Você está na página 1de 14

1 APRESENTAÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), o Brasil já apresenta o


reconhecimento internacional de país livre da febre aftosa, com áreas em que ainda se pratica
a vacinação e outras áreas em que não mais realizam a vacinação contra febre aftosa.
Preparando o Brasil para ser uma zona livre de febre aftosa sem vacinação, o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) desenvolveu o Plano Estratégico
Nacional de ampliação da zona livre sem vacinação cujas diretrizes baseiam-se no
fortalecimento das medidas de vigilância para doenças vesiculares, detecção precoce da
infecção pelo vírus e desenvolvimento das capacidades para uma resposta rápida frente às
emergências sanitárias.
Para tanto, a interação entre os Serviços Veterinários Oficiais (SVO) e setor produtivo
representa um desafio aos estados visto que as partes interessadas na ampliação da zona livre
sem vacinação nacional precisam compreender a importância das notificações de suspeitas de
doenças vesiculares em tempo hábil para uma reação precoce do serviço, descarte da suspeita
ou confirmação e investigação apropriada mitigando os riscos de dispersão do foco.
Desta forma, as notificações de suspeita de Doenças Vesiculares (DV) constituem-se
importantes componentes de vigilância do PNEFA devendo ser prontamente acompanhadas
pelos pontos focais estaduais e avaliadas anualmente consoante os indicadores preconizados
pela Divisão de Febre Aftosa (DIFA) e apresentados no quadro 1.

Quadro 1 – Descrição dos indicadores de avaliação das notificações de DV.


Vigilância a partir das notificações de
Critério
suspeitas de DV
Tempo entre o início dos sinais clínicos e a
Tempo de Ação
notificação (24h)
Tempo entre a notificação e o atendimento
Tempo de reação
do SVE (12h)
Tempo entre a notificação e o resultado final
Tempo da investigação
da investigação
Origem da Informação Passiva
Frequência das ações de vigilância Contínua
Representatividade potencial da população Representativa
Unidade epidemiológica Estabelecimento
População alvo Espécies suscetíveis à febre aftosa
Partes interessadas da cadeia produtiva da
Responsáveis
pecuária
Zona com vacinação
Região geográfica sob vigilância
Zona sem vacinação
Formulários para o registro da ação e-Sisbravet
Formulários de investigação padronizados
do SVO
e-Sisbravet
Sistemas Informatizados
Sistemas de Vigilância do SVO
Fonte: Documento de análise das investigações vesiculares - DIFA/MAPA (2019)

Este documento trata da análise das notificações de DV atendidas pelo SVE do


Maranhão, no ano de 2021, comparando-se os resultados com os anos anteriores e servindo de
base para proposição do plano de ação corretiva que será apresentado à EGEPE-MA e diretoria
da agência visando o aprimoramento contínuo e evolução da execução das ações do PNEFA no
estado.

2. NOTIFICAÇÕES DE ENFERMIDADES ANIMAIS NO ESTADO DO MARANHÃO

2.1 Notificações com registro de atendimento no e-SISBRAVET

No ano de 2021, foram registradas no e-SISBRAVET 85 atendimentos à notificações de


enfermidades animais. Destes, 32 (37,65%) investigações envolveram espécies susceptíveis à
febre aftosa. Como espécie principal no atendimento, foi observada a participação de bovinos
em 25 (29,41%), ovinos em três (3,53%) e suíno em quatro (4,71%) investigações (Figura 1).

Figura 1 – Distribuição das notificações registradas no e-SISBRAVET envolvendo espécies animais


susceptíveis à febre aftosa no Maranhão, 2021.
4; 4,71% 2; 2,35%
3; 3,53%

25; 29,41% Bovina

Caprina

Equidea

Ovina

0; 0,00% Suína

Quiróptera

51; 60,00%

Fonte: E-SISBRAVET, 2021


Foi observada, também, a participação de suscetíveis como espécie secundária em 11
(45,83%) investigações, tendo participação de bovinos em quatro (16,67%) investigações, três
(12,50%) com caprino, três (12,50%) com ovinos e uma (4,17%) com suíno (Tabela 1).

Tabela 1 – Número de notificações e espécies animais (principal e secundária) envolvidos nas


investigações realizadas em 2021, com registro no e-SISBRAVET
Espécie animal envolvida na investigação
Tipo Principal % Secundária % Total %
Asinina 2 2,35 2 8,33 4,00 3,67
Avícola 0 0,00 1 4,17 1,00 0,92
Bovina 25 29,41 4 16,67 29,00 26,61
Caprina 0 0,00 3 12,50 3,00 2,75
Equina 46 54,12 6 25,00 52,00 47,71
Muar 3 3,53 4 16,67 7,00 6,42
Ovina 3 3,53 3 12,50 6,00 5,50
Quiróptera (NH) 2 2,35 0 0,00 2,00 1,83
Suína 4 4,71 1 4,17 5,00 4,59
Total 85 100,00 24 100,00 109,00 100,00
Nota: Agrupamento por cor: - Verde (Susceptíveis à Febre aftosa); Laranja (família Equidae) para facilitar a
consolidação de dados.
O total de 107 participações de espécies animais é decorrente de investigações envolvendo múltiplas espécies.
Fonte: E-SISBRAVET, 2021

Com relação à vigilância sindrômica, foi observado em 2021, um maior registro de


investigações envolvendo animais susceptíveis à febre aftosa relacionados à síndrome
neurológica com 16 atendimentos (50,00%), como representado na Figura 2.

Figura 2 – Proporção do resultado das ocorrências registradas no e-SISBRAVET envolvendo


espécies animais susceptíveis à febre aftosa no Maranhão, 2021.
2; 6,25%
6; 18,75%
Agravo não infeccioso

Brucelose (Brucella abortus)

Síndrome Hemorrágica dos


5; 15,63% Suínos_Suspeita descartada
Síndrome Neurológica
16; 50,00%
Síndrome Vesicular_Agravo não
infeccioso
3; 9,38%

Fonte: e-SISBRAVET (2021)


Na Tabela 2 encontra-se a distribuição dos animais suscetíveis por enfermidade
investigada no ano de 2021. É possível observar uma maior participação de Bovinos nas
investigações realizadas, assim como a forte participação das investigações nervosas no total de
atendimentos no ano.

Tabela 2 – Distribuição das espécies suscetíveis à febre aftosa por tipo de resultado das
investigações realizadas em 2021, com registro no e-SISBRAVET
Total
Enfermidade investigada Bovina Caprina Ovina Suína %
Geral
Agravo não infeccioso 4 1 1 6 18,75
Brucelose (Brucella abortus) 5 5 15,63
Síndrome Hemorrágica dos Suínos -
Suspeita descartada 3 3 9,38
Síndrome Neurológica 16 16 50,00
Síndrome Vesicular - Suspeita
descartada 2 2 6,25
Total Geral 25 0 3 4 32 100,00
Fonte: E-SISBRAVET, 2021

Não foram realizados atendimentos à notificação de suspeita de DV, porém durante


ações de vigilância pelo Serviço Oficial foram observados dois casos de claudicação em ovinos
que tiveram o diagnóstico clínico epidemiológico (agravo não infeccioso) de Fratura de tíbia e
Pododermatite.
Dos 217 municípios maranhenses, somente em um (0,46%) houve registro de
notificação para DV. Observou-se que as notificações atendidas pelo SVO ficaram concentradas
em uma pequena área do estado, sendo os atendimentos registrados em municípios de uma só
ULSAV. A distribuição espacial das ocorrências no estado encontram-se na Figura 3.
Figura 3 – Localização geográfica das suspeitas descartadas de doenças vesiculares no
Maranhão, 2021.

Fonte: E-SISBRAVET (2021)

Entretanto, para fins de vigilância, constatou-se que em 2021, o SVE, ao atender a


notificações de enfermidades, examinou 219 animais susceptíveis à febre aftosa em 79
propriedades rurais diferentes, que englobavam um total de 4.027 animais susceptíveis à febre
aftosa naquelas explorações pecuárias, descartando a presença de sinais clínicos compatíveis de
DV (dados extraídos do e-SISBRAVET).
Quanto à origem das notificações de suspeitas de doenças vesiculares, constatou-se
que todos os atendimentos foram decorrentes da vigilância ativa do SVE e tratavam-se de casos
descartados de DV. Portanto, não houve coleta de material biológico em nenhum desses
atendimentos. Assim sendo, o tempo de reação e tempo de investigação coincidiram visto que
o diagnóstico final do atendimento foi dado no ato da visita do SVE, encerrando assim a
investigação epidemiológica.
Ao considerar a participação de susceptíveis em outras investigações realizadas pelo
SVE como espécie secundária, foram examinados bovinos em quatro investigações, Ovinos em
três, caprino em três e suínos em uma visita.
Ao se considerar a oportunidade da vistoria e inspeção animal durante as ações de
vigilância em propriedades com atendimentos à notificação não encerradas e que passaram por
visitas complementares no ano de 2021, foram observadas 53 visitas complementares que entre
as espécies alvo da inspeção, estavam contempladas 34 atendimentos com a espécie bovina,
não sendo registrado sinais clínicos compatíveis com suspeita de DV nos bovinos presentes no
momento da visita (Figura 4).

Figura 4 – Distribuição das espécies-alvo por visita complementar realizada no ano de 2021.

Espécies vistoriadas em visitas complementares_2021


14
12
10
8
6
4
2
0
Asinina Bovina Equina Muar

Complementar 2 Complementar 3 Complementar 4 Complementar 5 Complementar 6

Fonte: E-SISBRAVET (2021)

2.2 Notificações registradas em outras fontes

Considerando a orientação da Coordenação de Informação e Epidemiologia (CIEP),


constante no Ofício-circular 39/2020/DSA/SDA/Mapa (Processo SEI 21000.042060/2020-21),
que complementa as orientações do Manual do e-SISBRAVET quanto ao registro de notificações
imediatas e investigações, estabelecendo que casos confirmados das doenças da categoria 4
devem ser notificados apenas mensalmente ao SVO e gerenciados no nível local sem a
necessidade de gerar uma investigação oficial ou informar seu registro no e-SISBRAVET.
Embora a recomendação acima seja adotada pelo estado com relação ao não registro
destes atendimentos diretamente no e-SISBRAVET, houve registros de atendimentos de
enfermidades que não são passíveis (obrigatoriedade) de atendimento pelo SVO no Relatório
Técnico Mensal – RTM (Relatório para registro de ações mensais realizadas pela UVL) como
resposta à demanda de atendimento pelo produtor aos escritórios da Agência.
Assim, estes atendimentos realizados resultaram em vigilância de 15 atendimentos à
notificação de enfermidades animais envolvendo espécies susceptíveis (196 animais
examinados: 174 bovinos; 04 caprinos e 18 suínos) que tiveram como resultado clínico
epidemiológico de agravo não infeccioso (abscesso vacinal; cisticercose; intoxicação por
enxofre; intoxicação por planta cianogênica; carbúnculo sintomático; clostridiose/botulismo;
epidermite exsudativa; linfadenite caseosa e varíola bovina), constatando-se a ausência sinais
clínicos compatíveis de DV no território Maranhense.
Destes, um atendimento envolveu a espécie caprina como alvo da investigação
(5,88%), quatro envolveram suínos (23,53%) e 10 incluíram bovinos nos episódios (70,59%)
como apresentado na Figura 4.

Figura 4 – distribuição das notificações registradas no e-Sisbravet envolvendo espécies animais


susceptíveis à febre aftosa no Maranhão, 2021.

4; 26,67%

Bovina
Caprina
Suína
1; 6,67%

10; 66,67%

Fonte: Consolidado Anual do Relatório Técnico Mensal (AGED, 2021)


Observou-se, no RTM, que o maior número de ocorrências relacionavam-se à
ocorrências de varíola bovina, cinco ocorrências (50,00%), como representado na Tabela 3.

Tabela 3 - Diagnóstico clínico epidemiológico das ocorrências de enfermidades animais


atendidas pelo SVE e registradas no RTM, no Maranhão, 2021
Número de
Espécie Diagnóstico Clínico/Epidemiológico
ocorrências
Intoxicação por planta cianogênica 1
Abscesso vacinal 1
Clostridiose/Botulismo 1
Bovina
Intoxicação por enxofre 1
Carbúnculo sintomático 1
Varíola bovina 5
Caprino Linfadenite caseosa 1
Cisticercose 1
Suína
Epidermite exsudativa 3
Fonte: Consolidado Anual do Relatório Técnico Mensal (AGED, 2021)

Dos 217 municípios maranhenses, somente nove (4,15%) registraram, no RTM,


ocorrências de enfermidades animais que dispensam registro no e-SISBRAVET. A distribuição
espacial dessas ocorrências encontram-se na Figura 5.
Figura 5 – Localização geográfica das ocorrências de enfermidades animais que dispensam
registro no e-sisbravet, no Maranhão, 2021.

Fonte: RTM, 2021


Mas, para fins de vigilância, constatou-se que em 2021, o SVE, ao atender a outras
notificações de enfermidades, examinou 196 animais susceptíveis à febre aftosa, descartando
a presença de sinais clínicos compatíveis de DV (figura 6).

Figura 6 – Número de espécies susceptíveis à FA examinas nos atendimentos do SVE que não
exigem registro no e-SISBRAVET no Maranhão, 2021.

18; 9,18%

4; 2,04%

Bovinos
Caprinos
Suínos

174; 88,78%

Fonte: Consolidado Anual do Relatório Técnico Mensal (AGED, 2021)

3 COMPARAÇÃO COM INVESTIGAÇÕES DE ANOS ANTERIORES

Comparando-se o quantitativo de notificações de DV no Estado do Maranhão,


observou-se que esse indicador é muito variável ao longo dos anos (de 2007 a 2021 foram
realizadas 168 investigações) e sua distribuição no período não é contínua, havendo oscilação
significativa nos números anuais de atendimento, sendo observado para 2021, um baixo valor
de investigações (Figura 7).
Figura 7 - Série histórica do quantitativo de notificações de DV atendidos pelo SVE no estado do
Maranhão.
45
40 40
35
30
28
25
20
20
15
13 13
10 11
10 6
5 5 6 8 4
4
0 0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fonte: E-SISBRAVET (2021) e Relatório de exportação de registro de enfermidades vesiculares do SivCont - SEE/AGED
(2021)

Estes resultados podem ter diferentes explicações, podendo tanto ser atribuído à baixa
percepção da comunidade quanto à importância das notificações de enfermidades ao SVO,
demonstrando a fragilidade na comunicação entre a agência e as partes envolvidas no processo.

4 RESULTADOS ENCONTRADOS

Com base na análise das notificações de DV no Maranhão, no ano de 2021, observou-se:


 Baixo número de notificações de DV em relação ao quantitativo de animais suscetíveis
no estado;
 Baixo número de municípios com atendimentos à suspeitas descartadas de DV
(circunscrição da distribuição espacial das notificações, caracterizando falha na
vigilância);
 Deficiente sensibilização dos produtores quanto a importância da notificação (redução
do impacto, participação social e intensificação da vigilância).

5 PLANO DE AÇÃO CORRETIVA

 Fortalecer as ações de educação e comunicação em saúde voltadas ao produtor rural


e/ou veterinários autônomos focando na importância da notificação (intensificar a
vigilância passiva) em parceria com as instituições que compõem a EGEPE-MA.
 Firmar parceria com o CRMV/MA para campanha de sensibilização dos médicos
veterinários autônomos quanto a importância da notificação de DV.
 Inserir no plano de educação continuada da agência a demanda de sensibilização dos
servidores da AGED quanto à intensificação da vigilância.
 Estreitar a comunicação e treinar os médicos veterinários privados e/ou os RT das casas
veterinárias, da sua jurisdição, para melhorar a sensibilidade do sistema de vigilância
para DV no estado.
 Solicitar às instituições que compõem à EGEPE-MA a inclusão do link do e-SISBRAVET
em seus sites oficiais.
EQUIPE DE ELABORAÇÃO

Margarida Paula Carreira de Sá Prazeres – Ponto focal PNEFA no SVE-MA


Maria Cristina Dutra Santos – Ponto focal substituta do PNEFA no SVE-MA
Roberto Carlos Negreiros de Arruda - Ponto focal PNEFA no SFA-MA
Rosiane de Jesus Barros – Responsável técnica pelo Setor de Epidemiologia e
Estatística da AGED-MA

Foto de capa: Exame de boca em ação de vigilância – Fiscal Estadual Agropecuário


Ricardo Wagner Martins – ULSAV de Amarante do Maranhão (2021)

Você também pode gostar