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Hazard, Alessandra
ASIN: B07TFL1L3M
Essa é uma história de ficção. Nomes, personagens e eventos são produtos da imaginação do autor.
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PRÓLOGO
Shayla pegou a revista e olhou para o homem na capa. — Era uma vez
um belo príncipe —, ela disse melancolicamente. — Ele era tão bonito que os
contos sobre sua beleza se espalharam até os planetas Periféricos da União.
Dizem que um olhar para o príncipe roubava a respiração das pessoas de tão
lindo que ele era. — Shayla poderia estar exagerando um pouco em nome da
história, mas o príncipe em questão realmente era de tirar o fôlego.
Shayla sorriu. — Ele era alto, forte e gracioso, com o tipo de rosto que
era impossível desviar o olhar. Ele tinha cabelo castanho ondulado, olhos azuis
profundos e pele que era tão bonita e perfeita que parecia quase brilhar. —
Shayla decidiu não mencionar que o príncipe tinha uma curva vermelha sensual
nos lábios que a fazia ter pensamentos não muito apropriados para um conto de
fadas. Sua filha não precisava saber disso.
— Ele parece ser muito bonito — disse Nina.
Shayla olhou para ela. — Não, claro que não —, ela disse fracamente. A
mera ideia de o Príncipe se apaixonar por outra pessoa parecia... absurda.
Errada.
Shayla franziu a testa, sem saber o que dizer. Ela dificilmente poderia
dizer que ela tinha estado muito ligada no relacionamento de duas pessoas que
ela nem conhecia, e era por isso que ela não queria que o Príncipe se
apaixonasse novamente.
Talvez fosse egoísta da parte dela, mas Shayla acreditava firmemente que
as pessoas só podiam amar uma vez, e tinha certeza de que não havia homem
algum que pudesse eclipsar o Príncipe-Consorte no coração do Príncipe.
Shayla olhou para a revista brilhante, para o gelo nos olhos outrora
quentes do Príncipe.
Ou fogo.
CAPÍTULO 1
Ele se moveu e virou em sua enorme cama vazia pelo o que pareceu uma
eternidade, mas o sono estava evitando-o, não importava o quanto ele estivesse
cansado. É claro que também não ajudava que ele tivesse uma dor de cabeça
estridente.
Jamil quase riu na cara dele, porque não soava exatamente reconfortante.
Mas, novamente, não era como se o adepto da mente entendesse. Os monges do
Alto Hronthar eram as únicas pessoas no planeta que não precisavam estar
ligadas. Eles não sabiam como era compartilhar um vínculo telepático com
outra pessoa desde a infância. Eles nem imaginavam como seria ter um vínculo
tão estimado e depois perdê-lo. Eles não tinham ideia. Às vezes, Jamil invejava
isso.
Suspirando, Jamil saiu da cama. Se ele não conseguia dormir esta noite,
ele também poderia dar uma caminhada.
Essa parte do palácio definitivamente não era silenciosa. Ele podia ouvir
os sons dos animais até de longe. Os estábulos da Terceira Casa Real eram um
dos maiores em Calluvia, e seus zywerns eram famosos em toda a União dos
Planetas pela sua impecável criação e graça. Os estábulos sempre foram o
orgulho e a alegria de Jamil. Sempre que ele tinha tempo livre, o que não era
frequente, ele vinha para cá para observar seus zywerns ou para dar uma volta
pelos terrenos do palácio.
Ele não esteve aqui desde antes da morte de seu marido, muito aflito para
sequer pensar em algo que lhe trouxesse alegria. Talvez ele finalmente estivesse
se curando um pouco.
Mesmo preocupado, Jamil teve que admitir que a visão era inspiradora:
uma enorme fera negra com asas magníficas e um cavaleiro, também todo de
preto, segurando teimosamente indo contra todas as probabilidades. Luas
gêmeas brilhavam intensamente no céu noturno, iluminando a batalha entre um
homem e uma fera.
O homem venceu.
Ele nunca tinha visto nada assim. Domar zywerns selvagens levava
séculos, não — não isto. Os treinadores profissionais esperavam meses entre
fazer um zywern parar de pular sob o seu cavaleiro e tentar montá-lo. Apenas
não era assim.
Jamil olhou para ele espantado. Ninguém se atrevia a falar com ele nesse
tom, muito menos um de seus empregados. Este homem provavelmente não
sabia com quem ele estava falando, ou ele não ousaria.
Jamil ficou vermelho. Ele não conseguia se lembrar da última vez em que
foi repreendido por alguém dessa maneira. Ele olhou furioso para as costas do
homem, procurando por algo para dizer, algo que não soasse petulante. Jamil
não era petulante, caramba. Seu irmão mais novo era o único propenso a dar
um ataque como um pirralho mimado se não conseguisse o que queria. Jamil
era o responsável.
Exceto que nesse momento, ele não se sentia responsável. Ele queria
colocar esse homem em seu lugar. Como este bruto se atreve a falar com ele
desse jeito?
— Olhe para mim quando eu estiver falando com você —, ordenou Jamil,
endireitando-se a sua altura. Ele geralmente não gostava de usar sua altura para
intimidar alguém, mas algo nele coçava para garantir que esse homem soubesse
que Jamil era melhor. Era uma sensação ridícula, algo primitivo e territorial,
mas ele não conseguia controlar.
— Que p...? — O homem rosnou, olhando para ele com olhos selvagens,
meio enlouquecidos, antes de empurrar o rosto contra a garganta nua de Jamil e
cheirar.
Jamil tentou falar, mas nada saiu. Ele estava tremendo tanto que não sabia
o que estava sentindo: uma estranha mistura de repulsa, necessidade e outra
coisa.
Então ele fez a coisa mais responsável e principesca: ele se virou e fugiu.
CAPÍTULO 2
Jamil se encolheu e olhou para o seu Mestre da casa. — Não, Weyrn. Por
favor, continue.
Weyrn lançou lhe um olhar incerto e voltou a dar seu relatório mensal.
Jamil tentou manter sua expressão atenta. Ele não tentou ficar atento —
sabia que era inútil —, mas não podia dar aos funcionários uma razão para
pensar que havia algo errado em seu comportamento. A fofoca se espalhava
entre os servos rapidamente, especialmente quando se tratava dos assuntos da
realeza.
Era só... Ele não conseguia tirar aquele homem — aquele incidente — da
mente dele. Tudo era tão bizarro. Só depois de voltar ao seu quarto, Jamil
percebeu que a persistente dor de cabeça causada por seu vínculo matrimonial
dilacerado estava milagrosamente ausente. Em vez disso, sua mente — todo o
seu ser ansiava com um desejo tão forte que Jamil tremeu por isso por um longo
tempo. É claro que a dor de cabeça voltou algumas horas depois, e voltou com
força, como se o castigasse por se sentir bem. Jamil mal precisou da punição
extra além da culpa que revirava seu estômago. Como ele poderia se sentir bem
com algum estranho — algum brutamonte rude e vulgar — tocando seu ponto
telepático? A mera lembrança o fez se encolher, sua mortificação e desgosto
fizeram com que fosse difícil respirar. Seu marido havia partido há cinco meses.
Ele não devia estar sentindo nada além de dor.
E, no entanto, não importava o que ele dissesse a si mesmo, sua mente
continuava voltando àquele estranho e incapacitante sentimento de prazer e
necessidade que ele sentiu por algum momento feliz e estranho.
Por fim, cansado de seu próprio estado distraído, Jamil dispensou Weyrn,
citando uma dor de cabeça, que já era genuína o suficiente.
Uma vez que ele estava sozinho em seu escritório, Jamil finalmente cedeu
e acessou o banco de dados de Calluvia.
Todo cidadão legal do planeta estava ligado. Mesmo viúvos como Jamil
não estavam completamente sem vínculo: eles ainda tinham um vínculo
matrimonial rompido, o que, teoricamente, deveria impedir Jamil de formar
qualquer tipo de conexão telepática novamente. Mesmo que o estranho fosse
viúvo, eles não deveriam ter reagido um ao outro do jeito que eles tinham: dois
elos quebrados não formavam um inteiro.
O que ele sabia sobre esse homem? Jamil se lembrava de muito pouco,
exceto daqueles olhos negros sem fim. A pele do homem era marrom, ele
lembrou depois de um momento, pensando naquelas mãos escuras acariciando
o lado trêmulo do animal. Isso foi um pouco estranho. O Terceiro Grande Clã
era famoso pela pele muito clara de seu povo. Embora fosse possível que o
estranho pertencesse a um dos outros onze grandes clãs, era raro que o palácio
real empregasse pessoas de fora. O homem também tinha um leve sotaque.
Sentindo-se mais desorientado do que nunca, Jamil trouxe à tona a lista
de funcionários que trabalhavam nos estábulos reais — quarenta e seis
indivíduos — e começou a rolar a tela, procurando remotamente por homens
com pele marrom.
Ele franziu a testa quando a lista terminou e ele ainda não tinha
encontrado ninguém. — Omer, por favor, consiga a filmagem de segurança dos
estábulos no gabinete três, eu acho. Data: décimo primeiro de Raavenys, um
pouco depois da meia noite.
Jamil franziu a testa e trabalhou em seu cérebro para achar tudo que ele
sabia sobre Tai'Lehr. Era cerca de cento e oitenta anos-luz de distância de
Calluvia, uma colônia industrial periférica que se especializava em minerar os
depósitos inestimáveis de korviu e criar uma raça rara de zywerns. Embora a
colônia fosse tecnicamente parte do grande clã de Jamil, era independente em
tudo, menos no nome. A teletransportação transgaláctica para Tai'Lehr era
impossível por causa do campo magnético único ao redor do planeta causado
por suas grandes reservas de korviu, e esse setor do espaço era muito perigoso
para chegar às naves espaciais por causa da guerra contínua entre dois planetas
vizinhos.
Mentiroso.
Jamil mordeu o interior de sua bochecha. Tudo bem, ele pode estar
mentindo, um pouco. Ele queria ver esse homem. Parte dele ansiava em vê-lo
novamente.
Jamil finalmente cedeu e foi para o estábulo depois do jantar. Ele passou
uma hora meditando, reforçando seus escudos mentais para evitar reagir a esse
homem de uma maneira inaceitável. Ele se sentiu confiante de que isso não
aconteceria novamente. Ele ficou assustado, despreparado, com seus escudos
mentais abaixados; foi isso. Ele não sentiria nada agora.
Jamil encontrou Rohan nos estábulos dos zywerns. Ele estava com o
mesmo zywern, alimentando-o com carne crua.
— Estou falando com você —, Jamil disse bruscamente. Céus, ele não
conseguia se lembrar da última vez que alguém o irritou tanto, sem dizer nada.
— Você não foi avisado que você nunca deve interromper a alimentação
de um zywern, Alteza?
Jamil olhou para suas costas, irritado pelo tom zombeteiro na voz de
Rohan. — Vossa Alteza —, ele disse. — Você vai se dirigir a mim como Vossa
Alteza. — Rohan murmurou algo em voz baixa.
Jamil olhou para ele, meio que incapaz de acreditar que seu empregado se
atreveu a falar com seu príncipe sobre o cio de um animal. Não foi nada senão
escandaloso.
Mas ele deu alguns passos para trás, olhando para o zywern
cautelosamente. Os zywerns indomáveis eram realmente perigosos, e os
zywerns indomados no cio eram duplamente perigosos.
Jamil lutou contra um rubor. Agora que ele olhava para além do estado de
nudez escandaloso de Rohan, ele podia ver uma camada fina do que parecia ser
sujeira em sua pele e calças, o que de alguma forma explicava seu estado de
nudez.
— Outros treinadores não têm muito pouco tempo para trabalhar —, disse
Rohan. — Eu não tenho meio ano para domar um zywern, então os métodos
tradicionais não vão domá-lo.
— Então por que meu mestre de estábulo o empregou por apenas três
meses?
Jamil respirou fundo, calmante. Ele contou até dez antes de exalar
lentamente o ar de seus pulmões, tentando empurrar a frustração também. —
Estou perguntando a você, e estou ordenando que você responda.
Jamil estreitou os olhos. — Eu não entendi bem, pode dizer mais alto?
Jamil olhou para suas costas. — Pelo menos me olhe nos olhos quando
você estiver me insultando.
Rohan soltou uma risada. — Você acha que é uma boa ideia?
— Eu não sei o que você quer dizer —, Jamil disse, seu coração batendo
mais rápido.
Rohan respirou alto. — Olhe, Vossa Alteza. Você deveria voltar para o
palácio e parar de enfiar o nariz bonito onde não deve.
Por um momento, Jamil só pôde olhar para ele, absolutamente sem fala.
Ninguém falava com ele assim. Ele não conseguia se lembrar da última vez que
alguém falou com ele como se ele fosse um príncipe irresponsável, de cabeça
vazia, com dois neurônios cerebrais. Ele tinha trinta e três anos de idade. Como
o Príncipe Herdeiro, ele assumiu o gerenciamento financeiro e cotidiano de um
dos maiores grandes clãs de Calluvia. As pessoas o chamavam de Príncipe
Responsável por uma razão, não importava o quanto aquele apelido o
exasperasse.
Jamil olhou para ele com desconfiança. Ele estava detectando sarcasmo?
Rohan parecia ficar cada vez mais tenso, os músculos de suas costas
ficando rígidos. — Eu prefiro que não.
— Por que?
Jamil sentiu uma pontada de desconforto. — Então o que você acha que
era?
Jamil também não estava, mas esse não era o ponto. — Você não está
curioso?
— Não.
— Isso não pode ser verdade. Qualquer um ficaria pelo menos um pouco
curioso.
Com bochechas quentes, Jamil olhou para ele. — Não me diga o que
fazer.
Nos últimos três dias, Jamil continuou dizendo a si mesmo que ele estava
lembrando-se de modo errado — esse sentimento de necessidade absolutamente
repugnante, doentio, a gravidade que o atraía para aqueles olhos negros — que
tudo isso não poderia ter sido tão intenso quanto ele se lembrava.
E algo estava erado, Jamil percebeu. Ele e aquele homem não se tocaram.
Da última vez, Rohan havia tocado seu ponto telepático. Houve um contato
físico que esteve ausente desta vez. Talvez por isso tenha sido muito mais
difícil se afastar dessa vez.
Não que isso importasse. Ele nunca mais veria aquele homem.
A Rainha Janesh, do Terceiro Grande Clã, sorriu para ele e deslizou para
dentro de seu escritório. Ela era uma mulher alta e graciosa, ainda
esplendidamente bonita apesar de sua idade. Todos os três filhos dela tinham
puxado a ela, herdando sua estrutura óssea impecável e suas expressões. O
irmão mais novo de Jamil era o que mais se parecia, até o cabelo branco
prateado, enquanto Jamil herdara a altura da Rainha e os lábios carnudos. Sua
irmã, Gynesh, parecia mais com a Rainha-Consorte do que com a Rainha, mas
ela tinha a graça da Rainha.
— Não é nada que não possa esperar —, disse Jamil, tentando avaliar por
que sua mãe estava aqui. Embora eles vivessem sob o mesmo teto, suas mães
moravam em outra ala do palácio e não gostavam de restringir a liberdade de
seus filhos de forma alguma. Jamil não se lembrava da última vez que a Rainha
tinha ido ao seu escritório; ele costumava ir ao dela. — É algo importante?
Jamil enrijeceu, seu olhar indo para a mãe, verde encontrando azul. — Do
que você está falando, Vossa Majestade? — Claramente ela estava aqui em sua
capacidade oficial.
Ele não podia dizer que ficou surpreso. Ele esperava essa conversa há
algum tempo.
Exceto que ele era viúvo, e em sua sociedade, viúvos não se casavam
novamente. Normalmente, mesmo ser viúvo não seria um problema: era
costume que membros da família real usassem o material genético preservado
do falecido cônjuge para ter um herdeiro se não houvesse nenhum. Jamil
poderia ter usado o esperma preservado de Mehmer — e o dele próprio — para
criar o tão necessário herdeiro em qualquer um dos numerosos centros
genéticos do planeta. Afinal de contas, ventres artificiais haviam sido
inventados por um motivo.
— Receio que não seja possível, mãe —, disse Jamil, cruzando as mãos
no colo e apertando-as onde sua mãe não conseguia enxergar. O assunto ainda
era... bastante doloroso. Apenas alguns meses atrás, ele e Mehmer estavam
falando sobre isso, finalmente prontos para uma criança. Apenas alguns meses
atrás, Mehmer ainda estava vivo.
— Eu não posso —, disse Jamil. — Você sabe como ele era. Ele não
gostava da ideia de fazer um bebê em um laboratório. Nós íamos... — Ele
mordeu o lábio, corando levemente. Não importa quantos anos ele tinha, ainda
era estranho falar sobre sexo com sua mãe. Como ele poderia dizer à Rainha
que Mehmer gostava da ideia de fazer uma criança — juntar o esperma —
durante o sexo de verdade, em vez de apenas se masturbar em um copo de
laboratório?
Felizmente, a Rainha pareceu entender o que ele não podia dizer.
A Rainha Janesh olhou para ele com firmeza. — Você ainda pode ter um
filho com outro homem. Se pudermos encontrar um homem disposto a doar seu
material genético, ninguém precisa saber que o bebê não é do seu marido.
Sem palavras, Jamil abriu a boca e fechou. O que sua mãe estava
propondo parecia... impensável. Ele não queria uma criança com algum
estranho.
Jamil gostaria de dizer que ela estava exagerando, mas havia muitos
exemplos disso. Casas reais de Calluvia tinham uma longa história de guerras
civis, traições e assassinatos, mesmo nos tempos modernos.
— Você ainda é jovem —, disse ele. — Você e minha Mãe podem ter
outro filho ainda. Eu o farei meu herdeiro.
— Eu não vou forçá-lo —, disse a Rainha, olhando para ele com uma
expressão triste e melancólica em seu belo rosto. — Ser pai é uma enorme
responsabilidade. Mas também é uma ótima fonte de alegria. Eu acredito que é
a melhor solução. Você sabe que Mehmer teria aprovado. Ele não quer que você
morra sem filhos e sozinho.
Jamil quase riu. Por toda a insistência da Rainha de que ela não estava
forçando-o, ela sabia como apertar os botões certos para conseguir o que queria.
Era algo que ele sempre admirava em sua mãe — admirava e odiava.
— Tudo bem —, ele disse, e ele não reconheceu sua própria voz. — Eu
vou confiar em você para encontrar um doador de esperma, então.
Sua mãe sorriu, alívio cintilando em seu rosto. — Claro. Deixe-me cuidar
disso, querido. Ninguém saberá que a criança não é de Mehmer.
Mas ele realmente não tinha escolha. Seu clã precisava de um herdeiro.
Todos esperavam que Jamil lhes fornecesse o herdeiro. As pessoas não se
importavam que tivessem passado apenas cinco meses desde a morte de seu
marido e que ter um filho fosse a última coisa na mente de Jamil. Verdade seja
dita, ele não achava que poderia ser um bom pai em seu atual estado de espírito.
Ele não se chamaria deprimido, mas... Ele não estava bem. Ainda havia dias em
que era difícil se levantar de manhã e cumprir suas obrigações como se nada
tivesse acontecido. Às vezes ele se esquecia e alcançava o fundo de sua mente,
aos remanescentes de seu vínculo matrimonial — antes de lembrar que seu
melhor amigo havia morrido.
Mas isso não importa, não é? Se ele acabasse sendo um fracasso como
pai, não era como se não houvesse centenas de servos no palácio que pudessem
cuidar de seu filho. Sem mencionar que as mães de Jamil adorariam seu
primeiro neto, seu filho será amado.
E talvez, apenas talvez, uma criança lhe desse uma nova razão para se
levantar de manhã. Um propósito. Jamil não tinha certeza se daria certo,
especialmente porque a criança não seria de Mehmer, mas ele amava crianças.
Certamente ele amaria sua própria carne e sangue? Qualquer coisa seria melhor
que essa vida vazia, que consistia em nada além de deveres e responsabilidades.
De qualquer forma, não era uma questão de querer; era uma questão de
necessidade. Ele realmente precisava de um herdeiro.
Sua mãe olhou para ele por um momento antes de sacudir a cabeça. —
Sinto muito, Jamil, mas não posso lhe dar informações atualizadas sobre a
colônia. Nós não possuímos isso.
A Rainha ficou pensativa. — Eu não sei. A última vez que Lorde Tai'Lehr
esteve no tribunal, ele me garantiu que tudo estava bem na colônia, mas já faz
anos e a situação pode ter mudado. Eu gostaria de poder viajar para lá sozinha,
mas meus conselheiros são muito contra. — Ela fez uma careta e disse com
desaprovação exagerada: — Uma zona de guerra não é lugar para Vossa
Majestade.
— Realmente não é —, disse Jamil. — Eu acho que sua preocupação é
prematura. Seus embaixadores relataram que não havia nada de errado, afinal
de contas. Você não confia neles?
— Eu quero falar com você —, a voz familiar e adorável disse atrás dele.
— Eu tenho perguntas.
Rohan refletiu sobre como lidar com essa situação. Talvez ele devesse
apenas assustar o Príncipe, agir como o bruto grosseiro e mal-humorado que
Vossa Alteza esperava que ele fosse.
— Você vai parar quando eu estiver falando com você —, Jamil disse,
parecendo absolutamente indignado quando ele agarrou o braço de Rohan e o
girou.
Rohan levantou seus escudos, mais alto do que nunca, mas isso ajudou
muito pouco. Ele ainda sentira aquela sacudida doentia no momento em que seu
olhar se fixou naqueles olhos azuis emoldurados por cílios ridiculamente longos
e escuros.
Mas não foi a beleza do Príncipe Jamil que capturou sua atenção. Rohan
conheceu e dormiu com muitas pessoas maravilhosas em sua vida. Ele era
indiferente aos homens de qualquer maneira, não importava o quão bonitos eles
fossem. Se não fosse pela maneira como a telepatia deles se aproximava,
ansiosa e faminta, Rohan não teria poupado um outro olhar ao Príncipe Jamil,
embora não fosse por sua falta de beleza.
Ainda assim, não era sua aparência que fazia o coração de Rohan bater
mais rápido. Era algo invisível aos olhos, uma qualidade que fazia seu
rombencéfalo enlouquecer um pouco e seus dedos coçarem com o desejo de
tocar. O desejo não era sexual. Rohan era heterossexual, o que era bastante raro
nos tempos modernos, considerando que oitenta por cento da população da
União dos Planetas era identificada como bissexual. Sua heterossexualidade
não tinha nada a ver com ele ser antiquado e tudo a ver com não ser atraído por
peito plano e pau.
Por isso que o impulso irresistível de tocar esse Príncipe foi tão
desconcertante. Com mulheres, um bom Fit geralmente significava um sexo
ótimo com uma pessoa mentalmente compatível. Aqui, o desejo de tocar era
estranho, porque seu pênis não endurecia, mas ele ainda queria morder toda a
pele do Príncipe e depois fundir suas mentes até que ele não pudesse dizer onde
sua mente terminava e onde a do Príncipe Jamil começava.
Rohan fechou os olhos por um momento e respirou fundo, tentando
clarear sua mente. Controle. Ele estava no controle. Ele não era um animal. Ele
era um homem adulto. Ele não ia deixar que seus instintos o governassem. Ele
era o único no controle, seus instintos que se danassem.
Ele abriu os olhos e disse: — O que você quer? Seja rápido, Alteza. —
Ele intencionalmente manteve seu tom rude e desrespeitoso, querendo
enfurecer o Príncipe e fazê-lo ir embora e para nunca mais voltar.
Rohan lutou para manter seu rosto em branco. Esta não era a pergunta
que ele esperava.
— Há uma inquietação?
— Vivemos nos tempos modernos, Alteza. Você não pode mais decapitar
seus súditos por ousar fazer perguntas desconfortáveis.
Rohan xingou-se por dentro. Ele culpou seu erro pelo fato de que ele
estava muito distraído com a atração irritante sobre a mente do Príncipe — ele
nunca quis entrar em alguém tão loucamente, incluindo as vezes que seu pênis
estava realmente interessado no processo.
— Você não acha estranho. O que você acha que está fazendo?
Rohan ficou rígido, olhando para os dedos marrons em volta do pulso
pálido do Príncipe. Ele nem sequer notou que estava se aproximando.
Rohan tentou.
Rohan queria se afastar dele. Ele quase fez. Mas ele gostava de pensar
que ele era uma pessoa decente. Ele não podia deixar o príncipe nesse estado. O
Príncipe Jamil ainda estava flutuando, de uma forma que normalmente só era
conseguida através de uma fusão profunda. Mas sua compatibilidade única e
extravagante tinha fodido tudo, fazendo com que o contato superficial de suas
mentes fosse melhor do que a fusão telepática mais profunda que Rohan jamais
havia se permitido. Considerando o fato de que o Príncipe estava recentemente
viúvo, sua mente estava faminta por qualquer toque mental. Era compreensível
que ele estivesse em tal estado.
Rohan quase riu. — Volte para o palácio, Alteza —, ele disse, soltando a
mão e tentando fingir que não se sentiu vazio. — Vá e não volte mais aqui.
— Quem é você?
CAPÍTULO 6
— Seu arquivo diz que você está ligado, mas sei que é mentira. Sua
mente não parece ser de uma pessoa ligada. Você também não parece ser viúvo.
Então isso significa que seu arquivo é falso.
Ele deu a Jamil um olhar sarcástico. — Eu não acho que você estava em
condições de julgar o estado do meu vínculo quando você estava implorando
para me aprofundar em você, Alteza.
Droga.
— Quem é você? — repetiu o Príncipe, com o rosto pálido. — Se você
não tem um vínculo, você deve ser... você deve ser um rebelde. — Ele cuspiu a
palavra como se estivesse suja, algo vil e impensável.
Olhando Jamil nos olhos, Rohan empurrou a sua vontade e disse: — Você
vai andar comigo, com calma e sem atrair a atenção de ninguém. — Ele sentiu
o desejo do Príncipe deformar-se, tentando combater a compulsão e quase ter
sucesso. Quase. Rohan sentiu uma pontada relutante de admiração — Rohan
era um telepata muito forte, com um dom particular de compulsão, e poucos
podiam resistir a ele quando ele escolhia usá-lo. Rohan não era exatamente
orgulhoso desse talento, mas era útil. Ele não podia permitir-se ser pego. O fato
de Jamil quase ter conseguido se livrar da compulsão dizia muito sobre sua
força de vontade — e a força inata de sua telepatia, considerando que os
remanescentes de seu vínculo matrimonial ainda estavam limitando as
habilidades do Príncipe.
Mas isso não era relevante agora. Ele precisava levá-los a algum lugar
onde pudessem conversar livremente antes que o Príncipe Jamil conseguisse se
livrar da compulsão. O Príncipe ainda estava lutando contra isso, mesmo que
ele estivesse seguindo Rohan obedientemente.
Finalmente, Rohan chegou ao seu quarto nos fundos dos estábulos,
deixou o Príncipe entrar e trancou a porta. — Sente-se na cama.
Colocando as mãos atrás das costas, Rohan fixou o olhar em algum ponto
à direita dos olhos do Príncipe e disse: — Você está certo: eu sou o que você
chamaria de “rebelde”, embora nós não nos chamamos assim. A maioria das
coisas que vocês dizem sobre nós é uma mentira. Nós não atacamos civis. Não
fomos nós que matamos o seu marido.
O Príncipe Jamil murmurou alguma coisa através de sua mordaça, dando-
lhe um olhar exigente. Não era preciso ser um gênio para adivinhar o que ele
queria.
Rohan olhou para ele com cautela antes de desamarrar as mãos e tirar a
mordaça. Ele sabia que era uma aposta, e ficou aliviado ao descobrir que tinha
valido a pena:
Jamil parecia muito distraído com sua declaração para pedir ajuda.
— Eu não posso provar isso —, disse Rohan. — É por isso que estou
aqui. Precisamos de provas de que não fizemos isso, de que não cometemos
nenhum dos crimes dos quais fomos acusados.
Rohan riu. — Nós não fizemos nada de errado. Todo ser senciente deve
ter o direito de recusar o vínculo que o Conselho impôs aos Calluvianos por
milhares de anos. Recusar-se a ligar a telepatia de nossos filhos não deveria nos
tornar fora da lei. Mas nós sempre seremos fora da lei enquanto estivermos
sendo acusados de crimes que não cometemos.
— A alguns anos atrás, nosso povo salvou uma pessoa importante que
estava prestes a ser assassinada —, disse ele por fim, escolhendo
cuidadosamente suas palavras. — Os assassinos foram contratados por uma
figura política muito poderosa em Calluvia. Anos depois, eles ainda estão
tentando terminar o trabalho. Nós frustramos todas as tentativas deles até agora,
embora a última no mês passado tenha passado desconfortavelmente perto.
— O que isso tem a ver com alguma coisa? —, disse o Príncipe, mas sua
voz estava significativamente menos hostil. Soava quase curiosa.
Rohan suspirou. — Para ser sincero, não temos certeza. Nós só sabemos
que temos um inimigo muito poderoso que conseguimos irritar por anos. Talvez
essa pessoa pense que, se nos desacreditar o suficiente, desistiremos da pessoa
que estamos protegendo. Também é provável que eles tenham medo de que a
pessoa em nossa proteção possa se apresentar e contar a verdade a todos. Se
isso acontecer, os rebeldes seriam suas únicas testemunhas, portanto,
desacreditar-nos faz sentido. Mas tudo isso é um pouco exagerado. Matar seu
marido apenas para nos desacreditar é definitivamente muito fora da curva. É
por isso que estou aqui: para descobrir se o assassinato do seu marido não está
relacionado. Mesmo que isso não esteja relacionado, ainda preciso encontrar
provas de que Tai'Lehrians não fizeram isso.
Rohan fez uma careta, aborrecido consigo mesmo pelo deslize. Em sua
defesa, ele não estava acostumado a falar de seu povo como “rebeldes” ou
“renegados” — os termos que Calluvianos se referem a eles. Também não
ajudava que ele ainda estivesse incrivelmente distraído com a atração mental
que sentia em relação ao Príncipe. Não era tão ruim quanto antes da sua
pseudo-fusão, mas ainda o distraia mais do que deveria.
— Então como?
— Tecnicamente, sim. Mas deve ser nosso direito fazer nossas próprias
escolhas, em vez de deixar o Conselho fazer isso por nós quando somos
crianças. Querer liberdade é crime, Vossa Alteza?
Sua falta de sinceridade deve ter sido óbvia, porque o Príncipe apenas
zombou em resposta.
Rohan fez uma careta. — Olha, me desculpe se não pareço muito triste,
deve ser uma diferença cultural.
Quando o Príncipe Jamil ficou em silêncio por muito tempo, Rohan olhou
para ele. O Príncipe estava mordendo o lábio, uma expressão de aperto no
rosto. — É... — O Príncipe fez uma pausa e fez uma careta um pouco antes de
continuar. — Isso é...? — Ele gesticulou vagamente entre eles.
Rohan quase riu de seu desconforto. — Sim —, disse ele. — Nós somos
um bom Fit, Vossa Alteza. — Esse era o eufemismo do século. Ele nunca sentiu
um Fit tão forte antes. — Não que isso signifique alguma coisa —, acrescentou
quando o desconforto do Príncipe aumentou.
O Príncipe Jamil piscou de repente parecendo tão jovem que era difícil
acreditar que ele tinha trinta e poucos anos. Mas, novamente, refletiu Rohan, a
Casa Veighli era famosa pela beleza e juventude eterna de suas filhas e filhos. A
Rainha ainda possuía uma beleza incrível, apesar de estar em seus sessenta
anos, e todos os seus filhos aparentemente puxaram a ela.
— Eu não sou lindo —, Jamil disse com uma careta pequena e intrigada.
— Meu irmão mais novo é. Eu sou bonito.
Rohan quase riu. Parte dele não acreditava que eles estivessem realmente
tendo essa conversa. — O Príncipe Seyn parece uma versão menor e desbotada
de você —, ele disse, pensando no outro príncipe. — Ele é lindo, mas você
também é, para um homem. Eu não me sinto atraído por nenhum de vocês,
então minha opinião é tão imparcial quanto possível.
— Sim.
— Você ainda não respondeu por que você está aqui, nos meus estábulos.
Jamil olhou para ele, mas parecia meio indiferente, na melhor das
hipóteses. — Manipular a mente de alguém é desprezível.
Rohan encontrou seu olhar firmemente. — Olha, sinto muito por fazer
isso com você. Eu tinha pouca escolha. Eu particularmente não gosto de usar
compulsão, mas é um dom útil.
Rohan apenas assentiu. Claro que sim. Eles não o teriam contratado de
outra forma. Seu talento para a compulsão era a principal razão pela qual ele
conseguira convencer Sirri e os outros de que ele deveria ser o único a vir: ele
sempre poderia forçar sua saída de problemas, enquanto os outros correriam um
risco significativamente maior. Mesmo os telepatas mais fortes tinham
dificuldade em fazer outros telepatas obedecerem — requeria cuidadosa
substituição de memórias e plantação de pensamentos no subconsciente —
enquanto o talento de Rohan para compulsão significava que ele poderia
simplesmente ordenar alguém a fazer o que ele precisava, nenhuma
manipulação cuidadosa de memória era necessária. Não que ele não pudesse
fazer o último também, se necessário. Ele poderia. Mas o benefício da
compulsão era funcionava rápido, o que era uma vantagem significativa caso
ele se metesse em uma situação complicada.
Rohan o estudou. — Seu marido está morto há cinco meses. Você não
deveria se sentir culpado por sentir diversão. Você não está morto.
O leve rubor nas bochechas do príncipe ficou mais nítido. Ele se levantou
e deu um passo para longe. — Muito bem. Eu estou escolhendo acreditar em
você por agora. Vou ter que pensar sobre isso, longe de... — Jamil estremeceu,
parecendo desconfortável.
Rohan não precisava se aprofundar em sua mente para saber o que ele
queria dizer. Mas diabos, ele queria.
Jamil olhou para ele, seu olhar um pouco vidrado, seus lábios
entreabertos enquanto ele respirava pela boca. — Isso não é natural —, disse
ele. — Eu não gosto disso.
Rohan soltou seu pulso, seus dedos se arrastando para baixo da palma da
mão do Príncipe antes de se afastar. Imediatamente, a necessidade voltou,
embora um pouco menos urgente. Tocar ajudava — não tanto quanto ele
gostaria, mas ajudava.
Warrehn ia matá-lo.
CAPÍTULO 7
Jamil olhou para o capitão da Guarda Real sentado em sua mesa e disse:
— Eu quero saber os detalhes da morte do meu marido.
Jamil reprimiu uma carranca, irritado por seus pensamentos. Parecia que
ele tinha sido incapaz de pensar em outra coisa nos últimos dias além disso.
Era... desconcertante. Não importava o que Rohan tivesse alegado, Jamil não
estava convencido de que ela não estivesse influenciando-o de alguma forma —
porque tal comportamento não era normal, não para ele. Seyn era aquele que
tendia a se obcecar e fixar; Jamil era o racional. Supostamente.
Jamil assentiu. Depois de seu confronto com Rohan, foi à primeira coisa
que ele fez, mas o relatório não respondeu suas perguntas.
— Eu li, mas não está claro como você chegou a tais conclusões. Tudo o
que o relatório diz é que a aeronave de Mehmer foi desintegrada perto das
montanhas do norte de Kavalchi. — Ele ficou um pouco surpreendido pela
firmeza de sua voz. Ele gostaria de pensar que ele estava finalmente seguindo
em frente, deixando de lado sua dor, mas Jamil tinha a sensação de que não era
tão simples assim. Essa... fixação nele apenas eclipsava todo o resto, abafando
até mesmo sua dor, ainda que temporariamente.
***
Jamil tentou se convencer a ficar de fora. Ele disse a si mesmo que não
era da sua conta. Ele deveria ficar longe dos assuntos dos rebeldes — ficar
longe de Rohan di'Lehr. Mas sua força de vontade durou apenas cinco dias.
— Eu não vou tomar muito do seu tempo. Tenho certeza de que você está
ocupada se preparando para entregar as rédeas do clã ao Príncipe Samir. — O
uso do nome encurtado de seu filho não foi um descuido: o Príncipe Samir
tinha dito para ele usar seu primeiro nome.
Jamil assentiu, sabendo que era uma situação bastante singular. Como a
linha direta do Quinto Grande Clã havia sido extinta anos atrás, o filho de
Dalatteya deveria ascender ao trono em seu vigésimo quinto aniversário. A
situação era ainda mais complicada pelo fato de que havia alguma incerteza de
que o ex-herdeiro do trono estava realmente morto.
Seu tom soou absolutamente sincero, mas algo em suas emoções fez
Jamil olhar para ela com curiosidade. Desde a morte de seu companheiro, suas
habilidades telepáticas estavam um pouco mais fortes. Disseram-lhe que era
normal, mas ainda o desconcertava um pouco. Ele podia sentir melhor as
emoções superficiais de outra pessoa, e agora, Dalatteya não estava triste,
apesar de sua expressão compassiva.
Ali. Ele tinha certeza que ele detectou uma centelha de preocupação.
Dalatteya, apesar de todas as suas maneiras gentis, era uma figura política
muito poderosa. Ela era altamente respeitada e admirada por prevenir com
sucesso uma guerra civil e governar o Quinto Grande Clã com um pulso de
ferro como regente. Ela tinha inúmeros defensores no Conselho, tanto entre as
casas reais quanto os membros eleitos.
Mas ainda era difícil acreditar que Dalatteya pudesse ter alguma coisa a
ver com a morte de Mehmer. Por que ela faria isso?
Jamil também tinha certeza de que Rohan não lhe contara toda a verdade.
— Você provavelmente está certa —, disse Jamil. — Eu sei que você está
certa, mas não é fácil. Eu ainda gostaria de ler esses relatórios antigos. Mesmo
que eu não encontre nada, vou me sentir melhor sabendo que fiz tudo o que
podia para vingar meu marido.
Dalatteya assentiu e ficou de pé. — Muito bem, Vossa Alteza. Vou enviar-
lhe os relatórios assim que o meu assistente os encontrar.
Agora ele tinha mais uma razão para falar com Rohan di'Lehr em vez de
apenas saciar sua curiosidade e seguir em frente.
Droga.
CAPÍTULO 8
Finalmente, a porta foi aberta, e Rohan olhou para ele, sem camisa e
irritado, esfregando os olhos fechados com as costas das mãos, claramente tinha
acabado de acordar.
Rohan soltou uma risada que fez algo quente se desenrolar na boca do
estômago de Jamil.
— Sério? — Rohan disse. — Você está realmente insistindo em formas
de tratamento quando você está no meu quarto à uma da manhã?
Jamil entrou no quarto. Ignorando a cama desfeita, ele se virou assim que
Rohan fechou a porta e se inclinou contra ela como um grande gato.
Não era como se Jamil fosse puritano. Ele tinha sido um homem casado.
Ele esteve casado por oito anos e gostava muito da intimidade com o marido.
Mas ele nunca olhou para um homem e o queria dentro, como agora. Era
obsceno. Embora Rohan tivesse alegado que essa… compatibilidade não
causava atração física, Jamil achou difícil separar a necessidade de ter um ato
físico que ele normalmente associava a ela.
Céus, era tão degradante. Isso o fez se sentir sujo. Mehmer tinha partido
há apenas cinco meses. Compatibilidade biológica ou não, ele não deveria
querer o toque de outro homem, seja mental ou físico.
Suas mãos se agarraram, apertando com força, tão fortemente que era
quase doloroso. Alguém choramingou e Jamil levou um momento para perceber
que foi ele.
Jamil olhou para ele, ofendido pelo que ele estava sugerindo. Eu garanto
que não estou interessado em você também. — E ainda assim, não fui eu que
me dei um chupão.
Rohan fez uma careta. Ele respirou fundo, seus olhos se fecharam por um
momento, sua mandíbula cerrada. Quando ele abriu os olhos novamente, havia
uma aparência de controle neles. — Certo. Ignorar o problema claramente não
está funcionando.
Jamil quase riu. Isso era um eufemismo. — O que você propõe? — Ele
disse, cruzando os braços sobre o peito para esconder o tremor de seus dedos.
Rohan sorriu sem humor. — Você não vai gostar, Alteza.
Jamil tinha certeza de que ele nunca havia corado tanto em sua vida até
conhecer Rohan di'Lehr.
Jamil hesitou. Ele não podia negar que era tentador finalmente se livrar
desse anseio terrível e inadequado em sua pele. Mas…
— Mais fundo.
— Mais fundo.
— Nós dois sabemos que não é a razão pela qual você deseja removê-la.
Um surto de irritação veio do outro homem, mas Rohan não podia negar
— não quando Jamil podia sentir seus pensamentos quase tão claramente
quanto os seus. A presença de Rohan se apertou ao redor dele, algo cruel e
possessivo. Jamil provavelmente deveria ter ficado incomodado com isso — até
chateado —, mas era difícil ficar incomodado com essa exibição inapropriada
de possessividade quando ele se sentia tão bem, seus nervos cantando de prazer.
Ele só podia arrastar Rohan mais fundo dentro dele, sentindo seu prazer
respondendo enquanto eles se envolviam cada vez mais perto e perto um do
outro. Céus... Se Jamil pensou que ele estava se afogando antes, ele não sabia
uma palavra para descrever esse sentimento. A pura felicidade enchera sua
mente até a borda, cada sensação compartilhada entre eles em todos os níveis
possíveis, uma conexão tão absoluta que ele teve dificuldade em dizer onde ele
terminava e Rohan começava. Ele nunca se sentira mais próximo de outra
pessoa. Ele podia sentir o coração de Rohan batendo, ele podia sentir o prazer
viajando através do corpo de Rohan quase tão vividamente quanto ele sentia o
seu próprio.
Esse pensamento fez Jamil imaginar fazer isso durante o sexo — e ele
estremeceu, imaginando seus corpos conectados tão intimamente quanto suas
mentes estavam agora.
Uma risada. — Querido, eu estou tão dentro de você que eu posso sentir o
que você está realmente sentindo e você não está ofendido.
— Cale-se.
Mas se ele achava que isso iria embaraçar Rohan, parecia que ele estava
muito enganado.
— Você tem, mas seria mais linda sem essa coisa feia nela —, disse
Rohan, cutucando os restos de seu vínculo com Mehmer.
Jamil teve que admitir que ele tinha um ponto. Tudo era intenso demais
dentro da fusão, cada sentimento amplificado ao extremo. Conversar com um
estranho tão sinceramente deveria ter parecido estranho, mas não era. Ser tão
íntimo com um estranho deveria ter sido desconfortável, mas não era. Parecia
tão natural quanto respirar, e o estranho não se sentia mais como um estranho.
Parecia que ele conhecia Rohan di'Lehr a vida toda. Era... um pouco
desconcertante, verdade seja dita, esse nível de confiança entre eles. Este
homem era um rebelde. Os rebeldes eram...
Jamil suspirou, não querendo realmente pensar ou falar sobre isso, mas
bem ciente de que deveria. A morte de Mehmer era algo que ele acabara de
aceitar; falar sobre isso era como uma ferida mal cicatrizada. Ele estava com
medo de que ela começasse a sangrar de novo — e com medo de que isso não
acontecesse. Sofrimento, dor e perda eram emoções que não podiam estar mais
longe dele naquele momento; não quando ele se sentia tão bem, com a mente
deste homem envolvida firmemente em torno de seu próprio ser, fazendo-o
sentir maravilhosamente seguro.
— Sim —, Rohan disse finalmente. — Mas eu não acho que ela tenha
algo a ver com a morte do seu marido. Não faz nenhum sentido. Ela não teria se
arriscado a matar um membro de outra casa real quando seu filho está tão perto
de finalmente ascender ao trono.
— Ela não é a inofensiva dama da sociedade que ela finge ser —, disse
Rohan, como se estivesse lendo seus pensamentos, o que ele provavelmente
estava.
— Não.
Jamil olhou para ele com desconfiança — ele não parecia nada
arrependido, mas deixou para lá. — Quebre a fusão —, ele disse em vez disso.
Jamil meio que queria socá-lo para limpar aquele sorriso arrogante de seu
rosto.
Idiota.
Rohan bateu no nariz dele com o polegar. — É adorável que você pense
que ser um príncipe deve ser sinônimo de ser tenso.
Ele olhou de volta para Rohan e viu o mesmo sentimento em seus olhos.
Eles se entreolharam, zangados, confusos e famintos, ainda tão famintos um
pelo o outro.
Jamil desejou saber o que ele estava pensando. Ele desejou que ele ainda
o tivesse dentro dele para que ele não tivesse que adivinhar.
Ugh, chega.
Mas Jamil ainda se sentia muito abalado com a fusão e queria sair o mais
rápido possível, para poder processar tudo na privacidade de seus aposentos,
longe daquele homem e do estranho efeito que ele exercia sobre ele.
— Seria muito difícil para você entrar em seu palácio —, Jamil disse,
limpando a garganta. — As medidas de segurança do regente são... um pouco
extensas. As únicas pessoas isentas de verificação de antecedentes são membros
de outras casas reais e sua comitiva porque seria considerado um insulto.
Jamil estreitou os olhos. — Por que eu sinto que você está rindo de mim?
Fingindo que ele não podia ouvir os tons de riso na voz de Rohan, Jamil
disse: — Está resolvido, então. Vou transferi-lo oficialmente para minha equipe
pessoal.
Jamil franziu a testa. Rohan estava certo. É claro que Weyrn acharia
estranho.
Jamil franziu os lábios, tentando fingir que odiava o modo como Rohan
dizia Alteza.
Ugh, ele realmente queria dar um tapa em si mesmo. Que diabos, sério.
Jamil olhou para ele, odiando o quão indiferente era sua indignação — e
odiando o fato de que ele estava se inclinando para o toque de Rohan, para a
mão que havia se movido do nariz até a sua bochecha.
Jamil umedeceu os lábios secos com a língua. — Você gosta disso. Você
gosta que eu tenha uma marca que você deixou em mim. — Era uma
declaração, não uma pergunta. Com o polegar de Rohan contra seu ponto
telepático, a conexão entre eles se acendeu novamente. Era mais fraco que uma
fusão verdadeira, mas ele ainda podia sentir algumas das emoções de Rohan. E
suas emoções estavam muito em desacordo com suas palavras. Rohan sentiu
satisfação ao olhar para a marca da mordida.
— Sim —, disse Rohan com uma careta, retirando a mão. — É por isso
que você precisa curar a marca.
— Eu vou —, disse ele. Claro que ele faria. Ele não podia deixar alguém
notar uma marca de mordida tão alta em seu pescoço. Mesmo uma gravata não
esconderia a menos que ele fosse realmente criativo com ela.
— Bom —, Rohan disse, evitando seu olhar. — Estou indo. Vá para o seu
quarto antes que alguém note você nessa parte do palácio.
Ele se despiu e foi para a sua cama, mas o sono se recusou a vir. Ele
queria…
Ele queria.
Pela primeira vez desde a morte de seu marido, Jamil encontrou a mão
escorregando para baixo do corpo e em sua roupa íntima. Ele estava duro, sem
motivo algum. Duro e incrivelmente excitado.
A primeira coisa que Jamil viu quando saiu do quarto na manhã seguinte
foi Rohan Di'Lehr. Ele estava encostado na parede oposta.
Jamil parou, observando a forma alta de Rohan vestida com seu novo
uniforme. Todos os membros das casas reais usavam ternos pretos com os
detalhes da Casa que serviam. Como as cores da família de Jamil eram brancas
e azuis, Rohan usava um terno preto bem ajustado que abraçava seus ombros e
seus braços, uma camisa branca, um colete azul e uma simples gravata branca.
Rohan deu um aceno de cabeça rápido. — Não foi difícil. Você precisa
aumentar sua segurança. Eu não sou o único telepata de alto nível na galáxia.
Você tem sorte de eu não estar interessado em causar-lhe mal.
Fazendo uma anotação mental para encontrar uma solução para essa
fraqueza na segurança, Jamil saiu de seus aposentos. Ele se sentiu... estranho
tendo Rohan em qualquer lugar perto dele, considerando que ele passou metade
da noite se mexendo em sua cama, muito agitado para dormir por causa da
fusão ilegal com que ele se envolveu com um homem que não era seu marido.
— Tão agitado que, pela primeira vez em meses, ele teve que se masturbar para
se livrar da tensão. Duas vezes.
Jamil sentiu seu rosto queimar com a lembrança. Ele limpou a garganta
quando Rohan deu um passo ao lado dele. — Ande como um servo, pelo amor
de Deus.
Jamil franziu a testa, sem saber como consertar isso. Não era que os
servos não pudessem ser confiantes — muito pelo contrário — mas bons servos
eram feitos para não serem vistos. Jamil tinha dificuldade em acreditar que
alguém deixaria de notar esse homem. Ou talvez fosse só ele. Ele estava tão
ciente da presença de Rohan que ele dificilmente poderia ser um juiz imparcial
sobre se ele era perceptível ou não.
— Fofo.
Jamil mal se absteve de revirar os olhos. Isso teria sido indigno e infantil.
— Você está fazendo isso de propósito, tentando me irritar.
— Está funcionando?
— Para ser honesto, não tenho certeza —, disse ele finalmente, parecendo
um pouco surpreso. — Eu não consigo parar.
Seu olhar disparou para Rohan e ele encontrou o homem já olhando para
ele. Encarando-o.
Rohan sorriu torto. — Todo mundo encara, Alteza. Você é uma ótima
visão. Eu não preciso gostar de pau para esteticamente apreciar seu rosto
bonito.
Jamil abriu a boca e fechou-a com firmeza, não querendo dar a satisfação
a Rohan: o bastardo estava fazendo isso de propósito, tentando chocá-lo. E
desde que pedir que Rohan parasse de chamá-lo de lindo ou fofo apenas
encorajou esse homem impossível a fazer isso com mais frequência, Jamil nem
se deu ao trabalho.
Eles não disseram mais nada, apenas andaram, o ar entre eles carregado
de uma estranha tensão. Isso fez o calor se espalhar pelo corpo de Jamil, sua
mente ficando mais nebulosa a cada momento que passava. Era difícil se
concentrar em qualquer coisa que não fosse o homem andando ao lado dele.
Seus cotovelos roçaram. Jamil não deveria ter sentido nada através das
camadas de suas roupas, mas seu braço formigava, seus dedos se contraindo.
Ele queria... ele queria...
Jamil não tinha ideia de quanto tempo à fusão durou dessa vez.
Porra, sentia-se...
Jamil olhou para a parede oposta sem ver, tentando encontrar a força para
se afastar, para desvendar sua mente de Rohan. A parte frustrante era que a
fusão estava tecnicamente terminada — os dedos de Rohan não estavam mais
tocando seu núcleo telepático, mas ter a boca de Rohan definitivamente não
ajudava, e suas mentes se recusavam a se separar, ainda enroladas firmemente
uma na outra.
— Vossa Alteza?
Jamil ficou rígido antes de relaxar um pouco quando percebeu que era
apenas o AI do palácio. — Sim —, ele disse com tanta dignidade quanto ele
poderia dizer, dizendo a si mesmo que a IA não podia sentir nenhuma emoção
e, portanto, não poderia julgá-lo.
— Você tem uma reunião às dez horas. Seu visitante está esperando por
você em seu escritório, Alteza.
— Não faça isso de novo —, ele disse a Rohan, tentando endireitar sua
gravata com dedos trêmulos e desajeitados.
Rohan olhou para ele com algo como fascinação. — Na verdade, eu não
sou. Eu acho que você traz à tona o pior que há em mim, Vossa Alteza.
Jamil estremeceu. Como esse homem conseguia fazer com que uma
palavra soasse tão suja?
Quando ele apenas olhou para Rohan sem expressão, os olhos negros se
estreitaram. — Isso nunca aconteceu com você —, afirmou Rohan.
— Claro que não —, Jamil disse, incapaz de acreditar que eles estavam
realmente discutindo isso. — Eu nunca me fundi com ninguém além de você.
— Mehmer sugeriu isso algumas vezes, mas Jamil recusou-se todas as vezes,
desconfortável em se envolver em uma conexão tão profunda e invasiva.
Rohan olhou para ele, sua expressão muito quieta e estranha. — Eu sou
seu primeiro?
Atrás dele, Rohan estava arrumando suas próprias roupas. Jamil recusou-
se a pensar em como eles haviam ficados tão desgrenhados.
Rohan encolheu os ombros. — Você não está atrasado para a sua reunião?
— Os olhos de Jamil se arregalaram.
Ele saiu da sala, incapaz de acreditar que ele havia ficado tão distraído —
de novo.
Embora tenha sido o oitavo encontro de Jamil com ele desde a morte de
Mehmer, esse homem ainda permanecia um mistério para ele.
Mas agora ele tinha. Porque esse homem era provavelmente o telepata
mais habilidoso do planeta, e ele iria olhar a mente de Jamil. E pela primeira
vez, Jamil tinha algo que ele gostaria de esconder.
Jamil quase fez uma careta. Ele não entendia porque ajoelhar era
necessário. O Mestre Idhron era um homem alto, tão alto quanto ele. Jamil
suspeitaria que o adepto da mente secretamente gostava de se sentir superior,
exceto que ele tinha certeza de que esse homem não podia sentir nada.
Mas ele se ajoelhou na frente do monge, e o Mestre Idhron empurrou um
pouquinho a gravata de Jamil para alcançar seu ponto telepático — e ficou
imóvel.
Quando o Mestre Idhron saiu de sua mente, ele estava franzindo a testa
ligeiramente. — Seu vínculo com o seu falecido companheiro está mais fraco
agora —, disse ele. — Bem peculiar.
O Alto Adepto olhou para ele, mas antes que ele pudesse dizer qualquer
coisa, a porta se abriu e uma voz masculina desconhecida disse: — Mestre,
você já terminou? Já podemos ir?
Jamil piscou.
Quando a porta se fechou atrás dele, Jamil olhou para o Mestre Idhron
com novos olhos. Ele não podia imaginar esse homem realmente escolhendo
aquela confusão emocional que era aquele menino como aprendiz dele.
Somente quando a porta se fechou atrás dele, ele se deixou relaxar. Ele
estava razoavelmente certo de que o Alto Adepto não tinha notado nada de
errado — qualquer coisa além de seu vínculo enfraquecido.
Um tanto aliviado, ele colocou o retrato na mesa. Ele ainda amava seu
marido. Ele não o traiu. Sua perversa compatibilidade mental com Rohan
di'Lehr não mudou nada. Ele não precisava pensar em Mehmer o tempo todo
para amá-lo — isso seria obsessão, não amor.
Realmente era.
CAPÍTULO 10
Porra, talvez ele devesse invadir o Quinto Palácio Real. Mas, como Jamil
havia dito, as medidas de segurança de Dalatteya estavam beirando a paranoia,
com três pessoas diferentes fazendo checagem de antecedentes, câmeras por
toda parte e a maioria dos empregados sendo androides.
Não, tentar entrar no palácio de Dalatteya por conta própria seria suicídio.
Ele precisava da ajuda de Jamil se ele quisesse chegar perto o suficiente da
mulher.
Se ao menos ele pudesse descobrir como ficar perto de Jamil sem ficar...
distraído.
Rohan parou, percebendo onde seus pés o trouxeram. Ele estava na frente
dos aposentos privados de Jamil mais uma vez.
A porta de repente se abriu e ele foi saudado pela visão de Jamil em seu
pijama branco e sedoso. — Você vai ficar aí a noite toda? — O Príncipe disse
secamente, seus olhos azuis queimando como fogo. — Seus pensamentos são
altos.
Isso era outra coisa — outra coisa muito horripilante. Quanto mais tempo
passava, mais se harmonizavam entre si. Rohan tinha seus escudos totalmente
para cima. O Príncipe não deveria ter sido capaz de senti-lo, muito menos de ter
um vislumbre de seus pensamentos.
— Você não tinha que abrir a porta —, disse Rohan, passando por Jamil e
andando em direção à janela.
A porta se fechou.
O silêncio caiu sobre a sala, enchendo seus sentidos com coisas que ele
nunca sentiu em sua vida.
Rohan rangeu os dentes, olhando pela janela. Não havia um luar, então
não havia nada de interessante, mas ele encarava a paisagem noturna como se
fosse a coisa mais fascinante que ele já tinha visto. Como se o pênis dele não
estivesse tão duro que ele poderia quebrar as unhas com ele. Como se ele não
pudesse sentir a necessidade do príncipe quase tão agudamente quanto à dele.
Silêncio.
Rohan se virou, seus lábios torcendo em algo que era quase um sorriso
quando ele viu o olhar fulminante de Jamil. — Estou cansado, e não estou
realmente com disposição para a nossa dança de negação habitual, querido.
Vamos pular isso? Nós dois sabemos como isso termina.
Duas manchas de cor apareceram nas bochechas pálidas do Príncipe, a
cor de seus lábios macios. Ele realmente era incrivelmente adorável, para um
homem. Era uma pena que ele fosse um homem. Se ele não fosse, Rohan já
teria estado com as bolas dentro dele e fodido essa fixação estranha fora de seu
sistema dias atrás.
Jamil deu um passo para trás, seus olhos muito brilhantes. Cauteloso.
Com fome.
Molhando os lábios com a língua, Jamil deu outro passo para trás.
— Eu sei que você tem pensado nisso o dia todo —, disse Rohan, se
aproximando. — Porque eu também tenho. Vamos lá, admita, Alteza.
Sim. Rohan teve que realmente morder a língua para se impedir de dizer
isso. — Tudo o que eu estou dizendo é que seus... sentimentos pelo Príncipe-
Consorte eram artificiais, criados pelo aquele vínculo não natural que você teve
com ele desde que você era uma criança. Você sabe que estou certo. Você o
amava porque não tinha escolha, Jamil.
O Príncipe olhou furiosamente para ele. — Eu não lhe dei permissão para
utilizar o meu primeiro nome —, disse ele, ignorando completamente o que
Rohan havia dito. — É Príncipe Jamil'ngh'veighli para você.
Rohan riu, dando um último passo para frente até que eles estavam frente
a frente. — Isso é muito grande, querido. Você está louco se acha que eu vou te
chamar assim.
Rohan acariciou seu núcleo com seus dedos mentais e Jamil gemeu,
tremendo como se estivesse eletrocutado. — Mais.
— Porra, eu não acho que posso sair —, disse ele em voz alta, abrindo os
olhos e concentrando-os no rosto de queixo caído de Jamil. A visão era...
estranhamente satisfatória. Ele gostava de ver esse Príncipe muito apropriado
ficar absolutamente desfeito apenas pelo seu toque mental. Era ridiculamente
inebriante.
O pênis de Rohan se contraiu, seu corpo muito alto por causa das
endorfinas para distinguir entre a intimidade mental e física. Seu pênis estava
tão duro que ele podia sentir vazando, latejando de necessidade.
Suprimindo a vontade de rosnar que ele não era — ele sabia que Jamil
ainda não estava pronto para se desapegar de seu marido — Rohan disse: — E
eu não gosto de homens. Isso não significa nada. Apenas alívio de tensão,
endorfinas, nada a ver com você. — Ele pressionou a boca contra o pescoço de
Jamil e sugou a pele acima de seu núcleo telepático pulsante, o tempo todo
acariciando seu próprio pênis.
Rohan podia sentir o momento em que ele se tocou — seu prazer parecia
se multiplicar — e ele gemeu, acariciando seu próprio pênis mais rápido e mais
forte. Jamil enterrou o rosto contra a garganta de Rohan, fazendo ruídos baixos
e grunhidos, as mãos batendo umas nas outras enquanto se acariciavam. Foi
rápido, duro e sujo, suas mentes abertas, seus centros de prazer mental
estimulados e super sensíveis como seus pênis. Em pouco tempo, Jamil estava
dando gemidos desesperados em seu pescoço, beijando e mordendo enquanto
empurravam em suas próprias mãos.
A parte confusa era que Rohan não tinha certeza de quem era o
pensamento.
— Ei, não foi tão ruim assim, foi? — Rohan murmurou, enfiando os
dedos no cabelo castanho. — Eu me sinto melhor agora. Você não?
— Vamos lá, amor —, disse Rohan, soltando outro beijo em seu cabelo.
Uma parte dele, a parte que ainda podia pensar racionalmente, sentia-se
incrédula por seu próprio comportamento. Termos carinhosos não eram
realmente a coisa dele. Ele raramente os usava com mulheres que ele namorou
ao longo dos anos, muito menos com homens que ele conheceu por tão pouco
tempo. E, no entanto, ele não conseguia parar de usá-los agora. Eles
encaixavam tão bem. Parecia certo. — Jamil, foi o Fit. Nós não poderíamos
parar. Pare de se torturar sobre isso. — Ele deu um bufo divertido. — Se isso
pode fazer de mim, um homem hétero, ficar tão malditamente excitado, você
não teria chance.
Isso, finalmente, parecia ter o efeito pretendido. Ele sentiu Jamil relaxar
um pouco, as ondas doentias de culpa e vergonha finalmente diminuindo.
— Eu sei —, Jamil disse suavemente, esfregando a bochecha contra a
garganta de Rohan. Aninhando-se nele.
— Isso fui eu sendo gentil —, disse Rohan com uma risada, mas ele
tentou novamente.
Corando, Jamil fez o mesmo. Ele foi até a cômoda e retirou alguns lenços
umedecidos para limpar os dedos. A fusão não quebrou, mas a distância entre
eles pareceu mais agravante do que deveria ter sido.
Rohan quase riu. — Claro que não. Se fosse, eu teria casado com a
primeira garota com quem me fundi.
Passando a mão pelo cabelo, Jamil apenas olhou para ele por um longo
momento.
Atrás dele, ele ouviu Jamil suspirar. — Ouvi dizer que as fusões se
dissolvem quando as pessoas estão dormindo —, disse ele, instável. — Isso é
verdade?
Quando Rohan se virou para olhá-lo incrédulo, Jamil olhou para ele. —
No sofá. Obviamente.
Ele meio que esperava que Jamil corasse e se afastasse, mas para sua
surpresa, Jamil olhou para seu torso nu descaradamente, seu olhar se
demorando em suas tatuagens mais uma vez.
— Não entendo por que as pessoas voluntariamente mutilam seus corpos
—, disse Jamil.
Jamil não se incomodou em negar: mentir dentro de uma fusão era inútil.
— Posso pegar algo para dormir? — Rohan disse, tirando sua calça. —
Embora eu não me importe de dormir nu.
Isso finalmente fez Jamil se virar. Ele foi até o guarda-roupa, tirou uma
calça azul solta e uma camisa cinza macia e jogou por cima do ombro. —
Coloque isso.
Rohan fez e sorriu divertido, olhando para as costas muito retas de Jamil.
— Você pode se virar agora. Não que eu tenha algo que você não tenha visto.
— Não me chame assim —, Jamil disse, mas não havia calor em sua voz.
Rohan tinha certeza de que, a essa altura, Jamil se opunha apenas porque sentia
que precisava fazê-lo.
Rohan suspirou. — Por que você está ficando tão irritado de novo?
Jamil ficou quieto por tanto tempo que Rohan estava começando a pensar
que ele não ia responder.
— A última pessoa com quem compartilhei essa cama foi meu marido.
Rohan fez uma careta quando sentiu a tristeza de Jamil através da fusão.
Eles não disseram mais nada naquela noite; eles adormeceram assim,
emaranhados na mente um do outro.
CAPÍTULO 11
Ele não conseguia se lembrar da última vez que acordou sentindo-se tão
descansado e bem.
Jamil abriu os olhos, piscando turvo. Ele estava deitado de lado e havia
um braço tatuado pendurado na sua cintura.
Jamil olhou para a mão bronzeada em seu estômago pálido — sua camisa
aparentemente tinha subido — e se perguntou o que havia de errado com ele.
Ele deveria estar pirando. Ele deveria ter se sentido envergonhado, sujo e
errado. Ele não deveria estar se sentindo tão bem e confortável nos braços de
um homem que não era seu marido.
— Se isso faz você se sentir melhor, você é o homem mais lindo que eu já
vi —, disse uma voz sonolenta com uma risada. — O mais lindo de todos.
Franzindo a testa, Jamil tentou reforçar seus escudos. Ele também tentou
se afastar do abraço de Rohan. Ele falhou em ambas as partes. Seus membros se
recusaram a ouvir seus comandos, e sua mente parecia... diferente. Mais
brilhante. Mais calma. Mais quente.
Levou alguns minutos para perceber o que estava diferente. Havia um fio
dourado muito fino em volta de seu núcleo, logo acima de seu vínculo quebrado
com Mehmer, tão fino que mal podia senti-lo.
— Hmm?
Jamil cutucou-o mentalmente em direção ao fio dourado. — Isso!
Ele sentiu Rohan congelar, seu corpo ficando rígido contra ele.
E então Rohan amaldiçoou tão elaboradamente que teria feito Jamil corar
se não estivesse tão preocupado. Rohan se afastou dele como se tivesse
queimado e rolou para fora da cama.
— Por que você está olhando para mim como se fosse culpa minha?
Rohan riu asperamente, virando-se. — Como você está tão calmo sobre
isso?
Embora Rohan não tenha discordado dele em voz alta, Jamil ainda podia
sentir sua agitação.
Jamil franziu a testa, mais do que um pouco perturbado por seus próprios
pensamentos. — Há alguns dias, Dalatteya me enviou os velhos relatórios sobre
o sequestro de seus sobrinhos.
Mais uma vez, Jamil ficou perturbado com o quanto ele gostava: ter o
foco de Rohan nele e apenas nele.
— Eu não tenho certeza ainda —, disse ele. — Tudo o que sei é que você
não me disse algo. Alguma coisa importante. E você não pode esperar que eu o
ajude se eu não tiver todas as informações. — Ele estava orgulhoso de quão
racional sua voz soava. Sua voz não tinha traído que ele se sentia estupidamente
ferido. Isso era ridículo. Rohan não era nada para ele. Ele o conhecia por
dezessete dias. Ele não deveria se machucar por sua falta de confiança. Não
deveria parecer uma traição.
Mas parecia.
— Parar o quê?
As sobrancelhas de Jamil voaram. Seu primeiro instinto foi dizer que ele
definitivamente não estava agindo como um gatinho triste, muito obrigado, mas
então ele parou quando ocorreu a ele o que exatamente isso significava. Eles se
conheciam há dezessete dias. Assim como Jamil não deveria se sentir magoado
com a falta de confiança de Rohan, Rohan não deveria ser tão afetado pelo fato
de Jamil se sentir magoado. Ambos estavam reagindo estranhamente um ao
outro, agindo como pessoas que se conheciam há anos, em vez de dias.
Era estranho.
— Você disse que a intimidade que as pessoas sentem durante uma fusão
não afeta a vida real —, disse Jamil fracamente.
Jamil riu, olhando para as próprias mãos. — Isso é tão ridículo —, ele
sussurrou. — Eu realmente quero que você segure a minha mão. — Ele
realmente teve que enrolar os dedos em punhos para impedir-se de estender a
mão.
— Isso é confuso.
Rohan olhou para ele. — Você é tão ridiculamente lindo —, disse ele
antes de fazer uma careta. — Eu costumava desejar que você fosse uma mulher
para que eu pudesse foder isso para fora do meu sistema.
Rohan sorriu sem humor. — Não minta para si mesmo, querido. Nós dois
sabemos que estaríamos fodendo o dia inteiro se você fosse uma mulher.
Jamil franziu a testa. — Você quer dizer que você pode se teletransportar
daquele local sem ser detectado?
— Sim. Nós usamos esse ponto para viajar entre Calluvia e uma estação
orbital perto de Tai'Lehr. — Havia uma ruga entre as sobrancelhas de Rohan. —
O Príncipe Warrehn teve muita sorte de ser atacado por seus próprios guarda-
costas perto do Cego. Nosso povo estava voltando para Tai'Lehr e eles se
depararam com a emboscada e salvaram o príncipe. Quanto ao Príncipe
Consorte Mehmer, eu realmente não tenho ideia. — Ele olhou Jamil nos olhos.
— Acredite em mim.
Ele sabia o que Rohan queria, é claro. Ele queria a mesma coisa também.
Ansiava por isso.
— Tudo bem —, Jamil sussurrou. Porra, ele era fraco. — Talvez apenas
uma rapidinha?
Jamil tinha certeza de que ele parou de respirar. Seu próprio pênis latejava
enquanto ele olhava para aquele pau escuro e grosso na mão de Rohan. O pênis
estava vazando tão profusamente que a cabeça estava coberta de lubrificante,
toda brilhante, suave e de dar água na boca
— Porra, isso é tão fodido —, Rohan disse, seu olhar cintilando para o
rosto de Jamil antes de se fixar no teto enquanto ele acariciava a si mesmo
rudemente.
Ele ainda encontrou sua mão rastejando por seu corpo para pressionar
contra sua própria ereção dolorida, seus olhos fixos no pênis de Rohan. A
conexão mental entre eles pulsava com necessidade e prazer crus e frustrantes,
e a cabeça de Jamil girava. Suas inibições se foram, ele enfiou a mão em suas
calças e se retirou. Ele estava tão molhado, seu pau praticamente escorregadio
na mão. Ele choramingou, pressionando o rosto corado contra o braço de
Rohan, e começou a se acariciar furiosamente. Não havia sutileza sobre isso,
apenas uma necessidade pulsante, seu prazer misturando-se, alimentando-se um
do outro. Jamil estava apenas vagamente ciente dos sons rompidos e quebrados
que ele estava fazendo, tudo menos enterrar seu rosto no bíceps de Rohan
enquanto ele segurava seu pênis.
Rohan olhou para ele, mas então seus lábios se contraíram também, e em
pouco tempo, ambos estavam rindo.
— Deveria —, ele disse finalmente, mas ele não parecia muito certo. —
Vai sim —, ele disse, mais firme, e então ele estragou o que disse beijando o
nariz de Jamil. — Vai ficar tudo bem, querido.
O Quinto Palácio Real era odiosamente luxuoso. Tudo parecia gritar olhe
como somos ricos e poderosos. Rohan preferia a casa de Jamil — o Terceiro
Palácio Real era muito mais bem decorado. Ele se perguntou se a decoração
refletia o gosto da regente ou da falecida Rainha.
— Faça como a senhora diz —, Jamil disse sem sequer olhar para ele.
Dalatteya tinha uma mente estranha. Levou um tempo para entender por
que sua mente não fazia muito sentido, porque suas motivações pareciam
insensatas. Quando ele entendeu, ele endureceu.
Não era óbvio, mas havia um leve traço de erro em algumas de suas
memórias que Rohan reconheceu apenas porque ele estudou as artes da mente
extensivamente por anos. Mas não foi isso o que o deixou alarmado. Quando
ele tentou desfazer as lembranças adulteradas, ele não conseguiu — essa era a
parte alarmante. Ele era um telepata bem treinado e de alto nível. Isso não
deveria ter sido possível. Para piorar as coisas, ele podia sentir um medo
angustiante toda vez que tentava desfazer suas memórias adulteradas. O medo
dela.
Ela estava com medo da pessoa que fez isso com ela.
Quanto a Tai'Lehr...
Algo saiu do canto de sua mente e se lançou para o seu núcleo telepático.
Rohan mal conseguiu trazer seus escudos a tempo.
Respirando com dificuldade, ele saiu da mente dela e abriu os olhos, uma
inquietação fazendo seu estômago revirar.
Ele foi ensinado sobre elas, mas ele nunca encontrou uma antes. Era uma
habilidade muito difícil de dominar. Armadilhas mentais eram extremamente
perigosas. Elas poderiam destruir completamente a mente do invasor que a
desencadeou. Eles não praticavam armadilhas mentais em Tai'Lehr.
***
Mas seu olhar agudo e vigilante não correspondia a sua tagarelice sem
sentido. Isso o deixou desconfortável.
Rohan apenas olhou para ele por um longo momento, seus olhos negros
inescrutáveis. Mas Jamil podia sentir algo como desconforto através de seu
vínculo acidental. Desconforto e um senso de grande urgência.
Jamil olhou para ele. — Por quê? — Uma parte dele, a racional, sabia que
era a pergunta errada a se fazer. Claro que Rohan iria para casa. Se ele
realmente descobriu tudo o que ele precisava saber, não havia nenhuma razão
para ele ficar.
Rohan foi até ele e, tomando-o pelos ombros, forçou-o a olhar para ele.
— Jamil.
Jamil estremeceu. Ele odiava como Rohan dizia seu nome: com um quase
silencioso I, suave como um abraço caloroso.
— Eu posso.
Era louco?
Talvez.
Jamil fez uma careta, recuando um pouco. — Não faça isso. — Não
consigo pensar quando você faz isso.
Jamil sabia que ele provavelmente deveria insistir em Rohan para fazer
isso de qualquer maneira, mas algo nele instintivamente se esquivou da ideia.
Talvez uma quebra gradual realmente seja melhor.
Isso fez Jamil parar. Ele podia sentir a preocupação de Rohan, forte e
angustiante.
Jamil olhou para a parede oposta e percebeu que isso era um adeus.
Ele não sabia por que ele se sentia... assim. Ele sabia que Rohan iria
embora assim que ele descobrisse o que ele precisava. Ele sabia disso. Isso foi
para o melhor. Ele estava começando a se apegar.
Começando?
Jamil quase riu de si mesmo. O que estava errado com ele, seriamente?
Eles nem eram amigos, na verdade. Eles certamente não eram amantes também.
Rohan era... Ele era outra coisa, o seu não-amigo, não-amante, não-
companheiro, não-servo.
Mesmo se Rohan pudesse ficar, o que eles seriam um para o outro? Por
quanto tempo ficaria em segredo que Jamil estava irremediavelmente viciado
em ter a mente de seu servo nele? Que Jamil tinha um vínculo perverso com
ele? O escândalo seria enorme. Mesmo que estivesse disposto a arriscar, Rohan
claramente não tinha intenção de ficar. Ele provavelmente nem tinha pensado
nisso. Enquanto ele parecia um pouco ligado a Jamil, ele era um homem
heterossexual. Rohan nunca iria querer um relacionamento tão íntimo com
outro homem — não que Jamil quisesse isso também. Ele não queria. A mera
ideia era... ridícula: eles eram de diferentes círculos sociais, diferentes culturas
e diferentes sexualidades. Eles não tinham futuro juntos, de qualquer forma.
Era uma coisa boa que isso estava terminando antes que pudesse se tornar
algo desastroso. Mais desastroso do que já era.
Jamil abriu a boca para dizer que não precisava de nada quando uma ideia
lhe ocorreu. No começo parecia insano demais, mas quanto mais ele pensava
sobre isso, mais ele queria.
— Me dê um bebê.
Rohan se encolheu.
Rohan xingou e agarrou seus ombros. — Não diga isso —, ele disse
asperamente, sua barba riscando a pele do pescoço de Jamil por trás. — Você
é.... porra, você é a coisa mais confusa que já aconteceu comigo, eu não tenho
ideia de que porra é essa, mas... — Ele suspirou. — Eu quero que você seja
feliz —, disse ele com voz rouca. — Quero que você esteja seguro e feliz,
quero lhe dar o que quiser. Porque você merece isso. Mas eu realmente não
posso fazer o que você está me pedindo para fazer. Existem motivos para isso.
— O outro?
Não foi um pensamento direto, apenas uma forte impressão que ele teve
de Rohan antes de Rohan se afastar, tanto fisicamente quanto mentalmente.
E tão vazio.
CAPÍTULO 13
Mas não, o fio de ouro fino em torno de seu núcleo telepático era muito
real, não importava o quão cru e esticado estivesse.
Dezessete dias.
Um pouco mais de meio mês. Parecia tão ridículo ser tão afetado pela
ausência de Rohan quando ele o conheceu por meio mês. Ridículo e
embaraçoso. Não era como se ele tivesse se apaixonado por Rohan ou algo
assim. Ele apenas ficou... um pouco apegado. Ou mais que um pouco. Jamil
nem conseguia mais olhar para o retrato de Mehmer, vergonha e culpa torcendo
seu estômago o tempo todo. Ele tinha que se lembrar que não havia traído a
memória de Mehmer — que nada havia realmente acontecido, que ele não
queria que nada acontecesse — mas era inútil.
O fato era que, não importava como ele olhasse para isso, Jamil sentia
falta do homem que conheceu por dezessete dias mais do que sentia falta do
marido com quem compartilhara anos de sua vida.
Mehmer ainda não era o homem que Jamil pensava todo o maldito tempo.
Ele não era o homem que Jamil queria de volta, tão fortemente.
Nada? Que tal uma dúzia de fusões ilegais com as quais você se
envolveu? Ou o fato de você ter se masturbado na presença dele, como uma
prostituta sem vergonha? Ou o fato de que às vezes você sonha com um pênis
grosso e escuro que definitivamente não pertence ao seu falecido marido?
— Vossa Alteza?
— Acredito que Vossa Majestade vai lhe contar os detalhes, então tudo
que posso oferecer são meus parabéns.
Ele sabia onde procurar, onde andar. Ele sentiu o eco muito fraco da
mente do bebê, ainda minúsculo e incerto, mas inconfundivelmente familiar.
Ele parou na frente do cubo de gestação e olhou para o que parecia ser um
feixe de células.
Jamil sentiu como se algo tivesse se alojado em sua garganta, algo grosso
e doloroso. Ele se forçou a desviar o olhar das células que cresciam
rapidamente. Seus dedos estavam instáveis quando ele tocou o datapad no cubo
de gestação. A maioria das informações sobre o embrião era técnica demais
para ele entender. Tudo o que ele conseguia entender era que o embrião era
saudável e bem desenvolvido — e que seus pais biológicos eram o Príncipe
Jamil'ngh'veighli do Terceiro Grande Clã e o Príncipe-Consorte
Mehmer'ver'veighli.
Ele podia sentir o desconforto de sua mãe por meio de seu vínculo
familiar. — Seu nome é Serdn Vewyr. Ele tem vinte e nove anos. Ele é casado e
tem dois filhos saudáveis. Ele é engenheiro, com inteligência acima da média.
Ele também se parece um pouco com Mehmer, não que isso importe muito, já
que a criança foi geneticamente modificada para herdar sua aparência física,
principalmente. Obviamente, não foi dito a Serdn Vewyr qual família sem filhos
usaria sua generosa doação.
Ele sentiu o alívio dela, quase esmagador em sua força. — Claro, meu
querido —, ela disse suavemente, dando-lhe um abraço telepático.
Seu toque mental era quente e amoroso, mas Jamil quase se encolheu, sua
mente instintivamente se afastando do contato. Seu núcleo telepático parecia
um ferimento cru nos dias de hoje e até mesmo o toque suave da mente de sua
mãe parecia muito — errado.
Jamil não olhou para a mãe. Ele não podia. Ele não tinha certeza se o
rosto dele não o trairia.
Porque a mãe dele não poderia estar mais errada. Esta minúscula vida no
cubo de gestação, este bebê... não era de Mehmer ou de Serdn Vewyr. Jamil não
sabia como Rohan tinha conseguido enganar o Doutor Tuvok, mas ele tinha.
Jamil não conseguia explicar como ele sabia, por que ele estava tão confiante
de que Rohan havia mantido sua palavra.
Ou melhor, ele tentou não pensar sobre isso — sobre o fato de que algo
sobre esse bebê parecia certo. Algo sobre essa minúscula vida acalmava a dor
surda de seu vínculo enfraquecido com Rohan, não o suficiente para fazê-lo
parar de doer, mas o suficiente para ancorá-lo um pouco.
Sua mãe estava certa sobre uma coisa: essa criança era um presente.
— Talvez não seja tão ridículo —, disse Seyn finalmente, seus olhos em
sua sobrinha. — Talvez não tenhamos muito contato físico porque nos
acostumamos a ficar isolados antes de nosso nascimento.
Jamil deu de ombros, esperando que não fosse óbvio que seu coração não
estava realmente na conversa. — Talvez.
Ele assistiu sua filha, enviando conforto e amor através de seu vínculo
familiar. Seu rosto pequeno e enrugado se virou para ele, como se ela pudesse
sentir onde ele estava, seus braços se sacudindo.
O peito de Jamil inchou de amor, sua garganta se fechando. Ele estava tão
feliz que sua mãe praticamente o intimidou a ter uma criança. Se a iniciativa
tivesse vindo dele, ele nunca teria feito isso, sentindo-se muito culpado por
sequer pensar em ter uma criança com um homem que não fosse Mehmer.
Jamil fez uma careta ao pensar nisso. Havia algumas coisas que ele se
sentia culpado, mas sua filhinha não era uma delas. Ela era perfeita do jeito que
era. Ele faria qualquer coisa por ela.
Suspirando, Jamil estendeu a mão para seu irmão mais novo através de
seu vínculo familiar. — Estou bem, garoto.
— É contra a lei —, disse Jamil. — Além disso, o Alto Adepto disse que
o vínculo estava na minha mente há muito tempo e não é seguro removê-lo.
Está entrelaçado com tudo agora. — O Alto Adepto realmente disse isso logo
após a morte de Mehmer, mas Jamil não pôde deixar de pensar se ainda era
verdade. Ultimamente ele mal podia sentir sua ligação com Mehmer. Só quando
ele tirava um tempo para meditar, ele podia ver os remanescentes lamentáveis
de seu vínculo quebrado em torno de seu núcleo telepático. A visão era
inquietante. Ele nunca imaginou que menos de um ano após a morte de
Mehmer, ele mal seria capaz de sentir o vínculo entre eles — vínculo que eles
compartilharam durante a maior parte de suas vidas. Parecia um fim de alguma
coisa. Um fim de uma era.
— E, para ser sincero... — Jamil disse, observando sua filha, uma filha
que não se parecia em nada com Mehmer. — Eu quero manter meu vínculo. Eu
ainda o sinto assim, um pouco. Como um eco. Eu não quero fingir que ele
nunca existiu. Ele existiu. — O remanescente lamentável de seu vínculo
matrimonial era a única coisa que ele ainda tinha de Mehmer. Já era ruim o
suficiente que Mehmer não seria o homem que ele veria quando olhasse para
sua filha.
— Você ainda não me disse por que estava se escondendo aqui —, disse
ele, voltando-se para Seyn.
Jamil bufou. Seyn achava que ele tinha nascido ontem? — E eu suponho
que você não recusou todos os convites também.
Seyn estremeceu, parecendo genuinamente surpreso.
Jamil estava divertido apesar de si mesmo. Será que Seyn pensara que
Jamil estava tão absorto em sua tristeza que não notou que seu irmãozinho
normalmente muito sociável estava evitando a sociedade como uma praga?
Jamil podia raramente participar de eventos sociais, mas era um de seus deveres
como o Príncipe Herdeiro garantir que sua família não fosse alvo de fofocas
maliciosas. Trabalhava de perto com a assessora de imprensa, e ela o informara
recentemente que as pessoas estavam começando a se perguntar por que o
Príncipe Seyn havia se transformado em eremita.
— Você?
Jamil reprimiu a vontade de revirar os olhos. Ele deveria saber. Seyn era
absolutamente impossível quando se tratava de seu noivo. — Pelo amor de
Deus, Seyn. Você deve se esforçar mais para se dar bem com o seu
companheiro. Todo relacionamento precisa de dedicação, com vínculo ou não.
Pessoalmente, não entendo por que você não gosta dele. Ele é muito inteligente
e é perfeitamente razoável e educado...
— Todo mundo tem sua própria versão da verdade, irmão —, ele disse
suavemente, sem olhar para Seyn. — Ele não é um homem mesquinho. Você já
se perguntou por que ele te trata de forma diferente dos outros? Pense nisso.
Realmente bem?
Ele estava... contente com a vida dele, e ele não se sentia culpado por
isso.
O pensamento era estranhamente libertador.
Ele não precisava virar a cabeça para saber que seu amigo estava
carrancudo.
Ele conseguiu um empurrão telepático por isso, quase fazendo com que
eles colidissem com o ancoradouro na frente deles.
— Eu ainda acho que você deveria ter ficado para trás, Rohan —, disse
Sirri, alcançando-o. — Warrehn e eu somos perfeitamente capazes de lidar com
isso.
Rohan os ignorou.
Sirri suspirou. — Você é um maníaco por controle, querido. Por que você
não pode confiar em outras pessoas para fazer o trabalho?
Rohan entrou com outro código de acesso e a porta da sala da TNIT se
abriu.
— Você não tem crédito para falar sobre isso, seu velho rabugento —,
disse Sirri. — Pelo menos Rohan tem uma qualidade admirável: seu talento no
"saque". Você, eu já não tenho certeza. Você é legal de se olhar, mas aparência
não é tudo, se é que você me entende.
Sirri riu. — Receio não ter os... recursos necessários para que seus ativos
funcionem. E eu vi o que você fez com aquele garoto da loja. O coitado não
conseguia se sentar por dias. Obrigada, mas não obrigada.
Sirri revirou os olhos. — Bem. Você não tem senso de humor desde a sua
viagem à Calluvia. O que aconteceu lá para transformá-lo em um idiota tão
mal-humorado?
Rohan desviou o olhar e disse secamente: — Talvez você devesse ser a
que deveria ter ficado em casa, se tudo o que você está interessada é em fofoca.
A ativação do TNIT impediu que Rohan dissesse algo a isso. Não que ele
tivesse muito a dizer de qualquer forma. Ele não podia dizer a Sirri que o
vínculo acidental que ele formou com um príncipe Calluviano fez sua pele
arrepiar com inquietação toda vez que ele tentou fazer sexo no ano passado.
Sirri nunca iria deixá-lo viver sem esquecer isso. Nem mesmo Warrehn tinha
ideia, e geralmente eles contavam tudo um para o outro, sendo tão próximos
quanto irmãos.
Ele olhou para Warrehn, que se materializou ao lado dele. Sua mandíbula
estava cerrada, seus olhos azuis avidamente tomando em seus arredores. Os
escudos de Warrehn geralmente eram impecáveis, mas agora eles estavam em
todo lugar.
Warrehn deu outro aceno de cabeça. — Não foi muito longe daqui. Eu
tive sorte. — Ele não soou como se achasse que teve sorte.
Infelizmente, Sirri não sabia melhor. — Certo —, ela disse com um bufo.
— Eu li os relatórios. Eles disseram que você tentou voltar a Calluvia inúmeras
vezes no primeiro ano em Tai'Lehr.
Warrehn não disse nada, virou as costas para ela e começou a se afastar,
mais fundo na floresta.
Mas Sirri sendo Sirri, não sabia quando desistir. — Você foi um idiota
ingrato —, disse ela, seguindo-o. — Você ainda é.
Ela ignorou o aviso dele. — Você não percebeu que seria estúpido voltar?
Você era apenas uma criança, e nem sequer conseguiria uma audiência com o
Conselho sem que sua Tia Querida descobrisse e fizesse você parecer um
delirante-idiota-que-quer-atenção
— Por quê? — Ela disse com um escárnio. — Ele não tem o direito de
agir como se estivéssemos errados em forçá-lo a ficar em Tai'Lehr. Foi para o
seu próprio bem!
Sirri olhou para ele. — Tio Georg tinha que pensar em seu povo. A
felicidade ingrata de um pirralho real era secundária. Nós salvamos sua vida,
mas você ainda guarda rancor. Ingratidão deve ser seu segundo nome, sua
idiota!
— Você não sabe nada —, Warrehn disse, seu queixo rangendo. — Sua
perspectiva é tendenciosa.
Warrehn olhou feio para ele, mas Rohan o encarou até Warrehn
finalmente desviar o olhar, a frustração rolando dele em ondas grossas.
Rohan virou-se e continuou andando, não lhes dando escolha a não ser
segui-lo.
Ele não deveria estar aqui. Ele não deveria ter voltado. O vínculo que
estava pulsando no fundo de sua mente, como uma coceira que ele não podia
arranhar, era prova suficiente.
Nem Warrehn nem Sirri disseram nada, obrigada porra. Ele não estava
em estado de espírito para tolerar as suas discussões, e eles pareciam perceber
isso.
— Você sabe onde você está indo? — Sirri disse finalmente, sua voz mais
calma.
Cuidadosa.
— Ele disse que nos encontraria perto da árvore Shmei. Há apenas um na
área.
Rohan relaxou um pouco. Foi uma das razões pelas quais ela foi
escolhida para essa missão. Ela tinha um dom para premonição, um dom que
era tão raro entre os telepatas quanto o dom de Rohan por compulsão. Se Sirri
disse que ela não tinha um mau pressentimento sobre a reunião deles, era
improvável que as coisas dessem errado.
Rohan fez uma careta, sabendo que ele estava certo. Ao contrário de
Tai'Lehrians, os adeptos do Alto Hronthar treinaram as artes mentais durante
toda a sua vida. Não havia como dizer que tipo de truque mental os monges
eram ensinados naquele mosteiro assustador deles. De acordo com que eles
sabiam, eles poderiam enganar até Sirri. Era extremamente improvável, mas
não era impossível.
— Ainda vale o risco —, disse ele. — Se o cara não está mentindo, ele é
a nossa única chance real de provar que não temos nada a ver com os crimes
pelos quais somos acusados.
Ele ainda não conseguia acreditar que a espera finalmente tinha acabado
— ou quase acabado. Todos esses meses, desde que voltara para casa,
esperavam por isso: que alguém dentro da Ordem estivesse disposto a falar —
trair o Alto Hronthar. O plano parecia irrealista, até insano, quando Rohan
ouviu pela primeira vez. Mas Aroka e Sirri o convenceram de que funcionaria,
de que sempre havia pessoas descontentes com a forma como uma organização
como o Alto Hronthar era administrada.
O homem que esperava por eles debaixo da árvore Shmei era apenas um
menino. Ele não podia ter mais de vinte anos, talvez mais jovem.
Jamil.
— Eu estou supondo que isso significa que você não foi considerado bom
o suficiente para ser chamado de mestre —, disse Sirri.
Rohan beliscou a ponta do nariz. Antagonizar sua fonte potencial não foi
a ideia mais brilhante de Sirri.
Rohan assentiu para si mesmo. Então eles estavam lidando com alguém
que se sentia desvalorizado e amargo — amargo o suficiente para trair o Alto
Hronthar. Ele preferiria que sua fonte fosse alguém que genuinamente pensava
que a Ordem era um bando de bastardos famintos por poder, mas eles poderiam
trabalhar com isso também.
— Não mas…
Rohan não conseguia sentir mais nada. Nada exceto o vínculo dourado
pulsando suavemente no fundo de sua mente. Com fome. Ansiando.
Só mais uma vez, sussurrou. Você já está no planeta. Uma breve visita
não mudaria nada. Apenas mais uma.
Rohan mordeu o lábio com força até sentir o gosto amargo do sangue. Ele
se forçou a se concentrar na conversa. Isso era importante. Isso era o porquê
dele estar aqui. Nada mais.
— Eu não sei.
— Você sabe se o Alto Hronthar tem algo a ver com a morte do Príncipe
Consorte Mehmer?
Embora o rosto de Xhen não traísse nada, Rohan podia sentir seu
desconforto. — Não tenho certeza —, disse o menino. — Havia rumores de que
o Príncipe-Consorte descobriu algo que ele não deveria. Lembro-me de todos
os mestres seniores reunidos para discutir o assunto com o ex Grande Mestre e,
alguns dias depois, o Príncipe-Consorte morreu. — Xhen deu de ombros,
olhando ao redor, ansioso. — Olha, pode ser uma coincidência —, disse ele
desconfortavelmente. — Eu realmente não sei o que aconteceu. A fofoca é
desencorajada desde que o Mestre Idhron se tornou o Alto Adepto.
— Alto Adepto Idhron é... — Xhen fez uma careta, sua aura escurecendo
com ódio, relutante admiração e medo. — O que importa? — Ele disse
evasivamente. — Meu ponto é, eu não posso te dar uma prova de que a Ordem
tem algo a ver com a morte da realeza.
Xhen corou. — Isso não é tudo! Eu sei de algo que pode ajudá-lo com o
Grande Mestre, se você for esperto sobre isso.
— Seu aprendiz —, disse Xhen, uma nova onda de ódio saindo dele. —
Se você conseguir sequestrá-lo, isso vai te ajudar contra o Grande Mestre.
Xhen zombou. — Bem, sim. Mas seu aprendiz é a única exceção. Eles
são estranhos um com o outro. Confie em mim, será uma boa chantagem. Por
melhor que seja. — Ele olhou de Warrehn para Sirri. — Agora, sobre o meu
pagamento. As informações não são gratuitas, você sabe.
Rohan queria dizer não. Ele estava relutante em se rebaixar a algo que os
rebeldes eram rotineiramente acusados — de viver de acordo com sua
reputação. Mas eles precisavam de toda a vantagem que pudessem obter. Eles
não podiam ser exigentes.
— Leve Sirri com você —, disse Rohan. — O dom dela será útil para
evitar ser pego. Pegue o aprendiz e volte ao Cego à meia-noite. — Embora o
TNIT pudesse ser ativado em praticamente qualquer lugar do planeta, eles
obviamente evitariam ser detectados.
Durante todo o ano, ele tentou não pensar sobre isso — sobre a criança
que ele deu a Jamil como um presente de despedida bagunçado. Mas é claro
que ele pensou. É claro que ele pensou sobre isso, lamentando o que ele fez.
Uma criança não era algo que deveria ser um presente. Se alguém descobrisse
que ele havia desistido de seu filho — seu primogênito — seria um desastre,
um desastre por várias razões.
O que ele estava pensando? Certo: ele não estava pensando. Jamil
simplesmente olhou para ele implorando, sentindo-se perdido e muito solitário,
e Rohan se dobrou. Porra, patético.
Rohan olhou para a criança, ainda sem saber o que sentir. Ele sabia da
existência dela há três meses, desde que a Terceira Casa Real anunciou o
nascimento da herdeira da linha direta.
Não importava.
Exceto que ela não era. Ele havia desistido do direito de ser chamado de
pai antes de ela nascer. Tanto quanto todos sabiam, Tmynne era filha de Jamil e
seu falecido marido. O produto da sua grande história de amor.
Ele deveria ir. Ele teve muita sorte de entrar no palácio sem ser pego. A
segurança estava mais forte do que da última vez. Se ele não tivesse vivido
neste palácio por um tempo, ele não teria conseguido entrar, mesmo com seu
dom de compulsão. Ele não deveria ter vindo. Ele deveria ter ido com Warrehn
e Sirri. Agora que ele viu a criança e satisfez sua curiosidade, ele iria embora.
Ele sabia quem estava se aproximando da sala. Ele sabia tanto quanto seu
próprio nome. Ele deveria dar o fora daqui.
Ele esperou.
A porta se abriu.
Jamil parecia horrível. Ele não estava tão magro quanto onze meses atrás,
mas parecia pálido e exausto, com círculos escuros sob os olhos.
— Estou em Calluvia com alguns dos meus amigos. Nós temos uma pista
que pode…
Jamil soltou uma risada. — Eu prefiro que não. Parece que me lembro de
ser uma má ideia e duvido que algo tenha mudado.
— Não —, Jamil disse, sua voz firme oscilando. — Não faça isso.
Finalmente estou bem, não preciso disso, por que você está aqui?
— Você a viu —, Jamil disse, ainda evitando seu olhar. — Agora saia.
Jamil soltou uma risada trêmula. — Obrigado. Noites sem dormir com
um bebê com dentes nascendo fará isso com você.
— Não —, Jamil disse sem fôlego, seus olhos se fecharam quando a mão
de Rohan acariciou sua bochecha com os nós dos dedos. Seus longos e escuros
cílios tentaram levantar, mas baixaram novamente quando um fraco gemido
escorregou de sua boca. Ele estava tremendo, tremores diminutos escorrendo
por sua estrutura, seus lábios macios se separaram.
— Foda-se, você é lindo —, Rohan se ouviu dizer. Sua voz soou estranha
— rude e intoxicada. Ele se sentia intoxicado, seus pensamentos confusos com
aquele puxão estranho e retorcido que sempre sentia por Jamil, apenas mais
intenso. Um ano longe provavelmente não ajudou.
— Nós pegamos o aprendiz, mas algo deu errado e agora a floresta está
sendo monitorada pelos os monges.
Rohan xingou.
— Vá para a casa segura de Rigten —, disse ele depois de um momento,
enquanto reunia seus pensamentos. — Está perto o suficiente da sua
localização. Vocês terão que ficar quietos até que as buscas parem. Não
podemos deixar o TNIT nos teletransportar de um local inseguro. Não há
dúvida de que os rastros de teletransporte são monitorados de perto agora.
— E o menino?
— Você não está se juntando a nós na casa segura? — Sirri disse, seu tom
de voz desconfiado. — O que exatamente você está fazendo? Onde você está?
— Tudo bem —, disse ele finalmente. — Você terá que ficar em meus
aposentos. A segurança do palácio foi melhorada desde que você se foi. Agora,
há câmeras em todos os cômodos e a desativação deve ser autorizada por duas
pessoas. Apenas os alojamentos pessoais da minha família não são
constantemente monitorados por razões de privacidade.
Rohan tentou desviar o olhar, mas seus olhos continuaram voltando para
Jamil e a criança. A filha deles. Ele gostaria de dizer que estava olhando para a
criança, mas isso seria uma mentira. Ele assistiu Jamil sorrir para a criança,
arrulhando para ela e conversando. Os olhos azuis de Jamil estavam
iluminados, brilhando com amor intenso. Isso fez o estômago de Rohan apertar.
— Ela é linda, não é? — Jamil disse quando o bebê parou de ser exigente
e se acomodou contente no peito de Jamil.
— Ela é —, disse Rohan, se afastando. — Ela vai ser sua imagem cuspida
quando ela crescer.
Rohan não estava interessado em homens dessa forma. Ele deixou isso
claro como cristal no ano passado.
Seu corpo ainda estava doendo, uma coceira enlouquecedora que não
podia ser coçada — ou melhor, só poderia ser arranhada por uma pessoa.
Nem a sua.
Ele sentiu Rohan estremecer acima dele, apertando sua ereção contra a
dele. — Que porra é essa? —, Ele cerrou o nariz contra o pescoço de Jamil
antes de chupar seu ponto telepático.
— Eu sei. — Ele puxou a cabeça de Rohan para baixo para que suas
testas se tocassem. Ele cheirava tão bem, seu cheiro sutil e masculino fazendo a
cabeça de Jamil girar. Inspiro. Suspiro. — Eu não sou um menino ingênuo e
inocente com a cabeça nas nuvens. Eu sou um homem adulto. Eu não sou frágil.
Será apenas uma — uma foda.
— Então, sim, é muito seguro dizer que eu não me importo que você não
tenha seios e uma boceta —, disse Rohan com uma risada.
Rohan riu. — Eu acho que você gosta quando eu sou vulgar, Vossa
Alteza. — Ele lambeu a boca de Jamil. — Porra, sua boca. Eu poderia fazer
isso por dias. Quero fazer amor com sua boca. Enchê-la toda com meu pau.
Jamil nunca esteve tão envergonhado e excitado em sua vida. Ele não era
puritano — gostava muito de sexo — mas Mehmer nunca falara indistintamente
com ele. Ele não tinha ideia de que era algo que o excitaria tanto.
— Você vai deixar? — Rohan murmurou, antes de lhe dar outro beijo
profundo e ganancioso. Ambos estavam sem fôlego com desejo bruto no
momento em que o beijo terminou com um ruído molhado. — Você vai chupar
meu pau, querido? Você vai deixar eu foder sua boca?
Jamil assistiu aturdido quando Rohan puxou sua ereção para fora. Era
espessa e escura, e vazava tão profusamente que Jamil lambeu os lábios,
imaginando ter que engolir tudo aquilo, tão obsceno e vulgar
Rohan deve ter lido a fome em seu olhar, porque ele amaldiçoou, fechou
os olhos por um momento, sua mandíbula apertou como se estivesse com dor, e
então silenciosamente se moveu para cima e montou no peito de Jamil.
Deuses, isso não deveria ter sido tão excitante. Ser lembrado de sua
posição, de quão inadequado era isso, não deveria ter tornado seu pênis mais
duro. Ele era o Príncipe Herdeiro. Ele não deveria estar quase nu na cama com
um plebeu rebelde, ansioso para chupar seu pau, para ter a sua boca fodida.
Mas naquele momento, ele não se importava. Ele nem se importava que
ele pudesse ver o retrato de seu marido enquanto um pau grosso era empurrado
dentro de sua boca. Tudo o que ele queria era esse pau. Jamil relaxou sua
mandíbula, deixando Rohan alimentá-lo com sua ereção. Era tão bom: ser
preenchido, ser usado, ter um pau duro na boca dele.
— Oh, foda-se —, Rohan rosnou, olhando para ele com olhos escuros e
sem fim, sua expressão tão intensa e faminta que atingiu diretamente o pênis de
Jamil. Ele podia sentir o prazer de Rohan como se fosse seu, podia sentir o quão
boa sua boca era em torno do pênis de Rohan, o quanto Rohan queria apenas
agarrar os seus cabelos e foder sua garganta crua, até que Jamil estivesse
sufocando.
— Cala a boca —, Jamil pensou para ele, já que sua boca estava
ocupada. Mas ele não conseguia parar de empurrar as calças de pijama para
baixo e pegar seu próprio pênis negligenciado. Ele acariciou-o
desesperadamente, tão excitado que mal conseguia pensar.
Rohan deu uma risada gentil. Não era uma zombando, mas o rosto de
Jamil ainda estava em chamas.
— Nada de errado em ter fantasias sujas, Jamil —, ele disse, olhando para
ele com afeição aberta que estava em desacordo com a foda áspera que ele
estava dando à boca de Jamil. — Talvez eles se revezem em você —, ele
murmurou, seus olhos negros como pecado. — Talvez um deles foda sua boca
enquanto outro fode sua bunda. E há uma longa fila para cada um dos seus
buracos, com seus servos esperando impacientemente por sua vez, seus pênis
saindo enquanto eles observam você tomar pau após pau, mas ainda incapaz de
saciar a fome em você. — Os impulsos de Rohan se tornaram mais rápidos, seu
pênis entrando e saindo da boca de Jamil. — Porque o único pau que você
realmente quer é o meu. A única porra que você quer engolir é a minha —
Rohan gozou com um grunhido baixo, e ele bateu na parte de trás da garganta
de Jamil.
Jamil congelou.
Jamil molhou os lábios, seu coração batendo tão rápido que ele se sentiu
quase tonto. — Seus escudos são muito melhores que os meus. — Quando
Rohan sorriu daquele jeito enfurecedor de eu-te-disse, Jamil revirou os olhos
com um pequeno sorriso. — Tudo bem, você estava certo: os meus realmente
precisam melhorar.
Jamil franziu a testa. Racionalmente, ele sabia que Rohan estava certo.
Ele sabia o suficiente sobre o verdadeiro propósito do vínculo de infância para
saber que isso afetava suas habilidades telepáticas. Mas ele ainda não tinha
certeza se queria perder a única coisa que ainda tinha de seu marido e melhor
amigo de infância.
Rohan fez uma careta e disse: — Ignore isso. Não é por isso que estou
sugerindo isso. — Ele suspirou. — Olha, eu não estou pressionando você. É a
sua escolha. Mas se você quiser que eu lhe conte mais, você terá que proteger
melhor sua mente.
— Tudo bem. — Jamil disse, decidindo não ligar para Rohan. — Vamos
fazer isso, então.
— Agora?
Jamil olhou para ele, mas não conseguiu ficar bravo olhando para aquele
sorriso desarmante. — Então eu vou ser um rato de laboratório para você?
Isso fez o calor se espalhar pelo peito de Jamil antes de se enrolar em sua
barriga. Ele e Mehmer tiveram um relacionamento maravilhoso, mas Mehmer
nunca foi particularmente protetor. Jamil sempre achou que era uma coisa boa
— significava que Mehmer tinha plena confiança na competência de Jamil —
mas agora, para seu leve constrangimento e perplexidade, Jamil descobriu que
ser o objeto de proteção tão intensa não parecia ruim. Muito pelo contrário.
Jamil assentiu, tremendo quando sentiu Rohan deslizar para dentro dele,
cada vez mais fundo, até que ambos ficaram sem fôlego com o prazer disso. —
É tão bom.
A ligação com Mehmer ainda estava lá, enrolada em seu núcleo. Mas pela
primeira vez, Jamil podia ver o que Rohan queria dizer quando chamava seu
vínculo com Mehmer de feio. Havia algo errado sobre isso, não natural, e Jamil
não se referia ao fato de que estava rasgado e fino, desgastado nas bordas. Era
como uma teia de aranha tecida em torno de seu núcleo, bloqueando caminhos
neurais inteiros.
— Eu estou deixando você ver através dos meus sentidos. O seu é muito
fraco enquanto isso está suprimindo-os. Vou removê-lo agora. Concentre-se em
nosso vínculo. Isso se tornará mais fácil.
Jamil mudou sua atenção mental para o outro vínculo, aquele que
brilhava em sua mente, dourado e puro. Ele também estava entrelaçado em
torno de seu núcleo telepático, mas de uma maneira que parecia natural e
perfeita. Emanava calor e segurança. Ele se deixou aquecer.
Jamil engasgou, sua cabeça girando. Ele estava tremendo, seus sentidos
aumentaram de repente. Era muito. — Rohan
Mas embora ele adorasse sua filha, pensar sobre ela não ajudou a conter
os sentimentos de medo e perda que estavam em seu peito. Seus olhos ardiam, e
ele estava feliz por Rohan não poder ver seu rosto agora.
Para sua surpresa, construir escudos mentais agora vinha sem esforço
para ele. Ele tinha certeza de que Rohan ainda podia sentir suas emoções gerais
através de sua ligação, mas ele estava confiante de que seus pensamentos eram
agora privados.
— Eu acho que meus escudos estão muito bons agora. Você poderia
checar?
Embora seu tom fosse aprovador, Jamil podia sentir algo como um leve
desprazer vindo dele.
— Tem que haver um limite —, Jamil disse baixinho, olhando para baixo.
— Provavelmente não era saudável, Rohan. Somos dois indivíduos, não um.
Tem que haver alguns limites. — Suas palavras soaram razoáveis. Muito
razoável e muito hipócrita. Seus motivos para colocar escudos mentais não
tinha nada a ver com racionalidade — ele teria Rohan dentro dele o tempo todo
se pudesse — e tudo a ver com a autopreservação. Ele não queria que Rohan
soubesse o quão carente ele era, o quanto ele queria manter Rohan nele por
todo maldito tempo.
— Suas memórias foram alteradas. Ela não sabe que os Tai'Lehrianos são
os rebeldes, ou suas memórias foram alteradas para fazê-la esquecer. Havia
também armadilhas mentais em sua mente, programadas para serem acionadas
se alguém tentasse recuperar suas memórias alteradas. Esse é um trabalho de
um telepata de alto nível e bem treinado. E eu conheço apenas um grupo de
pessoas em Calluvia que conseguiriam fazer isso.
Rohan sorriu com tristeza. — Verdade seja dita, você tem que admirar a
forma como esses bastardos cultivaram magistralmente a imagem de monges
inofensivos não interessados em poder quando na realidade não poderia ser
mais diferente. O Alto Hronthar tem seus longos braços em toda parte,
controlando sutilmente o Conselho, a opinião pública e quem sabe o que mais.
Rohan sorriu para ele, seu polegar acariciando o lábio inferior de Jamil,
seus olhos negros encapuzados. — Eu gosto de ver você pensar. Você é tão
bonito quando pensa. Quero dizer, você é sempre bonito, mas quando você
pensa, você sempre arruma seus lábios no mais bonito biquinho.
Rindo, Jamil olhou para ele sem entusiasmo. — Você está falando sério?
Você ouviu o que eu disse?
Jamil abriu a boca para dizer algo, mas pareceu pensar melhor e permitiu
que Rohan continuasse.
Ele podia sentir a confusão de Jamil. — Mas por que você não suspeitou
do Alto Hronthar desde o começo? Parece tão óbvio agora.
Rohan fez uma careta. — Ele provavelmente está morto. Quando ele
estava fugindo de seus pretensos assassinos, Warrehn foi forçado a dar a criança
para outra pessoa, para que o menino tivesse a chance de escapar, mas desde
que o pequeno príncipe não aparecera em nenhum lugar nos últimos dezenove
anos, o garoto deve estar morto. Dalatteya também parecia pensar assim.
Rohan franziu a testa. — Eu sei. Nós não temos provas de que ela está
tentando matar Warrehn. Será a palavra de Warrehn contra a dela.
Ele gostaria de dizer que se sentiu furioso ou traído, mas para sua
vergonha, a primeira emoção que sentiu foi a esperança. Dolorosa, ilógica,
esperança de que eles poderiam ser algo permanente, que eles poderiam ser
eles. Era uma esperança tola: o fato de que Rohan era de sangue nobre não
mudava nada, considerando que, sob a lei atual, Rohan e seu povo eram
infratores da lei. Mesmo se os Tai'Lehrianos decidissem não revelar o seu
estado desvinculado para o Conselho, Rohan ainda teria sua companheira
fictícia e não seria capaz de se casar com Jamil, mesmo que Jamil fizesse algo
inédito e se casasse pela segunda vez.
— Eu não sei o que você está pensando, mas eu não gosto disso —, disse
Rohan, suas sobrancelhas escuras juntas.
Olhos negros focados nele. — Não minta para mim —, disse Rohan,
apertando sua mão. Sua voz suavizou. — O que é, querido?
A pior parte era que ele queria confessar tudo. A calorosa intimidade
entre eles era incrivelmente difícil de resistir, fazendo-o sentir como se pudesse
dizer tudo a Rohan sem ser julgado ou parecer bobo.
Jamil esperava que seu rosto não mostrasse quão machucado ele se sentia.
Porra, isso era ridículo. Ele nunca tinha se sentido assim com Mehmer, não
importava o quanto ele o amou.
Uma forte emoção veio de Rohan através de sua ligação, algo muito
complexo para decifrar.
Rohan colocou a mão livre em sua nuca e puxou-o para perto, suas testas
pressionadas uma contra a outra. — Eu gostaria de poder ficar com você —,
disse ele, sua voz áspera. — Eu gostaria de poder levar você comigo, e que se
foda o resto.
Jamil fechou os olhos com força, como se isso o impedisse de ansiar por
aquilo. Ele não podia acreditar como era tentador. O que havia de errado com
ele? Ele era o Príncipe Herdeiro, um futuro rei do Terceiro Grande Clã de
Calluvia. Ele não podia simplesmente fugir de suas responsabilidades, não
podia abandonar sua família e seu povo.
— Eu sei que é egoísta —, disse Rohan, aninhando-se na bochecha de
Jamil. — Eu sei que você nunca faria isso, mas que se foda, parece a melhor
ideia quando estou com você. — Ele deu uma gargalhada, apertando a mão de
Jamil e levando-a a boca. — Então, novamente, eu não sou bom em pensar
racionalmente quando estou com você. Você poderia me dizer para matar
alguém, e eu provavelmente faria.
— Eu vou manter isso em mente —, disse Jamil, sorrindo, mas sua voz
estava estranha. Ele mal conseguia segurar a confissão que fez seu coração
sentir como se estivesse prestes a explodir em seu peito. Eu te adoro. Não me
deixe de novo.
Ele não disse nada. Mas ele passou os braços ao redor das costas fortes de
Rohan, os dedos vagando sobre a pele quente e nua, e segurou.
Só por um tempinho.
— Entre em mim.
— Sim —, ele disse, sua voz soando com tensão. O desejo pulsou entre
eles, cobrindo o ar, trazendo um rubor às bochechas de Jamil.
Jamil gemeu, sua visão escurecendo. Ele só podia ofegar quando Rohan o
acariciou, ordenhando seu pênis por seu lubrificante natural até que ele reunisse
o suficiente para acariciar seus dedos escorregadios sobre o buraco de Jamil. O
som estridente que deixou os lábios de Jamil seria mais adequado para a
pornografia holográfica do que o quarto de um Príncipe Herdeiro. Jamil não se
importou. Ele abriu as pernas descaradamente e se permitiu desfrutar da
maravilhosa sensação de ter seu buraco tocado e acariciado. Quando um dedo
grosso deslizou para dentro dele, ele fez um barulho encorajador e abriu as
pernas mais largas.
— Puta merda —, disse Rohan sem fôlego, olhando para ele com olhos
escuros e vidrados. Jamil arqueou, apreciando o olhar faminto de Rohan sobre
ele quase tanto quanto os dedos de Rohan se movendo em seu buraco. Quase.
Fazia muito tempo. Verdade seja dita, ele sempre gostou de ser fodido, muito
mais do que ele gostava de estar no topo. Mas Mehmer supôs erroneamente
que, como o Príncipe Herdeiro, ele também gostaria de estar no comando do
quarto. Jamil não tinha desiludido ele dessa suposição, envergonhado de admitir
suas próprias preferências, então ele raramente tinha experimentado isso.
Não me sentia tão bem com Mehmer de qualquer maneira. Com Rohan,
não havia vergonha alguma, a intimidade entre eles matando qualquer
embaraço que ele pudesse ter sentido. Com Rohan, Jamil podia gemer o quanto
quisesse, empurrar nos dedos de Rohan e foder-se neles sem se preocupar com
isso. Com Rohan, ele não precisava ser o Príncipe Herdeiro; ele poderia ser
apenas um homem, sem vergonha de seus desejos. Ele não tinha que esconder o
quanto ele amava ser fodido, o quanto ele precisava disso.
Jamil percebeu que Rohan quis dizer isso literalmente quando Rohan
fundiu suas mentes, permitindo a Jamil ver e sentir o que ele sentia. Jamil
choramingou, seu prazer dobrando agora que ele podia sentir o quão apertado
ele estava em torno do pênis de Rohan, o quanto a visão das pernas
descontroladamente espalhadas de Jamil excitavam Rohan, o quanto Rohan
queria apenas fodê-lo com força, fazê-lo implorar por seu pau. — Você ama
isso, não é? — Rohan disse com voz rouca, saindo e observando Jamil gemer e
tentando se empalar em seu pênis. — Você ama ser fodido. Você ama pau. Você
quer pau no café da manhã, almoço e jantar, noite e dia, na sua bunda e no
fundo da garganta, não é?
Rohan olhou para ele com olhos negros e vidrados, enquanto Jamil o
montava com desavergonhado abandono, a cabeça de Jamil jogada para trás e a
boca aberta em um grito silencioso. Deuses, se sentia tão bem, tão
inacreditavelmente bom, a espessura do pênis de Rohan dentro dele
incrivelmente satisfatória. Ele não se importava que suas coxas já estivessem
tremendo com o esforço; ele precisava disso.
Rohan fez um som de protesto, seus braços se apertando. — Não, não vá.
Jamil riu uma risada feliz e quente que fez o peito de Rohan inchar com
carinho. Não, carinho era a palavra errada. Adoração possessiva. Porra, ele
queria segurar Jamil em seus braços para sempre. Nove dias disso não estavam
nem perto de ser suficiente. Ele sentiu como se nunca tivesse o suficiente.
Provavelmente era estranho o quão pouco ele se importava que Jamil era um
homem. Ele era perfeito nos braços de Rohan, como se ele tivesse sido criado
para eles. Talvez ele tivesse. Um ajuste mental tão perfeito como o que eles
compartilhavam era incrivelmente raro. Era o material de lendas e mitos —
velhas histórias que Rohan geralmente zombava, mas agora não podia deixar de
se perguntar se havia um grão de verdade nelas.
Rohan costumava rir da simples ideia de almas gêmeas, mas ele tinha que
admitir que a definição estranhamente se encaixava com eles. Suas
personalidades realmente não poderiam ser mais diferentes, mas Rohan nunca
havia se encaixado tão bem com outra pessoa. Parecia que eram duas peças de
quebra-cabeça juntas. Às vezes, ele não podia acreditar em quão pouco se
importava com a natureza primitiva e reservada de Jamil — ele sempre
gravitara em direção a mulheres alegres e descontraídas no passado —, mas
com Jamil, seu comportamento correto e justo o fazia sorrir com carinho. Com
Jamil, todos os seus sorrisos, todas as risadas e todos os sorrisos maliciosos
eram ainda mais preciosos.
— Você realmente tem que se levantar? — Rohan disse, sua voz ainda
rouca de sono e seus olhos fechados enquanto puxava Jamil de volta contra seu
peito.
Ele podia sentir que Jamil estava sorrindo. — Sim. Eu sou o Príncipe
Herdeiro. Eu gostaria de poder descansar na minha cama até mais tarde, mas eu
não me lembro de uma vez que isso realmente aconteceu. Eu tenho uma reunião
com um conselheiro, e então eu levarei Tmynne lá fora. Ela adora estar do lado
de fora.
— Você está aqui há nove dias, mas você não foi vê-la —, Jamil disse,
sua voz muito neutra. — Desde aquela primeira vez.
Rohan abriu os olhos. Tudo o que ele podia ver era a curva graciosa do
ombro de Jamil, mas ele não precisava ver o rosto de Jamil para saber que ele
estava franzindo a testa.
Rohan pressionou seus lábios contra o ombro suave e suspirou. — Eu não
quero me apegar, Jamil.
Silêncio.
Ele não precisava dizer nada. Ambos sabiam o que ele queria dizer, claro.
Ele já tinha ficado mais tempo do que deveria, muito mais do que ele
esperava, mas era improvável que durasse. Embora o Cego ainda estivesse
bloqueado pelo povo do Alto Hronthar, mais cedo ou mais tarde, os monges
teriam que desistir. Francamente, Rohan ficou surpreso por eles não terem
desistido. Aquele menino aprendiz deve realmente ser valioso para a Ordem —
ou para o Grande Mestre — se eles ainda persistiam com o bloqueio. Sirri e
Warrehn tinham sido forçados a ficarem no esconderijo, gradualmente perdendo
a paciência com o passar dos dias. Também não ajudou o fato de que o aprendiz
do Grande Mestre ter se revelado uma peste e quase ter escapado várias vezes.
De forma egoísta, Rohan estava feliz por ele não ter ficado preso em uma casa
minúscula com uma Sirri frustrada, um impaciente Warrehn, e um garoto
teimoso e escorregadio, determinado a voltar ao seu Mestre.
Mas todo jogo de espera tinha que acabar. E quando terminasse, Rohan
terá que ir embora. Já era ruim o suficiente que tudo nele ficasse doente com a
ideia de deixar Jamil para trás. Ele não precisava se apegar à criança também.
— Eu entendo —, Jamil disse, sua voz ainda neutra quando ele se afastou
de Rohan e sentou-se, colocando seus escudos mentais para cima.
Ele não podia ter isso, não com eles sendo quem eles eram.
Em outro mundo, onde não havia Lei de Vinculação, ele teria sido o
senhor-vassalo de Jamil, o que os teria tornado mais do que uma combinação
aceitável. Tecnicamente, Rohan era mais sangue azul do que o Príncipe
Consorte Mehmer havia sido: ele era um descendente direto de uma linha real
secundária do Terceiro Grande Clã. Ele realmente tinha uma reivindicação ao
trono se a atual linha real fosse extinta. Em outro mundo, ele teria sido
considerado um bom par para Jamil: sangue real, mas uma relação
extremamente distante, de modo que não havia preocupação com endogamia1.
Rohan não tinha vergonha de admitir que segurar sua filha pela primeira
vez tinha sido a coisa mais assustadora que ele já tinha feito. Ela era tão
pequena — Jamil havia rido dele; aparentemente Tmynne era muito maior
agora do que costumava ser. Rohan ainda sentia como se pudesse estalar seus
ossos delicados se ele a segurasse com força demais ou a deixasse cair se ele
não a segurasse com força suficiente.
Esse medo diminuíra um pouco desde então; ele estava bem confortável
segurando o bebê agora. Pelo menos ela não parecia se importar, observando-o
com seus belos olhos azuis e sorrindo para ele sempre que ele fazia caretas para
ela. Ela era a coisa mais fofa que ele já tinha visto.
Que diabos?
Rohan colocou Tmynne em seu berço e saiu de seu quarto, na direção que
ele podia sentir Jamil.
Virando a esquina, ele quase colidiu com ele. Jamil estava de olhos
arregalados e corado.
— Príncipe Ksar —, Jamil disse trêmulo. — Ele leu minha mente. Eu não
tenho certeza do que exatamente ele viu, acho que consegui fazer meus escudos
parecerem de baixo nível como você me ensinou, mas ele era tão forte, Rohan,
eu acho que ele viu você... nós.
— Respire —, disse Rohan, beijando-o na testa. — Apenas respire, ok?
Rohan tentou não ficar tenso. Jamil já estava estressado o suficiente. Ele
não precisava sentir sua raiva. — Como? — Ele disse com uma carranca. O
Príncipe Herdeiro do Segundo Grande Clã foi vinculado artificialmente ao
irmão mais novo de Jamil, o que significava que sua telepatia era limitada. Não
deveria ter sido possível para o Príncipe Ksar passar pelos escudos de Jamil.
Jamil era um telepata de classe 4 agora, até onde Rohan sabia. — Você é
excepcionalmente dotado de proteção. Um Classe 2 não deveria ter conseguido
atravessar seus escudos. — Rohan não conseguiu passar pelos escudos de Jamil
quando Jamil tentou esconder seus pensamentos, e eles estavam vinculados.
Jamil sacudiu a cabeça. — Não tem como ele ser da Classe 2. Eu o senti,
Rohan. Seu poder absoluto era… — Ele estremeceu, apertando os braços ao
redor das costas de Rohan. — Eu nunca senti nada assim. Mal consegui
esconder minha força telepática e as informações sobre os rebeldes. Ele poderia
ter visto qualquer outra coisa. Eu não tenho certeza de quais memórias ele viu
— foi breve — mas pelo que ele disse, ele definitivamente nos viu.
— Nós?
Ele sentiu o embaraço de Jamil através de seu vínculo. — Eu acho que ele
viu a memória da primeira vez que eu chupei você —, disse ele, sua voz muito
forte apesar da vulgaridade de suas palavras. — Ele basicamente me disse para
cuidar do meu próprio negócio ou todo mundo descobriria que eu sou uma
prostituta que gosta de ser usada por um servo humilde. Eu acho que ele teve a
impressão de que você era meu servo a partir do que você disse para mim
enquanto você fodia minha boca. Lembra?
Interessante.
Rohan abriu os olhos. — Tem certeza de que ele e Seyn têm um vínculo
de infância?
Ele podia sentir a confusão de Jamil. — Claro que eles têm. Eu estava na
cerimônia de união deles. Seyn esteve vinculado a ele desde recém-nascido. —
Ele fez uma pausa. — Embora eles provavelmente não permaneçam vinculados
por muito tempo agora, se o Conselho aprovar a petição de Ksar para dissolver
seu vínculo.
Rohan lambeu seus lábios secos, sua mente embaçando com o desejo tão
rápido que ele se sentiu quase tonto. — Eu também, amor.
Jamil riu contra o pescoço dele. — Foram três horas? Isto é ridículo.
Somos ridículos.
O que você está fazendo, Rohan? uma voz que soava muito parecida com
a de seu pai falou no fundo de sua mente.
Ele sabia que estava sendo egoísta e imprudente, mas Rohan não
conseguia se importar quando ele desceu em Jamil ali mesmo, chupando seu
pau preguiçosamente. Ele chegou a amar a espessura e o peso disso em sua
boca. Ele esvaziou suas bochechas e chupou suavemente enquanto sua língua
girava em torno da glande que vazava. Ele amava isso, amava o quão molhado
Jamil estava para ele — mas não tanto quanto ele amava comê-lo. Então Rohan
virou-o e puxou as calças para baixo, expondo a bunda linda de Jamil aos seus
olhos famintos, maravilhado com a carne macia e flexível, incapaz de resistir ao
impulso de beijá-la.
— E daí?
Então ele não ficou surpreso quando Jamil pegou suas próprias nádegas,
espalhando-as para Rohan sem vergonha. — Por favor.
Porra, nada o excitou mais do que a visão de Jamil segurando sua bunda
arqueada, implorando para ser fodido.
Cantarolando apreciativamente, Rohan enfiou a língua dentro do apertado
anel de músculo e começou a empurrar o mais profundamente que pôde,
repetidamente, até que Jamil estava ofegando, choramingando, e empurrando
de volta contra sua língua, tentando aprofundá-la. Rohan se perdeu no prazer de
Jamil, sentindo o quanto Jamil precisava disso, precisava de sua língua,
precisava de seu pênis — qualquer coisa para encher seu buraco necessitado. A
mandíbula de Rohan já estava doendo, mas ele não conseguia parar, não seria
capaz de parar, mesmo se alguém colocasse uma pistola na cabeça dele. Só um
pouco mais, só um pouquinho mais.
— Isso é tudo culpa sua —, disse Jamil, ainda rindo enquanto empurrava
as mãos de Rohan para longe dele. — Como estou?
Vinte e quatro dias depois, Sirri contatou Rohan. — Nós temos uma
situação —, disse ela, soando incomumente hesitante.
Rohan fez uma careta e colocou sua filha adormecida em seu berço. — O
que você fez?
Ótimo. Isso não o fez se sentir melhor em tudo. Seu melhor amigo não
era conhecido por sua paciência ou pensamento estratégico. Quando Warrehn
colocava algo em sua cabeça, ele era como um touro teimoso, imparável,
deixando apenas destruição em seu rastro. Juntamente com o fato de que
Warrehn era um telepata de Classe 6, não era exatamente encorajador.
— Eu aposto que ele aceitou bem —, disse Rohan, sem saber se deveria
gritar com Sirri ou rir. Depois de pesar os riscos, ele ligou o vídeo e se viu
olhando para o rosto carrancudo de Sirri.
Rohan ignorou a pergunta. — Tudo bem, aqui está o que vamos fazer. —
Ele começou a explicar seu plano. De má vontade, ela concordou, ainda
olhando desconfiada para o seu entorno. Rohan só podia esperar que não
houvesse nada de incriminatório na sala, nada que tornasse óbvio onde ele
estava. Seu chip de identificação e os sinais do comunicador estavam
desligados, então Sirri não podia rastreá-lo dessa maneira. Era um pequeno
conforto. Rohan sabia que ela não deixaria o assunto quieto assim que ele se
juntasse a eles amanhã.
Amanhã.
O coração de Rohan inchou, seu peito tão apertado que mal conseguia
respirar. Ele respirou uniformemente, reforçando seus escudos mentais para que
o tumulto de emoções dentro dele não a despertasse. O vínculo familiar deles
não era mais o pequeno gotejamento de quando ele chegou ao palácio há mais
de um mês, mas um forte fluxo de afeição e proteção que fluía entre suas
mentes. Definitivamente iria confundi-la quando ele de repente desaparecesse
de sua vida. E era inteiramente culpa dele. Toda vez que ele a abraçava, toda
vez que ele brincava com ela e a fazia sorrir e rir para ele, o vínculo se tornava
mais forte. Ele sabia disso, mas ele tinha feito tudo isso de qualquer jeito.
Seus pés o levaram na direção em que seu outro vínculo o puxou. Se seu
vínculo com Tmynne era como um riacho suave e calmo, seu vínculo com
Jamil era como um rio durante a primavera, com mais água do que as margens
dos rios podiam conter. Seu vínculo só se tornou mais poderoso no mês
passado, solidificando-se em algo que era, francamente, assustador. Era mais
profundo que atração mental ou física. Profundo até a alma. Era básico,
elementar, e o mudou de uma forma que Rohan não achava possível.
Era assustador o quanto ele amava isso. Ele não conseguia imaginar como
seria não poder ver Jamil todos os dias. O simples pensamento fez seu
estômago apertar em um nó apertado.
Rohan olhou para ele, sentindo uma onda de raiva irracional contra a
pessoa que estava tirando o precioso tempo que eles tinham juntos.
Rohan, que ainda estava encostado na porta, apenas olhando para ele
atentamente. Jamil franziu a testa. — Rohan?
Rohan mordeu o interior da bochecha com tanta força que sentiu gosto de
sangue.
Ele olhou para aquele rosto adorável e querido e sentiu como se estivesse
engasgando com a emoção crua. Você é meu. Você deveria ser meu.
Jamil sorriu, seu sorriso não alcançando seus olhos. — Você vai para casa
e nunca mais irá voltar —, afirmou.
Seus lábios afinando, Rohan desviou o olhar. Sim, se tudo não der certo,
eles provavelmente não conseguirão retornar a Calluvia através do Cego. O
Alto Hronthar seria estúpido em não cortar essa passagem depois desse fiasco.
— Querido —, Rohan disse com voz rouca, beijando seus dedos. Eu sinto
muito. Eu nunca quis te machucar.
Com o queixo tremendo, Jamil olhou para ele por um momento antes de
se lançar para frente e cair em seus braços. Rohan apertou-o com força,
puxando-o para o seu colo. Seus lábios se encontram. Não era nem um beijo;
eles apenas respiravam na boca um do outro, os braços envoltos em um abraço
de esmagar os ossos. Tudo parecia desarticulado, o mundo um borrão de
necessidade e desespero tão abrangente que nada parecia real a não ser a
sensação da pele de Jamil contra sua boca e a sensação dele em seus braços.
Ambos sabiam o quão vazia esta promessa era quando ele não tinha ideia
se era mesmo possível.
Ele deu uma segunda olhada, franzindo a testa. Ele tinha sido levado a
acreditar que o aprendiz era mais velho, mas certamente esse garoto não
poderia ter mais de dezessete anos. Apesar da feroz carranca no rosto, as
feições do menino eram suaves e refinadas de uma maneira que geralmente se
perdia quando os meninos se transformavam em homens.
Sirri bufou. — Ele é sensível sobre isso. — Ela olhou para seu multi-
dispositivo. — Devemos nos mexer.
Rohan fez uma careta, mas não disse nada enquanto seguia Warrehn e o
garoto. Sirri entrou em sintonia com ele. Sabendo o que estava por vir, Rohan
falou antes que pudesse. — O que seus sentidos dizem sobre esse encontrou?
Parece uma armadilha?
Sirri lançou-lhe um olhar que deixou claro que ela sabia exatamente o que
ele estava fazendo. — Não tenho certeza. Não parece uma armadilha, mas eu
sinto… — Ela franziu os lábios. — Eu sinto perigo. Como se estivéssemos indo
encontrar alguém com quem nunca lidamos antes. — Ela sorriu
desconfortavelmente. — Provavelmente é só o meu nervosismo fazendo
truques comigo. Você sabe que meu dom não é preciso.
Rohan assentiu.
— Não é da sua conta onde eu estava, e não é a hora nem o lugar para
falar sobre isso. Fique quieta.
Sua cautela só aumentou quando ele foi capaz de sentir o Grande Mestre
também. Ele era poderoso, como esperado, possivelmente tão poderoso quanto
Warrehn, mas não foi isso que fez Rohan ficar tenso. Cada telepata adulto tinha
uma presença telepática distinta e reconhecível, individual para todos, uma vez
que o telepata aumentasse completamente seus poderes. Mas o Grande Mestre
Idhron não tinha uma. Sua presença telepática continuava indefinida, difícil de
identificar. Era desconcertante. Era tão desconcertante quanto uma pessoa sem
rosto.
Um olhar de soslaio para Sirri confirmou que ela estava igualmente
surpreendida.
Rohan deu de ombros, afastando sua inquietação. Eles não sabiam o que
ensinavam no Alto Hronthar nos dias de hoje. Talvez fosse a norma para todos
os Mestres.
Warrehn soltou uma risada severa, apertando ainda mais seu cativo. —
Você acha mesmo que vou deixar o garoto ir, desse jeito?
Idhron não desviou o olhar de Rohan. — Diga a ele para libertar meu
aprendiz. — A ameaça não dita era mais eficaz do que tinha direito de ser,
considerando que Idhron estava em desvantagem de três para um.
— Então o que você está fazendo aqui? — Rohan disse, olhando para o
Grande Mestre. — Se ele é tão inútil para você?
Idhron não disse nada por um momento. — Eu não disse que ele não
tinha valor. Seria uma pena desperdiçar anos do meu tempo com ele, se eu
aceitasse outro aprendiz. Ele tem algum valor para mim, mas você está se
iludindo se acha que não vou sacrificá-lo se tentar usá-lo contra mim.
Rohan não podia sentir qualquer indício de mentira, e mesmo
racionalmente, ele sabia que Idhron deveria estar dizendo a verdade. Por que o
Grande Mestre do Alto Hronthar se importaria com um garoto quando ele tinha
centenas de iniciantes ansiosos para tomar o seu lugar?
— Ele está mentindo —, disse ela. Quando Idhron olhou para ela, ela
sorriu. — Oh, você é bom. Eu teria acreditado totalmente em você. Exceto que
tenho a sensação de que o que você acabou de dizer é um monte de besteira e,
se acreditarmos em você, vamos estar cometendo um grande erro.
— Muito bem —, ele disse, algo como diversão fria brilhando em seus
olhos. — Agora deixe meu aprendiz ir embora.
Rohan pensou que era doentio ver quão reverentemente o garoto olhava
para seu Mestre, como se as palavras de Idhron significassem algo além de sua
falta de vontade de cumprir sua parte do acordo. Rohan quase sentiu pena do
pobre garoto antes de lembrar as palavras de Sirri. Eridan não era um garoto
inocente. Ele era inteiramente capaz de manipular e enganar as pessoas para
conseguir realizar suas vontades também.
Isso não significa que o garoto não pudesse ainda ser salvo se o afastasse
da influência de Idhron.
Os olhos de Idhron ficaram mais frios quando ele falou. — Então, por
que eu deveria fazer algo por você, se tudo termina da mesma maneira, de
qualquer forma?
Rohan hesitou. Ele olhou para Warrehn e Sirri, sabendo que eles iriam
ficar chateados. Mas ele estava pensando nisso há muito tempo. Idhron estava
certo: ele não tinha incentivo para ajudá-los. Mas ele poderia receber um.
Sirri fez um barulho de protesto, mas Rohan não olhou para ela.
Ele observou a mudança sutil nos olhos de Idhron. Ele estava realmente
considerando isso. Bom.
Sirri bufou. — Por que, eu pensei que agora você fosse o melhor amigo
daquele idiota?
Rohan deu a ela um olhar plano e ativou seu transponder, sabendo que,
apesar de todas as reclamações e resmungos, eles fariam como ordenado. Eles
sempre faziam.
Na próxima vez que ele abriu os olhos, ele estava na estação orbital
novamente, pela primeira vez em mais de um mês. Ele olhou para as paredes
cinzentas e fechou os olhos, tentando se ajustar ao silêncio ressonante no fundo
de sua mente.
Casa.
Os dias foram tão ocupados e cheios que Jamil mal teve tempo de
respirar.
À noite, ele era deixado sozinho com seus pensamentos, sozinho com a
dor surda em seu coração estava.
Ele se sentia oco, de uma maneira que ele não sentia mesmo depois da
morte de Mehmer. Até mesmo passar tempo com Tmynne não ajudou. Ele se
odiava por procurar pelas feições de Rohan no rosto dela, odiava a si mesmo
por se sentir desapontado por ela parecer cada vez mais com Jamil todos os
dias, perdendo as poucas características que parecia compartilhar com o outro
pai.
Não era saudável, Jamil sabia disso. Tmynne era sua própria pessoa, não
uma extensão de Rohan. Ela merecia ser amada por ser ela mesma. Ela não
precisava se parecer com Rohan para que Jamil a amasse. Ele a amava. Ele a
adorava mais do que nunca. Ela era a principal razão pela qual ele saía da cama
todas as manhãs. Seu sorriso era a única coisa que enchia seu coração de
alegria, não importando o quão breve fosse.
Ele ainda desejava que ela se parecesse com Rohan. Era egoísta e
irracional, mas ele não podia mudar como se sentia.
— Jamil
Ele se encolheu, quase derramando o chá que ele estava dando a Tmynne.
Ele focou seu olhar na Rainha. — Sim, mãe?
— E todo mundo sabe que ele está apaixonado por Seyn —, acrescentou
sua esposa com um sorriso de aprovação. — O que é da mesma importância.
Os lábios da Rainha se estreitaram. — Certamente. Após o tratamento
desprezível de Ksar, Seyn merece alguém que irá apreciá-lo. Ele merece ser
feliz.
Jamil não tinha certeza de que Seyn ficaria feliz com alguém como
Xander. Ele tinha uma suspeita de que qualquer um que não fosse chamado
Ksar não faria seu irmão feliz, de qualquer maneira. Mas Ksar e Seyn fizeram
suas escolhas. Não era seu lugar para questioná-los, não importa o quanto ele
quisesse bater nos dois às vezes. Eles tinham tudo tão fácil. Tudo o que os
separava era o orgulho deles, que, para falar a verdade, ambos tinham
abundância, mas ainda assim. Eles tinham tudo tão fácil.
— Seyn não é o único que merece ser feliz —, disse a Rainha Consorte,
observando-o com uma carranca. — Você tem certeza de que está bem,
querido? Você parecia muito mais feliz nos últimos meses. Nós pensamos que
você finalmente havia superado a morte de Mehmer, mas agora você parece
pior do que estava nos primeiros meses.
Jamil mordeu o lábio, procurando por palavras que não seriam uma
mentira descarada. Ele não podia mentir para suas mães. Ele simplesmente não
podia.
Mas então sua mãe se afastou e a sensação fria e oca penetrou em seu
peito.
— Não há nada pior para uma mãe do que ver seus filhos infelizes —,
disse a Rainha, sua voz sem tom. — E sabendo que é nossa culpa. Nós
escolhemos os seus companheiros de união. É claro que não sabíamos que
terminaria assim, mas… — Ela balançou a cabeça, franzindo os lábios. — Em
momentos como esse, eu gostaria que a Lei de Vinculação nunca existisse.
***
Jamil tentou não olhar para o sorriso falso de Seyn ou notar a felicidade
igualmente falsa que Seyn estava tentando projetar para o bem de sua família.
Parte dele queria dar um abraço apertado no irmão e dizer que ele
entendia. Parte dele queria sacudi-lo e dizer a ele para tirar a cabeça de dentro
da bunda e agarrar a felicidade que estava dentro do alcance de Seyn ao invés
de escolher ser infeliz.
Ele queria se sacudir também. Jamil odiava se sentir tão deprimido,
odiava não poder aproveitar as pequenas conquistas de sua filha sem desejar
que Rohan as visse também. Às vezes, ele quase odiava Rohan, odiava-o por
reduzi-lo a esse ser patético e necessitado. Ele era o Príncipe Herdeiro do
Terceiro Grande Clã, caramba. Ele precisava se levantar e seguir em frente. Ele
devia isso a sua filha. Tmynne merecia um pai melhor do que essa casca de
homem que ele se tornara.
Ainda não conseguia dormir e, nas raras ocasiões em que o fazia, sonhava
com um toque mental caloroso e dolorosamente familiar, com braços fortes
envoltos em torno dele, uma voz rouca e levemente acentuada, chamando-o de
Amor, do sentimento absoluto de pertencimento e perfeição que o deixava oco
uma vez que Jamil acordava, com os olhos úmidos.
Quando Seyn acabou no centro de outro escândalo, pego beijando seu ex-
companheiro no baile, foi quase um alívio para Jamil. Esta era outra distração,
outra situação desastrosa que precisava de toda a sua atenção.
Jamil desviou o olhar. — Espero que Ksar saiba o que ele está fazendo. O
Conselho vai ficar furioso com ele por desperdiçar seu tempo. — Ksar era um
excelente e altamente respeitado político, mas mesmo ele teria dificuldade em
navegar naquele campo minado de sua própria criação. O Conselho havia feito
uma exceção para Ksar, permitindo que ele quebrasse seu vínculo de infância
com Seyn, algo inédito, e agora a reviravolta completa de Ksar não agradaria
ninguém.
Seyn deu de ombros. — Sim, mas tenho certeza que Ksar poderá lidar
com isso.
Jamil sorriu um pouco. A total confiança de Seyn na capacidade de Ksar
de lidar com qualquer coisa era bastante cativante. Ou melhor, seria cativante se
o objeto da devoção de Seyn fosse alguém diferente de Ksar. Depois do último
e menos que agradável encontro de Jamil com Ksar, ele achava difícil associar
aquele homem impiedoso e arrogante com a palavra cativante.
Deuses.
Ele desejou que Mehmer nunca tivesse morrido. Ele desejou nunca ter
encontrado Rohan. Ele desejou que ele nunca conhecesse esse desejo profundo
e cru. Ele estava feliz com Mehmer; ele realmente estava. Seus sentimentos por
Mehmer poderiam nunca ter sido tão profundos e intensos, mas ele estava
perfeitamente feliz por não saber que sentimentos tão intensos eram possíveis.
Ele tinha ouvido em algum lugar que era melhor ter amado e perdido do
que nunca ter amado. Como alguém que experimentara a felicidade com dois
homens diferentes e depois os perdera, Jamil queria bater em quem dissera isso.
Ou talvez fosse verdade sobre seu relacionamento com Mehmer: pensar em seu
relacionamento confortável trouxe um sorriso carinhoso e melancólico aos
lábios agora. Pensar em Rohan só trouxe uma dor angustiante em sua alma, um
desejo tão intenso que ele queria se enrolar em uma bola miserável de dor e
nunca acordar.
O problema era que uma parte dele não queria curar. Essa parte dele não
parecia deixar ir sua ilógica esperança de que tudo funcionaria milagrosamente.
Na época, Jamil quase acreditou nele. Era tão fácil acreditar em qualquer
coisa quando ele estava preso na segurança dos braços de Rohan e Rohan
estava olhando para ele como se ele fosse o seu mundo.
Agora ele o odiava por dizer isso a ele. Rohan não tinha o direito de lhe
fazer promessas que ele quase certamente não seria capaz de cumprir.
A empregada sorriu. — Seu marido, alteza! Ele não está morto! — Jamil
quase derrubou Tmynne.
Náusea subiu para sua garganta. Colocando Tmynne para baixo, Jamil
cambaleou até o banheiro e trancou a porta com os dedos trêmulos.
O desejo de vomitar passou, mas ele não se sentiu melhor. O homem que
ele viu no espelho parecia à beira de desmaiar, seus olhos atordoados e seu
rosto mortalmente pálido.
Isso funcionou, um pouco, mas não inteiramente. Ele não sentia como se
pudesse cuidar de alguém no momento. Ele queria ser cuidado.
***
Jamil ouviu uma variação disso provavelmente umas cem vezes enquanto
caminhava em direção aos aposentos de Mehmer, na outra extremidade da ala
do palácio do Príncipe Herdeiro. Servos sorriam para ele — até os guardas
tinham sorrisos em seus rostos normalmente estoicos — e a Rainha Consorte
sorria para ele da porta dos aposentos de Mehmer.
— Oh, querido. — Ela o abraçou com força. — Estou tão feliz por você!
Sua mãe ainda estava dizendo alguma coisa, mas Jamil mal conseguia
ouvi-la, quase entorpecido por dentro.
— Jamil? — Sua mãe se afastou e franziu a testa para ele. — Você está
bem? Eu sei que deve ser um choque, mas...
O quarto era tão familiar para ele quanto o dele. Ele costumava passar a
noite aqui, adormecendo com Mehmer em seus braços. Ele tinha sido feliz
neste quarto.
Ele sentiu um lampejo quando viu Mehmer na cama, sendo cuidado pelo
médico real. As características familiares e queridas de Mehmer estavam
levemente afundadas e sua pele estava estranhamente pálida, mas era sem
dúvida ele. Até aquele momento, parte de Jamil tinha pensado que era algum
tipo de piada de mau gosto. Agora ele sabia com certeza que não era.
Mehmer apertou sua mão e soltou uma risada incerta. — Ei, não há
necessidade disso. Estou aqui agora, amor.
Jamil se encolheu com a palavra. A voz estava errada, tudo estava errado
— o cheiro de Mehmer, a forma de sua mão, a sensação de seu peito — tudo
estava errado. Náusea subiu para sua garganta novamente. O que havia de
errado com ele? Ele realmente queria que Mehmer estivesse morto? Em
Calluvia, o casamento era para a vida inteira. Mehmer era seu marido. Ele era o
companheiro confiável e vitalício de Jamil. Eles eram melhores amigos desde
antes de poderem falar. Ele o amava, pelo amor de Deus.
Mehmer estava vivo. Essa era a parte importante.
Filha de Rohan.
Com a garganta doendo, ele pegou Tmynne em seus braços e embalou-a
contra o peito.
Ele olhou para a revista brilhante que foi depositada em sua mesa entre
muitas outras e no começo ele não entendia o que estava vendo.
FINAL FELIZ
Sua visão ficou vermelha tão rápido que por um momento Rohan nem
sequer reconheceu aquele homem. Seu cérebro não conseguia raciocinar ou
recusar. Distantemente, ele podia entender o que o artigo estava dizendo: o
Príncipe Consorte, vivo, de volta com Jamil, casamento de conto de fadas, e
assim por diante.
Mas, novamente, era. Esse homem era o marido de Jamil. Ele tinha todo
o direito de tocar em Jamil, todo direito de beijá-lo, segurá-lo perto.
Este não era ele. Ele não era um cabeça quente como Warrehn, incapaz de
controlar seu temperamento. Ele sempre se orgulhava de sua capacidade de
manter a cabeça fria e manter o controle de suas emoções quando necessário.
Ele não deveria se sentir pronto para matar um homem que nunca conheceu, um
homem que, segundo todos os relatos, era um bom homem, só porque — só
porque cobiçava o marido daquele homem.
O pensamento era enlouquecedor, mas por que ele não estaria? Sob a lei,
Mehmer tinha todo o direito. Ele era o cônjuge de Jamil. Ele tocou e fodeu
Jamil muito antes de Rohan o conhecer. Ele foi o primeiro de Jamil: primeiro
beijo, primeira experiência sexual, primeiro amor. Jamil provavelmente estava
muito feliz agora. Ele com certeza parecia feliz naquelas fotos, com o marido
todo em cima dele.
Inspira, expira.
Não funcionou.
Verdade seja dita, ele não estava com disposição para nada. Ele estava
cansado, fisicamente e mentalmente, e sofria querendo aquela garrafa de vodka
Shibian que ele tinha em seu escritório e o doce esquecimento que isso traria.
Ele não queria pensar agora, com a cabeça muito confusa e o peito muito
apertado.
— Apenas deixe isso para lá, Sirri —, ele murmurou sem entusiasmo,
afastando-se dela.
— Seja o que for, é melhor você estar melhor amanhã! —, ela gritou a
suas costas. Eles teriam outra reunião antes de partirem para Calluvia depois de
amanhã.
Ele caminhou até o minibar que ele mantinha principalmente para seus
visitantes.
Amanhã, ele seria o governador que seu povo precisava, pronto para
cumprir seu dever.
Em todos os anos de seu casamento, ele nunca tinha visto Jamil tão...
suave. Com certeza, a criança era ridiculamente fofa, mas ainda assim. Jamil
segurava a criança como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo, inalando
seu perfume profundamente, como se ela fosse algo mais do que uma pessoa
minúscula que só fazia comer, cagar e dormir.
— Sim, todo mundo diz —, Jamil disse com um sorriso que não chegou a
seus olhos. Ele praticamente empurrou Mehmer para fora do quarto da criança e
fechou a porta.
Droga, ele estava tão excitado. Ele tinha o homem mais bonito do planeta
como marido e estava sexualmente frustrado como o inferno, porque o tal
marido não demonstrara qualquer interesse em levá-lo para cama. Inferno,
Jamil nem tinha beijado ele de verdade desde o seu retorno, tratando-o como se
ele tivesse uma lesão com risco de vida. Mehmer tentou ser paciente, ele
realmente tentou — ele sabia o quão preocupado Jamil poderia ser — mas um
homem tinha limites, ok?
Mehmer revirou os olhos. — Você sempre está. Isso nunca impediu você
de me foder.
O velho Jamil teria rido e dito a ele para parar de usar uma linguagem tão
vulgar.
Mehmer suspirou. Jamil sempre teve um pouco de pau na bunda dele; Era
provavelmente natural que ele tivesse ficado ainda mais nervoso sem Mehmer.
Jamil suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Eu tenho algo para lhe
dizer. — Ele ficou em silêncio por um tempo, ainda de costas para Mehmer. —
Quando você foi dado como morto, eu tive… eu tive um... caso com outro
homem.
Mehmer piscou. Ele teria ficado menos surpreso se Jamil dissesse que ele
estava rejeitando seus deveres de Príncipe Herdeiro. Ele também se sentiu um
pouco magoado, embora soubesse que era irracional. Ele havia sido
considerado morto. Ele não poderia esperar que seu viúvo fosse um monge pelo
resto de sua vida.
— Por que você está me contando isso? Você está se sentindo culpado por
isso? — Conhecendo Jamil, ele provavelmente estava se batendo por isso.
Mehmer balançou a cabeça com um sorriso irônico. Andando até Jamil, ele
segurou seu ombro e o forçou a olhar para ele. — É por isso que você não quer
me tocar? Porque você se sente culpado?
Ele soltou uma risada incerta. — O que, você gostou tanto da bunda dele
que você não pode ficar duro com a minha?
Então Mehmer afastou sua própria mágoa e orgulho ferido e tentou ser
um bom amigo. Eles eram amigos antes de serem maridos, melhores amigos
desde de sempre. Isso não era nada que eles não pudessem superar. — Ei —,
ele disse suavemente. — Venha aqui. — Ele puxou o corpo tenso de Jamil em
um abraço e acariciou suas costas rígidas até que Jamil relaxou um pouco em
seus braços. O abraço ainda era um pouco desajeitado e estranho. Ele não
estava acostumado a abraçar Jamil e a dar-lhe conforto — normalmente era o
contrário, com Mehmer sendo o mais emocional e sensível. Sempre lhe pareceu
natural: Jamil era o irmão mais velho, o Príncipe Herdeiro, e sempre fora muito
melhor em ser o mais forte e responsável do que Mehmer. Mas naquele
momento, ele podia sentir que o homem que ele segurava em seus braços não
era capaz de ser sua rocha; Ele estava magro nas bordas e precisava de algo que
Mehmer estava mal equipado para fornecê-lo.
— Quem é ele? — Mehmer disse, sem saber por que ele estava
perguntando. Ele não sabia se queria dar um soco na cara por transformar Jamil
em alguém que Mehmer não reconhecia ou exigir que ele consertasse Jamil.
Jamil sentou-se na sala do trono ao lado de sua mãe, com uma expressão
educada no rosto.
Ele nunca gostou dos dias da Corte. Antigamente, era uma oportunidade
para as pessoas comuns conseguirem uma audiência com seu monarca e
tentarem resolver seus problemas. Nos tempos modernos, nada mais era do que
uma oportunidade para os nobres se reunirem e fofocarem sobre tudo e todos.
Jamil não tinha certeza de como eles deviam superar quando até abraçar
Mehmer era completamente errado — quando desejava que os braços de outro
homem o envolvessem, a voz de outro homem sussurrasse palavras afetuosas
em seu ouvido — quando ele se sentia culpado por precisar de conforto,
sabendo que Mehmer queria que ele fosse o mais forte.
Até o retorno de Mehmer, Jamil tinha esquecido como era estar sob a
pressão constante em ser alguém perfeitamente no controle — em ser alguém
que ele não era. Com Mehmer, ele não podia se deixar ir, mesmo na privacidade
de seus próprios aposentos; ele sempre tinha que desempenhar o papel de um
homem que cuidaria de tudo. Ontem à noite, ele podia ver o quanto sua
fraqueza desestabilizou Mehmer. Isso fez Jamil se sentir ainda pior do que ele
já sentia. E pela primeira vez em sua vida, ele sentiu algo como ressentimento
em relação a Mehmer. Rohan nunca o fez se sentir mal por ser menos que o
perfeito Príncipe Herdeiro. Com Rohan, ele poderia ser tão fraco quanto
quisesse sem se sentir julgado; Rohan realmente parecia gostar de ser
necessário.
Jamil estremeceu, percebendo que mais uma vez, ele estava pensando
obsessivamente sobre Rohan quando deveria estar pensando em Mehmer, seu
marido. Seu marido gentil, maravilhoso e compreensivo que merecia algo
melhor.
Dessa forma, ele só notou Rohan quando ele levantou os olhos e o viu
praticamente na frente dele.
Pare com isso. Você é casado. Você está em uma sala cheia de pessoas
que observam você, esperando pelo menor passo em falso.
Nada aconteceu.
Isso fez Jamil questionar sua sanidade. Isso era real? Por que ele podia
ver Rohan, mas ele não conseguia senti-lo?
E por que, quando não havia atração mental, ele ainda se sentia como
uma pessoa faminta quando olhava para Rohan?
Jamil lambeu os lábios secos, esperando que ele não parecesse tão
perdido quanto se sentia.
— Vossa Alteza —, disse Rohan depois do que pareceu uma eternidade,
dando-lhe uma reverência impecável e impessoal.
O estômago de Jamil se contorceu de medo. Não. Por favor não. Ele não
era forte o suficiente.
Rohan estava realmente lá. Rohan manteve sua promessa e voltou. Exceto
que isso não importava mais, importava?
— Esqueça seus olhos, você viu a pele dele? Parece que ele passa o dia
todo no sol!
Uma parte dele não podia acreditar que ninguém reconhecera Rohan
como o criado que ele teve por um breve período. Mas, novamente, ninguém
notava os servos. E Rohan sempre se certificou de limpar as lembranças das
pessoas ou de obrigá-las a não o notar.
— Jamil?
Recuando, Jamil olhou para sua mãe e corou, percebendo que ela já
estava de pé e devia estar tentando chamar a atenção dele por algum tempo.
Mas é claro que ele não podia. Ele era o Príncipe Herdeiro. Ele tinha um
marido e este não era o homem que estava andando alguns passos atrás dele.
Rohan era seu senhor vassalo. Mehmer era seu marido.
Por fim, chegaram aos aposentos. Jamil lutou para manter uma expressão
educada em seu rosto enquanto Weyrn mostrava os quartos para o povo de
Rohan.
Jamil também.
— Como você está? — Rohan disse secamente, sem olhar para ele, sua
mente como uma fortaleza impenetrável.
Jamil assentiu.
Seus olhos se trancaram e tudo simplesmente sumiu. Não era o elo deles
ou o Fit — sua compatibilidade mental ainda estava curiosamente perdida —
apenas os olhos de Rohan fixos nos dele.
Jamil não sabia o que estava em seus olhos, mas os de Rohan era um
poço sem fundo de raiva e desejo. Um abismo negro. Eles eram tão cativantes.
Tão fácil de se deixar afundar.
Ele podia sentir o olhar de Rohan em seu rosto, intenso e pesado. Jamil
mordeu o lábio inferior e olhou para ele por baixo dos cílios.
Em dois longos passos, ele estava na frente de Jamil. Suas mãos estavam
estendendo a mão para o rosto de Jamil quando Jamil conseguiu dizer: — Sou
casado.
E foi uma coisa boa, porque naquele momento, Weyrn retornou, e seus
olhos estavam muito curiosos para o gosto de Jamil.
O que era inapropriado era o jeito que os dedos pálidos de Jamil tremiam
e se agarravam aos mais escuros de Rohan, incapazes de soltar.
Assim que a porta foi fechada atrás dele, Jamil recuou e olhou para a
mão. Seus dedos ainda estavam tremendo. Ele estava tremendo, por toda parte,
como um viciado que tinha permissão para ver sua droga favorita antes que ela
fosse cruelmente retirada novamente.
Rohan desviou o olhar do cercado zywern que era visível da janela do seu
quarto. — O que?
— Fique fora disso, Warrehn —, disse Rohan, sua voz mais rude do que
ele gostaria. — Isso não é da sua conta.
Warrehn franziu a testa. — Desde quando esse príncipe é da sua conta?
Isso é o que eu não entendo. — Seus lábios se torceram em um sorriso raro. —
Quero dizer, eu entendo a situação: ele tem um rosto lindo e uma bunda
igualmente legal, bom o suficiente para fazer até mesmo um hétero como você
olhar, mas não foi apenas a luxúria que eu senti.
Lutando contra o desejo de bater em Warrehn por falar sobre Jamil desse
modo, Rohan desviou o olhar. Ele considerou mentir, mas depois pensou
melhor. Ele queria falar sobre isso com alguém. Se ele não falasse com alguém,
ele poderia explodir. Ele precisava que Warrehn colocasse um pouco de juízo
em sua cabeça antes que ele fizesse algo maluco.
O fato de que ele queria que Warrehn lhe desse juízo provavelmente dizia
muito sobre como ele estava.
Exceto que ele não era. Na verdade, o marido de Jamil vivia sob esse
mesmo teto. Ele pode estar beijando Jamil neste momento, e Rohan não podia
fazer nada sobre isso.
— Não importa o que você esteja pensando, pare antes de fazer todos no
palácio perceberem que você não é um telepata de baixo nível.
Para um telepata de alto nível, o controle era tudo. Ele realmente poderia
acabar machucando alguém. Ele poderia arruinar tudo o que eles estavam
preparam há anos só porque ele cobiçava o marido de outro homem.
Claro que ele sabia disso. As coisas não eram tão diferentes em Tai'Lehr
também. Embora o divórcio fosse possível em Tai'Lehr, isso raramente
acontecia, porque as pessoas geralmente se casavam apenas quando
encontravam um Fit decente. A compatibilidade natural só melhorava com o
tempo, então o divórcio era praticamente inédito.
Rohan disse a si mesmo para não perguntar. Esse caminho levava apenas
à loucura.
Mas é claro que ele fez.
— E como ele olhou para mim? —, Ele disse, ainda de costas para
Warrehn. Ele tinha notado o olhar de Jamil, é claro, mas ele não confiava em
seu próprio julgamento quando se tratava disso. Ele estava com medo de que
ele estivesse apenas vendo o que ele queria ver.
Rohan soltou uma risada. — Não seja ridículo. Ele mal olhou para mim.
Warrehn bufou. — Certo. Mas quando ele fez, parecia que ele cairia de
joelhos e chuparia seu pau ali mesmo se você pedisse a ele.
O pênis em questão se contraiu por causa da cena. Rohan não pôde deixar
de imaginar os lábios carnudos e vermelhos de Jamil em volta do seu pênis ali
mesmo na sala do trono, aqueles olhos azuis olhando para ele de forma aturdida
enquanto Jamil o chupava na frente de sua própria corte. Jamil também gostaria
de ser observado por seus próprios súditos enquanto dava prazer a Rohan.
Warrehn limpou a garganta. — Sobre tudo o que você está pensando, por
favor, faça isso quando eu não estiver na sala —, ele grunhiu. — Porque ugh.
Bruto.
Rohan fez uma careta, reprimindo o desejo de dizer a ele como Tmynne
era linda e preciosa. Ele sabia o que Warrehn queria dizer, claro. Ele não tinha o
direito de desistir seu primogênito. Isso poderia levar a uma disputa de sucessão
se alguém descobrisse.
Por fim, Warrehn disse: — Você sabe que é como um irmão para mim
Sentia-se muito inquieto e quente, por razões que ele tentou não pensar,
tentou sendo a palavra-chave.
Ou talvez Rohan não esteja conseguindo dormir também, seu corpo tão
no limite quanto o de Jamil. Talvez Rohan esteja se tocando, sua mão
acariciando aquele pênis escuro e grosso dele...
Vestindo um robe preto sobre o corpo sem camisa, Jamil saiu de seus
aposentos. Se ele não conseguia dormir, poderia checar sua filha. Ele podia ser
um marido terrível, mas ele se recusou a ser um péssimo pai também. Estava
escuro e silencioso nos corredores do palácio, até mesmo os criados dormindo
já estavam dormindo.
O coração de Jamil pulou de medo quando viu uma forma escura saindo
do quarto de Tmynne.
O corredor estava escuro demais para ver o rosto da pessoa, mas algo no
modo como o homem se portava era dolorosamente familiar.
Jamil lambeu os lábios, seu batimento cardíaco acelerou por uma razão
completamente diferente.
Deuses.
Contanto que eles não fizessem — contanto que eles não se tocassem,
tudo bem, certo? Se eles não se tocassem, se eles não pudessem se ver, se eles
não falassem, não seria real. Poderia ser um sonho. Isso não estava realmente
acontecendo. Não estava fazendo nada de errado: apenas de pé, respirando um
no outro e nada mais, não importava o quanto o ar rarefeito entre seus corpos
vibrasse de tensão e desejo.
Rohan de repente estremeceu, um som saindo de sua garganta, algo
horrível e quebrado. — Vá, maldito seja —, ele rosnou.
Jamil foi.
Ele tropeçou em seu quarto e quase caiu em sua cama. Ele nem se
incomodou em tirar o roupão, apenas chutou sua roupa íntima pelas pernas.
Agarrando o brinquedo com o qual ele se dera prazer mais cedo, Jamil o
empurrou de volta para dentro dele, sua outra mão agarrando seu pênis
latejante. Ele choramingou, seus olhos apertados quando o encontro na
escuridão se repetia em sua cabeça, repetidamente.
Só que desta vez ele não saiu. Em sua imaginação, ele deixou Rohan virá-
lo e levá-lo ali mesmo, sem qualquer preparação. Doeu, mas ele merecia a dor.
Ainda se sentia além de bom, seu buraco envolvendo-se confortavelmente em
torno do pau grosso de Rohan enquanto Rohan o fodia com força contra a
parede, seu aperto nos quadris de Jamil machucando. Jamil só podia gemer e se
empurrar o pênis de Rohan, sem se importar que qualquer um pudesse se
deparar com eles, que qualquer um pudesse acender as luzes e ver seu Príncipe
se inclinar e ser fodido naquele corredor como uma prostituta barata. Jamil seria
muito alto, gemendo descaradamente, e Rohan colocaria a mão sobre a boca
para calá-lo, seus quadris estalando para frente, cada vez mais duro, até Jamil
delirar de prazer. — Fique quieto —, Rohan diria. — Ou o palácio inteiro vai
descobrir a puta que você é — Jamil gozou com um gemido, apertando em
torno do pênis nele.
Jamil abriu os olhos e olhou para o teto alto do seu quarto, a mão ainda
envolvida em torno de seu pênis amolecido.
Uma puta.
Isso era o que ele era, pelo menos quando Rohan estava envolvido.
Rohan tão pouco estava melhor. Ele parecia resolver o problema não
olhando para o Príncipe Jamil, mas ao fazer isso, parecia tão suspeito quanto,
na opinião de Warrehn.
— Você pode repetir? — Rainha Janesh disse, piscando para Rohan. Ela
exalava choque, assim como a assistente da Rainha.
Warrehn sacudiu a cabeça, incrédulo por Rohan ter contado tudo a ele.
Inacreditável.
E é por isso que você está na posição em que você está agora, uma voz
amarga disse no fundo de sua mente. Se ele tivesse sido esperto o suficiente
para conseguir aliados, Dalatteya não teria conseguido.
Algo cintilou no rosto da Rainha Janesh enquanto ela olhava para Jamil.
Warrehn nem precisou investigar suas emoções para sentir seu desconforto. Ele
relaxou um pouco, sentindo que ela tinha suas próprias dúvidas sobre a
necessidade da Lei de Vinculação. Isso pode acabar sendo mais fácil do que
eles todos pensavam.
Por fim, ela olhou para o filho, que estava de pé ao lado da escrivaninha,
com as costas bem retas e a expressão cuidadosamente neutra. Se Warrehn não
soubesse melhor, ele acharia que ele realmente era o Príncipe de Gelo. Frio.
Inacessível. Exceto que o fio de tensão entre o Príncipe Herdeiro e Rohan
pulsava com tanta saudade e fome que fazia até mesmo Warrehn ficar
desconfortável como o inferno, e ele não era puritano. Era incrível como duas
pessoas que cuidadosamente evitavam olhar umas para as outras podiam criar
uma tensão tão forte que parecia criar um ser real na sala junto com eles.
Um duro empurrão telepático fez com que ele respirasse enquanto uma
dor de cabeça dividia sua cabeça.
— Pare de pensar nele desse jeito.
Warrehn olhou para Rohan, que olhou de volta, seus olhos queimando
buracos nele.
Warrehn seria o primeiro a admitir que nunca foi conhecido por seu bom
senso.
Ele agia, e depois ele pensava sobre o que ele tinha feito.
— Ele não é seu, Rohan —, ele disse, tão gentilmente quanto podia. Ele
não era muito bom com essas coisas emocionais, mas até ele sabia que
precisava tratar isso cuidadosamente. — Quanto mais cedo você aceitar,
melhor, ou você vai brigar com o marido dele quando o ver.
Antes que Rohan pudesse responder, sua atenção foi arrebatada pela voz
agradável e culta do Príncipe Jamil.
Warrehn olhou furioso para ele. Ele meio que esperava que o Príncipe
Jamil estivesse do lado deles, considerando seu envolvimento com Rohan, mas
aparentemente uma era coisa chupar o pau de um rebelde, e outra era realmente
apoiar sua causa.
Ele olhou para Rohan e encontrou seu amigo assistindo Príncipe Jamil
com um rosto que não traía nada. Apenas seus olhos escuros ardiam com fogo
que Warrehn esperava que fosse raiva e não outra coisa.
O olhar de Príncipe Jamil não estava em sua mãe. Estava fixo em seus
próprios dedos, que ele estava acariciando sem pensar, mastigando o lábio
inferior.
Em sua visão periférica, Warrehn podia ver Rohan olhando entre os dedos
e os lábios de Jamil, seu olhar intenso não era exatamente odioso, apesar do
fato de que o objeto de sua fascinação estava praticamente estragando tudo para
eles. Warrehn teria revirado os olhos se não estivesse irritando-o tanto. O amor
era uma coisa tão estúpida. Ele transformava até mesmo os homens mais
espertos em bobinhos cegos.
Isso finalmente fez Rohan reagir: finalmente, ele parecia irritado, sua aura
escurecendo de raiva e algo que parecia traição.
— Posso ter uma palavra com você, Vossa Alteza? — Rohan disse, sua
voz fria. — Em particular.
Rohan fechou a porta e olhou para Jamil, que de alguma forma conseguiu
recuar para o canto mais distante da sala.
— Você não deveria ter feito isso —, disse Jamil, olhando para baixo. —
Minha mãe...
Ele parou bem na frente de Jamil, tão perto que ele podia sentir a
respiração de Jamil em seu rosto. Estava irregular, instável, assim como na
noite passada.
Jamil tentou recuar, mas não tinha para onde ir. — Afaste-se de mim,
Lorde Tai'Lehr.
Rohan riu. Isso fez seu peito doer. — Sério, querido? Primeiro você
convence sua mãe a não nos apoiar, agora isso?
Um pequeno som saiu dos lábios de Jamil. — Por favor, não —, ele
sussurrou, enquanto suas mãos seguravam a frente da camisa de Rohan. — Eu
não posso.
Jamil se agarrou a ele — não havia outra palavra para isso. As costelas
de Rohan doeram com aquele aperto mortal, mas ele suspeitava que ele estava
segurando Jamil com a mesma força e intensidade. Ainda não era suficiente.
Isso nunca seria o suficiente. Isso parecia um momento roubado, um adeus.
Não.
Não, caramba. Não era um adeus. Ele não deixaria, desta vez não.
— O que?
Rohan nunca pensou que ouvir uma confissão de amor de Jamil faria ele
se sentir tão infeliz. Ele queria dar um soco em alguém. Ele queria se enfurecer
com a injustiça disso tudo. Acima de tudo, ele queria pegar Jamil e sua filha e
levá-los para Lehr Manor, onde pertenciam.
— Não —, ele rosnou, pegando o pulso de Jamil quando ele se virou para
a porta. — Não, caramba.
Rohan envolveu-o com força em seus braços, odiando o quão perdido ele
se sentia. — Posso te beijar? Só uma vez.
Jamil balançou a cabeça com um leve sorriso, mas Rohan podia ver um
lampejo de esperança desesperada em seus olhos — esperança que se recusava
a morrer — e ele nunca o amara tanto.
Eles se encararam.
— Claro, meu Lorde —, sua assistente disse com uma reverência e saiu.
Sirri deu de ombros e silenciosamente fez o que lhe foi dito, embora
normalmente ela teria resmungado sobre não ser uma criada.
Ninguém sorriu.
O olhar que Rohan lhe deu foi um pouco triste, mas quase inflexível. — É
o seu palácio, não o dela, Warrehn. Você é o herdeiro do trono. Você já teria
sido o Rei se não fosse por ela. Mesmo que ainda não possamos provar
conclusivamente que ela é a única que tentou assassiná-lo, você terá autoridade
para mandar ela e o filho para longe do seu palácio. Você não tem mais dez
anos de idade. Você é maior de idade e ela não terá mais o poder de regente.
Warrehn zombou. — O que aconteceu com me manter em Tai'Lehr para
“minha própria segurança?” Seu pai me manteve um prisioneiro em Tai'Lehr
durante a maior parte da minha vida, e agora você diz que eu posso ir? Bem
desse jeito?
Rohan olhou para ele com firmeza. — Eu não sou meu pai. Ao contrário
dele, confio em você. Eu confio que você não nos trairá. Você poderia ter saído
a qualquer momento desde a morte do meu pai. Eu não teria parado você e você
sabe disso. Você ficou porque escolheu ficar.
Warrehn olhou para ele, sentindo uma onda de raiva. — Você é pior do
que seu pai, você sabe. Pelo menos seu pai não era um bastardo manipulador.
Fodido inferno.
Rohan encolheu os ombros. — Acho que sim. Mas duvido que Ksar tenha
algum treinamento, então tudo fica equilibrado no final. Não é relevante
agora… — Ele parou, um olhar pensativo cintilando em seus olhos. — Ou
talvez seja relevante. Ninguém no Conselho sabe que Ksar é um telepata de alto
nível. É obviamente primordial para ele manter isso em segredo.
— Por favor, me diga que você não está pensando em chantagear um Sete
para ajudá-lo —, disse Sirri fracamente. Quando Rohan não negou, ela olhou
para ele. — Você é louco ou suicida?
— Você quer chantagear outra pessoa? — Sirri disse, sua voz ainda
sarcástica e seca.
Rohan voltou para o bar e tomou outro gole de conhaque.
Este Autor não pôde concordar mais com o Lorde Tai'Lehr, mas traz um
ponto interessante:
O que vai acontecer com o Príncipe Samir, que foi criado para ser o Rei
nos últimos dezenove anos?
***
— Mas ele é um rebelde também. Ele estava com os outros rebeldes que
me sequestraram. Todos eles são desvinculados. Poderosos.
Ele descobriu que emoções como amor e desejo eram mais úteis —
quando não eram suas.
— Seu visitante das onze horas está aqui, Vossa Graça —, disse sua
assistente, curvando-se profundamente para ele.
Com uma última carranca profunda para Castien, Eridan saiu, quase
colidindo com o Lorde Tai'Lehr na porta.
Quando a pesada porta se fechou atrás deles, Castien desviou o olhar para
Rohan'ngh'lavere e disse: — O que você pode me oferecer por meu apoio ao
projeto de divórcio que você quer aprovar?
— Você é um bastardo —, disse ele, seu tom suave, apesar do ódio que
queimava naqueles olhos negros. — O que você quer?
Ele sempre gostou de lidar com pessoas que entendiam como o mundo
funcionava.
***
Fofocas da Sociedade Calluviana
Este autor tem o prazer de informar sobre outro escândalo trazido a nós
como cortesia do Lorde Tai'Lehr. Parece que acompanhar o futuro Rei do
Quinto Grande Clã [leia mais sobre a próxima coroação aqui] não foi a única
razão para a visita do Lorde Tai'Lehr a Calluvia. Como os nossos leitores
sabem, nós da Fofocas da Sociedade Calluviana normalmente não escrevemos
sobre assuntos tão entediantes como a política, mas desta vez sentimos que é
nossa obrigação moral dar aos nossos leitores um relato preciso do que
aconteceu, já que este escândalo trará consequências de longo alcance para a
sociedade Calluviana.
— Você deve entender que não foi a escolha dos nossos antepassados
desafiar a lei. — Lorde Tai'Lehr falou em meio ao caos. — Como os sensores
não funcionavam, a colônia não sabia que já havia um assentamento dos
rebeldes no único continente do planeta. Os poucos adeptos da mente do Alto
Hronthar que acompanharam os colonos sucumbiram às doenças locais logo
após o estabelecimento da colônia. Como não havia mais adeptos mentais
qualificados, os vínculos de infância não podiam mais ser criados. Nossos
ancestrais não tiveram outra escolha senão desconsiderar a lei, especialmente
porque os rebeldes que viviam nas proximidades mostraram-se saudáveis,
pacíficos e inofensivos.
Verdade seja dita, este autor também não entendeu a referência. Quando
solicitado a esclarecer, o Conselheiro Derves afirmou que o vínculo da infância
foi realmente inventado para restringir telepatas poderosos.
Embora a política não seja a especialidade deste Autor, mesmo ela sabe
que este é um resultado que ninguém no Conselho gostaria. Tai'Lehr é uma das
principais fontes de Calluvia para os cristais de korviu, que são necessários
para a função dos teletransportadores transgalácticos. Também é importante
notar que quando uma colônia registra uma queixa contra o Conselho
Galáctico sobre a falta de proteção de seu planeta natal, isso desestabiliza toda
a economia à medida que as ações despencam.
— Eu não posso acreditar que você realmente conseguiu isso! — Sirri riu
e o abraçou com força. — Nós conseguimos!
Mas ele devia ao seu povo tentar resolver as coisas pacificamente, sem
alienar completamente Calluvia. Era o planeta natal deles, o lar cultural deles, e
egoisticamente, Rohan não queria queimar as pontes se ele absolutamente não
precisasse. Não que ele teria deixado o planeta sem Jamil e Tmynne — ele
estava pronto para pegá-los e sair, se as negociações tivessem ruídos —, mas
teria sido um último recurso. Sem mencionar que Jamil não disse sim
exatamente quando Rohan lhe pediu para deixar tudo por ele. Ele não disse não,
mas também não disse sim.
Porra, tinha sido um longo mês. Ele se mudou para um hotel e evitou o
Terceiro Palácio Real, incapaz de suportar ver Jamil com seu marido. Já era
ruim o suficiente que ele não pudesse escapar dos pensamentos que o
atormentavam à noite, não podia deixar de pensar se Jamil tinha desistido, se
ele deixou o marido voltar para sua cama, se a filha deles começara a pensar em
Mehmer como seu pai e nem sequer o reconhecesse. Esses pensamentos
enlouqueceram Rohan, alimentando sua determinação de acabar com essa
batalha legal o mais rápido possível e tirar sua família do alcance do outro
homem.
Sirri riu. — Você ainda está persistindo nisso? Você não pode estar
comprometido com uma pessoa casada.
— Ele pode, mas isso não significa que ele vai. — Sirri suspirou. —
Olha, eu quero que você seja feliz, mas… você não é ingênuo, Rohan. A lei não
importa. O divórcio ainda está muito longe de ser socialmente aceitável em
Calluvia, especialmente em um casamento tão importante. Será um escândalo
como nenhum outro se o Príncipe Jamil de repente decidir deixar seu romance
de conto de fadas e deixar seu marido por alguém que mal tem uma posição
legal em Calluvia.
Sirri olhou para ele. — Por favor, diga-me que você não pretende lidar
com seus problemas de relacionamento em um baile tão público. Precisamos
estar lá para Warrehn se certificar de que a querida tia dele não o envenene.
Ele era autoconsciente o suficiente para perceber que ele não estava
pensando com a cabeça. Mas ele esperou o tempo suficiente, caramba.
Ele estava farto de deixar outro homem chamar a família dele de sua.
CAPÍTULO 36
Você está com inveja, uma voz sussurrou no fundo de sua mente. Você
está com ciúmes da felicidade do seu irmão mais novo, do fato de que ele pode
segurar a mão de seu homem em público.
— Querido, por que você está se escondendo atrás desta planta? —, uma
voz familiar disse exasperadamente.
Jamil riu. — Tudo bem, tudo bem: eu apenas não me sinto no clima para
socializar.
— Onde está Mehmer? Eu não sabia que ele não viria ao baile. Achei que
ele nos encontraria aqui.
Essa é uma maneira de colocar isso. Jamil ficou um pouco surpreso por
suas mães terem demorado tanto para falar com ele sobre isso, considerando
que todos viviam sob o mesmo teto, não importando quão grande esse teto era.
Mordendo o lábio, Jamil hesitou. Mas não adiantava tentar adiar essa
conversa. Suas mães descobririam em breve, de qualquer forma. Ele devia pelo
menos preveni-las antes que chegasse à imprensa.
A mão de sua mãe ficou tensa no braço dele. — O que? — Ela o forçou a
parar e olhar para ela. — Você não pode estar falando sério.
— Mas por quê? — Sua mãe disse, franzindo a testa. — Querido, todo
relacionamento tem momentos difíceis. Vocês costumavam ser tão felizes
juntos.
— Não é... não é uma fase difícil. É… — Jamil passou a mão pelos
cabelos, sem palavras. O que ele poderia dizer?
Não é apenas uma fase difícil, se a minha pele se arrepia sempre que ele
me toca. Não é uma fase difícil se eu sentir que não consegui respirar
adequadamente por meses.
Ele apenas disse: — Eu não o amo mais, Mãe. Porque esse era o ponto
crucial do problema, não era? Ele não poderia permanecer casado com um
homem que ele não amava. Não era justo para nenhum dos dois. Foi por isso
que, assim que Jamil soube que o divórcio agora era legal, ele pedira a Mehmer
um. Foi a conversa mais difícil de sua vida, mas ele estava cansado de viver
uma mentira. Independentemente dele e Rohan estarem juntos ou não, ele
queria parar de chamar Mehmer de — marido — quando ele não sentia nada
como um.
A pior parte era que Mehmer nem parecia surpreso. Ele sabia que a hora
estava chegando. Ele seria um idiota se não, considerando que Jamil se afastou
de seu toque e eles ainda não tinham feito sexo apesar de Mehmer estar de volta
em casa por alguns meses.
Jamil acabou por abraçá-lo. Ele ainda amava Mehmer, e machucá-lo era a
última coisa que ele queria. Ele simplesmente não o amava como um homem;
ele o amava como um querido amigo de infância e talvez ele sempre o tivesse
amado dessa forma.
Jamil sorriu com tristeza. Seu amor por Mehmer era definitivamente mais
saudável para seu estado de espírito. Se ele não tivesse conhecido Rohan, ele
provavelmente teria sido perfeitamente feliz com Mehmer, mesmo sem o
vínculo de infância.
Mas depois de conhecer Rohan, ele não podia — ele não poderia se
contentar com nada menos do que isso. Ele tentou, ele honestamente tentou,
mas depois de meses tentando sentir algo que ele não sentia, ele estava cansado
de forçá-lo. Ele não podia fazer isso. Ele não conseguia parar de amar um
homem e começar a amar outro só porque a lei dizia que ele deveria.
— Eu sei que outro escândalo é a última coisa que nossa Casa precisa
agora, e eu sinto muito, Mãe, mas eu… — Jamil parou, arrepios subindo por
sua espinha. Ele ergueu a cabeça, seu coração batendo mais rápido quando o
vínculo no fundo de sua mente se acendeu.
—... Jamil?
Vacilando, ele olhou para sua mãe. Jamil apertou os dedos trêmulos atrás
de suas costas, tentando mostrar em seu rosto algo parecido com sua expressão
normal. A julgar pela carranca de sua mãe, ele não teve sucesso.
Jamil mal se impediu de se afastar do toque de sua mãe. Sua pele estava
muito apertada, seu corpo quase vibrando de tensão. Apenas com uma incrível
força de vontade ele se parou de olhar ao redor do salão de baile, como uma
coisa faminta em busca de seu sustento.
— Eu preciso… preciso sair —, disse ele. — Eu vou falar com você mais
tarde, Mãe. — Ele se afastou da Rainha Consorte, ignorando suas tentativas de
detê-lo. Ele precisava fugir. Ele não podia ver Rohan, não agora, não em um
ambiente público. Se ele o visse agora, havia um risco real de que ele acabaria
escalando-o como uma árvore e consumindo-o, as pessoas ao redor que se
danassem. Ele desejou que ele estivesse exagerando, mas ele não estava. A
mera possibilidade de estar perto de Rohan o fez tremer, seu coração e corpo
doendo de necessidade, o elo pulsando faminto no fundo de sua mente. Não.
Ele precisava sair. Ele ainda era um homem casado. Ele devia a Mehmer um
comportamento decente até que seu divórcio fosse finalizado.
Ele parecia... Jamil honestamente não tinha ideia de como ele parecia.
Tudo o que ele podia ver eram os olhos escuros de Rohan. Ele quase se afundou
neles quando Rohan de repente trouxe seus escudos para cima.
— Não, amor, não aqui —, a voz de Rohan disse em sua cabeça. — Não
podemos fazer uma fusão aqui. Seria óbvio demais.
Uma careta de dor cruzou o rosto de Rohan. — Droga, não olhe para mim
desse jeito. Eu sou apenas um homem. — Olhando ao redor, ele inclinou-se para
Jamil tardiamente. — Vossa Alteza —, disse ele em voz alta. — É um prazer
vê-lo. — Certo. Havia pessoas ao redor deles. Ele provavelmente deveria dizer
algo apropriadamente principesco.
Ele não conseguia dizer uma palavra. Jamil podia falar oito línguas
galácticas perfeitamente sem o chip de tradução, e ainda assim ele não
conseguia pronunciar uma única palavra, dolorosamente ciente da distância
entre eles.
Rohan olhou para ele por um longo momento, seus olhos queimando,
antes de se inclinar novamente e oferecer uma mão. — Você dançará comigo,
Vossa Alteza?
Ele caminhou ao longo do terraço, até que o barulho do salão de baile foi
deixado para trás e o som de seus passos era a única coisa que ele podia ouvir.
— Obrigado.
— Seu povo deve estar feliz.
— Eles estão.
— Obrigado, mas eu tive ajuda. Eu não poderia ter feito tudo sozinho.
Jamil quase riu. Deuses, isso era ridículo. Por que eles não podiam falar
sobre o que eles realmente queriam dizer?
Jamil franziu a testa. Então foi por isso que ele não foi capaz de sentir
Rohan quando ele retornou a Calluvia como Lorde Tai'Lehr.
Jamil olhou ansiosamente para elas. Ele as queria em seu corpo, tanto que
suas entranhas literalmente doíam por isso. Ele desviou o olhar, tentando se
distrair. — Mas não foi nem de longe tão ruim se comparado a primeira vez que
você foi embora.
— A primeira vez que eu fui, não éramos amantes —, disse Rohan. —
Nós mal éramos amigos. Há um elemento emocional em um vício de fusão.
Quanto mais fortes os laços emocionais, mais forte é. Nós tínhamos chegado...
muito perto antes de eu ir embora pela segunda vez.
Jamil soltou uma risada. — Essa é à sua maneira de dizer que eu era
ridiculamente grudento e não podia passar algumas horas sem sua mente ou
pênis em mim?
Ele percebeu seu erro assim que eles trancaram os olhos, o olhar de
Rohan pesado e escuro de desejo.
Ele abriu os olhos. — Para que você possa olhar para mim para sempre?
— Ele tentou brincar, mas saiu constrangedoramente instável.
Rohan soltou uma risada, acariciando seu cabelo. — Como você pode ter
tanta certeza? Tmynne é um bebê. Ela não pode dizer o quanto ela sentiu minha
falta.
É impossível alguém sentir sua falta mais do que eu. Ele não disse isso.
Ele não precisava.
Ele sentiu uma onda feroz de proteção e amor que não era dele, as
emoções de Rohan vazando através de seus escudos. — Case-se comigo —,
disse Rohan com força, passando os dedos pelos cabelos de Jamil. Ele beijou o
lado do rosto de Jamil, seus lábios tremendo, desesperados. — Fique comigo.
Seja meu. Diga sim.
Jamil levantou a cabeça. Seus olhos estavam ardendo, mas ele nunca
tinha sorrido mais. — Sim.
Puta merda.
Olhando para baixo para se certificar de que Jamil não tinha realmente
conseguido desabotoar as calças, Rohan fez uma careta para a protuberância
obscena esticando suas calças e tentou acabar com sua excitação.
— Por favor, me diga que há uma explicação muito razoável para isso —,
a Rainha gritou, olhando para Jamil. — Que meus olhos se confundiram e que
meu filho não estava cometendo adultério, e em um lugar público! É por isso
que você quer um divórcio? Quando sua mãe me disse, eu não podia acreditar
nela, mas agora...
Por fim, a Rainha disse: — Jamil é casado. — Ela olhou para Jamil. —
Você perdeu a cabeça? Ainda estou esperando por uma resposta, Jamil. E pare
de segurar a mão desse homem! Você não tem vergonha?
— Por um ano e meio, eu pensei que eu fui viúvo, Mãe —, disse ele.
Rohan podia sentir o quanto a situação o estressava, Jamil não estava
acostumado a decepcionar sua mãe, mas ele não sentiu nenhum arrependimento
ou hesitação. Jamil tinha feito uma escolha e ele não ia voltar atrás agora. — Eu
conheci Lorde Tai'Lehr meses atrás quando pensei que não era um homem
casado.
Jamil olhou para baixo. — Você sabe que ela não é de Mehmer.
— Sem ofensa, Vossa Majestade, mas Jamil é um homem adulto. Ele não
precisa se explicar para você. A vida é dele. — Ele suspirou quando a Rainha
abriu a boca para argumentar. — Olha, você realmente quer que seu filho seja
infeliz? Porque ele será miserável com Mehmer. Ele será miserável sem mim.
A Rainha Janesh passou a mão pelo rosto. Ela puxou uma cadeira do
terraço e sentou-se pesadamente. De repente, uma risada deixou seus lábios. —
Eu pensei que o escândalo que Seyn causou era tão ruim quanto possível.
Assim que as pessoas ouvirem que o meu filho mais velho fugira com o líder
dos rebeldes, porra, ninguém irá se importar com o comportamento de Seyn.
— Minha mãe nunca xinga —, Jamil disse a ele quando Rohan lhe lançou
um olhar indagador. Ele parecia escandalizado.
Rohan quase riu. — Sua mãe é uma mera mortal, amor. Eu aposto que ela
xinga muito mais quando você não está por perto. Em vinte anos, Tmynne
provavelmente pensará que você não xinga também, e nós dois sabemos que
isso não poderia estar mais longe da verdade.
Porra, ele era tão bonito quando sorria. Ele tinha o sorriso mais bonito e
adorável do mundo. Rohan poderia olhar para ele para sempre.
Seus lindos olhos brilhando, Jamil sorriu para ele e apertou a mão de
Rohan, seu alívio e felicidade preenchendo seu vínculo como a luz do sol.
— Tai'Lehr!
CAPÍTULO 38
O Príncipe Seyn do Terceiro Grande Clã olhou para seu irmão mais velho
e se perguntou se aquilo era apenas um sonho vivido e elaborado. Ele ainda
estava tendo problemas para processar tudo o que havia acontecido nos últimos
dias — ainda parecia inacreditável que seu tão apropriado irmão estivesse tendo
um relacionamento ilícito com um rebelde debaixo de seus narizes por meses
— mas isso era ridículo demais.
Ele recebeu um olhar plano de Jamil. — Nossa Mãe insiste que eu preciso
ter um acompanhante toda vez que eu estiver sozinho com Rohan até o divórcio
ser finalizado.
Seyn riu, balançando a cabeça. — Eu não vou nem falar sobre o absurdo
de eu ser um acompanhante, mas não é um pouco tarde demais para isso? —
Era estúpido. Por que isso importava, afinal? Todos agora sabiam que Jamil e
Mehmer estavam se divorciando, e Mehmer já havia saído do palácio e ido
viajar até que o escândalo abaixasse. Seyn se sentiu um pouco mal por ele,
exceto que Mehmer não parecia tão chateado. Se alguma coisa, ele parecia
cautelosamente animado por não mais ser obrigado a cumprir as regras
sufocantes que haviam sido impostas a ele desde antes que ele pudesse falar, de
como ser um futuro Rei Consorte do Terceiro Grande Clã. Não parecia haver
um clima ruim entre ele e Jamil, até onde Seyn podia ver. Eles ainda pareciam
ser amigos, mesmo que o relacionamento deles fosse um pouco tenso e
desajeitado. De qualquer forma, Mehmer dificilmente daria a mínima se Jamil e
seu futuro marido não fossem acompanhados enquanto estivessem sozinhos.
— Era a condição da Rainha —, disse o homem que estava sentado ao
lado de Jamil, com os olhos fixos em Jamil.
Seyn ainda estava tentando não ficar de boca aberta para ele. Quando
Seyn o viu há alguns meses no palácio, Jamil o apresentou como seu criado. Na
época, Seyn achara isso muito estranho — aquele homem não se parecia em
nada com um criado real, com suas tatuagens, o conjunto agressivo do queixo e
os olhos negros que enervavam Seyn um pouco. Para dizer a verdade, o traje de
um aristocrata era muito melhor do que o de um empregado, mas ele ainda
tinha aquela... selvageria que parecia completamente indecente. Seyn corou um
pouco quando percebeu que esse homem exalava um apelo animal bruto, o que
realmente o deixara tão desconfortável meses atrás. Ainda o deixava. Seyn
naturalmente gravitava em direção a homens mais refinados e arrogantes —
tudo bem, em direção a Ksar — enquanto o tipo de atração masculina de Rohan
apenas o fazia se sentir estranho. Ele ainda não podia acreditar que seu irmão
muito apropriado tinha um relacionamento com tal homem. O mundo estava
acabando?
— Você sabe como ela é —, Jamil disse, mudando um pouco para que ele
estivesse mais perto do Lorde Tai'Lehr.
Seyn imaginou se Jamil achava que ele estava sendo sutil. Foi divertido
ver Jamil lutar para manter seu olhar em Seyn. Seus olhos continuavam
voltando para o Lorde Tai’Lehr, e havia tanta querer neles que deixava Seyn
um pouco desconfortável, para ser honesto.
— Não é a única razão pela qual queremos você aqui —, disse Jamil,
arrancando o olhar de Lorde Tai'Lehr com óbvia dificuldade. Lorde Tai'Lehr
nem se incomodou em desviar o olhar de Jamil. Seyn se sentia ainda mais
desconfortável com o passar do tempo.
— Nós queríamos… — Jamil pareceu perder sua linha de pensamento,
seus olhos ficando vidrados, aparentemente sem motivo algum.
Seyn olhou para eles, sua boca se abrindo. Deuses — Eles estavam se
envolvendo em uma fusão bem na frente dele? Sem tocar um no outro? Ele não
achava que era possível, mas aparentemente era. Jamil parecia alto, seu olhar
vago, um rubor nas bochechas e o prazer saindo de seu corpo em ondas suaves.
Quanto ao Lorde Tai'Lehr, seus olhos negros ainda estavam fixos em Jamil, seu
corpo tenso de excitação.
Eh, ele deveria pará-los? Não era seu dever como acompanhante?
Alguém poderia argumentar que uma fusão telepática era mais íntima do que a
união física de corpos.
Ele quase riu desse pensamento. Ele seria o maior hipócrita do mundo se
criticasse alguém por se envolver em fusões telepáticas ilegais. Embora ele
tivesse certeza de que ele e Ksar nunca tinham sido tão ruins sobre isso. Jamil e
Lorde Tai'Lehr estavam mostrando todos os sinais de vício de fusão. Eles
devem ter feito isso inúmeras vezes para entrar em fusão sem esforço — de
forma tão imprudente e desavergonhada. Era obsceno. Era tão obsceno como se
estivessem fazendo sexo na frente dele.
Jamil finalmente olhou para Seyn, seu rosto rosado. — Você não viu isso
—, ele murmurou. Ele parecia estar tentando parecer imperioso e comandante,
mas falhou miseravelmente, considerando que ele estava ronronando enquanto
se aconchegava em seu companheiro de união.
Uma risada deixou a boca de Seyn. — Viu o quê? Nada tem nada para ver
aqui.
— Você disse que não era a única razão pela qual você queria me ver —,
lembrou Seyn a seu irmão. Quando Jamil nem sequer reagiu à sua voz, Seyn
começou a ficar assustado. — Lorde Tai'Lehr, meu irmão está bem?
Tai'Lehr levantou o olhar para ele. O seu olhar estava menos longe do que
de Jamil, mas ainda não completamente focados. — Ele está bem. E você
deveria me chamar de Rohan.
— Ele está bem? — Seyn disse, não sem sarcasmo. — Ele nem parece
estar aqui, Rohan.
— Ele está bem —, ele repetiu. — Só faz muito tempo. Ele fica grudento
quando nos separamos por muito tempo. — Ele sorriu com tristeza. — Eu não
sou muito melhor, para ser honesto, mas eu tive o melhor treinamento nas artes
da mente que Tai'Lehr poderia oferecer. Jamil não teve treinamento. A fusão é
mais esmagadora para ele, enquanto eu ainda posso manter parte da minha
consciência sobre o mundo exterior.
Rohan deu de ombros, sem parecer muito arrependido. Para ser justo, ele
parecia mal estar prestando atenção na conversa na melhor das hipóteses, seu
olhar no rosto de Jamil enquanto os cílios de Jamil se abriam.
— Mamãe olha!
Nina sorriu para ela. — Olhe, Mamãe, o casamento do príncipe está nesta
revista! Tem tantas fotos bonitas!
Shayla mal reprimiu uma careta. Ela sabia a quem Nina estava se
referindo, é claro: ela só falava sobre isso no último mês.
E então ela deu uma olhada mais longa, sua boca se abrindo.
Oh.
O príncipe estava brilhando; não havia outra palavra para isso. Se ela
achou que o Príncipe Jamil era bonito antes, ele estava etéreo agora, seu rosto
iluminado com amor e felicidade enquanto olhava para seu novo marido.
Quanto a seu novo marido... Shayla teve que admitir que Lorde Tai’Lehr
parecia tão apaixonado quanto seu companheiro de união, seus olhos escuros
cheios de ternura e desejo. Eles pareciam... eles pareciam certos juntos.
Shayla riu, passando a mão pelo cabelo da filha. — Não precisa ser tão
presunçosa querida.
Ela teve que admitir que seu coração estava mais leve quando ela fechou
a revista e voltou para o forno.
Shayla riu, sentindo uma pontada de nostalgia por sua própria infância.
As crianças crescem tão rápido. Em vinte anos, Nina contaria essas histórias
para seus próprios filhos.
Fim
Notas