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I SEMINÁRIO FDRP-USP/CEDIRE
Anais III Seminário Internacional de Direito e Religião da FDRP-USP
I Seminário FDRP USP/CEDIRE
FDRP USP
CEDIRE UFU
2022
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer
meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que
citada a fonte.
ISBN: 978-65-86465-26-6
200 p.
Resumo: O presente artigo tem por objetivo apresentar as primeiras reflexões de uma
pesquisa que se propõe a verificar, a partir de uma leitura interdisciplinar que congregará
a teoria, a história e a filosofia do direito com aportes sociológicos e antropológicos, a
possibilidade de compreensão do direito como um fenômeno ontologicamente religioso,
isto é, da definição do fenômeno jurídico como um fenômeno religioso em seus elementos
constitutivos e caracterizadores – linguagem, ritos, estruturas, operações e conceitos.
Palavras-chave: Direito. Religião. Ontologia. Fenomenologia.
Abstract: This article aims to present the first reflections of a research that aims to verify,
from an interdisciplinary reading that will bring together the theory, history and
philosophy of law with sociological and anthropological contributions, the possibility of
understanding law as an ontologically religious phenomenon, that is, the definition of legal
phenomenon as a religious phenomenon in its constitutive and characterizing elements -
language, rites, structures, operations and concepts.
Keywords: Law. Religion. Ontology. Phenomenology.
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1 INTRODUÇÃO
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Tais reflexões encontram-se em: CORRÊA, Caetano Dias. As possibilidades de uma leitura do fenômeno
jurídico a partir da religião: a proposta metodológica e o exemplo da teologia política de João
Calvino. Sequência: Estudos Jurídicos e Políticos, [S.L.], v. 38, n. 75, p. 189, 24 maio 2017. Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). http://dx.doi.org/10.5007/2177-7055.2017v38n75p189.
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religiosas.
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conceitos seriam moldados por ela: “[...] elas nasceram na religião e da religião, são um
produto do pensamento religioso” (DURKHEIM, 1996, p. XVI).
Nesse ponto, o autor está tributando a experiência religiosa não somente à
ancestralidade teórica das ciências e da filosofia, mas à ancestralidade epistemológica dos
saberes. Vale ressaltar que Durkheim (1996) entende a religião como uma forma que
decorre do próprio conhecimento e da própria experiência teórica da religião. Segundo ele,
a religião é o primeiro esforço de classificação das coisas, assim como a ciência.
Tais constatações, por sua vez, serão não somente confirmadas, mas também
medidas e potencializadas nas reflexões daquele que, em que pese apresentar uma
concepção epistemológica de certa forma distinta, sempre é colocado, ao lado de
Durkheim, com um dos pilares da teoria sociológica. Weber também foi a fundo nas suas
investigações sobre a religião e, no que diz respeito ao objeto da pesquisa, naturalmente
tem algo a dizer.
A criação de uma ética capitalista somente foi obra – ainda que não intencionada
– do ascetismo intramundano do protestantismo, o qual abriu precisamente aos
elementos mais piedosos e eticamente mais rigoristas o caminho à vida dos
negócios e lhes apontava, sobretudo, o êxito nessa área como fruto de uma
condução da vida racional.
Dentro dessa perspectiva ontológica, Weber (2000) sustenta que as religiões, por
sua forte influência na ação dos fiéis, têm um efeito profundo nos demais aspectos não
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Peter Berger (1985) afirma que a religião seria uma experiência eminentemente
social. Em “O Dossel Sagrado”, o autor aponta que a religião é um esforço de
exteriorização do que está dentro do próprio sujeito, ou seja, seria o resultado objetivado
de um esforço subjetivo de exteriorização. A atitude religiosa do homem no mundo é de
atribuição de significados que exteriorizam aquilo que lhe é inerente (1985, p. 115).
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Não obstante os estudos de Berger e Luckmann sobre a religião tenham sido elaboradas em trabalhos
individuais de cada um, elas são eminentemente tributárias de uma reflexão em conjunto dos autores. Na
obra “A construção social da realidade”, a dupla se ocupa de lançar as bases do estudo do que se considera
conhecimento na sociedade, tendo como base o senso comum, constitutivo da realidade, do cotidiano do
membro comum da sociedade. Um processo de verificação da realidade a partir dos movimentos de
objetivação e subjetivação de pensamentos, valores, instituições, significados, havidos no meio social
(BERGER e LUCKMANN: 2002). As reflexões de ambos sobre o fenômeno religioso são tributárias dessas
premissas de sociologia do conhecimento por eles lançadas em sua obra conjunta.
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Tendo por fundamento essa visão, por meio de uma abordagem fenomenológica,
Berger tenta enfatizar a importância da experiência religiosa do ser humano, que pode ser
institucionalizada em muitas tradições que tentam vincular o conhecimento e o
comportamento na sociedade. Nesse sentido, ao analisar a construção social, Berger cria
uma teoria da “dialética social”, na qual acredita que a realidade existente na sociedade,
seja objetiva ou subjetiva, é criada por meio de três momentos dialéticos: externalização,
objetificação e internalização. Esses momentos nem sempre ocorrem de forma sucessiva,
mas a formação da comunidade é indissociável destes.
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Para Berger (1985), a essência da experiência religiosa, de algo que está além do
indivíduo em si, permanece intacta. Apesar do fato de a modernização e a secularização
terem lançado dúvidas sobre a relevância da religião para a sociedade, mudando a base
social do compromisso religioso da sociedade para esferas fragmentadas, Berger a
considera como estrutura de plausibilidade ainda presente, e que proporciona aos
indivíduos um senso de identidade.
Na medida que os estudos de Berger se encontram com as assertivas apresentadas
por Weber, Thomas Luckmann (2014) retorna a Durkheim em seus escritos. Para
Luckmann, o que importa é a interação entre os indivíduos e sua relação com a sociedade,
deixando de adotar, assim, a ideia de sociedade como um sistema estruturado, onde cada
subsistema é definido por sua função.
Ainda que parta da mesma ideia de construção social da realidade, que desenvolveu
em conjunto com Berger, Luckmann fará novos aportes teóricos à problemática e, com
isso, possibilitará mais um estágio de compreensão do fenômeno. Segundo Luckmann,
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incipientes da pesquisa em curso, os quais por ora permitem apontar para uma
compreensão do fenômeno religioso enquanto experiência socioantropológica. O caminho
a ser traçado agora é o de aprofundamento de tais exames, por meio tanto da releitura
crítica dos autores e obras aqui citados, quanto da visitação de novas fontes, que poderão
complementar o esforço investigativo e especulativo em curso nesse primeiro momento
da pesquisa.
Nesse ponto, chama a atenção um trecho específico do pensamento de Luckmann
(2004, p. 70), o qual revela a epistemologia fenomenológica de seu pensamento. Segundo
o autor,
Referido trecho chama atenção pela similitude que acaba vindo a ter com a ideia
de Edith Stein sobre o fenômeno jurídico, apresentada na reflexão de Márcio Ponzilacqua,
Angela Ales Bello e Cleiton Santana sobre o tema, na qual tais autores se debruçam sobre
as possibilidades de uma aproximação fenomenológica entre direito, religião e sociologia.
Valendo-se também das lições de Luisa Avitabile a respeito do pensamento de Stein, a
reflexão do trio de autores assume uma dimensão que parece ser convergente sobre o que
se tenta verberar no segundo momento (ainda por vir) da pesquisa em curso:
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5 CONCLUSÃO
A pesquisa cujos passos iniciais são aqui relatados busca perceber a possibilidade
de compreensão do direito como um fenômeno ontologicamente religioso. Os relatos aqui
elaborados ocupam-se de apresentar, comprimidas em forma de artigo, as impressões
iniciais do primeiro de dois momentos nos quais se divide a investigação. Tais impressões
partem da teoria sociológica clássica sobre religião, exposta sobretudo por Durkheim e
Weber, seguida por trabalhos de dois sociólogos mais modernos, Berger e Luckmann, que
retomam e dão contornos peculiares aos escritos de seus predecessores. Essas primeiras
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MAUSS, M. Ensaio sobre a dádiva. Em: Sociologia e Antropologia. São Paulo: Ubu,
2017.
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WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Cia das Letras,
2004.
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