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LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

ENGENHEIRO NAVAL (ESCOLA POLITÉCNICA DA USP), lNGÉNIEUR (ECOLE NATIONALE SUPÉRlf.UllE I>E
TECHNIQUES A VANCÉES - PARIS), ÜFICIAL DE MARINHA (ESCOLA NAVAL). SUPERINTENDENTE TÉCNICO 1)0
CENTRO TECNOLÓGICO DA MARINHA EM SÃO PAULO. PROFESSOR DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO
CONTINUADA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIV ERSIDADE DE SÃO PAULO. PROFESSOR DO PROGRAMA DE
MBA EM ADMINISTRAÇÃO DA FUNDAÇÃO ARMANDO ÁLVARES PENTEADO, SÃO PAULO.

ECONOMIA
AMBIENTAL
GESTAO DE CUSTOS
E INVESTIMENTOS

2ª Edição
Revista e atualizada

2003

EDITOR RESPONSÁVEL editora


JUAREZ DE OLIVEIRA
Juarez de Oliveira
IV EDITORA JUAREZ DE ÜUVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

ECONOMIA AMBIENTAL
GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS

LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

2ª edição, 2003.

EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA LIDA.


Editor responsável: Juarez de Oliveira
Capa: Sérgio Ferreira Casanova Conceição

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

M929
Moura, Luiz Antônio Abdalla de.
Economia ambiental : gestão de custos e investimentos / Luiz Antônio Abdalla de Moura. -
2ª edição, revista e atualizada. - São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2003.

248 p.; 16x23 cm.

ISBN 85-7453-395-5

1. Administração de empresas - Aspectos ambientais. 2. Desenvolvimento econômico -


Aspectos ambientais. 3. Política ambiental - Aspectos econômicos. 4. Proteção ambiental -
Aspectos econômicos. I. Título.

CDD-333.7

EDITORA JUAREZ DE ÜLIYEIRA LTDA


Rua Conselheiro Furtado, 648, l º andar -Liberdade
São Paulo, SP- Cep: 0lSII-000 -Telefax (11) 3399.3663
www.juarezdeoliveira.com.br
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por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos,
A Mateus e Fernanda,
microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. com muito anwr
PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO

Dois anos após o lançamento da primeira edição, apresentamos esta


revisão, consolidada na segunda edição.
Os propósitos continuam sendo os mesmos da primeira edição, ou
seja, complementar com conceitos de Economia, de Contabilidade e de
Análise Financeira, o material apresentado no livro "Qualidade e Gestão
Ambiental", que apresenta sugestões sobre como implementar melhorias
de desempenho ambiental nas organizações, principalmente com base na
Norma internacional ISO 14.001 - Sistemas de Gestão Ambiental.
Observamos que esse assunto vem ganhando importância crescente
no Brasil e no mundo, existindo muita preocupação da Sociedade e dos
dirigentes de empresas quanto à questão ambiental. Atualmente, somen­
te aqui no Brasil, mais de 800 empresas foram certificadas quanto ao
cumprimento da Norma ISO 14001, muitas delas passando a incorporar
os aspectos econômicos aos seus programas, com um melhor controle
dos custos e benefícios. Cada vez mais é percebida a necessidade da exis­
tência de um "tripé da sustentabilidade" para permitir a sobrevivência
das empresas e de seus empreendimentos. É necessário que a empresa
tenha um retomo econômico compatível com o investimento realizado
(levando em conta, inclusive, uma remuneração pelos riscos assumidos),
qualidade ambiental e responsabilidade social.
Neste livro procuramos apresentar alguns aspectos econômicos e finan­
ceiros, para auxiliar os gerentes na tomada de decisões quanto aos inves­
timentos a serem realizados para adequar a empresa a uma boa conduta
ambiental, também parte da sua responsabilidade social. Procuramos,
nesta edição, aumentar o número de exemplos numéricos, principalmen­
te no capítulo 1 (Economia Ambiental) e melhorar o texto nos demais
capítulos, deixando-o mais claro.
VIII EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

Gostaria de transmitir meus sinceros agradecimentos à minha querida


irmã Mali, Maria de Lourdes de Moura Pellizzon pelo inestimável auxí­
lio na revisão deste texto e proposta de muitas melhorias de compreen­
são e de português. E ao Celso e à Beatriz, pela paciência e compreensão
na perda de atenção nas horas dedicadas a esse trabalho. PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO
Aos meus alunos dos cursos da USP, agradeço pelo apoio, pelo estí­
mulo e pelas sugestões de melhorias, em particular ao Engenheiro Bruno
Morais Nerici. Este livro teve origem, em parte, de material utilizado como notas de
aula do curso "Economia Ambiental - Gestão de Custos e de Investi­
São Paulo, 21 de janeiro de 2003. mentos", apresentado no Programa de Educação Continuada da Escola
O AUTOR Politécnica da Universidade de São Paulo, como uma das disciplinas do
Curso MBA em Tecnologia e Gestão Ambiental.
Ao preparar o livro "Qualidade e Gestão Ambiental", editado pela
Editora Oliveira Mendes (hoje, Editora Juarez de Oliveira) em 1998,
sentimos que havíamos dado enfoque muito pequeno aos assuntos ligados
a custos e análise de investimentos ambientais. Havíamos dado ênfase
muito grande à implantação de um Sistema de Gestão Ambiental, visando
o cumprimento da Norma ISO 14.001, preparando um conjunto de
sugestões sobre a maneira de estrutur,ar os diversos setores da empresa
para mobilizá-los de forma mais eficiente, pretendendo, com isso, a
melhoria de seu desempenho ambiental. Essa busca de um melhor
comportamento vem como resposta, das empresas e organizações, a
reclamos cada vez mais acentuados da Sociedade, representada, basi­
camente, por órgãos ambientais, nas várias esferas de governo, pelo
Ministério Público, na busca do cumprimento das leis, pela mídia (imprensa
escrita, falada, etc.), pelas ONGs e pelo cidadão em geral, em seu papel
cada vez mais fortalecido de consumidor. Satisfeito, o consumidor
manterá, certamente, fidelidade à marca e ao produto, o que contribuirá
para que a empresa consiga sobreviver com lucro. No mundo atual, é visível
a preocupação cada vez maior com os resíduos e efluentes descartados,
com a poluição, com a perda da biodiversidade, com fenômenos como o
aquecimento global causado, sobretudo, pela queima de combustíveis
fósseis e com outras agressões causadas pelo homem à natureza, como
resultado de suas atividades. Implantar um Sistema de Gestão Ambiental
é, certamente, excelente idéia para que se consiga melhorar o desempenho
das empresas, com bons reflexos sobre resultados financeiros, graças à
X EDITORA JUAREZ DE .ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS XI

maior eficiência obtida nos processos, economias de energia, água e outros mentos e sistemas, preparar orçamentos e submetê-los à alta administração
insumos de produção. e, posteriormente, gerenciar o uso dos recursos atribuídos.
Naquela ocasião, porém, demos enfoque muito tímido aos aspectos Procuramos, ainda, abordar, com bastante cuidado, a questão da tomada
econômicos e financeiros. Com a idéia deste trabalho, surgiu a oportu­ de decisões, por acreditarmos que se trata de fator importante para o
nidade de refletirmos um pouco mais sobre o assunto, sendo proposta sucesso dos Gerentes e da própria Empresa. É bastante provável que existam
esta pequena contribuição ao tema que, certamente, pode ser muito expan­ várias possibilidades de escolha quanto a sistemas e equipamentos, ou quanto
dida por outros profissionais do assunto. Nosso objetivo foi consolidar ao próprio rumo dos projetos. Teremos que, continuamente, fazer escolhas.
um conjunto básico de informações que permitissem um ponto de partida Eventualmente, não fazer nada já é uma escolha, algumas vezes a pior
na questão de custos ambientais e da tomada de decisões sobre a validade das opções. Mostrando, inicialmente, as fórmulas que levam em conta o
de realização de investimentos ambientais, sob o ponto de vista financeiro. valor do dinheiro no tempo (matemática financeira), abordamos as técnicas
de avaliação dos investimentos nas condições onde se possa ter razoável
Nenhum Diretor, Presidente· ou Gerente de Empresa irá aprovar certeza com relação a eventos futuros, bem como a métodos mais utili­
qualquer ação sem a análise cuidadosa dos custos e benefícios, ou da zados quando não se consegue ter essa certeza, mas apenas estimar
relação custo-eficiência. E a implantação dos projetos ambientais requer, probabilidades de ocorrência de eventos futuros. Finalmente, apresen­
quase sempre, cuidado muito grande, pela necessidade da identificação tamos alguns critérios que são úteis ao tomador de decisões, em situações
de aspectos ambientais e seus impactos (diagnóstico dos problemas), onde ele nem mesmo consegue avaliar as probabilidades, por falta de
definição de prioridades, da fixação de objetivos e metas, da preparação dados. O objetivo do conhecimento dessas técnicas será permitir uma
de Plano de Ação, de treinamento de pessoas para que cumpram novos decisão apoiada em bases mais científicas e racionais, evitando-se desper­
procedimentos e apliquem técnicas ambientalmente corretas, entre outras dícios e problemas financeiros para a empresa, em todas as atividades que
ações. Seguramente, na maioria dessas fases estará presente a variável visem conseguir melhorias de desempenho ambiental. Em engenharia,
econômica, pois os recursos atribuídos serão, quase sempre, escassos. não é suficiente conseguirmos desenvolver excelentes projetos, com
Será, portanto, essencial que seu uso seja feito com a máxima eficiência. cálculos corretíssimos, se não levarmos em conta os custos e o retorno
Iniciamos, este novo trabalho, revisando, rapidamente, alguns conceitos desse investimento. Todos os problemas ambientais, alguns envolvendo
básicos de Economia, procurando aplicá-los à questão ambiental. Em somas consideráveis para a sua solução (filtros especiai_s, sistemas de
seguida, procuramos sugerir uma metodologia para a identificação dos tratamento de efluentes, etc.) devem ser vistos com o mesmo enfoque, para
custos ambientais, usando alguns conceitos de Contabilidade. O conhe­ garantia do sucesso do empreendimento e da saúde financeira da empresa.
cimento dos custos é fundamental para que se possa gerenciar de forma Encerrando, gostaríamos de transmitir nossos agradecimentos ao PECE
eficiente. Washington Novaes, Joelmir Beting, Regina Scharf e outros e aos seus funcionários pelo apoio prestado, em particular aos seus
conceituados articulistas da área econômica de "O Estado de São Paulo" dirigentes, Professores Adherbal Caminada Netto, Gil Anderi e José
e da "Gazeta Mercantil" vêm, constantemente, enfatizando a necessidade Roberto Cardoso, e, em especial, aos alunos de nossos cursos na Escola
das empresas melhor conhecerem suas extemalidades e seus custos ambien­ Politécnica da USP, na Companhia Vale do Rio Doce (em Vitória) e na
tais. Procuramos, aqui, apresentar algumas técnicas de gerenciamento de Meritum (em Sorocaba), participantes dos cursos de pós-graduação em
projetos, imaginando que, após percorrermos as etapas anteriores para convênio com o PECE. Nesses três locais, tivemos a oportunidade de
implantar qualquer empreendimento que vise promover uma melhoria conviver com profissionais de nível muito elevado, com quem muito
de desempenho ambiental, precisaremos desenvolver ou contratar projetos aprendemos o que agora procuramos retransmitir.
de engenharia, elaborar especificações técnicas para a compra de equipa- São Paulo, 10 de janeiro de 2000
ÍNDICE

PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO ............................................................. VII

PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO ............................................................. IX

1. RELACIONAMENTOS DA ECONOMIA COM O MEIO AMBIENTE .. 1


1.1. Valor dos bens ambientais... ................................................................ 3
1.2. Desenvolvimento sustentável .............................................................. 6
1.3. Agentes da obtenção da qualidade ambiental ..................................... 9
1.4. Externalidades. interiorização dos custos ambientais......................... 11
1.5. Políticas ambientais ............................................................................ 13
1.6. Análise de Custo-benefício ................................................................. 17
1.7. Conceitos de economia aplicados à ecologia...................................... 19
1.7.1. Curvas de demanda e oferta ............................. ........................ 23
1.7.2. Exemplo de utilização dos conceitos acima exposto ............... 26
1.8. Análises de custo-benefício ................................................................ 29
1.8.l. Custos e benefícios marginais .................................................. 30
1.8.2. Exemplo de uso dos conceitos de custos e benefícios marginais 31
1.8.3. Outro exemplo: Problema sobre escolha da quantidade ótima
de indústrias a instalar .............................................. ..... ........... 34
1.8.3. Exemplo da ajustagem da produção (nível ótimo) ao se inter-
nalizar externalidades............................................................... 36
1.8.4. Exem plo da utilização do conceito de "Custos Marginais' para
a definição de um instrumento econômico do tipo 'fixação de
cotas de emissão" ............................................................... ...... 42
1.9. Instrumentos econômicos...................... ...... ............ .......... ... ............... 47
1.10. O meio ambiente como oportunidade de negócios............................... 51
1.1l. Os principais problemas ambientais brasileiros.................................. 53

2 . CUSTOS AMBIENTAIS.............................................................................. 57
2.1. Importância da gestão de custos ambientais ............................. ... ....... 57
2.2. Sistemas de gestão ambiental e custos ambientais .............. ................. 63
2.3. Benefícios resultantes da gestão de custos ambie ntais ..................... ,. (17
2.4. Estabelecimento dos custos da qualidade ambiental........................... (1 1 )

2.5. Alguns conceitos de contabilidade de custos..................................... 71


2.6. Classificação dos custos ambientais ......................................... . . , '/ 1
XIV EDITORA JuAREZ DE OLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO A BDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS XV

2.7. Custos da qualidade - a procura do mínimo custo total ..................... 82 5.6. Avaliação de projetos de investimentos com decisões sob risco (quan-
2.8. Método abc para apropriação contábil dos custos ambientais ........... . 102 do não se consegue estimar probabilidades de eventos futuros) ......... 207
2.9. Procedimentos empresariais para obtenção e classificação dos custos
ambientais ........................................................................................... 105 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 223

3. CONTROLE DE INVESTIMENTOS......................................................... 111 BIBLIOGRAFIA E SITES DA INTERNET..................................................... 225


3.1. Centros de Responsabilidade .............................................................. 112
3.2. Retorno dos Investim�ntos.................................................................. 113 ÍNDICE ALFABÉTICO REMISSIVO.............................................................. 227
3.3. O entendimento entre os setores ......................................................... 114
3.4. Empreendimentos e Projetos .............................................................. 114
3.5. Orçamentos e sua preparação ............................................................ . 119
3.6. Controle orçamentário e controle financeiro ...................................... 121
3.7. Os custos ambientais como ferramenta da orçamentação e controle .. 122
3.8. A espiral de projeto............................................................................. 123
3.9. As curvas de comprometimento e dispêndio de recursos ................... 124

4. AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS........................................................ 127


4.1. O valor do dinheiro no tempo ............................................................. 127
4.2. Medidas financeiras parajulgamento de opções de melhoria ambien-
tal ........................................................................................................ 134
4.3. Índice de Custo/ Benefício................................................................. 138
4.4. Rentabilidade simples e período de retorno do capital....................... 139
4.5. Valor Presente Líquido e Taxa Interna de Retorno ............................. 141
4.6. Custo de Oportunidade do Capital........................................-............ 142
4.7. Taxa Interna de Retorno Econômico................................................... 143
4.8. Benefícios em preservar ecossistemas ................................................ 144
4.9. Exemplos numéricos de avaliação de investimentos .......................... 148

5. A TOMADA DE DECISÕES...................................................................... 159


5 .1. Identificação de alternativas ................ ............ .................................. . 162
5.2. A preparação de especificações técnicas com vistas à melhor
escolha ................................................................................................ 167
5.3. A escolha da melhor opção entre diversas alternativas....................... 171
5.4. Análises de custo-benefício: análise das conseqüências financeiras
das decisões operacionais ...............................................-.-............... 176
5.5. Avaliação de projetos de investimentos quando se consegue estimar
probabilidades de eventos futuros....................................................... 187
5.1. Decisões em condições de incerteza. .................................................. 187
5.5.2. Critérios para escolha da melhor solução, conhecendo-se as
probabilidades ................................................... ....................... 189
5.5.3. Considerações sobre risco........................................................ I 90
5.5.4. Árvore de probabilidades ou árvore"de decisões ..................... 198
1
RELACIONAMENTOS DA ECONOMIA
COM O MEIO AMBIENTE

Economia é a ciência que trata dos fenômenos relativos à produção,


distribuição, acumulação e consumo dos bens materiais, conforme define
o dicionário "Aurélio".
Em todas essas etapas do processo econômico, são observadas intera­
ções e impactos sobre o meio ambiente, em maior ou menor grau. A produ­
ção utiliza recursos naturais, gera efluentes e resíduos, a distribuição utiliza
combustíveis poluentes, por exemplo, ou dutos que, rompendo-se, causam
problemas ambientais, o consumo produz restos de produtos e embala­
gens que são descartados, gerando freqüentemente impactos ambientais.
O mesmo dicionário mostra que a palavra economia também significa
"o controle para evitar desperdícios, em qualquer serviço ou atividade".
A abordagem atual do tema "Meio Ambiente" leva em conta que
os recursos naturais são limitados (finitos e freqüentemente escassos)
e, portanto, o seu uso deve ser feito de maneira sustentável, ou seja,
com economia.
O meio ambiente, ao interagir com todas as atividades humanas, é
modificado continuamente por essas atividades. A variável econômica
está sempre presente nessa interação, pois a implantação de novas leis, as
demandas e pressões de consumidores ou a própria consciência dos
empresários constituem-se em fatores que forçam uma nova postura e
novas regras de conduta no tocante às atividades industriais, com reper­
cussões sobre os custos de produção.
Com o crescimento da importância da questão ambiental, as empresas
têm realizado melhorias ambientais, estimuladas por órgãos de controle
2 EDITORA JUAREZ DE· ÜLIYEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 3

ambienta] e pela mídia que, por sua vez, reflete a vontade e interesse do para controle de problemas ambientais transfronteiriços ou globais devem,
público em geral, em busca de uma melhor quabdade de vida. Por vezes sempre que possível, serem baseadas em consenso entre os países".
essas melhorias são conseguidas à força de leis, regulamentos e fiscalização
pelos órgãos ambientais (papel de comando e controle), em muitos outros
1.1. VALOR DOS BENS AMBIENTAIS
casos elas decorrem de ações voluntárias, antecipando-se à emissão das
leis e procurando criar uma imagem favorável e melhor aceitação da ativi­ Um dos maiores problemas constatados ao se estudar economia
dade industrial e do próprio produto pela comunidades e consumidores. ambiental é a dificuldade em se estabelecer valor para um bem ambiental
Constatamos que, atualmente, existe uma velocidade muito grande de (qualidade do ar, da água e dos recursos naturais, por exemplo). A maio­
lançamento de novos produtos, com o público consumidor muito ávido ria desses bens não é comprada ou vendida no mercado e, com freqüên­
por novidades. Nesta situação, o con umidor está pa sando a valorizar cia, as próprias pessoas não querem que seja atribuído valor, ou seja,
mais a empresa fabrkante e não apenas a marca do produto, estando poucos aceitam pagar pela qualidade de vida, embora todos queiram urna
assim ressaltado o comportamento ético da empresa, onde atuam diver­ elevada qualidade. Hoje, entretanto, há uma tendência a uma maior realiza­
sos fatores, entre os quais o desempenho ambiental. ção de discussões e ao desenvolvimento de técnicas que possam avaliar,
Na busca da melhoria contínua de desempenho ambiental, vale lembrar de forma confiável, o preço desses bens naturais, como é o caso da água,
que na realização de todas as atividades gerenciais, desde o projeto até a com valores que serão estabelecidos pelos Comitês de Bacias Hidrográ­
seleção de sistemas e equipamentos e sua instalação e operação, os inves­ ficas, em função de sua escassez na bacia.
timentos requerem uma análise econômica de viabiUdade, para manter a O valor dos bens ambientais pode ser classificado em três categorias,
saúde financeira e a competitividade da empresa. É do mundo natural que segundo Pearce, citado por Marques e Comune: 1
a economia e as empresas irão buscar a maior parte de suas necessidades
a) Valor de uso: refere-se ao preço dos recursos naturais como os
em termos de matérias primas e energia, sendo também para o mundo
minérios, madeira de uma floresta, água (sua retirada vai passar a ser
natural que ela descartará seus resíduos.
cobrada), alimentos (peixes, frutos, fibras vegetais), animais para caça,
Estaremos, ao longo deste trabalho, tratando freqüentemente da Econo­ ativos da biodiversidade, produtos agrícolas em geral, entre outros.
mia Ecológica, ou seja, da integração entre a Economia e a Ecologia. Esses valores também são referidos como sendo de "uso direto". O valor
É necessário que, na defe a de nosso intere ses, os órgãos governa­ corno "uso indireto" seria, por exemplo, o valor como uso recreacional
mentais responsávei pelo comércio internacional e empresas realizem (um lago para esportes aquáticos, natação, pesca de lazer, passeios pelas
um acompanhamento cuidadoso das medidas protecionistas praticadas margens visando um bem estar, etc.), o valor como receptáculo de efluentes
por alguns países, que evenmalmente u am como pano de fundo a questão e outros resíduos, o valor de uma floresta no tocante à reciclagem do CO
ambiental. Nesse caso, é importante o conhecimento profundo do proble­ (seqüestro de carbono) e como fonte de nutrientes para o solo, control�
ma, sob seus aspectos técnicos (é real a degradação ambiental alegada?), de erosão, ações de regulação sobre o clima e outros efeitos ecológicos.
político (quais são as conseqüências sociais resultante do protecionis­
m sobre o emprego, por exemplo?) e econômicos. Lembramos o Princí- 1
PEARCE, D.W.; TURNER, R.K. Economics of natural res ouces and the
environment. Baltimore. The Johns Hopkins Univ., 110.378 p. Citado por João
1 i 12 da Declaração do Rio obre Meio Ambiente e Desenvolvimento: Fernando Marques e Antônio Evaldo Comune em seu capítulo "A teoria neoclássica
;,
"/\s p líticas econômicas com fins de proteção ambiental □ão devem e a valoração ambiental", apresentado no livro "Economia do Meio A mbiente"
s ·rvir para discriminar ou restringir o comércio internacional. Medida editado em 1997 pela UNICAMP (ver bibliografia).
4 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 5

b) Valor de opção: refere-se à preservação do bem ambiental p�a a sua utilização. Outra característica é a sua indivisibilidade. Os bens
uso no futuro, de forma direta ou indireta, ou seja, um uso potencial. privados, em contrapartida, são divisíveis e exclusivos. Em muitos casos,
Trata-se de um valor de não-uso do recurso no presente, essa escolha para os bens públicos, ocorre a tendência de que, se aquela determinada
permitindo prever um ganho futuro. Valem o mesmos exemplos do "va­ empresa ou pessoa não usar, outros o farão, ou seja, existe pouco respeito
lor de uso", lembrando-se que se compreende preservar esses ben" para pelos princípios de conservação.
um uso futuro. Um exemplo de "bem público" (não ambiental, mas aqui citado como
c)Valor de existência: refere-se a um valor normalmente intangível, exemplo) é a luz proporcionada por um farol de auxílio à navegação. Eles
ou seja, percebe-se que ele existe porém é de difícil mensuração. Trata­ têm a característica de serem "não competidores": quando um barco usa
se, por exemplo, da satisfação em se saber da existência de uma floresta a luz do farol ele não reduz o valor do serviço para um outro barco.
preservada (por exemplo, a Amazônia ou a Mata At�ântica), de u�a Entretanto, alguns recursos como a água pura e o ar atmosférico sofrem,
_
determinada espécie protegida (por exemplo, as baleias, o m1co leao por muitas vezes, do problema do livre acesso, principalmente se não
dourado), embora as pessoas nunca pretendam usufruir daquele bem existir uma legislação restritiva quanto ao uso exagerado ou sobre o direi­
ambiental, nem hoje nem no futuro. to de poluir.
Podemos lembrar como um outro exemplo de "valor de uso" o valor A questão dos "common goods" foi levantada por Garrett Hardin em
para os serviços ambientais prestados pelos oceanos, atuando por 1968, quando foi escrito o texto intitulado "A Tragédia dos Comuns",
exemplo, na regulação climática. Se não existisse a �orren�e d� Go�f� mostrando o problema do livre acesso a esse tipo de bem, levando ao seu
(Gulf Stream), o clima da Europa Ocidental seria mmto mais fno, difi­ esgotamento. Imagine um pastor que leva 1 O ovelhas para pastar em uma
cultando as condições de vida naquele continente. Além disso lembra­ área de livre acesso, e um outro pastor, também levando 10 ovelhas, na
mos a participação dos oceanos no ciclo das águas, formando a chuva mesma área, que possui pastagens suficientes para essa quantidade.
(a maior parte da água das chuvas é composta de água evaporada dos Imagine que um dos pastores acrescente uma ovelha a mais. E depois
oceanos); armazenagem de calor próximo à superfície; absorção de CO2 duas ovelhas. E o outro uma ovelha a mais. E assim por diante. Chegará
por algas, fornecimento de peixes e outros seres vivos como fonte de num ponto em que a pastagem não será suficiente e ambos sairão perden­
alimentos e recreação. do. Cada um olha muito por si próprio e por seu benefício, desprezando o
A economia usa a natureza como sua principal fonte de matérias fato de que os recursos são limitados. Se um dos pastores passa a ter um
primas e também como depósito (sorvedouro) dos re: í�uo� gerados pelo lucro adicional de 100 reais por ovelha, ele interpreta que existindo um
homem em todas as suas atividades. Esse duplo serviço e chamado de prejuízo de perda de pastagens de 80 reais, ele estará sendo dividido
"capital natural". A poluição é, portanto, o uso exagerado da natureza entre todos os pastores, não sendo somente coberto por ele. Somente um
como sorvedouro de resíduos e o esgotamento dos recursos, seu uso acordo de limitação do número de ovelhas, por parte de cada um dos
exagerado como fonte de matérias primas. pastores seria a solução para manter a capacidade da área de pastagem,
de forma indefinida.
Muitos bens ambientais são chamados de "bens públicos" ou "bens de
uso comum". Um exemplo mais atual seria relacionado à atividade pesqueira. Sabe­
mos que o Brasil não é um país privilegiado quanto a esse recurso, existin­
Bens de uso comum são aqueles para os quais inexistem critérios de do grandes "desertos" no mar, por condições naturais da costa brasileira
propriedade que garantam o uso exclusivo, ou seja, são col�ca�� s�ul­ e, além disso, ocorreram grandes avanços em tecnologia de pcs<.:a, co111
taneamente à disposição de todas as pessoas, não se podendo md1v1zual1zar barcos mais especializados, uso do sonar para a localização de card11111c-.-.,
6 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 7

entre óutros avanços. Sabemos que há uma quantidade elevada de barcos Uma das dificuldades observadas consiste no fato de que a geração futura
que ficam parados em portos e, quando se sabe que há um aumento loca­ não participa das discussões deste mercado de hoje, somente a consciência
lizado de pescado em uma área, esses barcos saem do porto e partem elevada de preservação da espécie e da própria vida é que serve de motiva­
para a captura desordenada. E se 'bem público" (peixe) tem tido sério ção às pessoas para que adotem ações preventivas à degradação ambiental,
problemas de esgotamento de estoques. Há a necessidade de regras e leis hoje observada.
claras limitando a atividade, para que haja acordo de cooperação entre os
A sustentabilidade envolve a idéia de manutenção dos estoques da
países a fim de que existam incentivos comun à conservação (por
exemplo proibições de pesca). A Cúpula Mundial sobre Desenvol vimen­ natureza, ou a garantia de sua reposição por processos naturais ou arti­
ficiais, ou seja, precisa-se olhar com cuidado a capacidade regenerativa
to Sustentável, a Rio+ 10, realizada em agosto de 2002 em Johannesburgo,
da natureza, chamada pelos economistas de "capacidade de suporte"
África do Sul, após exten as discussões sobre o problema da sobre­
exploração desses recursos, estabeleceu metas e prazos para a recupe­ dos ecossistemas.
ração de áreas de pesca em todo o mundo, até 2015, por meio da limi­ Antigamente: os processos econômicos não tinham uma magnitude
tação da produção "ao limite máximo sustentável". Mostraremos, mais tão grande para alterar significativamente os ecossistemas. Por outro lado,
adiante, um problema numérico sobre esta questão. verificamos que o aumento da população, com conseqüente crescimento
A redução de CO2 é vista também como um "bem público". Por exem­ do consumo, além do aperfeiçoamento de tecnologias extrativas, como
plo, se o Protocolo de Kyoto entrar em vigor sem a participação dos é o caso, por exemplo, de uso de motoserras na Amazônia (maior rapi­
Estados Unidos (55% dos países aderirem, com reduções que represen­ dez de extração) e novas técnicas de pesca (barcos maiores, uso de
tem 55% das emissões), os Estados Unidos também serão beneficiados sonar para localização de cardumes) provocam hoje maiores impactos
com o resultado da melhoria do clima relacionada à redução do ' efeito ambientais.
estufa", mesmo sem reduzir suas emissões. Nesse caso, ele seria um "free O desenvolvimento sustentável traduz uma preocupação entre gerações.
rider" (carona) do resultado. Mas esse posicionamento contra ofree rider
Um dos principais problemas atuais refere-se ao consumo excessivo
deixa os países relutantes em aderir ao Protocolo, achando que pagariam
de recursos naturais e seu esgotamento, ou, em outros casos, ser ultra­
o preço sozinhos, sem a colaboração de paí es que também seriam bene-
passada a "capacidade de suporte" dos ecossistemas, que consiste em
ficiados com a melhoria obtida.
sua renovação, por meios naturais, ou mesmo artificiais.
Estima-se que, atualmente, a humanidade esteja ultrapassando cerca
1.2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL de 20% dessa capacidade. Com relação aos recursos não renováveis a
idéia é de adiar o seu esgotamento. E qual o limite desse uso, essa é uma
Pelo dicionário "Aurélio", sustentar, entre outros significados, é sinô­
nimo de "conservar e manter", e no caso ambiental, implica no prolonga­ questão importante.
mento do uso produtivo dos recursos naturais. O crescimento econômico Imagine que você possui uma caderneta de poupança e seja esta sua
somente pode ser feito dentro da visão de "desenvolvimento susten­ única forma de sobrevivência, seu único ganho. Para que seja sustentá­
tável", ou seja, manter indefinidamente a disponibilidade de um deter­ vel no futuro, ou seja, você cónsiga sobreviver na velhice, você somente
minado recurso, usado por esta geração e pelas gerações futuras, consi­ poderia viver dos juros dessa poupança, sem mexer no capital principal
derando-se principalmente o valor de uso e o valor de opção conforme pois, de outra forma, seu patrimônio seria cada vez mais reduzido, até o
definidos acima. Ou seja, trata-se de um compromi so entre gerações. ponto em que você não conseguiria sobreviver. Na natureza, acontece a
8 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 9

mesma coisa. Os economistas chamam de "capital natural" os recursos zam os efeitos negativos a limites aceitáveis. Em particular, a economia
ambientais e naturais da Terra, ou seja, os bens ambientais, inclusive a sempre se preocupa com o "crescimento", enquanto a ecologia prefere
capacidade que a natureza tem de reciclar resíduos e poluentes, de forma usar a palavra "desenvolvimento", que não implica necessariamente em
natural. Nas atividades econômicas utilizam-se, quase sempre, recursos crescimento. Os ativos ambientais, embora hoje com custo baixo ou mesmo
naturais em grande escala, como matéria prima (minérios, petróleo, zero, quase sempre têm uma regeneração muito lenta (caso do solo
madeiras, água, pesca, etc.). Se estes recursos forem utilizados de forma destruído por erosão, água contaminada de um aqüífero, camada de ozônio
predatória, sem reposição ou uso controlado, seria o equivalente a estar­ destruída) ou certos casos o consumo de bens naturais que não são
mos usando o capital da caderneta de poupança e não somente os juros, substituíveis (minérios, extinção de uma determinada espécie vegetal ou
mas se os recursos forem usados com parcimônia e com a máxima animal). É importante lembrar que, em todas as atividades de engenharia,
eficiência, o capital se manteria para sempre, rendendo juros. devemos sempre procurar obter eficiência (o melhor projeto, com melhor
relação custo-benefício), segurança (redução de riscos) e sustentabilidade.
Entretanto, como poderemos interpretar esse conceito ao analisarmos
processos extrativos, como, por exemplo, a mineração e a extração e uso Em muitos casos é difícil chegarmos à conclusão sobre a validade de
do petróleo? O conceito de sustentabilidade estará então ligado, em se preservar ou não um determinado bem ambiental, como o petróleo.
primeiro lugar ao uso racional do recurso, evitando-se desperdícios Aqui no Brasil, por exemplo, onde temos sérios problemas em conseguir­
(maior eficiência na mineração, com maior aproveitamento do minério) mos nos desenvolver para dar melhores condições de vida ao povo, seria
melhor deixar o petróleo no subsolo guardado para as gerações futuras,
e adotando-se processos de recuperação e reciclagens, este último bas­
tante aplicável aos metais. Em segundo lugar, a sustentabilidade poderá ou extraí-lo e utilizar hoje seus derivados, para obter maior conforto e
desenvolvimento, e com os ganhos, conseguir mais progresso e melhorar
ser buscada por meio do desenvolvimento de novas tecnologias, procu­
cidades, gerar empregos, ou mesmo investir os lucros na pesquisa de
rando-se substitutos mais eficientes para os materiais esgotáveis, por
novas fontes de energia? Fica a dúvida, mas uma coisa é certa: sempre
exemplo, novos polímeros, novos materiais cerâmicos e fibras de carbono
devemos usar esse recurso com muita parcimônia e de forma eficiente.
e materiais compostos substituindo metais uso de substitutos renováveis,
Em relação a certos minérios considerados estratégicos, acreditamos que
por exemplo a geração de energia elétrica solar, eólica ou através da eles devam ser preservados para o futuro, quando os preços serão muito
biomassa, substituindo combustívei fósseis (carvão e petróleo). Existem maiores, em vez de serem vendidos hoje a preço muito baixo por exemplo,
tecnologias que eram aceitáveis no passado (menor população, menores os minérios de nióbio, de urânio, e a cassiterita, entre outros.
concentrações de indústrias), mas hoje não mais aceitas pela Sociedade.
As atividades de reciclagem de vários tipos de materiais (metais, vidro,
Na realidade, quando se fala em desenvolvimento sustentável, é preciso papel, papelão, plásticos, pneus) visam à preservação de matérias primas
lembrar que existem várias vertentes desse conceito quais sejam, o desen­ e à economia de energia no processo produtivo, pois quase todas as
volvimento social, o econômico o ambiental, político e tecnológico. Um formas de produção de energia geram impactos ambientais significativos,
gerenciamento, com responsabilidade ambiental, consegue conciliar as constituindo um aspecto importante ligado ao conceito de desenvol­
necessidades de crescimento econômico com os requisitos de melhor quali­ vimento sustentável.
dade de vida. Ao se desenvolver a atividade econômica industrial, fatal­
mente existirá uma maior geração de resíduos e poluentes e um uso
crescente de recursos naturais, porém isso deverá vir acompanhado do
1.3. AGENTES DA OBTENÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL
desenvolvimento de novas tecnologias, novos processos de produção, A obtenção de um certo nível de qualidade ambiental pode ser moti­
novos materiais e novos procedimentos e práticas gerenciais que redu- vada por vários agentes:
10 EDITORA JUAREZ DE ÜLIYEIRA - LUIZ ANTÔNIO A BDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 11

a) Governos, por meio de ações denominadas de "comando e contro­ Desenvolvimento Sustentável), a adoção voluntária de normas do tipo
le". Todas as leis, regulamentos oficiais com limites de emissões, licenças ISO 14.001 e a participação em programas do tipo "Mecanismo de Desen­
e permis ões de uso da água e do solo e normas ambientais para produtos volvimento Limpo" (captura de carbono da atmosfera).
(proibições de componentes perigosos, etc.) situam-se nesta categoria. Exemplos:
O envolvimento econômico ocorre por meio dos investimentos e dispên­
dios relacionados ao cumprimento dos padrões e, ainda, por meio das Ações de governos: elaboração e implantação da Lei n. 9.605, de 12
multas impostas quando esses padrões não são atendidos. de fevereiro de 1998 (Lei de Crimes Ambientais e Decreto n. 3 .179, de
21.9.1999), Regulamentos (Resolução do CONAMA n. 20, de 18.6.1986
Uma outra forma de atuação dos governos consiste na utilização de que estabelece parâmetros máximos de emissões de efluentes líquidos
instrumentos econômicos (taxas, impostos, bloqueios) a certos produtos em cursos d'água), permissões (outorga de água, utilização do solo
e serviços, forçando uma alteração no seu preço de mercado, de forma ou subsolo).
que os preços reflitam os pr,ejuízos que esses materiais causam ao meio
ambiente em seu uso ou descarte final (Princípio do Poluidor Pagador -
PPP). Essa parcela do custo deveria ser utilizada em ações de remediação 1.4. EXTERNALIDADES. INTERIORIZAÇÃO DOS CUSTOS
ou em estímulos e compensações à indústria que se adaptou, realizou AMBIENTAIS
investimentos e, portanto não causa esses impactos (estímulos através da
redução de impostos, subsídios, etc.). Nota: citamos o termo "poluidor Em economia, o conceito de externalidade refere-se à ação que um
pagador", que tem sido muito usado, principalmente na literatura inter­ determinado sistema de produção causa em outros sistemas externos.
nacional, porém o mais correto seria o termo "emissor pagador", pois o Trata-se de um conceito desenvolvido pelo economista inglês Pigou em
poluidor, à luz da legislação brasileira, comete um crime, passível de 1920, que estabeleceu que existe uma externalidade quando a produção
punição e não de pagamento enquanto o conceito refere-se ao "emis�or" de uma empresa (ou um consumo individual) afeta o processo produtivo
de.poluentes, dentro dos limites permitidos pelos órgãos ambientais (leis, ou um padrão de vida de outras empresas ou pessoas, na ausência de uma
resoluções, etc.). transação comercial entre elas. Normalmente, esses efeitos não são avalia­
dos em termos de preços. Um exemplo disso é a poluição causada por
b) Consumidores, por meio da preferência dada na compra de certos uma determinada indústria. A empresa, ao degradar o meio ambiente,
produtos confeccionados de forma ambientalmente correta (com selo impõe custos a pessoas que são "externas" às transações entre o produ­
verde, por exemplo) ou de sua recusa a produtos e serviços que causem tor e o consumidor do produto poluente, ou seja, que não se beneficiam
impactos ambientais significativos ( detergentes não biodegradáveis, daquela atividade. As extemalidades podem ser tanto positivas, quanto
certas embalagens agressivas ao meio ambiente, por exemplo), boicotes negativas. Veja, por exemplo, a situação em que um empresário quer
organizados ou quedas de vendas ocasionadas por problemas de desem­ construir uma Usina Hidroelétrica. Observamos que, além dos lucros diretos
penho ambiental. Observa-se um papel crescente das ONGs e da mídia do empresário, a represa irá trazer vantagens à economia, tais como a
como formadores de opinião na população quanto às questões ambientais. geração de empregos, o aproveitamento de terras para agricultura propor­
e) Empresas, por meio de medidas de auto-regulamentação, adoção cionado pela irrigação de áreas onde antes não havia água disponível, a
de normas preparadas por entidades de classe e outras destinadas a regularização da vazão do rio permitindo navegação e evitando enchen­
promover um melhor desempenho ambiental, como por exemplo o tes, entre outras. Outro exemplo de externalidade positiva seria a valori­
comprometimento com o Processo de Atuação Responsável (gerenciado zação de imóveis em regiões ribeirinhas quando é realizado o tratamento
pela ABIQUIM), a adoção dos princípios da Carta Internacional para o dp esgoto das cidades localizadas rio acima, pois melhora a qualidade da
12 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 13

água que passa pela propriedade. Essas são as extemalidades positivas. lidade"? Interpretamos que não, se aquela pessoa tem conhecimento dos
As negativas seriam os problemas ambientais não indenizáveis causados riscos aos quais ela é submetida. No caso, através de seu salário e de sua
pela barragem, tais como a proliferação de mosquitos em águas quase gratificação de periculosidade, ela está, de certa forma, "vendendo" a
paradas, as perdas de jazidas existentes ou potenciais, a perda de espécies sua segurança pessoal ao trabalhar naquela unidade. Houve, portanto,
animais e vegetais, entre outras. A solução hoje preconizada é que essas uma troca comercial, não se configurando uma extemalidade.
extemalidades sejam internalizadas, ou seja, identificados os custos decor­ A intemalização desses efeitos refere-se às ações (e respectivos custos)
rentes do empreendimento e, estes custos sejam imputados ao projeto. que a empresa pode tomar no sentido de eliminar as extemalidades (se
Outros exemplos de externalidade negativa: possível), ou no mínimo reduzi-las em níveis aceitáveis. Entre as várias
ações possíveis, por exemplo nas atividades de mineração, poderíamos
- queima de cana de açúcar próxima a uma cidade. A palha queimada
construir uma estação de tratamento de efluentes, revegetar as áreas
e outros particulados (chamados de carvõezinhos) caem sujando as ruas,
desmatadas, pavimentar estradas e acessos para evitar poeira no ar,
casas, piscinas, automóveis, jardins e pioram a qualidade do ar. As pessoas
umectar pilhas de minérios, implantar cortinas verdes (árvores) como
da cidade não ganham nada com o canavial e são afetadas de forma nega­
barreiras, implantar medidas que visem a redução do consumo de água
tiva, passando a gastar seu dinheiro com limpeza, tratamento médico por
(por meio do reuso ou reciclagem), entre outras medidas.
problemas respiratórios, etc;
Com relação à intemalização dos custos ambientais, verificamos que
- poluição das águas de superfície e subterrâneas por sólidos em
a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, um dos
suspensão provocando, além da contaminação, o assoreamento dos rios
mais importantes documentos resultantes da Conferência das Nações
e lagos.;
Unidas Rio 92, como um dos seus 27 princípios estabeleceu:
- remoção da cobertura vegetal do solo nas atividades de mineração,
Princípio 16: "As autoridades locais devem promover a intemalização
provocando erosão e aumento de particulados, pela ação do vento; de custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando em
- poluição causada pela separação do ouro por meio de mercúrio, consideração que o poluidor deve arcar com os custos da poluição".
contaminando de forma grave os rios e seus organismos vivos e causando
problemas de saúde para os índios e outras populações. O preço do ouro
não incorpora esses custos. 1.5. POLÍTICAS AMBIENTAIS

Como outros exemplos de extemalidade positiva: Existem várias formas para estimular o poluidor a reduzir seus níveis,
tanto por meio de medidas econômicas coercitivas e punitivas como multas,
- criação de abelhas, que proporcionam a polinização das plantas dos
restrições e imposição de cotas de emissões, necessidade de licenças,
vizinhos (que, em princípio, não têm nada a ver com o apiário), melho­
como por meio de incentivos econômicos tais como subsídios e incenti­
rando a sua produtividade;
vos financeiros a projetos e produtos que acarretem níveis aceitáveis de
- constnição de um hospital por uma grande empresa na área de perturbações ambientais (considerados ambientalmente "corretos").
influência de um determinado empreendimento, para atender aos seus
Os instrumentos econômicos, decorrentes de uma política ambiental,
funcionários, mas também à comunidade; empregos gerados.
procuram incorporar ao preço dos produtos, os danos ambientais e os custeis
Uma análise interessante para verificar se se trata ou não de exter­ da poluição. Esses custos mais altos agiriam como um fator de estímulo à
nalidade, é a situação de uma pessoa que trabalhe em uma instalação de redução do consumo do produto, com o conseqüente abaixamento dos níveis
risco, manuseando produtos perigosos. Trata-se ou não de uma "externa- de poluição. Estes aspectos serão abordados com detalhes mais adiante.
14 EDITORA JUAREZ DE ÜLIYEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 15

Uma das idéias atuais, propostas por Tietenberg (Capítulo 6 do livro causadores do aquecimento global (efeito estufa) e em Buenos Aires em
Valorando a Natureza, ver na Bibliografia) é a aplicação do Princípio do dezembro de 1998. Embora a União Européia tivesse uma meta inicial
"Custo Integral" (jull cost), onde se prevê que todos os usuários de recursos de reduzir até 2010 em 15% em comparação a 1990, verifica-se que os
ambientais deveriam pagar pelo seu custo integral. Ao se colocar em Estados Unidos promoveram forte oposição a esses compromissos. Por
prática políticas que obriguem as empresas a considerarem o custo inte­ exemplo aumentaram em 3,4% a emissão desses gases em 1996, em rela­
gral, alguns produtos muito poluentes (em seu processo de produção, ção aos valores emitidos em 1995 e mesmo com pressões dos outros países,
uso ou descarte final) se tomarão muito caros, e serão gradualmente substi­ recusam-se a assinar acordos, com o argumento de que haveria graves
problemas econômicos ao seu paí e que, para ser aceitável, seria neces­
tuídos, naturalmente, por outros menos poluentes e mais baratos. Esse
sária a entrada de outros países hoje isentos de compromissos de redução de
processo estimulará o uso de tecnologias mais limpas e mais baratas.
emissões, como, por exemplo, o Brasil. O aumento das emissões decorre
O princípio da apropriação do "custo integral" é semelhante ao "Princí­
de vários fatores: não foram aplicadas, pelo governo americano, algumas
pio do Poluidor-Pagador", ou seja, "quem polui paga", porém mais multas pesadas à indústria automobilística; o Congresso tem barrado proje­
amplo. No caso deste princípio, ele tem sido mais aplicado a indústrias, tos de lei que estimulam a economia de energia e, sobretudo, a economia
enquanto na forma de custo integral, seria pago por todos os poluidores, norte-americana tem crescido mais do que se previa e o custo de energias
como residências e veículos. Por exemplo, no caso de um veículo, paga­ "limpas" (por exemplo, o gás natural) é superior ao de energias "sujas",
riam mais aqueles veículos ou modelos que emitissem mais poluentes. como aquela derivada da queima do carvão). Como resultado de Kyoto,
No Brasil, o Governo Federal lançou, em novembro de 1995, um os países desenvolvidos precisariam reduzir seus índices de emissão em
programa denominado "Protocolo Verde", que estabelece que as empre­ 5,2% (em média, em relação aos níveis de emissão de 1990) entre 2008 e
sas pretendentes em obter financiamentos de bancos federais precisam 2012. Por outro lado, está sendo proposto o chamado ''Mecanismo de Desen­
realizar análises de risco ambiental em seus projetos e demonstrar que os volvimento Limpo" em que seria possível, entre outras ações, plantar árvo­
riscos são aceitáveis. Nessa ocasião, os seguintes bancos assinaram a res com o objetivo de capturar carbono da atmosfera (ou realizar investi­
mentos que reduzissem emissões) e, como con eqüência seria possível
Carta de.Compromisso sobre o Desenvolvimento Sustentável: Banco do
emitir um documento (tipo de uma ação de bolsa de valore ) que seria
Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia, Banco do Nordes­
negociada como uma commodity, que compensaria as emissões de países
te, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que não conseguissem reduzir seus níveis. Há uma idéia de que o preço
e Banco Central. Esses bancos, além de estarem preparando seus funcio­ inicial fixado seria de US$ 10,00 por tonelada de dióxido de carbono
nários para compreenderem melhor a questão ambiental (inclusive seus capturado, depois disso valeria a lei da oferta e procura para a negociação
aspectos econômicos), vêm elaborando procedimentos específicos e valo­ desses papéis. O Brasil poderia ser beneficiado com esse mecanismo (embo­
rizando a análise dos Estudos de Impactos Ambientais (EIA-RIMA), antes ra as áreas que já possuam florestas não possam ser incluídas), tomando- e
relacionados apenas ao licenciamento pelos órgãos de controle ambiental. muito cuidado para evitar graves problemas ligados à perda de soberania.
A questão ambiental tem influência sobre a abrangência e as conse­ O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Susten­
qüências de acordos internacionais. Por exemplo, sabe-se que uma das tável defende que, em vista das pressões internacionais com relação às
decisões da ECO 92 foi �e que no ano 2000 as emissões de gases do questões ambientais, o empresário não está conseguindo arcar sozinho
efeito estufa deveriam ficar 10% abaixo daquelas existentes em 1990, com os custos ambientais, defendendo a idéia de que o governo deve
índices que não foram ·alcançados, veja-se o fracasso (até o presente, auxiliá-lo por meio de uma política de incentivos com recursos públicos
pelo menos) da conferência sobre o clima realizada em Kyoto, em dezem­ e incentivos fiscais (redução de tributos), medida não muito aceita nas
bro de 1997, com a fixação das novas metas para a emissão de gases �onjunturas políticas e econômicas atuais do Brasil.
16 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO A BDALLA DE MOURA
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 17

Outro fato econômico refere-se à exportação de indústrias poluentes Nos Estados Unidos, o Presidente Ronald Reagan emitiu em fevereiro
ou de alto consumo energético. A produção de alumínio, embora seja
1
de 1981 a Executive Order n. 12.291, por meio da qual ficava determina­
realizada através de processos modernos, com baixos impactos ambientais, do que nenhum Departamento do Governo poderia emitir um regulamento
consome, entretanto, muita energia (cerca da metade do preço do produto classificado como "major", sem que fosse realizado previamente um estu­
final é relacionado à energia) e sabemos que a produção de energia, em do de custo/benefício. Essa classificação de "major" é atribuída quando:
todas as suas formas causa problemas ambientais significativos. O Brasil,
por exemplo, produz 1 19 milhão de toneladas e consome apenas 26% a) a existência do regulamento impõe à indústria um custo anual de
desse total, exportando o restante. Existem evidências de que essa energia US$ 100 milhões;
é altamente subsidiada, o que reduziria as vantagens dessa exportação. O b) é provocado um aumento significativo de custos e de preços em
Japão, por outro lado, considerado o custo ambiental, reduziu sua produ­ algum setor da economia ou em alguma região geográfica;
ção de l, l milhão de toneladas anuais para 41 mil toneladas.2 Outra indús­ e) é produzido um efeito adverso significativo com redução da compe­
tria "exportada" é a de siderurgia. Levados em conta os impactos ambientais titividade, produtividade, nível de investimento, nível de emprego, inova­
alguns países preferem importar placas de aço para realizarem somente a ção ou capacidade para que as empresas americanas possam competir
laminação (que causa menores impactos ambientais) e, em seguida, usam com as estrangeiras.
as chapas de aço (menor espessura que as placas) nos seus produtos.
No que diz respeito à administração interna das empresas, a formula­
Outro exemplo que está se configurando, é o da criação de frangos e
ção de uma política ambiental, por escrito, é um procedimento de grande
suínos. Consta que a Holanda está procurando reduzir essas atividades,
importância para o sucesso das ações relacionadas à obtenção de melhorias
preferindo importar frangos e carne suína, diante dos impactos ambientais.
no desempenho ambiental.
Como medir o custo/benefício de um regulamento ou lei? Por expressar a vontade da alta administração, a política ambiental
Hoje as leis ambientais no Brasil são elaboradas, quase que normal­ deve permitir que os escalões inferiores detalhem os objetivos e metas
mente, como resultado de uma motivação política, pressões da mídia ou sem desvios em relação à diretriz maior, sendo a forma correta de comu­
vontade de melhorar, dentro da avaliação dos governantes e legisladores. nicar essa vontade a todos os níveis na empresa.
Muitas vezes, ainda que com as melhores intenções, os 1egisladores (em A Política Ambiental, formalizada em um documento simples e conciso
níveis federal, estadual ou mesmo municipal) preparam e aprovam leis impede a existência de políticas informais, eventualmente criadas por pessoas
que causam grandes dificuldades à indústria já instalada que, embora que não têm essa atribuição delegada pela alta administração. Na formula­
antes cumprisse os padrões legais por ocasião de sua construção, deixa ção da política, recomenda-se seguir os requisitos da ISO 14001, incluindo
de cumpri-los, colocando-se na ilegalidade ou em situações que exijam a declaração expressa de intenção de realizar melhorias contínuas, de
altíssimos investimentos para adequá-las aos novos padrões, isso muitas reduzir a poluição e de cumprir as leis do país, estado e município.
vezes sem um estudo mais cuidadoso da real necessidade desses novos
padrões de emissões. Em boa parte dos caso observamos que não foi
realizado nenhum estudo prévio mais aprofundado sobre quais seriam as 1.6. ANÁLISE DE CUSTO-BENEFÍCIO
conseqüências econômicas dessas leis para a empresa, ou mesmo para a
A análise de custo/benefício tem como propósito comparar o custo
região ou para o país.
estimado de um determinado projeto com os benefícios esperados. Trata­
se de uma forma racional de decidir sobre a adeqüabilidade e aceitabilidade
2 Washington Novaes, Gazeta Mercantil, São Paulo, 19 de agosto de 1997.
,de prosseguir com o projeto.
18 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA -LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 19

Para a realização dessa análise, é necessário atribuir valores monetá­ fictício poderia ser: "está sendo preparado um projeto de lei para acabar
rios a todos os custos incorridos e a todos os benefícios. Definir os custos com o rodízio em São Paulo no inverno. Entretanto, para que a poluição
é uma tarefa relativamente fácil. do ar não atinja níveis intoleráveis, vai ser aplicado um imposto para os
Realizado um determinado projeto de um sistema ou equipamento motoristas que circularem. De quanto deve ser esse imposto, em sua
referente a uma melhoria ambiental, por exemplo para redução da opinião"? Da mesma forma, calculando-se a média das respostas e multi­
emissão de poluentes, computa-se o custo dos estudos e projetos e plicando-se esse valor pelo número de pessoas, avalia-se o valor que elas
obtém-se uma cotação de fabricantes e de empresas de construção e atribuem à qualidade do ar. No capítulo referente às medidas financeiras
instalação para os equipamentos, obras civis, montagem e testes. Adicio­ de avaliação da viabilidade de investimentos pretendemos retornar à
nam-se, a esses custos, as despesas de operação (mão-de-obra, insumos) discussão de custo/benefício.
e manutenção (mão-de-obra, sobressalentes). Por outro lado, obter um
valor monetário para os benefícios é uma tarefa bem mais difícil, porém
1.7. CONCEITOS DE ECONOMIA APLICADOS À ECOLOGIA
não impossível. Para isso, pode-se realizar uma estimativa de quais seriam
os prejuízos caso aquele projeto não fosse realizado, por exemplo, quais A Economia preocupa-se em estudar como as sociedades adminis­
seriam as despesas com tratamento de saúde das pessoas (problemas tram os seus recursos escassos, de forma a atender às necessidades huma­
respiratórios decorrentes da poluição do ar), o custo para tratamento de nas. Ou seja, são definidos quais bens devem ser produzidos, os insumos
águas residuais descarregadas, antes de sua reutilização os custos" de requeridos (entre os quais, quase sempre, participam os recursos natu­
uma morte por acidente ou por doença ocupacional, a perda de uma área rais, alguns não renováveis), como serão produzidos esses bens (com
contaminada por resíduos, etc. As estimativas, mesmo que sejam rela­ uso intensivo de mão-de-obra ou em instalações automatizadas), como
tivamente grosseiras, resultam em valores numéricos que podem ser serão distribuídos, etc.
comparados aos valores dos custos. Por exemplo, o cálculo polêmico do
"preço de uma vida" pode ser feito calculando-se o salário da pe soa que Desde o início do estudo da economia como ciência, constatava-se
seria acumulado até que ela completasse 65 anos mais uma indenização uma interação com as questões ambientais, nessa época pouco interes­
à família por danos morais, ou verificando-se qual o valor do seu seguro sando o problema do destino de resíduos e efeito dos poluentes, mas sim
de vida (valor que a própria pessoa atribui à sua vida). Outros valores de com a questão dos limites do crescimento econômico em função do esgo­
difícil avaliação podem ser obtidos por pesquisa de opinião. tamento de recursos naturais. Thomas Malthus (17 66-1834) apresentava
uma visão de pessimismo a longo prazo, principalmente na questão do
Em outra situação, a perda de um lago ou represa para fins turísticos, uso e produtividade da terra. Com a sua lei dos retornos decrescentes, ele
a poluição da Baía de Guanabara ou a melhoria da qualidade do ar das preconizava que, mesmo colocando muito mais trabalho, consideran­
grandes cidades podem ser avaliados fazendo-se por exemplo uma do-se que a terra agricultável era finita, haveria uma saturação no cresci­
pesquisa de opinião com perguntas do tipo "está sendo preparado um mento possível (menores retornos a cada unidade de trabalho adicionado).
projeto de iei para construir uma estação de tratamento de esgotos, de Em sua visão, mesmo alguns obtendo ganhos temporariamente, a grande
forma que ele não seja de,spejado na represa sem tratamento. A pergunta massa de pessoas seria reduzida a um nível de subsistência quanto aos
seria: quanto você estaria disposto a pagar a mais de imposto para que alimentos necessários. Essa visão era reforçada pela constatação de um
essa estação seja construída?". Verificando-se a média e o número de crescimento populacional explosivo e pela limitação de terras agrícolas
pessoas daquela comunidade calcula-se o preço que a água limpa daque­ disponíveis (nessa época considerava-se somente a Europa), prevendo­
la determinada represa ou lago tem para a comunidade. Outro exemplo ,se uma redução de alimentos per capita e fome generalizada.
20 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 21

O gráfico reflete essa visão: Além de ter sido possível aumentar as áreas de terras agrícolas, pela
incorporação da América e da Austrália, foi possível obter uma maior
produção com a mesma quantidade de terra (um recurso natural) através
600
do uso de fertilizantes (nutrientes adicionados em terras inférteis), irriga­
500 ção artificial, defensivos (protegendo de pragas e competidores), uso de
mecanização, biotecnologia, melhor seleção genética e outras medidas.
400 No Brasil, por exemplo, a produtividade na plantação de soja aumentou
o
..e::
«i 300 de 1.450 kg/ha, em 1970, para 2705 kg/ha em 1998. No cerrado, que
.g possui terras consideradas inférteis (não sustenta uma floresta), com solos
200 pobres e tóxicos, a correção química permitiu um aumento de 18 vezes
na área plantada de soja e 4 vezes na área de café, nesse mesmo período.
100
John Stuart Mill (1806-1873), outro economista famoso, considerava
0--1--==---�-----�----�
que a terra e as águas, além de sua função de prover alimentos, também
o 2 4 6 possuíam importante função como fonte de lazer e de satisfação para
Produção agrícola as pessoas. Essa visão conservacionista já considerava a importância da
simples existência de uma floresta, mesmo sem fins econômicos.
O sistema tradicional enfocava o problema econômico com baixa ou
As teorias de Malthus e Ricardo (David Ricardo, 1772-1823) falha­ nenhuma interação com o meio ambiente, visto preponderantemente como
ram em parte, por não serem considerados os ganhos obtidos com os um fornecedor de recursos:
avanços tecnológicos, situação em que a curva se de�loca para a direita
(passa a ser representada pela linha pontilhada):
CAPITAL
TRABALHO BENS CONSUMIDORES
MAT ÉRIAS TRANSFORMAÇÃO E SERVIÇOS DISTRIBUIÇÃO (SOCIEDADE)
PRIMAS

Essa visão, apesar de ter o consumidor como objetivo final, na reali­


dade dedicava pouca prioridade aos seus anseios, entre os quais o de um
meio ambiente sadio. Relembro um comentário feito pelo conceituado
jornalista da área econômica Joelmir Beting, de que as prioridades para a
empresa costumavam ser (nesta ordem):
1) satisfação dos acionistas e proprietários (lucro)
2) satisfação dos distribuidores (margem de lucro)
Produção agrícola 3) satisfação dos fornecedores (conseguir bons preços na compra)
22 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA -LUIZ ANTÔNIO ABOALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 23

4) satisfação dos empregados analisar as situações de equilíbrio e de crescimento. Uma diferença de


5) satisfação dos consumidores enfoque é que hoje, o ecologista pensa mais em "desenvolvimento", o
que não necessariamente significa crescimento.
Hoje, com a competição acirrada (em níveis nacional e internacional)
e maior respeito ao consumidor com interesse em atender às suas neces­ Em se tratando da escassez dos recursos, o economista pensará
sidades (objetivo principal de qualquer empresa), ele comentava que as sempre no aumento do preço, enquanto o ecologista pensará no equilí­
prioridades colocam-se na seguinte ordem: brio do ecossistema a longo prazo e na sustentabilidade do sistema.
1) satisfação dos consumidores Ao analisarmos os fluxos, cabe lembrar a equação da continuidade e
2) satisfação dos empregados de Lavoisier, de que tudo se transforma, ou seja, a massa total de maté­
rias primas e outros recursos ambientais é igual à massa de produtos produ­
3) satisfação dos fornecedores (tendência maior a parcerias)
zidos mais a massa de resíduos gerados no processo produtivo. Pensan­
4) satisfação dos distribuidores do ainda na termodinâmica, verificamos que, ao retirarmos materiais da
5) satisfação dos acionistas natureza (que é organizada, com mudanças muito lentas e reciclagem
A variável "meio ambiente" passou a ser levada em conta principal­ completa), estaremos aumentando a entropia ao restituirmos outros mate­
mente com relação aos dois primeiros atores (consumidores e empre­ riais (resíduos) e energia para a natureza, de forma desorganizada.
gados, estes relacionados aos aspectos de saúde). Ao mesmo tempo em que Apresentaremos, a seguir, alguns conceitos clássicos da economia,
o meio ambiente fornece matérias primas e outros insumos ao processo observando as semelhanças e diferenças com as aplicações ambientais.
produtivo (ar, água, madeira, combustíveis fósseis, minerais, etc.) ele serve
como repositório de todos os tipos de resíduos resultantes dos processos.
1.7.1. Curvas de demanda e oferta

SISTEMA DE A curva de demanda mostra a quantidade de um bem ou serviço que

-
CAPITAL+ PRODUÇÃO CONSUMIDORES
os compradores estariam dispostos a comprar em diferentes preços. Essa
IFiHI
TRABALHO

.:it
�l��l�Ul
quantidade é definida para um certo período de tempo. Por exemplo,
imaginemos na abcissa, a quantidade de laranjas por semana que poderia
ser comprada pelo consumidor por semana (ou conjunto dos consumido­
res) e na ordenada, o preço por laranja.
MEIO AMBIENTE
1 �
·a,

Uma semelhança que existe entre economistas e ecologistas é que �


"d Yo
ambos, em seu trabalho, consideram fluxos entre sistemas interco­
nectados: os economistas analisam os fluxos de produtos, de recursos,
de capital, enquanto os ecologistas analisam os fluxos que ocorrem em
sistemas naturais, ou seja, fluxos de nutrientes entre indivíduos do ecossis­ Xo
tema, de recursos naturais, de resíduos e efluentes. Ambos procuram sempre
Quantidade (laranjas por semana)
24 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO A BDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 25

Observa-se que, a um preço Yo, os consumidores estarão dispostos a Os movimentos de ajuste (de preços e quantidades) ocorrem sempre
consumir Xo laranjas por semana. Se o preço cair,eles estarão dispostos buscando a posição de equilíbrio,conforme mostrado pelas setas.
a consumir mais laranjas por semana. Um outro exemplo que poderia ser citado seria referente aos insumos
A curva de oferta descreve o comportamento do produtor ou vendedor. para a produção de aço em uma usina siderúrgica. Aumentando-se a deman­
Ela indica a quantidade do produto ou serviço que eles estariam dispos­ da de aço,aumenta a necessidade de ferro-ligas (manganês,estanho,zinco,
tos a vender, naquele período de tempo, àquele preço correspondente. etc.) gerando-se aumento de seu preço,já que os estoques dos produtores
ficam reduzidos. Aumentando-se a sua produção, pode ocorrer excesso
no mercado,forçando-se o preço para baixo.já que os produtores precisam
vender para cobrir suas necessidades de fluxo de caixa. Os preços mais
baixos estimulam as usinas de aço a produzirem mais para aproveitar o
baixo preço dos insumos, gerando-se nova busca do equilíbrio.
Existem vários fatores que alteram as curvas de demanda (procura)
e de oferta,deslocando-as para a direita ou esquerda e mudando a inclinação.
Qualidade (laranjas Somente para deixar um pouco mais claro este assunto, mostraremos alguns
Essa curva indica que se o preço subir, os vendedores estarão dispos­ exemplos (alguns não relacionados ao assunto "meio ambiente",sugerin­
tos a produzir mais para venderem mais,obtendo maiores lucros. do que os leitores interessados obtenham mais informações em livros espe­
cíficos). Alguns dos fatores deslocadores da demanda são os preços de
Ou seja,a curva de demanda mostra o comportamento dos comprado­
bens relacionados ou substitutos, as mudanças de renda (por exemplo,
res, enquanto a curva de oferta mostra o comportamento dos vendedo­
aumentando a sua renda,as pessoas podem consumir mais,por exemplo,
res. Um preço alto desalenta o comprador, fazendo com que ele procure
alimentos orgânicos,sem agrotóxicos) e as preferências e modismos.
produtos alternativos ou outra forma melhor de gastar o seu dinheiro. Ao
mesmo tempo, o preço alto estimula o vendedor a produzir mais. Para Entre os fatores deslocadores da oferta, poderíamos citar as mudan­
analisar essas tendências e identificar o equilíbrio,são registradas as duas ças tecnológicas, os preços de bens relacionados, as condições climáti­
curvas em um mesmo gráfico: cas (por exemplo,condições climáticas adversas,tais como secas, excesso
de chuvas, geadas,etc.,provocam quebras de safra,modificando a curva
Curvas da demanda e oferta de oferta),custo dos insumos (por exemplo,aumenta o preço dos fertili­
zantes,os agricultores produzirão menos,mudando a curva de oferta) e a
imposição de leis ambientais (com a imposição de leis e regulamentos
mais severos no tocante ao controle da poluição, os industriais precisam
realizar grandes investimentos e a curva se desloca para a esquerda,como
forma deles se ressarcirem desses investimentos).
O mecanismo de preços,como um fator que conduz ao equilíbrio,pode
ser usado para regular o consumo dos recursos naturais (renováveis e não
Qualidade (laranjas por semana)
renováveis),reduzindo os efeitos da escassez,para esta e para futuras gera­
Pe = Preço de equilíbrio ções. Hoje, entretanto, a maioria dos recursos naturais (bens de uso comum)
Qe = Quantidade de equilíbrio,. ainda não tem preço, possuindo preço zero, por exemplo a água cnptndu
26 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 27

pela in�ústr�a diretamente de um rio (o que tende a mudar a curto prazo, Assim, não havendo comércio de celulose entre os dois países, o
com a f1xaçao de taxas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica considerada). Brasil produziria 4 milhões de toneladas (4 Mton), ao preço de US$5 00,00
a tonelada, ponto A, que é o ponto de equilíbrio entre a oferta (curva
1. 7.2 Exemplo de utilização dos conceitos acima expostos: Ofert¾) e a demanda (curva Deman�), e os Estados Unidos produzi­
riam 14 milhões de toneladas ao preço de US$700, 00/ton, ponto N.
Neste exemplo fictício, apresentaremos uma análise das curvas de Verificamos que, nos Estados Unidos, se o preço fosse de US$5 00,00, os
oferta e demanda, procurando mostrar a influência no comércio interna­ consumidores estariam dispostos a consumir 16 Mton e os produtores
cional da imposição de regulamentos anti-poluição. dispostos a produzir 12 Mton, a US$ 900,00/ton, estariam dispostos a
consumir apenas 12 Mton.
�ome:11os como exemplo a produção e o consumo de celulose para a
fabncaçao de papel e, para simplificar o raciocínio, vamos imaginar que Considerados vários fatores, o Brasil consegue produzir celulose a
apenas o Brasil e os Estados Unidos produzam e consumam celulose. um preço mais baixo que os Estados Unidos (grandes extensões de terras
baratas; sol durante todo o ano e muita água, o que faz com que o eucalipto
Inicialmente, consideremos que as curvas de demanda e de oferta de atinja a idade adulta em 7 anos; mão-de-obra mais barata, etc.). Havendo
celulose, para cada um dos países, sejam as apresentadas a seguir na livre comércio, imaginemos que o Brasil decida se especializar e aumen­
ausência de comércio entre eles: tar sua produção de celulose, aproveitando a existência dessas condições
Oferta e demanda de celulose no (Brasil) favoráveis. Mas, para aumentar a produção, as fábricas precisam realizar
800
.,. 700
l:i
F_ grandes investimentos, o que faz com que os preços se elevem no Brasil,

:---
8 600 : ----- e tl ---- ; v1omr-13nisil por exemplo, passando-se a produção para 5 Mton, o preço teria que ser
.§ 500 de US$ 6 00,00/ton (ponto B), na curva de oferta.


S 400
300
200
. ----- ·Dem:indn•
Então, a um preço de US$ 600,00/ton, o Brasil pode produzir 5 Mton
(ponto B), consome apenas 3 Mton (ponto C) e exporta para os Estados
i=.. 100 ;Brasil
Unidos 2 Mton. A US$ 6 00,00/ton, os Estados Unidos consomem 15
o +- --,----+---*'------t-----r---+ --� Mton (ponto B') e produzem 13 Mton (ponto C'), importando 2 Mton do
o 2 3 4 5 6 7 Brasil. US$600,00 seria o preço de equilíbrio entre os dois países.
Quantidade (milhões de ton)
Apenas como informação, notificamos que o Brasil em 1998 produ­
1200 Cusvas de oferta e demanda (Estados Unidos) ziu 5 milhões de toneladas de celulose de fibra curta (vinda de eucaliptos)
e 1,2 milhões de toneladas de celulose de fibra longa, vinda de pinheiros.

1:. . . . . . . . . . . . . . .
Os outros dados aqui apresentados são fictícios.
OUSA
Continuando o nosso problema, sabemos que, dependendo do proces­
600 r----------�/---:--__:_-=;,,L...---=:::�--- so produtivo adotado, a fabricação de celulose causa impactos ambientais
J
g_

400 D'usA significativos, como a poluição do ar, de rios e cursos d'água causando
... . . . . eutrofização, odores desagradáveis para os vizinhos, etc.
200 ; : : ;
.' .' .. .. Suponhamos que, nos Estados Unidos, pressionados pela Sociedade,
o ', . . .
o 2 4 6 10 12 14 16 18
os órgãos ambientais decidam impor leis mais rigorosas, que obriguem a
Quantidades (milhões de ton) realização de grandes investimentos nos processos produtivos. Os custos
ECONOMIA AMBIE1'TAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 29
28 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

de implantação dessas mudanças recairão sobre o produto (Princípio do Alguns países são muito criticados por possuírem padrões de emissão
Poluidor Pagador) e farão com que a curva da oferta se desloque (curva de poluentes considerados muito brandos, situação que encoraja a
O'usA). Ou seja, ao preço original de US$ 700,00/ton, os produtores estarão produção de bens intensivos em poluição (produção de aço, alumínio,
dispostos vender apenas 10 Mton (ponto D') e não mais 14 Mton. Com a celulose, por exemplo). Nota-se, entretanto, que esses países, entre os
nova curva de oferta, mantida a demanda (curva DusA), o novo ponto de quais o México, a Coréia do Sul, a Tailândia, China e Brasil, vêm
equilíbrio nos EUA seria 12 Mton, a US$900,00 a ton, sem ser conside­ progressivamente melhorando seu desempenho ambiental.
rada a importação do Brasil (ponto E'). Verifica-se que, atualmente, os países mais ricos procuram impor
Suponhamos que o Brasil, por sua vez, não tenha implantado nenhu­ requisitos mais rigorosos de controle de poluição aos países em desen­
ma legislação mais restritiva de controle de poluição. Os produtores volvimento, em parte para promover melhorias ambientais globais (vide
daqui, passarão então, a ter uma vantagem competitiva. Vamos supor, ações procurando conter a emissão de gases causadores do efeito estufa,
também, que os produtores do Brasil aumentem sua produção para 6Mton, Protocolo de Montreal com ações visando eliminar gases causadores da
pleiteando um preço de US$700,00/ton (ponto F). Nesse preço, os redução da camada de ozônio), porém em certos casos para proteger a
consumidores locais irão comprar apenas 2 Mton (correspondendo ao indústria local daqueles países, procurando igualar custos, por meio de
ponto G), podendo serem exportadas 4 Mton. barreiras à importação (barreiras técnicas), tarifas ou outras formas
Nos Estados Unidos, ao preço de US$700,00/ton, o mercado conso­ de protecionismo.
me 14 Mton (pontoA') e produz 10 Mton (ponto D'), havendo escassez Os países menos desenvolvidos, por sua vez, necessitando de divi­
de 4 Mton, que podem ser supridas pelas exportações do Brasil. sas e da criação de empregos, tendem a adotar leis mais brandas anti­
Verificamos, então, que haveria uma desvantagem competitiva para poluição, aceitando maiores níveis de emissões ou a fabricação de
os produtores dos EUA em decorrência da legislação ambiental mais produtos intensivos no consumo de energia. Porém, quando esses países
rigorosa e, por outro lado, o preço de US$700,00/ton forçou a uma dimi­ passam a contar com mais recursos, eles diversificam e tomam compe­
nuição do consumo de celulose no Brasil. titivos outros produtos com maior conteúdo tecnológico, havendo uma
Esse exemplo procurou mostrar uma situação fictícia de como o natural melhoria das condições de vida, e passando a sociedade a
comércio internacional pode ser afetado pela imposição de regulamentos exigir melhoria das condições ambientais como parte essencial da quali-
ambientais em um determinado país, de forma isolada. dade de vida.
Foi comentado que os produtores desse país teriam desvantagens
competitivas, enquanto os produtores de países onde a legislação 1.8. ANÁLISES DE CUSTO-BENEFÍCIO
ambiental é mais branda teriam vantagens competitivas. Isso não é bem
verdade, a nosso ver, sendo provavelmente um fato somente na fase ini­ Uma das análises mais comuns para identificar a validade de um
cial do processo. O que se tem observado, em vários exemplos e depoi­ empreendimento é feita por meio das curvas de custo-benefício, sobre­
mentos de empresários, é que realizar melhorias ambientais traz vanta­ tudo para definir a quantidade ótima a produzir, condição em que se
gens competitivas, pois a empresa é obrigada a se modernizar, substituir obtém a melhor relação de custo-benefício.
processos poluentes obsoletos por outros mais modernos e que trazem Essas curvas apresentam, em geral, a seguinte forma:
maior rentabilidade, substituir matérias primas, criar produtos mais acei­
tos pelos consumidores, preparar melhor seus funcionários, atividades Observa-se que, nas quantidades próximas a zero, os benefícios totais
que colaboram para um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo. (ganhos) superam os cusJos totais (se não ocorresse isso certamente não
30 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 31

seria vantajoso o empreendimento), até um ponto em que, pelas caracte­ ótimo de operação será, então, o ponto de encontro entre as curvas de
rísticas do próprio empreendimento os custos totais igualam os benefí­ custo marginal e benefício marginal.
cios (encontro das duas curvas). Não há nenhuma vantagem em aumen­
tar a produção para as quantidades acima dessa. Para aplicarmos os conceitos acima em problemas ambientais, pode­
mos considerar:
O ponto ótimo de operação situa-se onde ocorre a maior diferença
entre os benefícios e custos, ou, mostrando de outra forma, as tangentes a) os "custos" referem-se a todas as despesas decorrentes da poluição
às duas curvas sejam paralelas. provocada pelo empreendimento. Assim, teremos a necessidade de identi­
ficar todos os gastos com os tratamentos de recuperação de áreas
Curvas de Custo-Benefício degradadas, tratamento de água, custos com tratamentos médicos de
pessoas afetadas, perda de valor de locais turísticos, uso recreacional do
meio contaminado, etc.
b) os "benefícios" referem-se ao valor de mercado dos produtos ou
serviços gerados naquela instalação ou empreendimento ou, em última
análise, quanto a empresa ou a sociedade ganhou por existir aquela
produção. A visão que se tem aqui é que todo empreendimento beneficia
--Custo total
O 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
-O-Benefício total a sociedade (e não apenas os empresários) pois a comunidade passa a ter
Quantidade (unidades) a possibilidade de dispor dos bens e serviços produzidos, geração de
empregos, impostos pagos, etc.
Curvas de Custo-Benefício
50 ,---------------�

40 1.8.2 Exemplo de uso dos conceitos de custos e benefícios marginais


30
-Custotolal Este exemplo mostra qual o problema de acesso livre aos recursos
--- Benefício total
--ó-Diferenças
naturais (eventualmente levando ao esgotamento desses recursos) e uso
10 dos conceitos de custos marginais e benefícios marginais. Além disso,
percebe-se a questão do problema causado pelo livre acesso a um
bem ambiental (peixe), comentado em "A Tragédia dos Comuns", por
-!O---------------'
Garrett Hardin.
Quantidade
Suponha que na Baía de Parati a atividade de pesca de camarão se
1.8.1. Custos e benefícios marginais desenvolva de acordo com as condições indicadas a seguir. Verificamos,
neste exemplo fictício, que os custos diários de colocar um barco no
Em economia, o termo "marginal" é usualmente empregado com o mar (combustível, mestre arrais, tripulação de pescadores, manutenção
significado de "adicional". Assim, o "custo marginal" é o custo adicional do barco, etc. ) sejam de R$ 400,00.
incorrido na produção de uma unidade a mais daquele produto. Idem Imagine que na chegada do barco, o pescador consiga vender o kg de
para o benefício marginal. Essas curvas refletem, na realidade, a deriva­ camarão a R$ 10,00. Assim sendo, ele equilibra custos e receita se pescar
da em cada ponto das curvas de custo total e benefício total. O ponto 40 kg de camarão por dia.
32 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL ÜESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 33

Imaginemos que um barco sozinho fazendo a pesca consiga pescar Podemos desenhar as curvas dos Custos Marginais, Benefícios
100 kg de camarão por dia, dois barcos 200 kg, etc, mas seguindo os Marginais, Benefício Médio e Lucro Marginal, que nos auxiliarão na
dados abaixo apresentados, em função da limitação do estoque na análise destes resultados:
área, eventualmente levando ao seu esgotamento em uma situação de
pesca excessiva: Custos e Benefícios. Lucro

Quantidade pescada 1500


Número de barcos
(kg/dia)
"' 1000 -
1 100 .51
2 200 .., 500 •
3 300
4 400 ..,"'
o
5 450
6 480 -500
7 480
8 450 -1000
Número de barcos

Nosso problema: utilizando os conceitos de custo marginal e benefício


marginal, definirmos a quantidade ótima a produzir, ou seja, qual seria o --+- Custo marginal (R$)

número adequado de l;>arcos a serem autorizados a pescar. - -a - Benefício marginal BM


Utilizando os conceitos apresentados, preparamos a seguinte tabela (R$)
· · • - - Benefício médio (R$)
de cálculo.
- Lucro marginal (BM-CM)
Quanti- Captura Bene- Bene-
Captura Custo Lucro
No de dade marginal fício fício
média marginal marginal
barcos capturada BM marginal médio
(kg/dia) (R$) (R$)
(kg/dia) (R$) (kg) (R$)
1 100 100 1000 400
A partir da tabela e do gráfico, podemos concluir o seguinte:
100 1000 600
2 200 100 1000 100 1000 400 600 a) as curvas de custos marginais e benefícios marginais se cruzam um
pouco acima de 5 barcos. Esse seria, então o número adequado de
3 300 100 1000 100 1000 400 600
barcos, de modo a se obter o máximo de ganho para a economia.
4 400 100 1000 100 1000 400 600
b) Acima dessa quantidade (5 barcos) o lucro marginal para a
5 450 50 500 90 900 400 100 economia passa a ser negativo; embora para cada pescador indivi­
6 480 30 300 80 800 400 -100 dualmente, ainda existam lucros (por exemplo, com 8 barcos pescando,
7 480 o o 68,5 685 400 -400 cada pescador venderia seu peixe por R$562,00 enquanto gastaria
R$400,00). Entretanto, deixou-se de operar o conjunto da economia em
8 450 -30 -300 56,2 562 400 -700
sua forma mais eficiente.
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 35
34 EDITORA JUAREZ.DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

c) Acima de 4 barcos já se verifica que cada pescador perdeu um mo para a economia? Nesse caso, provavelmente seria necessária uma
pouco (analisando-se a curva de benefício médio), em vista da redução atuação do órgão ambiental emitindo regulamentos que limitassem o
dos estoques de camarão na área. número de empresas nessa quantidade.
d) Suponha que o órgão ambien_tal decida estimular as empresas a
_
reduzirem a poluição e, realizando uma reunião entre os dirigentes, tenta
1.8.3. Outro exemplo: mostrar que mesmo continuando o acesso livre à instalação de novas
Problema sobre escolha da quantidade ótima de indústrias a instalar. usinas (ao recurso natural "água") haveria uma vantagem para todos se,
em relação ao número de empresas que poderiam se instalar (no limite
Suponha que, em volta de um lago, existam 3 usinas de açúcar que de ainda existir lucro), se uma empresa deixar de operar, o ganho das
utilizam a água desse lago em seu processo produtivo e a restituem com empresas que sobraram operando é suficiente para ressarci-la, aumen­
um certo nível de poluição. Com três usinas, existe um certo nível de tando o seu lucro e de todas as demais que restaram operando. Demons­
dispersão e a água do lago continua com qualidade adequada. tre isso com números, como se você fosse o representante do órgão
Imagine que cada uma das indústrias produza 1 000 kg de açúcar por ambiental encarregado de convencer as empresas.
dia e que o custo dessa produção seja de R$1, 20 por kg. Imagine que Solução:
cada quilo de açúcar seja vendido pela usina a R$ 2, 00. Suponha que não
existe nenhuma restrição legal à instalação de novas usinas nessa região.
Entretanto, a externalidade causada pela poluição das três usinas deixa­ Produ- Bene-
Nu.me- ção por Custo/ Custo Custo Bene- fício Lucro Lucro Lucro
ria de ser aceitável. Suponha que cada nova usina instalada teria a mes­
ro de usina kg Custo margí- médio fício margi- total médio margi-
ma produção das três existentes e que o açúcar continuaria a ser vendido
usinas (kg/ (R$) total nal (R$) total nal (R$) (R$) nal
a R$2,00 por kg. O custo de produção também seria o mesmo (R$1,20
dia) (R$) (R$) (R$) (R$)
por kg), entretanto, haveria a necessidade de instalar um sistema de trata­
mento de água para deixá-la na qualidade adequada e isso implicaria em
um custo adicional de R$0,20 por kg, para cada usina nova instalada o o o o o o o o o o o
(já que a poluição do lago seria crescente), inclusive existindo essa ne­ 1 1000 1,2 1200 1200 1200 2000 2000 800 800 800
cessidade para as três empresas antigas.
Com base nessas informações, solicita-se o seguinte: 2 1000 1,2 2400 1200 1200 4000 2000 1600 800 800
a) Construa uma tabela onde seja indicada a evolução dos custos e 3 1000 1,2 3600 1200 1200 6000 2000 2400 800 800
benefícios para cada usina adicionalmente instalada e imagine que as
empresas irão se instalando enquanto houver lucro para elas. Com essa 4 1000 1,4 5600 2000 1400 8000 2000 2400 600 o
hipótese, quantas empresas serão instaladas?
5 1000 1,6 8000 2400 1600 10000 2000 2000 400 -400
b) Quantas empresas deveriam ser instaladas na condição em que seja
máximo o lucro para cada uma delas? Veja o ganho médio de cada uma 6 1000 1,8 10800 2800 1800 12000 2000 1200 200 -800
das empresas.
c) Preparando um gráfico com os custos e benefícios marginais, quantas 7 1000 2 14000 3200 2000 14000 2000 o o -1200
empresas deveriam ser instaladas de forma que houvesse um ganho máxi-
36 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS

a) Existe lucro para as empresas até a instalação de 6 empresas. Com por essa qualidade. Em outros casos, provavelmente a maioria deles, o
7 empresas o lucro é zero. consumidor deseja a qualidade ambiental, mas ainda não aceita pagar
b) Para que o lucro seja máximo para cada empresa, deveriam ser um preço pela sua obtenção. Nestes casos, quando os órgãos ambientais
instaladas somente 3 empresas. e a própria legislação aumentarem as pressões sobre a empresa, ela terá
c) Para que ocorra ganho máximo para a economia, deveriam ser que absorver esses custos (intemalização das extemalidades), o que poderá
instaladas 4 empresas (igualdade entre custos marginais e benefícios eventualmente resultar em um novo ponto ótimo de produção, já que,
marginais). com custos maiores, o mercado não aceitaria absorver a quantidade mais
elevada. Como um exemplo, suponhamos uma indústria que precisa
d) Em princípio, supõe-se que as empresas continuariam se instalan­ escolher o ponto ótimo de operação, quanto à quantidade produzida.
do enquanto ainda houvesse algum lucro para elas, ou seja, até 6 empre­
sas (cada uma ainda ganha 200,00). Sua função "Custo Total" é representada pela equação:
CT = 2 Q2 + 0,4 Q3 ...•...•.....•••...•.•.......... (Equação 1)
Se reduzirmos para 5 empresas, o ganho total das 5 será de R$ 2000,00.
Dividindo esse ganho por 6, cada uma ficaria com R$ 333,00, inclusive onde Q é a quantidade de unidades produzidas.
para a sexta empresa, que interrompeu as atividades. Cada uma ganhou a Supondo que ela venda cada unidade por R$ 50,00, sua função
mais com isso: 333-200= R$ 133,00 por dia (porque com a sexta empre­ "Benefício Total" será:
sa operando cada uma ganharia somente 200,00).
BT= 50 Q ................................................. (Equação 2)
As curvas são:
1.8.3. Exemplo da ajustagem da produção (nível ótimo) ao se
internalizar externalidades

A seguir, apresentaremos um exemplo de uso desses conceitos em um Curvas de Custo-Benefício


problema de controle de poluição, desta vez com equações representan­ 700
do as diversas curvas envolvidas. 600
Como comentamos anteriormente, uma das funções da economia é 500

-
fF.J-

auxiliar na definição da quantidade ótima a ser produzida, em função das i:i:::


"' 400
necessidades dos consumidores. Em uma situação em que a empresa não
=
"'
- .,,,. ,,,,,
,. - ,,,,,
300

- .,,. ,.. ., -
arque com os custos ambientais (pouco controle pela sociedade, ou 200
órgãos ambientais), é provável que, como resultado de custos baixos e 100
existência de demanda, ela consiga aumentar a sua produção. Por outro
o
lado, quando a empresa for obrigada a realizar tratamentos de rejeitos, o 2 3 4 5 6 7 8 9 10
entre outras ações possíveis de controle ambiental, ela fatalmente incor­
rerá em aumento de custos. Existem duas situações possíveis. A primei­ Quantidade
ra delas é aquela na qual a empresa conseguiria repassar ao consumidor
esse acréscimo, o que ocorre em países onde o público é muito conscien­
tizado e motivado quanto à questão ambiental e aceita pagar um preço
38 EDITORA JUAREZ,DE OLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL ÜESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 39

As curvas de "Custos Marginais" e "Benefícios Marginais" são obtidas Quantidade de efluente (gA)
derivando-se as curvas de Custo Total e Benefício Total, ou seja:
CT = 2Q2 + 0,4Q3
Efluen 25 º ,-----------------------­
te (g/1)
CM=4Q + 1,2Q2 ••••••••••••••••••••••••••••• (Equação 3) 200

e 150
BT=50Q
100
BM= 50 .................................................. (Equação 4)
50

Custos e Benefícios Marginais o -1---i--==:;;:::.,;:..____,.__..__�---l------l,--"---_j__-_J


o 2 3 4 5 6 7 8 9 10
160 Quantidade

160

140

120
Esse efluente seria descarregado em um rio que passa ao lado da
R$
.. empresa que, em princípio não paga nada para descartar esse efluente.
100

no rio.
60
Entretanto, vamos supor que alguns quilômetros rio abaixo exista uma
40 cidade que faz a captação da água desse rio para abastecimento público.
20 Os custos da água, ou seja, captação e tratamento, por exemplo, seguem
a equação abaixo:
� 10

Quantidade Cá ua= 50 + 2 E ...................................... (Equação 6)


g

As duas curvas se encontram em Q=5 (igualdade das equações de (ou seja, existe um custo fixo de R$50,00 e um custo variável que
custos e benefícios marginais). Em princípio, este seria o ponto de produ­ depende da quantidade de poluentes).
ção ótima (com menor custo obteve-se o máximo benefício). Substituindo-se E por seu valor da equação 5, para correlacionarmos
Suponhamos, entretanto, que essa empresa gera, em seu processo o custo de tratamento da água com a quantidade de produtos da empresa,
produtivo, uma certa quantidade de efluentes que contenham um deter­ obtemos:
minado poluente, de acordo com a equação:
E= 2Q2 (gramas por unidade produzida) ................... (Equação 5) C,agua= CA= 50 + 2 E= 50 + 2 * (2Q2)=50 + 4Q2
40 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL ÜESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 41

Custo da água para a comunidade Comparando com a curva de benefícios totais (Equação 2) com a
curva acima, temos:
500 ,---------------�
450 BT= 50 Q]
400
Curvas de custo produto + água e de Benefícios
350
300
R$ 250
200
150 ·

..L---
100 1--CT+CAI
50 - O - BT

0 +----+--f----+--f---+----+--+---+-+------l

o 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Quant. de produtos

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Analisando-se os custos totais, pensando na sociedade como um todo, Quant. produtos
observa-se que os custos reais dos produtos são obtidos por meio da soma
do custos de fabricação (internos da empresa) com os custos de tratamento Outra forma de calcularmos seria através de custos e benefícios
da água para a comunidade ( a rigor, poderíamos expurgar os custos fixos marginais, ou seja, somando-se as equações [1] e [6] e derivando em
de captação). Essa curva é obtida pela soma das equações [1] e [6]: relação a Q. O novo custo marginal seria: CM'= 12 Q + 1,2 Q2 e o bene­
fício marginal continuaria sendo 50:
Custo dos produtos + água:
Custo e Benefícios Marginais (incl. água)
CT=2Q2+0,4Q3 +50+4Q2=6Q2 +0,4Q3 +50 300

250

Custos Produtos + Água


200
1200
1000 K!
150
800
R$
600
100
400
200
o :'iO

o
Quant. de produtos li 10

Quant. produtos
42 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 43

Ao internalizarmos os custos de tratamento da água, por exemplo b) a empresa B mais antiga, apresenta custos segundo a equação
imputando-os à empresa sob a forma de imposto, percebe-se que mudou CTB = 12,5 x2 (em mil reais, onde x é expresso em toneladas de redução
o ponto ótimo de produção (passamos de 5 para 3 unidades), e estaremos de SO2)
considerando também o "ponto ótimo de poluição", ou seja, o ponto
Pergunta-se o seguinte: quais seriam as opções que você apresentaria
ótimo de produção visto pelo interesse da sociedade. Passou-se, assim,
ao órgão ambiental e às empresas, e como você tentaria montar um
de 50 g de resíduos no efluente (considerando 5 unidades e E=2 Q2) para
entendimento entre as empresas fixando cotas de emissão, para que
18 g (considerando 3 unidades).
houvesse um maior benefício para todos?
Notamos, então, que enquanto a empresa poluía sem ser taxada, ela
Proposta de solução:
transferia um custo seu para a sociedade, obrigada a gastar para realizar
o tratamento da água. Como vimos, esse custo é chamado de "exter­ Inicialmente, é interessante desenharmos as curvas do custo total, para
nalidade". Antes que ela fosse obrigada a arcar com esse custo (internalizá­ melhor visualização.
lo) era mais vantajoso para ela trabalhar em um ponto ótimo de 5 unida­
des produzidas. Ao ser taxada, passou a compensar para a sociedade
(e para a empresa) que ela passasse a produzir 3 unidades. Essa forma de Custo Total de Redução de S02
cálculo está sintonizada com o princípio de "poluidor-pagador". As outras
formas de manter a poluição em níveis aceitáveis pela sociedade seriam a 6000
regulação (limites a serem despejados) e o subsídio (estímulos financei­ 5000
!
ros para que a empresa pudesse melhorar seus processos e poluir menos). 1000 I
R$ 4000 I
/
--Empresa A
3000 /
ê
1 , IMI-

1.8.4 Exemplo da utilização do conceito de "Custos Marginais" para a ---- EmpresaB


�.,, /
1 /
2000 ··-+.'
definição de um instrumento econômico do tipo "fixação de cotas
de emissão" 1000 ,,,17
'-'

"'
l
o __,,,,., J
1 1

Suponha o seguinte problema: o 10 20 30


Em uma determinada área, com apenas duas indústrias (por exemplo,
tonelada de S02
duas termoelétricas que utilizam carvão como combustível), o Órgão de
Controle Ambiental constatou que os padrões de qualidade do ar não
estão sendo atendidos, e que, para atingir esse padrão, será necessário A seguir, iremos construir um gráfico, onde fiquem visíveis os custos
reduzir a descarga de dióxido de enxofre para a atmosfera em 20 toneladas. marginais de cada uma das empresas (custo para redução de uma tonela­
Suponha que você é um consultor assessorando o órgão ambiental e da de SO2 em cada ponto da redução. Sabemos que a curva de custo é
as duas indústrias e que, verificando os custos totais da instalação de construída derivando-se a curva de custo total. Assim:
sistemas de dessulforização das duas empresas, você constatou o seguinte: CMA = lOx
a) a empresa A, mais moderna, apresenta os custos segundo a e
equação CTA = -5 x2 (em mil reais, onde x é expresso em toneladas de
redução de SO2) CMB = 25 x
44 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 45

Desenharemos as curvas em um gráfico, neste caso a A com as abcissas Vamos agora estudar algumas opções:
da esquerda para a direita e B, da direita para a esquerda, já que as redu­ l ª opção: suponhamos que queiramos atribuir toda a redução somen­
ções podem ser complementares, até se atingir 20 ton: te a uma das empresas (opção não muito lógica, difícil de defender, mas
vamos analisá-la):
Custo Marginal de Redução de S02 • se a redução toda tiver que ser feita pela empresa A: o custo total
de A segue a fórmula CTA = 5 x2, portanto para reduzirmos 20 ton, fica­
6000 ---,---------;--------
,-
ria em CTA = 5 x2= 5 202 =2000 mil reais. Nota: uma outra forma de
calcularmos o custo total é integrarmos a área sob a curva de custos
4000 ....... ..... - EmpresaA marginais. Neste caso é fácil, pois a área é um triângulo (OCD) =
1000
---- EmpresaB (20 X 200)/2 = 2000
R$ 2000 +-��----1

!
• se a redução toda tiver que ser feita pela empresa B: o custo total de
o �=---1---------,------.---..a, abcissas Empresa A B segue a fórmula CTB = 12,5 x2, portanto para reduzirmos 20 ton, o custo
$ 10 15 20 ficaria em CTB- = 12,5 x2= 12,5 202 = 5000 mil reais. Ou, de outra forma,

1 integrando a área sob a curva de custos marginais. (20x500)/2 = 5000
1 , 1
1
1 1 , 1

, , • ,
5
, , , 1
d abcissas Empresa B
2ª opção: suponhamos que a idéia seja repartir igualmente a redução
tonelada de S02 de S02, 10 ton para cada uma das empresas:
• o custo de A seria: 5 x2= 5 102 = 500 mil (ou vendo pela integração
de custos marginais'. área do triângulo OEF: (10 X 100) / 2 = 500
Para melhor visualização, vamos ampliar o gráfico no trecho de • o custo de B seria: CTB = 12,5 x 2= 12,5 X 102 = 1250 mil reais
maior interesse: (ou, área do triângulo DFG = (1O x 250) / 2 = 1250
Esta opção, para a "Economia", custaria a soma das duas empresas,
Custo Marginal de Redução de S02 ou seja, 500 + 1250 = 1750 mil reais.
400 3ª opção: suponhamos, agora, que a idéia seja procuramos o ponto
onde os custos marginais das empresas sejam iguais, ou seja, o ponto
250 ········•·····•·········•·•··............., '· - EmpresaA onde as duas curvas se encontram:
1000 2õ0 IE(
- EmpresaB
Podemos encontar esse ponto com uma escala, mas, para maior preci-
R$ são, vamos calculá-lo por semelhança de triângulos:
o ..e:;=-,...............--.-�..,......�J'-•,-· .....--,r--r-4.:-..---.�.....-...-"'j • chamemos a distância OI de x
o 10 15
• chamemos a distância HI de y
1 ..._.__...__+-+-+--+--,___..-+-......_>--+-�-+--1-+--+-� abcissas Empresa B Por semelhança de triângulos temos:
20 15 10 6 O
CD OD
tonelada de S02 HI OI
46 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 47

200 20 Portanto, a melhor idéia é reduzir mais as emissões onde os custo�


marginais sejam menores, porém isso não seria justo para com c:ssu
y X empresa, se tratado de forma impositiva. Assim, seria intere- am p ·rmi­
tir que as empresas entrassem em um mecanismo de "venda de dir· il s de
20y=200 x
poluir', autorizadas pelo órgão ambiental. Cada uma, em princípio,
y= lüx precisaria reduzir 10 ton, por isonomia. Por exemplo, A reduziria as 10
Da mesma forma, para o triângulo formado pela curva da empresa B: ton que tinha como obrigação e "venderia"a B a redução das 4,3 ton
adicionais, atingindo o seu ponto ótimo de redução, do ponto de vista
500 y econômico, que seriam 14,3 ton. E B ainda ficaria satisfeita de pagar a A
20 20 para assumir a sua cota em 4,3 ton, e reduziria sua emissão em 5,7 ton,
que seria seu ponto mais econômico.
Substituindoy por 1O x
Vejamos qual seria o valor mais adequado para essa venda: A gastaria
25 (20-x)=10 X para reduzir suas 1O ton, R$500 mil e, no entanto, gastou R$1022,45 mil
500 - 25 X = 10 X para reduzir as 14,3 ton, ou seja, gastou a mais R$522,45 mil. Tudo que
A conseguir receber, acima de 522,45 mil é vantajoso.
35 x=500
B gastaria para reduzir suas 1O ton 1250 mil, e gastou apenas R$ 406,12
X= 14,285 mil. Ou seja, tudo que B conseguir pagar para A abaixo de R$ 843,88 mil
e é vantajoso para B. Dessa forma, a negociação entre os dois ficará entre
y = 10 X = 142,85 R$522,45 mil e R$843,88 mil. Um bom negócio para os dois seria suge­
rirmos que B pagasse a A R$683,16 mil, que é o meio caminho entre
Então, repartindo no ponto onde os custos marginais são iguais, tería- esses dois valores, ambos ganhando R$160,71 mil.
mos:
Esse problema mostra, de forma numérica, que existe uma forma mais
• a empresa A reduziria 14,3 ton de SO2 eficiente, do ponto de vista da Economia, de permitir a livre negociação
• a empresa B reduziria 5,7 ton de SO2 de cotas de emissão, ao invés de ser fixada uma obrigação a cada empresa
como um limite de emissão, sem se permitir a negociação, ação do tipo
Vejamos os custos: "comando e controle".
CTA = 5 x2= 5 (14,3)2 = 1022,45 mil (ou vendo pela integração de
custos marginais: área do triângulo OIH: (14,3 X 143) / 2=1022,45
1.9. INSTRUMENTOS ECONÔMICOS
CTB = 12,5 x2 = 12,5 (5,7)2 = 406,12 mil reais (ou, área do triângulo
DIH= (5,7 x 143) / 2 ». 406,12 O problema do item anterior serviu para mostrar que é possível fixar­
mos formas mais eficientes de controle da poluição do que simplesmente
Ou seja, verificamos que haveria um benefício para a Economia
existirem ações do tipo "comando e controle", embora as duas formas
(visão da Sociedade), pois o custo total para a redução das 20 ton, neste
possam ser complementares.
caso, seria de 1022,45 + 406,12 = 1428,57mil, ou seja, bem menos do
que os 1750 que seriam atingidos com a divisão igual de 10 ton para Muitos empresários têm adotado uma postura de procurar realmente
cada empresa. melhorar o seu desempenho ambiental, por uma questão de responsa-
48 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - Lurz ANTÓNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 49

bilidade social, independentemente do lucro que aquele determinado do Rio Paraíba do Sul, já possui, desde 2001, este sistema de cobranças
investimento lhe proporcione. Entretanto, a postura tradicional tem sido em operação.
a de poluir até que as multas sejam elevadas demais, somente nessa Como medida econômica para forçar o respeito à norma legal, ligadas
ocasião passando a valer a pena investir em melhorias (nessa visão
às ações de "comando e controle", existem as multas emitidas como
equivocada). resultado às infrações à legislação ambiental, advertências, apreensões de
Verifica-se, atualmente, uma tendência ao uso, cada vez maior, de animais, instrumentos e petrechos, suspensão de venda e fabricação
instrumentos econômicos como forma de reduzir a poluição. Esses de produtos, embargos de obras e atividades, suspensão parcial ou total
mecanismos baseiam-se em taxas e impostos sobre a emissão de poluentes das atividades, restrições de direitos e reparação de danos causados.
e uso de recursos naturais, incentivos financeiros e fiscais estimulando a A Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (que dispõe sobre as sansões
redução de emissões e venda ou compra de certificados de emissões de penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao
poluentes (direito de poluir). meio ambiente), também chamada de Lei de Crimes Ambientais e o
Decreto n. 3 .179, de 21 de setembro de 1999 ( que dispõe sobre a
Em alguns países europeus (sobretudo Holanda e Noruega), verifica­
especificação das sansões aplicáveis às. condutas e atividades lesivas ao
se uma tendência em introduzir taxas e impostos adicionais sobre o preço
meio ambiente) são provavelmente os dois instrumentos com maior força
normal de produtos que causem algum tipo de poluição em seu uso ou
para promover a prevenção da poluição.
nas fases produtivas, como por exemplo em combustíveis, pesticidas,
fertilizantes, embalagens, alguns produtos químicos (produtos de enxo­ Como incentivos, poderíamos citar créditos subsidiados aos investi­
fre, por exemplo), para desestimular o seu uso. Outras posições defen­ mentos que resultem em melhorias ambientais nas organizações, princi­
didas por políticos desses países seriam no sentido de emitir leis que palmente por organismos e bancos oficiais, com financiamentos em condi­
reduzissem os impostos sobre o trabalho (Imposto de Renda) e sobre o ções privilegiadas (BNDES, FINEP, Banco Mundial, entre outros).
capital e, para manter a massa tributária essencial ao funcionamento do Outro tipo de incentivo, por exemplo, implementado na Holanda,
Estado, seriam criados ou ampliados os impostos sobre os produtos permite a depreciação acelerada de instalações e investimentos reali­
poluentes. Ao mesmo tempo, estimulam-se com reduções de impostos zados para melhorar os padrões industriais no tocante à poluição.
alguns produtos, como por exemplo o papel reciclado.
O sistema de "cotas de emissão" ou licenças de emissão, tem sido
A taxação sobre o uso de algum recurso natural, por exemplo a água, utilizado principalmente nos Estados Unidos para os gases de enxofre,
é outra forma de incentivo econômico ao seu uso racional. A Lei Federal resultantes da queima de carvão em usinas termo-elétricas. O órgão
n. 9.433, de 8. de janeiro de 1997, instituiu a Política Nacional de Recursos ambiental avalia o limite possível de emissões para uma dada região
Hídricos e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, (ou, mais corretamente, estabelece o valor atual de emissões como o limite
com a criação dos Comitês de Bacia Hidrográfica (art. 3º). A água aceitável) e divide o valor total em "cotas de emissão", como se as
passou a ser considerada um recurso limitado e de valor econômico, empresas estivessem trabalhando em uma "bolha" isolada. Cada empresa
tendo sido criada a figura do "usuário pagador" (art. 19). Essa cobrança somente pode emitir no máximo a sua cota e, se ela conseguir melhorar
(em média espera-se que ela seja de um centavo por metro cúbico capta­ seus processos produtivos emitindo menos, ela poderá vender sua cota a
do e dois centavos por metro cúbico descartado) afetará os custos de alguma outra empresa que queira se expandir, mas que não consegue
lavouras irrigadas (por exemplo, cerca de 6% do faturamento do feijão reduzir suas emissões. Desse modo, sob a forma de pagamentos e rece­
de Guaíra) e da indústria (principalmente usinas de açúcar e álcool, indús­ bimentos, penaliza-se uma empresa poluidora e beneficia-se aquela que
trias alimentícias e de refrigerantes, que utilizam muita água). A Bacia conseguiu melhorar. Em uma evolução curiosa dos acontecimentos e com
50 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 51

base nesse sistema implantado de cotas de emissão houve um caso Estados Unidos pode ser muito caro. Essa mesma tonelada, pode ser redu­
conhecido de uma ONG que comprou uma cota de emissão para "retirá­ zida, de alguma forma, a um custo muito mais baixo, por exemplo no
la do mercado", o que poderá ser uma forma interessante de trabalho a Brasil ou, em outra solução, pode ser retirada urna tonelada de CO2 da
ser desenvolvido pelas ONGs no futuro, com dinheiro doado por seus atmosfera, a um custo muito mais baixo, por exemplo plantando-se
simpatizantes. Há a tendência de que o sistema de cotas, adotado entre florestas. Nessas atividades, haveria uma compensação financeira por
países, seja defendido na próxima convenção do clima, aplicável à redu­ parte daqueles que deveriam reduzir emissões aos que a reduziram por
ção dos gases causadores do efeito estufa. eles, num mecanismo em que estes últimos "venderiam" o direito de
Uma outra forma vislumbrada por economistas para a fixação de emissões de quantidades equivalentes a outros países que precisassem
carbono, foi um mecanismo chamado de "Atividades de Implementação comprovar reduções. Essas transações seriam negociadas em bolsa, ajus­
Conjunta", ou Joint Implementation Activities, prevendo-se reflores­ tando-se o preço de acordo com a oferta e a demanda. Aprovando-se o
tamentos de compensação, ou seja, um país planta árvores que retiram MDL em acordos internacionais, imagina-se que as primeiras negocia­
carbono da atmosfera, compensando emissões de outros países, assumin­ ções sejam feitas cotando-se 1 tonelada de CO2 retirado por cerca de
do-se que o aumento do CO2 da Terra, que acarreta aumento crescente do US$ 10,00, porém esse valor tende a subir significativamente, à medida
efeito estufa, é um fenômeno de circulação global. Trata-se de um meca­ em que os países necessitem provar reduções (discutidas na Rio 92 e em
nismo financeiro baseado na emissão de títulos de fixação de carbono, Kyoto) e imponham cotas severas para suas indústrias.
vendidos e comprados em bolsas de valores, por empresas e governos, Um estímulo a uma postura adequada é o chamado depósito-resti­
de forma análoga à do comércio de commodities. O primeiro país a adotar tuição, como estímulo econômico à melhoria ambiental. Por exemplo,
este processo, foi o Governo da Costa Rica, em um acordo com os Esta­ estimula-se na Europa o uso de garrafas de vidro em lugar da garrafa de
dos Unidos, que lançou os "Certified Tradable Offsets", CTO, negocia­ PET, com a restituição da caução paga na compra, por ocasião da devo­
dos na Bolsa de Chicago. Um (1) CTO equivale a 1 ton de carbono, lução. A tendência é que mesmo a garrafa plástica passe a ser paga na
sendo a quantidade de carbono fixado por uma determinada floresta planta­ restituição (mesmo que seja um valor muito baixo, de alguns centavos
da calculado por entidades especializadas e com alta credibilidade, como por garrafa, mas mesmo assim agiria como um estímulo ao retomo, princi­
a certificadora SGC Forestry e pela Ecosecurities. palmente por parte de pessoas mais pobres), assim corno pilhas e bate­
Outra forma, relacionada ao comércio de certificados ou direitos de rias, de modo que possa ser dado um destino mais adequado e, se possível
poluição, consiste no chamado "Mecanismo de Desenvolvimento Limpo", e viável economicamente, ser feita a reciclagem.
ou "Clean Development Mechanism", um mecanismo econômico
proposto na Conferência de Kyoto. Essa forma de atuação, com alguma
1.10. O MEIO AMJHENTE COMO OPORTUNIDADE DE
semelhança com o Joint Implementation Activities apresentado acima,
NEGÓCIOS
está começando a ser aplicada, esperando-se um crescimento vertigino­
so de transações caso entre em vigor o protocolo de Kyoto, quando os A atividade econômica vem se beneficiando de uma maior atenção ao
países ricos precisarem comprovar ações de redução da emissão de gases meio ambiente por parte dos governos e das pessoas em geral. Novos
geradores do efeito estufa. Ele parte do princípio de que é mais eficiente, produtos "ambientalmente corretos" surgem a cada dia para disputar o
do ponto de vista de custos, realizar essas reduções em alguns países, ou mercado, equipamentos ligados ao controle de poluição ou para comba­
em algumas atividades específicas, do que simplesmente forçar reduções ter seus efeitos têm tido aumento espantoso de vendas, criando-se novas
em locais ou atividades onde seja anti-econômico fazê-lo. Por exemplo, oportunidades de negócios e de empregos. O meio ambiente, por si só,
reduzir uma tonelada de emi�sões em uma termoelétrica a carvão nos criou um enorme mercado para equipamentos e serviços. Os países mais
52 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 53

desenvolvidos, para atender à demanda por uma melhor qualidade de • Novos produtos: tintas à base de água, geladeiras sem CFC,
vida, criaram normas mais rigorosas no tocante ao controle da poluição, catalisadores para automóveis, entre outros.
fato que estimulou a indústria a desenvolver novos equipamentos e siste­
mas. O grande crescimento desse mercado deve ocorrer nos países em
desenvolvimento, que representam 13% desse mercado, pois nesses países 1.11. OS PRINCIPAIS PROBLEMAS AMBIENTAIS
a situação ambiental é mais precária. No setor de serviços, a implantação BRASILEIROS
de sistemas ISO 14.001 tem crescido a demanda por profissionais com
O Banco Mundial realizou, em 1998, um interessante estudo2 enfo­
conhecimento no assunto. Para citar alguns exemplos:
cando os principais problemas ambientais do Brasil , que utilizaremos
· Constata-se que a indústria alemã vem aumentando a venda de material como referência, procurando relacionar os aspectos econômicos e de
ligado ao controle de poluição para o Brasil. A Alemanha, em anos recentes, gestão de custos.
vem se empenhando em obter melhorias ambientais e, para isso vem desen­
volvendo tecnologia ligada a esses processos. Hoje, seus industriais procuram Segundo esse relatório, os principais problemas ambientais brasi­
aumentar suas vendas desses equipamentos para o resto do mundo. leiros são:
• Gás natural. A necessidade de obtenção de outras fontes energéticas a) Falta de água potável e falta de esgoto nas casas e comunidades.
levou à elaboração de projetos de aproveitamento de gás natural, como é Esse problema ocorre na maioria das favelas e construções das periferias
o caso da importação de gás natural da Bolívia em grande quantidade. das grandes cidades e nas zonas rurais mais pobres, sobretudo no interior
Porém, além do apelo econômico e da necessidade do país diversificar do Nordeste, constituindo-se em um grande problema sanitário, pela
sua matriz energética, para ficar menos dependente da energia que depende quantidade de pessoas afetadas. As doenças de veiculação hídrica
de chuvas, existe uma componente muito forte da motivação ambiental, (diarréia, intoxicações, etc.), segundo diversas fontes, representam a maior
já que se trata de um combustível muito mais limpo, que praticamente parte dos casos de internações hospitalares no Brasil.
não gera resíduos, em sua utilização.
b) Poluição do ar nas grandes cidades, principalmente em São Paulo
• Venda de equipamentos ligados à poluição, como umidificadores, e no Rio de Janeiro, basicamente por veículos e indústrias. Da mesma
filtros, etc. forma, afeta uma quantidade muito grande de pessoas.
• As Prefeituras-Municipais, por pressão da sociedadeJtêm dedicado e) Poluição de águas de superfície em regiões urbanas (rios, baías,
maior atenção e verbas para a construção de estações de tratamento de praias), como resultado de descargas de esgoto e efluentes indus­
água, estações de tratamento de esgotos, aterros sanitários, centros de triais. Resulta na impossibilidade do uso do bem natural e de saúde da
reciclagem, etc. população.
• A Petrobrás investiu cerca de US$ 1 bilhão na adequação e constru­
d) Falta da coleta de lixo em cidades e sua disposição imprópria em lixões.
ção de novas unidades de hidrotratamento de suas refinarias, para conse­
guir produzir um óleo diesel com menor quantidade de enxofre (de 0,5 % e) Poluição industrial localizada, ou outras resultantes de ativídades
a 0,3%). agrícolas, de mineração, de construção, etc.
· Ecoturismo, ramo que apresenta um crescimento de 20% ao ano, graças
a um maior apelo ecológico e de valorização da natureza. Essa atividade Banco Mundial, Relatório n. 16635-BR. BRAZIL- Managing Pollution Problems.
econômica movimentou no Brasil cerca de US$ 6 bilhões em 1997. The Brown Environmental Agenda. Volume l.
54 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO A BDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 55

Observamos que a maioria desses problemas resulta da dificuldade veículos nas grandes cidades liberando emissões gasosas e, ao mesmo
dos governos em realizar um gerenciamento eficiente e, principalmente tempo sendo responsável por suprir o abastecimento de água, coleta e
da falta de recursos financeiros para realizar as grandes obras de sanea­ tratamento de esgotos e coleta e destino final do lixo. Com base nesse
mento (água e esgoto) requeridas para melhorar as condições existentes. relatório, verificamos que a indústria e outras empresas são responsáveis
Constatamos que a água, sobretudo nas grandes cidades, vem se tornan­ pelo problema de menor prioridade na lista apresentada, com efeitos quase
do um recurso escasso e cada vez mais caro, ao mesmo tempo em que sempre locais. É bem verdade que, em muitos casos, a indústria tem boa
observamos grandes desperdícios por falta de consciência ambiental da parte da responsabilidade na poluição das águas de superfície, resultan­
população ou problemas decorrentes da falta de manutenção das redes de te do despejo de efluentes ou da poluição do ar nas grandes cidades.
distribuição. Cada vez é mais difícil captar água de boa qualidade, às Constatamos, entretanto, que o maior esforço de fiscalização é justamen­
vezes necessitando-se trazê-la de longas distâncias para atender a popu­ te direcionado às atividades industriais, a maior parte das leis ambientais
lações cada vez maiores dos grandes centros urbanos. A maioria das visa forçar a uma melhoria do desempenho industrial. Além disso, obser­
estações de tratamento está recebendo água de baixa qualidade, resul­ vamos que é no segmento empresarial que se situa a grande quantidade
tando em custos cada vez mais elevados para deixá-la em boas condi­ de organizações que adotam voluntariamente as normas e padrões que
ções para uso da população. A descarga de esgoto e outros poluentes é a conduzem a um melhor desempenho ambiental, do tipo ISO 14001 ou
maior responsável por esse problema, além da ocupação desordenada de "Atuação Responsável".
regiões de mananciais. Constatamos uma excessiva dependência de
financiamentos externos para a realização das obras requeridas e, pela
falta de recursos do governo, uma tendência para que a iniciativa privada
passe a entrar nesse tipo de serviço (tratamento e distribuição de água).
O controle da poluição é feito pelos órgãos ambientais, com base em
um conjunto bastante completo de leis e regulamentos. Em alguns esta­
dos essa ação é bastante efetiva, em outros menos presente, porém
observa-se que não há uma constância nas metas, que necessariamente
têm que ultrapassar o mandato dos governantes e seguir um Plano Dire­
tor de longo prazo, com continuidade administrativa. A variável econô­
mica está presente continuamente nesse processo, pois é necessário o
uso de instrumentos econômicos na avaliação dos projetos, montagem
do Plano Diretor e atribuição de responsabilidades bem claras entre
os diferentes níveis do governo e das Agências Ambientais e institui­
ções financiadoras.
Constatamos que quase todos os problemas mencionados possuem
relacionamentos diretos de uma grande massa de população, sobretudo
das grandes cidades e o governo. A população, como usuária dos bens
ambientais (água, ar) e geradora de poluição em larga escala (esgotos)
e o governo como entidade de controle que procura inibir ocupação
irregular do solo, degradação de mananciais, limitações ao excesso de
2
CUSTOS AMBIENTAIS

2.1 IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE CUSTOS AMBIENTAIS

As empresas dependem fundamentalmente do meio ambiente, como


fonte de matérias primas e como receptáculo de seus resíduos, tratado
ou não. E dependem também da Sociedade, cujas aspirações precisam
ser atendidas (lembrando que sem a concordância da Sociedade, e
violando-se seus interesses principais, a empresa não terá sustentação ao
longo do tempo). Dessa forma, percebendo-se o interesse crescente em
um meio ambiente sadio, as empresas estão passando a priorizar investi­
mentos que não eram antes considerados, mesmo que os retornos não
sejam elevados no curto prazo corno é comum no caso dos investi­
mentos ambientais e sim, investimento de retorno mais lento, como por
exemplo a modificação de processos produtivos, adotando-se tecnologias
mais limpas. Essas novas idéias, levando-se em conta esses aspectos
sociais, passam a ser consideradas no processo de tomada de decisões e
na gestão estratégica das empresas.
Nenhuma empresa, no decorrer de seus processos de administração,
realiza investimentos e dispêndios sem controle. Dessa forma, mesmo
que a Diretoria esteja motivada -para a realização de investimentos em
melhoria de desempenho ambiental, que o Gerente Ambiental tenha
apresentado excelentes motivos para a implantação de modificaçõe em
processos, em aquisições de equipamentos menos poluentes, na própria
implantação de um Sistema de Gestão Ambiental (que exigirá mobilizar
pe oas, elaborar procedimentos auditorias treinamentos, etc.) nenhu­
ma ação é aprovada pela Diretoria sem uma clara identificação dos
custo · nvolvidos e sem wna quantificação do retorno desses investi­
mentos para a empresa.
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS
58 EDITORA 1UAREZ DE ÜLIVEIRA - Luiz ANTÓNIO ABDALLA DE MOURA

etos, adquirirmos
A gestão dos custos ambienta is somente pode ser re aliz ad a com a necessi dade de desenvolver ou encomendar proj
dios, tubulações, �l ) e
sucesso, conseguindo-se que três áreas da empres a (sobretudo estas) equipamentos, realizarmos construções civis (pré
ocação em funcio na­
tenham uma b oa compreens ão comum d as v a riáveis envolvida s no realizarmos a montagem dos equipamentos e col
Todas essas ativida­
processo, motivação para realizar um bom trabalho n o assunto e apoio mento, com a realização de testes de desempenho.
té mesmo p orque e ses
da alta direção. Estas áreas englobam as pess oas da áre a de Gestão des geram custos e ão anal isadas com cuidado, a
lembrar que há uma
Ambiental (s ão especi a lista s no assunto e servem de elementos de custos ficam bastante visív eis. Entretanto, é preciso
o ser consider ados,
ligação de todas as outras áreas da empresa no t ocante ao meio ambien­ série de outros custos, menos visíveis, que precisarã
detem1i.nada ati:idade
te ) a área financeira (que provê os recursos para in ve timentos e para o pois o que inter essa é o custo total ligado àquela
a mostra ndo um iceb erg
caixa, analisa a rentabilidade e o retorno dos inve stimentos e acompanh a ou seja o custo ao longo do ciclo de vida. A figur
não visíveis) ilustra
o orça mento) e a ár ea contábil (processa os dados de custos ambientais, (com uma pequen a parte v isível e partes imensas
fornecendo elementos para análi e e deci ão). melhor aquilo que expusemos:
Um investimento em melhoria ambiental precisa ser visto da mesma
forma que qualquer outro investimento da empres a, devendo ser reali­
zada u11;a análise de vi abilidade técnico-econômica desse empreendi­
mento. E muito difícil a defesa desses investimentos sem uma análise que
mostre as altern ativas inclusive considerand o a opção da não realização
do i nvestimento proposto, com simulações e proj eções para o futuro.
A mai oria das empresas não conhece seus custos ambientais. Entre­
tanto, esses custos existem e estão difusos, mascar ados por outros custos
de gerenci amento da empres a. A primeira providência a tomar, será
identificar os custos da qu alidade ambiental, definindo uma metodologia
que permita chegar à sua identificação e mensur ação , sep ar ando os
gastos por categorias, de m odo a percebermos onde atuar no sentido de
obter um a mai or eficiência e ao mesmo tempo, gerar subsídios ao plane­
jamento estratégico da organização. Sugerimos u sar nesse tr ab alho uma
ferramenta denominada ' método ABC - Activity Based Costing' , que
em benefícios p ara a
con i te em identificar os custos em cada atividade realizada, de uma Um trabalho m ais aprofundado e que resulta
veis p�r
erminação da causas responsá
m aneira sistemática, após um a defini ç ão das atividades ambi entais organização pode conduzir à det
ia . Veremos, com mais
(aspecto e impactos ambientais), identificação do locais da organização determinad os custos e a r azão de sua exi tênc
identificação e levanta-
onde essas atjvidades ocor rem, determinação dos seus custo e identifi­ detalhes, mais adiante, a forma de realizar esta
cação dos re pon áveis pelos custos, ou pessoas com capacidade para mento dos custos ambientais.
al da org�nização,
autorizar as de pesas.
A qualidade ambiental, integrada ao sistema glob
os , bora ex1s�am,_ _no
É importante lembrar que, ao escolhermo. determinados sistemas que pode e deve ser mensurada em term os de cust ��
ant1f1car o que s1g mf1ca
irão proporci onar uma melh oria da qualjdade ambiental como por ex em­ inicio do processo muitas dificuldades em se qu
tarefa fácil enqu adrar os
plo slações de tratamento de eflu entes e i ternas de filtragem, teremo realmente qualidade ambiental e não seja uma
EcoNOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS
61
60 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

utos (e emba­
cus tos da qualidade ambiental nos sistemas contábei normais da empre ­ - percentual de material reciclável utilizado nos prod
sa. A linguag e m d os cu s to s, além d e s er univ er sal, é aque la mai lagens);
kg) de produto
compreendida pela alta direção permitindo realizar as escol has corretas - custo da energia elétrica utilizada por unidade (ou
e visualizar de forma precisa (quantificada) grande parte dos benefícios e acabado ;
lucros decorrentes para a empresa, com o re ultado da implantação dos de produto;
programas de gestão ambiental. - quantidade (ou custo) da água utilizada por unidade
a por unidade
Mes mo a obtenção de respos tas qualitativas sobre cus tos, com - quantidade de matérias primas naturais (kg) utilizad
classificação do tipo alto/ médio/ baixo já resulta em b enefícios, justifi­ de produto;
ambientais;
cando a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental e de uma estru­ � percentual de colaboradores treinados em questões
tura de controle de custos, vinculada aos aspectos ambientais. Esse s em r elação ao
- percentual de investimentos em melhorias ambientai
trabalho irá mostrar quais são os setores ou áreas onde os custos s ão mais
orçamento ;
elevados, ou exi te m perdas maiores demandando uma maio r atenção
as a problemas
do SGA. Implantada a estrutu ra de identificação de custos ambie ntais, as - número de queixas da comunidade, por ano, relativ
gerências poderão utilizar as informações obtidas para avaliar, selecionar ambientais;
e definir prioridades, realizando os investimentos que proporcionem os - número de acidentes ambientais por ano;
melhores retornos. A sim procedendo, é possível fixar os objetivos e metas s por ano ;
incluindo a variável econômica-financeira. Ao se levar em conta os - custo para a empresa resultante de incidentes ambientai
de problemas
custos previstos na implantação de melhorias ambientais e o retomo do - valor das multas recebidas no ano, como resultado
investimento, avaliado segundo técnicas de análise financeira (taxa inter­ ambientais;
na de retomo, valor presente líquido, etc.), os objetivos e metas com s ambientais;
- número de ações judiciais por ano, relativas a problema
certeza serão apoiados de forma mais efetiva pe la alta administração. de problemas
- custo dos dias parados por ano, como conseqüência
As melhorias ambientais previstas devem ser evidenciadas como uma ambientais;
mistura de atributos qualitativos (por exemplo a satisfação dos clientes)
produzida.
com medidas de de sempenho quantificáveis, de modo a permitirem uma - custo da disposição de re �íduos sólidos por unidade
de p adrões
correta seleção, ao longo do processo de tomada de decisão, sobre o Os custos altos ou ind icad ores de d esempenho fora
orga nizacionais
melhor investimento a realizar. normais podem significar a existência de problema
s
da empresa, ou as
Alguns indica dores de desempenho usados nos processos produtivos grav es, comprome te ndo a própria s obre vivência
la determinada taxa
e gerenciais são : margens de lucro espe radas para o ne gócio com aque
ostrando que pode
de risco. Os relatórios contábeis irão nos auxiliar m
- quantidade de emissões de gases nas chaminés, como por exemplo o
estar oc-orrendo um problema em
uma determinada área, mas não vai, por
CO2, SO2, etc;
si só, resolv er o problema. C o mpa
rando, imagine a situação de uma
car um te rmômetro
- quantidade (ton) de resíduos sólidos estocado s; pessoa doente, que suspeita estar com febre, ao colo°
C. Daí, o problema
- quantidade de resíduos produzidos p or kg de produto acabado; . para medir ua tempe ratura. Verifica que está com 39
onde está ocorren­
- percentual (em relação ao peso total) de resíduos recuperados ou se guinte do médico é descobrir qual a causa da febre
eto. Aqui é a mesma
reciclados; do o processo infeccioso, para receitar o remédio corr
63
62 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS

s entre os fabri­
coisa. Observando custos altos, que nos parecerão anormais, fica mais do protegido e com uma uniformidade relativa de preço
governo prote­
fácil partirmos para uma análise detalhada do problema e suas causas cantes (preço combinados entre eles determinado pelo
pela existência
(por exemplo, usando o diagrama de Ishikawa) e prepararmos um Plano cionismo contra importações etc.), processo facilitado
ciênc ias.
de Ação para solucioná-lo a contento. Os custos e indicadores de desem­ de uma inflação elevada que mascarava e absorvia inefi
fez com que
penho, avaliado em conjunto, servem, assim, como um alarme para a A situação atual é outra; a globalização da economia
utos oferecidos a
existência do problema. exista uma forte concor rência internacional com prod
omia com inflação
É importante lembrar que os resultados de melhorias da qualidade preços mais competitivos. Assim sendo, em uma econ
dos consumidores
_
amb1en�al podem demorar um certo tempo, podendo ocorrer desmotivação baixa, os preços reais passaram a ser mai conhecidos
fluenciar de forma
das eqmpe. e falta de apoio da administração. O programa de preven­ e grande compradores, que passaram, des e modo, a in
de um produto é
ção, envolvendo treinamento e motivação costumam ser demorados e ativa a fixação do preço de venda dos produtos. O preço
bem, por compa­
sua real assimilação pela empresa é lenta. Esse fator pode ser ampliado se fixado pela sociedade pelo valor que ela atribui a esse
tem necessidade,
houver outras causas de insatisfação e desmotivação (problema sala­ ração com o preços de outros produtos de que ela
força de pressão e
'.iais, ?esemprego, relacionamento internos difíceis, etc.). Os grandes olhando-se para a oferta. Se o industrial não tem uma
dos preços, ele tem
mvestim��tos em melhorias ambientais exigem projeto longo aquisições porte para influenciar significativamente na fixação
empresário, com a
de matenrus, obras de engenharia e montagem, com os resultado somen­ que se adequar para produzir com menor custo. O
pras e de produção
te aparecendo em outros exercícios financeiros, aumentando o "custo participação de seu pessoal de engenharia, de com
os quais
conseoue definir o custo dos insumos e dos investimentos (entre
�bi�ntal ' pr�sente sem um retomo a curto prazo. Em empresas que o
prod uto) e com o
pnonzarn proJetos de retorno mais rápido, algun projeto ambientais os investimentos ambientais, chegando ao custo do eu
daquele produto
P?dem ser sempre postergados sem ganhar prioridade e as conseqüên­ auxilio do pessoal de vendas consegue definir o preço
consegue definir a
cias podem ser ruins quando, mai tarde a empresa for submetida a no mercado (função da concorrência) e, só assim ele
e estabelecida uma
fiscalizações por parte de órgãos ambientais, por exemplo e se constatar rentabilidade. Assim sendo, fixado o preço de venda
a tem que reduzir
desconformidades legais. Como conciliar esses fatores para aumentar a margem mínima de lucro, o produtor mais do que nunc
com isso através de
motivação é uma tarefa difícil que cabe aos gerentes solucioná-la. o custo dos produtos. A variável ambiental colabora
multas e custos de
reduçõe de desperdício de matérias primas energia,
icente.
O maior problema enfrentado pela indústria com relação aos custos remediação decorrentes de uma postura ambiental displ
ambientais refere-se à dificuldade, enão impossibilidade de repa á-los.
Embora o consumidor exija produtos e processos mais limpos ele não
concorda em pagar os custos por esse diferencial. Esse ônus pode deixar
2.2 SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL E CUSTOS
a empresa menos competitiva em relação a outras que pouco investem
AMBIENTAIS
nesse terreno. As empresas que tratam com descaso seus problemas ambientais
Ainda, refletindo sobre a questão de custos, é interessante lembrar que, tendem a incorrer em custos mais elevados com multas, sansões legais,
até pouco anos atrás, o preço de venda do produto era definido pela empresa além da perda de competitividade de seus produtos em um mercado cujos
ornando-se os custos (quanto realmente a empresa gastou pru·a fabricar consumidores valorizam, cada vez mais, a qualidade de vida e, conse­
o produtos, mais despesas de venda , etc.) ao lucro de ejado (normal­ qüentemente, produtos e processos produtivos em harmonia com o meio
mente um índice, 20 ou 30%, ou mais se a empresa conseouisse) cherr ambiente. A situação é contrária àquela imaginada, de que os custos
o o an-
. ambientais podem inviabilizar a empresa ou reduzir seus lucros.
do-se assim ao preço de ejado. Essa situação era possível em um merca-
64 EDITORA JÍJAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE
MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 65

Todas as atividades realizadas visando à melhoria de processos - quais são os elementos do SGA que acarretam os maiores custos
ou produtos com relação ao meio ambiente acarretam o dispêndio de (treinamento, comunicações, auditorias, planos específicos para cumprir
recursos financeiros. A própria existência de um Sistema de Gestão objetivos e metas, etc.);
Ambiental envolve cu tos de mão-de-obra de várias áreas da empresa
em sua fase de planejamento por meio da identificação de aspectos e - quais são os elementos que oferecem as melhores possibilidades
impactos ambientais, fixação de objetivos e metas definição de um Plano relacionadas a ganhos financeiros e potencial para a redução de custos.
de Ação, custos com laboratórios de ensaio contratado , custos com Imaginemos uma situação em que a alta direção da empresa deseja
auditorias, etc., e eventuai ganhos e economia de energia elétrica melhorar o seu desempenho ambiental. Esse propósito poderá ser atingi­
matérias primas, etc. Com a implementação de um SGA, pode-se vir a do de várias maneiras, por exemplo, realizando investimentos isolados
obter menores custos de conformidade, e uma redução de riscos, o que se que resultem em alguma melhoria, realizando estudos mais profundos
reflete também em custos. que analisem a fundo os processos e indiquem uma prioridade para
Os custos operacionais são reduzidos pela eliminação de perdas e as ações, ou, o que tem sido mais comum, implantando um Sistema de
desperdícios e pela racionalização no uso dos recursos humanos físicos e Gestão Ambiental, seguindo uma determinada norma técnica, por exem­
financeiros, redução de acidentes e de passivo ambientais. Isso se refle­ plo a ISO 14001. A adoção da norma apresenta inúmeras vantagens, pois
te em menores despesas com as ações reais a serem tomadas em emeroên- trata-se de um processo estruturado e organizado de administração,
. b
c1as e ações corretivas da instalação, realizadas apó as emergências, redu- elaborado por milhares de horas de cabeças pensantes de todo o mundo,
ção das despesas com ações legais decorrentes de acidentes, benefícios que se reuniram e trabalharam na busca de uma ferramenta simples e
não mensuráveis com relação à melhoria da imagem da empresa, maior eficaz para implementar as melhorias pretendidas. Ao mesmo tempo, por
aceitação do produto pelo mercado e melhor funcionamento interno da se tratar de um processo padronizado, ficará muito fácil o diálogo com
empresa, decorrente da maior motivação das pessoas. profissionais de outras empresas e, em última análise, com o próprio
público que hoje já tem uma boa noção sobre o significado da norma e
Para analisarmos a questão dos custos e refletirmos sobre as priori­
seus requisitos. O grupo designado pela alta administração para
dades com que devem ser realizados os investimentos, será necessário
implementar a norma (em princípio interessando, ou não, a obtenção de
respondermos:
certificação) irá trabalhar exaustivamente no próprio conhecimento
- quais são os aspectos ambientais que impõem os màiores custos sobre os processos e produtos da empresa, bem como nos rejeitos e
par� a organização; priorizaremos para uma análise cuidadosa aqueles de efluentes resultantes dos processos produtivos. Esse trabalho consistirá
maior custo; na realização de um diagnóstico ambiental, que irá revelar a situação atual
- quais são os requisitos da legislação que impõem os maiores custos da empresa, da mesma forma que um médico realiza um exame completo
para a organização; e pesquisa todas as variáveis de um paciente quando ele entra em seu
consultório, antes de sair receitando os remédios. A fase seguinte, de
- quais são as atividades de maior risco portanto passíveis de impor planejamento, irá explorar melhor a definição dos aspectos e impactos
os maiores prejuízos financeiros; lembramos que risco é sempre uma ambientais, a fixação dos objetivos e metas ambientais (onde se quer
associação de dois fatores: a gravidade da con eqüência, caso ocorra chegar, com ações derivadas de uma filosofia advinda da política ambiental
aquele evento (liberação do efluente ou resíduo para o meio ambiente, da empresa) e a preparação de um Plano de Ação, que é a ferramenta que
em liberação normal ou acidental) e a probabilidade ou freqüência com será acompanhada por todos na empresa ao longo da implantação do
que ocorre aquela liberação; sistema. Nessa ocasião, já estarão delineados todos os elementos princi-
66 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS ()7

pais de custos que serão melhor desenvolvidos para apresentação dos É considerado um erro achar que os custos precisam ser elevados para
orçamentos à alta direção, que em última análise é quem decide sobre o que se tenha um sistema de qualidade ambiental satisfatório. Espera-se
rumo estratégico da empresa e as prioridades de investimentos. Para que que os gerentes atuem sempre no sentido de garantir a melhor utilização
esse trabalho seja bem feito, é necessário compreender os custos possível dos recursos para se obter um máximo de benefícios, inclusive
ambientais da organização e verificar o valor do SGA na sua contribui­ auxiliando na determinação do ponto ótimo de investimentos. Uma quali­
ção para o valor da empresa. Para isso, sugere-se: dade ambiental insatisfatória significa a utilização inadequada de recur­
a) verificar o interesse de seus clientes para que a empresa tenha um sos; desperdícios de material, desperdícios de matéria prima, perdas de
trabalho, desperdício de tempo de uso de equipamentos, ou seja, perdas
bom desempenho ambiental ou obtenha a certificação ISO 14001;
para a empresa e emissões à atmosfera, águas e contaminação do solo
b) implantar tarefas de identificação de custos, logo nas atividades que podem resultar em multas e passivo ambiental, ou seja, a certeza de
iniciais de planejamento e implantação de um SGA; dispêndios futuros.
c) analisar, inicialmente, os custos de uma forma grosseira (análise A questão ambiental deve ser vista da mesma forma que qualquer
mais qualitativa) e acrescentar detalhes quantitativos mais precisos ao outra área de negócios, neste caso existindo com maior ênfase a respon­
longo do tempo, para as categorias mais significativas em custo; sabilidade social da empresa e de seus diretores. Entretanto, na escolha
d) examinar os custos intangíveis (ocultos), definição que apresenta­ de opções de investimento e da tecnologia envolvida nos processos deve­
remos mais adiante; se lembrar como um posicionamento de atitude a sigla inglesa BATNEEC
(Best Available Techniques Not Exceeding Excessive Costs), ou seja adotar
e) aplicar técnicas de análise financeira para selecionar as opções de
a melhor técnica disponível, porém não incorrendo em custos excessivos.
melhorias ambientais e selecionar objetivos e metas;
Não se aceita a instalação de uma determinada indústria em uma região,
f) identificar indicadores de desempenho quantificáveis em que se utilize que apresente um padrão de emissões pior do que uma outra já instalada
informações de custos ambientais. nessa região, pois fica evidenciada a existência de uma melhor tecnologia,
É importante que exista a possibilidade de comparar os custos ambien­ que ela não está empregando, e com isso, muitas vezes ela irá gerar uma
tais da empresa com os custos que ela teria se não houvesse um SGA competição desleal com a indústria anteriormente instalada e com
(multas, desperdícios, etc.), de forma a permitir decisões corretas a respei­ melhor desempenho ambiental. Ao mesmo tempo, procura-se um ponto
to de investimentos. Os relatórios contábeis não identificam claramente ideal de equilíbrio entre custos e desempenho, não se podendo conside­
as origens dos problemas - os números somente identificam onde ocorrem rar que existem produtos, serviços e processos satisfatórios se os custos
os gastos, tendo-se às vezes um trabalho muito grande para se descobrir não forem satisfatórios, ou seja, competitivos em relação à concorrência.
as causas.
Em muitas atividades, constatamos que as ações tomadas pelos admi­ 2.3 BENEFÍCIOS RESULTANTES DA GESTÃO ])E CUSTOS
nistradores baseiam-se somente na análise sumária e imediata de custos e AMBIENTAIS
benefícios diretos. Por exemplo, na agricultura, em muitos casos, os admi­
nistradores planejam um trabalho de controle de pragas através da aplica­ Em muitas empresas, a "importância" do Sistema de Gestão Ambiental,
ção de inseticidas, somente quando as pragas estiverem causando um ou da própria área ambiental somente é dada na obtenção de uma certi­
dano econômico maior do que o custo de controle, sem uma análise em ficação pela ISO 14.001, o que é incorreto, pois conseguir realizar melho­
profundidade dos efeitos ambientais decorrentes. rias a:mbientais em um determinado processo industrial ou produto,
68 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 69

acarreta inúmeras vantagens e benefícios para a empresa. A certificação tico dos riscos de acidentes. E cada acidente custa muito caro, conside­
deve ser vista como um reconhecimento e atestado de desempenho emi­ radas as perdas materiais e de vidas humanas. A existência de um siste­
tido por uma entidade externa, não devendo apenas ser esse o único valor ma de custos ambientais tem a vantagem de demonstrar de forma cabal
a ser perseguido. Existem outras vantagens obtidas com a realização de as despesas envolvidas e as vantagens financeiras resultantes. É interes­
melhorias de desempenho ambiental, que tomam a empresa mais compe­ sante ressaltar que começa a ser percebido que as empresas que têm reali­
titiva, como por exemplo uma maior eficiência no uso de materiais no zado melhorias de seus processos visando ao meio ambiente, com a utili­
processo produtivo, redução das despesas com a disposição final de resí­ zação de equipamentos mais confiáveis, também têm tido uma redução
duos sólidos (muitos com algum índice de periculosidade), maior eficiên­ de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, pois os dois aspectos
cia gerencial resultante de uma maior sintonia de trabalho entre os respon­ (meio ambiente e saúde ocupacional) são muito interligados. Ao reduzir
sáveis pelas compras, pelo projeto (área de engenharia), pela produção e emissões de particulados e gases venenosos para a atmosfera, reduz-se,
manutenção, que passam a perseguir a mesma meta de melhoria de desem­ conseqüentemente, a quantidade de doenças respiratórias. Outras doenças
penho da empresa, não apenas do ponto de vista ambiental, redução de
como a silicose, a asbestose e a surdez também são minimizadas. O desem­
emissões gasosas (que, em alguns países onde são negociadas as cotas de
penho econômico acaba sendo também afetado pela quantidade de faltas
emissão- "permits"- se reveste em lucro), redução de multas por descum­
e licenças decorrentes de problemas de saúde e indenizações da empresa.
primento de requisitos legais (o sistema ajuda a identificar os requisitos
O oposto (um bom ambiente, com a inexistência de problemas ocupa­
legais e definir caminhos para cumpri-los), redução dos prêmios de segu­
cionais) é, por outro lado, um fator de aumento de produtividade.
ros pagos (trata-se de uma tendência, pois as seguradoras irão breve­
mente concluir que os riscos são menores para as empresas que possuem O levantamento dos Custos da Qualidade Ambiental pode ser utili­
um sistema de monitoração bem implantado), redução das reservas zado para avaliar e melhorar a posição de competitividade das compa­
monetárias feitas pela empresa como um auto-seguro, para cobrir eventuais nhias, com relação aos seus concorrentes. Sobretudo hoje, quando a
indenizações decorrentes de problemas ambientais, redução de inter­ variável ambiental é um importante elemento de decisão de compra de
rupções de funcionamento devido a incidentes e problemas ambientais, produtos e serviços, principalmente nos países mais ricos, é possível em
redução no uso de materiais perigosos para diminuir despesas com inde­ certos casos repassar ao consumidor os gastos ambientais realizados na
nizações, seguros, custos com destinação final dos resíduos, entre melhoria dos processos, desde que esses valores sejam razoáveis, ou seja,
outras vantagens. que tenha sido realizada uma administração correta dos gastos ambientais.
Existe a necessidade de que sejam conhecidas, com um bom nível
de detalhes, as previsões de custos para cada ação programada e um
2.4. ESTABELECIMENTO DOS CUSTOS DA QUALIDADE
acompanhamento contábil dos custos efetivos, de modo a identificar os
AMBIENTAL
benefícios, compensações e reduções de custos a médio prazo, ou, por
outro lado, eventuais dispêndios sem o retomo esperado pela empresa, A contabilidade administrativa destina-se sobretudo à visão interna
em seus estudos de planejamento. É importante, assim, que a empresa da empresa (desempenho interno), enquanto a contabilidade financeira
conheça bem os seus custos ambientais, para que possa, caso necessário, destina-se a usuários externos (dados montados nas demonstrações
redirecionar suas estratégias de negócios e investimentos. contábeis destinam-se a prover informações aos acionistas, órgãos gover­
Os riscos de acidentes são muito maiores nas empresas que não este­ namentais, credores, etc.). A avaliação do desempenho da empresa
jam preocupadas com a variável ambiental ou que não têm um SGA fazendo uso de dados contábeis, é mais fácil (são números, de compreen­
implantado, pois esse sistema tende a facilitar a observação e o diagnós- são internacional, que permitem uma avaliação mais fria e isenta do que
70 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 71

simplesmente medir a satisfação do cliente, que é uma tarefa de avalia­ 2.5 ALGUNS CONCEITOS DE CONTABILIDADE DE CUSTOS
ção mais difícil e imprecisa). Além disso, a contabilidade permite uma
medida dos resultados e não das intenções (esforço dispendido e boas (Nota: para informações mais detalhadas, sugiro consultar o excelen­
intenções não são considerados, apenas os resultados numéricos). te livro "Contabilidade de Custos", do Prof. Eliseu Martins, Editora Atlas,
que foi referência para o aprendizado destes conceitos).
A Contabilidade auxilia as pessoas responsáveis pela tomada de deci­
sões, sendo imprescindível que os dados sejam utilizados com bom senso, Gastos - são os sacrifícios financeiros suportados pela empresa na
após uma análise. Por exemplo, se o levantamento contábil indicar que obtenção de produto ou serviço, sacrifícios estes representados pela
existe um dispêndio elevado em custos relacionados à remoção de resí­ entrega ou promessa de entrega de ativos (normalmente dinheiro). Como
duos, a economia não pode ser visada simplesmente reduzindo-se as exemplos de gastos, tem-se a compra de equipamentos, de matérias
equipes de limpeza responsáveis pelo trabalho, e sim modificando-se primas, pagamentos de mão-de-obra, de honorários da diretoria e de
métodos, recursos materiais mais apropriados, etc. taxas de seguros.
Assim, definindo.:.se: Investimentos - são os gastos realizados com o propósito de obter
Função qualidade ambiental - conjunto de todas as atividades que benefícios futuros, tais como a aquisição de equipamentos mais moder­
são realizadas na empresa para obter produtos em conformidade com as nos, treinamentos de mão-de-obra, gastos com a realização de trabalhos
especificações, no tocante à não agressão ao meio ambiente. Podemos de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e com a implantação
dizer que quase todas as áreas da empresa participam de atividades liga­ de um sistema de gestão ambiental, que colaborarão para um melhor
das à função de qualidade ambiental. desempenho e aumento dos benefícios e retornos financeiros da empresa.
Custos da qualidade ambiental - são as quantias dispendidas na Custos - são os gastos relativos à produção de um bem ou serviço,
obtenção da qualidade ambiental, ou para compensar não conformidades que se incorporam ao valor do bem ou serviço. Assim, por exemplo,
de origem ambiental (correções de problemas). Segundo a ISO 8402, os quando se adquire uma matéria prima incorre-se em um gasto. Essa
custos da qualidade são "custos incorridos para garantir e assegurar a matéria prima é vista como um investimento enquanto ela permanece
qualidade, bem como aqueles decorrentes das perdas quando essa quali­ no estoque e transforma-se em um custo (parcela de custo do produto)
dade não é obtida". assim que ela entra no processo produtivo do bem. O produto acabado,
Uma outra forma, mais sofisticada e provavelmente mais trabalhosa é por sua vez, corresponde a um investimento da empresa, até que ele
definir o custo da qualidade ambiental para um determinado período como seja vendido. Os gastos ambientais de uma empresa, em sua maioria
sendo a diferença entre os custos e despesas reais de uma organização referem-se a investimentos e custos.
em uma determinada situação inicial aplicados e destinados exclusiva­ Despesas - são os valores consumidos direta ou indiretamente para a
mente à obtenção de melhorias no meio ambiente quanto aos processos,
obtenção da receita, como por exemplo os gastos com financiamentos,
produtos e serviços (antes da implantação de um SGA, início de um exer­
publicidade e comissão de vendedores. As despesas reduzem o patrimônio
cício financeiro, etc.) e os valores que esses custos e despesas efetiva­
líquido da empresa, porém representam sacrifícios necessários no
mente representam se forem implantadas, no período considerado, todas
processo de obtenção de receitas.
as metas e objetivos ambientais decorrentes da política ambiental, regu­
lamentos legais e outros compromissos assumidos pela empresa. Essa Desembolsos - são os pagamentos resultantes da aquisição do bem
última situação seria aquela 100% livre de defeitos, erros e não confor­ ou serviço, podendo ocorrer antes, durante ou após o recebimento do
midades ambientais. bem ou serviço pela empresa, portanto defasados ou não dos gastos.,
72 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVEST IMENTOS 73

Perdas - são os bens ou serviços consumidos de forma anormal e O Balanço de uma empresa apresenta, de uma forma sintética, a lista
involuntária. Elas caracterizam-se como gastos que não apresentam dos ativos (edifícios, máquinas, matérias primas, etc.) da empresa e de
nenhum retomo financeiro para a empresa. Como exemplos de perdas suas dívidas (com os acionistas, através do capital e dividendos a distri­
podemos citar o valor dos produtos e máquinas perdidos em um incên­ buir, e com seus credores -fornecedores, financiadores, etc.). Associado
dio, o material obsoleto que ficou perdido em estoque e que não conse­ ao balanço, quase sempre é apresentado o "Demonstrativo de Lucros e
guirá ser vendido, as perdas de mão-de-obra por greves, etc. O valor da Perdas", ou "Resultados do exercício" daquele determinado período de
matéria prima perdida em condições normais de um processo produtivo tempo (exercício financeiro), mostrando os resultados operacionais da
é classificado como "custo" de produção. empresa. Mais adiante, apresentaremos algumas idéias sobre como utili­
Assim sendo, os gastos, normalmente são divididos em investimen­ zar o balanço para avaliar a rentabilidade de investimentos ambientais.
tos, custos, despesas e perdas. O Balanço Social é uma idéia moderna, que tem tomado vulto em
Lucro é a remuneração resultante da utilização dos ativos da empresa. alguns países. Visa apresentar, à sociedade, os aspectos negativos da
Com o emprego das máquinas e instalações da empresa (seus ativos), organização do ponto de vista social (desemprego de funcionários, po­
realizando transformações na matéria prima, fabricaremos produtos ou luição) e, por outro lado contribuições e benefícios proporcionados pela
prestaremos serviços que, ao serem vendidos, geram lucro à empresa. empresa. A variável ambiental é um dos fatores mais significativos do
balanço social, com benefícios refletidos em apoios a programas de
Os custos, em uma contabilidade de custos industriais, são usualmen­ educação ambiental, adoção de limpeza e jardinagem de praças, melho­
te subdivididos em diretos e indiretos. rias ambientais internas, programas de reciclagem, entre outros
Custos diretos: são aqueles que podem ser diretamente apropriados exemplos. A Usiminas, por exemplo, recentemente publicou em jornais
ao produto ou serviço, a um processo ou a uma unidade produtiva. Como de grande circulação, o seu Balanço Social, onde ela evidencia os gastos
exemplos, temos os custos da matéria prima empregada, da mão-de-obra realizados com salários e impostos, treinamento de colaboradores e
dos projetistas, da mão-de-obra do operário que efetivamente trabalhou investimentos ambientais.
diretamente na fabricação (custo das horas), das embalagens utilizadas e A defesa de investimentos ambientais requer uma eficiente análise
da energia elétrica consumida efetivamente no processo produtivo (kWh). contábil, que mostre as alternativas, inclusive da não realização dos
empreendimentos apresentados, com projeções das conseqüências,
Custos indiretos: são aqueles custos que, embora sejam necessários
principalmente dos riscos de multas e perda de confiança na empresa.
à obtenção do produto ou serviço, não são facilmente correlaciona­
Essa análise deve ser realizada com simulações ao longo do tempo.
dos a estes através de medidas objetivas, sendo sua apropriação reali­
zada por rateio entre vários produtos ou serviços, proporcionalmente à
participação estimada em cada um deles. São custos que não estão dire­ 2.6 CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS AMBIENTAIS
tamente apropriados a um processo específico. Como exemplos desses
custos, citam-se os aluguéis, salários de pessoal de gerência, adminis­ A Contabilidade realiza a coleta, organização, apresentação e inter­
tração, almoxarifado, energia elétrica (se não houver medidores que pretação dos dados de gastos e receitas.
permitam calcular a energia aplicada exclusivamente no produto consi­ A Análise financeira, por sua vez, ocupa-se da interpretação dos
derado, situação que configuraria um custo direto), contratos de manu­ dados contábeis e econômicos
tenção de bens móveis e imóveis, custos de monitoramento na gestão da Sistema de Custos da Qualidade Ambiental-é um conjunto de proce­
qualidade da água, do ar e dos resíduos, gestão de produtos perigosos dimentos e atividades devidamente estruturados que visa organizar a coleta
1.: treinamentos.
de dados e permitir a determinação dos custos da qualidade ambiental.
74 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL ÜESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 75

O objetivo principal do sistema de custos da qualidade ambiental é nistração, com relação aos investimentos e aplicações de recursos mate­
agregar em relatórios específicos esses custos, com foco especificamente riais e humanos da empresa.
em apropriação e sua análise, informações que, ou não eram antes identifi­ Os custos vinculados à qualidade ambiental podem, eventualmente,
cadas e levantadas ou que poderiam estar dispersas em outros documentos. estarem situados em níveis muito elevados para a empresa, resultando
Identificar e relatar estes custos às gerências e alta direção pode ser em benefícios não muito expressivos. Eles podem estar distribuídos em
um bom caminho para resolver o problema ambiental e reduzir esse tipo muitos elementos de custos difíceis de discriminar. A falta de visibilida­
de e de indicadores financeiros dificultam a cobrança de resultados por
de custos (colaboração da contabilidade para o meio ambiente), pois ajuda
parte da alta administração. Dessa forma, às vezes, é difícil responder
os gerentes e dirigentes a perceberem as implicações financeiras da quali­
qual o custo real da qualidade ambiental da empresa.
dade ambiental.
É importante saber. quanto custa melhorar e manter a qualidade
Quando os custos ultrapassam os limites do departamento, os geren­ ambiental desejada, prevista a partir da política ambiental e dos objeti­
tes não conseguem ter um controle sobre estes custos, pois fica penoso vos e metas da empresa, o que tem que ser respondido por um Sistema de
rastrear e acumular os gastos, dificultando a sua visualização. Com a Custos de Qualidade Ambiental da empresa.
contabilidade de custos fica mais fácil obter esses dados. O volume de
dispêndios, ao ser observado pela primeira vez, pode até causar surpresa O objetivo desse sistema é fornecer dados que permitam, em paralelo
à identificação dos aspectos e impactos ambientais, identificar áreas a
a alguns gerentes. Porém com o tempo, esse susto pode ser benéfico,
serem atacadas para reduzir os custos totais da qualidade ambiental.
levando-os a pensar em melhorias de desempenho. O levantamento dos
custos ajuda a definição da prioridade em investimentos e melhorias (esco­
lher as áreas onde as perdas financeiras ou os riscos são maiores). O que são Custos Operativos da Qualidade Ambiental

A identificação e o registro dos custos ambientais não resolvem os São os custos relacionados à existência de um sistema da quali­
problemas de qualidade ambiental. A solução dos problemas é facilitada dade ambiental, que incluem os custos de controle e os custos de falha
pela existência de um Sistema de Gestão Ambiental bem administrado, (ou falta de) de controle.
usando o Diagrama de Ishikawa para identificar as causas de problemas, São custos associados com a definição, criação e controle da qualida­
um plano de ação para orientar as atividades, um Sistema de Informações de ambiental, bem como da avaliação de conformidade com os objetivos
Gerenciais bem estruturado que proporcione dados para orientar deci­ e metas derivados da política ambiental, de normas legais e outros compro­
sões visando correções de problemas ambientais e reduções de custos, missos assumidos pela organização, além de outros custos associados
entre outros procedimentos. com as conseqüências de falhas ambientais, acidentes e incidentes.
Os relatórios contábeis não identificam claramente �s origens dos A administração da qualidade ambiental deve envolver todo o ciclo
problemas: os números somente identificam onde ocorrem os gastos, de vida do produto, desde a matéria prima, passando pelas fases de fabri­
tendo-se às vezes um trabalho muito grande para se descobrir as causas. cação, uso e descarte final. Todos esses custos, incluindo o das medidas
de minimização de resíduos, custos da reciclagem e outros, devem ser
A medida desses custos é um elemento essencial nos sistemas contá­
computados, pois tende-se a analisar esses custos após o descarte como
beis das empresas. Identificar e quantificar os dispêndios relacionados à
sendo um custo social fora da responsabilidade da empresa.
qualidade ambiental é, hoje, tão importante quanto conhecer os custos
com mão-de-obra, custos de materiais, de vendas, custos da qualidade, A classificação de custos pode ser feita de diversas formas, a critério
etc., pois essas informações subsidiam importantes decisões da alta admi- da empresa, desde a separação mais simples e direta entre custos diretos
76 EDITORA JUARE Z DE ÜLIVE IRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIE NTAL GE STÃO DE CUSTOS E INVE STIME NTOS 77

e indiretos, usada na contabilidade clássica, até outras formas mais deta­ mos dizer que existem custos de controle da qualidade ambiental e
lhadas e específicas ao caso em questão. O importante é que, antes de custos decorrentes da falta de controle.
iniciar o longo processo de classificação e identificação dos custos, seja
estudado e adotado um determinado método, permanecendo-se nele por c u sT o s DE RE E N A
l�_ _ _ _ _ _ _P_ _ v_ _ _ç _-º_�
um longo tempo, pois qualquer mudança no meio do processo resulta em �--------� ------
c _us_T _o _s _DE_c_ o _ N_TR
_ o_ L_E _ l
�- �
confusão e perda de dados.
A GEMI, Global Environmental Management Initiative, entidade CUSTOS DE AVALIAÇÃO
1
---------------

formada por 28 grandes companhias prevê a seguinte divisão para os


custos ambientais:
1 CUSTOS DE FALHAS INTE RNAS 1
a) Custos diretos (direct costs): são aqueles diretamente ligados a um
projeto, produto ou processo. Subdividem-se em: c
l usT o s DA FALTA DE CONTROLEI� 1 CUSTOS DE FALHAS EXTE RNAS 1

al) Gastos de capital e depreciação, tais como construções, equipa­


mentos, projetos de engenharia, etc.;
� CUSTOS INTANG!VEIS

a2) Gastos com operação e manutenção, tais como mão-de-obra,


CUSTOS INTANGÍVEIS
materiais, utilidades (água, energia elétrica, vapor, ar comprimido).
b) Custos ocultos (hidden costs): são custos que não são diretamente
visíveis e associados ao produto, processo ou serviço, sendo freqüen­ Custos de prevenção (prevention costs) - são os custos das ativi­
temente englobados em seu montante total. Como exemplos, temos os dades que visam prevenir (evitar) problemas ambientais (geração de
custos de treinamento, monitoração e gerenciamento de resíduos. impactos fora dos níveis aceitáveis ou potencial elevado de riscos de
acidentes ambientais) nos processos de produção e nos produtos e servi­
c) Custos de responsabilidade por eventos (contingent liability ços da empresa. São incluídos nesta categoria os gastos que resultam em
costs): são os custos decorrentes de responsabilidades da empresa por ativos que contribuem para evitar ou reduzir danos ambientais, evitar a
problemas ambientais, tais como aqueles decorrentes de acidentes ocorrência de defeitos ou problemas ambientais ao longo do ciclo de vida
com liberação de poluentes, ações de recuperação ambiental, multas e do produto e custos em implantar e manter a engenharia da qualidade
indenizações. ambiental. São também enquadrados como custos de prevenção:
d) Custos menos tangíveis (less tangible costs): são aqueles cuja al) Pesquisas para substituição de matérias primas poluentes:
quantificação é bastante difícil de ser realizada, porém sendo fácil perce­ incluem custos dos estudos, consultorias, horas de trabalho em reuniões
ber a sua existência, tais como o desgaste de uma marca em decorrência dos gerentes de produtos e de qualificação visando desenvolver
de problemas ambientais, má vontade da comunidade e órgãos do gover­ novas matérias primas, para substituição daquelas que são utilizadas,
no, entre outros exemplos. mas causam impactos ambientais significativos, apresentam caracte­
U�a outra forma de classificação é apresentada a seguir com mais rísticas tóxicas, apresentam um grau de risco elevado ou produzem resí­
detalhes. Preferimos adotar esta forma de enquadramento dos custos duos em grande escala.
ambientais para ficarmos mais próximos à maneira mais usual de enqua­ a2) Programa de implantação de melhorias sugeridas e ações
drar os custos da qualidade no Brasil. Em uma primeira divisão, pode- preventivas. Trata-se de investimentos visando prevenir a poluição,
78 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 79

realizados em cumprimento a um Plano de Ação, elaborado em atendi­ b2) Avaliação ambiental de fornecedores. Incluir nessa categoria os
mento aos objetivos e metas ambientais definidos para a obtenção de custos com auditorias ambientais em fornecedores, visando avaliar o seu
melhoria de desempenho ambiental da empresa. desempenho e troca de informações e experiências. Lembramos que
muitas empresas colocam em suas políticas ambientais intenções rela­
a3) Participação de pessoas (facilitadores) em Grupos de Traba­
lho visando melhoria da qualidade ambiental. Trata-se dos custos
cionadas ao apoio prestado aos fornecedores para que estes realizem
correspondentes às horas dedicadas a Grupos de Trabalho constituídos melhorias em seu desempenho ambiental.
para discutir e sugerir uma linha de conduta para a organização, seus b3) Monitoração ambiental na produção. São os custos referentes à
objetivos, metas e definição dos indicadores de desempenho. Além do realização de medidas de vazões, massas e determinação das característi­
custo das horas dedicadas a reuniões e trabalhos específicos, devem ser cas físico-químicas e biológicas dos efluentes lançados na atmosfera, em
computados eventuais gastos com viagens, hospedagem, material utili­ cursos d'água, além de quantificação dos resíduos sólidos resultantes das
zado e outros correlacionados à atividade. atividades produtivas. Esses custos quantificam as análises realizadas
a4) Treinamento dos gerentes e operários em questões ambientais, antes e após a passagem dos resíduos por estações de tratamento.
visando o conhecimento da Política Ambiental, dos procedimentos e b4) Monitoração ambiental na expedição. Corresponde aos custos
instruções de trabalho para obtenção de conformidades, além de outros referentes à monitoração e análise nas áreas de carregamento e expedi­
elementos do Sistema de Gestão Ambiental. ção de produtos (necessárias sobretudo para embarques a granel, onde
aS) Controle de processos (monitoração) verificando condições ocorrem com maior freqüência as emissões fugitivas).
operacionais para o bom desempenho das condições ambientais. bS) Manutenção e aferição de equipamentos e instrumentos de
a6) Custo de tratamento e acondicionamento de resíduos. Custo teste para inspeções e monitoração ambiental. São os custos referen­
do acondicionamento correto em tambores, mantidos em depósitos tes à obtenção de confiabilidade metrológica das análises e testes reali­
protegidos (eventualmente cobertos), até que seja dado o destino final zados, nos laboratórios da empresa na própria planta industrial, ou em
adequado, visando evitar problemas ambientais. laboratórios contratados para realizar essas atividades ..
b) Custos de avaliação (appraisal costs) são os custos para manter b6) Avaliação de passivo ambiental. Custo das avaliações par�
os níveis de qualidade ambiental da empresa, por meio de avaliações determinar a extensão dos danos causados por contaminação do solo, de
formais do sistema de gestão ambiental. Engloba custos com inspeções, águas (aqüífero) e determinação dos volumes e características dos resí­
testes, auditorias da qualidade ambiental e despesas similares. Esses duos estocados, computando-se os custos referentes à descontaminação
custos estão associados à comparação de resultados reais com os indi­ e destinação correta desses resíduos e efluentes.
cadores de desempenho ambiental estabelecidos pela empresa. Além e) Custos de falhas internas - é o primeiro dos custos decorrentes
desses, cabe lembrar outras situações: das falhas (ou falta) de controle. Esses custos resultam de ações internas
bl) Avaliação de novos processos. Corresponde aos custos com testes na empresa, tais como correções de problemas ambientais e recuperação
de novos processos ou novos produtos, que estão sendo alterados para de áreas internas degradadas, desperdícios de material, de energia, de
melhorar o desempenho ambiental (uso de tecnologias mais limpas, por água e outros recursos naturais, além de tempos parados de máquinas,
exemplo). Englobam custos com testes de emissões de poluentes, testes como resultado de problemas ambientais (interdições) e retrabalhos com
dos novos processos de produção e testes com novas embalagens (que peças também resultantes de não conformidades ambientais. Referem-se:
resultem em descartes menos impactantes ao meio ambiente). a todos os custos incorridos pelo não atendimento de normas, padnWN,
80 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 81

procedimentos operacionais explícitos de gestão ambiental e correções máveis, corrosivos, campanhas publicitárias para explicar acidentes
de não conformidades. e problemas, demandas trabalhistas decorrentes de acidentes ambien­
cl) Correção de não conformidades ambientais. Custos com a tais, entre outras.
detecção, registro, avaliação e investigação da não conformidade, com dl) Reclamações. Custos relacionados ao atendimento de reclama­
a sua correção e implantação de medidas de controle para evitar a ções de vizinhos, clientes e outros, relacionadas ao desempenho ambiental
sua recorrência. da empresa. Devem ser computados os custos referentes ao tempo das
c2) Problemas de saúde ocupacional. Custos referentes a trata­ pessoas designadas para realizar o atendimento das partes interessadas
mentos médicos e ausências de funcionários ao trabalho, como resul­ (reuniões, correspondência, etc.), a investigação da procedência da
tado de eventos de saúde ocupacional resultantes de condições ambientais reclamação, as ações corretivas tomadas e ações para evitar a reinci­
inadequadas. dência do evento.

c3) Disposição de efluentes e resíduos. Custos com o transporte e d2) Remediação de passivos externos à empresa. Tratam-se de
disposição externa de resíduos e efluentes, que não puderam ser elimi­ custos referentes à correção (eliminação) de passivos ambientais exter­
nados ou tratados na própria empresa, gerados em condições anormais. nos à área da empresa, tais como resíduos sólidos dispostos inadequa­
damente, contaminação de águas do subsolo, etc.
Cabe lembrar que os resíduos gerados em condições normais inerentes
ao próprio processo produtivo, nas quantidades e condições especificadas d3) Recuperação da imagem da empresa. Custos relacionados à
pelo processo, não são enquadrados como "custo de falhas" e seu custo recuperação da imagem da empresa, após um evento ambiental anormal
de disposição seria enquadrado como um "custo de prevenção", realiza­ que provocou um desgaste nessa imagem.
do com técnica adequada para evitar problemas ambientais. O custo e) Custos intangíveis: são aqueles com alto grau de dificuldade para
da disposição dos efluentes e resíduos, gerado em condições anormais e serem quantificados, embora a sua existência seja percebida com clare,­
eventuais, precisa ser computado e poderia ser considerado como um za. Com freqüência, tais custos não podem ser diretamente associados a
custo de prevenção, porém com a ótica de procurar reduzi-lo, é proposto um produto ou processo. Eles são identificados pela associação de um
seu enquadramento como um custo de falhas internas. resultado a uma medida de prevenção adotada. Como exemplos, citamos
c4) Remediação de passivos internos à empresa. Trata-se de custos a perda de valor da empresa (ou das ações) como resultado de desempe­
referentes à correção (eliminação) de passivos ambientais internos à área nho ambiental insatisfatório, baixa produtividade dos colaboradores como
da empresa, tais como resíduos sólidos estocados ou dispostos no terre­ resultado de um ambiente poluído, contaminado ou inseguro, dificulda­
no, contaminação de águas do subsolo, entre outros. des e aumento de tempo (e custos) na obtenção do licenciamento ambiental
como resultado de multas e problemas anteriormente constatados.
d) Custos de falhas externas - compreendem os custos de qualidade
ambiental insatisfatória e não conformidades fora dos limites da empre­ Os clientes, ou em termos mais genéricos a sociedade, representada
sa, resultantes de uma gestão ambiental inadequada. Engloba os custos pelos órgãos ambientais e pelo Ministério Público, não têm uma preocupa­
decorrentes de queixas ambientais de consumidores levando à existência ção maior com os custos da empresa. O que se deseja é que a empresa se
de despesas de correção, recuperação de áreas externas degradadas ou coloque, em relação aos seus processos industriais, produtos e serviços,
contaminadas pela atividade da empresa, multas aplicadas por órgãos dentro de limites aceitáveis principalmente no tocante à produção de
ambientais de controle, ações legais resultantes da disposição inade­ poluentes e resíduos. É um problema interno da administração da empre­
quada de resíduos, acidentes no transporte de produtos tóxicos, infla- sa conciliar os custos de controle com os custos decorrentes da falta de
82 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 83

controle para que o preço cobrado em seus produtos e serviços esteja O que nos interessa é o custo global, obtido pela soma das curvas de
situado em patamares compatíveis com a concorrência. custos de controle com os custos de falhas de controle, conseguindo-se
definir as situações onde os custos sejam mínimos, desde que se consiga
obter um desempenho ambiental mínimo nestas condições, compatível
2.7 CUSTOS DA QUALIDADE-A PROCURA DO MÍNIMO
com as exigências da legislação e com os objetivos e metas da empresa.
CUSTO TOTAL
A região mais à esquerda no gráfico (situações O a 2, em que os custos
Foi mostrada, no item anterior, uma possível classificação das parce­ totais são muito altos como decorrência dos altos custos de falhas) é
las que compõem o custo da qualidade ambiental. O que se deseja é que, chamada de "região de melhoria", pois deve-se investir primordialmente
para a empresa, o custo total se aproxime do valor mínimo. Esses custos em prevenção e avaliação, para reduzir os custos de falhas. A região à
variam muito de indústria para indústria, dependendo de sua atualização direita, pelo contrário (situações 12 a 14), com custo total elevado como
tecnológica com relação a equipamentos que produzam menos resíduos e conseqüência de custos altos de prevenção e avaliação é chamada de
poluentes, do tipo de produto fabricado, da matéria prima empregada, da "região de perfeccionismo". O ponto ideal seria atingirmos a região entre
condição de motivação e treinamento dos funcionários sobre a postura as situações 7 e 8, de custo mínimo global.
com relação aos problemas ambientais, etc. De um modo geral, pode-se
dizer que os dois tipos de custos ambientais (custos de controle e custos É interessante realizar uma análise em particular do efeito do custo
decorrentes da falta de controle) compõem duas curvas com números quando se realiza uma melhoria do processo. Por exemplo, queremos
antagônicos. Se gastarmos muito em controle (prevenção e avaliação) implantar uma instalação que faça o tratamento de resíduos (filtragem,
em princípio deveríamos estar gastando muito pouco com o custo de etc.). O gráfico abaixo, representando no eixo das abcissas (X) uma
falhas e vice-versa. Essas curvas mostram uma situação do tipo: determinada redução na quantidade de resíduos (por exemplo g/m3 de
efluentes) e no eixo das ordenadas (Y) o custo adicional para se conse­
guir aquela determinada redução, mostra aquilo que geralmente acontece
Curvas de custos ambientais
nestes casos (é importante lembrar que cada processo tem um comporta­
mento diferente, portanto curvas diferentes). O que se obtém é uma pará­
bola quadrática que se torna às vezes uma parábola cúbica, ou seja, para
se conseguir uma certa melhoria x, quando a quantidade de resíduos
ainda é muito elevada, geralmente é muito fácil, gastando-se y. Em outra
região, já fica mais difícil (e mais caro), pois para conseguirmos remover
os mesmos x de resíduos, teremos que gastar o dobro (2y, região da pará­
bola quadrática) e, em outro trecho (parábola cúbica ou mais ainda), para
remover os mesmos x teremos que gastar 3y, 4y, etc. Essa visão mostra
2 4 6 8 10 12 14 que quando se atinge a região de perfeccionismo os custos podem se
Situações tornar inviáveis, cabendo ao administrador público examinar com cuida­
-+- Custos de Controle do esses aspectos de custo para não fixar limites legais desse tipo, e aos
---m--- Custo de Falhas de gerentes da empresa, escolher com cuidado as metas, de modo a não
Controle onerarem a empresa com sistemas muito caros, correspondendo a um
-à-- Custo Total pequeno aumento dos benefícios. A região de trabalho indicada (se neste
84 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS H'i

caso o limite legal estiver sendo atendido com alguma margem) pode ser Como uma primeira idéia, explorada com mais dados através de u11w
próxima ao ponto de transição da parábola quadrática para a cúbica. análise estratégica, a região ideal para operação seria caracterizada por
uma prioridade nos custos de prevenção e avaliação somando 70% dos
custos globais e, custos de falhas somando os outros 30%.
Custo Ou, discriminando mais, os valores sugeridos seriam:
Prevenção: 35 - 45%
Avaliação: 25 - 35%
X Falhas: 20- 40%
A avaliação das parcelas de custos de controle e falhas de controle
pode ser feita para cada processo (analisando-se os efluentes e resíduos
produzidos em cada processo industrial, ou em cada produto, conforme
seja possível obter dados de custos), ou para um determinado processo
ou produto ao longo do tempo. Esta última forma é mais efetiva para
Quantidade de poluentes
demonstrar as melhorias obtidas ao longo do tempo, permitindo-se julgar
a validade, ou não, da realização dos investimentos e o desempenho do
Não dispomos, até o presente, de dados que reflitam os custos da qua­ gerenciamento ambiental. Os gráficos podem permitir conclusões sobre
lidade ambiental conforme foi acima classificado. Esses valores depen­ quanto se economizou, como ficaram os custos em relação às vendas e
dem do tipo de indústria (siderúrgica, alimentícia, de serviços), das maté­ outras análises que orientem o planejamento estratégico da empresa
rias primas envolvidas (produtos "limpos" ou de alto risco ambiental), na área ambiental. A presentaremos algumas simulações, como exemplos
dos tipos de energia utilizados (energia elétrica, óleo combustível pesa­ da proposta.
do, gás natural, etc.), do grau de atualização tecnológica dos equipamen­
tos empregados no processo industrial. Como informação, Juran registra
que par_a indústrias que fabricam materiais mais grosseiros, com pouco CUSTOS AMBIENTAIS TOTAIS POR PROCESSO
conteúdo tecnológico, os custos da qualidade situam-se próximos a 2%.
Quando se trata de indústrias de alta precisão e confiabilidade, os custos Processo A ProcessoB Processo C Processo D Processo E
podem representar 25% das vendas.
Como um ponto de referência, se não dispusermos de dados mais preci­ PREVENÇÃO 126 134 46 92 35
sos e simulações das situações, poderíamos assumir que a região de AVALIAÇÃO 112 172 84 250 81
melhoria é aquela em que os custos de falhas estão acima de 70% dos FALHAS 77 105 37 92 105
custos totais, sendo importante lembrar que há custos intangíveis não INTERNAS
registrados que elevariam ainda mais essa proporção, com desgastes para FALHAS 35 67 53 76 49
a imagem da empresa. A região de perfeccionismo seria caracterizada EXTERNAS
por custos de prevenção e avaliação acima de 70% e custos de falhas Totais 350 478 220 510 270
abaixo de 30%. -
86 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL ÜESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 87

Custos ambientais totais por processo Distribuição percentual dos custos ambientais
100%,--,,----,---,-----,---r---r--r----.-.,...-;r---,--,
90%
80%
70%
60%
50%
□ FALHAS EXTERNAS
□ FALHAS INTERNAS 40%
■AVALIAÇÃO 30%
l!IPREVENÇÃO 20% □FALHAS EXTERNAS

Processo A Processo B Processo C Processo D Processo E

Conclusões da análise:
O processo D é aquele onde ocorrem os maiores gastos, ou seja deve­ Conclusões da análise:
rá ser o primeiro a se tentar analisar em profundidade quais os possíveis a) O processo A é o mais equilibrado. Mesmo assim, constatamos que
ganhos. Aparentemente nesse processo gasta-se muito com avaliação e os dispêndios somados em prevenção e avaliação estão elevados, da ordem
talvez pouco em prevenção. de 68%, quando deveríamos estar situados em valores da ordem de 50%;
O segundo processo em importância de dispêndios é o processo B, Os processos B, C e D também estão consumindo muitos recursos em
muito próximo do D. prevenção e sobretudo avaliação.
Seria importante realizar, para esses dois processos, uma análise tempo­ c) Realmente fica visível que o processo D tem um problema de
ral e uma simulação sobre o que ocorreria quando se procurasse reduzir excesso de gastos com avaliação, sendo necessária uma análise em
os custos de avaliação. Para o processo D uma primeira investigação profundidade desse problema, com o auxílio de um Plano de Ação.
seria modelar por simulação o aumento de investimentos em prevenção d) O processo E parece estar mais equilibrado, embora seja desejável
e avaliar quais seriam os demais custos. reduzir despesas com falhas internas. Devem ser investigados os benefí­
cios de se aumentar os investimentos em prevenção, que parecem baixos.
DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DE CUSTOS POR PROCESSO
DISPÊNDIOS PARA UM MESMO PROCESSO OU
Processo A Processo B Processo C Processo D Processo E
PRODUTO AO LONGO DOS ANOS
PRE VENÇÃO 36 28 21 18 13
ANOl ANO2 ANO3 ANO4
AVALIAÇÃO 32 36 38 49 30
PREVENÇÃO 73,8 94,6 121,6 126
FALHAS 22 22 17 18 39
INTERNAS AVALIAÇÃO 82 129 95 112
FALHAS 10 14 24 15 18 FALHAS INTERNAS 151,7 120,4 98,8 77
EXTERNAS FALHAS EXTERNAS 102,5 86 64,6 35
Totais 100 100 100 100 100 Totais 410 430 380 350
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 89
88 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

Custos ambientais percentuais por ano


Custos ambientais por ano (totais)
100%
500 ,------===-----,-,-=�---=,..,,.,----. 90%
450
80%
400
□ FALHAS EXTERNAS 70%
350
□ FALHAS INTERNAS 60%
S 300
s ■ AVALIAÇÃO 50%
';;' 250
IEJPREVENÇÃO 40%
-� 200
� 30%
150
20%
100 □ FALHAS EXTERNAS
10%
50 □ FALHAS INTERNAS
o 0%
ANO! ANO2 ANO3 ANO4
■ AVALIAÇÃO
ANO! AN02 ANO3 AN04 mi PREVENÇÃO

Conclusões da análise : Conclusão da análise :


a) Constata-se que houve benefícios em aumentar os investimentos Para o futuro, a partir do ano 4, sugere-se avaliar a possibilidade de
em prevenção, pois o custo ambiental global reduziu-se a partir dos anos reduzir os gastos com avaliação, sem que ocorra aumento dos custos
3 e4. de falhas, de forma que a soma de prevenção e avaliação fiquem por volta
O efeito de aumento de investimentos, sobretudo em avaliação, não de 50%.
produziu resultados imediatos no ano 2, conforme esperado, sentindo-se
os efeitos no ano 3.
SUGESTÕES COMO LINHA DE AÇÃO

O emprego do TQC (Total Qu.ality Con.tro[) pode colab?rª: co� a


GASTOS PERCENTUAIS AO LONGO DOS ANOS, PARA redução de falhas e mesmo de despesas com prevenção e avahaçao, alem
UM DETERMINADO PROCESSO OU PRODUTO de melhorar a qualidade dos produtos e serviços, com redução de custos.
Outros fatores que colaboram com a redução de custos são o uso de
ANOI ANO2 ANO3 ANO4 processos estruturados e bem elaborados de administração, a impl� men­
tação de um Sistema de Gestão Ambiental a ot imização �os proJ et�s e
PREVENÇÃO 18 22 32 36 in talações gerando-se menos poluentes e resíduos (rna1� econorrua e
_
AVALIAÇÃO 20 30 25 32 menos dispêndios), melhor operação da planta gerando mais econorrua e
menos despesas, menor quantidade de resíduos a dispor e a tratar, menor
FALHAS INTERNAS 37 28 26 22 consumo de energia e de recursos.
FALHAS EXTERNAS 25 20 17 10 Ganho ignificativos podem ser obtido com a otimização do progr�­
mas de m nitoramento, otimização dos programas de gestão da qual!-
Totais 100 100 100 100
90 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - Lurz ANTÕNIO ABDALLA DE MOURA
ECONOMIA AMBIENTAL ÜESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 91

dade da água, do ar, dos resíduos e de produtos perigosos, redução dos meatos que levem a um ciclo de desperdícios, ao invés de bene­
custos de matérias primas com a utilização de programas de reciclagem, fícios. Quanto mais problemas e não conformidades exi tirem (rnrus alto
reutilização, redução de prêmios de seguros, otimização de programas o cu to de falhas), teríarno a tendência (resposta tradicional) de realizar­
de treinamento. mos mru inspeçõe (cu to mais alto de avaliaçõ s sem muito efeito na
A melhoria da confiabilidade dos equipamentos da planta e de sua eliminação de defeitos), sem necessariamente adotarmos soluções
segurança, conseguida com a realização de estudos de confiabilidade e preventivas que impeçam a repetição da falha uma melhor engenharia
análise de risco, reduz custos ambientais. Uma manutenção bem feita dos processos, etc.
dos equipamentos também é encarada como medida preventiva à ocorrên­
Uma idéia seria que a empresa, inicialmente quantifique o quatro
cia de problemas ambientais, que iriam aumentar o custo de falhas.
tipos de custos, e sabendo os custos de falhas e de avaliações, financje
O grande ganho de custos é obtido pela redução de dois custos usual­ um aumento conhecido para os custo de prevenção, durante um certo
mente significativos, o custo de falhas internas e o custo de falhas exter­ tempo (quatro meses, por exemplo, ou mais tempo dependendo do
nas e, muitas vezes, no custo de avaliação (por vezes o custo da inspeção tempo de maturação e implementação das. oluções). Ao fim desse perío­
e teste, na forma tradicional de trabalho é elevado), isso às custas de um do, todos os ganhos resultantes de reduções do c.usto de falhas e avalia­
pequeno aumento nos custos de prevenção. çõe eriam transferidos para o orçamento de prevenção, por mais quatro
Conforme comentamos antes, o que nos interessa é a redução do custo meses. Ao fim desse quatro rnese é que a empresa poderia ganhar
global; às vezes é preferível aumentar uma das parcelas, desde que o no custo total. Mais quatro meses, e haveria logo no primeiro ano um
custo global se reduza. Não temos dados do custo de qualidade ambiental, ganho no cu to total, representado pela economia nos últimos quatro me­
porém os custos da qualidade situam-se nas seguintes ordens de grande­ ses. No ano seguinte recomeçaria o ciclo. Isso seria uma forma de medir
za (dependendo do tipo de indústria): e cobrar metas.
- custo de falhas internas e externas: 65 a 70% do custo global; Quando se investe em prevenção por meio de melhorias introduzidas
nos equipamentos e sistemas de produção, visando a geração de menor
-custo de avaliações (appraisal)-20 a 25%;
quantidade de resíduos e poluentes, o custo de falhas internas e externas
-custos de prevenção -5 a 10%. dim.inuj, o mesmo ocorrendo com os custos de avaliação. Com menos
Isso significa que o dinheiro está sendo gasto de uma maneira errada: falhas e problemas, haveria uma menor necessidade de rotinas de inspe­
muito para falhas de produto, muito dinheiro gasto em inspeções para ção e de atividades de testes. Melhorando-se as práticas de controle da
garantir que u!Il produto ruim não acabe indo para o cliente e, muito qualidade ambiental e modernizando-se os equipamentos de inspeções e
pouco (quase nada) em tecnologias que impeçam a existência do defei­ testes operados por colaboradores mais eficiente e melhor treinados,
to (prevenção). pode- e inclusive, chegar a urna redução de operadores e de cust�s
de avaliacão. O resultado final seria a redução de custo da quali­
Historicamente, as falhas e as despesas de avaliação (appraisal) dade ambiental e melhor de empenho, além de um melhor retorno dos
sempre caminham juntas. Depois que essas despesas começam a crescer investimentos.
é muito difícil abaixá-las, pois envolvem laboratórios montados, inspe­
tores contratados, etc. Uma forma de avaliação dos custos ambientais (à semelhança de um
quadro ugerido por Feigenbaum para os custos da qualidade) pode ser
Ao implantarmos um sistema de gestão ambiental com enfoque em feita montando- e tabela que comparem os custos ambientai , em suas
custos, é necessário um cuidado alto para que não realizemos investi- várias categorias (prevenção, avaliação, etc.) como uma percentagem do
92 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 93

faturamento, ou dos gastos totais de produção, por exemplo. Essa tabela


deverá mostrar esse valor para o mês que passou, para o ano em curso, e
do ano anterior, mostrando assim a evolução dos números. Esse quadro
deverá ser feito para cada área da empresa, como por exemplo engenha­
ria, produção, recursos humanos (treinamento), etc.
Empresa: Faturamento no mês: Data:
Faturamento no ano:
Faturamento no ano anterior:
Áreas de custo Área analisada: (Ex: Engenharia- projeto)

No mês % sobre Acum. % sobre No ano % sobre


R$ vendas no ano vendas anterior vendas
em curso$
Prevenção
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Avaliação
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Além do quadro, podem ser feitos gráficos que most


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Cll
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dados, permitindo uma melhor visualização.
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Exemplo: gráfico de custos totais da qualidade amb � �


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mês em relação à % do total de vendas Cll

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EVOLUÇÃO DOS CUSTOS


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Custos operacionais gerais Custos Ambientais .j:,.

Avalia- Falhas Falhas


Diretos Indiretos Despesas Prevenção Intangíveis
ção internas externas
Testes e inspeções de mate-
riais adquiridos quanto à
emissão de particulados

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duto quanto à sua reciclagem tI1
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decorrentes de queixas ;,:,
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Custos operacionais gerais Custos Ambientais


Falhas Falhas Intangíveis
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Diretos Indiretos Despesas Prevenção internas externas
ção ►
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produto
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ISO 14001
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dos limites normais
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Custos operacionais gerais Custos Ambientais O\

Diretos Indiretos Avalia- Falhas Falhas


Despesas Prevenção Intangíveis
ção internas externas
Inspeção de qualidade no
processo
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pessoal empregado em ;o

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ambientais
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entrega de produtos
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ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 99
98 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

Solução possível:
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100 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 101

Gastos com publicidade; Custos de viagens de inspetores aos fornecedores para avaliar seu SGA;
Depreciação dos veículos de entrega de produtos; Custo dos laboratórios, calibração e reparo de instrumentos usados
Custos financeiros (juros, comissões bancárias). para medir a composição dos resíduos;
Custo de energia elétrica, vapor, óleo, materiais de consumo, utiliza-
CUSTOS AMBIENTAIS: dos em testes de análise do ciclo de vida do produto.
Custos de prevenção: Custos de falhas internas:
Administração e Planejamento da Qualidade Ambiental;
Retrabalhos em produtos por problemas ambientais;
Treinamento em procedimentos de minimização de rejeitos;
Perdas de matéria prima fora dos limites normais;
Estudos para implantação da ISO 14001;
Desperdícios de energia elétrica e de água;
Estudos de confiabilidade dos processos quanto a acidentes ambientais;
Gastos com mão-de-obra do pessoal empregado em manuseio de ma­
Elaboração de procedimentos operacionais para operação da ETE; terial rejeitado por problemas ambientais;
Compra de um novo filtro; Remediação de áreas internas contaminadas;
Modernização de equipamentos do processo para gerar menos resíduos; Ações trabalhistas resultantes de condições ambientais inadequadas
Gastos com a implantação de sistemas com melhor combustível; da empresa.
Mão-de-obra gasta no estudo de modificações do processo produtivo Custos de falhas externas:
visando melhorias ambientais;
Análise do projeto de um produto quanto à sua reciclagem; Retrabalhos decorrentes de queixas de clientes sobre a qualidade
ambiental do produto;
Custos com elaboração do EIA-RIMA;
Custos com testes externos para corrigir imperfeições decorrentes de
Análise de falhas. queixas;
Remediação de áreas externas contaminadas;
Custos de avaliação: Recursos legais por problemas ambientais.
Inspeção de efluentes no processo;
Custos intangíveis:
Teste de efluentes em laboratório (composição química);
Recall de produtos por problemas ambientais;
Gastos com auditorias ambientais;
Inspeções de rotina nos sistemas industriais de controle de poluição; Multas de órgãos ambientais;

Testes e inspeções de materiais adquiridos quanto à emissão de Perda de valor da marca em conseqüência de um acidente ambiental;
particulados; Excesso de dispêndios na obtenção de licenciamento.
102 EDITORA JUAREZ DE ÜL!VEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 103

2.8 MÉTODO ABC PARA A PROPRIAÇÃO CONTÁBIL DOS determinar as atividades principais de uma Estação de Tratamento de
CUSTOS AMBIENTAIS Esgoto, e em seguida, identificar o custo de cada uma delas. Por exemplo,
sabemos que em um sistema de tratamento de esgoto teremos as ativida­
A forma tradicional de apropriação de custos pela Contabilidade des relacionadas com o "tratamento primário", onde ocorre a retenção de
consiste no chamado "Custeio por Absorção", onde os gastos são sólidos grosseiros e sólidos sedimentáveis do esgoto, por meio de grades,
acumulados em determinados tipos. Entretanto, existe hoje um método caixas de areia e decantadores primários (para remoção de areia, por
muito mais interessante para apropriação de custos, que agrega muito exemplo). Em seguida, o esgoto passa pelo chamado "tratamento secun­
mais informações para os gerentes, permitindo uma análise mais profun­ dário", onde se obtém um líquido final limpo e estável, removendo-se
da dos gastos e melhores elementos para a tomada de decisões. Trata-se colóides e matéria orgânica, por meio de lodos ativados, filtros bioló­
do chamado "Custeio por Atividades" (em inglês Activity Based Costing), gicos e lagoas de estabilização. Suponhamos que seja possível quebrar
ou método ABC. Não é propósito deste livro discorrer em detalhes essas atividades em outras ainda mais detalhadas (work breakdown
esse método, existindo muita literatura especializada sobre o assunto, que structure), e determinar seus custos, como operar o sistema, realizar
vale a pena ser consultada; entretanto, por meio de um exemplo simples, manutenções e treinamento dos operadores, além das atividades especí­
procuraremos mostrar as potencialidades do método. ficas de administração da estação. Suponhamos que os seguintes dados
Imaginemos que a operação de uma Estação de Tratamento de Esgo­ contábeis tenham sido obtidos com esse método:
to apresente, em sua contabilidade tradicional (custeio por absorção), os
seguintes resultados: Tipo de gasto·····································-·····
Tratamento primário:
l Valor (R$)

Tipo de gasto Valor (R$) - Operar o sistema ................................... 71.000,00


I - Realizar manutenção preventiva ........... 18.000,00
Salários .................................................... 80.000,00 - Realizar manutenção corretiva ............. 13.000,00
Depreciação ·-·····················-··················· 2.000,00 -Treinar o pessoal de operação ............... 8.000,00
Material de consumo (insumos) ............... 5.000,00 Sub-total ................................................... 110.000,00
Energia elétrica ........................................ 8.000,00 Tratamento secundário:
Custos diversos ........................................ 5.000,00 -Operar o sistema ................................... 150.000,00
Total ......................................................... 450.000,00 - Realizar manutenção preventiva ........... 20.000,00
- Realizar manutenção corretiva ............. 90.000,00
- Treinar o pessoal de operação ............... 20.000,00
Sub-total ................................................... 280.000,00
Um gerente da empresa, recebendo essas informações de custos,
Administração da estação:
provavelmente terá muitas dificuldades em saber se eles estão elevados, e
- Atendimento ao público ........................ 5.000,00
definir onde ele poderia atuar, realizando modificações para reduzi-los e - Preparação de Ordens de Serviço .......... 7.000,00
melhorar a eficiência. Se ele receber uma orientação de seus superiores -Realização de compras .......................... 6.000,00
para reduzir custos, provavelmente irá pensar unicamente em dispensar - Vigilância .............................................. 15.000,00
pessoal corno forma de atuação, já que ele dispõe de muito poucas infor­ -Limpeza ................................................ 15.000,00
mações com este sistema contábil. - Gerenciamento ...................................... 12.000,00
Sub-total ................................................... 60.000,00
-
Vejamos, por outro lado, corno seria a apropriação de custos, quando
,-:r utiliza o sistema de "Custos das atividades". Nesse caso, teríamos que
Total ..........................................................
1 450.000,00
104 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 105

Com esse tipo de resultado, fica fácil visualizarmos que os custos requisitos seriam cumpridos. Nesse caso, estaríamos verificando quanto
mais elevados estão na operação do sistema, principalmente no trata­ custa para melhorar o desempenho ambiental, no padrão proposto pela
mento secundário, local onde deveremos concentrar o foco para identi­
política ambiental da empresa e seus objetivos e metas.
ficarmos eventuais problemas. Percebemos, também, que o item de
custos "realizar manutenção corretiva" no tratamento secundário está
muito elevado, possivelmente sugerindo a existência de graves proble­ 2.8 PROCEDIMENTOS EMPRESARIAIS PARA OBTENÇÃO E
mas. Deveríamos, nesse caso, realizar uma análise cuidadosa dessa CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS AMBIENTAIS
questão, e possivelmente investirmos mais em manutenção preventiva
nesse processo, onde visivelmente estamos gastando pouco. As atividades de identificação, análise e controle dos custos da quali­
É fácil observar que esse tipo de apropriação contábil dos custos dade ambiental são essenciais na operação de um sistema de qualidade
agrega muito mais valor aos gerentes e tomadores de decisão. E, na total e de um sistema de gestão ambiental.
seqüência, para implementar esse sistema contábil, sugerimos realizar: Conforme foi exposto nos itens anteriores, não é considerado razoá­
- um levantamento cuidadoso das atividades ambientais, por exemplo vel, hoje em dia, pensar nos custos ambientais da empresa como um todo.
fazendo uso de um fluxograma de processo, complementando as obser­ É necessário separar por unidades ou por processos, de forma que seja
vações com uma visita aos locais onde as atividades serão realizadas; possível identificar onde eles são excessivos e onde se deve atuar no
sentido de otimizar a solução.
- identificação precisa dos locais da empresa onde todas as atividades
ambientais são realizadas; O custo da qualidade ambiental deve ser visto em todo o ciclo de vida
dos produtos, e não apenas nas fases de projeto, de fabricação, inspeção
-descrição sumária (resumida) da atividade e determinação dos seus e embarque. Inclui os custos de qualidade ambiental do usuário, dentro
custos (apropriação do custo de horas trabalhadas e apontadas, valores de um processo de "intemalização das extemalidades ambientais".
obtidos em faturas e notas fiscais de materiais, produtos e serviços, etc.);
O CQA deve ser orçamentado por departamentos. Isso permite que
- identificação das pessoas responsáveis por autorizar despesas seja realizada a avaliação de como os seus responsáveis cumpriram as
(responsáveis pelos custos); metas da empresa e como estão utilizando os seus recursos.
-em uma coluna de "observações", caso julgado interessante, comen­ O estabelecimento do processo relacionado aos Custos da Qualidade
tar sobre as causas geradoras de custos considerados elevados. Ambiental pode ser cumprido com os seguintes estágios:
Além disso, para melhor atuação nos custos elevados, sugerimos a 1) Preparação do gerenciamento geral do programa de custos da
incorporação de uma coluna de "custos" na lista dos aspectos e impactos qualidade
ambientais e na lista de requisitos legais e outros regulamentos (veri­
ficar quanto custa o cumprimento de uma determinada legislação) e Esta fase tem como propósito a preparação da estrutura gerencial e
lista com os passivos ambientais da empresa, caso existam (quanto custa contábil que irá atuar no programa. Nela deverão ser elaborados os
para corrigir). planos de ação e procedimentos mais importantes relacionados à coleta
de dados e avaliação dos resultados. Os conceitos principais do Sistema
Seria também interessante que fosse verificado qual o custo para
de Custos da Qualidade Ambiental deverão ser apresentados aos Chefes
adequar a empresa a cumprir os requisitos da ISO 14.001, ou seja, veri­
de Departamento, Gerências e Supervisores, sobretudo como motivação
ficar a diferença entre a situação atual da empresa e a situação em que os
para a realização do trabalho, com os seus objetivos, elementos prim.:i-
EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 107

pais, as categorias de classificação de custos e os Centros de Responsa­ à sua importância. Deverão ser providos recursos materiais que auxiliem
bilidade. Se houver dados e material disponível, devem ser apresentados o processamento dos dados, como por exemplo microcomputadores e
resumidamente sistemas equivalentes operando em outras empresas. softwares, caso inexistentes.
2) Identificação dos itens de custos da qualidade. 6) Levantamento dos custos pelas pessoas responsáveis (coleta de dados)
Poderão ser adotadas as classificações sugeridas, ou preparada uma Obter dados pelo período de um mês e revisá-los com cada departa­
nova forma de classificação, conforme julgado conveniente. mento, antes de partir para um trabalho muito extenso. Para os preenchi­
mentos iniciais, é interessante que alguém da área ambiental ou da conta­
A classificação citada separa os tipos de custos em custos de preven­
bilidade acompanhe os funcionários das outras áreas encarregados da
ção, de avaliação, de falhas internas, de falhas externas e intangíveis.
obtenção dos dados, mesmo que estes já tenham sido treinados. Somente
É importante lembrar que, uma vez adotada uma classificação, não se
a partir dessa experiência de um mês, e com sucesso, é que deverá ser
deve introduzir nenhuma modificação no decorrer do processo.
expandida a coleta de dados. O tratamento desses dados deverá ser feito
3) Identificação dos centros de responsabilidades (centros de custos) preferencialmente usando programas e recursos de processamento
Identificar os setores onde são realizados custos, criação de centros de eletrônico de dados.
investimentos e de custos, onde fiquem claras as autorizações para gastos. 7) Preparação dos relatórios de análise
4) Preparação dos formulários de coleta de dados dos custos da quali­ Coordenar e distribuir dados de custos ambientais, do modo mais
dade, e dos relatórios para análise. eficiente, para os diversos níveis de gerência e departamentos (a alta,
Como fonte de dados, deve-se usar, preferencialmente, dados existen­ média e gerência de linha) por meio dos relatórios de custos da qualidade
tes na contabilidade. Outras fontes são as folhas de programação de tare­ ambiental, com relatórios diferentes para cada nível (os interesses são
fas, ordens de serviço, relatórios de despesas, ordens de compras, relatórios específicos em cada caso). Sugerir às áreas específicas algumas modifica­
de retrabalhas, autorizações e memorandos de créditos e débitos. Para os ções requeridas para melhorar os custos ambientais e aumentar o desempe­
dados não disponíveis, deve-se preparar formulários apropriados à sua nho. Relatórios à alta gerência devem incluir informações mensais e acumu­
obtenção. Os formulários para a coleta de dados devem ser concebidos de ladas sintéticas como custo da qualidade ambiental (custo total), custos
maneira que o seu preenchimento seja o mais simples possível, pratica­ ambientais em relação às vendas, participação do custo ambiental por
mente auto-explicativos e com dados que facilitem o posterior proces­ unidade produzida, explicações sobre as variações ocorridas. Para as
samento (tabulação). Se necessário, devem ser preparados procedimen­ médias gerências, para cada responsável por um determinado processo
tos orientando como preenchê-los. Devem ser estabelecidas rotinas e meca­ ou produto, devem ser produzidas as mesmas informações acrescidas
nismos para acumular os dados de custos da qualidade ambiental. Esses de gráficos com composição dos custos de falhas internas e externas,
formulários devem ser revistos pelos Chefes de Departamento, Gerentes diagramas de Pareto, e outras informações julgadas importantes.
e Supervisores, antes de sua distribuição para preenchimento.
Valor % da participação
5) Treinamento das pessoas responsáveis pela obtenção dos dados e Custos de prevenção
do pessoal da contabilidade. Custos de avaliação
Custos de falhas internas
Haverá a necessidade de colaboração de muitas pessoas para a coleta Custos de falhas externas
de dados, em diferentes setores da empresa. Há a necessidade de designar Totais
essas pessoas para esse trabalho e treiná-las, após sua motivação quanto
108 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 109

f) Manutenção do programa, verificando se cada um está desempe­ posters, por meio de textos, figuras e gráficos, ou divulgando um mate­
nhando as atividades previstas, e garantir que o programa não caia no rial de interesse pela rede interna de transmissão de dados, ou via Internet,
esquecimento e no descrédito. Verificar se objetivos de redução de atingindo também um público externo à empresa ("stakeholders").
custos e de melhoria da qualidade estão sendo atingidos. Supervisionar o b) Falta de interesse e cooperação dos departamentos na coleta
processamento de dados do custo da qualidade ambiental, por de dados.
processamento eletrônico ou manual, do modo que for mais eficiente.
Analisar a efetividade das auditorias de custos da qualidade ambiental. Pode ser encarado, em certos casos, que esse trabalho é uma perda de
tempo e de dinheiro, sem se olhar os benefícios decorrentes. Da mesma
É sempre interessante verificar a situação da empresa com relação aos forma que ocorre na implantação de um sistema de gestão ambiental, é
custos da não conformidade e procurar identificar os custos que serão importante a participação de todas as áreas na solução dos problemas.
eliminados com a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental e um O gerente de projeto tem um papel relevante nesse trabalho, como
sistema de contabilidade e controle de custos ambientais (por exemplo, a animador das equipes. A identificação de custos ambientais elevados em
eliminação de multas, graças à existência de um sistema de controle). um determinado processo é um indicativo de problemas, sendo necessá­
É difícil, porém deve-se procurar observar os benefícios intangíveis, que rio que as pessoas responsáveis tomem providências adequadas para
resultam de um plano de ação. resolvê-los, através de Ishikawa (diagrama de causa e efeitos), MASP
Todos os levantamentos de custos referem-se a despesas e problemas. (Método de Análise e Solução de Problemas), análise de riscos e confiabi­
Os custos intangíveis geralmente não aparecem, mas por outro lado, se lidade de processos industriais, identificação das ações corretivas e preven­
houver melhorias da qualidade ambiental um resultado imediato seria tivas, etc. É importante motivar as pessoas para a resolução de proble­
justamente a redução destes custos intangíveis, com uma melhor imagem mas, lembrando-se que os problemas da qualidade ambiental não são neces­
da empresa, uma maior satisfação dos clientes, o que os relatórios de sariamente problemas do departamento de produção ou da qualidade,
custos não conseguirão captar. Uma forma de contornar esta dificuldade mas sim de todos, podendo estar relacionados a problemas de projeto,
é receber relatórios do pessoal de marketing e vendas procurando problemas de manutenção, treinamento, etc. Não se pode aceitar a desculpa
associar os resultados de pesquisas com as modificações nos custos. de que "sempre foi assim", sem resolver o problema, sendo eventualmen­
A seguir, são comentadas algumas dificuldades esperadas na implan­ te necessário montar um grupo de trabalho com participantes de vários
tação e gerenciamento de um sistema de apropriação e análise de custos departamentos, para que ocorra um envolvimento necessário.
ambientais: c) Confusão e mistura de dados.
a) Falta de apoio dos gerentes de nível mais alto, para implementar um Os custos da qualidade ambiental são, na realidade, parte dos custos
controle de custos da qualidade ambiental. do controle da qualidade, sendo por vezes difícil discriminar a parte
Quando as chefias e alta administração se interessam pelos problemas exclusivamente ambiental. Também é importante procurar discrimi­
ná-los separadamente dos custos normais de produção (diretos, indi­
de qualidade ambiental, os colaboradores dos níveis inferiores tendem a
agir de acordo com esse interesse. Nesse sentido, eles devem ter a retos, despesas).
oportunidade de apresentar idéias e sugestões de melhoria. Dificuldades na obtenção de indicadores adequados.
Devem ser comunicados, a todos os colaboradores, os objetivos e Os indicadores são úteis para a determinação relativa dos custos da
metas, a política ambiental e o programa de identificação e redução de qualidade ambiental, tais como: porcentagem de vendas, custo/unidade
custos ambientais, sendo feita alguma divulgação dos resultados em produzida, custo de manufatura.
110 EDITORA JuAREZ DE OLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

Dificuldades na manutenção do programa.


É necessário ter persistência em um trabalho deste tipo, pois os resul­
tados não são evidentes e visíveis para a maioria das pessoas que estão
realizando a sua maior parte, existindo uma tendência natural para 3
abandoná-lo, logo que surjam "outras prioridades".
CONTROLE DE INVESTIMENTOS

Qualquer empresa tem a necessidade de um Sistema de Controle,


sobretudo com relação à sua área financeira, cuja finalidade principal
consiste em monitorar os desembolsos financeiros e compromissos
assumidos pelas pessoas às quais foram atribuídos níveis de autoridade
e responsabilidade no tocante à tomada de decisões que afetem os resul­
tados da organização. Quanto maior a empresa, maior será a necessidade
de descentralizar as decisões e delegar autoridade, de modo a garantir a
agilidade administrativa necessária para que ela se mantenha compe­
titiva. Os sistemas de controle servem também para medir, de forma
objetiva, a eficácia com que as decisões da alta direção se traduzem
em resultados.
Essa autoridade é usualmente delegada aos Chefes de Departa­
mento e Gerentes de Projeto, de modo que, fixados os objetivos e as
metas, eles possam realizar dispêndios e assumir compromissos com o
propósito de atingir essas metas. Essas decisões são tomadas sem a
interferência da alta administração. O Sistema de Controle existente deve
ser capaz de verificar o desempenho das pessoas, por meio de um
acompanhamento físico com "indicadores de desempenho" (situação real
dos trabalhos e das obras, produção alcançada, ou seja resultados alcan­
çados) e também apresentar demonstrações contábeis das importân­
cias dispendidas em confronto com aquelas aprovadas pela alta admi­
nistração.
Assim, mostramos que uma das melhores formas de avaliar essa
segunda parte é por meio da contabilidade, pela linguagem universal
comum a todas as empresas.
112 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA A MBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 113

3.1 CENTROS DE RESPONSABILIDADE 3.2 RETORNO DOS INVESTIMENTOS

Pela dificuldade que os administradores de nível mais elevado têm Observamos que as contas mencionadas, embora sejam gerenciadas
em controlar tudo e a necessidade de descentralizar as tomadas de deci­ por pessoas com autonomia, não podem ser vistas de forma isolada.
são com delegação de autoridade e responsabilidade para que a empresa Os responsáveis por elas, embora tenham sua autonomia, precisam atuar
tenha agilidade e confiabilidade, constatamos a necessidade da criação em equipe, sob uma coordenação de alguém de nível mais elevado na
dos "Centros de Responsabilidade". organização, para evitar riscos de que a empresa incorra em perdas signi­
ficativas. Por exemplo, com relação aos centros de investimentos, uma
Nesse caso, os administradores têm liberdade e autoridade para tomar das formas de medir refere-se ao retorno do investimento. Os investi­
decisões naquele nível que foi determinado e delegado pela alta adminis­ mentos em melhorias ambientais costumam ter um retorno mais lento e,
tração, sem a obrigatoriedade de consulta, ficando a direção com o por vezes é muito mais difícil realizar sua avaliação, enquanto os investi­
acompanhamento constante dos resultados dessas decisões. mentos que resultem em maior produção têm retorno mais rápido e visí­
A implantação do Sistema de Controle começa pela definição dos vel. Para anular isso, deve-se realizar um trabalho de motivação ambiental
chamados "Centros de Responsabilidade", divididos em três categorias: e uma clara definição da política, objetivos e metas.
a) Centros de Investimentos: são contas abertas sob a responsabili­ O retomo de investimentos às vezes é visto ape�as ·através da expressão
dade dos Gerentes de Projeto ou Chefes de Departamentos, dando-lhes o r = Ganho/Investimentos, ou Custo/Benefício. Reduzindo-se o deno­
direito de utilizar capital para realizar dispêndios que resultem no aumen­ minador sabe-se que aumentaremos o valor da fração e, a curto e médio
to do patrimônio da empresa em forma de edifícios, máquinas, sistemas prazos pode-se mascarar a realidade com essa visão puramente numé­
produtivos, projetos e outros. Encerrada a implantação do empreen­ rica. É necessário um cuidado grande na análise de índices puramente
dimento, deve ser feito um balanço e encerradas essas contas, após financeiros. Deixar de realizar um determinado investimento ambiental,
comprovação financeira e avaliação dos resultados físicos alcançados como por exemplo a compra de máquinas menos poluentes, pode parecer
em relação aos objetivos e metas estabelecidos. um bom resultado para o balanço anual da empresa, porém pode deixá-la
vulnerável no futuro com relação a multas de órgãos ambientais e
b) Centros de Custos: são contas abertas para certos setores da
pressão dos consumidores. A longo prazo essa atitude poderá se consti­
empresa ligados às atividades produtivas e de serviços (marketing, recur­
tuir em um sério fator de perda de competitividade.
sos humanos, qualidade, etc.). Cabe aos gerentes dessas contas combinar
os insumos e recursos para realizar uma determinada tarefa. As melhores Com relação aos centros de custos, dissemos que eles apresentam bons
decisões são aquelas que maximizam a produção com um menor dispên­ resultados quando minimizam os insumos para uma determinada quanti­
dio de recursos e a minimização de resíduos, de matérias primas e de dade de produtos fabricados. Da mesma forma, é preciso ter bastante
energia para uma determinada quantidade produzida. Um único setor da atenção, pois de nada adianta reduzir custos de manutenção desde que
empresa poderá possuir mais de um centro de custos. não sejam mantidos os níveis de confiabilidade e disponibilidade preten­
didos para os equipamentos, os custos de limpeza às custas de piorar a
c) Centros de Lucros: são as contas ligadas à área de vendas, onde qualidade do ambiente e reduzir custos de treinamento, sabendo-se que
os gerentes têm como objetivo maximizar o lucro através de ajustes na os reflexos disso acarretarão prejuízos futuros. Além disso, sabe-se que
quantidade de insumos utilizados, na quantidade produzida e nos preços em alguns casos, aumentando-se a quantidade produzida, ganha-se em
de venda do produto. custos unitários, graças à escala de produção. Entretanto, se esse aumen-
114 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL ÜESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 115

to não estiver sendo realizado em comum acordo com os responsáveis Centro de Investimentos e de Custos: conforme apresentado, são as
pelas vendas, o resultado será o aumento de estoques, com custos signi­ contas de registro dos recursos financeiros dispendidos para a conse­
ficativos para a empresa. Ou seja, pode-se ganhar um pouco de um lado cução dos objetivos de um empreendimento ou de atividades de produ­
para se perder muito em outro. ção e apoio. Essas contas são criadas a partir da definição e orçamentação
de projetos.
3.3 O ENTENDIMENTO ENTRE OS SETORES Projeto: é o conjunto harmônico de ações preestabelecidas, definidas
e quantificadas no que tange a propósito, necessidade, oportunidade,
Com os recursos escassos, existe a necessidade de escolher a melhor enquadramento, características, detalhes de execução, meta física, tempo
alternativa para os investimentos. Para isso, é preciso conhecer os dados de realização previsto e custo provável, dirigido ao atendimento de uma
contábeis. Às vezes, para cumprir um orçamento estabelecido, um deter­ necessidade específica da empresa.
minado setor pode acarretar problemas para os outros, prejudicando o
Os projetos podem ser de dois tipos:
resultado global da empresa. Por exemplo, o pessoal de compras, para
cumprir suas metas de custos, pode comprar uma matéria prima que Projeto de Investimento- é aquele de caráter temporário, que modifica
produza uma maior quantidade de resíduos e poluentes. O custo de qualitativamente e quantitativamente o patrimônio da empresa. Por exem­
tratamento desses resíduos vai aparecer nos custos da produção, plo, a aquisição de uma determinada máquina que fabrique o produto
podendo ocorrer, para a empresa como um todo, um resultado nega­ com menor emissão de resíduos é objeto de um projeto de investimento.
tivo com essa mudança. A contabilidade de custos é que pode identificar Projeto de Atividade - é aquele de c.aráter permanente, que visa
uma situação como essa, indicando aos administradores a melhor manter a estrutura operativa e administrativa da empresa. São os valores
solução a ser adotada para cada caso. atribuídos no orçamento aos centros de custos para manter a vida diária
O risco, como vimos, é que, em uma análise puramente contábil, dos departamentos na compra de matérias primas, pagamento de funcio­
cada setor reduza custos através da redução da qualidade (por exemplo o nários, treinamentos, etc.
setor de produção piora o produto, o resultado futuro de queda de Estrutura Analítica do Empreendimento: (WBS, do inglês Work
vendas sendo refletido sobre a área de vendas). Assim, se a análise for Breakdown Structure) - é uma estrutura que decompõe física e funcio­
realizada apenas olhando os centros de custos, é necessário que a avalia­ nalmente um empreendimento. Por exemplo, poderíamos imaginar que a
ção de qualidade seja realizada com grande cuidado, por setor inde­ construção de uma estação de tratamento de efluentes possa ser decom­
pendente, porém avaliando-se ao mesmo tempo o resultado global. posta da seguinte forma:
Grupo 100- Construção civil
3.4 EMPREENDIMENTOS E PROJETOS Grupo 200- Equipamentos mecânicos
Empreendimento: é o produto do desenvolvimento de um conjunto Grupo 300 - Sistemas elétricos
planejado de atividades multidisciplinares, cujos resultados atendem a Grupo 400 - Sistemas de fluidos
um objetivo estabelecido. O empreendimento deve possuir um plane­ Grupo 500 - Sistemas de controle
jamento, programação, orçamento, coordenação e controle próprios. Esses grupos, em um maior detalhamento, podem ser desdobrados em
O empreendimento, dependendo de sua complexidade, pode ser subdi­ sub-grupos, 11 O, 120, etc., e, em mais detalhe, o grupo 11O em 111, 112,
vidido em Subempreendimentos, Grupos, Subgrupos e Elementos. e assim por diante.
116 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA A MBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 117

Estrutura Organizacional (OBS) - é o organograma da empresa, 143-Projeto de contrato


onde se encontram hierarquizadas as Diretorias, Departamentos, Gerên­ 144 -Projeto detalhado
cias, etc.
150-Testes e avaliações do produto
Estrutura Analítica de Quebra de Custos ( Cost Breakdown Structure
- CBS) - é uma estrutura de decomposição dos custos por categorias, de 151 -Especificações e planejamento de testes
modo que possam ser identificadas as parcelas que compõem o custo 152-Ensaios com modelos
global. Nessa análise, deve ser considerado o ciclo de vida do produto,
ou seja, identificados os custos desde a concepção, escolha da matéria
prima, passando por todas as etapas necessárias do processo produtivo 200-Custos de instalações do processo de produção
até o destino final. Ao início de cada empreendimento deve ser elaborada
21 O-Custos gerenciais com instalações
a estrutura de quebra de custos, adaptada para aquele empreendimento
específico, sendo esta uma importante etapa do planejamento, e da análi­ 211 -Mão-de-obra interna
se do ciclo de vida, permitindo a coleta de dados para futuras análises
212-Materiais
financeiras e controle de custos. Um exemplo genérico dessa estrutura é
apresentado a seguir, relativo a um determinado produto. 213-Serviços de terceiros
220 - Obras civis e infra-estrutura
100 - Custos de Pesquisas e Desenvolvimento 230-Equipamentos e materiais do sistema
11 O -Custos gerenciais de Pesquisas e Desenvolvimento 240-Testes de aceitação do sistema
111 -Mão-de-obra 250-Treinamento
112-Materiais e instalações 260-Apoio logístico
120-Pesquisas de Produto (análise do mercado)
121-Custos próprios 300-Custos de produção e vendas
122-Serviços de terceiros 31 O -Custos diretos
130-Projeto do produto 311 -Mão-de-obra
131-Estudos de viabilidade 312-Materiais
132-Projeto básico 313 -Outros insumos (água, energia elétrica, gases indus­
133-Projeto detalhado triais, etc)
140-Projeto do sistema de produção 314 -Embalagens e manuseio
141 -Projeto de viabilidade 320 - Custos indiretos
142-Projeto de concepção 321 -Gerenciamento da produção
118 EDITORA JuAREZ DE ÜLJVEIRA - Luiz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 119

322 - Custos de PCP 520 - Qualidade Ambiental


323 - Treinamento 521 - Custos de prevenção
324-Instalações de testes 522-Custos de avaliação
330-Armazenagem e distribuição 523 - Custos de falhas internas
331-Custos de armazenagem 524-Custos de falhas externas
332-Custos de transporte
3.5 ORÇAMENTOS E SUA PREPARAÇÃO
333-Marketing e vendas
340-Manutenção Orçamento: é o documento que reúne as informações e conside­
rações a respeito das necessidades de uma determinada área de atuação e
341 - Mão-de-obra orienta as ações a empreender nos projetos, para a realização das diver­
342-Materiais sas atividades naquela área. O orçamento prevê as despesas e investi­
mentos a serem realizados no futuro pela empresa, estabelecendo os limi­
343-Instalações e ferramentas
tes de dispêndios de cada área, relativos àquele determinado período de
350-Treinamentos tempo, sendo aprovado pela diretoria. O orçamento pode ser anual
(orçamento de 2002, 2003, etc.) ou plurianual (como informação de
comprometimento da empresa a longo prazo). O orçamento em investi­
400-Custos de destinação de sobras e resíduos mentos ambientais é, em princípio, preparado pela Comissão do SGA
41 O-Custos de gerenciamento liderada pelo Gerente Ambiental, a partir dos estudos dos vários planos
de ação, sendo que determinadas prioridades deverão ser aprovadas pela
420 - Custos de recuperação Diretoria, que autorizará a concessão de créditos.
430-Custos de reciclagem Existem várias formas de realização de um orçamento. Quando ele é
440 - Custos de descarte em aterros elaborado de baixo para cima, os dados vão subindo dos gerentes de
níveis mais baixos, revistos (reconciliados) pelos gerentes de nível mais
450 - Custos de incineração alto. É o caso de projetos ambientais previstos segundo a metodologia da
espiral apresentada acima, válida principalmente para projetos de inves­
timento mais complexos e caros. Esse tipo de orçamento pode ser feito
500-Custos com Sistemas da Qualidade
mesmo para outros tipos de atividades ligadas à área ambiental, como
51O - Qualidade do processo e produto propostas de treinamento, etc. A vantagem principal desse tipo de prepa­
511 - Custos de prevenção ração do orçamento é derivada da maior participação dos funcionários,
que ficam mais comprometidos com os objetivos e metas. Muita vezes
512 - Custos de avaliação essas pessoas possuem um conhecimento mais preciso dos custo , pois
513 - Custos de falhas internas estão mais próximas da operação dos sistemas. A desvantagem é que o
processo fica muito lento, sendo necessárias muitas revisões e reconci­
514 - Custos de falhas externas liações, correndo-se o risco de que as revisões e modificações desesti-
ECONOMIA AMBIENTAL ÜESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 121
120 EDITORA JUAREZ DE OLIVEIRA - Luiz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

mulem os funcionários que trabalharam na proposta original. Além disso, para gastos, pode ocorrer a situação de aumento de vendas além do
os dados podem conter muitas imprecisões, pois os funcionários podem previsto, ou seja, uma demanda maior de produtos. Neste caso, o orça­
introduzir margens muito elevadas (para ter mais garantias do sucesso mento passa a ser variável ou flexível. Os gerentes logicamente não ficam
do empreendimento, ou porque imaginam que fatalmente existirão muitos responsáveis pelo aumento dos custos, pois houve mais vendas.
cortes nos níveis superiores, em relação aos valores apresentados).
Outro tipo é o orçamento definido "de cima para baixo", em que a alta 3.6 CONTROLE ORÇAMENTÁRIO E CONTROLE FINANCEIRO
direção divide os recursos com base em sua experiência e segundo priori­
dades estabelecidas no alto nível da organização, ou com base no orça­ Controle Orçamentário: é o tipo de controle que, preparado pelo
mento do ano anterior. As vantagens desse tipo são o ganho de tempo, setor de finanças, indica a todo instante, a todos os envolvidos (Diretoria,
não são colocadas margens exageradas e o orçamento cumpre uma Gerente Ambiental, Gerentes de Fábrica, de Processos, etc.) a situação
função de comunicação de decisões da alta direção e planejamento na de realização do orçamento. Uma idéia de apresentação pode ser:
empresa. Trata-se de uma boa ferramenta de controle do andamento da
vida financeira e administrativa (permite verificar se tudo está sendo Ordem de Contro- Valor Valor Expecta- Valor Saldo para Saldo
contratado novas para
realizado conforme previsto). Em uma avaliação preliminar, acredita­ Serviço, lador dos aprovado
para o no
compro-
metido
tiva de
novos contra- novos
E mpre- recursos
mos que uma composição dos dois tipos seja a melhor solução. Os inves­ endimen- compro- tações pedidos
meti- de
timentos maiores seriam estudados em profundidade em um Plano de to ou
Projeto mentos compra
Ação e com ferramentas do tipo "espiral de projeto", em um orçamento (E) (F) (G)=(C)
(A) (B) (C) (D) (H)=(B)
chamado de "base zero" (pois ele não parte de dados anteriores) e os -(D) -(D)-
demais dispêndios estabelecidos pela alta administração, a partir de um (E)

estudo anual apresentado pelo Gerente Ambiental.


Orçamento de itens de linha: é aquele que permite que os respon­
sáveis pelas decisões gastem apenas uma quantia máxima fixa em itens
específicos (um teto fixado). Esse tipo impede gastos excessivos.
Ex. orçamentos de organizações governamentais. Posição Financeira: é um mapa que apresenta a situação de dispên­
Orçamento por exercício limitado: não permite que as verbas dios efetivos na realização do projeto, ou seja valores realmente gastos,
atribuídas a um determinado exercício sejam transportadas para o exer­ no momento de seus pagamentos. Uma idéia de apresentação é:
cício seguinte. Como vantagens: permite um melhor controle dos geren­
Créditos Pagamentos Saldo no
tes, impede que os gerentes "economizem" seus recursos para usar mais Ordem de Controlador
dos recursos
A provado
para o ano provisionados efetuados Centro de
Serviço,
tarde do modo que eles queiram. Como desvantagem: no final do exercí­ E mpreendimen- no Centro de Custos
Custos
cio, os gerentes podem inventar meios de gastar os recursos a eles atribuí­ to ou Projeto

dos, sem necessidade real, para não "perdê-los" (por exemplo, compran­ (A) (B) (C) (D) (E) (F) =(D) - (E)
do novos microcomputadores, sem uma necessidade real). Quase todas
as organizações usam este tipo de orçamento.
Orçamento flexível: quando os gerentes trabalham com um planeja­
mento de produção a ser cumprida e, portanto, com um orçamento fixo 1
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS
I .' 1
122 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

3.7 OS CUSTOS AMBIENTAIS COMO FERRAMENTA DA investir para cumprir aqueles objetivos e metas, no mínimo para manter
ORÇAMENTAÇÃO E CONTROLE os níveis atuais além de somar os custos de falhas. A diferença entre o
que se gastava e o que se irá gastar será o "custo ambiental" do períod
Os investimentos ambientais devem ser tratados como qualquer outro considerado, que poderá ser rateado pelos produtos. Esse custo erá
investimento da empresa. Seguindo-se os passos estabelecidos na Norma obtido somando-se os custos de prevenção, custos de falhas internas,
ISO 14.001, inicialmente deve ser estabelecida a Política Ambiental, onde etc.. A partir da construção de um gráfico com simulações pode-se deter­
ficarão registradas as intenções da alta administração. O passo seguinte minar o ponto ótimo para aquele período considerado.
consiste em realizar as atividades de Planejamento, dentro de um ciclo As atividades da empresa quanto à administração referem-se às opera­
PDCA. Entre estas atividades, situa-se a realização de um diagnóstico ções (dia a dia, garantir que o fluxo de caixa consiga suportar as opera­
ambiental, para se conhecer a situação atual e a identificação dos aspectos ções da empresa, insumos e produtos), ao planejamento e tratégico (olhar
e impactos ambientais. De alguma forma, como por exemplo preparan­ o futuro para definir os investimentos) e à admini tração de risco.
do-se uma matriz de risco, devem ser definidas as prioridades para inves­
timentos, identificados os objetivos e metas e, em seguida, preparado um
Plano de Ação, onde se define o que vai ser feito (what), em que local ou 3.8 A ESPIRAL DE PROJETO
unidade da empresa ou processo (where), por que (why), quem é o respon­
sável pelo trabalho (who), época e prazos de realização (when) e como Os valores constantes do orçamento são calculados a partir de proje­
fazer (how). Uma das mais importantes respostas do Plano de Ação é o tos semelhantes ou de estudos específicos para um determinado projeto.
custo daquele empreendimento ou projeto (How much), sem o qual Esses estudos, dependendo da complexidade e dos valores financeiros
nenhum responsável pela decisão irá aprovar a sua realização. Essa previ­ envolvidos, podem exigir vários ciclos de análise, no que se denomina
são de custos, associada às metas para os limites de custos ambientais uma "espiral de projeto". A partir de requisitos iniciais do "cliente" (que
irão constituir-se no orçamento para a área ambiental. pode ser a Diretoria, interessada em avaliar um determinado investimen­
to) é realizado um "estudo de viabilidade", composto de várias tarefas
Ao serem definidos os objetivos e metas e na elaboração do plano de
realizadas em seqüência, por exemplo aquelas indicadas abaixo. Desde
ação, devem ser identificados os custos diretos associados a cada proje­
que os dados resultantes estejam coerentes, passa-se ao segundo ciclo da
to, sendo separados os custos de capital dos custos operacionais. o
espiral, na fase denominada de "projeto básico", onde o detalhament
Deve-se procurar identificar os custos indiretos associados, mesmo dos resultados já é bem mais elevado, permitindo maior segura nça tanto
que sua determinação exata não seja possível nesta fase e verificar se em relação aos aspectos técnicos do projeto quanto em relação aos seus
de
haverá acréscimo de atividade e de custos em programas já existentes custos. Aprovados estes dois aspectos, ao final deste ciclo, vem a fase
(por exemplo, disposição de resíduos). projeto detalhado ou "projeto de execução", no qual os estudos resultam
Com relação à estimativa dos custos da qualidade ambiental, para fins em desenhos de execução das obras, especificações de compras de mate­
de orçamento, sugere-se realizar um diagnóstico ambiental da empresa, riais e outras informações bastante detalhadas sobre os critérios de proje­
que irá refletir a situação existente antes de ser iniciada a implantação de to e construção. Os resultados deverão ser apresentados aos níveis mais
que
um SGA, antes do início de um exercício financeiro, chegando-se a um altos de decisão da empresa, ao final de cada ciclo da espiral, para
sejam aprovados e "congelados", ou seja, duran te a realiza ção de uma
"Balanço Ambiental" em termos de emissão de poluentes e resíduos.
A esse diagnóstico associa-se um determinado custo. A partir da Política fase não se admite que sejam modificadas decisões aprovadas da fase
e
Ambiental e da fixação de objetivos e metas, conforme exposto, pode-se anterior, pois essa atitude de retorno acarretaria desperdícios de tempo
preparar um orçamento ambiental, que irá refletir quanto se pretende de dinheiro.
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 125
124 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

Comprometimento e Dispêndio de Recursos Financeiros


ETAPAS DE UM PROJETO
100


80 RecuIBOS
Requisitos do Client e t_qmpro etidê.s
70

Estudos de viabilidade <,O


Projeto de execução
;o
Estudos de mer cad ·cenciamento ambiental
40 ReCI!fSOS gastos
30

-
--+· \--
Estudos de localização / 20

-+�
d ento acx.:ão
Ac.:..:val=-t·= = de renta bilidade
1 .,,,,-- � 10
- +------➔-- ,E----
: ::::::: ) 60 70 80 90 100
✓ � 10 20 )0 50
,

-
Tempo(%)
Avali�ção de custos, despesas

-----+-
Instalações requeridas e ece1las
1 >
(engenharia)
Definição de proj e to de
produtos e processos produtivos

Aquisições equip. princ.


3.9) AS CURVAS DE COMPROMETIMENTO E DISPÊNDIO DE

-
RECURSOS Testes

Durante a realização do projeto, são tomadas uma série de decisões


técnicas que afetam os custos finais, relacionadas à escolha de materiais,
opções tecnológicas, grau de automatização, etc. Assim sendo, é essen­
cial que essas decisões sejam bem acompanhadas e aprovadas. O gráfico,
apresentado a seguir, mostra como as decisões de projeto irão compro­ Operação
metendo os orçamentos futuros da empresa. Avalia-se que ao final de um experimental
projeto detalhado já estarão definidos e, de certa forma comprometidos
cerca de 80% dos dispêndios previstos naquele projeto, pois a decisão de É necessário ter muito cuidado e que seja dada atenção às várias
adotar outra opção qualquer, demandaria outros estudos que poderiam fases do projeto, de modo a evitar retrabalhos e custos desnecessários.
encarecer ainda mais o empreendimento. O dispêndio real, freqüentemente É importante que em cada final de fase de projeto seja preparado um
segue uma curva diferente, chamada de "curva S", mais ligada aos valo­ documento, no qual sejam "congeladas" as decisões mais importantes,
res pagos à medida em que os contratos com fornecedores e emprei­ documento esse aprovado pela alta administração. Essas decisões irão se
teiros vão sendo cumprido (fornecimentos de equipamentos material e referir aos pontos principais da concepção do empreendimento, �s �sc� ­
mão-de-obra em construções, etc.). lhas tecnológicas realizadas e às escolhas e especificações dos pnnc1pa1s
126 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - Luiz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

equipamentos e materiais. Esse "congelamento" de decisões é importan­


te para evitar idas e vindas no projeto, resultado de análises tardias dos
resultados de projeto e confusões de autoridade na condução do projeto,
implicando em retrabalhos evitáveis, custos desnecessários e o próprio
descrédito sobre o empreendimento. Da mesma forma, sugere-se um 4-
acompanhamento dos resultados das fases pela alta direção da empresa,
ou de um representante, para que sejam aprovadas as decisões (que resul­ AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS
tam na curva de "recursos comprometidos"). Uma análise tardia desses
resultados pode não agradar à alta administração (que poderá ser surpre­
endida com custos eventualmente elevados) gerando "congelamentos de
projeto" (que ficarão aguardando "tempos melhores") e perdas financei­
4.1 O VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO
ras correspondentes ao que foi efetivamente gasto na curva "S" (recursos Em todos os problemas relacionados a aplicações financeiras existe a
dispendidos), além de outras conseqüências, como a desmotivação do necessidade de levarmos em conta a questão do dinheiro no tempo, ou
pessoal envolvido em conseguir aquela determinada melhoria ambiental. seja, uma determinada quantia de dinheiro hoje não tem o mesmo valor
no futuro, tendo-se em vista a taxa de juros, que sempre está presente na
transação envolvida ou uso do dinheiro. Um valor de hoje é equivalente a
um valor maior no futuro e vice-versa. A palavra equivalente significa,
realmente, igual valor, mesmo não sendo o mesmo número.
Para ficarem mais claras as fórmulas (quem já tiver conhecimento
de matemática financeira pode saltar esta parte), apresentaremos um
exemplo, com a finalidade de mostrar a dedução de juros compostos, ou
seja, quanto um determinado valor hoje passará a valer no futuro em uma
determinada taxa de juros. Por exemplo, consideremos uma aplicação de
R$ 1,00 e que a taxa de juros anual seja de 9%.

Ano Renda Valor acumulado

o 1
1 9/100 X 1 = 0,09 X 1 = = 0,09 1 +0,09 = 1,09 OU 1 X(]+ 0,09) = 1,09
2 1,09 X 0,09 = 0,098 1,09 +0,098 = 1,188
OU 1 X (1 + 0,09) X (l+Q,09) = 1,188

3 1,188 X 0,09 = 0,107 1,188 + 0,107 = 1,295 ou


1 X (1 + 0,09) X(1 + 0,09) X (1 + 0,09) = ] ,295

-
portanto, a fórmula é: I x ( 1 + i)"
128 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL ÜESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS

Ou, de outra forma, podemos olhar quanto se teria perdido pela não i - taxa de juros aplicável a cada período
realização da operação financeira considerada. A perda em n anos seria, F - valor do dinheiro no final dos n períodos , a partir da data presen­
pois tem-se que olhar o valor acumulado ( valor inicial mais juros) e te. Ele representa o valor de P aplicado nos n períodos à taxa de juros i. F
subtrair a parcela investida. simboliza valor Final.
Em 15 anos: 3,642 - 1 = 2,642 ( perda que teria em 15 anos, pois o A - valor do pagamento ( ou recebimento) ao final de cada período,
valor de 1 teria se transformado em 3,642). assumindo-se uma série contínua para os n períodos, equivalente a P
Portanto: quando se aplica a taxa de juros i. A letra A simboliza Anuidade.
Do presente para o futuro: Conhecendo-se P e desejando-se obter F, representando por:
Valor atual : VA "Valor de P" (F/P, i %, n)
Valor futuro VF=VA x (1 +i )ª F=P (l+il
Por exemplo, 1 real em 10 anos, à taxa de 9%: Exemplo: P= 10.000; i=12% ao ano; n=10 anos
VF=1,00 X (1 + 0,09) 1 º= 2,367 Representação 10.000 (F/P, 12%, 10)
Do futuro para o presente: Calculando:
Valor futuro: VF F= 31.058,48
VF 2,367 Representação gráfica:
Valor atual VA = ---­ ---=1
(1 + 0,9) 10 2,367 20000 �-----------------,
10000 --l-,.,,,,---------------i
Os dois últimos índices apresentados são os mais significativos para o ..µ,oJ..---,-,----,--,-,--,-----,----,-TTr1
refletir a importância do tempo para o dinheiro, ou melhor, uma determi­
R$ -10000 4�-8-9--
nada quantia em dinheiro hoje vale muito mais do que a mesma quantia
-20000
no futuro, tendo-se em vista a taxa de juros que se aplica ( acredito que
-30000
este é o sentido real da frase popular "tempo é dinheiro", e não a idéia de
-40000 -'----------------
que perder tempo é perder dinheiro).
Anos
Para trabalharmos com as diferentes possibilidades, vejamos quais são
as fórmulas aplicáveis aos problemas mais comuns, bem como uma repre­
sentação simplificada: Conhecendo-se F e desejando-se obter P. Representação: "Valor de F"
Definindo-se: (P/F, i%,
P - valor do dinheiro no presente (Valor Presente)
n - número de períodos de tempo, por exemplo ano, mês, etc., confor­
P�F[ (I :;)"l
me o interesse
130 EDITORA JUAREZ DE ÜUVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL ÜESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 131

Por exemplo, F= 10000; i= 12% ao ano; n = 10 anos "anuidade vencida", quando os pagamentos são efetuados no início
de cada período. Observe que o valor futuro de uma anuidade vencida é
Representação: 10.000 (P/F, 12%, 10)
maior do que o valor futuro de uma anuidade ordinária, pois terá havido
Calculando pela fórmula: mais tempo de capitalização.
P =3219,73 Exemplo (de uma anuidade ordinária): F = 10000; i = 9% ao ano;
Graficamente: n = 8 anos
Representação: 10000 (A/F, 9%, 8)
A=906,74
15000
Graficamente:
10000

'
R$ 5000 12000
o ' ' 10000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 8000
-5000
Anos R$ 6000
4000
2000
ANUIDADE: o
-2000
Trata-se de distribuir um valor presente (ou futuro) em parcelas
anuais, com o conjunto de parcelas representando o valor único (presen­ Anos
te ou futuro, depende do caso).
Conhecendo-se F e desejando-se obter A: "Valor de F"
Conhecendo-se P e desejando-se obter A: "Valor de P" (A/P, io/o, n)
(A/F, io/o, n)

A - F[ (l+i)"-1
-
i l A=P[ iÚ iY, l
+
(l+ )'-1
i
Nota: quando se fala em anuidades (ou poderiam ser "mensalida­ Exemplo: P = 10.000; i = 10% ao ano; n = 1O anos
des"), considera-se usualmente com os pagamentos ou recebimentos
Representação: 10.000(A/P, 10%, 10)
sendo efetuados no fim de cada período (anuidade chamada de "ordi­
nária"). Somente em casos expressamente citados é que se trata de Calculando: A= 1627,45
132 EDITORA JUAREZ DE ÜL!VEIRA - LUIZ ANTÔNI O ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 133

15000 2000
10000 o -+-,-...--.-&.:al--r-L...J...,---L.J.-.-'-..1.-,---L.J.--r-L...J...,---L.J.--r-L....1--,--'-'--r-laJ-l
R$
5000 ?J, R$ -2000
o -4000
-5000
o 1 4 5 6 7 8
-6000
Anos -8000
Anos

Conhecendo-se A e desejando-se obter F: "Valor de A"(F/A, i%, n)

Nota: para calcularmos o valor presente (P) de uma série infinita, divi­
diremos o valor calculado para a anuidade (para o período considerado)
pela taxa de desconto:
Exemplo: A=lO00; i=8% ao ano; n=lü anos
P �= Ali
Representação: lO00(F/A, 8%, 10)
Exemplo para aplicação:
F=l4486,56
Suponhamos uma determinada situação em que estejamos pensando
em adquirir um grupo de osmose reversa para realizar a filtragem de um
20000 �-------------, efluente, antes de descartá-lo para um rio, nas imediações da fábrica.
15000 -1--------------,,,,.--i O custo desse grupo, com capacidade de tratamento de 57 m3 /hora é de
R$ 10000 +------------ts:H US$ 86.000,00, equivalente hoje a R$ 137.000,00. Avaliamos que os
<l
5000 +------------N-H
custos com energia elétrica, limpeza química, troca de filtros do sistema
O +.-.-.-=,..,.,,...,-,,--rr,-,--,-,--,-;-r--rnrrrcrrrT"TT-=-t
-5000 -'--"----'--"-__;J'---'L---'--LL--'----"---"-..U.U
de pré-filtragem, troca da membrana e adição química, além da mão-de­
obra de operação irão nos gerar custos anuais de R$20.000,00 no primei­
Anos
ro ano, R$23.000,00 no segundo ano, R$25.000,00 no terceiro ano e
R$27.000,00 no quarto ano. O equipamento duraria cerca de 20 anos,
Conhecendo-se A e desejando-se obter P: "Valor de A (PIA, i%, n) mas para facilitar os cálculos (e como somente é um problema visando
mostrar uma metodologia), vamos assumir que ele duraria apenas esses
[(l+i'j'-1] quatro anos, ficando sem nenhum valor ao final desse prazo. A pergunta
P=A que se faz é: qual seria um custo médio anual do sistema, assumindo que
i(l + i)'1 a taxa de juros considerada pela empresa é de 9% ao ano?
Para solucionar o problema, uma das possibilidades é trazermos todos
Exemplo: A=lO00; i=l 1% ao ano; n=lü anos
os custos para o presente e depois dividirmos nos quatro anos, conside­
Representação: lO00(P/A, 11%, 10) rando como uma anuidade (todos os custos, desde o investimento inicial
P = 5889,23 até os custos de operação e manutenção).
134 EDITORA JUAREZ DE ÜLJVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 115

Por exemplo, mostrando o cálculo de R$ 23 .000,00 do segundo ano da atividade não valeria a pena. Essas áreas precisam ser identificadas
trazido ao presente: para se saber se está havendo um problema de administração, ou
realmente não compensa realizar os investimentos em razão de uma baixa
p = F[
t
l ] = 23 000 [
(1 + i
l
(1 + 0,09 J ] =2 000 * 0,
3 842 = 1 93 58 ,63
rentabilidade naquele setor, concorrência acirrada, falta de mercado, etc.
Na elaboração da Política Financeira, dois aspectos importantes pre­
cisam ser considerados, que são o estabelecimento de critérios para os
Preparando uma planilha Excel para todos os cálculos e incluindo o investimentos de capital (em termos financeiros) e o nível de endividamento


investimento inicial, temos: financeiro aceitável. Os critérios precisam levar em conta o grau de risco
do projeto ou empreendimento (aqui, considerando o risco de dar prejuí­
zo), taxa de retorno para os acionistas e prazo para obter o retomo do
.F j n (1 +i)IL -p investimento.
'

o 137000,00 A função financeira precisa garantir a flexibilidade operacional (garan­


0,09 1 1,09 18348,62 tir o dinheiro para os investimentos e para assegurar a vida da empresa,
20000
na obtenção de insumos, etc.), ao mesmo tempo em que procure maxi­
23000 0,09 2 1,19 19358,64 mizar o lucro dos acionistas. Ou seja, identificar quanto os acionistas
25000 0,09 3 1,30 19304,59 poderiam obter se investissem o seu dinheiro em outros empreendi­
0,09 4 1,41 19127,48 mentos, ou mesmo em outras empresas, com o mesmo grau de risco.
27000
O gerente ambiental precisa estar constantemente em contato com os
Soma: 213139,33 responsáveis pela função financeira, defendendo os investimentos em
melhorias ambientais, levando em conta estes argumentos. Os critérios
Verificamos, então, que o custo total atualizado, no presente, seria de financeiros deverão ser sempre considerados, ao se escolher os investi­
R$ 13.13 9,3 3.
2 mentos e ao se defender os interesse dos acionistas ( a área financeira é a
mais próxima desse papel). Uma das atividades nas quais o gerente
Repartindo ao longo dos 4 anos: ambiental pode colaborar é indicar as melhorias que a empresa estiver
obtendo em qualidade ambiental e relacioná-las com o desempenho finan­
o o9 ) ceiro da empresa, ou ainda, a equipe de qualidade ambiental precisa
A=P[ i(l+iY ]=213 .139 ,33[ ' (i+ ,4 4]=65. 969 ,22
º º9

(1 + i )" -1 Q + 0,09 ) -1 demonstrar que as m�lhorias ambientais obtidas pela empresa, às custas
de dispêndios, estão trazendo o retorno financeiro esperado, sobretudo
no tocante às economias, ganhos de produtividade e redução de multas
e prejuízos decorrentes de falhas atribuídas ao desempenho ambiental
4.2 MEDIDAS FINANCEIRAS PARA JULGAMENTO DE da empresa.
OPÇÕES DE MELHORIA AMBIENTAL
Uma forma bastante simplificada para avaliar esse retorno financeiro
Para os acionistas e diretores é importante saber quais áreas da empre­ seria quantificar prejuízos corno sucata, refugos e multas recebidas de
sa são lucrativas e quais atividades não estão produzindo um retorno órgãos ambientais, que são itens fáceis de serem extraídos do sistema
correspondente ao investimento, ou seja, situações em que a realização contábil atual das empresas. Outra forma mais precisa e que irá fornecer
136 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 1:n
melhores resultados para avaliação é montar um sistema de apropriação maiores, portanto expor-se a eles exige uma compensação maior),
de custos da qualidade ambiental, por exemplo, aquele sugerido na parte enquanto os títulos de governos, sobretudo de países ricos, considerados
inicial deste trabalho. como investimentos de baixo risco remuneram na faixa de 7% a 10%
Para se realizar a análise da validade e benefícios resultantes dos ao ano. A taxa de retorno exigida para as aplicações é igual à taxa de
investimentos, uma das formas mais usuais é calcular o retorno sobre o desconto (que remunera as aplicações isentas de risco) mais a remune­
capital empregado. ração pelo risco.
RSCE = Lucro operacional/ Capital empregado Na realização de investimentos ambientais (como também é o caso da
maioria de investimentos da empresa), o grande problema é a falta
O RSCE geral da empresa é obtido através do "Balanço" e do "Demons­
de capital e, para obtê-lo, as empresas normalmente recorrem a bancos.
trativo de Lucros e Perdas" (também chamado de DRE- "Demonstração
No caso ambiental, além dos bancos, existem alguns órgãos de fomento
de Resultados do Exercício"), que são os dois documentos contábeis que
específicos para estimular esse tipo de investimento, a juros menores e
melhor sumarizam o desempenho da empresa em um certo período de
maior prazo de carência. Entretanto, quando se procura esse tipo de apoio,
tempo (por exemplo, um ano).
os órgãos financiadores realizam avaliações para verificar se o finan­
O "Capital empregado" é a soma da conta "Capital" (recursos que os ciamento solicitado enquadra-se nos objetivos do programa (análise da
acionistas colocaram na empresa para que esta consiga comprar equipa­ conveniência da concessão) e se a empresa tem condições de honrar os
mentos, contratar mão-de-obra, etc., ou seja, trata-se de uma "dívida" da pagamentos (capacidade de pagamento), verificando-se qual a rentabi­
empresa para com os acionistas) com as contas de "passivos exigíveis" lidade do investimento. É necessário provar a solidez, a consistência e o
(dívidas da empresa com seus credores). mérito do projeto.
A conta de lucros e perdas apresenta quanto a empresa apurou com o Na análise do mérito do projeto, verifica-se a relação custo/benefício e
uso do capital mais os empréstimos tomados de investidores, qual o valor alternativas para obter melhores resultados com os mesmos custos em
dos impostos pagos e quanto sobrou de lucros para os acionistas. Assim , outros projetos.
tomando-se o faturamento, subtrai-se o custo dos produtos vendidos e
Mesmo antes de apresentar o projeto aos bancos, é necessário anali­
obtém-se o chamado "Lucro Bruto". Subtraindo-se do lucro bruto as
sar várias opções de investimentos ambientais e identificar aquelas que
despesas com vendas e com a administração ( que não fizeram parte dos
trazem o melhor retorno. Uma das formas é realizar uma projeção de
custos dos produtos) chega-se ao "Lucro Operacional".
custos ambientais resultantes ao longo dos anos e fazer a escolha, ou
RSCE = Lucro operacional/ Capital empregado verificar a rentabilidade com índices, como comentaremos mais adiante.
Note-se que o lucro operacional é apurado antes do cálculo de impos­ Em um projeto normal olham-se os lucros. Aqui, existe ainda a neces­
tos e juros. sidade de avaliar os benefícios ambientais ( que estão relacionados com
Um cálculo análogo poderá ser feito com relação aos investimentos custos de falhas e intangíveis) e as melhorias em sistemas decorrentes de
em melhoria ambiental, avaliando-se a contribuição dessas contas com requisitos legais e cumprimento da Política Ambiental da empresa (nem
relação ao capital empregado e ao lucro operacional. tanto visando ganhos financeiros ou receitas). Em economia, os projetos
são comparados entre si através da aplicação de alguns índices. Continua
Usualmente, espera-se uma taxa de retorno na faixa de 1O a 20% ao válida esta idéia nos projetos ambientais, sobretudo para se comparar
ano. Em investimentos normais (não temos dados suficientes para inves­ alternativas de engenharia que levem a resultados semelhantes, neste caso
timentos ambientais) a taxa pode ficar próxima de 20% (os riscos são os índices, nos auxiliando a obter as soluções de menor custo.
138 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 139

Neste capítulo apresentaremos as principais ferramentas (índices) internas da empresa ou dentro dos limites estabelecidos nos objetivos e
com utilidade na tomada de decisão, ou seja, como realizar as melhores metas. Deve-se também analisar os gradientes das curvas. Um gradiente
escolhas (do ponto de vista econômico) entre os possíveis projetos (inclinação) elevado na curva de benefícios indica que se deve avançar
apresentados. mais na busca de melhorias, enquanto o gradiente elevado na curva de
custos mostra que o investimento, somente deverá ser realizado, se a
• Índice de custo/ benefício contrapartida de benefícios justificar os gastos maiores.
• Rentabilidade simples
Custos e Benefícios
• Período de retorno do capital (payback)
• Período de retorno de capital atualizado
• Valor Presente Líquido
• Taxa interna de retorno (TIR)

4.3 ÍNDICE DE CUSTO/ BENEFÍCIO

Conforme foi exposto nó capítulo 1, este índice indica, em uma


comparação de possibilidades, qual deve ser a opção mais vantajosa.
Medir os custos de uma determinada instalação que proporcione uma
melhoria ambiental é uma tarefa relativamente fácil, somando-se os o 20 40 60 80 100
custos de projeto, da compra de equipamentos e sistemas, de obras civis,
Redução de poluentes(%)
de montagem, testes, manutenção, gerenciamento, etc. Conforme comen­
tamos anteriormente, medir os benefícios é uma tarefa bastante mais difí­
cil, onde se avaliam quais os prejuízos que seriam resultantes da não
4.4 RENTABILIDADE SIMPLES E PERÍODO DE RETORNO
implantação da instalação em questão, como por exemplo, gastos com
DO CAPITAL
recuperação da saúde das pessoas, "custo" das vidas humanas, gastos
com a recuperação de água contaminada para ser reutilizada, etc., ou, de Rentabilidade simples:
outra forma mais simples, interpretarmos como "benefício" o valor dos
produtos e serviços resultantes da atividade, em uma análise econômica r = L / I ou seja, lucro médio ou ganho proporcionado (saldo entre
receitas e despesas), dividido pelo valor do investimento.
mais tradicional, nem tanto adaptada ao termo "benefício ambiental".
Para estas análises, podem ser feitos gráficos que mostrem os custos, os A definição de rentabilidade simples não prevê a atualização dos valo­
benefícios, observando-se que para se obter um índice de 100% de redu­ res financeiros no tempo.
ção de poluentes, os custos seriam quase sempre proibitivos. Assim, deve­
se trabalhar na região em que as distâncias entre as curvas de custos e de Período de retorno do capital, ou tempo de retorno do capital, ou
benefícios sejam mais elevadas, desde que esta determinada emissão de período de recuperação: é um número, também conhecido pelo nome l�lll
poluentes esteja dentro dos limites aceitos pela legislação, pelas normas inglês payback period, e indica o tempo necessário de operação do sistl'
140 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 141

ma até que a empresa recupere o capital investido. Esse período é equiva­ julgamento com base apenas nesse índice faria com que houvesse uma
lente ao inverso da rentabilidade simples. prioridade na empresa pelos projetos de mais curta duração (retorno mais
rápido), principalmente quando houvesse um critério puro e simples de
Exemplo: Um investimento de 500,00 que proporciona um lucro
aceitação de projetos com um certo retorno máximo.
médio anual de 100,00 apresenta:
• Rentabilidade simples: r = L / I = 100 / 500 = 0,2 ou 20%;
Período de retorno atualizado: indica o tempo necessário de opera­
• Período de recuperação ou período de retorno:
ção do sistema até que a empresa recupere o capital investido, porém
t = I / L = 500 / 100 = 5 anos
levando-se em conta o valor do dinheiro no tempo, ou seja, atualizando­
Exemplo 2: se os valores pela taxa de juros (taxa de retorno).
Suponhamos três opções de projeto (projetos A, B e C), apresentando Nota: nas empresas, é muito comum o uso do período de retorno sim­
os fluxos de caixa indicados. O custo do capital (juros é de 10% ao ano ples, ou seja,. não se atualizam os valores. A vantagem é tratar-se de um
(Nota: neste tipo de índice é irrelevante). Indicar os períodos de retorno: método muito fácil de avaliar os investimentos, embora saibamos que
ele é impreciso, em vista de não levar em conta o valor do dinheiro
no tempo. Portanto, quando nada se diz, o payback se refere ao
Fluxos de caixa (Reais)
payback simples.
Projetos Investimento inicial Receitas
eº cl c2 c3 c4 4.5 VALOR PRESENTE LÍQUIDO E TAXA INTERNA DE
Projeto A 1000 1000 1000 1000 1000 RETORNO
Projeto B. 5000 o 2500 2500 2500
O uso do conceito de Valor Presente Líquido (VPL) é uma das
Projeto .C. 10000 5000 5000 o 30000 formas mais empregadas para a realização da análise sobre a viabilidade
de empreendimentos. É feito um cálculo para trazer todos os valores dos
Respostas: fluxos de caixa futuros para o presente, considerando a taxa de juros
vigente (taxa de retomo, ou taxa de desconto). Assim, consideraremos o
Período de recuperação do Projeto A: 1 ano valor inicial do investimento (com sinal negativo), outras parcelas de
Período de recuperação do Projeto B: 3 anos investimento a serem pagas no futuro e receitas e despesas, trazendo tudo
para o presente, considerando o tempo e a taxa de juros.
Período de recuperação do Projeto C: 2 anos.
A fórmula para o VPL, quando apenas tivermos investimento inicial e
Observações: apesar de utilizado por muitas empresas, o período de
custos é:
retorno do capital não é um índice que proporciona uma boa decisão,
quando visto de forma isolada. Seu principal defeito é não levar em conta VPL = -Investimento atual + t
Li e.1
o valor do dinheiro no tempo e, em segundo lugar, ele somente considera j=I (1 + i)
os fluxos até o instante de recuperação. Intencionalmente colocamos no
Projeto Ç um valor de entrada elevado no quarto ano (R$30.000,00),
sendo que o índice não levou em conta essa informação. Além disso, o
142 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 143

A fórmula mais completa, quando considerarmos diversas parcelas do a maior rentabilidade que se poderá obter com um determinado capi­
de investimentos (10,), diversas parcelas de Receitas (R.) e diversas parcelas tal, caso não seja investido no projeto em consideração, e sim em
J
de Custos (C.)
J
é: um outro projeto, assumindo-se o mesmo nível de risco. Trata-se de um
custo financeiro equivalente à perda que o capital investido sofre
por estar aplicado ao projeto e não poder estar aplicado em nenhum
VPL = _j_o= ____ j= o outro projeto ou aplicação de mercado (caderneta de pqupança, prazo
(1 + il c1 + zr fixo, etc.).
Nota: nas primeiras fórmulas apresentadas, C. indicava genericamen­ Como existe uma dificuldade em se avaliar o COC assume-se que ele
te um determinado valor associado ao fluxo de c�ixa (Cash), as entradas se situa próximo à taxa de juros do sistema bancário.
de dinheiro representadas por um sinal positivo e as saídas ou pagamen­
tos representadas por um sinal �egativo. Nesta última fórmula, ao deta­ Uma avaliação que pode ser feita para julgarmos se um determinado
lharmos um pouco mais, indicamos as receitas por R. e os custos por C.. investimento ambiental é válido (do ponto de vista exclusivamente finan­
J J ceiro) é compararmos a TIR com o COC. Normalmente, se a TIR for
É muito importante nos lembrarmos que, quando realizarmos a análise menor que o COC, o projeto deverá ser rejeitado, e se a TIR for maior
de investimentos, o que interessa é o fluxo real de dinheiro que entra e que o COC, o projeto é considerado vantajoso, sendo aceito.
que sai (dinheiro em caixa e bancos) e não os ganhos contábeis, por exem­
plo uma venda realizada hoje, com o pagamento sendo feito somente Essa análise, conforme dissemos, reflete tão somente o ponto de vista
daqui a um ano, então a entrada efetiva para o cálculo de C será feita financeiro, pois pode ser que aquele determinado investimento seja uma
somente daqui a um ano. necessidade para atender à legislação, o lado político de relacionamentos
da empresa, mesmo não sendo a melhor aplicação financeira. Além disso,
Como critério de investimento, verificamos que se o VPL de um inves­ os órgãos governamentais podem olhar a rentabilidade econômica e a
timento resultar em um número positivo, valerá a pena realizar esse investi­ própria TIR de outra forma, ou seja, verificando os benefícios sociais do
mento. Se ho1c1ver duas ou mais opções, valerá a pena realizar o investimento
projeto (criação de empregos, melhorias ambientais para a população) e
com VPL mais elevado.
as deseconomias (poluir um rio, por exemplo, é chamado de uma
A TAXA INTERNA DE RETORNO é a taxai que é obtida quando "deseconomia").
o VPL é igual a zero.
Ela identifica qual a taxa a ser aplicada ao fluxo de investimentos de 4.7 TAXA INTERNA DE RETORNO ECONÔMICO
modo que, trazidos aos valores atuais, os investimentos, custos e despe­
sas se igualem ao valor das receitas (também trazidos ao valor atual). Na TIRE (taxa interna de retorno econômico) o projeto é analisado
Ou seja, quanto maior a Taxa Interna de Retorno, melhor o investi­ do ponto de vista de toda a economia. Pode ser que o empresário esteja
mento em termos de rentabilidade. esgotando um determinado recurso natural em 30 anos, por �xemplo,
sem se importar, o que não pode acontecer com o governo, que neces­
sariamente tem que levar em conta os efeitos a longo prazo sobre a socie­
4.6 CUSTO DE OPORTUNIDADE DO CAPITAL
dade. O problema da avaliação econômica é transformar o orçamento de
Um conceito importante na realização de qualquer análise financeira custos e receitas do projeto, de seus valores privados (da empresa) em
é o de Custo de Oportunidade do Capital (COC), definido como sen- valores e preços, em custos econômicos (orçamento da coletividade e
144 EDITORA JuAREZ DE OLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA 145
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS

não da empresa). Um exemplo disso seria a construção de uma usina nas duas situações (preservar ou explorar). Os valores apresentados refe­
hidrelétrica por um empresário. O valor para ele será a construção da rem-se ao Valor Presente Líquido (VPL) em dólares do ano 2000, sendo
barragem, os investimentos e máquinas, da terra, indenizações a donos aplicada, em cada caso, uma taxa de retorno específica, conforme indicada
de terras alagadas, porém podem existir outros benefícios ambientais que mais adiante.
não serão do empresário (regularização da vazão do rio, água para irriga­
ção de terras antes secas que ficavam longe do rio) e prejuízos ambientais Em geral, quando se trata da exploração dos recursos, modificando-se
(mudança do regime fluvial para lacustre, perdas de espécies, mosquitos, o ecossistema, foi avaliado como benefício, o valor monetário dos produ­
mudança do clima, etc.). De alguma forma, o governo, sobretudo os tos explorados: madeira, fibras vegetais, combustíveis, alimentos produzidos;
organismos de financiamento, devem criar índices que permitam avaliar por outro lado, quando se preserva o ecossistema, foi avaliado o valor
as taxas de retorno, não só para a empresa ( verificando a rentabilidade, o monetário da regulação do clima, controle de erosão do solo, reciclagem
retorno), mas também do ponto de vista social. A idéia do "Balanço de nutrientes, e outros serviços ambientais, conforme mostraremos em
Social" poderá vir a ser uma das formas dessa avaliação. cada caso.
Os cinco casos estudados em detalhe foram:

4.8 BENEFÍCIOS EM PRESERVAR ECOSSISTEMAS Caso 1) Uso não sustentável de uma floresta-em Sengalor, na Malásia
(retirada de madeira);
Conforme comentamos, na análise de custos e benefícios, é mais fácil Caso 2) Uso não sustentável de madeira de uma floresta em Monte
calcularmos os custos e mais difícil avaliarmos os benefícios ambien­ Camarões, República dos Camarões, usando-se posteriormente a terra
tais. Em muitos casos, seremos obrigados a avaliar os benefícios de uma para agricultura familiar;
forma inversa, ou melhor, determinando quais seriam os prejuízos resul­
tantes da "não realização" dos investimentos que evitariam os prejuízos, Caso 3) Conversão de um manguesal na Tailândia, para aqüicultura
(criação de camarões em cativeiro);
ou seja, este será o benefício considerado.
Caso 4) Drenagem de um pântano, no Canadá, para transformar a área
Apesar da dificuldade em avaliar "benefícios ambientais", alguns
em fazendas para produção agrícola;
pesquisadores desenvolveram técnicas a respeito de como realizar essa
quantificação de valor do "capital natural", como é o caso de Robert Caso 5) Exploração de uma área de recifes, nas Filipinas, para pesca,
Costanza, expostas na revistaNature, n. 387, de 1997. por meio de explosões (destruindo os recifes).
Um outro estudo muito interessante foi apresentado na revista Science, Foi possível observar que, em todos os casos, havia sempre benefícios
de 9.8.2002 vol 297, com o título "Economic Reasons for Conserving privados. Algumas pessoas e empresas se beneficiavam da atividade após
Wild Nature", de Andrew Balmford e outros. Comentaremos alguns resul­ a destruição do ecossistema. Porém, em todos esses casos, verificamos
tados e conclusões dos autores. que os benefícios ambientais em preservar não são usualmente captur�­
dos pela economia convencional, baseada nas leis de mercado. Os pesqm­
O trabalho relata alguns casos mostrando os benefícios ambientais sadores atribuíram valores aos bens e serviços ambientais em cada caso,
existentes, em termos monetários, no sentido de serem mantidos os segundo critérios de Robert Costanza (Revista Nature n. 253, de 1997) e
ecossistemas intactos, ao invés de alterá-los para algum uso econômico outros critérios, e concluíram que em todas as situações, os benefícios
(exploração). Os autores estudaram cerca de 300 casos e se concen­ calculados, quando fossem mantidos os ecossistemas relativamente intactos,
traram em cinco deles, bem caracterizados quanto aos benefícios obtidos sempre superaram aqueles obtidos com sua transformação para uso pelo
146 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 147

homem. Construímos uma tabela para tentar deixar claros os valores apre­
Caso 4) Drenagem de um pântano, no Valores econômicos totais VPL %de
sentados no artigo: com taxa de retorno de 4% ao ganho em
Canadá, para transformar em área de
produção agrícola; ano, durante 50 anos manter
Caso 1) Uso não sustentável de uma Valores econômicos totais %de Benefícios econômicos em drenar o
floresta da Malásia (retirada de VPL com taxa de retorno de ganho em pântano: valor dos produtos agríco- Transformar Manter o
madeira), em Sengalor. 10%ao ano, em 100 anos manter las obtidos; em área pântano 54%
Benefícios econômicos em explorar Benefícios em manter o pântano: caça agrícola: US$ 8.000/ha
a floresta: valor das madeiras e fibras. Ao explorar: Com gestão sustentável, madeira coletada, carvão, US$ 3.700/
Valores em preservar: suprimento US$ 11.200/ ambiental seqüestro de carbono, regulação do ha
ha aprox. US$ 14% clima, proteção das casas quanto a
de água, regulação do clima, recrea­
ção, manutenção de estoques de 13.000/ha tempestades.
carbono e espécies ameaçadas de
extinção. Caso 5) Exploração de uma área de Valores econômicos totais VPL %de
recifes, nas Filipinas, para pesca, por com taxa de retorno de 6% ao ganho em
meio de explosões (destruindo os ano, em 30 anos manter
Caso 2) Uso não sustentável de Valores econômicos totais VPL %de recifes). Benefícios econômicos em
madeira de uma floresta em Monte com taxa de retorno de 10%ao ganho em explorar a pesca: valor dos peixes; Transfor- Manter o
Camarões, República dos Camarões, ano, em 32 anos manter Benefícios em manter o recife: prote- mar para recife 74%
usando-se posteriormente a terra para 1-- -------.
- ção da costa quanto a tempestades, qüicultura: US$ 3.300/ha
------+-------I
agricultura familiar. valor turístico. US$ 870/ha
Agricultura Manter a
Benefícios econômicos em explorar: familiar: floresta intacta 18%
valores das madeiras, fibras e alimen­ US$ 2.110/ US$ 2.570/ha
ha Verificamos que, nos casos estudados, os valores econômicos totais
tos produzidos;
(VPL), ao se preservar os sistemas, ultrapassam os benefícios obtidos
Benefícios em preservar: controle de ao se destruir os sistemas para exploração comercial.
sedimentos, prevenção de inundações
na região, fixação de carbono, regu- O artigo observa, com muita propriedade que, no passado, com a
lação do clima, valor de existência da falta de áreas agrícolas, houve a necessidade de desmatar florestas para
floresta plantar e produzir alimentos, mas que hoje, existindo muitas áreas agrícolas
com alta produtividade, é muito mais importante manter áreas preser­
Caso 3) Conversão de um manguesal Valores econômicos totais VPL %de vadas, do ponto de vista de sustentabilidade global. Entretanto, quando
na Tailândia, para aqüicultura (cria­ com taxa de retorno de 6% ao ganho em pensamos que essas áreas freqüentemente ficam localizadas em regiões
ção de camarões em cativeiro); Bene­ ano, em 30 anos manter
pobres e em países em desenvolvimento, existe uma necessidade real de
fícios econômicos em construir o i----------.------+--------1
viveiro: valor do camarão criado; Transfor­ Manter o que as pessoas dessas regiões possuam condições de sobrevivência, o
Benefícios em manter o manguesal: mar para manguesal 70% que muitas vezes somente é conseguido explorando-se aqueles recursos
madeira coletada, carvão, seqüestro aqüicultura: US$ 60400/ha de forma não sustentável. Elas, em geral, não irão atribuir nenhum valor
de carbono, regulação do clima, pro­ US$ 16 .700/ aos bens ambientais, que na verdade irão beneficiar a humanidade como
teção da costa quanto a tempestades ha um todo em sua preservação. É necessário, portanto, que existam meca­
no mar.
nismos de compensação pela preservação, permitindo condições de vida
adequadas üs populações das áreas.
148 EDITORA JUAREZ DE ÜLJVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL ÜESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 149

4.9 EXEMPLOS NUMÉRICOS DE AVALIAÇÃO DE Portanto, a proposta B é vantajosa para a empresa sob o ponto de vista
INVESTIMENTOS do VPL.
Cálculo dos períodos de recuperação
Exemplo 1: Suponhamos que para cumprir uma determinada meta
ambiental, estejamos precisando melhorar um certo processo industrial. I 50000
Suponha que a empresa receba propostas de dois fornecedores (A e B), tA = -= --- = 4,16 anos = 4 anos 1 mes e 27 dias
com resultados técnicos semelhantes e que apresente os seguintes fluxos de R 12000
caixa (C0 é o investimento inicial e os C.J são as entradas de dinheiro como
retorno (ou ganhos decorrentes da não existência de problemas ambientais): I 40000
t =-=---=5 anos
s R 8000
Fluxos de caixa (Reais)
Projetos Investi- Receitas
mento
Períodos de recuperação atualizados:
inicial O período de recuperação atualizado refere-se ao retorno do investi­
eº e. mento (que ocorreu no tempo zero) por meio das parcelas de receitas
Proposta A 50.000 Receitas de R$12.000,00 durante os próximos 7 anos anuais, trazidas ao presente. Assim sendo, trata-se da mesma fórmula do
Proposta li 40.000 Receitas de R$8.000,00 durante os próximos 10 anos VLP igualada a zero, na qual a incógnita é o tempo t. A solução pode ser
obtida de forma gráfica, já que calculamos as parcelas atualizadas das
receitas.
O custo de oportunidade é de 10% ao ano.
Solicita-se calcular:
-qual a melhor proposta, assumindo-se o critério do Valor Presente Ano Valor Recuperação
Líquido?
-quais os períodos de recuperação dos dois projetos? o 50000,00 50000,00

- Quais os períodos de recuperação atualizados? 1 10909,00 39091,00

- Qual a melhor proposta, assumindo-se o critério da TIR? 2 9917,00 29174,00


Solução: 3 9015,00 20159,00
VPL -l -'-
e e e
+-'-+-·-+.....
e
= + 3
+-"-
. (1+ i)"
o (1 + l). (1 + Í)2 (J +Í )-1 4 8196,00 11963,00
12000
_ 50000 +--+--+--+ 12000 12000 12000 5 7451,00 4512,00
Vp,L,
,A . .+--=
(1+0,1) (1+0,1)1 (1 +O,JY .... ( 1 +i)'
--

= -50000 +10909 , 09 + 991 7 ,36 + 9015, 78 +8196,16 +7451,06 + 6773,69 + 6157 , 90 = 8421, 03 6 6773,00 -2261,00
8000 8000 8000 8000 _ 7 6157,00 -8418,00
VPL" = _40000 + + + +.. + -
(l +O 1) (1 +0,1)1 (1 +0,1)' . . .. (!+i)'°
= -40000 + 727 2, 73+ 6611, 57 +6010, 52 +5464,11+ 4967 , 37 + 45 1 5 , 79 +. .. +3084,35 = 9156, 54
150 LUIZ ANTÔNIO A BDALLA DE MOURA
EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 151

Período de recuperação Exemplo 2: Uma empresa produtora de bebidas utiliza três tipos de
matérias primas (xarope, açúcar e gás carbônico), além de água e energia
6000 elétrica. Também devem ser consideradas, no processo, entradas como
R$ 4000 embalagens plásticas e óleo para uma caldeira. No decorrer da fabricação
são empregados vários processos, tais como a mismra das matérias primas,
2000 fervura, pastew-ização, lavagem e esterilização de embalagens retornáveis,
engarrafamento, adição do gás, embalagem de garrafas e latas, refrige­
o ração, etc. Desses processos resultam resíduos como particulados e gases
8 da caldeira, efluentes líquidos e resíduos sólidos.
Ano
A primeira parte do problema con iste em identificar e registrar os vários
tipos de custos ambientais, para cada tipo de descarga. Supondo números
Portanto, o projeto A seria recuperado em 5 anos e 8 meses (assumin­ e o seu enquadramento para cada tipo de custos ambientais, temos:
do uma linearidade entre o 5º e 6º ano.
TOTAL DE DESPESAS EM 1996:
Projeto B: assumindo uma linearidade no último ano, a resposta seria
7 anos, 3 meses e 11 dias. Despesas
Prevenção Avaliação Falhas Falhas Intangí- Total
veis
ção ção internas externas
Efluentes líquidos: ?
Tratamento de efluentes (custos diretos) 110
Ano Valor atualizado Recuperação Tratamento de efluentes (custos indiretos) 40
Coletas de amostras e testes de qualidade 50
o 40.000,00 40.000,00
Perdas de água 260
Custos com pessoal de Gestão Ambiental 20 10
1 7.272,00 32.728,00 Custos co_m treinamento de pessoal de 30
operaçao
Multas por poluição do rio 60
2 6.611,00 26.117,00 Auditorias 40
3 6.010,00 20.107,00 Emissões atmosféricas ?
Operação e manutenção de filtros de 30
4 5.464,00 gases de combustão e outros
14.643,00
Gases perdidos por vazamentos 30
5 4.967,00 9.676,00 Custos com pessoal de Gestão Ambiental 20 5
Custos com treinamento de pessoal 10 5
6 4.515,00 5.161,00 Multas por poluição do ar 20
Resíduos sólidos ?
7 4.105,00 1.056,00 Custos de transporte para aterros 40
Taxas de uso de aterros 30
8 3.732,00 -2.676,00 Custos de inspeções e testes de amostras 15
Perdas de embalagens (vidros, plásticos, 130
9 3.392,00 -6.068,00 engradados e papelão)
Custos de pessoal de Gestão Ambiental 10 5
10 3.084,00 -9.152,00 �,rias de Gcst�o Ambiental 30
Tot:il 340 160 420 80 ? 1000
152 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 153

Identificados os custos e feito o seu enquadramento, percebe-se que a ANÁLISE FINANCEIRA:


principal área onde se pode atuar será relativa à economia de insumos
, Custo do Investimento: 2 milhões
ou seja, água, gases e embalagens (falhas internas, responsáveis por 42%
dos custos). Visando obter melhorias, constata-se que seria desejável Economias Líquidas (ou Custos e Despesas):
realizar investimentos no sistema de gestão ambiental, melhor escolha de
matérias primas e do óleo combustível da caldeira, gerando-se menor Demais
1 º Ano 2° Ano 3º Ano
quantidade de emissões atmosféricas (embora o custo explícito não indi­ anos
que a existência de· problemas, sabe-se que os vizinhos têm reclamado (1) Óleo combustível (30) (30) (30) (30)
muito desse aspecto, tornando-o um custo intangível elevado). Após a
elaboração dos objetivos e metas e a preparação de um Plano de Ação, (2) Matérias primas (150) (140) (120) (120)
seguido de um orçamento detalhado, a Diretoria decidiu investir 2 milhões. (3) Produtos químicos (80) (70) (70) (70)
O Gerente Ambientai; baseado em dados levantados e extrapolações
chegou às seguintes conclusões (despesas por ano): (4) Tratamento de efluentes líquidos 100 120 130 140

(5) Tratamento de efluentes gasosos 40 45 50 50


• Aumento no custo do óleo combustível (de melhor qualidade): 30.000
■ Aumento no custo das matérias primas (que geram menos poluentes): (6) Tratamento de resíduos sólidos (60) (55) (50) (50)
150.000 (7) Gestão Ambiental (40) (40) (40) (40)
■ Aumento nas despesas com produtos químicos necessários ao novo (8) Consumo de água 120 130 140 140
processo: 80.000
(9) Embalagens 100 120 140 140
■ Re?ução de despesas com o tratamento de efluentes líquidos: 100.000
• Redução de d�spesas com o tratamento de efluentes gasosos: (1 O) Energia elétrica 80 90 90 90
40.000 (11) Multas evitadas 40 50 50 50

• Aumento de despesas com o tratamento de resíduos sólidos: 60.000 Saldos 120 220 290 300
• Aumento de despesas com Gestão Ambiental: 40.000
• Redução de despesas com o consumo de água: 120.000 (Nota: por convenção, os valores colocados entre parêntesis referem­
■ Economia de embalagens: 100.000 se a custos e despesas)
• Economia de energia elétrica: 80.000 Fazendo um balanço, constatamos que, realizando as modificações,
teremos uma economia anual de 480.000 e um custo adicional e despesas
• Multas provavelmente evitadas: 40.000 de 360.000. A pergunta que se faz, então, é: vale a pena realizar esse
Para os anos subseqüentes, avalia-se que os valores irão sofrer investimento de 2 milhões?
pequenas modificações, graças ao aprimoramento do processo e peque­ Constatamos, então um saldo a favor da economia de 120.000. Sabe­
nas variações do custo de matérias primas. O quadro, a seguir, mostra mos, por outro lado, que existem custos intangíveis que não somos capa­
os valores. zes de avaliar, ou seja, a economia real é superior a 120.000.
154 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - LUIZ ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 155

A primeira forma que temos para calcular a validade desse investi­ Em 15 anos:
mento é calcular o Valor Presente Líquido (VPL) e, se não tivermos uma VPL = + 59,27 ( ou seja, já ultrapassou o ponto de equilíbrio).
calculadora financeira disponível, por tentativa, chegarmos à taxa de
juros (TIR). Para se determinar com uma maior precisão, poderíamos interpolar os
resultados:
A fórmula para o VPL é
59,27 + 12,43 12,43 59,27
i=o
1
VPL = ...::j_=_o ____ 12,43 15
c1 ir
+
x = O, 173 do ano, ou melhor, 2 meses
Assumindo-se que a taxa de juros anual é de 10%, iremos avaliar
ao longo de cada ano qual o valor atualizado do investimento (consi­ Portanto, a amortização se dá com 14 anos e 2 meses após o inves­
derado com sinal negativo) e dos benefícios resultantes para a empresa. timento.
Sabe-se que enquanto o VLP estiver negativo, não terá ainda havido A avaliação que deve ser feita consiste em comparar esse resultado
recuperação do investimento. O prazo de retorno (atualizado) ocorre com outras opções que a empresa disponha, ou outras possibilidade
quando o VLP=0. de investimento para comparar a rentabilidade (custo de oportunidade,
ou quanto a empre a lucraria com outra aplicação financeira daquela
VPL =-10 +�+
(1 + i)
C2
(1 + i )2
+ C3
(1 + i Y
......
+ +
Cn
quantia em um projeto com a mesma taxa de risco, a bolsa de valores,
(1 + i )" por exemplo). Quanto menor o tempo de retomo e_ m geral _ trata- e
Considerando o 1 º Ano: da melhor aplicação para a empresa, do ponto de vista estntamente
12º econômico.
VPL = -2000 + = -2000 + 109,09 = -1890,91 Podemos também calcular a rentabilidade do projeto, a cada ano, atra­
(1+ 0,1)1
vés da fórmula:
Para os demais anos, por tentativa, temos
Receita - Custos
n=lO: r=
VPL =- 2000 +
120
+
220 290 300 300 lnvestimen tos
o +---+--- +--­
(1+01Y (1+01)- (1+0,1? (1+01)4 (1 +O,I)'° Portanto, no primeiro ano:

VPL = - 378,43 , ou seja, em 1O anos ainda não seria recuperado o r


= Receita - Custos = 6%
investimento, a essa taxa de juros. lnvestimen tos
Em 12 anos: A rigor, o cálculo acima deveria ser feito com os valores trazidos ao
valor atual, que seria:
VPL = -178,03 (ainda não amortizou)
120
Em 14 anos: 1

VPL =- 12,43 r= i!_+ O, l ) = 5,4%


2000
ECONOMIA AMBIENTAL GESTÃO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS 157
156 EDITORA JUAREZ DE ÜLIVEIRA - Lurz ANTÔNIO ABDALLA DE MOURA

Como exercício, apresenta-se o seguinte problema, para cálculo da Ano O Anol Ano2 Ano3 Totais
"Taxa Interna de Retorno".
Investimento e Custos (700) (87) (75,6) (65,8) (928,4)
Suponhamos que a empresa queira se lançar à fabricação de um novo
347,8 302,5 263 913,3
tipo de bebida, com apelo ecológico à base de sucos naturais sem aditivos Receitas
químicos e, para testar o mercado e definir o processo, decidiu-se - 15,1
construir uma planta piloto, prevista para operar por três anos. De qual­
.
quer forma, deseja-se calcular a Taxa Interna de Retorno desse investi­
mento, considerando, ainda, os custos e as receitas previstas. O quadro, a Agora, como ficou negativo, significa que ela é inferior a 15�- Fa;e�os,
seguir, mostra o investimento de R$ 700.000,00 (ano O) e para os três
então uma interpolação por regra de três para chegarmos mais prox1mos
anos seguintes, as receitas e custos (inclusive os ambientais).
da taxa real.
10% +46,1
Ano O Anol Ano2 Ano3 Totais 15,1
15%
Investimento e Custos (700) (100) (100) (100) (1000) ou seja, 5 ___________ 61,2
Receitas 400 400 400 1200 X 46,1
x=3, 8, ou seja, a taxa seria de 13, 8%.
Para resolver de forma simples a equação, o método mais fácil é adotar Para termos mais certeza quanto ao valor, repetiremos a atualização de
um processo de tentativa e aproximações sucessivas (exige apenas uma valores à taxa de 13, 8% :
calculadora simples).
Adota-se, então, uma taxa de 10% e prepara-se uma tabela com os valo­ Ano O Anol Ano2 Ano3 Totais
res de custos e receitas trazidos para o valor atual.
Investimento e Custos (700) (87,9) (77,2) (67,9) (933)

Receitas 351,5 308,9 271,4 931,8


Ano O Anol Ano2 Ano3 Totais
- 1,2
Investimento e Custos (700) (90,9) (82,6) (75, 1) (948,6)

Receitas 363,6 330,6 300,5 994,7

46,1
O valor já chegou muito próximo de zero, porém se quisermos uma
aproximação ainda maior poderemos fazer uma interpolação entre 10%
e 13, 8 %. Encontraríamos daí, o valor calculado para a Taxa Interna de
Retorno igual a 13,7%.
O resultado do balanço total mostra 46, 1, ou seja, um número positivo.
Isso indica que a taxa de desconto é superior a 10%. Vamos tentar, então, No capítulo seguinte apresentaremos outros exemplos de uso dos índi­
a taxa de 15% . ces aqui mostrados.

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