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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

DAVID MARLON GIRON MARCILIANO

“Especial de Natal”- Porta dos Fundos: Análise sobre a religião e a


liberdade de expressão.

SÃO PAULO
2020
DAVID MARLON GIRON MARCILIANO

“Especial de Natal”- Porta dos Fundos: Análise sobre a religião e a


liberdade de expressão.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como exigência parcial para a obtenção de título
de Graduação do Curso de Direito da
Universidade São Judas Tadeu

Orientador: Prof.

SÃO PAULO
2020
DAVID MARLON GIRON MARCILIANO

“Especial de Natal”- Porta dos Fundos: Análise sobre a religião e a


liberdade de expressão.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como exigência parcial para a obtenção de título
de Graduação do Curso de Direito da
Universidade Anhembi Morumbi.

Aprovado em:

Prof Me.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

Prof Me.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

Prof Me.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
DEDICATÓRIA

A justificativa é a fase do projeto na qual o pesquisador irá expor quais


elementos dentro do binômio interesse/capacidade pessoal e social foram
decisivos na eleição do seu tema de estudo.

Evidentemente, o principal elemento a ser explicitado aqui é o interesse


social na solução do problema, pois será a partir dele que o orientador, irá
decidir se há ou não interesse institucional em se concretizar o projeto.

O pesquisador, nesta fase, deverá iniciar explicitando o "estado da


arte", ou seja, o atual estado das pesquisas científicas sobre o tema. É
importante que se faça uma revisão da literatura existente, comentando
sucintamente as principais obras que tratam direta ou indiretamente do tema
proposto.

Em seguida, necessário se faz demonstrar a relevância social do


problema, explicitando-se nesta fase o que já foi comentado anteriormente
quanto ao interesse social na resolução do problema.

EXEMPLO:

DEDICATÓRIA

Dedico este estudo a todas as mulheres, crianças, idosos, negros, nordestinos


que, por falta de Políticas Públicas de moradia, habitam em Áreas de
Preservação de Permanente, em condições insalubres, desumanas,
impróprias, inadequadas e sem dignidade.
Decido, também, as próximas gerações que poderão não encontrar um meio
ambiente adequado para se viver, por causa das ações humanas do passado e
do presente.
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais pelo apoio [...]

Em especial ao Dr. XXX pela paciência e dedicação ao longo das


orientações, de forma clara e objetiva.

Agradeço ainda aos colegas de classe A, B, C pelo apoio e amizade


[...]
RESUMO

...........................

Palavras-Chave: Direito Fundamental. Direito à moradia. Direito ao meio


ambiente. Antinomia. Prevalecer.
ABSTRACT

O presente estudo tem como finalidade analisar qual direito fundamental deve
prevalecer quando existe antinomia, principalmente quanto ao direito à moradia
e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, que são protegidos pela
Constituição Federal de 1988, mas reconhecidos como direitos humanos desde
o século XX. Para tanto, parte-se da breve verificação da formação jurídica dos
direitos fundamentais como direito humano, bem como do direito à moradia e
ao meio ambiente, com análise da evolução histórica destes direitos, incluindo
os princípios básicos formadores do direito ambiental atual. Adiante, aprofunda-
se no estudo do caso da represa Billings, mais especificamente do “braço”
Cocaia, como forma de exemplificar o conflito dos direitos fundamentais à
moradia e ao meio ambiente, antes, contudo, classificando a área como sendo
de preservação permanente. Ao final, destaca-se o conflito dos direitos,
ponderando-os, a partir do caso proposto para verificar, no plano teórico, qual
deve prevalecer, para resolver o problema existente na região.
Palavras-Chave: Direito Fundamental. Direito à moradia. Direito ao meio
ambiente. Antinomia. Prevalecer.

MUDAR
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................ 1
2 RELIGIÃO – ASPECTOS CONCEITUAIS E SUA ABORDAGEM
ESTATAL COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL...................................
2.1 CONCEITOS SOBRE A INTOLERANCIA
RELIGIOSA.....................................................................................
2.2 DOS DISPOSITIVOS CRIADOS PARA COMBATER A INTOLERANCIA
RELIGIOSA NO MUNDO E NO BRASIL

3 LIBERDADE DE EXPRESSÃO E SEUS CONCEITOS (TERMINAR)

MODOS DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO (ESCREVER)

LIMITES SOBRE A LIBERDADE DE EXPRESSÃO (ESCREVER)

4. ESPECIAL DE NATAL – “PORTA DOS FUNDOS”......................... ?

ESTUDO SOBRE O CASO – CONFLITOS SOBRE A LIBERDADE DE


EXPRESSÃO E A RELIGIÃO. (ESCREVER).
INTRODUÇÃO
2 RELIGIÃO – ASPECTOS CONCEITUAIS E SUA ABORDAGEM
ESTATAL COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL

Junto com a racionalidade, surgiu-se a religião, acompanhando o


homem desde o início de todas as civilizações. Historiadores pontuam que não
há nada mais antigo que a religião, antes mesmo de existir um Estado.

Conceitos como esses pontuam os motivos pelos quais a religião


é inserida na própria constituição como o direito de liberdade de crença,
estando totalmente ligado com conceitos históricos que defendem o direito do
exercício da fé.

Existem inúmeros conceitos sobre essa palavra, e para o


ordenamento jurídico é de extrema importância saber qual o real significado da
palavra “religião”. Essa palavra possui diversos significados, até mesmo nos
dicionários de língua portuguesa, e ainda sim, até hoje existem discussões de
qual é sua verdadeira origem.

Um dos conceitos mais conhecidos sobre religião é escrito por


Gaarder, Hellern e Notaker (2009):

Muitas pessoas tentam definir religião, buscando


uma fórmula que se adeque a todos os tipos de
crença e atividades religiosas – uma espécie de
mínimo denominador comum. Existem,
naturalmente, até um risco nessa tentativa, já que
ela parte do princípio de que as religiões podem ser
comparadas. Esse é um ponto em que nem todos os
crentes concordam: eles podem dizer, por exemplo,
que sua fé se distingue de todas as outras por ser a
única religião verdadeira, ao passo que todas as
outras não passam de ilusão, ou, na melhor das
hipóteses, são incompletas. (GAARDER; HELLERN;
NOTAKER, 2009, p. 19).
Os conceitos e definições sobre religião são de extrema importância,
pois as prerrogativas de templos religiosos têm em sua natureza benefícios
recebidos do Estado, como por exemplo, imunidade fiscal, não existindo a
cobrança de impostos, de acordo com o art. 150, III, "b", da CRFB/88.

Um exemplo nítido sobre a importância das definições sobre o


conceito religião se deu em um envolvimento com a maçonaria, onde o
Supremo Tribunal Federal decide sobre a inviabilidade de aplicação da
imunidade tributária sobre os templos maçônicos. Marco Aurélio destaca
pontualmente em um trecho de seu voto sua perspectiva sobre religião, e
dessa forma sobressaltando ainda sim um conceito:

Numa perspectiva menos rígida do conceito de


religião, certamente se consegue classificar a
maçonaria como uma corrente religiosa, que
contempla física e metafísica. São práticas
ritualísticas que somente podem ser adequadamente
compreendidas no interior de um conceito mais
abrangente de religiosidade. Há uma profissão de fé
em valores e princípios comuns, inclusive em uma
entidade de caráter sobrenatural capaz de explicar
fenômenos naturais –basta ter em conta a constante
referência ao “Grande arquiteto do Universo”, que se
aproxima da figura de um deus. Está presente,
portanto, a tríplice marca da religião: elevação
espiritual, profissão de fé e prática de virtudes.

Ora, há inequívocos elementos de religiosidade na


prática maçônica. No mais, atentem para a norma
constitucional: ela protege o culto. E este consiste
em rituais de elevação espiritual, propósitos
intrincados nas práticas maçônicas, que, se não
podem ser classificadas como genuína religião,
segundo a perspectiva das religiões tradicionais –e o
tema é controverso –, estão dentro do escopo
protetivo da Constituição de 1988.

Existem, na realidade, problemas com esses conceitos, não tendo


na prática uma definição correta, precisa e aceita. De certa forma, para alguns,
a definição sobre religião não passa de um jogo de palavras com definições
místicas, ou superstições. Enquanto para alguns, aquela definição é o foco de
toda sua vida.

De certa forma, não se tem como escrever um script de como


deve ser ou de como é a definição da religião. Na prática, costuma-se entender
no caso concreto, pois dessa forma, não se tem dúvidas. Nos tempos antigos,
em meados dos anos 50, o conceito sobre religião era usado para denotar
qualquer convicção moral ou sobre a natureza do universo, banalizando o uso
da palavra.

Em sumo, é importante destacar, que para todos os conceitos,


devem-se existir pilares básicos para esses conceitos serem validados:
adoração a um ser superior, uma reunião com sentimento devocional, sempre
por meio de cultos e um conjunto de princípios e dogmas.

Existem impasses e discussões sobre determinados grupos


religiosos (destacando que realmente são reconhecidos como religião, com os
seus pilares equiparados aos conceitos) que os seus princípios e seus dogmas
vão contra a constituição, os tornando inconstitucionais. Nesses casos, é
importante salientar, que mesmo a religião tendo a prerrogativa de crença,
embasada no artigo 5º da constituição, sendo um direito fundamental, ainda
sim é passível de restrições. O único segredo de um grupo religioso não ser
impedido de suas práticas religiosas, é não violar princípios fundamentais.

O Estado apenas interfere no direito ao culto se esse culto afetar


de forma direta ou indireta, ou em conflitar o bem de outrem. Mas há quem
questione a frase supracitada. Existem casos que segundo a ótica da religião,
não afeta moralmente o bem de terceiros, mas ainda sim, esse terceiro se
sente moralmente ofendido.
_
No Brasil, o direito a religião está embasada em dois pilares
constitucionais. Em primeiro lugar, o artigo 5º, inciso VI, da Constituição
Federal e o artigo 19, inciso I da Constituição Federal:

O artigo 5º, em seu sexto inciso, afirma que:


“Inciso VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma
da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.”

O artigo 19, afirma que:


Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-
lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes
relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a
colaboração de interesse público;

Esses dois artigos embasam que Brasil é um estado laico, o qual


mantém uma relação imparcial em sua esfera religiosa. Esse motivo é
ressaltado pela não proibição ao exercício de alguma religião, mas ainda sim,
há uma possibilidade de intervenção estatal quando existe o intuito prejudicial
ao bem comum.

A liberdade de crença é o direito que garante o brasileiro a ter a


opção de acreditar em qualquer religião que seja, dando a liberdade do cidadão
cultuar e exercer suas liturgias.

A constituição estabelece uma de suas metas e objetivos à


construção de uma sociedade solidária, que não existe preconceito de
nenhuma espécie, fazendo valer os valores constituídos, portanto, a religião
não pode ser de maneira alguma motivo de preconceito. Isso quer dizer, que
alguns atos, ainda que não venha a impedir a liberdade do exercício da crença,
podem se conflitar com o conceito “religião”, o qual é resguardado pelo
ordenamento jurídico em sua constituição e os demais dispositivos.

Existem dispositivos auxiliares que fazem valer as conclusões e


defesas sobre o direito fundamental a pratica religiosa. No Código Penal
Brasileiro há um capítulo dedicado a defesa religiosa. O seu capítulo I do título
V estabelece os “crimes contra o sentimento religioso”.

Mediante os dispositivos supracitados, não resta dúvidas que


atrapalhar a prática de um culto é um desrespeito à liberdade religiosa. Em seu
artigo 208 do Código Penal, o dispositivo trás de forma exemplificativa:
"escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa;
impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar
publicamente ato ou objeto de culto religioso".

Portanto, nos resta claro, que o direito a crença e a liberdade de


consciência estão tutelados pela Constituição Federal.

Todas as constituições abordaram conteúdos em que o Estado


pode ou deve se relacionar com a igreja em seu sentido amplo, até mesmo por
segurança de o Estado intervir mais do que deve, ou até mesmo do estado
perder a sua laicidade.

Segundo Miranda (2012), o Estado não deve e não pode ficar


inerte diante a religião e o fenômeno religioso. O Estado laico deve ser
totalmente neutro, abandonando qualquer dogma religioso para que não venha
a constranger outros cidadãos que optem por adotarem outras religiões, se
sentindo diminuídos por não seguirem a “religião oficial do Estado”.

Nesse caminho, Humberto Martins (2009) propõe 06 (seis)


princípios norteadores do Estado que buscam maior liberdade e igualdade
entre as religiões: 1) Princípio da Igualdade Religiosa Subjetiva, o qual impede
favorecimentos e benefícios à adoção de qualquer crença religiosa, bem como
proibição de outras religiões. 2) Princípio da Isonomia das Entidades
Religiosas, o qual busca a vedar o Estado a criar, proteger, estimular, financiar
e amparar qualquer comunidade religiosa. 3) Princípio da Separação
Institucional, o qual busca a separação do Estado e a organismos religiosos
nas questões financeiras e constitucionais. 4) Princípio da Aconfessionalidade,
o qual diz que é totalmente incompatível um Estado Democrático de Direito
com uma religião oficial. 5) Princípio da Colaboração, o qual princípio diz que
não deve se atentar a benfeitorias do Estado para com a igreja, e sim do
Estado para o bem comum e o interesse público. 6) Princípio da Tolerância, o
qual pelo próprio nome nos dá um norte, o próprio estado atuando no respeito
à multipluralidade de religiões.

Ainda sim, existem problemas que ocorrem na prática.


Infelizmente, o Brasil encontra impasses para a satisfação de um Estado laico.
Ocorrem, naturalmente, intromissões do Estado em assuntos religiosos, que
fazem a letra da lei se tornar nula ou morta, pois não cumpre os dispositivos
constituídos em lei. Dessa forma, conclui-se que o Estado não pode e não deve
se omitir quando há fenômenos sociais de grande relevância, pois deve atuar
como o defensor para que haja respeito sobre todas as vertentes religiosas,
devendo se guiar pelo princípio da isonomia sobre todos os grupos religiosos,
impedindo a coação para a adoção de uma determinada religião “privilegiada”.

2.1 CONCEITOS SOBRE INTOLERANCIA E A TOLERANCIA RELIGIOSA

Segundo Dallari (2009), a intolerância religiosa é compreendida


como uma característica do século presente. Os motivos não são surpresas,
mas são fatos cotidianos, de fácil percepção: razões econômicas, sociais e
políticas. Esses motivos culminam em sociedades com extremo grau
competitivo, sendo totalmente materialista. O resultado dessa fusão entre a
competição entre o materialismo é o sepultamento a solidariedade da
sociedade, a qual estimula o individualismo. Nesse impasse, a intolerância
surge, fazendo com que os que pensam diferente, sejam considerados até
mesmo inferiores.

Esse individualismo, que dita que algo somente é bom quando


convém, e que quando causa algum prejuízo é algo ruim, está totalmente
ligado ao egoísmo humano, gerando situações de intolerância. O maior
problema do egoísmo é o caráter de superioridade que ele carrega em sua
própria essência, aonde conclusões preconceituosas são geradas em
situações de conflito, fazendo com que o diferente seja motivo de zombaria.

Para se caracterizar de fato a intolerância religiosa, deve haver a


negação da tolerância, o que é considerado uma não aceitação do diferente,
resultando agressões físicas ou agressões psicológicas, sendo verbais e
gestuais. Marcelo Gustavo Souza (2006) 1 conclui que “intolerância se constrói
como uma demonstração de um fracasso moral, um fenômeno de não
aceitação de opiniões e identidades diferentes daquela que é própria ao
indivíduo.”

É perceptível que o termo tolerância pode ser confundido com


aceitação, o que não deveria, pelo simples fato de respeitar ou tolerar não
significar a aceitação como uma crença verdadeira. O melhor dos cenários
sobre a tolerância religiosa seria que cultos diferentes, ainda que preguem e
defendem suas verdades, conviverem entre si, tendo como obrigação a defesa
comum sobre a tolerância.

Existe ainda uma advertência quanto à tolerância boa e a


intolerância ruim. Segundo as considerações de Noberto Bobbio, o que
Cardoso (2003) igualmente destaca:

1
SOUZA, Marcelo Gustavo Andrade de; Tolerar é pouco? Por uma filosofia da Educação a partir do
conceito de tolerância. Tese de Doutorado -Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006, p. 132.
Existem a tolerância e a intolerância boas e a tolerância e a
intolerância ruins. Elas formam pares opostos de valores de
forma cruzada, ou seja, a tolerância boa opõe-se à intolerância
ruim e a intolerância boa opõe-se à tolerância ruim. Vejamos.
Quando defendemos os valores da liberdade, respeito às
diferenças culturais e convivência pacífica, estamos nos
referindo à tolerância em sentido positivo e rejeitando atitudes
de preconceito e de todas as formas de exclusão do diferente
que constituem a intolerância em sentido negativo. Por sua vez,
a tolerância negativa veicula sentidos de indiferença diante do
outro, condescendência ante o erro, indulgência com a
opressão, tudo em nome de uma tranquilidade de vida
descompromissada. A denúncia desta e a sua oposição
significam defender a intolerância em sentido positivo: aquela
que revela a firmeza nos princípios, isto é, que defende a justa
exclusão de tudo aquilo que provoca opressão e
desigualdades sociais. (CARDOSO, 2003, p. 164-65).

Portanto, conclui-se que não adianta tolerar o bem e tolerar o mal


ao mesmo tempo. Deve tolerar o bem e refutar a “má tolerância”, não
permitindo que as pessoas fiquem inertes quando houver indiferenças nítidas.
Segundo Jacques Le Goff (1997), a tolerância não é algo natural. Para tolerar,
é necessário um esforço interno, e que esse esforço se torne uma disciplina. A
prática da tolerância leva a conquista de um estado pleno.

2.2 DOS DISPOSITIVOS CRIADOS PARA COMBATER A INTOLERANCIA


RELIGIOSA

Inicialmente, os conceitos sobre tolerância e intolerância foram


criados para o viés religioso. Com o passar do tempo, esses conceitos foram
sendo ampliados, englobando assuntos como etnia, política e cultura. Por esse
motivo, no ano de 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual decreta a liberdade
religiosa:
Todo homem tem direito a liberdade de pensamento,
consciência e religião, esse direito inclui a liberdade de mudar
de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião
ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela
observância, isolada ou coletivamente, em público ou em
particular.2

Após esse fato, desencadeou uma série de declarações e


tratados internacionais e nacionais acerca dos assuntos supracitados. A ONU
criou a “Declaração Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e
Discriminação Fundadas na Religião ou nas Convicções Religiosas” em 1981 e
logo após criou a “Declaração Sobre os Direitos das Pessoas Pertencentes a
Minorias Nacionais ou Étnicas, Religiosas e Linguísticas” em 1992. E em 1995,
a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) estabelece a Declaração de Princípios sobre a Tolerância.

No Brasil não foi diferente. Pelo fato do direito de religião ser


considerado um direito fundamental protegido e pela constituição, foi-se
necessário à criação de uma Comissão de Combate à Intolerância Religiosa
(CCIR), a qual foi criada para combater e proteger as vítimas de intolerância,
disponibilizando canais de comunicações para as denúncias. Essa comissão é
formada por instituições de Defesa dos Direitos Humanos e também por
religiosos de diversas religiões, já que a população brasileira é divida em mais
de 50 religiões diferentes, segundo o IBGE.

A CCIR não possui fins lucrativos, tendo como seu principal


objetivo um suporte acerca dos movimentos religiosos e eventos que buscam a
conscientização social. Atuam de maneira indireta e direta nos casos de
vítimas de intolerância religiosa, garantindo seus direitos. Além disso, lançou
um Guia de Combate à Intolerância Religiosa o qual foi distribuído em todo o
Brasil, com o tema central “O direito de crianças e adolescentes à liberdade de
consciência religiosa”.

Antes desse fato, mas não menos importante, foi a disponibilização


de uma cartilha sobre a relação entre a Diversidade Religiosa e Direitos
2
<http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm>. Acesso em:
outubro. 2020
Humanos, a qual foi escrita por José Rezende Jr. e editada pela SEDH/PR
(Secretaria de Estado de Direitos Humanos da Presidência da República)
publicada em 2003 e disponibilizada a todo o Brasil em 2004. Outra cartilha
disponibilizada, a qual repercutiu nas mídias por conseguir atingir o brasileiro
médio pela sua simplicidade e objetividade, é a disponibilizada pela Defensoria
Pública do Estado de São Paulo, a qual elucida os conceitos sobre religião e
quais medidas protetivas o cidadão pode tomar. Todos esses materiais nos
afirmam que a intolerância contraria a Declaração Universal dos Direitos
Humanos e a Constituição Brasileira, considerada como a Lei Maior.

LIBERDADE DE EXPRESSÃO E SEUS CONCEITOS


Para De Plácido e Silva, o sentido jurídico da liberdade é:

“... a faculdade ou o poder outorgado à pessoa para que possa


agir segundo sua própria determinação, respeitadas, no
entanto, as regras legais instituídas. A liberdade, pois, exprime
a faculdade de se fazer ou não fazer o que se quer, de pensar
como se entende, de ir e vir a qualquer atividade, tudo
conforme a livre determinação da pessoa, quando haja regra
proibitiva para a prática do ato ou não se institua princípio
restritivo ao exercício da atividade.”3

A liberdade, antes de qualquer definição jurídica, é entendida como


um exercício. No âmbito jurídico, ela possui diversas faces, como a liberdade
locomoção, liberdade de expressão e a supracitada liberdade da pratica
religiosa.

Dentre todas essas liberdades, a liberdade de expressão se


destaca no simples fato possibilitar a exteriorização do pensamento dos
indivíduos, estando totalmente ligado com a socialização e ambientalização de
todo ser humano, construindo um estado democrático que tem como base as
contraposições de ideias. Nesse sentido, José Afonso da Silva 4 diz:

“Trata-se da liberdade de o indivíduo adotar a atitude intelectual


de sua escolha: quer um pensamento íntimo, quer seja a
tomada de posição pública; liberdade de pensar e dizer o que
se crê verdadeiro.”

É importante destacar, que a liberdade de expressão possibilita


não tão somente o direito de se expressar, mas também a defende a
possibilidade de se calar.

O art. 5°, inciso IV, de nossa Carta Magna, nos trás que não o
“anônimo” não exerce a liberdade de expressão, conforme escrito: “é livre a
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Porém, existem
3
Silva, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 15 ed, p. 490.
4
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo. São Paulo: Malheiros,
2010.
situações que não necessariamente é vedado o anonimato. Conforme declara
o inciso XIV do mesmo artigo: “é assegurado a todos o acesso à informação e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.

É importante destacar que a liberdade de expressão foi explorada


pela Constituição Federal com diferentes conotações, mas que possuem o
mesmo valor. A liberdade de expressão foi abordada como: livre manifestação
do pensamento; livre expressão de atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação; liberdade de imprensa; liberdade de informação.

À luz de Paulo Branco5:

“Incluem-se na liberdade de expressão faculdades diversas,


como a de comunicação de pensamentos, de ideias, de
informações e de expressões não verbais (comportamentais,
musicais, por imagem etc). O grau de proteção que cada uma
dessas formas de se exprimir recebe costuma variar, mas, de
alguma forma, todas elas estão amparadas pela Lei Maior.”

A livre manifestação do pensamento é a maneira mais comum de


se distinguir a liberdade de expressão. O conceito é basicamente o mesmo
supracitado (nas palavras de José Afonso da Silva), sobre os juízos e valores
dos homens, o que faz com que o homem tenha a possibilidade de concordar,
discordar e criticar.

No tocante a manifestação por atividade intelectual, artística,


científica ou de comunicação, a qual está embasada no Art. 5º, inciso IX, o
qual diz ser livre a liberdade de expressão. Ou seja, é compreensível que esse
termo livre está ligado a não haver a censura prévia, não necessitando passar
por um crivo estatal dependendo de aprovação prévia para a manifestação ser
reproduzida, o que era totalmente comum na época da ditadura.

5
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira op. cit., p. 296-297
A grande diferença entre essas duas modalidades, se assim
podemos dizer, de liberdade de expressão, é que a manifestação do
pensamento busca a proteção das ideias e valores, enquanto a manifestação
por atividade intelectuais visam a eternizar e externalizar seus pensamentos
em produtos

Próximo passo abordar os = liberdade de imprensa; liberdade de informação.

? ESPECIAL DE NATAL – PORTA DOS FUNDOS


O “Porta dos Fundos” é um famoso canal de humor, reconhecido
nacional e internacionalmente pelas suas críticas e sátiras que tocam em
temas sensíveis da sociedade, como religião, racismo, política e
homossexualidade.

Desde o início do canal, que se deu em 2013, grande maioria dos


seus vídeos desde então, tem uma reflexão além do enredo, e uma crítica à
sociedade moderna em que se utiliza o humor com inteligência (ainda que
escrachado), utilizando de sátiras surreais que demonstram como nós nos
portamos em sociedade, ou como a sociedade enxerga determinados grupos, o
que faz o canal estar sempre envolvidos em polêmicas.

Seu primeiro filme lançado na plataforma Netflix foi no ano de 2018,


chamado “Se Beber não Ceie”, que se dava sua primeira “homenagem” em
filme para o Natal, e para os cristãos. Porém, essa “homenagem” não foi bem
quista, por ser tratar com ímpeto uma história deturpada sobre a bíblia a qual
os religiosos acreditam ser verdadeira em seus fatos narrados. Esse filme foi
um sucesso, ganhando até um “Emmy Internacional” no ano de 2019.

Após o ocorrido, no dia 3 de Dezembro de 2019, estreia-se o polêmico e


comentado filme: “A Primeira Tentação de Cristo”, sendo o segundo a ser
lançado na plataforma Netflix. O filme é interpretado pelos famosos
comediantes Gregório Duvivier, Fábio Portchat e Antônio Tablet com os
principais papéis.

As grandes discussões se deram pelo motivo da narrativa da


história do filme ser completamente incoerente com os preceitos bíblicos de
como os religiosos acreditam ser, fato que ocorreu sem seu primeiro filme e em
outros vídeos postados pela plataforma Youtube.

O filme conta a história de Jesus sendo homossexual tendo um caso


com o próprio diabo, Maria sendo uma adúltera e José sendo um homem que
foi traído por Maria.
Deste modo, alguns grupos da sociedade se sentiram totalmente
constrangidos e tocados pelos assuntos que foram abordados durante esses
anos. Houve um grande embate entre duas linhagens de pensamentos:
aqueles que defendiam o canal porta dos fundos, e aqueles que defendiam os
religiosos que se sentiam provocados pelo que estavam assistindo e até
mesmo pelo o que o canal de humor estava apresentando sobre aqueles
personagens, que para os religiosos não eram sinônimos de brincadeiras,
ainda mais em teor que modificavam e deturpavam totalmente as histórias.

De fato, tendo boa ou má repercussão, sendo um filme bom ou ruim


segundo as críticas dos grandes blogs de filmes, os filmes que estava na
plataforma da Netflix foram grande sucesso de discussões, o que levou a ter
um grande sucesso de visualizações e lucro.

Em entrevistas concedidas, o ator Gregório Dulvivier não se sente


nenhum pouco intimidado com as certas revoltas dos religiosos. Eles não
demonstram medo, sempre dotados de muitos argumentos e alfinetadas. Em
uma entrevista para a Globo, o ator Gregório Dulvivier, que interpreta Jesus no
filme “A Primeira Tentação de Cristo”, diz que não se sente pressionado com
baixos assinados com “apenas” dois milhões de assinaturas, visto que o Canal
Porta dos Fundos comportam 20 milhões de assinaturas.

Por esses e outros motivos, existe uma questão que está em pauta em
discussões sobre os direitos fundamentais: qual é o limite entre a liberdade e a
religião?

RESUMO
BÍBLIOGRAFIA

GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O Livro das


Religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 562.351. Rio
Grande do Sul. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?
docTP=TP&docID=3195619>.

BRASIL Supremo Tribunal Federal. STF suspende proibição de exibição de


especial de Natal do Porta dos Fundos. Supremo Tribunal Federal, Rio de
Janeiro, 09 de jan. de 2019.
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=434478>.
Acesso em: 27 de mai. de 2020.

BRITO, Carlos. MPF arquiva representações contra exibição do especial de


Natal do Porta dos Fundos.G1 Rio, Rio de Janeiro, 25de maio de 2020.
Disponível em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/05/25/mpf-
arquiva-representacoes-contra-exibicao-do-especial-de-natal-do-porta-dos-
fundos.ghtml >. Acesso em: 01de jun. de 2020.

TORRES, Fernanda Carolina. O direito fundamental à liberdade de expressão


e sua extensão. Senado–Revista da Informação Legislativa, Minas Gerais, dez.
de 2013. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/50/200/ril_v50_n200_p61.pdf/>.
Acesso em: 27de mai. de 2020.

VILICIC, Filipe. O Jesus gay do Porta dos Fundos condiz com o ideal da
criação da internet. Veja Abril, São Paulo, 28 de dez. de 2019. Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/blog/a-origem-dos-bytes/o-jesus-gay-do-porta-dos-
fundos-condiz-com-o-ideal-da-criacao-da-internet/>.

SOUZA, Marcelo Gustavo Andrade de; Tolerar é pouco? Por uma filosofia da
Educação a partir do conceito de tolerância. Tese de Doutorado -Departamento
de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro, 2006, p. 132.
Silva, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 15 ed, p.
490.

BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira op. cit., p. 296-297

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