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Capítulo 1 – Punhos de Ferro,

Coração Mole

uando Alana acordou, a cama já estava vazia. A elfa se espreguiçou demoradamente,

coçou os olhos, e finalmente avistou Casimir do outro lado do quarto, ainda nu,

procurando as roupas espalhadas pelo chão. Na noite anterior, eles se despiram sem

qualquer cuidado…

Agora, no entanto, o príncipe parecia tenso.

“Treinamos esta tarde?”, perguntou a monja.

“Eu adoraria, meu amor”, respondeu ele. “Mas terei uma reunião com meus aliados”.

“Ah, o clube dos garotos”, retrucou Alana, sem esconder o desapontamento.

Alana Heyes nunca se interessara por política, mas a política insistia em atrapalhar a sua vida.

Claro, ela devia imaginar que isso iria acontecer quando começou a se relacionar com o príncipe-

herdeiro de Alberion, e bem no meio de uma guerra que já esgotava o país. Todos os seus instintos e

todo o seu treinamento mandavam que ela evitasse aquele relacionamento. No entanto, pela primeira

vez em sua vida, a paixão falara mais alto.

“Não é um ‘clube de garotos’, Alana”, disse Casimir, um tanto contrariado. “Todos eles estão

arriscando as próprias vidas para tentar salvar o reino do desastre. Eu sei que eles não têm sido

particularmente gentis com você, mas todos estamos com os nervos à flor da pele, e eles acham que a

nossa relação me distrai em um momento em que eu não poderia perder o foco. Tente entender, nem

todos fomos treinados para manter a paz e o equilíbrio em qualquer situação, como você”.

No fundo, Alana entendia, mas isso não tornava a situação menos desconfortável.
“À noite você dorme aqui, pelo menos?”, perguntou ela.

“Não sei”, respondeu Casimir, cabisbaixo. “Meu pai resolveu promover um banquete. Não sei

bem a que horas isso irá terminar. Pelo tom do convite, parece que ele irá fazer algum anúncio

importante. Sinceramente, não estou com um bom pressentimento…”.

“E eu estou convidada para esse banquete?”.

“Alana…”.

Naturalmente, a elfa sabia que não seria convidada. Depois de seis meses juntos, o

relacionamento deles já não era mais segredo no castelo de Ebenhold. Todavia, aos olhos da corte ela

seria para sempre apenas uma amante, uma diversão de Casimir que não devia ser levada muito a sério.

E, por mais que o príncipe jurasse seu amor e prometesse que, assim que a situação do reino se

estabilizasse, ele encontraria alguma forma de os dois ficarem juntos, a monja tinha consciência de que

as coisas nunca seriam tão fáceis. Não que ela duvidasse dos sentimentos ou das palavras de Casimir,

mas seu senso de dever era inabalável, e no dia em que ele tivesse que casar com alguma princesa

estrangeira pelo bem de Alberion, ele não hesitaria em fazer isso, mesmo que tivesse que sacrificar a

própria felicidade.

Enquanto esse dia não chegasse, porém, Alana viveria intensamente seu primeiro amor.

***

elfa treinava sozinha na praça de armas do castelo. Naquele momento, praticando seus

golpes e sentindo o chi correr em suas veias, ela se esquecia completamente de seus

problemas. Por que a vida não podia ser assim o tempo todo?

Durante muitos anos, ela foi. Por todo o período em que viveu no monastério de Iteus nas

montanhas de Tawnyl, sua única preocupação era seu aperfeiçoamento físico e mental. A política de
Alberion, as intrigas da corte e as picuinhas da sociedade humana eram simplesmente desconhecidas

pela monja.

Mas a verdade é que aquela vida era mais simples, mas não necessariamente melhor. No fundo,

Alana sempre soube que faltava algo em sua existência… Até o dia em que ela conheceu Casimir, para

se tornar sua professora de artes marciais, e tudo mudou.

Quando a elfa deu por si, o sol já havia se posto. Ela sempre perdia a noção do tempo enquanto

treinava. Àquela altura, o tal banquete já devia ter começado. Talvez Alana devesse aproveitar que ela

provavelmente não veria o príncipe naquela noite para visitar seu velho pai.

Ela acabou voltando para seus aposentos, porém. Era sempre desconfortável quando ela e

Letharion Heyes se encontravam… Não que ela não gostasse, e de certa forma até amasse seu pai. Ele

era um bom homem, e fizera o possível para que ela tivesse a melhor vida e educação possíveis depois

que sua mãe morrera. No entanto, isso significou enviá-la para um monastério distante, e depois de

tantos anos lá era difícil não o ver praticamente como um estranho. Desde que voltara a Ebenfeld,

Alana visitara o pai bem menos vezes do que deveria. Ela sabia que precisava corrigir isso… Mas

aquele dia já estava desagradável o suficiente para ela complica-lo ainda mais.

***

lana vestia seus trajes leves e esvoaçantes enquanto saía do banho. A elfa tinha um estilo

de vida simples, e dispensava luxos. O único conforto que ela exigira quando aceitara o

trabalho no castelo como professora de artes marciais do príncipe havia sido uma sala

de banho privativa. No monastério de Iteus, os banhos sempre foram um dos momentos mais

importantes do seu dia, quando ela se sentia purificada de todos os problemas do mundo. Ela não

saberia viver de outra forma na cidade, onde seus problemas eram tão maiores.
De repente, a porta da sala se abriu com um estrondo, e Liara, a criada que havia sido designada

para a monja, entrou correndo.

“Senhora, senhora, depressa”, disse ela.

Apesar de já viver no castelo há vários meses, Alana ainda não havia se habituado com a ideia

de ter uma criada. Liara, no entanto, costumava ser discreta e comedida, e aquela entrada brusca era

totalmente inesperada.

“O que aconteceu, Liara?”

“O rei, ele está morto!”

“Como assim, o que aconteceu?”

“O príncipe o matou durante o banquete. Eu não estava lá, senhora, mas é isso o que estão

dizendo por todo o castelo. Assim que ouvi essa história vim correndo avisá-la.”

Aquele relato era simplesmente surreal. A elfa conhecia Casimir suficientemente bem para

saber que ele jamais mataria o pai, muito embora os dois viessem tendo divergências políticas

recentemente – qualquer coisa relacionada à guerra contra Salésia, que Alana nunca se dera ao trabalho

de entender.

“Isso não faz nenhum sentido, Liara”, disse a monja. Onde está Sua Alteza? Preciso falar com

ele”.”

“Ele foi preso pelo duque de Ergana, senhora. Pelo que disseram, por muito pouco ele não

foi executado no ato”.

Alana já ouvira o príncipe reclamar desse duque algumas vezes. Se a história que ela acabara

de ouvir fosse verdade, a vida de Casimir corria sério risco. A elfa sabia que precisava agir

imediatamente para salvar seu amado, mas ela não fazia nenhuma ideia de como navegar pelas intrigas

da corte alberionesa. Por mais que fosse difícil reconhecer, talvez ela precisasse da ajuda do “clube

dos garotos” desta vez…


Relações com Outros Personagens

 Casimir: a paixão entre Casimir e Alana foi rápida e avassaladora – sobretudo para uma

elfa treinada em um monastério. Alana tentou resistir como pôde a esse sentimento que, ela sabe, irá

lhe trazer problemas. No entanto, ela não conseguiu: não apenas existe uma química forte entre eles,

mas a monja também o admira profundamente. Ela fará o que for preciso para resgatá-lo.

 Aethelwine: de todos os amigos de Casimir, Aethelwine é, provavelmente, o mais hostil à

elfa. Não que ele tenha feito alguma coisa contra ela, mas o mago claramente desaprova sua relação

com o príncipe.

 Liarieth: não conhece.

 Nicolai: o halfling amigo de Casimir parece um pouco menos incomodado com a relação

entre Alana e o príncipe do que Aethelwine. No entanto, ele também não parece particularmente

empolgado com o relacionamento.

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