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KEITH THOMAS
Thomas foi professor de História Ele foi eleito membro da Sociedade
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Nesse primeiro momento do capítulo é abordado a a relação dos seres humanos com os animais
domésticos. Embora a teologia pregasse uma separação estrita entre o homem e a natureza, na prática,
a relação entre as pessoas e os animais domésticos na Inglaterra dos primeiros tempos pós-medievais
era muito mais íntima do que a religião oficial propunha.
Animais eram força de trabalho e alimentação.
O Abate animal era uma prática comum para o uso de sua carne, pele e
couro. Entre outros casos para imitar a população de uma espécie, eliminar
animais considerados nocivos ou perigosos, ou parar a propagação da
doença.
Mas o cão era o preferido de todos os animais. Havia cães por toda a Inglaterra no início dos tempos
modernos. Fynes Moryson considerava que o país tinha mais cães que outros animais proporcionalmente.
O Mastim Inglês é um dos cães mais citados por Thomas, era utilizado para proteger a propriedade privada,
advertir a presença de ladrões e salteadores. As municipalidades exigiam que esse tipo de animal ficasse
trancada e amordaçadas durante o dia. No livro é relatado situações do animal mata um porco no século XVII,
uma ovelha, um cordeiro, avança sobre o filho de Josselin e atacou o próprio diarista.
As Universidades de Cambrigde e Oxford nos fins do século XVII foram retratadas nas gravuras do artista
David Loggan com cães por toda a parte.
Os muito desses cães do século XVII tinham funções práticas, puxava carroças, trenos e mesmo arados.
Eram indispensáveis para pastores, tropeiros, agricultores e açougueiros. Havia uma ligação estreita entre
cão e dono, especialmente no caso dos cães pastores. Mas no geral, os cães trabalhadores parecem ter sido
considerados sem maiores sentimentos e normalmente enforcados ou afogados quando deixados de ter
utilidade.
Eram os sabujos e cãezinhos de estimação, em particular, que mereceriam real afeto e condição mais
elevada. Como hoje, a paixão pelos cães não necessários começava pela família real. Os Stuart eram
obcecados por eles. Jaime I tinha seus cães de caça favoritos, Jowler e Jewell. A filha do monarca, Isabel, a
Rainha do Inverno, viveu cercada de cães, pássaros e cavalos e ficou famosa, entre outras coisas, por preferir
seus animais de estimação aos seus filhos. As raças dos cachorros citados são poodle e beagle.
A aristrocacia tinha gosto similares. Como dizia o proverbio, não pode ser
fidalgo quem não ama um cão. Galgos e Spaniels eram sempre presentes
aceitáveis entre os aristrocratas. O sabujo de um fidalgo era tratado com
muita indulgencia. Os cães eram mais bem tratados que os serviçais. Os
animais de caça eram gordos e bem dispostos a correr, enquanto os homens
era pálidos e facos a andar debilitante. Muitas vezes tinham alojamentos
melhores. No retorno da caçada, os animais entravam primeiro, se serviam
da carne e ninguém ousava reclamar.
Na corte real e nas grandes casas, os cães estavam por toda parte. Os livros de civilidade dos fins da
Idade Média recordavam ao pajem que antes do amo ir para a cama, ele deveria tirar os cachorros e
gatos do quarto, e advertir os convidados em banquetes para não chutarem cães e gatos enquanto
sentados à mesa.
No final do século XVII, a sociedade educada começava a desprezar essa maneira antiga de cuidar das
casas “com bosta de cachorro e ossos de tutano enfeitando o salão de entrada”. A entrada das
mansões era mantida livre de cães e começou-se a ser substituída do cão de vigia pela campainha.
Descendo a escala social, a história era a mesma. A posse de cães era generalizada. A população
canina era periodicamente dizimada em tempos de peste (não sem grande resistência por parte dos
donos de cães) como medida sanitária. Diversos projetos de lei a respeito de imposto sobre cães era
periodicamente sugerido, em XVIII foram registrados esses projetos que não deram em nada. Somente
em 1796 ocorreu uma taxa sobre cães que acabou sendo adotada. Nessa época era raro um aldeão que
não tenha seu cachorro e a população canina estimada em cerca de 1 milhão. A maioria era mantida
mais por prazer do que por necessidade prática.
Thomas retrata que a imagem que a Bíblia à Inglaterra medieval trazia do cão era de um animal imundo
devorador de carniça no século XVI. O Livro do Apocalipse sugere que os cães, como outros seres
impuros não participarão da Ressureição. O animal era visto como sujo, bestiais, desordeiros, e a
simbolizar as mais vis facetas humanas: representava a gula, a lascívia, as funções corporais
ordinárias e a desagregação.
Os mastins e mestiços eram lascivos, imundos e truculentos e o vira-
lata de açougueiro rosnante, raivoso, rabugento, e soturno. Mas o cão de
caça, em contraste era nobre, sagaz, generoso, inteligente, fiel e
obediente. O motivo dessa distinção era essencialmente social. Os cães
diferiam de status porque o mesmo acontecia com os seus donos. Uma
das características das leis de caça no final do século XIV é que foi
confinado a propriedade de cães de caça a pessoas acima de um
determinado nível social.
E finalmente, os pássaros de gaiola, que eram mantidos devido seu canto ou pela imitação da voz
humana. Vendedores de pássaros profissionais haviam aparecido nos tempos Tudor e no final do
século XVII existia em Londres um grande mercado de pássaros canoros, alguns capturados no país
por apanhadores de aves profissionais, outros, exóticos, importados dos trópicos. Certas aves
silvestres tornaram-se mascotes honorários sem serem capturadas, uma delas era o tordo de papo-
roxo, que tinha disposição a frequencias as residências humanas atrás de alimento no inverno.
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out O texto aborda três características distintivas
dos animais de estimação em comparação com
outros animais. Em primeiro lugar, os animais
de estimação tinham permissão para entrar nas
casas. Eram criados dentro do lar com restos
de comida, diferentemente dos empregados
domésticos que não compartilhavam das
refeições com a família. Essa proximidade
física e alimentar estabelecia uma relação
especial entre os animais de estimação e seus
donos.
A segunda característica distintiva do animal de estimação era que ele
recebia um nome pessoal e individualizado. Isso o distinguia de todas
as outras criaturas. Os cães, cavalos e outros animais domésticos
subordinados à sociedade humana (humanos metonímicos como o
denomina Claude Lévi-Strauss), também recebiam nomes próprios
desde muito tempo. Mas tais nomes eram somente semi-humanos,
enfatizando seu lugar socialmente inferior. E esses nomes geralmente
eram de conotação agressivamente mácula; Arrogante, Zangado,
Selvagem, Folgazão e etc.
Por fim, os animais de estimação não eram
consumidos como alimento. Essa proibição não se
devia apenas a razões gastronômicas, mas também à
estreita relação que esses animais tinham com a
sociedade humana. Os cães e gatos não eram aceitos
como alimento, em parte devido à sua dieta carnívora e
também devido à posição que ocupavam na sociedade.
Os cavalos também eram excluídos da alimentação
devido à associação de sua carne ao paganismo do
norte.
Amor Animal
Por volta de 1700 todos os sintomas de uma obsessão por animais domésticos já estavam
evidentes. Com frequência os mascotes eram melhor alimentados que os empregados. Como
enfeites, traziam anéis, fitas, plumas e sinos; e vieram a tornar-se presença constante nos
retratos de família em grupo, geralmente simbolizando a fidelidade, a domesticidade e a
integridade.
É nesse panorama que no início do período moderno, a tendencia dos cientistas e intelectuais de
romper a rígida fronteira que os teóricos anteriores procuravam construir entre animais e
homens.
O ataque aos padrões tradicionais teve origem em duas direções diferentes. A primeira que os
homens não eram moralmente melhores que os animais, sendo até piores; e a segunda que os
animais eram intelectualmente quase iguais ao homem. Na primeira categoria estavam os céticos
e libertinos, que acreditavam a morte era para todos, homens e animais. Uma posição menos
extrema era dos mortalistas, para quem a alma descansava com o corpo até a Ressureição Final,
quando renasceriam juntos. Essa crença era muito difundida no início da Inglaterra moderna.
Richard Overton em 1644 argumentou que homens eram igualmente mortais foi acusado de
traição a raça humana.
No século XVIII esse ataque a doutrina de pensamento à suposta singularidade humana ganhou reforço,
graças ao materialismo de pensadores franceses como La Mettire, em que toda a separação entre homem e a
natureza se fundara. Embora reconhecendo que as capacidades dos homens eram superiores, elas viam uma
explicação orgânica similar tanto para a inteligência animal como a humana.
Os heréticos e os materialistas, para os quais o homem não passava de um animal, tinham seus discípulos,
mas até o século XIX foram apenas uma minoria, não representativa. Contudo, um numero muito maior de
pessoas estava disposto a conceder que os animais não estavam muito abaixo dos homens.
Em meados do século XVIII, David Hume concedia aos animais o poder de raciocínio
experimental, acrescentando que, se eles não eram guiados pela razão em suas ações ordinárias.
No final do século XVIII, a visão mais comum era que os animais podiam efetivamente pensar e
raciocinar, embora de uma forma inferior.
As realizações do instinto animal sempre foram admiradas, como a perícia dos pássaros e das
abelhas, criavam seus abrigos ou cuidavam de sua prole. O instinto parecia difícil de distinguir da
razão. Muitos filósofos continuavam a sustentar que o instinto, ao contrário da razão, era incapaz
de aprimorar-se; a diferença era de espécie, não de grau, e a barreira entre homens e animais
nítida e distinta. Mas outros consideravam o “instinto animal” e a “razão humana” como meros
graus diferentes da mesma qualidade
Ao insistir na racionalidade dos animais, os intelectuais
simplesmente reafirmavam o que muitas pessoas incultas
sempre pensaram. Os moradores do campo também
acreditavam na inteligência das criaturas selvagens. As
pessoas familiarizadas com os animais não acreditavam
necessariamente que a linguagem fosse exclusividade do
homem. No século XVIII os autores cultos tornaram-se cada
vez mais hostis às histórias antropomórficas nas quais os
bichos agiam como seres humanos, e insistiram no fato de
que todas as fábulas que atribuem razão e fala devem ser
retiradas das crianças, como meros veículos de ilusão.