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Revista de Biblioteconomia de Brasília, v. 21, n.2, p. 189-200, jul./dez.

1997

O uso da Internet na pesquisa universitária: o caso da UFRGS


Ida Regina Chitto Stumpf

O estudo verifica o uso que os pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) fazem da Internet, analisando as condições de acesso oferecidas aos docentes
pesquisadores, os recursos que eles utilizam da rede e sua influência na produção científica dos
docentes. Trata-se de pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa que utilizou um questionário
para coleta de dados, aplicado através de entrevista com professores das áreas de Ciências Exatas,
Biológicas e Humanas. Os resultados indicam que a Universidade ainda não oferece uma estrutura
totalmente adequada para uso dos investigadores. Entre os serviços mais utilizados destacam-se:
correio eletrônico, acesso a base de dados, grupos de discussão e as revistas eletrônicas. A
produtividade dos docentes ainda não foi afetada pelo uso da Internet.

Palavras-chave: Internet - pesquisa - universidade.

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a ciência e a aplicação do conhecimento que lhe é inerente se tornaram a
principal força de produção e componentes indispensáveis na elaboração de qualquer produto ou
prestação de serviço. O conhecimento científico é o saber que mais tem colaborado para o
desenvolvimento econômico e para a qualidade de vida da humanidade, constituindo-se, por isso
mesmo, no principal ponto de diferenciação entre países centrais e periféricos. Nas próximas
décadas, se o conhecimento gerado pela pesquisa não for compartilhado, a ciência acentuará ainda
mais as diferenças entre países ricos e países pobres.
O processo de criação do saber científico é realizado através da investigação científica que
avança e renova o saber existente. Para que a pesquisa seja realizada, um conjunto de atividades de
informação ocorre entre os cientistas, segundo um determinado fluxo, conhecidas pela denominação
geral de comunicação da ciência. A trajetória destas atividades inicia na busca de informações sobre
o estado da arte do conhecimento em questão, obtida através da consulta à literatura; continua
durante o desenvolvimento da pesquisa, onde são incentivadas todas as formas de contato
interpessoal entre os pesquisadores, quando a informação vai sendo trabalhada; e, finalmente,
conclui com a divulgação dos resultados da investigação, através da publicação, para integrar o
corpo de conhecimentos da ciência.
Estas atividades de informação ligadas à pesquisa, assim como outras atividades humanas do
mundo atual, se viram afetadas pelo ingresso do computador na vida moderna, e nos últimos
tempos, pelo uso das redes de computação. Nas atividades de informação, o computador veio
dinamizar tanto a busca de informações através da automação das bases de dados bibliográficas,
acessadas on e off-line, quanto o processamento de dados e informações, a produção de textos e a
editoração eletrônica que tornaram mais rápidas as etapas da pesquisa e mais barata a montagem
das publicações.
Quando, no entanto, o computador passou a ser utilizado não só como dispositivo de
processamento de dados, mas também como dispositivo de comunicação, através das redes
eletrônicas, o mundo se tornou menor e muitos procedimentos foram ainda mais modificados. A
instantaneidade das comunicações, a ampliação dos espaços para acesso à informação e a
substituição do real e do concreto das publicações em papel pela virtualidade das publicações
eletrônicas divulgadas no ciberespaço, são algumas das mudanças que afetaram as atividades de
informação ligadas à pesquisa.
Em 1976, Lancaster apresentou um polêmico trabalho a respeito de um sistema de
comunicações sem papel, concluindo que uma nova sociedade estava surgindo rapidamente, com ou
sem a aprovação dos profissionais de informação. Embora não tenha sido o primeiro a prever tal
futuro, muita gente não levou a sério suas previsões. Dizia ele, também, que era o momento das
organizações responsáveis estudarem as implicações que as mudanças tecnológicas estavam
trazendo para as profissões em geral e para os cientistas em particular, como produtor e usuário da
informação. Suas previsões para o ano 2000 eram de que através de terminais on-line, os cientistas
coletariam informações, escreveriam artigos, criariam arquivos, acessariam bases de dados e
conversariam com colegas. Este tempo já chegou e, hoje, com o uso da Internet, todas estas
atividades, e outras mais, são passíveis de serem realizadas pelos pesquisadores.
Mesmo sabendo que as modificações institucionais na área tecnológica ocorrem com muita
rapidez e os dados se desatualizam, é hora de estudarmos o uso da Internet pelos pesquisadores.
No Brasil, onde 90% da pesquisa básica e aplicada é realizada nas universidades, estudar a
influência que a rede maior está tendo na pesquisa é, ainda, de utilidade, para que as instituições
universitárias planejem ações que insiram cada vez mais o mundo acadêmico na era da
comunicação eletrônica e no mundo da informação virtual.

2 ESTUDOS ANTERIORES

A influência da Internet no mundo da ciência começa a ser estudada em diferentes países,


embora sejam poucos os resultados de estudos já divulgados. Em estudo publicado no Journal of
American Society for Information Science (JASIS), em junho deste ano, Lazinger e outros (1997)
fazem referências a dezoito trabalhos sobre o uso da Internet pela sociedade em geral,
surpreendendo-se com o pouco número de trabalhos referentes ao ambiente universitário. Alguns
destes trabalhos encontrados pelos autores se constituem em artigos publicados em revistas
americanas, e outros são teses e dissertações ainda não reformatados para a divulgação pública
através dos periódicos. Consultamos alguns deles que foram importantes para o planejamento desta
pesquisa.
No Brasil, são poucos os estudos já concluídos, estando muitos deles em andamento. A maioria
se dedica a estudar o uso da Internet por comunidades específicas, ligadas a determinadas
instituições. Estes trabalhos são, geralmente, teses ou dissertações, feitos para obtenção de um
título acadêmico, cujos resultados talvez não cheguem ao nível de publicação formal.
Iniciamos nossa revisão de estudos anteriores pelo trabalho de Brown (1994) que examinou o
aumento do uso da Internet no mundo. Através de estatísticas e de exemplos do desenvolvimento de
alguns países, o autor conclui que a rede ainda não é tão global quanto se gostaria, ou quanto se
necessitaria que fosse para compartilhar conhecimentos. Segundo o autor, é pequeno o número de
países e de bibliotecas que utilizam os recursos da Internet com intensidade, e os que utilizam se
concentram nos países desenvolvidos. Conclui dizendo que o uso da Internet pode consumir muito
tempo das pessoas, mas o retorno é recompensado pelos benefícios que eles obtêm. Entre os
estudos dedicados à comunidade acadêmica, consultamos o de Lazinger e outros (1997), Abels e
outros (1996), Bane & Milheim (1996) e o de Adams & Bonk (1995). Lazinger e outros (1997) se
propôs a examinar o uso da Internet entre vários setores da Universidade Hebraica de Jerusalém,
para verificar a influência de algumas variáveis nesse uso. O estudo foi quantitativo e distribuiu quase
1000 questionários entre a comunidade acadêmica, constituída por professores e profissionais da
instituição. Dividiu os respondentes em dois grandes grupos: o de ciências exatas e agrárias, e o de
ciências humanas e sociais. Verificou que o correio eletrônico, para correspondência entre colegas, é
o serviço mais utilizado pelos dois grupos. Os demais serviços, como transferência de arquivos e
grupos de discussão, são mais utilizados pelo primeiro grupo do que pelo grupo das ciências
humanas e sociais. Também pertencem ao grupo das exatas e agrárias os participantes que, em sua

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maioria, aprenderam a utilizar a Internet sem a ajuda de cursos. Revelaram, contudo, que estariam
interessados em ter um treinamento formal para usar a rede mais adequadamente, inclusive para
saber mais sobre protocolos mais avançados (gopher, www, entre outros). Os autores concluíram,
também, que a conectividade é maior no primeiro grupo, sugerindo que este assunto seja investigado
com mais profundidade, pois supõem que isto ocorre porque o grupo das ciências exatas e agrárias
tem melhor acesso à Internet, entendendo-se com isto melhor infra-estrutura de computadores e de
conexão em suas próprias salas de trabalho.Outra sugestão dos autores é de que os bibliotecários
deveriam prover seus usuários com cursos sobre os uso da Internet, pondo em prática sua função
educadora.
Outro trabalho relativo ao uso da Internet pela comunidade acadêmica foi publicado por Abels;
Liebscher; Denman (1996) que exploraram os fatores que influenciam a adoção e o uso de redes
eletrônicas e serviços em rede, em faculdades de ciências e engenharia, em pequenas
universidades. O envio do instrumento de coleta de dados foi por correio, permitindo incluir os não-
usuários de computadores e de Internet num mesmo estudo. O retorno foi de 216 questionários,
equivalente à 59% dos instrumentos enviados. O trabalho concluiu que os fatores que influenciam a
aceitação do uso de redes são diferentes daqueles que influem na intensidade do uso das redes e do
número de serviços usados. Por isso, as instituições precisam implementar ações diferentes para
cada um atingir seus fins. Para o primeiro, melhorar o acesso físico é o fator determinante, enquanto
o segundo necessita a expansão de um programa de treinamento para melhorar o uso.
Bane & Milheim (1996) também estudaram o uso da rede no meio universitário norte-americano.
O instrumento de coleta de dados foi enviado por correio e validou 1536 respostas. Os autores
concluíram que a Internet traz benefícios aos professores universitários, especialmente àqueles que
têm experiência com computador, devido à possibilidade de comunicação entre eles e seus pares,
via correio eletrônico e grupos de discussão. Consideram que a Internet tem vantagens sobre outros
recursos de informação e comunicação por ser mais rápida, facilmente acessível, mundial e
interativa. Como desvantagem, apontam a necessidade de conhecimento especializado para usar
adequadamente seus recursos e a dificuldade de utilização quando “o tráfego está pesado”.
Perceberam, ainda, como problemas o fato de que nem todas as pessoas têm acesso à rede e que
os custos de equipamento são altos para algumas universidades. Apesar disso, prevêem que a rede
crescerá mais a cada dia, especialmente no meio acadêmico.
Ainda em relação ao ambiente universitário, Adams & Bonk (1995) realizaram uma sondagem
sobre o uso de fontes de informação eletrônica relacionado aos serviços bibliotecários. Os resultados
revelaram que o maior obstáculo no uso deste tipo de informação é a falta de conhecimento dos
recursos que a rede propicia, e concluem que o treinamento deve ser considerado prioridade pelas
universidades.
A comunidade de engenheiros aeroespaciais americanos foi estudada por Bishop (1994). Entre
suas descobertas, o autor cita que o uso da rede é limitado por falta de experiência com a
comunicação eletrônica. São, novamente, o correio eletrônico e a transferência de arquivos os
serviços mais utilizados e seu impacto parece ter sido positivo entre os respondentes que apontam
ganhos de maior eficiência, eficácia e satisfação no trabalho, como produtos do uso da rede entre
eles. Mas os respondentes citam, também, problemas como a deficiência das conexões e a falta de
segurança no envio das mensagens como os maiores problemas com que se deparam.
Os profissionais da informação estão entre os grupos mais estudados quanto ao uso das
facilidades propiciadas pela Internet. Para estudar o serviço de grupos de discussão entre os
bibliotecários, Kovais e outros (1995) realizaram um estudo qualitativo, enviando quase 10.000
questionários. O retorno foi de apenas 5,96% de respostas, mas concluiu que esses profissionais
usam os fóruns de discussão como fonte de informação profissional e pessoal, sendo que para
muitos deles os grupos de discussão substituem as fontes tradicionais, especialmente telefone e

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correio postal. Os autores finalizam dizendo que as comunidades da Internet são uma área fértil para
pesquisa sobre o comportamento de busca de informação.
Entre os estudos brasileiros, tivemos acesso ao de Henning (1994), que em sua dissertação de
mestrado, na UFRJ, estudou a implantação da Internet no Brasil. Resgatando o histórico da rede, a
autora informa que o acesso das universidades e instituições de pesquisa é possibilitado pela RNP -
Rede Nacional de Pesquisa - que visa implantar uma rede acadêmica de computadores interligados,
para fins não comerciais, de apoio à pesquisa e educação. A RNP se constitui o backbone das redes
brasileiras, sendo, portanto, a porção brasileira da Internet. De acordo com seus objetivos, a rede
visa beneficiar as atividades de pesquisa de seus membros, todos eles ligados a alguma entidade de
ensino ou pesquisa.
Os demais estudos brasileiros ainda não estão disponíveis na literatura convencional, mas sabe-
se que um aluno de mestrado, da mesma Universidade, está investigando o uso da rede entre os
pesquisadores mais produtivos daquela instituição.
Apesar dos estudos apresentados se diferenciarem em relação aos grupos estudados, objetivos
a serem perseguidos e metodologias adotadas, eles serviram de base para o planejamento do
estudo que realizamos e que será agora descrito.

3 ESTE ESTUDO

Realizamos um estudo sobre o uso da Internet entre pesquisadores da Universidade Federal do


Rio Grande do Sul (UFRGS), que é uma das maiores universidades públicas federais do Brasil,
tendo por volta de 2.200 professores, 27.200 alunos, 53 cursos de graduação, 57 cursos de
mestrado e 38 de doutorado. O estudo foi realizado porque a linha de pesquisa que desenvolvemos
no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação, intitulada Informação e Novas
Tecnologias, carecia de conhecimentos sobre o tema. Optamos por desenvolver um estudo
exploratório, com abordagem qualitativa que aprofundou o assunto, sem a preocupação de atingir um
percentual significativo de respondentes.
Para que a pesquisa atingisse as várias áreas da Universidade, dividimos a coleta de dados em
três segmentos: Ciências Exatas (Física, Geociências, Química, etc.), Ciências Biomédicas
(Medicina, Farmácia, Biologia, etc.) e Ciências Sociais e Humanas (Sociologia, Comunicação e
Letras). Para serem entrevistados, escolhemos 10 professores pesquisadores de cada área, todos
doutores e que atuam em regime de dedicação exclusiva na instituição. A entrevista foi realizada por
três alunos bolsistas de iniciação científica, do curso de graduação em Biblioteconomia, que apesar
de atuarem em outros projetos se propuseram a colaborar porque se entusiasmaram pela
atualização do tema. Os alunos foram orientados quanto à técnica de obtenção e registro de
informações. Foram utilizadas duas semanas para a coleta de dados, com entrevistas previamente
marcadas que duraram em média uma hora e meia. Ao final deste período foi feita uma reunião de
avaliação das informações obtidas e chegou-se à conclusão que o número de entrevistados tinha
sido suficiente, uma vez que as informações começavam a se repetir.
A entrevista constou de 20 perguntas, agrupadas em seis grandes itens, a saber: uso do
computador, acesso à Internet, uso do correio eletrônico, publicações eletrônicas, influência na
produtividade e uso de outros serviços, além de um espaço relativo a dados sobre o pesquisador. O
instrumento foi validado por três docentes, professores de Metodologia da Pesquisa e de
Tecnologias da Informação.

4 OS RESULTADOS

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Apresentamos os resultados e sua discussão, de acordo com os grandes itens da entrevista,
indicando algumas diferenças encontradas nas três áreas do conhecimento em que a pesquisa
dividiu os entrevistados.
A situação encontrada em relação ao uso do computador revelou que, nas três áreas, a maior
parte dos pesquisadores divide o equipamento que utiliza na Universidade com outros colegas e
alunos bolsistas. São poucos os que possuem um micro apenas para seu uso pessoal. Isto indica
que os computadores, na instituição, são recursos compartilhados.
Houve uma mudança na UFRGS, nos últimos anos, em relação ao número de computadores que
a Universidade dispõe: novos equipamentos chegam a cada semana, tanto para a área de ensino e
pesquisa quanto para a área administrativa. O setor de patrimônio não dispõe dos dados numéricos
globais, necessitando realizar uma busca por unidade universitária para fornecer estes dados. Cada
unidade tem um ou mais servidores, todos eles ligados à rede da UFRGS, possibilitando com isto
acesso à Internet. Mas nem todos os computadores estão ligados a um servidor, por falta de linha
telefônica ou mesmo de interesse do usuário em solicitar tal recurso.
Quanto à localização do(s) computador(es) utilizado(s) pelos pesquisadores, a maioria o(s) tem
instalado(s) na sua sala (individual ou compartilhada) ou laboratório. Mas, para usar a Internet,
muitas vezes eles têm que se deslocar até outros setores da unidade, geralmente à biblioteca. Isto
dificulta o uso, porque os docentes têm que dividir o equipamento e o tempo com outros usuários. A
Universidade permite, também, a ligação dos computadores domiciliares dos professores com a sua
rede. Esta facilidade, no entanto, é afetada pelo número de linhas telefônicas disponíveis. A conexão
com a rede da UFRGS, nas horas de trabalho, é quase impossível de ser concretizada, tanto de
dentro da Universidade quanto das residências dos professores, e se constitui o maior entrave físico
para o uso da rede. Em alguns setores da Universidade, que dispõem de ligação através de fibra
ótica, esta conexão é mais fácil e permite uma ligação quase instantânea. Alguns docentes preferem
utilizar um servidor comercial, em sua residência.
Em relação ao uso dos serviços propiciados pela Internet, o correio eletrônico é o de maior uso.
Quanto à freqüência de uso deste serviço, os entrevistados se diferenciam. Enquanto os
entrevistados da área de Ciências Biomédicas acessam, geralmente, mais de uma vez por dia seu
correio, os das Ciências Exatas acessam uma vez por dia e os das Ciências Sociais e Humanas
costumam abrir sua caixa de correio duas vezes por semana. Percebe-se que nas áreas em que a
atualização das informações científicas é mais veloz, os pesquisadores têm mais necessidade de
obter e enviar informações entre si.
Quanto ao contato com outros pesquisadores, a comunicação através do correio eletrônico é
feita com docentes da mesma área do conhecimento, e especialmente com aqueles que realizam
pesquisa dentro da mesma linha. Este contato é feito prioritariamente com pesquisadores do mesmo
estado e do País e, em menor intensidade, do exterior. Em relação aos pesquisadores de
universidades do Estado do Rio Grande do Sul, a preferência é com docentes de universidades
públicas, por serem as que desenvolvem mais pesquisa, como a Universidade Federal de Pelotas, a
Universidade Federal de Santa Maria e a Universidade Federal de Rio Grande. Em relação ao Brasil,
é igualmente com os pesquisadores de universidades públicas o maior intercâmbio de idéias, como a
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro (Área Biomédica e Ciências Sociais e Humanas);
USP - Universidade de São Paulo (as três áreas). E com respeito às universidades estrangeiras, as
preferências recaem sobre as universidades francesas (Ciências Exatas e Ciências Sociais e
Humanas), alemãs (Ciências Exatas) e americanas (Biomédica e Ciências Sociais e Humanas).
Estas preferências tiveram sempre um contato pessoal anterior entre os pesquisadores, possibilitado
pelo curso de doutorado ou encontro em evento científico.
As contribuições que os pesquisadores recebem para sua pesquisa daqueles com quem se
comunicam, são em sua maioria de indicações bibliográficas para resposta a alguma indagação ou
de críticas construtivas ao trabalho que estão desenvolvendo.
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Os docentes consideram que este tipo de comunicação afetou positivamente a pesquisa que
realizam, pois trouxe maior facilidade, rapidez e qualidade ao trabalho produzido. Além disso,
permitiu o desenvolvimento de pesquisas interinstitucionais, pela possibilidade de troca instantânea
de idéias e por permitir a transferência de arquivos. A única área em que pesquisadores revelaram
não terem sido afetados pelo correio eletrônico foi a das Ciências Sociais e Humanas.
Não é habitual aos pesquisadores da UFRGS participarem de grupos de discussão através da
rede. Isto se verificou em todas as áreas do conhecimento. Aqueles que participam recebem
informações que consideram de alguma importância, mas não essencial, para a pesquisa que
desenvolvem. Os grupos de discussão sobre assuntos gerais (educação, lazer, temas atuais, etc.),
contribuem com informações úteis para a formação de opinião dos investigadores, mas eles também
contribuem com suas idéias sobre os temas em questão.
Em relação ao acesso à bases de dados bibliográficas, os pesquisadores acessam este recurso
com maior ou menor intensidade, de acordo com a área. Na área Biomédica todos acessam a
Medline via rede; na área de Ciências Sociais e Humanas o uso deste recurso não é tão comum,
mas os que o utilizam visitam vários sites, dos jornais nacionais e estrangeiros ao catálogo e
publicações em texto completo da Biblioteca do Congresso; e, nas Ciências Exatas, os
pesquisadores não souberam precisar a resposta, donde se conclui não realizarem com freqüência
este acesso. É interessante notar que o SABI - Sistema de Automação dos Catálogos das Bibliotecas
da Universidade - é pouco usado entre os docentes, que preferem fazer suas próprias buscas
pessoais na biblioteca de sua unidade, do que obter informações sem o exame físico da obra.
Também não é comum acessarem catálogos de outras bibliotecas universitárias brasileiras.
A recuperação de publicações com texto integral ainda não é uma prática comum entre os
pesquisadores da UFRGS, sendo menos habitual entre os docentes da área de Ciências Exatas.
Estes pesquisadores consideram os textos em papel, disponíveis nas bibliotecas, mais rápidos de
serem acessados e com um formato mais agradável para a leitura. Todos os entrevistados percebem
vantagens nas publicações eletrônicas, indicando a rapidez com que as informações e os resultados
de pesquisa ficam disponíveis para a comunidade acadêmica, a mais importante delas. Mas, dizem
eles, as dificuldades de acesso, a falta de hábito e, principalmente, a qualidade das revistas em
papel que estão acostumados a utilizar, ainda vão fazer com que, por muito tempo, não haja
modificações na busca dos textos que utilizam.
Talvez por isso, apenas dois dos entrevistados já tenham publicado em revistas eletrônicas,
sendo que um deles numa revista que é publicada também na forma impressa. Os pesquisadores da
área de Ciências Exatas só atribuirão credibilidade às revistas eletrônicas quando tiverem certeza
que elas passaram pelos filtros de qualidade da ciência - a revisão pelos pares - e que uma comissão
julgadora de qualidade se preocupe em divulgar o melhor, não adicionado material supérfluo e
desnecessário à rede.
Com relação a outros serviços que a rede pode propiciar aos pesquisadores, não houve
lembrança por parte deles. O único serviço indicado por alguns pesquisadores foi o de encomenda
de livros pessoais, mas isto eles o fazem geralmente de casa, usando um provedor comercial.
Em relação à influência da Internet na sua produtividade científica, em geral os pesquisadores
consideram que não foi afetada, pois é apenas um recurso que permite a obtenção e a transmissão
de informações, não substituindo a experiência em laboratório (na área de Exatas e Biomédicas) ou
o contato direto com as pessoas (na área de Humanas e Sociais). Mesmo que tenha facilitado a
comunicação, acham que a infra-estrutura de acesso ainda deixa a desejar e sugerem que deva ser
melhorada. Além disso, consideram que os pesquisadores precisam de maior conhecimento para
utilizar a rede com mais propriedade. Talvez assim, a Internet possa se tornar um recurso
imprescindível, no futuro.

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5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

De acordo com os resultados obtidos, podemos concluir que as atividades de informação


realizadas pelos pesquisadores estão, de certa forma, sofrendo algumas modificações com o uso da
Internet, embora isto não esteja afetando sua produtividade.
Na busca de informações, as áreas divergem. Enquanto os docentes da área Biomédica utilizam
a rede com mais freqüência, consultando uma base de dados de qualidade como a Medline, os
pesquisadores da área de Ciências Exatas não utilizam a prática da busca na rede e os das Ciências
Sociais e Humanas visitam alguns sites para atualizar-se.
No desenvolvimento da pesquisa, o grande valor da rede para os pesquisadores é o de
possibilitar a comunicação instantânea com colegas de outras universidades, sejam elas do País ou
do exterior. Através do correio eletrônico, então, eles obtêm informações úteis e críticas ao seu
trabalho.
Na divulgação da pesquisa, as revistas eletrônicas ainda não têm suficiente aceitação para
substituir as de papel. Há, contudo, uma tendência a obterem credibilidade, desde que fique
assegurada aos pesquisadores a qualidade do conhecimento divulgado. No momento, a rede, como
conjunto de informações e de documentos disponíveis, se difere muito das bibliotecas acadêmicas,
porque, no mesmo meio, são difundidas informações de qualquer nível, das histórias infantis à
pornografia. E sabe-se que os cientistas gostam de ter seus próprios espaços, sua terminologia e
sua literatura.
As sugestões que temos a apresentar não diferem daquelas oferecidas por pesquisadores que
realizaram estudos com outras comunidades e em outros lugares do mundo. Sugere-se, portanto,
que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul melhore as conexões para uso da rede, e que
promova treinamento direcionado aos usuários pesquisadores. Este treinamento é para permitir que
utilizem a Internet com mais propriedade e em todo o seu potencial, para melhor realizarem suas
atividades de informação.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 ABELS, Eileen G. et al. Factors that influence the use of electronic networks by Science and
Engineering Faculty at small institutions. Part 1. Queries. Journal of American Society for Information
Science, v. 47, n. 2, p.146-58, Feb. 1996.
2 ADAMS, J.A., BONK, S.C. Electronic informations technologies and resources: use by university
faculty and faculty preferences for related library services. College and Research Libraries, v. 56, p.
119-131, Mar. 1995.
3 BANE, Adele F., MILHEIM, William D. Possibilidad de la Internet: como usam la Internet los
professores universitarios, Nuevas Tecnologias, v. 2, n. 2, p. 47-54, ago. 1996.
4 BISHOP, Ann Peterson. The Role of Computer Networks in Aerospace Engineering. Library Trends,
v. 42, n. 4, p. 694 -729, Spring 1994.
5 BROWN, Jeanne M. The Global Computer Network: indications of the use worldwide. The
International Informations & Library Review, v. 26, n. 1, p. 51-65, Mar.1994.
6 HENNING, Patrícia Correa. Internet @ rnp.br: um novo recurso de acesso à informação. Rio de
Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1994. Dissertação de Mestrado - Ciência da
Informação.
7 KOVACS, Diane K. et al. Scholarly E - Conferences on the Academic Networks: how library and
information professional use them. Journal of American Society for Information Science, v. 46, n. 4,
May 1995.

7
8 LAZINGER, Susan S. et al. Internet use by faculty members in
various disciplines: a comparative case study. Journal of American Society for Information Science, v.
48, n. 6, p. 508-18, Jun. 1997.

Internet Use in Academic Research: the case of UFRGS

This study assess the use that researchers from the Federal University of Rio Grande do Sul make of
the Internet, analyzing the structure offered to them, the network resources used and its impact on
academics’ production. It is an exploratory study in which a qualitative approach is used. Data was
collected by means of a questionnaire answered through interviews by academics of Pure, Biological
and Human Sciences. The results suggest that the University does not yet offer a totally adequate
structure for Internet use. Amongst the resources used, electronic mail stands out while all the others
are little used. The results also show that scientific productivity has not yet been influenced by the use
of the Internet.

Key words: Internet - academic research - University of Rio Grande do Sul (UFRGS).

Ida Regina Chitto Stumpf


Professora titular do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Rua Ramiro Barcelos 2705
90007-035 Porto Alegre, RS
E-mail: irstumpf@vortex.ufrgs.br

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