O rei e a rainha de Niflheim, o reino da névoa, se orgulhavam de dizer que
eram os mais poderosos, muito bem, obrigado. Eram as últimas pessoas no mundo que se esperava que tivessem filhos desordeiros, porque simplesmente eram rígidos e controladores demais pra isso. O rei, Toomer Hinnie, era alto e encorpado, bigodes e cavanhaque bem feitos, a pele pálida e os olhos esbranquiçados. Atrás das costas, suas belíssimas asas quase transparentes. A rainha Sally Hinnie era magra e alta, cabelos loiros platinados, a pela branca como papel e os olhos pareciam ter sido colados de tão bem desenhados. Os Hinnie tinham uma filha chamada Alasca, o único lugar no mundo humano que a rainha gostava. Os Hinnie tinham tudo o que queriam, mas tinham um segredo e seu maior receio era que alguém descobrissem. Achavam que não iria aguentar se alguém descobrisse sobre o desinteresse da princesa em se casar, ocupar o trono e ter herdeiros. Eles se estremeciam só de pensar o que os outros reinos iriam dizer se soubessem sobre como Alasca tratava a monarquia e a política. Quando o rei e a rainha acordaram naquela manhã cinzenta, os servos traziam cartas e presentes do rei de Aveyard pedindo para que Alasca se case com seu filho, Yegor, herdeiro do reino das montanhas. Ingênuos, o rei e a rainha acharam que quando Alasca conhecesse o pretendente, essa tomaria rumo e aceitaria seu destino. Mas ela recusou agressivamente o anel de noivado e o jogou para o outro lado do salão de jantar. Se retirou do salão com o rosto emburrado e extremamente irritada. O rei e a rainha de Aveyard deixaram o castelo decepcionados, mas reconfortando Toomer e Sally dizendo que para eles não se preocuparem, pois Alasca era assim porque era jovem e que logo ela tomava rumo. Infelizmente, pensou Toomer, Alasca não estava apenas em uma fase. Alasca era pálida, cabelos brancos feito neve que ultrapassavam seus quadris, alta e magra, olhos brilhantes, diferentes dos pais, azuis vivos. Suas asas também adquiriram um tom de azul. Era uma típica rebelde mimada, revoltada com o mundo por zeros motivos. Tinha o costume de pregar peças nos convidados, de jogar seus livros no lago e faltar nas aulas de seus tutores. Se estressava com o mínimo e era estupidamente dramática. Jogava bolas de neve na cabeça dos viajantes e fugia durante a noite para ir em bailes em alguma das aldeias próximas. — Não toque! — ordenou seu pai. Alasca recuou de início, mas esticou a mão a frente e bateu no vaso de cerâmica que se estatelou no chão quebrando em centenas de pedaços. — Porra Alasca, você já tem dezessete anos. Quando vai parar de agir feito criança? Sua mãe, rainha Sally, lhe lançou um olhar rude e á-avaliou de cima a baixo, analisando o vestido surrado, sujo e curto. Fechou o livro que lia e com um aceno consertou o vaso. — Apronte mais uma dessas e te mandaremos para sua avó. — A vovó é bem mais legal que vocês — Alasca resmungou cruzando os braços e batendo o pé. — Você não aguentaria o calor de Mercuver, Alis — Toomer diz. — Não me chame de Alis, pai — resmungou batendo o pé. — Eu tinha sete anos! — Você sempre será nossa Alis, babe — Sally diz carinhosamente. Alasca bufou irritada, bateu o pé se retirando do escritório entre as risadas dos pais. Teve certeza de bater a porta com força para ouvir as risadas cessarem e seu pai berrar irritado. Conforme o verão se aproximava, o lago descongelou por completo e a neve parou de cair durante o dia, Alasca passava os dias sentada nas margens do lago, vez ou outra entrando dentro da água gélida. Sua pele chegava a ficar meio azulada, não que isso a incomodasse, ela até achava divertido ver sua pele colorida. No reino de Niflheim nunca ficava quente, sempre tem ventos fortes e pessoas com casacos grossos. Mas naquela tarde, uma brisa morna invadiu as ruas, fazendo com que alguns camponeses que estavam bebendo no bar suassem. Alasca sentiu seu corpo esquentar, estranhou a sensação e olhou envolta, na mais alta torre, seus pais também estranhavam a sensação, com um estalo forte, uma pequena chama de fogo flutuou por alguns instantes, até desaparecer deixando apenas um rolo de pergaminho. Já sabendo de quem era a carta, Alasca quase pode ver seus pais revirando os olhos. O pergaminho vinha de Flamehaim, o reino do fogo, um lugar quente, aonde o inverno era pior que o verão em Niflheim, Alasca nunca gostou muito do calor, fazia sua pele se avermelhar, a fazia suar e lhe deixava cansada. A rainha Sally fez um sinal para a filha subir, Alasca pensou em não ir para pirraçar seus pais, mas a curiosidade falou mais alto, retirou o excesso de água dos cabelos muitos brancos, pegou suas roupas e vestiu. Subir as centenas de escadarias do castelo quase a mataram: — O que Flamehaim quer, mãe? — perguntou Alasca. — A água não faz bem para suas asas — disse seu pai. — Por que a demora? Alasca bufou. — Não lembrava que podia voar. Sally e Toomer se entreolharam antes de começarem a rir, Alasca suspirou e soltou um sorrisinho fofo, se jogou na poltrona tranquilamente e se espreguiçou: — Então? Flamehaim? — O filho do Rei Gabriel irá se casar — Sally respondeu. — Já estava na hora mesmo. — Ele tem 26 anos, mãe — resmungou Alasca. — Ele vai ser Rei, Alasca — disse a Rainha. — Ele pode ser Rei sem se casar! — É isso que vai acontecer com você, não é Alasca? — Não tenho muita escolha, não é, mãe? Por mim, eu nem seria Rainha. — Honestamente — disse Toomer em tom alto, cortando a briga —, eu preferiria que a Princesa Helena fosse a nova Rainha, ela é muita mais capacitada que o Príncipe Arthur. — O casamento é em duas semanas, se prepare, pois lá também é verão — disse Rainha Sally. — Nós vamos fritar! — disse Alasca exasperada. — Eles reservaram quartos especiais para nós, querida — disse Sally. — E ele vai casar com quem? — Kristen Samos — respondeu seu pai. — Casa dos Samos, controladores de metais. — Muito útil — murmurou Alasca. — Realmente, nada proporcional a inteligência dele — disse a rainha concordando. — Mas ela tem uma beleza razoável para compensar e vem de ótima família. — Metais são úteis, garotas. — Para que, Toomer? — Quem mais foi convidado? — interrompeu Alasca. — Ora, Alis... Todos os feéricos, alguns elfos, alguns sereianos, acho que só... — Essa festa vai ser uma bela bosta. Pela próxima semana, um murmuro repentino sobrevoava cada reino, que pouco a pouco se enchiam de comentários. A maior parte dizia que o “novo” rei iria se casar totalmente por amor, pois Kristen não era bonita o suficiente e muito menos inteligente. O que por um lado era fofo e muito bonito, por outro, se casar por amor, na política, podia destruir o reino inteiro, e ainda perder as alianças com os outros reinos. O Rei e a Rainha de Ninflheim se casaram por conveniência e tiveram que aprender a se amar, após alguns meses – e muita terapia – eles desenvolveram afeto e ficam felizes em dizer que se amam. Alasca sabia pouco sobre a família Pinheiro, o Rei Gabriel e a Rainha Cecília, o filho mais velho, príncipe Arthur, a filha do meio, princesa Helena e a filha mais nova, princesa Ana Clara. Alasca leu entrevistas e assistiu reportagens sobre eles, o Rei e a Rainha diziam ajudar os guerreiros e proteger os quatro reinos dos monstros, diziam ter o lugar perfeito e serem perfeitos. O príncipe seguia pelo mesmo caminho, mas presava pelas alianças com outros reinos e a determinação em manter o lugar seguro. A princesa Ana Clara era sempre mostrada fazendo artes, papéis principais em peças em diversos países, quadros leiloados por milhões e era tudo sobre a sua pessoa, sua riqueza, seu poder e sua vontade de fazer dezoito anos e ir embora do castelo para conhecer o mundo a fora. E a princesa Helena era vista em projetos sociais, sempre rodeada de crianças, mendigos, velhos e sempre suja por estar ajudando, ela queria um mundo melhor, e se esforçava pra isso. Mas ela nunca dizia nada, não havia nenhuma entrevista na qual ela expressava sua opinião. Como cada um dos reinos treinava feéricos diferentes, Flamehaim treinava guerreiros, belíssimos guerreiros fortes e corajosos. O príncipe e as princesas eram tratados como iguais, deveriam ser guerreiros e treinar com os camponeses, mas também tinham aulas das prioridades de cada reino, como as poções dos curandeiros de Aveyard, o pensamento lógico dos engenheiros de Lanyard – o reino dos ventos – e os feitiços como os feiticeiros de Niflheim. Eles foram criados para serem melhores do que os melhores, eram bonitos e ainda eram educados. Alasca os achava ridículos! Idiotas! Maníacos! Perfeitinhos de merda! Todos ruivos sardentos com péssimas ambições e hábitos ainda piores. Quando finalmente as dezenas de malas foram colocadas nas carruagens, os cavalos estavam preparados e já havia comia suficiente guardada. A família Real-Hinnie deixou Niflheim para visitar o lugar que mais os deixavam frustrados. I Quando as carruagens estacionaram no enorme pátio do castelo de Flamehain, foram recebidos com gritos e trompete. Sally e Toomer acenaram com um sorriso educado – fingido – para a população. Alasca teve que se livrar do vestido longo e das botas de pelos pra chinelos usuais e um vestido branco brilhante curto. Desceu sentindo suas costas suarem e seu cabelo raspar em suas coxas. Analisou a cena, seus pais cumprimentavam o rei e a rainha de Flamehain com sorriso e falas educadas, revirando os olhos sempre que podiam. A Rainha Cecília era alta e forte, braços firmes e barriga sarada. Os olhos verdes vibrantes, suas asas a mostra tinham um tom esverdeado. Suas roupas eram lilás, a saia de tule e o top que cobria seus seios. O rosto coberto de sardas e o cabelo alaranjado. Ela era espetacular. O Rei Gabriel era pouca coisa mais alta que sua rainha, forte com braços e pernas marcadas, usava um short jeans casual – que lembrava muito a população humana – e uma blusa branca simples com um pequeno broche lilás. O Príncipe Arthur e o Rei se pareciam muito, apesar do príncipe estar usando um terno preto que deixavam seus braços “apertadinhos”. Uma gravata azul claro. Os olhos dos dois eram verdes vivos como os da rainha, ruivos e sardentos. A “princesa” Kristen usava um vestido de tule simples, leve e elegante azul claro, seu corpo estava diferente das últimas fotos publicadas, aparentemente ela havia começado a treinar com a mesma intensidade que os filhos reais. Seus olhos azuis transmitiam calma e paz, e seu cabelo ruivo estava arrumado em uma belíssima traça em camadas. A princesa Ana Clara usava um vestido roxo-vivo que caia perfeitamente em seu corpo, vários colares, anéis e piercings. Seu corpo era forte e magro, seus olhos eram verdes vivos e seus cabelos alaranjados estavam atrás da sua orelha. Nenhum deles tinha as asas abertas, mas Alasca sabia que eles provavelmente tinham asas da cor de seus olhos. A princesa Helena não estava em canto algum. Invés disso a família real de Lanyard – o reino dos ventos – já estava presente, pouco se importavam com o calor usando quimonos de mangas longas no tom amarelo colheita, o Rei e a Rainha e os sete herdeiros lado a lado do mais velho ao mais novo, uma postura elegante que transmitia paz e poder. A mais nova, seus poucos três anos brincava com flores que flutuavam a sua volta, esse devia ser seu poder. Ela gargalhava puxando a barra do quimono da mais velha para ela poder ver também, mas a garota apenas a ignorava. Todos tinham olhos castanhos puxadinhos, a pele amarelada, narizes pequenos e cabelos muito lisos. A família Real de Aveyard – o reino das montanhas - também já estava presente, estes usavam roupas combinando. Todos eles usavam detalhes em verde e amarelo, o Rei e a Rainha e os três filhos, o mais novinho, devendo ter menos de um aninho estava no carrinho de bebê com seu irmão brincando com ele. O mais velho – o que a pediu em casamento poucos meses atrás – estava conversando com os pais. Tinham olhos castanhos claros brilhantes, narizes pequenos e gordinhos, pele escura e cabelos crespos. Alasca foi obrigada a cumprimentar todos os que estavam ali presentes, cada um deles. Se sentiu estranha por ser a única filha única, e se sentiu ainda pior quando duas menininhas escaparam das asas dos pais e começaram a tentar trançar seu cabelo. Teve que ouvir o discurso de dezesseis minutos do rei Gabriel agradecendo a presença de todos, depois recebeu um mapa encantando que Alasca não entendi como funcionava, e um cronograma para visitar toda a cultura e participar das aulas pelas duas semanas que se seguiriam. O primeiro baile aconteceria essa noite beirando as nove e meia, a pedidos o salão seria climatizado e não estaria tão quente como era conhecido. Todos deveriam dar uma leve palavrinha para os repórteres antes de entrar. — Tenho mesmo que fazer isso? — Alasca sussurrou em direção aos pais. — Não. Mal teve tempo de se surpreender quando os servos começaram a leva-la para seu quarto. Duas mulheres vestindo ternos azulados que não diziam uma palavra enquanto indicavam o caminho pelas escadas, Alasca se perguntou porque elas não voavam. O quarto de seus pais era bem a frente, se despediu com um aceno e abriu a porta com seu nome “Alasca Hinnie. Casa dos Hinnie. Controladores das águas.” O suíte tinha tons brancos, azuis e prateados, poltronas bonitas, cama de dossel com cortinas e muitas almofadas bonitinhas. Era encantador. E como prometido, climatizado como o verão em Niflheim – como o inverno em Flamehaim. Não teve muito tempo, apenas desfez parcialmente suas malas e tomou um banho gelado para começar a se arrumar para o baile. Pouco antes de colocar as roupas, Rainha Sally entrou no quarto com duas mulheres de azul. Vestia um vestido prateado cheio de pedrinhas brilhantes no decote, estava impecável com seu penteado exuberante. — Ninguém tem permissão de usar vermelho, azul ou roxo esta noite, filha — disse Sally. — Não queria usar nenhuma dessas cores — murmurou em tom baixo, indicando o vestido jogado na cama. Também era prateado, raramente combinavam as roupas, mas hoje era uma dada importante. As servas a maquiaram, a ajudaram se vestir e a trançar seu cabelo. Ela se sentia nas nuvens e nem conseguia abrir a boca para reclamar. Mordiscou um mini biscoito que seu pai a deu enquanto desciam para o salão de festa: — Não se esqueça. Não diga nada. Nós não damos entrevistas, Alasca. Lembrou se olhar com desprezo para os repórteres e virar o rosto quando tentavam se aproximar. Cumprimentou a mão do Rei e da Rainha, do Príncipe e de sua Princesa, e da pequena princesa. Novamente, Helena não estava presente. O Rei Gabriel e a Rainha Cecilia usavam azul turquesa, o Príncipe Arthur e a Princesa Kristen usavam azul bebê e a Princesa Ana Clara usava roxo vivo. Estavam impecáveis. Ocupou seu lugar na mesa, se sentando no lugar marcado. Teve o desprazer de ser colocada na mesa dos herdeiros, com os adolescentes. Ana Clara a cumprimentou erguendo a taça de seja lá o que ela estava bebendo a dois bancos de distância. Quatro dos filhos de Lanyard, o mais velho de Averyard, Alasca, Ana Clara, faltando apenas Helena que deveria se sentar entre Alasca e sua irmã mais nova. Bebericou um gole de vinho sem álcool – suco de uva – e comeu uma torradinha com patê. Os adultos conversavam em altas vozes, igual as crianças, mas os adolescentes se mantiveram quietos, Bonny – herdeira de Lanyard – até lia um livro. As portas do salão se abriram com pressas, praticamente todos se levantaram para olhar quem acabara de entrar ao salão. Alasca deixou sua curiosidade falar mais alto, sentiu seu peito bater um pouco mais rápido e sua barriga ronronar. A garota tirou os cabelos ruivos do rosto, respirou fundo o ar gelado do salão de festas, usava um vestido vermelho de camadas com mangas bufantes feitas de tule, sorriu carismática para todos e acenou levemente. O Rei Gabriel sorriu carinhosamente e saiu de onde estava, passou um braço pelo ombro da filha: — Queridos amigos, esta é minha filha Helena, não pode estar presente conosco mais cedo, infelizmente. E também não tínhamos certeza se ela poderia comparecer esta noite — disse em altas vozes expressando um sorriso convidativo. — Felizmente ela conseguiu vir, e terá o prazer de conhecer cada um de vocês. Alguém puxou uma série de palmas. Helena cumprimentou cada um dos adultos com pelo menos dez minutos continuando um assunto, educadamente. Alasca a seguiu com os olhos, Helena era tão bonita que sentia que poderia passar horas apenas observando a beleza dela: — Ana Clara, prazer — disse uma voz feminina. Alasca percebeu que a princesa havia pulado as cadeiras e agora estava ao lado dela. — Alasca, prazer — murmurou. — Ah, eu não aguento mais esse baile, ele é inútil. Poderiam apenas comparecer no casamento e partir no dia seguinte — disse a ruiva. — Concordo totalmente. — Hinnie, não é? O reino da névoa? — Exatamente. — Somos inimigas naturais estão? — Não sou inimiga de ninguém. Ana Clara engoliu o sorriso, bebericou mais do vinho sem álcool – suco de uva – e passou novamente para a cadeira certa. Pouco depois de uma salada ser servida, Helena se sentou na mesa, disse um olá geral e atacou a salada. — Não come a seis meses, princesa? — perguntou um garoto de quinze anos herdeiro de Lanyard. Helena riu educadamente. — Han, prazer. A princesa engoliu o pedaço de tomate que mastigava e sorriu: — Muito prazer, Han. Tem gostado da festa? — perguntou. — Ah, sim, a festa está adorável. Só o clima que é meio... Terrível... Não acha? — Não, ela não acha. Seu babaca arrogante — resmungou Ana Clara. — Ana! Desculpe por isso, Han. Ela adora o calor — disse Helena lançando um olhar simpático. — Mas vocês chegaram em uma época boa, o verão tem fortes chuvas. Não o suficiente para mudar o clima, mas deve ajudar. Han mexeu nos cabelos pretos e pegou um pouco de salada no vasilhame. Helena olhou Alasca de cima a baixo e sorriu: — Alasca, certo? — perguntou educadamente. — Sim. — Ouvi falar muito de você — murmurou. — Nada muito bom, na verdade. Mas acho que podemos mudar isso, não é? Alasca precisou de segundos para raciocinar o que a princesa disse, a olhou com desprezo e virou o rosto: — Não, não podemos. II O cronograma devia ser seguido à risca, sem passar um minuto. O café da manhã era servido às sete e quinze em ponto e terminava as sete e quarenta e cinco. Depois todos tinham quinze minutos para se arrumar para a aula de dança de salão, e passariam duas horas aprendendo a se mover delicadamente para dançar no baile de casamento. As dez tinham um intervalo de trinta minutos para as aulas de boas maneiras, e então eram liberados as onze e meia até as duas e meia para almoçar, ver a família, fazer o quiser. E as três começava o treino – no qual todos estavam querendo morrer – com os guerreiros de Flamehain, Alasca podia sentir sua pele suar só de pensar. O grupo de filhos foram todos colocados em uma sala, sentados em lugares marcados e organizados. Helena estava na frente de todos junto com um garoto alto, malhado e forte, eles conversavam animadamente sobre algo relacionado a pôneis. Alasca estava lado a lado com Ana Clara, as crianças estavam juntas nas cadeirinhas pequenas, a sala estava climatizada e tinha um cheiro gostoso de canela: — Bom, meninos e meninas, eu sou a Princesa Helena, Flamehain, controladores do fogo. E esse é o Diego, um zero à esquerda, filho da puta — ele socou o ombro dela. — Brincadeira a parte, ele comanda o grupo de treino a dois anos. Todos que tem mais de catorze anos vão com ele. Até oito anos vão comigo, e maiores de oito, menores que catorze vão com Kristen. A “nova” princesa estava sentada em uma cadeira um pouco ao fundo, ela acenou levemente. Os príncipes se entreolharam: — Nós treinaremos com os aldeãos? — perguntou um garotinho de uns dez anos. — Sim. Soltaram um resmungo coletivo. Helena revirou os olhos, pegou um monte de papeladas e colocou nos braços de Diego: — Yegor Montyghomer, Lia Kyung, Lee Kyung, Song Kyung, Han Kyung e Ana Clara Pinheiro, por favor se levantem e sigam pelas coordenadas que seus mapas indicam. — Conforme pegava as fichas ela lia no nome e tirava os papeis passando para os braços de Kristen, que havia se levantado. — Licença — pediu Alasca erguendo seu braço. Helena a fitou. — Eu tenho dezessete e não fui chamada. — Eu sei. Você vai comigo hoje — respondeu com simplicidade. — O que?! Por que?! — perguntou Alasca exasperada. O grupo se retirava da sala olhando por trás dos ombros para ver o que acontecia. — Porque eu quis assim — respondeu autoritária. — Jafari Montyghomer e Kim Kyung, por favor se levantem e sigam as coordenadas dos seus mapas. As duas crianças saíram da sala. Sobrando apenas as crianças pequenas e Alasca, Alasca percebeu que o bebê de carrinho dos Averyard não estava presente, apenas as três filhas de Lanyard. Kristen colocou os papeis na mesa e lançou um olhar para Helena: — Me deseje sorte — murmurou. — Krist, você consegue — disse a princesa. Diego beijou a bochecha de Helena e se retirou junto a Kristen, com aqueles mapas encantados nas mãos,