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Agroecologia

Sumário
1 Introdução3
2 AGROECOLOGIA: HISTÓRICO E FUNDAMENTOS4
2.1 FUNDAMENTOS DA AGROECOLOGIA6
2.2 AGRICULTURA ORGÂNICA: DESDE A FERTILI-
ZAÇÃO8
2.2.1 Agricultura orgânica e ecologia: conceitos
principais9
2.2.2 MANEJO DE SOLO E ÁGUA14
2.3 SISTEMAS AGROFLORESTAIS17
3 PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UMA PROPRIE-
DADE RURAL AGROECOLÓGICA18
3.1 GESTÃO DE UMA PROPRIEDADE RURAL AGROE-
COLÓGICA20
3.1.1 Noções de planejamento orçamentário21
3.2 LEGISLAÇÃO AGRÍCOLA E AMBIENTAL21
3.2.1 Análise de impacto ambiental na propriedade
rural22
4 PROBLEMAS E SOLUÇÕES DA AGROECOLOGIA
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Resumo do curso24
Referências25
Módulo 1
Agroecologia

1 Introdução
A agroecologia diz respeito a uma perspectiva da agricultura norteada pelos princípios da eco-
logia que surge como contraponto ao modelo vigente de agricultura atual, que é intensiva, de
monocultura, mecanizada e química (FEIDEN, 2012). Para Wezel e colaboradores (2009), além
de ser uma área de estudo científico e inovações práticas para a utilização dos recursos natu-
rais de forma sustentável, regeneração de áreas degradadas e ampliação da biodiversidade,
a agroecologia também é um movimento social e político, que visa a igualdade na distribuição
de terras e alimentos.
Dessa forma, a primeira etapa deste curso é subdivida em três momentos. No primeiro mo-
mento, abordaremos o histórico e os fundamentos que norteiam a agroecologia e a agricultu-
ra orgânica, os sistemas agroflorestais e o manejo do solo e da água em agroecossistemas,
além de alguns princípios de ecologia. No segundo momento, discutiremos o planejamento e
gestão de uma propriedade rural agroecológica, desde a legislação ambiental e agrícola até
orçamento e a análise de impacto ambiental. O terceiro e último momento traz uma visão ge-
ral do assunto, destacando problemas, soluções e ideias para o futuro.
2 AGROECOLOGIA:
HISTÓRICO E FUNDAMENTOS
A agricultura foi um marco revolucionário e definitivo na História, pois facilitou o consumo e a
produção de alimentos, modificando o ambiente e, também, o estilo de vida de vários povos e
de outras espécies (MAZOYER; ROUDART, 2010).

Atenção!

O desenvolvimento da agricultura e da pecuária e a transição do estilo de


vida nômade para o de moradia fixa se deu há cerca de 12 mil anos, aconteci-
mento chamado de “Revolução Neolítica” (MAZOYER; ROUDART, 2010).

Na Europa, durante a Revolução Industrial, começa a chamada “Primeira Revolução Agrícola”,


cuja característica principal é o surgimento de equipamentos e de maquinários para o uso
agrícola e a junção da pecuária e da lavoura, uma tendência que provoca a expansão da pro-
dução no mundo inteiro (FARIA, 2014).
Após a Segunda Guerra Mundial, a necessidade de reconstrução rápida e o aumento popula-
cional impulsionaram, ainda mais, a ideia de produzir grandes quantidades de alimentos no
mínimo de tempo possível. Dessa forma, nesse período, a “Revolução Verde” se caracteriza
pelos seguintes fatores: produção intensiva de produtos agrícolas e maior mecanização no
campo, uso de agrotóxicos, de adubos sintéticos e de sementes geneticamente selecionadas.
Anos mais tarde, durante os anos 1970, a “Terceira Revolução Agrícola” seria marcada pelo
surgimento e pela utilização dos transgênicos.

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FIGURA 1 – USO DE AGROTÓXICOS

FONTE: Pixabay (2021).

Segundo Assis (2012), muito do esforço de desenvolvimento foi em relação à produtividade


agrícola, que gerou avanços científicos e tecnológicos inegáveis. Contudo, muitas vezes, isso
aconteceu de forma irresponsável e inconsequente quanto às questões ambientais.
Feiden (2012, p. 51) complementa que

A aplicação dessa visão mecanicista e reducionista aos sistemas naturais e es-


pecialmente à agricultura, apesar de proporcionarem extraordinários ganhos
de produtividade, redução de preços e superávites na produção de alimentos,
produziram efeitos negativos, tais como degradação do solo, desperdício e uso
exagerado de água, poluição do ambiente, dependência de insumos externos e
perda da diversidade genética.

A partir dos anos 60, a conscientização sobre a preservação dos recursos naturais, a des-
truição ambiental e a desigualdade na distribuição de alimentos torna o sistema agrícola
vigente alvo de questionamentos e de demandas por mudanças para um modelo susten-
tável (FEIDEN, 2012). Esse movimento seguiu, também, para a área científica e tecnológi-
ca, exigindo transformações nos métodos e nos modelos de pesquisa, que precisariam dar
atenção para os impactos ambientais e sociais, o que tornaria necessária uma maior inte-
gração entre áreas de conhecimento diferentes. Nesse contexto, durante o fim dos anos 70,
a agroecologia ganhou força.

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2.1 FUNDAMENTOS DA AGROECOLOGIA
Como vimos, a agroecologia surge em um contexto de discussão sobre o modelo vigente de
produção e de divisão de alimentos com base em uma melhor relação com o meio ambiente,
com os recursos naturais e com as outras espécies. Assim, sugere-se uma nova perspectiva
conceitual e prática da agricultura, a qual soma a visão e os conhecimentos da ecologia com
os das ciências agrárias, além de integrar aspectos socioculturais a saberes econômicos. Po-
demos destacar, então, três aspectos principais da agroecologia:

I. como ciência, agrega conhecimentos de áreas variadas, com os objetivos de de-


senvolver e de implementar formas mais sustentáveis de agricultura e, também, de
auxiliar na transição do modo atual de produção agrícola para modos mais susten-
táveis. Altieri (1989) destaca que a agroecologia apresenta métodos e princípios pró-
prios para o estudo de seu objeto, o agroecossistema;
II. como aplicação de conceitos, de princípios e de fundamentos da ecologia no manejo
e no desenho de agroecossistemas sustentáveis (GLEISSMAN, 2000);
III. como movimento social e político que promove o desenvolvimento rural sustentável
face às crises ambiental, climática e social, oferecendo um contraponto ao modo de
consumo e de produção agrícola atual (GUZMÁN, 2012).

Na agroecologia, entende-se que os organismos – microrganismos, plantas, animais – e as


matérias fazem parte de uma estrutura complexa que funciona de forma cíclica e harmôni-
ca. A perspectiva da ecologia sugere um olhar mais amplo para a agricultura, utilizando os
conceitos e os saberes das dinâmicas do mundo natural para a melhoria das práticas agrí-
colas e para o norteamento do desenho e da gestão de agroecossistemas sustentáveis e do
desenvolvimento rural sustentável (GLIESSMAN, 2000; GUZMÁN, 2012). Assim, volta-se para
a otimização sustentável dos sistemas, não somente de um produto ou técnica, pois também
considera os sistemas culturais, sociais e econômicos.

Atenção!

O agroecossistema é a unidade fundamental de pesquisa da agroecologia,


em que os processos biológicos, os ciclos dos minerais, as transformações
energéticas, a parte produtiva e as relações culturais, sociais e econômicas
são estudados e compreendidos de forma integrada (GLIESSMAN, 2000).

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Os agroecossistemas mais sustentáveis são aqueles que se aproximam mais das caracterís-
ticas naturais do ecossistema em que se encontram. Assim, na agroecologia, os princípios
da ecologia dão suporte para uma abordagem integrada e sistêmica dos agroecossistemas,
com o objetivo de garantir as suas sustentabilidades. Gliessman (2000) salienta que, quanto
mais diversidade houver em um agroecossistema, menor será o investimento em insumos ex-
ternos, pois os organismos auxiliam na manutenção do equilíbrio e das condições favoráveis
para a produção, como o controle de pragas e a fertilidade do solo.
Outra ideia central da agroecologia é a da transição agroecológica, processo que visa à mu-
dança gradual das práticas e das formas de manejar um agroecossistema, passando de um
modelo agroquímico (que utiliza agrotóxicos e adubos sintéticos) para um que incorpore práti-
cas e tecnologias agroecológicas e sustentáveis (CAPORAL; COSTABEBER, 2004). Os autores
complementam que essa transição também é social e implica uma mudança de valores e de
atitudes em relação ao modo de produção e de consumo dos recursos naturais.
Considerando o que vimos até aqui e baseando-nos no trabalho de Gliessman (2010), podemos
apontar alguns pontos fundamentais da agroecologia e das agriculturas sustentáveis:

I. minimização dos efeitos negativos no meio ambiente, incluindo a liberação de subs-


tâncias tóxicas e poluentes no solo, nas águas (superficial ou subterrâneas) e na
atmosfera;
II. utilização de insumos e de recursos internos e renováveis do próprio agroecossiste-
ma e comunidades próximas;
III. diversificação e integração das atividades agrícolas do agroecossistema;
IV. manter, preservar, conservar e recompor o equilíbrio e a fertilidade do solo, evitando
a erosão;
V. preservação, recuperação e uso consciente dos recursos naturais, como a água;
VI. conservação, preservação e ampliação da biodiversidade, favorecendo as intera-
ções e os ciclos naturais;
VII. preservação e valorização das culturas agrícolas tradicionais que viabilizem a mini-
mização dos impactos ambientais;
VIII. garantir a produção de produtos para o mercado interno e local de forma igualitária
e, também, para o mercado externo;
IX. viabilizar o acesso à informação e ao conhecimento científico e tradicional de forma
igualitária e emancipatória;
X. trabalhar com o objetivo de promover a manutenção da produtividade a longo prazo.

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FIGURA 2 – AGRICULTURA ORGÂNICA

FONTE: Freepik (2021).

2.2 AGRICULTURA ORGÂNICA: DESDE A


FERTILIZAÇÃO
A agroecologia faz parte de uma tendência na sociedade que surge de uma maior preocupa-
ção com criar técnicas, práticas e métodos para uma agricultura sustentável. Nesse contex-
to, a agricultura orgânica também é composta de uma série de processos e de práticas de
produção, de processamento, de distribuição e de consumo de produtos agrícolas que visa à
sustentabilidade e à saúde dos organismos vivos e do meio ambiente (FONSECA et al, 2009).
Altieri (1989, p. 18) ressalta que a agricultura orgânica se volta a “trabalhar com e alimentar sis-
temas agrícolas complexos onde as interações ecológicas e sinergismos entre os componen-
tes biológicos criem, eles próprios, a fertilidade do solo, a produtividade e a proteção das cul-
turas.” Nesse sentido, respeita os ciclos e as especificidades do próprio ambiente e os explora
para a prática agrícola, sem a utilização de insumos externos, sintéticos e tóxicos. Nota-se,
então, que ambas as perspectivas têm semelhanças.
Assis e colaboradores (1998) afirmam que o termo “orgânica” tem origem na expressão “orga-
nismo”, pois os primeiros agricultores que utilizavam a expressão “agricultura orgânica” con-
sideravam que todas as atividades e partes de suas fazendas interagiam entre si, como as
partes de um grande organismo vivo. Assim, a base da agricultura orgânica é a de que a fer-
tilidade do solo se dá por meio da dinâmica natural dos organismos vivos e dos minerais, que
fazem a ciclagem dos nutrientes e aumentam a fertilidade do solo, produzindo o húmus (FON-
SECA et al., 2009).

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Nota

Húmus é o produto da decomposição de matéria orgânica feita por microrga-


nismos do solo, como bactérias, pelo sistema digestório das minhocas e por
fungos microscópicos e macroscópicos. É considerado um adubo completo,
pois é repleto de micronutrientes e de macronutrientes, além de ser natural
e auxiliar na retenção de água (FONSECA et al, 2009).

2.2.1 Agricultura orgânica e ecologia: conceitos


principais
A ecologia é o estudo das relações, diretas e indiretas, entre o ambiente e os organismos
vivos – ou seja, é uma ciência que estuda a biosfera e os seus sistemas naturais (ODUM; BAR-
RETT, 2007).
O principal fundamento da ecologia que baseia as agriculturas sustentáveis é o entendimento
de que a biosfera é organizada em níveis não hierárquicos que crescem em complexidade de
interações e de trocas de energia e de matéria (ODUM; BARRETT, 2007), como se observa no
Quadro 1.

QUADRO 1 – OS NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO ECOLÓGICA

Nível de organização
O que é?
ecológica

É o representante de uma espécie, como um abacaxi, uma tilápia


e um caranguejo. O estudo voltado aos indivíduos traz contribui-
Indivíduo ções sobre como os organismos se comportam frente a fatores
ambientais, que determinam as condições mais adequadas para
a sua sobrevivência.

É um conjunto de indivíduos da mesma espécie que vivem na


mesma região, como as tilápias que vivem em um lago, os ca-
ranguejos que vivem em uma parte do manguezal e uma plan-
População
tação de abacaxis. O estudo da ecologia de populações foca-se
em determinar fatores que influenciam o seu tamanho e o seu
crescimento.

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Nível de organização
O que é?
ecológica

É o conjunto de todas as populações que habitam uma região e


suas interações. Todos os habitantes de um lago, de um man-
gue, de uma reserva, de uma fazenda formam uma comunidade.
Comunidade
O foco dos estudos de comunidades está nas interações que
ocorrem entre as populações da mesma, que podem afetar a sua
distribuição e a sua abundância.

Um ecossistema é um sistema complexo composto tanto pelos


Ecossistema seres vivos como pelos fatores físicos e químicos (solo, luz, pres-
são atmosférica, umidade, temperatura etc.).

Biosfera É o conjunto de todos os ecossistemas do planeta Terra.

FONTE: Adaptado de Odum e Barrett (2007).

Como vimos, as interações entre os organismos influenciam o crescimento e o tamanho po-


pulacional. Essas relações podem ser harmônicas (não causam prejuízos para os envolvidos),
desarmônicas (causam prejuízos para os envolvidos), intraespecíficas (entre indivíduos da
mesma espécie) e interespecíficas (entre indivíduos de espécies diferentes):

•  mutualismo – é uma relação harmônica interespecífica obrigatória, pois existe de-


pendência entre os organismos envolvidos. Como exemplo, podemos citar os cupins
e os protozoários, que ajudam na digestão da celulose; as bactérias Rhizobium, que
fixam nitrogênio, e as raízes de plantas leguminosas; e os ruminantes e as bactérias,
que ajudam na digestão da celulose;
•  sociedade – é uma associação de indivíduos em cada um tem um papel claro para a
sua manutenção, caracterizando uma relação harmônica intraespecífica. Em algu-
mas espécies, os indivíduos apresentam diferenças morfológicas que condizem com
a sua função, como é o caso das abelhas, das formigas e dos cupins;
•  protocooperação – é uma relação harmônica interespecífica que não é obrigatória,
como acontece com pássaros que se alimentam dos parasitas do gado e com os ja-
carés e algumas espécies de pássaros, que se alimentam dos restos de carne de seus
dentes, limpando-os;

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FIGURA 3 – PROTOCOOPERAÇÃO

FONTE: Pixabay (2021).

•  predação – é uma relação desarmônica interespecífica entre os organismos consu-


midores (predadores) e os que são consumidos (presas). Essa relação pode alterar o
tamanho e a densidade de uma população. Os herbívoros, que se alimentam de plan-
tas, fazem um tipo de predação essencial aos ecossistemas, pois transferem a maté-
ria e a energia dos produtores aos outros níveis tróficos. A predação intraespecífica
é chamada de “canibalismo” e, geralmente, ocorre em situações extremas, como a
escassez de alimentos e de espaço;
•  parasitismo – é uma relação desarmônica interespecífica em que o parasita vive den-
tro ou sobre outro organismo, o hospedeiro. Há prejuízo para o hospedeiro, que têm
sua saúde nutricional e/ou física afetada. Contudo, em geral, não é vantajoso para o
parasita matar seu hospedeiro. Como exemplos, temos as pulgas, os piolhos, as tê-
nias e os pulgões;

FIGURA 4 – PULGÕES

FONTE: Pixabay (2021).

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•  amensalismo – ocorre quando um organismo, que pode ser da mesma espécie e de
espécie diferente, utiliza substâncias para inviabilizar o desenvolvimento de outro or-
ganismo. Os pinheiros e os eucaliptos são exemplos de organismos que secretam es-
sas substâncias;
•  competição – pode ser uma relação interespecífica ou intraespecífica. Nesse sen-
tido, pode ocorrer entre indivíduos da mesma espécie – por território, por alimen-
to, por parceiros para reprodução – e entre espécies diferentes de um mesmo nicho
ecológico.

FIGURA 5 – COMPETIÇÃO

FONTE: Pixabay (2021).

Nota

O nicho ecológico diz respeito ao papel funcional de uma espécie na comuni-


dade que vive – ou seja, quais interações têm com os indivíduos da sua popu-
lação e com as outras populações da comunidade (como se reproduz, do que
se alimenta, a quem alimenta etc.) (ODUM; BARRETT, 2007).

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Parte da energia de um organismo é consumida na manutenção das suas funções vitais e
irradiada como calor, enquanto outra parte é excretada (ODUM; BARRETT, 2007). Assim, a
energia luminosa do Sol e a matéria inorgânica entram no ecossistema e são convertidas
em matéria orgânica e em calor. Dessa forma, destacamos os seguintes conceitos relacio-
nados à cadeia alimentar:

I. produtores – são os organismos autótrofos, que “produzem seu próprio alimento” e


não dependem de outros organismos. Esses organismos usam a matéria simples do
meio para gerar matéria orgânica, sendo as portas principais de entrada de energia
e de matéria em um ecossistema (FEIDEN, 2012). Podemos citar, como exemplo, as
plantas, que, por intermédio da fotossíntese, utilizam a energia solar para converter
água e gás carbônico em glicose.
II. consumidores – também chamados de heterotróficos, são os demais indivíduos da
comunidade que dependem da biomassa produzida pelos produtores para atender
às suas necessidades energéticas e nutricionais (ODUM; BARRETT, 2007). Assim,
temos os consumidores primários, geralmente herbívoros ou frugívoros, que se ali-
mentam dos produtores, e os consumidores secundários, terciários e quaternários,
que são os predadores e se alimentam de outros consumidores;
III. decompositores – este grupo de organismos, geralmente composto por fungos e
por bactérias, é chamado de saprobionte, pois se alimenta de matéria morta, por
cuja decomposição são responsáveis (ODUM; BARRETT, 2007). Dessa forma, os indi-
víduos ocupam o último nível de transferência de energia em um ecossistema.

FIGURA 7 – DECOMPOSITORES

FONTE: Pixabay (2021).

Outro fenômeno essencial para a agroecologia é a “sucessão ecológica”, ou seja, quando uma
comunidade é substituída por outra, de forma gradual e ordenada, culminando em uma comu-
nidade clímax muito complexa (ODUM; BARRETT, 2007). Há dois tipos de sucessão ecológica:
a primária, que ocorre em locais que não estavam habitados; a secundária, em locais altera-
dos (desmatamento, queimadas, inundações, vulcanismo, glaciações etc.) habitados; e a des-
trutiva (ODUM; BARRETT, 2007).

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As etapas de uma sucessão ecológica primária são três:

I. comunidade inicial (ecésis) – os primeiros organismos que se estabelecem são cha-


mados de pioneiros e, geralmente, são fotossintetizantes. Esses organismos cos-
tumam ser resistentes, pouco exigentes e se reproduzem por meio da dispersão de
esporos e de sementes. Alguns, como os líquens, são importantes para a formação e
para a manutenção do solo, criando um ambiente fértil para outras espécies (ODUM;
BARRETT, 2007);
II. comunidade intermediária (sucessão) – instalam-se depois de os pioneiros terem
modificado o habitat. Esses organismos são mais exigentes, têm um ciclo de vida
mais longo e não são tão especializados. Geralmente, a vegetação é herbácea e ar-
bustiva, retendo mais umidade (ODUM; BARRETT, 2007);
III. comunidade final (clímax) – é o máximo de complexidade que uma comunidade con-
segue chegar para o habitat, sendo, assim, uma comunidade sensível a alterações
que podem, rapidamente, desencadear desequilíbrios. Essas comunidades são ca-
racterizadas por grande biodiversidade, por muitos nichos ecológicos, por muitas
cadeias alimentares, por desenvolvimento de um microclima e por espécies espe-
cializadas, gerando um ecossistema estável e em equilíbrio (ODUM; BARRETT, 2007).
A comunidade final, em uma sucessão secundária, pode não terminar como a que
estava antes do fenômeno que a alterou, sendo chamada de disclímax.

2.2.2 MANEJO DE SOLO E ÁGUA


Como vimos, a energia e a matéria orgânica fluem dos produtores para os consumidores e,
por fim, aos decompositores, que auxiliam na sua decomposição. Os produtos da decomposi-
ção servem de alimento para organismos macroscópicos e microscópicos do solo e, também,
para plantas, enquanto alguns compostos vão para a atmosfera. Essa trajetória cíclica dos
elementos químicos entre o meio e os organismos vivos é chamada de “ciclos biogeoquímicos”
(FEIDEN, 2012).

Atenção!

O solo é formado pela decomposição da matéria orgânica e mineral (rochas),


sendo esse processo feito por milhares de organismos diferentes que ali ha-
bitam, como bactérias, fungos, protozoários, minhocas, insetos, entre ou-
tros (FEIDEN, 2012). Esses processos de quebra e de decomposição liberam
macro e micronutrientes, que ficam disponíveis para as plantas e para os
animais. O autor afirma que a biodiversidade e a matéria orgânica decom-
posta no solo são o que lhe dão qualidade, tornando-o fértil, bem estruturado
e, consequentemente, produtivo por um longo tempo.

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O manejo do solo diz respeito às práticas e aos processos que serão realizados para gerar
condições favoráveis ao cultivo, desde a semeadura até o desenvolvimento e a colheita. Fei-
den (2012) aponta que, diferentemente dos ecossistemas naturais, nos agroecossistemas, há
saída de nutrientes, como sementes, carne, folhas e fibras, que não retornam para o solo.
Assim, é necessária a utilização de estratégias para a sua reposição, da forma mais natural e
mais independente de insumos externos que for possível.
Fonseca e colaboradores (2009) apontam três principais benefícios do manejo ecológico
dos solos:

I. aumento da capacidade do solo de armazenar nutrientes essenciais para o desen-


volvimento das plantas;
II. aumento da biodiversidade e, consequentemente, de organismos que auxiliam na ci-
clagem dos nutrientes e na sua absorção pelas plantas, como as bactérias fixadoras
de nitrogênio e as micorrizas – fungos que se associam com as raízes das plantas e
que ajudam na absorção de nutrientes;
III. aumento da capacidade do solo de absorver e armazenar água.

Algumas medidas podem ser adotadas para reduzir a dependência de fontes externas de ener-
gia, para aumentar a biodiversidade e auxiliar na manutenção e gestão do agroecossistema:

I. adubação orgânica – utiliza adubos feitos de matéria orgânica animal ou vegetal,


como farinhas, cascas, restos de vegetais e esterco, os quais podem ser feitos por
meio de compostagem. Para a obtenção desse tipo de adubo, alguns agricultores
integram a pecuária a suas atividades e/ou fazem uma adubação verde, utilizando
espécies não competitivas (INSTITUTO G., 2005);
II. alternância de capinas – para não deixar o solo totalmente exposto ao Sol e ao vento
e acelerar o desgaste e a erosão, escolhe-se capinar uma faixa, deixando a outra in-
tacta, intercalando o processo. Assim, o solo absorve e retêm mais água (INSTITUTO
G., 2005);
III. consórcio de cultivos – diz respeito à alternância de cultivos tanto no tempo quanto
no espaço (INSTITUTO G., 2005). Os autores complementam que essa técnica melho-
ra a qualidade do solo; aumenta a diversidade; faz o controle da erosão e das pragas;
e permite um melhor uso do solo, garantindo renda extra ao agricultor;
IV. cobertura morta – nesta prática, cobre-se o solo com material orgânico proveniente
de sobras de cultivo, de palhas, de cascas e de outras fontes (INSTITUTO G., 2005).
Além de ser uma forma de reutilizar restos de cultivo, também protege o solo, evita a
erosão e auxilia na diminuição de ervas daninhas.

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FIGURA 8 – COBERTURA MORTA

FONTE: Pixabay (2021).

V. mulching ou cobertura permanente – em vez de usar material orgânico, opta-se pela


utilização de plástico biodegradável. Geralmente, é empregado em climas quentes,
pois ameniza a perda de água pela evaporação, além de proteger o solo e os organis-
mos que vivem nele (INSTITUTO G., 2005);
VI. cultivo mínimo – visa à diminuição do preparo do solo e da utilização de maquinário
agrícola. Além de diminuir a poluição, ajuda na economia de dinheiro (o maquinário é
caro) e diminui a compactação e a degradação das partículas do solo (INSTITUTO G.,
2005);
VII. plantio em nível e terraceamento – são plantações feitas em terrenos inclinados, na
forma de curvas niveladas (INSTITUTO G., 2005). Este tipo de plantio auxilia no con-
trole da erosão e das enxurradas, além de ser uma forma de utilizar, de forma mais
eficiente, a água da chuva;
VIII. quebra-ventos – para a construção do quebra-ventos, é necessário saber o sentido
do vento e, então, plantar linhas de árvores (ou uma vegetação alta e resistente) para
formar uma barreira. Este tipo de prática, além de ajudar na maior diversidade e de
aumentar a matéria orgânica que poderá ser utilizada para adubo, também protege a
plantação e os animais e diminui a perda de umidade (INSTITUTO G., 2005).

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2.3 SISTEMAS AGROFLORESTAIS
Os sistemas agroflorestais (ou SAF) fazem parte das práticas de agricultura sustentável e são
compostos por cultivos agrícolas e/ou por criação de animais em conjunto com plantas – ge-
ralmente, espécies arbóreas e/ou arbustivas – e com os animais silvestres que integram uma
floresta nativa ou área de reflorestamento (STEENBOCK et al., 2013). Assim, nesse modelo, as
espécies nativas, sejam vegetais, sejam animais, interagem com as espécies de produção. As
SAF têm, como objetivo, recuperar a cobertura vegetal, arbustiva e arbórea, sendo utilizadas
espécies produtivas e silvestres e gerando diversos produtos em um mesmo espaço. Forma-
-se, assim, um sistema agroecológico integrado.
Righi (2015) aponta que os SAF são caracterizados por terem duas ou mais espécies, sendo,
pelo menos, uma espécie lenhosa perene; pelos ciclos de uso da terra serem longos, muitas
vezes maiores do que um ano; por gerarem mais de um produto; e por serem sistemas ecoló-
gicos, sociais e econômicos complexos. O autor aponta que os SAF podem ser classificados
tanto em relação à estrutura produtiva quanto em relação à sua estrutura funcional. Assim,
temos as estruturas produtivas divididas em três grupos: agrossilvicultural (lavoura e árvo-
res), silvipastoril (árvores e animais) e agrossilvipastoril (animais, lavoura e árvores).
Por sua vez, a estrutura funcional pode ser agroflorestal sequencial (há sucessão de plantas
temporárias, anuais e perenes com o cultivo); silvícola rotativa (aproveitamento de clareiras
e de espaços pós-pastagem para o cultivo); agroflorestal simultânea (consórcio de cultivos
junto com árvores); e sistemas complementares (são os quebra-ventos e as cercas vivas que
vimos anteriormente e que podem estar presentes nos outros dois tipos).

Importante

As SAF podem ser utilizadas para a recuperação de áreas de reserva legal e


de preservação permanente, como as beiras de rio, as nascentes e as áreas
inclinadas, pois auxiliam na regeneração e na conservação do solo, na am-
pliação da biodiversidade, na preservação dos recursos hídricos e na manu-
tenção e na autorregulação dos recursos naturais.

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3 PLANEJAMENTO E GESTÃO
DE UMA PROPRIEDADE
RURAL AGROECOLÓGICA
Não é surpresa afirmar que uma propriedade rural agroecológica necessita de extenso pla-
nejamento e uma gestão que considere vários aspectos, desde os naturais até os orçamen-
tários, afinal ela precisa ser sustentável, produtiva e rentável. É necessário o conhecimento
sobre o ecossistema local, seu histórico e seus recursos naturais e dos princípios da ecologia
que nortearão esse desenho e implementação de práticas para a sua gestão.
Gliessman (2000) considera que os seguintes princípios precisam ser abordados no planeja-
mento de agroecossistemas sustentáveis:

I. aumento da reciclagem da biomassa no agroecossistema, para, assim, otimizar a


disponibilidade e a ciclagem de nutrientes;
II. otimizar as condições do solo por intermédio do manejo da matéria orgânica
produzida;
III. ampliação da biodiversidade no agroecossistema, para otimizar a ciclagem de nu-
trientes e a sua autorregulação.

Para a transição ecológica de uma propriedade convencional para uma um agroecossistema


sustentável, o autor cita três fases principais (GLIESSMAN, 2000):

I. otimização das práticas convencionais, com objetivo de reduzir o consumo de in-


sumos externos, que, além de serem nocivos para o meio ambiente e para a saúde
humana, são caros;
II. substituição dos insumos e das práticas convencionais por modelos alternativos
e sustentáveis;
III. redelineamento do agroecossistema com base nos princípios e nos fundamentos da
ecologia, para que possa ser sustentável e independente.

18
Atenção!

Gliessman (2000) aponta que o último nível da transição buscaria resolver


problemas dos outros dois, sendo o nível mais complexo, já que exige conhe-
cimentos sobre o funcionamento do ecossistema local e a sua regeneração.

Assim, a implantação de um agroecossistema sustentável e o processo de transição ecológi-


ca necessitam de planejamento para o desenho, para a implementação, para a gestão e para
a avaliação das propriedades rurais. Afinal, é essencial haver um entendimento sistêmico das
relações ecológicas para que se possa aplicá-las.

FIGURA 9 – PLANEJAMENTO E DESENHO

FONTE: Freepik (2021).

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3.1 GESTÃO DE UMA PROPRIEDADE
RURAL AGROECOLÓGICA
Nesse contexto, a assistência técnica e extensão rural (ATER) é uma metodologia que reúne
técnicas para orientar a produção agrícola, desde o planejamento da propriedade, a sua ges-
tão e até a comercialização dos produtos. Segundo o Instituto Giramundo (2005), na perspec-
tiva da agroecologia, essa metodologia é norteada pelos princípios da ecologia e volta para a
independência e para a emancipação dos agricultores, tornando-os parte ativa do processo
de planejamento. Dessa forma, o técnico pode trabalhar com uma ou mais propriedades, até
mesmo com uma comunidade inteira, promovendo encontros para organização, para planeja-
mento e para avaliação dos planos traçados.
Souza (2015) indica alguns pontos que devem ser considerados na gestão de uma propriedade
rural agroecológica e na transição para uma:

I. identificar os componentes do agroecossistema – a casa da família, a pastagem, a


área de reserva, o galinheiro, a lagoa, os diferentes cultivos etc. É importante, tam-
bém, fazer o mesmo para a região ao redor da propriedade;
II. listar os problemas, procurando entender como, historicamente, foram causados,
com o objetivo de procurar soluções;
III. listar as alternativas que poderão ou ser implantadas ou substituir as já são utiliza-
das, considerando o local, o tempo e a sazonalidade de uso;
IV. atentar-se às leis e às legislações vigentes, para haver a preservação dos recursos
naturais e para garantir o seu uso;
V. criar um calendário sazonal para acompanhar os tempos de semeadura, de plantio,
de poda, de colheita, de acasalamento e de nascimento dos animais, dentre outras
especificidades.

Esses são somente alguns pontos principais que podem auxiliar o agricultor na gestão de sua
propriedade, pensando nos produtos, nas práticas de manejo e na entrada e na saída de insu-
mos, para que a propriedade seja produtiva, rentável e sustentável por um longo tempo.

20
3.1.1 Noções de planejamento orçamentário
Além dos pontos anteriores, Souza (2015) também ressalta a importância de manter o contro-
le sobre a parte orçamentária da propriedade, como os gastos, os ganhos e seus respectivos
números. Dessa forma, o autor faz algumas considerações:

I. identificar os insumos e os produtos que entram e saem de cada componente – por


exemplo, o esterco dos animais pode ser utilizado para adubo do cultivo de hortali-
ças e do pasto. Do pasto, por sua vez, saem o leite, a carne, o couro e outros produ-
tos, que são vendidos e/ou consumidos pela família;
II. acompanhar o fluxo de renda da propriedade (INSTITUTO G., 2005), sempre indican-
do o componente do agroecossistema de que saem e pelo qual entram recursos e o
consumo próprio, com detalhes sobre o tipo de renda e sobre o valor;
III. organizar as responsabilidades de trabalho de membros da família, de funcionários e
da comunidade do entorno. É importante destacar o tipo de serviço feito, para nor-
tear o planejamento dos componentes.

Assim, o planejamento orçamentário faz parte do planejamento geral da propriedade susten-


tável, além de sua gestão, afinal, ele é um processo constante e dinâmico, que considera tanto
a renda monetária como a não monetária, os gastos e as economias, pois a produção precisa
ser rentável para o agricultor e para a sua família.

3.2 LEGISLAÇÃO AGRÍCOLA E AMBIENTAL


O artigo 225 da Constituição Brasileira de 1988 define o meio ambiente como um bem de uso
comum do povo, pertencendo, assim, à coletividade de forma intergeracional, sendo incorpó-
reo e indivisível, essencial à qualidade de vida (BRASIL, [2016]). Dessa forma, todo cidadão, até
as futuras gerações, tem o direito a um meio ambiente saudável.
A política ambiental brasileira tem dois tipos de instrumentos: os regulatórios, do tipo coman-
do e controle, usados para a identificação de problemas, que estabelecem normas que, se
não forem cumpridas geram penalidades; e os de incentivo econômico, que procuram a liga-
ção entre o desenvolvimento e o meio ambiente, aumentando acesso a recursos e a tecnolo-
gias para a produção de renda (LEITE, 2015).

21
Importante

Podemos destacar algumas leis ambientais importantes, como a Políti-


ca Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81); as leis de Crimes Ambientais
(Lei 9.605/98); as leis sobre uso de Agrotóxicos (Lei 7.802/89) e de Recursos
Hídricos (Lei 9.433/97); a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (Lei
12.305/10); e a Política Agrícola (Lei 8.171/91).

Trovatto e colaboradores (2015) afirmam que um dos marcos da agroecologia foi a criação
da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo), que tem, como objetivo,
dar apoio e orientação a agricultores interessados em fazer a transição ecológica de suas
propriedades em quatro eixos: produção; uso e conservação dos recursos naturais; conheci-
mento e comercialização; e consumo.

3.2.1 Análise de impacto ambiental na propriedade


rural
Um dos instrumentos legais para uma análise de impacto ambiental é a “avaliação de impacto
ambiental” (AIA), cuja finalidade é considerar os impactos ambientais que possam ser cau-
sados por certos tipos de atividade antes que sejam realizadas e traçar soluções para a sua
mitigação (SÁNCHEZ, 2013). O autor complementa que, para isso, o AIA é composto por vá-
rias ações sequenciais, envolvendo vários profissionais e gerando, no fim, um documento que
servirá para orientar as formas de mitigação dos impactos que poderão ser ocasionados.
Sánchez (2013) ressalta que os AIA cobrem cinco questões centrais: a saúde, o acesso ao terri-
tório, a disponibilidade de recursos, a coesão social e o respeito aos valores. Assim, podemos
destacar, como seus objetivos principais, avaliar a viabilidade de projetos; estimar a intensi-
dade dos seus impactos ambientais; auxiliar na reformulação de planos e do desenvolvimento
de soluções e na orientação da gestão da sustentabilidade de projetos.

22
4 PROBLEMAS E SOLUÇÕES
DA AGROECOLOGIA
Como vimos, a agroecologia, como ciência, como prática e como movimento político-social,
é discutida desde meados dos anos 60, devido à preocupação crescente em relação ao modo
de consumo, de produção e de preservação dos recursos naturais. Nesse sentido, Assis (2012)
destaca que o modelo de agronegócio e de desenvolvimento rural atual é insustentável no
tempo, pois depende de recursos não renováveis, gerando, cada vez mais, perdas de recursos
naturais e de biodiversidade e aumento das diferenças socioeconômicas.
A agroecologia propõe uma agricultura que coexista com a natureza, enxergando o ser hu-
mano como parte do meio ambiente e como uma das espécies que depende do planeta. Isso
acarreta uma agricultura sustentável, pela qual os recursos e os limites dos ecossistemas são
respeitados e utilizados de forma racional e duradoura. Além disso, também tem, como um de
seus objetivos, o acesso igualitário a alimentos saudáveis, com o fortalecimento da agricultu-
ra familiar e da independência de insumos externos e tóxicos.
Para tal, seriam necessárias mudanças de hábitos em relação ao meio ambiente, às outras es-
pécies e aos recursos naturais. Uma agricultura sustentável exige mudanças na forma como
produzimos e consumimos os produtos agrícolas, além de políticas e de incentivos públicos
robustos que as viabilizem.

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Resumo do curso
Neste curso, você aprendeu que a agroecologia é uma proposta de agricultura sustentável
que se baseia nos fundamentos e nos princípios da ecologia, ciência que estuda as relações
dos seres vivos com o ambiente, com os objetivos de manter uma relação de coexistência com
o meio ambiente, o uso racional e sustentável dos recursos naturais, a independência de in-
sumos externos e tóxicos e o acesso igualitário a alimentos saudáveis. Assim, caracteriza-se
como uma área da ciência multidisciplinar e interdisciplinar, como um conjunto de práticas e
de técnicas e como um movimento político-social.
A transição ecológica e o planejamento de propriedades rurais agroecológicas se pautam
no entendimento do agroecossistema como uma série de sistemas interligados e interde-
pendentes. Dessa forma, são planejados métodos de manejo e de regeneração do solo, de
ampliação da biodiversidade e de melhor uso dos recursos hídricos. Esses procedimentos
encontram respaldo em políticas públicas e instrumentos legais, como a avaliação de im-
pactos ambientais.

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