter um ofego assombrado ao se
deparar com a figura de Styles.

Conforme Harry chegava mais próximo, andando aos tropeços distraído,


encarando o céu, mais sua fisionomia se ressaltava. Faziam cinco dias desde
que Louis o condicionara a escolher entre as drogas ou a ele, mas
assemelhavam-se a cinco anos.

Pois, nestas meras cento e vinte horas, o brilho de Styles se apagara. Ele
vinha abraçando a si próprio, talvez para reter calor no corpo muito mais
magro que o normal, uma aparência exausta e quase um ninho de pássaros
formado em seus cabelos. Seu rosto fino com as bochechas mais fundas, um
semblante tenso ao que ele passara a fitar ao seu redor, atordoado. Como se
procurasse algo.
Ele, ocasionalmente, retesou seus passos em frente a um chafariz de anjos,
inclinando-se para uma andorinha.
Louis não tinha certeza do que se sucedia estando oculto em uma distância
considerável, contudo a julgar pela forma que os lábios de Harry pareciam
se mover ele deduziu que o príncipe tentava ... conversar com ela (?).

E, okay, Tomlinson sabia que Styles tinha essa tendência de falar com
animais ou objetos inanimados mas ele sempre achou adorável e nunca
considerou que era parte do delírio que as drogas os causavam.

Ao provavelmente não obter êxito, Harry bateu o pé contra a grama para


dissipar sua frustração, acabando por assustar o passarinho que levantou
voo e se dispersou.

Styles parecia honestamente miserável, encarando desolado o espaço que a


andorinha estava.

Louis se questionou de quantas formas diferentes ele ainda consolaria o


príncipe durante esse relacionamento estranho. E, hum, talvez
esperançosamente esta fosse a última.

Engatinhou para fora da moita (muito sujo de terra e folhas), indo para
Harry sem delongas.

Ao estar do seu lado, Tomlinson afagou o ombro do maior com cuidado.

- Hey, bom dia. - saudou baixinho.

Styles pouco reagira, piscando quase mórbido, como um zumbi. Era


estranho o fato de que ele realmente costumava aparentar-se mais elucidado
quando se sustentava nos entorpecentes.

- Ela foi embora. - Harry eventualmente soprou, fraco, abatido.

- Ela quem?

- Carolina. - pronunciou, suspirando. - Carolina se foi. E-ela não se


comunica mais comigo. Nem as plantas. Nem os animais. - lágrimas
começaram a transbordar de suas gramíneas se verão, formando uma trilha
para baixo de suas bochechas até pingarem de seu maxilar.

- Não chore, amor. - Louis tentou consola-lo, mas ele não o permitiu,
afastando depressa e indo para frente de um canteiro de margaridas.

Tomlinson o seguiu.

Harry as estudava com decepção visível.

- É tão difícil.

E, Louis não sabia o que era o correto a se fazer. Provavelmente alertar


Styles que ele nunca teve o dom de interagir com coisas que não fossem
seres-humanos. Que aquilo era o efeito colateral da química em seu
organismo. Que, de fato, ninguém é apto para entender uma bengala de
madeira.

Mas... mas... Tomlinson não poderia. Nunca.

Porque havia essa fagulha de esperança em Harry, essa ingenuidade


imaculada que corrobora a essência daquele jovem. Ela constituía cada
centímetro do príncipe e não seria minimamente justo que Louis removesse
essa camada de expectativa pura dele.

- Eu o revelarei um segredo, okay? - Tomlinson pronunciou-se. Uou, ele


faria mesmo isso. - É muito importante que preste atenção.

Harry se virou e assentiu frenético.

- Sim, sim, Lou. Conte-me, eu não compartilharei com ninguém. Prometo.

Oh, merda.

- Certo... bem, a verdade é que nós, nós que não usamos alucinógenos,
também temos a habilidade de conversar com o que quisermos.

Sua afirmação causou uma paralisia no outro, que o olhou maravilhado e


atônito.
- V-você... você tem certeza?

- Sim. É só um método diferente que usamos. - Louis explicou-se. - Esse


método se restringe a pessoas com intenções puras e caráter valente, para
quem não pretende retornar aos vícios, sabe?

- E-eu... eu não irei. - Harry garantiu. - Não precisarei se me segredar a


forma de dialogar com florzinhas.

Respire, Louis. Você pode alimentar a fantasia de Styles. Você deve.

- Certo. Nosso segredo é que ao dizermos algo para elas também


conseguimos escuta-las.

- Como? Eu tentei, tentei mesmo, e não funcionou. - choramingou,


acariciando a pétala da margarida com o indicador. Ele parecia decaído com
essa áurea meio angelical, semelhante a um anjo protetor da natureza que
perdeu os poderes mágicos. As olheiras roxeadas, o aspecto doente... era
trágico, mas poético. Toda tragédia tem poesia.

- Você não usa a audição, nós não podemos ouvi-las. - Louis avisou, fitando
a flor com um pouco de fascinação, porque aquele pequeno ser-vivo era
capaz de despertar toda essa comoção naquele jovem.

Harry fez uma careta confusa.

- O-o que? Mas o que? Então como sabemos qual foi a resposta delas se não
as ouvimos?! - interrogou indignado.

- Você fecha os olhos. - Louis instruiu, pegando gentilmente a mão livre de


Harry e posicionando-a em cima do peito do príncipe ao que este obedeceu
seu primeiro comando. - E então sente. Escute-a com seu coração.

Styles, ainda de olhos fechados, franziu o cenho, mas assentiu.

- Okay. Eu vou tentar. - decretou, lambendo os lábios ressecados como se


fosse realizar um pronunciamento formal. Contudo, logo que sua boca
abriu, sua voz ressoou macia e delicada. - Bom dia minhas margaridas!
Como vocês estão hoje?
E assim Harry ficou em silêncio aguardando alguma réplica, possivelmente
desejando que as flores enviassem-o uma mensagem do além.

Após alguns minutos sem sucesso, ele reabriu os olhos com


desapontamento salpicando das bordas.

- Não funcionou! V-você estava mentindo! - inferiu, os cantos de suas


pálpebras se marejando e relembrando Tomlinson o quão sensível Harry
fica em sua abstinência.

- Não, Haz. Funciona sim. É só que.. acho que faz pouco tempo que você
parou de se drogar, ainda foi um processo recente, compreende?

- Oh... - ele sibilou em realização, reprimindo o choro. - Mas então daqui


um tempo eu receberei esse dom? - indagou esperançoso e despedaçado.

- Se se comportar como um bom príncipe, sim.

- Tudo bem, eu irei. Mas, enquanto isso, será que você pode usar a sua
habilidade agora para saber qual foi a resposta delas? Eu estou preocupado.
- Harry pediu, e Louis queria não estar com seu coração dolorido pela
situação, no entanto trajou um sorriso carinhoso e concordou, posicionando
seus dedos suavemente sobre uma de umas folhas e inspirando fundo, como
se se concentrasse para isso. [ele se comunicava com uma margarida, Céus].

Nesse processo, Harry não podia impedir-se de encara-lo esperançoso,


inquieto. Ele sentia falta de ouvi-las.

Então Louis fitou-o tenro e garantiu:

- Elas me disseram que estão bem. E comentaram que sentiram sua falta.

Um sorriso verdadeiro e grande repuxou o canto dos lábios de Styles,


provavelmente o primeiro desde que interrompeu o consumo das
substâncias, uma covinha se afundando graciosamente.

- Jura? Oh, e o que mais? - perguntou piscando emocionado. - O que Daisy


falou?
Louis repetiu o mesmo ritual, inspirando fundo em preparação, encarando a
margarida fixamente neste 'diálogo' telepático - yeah, ele nunca cogitaria
esse cenário em algum dia.

- Daisy falou que você está muito magro, e que precisa se alimentar melhor.
- Tomlinson alertou. - Ela também comentou que seu cabelo parece sujo e
que devia lava-lo hoje.

Harry riu.

- Oh, isso é tão Daisy, esta florzinha atrevida e sincera. - reproduziu tenro.

- Calma, não terminei. - Louis acrescentou, entrelaçando a mão de Harry na


sua, em uma transmissão de conforto (a qual o príncipe nada sutilmente
encarou perplexo, expandindo seu sorriso e amostrando a outra covinha).

Tomlinson buscou o olhar de Styles para se conectar ao seu nesta


determinação tranquila, a claridade solar tornando limpas as suas
expressões.

- Ela também disse, Harry, que está muito orgulhosa de você, de suas
últimas iniciativas altruístas. - Louis proferiu, vendo Styles abaixar o rosto,
envergonhado. - E que está ansiosa para conversar diretamente com o
senhor, portanto pediu para que se restabeleça, e volte de cabeça erguida.

Harry virou sua face para a margarida, libertando uma última lágrima.

- Eu irei, Daisy. Eu irei. - sussurrou.

***

Styles se forçou a almoçar.


Ele não possuía a mínima vontade, honestamente, mas se quisesse agradar
Daisy e se recuperar precisava parar de perder peso.

Ingeriu um prato de sopa recluso em seu quarto. Amélia o incentivava


fielmente, sentada na poltrona.

Ainda que ele estivesse determinado, era inevitável não ter enjoos e tremer.
Essa reação de seu corpo o assustava.

Com uma ligeira claustrofobia Harry vestiu uma casaca sobre os ombros e
saiu, descendo as escadas pulando degraus, correndo novamente para os
jardins.

O sol já estava alto, e alguns jardineiros aparavam as gramas. Styles se


encolheu em um banco de metal, subindo as pernas para junto do peito,
escutando de longe alguns príncipes transitando na região, em seus passeios
a céu aberto.

Distraído, mal reparou a presença de alguém se acomodando ao seu lado.

- Olá - a voz o intercedeu, fazendo-o erguer fracamente a cabeça.

Era Zayn Malik, de Arlen.

Harry franziu o cenho, atordoado.

- Oi?

- Como está? - o príncipe dos cabelos curtos e olhos profundos o indagou.

Styles segurou o ímpeto de ser sarcástico, porém, sinceramente ele não


tinha energias para nada além de se encolher mais em torno de si próprio,
agarrando qualquer oportunidade de se distrair.

Suspirou derrotado, apoiando o queixo no joelho.

- Tentando vencer uma batalha interna. - confessou praticamente inaudível.

Zayn, no entanto, o ouviu.

- Então somos dois. - e respondeu.

Harry o encarou de soslaio.


Ele não entendia por que depois de tudo que aprontou com aquele jovem
Malik ainda o dirigia palavras.
- Por que está falando comigo? - Styles indagou bufando.

- Não sei... você é tipo muito exclusivo para alguém como eu falar?

- Não. - franziu o nariz. - É só... estranho, pensei que me odiasse.

Zayn inspirou lentamente, inclinando sua cabeça para trás até que ela
estivesse apoiada no banco, virada para cima ao que observava o céu limpo.

- Eu não te odeio. Digo, mesmo naqueles dias, eu não te odiei, eu fiquei


muito magoado. Porque... sabe, você só fez o que todos sempre fizeram
comigo, se aproveitou da minha aparência.

Harry mordeu o lábio inferior envergonhado, reconhecendo o dano que


causou no príncipe.

- Minha vida inteira eu tenho me acostumado a ceder pelos pensamentos


dos outros. O incidente com Coral nem foi o real problema no final de tudo.
- Zayn prosseguiu, estudando os formatos curiosos das nuvens bordadas em
meio ao azul - Isso só me afastou de vez dos meus pais.

- Eles foram muito duros com você, Zayn. - Harry ocasionalmente


comentou, afundando o queixo mais ainda contra o joelho. - Pais são
complicados, muito fácil de perder.

Malik piscou lento, silencioso durante alguns segundos até se pronunciar.

- Mas, sabe, eu aprendi esse ditado de que nem todas as pessoas que nós
perdemos foram realmente uma perda. Eu acho que esse afastamento dos
meus pais foi, para mim, um ganho. - pausou, divagando. - Enquanto eu
estivesse escutando-os, estaria me silenciando diante das minhas
verdadeiras qualidades. Eles me cegaram, e pais não devem cegar seus
filhos, eles devem apoia-los, deixar que falem e vejam por si próprio.

Após seu monólogo, Malik fechou os olhos, sentindo a brisa tocar sua
epiderme nos cantos que estivesse descoberta, onde os tecidos do traje não
alcançasse. Leve e suave.

- Então... você superou seu distúrbio alimentar? - Harry perguntou tímido.


Zayn pendeu o rosto para a esquerda, fitando Styles de perfil.

- Eu penso que 'superar' é um termo muito relativo. Eu não tenho mais feito
aquilo, mas sempre há passagens de recaída, vontade de.. de retomar os
costumes antigos. Acho que o que nos fere muito se transforma em uma
cicatriz.

Zayn passou a mão sobre seu estômago, como se ela tivesse lá.

- E cicatrizes não são 'superáveis'. Elas permanecerão ali para sempre, cabe
a você reabri-las ou ignora-las. Alguns dias soa tentador a ideia de puxar as
casquinhas nas extremidades, mas... você precisa lembrar que se arranca-las
a ferida arderá de novo.

Existia esse conceito em Malik que o assemelhava a uma esfera de energia


forte e boa, transcendendo sua matéria corpórea para algo maior. Desde que
o viu no primeiro dia Harry sentiu que Zayn era especial, sentiu que ele
valia bastante. Ele conhecia sua história, sabia que mesmo desprezado pela
família e idolatrado pelos demais príncipes, o futuro rei de Arlen ainda era
solitário e perdido.

Zayn era esse vaso egípcio caro repousado sobre uma prateleira baixa do
museu, que todos tocavam pelo fácil acesso, mas ninguém se importava de
limpar as camadas de poeira que o cobriam.

Zayn o remetia ao sereno de uma noite com temperatura amena, estrelas no


céu, e um clima pacífico para simplesmente admirar.

Ele sentia que podia confiar naquele príncipe.

- E-eu estou... estou nessa guerra contra as drogas. É difícil a abstinência. -


Styles segredou eventualmente, abraçando as pernas, apertando-as em seu
peito, como um gatinho todo enrolado. - Mas... ela não é o pior. O pior é
aceitar que tudo que eu tinha como verdade não... não era real. E eu gostava
de viver na fantasia. Eu era uma fantasia.

Zayn desinclinou seu pescoço e sentou-se reto, podendo apropriadamente


fazer contato visual com Harry.
- Nós todos somos uma fantasia. Ninguém está sendo quem naturalmente é
porque... nós não sabemos quem somos. Somos muitas coisas, temos muitas
personalidades... é muito relativo. Não há nenhuma pessoa que não esteja
fantasiada neste exato momento. - Malik proferiu. - Não fomos criados para
carregarmos uma definição, nós mudamos, precisamos mudar, pois, você
sabe, fantasias sujam e em algum momento temos que troca-las por novas.

Zayn levou sua mão para repousar amigavelmente sobre o ombro de Harry,
o qual fitou seu gesto atônito.

- Esta é a cicatriz da batalha que você trava nesse instante. E é Okay ter
medo da abandonar sua antiga armadura, mas... Liam me ensinou que
armaduras às vezes não protegem você do mundo, protegem o mundo de
você, porque nós somos muito poderosos quando acreditamos em nosso
potencial.

- Então... você está assim graças a Liam? - Styles indagou, suspeitando que
tenha sido meio invasivo ao se intrometer na vida alheia de Zayn de novo.

No entanto Malik não esboçou nenhuma feição de desaprovação, ele só


pareceu um pouco intrigado.

- Hm, na verdade, não. Não foi graças a Liam. Claro, Liam me guiou ,
mas... foi graças a mim. Eu me devo esse mérito. Mesmo que muitos
tentem ajuda-lo, não haverá qualquer êxito se você não se ajudar. Seria
trabalho em vão pois é você quem define o rumo da sua vida no final de
tudo.

Harry não entendia como Zayn poderia ser tão legal. Poderia ser sensato e
inspirador com suas frases e suas ideologias. Definitivamente um altruísta,
de caráter belo e pose humilde.

A culpa novamente o sucumbiu.

- Hm... bem, e-eu... - Styles começou, depois de terem caído em silêncio.

Zayn o encarou. E merda, ele não se considerava apto para lidar com essas
situações.
- Zayn, e-eu... eu sei que te devo um enorme pedido de desculpas. - Harry
admitiu, suas pálpebras acumulando lágrimas devido ao seu emocional
fragilizado pela abstinência. Ótimo. - Você não mereceu aquilo. N-Ninguém
merece ser chantageado. Eu fui um estupido, e me arrependo. Sinto muito.

Pela maneira que Styles ficou era quase paupável seu remorso. Se ele fosse
de fato um gatinho suas orelhas estariam decaídas e seu rabinho cruzado
entre as pernas.

Mas, é, arrependimento não tapa buracos, não justifica erros.

Zayn não esqueceria o que Harry o submeteu, nem perdoaria facilmente.


Contudo, ele compreendia que o príncipe estava se esforçando, tentando
reparar os desfalques de seu passado, colocando-se sob essa nova e
otimizada personalidade a qual o deixava mais humano e menos
manufaturado.

Ele não poderia verbalizar que aquilo seria superado, ou que não se
chateava com o assunto, portanto, decidiu descontrair e quebrar aquela
tensão presa nos traços faciais de Styles.

- Você é incrível no sexo ao menos. - comentou, sorrindo divertido.

Harry primeiro o encarou assustado, e então envergonhado, sua pele


esquentando para um tom vermelho evidente.

- Hey, não diga isso. Louis não gostaria que alguém dissesse. - murmurou
sem jeito, revirando os olhos. - Eu não faço mais... sexo. Não com outras
pessoas, desculpe-me.

Zayn não se impediu de rir, movimentando ambas as sobrancelhas em


insinuação, o que provocou uma nova onda de embaraço no maior, o qual
quebrou o contato visual para observar suas próprias unhas.

- Bem, você gosta muito dele, não? Louis obviamente o trata como se fosse
a única rosa de seu jardim.
O estômago de Harry se contraiu com essa afirmação, ele inteiro sentindo-
se aquecer dentro para fora.

- Eu o adoro. Ele é minha efêmera manhã de sol em meio a um eterno e


rigoroso inverno. - Styles cochichou, desejando calar as borboletas que
flutuam nele. - Seu jeito de se preocupar comigo, de se impor, de me fod...
de me cuidar. Ele é exatamente como eu imagino que o céu seja, acolhedor
e infinito. Eu literalmente faria qualquer coisa por Louis, tanto que é por
essa razão que me mantenho sóbrio, por ele.

Zayn, que até então o olhava sorrindo, fechou imediatamente o sorriso,


negando com a cabeça.

- O que foi? - Harry questionou, confuso por sua reação.

- Harry, você não pode fazer isso por ele. Você tem que fazer isso por você.
- Zayn reverberou, fitando-o firme e sério. - Você tem que fazer isso porque
você se deve novas chances, porque você merece uma vida melhor. Este
tipo de decisão que nos transforma não pode ser creditado a ninguém senão
a nós próprios. Essa é a melhor forma de você se amar.

Styles teve que pausar a respiração para absorver o que Zayn o disse,
apalpando a veracidade daquilo.
Pois... talvez, ele não fosse merecedor de muitas coisas com essa longa lista
de erros cometidos, mas... ele merecia amor próprio. E um amor próprio
real, que não fosse destinado à sua riqueza, as joias, à sua beleza externa.

Um amor próprio saudável, por ele se encarar no espelho e perceber que


conseguiria ser alguém digno. Com muitas tentativas... eventualmente
quiçá se orgulharia de alguma parte de si, quiçá entendesse como Louis
ainda não havia o abandonado.

Distraído em seu devaneio, mal notou Zayn já de pé prestes a partir.

Harry puxou seu antebraço pela camisa, tomando a atenção do príncipe


antes que ele se afastasse.

Quando seus olhos fizeram contato visual de novo, Styles se manifestou.


- Você parece melhor, Zayn. Você parece saudável e mais feliz.

Zayn o direcionou um pequeno sorriso, assentindo em agradecimento.

- Você também ficará, Harry. - garantiu, embora a aparência de Styles fosse


perturbadora com aqueles fios oleosos, as olheiras realçadas e sua estrutura
muito magra.

- Eu duvido muito. - o príncipe de Malta resmungou, sem qualquer ânimo.

Malik se virou para ele, estendendo seu braço para baixo a fim de afagar o
ombro de Styles naquela posição embolada que ele permanecera.

- Sabe? É normal estar triste. É normal se sentir feliz e um segundo depois


parecer como se a adrenalina houvesse abandonado seu corpo, para então
deixá-lo vazio.
É normal piscar pesado antes de dormir refletindo o quanto as coisas soam
uma merda neste momento, e como você se sente verdadeiramente uma. -
disse com um ar determinado, sincero.

Malik resfolegou antes de prosseguir.

- O que não é normal, é você se render.


Todos temos dias difíceis. Batalhas perdidas. Mas sabe... A guerra só acaba
quando você desiste. E o objetivo da guerra é a nossa felicidade, algo que
nunca devemos desistir.

***

Louis suspirou cansado, satisfeito pela temperatura da água da banheira que


Lorena o preparara - e que agora ele poderia usufruir.

Eram poucas as vezes que Tomlinson se permitia afundar no banho,


apoiando a cabeça para trás e adentrando em uma calmaria mental que não
exigisse qualquer esforço.

Ele pensou sobre muitas coisas, como sua família, sua coroação, seu reino.
Sentia falta deles mas sabia que sentiria saudades deste Palácio também.
Entre devanear a respeito de Riverland e de seus irmão mais velho que
havia ficado noivo na semana passada, foi desperto pelo ruído da porta do
banheiro se abrindo.

Assustou-se de primeira certo de que era Lorena e que ela o comunicaria


alguma noticia importante (afinal, ela jamais invadiria seu espaço privado -
ele não permitia que criadas o vissem pelado).

No entanto, por fim, assustou-se mais ainda ao flagrar Harry ali, nu e


amuado.

- Por Deus, Harry, como entrou pelado?! Lorena o viu assim?

- Não. Ela me avisou que você estava se banhando. Então tivemos uma
pequena discussão até que eu a convenci a permitir minha entrada. - Styles
afirmava ao que se aproximava de Tomlinson, os ossos de seu corpo se
sobressaindo pela falta de massa corporal. - Também a convenci de sair do
seu aposento para que eu me despisse, e a dispensei pela noite. Sua criada é
teimosinha mas não pareceu capaz de nos dedurar.

Louis concordou, ainda abobado.

- Certo... mas... por que veio aqui?

- Daisy disse que eu estava sujo, precisava me limpar. - Harry explicou-se,


pisando dentro da banheira com seus joelhos imergindo na água morna. -
Talvez me limpar em muitos sentidos.

Harry mergulhou completamente deitado, desaparecendo da superfície.


Ao retornar, Styles apanhou o frasco de shampoo verde repousado na borda
da grande cuba, estendendo para Louis.

- Pode fazer isso por mim? - indagou, trazendo-se para mais perto de
Tomlinson e abaixando sua cabeça como se expusesse-a para que o outro
lavasse.

A próxima meia hora se transcorreu nesse silêncio absoluto entrecortado


pelo som da água em movimento, pingando dos cachos de Styles ao que
Louis esfregava-os gentilmente, massageando seu couro cabeludo até que
formasse espuma.

Era algo cálido e puro, desde a reverência que Tomlinson expunha para
lavar cada centímetro de seus fios, até a delicadeza aplicada ao jogar
punhados de água em cima, a fim de remover o produto.

O cheiro de aloe vera se impregnou pelo lugar.

Assim, sem nem necessitar sugerir, Tomlinson automaticamente pegou a


esponja e o sabonete, e passou a esfrega-la pelo corpo de Harry, tendo o
respeito de não encostar em suas partes íntimas, e evitando encara-las no
processo.

Durante todo este ato o príncipe de Malta mantivera-se de olhos fechados,


calado e imóvel, consentindo que Louis realizasse o serviço de seu jeito.

Ao finalizar, Tomlinson tocou as digitais de seus polegares nas pálpebras


fechadas de Harry, como um aviso de que poderia abri-las.

As gramíneas de verão pareciam um pouco apagadas, mas se iluminaram


ligeiramente ao encontrar as lagoas azuis. E se Louis tivesse averiguado,
repararia que as pupilas do maior estavam dilatadas... e já não era por efeito
das drogas.

Harry, então, arrastou-se para a outra beirada, esticando as pernas de modo


que elas se entrelaçassem com as de Louis. Um de frente para o outro nesta
conversa muda.

- O certo seria você ter tomado uma ducha antes de entrar na banheira. -
Louis ocasionalmente observou.

- Eu sei. - Harry sussurrou, piscando vazio e deitando sua cabeça na


extremidade oposta da de Tomlinson . - Agora estamos mergulhados na
minha sujeira.

E, haveria essa referencia aprofundada se você estudasse a entonação


distante do príncipe, você perceberia que ele não se referia à sujeira física.
- Eu não acho que estava pronto para largar os alucinógenos. - Styles
confessou, quebrado.

- Você não precisa. - Tomlinson sibilou, sentindo-se culpado pelo estado


miserável de Harry. - Eu ainda os tenho, se deseja-los de volta.

Contudo, Harry negou com a cabeça, ainda fitando o teto do banheiro.

- A questão é que nós nunca estaremos cem por cento prontos e nunca
haverá a hora certa para as coisas. - Louis reproduziu. - Mas esse é o ponto.
Porque significa que todo momento é também o momento certo. Se você
quer algo, basta fazê-lo.

Styles inspirou lentamente.

- Só foi... só foi difícil estar sóbrio. É como acordar de uma desilusão. Há


tanto tempo eu vivi nela.

- Quando... quando você começou a usa-las? - Tomlinson indagou relutante.

- Há sete anos. D-depois que... depois da minha primeira expulsão do


Palácio. - proferiu. - A verdade é que, quando tudo estava muito quieto e o
silêncio ficava ensurdecedor em Malta, eu me sentia morto. Não havia
ninguém que desejasse mais me ouvir, nem eu mesmo.

Louis mordeu o lábio, nervoso. Descobrir esses pedaços dolorosos do


passado de Style o perfurava.

- A primeira vez que cheirei cocaína não foi porque eu estava curioso com
seus efeitos, foi porque eu tentei me matar.

Boom.
Foi como uma bomba estourando os tímpanos de Tomlinson.

- Havia escutado que se você exagerasse, sua narina sangraria, e você


poderia morrer. Foi o que testei, inalei três carreiras. E, obviamente, não
funcionou. - Harry riu irônico. - Continuei persistindo, fui adicionando
novas drogas porque afirmavam que as chances de ter um ataque fatal era
maior ao mistura-las.
A voz de Styles soava dolorida e distante.

- Até notar que... eu não estava mais naquilo porque tentava me matar, eu
estava naquilo porque havia me viciado. E era como um caminho sem volta.
Na verdade, eu nunca tive um motivo para voltar. As alucinações, o coração
acelerado, os pensamentos altos... eles faziam com que eu me sentisse vivo
de novo, e menos sozinho, pois sempre que eu quisesse as flores, Carolina e
os animais conversariam comigo.

Você não precisa mais deles, Harry. Você tem a mim. Louis gostaria de
avisar, todavia, ele preferiu não se manifestar para não interrompê-lo.

- As drogas não me auxiliaram somente no quesito da solidão, elas


permitiram que eu vislumbrasse de uma personalidade nova, arrogante, sem
peso na consciência. Elas me presentearam com a minha versão
desprendida das regras, autêntica e destemida. E agora... eu estou nessa
crise existencial, temendo ser igual a vocês.

- Igual a nós? - Louis arqueou uma das sobrancelhas, esperando expulsar


esse pingo de mágoa que despontou em si.

- Eu só- eu só não queria ser o que todos querem ser. Lou, você sabe
exatamente o que fazer desde o momento que acorda até antes de dormir,
você tem o mundo sob os seus pés enquanto eu o quero em minhas mãos.

Tomlinson concordou, um tanto incomodado por ser um exemplo de


aversão de personalidade para Harry.

- Você não precisa abandonar quem você é. - Louis inferiu. - Diariamente


trocamos de roupa, cortamos o cabelo e continuamos com a nossa essência.
Ela está em você, Harry. Não nas drogas; elas não te criaram, apenas deram
impulso para que se descobrisse.

Styles não verbalizou uma resposta, pondo fim àquele diálogo por ora.

Eles prosseguiram neste ambiente de uma lírica muda, em que o vapor já se


dissipava, a água ao redor deles ficava cada segundo mais fria e suas
mentes produziam meditações particulares.
A luz amarelada parecida com a de velas contribuía para a enfatizar a
retratação poética do cenário, com dois jovens empoleirados na banheira
ponderando conflitos internos que iriam além do que pessoas de suas idades
estão supostas a ter.

Com um aspecto sufocado, Harry, fortuitamente, explodiu, lágrimas


traçando rumo por suas bochechas.

- Não importa o quanto eu me rodeie de joias, de móveis caros, roupas sob


medida, lençóis de mil fios, tapetes egípcios, gargantilhas de diamantes...
No fundo... No fundo eu continuo sendo aquele lago abandonado que eu te
mostrei, entende? Eu sou exatamente ele, cercado por Palácios, esculturas
vitorianas, flores raras... E tudo que continuo sendo é a porra de uma coisa
desprezada e repugnada porque eu não me encaixo nessa realidade.
Simplesmente não bom o bastante. - desabafou, soluçando.

E lá estava Styles, trêmulo pelo choro contido, fungando, e fragmentado.


Abraçando-se para se esquentar da água gelada o qual estava imerso.

- Fico feliz de que nessa analogia eu sou o único a conhecer o lago então. -
Louis proferiu, sorrindo carinhoso para o garoto desolado. - Ele é o meu
espaço favorito deste Reino, Harry.

Harry, o qual cobria o rosto com suas mãos, afastou-as para o lado,
encarando-o nesta fresta.

- Ele é? - indagou baixinho.

- Absolutamente. - Tomlinson disse, sem delongas.

- Mesmo que seja um pouco sujo porque ninguém frequenta? - Styles


interrogou, destampando completamente a face, suas lágrimas escorrendo
em menor fluxo.

- Eu mesmo posso limpa-lo. - garantiu-o. Seu sorriso tenro ainda ali. As


orbes azuis presas nele, afáveis.
- E se o lago for muito profundo? E se você se afundar? - Harry lançou a
hipótese, a expressão desconfiada, já engatinhando para mais próximo de
Louis na banheira, até que estivesse pairando em cima do corpo do menor,
repousando em seu colo com uma perna dobrada de cada lado.

Tomlinson puxou-o pela nuca, colocando seus narizes há milímetros de


distância, suas respirações se misturando e as lágrimas remanescentes de
Styles quase caindo sobre ele.

- Eu saberia nadar, amor. - Tomlinson assegurou, colando seus lábios


sutilmente nos do príncipe. - Mas, para ser honesto, eu também adoraria me
afogar em você.

Styles não aguardou nem outro segundo para tomar a boca de Louis para si,
tecendo aquele encaixe molhado e desesperado comum para eles, suas
línguas se encontrando, girando, em uma dança própria que já estavam
habituadas.

Harry grunhiu em aprovação com aquele ritmo frenético que o beijo


adquirira, a água parecendo esquentar novamente ao que seu membro,
posicionado entre seus abdomens, passara a endurecer.

Louis rolou sua boca para o pescoço de Styles, depositando leves mordidas
com pouca sucção, sentindo o príncipe se remexer inquieto em seu colo,
pressionando o pênis nele para receber algum estímulo.

- Lou... Lou, me de um orgasmo, por favor. Já faz tanto tempo, e-eu preciso
de você. - sussurrou necessitado em seu ouvido. - Eu preciso me distrair,
quero gozar, quero gritar o seu nome.

Louis tinha que ser forte e negar, porque Harry estava em um estado
psicológico abalado e este era o certo a ser feito...

Mas então o jovem dos cachos provavelmente traduziu sua feição incerta e
se apressou a repreende-lo.

- Nem cogite isso. Eu o desejo nesse momento, Tomlinson. Quero ficar por
cima, hoje. Preciso me sentir no controle das coisas desta vez.
Louis acenou em concordância, um tanto surpreso pela vontade de Styles.
Ele já havia sido o passivo antes com outras pessoas, não era seu
posicionamento preferido mas continuava sendo o bom e-

- Eu vou cavalgar em você, Lou. - Harry adicionou e, oh, okay então.

Harry iniciou uma série de reboladas fortes e precisas em Tomlinson,


almejando senti-lo pulsar contra sua bunda de tão duro que ficasse. Seu
próprio membro já doía enquanto ele se ondulava contra o abdômen do
menor.

Tomlinson desceu a mão para o pênis do príncipe, fechando o punho e se


esforçando para masturba-lo apropriadamente, no entanto o empuxo da
água dificultando seu trabalho e retardando a velocidade de seu movimento.

- Merda, mal consigo bombear seu pênis. - Louis xingou irritado.

- Não importa, aperte minhas bolas. É o suficiente. Qualquer toque seu é o


suficiente. - Harry o garantiu, expondo mais sua pélvis para que Tomlinson
o agarrasse ali.

Louis obedeceu seu pedido, agarrando as bolas do príncipe com uma força
calculada, ouvindo-o gemer em deleite.

Com a outra mão livre colocou-a sobre o peitoral do maior, fechando a


ponta de seus dedos em torno do bico de seu mamilo, provocando-o até que
ficasse eriçado e devidamente sensível.

- Oh- Lou, isso, meu bem. Maltrate-os, eles são seus. - lamuriou, amando a
atenção oferecida em seus preciosos (e muito suscetíveis a prazer) mamilos.

Ao ter Tomlinson grunhindo alto em sua clavícula devido às rolagens de seu


quadril, Harry decidiu que estavam prontos.

Ele se estendeu o bastante até que pudesse sentir o pau de Louis ereto,
relando em sua bunda.

Suspirou ansioso, lambendo os lábios, ajustou até que a cabeça do pênis se


alinhasse à sua entrada.
- Deus, eu amo isso. - comentou ao sentir-se sendo alargado, sentando
vagarosamente para apreciar milímetro por milímetro da ereção de
Tomlinson sendo engolida em suas paredes internas, enviando espasmos ao
desbravar seus nervos.

Ao abrigar todo o pau em si, estando com as coxas encostadas nas de Louis,
Styles ficou em inércia, acostumando-se com a sensação abrasadora que o
sucumbia. Sua respiração engatou e sua boca se entreabriu.

Ele se permitiu vinte segundos de intervalo antes de se reerguer e sentar de


novo. E de novo. E de novo.
Nesse ritmo constante e acelerado, sentindo-se incendiar em toda investida.

Harry rebolava contra as bolas de Louis antes de subir, descer e repetir o


processo, e ele se lembrou o porquê de raramente ficar no controle... ele não
tinha controle.

Era insaciável.

Da forma que se preenchia desesperadamente como se nunca tivesse o


suficiente, estalando com força para baixo e causando, por consequência, a
propagação de ondas da água da banheira, que acabava por transbordar e
inundar o chão do toalete em cada ato seu.

Sua mente ficou nublada muito depressa, sem frases coerentes, muito
excitado para sequer administrar algum compasso.

- Meu deus. - Louis suspirou, pego desprevenido pela agilidade e


exasperação de Harry que o montava incrivelmente embevecido pelo
prazer, semicerrando seus grandes olhos verdes como se não fosse capaz de
aguentar os espasmos, soltando lamúrias altas da forma barulhenta que era.

Tomlinson começou a estoca-lo de volta, arqueando o quadril para cima a


fim de encontrar seus movimentos, assistindo-o se derreter aos poucos em
seu pênis, conforme caía completamente entregue nele.

Os sons de estalos de pele com pele nas cavalgadas eram atenuados pela
água remanescente, contudo, os gemidos de Styles não estavam impedidos
de ressoar com eco entre os ladrilhos, ele agarrando os ombros de Louis
para se firmar nesse exercício incansável de suprir sua maior necessidade
no momento.

Louis soube que Harry havia golpeado sua próstata quando um grito rouco
e macio escoou de seus lábios, pendendo a cabeça para trás como se
estivesse desmoronando, as paredes em torno do pênis se contraindo
bruscamente.

- Porra, Haz. - Tomlinson resfolegou, seu membro sendo envelopado com


força e as unhas do maior quase perfurando sua pele. Uma combinação de
dor e deleite que o remetiam ao paraíso.

A partir desse instante, em que Harry surrara seu ponto mais sensível, ele
realmente entrou em um estado de frenesi, cavalgando como se sua vida
dependesse disso, angulando para que a cabeça do pau escovasse sua
próstata em toda investida.

- Eu e-estou chegando per- Oh! - p-perto, Lou. - Styles sibilou manhoso,


pulando em seu colo irrefreável.

Tomlinson não conseguiu responder, ele estava muito desnorteado para tal.
No entanto, com suas duas mãos livres, levou cada uma para um mamilo do
príncipe, esfregando-os firmemente com suas digitais, ocasionando uma
onda dilacerante no maior o qual se viu choramingando ligeiramente
curvado no peitoral de Louis, o corpo tremendo abruptamente.

Neste ponto, Harry estava quase em lágrimas, montando Louis muito


rápido, costas baixas e pernas doendo. Mas ele não pararia. Jamais.
Se pudesse, congelaria sua vida agora, em que está rebolando no pênis da
pessoa que mais am- .. gosta, preenchendo-se e se aproximando de um
adorado orgasmo, suas coxas apertando as laterais de Tomlinson
desesperadamente.

Harry refreou a velocidade das investidas, seus músculos muito fracos e


entorpecidos, seu cérebro anestesiado demais para enviar os devidos
comandos ao resto dos membros.
Portanto, Louis decidiu auxilia-lo, trazendo suas mãos para deposita-las nas
bochechas da bunda de Styles, primeiramente massageando-as até que o
maior ofegasse, e então guiando-as para combinarem com suas estocadas.

- Você ama cavalgar em mim, não é princesa? -


Louis questionou enquanto o fodia e Harry gemeu derrotado, sua fenda
extravasando pré-gozo, que de algum modo sumiu na água. Ele estava em
um estado de satisfação tão puro, sua cabeça girava, nem mesmo tendo
potência para mover seus ancas de volta para retornar os impulsos,
permitindo que Louis subisse o ritmo e fodesse o garoto em uma velocidade
impressionante, batendo incessantemente em sua próstata.

- Céus, eu am... eu adoro você, príncipe. - Harry soluçou, dissipando


lágrimas pelo canto dos olhos. - E-eu... eu vou... hm.

Merda. Os gemidos de Harry sempre seriam os mais sensuais de todos. Sua


pele era macia. Lisa. Aveludada. Ele desejava beijar cada centímetro dela,
essa ideia fazendo seu coração acelerar.

- Lou! - o príncipe quase berrou, se contraindo.

Tomlinson não pôde evitar. Ele se estremeceu inteiro, a boca do estômago


retorcida até que seu pau ejaculasse uma quantidade considerável de sêmen
ao que ele trincava a mandíbula, gemendo sôfrego contra o ouvido de
Styles.

- H-Harry, puta merda minha princesa.

Ele permaneceu parado nestes segundos, recuperando a respiração e


aproveitando o próprio orgasmo. Eu nenhum instante Styles mostrou
descontentamento pelo menor ter vindo antes, somente o aguardou
obediente até que Louis reabrisse os olhos.

Mas... ainda assim, Tomlinson continuara duro. Como se não houvesse


expelido toda sua cota de esperma.

E, para a felicidade de ambos, Harry pôde montá-lo novamente, agora nesse


ritmo mais lento, querendo apreciar os últimos segundos antes que o
orgasmo o atingisse.
Ele subia e descia em todo o comprimento, remexendo os quadris no final
para sentir sua próstata sendo acariciada. Lágrimas desciam devagar - quase
em câmera lenta - por sua face, em um choro contido, gemidos altos e
demorados se reproduzindo de sua garganta.

Após outras poucas investidas e Harry se derramou, com um barulhento


choramingo no ombro de Louis, espasmos que o enfraqueciam e o faziam
tremer impetuosamente. Era tudo demais. Gostoso demais. Quente demais.

Talvez a (pouquíssima) água que sobrara na banheira estivesse fervento


junto.

Harry não parou de cavalga-lo em seu orgasmo, ansiando prolongar seu


prazer com o membro enrijecido torturando seus nervos muito sensíveis, até
que ele se encolhesse pelo estímulo esmagador.

Surpreendentemente segundos depois Louis gozou uma segunda vez. Harry


não conseguiu evitar o tremor involuntário de prazer que varreu seu corpo
com a sensação de que Louis o enchia.

Harry se estendeu um pouco, ficando de joelhos na frente de Tomlinson


para que o gozo de Louis escorresse de sua entrada, pingando no príncipe
que se mantivera sentado. Toda a visão tão suja e obscena. E Harry
assistindo-a fascinado.

- Precisamos de um novo banho. - o príncipe de Riverland observou, já


destampando o ralo e ligando a torneira para reencher a banheira.

***

Após uma nova sessão de espuma e água quente, eles se afundaram


novamente no calor da grande cuba branca.

Silenciosos e ofegantes. Seus corpos pressionados juntos, enroscados nesse


emaranhado agradável desta bolha melancólica.

Harry, o qual olhava cegamente para o teto, com as costas apoiadas no


peitoral de Louis, mordeu o interior da bochecha e refletiu:
- Eu acho que há um ponto na sua vida em que tudo parece meio
escorregadio. E aquela velha história que seus pais alertavam sobre como é
fácil ir para o caminho errado passa a fazer sentido.

Inspirou.

- Você não se imagina no 'caminho errado'.


Mas isso soa como uma consequência, sabe? Se o foco é perdido, a margem
fica tão íngrime que é inevitável não se deixar cair um pouco.

Expirou.

- E quando você cai um pouco, você cai muito, porque nem toda queda tem
segundas chances.

Inspirou.
Expirou.

- Talvez a vida seja sobre isso, encontrar uma maneira de subir de novo
escalando o vazio.

***

Notas da autora: olá, meus caros. Eu vim fazer uma breve reflexão sobre a
importância desse capítulo, sobretudo ao que diz respeito a superações.

É essencial refletir sobre as falas de Zayn: nós devemos sair de situações


tóxicas por nós mesmos, porque merecemos nos sentirmos felizes e
saudáveis.

A melhora de Harry não é mérito de Louis. É mérito dele. Por ele e graças
a ele.

Nós somos os autores da nossa vida, nos devemos a felicidade por mais
inalcançável que ela soe.
A caneta continua na sua mão, e embora algumas vezes os rabiscos
estraguem uma parte, não coloquem um ponto final.
Chapter Forty Six

Episode: Liar

Tomlinson descobriu que a fase de abstinência de Harry possuía mais de um


nível.

Aparentemente ele conhecera somente o lado fragilizado, sensível e triste.

Nos próximos dias, Louis encarou um outro desafio:


A ira energética de Styles.

Porque inevitavelmente sua frustração de estar restrito das drogas foi


aumentando, foi se convertendo para estresse.

Um estresse que... por sorte... ele gostava (lê-se amava) de descontar em


sexo.

Tomlinson aprendeu que havia essa rotina inédita em que Harry apareceria
cedo em seu quarto, com os olhos vermelhos, conturbado e a mandíbula
trincada, bufando até que o menor se levantasse e o questionasse
calmamente o que poderia fazer por ele.

Então existiria esse desabafo infindável sobre como a vida era uma grande
merda, como ele se sentia agoniado e como amaria quebrar a cara de
alguém.

Quem o assistisse de longe acharia que se tratava de um gatinho enfezado


reclamando desde o aspecto do queijo derretido ao da cor do seu esmalte.
Uma longa lista do que havia de errado ao seu redor. E, aparentemente,
muito.
De um segundo para o próximo, Louis- o qual o encararia impotente,
tentando não ceder e devolvê-lo a cocaína - seria surpreendido com um
enorme corpo se conectando ao seu, lançando-se desesperadamente em
cima dele como se pesasse igual uma pena.

A partir daí Harry se transformaria em um conjunto de frases


choramingadas como 'hey, você vai me foder, não é?' ou 'uhh Lou, você sabe
que eu adoro quando você mete com muita força naquele meu
nervinho...faz agora??'.
E ele não pararia até que estivessem suando no tapete de Tomlinson
(rezando para que nenhuma das criadas adentrassem), com Harry sendo
mais barulhento que o normal (o que provavelmente espantaria tanto
Lorena quanto Jezebel).

Louis não permitia que eles transassem sobre o colchão... porque nessa sua
ideologia particular a cama era um espaço mais especial para relações
sexuais e ele gostaria de fazer desse momento memorável - ele sempre
possuiria um romance lapidado - portanto, colocava algumas almofadas
sobre o tapete macio e deitava Harry confortavelmente neles.

Por outro lado, era evidente que a frustração de Styles influenciava o sexo
porque, por exemplo, o príncipe passara a xingar palavrões no meio de
todos seus gemidos, e projetar sua ancas para baixo, para encontrar as
estocadas de Louis, com muita brutalidade. Ele seria ligeiramente agressivo
e mais afobado, gritando, chorando e se contorcendo de prazer em
espasmos intensos, que desembocavam em um Harry ofegante, pendendo a
cabeça para trás em busca de oxigênio, derretendo-se em jatos quentes de
gozo ao que escutava Louis o chamando de 'princesa pervertida'.
Ele amava.

Seus minutos de paz pendurariam até que a névoa pós-orgasmo acabasse.


Até que o sêmen secasse de seus abdomens e Harry se recordasse de que
precisava abastecer seu vício.
Assim, o príncipe se levantaria angustiado, puxando seus cachos para trás
com aspereza, e se despediria de Louis com um curto aceno de cabeça.

Essa situação não era exatamente o que Tomlinson almejava. Porque... bem,
ele estava apaixonado, e queria demonstrar com toques carinhosos, escovar
os cabelos de Harry e massagear seu rosto com as pontas de seus dedos, em
gestos doces e sutis. Mas Harry não queria tal atenção neste instante.

Ele estava em uma batalha interna consigo, sufocando-se e lutando para


prosseguir.

Ele parecia forte, determinado... e zangado.


Era normal este nervosismo, Louis sabia, Louis escutava seus resmungos
com muita paciência.

Louis não demonstrava muita reação para seus surtos esporádicos,


calculando perfeitamente quando aconteceriam (de quatro em quatro horas).

Em contrapartida, eles estavam muito mais próximos. Harry não


desgrudaria de Tomlinson durante as aulas (ou fora delas).
Ele olharia atravessado para qualquer príncipe que aparentasse enfeitiçado
na beleza e soberania do futuro rei de Riverland, o que seria natural, haja
em vista que estavam agora nas últimas duas semanas de temporada e a
união de alguns jovens definiria a união de reinados.. e Riverland era uma
terra próspera a qual muitos afirmavam interesse.

Styles era essa bolinha temperamental que mantinha um ritual de bufar e


revirar os olhos o dia inteiro, até que de noite puxasse Louis para o chão do
aposento do mesmo a fim de ter um segundo sexo (às vezes um terceiro, se
Tomlinson conseguisse algum fôlego - ninfomaníaco). E então o moço dos
cachos retornaria para o próprio quarto onde se encolheria no canto e
choraria de raiva.

Mas, raiva acumulada nunca resultaria em boas coisas.

E Louis estava prestes a desprender na prática tal ensinamento na noite de


terça-feira.

***

Na terça tudo parecia muito normal, desde Harry apoiando totalmente sua
cabeça no ombro de Tomlinson durante o almoço até ele insinuando um
boquete com a língua contornada sob a bochecha (no meio da roda de
conversa no Salão dos Homens). Louis tossiu e disfarçou.

Ele tentou de novo arrastar o príncipe para o canto, sem sucesso, porque,
bem, Tomlinson não tinha como arranjar forças após dois sexos na parte da
manhã e mais os outros que certamente viriam de noite.

Então ele sutilmente negou com um aceno e retomou sua atenção para o
debate trivial que ocorria.

- Vossa Alteza, já fez a prova de vestuário? - Liam eventualmente o


questionou, olhando-o afetuoso como o simpático jovem que era.

Tomlinson franziu o cenho.

- Não. Prova de vestuário?

- Sim. Os alfaiates começarão a costurar os trajes que usaremos no dia final


da temporada, naquela simulação da coroação, sabe? Devemos tirar
medidas e afins na oficina de alfaiataria principal.

- Oh, não sabia.

- Está com a cabeça nas nuvens ultimamente, Vossa Alteza? - Liam


perguntou de bom humor, oferecendo-o um sorriso divertido.

Contudo Louis retesou. Porque aquilo soou quase como uma insinuação.

- Digo, não é normal que esteja tão desinformado. Não vem frequentando o
Salão dos Homens também. - Liam adicionou, afagando o ombro de
Tomlinson. - Mas não se preocupe, amanhã eu próprio posso levá-lo à sala
de costura. O que acha?

Louis se comoveu com a bondade gratuita, no entanto, quando estava perto


de aceitar a oferta, ouviu um rosnado de lobo ressoando atras de si.

Não foi preciso virar seu rosto para adivinhar que ali encontraria Harry com
sua mandíbula trincada, encarando Payne como se pudesse perfurar sua
testa com este olhar intimidador, e, para enfatizar, esta espécie de ruído
saindo de sua garganta.

Liam não se tocou. Ou fingiu não se tocar.


Ele nem sequer deu atenção para Harry, ainda aguardando uma réplica de
Tomlinson. Haveria essa energia acumulada naquele príncipe que faria seus
pecados soarem tão pequenos e mascarados com esta ternura nobre que
exalava.

Louis, instintivamente - pelo bem de todos da sala - se tocou que precisava


acalmar aquele gatinho enfurecido resmungando em suas costas (quando foi
que Harry atravessou a roda para escutar o diálogo dos dois??). Ele
discretamente levou seu próprio braço para trás até que esbarrasse no corpo
do outro, apertando cegamente o pulso de Harry, em reconforto.

Ele queria muito que Styles traduzisse esse gesto como 'relaxe, gatinho'.

O que, muito possivelmente, aconteceu, desde que Harry se deu a liberdade


para se aproximar ainda mais de Louis, parando somente quando seu
peitoral estivesse pressionando-se nas costas de Tomlinson, enrolando-se
em torno dele com essa manha excessiva.

- Hm, aprecio sua predisposição, Príncipe Payne, porém não será


necessário. De certo Príncipe Edward também não tirou suas medidas, e
fará-me companhia nisso amanhã. - explicou, assistindo Liam finalmente
reconhecer a presença de Styles, piscando visivelmente surpreso para a cena
do garoto dos cachos enlaçado na traseira de Louis de forma que
parecessem uma única pessoa.

Harry ainda o fitava com cara de antipatia. Um biquinho teimoso formulado


em seus lábios vermelhos.

- Sou eu quem levará Louis, queridinho. Não se preocupe. - Styles


murmurou empinando o nariz.

- Oh, Príncipe Edward, como está? - Liam o dirigiu a palavra, suas feições
forçando uma gentileza frágil e montada. Não era segredo que ele julgava
Harry semelhante a todos os outros mais recatados, que colocavam aquela
cabeça de cachos na lista dos que 'perderam totalmente o bom senso'.

Styles, sendo o esnobe desmedido que é, trajou sua melhor falsidade e


sorriu arrogante.

- Esplêndido, meu caro. Melhor impossível.

Liam concordou inabalado.

- Bom, deve estar mesmo, haja em vista que ninguém tem sido mais visto
deixando suas festas privadas noturnas, hum?

A serenidade forjada de Harry foi imediatamente substituída pela raiva de


ser desafiado, principalmente em frente a Tomlinson.

- Bem, garanto-lhe que meu tipo de festa atual está sendo bem mais
divertido. - Styles se gabou, rodeando seus braços nos ombros de Louis
com a feição presunçosa.

Liam desceu seus olhos para Louis, acenando complacente.

- Fico feliz por vocês, então. Desejo apenas prosperidade. - proferiu


levemente atordoado, retesando os passos a fim de se afastar.

A partir do instante que Payne sumiu de vista, Louis se virou para Harry. E,
honestamente, ele conseguiria ser bonito e sexy em todos os seus estados de
espírito, mas quando este lado mais sombrio e irritado surgia, Styles
adoraria empinar sua bunda e gozar só com aquela visão.

Contudo, havia um problema. Louis esclarecera seu descontentamento. O


que não era um bom sinal.

- O que foi, Lou? - o maior sussurrou, uma sensação de arrependimento


amargurando sua língua. - E-eu não... não era para expormos isso, não é? E-
eu sinto muito... fiquei com c-ciúmes e agi por impulso e-

- Não. Não é isso, Harry. - Tomlinson o cortou. Seu tom amenizou para algo
mais suave, no entanto, ainda seco. - Eu só fiquei, hm, incomodado...
porque você se referiu a mim como uma festa. E eu não sou uma festa
noturna, nem desejo ser considerado uma.

Styles assentiu envergonhado, baixando o rosto para esconder o escarlate


que pintava suas bochechas. Ele sempre estraga as coisas.

- Certo, sinto muito. - Harry reproduziu sob uma expiração longa,


mastigando a borda de seu lábio inferior. - E-eu... eu vou subir. Vejo-o mais
tarde.

Talvez Louis não devesse acreditar que Harry o definisse como um


passatempo noturno, porque Deus, não era.

Styles gostaria de gritar a plenos pulmões que Louis estava longe de ser
uma distração, um sexo casual.
Ele gostaria de escrever em todas as paredes deste Palácio o quanto esse
príncipe era especial, e lindo, e mil outros adjetivos que fariam qualquer
outro mortal inveja-lo.

Louis era tanto.


Era a felicidade esculpida sob a forma de um humano.
Ele significava um patamar de alegria que Harry jamais cogitou saborear.

Mas, esse era o problema, ele não poderia revela-lo isso.


Não poderia confessar a ele que seu coração batia disparado contra seu
peito cada vez que Tomlinson sorria.
Não poderia confessar que ele era o pequeno sol que iluminava sua
existência inteira.

Não poderia porque... porque seria egoísmo, e ele sempre soube que
haveriam alguns limites estipulados que o impediriam de cruzar essa linha
tênue entre aproveitar o que há no momento e tornar as coisas oficiais em
sua cabeça.

Ele não tinha o direito de pensar que seu mundo pudesse ser um romance
vitoriano, mas pensou.
Ele não tinha o direito de incluir Louis nessa bagunça da sua vida, mas
incluiu.

Ele não tinha o direito de se apaixonar, mas... se apaixonou.

E agora arcaria com o preço de sufocar suas maiores vontades para garantir
que Louis tivesse melhores chances.

***

- Você tem que dizer a ele, menino teimoso. - ela reforçou, bufando
ranzinza.

Harry somente negou como nas últimas oito vezes, debatendo-se


dramaticamente sobre o colchão.

- Não, não posso. Não posso, você sabe disso, ruguinhas. - Styles rebateu,
afundando ainda mais o rosto contra o travesseiro.

- Se ele se importa mesmo com você, relevaria a circunstância.

- Não é só questão da primeira circunstância, Ami. Há a segunda também


e... e ele ficaria tão surtado. Eu quase o imagino empurrando-me da janela
ao descobrir tudo. - Harry disse aterrorizado, subitamente se sentando e se
encolhendo contra a cabeceira da cama. - E-ele irá me odiar, e eu nunca
mais terei seu olhar admirado e doce sobre mim-

- Garoto! - Amélia interviu, apressando-se para interrompê-lo antes que o


jovem tivesse outra crise. Ela correu para se acomodar em sua frente,
esticando a mão e moldando sua bochecha. - Seja qual for a reação dele, ele
precisa saber. Ele merece, meu bem.

Harry negou rapidamente com a cabeça.

- Eu não posso. Não. Ainda tenho as coisas sob controle e-e eu nem sei se
ele iria mesmo querer... hm.... você sabe.... - Styles gaguejou, suas
bochechas adquirindo uma tonalidade vermelha.

- Ele iria mesmo o que? - Amelia insistiu, arqueando uma das sobrancelhas.
O príncipe tossiu a seco sem jeito, inspirando falho e de repente muito
tímido.

- Hm, ter algo comigo..

E ele não poderia expressar sua indignação quando a criada começou a


gargalhar de sua cara, as rugas proeminentes no canto de seus pequenos
olhinhos se realçando ao que ela se punha a risos.

- Ei! Não ria de mim... - Harry murmurou amuado, fechando a expressão


para uma chateada. - E-eu... e-essa ideia não é tão ridícula assim... ou ao
menos eu achei que não era.... q-quê talvez ele pudesse, er, querer-me t-
tanto quanto o quero.

A idosa parou de rir aos poucos, expondo um sorriso enorme ao que


encarava o príncipe ferido com uma quantidade grande de carinho.

- Não estou rindo por tal motivo, menino. Estou rindo porque o que acabou
de falar é tão óbvio que foi engraçado. Louis não talvez o queira para algo
sério. Ele com certeza quer.

Styles mordeu o lábio com força, claramente numa missão falha de


repreender esse sorriso natural que ameaçava desdobrar as covinhas, suas
orbes verdes cintilando em fascínio.

- V-você acha? Você acha mesmo? - indagou, orando para que não soasse
extremamente esperançoso ou animado. Mas, então, a realização dos fatos
repercutiu no canto consciente de seu cérebro, puxando-o para a lembrança
que o assombrava. - Ele não pode. Ele não pode, Ami. Ou tudo estará
perdido.

Amélia umedeceu seus lábios ressecados, suspirando.

- Tudo esteve perdido por tanto tempo, querido. Você precisa permitir que
ele o encontre. - ela reproduziu. Levantando-se para retomar suas
responsabilidades na área da limpeza a qual se esgueirou por poucos
minutos para atender ao chamado do príncipe.
***

Harry terminava de se arrumar no banheiro anexado ao quarto, quase pronto


para visitar os aposentos de Louis e passar o máximo de tempo que
conseguisse com ele (fosse tendo relações sexuais... ou tendo mais relações
sexuais) quando escutou o clique da porta de seu aposento.

Deduziu ser Amélia que possivelmente esqueceu algum espanador por lá.

- Ami? - chamou-a, no entanto não obteve respostas.

E, okay, ele poderia acabar de pentear seus cachos depois, só necessitava


checar o que Amélia procurava.

Abriu a porta rindo.

- Ruguinhas, está mais surda do que o normal! - proclamou, contudo, seu


tom descontraído foi logo esvaído ao sentir uma ponta gelada pressionando
a base de sua garganta.

- Não sei quem 'ruguinhas' é, Harry, mas sinto pena dela por ter que
conviver com alguém como você.

***

Onze da noite.
Onze meia.
Meia noite.

Conforme os ponteiros alcançavam novos riscos em seu relógio de pulso,


Louis se questionava se teria sido rígido demais com Harry pela tarde para
que o príncipe se recusasse a encontrá-lo.

E não era pelo sexo.


Definitivamente não era.

Tomlinson gostava de transar, certamente. Mas... era por Harry. Por estar
com Harry e observa-lo entre os gemidos e o suor, e ter certeza de que
aquele homem seria o seu futuro. E pensar em quão sortudo ele era por estar
com o jovem dos cachos em seu aperto, entregue e extasiado, com a luxúria
expirada de seus poros e a juventude enraizada em seus suspiros.

Cada mínimo detalhe de seus traços o remetiam a uma melancolia bucólica


e variável. Como por exemplo o sorriso sincero que Harry expunha ao ser
elogiado por Louis: era um sorriso quente, tropical, fresco. Parecia o verão.
Os grandes olhos intensos que possuíam essa peculiaridade ostensiva e
cortejadora: remetia-o à trovões estrondosos, brilhantes.
Porém, também tinha essa essência interior em Styles, fria e triste, muito
similar ao inverno.

E Louis se lamentava com toda essa alusão. Porque... por mais que Harry
fosse o verão por fora, ele não aquecia o que estava congelado
internamente.

Tomlinson fechou suas pálpebras por dez segundos, organizando seus


pensamentos adversos até que pudesse retomar os sentidos e ir enfim atrás
de Styles.

Calçou determinado seus sapatos e silenciosamente se esgueirou pelo


corredor, sendo o máximo discreto para não chamar atenção alheia.

No entanto, ao chegar no quarto de Styles, deparou-se com o laço vermelho


enrolado na maçaneta. Um claro aviso a se manter afastado do que fosse.

E ele iria.
Ignoraria esse bolo corroendo seu estômago e aceitaria que este era um
convite explícito para se retirar... mas.... mas....

Ele não se via apto.


Não sem antes comprovar.

Portanto, tomou uma lufada de ar temeroso e abriu a porta, adentrando


hesitante no cômodo.

Ao que sua visão varreu o local, ele não se sentiu nem um pouco aliviado.
Porque, okay, não havia um bacanal comunitário ocorrendo no colchão com
drogas à vontade.

Contudo havia um Harry amarrado em seu divã vermelho, com um


hematoma na sobrancelha sangrando, posição curvada para frente de dor,
uma mordaça entre seus lábios e Andrew próximo de si desferindo um
chute em seu estômago.

- Sente isso, Styles?! É o preço que se paga por brincar com os outros como
se fossem a merda dos seus brinquedos! - cuspiu exasperado, apontando
agora uma espada em seu pescoço, descendo a mordaça do príncipe.

Harry levantou fracamente sua cabeça para responde-lo.

- Já disse que não fui eu, imbecil. - sussurrou, franzindo o cenho.

- Oh, não foi, não é? Assim como não foi você quem tentou me matar
manipulando meu cavalo com aquela cobra de pelúcia?! Tão previsível!

Louis podia enxergar as veias saltadas e o rosto vermelho de Andrew, como


se estivesse à beira de um surto e fosse um verdadeiro psicopata.

- Que porra está acontecendo aqui?! - Louis reverberou alto, saindo de seu
estado de paralisia e correndo até eles.

Andrew em uma primeira instância estremeceu com o susto, contudo,


depois, sorriu diante a imagem do príncipe de Riverland.

Harry apenas apertou as pálpebras em suas condições enfraquecidas e


sibilou um 'não Louis, vá embora'.

- Oh, vejo que o destino está a meu favor. - riu diabólico, igual o vilão de
algum conto heróico faria. - Qual melhor maneira de torturar esse
desgraçado do que torturar a pessoa que ele preza em sua frente?! Enquanto
assiste a tudo impotente?

- Andrew, não sei o que pensas que o Príncipe Edward fez, mas garanto-lhe
que não foi ele. - Louis informou.
- Foi, foi sim! Eu não recebi cartas de minha família uma vez sequer nesta
temporada, nenhuma! Não importa quantas enviasse! E ontem,
magicamente, todas as que eu enviei ou pensei ter enviado ao longo destes
meses ressurgiram em meu quarto! - acusou, olhando furiosamente para
Harry. - Agora me diz, qual é o único idiota que tem potencial para cometer
um delito destes?!

- Basta. Você não tem direito de culpá-lo sem provas. - alertou.

E foi nesse segundo que Andrew aproveitou a oportunidade para avançar


sobre Louis com a espada estendida em sua direção.

Tomlinson não moveu um passo sequer. Permaneceu estático com sua


expressão neutra, sem demonstrar qualquer indício de medo.

- Não irá correr, Vossa Alteza? - o jovem perturbado interrogou entredentes,


colocando-os numa posição em que mantivesse Louis preso ao seu lado,
com a lâmina da espada rente à base de seu queixo, próximo de perfurar a
pele de seu pescoço.

- Ao contrário de você, eu tenho honra. - proclamou sorrindo irônico (e,


merda, a convivência com Harry estava o transformando) - Não abandono
quem amo.

Louis não sabe exatamente como aquilo escapou tão facilmente de seus
lábios, ele nem se tocou na verdade (havia um risco de morte ocupando a
maior parte de seu raciocínio). Mas... Harry sim.

E Harry, embora praticamente desmaiado, ergueu a cabeça atordoado,


incerto sobre o que escutou. Ele piscou lento para o cenário, reparando que
Andrew iria de fato apunhalar Tomlinson só por sua causa.

- Andrew, não! Por favor, não machuque ele! Machuque a mim! - implorou,
lágrimas grossas acumulando. - Deixe-o ir!

- E perder a chance de o atingir? - gabou-se satisfeito - Considere isso uma


lição de vida, Harry.
- Deixe-me oferecê-lo uma outra lição de vida, Vossa Alteza. - Louis
anunciou atrás de si, antes de colidir uma garrafa de champanhe que ficava
sobre o aparador de Styles em sua nuca, fazendo-o desmaiar. - Nunca se
distraia em uma batalha. - adicionou, olhando de cima para o corpo caído de
Andrew.

Tomlinson se agachou e tomou a espada para si, indo até Harry e com um
único movimento cortando as cordas que o prendiam ao divã.

A reação do príncipe de Malta poderia ser qualquer uma.


Ele poderia ter abraçado Louis e o agradecido por salva-lo.
Ele poderia ter se encolhido e chorado de dor pelos cortes e chutes.

Contudo, devido à explosão emocional que era sua fase de abstinência das
drogas, toda sua energia foi convertida para raiva.

Raiva a qual o despertou de toda essa nuvem de dor e fraqueza para uma em
que sua visão se fixou quase maníaca na figura de Andrew deitado de
bruços.

E ele se enfureceu.

Estendeu-se de pé passando por Louis como quase um foguete, se jogando


contra o corpo desacordado.

- Harry o que pensa que está fazendo?! - Tomlinson interrogou exasperado,


indo atrás de seu garoto.

Harry, o qual virara Andrew de barriga para cima, praticamente montara


nele até fechar a mão em punho e desferir um soco certeiro em sua
bochecha esquerda.

- Harry, pare com isso! Ele já está desmaiado! - Louis alertou, tentando
inutilmente puxa-lo para longe.

O que foi em vão, porque a adrenalina percorria cada célula de Styles,


corrompendo-o nesse estado alucinado em que ele parecia absorto do que
era certo e o que não, tudo manchado por raiva.
- V-você nunca mais vai encostar um dedo imundo nele! Seu filho da puta!

Outro soco.

- Ninguém encosta no Louis! - berrou, sacudindo-o pela gola de sua camisa.


- Ninguém! Eu vou mata-lo! Matarei-o com as minhas próprias mãos!

Se Louis não admitisse que estava ligeiramente assustado, ele seria um


mentiroso. Pois... Styles agredia o homem desmaiado quase igual um
animal, sobre ele, explodindo de ódio, num colapso interno que Tomlinson
temia não ser apto de para-lo.

- Haz! Haz! Não! - Louis apelou, ajoelhando-se perto de Harry ao que este
transferia um golpe no nariz do rapaz, fazendo-o sangrar.

Ele não o deu ouvidos.

- Harry, pare com isso agora! Olhe para mim! Olhe para mim, paixão! -
pediu desesperado, apertando o ombro do maior para ter sua atenção.

Aos poucos a tremedeira que condenara o príncipe de Malta foi cessando,


apesar de que ele não soltara completamente Andrew, ainda teve esse lapso
de realização que os olhos verdes injetados de sangue procuraram pela voz
de Louis.

- L-lou? - sibilou com o beiço trêmulo.

- Hey, hey, eu estou bem, está vendo? Não precisa disso, amor. Veja. Ele
não me feriu. - garantiu com a voz macia, sendo cuidadoso em lidar com
essa sobrecarga de Harry.

Styles negou em um aceno.

- Não, L-lou. Olhe. E-ele fez um corte abaixo de s-seu queixo. - sussurrou,
fitando aborrecido a marca vermelha que a espada deixara ao ser
pressionada naquela região.

E, porra, Louis estava tão aquecido.


Nessa história toda, Harry mesmo totalmente ferido - com prováveis
hematomas espalhados colorindo sua pálida epiderme - tudo o que ele se
preocupava era com a porra de um mínimo corte em Louis. Não havia
espaço para se lamentar da dor que o consumia, não quando Tomlinson
tinha um risco sangrando ali.

Era puro e precioso e Louis se questionou se este seria um momento ruim


para colocar Harry em um pedestal e o mantê-lo la, só para admira-lo.

- Eu estou bem, doidinho. Atenha-se aos seus próprios ferimentos ao invés


dos meus. - afirmou, usando sua outra mão para moldar a bochecha de
Harry, acariciando-a ao que o respectivo jovem o assistia paralisado.

- N-não, Lou. Ele o machucou. Ele tem que pagar. Eu não perdoo quem
machuca os meus protegidos. - uma lágrima cristalina escorreu pela face de
Styles, ele com este aspecto decepcionado para todo o caos. - Você é o meu
protegido.

- E eu estou bem. - assegurou-o, finalmente tendo Harry confiando nele,


com o poder de afasta-lo do corpo de Andrew que fora largado no chão.

Isso soava como o tipo de ocorrido que culminaria na expulsão dos três haja
em vista que qualquer agressão física entre príncipes é estritamente proibida
e condenada.

Louis reparou na forma que Harry pressionava a própria mão contra o


estômago, a fim de suavizar a dor que o ultimo chute de Andrew causou.
Ele o pegou no colo, carregando-o facilmente até que o repousasse sobre a
cama. Em todo esse processo Styles o olhava encantado.

- Agora que o espancou, Harry, temo que passaremos por julgamento. -


Tomlinson suspirou, constatando o inevitável.

- Ninguém pode tocar você, Lou, não de uma maneira ruim. - Styles alegou,
sua entonação meio manhosa com as palavras arrastadas. - E nem de uma
maneira boa, somente eu. - acrescentou, agarrando o colarinho da camisa de
Louis e o trazendo para baixo, até que o príncipe estivesse curvado em sua
direção, com o rosto próximo do seu.
- Ninguém irá. - Tomlinson riu sob a respiração. Tudo dentre dele gritava
'apaixonado!'. - Mas não tenho certeza que conseguiremos escapar impunes
dessa.

- Diremos que eu o agredi em defesa. Ele nos atacou. - Harry insistiu,


apesar de soar relutante.

Pois, bem, ali no chão do aposento havia um príncipe sangrento


desacordado.

- Ninguém acreditará. Será a nossa palavra contra a dele. - Louis rebateu,


contudo, nesse instante de distração não se tocou imediatamente que Harry
se curvara, estremecendo de dor.

O cacheado apertou os olhos impotente, inspirando ofegante.

- Harry? - Tomlinson eventualmente se apavorou. Porra. Merda. Porra. -


Harry? O que está sentindo?

E o mundo girou.
O mundo de Louis girou.

Ele não se recorda de ter se sentido assim angustiado por qualquer outro
motivo em sua existência, o garoto estava ferido e sofrendo e ele não
saberia cura-lo em plena madrugada e-

- Eu posso ajudá-lo. - uma voz entrecortou o ambiente, calando os suspiros


sôfregos de Styles e as lamúrias de Louis.

Ambos arrastaram seus focos para a fonte dela, e Tomlinson por pouco não
morreu do coração.

Porque quem a possuía era sua criada loira e alta, Jezebel.

Jezebel, ali, parada no arco que separava o hall do quarto de Harry do


espaço em que estavam.

Ele ainda vestia seu uniforme habitual, o cabelo preso em coque, o rosto
com traços um tanto congelados e os braços cruzados atrás das costas,
educadamente.

E nada fazia sentido.

Mas, naquelas circunstâncias, nada precisava fazer sentido.

Louis necessitava de primeiros-socorros e ela seria alguém mais preparada


a fornecê-los.

Para tanto, Tomlinson ignorou os imediatos oitenta questionamentos e


assentiu de acordo, permitindo que ela viesse até eles para averiguar a
situação de Harry.

***

Àquele ponto as coisas não poderiam ser mais estranhas.

Louis de todas as pessoas não cogitou que seria Jezebel quem estaria
fazendo curativos nos hematomas do abdômen de Harry, o qual estava
deitado ereto na cama, com Andrew ainda estendido no chão... como se
toda aquela situação não fosse bizarra o bastante.

Desde que iniciara seu serviço, Jezebel não dissera uma sequer palavra, e
Tomlinson meio que sentia que ela preferiria manter-se assim.... mas...
mas... como? Como ela surgiu lá? Será que os escutou quando brigavam? E
se sim, por que razão estaria vagando pelo corredor tão tarde da noite?

- O que faremos com Andrew? - Harry indagou, piscando lento.

- Colocarei-o no próprio quarto, e logo pela manhã reportaremos o


incidente para a administração do Palácio. Agora temos Jezebel como teste-

- Não. - a criada o interrompeu. Contudo, ao reparar que havia sido


deselegante interrompendo Louis, ela amuou, coçando a garganta. - N-não
podem me incluir nisso. Se descobrirem que eu passeava pelo Palácio à essa
hora da noite expulsarão-me do reino. É extremamente proibido que uma
criada transite fora do horário suposto. Por favor.

Louis mordeu o interior da bochecha. Algo estava errado.


- Por que estava por aqui, Jezebel?

Ela o olhou de soslaio, atentando-se a finalizar a compressa de água morna


no corte da sobrancelha de Styles.

Tardou cinco segundos antes dela gaguejar.

- Eu, hm, estava... estava procurando por Lorena, ela deve ter saído com o
namorado e eu fiquei preocupada.

E, bingo.
Tomlinson tinha sua resposta.
Lorena não estava mais namorando.

Aquilo era uma desculpa.


E haviam alguns pontos para serem interligados.

- Está feito, Vossa Alteza. - anunciou, abaixando a cabeça em submissão.

Harry se esforçou para sentar-se na cama - resmungando no processo - e


encostou as costas na cabeceira, levando sua mão para puxar gentilmente a
dela, e trazendo-a para sua boca, a qual depositou um beijo casto na base,
perto do pulso.

- Muito obrigado, Jezebel. Não tinha obrigação alguma de se arriscar e vir


me prestar auxílio, e ainda assim o fez. Seu gesto será reconhecido. - Harry
disse, naquele tom bonito e ajeitado que fez Louis sorrir secretamente de
orgulho.

Ela não esboçou muita reação senão desviar brevemente o rosto para o
outro lado, com um sorriso mínimo e parecendo sem jeito.

- Não desejo nenhuma congratulação. Fiz o certo. - respondeu-o antes de


desatar sua mão do toque de Styles e se levantar rapidamente, juntando todo
o kit de primeiros socorros que teve que buscar.

A criada colocou sua atenção para Louis, reverenciando-o.

- Se não precisam mais de mim, Vossa Alteza, estarei me retirando agora.


- Como Harry disse, foi altruísta sua ação - elogiou.

Ela engoliu a seco.


Errado.

Aquilo estava esquisito.

- Não iremos usa-la de testemunha, fique tranquila. Está ausente de


qualquer risco de flagra. - Louis adicionou, mascarando toda essa sua
desconfiança incomoda. - Tenha uma boa noite.

Ela nem piscou antes de virar e praticamente correr para fora.

- O que foi, Lou? - Harry perguntou, percebendo a tensão que fluía no


príncipe.

- Nada, amor. - omitiu. - Está melhor?

- Com dor. Porém melhor. - Styles garantiu, engatinhando até que estivesse
se sentando sobre o colo de Tomlinson, completamente manhoso e cansado.

Louis o fitou com esse carinho, uma pitada de preocupação remanescente.

- Ei, precisa sair de cima de mim, preguiçoso. Nunca pensei que diria isso
mas... tenho um corpo desacordado para carregar. - informou, sorrindo
hipnotizado para o biquinho contrariado que Harry formou em seus lábios.

- Você é muito precioso, Louis. Tão fodidamente precioso... - Styles


confessou sob sua respiração, tocando a têmpora de Louis com a ponta de
seu nariz, sussurrando contra sua bochecha. - Se nós formos expulsos
amanhã, e-eu... eu não terei palavras suficiente para me desculpar com
você. De ter tirado sua chance. Eu nunca me perdoarei.

Lágrimas inundaram as pálpebras inferiores de Styles.

- Não se aborreça com isso. Vai ficar tudo bem. - Tomlinson pediu (mesmo
que no fundo de sua mente houvesse esse medo lapidado o preenchendo
com o receio de que realmente perdesse a temporada).
Harry negou.

- Não. Não. Eu terei arruinado sua vida. Eu terei o condenado, e eu fui tão
egoísta, tudo por... tudo por... - no entanto, Styles não continuou seu
monólogo.

- Hey. Hey. - Louis interviu, balançando suas coxas para cima, e,


consequentemente, Harry. Como se para acalma-lo. Ambas as suas mãos se
alocaram na nuca de Styles, precisando toca-lo, precisando que ele o
ouvisse. - Está tudo bem. Mesmo. Vamos ficar bem. Nós vamos ficar bem.

Harry então levantou sua face vagamente, atordoado.

- Nós? - ele repetiu, meio incrédulo.

E Louis não entendeu o porquê dessa surpresa pois.. era meio óbvio, não?
Ele não vinha sendo muito óbvio para que Harry soubesse?

- Nós, claro.

- Está.. está insinuando alguma coisa, Príncipe William? - Styles


questionou, atrevido e maravilhado simultaneamente. Tinha essa grande
quantidade de luz esvaindo por suas íris verdes que entregava o quão
deslumbrado ficara (as batidas de seu coração eram audíveis).

Ele parecia nas nuvens.


Ele parecia perplexo. Fascinado.

Ele parecia a pessoa mais sortuda do mundo ( e ele se sentia como ).

- Eu não sei.. eu estou, Príncipe Edward? - Louis replicou, devolvendo-o tal


provocação.

Todavia, Harry ocasionalmente despertou dessa bolha mágica e feliz, ele se


lembrou... se lembrou de algo, e aquela alegria genuína foi se calando, até
que somente um sorriso muito pequeno e desanimado estivesse lá.

- Independentemente do que aconteça amanhã, Louis William Tomlinson,


saiba que você fez de mim o príncipe mais feliz de todas as histórias já
escritas. - Styles anunciou, a voz baixa e profunda. Doce.

Se eles fossem divagar, esta era a segunda 'despedida' que enfrentavam.


E, merda, era como se eles estivessem sempre se despedindo.

Louis acreditava que ele estava a todo momento perdendo Harry. De tantas
maneiras.

Mas... ele não pretendia passar a vida o perdendo.


Talvez, ele passasse a vida o encontrando.

- Harry. Eu posso fazê-lo feliz por quanto tempo me permitir-

- Eu sei que pode. - Styles interrompeu. Mas não vai (concluiu


mentalmente). - Não vamos falar disso agora.

Tomlinson queria indaga-lo o que estava ocorrendo, mas Harry não o deu a
chance, ele conhecia-o para prever que o outro interpelaria, adiantando-se
em incrementar.

- Havia um diário em meu reino. Um diário que escrevi em meus dezessete


anos, antes de vir para a Anistia dos Tronos. Essa é a idade em que você ou
é muito pessimista, ou muito otimista sobre o futuro. E eu costumava me
encaixar no segundo grupo. - Styles revelou, repousando sua testa na de
Louis. - Eu costumava acreditar que seria diferente, que não me tornaria
alguém manufaturado igual o resto da corte...

Louis sorriu. Conhecer pequenos fragmentos de Harry e do que Harry


vivenciou era reconfortante para ele.

- Dias antes de pisar neste lugar, eu dediquei três páginas inteiras com essa
divagação sobre como talvez eu encontrasse um príncipe encantado. - Harry
riu, nostálgico pela memória. - Eu me indagava se ele teria um cavalo
branco igual nas tragédias de teatro, ou menos convencional. Eu escrevia
frases do tipo 'ele será ruivo? Loiro? Moreno?', 'ele me beijará sob a lua
cheia, debaixo das estrelas?'.

Louis riu. Céus.


Harry o beliscou no cotovelo, repreendendo-o, embora estivesse
evidentemente bem humorado.

- Aonde eu desejo chegar é que... nós não queremos a pessoa. Nós


queremos a idealização que fizemos dela.

Respirou fundo.

- Obrigado, Louis, por ser melhor do que qualquer uma das idealizações
que um dia criei. - pressionou seus lábios secos suavemente nos do menor. -
Você me fez lembrar que príncipes encantados existem.

***

Notas da autora: essa autora tem que amar muito vocês para estar
atualizando em pleno Canadá.

Três coisinhas importantes:

Primeiro: quem não tá nos grupos ainda e quer entrar (seja no de wpp ou
tt) basta deixar seu número ou user aqui! ❤

Segundo: devido a alguns pedidos (lê-se muitos) o smut do próximo cap


será inspirado numa manip que eu vi no tt .

Terceiro: então, ninguém sabe ainda quem é o autor??

Próximo capítulo haverão grandes revelações, preparem o psicológico !!


Chapter Forty Seven

Episode: Take off your Mask

- Pelo o que estão expondo a mim, Vossas Altezas, honestamente não há


como eu julgar o ocorrido sob qualquer das perspectivas. - Don Luminiére
lamentou, dividindo o olhar entre os três príncipes Harry, Louis e Andrew
sentados em frente à sua mesa, na sala de administração.

Quem chegou primeiro foi Andrew, com grandes marcas pelo rosto
deixadas pelo episódio de raiva de Harry. Ele primeiro tentou ilustrar um
cenário em que tivera sido vítima total das agressões de Styles.

No entanto, vinte minutos seguintes, Príncipe Edward e William adentraram


a mesma sala, oferecendo os seus pontos de vistas, o que naturalmente
rebaixou o de Andrew pois Harry também estava com hematomas. E tudo
se transformou em uma bagunça de argumentos. Desde as acusações antigas
quanto a Styles estar por trás da armação do cavalo de Andrew até das
cartas.

E ninguém poderia honestamente culpar Luminiére por não ser apto de


promulgar algum veredito, afinal, não haviam provas que comprovassem a
veracidade de alguém.

Andrew parecia indignado. Em sua mente ele ainda estava com razão, tivera
bons motivos para armar o que armou.

Harry demonstrava-se apreensivo. Não pela sua sentença, mas pela sentença
de Louis, porque Louis não merecia estar ali, respondendo por um ato que
foi somente vítima. E, ainda assim, ele veio com Styles, sentou ao seu lado
e ao dar sua versão alegou que ajudou Harry a agredir Andrew para que o
cacheado não levasse toda a culpa.
Já Tomlinson... se você o assistisse por fora, em sua forma autêntica e
automática de não surpreendentemente expressar suas reais emoções, você
diria que ele estava confiante. Contudo, ali dentro de si, tudo gritava
euforia. Porque... aquilo era um grande pesadelo. E ele não saberia como
diria à sua mãe que acabou repetindo a temporada e falhando com seu
Reino. Ele não poderia. Dos cinco filhos sempre o escolheram. Sempre o
avisaram indiretamente que aquele cargo estaria sob sua responsabilidade.
E... sempre foi sobre esta responsabilidade que dedicou sua vida. A coroa.
Agora, ela estava escorregando entre os seus dedos.

- Temo que diante deste caso, sem ter como promover uma análise
detalhada, deverei aplicar a única punição viável e justa, senhores. - o
cavalheiro formulou, levantando-se de sua cadeira para caminhar ereto de
um lado ao outro do cômodo, com esse suspense nobre que faria com que
todos desejassem estrangula-lo. - Nossas regras são exatas e claras, e,
principalmente, nestas circunstâncias, deverão ser aplicadas.

- Lulu, pode apressar, por favor? - Harry proferiu debochadamente. E ele


muitas vezes esquecia suas boas maneiras (e o bom senso) longe.

- Não há o porquê de me apressar, Vossa Alteza. Em questão de trinta


minutos você nem sequer estará mais aqui. - proferiu, piscando sério.
Inspirou. Expirou. - Todos estão oficialmente expulsos desta temporada. E,
Harry, eu sinto muito em dizer isso, mas você será convidado a se retirar
definitivamente do Palácio, creio que já o oferecemos chances o bastante.
Avise seu pai que a coroa franca somente permanecerá em anistia com
Malta no caso de que nos enviem alguém realmente digno a comandar o
reino.

***

Existe essa teoria estranha de que a felicidade é subjetiva. Ela não é uma
sensação de prazer, ou entusiasmo. Ela não é uma notícia que o deixou
alegre, ou algo que o fez sorrir.
Ela é uma coisa imperceptível.

Você às vezes não percebe que é feliz ... até que haja um motivação para o
relembrar o gosto que tal sensação causa.
Você ficou feliz por receber um presente.
Mas e antes de tê-lo recebido?

Você ainda tinha os outros presentes que ganhara no passado e já se


acostumara com a euforia dos momentos que os teve em sua mão.

A felicidade é rotina.
Ela é quieta e passiva.
Ela está ali no fundo, guardada, pronta para ser recordada e inundar sua
consciência novamente.

Quem é feliz sem estar feliz?

E quem está feliz sem ser feliz?

Harry costumava pensar que não se encaixava em nenhuma das categorias.

Ele acreditava que não era feliz. Não estava feliz. Mas poderia fingir,
poderia colocar sorrisos em seu rosto e enganar a todos, talvez conseguindo
ora ou outra enganar a si próprio.

Ele conseguiria inspirar fundo e rir nas horas que estivesse suposto, ele
conseguiria participar de algumas reuniões em seu Reino dizendo
continuamente palavras como 'esplêndido' e distribuindo elogios nos ares
para quem quisesse pegar. Ele faria tudo sob essa fantasia estrondosa,
magnética e viciante. Ele faria tudo até que na madrugada, quando fosse
apenas ele em seu aposento em Malta, as lágrimas pudessem descer, e a
máscara pudesse cair.

Ele se questionava se estava sendo um egoísta fodido por não estar feliz
ainda que rodeado de ouro, banquetes e pedraria.

Mas felicidade não está na riqueza.

Ele se questionava se no céu todas pessoas são felizes, porque talvez ele
tivesse uma chance lá.

Mas o inferno soava como uma realidade mais próxima.


Ele se questionava se a felicidade entraria em sua vida algum dia, fosse por
um milagre, fosse pelo destino.

Mas nunca cogitou que seria por uma pessoa.

Porque... bem, nestes meses ele se sentiu completo, como se as partes


perdidas de si estivessem se anexando. Ele se sentiu leve, e ele podia sorrir
sincero, e ele podia dormir com o peito aquecido nos dias mais frios e o
coração pulando depressa.

Ele se perguntou se esta era a definição de felicidade.

E Harry não pretendia deixa-la ir embora.


Felicidade é um bem precioso.

Se Louis o fez enxerga-la, ele não a ignoraria.


Quando retornasse para Malta, desta vez para permanentemente, ele ainda
seria feliz. Seria feliz por ter estado feliz.

Seria feliz porque um dia um príncipe o resgatou de seu inferno pessoal.

Seria feliz porque um dia alguém o colocou na lista de prioridade, como se


ele fosse mesmo muito importante.

Seria feliz porque Louis o guiou para ser feliz.

E ele não deixaria que todo esse investimento fosse em vão.

Ele seria feliz por ele próprio, porque nós precisamos entender que a
felicidade é nossa. E que ser feliz por você é essencial.

Vamos lá, Harry abandonou as drogas, Harry reconheceu alguns de seus


erros, Harry progrediu.
Ele deveria ser orgulhar.
Ele retornaria para Malta de queixo erguido, com memórias fascinantes e a
possibilidade de deitar-se em seu colchão toda noite sabendo que recebeu a
dádiva de se apaixonar.

Ele não acredita que algum dia pararia de ser apaixonado por Louis.
Possivelmente obteria um novo diário onde escreveria sobre aquele príncipe
toda as vezes que seu coração apertasse de saudades.
Pensaria onde Tomlinson estaria por essas horas, se haveria tido novas
paixões, se pedira a pessoa em casamento, se viajara com sua esposa ou
esposo para Veneza e tivera um casal de filhos educados.

Ele se orgulharia de se considerar um personagem coadjuvante na história


de vida de Louis Tomlinson, um punhal de páginas perdidas resumidas a
contos eróticos, aventuras surpreendentes da vez em que Louis foi o herói
de Harry.

Ele se contentaria de ter sido um capítulo breve, de ter tido a honra de ser
cuidado, bem tratado e apreciado pelo indivíduo que o incentivou a apreciar
novamente a humanidade.

.... Porque.... nós ficamos tão distraídos por como as coisas acabam que
geralmente esquecemos quão lindo o começo foi.

Harry sempre soube que a existência é efêmera, e ainda assim, Louis estaria
imortalizado na sua.

Seja quando fosse.


Seja com quem Louis se relacionasse futuramente.

Na sua visão, na sua versão, ele continuaria como o seu príncipe encantado
das lagoas azuis.

***

- Eles não podem fazer isso! Não, não, não com você! - Lorena grunhiu
exasperada, enterrando o rosto entre as mãos.

Louis solicitara sua presença em seu quarto para que ela o auxiliasse a
arrumar suas malas, mas, a partir do instante que soube de tudo, a garota se
demonstrou inconsolável.

- V-você... você não merece essa droga, Louis. Não merece! - soprou
indignada, dobrando contrariada algumas das roupas. - Eu o alertei que
Harry o traria a ruínas! Todos os criados vivem cochichando mal a respeito
dele!

Tomlinson interrompeu a organização de seus pertences e virou-se para a


criada, flagrando uma lágrima escorrendo por sua têmpora ao que ela
amassava ligeiramente agressiva uma das camisas de linho que ele mais
gostava.

Louis avançou em sua direção, agarrando com delicadeza seus pulsos para
que ela largasse as vestimentas e cedesse atenção a ele. Logo que a teve, os
soltou, gesticulando para que ela se acomodasse ao seu lado na cama.

- Não diga isso, Lolo. Ele não me destruiu - pediu, negando com a cabeça. -
Harry foi o melhor acontecimento que tive nestes vinte e três anos.

Lorena piscou brevemente surpresa e atordoada, contudo, retomou sua


feição de chateação no segundo seguinte.

- Lou, você não pode ir embora. Eu não terei ninguém.

- Você terá Jezebel, sua irmã. - afirmou, vendo-a soprar irônica, encarando-
o como se ele tivesse dito uma barbaridade.

- Ela não me apoia em nada. Ela some. Ela se distancia. Eu cansei.

Uma dúvida cutucou a mente de Tomlinson.

- Posso lhe perguntar uma curiosidade?

- Sim, claro.

- Aonde você esteve na madrugada de ontem?

- Eu fiquei deitada no quarto, por quê?

Louis segurou sua língua para não revela-la a respeito de Jezebel, de que a
irmã de Lorena surgiu em meio ao caos aleatoriamente de modo muito
suspeito. Ele havia prometido à criada não dedura-la como testemunha
daquilo para ninguém, e, portanto, não o faria.
- Por nada. Esqueça. - sorriu triste. - Agora vamos, devemos deixar estas
malas fechadas e cheias até de noite, amanhã provavelmente minha
carruagem partirá para Riverland.

- Hm, Lou. - ela disse distraída, olhando fixamente um ponto.

- Sim?

- Acho que serei eu quem preparará tudo sozinha.

- Por quê? - indagou confuso, tendo-a apontando para o chão da porta, o


qual ele flagrou um envelope, parecendo de longe um convite.

- Algo me diz que estará ocupado esta noite. - ela murmurou.

E talvez Lorena estivesse muito certa, porque assim que Tomlinson


apanhou o envelope verificou sob aquela caligrafia muito conhecida,
guarnecida de tinta dourada, o texto:

"Convite exclusivo para o último Baile da Temporada.

Encontre-me na sala de alfaiataria principal à meia-noite.

Com muito amor, H x"

E essa significava sua chance.


Porque... não estava nos planos de Louis simplesmente se contentar com
este final em que Harry retornaria para Malta e cada um seguiria seus
próprios rumos.

Ele o adorava.
Ele o ambicionava.

Assim como Romeu quis Julieta.


Assim como Dante cobiçou Beatriz.
Assim como Elizabeth desejou Darcy.

Assim como Louis ama Harry.


E esse não necessariamente deveria ser um exemplar clichê de um romance
clássico. Pois Harry era uma mistura intrínseca de personalidades, que não
fora catalogado, e ele merecia todas as coisas boas que Louis pretendia o
oferecer.

A partir desta madrugada tudo iria mudar.

***

Louis avançava visivelmente perdido pelos corredores do Palácio, foi se


guiando pelo caminho que Lorena o instruiu, haja em vista que nunca
realmente frequentara a sala de alfaiataria principal - já que as criadas
geralmente se encarregam de tirar medidas - e agora nunca frequentaria
oficialmente antes de ser expulso da temporada.

Era uma lástima, no entanto, ele não conseguiria figurar uma melhor
maneira de conhecer esse local senão junto a Styles.

Tomlinson não falara com Harry desde que Don Luminiére anunciou suas
expulsões. O príncipe dos cachos imediatamente se levantou incrédulo e
correu para se trancafiar em seus aposentos.

E, estaria mentindo se não admitisse que uma certa angústia o sucumbia por
estar tanto tempo (alguns pares de horas) distante de Harry, ele só...
precisava do jovem sendo satírico, importunando-o e insinuando coisas
sujas publicamente. Ele só precisava daquilo (para todo o sempre).

Quando alcançou a porta alta que Lorena avisou pertencer a da respectiva


sala, segurou o oxigênio em seus pulmões.

Ao abri-la, Louis poderia esperar muitas coisas.


Mas, realmente se surpreendeu por não parecer primeiramente algo
grandioso, tão requintado ou primoroso.

A primeira vista, na verdade, era como um hall de entrada vazio, com


alguns cabides de madeira escura, prateleiras e fitas métricas espalhadas
pelo chão (possivelmente a euforia das provas de indumentária para a
coroação).
Todavia, o que o chamou atenção era um conjunto pendurado próximo dele,
em perfeito estado e bonito. Consistia em um fraque azul marinho, de
ombros retangulares, e comprimento até os joelhos. Com costuras e
remendas douradas, abotoaduras de ouro frontais, e um bilhete branco preso
a ela reproduzindo um curto e determinado 'Vista-se'.

Não era exatamente o ideal trajar um modelo tão fino por cima de sua
camisa branca básica em conjunto com uma calça mais justa marinha, no
entanto, ele ainda ficou elegante. A casaca coube-o bem, embora um pouco
larga nos ombros (por certamente estar destinada a outro príncipe). E ele se
sentiu ansioso.

Havia um arco na lateral deste cômodo que repartia-o do próximo. Uma


cortina vermelha o impedia de enxergar o que havia atrás dela e Louis
precisou cessar o nervosismo que o consumia para finalmente arrasta-la,
desbloqueando a passagem.

E porra.
Só... porra.

Talvez ele repetisse 'porra' pelos próximos dez anos ao se recordar deste
cenário.

Aquela divisão era obviamente onde os príncipes acertavam os ajustes,


havendo essa espécie de plataforma alta, oval e larga cercada de espelhos
(do teto ao rodapé) que refletiam o que estivesse no meio do palco.

E... a questão era que o que estava no meio do palco teria o arsenal para
acabar com sua sanidade mental em um piscar de olhos. Literalmente.

Pois ali, refletido em todos os ângulos pelos espelhos, estava Harry Edward
Styles vestindo a porra de uma veste feminina rosa, como um vestido
incompleto. Ele estava de pé, sendo bonito e sorrindo atrevido, com esse
espartilho apertando sua cintura, amarrado ao contrário - com as cordas
pretas para frente em um laço elaborado- cobrindo da região abaixo de seus
mamilos até o final de suas ancas. Parecia estreito e sexy. E .. é.
Logo abaixo dela, interligada ao espartilho, havia essa saia longa de duas
camadas que cobria suas pernas, embora uma fenda proposital houvesse
sido rasgada na região entre elas - atrevido desmedido do caralho - e
amostrasse o parcialmente o interior de suas coxas. Coxas as quais tinham
cintas ligas pretas de couro as delineando, e meias compridas da mesma cor,
de seda, dando um aspecto de maciez ainda mais lasciva para todo o
conjunto. Suas mãos estavam sob luvas pretas e seus lábios cintilando em
um gloss incolor.

Louis queria emoldura-lo. Queria transferi-lo para uma tela e torna-lo uma
obra-prima em terceiro relevo.

Aquilo não era real.

Harry não poderia ser.

Não com esses cachos volumosos, esses olhos intensos e esse sorriso
quente. Não com toda essa combinação irresistível o encarando como se
Louis fosse o único indivíduo da Terra.

Merda.

- Então será uma dama da corte hoje? - Tomlinson indagou, após recuperar
o fôlego, permanecendo meio estático sem forças para quaisquer outras
reações. - Ou um rapaz afeminado sensual e atrevido?

Harry lançou-o um último sorriso lateral antes de virar-se e fitar seu próprio
rosto refletido no espelho.

- Quem vê corretamente a face humana: o fotógrafo, o espelho ou o pintor?


- Styles eventualmente lançou no ar. Ele nunca faria muito sentido.

Louis engoliu a seco quando Harry girou sob o calcanhar, arrastando-se


então lentamente em sua direção.

- A coisa é que, no final, cada um tem sua própria perspectiva. -


acrescentou, finalizando seu trajeto há três passos separados de Tomlinson.
Harry estendeu os braços para cima, rodopiando em seu eixo por duas
rotações como a diva que era. - E, darling, eu prefiro a liberdade de ser, do
que a obrigação de definir.
Caralho. Ele era um sonho.

Harry deu mais um passo para frente.

- Você demorou.

Outro passo.

- Cavalheiros não devem se atrasar para o baile.

Dez centímetros de distância.


Louis não tinha palavras, nem raciocínio.

- Venha recompensar-me. - Harry sugeriu, inclinando-se em uma reverência


formal a Tomlinson. - Puxe-me para uma última valsa.

Louis sentiu-se entorpecido, obrigando-se a mover e aproximar-se do


príncipe.
Ele o reverenciou igualmente.

E então, sob uma suavidade exímia, trouxe seus dedos para se encaixarem
com uma veneração quieta nos dedos magros e adornados de anéis de
Harry. Logo que suas mãos se fecharam unidas, eles as estenderam na altura
de seus ombros, ambos observando silenciosamente o calor que uma
propagava na outra.

Assim, cabendo-se daquela mesma sutileza, Louis orientou seu outro braço
para envolver a cintura de Harry naquele espartilho rosa, percebendo a
textura áspera do tecido, moldando-o com seu aperto.

E enfim eles se olharam.

Lagoas azuis.
Lagoas azuis.
Sempre profundas. Sempre travessas. Sempre perigosas. Especialmente
para os que não sabem nadar.

Gramas verdes de verão. Quentes. Frescas. Brilhantes.


Ambas, coincidentemente, constituindo uma única paisagem natural.

Natural.

Era como aquilo soava.

Naturalmente iniciaram o vai e vem de seus sapatos contra o piso de


madeira escura, devagar, em câmera lenta.

- Pelo o que me recordo, bailes geralmente fornecem música. - o futuro rei


de Riverland entonou, arqueando as sobrancelhas em uma acusação bem-
humorada.

Harry sorriu doce, puxando a cabeça de Louis para curvar-se ligeiramente


para baixo (o que Tomlinson não estava entendendo) até que a orelha do
menor estivesse pressionada sobre seu peito esquerdo.

- Ouça. Meu coração está acelerado. - Styles sussurrou. - Esta será nossa
música hoje.

Tomlinson não precisou de tanto silêncio para escutar as batidas fortes


contra seu ouvido em um ritmo constante e rápido. Aquilo era por ele. E
essa seria a melhor melodia que alguém apaixonado poderia desejar.

Ao se desvincular daquela posição, e endireitar sua coluna, Louis recolocou


seu braço ao redor da cintura de Styles e juntou suas mãos direitas,
retomando a dança silenciosa.

Mas, ainda naquele ambiente leve, disse em seu tom provocativo.

- Sabe o que ainda falta? Pessoas. Está muito vazio para um baile, não?

No entanto, Harry não interrompeu a dança para respondê-lo, ele somente


sorriu maior.

- Olhe para os lados, Príncipe William. - orientou.

Logo que o obedeceu, Louis vislumbrou os reflexos que os espelhos altos


dispostos ao redor deles faziam, provocando a sensação de que os dois
estivessem multiplicados em infinitas imagens através das lentes. Tantos e
tantos Louis e Harry's bailando em sincronia conforme eles rodavam pelos
perímetros do pentágono de espelhos.

- Quem está presente já é o suficiente para mim. - Styles murmurou sob um


suspiro, olhando tão fixo em Louis que essa idolatria poderia ser paupável.

Eles continuaram improvisando, improvisando.


Era como se acompanhassem de fato uma sinfonia de orquestra.
O problema era que se fossem depender da duração da melodia dos
batimentos cardíacos acelerados de Harry eles ficariam ali para a
eternidade, pois Styles não pensa que em algum dia seu coração reagiria
diferente diante a presença de Louis.

Quando os músculos de suas pernas começaram a doer, e eles se sentiram


um pouco cansados, os passos encurtaram, os movimentos se suavizaram, e
a valsa se finalizou com a aproximação de seus rostos, até que seus lábios
estivessem encostados em um toque superficial, e suas respirações
ofegantes se misturassem.

- Somos como retas paralelas. - Harry constatou em um tom triste, embora


sorrisse pequeno, de olhos fechados. Todo o sentimento condensado no
episódio - E retas paralelas não se cruzam.

- Acho que está equivocado, paixão. - Louis rebateu, inspirando fundo - Os


matemáticos preferem afirmar que retas paralelas se cruzam no infinito. -
expirou todo o ar de uma vez - Então, talvez haja um infinito particular para
nós dois.

Styles não pôde evitar.


Sua postura estável se quebrou.
A realidade o tomou.
E seus esforços de se demonstrar firme se estilhaçaram.

Ele se agarrou desesperadamente a Louis, colocando-o dentro de um


abraço, esfregando sua têmpora sobressalente pela bochecha macia de
Tomlinson, igual gatinhos fazem, com os cantos dos lábios decaídos.
- Eu estendi os meus sonhos sob os teus pés - Harry sibilou fraco, citando
uma estrofe do poema de Yeats o qual destinara para o príncipe. - Pise
suavemente porque você está pisando em meus sonhos.

- Ele deseja os tecidos bordados do paraíso. - Louis concluiu, pegando a


referência literária.

Você é o paraíso. Harry pensou. Ao invés de verbalizar, traduziu tal sufoco


abraçando-o desolado.

Louis o devolveu o afeto, apertando-o contra si com uma carga emocional


transparente, mussitou:

- Você é o tipo de homem que escritores discorreriam lindas histórias a


respeito.

- Eu me sinto satisfeito de ser um ligeiro parágrafo da sua. - Harry replicou,


raspando a ponta de seu nariz pela extensão da do outro.

- Não. - o menor soprou, levemente indignado. - Você não merece ser um


parágrafo da vida de alguém, Harry. Você merece milhares de livros escritos
sobre quão maravilhoso é.

Styles precisava gritar eu te amo, eu te amo, eu te amo até que sua voz
cedesse.

Ele precisava.

Precisava.

Precisava desabafar para Louis, precisava desabafar para o mundo,


precisava deixar a humanidade inteira ciente de que ele estava
completamente irremediavelmente e impiedosamente apaixonado por esse
príncipe de cabelos lisos e lagoas azuis.
Havia esse incêndio o queimando, carbonizando seus órgãos e o destruindo
de dentro para fora.

Ele estava amando, Deus.


Seria tão libertador anunciar que agora as estrelas pareciam mais brilhantes
no céu, e que as flores tinham um aroma mais perfumado. Todos os clichês
que lera faziam tanto sentido.

... Mas, ao invés, se limitou a conter os ecos de sua paixão, trancafiar as


borboletas ariscas.

- Louis, desejo que entre em mim. - sussurrou com sua expiração aquecida
batendo contra o lóbulo da orelha do príncipe. - preciso te sentir, preciso te
ter, preciso que me consuma.

Louis pressionou as pálpebras fechadas, todos os seus pelos se arrepiando


pelas palavras do maior.

- Seu desejo é uma ordem. - grunhiu, segurando Harry com um louvor


bruto. - Princesa pervertida.

Styles sorriu, pendendo sua cabeça para trás para que seu pescoço ficasse
exposto em um convite implícito que Tomlinson o maltratasse.

Louis conectou sua boca na base lateral, chupando a pele entre seus dentes,
escutando imediatamente Harry ofegar. Sugou por um algum tempo, e
finalizou com uma mordida, fazendo o príncipe estremecer.

Repetiu tal ato em todos os pedacinhos de seu pescoço que estivessem sob
seu alcance, com muita calma, degustando a maciez da região e as lamúrias
satisfeitas que Styles emitia.

Devagar. Deslumbrado.
Louis esperava que Harry sentisse a paixão traduzida nos gestos. Louis
esperava que a cada beijo estalado lentamente em cima das marcas
vermelhas ele escutasse ressoar telepaticamente algo como 'eu sou
apaixonado por você'.

- Seus mamilos ficam realçados com esse espartilho. - Tomlinson tomou


nota, não sendo apto de desviar seu foco deles, o espartilho cobrindo apenas
abaixo, exibindo seu peitoral sem pudor algum.
- Propositalmente descobertos para que possa lambê-los. - Styles revelou
ofegante, seu membro se endurecendo entre suas coxas, aprisionado na
calcinha de renda branca que pusera para a ocasião.

Sórdido para caralho.

Louis concordou abobado, tendo a ideia de empurrar Harry cuidadosamente


para trás até que estivesse com as costas pressionadas em um dos espelhos,
tendo sustentação para que Tomlinson se curvasse ligeiramente para baixo,
capturando-os em seus lábios.

De onde estava, Styles pôde inclinar seu pescoço, fitando o teto, ao que
outro espelho fixado lá refletia perfeitamente a imagem de Louis torturando
o bico de seu mamilo esquerdo.

E aquilo era muito molhado e quente, desde a língua úmida atiçando seu
ponto sensível até os sons estalados que eram emitidos na sucção.

Em algum momento entre apalpar um bico com os dedos livres e lamber


incansavelmente o outro, Louis ouviu os suspiros sôfregos de Harry se
transformarem em frases sem nexo.

E de frases sem nexo para gemidos extasiados.

- Oh, L-lou, eu amo quando faz isso. - admitiu, em sua orbe excitada e
submissa, antes de soluçar com a sensação.

Louis mordiscou, saliva escorrendo das bordas. E soprou.

Harry tremeu.

- Por favor, por favor, me foda agora. - suplicou manhoso, remexendo-se


incomodado. - Hm, meu pau está tão duro contra minha calcinha.

E... o quê?!
Tomlinson travou.

- Espere. V-Você está usando uma calcinha? - buscou o olhar de Styles,


tendo que comprovar o que acabara de escutar.
- Uma bem pequena. - Harry sussurrou insinuante, um sorriso lateral sujo
amostrando sua covinha. Seu rosto estava corado, e embora houvessem
alguns cortes do episódio com Andrew, ele ainda continuava perfeito,
limpo, radiante. - Talvez devesse tatear só para ter certeza.

O príncipe piscou atrevidamente, e só essa simples insinuação no geral fez


com que o pênis de Louis se melasse com pré-gozo, era demais para sua
sanidade.

Mantendo o contato visual com Styles, Louis endireitou sua postura,


largando os mamilos eriçados e pulsantes, reerguendo-se até que estivesse
colado no corpo do outro. Com uma ansiedade indomável começou a descer
sua mão entre eles, deslizando-a por todo o tecido aveludado rosa e parando
somente ao alcançar a grande fenda (intencionalmente rasgada) entre suas
coxas.

Houve esse segundo congelado, com ambos se observando em uma


idolatria muda, suas respirações irregulares e sentimentos não confessados.

Para, finalmente, Louis espreitar seus dedos para dentro das duas camadas
de saia, dedilhando primeiro uma superfície plastificada, que ele supôs
alegremente pertencer às cintas ligas.

Passou a subir sua mão, vendo Harry prender a respiração e ele próprio
perder a sua quando suas digitais relaram em uma dimensão fina e sedosa,
com rendas nas beiradas.

- Caralho. - Tomlinson não se impediu de xingar, torcendo para que não


desmaiasse naquele instante. Era só... surreal.

Ao criar coragem, trouxe sua mão mais para cima, esbarrando-a na ereção
do príncipe, um relevo rígido e quente, delineado sob sua palma. Harry
aproveitou-se da fricção e levantou sua perna, almejando obter mais, tendo
Louis suspendendo-a pela base de sua coxa.

- Não disse que estava muito duro? - Harry se gabou sorrindo doce, porque
era para ele, era por ele, era e provavelmente sempre seria por Louis. Ele
não ficava excitado dessa maneira com outros, nunca ficou. - Enterre-se em
mim antes que eu morra por tesão.

- Com todo o respeito, meu amor, mas eu quero te rasgar no meio. -


Tomlinson rosnou, sendo tomado por um instinto incontornável que aquele
maldito garoto dos cachos acordava nas pessoas.

Harry soltou um curto riso, com esse sonzinho adorável vibrando de sua
garganta.

- Eu não reclamaria. - segredou, arqueando-se para frente, a fim de que


Louis percebesse isso como uma permissão.

E ele percebeu.

- Se eu fosse você não concordaria com isso. - Tomlinson advertiu, uma


última chance para que ele repensasse em suas decisões.

Mas, Harry não cederia.


Ele era insaciável.

- É o que princesas pervertidas fazem. - Styles reproduziu e formou um


biquinho, forjando inocência. Lascivo, lindo, ousado. - Pegue-me.

A ponta que prendia Louis em alguma parte consciente estourou.

Tomlinson agarrou a barra elástica de sua própria calça e a empurrou até


que estivesse em seus tornozelos, pisando e chutando-a sem se importar.
Todavia, no que fez menção de retirar o fraque azul marinho de abotoaduras
de ouro, Harry o impediu, segurando seus pulsos e os afastando.

- Não. Fique assim. Você está charmoso em um patamar que nem posso
definir. - o príncipe pediu, sua voz muito honesta.

Louis acenou em consentimento e avançou sobre Harry exasperado,


comprimindo-o contra o espelho ao que enterrava sua boca na dele, em um
beijo afoito, com línguas se colidindo, e saliva umedecendo os cantos de
seus lábios.
Ele adorava beija-lo. Aparentava delicado e genuíno, igual beijar um anjo.
Seu anjo depravado.

- A princesa está correndo, ela precisa fugir. - Styles (em seu modo
peculiar de existir) murmurou contra o lábio de Tomlinson. - Precisa fugir,
senão será tarde.

Louis não saberia traduzir o que raios Harry queria significar, mas
honestamente quando ele saberia?
Styles tem esse charme singular que justamente o torna especial como é,
Louis não precisava entendê-lo, ele só precisava apoia-lo.

E, talvez paixão se resumisse a muitos significados, do tipo conversar com


flores para confortar um amante delas... e agora também seria dar
continuação em um estória aleatória durante o sexo.

- Pelo outro caminho, se ela se virar, haverá uma entrada mais fácil. -
Tomlinson rebateu, esperando não soar bizarro como imaginou que seria.

Contudo, a julgar pelo pequeno sorriso que Harry deu, ele desprendeu que
adentrar neste seu mundo das loucuras agradava o príncipe.
Harry se desvinculou do beijo, e com uma lentidão programada passou a
girar-se em seu próprio eixo com um olhar iluminado, não exatamente
presunçoso, mas... encantado?

- Salve a princesa. - Styles silvou, já totalmente de costas para Louis,


empinando sua bunda para cima.

Tomlinson quase não teve reação para aquilo. Ele jurava que havia baba em
seu queixo.

Era lindo. Em todos os ângulos.

Embevecido de uma ansiedade primitiva, Louis fechou suas mãos na bunda


do maior, apertando-as sobre a saia rosa com o pano se amassando entre
seus dedos e os músculos de Harry relaxando.
- Hm. - Styles se quebrou em uma lamúria, impulsionando-se contra as
palmas para sentir mais, sempre mais.

- Darei o tratamento que a princesa merece. - Louis prometeu, puxando os


tecidos para cima, desflorando as camadas da saia como se arrancasse as
pétalas de uma rosa. Tão delicado quanto.

Em um só movimento agachou-se ligeiramente para apanhar a barra do


vestido, erguendo-o e revelando o traseiro de Harry redondo e almofadado,
envelopado em uma calcinha cavada de rendas brancas quase do tom de sua
pele.

Louis gemeu nesta visão, seu pênis dolorido, ereto em seu abdômen.

Ajoelhou-se nesta adoração perplexa, deitando suas pernas na madeira até


que sua face estivesse alinhada com a bunda de Styles e tudo que seu olhar
captasse fosse o minúsculo pedaço da calcinha enterrada no meio das duas
bandas rechonchudas do príncipe.

Tomlinson aproximou seu nariz, esfregando-o no interior da coxa farta de


Harry, fazendo-o estremecer. As cintas ligas ajustavam-se impudicamente, e
ele apostava que até o final da madrugada elas estourariam.

Tomando um intervalo dedicado a apreciar visualmente a paisagem que lhe


era oferecida, Louis por fim arrastou a calcinha para o lado, revelando sua
entrada contraída, pronta para ser devorada.

- Lou? O que está faz-

Harry se engasgou. Tomlinson não permitiu que ele concluísse sua frase,
não sem esfregar sua língua quente no centro de seu anel.

- Merda. - o maior silvou, perdendo aos poucos a noção conforme Louis o


lambia, o lambia, o lambia.

Era gostoso pra caralho ter o príncipe de Riverland ajoelhado atrás de si,
suspendendo seu vestido enquanto afundava a face em seu traseiro,
esfregando-o no lugar mais receptivo de seu corpo.
Ele amava.
Ele amava o prazer que dilacerava suas células.
Ele amava gemer "Lou, lou, mais".
Ele amava quando Tomlinson penetrava sua língua para dentro, esfregando-
a habilidosamente nas paredes internas e estimulando seus nervos.

Ele o amava.

Para Louis, o prazer era recíproco. Porque assistir Styles se entregar em seu
estado necessitado, involuntariamente empurrando-se para baixo em busca
de maior contato, ao que o jovem dos cachos lamentava-se
continuamente.... aquilo era tudo. Era tudo para ele. Era tudo que ele
desejava até o final dos seus dias.

- A Princesa precisa c-correr, os lobos... oh... estão vindo. E-Ela precisa se


apressar. - Harry eventualmente gaguejou, dando sucessão ao seu devaneio
privado, e rebolando mais contra a boca de Tomlinson.

Louis, o qual se encontrava molhado com sua própria saliva que escorria
para seu queixo, soprou uma última vez a fenda de Styles (ouvindo-o
choramingar agudo), antes de se estender de pé.

- Não se preocupe, eu irei resgata-la. - cochichou no ouvido de Harry,


ambos se encaravam através da reflexão do espelho na frente deles.

Tomlinson não quebrou a troca de olhares por nenhum segundo, nem


mesmo enquanto deslizava a calcinha branca para a lateral, removendo-a da
passagem principal. De onde estava Styles capturava a versão de um Louis
muito ansioso erguendo a saia do vestido para cima, o suficiente até que seu
membro estivesse roçando no meio de sua bunda livremente.

Harry foi quem não resistiu e cedeu. Ele lançou suas costas para o peitoral
de Louis, esclarecendo o quanto precisava daquilo naquele instante.
Remexeu seu quadril para trás, sentindo a cabeça do pênis do príncipe
cutucar seu orifício embora não fosse o bastante para sacia-lo.

- Encontre-a, cavalheiro. Soube que a princesa foi para a floresta. - sibilou


arfando, mordendo o lábio em expectativa ao que fechava os olhos. Styles
se curvou para baixo, apoiando suas mãos no espelho em troca de
sustentação, fornecendo um acesso facilitado de sua área inferior.
Empinando-se muito.

- Eu irei. - Louis prometeu antes de espalhar o pré-gozo que se acumulara


em sua fenda pela extensão de seu pau, a fim de lubrifica-lo, e enfim guia-
lo alinhado na entrada do maior.

Ele próprio falhou em respirar.


Apesar dos dois terem tido uma quantidade considerável de sexo nesta
última semana, toda vez soava como a primeira (ou a última). Toda vez seu
coração enlouquecia e ele entrava em uma expectativa surreal. Harry era
incrível e transar com ele significava uma experiência diferente em cada
situação.

Louis começou a introduzir-se no príncipe lentamente, suspirando com a


sensação de adentrar aquele espaço apertado e sedoso.

O excesso de pano da veste se amontoou pela coluna do príncipe ao que ele


se mantinha debruçado para frente, aguardando. Um curto e animado 'Jesus'
foi soprado entre seus lábio repartidos, e os cachos de Styles caíam quase
indecentes pelo rosto. Tomlinson infelizmente não via-o direito com essa
posição.

- S-sempre tão maravilhoso. - Louis gemeu enfraquecido, inspirando fundo


para colocar-se no ritmo que verdadeiramente almejava.

E talvez Harry não estivesse preparado para o tal ritmo que seria, pois assim
que Tomlinson saiu e o estocou de novo com toda a força e firmeza, um
grito surpreso escoou de sua garganta, os músculos de sua perna
tremelicando com um espasmo.

Ele percebeu que aquele era só o começo.

Porque... Louis fez de novo, e de novo, indo e vindo, rápido e profundo,


toda investida causando um embranquecimento na mente de Styles,
fazendo-o se contorcer impetuosamente.
Seus gemidos eram descontrolados e ele não tinha culpa se Tomlinson
decidira o arremeter como se não houvesse transado no último milênio.

- A ideia de que estava usando uma calcinha está me enlouquecendo. - o


príncipe segredou, grunhindo rouco, penetrando-o incansável com os
estalos de suas bolas em seus traseiros se misturando com os gemidos. Sujo.
Sujo. Sujo.

- Isso, Lou. - Harry choramingou, desesperado, tentando suportar o


compasso. - Droga, eu.. hmm... e-eu não vou durar muito hoje. -
premeditou, seu abdômen se aquecendo e se apertando o alertando que se
Louis o fodesse desta forma em poucos minutos ele explodiria.

Tomlinson estocava-o o mais rápido que podia, empurrando para dentro por
inteiro e sua cabeça estava girando quando ele sentiu uma vibração na
barriga. Seu pulso passou a doer do ângulo em que ele estava o fodendo e
segurando a calcinha para o lado como se sua vida dependesse disso. Ele
estava a puxando com tanta força, que podia ouvir as costuras se
afrouxando e rasgando das rendas entre seus gemidos, os quais ele es
esforçava tanto para diminuir.

Se Louis já havia perdido, Harry então entrara em um espaço imaginário.


Ele era essa bagunça incoerente que, de repente, gritou ainda mais alto, ao
que a cabeça do membro do outro surrou sua próstata agressivamente.

- C-Caralho! - Styles ralhou, lágrimas se acumulando no canto de seus


olhos porque ele não podia evitar. - Ali, ali, faça mais, p-por favor!

Era só irremediavelmente viciante ser preenchido e ter seu nervo sendo


pressionado com essa energia de Louis.

- Você quer que eu o masturbe, amor? - Tomlinson ofereceu, sua mandíbula


trincada ao que ele estralava suas bolas na bunda do príncipe sem piedade,
se atentando para permanecer atiçando o ponto fraco de Harry.

- Sim, Deus, sim! - Styles suplicou, já tendo seu pau expelindo pré-gozo em
expectativa. - Quero tanto, Lou.
- Então segure sua calcinha para a lateral por mim? - Tomlinson pediu
gentilmente, vendo Harry mover a cabeça em concordância e usar uma das
mãos que o sustentava contra o espelho para posiciona-la em seu próprio
traseiro, seus longos dedos agarrando o tecido branco parcialmente
destruído para fora do caminho.

Louis permaneceu com um dos braços firmado ao redor da fina cintura de


Styles delineada pelo espartilho e envelopou o outro para a região frontal do
príncipe, descendo sua mão para a fenda que o vestido dispunha entre as
coxas e com ela fechando o membro rígido e molhado em sua palma.

- Meu deus- - Oh!, Lou. - Harry soluçou, sentindo Tomlinson estimula-lo


em sincronia que o metia. Rijo e íntimo.

Seus pensamentos não se atinham a nada que não fosse deleite.

Ele fracamente puxou sua calcinha para expor seu orifício ainda mais,
permitindo que Louis penetrasse-o em sua melhor potência. Suas paredes se
apertavam em torno do pênis do príncipe, tensionavam-se
desesperadamente, implorando por estar cheio.

Quanto mais Louis investisse no corpo arqueado de Harry, incendiando sua


próstata, mais alto o jovem dos cachos gritava e ia aos poucos perdendo a
estabilidade das pernas.

Curtos jatos de pré-gozo espirravam da fenda de Styles, melando a parte


interior da saia e os dedos de Tomlinson, os quais trabalhavam
incessantemente em seu membro, tendo a cabeça de seu pau vermelho
sumindo e reaparecendo na velocidade da luz.

- A-a princesa está.. hmm... correndo, per-perdida. Há lobos a perseguindo.


- Harry proferiu, Louis não sabia se essa era a continuação de sua história
fictícia ou mais uma das frases sem nexo que ele soltava quando estava
próximo do orgasmo.

- Ela irá escapar. - Tomlinson garantiu, nem ele próprio com a consciência
clara para refletir sobre aquilo - não ao se ter a visão da base de seu pênis
ressurgindo e afundando entre as nádegas macias de Harry e esta era, meu
bem, a visão do paraíso.

Neste ponto, Styles estava praticamente em lágrimas, não decidindo se


movia seus quadris para trás para encontrar as estocadas de Louis ou se
mergulhava para frente a fim de ter seu pau deslizando desesperando pela
mão hábil que o masturbava. Perdido entre estas duas hipóteses, Harry
optou por se estabelecer imóvel, deixando que Louis o comandasse até o
ápice.
Ele só precisava não desmaiar (o que estava no limite de ocorrer) e nem
berrar alto o bastante para alertar os patrulhas noturnos (o que,
honestamente, vinha sendo em vão, pois ninguém seria tão escandaloso
quanto Styles).

Harry escorou sua testa contra o espelho, a respiração ofegante


intermediada por sua boca colidia na superfície da lente, embaçando-o a
cada expiração. O suor de seus cachos pingando também no espelho polido,
transformando o objeto em uma retratação carnal personificada da
lubricidade.

Louis não poupava esforços. Ele estava há um passo de ter seu orgasmo e
queria que Harry viesse junto, para tanto, o torturou sem piedade surrando
sua próstata forte e certeiro, fodendo-o com adoração (e brutalidade nas
bordas), ao que sua mão descia para agarrar as bolas de Styles e massageia-
las com seus dedos.

- Os lobos estão chegando. Chegando perto! - Harry quase urrou,


contorcendo-se desde os dedos dos pés à cabeça - Muito perto, Lou. -
soluçou, seus olhos pressionados fechados, lágrimas escorrendo das
pálpebras pelas bochechas, fazendo o caminho até que pingassem de seu
maxilar. - A princesa não irá aguentar.

Neste momento, como se houvessem combinado por telepatia, os dois


príncipes viraram seus rostos para a direita, encontrando seus olhares
através de um dos espelhos, constatando como pareciam acabados,
vermelhos e excitados. Jovens excitados.
Harry abriu sua boca em um formato oval, não tendo força para sequer
gemer ao assistir-se enquanto era fodido e masturbado, trajado com um
vestido rosa, meias compridas e cinta-liga. Suas sobrancelhas estavam
franzidas nesse prazer inconcebível, fitando Louis e ouvindo-o xingar
palavrões no ar.

- Eu estou a caminho, meu amor. - Tomlinson reproduziu, inspirando falho.


- Porra. - grunhiu ao meter em certo ângulo. Recuperou-se e reergueu a
face, fixando sua atenção no fundo das orbes verdes. - Eu vou salva-la. -
anunciou, e por um instante essa frase soou tão convicta que não parecia
que havia sido firmada em meio a um sexo, em meio a gemidos e prazer.
Soou profunda e determinada.

- Vo-você .. oh, jesus... vo-você não pode. - Harry soprou sufocado, seu
estômago vibrando e o conduzindo ao seu ápice. Ele nunca chorara tanto de
prazer quanto agora. - São muitos, muitos lobos. - entonou por último antes
de jorrar sêmen pela fenda de seu pênis, Louis assistindo-o pelo reflexo ao
que os traços faciais do príncipe se congelavam em satisfação, seus cachos
pingavam de suor, lágrimas molhavam suas têmporas vermelhas e Harry
parecia perdido, tremulando pelos espasmos. Lindo.

Tomlinson pôde felizmente libertar-se do calor que prendia dentro de si,


dando-se o direito de gozar dentro de sua bunda, pendendo seu pescoço
para trás mordendo fortemente o lábio inferior, gemendo extasiado.

- Você não pode salva-la. - Harry balbuciou enfim, quase inaudível,


tentando não tombar com as pernas bambas como estavam. O aspecto físico
que gritava libertinagem.

Louis reencontrou seu olhar pela imagem do espelho.

- Então eu morrerei tentando. - disse em tom de promessa.

Soou confiante, e limpo, e mesmo nessas circunstâncias, ainda flagrou a


feição emocionada de Styles, o qual piscou suas últimas lágrimas (que já
não eram pelo orgasmo), e endireitou lentamente a postura. Seus ossos
estralando e a calcinha (danificada) se enterrando novamente em si.
Tomlinson se desatou de Harry, testemunhando seu gozo gotejando da
entrada do príncipe, encharcando o pano branco e a renda, até que a saia de
seu vestido estivesse deslizando para baixo e barrando sua visão.

- Bem, me sinto ligeiramente rasgado. - Harry riu, almejando diluir essa


nuvem sentimental que se condensara entre eles. - Você cumpriu seu
juramento.

- Eu sempre os cumpro. - Louis rebateu, presenciando o príncipe se virar de


frente para ele, delatando seu aspecto esgotado.

- Eu sei. - Styles adicionou, sorrindo pequeno lateralmente.

E, merda, sentimentos são um inferno, certo?


Porque por mais que o jovem de Malta se empenhasse para desvia-los do
assunto, ele simplesmente não conseguia.

- Eu sentirei sua falta, Lou. - admitiu, fitando as lagoas azuis, a barba rala
que despontava em seu queixo, as ruguinhas proeminentes nos cantos de
seus olhos. Ele gostava de tudo. Ele queria se recordar de cada mínimo
detalhe para a eternidade.

- Não precisa ser assim. - Tomlinson contestou, um pingo de indignação


borrando suas palavras porque... ele pensava que era óbvio que eles
estenderiam esse relacionamento peculiar deles para fora deste Palácio.

Correto?!

- Eu pretendo te apresentar para a minha família, minha mãe ficará tão


alegre que o abraçará emocionado, organizaremos banquetes em sua
homenagem com os seus pratos favoritos, e eu me preocuparei com os meus
irmãos e a atração que eles certamente sentirão por você mais tarde. Eu
pretendo ordenar que os meus alfaiates costurem os trajes mais chamativos
e afeminados que você desejar, e poderá andar com as suas gargantilhas de
diamantes sem que ninguém o perturbe. - afirmou em um devaneio que se
Harry não interrompesse duraria algumas horas.
- Lou. - Styles sussurrou, negando com a cabeça baixa, impotente e
fragilizado. - N-não continue, por favor, não me faça sonhar com coisas que
eu nunca poderei ter.

- Você pode. Essa é questão. - Louis soprou indignado, confuso.

- Nunca. - rebateu, encolhendo-se e abraçando a si próprio como se


subitamente parecesse pequeno e perdido.

- Por quê? Você não enxerga o quanto estou apegado em você, em suas
manias, em suas loucuras? - Tomlinson insistiu, seu tom de voz subindo ao
que uma agonia começava a afoga-lo. - Paixão, eu o am-

- Não. Não. Não diga isso! - Harry suplicou desesperado, empurrando a


palma de sua mão para tampar a boca de Louis, evidentemente
interrompendo suas palavras.

O olhar que Louis o deu foi uma apunhalada. Pois... Tomlinson aparentava
tão magoado, tão machucado... e o pior era que Harry sabia que aquela era
só uma amostra do que ele exibiria a seguir.

- Amélia estava certa. Eu não posso te esconder a verdade para sempre. Eu


não posso ser egoísta e omitir o que fiz só por querer que continue com essa
adoração bela e pura retratada em sua face quando me olha. - Styles
sussurrou, pressionando seus olhos fechados - Mas eu não tenho o direito de
permitir que crie sentimentos por uma idealização bonita que tem de mim.
Você não deve se apaixonar por alguém que não conhece.

Tomlinson permaneceu ali, paralisado, um medo cru se espalhando por suas


veias.

- Antes de o revelar, Louis, preciso que entenda que eu aprecio tudo de


generoso que fez por mim, foi lindo. Você me tratou de um jeito que
ninguém nunca me cuidou, você se importou comigo mais do que qualquer
um se dispôs. Eu o considerarei o meu herói para sempre. - Harry proferiu
com suas gramas de verão marejadas, dilacerado. Ergueu seu dedo
indicador e o estendeu em direção à face de Tomlinson, contornando com a
digital a ponta de seu nariz, as curvas de seus lábios, a sobrancelhas de
Louis- Se pudesse, emolduraria a maneira que me encara com esse louvor,
porque a partir de agora sei que isso será apagado, e que quando eu terminar
de falar, você virará as costas e irá embora, nunca mais irá me querer por
perto.

Louis gostaria tanto de interrompê-lo e alegar que não importa o que fosse,
seu coração continuaria palpitando por Harry até as próximas décadas, até
os próximos milênios... mas ele sempre jurou a si mesmo que seria sensato,
que não se entregaria para qualquer circunstância. Louis não tinha uma
personalidade volátil, ele equilibrava sua razão e a emoção em uma balança.
Provavelmente conviveria com uma paixão dilacerante corroendo todos
seus órgãos e ainda assim impediria que ela afetasse completamente sua
moral.

- Diga, Harry. - Tomlinson sibilou, a expressão um pouco mais fechada,


receoso e relutante.

Styles concordou, inspirando fundo. Sua fisionomia ferida em antecipação.

- O meu primeiro segredo justifica o porquê de eu repetir todas as


temporadas, o porquê de eu me negar a coroa de Malta, o porquê de eu
nunca me relacionar seriamente com um príncipe ou cogitar ter o privilégio
de me casar com um algum dia... - disse. Harry embolava suas mãos juntas
não sendo capaz de inibir a tremedeira. - Lembra-se quando aleguei que a
questão não era só o que fiz, é o que sou? - visualizava cegamente o chão
para não ter que presenciar as reações de Tomlinson. Sussurrou: Lou, eu
não sou um príncipe.

- O que quer di-

- Não se pronuncie, por favor, desejo terminar logo com isso para que
deixe-me ir de uma vez, Okay? Eu confio em você o bastante para acreditar
que não divulgará nada do que for segredado aqui, nem quando nós
seguirmos rumos distintos fora deste Palácio amanhã.

Louis se calou.
Ele tentava não transparecer o choque que o assombrava no momento.
- O s-segundo segredo... é... é definitivamente o pior. - Harry gaguejou, sua
garganta muito seca de repente. Ele não teria coragem de dizer. Não teria.

- Apenas... apenas confesse. - Tomlinson grunhiu, seu rosto impassível


(temeroso se estudasse a fundo), e sua voz muito baixa.

Styles suspirou. Ele teria que arcar com as consequências uma hora ou
outra.

- Eu não posso ser a princesa inocente que você materializa, Louis.. - Harry
afirmou, fechando suas pálpebras - A razão de eu não gostar de crianças é-é
que elas me lembram do passado... elas trazem de volta os pesadelos que
ainda enfrento, a culpa que me consome. - pausou - P-Porque... porque eu já
matei uma criança.

E foi como se um trovão houvesse estourado dentro dos tímpanos de


Tomlinson.
E a gravidade estivesse o esmagando.
Subitamente ele pôde sentir cada átomo do ar pressionando-o e pesando em
seus ombros.
Subitamente ele se viu inerte da realidade, vagando em um universo
paralelo, prestes a asfixiar-se.

Louis gostaria de recobrar sua cognição e não surtar, ao invés, poder dar a
chance de explicação para Harry, questiona-lo o que exatamente ele quer
significar com isso. No entanto, o impacto o impedia de se mover.

O impedia de ter qualquer reação que não fosse piscar lento, fitando o
príncipe dos cachos atônito.

Sem ter noção alguma de quanto tempo havia passado com o silêncio
criando uma barreira enorme entre os dois, uma batida tímida
eventualmente ressoou da porta.

Louis piscou perturbado, virando-se quieto e indo atende-la.


Sua face deveria atingir um tom mais pálido que de fantasmas e ele se
sentia como um robô em modo automático.
Puxou a maçaneta sem divagar sobre quem poderia ser, e por sorte esbarrou
com uma Lorena aparentando-se eufórica e alegre.

- Louis, você não vai acreditar! Escutei na ala dos empregados a melhor
fofoca de todas! - comemorou com um sorriso enorme, não se dando conta
da feição vazia de Tomlinson. - Don Luminiére não vai mais expulsa-lo ou
a Harry, o Príncipe Niall Horan testemunhou a favor de vocês! Estão livres
do julgamento!

***

notas da autora: então... ta frio né? hahaha não percam os próximos e


últimos capítulos, amo vocês!

Ps: o que pensam agora sobre o Harry?

Pss: alguém desconfiava que eram esses os segredos?

Psss: HTWAC TÁ COM 40 MIL VISUS?! MUITO OBRIGADA?! VOCÊS


SÃO ESPETACULARES!

Pssss: coloquei todos nos grupos, quem não está é porque eu não consegui
(ou deu problema de adicionar pelo tt ou o número do whats tava errado)

Até a próxima ❤❤
Chapter Forty Eight

Episode: can't help falling in love with you

[eu fiz uma playlist no Spotify para este capítulo, se chama HTWAC. caso
você não use o aplicativo, deixei salvo na mídia a música principal.
Ouçam no aviso que haverá.

PS: dedico este capítulo inteiro a Sara, eu iria dividi-lo em dois, mas já que
é em homenagem à alguém tão especial (que fez aniversário ontem)
postarei inteiro mesmo.
Agradeçam ela.]

Ele se sentiu doente pelo resto da semana.


Não de um jeito conotativo, mas literal.

Não possuía disposição alguma para levantar-se da cama para o café,


comparecer às aulas finais, ou fingir-se estar bem por fora quando por
dentro era torturado por uma febre incurável.

Ele sempre soube que ... bem, Harry teria uma bagagem de traumas e
pecados longa em seus ombros. Ele sempre soube que os olhos verdes
escondiam mais do que charme e mistério. Ele sempre soube que se
apaixonar por aquele jovem seria algum convite para a loucura.

Mas... mas ele nunca cogitou que acabaria assim, deitado na banheira de
seu toalete por horas, com a água ao seu redor já totalmente fria, divagando
sobre Harry Edward Styles ter potencialmente assassinado uma criança.
Uma criança.
Seu emocional e sua razão estavam em um conflito infindável, guerreando
para quem ganhava o pódio. Ele apostara cedo demais que sua capacidade
de discernimento moral cantaria mais alto que seus sentimentos, ele
colocara muito crédito em seu auto controle.

Todavia, você não consegue simplesmente abrir mão de alguém que se


apegou. Você não consegue decidir que aquela pessoa não se encaixa mais
em sua lista e removê-la em um número de mágica. Você não consegue
admitir que prefere ignorar as coisas sobre ela que o atormentam do que
colocar um fim em tudo.

Só... não era desse jeito.

E Louis não tinha mais tanta certeza se calaria essas malditas retorções em
seu estômago porque o peso de sua consciência contrabalançaria.

Ele não tinha certeza de nada.

Quando saiu daquele episódio seguindo Lorena pelo corredor, não teve
segundos pensamentos em olhar para trás, em retornar para a sala de costura
e checar como Harry ficara.
Ele temia a hipótese de que se houvesse retornado, acabaria flagrando
lágrimas rolando pela face de Styles, ele temia que jogaria imediatamente
toda sua ideologia de vida para baixo e colocaria o príncipe em seus braços,
confortando-o e alegando que tudo estava bem.

Mas não estava.

Não estava bem.

Harry vinha mentindo.

Ele vinha mentindo sobre quem era.


E, pior, sobre o que fez.

Por Deus, se Styles realmente matou uma criança... Louis... Louis... porra,
Louis nem saberia o que mais achar dele.

Ugh.
Então, inspirando trêmulo pela temperatura da água da banheira, Tomlinson
refletiu sobre como também não estava sendo justo negando o direito de
explicação para Styles.

Porque... e se... e se talvez existisse uma história por trás de toda essa bola
de revelações?

E se existissem 'porque's que respondessem de algum modo o seu grande


'por quê'?
E se Harry também fosse uma vítima de tudo, e no fundo ainda mantivesse
toda a essência quebrada e insegura colocando-o à mercê de situações que
pouco tivera opções?

Louis queria tanto se agarrar nestes 'e se's.

Por Deus, faltava uma semana para o fim da temporada, Andrew havia sido
expulso, tanto Louis quanto Harry eram residentes fantasmas daquele
Palácio e algo devia mudar. Não dava para continuar neste sigilo ardiloso
que desgastava ambos.

Tomlinson não pensou ser um bom plano interceder o jovem naquele final
de madrugada.
Aguardaria até o dia seguinte.
Acordaria cedo.
E encontraria Harry nos jardins enquanto este estivesse em seu passeio
matinal.

Era hora de encara-lo.

***

O relógio sinalizava seis e dez quando Louis o avistou.

Harry parecia solitário. Mais do que o normal.

De longe o viu tocando desanimado as margaridas. Ele tinha seus ombros


caídos, roupas de tonalidade neutra, e cachos sebosos.
E Louis sentiu falta disso. Sentiu falta dele. Mas havia esse incômodo que o
impedia de ceder, de correr, abraçá-lo e lembra-lo que Daisy está orgulhosa
dele, porque ela possivelmente não estaria mais.

Conforme Tomlinson se aproximava, com passos muito silenciosos e


relutantes, uma agonia o sucumbia. Um medo grande e terrível.

Ele se localizava há aproximadamente um metro de Styles quando o


príncipe, mesmo de costas, pareceu notar sua presença, e disse sob um
ofego.

- Eu já o revelei tudo. - seu tom era baixo, tímido. - O que ainda faz aqui? -
Harry começou a se virar, até que estivesse de frente, o encarando.

Louis acreditava que sua aparência durante os primeiros dias da abstinência


de drogas fora a mais miserável possível, mas... ela nem se comparava a
agora. As olheiras estavam tão mais escuras, e Harry aparentava ainda mais
magro (como se num período menor que uma semana tivesse perdido cinco
quilos), suas bochechas estavam fundas e seus olhos verdes muito vazios,
apagados.

Ele se esquecia que tinha se tornado o maior vício de Styles. Ele se esquecia
que sua ausência não seria reparada em nenhuma reabilitação convencional.
Ele se esquecia que ao renegar Harry naquela noite ele acabou por
sentenciar o pior pesadelo do príncipe.

Porque... conduzir alguém a ter uma paixão em você é vincula-lo nesta


dependência rigorosa, mais intensa do que a química.

Louis soltou todo o oxigênio que prendia dos pulmões.

- Não, Harry. Naquela madrugada não me disse tudo.

- Sim, eu disse. - Styles reforçou, desviando o olhar para o chão, seu


semblante fechado e impassível.

- Não pode simplesmente me segredar duas frases assombrosas e me negar


uma análise delas. - Tomlinson contestou, sua entonação visivelmente
indignada, alta, e quase magoada. - Eu fui embora naquele instante porque
foi muito para que eu digerisse. Mas estou novamente aqui.

- Eu lhe dei o necessário. - rebateu, inabalado.

- Você deixa muitas coisas no ar, por isso ninguém te alcança. - Louis
bufou. - Você é tipo um balão.

Harry negou com a cabeça em rendição, exasperado.

- Certo, o que quer que eu diga?! - questionou com a frustração rompendo


suas cordas vocais. Ele gesticulava com os braços, não contendo-se dentro
de si.

- Quero que me esclareça direito, merda. - Tomlinson reforçou, dando um


passo para mais próximo do maior, o qual mantinha-se em alerta, fitando-o
assustado. - Preciso de uma explicação, Harry. Preciso compreende-lo,
estou certo de que no fundo você não fez nada, o manipularam a acreditar
que foi o culpado, preciso que me dê a verdade. - Louis suplicou. Os cantos
de seus lábios queriam cair, e ele prendia esse ímpeto estranho e inédito de
marejar suas pálpebras, porque ele não queria chorar, ele não iria chorar.

Tentou encurtar a distância entre eles.

Harry, no entanto, pareceu encara-lo mais ferido ainda, recuando passos até
que estivesse andando cegamente de costas, se afastando de Louis o quanto
pudesse.

- Apenas converse comigo, amor. - Tomlinson entonou, enterrando seu


rosto na palma de suas mãos, dobradas em conchas para abriga-lo do
mundo.

Isso, essa imagem do príncipe robusto de Riverland curvado em destruição,


instintivamente fez com que Styles parasse de fugir, fez com que ele parasse
na posição que estivesse e inspirasse sufocado.

- Louis, o problema é que você não veio pela verdade, você veio em busca
de uma explicação bonita que me vitimize de meu pecado e que te dê a
permissão para me enxergar de novo com a inocência de antes. - Harry
suspirou - E não é assim que as coisas funcionam. Não é assim que as
pessoas funcionam. Pessoas erram muito e algumas vezes você precisa
aceitar esses erros ao invés de querer justifica-los.

Louis descobriu sua face, levantando-a para observar o príncipe (ou não) de
Malta com um pavor cru.

- Eu não matei uma criança por um descuido. Eu não matei uma criança por
acidente. Eu matei uma criança porque foi a solução menos trabalhosa que
eu encontrei de sair de uma situação. - confessou, mordendo o lábio inferior
com força, até que gotículas de sangue escorressem pelo queixo.

Merda. Louis desejava tanto obrigá-lo a não maltratar mais sua boca como
ele sempre maltratava ao se sentir nervoso, principalmente por ser a causa.

Ele desejava passar o polegar com suavidade sobre esses cortes, e selar
alguns beijos castos com todo carinho cabível.

Mas... Harry era um assassino.


Assassino.
Essa palavra estava o deixando tonto.

Styles percebeu.
Ele nem precisou se esforçar para flagrar a palidez de Louis com suas
últimas afirmações, ou o modo que Tomlinson franziu a boca como se fosse
vomitar.

Harry fechou os olhos.

- Então, por favor, eu prefiro que me renegue de uma vez e jamais me aceite
em seus braços do que tente colocar-me nesta idealização antiga e vitimada
que tinhas de mim. - sussurrou, reabrindo as gramas de verão sem cor. - Eu
não posso mudar o que fiz, Lou... e você não pode mudar quem sou. As
pessoas tendem a fazer isso: enfeitar as partes feias para que as bonitas não
se estraguem completamente. E elas precisam entender que as bonitas e as
feias são o que as constituem. É em vão tapar buracos com peneiras.
Harry se virou. E se foi.

A terra se desfez sob os pés de Louis.

***

Algum dia nós iremos fechar os olhos pela última vez. E pode ser hoje. Ou
pode ser amanhã.

Louis costumava acreditar que contanto que houvesse cumprido sua missão,
isso estaria bem.
Contanto que tivesse zelado por seu Reino, protegido Riverland... ele
poderia descansar em paz.

Contudo essa ideia agora soava tão oca. Soava fútil e sem propósito.
Ou melhor, claro que ele ainda almejaria trazer a felicidade para seus
cidadãos, mas... e quanto a dele?

E quanto a se sentir completo?


E quanto a ter alguém reinando consigo, alguém (especificamente Harry)
para celebrar ocasiões festivas, dançar nos bailes e ajudar a criar filhos e
filhas?

E, antagônico a este sonho, ele deveria reforçar pra si mesmo que colocar
no trono alguém com sangue de um inocente derramado nas mãos iria
contra todos os seus princípios, e toda a honra que um governante está
suposto a cultivar.

Era frustrante travar uma disputa entre 'o que ele deveria sentir' e 'o que ele
realmente sente'.

Harry era seu anjo.


Seu anjo caído.
O anjo que Deus não perdoaria.
E que viveria eternamente em seu próprio inferno.

Mas, se paraíso é uma questão de perspectiva...


Talvez o inferno com Harry fosse o seu.
***

Na manhã seguinte, faltando exatos seis dias para a coroação e o


encerramento de domingo, Louis se levantou cedo - de novo.

Desta vez às seis da manhã, embora, ele não estava nos jardins perseguindo
Styles.
Ele estava parado na frente da porta de seu quarto divagando, questionando
até qual ponto sua dignidade seria apostada.

Concedeu quatro batidas contra a madeira.


E quando a porta foi finalmente aberta, era a senhora dos fios brancos e
corpo rechonchudo, com dobrinhas na bochecha e sorriso afável quem a
atendeu.

- Olá, rapaz. - saudou (nenhum dos dois sequer cogitou as formalidades de


reverências, que merda pequena estas condutas eram?) - Se está em busca
de Harry meu menino já foi para a caminhada dele, pode achá-lo nos
jardins.

Tomlinson sorriu um pouco, bonito e educado, e negou em um aceno.

- Não, Amélia. Vim para conversar com a senhora, na verdade.

- Oh? Tudo bem, entre. - ela convidou, liberando a passagem para o


príncipe. - Não repare na bagunça.

Bagunça era um eufemismo gentil para o que aquele amontoado de roupas e


roupas e lenços e botas espalhados em todo o pequeno hall e o resto do
quarto poderiam ser chamados.

Haviam peças coloridas no chão, em cabides, pendurados em quaisquer


pontiagudos que servissem de ganchos.

- Uh, vejo que já estão arrumando tudo para domingo. - Louis constatou,
seu coração se apertando em seu peito. - Um pouco precipitado, não?

Amélia ofereceu-o um sorriso triste, retomando o serviço que


provavelmente exercia antes de ser interrompida por Tomlinson.
- Então ele não o avisou? - ela murmurou em tom desanimado. - Querido,
Harry não ficará para a coroação. Ele irá embora nesta madrugada para
Malta. - dobrou uma camisa de seda verde, amontoou-a sobre uma pilha de
outras. - E desta vez será para sempre, então está levando consigo todos os
seus pertences que deixara neste Palácio durante esses anos.

Como um vidro frágil, Louis se quebrou por dentro.


Ele sequer teve forças para responde-la.

- I-isso... isso é por minha causa? - gaguejou, sua visão turva em um pré-
desmaio.

Amélia reparando em seu estado de paralisia se apressou para sustenta-lo


pelo braço, oferecendo-o apoio até que fosse conduzido para se acomodar
na borda do colchão.

Ela se sentou ao seu lado.

- Ouça, você não tem culpa, rapaz. - a criada garantiu, fitando-o séria e
honesta. - Harry sabia que seria assim. Ele sabia que quando o revelasse
você não continuaria com ele. E isso está bem. - reforçou, afagando as
costas de Louis com sua palma quente. - Mas ele precisa ir embora porque
não se acha digno de receber a coroa, então em algum momento desta
semana acabaria se despedindo antecipadamente de nós. Don Luminiére
deixou claro que se ele for, não haverão mais chances para retornar.

Louis engoliu um bolo azedo de sua garganta.

- Você não está zangada comigo por deixa-lo ir? - perguntou cuidadoso. -
Eu sei que é protetora com o Príncipe Edward, e eu sei que cuida dele.

- Lógico que não estou, Louis. - Ami prometeu. - Claro, existia uma fagulha
de esperança em mim que vocês se resolvessem e ele decidisse governar,
mas... - trouxe sua mão para segurar a de Tomlinson. - Mas você não é
obrigado a aceitar nada. Não é porque foi Harry especificamente que
cometeu algo que ele ganha uma carta de impunidade. A redenção não deve
vir por pena ou paixão, ela deve ser natural. Se você quiser perdoa-lo,
perdoe-o porque acredita que ele merece, e não porque o ama.
A primeira lágrima se acumulou na pálpebra de Tomlinson. Ele se sentia
confuso, perdido e impotente para caralho.

- Nós não podemos escolher quem amar, Louis. - Amélia anunciou - Mas
podemos escolher como ama-los. E, em algumas ocasiões, você pode amá-
lo não estando com ele. Se esse for o seu caso, eu não irei julga-lo.

- É só que... é só que eu pensei que seria menos... complicado. Pensei que a


partir do segundo que tomasse consciência que algo havia ido contra os
meus princípios essenciais, eu conseguiria facilmente pegar as rédeas e
guia-las para um caminho de escape rápido.

- Nós não podemos achar que o mundo está sob nossos pés. É muita
pretensão. - ela rebateu. - Você não vai passar sua existência toda sabendo
como lidar com cada situação, isso é fictício. Não importa o quão decidido
e correto você seja, você tem que se perder, você tem que falhar, você tem
que ser egoísta em alguns dias e benévolo em outros. Você tem que se sentir
confuso, tomar decisões duvidosas, se arriscar, perder. A vida é fugaz,
Louis, e nós somos humanos, temos que cantar nossa própria canção,
dançar nossa própria dança, apreciar a jornada, confiando que não importa o
que aconteceça, essa é a nossa aventura.

Uma segunda lágrima delineou a têmpora de Tomlinson, escorrendo por sua


bochecha.

- É só... tão diferente mudar a perspectiva que mantive por vinte e três anos.
- Louis confessou, uma emoção calma o embalou e ele soluçou sufocado. -
Eu me alojei nesta bolha por tanto tempo, eu existi confortavelmente nela.
Então fui aos poucos permitindo que o Príncipe Edward fizesse pequenos
furos nas bordas, me iludi com o pensamento de que ainda estaria
protegido.

Amélia abriu seu semblante para um carinhoso, olhando-o a fundo com esse
ar de compreensão externa.

As lagoas azuis transbordavam, e Louis poderia contar nos dedos quantas


foram as vezes que chorou desde pequeno. Esta estava sendo a mais
asfixiante.
A criada idosa o confortou aumentando o aperto que reproduzia em sua
mão.

- A coisa, garoto, é que você nunca se apaixonou por Harry porque ele é um
príncipe correto. Você se apaixonou por Harry porque ele é o perigo. E você
secretamente queria perigo em sua vida. Você se apaixonou por Harry
sabendo, em sua subconsciência, que ele tinha uma lista grande de pecados.
Você só precisa aceitar que ama os pecados dele tanto quanto o ama.

Uma luz de reflexão se acendeu em Tomlinson, as coisas se tornando tão


claras ao ponto de assusta-lo.

Porque... aquilo era tão real.

Independentemente do que Styles houvesse feito, do início ao final, Louis


não se privou de acompanha-lo a acometer experiências que considerava
politicamente errado, ele não o pediu para que atenuasse seu humor negro
salpicado em cada sorriso falso que oferecia aos outros, ele não reclamou
quando Harry fora maldoso diante de outros príncipes por ciúmes ou
qualquer motivo.
Ele não o repreendeu.

Ele o amou.

Em cada segundo.
Em cada detalhe.
Em seus acertos e defeitos.

E ele queria continuar amando, porque era incrível e libertador.


Mas.... mas ele não tinha certeza se seria mais capaz.

- C-como você... como você fez, Ami? Como fez para perdoa-lo quando
soube disso? - Louis formulou fracamente.

Amélia abaixou a face, encarando o chão com uma nostalgia carregada em


seu semblante.
- Porque não coube a mim perdoa-lo. Eu sou só uma criada velha - ela
respondeu. - Coube a mim resolver se eu queria ou não ficar ao seu lado
depois de tudo. E... Harry nunca se perdoou, Harry nunca teve ninguém
desde Gemma para afagar seus ombros e orientá-lo. Já há pessoas o
bastante o julgando o tempo inteiro, eu só optei por não ser mais uma delas.

Tanto a idosa quanto Louis olharam instintivamente para o porta-retrato de


Styles com sua irmã.

- Meu menino ainda é um bom sujeito. Ele se arrepende e, certo,


arrependimento não apagará nenhum de seus pecados... mas o
arrependimento sugere que você é digno de redenção. - Amélia sorriu.

- Eu não sei o que fazer. - Louis confessou sob uma bufada, esfregando as
lágrimas remanescentes com o dorso de sua mão.

A criada o colocou em um abraço lateral.

- Abandonar é o caminho mais fácil para se livrar de alguém que de algum


modo o magoou. - ela proferiu. - Amá-lo e querê-lo junto não significa que
você apoia as coisas erradas que ele fez, mas significa que você não foi pelo
caminho fácil.

Tomlinson fechou os olhos, seu coração acelerado palpitando contra seu


peito.

- Agora preciso terminar de arrumar essa bagunça. - Amélia avisou. - Tenho


que encaixotar todas essas tralhas até de noite.

Louis concordou calado, pronto para ir embora.


Merda de gosto amargo em sua língua.

- Rapaz, será que pode pegar aquele echarpe rosa que está em cima da
escrivana? - ela pediu, seu rosto parecia sugestivo.

O príncipe sorriu, sussurrando 'claro' e se dirigiu para lá, apanhando a peça.

Quando varreu os olhos pela escrivana lotada de papéis, contudo, deparou-


se com um pequeno caderno de capa marrom de couro, escrito 'Harry's
Diary' em uma letra sem caligrafia rebuscada e ligeiramente infantil. A letra
que deveria pertencer ao antigo Harry.
Louis se tocou que aquele poderia ser o diário que Styles o mencionara uma
vez, se tocou que ao contrário do que tinha afirmado, ele não o carbonizara
sob fogo, e sim guardara-o consigo.

- Hm, se achou algo que queira aí pode ficar. Harry ordenou que eu me
livrasse desses. - escutou Amélia ressoar um pouco distante. E Tomlinson
de algum jeito percebeu que aquela teria sido a intenção dela ao manda-lo ir
até ali. Ele captou a presunção em sua voz. E... ela era sensacional, certo?

Louis pegou o diário delicadamente com a ponta dos dedos.

- Obrigado, Ami. - disse sorrindo tímido ao que a entregava o echarpe e se


dirigia para a porta.

- Ei, garoto. - ela chamou, uma última vez. Tomlinson fitou-a por cima do
ombro. - Independentemente de qualquer coisa, obrigada por ter trazido
meu menino de volta para a vida. Ele estava morto antes de conhecê-lo.

E agora ele é a minha vida. Louis pensou.

***

Tomlinson compreendia que ele tinha poucas horas para de fato concretizar
o rumo que seu futuro teria.

E dar rumos para o seu futuro é assustador, porque ele é tão imprevisível
quanto arriscado.

Nestes mínimos pares de horas aquilo que Louis mais desejava era ler o
diário de Harry.

Ele o trouxe consigo para seu aposento, e se trancafiou lá sob os cobertores


questionando-se quão invasivo seria se abrisse a capa de couro.

Ele não tinha esse direito.

Mas...
Merda.

Algumas páginas, talvez.

A primeira. Possivelmente.

Certo, ele bufou em desistência - não se reconhecendo por nunca ter sido
curioso antes - e dedilhou a respectiva folha, sorrindo carinhoso ao notar a
escrita rabiscada, os erros ortográficos que eram corrigidos com vários
traços em cima para escondê-los (quem dera pudéssemos fazer isso com
nossos erros) e a iniciação de parágrafos irregular.

Nas beiradas da página haviam corações desenhados, e bordas enfeitadas


que ele mesmo reproduziu com sua tinta preta.

Tão Harry.

Torcendo para que sua consciência não pesasse pelo delito, ele iniciou a
leitura antes de perder a coragem.


'Adorado Diário ♡

Estou vindo por este meio divulgar privadamente ('privadamente' existe?)


minha ansiedade para amanhã.

Pois amanhã será minha primeira temporada no Palácio de Vidro, na


Anistia dos Tronos, em que eu receberei a permissão oficial para me tornar
rei de Malta futuramente!

Meu pai disse que isso deveria pertencer à Gemma. E eu sei que deveria.

Eu sei que ela se preparou a vida todinha para ser a melhor rainha deste
mundo.
Mas Deus teve outros planos, e a tirou de nós cedo. Agora cabe a mim a
responsabilidade de herdar a coroa.

Eu pretendo governar da forma que imagino que minha irmã faria, porque
ela com certeza está logo ali no céu assistindo os meus passos, pronta para
puxar minha orelha se eu falhar com o meu povo (o que eu não vou!).

Gemma costumava comentar que ela iria para uma escola preparatória de
Rainhas, que haveriam bailes com príncipes e aulas de etiqueta. Então
imagino que na minha escola de Príncipes será igual.

Imagino que promoverão bailes lindos, felizes, diferentes dos que há em


meu Reino.
Imagino que será colorido e bonito.

Pergunto-me se os príncipes serão legais - e se o meu príncipe encantado


estará lá aguardando por mim.

Antigamente, minha irmã e eu tínhamos a mania de sonhar e criar futuros


imaginários para nós. Ela dizia que eu deveria encontrar alguém bondoso,
e que não poderia entregar os meus sentimentos para uma pessoa que não
pretendesse.

Eu sempre me interrogo se ele será loirinho ou moreno.

Olhos escuros ou claros?

Eu gosto de sorrisos. Daqueles grandes e reconfortantes.

Uma vez li que nós geralmente procuramos na pessoa por quem nos
apaixonamos traços que se assemelhem naquela que mais amamos.
Creio que meu príncipe será então uma cópia da Gemma. Calma, gentil,
meio mandona, soberba. Ela havia nascido para reinar. E eu não sei se
estou preparado, não aos dezessete anos, não sem ela.

Espero que, ao menos, os outros sejam amáveis. E que gostem de mim'.


Louis não notara quando este sorriso enorme havia repuxado seus lábios,
todavia, era inevitável. Seu interior estava aquecido com a imagem de um
Harry de dezessete anos, olhos grandes e pernas desajeitadas discorrendo a
respeito de sua primeira temporada.
Ele prometeu a si próprio que não recolheria todas as informações daquilo,
ele prometeu que seria razoável ao extrair alguns excertos e outros perdidos
pelo diário.

Portanto, parou em uma página aleatória, ligeiramente mais para frente do


que a primeira.

Ele também não a consultaria completamente, ateria-se a decompor as


partes que o chamassem atenção.

Então seu sorriso sumiu.

"Hoje foi mais um daqueles dias.


Já se passou uma semana e ninguém parece disposto a me aceitar, a aceitar
meu jeito ou minha idade.

Como novato, tornei-me o mascote de todos. Ouço eles me caçoando nos


corredores, e rindo de minhas roupas quando elas destoam um pouquinho
do padrão.

Eles não são gentis."


"Nesta quarta eu almocei em meu quarto. Ruguinhas insistiu para que me


juntasse ao resto no Salão, porém fiquei com vergonha porque nasceram
duas espinhas em meu queixo e eu sei que falariam sobre isso para me
chatear".

"Está cada dia mais difícil continuar.


Eu quero tanto sair.
Quero tanto ir para a casa.
E a questão é que não sei exatamente que casa essa deveria ser.
Meu pai não respondeu nenhuma de minhas cartas ainda.
Se pudesse iria embora, no entanto Gemma ficaria decepcionada. Eu irei
prosseguir por ela".

"Como meu pai não me enviou cartas, eu cansei de enviá-lo também.


Deixa-me triste. Eu sei que ruguinhas tentou forjar algumas em nome dele
para que eu ficasse feliz, mas a peguei no flagra escrevendo-as e soube que
pertenciam a ela.

Para não me sentir solitário, enviarei-o poemas.


Assim poderei me iludir com a sensação de que ele não respondeu porque
poemas não precisam de réplicas".

"Eu estou sentado do outro lado


de uma porta trancada
Indagando-me por que todos estão tão desesperados
para se tornarem o que eles não podem compreender"

"A lua estava bonita. Tenho uma visão boa do meu esconderijo no lago. Eu
conversei com ela fingindo ser Gemma. Fiz uma piada, mas esqueci que a
lua não iria rir.
Senti falta das risadas de minha irmã'".

"Hoje eu li um livro fascinante.


Era uma história de amor.

Eu quero que meu príncipe apareça depressa e me resgate daqui.


Quero que ele me leve para um mundo belo e alegre. Que nós possamos
tocar as nuvens juntos. E correr sob tempestades de neve no inverno.

Ninguém deste Palácio parece disposto a me amar.


Mas Gemma sempre me alertou que os melhores amores tem hora certa
para acontecer, que são capazes de nos salvar.

Eu me questiono se ela já se apaixonou antes de morrer, porque ela não foi


salva".

"Eles queriam matar. Matar uma pobre e inocente cobra!


Eles queriam me obrigar a mata-la!
Eu não consegui. Não consegui!

Então, claro, apanhei. Apanhei o suficiente para que meu estômago doa a
cada movimento.

Esta não foi a pior parte.


Eles caçaram aquela cobra.
E a deixaram morta sobre minha cama.

Eu fiquei aos prantos.


Levei três dias para me recuperar do incidente, e a enterrei no meu
esconderijo.

Eles disseram que se eu dedura-los, eles matarão outros bichinhos por


minha causa".

" Eu acho que talvez nós fomos feitos para nos machucarmos,
E cada uma destas experiências dolorosas definem quem somos.
Se há algo profundo em sofrimento, é que ele ensina a você um pouco
sobre si".

Com seu coração estilhaçado, Louis decretou que ele não conseguiria ver
mais disso.
Ele não conseguiria ter ciência do quanto Harry sofreu.

Era como se toda essa dor transcrita estivesse repercutindo em Louis.


Tomlinson pulou para a penúltima página na esperança de ela trazer uma
versão menos asfixiante, e logo se arrependeu.

" Hoje pela manhã aconteceria aula de caça.


E eu não tive coragem.
Eu não me perdoaria jamais.

Gemma sempre me falou que eu deveria me manter honesto comigo


próprio. E assassinar bichinhos indefesos seria contra qualquer princípio
que cativo.

Portanto, fui expulso da temporada.


Estou apavorado.

Será que Gemma ficará decepcionada ou orgulhosa por eu ter seguido um


de seus conselhos?

Não sei o quanto meu pai me punirá. Mas espero que ele entenda."

Louis engoliu a seco.

Desvendando enfim a última folha.


Ela estava datada em exatamente um ano após a primeira, o que Tomlinson
deduziu que teria sido escrita no primeiro dia da segunda temporada a qual
repetiu.

A página estava quase vazia, se não fosse por um pequeno parágrafo, sem
enfeites, sem bordas bonitas, com a caligrafia mais sólida, retilínea e
monótona.

"Morte ao Príncipe.
Não se vive morrendo.
Mas se morre vivendo.
Morte ao Príncipe".

E, após isso, a contracapa de couro.


***

[**ouçam a Playlist HTWAC do Spotfy, ou coloquem a música do capítulo


repetidamente**]

Com seus pés se arrastando pela terra lamacenta (havia chovido


recentemente) Louis se guiou através dos caminhos das coníferas.

Era meia-noite.

Tomlinson descobriu que a carruagem de Harry partiria às duas.

O aposento de Styles estava vazio.


Contudo, Louis pressentia precisamente onde o príncipe dos cachos estaria.

E ele tinha razão.

Pois ali, sentado em uma larga rocha na beira do lago, Harry encarava seu
próprio reflexo exibido na superfície da água.

Seus cabelos caíam sobre sua face. A malha de sua camisa de linho estava
abarrotada, os cantos amassados. Ele não assemelhava-se com um
integrante da realeza. E, ainda assim, emanava a áurea de um príncipe.

Mesmo com uma distância considerável, Louis reconheceu sua silhueta


decaída, seus ombros curvados, e sua beleza apagada.

Tomlinson se escorou no tronco de uma árvore, observando-o, estudando


calado como a luz da lua o iluminava superficialmente mas não alcançava
seus cantos soturnos.

- Veio se despedir? - Styles eventualmente proferiu, não desviando o olhar


de seu próprio reflexo, conservando a cabeça baixa.

- Eu vim saber a verdade. Aquela em que eu entendo que você errou, a qual
eu não espero por um final feliz, mas um final real.

Harry negou com um aceno desanimado.


- Porra, Lou. Pra que quer tanto saber disso? O que vai mudar? Você tem
uma revelação forte o bastante para me deixar ir. - Styles suspirou. - Só me
deixe ir.

Louis se desencostou da árvore, andando determinado para se sentar no


canto da rocha, ao lado de Harry.

- Eu fui ensinado desde pequeno que quando você acha algo pelo qual vale
a pena lutar, você nunca desiste. - confessou, inclinando-se para frente até
que também estivesse vislumbrando a reflexão de si próprio no lago.

Styles inspirou fundo e demorado, como se houvesse sido atingido por uma
flecha e perdido o fôlego.

- Talvez precise procurar melhor, porque eu não sou esse algo. - Harry
sussurrou, mordendo o lábio inferior.

- Creio que o Harry que escreveu a primeira página daquele diário não
concordaria com você. Ele tinha boas esperanças de encontrar um príncipe
encantado.

Styles riu nasalado, não surpreso ou zangado por Louis ter lido.

- Suas esperanças foram arrancadas quando soube que ele não era um
príncipe.

Louis franziu o cenho confuso.

E, okay, agora Harry revelaria tudo. Não havia mais escapatória. Correr do
seu passado seria em vão.

- Eu descobri que sou fruto de uma infidelidade depois de repetir a primeira


temporada. - segredou, em tom quase inaudível. - Meu pai acabou me
chamando de 'bastardo maldito' enquanto gritava comigo. Então eu fiquei
obcecado com isso e procurei por pistas nos diários antigos de minha irmã.
Ela, por sorte, teria discorrido a respeito. Meu pai traiu a mãe de Gemma
com uma criada. Katherine, a rainha, nunca me tratara exatamente como um
filho, eu sempre notei. Ela não era malvada, mas também não era carinhosa
comigo, e eu me indagava o porquê. Faleceu quando eu tinha sete anos.

Styles piscou com a mente pesada, fungando.

- Gemma revelou que Katherine não abandonou imediatamente o rei porque


o amava, mas depois que descobriu sobre o adultério passou a trata-lo
diferente, distante. Meu pai não se importava comigo, mas me manteve
porque eu era um menino, e seria bom para sua reputação ter um herdeiro
do sexo masculino contanto que não se elucidassem que nasci de uma
serviçal.

Louis virou sutilmente seu rosto, tendo o vislumbre do perfil da face de


Styles. Ele estava com os olhos fechados, como se doesse falar sobre
aquilo. E doía.

- Ele tem repugnância de mim, pois sob minhas veias corre sangue
manchado.
Quando ele ficava bravo comigo em minha infância chamava-me de 'vira-
lata'. Eu nunca compreendia o que aquilo deveria significar. - riu
amargamente. - Até ter ciência de tudo através do diário de Gemma. As
coisas começaram a fazer sentido, toda a indiferença, o desgosto. Eu não
sou como ele. Eu não era como minha irmã. Eu não sou como vocês.

- Har-

- Não. - Styles interviu antes que Louis interrompesse. - Só, por favor, não.
Ele tinha razão em algumas partes, eu nasci por um erro seu. Eu já nasci
sendo um erro, Lou. Sabe como é dilacerante descobrir de um minuto para
o outro o porquê de você ter se sentido deslocado em sua própria casa sua
vida toda? Eu não pertencia a ela, não pertenço a aqui. Sou como uma peça
de quebra-cabeça largada na caixa errada, não posso me conectar
devidamente em nada.

- Não ter sangue puro não te faz inferior, Harry.

Styles o ignorou.
- E de bônus perdi na época meu sonho do príncipe encantado. - o maior
disse, prendendo sua atenção cegamente no céu. - Aquilo era importante
para mim, a ideia de que eu conheceria um cavalheiro no baile, o qual
confiaria, o qual me resgataria do meu inferno particular. É o que se faz aos
dezessete anos, enche-se de expectativa que alguém virá resgata-lo. E, de
repente, essa expectativa foi queimada.

- Eu não compreendo. Você ainda é um príncipe. - Tomlinson rebateu, seu


cenho franzido porque o fato dele não ter nascido do ventre de uma rainha
mudou tudo.

- Eu levo o amor muito a sério, Louis. - Styles proferiu, finalmente o


encarando. Seu semblante era honesto e profundo. Seus olhos estavam
marejados, mas firmes. - e quando você ama você deve querer o melhor
para a pessoa. Eu não seria o melhor para ninguém. Não me uniria com
alguém fantasiado do que não sou. Estaria condenado a fingir-me de
príncipe para o resto de minha existência com o plano de manter-me
romanticamente afastado dos outros, contentando-me com a ideia de que o
sexo seria o mais próximo que eu teria de agrada-los, de ter a companhia
deles, de me relacionar com alguém, mesmo que por uma noite, não
significando nada. Naquela hora eu era importante. Naquela hora eu era
importante para um príncipe.

Porra.

Louis queria se atirar de um precipício.

Seus ouvidos sangrariam por escutar essas coisas, seu coração já sangrava.

Todavia, ele empurrou esse assunto (terrível) temporariamente para o


fundo, forçando-se a seguir o roteiro que havia planejado.

- E... a criança que, você sabe-

- Matei?

- Sim. Quem era? - indagou cuidadoso, suas palmas suando em nervosismo.


Harry não hesitou ao responder:

- Minha irmã.

Louis se engasgou, quase escorregando da rocha para o lago.

- Você assassinou Gemma?

Styles o fitou exasperado, arqueando as sobrancelhas.

- Não. Eu nunca machucaria Gemma. - contestou.

Tomlinson se quebrou em dúvidas.


Por favor, só explique. Explique. Ele precisava de uma explicação.

Harry o olhou fixamente, embora suas orbes verdes estivessem vazias, e ele
soasse monótono.

- Você está prestes a saber a real história de Malta por trás dos bastidores, a
poeira embaixo da coroa:

" Quando Katherine faleceu, meu pai conheceu a duquesa a qual é casado
até hoje, Verônica. Meses após a morte da mãe de Gemma ele já estava
oficializado com Verônica e, previsivelmente, ela engravidou, gerando uma
garota. Carolina.

Eu tinha sete anos, Gemma dez. Nós estávamos em uma fase confusa, nosso
pai pouco se pronunciava a respeito e Verônica parecia nos odiar.
Ela tentava a todo custo colocar na cabeça de meu pai que Carolina
deveria ser a futura rainha de Malta.

Mas, por sorte, Gemma era a favorita do rei, ela sabia se portar, ser
elegante, refinada. A coroa estava destinada para ela.

Verônica não permitia que Carolina tivesse contato conosco, então


basicamente crescemos como irmãos desconhecidos morando sob o mesmo
teto. Eu não ligava, minha irmã mais velha já era o bastante para mim.
Quando Gemma completou dezessete, há um ano de ser enviada na Anistia
dos Tronos, ela morreu.
Passou dias doente, sem ninguém compreender o que era. Alguns doutores
por fim afirmaram que havia pego pneumonia, outros tuberculose, e ainda
uma virose forte.

Foi um baque perder ela.


Foi um baque ter a única pessoa que me amava arrancada para sempre,
como uma florzinha retirada da terra antes de ter desabrochado. Ela era
tão nova, tão generosa e tinha planos de fazer o povo de Malta feliz. Eu
decidi que seria um rei prestativo, não permitira que os esforços de minha
irmã fossem em vão.

Mas, quando reprovei na primeira temporada, ao retornar para Malta tudo


saiu do controle.
Descobri que não era um príncipe, e fiquei trancado no Palácio, decidindo
se questionaria meu pai a respeito ou não.
Verônica passou a insistir para o rei sobre ceder a coroa à Carolina mais
do que nunca, reafirmando que eu traria ruínas.

E, o pior, ouvi a rainha cochichando com um homem suspeito nos fundos do


Palácio. Aproximei-me o suficiente para desprender que se tratava de
Gemma. E que "havia funcionado com ela, portanto funcionaria com
Harry".

Foi quando me toquei.


Minha irmã não havia contraído uma doença misteriosa e falecido.
Ela foi assassinada.
Ela foi vítima de um golpe.

Toda a honra, toda a nobreza, todo meu caráter... o que ainda restara de
generoso em mim se corrompeu. Naquele momento eu me ceguei de ódio,
de uma raiva desmedida.

Eu queria vingança.
Eu queria fazer Verônica sofrer de modo que ela me fez ao me afastar de
Gemma.
Eu quis ensina-la que quando as pessoas pisam em mim, nos cacos
quebrados, elas tendem a sair perfuradas.

E eu fiz. "

Harry pausou. Ele parecia perturbado, preso neste devaneio paralisante em


uma segunda dimensão.

"Eu contratei um caçador para matar Carolina assim como na história da


Branca de Neve. Eu me transformei rapidamente do menino perdido para a
Rainha Má.

O caçador a pegou em uma manhã enquanto Carolina brincava na floresta.


Ela tinha nove anos.
Nove anos.

Eu condenei uma garota saudável, sem culpa alguma, por ira à sua mãe,
porque esta foi a solução mais fácil e macabra.

Eu tirei o futuro feliz que ela poderia ter, só porque nunca teria o meu.

Eu quis atingir Verônica. E consegui.

Carolina foi dada como sumida por alguns dias, então eu paguei alguns
camponeses para testemunharem tê-la flagrado caindo no rio e se afogado.

Verônica se quebrou com isso.


E eu também.

Porque vingança é só uma ilusão de que você pode se preencher fazendo


mal para alguém, e no fundo, está fazendo mal para si próprio.

Tentei me suicidar com as drogas, e acabei me viciando nelas.

Quando eu retornei para a segunda temporada tudo estava diferente.


Eu morri. As coisas boas que existiam em mim morreram.
Eu tinha o sangue de uma criança escorrendo entre os meus dedos. Eu
tinha os últimos suspiros dela escritos por minha causa.
Eu tinha uma personalidade agressiva, revoltada.
Eu me agarrei na ideologia que se eu não poderia ser amado, nem por mim
mesmo, então eu seria temido. Porque eles respeitam quem temem.

Eu criei uma bolha de superficialidade e ignorância para não ter que


pensar mais sobre meus erros.
Quis mascarar os antigos pecados com novos.
Eu cedi à maldade.
Manipulador, arrogante, prepotente.
Eu seria tudo que repugnava porque quando era uma pessoa boa eles
passavam por cima de mim.
E eu decidi que seria quem passaria por cima deles.

Nunca mais cogitei ser um rei.


Porque obviamente eu não merecia, eu não mereço.

Eu não sou um príncipe, e se tivesse agido correto teria cedido a coroa à


Carolina, que era uma princesa legítima e certamente governaria melhor
do que posso.

Eu não sou um príncipe, e nem um humano bom, ou um indivíduo que


Gemma poderia se orgulhar agora.
Eu sou um nada".

A este ponto Harry estava aos prantos, embolando-se em torno de si com


medo, assustado.
O príncipe se curvou novamente para ver seu reflexo na lagoa, cada lágrima
que escorria e pingava na água desfazia a imagem.

Ele parecia devastado.

Você ainda é tudo pra mim. Louis refletiu. Ele não tinha reação para o que
ouviu. Seu estômago estava revirado, e seus pensamentos muito
conflitantes.

Ele não queria ter reação.

Ele só queria estar lá com Styles.


As pontas soltas estavam se fechando.

- Aquela vez em que... que comentou ter pulado e quase se afogado neste
lago... v-você sabia, não era? Você sabia que seria muito profundo.

- Eu sempre sei, lagoas são traiçoeiras. - Harry respondeu com a entonação


fraca. - Eu não tenho escolha quando quero me afogar nelas.

Louis não percebeu a referência que o outro sugerira, ele estava devastado
com a realização de que Styles havia tentado se matar ali.

Não surte, Louis.

- O nome Carolina, de sua bengala, é uma homenagem à criança?

Harry assentiu.

- As duas morreram sem terem culpa, pelas mãos de assassinos cruéis. Em


meu segundo ano neste lugar me dei conta de que eu não poderia fugir
completamente do passado. Uni um episódio de quando eu me sentia puro a
um episódio de quando fui corrompido. Minha bengala carrega o nome do
meu pecado, ela é a cruz que trago em minhas mãos.

Eles permaneceram congelados neste intervalo de tempo sem palavras, com


alguns abismos.

Ocasionalmente Styles se virou para Louis, observando-o relutante.

- Eu preciso ir agora. - anunciou. - Minha carruagem já deve ter chego.

Tomlinson concordou quieto.

- Este pode ser seu refúgio até domingo. É um bom lugar para chorar, se
quiser. - Harry ofereceu com um sorriso triste, varrendo sua visão pela
paisagem, gravando os detalhes do local que o acolheu por tantas noites
solitárias, tantos ataques emocionais.

O príncipe se ergueu e foi embora, aos poucos desaparecendo da vista de


Louis entre as árvores, sobrando suas pegadas na terra e seu perfume
sumindo nas brisas

E doía, como doía.


Tomlinson não compreendia se essa dor seria maior do que a de perder um
membro do corpo, mas garantia que machucava na mesma intensidade.

Ele lutou tanto para sempre ter o controle de tudo.


Em vão.

Ele... só não podia.


Ele não podia.
Não mais.

Foi quando antes de se dar conta já havia se estendido, repetindo um mantra


de 'Foda-se, foda-se, foda-se'.

Foda-se.

Correu.
Correu pelas rochas,
Correu entre os arbustos, as árvores, até que estivesse na trilha das
Coníferas.

No final dela o príncipe dos cachos andava de cabeça baixa.

- Harry? - Louis o chamou há muitos metros de distância.

Mas ele não ouviu.

Então Louis repetiu, no volume máximo de suas cordas vocais:

- Harry Edward Styles.

Harry se virou para ele, devagar e confuso.

- Fique!

A expressão do príncipe se transformou em uma desnorteada.


- Fique. Governe Malta. Seja um rei grandioso, orgulhe sua irmã. -
Tomlinson berrou no ar, se arrastando para mais próximo de Styles, o qual
mantivera-se paralisado.

- Eu não sou digno do trono, Louis. Eu não sou um príncipe. - Harry gritou
de volta.

- Você esteve nesta merda por seis anos. Você aprendeu melhor do que
qualquer um de nós! - Tomlinson rebateu à plenos pulmões, esticando seus
braços para cima. - Está na hora de calar suas inseguranças. Está na hora de
parar de viver por elas. Coloque esta coroa em sua cabeça, seja o seu
melhor.

- Não. N-Não posso. - Styles contestou, balançando sua cabeça


freneticamente em negação. - Não posso continuar nesse lugar, fingindo ser
quem não sou.

Quando o alcançou, estabilizando-se na frente de Harry, Louis trouxe suas


mãos para abrigarem o rosto macio e magro de Styles.

Tomlinson encostou sua testa contra a dele, ofegando.

- Fique por mim. - sussurrou, rouco e decidido.

- O-o quê? - Styles sibilou anestesiado, piscando atordoado.

- Fique comigo.

- E p-por que... por que você ficaria por mim? - soluçou. - Fiz coisas
terríveis, e-eu não mereço-

Louis pressionou o indicador contra os lábios de Harry para cala-lo,


emitindo um curto 'Shh'.

De olhos fechados, coração palpitando acelerado e garganta seca, enunciou:

- Há uma lista de lugares no seu corpo que eu amo. Adoro os lugares que
escondem as suas dúvidas, Harry.
Acariciou a bochecha do príncipe em uma veneração calma.

- Os lugares que estão escuros porque você esqueceu de crescer a sua luz.

Levo a palma de sua mão direita para repousar sobre o peitoral de Styles, e
a da esquerda para agarrar sua nuca.

- Adoro o espaço dentro do seu peito onde você segura a expiração quando
sente vontade de desistir e o caroço preso em sua garganta quando fala
sobre os seus sentimentos.

Louis guiou seus lábios para rasparem suavemente na mandíbula ossuda de


Harry.

- E, no entanto, vivo pelos lugares que você ainda mantém sua esperança.
As áreas dentro das suas células onde a felicidade prospera, a inspiração
que leva o seu riso a encontrar os seus olhos.

Harry o encarou abalado.

Louis sorriu reconfortante. O sorriso bonito que Harry procurava em suas


idealizações.

- Adoro as áreas do seu corpo que estão marcadas, que estão cansadas. Eu
vejo a dor que você tem dentro de cada centímetro de seu fogo, em cada
osso que quebrou sob a pressão de ser o suficiente e amar o suficiente.
Adoro a força que carrega entre estas rachaduras, o tijolo e a argamassa dos
seus erros, a luta dentro das suas feridas. - Louis estalou um beijo casto no
canto de sua boca - Vê? Eu simplesmente amo cada pedaço de ti. Todos os
lugares que abriga esperança, todas as masmorras das suas incertezas.
Adoro os seus extremos, os seus defeitos, as suas falhas... as partes que
manteve escondidas por medo de afastar alguém - suspirou - É cada lugar
dentro do seu corpo que me faz querer ficar.

Styles tinha seus olhos transbordando lágrimas, em uma emoção


desnorteante, não se vendo apto para reproduzir qualquer palavra.
- Estava certo, paixão: não existe a eternidade em geral, ela é fictícia. O que
existe é a minha eternidade, e a sua eternidade, que perdurarão pelo tempo
que existirmos. - Louis continuou. - Eu quero viver em nossa própria
eternidade.

- M-mas e-eu não... não s-sou um príncipe.

Tomlinson riu curto.


Era tão óbvio que ele não se importava.
Harry poderia ser uma árvore que ele ainda amaria.

- Eu não quero um príncipe. - Louis garantiu, contornando os lábios de


Styles com os seus. - Eu quero você. E você é o meu rei.

Harry inspirou ofegante.


Não havia oxigênio.

Tudo dentro de si explodia.


Tudo dentro de si se acendia.

Ele se sentiu infinito.

- Eu amo você, de verdade. - Styles sibilou sufocado, tremendo. - Você sabe


que eu o amo. Eu nunca amei tanto antes. - Harry rodeou o pescoço de
Tomlinson com seus braços, entrelaçando-se nele desesperado. - Há uma
estrela nesse céu para cada coisa que sou apaixonado sobre você, Lou.

- Ótimo, podemos ser uma constelação juntos. - Tomlinson concluiu


entusiasmado.

- O que sugere... o que sugere que aconteça agora? - Harry soprou.

- Sugiro que avise à carruagem que ela será desnecessária. Sugiro que
permaneça neste Palácio até domingo, entre em meu lado para a nossa
coração, receba a permissão de se tornar futuramente um rei. - Louis
murmurou, os cantos da boca se elevando. - Sugiro que venha morar
comigo em Riverland, e, quando for a hora de governarmos, unifiquemos os
Reinos.
- Isso parece um pedido de casamento distorcido. - Harry disse com um
sorriso atrevido em meio às lágrimas salgadas, as orbes cintilantes e ao caos
que ele era.

Louis percebeu a referência da vez em que vivenciaram esta cena na capela,


no entanto, com os papéis invertidos.

- O que você diria? Qual seria sua resposta se isso realmente fosse, paixão?
- Tomlinson devolveu, insinuante.

Naquele instante, com sorrisos travados em seus rostos, eles eram


invencíveis. Inalcançáveis.

O mundo celebrava-os.
E o universo assoviava alguma melodia bonita e romântica.

A juventude consumia-os.

Garotos apaixonados.
Garotos respirando encanto, tateando a lua com as extremidades dos dedos,
em uma vertigem poética, flutuando sob essa órbita anestesiante com seus
pés longe do chão.

- Eu diria sim. - Harry decretou, rindo abobado, fitando fixamente os lábios


de Louis. - Sempre sim. - e então uma realização caiu em Styles, levando-o
a piscar assombrado - mas... isso seria como condena-lo a estar com alguém
com partes faltando, fragmentos soltos. Isso seria como condena-lo a estar
com um homem incompleto, em uma luta constante contra as drogas, os
pecados e as sombras.

Styles mordeu o interior da bochecha, prendendo o choro. Quiçá esse


desfecho soasse bonito agora, mas ele sabia que no futuro seria uma pedra
no caminho de Tomlinson, seria a chance que ele desperdiçou de ter se
envolvido com alguém melhor, alguém importante.

Caso... caso essas merdas não houvessem ocorrido, caso ele não tivesse se
corrompido e se estilhaçado tantas e tantas vezes... talvez ele teria sido um
príncipe-não-príncipe digno, à altura de Louis. Ele teria a oportunidade de
oferecê-lo mais, e não... restos... restos do que no passado era uma pessoa
decente.

- Gostaria de reencarnar minha versão de dezessete anos. Ela era imaculada


- Harry segredou, firmando o peso de seu corpo quase todo sobre Louis,
pendendo em cima dele, abrigando-se no vão de seu pescoço. - Eu
costumava esperar ser resgatado, eu costumava sonhar em ser salvo. Eu
só... queria tanto.

Louis negou, precisando interrompê-lo antes que sua vulnerabilidade o


derrubasse.

- Se eu pudesse salvá-lo, amor, eu iria. Eu iria, mas não posso. Eu tenho


aprendido com o tempo que seres-humanos não podem ser salvos, ou
concertados, ou refeitos. Eles somente podem ser amados. - Tomlinson
cochichou - Então eu amarei você. Amarei você direito.

Styles desenterrou a face da clavícula do príncipe, encarando-o


emocionado.

- Eu o amarei nos dias que sua risada escoar alta pelo cômodo, e nos dias
que não. Eu o amarei nos dias que você estiver radiante tanto quanto
naqueles em que reclamar de absolutamente tudo. Eu o amarei durante suas
cicatrizações, e eu o amarei durante suas quedas. Eu o amarei nos instantes
de paz, e nos instantes de dor. - prometeu, selando um beijo delicado na
têmpora de Harry, o qual tremulava as pálpebras atônito - Recuso-me a
amá-lo em metades... mostre-me onde você floresce, e eu o amarei lá.
Mostre-me onde está quebrado, e eu o amarei lá. Mostre-me onde guarda
suas inseguranças, e eu o amarei lá. Mostre-me onde se esconde, e eu o
amarei lá.
Exponha seu coração aberto, esfolado e palpitando em sua decadência e seu
renascimento... eu irei amar, paixão. Eu irei amar tudo.

E Harry poderia se quebrar em lágrimas, ou recitar alguma poesia lírica de


Yeats que combinasse com toda essa declaração de tirar o fôlego que Louis
o concedeu.
Harry poderia construir imediatamente um templo e louva-lo como a
divindade que de fato era.

Mas Harry estava estonteado, e deslumbrado, e maravilhado e desorientado


demais para assoprar qualquer coisa que destoasse de:

- Puta merda. Puta merda.

Louis riu. Tão Harry.

- Puta merda. - repetiu, imitando Styles.

Harry se desvinculou de seus braços e recuou alguns passos para trás,


andando de costas cegamente até que estivesse há uma distância
considerável do príncipe - que permaneceu confuso com essa ação.

E, então, ocasionalmente, Harry pendeu cabeça para trás:

- Ei, Lou. Eu não sou só fodido, mas também fodidamente apaixonado por
você. - berrou, embebedado com suas loucuras. - Eu te amo pra caralho,
Louis William Tomlinson.

Louis sorriu carinhoso, se reaproximando do príncipe.

- O que foi isso?

- Eu anunciei o meu amor. Agora todos que importam sabem: as


margaridas, as estrelas e Gemma. Agora todas elas sabem que eu sou a
pessoa mais sortuda que já existiu. - Harry murmurou antes de se atirar
contra o menor, agarrando-o.

Eles se beijaram por muito tempo - nessa eternidade particular de uma noite
de verão.

***

Os dois poderiam ter finalizado a madrugada sobre o colchão, em transas


demoradas e gemidos e suor escorrendo para os lençóis.
Mas... aquilo estava tão delicado e puro, tão tranquilo, que ambos optaram
silenciosamente para finalizarem-a deitados na cama de Styles, com Harry
aninhado no peitoral de Louis ao que este acariciava seus cabelos
gentilmente, enrolando os caracóis ensebados como anéis na extensão de
seu dedo indicador, soltando-os e repetindo o processo.

Seu coração ainda palpitava forte, as asas das borboletas raspavam nas
paredes internas de seu estômago, e ter o príncipe acomodado em seu
conchego soava surreal.

Eles estavam emboscados no meio de toda a bagunça que se amontoou ao


trazerem de volta as (sete) bagagens de Harry. Styles jurara que quando
ruguinhas se deparasse com suas tralhas jogadas novamente por toda parte
ela teria um surto e puxaria sua orelha. Mas depois choraria de felicidade e
encheria suas bochechas com beijos melados e apertões.

- O que está o atormentando, amor? - Louis indagou, notando que o menino


ficara tenso.

Harry se desencostou dele e se ergueu, apoiando seu peso lateralmente em


seu cotovelo, podendo olhar Tomlinson nos olhos, com sua expressão
relutante.

- Há algo que ainda não o contei. - proferiu. - Algo que precisa saber.

- Do que se trata? - Louis questionou, suspendendo-se sorrateiramente para


depositar um beijo na mandíbula de Styles.

Harry sorriu com o gesto.

E então inspirou fundo.

- É a respeito do jornal anônimo. Mais especificamente do autor.

Tomlinson assentiu.

- Uh, recordo-me quando mencionou que se quem estivesse por trás disso
tivesse relação com seus segredos poderia destruí-lo.
- Exatamente. - disse, lambendo seus lábios em nervosismo.

- Então, quais são suas apostas? Há alguém no Palácio com potencial para
dedura-lo? Para estar envolvido no delito?

Houve um minuto de silêncio que Harry aparentava-se hesitante em se


pronunciar, contanto ingerindo uma dose de coragem prosseguiu:

- Lembra-se quando o pedi que se mantivesse afastado de Diana Oiselle?

- Sim. Pensei que fosse por ciúmes.

- Bem, uma parte era. - o maior confessou, dando de ombros. - Mas desde a
segunda temporada eu tenho esse conflito em mim sobre como ela é
fisicamente parecida comigo.

- Você não... está sugerindo que ela seja-

- Carolina. - Harry completou. - Sim. Eu não sei, há essa possibilidade, mas


ao contrário da história da Branca de neve não pedi que o caçador me
trouxesse qualquer prova de que tenha assassinado a criança. Eu somente
confiei em sua palavra.

- Harry, acho que essa soa como uma teoria de conspiração.

- Eu.... uh. Talvez seja. Eu pesquisei há muito tempo quem Diana era,
descobri que é mais jovem do que aparenta. Visitei seu Reino em busca de
informações e ouvi boatos que ela foi adotada.

Tomlinson se sentou na cama, perplexo.


Harry suspirou.

- Ela vive me encarando estranha nos bailes. E para piorar logo neste ano
ela grudou em você, é muito suspeito, justo em você, como se soubesse. Eu
sei que parece loucura, mas é como um sexto sentido.

- Pensas que se Diana é Carolina, então veio atrás de vingança? Como


conseguiria ser quem escreve o jornal se nem ao menos reside aqui?
- Temo que se minha especulação estiver correta possivelmente haja alguém
a ajudando, que tenha um príncipe aliado no castelo.

- E como se sente sobre isso? Seria um alívio certo? Saber que você não a
matou, que ela está viva.

Harry riu sem humor.

- Não muda porra alguma. O que conta foi a minha intenção na época.
Carolina não merecia ter a vida tirada, seja literalmente ou não.

- Talvez essa seja uma segunda chance. Talvez, se Diana for de fato
Carolina, você poderá se redimir. - Louis falou com pingos de esperança em
sua voz.

Mas Harry pressionou suas pálpebras fechadas.

- Ela não irá querer um pedido de desculpas. - sussurrou, temeroso. - Ela irá
querer me destruir.

- Eu não deixaria. - Louis garantiu, puxando Styles para se encaixar entre


suas pernas, com as costas firmadas contra seu peito, aninhando-o em seus
braços e apertando-o protetoramente. - Eu não deixarei nem que Diana, nem
que você próprio ou ninguém o machuque novamente, amor.

***

Zayn estava escorado na janela de seu quarto finalizando seu exemplar.


Tratava-se de um livro de tragédias gregas que ele iniciou após o jantar e se
prendeu nos enredos ao ponto de suspender seu sono para concluir o
máximo de capítulos que conseguisse antes que seus olhos pesassem.

Ele estava preso em um parágrafo ligeiramente tedioso quando escutou


batidas um pouco frenéticas ressoando da porta de seu aposento. O que o
assustou porque era madrugada e bem, ele não costumava receber visitas.

Abriu-a curioso, flagrando um Liam de olhos inchados e ombros trêmulos


em sua frente.
- Príncipe Payne? Que diabos houve? Você está bem?

E isso era bizarro porque após tanto ser auxiliado por Liam em sua pose
educada e confiante ele não esperava de modo algum tê-lo chorando em sua
frente, no meio da noite.

- E-eu preciso... eu preciso confessar para alguém. - Payne sibilou


enfraquecido. - Eu preciso contar ou perderei minha sanidade.

- Precisa confessar o que? - Zayn interrogou em uma órbita aflita, já dando


passagem para que o príncipe adentrasse seu quarto.

Ao que Liam parou em meio-fio do cômodo, ele se virou para Malik e


cochichou.

- Preciso confessar algo terrível que fiz.

***

Notas da autora:
Meu deus, meu deus, meu deus.
Queria tanto ter postado ontem, mas não consegui.
Vocês gostaram do capítulo???

Então deixo aqui minha declaração para a garota que é a responsável


dessa fanfic ter o reconhecimento que tem. Pelo pouco que te conheço, e do
que vejo sobre você no twitter, já sei que é incrível sara. Feliz aniversário
(atrasado) e obrigada por ter me ajudado tanto tanto, continue espalhando
esse amor e mantenha esse espírito gentil sempre, tu é maravilhosa.❤

*Quanto ao capítulo:
O que vocês pensam agora sobre o Harry?
-
Chapter Forty Nine

Episode: Carolina.

Cheirava à maçã verde.

Em algum recôndito de seu subconsciente o cheiro vinha impregnando seu


arredor, e era refrescante e doce e cedia uma sensação de leveza, como um
pomar fresco de maças em uma manhã de sol luminosa, de poucas nuvens,
uma brisa suave e inspiração.

Ele queria se agarrar a esse conchego.

Mas foi quando sentiu um peso abrupto despencando sobre si, como uma
bigorna presa em um único fio de náilon que se estoura, que ele despertou
assustado de seu cochilo.

E, claro, a primeira visão de seu dia foi de um Harry seminu sob um robe de
seda branca com cachos molhados e sorrindo sapeca, de modo que a
inocência transmitida pelo seu piscar lento e proposital apagasse o susto que
o deu ao pular em cima de Louis enquanto este estava adormecido.

- Se eu não te amasse, você seria um príncipe morto Harry Edward Styles. -


Tomlinson resmungou, tentando franzir o cenho e parecer zangado mas
falhando miseravelmente porque Harry, honestamente, é a imagem
esculpida pelos deuses com um toque de safadeza e uma pitada a mais de
ousadia... que ele adoraria despertar ao lado todos os dias pela eternidade
deles.

Styles expandiu seu sorriso. Ele estava completamente sobre o menor,


apoiando seu queixo na clavícula de Tomlinson com seu rosto muito
próximo o estudando distraidamente.
- Apesar de você parecer um anjinho dormindo, querido, é muito
preguiçoso também. Se não te acordasse ficaria roncando por mais um par
de horas. - dizia ao que seu dedo indicativo contornava o maxilar de Louis.
- E o dia está esplêndido para desperdiça-lo.

- Espere. - o príncipe de Riverland retesou, em alerta. - Eu perdi o horário


das aulas e do café?

As gramas de verão estavam fixas nos lábios de Tomlinson se movendo ao


que ele pronunciava as palavras, em um vicio particular.

- Sim. Eu já até tomei banho. - Harry afirmou, balançando sua cabeça para
espalhar o aroma de maça verde que seus cabelos exalavam. - Acordei
cedo, fiquei o observando, percebi que parecia um maníaco obcecado,
tomei banho, e me atirei em ti. Este foi o cronograma.

- E em nenhum momento cogitou me despertar para o último dia de aula?! -


Louis grunhiu indignado. Oh, esse maldito garoto!

Styles suspendeu-se pelos cotovelos, pairando com a face em cima da de


Tomlinson com um olhar astuto e insinuante.

- E perder as oportunidades de te manter para mim? - Harry sussurrou,


inspirando fundo o cheiro de Louis com o perfume remanescente da noite
anterior sendo tragado e inflando seus pulmões. - Nunca, nunca. - enfatizou
dedilhando a têmpora delicada do moreno em fascínio. - Não me culpe se
você é irresistível.

E merda Louis só desejava enfiar Harry dentro de um frasco de vidro e


guarda-lo em seu bolso para ama-lo perto e constante.

- Então qual seu plano, Príncipe Edward? Presumo que este sorrisinho
sugestivo em combinação com sua voz mansa façam parte de um propósito,
se bem o conheço.

E, assim, Harry o rendeu com sua arma.


Literalmente.
Ele esfregou seu quadril para baixo deixando Tomlinson ciente do que se
tratava. Duro e firme.

- Eu meio que tomei banho e me limpei com muito sabonete... então, você
sabe, creio que esclareci minha pretenção Príncipe William. - Styles
reverberou, malícia escorrendo dos cantos de seus lábios rosados.

Louis riu de sua ousadia.

- Não é muito cedo para estar excitado? - rebateu com um semblante


descontraído, o instigando carinhosamente.

Harry formou um biquinho adorável com sua boca.

- Eu acordei excitado, na verdade. Muito excitado. - sua sinceridade era


impressionante. E o jovem não hesitava ao atestar tal fato, como se
estivesse se referindo à temperatura e umidade (o que de um modo
distorcido era). - Mas me esforcei para não ser egoísta e te despertar cedo só
para me dar um orgasmo, você parecia satisfeito em seus sonhos.

- Uh, não obteve muito êxito, não é? - Tomlinson provocou, descendo sua
mão entre seus corpos lentamente até que suas digitais desbravassem o
interior quente das coxas de Harry e esbarrassem na superfície sólida.
Styles mordeu o lábio inferior ansioso.

- Foram duas escandalosas masturbações, darling. - o herdeiro de Malta


anunciou, remexendo sua pélvis para sentir qualquer fricção em seu pênis
contra a palma ligeiramente áspera de Tomlinson. - Nenhuma delas me
satisfizeram. Sinceramente acho que nada se aproxima do meu novo
patamar de prazer, não quando tenho um príncipe gostoso e lindo deitado
sobre meu colchão há dez metros de mim.

- Escandalosas? - Louis repetiu, repuxando um sorriso lateral sedutor,


intensificando seu aperto no pau do príncipe, tendo-o com os músculos
tremendo em um breve espasmo.

- Eu gritei seu nome com a água do chuveiro abafando meus gemidos e


caindo sobre meu corpo. Foi como uma poesia dedicada a você. - Harry
afirmou, negando com a cabeça em seguida. - Mas então quem escutou essa
homenagem foi Ami, que resolveu entrar no quarto na exata hora.

- Como sabe que foi Ami se estava no banheiro?

- Ela sempre vem nesse horário para limpar o quarto, Lou. - respondeu,
ondulando-se para baixo com um suspiro longo. - Mas logo saiu, pois
escutei a porta se fechar em questão de segundos. Deve ter se assustado
com meus necessitados 'oh louis' sendo cantarolados entre as paredes.

- Você é impossível. - Tomlinson gralhou, depositando um beijo casto na


ponta do nariz afilado de Styles (uh, ele se sentia um patético romântico).
Queria beija-ló apropriadamente com o encontro molhado de suas línguas
mas era muito higiênico para ceder às tentações. Não seria justo com Harry,
o qual já havia escovado os dentes e ostentava um hálito de menta. - Mas
confesso que estou invejando Ami. Esta dedicação deveria ter sido
presenciada por mim.

Styles entendeu a dica.

Ele era rápido, claro.

Especialmente no que se refere a receber tudo que Louis pudesse oferecê-


lo.

- Nada o impede de assisti-la agora. Amaria proporciona-lo uma reprise. - o


príncipe dos cachos ofegou, tomando impulso para trás até se distanciar de
Louis.

O menor tinha sua visão involuntariamente capturada pela cena de Harry se


estendendo sobre ele, colocando-se de pé em cima de Louis e, sem pressa
alguma, escorregando o robe para fora.

A seda deslizava por seu ombro, desnudando sua pele pálida e leitosa
graciosamente, centímetro por centímetro, como se a acariciasse no
processo e desflorasse as pétalas de um jasmin perfumado na primavera,
expondo o miolo.
Harry era intenso.

Era intenso enquanto arrastava o tecido, mantendo Louis deitado abaixo de


si, entre suas pernas, com uma visão periférica e lúbrica do espetáculo,
encarando-o direto e ávido.

Era intenso enquanto desfazia o nó que prendia seu roupão de luxo fechado,
descobrindo seus mamilos eriçados.

Era intenso enquanto, por fim, atirava a peça para longe, exibindo-se
despido, com seu perfume impregnado de maçãs verdes e o membro
pulsante e vermelho para cima.

Ele piscou com somente um dos olhos, em seu estado apaixonado e


atrevido.

- Permita-me mostra-lo como seu nome soa poético vibrando de minha


garganta. Permita-me gritar para o universo que você é o melhor no que faz.
- Styles sibilou, levando Louis à iminência da loucura.

Tomlinson rapidamente abandonou a sonolência e se sentou ajoelhado sobre


suas panturrilhas, de frente para o que seria um Harry nu e sua ereção
gotejante.

- Permita-me prova-lo, princesa. - Louis reproduziu, num tom educado que


ele usaria para ocasiões formais mas que soou sexy e quente e inconcebível
de uma maneira para Harry que o príncipe não pôde evitar de gemer em
antecipação.

- Merda, sim, sim, eu imploro.

Tomlinson não iria tortura-lo.

Seu menino evitou acorda-lo antes mesmo que estivesse sofrendo com suas
próprias necessidades.
Ele se aliviou cantando o nome de Louis, pensando nele, ansiando ele.

E agora Louis o recompensaria tudo.


Ele não tinha o costume de chupar pênis, para ser sincero. Chupou os de
poucos príncipes em sua adolescência.

Mas, olhando tão próximo, Harry era inteiramente arte.

Inclusive seu membro.

E não só na conotação sexual da coisa, mas arte de verdade, desde as veias


emergindo e sobressaindo entre a pele fina, para toda a extensão longa e
definida de suas curvas e mediações.

Louis amava arte.


E ele amava este pau.

Aproximou seu rosto o bastante até que sua expiração estivesse batendo
contra a cabeça do membro excitado. Estendeu a língua para fora porque
desejou experimentá-lo e, para tanto, arrastou-a desde a base para o topo,
ouvindo Harry ofegar, e, enfim, repousar a ponta da língua na fenda.

Tomlinson iniciou uma série de movimentos demorados e insistentes


circulando a fenda.

Harry choramingou.
Céus, Louis estava cutucando sua região mega sensível como se saboreasse
a droga de um pirulito, como se sua ação não incendiasse o maior em um
nível que se tornaria insuportável em algum ponto.

Após decidir mentalmente ter tido o suficiente, Louis recuperou-se da breve


tortura-sem-intenção e abocanhou a cabeça, envolvendo-a com seus lábios e
enfiando-a para dentro da cavidade de sua boca, podendo suga-la com a
força exata para que Styles engasgasse de supresa, lamuriando algo sem
nexo.

Quanto mais ele provava, mais se viciava.


Desceu mais milímetros para abrigar a maior quantidade que conseguisse
de Harry, sentindo seu pau duro e pulsativo contra as paredes de sua
bochecha.
E, quando Styles soluçou um 'mais rápido, Lou' esganiçado, ele doou seu
máximo.

Segurou a base com as pontas de seus dedos, e começou a chupa-ló


apropriadamente, subindo e descendo seus lábios pela extensão de seu pau,
depressa e determinado, empurrando com facilidade o príncipe para uma
atmosfera de deleite e gemidos, aplicando uma sucção precisa conforme
determinou o ritmo.

Com seu pênis constantemente estimulado, Harry se viu trêmulo,


desesperado. Fechou suas pálpebras e pendeu a cabeça para trás, apreciando
tudo, sentindo tudo, sentindo suas células vivas, o prazer líquido, o fogo o
queimando.

Ele prendeu cegamente um punhado dos fios lisos de Louis em suas duas
mãos, precisando segurar em alguma coisa antes que perdesse o limite,
buscando por instinto apoio.

- Céus, L-louis. - Styles soluçou ao que Tomlinson engoliu-o ainda mais,


seu nariz próximo de encostar no abdômen de Harry. - Oh!

E se Louis pudesse congelar sua existência em alguns episódios este estaria


na lista de arquivos, porque porra, era celestial flagrar a pessoa pela qual se
apaixonara perdidamente entregue, com o pescoço curvado como se não
fosse suportar, ofertando-o os pedaços de si carnais e simbólicos.

Pois... aquilo não era e nunca se resumiria a apenas um ato sexual. Aquilo
era artístico, inspirador e bonito.

Os gemidos agudos que Harry escapava sem pudor reafirmavam que ele se
sentia a vontade com Louis. A vontade para expor toda sua submissão e sua
depravação. Todos os anúncios de que ele estava, naquele momento,
completo em suas esquinas e curvas, transbordando-se e emitindo o que
havia em seu peito.

A intensidade das sensações, dos músculos de suas coxas se contraindo,


como se fosse esmagador e simultaneamente libertador para que alcançasse
o céu.
- Comande-me, amor. - Louis decretou, aceitando que Harry estava
segurando-o pelos cabelos e incentivando-o a determinar as direções.

Harry abriu devagar os olhos, curvando o rosto para baixo até encontrar as
lagoas azuis.

- T-tem certeza? E-Eu acho melhor não, você sabe que sou descontrolado e
desesperado, posso sufoca-lo.

Tomlinson sorriu um pouco emocionado para como Styles se importava e se


preocupava.

- Comande-me. - ele insistiu, inspirando em preparação para o que viria.

Louis poderia materializar uma dezenas de previsões em que Harry iniciaria


um ritmo de vai e vem rápido e profundo almejando o orgasmo, e que
Tomlinson acabaria engasgando vez ou outra, tossindo para se recuperar.

Mas Styles se limitou a guia-lo com uma lentidão calculada.

Se Louis pensou que era possível chupar um pau de um jeito apaixonado


antes, ele estava comprovando agora.

Só... só era genuíno e caloroso como ele chupava-o para baixo e para cima
de seu pênis demorado e firme, fitando-o nesse contato visual inquebrável,
com suas bochechas fundas sugando-o o quanto julgava humanamente
possível, até que sua língua estivesse rodopiando pela cabeça do membro,
sentindo-a derreter-se em pré-gozo.

Harry tinha suas orbes marejadas nas bordas, desabafando choramingos


manhosos ao que sua respiração mantinha-se engatada e sua mente muito
nublada.

Louis removeu-o da boca por um momento, com uma ideia acesa, e apertou
a digital de seu indicador na fenda (Harry não teria uma reação diferente de
agarrar-se ainda mais desesperado nos fios de Tomlinson desde que eram
seu único suporte).

Melou-a inteira e desceu a mão.


Styles entendeu o que aquilo denotava. Ele presumiu que estaria acabado
dentro de poucos segundos.

Pois... Louis enfiou, sem piedade alguma, seu dedo para dentro de Harry,
sentindo sua entrada contrair pela invasão e suas paredes internas sedosas
espremerem-o.

Não satisfeito ele retomou o trabalho de sua boca, retornando a chupa-lo


avidamente, reproduzindo estalos molhados, enquanto seu indicador fodia o
príncipe na mesma sincronia.

Harry começou a derramar suas lágrimas, transformando-se em uma


bagunça de "Louis, lou, meu Lou" sem sequer ter forças para controla-lo
mais com suas mãos.

Tomlinson abocanhava sua ereção, estimulando-a, lambendo-a e metia em


seu interior, preenchendo-o.

Harry não aguentaria.

Ele iria gozar.

Ou então iria cair, porque estava tremendo inteiro e sem sustenção alguma.

- Lou, Lou, minhas pernas estão fracas, espere-me deitar, por favor. -
suplicou sem fôlego, muito bambo - N-não sou resistente n-no que... hmf...
no que se condiz à prazer.

Tomlinson parou de suga-lo e mete-lo, avaliando a frenesi e exaustão de seu


garoto, os cachos que já estavam úmidos pelo banho ficaram encharcados
de suor , e ele se curvava com a respiração irregular, aparentando
desnorteado.

Louis puxou-o suavemente pelos pulsos, guiando-o para que ele se


ajoelhasse na cama, sentando-se em suas próprias panturrilhas, e, por fim,
estivesse alinhado à altura de Tomlinson

- Quero que fique por cima hoje, Harry.


Styles arregalou seus olhos, muito surpreso. Porque... okay, ele também
adorava ir por cima mas nem cogitava isso com o príncipe de Riverland que
exalava uma energia de dominância.

- O quê?

- Quero que você perceba que tem o controle, tem o controle da sua vida, de
tudo. Quero que perceba que eu sou seu, inteiramente seu, em todas as
situações possíveis. Você exerce o poder que desejar, tem escolhas também,
e isso inclui ser passivo ou ativo.

- Oh, meu Deus, essa foi a declaração de uma posição sexual mais pura e
bela que alguém já fez por mim. - Harry sussurrou, emocionado e rouco,
inclinando-se para beijar o queixo de Louis com veneração. - Obrigado,
Lou.

Styles mordeu o interior da bochecha em ansiedade pois... pois ele estava


nervoso para caralho.
E, okay, não é como se esta fosse ser sua primeira vez fodendo alguém (ele
tinha uma boa experiência no assunto) no entanto era a primeira vez
fodendo Louis, Louis o qual exibe uma maestria exímia e habilidosa para
arremeter e levá-lo ao ápice.

Harry não acreditava ser bom o bastante, não ao se comparar com a


dominação paradisíaca do outro.

- Lou... não sei se é uma boa ideia. - revelou, muito envergonhado para
encara-lo diretamente - E se... e se eu não conseguir? E se eu te ferir? Não
quero que sinta dor.

O que Louis escutou foi, de fato, uma porção de palavras inundadas em


insegurança.

- Amor, eu poderia gozar só de te imaginar se masturbando em um banho,


qualquer coisa que fizer irá me agradar. Fiquei tranquilo. - ele entonou,
lutando para achar os olhos tímidos e hesitantes de Harry e sorrindo
reconfortante.
- Okay, okay. - Styles suspirou. - Você tem um traseiro esplêndido, eu
sempre tive curiosidade de testá-lo - confessou, sendo aquele atrevido nato
e irremediável.

- Esta é a chance. - Louis piscou insinuante, e Harry não se aguentou.

O futuro rei de Malta passou a empurrar Louis pelos ombros para trás, com
calma, conduzindo-o até que ele estivesse deitado no colchão.
Com uma expectativa irrefreável ele deslizou em um só movimento a blusa
de linho lisa pelo peitoral de Tomlinson, despindo seu abdômen.

- Impecável. - Harry sibilou para si próprio, um pouco perplexo nessa


admiração particular.

Delicado e cuidadosamente ele se estendeu por cima de Louis, pairando


sobre ele.

- Quem disse que princesas não podem foder nunca conheceu a minha. -
Tomlinson proferiu.

- Queria ser versátil o suficiente para meter em você enquanto cavalgo em


seu pau. - Styles revelou, arrastando a calça e peça íntima do príncipe para
seus tornozelos com a boca imediatamente salivando com a visão do
membro ereto e curvado e apetitoso.

- Por que não usa algum de seus brinquedos? Aposto que possua ao menos
um. - Louis adivinhou (seu garoto parecia ser o tipo que faria um cômodo
em Riverland só para guarda-los), tendo Harry sorrindo em realização com
sua sugestão.

- Oh, você é tão inteligente meu príncipe! - elogiou antes de se apressar e


sobressaltar da cama, correndo para dentro de seus armários por onde sumiu
durante poucos segundos. Ao reaparecer trouxe consigo um objeto oval e
azul claro, com o formato do órgão genital masculino, e possivelmente
confeccionado de um plástico sintético. - Deste modo poderei fode-lo
imaginando que também estou sendo fodido. Quão linda é esta ideia?!
Ele soava verdadeiramente entusiasmado, como uma criança na manhã de
Natal perto de receber um presente (em uma visão muito distorcida da
coisa).

Styles pulou animadamente para o colchão, repousando de novo em cima


de Louis e o estendendo o brinquedo para que o príncipe introduzisse nele.

- Você tem muito fogo ardendo aí. - o herdeiro de Riverland comentou,


segurando o objeto maciço, estudando-o intrigado.

- Fui acostumado a me alimentar do prazer contínuo desde muito cedo. -


Harry confessou, subitamente com um semblante decaído. - O sexo é o
consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança. Sempre encontrei
nele uma grande virtude consoladora, e nada adoçava mais as minhas
aflições amargas do que distrair-me gozando.

- Eu não uso-o para sexo. Nunca irei usá-lo para sexo. - Louis garantiu,
resvalando seu nariz pelo o de Harry. - Eu o uso para amar, para amor, para
figurações bonitas das suas fraquezas, de seus expoentes. - foi guiando o
artefato cegamente para baixo, com Harry equilibrado de quatro sobre ele
com a bunda aberta o bastante para recebê-lo. - Eu gosto de te assistir em
seus ápices porque você parece feliz e realizado. Isso é tudo que eu desejo:
sua felicidade. - aproveitou o lapso de paralisação do maior e introduziu a
extremidade do brinquedo em sua entrada.

Styles piscava emocionado, sintetizando mentalmente o quão incrível Louis


era recitando-o promessas enquanto o sol do verão europeu pincelava uma
luminosidade perfeita sobre sua pele. Ele mal teve chance de responde-lo
antes de sentir-se sendo penetrado, invadido pelo artigo erótico com um
deleite confortável espalhando-se e aquecendo-o.

- Hmf... isso. - soprou conforme o plug sintético alargava suas paredes.

Tomlinson meteu-o quase todo, parando somente quando Harry soltou um


gritinho surpreso - o que significava que havia cutucado sua próstata.
E ele não surraria-a completamente porque sabia que Styles ejacularia
muito rápido, portanto largou-o encostando nela, gostoso o bastante para
que seu príncipe se mantivesse ofegante e espasmando.
Harry tragou o máximo de ar para seus pulmões, almejando recuperar
algum raciocínio coerente para cumprir sua parte.

- Certo, agora e-eu vou... eu vou penetra-lo, Lou. Okay? Isso está okay para
você ainda?

Tomlinson assentiu sorrindo.

- Não fique nervoso, paixão. - pediu, notando como Harry mordia o lábio
inferior um pouco hesitante.

- Eu sei, eu sei... só não... só não quero feri-lo. Eu.. eu não me perdoaria se


te machucasse.

Louis revirou os olhos com carinho, puxando Styles para abaixar-se até que
estivesse deitado de bruços sobre ele.

- Eu não sou de vidro, Harry. - entonou, decidindo provocá-lo ao dedilhar a


extremidade do objeto que ficara fora de sua bunda ao pressiona-lo mais
para dentro, apertando seu ponto sensível e o levando a gemer
descompensado. - Se você não se apressar eu o farei gozar com essa coisa
que você abriga no seu traseiro e jamais o oferecei o meu de novo, Príncipe
Edward.

Styles sorriu presunçoso.

- É melhor não me testar assim. Estou usando toda a força de vontade que
tenho para não afundar-me inteiro em você de uma vez só. - alertou-o.

- Afunde-se. - Louis rebateu em desafio, e então aquilo começou.

Harry orientou seu pênis - que antes estava repousado junto com o de
Tomlinson (a vida é linda) - para o orifício do príncipe preso embaixo de si.

Ao contrário do que prometera, não ganhara nenhum pingo de coragem


para ser bruto ou rápido. Ele quis ir lento. Quis apreciar o momento
demorado e especial, quis certificar-se de que Louis estava bem.
Introduziu a cabeça e esperou a feição de incômodo em Tomlinson ir
embora. E assim gradualmente enfiou-se milímetro por milímetro, com o
coração disparado e uma adoração pura.

Ele próprio não podia evitar seus choramingos ao ter as paredes quentes e
muito apertadas de Louis fazendo pressão contra seu membro, acolhendo-o
em um estímulo fodidamente delicioso e molhado.
À proporção que havia adentrado nele por inteiro, com suas bolas
pressionadas no traseiro do menor, Harry se interrompeu.

Avaliou o rosto de Louis, que mantinha os olhos fechados calmamente e o


nariz um pouco franzido, como se concentrasse para superar a pouca dor.

- Ei, ei, eu estou te ferindo? - Styles questionou muito preocupado.

Tomlinson afastou suas pálpebras, revelando as lagoas azuis limpas e claras.

- Não. Só estou me acostumando com a sensação, faziam anos que eu não


era passivo, e... você é muito bem dotado, amor.

Harry riu.

- Você acabou de elogiar o tamanho do meu pau?

- Talvez. - Louis respondeu seguindo de uma curta risada. - Agora foda-me


logo, quero ver o que ele é capaz de fazer.

E Harry não precisou de um segundo pedido para obedecê-lo.


Entusiasmadamente removeu-se completamente e colocou-se para dentro,
escutando Tomlinson grunhir e se contorcer um pouco.

Ele repetiu, e repetiu, instintivamente adquirindo um ritmo mais rápido e


firme, sendo dominado pelas ondas dilacerantes de prazer ao ter seu pau
constantemente sendo friccionado, e sua próstata incendiada pelo plug.

Em uma das investidas Tomlinson ofegou, grunhindo em alto e bom som


'Jesus!', o que deixou Harry orgulhoso por ter encontrado seu nervo
especial.
- Não, "Príncipe Edward". - Styles o corrigiu, nunca abandonando essa sua
ousadia sagaz e seu humor corrompido.

- Vá com mais força ali. - Louis suplicou, inspirando pesado.

E, claro que Harry foi. Com toda sua energia, toda sua intensidade, toda a
sua paixão. Queimando-a como querosene em todos os instantes que o
preenchia, que se fundiam e se amavam em gestos.

Styles rapidamente perdeu a cabeça, iniciando uma série de 'Louis'


desesperado.

E era uma grande merda ser muito fraco no quesito sexo pois ele tinha o
dever de só vir depois que Tomlinson viesse, Louis sempre fazia isso por
ele e quão idiota Harry se sentiria se não aguentasse?

E ele estava realmente se esforçando para retardar os movimentos pois tudo


aquilo estava sendo demais, tudo estava o conduzindo para o delírio muito
depressa, toda essa efervescência em suas zonas mais receptíveis estava
criando um aperto irrefreável em seu abdômen, conduzindo-o para a beira
de seu ápice.

Foi enquanto materializava que precisava confrontar a vontade de ejacular,


que Louis fodeu toda a sua luta.
Tomlinson simplesmente começou a atiçar impiedosamente seus mamilos
como se Harry já não estivesse afogado o suficiente no prazer, pressionando
suas digitais circularmente nas bolinhas eriçadas de seus mamilos.

E... como alguém esperaria que ele pudesse resistir quando há um objeto
engolido por seu traseiro, seu pau sumindo e reaparecendo na entrada de
Louis e seus pequenos protótipos de seios enviando-o choques de satisfação
insuportáveis?!

- Céus Lou, por f-favor. - ele chorou, suas pálpebras lançando lágrimas. - n-
não... oh... não continue espremendo-os o-oh- - hmf - ou eu vou gozar.

- Goze dentro de mim. - Louis sussurrou determinado. E até nessas


circunstâncias ele exalava uma atmosfera dominadora.
- M-mas e q-quanto a você? Eu... eu, hm, tenho que te-

Ele não pôde concluir a frase.


Louis habilidosamente torceu seu mamilo entre seus dedos e com a mão
livre esmurrou o plug para surrar totalmente sua próstata.

Harry se contorceu em um grito desesperado,


acompanhado de muitos 'príncipe, meu príncipe, Lou, Louiss', sendo
inflamado de desejo, fechando seus olhos como se não pudesse suportar,
seus músculos se tensionando e seus ombros tremendo.

Tomlinson ficou estimulando seu nervo com aquele artefato por mais alguns
segundos, prolongando o orgasmo do príncipe ao que este derramava jatos
grossos e espessos de esperma no interior de Louis.

Louis só parou de alimentar seu prazer quando ele se tornou de fato


sufocante e Harry soluçou pela sensibilidade.

Tardou cerca de três minutos para que Styles retomasse seu fôlego, largado
em exaustão em cima de Louis com seu rosto enterrado no pescoço do
menor.

- Eu sinto muito, eu sinto muito mesmo por ter gozado antes, fui um estúpi-

- Shhh. - Tomlinson o interrompeu, afagando suas costas suadas (seu antigo


eu franziria o nariz porque ele costumava ser um pouco nojento mas) - Essa
foi a melhor poesia dedicada, ou melhor, cantarolada que alguém teria feito
para mim.

Harry de repente se reergueu pelos cotovelos, encarando-o com uma


expressão afiada.

- Talvez você devesse assina-la então. Coloque sua rubrica em mim. -


propôs.

- O que quer dizer com isso?

Styles não verbalizou uma resposta, ao invés, arqueou-se para trás até estar
sentado de joelhos perto de Louis.
Ainda estabelecendo contato visual, abriu sua boca em aguardo, um
minúsculo sorriso sujo afundando uma de suas covinhas.

Tomlinson prendeu a respiração e, hipnotizado, não teve outra escolha


senão se pôr de pé em sua frente.

- Vamos lá, dê-me meu remédio, Lou. - Harry persuadiu, esticando a língua
para fora.

Louis concordou abobado, fechando o punho em torno do próprio pau e


iniciando um conjunto de vai e vem rápido e preciso, com a fenda alinhada
na altura do rosto de Styles.

Ele sabia que estaria muito próximo se vir. Primeiro porque Harry havia o
fodido e o levado ao céu, e depois porque a porra do príncipe estava
ajoelhado esperando engolir cada gota sua.

- Porra, você vai me enlouquecer. - Louis sibilou fracamente, em um


gemido sôfrego.

Styles levou seus dedos para rodearem suas bolas e este foi seu fim.

Tomlinson grunhiu com a mandíbula trincada, seus músculos das pernas


paralisados e seu pênis lançando jatos quentes e longos de esperma.

Com uma pontaria quase milagrosa ele fez com que seu gozo fosse quase
por inteiro para a língua e lábios de Harry, pintando-as de branco, enchendo
sua boca com o que se tornou a imagem mais lasciva que ele já presenciou
alguma vez na vida.

Seu orgasmo o embalou por bons minutos até que a adrenalina diminuísse,
seus batimentos cardíacos tentassem se normalizar e a nuvem de leveza
dissipasse em sua mente.

Para então Louis piscar mais lúcido, totalmente deslumbrado com a forma
que Harry ainda o fitava, o prazer branco e denso escorrendo dos cantos dos
lábios dele, escorrendo em finas faixas por seu queixo.

E puta que pariu.


Harry parecia guarnecido de depravação, enaltecido pela luxúria e
eternizado pela libertinagem.

Louis soube naquele instante que planejaria um pedido de casamento o


quanto antes.

****

Madrugada anterior:

- Preciso confessar algo terrível que fiz.

Liam havia dito antes de despejar tudo que pretendi, com Zayn o olhando
atordoado, pego desprevenido para tais novas maneiras de passar a
madrugada.

Escutar o pecado de Liam era a pior delas.

- Eu.. eu não ninguém para julga-lo, Vossa Alteza. Sinto muito. - Malik
disse com o semblante sério, esperando que ele fosse embora. - Não
entendo por que está me revelando isso agora.

- Eu não podia esconder mais. Isso... isso vai prejudicar a vida de uma outra
pessoa, está prejudicando.

Zayn escolheu não se envolver nessa história, mas então Liam o balançou
pelos ombros desesperado.

- Por favor, conforte-me.

- Você está bêbado?! - Malik questionou, notando seus olhos vermelhos.

- Um pouco, mas esta não é a questão. Fale algo. Fale que fui um idiota
impulsivo, fale alguma coisa Zayn.

- O que quer que eu diga?!

- Qualquer merda! Julgue-me ou comente a respeito, eu não sei. - Payne


rebateu, quase berrando.
- Você sentenciou a vida de alguém. Você foi um hipócrita, eu estou tão
chateado. - Malik admitiu, inspirando trêmulo porque sua ansiedade estava
pinicando seu estômago e ele poderia sufocar.

- C-como... como eu mudo isso?!

- Você não muda. O que está feito, está feito. - Zayn soprou, fechando as
pálpebras com força. - Vive julgando Harry pela irresponsabilidade dele, e
não possui qualquer moral para tal.

- E agora? - Liam indagou, o medo transbordando de seus poros.

- Agora você vai ter que conviver com as escolhas erradas que fez, sabendo
que isso afetou uma pessoa inocente.

**

Todos estavam no Salão Oeste. Tanto na sexta quanto no sábado haveriam


os banquetes finais em que eles seguiriam a conduta normal com suas
vestimentas elegantes, os sorrisos educados e um cardápio interminável
para o jantar.

Harry e Louis se atrasaram dez minutos - Harry era um ninfomaníaco, isso


era fato - e chegaram quando os demais príncipes já estavam acomodados
em torno da extensa mesa de mogno com adornos de ouro.

Eles, em geral, não eram idiotas para não perceberem que os príncipes
Edward e William estavam mantendo algum tipo de relação, contudo, todas
as hipóteses foram concretizadas quando os dois chegaram no arco de
entrada do salão de mãos dadas.

E, bem, essa tinha sido uma ideia de Louis que se recordou do episódio em
que repreendeu Harry por ter exposto indevidamente os dois para Liam
Payne, e que, sem intenção, acabou por deixar Styles inseguro quanto a
revelar ou não o que eles possuíam.

Nesta noite, portanto, entre estocar um último golpe contra a próstata de


Harry e eles se acalmarem do estado pós-orgasmo, Louis segredou em seu
ouvido algo como 'Vamos descer juntos".

E Styles o fitou tão surpreso e profundo que foi bonito o brilho iluminando
suas gramas de verão.

- Juntos... juntos?

Louis riu com carinho.

- Se é o que você também quer... juntos juntos.

Harry sobressaltou animado, igual um filhote de cachorrinho hiperativo.

- Caralho é o que eu mais quero! Assim eles saberão que nós nos
pertencemos, e o Marley não irá mais tentar rouba-lo de mim.

Tomlinson revirou os olhos.

- Ele nunca tentou, amor. Você só foi maldoso gratuitamente.

E Harry revirou os olhos sorrindo perverso em seguida.

- E você também o desejou, tenho certeza.

- Nunca!

- Sim.

- Pare de me provocar. - Louis avisou, indo para Harry e o empurrando para


que o garoto perdesse o equilíbrio e caísse no colchão.

Tomlinson subiu nele.

- Ou o que? - Styles desafiou. E, talvez ele não devesse porque Louis


imediatamente começou a cutucar sua cintura enquanto o prendia embaixo
de si e Styles não teve escapatória senão gargalhar sufocado.

- Pare com isso, idiota! - Harry implorou, se contorcendo sob Tomlinson, o


qual o provocava cócegas impetuosamente. - E-eu o odeio!
Louis se interrompeu, aproximando sua face da de Harry, que estava
vermelha e transpirava suor.
Ambos mantinham sorrisos ofegantes congelados, se encarando divertidos
com seus narizes se tocando e os olhos se amando.

E eles perceberam que seriam esse tipo de casal.

***

Agora, de mãos dadas (com um Harry subitamente tímido demais se


escondendo atrás de Louis enquanto eram assistidos por uma multidão
inteira com incredulidade em suas feições) a realidade parecia atingi-los.

E Styles estava com vergonha por Louis, pois ele sabia que todos julgariam
uma barbaridade que o austero e soberbo príncipe de Riverlad se
relacionasse com aquele vagabundo que repetiu seis temporadas e vestia
coisas muito chamativas para o padrão.

- Lou. - Styles sussurrou, encolhendo-se de insegurança. - Você não precisa-

- Será que está acontecendo algum tipo de espetáculo interessante para


todos vocês estarem encarando? - Príncipe William reverberou alto e
destemido, confrontando-os com sua voz escoando em ecos pelo Salão
silencioso.

Ninguém foi corajoso o bastante ou se predispôs a enfrenta-lo.

- Foi o que pensei. - O príncipe adicionou diante a covardia dos demais,


puxando Harry para que ele saísse de trás dele.

Styles tropeçou e relutantemente se posicionou ao seu lado.

- Harry amor, você não fica atrás de mim, nunca. Nem de mim nem de
ninguém. - falou para o outro, fitando-o sério.

Harry concordou com um aceno e sorriu pequeno.

Eles jantaram de mãos dadas.


E não deram satisfação extra para ninguém.
***

Ao final do banquete, quando os jovens já de estômagos estufados se


retiravam para seus aposentos, Don Luminiére interveio no trajeto de Louis
e Harry, solicitando a presença de ambos em seu escritório.

Eles estavam assustados, porque bem... faltavam dois dias para a coroação,
não era possível que fossem ganhar qualquer punição logo agora.

- Perdoe-me a deselegância, mas, Lulu, por que estamos aqui? O que


fizemos?

O cavalheiro, ainda com sua típica expressão neutra, o olhou em silêncio,


prosseguindo nesse mistério por dois minutos tensos até... até desmanchar-
se num sorriso.

O que foi assombroso para eles, honestamente.

- Vim comunica-lo pessoalmente, Príncipe Edward, que você finalmente


parece ter amadurecido. Estou parabenizando-o por vossa conquista, é
ótimo que nesta temporada tenha se comportado.

O queixo de Styles caiu para o chão.

- O quê?!

- Ao contrário do que acredita, eu não possuo motivos para despreza-lo.


Venho torcendo anualmente para que seja aprovado e não apronte nada que
o tire a coroa. Posso aparentar-me rigoroso e reservado, mas sempre me
simpatizei com vossa petulância desmedida e vosso sarcasmo .

Harry deveria ter pensado em um agradecimento formal e racional que


representasse o grande mérito que Don Luminiére estava o concedendo mas
Harry é Harry e ele não faria diferente do que avançar em 'Lulu' com um
abraço forte e estapafúrdico sendo o extravagante impulsivo que era.

- Obrigado, Lulu, muito obrigado!


Don Luminiére torceu o nariz para esta... demonstração de afeto e bateu três
tapinhas nas costas de Styles para que ele se desvencilhasse de si. Havia
ainda aquele sorriso em sua boca, no entanto.

- Seu exibicionismo espontâneo fará falta neste Palácio. - proferiu divertido.

- Não chore de saudades, saiba que sempre que quiser poderá nos visitar em
Riverland!

O cavalheiro alternou seu olhar de Harry para Louis, percebendo facilmente


a referência do reino que o príncipe fez.

- Agradeço-o vossa Alteza, você ajudou o Príncipe Edward a encontrar o


caminho.

Tomlinson fitou Styles.

- Creio que ele quem me fez encontrar o meu.

***

No início da noite cada um foi para seu aposento, tomariam banho e quem
sabe se encontrariam depois. Não definiram previamente o que ocorreria,
mas era ligeiramente óbvio.

Assim que Louis finalizou sua ducha e adentrou em seu quarto, notou uma
cartinha em cima do colchão de sua cama.

Apanhou com um sorriso, prevendo de quem pertencia.

"Encontre-me na dispensa."

Estava escrito com uma letra mais rebuscada que Tomlinson deduziu ser
uma tentativa de Harry de soar mais culto.

Apressou-se para se vestir e ir em busca do príncipe.


(Harry meio que amava ter relações em lugares exóticos, então bem...)
Ao chegar no local esperado, com seu coração acelerado e frases
insinuantes prontas em sua língua, ele fechou a porta, tateando a parede
para achar o interruptor de luz.

Antes de sequer ter a chance de acendê-la, todavia, sentiu uma pancada em


sua nuca. E tudo ficou mais escuro.

***

Styles cantarolava alguma melodia sem sentido com um cardápio de


possibilidades criativas que ele adoraria executar com Louis rondando a sua
cabeça.

Entre rodopiar como uma bailarina e passar gloss em seus lápis ele reparou
em um papel depositado sobre um dos aparadores de mármore.

Suspirou entusiasmado com a ansiedade de ser Seu Lou o remetente


entretanto sua animação logo se esvaiu ao ler "Estou com Louis. Você
perdeu, Harry".

***

Conforme o estalo no fundo de seu cérebro atenuou Tomlinson começou a


recobrar a consciência.

As margens doloridas e asfixiantes se transformaram em uma atmosfera


suportável e a claridade batendo em suas pálpebras o trouxe gradualmente
para a realidade.

A realidade em que ele notou sua boca estar limitada por uma mordaça e
todos os seus membros amarrados nas extremidades de uma cadeira.

Louis piscou desnorteado, situando-se.

- Sinto muito, Príncipe. Não era para estar envolvido nisso, sei que é
inocente mas se esta é a única saída para que eu tenha êxito em minha
vingança, então terei que inclui-lo.

Caralho.
- Você é uma pessoa boa, não merece esta merda. Mas.. mas precisa
perceber que Harry foi um monstro, e ele pagará pelo seu pecado.

Tomlinson prendeu a respiração.


Pois... pois este tempo inteiro Styles tinha razão.

Harry estava certo.

Harry. Estava. Certo.

A garota de nove anos que ele ordenou assassinarem não morreu.

A garota de nove anos que seria princesa caso Verônica convencesse o rei
estava viva.

A garota de nove anos supostamente desaparecida reapareceu. E ela queria


vingança.

Carolina.

- Eu estou tão desapontado com você, Lolo.

***

notas da autora: Então.... quem imaginou?

Próximo capítulo será o final, imagino que ficarão chocados.


Não percam!

PS: publiquei uma nova fanfic, ela será curta (10 caps), chama-se Between
Your Streets, se puderem ler. Obrigada!

Amo todos.
Xx
How to Wear a Crown

(notas da autora: Ouçam o capítulo inteiro com essa melodia de fundo, eu


juro que a experiência será incrível.

E assistam o trailer da fanfic anexado no prólogo dela, ajuda a imaginar


esse capítulo)

Episode: How to Wear a Crown

A ideia de bem e mal é frágil porque nada os separa.


Um faz o outro.
Você tem perspectivas do que é benévolo para o que é tóxico.

- Eu estou tão desapontado com você, Lolo. - Tomlinson reproduziu, seu


peito se contraindo em uma dor de... de traição.

Puta merda.

- Contudo, não surpreso. - ele adicionou.

A garota, em sua costumeira veste de serviçal, parada há alguns metros dele


nessa sala escura e esquecida do Palácio que Tomlinson nunca esteve, o
encarou perplexa.

- Por que não está surpreso?

Lorena se aproximou de sua figura amarrada na cadeira, sentando-se em


suas próprias pernas no chão como se estivesse disposta a uma conversa
longa.

- Porque eu sempre me atentei ao provérbio chinês o qual afirma que você


precisa transparecer aquilo que não quer que os outros saibam sobre você.
Quanto mais debaixo de seus narizes estiver, menos enxergarão. -
Tomlinson confessou, mantendo sua feição mais neutra por ora. - Eu só não
queria acreditar nos meus instintos.

Lorena desviou o olhar, visivelmente sem jeito.

- Você é parecida com Harry fisicamente, e até em sua personalidade. Você


sempre expôs sua aversão a ele de uma maneira discreta. E, principalmente,
justo no episódio de envenenamento de Niall veio dizer-me que estava se
relacionando com um empregado que trabalha na cozinha, Leroy, certo?

As pontas soltas foram se conectando.


Céus.

- Era só tão conveniente você estar atrelada a um cozinheiro, e logo então a


um guarda noturno. Era só tão conveniente que você me esperasse de
madrugada, escorada na janela, varias vezes que eu o encontrei nos fins de
noite. Você se mantinha próxima-

- Nunca foi na intenção de atingi-lo. - a criada interveio, sobrepondo sua


declaração quase afobadamente. Seus olhos verdes grandes pareciam
úmidos e no final do dia você entende que todos são humanos, pessoas más
são apenas aquelas que pegaram caminhos errados e se perderam de si
mesmas. - Eu tentei te proteger.

Louis abaixou o rosto, negando desacreditado em um aceno.

- Logo que você chegou eu rapidamente me apeguei em ti, o vi como um


amigo. - ela declarou, encolhendo-se. - Mas... mas o karma é terrível e
Harry começou a se aproximar de você muito cedo.

- Muito cedo?

- Eu captei a forma admirada que ele o olhava desde o primeiro jantar. Eu


me esgueirava nos cantos, estudava-o, estudava como aquele maldito ficou
obcecado por sua impassibilidade. — a garota suspirou. — Eu tentei te
afastar de Harry, e quando não consegui me agarrei nos planos
improvisados. Eu o faria repetir a temporada e ano que vem concluiria
minha vingança, quando você já não estivesse mais aqui. Eu adiaria um
outro ano só para não comprometê-lo, Louis, porque sabia que este seria o
exato desfecho da história se falhasse.

- Lore-

- E falhei... pois Harry conseguiu se safar desta temporada, das armadilhas,


e eu não terei alternativa senão me vingar agora. — admitiu. Ela esfregava
as palmas de suas mãos para seca-las em sua saia, visivelmente nervosa. —
Você o salvou, mas também se transformou na fraqueza dele. E, merda, eu
serei obrigada a usa-lo para isso.

Era estranho.
Afinal ela... ela parecia a mesma menina - energética e atrapalhada - de
sempre.

Não era como nos padrões das estórias em que depois que o personagem
bom se revela um vilão ele de repente se torna mais corrompido, com uma
aparência transtornada e uma risada maléfica.

Porque na vida real o vilão é um humano também.

E Louis se odiava por não ter forças para odiá-la.

Ela não era a antagonista de um longo enredo.


Ela ainda era Lorena. A criada dos dezesseis anos que tinha uma língua
solta, cabelos cacheados, nariz pequeno e planos secretos sendo executados.

- Como... como chegou a isso? - Louis interrogou, enfraquecido, temeroso.


Ele não queria adentrar mais neste diálogo, ele não queria se recordar do
pecado de Styles e como um erro fatal estava gerando um outro.

Merda. Só... merda.

Lorena fechou a expressão para uma reflexiva, mergulhando-se nas suas


memórias, no que costumava ser sua antiga realidade.

Algumas madeixas mais ondulados escapavam de seu coque e cobriam sua


testa ao que seu olhar se prendia fixa e distraidamente em qualquer fio de
devaneio, seu corpo se tensionando e a raiva se apossando de si.

- Eu... eu era só uma criança. Eu era uma criança que gostava de subir em
árvores e estava ansiosa porque faria dez anos no próximo mês. Em um
momento eu pensava sobre qual vestido minha mãe me presentearia no meu
aniversário e... e no outro um homem grande e assustador me puxou pelos
braços.

Havia um tom de tristeza misturado com o rancor por trás de suas frases. E
era como a narração de um conto de terror materializando-se em torno
deles. Louis poderia sentir e poderia imaginar seus gritos assustados e seu
medo.

- Eu não tive chance de correr ou de chamar minha mãe. O caçador me


pegou antes disso e tudo que fiz foi crer que ele me mataria com aquele
facão enorme que carregava na mão. — ofegou — eu fechei minhas
pálpebras esperando... mas a dor não veio, e nem a sensação de corte. Ao
invés, quando os abri, aquele homem ainda me fitava, fitava-me com
remorso. Ele não teve coragem de me aniquilar, deu-me um soco forte no
estômago para que eu desmaiasse, e me manteve sedada com alguns
alucinógenos. Pensei que não haveria uma sentença pior do que a morte,
contudo ao recobrar minha consciência descobri ter me enganado.

Lorena rangeu a mandíbula, produzindo um som seco de alguns de seus


ossos se estralando.

- Quando acordei eu estava longe, muito longe. O caçador me transportara


para um Reino extremamente distante de Malta e me deixou desacordada
entre os fenos de um minúsculo celeiro, com um traje de camponesa,
irreconhecível. Eu andei desnorteada, com fome e suja, durante algumas
horas até ser encontrada por um casal.
Eles me levaram para o terreno deles, um terreno humilde com uma
construção muito simples. Eu estava tímida, sentindo-me perdida e confusa
e assombrada... todavia recobro a lembrança de que a filha única deles,
Jezebel, me chamou para brincar.

Se fosse cabível, Tomlinson tamparia as próprias orelhas. Era... era horrível.


- Eu tentei contar minha história mas ninguém sequer cogitava a veracidade
dela. A família que me adotou era muito pobre, pouco se inteiravam de
assuntos que não condiziam ao seu Reino. Logo que jurei com lágrimas nas
pálpebras que era uma princesa e que morava em Malta, eles me
contestaram, alegaram que era impossível pois a princesa Gemma que eles
já escutaram a respeito havia morrido há alguns anos. Eles sequer
consideravam minha existência.

- E-eu sinto muito. - Louis balbuciou.

Lorena pressionou suas pernas contra o peito, apoiando o queixo no joelho


e piscando lentamente. Ela aparentava com a mente fora de órbita, presa em
um universo paralelo de recordações e mágoas.

- Eu também senti. - admitiu em um sopro. - Eu também senti em todas as


noites do primeiro mês em que não consegui dormir com saudades do meu
lar, eu também senti nas manhãs que fui ensinada a trabalhar na roça para
contribuir na renda, arando e semeando senão a comida não seria suficiente.
Eu senti em cada instante que deixei de morar em um Palácio, com
banquetes e jóias, para tomar banhos de água fria em baldes grandes e vestir
os mesmos trapos sujos de terra, sem compreender como ou porquê eu
estava ali, naquele lugar, sem meus pais e minhas bonecas. Eu não fazia
ideia de como tudo foi arrancado tão bruscamente de mim.

- Você... não sabia que Harry quem...

- Não. — ela negou. — eu só... eu só me conformei. Eu só me acostumei.


Eu só aceitei sem ter o poder de mudar aquilo. Eu tive que me acomodar
com essa nova posição social, com uma família estranha porém solidária
em uma vida diferente e penosa, sendo tratada como uma louca sempre que
decidia jurar ser uma princesa, pertencer a outro Reino. Eles preferiram até
trocar meu nome para Lorena, pois achavam que Carolina não combinava
comigo. E-eu perdi a merda da minha identidade.

A jovem se estendeu de pé, eventualmente, caminhando pela sala de um


canto ao outro, inquieta.
- Três anos se passaram. Eu tinha quatorze e estava na feira comprando
grampos de cabelo novos porque Jezebel iria se candidatar para o
concorrido cargo de criada no Palácio de Vidro em uma das edições
passadas... e foi... foi quando me deparei com aquele caçador. — ela sorriu
sem humor — não sei se 'destino' existe, no entanto ele certamente tinha
planos para mim, porque eu o reconheci cruzando a feira e corri atrás dele
desesperada, pouco ligando se me mataria de vez... só desejava respostas.
Ele ficou surpreso e desnorteado quando intervim, contudo aceitou me
ajudar em troca de uma noite comigo em uma.. taverna. Perdi minha
inocência com ele, tudo para descobrir que 'seu irmão, Príncipe Harry,
quem me contratou'.

O cômodo ficou silencioso.

Tomlinson desejava dizer algo... qualquer coisa... mas... mas o que ele
poderia? Defender Styles? Não... ele... ele o amava mas... aquilo era forte e
delicado. E ela tinha o direito de se sentir machucada, afinal.

Após uma pausa de recuperação, Lorena retomou sua declaração:

- E meu mundo desabou. Meu irmão, meu próprio irmão, havia mandado
alguém me assassinar. Ele era a culpa de tudo aquilo. Era por sua causa que
eu perdi minha vida, perdi meu nome e tive minha existência destruída. Ele
era e é um monstro. E me condenou por... por um erro da minha mãe.

- Você... você sabia que Verônica que havia envenenado sua irmã?

Lorena engoliu a seco, assentindo.

- Eu era muito nova, não compreendia exatamente. Mamãe costumava dizer


que garantiria que eu seria rainha e, honestamente, eu só concordava por
concordar. Ela era cheia de mistério e eu me esclareci do que se tratava ao
flagra-la rindo no dia da morte da princesa. - revelou, dando de ombros. - E
pouco me comovi, não tinha idade para discernir exatamente o certo e o
errado, eu e Gemma não éramos próximas. E isso não dá direito a Styles
para se vingar resolvendo me atingir.
Porra. Ela estava certa. Contudo, porra, Louis amava Harry, ele tentaria
protegê-lo, ele tinha a missão de convencê-la a desistir.

- Eu sei. Mas... mas você está seguindo o mesmo caminho que ele. Você
permitiu que seu ódio te consumisse, olha só onde estamos agora. -
Tomlinson reforçou, sinalizando para a situação deplorável em que se
abrigavam. - Converteu tudo que havia de digno em ti por um anseio vazio.

- Que merda está sugerindo, Lou?! — Lorena contestou em alto tom ao ser
contrariada. — Espera que eu simplesmente aceite o que ele aprontou e me
conforme com essa sentença?!

- A vingança não é assim, Lorena. Seja como for, ela não irá te devolver os
seus anos perdidos. Harry se arrepende, ele pedirá perdão e achará uma
solução para reparar uma parte dos danos. Não há necessidade de causar
qualquer mal em troca.

- Perdoe-me se me vê como um anjo maculado, mas não posso, não sou


evoluída neste nível! Não irei simplesmente esquecer todo o meu
sofrimento em prol do bem alheio! - ela berrou, indignada.

Louis a encarou direto e sóbrio, ditando:

- Às vezes você... você precisa matar o seu passado pra salvar o seu futuro.

E era complicado, certamente.


Ele não achava que seria capaz de mudar a obstinação dela.

Lorena já estava cega. Todas as lágrimas se reverteram e tiraram a visão


benévola que ela guardava do mundo.
Isso foi constatado ao que a garota soltou um riso satírico, como se
houvesse escutado uma ótima piada.

- Eu planejei por dezenas de meses o meu retorno, o meu renascimento. -


revelou, ignorando-o. - Era óbvio que se depois de anos simplesmente
voltasse para Malta com meu corpo desenvolvido e minhas expressões mais
maduras eles negariam que sou a princesa falecida. Eu cresci e minhas
mãos estão calejadas pelo campo, tenho uma pele grossa e seca e meus
cabelos quebradiços. Ninguém acreditaria em mim, nem minha mãe. Eles
não me reconheceriam.

A criada se imobilizou na frente de Louis, olhando-o por cima com uma


sensação de vitória enfatizada em suas convicções cantaroladas.

- Mas, agora, não serei eu quem me assumirei perante todos alegando ser a
princesa desaparecida. E sim Harry. Harry confessará o que fez diante de
toda a corte, de seu pai, de Verônica e dos demais reis e rainhas dos Reinos,
perante aos príncipes, as princesas e ao rei Franco. Cada indivíduo que
comparecer na coroação simulada de domingo conhecerá de seu crime, o
sangue manchado que corre em sua veia, e, ao final, ele ainda me anunciará
como Carolina, a verdadeira herdeira por direito do trono.

Louis cogitou que o oxigênio estivesse bloqueado em seus pulmões.

- Você... não, Lorena. Por favor, deixe que ele assuma isso em privado para
seus pais. Não o faça admitir na presença do rei Franco, ou dos demais
presentes... ele poderá ser exilado, condenado à morte. - Tomlinson
implorou, o desespero o sufocando com a percepção de que as
consequências seriam catastróficas.

- Ele me condenou antes. - ela rebateu, decidida e fria. Aproximou-se de


Louis e recolocou a mordaça em sua boca para que não reproduzisse
qualquer som que entregasse o cativeiro.

Guiou seus passos para a porta, no entanto, antes de sair do cômodo escuro
e largar Louis amarrado na cadeira impotente, virou-se uma última vez para
ele, afirmando:

- Mas não é como se Harry não tivesse escolha. Ele pode se salvar, ele pode
decidir não confessar nada e ter seu trono. - disse. Seus olhos pareciam
apagados. - Só que então ele estará condenando você, Louis.

***

"Estou com Louis. Você perdeu, Harry".


O planeta interrompeu sua rotação.

Harry viu-se congelado em um impasse de pânico e ansiedade, o seu quarto


perdeu a cor, era preto e branco. E cinza. Muito cinza.

Com seus dedos tremendo, virou o bilhete do avesso, e achou lá uma


segunda mensagem.

"Domingo revele quem és e o que fez para todos da corte. Anuncie-me


como a irmã que ordenou matar. E Louis será, possivelmente, poupado."

Durante a madrugada Styles começou uma busca imediata e desesperada


por cada cômodo recôndito do Palácio.

Ele não saberia mediar sua respiração ofegante devido à asma, com as
lágrimas que inevitavelmente embaçavam sua visão.

Era incontestável que nesta funesta e extrema situação ele deveria manter-se
são o bastante para não cometer qualquer deslize, ou exporia Tomlinson ao
perigo.

E Styles sabia que este seria o limiar de seu fim.

Harry caminhava curvado pelo jardim, topando em paralelepípedos


irregulares em relação aos demais que levavam as pontas de seus sapatos
colidirem e tropeçarem sem que ele sequer se importasse. Sem que ele
sequer percebesse que poderia facilmente cair - em tantos sentidos.

Havia uma rajada de ansiedade corroendo as paredes de seu estômago,


como ácido. Ele estava anestesiado de sua própria angústia, não podendo
pensar ou respirar ou viver.

Porque... era obvio que ele salvaria Louis, ele sempre salvaria Louis mesmo
que isso significasse estar se atirando em uma fogueira.

Fragmentos breves de seu passado bombardeavam sua mente em clarões,


lembrando-o o que havia acontecido, o que havia feito e como em poucas
horas isso seria revelado na frente de cada um que faz parte de sua vida
atual, seus esforços de se camuflar em uma pele narcisista, prepotente e
forte seriam derretidos no fogo, carbonizados até que o que sobrasse para
ser visto fosse seu esqueleto de pecados e pesadelos.

Atônito, Harry se guiou cegamente para sentar em um banco, não dando-se


conta da presença de Zayn, acomodado ali tão encolhido quanto ele próprio.

- É estranho como nós nunca conseguimos um real controle das coisas. Por
mais que elas pareçam bonitas em um momento, no segundo seguinte você
acorda para perceber que não passou de um sonho. - Malik soprou,
interrompendo o silêncio e a zona de pensamentos conflitantes que
atormentavam Styles.

Harry virou seu rosto para ele, confuso e desanimado.

- Do que está falando? O que aconteceu? - interrogou, mesmo que


possivelmente não tivesse qualquer direito à acessar a vida privada do
príncipe. - Pensei que estivesse melhor.

Zayn riu nasalado, um som irônico e amargo reproduzido por sua garganta.

- E estava. Mas esta é a última noite. - ele disse, como se fosse evidente,
com um desespero paupável em suas palavras. - E o que houve neste
Palácio foi como um conto de fadas encantador em que eu evolui e mudei
meus princípios... mas... mas nada disso será válido a partir de amanhã. -
Malik franziu o cenho. - ... porque eu retornarei ao meu próprio Reino,
lidarei com as mesmas críticas e serei intoxicado com a ideia de que falhei
ao não arranjar um futuro casamento. Arlen irá falir sem a garantia de uma
boa aliança e eu serei o futuro rei que não salvou a coroa.

- Mas e quanto ao Príncipe Payne? Sempre acreditei que vocês estivessem


no começo de um romance, você não precisa de votos matrimoniais agora...
vocês ainda podem se conhecer melhor e-

- Ele não vai me amar. - adiantou.

- O quê? — Styles sibilou perplexo — Is-

- Ele não vai. - repetiu.


Foi quando o herdeiro de Malta se realizou que Zayn poderia estar sofrendo
e passando por uma situação desgastante naquela hora.... e que Harry não
era o único.

E ele nunca seria.


Pessoas têm problemas e por mais que você seja o protagonista da sua
realidade enfrentando seus próprios demônios também há alguém em uma
própria guerra interna, lutando para se manter em pé.

Todos nós estamos.

E Harry, naquele lapso de reconhecimento, percebeu que a frustração do


outro príncipe era tão válida quanto a sua, carecia de atenção e ajuda. E
embora ele não ser apto a se ajudar, não o faria mal absorver algum
altruísmo e buscar fortalecer Zayn para que ele vencesse em sua batalha.

Pois... pois Zayn o remetia ao seu antigo 'eu'. Ao seu 'eu' da primeira
temporada que vivia constantemente perdido, julgando-se insuficiente e
alimentando-se com a hipótese de que iria superar.

Ele possuía a mesma devastação em suas pupilas apagadas, a mesma


propensão à insegurança, a mesma revolta quieta por fracassar e, sobretudo,
a mesma fome de relevância, de que alguém goste de si, trate-o bem (não
necessariamente em uma forma romântica), mas que alguém esteja ali para
carinho.

Harry tocou em seus sentimentos mais profundos com um curto olhar,


identificando a sensação de ter crescido órfão de afeto apesar de ter um pai,
ou uma família atestando 'guia-lo'.

Styles teve Gemma para amenizar seu sofrimento. Mas... Zayn não teve
ninguém... não teve ninguém para recorrer nas noites de lágrimas e choros.

Styles fez o que fez porque transformou toda sua dor em revolta, e se
arrependeu.

Ele... ele não deixaria que Zayn também sucumbisse ao caos, renunciasse
na exata Guerra pela felicidade que ele próprio instruiu Harry a não ceder.
- Quando você é forte mas está cansado, sua fé fica duvidosa. Você sonha
com o amor mas também o teme. — Styles proferiu, colocando sua mão
sobre a de Zayn, almejando de sua maneira frágil transpassa-lo algum
conforto. — Você só deseja fugir. Parar de tentar. Parar de acreditar ou
sentir tudo tão profundamente.

Os olhos de Malik conectaram-se aos seus e eles estabeleceram essa


conversa delicada, compartilhando um momento de realização mútua.

- Quando tudo que você conheceu foi decepção, requer muita força para que
acredite em qualquer coisa, requer força para acreditar no amor logo que
tanto sofreu por não conseguir se amar.— as palavras começaram a escorrer
da língua de Harry como um desabafo involuntário. — E eu sei como é
estar exausto de preservar alguma esperança, como é estar exausto de se
machucar, de se desapontar. Você está exausto de dar o seu melhor para
assistir as outras pessoas tirarem vantagem. Você já se importou muito com
quem o retribuiu com tão pouco.

O vislumbre de seu pai se acendeu na cabeça de Harry, tal como as


inúmeras cartas que o escreveu sem nunca terem sido respondidas, tal como
as poesias que o enviava para se iludir com a ideia de que elas não
necessitavam de réplica. Cada gota de esperança depositada nas curvas de
tinta preta, nos selos e pergaminhos que jamais fizeram seu caminho de
volta, que jamais alcançaram a soleira de sua porta e que jamais o
questionaram perguntas triviais como 'você está bem, filho?' no intuito de
demonstrar importância.

O mesmo veio para Zayn e a falta de afeto, e seus pais que o colocaram em
uma bolha de incapacidade e estupidez, fazendo-o se espelhar em algo fútil
como beleza por ser sua 'única' real virtude.
Nas cartas ignoradas.
No desgosto.

- A verdade é que pessoas como nós sempre conhecerão a rejeição em um


nível mais profundo que os outros. Pessoas como nós sempre conhecerão
essa escuridão que muitos nunca irão. — Harry confessou, inspirando
devagar, por algum motivo recordando-se das declarações de Louis. — Mas
com todas essa intensas emoções que você sente em cada osso fraturado sob
a pressão de ser o suficiente, você também sente as coisas pequenas e boas,
e aprende a aprecia-las mais do que qualquer um.

Uma lágrima solitária escorregou da pálpebra de Malik por sua têmpora,


significando toda a comoção que não cabia em seu peito.

- Você não é um ser-humano extraordinário por ter traços faciais exclusivos,


um rosto que não há cópia ou um corpo com curvas particulares. Não são só
os seus detalhes que te fazem ser especial, não são seus detalhes físicos que
te tornam único. - afirmou - E sim aqueles que você julga serem seus
defeitos, e como você lida com eles, como você os põem de lado e segue
em frente, e como acorda na manhã seguinte para um novo dia mesmo que
por dentro esteja em migalhas. Isso te torna especial. Isso te torna forte.

Zayn não pode evitar se curvar em um choro silencioso, sua face


rapidamente se umedecendo com as falas de Styles e a intensidade por trás
delas.

Harry nunca soube como discursar apropriadamente.

No entanto... ele não estava neste instante discursando, ele estava se abrindo
esperando que Malik pudesse enxergar a sinceridade, pudesse enxergar
alguma motivação, pudesse enxergar o Príncipe Edward aos dezessete anos
que desistiu e guiou-se por caminhos sem volta.

Ele esperava que Zayn se nutrisse de fé, pois é ela que semeia uma vida
menos concreta.

Apertou-lhe o ombro e o puxou para trás, para que ele restabelecesse sua
postura e o encarasse com a cabeça um pouquinho erguida.

- Então eu peço que não mude. Valorize-se por ter aguentado tanto. Apesar
das rachaduras que carrega são guerreiros como você que inspiram os
demais a continuar.

Malik o deu um último profundo e longo olhar, sem verbalizar qualquer


resposta, sem transparecer muito suas decisões... antes de se levantar e
andar apressado e determinado para dentro do Palácio.
Harry traduziu aquele olhar como o 'Obrigado' mais puro que já lhe fora
dito - ou transmitido.

***

É complicado ver os seus erros.


E é fácil julgar os erros dos outros.
Talvez ambos estejam em uma mesma esfera mas reconhecer o seu lado da
culpa não é algo que indivíduos sintam-se a vontade para fazer.
Para tanto, ocupam-se atentando-se para a outra área da esfera. Apontando
o dedo, acusando.
E, em algum momento, esquecendo-se que todos são parte de uma única
composição.

Quando Zayn bateu na porta de Liam naquele final da madrugada de sexta,


ele não tinha um discurso programado.
Ou ideia do que faria.

Pois... sinceramente como abordar algo delicado sem soar grosseiro?

Liam atendeu rapidamente.

- Hm, oi. - Payne murmurou, sem jeito.

Sua aparência não era catastrófica como na hora em que revelou o que
cometeu, contudo ainda seria perceptível notar as olheiras escuras e o
desânimo contido caso se prendesse aos detalhes.

Zayn inspirou fundo.

- Sinto que fui rígido demais com você ontem. E-Eu não... não tinha esse
direito.

- Não, Zayn. Você estava certo, eu-

- Ouça-me. Por favor. - Malik o interrompeu, suplicando com o olhar.

Liam retesou, abrindo a porta para que o príncipe adentrasse.


Com um suspiro nervoso, Zayn pisou para o interior impecável de seu
aposento. Tudo tão organizado e limpo. Nada fora do lugar.

Ele só precisava entender que sempre haverão coisas fora do lugar.


Algumas pessoas só escondem a sujeira.

E, okay, porque a nossa sujeira é parte de nós, cabe a você deixa-la exposta
ou mantê-la para si.

- Nós não podemos ou devemos nos basear em julgamentos rasos. — Zayn


afirmou, usando os dedos para empurrar a franja para trás. — O que você
fez... é normal.

- Não é normal. Eu fui tão hipócrita de convencer a administração do


Palácio para aplica-los a missão de serem pais por alguns dias, quando eu
sequer fui um. — Liam ofegou — eu só queria que vocês percebessem
melhor do que percebi que é uma grande responsabilidade, exige que você
cresça, amadureça.

Ambos caminharam em sincronia para se sentarem no colchão, fitando a


parede lisa em suas próprias divagações.

- É só que... é só que ao saber que Sophia havia falecido, e-eu fiquei


assustado, eu não sabia como lidar. Nós tivemos uma bebê recém-nascida
em segredo. Se meus pais descobrissem que aquela garotinha era minha
eles pirariam. — esfregou os joelhos com as mãos, secando o suor — Tudo
o que conquistei, todas as aulas, provas, preparações... minha reputação
cairia para o ralo com a divulgação que o futuro rei teve, ainda aos seus
dezessete anos, uma filha com uma empregada.

Zayn tocou gentilmente em seu ombro, como Liam costumava tocar no seu
nas noites sombrias em que ele se escorava na sala de concertos devido ao
seu distúrbio alimentar.

- Ei...

- E-eu... eu doei minha própria menina para um casal de pastores, Zayn.


Paguei e pago uma boa quantia para que cuidem dela. Como pude fazer
isso? — Payne grunhiu, uma lágrima escorrendo para seu maxilar. —
Ontem teria sido o aniversário dela. Agora deve ter quatro anos, morando
em um lar humilde, condenada pelo próprio pai.

- Você não a condenou. — Malik interveio. Eles se encararam sob este ar


frágil e denso. — Você a deu sua melhor chance.

- Como?!

- Se acha que ter um Palácio e coroas é a grande oportunidade da vida dela,


está enganado. Ter amor, Liam. Ter amor é o que a encaminha para a
felicidade. — garantiu, oferecendo-o um sorriso singelo. — Você a afastou
dessa loucura. — gesticulou com os braços no ar para o que havia ao redor
deles. — Você a poupou da sentença de ter mil deveres nas costas, de se
casar por obrigação, e aprender idiotices que a farão se sufocar dia após dia
com inseguranças e dúvidas.

- Não há sentido no que diz. - Payne rebateu.

- Talvez não tenha o feito com uma intenção justa, contudo, acredite em
mim: ela está bem, ela ficará bem, ela crescerá em um lar com um jardim
extenso, e flores simples que florescerão na primavera. Ela poderá correr na
chuva sem ser chamada para aula de esgrima, comer biscoitos amanteigados
sem a lembrarem de seu peso e criar bonecos de neve com cenouras no
nariz e tudo mais...

- Era isso que você queria? - Liam indagou eventualmente.

- Sim. — Zayn respondeu, seu ombros se curvando em rendição. — Queria


que alguém tivesse me ensinado desde jovem o que você me ensinou.

- E o que eu o ensinei? - o príncipe de Bristok perguntou.

- As pessoas falam de 'amor' como se fosse algo fácil, simples. E não é.


Porque se amar costuma ser um processo instável, exige força e
persistência. Eu não posso mais me olhar um dia no espelho e pensar que
está okay, que o que tenho é o suficiente, e no outro chorar com o que vejo.
Nunca parece bastar. Você se coloca pra baixo, e não adianta que alguém
tente o pôr pra cima. Você quem tem que se valorizar. Você quem tem que
repetir pra sua imagem que aquilo é só um reflexo do seu exterior.

A madrugada começou a se diluir com o nascer do sol. O sereno cedendo


para uma claridade tímida.

- Nós precisamos parar de refletir o que há por fora. Isso é superficial. Isso
é raso. Deveríamos refletir o que está dentro, o que poucos conseguem
tocar. Deveríamos ir atrás de profundidade. É uma sociedade muito líquida,
muito fluída, em que todos querem se encaixar em formatos. Nós
precisamos de substância, nós precisamos de essência, de solidez.
Precisamos achar a beleza própria ao invés de defini-la.

Malik observou através da janela de vidro, o céu com os últimos vislumbres


da lua antes que ela sumisse.

- A felicidade nunca foi sobre seu ofício, sua aparência, ou sobre estar em
um relacionamento. Felicidade nunca foi sobre seguir os passos daqueles
que vieram antes de você, nunca foi sobre ser como eles. Ela sempre foi
sobre a descoberta, a esperança, ouvir suas vontades e segui-las aonde quer
que elas te levem. A felicidade sempre foi sobre ser gentil consigo mesmo,
e assumir a pessoa que você está se tornando. Ela é a aceitação de si
próprio.

Suspirou.

- Você me ajudou a compreender que eu posso passar por isso. Que todos
nós podemos. — Zayn concluiu. — Um passo por dia. Um aprendizado por
vez.

- Eu fico feliz por você. — Liam murmurou.

- Eu também tento ficar. — assumiu em um sopro. Eles se embalaram em


alguns segundos de quietude antes de Zayn, o qual parecia pensativo, se
pronunciar. — Sabe o quê? Não é porque você a deu para um casal, que não
pode fazer parte da vida de sua filha.

- Como assim? - Payne o olhou confuso.


- Visite-a. Conheça-a. É tarde para ser pai dela, mas você ainda pode
oferecer sua amizade, pode brincar com ela.

Os pássaros iniciaram sua cantoria matinal, ao fundo.

Era um ambiente confortável e nostálgico.

- Você viria comigo? - Liam, subitamente, pediu.

Pego desprevenido, Zayn o encarou abobado, não pretendendo entregar sua


comoção porque isso era uou, uma chance de não se limitar a ficar em
Arlen.

- Quer minha companhia para algo tão pessoal assim?

Payne assentiu, sorrindo.

- Ela certamente preferirá dois amigos ao invés de somente um. Alguns


meses em Bristok não o farão mal.

- Nesse caso, será uma honra.

***

No domingo pela manhã Harry foi despertado por Amélia, a qual o puxou
suavemente pelo ombro até que seus tremores e choramingos se
interrompessem.
Harry acordou de um pesadelo... para estar em outro, e, este era real.

Sua criada notou a mancha úmida em seu travesseiro, onde seu rosto ficou
enfiado por toda a noite, onde seu choro se fundiu ao tecido macio e
transformou-o em um abrigo para sua tristeza e desolação.

Ela estava prestes a questiona-lo completamente assustada o que havia de


errado, porque presenciar Styles sob esta palidez e fragilidade no dia da
coroação simulada era um pouco conflitante, no entanto, seu menino
somente acenou em negação com a cabeça, como se ele não quisesse ser
questionado, como se ele não possuísse uma resposta.
Tanto desespero. Tanto desespero.
Ele nunca ficou assustado neste patamar, ele nunca se sentiu tão vulnerável
como agora.

Harry se levantou ausente de ânimo, ausente de alma. Ele parecia trêmulo e


bambo e Amélia estava muito próxima de surtar com isso.

- Certo, menino, o que diabos aconteceu? - ela não se impediu, segurando-o


pelos antebraços já que ele aparentava em iminência de cair de volta para o
colchão.

E, porra, o príncipe desejou tanto ser resistente e conseguir disfarçar, e


conseguir erguer o queixo e corajosamente enfrentar suas sentenças
sozinho, mas... mas ele esteve sozinho por muitos anos, aprisionando os
seus demônios dentro de si, sofrendo em silêncio, ele esteve na escuridão
por muito tempo e quando Louis chegou foi como uma cura para sua
cegueira, foi como um feixe forte de luz entre o breu, permitindo-o enxergar
as cores novamente.

- Ela... ela arrancou Louis de mim. - Harry sussurrou sentindo-se um


fracasso. Suas pálpebras inchadas e o branco de seus olhos injetados de
sangue. - Ela está com Louis, e eu estou com tanto medo.

Amélia pisou em falso para trás.

- O quê?! Como?

- Carolina o pegou, e eu terei que confessar meus pecados na coroação, em


frente a todos. E-este não é o meu maior medo... eu... e-eu temo que ela se
vingue ainda mais e o destrua para me atingir. - a este momento lágrimas
frescas já rolavam para baixo de suas bochechas. - Eu não vou suportar,
Ami.

Demorou alguns minutos silenciosos para que a criada se recompusesse.


Ela sempre parecia saber o que falar, o que transmitir, era inteligente, astuta
e confiante e por um átimo de segundo Harry flagrou uma ponta de
esperança e fortaleza brilhando naquele pequeno sorriso cansado e
acolhedor.
- Ei, ei, ei... o que é isso? O que está fazendo, meu garoto? - ela indagou, a
voz mansa e cuidadosa. - Cadê o príncipe de dezessete anos que sonhou e
pediu tantas vezes para encontrar alguém que o amasse? Que o desse um
romance de contos de fada?

- Eu o achei. - ele choramingou, abaixando a cabeça - E o perdi.

Amélia franziu o centro, bufando.

- E está desesperançoso? Não é assim que você vai vencer essa batalha,
querido. Você pode chorar, você pode temer... mas você não pode desistir.

O príncipe levantou o rosto devagar, piscando rápido para dissipar as


lágrimas acumuladas.

- Não... não sei o que fazer. E-e... e se eu falh-

- Harry, você esperou sua vida toda para encontra-lo. — Ami o


interrompeu, em um tom mais sério e repreendedor. — não permita que o
percam de ti. Eu sei que o medo o consome, garoto, mas o medo tem que
ser o nosso combustível diário para prosseguir. O medo tem que ser o
obstáculo que você enfrenta quando quer alguma coisa. Nada vem fácil e
nada fica fácil, mas tudo vai embora fácil.

Eles estabeleceram esse contato visual inquebrável, com uma intensidade


maior pairando no ar.

Os raios de sol escapavam entre as cortinas e aclaravam o espaço,


expulsando as sombras.... e de repente era como se aquilo fosse menos
assombroso, aquilo fosse domável e as rédeas estivessem quase em sua
posse.

- O que caracteriza um conto de fadas não é o beijo ou o felizes para


sempre... são os desafios que surgem. Eles são uma prova de que você dará
tudo de si para vencer. — Amélia atestou em seu último encorajamento,
secando a face úmida de Styles com suas palmas. Ele sorriu pequeno. —
Acontece que não era Louis o salvador da história, este tem que ser você.
O jovem inspirou devagar, pesado.
Ela estava certa.
Ela estava tão certa.

- Um historiador grego chamado Tucídides proclamou que os mais


corajosos são certamente aqueles que têm a visão mais clara do que está
diante deles, tanto a glória quanto o perigo, e, mesmo assim, vão ao seu
encontro. — Harry sibilou para si próprio, sua mente dissipando as nuvens
de insegurança. — Ninguém tocará no meu Lou. — Inspirou fundo e
afastou-se dela em direção aos armários de seu aposento.

- Não, querido, seu traje feito sob medida está na sala de costuras dos
alfaiates. Vestirá-se lá. - ela avisou, confusa.

Todavia, antes de sequer certificar-se que Styles havia entendido, o mesmo


retornou de seu closet com uma peça diferente e chamativa pendurada nos
braços.

Ela esboçou uma expressão de questionamento, levando Harry a suspirar


com seu semblante astuto e decidido.

- E Sun Tzu uma vez disse que em meio ao caos há sempre uma
oportunidade. - o príncipe reverberou, apertando a peça contra o peito, suas
covinhas afundadas. - Se eu vou revelar quem sou e o que fiz para a
humanidade, então que seja original e verdadeiro em todos os aspectos.

***

Louis cogitava há quantas horas esteve preso ali..

Ele não escutava ruídos próximos, o que significava que seja qual lugar
estivesse sendo mantido em cativeiro seria uma área não frequentada do
Palácio.

Sua suposição é que fosse já domingo, pois Lorena viera alimentá-lo três
vezes neste período, duas refeições no sábado e quiçá o café da manhã de
hoje.
Ela parecia distante, intocável. Qualquer frase que Louis a direcionasse
seria completamente ignorado, como se a garota não pudesse mais escuta-
lo.

O que deveria ser literal pois a raiva estava cegando-a, ensurdecendo-a e a


removendo os sensos que a ligariam em sua consciência.

E era tão devastador quanto frustrante para Tomlinson assisti-la se


destruindo desse modo, permitindo que o rancor rompesse seus valores e
suas paixões e sua alma para algo amargo e insensível. E ele só tentava
recordar-se a todo custo que aquela era Lorena, a mesma menina que
transitou e limpou seu quarto nestes últimos meses, reclamando e soando
verdadeira sobre a vida, com a juventude salpicada em seu olhar e a
espontaneidade tornando-a humana.

E tão pouca humanidade ele notava nela agora. Ela entrava robótica e
neutra no local acompanhada de um guarda que Louis supôs ser seu
'namorado' o qual mencionava, ou qualquer outra desculpa que tivesse dito
para tê-lo em seu lado.

Os pulsos de Tomlinson seriam amarrados pelo homem forte e alto e ele


seria obrigado a manter-se sentado naquela cadeira que fora preso desde a
madrugada de sexta para ter sua refeição na boca.

Quando acabasse, Lorena sussurraria um 'sinto muito' quase automático


antes que o guarda o soltasse e ele estivesse livre para circular naquele
quarto escuro e abafado novamente, urinando cegamente em algum canto e
lamentando-se por se sentir tão sujo.

Louis não dormira desde sexta, configurando algumas dezenas de horas


estando exausto e sufocado.

Contudo, ele não temia por si. Não temeu em momento algum, nem com a
ameaça de Lorena.

Ele temia por Harry. Porque Louis sabia que fora entregue ao seu príncipe
uma quantidade surreal de pressão e terror psicológico e, honestamente, era
natural que Styles estivesse compensando e pagando por seu crime mas...
mas aquele não era mais ele.

Ele não era o monstro que cometeu tal delito um dia.

O maior confronto que um homem pode travar é a mudança.

Mudar é difícil e significa abandonar quem você é para uma versão


desconhecida.
É como descosturar sua epiderme, toda a sua pele com uma faca,
desfigurar-se, para reconstituir-se sob esta outra forma.

E Harry mudou.

Harry mudou com o sofrimento, com a rejeição. Ele se arrependeu e


conviveu com esse azedo por anos, carregando seu pesadelo em suas mãos
a fim de não se esquecer do que o trouxe até aqui. Ele não negligenciou seu
erro um dia sequer.

Redenção é um termo delicado e inconstante, relativa-se a libertação,


reabilitação, reparo, salvação. Ninguém é obrigado a perdoar.
E nem todos devem.

Mas julgar quem errou cometendo o exato erro desfaz toda a legitimidade
de sua causa.

E Louis esperava que Lorena não descobrisse isso da pior maneira.

***

Faltavam três horas para o início da cerimônia.


Ela seria realizada no Salão V, o principal e maior salão de todo o faustoso
Palácio.

Durante o café os príncipes foram instruídos de como tudo ocorreria:


Eles adentrariam em uma fila pelo corredor que acessava o tablado oval,
funcionando como um palco.
Todos se sentariam nas poltronas alinhadas enquanto escutariam os
pronunciamentos oficiais. E, por fim, receberiam suas coroas, príncipe por
príncipe.

As princesas já haviam chegado e o restante dos convidados estavam


supostos a serem recebidos somente no início do evento.

Tudo estava, evidentemente, uma bagunça.

Haviam empregados por todos os lados carregando os preparativos, papéis,


decorações energeticamente.

Os jovens deveriam estar em seus aposentos, descansando, acostumando-se


com a ansiedade e vestindo-se para o grande momento de suas jornadas
como futuros reis.

Harry, todavia, tinha outros planos.

Ele caminhava ofegante pelos corredores, ainda em seu pijama e cabelos


bagunçados, buscando no rosto das inúmeras princesas aquela que
procurava.

Tinha poucos fios de esperança o suspendendo, e ele agarrava-se em cada


um.

Foi entre o hall da entrada e o acesso para a ala oeste que ele a flagrou.

Diana trafegava sozinha com um livro em sua posse.

Ele correu, pouco se importando se alguém acharia-o inapropriado, e


interveio no trajeto da princesa enfiando-se em sua frente com a expressão
dura e nervosa.

Sem pensar sobre suas ações começou a puxa-la para um dos repartimentos
mais isolados pelo pulso, deixando-a eufórica.

- Ei, o que- o que pensa que está fazendo?! Me solte!


Harry a soltou, gesticulando para que ela se acalmasse quando ele próprio
não poderia.

- Certo, você venceu, eu darei o que deseja, tem minha palavra, só... só me
diga onde ele está? Onde o escondeu de mim?! - ralhou, seus olhos
arregalados e aflitos.

Ela, embora, permaneceu o fitando sem reação, com seus traços congelados
e confusos, quase assustados.

- Olha, eu sei que é você, eu sei o que fiz... só... só por favor, não... não o
Lou. Garantirei sua vingança, garantirei minha destruição... mas não o
destrua, sim? — Harry começou a se engasgar, um choro querendo
transbordar suas pálpebras. — Eu preciso dele, okay? Por favor, por favor
eu preciso dele. E-ele me ajuda a falar com as plantas, e... e ele põe sorrisos
no meu rosto mesmo que eu não mereça, mas... ele é bondoso, não o
machuque, não machuque o meu amor, eu preciso d-dele, eu-

- Alteza! Contenha-se! — ela pediu, amedrontada. — Está sob efeito de


drogas ou-

- Não precisa fingir que não é você, eu sei que é! — ele elevou o tom,
aparentando-se no ápice de seu controle e Diana não recuou, mas
contorceu-se em desconforto. — Eu sei que me despreza e que-

- Wow, wow, wow... espere. Ao que se refere? — ela interrogou


visivelmente perturbada — Eu não o desprezo, Príncipe Edward. Seja quem
está procurando, esta não sou eu. Eu não tenho nada contra você.

A expressão de Styles se fechou.

- Não minta para mim. Você me odeia, você me perseguiu com o olhar nas
temporadas em que esteve aqui, fica me encarando como se soubesse de
algo ou estivesse planejando algo, eu... eu... e ainda se escorou em Louis no
intuito de me provocar-

- Harry. - ela pediu. A boca de Diana se curvou ligeiramente para baixo ao


que o semblante da princesa se caiu para uma entristecida. - Não... não é
isso que pensa.

- O quê? É claro que é! - ele rebateu.

- Não, eu só... eu só não sabia como aborda-lo isso.. eu-

- Do que raios está falando? - Harry murmurou, confuso.

- Perdoe-me se foi esta a impressão que o passei nestes anos, Príncipe


Edward. Eu queria me introduzir e ser corajosa para contar, mas sempre
ficava hesitante e desistia. — a princesa confessou, bufando. — E quanto ao
Príncipe William eu juro, eu juro nunca me aproximei dele para feri-lo, ou
qualquer coisa, é só que... é só que ele me lembra tanto ela, ele me lembra
tanto Gemma e-

- Como... como sabe sobre Gemma? Conheceu minha irmã?

Diana abaixou a cabeça.

- Nós namorávamos em segredo, Harry.

Harry pisou em falso para trás, bambo. Cada ruga em seu rosto exprimindo
sua completa surpresa e choque para a revelação.

- Sempre desejei revela-lo desde que ela faleceu, eu sentia que estava
escondendo um pedaço da vida de sua irmã que você tinha o direito a ter
acesso... toda vez que o encarava nos bailes me remoía com o ímpeto de
conta-lo sobre nossa relação, mas... de repente eu perdia a coragem, é
impossível retomar este assunto sem me recordar de tudo, sem arder.

Ainda pego desprevenido e despreparado, Styles não conseguiu muito além


de concordar devagar com a cabeça.

Porque.... o quê?!

Puta merda, o quê?!

Memórias de Gemma acendendo-se em sua mente. Fragmentos das noites


silenciosas em que se questionou se ela nunca havia se apaixonado...
.... e agora ele sabia: ela se apaixonou.

E, por alguma razão, isso o confortava. Porque ele percebeu que sua irmã
experimentou desse prazer antes de morrer. Ela pôde sorrir apaixonada e
olhar as estrelas com a cabeça girando. Ela pôde preencher os espacinhos
vazios do seu coração com um romance e imaginar um futuro animado para
si.
Agora que Harry conhecia essa sentimento ele... ele também ficou
infinitamente satisfeito de que ela também conheceu.

Um sorriso emocionado passou a repuxar os cantos de seus lábios conforme


a realização daquilo o deslumbrava. Seu interior se aquecia e Harry
materializou visões de uma Gemma (com toda sua pose regrada e rígida)
derretendo-se de paixão por alguém, por outra princesa.

- Isso é... isso é incrível. - ele balbuciou comovido.

Diana engoliu saliva perplexa.

- V-você está feliz? Não se incomodou? - ela averiguou, a emoção sendo


refletida na postura amolecida e menos insegura.

- Claro que não! Eu só estou... pasmo? Mas... mas de um jeito positivo... é


maravilhoso saber que minha irmã beijou e teve sexo e sonhos apaixonados.
— Harry admitiu entusiasmado, e sinceramente ele sempre seria um pouco
inconveniente mas...

- Ei. — Diana ruborizou, enxugando seus olhos marejados com o dorso da


mão. — Bem, eu sinto de verdade por não ter compartilhado esta
informação contigo antes, e também por ter... você sabe... seguido o
Príncipe William nesta temporada, é que ele é tão semelhante a ela em sua
essência, em sua personalidade... nós temos essa propensão de procurar
simetrias em outros das pessoas que já amamos, e a presença dele me
confortava e me remetia a Gemma.

- Não se preocupe, Louis é esplêndido. Seria estranho se alguém não se


fascinasse por ele. - Harry comentou apaixonado, sorrindo com dor e
carinho.
- Eu adivinhei previamente que você se apaixonaria por Tomlinson. Ele tem
a nobreza de Gemma, e é um cavalheiro. Você o ama porque também
visualiza um pedaço de sua irmã nele. - a princesa atestou.

Styles ficou reflexivo.

- Não sei. Gemma sempre será minha estrela guia lá no céu. — afirmou,
mordendo o interior da bochecha. — Mas Louis disse que juntos nós somos
nossa própria constelação. Os dois são feitos de luz, mas cada um brilha
diferente.

Eles seriam uma constelação. Eles seriam.


Harry desejava tanto que fossem.

- Você merece, Príncipe.

- Obrigado. — Styles mussitou, comovido e sensível. — Obrigado por


ressuscitar minha irmã, trazê-la de volta à vida e lembrar-me que ela não
está morta. Que ela respira dentro de ti, dentro de mim. Que ela nos instrui
e nos aquece com seus ensinamentos e sua compaixão. Ela nunca irá, de
fato, morrer.

A princesa concordou em lágrimas.

A movimentação dos funcionários reais começou a se intensificar, e o


horário da coroação se aproximava rapidamente. Harry percebeu que
precisava ir e precisava deixá-la ir já que todos os monarcas já deveriam
estar quase prontos.
Ao fazer menção de se despedir, contudo, Diana proferiu:

- Ouça. Gemma comentava muito comigo a seu respeito, Harry. Ela


esclarecia que você era quem que ela mais amaria para toda a eternidade.
Após sua morte eu me sentia irritada porque não conseguia assimilar sua
personalidade arrogante e prepotente com aquela que sua irmã tanto
elogiava. Eu o julgava um esnobe descabido nos bailes, que não fazia jus à
toda a veneração que ela cativava por ti. Mas... mas hoje eu vejo
perfeitamente que você ainda é o garoto de ouro que ela me descrevia. —
Diana sorriu. — Continue lídimo, genuíno... enquanto o fizer sei que a fará
orgulhosa aonde quer que ela esteja.

Styles fechou as pálpebras.

- Eu irei. - prometeu. E talvez essa promessa sussurrada tenha sido


direcionada mais a si próprio que à Diana.

***

Lorena havia visitado Louis há pouco tempo atrás.


Ela adentrara o local enquanto Tomlinson permanecia transitando de um
lado a outro com a mordaça na boca, as mãos amarradas e impaciência.

Soara animada, embevecida de expectativa.


Seus cabelos estavam soltos e eles eram perfeitamente como os de Harry se
o príncipe permitisse-os crescer até abaixo dos ombros, ondulados e
macios.
Estava com a face pintada com um pouco de maquiagem. Escureceu suas
pálpebras superiores em um tom de marrom, avermelhou suas têmporas
ossudas e pôs um gloss rosa claro.
Era delicada porém o que mais destoava de seu vestuário costumeiro
certamente seria o vestido.

A porra do vestido que Louis a deu semanas atrás como um pedido de


desculpas por acusá-la de ser quem escrevia o jornal. O vestido rosa, com
pedrarias na barra e corpete na cintura, de três camadas.

Avaliando-a por este ângulo ela realmente se assemelhava a alguém da


monarquia.

- Muito obrigada por este presente, Louis. Eu o adorei. - ela cantarolou,


rodando em seu eixo para que as camadas da saia se armassem em torno de
si. - Graças a ti estarei indo com um traje decente. Pegar o que é meu.

E sem que Louis conseguisse dizer algo, com o pano travando os


movimentos de sua língua, Lorena deu as costas e saiu.
Alguns ruídos de música clássica repercutiam muito distante, sinalizando
que a cerimônia estava próxima de ter início. Tomlinson ofegava por ar
rezando para que Harry não houvesse perdido a cabeça, ou recaído nas
drogas.

E, estranhamente, uma nova sequência de passos se aproximando depressa


ressoaram no silêncio do cômodo escuro.
Ele, honestamente, acreditou que seria Lorena se vangloriando mais por sua
futura conquista ou qualquer coisa, mas seu coração trancou os batimentos
cardíacos ao avistar alguém muito diferente.

- Príncipe William?

Ele gostaria de pronunciar-se ao flagrar a materialização da moça dos


cabelos loiros surgindo pela porta.

Ela se aproximou com o semblante caído e traços assustados ao assisti-lo


sob aquelas condições.

Ao se imobilizar há um metro de Louis, curvou-se para frente e removeu a


mordaça de sua boca.

Ele respirou, e então proferiu em choque:

- O que faz aqui Jezebel?!

- Vamos, vim resgata-lo Vossa Alteza. Niall está na porta checando se


ninguém irá nos ver. Temos que nos apressar-

- Espere. — ele pediu, piscando confuso. — Niall sabe disso? O que está
acontecendo?

- Eu o explico no caminho. Venha. - Jezebel desamarrou seus pulsos e o


puxou pelo esquerdo, guiando-o para fora do cativeiro.

Já no corredor, com as luzes ofuscando sua visão desacostumada, Louis


realmente se assustou ao deparar-se com o Príncipe Horan de pé ao aguardo
deles, completamente vestido para a coroação.
Tomlinson poderia desmaiar. Três dias sem dormir. Alimentando-se mal.
Seu organismo queria tanto ceder. O cérebro falhando para qualquer
raciocínio coerente.

Os dois começaram a trazê-lo apoiado em seus corpos, pela fraqueza do


menor, levando-o para longe.

Em sua limitada consciência, Louis encontrou forças para se certificar:

- C-como... como está Harry?

- Garantiremos que ele ficará bem, Louis. Você irá salva-lo. - Niall
respondeu.

- Está... está contra sua própria irmã? - o futuro rei de Riverland interrogou
Jezebel, lutando para manter suas pálpebras abertas e a lucidez em si. -
Sempre soube que era Lorena?

A criada loira mordeu o lábio inferior por um segundo, logo encarando


Niall para suporte.
Niall a assentiu com um sorriso triste e isso pareceu bastar para encoraja-la.

- Não, Vossa Alteza. Eu descobri recentemente. — ela suspirou. — Lorena


sempre fugia nas madrugadas, eu pensava que em todas estava com o
senhor dialogando. No entanto quando a segui em uma das noites flagrei-a
esgueirada nos jardins, assistindo-os escondida. Foi como tudo teve sentido
então, essa obsessão dela por Harry, as escapadas no expediente para Deus
sabe o quê, as folhas que escrevia alegando serem para nossa família que no
final... era um jornal de fofocas anônimo. As estórias infantis de que ela era
uma princesa não foram inventadas...

- E ainda assim está me ajudando? Mesmo ciente do que Harry fez com ela?

Jezebel fitou-o abatida.

- Eu não quero que a sede de vingança a destrua, a leve a cometer qualquer


ação com finalidades maldosas. Toda vingança vem com um preço caro—
admitiu. — Considero-a minha irmã. Eu a amo. Lorena tem que ser melhor
do que Harry foi.

Louis concordou quieto.

- E quanto a você, Niall? Apostava que repugnasse o Príncipe Edward.

O jovem loiro riu sem humor.

- Eu o desprezava no ano passado porque tudo que ele fazia se resumia a


propósitos sujos, perversos. Mas isso mudou. E, de alguma forma, a
armadilha que ele programou para mim e que me fez repetir de temporada
também ocasionou no meu reencontro com Jezebel. Ela vem sendo uma
amiga incrível. — Horan sorriu — E Harry demonstrou-se digno de
créditos.

Louis se preparou para assentir, todavia, antes que realizasse desmaiou.

***

A melodia era de violinos. Violinos e harpas.

Soava como a abertura de anjos para um destino final.

Haviam muitos monarcas, muitas famílias, muitos reis e rainhas orgulhosos


a espera de assistirem seus filhos recebendo permissão para seguirem seus
destinos. No centro deles, quase na área central da plateia, o rei Franco.

E é engraçado que se mencione destino.


Porque... o que é propriamente um destino?

Seriam trapos costurados em uma manta unicamente sua? Aquela em que se


registra exatamente por onde passará, o que viverá, como morrerá?

Isso é destino?

O destino é um livro contando a sua história?


Narrando seu papel nela?
O destino, nesse caso, faria de nós fantoches em nossa própria existência?
Marionetes amarradas em fios invisíveis com uma programação e falas
ensaiadas que nos levarão ao enredo final?

- Vossas Majestades, Vossas Altezas, Senhoras e Senhores... levantem-se


para receberem os futuros reis de seus Reinos. - a voz de um orador
anunciou, conduzindo a todos se estenderem de pé.

Do grande e alto arco de madeira uma fila de príncipes iniciou a entrada.


Eles vinham arrumados em ordem, com trajes requintados, ligeiramente
padronizados, de fina costura divergindo entre tonalidades de azul marinho
e cinza. Todos com o broche de seus respectivos reinos confeccionados a
ouro presos em seus paletós, e capas de veludo preto assinalando o poder
cobrindo de seus ombros às panturrilhas.

Neste momento, ao que eles alcançavam o tablado oval para se


acomodarem, uma onda de aplausos prestigiavam-os, a música instrumental
mal sendo escutada.

Ao que todos estavam dispostos nas poltronas vermelhas, o orador


acompanhado de Don Luminiére subiram no palco para iniciarem a
introdução orada.

- Sendo uma tradição que se estende por décadas, a Anistia dos Tronos tem
como função garantir a paz entre reinos de origem franca e-

- Esperem, queridos. — uma voz intercedeu o recinto.

Não uma voz,


Mas a voz.

As centenas de cabeças se viraram simultâneas para a origem dela.

Viraram-se para o arco da entrada.

Viraram-se para o caos.

Suspiros e murmúrios surpresos preencheram o lugar.


Pois, ali, imobilizado em uma pose erguida e desafiante estava o dono dela.

O primeiro e único Harry Edward Styles.

Harry, em sua majestosa e excêntrica postura, com seus cachos soltos e


volumosos, um dos braços na cintura, contorcido e excessivo.

Harry, em sua elegância programada e ousadia desmedida, com lábios sob


uma fina camada de gloss cintilante e uma gargantilha exageradamente
brilhante e ostensiva cobrindo da base de sua garganta com cascatas
descendo ao peitoral. Além de claro, sua bengala de cascavel com os olhos
de esmeralda.

Harry... Harry que aparentemente ignorou totalmente o código de vestuário


e o paletó azul escuro que foi criado especialmente para si.

Ao invés, surgiu na frente de todos sob um modelito polêmico e


espalhafatoso.

Usava um vestido de seda pura rosa salmão, de mangas compridas e largas


quase transparentes feitas com tule, a cintura sendo marcada pelo espartilho
interno e a saia arrastando no chão, delineando suas curvas do quadril e
escondendo suas pernas. Havia uma pedraria nas barras e era delicado e
requintado e tão feminino. E este nem era o maior escândalo.

Pois em seus ombros não havia uma capa de cor básica e classe.

Havia um par de asas.

Literal.

Criado e anexado nas costas do vestido.


Asas grandes, esvoaçantes, formatadas com arame preto e recobertas por
uma camada de cetim laranja, com algumas pintas pretas ao entorno.

Tudo nele gritava despudor. Gritava confronto e tumulto.

- Não toleramos atrasos, Príncipe Edward. — o orador lamentavelmente


entonou, um pouco embaraçado com toda a situação.
- Esplêndido. — Harry soprou, sorrindo. — Ainda bem que não me atrasei,
hum. Ainda nem iniciaram a coroação.

E, assim, iniciou seu trajeto.

- Vocês sabiam que há um tipo específico de borboletas chamadas


'borboletas-monarcas'? - lançou a ninguém específico, mas alto para que
sua voz vibrasse em ecos pelas colunas jônicas.

Passando entre os convidados, entre a corte real, no corredor que os demais


príncipes percorreram minutos antes.

- As borboleta-monarcas dispõe de asas laranjas lindas. Quão conveniente é


isso? - riu satírico, sendo sua versão ácida que muitos conheciam. - Por que
eu estou divagando sobre borboletas? Bem, por que não divagar, não é? Nós
estamos em um universo tão antropocêntrico, entedio-me facilmente. É só
uma injustiça com os outros animaizinhos, e insetos e flores.

Styles caminhava lento e provocativamente. Os saltos de sua bota


provocando estalos secos no piso a cada passo que dava, causando reações
de espanto cru nas faces que o observavam.

- Um outra curiosidade das borboletas-monarcas é que elas nunca chegam


ao final de suas temporadas. — esboçou um sorriso debochado. Oh, ele era
este maldito incorrigível. — Ao realizarem seus longos ciclos migratórios
em busca de lugares menos frios acabam cedendo no caminho, a vida delas
é só muita curta, entendem?

Don Luminiére estava tão pálido que possivelmente desmaiaria ali mesmo.

Ao subir no tablado, estando de frente para todos, Harry reverenciou-os


ironicamente, encaminhando-se para seu assento.

A incredulidade ainda pintava os semblantes dos presentes, todavia o orador


tossiu a seco e, muito desconfortável, retomou seus pronunciamentos.

Com um olhar de falsa segurança, Harry buscou seu pai na plateia,


achando-o ao lado do Rei Franco.
Ambos o encaravam de volta, embevecidos com choque e reprovação. Ele
inspirou falho, tentando ignorar o medo gelando seu peito.

- Vai ficar tudo bem. — Zayn sussurrou, sentado à sua direita, notando a
tremedeira que ameaçava iniciar em Harry.

Styles concordou fracamente, um pequeno sorriso de agradecimento.


Porque... ele sabia que não ficaria.

Harry, contudo, não foi o único a se atrasar.

Príncipe Niall chegou na coroação por uma das entradas do fundo, subindo
no palco discretamente enquanto Don Luminiére proclamava algumas
citações bonitas.

Ele parecia ofegante, como se houvesse corrido uma maratona, estava


arrumado e vermelho. Um pouco envergonhado pela entrada improvisada,
acomodando-se na poltrona vazia do outro lado de Harry.

Styles fitou Horan surpreso pela sua euforia enquanto esforçava-se para
regular a respiração.

Após alguns minutos a coroação se iniciou apropriadamente.

Da extremidade oposta de onde estavam um cavalheiro ia posicionando


uma coroa de ouro sobre a cabeça do príncipe, seguindo a ordem.
Logo que este recebia-a, ganhava a chance de se pronunciar, algumas
palavras de agradecimento e promessas de um futuro promissor para suas
terras.

Niall aproximou disfarçadamente os lábios do ouvido de Harry, segredando:

- Louis está bem. Nós o resgatamos.

Styles arregalou suas orbes, olhando-o perplexo.

- O-o quê?!
- Não se preocupe, Harry. Você não precisará confessar nada. Ele está a
salvo. - Niall garantiu. - Louis está em repouso, muito fraco.

- C-como ele receberá a coroa? - Styles indagou receoso.

- Isso é só uma simulação, é uma coroação simbólica. Louis não precisa


dela para ser futuramente rei.

Harry concordou, embora muitas dúvidas o bombardeassem.

Seus olhos varriam os convidados.

Quem seria Carolina?

Quem seria sua irmã entre todos aqueles?

- Príncipe Edward? - alguém o saudou, despertando-o do devaneio. Era Don


Luminiére. Ele estava há alguns passos de Harry, indicando para que ele se
levantasse e fosse ao centro para que a coroa pudesse ser encaixada sobre
seus cachos.

Harry concordou, estendendo-se de pé com seus músculos tensos e o


oxigênio parecendo rarefeito.

Transitou para perto do homem mais velho, que sorria para o príncipe
apesar das asas espalhafatosas e de toda aquela falta de conduta com suas
roupas fora do padrão (mas aquilo era inevitável, hum?).

Quando estava posicionado perante todos, Don Luminiére ergueu a coroa


dourada, alinhando-a em sua cabeça.

Styles, no entanto, acenou em negação.

- Não.

O cavalheiro o encarou confuso.

Harry negou de novo, suas pálpebras fechadas.


- Não. - soprou.

E o silêncio que se fez foi aterrorizante.

- Eu não posso ser coroado.

Quando afastou as pálpebras, no entanto, ele visualizou ela.

Visualizou Carolina.

E ele não poderia ter tanta certeza mas sua intuição simplesmente sinalizava
que era ela.

Era ela no canto do salão, o observando.

A criada de Louis.
Era ela.

- O que está fazendo, Vossa Alteza? - Don Luminiére fracamente perguntou.

Tantas expressões perdidas direcionadas a si.

O mundo estava preto e branco mais uma vez.

De longe escutou Niall dizendo-o: Você não precisa fazer isso.

Mas sua consciência contradizia: Sim. Eu preciso.


Erros não são apagáveis. Você não tem o direito de ignora-los, eles estão
perpetuados em seu testamento moral.

Coçou a garganta. Implorou a Gemma mentalmente que o protegesse. E foi:

- Nós somos facilmente corrompidos. E moldados. Pecamos, erramos, nos


rendemos ao caos. — Harry reverberou, seu coração acelerado. — E, ainda
assim, não devemos deixar que os outros nos assustem. Você não pode
seguir sua vida tentando agrada-los. Você não pode seguir sua vida se
preocupando com que o que eles pensarão. Seja sobre seu cabelo, suas
roupas, suas opiniões, seus sentimentos, sobre o que acredita e o que tem.
Você não pode deixar que o julgamento deles o impeça de ser você, porque
se consentir, você não será mais você. Você será quem eles querem que
você seja.

Styles umedeceu o lábio inferior com a língua, tentando apaziguar seu


nervosismo. Apertou sua bengala com a palma suada.

- A-Alguém muito especial me disse que eu não poderia enxergar minhas


próprias asas porque vivia me condenando pelo o que fiz. — inspirou —
Agora, elas são a minha liberdade. Elas, em um sentido figurado, me
levarão para longe daqui.

Expirou.

- Pois eu não sou um príncipe. E eu não sou, obviamente, uma borboleta.


Eu sou só um humano. — inspirou, sorrindo sem humor — Um humano
que se corrompeu, e que sonha com a redenção.

Expirou.

- Um humano filho de uma traição do rei com uma empregada do Palácio.

O tempo congelou.
Ofegos e murmúrios tomaram o salão.

- Um humano que sentiu medo, tristeza e raiva. E que sucumbiu a esta


porque ocupar o coração de ódio é mais fácil do que deixa-lo vazio.

De onde se proununciava Harry flagrou Carolina se aproximando do palco.

- Eu tenho uma irmã, além de Gemma. Ela se chama Carolina.

Os cochichos aumentaram.
Que porra-

- E eu tentei mata-la. - soprou, abaixando o rosto.

- Harry Edward Styles! - seu pai se levantou bruscamente de onde estava,


fitando-o exasperado. Sua voz se sobressaiu de qualquer murmúrio da sala.
Verônica, sua madrasta, a qual mantivera-se quieta e debochada até então
levantou-se também.

- Garoto insolente, o que fez com a minha fi-

- Ela sobreviveu. - Styles prosseguiu, antes que Verônica interrompesse e o


desencorajasse.

Do espanto unânime e da quietude mortífera passos audíveis ressoaram da


figura que subiu ao tablado.

E veio ao centro.

- Eu estou aqui. - Carolina anunciou-se.

Todos a olharam.

Verônica e o rei de Malta caminharam pasmos para mais próximo,


completamente atordoados.

Se este cenário fizesse parte de um livro mais fantasioso, então o sol daria
lugar para uma tempestade.
Uma tempestade tão forte quanto a que ocorria entre eles.

Ninguém compreendendo nada ou fazendo nada senão piscar suas


curiosidades para fora com a visão astuta presa nos acontecimentos, presa
na feição de dor de Harry, nas lágrimas silenciosas do rei e rainha de Malta,
e no sorriso vitorioso da garota que era, enfim, o centro das atenções.

Carolina marchou saltitante para o meio de tudo, puxando a coroa destinada


a Harry para si e se auto-coroando, mesmo que ela ainda tivesse, por lei,
que realizar seu próprio treinamento de Rainha antes de ser consagrada.

- Pai, mãe... eu estou viva. — disse com as orbes verdes marejadas. — Eu


sobrevivi ao atentado monstruoso de Harry e agora poderei ser a futura
governante de Malta. Pronta para honrá-los como merecem.

- Caroli- Styles iria chama-la. Ela, no entanto, acenou para que ele se
calasse.
- Senhoras e senhores, como futura rainha de Malta por direito, e princesa
oficial, anuncio meu primeiro decreto. — ela proferiu, virando-se confiante
e entusiasmada para o público. — Pelo crime cometido, e por ter enganado
a todos alegando ser um príncipe de sangue: Condeno meu irmão, Harry
Edward Styles, à morte.

Harry travou a respiração, sua bengala despencando para o piso em um


baque ruidoso.
Ele buscou suporte com o olhar, lançando-o para seu pai, na esperança de
que o rei anulasse essa sentença, de que o rei interferisse na morte de seu
próprio filho.

Entretanto, tudo que obteve foi um aceno insensível dele e um sorriso


satisfeito de Verônica para a máxima de Carolina.

O chão sob seus pés se desintegrou, a sensação de desamparo sendo quase


insuportável para aguentar.
Seu pai nem relutou com aquilo, nem esboçou qualquer dúvida. Ele... ele
não se importava.

Styles se abraçou em um ato de autoproteção, sentindo-se pequeno e


vulnerável.

- Harry não será morto, seus idiotas. - Tomlinson decretou em alto tom,
materializando-se como fumaça na entrada.

- Príncipe William, por favor, tenha mais respeito para com as Vossas
Majestade. - algum orador secundário ordenou.

Louis ignorou-o veemente enquanto caminhava para dentro do salão, em


direção ao palco. Sendo assistido por olhares afrontosos e atônitos.

Styles o olhou com lágrimas transbordando suas pálpebras.

- Harry não será morto porque não é permitido que se mate um príncipe de
outro Reino, a menos que declare Guerra. - atestou.
Ele estava ali. Louis estava ali. Aparentando-se exausto, com olheiras
demarcadas e o traje que lhe fora feito sob medida e cabelos devidamente
bagunçados.

- Ao que se refere, Louis? - Carolina contestou, indignada. Ela não parecia


descontente por vê-lo livre, afinal já tivera êxito em sua vingança. - Não
tem o direito de intervir em uma sentença de Malta. Comande seu próprio
território.

Ele subiu as poucas escadas até unir-se a eles no tablado, posicionando-se


entre Harry e a princesa, entrando na frente do príncipe protetoramente.

- É o que estou fazendo. Harry não pertence a Malta. Ele é um cidadão de


Riverland. E sob meu Reino, doce, você não manda em nada. — Louis
cuspiu, fitando-a desafiante. — Lorena, Carolina ou como quiser ser
chamada, você obteve seu trono, a atenção que almejara. Deixe-o em paz.
Porque eu garanto, ninguém machucará ele.

A princesa cruzou os braços irritada.

- Você não é estupido neste nível para crer que pode simplesmente
consagrar-se rei com um marido que sequer é um príncipe de sangue e está
sob pena de morte por assassinato, certo? - ela lançou.

Mark, pai de Louis, pronunciou-se de onde estava entre todo o público, com
Johanna à sua esquerda e os outros quatro filhos acomodados à direita.

Sob sua face entristecida e seus cabelos grisalhos, ele disse:

- Filho, é verdade, infelizmente. Não pode colocá-lo no cargo de rei. Não é


justo com a nossa população, não é correto que perpetue um assassino
exilado como líder deles.

Louis virou-se para trás por um momento, visualizando Harry rapidamente.

Harry e aquela roupa ultrajante, e a gargantilha extravagante, e as asas um


pouco cafonas mas graciosas, e seus olhos úmidos e perdidos, e seu coração
despedaçado.
E toda sua insegurança, e seus pesadelos e demônios.

Ele viu tudo.

Uma raiva apoderou-se de si.


Uma raiva crescente e constante.

Essa merda injusta não terminaria assim.

Louis girou-se em seu eixo para que agora estivesse de frente à plateia,
recebendo as feições desconfiadas, as feições em expectativa.

- Querem escutar algumas verdades? Eu vos direi algumas verdades. —


alegou, confiante e intrépido. — Vou ensina-los como, sob vossas
concepções distorcidas, como se usa uma coroa.

A euforia se silenciou, Tomlinson apontou o indicador em direção à


Verônica, de pé abaixo do palco, e torceu o nariz com nojo.

- Você usa uma coroa se escondendo em mentiras, você usa uma coroa
assassinando a própria enteada para garantir que sua filha seja coroada.
Envenena-a a fim de retira-la de seu caminho.

Ela o encarou abismada, empalidecendo.


Louis então sinalizou para o marido, o rei de Malta, paralisado ao lado dela.

- Você usa uma coroa negligenciando seu filho. Você usa uma coroa
tratando-o como um lixo porque não tem coração ou honra o bastante para
responder suas cartas, para ensiná-lo o que é amor e fazê-lo se sentir amado.
— acusou, não recuando nem com a expressão repressiva do mesmo. —
Você usa uma coroa permitindo que ele se perca de si, ignorando seus
pedidos de socorro, pois não é digno para socorrê-lo. Que tipo de rei,
honestamente, é? Se não ajuda alguém do próprio sangue, o que fará para
com seus cidadãos?!

O rei de Malta certamente estava xingando-o mas Louis relevou, desviando


o rosto para outro ângulo, sentindo duas mãos o agarrarem sutilmente pela
cintura. As mãos de Harry, trêmulas, pretendendo segurarem-se nele para
que o corpo não desabasse. Louis colocou suas palmas sobre elas,
apertando-as para transmitir alguma segurança.

A atenção de Tomlinson, portanto , foi dirigida pura e explicitamente para o


rei Franco, o qual estava na primeira fileira, fitando-o desconfiado.

- Você usa uma coroa assediando príncipes jovens porque não aceita suas
personalidades, porque não os aceita. Você os estupra quando os visita em
seus próprios Palácios, você os traumatiza e os empurra para um mundo
terrível com a desculpa que isso é uma punição. — revelou, franzindo o
lábio como se estivesse reprimindo uma ânsia, Harry o pressionando perto,
desnorteado — Isso não é uma punição, isso é uma tortura desumana.

Por fim, Louis se virou para Carolina, a qual o estudava hesitante.

- E você... você nem sequer usa uma coroa, ou deveria usar... porque foi
impertinente ao decretar uma decisão baseada em sua aversão pessoal. Você
manipulou, arriscou a vida de inocentes em troca de sua vingança, criou um
jornal anônimo com fofocas alheias e difamações. Não passa de uma
hipócrita. — Tomlinson desceu o olhar de seus pés à cabeça. — E este
vestido ficaria muito melhor em Harry, querida.

A princesa fechou os punhos de raiva.

- É assim que vocês usam suas coroas. Colocando-as sobre suas cabeças
ignorantes e empurrando a poeira para baixo para que ninguém note os
defeitos. Escondendo-se sobre elas! — Louis reverberou, rindo satírico. —
Vocês não são nobres. São um bando de trapaceiros cheios de si que se
colocam no pedestal porque pensam ser inalcançáveis. São amargurados
que perpetuam um ciclo de dor e abuso e interesse próprio.

- Príncipe William, por favor... - Don Luminiére suplicou em um sussurro,


desesperado com a algazarra e discussões internas que se iniciavam a partir
das declarações polêmicas.

Louis negou com a cabeça. Ele não tinha acabado.

Com uma voz mais controlada e amena, declarou:


- Vingança é algo tão vazio. Quando você se afunda ao nível das pessoas
que te feriram, a única pessoa que está verdadeiramente traindo é si mesma.
Você quem terá que conviver sob a pele do que se tornastes. Você quem terá
de ver como o mundo deles se transforma num lugar amargo e cínico, se o
permitir. Você que talvez tenha que aprender da maneira mais difícil que
não há alegria em magoar os outros da forma que foi magoado. — Louis
lamentou, entreolhando entre Lorena e Harry. — Só há a opção de subir
acima dela ou ficar preso dentro dessa dor. Porque no final do dia só há um
modo de se livrar daquele que o mostrou seu pior, que é seguindo em
frente... para deixar-se ir, para libertar sua vida da raiva que te faz pequeno
e preso dentro de memórias ruins.

Houve uma pausa. Uma pausa na qual o príncipe e a princesa de Malta


mantiveram um contato visual significativo e silencioso.

- Isso é redenção. É sobre se orgulhar por saber que teve a oportunidade de


machucar alguém que já o machucou no passado, e que não o fez. Que não
se rebaixou. Porque senão vocês são todos parte do problema. Porque, caso
o contrário, você não é melhor do que quem o feriu.

A quietação geral englobou o salão.


Nenhum ruído era mais entonado entre as pilastras douradas e os adornos
de ouro.

Subitamente aquele local soou frio, como se o luxo estivesse em décimo


plano, e as esculturas caras nem existissem.

Os quadros, as joias, as coroas... elas pareciam superficiais. Elas pareciam


comprar suas almas.

As respirações eram exasperadas.


E a pauta verídica.

Subitamente os reis, as rainhas e os monarcas faziam parte de algo tão


transbordado, que, apesar, eram ocupados de frivolidade, com propósitos
ocos, insignificantes.
- Louis está certo. — Carolina proclamou fracamente, bufando em
desistência, seus cílios em piscadas rápidas para dispersar as lágrimas.

- E-ele está. — Styles gaguejou, os beiços trêmulos.

— Eu retiro a condenação de morte que imporia a você. — divulgou, ainda


que um pouco relutante, travando uma Guerra interna contra seu rancor. —
Eu retiro a condenação de morte do meu irmão.

Afinal... eram olhos verdes.


Dois pares deles.

Tão iguais, com simetrias e cilios que provinham de uma mesma genética,
fisionomias e histórias de vida semelhantes.

Era o mesmo formato de boca, e as mesmas covinhas laterais.

Era um pedaço de cada um no outro.

Styles a lançou uma expressão de reconhecimento mútuo, passível, cansada.

Tão cansados.
Todos tão cansados.

- Príncipe William, no entanto, ainda não pode relacionar-se com o Harry


Edward Styles sabendo que ele não é um príncipe de sangue, e
consequentemente ninguém da corte. — o Rei Franco se sobrepôs, puxando
a atenção alheia para si.

Ele estava estendido de pé, evidentemente confrontando-os, insatisfeito pela


petulância de Louis e o afrontamento de sua autoridade.

- Você usa uma coroa para poder, eu entendo. — Tomlinson proferiu. —


Mas no nosso reino nós usamos-a para amor. Porque amamos nosso povo,
desejamos o melhor para eles e o melhor para nós. — ele varreu o público
procurando sua família flagrando-os com sorrisos largos, de orgulho. —
Meus pais me ensinaram que você deve ser limpo e honesto ao lidar com
um Reino inteiro. — Louis inspirou fundo. — E se eu governasse
diariamente recordando que escolhi a coroa com ela me custando Harry, eu
não estaria sendo autêntico ou legítimo, estaria sendo um ambicioso fútil,
como o senhor é.

- Que ousadia descabida você-

- Para tal, eu renuncio à coroa. - Louis decretou.

Assim.
Com dezenas de indivíduos arfando pasmos.

- Lou, não. Não. Não. — Harry interveio, puxando-o exasperado para que
ele o olhasse. — Você não pode fazer isso. Você não pode desistir do trono,
e não vai. Contento-me o bastante de ter ciência de que o realizaria por
mim, contudo eu jamais me sentiria bem com essa decisão, sabendo que
rompi com seu futuro e-

Tomlinson empurrou sua mão para tapa-lo a boca, para que ele engolisse
seu desespero e suas palavras.

Porque... porque...

- Paixão, você é o meu futuro. - Louis decretou, expondo um sorriso


emocionado para toda a dor de Harry esvaindo de suas gramas de verão.
Para que as lagoas azuis pudessem rega-las de esperança.
Para o aspecto abobado e espantado e fascinado daquele príncipe
injustamente bonito e adorável e bobo com um par de asas de cetim e um
vestido rosa que ele pretendia amanhecer junto todas as manhãs seguintes
de sua existência.

"Oh, seu tolo" Harry sibilou inaudível, emocionado e desacreditado, para


que Louis fizesse leitura labial e risse de sua ousadia. Styles não tinha
palavras ou declarações formuladas que saíssem de sua língua, muito
desnorteado. Seu sorriso, no entanto, era brilhante, como se houvessem
milhares estrelas entre eles em uma labareda solar. Fogo, energia e uma luz
ascendente.

-Não! - uma voz repercutiu, sobressaindo-se das demais.


Eles torceram os pescoços surpresos, deparando-se com Johanna erguida,
com um coque bem feito e uma feição destemida.

- Meu filho, Príncipe Louis William Tomlinson, não renunciará a coroa


alguma! — ordenou. — Ele irá governar, ele seguirá a linha sucessão de
Riverland. E se Louis escolheu Harry para estar junto, é porque o jovem é
digno, é alguém que merece o perdão e respeito. Ambos serão futuros reis
em nossa terra.

Mark, embora, demonstrou-se pasmo, tentando encostar em seu braço para


que Johanna reconsiderasse as circunstâncias.

A rainha não recuou.


Ela permaneceu ali, em um diálogo telepático com Louis o qual o príncipe
sorria visivelmente orgulhoso de sua mãe, e Harry segurava-se para não
desmaiar de espanto.

- A senhora não pode fazer isso! Vai contra as regras da Anistia dos Tronos!
Não tem o meu consentimento para tal! - O rei Franco imediatamente se
opôs, enfrentando-a do assento que estava.

- Que se dane essa maldita Anistia! - ela rebateu, inabalável, fazendo com
que o velho e arrogante rei risse irônico.

- Oh, jura? Pensas que isso se trata de um conto de fadas e quer ser a fada
madrinha dos dois? — proferiu, torcendo o nariz em desgosto ao encarar
Harry — Se quer abrigar este traste assassino em seu Reino e ainda torna-lo
Rei, então saiba que a consequência será catastrófica pois o Reino Franco e
todos os nossos aliados estarão proibidos de estabelecer quaisquer tratados
ou acordos comerciais com vocês. — finalizou, em seu ar de vitória.

Porque... é. Riverland não era autossuficiente, eles não seriam aptos de


prosseguirem sem contato ou comércio externo.

Johanna rangeu a mandíbula abalada, e Mark já a puxava para sentar-se de


novo quando:
- Riverland não estará sozinho. Se deseja decretar bloqueio continental para
com este Reino, logo Arlen também romperá qualquer ligação política e
econômica com os francos. - Zayn se manifestou, ocasionando o terror da
multidão que se calou sob a reviravolta.

- Quem julga-se ser para declarar algo do tipo?! - o pai de Malik contra-
argumentou, elevando-se entre a plateia.

- Sou o próximo rei de Arlen que já possui o trono garantido, voz de


decisão e influência. — Zayn replicou, seco e direto. — Este é meu
veredito. Arlen alinha-se à Riverland.

Seu pai aparentou descontentamento, entretanto não interferiu.

- Bristok também. — Liam repentinamente comunicou, seu semblante


decidido e o queixo erguido. — Se o rei Franco foi capaz de uma atrocidade
daquelas, nós não compactuaremos mais com suas deliberações.

Louis voltou-se para eles, acenando agradecido.

- Da mesma forma Ravena assume votos para com Riverland. — Niall


exprimiu.

Pouco a pouco alguns outros príncipes e promessas de alianças foram sendo


expostas. Sendo clamadas e concedidas. Não somente príncipes, como até
reis e rainhas passaram a ofertar apoio.

- Que motim desestruturado é este?! — Rei Franco contestou, sua face


vermelha de ódio com as veias de seu pescoço proeminente ao que ele
berrava indignado. — Qual a autoridade que creem possuir para rebelarem-
se contra mim?

- Aconselho-o, Vossa Majestade, que você mesmo renuncie ao seu trono.


Premedito que assim que seu segredo sujo for exposto aos seus cidadãos
ocorrerá uma diáspora franca, ou, se forem extremistas, uma insurreição
contra sua figura. — Louis enunciou, exibindo um olhar afiado — Mas,
particularmente, eu não me lamentaria caso o decapitassem.
Um conjunto de urros tomou o lugar, as princesas e monarcas franceses
participando das vaias em prol dos outros Reinos, em uma condenação
óbvia do Rei Franco e seu histórico de abusos, o qual, afugentado, marchou
pisando duro e revoltado para fora do salão.

Don Luminiére até disfarçou uma risada.

- Bem, agora vocês têm a permissão para reinarem futuramente Riverland. -


Johanna piscou divertida para eles. Louis assentiu entusiasmado, plantando
um beijo casto no queixo de Styles, que corou pelo carinho.

Um empregado real andou até os dois, segurando uma almofada vermelha


onde duas coroas estavam repousadas.

- Condecoro-os aptos para governarem. - Luminiére atestou, pegando-as


uma por vez e encaixando nas cabeças dos príncipes.

- Como você, Vossa Alteza, teria renunciado a tudo, a toda a grandeza, por
uma pessoa?! — o rei de Arlen, pai de Zayn, questionou genuinamente
atordoado, intrometendo-se no cenário afetivo.

Tomlinson desviou seu foco para ele, inspirando devagar. E, assim, com a
expressão iluminada anunciou:

- Há um lindo e enorme Palácio em Riverland, com um trono majestoso, de


veludo vermelho, que esbanja poder. Existem tantos quartos que eu chego a
perder as contas, e salões para mais refeições diárias que nós somos
humanamente capazes de consumir. Tem tantas bibliotecas que nem se eu
dedicasse minha existência inteira conseguiria ler metade dos exemplares. E
tudo, tudo isso, foi destinado a mim. Cada alvenaria que constitui a muralha
em volta, cada fonte de água vitoriana disposta no jardim, cada conforto e
comodidade programados. Eles me esperam.

Entre todos os rostos e todos os murmúrios, Louis encarou fixamente Harry.


Encarou sua boca escancarada, seus cachos suados.

- E.... há um sobrado... um sobrado abandonado construído de pedra com


pisos de madeira, paredes gastas. Um sobrado com janelas que nem sempre
me permitem ver através delas. Mesas e cadeiras tomadas por toda a poeira,
com tijolos que foram erguidos um por um. Um telhado instável, que ora
nos proteje e ora cede. E não há biblioteca ou mobília porque ele ficou
desabitado por muitos anos, ele ficou vazio. Ninguém foi corajoso de
residir, com medo de ser soterrado em seus escombros. — suspirou,
notando que Harry mordia o lábio inferior. —Mas eu sei que a terra é fértil,
e que posso plantar um jardim inteiro e belo a sua volta. — Tomlinson
ergueu sua mão e a repousou na bochecha do maior, acariciando-a
suavemente ao que Styles fechava os olhos. — Ainda assim eu não o
reformaria. Não mudaria nada sobre ele. Este sobrado é um lugar onde eu
não me sinto sozinho. Este é um lugar onde me sinto em casa. — Louis
trouxe Harry para um abraço, ouvindo-o fungar em seu ombro. — Ele é o
meu lar.

- Lou-

- E um lar vale mais do que qualquer retorno que o poder iria me oferecer.
— Tomlinson soprou, aproximando seu rosto tão perto do de Harry que
suas respirações ofegantes se chocavam. Eles se uniam. Como se não
estivessem em público. Neste universo particular segredando promessas. —
Você é a minha borboleta que um dia quebrou as asas, mas agora que as
curou têm a chance de voar, então venha comigo, amor, venha aonde
poderei protegê-lo, e aquecê-lo, e idolatra-lo.

Harry piscou lento e emocionado, emergindo um sorriso lateral pretensioso


da forma que costumava quando deseja provocar Louis.

- Nós temos esse costume de fazer declarações que soam como pedidos de
casamento, não é? - Styles cochichou rente à boca de Tomlinson, arqueando
as sobrancelhas insinuante.

- É porque este é um. - rebateu.

E.... porra. Porra? Porra!

Tomlinson se ajoelhou em sua frente.


- Por cada "boa noite" que você não recebeu, por cada beijo perdido, para
cada abraço que você deu, colocando tudo de si, enquanto do outro lado
haviam apenas braços fracos.

Por cada estrela que você assistiu silenciosamente sozinho, por cada vez
que você esteve exausto por ninguém valorizar o que há no auge do teu
coração, por cada carícia vazia, por cada olhar esperado e nunca
encontrado, por cada carta nunca recebida.

Por cada manhã ensolarada gasta pensando sobre como seria bom ser
tomado pela mão. Por cada noite quando assustou-se com um trovão você
acordou, chovendo de repente, e não teve ninguém para tranquilizá-lo. Por
toda promessa quebrada, por toda a confiança traída.

Pelos arco-íris que te movem. Para cada lágrima que você derramou pelos
que não a mereciam. E segurou firme. Não se desligou só porque ninguém
não via sua luz.

Sua força, sua fé e suas dores me fizeram te encontrar, Harry.

Fizeram-me amar sua loucura mesmo que você não a amasse. Fizeram-me
apaixonar-me pela sua forma desastrada de caminhar, tropeçando, porque
você nunca olha para o chão. Fizeram com que eu o assistisse com seus
olhos voltados para o céu, no limite entre cair e se reerguer.

Você manteve seu amor escondido porque achou que fosse a sua ruína, na
verdade, é a sua salvação.

Tomlinson apanhou de seu bolso, ainda na posição que estava, uma


caixinha de veludo preta.

- Ha-

- Deixe-me fazê-lo. - Harry interrompeu-o, mirando, determinado, a fundo


das lagoas azuis.

- O quê? - Tomlinson devolveu desorientado.

Todavia, Styles puxou-o para Louis se estendesse de pé novamente.


- Deixe-me ser quem faz o pedido. Você se declarou muitas vezes, agora é a
minha.

- Você é uma princesa empoderada. - Louis sussurrou, tocando-o em seus


braços com suavidade e carinho, e entregando-o a caixa de veludo preta.

Harry levou isso como um consentimento, retomando algum fôlego e


recuando passos para longe do casulo em que ele e Louis estavam.

Quando julgou alcançar uma distância adequada para que os demais


pudessem escuta-lo, Styles se ajoelhou.

- As pessoas têm procurado por séculos para encontrar o jeito certo de dizer
'eu te amo' e para explicar essas borboletas que correm em seus estômagos,
o aquecimento macio no ventre e o coração falhando batidas. Você me
mostrou tais respostas. Você me ensinou que as melhores e mais bonitas
coisas desse mundo não podem ser vistas ou escutadas, elas precisam ser
sentidas. — Harry sibilou, veneração escorrendo pelas bordas. — E eu as
sinto. Agora as sinto. Você me levou a senti-las. Você me levou a tocar na
lua, beijar o sol e pisar em nuvens nos simples atos poéticos que escreveu
em mim.

Styles sorriu um pouco sapeca, estendendo a caixa entre eles, abrindo-a e,


surpreendendo-se ao revelar um anel simples, sem qualquer diamante
cravejado ou enfeites exuberantes.
Um anel de prata, com uma única esmeralda no centro.

E isso representava tanto eles. Porque... era real, e era natural e bonito. Não
precisava dessa ostentação frágil que já os cercava.

— Louis William Tomlinson, você aceita contar as estrelas comigo, mediar


diálogos entre mim e as flores, ver-me correndo pelo jardim nu nos
domingos de verão, ter que aturar meus resmungos quando acordar mal-
humorado, aguentar mais sexos em um dia que o permitido, e flagrar-me
desfilando com trajes peculiares nos bailes de sua família? — Harry
discursou, oferecendo um olhar divertido ao mencionar o 'sexo' — Você
aceita ser a minha juventude e a minha velhice? Você aceita ser a minha
eternidade?
- Isso me lembra do começo da temporada, quando encenamos o tratado
entre um suserano e um vassalo. Naquela vez eu o prometi proteção e um
Reino, e tudo que você quisesse. Naquela vez eu o fiz um juramento de
lealdade e fidelidade. E hoje, aqui, faço outro — Louis sorriu amplo,
oferecendo sua mão para que ele encaixasse o anel mesmo que este fosse
ficar largo em seu dedo porque tinha sido destinado a Harry, antes do
maldito roubar o 'pedido do matrimônio' para si — É lógico que aceito,
paixão.

Styles enfiou o anel improvisado e se levantou calmo, indo para seus lábios
e o conforto de suas braços em um beijo lento, e forte, que sugava seus
fôlegos e misturava suas chamas.

Entre esfregarem suas línguas uma contra a outra com barulhos estalados de
suas bocas e sorrirem apaixonados, começaram a escutar aplausos.
Os aplausos vieram tímidos, pela família de Louis, porém logo se
espalharam entre os convidados e então eles eram o motivo pelo qual
alguns reis, rainhas, monarcas, oradores e empregados estavam assoviando
e celebrando.

Celebrando o amor.

Tomlinson afastou-se a fim se respirar, com Harry e seu sorriso


deslumbrado e as bochechas molhadas e asas amassadas ainda contra seu
peito.

Foi quando ele viu.

Foi quando Louis flagrou pelo canto do olho a imagem borrada de Andrew.

Flagrou-o escondido entre tantos que estavam de pé participando da


comemoração.

Flagrou-o portando um conjunto de arco e flechas.

De repente, tudo na órbita de Louis passou a estar em câmera lenta.

Não haviam mais os aplausos, nem os arquejos ou sorrisos.


Ele somente via Andrew posicionando-se, com um olhar furioso e quase
psicopático.

Andrew contraindo uma de suas mãos para trás, com uma angulação
programada.

Andrew lançando a flecha, ela fazendo seu caminho para a direção deles.

Ele sabia que aquele príncipe era bom em mira.

Assim, o salão inteiro sucumbiu ao silêncio, como em uma peça grega de


romance épico e trágico chegando ao seu final.

Escoando-se da quietude um único e sôfrego suspiro.


E, por fim, o tintinar da coroa de ouro batendo contra o piso.

***

Notas da autora: Epílogo sai (possivelmente) no domingo. Não se


desesperem, confiem em mim.

Obrigada por sempre me permitirem fazer o que eu gosto e me apoiarem


nesse trajeto, todo o trabalho é dedicado para cada um que o acompanha.
Vocês são fodas!
Epílogo

(reparem na mídia do capítulo anterior e a dessa.


Ouçam a música do capítulo do começo ao final.
Percebam que ele será metafórico ❤)

Episode: Harry and Louis

Você já pensou sobre a morte?

É engraçado porque o ser humano é o único que tem consciência da morte.


É o único que discorre a respeito dela levando em consideração o aspecto
da finitude e da infinitude.

Já teve um lapso de delírio onde cogitou como seria perder uma pessoa que
gosta, a conclusão sufocante , o desespero cru, do quanto doeria?

E se já perdeu, como foi?


Como é seu próximo suspiro acompanhado de lágrimas ao perceber que nós
estamos a cada instante dizendo um adeus adiantado da vida? Um adeus
mais curto de quem ama?
Que seu batimento cardíaco tem prazo de duração?

Talvez essa seja a questão: usar o termo errado para definir as coisas.

Falecer não é perder. É manter protegido dentro de ti, onde ninguém mais
poderá tocar. É preservar. É prolongar. É eterniza-lo.

"Eterno" não é uma questão de constância, é uma questão de importância.

Porque... existem episódios de um dia, tardes bonitas e momentos


marcantes que você não deixará ir embora das suas lembranças.
Estas são as suas eternidades.
E eternidade não significa tempo.
Eternidade significa momento.

Eternidade não dura para sempre.


Ela dura o quanto você a faz durar.

Amores eternos que perduraram três décadas.


Uma paixão estrondosa que durou cinco meses.
Um fascínio raso que te marcou por oitenta segundos.

Encontrar a eternidade nas efêmeras passagens.


Encontrar a eternidade personificada na transgressão de um único dia, ou
então de uma singular hora.

Buscar infinitude nos acontecimentos finitos.

Há muitas eternidades.

E Louis... Louis encontrou a eternidade em Harry em seu amor por ele...


nos muitos, muitos, detalhes.

Ele encontrou a eternidade em Harry em seus sorrisos tímidos de quando


recebia um elogio a respeito de seu potencial (porque não estava
acostumado antes).

Ele encontrou a eternidade em Harry nos sorrisos vangloriados de quando


comentavam sobre seu vestuário, e como ele se deixava se gabar um pouco
porque simplesmente era um narcisista incorrigível.

Louis notava que os sorrisos para cada situação eram diferentes. Eram
específicos. Se fossem honestos viriam com covinhas afundadas. As
curvaturas mudavam, e os ângulos também.
Louis encontrou a eternidade neles.

Naquela temporada ele havia assistido a sua metamorfose. Assistiu a


metamorfose completa do príncipe, desde o estágio em que rastejava em
sujeira e negligência como uma lagarta até aquele em que se colocou em
um casulo, porque aceitou mudar, porque precisava se transformar e
precisava abandonar toda a fiel fantasia que vestia para trocar por uma
nova.

Então Louis o viu.


Em sua resplandecência.
Em seu auge pós-crisálida.
Em seu apogeu.
Até que Harry pudesse enxergar suas asas (talvez ele goste de tornar essas
metáforas literais), e sua dignidade e honra novamente se reconstituíssem.

As pessoas tendem a apreciar borboletas na sua última fase porque elas


ficam bonitas e coloridas.

Mas Louis não amou mais o príncipe quando este assumiu seu ápice de
transformação. Ele não o amou só quando as partes consideradas belas
estavam nítidas. Ele não o amou somente no final de seu ciclo de
renascimento.

Ele o amou sempre.


Ele o amou quando era cinza. E ele o amou quando era colorido.
Ele o amou quando Harry não conseguia enxergar o próprio valor. E ele o
amou quando suas asas ficaram visíveis a todos (novamente, uma metáfora
literal).

Era só... era só puro e genuíno o fato de você amar uma pessoa em suas
etapas mais decadentes e incentiva-la a alcançar a sua melhor versão.
Porque todo mundo é uma poesia no aguardo de sua metamorfose.

E, céus, Louis teria tanto sobre Harry para guardar.

Ele teria o assombro de seu garoto na noite de coroação, no instante em que


Carolina caiu deitada no chão em um baque forte.

Ninguém tinha entendido além de Tomlinson.


Até o alvoroço começar.
E guardas segurarem e puxarem Andrew pelos braços enquanto ele sorria
vitorioso para seu ato.
Um filete de sangue escorreu até o pé de Louis, ao que ele acompanhou
hesitante o rastro com o olhar, flagrando, para seu desespero, uma poça
vermelha ao redor da princesa, que parecia desacordada.

A cena se congelou com o público se aproximando, enfermeiros reais


correndo para socorrê-la, Verônica se debatendo ao que o pai de Harry
encarava-a impassível e... e Styles ajoelhado no chão, encarando sua irmã
com os olhos marejados em um pensamento distante.

E, porra, Louis se sentiu quebrado, se sentiu dolorido e machucado e triste,


mas... mas ele avisou ela, toda vingança tem um preço.
E ela não quis matar o passado para salvar o futuro.
Ao invés, o presente a matou.

E o karma é um arrogante agiota que não permite pagamentos atrasados.

Ela não sobreviveu.


A flecha veio em seu coração.

O mais desconcertante, enfim, foi assistir Jezebel, a qual foi avisada do


incidente, vindo desesperada com seu costumeiro traje de criada e a face
vermelha, correndo pelo salão empurrando quem estivesse na passagem - e
se fodendo para a possível demissão que receberia ao agir de maneira
inapropriada em frente dos monarcas - até que se lançasse no tablado,
sentada desajeitadamente sobre as próprias pernas, enterrando o rosto nas
mãos sem poder controlar seu choro.

Os médicos se esforçaram para remover a flecha, mas, inconvenientemente,


sua ponta havia sido envenenada.
E aquele foi o último dia em que Carolina tivera respirado na Terra.

O Palácio de Vidro organizou um funeral grandioso em sua homenagem


três dias depois.
A maioria dos convidados permaneceram hospedados lá, nos tantos quartos
que uma residência da corte pode abrigar.

Nestes três dias Louis enfrentou a desolação de Harry, escutando-o


conversar com sua bengala mais do que o normal.
Quando o cachão foi lacrado, com rosas amarelas nas bordas de seu interior
em volta da princesa, eles souberam que aquele não tinha sido o karma de
Carolina. Aquele tinha sido o karma de Verônica.

A rainha de Malta sequer permitiu que Jezebel se aproximasse do túmulo de


sua irmã, alegando que Carolina não merecia ter se misturado com
indivíduos tão rebaixados.

Ela assassinou Gemma e saiu impune, porque apesar da alegação de Louis


não havia qualquer prova concreta de que ela tinha ordenado envenena-la.
Mas, agora, viu sua filha caindo pela mesma razão.

Harry também foi proibido de comparecer na missa.


E, que se foda, porque Tomlinson não tinha qualquer disposição para
discutir com aqueles arrogantes de merda, ele só solicitou uma carruagem e
colocou todos os seus pertences, abrindo a porta para que seu garoto
adentrasse primeiro.

Dando início à jornada deles.

Seria indiscutivelmente fácil escrever 'e eles foram felizes para sempre'.
Mas... quão razo é você ignorar toda uma trajetória de vida e abreviá-la com
um termo clichê?

Talvez este fosse o problema dos contos de fadas.

Afinal... sim, eles foram felizes, mas eles também brigavam, eles também
discutiam, eles também choravam e depois se amavam mais, e tudo bem,
porque o amor não está suposto a ser algo constante e estável, o amor está
suposto a falhar batidas, a reparar erros, a superar discussões. O amor está
suposto a ser uma aventura.

E o de Louis e Harry narraria a melhor delas.

Oh, por favor, duas personalidades tão distintas por certo gerariam conflitos
bobos sobre como quando Harry propôs para que criassem uma lei chamada
'Dias de Arco-íris' a qual definiria que quando surgissem arco-íris nos céus
os cidadãos de Riverland deveriam usar roupas coloridas senão seriam
presos. E Louis literalmente teve que fechar os olhos e contar até dez pois a
loucura de seu príncipe ultrapassava os limites.

Tomlinson sentiu-se enciumado com o fato de Styles já ter ido para a cama
com dois de seus irmãos no passado (e agora, ha, eles todos morariam em
um mesmo Palácio). Ele quase os expulsou do Reino ao ouvirem-nos
cochichando sobre a beleza de seu noivo.

E, sério, Harry era noivo de Louis.

Tudo que Styles fez pelos próximos quatro meses após o pedido de
casamento foi enfatizar cinco vezes que eram noivos a cada frase (Louis,
meu adorado noivo, será que você poderia ser um amável noivo e trazer um
mártir para seu noivo?).

Ele parecia radiante sobre tudo.


Radiante no instante em que pisou no território de Riverland e sorriu para a
beleza requintada do Palácio.
Radiante no primeiro banquete que eles realizaram com a família inteira e
na forma amistosa que Johanna o tratou, adotando-o de imediato como um
novo filho.
Radiante para o jardim bonito com muitas margaridas e bromélias que
embelezavam as pendências da fortificação.

Ocasionalmente haveriam as passagens complicadas também.

Haveriam as recaídas nas drogas em que Harry ficava a um passo de


sucumbir à abstinência porque - porra - não era fácil estar limpo para quem
sobreviveu sete anos em sua dependência.
Nessas tardes o príncipe ficaria inacessível, recluso em seu aposento,
evitando Louis ou gritando com ele pela necessidade de precisar descontar
sua frustração.
E, yeah, Louis também o amou ali, como havia prometido.

Ele o amou nas manhãs em que Harry acordava energético para um passeio
(e puxava Louis para fora da cama antes das seis) e, ao cumprimentar as
flores dos canteiros, começava a chorar desolado por não escuta-las mais.
Então Louis o puxaria para sentarem-se no banco e ofereceria seu ombro
para que o jovem derramasse as lágrimas. Eles ficariam nessa bolha o
tempo que Harry precisasse, até que a tremedeira diminuísse e seus soluços
atenuassem. Tomlinson finalizaria o episódio beijando suavemente sua
bochecha e confortando-o com um 'as flores o amam tanto quanto eu. Mas
nem todos nós confessamos nosso amor. Esse é o caso delas'.

Mesmo antes do Príncipe William ser coroado de fato rei, ele já


influenciava seu pai e participava na criação de alguns projetos.
Mark decretou - após a insistência do filho - que a caça predatória por
diversão estava proibida no reino. Ninguém deveria realiza-lo por
entretenimento.
O olhar comovido e orgulhoso de Harry ao que Louis o revelou a surpresa
foi puro e o deixou sem palavras. Styles enfatizou repetidamente que
aqueles eram seus dias dourados.

Nas tardes de domingos eles compareciam à Igreja e, sem exceção, em


todas as cerimônias Tomlinson se sentia envergonhado enquanto rezava,
pois Harry o lançava expressões insinuantes e presunçosas e uma vez esse
maldito até sussurrou ao pé de sua orelha o quanto adorava orar.

O príncipe-não-príncipe de Malta demonstrou-se ser um exímio pré-


governante, embora. Quando foi anunciado para os cidadãos que Louis
retornara da Anistia dos Tronos já com seu futuro pretendente morando
consigo eles exigiram conhecê-lo.
Para tanto a família real organizou um grande baile aberto ao público em
que introduziram Harry.

Louis nunca se esqueceria daquela noite.


Nunca se esqueceria de Harry descendo as escadarias, segurando sua mão
tão forte que ela ficou dormente. Ele estava inseguro e amedrontando e
ainda assim não impediu que seu medo fosse maior que sua essência, pois
se apresentou sob um modelo de fraque e calça rosa, com flores amarelas
pintadas na estampa, e a bengala firme em suas mãos.

Ele se apresentou sendo ele mesmo. Caminhando ao lado de Tomlinson e


oferecendo sorrisos tímidos para os que o encaravam.
Em seu primeiro pronunciamento Louis já incluiu seu noivo. ('este é o
futuro rei Harry Edward Tomlinson-Styles, o qual eu tenho sorte de chamar
de noivo').

Essas seriam as passagens graciosas.

As passagens que em alguma tarde onde Louis estivesse demasiadamente


atarefado ele poderia se recordar em um breve devaneio de como um
sorriso quase rasgou a bochecha de seu noivo quando os convidados
passaram a aplaudi-lo. Ele ficou radiante e intenso, brilhava como o próprio
sol com os outros girando em sua órbita e o admirando e o tornando o
centro deles.

Ele era irremediavelmente charmoso e fascinou os cidadãos tão fácil e


rápido que Harry se transformou em um ícone para os mais jovens, que
apostavam que o reinado dos dois próximos monarcas traria mudanças e
feitos épicos para a história.

A primeira missão que realizaram foi, sinceramente, a que consideraram


uma das mais importantes de suas existências.

Eles estavam na cama e Harry cavalgava incansavelmente em seu colo,


subindo e descendo o quadril com agilidade, projetando suas ancas para que
seu ponto sensível fosse maltratado e de sua garganta escoasse os gemidos
altos - que mentalmente Tomlinson torcia para que não alcançassem a
audição de alguém que cruzasse o corredor (ele até mesmo mudou seu
aposento para um que fosse em uma ala afastada do Palácio por precaução).

- Porra, porra, porra. - Styles choramingou ao que Louis esticou as mãos e


torceu seus mamilos entre as pontas dos dedos. - Isso! Isso, m-meu... meu
noivo.

Tomlinson se segurou para não ceder ao seu ápice ao ser chamado de


'noivo', grunhindo rouco com seu pau pulsando para extravasar, a bunda de
Styles estalando contra suas bolas em suas investidas.

Eles gozaram alguns minutos depois, com Harry se contorcendo e incerto se


quicava ou permitia que Louis golpeasse para cima enquanto se mantivesse
estático, sentindo as lágrimas inundarem seus olhos e o prazer o
consumindo em cada célula.

Ficaram um período regulando suas respirações, desfrutando da atmosfera


pós-orgasmo com seus corpos suados e melados de fluído denso.

Louis, para sua surpresa, ao fitar Harry o flagrou com um semblante


decaído, olhando lamentavelmente para seu estômago ainda na posição que
estavam.

- Ei, o que foi, paixão? - indagou confuso.

Styles bufou e fez um bico com os lábios.

- Mulheres fazem bebês assim, elas conseguem nenens ao terem sexo. E eu


nunca poderei. É só tão injusto. - declarou, acariciando o próprio ventre,
encarando a região desanimado.

- Pensei que não gostasse de crianças.

- Elas me lembravam de Carolina, mas... mas agora eu queria. Eu queria


alguns bebês para preencher o palácio depois que casarmos e estivermos
mais velhos e concientes.

Tomlinson o puxou delicadamente pelos pulsos para que ele saísse de cima
de si e o trouxe-o para deitar-se no colchão.

- No futuro adotaremos quantas fedorentinhas e rapazinhos você desejar. -


Louis prometeu, sorrindo e o embalando em seus braços. - Mas por ora
tenho uma sugestão que nos fará tão realizados quanto.

Uma semana depois a carruagem havia sido preparada e toda a carga que
levariam fora realocada em charretes atrás.

Foram dois dias de viagem até que chegassem no Reino que pretendiam.

Tomlinson parecia radiante e muito animado.


Sua primeira vista foi de um casebre pequeno com uma área de pasto e um
estábulo um pouco decadente.

Ele a reconheceu de longe. Ela corria sozinha como se brincasse com


amigos invisíveis de pega-pega.

- Lottie! - gritou, à plenos pulmões.

A garota imediatamente interrompeu sua brincadeira e desviou sua atenção


para ele tão depressa que quase caiu.
Lottie estava maior, as perna finas e mais longas, o cabelo ainda mais
comprido.

Ela correu em sua direção pulando bruscamente em seu colo como se


aquele não fosse um futuro rei de uma Dinastia e sim seu amigo íntimo.

Envolveu seus finos braços por seu pescoço o apertando forte.

- Você veio, você veio Lou! - comemorou animada, piscando para trás e
surpreendendo-se ao ver Harry. - Oh meu—

Lottie praticamente saltou do aconchego de Louis e se esticou para que


também alcançasse Styles, igual um macaquinho selvagem escalando
alguns galhos e se agarrando à figura alta e excêntrica com toda sua
espontaneidade no auge. Ela intercalava entre eles tentando manter-se
equilibrada nos dois simultaneamente.

Harry nem ao menos reclamou com seu sapato sujo de terra pisando em seu
fraque verde claro feito sob medida, ele estava estranhamente sorrindo
estonteado.

- Pirralhinha, é bom te ver. - anunciou, sincero.

- Sabe o que nós trouxemos? - Louis acrescentou. Lottie o fitou ansiosa.

- Chocolate?! Vocês trouxeram chocolate pra mim e pra minha mamãe e


meu papai?! - intuiu, a felicidade estampada em seu rosto, eternizada na
cintilância de seu olhar.
- Duas charretes com dezenas de doces e chocolates. - Harry respondeu se
gabando um pouco. - E são suíços, claro. Nós não servimos nada menos que
isso.

As próximas horas se transcorreram com os dois príncipes armando um


grande banquete de sobremesas para a garota energética e sua família
humilde, que choraram comovidos diante a situação e os ofereceram chá
para que comessem todos juntos naquela mesa de madeira da cozinha.

Louis ainda os deixou dúzias de caixas cheias de alimentos como presente.


E Harry puxou Lottie para um canto e a entregou um vestido de princesa da
cor menta que a fez simplesmente surtar e abraçá-lo por dez minutos
(inicialmente ele ficou meio sem reação com toda a adoração da criança
sobre si mas aos poucos a apertou contra seu peito e sorriu honesto).

Oh, Tomlinson eternizou-os naquele cenário.

Eternizou a imagem do pai apaixonado que ele enxergava em Styles.

Contudo, a vida não é um mar de rosas e...

...Haveriam, certamente, as passagens difíceis.

Três foram elas.

A primeira ocorreu no ano seguinte. Harry estava quase completamente


limpo, sem mais tantas crises de abstinência, aprendendo a lidar com a vida
sem substâncias químicas.
Mas, então, ocorreu o aniversário de falecimento de Gemma e pela
madrugada inteira o príncipe desapareceu.

Tomlinson o procurou desesperadamente por todas as dependências do


Palácio, não conseguindo encontrá-lo.

Agoniado, foi à área de charretes que traziam artigos novos ao Palácio ou o


estoque de alimentos e furtou uma, despistando alguns guardas noturnos
(que obviamente jamais permitiram que o futuro rei saísse desacompanhado
de madrugada).
Ele trafegou o centro.
Trafegou por uma hora.
E, em iminência de desistir, foi para os limites do pequeno bosque que
havia ao norte de Riverland, um conjunto gracioso de relevos geográficos
que concediam uma vista panorâmica de todo o território.

Louis encontrou-o sentado na beira do penhasco.

Harry não parecia próximo de pular ou qualquer coisa. Mas ele estava ali,
curvado, balançando suas pernas no ar e olhando para a lua desolado.

- V-você sorriu, não foi? Você sorriu, querida, quando percebeu estar
apaixonada. - escutou seu noivo balbuciar para ela. - Eu também sorri.

Tomlinson não emitiu qualquer ruído que o assustasse. Ele próprio estava
abalado demais por flagrar Styles sentado tão próximo de seu fim.

Seus ombros estavam trêmulos e... era doloroso e forte. Triste e bonito.

- E-ela... ela parece ser uma pessoa boa, Gem. Sua namorada. - Harry
atestou, em meio a um soluço. - Diana me lembra um pouco o Lou, ela é
austera, reservada. Ela tem nobreza transpirando de seus poros e... e deve
soar meio teimosa. Ela é o Lou todinho.

Louis, de onde estava, sentiu suas próprias lágrimas descerem sem


permissão de seus olhos.

- Queria.. queria que estivesse aqui. Estivesse aqui para ver como Louis me
trata bem. Ele é... ele é além do que eu mereço, ou do que qualquer um
merece. E... — Styles suspirou — e me pediu em casamento. Ou melhor, eu
pedi, certo, mas... mas ele aceitou e nós... eu.... nós vamos nos casar? É só
injusto que não esteja aqui para me acompanhar até o altar... uh, que
droga... s-se você estivesse nós faríamos nossos casamentos em conjunto,
e... eu provavelmente entraria com um vestido mais extravagante que o de
Diana mas... mas não vai acontecer.
Quando o choro de Harry começou a se transformar em uma tremedeira,
Louis teve que intervir por sua própria segurança.

Para não assusta-lo se afastou e pisou forte, causando barulhos de folhas


audíveis como se estivesse se aproximando só naquele momento,
chamando-o pelo nome.

- Amor? Estive te procurando. - Tomlinson avisou em tom suave, chegando


próximo.

Harry se virou devagar para ele.


Foi então que Louis notou sua aparência desanimada, porém ligeiramente
frenética. Seus olhos estavam estranhos, travados, seu cabelo bagunçado e
seu sorriso meio surpreso.

Não necessitou de muito para desprender que Styles havia tido uma recaída
e tragado alguma substância para seu organismo. Suas pupilas dilatadas o
entregavam, embora.

Mas Louis naquele instante não o apontou o dedo sobre isso.


Era... era um pouco compreensível e ele poderia deixar a repreensão para o
dia seguinte, no entanto, especificamente nessa noite ele fingiu não
perceber, fingiu acreditar ao que seu noivo murmurou um "estávamos te
esperando para nossa reunião particular, Louis. Gemma quer te conhecer".

- Será um prazer me apresentar. - ele se limitou a responder e se sentou ao


lado de Harry (junto a ele na beirada do precipício - por mais metafórico
que soasse) e iniciou um diálogo com o céu, fitando a lua e dizendo
algumas coisas como 'seu irmão é um músico, artista, noivo e futuro rei
incrível, Gemma' tendo o olhar agradecido, apaixonado, irradiando idolatria
de Harry em si.

O resto inteiro da madrugada foi transcorrida com ambos ali, trocando


conversas com um corpo celeste há milhares de quilômetros deles, em um
debate intenso e melancólico que incluía 'Ele é teimoso sim, Gems. Não me
permite pintar suas unhas de rosa quando quero' . E Louis responderia algo
como: 'Eu só não deixo em semanas de viagem! Não posso ir em reuniões
com outros Reinos assim. Minha cunhada está do meu lado Harry, pare de
tentar.'

Styles faria um biquinho negando. E seria um tanto... estranho? Os dois


estarem nessa situação mas tudo bem porque ao menos o príncipe não
chorava mais, derramava algumas lágrimas só e ainda sorria
esporadicamente.

Eventualmente o sol estava prestes a raiar e Harry afundou seu rosto no


pescoço de Louis fungando e alegando que não queria ver isso, não queria
ver a Lua sumindo de seu campo de visão porque seria como se despedir de
Gemma e doeria.

Tomlinson o abrigou em seus braços e mexeu suavemente em seus cabelos


para que ele rapidamente dormisse.

E - diga-se de passagem - após muito esforço e cuidado para não derruba-


los no precipício, carregou Harry adormecido para dentro da charrete e o
posicionou entre os tapetes macios, levando-o de volta ao Palácio.

Na próxima tarde Styles confessou envergonhadamente ter pego uma


pequena quantia de alucinógenos para o caso de emergências.

Eles não conversaram sobre isso durante um tempo.

Eventualmente as coisas se normalizaram e eles retornaram para a rotina de


acordarem cedo e caminharem entre as rosas, para a rotina de cavalgarem
nos limites no Reino com o céu em um tom claro e poucas nuvens os
concedendo a sensação de estarem planando, voando por colinas em direção
ao pôr do sol.
Eles retornaram para a rotina de dividirem seu tempo livre entre receberem
convidados de cortes adversas e, no meio dos chás e debates políticos,
subirem para o quarto, trancarem-se e se fundirem nesse universo particular
de gemidos e declarações choramingadas.

No final daquele ano, embora, haveria a segunda bomba.


Harry e Louis estavam na biblioteca conversando com Mark e Johanna
sobre o próximo baile quando o mensageiro os interrompeu.

Amélia havia falecido.

A expectativa de vida média era de quarenta anos.


E ela alcançara seus cinquenta.

Harry desapareceu durante a noite novamente.

Louis nem precisou se questionar tanto para supor que seu noivo estaria
acomodado naquele precipício.

Teve sua confirmação ao se deparar com exatamente a mesma situação da


noite em que supostamente se comunicaram com Gemma.

Ele estava encolhido, dessa vez não olhava para o céu, a Lua ou as estrelas.
Olhava para o horizonte, perdido e inconsolável.

Tomlinson sentou atrás de si e puxou para que Styles encostasse suas costas
em seu peitoral. Eles se mantiveram silenciosos a maior parte da
madrugada, respirando fundo o ar gelado do inverno, sendo envelopados
por uma tempestade de neve fraca.

Os flocos pequenos iam gradualmente manchando a paisagem de branco,


acumulando-se nos telhados das casas, em seus cabelos, nas copas das
árvores, como fagulhas de espuma congelando-os no tempo.

- Ruguinhas está com Gemma agora, não é? - Harry eventualmente


sussurrou, apoiando sua cabeça no ombro de Louis.

- Elas ainda estão com você. - Tomlinson garantiu.

- Amar dói. - Styles declarou, numa última manifestação do episódio.

Foi quando Louis entendeu o real significado de eternizar alguém. De amar


alguém tanto que manteria a pessoa em seu pensamento, apesar de arder,
apesar de provocar saudades. Você nunca o fará ir embora completamente.
-

Em Dezembro eles se casaram.

Houveram algumas discussões de como a cerimônia seria porque


Tomlinson estava totalmente disposto a preparar a maior festa já noticiada,
colocar Harry sob o modelito de seus sonhos - fosse este um vestido armado
com uma saia que arrastasse cinco metros atrás de si, ou um fraque dourado
brilhante com fios de ouro e safiras. Ele daria tudo.

Harry, entretanto, pediu por uma celebração reservada.


Sua vida inteira se rodeou de pessoas rasas, simpatia forjada, e sorrisos
superficiais.
Ele queria que agora fosse real.
Aquilo fosse real, com pessoas reais e motivos reais.

Eles se casaram no altar do Palácio, o tema foi 'borboletas' (inevitável).

Era colorido. Era delicado. Tinha um charme requintado.


Os enfeites deflagravam tonalidades pastéis e os convidados foram
instruídos a comparecerem com trajes de cores claras, preferencialmente
creme.

Eles escolheram Don Luminiére como padrinho.

E tudo estava impecável e macio.

Desde Zayn e Liam chegando - não tão surpreendentemente - juntos, de


mãos dadas, e Niall vindo acompanhado de Jezebel (agradecendo-os por
servirem de exemplo que relações entre pessoas de estamentos distintos era
possível).

Até a maneira que Harry estava.

Com um vestido simples e elegante. Comprido, mas sem excessos. Bem


acentuado. Branco.
Seus cachos arrumados em uma trança com alguns pontos de luz entre as
mechas.
E o véu cobrindo graciosamente seu rosto.

Ele surgiu sorrindo, Johanna o acompanhando para o altar. Harry não


escolheu um buquê. Ele carregava uma única margarida, ao invés, jurando
que 'aquela era a reencarnação de Daisy'.

Uma melodia de piano tocava no fundo e Tomlinson honestamente se sentia


tocando em nuvens, leve e encantado.

O padre os fez fazer algumas promessas.


E havia uma estátua de Jesus na cruz no fundo que eles secretamente
trocaram um olhar a respeito.

Eles encaixaram as alianças piscando lágrimas emocionadas e suas mãos


geladas de ansiedade.

Eles selaram um acordo de compromisso e lealdade e fidelidade que


perpetuariam sua eternidade fosse ela até os trinta anos, até os quarenta, ou
quando rugas formassem relevos em suas faces e Styles desse à sua bengala
um uso prático.

Eles se amariam até lá e ainda depois de lá, embora a ideia de uma futura
separação física fosse inevitavelmente desesperadora.

Harry se gabou dizendo 'meu marido' cerca de cem vezes pelo resto do dia.

Após o casamento os dois passaram a lua de mel em Veneza.

Foi uma semana em que Louis duvidou de sua própria capacidade de saciar
Harry o quanto seu marido queria, pois, bem... Harry amava sexo.

Harry amava lançar-se na cama com suas pernas afastadas, sorrindo


sugestivo para Tomlinson até que este o consumisse de mais jeitos que
fossem humanamente possíveis (acredite, houveram muitos).
'Cordas' transformaram-se em um item do cotidiano para eles logo que
Styles implorava para ser amarrado na cabeceira, e fodido de todos os
ângulos até que Louis fosse tão dentro dele que sua próstata se incendiasse
e seu esperma espirrasse pelo peitoral. Ele também adorava ser masturbado
enquanto estivesse vendado, fazendo com que gozasse tão forte na mão de
Tomlinson que seus músculos da perna ficariam trêmulos pelas próximas
quarenta e oito horas.

A vida se resumiu a vinhos no calar do sereno, observações constantes do


céu estrelado e guerras de bolas de neve no jardim por um tempo.

Ambos estavam, certamente, aprendendo a manejar seus compromissos


com a diversão e aceitando que em breve, quando fosse a vez de
comandarem um Reino inteiro, eles dedicariam grande parte de sua atenção
no espírito de liderança (atesta-se que Harry possivelmente tenha escrito um
caderno inteiro com futuras ideias de leis que poderiam promulgar, e isso
era fofo porque demonstrava o quanto estava na verdade ansioso para ser
um rei).

No verão seguinte chegou um comunicado de que o Rei Franco havia sido


morto em uma rebelião popular por estabelecer um governo manchado de
golpes e autoritarismo.
Houve um plebiscito entre os francos da elite para decidirem quem
governaria, e, após a contagem de votos, Diana Oiselle foi escolhida para
representar a nação, o que configurava a primeira duquesa não vinculada ao
Rei que subiria a tal encargo.
Tomlinson organizou uma festa de comemoração - que aquele filho da puta
fosse, com todo o respeito, para o inferno.

Foi em Março.

Março quando aconteceu.


Eles estavam bem e Louis reparava que ora ou outra Harry aparentava meio
perdido, remoendo o fato de não conversar mais com plantas ou fritar o
cérebro com o que quer que ele usasse antigamente.

Reerguer-se nunca é fácil como parece.

Em uma dessas semanas foi-se entregue uma carta que solicitava a presença
de Styles imediatamente em Malta.

Harry e Louis discutiram por três dias a respeito. Era só incabível que o
príncipe ainda considerasse ir para lá, para seu antigo Reino, com todo o
risco desta merda ser uma armadilha e de ansiarem por vingança ou algo do
tipo.

"Você precisa confiar em mim! Eu tenho o direito de tomar minhas


decisões!"

"Eu só não quero perder meu marido, é tão difícil assim? Que caralho,
Harry!"

"Bom, você irá me perder se passar a tentar me controlar desse modo!" Ele
rebateu, sua voz falhando "Você mesmo reconheceu que sou sua princesa
empoderada. Pare de achar que não sou capaz de opinar em minhas
próprias ações"

Na manhã seguinte os dois partiram para Malta, escoltados por uma


pequena tropa de guardas pessoais.

O que os levou até lá foi, na realidade, o próprio pai de Harry.

Ele pediu para falar em particular com o filho e Louis literalmente rosnou
para aquilo. Mas Styles sendo a mente teimosa seguiu o rei para o
escritório.

Só para descobrir que seu pai estava doente. E que "embora eu odeie
admitir, já que sua irmã Carolina morreu por sua causa e não poderá
governar, Malta acabará ficando sob sua posse".
E, certo, isso já teria sido doloroso o bastante para Harry se ele não
houvesse acrescentado "não pense que estou contente com este decreto. Mal
o considero um filho. Será como um cão vira-lata liderando uma nação.
Graças a Deus estarei morto e não precisarei assistir tal desgosto. Você é
só um bastardo que teve alguma sorte".

Styles se quebrou.

Porque, aparentemente, seu pai ainda detinha o poder de atingi-lo. Ainda


tinha o poder de magoá-lo em níveis que não deveriam ser permitidos.
Ele ainda o fazia se sentir como um o garoto perdido que cresceu com a
sensação de abandono e renegação, negligenciado pela Rainha e pelo Rei,
que logo perdeu a irmã e sucumbiu ao caos.

Harry nem conseguiu se alegrar com o fato de futuramente guiar Malta.


Ele estava só... ferido.

Retornaram a Riverland em um silêncio absoluto.


Louis o estudava mais afastado, almejando dá-lo espaço e se surpreendendo
com o fato de não haverem lágrimas escorrendo pela bochecha macia de
seu marido, por mais desolado que ele parecesse.

Tomlinson não o viu pelos próximos dois dias.

E ele estava entendo que aquilo era Harry.


Aqueles sumiços e aqueles momentos de tristeza e de felicidade.

Ele ainda via sua dor.

E era uma dor que seu amor não curaria, e provavelmente nada curaria
porque não importa o quão felizes estejamos, a felicidade não apaga as
cicatrizes, ela só nos distrai delas.

E mil acontecimentos incríveis podem surgir, eles não te farão se esquecer


dos traumas, e das partes que ainda mantém reclusas e esmigalhadas.

Louis notou como estava realmente certo quando disse que não se pode
concertar uma pessoa, que somente pode se amá-la.
Você pode amá-las esperando que a esperança se propague em seu peito,
torcendo para que sua devoção alcance as extremidades frias e aqueça-as.
Mas você não pode amá-las esperando que isso cure todas as suas dores ou
espante seus demônios.

Louis percebeu que Harry permaneceria sempre lá, tendo seus dias bons e
seus dias péssimos, e que ele não conseguiria preencher todos dos seus
espaços vazios, e, portanto, só o restava orar para que as partes trincadas de
seu marido não se rachassem de vez.

Nesses dois dias de desaparecimento, Tomlinson não delatou nada para a


corte. Fingiu que Harry havia ido visitar uma amiga e logo retornaria (e ele
esperava tanto que ele retornasse).

Na noite do segundo dia, contudo, Louis desistiu.

Não pôde evitar e ir atrás do marido.

Ele se encaminhou para o bosque ao norte, notoriamente abatido, com a


impotência o destruindo.

Harry, previsivelmente, estava lá.


Escorado no penhasco, sentado com o corpo curvado.

Agora ele não observava mais o céu, as estrelas ou a Lua. Nem o horizonte.

Ele observava o chão.


A queda.
O fundo do penhasco onde as dezenas de metros de sedimento encontravam
perpendicularmente o calcário.

Onde o solo aparentava-se distante, distante o suficiente para leva-lo


embora no caso dele se lançar.

E Louis, dessa vez, não se sentou ao seu lado, não se sentou atrás dele.

Louis permaneceu de pé, próximo à sua figura.


Seu coração se apertava de uma forma que era dilacerante.
Não era justo que ele impedisse o marido do que quer que ele pusesse em
sua mente.

- Se você quer ir, paixão, se você quer ir você pode ir. - Tomlinson
fracamente pronunciou. - Porque eu não tenho direito de te impedir,
entende? - murmurou com a voz embargada, seu corpo tremelicando.

Harry suspirou fundo, levantando sua cabeça para observá-lo.

Seus olhos estavam vermelhos, injetados de sangue e lágrimas.

- O que eu posso é te dar minhas promessas e te estender minha mão, mas


se sua dor é grande assim, se seu sofrimento é tão insuportável que você
não pode aguentar, então... então quem sou eu? - Louis divagou, chorando
contido, agoniado. - Quem sou eu para te pedir para ficar? Você não tem
que ficar por mim, eu não sou a voz da sua consciência ou suas correntes
que te prendem na Terra. Você tem que ficar por você. Você tem que ficar
porque você quer ficar.

Styles engoliu o bolo de sua garganta, encarando o fim do abismo.

- E-eu não... eu não consigo ir. Eu não consigo fechar os olhos e tomar
impulso para frente. Não dá. Sou... sou tão medroso. - Harry admitiu, sua
voz rouca por possivelmente não ter verbalizado qualquer palavra nas
últimas horas.

Tomlinson se ajoelhou, fitando-o nessa intensidade de quem já o presenciou


em seus melhores e piores episódios.

- Não significa que você é medroso. Você não está sendo medroso evitando
a morte. - sussurrou. - Você está sendo corajoso. Significa que você está
sendo corajoso por não desistir.

Styles torceu os lábios, tentando prender o próprio choro.

- E-eu o amo. Mas o amor de outro alguém não tem que ser maior do que o
que você guarda por si mesmo. - Louis adicionou. - Fique porque você se
ama, porque ainda há centenas de nasceres de sol para serem assistidos,
porque na primavera as flores irão florescer e perfumar nosso jardim,
porque os formatos das nuvens te intrigam, te fascinam e você ama
discorrer sobre elas. Fique para andar à cavalo no verão, para dançar na
chuva. Fique, Harry, para ver seus futuros filhos pulando pelos corredores,
para que possa vesti-los com fantasias bizarras e ensina-los algumas coisas
que eles jamais aprenderiam comigo. - Louis piscou emocionado. - Fique
para sentir o amor deles e o meu amor eterno por você. Você merece
presenciar tudo isso, paixão.

A este ponto não havia mais nada no universo a não ser os dois.

Por fim, Harry concordou em um aceno demorado, inspirando fundo.

Tomlinson se deitou perto da beirada, com os pés no limiar do penhasco.


Suas costas contra o chão de terra, os cabelos se fundindo à grama.

Após alguma ponderação, Harry se arrastou para próximo, imitando-o e


deitando-se na terra, o peito para cima, os olhos no céu.

- Eu sei que não foi fácil pra você aceitar os meus defeitos, mas mesmo
assim você escolheu viver comigo. - o maior balbuciou. - Você escolhe me
abraçar quando eu choro, ao invés de colocar pra fora que não me entende.
Você segura barreiras que são jogadas sobre mim que não precisavam
machucar você, eram pra ferir à mim, mas você não as deixa.

Eles estavam com seus rostos voltados para a constelação, os inúmeros


pontos brilhantes destoando de toda a escuridão, do breu.
Styles procurou por sua mão, entrelaçando seus dedos.

- É quando está suficientemente escuro, que eu consigo ver as estrelas. -


Harry afirmou. Louis fitou seu perfil, esticando o dedo para secar a lágrima
que escorria pois compreendeu exatamente o que ele quis significar com
aquilo.

Algumas pessoas são como borboletas: você consegue ver, pode até tocar,
mas se você guardar uma pra você ela simplesmente morre.
Tem que saber admirar de longe.

E aguardar suas metamorfoses.

A vida tem sua própria sabedoria. Quem tenta ajudar uma borboleta a sair
do casulo a mata. Quem tenta ajudar o broto a sair da semente o destrói.

Há certas coisas que têm que acontecer de dentro para fora.

***

Eu sei que há dias em que você só quer completamente chorar. Dias que
você se questiona se ainda é capaz de sequer encontrar forças para
continuar lutando porque você está exausto.

Mas você mantém seus pedaços remendados. Você sorri e segue em frente
como se por dentro não estivesse se quebrando. Você não quer parecer
fraco, você não quer parecer sobrecarregado.
Eu sei que você está ferido.

Eu não sei exatamente o que te fere. Talvez seja um coração partido. Talvez
seja a escola, o trabalho ou um milhão de outras merdas. Talvez sejam
pessoas que não te valorizam, não reconhecem seus esforços. E talvez essa
pessoa que não te dê a devida importância seja você mesmo.

Para tal, quero lhe agradecer em nome daqueles que não apreciam o que
você faz por eles, não apreciam sua luta. Quero mostrar agradecimento por
estar aqui, por estar tentando. Isso requer força.

Confie em mim. Esse sentimento de vazio é bom. Ele está aí para te mostrar
que você não está no lugar certo mais. Desconforto é bom. Significa que
você está crescendo.

Preciso que continue indo. Continue lutando. Continue guerreando. Porque


são nessas fases em que você deseja se levantar, andar sem rumo e ir
embora que algo recompensador chega.

Há algo do outro lado dessa confusão desse coração partido e da tristeza.


Você apenas tem que alcança-lo primeiro.
No final do dia você não está sozinho. Não está sozinho porque nós estamos
todos em um mesmo barco.

Nós estamos todos em um mesmo barco, à deriva no meio de um oceano de


inseguranças, medos, rasgos no peito que não cicatrizam e ossos
esmigalhados pela pressão de falhar.

Nós estamos nesse mesmo barco sentindo-o naufragando, sentindo que


iremos nos afundar e acabaremos nos afogando nos problemas e na
insensibilidade.

Ouça-me. Você tem algumas opções.

Eu sei que a maioria de nós espera silenciosa e subconscientemente pelo


resgate. Espera que um colete salva-vidas magicamente apareça, que uma
boia surja em nossa frente e nos impeça de submergir.

Todavia, um bote, um colete... eles não são a solução.


Você continuará lá, boiando no oceano, no exato lugar que esteve quando
tinha um barco.

Se você quer ser salvo, você precisa se salvar.


Você precisa nadar.

Então nade.

Nade, mesmo que se canse, mesmo que seus músculos queiram ceder,
mesmo que a terra firme pareça estar longe.
Continue persistindo, continue se movendo. Você não percebe, mas cada
braçada está te levando para mais próximo de um destino onde as coisas
farão sentido e serão melhores. Não perca sua fé. Não se deixe boiar
apenas, não aceite as condições que te abrigam agora se elas não te
satisfazem.

Eu entendo que é fácil dizer, é fácil escutar, é fácil teorizar quando....


quando na prática tudo é diferente, tudo é doloroso e inevitável.
Mas se você acreditar, se você depositar suas esperanças em cada mínimo
centímetro que se deslocou eu juro que vai acontecer. Vai acontecer.

Não espere ser resgatado.


Não procure respostas em um amor externo.
O seu amor tem que vir de você.
O seu amor tem que ser seu e para você, principalmente.

Ele vai te levar para longe. Ele vai te tirar daí.

Há um outro jeito de escapar, embora.


E esse jeito é olhar para os lados.
Esse jeito é enxergar todos os milhares que também estão presos no barco,
todos que estão em iminência de se afogar.

Você pode ajudá-los.


Se todos nadarem juntos, ninguém fica pra trás, ninguém acaba sozinho.

Talvez se salvar soe difícil, mas você pode contribuir para que mais pessoas
consigam.

Incentive-os a se reerguer, se perceber que alguém está desistindo, que


alguém está se sufocando.... peça para que ele nade.

Peça para que ele feche os olhos, para que prenda o fôlego por um
momento. Nem todos nós sabemos nadar, então o ensine como. Ensine-o
que a distância se encurta milímetro por milímetro.

Às vezes nossa salvação está em colocar a esperança nos demais.

Somos príncipes e princesas que precisam derrotar os dragões sem


aguardar um cavalheiro prateado que o faça por nós.

Erga sua espada.


Você vai vencer.

**
"Ele faz o quebrado parecer belo,
E o forte parecer invencível,
Ele anda com o universo sobre seus
ombros,
Fazendo-o parecer como um par de asas".

**

*Fim*

(Notas finais da autora:


eu sei que este final ficou meio ... mas o quê?

Eu não queria que ele se parecesse com os demais, entende? Que eu


descrevesse uma história de vida fértil e bonita quando a essência disso
tudo é enfatizar que os problemas são parte de nós e que eles surgem
sempre porque a vida é fugaz e imprevisível.
A fanfic se trata de redenção, luta, e de renascimento.

Enfim, imagino que talvez haja alguma ponta solta que vocês tenham
dúvida (?).
Se sim, mande aqui seu pedido, sua pergunta. Se quer saber algo específico
que aconteceu com eles durante todo o resto da trajetória. Eu estou aberta
para responder e contar aquilo que ficaram curiosos para saber, se houver
interesse, claro.

Em todo o caso, agradeço pelo amor, pelo carinho e lealdade que me


conferiram nessa trajetória.
Hoje todo um ciclo de trabalho e escrita chega ao fim.
No caso de não nos vermos mais, deixo aqui minha real gratidão. Que as
palavras dos personagens e as minhas possam guia-los através dos
momentos obscuros.

❤)
One Last Goodbye

Episode: After the End

* Estou aqui para responder a maioria das dúvidas que me deixaram no


epílogo, com uma grande honra e prazer. Obrigada de coração a todos que
mandaram seus questionamentos e a todos que estão lendo esta última
despedida *

Algumas breves curiosidades de How to Wear a Crown:

* Os personagens são alegorias do nosso presente, quando criei a


mensagem de carregar a coroa em suas cabeças por serem futuros
monarcas, assimilei-a ao peso da imagem que nós levamos conosco
diariamente.
Lidamos com a pressão de parecermos preparados e aptos para assumirmos
nossas responsabilidades no futuro, zelando diariamente por 'reputações',
encaixando-nos em estereótipos.

* A história teve, obviamente, influências de Young and Beautful. Mas,


essencialmente, ela se inspira em Once Upon a Time (acreditem, assimilei
muito a postura desafiadora de Harry com a do Rumple), a fanfic The
Viscount Who Loved Me (é incrível, se dêem esse privilégio de lê-la), e o
filme Those People (Sebastian me lembra vagamente o Harry de HTWAC).

* O protótipo desta fanfic era totalmente o oposto do que no final escrevi,


ela não teria jornal misterioso ou qualquer intriga do tipo. Contudo, após
maratonar Gossip Girl um feriado, eu adicionei tal reviravolta *

- Por que Andrew atirou e, consequentemente, matou Carolina?


Eu não especifiquei a presença dele na coroação para não estragar a
reviravolta final, no entanto, ele estava lá, a cerimônia inteira.

Quando a maioria divaga a respeito de Andrew os comentários de desafeto


são unânimes. E não é para menos, ele faz muitas acusações pessoais contra
Harry que não possuem fundamentos.
Mas, se você perceber, o Andrew representa uma parte de nós.
Ele não simplesmente odiava o Harry por tolice. Em sua cabeça, Styles no
início demonstrou-se arrogante e havia tecnicamente planejado uma
armadilha para ele.

Se você olhar pela perspectiva de Andrew ele só estava se defendendo.


Pensava fervorosamente que Harry queria-o morto e sua reação foi
facilmente voltar-se contra o príncipe.
E, honestamente, se isto não fosse uma ficção e nós não tivéssemos nos
aprofundado no personagem de Harry seria fácil julgá-lo em um primeiro
instante.
Assim como é fácil nos opormos às pessoas que apresentam algum tipo de
ameaça para nós, que seja contestando nossas crenças, possuindo opiniões
contrastantes ou distintas das nossas personalidades e do que nós tomamos
como 'aceitável' ou não.

Quando Andrew escutou Louis acusar Lorena de estar por trás do jornal, e
quando ela própria expôs sua vingança, ficou esclarecido que era
Carolina/Lorena quem armara para ele, quem cometeu os crimes (na
intenção de culpar Harry).
Andrew havia sido expulso por ter agredido Styles no episódio em que a
raiva o tomou.
Creio que ao se realizar que Carolina era a verdadeira 'vilã da história', o
ódio foi imediatamente transferido para ela.

Andrew estava na coroação porque pretendia atingir Harry logo que este
recebesse sua coroa.
Contudo, com o desfecho que houve, o alvo de sua ira mudou.

Logo que os guardas se alarmaram do ocorrido, o príncipe foi detido.


Mesmo que eu não tenha especificado (e sinceramente nem pensado melhor
a respeito), acho que uma sentença mínima para ele seria seu exílio.
Não gosto da ideia de pena de morte porque não condiz às minhas crenças
pessoais - a menos que seja alguém nojento como o Rei Franco.
Mas, se pensarmos, Andrew cometeu o que cometeu por se cegar com a
sede de vingança - assim como Harry.
Se nosso adorado príncipe recebeu uma chance, prefiro ao menos manter
Andrew vivo.

Ele foi isolado nas Antilhas, ali residiu até sua morte, aos trinta e seis anos.

(Dedico esta explicação a hesbttom @azul0509 @hesfleurx


@UmAmorProibido @LarryBocadeVeludo)

- Qual foi o desenrolar do futuro de Liam e Zayn? Eles acabaram juntos?

Quando me questiono sobre eles agora tenho uma visão diferente.

Logo que iniciei essa história tive a pretensão de incluir um romance entre
eles, para que a história não se focasse completamente em Louis e Harry.

Contudo, conforme o enredo se transcorreu e eu optei por aprofundar as


batalhas pessoais de Zayn percebi que romance não deveria mais ser foco
nessa situação. Não era deste tipo de amor que ele precisava
principalmente.
Sob esta perspectiva, acabei retratando mais seu progresso no quesito de se
amar do que priorizei o quesito amar outrem.

Mas, imagino que depois de um ano do Palácio, Zayn estava de fato melhor.
Ele retornou para Arlen mais feliz e renovado. Certamente haveriam dias
que sua autoestima cairia (e autoestima não se trata somente de aparência,
como também de não se sentir o suficiente) e ele se questionaria se seria
realmente capaz de governar um território grande por conta própria.

Seus pais, da maneira que o tratavam, tenderiam a diminuí-lo em alguns


momentos - como muitos pais fazem sem sequer notarem - e o
intimidariam. No entanto, Zayn provaria que eles não deveriam subestima-
lo.
Zayn se transformaria gradualmente em um jovem mais confiante.
Durante uma das tardes de reunião, a qual acompanharia seu pai - já que
seria futuramente um rei e precisava se entrosar nos assuntos políticos - um
mensageiro o entregaria uma carta e Malik a leria desconfiado.

Seu coração se aceleraria um pouco ao ver que pertencia a Liam. Eles não
tinham se comunicado durante o último ano, desde a coroação final, e agora
estava diante palavras suas, convidando-o (suplicando) para que ele o
visitasse no fim do verão para tratar daqueles assuntos.

Zayn imediatamente entendera o recado.

Ele se encaminhou para Bristok, onde conheceu casualmente os pais de


Liam e se surpreendeu de como a dinâmica daquele reino e família eram
diferentes da sua. As realezas Payne o receberiam como um segundo filho
por alguns meses e no decorrer deste período Zayn acompanharia enfim
Liam para conhecer sua filha.

Os dois estavam ansiosos e foram escondidos e fantasiados de camponeses


para a casa dos camponeses que a adotaram.

A menina já estaria com cinco anos. Cabelos castanhos compridos e pele


um pouco morena.

Eles a veriam distantes em um primeiro momento.


Ela estaria brincando sozinha no quintal do casebre, ajoelhada na terra com
algumas bonecas bonitas ao seu redor.

Liam se quebraria naquele momento.


Ele se desmancharia em lágrimas silenciosas com o arrependimento amargo
em sua língua, divagando sobre como tudo poderia ter sido diferente, sobre
os anos que ele perdeu da vida dela que jamais tomaria consciência, sobre a
primeira palavra que ela disse e quantas vezes tropeçou ao dar os primeiros
passos.

Ele a assistiria por horas em silêncio. Os dois escondidos nos fundos entre
arbustos.
Zayn não diria nada, ele o faria companhia e esperaria sua crise atenuar. Ele
permaneceria quieto ao seu lado observando a menina consigo enquanto ela
ora corria com alguma boneca na mão, e ora cantava alguma canção
inventada.

Eles não se introduziram a ela naquele dia.

Uma semana depois, contudo, quando o futuro líder de Bristok julgasse


mais recuperado emocionalmente, os dois retornariam ao casebre no mesmo
horário, flagrando-a pulando atrás de uma borboleta.

Zayn incentivaria Payne a intercede-la e depois de alguns suspiros ele


finalmente foi. Surgiu no campo de visão da menor e apresentou-se como
amigo da família.

Inicialmente ela ficaria receosa e diria que seus pais a instruíram a não
conversar com estranhos, mas, para a sorte do mundo, Malik se uniu a eles
e, notando que o nervosismo de Liam não o permitiria a agir como uma
pessoa que não estava prestes a entrar em colapso, ofereceu-se para correr
atrás da borboleta com a garota.

Seu nome era Sophia. E Payne nunca teria sabido pois a doou antes de dá-la
um nome. Os camponeses, contudo, a par da história inteira resolveram
nomeia-la homenageando a mãe biológica. E isso floresceu uma felicidade
indescritível em Liam.

Sophia aceitaria sua presença relutante e eles passariam o resto daquele dia
em uma situação um pouco silenciosa em que tentavam capturar borboletas
do jardim.

Liam convenceria os pais dela que ele se tornasse ao menos uma companhia
eventual, desejando ser um amigo.

Com os dias e as semanas em que Zayn e Liam a visitavam com alguma


frequência, ela se encantou pelos príncipes.
O combinado foi que uma vez por semana Liam pudesse leva-la para
brincar no Palácio com ele, notando intrigado como seus olhos se
iluminavam mais ao estar em seu próprio e pequeno jardim com bonecas de
pano do que ao estar inserida em um local luxuoso, de lustres de cristal e
chão polido.

Ela só... só parecia meio apagada com aquela realidade. Como se, de fato,
não se entusiasmasse em frequentar um Palácio milhares de vezes maior
que seu lar. Liam por um momento sentiu como se talvez seu erro teve
algum bom ponto, pois assim ela não era uma pequena princesa já destinada
à coroa sendo guiada desde cedo a adquirir responsabilidades incontáveis.

Talvez tudo que ela quisesse e precisasse fosse mesmo correr pelo campo,
sujar as solas de seu pé de terra, sentir a grama pinica-la quando se estirasse
no solo, sujando e sorrindo, livre como uma criança deve ser.

Eventualmente Zayn teria que voltar para Arlen e a despedida seria difícil
porque o príncipe teria sido uma parte de sua rotina naquele final de verão e
Liam não desejava perdê-lo novamente.

O processo em que aceitavam possuir sentimentos um pelo outro foi


construído aos poucos.
Dois meses após sua partida seria Liam quem surgiria no Palácio de Arlen
com algumas bagagens questionando se ele poderia se hospedar lá e,
obviamente, Zayn ficaria surpreso e aceitaria.

O primeiro beijo deles aconteceria em uma tarde quando estavam


praticando uma melodia lenta no piano e seus peitos estivessem aquecidos e
algo martelasse na boca de seus estômagos.
Eles interromperiam as notas e, gradualmente, se encarariam, sentados
rentes no banco do lustroso órgão de cordas, encarando-se assustados e
hipnotizados.

Seus lábios se encontrariam e Liam perceberia que aquele era seu destino.
Que Zayn era seu destino. Que eles ainda iriam juntos brincar com Sophia
muitas vezes, acompanhariam-a crescendo como amigos fiéis, e teriam seus
próprios filhos também.

A sensação de anestesia permaneceria em seus beijos, nas vezes que fariam


amor sob o quarto de Zayn e nas promessas tímidas e iniciais de seu
relacionamento.
Haviam oficializado e tornado público a relação durante o casamento de
Harry e Louis, onde tiveram que aguentar Harry enviando-os sorrisos
insinuantes e piscares de olhos atrevidos que os deixariam sem jeito. Ao
final da cerimônia o maldito príncipe dos longos cachos e vestido branco
ainda teve o ímpeto de empurrar suas faces uma contra a outra para vê-los
se beijando. Harry soltaria alguns murmúrios do tipo 'awn!' inconvenientes
(ele abraçaria Zayn discretamente antes que fossem embora e declararia que
estava satisfeito e orgulhoso por sua recuperação).

Após três meses Liam pediu a mão de Zayn em casamento. Eles se casaram
no fim de Abril do ano seguinte sob um evento íntimo e delicado, com
Sophia sendo a dama de honra.
Bristok e Arlen se unificaram.
E eles foram bons reis, certamente. Tiveram dois filhos, Logan e Henry, e
prosseguiram próximos de Sophia para o resto de suas existências.

(Dedico a explicação a @overagayn @stylinsonsfw @lifestylinson )

- Niall ficou com Jezebel?

Sim! Ele a conheceu na temporada passada, e tanto naquela quanto até a


metade da segunda eles foram apenas amigos. Jezebel tinha uma
personalidade introvertida e reservada como a de Niall, então eles se
entendiam e não divulgavam muito o que mantinham para os demais.
No meio da temporada assumiram uma paixão inevitável.

Naquele dia que Jezebel flagrou a briga entre Harry e Andrew no aposento
de Styles ela estava, na verdade, indo para o aposento de Niall quando os
escutou. Ficou relutante em se intrometer temendo que aquilo a expusesse e
também agiu estranho ao cuidar das feridas de Harry por já saber que
Lorena estava tentando derruba-lo e que aquele cenário da revolta de
Andrew era uma consequência do que sua irmã havia planejado.

(Dedico a explicação a @larrujujubinha)

*
- O assédio que Harry sofria em sua adolescência pelo Rei Franco o
causou muitos traumas? Seu pai sabia?

Certamente aquilo o afetou durante seu desenvolvimento, porque ele


cresceu sendo atrelado a essa submissão, a essa imposição de circunstâncias
humilhantes sem poder se manifestar.

Talvez parte de sua propensão muito submissa tenha sido um efeito do que
ele viveu. Refletindo também na premissa que ele desenvolveu sobre 'sexo
não ter valor'. Ele mantinha muitas relações sexuais com os príncipes nas
temporadas por tratar aquilo como uma parte de sua vida antiga. Pensava
que não poderia ter o amor deles, então se contentou em ser usado e usá-los
para prazer.

É por esse motivo que no capítulo quarenta e um, quando eles fazem sexo
na Selva e Harry se coloca de quatro no chão, a intervenção de Louis é tão
importante. Porque ele entende que Harry se subjugava a esses
posicionamentos por se sentir um pouco de um objeto, acostumado a
oferecer-se a eles da forma que preferissem, da forma que os excitassem,
sem questionar muito a respeito do que exatamente estava fazendo,
querendo agradar os demais.

De volta nos tempos antigos, nas vezes em que era abusado pelo Rei
Franco.... bem, seu pai possivelmente desconfiava, pois é muito difícil que
esse tipo de ocorrido frequente não o alertasse que algo estava errado.
No entanto, ele se fez de desentendido.

A aliança ao Rei Franco era extremamente valiosa para os outros reinos -


tanto que os príncipes passavam pela Anistia dos Tronos só para serem
aceitos pela dinastia Franca. O Pai de Harry não se intrometeria ou
interviria em quaisquer atitudes dele para com seu filho.
Além do que, ele neglicenciava Harry. Desprezava-o.

A esta época Gemma já havia falecido e não havia quem recorrer, sem
contar que neste século a ideia de 'abusos sexuais' não era considerada tão
grave como hoje em dia. Então nosso príncipe Harry infelizmente sofreu
em silêncio pelo estupro.
(Dedico a explicação a @Patriciademoraes e @gabizinhaduarte)

- Qual foi o futuro de Harry e Louis? A unificação de Reinos e construção


da família?

Yep. Eu imaginei que me perguntariam isso.


E, para ser muito honesta, eu nunca planejei um futuro muito exato.

Mas, como uma autora que facilmente se encanta pela ideia deles,
materializo alguns cenários interessantes.

Acho que a vida deles não foi só um mar de rosas.


Harry e Louis aprenderam a lidar com os desafios através da convivência.

Lou administrou bem o processo de reabilitação de Harry, em todos os


sentidos.

Aquela foi a última vez em que Styles se esgueirou no precipício. Ao que


ele disse que 'é quando está verdadeiramente escuro que eu enxergo as
estrelas' ele se referiu à percepção de que são nos minutos de sua dor e
sofrimento que ele se realiza de como Louis ainda continua ali por ele,
fervorosamente mantendo sua promessa e amá-lo nas quedas e ascensões.
Harry soube apreciar seus esforços, sua persistência, seu companheirismo e
fidelidade.

Ele aos poucos se colocou sob esta armadura em que se protegeria ao


máximo de seu pai, tentando arduamente ignorar suas insinuações maldosas
e os xingamentos desnecessários.

O rei de Malta, aliás, não tardou a falecer. E Harry, consequentemente,


tornou-se oficialmente um rei até mesmo antes de Louis.

E isso foi muito importante pois ele encontrou um grande propósito em


estar ali, percebeu que tinha a missão de guiar toda a sua população para um
futuro melhor.
Styles e Tomlinson ficaram um pouco separados nessa passagem pois era
necessário que Harry crescesse por si, contando com seu apoio mas
podendo caminhar com os próprios pés.

Ele seria inicialmente um rei tímido e inseguro, contudo, ao acostumar-se


com sua nova posição, passaria a liderar sendo fiel a si próprio.

Ele também proibiu a caça por entretenimento em seu Reino, e formulou


algumas reformas agrárias para que os nobres fossem obrigados a ceder
alguns dotes de suas terras para camponeses mais pobres.
O que gerou um leve insatisfação das classes mais altas mas, bem, você
nunca pode agradar a todos, certo?

Harry também abriu seu Palácio nos finais de semana para que os cidadãos
- desde os humildes aos ricos - festejassem com vinho, musicais e
banquetes (sendo a única regra ter que usar um par de asas durante o evento
as quais ele ordenou confeccionar milhares - Harry nunca foi muito
convencional de qualquer modo. Ele se divertia com a visão de idosos
vestidos como borboletas).

Ele extinguiu as regras de vestimenta vigentes, ordenando que alfaiates


passassem a vender saias e vestidos adequados para os quadris de homens, e
fraques e ternos retos para as mulheres, sem padronizações de gênero. E, no
final, aquele foi o Reinado mais diferente que já se teve conhecimento.

Eventualmente Mark adoeceria e Louis se despediria com muita dor de seu


pai, assumindo o trono.

Eles unificaram Malta e Riverland, dividindo a estadia tanto em um Reino


quanto em outro, e administrando ambos sem grandes dificuldades.

Imagino exatamente uma noite a qual Harry choraria no ombro de Louis


sentindo falta de Lottie e Fedorentinha, ambas que já estavam mais
crescidas, alegando que queria trazê-las para morarem com eles e formarem
uma família, e Tomlinson teria que negar porque ... "amor, não podemos ser
a família delas. Elas já têm suas famílias".
Mas Louis entendeu a indireta de que Styles desejava ter filhos naquele
momento, e, bem, realizou.

A primeira criança que geraram foi por barriga de aluguel. E, desde que
naquela época não havia avanços na área de biomedicina e genética, a
reprodução teve que ocorrer da maneira tradicional.

Eles escolheram uma moça saudável e que se aparecesse um pouco com os


dois, com cabelos cacheados e olhos azuis, e ambos tiveram uma noite com
ela cada, para que os espermatozóides de algum pudessem com sorte
fecundar.

Essa situação seria um tanto - muito - constrangedora para eles pois... ter
sexo com uma outra pessoa soava complicado.
Harry não falou com Louis por uma semana depois daquilo, e Louis insistia
que "... mas, paixão, esta ideia foi sua!"

E ele rebateria com lágrimas de ciúmes escorrendo de seus olhos com "É,
mas... mas... mas, ugh! Você não gemeu, né? Você nem ao menos gozou
muito, certo? Foi pouquinho que gozou porque não apreciou, sim?
Promete?

E Louis tinha que prender o riso porque ele era só tão adorável "Amor, eu
gozei de olhos fechados imaginando que era você quem estava embaixo de
mim. Eu juro."

"Você prefere a mim? Porque eu detestei transar com ela, e eu o detestaria


se você me dissesse que ela é melhor do que eu!"

Esse desfecho tomaria uma proporção diferente ao passo que Louis cercasse
Harry e sussurrasse em seu ouvido "Não há nada que se compare a você
cavalgando em mim, aos seus gemidos, ao seu prazer quando chega ao
ápice e espreme os olhos fechados, choramingando. Nosso sexo é arte,
paixão."

E isso bastaria por ora para que Styles ignorasse esse incômodo interior e
entrelaçasse suas pernas na cintura de Louis sibilando algumas palavras
sujas e se esfregando nele necessitado.
Nove meses depois chegou o resultado.

Era um pacotinho enrolado em cobertores quentinhos por ter nascido no


inverno que encantaria Harry desde sua primeira respiração.

Eles o chamaram de Beau.

Enquanto o menino mamava em sua mãe biológica Harry ficava assistindo


fascinado, derramando cinco ou dez lágrimas silenciosas por não ser quem
amamentaria o neném, por não produzir leite ou poder embala-lo em seus
braços para alimentá-lo.

E ele se transformaria completamente em um pai encantado, não deixando-


o um segundo sequer com babás. Tocando suavemente contra sua orelha
minúscula, e então seu cabelo castanho ralo.

Era engraçado de início porque Harry não sabia especificamente cuidar de


um bebê, segurando-o desajeitado, balançando-o muito forte, cantando
algumas músicas inapropriadas para nina-lo... mas nada que Louis não
pudesse interferir e pacientemente ensina-lo. (Foi meio mágico quando
Styles insistiu que queria ter uma amostra de como era amamentar, e guiou
Beau para seu mamilo, esperando que ele o capturasse, "vamos brotinho, eu
sei que eu não posso te dar leite, só quero ver como é!").

Louis também evidentemente se apaixonaria por aqueles bracinhos macios


e aquele pedacinho de ser-humano que olhava-os com seus grandes olhos
verdes (eles meio que souberam quem fertilizou a mulher a partir daí) e a
boquinha minúscula, sorrindo fácil e alegre.

Depois dos primeiros meses Beau ficou menos dependente da moça que o
gerou, e pôde finalmente ser todo de seus pais. Seus pais os quais não o
largavam.
Harry fazia questão - pasmem - de preparar a madeira e trocar suas fraldas
mesmo que isso o fizesse soltar alguns palavrões em voz baixa ao sentir o
forte odor daquilo.

Quando Beau crescesse alguns anos, contudo, eles teriam uma pequena
surpresa.
Ao devanear a respeito, na época em que cogitava escrever uma segunda
parte dessa história, eu retrataria especificamente disso. Seria como um
grande acontecimento, pois, certo, Beau era filho de Harry, o que
significaria ser completamente natural ele apreciar vestir-se com vestidos, e
estender a mão em direção das maquiagens de Styles, ou chorar sob a
ameaça de ter suas bonecas guardadas para que dormisse. Eles não
distinguiam ou especificavam o que era apropriado para 'menino' ou
'menina'.

O que Louis e Harry não cogitavam era que, no fundo, aquela era uma
situação inusitada para a época, pois conforme envelheceu a criação para os
seis anos, eles compreenderam que o filho deles não se enxergava como o
Beau, e sim como a Beau.

E a Beau tinha uma personalidade implacável, era como uma junção de


Styles (em uma proporção maior) e Tomlinson.

Foi difícil reconhecer tal circunstância sobre seu filho, porque era normal
para Harry e Louis que o garoto quisesse manter os cabelos compridos,
como o pai, e usasse saias, e batons, e desfilasse como uma princesa. Mas
após um tempo Harry constatou com certa surpresa que Beau era, de fato,
uma princesa.

E foi um processo de adaptação para que eles se acostumassem a trata-la


inteiramente como uma, referindo-se em pronomes e adjetivos femininos e
amando-a tanto quanto sempre.

Seriam em dias estressantes de reuniões e recepções diplomáticas que


Tomlinson subiria ao fim da noite para o aposento e espiaria pela fresta da
porta do quarto de Beau, só para flagra-la dançando com Harry, os dois em
suas pontas dos pés bailando para lá e para cá. Isso faria o coração de Louis
sorrir, atentando-se para as gargalhadas de Styles ao tropeçar em si próprio
e as risadas fofas de Beau que tentaria abraçá-lo.

Ela venerava tanto Harry.


E era tão recíproco e genuíno.
Quando Beau atingiu seus oito ela pediu irmãos para Harry e Louis. E isso
meio que encheu o maior de alegria pois ele já estava doido para nenens,
contudo, não se sentia disposto a ter seu marido novamente transando com
alguma barriga de aluguel.

Então eles adotaram.

Adotaram primeiro uma menina de um ano órfã, que morava em um abrigo,


chamada Harper.

E então um garoto de três, Arthur.

Menos de um mês depois, pegaram gêmeas recém-nascidas a qual a mãe


preferiu vendê-las por falta de condições para cria-las. Harry escolheu os
nomes: Daisy e Gemma.

Após essa série de adoções, eles literalmente não pararam de adotar.

Foi como o novo Vício de Styles. "São tantos brotinhos!" ele anunciaria,
referindo-se a todos como 'brotos'. "Nós temos um jardim lindo!".

Acolheram Sara, Mike, George e Bella.

A este ponto, os Palácios antes gigantescos pareceram muito pequenos para


a família daquela proporção.

E Harry sequer reclamava. Ele carregaria os bebês, as crianças, e sorriria


animado enquanto Louis seria quem os educaria com um pouco mais de
rigor.

E haveriam os dias da Fantasia que Styles os colocaria sob alguns trajes


estranhos e bizarros que faria Tomlinson ter a certeza que se casou com o
rei certo - e se assustar ligeiramente ao deparar-se com sua filha de dois
anos envelopada sob alguns quilos de algodão por todos os lados de seu
corpo em um tentativa de Harry de transforma-la em uma nuvem (uh...).

Seriam tantos príncipes e princesas correndo de um corredor ao outro nessa


bagunça divertida que aquele Palácio sequer aparentava requintado ou
manufaturado como todos os demais. Ele era vivo. E tinha o som de risadas
e correria e juventude e família.

Louis brigaria vez ou outra com Harry por ele ser um pouco sem noção,
como na vez em que se deparou com Arthur pulando com barbantes
amarrados em seus pulsos, o que o assustou. E, quando perguntado, seu
filho disse que o 'papai Harry' havia feito isso como uma mensagem a
Tomlinson que ele não entendia.

Louis não precisou de esforços para saber que aquela noite Harry desejava
ser amarrado e fodido como nunca contra a cama.

Eles fariam amor, viajariam com os filhos, anunciariam bailes e festejariam


a vida como ninguém.

E aquela seria perfeita definição de 'eternidade' que Harry guardaria para si.

Para quem aguardava um final literal, eu já havia figurado um.

Harry estaria sentado na grama, divagando algo como "Meu deus, ela já
está tão grande! Eu realmente quero chorar por isso! É como se fosse
ontem que nosso brotinho se transformou em uma flor".

"Papai?" E Beau surgiria interrompendo-o porque, bem, era o dia da sua


partida para a Anistia dos Tronos de princesas e ela não pretendia se atrasar.

Harry levantaria a cabeça flagrando-a com seu lindo vestido azul, e seus
cabelos amarrados em um coque, sorrindo como quem ainda tem um
mundo para descobrir aos vinte e cinco anos de idade, remetendo-o à sua
própria juventude e como os invernos pareciam muitos longos naqueles
tempos.

- Estou indo, darling, estou indo. Vá se despedindo de seus irmãos que eu


farei questão de acompanha-la na carruagem até o Palácio de Vidro.

Ela reviraria os olhos mas aceitaria (Harry nunca pararia de ser assim
protetor) e sairia.
E então Styles calmamente inspiraria fundo e olharia uma última vez para a
lápide, sorrindo.
Ele deixaria uma margaria em cima dela como em todos os dias e
sussurraria com carinho "Tchau tchau meu bem, meu mundo é seu, e eu
também".

(Dedico essa explicação para @judiadoslarry @HarryHotDanger


@addaga @Blackstarzita @LarryBocadeVeludo @larrysz @louisinhot
@curlysub @lifestylinson @louisgirltomlinsom @larryjujubinha
@slarrynight @larryxerecudo69 @antistan @alltheloveclub e PARA
TODOS OS LEITORES QUE NOS ACOMPANHARAM NESSA JORNADA)

❤ e assim me despeço oficialmente de vocês, au revoir! ❤

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