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TÍTULO ORIGINAL Once Upon a Time

© 2019 Alessandra Hazard

Era Uma Vez (Calluvias's Royalty Livro 3) (Português)

Edição Elizabeth Balmanno

Hazard, Alessandra

ASIN: B07TFL1L3M

Essa é uma história de ficção. Nomes, personagens e eventos são produtos da imaginação do autor.

Esse livro contém conteúdo explicito.

Adaptado, todavia todos os créditos a autora e sua obra original.

https://www.alessandrahazard.com/
PRÓLOGO

— Eu quero uma história, mamãe!

Shayla reprimiu um suspiro, olhando para o rostinho ansioso da filha.


Com cinco anos de idade ela adorava contos de fadas e queria uma nova
história toda noite, mas ela detestava histórias repetidas.

Shayla olhou ao redor, procurando inspiração, e seu olhar parou na revista


brilhante em seu criado-mudo. Revistas de fofocas sobre a realeza dos planetas
do Núcleo Interior era o prazer oculto dela, algo que Shayla não podia pagar,
mas não resistia em comprar. Talvez elas finalmente fossem úteis para alguma
coisa.

Shayla pegou a revista e olhou para o homem na capa. — Era uma vez
um belo príncipe —, ela disse melancolicamente. — Ele era tão bonito que os
contos sobre sua beleza se espalharam até os planetas Periféricos da União.
Dizem que um olhar para o príncipe roubava a respiração das pessoas de tão
lindo que ele era. — Shayla poderia estar exagerando um pouco em nome da
história, mas o príncipe em questão realmente era de tirar o fôlego.

Sua filha se animou. — Como ele era?

Shayla sorriu. — Ele era alto, forte e gracioso, com o tipo de rosto que
era impossível desviar o olhar. Ele tinha cabelo castanho ondulado, olhos azuis
profundos e pele que era tão bonita e perfeita que parecia quase brilhar. —
Shayla decidiu não mencionar que o príncipe tinha uma curva vermelha sensual
nos lábios que a fazia ter pensamentos não muito apropriados para um conto de
fadas. Sua filha não precisava saber disso.
— Ele parece ser muito bonito — disse Nina.

Shayla sorriu para a filha. — Ele era.

Nina parecia animada agora. — O que aconteceu então?

— O príncipe estava prometido à outra criança de uma família nobre


quando ele era ainda mais novo que você. Eles acabaram se casando e eram
muito felizes juntos. Eles eram considerados o casal mais lindo da galáxia. —
Shayla sorriu melancolicamente, lembrando-se dos artigos sobre o casal, como
eles pareciam bem juntos. Embora o Príncipe-Consorte não fosse páreo para a
beleza do Príncipe Herdeiro — ninguém realmente era, talvez com exceção do
irmão mais novo do príncipe — eles formavam um casal lindo. Eles tinham
sido o casal, o relacionamento como Shayla esperava ter. Shayla costumava
coletar todos os artigos que pudesse encontrar sobre o casal real de Calluvia, ela
os adorava, apesar de nunca os ver pessoalmente. Calluvia era um planeta do
Núcleo Interior, muito longe do planeta rural em que Shayla vivia.

— Eles viveram felizes para sempre? —, disse Nina.

O sorriso de Shayla desapareceu. — Não. Anos depois do casamento real,


o Príncipe-Consorte foi morto pelos rebeldes — pessoas muito más. — Ainda
era difícil acreditar, mesmo meses depois. Verdade seja dita, Shayla se sentiu
um pouco desgostosa com isso, como se parte de sua infância tivesse morrido
também. Ela engoliu em seco. — E foi dito que o Príncipe nunca mais sorriu
depois disso, seu coração ficou congelado.

Sua filhinha franziu a testa. — É uma história triste, Mamãe! Eu não


gosto disso.

Shayla beijou-a na testa suavemente. — Eu sei querida. Mas nem todas as


histórias possuem um final feliz. Mesmo assim, elas ainda valem a pena serem
contadas.
Nina fez beicinho. — O Príncipe não pode se apaixonar novamente e ser
feliz?

Shayla olhou para ela. — Não, claro que não —, ela disse fracamente. A
mera ideia de o Príncipe se apaixonar por outra pessoa parecia... absurda.
Errada.

— Por que não? —, sua filha disse.

Shayla franziu a testa, sem saber o que dizer. Ela dificilmente poderia
dizer que ela tinha estado muito ligada no relacionamento de duas pessoas que
ela nem conhecia, e era por isso que ela não queria que o Príncipe se
apaixonasse novamente.

Talvez fosse egoísta da parte dela, mas Shayla acreditava firmemente que
as pessoas só podiam amar uma vez, e tinha certeza de que não havia homem
algum que pudesse eclipsar o Príncipe-Consorte no coração do Príncipe.

Shayla olhou para a revista brilhante, para o gelo nos olhos outrora
quentes do Príncipe.

O coração do Príncipe Jamil parecia ter congelado. Seria preciso um


milagre para derreter o gelo novamente.

Ou fogo.
CAPÍTULO 1

Jamil não conseguia dormir.

Ele se moveu e virou em sua enorme cama vazia pelo o que pareceu uma
eternidade, mas o sono estava evitando-o, não importava o quanto ele estivesse
cansado. É claro que também não ajudava que ele tivesse uma dor de cabeça
estridente.

Suspirando, Jamil sentou-se. Ele fechou os olhos e alcançou mentalmente


os remanescentes de seu vínculo matrimonial. Se ele se concentrasse o
suficiente, ele quase podia sentir Mehmer do outro lado. Ele sabia que era
apenas uma ilusão. O Alto Adepto havia verificado sua mente e confirmado que
o vínculo de Jamil estava completamente quebrado. Ele disse que era normal
para um viúvo imaginar que eles pudessem sentir seu falecido companheiro. O
fenômeno era amplamente conhecido, e ele pediu a Jamil para bloquear o
vínculo.

A dor desaparecerá em breve, o adepto da mente disse. Tudo o que você


sentirá é a ausência.

Jamil quase riu na cara dele, porque não soava exatamente reconfortante.
Mas, novamente, não era como se o adepto da mente entendesse. Os monges do
Alto Hronthar eram as únicas pessoas no planeta que não precisavam estar
ligadas. Eles não sabiam como era compartilhar um vínculo telepático com
outra pessoa desde a infância. Eles nem imaginavam como seria ter um vínculo
tão estimado e depois perdê-lo. Eles não tinham ideia. Às vezes, Jamil invejava
isso.
Suspirando, Jamil saiu da cama. Se ele não conseguia dormir esta noite,
ele também poderia dar uma caminhada.

Ou cavalgar. Sim, montar poderia ser exatamente o que ele precisava.


Talvez isso o distraísse de sua dor de cabeça e fizesse alguma coisa em relação
à tensão inquieta sob sua pele.

Sentindo-se um pouco melhor com a perspectiva de montaria, Jamil saiu


de seus aposentos e foi em direção aos estábulos reais.

O palácio estava quieto à noite. Suas mães provavelmente já estavam


dormindo em sua ala, sua irmã estava visitando um amigo em outro planeta, e
Seyn provavelmente ainda estava amuado em seu quarto por causa de sua
última briga com seu noivo.

As únicas pessoas que Jamil encontrara foram os guardas e um


empregado ocasional. Eles se curvaram para ele apressadamente, escondendo a
surpresa em seus olhos.

Olhando para a roupa branca de dormir, Jamil se perguntou se deveria ter


vestido roupas mais apropriadas. Pode estar à noite, mas ele ainda era o
Príncipe Herdeiro. Foda-se, se ele não pudesse ser menos que perfeito em sua
própria casa no meio da noite, ele enlouqueceria.

A noite estava um pouco fria, mas agradável.

As duas luas, altas no céu, iluminavam o terreno com um brilho azulado


pálido e prateado.

Tremendo levemente em sua camisa fina, Jamil caminhou em direção aos


estábulos.

Essa parte do palácio definitivamente não era silenciosa. Ele podia ouvir
os sons dos animais até de longe. Os estábulos da Terceira Casa Real eram um
dos maiores em Calluvia, e seus zywerns eram famosos em toda a União dos
Planetas pela sua impecável criação e graça. Os estábulos sempre foram o
orgulho e a alegria de Jamil. Sempre que ele tinha tempo livre, o que não era
frequente, ele vinha para cá para observar seus zywerns ou para dar uma volta
pelos terrenos do palácio.

Ele não esteve aqui desde antes da morte de seu marido, muito aflito para
sequer pensar em algo que lhe trouxesse alegria. Talvez ele finalmente estivesse
se curando um pouco.

O som do choro de um zywern fez com que ele baixasse a cabeça em


direção ao recinto de treinamento nas proximidades.

Os olhos de Jamil se arregalaram.

Lá, atrás da cerca de campo de força de segurança padrão, projetada para


conter animais selvagens, um magnífico zywern preto estava se debatendo
violentamente, tentando se livrar de seu cavaleiro. A visão foi um pouco
desconcertante. Um zywern não era fácil de montar mesmo quando já estava
domado. Um selvagem era um pesadelo para se lidar. Jamil tentou domar um
zywern selvagem quando era adolescente e acabou com uma lesão nas costas. A
Rainha ficou extremamente furiosa. Você poderia ter morrido, ela havia dito a
ele. Jamil sabia que ela estava certa. Foi imprudente. Até mesmo treinadores
profissionais lutaram para domar essas feras; seu eu adolescente não tinha
chance.

Jamil olhou do zywern para o seu treinador. As luzes ao redor do recinto


de treinamento eram brilhantes o suficiente, mas à distância, ele não reconheceu
o homem. Quem quer que ele fosse, ele era um cavaleiro infernal. Sua montaria
era perfeita, confiante e firme, apesar do selvagem ataque do poderoso animal
sob ele. Enquanto Jamil assistia, o ataque do zywern gradualmente diminuiu
quando ele se cansou. Finalmente, pareceu desistir de tentar desalojar o homem
de suas costas.

O cavaleiro se inclinou e murmurou algo no ouvido do zywern,


acariciando seu lado trêmulo. Para o espanto de Jamil, o homem soltou as
ligações gravitacionais nas asas do zywern. Ele era suicida?

Imediatamente, o zywern resistiu, sentindo a liberdade e levantou voo.


Jamil tinha certeza de que o homem seria arremessado em um instante e
quebraria o pescoço. Mas, para sua surpresa, o cavaleiro conseguiu se segurar
quando o zywern começou a tentar sacudi-lo de suas costas, voando
erraticamente sobre o recinto de treinamento, o campo de força a única coisa
que o impedia de voar para longe.

Mesmo preocupado, Jamil teve que admitir que a visão era inspiradora:
uma enorme fera negra com asas magníficas e um cavaleiro, também todo de
preto, segurando teimosamente indo contra todas as probabilidades. Luas
gêmeas brilhavam intensamente no céu noturno, iluminando a batalha entre um
homem e uma fera.

O homem venceu.

Jamil assistiu com espanto quando o homem conseguiu trazer o zywern


para o chão, o animal respirando pesadamente e tremendo, mas permitindo que
o cavaleiro saísse de suas costas sem tentar atacá-lo.

Ele nunca tinha visto nada assim. Domar zywerns selvagens levava
séculos, não — não isto. Os treinadores profissionais esperavam meses entre
fazer um zywern parar de pular sob o seu cavaleiro e tentar montá-lo. Apenas
não era assim.

Quem era esse homem?


Franzindo a testa, Jamil caminhou em direção ao recinto de treinamento.
— Você tem vontade de morrer? — Ele disse quando se aproximou da cerca.

O homem estava ajoelhado, acariciando a barriga trêmula do zywern, de


costas para Jamil.

— Vá embora —, disse ele em voz baixa e autoritária.

Jamil olhou para ele espantado. Ninguém se atrevia a falar com ele nesse
tom, muito menos um de seus empregados. Este homem provavelmente não
sabia com quem ele estava falando, ou ele não ousaria.

— Você acabou de ignorar pelo menos uma dúzia de protocolos de


segurança —, Jamil disse quase feliz pela oportunidade de criticar alguém. Sua
cabeça latejava, a dor de cabeça de seu vínculo quebrado quase insuportável a
esta hora da noite, e a frustração nele estava aumentando, querendo uma saída
para extravasar.

— Eu disse para dar o fora daqui —, disse o homem, irritação rastejando


em sua voz. — Você está deixando-o agitado.

A preocupação e o leve aborrecimento de Jamil se transformaram em


raiva. — Você sabe mesmo com quem você está falando?

— Eu posso somar um mais um —, disse o homem, sua grande mão


marrom ainda acariciando a barriga trêmula do zywern. — Uma voz tão
elegante não pode pertencer a um servo humilde sem mencionar que um servo
teria mais cuidado invés de me interromper enquanto eu estou trabalhando.

Jamil ficou vermelho. Ele não conseguia se lembrar da última vez em que
foi repreendido por alguém dessa maneira. Ele olhou furioso para as costas do
homem, procurando por algo para dizer, algo que não soasse petulante. Jamil
não era petulante, caramba. Seu irmão mais novo era o único propenso a dar
um ataque como um pirralho mimado se não conseguisse o que queria. Jamil
era o responsável.

Exceto que nesse momento, ele não se sentia responsável. Ele queria
colocar esse homem em seu lugar. Como este bruto se atreve a falar com ele
desse jeito?

— Olhe para mim quando eu estiver falando com você —, ordenou Jamil,
endireitando-se a sua altura. Ele geralmente não gostava de usar sua altura para
intimidar alguém, mas algo nele coçava para garantir que esse homem soubesse
que Jamil era melhor. Era uma sensação ridícula, algo primitivo e territorial,
mas ele não conseguia controlar.

Lentamente, o homem ficou de pé.

Jamil ficou um pouco desapontado, porque o outro homem tinha quase a


mesma altura que ele, o que não era fácil. Não havia uma pitada de gordura no
corpo do homem, seus ombros largos e seu corpo ondulando com músculos. Ao
contrário do físico tonificado de academia de Jamil, os músculos deste homem
eram claramente o resultado de um trabalho manual pesado — havia uma força
contida nele, algo letal, preciso e perfeitamente no controle.

O homem habilitou as ligações gravitacionais no zywern novamente antes


de finalmente se virar.

A dura reprimenda morreu nos lábios de Jamil no momento em que seu


olhar encontrou os olhos negros do homem. Eles eram afiados e anormalmente
intensos, impossíveis de desviar o olhar. Algo na parte de trás da mente de
Jamil balançou, desejo, sua respiração deixando seus pulmões em um suspiro.

O olhar do homem escureceu, as narinas dele estavam queimando.


Como se estivesse em transe, Jamil sentiu o homem aproximar-se dele —
ele literalmente sentiu, a sensação inebriante e faminta no fundo de sua mente
aumentando à medida que o homem se aproximava.

— Que p...? — O homem rosnou, olhando para ele com olhos selvagens,
meio enlouquecidos, antes de empurrar o rosto contra a garganta nua de Jamil e
cheirar.

Jamil estremeceu, um gemido saindo de seus lábios quando o nariz do


estranho pressionou abaixo de sua orelha, contra seu ponto telepático. O toque
fez sua telepatia enlouquecer, um estranho tipo de prazer, diferente de tudo que
ele já sentiu, espalhando-se por sua mente. Ele se sentiu intoxicado, ofegante
quando o estranho empurrou o rosto contra a sua pele, respirando com
dificuldade.

— Que porra é essa? — O homem rangeu antes de se afastar.

Eles se entreolharam, com os olhos arregalados, perplexos e zangados.

Jamil tentou falar, mas nada saiu. Ele estava tremendo tanto que não sabia
o que estava sentindo: uma estranha mistura de repulsa, necessidade e outra
coisa.

Então ele fez a coisa mais responsável e principesca: ele se virou e fugiu.
CAPÍTULO 2

— É algo importante, Alteza?

Jamil se encolheu e olhou para o seu Mestre da casa. — Não, Weyrn. Por
favor, continue.

Weyrn lançou lhe um olhar incerto e voltou a dar seu relatório mensal.

Jamil tentou manter sua expressão atenta. Ele não tentou ficar atento —
sabia que era inútil —, mas não podia dar aos funcionários uma razão para
pensar que havia algo errado em seu comportamento. A fofoca se espalhava
entre os servos rapidamente, especialmente quando se tratava dos assuntos da
realeza.

Era só... Ele não conseguia tirar aquele homem — aquele incidente — da
mente dele. Tudo era tão bizarro. Só depois de voltar ao seu quarto, Jamil
percebeu que a persistente dor de cabeça causada por seu vínculo matrimonial
dilacerado estava milagrosamente ausente. Em vez disso, sua mente — todo o
seu ser ansiava com um desejo tão forte que Jamil tremeu por isso por um longo
tempo. É claro que a dor de cabeça voltou algumas horas depois, e voltou com
força, como se o castigasse por se sentir bem. Jamil mal precisou da punição
extra além da culpa que revirava seu estômago. Como ele poderia se sentir bem
com algum estranho — algum brutamonte rude e vulgar — tocando seu ponto
telepático? A mera lembrança o fez se encolher, sua mortificação e desgosto
fizeram com que fosse difícil respirar. Seu marido havia partido há cinco meses.
Ele não devia estar sentindo nada além de dor.
E, no entanto, não importava o que ele dissesse a si mesmo, sua mente
continuava voltando àquele estranho e incapacitante sentimento de prazer e
necessidade que ele sentiu por algum momento feliz e estranho.

Por fim, cansado de seu próprio estado distraído, Jamil dispensou Weyrn,
citando uma dor de cabeça, que já era genuína o suficiente.

Uma vez que ele estava sozinho em seu escritório, Jamil finalmente cedeu
e acessou o banco de dados de Calluvia.

Quatro horas depois, Jamil sentou-se, olhando para o holotexto à sua


frente.

Como o Príncipe Herdeiro e segunda pessoa mais importante no Terceiro


Grande Clã, ele tinha o maior acesso para o banco de dados de Calluvia. Ele
podia acessar a informação mais obscura e secreta com um único comando. A
pesquisa ainda foi incrivelmente frustrante.

Fazia milhares de anos que os calluvianos começaram a praticar vínculos


telepáticos na infância. Qualquer informação sobre qualquer outro tipo de
conexão telepática era esparsa e frustrantemente vaga. Vários textos antigos
aludiram à existência de compatibilidade telepática perfeita, que supostamente
levava duas pessoas a serem inexplicavelmente atraídas umas pelas outras. Isso
explicaria por que um olhar nos olhos de um estranho pôde provocar uma
reação tão forte, estranha e doentia.

Exceto que não fazia sentido.

Todo cidadão legal do planeta estava ligado. Mesmo viúvos como Jamil
não estavam completamente sem vínculo: eles ainda tinham um vínculo
matrimonial rompido, o que, teoricamente, deveria impedir Jamil de formar
qualquer tipo de conexão telepática novamente. Mesmo que o estranho fosse
viúvo, eles não deveriam ter reagido um ao outro do jeito que eles tinham: dois
elos quebrados não formavam um inteiro.

Havia outra possibilidade, no entanto, e essa possibilidade fez o sangue


de Jamil gelar.

Nem todos os calluvianos eram ligados, afinal de contas. Mas as únicas


pessoas que não se ligaram eram os monges do Alto Hronthar — e os rebeldes.
Como era bastante seguro dizer que o homem rude não era um monge, ele
poderia ser um rebelde. Nada mais fazia sentido, dada à maneira como eles
reagiram um ao outro.

Jamil teve que reprimir o desejo de chamar a segurança. Ele lembrou a si


mesmo que não tinha provas. Ele não podia dizer ao Capitão de sua Guarda que
um cavalariço que ele nem sabia o nome era um rebelde. Seu Capitão pensaria
que ele estava louco e estaria certo. Todos os funcionários do palácio eram
cuidadosamente examinados, seus passados verificados e verificados
novamente. Era altamente improvável que um rebelde se infiltrasse no palácio.

Mas não era impossível.

Apertando os lábios, Jamil fechou o antigo texto e acessou o banco de


dados dos funcionários do palácio.

Ele parou quando foi oferecido para filtrar a busca.

O que ele sabia sobre esse homem? Jamil se lembrava de muito pouco,
exceto daqueles olhos negros sem fim. A pele do homem era marrom, ele
lembrou depois de um momento, pensando naquelas mãos escuras acariciando
o lado trêmulo do animal. Isso foi um pouco estranho. O Terceiro Grande Clã
era famoso pela pele muito clara de seu povo. Embora fosse possível que o
estranho pertencesse a um dos outros onze grandes clãs, era raro que o palácio
real empregasse pessoas de fora. O homem também tinha um leve sotaque.
Sentindo-se mais desorientado do que nunca, Jamil trouxe à tona a lista
de funcionários que trabalhavam nos estábulos reais — quarenta e seis
indivíduos — e começou a rolar a tela, procurando remotamente por homens
com pele marrom.

Ele franziu a testa quando a lista terminou e ele ainda não tinha
encontrado ninguém. — Omer, por favor, consiga a filmagem de segurança dos
estábulos no gabinete três, eu acho. Data: décimo primeiro de Raavenys, um
pouco depois da meia noite.

O AI levou apenas alguns instantes para carregar a filmagem de


segurança relevante. — Você exige mais alguma coisa, Alteza?

Jamil se inclinou para frente, observando a filmagem daquele homem


tentando domar o zywern. A filmagem começou antes da aparição de Jamil e
foi filmada de um ângulo diferente daquele que Jamil tinha visto.

Ele deu um zoom no rosto do homem e parou a filmagem, olhando para o


homem e pegando os detalhes que ele perdeu na outra noite. Mandíbula
marcada, nariz reto, pele cor de mel, cabelos pretos curtos, e aqueles olhos
negros... O topo do peito musculoso do estranho era visível através de sua
camisa preta meio desabotoada, e Jamil franziu os lábios para o completo
desrespeito ao código de vestimenta dos empregados.

— Omer, execute o programa de reconhecimento facial —, disse ele.

— Um momento, Vossa Alteza. Um resultado foi encontrado.

Um perfil de funcionário apareceu na frente de Jamil.

Jamil franziu a testa enquanto lia as informações escassas nele.

Nome: Rohan di'Lehr.


Idade: Trinta e cinco anos.

Origem: Colônia Tai'Lehr do Terceiro Grande Clã.

Ocupação: Treinador certificado de zywern

Companheira: Camirynn Seg'bez

Aparentemente, esse homem não era um funcionário permanente do


palácio, mas um treinador zywern contratado por apenas três meses.

Jamil franziu a testa e trabalhou em seu cérebro para achar tudo que ele
sabia sobre Tai'Lehr. Era cerca de cento e oitenta anos-luz de distância de
Calluvia, uma colônia industrial periférica que se especializava em minerar os
depósitos inestimáveis de korviu e criar uma raça rara de zywerns. Embora a
colônia fosse tecnicamente parte do grande clã de Jamil, era independente em
tudo, menos no nome. A teletransportação transgaláctica para Tai'Lehr era
impossível por causa do campo magnético único ao redor do planeta causado
por suas grandes reservas de korviu, e esse setor do espaço era muito perigoso
para chegar às naves espaciais por causa da guerra contínua entre dois planetas
vizinhos.

Como resultado dessas circunstâncias, a colônia havia sido


essencialmente cortada de Calluvia durante séculos, a comunicação entre eles
era esporádica e a viagem espacial ao planeta eram longas e perigosas. A
colônia ainda conseguia transportar seus produtos através de empresas
comerciais independentes dispostas a viajar para uma zona de guerra. Era parte
da razão pela qual os zywerns de Tai'Lehrian eram tão caros e tão procurados.
Pensando sobre isso, o magnífico zywern negro da outra noite deve ter sido de
Tai'Lehr. Zywerns negros eram extremamente raros, criados apenas em alguns
planetas, entre eles Tai'Lehr.
Ainda não explicava por que Rohan di'Lehr foi contratado pelo Mestre
dos Estábulos de Jamil. A execução de uma verificação completa do histórico
de um cidadão de Tai'Lehrian era obviamente problemática dada às
circunstâncias, por isso Rohan di'Lehr apresentava um enorme risco de
segurança.

— Omer, nós temos um banco de dados atualizado sobre os cidadãos de


Tai'Lehr? — Jamil não tinha certeza, já que a Rainha era quem lidava com as
colônias do clã.

— Nenhum que esteja no meu armazenamento de memória, Vossa Alteza


—, o IA respondeu.

Jamil reprimiu um suspiro. Em momentos como esse, a AI do palácio era


quase inútil. Ele desejava que Omer fosse tão avançado quanto o AI da
Segunda Casa Real, Borg'gorn, que era uma das mais poderosas inteligências
artificiais da galáxia. Comparado a ele, Omer era apenas um mordomo
glorificado.

— Você quer que eu pergunte a Rainha, Vossa Alteza?

— Não —, Jamil disse. Seu súbito interesse em Tai'Lehr pareceria


estranho e agora ele não queria o escrutínio de sua mãe.

Jamil olhou para o perfil do homem novamente. Rohan di'Lehr. Rohan


significava “preto” em um dos dialetos calluvianos. A simplicidade do nome
indicava que seu dono não era de sangue nobre. O fato de o homem ter apenas o
nome da colônia indicava que ele era órfão, sem qualquer linhagem a qual se
apegar. Isso explicava por que não havia informações sobre sua família. Quanto
ao fato de que Rohan supostamente tinha uma companheira de união... apenas
confundia Jamil. Um homem ligado nunca deveria ter reagido a ele como
Rohan tinha na outra noite. Isso simplesmente não era possível.
Ele estava andando em círculos.

Suspirando, Jamil beliscou a ponte do nariz. Claramente, ele não iria


descobrir nada sem perguntar ao seu Mestre do Estábulo por que Rohan Di'Lehr
havia sido contratado e por que seu perfil de funcionário era tão incompleto.
Exceto que tal interesse dele pareceria muito estranho: o Príncipe Herdeiro não
se envolvia na contratação de servos. Embora ele não tenha que explicar suas
ações à sua equipe, tal comportamento atípico fariam os servos fofocarem e
Jamil preferiria evitar isso.

Ele também poderia enfrentar o próprio homem.

O estômago de Jamil se apertou com o pensamento. Ele não queria fazer


isso.

Mentiroso.

Jamil mordeu o interior de sua bochecha. Tudo bem, ele pode estar
mentindo, um pouco. Ele queria ver esse homem. Parte dele ansiava em vê-lo
novamente.

Esse era o problema.


CAPÍTULO 3

Jamil finalmente cedeu e foi para o estábulo depois do jantar. Ele passou
uma hora meditando, reforçando seus escudos mentais para evitar reagir a esse
homem de uma maneira inaceitável. Ele se sentiu confiante de que isso não
aconteceria novamente. Ele ficou assustado, despreparado, com seus escudos
mentais abaixados; foi isso. Ele não sentiria nada agora.

Jamil encontrou Rohan nos estábulos dos zywerns. Ele estava com o
mesmo zywern, alimentando-o com carne crua.

Ele estava vestindo apenas um par de calças de trabalho cinza.

Jamil olhou para ele, vagamente envergonhado, mas relutantemente


fascinado. Ele nunca tinha visto um homem que não fosse seu marido em tal
estado de nudez. Homens da alta sociedade não saíam sem uma gravata ou pelo
menos uma gravata simples, e muito menos sem uma camisa. Não só isso era
impróprio, mas Rohan também estava quebrando vários protocolos de
segurança por não usar o uniforme de treinador com seu campo de força pessoal
incluído. Não que um campo de força pessoal o salvasse se o zywern escolhesse
atacá-lo, mas ainda assim. Os protocolos de segurança existiam por um motivo.

Jamil desviou o olhar das costas de Rohan e franziu a testa para os


intrincados padrões pretos em seu braço esquerdo. Tatuagens, ele as identificou
distraidamente. Jamil nunca tinha visto essas coisas antes, mas ele sabia que
elas eram populares em alguns planetas, especialmente entre as classes mais
baixas.
— Você sempre ignora os protocolos de segurança? —, Perguntou Jamil.
Sua voz saiu curiosa, em vez de mordaz.

Rohan ficou imóvel, os músculos em suas costas endurecendo, antes de


retomar a alimentação. Ele não disse nada, como se Jamil não estivesse lá.

— Estou falando com você —, Jamil disse bruscamente. Céus, ele não
conseguia se lembrar da última vez que alguém o irritou tanto, sem dizer nada.

— Você não foi avisado que você nunca deve interromper a alimentação
de um zywern, Alteza?

Jamil olhou para suas costas, irritado pelo tom zombeteiro na voz de
Rohan. — Vossa Alteza —, ele disse. — Você vai se dirigir a mim como Vossa
Alteza. — Rohan murmurou algo em voz baixa.

Jamil ficou vermelho. — O que você acabou de dizer?

— Eu disse que você tem prioridades estranhas, se você está mais


preocupado com as minhas maneiras do que com o zywern faminto, quase
indomável, se aproximando de seu cio a alguns passos de você. Saia da baia,
Vossa Alteza. Você está deixando ele agitado.

Jamil olhou para ele, meio que incapaz de acreditar que seu empregado se
atreveu a falar com seu príncipe sobre o cio de um animal. Não foi nada senão
escandaloso.

Mas ele deu alguns passos para trás, olhando para o zywern
cautelosamente. Os zywerns indomáveis eram realmente perigosos, e os
zywerns indomados no cio eram duplamente perigosos.

— Se ele está se aproximando do- sua época de acasalamento, você está


quebrando ainda mais os protocolos de segurança —, Jamil disse tão
calmamente quanto ele conseguia. Ele poderia ser calmo e racional. Ele não era
nada além de calmo e racional. Ele não sabia por que esse homem fazia com
que ele se comportasse de modo diferente de si mesmo. — Você nunca deve
alimentar um zywern selvagem com a mão, sem exceções. Você deveria usar
teleportador para transportar comida para ele.

— Estou construindo confiança dele em mim —, disse Rohan. — Como


você espera que eu o domine se seu único relacionamento positivo é com um
teleportador?

— Outros treinadores conseguem gerenciá-lo sem quebrar os protocolos


de segurança — eles estão lá por um motivo —. Zywerns podem comer homens
crescidos, seu idiota arrogante!

— É precisamente por isso que eu te disse para sair da baia, Alteza —,


disse Rohan em uma voz irritantemente calma. — Você está começando a
parecer muito gostoso para ele.

Os olhos violeta do zywern estavam realmente fixos no Jamil e eles não


pareciam exatamente amigáveis.

— E você, não é? — Jamil disse, afastando seu desconforto.

— Se você tivesse se incomodado em prestar atenção, você teria notado


que eu estou coberto de um bloqueador de cheiro. Para ele, eu não cheiro nada,
mas você cheira a um pedaço de carne muito bom e saboroso.

Jamil lutou contra um rubor. Agora que ele olhava para além do estado de
nudez escandaloso de Rohan, ele podia ver uma camada fina do que parecia ser
sujeira em sua pele e calças, o que de alguma forma explicava seu estado de
nudez.

— Você ainda está quebrando protocolos de segurança —, disse Jamil,


saindo da baia para ficar atrás da segurança do campo de força. — Outros
treinadores...

— Outros treinadores não têm muito pouco tempo para trabalhar —, disse
Rohan. — Eu não tenho meio ano para domar um zywern, então os métodos
tradicionais não vão domá-lo.

Esta foi uma grande abertura se houvesse uma.

— Então por que meu mestre de estábulo o empregou por apenas três
meses?

— Eu não aceito contratos mais longos do que eu preciso —, disse


Rohan, encolhendo os ombros. — Três meses são suficientes.

— Nós raramente empregamos novos funcionários. Por que você?

— Por que você não pergunta ao seu mestre de estábulo?

Jamil respirou fundo, calmante. Ele contou até dez antes de exalar
lentamente o ar de seus pulmões, tentando empurrar a frustração também. —
Estou perguntando a você, e estou ordenando que você responda.

Rohan bufou. — Você não pode me ordenar a responder. Nós vivemos


em um mundo democrático.

— Eu posso. Eu sou seu empregador. Você responderá minhas perguntas


se não quiser ser demitido.

— Demitido? — Rohan murmurou, algo divertido em sua voz. — Eu não


preciso realmente deste trabalho. Se eu o perder, tenho mais de uma dúzia de
outros alinhados. Não há muitos treinadores zywern que possam domar um
zywern dentro de alguns meses, muito menos domar um zywern se
aproximando de seu cio. Seu mestre de estábulo precisa de mim.
A carranca de Jamil desapareceu quando as peças finalmente se
encaixaram. Parecia que seu mestre de estábulo havia comprado um zywern
que estava se aproximando de seu cio e precisava domá-lo, e rápido, antes do
cio chegar. O cio de um Zywern acontecia uma vez em oito anos e era a única
vez que eles conseguiam se reproduzir. Os zywerns eram uma das poucas
criaturas que não podiam ser reproduzidas por meios artificiais: eles liberavam
uma mistura de hormônios que eram necessários para uma reprodução bem
sucedida, e os cientistas ainda estavam lutando para recriar esses hormônios
artificialmente. Era por isso que um zywern no cio era tão valorizado para fins
de reprodução. Mas um zywern indomado no cio era extremamente perigoso.
Não era de admirar que o mestre estábulo de Jamil tivesse empregado Rohan
di'Lehr se o homem realmente pudesse domar um zywern em tão pouco tempo.

— Meu mestre de estábulo sabe que eu queria um zywern preto há


séculos —, Jamil disse, estremecendo um pouco. Seu mestre de estábulo era um
homem bom e leal. Ele provavelmente queria animá-lo depois da morte de
Mehmer. O pensamento fez Jamil ficar mais do que um pouco desconfortável.
Parecia que ele não era tão bom em esconder suas emoções como ele pensava.

Rohan bufou e murmurou algo em voz baixa.

Jamil estreitou os olhos. — Eu não entendi bem, pode dizer mais alto?

— Esta fera não é exatamente adequada para passeios em Skyline Lane.

Os punhos de Jamil se apertaram. O Skyline Lane era um moderno


parque flutuante no centro de Calluvia, um dos poucos lugares do planeta que
permitia voos zywern e servia aos ricos e poderosos. Era muito popular na alta
sociedade, usado por membros da aristocracia para exibir seus zywerns uns aos
outros e se engajar em fofocas ociosas. Pilotos de zywern respeitáveis não iam
para o Skyline Lane, porque era superlotado demais para um voo real. Rohan
di'Lehr claramente achava que ele não passava de uma borboleta social de
cabeça vazia, que seu interesse pelos zywerns era raso e superficial — que
Jamil era raso e superficial.

Jamil olhou para suas costas. — Pelo menos me olhe nos olhos quando
você estiver me insultando.

Rohan soltou uma risada. — Você acha que é uma boa ideia?

— Eu não sei o que você quer dizer —, Jamil disse, seu coração batendo
mais rápido.

Rohan bufou. — Não banque o estúpido, Alteza.

— Vossa Alteza —, Jamil o corrigiu novamente, irritado com a aparente


incapacidade desse homem de lembrar a forma correta de se dirigir a ele. — E
eu realmente não sei o que você quer dizer. Da última vez... houve apenas um
sangramento telepático porque meus escudos mentais não estavam totalmente
levantados. Isso é tudo.

Rohan alimentou o último pedaço de carne para o zywern. —


Sangramento telepático — repetiu ele. — Você não deveria falar sobre coisas
que você não tem conhecimento.

— E você sabe? — Jamil disse. — Por favor, me esclareça. E enquanto


isso, por favor, explique também por que você teve uma reação tão curiosa na
outra noite se você tem uma companheira de união.

Os ombros de Rohan se enrijeceram, sua postura preguiçosa desapareceu


em um instante. — Você está me perseguindo?

— Verificar o arquivo de um funcionário dificilmente é uma perseguição.

Rohan respirou alto. — Olhe, Vossa Alteza. Você deveria voltar para o
palácio e parar de enfiar o nariz bonito onde não deve.
Por um momento, Jamil só pôde olhar para ele, absolutamente sem fala.
Ninguém falava com ele assim. Ele não conseguia se lembrar da última vez que
alguém falou com ele como se ele fosse um príncipe irresponsável, de cabeça
vazia, com dois neurônios cerebrais. Ele tinha trinta e três anos de idade. Como
o Príncipe Herdeiro, ele assumiu o gerenciamento financeiro e cotidiano de um
dos maiores grandes clãs de Calluvia. As pessoas o chamavam de Príncipe
Responsável por uma razão, não importava o quanto aquele apelido o
exasperasse.

— Perdão? —, Ele disse finalmente, sua voz fria como gelo.

Rohan suspirou e Jamil sentiu uma onda de frustração sair dele.

— Eu não quis ofender —, Rohan disse rispidamente, provavelmente


ciente de que ele tinha cruzado a linha. — Eu sinto muito se eu te ofendi, Vossa
Alteza. Eu sou um camponês humilde e mal-educado, afinal.

Jamil olhou para ele com desconfiança. Ele estava detectando sarcasmo?

— Estou cansado de falar com as suas costas —, disse ele. — Eu ordeno


que você se vire.

Rohan parecia ficar cada vez mais tenso, os músculos de suas costas
ficando rígidos. — Eu prefiro que não.

— Por que?

— Porque não foi um maldito sangramento telepático.

Jamil sentiu uma pontada de desconforto. — Então o que você acha que
era?

Rohan encolheu os ombros, acariciando a crina escura do zywern com


movimentos firmes e confiantes. O animal olhou para o treinador de forma
maligna, mas, para espanto de Jamil, na verdade deixou que ele fizesse isso.

— Eu não sei —, Rohan disse finalmente antes de acrescentar uma voz


bem cortada, — Seja o que for, eu não estou ansioso para repetir a experiência.

Jamil também não estava, mas esse não era o ponto. — Você não está
curioso?

— Não.

— Isso não pode ser verdade. Qualquer um ficaria pelo menos um pouco
curioso.

— Eu acho que não sou qualquer um.

— Ou talvez você só tenha algo a esconder —, disse Jamil, inclinando a


cabeça. — Você não me disse como é possível que você reaja comigo desse
jeito se você tem uma companheira de união.

Rohan disse: — Olha, você me quer em todo o seu espaço pessoal de


novo? Esqueça isso.

Com bochechas quentes, Jamil olhou para ele. — Não me diga o que
fazer.

Rohan se virou, seu rosto contorcido em exasperação. Tudo o que ele ia


dizer morreu em sua garganta quando seus olhos se encontraram.

Nos últimos três dias, Jamil continuou dizendo a si mesmo que ele estava
lembrando-se de modo errado — esse sentimento de necessidade absolutamente
repugnante, doentio, a gravidade que o atraía para aqueles olhos negros — que
tudo isso não poderia ter sido tão intenso quanto ele se lembrava.

Mas foi. Era, de fato, pior.


Jamil balançou em seus pés, mal resistindo à vontade de dar um passo à
frente, estar mais perto. Era como lutar contra a gravidade.

Rohan amaldiçoou elaboradamente, uma expressão azeda torcendo seu


rosto. — Dê o fora daqui —, ele rosnou, parecendo positivamente assassino. —
Sangramento telepático, minha bunda.

Jamil não conseguia se encontrar em si mesmo para repreender Rohan por


sua atitude inadequada. Ele mal conseguia se mexer. Cada passo que ele dava
para longe da baia — daquele homem — fazia algo nele torcer e doer.

Finalmente, Jamil chegou aos seus aposentos e caiu em sua cama,


respirando pesadamente, como se tivesse nadado contra a maré por horas.

Droga. Que porra é essa?

Somente depois de um longo tempo, quando ele conseguiu pensar em


algo diferente de palavrões, Jamil chegou à conclusão de que essa experiência
não foi a mesma que da última vez. Não foi tão ruim da última vez. O que quer
que isso fosse, ou estava piorando, ou algo estava diferente dessa vez.

E algo estava erado, Jamil percebeu. Ele e aquele homem não se tocaram.
Da última vez, Rohan havia tocado seu ponto telepático. Houve um contato
físico que esteve ausente desta vez. Talvez por isso tenha sido muito mais
difícil se afastar dessa vez.

Não que isso importasse. Ele nunca mais veria aquele homem.

Ele apenas evitaria os estábulos pelos próximos meses, e então tudo


voltaria ao normal — tão normal quanto uma vida sem Mehmer poderia ser.
CAPÍTULO 4

— Querido, posso entrar?

Jamil se encolheu e rapidamente se endireitou na cadeira. — Mãe —, ele


disse com um leve sorriso, esperando que sua mãe não tenha notado ele
olhando para o nada em vez de trabalhar. — Claro que você pode. Você não
precisa perguntar.

A Rainha Janesh, do Terceiro Grande Clã, sorriu para ele e deslizou para
dentro de seu escritório. Ela era uma mulher alta e graciosa, ainda
esplendidamente bonita apesar de sua idade. Todos os três filhos dela tinham
puxado a ela, herdando sua estrutura óssea impecável e suas expressões. O
irmão mais novo de Jamil era o que mais se parecia, até o cabelo branco
prateado, enquanto Jamil herdara a altura da Rainha e os lábios carnudos. Sua
irmã, Gynesh, parecia mais com a Rainha-Consorte do que com a Rainha, mas
ela tinha a graça da Rainha.

— Estou interrompendo? — Sua mãe disse, olhando para os relatórios na


frente dele.

— Não é nada que não possa esperar —, disse Jamil, tentando avaliar por
que sua mãe estava aqui. Embora eles vivessem sob o mesmo teto, suas mães
moravam em outra ala do palácio e não gostavam de restringir a liberdade de
seus filhos de forma alguma. Jamil não se lembrava da última vez que a Rainha
tinha ido ao seu escritório; ele costumava ir ao dela. — É algo importante?

A Rainha Janesh sentou-se e estudou-o. — Como você está Jamil?


Ele olhou para as mãos, para o bracelete negro de luto no pulso esquerdo.
— Estou bem, mãe. Algum problema?

A Rainha ficou em silêncio por um longo momento. Ele podia sentir o


olhar dela sobre ele, mas ele não conseguia olhar para ela.

— Eu não queria abordar este assunto —, disse ela finalmente. — Mas os


meus conselheiros têm levantado isso ultimamente, e eu não poderia continuar
adiando isso sem fazer você parecer incapaz de governar.

Jamil enrijeceu, seu olhar indo para a mãe, verde encontrando azul. — Do
que você está falando, Vossa Majestade? — Claramente ela estava aqui em sua
capacidade oficial.

A Rainha Janesh suspirou. — Foi trazido à minha atenção que a nossa


linha de sucessão está em perigo, enquanto você não tiver um herdeiro.

Jamil engoliu em seco.

Ele não podia dizer que ficou surpreso. Ele esperava essa conversa há
algum tempo.

Como o Príncipe Herdeiro, um de seus deveres era fornecer ao trono um


herdeiro, um dever que ele ainda não havia cumprido. A Rainha estava
felizmente em perfeita saúde, mas era natural que o povo deles começasse a se
preocupar com a possibilidade de haver perigo para a linha de sucessão. Jamil
poderia ter uma irmã e um irmão mais novos, mas nenhum deles poderia
ascender ao trono se algo acontecesse com Jamil: sua irmã, Gynesh, se casaria
com o Rei do Oitavo Grande Clã ainda este ano, enquanto seu irmão mais novo
Seyn era prometido ao Príncipe Herdeiro do Segundo Grande Clã. Como a lei
proibia que a mesma pessoa fosse consorte de um monarca e monarca de outro
grande clã, Jamil não podia contar com seus irmãos mais novos para continuar
a linha de sucessão. A responsabilidade de fornecer o herdeiro estava
inteiramente sobre ele.

Exceto que ele era viúvo, e em sua sociedade, viúvos não se casavam
novamente. Normalmente, mesmo ser viúvo não seria um problema: era
costume que membros da família real usassem o material genético preservado
do falecido cônjuge para ter um herdeiro se não houvesse nenhum. Jamil
poderia ter usado o esperma preservado de Mehmer — e o dele próprio — para
criar o tão necessário herdeiro em qualquer um dos numerosos centros
genéticos do planeta. Afinal de contas, ventres artificiais haviam sido
inventados por um motivo.

O problema era que Mehmer nunca se preocupara em preservar seu


material genético.

— Receio que não seja possível, mãe —, disse Jamil, cruzando as mãos
no colo e apertando-as onde sua mãe não conseguia enxergar. O assunto ainda
era... bastante doloroso. Apenas alguns meses atrás, ele e Mehmer estavam
falando sobre isso, finalmente prontos para uma criança. Apenas alguns meses
atrás, Mehmer ainda estava vivo.

As elegantes sobrancelhas da Rainha se enrugaram. — Querido —, ela


disse gentilmente. — Eu sei que seu marido se foi, mas você ainda pode ter o
filho dele.

— Eu não posso —, disse Jamil. — Você sabe como ele era. Ele não
gostava da ideia de fazer um bebê em um laboratório. Nós íamos... — Ele
mordeu o lábio, corando levemente. Não importa quantos anos ele tinha, ainda
era estranho falar sobre sexo com sua mãe. Como ele poderia dizer à Rainha
que Mehmer gostava da ideia de fazer uma criança — juntar o esperma —
durante o sexo de verdade, em vez de apenas se masturbar em um copo de
laboratório?
Felizmente, a Rainha pareceu entender o que ele não podia dizer.

— Oh —, ela disse fracamente, franzindo a testa. — Isso é uma pequena


desvantagem, eu admito.

Jamil olhou para ela incrédulo. — Pequena desvantagem?

A Rainha Janesh olhou para ele com firmeza. — Você ainda pode ter um
filho com outro homem. Se pudermos encontrar um homem disposto a doar seu
material genético, ninguém precisa saber que o bebê não é do seu marido.

Sem palavras, Jamil abriu a boca e fechou. O que sua mãe estava
propondo parecia... impensável. Ele não queria uma criança com algum
estranho.

— Eu não posso fazer isso, Mãe —, ele finalmente conseguiu. — Eu não


vou.

A expressão da Rainha era compassiva, mas indiferente. — Eu entendo


que o momento é lamentável, mas nós temos pouca escolha, Jamil. É nosso
dever continuar a linhagem da casa Veighli. Se a linhagem direta terminar,
nosso grande clã cairá em agitação civil.

Jamil gostaria de dizer que ela estava exagerando, mas havia muitos
exemplos disso. Casas reais de Calluvia tinham uma longa história de guerras
civis, traições e assassinatos, mesmo nos tempos modernos.

— Você ainda é jovem —, disse ele. — Você e minha Mãe podem ter
outro filho ainda. Eu o farei meu herdeiro.

Os lábios da Rainha se contorceram. — Eu posso não parecer, mas tenho


sessenta e sete anos, Jamil. Eu não estou em idade reprodutiva, e há muito
tempo parei de preservar meus óvulos.
Jamil esvaziou, sua mente procurando freneticamente por outra solução.

A Rainha Janesh suspirou. — Jamil, mesmo que eu pudesse ter outro


herdeiro, eu não faria. Sua outra mãe e eu criamos três filhos maravilhosos, e
não desejamos ter mais. — Seu olhar se suavizou. — Eu quero que você
também tenha filhos. Eu sei que você será um pai maravilhoso, e esta é sua
única chance de ser pai, querido.

O estômago de Jamil se apertou desconfortavelmente. A pior parte era


que ele sabia que ela estava certa. Ele morreria sem filhos se ele se recusasse a
cumprir seu dever. Por mais que todo o seu ser rejeitasse a ideia de ter um filho
de algum estranho, ele nunca teria filhos se recusasse fazer o que sua mãe
estava sugerindo.

— Eu não vou forçá-lo —, disse a Rainha, olhando para ele com uma
expressão triste e melancólica em seu belo rosto. — Ser pai é uma enorme
responsabilidade. Mas também é uma ótima fonte de alegria. Eu acredito que é
a melhor solução. Você sabe que Mehmer teria aprovado. Ele não quer que você
morra sem filhos e sozinho.

Jamil quase riu. Por toda a insistência da Rainha de que ela não estava
forçando-o, ela sabia como apertar os botões certos para conseguir o que queria.
Era algo que ele sempre admirava em sua mãe — admirava e odiava.

— Tudo bem —, ele disse, e ele não reconheceu sua própria voz. — Eu
vou confiar em você para encontrar um doador de esperma, então.

Sua mãe sorriu, alívio cintilando em seu rosto. — Claro. Deixe-me cuidar
disso, querido. Ninguém saberá que a criança não é de Mehmer.

Jamil se encolheu internamente.


Céus, a mera ideia de ter o filho de outro homem parecia tão errado. Jamil
sempre achou que seus filhos seriam de Mehmer, que eles se pareceriam com o
marido, não com algum estranho.

Mas ele realmente não tinha escolha. Seu clã precisava de um herdeiro.
Todos esperavam que Jamil lhes fornecesse o herdeiro. As pessoas não se
importavam que tivessem passado apenas cinco meses desde a morte de seu
marido e que ter um filho fosse a última coisa na mente de Jamil. Verdade seja
dita, ele não achava que poderia ser um bom pai em seu atual estado de espírito.
Ele não se chamaria deprimido, mas... Ele não estava bem. Ainda havia dias em
que era difícil se levantar de manhã e cumprir suas obrigações como se nada
tivesse acontecido. Às vezes ele se esquecia e alcançava o fundo de sua mente,
aos remanescentes de seu vínculo matrimonial — antes de lembrar que seu
melhor amigo havia morrido.

Mas isso não importa, não é? Se ele acabasse sendo um fracasso como
pai, não era como se não houvesse centenas de servos no palácio que pudessem
cuidar de seu filho. Sem mencionar que as mães de Jamil adorariam seu
primeiro neto, seu filho será amado.

E talvez, apenas talvez, uma criança lhe desse uma nova razão para se
levantar de manhã. Um propósito. Jamil não tinha certeza se daria certo,
especialmente porque a criança não seria de Mehmer, mas ele amava crianças.
Certamente ele amaria sua própria carne e sangue? Qualquer coisa seria melhor
que essa vida vazia, que consistia em nada além de deveres e responsabilidades.

De qualquer forma, não era uma questão de querer; era uma questão de
necessidade. Ele realmente precisava de um herdeiro.

— Bem, então —, sua mãe disse, levantando-se. — Vou informá-lo


quando encontrar um bom doador.

Jamil observou-a virar graciosamente em direção à porta.


— Mãe, você poderia me dar informações atualizadas sobre Tai'Lehr?

A Rainha voltou-se, parecendo intrigada com uma mudança tão estranha


de assunto. É claro que ela estava intrigada: as colônias e os mundos
protetorados de seu grande clã sempre estiveram sob a supervisão dela
enquanto Jamil, como o Príncipe Herdeiro, lidava com seus territórios
continentais em Calluvia.

— Tai'Lehr? —, ela disse.

— Sim —, Jamil disse não se sentindo particularmente mal pela mentira


que ele estava prestes a dizer a ela. Era uma mentira necessária. Sua mãe
poderia ser como um cachorro com um osso se ela começasse a suspeitar de
algo. — Eu tenho juntado uma emenda à Seção 4 da Lei de Imigração que
pretendo propor ao Conselho. Consegui encontrar as informações sobre todas as
colônias de Calluvia, todas as colônias, exceto Tai'Lehr. Prefiro não apresentar
informações incompletas ao Conselho, por isso sua ajuda seria apreciada.

Sua mãe olhou para ele por um momento antes de sacudir a cabeça. —
Sinto muito, Jamil, mas não posso lhe dar informações atualizadas sobre a
colônia. Nós não possuímos isso.

Jamil franziu a testa. — O que? Por quê?

A Rainha Janesh também estava franzindo a testa. — Como você bem


sabe, Tai'Lehr foi basicamente cortado de Calluvia pela zona de guerra de
Shibal-Kuvasi por séculos. Mas… — Ela balançou a cabeça. — Eu tenho
vontade de falar com você sobre a colônia por muito tempo, na verdade, mas
acabou sendo esquecido, e então Mehmer... — Ela se cortou. — Não importa.
Meu ponto é, eu acho que a zona de guerra não é a única razão pela qual a
colônia tem mantido distância. Embora os depósitos korviu impeçam o uso do
TNIT e dos comunicadores de longo alcance, Tai'Lehr ainda tem acesso às
nossas nuvens virtuais, e mesmo assim eles negligenciaram fornecer
informações atualizadas sobre a colônia nos últimos anos. Eles ainda
conseguem enviar-nos a quota anual de cristais korviu em navios de carga, o
que não é pouca coisa, considerando a guerra nesse setor do espaço. Então,
tecnicamente, não temos motivos para reclamar, mas não estou satisfeita com a
falta de comunicação deles. Os embaixadores que eu enviei em navios
comerciantes independentes dispostos a entrar na zona de guerra relataram que
a colônia estava prosperando e que nada estava errado, mas eu não sei... Eu não
gosto de como a colônia se tornou separada. — Ela suspirou. Sua carranca se
aprofundou. — Há algo errado. É apenas um sentimento, e talvez eu esteja
errada sobre isso, mas eu não gosto disso.

Jamil considerou isso. — Talvez eles queiram independência? Eles não


seriam a primeira colônia distante a querer isso.

— Talvez —, disse a Rainha Janesh lentamente. — Verdade seja dita, eu


não vou culpá-los se eles quiserem. Nós temos sido de pouca ajuda para eles
por séculos, oferecendo baixíssima proteção. Não que seja nossa culpa: nossos
navios militares não podem cruzar a zona de guerra sem quebrar a Convenção
Thulun, então nossas mãos estão atadas. Eu ainda não ficaria surpreso se os
Tai'Lehrians se ressentirem de que eles têm que compartilhar seus lucros
conosco em troca de nada.

— Você acha que houve manifestação civil?

A Rainha ficou pensativa. — Eu não sei. A última vez que Lorde Tai'Lehr
esteve no tribunal, ele me garantiu que tudo estava bem na colônia, mas já faz
anos e a situação pode ter mudado. Eu gostaria de poder viajar para lá sozinha,
mas meus conselheiros são muito contra. — Ela fez uma careta e disse com
desaprovação exagerada: — Uma zona de guerra não é lugar para Vossa
Majestade.
— Realmente não é —, disse Jamil. — Eu acho que sua preocupação é
prematura. Seus embaixadores relataram que não havia nada de errado, afinal
de contas. Você não confia neles?

A Rainha assentiu com um sorriso torto. — Eu confio — Ela suspirou. —


Você está certo. Talvez eu esteja ficando paranoica na minha velhice.

— Você não é velha, Mãe —, Jamil disse com um bufar exasperado.

Rindo, a Rainha se virou para a porta. — Isso é o que as crianças sempre


pensam. — Jamil ainda sorria fracamente quando a porta se fechou atrás da
Rainha. Mas logo seu sorriso caiu.

Ele franziu a testa, sem saber o que pensar.

Ele tinha mais perguntas do que respostas agora.


CAPÍTULO 5

Rohan estava lavando o zywern quando a parte de trás do pescoço dele


formigou, seus sentidos se afiando abruptamente. Ele endureceu, dessa vez
reconhecendo os sinais e reforçando seus escudos mentais. Não que isso tivesse
tido muito efeito nas últimas vezes que ele teve um encontro com o Príncipe
Jamil.

Puta merda. Ter um príncipe intrometido enfiando o nariz em seus


negócios já era ruim o suficiente, mesmo se o príncipe não fizesse a função
cerebral superior de Rohan sair voando no momento em que eles cruzassem os
olhos.

Rohan quase riu, pensando na teimosa insistência do Príncipe de que


tinha sido apenas um sangramento telepático. Em Tai'Lehr, não era assim que
eles chamavam. Pelo menos ele tinha certeza de que era o que ele achava que
era — não que ele tivesse experimentado um Fit que fosse tão forte e difícil de
resistir. No passado, quando ele tinha um bom Fit com uma mulher, a reação
natural de Rohan era se misturar com ela e transar com ela no colchão até que o
desejo de intimidade passasse. Obviamente, ele não podia fazer isso agora —
não com aquele Príncipe pomposo que provavelmente chamaria os guardas se
soubesse que o — bruto inferior e mal-educado — queria colocar suas patas
imundas em toda sua pele perfeita e real.

Os lábios de Rohan se torceram em um sorriso irônico. Os pensamentos


do Príncipe Jamil sobre ele eram meio divertidos, considerando tudo, exceto
que ele não se sentia muito divertido em uma situação como essa. Não só era
uma distração que ele não precisava, como também o Príncipe Herdeiro do
Terceiro Grande Clã se interessando por ele poderia colocar sua missão em
risco também. Seu disfarce não resistiria sob um escrutínio mais atento. Ele
precisava encontrar uma maneira de tirar o Príncipe Jamil de suas costas. Claro,
sempre havia a opção de mexer com a mente do príncipe e limpar suas
memórias sobre Rohan, mas era muito arriscado agora. Ele deveria ter agido
antes, após o primeiro encontro. Agora as memórias do príncipe seriam muito
difíceis de manipular sem serem capturadas, dado o fato de que os membros da
realeza Calluviana eram geralmente treinados para reconhecer os sinais de
adulteração telepática. A essa altura, o Príncipe provavelmente tinha muitas
lembranças sobre pensar no homem estranho nos estábulos, e os pensamentos
eram sempre mais difíceis de apagar do que memórias.

— Eu quero falar com você —, a voz familiar e adorável disse atrás dele.
— Eu tenho perguntas.

Rohan refletiu sobre como lidar com essa situação. Talvez ele devesse
apenas assustar o Príncipe, agir como o bruto grosseiro e mal-humorado que
Vossa Alteza esperava que ele fosse.

Rohan afastou a mangueira e saiu da baia, passando pelo Príncipe, sem


dizer nada.

— Você me ouviu? — O Príncipe disse, sua aura escurecendo de raiva


enquanto ele o seguia.

— Sim. — Rohan se afastou.

— Você vai parar quando eu estiver falando com você —, Jamil disse,
parecendo absolutamente indignado quando ele agarrou o braço de Rohan e o
girou.

Rohan levantou seus escudos, mais alto do que nunca, mas isso ajudou
muito pouco. Ele ainda sentira aquela sacudida doentia no momento em que seu
olhar se fixou naqueles olhos azuis emoldurados por cílios ridiculamente longos
e escuros.

Mas não foi a beleza do Príncipe Jamil que capturou sua atenção. Rohan
conheceu e dormiu com muitas pessoas maravilhosas em sua vida. Ele era
indiferente aos homens de qualquer maneira, não importava o quão bonitos eles
fossem. Se não fosse pela maneira como a telepatia deles se aproximava,
ansiosa e faminta, Rohan não teria poupado um outro olhar ao Príncipe Jamil,
embora não fosse por sua falta de beleza.

Objetivamente, o Príncipe Jamil'ngh'veighli era um homem bonito. As


pessoas diziam que ele era o homem mais bonito de Calluvia, e Rohan tinha
que concordar que eles poderiam estar corretos. O Príncipe tinha características
faciais requintadas, e sua boca... o arco da boca era meio obsceno, os lábios
vermelhos contra a pele branca como leite. Seu cabelo na altura dos ombros era
brilhante e ondulado. O Príncipe Jamil parecia ter saído de um conto de fadas.

Ainda assim, não era sua aparência que fazia o coração de Rohan bater
mais rápido. Era algo invisível aos olhos, uma qualidade que fazia seu
rombencéfalo enlouquecer um pouco e seus dedos coçarem com o desejo de
tocar. O desejo não era sexual. Rohan era heterossexual, o que era bastante raro
nos tempos modernos, considerando que oitenta por cento da população da
União dos Planetas era identificada como bissexual. Sua heterossexualidade
não tinha nada a ver com ele ser antiquado e tudo a ver com não ser atraído por
peito plano e pau.

Por isso que o impulso irresistível de tocar esse Príncipe foi tão
desconcertante. Com mulheres, um bom Fit geralmente significava um sexo
ótimo com uma pessoa mentalmente compatível. Aqui, o desejo de tocar era
estranho, porque seu pênis não endurecia, mas ele ainda queria morder toda a
pele do Príncipe e depois fundir suas mentes até que ele não pudesse dizer onde
sua mente terminava e onde a do Príncipe Jamil começava.
Rohan fechou os olhos por um momento e respirou fundo, tentando
clarear sua mente. Controle. Ele estava no controle. Ele não era um animal. Ele
era um homem adulto. Ele não ia deixar que seus instintos o governassem. Ele
era o único no controle, seus instintos que se danassem.

Ele abriu os olhos e disse: — O que você quer? Seja rápido, Alteza. —
Ele intencionalmente manteve seu tom rude e desrespeitoso, querendo
enfurecer o Príncipe e fazê-lo ir embora e para nunca mais voltar.

Mas o Príncipe Jamil ergueu as sobrancelhas, cruzando os braços sobre o


peito e encarou-o com firmeza. A única coisa que traiu que ele não estava tão
composto quanto parecia estar era o rubor em suas bochechas pálidas — e
talvez o leve tremor em seus lábios enquanto ele falava. — Eu quero saber
sobre a situação em Tai'Lehr.

Rohan lutou para manter seu rosto em branco. Esta não era a pergunta
que ele esperava.

Ele encolheu os ombros. — O que você quer dizer? Se você está


perguntando sobre política ou economia, um treinador zywern dificilmente
saberia muito.

— Há uma inquietação?

Rohan olhou para ele. Ele estava tentado a mergulhar na mente do


Príncipe para descobrir por que ele estava fazendo essas perguntas, mas sabia
que não deveria deixar que suas mentes se tocassem. Ele mal estava se
controlando da forma que estava. Qualquer contato telepático seria
simplesmente estúpido.

— Inquietação? — Ele disse de forma neutra. — De acordo com o que eu


sei, não. Por que o interesse repentino?
— Eu sou o único que deveria fazer perguntas aqui.

— Vivemos nos tempos modernos, Alteza. Você não pode mais decapitar
seus súditos por ousar fazer perguntas desconfortáveis.

— Você, você — Jamil balbuciou como um garotinho, o que era


divertido, considerando que ele tinha a reputação de um homem impassível e
altamente racional. Finalmente, ele pareceu se controlar e disse rigidamente: —
Não há nada de estranho no meu interesse. Tai'Lehr é uma colônia do Terceiro
Grande Clã — meu clã, se você não percebeu. É natural que eu esteja
interessado na situação de Tai'Lehr.

— Não tem nada em Tai'Lehr —, disse Rohan. — E nós pagamos o


tributo anual a Calluvia de acordo com a data, então não, você não tem motivo
para se interessar por Tai'Lehr.

O Príncipe deu um passo à frente, seus olhos azuis se estreitaram. —


Você acabou de dizer que um treinador de zywern não sabe nada sobre a
política e economia da colônia.

Rohan xingou-se por dentro. Ele culpou seu erro pelo fato de que ele
estava muito distraído com a atração irritante sobre a mente do Príncipe — ele
nunca quis entrar em alguém tão loucamente, incluindo as vezes que seu pênis
estava realmente interessado no processo.

— O fato de darmos a Calluvia uma boa parte do que extraímos


dificilmente é um segredo absoluto —, disse ele. — Em Tai'Lehr, até as
crianças sabem disso.

O Príncipe ergueu as sobrancelhas. — Isso é ressentimento em sua voz?


— Ele disse. — Nosso lucro é muito razoável. Tai'Lehr é uma colônia
Calluviana. Pertence à Calluvia.
Rohan pressionou os lábios para se impedir de dizer algo que não deveria.
— Você não estava interessado na colônia da última vez que conversamos. O
que motivou esse interesse repentino?

O Príncipe pareceu pensar por um momento antes de falar novamente. —


Eu acho muito estranho que a comunicação com a colônia seja tão esporádica.
Pode levantar suspeitas que a colônia trame ideias traiçoeiras.

— Nada tem nada de estranho nisso —, disse Rohan secamente, com


cuidado para não deixar seu rosto trair qualquer coisa. — Comunicadores de
longo alcance não funcionam perto de Tai'Lehr, a menos que você espere que
nosso pessoal arrisque suas vidas na zona de guerra só para lhe dar relatórios
trimestrais.

O Príncipe o estudou. — Como você chegou aqui, entretanto? Você


mesmo disse que não precisava desse emprego. É insano correr o risco de viajar
por uma zona de guerra para um trabalho que você não precisa.

— Eu já estava na área —, disse Rohan. — E não é impossível para um


único viajante sair da zona de guerra em pequenos navios contrabandistas,
arriscado sim, mas não impossível.

O Príncipe deu-lhe um olhar desconfiado. — E, no entanto, o pessoal do


governador não pode fazer isso para nos fornecer esses relatórios trimestrais?

Rohan encolheu os ombros. — O que um treinador zywern saberia sobre


essas coisas? Além disso, dezenas de navios são pegos todos os dias no fogo
cruzado ao redor de Tai'Lehr. Os mensageiros do governador podem não ter
saído da zona de guerra, pelo que sei.

— Você não acha estranho. O que você acha que está fazendo?
Rohan ficou rígido, olhando para os dedos marrons em volta do pulso
pálido do Príncipe. Ele nem sequer notou que estava se aproximando.

— Solte —, Jamil disse, sua voz um pouco trêmula.

Rohan tentou.

Mas era como se seus membros fossem feitos de chumbo, recusando-se a


se mexer, sua mente nebulosa e seus olhos focados no ponto abaixo da orelha
esquerda do príncipe. O chamado da mente do Príncipe era intoxicante. Queria
mergulhar lá dentro, queria afundar os dentes na pele que cobria o centro
telepático do príncipe e sentir seu centro pulsante sob os lábios.

— Você deveria —, disse Rohan com voz rouca. — Você deveria se


afastar. Eu não consigo.

O Príncipe engoliu em seco, a garganta pálida se movendo, os olhos azuis


arregalados e aturdidos. Seus escudos estavam falhando, e Rohan apertou sua
mandíbula, sentindo quão necessitado estava o núcleo do Príncipe, faminto pelo
toque, por um elo completo. Era repulsivo e viciante.

Rohan não pôde evitar: ele pressionou o polegar abaixo da orelha do


Príncipe e empurrou para dentro. Um gemido deixou os lábios de Jamil, suas
pupilas explodindo. Ele podia sentir o núcleo do Príncipe pulsando com a
necessidade sob seu polegar, insistindo para que ele se aprofundasse, para
acariciar o núcleo de Jamil por dentro. Ele queria. Porra, ele queria. Mas ele
não podia. Pela primeira vez em sua vida adulta, Rohan não tinha certeza do
seu controle. Uma fusão telepática era íntima demais, mais íntima que o sexo.
Sempre havia o risco de revelar algo que ele não deveria, especialmente quando
ele queria se fundir com alguém assim tão loucamente. Mesmo esse contato
superficial de suas mentes parecia quase esmagador.
Controle. Ele estava no controle. Estrutura, equilíbrio, foco, controle. Ele
estava no controle. Ele estava no controle, caramba.

Com uma maldição, Rohan se afastou e fechou a mão em um punho. Seus


dedos estavam tremendo. Tremendo.

O Príncipe Jamil encostou-se à baia, parecendo corado e aturdido. Ele


estava ofegando, seus lábios entreabertos e suas pupilas enormes.

Rohan queria se afastar dele. Ele quase fez. Mas ele gostava de pensar
que ele era uma pessoa decente. Ele não podia deixar o príncipe nesse estado. O
Príncipe Jamil ainda estava flutuando, de uma forma que normalmente só era
conseguida através de uma fusão profunda. Mas sua compatibilidade única e
extravagante tinha fodido tudo, fazendo com que o contato superficial de suas
mentes fosse melhor do que a fusão telepática mais profunda que Rohan jamais
havia se permitido. Considerando o fato de que o Príncipe estava recentemente
viúvo, sua mente estava faminta por qualquer toque mental. Era compreensível
que ele estivesse em tal estado.

— Olhe para mim —, disse ele, delicado, tomando o pulso do Príncipe


novamente e acariciando-o levemente. Rohan estava relutante em tocá-lo, ainda
não confiando em seu autocontrole, mas havia pouca escolha. Desmoronar
depois de uma fusão pode ser absolutamente brutal e desorientador se a pessoa
não for trazida de volta suavemente. — Olhe para mim, Alteza.

Lentamente, ele observou o olhar do Príncipe se concentrar nele. —


Vossa Alteza —, ele corrigiu automaticamente, ainda soando um pouco sem
fôlego.

Rohan quase riu. — Volte para o palácio, Alteza —, ele disse, soltando a
mão e tentando fingir que não se sentiu vazio. — Vá e não volte mais aqui.

Jamil não se mexeu.


Ele olhou para Rohan por um longo momento antes de dizer:

— Quem é você?
CAPÍTULO 6

Por um longo momento, só houve silêncio.

Rohan olhou para o Príncipe e abriu seus sentidos, tentando determinar a


extensão das suspeitas do Príncipe. Fisicamente, Jamil sentia-se melhor do que
nunca, os tremores de prazer fazendo todo o seu corpo se sentir
maravilhosamente solto. Mas a suspeita que estava se formando na parte de trás
da mente do Príncipe estava deixando-o mais alerta no momento.

Rohan ainda tentou. — Eu não sei o que você quer dizer.

— Seu arquivo diz que você está ligado, mas sei que é mentira. Sua
mente não parece ser de uma pessoa ligada. Você também não parece ser viúvo.
Então isso significa que seu arquivo é falso.

A mandíbula de Rohan se apertou.

Ele deu a Jamil um olhar sarcástico. — Eu não acho que você estava em
condições de julgar o estado do meu vínculo quando você estava implorando
para me aprofundar em você, Alteza.

A insinuação em suas palavras era inconfundível e o Príncipe corou seu


temperamento previsivelmente queimando.

— Como você se atreve, seu bruto, sem... — Ele cortou-se, os olhos se


estreitando em suspeita. — Você está fazendo isso de propósito. Você está
tentando me distrair.

Droga.
— Quem é você? — repetiu o Príncipe, com o rosto pálido. — Se você
não tem um vínculo, você deve ser... você deve ser um rebelde. — Ele cuspiu a
palavra como se estivesse suja, algo vil e impensável.

Rohan deu-lhe um olhar comprimido. Ele estava perfeitamente ciente de


onde o ódio do Príncipe pelos rebeldes se originara — essa era a razão pela qual
ele estava aqui, afinal de contas —, mas ele ainda se sentia encurralado, sem
saber o que fazer, e ele não se importava com esse sentimento. Este não era o
plano. Ele nunca planejara ter uma conversa com o Príncipe Herdeiro do
Terceiro Grande Clã, muito menos esperava ser pego de maneira tão idiota.

Rohan olhou ao redor, procurando por câmeras de segurança, mas


felizmente, não havia nenhuma nesta parte dos estábulos reais. Obrigado porra
por essa pequena misericórdia.

Olhando Jamil nos olhos, Rohan empurrou a sua vontade e disse: — Você
vai andar comigo, com calma e sem atrair a atenção de ninguém. — Ele sentiu
o desejo do Príncipe deformar-se, tentando combater a compulsão e quase ter
sucesso. Quase. Rohan sentiu uma pontada relutante de admiração — Rohan
era um telepata muito forte, com um dom particular de compulsão, e poucos
podiam resistir a ele quando ele escolhia usá-lo. Rohan não era exatamente
orgulhoso desse talento, mas era útil. Ele não podia permitir-se ser pego. O fato
de Jamil quase ter conseguido se livrar da compulsão dizia muito sobre sua
força de vontade — e a força inata de sua telepatia, considerando que os
remanescentes de seu vínculo matrimonial ainda estavam limitando as
habilidades do Príncipe.

Mas isso não era relevante agora. Ele precisava levá-los a algum lugar
onde pudessem conversar livremente antes que o Príncipe Jamil conseguisse se
livrar da compulsão. O Príncipe ainda estava lutando contra isso, mesmo que
ele estivesse seguindo Rohan obedientemente.
Finalmente, Rohan chegou ao seu quarto nos fundos dos estábulos,
deixou o Príncipe entrar e trancou a porta. — Sente-se na cama.

O Príncipe obedeceu conforme as instruções, seus movimentos duros e


espasmódicos.

Encontrando algumas gravatas, Rohan amarrou as mãos de Jamil nas


costas e o amordaçou.

Ele tirou a compulsão e o Príncipe imediatamente ficou de pé, com os


olhos ardendo de fúria.

— Nós não matamos o seu marido —, disse Rohan.

O Príncipe ficou muito quieto, com os olhos arregalados.

Ainda havia hostilidade e desconfiança neles, mas ele estava ouvindo.

— Sente-se —, disse Rohan. — Por favor, Vossa Alteza. Eu vou explicar.


E eu vou tirar a mordaça quando você se acalmar.

Depois de um momento que pareceu uma eternidade, o Príncipe Jamil


sentou-se na beira da cama, seus olhos queimando furos nele.

Mesmo agora, apesar da seriedade da situação, apesar da hostilidade


naqueles olhos, Rohan sentia o mesmo puxão enervante e doentio em relação a
esse homem, a vontade de tocar e fundir-se quase enlouquecedora. Era
frustrantemente difícil se concentrar.

Colocando as mãos atrás das costas, Rohan fixou o olhar em algum ponto
à direita dos olhos do Príncipe e disse: — Você está certo: eu sou o que você
chamaria de “rebelde”, embora nós não nos chamamos assim. A maioria das
coisas que vocês dizem sobre nós é uma mentira. Nós não atacamos civis. Não
fomos nós que matamos o seu marido.
O Príncipe Jamil murmurou alguma coisa através de sua mordaça, dando-
lhe um olhar exigente. Não era preciso ser um gênio para adivinhar o que ele
queria.

Rohan olhou para ele com cautela antes de desamarrar as mãos e tirar a
mordaça. Ele sabia que era uma aposta, e ficou aliviado ao descobrir que tinha
valido a pena:

Jamil parecia muito distraído com sua declaração para pedir ajuda.

— Prove —, o Príncipe rosnou, não olhando nos olhos dele. Ele


provavelmente não queria ser distraído pela atração entre eles também.

— Eu não posso provar isso —, disse Rohan. — É por isso que estou
aqui. Precisamos de provas de que não fizemos isso, de que não cometemos
nenhum dos crimes dos quais fomos acusados.

Jamil o lançou um olhar desconfiado. — Mesmo que o que você está


dizendo seja verdade, seu pessoal ainda é renegado. Sua posição contra a Lei de
Vinculação faz de todos vocês criminosos.

Rohan riu. — Nós não fizemos nada de errado. Todo ser senciente deve
ter o direito de recusar o vínculo que o Conselho impôs aos Calluvianos por
milhares de anos. Recusar-se a ligar a telepatia de nossos filhos não deveria nos
tornar fora da lei. Mas nós sempre seremos fora da lei enquanto estivermos
sendo acusados de crimes que não cometemos.

O príncipe franziu a testa. — Você está realmente sugerindo que alguém


está intencionalmente tentando fazer parecer que os rebeldes são ruins?

Rohan deu um aceno de cabeça cortado. — Eu sei que parece


inacreditável, mas é verdade.

— Por que alguém faria isso?


Rohan hesitou.

— A alguns anos atrás, nosso povo salvou uma pessoa importante que
estava prestes a ser assassinada —, disse ele por fim, escolhendo
cuidadosamente suas palavras. — Os assassinos foram contratados por uma
figura política muito poderosa em Calluvia. Anos depois, eles ainda estão
tentando terminar o trabalho. Nós frustramos todas as tentativas deles até agora,
embora a última no mês passado tenha passado desconfortavelmente perto.

— O que isso tem a ver com alguma coisa? —, disse o Príncipe, mas sua
voz estava significativamente menos hostil. Soava quase curiosa.

Rohan suspirou. — Para ser sincero, não temos certeza. Nós só sabemos
que temos um inimigo muito poderoso que conseguimos irritar por anos. Talvez
essa pessoa pense que, se nos desacreditar o suficiente, desistiremos da pessoa
que estamos protegendo. Também é provável que eles tenham medo de que a
pessoa em nossa proteção possa se apresentar e contar a verdade a todos. Se
isso acontecer, os rebeldes seriam suas únicas testemunhas, portanto,
desacreditar-nos faz sentido. Mas tudo isso é um pouco exagerado. Matar seu
marido apenas para nos desacreditar é definitivamente muito fora da curva. É
por isso que estou aqui: para descobrir se o assassinato do seu marido não está
relacionado. Mesmo que isso não esteja relacionado, ainda preciso encontrar
provas de que Tai'Lehrians não fizeram isso.

O príncipe olhou para ele incrédulo. — Você espera que eu acredite em


você assim do nada? — Ele franziu a testa. — Espere. Tai'Lehrians? O que toda
a colônia tem a ver com os rebeldes? A colônia é governada pelo Senhor
Tai'Lehr, que é um senhor vassalo da minha Casa. Você está dizendo que os
rebeldes tomaram o controle da colônia?

Rohan fez uma careta, aborrecido consigo mesmo pelo deslize. Em sua
defesa, ele não estava acostumado a falar de seu povo como “rebeldes” ou
“renegados” — os termos que Calluvianos se referem a eles. Também não
ajudava que ele ainda estivesse incrivelmente distraído com a atração mental
que sentia em relação ao Príncipe. Não era tão ruim quanto antes da sua
pseudo-fusão, mas ainda o distraia mais do que deveria.

— Nós não tomamos o controle de nada —, disse Rohan. — Nós não


somos violentos. Não houve revolta.

— Então como?

Suspirando, Rohan sentou-se ao lado do príncipe. — Aconteceu


gradualmente ao longo dos séculos —, disse ele. — Os primeiros "renegados"
que deixaram seus clãs milhares de anos atrás realmente se esconderam nas
montanhas Kavalchi, como dizem os rumores. Mas não era seguro lá, então eles
decidiram se mudar para outro planeta. Eles escolheram um planeta desabitado
relativamente longe de Calluvia e estabeleceram um assentamento lá. Eles não
sabiam que em poucas décadas depois, o Terceiro Grande Clã de Calluvia
descobriria enormes depósitos de korviu lá e mandaria o Lorde Tais Lehr
estabelecer uma colônia.

— Você está dizendo que os rebeldes estavam no planeta primeiro? Que


nossos colonos não notaram seu assentamento? Como isso é possível?

Rohan observou a mão do Príncipe se aproximar da dele. Ele não achava


que fosse intencional — o Príncipe Jamil não parecia ciente do que estava
fazendo — e se perguntou se deveria se afastar antes que suas mãos se
tocassem. Ele deveria. Ele sabia disso.

Ele não se mexeu.

— O campo magnético único em torno de Tais Lehr impede que


scJaneshrs e satélites funcionem bem, assim como interfere com teleportadores
e comunicadores de longo alcance —, Rohan ouviu-se dizer, observando a mão
leitosa e lisa do Príncipe assentar ao lado da sua calejada e marrom. Seus dedos
roçaram e Rohan quase sibilou com a sensação, perdendo sua linha de
pensamento por um momento.

O Príncipe arrancou sua mão e cerrou o punho, evitando os olhos de


Rohan. As pontas de suas orelhas estavam vermelhas, vermelhas como os
lábios de Jamil.

Foi preciso um esforço incrível para lembrar-se do que eles estavam


falando. Rohan limpou a garganta e continuou, como se nada tivesse
acontecido. — O primeiro contato entre os dois assentamentos aconteceu
somente depois que a maioria dos navios militares de Calluvia partiram. Não
foi violento. Lorde Tai'Lehr felizmente não era um idiota. Ele percebeu que seu
povo estava em menor número e muito desfavorecido pelo fato de que as
habilidades telepáticas dos rebeldes eram muito mais fortes. Então ele
concordou em manter o segredo sobre a existência dos assentamentos dos
rebeldes sob a condição de que eles não causassem nenhum dano à colônia. Por
décadas, os dois assentamentos funcionaram separadamente, mas pouco a
pouco começaram a se misturar. Eventualmente, os colonos de Calluvia
pararam de ligar seus filhos, já que eles perceberam o quão mais forte a
telepatia dos rebeldes não ligados era. Eles não queriam ficar em desvantagem.
Você provavelmente pode adivinhar o resto.

— Eles se tornaram uma colônia —, disse o Príncipe pensativamente. —


E agora todos os seus cidadãos estão sem ligação. Foras da lei.

— Tecnicamente, sim. Mas deve ser nosso direito fazer nossas próprias
escolhas, em vez de deixar o Conselho fazer isso por nós quando somos
crianças. Querer liberdade é crime, Vossa Alteza?

O Príncipe Jamil ficou quieto por um longo tempo, olhando


inexpressivamente para frente dele, as mãos segurando a colcha com força. —
Eu tenho estado ligado desde que eu tinha dois anos de idade —, disse ele
finalmente, sua voz sem tom. — Eu nunca me senti como se não fosse livre. Fui
feliz por trinta anos como uma pessoa ligada. Suas opiniões são insultantes para
mim.

Rohan reprimiu um comentário desdenhoso e lembrou a si mesmo que


estava lidando com um homem recentemente viúvo. Ele tinha que falar com
cuidado. Ele não podia contrariar o Príncipe se quisesse obter sua cooperação.

— Meus pêsames pela sua perda —, disse ele.

Sua falta de sinceridade deve ter sido óbvia, porque o Príncipe apenas
zombou em resposta.

Rohan fez uma careta. — Olha, me desculpe se não pareço muito triste,
deve ser uma diferença cultural.

— Você é Calluviano também.

— Biologicamente, sim —, disse Rohan. — Culturalmente, Tai'Lehr não


poderia ser mais diferente de Calluvia. Nós desprezamos os vínculos infantis.
Desculpe, sei que deve ser ofensivo para você, mas vemos as ligações de
infância como não naturais, pouco diferentes das ligações de escravidão.

A cabeça do Príncipe Jamil bateu nele. — Ligações de escravidão? — Ele


disse, encarando-o. — Não fale sobre coisas sobre as quais você não sabe de
nada!

Rohan levantou as mãos em um gesto apaziguador. — Cultura diferente,


lembra?

O Príncipe franziu os lábios macios, estudando-o. — As pessoas não se


ligam em Tai'Lehr? Quando eles se casam?
Rohan encolheu os ombros. — Se eles quiserem, sim. É sempre uma
escolha deles, diferente da maneira como as coisas são feitas em Calluvia. As
pessoas não precisam estar ligadas artificialmente umas às outras para serem
felizes. Se as pessoas são um Fit, eventualmente um vínculo se formará
naturalmente.

— Um Fit? — Jamil repetiu.

— Mentalmente compatível —, Rohan esclareceu, evitando o olhar do


príncipe. — Mas um Fit não é necessário para ter um relacionamento ou
casamento. É apenas... um bom bônus. — Rohan não podia dizer a esse
Príncipe muito apropriado que até um Fit meio decente fazia o sexo ser
alucinante.

Quando o Príncipe Jamil ficou em silêncio por muito tempo, Rohan olhou
para ele. O Príncipe estava mordendo o lábio, uma expressão de aperto no
rosto. — É... — O Príncipe fez uma pausa e fez uma careta um pouco antes de
continuar. — Isso é...? — Ele gesticulou vagamente entre eles.

Rohan quase riu de seu desconforto. — Sim —, disse ele. — Nós somos
um bom Fit, Vossa Alteza. — Esse era o eufemismo do século. Ele nunca sentiu
um Fit tão forte antes. — Não que isso signifique alguma coisa —, acrescentou
quando o desconforto do Príncipe aumentou.

Sobre o olhar confuso de Jamil, Rohan esclareceu. — Um bom Fit é


apenas uma possibilidade, nada mais. Isso não faz com que as pessoas entrem
em um relacionamento se elas não quiserem. Isso não influencia as pessoas se
elas não permitirem.

Mas em vez de parecer aliviado, o Príncipe Jamil franziu a testa e lançou


um olhar desconfiado para Rohan. — Você está mentindo —, disse ele. — Essa
coisa definitivamente está me influenciando, porque… — Ele se interrompeu,
desviando o olhar.
Rohan tentou não sorrir, se divertindo mesmo assim. — Atração é apenas
um efeito colateral inconveniente, Vossa Alteza.

O Príncipe o lançou um olhar fulminante. — Eu não estou atraído por


você!

Rohan sorriu, incapaz de reprimir sua diversão mais. — Eu não quero


dizer atração sexual. Um Fit é uma atração mental. Pode aumentar a atração
física; não pode criá-la. Então você pode relaxar, Alteza. Eu não vou pular em
você. Eu não estou interessado em homens, mesmo aqueles tão lindos quanto
você.

O Príncipe Jamil piscou de repente parecendo tão jovem que era difícil
acreditar que ele tinha trinta e poucos anos. Mas, novamente, refletiu Rohan, a
Casa Veighli era famosa pela beleza e juventude eterna de suas filhas e filhos. A
Rainha ainda possuía uma beleza incrível, apesar de estar em seus sessenta
anos, e todos os seus filhos aparentemente puxaram a ela.

— Eu não sou lindo —, Jamil disse com uma careta pequena e intrigada.
— Meu irmão mais novo é. Eu sou bonito.

Rohan quase riu. Parte dele não acreditava que eles estivessem realmente
tendo essa conversa. — O Príncipe Seyn parece uma versão menor e desbotada
de você —, ele disse, pensando no outro príncipe. — Ele é lindo, mas você
também é, para um homem. Eu não me sinto atraído por nenhum de vocês,
então minha opinião é tão imparcial quanto possível.

A boca do Príncipe se abriu e fechou incerta

Isso fez Rohan se perguntar se alguém já tinha chamado ele de lindo


antes. Ele estava começando a duvidar disso. Agora que ele pensou sobre isso,
ele ouvira muitos apelidos que descreviam o Príncipe Herdeiro do Terceiro
Grande Clã e todos pareciam bastante intimidantes: Príncipe Responsável,
Príncipe Perfeito, Príncipe de Gelo, e assim por diante. Mesmo quando a
aparência do Príncipe era descrita, ele era geralmente considerado
intimidantemente bonito. Ninguém nunca o chamara de lindo, o que era
estranho pra caralho, na opinião de Rohan. O Príncipe Jamil era ridiculamente
lindo para um homem.

O Príncipe franziu os lábios, ainda parecendo um pouco desequilibrado.


— Vamos voltar ao assunto em questão —, disse ele. — Se o que você está
dizendo é verdade, por que você está aqui, nos meus estábulos? Por que você
está fingindo ser um treinador zywern?

— Eu não estou fingindo. Eu sou um treinador zywern certificado.

— Mas não é sua ocupação principal.

— Não —, admitiu Rohan. — Em Tai'Lehr, ter o certificado é equivalente


a ter uma licença de pilotagem em Calluvia. Usamos os zywerns para o
transporte, porque as aeronaves e as câmaras transportadoras não funcionam na
maior parte do planeta.

A expressão cética do Príncipe foi esclarecida. — Oh, certo. Por causa do


campo magnético do planeta.

— Sim.

— Você ainda não respondeu por que você está aqui, nos meus estábulos.

— Eu já disse a você: o assassinato do seu marido é de longe o crime de


maior repercussão que nos prejudica. Nós nunca poderemos ser nada além de
criminosos se formos culpados por matar o Príncipe-Consorte do Terceiro
Grande Clã. Precisamos de provas de que não fizemos isso. Então aqui estou
eu. Para encontrar provas.
Ele observou o Príncipe de perto, mas ele não parecia chateado com o
assunto da morte de seu marido. O fato de que ele estava se inclinando
subconscientemente para o espaço de Rohan provavelmente tinha algo a ver
com isso. Rohan considerou se afastar, mas ele não iria perder a oportunidade
de usar todas as vantagens à sua disposição. Este Fit idiota o havia pego; agora
era hora de ser útil. Rohan se sentiu um pouco mal por manipular o Príncipe de
tal maneira — mas não o suficiente para não o fazer. Pode ser cínico, mas havia
mais em jogo do que os sentimentos feridos de um príncipe Calluviano.

— O que você poderia descobrir aqui? — Jamil disse.

— Como o caso é tão importante, os detalhes não estão disponíveis para o


público. Não sabemos como seu pessoal chegou à conclusão de que o Príncipe-
Consorte Mehmer foi morto por nós. Só o que sabemos é que o caso foi
investigado e depois selado pela Terceira Casa Real. Então, estou aqui para
descobrir que tipo de prova vocês têm.

As sobrancelhas do Príncipe se juntaram. Rohan olhou para ele com uma


fascinação perplexa. Tudo sobre este príncipe era tão refinado e bonito, até o
arco de suas sobrancelhas parecia ridiculamente elegante. Isso fez os dedos de
Rohan coçarem com o estranho desejo de bagunçar tudo.

— A morte de Mehmer foi investigada pelo capitão da Guarda Real —,


Jamil disse, sua voz sem tom. — Eu não sei sobre nenhum detalhe... A Rainha
foi quem supervisionou isso. Eu não... eu não questionei.

Uma onda de pesar desconhecido fez Rohan estremecer e apertar seus


escudos mentais, com resultados mistos. Droga, essa... compatibilidade era uma
faca de dois gumes. Ele não queria ser afetado pelas emoções do Príncipe, mas
era inevitável quando eles estavam tão próximos.

— Nós suspeitamos disso —, disse Rohan. — Esperei por uma


oportunidade de obter informações com o seu capitão, mas não tive a chance de
tê-lo sozinho até agora.

Jamil o lançou um olhar um tanto desconfiado e divertido. — O que você


quer dizer com "obter informações", exatamente?

Os lábios de Rohan se contraíram. — O que você acha? Eu não poderia


andar até ele e pedir-lhe para dizer informações confidenciais.

Jamil olhou para ele, mas parecia meio indiferente, na melhor das
hipóteses. — Manipular a mente de alguém é desprezível.

Rohan encolheu os ombros. — Talvez. Mas eu faço o que for preciso.

— Todos os rebeldes são telepatas tão fortes? —, perguntou Jamil. Ele


parecia perturbado — perturbado e morbidamente fascinado. — Eu sei que as
ligações na infância enfraquecem um pouco nossa telepatia, mas a diferença é
realmente tão grande assim?

Rohan sacudiu a cabeça. — Na verdade não. Mais de cinquenta por cento


do nosso povo são telepatas de classe 2, cerca de trinta por cento são de classe
3.

O príncipe olhou-o nos olhos. — E você?

Rohan pretendia mentir. Ele realmente pretendia.

Ele devia ter feito isso.

Em vez disso, ele se viu dizendo: — Classe 5.

Os olhos de Jamil se arregalaram. Ele olhou para Rohan sem palavras,


mas ele não estava com medo. Era o Fit: faz com que eles se sentissem mais
próximos do que realmente eram. Era conveniente agora — Rohan não
precisava que o Príncipe ficasse com medo dele, mas também era
inconveniente, uma vez que acontecia nos dois sentidos. A maneira natural e
aconchegante que seus corpos pareciam querer estar perto um do outro cobria
tudo em um calor confuso e frustrante, que constantemente descarrilhava sua
linha de pensamento e o fazia dizer ao Príncipe coisas que ele definitivamente
não deveria. Não era confiança, não exatamente, mas seus instintos insistiam
que o príncipe não poderia traí-lo. Era fodidamente ridículo. Ridículo e
irritante.

Jamil engoliu em seco. — Você é o telepata mais forte de Tai'Lehr? Foi


por isso que eles te mandaram?

Rohan apertou os lábios, determinado a mentir, apenas para provar a si


mesmo que podia. Mas, olhando para os grandes olhos azuis do Príncipe, tudo
nele se rebelou contra a mentira. Foi incrivelmente frustrante — frustrante e
irritante.

— Não —, ele se viu dizendo honestamente. — Existem alguns telepatas


mais fortes que eu. Mas eu tenho um talento único para… persuasão.

Jamil deu-lhe um olhar fixo. — Você quer dizer compulsão.

Rohan encontrou seu olhar firmemente. — Olha, sinto muito por fazer
isso com você. Eu tinha pouca escolha. Eu particularmente não gosto de usar
compulsão, mas é um dom útil.

— Tenho certeza que sim —, disse o príncipe secamente. — Você usou


seu dom para persuadir meu mestre dos estábulos a contratá-lo?

Rohan apenas assentiu. Claro que sim. Eles não o teriam contratado de
outra forma. Seu talento para a compulsão era a principal razão pela qual ele
conseguira convencer Sirri e os outros de que ele deveria ser o único a vir: ele
sempre poderia forçar sua saída de problemas, enquanto os outros correriam um
risco significativamente maior. Mesmo os telepatas mais fortes tinham
dificuldade em fazer outros telepatas obedecerem — requeria cuidadosa
substituição de memórias e plantação de pensamentos no subconsciente —
enquanto o talento de Rohan para compulsão significava que ele poderia
simplesmente ordenar alguém a fazer o que ele precisava, nenhuma
manipulação cuidadosa de memória era necessária. Não que ele não pudesse
fazer o último também, se necessário. Ele poderia. Mas o benefício da
compulsão era funcionava rápido, o que era uma vantagem significativa caso
ele se metesse em uma situação complicada.

— Isso é tão bizarro —, disse Jamil finalmente, quebrando o silêncio.


Havia uma pequena ruga entre as sobrancelhas. — Eu acho que eu realmente
acredito em você. Mas como posso ter certeza de que realmente acredito em
você e que você não está apenas me obrigando a acreditar que acredito em
você? — Ele fez uma cara engraçada. — Ugh, minha cabeça está doendo.

Rohan se encontrou sorrindo. — Se eu mexesse com a sua cabeça, você


não estaria se perguntando sobre isso, Vossa Alteza.

O Príncipe pressionou os lábios, para se evitar sorrir. Rohan podia sentir


sua diversão relutante de qualquer maneira.

Jamil franziu a testa de repente, seu divertimento desaparecera substituído


por algo que parecia muito com culpa.

Rohan o estudou. — Seu marido está morto há cinco meses. Você não
deveria se sentir culpado por sentir diversão. Você não está morto.

Jamil olhou para ele. — Saia da minha cabeça.

— Eu não estava na sua cabeça —, disse Rohan. — Se eu estivesse, você


saberia. — Seus lábios se torceram em um sorriso sem humor. — Na verdade,
você é a única pessoa que não deveria se preocupar comigo manipulando suas
memórias e pensamentos. Se eu entrasse em sua mente, eu ficaria distraído
demais para realizar muita coisa.
Um leve rubor apareceu nas maçãs do rosto do príncipe. — Você me
obrigou —, ele disse rigidamente.

Rohan sacudiu a cabeça. — Compulsão é simplesmente um dom para


fazer as pessoas fazerem algo. Eu basicamente apenas forço minha vontade
nessa pessoa, nada mais. Não requer contato telepático profundo e não dura
muito tempo. É uma solução de curto prazo. — Ele desviou o olhar, tentando
pensar em uma maneira de explicá-lo. — Olhe seu mestre de estábulo, por
exemplo. Eu usei compulsão nele para conseguir uma audiência com ele.
Mantive-o sob compulsão enquanto manipulava suas memórias para fazê-lo
pensar que eu era o candidato perfeito para o trabalho. Sem o dom da
compulsão, eu não teria tido tempo para fazê-lo, mas a compulsão, por si só,
não é suficiente: ela não manipula as lembranças e pensamentos das pessoas.
Para fazer isso com você, eu teria que me aprofundar em você.

O leve rubor nas bochechas do príncipe ficou mais nítido. Ele se levantou
e deu um passo para longe. — Muito bem. Eu estou escolhendo acreditar em
você por agora. Vou ter que pensar sobre isso, longe de... — Jamil estremeceu,
parecendo desconfortável.

— Mim —, Rohan terminou para ele em silêncio.

Seus olhos se encontraram.

— Isso é normal? —, disse o Príncipe.

Rohan não precisava se aprofundar em sua mente para saber o que ele
queria dizer. Mas diabos, ele queria.

— É sempre um pouco perturbador —, disse Rohan. — Mas fica mais


fácil com mais exposição. — É melhor ficar mais fácil, caramba.
— Exposição? — O Príncipe Jamil parecia ter engolido alguma coisa
desagradável.

Rohan quase riu de sua expressão. — Normalmente as pessoas só fazem


sexo. Mas não é necessário. Um simples toque também pode ajudar. — Ele
estendeu a mão e passou os dedos pelo pulso do Príncipe. Sua respiração
engatou quando a necessidade sob sua pele se acalmou um pouco, aliviada pelo
contato. Ele ergueu os olhos de volta para o Príncipe. — Viu? Melhor, não é?

Jamil olhou para ele, seu olhar um pouco vidrado, seus lábios
entreabertos enquanto ele respirava pela boca. — Isso não é natural —, disse
ele. — Eu não gosto disso.

— Pelo contrário, isso é muito natural —, disse Rohan, roçando o polegar


contra o interior do pulso do Príncipe. — Era assim que deveria ser antes que o
Conselho decidisse unir todos através de ligações artificiais e tirar a vontade
própria das pessoas.

Jamil deu-lhe um olhar estreitado. — Eu não sinto que tenho muita


vontade própria agora. — Ele olhou para as suas mãos, embora ele não
estivesse puxando seu pulso para longe. — Pare, pare com isso.

Rohan soltou seu pulso, seus dedos se arrastando para baixo da palma da
mão do Príncipe antes de se afastar. Imediatamente, a necessidade voltou,
embora um pouco menos urgente. Tocar ajudava — não tanto quanto ele
gostaria, mas ajudava.

Jamil lambeu os lábios. — Eu tenho que ir.

Rohan desviou o olhar. — Vá —, ele disse brevemente, irritado consigo


mesmo por sua crença inexplicável de que o Príncipe não chamaria a segurança
no momento em que ele estivesse fora do quarto. — Eu aprecio sua ajuda, mas
vou entender se você não quiser ajudar. Só não torne as coisas mais difíceis
para mim, tudo bem? — Não chame os seguranças.

O Príncipe ficou em silêncio por um tempo, apenas olhando para ele,


antes de sair silenciosamente do quarto.

Rohan se deixou cair no colchão, gemendo por dentro.

Warrehn ia matá-lo.
CAPÍTULO 7

Jamil olhou para o capitão da Guarda Real sentado em sua mesa e disse:
— Eu quero saber os detalhes da morte do meu marido.

Embora a expressão do capitão Zetht não tenha mudado, Jamil ainda


podia sentir sua leve surpresa. Ele apertou seus escudos mentais, sua mente
ainda evitando involuntariamente qualquer contato telepático após o confronto
de ontem com Rohan. Não que o rebelde tivesse realmente tocado sua mente —
pelo menos não profundamente o suficiente —, mas ainda parecia estranho
sentir a presença mental de outra pessoa. Chocante.

Jamil reprimiu uma carranca, irritado por seus pensamentos. Parecia que
ele tinha sido incapaz de pensar em outra coisa nos últimos dias além disso.
Era... desconcertante. Não importava o que Rohan tivesse alegado, Jamil não
estava convencido de que ela não estivesse influenciando-o de alguma forma —
porque tal comportamento não era normal, não para ele. Seyn era aquele que
tendia a se obcecar e fixar; Jamil era o racional. Supostamente.

— O que você deseja saber, Vossa Alteza?

Jamil olhou para o capitão Zetht, escolhendo as palavras com cuidado.


Ele queria uma opinião imparcial. — O que fez você pensar que os rebeldes
eram os culpados?

— Você leu meu relatório, Vossa Alteza?

Jamil assentiu. Depois de seu confronto com Rohan, foi à primeira coisa
que ele fez, mas o relatório não respondeu suas perguntas.
— Eu li, mas não está claro como você chegou a tais conclusões. Tudo o
que o relatório diz é que a aeronave de Mehmer foi desintegrada perto das
montanhas do norte de Kavalchi. — Ele ficou um pouco surpreendido pela
firmeza de sua voz. Ele gostaria de pensar que ele estava finalmente seguindo
em frente, deixando de lado sua dor, mas Jamil tinha a sensação de que não era
tão simples assim. Essa... fixação nele apenas eclipsava todo o resto, abafando
até mesmo sua dor, ainda que temporariamente.

O Capitão Zetht franziu a testa. — Suspeita-se que a base dos rebeldes


possa estar em algum lugar naquela região, Vossa Alteza. Essa parte das
Grandes Montanhas é inacessível para os teletransportadores e para a maioria
das aeronaves por causa do distúrbio magnético causado pelos pequenos
depósitos de korviu sob as montanhas. Os satélites não conseguem obter boas
varreduras da região devido à interferência. É a única parte do Calluvia que não
pode ser escaneada, então estamos quase certos de que o assentamento dos
rebeldes deve estar lá — não há outro lugar para isso.

Não neste planeta, pensou Jamil.

— Então, basicamente, é tudo conjectura —, disse ele, sua mente


correndo. — Você não tem provas de que foram os rebeldes.

O Capitão Zetht parecia relutante. — Vossa Alteza, é quase certo. Havia


um folheto rebelde encontrado nas proximidades. Além disso, nenhum grupo
terrorista intergaláctico se apresentou para reivindicar a responsabilidade de
matar o Príncipe-Consorte. Logo deve ter sido os rebeldes. Eles nunca
reivindicam suas ações.

Talvez porque eles nunca matem ninguém.

O pensamento pareceu uma traição depois de meses odiando aquelas


pessoas pela morte de Mehmer. Jamil não sabia como se sentir agora, o que
pensar. Além disso, era uma coincidência estranha que Mehmer tenha sido
morto na região inacessível para os teleportadores — exatamente como
Tai'Lehr. Havia uma conexão?

Jamil franziu a testa. — Eu não entendo porque essa região das


Montanhas Kavalchi não foi rastreada inteiramente para descobrir de uma vez
por todas se os rebeldes estão lá ou não.

O Capitão Zetht balançou a cabeça. — É uma tarefa quase impossível,


Vossa Alteza. As montanhas de Kavalchi são as mais altas naquela região,
quase trinta tarsecs de altura e são intransponíveis depois dos primeiros tarsecs.
— Ele parecia desconfortável. — Houve inúmeras expedições a essa região ao
longo dos séculos, mas todas elas retornaram de mãos vazias. Eles dizem…

Jamil levantou as sobrancelhas quando Zetht parou. — Capitão?

— As pessoas que retornaram alegaram que a região era assombrada —,


disse o Capitão Zetht, corando. — Eu sei que parece bobagem, mas é bastante
estranho que todas as expedições não tenham sido capazes de ir tão longe, não
é?

Jamil teve que admitir que era bastante estranho.

O Capitão Zetht suspirou. — Mesmo os grandes grupos de busca


organizados após o desaparecimento do herdeiro do Quinto Grande Clã não
conseguiram avançar muito na região.

— Espere, o quê? — Jamil disse, endireitando-se

O Capitão Zetht pareceu confuso com sua surpresa. — Você não se


lembra de que os dois príncipes do Quinto Grande Clã teriam sido
supostamente sequestrados pelos rebeldes próximos a essa área? Eu sei que já
faz quase duas décadas, Vossa Alteza, você era apenas um garoto, mas com
certeza você se lembra do tumulto que isso causou?
— Eu me lembro agora —, Jamil disse pensativo. Sentiu um incômodo
no fundo de sua mente. Ele estava perdendo alguma coisa; ele podia sentir, a
verdade mal fora de alcance. — Mas refresque minha memória por favor.

— O Príncipe Herdeiro Warrehn e seu irmão, o Príncipe Eruadarhd,


estavam viajando pela floresta Revialli, mas sua comitiva retornara sem os
príncipes, dizendo que os príncipes foram sequestrados pelos rebeldes. Foi um
grande golpe para o Quinto Grande Clã, considerando que os pais dos príncipes
teriam morrido apenas alguns meses antes. É bom que o clã tenha um regente
tão capaz ou que não tenha sido destruído em uma guerra civil. Claro, é uma
pena que a linha direta esteja extinta, mas o filho de Lady Dalatteya subirá ao
trono no ano que vem. O Quinto Grande Clã finalmente terá um rei.

Jamil olhou para ele.

— Obrigado, Capitão. Você pode ir.

Quando a porta se fechou atrás do capitão, Jamil reclinou-se em seu


assento, sua mente cambaleando.

***

Jamil tentou se convencer a ficar de fora. Ele disse a si mesmo que não
era da sua conta. Ele deveria ficar longe dos assuntos dos rebeldes — ficar
longe de Rohan di'Lehr. Mas sua força de vontade durou apenas cinco dias.

No sexto dia, ele encontrou a regente do Quinto Grande Clã,


Dalatteya'il'zaver.

— Vossa Alteza —, disse Dalatteya, levantando-se para se curvar para ele


um pouco. Ele poderia ser superior a ela, mas ela era uma daquelas mulheres
que comandavam a sala, mesmo quando ela estava se curvando. A maioria dos
membros da realeza desejava ter metade de seu porte real.

Ela sorriu. — Que surpresa agradável, Príncipe Jamil.

Jamil franziu o cenho interiormente ao uso de seu nome encurtado. Em


geral, era considerado de mau gosto usar o nome abreviado da realeza, a menos
que fosse especificamente requisitado a fazê-lo. Mas ele decidiu ignorar o
deslize, por enquanto.

— Eu não vou tomar muito do seu tempo. Tenho certeza de que você está
ocupada se preparando para entregar as rédeas do clã ao Príncipe Samir. — O
uso do nome encurtado de seu filho não foi um descuido: o Príncipe Samir
tinha dito para ele usar seu primeiro nome.

Dalatteya sorriu mais abertamente, com o orgulho brilhando em seu belo


rosto. Ela podia estar chegando aos sessenta, meia-idade pelos padrões
Calluvianos, mas ela ainda era muito bonita, seu cabelo violeta e olhos azuis
escuros contrastando bem com sua pele pálida. — Na verdade eu não estou,
existe uma quantidade excessiva de papéis, mas felizmente a coroação do meu
filho ainda está a mais de um ano e tenho tempo para organizar os assuntos do
nosso grande clã.

Jamil assentiu, sabendo que era uma situação bastante singular. Como a
linha direta do Quinto Grande Clã havia sido extinta anos atrás, o filho de
Dalatteya deveria ascender ao trono em seu vigésimo quinto aniversário. A
situação era ainda mais complicada pelo fato de que havia alguma incerteza de
que o ex-herdeiro do trono estava realmente morto.

— Eu imagino que deve ser um pesadelo, já que a morte do Príncipe


Herdeiro Warrehn ainda não está confirmada —, Jamil murmurou com
simpatia, observando atentamente a reação dela.
Dalatteya suspirou, seu rosto ficando sombrio. — Receio que não haja
dúvidas sobre a morte do meu sobrinho. É tudo apenas uma formalidade neste
momento.

— Eu achei que o companheiro de ligação do Príncipe Warrehn tivesse


alegado que seu vínculo ainda estava intacto? Isso não indica que o Príncipe
deve estar vivo?

Dalatteya franziu a testa ligeiramente e sacudiu a cabeça. — Eu consultei


o Alto Adepto do Alto Hronthar. Ele disse que às vezes os vínculos de infância
são defeituosos e uma pessoa pode não sentir a morte de seu companheiro de
união. É raro, mas acontece. Além disso, se Warrehn estivesse vivo, ele teria
voltado para casa anos atrás. Já faz dezoito anos. — Ela suspirou. — Agora,
tenho certeza de que você está aqui por outro motivo. Eu sei que você
raramente socializa depois... — Sua expressão era gentil e compassiva. — Eu
não posso enfatizar o quanto eu sinto muito pela sua perda.

Seu tom soou absolutamente sincero, mas algo em suas emoções fez
Jamil olhar para ela com curiosidade. Desde a morte de seu companheiro, suas
habilidades telepáticas estavam um pouco mais fortes. Disseram-lhe que era
normal, mas ainda o desconcertava um pouco. Ele podia sentir melhor as
emoções superficiais de outra pessoa, e agora, Dalatteya não estava triste,
apesar de sua expressão compassiva.

Isso deixou Jamil um pouco desconfiado. Ele nunca pensara que


Dalatteya fosse diferente do que apresentava ao mundo — uma mulher
encantadora, gentil e muito capaz —, então isso era uma surpresa.

— Obrigado —, disse Jamil. — Eu realmente vim aqui porque eu


apreciaria se você compartilhasse comigo todas as informações que você tem
sobre os rebeldes. Ouvi dizer que seu clã realizou operações de busca maciças
quando seus sobrinhos foram sequestrados.
Dalatteya olhou para ele por um momento antes de assentir lentamente.
— Vou ter que pedir ao meu assistente para encontrar os relatórios antigos, mas,
verdade seja dita, eu não acho que eles serão muito úteis para você. Não
conseguimos localizar a base dos rebeldes e paramos de pesquisar a anos. Eu
perdi toda a esperança. — Mais uma vez, havia aquele leve sentimento de
falsidade que contradizia sua expressão sincera.

Jamil manteve o rosto cuidadosamente neutro. — Eu ainda gostaria de


dar uma olhada nos relatórios, se você não se importar.

Dalatteya deu-lhe um olhar que só poderia ser descrito como piedoso. —


Perdoe meu atrevimento, Vossa Alteza, mas você deveria seguir em frente.
Manter a sua dor não vai mudar nada. Eu entendo que você quer se vingar
dessas pessoas desprezíveis, mas isso não trará seu companheiro de volta.
Ninguém sabe onde essas criaturas miseráveis estão escondidas. Você não os
encontrará lendo relatórios antigos.

Ali. Ele tinha certeza que ele detectou uma centelha de preocupação.

Pela primeira vez, Jamil permitiu-se seriamente considerar a ideia de que


Rohan lhe contara a verdade — considerar racionalmente, em vez de confiar
apenas em seus instintos. Tudo se encaixava com o que Rohan lhe dissera: o
Príncipe Herdeiro Warrehn, que desapareceu anos atrás, presumivelmente
sequestrado ou morto pelos rebeldes; tentativas de assassinato ao longo dos
anos; O filho de Dalatteya que estava prestes a ascender ao trono em breve; um
inimigo poderoso que os rebeldes haviam feito.

Dalatteya, apesar de todas as suas maneiras gentis, era uma figura política
muito poderosa. Ela era altamente respeitada e admirada por prevenir com
sucesso uma guerra civil e governar o Quinto Grande Clã com um pulso de
ferro como regente. Ela tinha inúmeros defensores no Conselho, tanto entre as
casas reais quanto os membros eleitos.
Mas ainda era difícil acreditar que Dalatteya pudesse ter alguma coisa a
ver com a morte de Mehmer. Por que ela faria isso?

Não, havia outra coisa; Ele estava certo disso.

Jamil também tinha certeza de que Rohan não lhe contara toda a verdade.

— Você provavelmente está certa —, disse Jamil. — Eu sei que você está
certa, mas não é fácil. Eu ainda gostaria de ler esses relatórios antigos. Mesmo
que eu não encontre nada, vou me sentir melhor sabendo que fiz tudo o que
podia para vingar meu marido.

Dalatteya assentiu e ficou de pé. — Muito bem, Vossa Alteza. Vou enviar-
lhe os relatórios assim que o meu assistente os encontrar.

Jamil levantou-se e deu-lhe uma reverência superficial. — Obrigado.

Ele saiu de seu escritório, sentindo-se mais do que um pouco


desconfortável. Ele esperava que ela aliviasse suas suspeitas, fazendo as
alegações de Rohan parecerem ridículas, mas se qualquer coisa, seu
comportamento indiretamente confirmou tudo o que Rohan tinha dito.

Agora ele tinha mais uma razão para falar com Rohan di'Lehr em vez de
apenas saciar sua curiosidade e seguir em frente.

Droga.
CAPÍTULO 8

Ele acabou na frente da porta de Rohan mais tarde naquela noite.

Olhando ao redor, conscientemente, Jamil levantou a mão e bateu,


tentando não pensar sobre o que os servos pensariam se o vissem aqui.

Finalmente, a porta foi aberta, e Rohan olhou para ele, sem camisa e
irritado, esfregando os olhos fechados com as costas das mãos, claramente tinha
acabado de acordar.

Jamil lambeu os lábios secos, tentando manter os olhos no rosto do


rebelde e ignorar seu estado de nudez, mas era frustrante, embaraçosamente
difícil. Rohan di'Lehr exalava a masculinidade crua de um modo
completamente estranho a Jamil, que estava acostumado com aristocratas bem-
educados, impecavelmente vestidos e adequados. Vendo aqueles músculos
esculpidos e tatuagens estranhas por toda a pele marrom era — chocante.
Vulgar. Completamente inapropriado. Jamil ficou envergonhado por ter notado
isso — mas continuou notando.

— O que você está fazendo aqui?

Jamil voltou a sua postura, odiando o quão desequilibrado e impotente ele


se sentia. Era bobo. Ele era o Príncipe Herdeiro. Este homem era seu
empregado, seu súdito, um fora da lei que ele poderia prender a qualquer
momento.

— Vossa Alteza —, disse Jamil

Rohan soltou uma risada que fez algo quente se desenrolar na boca do
estômago de Jamil.
— Sério? — Rohan disse. — Você está realmente insistindo em formas
de tratamento quando você está no meu quarto à uma da manhã?

— Eu não estou no seu quarto ainda.

Rohan levantou as sobrancelhas e deu um passo para o lado para permitir-


lhe a entrada. — Por favor, entre, então. Vossa Alteza.

Ele não precisava fazer o som honorífico parecer uma zombaria.

Jamil entrou no quarto. Ignorando a cama desfeita, ele se virou assim que
Rohan fechou a porta e se inclinou contra ela como um grande gato.

Observando-o com aqueles inescrutáveis, olhos assustadoramente


intensos e escuros, Rohan murmurou: — Desde que ninguém tentou me
prender, eu presumo que você não tenha contado a ninguém sobre mim.

Jamil esfregou a nuca. — Não —, disse ele, tentando manter o olhar no


rosto de Rohan sem realmente encontrar seus olhos. Mesmo um breve contato
visual deixou a estranha atração entre eles ainda mais intensa, algo dentro dele
precisando. Ele sabia que era apenas sua compatibilidade natural, algo que ele
não podia mudar, mas ainda parecia tão errado precisar de tais coisas de um
homem que não era seu marido.

Não era como se Jamil fosse puritano. Ele tinha sido um homem casado.
Ele esteve casado por oito anos e gostava muito da intimidade com o marido.
Mas ele nunca olhou para um homem e o queria dentro, como agora. Era
obsceno. Embora Rohan tivesse alegado que essa… compatibilidade não
causava atração física, Jamil achou difícil separar a necessidade de ter um ato
físico que ele normalmente associava a ela.

Céus, era tão degradante. Isso o fez se sentir sujo. Mehmer tinha partido
há apenas cinco meses. Compatibilidade biológica ou não, ele não deveria
querer o toque de outro homem, seja mental ou físico.

— Então, a que devo o prazer?

Jamil hesitou antes de retirar um holochip do bolso. — Isso é tudo o que


temos sobre a morte de Mehmer. Não é muito. Sua aeronave foi desintegrada,
então obviamente não haveria... não haveria muito. — Ele desviou o olhar. —
Aparentemente, não há prova real de que os rebeldes foram os que fizeram isso.
Tudo é conjectura. A única evidência que temos é um panfleto pró-rebelião
encontrado na área. Isso é tudo.

Ele sentiu ao invés de ouvir Rohan se aproximar. Ele pegou o holochip de


Jamil.

Seus dedos se roçaram.

Jamil estremeceu, sua mente esvaziando de todos os pensamentos. Seu


olhar foi para o rosto de Rohan, encontrando aqueles olhos negros. A
intensidade deles era aterrorizante. Ele sentiu como se estivesse se afogando
neles, incapaz de ver nada além de preto.

Suas mãos se agarraram, apertando com força, tão fortemente que era
quase doloroso. Alguém choramingou e Jamil levou um momento para perceber
que foi ele.

— Puta merda — Rohan rosnou, puxando-o para frente. Braços fortes e


nus envolveram Jamil em um aperto mortal, trazendo-o contra o peito nu. Os
olhos de Jamil se fecharam. Ele fez outro pequeno som, seus sentidos se
sobrecarregando. Ele não conseguia pensar. Não havia pensamentos. Ele só
podia apenas absorver essa proximidade, precisando disso como se precisasse
de ar, sua mente felizmente vazia. Ele estava distantemente ciente de dedos
fortes percorrendo sua espinha, até seu rosto, até que eles pressionaram logo
abaixo da orelha, onde o núcleo telepático de Jamil pulsava sob a pele,
chamando-o, desejando. Ele queria... ele queria....

A boca de Rohan se fechou naquele ponto, dentes mordendo a pele


sensível. Jamil gemeu, tremendo. Rohan chupou por um momento longo e feliz
antes de repente se afastar.

Eles se encararam, respirando com dificuldade, os olhos de Rohan


brilhando e muito escuros. — Eu não gosto de homens —, Rohan disse
secamente, algo como perplexidade zangada cintilando em seu rosto.

Jamil olhou para ele, ofendido pelo que ele estava sugerindo. Eu garanto
que não estou interessado em você também. — E ainda assim, não fui eu que
me dei um chupão.

Os lábios de Rohan se afinaram. — Um impulso que eu não consegui


controlar. Você deveria ir embora.

Jamil levantou o queixo. — Eu vou, quando você parar de esmagar minha


mão e me libertar.

Rohan apertou as mãos unidas dando-lhe um olhar azedo e frustrado.


Lentamente, bem devagar, a mão bronzeada soltou a de Jamil. No momento em
que o fez, Jamil reprimiu um gemido infeliz. Ele sentiu a perda tão agudamente
que beirava a dor.

Rohan fez uma careta. Ele respirou fundo, seus olhos se fecharam por um
momento, sua mandíbula cerrada. Quando ele abriu os olhos novamente, havia
uma aparência de controle neles. — Certo. Ignorar o problema claramente não
está funcionando.

Jamil quase riu. Isso era um eufemismo. — O que você propõe? — Ele
disse, cruzando os braços sobre o peito para esconder o tremor de seus dedos.
Rohan sorriu sem humor. — Você não vai gostar, Alteza.

— Deixe-me que eu decida isso.

— Proponho que façamos isso e acabemos logo com isso.

O coração de Jamil começou a bater tão rápido que o deixou um pouco


tonto. — Isso? — Ele conseguiu, incapaz de acreditar que Rohan estava
realmente sugerindo o que ele achava que ele estava sugerindo.

Olhos negros encontraram os dele. — Uma fusão. Nós claramente não


conseguiremos avançar em nada até que possamos tirar isso dos nossos
sistemas.

O estômago de Jamil se contorceu. O que Rohan estava propondo era


ultrajante — para não mencionar ilegal. Uma fusão telepática era a forma mais
profunda de contato mental entre dois indivíduos, banida em todos os planetas
da União por causa de quão profundamente invasiva e perigosa era. Também
era incrivelmente íntima, geralmente praticada apenas por casais que confiavam
um no outro implicitamente.

A mera sugestão de permitir que um quase desconhecido — um rebelde


— penetrasse em sua mente, deveria tê-lo horrorizado e enfurecido. Deveria.
Não deveria fazê-lo se sentir ansioso. Não deveria fazê-lo sentir como se ele
fosse um homem faminto esperando por um banquete.

— Você está louco? —, Ele conseguiu, colocando seu melhor rosto


ofendido.

Um músculo trabalhou na mandíbula de Rohan. — Olhe, Vossa Alteza.


Nós claramente não podemos continuar assim. Eu não sei sobre você, mas estou
doente e cansado de sentir que não possuo uma alta função cerebral no
momento em que você entra na sala. Temos coisas para discutir. Coisas reais e
importantes para as quais estou aqui. Eu não posso continuar me destruindo
com esse... estúpido e inconveniente desejo de foder seu cérebro literalmente.

Jamil tinha certeza de que ele nunca havia corado tanto em sua vida até
conhecer Rohan di'Lehr.

— Eu concordo que esta questão é altamente inconveniente —, Jamil


disse, com tanta dignidade quanto ele poderia reunir. — Mas o que você está
sugerindo é... impensável. Talvez seja diferente em Tai'Lehr, mas aqui em
Calluvia, fusões telepáticas são consideradas mais íntimas do que... relações
sexuais.

A boca de Rohan se contraiu. — Eu acho que é a primeira vez que eu


ouço alguém dizer “relação sexual”. — Quando Jamil olhou para ele, ele
fechou o sorriso, a diversão desaparecendo de seus olhos. — A opinião sobre
fusões telepáticas não é tão diferente em Tai'Lehr. As pessoas geralmente fazem
isso apenas com pessoas em quem confiam, o risco de prejudicar seu parceiro é
realmente grande, porque somos telepatas mais fortes do que vocês,
Calluvianos.

— Então por que você está sugerindo isso?

— Você sabe o porquê —, Rohan disse baixinho, encontrando o olhar de


Jamil e segurando-o, o ar entre eles engrossando com o agora familiar desejo de
proximidade.

O estômago de Jamil se apertou.

— Isso é muito forte para nós ignorarmos —, disse Rohan, dando um


passo mais perto. — Eu não sei sobre você, mas eu realmente não estou bem
sobre continuar dando-lhe chupões, Vossa Alteza.
— Eu também não estou bem com isso —, disse Jamil, com o rosto
aquecido. — Mas eu amava muito meu marido e o pensamento desse tipo de
intimidade com outro homem é revoltante para mim.

— Seu marido está morto —, disse Rohan categoricamente. — Ele não se


importa. — Jamil olhou furioso para ele. Rohan parecia indiferente. — Só vai
piorar, Vossa Alteza. — Seus lábios se torceram quando ele baixou o olhar para
o pescoço de Jamil. — Já é muito ruim quando estou lhe dando chupões. Eu
não sou atraído por homens. Isso está bagunçando nossas cabeças.

Jamil umedeceu os lábios com a língua. — E você realmente acha que


uma fusão ajudaria?

Rohan assentiu. — Deveria. Antigamente, quando eu tinha um bom Fit


com alguém, a atração ficava mais fácil de ignorar depois de uma fusão. —
Algo cintilou em seus olhos escuros. Ele fez uma careta. — Bem, é verdade que
nunca foi tão ruim assim, mas ainda deve funcionar.

Jamil hesitou. Ele não podia negar que era tentador finalmente se livrar
desse anseio terrível e inadequado em sua pele. Mas…

Como se sentisse suas dúvidas, Rohan falou novamente. — Eu sei que


uma fusão é muito íntima, mas não tem que significar nada. Eu tentarei torná-lo
o mais rápido e impessoal possível.

Um riso estrangulado deixou a garganta de Jamil. — Como uma fusão


telepática pode ser impessoal?

— Nós vamos ter que tentar descobrir —, disse Rohan, encolhendo os


ombros um pouco. Sua voz caiu para um murmúrio rouco. — Deixe-me?
Deixe-me entrar em você? Só uma vez.
Calor passou pela a boca do estômago de Jamil. Ignorando a voz no
fundo de sua mente, gritando que estava cometendo um erro, Jamil assentiu
atordoado.

As narinas de Rohan se abriram.

Por um momento, eles apenas se encararam. Então a mão de Rohan


embalou a cabeça de Jamil, seu polegar pressionando contra seu ponto
telepático. Um som sem fôlego deixou os lábios de Jamil, seu mundo inteiro se
estreitando para aquela mão e aqueles olhos negros. Calor penetrou em seus
sentidos, lentamente, muito devagar, uma sensação inigualável se espalhando
por seu corpo. Ele podia sentir outra presença entrando nele, e tudo nele se
estendeu avidamente, tentando puxá-lo mais fundo, engoli-lo. Alguém soltou
um gemido ofegante, mas Jamil não sabia quem foi. Parecia... parecia terrível e
terrivelmente bom, a intensidade da conexão era assustadora e perfeita de uma
só vez. Ainda não era suficiente. Ele queria mais.

— Mais fundo.

— Isso seria... insensato, Vossa Alteza. — A voz mental de Rohan era


baixa e suave, muito mais quente que a sua verdadeira.

— Mais fundo.

Rohan obedeceu, deslizando mais profundamente dentro dele, passando


pelas camadas superiores de sua mente, em direção ao seu núcleo telepático.
Ele parecia distraído agora, irritado com alguma coisa. Graças à conexão
profunda deles, Jamil levou apenas um momento para perceber o que o estava
incomodando: sua ligação com Mehmer, ou melhor, os remanescentes dela
ainda giravam em torno do núcleo telepático de Jamil.

— Essa coisa é vil. — Rohan foi em direção a ela.


— Não faça isso.

— Você percebe que está limitando a sua telepatia, certo?

— Nós dois sabemos que não é a razão pela qual você deseja removê-la.

Um surto de irritação veio do outro homem, mas Rohan não podia negar
— não quando Jamil podia sentir seus pensamentos quase tão claramente
quanto os seus. A presença de Rohan se apertou ao redor dele, algo cruel e
possessivo. Jamil provavelmente deveria ter ficado incomodado com isso — até
chateado —, mas era difícil ficar incomodado com essa exibição inapropriada
de possessividade quando ele se sentia tão bem, seus nervos cantando de prazer.
Ele só podia arrastar Rohan mais fundo dentro dele, sentindo seu prazer
respondendo enquanto eles se envolviam cada vez mais perto e perto um do
outro. Céus... Se Jamil pensou que ele estava se afogando antes, ele não sabia
uma palavra para descrever esse sentimento. A pura felicidade enchera sua
mente até a borda, cada sensação compartilhada entre eles em todos os níveis
possíveis, uma conexão tão absoluta que ele teve dificuldade em dizer onde ele
terminava e Rohan começava. Ele nunca se sentira mais próximo de outra
pessoa. Ele podia sentir o coração de Rohan batendo, ele podia sentir o prazer
viajando através do corpo de Rohan quase tão vividamente quanto ele sentia o
seu próprio.

Parecia tão bom quanto sexo.

Esse pensamento fez Jamil imaginar fazer isso durante o sexo — e ele
estremeceu, imaginando seus corpos conectados tão intimamente quanto suas
mentes estavam agora.

— Pare de pensar em sexo, querido. É estranho.

Em qualquer outra circunstância, Jamil teria se sentido humilhado. Mas


com a mente tão profundamente entrelaçada, era impossível que houvesse
qualquer constrangimento entre eles. Eles eram quase como uma única pessoa.

— Não que eu te culpe —, Rohan disse a ele, seus pensamentos atados


com diversão suave. — Eu sei que você não pode evitar. Eu sempre fiz sexo com
mulheres que me fundi. É natural misturar prazer mental com físico. — Parecia
que ele estava sorrindo. — De qualquer forma, eu apreciaria se você pudesse
parar de pensar no meu pau. É um pouco estranho. Eu não faço sexo com
homens.

— Ainda está aumentando o seu ego. — Se eles tivessem tido essa


conversa fora da fusão, Jamil teria se sentido mortificado. Mas tais
preocupações pareciam tão distantes e irrelevantes no momento.

— Claro que está. Eu te disse: você é lindo, para um homem. É muito


lisonjeiro.

— Pare de me chamar de lindo. Eu não gosto disso.

Uma risada. — Querido, eu estou tão dentro de você que eu posso sentir o
que você está realmente sentindo e você não está ofendido.

— Cale-se.

— Você não quer que eu cale a boca.

— Saia da minha cabeça.

— Você também não quer isso.

Jamil se concentrou no que Rohan estava sentindo e disse secamente: —


E você acha que eu tenho a mente mais linda que você já sentiu.

Mas se ele achava que isso iria embaraçar Rohan, parecia que ele estava
muito enganado.
— Você tem, mas seria mais linda sem essa coisa feia nela —, disse
Rohan, cutucando os restos de seu vínculo com Mehmer.

— Sua possessividade é tão desconcertante quanto inapropriada.

— É a fusão. Eu não sou responsável por me sentir assim.

— Conveniente —, Jamil disse.

— É a verdade. Uma fusão bem-sucedida faz com que as pessoas se


sintam muito mais próximas do que delas são. Assim como você não gostaria
de fazer sexo comigo na vida real, quando terminarmos a fusão, eu pararei de
querer arrancar o vínculo de outro homem da sua mente. É a fusão, não nós.

Jamil teve que admitir que ele tinha um ponto. Tudo era intenso demais
dentro da fusão, cada sentimento amplificado ao extremo. Conversar com um
estranho tão sinceramente deveria ter parecido estranho, mas não era. Ser tão
íntimo com um estranho deveria ter sido desconfortável, mas não era. Parecia
tão natural quanto respirar, e o estranho não se sentia mais como um estranho.
Parecia que ele conhecia Rohan di'Lehr a vida toda. Era... um pouco
desconcertante, verdade seja dita, esse nível de confiança entre eles. Este
homem era um rebelde. Os rebeldes eram...

— Nós não matamos o seu marido —, Rohan lembrou a ele.

Jamil respirou, sabendo que ele estava dizendo a verdade. As últimas


dúvidas que ele tinha sobre isso tinham desaparecido agora. Rohan não podia
mentir para ele quando suas mentes estavam tão profundamente conectadas. Os
rebeldes realmente não mataram Mehmer.

Outra pessoa tinha.

Jamil suspirou, não querendo realmente pensar ou falar sobre isso, mas
bem ciente de que deveria. A morte de Mehmer era algo que ele acabara de
aceitar; falar sobre isso era como uma ferida mal cicatrizada. Ele estava com
medo de que ela começasse a sangrar de novo — e com medo de que isso não
acontecesse. Sofrimento, dor e perda eram emoções que não podiam estar mais
longe dele naquele momento; não quando ele se sentia tão bem, com a mente
deste homem envolvida firmemente em torno de seu próprio ser, fazendo-o
sentir maravilhosamente seguro.

E isso o fez se sentir absolutamente terrível. Como ele poderia se perder


no prazer e no sentimento de segurança dado a ele por outro homem quando
sabia que Mehmer não foi vítima de um conflito político? Que ele havia sido
assassinado, possivelmente assassinado por alguém que Jamil via todos os dias,
alguém que andava pelas ruas, livre e impune, vivendo dos frutos de seu crime,
enquanto Jamil nem ao menos tinha o corpo do marido para se despedir.

Ele devia a Mehmer encontrar essa pessoa. Ou pelo menos tentar.

Jamil forçou os olhos a abrir e lutou contra a desorientação enquanto sua


mente lutava para prestar atenção em qualquer coisa que não fosse a fusão. —
Aquele inimigo que você mencionou... é a regente do Quinto Grande Clã, não
é?

As pálpebras de Rohan se levantaram. Seus dedos ainda estavam


pressionados contra o ponto telepático de Jamil, então a fusão não se rompeu.
Foi um sentimento tão surreal. Embora o olhar de Rohan fosse inescrutável e
largamente indiferente, sua mente ainda o tocava intimamente,
possessivamente, e Jamil podia sentir que, embora Rohan se sentisse um pouco
irritado por ter adivinhado a verdade, também se sentia quase orgulhoso por
Jamil. Isso fez Jamil querer se regozijar, o que era tão ridículo que ele queria se
dar um tapa.

— Sim —, Rohan disse finalmente. — Mas eu não acho que ela tenha
algo a ver com a morte do seu marido. Não faz nenhum sentido. Ela não teria se
arriscado a matar um membro de outra casa real quando seu filho está tão perto
de finalmente ascender ao trono.

Jamil ainda tinha dificuldade em acreditar que Dalatteya fosse capaz de


assassinato.

— Ela não é a inofensiva dama da sociedade que ela finge ser —, disse
Rohan, como se estivesse lendo seus pensamentos, o que ele provavelmente
estava.

Jamil suspirou. — Os rebeldes realmente não sequestraram os sobrinhos


de Dalatteya, não é?

— Não.

Embora Jamil estivesse esperando essa resposta, as implicações disso


ainda o incomodavam, ou o teriam perturbado se ele fosse capaz de sentir
qualquer coisa além de bom, seguro, certo.

— Nós provavelmente devemos quebrar a fusão —, Jamil disse, baixando


o olhar. Ele esperava que Rohan não pudesse sentir sua relutância.

— Nós provavelmente deveríamos —, Rohan concordou, mas sua mente


se apertou ao redor dele, algo agressivo e ganancioso sobre isso, seus dedos
mentais estimulando os centros de prazer de Jamil.

Um gemido escapou da boca de Jamil. Respirando de forma instável, ele


olhou para Rohan. — Pare com isso. Isso é indecente.

Os lábios de Rohan se contraíram. — Indecente? Você é a pessoa mais


puritana que já conheci, querido.

— Pare de me chamar assim —, Jamil disse, corando. Uma coisa era


permitir carinhos inapropriados quando se comunicavam telepaticamente; era
completamente outra deixar passar quando Rohan os usava em voz alta.

Rohan encolheu os ombros. — Sinto muito, Vossa Alteza. Um efeito


colateral da fusão.

Jamil olhou para ele com desconfiança — ele não parecia nada
arrependido, mas deixou para lá. — Quebre a fusão —, ele disse em vez disso.

— Você pode quebrá-la também, você sabe —, disse Rohan, parecendo


divertido, o bastardo.

Jamil meio que queria socá-lo para limpar aquele sorriso arrogante de seu
rosto.

Idiota.

— Obrigado —, disse Rohan, seu sorriso se alargando. — Isso é


praticamente um elogio de toque vindo de alguém tão tenso.

— Eu sou um Príncipe —, disse Jamil, erguendo o queixo.

Rohan bateu no nariz dele com o polegar. — É adorável que você pense
que ser um príncipe deve ser sinônimo de ser tenso.

Jamil o lançou um olhar fulminante, que Rohan apenas riu. O homem


impossível parecia achá-lo divertido.

Supremamente irritado, Jamil recuou, sacudindo os dedos de Rohan. A


fusão se rompeu, quase dolorosamente, deixando-o sem fôlego e trêmulo.

Rohan fez uma careta, seus dedos se contorcendo em direção a Jamil


antes de ele os enrolar em um punho. — Algum aviso teria sido bom —, disse
ele irritado.
Jamil respirou fundo, tentando se ajustar a ficar sozinho em sua cabeça
novamente.

Parecia incrivelmente desconcertante. Ele odiava isso.

Ele olhou de volta para Rohan e viu o mesmo sentimento em seus olhos.
Eles se entreolharam, zangados, confusos e famintos, ainda tão famintos um
pelo o outro.

— Não funcionou, não é? — Jamil disse, desanimando. Ele não sentiu


que a fusão ajudou em alguma coisa. Se alguma coisa, o anseio parecia ter se
tornado mais forte.

As sobrancelhas escuras de Rohan se aproximaram, sua expressão


vagamente irritada. —Valeu a pena tentar —, disse ele. — E não foi por nada.
Agora você sabe que estou dizendo a verdade.

Jamil assentiu, passando a mão trêmula pelo cabelo. — Vou te ajudar.


Quero descobrir quem assassinou meu marido e levá-lo à justiça.

Uma estranha expressão cintilou no rosto de Rohan.

Jamil desejou saber o que ele estava pensando. Ele desejou que ele ainda
o tivesse dentro dele para que ele não tivesse que adivinhar.

Ugh, chega.

— Bom —, disse Rohan depois de um momento, desviando o olhar. —


Estou feliz que estamos na mesma página. — Ele caminhou até a mesa perto da
janela e se serviu de um copo de água. Ele bebeu e olhou para o copo vazio, seu
olhar distante, imerso em pensamentos. Sua mandíbula estava cerrada e havia
algo agitado sobre ele, seus ombros e os músculos de suas costas tensos sob sua
pele marrom-mel.
Jamil não conseguia desviar o olhar, seu estômago se contorcendo. Rohan
pode não ser atraído por homens, mas infelizmente, Jamil não poderia dizer o
mesmo sobre si mesmo. Disse a si mesmo que era natural admirar um espécime
de aparência elegante. Não era nada mais que isso. Ele era viúvo, não morto.

— Eu preciso entrar no Quinto Palácio Real —, Rohan finalmente disse,


colocando o copo na mesa. — Mesmo que a regente não tenha nada a ver com a
morte do seu marido, ela pode ser a responsável por outras tentativas de criar
uma má reputação. A campanha anti-rebelde dos últimos anos começou na
mesma época em que as tentativas de assassinato de Warrehn aconteceram. Eu
não acredito em coincidências. Preciso descobrir como ela sabe onde fica a casa
dos rebeldes. Era o nosso segredo mais bem guardado. Se houve um
vazamento, preciso encontrá-lo. Eu preciso descobrir quem mais sabe que os
rebeldes vivem em Tai'Lehr.

Havia coisas que Jamil poderia ter perguntado. O destino do Príncipe


Warrehn, por exemplo. Como ele acabou em Tai'Lehr e por que ele não voltou
para casa?

Mas Jamil ainda se sentia muito abalado com a fusão e queria sair o mais
rápido possível, para poder processar tudo na privacidade de seus aposentos,
longe daquele homem e do estranho efeito que ele exercia sobre ele.

— Seria muito difícil para você entrar em seu palácio —, Jamil disse,
limpando a garganta. — As medidas de segurança do regente são... um pouco
extensas. As únicas pessoas isentas de verificação de antecedentes são membros
de outras casas reais e sua comitiva porque seria considerado um insulto.

— Então eu posso apenas acompanhá-lo?

Jamil sacudiu a cabeça. — Você não pode simplesmente me acompanhar.


Você terá que ser oficialmente listado como um membro da minha equipe
pessoal primeiro. — Ele franziu a testa. — Minha casa está cheia, exceto pela
posição de meu servo pessoal. Eu nunca tive motivos para ter um. Eu sou
perfeitamente capaz de me vestir.

— Você está sugerindo que eu me torne seu servo?

Jamil olhou para Rohan, perplexo. Havia algo afrontoso e incrédulo no


tom de Rohan, como se ele não pudesse imaginar ser um servo de um príncipe.
Jamil se sentiu um pouco ofendido, para ser sincero. — Só para você saber, é
uma posição muito cobiçada. Definitivamente, mais prestigiosa do que ser um
treinador zywern sujo e suado.

Um lampejo de diversão cruzou o rosto de Rohan. — Se você diz, Alteza.

Jamil estreitou os olhos. — Por que eu sinto que você está rindo de mim?

— Nunca —, Rohan brincou. — Estou honrado em aceitar um emprego


tão cobiçado.

Fingindo que ele não podia ouvir os tons de riso na voz de Rohan, Jamil
disse: — Está resolvido, então. Vou transferi-lo oficialmente para minha equipe
pessoal.

Rohan levantou as sobrancelhas. — E o Mestre da Casa não achará


estranho que você esteja nomeando um treinador zywern para ser seu criado?

Jamil franziu a testa. Rohan estava certo. É claro que Weyrn acharia
estranho.

Rohan pegou a camisa branca jogada nas costas da cadeira e encolheu os


ombros, seus músculos ondulando. Dedos escuros começaram a abotoar a
camisa. — Deixe-me falar com ele. Eu vou convencê-lo de que não há nada de
estranho nisso.

— Você quer dizer mexer na mente dele —, disse Jamil.


Rohan deu de ombros, sorrindo um pouco. — Não faz diferença, Alteza.

Jamil franziu os lábios, tentando fingir que odiava o modo como Rohan
dizia Alteza.

Não parecia mais zombaria. Soava... quase carinhoso. Como um carinho.

Ugh, ele realmente queria dar um tapa em si mesmo. Que diabos, sério.

— Você vai até ele agora? É uma da manhã.

— Momento perfeito —, disse Rohan. — Os escudos das pessoas são


mais fracos enquanto estão com sono ou dormindo.

— Você é desprezível —, disse Jamil.

Sorrindo, Rohan se inclinou e deu um tapinha no nariz dele. — E você é


fofo quando está indignado e espinhoso.

Jamil olhou para ele, odiando o quão indiferente era sua indignação — e
odiando o fato de que ele estava se inclinando para o toque de Rohan, para a
mão que havia se movido do nariz até a sua bochecha.

O polegar de Rohan escovou abaixo de sua orelha, fazendo Jamil


estremecer.

Olhos negros olhavam para aquele ponto.

— Você deveria usar um regenerador dérmico —, disse Rohan, sua


expressão muito estranha.

Jamil umedeceu os lábios secos com a língua. — Você gosta disso. Você
gosta que eu tenha uma marca que você deixou em mim. — Era uma
declaração, não uma pergunta. Com o polegar de Rohan contra seu ponto
telepático, a conexão entre eles se acendeu novamente. Era mais fraco que uma
fusão verdadeira, mas ele ainda podia sentir algumas das emoções de Rohan. E
suas emoções estavam muito em desacordo com suas palavras. Rohan sentiu
satisfação ao olhar para a marca da mordida.

— Sim —, disse Rohan com uma careta, retirando a mão. — É por isso
que você precisa curar a marca.

Jamil respirou de maneira uniforme, reprimindo a vontade de pegar a mão


de Rohan e colocá-la de volta nele.

— Eu vou —, disse ele. Claro que ele faria. Ele não podia deixar alguém
notar uma marca de mordida tão alta em seu pescoço. Mesmo uma gravata não
esconderia a menos que ele fosse realmente criativo com ela.

— Bom —, Rohan disse, evitando seu olhar. — Estou indo. Vá para o seu
quarto antes que alguém note você nessa parte do palácio.

— Você é terrivelmente arrogante para um treinador zywern —, disse


Jamil, inclinando a cabeça. — Qual é a sua ocupação principal em Tai'Lehr?

Um fantasma de um sorriso tocou os lábios de Rohan. — Nós não


estabelecemos que eu sou apenas um brutamontes sem cultura, Alteza? Vá.

Atirando-lhe um olhar fulminante, Jamil estava fumegando porque Rohan


se recusou a lhe dar uma resposta direta.

Ele retornou ao seu quarto, ainda sentindo-se agitado e vagamente


frustrado.

Ele se despiu e foi para a sua cama, mas o sono se recusou a vir. Ele
queria…

Ele queria.
Pela primeira vez desde a morte de seu marido, Jamil encontrou a mão
escorregando para baixo do corpo e em sua roupa íntima. Ele estava duro, sem
motivo algum. Duro e incrivelmente excitado.

E embora ele não pensasse em nada nem em ninguém enquanto se


acariciava rápido e forte, ele ainda se sentia vagamente sujo, como se tivesse
feito algo errado.

Talvez ele tivesse.


CAPÍTULO 9

A primeira coisa que Jamil viu quando saiu do quarto na manhã seguinte
foi Rohan Di'Lehr. Ele estava encostado na parede oposta.

Jamil parou, observando a forma alta de Rohan vestida com seu novo
uniforme. Todos os membros das casas reais usavam ternos pretos com os
detalhes da Casa que serviam. Como as cores da família de Jamil eram brancas
e azuis, Rohan usava um terno preto bem ajustado que abraçava seus ombros e
seus braços, uma camisa branca, um colete azul e uma simples gravata branca.

Era apenas um uniforme.

Tirando o olhar daquele pescoço bronzeado por cima da gravata branca,


Jamil lambeu os lábios e cruzou as mãos nas costas. — Eu vejo que você foi
bem sucedido em “convencer” o Mestre da Casa.

Rohan deu um aceno de cabeça rápido. — Não foi difícil. Você precisa
aumentar sua segurança. Eu não sou o único telepata de alto nível na galáxia.
Você tem sorte de eu não estar interessado em causar-lhe mal.

Fazendo uma anotação mental para encontrar uma solução para essa
fraqueza na segurança, Jamil saiu de seus aposentos. Ele se sentiu... estranho
tendo Rohan em qualquer lugar perto dele, considerando que ele passou metade
da noite se mexendo em sua cama, muito agitado para dormir por causa da
fusão ilegal com que ele se envolveu com um homem que não era seu marido.
— Tão agitado que, pela primeira vez em meses, ele teve que se masturbar para
se livrar da tensão. Duas vezes.
Jamil sentiu seu rosto queimar com a lembrança. Ele limpou a garganta
quando Rohan deu um passo ao lado dele. — Ande como um servo, pelo amor
de Deus.

— Como um servo? — O homem audacioso teve a coragem de soar


divertido.

— Você deveria andar a um passo atrás de mim. Mantenha a cabeça


ligeiramente abaixada. Não olhe diretamente para os olhos de ninguém, a
menos que seja abordado.

Embora Rohan seguisse suas instruções, não parecia fazer muita


diferença. Embora tivesse o cuidado de ficar um passo atrás dele, Jamil poderia
dizer que não estava acostumado a mostrar tal deferência. Seu porte ainda
estava errado. Muito orgulhoso, muito seguro de si.

Jamil franziu a testa, sem saber como consertar isso. Não era que os
servos não pudessem ser confiantes — muito pelo contrário — mas bons servos
eram feitos para não serem vistos. Jamil tinha dificuldade em acreditar que
alguém deixaria de notar esse homem. Ou talvez fosse só ele. Ele estava tão
ciente da presença de Rohan que ele dificilmente poderia ser um juiz imparcial
sobre se ele era perceptível ou não.

— E sobre o seu outro trabalho? — Jamil disse, olhando para a frente. —


Quem vai treinar aquele zywern?

— Eu já fiz a parte mais difícil, consegui que ele aceitasse um piloto.


Qualquer instrutor semidecente deve ser capaz de levá-lo de lá. Onde estamos
indo?

Eu não faço ideia.


— Um bom criado não faz perguntas —, Jamil disse arrogantemente, com
o rosto um pouco quente.

— Fofo.

— Perdão? — Jamil disse, ainda olhando na frente dele. Ele tinha a


sensação de que encontraria Rohan sorrindo se olhasse em sua direção.

— Você é fofo quando age como um príncipe.

— Não. — Jamil passou a mão pelo cabelo. — E eu não sou fofo.

— Confie em mim, querido, eu nunca usaria essa palavra se não se


encaixasse. — Rohan soltou uma risada. — Eu não acho que eu já falei isso
para alguém, na verdade. Até agora.

Jamil franziu os lábios. — Eu lhe disse para parar de me chamar assim.

— Minhas desculpas, Alteza.

Jamil mal se absteve de revirar os olhos. Isso teria sido indigno e infantil.
— Você está fazendo isso de propósito, tentando me irritar.

— Está funcionando?

Virando a cabeça para esconder o sorriso, Jamil disse: — O que eu não


entendo é por que você está fazendo isso. É contraproducente se você quiser
que eu te ajude.

Rohan não disse nada por um momento.

— Para ser honesto, não tenho certeza —, disse ele finalmente, parecendo
um pouco surpreso. — Eu não consigo parar.

Eu gosto de ver você ficar todo espinhoso e indignado. Eu gosto de


observar você, ponto final.
Os passos de Jamil falharam quando ele inadvertidamente pegou esse
pensamento. O fato de ele ter pegado era extremamente preocupante, já que
eles não estavam nem olhando um para o outro. Ler os pensamentos errôneos
de um telepata de alto nível deveria ter sido impossível sem contato visual. Isso
dizia muito sobre sua compatibilidade mental.

Não que ele precisasse de qualquer outra confirmação de sua


compatibilidade mental, quando seu núcleo telepático estava literalmente
doendo, querendo o toque mental de Rohan.

Seu olhar disparou para Rohan e ele encontrou o homem já olhando para
ele. Encarando-o.

Jamil olhou com o rosto quente e o estômago em nós. — Eu pensei que


você fosse heterossexual.

As sobrancelhas de Rohan se contraíram. — Eu sou.

— Então por que você está me encarando?

Rohan sorriu torto. — Todo mundo encara, Alteza. Você é uma ótima
visão. Eu não preciso gostar de pau para esteticamente apreciar seu rosto
bonito.

Jamil abriu a boca e fechou-a com firmeza, não querendo dar a satisfação
a Rohan: o bastardo estava fazendo isso de propósito, tentando chocá-lo. E
desde que pedir que Rohan parasse de chamá-lo de lindo ou fofo apenas
encorajou esse homem impossível a fazer isso com mais frequência, Jamil nem
se deu ao trabalho.

Decidido a mudar de assunto, ele desviou o olhar e disse: — Não posso


simplesmente aparecer no Quinto Palácio Real sem motivo algum logo após a
minha visita anterior. Então, temo que teremos que esperar pela oportunidade
certa.

— Tudo bem —, disse Rohan.

Eles não disseram mais nada, apenas andaram, o ar entre eles carregado
de uma estranha tensão. Isso fez o calor se espalhar pelo corpo de Jamil, sua
mente ficando mais nebulosa a cada momento que passava. Era difícil se
concentrar em qualquer coisa que não fosse o homem andando ao lado dele.

Seus cotovelos roçaram. Jamil não deveria ter sentido nada através das
camadas de suas roupas, mas seu braço formigava, seus dedos se contraindo.
Ele queria... ele queria...

Rohan xingou entre os dentes antes de olhar ao redor e empurrá-lo para o


quarto mais próximo. Felizmente, estava vazio.

No momento em que a porta se fechou atrás deles, a mão de Rohan estava


em seu pescoço, o polegar em seu ponto telepático, pressionando contra a
marca da mordida. Um gemido, baixo e sem vergonha, rasgou os lábios de
Jamil quando a presença mental de Rohan bateu nele. Sim, sim, por favor.

Jamil não tinha ideia de quanto tempo à fusão durou dessa vez.

Quando ele finalmente recuperou a capacidade de sentir algo diferente de


pura felicidade, encontrou-se encurvado contra a porta, seus joelhos
desagradavelmente fracos. A boca de Rohan estava trancada em seu ponto
telepático, sugando, e suas mentes ainda estavam tão entrelaçadas que ele teve
dificuldade em separar seus pensamentos.

— Nós não podemos continuar fazendo isso —, disse ele,


embaraçosamente sem fôlego enquanto Rohan lhe dava outro chupão. — Isso é
loucura.
— Eu sei —, disse Rohan, parecendo irritado. Seu aborrecimento não
pareceu impedi-lo de mordiscar o pescoço de Jamil.

Porra, sentia-se...

Jamil olhou para a parede oposta sem ver, tentando encontrar a força para
se afastar, para desvendar sua mente de Rohan. A parte frustrante era que a
fusão estava tecnicamente terminada — os dedos de Rohan não estavam mais
tocando seu núcleo telepático, mas ter a boca de Rohan definitivamente não
ajudava, e suas mentes se recusavam a se separar, ainda enroladas firmemente
uma na outra.

— Pare de me marcar —, Jamil conseguiu finalmente, puxando a mão de


debaixo da camisa de Rohan, ele não tinha certeza de como tinha acabado ali e
não queria saber. Sua palma ainda estava formigando da suavidade e calor das
costas de Rohan, coçando para tocar, desejando proximidade. — Eu não
encontrei um regenerador dérmico ainda. — Jamil quase gemeu assim que ele
disse isso. Essa não deve ser a razão pela qual eles não deveriam estar fazendo
isso. Isso estava tudo errado.

— Vossa Alteza?

Jamil ficou rígido antes de relaxar um pouco quando percebeu que era
apenas o AI do palácio. — Sim —, ele disse com tanta dignidade quanto ele
poderia dizer, dizendo a si mesmo que a IA não podia sentir nenhuma emoção
e, portanto, não poderia julgá-lo.

Era um pouco reconfortante. Ele estava se julgando.

— Você tem uma reunião às dez horas. Seu visitante está esperando por
você em seu escritório, Alteza.

Porra. Ele tinha esquecido completamente disso.


Jamil respirou fundo e afastou Rohan. — Eu vou estar em meu escritório
daqui a pouco —, disse ele à AI, tremendo quando a fusão finalmente se
rompeu. Ele não estava com frio. Os controles ambientais do palácio eram
excelentes, mantinham todos os quartos a uma temperatura confortável em
todos os momentos. Ele não podia estar com frio. Tudo estava em sua cabeça.

— Não faça isso de novo —, ele disse a Rohan, tentando endireitar sua
gravata com dedos trêmulos e desajeitados.

Rohan empurrou as mãos de lado e começou a trabalhar em sua gravata.


— Você queria tanto quanto eu.

Franzindo os lábios, Jamil disse: — Eu não queria.

Sorrindo ironicamente, Rohan bateu no lábio inferior de Jamil com o


polegar. — Você pode fazer beicinho e negar o quanto quiser, mas é meio sem
sentido, querido. Eu estava dentro de você. Eu sei o que você sentiu. Você
estava tão perto de gozar em suas calças.

Corando, Jamil olhou para ele. — Você é um porco grosseiro e vulgar.

Rohan olhou para ele com algo como fascinação. — Na verdade, eu não
sou. Eu acho que você traz à tona o pior que há em mim, Vossa Alteza.

Jamil estremeceu. Como esse homem conseguia fazer com que uma
palavra soasse tão suja?

— Não há necessidade de estar envergonhado —, disse Rohan, roçando o


polegar contra a bochecha ardente de Jamil. — Você sabe, é muito comum
gozar durante uma fusão intensa.

Quando ele apenas olhou para Rohan sem expressão, os olhos negros se
estreitaram. — Isso nunca aconteceu com você —, afirmou Rohan.
— Claro que não —, Jamil disse, incapaz de acreditar que eles estavam
realmente discutindo isso. — Eu nunca me fundi com ninguém além de você.
— Mehmer sugeriu isso algumas vezes, mas Jamil recusou-se todas as vezes,
desconfortável em se envolver em uma conexão tão profunda e invasiva.

Rohan olhou para ele, sua expressão muito quieta e estranha. — Eu sou
seu primeiro?

Carrancudo, Jamil empurrou-o para longe. Andando até o espelho, ele


olhou para seu reflexo. Para sua surpresa, sua gravata estava amarrada
perfeitamente, escondendo as marcas em seu pescoço. — Você é bom nisso —,
disse ele, olhando para as dobras arrumadas. — Onde você aprendeu a fazer
isso?

Atrás dele, Rohan estava arrumando suas próprias roupas. Jamil recusou-
se a pensar em como eles haviam ficados tão desgrenhados.

Rohan encolheu os ombros. — Você não está atrasado para a sua reunião?
— Os olhos de Jamil se arregalaram.

Ele saiu da sala, incapaz de acreditar que ele havia ficado tão distraído —
de novo.

Irresponsável. Irresponsável, imprudente e perigoso, considerando quem


ele estava encontrando.

Jamil parou em frente à porta de seu escritório e demorou um momento


para organizar seus pensamentos de forma ordenada. Ele reconstruiu seus
escudos mentais, tomando o cuidado de esconder qualquer pensamento de
Rohan di’Lehr nos cantos mais profundos de sua mente.

Por fim, sentindo-se o mais preparado possível, Jamil entrou em seu


escritório.
O único ocupante da sala se afastou das janelas e olhou para ele, seu rosto
inexpressivo.

Embora o homem estivesse em torno da idade de Jamil, longe de ser


considerado velho, considerando que os Calluvianos geralmente viviam mais de
cento e cinquenta anos, ele parecia... não mais velho, exatamente, mas digno.
Severo. O cabelo branco prateado caiu nos ombros do homem, não suavizando
seu rosto amplo e classicamente bonito. Olhos azuis gelados encontraram os de
Jamil, sua expressão ilegível.

Embora tenha sido o oitavo encontro de Jamil com ele desde a morte de
Mehmer, esse homem ainda permanecia um mistério para ele.

Para ser justo, era provavelmente uma exigência do trabalho,


considerando quem era esse homem.

Mestre Castien Idhron, o Alto Adepto do Alto Hronthar, o Grande Mestre


da Ordem de Pigni, o Curador Chefe da Mente: esse homem tinha muitos
títulos. Ele era um dos homens mais poderosos do planeta, recentemente
promovido após a morte de seu antecessor. Embora houvesse rumores de que
ele alcançou sua alta posição por meios duvidosos, Jamil nunca teve medo dele.

Mas agora ele tinha. Porque esse homem era provavelmente o telepata
mais habilidoso do planeta, e ele iria olhar a mente de Jamil. E pela primeira
vez, Jamil tinha algo que ele gostaria de esconder.

— Vossa Alteza —, o Alto Adepto disse com um curvamento raso que


parecia mais um aceno de cabeça. Embora Jamil fosse o Príncipe Herdeiro do
terceiro maior clã de Calluvia, o Alto Hronthar sempre se distinguira na
hierarquia social regular. Os monges da Ordem pareciam se importar muito
pouco com a política, suas vidas dedicadas às artes da mente. Foi dito que eles
se esforçaram para alcançar o controle total sobre seus corpos e mentes,
purgando toda a emoção.
Francamente, os monges sempre deixavam Jamil um pouco inquieto.

— Vossa Graça —, ele disse uniformemente, curvando-se mais


profundamente. — Minhas desculpas pelo meu atraso.

Mestre Idhron não se preocupou em garantir que ele não se importava em


esperar. Jamil estremeceu interiormente. O Alto Adepto era um homem muito
ocupado. Claro que ele tinha coisas melhores para fazer com seu tempo do que
esperar por ele. Realmente, era uma honra incrível que um curandeiro de mente
tão importante estivesse lidando com seu caso pessoalmente.

— Houve alguma melhora significativa no estado de seu vínculo? — O


Mestre Idhron disse, seus olhos tão sem emoção que era um pouco perturbador.
Embora Jamil tivesse sido chamado de sem emoção no passado, isso era
repressão emocional em um nível totalmente novo.

— Eu acho que sim, Vossa Graça —, Jamil disse, reprimindo seu


nervosismo. Embora fosse verdade que as dores de cabeça de seu vínculo
quebrado tinham diminuído recentemente — desde que ele começou a se fundir
com Rohan — ele não sabia se o Mestre Idhron acharia sua súbita melhora
estranha. Ele também não tinha certeza se seria capaz de esconder suas
memórias de Rohan se o adepto da mente desconfiasse e decidisse procurar por
elas.

— Deixe-me ver —, Mestre Idhron disse, gesticulando para ele se


ajoelhar na frente dele.

Jamil quase fez uma careta. Ele não entendia porque ajoelhar era
necessário. O Mestre Idhron era um homem alto, tão alto quanto ele. Jamil
suspeitaria que o adepto da mente secretamente gostava de se sentir superior,
exceto que ele tinha certeza de que esse homem não podia sentir nada.
Mas ele se ajoelhou na frente do monge, e o Mestre Idhron empurrou um
pouquinho a gravata de Jamil para alcançar seu ponto telepático — e ficou
imóvel.

Os olhos de Jamil se arregalaram de horror quando ele percebeu que


ainda não encontrara tempo para usar um regenerador dérmico. Tentando não
entrar em pânico, ele respirou fundo e baixou o olhar. Viúvos não precisavam
viver como monges. Embora as pessoas não falassem sobre isso, era
amplamente sabido que muitas pessoas viúvas dormiam por aí — com outros
viúvos ou pessoas de fora. Então, se o Grande Mestre pensava que ele estava
perdido? Não importava, contanto que ele não adivinhasse a verdade. Mestre
Idhron não parecia como alguém que fofocaria sobre os poucos chupões no
pescoço de Jamil.

— Abaixe seus escudos, Vossa Alteza — disse o Mestre Idhron, como se


nada tivesse acontecido.

Jamil engoliu em seco e fez o que lhe foi dito.

O exame mental do adepto da mente era diferente de uma fusão


telepática. Não era tão íntimo, mas era tão invasivo. Se Jamil tivesse que
comparar duas experiências, isso equivaleria a um exame retal feito por um
médico, em oposição à intimidade do sexo com penetração.

Para alívio de Jamil, tudo acabou logo.

Quando o Mestre Idhron saiu de sua mente, ele estava franzindo a testa
ligeiramente. — Seu vínculo com o seu falecido companheiro está mais fraco
agora —, disse ele. — Bem peculiar.

O estômago de Jamil caiu. — Não é normal? Você me disse que ficaria


melhor com o tempo.
Mestre Idhron olhou para ele de forma impassível. — Não. Normalmente,
os vínculos quebrados não enfraquecem após a morte do cônjuge. Depois de um
tempo, as bordas cruas cicatrizam e doem menos, mas o vínculo em si não
enfraquece. O seu enfraqueceu.

Engolindo, Jamil disse: — Não é um problema, né?

O Alto Adepto olhou para ele, mas antes que ele pudesse dizer qualquer
coisa, a porta se abriu e uma voz masculina desconhecida disse: — Mestre,
você já terminou? Já podemos ir?

O olhar de Idhron se voltou para o recém-chegado. Seus lábios se


franziram levemente, seus olhos brilhando com alguma emoção que Jamil não
conseguiu identificar. Mas era uma emoção real. — Eu lhe disse para esperar
por mim lá fora, Eridan.

Jamil levantou-se e virou-se, bem a tempo de ver o jovem fazer beicinho.


Um beicinho real, com lábios e olhos tristes. Eram lindos olhos também,
grandes e violetas, num lindo rosto jovem, com uma auréola de cabelo dourado
escuro emoldurando-o.

— Minhas desculpas pelo meu aprendiz, Vossa Alteza —, Mestre Idhron


disse, atirando ao jovem um olhar inexpressivo. — Onde estão suas maneiras,
Eridan?

— Oh! — O jovem deu a Jamil um sorriso tímido, seu lindo rosto


corando. Ele se curvou graciosamente para Jamil. — Saúde e tranquilidade,
Vossa Alteza.

— Você é aprendiz do Mestre Idhron? — Jamil disse, incrivelmente


surpreso. Ele sabia que os adeptos da mente sênior do Alto Hronthar tinham
aprendizes que ensinavam pessoalmente, mas ele nunca pensou que o Grande
Mestre da Ordem, perfeito e sem emoção, teria um aprendiz tão emocional.
Esse garoto não parecia um monge estoico.

Eridan deu-lhe um sorriso torto. — Eu sou e sou a ruína de sua existência.


Você é ainda mais impressionante pessoalmente, Alteza.

Jamil piscou.

— Eridan —, Mestre Idhron estalou. — Espere por mim lá fora.

Eridan revirou os olhos. — Sim, Mestre —, disse ele, obediente o


suficiente. — Mas se apresse, sim? Estou entediado. Você sabe que eu e o tédio
nunca somos uma boa combinação.

Quando a porta se fechou atrás dele, Jamil olhou para o Mestre Idhron
com novos olhos. Ele não podia imaginar esse homem realmente escolhendo
aquela confusão emocional que era aquele menino como aprendiz dele.

— Peço desculpas pelo meu aprendiz —, disse Idhron secamente. — Ele


ainda está aprendendo. Quanto ao seu vínculo, se ele não continuar se
deteriorando, eu não prevejo problemas. Sua mente está se curando. Eu não
acho que ainda seja necessário eu continuar monitorando seu vínculo. Mas se
você perceber complicações, você pode vir ao Alto Hronthar para receber
assistência.

Jamil assentiu e observou o monge sair.

Somente quando a porta se fechou atrás dele, ele se deixou relaxar. Ele
estava razoavelmente certo de que o Alto Adepto não tinha notado nada de
errado — qualquer coisa além de seu vínculo enfraquecido.

Jamil se recusou a pensar em por que isso poderia ser enfraquecido.


A culpa encheu seu peito quando seu olhar pousou no pequeno retrato de
Mehmer em sua mesa. Ele mal pensara em Mehmer nos últimos dias.

Jamil pegou o retrato e olhou para o rosto querido do marido, a tristeza


lavando-o.

Um tanto aliviado, ele colocou o retrato na mesa. Ele ainda amava seu
marido. Ele não o traiu. Sua perversa compatibilidade mental com Rohan
di'Lehr não mudou nada. Ele não precisava pensar em Mehmer o tempo todo
para amá-lo — isso seria obsessão, não amor.

Então você admite que está obcecado por Rohan?

Carrancudo, Jamil afastou o pensamento. Ele precisava de uma boa razão


para ir ao Quinto Palácio Real. Quanto mais cedo ele chegasse ao fundo, mais
cedo ele se livraria da presença invasiva de Rohan em sua vida — que era o que
ele queria.

Realmente era.
CAPÍTULO 10

Rohan pulou das costas do zywern, habilitou suas ligações gravitacionais


novamente e voltou para o palácio.

Ele esperava que montar limpasse sua cabeça e o ajudasse a se livrar da


tensão enlouquecedora que se formava em sua pele, mas a julgar pelo fato de
que ele ainda desejava ir até o Príncipe Herdeiro e entrar nele novamente, não
funcionara exatamente.

Rohan soltou um suspiro frustrado. Ele já era o — criado — de Jamil há


seis dias e ele os tinha gasto evitando o Príncipe ao invés de trabalhar com ele
para realizar o que eles deveriam fazer. Quando ele não estava evitando o
Príncipe, ele estava muito alto em sua conexão mental para querer fazer algo
produtivo. Do jeito que as coisas estavam, ele nunca iria descobrir nada
substancial.

Porra, talvez ele devesse invadir o Quinto Palácio Real. Mas, como Jamil
havia dito, as medidas de segurança de Dalatteya estavam beirando a paranoia,
com três pessoas diferentes fazendo checagem de antecedentes, câmeras por
toda parte e a maioria dos empregados sendo androides.

Era quase como se ela tivesse algo a esconder.

Os lábios de Rohan se curvaram com o pensamento. A mulher era esperta


e cautelosa; ele poderia admitir isso. Mas, novamente, ela sabia melhor do que
ninguém que a traição poderia vir das fontes mais inócuas.

Não, tentar entrar no palácio de Dalatteya por conta própria seria suicídio.
Ele precisava da ajuda de Jamil se ele quisesse chegar perto o suficiente da
mulher.

Se ao menos ele pudesse descobrir como ficar perto de Jamil sem ficar...
distraído.

Rohan parou, percebendo onde seus pés o trouxeram. Ele estava na frente
dos aposentos privados de Jamil mais uma vez.

Rohan apertou a mandíbula, olhando para a porta em frustração. Seus


músculos estavam tensos e havia um baixo zumbido de excitação sob sua pele
— excitação que não fazia sentido. Ele não gostava de homens. Isso não
mudara, não importava o quanto ele gostasse de olhar para o rosto bonito do
Príncipe. Mas o corpo de Rohan parecia confundir a tensão, a necessidade
reprimida com uma sexual, que estava errada em tantos níveis que Rohan
queria rir. Ele não queria foder o Príncipe. Jamil estava tão longe do seu tipo
quanto possível. Ele gostava delas loiras, delicadas e cheias de curvas. Homens
musculosos e morenos, tão altos quanto ele, não faziam nada com ele. Exceto
que parecia que ele não conseguia distinguir o que era direita e esquerda
quando ele estava dentro da doce e linda mente do Príncipe, e seu pênis ficou
um pouco confuso.

A porta de repente se abriu e ele foi saudado pela visão de Jamil em seu
pijama branco e sedoso. — Você vai ficar aí a noite toda? — O Príncipe disse
secamente, seus olhos azuis queimando como fogo. — Seus pensamentos são
altos.

Isso era outra coisa — outra coisa muito horripilante. Quanto mais tempo
passava, mais se harmonizavam entre si. Rohan tinha seus escudos totalmente
para cima. O Príncipe não deveria ter sido capaz de senti-lo, muito menos de ter
um vislumbre de seus pensamentos.

— Você não tinha que abrir a porta —, disse Rohan, passando por Jamil e
andando em direção à janela.
A porta se fechou.

O silêncio caiu sobre a sala, enchendo seus sentidos com coisas que ele
nunca sentiu em sua vida.

Seu pênis esticou nas calças.

Rohan rangeu os dentes, olhando pela janela. Não havia um luar, então
não havia nada de interessante, mas ele encarava a paisagem noturna como se
fosse a coisa mais fascinante que ele já tinha visto. Como se o pênis dele não
estivesse tão duro que ele poderia quebrar as unhas com ele. Como se ele não
pudesse sentir a necessidade do príncipe quase tão agudamente quanto à dele.

— Eu dificilmente poderia deixá-lo do lado de fora do meu quarto —,


disse Jamil, sua voz elegante dura, um pouco estranha. — O que os servos
diriam?

Rohan bufou. — Para alguém que se preocupa tanto com o que é


apropriado, você com certeza passa muito tempo pensando em meu pau em
você.

Silêncio.

— Saia —, Jamil disse categoricamente.

— Eu sinto muito, Vossa Alteza, eu esqueci que não deveríamos falar


sobre isso.

— Eu disse para sair.

Rohan se virou, seus lábios torcendo em algo que era quase um sorriso
quando ele viu o olhar fulminante de Jamil. — Estou cansado, e não estou
realmente com disposição para a nossa dança de negação habitual, querido.
Vamos pular isso? Nós dois sabemos como isso termina.
Duas manchas de cor apareceram nas bochechas pálidas do Príncipe, a
cor de seus lábios macios. Ele realmente era incrivelmente adorável, para um
homem. Era uma pena que ele fosse um homem. Se ele não fosse, Rohan já
teria estado com as bolas dentro dele e fodido essa fixação estranha fora de seu
sistema dias atrás.

— Eu não sei de nada —, disse Jamil, hesitante.

— Mentiroso —, Rohan disse, caminhando em direção a ele.

Jamil deu um passo para trás, seus olhos muito brilhantes. Cauteloso.
Com fome.

Rohan continuou avançando sobre ele.

Molhando os lábios com a língua, Jamil deu outro passo para trás.

— Eu sei que você tem pensado nisso o dia todo —, disse Rohan, se
aproximando. — Porque eu também tenho. Vamos lá, admita, Alteza.

Jamil balançou a cabeça, embora sua presença mental já estivesse se


estendendo avidamente, entrelaçando-se com a de Rohan, convidando-o a
entrar, faminta e necessitada.

— É assim que vai ser? — Rohan disse, sorrindo sarcasticamente. —


Você quer continuar fingindo que não quer? — Verdade seja dita, as alegações
contínuas do Príncipe de que ele não queria isso deveria tê-lo irritado. Deveria
ter. Mas, tendo estado na mente de Jamil, Rohan o conhecia. Ele o conhecia no
nível mais íntimo e profundo que havia para conhecer outra pessoa. Ele sabia o
que fazia do Príncipe Jamil a pessoa que ele era agora: um menino que crescera
rápido demais, com imensas expectativas e responsabilidades impostas desde
muito cedo, um homem enlutado que perdera o marido e melhor amigo meses
antes, um homem que sentia uma culpa incapacitante por apenas se sentir bem,
como se sua capacidade de se sentir bem tivesse morrido com seu marido. Jamil
havia se moldado para ser o marido, o companheiro de união e herdeiro do
trono perfeito. Qualquer coisa que não se encaixasse nesses papéis — ou o que
Jamil percebia como impróprio — estressava-o em um grau insano.

— Você nem o amava —, Rohan ouviu-se dizer e depois quase suspirou


de frustração. Ele tinha decidido deixar quieto — o assunto não agradaria Jamil
—, mas não funcionou. Algo nele queria deixar isso claro, a mesma coisa que
queria arrancar aquela ligação feia e quebrada da mente de Jamil. Isso deixou
Rohan desconfortável. Ele não era um homem possessivo, nunca tinha sido. Até
agora, aparentemente. Era quase engraçado que ele se sentisse tão insanamente
possessivo com um homem que ele não queria foder, enquanto ele nunca se
sentiu nem um pouco ciumento quando estava com mulheres que ele namorava.

— Como você se atreve —, Jamil rosnou, respirando com dificuldade. —


Você acha que conhece meus sentimentos por Mehmer melhor do que eu?

Sim. Rohan teve que realmente morder a língua para se impedir de dizer
isso. — Tudo o que eu estou dizendo é que seus... sentimentos pelo Príncipe-
Consorte eram artificiais, criados pelo aquele vínculo não natural que você teve
com ele desde que você era uma criança. Você sabe que estou certo. Você o
amava porque não tinha escolha, Jamil.

O Príncipe olhou furiosamente para ele. — Eu não lhe dei permissão para
utilizar o meu primeiro nome —, disse ele, ignorando completamente o que
Rohan havia dito. — É Príncipe Jamil'ngh'veighli para você.

Rohan riu, dando um último passo para frente até que eles estavam frente
a frente. — Isso é muito grande, querido. Você está louco se acha que eu vou te
chamar assim.

— Você vai me chamar de Vossa Alteza. Caso contrário, você vai me


chamar de Príncipe Jamil'ngh'veighli —, o Príncipe disse teimosamente, como
se ele não estivesse tremendo da cabeça aos pés com sua proximidade. Ele
estava tão tenso que fez Rohan ficar agitado também — mais agitado do que já
estava.

Suspirando, Rohan pressionou suas testas juntas. — Você precisa


aprender a relaxar —, ele murmurou, enterrando os dedos no cabelo macio do
Príncipe. — Deixe rolar, querido —, ele sussurrou, suas pálpebras ficando mais
pesadas enquanto suas mentes se uniam, deslizando em uma fusão fácil, sem
esforço.

Jamil choramingou, sua mente esvaziando com pura felicidade. Verdade


seja dita, Rohan não estava se saindo muito melhor, seus sentidos rapidamente
obscurecendo de prazer. A única razão pela qual ele ainda não tinha se deixado
levar era porque, ao contrário de Jamil, ele realmente tinha experiência com
fusões e sua tolerância era maior. Ele era apenas racional o suficiente para
reconhecer que isso era ruim. Isso era um desastre. Eles estavam rapidamente
se tornando viciados em fusão — na mente um do outro. Ele ouvira histórias de
dependência de fusão, mas era raro o suficiente e geralmente nem de longe tão
extremo quanto isso. O simples fato de que Rohan não precisava mais tocar no
ponto telepático de Jamil para iniciar uma fusão era extremamente preocupante.
Ou seria se ele fosse capaz de sentir algo além de prazer no momento.

— Precisamos descobrir como nos aproximarmos de Dalatteya. — A voz


de Jamil na fusão era baixa e íntima, quase sonolenta, livre de tensão e do
estado de espírito que sempre parecia estar presente em sua voz real. — Então
você poderá ir embora e não teremos mais que lidar com isso.

— Sim. — Rohan deslizou mais profundamente, alcançando o núcleo


dourado pulsante de Jamil que parecia estar doendo por ele. Mais perto,
sussurrou. Preciso de você mais perto.
— Mais tarde —, Jamil murmurou, seus pensamentos se tornando
erráticos quanto mais perto Rohan chegasse ao seu núcleo. Os vis
remanescentes de seu vínculo quebrado ainda estavam em volta dele, embora
muito mais soltos do que antes. Não seria preciso muito para afastá-los, se ele
quisesse. E foda-se, ele queria. Ele queria acabar com aquela coisa e tomar o
seu lugar. Não pertencia a esse lugar.

— Não falamos sobre sua possessividade inadequada?

— Nós falamos. E nós estabelecemos que não é culpa minha.

Jamil riu. Era um som bonito, uma sensação linda.

Rohan acariciou seu núcleo com seus dedos mentais e Jamil gemeu,
tremendo como se estivesse eletrocutado. — Mais.

Ele acariciou o núcleo de Jamil novamente, que pulsava de prazer,


estendendo a mão para ele com avidez, convidando-o a entrar. Rohan gemeu.
Ele nunca havia feito uma fusão tão profunda — nunca quis —, mas isso era
além do vício, o prazer se espalhava de sua mente para seu corpo, para seu
pênis.

— Porra, eu não acho que posso sair —, disse ele em voz alta, abrindo os
olhos e concentrando-os no rosto de queixo caído de Jamil. A visão era...
estranhamente satisfatória. Ele gostava de ver esse Príncipe muito apropriado
ficar absolutamente desfeito apenas pelo seu toque mental. Era ridiculamente
inebriante.

— Então, não saia —, Jamil sussurrou, suas pupilas explodiram. — Fique


em mim.

O pênis de Rohan se contraiu, seu corpo muito alto por causa das
endorfinas para distinguir entre a intimidade mental e física. Seu pênis estava
tão duro que ele podia sentir vazando, latejando de necessidade.

Xingando entre os dentes, Rohan enfiou a mão entre eles e abriu a


braguilha. Ele assobiou quando seus dedos se fecharam ao redor de seu pênis
dolorido. Finalmente.

Os olhos vidrados de Jamil se arregalaram. Ele balançou a cabeça,


olhando para o pênis de Rohan, um rubor feroz no rosto. — Pare com isso. O
que você está fazendo?

— Não precisa fingir. Você também está morrendo de vontade. —


Honestamente, Rohan não dava a mínima nesse momento.

— Nós não podemos. Eu sou um homem casado.

Suprimindo a vontade de rosnar que ele não era — ele sabia que Jamil
ainda não estava pronto para se desapegar de seu marido — Rohan disse: — E
eu não gosto de homens. Isso não significa nada. Apenas alívio de tensão,
endorfinas, nada a ver com você. — Ele pressionou a boca contra o pescoço de
Jamil e sugou a pele acima de seu núcleo telepático pulsante, o tempo todo
acariciando seu próprio pênis.

— Pare com isso —, Jamil expirou. — Isso é impróprio.

— Porra, eu queria isso há dias. — Rohan mordeu a pele macia, fazendo


Jamil estremecer. — Você também pode se masturbar.

— Você só pode estar brincando. — Embora Jamil soasse escandalizado,


Rohan podia sentir sua excitação, o quanto ele queria alívio também.

— Vamos, Princesa —, Rohan murmurou, acariciando seu pescoço. —


Enquanto não nos tocarmos abaixo da cintura, certamente isso não conta?
Ele podia sentir a luta interior de Jamil, mas ambos sabiam que era uma
batalha perdida. A conexão entre eles era um loop de feedback sem fim de
necessidade e frustração, a excitação de Rohan alimentando Jamil e vice-versa.
Jamil não tinha chance.

— Não significa nada —, Jamil repetiu sem fôlego, colocando a mão


trêmula nas calças.

Rohan podia sentir o momento em que ele se tocou — seu prazer parecia
se multiplicar — e ele gemeu, acariciando seu próprio pênis mais rápido e mais
forte. Jamil enterrou o rosto contra a garganta de Rohan, fazendo ruídos baixos
e grunhidos, as mãos batendo umas nas outras enquanto se acariciavam. Foi
rápido, duro e sujo, suas mentes abertas, seus centros de prazer mental
estimulados e super sensíveis como seus pênis. Em pouco tempo, Jamil estava
dando gemidos desesperados em seu pescoço, beijando e mordendo enquanto
empurravam em suas próprias mãos.

— Vamos lá, querido —, Rohan disse, puxando o cabelo de Jamil com a


mão livre. — Deixe vir. Você merece se sentir bem. Você é tão bom, tão lindo,
eu poderia passar anos dentro de você. Sentir você é perfeito, você é perfeito —
tão lindo.

Jamil gemeu e gozou, tremendo, seu orgasmo provocando o de Rohan, o


prazer explodindo através do corpo de Rohan, seu pênis esvaziando com longos
jorros, sua mente envolvida firmemente ao redor de Jamil.

Deuses, eu nunca me senti tão bem perto de outra pessoa.

A parte confusa era que Rohan não tinha certeza de quem era o
pensamento.

Porra, eles tinham um problema.


Rohan abriu os olhos com alguma dificuldade, ofegando enquanto tentava
se acalmar.

Jamil estava quieto, o rosto ainda pressionado contra a garganta de


Rohan. Rohan não precisava ver para saber que o Príncipe já estava começando
a se sentir culpado e envergonhado.

— Ei, não foi tão ruim assim, foi? — Rohan murmurou, enfiando os
dedos no cabelo castanho. — Eu me sinto melhor agora. Você não?

Jamil não respondeu.

— Vamos —, disse Rohan, soltando um beijo casto em sua têmpora. —


Não tem motivo para se sentir culpado. Isso não significa que você é... infiel.
Tenho certeza de que seu marido não teria se importado se for para você se
sentir bem. Ele se foi, se foi há meses. Você não o traiu.

Jamil não disse nada.

— Vamos lá, amor —, disse Rohan, soltando outro beijo em seu cabelo.
Uma parte dele, a parte que ainda podia pensar racionalmente, sentia-se
incrédula por seu próprio comportamento. Termos carinhosos não eram
realmente a coisa dele. Ele raramente os usava com mulheres que ele namorou
ao longo dos anos, muito menos com homens que ele conheceu por tão pouco
tempo. E, no entanto, ele não conseguia parar de usá-los agora. Eles
encaixavam tão bem. Parecia certo. — Jamil, foi o Fit. Nós não poderíamos
parar. Pare de se torturar sobre isso. — Ele deu um bufo divertido. — Se isso
pode fazer de mim, um homem hétero, ficar tão malditamente excitado, você
não teria chance.

Isso, finalmente, parecia ter o efeito pretendido. Ele sentiu Jamil relaxar
um pouco, as ondas doentias de culpa e vergonha finalmente diminuindo.
— Eu sei —, Jamil disse suavemente, esfregando a bochecha contra a
garganta de Rohan. Aninhando-se nele.

Rohan se sentiu estranho, porque na verdade não parecia estranho. Longe


disso. Com uma expressão dolorida, ele se afastou gentilmente, fisicamente e
mentalmente — e quase vomitou. Jamil fez um som de protesto também. Eles
se entreolharam, respirando com dificuldade.

— Nós fomos muito fundo —, disse Rohan com uma careta. — A


conexão se aprofundou.

Jamil mordeu o lábio inferior. — Talvez possa quebrá-la mais


gentilmente?

— Isso fui eu sendo gentil —, disse Rohan com uma risada, mas ele
tentou novamente.

Ao primeiro sinal da angústia de Jamil, ele parou, incapaz de continuar.


Não querendo continuar.

Eles se encararam de novo, perdidos.

— Você tenta —, disse Rohan com um suspiro.

Franzindo os lábios, Jamil balançou a cabeça. — Não é uma boa ideia. Eu


realmente não sei como finalizar uma fusão corretamente. Eu posso estragar
tudo. Você é meu primeiro, lembra?

Claro que ele lembrava. Claramente.

— Então eu estou sem ideias —, disse Rohan, enfiando o pau de volta em


suas calças.

Corando, Jamil fez o mesmo. Ele foi até a cômoda e retirou alguns lenços
umedecidos para limpar os dedos. A fusão não quebrou, mas a distância entre
eles pareceu mais agravante do que deveria ter sido.

Rohan apertou a mandíbula, forçando-se a ficar onde estava.

— É sempre assim? — Jamil disse, sua voz tensa.

Rohan quase riu. — Claro que não. Se fosse, eu teria casado com a
primeira garota com quem me fundi.

Alguns sentimentos desagradáveis chegaram até ele através de sua


conexão.

Rohan sorriu, divertido quando ele reconheceu. — Viu? Eu realmente não


posso deixar de me sentir possessivo. É a fusão.

Jamil lançou-lhe um olhar fixo. — De acordo com você, estamos


absolvidos de toda a culpa —, disse ele secamente.

Rohan encolheu os ombros. — Não de toda a culpa, mas a maior parte.


Não vejo sentido em me torturar com algo que não posso controlar.

Passando a mão pelo cabelo, Jamil apenas olhou para ele por um longo
momento.

Rohan podia sentir que suas palavras atenuaram um pouco sua


consciência.

— Você provavelmente está certo —, admitiu Jamil finalmente com um


sorriso pequeno e impotente. — Eu sei que tendo a pensar demais nas situações
e me estressar.

Rohan tentou esmagar a onda inapropriada de afeto. O afeto era a última


coisa de que precisavam. As coisas eram complicadas o suficiente sem trazer
afeto à mistura.
Ele olhou para a porta. — Eu provavelmente deveria ir. Está tarde.

Jamil deu um aceno de cabeça rápido.

Reunindo toda a sua força de vontade, Rohan caminhou em direção à


porta. A fusão se estendeu, prestes a se romper.

Rohan parou, rangendo os dentes. — Puta merda.

Atrás dele, ele ouviu Jamil suspirar. — Ouvi dizer que as fusões se
dissolvem quando as pessoas estão dormindo —, disse ele, instável. — Isso é
verdade?

Rohan olhou para a porta. — Sim.

— Você pode... você deveria ficar aqui, então. Durma aqui.

Quando Rohan se virou para olhá-lo incrédulo, Jamil olhou para ele. —
No sofá. Obviamente.

Rohan olhou para o sofá em questão e fez uma careta. A sugestão de


Jamil tinha fundamento, mas suas costas o matariam amanhã se ele dormisse a
noite toda naquele sofá curto e frágil. — Não. Você pode ficar no sofá se tiver
tanto medo de não conseguir tirar as mãos de mim.

Jamil levantou o queixo. — Eu não tenho medo disso!

— Tudo bem, então —, Rohan disse com um sorriso, desabotoando sua


camisa e jogando-a no sofá.

Ele meio que esperava que Jamil corasse e se afastasse, mas para sua
surpresa, Jamil olhou para seu torso nu descaradamente, seu olhar se
demorando em suas tatuagens mais uma vez.
— Não entendo por que as pessoas voluntariamente mutilam seus corpos
—, disse Jamil.

Rohan deu de ombros, divertido pela maneira como os olhos do Príncipe


permaneciam em suas tatuagens em um relutante fascínio. — Você gosta delas
—, afirmou.

Jamil não se incomodou em negar: mentir dentro de uma fusão era inútil.

— Posso pegar algo para dormir? — Rohan disse, tirando sua calça. —
Embora eu não me importe de dormir nu.

Isso finalmente fez Jamil se virar. Ele foi até o guarda-roupa, tirou uma
calça azul solta e uma camisa cinza macia e jogou por cima do ombro. —
Coloque isso.

Rohan fez e sorriu divertido, olhando para as costas muito retas de Jamil.
— Você pode se virar agora. Não que eu tenha algo que você não tenha visto.

Bufando, Jamil escorregou para a cama, deitando na beira.

Revirando os olhos, Rohan se esticou do outro lado da cama, quase


gemendo por sua suavidade. Fazia um tempo desde que ele tinha dormido em
uma cama tão boa.

— Omer, luzes a dois por cento —, Jamil murmurou.

As luzes diminuíram quase à escuridão total, mas não completamente.

Levou alguns momentos para os olhos de Rohan se ajustarem. Era


brilhante o suficiente para ver o contorno vago do corpo ainda muito forte do
Príncipe. A tensão nele estava de volta, enchendo o próprio ar entre eles com
agitação.
— Relaxe —, Rohan disse calmamente. Ele odiava quando Jamil estava
tão tenso. Isso o colocava no limite também. — Vamos, querido.

— Não me chame assim —, Jamil disse, mas não havia calor em sua voz.
Rohan tinha certeza de que, a essa altura, Jamil se opunha apenas porque sentia
que precisava fazê-lo.

Rohan suspirou. — Por que você está ficando tão irritado de novo?

Jamil ficou quieto por tanto tempo que Rohan estava começando a pensar
que ele não ia responder.

— A última pessoa com quem compartilhei essa cama foi meu marido.

Os lábios de Rohan se afinaram. — Ele está morto.

— Obrigado por me lembrar. Eu não percebi. — Jamil suspirou, e quando


ele falou de novo, sua voz estava vazia. — Eu sei que você não tem boas
opiniões sobre ligações calluvianas, mas eu o amo. Nós éramos felizes juntos.
Ele era muito leve e descontraído, tudo o que eu não sou e nos encaixamos bem
juntos. Ele era... ele era meu melhor amigo. — Sua voz falhou um pouco.

Rohan fez uma careta quando sentiu a tristeza de Jamil através da fusão.

— Eu sinto muito —, ele disse secamente. — Mas pare de ficar triste,


tudo bem? Eu não aguento mais.

Um riso estrangulado deixou a garganta de Jamil. — Você não aguenta


mais?

— Olha, se você não parar de se sentir triste, eu não serei responsável


pelo o que farei. Então, a menos que você realmente queira que eu console
você, sugiro que pare de se sentir triste.

Jamil virou a cabeça para ele.


Estava escuro demais para eles se verem bem, mas isso não impediu que
Rohan olhasse para o rosto do Príncipe. Sua conexão pulsava suavemente entre
eles, ainda cheia de tristeza, mas estava sendo lentamente empurrada para fora
por outra emoção: saudade.

A mão de Rohan se estendeu em direção a ele.

Uma batida passou e a mão de Jamil o encontrou no meio do caminho.

Rohan apertou a mão dele. Estou aqui.

Um som pequeno e satisfeito deixou os lábios de Jamil.

Rohan fechou os olhos, saboreando a sensação dos dedos longos e macios


do Príncipe em seus dedos ásperos e calejados. Lentamente, sem pensar
consciente, seus dedos se entrelaçaram. A fusão pulsava com conforto e calor, a
felicidade se espalhando por seus corpos.

Eles não disseram mais nada naquela noite; eles adormeceram assim,
emaranhados na mente um do outro.
CAPÍTULO 11

Ele não conseguia se lembrar da última vez que acordou sentindo-se tão
descansado e bem.

Jamil abriu os olhos, piscando turvo. Ele estava deitado de lado e havia
um braço tatuado pendurado na sua cintura.

Jamil olhou para a mão bronzeada em seu estômago pálido — sua camisa
aparentemente tinha subido — e se perguntou o que havia de errado com ele.
Ele deveria estar pirando. Ele deveria ter se sentido envergonhado, sujo e
errado. Ele não deveria estar se sentindo tão bem e confortável nos braços de
um homem que não era seu marido.

Estranhamente, ele não conseguia evocar esses sentimentos.

Tudo parecia... certo: o subir e o descer do peito firme de Rohan contra


suas costas, o calor de sua respiração contra a nuca de Jamil, o peso de seu
braço, o zumbido baixo da mente adormecida de Rohan.

O olhar de Jamil caiu sobre o retrato que estava pendurado na parede


oposta, um retrato dele e de Mehmer no dia do casamento. Foi desenhado por
um dos artistas modernos e mais talentosos da galáxia, e a semelhança era
estranha. O artista havia capturado perfeitamente o cabelo dourado de Mehmer,
a pele dourada e os olhos castanhos sorridentes.

Jamil olhou para o retrato, procurando seus sentimentos. Ele finalmente


sentiu vergonha — vergonha de que isso ainda não se sentia errado.
Atrás dele, Rohan murmurou algo sonolentamente e o puxou mais
apertado contra ele.

Jamil engoliu em seco, sentindo o volume inconfundível pressionado


contra a parte inferior das suas costas. Era apenas uma ereção matinal. Ele
também tinha uma. Não significava nada. O que aconteceu ontem à noite foi...
um alívio da tensão, nada mais. Eles mal se tocaram quando se deitaram. Tinha
sido uma coisa única e isso nunca aconteceria novamente.

Pegando o lábio inferior entre os dentes, Jamil tentou afastar a mão do


estômago sem acordar Rohan, mas Rohan murmurou alguma coisa e apenas
moveu a mão para acariciar seu pênis como se fosse um seio de mulher.

Jamil ficou vermelho. Rohan provavelmente estava sonhando em estar na


cama com uma mulher. Ele teve a impressão de que Rohan di'Lehr tinha
dormido com muitas mulheres.

Nunca com homens.

Jamil franziu os lábios. O pensamento deveria ter sido reconfortante, mas


algo o incomodava.

As sobrancelhas de Jamil se franziram. Ele tinha que admitir que era...


estranho para ele ser considerado sem atrativos. Sua aparência física sempre
atraiu muita atenção de celebridades intergalácticas e políticos que visitaram
Calluvia. Mehmer sempre achara divertido — ele realmente gostava de ser
invejado. — Eles podem olhar e babar o quanto quiserem; eu sou o único que
pode tocar em você. — Jamil não compartilhava da mesma diversão do marido.
Ele sempre pensou que ser considerado um pedaço de carne era humilhante,
especialmente porque a maioria daqueles que não eram do seu mundo não
tinham escudos mentais e Jamil tinha que sorrir para eles e fingir que não tinha
ideia de que pensamentos vis sobre sua boca ou bunda eram do entretenimento
deles.
Mas por mais que Jamil não gostasse, ele estava acostumado com isso.
Ele estava acostumado a ser considerado desejável. Isso o tornara vaidoso?
Talvez. Independentemente disso, era estranho para ele que Rohan não o
achasse atraente. Não que ele quisesse que Rohan fosse atraído por ele. Era
apenas estranho. Isso era tudo.

— Se isso faz você se sentir melhor, você é o homem mais lindo que eu já
vi —, disse uma voz sonolenta com uma risada. — O mais lindo de todos.

O rosto de Jamil queimou. — Pare de escutar meus pensamentos.

— Eu não pude evitar —, Rohan disse, acariciando sua nuca. — Eles


eram muito altos.

— Eu pensei que a fusão tivesse quebrado enquanto dormíamos.

— Quebrou —, Rohan confirmou, bocejando e não mostrando nenhuma


inclinação para se mover. — Mas parece que estamos mais sintonizados um
com o outro agora. Não é exatamente surpreendente depois de uma fusão tão
profunda.

Franzindo a testa, Jamil tentou reforçar seus escudos. Ele também tentou
se afastar do abraço de Rohan. Ele falhou em ambas as partes. Seus membros se
recusaram a ouvir seus comandos, e sua mente parecia... diferente. Mais
brilhante. Mais calma. Mais quente.

Levou alguns minutos para perceber o que estava diferente. Havia um fio
dourado muito fino em volta de seu núcleo, logo acima de seu vínculo quebrado
com Mehmer, tão fino que mal podia senti-lo.

— O que é isso? — Jamil disse, seu coração batendo mais rápido.

— Hmm?
Jamil cutucou-o mentalmente em direção ao fio dourado. — Isso!

Ele sentiu Rohan congelar, seu corpo ficando rígido contra ele.

E então Rohan amaldiçoou tão elaboradamente que teria feito Jamil corar
se não estivesse tão preocupado. Rohan se afastou dele como se tivesse
queimado e rolou para fora da cama.

Jamil sentou-se e observou-o andar de um lado ao outro agitado.

— É um vínculo —, Rohan disse finalmente, seu queixo estalando. Lá se


foi o homem provocante, enfurecidamente imperturbável que Jamil conhecera.
Ele estava começando a perceber que nunca tinha visto Rohan realmente
zangado. Ele estava com raiva agora. A boca de Rohan era uma linha reta fina e
uma veia pulsava em sua têmpora. Rohan olhou para ele, passando a mão pelo
cabelo curto, a raiva saindo dele em ondas grossas e sufocantes.

— Por que você está olhando para mim como se fosse culpa minha?

Rohan riu asperamente, virando-se. — Como você está tão calmo sobre
isso?

Jamil encolheu os ombros, sentando-se. — Eu não estou calmo. Mas eu


não entendo porque você está com tanta raiva. Tenho certeza de que esse
vínculo acidental irá desvanecer em pouco tempo ou você mesmo o quebrará. É
muito fino, nada como o meu vínculo com Mehmer.

Embora Rohan não tenha discordado dele em voz alta, Jamil ainda podia
sentir sua agitação.

— Eu preciso entrar no palácio de Dalatteya o mais rápido possível —,


disse Rohan em uma voz cortada. — E então eu vou estar fora do seu pé, Vossa
Alteza.
Jamil se encolheu. Ele cruzou os braços sobre o peito, de repente sentindo
frio. — Tudo bem —, disse ele depois de um momento. — Eu tenho uma ideia,
é algo que eu tenho pensado por alguns dias, na verdade.

— Que ideia? — Rohan disse, sem olhar para ele.

Ele não gostou.

Ele não gostava quando Rohan não olhava para ele.

Jamil franziu a testa, mais do que um pouco perturbado por seus próprios
pensamentos. — Há alguns dias, Dalatteya me enviou os velhos relatórios sobre
o sequestro de seus sobrinhos.

Os ombros largos de Rohan ficaram tensos. — E?

— De acordo com esses relatórios, os sobrinhos dela foram atacados


pelos rebeldes dentro de um tarsec de onde Mehmer foi morto. — Jamil disse,
observando Rohan cuidadosamente. — Que coincidência, não é?

Lentamente, Rohan se virou. — Onde você quer chegar com isso?

Jamil inclinou a cabeça para o lado, perversamente apreciando a maneira


como os olhos de Rohan imediatamente foram para seu pescoço — para os
chupões em seu ponto telepático. Independentemente de seu uso constante de
regeneradores dérmicos, Jamil sempre parecia ter uma variedade de velhos e
novos chupões por ali. Rohan pode não querer ele, mas ele era tão impotente
contra a conexão antinatural quanto Jamil. Parecia estranhamente satisfatório
saber disso.

— Eu acho curioso que, de todos os lugares possíveis, os dois príncipes


do Quinto Grande Clã e o Príncipe-Consorte do Terceiro Grande Clã foram
supostamente atacados pelos rebeldes dentro de um tarsec um do outro. As
montanhas Kavalchi tem milhares de tarsecs. Quais são as hipóteses?
Algo passou pelo rosto de Rohan. — O que você está insinuando? Você
parece ter descoberto tudo. Vamos ouvir. — Ele passou a mão pelo queixo
barbudo. Seus olhos negros permaneceram em Jamil, intensos e penetrantes.

Mais uma vez, Jamil ficou perturbado com o quanto ele gostava: ter o
foco de Rohan nele e apenas nele.

Deuses, isso estava ficando fora de controle.

— Eu não tenho certeza ainda —, disse ele. — Tudo o que sei é que você
não me disse algo. Alguma coisa importante. E você não pode esperar que eu o
ajude se eu não tiver todas as informações. — Ele estava orgulhoso de quão
racional sua voz soava. Sua voz não tinha traído que ele se sentia estupidamente
ferido. Isso era ridículo. Rohan não era nada para ele. Ele o conhecia por
dezessete dias. Ele não deveria se machucar por sua falta de confiança. Não
deveria parecer uma traição.

Mas parecia.

— Eu já te disse mais do que eu deveria —, disse Rohan, seu tom


vagamente desconfortável e irritado. — Pare com isso.

— Parar o quê?

— Isso! — Rohan gesticulou em direção ao rosto de Jamil, como se


pessoalmente o ofendesse. — Essa machucada, triste carinha de gatinho que
você está fazendo. Isso me faz... isso me deixa louco.

As sobrancelhas de Jamil voaram. Seu primeiro instinto foi dizer que ele
definitivamente não estava agindo como um gatinho triste, muito obrigado, mas
então ele parou quando ocorreu a ele o que exatamente isso significava. Eles se
conheciam há dezessete dias. Assim como Jamil não deveria se sentir magoado
com a falta de confiança de Rohan, Rohan não deveria ser tão afetado pelo fato
de Jamil se sentir magoado. Ambos estavam reagindo estranhamente um ao
outro, agindo como pessoas que se conheciam há anos, em vez de dias.

Era estranho.

Apague isso, era pura loucura.

— Você disse que a intimidade que as pessoas sentem durante uma fusão
não afeta a vida real —, disse Jamil fracamente.

Os ombros de Rohan ficaram tensos. Ele nem precisava perguntar o que


ele queria dizer.

Céus, eles realmente tinham um problema.

Suspirando, Rohan sentou-se ao lado dele. — Não deveria. Normalmente


não.

— Bem —, Jamil disse secamente. — Claramente não há nada normal


sobre isso. — Eles ficaram em silêncio por um longo tempo, sem olhar um para
o outro.

Jamil riu, olhando para as próprias mãos. — Isso é tão ridículo —, ele
sussurrou. — Eu realmente quero que você segure a minha mão. — Ele
realmente teve que enrolar os dedos em punhos para impedir-se de estender a
mão.

Rohan beliscou a ponte do nariz. — Eu sei.

— Isso é confuso.

Rohan riu, o som agudo e oco. — Colocando de maneira suave.

— Você acha que é o vínculo?


Rohan deu de ombros. — Talvez. Provavelmente. Eu não sei. — Seus
lábios se torceram em um sorriso torto quando ele lançou um olhar de lado para
Jamil. — Eu não sei tudo, Jamil. Isso é novo para mim também.

Jamil se encontrou devolvendo o sorriso impotente.

Rohan olhou para ele. — Você é tão ridiculamente lindo —, disse ele
antes de fazer uma careta. — Eu costumava desejar que você fosse uma mulher
para que eu pudesse foder isso para fora do meu sistema.

Jamil não tinha certeza se deveria ser insultado ou lisonjeado. Ele se


contentou com insultado. — Sua suposição de que eu faria sexo com você é
incrivelmente arrogante.

Rohan sorriu sem humor. — Não minta para si mesmo, querido. Nós dois
sabemos que estaríamos fodendo o dia inteiro se você fosse uma mulher.

Jamil olhou para ele com o rosto quente.

Rohan sacudiu a cabeça. — De qualquer forma, como eu disse,


costumava desejar isso. Agora fico feliz que você não seja uma mulher. — O
polegar dele roçou a bochecha quente de Jamil. — Já é ruim o suficiente sem
sexo na mistura.

Recusando-se a pensar sobre o que isso significava, Jamil decidiu mudar


de assunto. — Então você vai me dizer por que ambos os crimes foram
cometidos tão próximos um do outro?

— Considerando que não foram os rebeldes que os cometeram, seu


palpite é tão bom quanto o meu.

— Não minta para mim. Por favor.


Rohan suspirou. — Tudo bem. Aquele ponto... nós chamamos isso de
Cego. É uma faixa estreita de floresta no sopé das Montanhas Kavalchi do
Norte antes delas se elevarem. Esse local é único por causa de sua composição
geológica: ele tem apenas depósitos de korviu suficientes para impedir que
scJaneshrs e satélites funcionem, mas não o suficiente para impedir o uso de
poderosos teletransportadores transgalácticos.

Jamil franziu a testa. — Você quer dizer que você pode se teletransportar
daquele local sem ser detectado?

— Sim. Nós usamos esse ponto para viajar entre Calluvia e uma estação
orbital perto de Tai'Lehr. — Havia uma ruga entre as sobrancelhas de Rohan. —
O Príncipe Warrehn teve muita sorte de ser atacado por seus próprios guarda-
costas perto do Cego. Nosso povo estava voltando para Tai'Lehr e eles se
depararam com a emboscada e salvaram o príncipe. Quanto ao Príncipe
Consorte Mehmer, eu realmente não tenho ideia. — Ele olhou Jamil nos olhos.
— Acredite em mim.

Jamil engoliu em seco, perdendo a linha de pensamento por um


momento. — Eu poderia visitar Dalatteya sob o pretexto de pedir sua opinião
sobre o assunto. O fato de que alguém “ou algo” atacou seus sobrinhos e meu
marido no mesmo local com dezoito anos de diferença é estranho o suficiente
para justificar pelo menos uma discussão. Eu poderia levá-lo comigo como meu
servo.

Rohan assentiu, ainda olhando nos olhos dele.

Jamil se perguntou se seus olhos pareciam tão famintos quanto os de


Rohan.

Ele sabia o que Rohan queria, é claro. Ele queria a mesma coisa também.
Ansiava por isso.
— Tudo bem —, Jamil sussurrou. Porra, ele era fraco. — Talvez apenas
uma rapidinha?

Imediatamente, a boca de Rohan trancou em seu pescoço, sua mente


empurrando de volta para dentro de Jamil, e o mundo ao redor deles
desaparecera.

Quando Jamil abriu os olhos da próxima vez, o relógio na parede mostrou


que duas horas haviam se passado. Ele estava esparramado de costas, com o
corpo pesado de Rohan em cima dele, a boca de Rohan ainda em seu núcleo
pulsante e seus quadris moendo impotente um contra o outro.

Gemendo, Rohan rolou de costas. — Pelo amor de Deus —, ele rosnou,


empurrando a mão em suas calças emprestadas e puxando sua ereção para fora.

Jamil tinha certeza de que ele parou de respirar. Seu próprio pênis latejava
enquanto ele olhava para aquele pau escuro e grosso na mão de Rohan. O pênis
estava vazando tão profusamente que a cabeça estava coberta de lubrificante,
toda brilhante, suave e de dar água na boca

— Porra, isso é tão fodido —, Rohan disse, seu olhar cintilando para o
rosto de Jamil antes de se fixar no teto enquanto ele acariciava a si mesmo
rudemente.

Jamil tentou desviar o olhar. Ele realmente tentou.

Ele ainda encontrou sua mão rastejando por seu corpo para pressionar
contra sua própria ereção dolorida, seus olhos fixos no pênis de Rohan. A
conexão mental entre eles pulsava com necessidade e prazer crus e frustrantes,
e a cabeça de Jamil girava. Suas inibições se foram, ele enfiou a mão em suas
calças e se retirou. Ele estava tão molhado, seu pau praticamente escorregadio
na mão. Ele choramingou, pressionando o rosto corado contra o braço de
Rohan, e começou a se acariciar furiosamente. Não havia sutileza sobre isso,
apenas uma necessidade pulsante, seu prazer misturando-se, alimentando-se um
do outro. Jamil estava apenas vagamente ciente dos sons rompidos e quebrados
que ele estava fazendo, tudo menos enterrar seu rosto no bíceps de Rohan
enquanto ele segurava seu pênis.

Ele gozou com um gemido abafado, ofegando por ar enquanto se


ordenhava. Ele mal conseguiu se recuperar de seu orgasmo quando outra onda
de prazer o atingiu quando Rohan ficou tenso contra ele e gozou também.
Prazer se espalhou por seu corpo, quente, grosso e delicioso, toda a tensão em
seus músculos substituídos por esse sentimento maravilhoso.

As pálpebras de Jamil ficaram pesadas quando ele flutuou nas ondas de


prazer, laranja, vermelho e amarelo atrás de seus olhos fechados.

— Isso é ridículo —, disse Rohan. — Demoramos, o que, dez estocadas?


Eu tinha melhor resistência quando era adolescente.

Os lábios de Jamil se contraíram. Ele abriu os olhos, e quando viu a


expressão meio ofendida e meio envergonhada no rosto de Rohan, ele não pôde
evitar: ele começou a rir.

Rohan olhou para ele, mas então seus lábios se contraíram também, e em
pouco tempo, ambos estavam rindo.

Quando a risada deles morreram, um estranho tipo de silêncio caiu entre


eles. Não era desconfortável, por si só, mas também não era confortável. Estava
carregado com um certo peso, alguma emoção que ele não conseguia
identificar.

Eles seguraram o olhar um do outro, a intimidade do momento quase


demais. Algo vibrou entre eles, como um ser vivo, e Jamil levou um momento
para reconhecer o que era.
Afeição.

Um afeto caloroso e repugnantemente doce encheu o ar entre eles,


espalhando-se por seu corpo. Foi à coisa mais assustadora que ele já sentiu.

— É o vínculo, não é? — Jamil disse, odiando a ponta de desespero em


sua voz. — Vai passar assim que ele for quebrado.

As sobrancelhas negras de Rohan se juntaram.

Por um longo momento, ele não disse nada.

— Deveria —, ele disse finalmente, mas ele não parecia muito certo. —
Vai sim —, ele disse, mais firme, e então ele estragou o que disse beijando o
nariz de Jamil. — Vai ficar tudo bem, querido.

Jamil só podia rir incrédulo.

Rohan ouvia a si mesmo?


CAPÍTULO 12

Rohan deu um passo atrás de Jamil, tentando parecer tão subserviente


quanto possível.

O Quinto Palácio Real era odiosamente luxuoso. Tudo parecia gritar olhe
como somos ricos e poderosos. Rohan preferia a casa de Jamil — o Terceiro
Palácio Real era muito mais bem decorado. Ele se perguntou se a decoração
refletia o gosto da regente ou da falecida Rainha.

Eles pararam em frente à porta alta e o mordomo droide anunciou Jamil.

Se Rohan fosse um verdadeiro criado, ele teria ficado do lado de fora,


esperando que seu mestre voltasse. Mas ele não estava confiante em sua
capacidade de acessar a mente da regente sem contato visual, então ele seguiu
com Jamil para dentro.

— Vossa Alteza —, disse Dalatteya, curvando-se graciosamente. Seu


olhar aguçado avaliou Jamil antes de passar para Rohan. — Eu apreciaria se seu
criado esperasse do lado de fora.

— Faça como a senhora diz —, Jamil disse sem sequer olhar para ele.

— Claro, Vossa Alteza —, Rohan murmurou, curvando-se profundamente


e pegando os olhos de Dalatteya. Durou uma fração de um segundo, mas foi o
suficiente para ele ficar sob seus escudos. Ele saiu da sala e deixou as portas se
fecharem atrás dele.

Virando as costas para a câmera de segurança, ele fechou os olhos,


concentrando-se. Como era típico de Calluvianos, a telepatia de Dalatteya era
limitada pelos remanescentes de seu vínculo com o falecido marido. Em seu
estado de ligação, ela era uma telepata Classe 1, seus escudos não eram
particularmente bons. Rohan era exponencialmente mais forte que ela. Ainda
assim, navegar em sua mente sem que ela percebesse era mais difícil do que ele
esperava — principalmente porque ele se distraía com o calor ardente e
brilhante da mente de Jamil. Era frustrante como o inferno. Era como tentar se
concentrar em uma vela e ignorar o sol.

Pare de se distrair e faça o que deve ser feito.

Dalatteya tinha uma mente estranha. Levou um tempo para entender por
que sua mente não fazia muito sentido, porque suas motivações pareciam
insensatas. Quando ele entendeu, ele endureceu.

Suas memórias foram adulteradas.

Não era óbvio, mas havia um leve traço de erro em algumas de suas
memórias que Rohan reconheceu apenas porque ele estudou as artes da mente
extensivamente por anos. Mas não foi isso o que o deixou alarmado. Quando
ele tentou desfazer as lembranças adulteradas, ele não conseguiu — essa era a
parte alarmante. Ele era um telepata bem treinado e de alto nível. Isso não
deveria ter sido possível. Para piorar as coisas, ele podia sentir um medo
angustiante toda vez que tentava desfazer suas memórias adulteradas. O medo
dela.

Ela estava assustada.

Ela estava com medo da pessoa que fez isso com ela.

Foi muito inteligente, refletiu Rohan. O subconsciente de Dalatteya


lembrava apenas o suficiente do que essa pessoa fez, suas manipulações
escondidas no fundo de sua psique, sem lhe dar qualquer prova de quem a
estava manipulando e o porquê.
Ele quase sentira pena da mulher — agora a paranoia dela fazia muito
mais sentido — antes de lembrar dos crimes que ela tinha cometido. Porque ela
os havia cometido. Ele não conseguiu encontrar nenhuma evidência de que sua
mente foi manipulada quando tentou matar seus próprios sobrinhos. Isso tudo
veio dela, de ninguém mais. A manipulação da pessoa desconhecida começou
muito depois, embora Rohan não tivesse certeza de quando.

Dalatteya também não foi de forma alguma responsável pela morte de


Mehmer. Ela não sabia nada sobre isso. Ela também não parecia saber nada
sobre os rebeldes.

Quanto a Tai'Lehr...

Algo saiu do canto de sua mente e se lançou para o seu núcleo telepático.
Rohan mal conseguiu trazer seus escudos a tempo.

Respirando com dificuldade, ele saiu da mente dela e abriu os olhos, uma
inquietação fazendo seu estômago revirar.

Uma armadilha mental. Aquilo era uma armadilha mental.

Ele foi ensinado sobre elas, mas ele nunca encontrou uma antes. Era uma
habilidade muito difícil de dominar. Armadilhas mentais eram extremamente
perigosas. Elas poderiam destruir completamente a mente do invasor que a
desencadeou. Eles não praticavam armadilhas mentais em Tai'Lehr.

Mas Rohan sabia quem praticava.

***

Jamil inclinou-se ligeiramente para Dalatteya e virou-se para sair, feliz


pelo encontro ter terminado. Desempenhar o papel de um viúvo paranoico e
sedento por vingança tinha sido bastante cansativo. Como esperado, Dalatteya
não ofereceu nada. Ela era uma mestra em dizer muito sem dizer nada
substancial.

Mas seu olhar agudo e vigilante não correspondia a sua tagarelice sem
sentido. Isso o deixou desconfortável.

Ele encontrou Rohan esperando por ele do lado de fora do escritório de


Dalatteya.

Um olhar para o rosto inexpressivo de Rohan e seus olhos sombrios lhe


disseram tudo o que ele precisava: Rohan tinha encontrado o que procurava na
mente de Dalatteya.

Jamil mal conseguia se conter. Ele estava morrendo de vontade de


perguntar, mas não era nem o tempo nem o lugar. Ele teria que esperar até que
eles voltassem para casa.

— Bem? — Ele disse assim que eles finalmente voltaram para os


aposentos de Jamil.

Rohan apenas olhou para ele por um longo momento, seus olhos negros
inescrutáveis. Mas Jamil podia sentir algo como desconforto através de seu
vínculo acidental. Desconforto e um senso de grande urgência.

— Eu preciso ir para casa.

Jamil olhou para ele. — Por quê? — Uma parte dele, a racional, sabia que
era a pergunta errada a se fazer. Claro que Rohan iria para casa. Se ele
realmente descobriu tudo o que ele precisava saber, não havia nenhuma razão
para ele ficar.

— Eu encontrei algo na mente da regente. Algo muito preocupante. Eu


preciso ir para casa.
Jamil franziu os lábios e virou o rosto. — Mesmo? Isso é tudo que você
vai me dizer? Depois de tudo que fiz para ajudá-lo? — Ele tentou soar bravo,
não magoado. Ele não tinha certeza se conseguiu.

Rohan foi até ele e, tomando-o pelos ombros, forçou-o a olhar para ele.
— Jamil.

Jamil estremeceu. Ele odiava como Rohan dizia seu nome: com um quase
silencioso I, suave como um abraço caloroso.

— O que? — Ele disse rigidamente.

O olhar de Rohan estava curioso. — Se eu pudesse te contar o que


descobri sem colocar você em perigo, eu o faria. Mas seu vínculo com Mehmer
ainda atrapalha sua telepatia. Assim, você não consegue proteger
suficientemente sua mente.

— Eu posso.

— Não de telepatas de alto nível.

O estômago de Jamil caiu. — Não há telepatas de alto nível em Calluvia.

A expressão de Rohan ficou comprimida. — Oficialmente. — Ele apertou


os ombros de Jamil, olhando-o nos olhos. — Eu realmente não deveria estar lhe
dizendo isso, mas fique longe dos adeptos da mente do Alto Hronthar.

As sobrancelhas de Jamil se franziram.

Ele olhou para Rohan, e Rohan olhou de volta.

Jamil assentiu devagar. O que Rohan estava sugerindo parecia


inacreditável, mas Jamil confiava nele.
Ele confiava nele, um homem que ele não sabia praticamente nada, um
homem que usara meios dissimulados para entrar em sua casa, um homem que
não estava dizendo a ele o que ele descobriu sobre Dalatteya.

Era louco?

Talvez.

Inferno, não havia talvez sobre isso.

— Você sabe que eu nunca machucaria você —, disse Rohan,


provavelmente lendo seus pensamentos. Embora seu rosto permanecesse quase
vazio, seus olhos escuros ardiam de pura honestidade, as mãos subindo dos
ombros de Jamil até o pescoço. Rohan embalou-o suavemente, seus dedos
pressionando contra seu núcleo telepático, que pulsava ansiosamente para ele.

Jamil fez uma careta, recuando um pouco. — Não faça isso. — Não
consigo pensar quando você faz isso.

Rohan sorriu ironicamente. — Sim. Provavelmente não é uma boa ideia.


Nós perderemos horas se nos fundirmos.

— Você vai quebrar o vínculo agora?

Rohan fez uma careta. — Ao contrário dos vínculos artificiais, é muito


difícil quebrar um vínculo natural intencionalmente. Mas é um novo vínculo.
Ainda é muito fino e frágil. Ele deve quebrar por conta própria com a distância
e o tempo, e provavelmente será menos doloroso assim.

Jamil sabia que ele provavelmente deveria insistir em Rohan para fazer
isso de qualquer maneira, mas algo nele instintivamente se esquivou da ideia.
Talvez uma quebra gradual realmente seja melhor.

— E quanto ao assassino de Mehmer? —, Ele disse.


Os lábios de Rohan se afinaram. — Eu não sei. Ela realmente não sabia
disso. Eu tenho... uma ideia sobre o que pode ter acontecido, mas vou ter que
confirmar algumas coisas primeiro. Vai levar tempo. — Ele alisou a linha entre
as sobrancelhas de Jamil com o polegar. — Não se fixe em encontrar o
assassino de Mehmer, ok? Ele está morto. Ele não se importa se ele será
vingado ou não.

Jamil olhou para ele sem entusiasmo. — Sua atitude irreverente em


relação à morte de Mehmer é ofensiva, você sabe.

Rohan teve a coragem de dar de ombros. — Vingar sua morte é a menor


das minhas preocupações, para ser honesto. Morto não pode ser ferido. — Ele
olhou nos olhos de Jamil sombriamente, embalando sua nuca. — Prometa-me
que você vai deixar isso quieto. Não tente investigar sozinho.

— Eu não posso simplesmente ignorar a questão quando o assassino do


meu marido ainda está lá fora, impune e...

— Prometa-me —, disse Rohan com força, algo feroz e ansioso em seus


olhos.

Isso fez Jamil parar. Ele podia sentir a preocupação de Rohan, forte e
angustiante.

Preocupação por ele.

— Se minhas suspeitas estiverem corretas, a morte do Príncipe-Consorte


é apenas a ponta do iceberg —, disse Rohan. — Não é tão simples como
encontrar um único assassino, Jamil. Confie em mim. Fique longe dessa
bagunça.

Com o estômago em nós, Jamil só conseguiu assentir.


— Obrigado. — Rohan se inclinou e beijou-o na bochecha suavemente.
— E obrigado pela sua ajuda —, ele murmurou, seus braços escorregando pelos
ombros de Jamil para dar-lhe um breve, mas apertado abraço. — Eu não
poderia ter feito isso sem você.

Jamil olhou para a parede oposta e percebeu que isso era um adeus.

Rohan estava indo embora, e ele provavelmente nunca mais voltaria.

Jamil pressionou os lábios, a garganta subitamente apertada.

Ele não sabia por que ele se sentia... assim. Ele sabia que Rohan iria
embora assim que ele descobrisse o que ele precisava. Ele sabia disso. Isso foi
para o melhor. Ele estava começando a se apegar.

Começando?

Jamil quase riu de si mesmo. O que estava errado com ele, seriamente?
Eles nem eram amigos, na verdade. Eles certamente não eram amantes também.
Rohan era... Ele era outra coisa, o seu não-amigo, não-amante, não-
companheiro, não-servo.

Mesmo se Rohan pudesse ficar, o que eles seriam um para o outro? Por
quanto tempo ficaria em segredo que Jamil estava irremediavelmente viciado
em ter a mente de seu servo nele? Que Jamil tinha um vínculo perverso com
ele? O escândalo seria enorme. Mesmo que estivesse disposto a arriscar, Rohan
claramente não tinha intenção de ficar. Ele provavelmente nem tinha pensado
nisso. Enquanto ele parecia um pouco ligado a Jamil, ele era um homem
heterossexual. Rohan nunca iria querer um relacionamento tão íntimo com
outro homem — não que Jamil quisesse isso também. Ele não queria. A mera
ideia era... ridícula: eles eram de diferentes círculos sociais, diferentes culturas
e diferentes sexualidades. Eles não tinham futuro juntos, de qualquer forma.
Era uma coisa boa que isso estava terminando antes que pudesse se tornar
algo desastroso. Mais desastroso do que já era.

— Eu tenho que ir —, Rohan disse asperamente, seu olhar procurando


enquanto vagava pelo rosto de Jamil. Suas mãos apertaram os ombros de Jamil.
— Se há algo que eu possa fazer por você antes de eu ir...

Jamil abriu a boca para dizer que não precisava de nada quando uma ideia
lhe ocorreu. No começo parecia insano demais, mas quanto mais ele pensava
sobre isso, mais ele queria.

— Me dê um bebê.

Rohan se encolheu.

— O quê? — Ele disse, os olhos arregalados e os músculos visivelmente


tensos.

Jamil umedeceu os lábios secos com a língua. — A Rainha... ela está me


pressionando... — Ele se cortou. Não, isso não estava certo. — Meu povo está
preocupado com o fato de não haver uma linha de sucessão estabelecida. Eu
preciso de um herdeiro. Mehmer, ele não deixou seu material genético, então
minha mãe diz que eu preciso de um doador para ser o outro pai biológico. Mas
eu... — Ele mordeu o lábio inferior, desviando o olhar antes de se encontrar
com Rohan novamente. — Eu realmente não gosto do pensamento de ter um
filho de um estranho.

O queixo de Rohan ficou tenso. Ele balançou a cabeça lentamente. —


Jamil, eu não posso simplesmente dar meu filho para outras pessoas para ser
criado como de outro homem. Me desculpe, mas eu não posso.

O estômago de Jamil caiu. Cruzando os braços sobre o peito, ele virou as


costas para Rohan, não confiante de que seu rosto não iria trair sua decepção.
— Eu não estava pedindo para você dar uma criança para outras pessoas —,
disse ele sem emoção. — Eu estava pedindo para você dá-la para mim. — Ele
deu de ombros. — Mas eu acho que não faz muita diferença para você.

Rohan xingou e agarrou seus ombros. — Não diga isso —, ele disse
asperamente, sua barba riscando a pele do pescoço de Jamil por trás. — Você
é.... porra, você é a coisa mais confusa que já aconteceu comigo, eu não tenho
ideia de que porra é essa, mas... — Ele suspirou. — Eu quero que você seja
feliz —, disse ele com voz rouca. — Quero que você esteja seguro e feliz,
quero lhe dar o que quiser. Porque você merece isso. Mas eu realmente não
posso fazer o que você está me pedindo para fazer. Existem motivos para isso.

— Tudo bem —, Jamil disse. — Desculpe-me por perguntar. Foi idiota da


minha parte, eu nem sei o quão saudável você é. Minha mãe já encontrou um
candidato perfeito de qualquer maneira.

As mãos de Rohan apertaram seus braços. — Não.

As sobrancelhas de Jamil se franziram. — Não?

Soltando um suspiro frustrado, Rohan disse, irritado: — Não importa. Eu


não consigo pensar direito quando você está tão perto. — Mas ele não tentou se
afastar.

— Você está enviando sinais muito confusos, sabe —, disse Jamil.

Rohan bufou. — Eu sei. É como se houvesse dois de mim na minha


cabeça agora. Um sabe que é uma ideia terrível, o outro...

— O outro?

— O outro é um idiota possessivo que quer te dar o que nenhum outro


homem te deu. — Ele gemeu na nuca de Jamil. — Porra, isso é ridículo. Eu não
quero nem te foder. O que você fez comigo, querido?
Jamil virou a cabeça e os lábios de Rohan roçaram sua bochecha,
fazendo-o tremer e perder sua linha de pensamento por um momento. — Isso é
um sim?

— Aparentemente —, Rohan disse, mordiscando a pele de seu ponto


telepático.

Jamil lamentou, estremecendo nos braços de Rohan quando Rohan


deslizou dentro dele. Eu vou te dar um bebê para que você nunca me esqueça.

Não foi um pensamento direto, apenas uma forte impressão que ele teve
de Rohan antes de Rohan se afastar, tanto fisicamente quanto mentalmente.

Desorientado pelo súbito fim da fusão, Jamil se virou.

— Desculpe —, disse Rohan, sua expressão dolorosa. — Eu não


pretendia fazer isso. — Ele soltou uma risada curta. — Está ficando cada vez
mais óbvio que preciso me afastar de você. Apenas me dê o nome do centro
genético e seu geneticista e eu farei o resto.

— Centro Genético Eipent'tak, Doutor Tuvok — Jamil se ouviu dizer,


como se estivesse atordoado. Sua mente ainda estava pulsando com a
necessidade crua, procurando por Rohan faminta. A fusão foi breve demais. Ele
queria mais.

A expressão de Rohan se tornou firme. — Por favor, pare com isso —,


disse ele, colocando as mãos nos bolsos da jaqueta. — Eu tenho que ir, Jamil.
Mas eu farei o que você quer.

Jamil piscou, as palavras de Rohan finalmente afundando.

— Obrigado —, disse ele quando Rohan começou a se afastar.


Rohan fez uma pausa e olhou para ele por um longo momento, sua
expressão frustrada suavizando. — Apenas... seja feliz, ok?

Jamil forçou um sorriso. — Eu vou.

Seu sorriso desapareceu quando a porta se fechou, deixando-o em um


quarto silencioso.

Ele não sabia que o silêncio poderia ser tão alto.

E tão vazio.
CAPÍTULO 13

Era estranho que ninguém mais percebesse a ausência de Rohan. O


zywern tinha um novo treinador, e ninguém parecia se perguntar onde estava o
novo criado de Jamil — se alguém no palácio tivesse notado que ele tivera um
criado por um breve período. Racionalmente, ele sabia que Rohan deve ter
mudado as memórias daqueles que se lembravam dele, mas ainda parecia
surreal que ninguém tivesse notado seu desaparecimento repentino.

Era como se ele nunca tivesse existido.

Às vezes, quando ele não conseguia dormir, Jamil se perguntava se ele


tinha apenas imaginado tudo.

Mas não, o fio de ouro fino em torno de seu núcleo telepático era muito
real, não importava o quão cru e esticado estivesse.

Dezessete dias.

Um pouco mais de meio mês. Parecia tão ridículo ser tão afetado pela
ausência de Rohan quando ele o conheceu por meio mês. Ridículo e
embaraçoso. Não era como se ele tivesse se apaixonado por Rohan ou algo
assim. Ele apenas ficou... um pouco apegado. Ou mais que um pouco. Jamil
nem conseguia mais olhar para o retrato de Mehmer, vergonha e culpa torcendo
seu estômago o tempo todo. Ele tinha que se lembrar que não havia traído a
memória de Mehmer — que nada havia realmente acontecido, que ele não
queria que nada acontecesse — mas era inútil.

O fato era que, não importava como ele olhasse para isso, Jamil sentia
falta do homem que conheceu por dezessete dias mais do que sentia falta do
marido com quem compartilhara anos de sua vida.

Isso o fez se sentir tão sujo.

Foi assim que Jamil se viu assistindo holovídeo pós holovídeo de


Mehmer, tentando lembrar o quanto ele amava seu marido, o quanto ele sentia
falta dele. Ele se lembrava, claro. Ele se lembrava do quanto ele adorava a
risada suave de Mehmer e o senso de humor ligeiramente inadequado. Ele se
lembrava de quanto amara o otimismo e a natureza tranquila de Mehmer.
Mehmer tinha sido lindo, maravilhoso e fácil de amar.

Mehmer ainda não era o homem que Jamil pensava todo o maldito tempo.

Ele não era o homem que Jamil queria de volta, tão fortemente.

Parecia o pior tipo de traição, mesmo que nada realmente tivesse


acontecido entre ele e Rohan.

Nada? Que tal uma dúzia de fusões ilegais com as quais você se
envolveu? Ou o fato de você ter se masturbado na presença dele, como uma
prostituta sem vergonha? Ou o fato de que às vezes você sonha com um pênis
grosso e escuro que definitivamente não pertence ao seu falecido marido?

Ruborizando, Jamil afastou o pensamento. Ele não era responsável por


seus sonhos. Ele se recusou a se sentir culpado por seus sonhos.

— Vossa Alteza?

Jamil estremeceu ao som da voz do IA. — Sim, Omer?

— A Rainha está pedindo para você se juntar a ela no Centro Genético


Eipent'tak, Vossa Alteza.

O coração de Jamil pulou em sua garganta. Ele teve que se forçar a se


mover. — Eu estarei lá em um instante.
Seus pensamentos correndo, ele encontrou a câmara mais próxima.

Os poucos momentos que levaram para o transporte chegar ao seu destino


pareceram os mais longos de sua vida.

Finalmente, ele estava andando pelos corredores verdes do Centro


Genético Eipent'tak. Mal ciente das pessoas se curvando a ele, Jamil caminhou
na direção que ele podia sentir vagamente sua mãe, graças ao vínculo familiar
que eles compartilhavam.

Ele a encontrou quando ela estava saindo do consultório do doutor Tuvok.

— Obrigada, Doutor —, ela estava dizendo, sorrindo cordialmente para o


ilustre homem mais velho que Jamil reconheceu como um dos mais famosos
geneticistas do planeta.

Tuvok se curvou ligeiramente. — Você não tem que me agradecer, Vossa


Majestade. Eu vivo para servir você e sua família. — Percebendo Jamil, ele
também se inclinou para ele. — Vossa Alteza. — Algo cintilou em seus olhos.
Ele pareceu hesitar antes de dizer:

— Acredito que Vossa Majestade vai lhe contar os detalhes, então tudo
que posso oferecer são meus parabéns.

O estômago de Jamil se apertou. — Obrigado —, disse ele com os lábios


entorpecidos.

— Oh, querido —, disse a Rainha Janesh em voz baixa, dando uma


olhada em seu rosto. Ela pegou o braço dele e gentilmente o levou embora. —
Eu sei que não é como você imaginou isso, mas isso é uma boa notícia, meu
filho.

— Notícia —, disse Jamil fracamente quando a Rainha os levou para a


sala de gestação.
Havia fileiras e fileiras de cubos de gestação — ou úteros artificiais,
como as pessoas os chamavam. Mas o olhar de Jamil não precisou procurar
muito.

Ele sabia onde procurar, onde andar. Ele sentiu o eco muito fraco da
mente do bebê, ainda minúsculo e incerto, mas inconfundivelmente familiar.

Ele parou na frente do cubo de gestação e olhou para o que parecia ser um
feixe de células.

Ele sentiu a mão de sua mãe em seu ombro. Ela apertou-o.

— Você vai ter uma filha —, ela disse suavemente.

Jamil sentiu como se algo tivesse se alojado em sua garganta, algo grosso
e doloroso. Ele se forçou a desviar o olhar das células que cresciam
rapidamente. Seus dedos estavam instáveis quando ele tocou o datapad no cubo
de gestação. A maioria das informações sobre o embrião era técnica demais
para ele entender. Tudo o que ele conseguia entender era que o embrião era
saudável e bem desenvolvido — e que seus pais biológicos eram o Príncipe
Jamil'ngh'veighli do Terceiro Grande Clã e o Príncipe-Consorte
Mehmer'ver'veighli.

— O Doutor Tuvok sabe? — Jamil disse, finalmente encontrando sua


voz.

— Sim, mas ele jurou guardar segredo —, disse a rainha.

— Quem? — Jamil sussurrou.

Sua mãe apertou o ombro dele novamente. — O doador é um jovem


saudável. Isso é tudo que você precisa saber, Jamil. Pense nessa criança como
sua e de Mehmer.
— Quem, Mãe? — Jamil disse.

Ele podia sentir o desconforto de sua mãe por meio de seu vínculo
familiar. — Seu nome é Serdn Vewyr. Ele tem vinte e nove anos. Ele é casado e
tem dois filhos saudáveis. Ele é engenheiro, com inteligência acima da média.
Ele também se parece um pouco com Mehmer, não que isso importe muito, já
que a criança foi geneticamente modificada para herdar sua aparência física,
principalmente. Obviamente, não foi dito a Serdn Vewyr qual família sem filhos
usaria sua generosa doação.

Jamil assentiu fracamente, olhando para o embrião.

Para a filha dele.

— Eu já organizei a transferência do cubo de gestação para o palácio —,


sua mãe disse, tão eficiente quanto sempre, mesmo que houvesse algo como
incerteza no ar ao seu redor.

— Obrigado —, Jamil disse, quebrando o silêncio um tanto


constrangedor. — Por tudo.

Ele sentiu o alívio dela, quase esmagador em sua força. — Claro, meu
querido —, ela disse suavemente, dando-lhe um abraço telepático.

Seu toque mental era quente e amoroso, mas Jamil quase se encolheu, sua
mente instintivamente se afastando do contato. Seu núcleo telepático parecia
um ferimento cru nos dias de hoje e até mesmo o toque suave da mente de sua
mãe parecia muito — errado.

— Você precisa seguir em frente, amor —, disse a Rainha, provavelmente


interpretando o estado de sua mente como sua dor por Mehmer. — Lhe foi dada
uma chance maravilhosa de ser feliz. Esta criança é um presente. Eu sei que
você queria os filhos de Mehmer, mas no que diz respeito a todos, ela é sua e de
Mehmer. Seu outro pai biológico não importa.

Jamil não olhou para a mãe. Ele não podia. Ele não tinha certeza se o
rosto dele não o trairia.

Porque a mãe dele não poderia estar mais errada. Esta minúscula vida no
cubo de gestação, este bebê... não era de Mehmer ou de Serdn Vewyr. Jamil não
sabia como Rohan tinha conseguido enganar o Doutor Tuvok, mas ele tinha.
Jamil não conseguia explicar como ele sabia, por que ele estava tão confiante
de que Rohan havia mantido sua palavra.

Ou melhor, ele tentou não pensar sobre isso — sobre o fato de que algo
sobre esse bebê parecia certo. Algo sobre essa minúscula vida acalmava a dor
surda de seu vínculo enfraquecido com Rohan, não o suficiente para fazê-lo
parar de doer, mas o suficiente para ancorá-lo um pouco.

Jamil pressionou a mão contra o cubo da gestação e murmurou: — Oi. —


A voz dele tremeu ligeiramente, mas ele sorriu.

Sua mãe estava certa sobre uma coisa: essa criança era um presente.

O último presente que seu outro pai deixara para ele.


CAPÍTULO 14

Cinco meses depois

Jamil estava sorrindo um pouco enquanto abria a porta da câmara de


gestação — ele mal podia esperar para ver sua filha — e ele ficou surpreso ao
ver seu irmão sentado em frente ao cubo de gestação.

— O que você está fazendo aqui?

— Só vim dizer oi para a minha sobrinha favorita —, disse Seyn,


voltando-se para sorrir para ele.

Jamil bufou e sentou-se ao lado dele. — Ela é sua única sobrinha —,


disse ele, tocando levemente as grossas paredes do útero com os dedos. — Bom
dia. Como está minha linda garota hoje?

A bebê não reagia externamente, as paredes do útero eram muito grossas


para ela ouvir, mas Jamil podia senti-la fracamente e suas emoções se
transformaram nos sentimentos de satisfação e segurança. Eles já
compartilhavam um vínculo familiar rudimentar. Era fraco, mas estava lá e
estava ficando mais forte a cada dia enquanto seu cérebro e habilidades
telepáticas se desenvolviam. Apesar de ter apenas cinco meses de idade, ela já
era tão desenvolvida quanto um feto de sete meses de idade. Essa era a
vantagem da gestação artificial em comparação com uma gravidez natural que
durava dez meses Calluvianos: os estágios iniciais da gestação eram acelerados.
Sua filha já estava há três meses do nascimento, e ela já era uma pessoa
pequena — uma pessoa pequena que já conhecia a perda.
Jamil olhou-a melancolicamente, imaginando o quanto sua filha podia
sentir a ausência do outro pai. Todas as crianças calluvianas nasciam com
vínculos telepáticos rudimentares com seus pais. Se ela já podia sentir Jamil,
ela provavelmente já poderia sentir que não havia nada além de silêncio no
outro extremo de seu vínculo com seu outro pai. Às vezes ele achava que podia
sentir sua confusão, sua tristeza.

Capturando os olhos curiosos de Seyn, Jamil educou suas feições em uma


expressão neutra, imaginando o que seu irmão tinha visto. — Às vezes eu me
pergunto se ela se sente sozinha lá dentro. — Ele riu, passando a mão pelo
cabelo. Deuses, ele odiava mentir, odiava fingir na frente de alguém da sua
própria família, mas Seyn não tinha ideia de que o bebê não era de Mehmer.
Ninguém além da Rainha poderia saber disso. Não era que Jamil não confiava
em Seyn, mas... Jamil não era cego para os defeitos de seu irmão. Seyn era um
bom garoto, mas ele era o bebê da família: mimado, de língua afiada e um
pouco egocêntrico. Ele também era bastante temperamental. Jamil não confiava
nele para não deixar escapar impensadamente, no meio de alguma discussão, no
alcance de ouvidos estranhos. Uma palavra irrefletida, um boato, era tudo o que
precisaria para destruir o futuro da sua filha. Bastardos podiam governar, mas
era uma marca vergonhosa que a filha de Jamil nunca seria capaz de apagar.
Não. Ele poderia mentir para Seyn. Ele faria o papel que Seyn esperava dele.

Além disso, o papel de um companheiro em luto que estava olhando para


a filha do homem que ele perdeu não era exatamente difícil de jogar.

Jamil sentiu seus lábios se enrolarem em um sorriso sem alegria. Seu


peito estava apertado, seu estômago revirando. — Eu sei que é ridículo. Todos
nós nascemos assim e acabamos bem. — Sua voz soou, tensa até para seus
próprios ouvidos. Ele se perguntou se Seyn iria notar.

— Defina bem —, disse Seyn com uma risada.


Jamil se viu sorrindo fracamente. Claro que Seyn não tinha notado. Seu
irmão se considerava observador, mas na realidade ele via o mundo através de
suas próprias emoções e percepções. E na mente de Seyn, Jamil era seu irmão
mais velho, muito adequado e chato, incapaz de enganar alguém.

Era quase engraçado.

O silêncio caiu sobre o quarto.

— Talvez não seja tão ridículo —, disse Seyn finalmente, seus olhos em
sua sobrinha. — Talvez não tenhamos muito contato físico porque nos
acostumamos a ficar isolados antes de nosso nascimento.

Jamil deu de ombros, esperando que não fosse óbvio que seu coração não
estava realmente na conversa. — Talvez.

Ele assistiu sua filha, enviando conforto e amor através de seu vínculo
familiar. Seu rosto pequeno e enrugado se virou para ele, como se ela pudesse
sentir onde ele estava, seus braços se sacudindo.

O peito de Jamil inchou de amor, sua garganta se fechando. Ele estava tão
feliz que sua mãe praticamente o intimidou a ter uma criança. Se a iniciativa
tivesse vindo dele, ele nunca teria feito isso, sentindo-se muito culpado por
sequer pensar em ter uma criança com um homem que não fosse Mehmer.

Jamil fez uma careta ao pensar nisso. Havia algumas coisas que ele se
sentia culpado, mas sua filhinha não era uma delas. Ela era perfeita do jeito que
era. Ele faria qualquer coisa por ela.

— De qualquer forma, o ponto é discutível —, disse Jamil, observando a


filha brincar com as pernas. — Eu tenho sorte de poder tê-la em todos os
lugares — que Mehmer preservou seu material genético apenas alguns meses
antes dele... — A mentira rolou de sua língua suavemente, o suficiente depois
de meses contando isso. Jamil não se sentia mais culpado por aquela pequena
mentirinha. Não só era necessário para manter a reputação da Casa intacta,
como era necessário para proteger sua filha. Jamil gostaria de pensar que
Mehmer teria entendido. Ele era um bom homem. Ele era.

Fazendo uma careta, Seyn enviou-lhe uma onda de tranquilidade e


conforto. Talvez sua voz não tivesse saído tão firme quanto ele pensara.

Suspirando, Jamil estendeu a mão para seu irmão mais novo através de
seu vínculo familiar. — Estou bem, garoto.

Seyn o abraçou de volta telepaticamente, seu toque hesitante e um pouco


desajeitado. Como o bebê da família, Seyn não estava acostumado a dar
conforto, e o simples fato de que ele estava tentando fazer isso era tão adorável
quanto desnecessário.

Jamil reforçou seus escudos mentais, concentrando seus pensamentos em


Mehmer.

— Você está mesmo? — Disse Seyn, sua voz tingida de genuína


preocupação.

Jamil encolheu os ombros, sentindo uma pontada de culpa. — Eu ainda


busco a mente dele às vezes, mas está ficando mais fácil, suponho. Os adeptos
da mente disseram que o vínculo irá se curar com o tempo e tudo o que eu irei
sentir é a ausência. — Essa parte era verdade, pelo menos, mesmo que tenha
sido meses desde que ele tinha visto um adepto da mente pela última vez.
Depois do estranho aviso de Rohan sobre eles, Jamil não pôde deixar de se
sentir desconfiado. Ele tentou pesquisar a antiga Ordem, mas não achou nada
de incriminador. Os monges do Alto Hronthar eram aprendizes pacíficos das
artes da mente, que historicamente se afastaram da política mesquinha das doze
casas reais de Calluvia. Não fazia sentido que eles estivessem envolvidos na
morte de Mehmer.
— Eu ainda não entendo por que eles não tiram o vínculo da sua mente.
— Seyn resmungou sem entusiasmo.

— É contra a lei —, disse Jamil. — Além disso, o Alto Adepto disse que
o vínculo estava na minha mente há muito tempo e não é seguro removê-lo.
Está entrelaçado com tudo agora. — O Alto Adepto realmente disse isso logo
após a morte de Mehmer, mas Jamil não pôde deixar de pensar se ainda era
verdade. Ultimamente ele mal podia sentir sua ligação com Mehmer. Só quando
ele tirava um tempo para meditar, ele podia ver os remanescentes lamentáveis
de seu vínculo quebrado em torno de seu núcleo telepático. A visão era
inquietante. Ele nunca imaginou que menos de um ano após a morte de
Mehmer, ele mal seria capaz de sentir o vínculo entre eles — vínculo que eles
compartilharam durante a maior parte de suas vidas. Parecia um fim de alguma
coisa. Um fim de uma era.

— E, para ser sincero... — Jamil disse, observando sua filha, uma filha
que não se parecia em nada com Mehmer. — Eu quero manter meu vínculo. Eu
ainda o sinto assim, um pouco. Como um eco. Eu não quero fingir que ele
nunca existiu. Ele existiu. — O remanescente lamentável de seu vínculo
matrimonial era a única coisa que ele ainda tinha de Mehmer. Já era ruim o
suficiente que Mehmer não seria o homem que ele veria quando olhasse para
sua filha.

Jamil interrompeu essa linha de pensamento.

— Você ainda não me disse por que estava se escondendo aqui —, disse
ele, voltando-se para Seyn.

Seu irmão piscou inocentemente, colocando um olhar confuso que


provavelmente achava convincente. — Eu não estava me escondendo.

Jamil bufou. Seyn achava que ele tinha nascido ontem? — E eu suponho
que você não recusou todos os convites também.
Seyn estremeceu, parecendo genuinamente surpreso.

Jamil estava divertido apesar de si mesmo. Será que Seyn pensara que
Jamil estava tão absorto em sua tristeza que não notou que seu irmãozinho
normalmente muito sociável estava evitando a sociedade como uma praga?
Jamil podia raramente participar de eventos sociais, mas era um de seus deveres
como o Príncipe Herdeiro garantir que sua família não fosse alvo de fofocas
maliciosas. Trabalhava de perto com a assessora de imprensa, e ela o informara
recentemente que as pessoas estavam começando a se perguntar por que o
Príncipe Seyn havia se transformado em eremita.

— Só não estou com vontade —, disse Seyn, evitando seu olhar.

— Você?

Rindo, Seyn revirou os olhos. — Eu posso me cansar de socializar,


também. — Ele ficou em silêncio por um momento. — Eu tive uma briga com
Ksar —, admitiu ele finalmente, franzindo o cenho. — Agora eu estou
evitando-o, porque eu não serei responsável por minhas ações se eu vir seu
rosto estúpido e arrogante.

Jamil reprimiu a vontade de revirar os olhos. Ele deveria saber. Seyn era
absolutamente impossível quando se tratava de seu noivo. — Pelo amor de
Deus, Seyn. Você deve se esforçar mais para se dar bem com o seu
companheiro. Todo relacionamento precisa de dedicação, com vínculo ou não.
Pessoalmente, não entendo por que você não gosta dele. Ele é muito inteligente
e é perfeitamente razoável e educado...

— Para você, talvez —, disse Seyn com uma zombaria. — Você é o


Príncipe Herdeiro do nosso grande clã. Ele vê você como seu igual.

— Não realmente —, Jamil disse, balançando a cabeça. — Sua posição


social é um pouco mais alta no mercado interno e muito maior no cenário
político intergaláctico. Nós não somos realmente iguais, então não pode ser por
isso que Ksar'ngh'chaali é perfeitamente civilizado comigo.

— Não é exatamente reconfortante, você sabe —, murmurou Seyn,


franzindo o cenho novamente.

Jamil riu e se levantou. Passando os dedos contra a parede externa do


cubo de gestação, ele se virou para a porta, mas depois parou quando percebeu
algo. Depois da morte de Mehmer, tinha sido difícil para ele estar perto de Seyn
quando seu irmão se queixava e choramingava sobre seu próprio companheiro,
mas agora... não havia mais dor. Não havia inveja.

A percepção foi difícil de engolir, e Jamil tirou isso de seus pensamentos,


para pensar mais tarde.

— Todo mundo tem sua própria versão da verdade, irmão —, ele disse
suavemente, sem olhar para Seyn. — Ele não é um homem mesquinho. Você já
se perguntou por que ele te trata de forma diferente dos outros? Pense nisso.

Ele saiu do quarto, uma sensação estranha em seu peito.

Fazia quase um ano desde a morte de Mehmer. Ele estava finalmente...


bem?

Realmente bem?

Jamil franziu a testa, procurando seus sentimentos. Ele sempre sentiria


falta de Mehmer, mas... sim, os pensamentos dele já não traziam dor, como já
haviam feito; apenas saudade carinhosa. Ele não se sentia mais culpado por
estar animado com o nascimento de sua filha.

Ele estava... contente com a vida dele, e ele não se sentia culpado por
isso.
O pensamento era estranhamente libertador.

Jamil se viu sorrindo.

Ele estava bem.

Tudo ia ficar bem.

Ele estava cansado de deixar qualquer homem afetar sua felicidade.

Sua filha era tudo de que ele precisava.

Jamil ignorou uma pontada de algo no fundo de sua mente.

Ele estava bem.


CAPÍTULO 15

Seis meses depois

— Eu ainda acho que você deveria ter ficado em Tai'Lehr.

Rohan se concentrou em pilotar o pequeno navio em direção às docas de


Malok-1. — Que coincidência —, disse ele secamente. — Eu ainda acho que
você deveria ter ficado em casa também.

Ele não precisava virar a cabeça para saber que seu amigo estava
carrancudo.

— Minha casa é Calluvia —, Warrehn disse.

Rohan bufou. — Você parece que precisa se convencer primeiro, amigo.

Ele conseguiu um empurrão telepático por isso, quase fazendo com que
eles colidissem com o ancoradouro na frente deles.

— Cuidado, droga —, Rohan disse, atirando a Warrehn um olhar. —


Alguém já lhe disse para não distrair o piloto?

— Não —, disse Warrehn com um rosto mal-humorado, mas como o


rosto de Warrehn parecia um pouco irritado noventa por cento das vezes, o
efeito foi arruinado, embora Warrehn realmente tivesse uma razão legítima para
ser seu ego ranzinza e taciturno. Não era todo dia que alguém retornava ao seu
planeta natal após dezenove anos longe.

Quando eles chegaram, Sirri saiu da cabine, bocejando. — Ugh, eu não


achei que estaríamos aqui tão cedo —, disse ela com sono. — Onde está o
bloqueio quando você precisa?

Ela os seguiu para fora do veículo, ainda murmurando algo infeliz.

Rohan digitou seu código de acesso e foi em direção ao TNIT da estação.


Não havia muito o que olhar ao longo do caminho: paredes cinzentas, tetos
baixos e falta de mobília e pessoas. Malok-1 era uma estação orbital
automatizada, operada pelo computador central e dróides. A estação ficava
escondida atrás de um gigante de gás que estava localizado na extremidade do
sistema estelar em que Tai'Lehr estava localizado. Estava suficientemente longe
de Tai'Lehr para o teletransporte transgaláctico funcionar, mas perto o suficiente
para que seu trabalho fosse mascarado pelo campo magnético de Tai'Lehr. Ele
foi construído em segredo, séculos atrás por engenheiros de Tai'Lehr, e Calluvia
estava alheia a isso.

Ou então eles pensaram que sim.

Os lábios de Rohan se afinaram. Claro, sempre houve uma chance de que


o TNIT não registrado fosse descoberto: mais cedo ou mais tarde, os
Calluvianos iriam descobrir sobre isso. Ele ainda preferiria que fosse o mais
tardar possível — e em outras circunstâncias.

— Eu ainda acho que você deveria ter ficado para trás, Rohan —, disse
Sirri, alcançando-o. — Warrehn e eu somos perfeitamente capazes de lidar com
isso.

— Viu? Ela concorda comigo —, disse Warrehn.

Rohan os ignorou.

Sirri suspirou. — Você é um maníaco por controle, querido. Por que você
não pode confiar em outras pessoas para fazer o trabalho?
Rohan entrou com outro código de acesso e a porta da sala da TNIT se
abriu.

— Prepare o TNIT —, disse ele brevemente.

— Idiota —, Sirri disse, indo em direção aos controles do TNIT. — Em


momentos assim, eu me pergunto por que eu já fodi com você. Se você não
fosse tão fantástico na cama, eu teria lhe dado um soco anos atrás.

— E aqui estava eu, me perguntando por que você aguenta as idiotices


dele —, disse Warrehn, pisando no tapete de transporte. Seus olhos azuis
estavam apertados enquanto ele olhava ao redor da sala. Rohan se perguntou se
ele estava se lembrando da primeira vez que esteve com ele.

— Você não tem crédito para falar sobre isso, seu velho rabugento —,
disse Sirri. — Pelo menos Rohan tem uma qualidade admirável: seu talento no
"saque". Você, eu já não tenho certeza. Você é legal de se olhar, mas aparência
não é tudo, se é que você me entende.

Os lábios de Warrehn mal se mexeram. — Quer uma demonstração?

Sirri riu. — Receio não ter os... recursos necessários para que seus ativos
funcionem. E eu vi o que você fez com aquele garoto da loja. O coitado não
conseguia se sentar por dias. Obrigada, mas não obrigada.

Rohan se juntou a seu melhor amigo no tapete de transporte. — Sirri.


Faça logo isso.

Ela ergueu as sobrancelhas amarelas zombeteiramente. — Diga por favor.


— Rohan deu-lhe um olhar plano.

Sirri revirou os olhos. — Bem. Você não tem senso de humor desde a sua
viagem à Calluvia. O que aconteceu lá para transformá-lo em um idiota tão
mal-humorado?
Rohan desviou o olhar e disse secamente: — Talvez você devesse ser a
que deveria ter ficado em casa, se tudo o que você está interessada é em fofoca.

— Foda-se —, ela disse suavemente, finalmente terminando e pulando


para o tapete de transporte. — Ou é isso? Talvez você devesse apenas transar.

A ativação do TNIT impediu que Rohan dissesse algo a isso. Não que ele
tivesse muito a dizer de qualquer forma. Ele não podia dizer a Sirri que o
vínculo acidental que ele formou com um príncipe Calluviano fez sua pele
arrepiar com inquietação toda vez que ele tentou fazer sexo no ano passado.
Sirri nunca iria deixá-lo viver sem esquecer isso. Nem mesmo Warrehn tinha
ideia, e geralmente eles contavam tudo um para o outro, sendo tão próximos
quanto irmãos.

Quando Rohan se materializou, ele estava respirando o ar fresco da


floresta.

Ele abriu os olhos e viu-se olhando para as enormes montanhas que se


elevavam sobre a floresta. Não importava quantas vezes ele as visse, Rohan não
podia deixar de se sentir um pouco intimidado. As Montanhas Kavalchi, ou
Grandes Montanhas, como as pessoas as chamavam, eram uma das montanhas
mais altas e íngremes da galáxia.

Ele olhou para Warrehn, que se materializou ao lado dele. Sua mandíbula
estava cerrada, seus olhos azuis avidamente tomando em seus arredores. Os
escudos de Warrehn geralmente eram impecáveis, mas agora eles estavam em
todo lugar.

Rohan colocou a mão no ombro do amigo e apertou-o.

Warrehn acenou com a cabeça e reforçou seus escudos mentais. —


Desculpe —, ele disse rispidamente. — Más memórias.
Sirri estava olhando ao redor com curiosidade. — Eu nunca estive em
Calluvia antes. Esta é a floresta em que você foi resgatado pelo nosso povo,
War?

Warrehn deu outro aceno de cabeça. — Não foi muito longe daqui. Eu
tive sorte. — Ele não soou como se achasse que teve sorte.

Sabendo melhor, Rohan não ligou.

Infelizmente, Sirri não sabia melhor. — Certo —, ela disse com um bufo.
— Eu li os relatórios. Eles disseram que você tentou voltar a Calluvia inúmeras
vezes no primeiro ano em Tai'Lehr.

Warrehn não disse nada, virou as costas para ela e começou a se afastar,
mais fundo na floresta.

Mas Sirri sendo Sirri, não sabia quando desistir. — Você foi um idiota
ingrato —, disse ela, seguindo-o. — Você ainda é.

— Sirri —, disse Rohan em aviso.

Ela ignorou o aviso dele. — Você não percebeu que seria estúpido voltar?
Você era apenas uma criança, e nem sequer conseguiria uma audiência com o
Conselho sem que sua Tia Querida descobrisse e fizesse você parecer um
delirante-idiota-que-quer-atenção

— Cale a boca! — Warrehn rosnou, girando e sacudindo-a pelos ombros.

Sirri era muitas coisas — ocasionalmente irritante e intrometida — mas


covarde não era uma delas. Ela permaneceu firme, olhando nos olhos de
Warrehn, nem um pouco intimidada pela sua altura e massa corporal. Ela era
uma mulher durona, apesar de seu corpo minúsculo.

Rohan não interferiu, sabendo que ela não iria gostar.


— Você sabe que estou certo, War —, disse ela. — Você tinha o quê, dez?
Idade suficiente para perceber que sua tia era uma cadela esperta que estava
dois passos à frente de você. Os rumores do seu... comportamento instável se
espalharam muito antes de ela tentar assassiná-lo. Naquela época, o seu próprio
povo achava que você era um pirralho instável e que procurava atenção. Você
teria sido dispensado imediatamente se fosse ao Conselho alegar que sua tia
tentou matar você. Você sabe disso. Nós estávamos certos em mantê-lo em
Tai'Lehr. É óbvio que seu irmãozinho já tinha morrido, de qualquer maneira.

— Isso é o suficiente, Sirri —, disse Rohan, vendo as costas de Warrehn


se tornando mais tensas a cada momento.

— Por quê? — Ela disse com um escárnio. — Ele não tem o direito de
agir como se estivéssemos errados em forçá-lo a ficar em Tai'Lehr. Foi para o
seu próprio bem!

— Certo —, disse Warrehn, seus lábios se contorcendo em um sorriso


sarcástico. Não foi uma visão bonita. Embora Warrehn fosse um homem bonito,
seu rosto parecia mais natural quando estava carrancudo e gritante do que
quando sorria. — Só para meu próprio bem. Não tinha nada a ver com o Lorde
de Tai'Lehr ter medo de que eu entregasse os rebeldes se eu voltasse.

Sirri olhou para ele. — Tio Georg tinha que pensar em seu povo. A
felicidade ingrata de um pirralho real era secundária. Nós salvamos sua vida,
mas você ainda guarda rancor. Ingratidão deve ser seu segundo nome, sua
idiota!

— Você não sabe nada —, Warrehn disse, seu queixo rangendo. — Sua
perspectiva é tendenciosa.

Sirri ergueu as sobrancelhas zombeteiramente. — E a sua, não é?


— Chega —, Rohan estalou, farto de ambos. Era uma velha discussão
entre eles, reescrita repetidamente. Warrehn e Sirri eram teimosos que nunca
sabiam quando admitir a derrota. — Se vocês queriam brigar, deveriam ter
ficado em Tai'Lehr. Mais uma palavra e estou enviando vocês de volta. Vocês
dois.

Warrehn olhou feio para ele, mas Rohan o encarou até Warrehn
finalmente desviar o olhar, a frustração rolando dele em ondas grossas.

— Você não é meu chefe —, disse Sirri, levantando o queixo. — Você


não pode me enviar de volta. É minha missão, não sua. Você está apenas
acompanhando sem um bom motivo!

Rohan virou-se e continuou andando, não lhes dando escolha a não ser
segui-lo.

Ele sabia que Sirri estava certa.

Ele não deveria estar aqui. Ele não deveria ter voltado. O vínculo que
estava pulsando no fundo de sua mente, como uma coceira que ele não podia
arranhar, era prova suficiente.

— Se eu não estivesse aqui, vocês dois teriam se matado em vez de fazer


qualquer coisa —, ele disse categoricamente.

Nem Warrehn nem Sirri disseram nada, obrigada porra. Ele não estava
em estado de espírito para tolerar as suas discussões, e eles pareciam perceber
isso.

— Você sabe onde você está indo? — Sirri disse finalmente, sua voz mais
calma.

Cuidadosa.
— Ele disse que nos encontraria perto da árvore Shmei. Há apenas um na
área.

— Estamos um pouco atrasados —, disse Warrehn. — Já são dez horas.

Rohan conteve uma réplica contundente. Eles não teriam chegado


atrasados se Warrehn e Sirri não tivessem se distraído com seu argumento
inútil.

— Ele vai esperar —, disse ele, andando mais rápido.

— Se não for uma armadilha —, disse Warrehn, verificando sua pistola.

Rohan não disse nada. A possibilidade estava sempre lá, claro.

— Ainda não parece uma armadilha —, disse Sirri.

Rohan relaxou um pouco. Foi uma das razões pelas quais ela foi
escolhida para essa missão. Ela tinha um dom para premonição, um dom que
era tão raro entre os telepatas quanto o dom de Rohan por compulsão. Se Sirri
disse que ela não tinha um mau pressentimento sobre a reunião deles, era
improvável que as coisas dessem errado.

— Ainda pode ser uma armadilha —, disse Warrehn, sempre otimista. —


Considerando com quem nós estamos nos encontrando.

Rohan fez uma careta, sabendo que ele estava certo. Ao contrário de
Tai'Lehrians, os adeptos do Alto Hronthar treinaram as artes mentais durante
toda a sua vida. Não havia como dizer que tipo de truque mental os monges
eram ensinados naquele mosteiro assustador deles. De acordo com que eles
sabiam, eles poderiam enganar até Sirri. Era extremamente improvável, mas
não era impossível.
— Ainda vale o risco —, disse ele. — Se o cara não está mentindo, ele é
a nossa única chance real de provar que não temos nada a ver com os crimes
pelos quais somos acusados.

Ele ainda não conseguia acreditar que a espera finalmente tinha acabado
— ou quase acabado. Todos esses meses, desde que voltara para casa,
esperavam por isso: que alguém dentro da Ordem estivesse disposto a falar —
trair o Alto Hronthar. O plano parecia irrealista, até insano, quando Rohan
ouviu pela primeira vez. Mas Aroka e Sirri o convenceram de que funcionaria,
de que sempre havia pessoas descontentes com a forma como uma organização
como o Alto Hronthar era administrada.

E parecia que a espera finalmente terminara.

O homem que esperava por eles debaixo da árvore Shmei era apenas um
menino. Ele não podia ter mais de vinte anos, talvez mais jovem.

Sirri estudou-o antes de gesticular para Warrehn para ir à frente dela.

Rohan ficou para trás, olhando ao redor da pequena clareira e esticando


seus sentidos o máximo que podia. Não havia mais ninguém dentro de pelo
menos meio tarsec. Não que isso significasse muito, considerando que
teletransportadores poderiam funcionar nesta área. Eles ainda estavam dentro
do Cego. E era muito provável que o Alto Hronthar soubesse sobre os Cegos,
porque o fato de o marido de Jamil ter sido supostamente assassinado na mesma
área não poderia ser uma mera coincidência.

Jamil.

Rohan mordeu o interior de sua bochecha, tentando ignorar a onda de


desejo que rolou por todo o seu ser. Desejo. Que palavra inadequada. Ele
costumava pensar que significava desejo sexual, luxúria, mas esse desejo era
diferente, mais feio, mais carente, desesperado e essencial. Tinha pouco a ver
com a luxúria física.

Ele queria ver Jamil.

Esmagando o pensamento para baixo, Rohan se forçou a se concentrar em


seu entorno imediato.

O menino parecia inquieto, seus olhos passando de Warrehn para Sirri. —


Vocês são... vocês são os rebeldes?

— Talvez —, disse Sirri. — E você é?

— Mestre Xhen —, disse o menino, erguendo o queixo pontudo.

Sirri bufou. — Se você é um mestre, eu vou comer minhas botas. Tente


de novo, garoto. E desta vez é melhor você contar a verdade.

O garoto olhou para ela, suas bochechas pálidas se tornando vermelhas.


Mas depois de um longo momento, ele resmungou: — Eu sou o Iniciante Xhen.

Rohan franziu a testa. Eles sabiam muito pouco sobre a hierarquia do


Alto Hronthar. Os monges eram um bando secreto.

— Eu estou supondo que isso significa que você não foi considerado bom
o suficiente para ser chamado de mestre —, disse Sirri.

Rohan beliscou a ponta do nariz. Antagonizar sua fonte potencial não foi
a ideia mais brilhante de Sirri.

Como esperado, o menino se arrepiou. — Eu sou jovem! Você geralmente


não se torna um Mestre na minha idade.

— Eu achava que os alunos dos mestres eram chamados de aprendizes


—, disse Sirri.
O garoto “Xhen” fez uma careta. — Eles são —, disse ele, desviando o
olhar. — Eu não fui escolhido por um Mestre. Há mais iniciantes do que
mestres.

Rohan assentiu para si mesmo. Então eles estavam lidando com alguém
que se sentia desvalorizado e amargo — amargo o suficiente para trair o Alto
Hronthar. Ele preferiria que sua fonte fosse alguém que genuinamente pensava
que a Ordem era um bando de bastardos famintos por poder, mas eles poderiam
trabalhar com isso também.

— Olha, o que isso importa? — Xhen disse, olhando em volta


nervosamente. — Nós temos que ficar aqui?

— Você acha que foi seguido? — Sirri disse.

— Não mas…

Rohan se inclinou contra a árvore e fechou os olhos. Ele ouviu o resto da


conversa com metade do ouvido, prestando mais atenção aos seus sentidos. O
menino irradiava ansiedade e amargura, mas Rohan não podia sentir qualquer
mentira nele. Sirri estava brincando com o garoto, fazendo-o se abrir. Ela pode
não ter habilidades diplomáticas, mas ela sabia o que estava fazendo. Warrehn...
ele parecia dividido entre a impaciência e algo que se parecia muito com a
perda. Ele provavelmente estava pensando em seu irmão mais novo, que estaria
em torno da idade daquele menino se ele estivesse vivo.

Rohan não conseguia sentir mais nada. Nada exceto o vínculo dourado
pulsando suavemente no fundo de sua mente. Com fome. Ansiando.

Só mais uma vez, sussurrou. Você já está no planeta. Uma breve visita
não mudaria nada. Apenas mais uma.
Rohan mordeu o lábio com força até sentir o gosto amargo do sangue. Ele
se forçou a se concentrar na conversa. Isso era importante. Isso era o porquê
dele estar aqui. Nada mais.

— O que a Ordem sabe sobre os rebeldes? — Sirri disse.

— Eu não sei.

— Por que a Ordem alterou as memórias de Dalatteya'il'zaver?

Xhen zombou. — Você acha que um humilde iniciante saberia disso?


Mas sei que ela está sob a palma da mão da Ordem há anos. Ela não espirra sem
a permissão da Ordem.

Rohan franziu a testa. Ele suspeitava que o Alto Hronthar estava


interferindo nas memórias da regente, mas ele não achava que o controle deles
sobre ela era tão absoluto.

— Você sabe se o Alto Hronthar tem algo a ver com a morte do Príncipe
Consorte Mehmer?

Embora o rosto de Xhen não traísse nada, Rohan podia sentir seu
desconforto. — Não tenho certeza —, disse o menino. — Havia rumores de que
o Príncipe-Consorte descobriu algo que ele não deveria. Lembro-me de todos
os mestres seniores reunidos para discutir o assunto com o ex Grande Mestre e,
alguns dias depois, o Príncipe-Consorte morreu. — Xhen deu de ombros,
olhando ao redor, ansioso. — Olha, pode ser uma coincidência —, disse ele
desconfortavelmente. — Eu realmente não sei o que aconteceu. A fofoca é
desencorajada desde que o Mestre Idhron se tornou o Alto Adepto.

— Por que? — Sirri disse, inclinando a cabeça.

— Alto Adepto Idhron é... — Xhen fez uma careta, sua aura escurecendo
com ódio, relutante admiração e medo. — O que importa? — Ele disse
evasivamente. — Meu ponto é, eu não posso te dar uma prova de que a Ordem
tem algo a ver com a morte da realeza.

— Isso é inútil —, interrompeu Warrehn, com a voz baixa. — Se isso é


tudo que você sabe, eu temo que sua informação não vale a pena.

Xhen corou. — Isso não é tudo! Eu sei de algo que pode ajudá-lo com o
Grande Mestre, se você for esperto sobre isso.

— Sério? — Sirri disse, erguendo as sobrancelhas.

— Seu aprendiz —, disse Xhen, uma nova onda de ódio saindo dele. —
Se você conseguir sequestrá-lo, isso vai te ajudar contra o Grande Mestre.

Rohan franziu a testa.

Warrehn refletiu em seus pensamentos. — Eu não sei quem você pensa


que somos, mas nós não sequestramos crianças, rapaz.

— Ele dificilmente é uma criança —, disse Xhen com uma zombaria. —


Ele tem a minha idade.

— Então não faz sentido. — Sirri fixou-o com um olhar inexpressivo. —


O Grande Mestre do Alto Hronthar dificilmente se importaria com o sequestro
de um aprendiz, pelo menos não o suficiente para ser uma boa chantagem.
Vocês não são monges supostamente sem emoções? Eu vi o Alto Adepto. Ele é
tão insensível quanto possível.

Xhen zombou. — Bem, sim. Mas seu aprendiz é a única exceção. Eles
são estranhos um com o outro. Confie em mim, será uma boa chantagem. Por
melhor que seja. — Ele olhou de Warrehn para Sirri. — Agora, sobre o meu
pagamento. As informações não são gratuitas, você sabe.

— Claro —, disse Warrehn, olhando-o nos olhos.


Dentro de momentos, o garoto caiu no chão.

— Sem sutileza nenhuma —, Sirri disse, sacudindo a cabeça.

Warrehn se inclinou, colocou a mão no ponto telepático de Xhen e fechou


os olhos, com uma expressão de concentração no rosto.

— Ele estava mentindo? — Rohan disse, dando um passo à frente.

Endireitando-se, Warrehn sacudiu a cabeça. — Ele parece acreditar que


ele estava dizendo a verdade.

— O que vamos fazer com ele? — Sirri disse, cutucando o garoto


inconsciente com sua bota. — Eu me sinto um pouco mal sobre isso, se ele
estava sendo honesto com a gente.

— Não podemos arriscar levá-lo conosco para o Tai'Lehr —, disse


Rohan. — Mesmo se ele não nos trair, sua ausência será notada. — Ele olhou
para Warrehn. — Você modificou as memórias dele? — Warrehn era o telepata
mais forte de Tai'Lehr. Embora ele não tivesse dons específicos como os que
Rohan e Sirri tinham, ele compensava pela força de sua telepatia. Mudar
memórias era tão fácil para ele quanto respirar, mesmo com pessoas
inconscientes.

Warrehn assentiu com a cabeça franzida enquanto puxava o garoto por


cima do ombro. — Vou pegar sua aeronave e deixá-lo perto do mosteiro. Então
usamos a dica dele? Devo pegar o aprendiz do Alto Adepto se o vir? Eu sei
como ele se parece agora.

Rohan queria dizer não. Ele estava relutante em se rebaixar a algo que os
rebeldes eram rotineiramente acusados — de viver de acordo com sua
reputação. Mas eles precisavam de toda a vantagem que pudessem obter. Eles
não podiam ser exigentes.
— Leve Sirri com você —, disse Rohan. — O dom dela será útil para
evitar ser pego. Pegue o aprendiz e volte ao Cego à meia-noite. — Embora o
TNIT pudesse ser ativado em praticamente qualquer lugar do planeta, eles
obviamente evitariam ser detectados.

— Você não vem? — Sirri disse, estreitando os olhos.

Rohan desviou o olhar. — Não. Eu tenho algo para verificar. Eu estarei


aqui pela meia-noite também. Não sejam pegos. — E ele se afastou antes que
qualquer um deles pudesse dizer qualquer coisa.

Algo para verificar. Certo. É assim que chamamos agora?

Seus lábios afinando, Rohan continuou andando, em direção à aeronave


que ele tinha escondido na floresta há meses atrás.

Se ainda estivesse lá.


CAPÍTULO 16

Ela era tão pequena.

Rohan olhou para o bebê dormindo profundamente em seu berço branco e


não sabia o que sentir.

Durante todo o ano, ele tentou não pensar sobre isso — sobre a criança
que ele deu a Jamil como um presente de despedida bagunçado. Mas é claro
que ele pensou. É claro que ele pensou sobre isso, lamentando o que ele fez.
Uma criança não era algo que deveria ser um presente. Se alguém descobrisse
que ele havia desistido de seu filho — seu primogênito — seria um desastre,
um desastre por várias razões.

O que ele estava pensando? Certo: ele não estava pensando. Jamil
simplesmente olhou para ele implorando, sentindo-se perdido e muito solitário,
e Rohan se dobrou. Porra, patético.

Ela se parecia com Jamil.

Rohan olhou para a criança, ainda sem saber o que sentir. Ele sabia da
existência dela há três meses, desde que a Terceira Casa Real anunciou o
nascimento da herdeira da linha direta.

Tmynne. Princesa Tmynne'shni'veighli. Que nome importante para um


bebê tão pequeno.

Rohan encontrou-se abaixando e roçando os dedos contra sua bochecha


macia. Sua mão parecia muito escura contra sua pele branca e cremosa — tão
escura quanto parecia contra a de Jamil. Ela era a pequena cópia de Jamil, até a
curva perfeita de sua boca. Rohan não podia ver uma única evidência de que ela
era sua filha.

Não importava.

Ele podia senti-la, muito fracamente, graças ao vínculo familiar


rudimentar que eles compartilhavam, um vínculo que só era possível entre
parentes próximos de sangue.

Ela era filha do Rohan.

Ela era filha dele.

Exceto que ela não era. Ele havia desistido do direito de ser chamado de
pai antes de ela nascer. Tanto quanto todos sabiam, Tmynne era filha de Jamil e
seu falecido marido. O produto da sua grande história de amor.

Rohan sentiu seus lábios se contorcerem em um sorriso de desprezo e


afastou a mão da criança. Ele não queria que ela sentisse suas emoções feias.

Ele não deveria ter vindo aqui.

Ele ainda não sabia o porquê ele tinha vindo.

Mentiroso. Você sabe exatamente porque está aqui.

Rohan ignorou o pensamento, observando a criança adormecida.

Ele deveria ir. Ele teve muita sorte de entrar no palácio sem ser pego. A
segurança estava mais forte do que da última vez. Se ele não tivesse vivido
neste palácio por um tempo, ele não teria conseguido entrar, mesmo com seu
dom de compulsão. Ele não deveria ter vindo. Ele deveria ter ido com Warrehn
e Sirri. Agora que ele viu a criança e satisfez sua curiosidade, ele iria embora.

Certo. Quem você está tentando enganar aqui?


Rohan apertou sua mandíbula. Ele olhou para a porta. Ele deveria sair
agora se quisesse chegar à floresta à meia-noite.

Ele não se mexeu.

No fundo de sua mente, a ligação pulsava avidamente, fortalecendo-se a


cada momento.

Rohan observou a porta, seu pulso disparou e seu coração começou a


bater.

Ele sabia quem estava se aproximando da sala. Ele sabia tanto quanto seu
próprio nome. Ele deveria dar o fora daqui.

Ele não se mexeu.

Ele esperou.

A porta se abriu.

Jamil entrou, trancou a porta e disse, olhando em algum lugar a direita de


Rohan. — O que você está fazendo aqui?

Rohan observou ele.

Jamil parecia horrível. Ele não estava tão magro quanto onze meses atrás,
mas parecia pálido e exausto, com círculos escuros sob os olhos.

Ele ainda era a melhor coisa que ele já tinha visto.

Jamil limpou a garganta um pouco, sem encontrar seu olhar. — Eu repito:


o que você está fazendo aqui? Se você veio para levar Tmynne embora...

— Se você realmente pensasse isso, você já teria chamado a segurança.


— Rohan deu um passo à frente, e depois outro.
Jamil lambeu os lábios, ficando mais tenso a cada momento. — Você
ainda não disse o porquê você está aqui.

— Estou em Calluvia com alguns dos meus amigos. Nós temos uma pista
que pode…

— Tenho certeza de que você está no planeta em algum negócio rebelde


muito importante —, disse Jamil, torcendo os lábios. — O que você está
fazendo aqui?

Rohan não disse nada.

Ele não tinha explicação.

O silêncio caiu sobre a sala, o ar denso de tensão elétrica, como a


atmosfera antes de uma tempestade. Rohan sentiu-se avançar até parar na frente
de Jamil.

Jamil ainda não olhava para ele.

— Olhe para mim —, disse Rohan.

Jamil soltou uma risada. — Eu prefiro que não. Parece que me lembro de
ser uma má ideia e duvido que algo tenha mudado.

Ele estava certo.

Claro que ele estava certo.

Rohan ainda queria. Era egoísta, imprudente e irresponsável, mas ele


queria sentir aqueles belos olhos azuis nele, olhando para ele como se ele fosse
a única coisa que Jamil podia ver. Era uma coisa idiota de se querer,
considerando que ele não podia ficar, mas ele não podia se ajudar.
— Jamil —, disse Rohan, sua voz involuntariamente caindo para um
murmúrio íntimo. — Olhe para mim, querido.

— Não —, Jamil disse, sua voz firme oscilando. — Não faça isso.
Finalmente estou bem, não preciso disso, por que você está aqui?

— Eu queria ver a nossa filha —, Rohan mentiu.

Ele não perdeu o modo como a respiração de Jamil se prendeu nas


palavras nossa filha. Ele podia sentir através de sua ligação que algo sobre isso
atraía Jamil. Algo sobre isso também atraía Rohan. Porra, ele realmente
precisava ir embora.

— Você a viu —, Jamil disse, ainda evitando seu olhar. — Agora saia.

Rohan levantou a mão e passou o polegar sobre as olheiras sob os olhos


de Jamil. Sua pele era muito macia e suave. — Você está horrível, querido.

Jamil soltou uma risada trêmula. — Obrigado. Noites sem dormir com
um bebê com dentes nascendo fará isso com você.

— Você deveria se cuidar também —, Rohan disse, embalando a


bochecha de Jamil gentilmente. Agora que ele começou a tocá-lo, ele descobriu
que não conseguia parar. Era viciante como o inferno.

— Não —, Jamil disse sem fôlego, seus olhos se fecharam quando a mão
de Rohan acariciou sua bochecha com os nós dos dedos. Seus longos e escuros
cílios tentaram levantar, mas baixaram novamente quando um fraco gemido
escorregou de sua boca. Ele estava tremendo, tremores diminutos escorrendo
por sua estrutura, seus lábios macios se separaram.

— Foda-se, você é lindo —, Rohan se ouviu dizer. Sua voz soou estranha
— rude e intoxicada. Ele se sentia intoxicado, seus pensamentos confusos com
aquele puxão estranho e retorcido que sempre sentia por Jamil, apenas mais
intenso. Um ano longe provavelmente não ajudou.

— Eu pensei que eu parecia horrível —, disse Jamil com uma risada


pequena.

— Você é adorável mesmo quando está horrível, querido —, Rohan roçou


a boca contra a bochecha de Jamil. Inspirando. Porra, se ele pudesse engarrafar
seu perfume, ele faria. — Você parece muito pálido e privado de sono. Você
deve cuidar melhor de si — Parte dele se sentiu incrédulo com as coisas saindo
de sua boca. Não que ele estivesse mentindo, mas ele geralmente não agia com
toda essa merda protetora e gentil. Ele não se comportara assim nem mesmo
com suas namoradas. Na verdade, sua última namorada o acusou de ser um
idiota insensível que não reconheceria a ternura mesmo se ela o atingisse no
rosto.

— Estou bem —, Jamil murmurou, esfregando a bochecha contra a boca


de Rohan. — Pare. Eu não posso pensar.

Eu também não posso.

Rohan correu os dedos gananciosos pelos cabelos macios de Jamil,


massageando seu couro cabeludo suavemente e observando os lábios de Jamil
se separarem em êxtase.

— Eu poderia olhar para você o dia todo —, Rohan disse asperamente,


soltando outro beijo na testa de Jamil. No nariz dele. Na bochecha esquerda e
depois na direita. No canto dos seus lábios.

Um gemido saiu da boca de Jamil.

As mãos de Jamil de repente agarraram seus ombros, deslizando para o


pescoço de Rohan e puxando-o para mais perto. Suas bocas se chocaram, todos
os dentes e nenhuma sutileza. Não importava. Rohan queria entrar. Ele queria
fundi-los juntos para que não houvesse espaço entre eles, colocar-se dentro de
Jamil de todas as maneiras possíveis.

Como se ouvisse seus pensamentos — o que era provável, já que eles já


estavam compartilhando uma fusão superficial — Jamil separou seus lábios e
permitiu que Rohan deslizasse sua língua para dentro. Não era um beijo. Era
uma necessidade, uma necessidade ardente de proximidade que nenhum deles
poderia satisfazer. Eles estavam gemendo na boca um do outro, línguas se
movendo juntas, dentes mordendo, lábios sugando. Ainda não era suficiente.

Rohan arrancou a gravata de Jamil e acariciou sua garganta avidamente,


os dedos deslizando sobre seu ponto telepático, fazendo Jamil estremecer e
chupar sua língua enquanto o núcleo de Jamil pulsava sob os dedos de Rohan,
faminto por seu toque. Gemendo, Jamil colocou as mãos sob a camisa de
Rohan, as palmas das mãos suaves acariciando as costas de Rohan, espalhando
calor e fome que era impossível saciar. Rohan nunca se sentiu tão bem — ou
tão frustrado — em sua vida. Apenas não era suficiente. Segurando a cabeça de
Jamil, ele o beijou mais forte, mais profundo.

Um som de seu comunicador rompeu a névoa em sua cabeça. Ninguém


deveria entrar em contato com ele. Era reservado apenas para emergências.
Rohan sabia que deveria ser importante, mas ainda demorou muito mais do que
deveria parar de lamber a boca de Jamil.

Reunindo toda a sua força de vontade, Rohan se afastou de Jamil e retirou


seu comunicador. Olhando para o identificador de chamadas, ele limpou a
garganta e respondeu. — O que foi, Sirri?

— Nós pegamos o aprendiz, mas algo deu errado e agora a floresta está
sendo monitorada pelos os monges.

Rohan xingou.
— Vá para a casa segura de Rigten —, disse ele depois de um momento,
enquanto reunia seus pensamentos. — Está perto o suficiente da sua
localização. Vocês terão que ficar quietos até que as buscas parem. Não
podemos deixar o TNIT nos teletransportar de um local inseguro. Não há
dúvida de que os rastros de teletransporte são monitorados de perto agora.

— E o menino?

— O que tem ele? — Rohan disse impaciente. — Certifique-se de que ele


não entre em contato com o Mestre dele. Eu te encontro no Cego quando a área
estiver segura o suficiente.

— Você não está se juntando a nós na casa segura? — Sirri disse, seu tom
de voz desconfiado. — O que exatamente você está fazendo? Onde você está?

— Não é da sua conta —, ele disse e desligou.

Voltando-se para Jamil, ele encontrou Jamil acariciando seus lábios


inchados pelos beijos distraidamente.

Rohan olhou fixamente. Ele acabara de beijar Jamil. Beijado. Colocou a


língua na garganta de outro homem. E adorou cada momento disso.

Corando, Jamil cruzou os braços sobre o peito e disse: — Más notícias?

Rohan desviou o olhar dos lábios de Jamil. — Eu preciso de um


esconderijo por um tempo. Posso passar a noite aqui?

As sobrancelhas de Jamil se juntaram, seu corpo irradiando indecisão.

— Tudo bem —, disse ele finalmente. — Você terá que ficar em meus
aposentos. A segurança do palácio foi melhorada desde que você se foi. Agora,
há câmeras em todos os cômodos e a desativação deve ser autorizada por duas
pessoas. Apenas os alojamentos pessoais da minha família não são
constantemente monitorados por razões de privacidade.

— Obrigado —, disse Rohan, seu olhar atraído de volta para os lábios de


Jamil. Eles ainda estavam brilhantes e vermelhos. Bonitos pra caralho.

Um choro de bebê quebrou o feitiço.

Jamil caminhou em direção ao berço. — Shh —, ele murmurou,


levantando o bebê e embalando-a contra o peito.

Rohan tentou desviar o olhar, mas seus olhos continuaram voltando para
Jamil e a criança. A filha deles. Ele gostaria de dizer que estava olhando para a
criança, mas isso seria uma mentira. Ele assistiu Jamil sorrir para a criança,
arrulhando para ela e conversando. Os olhos azuis de Jamil estavam
iluminados, brilhando com amor intenso. Isso fez o estômago de Rohan apertar.

Provavelmente era realmente, realmente fodido sentir inveja de uma


criança. Sua própria filha. Esse tipo de possessividade era fodidamente doentia
— arrepiante. Verdade seja dita, tudo sobre o seu apego a Jamil era um pouco
assustador. Rohan não se sentia como ele mesmo em torno de Jamil. Toda essa
merda carinhosa, possessiva e proprietária não era como Rohan. Mas quando
ele estava perto de Jamil, seu cérebro parecia derreter igual a um mingau e
todos os pensamentos racionais desapareciam da sua cabeça.

— Ela é linda, não é? — Jamil disse quando o bebê parou de ser exigente
e se acomodou contente no peito de Jamil.

A visão fez algo dentro dele torcer.

— Ela é —, disse Rohan, se afastando. — Ela vai ser sua imagem cuspida
quando ela crescer.

Não que eu estarei por perto para ver isso.


CAPÍTULO 17

Jamil sentiu-se dolorosamente transparente quando entraram em seus


aposentos. Se ele realmente tentasse — se ele realmente quisesse — ele poderia
encontrar um quarto seguro para Rohan passar a noite, um quarto que não fosse
o quarto de Jamil.

Ele não queria.

Ele olhou para a cama enquanto Rohan desaparecia no banheiro. Com os


dedos dormentes e instáveis, ele começou a se despir. Ele vestiu as calças de
pijama, tremendo quando o tecido fresco e liso tocou a pele sensível de suas
coxas e nádegas nuas. Ele não colocou uma camisa.

Ele subiu na cama e deitou de costas.

Ele disse a si mesmo que nada iria acontecer.

Nada iria acontecer.

Rohan não estava interessado em homens dessa forma. Ele deixou isso
claro como cristal no ano passado.

Os dedos de Jamil tocaram seus lábios. Eles ainda estavam um pouco


inchados e sensíveis demais. Seus olhos se fecharam quando ele se lembrou dos
lábios de Rohan, seus dentes, sua língua dentro dele.

Com o rosto quente, Jamil balançou a cabeça. Não foi um beijo de


verdade. Não houve nada sexual ou romântico sobre isso. Tinha sido pura
necessidade, uma necessidade insaciável e arrebatadora da alma, para estar
mais perto, para ser um, que se manifestou de tal maneira. Jamil sentiu os
pensamentos de Rohan e Rohan não estava pensando sobre a suavidade dos
lábios de Jamil ou o prazer de beijá-lo. Mais perto, mais apertado, mais
profundo era tudo o que Rohan tinha pensado e desejado. O desejo de se fundir
era tão intenso que não deixava lugar para coisas como sexualidade e desejo
sexual. Era desejo, apenas diferente. Mais assustador. Mais faminto. Mais
primitivo. Um desejo que eles não podiam mais combater depois de tanto
tempo separados.

Seu corpo ainda estava doendo, uma coceira enlouquecedora que não
podia ser coçada — ou melhor, só poderia ser arranhada por uma pessoa.

Suspirando com frustração, Jamil olhou para o retrato de Mehmer.

Mas mesmo olhando para as adoráveis características familiares de seu


marido, não ajudou. Fazia um ano e meio desde que Mehmer morrera. A dor
não estava mais fresca, os restos de seu vínculo quebrado mal existiam. Ele não
se sentia mais como um homem casado. Ele convidou outro homem para a
cama que ele compartilhou com Mehmer e não se sentia errado. Ele não se
sentia como se estivesse traindo Mehmer de qualquer maneira. O pensamento
deveria ter sido libertador, mas tudo o que fez foi desestabilizá-lo. Jamil
honestamente não confiava em si mesmo para não fazer algo... insensato agora
que sua culpa não estava mais lá para detê-lo.

— Algo insensato? — Rohan disse com um sorriso irônico, saindo do


banheiro. Seus olhos escuros estavam brilhando com humor. — Até mesmo
seus pensamentos são muito apropriados e principescos, Vossa Alteza.

Jamil olhou para ele exasperado, sorrindo um pouco. — Pare de escutar


meus pensamentos. — Se fosse qualquer outra pessoa, ele teria se sentido
mortificado e furioso. Mas quando ele olhou nos olhos de Rohan, ele se sentiu
nu — e estranhamente bem com isso. Embora tenha passado um ano desde a
última vez em que eles se viram, parecia que nada havia mudado, a intimidade
entre eles era tão reconfortante quanto enlouquecedora. Mais perto, não é o
suficiente, mais.

— Seus pensamentos são muito altos —, Rohan murmurou, tirando a


camisa. — Eu vou ter que te ensinar blindagem algum dia.

— Meus escudos são perfeitamente suficientes —, Jamil disse, nem


mesmo tentando desviar o olhar do torso musculoso de Rohan, de toda aquela
pele bronzeada e as tatuagens pretas em seu braço esquerdo, o abdômen rígido
e o rastro de cabelos escuros que desapareceu na faixa de sua roupa íntima, que
então desaparecia em suas calças. Dedos fortes começaram a trabalhar no zíper
de Rohan.

Jamil desviou o olhar, a boca seca.

— Você pode pegar emprestado algo para vestir —, disse ele.

Rohan deu de ombros e balançou a cabeça, caminhando em direção à


cama vestindo apenas um par de cuecas boxer pretas. — A menos que você se
importe?

Jamil balançou a cabeça também, olhando para qualquer lugar, menos


para ele enquanto Rohan deslizava entre os lençóis frios. As luzes ainda
estavam acesas, mas Jamil não conseguia se mover para desligar. No escuro,
seria muito mais fácil abandonar as inibições.

Ele não confiava em si mesmo.

— Omer, luzes a dez por cento —, disse Jamil.

As luzes diminuíram para um brilho suave e amarelado.

Jamil fechou os olhos, seu coração ressoando em algum lugar em sua


garganta — e em seu pênis.
Tudo o que ele podia ouvir era a respiração de Rohan. Não estava muito
estável.

Nem a sua.

— Isso é ridículo —, disse Rohan, finalmente, e depois rolou em cima


dele.

Provavelmente foi embaraçoso a rapidez com que Jamil envolveu seus


braços e pernas ao redor dele, pura felicidade se espalhando por seu corpo,
peito nu contra o peito nu, nada entre eles, exceto pele. Alguém gemeu, ou
talvez os dois gemessem, enquanto se contorciam e se moviam até que
estivessem tão entrelaçados que não havia um fio de cabelo entre eles.

— Puta merda —, disse Rohan, ofegante contra a bochecha de Jamil, seus


estômagos espremidos com força. Parecia inacreditavelmente bom e
frustrantemente não suficiente.

Você se sente tão bem comigo.

Ele sentiu Rohan estremecer acima dele, apertando sua ereção contra a
dele. — Que porra é essa? —, Ele cerrou o nariz contra o pescoço de Jamil
antes de chupar seu ponto telepático.

Jamil choramingou, passando os dedos pelo cabelo curto de Rohan,


precisando dele mais perto, mais perto, mais perto.

Ainda não era suficiente.

— Quero você —, disse Jamil sem fôlego, apertando as coxas em torno


dos quadris de Rohan. — Eu quero você dentro de mim.

Rohan ficou parado em cima dele e depois levantou a cabeça.

Jamil ficou quieto também, percebendo o que acabara de dizer.


Ele forçou seus olhos a ficarem abertos.

Seus olhares se encontraram, vidrados com uma necessidade profunda.


Ele podia sentir a hesitação de Rohan, a tempestade de emoções dentro dele,
cada uma puxando-o em uma direção diferente. Não eram apenas razões
racionais que o impediram. Ele podia sentir que Rohan se sentia estranho sobre
fazer sexo com um homem, mas ao mesmo tempo a ideia de estar dentro de
Jamil apelava muito para algo nele — a mesma coisa que queria Jamil mais
perto, mais apertado, mais.

— Eu não quero te machucar —, Rohan disse bruscamente, sua expressão


preocupada, sua proteção pulsando através de sua ligação. — Jamil, você sabe
que eu vou ter que ir embora.

Isso pode não significar nada.

Jamil engoliu em seco.

— Eu sei. — Ele puxou a cabeça de Rohan para baixo para que suas
testas se tocassem. Ele cheirava tão bem, seu cheiro sutil e masculino fazendo a
cabeça de Jamil girar. Inspiro. Suspiro. — Eu não sou um menino ingênuo e
inocente com a cabeça nas nuvens. Eu sou um homem adulto. Eu não sou frágil.
Será apenas uma — uma foda.

Rohan riu, seus narizes se esfregando. — Eu acho que é a primeira vez


que eu ouvi você dizer uma palavra tão vulgar, Alteza.

— Pare de tirar sarro de mim —, disse Jamil, esfregando suas bochechas


e tremendo ao sentir a barba de Rohan contra sua pele lisa. — Isso também é
bom. Eu sei que você não é atraído por homens. Nós não temos que fazer sexo
se você não quiser.
Rohan riu novamente, um pouco amargamente. — Querido, você está
delirando se você acha que eu não quero. Eu não fiz sexo em um ano.

Jamil piscou. — O que? Por quê?

Suspirando, Rohan beijou o canto da boca. — Eu não sei. Apenas parecia


estranho. Suspeito que nosso vínculo seja o motivo. — Ele beijou o outro canto
dos lábios trêmulos de Jamil. — Temos maneiras de bloquear ou romper
vínculos em Tai'Lehr, mas eu não poderia ir a curandeiros com meu problema
sem falar sobre você.

— Então você está basicamente muito frustrado sexualmente para dizer


não —, disse Jamil. Ele provavelmente deveria estar mais preocupado com o
fato de que Rohan iria basicamente usá-lo para aliviar a tensão, mas ele não se
importava em ser usado por Rohan. Ele não tinha certeza do que isso dizia
sobre ele. Provavelmente era bastante patético, mas no momento, ele não se
importava. Jamil o queria.

Rohan acariciou sua bochecha, respirando profundamente. —


Normalmente não sou atraído por homens —, disse ele, deixando um chupão no
queixo de Jamil. Sua voz soava um pouco lenta e arrastada, como se estivesse
embriagado. — Mas você... você é diferente. A coisa mais linda — um beijo na
bochecha de Jamil — a mais adorável — um beijo no nariz de Jamil — mais
amável que já vi. — Rohan soltou uma risada autodepreciativa. — Porra, eu
não posso acreditar nas coisas que estão saindo da minha boca. Eu pareço um
garoto apaixonado que quer entrar na calcinha da sua primeira namorada. —
Ele suspirou, escovando suas bocas juntas. Jamil não tinha certeza se os lábios
de Rohan estavam tremendo ou era apenas os seus.

— Eu sinto que eu poderia te comer —, disse Rohan com voz rouca,


mordendo o lábio inferior de Jamil. — Lamber você de dentro para fora.
Colocar meu pau em todos os seus buracos. Sujar sua pele impecável com o
meu gozo. Encher você até que eu seja a única coisa que você possa sentir.

O rosto de Jamil estava queimando. Ele não conseguia falar.

— Então, sim, é muito seguro dizer que eu não me importo que você não
tenha seios e uma boceta —, disse Rohan com uma risada.

— Pare de ser vulgar —, Jamil conseguiu soltar.

Rohan riu. — Eu acho que você gosta quando eu sou vulgar, Vossa
Alteza. — Ele lambeu a boca de Jamil. — Porra, sua boca. Eu poderia fazer
isso por dias. Quero fazer amor com sua boca. Enchê-la toda com meu pau.

Jamil nunca esteve tão envergonhado e excitado em sua vida. Ele não era
puritano — gostava muito de sexo — mas Mehmer nunca falara indistintamente
com ele. Ele não tinha ideia de que era algo que o excitaria tanto.

— Você vai deixar? — Rohan murmurou, antes de lhe dar outro beijo
profundo e ganancioso. Ambos estavam sem fôlego com desejo bruto no
momento em que o beijo terminou com um ruído molhado. — Você vai chupar
meu pau, querido? Você vai deixar eu foder sua boca?

Jamil estremeceu, incrivelmente excitado pelas palavras imundas de


Rohan e pelas imagens que elas provocavam em sua mente. — Por favor. —
Ele não tinha certeza do que ele queria dizer. Por favor, não? Por favor, não
pare?

Mas Rohan pareceu entender o que ele queria dizer.

Jamil assistiu aturdido quando Rohan puxou sua ereção para fora. Era
espessa e escura, e vazava tão profusamente que Jamil lambeu os lábios,
imaginando ter que engolir tudo aquilo, tão obsceno e vulgar
Rohan deve ter lido a fome em seu olhar, porque ele amaldiçoou, fechou
os olhos por um momento, sua mandíbula apertou como se estivesse com dor, e
então silenciosamente se moveu para cima e montou no peito de Jamil.

Jamil engasgou quando Rohan agarrou um punhado de seu cabelo e


cutucou seus lábios com cabeça do pênis escorregadio. — Abra sua linda boca
para mim, Vossa Alteza.

Deuses, isso não deveria ter sido tão excitante. Ser lembrado de sua
posição, de quão inadequado era isso, não deveria ter tornado seu pênis mais
duro. Ele era o Príncipe Herdeiro. Ele não deveria estar quase nu na cama com
um plebeu rebelde, ansioso para chupar seu pau, para ter a sua boca fodida.

Mas naquele momento, ele não se importava. Ele nem se importava que
ele pudesse ver o retrato de seu marido enquanto um pau grosso era empurrado
dentro de sua boca. Tudo o que ele queria era esse pau. Jamil relaxou sua
mandíbula, deixando Rohan alimentá-lo com sua ereção. Era tão bom: ser
preenchido, ser usado, ter um pau duro na boca dele.

— Oh, foda-se —, Rohan rosnou, olhando para ele com olhos escuros e
sem fim, sua expressão tão intensa e faminta que atingiu diretamente o pênis de
Jamil. Ele podia sentir o prazer de Rohan como se fosse seu, podia sentir o quão
boa sua boca era em torno do pênis de Rohan, o quanto Rohan queria apenas
agarrar os seus cabelos e foder sua garganta crua, até que Jamil estivesse
sufocando.

A excitação de Jamil aumentou e ele sentiu a diversão surpresa de Rohan.


— Você é cheio de surpresas, querido —, ele murmurou, suas palavras suaves
contradizendo o aperto punitivo no cabelo de Jamil. — É sobre isso que você
fantasia secretamente? Para ser usado, fodido por um servo humilde?

Jamil gemeu ao redor dele, e as mãos de Rohan se moveram para embalar


seu rosto. — Ou talvez você queira ser usado por todos os seus servos. Talvez
você tenha imaginado eles se revezando em você.

— Cala a boca —, Jamil pensou para ele, já que sua boca estava
ocupada. Mas ele não conseguia parar de empurrar as calças de pijama para
baixo e pegar seu próprio pênis negligenciado. Ele acariciou-o
desesperadamente, tão excitado que mal conseguia pensar.

Rohan deu uma risada gentil. Não era uma zombando, mas o rosto de
Jamil ainda estava em chamas.

— Nada de errado em ter fantasias sujas, Jamil —, ele disse, olhando para
ele com afeição aberta que estava em desacordo com a foda áspera que ele
estava dando à boca de Jamil. — Talvez eles se revezem em você —, ele
murmurou, seus olhos negros como pecado. — Talvez um deles foda sua boca
enquanto outro fode sua bunda. E há uma longa fila para cada um dos seus
buracos, com seus servos esperando impacientemente por sua vez, seus pênis
saindo enquanto eles observam você tomar pau após pau, mas ainda incapaz de
saciar a fome em você. — Os impulsos de Rohan se tornaram mais rápidos, seu
pênis entrando e saindo da boca de Jamil. — Porque o único pau que você
realmente quer é o meu. A única porra que você quer engolir é a minha —
Rohan gozou com um grunhido baixo, e ele bateu na parte de trás da garganta
de Jamil.

Jamil engoliu avidamente, o prazer de Rohan lavando seu corpo e


aumentando o seu. Deu apenas mais algumas estocadas no seu próprio pênis e
ele estava gozando com um gemido devasso, ainda chupando o pênis amolecido
de Rohan, sem vontade de deixar ir.

Finalmente, Rohan estremeceu e retirou-se antes de desmoronar ao lado


de Jamil e imediatamente puxá-lo em seus braços. Jamil estava desossado e
exausto, pressionando o rosto na cavidade da garganta de Rohan, seu corpo
cantando com prazer. Ele só teve a presença de espírito para tirar as calças.
Ficaram assim por muito tempo, se deleitando com o sentimento de
contentamento, querendo saborear a sensação, suas mentes embrulhadas ao
redor uma da outra.

— Eu acho que você me quebrou —, disse Rohan finalmente.

Jamil fez um som ininteligível que poderia significar qualquer coisa.

Interpretando-o corretamente como um pedido de esclarecimento, Rohan


disse:

— Eu era cem por cento hétero.

Jamil deu uma risadinha.

Rohan puxou seu cabelo de brincadeira. — Sim, sorria. Isso é realmente


ridículo. Já passei da idade de ter uma crise de sexualidade.

Jamil aninhou em seu peito, roçando os lábios contra o mamilo de Rohan.


— A crise de sexualidade é provavelmente a razão menos importante pela qual
não deveríamos ter feito isso.

Rohan suspirou. — Eu sei, amor.

Jamil sorriu para o peito de Rohan e imediatamente disse a si mesmo para


se segurar. O carinho não significava nada.

— Eu gostaria que não significasse nada —, disse Rohan.

Jamil congelou.

Lentamente, ele levantou o olhar e olhou nos olhos de Rohan. Eles


estavam suaves com carinho, mas preocupados.

Rohan sorriu com tristeza. — Eu só estou dizendo que eu não sou


realmente o tipo para... eu tenho certeza que eu nunca dei carinhos até te
conhecer. — Sua expressão ficou preocupada. — Estou muito apegado. Você
não pode ter perdido isso. Nossas mentes estão conectadas.

Jamil molhou os lábios, seu coração batendo tão rápido que ele se sentiu
quase tonto. — Seus escudos são muito melhores que os meus. — Quando
Rohan sorriu daquele jeito enfurecedor de eu-te-disse, Jamil revirou os olhos
com um pequeno sorriso. — Tudo bem, você estava certo: os meus realmente
precisam melhorar.

O polegar de Rohan acariciou o ponto telepático de Jamil, provocando


um arrepio agradável. — Os seus são perfeitamente bons contra os telepatas de
baixo nível que todos os Calluvianos vinculados devem ser.

Jamil estudou-o. — Mas não contra os adeptos da mente do Alto


Hronthar —, afirmou. — Você tem provas de que eles não são quem eles
parecem ser?

A expressão de Rohan ficou em branco. Ele olhou atentamente para


Jamil, silencioso e pensativo. Por fim, ele suspirou. — Eu não deveria estar
falando com você sobre isso.

Jamil cutucou-o através de sua ligação e levantou as sobrancelhas,


expectante e arrogante. — Conte-me.

Rindo, Rohan se inclinou e beijou-o no nariz. — Jamil, é muito perigoso.


Para você.

Jamil deu-lhe um olhar inexpressivo. Ele realmente não gostava de ser


tratado como alguém fraco e inapto. — Eu já sei o suficiente para me colocar
em perigo se um telepata de nível superior decidir procurar em minha mente.

Rohan não parecia feliz. — Exatamente. Você está muito vulnerável


agora. Deixe-me remover seu vínculo com o Príncipe-Consorte. Está
enfraquecendo sua telepatia. Sem isso, seus escudos serão mais fortes.

Jamil franziu a testa. Racionalmente, ele sabia que Rohan estava certo.
Ele sabia o suficiente sobre o verdadeiro propósito do vínculo de infância para
saber que isso afetava suas habilidades telepáticas. Mas ele ainda não tinha
certeza se queria perder a única coisa que ainda tinha de seu marido e melhor
amigo de infância.

Ele encontrou o olhar de Rohan e encontrou-o olhando para ele


atentamente. Jamil examinou as emoções de Rohan sangrando através de sua
conexão, apesar dos escudos mentais de Rohan. Havia preocupação genuína
misturada com proteção, mas elas estavam completamente ofuscadas pela
possessividade quase doentia que Rohan não conseguia esconder dele.

Rohan fez uma careta e disse: — Ignore isso. Não é por isso que estou
sugerindo isso. — Ele suspirou. — Olha, eu não estou pressionando você. É a
sua escolha. Mas se você quiser que eu lhe conte mais, você terá que proteger
melhor sua mente.

Jamil mordeu o interior de sua bochecha. — Tudo bem —, disse ele


finalmente. — Vai doer?

A tensão no corpo de Rohan desapareceu. — Não deveria. Os


remanescentes do seu antigo vínculo foram enfraquecidos gradualmente pelo
seu vínculo comigo. Os vínculos naturais são sempre mais fortes do que os
artificiais, como o que existe entre você e o Príncipe-Consorte. Não deve
demorar muito para removê-lo completamente. — Os lábios de Rohan se
contraíram. — Pode haver efeitos colaterais como os sentidos aumentados e as
necessidades físicas, mas duvido que eles sejam esmagadores, considerando
como está desgastado seu antigo vínculo com o Príncipe-Consorte.

Jamil assentiu, notando com algum divertimento que, apesar de todas as


alegações de Rohan de que sua possessividade não o afetava, ele nunca mais se
referira a Mehmer como marido de Jamil. Sempre era o “Príncipe-Consorte”.

— Tudo bem. — Jamil disse, decidindo não ligar para Rohan. — Vamos
fazer isso, então.

— Agora?

— Eu quero descobrir o que está acontecendo. Se é o único jeito, não faz


sentido esperar. — Jamil inclinou a cabeça para o lado. — Você já quebrou um
vínculo de infância antes?

— Mais ou menos —, disse Rohan, sorrindo.

Jamil olhou para ele, mas não conseguiu ficar bravo olhando para aquele
sorriso desarmante. — Então eu vou ser um rato de laboratório para você?

— Não se preocupe, eu vou ser gentil —, disse Rohan, colocando a mão


na bochecha de Jamil. Ele ainda estava sorrindo, mas seus olhos estavam muito
sérios.

Eu nunca deixarei você se machucar. Não era um pensamento consciente;


era um sentimento.

Isso fez o calor se espalhar pelo peito de Jamil antes de se enrolar em sua
barriga. Ele e Mehmer tiveram um relacionamento maravilhoso, mas Mehmer
nunca foi particularmente protetor. Jamil sempre achou que era uma coisa boa
— significava que Mehmer tinha plena confiança na competência de Jamil —
mas agora, para seu leve constrangimento e perplexidade, Jamil descobriu que
ser o objeto de proteção tão intensa não parecia ruim. Muito pelo contrário.

Jamil teve que morder o lábio para se impedir de sorrir estupidamente


para Rohan. Ugh Ele era um homem adulto. Ele não deveria se sentir assim.
Evitando o olhar dele, ele limpou a garganta. — Vamos acabar com isso.
— Olhe-me nos olhos, amor.

Jamil fez como lhe foi dito.

— Talvez você se sinta estranho —, alertou Rohan, mantendo o olhar e


colocando a mão no ponto telepático de Jamil. — Vou usar nosso vínculo para
protegê-lo do pior, mas provavelmente será muito estranho no começo. Não
fique nervoso. Se você começar a se sentir sobrecarregado, concentre-se em
nosso vínculo, ok?

Jamil assentiu, tremendo quando sentiu Rohan deslizar para dentro dele,
cada vez mais fundo, até que ambos ficaram sem fôlego com o prazer disso. —
É tão bom.

Rohan suspirou, uma sensação de preocupação nublando a fusão por um


momento. — Eu sei. Receio que tenhamos um caso clássico de vício, amor. É
provavelmente por isso que nosso vínculo não quebrou.

Jamil apenas cantarolou em resposta, envolvendo seu braço ao redor de


Rohan com força enquanto Rohan deslizava mais fundo. Ele mal prestou
atenção ao que Rohan estava fazendo, incapaz de se concentrar em nada além
do prazer de tê-lo totalmente dentro dele pela primeira vez em um ano. Ele
sentia falta disso, tendo Rohan dentro dele em um nível tão íntimo. Era tão bom
quanto ter o pênis de Rohan em sua boca.

— Pare com isso —, Rohan disse a ele na fusão.

— Eu não estou fazendo nada.

— Você está me distraindo. Você tem alguma ideia de como é difícil me


concentrar?

— Eu não estou fazendo nada. Eu simplesmente amo ter você em mim.


— Rohan riu. — Você está fazendo isso de propósito?

Jamil sorriu largamente. — Talvez.

A presença mental de Rohan se apertou em torno dele por um momento,


o equivalente a um pequeno abraço, antes de seguir em direção ao núcleo de
Jamil.

A ligação com Mehmer ainda estava lá, enrolada em seu núcleo. Mas pela
primeira vez, Jamil podia ver o que Rohan queria dizer quando chamava seu
vínculo com Mehmer de feio. Havia algo errado sobre isso, não natural, e Jamil
não se referia ao fato de que estava rasgado e fino, desgastado nas bordas. Era
como uma teia de aranha tecida em torno de seu núcleo, bloqueando caminhos
neurais inteiros.

— Eu estou deixando você ver através dos meus sentidos. O seu é muito
fraco enquanto isso está suprimindo-os. Vou removê-lo agora. Concentre-se em
nosso vínculo. Isso se tornará mais fácil.

Jamil mudou sua atenção mental para o outro vínculo, aquele que
brilhava em sua mente, dourado e puro. Ele também estava entrelaçado em
torno de seu núcleo telepático, mas de uma maneira que parecia natural e
perfeita. Emanava calor e segurança. Ele se deixou aquecer.

Ele mal notou quando o vínculo com Mehmer desapareceu. Ou melhor,


ele notou isso apenas porque o prazer gentil que sentia por seu vínculo com
Rohan de repente aumentou dez vezes.

Jamil engasgou, sua cabeça girando. Ele estava tremendo, seus sentidos
aumentaram de repente. Era muito. — Rohan

— Shh, eu estou aqui —, disse Rohan, projetando nele os sentimentos de


calma e serenidade. — Você está bem. Eu vou cuidar disso.
Jamil se agarrou a ele, mentalmente e fisicamente, precisando dele como
se precisasse do ar.

— Vai ficar melhor —, Rohan disse baixinho, passando os dedos


gentilmente pelos cabelos. — Diga-me o que você precisa, amor. Eu vou fazer
qualquer coisa por você.

Jamil escondeu seu sorriso estúpido no pescoço de Rohan, respirando seu


cheiro como uma pessoa viciada inalando sua droga favorita. Seus sentidos
aumentados pareciam incapazes de se ajustar à sobrecarga sensorial, sua pele
em chamas onde quer que eles se tocassem. Mas ele poderia ficar assim para
sempre: nos braços deste homem, seus corpos e mentes entrelaçados tão
intimamente que era impossível dizer onde ele terminava e Rohan começava.
Jamil podia sentir a proteção de Rohan em relação a ele, sua determinação feroz
e obsessiva em mantê-lo seguro e feliz, e ele absorveu tudo. Ele nunca se sentiu
tão seguro, querido e feliz em sua vida.

Mas então ele sentiu uma pontada de medo, profundo e angustiante. A


felicidade não durou. Não para ele. Este era um tempo emprestado. Rohan iria
embora em breve. Eles nunca poderiam ser nada, por muitas razões diferentes.

Rohan iria embora, e Jamil... ele estaria sozinho novamente.

Não sozinho, ele se corrigiu, tentando sair do poço do desespero. Ele


tinha uma linda menina. Filha do Rohan.

Mas embora ele adorasse sua filha, pensar sobre ela não ajudou a conter
os sentimentos de medo e perda que estavam em seu peito. Seus olhos ardiam, e
ele estava feliz por Rohan não poder ver seu rosto agora.

Jamil respirou fundo, tentando afastar os pensamentos negativos. Haveria


tempo para se sentir triste e sozinho — muito tempo em seu futuro — e não
adiantava estragar o presente com isso. Se esse era o tempo emprestado, Jamil
pretendia aproveitá-lo enquanto podia.

Cheio de nova determinação, Jamil concentrou todos os seus esforços na


construção de seus escudos mentais. Ele não queria que Rohan sentisse a
direção de seus pensamentos, não queria que ele pensasse que Jamil era um
idiota pegajoso e patético, estúpido demais para desejar algo impossível.

Para sua surpresa, construir escudos mentais agora vinha sem esforço
para ele. Ele tinha certeza de que Rohan ainda podia sentir suas emoções gerais
através de sua ligação, mas ele estava confiante de que seus pensamentos eram
agora privados.

— Eu acho que meus escudos estão muito bons agora. Você poderia
checar?

Ele sentiu Rohan examiná-los gentilmente antes de deixar escapar um


som de surpresa. — Você é natural —, ele disse. — Eles são muito bons.

Embora seu tom fosse aprovador, Jamil podia sentir algo como um leve
desprazer vindo dele.

— Algo errado? — Ele disse, as sobrancelhas franzidas.

Rohan soltou uma risada autodepreciativa. — Eu acho que acabei


acostumando a ter acesso ilimitado aos seus pensamentos. Parece estranho não
ter mais isso. Ainda bem que agora você pode se proteger de mim. É isso.

Jamil o estudou com curiosidade. Quase parecia que Rohan estava


tentando se convencer. A julgar pela expressão conturbada e perturbada de
Rohan, ele não estava satisfeito com seus próprios sentimentos sobre o assunto.

— Tem que haver um limite —, Jamil disse baixinho, olhando para baixo.
— Provavelmente não era saudável, Rohan. Somos dois indivíduos, não um.
Tem que haver alguns limites. — Suas palavras soaram razoáveis. Muito
razoável e muito hipócrita. Seus motivos para colocar escudos mentais não
tinha nada a ver com racionalidade — ele teria Rohan dentro dele o tempo todo
se pudesse — e tudo a ver com a autopreservação. Ele não queria que Rohan
soubesse o quão carente ele era, o quanto ele queria manter Rohan nele por
todo maldito tempo.

Rohan deu um aceno de cabeça, seu braço apertando ao redor dele. —


Claro. Você está certo.

— Agora me fale sobre Dalatteya —, disse Jamil, mudando de assunto.


— O que você viu em sua mente?

— Suas memórias foram alteradas. Ela não sabe que os Tai'Lehrianos são
os rebeldes, ou suas memórias foram alteradas para fazê-la esquecer. Havia
também armadilhas mentais em sua mente, programadas para serem acionadas
se alguém tentasse recuperar suas memórias alteradas. Esse é um trabalho de
um telepata de alto nível e bem treinado. E eu conheço apenas um grupo de
pessoas em Calluvia que conseguiriam fazer isso.

— O Alto Hronthar — Jamil murmurou franzindo a testa.

Rohan assentiu. — A Ordem deve ser quem manipula a opinião pública


também. Não seria a primeira vez que eles fizeram isso.

— O que você quer dizer?

As sobrancelhas de Rohan se juntaram em pensamento. Ele passou os


dedos pelo braço de Jamil distraidamente. — Você sabe como o movimento
rebelde começou? — A partir do olhar vazio de Jamil, Rohan disse: — Eles
foram chamados de renegados por uma razão. O movimento rebelde foi
fundado por Sahir Sagni, um ex-membro do Alto Hronthar que não aprovou a
forma como a Ordem manipulou o Conselho para introduzir a Lei de
Vinculação. A Ordem usou os medos das pessoas e conseguiu persuadir o
Conselho de que era bom para todos vincular a telepatia de todas as crianças
desde muito cedo, formando um vínculo de noivado. Como resultado, os
monges se tornaram as únicas pessoas em Calluvia cuja telepatia não foi
contida por tal vínculo, tornando o Alto Hronthar imensamente poderoso. Sahir
Sagni tentou advertir o Conselho, contar-lhes sobre os verdadeiros motivos da
Ordem, mas ele foi declarado insano, renegado e expulso da Ordem. Ele foi
forçado a se esconder e, embora a maioria das pessoas não acreditasse em
Sagni, outras acreditaram. E foi assim que o movimento rebelde começou.

Jamil franziu a testa. Embora o movimento rebelde tenha sido fundado há


milhares de anos, Calluvia já era uma sociedade altamente desenvolvida na
época. Era muito estranho que não houvesse menção a Sahir Sagni em nenhum
dos registros.

Rohan sorriu com tristeza. — Verdade seja dita, você tem que admirar a
forma como esses bastardos cultivaram magistralmente a imagem de monges
inofensivos não interessados em poder quando na realidade não poderia ser
mais diferente. O Alto Hronthar tem seus longos braços em toda parte,
controlando sutilmente o Conselho, a opinião pública e quem sabe o que mais.

Uma sensação de frio percorreu a espinha de Jamil quando ele se lembrou


de quantas vezes ele permitiu que os adeptos da mente entrassem em sua mente
no passado.

— Ainda assim —, Jamil disse, se contorcendo mais perto do calor de


Rohan. — Parece inacreditável que hoje em dia as pessoas não tenham ideia de
como o movimento rebelde começou.

A mão de Rohan acariciou suas costas, o toque quente e reconfortante. —


São quatro mil anos, Jamil. Hoje em dia, até mesmo a maioria dos
Tai'Lehrianos não sabe que o Alto Hronthar é a razão pela qual as pessoas não
vinculadas são fora da lei. A memória das pessoas é curta. Nossos ancestrais
fundaram uma colônia longe de Calluvia e só queriam ficar longe do radar. Nós
seguimos em frente. Não pensamos que, depois de todo esse tempo, o Alto
Hronthar se importaria o suficiente com a gente para destruir o que resta da
nossa reputação.

Jamil aninhou no peito de Rohan, imaginando por que o interesse da


Ordem pelos rebeldes havia sido reacendido. Durante séculos, poucas pessoas
em Calluvia falaram sobre os rebeldes, mas isso mudou nos últimos anos. Os
rebeldes foram culpados pelos desaparecimentos e mortes de pessoas, ataques
não identificados e agressões sexuais. As pessoas estavam com medo dos
rebeldes agora — com medo e raiva deles. Jamil tinha sido uma dessas pessoas
há apenas um ano.

— Mas por quê? — Jamil murmurou. — Por que a Ordem arrastaria os


rebeldes para os holofotes novamente? Não faria mais sentido para eles querer
que as pessoas se esquecessem dos rebeldes e a razão pela qual eles se
rebelaram em primeiro lugar? — Ele fez uma pausa, considerando e
descartando possibilidades. — Só faz sentido se seus espiões em Tai'Lehr
tivessem descoberto algo que fez a Ordem se preocupar. Possivelmente algo
que mudou nos últimos anos? Algo que os fez temer os Tai'Lehrianos?

Quando ele olhou para cima, encontrou Rohan observando-o com um


olhar fixo e intenso.

Jamil franziu a testa um pouco. — O que?

Rohan sorriu para ele, seu polegar acariciando o lábio inferior de Jamil,
seus olhos negros encapuzados. — Eu gosto de ver você pensar. Você é tão
bonito quando pensa. Quero dizer, você é sempre bonito, mas quando você
pensa, você sempre arruma seus lábios no mais bonito biquinho.
Rindo, Jamil olhou para ele sem entusiasmo. — Você está falando sério?
Você ouviu o que eu disse?

Rohan riu. — Eu te ouvi. E você está absolutamente certo.

Jamil levantou as sobrancelhas com expectativa quando Rohan não disse


mais nada. — E?

Rohan franziu a testa, algo como hesitação cintilando em seus olhos.

Finalmente, ele disse:

— Há algo que eu não lhe contei.


CAPÍTULO 18

— O que você quer dizer? — Jamil disse, sentando-se.

Suspirando, Rohan sentou-se também. Ele passou a mão pelo rosto,


imaginando como dizer a ele.

Ele olhou para Jamil e perdeu a linha de pensamento por um momento,


quando viu Jamil franzir os lábios. Eles ainda pareciam um tanto inchados —
usados — pelas suas atividades anteriores. A visão foi mais perturbadora do
que deveria ter sido.

Este não era o momento de se deixar distrair.

Era hora de dizer a verdade.

Evitando o olhar de Jamil, Rohan começou a falar.

— Os Tai’Lehrianos estão cansados —, disse ele. — Cansados de se


esconder, cansados de falsificar certificados e viver com medo de sermos
descobertos, já que estamos nos escondendo à plena vista. Nas últimas décadas,
surgiram movimentos que queriam que disséssemos a verdade para o Conselho
e exigimos status legal — ou, ao invés disso, uma independência de Calluvia.
— Os lábios de Rohan tremeram. — Você poderia dizer que os rebeldes têm
movimentos rebeldes agora também. Aqueles grupos radicais pensaram que já
havia passado tempo desde que os rebeldes partiram de Calluvia. Eles
insistiram que o Conselho não nos consideraria criminosos se fôssemos
sinceros e provássemos que não éramos perigosos. Mas o governador da
colônia, Lorde Tai'Lehr, era tão conservador quanto seus predecessores. Ele não
estava convencido de que se aproximar do Conselho conseguiria qualquer coisa
além da guerra.

Jamil abriu a boca para dizer algo, mas pareceu pensar melhor e permitiu
que Rohan continuasse.

— Mas há alguns anos, o antigo governador morreu e seu filho herdou o


título. O novo Lorde Tai'Lehr concordou em ouvir esses grupos radicais e
acabou sendo convencido pelo ponto de vista deles. Assim, nos últimos anos, o
governador e o Senado de Tai'Lehrian elaboraram uma estratégia para o seu
eventual apelo ao Conselho Calluviano. Embora seus planos não fossem
amplamente conhecidos, eles não eram exatamente secretos. É possível que o
Alto Hronthar tenha descoberto sobre eles. — Se o Alto Hronthar descobriu
sobre seus planos, os monges provavelmente não estariam felizes. O
reconhecimento dos Tai'Lehrianos como cidadãos legítimos desestabilizaria
toda a sociedade calluviana, abalaria a fundação do poder do Alto Hronthar se a
Lei de Vinculação se tornasse opcional. O Alto Hronthar obviamente não
poderia permitir isso.

Ele podia sentir a confusão de Jamil. — Mas por que você não suspeitou
do Alto Hronthar desde o começo? Parece tão óbvio agora.

Rohan sacudiu a cabeça. — Desde que as tentativas de assassinato em


Warrehn coincidiram com o início da campanha anti-rebelde em Calluvia, nós
obviamente pensamos que era tudo trabalho de Dalatteya: que ela estava
tentando terminar o trabalho que ela começara anos atrás e, sem sucesso, queria
desacreditar os únicos aliados de Warrehn. Nós não sabíamos que Dalatteya era
apenas um peão do Alto Hronthar.

Uma ruga apareceu entre as sobrancelhas elegantes de Jamil, seus lábios


se franzindo. Rohan sentiu uma nova onda de afeição. Ele realmente gostava de
observar Jamil pensar. Ele gostava de observar Jamil, ponto final. Tudo sobre
ele era tão elegante, requintado e adorável que era difícil desviar o olhar.
Mesmo sentado na cama completamente nu, Jamil exalava tanta postura, Rohan
se sentiu como um bruto em comparação. Um bruto que foi autorizado por
algum motivo a colocar suas patas em toda essa perfeição. Um bruto que foi
autorizado a macular tal amabilidade com seu pênis.

— E sobre o irmão mais novo do Príncipe Warrehn? — Jamil disse

Rohan fez uma careta. — Ele provavelmente está morto. Quando ele
estava fugindo de seus pretensos assassinos, Warrehn foi forçado a dar a criança
para outra pessoa, para que o menino tivesse a chance de escapar, mas desde
que o pequeno príncipe não aparecera em nenhum lugar nos últimos dezenove
anos, o garoto deve estar morto. Dalatteya também parecia pensar assim.

Jamil sacudiu a cabeça devagar. — Eu ainda não consigo acreditar que


Dalatteya é capaz de matar garotos inocentes… — Ele inclinou a cabeça para o
lado, pensativo. — Presumo que o Príncipe Warrehn esteja pronto para voltar
para casa? É melhor que ele tenha uma prova férrea de que sua tia é quem está
tentando assassiná-lo, ou ninguém vai acreditar nele. Dalatteya tem excelentes
conexões no Conselho. As pessoas amam ela e seu filho, os ama muito mais do
que a linha direta que Príncipe Warrehn pertence.

Rohan franziu a testa. — Eu sei. Nós não temos provas de que ela está
tentando matar Warrehn. Será a palavra de Warrehn contra a dela.

Pegando o olhar estranho de Jamil, Rohan disse: — O quê?

— Você sabe muito para um rebelde comum —, disse Jamil.

Rohan reprimiu um suspiro. Jamil teria sido obrigado a suspeitar, mais


cedo ou mais tarde, mas ele teria preferido que fosse mais tarde. Ele não tinha
certeza se Jamil iria considerá-lo um mentiroso por não dizer a verdade desde o
início.
Ele pegou a mão de Jamil e acariciou seus longos dedos antes de levar a
mão à boca. Ele roçou os lábios contra o anel de sinete de Jamil e sentiu Jamil
ficar tenso.

Seus olhares se encontraram e seguraram.

Rohan não precisava dizer nada. Era um gesto de fidelidade, usado


apenas entre um senhor-vassalo e seu monarca.

— Rohan'ngh'lavere, o governador de Tai'Lehr. Ao seu serviço, Vossa


Alteza.
CAPÍTULO 19

Jamil olhou para ele.

Ele gostaria de dizer que se sentiu furioso ou traído, mas para sua
vergonha, a primeira emoção que sentiu foi a esperança. Dolorosa, ilógica,
esperança de que eles poderiam ser algo permanente, que eles poderiam ser
eles. Era uma esperança tola: o fato de que Rohan era de sangue nobre não
mudava nada, considerando que, sob a lei atual, Rohan e seu povo eram
infratores da lei. Mesmo se os Tai'Lehrianos decidissem não revelar o seu
estado desvinculado para o Conselho, Rohan ainda teria sua companheira
fictícia e não seria capaz de se casar com Jamil, mesmo que Jamil fizesse algo
inédito e se casasse pela segunda vez.

Jamil quase riu de seus próprios pensamentos. Rohan nunca expressou


nenhum desejo de se casar com ele. Ele era principalmente heterossexual.
Estava tudo bem e bom dormir com outro homem, mas realmente compartilhar
a vida com um? Rohan não tinha sequer insinuado sobre querer isso.

Céus, ele estava sendo patético. Um idiota carente e patético.

— Eu não sei o que você está pensando, mas eu não gosto disso —, disse
Rohan, suas sobrancelhas escuras juntas.

— Estou bem —, Jamil disse com um sorriso forçado. — Apenas


surpreso.

Olhos negros focados nele. — Não minta para mim —, disse Rohan,
apertando sua mão. Sua voz suavizou. — O que é, querido?
A pior parte era que ele queria confessar tudo. A calorosa intimidade
entre eles era incrivelmente difícil de resistir, fazendo-o sentir como se pudesse
dizer tudo a Rohan sem ser julgado ou parecer bobo.

— Apenas entregando-me a um pensamento positivo —, Jamil disse com


um sorriso torto. — É estúpido.

A expressão séria e constante de Rohan não mudou. — Conte-me. Quero


conhecer seus pensamentos, mesmo que você ache que eles são estúpidos.
Tenho certeza que eles não são.

Jamil esperava que seu rosto não mostrasse quão machucado ele se sentia.
Porra, isso era ridículo. Ele nunca tinha se sentido assim com Mehmer, não
importava o quanto ele o amou.

— Eu só… — Ele baixou o olhar, olhando para as mãos entrelaçadas, os


dedos de Rohan escuros contra os seus pálidos. — Em outras circunstâncias,
poderia ter havido um nós. — Seu rosto estava queimando, e ele não conseguia
olhar para Rohan.

Uma forte emoção veio de Rohan através de sua ligação, algo muito
complexo para decifrar.

Rohan colocou a mão livre em sua nuca e puxou-o para perto, suas testas
pressionadas uma contra a outra. — Eu gostaria de poder ficar com você —,
disse ele, sua voz áspera. — Eu gostaria de poder levar você comigo, e que se
foda o resto.

Jamil fechou os olhos com força, como se isso o impedisse de ansiar por
aquilo. Ele não podia acreditar como era tentador. O que havia de errado com
ele? Ele era o Príncipe Herdeiro, um futuro rei do Terceiro Grande Clã de
Calluvia. Ele não podia simplesmente fugir de suas responsabilidades, não
podia abandonar sua família e seu povo.
— Eu sei que é egoísta —, disse Rohan, aninhando-se na bochecha de
Jamil. — Eu sei que você nunca faria isso, mas que se foda, parece a melhor
ideia quando estou com você. — Ele deu uma gargalhada, apertando a mão de
Jamil e levando-a a boca. — Então, novamente, eu não sou bom em pensar
racionalmente quando estou com você. Você poderia me dizer para matar
alguém, e eu provavelmente faria.

— Eu vou manter isso em mente —, disse Jamil, sorrindo, mas sua voz
estava estranha. Ele mal conseguia segurar a confissão que fez seu coração
sentir como se estivesse prestes a explodir em seu peito. Eu te adoro. Não me
deixe de novo.

Ele não disse nada. Mas ele passou os braços ao redor das costas fortes de
Rohan, os dedos vagando sobre a pele quente e nua, e segurou.

Só por um tempinho.

Quando a boca de Rohan roçou a sua, Jamil separou os lábios


ansiosamente, deixando a língua de Rohan entrar e chupando-a. Cada chupada
enviou uma nova onda de felicidade através de seu corpo e ele gemeu contra a
boca de Rohan, puxando-o para dentro, mais e mais até que não era mais
possível.

Eles tombaram na cama, os quadris de Rohan empurrando entre as coxas


de Jamil, seu corpo pesado prendendo-o contra o colchão macio, estômagos e
ereções pressionando um contra o outro.

Jamil envolveu as pernas ao redor dos quadris de Rohan, olhou para


Rohan nos olhos e disse:

— Entre em mim.

Os olhos escuros de Rohan se tornaram vítreos.


Ele olhou para Jamil por um longo momento, seus músculos duros e seu
rosto tenso.

— Sim —, ele disse, sua voz soando com tensão. O desejo pulsou entre
eles, cobrindo o ar, trazendo um rubor às bochechas de Jamil.

As mãos de Rohan acariciaram as coxas nuas de Jamil, amassando a pele


fina e sensível ali, antes de envolver o pênis dolorido e vazando de Jamil.

Jamil gemeu, sua visão escurecendo. Ele só podia ofegar quando Rohan o
acariciou, ordenhando seu pênis por seu lubrificante natural até que ele reunisse
o suficiente para acariciar seus dedos escorregadios sobre o buraco de Jamil. O
som estridente que deixou os lábios de Jamil seria mais adequado para a
pornografia holográfica do que o quarto de um Príncipe Herdeiro. Jamil não se
importou. Ele abriu as pernas descaradamente e se permitiu desfrutar da
maravilhosa sensação de ter seu buraco tocado e acariciado. Quando um dedo
grosso deslizou para dentro dele, ele fez um barulho encorajador e abriu as
pernas mais largas.

— Puta merda —, disse Rohan sem fôlego, olhando para ele com olhos
escuros e vidrados. Jamil arqueou, apreciando o olhar faminto de Rohan sobre
ele quase tanto quanto os dedos de Rohan se movendo em seu buraco. Quase.
Fazia muito tempo. Verdade seja dita, ele sempre gostou de ser fodido, muito
mais do que ele gostava de estar no topo. Mas Mehmer supôs erroneamente
que, como o Príncipe Herdeiro, ele também gostaria de estar no comando do
quarto. Jamil não tinha desiludido ele dessa suposição, envergonhado de admitir
suas próprias preferências, então ele raramente tinha experimentado isso.

Não me sentia tão bem com Mehmer de qualquer maneira. Com Rohan,
não havia vergonha alguma, a intimidade entre eles matando qualquer
embaraço que ele pudesse ter sentido. Com Rohan, Jamil podia gemer o quanto
quisesse, empurrar nos dedos de Rohan e foder-se neles sem se preocupar com
isso. Com Rohan, ele não precisava ser o Príncipe Herdeiro; ele poderia ser
apenas um homem, sem vergonha de seus desejos. Ele não tinha que esconder o
quanto ele amava ser fodido, o quanto ele precisava disso.

Quando Rohan finalmente empurrou seu pênis para dentro, um soluço


deixou os lábios de Jamil, a sensação de ser preenchido fazendo seus dedos
ondularem de prazer.

— Puta merda —, Rohan rosnou, acariciando a coxa macia de Jamil


reverentemente, enquanto seus olhos negros desfocados vagavam entre o lugar
onde seus corpos estavam conectados e o rosto de Jamil. — Olhe para você,
querido.

Jamil percebeu que Rohan quis dizer isso literalmente quando Rohan
fundiu suas mentes, permitindo a Jamil ver e sentir o que ele sentia. Jamil
choramingou, seu prazer dobrando agora que ele podia sentir o quão apertado
ele estava em torno do pênis de Rohan, o quanto a visão das pernas
descontroladamente espalhadas de Jamil excitavam Rohan, o quanto Rohan
queria apenas fodê-lo com força, fazê-lo implorar por seu pau. — Você ama
isso, não é? — Rohan disse com voz rouca, saindo e observando Jamil gemer e
tentando se empalar em seu pênis. — Você ama ser fodido. Você ama pau. Você
quer pau no café da manhã, almoço e jantar, noite e dia, na sua bunda e no
fundo da garganta, não é?

— Por favor —, Jamil murmurou, sentindo delirar com a necessidade. —


Por favor por favor por favor.

Um músculo tensionou na bochecha de Rohan. As mãos de Rohan


pegaram seus quadris e abriram suas coxas ainda mais. Seus olhos se
encontraram, Rohan bateu de volta nele.

Jamil gritou. — Ah! Mais.


Rohan deu-lhe mais.

Depois disso, foi um borrão de prazer. Jamil estava apenas vagamente


ciente de que ele estava gemendo, encontrando cada impulso duro, seus dedos
cavando nas nádegas musculares de Rohan, a fim de puxá-lo mais fundo em si
mesmo. Eles encontraram um ritmo brutal, quebrado, que era tudo sobre
necessidade, sua luxúria alimentando um ao outro, a fusão incitando-os a estar
mais perto, mais profundo, mais, mais, mais.

Eles rolaram por toda a cama, fodendo em todas as posições possíveis,


tentando saciar o desejo enlouquecedor de ser um. Nunca era o suficiente.

Em algum momento, Jamil acabou no topo, fodendo-se no pênis de


Rohan.

Rohan olhou para ele com olhos negros e vidrados, enquanto Jamil o
montava com desavergonhado abandono, a cabeça de Jamil jogada para trás e a
boca aberta em um grito silencioso. Deuses, se sentia tão bem, tão
inacreditavelmente bom, a espessura do pênis de Rohan dentro dele
incrivelmente satisfatória. Ele não se importava que suas coxas já estivessem
tremendo com o esforço; ele precisava disso.

Tão apertado e tão lindo, tomando meu pau.

Jamil choramingou, pegando o pensamento de Rohan. Ele não podia


deixar de mergulhar mais fundo na fusão, permitindo-se ver através dos olhos
de Rohan novamente. Era ele? Aquela criatura gemendo, ofegante e lasciva
montando o longo pênis de Rohan como se algo o possuísse? Lábios mordidos
vermelhos, bochechas coradas, seu pênis vazando e vermelho contra seu
estômago pálido? Ele não podia negar que a imagem o excitou. Não ajudava
que seus pensamentos e desejos estivessem se misturando com os de Rohan e
parecia que ele queria se foder, empurrar Jamil sob ele e bater nele até que
ambos virassem estrelas. Ele foi feito para seu pênis
Rohan rosnou e rolou para que ele estivesse no topo novamente.
Agarrando seus quadris, Rohan estabeleceu um ritmo furioso. Mais duro, mais
rápido, tão bom, os impulsos profundos e seguros. Um rugido encheu a cabeça
de Jamil enquanto seu prazer aumentava. — Preciso de você, preciso de você,
preciso de você. — Ele não tinha certeza de quem era o pensamento; não
importava. Eles gozaram, apertando um ao outro e se beijando
desesperadamente, os quadris de Rohan ainda se esfregando nele enquanto o
prazer explodia entre eles.

Eles adormeceram assim, seus corpos e mentes ainda um só.


CAPÍTULO 20

A luz do sol filtrava através das cortinas fechadas no quarto de Jamil,


banhando tudo em calor. Ou talvez fosse o elo deles, pulsando com calor,
afeição e pertencimento.

Suspirando com sono, Jamil tentou sair de seus braços.

Rohan fez um som de protesto, seus braços se apertando. — Não, não vá.

Jamil riu uma risada feliz e quente que fez o peito de Rohan inchar com
carinho. Não, carinho era a palavra errada. Adoração possessiva. Porra, ele
queria segurar Jamil em seus braços para sempre. Nove dias disso não estavam
nem perto de ser suficiente. Ele sentiu como se nunca tivesse o suficiente.
Provavelmente era estranho o quão pouco ele se importava que Jamil era um
homem. Ele era perfeito nos braços de Rohan, como se ele tivesse sido criado
para eles. Talvez ele tivesse. Um ajuste mental tão perfeito como o que eles
compartilhavam era incrivelmente raro. Era o material de lendas e mitos —
velhas histórias que Rohan geralmente zombava, mas agora não podia deixar de
se perguntar se havia um grão de verdade nelas.

Almas gêmeas. Duas pessoas com alma e personalidades opostas que se


complementavam.

Rohan costumava rir da simples ideia de almas gêmeas, mas ele tinha que
admitir que a definição estranhamente se encaixava com eles. Suas
personalidades realmente não poderiam ser mais diferentes, mas Rohan nunca
havia se encaixado tão bem com outra pessoa. Parecia que eram duas peças de
quebra-cabeça juntas. Às vezes, ele não podia acreditar em quão pouco se
importava com a natureza primitiva e reservada de Jamil — ele sempre
gravitara em direção a mulheres alegres e descontraídas no passado —, mas
com Jamil, seu comportamento correto e justo o fazia sorrir com carinho. Com
Jamil, todos os seus sorrisos, todas as risadas e todos os sorrisos maliciosos
eram ainda mais preciosos.

Porra, ele não podia acreditar em como seus próprios pensamentos


soavam. Sirri e Warrehn nunca deixariam que ele vivesse em paz se pudessem
ouvi-los.

— Deixe-me ir, Rohan.

Ele não queria.

— Você realmente tem que se levantar? — Rohan disse, sua voz ainda
rouca de sono e seus olhos fechados enquanto puxava Jamil de volta contra seu
peito.

Ele podia sentir que Jamil estava sorrindo. — Sim. Eu sou o Príncipe
Herdeiro. Eu gostaria de poder descansar na minha cama até mais tarde, mas eu
não me lembro de uma vez que isso realmente aconteceu. Eu tenho uma reunião
com um conselheiro, e então eu levarei Tmynne lá fora. Ela adora estar do lado
de fora.

Rohan não disse nada, aninhando-se na parte de trás do pescoço de Jamil.

— Você está aqui há nove dias, mas você não foi vê-la —, Jamil disse,
sua voz muito neutra. — Desde aquela primeira vez.

Rohan abriu os olhos. Tudo o que ele podia ver era a curva graciosa do
ombro de Jamil, mas ele não precisava ver o rosto de Jamil para saber que ele
estava franzindo a testa.
Rohan pressionou seus lábios contra o ombro suave e suspirou. — Eu não
quero me apegar, Jamil.

Silêncio.

Ele não precisava dizer nada. Ambos sabiam o que ele queria dizer, claro.

Ele já tinha ficado mais tempo do que deveria, muito mais do que ele
esperava, mas era improvável que durasse. Embora o Cego ainda estivesse
bloqueado pelo povo do Alto Hronthar, mais cedo ou mais tarde, os monges
teriam que desistir. Francamente, Rohan ficou surpreso por eles não terem
desistido. Aquele menino aprendiz deve realmente ser valioso para a Ordem —
ou para o Grande Mestre — se eles ainda persistiam com o bloqueio. Sirri e
Warrehn tinham sido forçados a ficarem no esconderijo, gradualmente perdendo
a paciência com o passar dos dias. Também não ajudou o fato de que o aprendiz
do Grande Mestre ter se revelado uma peste e quase ter escapado várias vezes.
De forma egoísta, Rohan estava feliz por ele não ter ficado preso em uma casa
minúscula com uma Sirri frustrada, um impaciente Warrehn, e um garoto
teimoso e escorregadio, determinado a voltar ao seu Mestre.

Em qualquer caso, o atual estado das coisas não poderia continuar de


forma indefinida. Rohan teria que sair em breve — para salvar Warrehn e Sirri
de fazer algo imprudente e ir para casa no momento em que eles pudessem
chegar ao Cego. Se o pior acontecesse, eles ativariam seus transponders TNIT
fora do ponto cego, mas seria um último recurso. O uso não registrado de um
transportador transgaláctico seria imediatamente detectado pelas autoridades
Calluvianas, e eles não poderiam arriscar que eles fossem rastreados até
Tai'Lehr, não neste momento. Então era um jogo de espera.

Mas todo jogo de espera tinha que acabar. E quando terminasse, Rohan
terá que ir embora. Já era ruim o suficiente que tudo nele ficasse doente com a
ideia de deixar Jamil para trás. Ele não precisava se apegar à criança também.
— Eu entendo —, Jamil disse, sua voz ainda neutra quando ele se afastou
de Rohan e sentou-se, colocando seus escudos mentais para cima.

A mão de Rohan se contraiu em direção a ele. Puta merda, não era


saudável o quanto ele odiava ter alguma barreira entre eles. Ele queria estar
dentro de Jamil, sempre. Ele teve que realmente morder a ponta da língua para
se impedir de dizer algo que ele iria se arrepender mais tarde. Já era ruim o
suficiente que ele tivesse ficado tanto tempo, inventando desculpas patéticas
para ficar em vez de se juntar a Warrehn e Sirri na casa segura. Ele não tinha o
direito de dizer a Jamil todas as coisas nauseantemente doces — e
perturbadoramente possessivas — que ameaçavam sufocá-lo sempre que ele o
olhasse.

Ele não queria quebrar o coração de Jamil. Enquanto eles mantivessem


isso casual — ou fingissem bem o suficiente — seria mais fácil quando ele
eventualmente fosse embora. Pelo menos ele esperava que fosse.

Rohan fechou os olhos, ouvindo os sons de Jamil tomando banho sônico


e começando a se vestir. Tudo parecia tão doméstico. Seria tão fácil se enganar
pensando que ele poderia ter isso.

Ele não podia ter isso, não com eles sendo quem eles eram.

Em outro mundo, onde não havia Lei de Vinculação, ele teria sido o
senhor-vassalo de Jamil, o que os teria tornado mais do que uma combinação
aceitável. Tecnicamente, Rohan era mais sangue azul do que o Príncipe
Consorte Mehmer havia sido: ele era um descendente direto de uma linha real
secundária do Terceiro Grande Clã. Ele realmente tinha uma reivindicação ao
trono se a atual linha real fosse extinta. Em outro mundo, ele teria sido
considerado um bom par para Jamil: sangue real, mas uma relação
extremamente distante, de modo que não havia preocupação com endogamia1.

Neste mundo, nada disso importava.


Neste mundo, Jamil era o Príncipe Herdeiro enquanto Rohan era o líder
dos “rebeldes”, o que o tornava um criminoso aos olhos da lei.

Neste mundo, eles só poderiam viver o momento.

Apertando sua mandíbula, Rohan tomou a decisão. — Eu vou encontrá-lo


no quarto de Tmynne.

Talvez ele estivesse cometendo um erro, que acabaria machucando a


todos, mas naquele momento, era absolutamente valioso porque Jamil se virou
e sorriu para ele, seus olhos azuis brilhantes.

Rohan desejou poder capturar aquele sorriso e engarrafá-lo. Ele tinha a


sensação de que iria precisar quando tudo desabasse sobre eles.
CAPÍTULO 21

Rohan não tinha vergonha de admitir que segurar sua filha pela primeira
vez tinha sido a coisa mais assustadora que ele já tinha feito. Ela era tão
pequena — Jamil havia rido dele; aparentemente Tmynne era muito maior
agora do que costumava ser. Rohan ainda sentia como se pudesse estalar seus
ossos delicados se ele a segurasse com força demais ou a deixasse cair se ele
não a segurasse com força suficiente.

Esse medo diminuíra um pouco desde então; ele estava bem confortável
segurando o bebê agora. Pelo menos ela não parecia se importar, observando-o
com seus belos olhos azuis e sorrindo para ele sempre que ele fazia caretas para
ela. Ela era a coisa mais fofa que ele já tinha visto.

Sim, o plano não-se-apegar estava indo muito bem.

Fazendo uma careta, Rohan balançou a cabeça para si mesmo,


balançando a filha contra o peito. Ela estava nervosa naquele dia,
provavelmente pegando o estresse de Jamil através de seu vínculo.

Ele franziu a testa, pensando no escândalo que abalara toda a sociedade


calluviana na noite anterior. Uma emenda à Lei de Vinculação foi aprovada,
permitindo que companheiros não casados pedissem a dissolução de seus
vínculos de infância, desde que o requerente tivesse atingido a maioridade. O
fato de que tal projeto de fato tenha sido aprovado era um choque: o Sexto
Grande Clã vinha tentando passar ele por anos, sem sucesso. Mas agora não só
o projeto de lei havia passado, mas o próprio Lorde Chanceler pedira para
quebrar seu vínculo de infância com o irmão mais novo de Jamil, causando um
enorme escândalo que Jamil vinha tentando administrar o dia todo.
Rohan se concentrou em Jamil e sua carranca se aprofundou quando
sentiu a angústia de Jamil. Não, não aflição; pânico.

Que diabos?

Rohan colocou Tmynne em seu berço e saiu de seu quarto, na direção que
ele podia sentir Jamil.

Virando a esquina, ele quase colidiu com ele. Jamil estava de olhos
arregalados e corado.

— O que há de errado? — Rohan disse, puxando-o para o quarto mais


próximo.

Em vez de responder, Jamil enterrou o rosto nas dobras da gravata de


Rohan e soltou um suspiro trêmulo. — Eu estraguei tudo. Eu sinto muito.

Franzindo a testa, Rohan acariciou suas costas suavemente e beijou sua


orelha, fazendo Jamil tremer e se agarrar a ele, buscando conforto.

Abraçando-o de volta, Rohan ignorou uma pontada de excitação


completamente inadequada. Ele descobriu recentemente que ele tinha uma...
coisa em Jamil precisar dele. Era uma porra estranha de fetiche que ele nem
sabia que ele tinha até Jamil. Talvez tenha algo a ver com Jamil sendo
normalmente tão reservado e equilibrado; o fato de Jamil se permitir ser tão
vulnerável com ele foi direto para seu pênis — e seu coração.

— O que aconteceu, amor? — Rohan disse.

— Príncipe Ksar —, Jamil disse trêmulo. — Ele leu minha mente. Eu não
tenho certeza do que exatamente ele viu, acho que consegui fazer meus escudos
parecerem de baixo nível como você me ensinou, mas ele era tão forte, Rohan,
eu acho que ele viu você... nós.
— Respire —, disse Rohan, beijando-o na testa. — Apenas respire, ok?

Demorou um tempo para Jamil diminuir a respiração. Por fim, seus


músculos relaxaram um pouco, seu corpo ficando flexível nos braços de Rohan.

— Agora me diga o que aconteceu —, disse Rohan, sua voz suave o


suficiente, mas com firmeza e controle subjacente. Ele descobrira que Jamil
respondia lindamente a esse tom. Jamil gostava, gostava de ser dito o que fazer.
Parecia limpar a cabeça dele. Normalmente Rohan usava esse conhecimento
apenas durante o sexo, mas agora relaxava Jamil ainda mais. Ele sabia que
Rohan estava lá para ele. Ele sabia que ele iria cuidar de tudo. Jamil não tinha
que arcar com toda a responsabilidade.

— Eu me deparei com Seyn e o Príncipe Ksar se beijando. Obviamente


eu exigi saber o que diabos estava acontecendo — aquele bastardo tinha
humilhado publicamente Seyn ontem mesmo. Mas Ksar ordenou que eu saísse.
Na minha própria casa! Você pode acreditar na ousadia? — Jamil soou
afrontado e confuso em igual medida. — E quando eu recusei, ele... ele passou
pelos meus escudos.

Rohan tentou não ficar tenso. Jamil já estava estressado o suficiente. Ele
não precisava sentir sua raiva. — Como? — Ele disse com uma carranca. O
Príncipe Herdeiro do Segundo Grande Clã foi vinculado artificialmente ao
irmão mais novo de Jamil, o que significava que sua telepatia era limitada. Não
deveria ter sido possível para o Príncipe Ksar passar pelos escudos de Jamil.
Jamil era um telepata de classe 4 agora, até onde Rohan sabia. — Você é
excepcionalmente dotado de proteção. Um Classe 2 não deveria ter conseguido
atravessar seus escudos. — Rohan não conseguiu passar pelos escudos de Jamil
quando Jamil tentou esconder seus pensamentos, e eles estavam vinculados.

Jamil sacudiu a cabeça. — Não tem como ele ser da Classe 2. Eu o senti,
Rohan. Seu poder absoluto era… — Ele estremeceu, apertando os braços ao
redor das costas de Rohan. — Eu nunca senti nada assim. Mal consegui
esconder minha força telepática e as informações sobre os rebeldes. Ele poderia
ter visto qualquer outra coisa. Eu não tenho certeza de quais memórias ele viu
— foi breve — mas pelo que ele disse, ele definitivamente nos viu.

— Nós?

Ele sentiu o embaraço de Jamil através de seu vínculo. — Eu acho que ele
viu a memória da primeira vez que eu chupei você —, disse ele, sua voz muito
forte apesar da vulgaridade de suas palavras. — Ele basicamente me disse para
cuidar do meu próprio negócio ou todo mundo descobriria que eu sou uma
prostituta que gosta de ser usada por um servo humilde. Eu acho que ele teve a
impressão de que você era meu servo a partir do que você disse para mim
enquanto você fodia minha boca. Lembra?

O corpo de Rohan definitivamente lembrava. — Eu lembro —, disse ele,


limpando a garganta um pouco. Ele podia ver como o Príncipe Ksar poderia ter
tido a impressão errada disso.

Essa era a questão de olhar para uma mente desconhecida e incompatível:


não importava quão forte fosse um telepata, era fácil obter a impressão errada
de flashes de diferentes memórias, especialmente se o telepata não recebesse
treinamento extensivo nas artes da mente. O Príncipe Ksar provavelmente tinha
visto as memórias de Jamil, Rohan em um uniforme de serviço e, em seguida,
viu-o ele falando aquelas palavras enquanto faziam sexo — e chegara à
conclusão errada. Embora fosse um alívio que Ksar não tivesse se preocupado
em aprofundar na mente de Jamil, ele não deveria ter conseguido passar pelos
escudos de Jamil.

Interessante.

O Lorde Chanceler não era quem ele parecia ser.


Rohan fechou os olhos e estendeu sua consciência. Ele quase se encolheu,
sentindo uma telepata imensamente forte no palácio. Príncipe Ksar'ngh’chaali.
Deve ser ele. Sua presença estava muda, como se ele estivesse escondendo sua
verdadeira força por trás de escudos, mas aqueles escudos estavam piscando no
momento, enquanto Ksar parecia... distraído. Rohan nunca conheceu um
telepata tão forte. Ksar parecia mais forte que Warrehn. Porra, diabos, poderia
Ksar realmente ser um Sete?

Rohan abriu os olhos. — Tem certeza de que ele e Seyn têm um vínculo
de infância?

Ele podia sentir a confusão de Jamil. — Claro que eles têm. Eu estava na
cerimônia de união deles. Seyn esteve vinculado a ele desde recém-nascido. —
Ele fez uma pausa. — Embora eles provavelmente não permaneçam vinculados
por muito tempo agora, se o Conselho aprovar a petição de Ksar para dissolver
seu vínculo.

Rohan passou a mão pelos cabelos de Jamil distraidamente. — Eu ainda


não consigo acreditar que o projeto foi aprovado.

— O tempo é definitivamente estranho —, Jamil concordou. — Mas é um


bom sinal, não é? Isso significa que o Conselho pode reagir mais
favoravelmente aos Tai'Lehrianos do que pensávamos.

— Talvez. Mas não necessariamente. Há algo de errado na coisa toda.


Conhecendo o Conselho e o Alto Hronthar, esse projeto nunca deveria ter
passado. Alguém poderoso deve ter pressionado muito por isso.

— Sim, Lady Zeyneb, mãe do prometido companheiro de seu amigo


Warrehn. Ela quer que o vínculo seja quebrado para que seu filho possa se casar
com algum Rei de outro planeta. Por falar nisso, eu pensei que você tinha dito
que o Príncipe Warrehn não tem mais um vínculo. Como é que o noivo dele
ainda tem?
— Não conseguimos remover completamente o vínculo de Warrehn,
porque não queríamos que ele fosse declarado morto. Enquanto ele for
considerado desaparecido, Dalatteya tem uma batalha legal para lutar. Então
deixamos um fio fino vinculando Warrehn ao seu ex-companheiro de união.
Mal está lá e não atrapalha sua telepatia. Essa cirurgia ainda é considerada a
cirurgia mental mais complicada realizada por nossos curandeiros de mente até
o momento.

Jamil cantarolou distraidamente, tirando a gravata de Rohan. Ele enterrou


o nariz contra a garganta de Rohan. — Eu senti sua falta —, ele sussurrou,
mordiscando o ponto sensível lá.

Rohan lambeu seus lábios secos, sua mente embaçando com o desejo tão
rápido que ele se sentiu quase tonto. — Eu também, amor.

Jamil riu contra o pescoço dele. — Foram três horas? Isto é ridículo.
Somos ridículos.

“Ridículo” não seria a palavra que Rohan escolheria, mas sim.

O que você está fazendo, Rohan? uma voz que soava muito parecida com
a de seu pai falou no fundo de sua mente.

Fechando os olhos, Rohan puxou Jamil mais apertado contra ele e o


beijou avidamente.

Eu não tenho a mínima ideia.

Foi seu último pensamento coerente por um longo tempo.

Ele sabia que estava sendo egoísta e imprudente, mas Rohan não
conseguia se importar quando ele desceu em Jamil ali mesmo, chupando seu
pau preguiçosamente. Ele chegou a amar a espessura e o peso disso em sua
boca. Ele esvaziou suas bochechas e chupou suavemente enquanto sua língua
girava em torno da glande que vazava. Ele amava isso, amava o quão molhado
Jamil estava para ele — mas não tanto quanto ele amava comê-lo. Então Rohan
virou-o e puxou as calças para baixo, expondo a bunda linda de Jamil aos seus
olhos famintos, maravilhado com a carne macia e flexível, incapaz de resistir ao
impulso de beijá-la.

— Não —, Jamil conseguiu. — Rohan, não agora. Eu disse a Seyn para


me encontrar no meu escritório — Ele choramingou quando Rohan empurrou a
língua entre a abertura da sua bunda.

— Então se apresse, querido — Rohan disse a ele, lambendo seu buraco e


apertando sua bunda avidamente. — Não podemos ter seu irmãozinho
descobrindo como você é realmente impertinente, podemos?

— Eu não posso, Rohan —, Jamil gemeu, sua voz tremendo. — Não


temos tempo suficiente.

— Você pode —, Rohan disse a ele com firmeza, empurrando a língua


contra a sua abertura. — Você consegue. Jogue para trás e abra para mim,
amor. Você sabe que você quer.

— Qualquer um pode vir aqui.

— E daí?

Rohan quase sorriu quando a excitação de Jamil aumentou. Seu muito


apropriado Príncipe, era na verdade deliciosamente impertinente, no fundo.

Então ele não ficou surpreso quando Jamil pegou suas próprias nádegas,
espalhando-as para Rohan sem vergonha. — Por favor.

Porra, nada o excitou mais do que a visão de Jamil segurando sua bunda
arqueada, implorando para ser fodido.
Cantarolando apreciativamente, Rohan enfiou a língua dentro do apertado
anel de músculo e começou a empurrar o mais profundamente que pôde,
repetidamente, até que Jamil estava ofegando, choramingando, e empurrando
de volta contra sua língua, tentando aprofundá-la. Rohan se perdeu no prazer de
Jamil, sentindo o quanto Jamil precisava disso, precisava de sua língua,
precisava de seu pênis — qualquer coisa para encher seu buraco necessitado. A
mandíbula de Rohan já estava doendo, mas ele não conseguia parar, não seria
capaz de parar, mesmo se alguém colocasse uma pistola na cabeça dele. Só um
pouco mais, só um pouquinho mais.

Jamil gozou com um soluço, gritando o nome de Rohan, seu prazer os


atingindo em uma onda quente e fazendo Rohan gozar em suas calças como um
adolescente.

Depois, eles riram juntos enquanto tentavam fazer Jamil parecer


apresentável para seu encontro com o Príncipe Seyn.

— Isso é tudo culpa sua —, disse Jamil, ainda rindo enquanto empurrava
as mãos de Rohan para longe dele. — Como estou?

Rohan olhou para o rosto adorável e corado, o cabelo despenteado e os


lábios vermelhos e inchados. Ele só podia esperar que o Príncipe Seyn fosse tão
egocêntrico quanto os rumores diziam e não notaria nada.

— Perfeito —, ele disse honestamente, roubando um último beijo.

Jamil ainda sorria ao sair do quarto.


CAPÍTULO 22

Vinte e quatro dias depois, Sirri contatou Rohan. — Nós temos uma
situação —, disse ela, soando incomumente hesitante.

Rohan fez uma careta e colocou sua filha adormecida em seu berço. — O
que você fez?

Imediatamente, Sirri partiu para a ofensiva. — É culpa sua! Você deveria


ter estado aqui em vez de fazer quem sabe o que! Onde você está?

Rohan suspirou e repetiu: — O que você fez, Sirri?

— Eu me arrependo disso! — Ela disse. — Eu aviso que foi


principalmente ideia de Warrehn, não minha.

Ótimo. Isso não o fez se sentir melhor em tudo. Seu melhor amigo não
era conhecido por sua paciência ou pensamento estratégico. Quando Warrehn
colocava algo em sua cabeça, ele era como um touro teimoso, imparável,
deixando apenas destruição em seu rastro. Juntamente com o fato de que
Warrehn era um telepata de Classe 6, não era exatamente encorajador.

— O que aconteceu? — Rohan disse, fechando a porta do quarto de


Tmynne e travando as fechaduras de segurança. Jamil riu dele e o chamara de
paranoico, mas Rohan dormia mais fácil assim. Se ele foi capaz de entrar no
palácio, isso significaria que outro telepata de alto nível provavelmente também
poderia, e ele não se arriscaria. Não com a filha dele.

Sim, ótimo trabalho em não se apegar.


Empurrando o pensamento para longe, Rohan entrou no quarto vazio
mais próximo. Já que ele havia sido reintegrado como o criado de Jamil para
manter as aparências, seria estranho ser pego fazendo ligações pessoais
enquanto ele supostamente estava no trabalho. Ele só podia usar seu dom de
compulsão algumas vezes antes de desenvolver uma dor de cabeça infernal.

Fechando a porta, Rohan se concentrou no que Sirri estava dizendo. —


Espere, o que você acabou de dizer?

— Warrehn se cansou de cuidar do garoto e sugeriu que nós realmente o


usássemos já que estamos presos aqui. Quer dizer, War meio que tem razão: faz
mais de um mês, e os monges não deram sinais que iriam desistir e se
afastarem! Quem sabe quanto tempo isso vai durar? Nós tivemos que usar o
garoto.

Rohan beliscou a ponta do nariz. — Usá-lo como?

— Eu sei que o plano era levar o garoto conosco para o Tai'Lehr e


estabelecer um contato com o Mestre dele em um terreno neutro, mas e se nós
não esperássemos? Quer dizer, eu sei que não é ideal que aqui não tenhamos
backup se as coisas derem errado, mas há riscos que valem a pena, certo?

— O que exatamente vocês dois fizeram? — Rohan disse, sabendo que


ele não ia gostar.

— Nós permitimos que o garoto contatasse seu Mestre através de seu


comunicador — e antes que você me engula viva, obviamente eu me certifiquei
de que o sinal não fosse rastreável!

Rohan respirou fundo e soltou o ar lentamente. — Você não pode saber


com certeza. Mas tudo bem. O que está feito está feito. O que você mandou o
garoto dizer ao Grande Mestre?
— O que você acha que nós somos? Nós não o deixamos dizer nada. Eu o
amordacei e coloquei uma pistola em seu lindo rosto. Eu acho que enviou a
mensagem. Tudo o que eu tinha que fazer era dizer ao Grande Mestre que se ele
quisesse que seu aprendiz ficasse vivo, ele deveria nos encontrar amanhã,
sozinho, no Cego, e seria melhor remover seu pessoal.

— Eu aposto que ele aceitou bem —, disse Rohan, sem saber se deveria
gritar com Sirri ou rir. Depois de pesar os riscos, ele ligou o vídeo e se viu
olhando para o rosto carrancudo de Sirri.

— Na verdade —, disse ela, algo desconfortável em seus olhos. —


Aquele esquisito não reagiu ao todo. Ele apenas olhou para seu aprendiz com
aquela expressão arrepiante e infernal e depois disse: Muito bem. Tipo, não
havia nada de ameaçador em suas palavras, mas eu senti um arrepio, foi… —
Sirri soltou uma risada desconfortável. — Eu devo ter imaginado isto. A parte
importante é que ele concordou com as nossas condições. Nem sequer dissemos
a ele o ponto exato e a hora da reunião, apenas disse a ele para desconectar seu
sinal de seu chip de identificação no momento em que ele chegasse à floresta.
Ele realmente concordou com isso. Fiquei um pouco surpresa, para ser honesta.
É o melhor resultado possível para nós: podemos rastreá-lo no momento em
que ele chegar, mas ele não poderá fazer o mesmo, ele não saberá quando nos
esperar. É tão seguro quanto possível, Rohan. Se as coisas derem errado,
podemos ativar nossos transponders e o TNIT de Malok-1 nos teletransportará
para longe. Você não pode estar com raiva de nós!

Rohan soltou um suspiro. — Eu ainda não gosto disso. — Cheirava a


uma armadilha, mas ele tinha que admitir que Sirri estava certa: se o pior
acontecesse, eles seriam capazes de partir a qualquer momento quando
estivessem no Cego. — Mas tudo bem. O que está feito está feito. Obrigado por
me consultar.
Sirri corou. — Confiança gera confiança, Rohan. Já que você ainda está
agindo secretamente e se recusa a nos dizer o que diabos você está fazendo —
Ela de repente estreitou os olhos, olhando para a parede atrás de Rohan. —
Onde exatamente você está? Esse lugar com certeza parece muito mais legal do
que o pequeno buraco em que Warrehn e eu estamos presos.

Rohan ignorou a pergunta. — Tudo bem, aqui está o que vamos fazer. —
Ele começou a explicar seu plano. De má vontade, ela concordou, ainda
olhando desconfiada para o seu entorno. Rohan só podia esperar que não
houvesse nada de incriminatório na sala, nada que tornasse óbvio onde ele
estava. Seu chip de identificação e os sinais do comunicador estavam
desligados, então Sirri não podia rastreá-lo dessa maneira. Era um pequeno
conforto. Rohan sabia que ela não deixaria o assunto quieto assim que ele se
juntasse a eles amanhã.

Seu estômago afundou. Ele desligou o comunicador e olhou fixamente


para a parede oposta.

Amanhã.

Sentindo-se estranhamente entorpecido, Rohan saiu do quarto e voltou


para o de Tmynne.

Fechando a porta suavemente atrás dele, ele caminhou de volta para o


berço de sua filha e olhou para o bebê dormindo. O vínculo familiar entre eles
pulsava suavemente com paz e conforto. Ela estava sonhando com algo
agradável, sua pequena boca se curvando em um sorriso que era ao mesmo
tempo de Jamil e, de alguma forma, dela mesma. Ela ia ser uma beleza quando
crescesse.

O coração de Rohan inchou, seu peito tão apertado que mal conseguia
respirar. Ele respirou uniformemente, reforçando seus escudos mentais para que
o tumulto de emoções dentro dele não a despertasse. O vínculo familiar deles
não era mais o pequeno gotejamento de quando ele chegou ao palácio há mais
de um mês, mas um forte fluxo de afeição e proteção que fluía entre suas
mentes. Definitivamente iria confundi-la quando ele de repente desaparecesse
de sua vida. E era inteiramente culpa dele. Toda vez que ele a abraçava, toda
vez que ele brincava com ela e a fazia sorrir e rir para ele, o vínculo se tornava
mais forte. Ele sabia disso, mas ele tinha feito tudo isso de qualquer jeito.

Sem pensar. Egoísta. Afobado.

Apertando a mandíbula, Rohan cobriu a filha com um cobertor, tomando


cuidado para não a acordar.

E então ele foi embora.

Seus pés o levaram na direção em que seu outro vínculo o puxou. Se seu
vínculo com Tmynne era como um riacho suave e calmo, seu vínculo com
Jamil era como um rio durante a primavera, com mais água do que as margens
dos rios podiam conter. Seu vínculo só se tornou mais poderoso no mês
passado, solidificando-se em algo que era, francamente, assustador. Era mais
profundo que atração mental ou física. Profundo até a alma. Era básico,
elementar, e o mudou de uma forma que Rohan não achava possível.

Deveria tê-lo assustado.

Rohan nunca se sentiu assim sobre alguém. Ele acordava e ia dormir


segurando Jamil em seus braços, e ainda de alguma forma não era suficiente.
Ele sentiu como se nunca tivesse o suficiente, fome roendo a profundidade de
sua alma, fome como nenhuma outra. Ele não conseguia entrar tão
profundamente em Jamil quanto queria, não conseguia beijar aqueles lábios
macios e suaves com força suficiente; nunca era suficiente. Ele queria mais,
mais e mais, todos os dias, às vezes duas ou três vezes por dia. Ele se sentia
como um garoto virgem que acabara de descobrir para o que servia seu pau, não
um homem adulto com duas décadas de experiência sexual. É claro que não
ajudava que os sentidos elevados de Jamil deixassem os dois com tesão — era
normal que as pessoas que tinham acabado de sair do seu vínculo infância
sentissem excitação aumentada — mas não era só isso. Fazia mais de um mês e
Jamil estava agora completamente estabelecido, totalmente no controle de sua
telepatia e seu corpo.

Eles ainda ansiavam um pelo outro.

Simplesmente estar na presença de Jamil era tão satisfatório de maneiras


que Rohan não conseguia explicar. Ele gostava de olhar para Jamil, adorava vê-
lo sorrir. Isso era...

Era assustador o quanto ele amava isso. Ele não conseguia imaginar como
seria não poder ver Jamil todos os dias. O simples pensamento fez seu
estômago apertar em um nó apertado.

Rohan alcançou o escritório de Jamil e se encostou na parede, esperando.


Ele podia sentir que Jamil estava atualmente ocupado, a mente de Jamil focada
na pessoa com quem ele estava falando.

Na parede, o relógio antigo estava funcionando, o som regular e simples.

Rohan olhou para ele, sentindo uma onda de raiva irracional contra a
pessoa que estava tirando o precioso tempo que eles tinham juntos.

Jamil parecia distraído agora, provavelmente sentindo-o fora do escritório


e provavelmente sentindo sua ansiedade. Rohan não ficou surpreso quando ele
dispensou a pessoa um pouco depois.

Era algum conselheiro, que parecia irritado e desconcertado quando saiu


do escritório. Rohan provavelmente deveria ter se curvado a ele, mas naquele
momento ele não tinha paciência para agir como um servo. Ele entrou no
escritório e fechou a porta atrás de si.
— Nós já não tivemos essa conversa? — Jamil disse em um tom
exasperado que contradizia seu sorriso. — Você não pode continuar vindo aqui
quando estou trabalhando, Rohan! Você sabe o quão perturbador você é. Nunca
consigo me concentrar quando você está por perto. Eu sou o Príncipe Herdeiro.
Eu não posso simplesmente… — Ele parou, seu sorriso desaparecendo quando
ele olhava Rohan.

Rohan, que ainda estava encostado na porta, apenas olhando para ele
atentamente. Jamil franziu a testa. — Rohan?

Rohan mordeu o interior da bochecha com tanta força que sentiu gosto de
sangue.

Ele olhou para aquele rosto adorável e querido e sentiu como se estivesse
engasgando com a emoção crua. Você é meu. Você deveria ser meu.

Ele engoliu as palavras de volta. Elas só piorariam tudo.

— Eu estou indo embora amanhã. Ou melhor, esta noite. Eu ainda tenho


que chegar ao Cego com uma aeronave.

O rosto de Jamil ficou terrivelmente imóvel. Ele não estava nem


piscando.

— Hoje à noite? — Ele sussurrou.

— Warrehn e Sirri organizaram uma reunião com o Alto Adepto.


Amanhã. Se tudo correr bem, voltaremos para casa para planejar nossa
abordagem ao Conselho. Se não correr bem… — Ele parou, incapaz de dizer
isso.

Jamil sorriu, seu sorriso não alcançando seus olhos. — Você vai para casa
e nunca mais irá voltar —, afirmou.
Seus lábios afinando, Rohan desviou o olhar. Sim, se tudo não der certo,
eles provavelmente não conseguirão retornar a Calluvia através do Cego. O
Alto Hronthar seria estúpido em não cortar essa passagem depois desse fiasco.

— Tudo bem, Rohan —, Jamil disse, na mesma voz sem tom. — Eu


sempre soube que terminaria assim. — Ele olhou para as mãos e sorriu
fracamente. — Está... está tudo bem. Espero que o seu encontro com o Alto
Adepto ocorra bem. Mas se nós... se não nos vermos mais uma vez, desejo a
você, desejo-lhe uma vida longa e feliz. Espero que você se lembre de mim
com carinho.

Rohan não se lembrava de cruzar a distância entre eles quando se


ajoelhou na frente da cadeira de Jamil.

— Não faça isso —, disse Rohan asperamente, pegando as mãos de Jamil


e olhando-o nos olhos atentamente. — Jamil, por favor.

Jamil pressionou os lábios juntos.

— Eu voltarei —, Rohan se viu dizendo, uma promessa que ele não


estava em condições de fazer. Ele sabia que não deveria fazer, mas caramba, ele
não suportava ver aquele olhar vazio e derrotado nos olhos de Jamil.

Jamil balançou a cabeça, sorrindo com tristeza. — Mesmo se você fizer


isso, você não poderá ficar comigo. Você tem um dever para com o seu povo.
— Ele riu. — Eu quase desejo que você realmente fosse um servo plebeu.
Então eu poderia manter você como meu segredinho sujo.

Sua tentativa de humor falhou, porque Rohan podia sentir o quão


chateado ele realmente estava.

— Querido —, Rohan disse com voz rouca, beijando seus dedos. Eu sinto
muito. Eu nunca quis te machucar.
Com o queixo tremendo, Jamil olhou para ele por um momento antes de
se lançar para frente e cair em seus braços. Rohan apertou-o com força,
puxando-o para o seu colo. Seus lábios se encontram. Não era nem um beijo;
eles apenas respiravam na boca um do outro, os braços envoltos em um abraço
de esmagar os ossos. Tudo parecia desarticulado, o mundo um borrão de
necessidade e desespero tão abrangente que nada parecia real a não ser a
sensação da pele de Jamil contra sua boca e a sensação dele em seus braços.

— Eu odeio isso —, Jamil sussurrou, com os olhos fechados enquanto se


agarrava a Rohan. — Eu odeio que eu estou... que eu estou tão perto de
implorar para você ficar comigo. Eu sabia que você iria embora — eu sabia,
mas... — a voz de Jamil quebrou, e Rohan o segurou mais apertado, mais perto,
sua própria garganta grossa com emoção. Ele não suportava ver Jamil tão
chateado — sabendo que ele era a razão disso — e tudo nele queria acalmar,
beijar aquela dor, torná-la melhor.

Mas ele não poderia melhorara. Não dessa vez.

— Eu voltarei —, ele disse, beijando os lábios trêmulos de Jamil. — Eu


voltarei.

Ambos sabiam o quão vazia esta promessa era quando ele não tinha ideia
se era mesmo possível.

Jamil balançou a cabeça, deitou a cabeça no ombro de Rohan e sussurrou:


— Apenas me abrace? Só por um tempo.

Com sua garganta apertada, Rohan fez.


CAPÍTULO 23

— Eu estava começando a esquecer o seu rosto —, Sirri disse no


momento em que ele se juntou a eles no lugar designado a meio tarsec longe do
Cego.

Ignorando-a, Rohan olhou para Warrehn e o garoto em suas mãos.

Ele deu uma segunda olhada, franzindo a testa. Ele tinha sido levado a
acreditar que o aprendiz era mais velho, mas certamente esse garoto não
poderia ter mais de dezessete anos. Apesar da feroz carranca no rosto, as
feições do menino eram suaves e refinadas de uma maneira que geralmente se
perdia quando os meninos se transformavam em homens.

— Quantos anos ele tem? — Rohan disse, olhando para Warrehn.

Warrehn encolheu os ombros. — Ele se recusa a dizer.

— Velho o suficiente para ser um pé no saco —, Sirri disse com uma


carranca. Ela e o garoto olhavam maliciosamente um para o outro.

As sobrancelhas de Rohan subiram. — Vocês têm certeza de que ele é o


aprendiz do Alto Adepto? Eu não acho que eles encorajaram ter emoções.

Ele recebeu um olhar fulminante do garoto.

Sirri bufou. — Ele é sensível sobre isso. — Ela olhou para seu multi-
dispositivo. — Devemos nos mexer.

— Tudo limpo? — Rohan perguntou.


Sirri assentiu. — Nós checamos. O pessoal deles realmente foi embora.
Todo mundo, exceto o Alto Adepto.

Os olhos azuis de Warrehn continuavam olhando ao redor


cautelosamente. — Não significa que não estamos sendo rastreados de alguma
forma. Vamos nos mover. — Ele empurrou o garoto para frente, embora fosse
surpreendentemente gentil com ele.

No olhar surpreso de Rohan, Sirri se inclinou para ele e murmurou: —


Aquela cobrinha é inteligente e manipuladora, você não acreditaria. Ele
rapidamente descobriu que Warrehn costumava ter um irmãozinho e aprendeu a
jogar para conseguir sua pena. Ele quase conseguiu escapar depois que ele
convenceu Warrehn de que a corda estava machucando seus pulsos e que
deveria ser afrouxada.

Rohan fez uma careta, mas não disse nada enquanto seguia Warrehn e o
garoto. Sirri entrou em sintonia com ele. Sabendo o que estava por vir, Rohan
falou antes que pudesse. — O que seus sentidos dizem sobre esse encontrou?
Parece uma armadilha?

Sirri lançou-lhe um olhar que deixou claro que ela sabia exatamente o que
ele estava fazendo. — Não tenho certeza. Não parece uma armadilha, mas eu
sinto… — Ela franziu os lábios. — Eu sinto perigo. Como se estivéssemos indo
encontrar alguém com quem nunca lidamos antes. — Ela sorriu
desconfortavelmente. — Provavelmente é só o meu nervosismo fazendo
truques comigo. Você sabe que meu dom não é preciso.

Rohan assentiu.

— Então… — Sirri disse. — Onde você esteve esse tempo todo?

— Nenhum comentário —, disse Rohan.


Ele recebeu um toque telepático por isso. — Eu não sou a porra de uma
repórter. Isso não vai funcionar, seu idiota!

— Não é da sua conta onde eu estava, e não é a hora nem o lugar para
falar sobre isso. Fique quieta.

Sirri olhou para ele, mas ela ficou quieta.

Eles caminharam por um tempo antes de finalmente chegarem ao Cego.


Eles não conseguiam mais rastrear o sinal do chip de identificação do Alto
Adepto. Somente dispositivos eletrônicos poderosos como o TNIT poderiam
funcionar dentro do Cego; eletrônicos mais fracos e a Internet Global não
podiam.

— Você pode senti-lo, Warrehn? — Rohan disse, esticando seus sentidos


o mais longe possível. Ele não conseguia sentir ninguém.

Puxando uma pistola, Warrehn grunhiu afirmativamente e mudou de


direção. O garoto em seu aperto parecia se animar também. Rohan se perguntou
sobre isso. Eles não sabiam nada sobre o moderno Alto Hronthar. Mestres e
aprendizes tinham um vínculo telepático? Poderia aquele garoto realmente se
comunicar com seu Mestre à distância?

O pensamento o deixou desconfortável.

Sua cautela só aumentou quando ele foi capaz de sentir o Grande Mestre
também. Ele era poderoso, como esperado, possivelmente tão poderoso quanto
Warrehn, mas não foi isso que fez Rohan ficar tenso. Cada telepata adulto tinha
uma presença telepática distinta e reconhecível, individual para todos, uma vez
que o telepata aumentasse completamente seus poderes. Mas o Grande Mestre
Idhron não tinha uma. Sua presença telepática continuava indefinida, difícil de
identificar. Era desconcertante. Era tão desconcertante quanto uma pessoa sem
rosto.
Um olhar de soslaio para Sirri confirmou que ela estava igualmente
surpreendida.

— Assustador —, ela murmurou, puxando sua própria pistola.

Rohan deu de ombros, afastando sua inquietação. Eles não sabiam o que
ensinavam no Alto Hronthar nos dias de hoje. Talvez fosse a norma para todos
os Mestres.

O homem que os esperava na pequena clareira parecia... bastante normal.


Ele era alto, maior que Rohan, seu cabelo longo e pálido amarrado para trás.
Ele não estava usando as tradicionais vestes brancas e ricamente adornadas do
Alto Adepto. Em vez disso, ele estava usando vestes marrons escuras simples
que faziam um trabalho pobre em esconder o fato de que o monge era um
homem em boa forma física.

— Mestre! — O garoto disse, sorrindo.

O rosto inexpressivo do Grande Mestre não mudou. Seus olhos frios


deram a seu aprendiz um exame rápido da cabeça aos pés antes de olhar para
seus captores. Algo mudou quando ele olhou para Warrehn, mas a emoção se
foi tão rapidamente que Rohan não tinha certeza do que era. O Grande Mestre
olhou de Warrehn para Sirri antes que seu olhar finalmente se fixasse em
Rohan.

— Bem —, disse ele, olhando para Rohan e ignorando os outros dois. —


O que você quer?

Rohan estreitou os olhos, ponderando sobre isso. — Você sabe quem eu


sou. Tenho certeza que você pode somar dois mais dois.

Seu palpite estava correto quando o monge não se incomodou em negar.


— Sim —, admitiu Idhron, com o rosto ainda vazio. Rohan não podia lê-
lo em tudo. — Mas não estou aqui para falar sobre minhas suspeitas. Estou aqui
para recuperar o que você roubou. Eridan, venha aqui.

Warrehn soltou uma risada severa, apertando ainda mais seu cativo. —
Você acha mesmo que vou deixar o garoto ir, desse jeito?

Idhron não desviou o olhar de Rohan. — Diga a ele para libertar meu
aprendiz. — A ameaça não dita era mais eficaz do que tinha direito de ser,
considerando que Idhron estava em desvantagem de três para um.

— Olhe —, Rohan disse com um suspiro. — Nós não queríamos envolver


o garoto, mas era a única maneira de fazer com que você falasse conosco nos
nossos termos.

— E o que faz você pensar que sequestrar um simples aprendiz me


tornaria mais cooperativo? —, Disse Idhron. — Ele é apenas um garoto, um das
centenas de iniciantes ansiosos para aprender comigo. Eu poderia tê-lo
substituído a qualquer momento.

Rohan olhou para o menino em questão. Eridan baixou o olhar, mas


Rohan não perdeu o olhar ferido que brilhou naqueles olhos violetas. Até
mesmo Rohan se sentiu um pouco mal pelo garoto e ele não o conhecia.
Warrehn estava franzindo a testa profundamente.

— Então o que você está fazendo aqui? — Rohan disse, olhando para o
Grande Mestre. — Se ele é tão inútil para você?

Idhron não disse nada por um momento. — Eu não disse que ele não
tinha valor. Seria uma pena desperdiçar anos do meu tempo com ele, se eu
aceitasse outro aprendiz. Ele tem algum valor para mim, mas você está se
iludindo se acha que não vou sacrificá-lo se tentar usá-lo contra mim.
Rohan não podia sentir qualquer indício de mentira, e mesmo
racionalmente, ele sabia que Idhron deveria estar dizendo a verdade. Por que o
Grande Mestre do Alto Hronthar se importaria com um garoto quando ele tinha
centenas de iniciantes ansiosos para tomar o seu lugar?

Foi tudo por nada. Eles arriscaram tudo por nada.

Antes que Rohan pudesse dizer qualquer coisa, Sirri riu.

— Ele está mentindo —, disse ela. Quando Idhron olhou para ela, ela
sorriu. — Oh, você é bom. Eu teria acreditado totalmente em você. Exceto que
tenho a sensação de que o que você acabou de dizer é um monte de besteira e,
se acreditarmos em você, vamos estar cometendo um grande erro.

Internamente, Rohan suspirou.

— Ela tem um dom de premonição —, Rohan esclareceu para Idhron. —


Então vamos tentar de novo?

Os lábios de Idhron se afinaram. Ele ficou em silêncio por um tempo,


olhando entre Rohan e Sirri antes de dizer: — O que você quer?

— Pare de distorcer a opinião pública contra nós. Essa é a nossa primeira


demanda.

— Primeira? Presumo que haja uma segunda?

— Você limpará nossos nomes sobre o assassinato do Príncipe-Consorte


Mehmer —, disse Rohan. — Enquanto formos responsabilizados pelo
assassinato de um membro da realeza, o Conselho não vai nos ouvir. Seremos
presos no local.

Idhron olhou para Rohan por um longo momento.


O desconforto torceu o estômago de Rohan, seus instintos gritando que
algo estava errado. Ele teve a estranha sensação de que Idhron estava em sua
mente, mesmo que seus escudos estivessem totalmente levantados e sem danos.
Franzindo a testa, Rohan se concentrou em seus escudos e a estranha sensação
desapareceu. Ele deve ter imaginado isso.

Idhron sorriu. Era uma expressão estranha e dissonante que parecia


completamente fora de lugar em seu rosto vazio.

— Muito bem —, ele disse, algo como diversão fria brilhando em seus
olhos. — Agora deixe meu aprendiz ir embora.

— Não tão rápido —, disse Warrehn quando o garoto tentou se libertar.


— Você não vai tê-lo de volta até que você cumpra sua parte do acordo.

A expressão de Idhron se tornou perigosa. — Eu não vou embora sem


meu aprendiz.

Rohan pensou que era doentio ver quão reverentemente o garoto olhava
para seu Mestre, como se as palavras de Idhron significassem algo além de sua
falta de vontade de cumprir sua parte do acordo. Rohan quase sentiu pena do
pobre garoto antes de lembrar as palavras de Sirri. Eridan não era um garoto
inocente. Ele era inteiramente capaz de manipular e enganar as pessoas para
conseguir realizar suas vontades também.

Isso não significa que o garoto não pudesse ainda ser salvo se o afastasse
da influência de Idhron.

— Desculpe, querido, mas você entende que não podemos confiar em


você —, Sirri disse docemente.

— Eu também não posso confiar em você —, disse Idhron. — Como eu


vou saber se você vai libertar o meu aprendiz mesmo que eu faça o que vocês
pediram?

— Você não sabe —, Rohan concordou. — Mas a diferença é que você


não pode fazer nada conosco. Não é do seu interesse dizer ao Conselho onde
fica a base dos rebeldes. Você não quer que sejamos encontrados. Isso destruiria
a ordem social que o Alto Hronthar gastou milênios estabelecendo. Se outros
calluvianos perceberem o quanto somos mais fortes, eles ficarão com medo.
Provavelmente haverá guerra, e os Calluvianos não irão mais querer serem
contidos por seus vínculos de infância, enquanto os odiosos “rebeldes” são
muito mais fortes. Vocês perderão o poder ilimitado do qual vocês desfrutam
agora.

Os olhos de Idhron ficaram mais frios quando ele falou. — Então, por
que eu deveria fazer algo por você, se tudo termina da mesma maneira, de
qualquer forma?

Rohan hesitou. Ele olhou para Warrehn e Sirri, sabendo que eles iriam
ficar chateados. Mas ele estava pensando nisso há muito tempo. Idhron estava
certo: ele não tinha incentivo para ajudá-los. Mas ele poderia receber um.

— Nós poderíamos ajudar uns aos outros —, disse Rohan. Ao contrário


de seus amigos, ele tinha que pensar no quadro maior, apesar de seu desgosto
por tudo que o Alto Hronthar representava. Ele era o governador de Tai'Lehr.
Ele era responsável pela vida de milhões de pessoas. A verdade é que eles não
podiam pagar uma guerra total contra um planeta de alta tecnologia como
Calluvia. Eles seriam esmagados como insetos.

Ignorando os olhares questionadores de Warrehn e Sirri, Rohan encontrou


os olhos de Idhron. — A diferença é que, se você nos ajudar a restaurar nossa
reputação, não lembraremos ao Conselho a razão original pela qual nossos
ancestrais se rebelaram. Não vamos relembrá-los do ex-membro do Alto
Hronthar que ficou enojado com a sede de poder de sua Ordem, as enganosas
teias que a Ordem teceu para o Conselho, usando seus medos contra eles. Se o
Conselho realmente aceitar os Tai'Lehrianos, não haverá guerra, e se não
houver guerra contra poderosos telepatas, os Calluvianos terão poucos motivos
para quererem quebrarem seus vínculos. Vamos deixar a Ordem em paz e você
poderá manter a maior parte de seu poder se jogar bem suas cartas.

Sirri fez um barulho de protesto, mas Rohan não olhou para ela.

Ele observou a mudança sutil nos olhos de Idhron. Ele estava realmente
considerando isso. Bom.

— Como uma demonstração de boa vontade, vamos deixar o seu aprendiz


ir —, disse Rohan, ignorando o barulho de protesto de Warrehn desta vez. —
Pense na minha oferta. Trabalhar em conjunto seria benéfico para nós dois. É a
única maneira de não haver grandes perdas para os dois lados.

Lentamente, Idhron assentiu. — Eu vou pensar sobre isso —, disse ele


antes de olhar para seu aprendiz. — Eridan.

O garoto praticamente correu na direção dele. Eridan agarrou o pulso de


seu mestre, que ativou seu transponder, e eles se teletransportaram para longe.

— Você está louco? — Sirri grunhiu, virando-se para Rohan.

— Você não deveria ter entregado o garoto —, disse Warrehn ao mesmo


tempo.

Ignorando-os, Rohan olhou ao redor. — Devemos ir para casa também.


Não é seguro permanecer aqui agora que não temos Eridan como vantagem.

Sirri bufou. — Por que, eu pensei que agora você fosse o melhor amigo
daquele idiota?
Rohan deu a ela um olhar plano e ativou seu transponder, sabendo que,
apesar de todas as reclamações e resmungos, eles fariam como ordenado. Eles
sempre faziam.

Na próxima vez que ele abriu os olhos, ele estava na estação orbital
novamente, pela primeira vez em mais de um mês. Ele olhou para as paredes
cinzentas e fechou os olhos, tentando se ajustar ao silêncio ressonante no fundo
de sua mente.

Ele conseguiu colocar suas feições em uma expressão neutra no momento


em que Sirri e Warrehn se materializaram ao lado dele.

— Agora o quê? — Sirri disse.

— Agora vamos para casa e ajustar nossos planos enquanto esperamos


—, disse Rohan, sem encontrar seu olhar.

Casa.

Não parecia que ele estava indo para casa.

— E se o Grande Mestre não aceitar sua oferta?

Rohan disse secamente: — Ele vai.

Ele caminhou em direção ao hangar, tentando não pensar sobre o que


faria se Idhron não aceitasse.
CAPÍTULO 24

O primeiro mês depois que Rohan partiu foi... agitado.

Jamil sentiu-se quase grato pelos problemas que a Câmara enfrentava


agora que o noivado de Seyn com Ksar foi dissolvido. Jamil estava ocupado
tentando limitar os danos e escolher um novo noivo para Seyn. Apesar do
escândalo causado pelo noivado dissolvido, ainda havia centenas de potenciais
candidatos a serem considerados. Seyn havia dado a Jamil e suas mães uma
escolha livre, estranhamente indiferente a quem substituiria Ksar como seu
noivo. Jamil tinha uma ideia sobre por que seu irmão parecia tão desanimado,
mas ele sentia que não poderia lidar com as emoções confusas de Seyn quando
ele não conseguia lidar com as suas próprias.

Os dias foram tão ocupados e cheios que Jamil mal teve tempo de
respirar.

Mas as noites eram um assunto diferente.

À noite, ele era deixado sozinho com seus pensamentos, sozinho com a
dor surda em seu coração estava.

Ele se sentia oco, de uma maneira que ele não sentia mesmo depois da
morte de Mehmer. Até mesmo passar tempo com Tmynne não ajudou. Ele se
odiava por procurar pelas feições de Rohan no rosto dela, odiava a si mesmo
por se sentir desapontado por ela parecer cada vez mais com Jamil todos os
dias, perdendo as poucas características que parecia compartilhar com o outro
pai.
Não era saudável, Jamil sabia disso. Tmynne era sua própria pessoa, não
uma extensão de Rohan. Ela merecia ser amada por ser ela mesma. Ela não
precisava se parecer com Rohan para que Jamil a amasse. Ele a amava. Ele a
adorava mais do que nunca. Ela era a principal razão pela qual ele saía da cama
todas as manhãs. Seu sorriso era a única coisa que enchia seu coração de
alegria, não importando o quão breve fosse.

Ele ainda desejava que ela se parecesse com Rohan. Era egoísta e
irracional, mas ele não podia mudar como se sentia.

— Jamil

Ele se encolheu, quase derramando o chá que ele estava dando a Tmynne.
Ele focou seu olhar na Rainha. — Sim, mãe?

A Rainha trocou um olhar com a Rainha Consorte. Ambas irradiavam


preocupação, e Jamil rapidamente suavizou suas feições e reforçou seus
escudos mentais. Ele não queria preocupá-las. Elas já tinham outro filho para se
preocupar.

— Querido, quer dar um tempo? — Disse a Rainha Consorte baixinho. —


Estamos aqui há horas. Você parece cansado.

— Estou bem —, Jamil disse, endireitando-se e voltando seu olhar para o


holograma na frente deles. — Você quer minha opinião sobre o embaixador
Xander? Eu acho que... acho que ele é um homem decente.

— Hmm. — A Rainha pareceu pensativa. — Ele é. Há rumores de que


ele será o Presidente de seu planeta em breve.

— E todo mundo sabe que ele está apaixonado por Seyn —, acrescentou
sua esposa com um sorriso de aprovação. — O que é da mesma importância.
Os lábios da Rainha se estreitaram. — Certamente. Após o tratamento
desprezível de Ksar, Seyn merece alguém que irá apreciá-lo. Ele merece ser
feliz.

Jamil não tinha certeza de que Seyn ficaria feliz com alguém como
Xander. Ele tinha uma suspeita de que qualquer um que não fosse chamado
Ksar não faria seu irmão feliz, de qualquer maneira. Mas Ksar e Seyn fizeram
suas escolhas. Não era seu lugar para questioná-los, não importa o quanto ele
quisesse bater nos dois às vezes. Eles tinham tudo tão fácil. Tudo o que os
separava era o orgulho deles, que, para falar a verdade, ambos tinham
abundância, mas ainda assim. Eles tinham tudo tão fácil.

— Seyn não é o único que merece ser feliz —, disse a Rainha Consorte,
observando-o com uma carranca. — Você tem certeza de que está bem,
querido? Você parecia muito mais feliz nos últimos meses. Nós pensamos que
você finalmente havia superado a morte de Mehmer, mas agora você parece
pior do que estava nos primeiros meses.

— Não entendemos, Jamil —, acrescentou a Rainha.

Jamil mordeu o lábio, procurando por palavras que não seriam uma
mentira descarada. Ele não podia mentir para suas mães. Ele simplesmente não
podia.

— Eu sabia que seria difícil —, ele murmurou, olhando para os dedos. —


Mas eu ainda, eu preciso dele. — Sua voz vacilou e ele cerrou os dedos em
punhos. — Eu sou um homem crescido e autossuficiente. Eu tenho uma filha
que eu adoro. Eu não deveria me sentir assim. Eu sei disso.

— Oh, querido —, disse a Rainha Consorte, sua presença mental


estendendo a mão para lhe dar um abraço telepático.
Jamil fechou os olhos, permitindo-se absorver seu calor, seu amor por ele.
Por um momento, ajudou. Por um momento, ele sentiu que tudo ficaria bem.

Mas então sua mãe se afastou e a sensação fria e oca penetrou em seu
peito.

— Não há nada pior para uma mãe do que ver seus filhos infelizes —,
disse a Rainha, sua voz sem tom. — E sabendo que é nossa culpa. Nós
escolhemos os seus companheiros de união. É claro que não sabíamos que
terminaria assim, mas… — Ela balançou a cabeça, franzindo os lábios. — Em
momentos como esse, eu gostaria que a Lei de Vinculação nunca existisse.

— Não é sua culpa, Mãe —, disse Jamil, forçando um sorriso. — Então...


Embaixador Xander?

***

Alguns dias depois, Seyn aceitou o Embaixador Xander.

Jamil tentou não olhar para o sorriso falso de Seyn ou notar a felicidade
igualmente falsa que Seyn estava tentando projetar para o bem de sua família.

Parte dele queria dar um abraço apertado no irmão e dizer que ele
entendia. Parte dele queria sacudi-lo e dizer a ele para tirar a cabeça de dentro
da bunda e agarrar a felicidade que estava dentro do alcance de Seyn ao invés
de escolher ser infeliz.
Ele queria se sacudir também. Jamil odiava se sentir tão deprimido,
odiava não poder aproveitar as pequenas conquistas de sua filha sem desejar
que Rohan as visse também. Às vezes, ele quase odiava Rohan, odiava-o por
reduzi-lo a esse ser patético e necessitado. Ele era o Príncipe Herdeiro do
Terceiro Grande Clã, caramba. Ele precisava se levantar e seguir em frente. Ele
devia isso a sua filha. Tmynne merecia um pai melhor do que essa casca de
homem que ele se tornara.

Então Jamil se forçou a agir como um ser consciente funcional. Ele


brincou com Tmynne por horas, ele fez questão de passar algum tempo com sua
família todos os dias, e ele se afundou no trabalho.

Ainda não conseguia dormir e, nas raras ocasiões em que o fazia, sonhava
com um toque mental caloroso e dolorosamente familiar, com braços fortes
envoltos em torno dele, uma voz rouca e levemente acentuada, chamando-o de
Amor, do sentimento absoluto de pertencimento e perfeição que o deixava oco
uma vez que Jamil acordava, com os olhos úmidos.

Quando Seyn acabou no centro de outro escândalo, pego beijando seu ex-
companheiro no baile, foi quase um alívio para Jamil. Esta era outra distração,
outra situação desastrosa que precisava de toda a sua atenção.

Ele não culpou Seyn, apesar de todos os problemas que seu


comportamento criara para a Casa deles.

Jamil ficou quieto enquanto suas mães mastigavam Seyn.

— Nós simplesmente não entendemos, Seyn —, disse a Rainha por fim,


sacudindo a cabeça. — Aquele homem te humilhou da pior maneira possível.
Ele tratou você de forma abominável por anos, você disse que estava feliz por
se livrar dele e agora você é pego beijando-o em público enquanto você está
prometido a outra pessoa! Eu não consegui olhar o embaixador Xander nos
olhos!
Seyn baixou o olhar. — Sinto muito, mãe —, ele murmurou. — Eu não
pretendia colocá-la em uma posição desconfortável.

— Então por que, Seyn?

Seyn levantou o olhar e sorriu, um pouco culpado. Havia felicidade em


seus olhos, brilhando apesar de sua culpa. — Eu o amo. Sempre foi ele para
mim. Ele... ele propôs para mim e tudo mais. Ele me escolheu, mãe. — Ele
parecia tonto.

O olhar da Rainha se suavizou.

Ela suspirou. — Oh, Seyn. — Ela o puxou para perto e o abraçou. —


Estou feliz por você, querido. Eu só queria que você e Ksar tivessem resolvido
mais cedo, sem ferir outras pessoas e criar escândalos desnecessários.

Seyn deu de ombros, sem parecer particularmente triste. Ele realmente se


sentia feliz, feliz de uma maneira que Jamil nunca tinha visto. E por que o Seyn
não estaria? Ele estava apaixonado, seus sentimentos eram correspondidos e
agora ele poderia estar com o homem que amava. Claro que ele estava feliz.

Jamil desviou o olhar. — Espero que Ksar saiba o que ele está fazendo. O
Conselho vai ficar furioso com ele por desperdiçar seu tempo. — Ksar era um
excelente e altamente respeitado político, mas mesmo ele teria dificuldade em
navegar naquele campo minado de sua própria criação. O Conselho havia feito
uma exceção para Ksar, permitindo que ele quebrasse seu vínculo de infância
com Seyn, algo inédito, e agora a reviravolta completa de Ksar não agradaria
ninguém.

Seyn deu de ombros. — Sim, mas tenho certeza que Ksar poderá lidar
com isso.
Jamil sorriu um pouco. A total confiança de Seyn na capacidade de Ksar
de lidar com qualquer coisa era bastante cativante. Ou melhor, seria cativante se
o objeto da devoção de Seyn fosse alguém diferente de Ksar. Depois do último
e menos que agradável encontro de Jamil com Ksar, ele achava difícil associar
aquele homem impiedoso e arrogante com a palavra cativante.

Pensar em seu último encontro com Ksar inevitavelmente o levou a


pensar sobre o que acontecera depois. Os braços de Rohan se envolveram
firmemente em torno dele, a voz de Rohan, confortando-o e sussurrando doces
palavras, seu corpo firme pressionado firmemente contra o seu, seu familiar e
masculino perfume...

Jamil se virou, envolvendo os braços ao redor de si.

Deuses.

Ele desejou que Mehmer nunca tivesse morrido. Ele desejou nunca ter
encontrado Rohan. Ele desejou que ele nunca conhecesse esse desejo profundo
e cru. Ele estava feliz com Mehmer; ele realmente estava. Seus sentimentos por
Mehmer poderiam nunca ter sido tão profundos e intensos, mas ele estava
perfeitamente feliz por não saber que sentimentos tão intensos eram possíveis.

Ele tinha ouvido em algum lugar que era melhor ter amado e perdido do
que nunca ter amado. Como alguém que experimentara a felicidade com dois
homens diferentes e depois os perdera, Jamil queria bater em quem dissera isso.
Ou talvez fosse verdade sobre seu relacionamento com Mehmer: pensar em seu
relacionamento confortável trouxe um sorriso carinhoso e melancólico aos
lábios agora. Pensar em Rohan só trouxe uma dor angustiante em sua alma, um
desejo tão intenso que ele queria se enrolar em uma bola miserável de dor e
nunca acordar.

Talvez tudo o que ele precisasse fosse tempo.


O tempo supostamente curava tudo, certo?

O problema era que uma parte dele não queria curar. Essa parte dele não
parecia deixar ir sua ilógica esperança de que tudo funcionaria milagrosamente.

Eu voltarei para você, Rohan havia prometido.

Na época, Jamil quase acreditou nele. Era tão fácil acreditar em qualquer
coisa quando ele estava preso na segurança dos braços de Rohan e Rohan
estava olhando para ele como se ele fosse o seu mundo.

Agora ele o odiava por dizer isso a ele. Rohan não tinha o direito de lhe
fazer promessas que ele quase certamente não seria capaz de cumprir.

E, no entanto, ele ainda tinha esperanças — irracionalmente,


ilogicamente, contra o seu melhor julgamento.

Mas dois dias depois, aquela minúscula centelha de esperança foi


completamente destruída.
CAPÍTULO 25
Jamil estava brincando com Tmynne quando ouviu a comoção. — Vossa
Alteza! Vossa Alteza!

Franzindo a testa, ele olhou para a empregada que praticamente explodiu


pela porta. — Qual é o problema?

A empregada estava corada, os olhos arregalados. — Ele está de volta,


Vossa Alteza!

Contra toda lógica e racionalidade, o coração de Jamil pulou. — Quem


está de volta?

A empregada sorriu. — Seu marido, alteza! Ele não está morto! — Jamil
quase derrubou Tmynne.

— Aparentemente ele apenas perdeu a memória e tem vivido com algum


eremita que não tinha ideia de quem ele era! Você pode acreditar nisso? Oh,
você deve estar tão feliz, Alteza! Vossa Alteza? Você está bem?

Jamil sentou-se pesadamente, olhando sem realmente enxergar a frente


dele. Provavelmente sentindo seu choque, Tmynne ficou nervosa, tentando se
esquivar de seus braços. Instintivamente, Jamil a puxou para mais perto, sua
mente ainda incapaz de processar o que estava acontecendo.

Mehmer estava vivo? Como? Por que — Mehmer estava vivo!

O choque finalmente recuou, mudando para descrença e alegria.

Ele começou a sorrir, mas seu sorriso morreu antes de estar


completamente formado.

De repente, ele não conseguia respirar.


Se Mehmer estivesse vivo... se Mehmer estivesse de alguma forma vivo,
ele ainda era o marido de Jamil. Todo esse tempo, no último ano e meio, ele
tinha sido o marido de Jamil — o que significava que Jamil o havia traído
repetidamente.

Náusea subiu para sua garganta. Colocando Tmynne para baixo, Jamil
cambaleou até o banheiro e trancou a porta com os dedos trêmulos.

O desejo de vomitar passou, mas ele não se sentiu melhor. O homem que
ele viu no espelho parecia à beira de desmaiar, seus olhos atordoados e seu
rosto mortalmente pálido.

Ele deslizou para o chão frio e respirou.

Ele podia ouvir o choro confuso de Tmynne e as tentativas da empregada


de acalmá-la. Ele podia ouvir sua própria respiração ofegante. Ele podia sentir
seu corpo, tremendo incontrolavelmente. Ele estava tendo um ataque de
pânico?

Controle-se. Você é o Príncipe Herdeiro.

Mas desta vez, esse mantra não funcionou.

Você é pai. Sua filha precisa de você para cuidar dela.

Isso funcionou, um pouco, mas não inteiramente. Ele não sentia como se
pudesse cuidar de alguém no momento. Ele queria ser cuidado.

Ele queria Rohan.

O pensamento o deixou fisicamente doente, mas Jamil não conseguia


apagar — assim como ele não podia lutar contra as lágrimas quentes que
queimavam seus olhos até que sua visão ficou embaçada quando seu coração se
partiu novamente.
Ele fechou os olhos e se perguntou o que ele teria feito em sua vida
passada para merecer isso.

***

Oh, você deve estar tão feliz, Vossa Alteza!

Jamil ouviu uma variação disso provavelmente umas cem vezes enquanto
caminhava em direção aos aposentos de Mehmer, na outra extremidade da ala
do palácio do Príncipe Herdeiro. Servos sorriam para ele — até os guardas
tinham sorrisos em seus rostos normalmente estoicos — e a Rainha Consorte
sorria para ele da porta dos aposentos de Mehmer.

— Oh, querido. — Ela o abraçou com força. — Estou tão feliz por você!

Sua mãe ainda estava dizendo alguma coisa, mas Jamil mal conseguia
ouvi-la, quase entorpecido por dentro.

— Jamil? — Sua mãe se afastou e franziu a testa para ele. — Você está
bem? Eu sei que deve ser um choque, mas...

— Estou bem, mãe. — Jamil forçou um sorriso. — Apenas chocado. Ele


está lá?

A Rainha Consorte assentiu, ainda franzindo a testa.

Querendo escapar de seu olhar penetrante, Jamil entrou no quarto de


Mehmer.

O quarto era tão familiar para ele quanto o dele. Ele costumava passar a
noite aqui, adormecendo com Mehmer em seus braços. Ele tinha sido feliz
neste quarto.

Ele tentou sentir de novo. Felicidade.

Ele sentiu um lampejo quando viu Mehmer na cama, sendo cuidado pelo
médico real. As características familiares e queridas de Mehmer estavam
levemente afundadas e sua pele estava estranhamente pálida, mas era sem
dúvida ele. Até aquele momento, parte de Jamil tinha pensado que era algum
tipo de piada de mau gosto. Agora ele sabia com certeza que não era.

Mehmer estava vivo.

Mehmer estava de volta.

Tudo estava voltando agora para o jeito que costumava ser.

Mehmer levantou os olhos castanhos e sorriu amplamente quando viu


Jamil. — Oi, ele disse suavemente, estendendo a mão.

Jamil se aproximou, pegou a mão dele e depois desmoronou ao lado da


cama, suas pernas não o seguravam mais. Ele enterrou o rosto contra o peito de
Mehmer, respirando com dificuldade, como se houvesse algo errado com seus
pulmões.

Mehmer apertou sua mão e soltou uma risada incerta. — Ei, não há
necessidade disso. Estou aqui agora, amor.

Jamil se encolheu com a palavra. A voz estava errada, tudo estava errado
— o cheiro de Mehmer, a forma de sua mão, a sensação de seu peito — tudo
estava errado. Náusea subiu para sua garganta novamente. O que havia de
errado com ele? Ele realmente queria que Mehmer estivesse morto? Em
Calluvia, o casamento era para a vida inteira. Mehmer era seu marido. Ele era o
companheiro confiável e vitalício de Jamil. Eles eram melhores amigos desde
antes de poderem falar. Ele o amava, pelo amor de Deus.
Mehmer estava vivo. Essa era a parte importante.

Jamil levantou a cabeça e olhou nos olhos de Mehmer. — O que, o que


aconteceu? — Ele conseguiu. — Onde você esteve esse tempo todo?

Uma ruga apareceu entre as sobrancelhas de Mehmer. — É tudo um


pouco confuso na minha cabeça, para ser honesto. Eu não lembrava o meu
próprio nome por muito tempo. O velho que me encontrou na floresta disse que
eu tive um traumatismo craniano e delirei durante meses. Aparentemente eu
não conseguia nem manter minha memória de curto prazo — ficava esquecendo
o que tinha acontecido no dia anterior.

— E ele não reconheceu você? — Jamil achou difícil de acreditar. Algo


parecia muito estranho sobre esta história toda. Por que a aeronave de Mehmer
se desintegrou, então? Quem desintegrou? E um traumatismo craniano poderia
explicar porque seu vínculo de infância foi dilacerado como se Mehmer tivesse
morrido?

Mehmer sacudiu a cabeça. — Ele é um homem de duzentos anos que vive


longe da civilização. Ele não segue exatamente as revistas de fofocas sobre os
membros da realeza. Ele nem sequer tinha acesso à Internet Global. Ele não
tinha ideia de quem eu era até que eu me lembrei de tudo.

Guardando suas dúvidas, Jamil apertou a mão de Mehmer e colocou um


sorriso encorajador que usava normalmente em torno de Mehmer. Parecia não
natural no rosto dele, depois de tanto tempo. — Ok. Você está aqui agora. Essa
é a parte importante.

Mehmer sorriu de volta e estremeceu, agarrando sua cabeça. — Você se


importa se conversarmos depois? Minha cabeça ainda está me matando.

— Claro —, Jamil disse, escondendo seu próprio alívio. — Você deveria


descansar. — Ele gesticulou para o médico real para segui-lo para fora do
quarto, e se virou para ele uma vez que eles estavam do lado de fora. Sua mãe
estava longe de ser vista, provavelmente foi contar as novidades para a Rainha.

— Como ele está? — Jamil disse.

— O Príncipe-Consorte está com uma saúde satisfatória, Vossa Alteza.


Seu traumatismo craniano foi muito mal tratado sob cuidados não profissionais,
mas não deve ter consequências a longo prazo para sua saúde. — Ele hesitou.
— Obviamente eu também fiz alguns testes de segurança. É um procedimento
normal quando alguém que foi declarado morto é subitamente encontrado vivo.

Jamil assentiu, estremecendo um pouco. Houve precedentes de clones de


figuras políticas falecidas sendo enviadas para assumir sua posição. Aconteceu
raramente, mas com frequência suficiente para fazer testes de segurança, o
procedimento normal em tais casos.

O médico sorriu. — Fico feliz em informar a você que o Príncipe-


Consorte realmente está de volta, Vossa Alteza. É ele, sem dúvida.

Jamil agradeceu ao médico e saiu.

No caminho de volta para o quarto de Tmynne, ele foi parado pelas


pessoas sorridentes e empolgadas ansiosas para lhe dizer como estavam felizes
por ele. Jamil sorriu de volta, agradeceu e continuou andando.

Ele dispensou a enfermeira de Tmynne e trancou a porta atrás dela.

Ele pressionou a testa contra a porta, respirando fundo, estremecendo.

Tmynne fez um som exigente.

Lentamente, Jamil se virou e olhou para sua filha de cinco meses.

Filha de Rohan.
Com a garganta doendo, ele pegou Tmynne em seus braços e embalou-a
contra o peito.

Fechando os olhos, Jamil respirou seu doce aroma e choramingou como


um animal ferido.
CAPÍTULO 26

A coisa de morar em um planeta que não tinha acesso à Internet Global


era que eles recebiam notícias galácticas muito atrasadas. Claro, ainda havia
maneiras de obter notícias razoavelmente rápidas: Rohan tinha naves espaciais
patrulhando a zona de guerra de Shibal-Kuvasi, e eles monitoravam a Internet
Global em busca de qualquer coisa que pudesse ser urgente e relevante para os
interesses de Tai’Lehr. Seu pessoal poderia gravar as notícias e entregá-las em
um transporte para Tai'Lehr, se necessário. Mas não era muito eficiente, e
geralmente Rohan não insistia nisso, a menos que as notícias parecessem de
maior importância. Era por isso que as antigas revistas de papel ainda eram tão
populares em Tai'Lehr — chegavam mais rápido aos contrabandistas e
geralmente eram mais confiáveis do que as notícias incompreensivelmente
distorcidas só porque alguém ouvira algo errado.

Foi assim que Rohan descobriu.

Ele olhou para a revista brilhante que foi depositada em sua mesa entre
muitas outras e no começo ele não entendia o que estava vendo.

FINAL FELIZ

O CASAL DE OURO REUNIDO

AMOR QUE DESAFIOU A MORTE

Na capa, Jamil sorria para um homem bonito, de cabelos dourados, que


tinha um braço ao redor da cintura de Jamil.

Sua visão ficou vermelha tão rápido que por um momento Rohan nem
sequer reconheceu aquele homem. Seu cérebro não conseguia raciocinar ou
recusar. Distantemente, ele podia entender o que o artigo estava dizendo: o
Príncipe Consorte, vivo, de volta com Jamil, casamento de conto de fadas, e
assim por diante.

Uma raiva selvagem se alojou em seu peito. Agora a diversão de Idhron


fazia muito mais sentido. Rohan pediu — exigiu — que o nome dos rebeldes
fosse inocentado do assassinato de Mehmer. Idhron manteve seu lado do
acordo, tecnicamente.

Isso ensinaria a como fazer acordos com o diabo.

Amassando a revista em sua mão, Rohan olhou sem realmente enxergar a


frente dele. Parte dele, a parte distante que ainda era capaz de pensar como o
governador da colônia, sabia que era uma boa notícia, excelente notícia. Com o
Príncipe-Consorte miraculosamente vivo, a principal razão para a má impressão
se foi. Agora nada impedia que eles seguissem seus planos.

Mas seus pensamentos continuavam voltando àquela mão na cintura de


Jamil, a mão que pertencia a outro homem, que tocava Jamil como se fosse seu
direito.

Mas, novamente, era. Esse homem era o marido de Jamil. Ele tinha todo
o direito de tocar em Jamil, todo direito de beijá-lo, segurá-lo perto.

Um grunhido, baixo e gutural, foi arrancado de sua garganta.

Rohan respirou profundamente, tentando controlar sua raiva.

Este não era ele. Ele não era um cabeça quente como Warrehn, incapaz de
controlar seu temperamento. Ele sempre se orgulhava de sua capacidade de
manter a cabeça fria e manter o controle de suas emoções quando necessário.
Ele não deveria se sentir pronto para matar um homem que nunca conheceu, um
homem que, segundo todos os relatos, era um bom homem, só porque — só
porque cobiçava o marido daquele homem.

O pensamento fez Rohan apertar as mãos em punhos. Tudo nele se


rebelara com a ideia de Jamil pertencer a alguém além dele. Sentiu-se enjoado
ao pensar que, neste exato momento, o Príncipe-Consorte poderia estar
beijando os lábios macios e bonitos de Jamil, ele poderia estar colocando a boca
e as mãos em todo o corpo de Jamil.

O pensamento era enlouquecedor, mas por que ele não estaria? Sob a lei,
Mehmer tinha todo o direito. Ele era o cônjuge de Jamil. Ele tocou e fodeu
Jamil muito antes de Rohan o conhecer. Ele foi o primeiro de Jamil: primeiro
beijo, primeira experiência sexual, primeiro amor. Jamil provavelmente estava
muito feliz agora. Ele com certeza parecia feliz naquelas fotos, com o marido
todo em cima dele.

Pare de pensar nisso, droga. Você é um masoquista do caralho?

Rohan caiu em sua cadeira e fechou os olhos, tentando se acalmar.

Inspira, expira.

Não funcionou.

Ele queria uma bebida.

Controle-se. Você precisa pensar na colônia. Você pode se embebedar


mais tarde.

Agora não é a hora.

Fechando sua mandíbula, Rohan abriu os olhos e ligou o interfone. Ele


disse ao seu secretário: — Convoque uma reunião de emergência no Senado,
Yiesme.
***

No final, depois de mais de meio dia de debates acalorados que duraram


até tarde da noite, eles decidiram o plano mais simples: abordar Calluvia como
uma delegação oficial de Tai'Lehr e solicitar uma audiência com a Rainha do
Terceiro Grande Clã, desde que ela era a monarca deles. Dependendo de como
a reunião ocorresse, eles solicitariam a saída da colônia de Calluvia ou a
legalização de seu status.

Rohan não gostou do plano. Ele queria abordar o Conselho diretamente,


em vez de se aproximar primeiro do Terceiro Grande Clã, mas tinha sido
superado, apesar de ter um terço dos votos no Senado. Em momentos como
este, Rohan não podia deixar de pensar com carinho no tempo em que o
governador tinha o poder absoluto.

Sentiu-se enjoado com o simples pensamento de voltar para a casa de


Jamil como um estranho e ver Jamil feliz com seu precioso Mehmer, vendo sua
filha nos braços de outro homem. Intoxicava ele, como um veneno.

— O que tem de errado com você? — Sirri disse após o término da


reunião. — Você estava agindo como se estivesse em um funeral!

Rohan se virou, sem humor para aguentar Sirri agora.

Verdade seja dita, ele não estava com disposição para nada. Ele estava
cansado, fisicamente e mentalmente, e sofria querendo aquela garrafa de vodka
Shibian que ele tinha em seu escritório e o doce esquecimento que isso traria.
Ele não queria pensar agora, com a cabeça muito confusa e o peito muito
apertado.
— Apenas deixe isso para lá, Sirri —, ele murmurou sem entusiasmo,
afastando-se dela.

— Seja o que for, é melhor você estar melhor amanhã! —, ela gritou a
suas costas. Eles teriam outra reunião antes de partirem para Calluvia depois de
amanhã.

— Eu vou estar —, Rohan murmurou, um sorriso sem humor torcendo


em seu rosto quando ele entrou em seu escritório e trancou a porta.

Ele caminhou até o minibar que ele mantinha principalmente para seus
visitantes.

Abrindo a garrafa de vodka Shibian, Rohan tomou um grande gole,


deixando a bebida queimar sua garganta.

Amanhã ele estaria melhor.

Amanhã, ele seria o governador que seu povo precisava, pronto para
cumprir seu dever.

Mas esta noite, ele era apenas um homem.


CAPÍTULO 27

O Príncipe-Consorte Mehmer encostou-se à porta, observando o marido


dar um beijo de boa noite em sua filha.

Em todos os anos de seu casamento, ele nunca tinha visto Jamil tão...
suave. Com certeza, a criança era ridiculamente fofa, mas ainda assim. Jamil
segurava a criança como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo, inalando
seu perfume profundamente, como se ela fosse algo mais do que uma pessoa
minúscula que só fazia comer, cagar e dormir.

— Ela se parece com você —, disse Mehmer.

As costas de Jamil ficaram rígidas. Beijando Tmynne na testa, ele a


colocou no berço e murmurou alguma coisa para sua enfermeira.

— Sim, todo mundo diz —, Jamil disse com um sorriso que não chegou a
seus olhos. Ele praticamente empurrou Mehmer para fora do quarto da criança e
fechou a porta.

Mehmer levantou as sobrancelhas. Não pela primeira vez, ele teve a


impressão de que Jamil não gostava quando ele chegava perto de sua filha — o
que era muito estranho, considerando que Mehmer tinha sido magnânimo o
bastante para dizer ao marido que ele criaria a criança como sua própria filha.
Ele havia dito a Jamil que ele entendia que Jamil precisava de um herdeiro e
não tinha escolha, além de ter que usar o material genético de outro homem. Ele
esperava... não gratidão, exatamente, mas... algo além dessa estranha
possessividade.
Alguém poderia pensar que Jamil não queria que ele fosse o pai da
menina.

Não era a única coisa estranha sobre o comportamento de Jamil.

Ele parecia estranhamente distante. Mesmo agora, Jamil estava


caminhando em direção ao seu quarto como se esperasse que Mehmer não
conseguisse acompanhá-lo. Estava começando a irritá-lo, para ser honesto.
Mehmer olhou para as costas de Jamil. Contra sua vontade, seu olhar viajou
para baixo, para a bunda perfeita e redonda de Jamil, e seu pênis se contraiu
quando ele se lembrou de cavar seus dedos nela enquanto Jamil o fodia naquela
noite antes de sua... morte.

Droga, ele estava tão excitado. Ele tinha o homem mais bonito do planeta
como marido e estava sexualmente frustrado como o inferno, porque o tal
marido não demonstrara qualquer interesse em levá-lo para cama. Inferno,
Jamil nem tinha beijado ele de verdade desde o seu retorno, tratando-o como se
ele tivesse uma lesão com risco de vida. Mehmer tentou ser paciente, ele
realmente tentou — ele sabia o quão preocupado Jamil poderia ser — mas um
homem tinha limites, ok?

Mehmer seguiu Jamil para o seu quarto, determinado a descobrir a


verdade — e esperançosamente finalmente ser fodido.

— Você está me evitando, Jamil?

Os ombros de Jamil ficaram tensos. Lentamente, ele se virou. Mehmer


lambeu os lábios, observando seus traços notavelmente bonitos. Jamil
conseguiu de alguma forma ser lindo sem parecer feminino, sua mandíbula
firme contrastando com seus lábios sensuais e seus cabelos castanhos
ondulados.

— Claro que não —, disse Jamil, desviando o olhar.


Mehmer zombou. — Certo. Foi atestado há três dias que eu estou
completamente saudável, mas você ainda não veio ao meu quarto.

A mandíbula de Jamil se contraiu levemente. Ele puxou sua gravata. —


Eu tenho estado ocupado com o trabalho.

Mehmer revirou os olhos. — Você sempre está. Isso nunca impediu você
de me foder.

O velho Jamil teria rido e dito a ele para parar de usar uma linguagem tão
vulgar.

Este Jamil apenas franziu os lábios, uma ruga aparecendo entre as


sobrancelhas.

Ele ainda não olhara para Mehmer.

Mehmer suspirou. Jamil sempre teve um pouco de pau na bunda dele; Era
provavelmente natural que ele tivesse ficado ainda mais nervoso sem Mehmer.

— Isso é sobre a nossa falta de vínculo? — Mehmer disse. — Quero


dizer, eu entendo que é um pouco estranho agora — nos sentimos um pouco
como estranhos, certo? Mas o constrangimento não desaparecerá se não
fizermos um esforço para ultrapassá-lo. — E, por “ultrapassá-lo”, ele
obviamente queria dizer foder o constrangimento enquanto metia no traseiro de
Mehmer.

— Provavelmente não ajuda que o nosso vínculo quebrou —, disse Jamil,


virando-se para desabotoar a jaqueta. — Um vínculo torna a intimidade mais
fácil.

As sobrancelhas de Mehmer se franziram. Se Jamil pensava em sexo em


termos de mais fácil, realmente havia algo errado. Eles sempre tiveram uma boa
vida sexual.
Com certeza, Jamil nunca pareceu tão entusiasmado com sexo quanto ele,
mas ele nunca o negou uma foda quando Mehmer estava de bom humor.

— O que há de errado, Jamil? — Mehmer disse com uma carranca, sua


excitação deixada de lado.

Jamil suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Eu tenho algo para lhe
dizer. — Ele ficou em silêncio por um tempo, ainda de costas para Mehmer. —
Quando você foi dado como morto, eu tive… eu tive um... caso com outro
homem.

Mehmer piscou. Ele teria ficado menos surpreso se Jamil dissesse que ele
estava rejeitando seus deveres de Príncipe Herdeiro. Ele também se sentiu um
pouco magoado, embora soubesse que era irracional. Ele havia sido
considerado morto. Ele não poderia esperar que seu viúvo fosse um monge pelo
resto de sua vida.

— Por que você está me contando isso? Você está se sentindo culpado por
isso? — Conhecendo Jamil, ele provavelmente estava se batendo por isso.
Mehmer balançou a cabeça com um sorriso irônico. Andando até Jamil, ele
segurou seu ombro e o forçou a olhar para ele. — É por isso que você não quer
me tocar? Porque você se sente culpado?

Os olhos de Jamil estavam cheios de emoções contraditórias. — Claro


que me sinto culpado —, disse ele com uma risada. — Mas não é só isso.

Mehmer procurou seu rosto.

Ele soltou uma risada incerta. — O que, você gostou tanto da bunda dele
que você não pode ficar duro com a minha?

A expressão de Jamil ficou comprimida. — Eu nunca... eu não fodi ele,


Mehmer. Ele me fodeu.
Oh.

Mehmer olhou para Jamil, absolutamente atordoado. Ele sempre achou


que Jamil gostava de estar por cima, que ele estava bem com Mehmer,
praticamente sempre sendo o único a ser fodido ao invés de vice-versa. Porra,
como ele não notou isso? Exceto que ele tinha notado. Ele sempre soube que
Jamil não era tão entusiasmado com sexo quanto ele, mas ele supunha que
Jamil tinha um baixo desejo sexual. Nem ocorrera a Mehmer que ele estava
sendo egoísta na cama.

— Podemos mudar, eu acho —, disse Mehmer, franzindo a testa. Jamil


era certamente bonito o suficiente para inspirar o desejo de ser fodido em
qualquer homem — qualquer homem, exceto Mehmer. Mehmer culpou seus
genes de retrocesso: ele era naturalmente submisso quando se tratava de sexo e
não tinha nenhuma inclinação para foder e tomar. As poucas vezes que ele
fodeu Jamil em todos os anos de seu casamento foram... não foram ruins,
exatamente... mas definitivamente estranho. Ainda assim, se Jamil realmente
preferisse ser fodido também, seria extremamente egoísta de Mehmer não
encontrar uma solução que fizessem todos felizes. — Eu poderia te foder —,
disse ele, mais firme, fingindo entusiasmo. — Às vezes.

Jamil soltou uma risada, balançando a cabeça. — Eu sei o quanto você


não gosta, então não é exatamente excitante forçá-lo a isso. E não é... não é
apenas sobre sexo, Mehmer. Eu preciso… — Ele se cortou, olhando para longe.

Mehmer franziu a testa novamente, estudando-o.

Sua boca se abriu. — Você se apegou.

Jamil se encolheu. Sua garganta trabalhando, ele olhou para baixo. —


Isso vai passar. Você é meu marido. Você é muito querido por mim. Eu vou
esquecê-lo. Eu vou. Eu prometo.
Mehmer se perguntou se Jamil percebeu como ele não parecia
convincente. Agora que Mehmer olhou para ele — realmente olhou para ele —
ele podia ver os círculos escuros sob os olhos de Jamil, o ar de desespero ao seu
redor. Apesar de ser alto e musculoso, Jamil nunca pareceu tão pequeno. Frágil.
Parecia que ele estava se segurando apenas pela pura força de vontade e poderia
quebrar à menor provocação.

Então Mehmer afastou sua própria mágoa e orgulho ferido e tentou ser
um bom amigo. Eles eram amigos antes de serem maridos, melhores amigos
desde de sempre. Isso não era nada que eles não pudessem superar. — Ei —,
ele disse suavemente. — Venha aqui. — Ele puxou o corpo tenso de Jamil em
um abraço e acariciou suas costas rígidas até que Jamil relaxou um pouco em
seus braços. O abraço ainda era um pouco desajeitado e estranho. Ele não
estava acostumado a abraçar Jamil e a dar-lhe conforto — normalmente era o
contrário, com Mehmer sendo o mais emocional e sensível. Sempre lhe pareceu
natural: Jamil era o irmão mais velho, o Príncipe Herdeiro, e sempre fora muito
melhor em ser o mais forte e responsável do que Mehmer. Mas naquele
momento, ele podia sentir que o homem que ele segurava em seus braços não
era capaz de ser sua rocha; Ele estava magro nas bordas e precisava de algo que
Mehmer estava mal equipado para fornecê-lo.

— Quem é ele? — Mehmer disse, sem saber por que ele estava
perguntando. Ele não sabia se queria dar um soco na cara por transformar Jamil
em alguém que Mehmer não reconhecia ou exigir que ele consertasse Jamil.

— Ninguém que você irá conhecer.


CAPÍTULO 28

Jamil sentou-se na sala do trono ao lado de sua mãe, com uma expressão
educada no rosto.

Ele nunca gostou dos dias da Corte. Antigamente, era uma oportunidade
para as pessoas comuns conseguirem uma audiência com seu monarca e
tentarem resolver seus problemas. Nos tempos modernos, nada mais era do que
uma oportunidade para os nobres se reunirem e fofocarem sobre tudo e todos.

Jamil mal conseguia se concentrar em sorrir e acenar para as pessoas que


se curvavam para ele. Sua noite sem sono certamente não ajudou sua
concentração.

A conversa da noite anterior com Mehmer tanto aliviou sua consciência


quanto o fez se sentir ainda mais culpado.

Nós vamos conseguir superar, Mehmer disse a ele, abraçando-o


desajeitadamente, e saindo.

Jamil não tinha certeza de como eles deviam superar quando até abraçar
Mehmer era completamente errado — quando desejava que os braços de outro
homem o envolvessem, a voz de outro homem sussurrasse palavras afetuosas
em seu ouvido — quando ele se sentia culpado por precisar de conforto,
sabendo que Mehmer queria que ele fosse o mais forte.

Até o retorno de Mehmer, Jamil tinha esquecido como era estar sob a
pressão constante em ser alguém perfeitamente no controle — em ser alguém
que ele não era. Com Mehmer, ele não podia se deixar ir, mesmo na privacidade
de seus próprios aposentos; ele sempre tinha que desempenhar o papel de um
homem que cuidaria de tudo. Ontem à noite, ele podia ver o quanto sua
fraqueza desestabilizou Mehmer. Isso fez Jamil se sentir ainda pior do que ele
já sentia. E pela primeira vez em sua vida, ele sentiu algo como ressentimento
em relação a Mehmer. Rohan nunca o fez se sentir mal por ser menos que o
perfeito Príncipe Herdeiro. Com Rohan, ele poderia ser tão fraco quanto
quisesse sem se sentir julgado; Rohan realmente parecia gostar de ser
necessário.

Jamil estremeceu, percebendo que mais uma vez, ele estava pensando
obsessivamente sobre Rohan quando deveria estar pensando em Mehmer, seu
marido. Seu marido gentil, maravilhoso e compreensivo que merecia algo
melhor.

Esses pensamentos culpados e inquietos o haviam atormentado a noite


toda. Ele não tinha dormido, então achara ainda mais difícil se concentrar na
corte do que normalmente era.

Mais tarde, Jamil culparia seu esgotamento por sua desatenção.

Dessa forma, ele só notou Rohan quando ele levantou os olhos e o viu
praticamente na frente dele.

Por um momento, Jamil achou que estava alucinando. Não seria a


primeira vez que ele imaginara Rohan voltando. Mas nunca imaginou encontrar
Rohan na sala do trono de sua mãe.

Jamil olhou para ele, sentindo-se atordoado.

Rohan parecia... normal: suas tatuagens estavam escondidas sob suas


mangas compridas e gravata impecavelmente amarrada, e suas roupas elegantes
escondiam a força crua e agressiva de seu corpo. Ele parecia um aristocrata
comum vindo cumprimentar seu monarca.
O que ele era, percebeu Jamil aturdido, observando Rohan se curvar
diante da Rainha, que estava em seu trono ao lado de Jamil.

A Rainha Janesh assentiu graciosamente. — Tenho o prazer de finalmente


conhecê-lo, Senhor Tai'Lehr. Minhas condolências pela morte do seu pai.

— Obrigado, Vossa Majestade.

Jamil estremeceu com aquela voz levemente acentuada e baixa, tão


familiar e...

Pare com isso. Você é casado. Você está em uma sala cheia de pessoas
que observam você, esperando pelo menor passo em falso.

— Permita-me apresentar-lhe o meu filho e herdeiro, o Príncipe Herdeiro


Jamil'ngh'veighli —, disse a Rainha, apontando para Jamil.

Finalmente — finalmente — Rohan olhou para ele, seus olhos ilegíveis.

Nada aconteceu.

O vínculo na parte de trás da mente de Jamil nem sequer se mexeu, como


se Rohan não estivesse bem ali na frente dele. A atração mental que ele
costumava sentir sempre que eles se olhavam nos olhos não estava lá também.

Isso fez Jamil questionar sua sanidade. Isso era real? Por que ele podia
ver Rohan, mas ele não conseguia senti-lo?

E por que, quando não havia atração mental, ele ainda se sentia como
uma pessoa faminta quando olhava para Rohan?

Jamil lambeu os lábios secos, esperando que ele não parecesse tão
perdido quanto se sentia.
— Vossa Alteza —, disse Rohan depois do que pareceu uma eternidade,
dando-lhe uma reverência impecável e impessoal.

Jamil apenas balançou a cabeça, incapaz de falar.

Ele ficou incrivelmente aliviado quando sua mãe falou.

— Estamos muito felizes em ter vocês aqui —, disse a Rainha, sorrindo


graciosamente. — Faz muito tempo desde que tivemos uma delegação de
Tai'Lehr. Você e seu povo vão ficar no palácio, é claro.

O estômago de Jamil se contorceu de medo. Não. Por favor não. Ele não
era forte o suficiente.

— Obrigado, Vossa Majestade —, Rohan disse com outra reverência. Ele


olhou ao redor da sala. — Posso pedir uma audiência particular com você, para
discutir assuntos do estado, Vossa Majestade?

As sobrancelhas da Rainha se levantaram ligeiramente. — Claro —, disse


ela depois de um momento. — Mas tenho certeza de que você está cansado
depois de sua longa jornada. Tenho reuniões hoje que não posso adiar, mas acho
que tenho tempo amanhã de manhã. — Ela olhou para a sua secretária, que
assentiu.

Jamil mal pôde ouvir o restante.

Rohan estava realmente lá. Rohan manteve sua promessa e voltou. Exceto
que isso não importava mais, importava?

Jamil engoliu em seco, olhando para as mãos.

Ele estava apenas vagamente ciente de sua mãe e Rohan trocando


algumas palavras sem sentido, de olhares curiosos dirigidos a Rohan e seu
povo, de flashes das holocâmeras, de sussurros que facilmente alcançavam seus
ouvidos.

— Faz décadas desde a última delegação de Tai'Lehr.

— Eu pensei que era impossível viajar pela zona de guerra?

— Eles devem estar aqui em algum negócio importante.

— Você viu os olhos dele? Do Senhor Tai'Lehr? Eu nunca vi olhos tão


negros.

— Esqueça seus olhos, você viu a pele dele? Parece que ele passa o dia
todo no sol!

— Tai'Lehr é um deserto? Deve ser quente lá.

Uma parte dele não podia acreditar que ninguém reconhecera Rohan
como o criado que ele teve por um breve período. Mas, novamente, ninguém
notava os servos. E Rohan sempre se certificou de limpar as lembranças das
pessoas ou de obrigá-las a não o notar.

— Jamil?

Recuando, Jamil olhou para sua mãe e corou, percebendo que ela já
estava de pé e devia estar tentando chamar a atenção dele por algum tempo.

— Sim, Vossa Majestade? — Ele disse, levantando-se também. Foi


preciso um esforço incrível para não olhar para o homem à sua direita.

Sou casado, casado e casado.

— Querido, certifique-se de que Lorde Tai'Lehr e seu povo estejam


confortáveis, sim?
Limpando a garganta, Jamil disse, olhando na frente dele, — Por favor,
siga-me. — Ele se dirigiu para Weyrn, seu Mestre da Casa, sem olhar para trás,
mas sabendo que Rohan e as três pessoas que ele trouxe estavam seguindo-o.
Weyrn conheceu Rohan como um treinador zywern, mas ele olhou para Rohan
como se estivesse vendo-o pela primeira vez em sua vida. Isso fez Jamil
questionar sua sanidade novamente. Não parecia real.

Nada disso parecia real.

Ele falou com Weyrn e pediu que ele encontrasse apartamentos


apropriados para o séquito de Rohan. Weyrn disse alguma coisa. Jamil disse
algo de volta. Tudo soava vagamente sensato, mas ele não seria capaz de repetir
o que eles estavam dizendo se sua vida dependesse disso.

Era tudo tão surreal.

Os joelhos de Jamil estavam instáveis. Seu corpo parecia não pertencer


mais a ele, fazendo coisas no piloto automático, independentemente de seu
cérebro. Seu cérebro parecia ser independente de seu coração também. Não
importa quantas vezes ele disse a si mesmo que era casado, que nada poderia
acontecer entre eles, seu coração doía. Doía e machucava. Ele queria se virar,
agarrar-se a Rohan e implorar a ele que o levasse embora, seu dever e seu
marido que se danassem.

Mas é claro que ele não podia. Ele era o Príncipe Herdeiro. Ele tinha um
marido e este não era o homem que estava andando alguns passos atrás dele.
Rohan era seu senhor vassalo. Mehmer era seu marido.

Jamil repetiu como um mantra, como um feitiço, como se fosse tudo o


que ele tinha para se manter são, enquanto acompanhava os convidados para o
apartamento. Normalmente, ele não se incomodaria. Não era o trabalho do
Príncipe Herdeiro. Weyrn poderia ter conseguido fazê-lo perfeitamente bem por
conta própria. Mas Jamil não conseguiu sair, ainda não. Mesmo o conhecimento
de que nunca poderia haver algo entre eles não matou completamente a
felicidade primitiva que ele sentia pela mera proximidade de Rohan. Ele se
sentia mais vivo do que sentia em eras, como se tudo estivesse finalmente certo
com o mundo.

Nada estava certo com o mundo.

Por fim, chegaram aos aposentos. Jamil lutou para manter uma expressão
educada em seu rosto enquanto Weyrn mostrava os quartos para o povo de
Rohan.

Rohan ficou para trás.

Jamil também.

No momento em que estavam sozinhos na sala de estar do apartamento,


Rohan limpou a garganta.

— Como você está? — Rohan disse secamente, sem olhar para ele, sua
mente como uma fortaleza impenetrável.

— Bem —, Jamil mentiu, olhando para baixo.

Ele podia ver a mão de Rohan se fechando em um punho. — Parabéns


pelo retorno do Príncipe-Consorte.

Jamil assentiu.

— Você deve estar em êxtase.

Seu olhar foi para Rohan.

Seus olhos se trancaram e tudo simplesmente sumiu. Não era o elo deles
ou o Fit — sua compatibilidade mental ainda estava curiosamente perdida —
apenas os olhos de Rohan fixos nos dele.
Jamil não sabia o que estava em seus olhos, mas os de Rohan era um
poço sem fundo de raiva e desejo. Um abismo negro. Eles eram tão cativantes.
Tão fácil de se deixar afundar.

A mente de Jamil surgiu em direção a ele, roçando os escudos de Rohan


desesperadamente. Me deixe entrar, me toque, me toque, porque eu não posso te
sentir?

A mandíbula de Rohan se tensionou. Ele olhou para Jamil.

— Desculpe —, Jamil murmurou, corando e olhando para baixo,


absolutamente mortificado.

Ele podia sentir o olhar de Rohan em seu rosto, intenso e pesado. Jamil
mordeu o lábio inferior e olhou para ele por baixo dos cílios.

A expressão de pedra de Rohan se despedaçou.

Em dois longos passos, ele estava na frente de Jamil. Suas mãos estavam
estendendo a mão para o rosto de Jamil quando Jamil conseguiu dizer: — Sou
casado.

Rohan recuou, como um zywern refreado de volta.

E foi uma coisa boa, porque naquele momento, Weyrn retornou, e seus
olhos estavam muito curiosos para o gosto de Jamil.

Recuperando-se, Rohan deu a ele uma reverência formal. — Obrigado


por sua hospitalidade, Vossa Alteza —, disse ele. Ele hesitou antes de pegar a
mão de Jamil e apertá-la com a sua.

Jamil mal conseguiu manter seu sorriso educado.

Não havia nada errado ou inapropriado no gesto de Rohan. Era um pouco


antiquado, mas ainda uma maneira perfeitamente aceitável de demonstrar
gratidão e respeito.

O que era inapropriado era o jeito que os dedos pálidos de Jamil tremiam
e se agarravam aos mais escuros de Rohan, incapazes de soltar.

As narinas de Rohan se alargaram, sua mandíbula se contraiu.

Por uma fração de segundo, os dedos de Rohan apertaram os Jamil antes


de lentamente soltá-los. Jamil quase choramingou quando se separaram.

Não confiando mais em seu rosto, ele se afastou rapidamente.

Ele não tinha ideia de como chegara aos seus aposentos.

Assim que a porta foi fechada atrás dele, Jamil recuou e olhou para a
mão. Seus dedos ainda estavam tremendo. Ele estava tremendo, por toda parte,
como um viciado que tinha permissão para ver sua droga favorita antes que ela
fosse cruelmente retirada novamente.

Com um pequeno som, Jamil levou a mão trêmula ao rosto, respirando


profundamente, avidamente. O aroma de Rohan, tão familiar e bom, ainda se
agarrava a ele, ou talvez ele estivesse desesperado o suficiente para imaginar
que sim. Jamil pressionou os lábios trêmulos na mão, beijando e acariciando
enquanto empurrava a outra mão em suas calças, acariciando sua ereção com
golpes rápidos e desesperados, os olhos negros de Rohan impressos por trás de
suas pálpebras.

Demorou um tempo embaraçosamente curto para ele gozar.

Quando o fez, Jamil deslizou para o chão e abraçou os joelhos ao peito,


sentindo-se mais do que patético.

Patético. Confuso. Infiel.


A pior parte era o conhecimento de que se Rohan entrasse no quarto
naquele momento, Jamil iria abrir as pernas para ele imediatamente, sua
consciência que se danasse. Ou talvez não tenha sido essa parte que mais o
assustou.

Ele estava com medo porque isso não parecia errado.


CAPÍTULO 29

— Que porra foi essa?

Rohan desviou o olhar do cercado zywern que era visível da janela do seu
quarto. — O que?

Warrehn deu-lhe um olhar duro e, depois de olhar para a sala de estar


onde Sirri e Derrel estavam conversando, fechou a porta e cruzou os braços
sobre o peito volumoso. — O Príncipe.

Rohan afrouxou sua gravata. — O que tem ele?

Warrehn deu-lhe um olhar plano. — Corte a porcaria da enrolação. Você


olhou para ele como se quisesse colocar sua boca em cima dele. E seus escudos
começaram a vazar emoções no momento em que você o viu na sala do trono.
No começo eu não conseguia entender quem estava fazendo isso, mas não
demorei muito para descobrir, com a maneira que você olhava para ele.

O queixo de Rohan rangeu. Então aparentemente usar um inibidor de


vínculo não o ajudava a se manter inteiro. Ele esperava que a incapacidade de
sentir a atração mental por Jamil o impedisse de ser tão óbvio. Verdade seja
dita, ele esperava que o inibidor de ligação fizesse com que ele não sentisse
nada por Jamil — afinal de contas, todo o seu relacionamento tinha começado
porque eles tinham sido incapazes de resistir à atração mental um pelo outro.
Mas o inibidor não mudou nada no que diz respeito às suas emoções; isso
apenas o fez se sentir mais frustrado por causa de sua incapacidade de sentir a
mente de Jamil em um nível mais íntimo do que um muito superficial.

— Fique fora disso, Warrehn —, disse Rohan, sua voz mais rude do que
ele gostaria. — Isso não é da sua conta.
Warrehn franziu a testa. — Desde quando esse príncipe é da sua conta?
Isso é o que eu não entendo. — Seus lábios se torceram em um sorriso raro. —
Quero dizer, eu entendo a situação: ele tem um rosto lindo e uma bunda
igualmente legal, bom o suficiente para fazer até mesmo um hétero como você
olhar, mas não foi apenas a luxúria que eu senti.

Lutando contra o desejo de bater em Warrehn por falar sobre Jamil desse
modo, Rohan desviou o olhar. Ele considerou mentir, mas depois pensou
melhor. Ele queria falar sobre isso com alguém. Se ele não falasse com alguém,
ele poderia explodir. Ele precisava que Warrehn colocasse um pouco de juízo
em sua cabeça antes que ele fizesse algo maluco.

O fato de que ele queria que Warrehn lhe desse juízo provavelmente dizia
muito sobre como ele estava.

Rohan suspirou. — Nós estivemos envolvidos por meses enquanto eu


estava em Calluvia.

— É mesmo? —, Disse Warrehn, as sobrancelhas grossas se


aproximando. — As pessoas o chamam de Príncipe de Gelo. Ele parece muito...
apropriado e frio.

— Não é verdade —, disse Rohan, sorrindo involuntariamente com a


lembrança dos momentos em que ele conseguiu fazer Jamil se comportar de
maneira muito imprópria. Ele pensou no sorriso largo e feliz de Jamil e na
risada contagiante quando Rohan beijou sua barriga depois de beijar Tmynne.
Não, Jamil não era frio. Ele era quente, tão quente que Rohan queria se enterrar
nele e apenas desfrutar do calor delicioso em torno dele.

— Porra, inferno. Você está apaixonado por ele.

Rohan ficou tenso, mas as palavras de negação ficaram presas em sua


garganta.
Ele olhou para o amigo e não disse nada. Ele não conseguia.

Warrehn fez uma careta, balançando a cabeça. — Droga, Rohan. Ele é


casado. Eu acho que você não sabia que o marido ainda estava vivo quando
você transou com ele, mas agora você sabe. Esqueça-o. Eles têm uma filha
juntos.

— Ela é minha —, Rohan estalou. Ele se virou, segurando o peitoril da


janela. E Jamil é meu também.

Exceto que ele não era. Na verdade, o marido de Jamil vivia sob esse
mesmo teto. Ele pode estar beijando Jamil neste momento, e Rohan não podia
fazer nada sobre isso.

— Não importa o que você esteja pensando, pare antes de fazer todos no
palácio perceberem que você não é um telepata de baixo nível.

Respirando fundo, Rohan fechou os olhos e reforçou seus escudos


mentais, tentando refrear suas emoções. Warrehn estava certo. Seu controle, ou
a falta dele, era inaceitável.

Para um telepata de alto nível, o controle era tudo. Ele realmente poderia
acabar machucando alguém. Ele poderia arruinar tudo o que eles estavam
preparam há anos só porque ele cobiçava o marido de outro homem.

Marido de outro homem.

O pensamento o deixou doente.

— Eu ia voltar para eles, você sabe —, admitiu Rohan, olhando para o


estábulo do zywern. Ele riu amargamente. — Eu achava que meu status de
“rebelde” era o maior obstáculo que enfrentávamos. Mas, aparentemente,
Idhron nem sequer teve a decência de matar aquele filho da puta.
— Você não está falando sério —, disse Warrehn.

Rohan riu. — A parte confusa é, eu absolutamente quero dizer isso. Eu


queria que Mehmer estivesse realmente morto.

Warrehn não disse nada por um longo tempo.

Por fim, ele disse: — Você deveria esquecer dele. Em Calluvia, o


casamento é para a vida inteira. Você sabe disso.

Claro que ele sabia disso. As coisas não eram tão diferentes em Tai'Lehr
também. Embora o divórcio fosse possível em Tai'Lehr, isso raramente
acontecia, porque as pessoas geralmente se casavam apenas quando
encontravam um Fit decente. A compatibilidade natural só melhorava com o
tempo, então o divórcio era praticamente inédito.

Em Calluvia, o divórcio não era possível legalmente, já que os vínculos


de infância nunca deveriam ser quebrados. É claro, isso pode mudar de acordo
com a recente emenda à Lei de Vinculação, que permite que as pessoas peçam a
dissolução de seus vínculos de infância. Mas, segundo ao que Rohan ouviu,
apenas três petições de milhares foram aprovadas pelo Conselho e pelo Alto
Hronthar. Ele não tinha muita esperança de que as coisas realmente mudassem
em breve.

— Não importaria —, disse Rohan com um sorriso amargo. — Jamil


dificilmente gostaria de abandonar seu trono e seu romance de conto de fadas
para fugir comigo.

— Eu não o conheço bem, mas um homem feliz com seu romance de


conto de fadas não olharia para você do jeito que ele olhou.

Rohan disse a si mesmo para não perguntar. Esse caminho levava apenas
à loucura.
Mas é claro que ele fez.

— E como ele olhou para mim? —, Ele disse, ainda de costas para
Warrehn. Ele tinha notado o olhar de Jamil, é claro, mas ele não confiava em
seu próprio julgamento quando se tratava disso. Ele estava com medo de que
ele estivesse apenas vendo o que ele queria ver.

— Da maneira como um homem casado não deveria estar olhando para


um homem que não é seu marido —, disse Warrehn rispidamente. — Vocês
dois não poderiam ter sido mais óbvios.

— Você tem a vantagem de ser um telepata da Classe 6. Se realmente


fôssemos tão óbvios, outras pessoas teriam notado também.

— Talvez elas tenham, mas dificilmente poderiam se apresentar e acusar


o Príncipe Herdeiro casado de olhar com desejo para seu senhor-vassalo.

Rohan soltou uma risada. — Não seja ridículo. Ele mal olhou para mim.

Warrehn bufou. — Certo. Mas quando ele fez, parecia que ele cairia de
joelhos e chuparia seu pau ali mesmo se você pedisse a ele.

O pênis em questão se contraiu por causa da cena. Rohan não pôde deixar
de imaginar os lábios carnudos e vermelhos de Jamil em volta do seu pênis ali
mesmo na sala do trono, aqueles olhos azuis olhando para ele de forma aturdida
enquanto Jamil o chupava na frente de sua própria corte. Jamil também gostaria
de ser observado por seus próprios súditos enquanto dava prazer a Rohan.

Warrehn limpou a garganta. — Sobre tudo o que você está pensando, por
favor, faça isso quando eu não estiver na sala —, ele grunhiu. — Porque ugh.
Bruto.

— Isso é hipócrita, vindo de você —, disse Rohan.


— Pelo menos eu nunca fodi um Príncipe Herdeiro casado do meu
próprio Grande Clã. Vocês não são parentes?

— Foda-se você. Todos os nobres estão ligados, se você quiser ser


criterioso sobre isso. Nossos ancestrais sendo irmãos há alguns milhares de
anos dificilmente é uma relação próxima.

— Ponto. Mas uma filha, realmente? Você perdeu a cabeça?

Rohan fez uma careta, reprimindo o desejo de dizer a ele como Tmynne
era linda e preciosa. Ele sabia o que Warrehn queria dizer, claro. Ele não tinha o
direito de desistir seu primogênito. Isso poderia levar a uma disputa de sucessão
se alguém descobrisse.

— Ele pediu —, disse Rohan.

O silêncio de Warrehn falou mais alto que qualquer palavra.

Por fim, Warrehn disse: — Você sabe que é como um irmão para mim

Rohan se preparou. Nunca era um bom sinal quando Warrehn falava


voluntariamente sobre sentimentos. Mas é claro que Rohan sabia que ele era o
mais próximo de uma família que Warrehn teve nos últimos dezenove anos.
Warrehn era um garoto de dez anos quando ele veio morar com eles em Lehr
Manor. Ninguém sabia como tratá-lo, pois Warrehn era uma coisa entre um
prisioneiro e um convidado, até que Rohan, de dezessete anos, o colocara sob
sua guarda. Gradualmente, ele se tornara genuinamente apegado por aquele
menino sério e de olhos sombrios, e eles construíram uma espécie de amizade
que só ficara mais forte à medida que Warrehn se tornava mais velho.

— Eu costumava olhar para você quando eu era criança —, disse


Warrehn, sua voz rouca. — Eu costumava pensar que você tinha uma resposta
para tudo, sempre tão confiante e no controle. Eu nunca vi você assim: fazendo
coisas estúpidas e imprudentes que podem te deixar em apuros se as pessoas
descobrirem. Para ser sincero, é um pouco aliviante saber que você é apenas um
homem. Mas eu queria que você tivesse escolhido outra maneira de se foder.
Porque isso? É muito mais que fodido. Você está fodido e vai arrastar todos nós
para baixo quando isso estourar na sua cara.

Os ombros de Rohan se curvaram.

— Eu sei, ok? — Ele rosnou.

— Você vai ficar longe dele, então?

Rohan rangeu os dentes.

Ele tentou dizer sim.

Ele queria dizer sim.

Mas nada saiu.


CAPÍTULO 30

Jamil não conseguiu dormir.

Sentia-se muito inquieto e quente, por razões que ele tentou não pensar,
tentou sendo a palavra-chave.

Rohan está aqui sob este mesmo teto.

Ele provavelmente está dormindo agora, esparramado de costas, como


ele gosta, com os braços bem abertos, o peito subindo e descendo
uniformemente, toda aquela pele lisa e escura praticamente implorando pela
boca de Jamil.

Ou talvez Rohan não esteja conseguindo dormir também, seu corpo tão
no limite quanto o de Jamil. Talvez Rohan esteja se tocando, sua mão
acariciando aquele pênis escuro e grosso dele...

Gemendo, Jamil sentou-se em sua cama, fazendo uma careta para a


protuberância em sua cueca.

Ele se recusou a se masturbar — novamente. Seu pênis parecia


supersensível e seu ânus ainda estava um pouco pegajoso e dolorido de sua
tentativa anterior de saciar a fome nele e finalmente adormecer.

Vestindo um robe preto sobre o corpo sem camisa, Jamil saiu de seus
aposentos. Se ele não conseguia dormir, poderia checar sua filha. Ele podia ser
um marido terrível, mas ele se recusou a ser um péssimo pai também. Estava
escuro e silencioso nos corredores do palácio, até mesmo os criados dormindo
já estavam dormindo.
O coração de Jamil pulou de medo quando viu uma forma escura saindo
do quarto de Tmynne.

A outra pessoa congelou, olhando em sua direção.

O corredor estava escuro demais para ver o rosto da pessoa, mas algo no
modo como o homem se portava era dolorosamente familiar.

Jamil lambeu os lábios, seu batimento cardíaco acelerou por uma razão
completamente diferente.

O homem se dirigiu para Jamil e parou na frente dele.

Deuses.

Jamil respirou fundo e encostou-se pesadamente contra a parede enquanto


o cheiro sutil e masculino atingia suas narinas, tão familiar e dolorosamente
bom.

O outro homem colocou a mão na parede ao lado do rosto de Jamil e se


inclinou.

Com o estômago tremendo como um louco, Jamil virou a cabeça para o


lado, a barba de Rohan roçando na sua bochecha corada e o hálito quente
roçando a orelha. Jamil soltou um pequeno gemido, seu pênis tão duro que mal
conseguia pensar. Ele sabia que isso estava errado, tão errado, mas ele precisava
dele, precisava de algo, qualquer coisa.

Contanto que eles não fizessem — contanto que eles não se tocassem,
tudo bem, certo? Se eles não se tocassem, se eles não pudessem se ver, se eles
não falassem, não seria real. Poderia ser um sonho. Isso não estava realmente
acontecendo. Não estava fazendo nada de errado: apenas de pé, respirando um
no outro e nada mais, não importava o quanto o ar rarefeito entre seus corpos
vibrasse de tensão e desejo.
Rohan de repente estremeceu, um som saindo de sua garganta, algo
horrível e quebrado. — Vá, maldito seja —, ele rosnou.

Jamil foi.

Ele tropeçou em seu quarto e quase caiu em sua cama. Ele nem se
incomodou em tirar o roupão, apenas chutou sua roupa íntima pelas pernas.
Agarrando o brinquedo com o qual ele se dera prazer mais cedo, Jamil o
empurrou de volta para dentro dele, sua outra mão agarrando seu pênis
latejante. Ele choramingou, seus olhos apertados quando o encontro na
escuridão se repetia em sua cabeça, repetidamente.

Só que desta vez ele não saiu. Em sua imaginação, ele deixou Rohan virá-
lo e levá-lo ali mesmo, sem qualquer preparação. Doeu, mas ele merecia a dor.
Ainda se sentia além de bom, seu buraco envolvendo-se confortavelmente em
torno do pau grosso de Rohan enquanto Rohan o fodia com força contra a
parede, seu aperto nos quadris de Jamil machucando. Jamil só podia gemer e se
empurrar o pênis de Rohan, sem se importar que qualquer um pudesse se
deparar com eles, que qualquer um pudesse acender as luzes e ver seu Príncipe
se inclinar e ser fodido naquele corredor como uma prostituta barata. Jamil seria
muito alto, gemendo descaradamente, e Rohan colocaria a mão sobre a boca
para calá-lo, seus quadris estalando para frente, cada vez mais duro, até Jamil
delirar de prazer. — Fique quieto —, Rohan diria. — Ou o palácio inteiro vai
descobrir a puta que você é — Jamil gozou com um gemido, apertando em
torno do pênis nele.

Jamil abriu os olhos e olhou para o teto alto do seu quarto, a mão ainda
envolvida em torno de seu pênis amolecido.

Seus olhos estavam ardendo.

Uma puta.
Isso era o que ele era, pelo menos quando Rohan estava envolvido.

Enquanto eles estivessem próximos, ele nunca seria capaz de confiar em


si mesmo.

Desta vez, ele conseguiu sair.

Ele seria capaz de sair amanhã?


CAPÍTULO 31
Warrehn se perguntou se ele realmente era o único a sentir a tensão na
sala. Ele não conseguia entender como as outras pessoas no escritório da
Rainha não pareciam sentir o fio grosso de tensão que pulsava entre Rohan e o
Príncipe Herdeiro.

Para o crédito do Príncipe Jamil, ele colocou uma admirável máscara de


indiferença, muito melhor do que a de ontem. Teria sido convincente se o olhar
dele não continuasse voltando a Rohan, impotente, o fio de tensão entre eles se
tornava cada vez mais alarmante.

Rohan tão pouco estava melhor. Ele parecia resolver o problema não
olhando para o Príncipe Jamil, mas ao fazer isso, parecia tão suspeito quanto,
na opinião de Warrehn.

Tudo bem, o assunto que estava sendo discutido no escritório da Rainha


era bastante distrativo.

— Você pode repetir? — Rainha Janesh disse, piscando para Rohan. Ela
exalava choque, assim como a assistente da Rainha.

O Príncipe Jamil não pareceu surpreso.

Warrehn sacudiu a cabeça, incrédulo por Rohan ter contado tudo a ele.

Inacreditável.

— Você me ouviu, Vossa Majestade —, disse Rohan, encontrando o olhar


da Rainha com firmeza. — Meu povo rejeitou a Lei de Vinculação há muito
tempo. Agora desejamos legalizar nosso direito de negação.
A Rainha sentou-se pesadamente em sua cadeira. — Você está dizendo...
você está dizendo que vocês não são melhores que os rebeldes.

Ao lado de Warrehn, Sirri se arrepiou, mas a mão levantada de Rohan a


deteve antes que ela pudesse fazer alguma coisa.

— Calluvianos falam de rebeldes como se eles fossem algum tipo de


bárbaros sem lei —, Rohan disse suavemente. — Mas você realmente já viu
um, Vossa Majestade?

Um sulco apareceu entre as sobrancelhas da Rainha.

— Não —, Rohan respondeu por ela. — Ninguém viu. Porque os


rebeldes não existem mais. Já faz milhares de anos. Os rebeldes seguem leis da
mesma forma que um cidadão comum Calluviano. Eles têm um corpo
governante. A única diferença entre Calluvianos e os chamados rebeldes é o
fato de que o governo dos rebeldes não os força a tirar a escolha de seus filhos
sobre o vínculo. Só isso.

Warrehn sentiu uma pontada de admiração misturada com inveja. Às


vezes ele realmente desejava ter a capacidade de Rohan de convencer as
pessoas de qualquer coisa que ele quisesse, Rohan nem usou seu dom de
compulsão. Era uma habilidade do pai de Rohan e depois Rohan tentou incutir
em Warrehn, mas ele nunca teve talento para diplomacia e política.

E é por isso que você está na posição em que você está agora, uma voz
amarga disse no fundo de sua mente. Se ele tivesse sido esperto o suficiente
para conseguir aliados, Dalatteya não teria conseguido.

Cortando essa linha de pensamento, Warrehn se concentrou no presente.

— Você está dizendo que vocês são os rebeldes —, a Rainha disse


fracamente. Ela parecia pálida, mas ela não parecia estar à beira de chamar os
seguranças.

Rohan assentiu, ainda segurando o olhar da Rainha. — De certa forma —,


disse ele. — Em Tai'Lehr, não ligamos a telepatia de nossos filhos e não
escolhemos seus parceiros de vida por eles. Nós lhes damos a liberdade de fazer
suas próprias escolhas e seus próprios erros. Estamos aqui para defender essa
liberdade.

Algo cintilou no rosto da Rainha Janesh enquanto ela olhava para Jamil.
Warrehn nem precisou investigar suas emoções para sentir seu desconforto. Ele
relaxou um pouco, sentindo que ela tinha suas próprias dúvidas sobre a
necessidade da Lei de Vinculação. Isso pode acabar sendo mais fácil do que
eles todos pensavam.

Eles. Às vezes, a situação mexia com a cabeça de Warrehn, que ele se


considerava um Tai'Lehriano. Ele não era. Na melhor das hipóteses, ele era um
convidado involuntário. Na pior das hipóteses, ele um prisioneiro político. Às
vezes Warrehn não tinha certeza se ele os odiava ou os amava por tudo que eles
fizeram por ele. Tai'Lehrianos o forçou a permanecer em Tai'Lehr e o impediu
de voltar para seu irmão, mas eles também salvaram sua vida e lhe ensinaram
tudo o que ele sabia sobre as artes da mente. Ele viveu a maior parte de sua vida
em Tai'Lehr, no entanto sem querer. Provavelmente era inevitável que ele
começasse a se incluir quando pensasse nos interesses de Tai'Lehr. Sua amizade
com Rohan também tinha um papel nisso.

— Então vocês são todos telepatas não vinculados —, a Rainha disse


fracamente, algo como cautela em seus olhos quando ela olhou de Rohan para
Warrehn e Sirri antes de se decidir por Derrel, a assistente de Rohan.

Foi esta última que respondeu suavemente: — Estou felizmente


vinculada, Vossa Majestade, mas é um vínculo diferente daquele que liga os
Calluvianos. Esse não limita minha telepatia.
O olhar da Rainha voltou para Rohan. — O que você está confessando é
um crime contra o estado, Lorde Tai'Lehr —, disse ela, com o rosto
inexpressivo. — Por que você está me contando isso?

— Como Tai'Lehr ainda faz parte do Terceiro Grande Clã, sentimo-nos


honrados em informá-lo antecipadamente de nossa decisão de abordar o
Conselho —, disse Rohan. — Você é nossa soberana, Vossa Majestade. Se você
nos apoiar, não solicitaremos ao Conselho que nos dê independência de
Calluvia. Estamos mais do que contentes em permanecer sob seu reinado se
você nos apoiar.

A Rainha apenas olhou para ele por um longo momento.

Por fim, ela olhou para o filho, que estava de pé ao lado da escrivaninha,
com as costas bem retas e a expressão cuidadosamente neutra. Se Warrehn não
soubesse melhor, ele acharia que ele realmente era o Príncipe de Gelo. Frio.
Inacessível. Exceto que o fio de tensão entre o Príncipe Herdeiro e Rohan
pulsava com tanta saudade e fome que fazia até mesmo Warrehn ficar
desconfortável como o inferno, e ele não era puritano. Era incrível como duas
pessoas que cuidadosamente evitavam olhar umas para as outras podiam criar
uma tensão tão forte que parecia criar um ser real na sala junto com eles.

— Jamil? —, disse a Rainha.

Os lábios do Príncipe Herdeiro apertaram um pouco, e Warrehn não pôde


deixar de notar como eles eram sensuais. O Príncipe Jamil tinha o tipo de rosto
que era perfeito demais para o gosto de Warrehn, mas seus lábios eram tão
bonitos e vermelhos que era difícil olhar para eles e não os imaginar enrolados
em um pau.

Um duro empurrão telepático fez com que ele respirasse enquanto uma
dor de cabeça dividia sua cabeça.
— Pare de pensar nele desse jeito.

Warrehn olhou para Rohan, que olhou de volta, seus olhos queimando
buracos nele.

— Isso é impagável —, pensou Warrehn para ele. — Sem ofensa, mas se


eu devo qualquer explicação por cobiçar esse homem, devo isso ao marido
dele.

Um músculo começou a se contrair na bochecha de Rohan, seus olhos


negros se estreitando perigosamente. Levou toda a força de vontade
considerável de Warrehn para não desviar o olhar como um covarde. Rohan não
se zangava facilmente, mas quando acontecia, alguém com bom senso sabia que
deveria evitá-lo.

Warrehn seria o primeiro a admitir que nunca foi conhecido por seu bom
senso.

Ele agia, e depois ele pensava sobre o que ele tinha feito.

— Ele não é seu, Rohan —, ele disse, tão gentilmente quanto podia. Ele
não era muito bom com essas coisas emocionais, mas até ele sabia que
precisava tratar isso cuidadosamente. — Quanto mais cedo você aceitar,
melhor, ou você vai brigar com o marido dele quando o ver.

Antes que Rohan pudesse responder, sua atenção foi arrebatada pela voz
agradável e culta do Príncipe Jamil.

— Tendo em conta os recentes escândalos em que a nossa Casa esteve


envolvida, este não é a melhor momento para o nosso clã se envolver num
escândalo político, Mãe.

Warrehn olhou furioso para ele. Ele meio que esperava que o Príncipe
Jamil estivesse do lado deles, considerando seu envolvimento com Rohan, mas
aparentemente uma era coisa chupar o pau de um rebelde, e outra era realmente
apoiar sua causa.

Ele olhou para Rohan e encontrou seu amigo assistindo Príncipe Jamil
com um rosto que não traía nada. Apenas seus olhos escuros ardiam com fogo
que Warrehn esperava que fosse raiva e não outra coisa.

— Então você acha que devemos ficar de fora —, disse a Rainha,


franzindo a testa para o filho.

O olhar de Príncipe Jamil não estava em sua mãe. Estava fixo em seus
próprios dedos, que ele estava acariciando sem pensar, mastigando o lábio
inferior.

Em sua visão periférica, Warrehn podia ver Rohan olhando entre os dedos
e os lábios de Jamil, seu olhar intenso não era exatamente odioso, apesar do
fato de que o objeto de sua fascinação estava praticamente estragando tudo para
eles. Warrehn teria revirado os olhos se não estivesse irritando-o tanto. O amor
era uma coisa tão estúpida. Ele transformava até mesmo os homens mais
espertos em bobinhos cegos.

— Eu acho que os Tai'Lehrianos deveriam pedir independência total da


Calluvia —, disse o Príncipe Jamil, ainda sem olhar para cima. — E que você
não deveria resistir, Mãe. Deixe que se separem de nós. Deixe-os viver suas
vidas do jeito que eles querem.

Isso finalmente fez Rohan reagir: finalmente, ele parecia irritado, sua aura
escurecendo de raiva e algo que parecia traição.

— Posso ter uma palavra com você, Vossa Alteza? — Rohan disse, sua
voz fria. — Em particular.

O Príncipe Herdeiro pareceu parar de respirar.


Lentamente, ele ergueu o olhar e olhou diretamente para Rohan, seus
olhos azuis cheios de algo como trepidação.

Sua garganta se moveu quando ele engoliu. — Isso é necessário?

— Sim —, disse Rohan bruscamente.

— Muito bem —, disse o Príncipe Jamil, baixando o olhar novamente. —


Podemos usar a sala de conferências.

Eles foram para a sala adjacente.

Warrehn achou que nenhum deles notou o olhar pensativo e confuso no


rosto da Rainha.
CAPÍTULO 32

Rohan fechou a porta e olhou para Jamil, que de alguma forma conseguiu
recuar para o canto mais distante da sala.

— Você não deveria ter feito isso —, disse Jamil, olhando para baixo. —
Minha mãe...

— Eu não me importo —, disse Rohan, fechando a distância entre eles.

Ele parou bem na frente de Jamil, tão perto que ele podia sentir a
respiração de Jamil em seu rosto. Estava irregular, instável, assim como na
noite passada.

Jamil tentou recuar, mas não tinha para onde ir. — Afaste-se de mim,
Lorde Tai'Lehr.

Rohan riu. Isso fez seu peito doer. — Sério, querido? Primeiro você
convence sua mãe a não nos apoiar, agora isso?

— Não me chame assim —, disse Jamil, ainda se recusando a olhar para


ele. — E eu disse a minha mãe para apoiá-lo.

Suprimindo o desejo de pegar Jamil e sacudi-lo, Rohan disse: — Não,


você disse a ela para não nos apoiar. Sabe tão bem quanto eu que o Conselho
nunca nos concederia total independência de Calluvia. Tai'Lehr é uma colônia
muito valiosa para isso. Então isso significa guerra, uma guerra com um
resultado muito previsível. Nós não temos os mesmos recursos de Calluvia. —
Os lábios de Rohan se torceram. — Mas enquanto você nunca mais precisar me
ver, tudo bem, certo? Eu sei que é estranho continuar vendo seu segredinho sujo
enquanto você se reencontra com o amor da sua vida, mas eu não achei que
você fosse egoísta.

O olhar de Jamil se voltou para ele.

Foi como um golpe em sua barriga, aqueles olhos, a raiva e amargura de


Rohan se transformando em uma fome familiar como nenhuma outra. Rohan
queria dar um soco em si mesmo, para se livrar, para parar de querer um
homem que claramente queria sair de perto dele e esquecer que eles já tinham
sido alguma coisa um para o outro.

— Eu quero que você vá embora —, Jamil sussurrou, torcendo a faca


ainda mais. — Eu não quero ver você em qualquer lugar perto de mim. — Ele
soltou uma risada severa, baixando o olhar novamente. — Eu não posso ter
você em qualquer lugar perto de mim. Eu não sou forte o suficiente.

O tempo pareceu parar.

Rohan olhou para ele.

Lentamente, ele estendeu a mão e pegou o queixo de Jamil em sua mão.


Ele inclinou o rosto para cima, forçando Jamil a olhá-lo.

Jamil estremeceu, suas narinas se dilataram quando seus olhares se


encontraram novamente. — Não me toque. Por favor. Eu sou fraco.

O ar entre eles pareceu rarefeito, tornando difícil respirar. Rohan podia


ouvir sua respiração instável, ou talvez fosse a de Jamil.

Fechando os olhos, Rohan encostou suas testas um contra o outro. Sua


ligação cantava com sua proximidade, nublando seus pensamentos com prazer
sutil. Bem, até mesmo o inibidor de ligação não funcionava bem quando eles se
tocavam.
— Talvez possamos ser fracos juntos —, disse ele com voz rouca.

Um pequeno som saiu dos lábios de Jamil. — Por favor, não —, ele
sussurrou, enquanto suas mãos seguravam a frente da camisa de Rohan. — Eu
não posso.

Rohan olhou para os lábios entreabertos de Jamil. — Você quer?

Jamil estremeceu. Rohan podia sentir a umidade em seu rosto. Lágrimas,


ele percebeu com um sentimento de afundamento.

— Shh —, disse Rohan, sua garganta desconfortavelmente grossa de


emoção. Ele envolveu Jamil em seus braços e o puxou contra seu peito. —
Estou aqui, por favor, amor, não chore.

Jamil se agarrou a ele — não havia outra palavra para isso. As costelas
de Rohan doeram com aquele aperto mortal, mas ele suspeitava que ele estava
segurando Jamil com a mesma força e intensidade. Ainda não era suficiente.
Isso nunca seria o suficiente. Isso parecia um momento roubado, um adeus.

Rohan mordeu o interior de sua bochecha, olhando sem realmente


enxergar a frente dele.

Não.

Não, caramba. Não era um adeus. Ele não deixaria, desta vez não.

— Venha comigo —, ele se ouviu dizer. No momento em que ele disse


isso, ele sabia que estava certo. Ele podia sentir a exatidão disso.

— O que?

— Venha comigo —, Rohan repetiu com firmeza. — Você pertence a


mim, não a ele. Você sabe. Você e Tmynne — vocês são meus. Venha comigo
para Tai'Lehr.
Jamil ainda estava muito tenso contra ele.

Rohan esperou, preparando-se para a recusa de Jamil. Ele esperava que


Jamil dissesse que ele era um futuro Rei. Ele esperava que Jamil dissesse que
ele não poderia simplesmente deixar tudo pelo que ele tinha sido criado, tudo
pelo que ele trabalhou por toda sua vida. Ele esperava que Jamil dissesse que
ele não poderia deixar seu marido e sua família.

Mas o que Jamil disse foi: — Isso definitivamente significaria guerra.


Você é o governador de Tai'Lehr. Você representa seu povo. Seu próprio povo
não o entenderia, não o perdoaria por arriscar sua reputação — arriscar tudo —
por mim.

O coração de Rohan começou a bater em algum lugar de sua garganta.


Não foi um não. Ele não estava ouvindo um não. — Meu povo entenderia. Os
vínculos infantis Calluvianos são considerados uma abominação em Tai'Lehr,
algo não natural e forçado. Um casamento que é baseado em um vínculo de
infância também não é exatamente respeitado.

A mão de Jamil apertou sua camisa. — Você perderia toda a


credibilidade. O Conselho nem sequer ouviria os seus argumentos quando você
fosse a eles. Eles poderiam prendê-lo na hora.

— Que o Conselho vá para o inferno —, disse Rohan, recuando um


pouco para olhar para Jamil. — Se sua mãe não nos apoiar, a cooperação do
Conselho é improvável de qualquer maneira. — Ele procurou o rosto de Jamil.
— Esqueça o Conselho. Isto não é sobre o Conselho e Tai'Lehr. Isso é sobre
você e eu. Você me escolheria?

A garganta de Jamil engoliu. — E então o quê? Nós viveríamos em


pecado?
Incapaz de se conter, Rohan beijou o local ao lado da boca de Jamil. —
Se isso é pecado, eu não me importo —, ele disse asperamente. — Você é a luz
da minha vida. Você é tudo em que eu penso. Você é tudo que eu quero. — Ele
pressionou suas testas juntas. — Eu não me importo com algum documento que
diz que você pertence a outro homem. Seu lugar é comigo. Isso está certo. Você
não pode sentir isso?

— Não importa o que eu sinto —, disse Jamil, com a voz embargada. —


Eu não posso fugir com você. Eu quero, mas não posso. Eu não posso fazer isso
com você. Não importa o que você diga, isso arruinaria tudo para o
Tai'Lehrianos. Ninguém no Conselho respeitaria um homem que roubou o
marido legal de outro homem, que violou a santidade do casamento. Você não
está pensando claramente agora, mas depois, você certamente irá se arrepender.
Eu não vou fazer isso com você — com a gente. Eu não posso.

Rohan fechou os olhos, seu peito apertando dolorosamente. Houve


finalização na voz de Jamil. Jamil não iria mudar de ideia.

Ele se afastou e olhou Jamil nos olhos. — Mas eu te amo.

Os olhos de Jamil se encheram de lágrimas. Ele abriu a boca e depois


fechou sem dizer nada. Sua garganta fechou. Seus olhos azuis pareciam
queimar com uma luz etérea, intensa e consumidora. Rohan não conseguia
desviar o olhar. Ele poderia olhar para eles para sempre.

— Eu também te amo —, Jamil sussurrou, quase sem som, e se afastou,


todo o seu ser irradiando derrota.

Rohan nunca pensou que ouvir uma confissão de amor de Jamil faria ele
se sentir tão infeliz. Ele queria dar um soco em alguém. Ele queria se enfurecer
com a injustiça disso tudo. Acima de tudo, ele queria pegar Jamil e sua filha e
levá-los para Lehr Manor, onde pertenciam.
— Não —, ele rosnou, pegando o pulso de Jamil quando ele se virou para
a porta. — Não, caramba.

Os ombros de Jamil se curvaram. — Solte. Por favor.

Rohan se adiantou, enterrando o rosto na nuca de Jamil. Ele respirou


profundamente e disse, sua voz calma, mas cheia de determinação. — Eu vou
consertar isso. Eu farei o que for preciso. Pessoalmente, eu não preciso de um
pedaço de papel para saber que você é meu, mas se você absolutamente precisa
se divorciar de Mehmer para isso, que assim seja.

— O divórcio não é possível em Calluvia. — A voz de Jamil era sem


tom. Oca.

— Então eu vou tornar isso possível —, disse Rohan contra o cabelo de


Jamil. — Eu não ligo para o que é preciso, mas vou fazer isso. Apenas não
desista, tudo bem? Por favor, querido. Por mim.

Um som de dor deixou a garganta de Jamil. — Estou com medo de ter


esperança —, ele sussurrou. — Toda vez que eu começo a ter minhas
esperanças, eu as vejo desmoronando rapidamente. Mas eu preciso de você. Eu
preciso muito de você. Eu nunca precisei tanto de alguém. Eu sinto que estou
enlouquecendo.

Rohan envolveu-o com força em seus braços, odiando o quão perdido ele
se sentia. — Posso te beijar? Só uma vez.

Jamil praticamente pulou longe dele, com os olhos arregalados e corando.


— Eu sou casado. Seria errado. — O desejo em seus olhos dizia uma coisa
completamente diferente, mas Rohan não insistiu. Ele não queria que Jamil se
sentisse culpado — mais culpado.
Então Rohan deu um aceno de cabeça, ignorando o quão vazio seus
braços estavam. — Você não ficará casado com ele por muito tempo.

Jamil balançou a cabeça com um leve sorriso, mas Rohan podia ver um
lampejo de esperança desesperada em seus olhos — esperança que se recusava
a morrer — e ele nunca o amara tanto.

O silêncio caiu sobre a sala.

Eles se encararam.

Eles tinham que ir; ambos sabiam disso. Os outros provavelmente


estavam se perguntando sobre o que eles estavam falando.

— Eu arruinei sua gravata —, Jamil disse calmamente. Ele se aproximou


e corrigiu as dobras da gravata de Rohan com uma mão instável. O toque mal
estava lá, os dedos de Jamil nem estava tocando sua pele, mas fez o coração de
Rohan doer de qualquer forma. Ele podia facilmente imaginá-los casados, e isso
seria apenas uma cena doméstica comum. Ele faria qualquer coisa para que isso
se tornasse possível.

Custe o que custar.

— Pronto —, Jamil murmurou, seu olhar abatido.

Rohan olhou-o avidamente: seus longos cílios escuros tremulavam contra


a pele pálida, a curva suave de seu nariz, lábios vermelhos e macios franzidos
em um leve beicinho.

Jamil começou a abaixar a mão, mas Rohan pegou os dedos e os


pressionou contra a boca, inalando profundamente o cheiro da pele de Jamil. Os
dedos pálidos em seu aperto tremeram.
— Só me dê tempo —, disse Rohan, sua voz áspera. — Seu lugar é
comigo.

Um pequeno som saiu da boca de Jamil.

Ele soltou sua mão e saiu da sala.


CAPÍTULO 33
Assim que todos voltaram para o apartamento deles após a reunião com a
Rainha, Rohan disse: — Deixe-nos, Derrel.

— Claro, meu Lorde —, sua assistente disse com uma reverência e saiu.

— Tranque a porta, Sirri.

Warrehn trocou um olhar com Sirri. Rohan estava com um humor


estranho, seus escudos totalmente levantados e seu rosto fechado, um conjunto
sombrio e determinado em sua mandíbula. Ele estava assim desde que retornara
ao escritório da Rainha depois de sua pequena conversa com o Príncipe
Herdeiro. Ao contrário dele, o Príncipe Jamil parecia mais agradável e aberto
depois da conversa. Ele disse à Rainha que, depois de ouvir os pensamentos do
Lorde Tai'Lehr, ele não era mais contra que a Rainha desse apoio à colônia.
Warrehn notou que, apesar da mudança de opinião, Jamil havia evitado
completamente olhar para Rohan. Ambos estavam agindo de maneira estranha,
na opinião de Warrehn.

Sirri deu de ombros e silenciosamente fez o que lhe foi dito, embora
normalmente ela teria resmungado sobre não ser uma criada.

— Que cara de merda é essa? — Ela disse suavemente. — Tudo ocorreu


bem, não foi? Embora a Rainha ainda não tenha dito sim, posso dizer que ela
está muito mais perto do sim do que do não. E nós não fomos presos no local.
— Ela riu. — Sucesso!

Ninguém sorriu.

— Não é suficiente —, disse Rohan, caminhando para o bar e servindo-se


de um copo de conhaque Alkeran. — Temos que fazer muito mais do que
convencer a Rainha para garantir sucesso. — Ele tomou um gole. — E se
mudarmos o plano?

Warrehn franziu a testa. — De que maneira?

Rohan virou a cabeça e olhou para ele. — Todos os votos no Conselho


serão importantes. Os dois votos do seu grande clã podem se tornar cruciais.

O coração de Warrehn pulou uma batida. — Você quer que eu me revele?


Agora? Mas… — Ele se interrompeu, sua mente correndo. Ele odiaria dizer
que estava em pânico, mas seus pensamentos e emoções mudaram tão rápido
que ele estava lutando para processá-los.

Suspirando, Rohan se aproximou e colocou as mãos em seus ombros,


encontrando o olhar de Warrehn. — Olha, eu sei que não era o plano. Eu sei
que todos nós concordamos que você iria se revelar apenas quando tivéssemos
provas inegáveis contra Dalatteya e seu filho, mas eu preciso de sua ajuda
agora. É importante, Warrehn. Você é o legítimo Rei do Quinto Grande Clã.
Este é o seu direito de nascença.

Warrehn franziu o cenho. Ele odiava a capacidade de Rohan de fazer


parecer algo tão razoável quando o que ele estava sugerindo era pura loucura.
— Um Rei morto não seria útil para você. Ela ainda envia assassinos para
fodida Tai'Lehr, e você quer que eu viva em seu palácio?

O olhar que Rohan lhe deu foi um pouco triste, mas quase inflexível. — É
o seu palácio, não o dela, Warrehn. Você é o herdeiro do trono. Você já teria
sido o Rei se não fosse por ela. Mesmo que ainda não possamos provar
conclusivamente que ela é a única que tentou assassiná-lo, você terá autoridade
para mandar ela e o filho para longe do seu palácio. Você não tem mais dez
anos de idade. Você é maior de idade e ela não terá mais o poder de regente.
Warrehn zombou. — O que aconteceu com me manter em Tai'Lehr para
“minha própria segurança?” Seu pai me manteve um prisioneiro em Tai'Lehr
durante a maior parte da minha vida, e agora você diz que eu posso ir? Bem
desse jeito?

Rohan olhou para ele com firmeza. — Eu não sou meu pai. Ao contrário
dele, confio em você. Eu confio que você não nos trairá. Você poderia ter saído
a qualquer momento desde a morte do meu pai. Eu não teria parado você e você
sabe disso. Você ficou porque escolheu ficar.

Warrehn olhou para ele, sentindo uma onda de raiva. — Você é pior do
que seu pai, você sabe. Pelo menos seu pai não era um bastardo manipulador.

A mão de Rohan apertou seu ombro. — Eu não estou manipulando você


—, disse ele, olhando-o nos olhos. — Você é como um irmão para mim. Eu sei
que estou te mandando para o fosso da víbora, mas é porque eu acredito em
você. Você não é mais o garoto indefeso que você já foi. Você é um dos
telepatas mais fortes que eu já conheci. Você é um dos homens mais fortes que
já conheci. Você pode se proteger. Eu confio em você. Eu preciso da sua ajuda,
War.

Fodido inferno.

Às vezes ele odiava Rohan e sua capacidade de liderança natural. Dos


dois, Warrehn era aquele que era um futuro Rei, pelo amor de Deus. Rohan era
um líder mais perigoso do que seu pai jamais fora: ele inspirava verdadeira
lealdade.

— Tudo bem —, Warrehn disse, sacudindo-se da mão de Rohan.

— Espere —, Sirri cortou, soando incrédula. — Você disse que Warrehn


era um dos telepatas mais fortes que você conheceu. Você conheceu alguém
mais forte que ele?
O rosto de Rohan estava sombrio. — Bem, Idhron é quase certamente um
Seis também. Mas também há o Príncipe Herdeiro do Segundo Grande Clã,
Ksar'ngh'chaali. Ele poderia ser mais poderoso.

A boca de Sirri se abriu. — Ele é um sete? Mesmo? — Warrehn franziu a


testa, um pouco inquieto também.

Rohan encolheu os ombros. — Acho que sim. Mas duvido que Ksar tenha
algum treinamento, então tudo fica equilibrado no final. Não é relevante
agora… — Ele parou, um olhar pensativo cintilando em seus olhos. — Ou
talvez seja relevante. Ninguém no Conselho sabe que Ksar é um telepata de alto
nível. É obviamente primordial para ele manter isso em segredo.

— Por favor, me diga que você não está pensando em chantagear um Sete
para ajudá-lo —, disse Sirri fracamente. Quando Rohan não negou, ela olhou
para ele. — Você é louco ou suicida?

Warrehn bufou. — Apenas apaixonado.

Sirri lançou-lhe um olhar assustado. — O que? O que você quer dizer?

— Eu não sou suicida —, disse Rohan, interrompendo o interrogatório de


Sirri. — Mesmo um Sete não é páreo para um Seis e dois Cincos treinados.

— Legal você nos perguntar —, Sirri disse, não sem sarcasmo.

— Assumindo que tudo corra bem —, Rohan disse, ignorando sua


observação — Nós teremos seis votos assegurados: os votos do Segundo,
Terceiro e Quinto Grande Clã. Estes são alguns dos clãs mais poderosos, por
isso é muito provável que os clãs inferiores sigam o exemplo. O que é
excelente, mas ainda pode não ser suficiente.

— Você quer chantagear outra pessoa? — Sirri disse, sua voz ainda
sarcástica e seca.
Rohan voltou para o bar e tomou outro gole de conhaque.

— Talvez —, disse ele, seus olhos brilhando com algo escuro e


determinado.

Balançando a cabeça, Warrehn jurou para si mesmo nunca se apaixonar.

O amor era um maldito veneno, perigoso para si e para os outros.

Ele transformava até mesmo os homens mais racionais em tolos


imprudentes e suicidas.
CAPÍTULO 34

Fofocas da Sociedade Calluviana

O HERDEIRO DO QUINTO GRANDE CLÃ ESTÁ VIVO

O Príncipe Herdeiro Warrehn'ngh’zaver, que há muito tempo foi


considerado sequestrado e morto pelos rebeldes, está vivo! De acordo com
nossas fontes no Conselho, o Príncipe há muito tempo perdido esteve no
Planeta Tai'Lehr todo esse tempo. Como nossos leitores podem ou não saber,
Tai'Lehr é uma distante colônia industrial do Terceiro Grande Clã. O Príncipe
Warrehn afirma que os rebeldes realmente o salvaram do assassinato por seus
próprios guarda-costas. Nossas fontes não foram capazes de determinar como
o Príncipe Warrehn acabou em Tai'Lehr depois de ser salvo pelos rebeldes, mas
é óbvio por que ele não pôde retornar até agora: Tai'Lehr está isolado de
Calluvia pela zona de guerra Shibal-Kuvasi e comunicadores de longo alcance
não funcionam por causa dos enormes depósitos de korviu no planeta.

Muitos ficaram curiosos sobre a delegação que chegou de Tai'Lehr há


alguns dias, mas quem teria pensado que incluiria o herdeiro há muito perdido
do Quinto Grande Clã?

Rohan'ngh'lavere, Lorde de Tai'Lehr e o governador da colônia,


acompanharam pessoalmente o Príncipe Warrehn.

— Meu pai não estava disposto a arriscar a vida do príncipe, fazendo-o


viajar através da zona de guerra, mas depois de discutir com o príncipe,
decidimos correr o risco —, Lorde Tai'Lehr nos disse. Ele é um homem alto e
bonito, com traços bastante exóticos, com um sotaque fraco e fascinante que
poderíamos ouvir para sempre.

Quando perguntado por que agora, o Lorde Tai'Lehr foi refrescantemente


direto. — Ouvimos dizer que a coroação do Príncipe Samir estava se
aproximando e Warrehn achou que devia ao seu povo não permitir que a
pessoa errada ascendesse ao trono, mesmo que ele precisasse arriscar sua vida
para chegar aqui. Preservar a verdadeira linha de sucessão é fundamental
para todos os clãs, já que não podemos permitir que a guerra civil destrua
nossos grandes clãs internos.

Este Autor não pôde concordar mais com o Lorde Tai'Lehr, mas traz um
ponto interessante:

O que vai acontecer com o Príncipe Samir, que foi criado para ser o Rei
nos últimos dezenove anos?

Imaginamos que a atmosfera será um pouco estranha no Quinto Palácio


Real...

***

Castien Idhron fechou o artigo e colocou seu multi-dispositivo de lado. —


Obrigado por trazer isso à minha atenção, Eridan —, disse ele, imerso em
pensamentos.

— Você não está preocupado, Mestre?


Castien desviou o olhar para seu aprendiz. Eridan estava encostando o
quadril contra a mesa de Castien, o lábio inferior preso entre os dentes enquanto
ele olhava para o seu mestre.

— Preocupado? —, disse ele. — Porque eu estaria?

Eridan bufou, dando-lhe um olhar cético. — Eu não sou idiota, Mestre.


Se a regente for removida da posição de poder, você perderá sua influência no
Quinto Grande Clã. É uma perda muito pesada para nós.

Castien observou-o com cuidado. Apesar do vínculo de mestre-aprendiz


que compartilhavam, Eridan estava com suas emoções impecavelmente
guardadas, o que era uma ocorrência rara o bastante para ser notável. Castien se
perguntou sobre a razão de tal proteção e descobriu várias possibilidades,
nenhuma das quais o agradou. No entanto, ele não empurrou. Não dessa vez.

— Você ainda tem muito a aprender, Eridan —, disse ele. — Às vezes


você tem que perder algumas coisas para vencer a guerra. Eu não estou
preocupado com o Warrehn’ngh’zaver.

— Mas ele é um rebelde também. Ele estava com os outros rebeldes que
me sequestraram. Todos eles são desvinculados. Poderosos.

— Eles são —, disse Castien, olhando para o rosto geralmente animado


de seu aprendiz. Por mais que ele sempre insistisse que Eridan fosse menos
emotivo, ver seu irritantemente vibrante aprendiz emocional tão retraído era
estranho. E um pouco desconcertante.

Os lábios de Eridan franziram. Ele se inclinou para frente, uma mecha de


cabelo castanho dourado caindo em seus olhos. — Eu ainda não entendo porque
você deixou o príncipe consorte voltar para casa. Agora, com o retorno seguro
do Príncipe Consorte Mehmer e o suposto resgate do Príncipe Warrehn, os
rebeldes estão parecendo heróis, Mestre! Com a imprensa sendo positiva
recentemente, eles estão em uma ótima posição para ir ao Conselho e realmente
serem ouvidos. Como você pode ter tanta certeza de que eles não nos trairão?
Que eles não dirão ao Conselho sobre a influência do Alto Hronthar na maioria
dos monarcas reinantes? Lorde Tai'Lehr poderia facilmente nos delatar.

— Ele não vai —, disse Castien, contraindo os dedos com a vontade de


afastar a mecha dos olhos de Eridan. — Porque ele ainda precisa de mim.

Uma ruga apareceu entre as sobrancelhas de Eridan. — Para o quê?

Castien pensou sobre o desejo e o amor irresistível que vislumbrara na


mente de Rohan'ngh'lavere e sorriu friamente. — Paciência, Eridan. O que eu
ensinei sobre paciência?

— Mas Mestre! — Eridan zombou, seus lábios cheios se curvando em


um beicinho.

Castien desviou o olhar.

Ele descobriu que emoções como amor e desejo eram mais úteis —
quando não eram suas.

— Pare de ser imaturo, Eridan, e vá meditar —, ele disse friamente. —


Eu tenho um compromisso agora.

— Eu odeio meditar —, Eridan resmungou apenas quando houve uma


batida na porta.

— Seu visitante das onze horas está aqui, Vossa Graça —, disse sua
assistente, curvando-se profundamente para ele.

— Deixe-o entrar, Irrene —, disse Castien antes de olhar para seu


aprendiz. — E marque uma consulta de meditação para Eridan com o Mestre
Tker. Agora, se ele estiver livre.
Eridan franziu o cenho e pulou da mesa de Castien. — Você sabe que eu
odeio meditações conjuntas com Tker —, ele sussurrou.

— Mestre Tker, Eridan —, Castien corrigiu. — Agora vá com Irrene.

Com uma última carranca profunda para Castien, Eridan saiu, quase
colidindo com o Lorde Tai'Lehr na porta.

— Oh —, Eridan disse, piscando, antes de enviar um pensamento vicioso


através de sua ligação — Paciência, hein? Você poderia ter dito que ele tinha
um encontro com você, Mestre. Por que você sempre tem que ser tão
frustrante?

Suprimindo sua diversão, Castien olhou friamente para Irrene.


Interpretando corretamente suas ordens, ela conduziu Eridan para fora de seu
escritório.

Quando a pesada porta se fechou atrás deles, Castien desviou o olhar para
Rohan'ngh'lavere e disse: — O que você pode me oferecer por meu apoio ao
projeto de divórcio que você quer aprovar?

Tai'Lehr apenas olhou para ele por um momento.

— Você é um bastardo —, disse ele, seu tom suave, apesar do ódio que
queimava naqueles olhos negros. — O que você quer?

Castien quase sorriu.

Ele sempre gostou de lidar com pessoas que entendiam como o mundo
funcionava.

***
Fofocas da Sociedade Calluviana

VERDADE CHOCANTE REVELADA: REBELDES ENTRE NÓS?

Este autor tem o prazer de informar sobre outro escândalo trazido a nós
como cortesia do Lorde Tai'Lehr. Parece que acompanhar o futuro Rei do
Quinto Grande Clã [leia mais sobre a próxima coroação aqui] não foi a única
razão para a visita do Lorde Tai'Lehr a Calluvia. Como os nossos leitores
sabem, nós da Fofocas da Sociedade Calluviana normalmente não escrevemos
sobre assuntos tão entediantes como a política, mas desta vez sentimos que é
nossa obrigação moral dar aos nossos leitores um relato preciso do que
aconteceu, já que este escândalo trará consequências de longo alcance para a
sociedade Calluviana.

Para encurtar a história, na sessão desta manhã do Conselho, a Rainha


Janesh do Terceiro Grande Clã fez uma petição em nome de sua colônia
Tai'Lehr para permitir que eles não se conformassem à Lei de Vinculação.

Não foi a parte mais chocante, no entanto. Aparentemente, a colônia não


está em conformidade com a Lei de Vinculação há milhares de anos.

— Você deve entender que não foi a escolha dos nossos antepassados
desafiar a lei. — Lorde Tai'Lehr falou em meio ao caos. — Como os sensores
não funcionavam, a colônia não sabia que já havia um assentamento dos
rebeldes no único continente do planeta. Os poucos adeptos da mente do Alto
Hronthar que acompanharam os colonos sucumbiram às doenças locais logo
após o estabelecimento da colônia. Como não havia mais adeptos mentais
qualificados, os vínculos de infância não podiam mais ser criados. Nossos
ancestrais não tiveram outra escolha senão desconsiderar a lei, especialmente
porque os rebeldes que viviam nas proximidades mostraram-se saudáveis,
pacíficos e inofensivos.

— Já faz milhares de anos! — A conselheira Xuvok falou com o rosto


vermelho. — Você deveria ter informado o Conselho sobre isso há milhares de
anos, não agora!

Ao contrário de seu oponente, Lorde Tai'Lehr permaneceu calmo. — Você


está correta, Conselheira. Eu concordo absolutamente com você que meus
antepassados deveriam ter sido sinceros com o Conselho Calluviano, e é
exatamente por isso que eu arrisquei minha vida cruzando a zona de guerra tão
logo depois que assumi a posição de governador. Certamente não podemos ser
responsabilizados pelas decisões de nossos antepassados, né?

Um debate acalorado seguiu. Muitos membros da imprensa foram


solicitados a sair por interromper o processo. O Conselheiro Derves exigiu que
o Lorde Tai'Lehr fosse preso por ser perigoso para os outros, o que causou
muita confusão, já que muitos membros do Conselho não entenderam o que ele
queria dizer.

Verdade seja dita, este autor também não entendeu a referência. Quando
solicitado a esclarecer, o Conselheiro Derves afirmou que o vínculo da infância
foi realmente inventado para restringir telepatas poderosos.

Isso causou outro alvoroço que só terminou quando o Lorde Chanceler se


levantou e exigiu silêncio. Como de costume, o Príncipe Herdeiro
Ksar'ngh'chaali comandou a sala sem esforço, apesar do recente escândalo
menos que lisonjeiro que teve o seu envolvimento. O Conselheiro Derves não
pôde responder satisfatoriamente quando o Lorde Chanceler lhe pediu que
citasse suas fontes para uma afirmação tão ousada.

— Então, não é nada além de boatos —, disse o Príncipe Ksar, e o


Conselheiro Derves teve que admitir que não tinha nenhuma prova.
— No entanto —, continuou o Príncipe Ksar. — Para aliviar a mente
daqueles membros do Conselho que podem ter receios parecidos com os do
Conselheiro Derves, acho que todos concordamos em pedir a opinião de um
terceiro imparcial que saiba tudo o que há para saber sobre os vínculos da
infância. Talvez devêssemos passar para Vossa Graça, o Alto Adepto do Alto
Hronthar, Grande Mestre Idhron.

Essa sugestão foi recebida com aprovação unânime.

Quando o Alto Adepto finalmente chegou e foi informado sobre o assunto


da disputa, ele rejeitou as preocupações do Conselheiro Derves.

— É verdade que o vínculo de infância diminui um pouco o poder bruto


de um telepata —, admitiu o Grande Mestre, acenando levemente para o
Conselheiro Derves. — No entanto, a extensa pesquisa que foi conduzida pelo
Alto Hronthar prova conclusivamente que a diferença no nível de poder não é
muito grande, como evidenciado pelo leve aumento de poder dos viúvos após a
morte de seus companheiros. Além disso, um telepata vinculado tem melhor
controle sobre sua telepatia do que um não vinculado. Portanto, consideramos
infundadas as preocupações do Conselheiro Derves. O Alto Hronthar pode
disponibilizar a pesquisa para todas as partes interessadas, se necessário.

— Obrigado, Vossa Graça —, disse o Lorde Chanceler. — Mas se esse é


o caso, onde você acha que o rumor se originou?

O Alto Adepto parecia pensativo. — Isso eu não sei ao certo. Eu só posso


supor que tais rumores foram espalhados por pessoas infelizes com seus
companheiros de ligação. À luz disso, talvez... talvez seja prudente permitir que
os cônjuges infelizes façam o procedimento legal de um divórcio. — Ele olhou
para o Lorde Chanceler. — Enquanto estamos no assunto, quero lembrar ao
Conselho que a lei atual exige correções como esta. Até recentemente, os
vínculos de infância não eram quebráveis. Nos últimos quatro mil anos, um
casamento sempre se igualou a um vínculo de infância. Mas depois da recente
emenda à Lei de Vinculação, esse não será necessariamente o caso — você,
Vossa Alteza, é o principal exemplo.

O Príncipe Ksar inclinou a cabeça, admitindo o ponto, o que causou um


murmúrio de desagrado na câmara do Conselho. Enquanto os escândalos
sobre Príncipe Warrehn e Tai'Lehr fizeram a maioria das pessoas esquecer o
recente mau comportamento do Príncipe Ksar [Leia aqui sobre a dissolução do
vínculo de infância do Príncipe Ksar com o Príncipe Seyn] ainda assim, alguns
membros do Conselho estavam insatisfeitos com o comportamento atipicamente
irresponsável do Lorde Chanceler. Houve até mesmo pedidos para remover o
Príncipe Ksar da posição do Lorde Chanceler, mas eles não foram apoiados
pela maioria.

— Legalizar o divórcio parece ser o próximo passo lógico —, disse o


Príncipe Ksar. — Não deve haver brechas na lei.

Ninguém argumentou contra, e a Rainha Consorte Zeyneb se encarregou


de preparar o projeto de lei que trataria do divórcio para a próxima sessão do
Conselho.

Embora sua preocupação anterior tenha sido rejeitada, o Conselheiro


Derves falou novamente. — Mesmo que os Tai'Lehrianos não sejam perigosos
para nós, eles ainda têm descendentes dos renegados entre eles!

— Com todo o respeito, Conselheiro —, disse Lorde Tai'Lehr. — O único


crime que os “renegados” cometera foi discordar de uma lei particular que
tirou a liberdade de escolha de seus filhos. Eles não cometeram nenhum crime.
Eles simplesmente escolheram deixar Calluvia, que ao todo foi sensato. Nós
não vivemos em um mundo democrático? Se não o fizéssemos, este Conselho
não existiria na sua forma atual. Quando a Lei de Vinculação foi introduzida
pela primeira vez, o Conselho consistia apenas em monarcas dos doze grandes
clãs; não havia representantes das classes média e baixa, como você.

Um murmúrio percorreu a câmara do Conselho. Alguns membros


estavam assentindo, outros pareciam pensativos.

— Conselheiros, eu entendo que conceder a uma colônia uma isenção da


Lei de Vinculação pode causar descontentamento em outros mundos
Calluvianos —, disse Lorde Tai'Lehr. — Mas Tai'Lehr é um caso especial,
sempre foi. Estamos separados de Calluvia e suas outras colônias pela zona de
guerra de Shibal-Kuvasi há séculos, e é extremamente improvável que nossa
cultura tenha qualquer impacto sobre outros mundos Calluvianos. Tai'Lehr é
uma colônia perfeita para conceder uma isenção. — Lorde Tai'Lehr olhou ao
redor da câmara do Conselho. — É claro que, se for pedir demais, Tai'Lehr
está pronto para dar uma petição de independência ao Conselho Galáctico
com base na falta de proteção de Calluvia nos últimos séculos.

Um murmúrio inquietante percorreu a câmara do Conselho.

Embora a política não seja a especialidade deste Autor, mesmo ela sabe
que este é um resultado que ninguém no Conselho gostaria. Tai'Lehr é uma das
principais fontes de Calluvia para os cristais de korviu, que são necessários
para a função dos teletransportadores transgalácticos. Também é importante
notar que quando uma colônia registra uma queixa contra o Conselho
Galáctico sobre a falta de proteção de seu planeta natal, isso desestabiliza toda
a economia à medida que as ações despencam.

— É claro que seria um último recurso —, acrescentou Lorde Tai'Lehr


com calma. — Nós preferimos ser parte de Calluvia, como é o nosso planeta
natal e temos laços culturais com ele. — Ele se curvou. — Obrigado,
conselheiros, pelo seu tempo. Eu vou deixar você discutir isso entre vocês.

Assim que o Lorde Tai'Lehr partiu, o caos reinou.


CAPÍTULO 35

— Eu não posso acreditar que você realmente conseguiu isso! — Sirri riu
e o abraçou com força. — Nós conseguimos!

Rohan sorriu fracamente quando ele a abraçou de volta.

Este mês passado foi exaustivo e além de estressante, enquanto


aguardavam a decisão do Conselho. Subornos, manipulações, relações com
bastardos como Idhron: tudo isso o fez sentir-se incrivelmente sujo. Ele sempre
se orgulhava de ser um político bastante justo e decente, e recorrer às táticas
que ele sempre detestara não fazia bem a ele. Muitas vezes, Rohan esteve muito
perto de apenas dizer foda-se e apelar para o Conselho Galáctico.

Mas ele devia ao seu povo tentar resolver as coisas pacificamente, sem
alienar completamente Calluvia. Era o planeta natal deles, o lar cultural deles, e
egoisticamente, Rohan não queria queimar as pontes se ele absolutamente não
precisasse. Não que ele teria deixado o planeta sem Jamil e Tmynne — ele
estava pronto para pegá-los e sair, se as negociações tivessem ruídos —, mas
teria sido um último recurso. Sem mencionar que Jamil não disse sim
exatamente quando Rohan lhe pediu para deixar tudo por ele. Ele não disse não,
mas também não disse sim.

Porra, tinha sido um longo mês. Ele se mudou para um hotel e evitou o
Terceiro Palácio Real, incapaz de suportar ver Jamil com seu marido. Já era
ruim o suficiente que ele não pudesse escapar dos pensamentos que o
atormentavam à noite, não podia deixar de pensar se Jamil tinha desistido, se
ele deixou o marido voltar para sua cama, se a filha deles começara a pensar em
Mehmer como seu pai e nem sequer o reconhecesse. Esses pensamentos
enlouqueceram Rohan, alimentando sua determinação de acabar com essa
batalha legal o mais rápido possível e tirar sua família do alcance do outro
homem.

E agora ele poderia fazer isso. Tai'Lehr recebeu isenção da Lei de


Vinculação e o divórcio era legalmente possível em Calluvia. Parte dele ainda
não podia acreditar que ele tinha conseguido tudo isso em pouco mais de um
mês, mas definitivamente ajudou que ele tivesse o apoio dos dois homens sem
dúvida mais poderosos em Calluvia: o Lorde Chanceler e o Alto Adepto do
Alto Hronthar. Nenhum deles era o que Rohan chamaria de amigos, mas eles
eram excelentes aliados, porque ambos tinham muito a perder se a verdade
fosse revelada. Rohan estava mais preocupado com Idhron — ele poderia dizer
que Ksar, apesar de toda a sua crueldade, era um homem bastante decente.
Idhron era um bastardo faminto por poder, que não parecia se importar com os
meios para alcançar seus objetivos. Rohan ainda não tinha ideia do que o Alto
Hronthar tinha com Mehmer e Idhron não estava exatamente divulgando essas
informações.

Rasgando Rohan longe de seus pensamentos, Sirri sorriu, passando a mão


pelo seu peito. — Eu acho que hoje é dia de sexo de celebração. Não é?

Bufando, Rohan a empurrou de volta suavemente. — Estou lisonjeado,


mas eu já disse a você: estou comprometido.

Sirri riu. — Você ainda está persistindo nisso? Você não pode estar
comprometido com uma pessoa casada.

— Isso vai mudar em breve —, Rohan disse secamente.

Sirri deu-lhe um olhar que só poderia ser descrito como piedoso. —


Querido, não me entenda mal: você tem uma boa pegada e é uma grande foda,
mas você realmente acha que o Príncipe de Gelo vai se colocar em um
escândalo por você?

— Ele pode se divorciar agora.

— Ele pode, mas isso não significa que ele vai. — Sirri suspirou. —
Olha, eu quero que você seja feliz, mas… você não é ingênuo, Rohan. A lei não
importa. O divórcio ainda está muito longe de ser socialmente aceitável em
Calluvia, especialmente em um casamento tão importante. Será um escândalo
como nenhum outro se o Príncipe Jamil de repente decidir deixar seu romance
de conto de fadas e deixar seu marido por alguém que mal tem uma posição
legal em Calluvia.

A mandíbula de Rohan se apertou. — Veremos. A que horas é que o baile


que Dalatteya oferecerá em homenagem a Warrehn?

Sirri olhou para ele. — Por favor, diga-me que você não pretende lidar
com seus problemas de relacionamento em um baile tão público. Precisamos
estar lá para Warrehn se certificar de que a querida tia dele não o envenene.

Rohan encolheu os ombros. — Não há razão para eu não fazer as duas


coisas.

Sirri lançou-lhe um olhar exasperado, sacudindo a cabeça. — Homens.


Por favor, me diga que você está realmente pensando com a cabeça agora.

Rohan não disse nada, se afastando.

Ele era autoconsciente o suficiente para perceber que ele não estava
pensando com a cabeça. Mas ele esperou o tempo suficiente, caramba.

Ele estava farto de deixar outro homem chamar a família dele de sua.
CAPÍTULO 36

— Vossa Alteza Real o Príncipe Herdeiro Ksar'ngh’chaali e Vossa Alteza


o Príncipe Seyn'ngh'veighli.

Jamil olhou para a entrada do salão de baile enquanto o mordomo


anunciava seu irmão e seu noivo. Os dedos de Seyn estavam conectados
frouxamente ao do Príncipe Ksar, com a cabeça erguida enquanto ele e seu
noivo atravessavam a multidão. Seyn sorria para Ksar enquanto falavam em
voz baixa, a cabeça prateada encostada na cabeça escura de Ksar. Eles
formavam um casal lindo — arrogante e orgulhoso, mas bonito mesmo assim.
Também era embaraçosamente óbvio o quão apaixonado Seyn estava. Ksar era
mais difícil de ler, mas Jamil tinha certeza de que ele não desviara o olhar do
rosto de Seyn nem uma vez se quer enquanto se falavam. Se a multidão não
partisse de forma gentil para deixá-los passar, eles poderiam ter tropeçado e
caído, mas é claro que nem sequer ocorreu a Ksar que as pessoas não abririam
passagem para ele. Arrogante. Jamil não tinha ideia do que Seyn viu naquele
homem.

Você está com inveja, uma voz sussurrou no fundo de sua mente. Você
está com ciúmes da felicidade do seu irmão mais novo, do fato de que ele pode
segurar a mão de seu homem em público.

Jamil engoliu em seco e desviou o olhar, o estômago se contraindo. De


repente, ficou consciente de como estava sozinho naquele salão lotado. Ele
provavelmente conhecia cada pessoa neste salão de baile, mas ele se sentia
completamente sozinho, como um estranho, vendo outras pessoas sorrirem,
rirem e dançarem.

O que ele estava fazendo aqui?


Ele deveria ter ficado em casa, com Tmynne. Ele queria, mas suas mães
insistiram que ele as acompanhasse ao baile de Dalatteya, argumentando que
ele se tornaria um recluso. Elas não sabiam de nada ainda.

— Querido, por que você está se escondendo atrás desta planta? —, uma
voz familiar disse exasperadamente.

— Eu não estou me escondendo, Mãe —, Jamil mentiu, forçando um leve


sorriso quando se virou para a Rainha Consorte. — A planta por acaso está
aqui.

Sua mãe arqueou as sobrancelhas com ceticismo.

Jamil riu. — Tudo bem, tudo bem: eu apenas não me sinto no clima para
socializar.

Sua mãe não sorriu. Ela o olhou estranhamente. — Eu acho que é a


primeira vez que vejo você sorrir em muito tempo. Caminhe comigo, querido?
— Jamil ofereceu-lhe o braço com carinho, perguntando-se o que é que mães
tinham que faziam um homem adulto se sentir como um menino.

— Onde está Mehmer? Eu não sabia que ele não viria ao baile. Achei que
ele nos encontraria aqui.

Jamil reprimiu uma careta, consciente de que as pessoas estavam os


observando. As pessoas estavam sempre observando eles. — Eu não sei onde
ele está —, disse ele, olhando para frente dele. Ele podia sentir o olhar
observador de sua mãe em seu rosto.

— Vocês estão brigados? — Ela disse depois de um momento. — Eu


percebi que vocês não estão... próximos como eram.

Essa é uma maneira de colocar isso. Jamil ficou um pouco surpreso por
suas mães terem demorado tanto para falar com ele sobre isso, considerando
que todos viviam sob o mesmo teto, não importando quão grande esse teto era.

Mordendo o lábio, Jamil hesitou. Mas não adiantava tentar adiar essa
conversa. Suas mães descobririam em breve, de qualquer forma. Ele devia pelo
menos preveni-las antes que chegasse à imprensa.

— Pedi a Mehmer o divórcio esta tarde.

A mão de sua mãe ficou tensa no braço dele. — O que? — Ela o forçou a
parar e olhar para ela. — Você não pode estar falando sério.

Jamil manteve o olhar, recusando-se a se sentir como um garotinho que


fez algo que não deveria ter.

— Mas por quê? — Sua mãe disse, franzindo a testa. — Querido, todo
relacionamento tem momentos difíceis. Vocês costumavam ser tão felizes
juntos.

— Não é... não é uma fase difícil. É… — Jamil passou a mão pelos
cabelos, sem palavras. O que ele poderia dizer?

Não é apenas uma fase difícil, se a minha pele se arrepia sempre que ele
me toca. Não é uma fase difícil se eu sentir que não consegui respirar
adequadamente por meses.

Jamil não disse nenhuma dessas coisas, ciente de quão completamente


insano elas soariam.

Ele apenas disse: — Eu não o amo mais, Mãe. Porque esse era o ponto
crucial do problema, não era? Ele não poderia permanecer casado com um
homem que ele não amava. Não era justo para nenhum dos dois. Foi por isso
que, assim que Jamil soube que o divórcio agora era legal, ele pedira a Mehmer
um. Foi a conversa mais difícil de sua vida, mas ele estava cansado de viver
uma mentira. Independentemente dele e Rohan estarem juntos ou não, ele
queria parar de chamar Mehmer de — marido — quando ele não sentia nada
como um.

A pior parte era que Mehmer nem parecia surpreso. Ele sabia que a hora
estava chegando. Ele seria um idiota se não, considerando que Jamil se afastou
de seu toque e eles ainda não tinham feito sexo apesar de Mehmer estar de volta
em casa por alguns meses.

Com os olhos tristes, Mehmer sorriu torto e disse: — Então você


finalmente vai me dizer quem é ele?

Jamil acabou por abraçá-lo. Ele ainda amava Mehmer, e machucá-lo era a
última coisa que ele queria. Ele simplesmente não o amava como um homem;
ele o amava como um querido amigo de infância e talvez ele sempre o tivesse
amado dessa forma.

Eles cresceram juntos, compartilharam tudo, eram melhores amigos —


amigos que fizeram sexo um com o outro. Jamil pensara que aquilo era amor
romântico. Agora, olhando para trás, ele sabia que ele tinha sido incrivelmente
ignorante sobre atração e amor. Mehmer nunca fez seu coração bater mais
rápido quando ele sorria para Jamil. O seu coração nunca doeu por ele. Ele
nunca o fez se sentir completo no momento em que entrou na sala. Jamil nunca
sentiu como se não pudesse viver sem Mehmer. É claro que ele se entristeceu
quando pensou que tinha perdido Mehmer, mas Jamil não sentia como se
houvesse um buraco negro em seu peito comendo-o por dentro. Ele podia
respirar sem Mehmer. Ele poderia se curar e seguir em frente.

Jamil sorriu com tristeza. Seu amor por Mehmer era definitivamente mais
saudável para seu estado de espírito. Se ele não tivesse conhecido Rohan, ele
provavelmente teria sido perfeitamente feliz com Mehmer, mesmo sem o
vínculo de infância.
Mas depois de conhecer Rohan, ele não podia — ele não poderia se
contentar com nada menos do que isso. Ele tentou, ele honestamente tentou,
mas depois de meses tentando sentir algo que ele não sentia, ele estava cansado
de forçá-lo. Ele não podia fazer isso. Ele não conseguia parar de amar um
homem e começar a amar outro só porque a lei dizia que ele deveria.

— Eu sei que outro escândalo é a última coisa que nossa Casa precisa
agora, e eu sinto muito, Mãe, mas eu… — Jamil parou, arrepios subindo por
sua espinha. Ele ergueu a cabeça, seu coração batendo mais rápido quando o
vínculo no fundo de sua mente se acendeu.

Ele estava aqui.

—... Jamil?

Vacilando, ele olhou para sua mãe. Jamil apertou os dedos trêmulos atrás
de suas costas, tentando mostrar em seu rosto algo parecido com sua expressão
normal. A julgar pela carranca de sua mãe, ele não teve sucesso.

— O que há de errado com você? — Ela disse, colocando uma mão na


testa dele. — Você está um pouco quente. E suas pupilas estão dilatadas. Você
se sente doente?

Jamil mal se impediu de se afastar do toque de sua mãe. Sua pele estava
muito apertada, seu corpo quase vibrando de tensão. Apenas com uma incrível
força de vontade ele se parou de olhar ao redor do salão de baile, como uma
coisa faminta em busca de seu sustento.

— Eu preciso… preciso sair —, disse ele. — Eu vou falar com você mais
tarde, Mãe. — Ele se afastou da Rainha Consorte, ignorando suas tentativas de
detê-lo. Ele precisava fugir. Ele não podia ver Rohan, não agora, não em um
ambiente público. Se ele o visse agora, havia um risco real de que ele acabaria
escalando-o como uma árvore e consumindo-o, as pessoas ao redor que se
danassem. Ele desejou que ele estivesse exagerando, mas ele não estava. A
mera possibilidade de estar perto de Rohan o fez tremer, seu coração e corpo
doendo de necessidade, o elo pulsando faminto no fundo de sua mente. Não.
Ele precisava sair. Ele ainda era um homem casado. Ele devia a Mehmer um
comportamento decente até que seu divórcio fosse finalizado.

Jamil abriu caminho entre a multidão, ciente de que estava sendo


extremamente rude, mas apenas querendo chegar à câmara mais próxima o
mais rápido possível.

— Você está fugindo de mim?

Ele parou abruptamente, olhando sem realmente enxergar a frente dele. A


voz mental de Rohan era baixa e um tanto divertida — e tão dolorosamente
familiar que os olhos de Jamil arderam, como era bom tê-lo em sua mente
novamente. Mas não foi o suficiente. Não era uma verdadeira fusão, apenas
uma provocação disso. Ele queria — precisava — demais. Ele queria ter a
mente e o corpo de Rohan dentro dos seu e fundi-los até que eles nunca mais
pudessem se separar novamente.

— Onde você está? — Jamil perguntou atordoado, cada pensamento sobre


sair sendo esquecido. Onde você está, onde você está, onde você está?

— Logo atrás de você, querido.

Jamil se virou e quase teve um ataque cardíaco quando a multidão se


separou e Rohan de repente estava bem ali, na frente dele.

Ele parecia... Jamil honestamente não tinha ideia de como ele parecia.
Tudo o que ele podia ver eram os olhos escuros de Rohan. Ele quase se afundou
neles quando Rohan de repente trouxe seus escudos para cima.
— Não, amor, não aqui —, a voz de Rohan disse em sua cabeça. — Não
podemos fazer uma fusão aqui. Seria óbvio demais.

Jamil olhou para ele ansiosamente, sem entender.

Uma careta de dor cruzou o rosto de Rohan. — Droga, não olhe para mim
desse jeito. Eu sou apenas um homem. — Olhando ao redor, ele inclinou-se para
Jamil tardiamente. — Vossa Alteza —, disse ele em voz alta. — É um prazer
vê-lo. — Certo. Havia pessoas ao redor deles. Ele provavelmente deveria dizer
algo apropriadamente principesco.

Ele não conseguia dizer uma palavra. Jamil podia falar oito línguas
galácticas perfeitamente sem o chip de tradução, e ainda assim ele não
conseguia pronunciar uma única palavra, dolorosamente ciente da distância
entre eles.

Ele só podia assentir, esperando que a necessidade devorando todo o seu


ser não esteja óbvia em seu rosto.

Rohan olhou para ele por um longo momento, seus olhos queimando,
antes de se inclinar novamente e oferecer uma mão. — Você dançará comigo,
Vossa Alteza?

Jamil lambeu os lábios secos, o coração palpitando em algum ponto da


garganta e o estômago se apertando em deleite e pavor. Ele não confiava em si
mesmo com os braços de Rohan em volta dele, com o cheiro de Rohan em suas
narinas. Ele pode acabar beijando-o e sentindo-o bem ali, na frente de toda a
sociedade.

— Eu gostaria de tomar um pouco de ar fresco —, disse Jamil.


Distantemente, ele estava ciente de que ele estava se comportando de forma
inadequada, ele não tinha desviado os olhos de Rohan nem por um momento, o
que provavelmente estava fazendo os fofoqueiros incrivelmente felizes. Jamil
estava perfeitamente ciente disso, mas ele não conseguia desviar o olhar. Ele
costumava zombar quando as pessoas diziam coisas como “Eu poderia olhar
nos olhos dele para sempre”, agora ele entendia completamente o sentimento.
Olhar nos olhos negros de Rohan era intoxicante, tornando-o quente e
formigando por dentro, seu corpo vivo em todos os sentidos da palavra.

— Depois de você, Vossa Alteza —, Rohan disse, curvando-se


ligeiramente.

Rasgando o olhar, Jamil dirigiu-se ao terraço, incrivelmente consciente do


homem que caminhava atrás dele. Vagamente, ele também estava ciente dos
olhares curiosos e sussurros seguindo Rohan e ele, mas neste momento, ele não
conseguia se importar.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, deixaram o salão


lotado e saíram para o terraço. Em qualquer outro dia, Jamil teria admirado: o
terraço do Quinto Palácio Real era famoso por sua escala e beleza. Circundava
o palácio inteiro, oferecendo a oportunidade de admirar as mais belas flores da
galáxia e incríveis vistas das falésias e do oceano abaixo deles. No momento,
Jamil não se importava com a beleza que os cercava.

Ele caminhou ao longo do terraço, até que o barulho do salão de baile foi
deixado para trás e o som de seus passos era a única coisa que ele podia ouvir.

Jamil parou, encostando-se ao corrimão. Ele respirou o ar fresco,


observando as ondas batendo nos penhascos abaixo deles. Ele sentiu Rohan
inclinar-se contra as grades também. Seus ombros roçaram. Jamil mordeu o
lábio inferior com força, esperando que não fosse óbvio o quanto ele estava
tremendo.

— Parabéns —, disse ele.

— Obrigado.
— Seu povo deve estar feliz.

— Eles estão.

— Você deveria estar orgulhoso. Você foi incrível no Conselho.

— Obrigado, mas eu tive ajuda. Eu não poderia ter feito tudo sozinho.

Jamil quase riu. Deuses, isso era ridículo. Por que eles não podiam falar
sobre o que eles realmente queriam dizer?

— Eu acho que há algo errado comigo —, ele sussurrou, olhando para o


oceano. — Eu sinto que estou prestes a pular para fora do corpo, como se
estivesse prestes a desmoronar se você me tocar — ou não me tocar. O que há
de errado comigo?

Rohan suspirou. — Essa é a desvantagem de se entregar a muitas fusões


telepáticas com um parceiro. Seu corpo começa a desejar isso. Normalmente,
isso nunca se torna tão ruim, mas nos separamos por muito tempo e
provavelmente não ajudou o fato de eu usar um inibidor de vínculo por um
tempo.

Jamil franziu a testa. Então foi por isso que ele não foi capaz de sentir
Rohan quando ele retornou a Calluvia como Lorde Tai'Lehr.

— Você não está mais usando um inibidor de vínculo.

— Não —, disse Rohan, suas mãos segurando o corrimão.

Jamil olhou ansiosamente para elas. Ele as queria em seu corpo, tanto que
suas entranhas literalmente doíam por isso. Ele desviou o olhar, tentando se
distrair. — Mas não foi nem de longe tão ruim se comparado a primeira vez que
você foi embora.
— A primeira vez que eu fui, não éramos amantes —, disse Rohan. —
Nós mal éramos amigos. Há um elemento emocional em um vício de fusão.
Quanto mais fortes os laços emocionais, mais forte é. Nós tínhamos chegado...
muito perto antes de eu ir embora pela segunda vez.

Jamil soltou uma risada. — Essa é à sua maneira de dizer que eu era
ridiculamente grudento e não podia passar algumas horas sem sua mente ou
pênis em mim?

Rohan gemeu baixinho. — Eu não posso acreditar que as pessoas acham


que você é muito adequado. Príncipe de Gelo, minha bunda.

Sorrindo torto, Jamil se permitiu olhar de lado para ele.

Ele percebeu seu erro assim que eles trancaram os olhos, o olhar de
Rohan pesado e escuro de desejo.

Jamil engoliu em seco.

— Eu era ridiculamente pegajoso também —, disse Rohan com um


sorriso irônico, levantando a mão e pairando no rosto de Jamil. — E ao
contrário de você, eu deveria saber melhor. Eu sabia tudo ficaria mais difícil
quando eu tivesse que ir, mas eu não fiz nada para colocar distância entre nós.
Eu fui egoísta. — Seus dedos finalmente tocaram a bochecha de Jamil, um
toque sutil. Isso fez Jamil tremer incontrolavelmente.

— Eu ainda sou egoísta —, disse Rohan. — Eu deveria estar no salão de


baile, vendo o meu melhor amigo ser recebido de volta, não aqui, colocando
minhas mãos gananciosas em você.

Os olhos de Jamil se fecharam quando os dedos de Rohan percorreram


seus lábios trêmulos.
— Foda-se, você é tão lindo —, disse Rohan com voz rouca. — Eu
poderia olhar para você para sempre. Case-se comigo.

O coração de Jamil pulou.

Ele abriu os olhos. — Para que você possa olhar para mim para sempre?
— Ele tentou brincar, mas saiu constrangedoramente instável.

O olhar escuro e intenso de Rohan pareceu queimá-lo. — Entre outras


coisas. Case comigo, amor. — Seus dedos roçaram a bochecha de Jamil. — O
divórcio é possível agora. Eu te disse que faria isso por você, não é?

— Não há necessidade de ser tão presunçoso —, Jamil disse com um


pequeno sorriso impotente, seu coração cheio de adoração. Porra, ele amava
esse homem. Assustava-o quanto ele o amava.

— Eu não sou presunçoso —, disse Rohan, seus lábios torcendo. —


Estou com muito medo do que sou capaz de fazer por você. Eu fiz coisas das
quais não me orgulho, mas faria tudo de novo, e mais ainda, pelo privilégio de
chamá-lo de meu.

Com um som derrotado, Jamil enterrou o rosto no ombro de Rohan. —


Ugh, por que você tem que ser tão perfeito? Eu estava tentando ser bom e ficar
longe de você até que meu divórcio estivesse finalizado, mas é claro que você
tinha que arruinar minhas boas intenções.

Rohan riu e envolveu-o em um abraço de esmagar os ossos que lhe tirou


o fôlego. Ainda não era suficiente. Mas, novamente, Jamil estava começando a
suspeitar que nunca se cansaria desse homem. Seus olhos ardiam da mistura de
felicidade e dor acumulada dos meses anteriores, Jamil sussurrou ferozmente:
— Eu nunca vou deixar você ficar longe de mim novamente. — Seus dedos
cavaram as omoplatas de Rohan antes de correr sobre a largura de suas costas.
Ele não conseguia o suficiente. Jamil respirou profundamente, sentindo-se
bêbado, incapaz de acreditar que Rohan estava finalmente aqui, em seus braços.
— Eu senti tanto sua falta. Fodidamente tanto. Tmynne também sentiu sua
falta, mas eu senti mais.

Rohan soltou uma risada, acariciando seu cabelo. — Como você pode ter
tanta certeza? Tmynne é um bebê. Ela não pode dizer o quanto ela sentiu minha
falta.

É impossível alguém sentir sua falta mais do que eu. Ele não disse isso.
Ele não precisava.

Ele sentiu uma onda feroz de proteção e amor que não era dele, as
emoções de Rohan vazando através de seus escudos. — Case-se comigo —,
disse Rohan com força, passando os dedos pelos cabelos de Jamil. Ele beijou o
lado do rosto de Jamil, seus lábios tremendo, desesperados. — Fique comigo.
Seja meu. Diga sim.

Jamil levantou a cabeça. Seus olhos estavam ardendo, mas ele nunca
tinha sorrido mais. — Sim.

Rindo de alívio e alegria, Rohan o abraçou com força e o beijou.

A necessidade bateu neles quando seus lábios e mentes finalmente se


fundiram. Jamil fez um som choramingante, faminto, com tanta fome que não
conseguiu se controlar, sugando-o avidamente. Rohan gemeu, beijando-o mais
profundamente, mas tentando suavizar sua conexão mental — ele sabia que era
perigoso ir longe demais depois de tanto tempo: eles se perderiam
completamente na fusão. Mas Jamil resistiu, puxando-o cada vez mais fundo
dentro dele, sua fome sem fim.

— Eu estou aqui, eu tenho você, eu não vou a lugar nenhum —, Rohan


pensou para ele, beijando Jamil e afundando mais dentro dele. Era tão bom que
eles mal conseguiam pensar, sua necessidade e prazer mútuos fazendo com que
perdessem todas as suas inibições. As mãos de Jamil estavam se atrapalhando
entre eles, tentando desabotoar as calças de Rohan.

— O que no mundo... Jamil! — Eles congelaram.


CAPÍTULO 37

Eles se separaram, respirando com dificuldade.

O súbito fim da fusão foi desorientador, Rohan levou um momento para


focar seu olhar no rosto chocado da Rainha Janesh. Atrás dela, ele podia ver a
Rainha Consorte, que tinha a mão pressionada contra a boca. Rohan voltou seu
olhar para a Rainha, cuja expressão foi rapidamente se transformando de
choque para fúria.

Puta merda.

Olhando para baixo para se certificar de que Jamil não tinha realmente
conseguido desabotoar as calças, Rohan fez uma careta para a protuberância
obscena esticando suas calças e tentou acabar com sua excitação.

— Por favor, me diga que há uma explicação muito razoável para isso —,
a Rainha gritou, olhando para Jamil. — Que meus olhos se confundiram e que
meu filho não estava cometendo adultério, e em um lugar público! É por isso
que você quer um divórcio? Quando sua mãe me disse, eu não podia acreditar
nela, mas agora...

Jamil engoliu em seco, seu rosto normalmente pálido vermelho brilhante.

Rohan suprimiu a vontade de empurrar Jamil atrás de suas costas. Ele


sabia que Jamil não iria apreciá-lo, mas ele se aproximou de Jamil, oferecendo-
lhe seu apoio silencioso e enviando ondas de conforto e tranquilidade através de
seu vínculo. Ele sentiu Jamil relaxar um pouco.

— Vossa Majestade —, disse Rohan, chamando a ira da Rainha para ele.


Ele encontrou o olhar da Rainha e disse: — Eu não considero isso adultério.
Jamil é meu companheiro de vínculo.

A Rainha Consorte emitiu um som sufocante.

A Rainha olhou para ele. — O que foi que você disse?

Sem desviar o olhar dela, Rohan encontrou a mão de Jamil e enfiou os


dedos juntos. — Nós nos amamos. Estamos vinculados.

As mães de Jamil pareciam absolutamente sem palavras.

Por fim, a Rainha disse: — Jamil é casado. — Ela olhou para Jamil. —
Você perdeu a cabeça? Ainda estou esperando por uma resposta, Jamil. E pare
de segurar a mão desse homem! Você não tem vergonha?

Os dedos de Jamil apertaram mais forte os dedos de Rohan.

— Por um ano e meio, eu pensei que eu fui viúvo, Mãe —, disse ele.
Rohan podia sentir o quanto a situação o estressava, Jamil não estava
acostumado a decepcionar sua mãe, mas ele não sentiu nenhum arrependimento
ou hesitação. Jamil tinha feito uma escolha e ele não ia voltar atrás agora. — Eu
conheci Lorde Tai'Lehr meses atrás quando pensei que não era um homem
casado.

— Mas agora você sabe —, disse a Rainha, franzindo a testa. — Você é


casado, Jamil. Você tem uma filha com seu marido.

Jamil olhou para baixo. — Você sabe que ela não é de Mehmer.

Os lábios da Rainha se estreitaram. — Para todos os efeitos, ela é sim.


Seu marido teve a gentileza de aceitá-la e você o agradece com isso? Eu nunca
tive tanta vergonha de ser sua mãe. Você é o Príncipe Herdeiro. Comporte-se
como um.

Jamil parecia diminuir com as palavras da Rainha.


Rohan estalou. — Basta.

A Rainha mudou o olhar para ele, seus olhos verdes se estreitando


perigosamente. — Você está se intrometendo, Tai'Lehr. Eu falarei com você
mais tarde, depois de falar com meu filho.

— Não. — Soltando a mão de Jamil, Rohan se adiantou, entre Jamil e sua


mãe. — Com todo o respeito, Vossa Majestade, não permitirei que você
coloque toda a culpa em Jamil. Ele não merece isso.

Duas manchas coloridas apareceram nas maçãs do rosto da Rainha. —


Como você ousa?

— Sem ofensa, Vossa Majestade, mas Jamil é um homem adulto. Ele não
precisa se explicar para você. A vida é dele. — Ele suspirou quando a Rainha
abriu a boca para argumentar. — Olha, você realmente quer que seu filho seja
infeliz? Porque ele será miserável com Mehmer. Ele será miserável sem mim.

A Rainha zombou. — Sua arrogância não conhece limites.

— Não é arrogância —, Jamil disse, pegando a mão de Rohan novamente


e avançando de forma que eles estavam ombro a ombro. Embora ele estivesse
olhando para sua mãe com firmeza, Rohan podia sentir a presença mental de
Jamil, tentando se agarrar a ele através de seu vínculo. Envolveu a sua mente
firmemente ao redor da de Jamil, envolvendo-o em conforto, calor e amor. Os
olhos de Jamil ficaram vidrados por um momento antes de se concentrar na
Rainha novamente. — Rohan não está sendo arrogante. É a verdade. — Ele
olhou para baixo antes de encontrar o olhar da Rainha, sua expressão aberta e
dolorosamente vulnerável. — Eu o amo, Mãe.

O gelo no olhar da Rainha se derreteu um pouco. Ela suspirou, sacudindo


a cabeça. — Jamil, você está apenas confuso. Você não se lembra de como era
infeliz sem Mehmer?
O rosto de Jamil ficou vermelho, sua culpa era palpável. — Eu estava
deprimido porque sentia falta de Rohan, não de Mehmer. Sinto muito, Mãe por
mentir para você. E eu sinto muito por... por isso. Mas tomei a decisão. Eu não
posso ser o marido de Mehmer quando amo outro homem. Não é justo para
nenhum de nós. Você pode me renegar, é claro. Isso não vai mudar minha
opinião. Eu irei com ele.

A Rainha congelou. — O que?

Jamil respirou instável.

Rohan apertou sua mão em encorajamento.

— Eu vou embora com ele —, Jamil disse, mais firme. — E nós


levaremos nossa filha conosco. Eu sinto muito, eu sei que isso te deixaria sem
um herdeiro, mas...

— Nossa filha? — A Rainha repetiu fracamente. — Tmynne não é filha


do Lorde Tai'Lehr, Jamil.

— Ela é —, Jamil disse com um pequeno sorriso, o vínculo entre eles


queimando com calor. — Rohan deu ela para mim. Porque eu pedi a ele.

O choque da Rainha foi quase tangível. — Isso... isso vem acontecendo


há tanto tempo assim?

— Sim, Vossa Majestade —, disse Rohan, passando o polegar sobre o


pulso de Jamil. — Tmynne é nossa filha. Somos uma família de todas as
maneiras que importam. Eu estou farto de deixar outro homem chamar a minha
família de sua.

A Rainha Janesh passou a mão pelo rosto. Ela puxou uma cadeira do
terraço e sentou-se pesadamente. De repente, uma risada deixou seus lábios. —
Eu pensei que o escândalo que Seyn causou era tão ruim quanto possível.
Assim que as pessoas ouvirem que o meu filho mais velho fugira com o líder
dos rebeldes, porra, ninguém irá se importar com o comportamento de Seyn.

Ele podia sentir a confusão e a surpresa de Jamil através de seu vínculo.

— Minha mãe nunca xinga —, Jamil disse a ele quando Rohan lhe lançou
um olhar indagador. Ele parecia escandalizado.

Rohan quase riu. — Sua mãe é uma mera mortal, amor. Eu aposto que ela
xinga muito mais quando você não está por perto. Em vinte anos, Tmynne
provavelmente pensará que você não xinga também, e nós dois sabemos que
isso não poderia estar mais longe da verdade.

Os lábios de Jamil se contraíram. — Talvez —, ele murmurou, com um


sorriso travesso para ele.

Porra, ele era tão bonito quando sorria. Ele tinha o sorriso mais bonito e
adorável do mundo. Rohan poderia olhar para ele para sempre.

Somente quando a Rainha Consorte limpou a garganta, ele percebeu que


estava se aproximando, prestes a beijar Jamil, bem ali, na frente das mães de
Jamil.

Rohan se endireitou, a parte de trás do pescoço se aqueceu. Jamil estava


mordendo o lábio e corando também, mas o constrangimento não era a única
coisa que Rohan podia sentir dele. Jamil queria ser beijado. Tinha sido muito
tempo, e ambos estavam necessitados, famintos um pelo outro. Um beijo não
chegava nem perto o suficiente para saciar sua fome mútua.

Com alguma dificuldade, Rohan desviou o olhar de Jamil.

Seu olhar captou o da Rainha, que os observava com uma expressão


estranha no rosto.
— Tudo bem, Jamil —, disse ela. — Se isso não for algo que eu possa
mudar sua opinião, faremos tudo como deve ser feito. Você vai se divorciar e
vai se casar com Tai'Lehr, você teve a decência de propor ao meu filho, eu
suponho? — disse a Rainha, olhando para Rohan, embora nem de longe tão
ferozmente quanto antes.

Rohan sorriu, curvando-se. — Claro, Vossa Majestade. Obrigado. Sua


aceitação significa muito para Jamil.

A Rainha franziu os lábios, mas ele pôde ver um lampejo de aprovação


em seus olhos. — Pelo menos a sua linhagem é impecável —, disse ela com
relutância.

Atrás da Rainha, sua esposa revirou os olhos, fazendo Jamil rir.

Seus lindos olhos brilhando, Jamil sorriu para ele e apertou a mão de
Rohan, seu alívio e felicidade preenchendo seu vínculo como a luz do sol.

Rohan não pôde evitar: ele o beijou rapidamente na boca.

— Tai'Lehr!
CAPÍTULO 38

— Eu sinto muito, repete de novo?

O Príncipe Seyn do Terceiro Grande Clã olhou para seu irmão mais velho
e se perguntou se aquilo era apenas um sonho vivido e elaborado. Ele ainda
estava tendo problemas para processar tudo o que havia acontecido nos últimos
dias — ainda parecia inacreditável que seu tão apropriado irmão estivesse tendo
um relacionamento ilícito com um rebelde debaixo de seus narizes por meses
— mas isso era ridículo demais.

Ele recebeu um olhar plano de Jamil. — Nossa Mãe insiste que eu preciso
ter um acompanhante toda vez que eu estiver sozinho com Rohan até o divórcio
ser finalizado.

Seyn riu, balançando a cabeça. — Eu não vou nem falar sobre o absurdo
de eu ser um acompanhante, mas não é um pouco tarde demais para isso? —
Era estúpido. Por que isso importava, afinal? Todos agora sabiam que Jamil e
Mehmer estavam se divorciando, e Mehmer já havia saído do palácio e ido
viajar até que o escândalo abaixasse. Seyn se sentiu um pouco mal por ele,
exceto que Mehmer não parecia tão chateado. Se alguma coisa, ele parecia
cautelosamente animado por não mais ser obrigado a cumprir as regras
sufocantes que haviam sido impostas a ele desde antes que ele pudesse falar, de
como ser um futuro Rei Consorte do Terceiro Grande Clã. Não parecia haver
um clima ruim entre ele e Jamil, até onde Seyn podia ver. Eles ainda pareciam
ser amigos, mesmo que o relacionamento deles fosse um pouco tenso e
desajeitado. De qualquer forma, Mehmer dificilmente daria a mínima se Jamil e
seu futuro marido não fossem acompanhados enquanto estivessem sozinhos.
— Era a condição da Rainha —, disse o homem que estava sentado ao
lado de Jamil, com os olhos fixos em Jamil.

Seyn ainda estava tentando não ficar de boca aberta para ele. Quando
Seyn o viu há alguns meses no palácio, Jamil o apresentou como seu criado. Na
época, Seyn achara isso muito estranho — aquele homem não se parecia em
nada com um criado real, com suas tatuagens, o conjunto agressivo do queixo e
os olhos negros que enervavam Seyn um pouco. Para dizer a verdade, o traje de
um aristocrata era muito melhor do que o de um empregado, mas ele ainda
tinha aquela... selvageria que parecia completamente indecente. Seyn corou um
pouco quando percebeu que esse homem exalava um apelo animal bruto, o que
realmente o deixara tão desconfortável meses atrás. Ainda o deixava. Seyn
naturalmente gravitava em direção a homens mais refinados e arrogantes —
tudo bem, em direção a Ksar — enquanto o tipo de atração masculina de Rohan
apenas o fazia se sentir estranho. Ele ainda não podia acreditar que seu irmão
muito apropriado tinha um relacionamento com tal homem. O mundo estava
acabando?

— Você sabe como ela é —, Jamil disse, mudando um pouco para que ele
estivesse mais perto do Lorde Tai'Lehr.

Seyn imaginou se Jamil achava que ele estava sendo sutil. Foi divertido
ver Jamil lutar para manter seu olhar em Seyn. Seus olhos continuavam
voltando para o Lorde Tai’Lehr, e havia tanta querer neles que deixava Seyn
um pouco desconfortável, para ser honesto.

— Não é a única razão pela qual queremos você aqui —, disse Jamil,
arrancando o olhar de Lorde Tai'Lehr com óbvia dificuldade. Lorde Tai'Lehr
nem se incomodou em desviar o olhar de Jamil. Seyn se sentia ainda mais
desconfortável com o passar do tempo.
— Nós queríamos… — Jamil pareceu perder sua linha de pensamento,
seus olhos ficando vidrados, aparentemente sem motivo algum.

Franzindo a testa, Seyn olhou para os dois homens e se concentrou em


seus sentidos. Ele ainda não era muito bom nesse aspecto de sua telepatia, mas
até mesmo ele podia ver que a presença telepática de Jamil estava... fundida
com a de Lorde Tai'Lehr. Para todos os efeitos, eles pareciam ser um em dois
corpos diferentes.

Seyn olhou para eles, sua boca se abrindo. Deuses — Eles estavam se
envolvendo em uma fusão bem na frente dele? Sem tocar um no outro? Ele não
achava que era possível, mas aparentemente era. Jamil parecia alto, seu olhar
vago, um rubor nas bochechas e o prazer saindo de seu corpo em ondas suaves.
Quanto ao Lorde Tai'Lehr, seus olhos negros ainda estavam fixos em Jamil, seu
corpo tenso de excitação.

Seyn corou e olhou para baixo.

Eh, ele deveria pará-los? Não era seu dever como acompanhante?
Alguém poderia argumentar que uma fusão telepática era mais íntima do que a
união física de corpos.

Ele quase riu desse pensamento. Ele seria o maior hipócrita do mundo se
criticasse alguém por se envolver em fusões telepáticas ilegais. Embora ele
tivesse certeza de que ele e Ksar nunca tinham sido tão ruins sobre isso. Jamil e
Lorde Tai'Lehr estavam mostrando todos os sinais de vício de fusão. Eles
devem ter feito isso inúmeras vezes para entrar em fusão sem esforço — de
forma tão imprudente e desavergonhada. Era obsceno. Era tão obsceno como se
estivessem fazendo sexo na frente dele.

Jogando outro olhar para os dois homens, Seyn piscou.


Jamil estava encostado no lado de Lorde Tai’Lehr, com a cabeça no
ombro e os dedos entrelaçados na barriga lisa de Tai'Lehr. Seus olhos ainda
estavam vidrados. Seyn tinha certeza de que eles estavam se comunicando
mentalmente.

Jamil finalmente olhou para Seyn, seu rosto rosado. — Você não viu isso
—, ele murmurou. Ele parecia estar tentando parecer imperioso e comandante,
mas falhou miseravelmente, considerando que ele estava ronronando enquanto
se aconchegava em seu companheiro de união.

Uma risada deixou a boca de Seyn. — Viu o quê? Nada tem nada para ver
aqui.

O braço livre de Tai'Lehr estava em volta dos ombros de Jamil, puxando-


o ainda mais para perto. Ele virou a cabeça, os lábios roçando no templo de
Jamil. Um pequeno som saiu da boca de Jamil, seus lábios se abriram e seus
olhos se tornaram completamente vítreos. Seyn não tinha certeza se seu irmão
se lembrava de que eles não estavam sozinhos no quarto.

Percebendo o olhar fixo de Tai'Lehr nos lábios de Jamil, Seyn limpou a


garganta antes que as coisas aumentassem. Caramba, ele nunca teve a
curiosidade de saber como era seu irmão mais velho com um amante. Jamil
estava feliz com Mehmer, mas o relacionamento deles não tinha sido nada
disso. Ele raramente via Jamil beijar Mehmer na presença de outra pessoa. Ele
era muito apropriado para isso. Ou ele tinha sido, pelo menos.

— Você disse que não era a única razão pela qual você queria me ver —,
lembrou Seyn a seu irmão. Quando Jamil nem sequer reagiu à sua voz, Seyn
começou a ficar assustado. — Lorde Tai'Lehr, meu irmão está bem?

Tai'Lehr levantou o olhar para ele. O seu olhar estava menos longe do que
de Jamil, mas ainda não completamente focados. — Ele está bem. E você
deveria me chamar de Rohan.
— Ele está bem? — Seyn disse, não sem sarcasmo. — Ele nem parece
estar aqui, Rohan.

A mão de Rohan esfregou o bíceps de Jamil quando ele o puxou para


mais perto com um braço protetor ao redor dele. Jamil enterrou o rosto na curva
do pescoço de Rohan, seus olhos se fechando.

— Ele está bem —, ele repetiu. — Só faz muito tempo. Ele fica grudento
quando nos separamos por muito tempo. — Ele sorriu com tristeza. — Eu não
sou muito melhor, para ser honesto, mas eu tive o melhor treinamento nas artes
da mente que Tai'Lehr poderia oferecer. Jamil não teve treinamento. A fusão é
mais esmagadora para ele, enquanto eu ainda posso manter parte da minha
consciência sobre o mundo exterior.

Suprimindo sua curiosidade sobre o treinamento que Rohan havia


recebido — agora não era a hora de discutir isso —, Seyn perguntou: — Por
que você me queria aqui? Jamil começou a falar sobre isso antes de se distrair.

— Queremos sua ajuda. Ou melhor, a ajuda do seu noivo. Para obter o


apoio do Alto Adepto, eu tive que prometer coisas Idhron que eu prefiro não
dar a ele. — Rohan fez uma careta. — Aquele homem já tem muito poder onde
está. Você disse a Jamil que o Príncipe Ksar conseguiu passar pelos escudos de
Idhron e pegar um pouco de podres sobre ele. Se você pudesse convencer Ksar
a compartilhar o que ele descobriu, seria muito útil.

Seyn franziu a testa, seu estômago apertando em desconforto quando se


lembrou de seu último encontro com o Alto Adepto do Alto Hronthar. — Eu
vou perguntar a Ksar. Eu não acho que ele se recusará a dizer, mesmo que ele
não seja exatamente seu maior fã depois de tudo, depois de chantageá-lo para
apoiá-lo no Conselho.

Rohan deu de ombros, sem parecer muito arrependido. Para ser justo, ele
parecia mal estar prestando atenção na conversa na melhor das hipóteses, seu
olhar no rosto de Jamil enquanto os cílios de Jamil se abriam.

— Tudo bem? — Rohan murmurou, sua voz significativamente mais


suave enquanto eles olhavam nos olhos um do outro. — Está se sentindo
melhor?

Jamil deu-lhe um sorriso que Seyn só poderia descrever como


apaixonado. — Sim. Muito melhor. Te amo.

Seyn se virou, muito além do desconfortável. Uma fusão era uma


experiência incrivelmente íntima e ele se sentia como um voyeur assistindo —
e meio que invejoso. Não confiando em seu autocontrole, Ksar permitia que
eles se fundissem apenas quando Seyn exigia isso durante o sexo. O estômago
de Seyn agitou-se quando ele imaginou como seria uma fusão com Ksar sem o
sexo na mistura.

Ele deveria descobrir absolutamente.

— Tudo bem, eu vou ver isso —, disse Seyn, limpando a garganta. — Eu


vou falar com Ksar agora. Tenho certeza de que vocês dois ficarão bem sem
mim acompanhando vocês—, Ele se virou para o casal e logo se virou, corando.
— Você poderia esperar até eu sair antes de você subir no colo dele, irmão?

— Vá embora —, veio uma resposta ofegante entre os sons do beijo. — E


você não viu nada.

Rindo, Seyn foi embora.

Ele era o melhor acompanhante de todos os tempos, não era?


EPÍLOGO

— Mamãe olha!

Shayla levantou os olhos do forno quando a sua filha de sete anos


irrompeu na cozinha, agitando uma revista na mão.

— O que é isso, Nina? — Shayla disse, endireitando-se, o que não foi um


feito fácil com sua gravidez tão avançada.

Nina sorriu para ela. — Olhe, Mamãe, o casamento do príncipe está nesta
revista! Tem tantas fotos bonitas!

Shayla mal reprimiu uma careta. Ela sabia a quem Nina estava se
referindo, é claro: ela só falava sobre isso no último mês.

Pessoalmente, o casamento do Príncipe Jamil era um de seus tópicos


menos favoritos. Ainda era difícil para ela aceitar que seu casal favorito se
separou — e se casaram com pessoas diferentes.

Shayla ainda se lembrava de como ela estava em êxtase quando ouviu a


notícia do retorno milagroso de Príncipe Consorte Mehmer para casa. Ela se
sentira tão feliz, como se fosse o próprio marido que voltara à vida. Quando
alguns meses depois foi anunciado que o Príncipe Jamil e seu marido estavam
se divorciando, provavelmente não havia ninguém tão chocado e chateado
como Shayla. Irracionalmente, ela esperava que fosse tudo um erro e seu ship2
voltaria a ficar junto, exceto que ela leu as notícias sobre o casamento repentino
de Mehmer com um renomado magnata interplanetário. E como se isso não
bastasse, a Terceira Casa Real de Calluvia anunciou o noivado de Príncipe
Jamil com o governador de Tai'Lehr. Particularmente, Shayla achava que era
uma manobra política, que a família do Príncipe Jamil queria apenas salvar o
rosto de Jamil depois do segundo casamento de seu ex-marido. Então, ela
ignorou todos os artigos sobre o casal de noivos — até agora.

Relutantemente, Shayla pegou a revista de sua filha e olhou para a capa.

E então ela deu uma olhada mais longa, sua boca se abrindo.

Oh.

O príncipe estava brilhando; não havia outra palavra para isso. Se ela
achou que o Príncipe Jamil era bonito antes, ele estava etéreo agora, seu rosto
iluminado com amor e felicidade enquanto olhava para seu novo marido.

Quanto a seu novo marido... Shayla teve que admitir que Lorde Tai’Lehr
parecia tão apaixonado quanto seu companheiro de união, seus olhos escuros
cheios de ternura e desejo. Eles pareciam... eles pareciam certos juntos.

Mordendo o lábio, Shayla virou as páginas da revista, olhando foto após


foto dos recém-casados e convidados reais: Mehmer, no braço de seu magnata;
Rei Warrehn, olhando atentamente para alguém do lado de fora da moldura da
câmera; Príncipe Ksar e seu consorte, conversando com um grupo de alguns
políticos; Príncipe Harht, sentado tão perto de seu noivo terráqueo, que ele até
poderia estar em seu colo. Todos pareciam tão bonitos, confiantes e felizes.

Eles pareciam ter saído de um conto de fadas.

O olhar de Shayla finalmente parou na imagem em que os recém-casados


seguravam a Princesa Tmynne, de um ano, entre eles, o bebê apoiado com
confiança no ombro do consorte enquanto seus pais olhavam nos olhos um do
outro com tanto amor e necessidade que parecia intimista demais para tal
cenário público. Atrás dos recém-casados, Shayla podia ver o irmão mais novo
do Príncipe Jamil encostado em seu próprio marido enquanto observava os
recém-casados com um sorriso.
Shayla percebeu que ela estava sorrindo também quando Nina disse: —
Viu? Eu te disse que eles eram fofos juntos!

Shayla riu, passando a mão pelo cabelo da filha. — Não precisa ser tão
presunçosa querida.

Nina franziu o nariz. — Mas eu estava certa, mamãe! O príncipe


conseguiu seu felizes para sempre! Um final feliz é muito melhor do que um
triste.

Shayla olhou para a revista e sorriu melancolicamente. — Talvez.

Ela teve que admitir que seu coração estava mais leve quando ela fechou
a revista e voltou para o forno.

— Você leu um pouco sobre o Príncipe Eridan? — Nina disse


animadamente.

Shayla riu, sentindo uma pontada de nostalgia por sua própria infância.
As crianças crescem tão rápido. Em vinte anos, Nina contaria essas histórias
para seus próprios filhos.

— O que tem ele, querida?

Fim
Notas

1. Endogamia ou consanguinidade é o método de acasalamento que


consiste na união entre indivíduos aparentados, geneticamente
semelhantes.

2. Shipping, cuja origem é a palavra da língua inglesa relationship,


“relacionamento” é o desejo de que duas pessoas, sejam da vida real ou
ficcionais, estabeleçam um relacionamento romântico.

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