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Departamento de Matemática
Ponta Delgada
abril de 2013
Universidade dos Açores
Departamento de Matemática
Ponta Delgada
abril de 2013
Tópicos da Teoria da Relatividade
Agradecimentos
“Todos temos momentos brilhantes, mas, a maioria deles são graças ao estímulo de outra
pessoa.”
George Adams
À Carina, pelo apoio incondicional que me deu ao longo deste percurso e, sem o qual,
teria sido muito mais difícil concretizar este objetivo.
Aos meus pais, por me terem proporcionado a educação e formação necessárias para
alcançar mais esta etapa da minha vida.
Aos meus restantes familiares e amigos, por fazerem parte da minha vida e lhe darem
um significado especial.
II
Tópicos da Teoria da Relatividade
Resumo
III
Tópicos da Teoria da Relatividade
IV
Tópicos da Teoria da Relatividade
Abstract
Any physical description of Nature will be based on the specification of the spatial and
temporal positions of events. As such, one has to resort to coordinate systems, chosen by each
observer in the way he finds more suitable. Given the generality in the choice of coordinate
systems, it is useful to, and indeed necessary, to know the rules allowing for the comparison
between calculations performed in different systems.
We will begin with brief historical approach to the development of the Theory of
Special Relativity, emphasizing the conflict between the presuppositions of Newtonian
mechanics versus Electromagnetism as embodied in Maxwel's equations. We will refer to the
group of Galilean transformations, previously believed to be valid for mechanical
phenomena, as well as to the group of the Lorentz transformations, which became necessary
for the coherence between Maxwellian electromagnetism and the generalized Galilean
relativity principle. We will see how Einstein resolved the contradiction between those
different transformations in 1905, with the publication of the historical paper Zur
Elektrodynamik bewegter Korper, which established the basis of the Theory of Relativity.
We will also indicate some of the more important consequences that result from the
adoption of relativistic principles both in Mechanics and in Electrodynamics.
Given the belief that any scientific theory is, in a way, the result of human
understanding of nature in each historical epoch and being, consequently, a human
construction, it results that it will suffer, naturally, of defects. Hence, since the Theory of
Special Relativity was developed in the beginning of the 20th Century, is is no surprise that,
after all this time and the corresponding development in knowledge, we can now say that this
theory no longer contains all the possible truth. So, and based in the work of several
researchers, we also pretend to expose alternative explanations, apparently consistent with
known experimental results but with big interpretational consequences, namely in what
V
Tópicos da Teoria da Relatividade
concerns the question of simultaneity between different events. We will also mention some
experimental results that seem to put in question the relativistic rulings as we know them.
VI
Tópicos da Teoria da Relatividade
Índice
Agradecimentos II
Resumo III
Abstract V
Índice VII
Lista de Figuras IX
1. Introdução 1
1.1. Enquadramento e Motivação 1
1.2. Objetivos 4
1.3. Estrutura e organização 5
2. A Relatividade de Galileu 8
3. A Relatividade de Einstein 18
3.1. As transformações de Lorentz 18
3.1.1. Dedução das transformações de Lorentz 19
3.2. Relatividade Restrita 28
3.2.1. Universo de Minkowski 30
3.2.2. Métrica de Minkowski 31
3.2.3. Intervalo Relativista 32
3.2.4. Diagramas de Minkowski 34
3.2.5. Cone de luz 40
3.3. Dilatação do tempo 42
3.4. Contração do espaço 45
3.5. A transformação das velocidades 47
VII
Tópicos da Teoria da Relatividade
4. Eletromagnetismo relativista 66
4.1. Equações de Maxwell 66
4.2. Quadrivetor densidade de corrente 67
4.3. Transformação dos campos 73
4.4. Covariância das equações de Maxwell 81
4.5. Força de Lorentz 90
5. “Relatividade fraca” 94
5.1. Transformações gerais 95
5.2. Transformações equivalentes 105
5.3. Simultaneidade retardada e simultaneidade avançada 109
5.4. Contração do espaço 114
5.5. Dilatação do tempo 116
5.6. Transformações inerciais 120
5.6.1. Espaço e tempo para corpos em movimento 124
5.7. Dinâmica Alternativa 127
5.7.1. Transformação inercial das velocidades 128
5.7.2. Transformação inercial do momento e da energia 129
5.7.3. Transformação inercial da força 137
8. Conclusão 160
Bibliografia 164
VIII
Tópicos da Teoria da Relatividade
Lista de Figuras
ur r
Figura 2: Determinação geométrica de r ' em função de r . (p. 10)
Figura 6: Fenómeno da dilatação do tempo observado num diagrama de Minkowski. (p. 37)
Figura 8: Fenómeno da contração do espaço observado num diagrama de Minkowski. (p. 39)
Figura 10: Cone de luz de um acontecimento O, origem das coordenadas onde o cone de luz
está definido. (p. 41)
Figura 11: Trajeto do raio luminoso visto pelo observador O’. (p. 42)
Figura 12: Trajeto do raio luminoso visto pelo observador O. (p. 43)
Figura 13: Trajeto do raio luminoso entre a fonte, o espelho e novamente a fonte, no
referencial próprio da régua. (p. 45)
IX
Tópicos da Teoria da Relatividade
Figura 14: Nave espacial que se desloca face à Terra com uma velocidade constante e
uniforme e dispara uma munição que se desloca relativamente a ela, na mesma direção e
sentido, também, com uma velocidade constante e uniforme. (p. 51)
Figura 16: Linha do universo do gémeo viajante, atingindo instantaneamente uma velocidade
uniforme, em A, continuando a sua viagem até B onde inverte instantaneamente o sentido da
mesma e regressa à Terra com a mesma velocidade uniforme até parar instantaneamente em
C. O gémeo que permaneceu na Terra tem a sua linha do universo coincidente com o eixo dos
tempos. (p. 63)
r ur
Figura 18: Corpo C de carga q0 e volume V0 deslocando-se com velocidade u e u '
relativamente a S e a S’, respetivamente. (p. 69)
Figura 20: O referencial inercial S’, com coordenadas cartesianas ortogonais, desloca-se
ur
paralelamente ao eixo Ox do referencial inercial S com velocidade v . (p. 98)
Figura 21: Referenciais inerciais S e S’, sendo que S’ desloca-se a uma velocidade constante e
uniforme v < c face a S e consequentemente, atendendo às transformações inerciais, S’ vê S a
cβ
deslocar-se face a si com uma velocidade uniforme e constante , que pode ser superior
1 − β2
a c. (p. 123)
1
Figura 22: Representação gráfica das funções f e g, definidas por f ( x) = e
1− x
x
g ( x) = , que representam, respetivamente, a velocidade do raio de luz visto de S’ e a
1 − x2
velocidade do referencial S face a S’. Tal como deduzido anteriormente vê-se que a
X
Tópicos da Teoria da Relatividade
velocidade de S face a S’, dada por g, pode ser superior a c (pois c = 1), mas que não é
superluminal, pois nunca ultrapassa a velocidade do raio de luz dada por f. (p. 123)
Figura 24: Troca de sinais superluminais entre dois observadores inerciais A e B com base nas
transformações inerciais. ct é a linha do universo do amigo A, aquele que se encontra na Terra
e ct’ é a linha do universo do amigo B, aquele que partiu em viagem com uma velocidade
constante e uniforme inferior a c, percorrendo os sucessivos pontos do eixo O’ct’. Verifica-se
que a resposta (B2) chega depois da pergunta ter sido realizada (B1). (p. 151)
Figura 25: Troca de sinais superluminais entre dois observadores inerciais A e B com base nas
transformações inerciais. ct é a linha do universo do amigo A, aquele que se encontra na Terra
e ct’ é a linha do universo do amigo B, aquele que partiu em viagem com uma velocidade
constante e uniforme inferior a c. Verifica-se que a resposta (B2) chega depois da pergunta ter
sido realizada (B1). (p. 153)
XI
Tópicos da Teoria da Relatividade
1. Introdução
“Se fui capaz de ver mais longe, é porque me apoiei em ombros de gigantes.”
Isaac Newton
1
Tópicos da Teoria da Relatividade
De facto, Platão tinha razão, dado que os modelos físicos apresentados ao longo dos
tempos foram-se revelando cada vez mais adequados e, como tal, as teorias apresentadas
foram-se mostrando, consequentemente, mais válidas.
Nos finais do século XVII, Isaac Newton (1642 – 1727), com base nas teorias que o
antecederam, axiomatizou toda a Mecânica em três leis fundamentais a partir das quais,
segundo ele, poder-se-ia deduzir tudo o resto, criando, assim, a Mecânica Newtoniana ou
Mecânica Clássica, tal como hoje se designa. É certo que nem todos os físicos e matemáticos
aceitavam a sua teoria, contudo o facto de as previsões se adequarem perfeitamente aos
fenómenos reais, observados à altura, fez com que a mesma prevalecesse durante cerca de
dois séculos. Para Newton o espaço e o tempo eram absolutos. Assim, o primeiro haveria de
permanecer imutável e poder-se-iam distinguir umas partes de outras e, portanto, todas as
réguas mediam as distâncias da mesma forma, o segundo fluía de forma igual sem relação
com nada exterior e, consequentemente, igual para todos os observadores, isto é, todos os
relógios marcam o tempo da mesma maneira.
2
Tópicos da Teoria da Relatividade
Assim, concluiu que não existem sistemas de referência absolutos, pelo menos até hoje nunca
se descobriu nenhum, pois não existe qualquer corpo no Universo que não se mova em
relação a nada. Em suma, Einstein rompeu com a ideia da existência de um sistema de
referência privilegiado, considerando que todos os sistemas de referência são equivalentes e
substituiu o princípio newtoniano do tempo absoluto pelo princípio da constância da
velocidade da luz no vácuo, contido nas equações de James Maxwell (1831 – 1879), de modo
a obter a transformação cinemática2 perante a qual as suas equações permaneciam
covariantes.
2
Cinemática é o ramo da Física que se ocupa da descrição dos movimentos, sem se preocupar com a análise das
suas causas.
3
Tópicos da Teoria da Relatividade
ciências, nomeadamente entre a Matemática e a Física, que nos permitiu alcançar feitos para a
humanidade que para Júlio Verne (1828 - 1905) não passavam de pura ficção.
1.2. Objetivos
Pretende-se demonstrar que uma teoria, por mais perfeita que possa parecer, está
sempre associada a suposições e assunções, por parte dos seus criadores, com base no
conhecimento que estes possuem, consequência dos trabalhos desenvolvidos, anteriormente,
por outros pensadores. Estas ideias levam, inevitavelmente, a incertezas e fraquezas do ponto
de vista físico, conceptual e filosófico. Assim, dá-se enfase à relatividade pré-einsteiniana,
relatividade de Galileu, e à “relatividade fraca”, alternativa à relatividade de Einstein, com
base nas transformações inerciais.
Por fim, pretende-se demonstrar como a Matemática foi, é e será fundamental para a
evolução do conhecimento científico e para a formalização de qualquer teoria física. Mostrar-
se-á como, a partir desta, se consegue criar e desenvolver toda uma teoria. Assim, a grande
maioria das conclusões apresentadas, independentemente da teoria trabalhada, serão
demonstradas matematicamente.
O trabalho que se pretende desenvolver não visa ser aplicado no Ensino Básico e/ou
Secundário na disciplina de Matemática, mas sim, ser um estudo científico e de
aprofundamento da temática subjacente, podendo estar na base de investigações posteriores.
4
Tópicos da Teoria da Relatividade
5
Tópicos da Teoria da Relatividade
sua possível dedução, e o modo como Hermann Minkowski (1864 – 1909) conjugou o espaço
e o tempo num continuum quadrimensional chamado espaço-tempo ou universo de
Minkowski.
No que diz respeito ao capítulo sete, Alguns aspetos particulares das diferenças entre
relatividade restrita e relatividade fraca, focaremos a nossa atenção em alguns aspetos
contraditórios desta teoria. Assim, debruçar-nos-emos no problema que os sinais
superluminais apresentam à Teoria da Relatividade Restrita no que diz respeito à ordem
6
Tópicos da Teoria da Relatividade
No oitavo e último capítulo, Conclusão, apresenta-se uma síntese dos resultados, mais
relevantes, obtidos no desenvolvimento desta dissertação.
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Tópicos da Teoria da Relatividade
2. A Relatividade de Galileu
“Mais fácil me foi encontrar as leis com que se movem os corpos celestes, que estão a
milhões de quilómetros, do que definir as leis do movimento da água que escoa frente aos
meus olhos.”
Galileu Galilei
Tal afirmação significa que os valores das grandezas fisicamente observáveis, apesar
de aparecerem com valores diferentes para diferentes observadores, mantêm as suas relações
independentemente do observador que as contempla, sendo que esta noção só aparece mais
tardiamente com Einstein.
Importa, portanto, definir referencial inercial que é aquele em que todas as partículas
livres, isto é, não atuadas por forças ou atuadas por um sistema de resultante nula, têm
velocidade constante ou seja aceleração nula.
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Tópicos da Teoria da Relatividade
gota a gota vá deitando água noutro recipiente de boca estreita, que esteja mais abaixo: e
estando parado o navio, observe-se diligentemente como aqueles pequenos animais voadores
com velocidades semelhantes vão a todas as partes da sala; veremos os peixes nadar
indiferentemente em todas as direções; as gotas que caiem entrarão todas no recipiente em
baixo; e vocês atirando ao amigo alguma coisa, não mais galhardamente a devereis lançar em
direção a um ponto que a outro, quando as distâncias forem iguais; e saltando vós, como se
diz, a pés juntos, iguais espaços percorrereis em todas as direções. Observai que tereis
diligentemente todas estas coisas, ainda que nenhuma dúvida exista que, enquanto a nave está
parada, as coisas assim sucedem, fazei mover a nave com quanta velocidade se queira; que
(sempre que o movimento seja uniforme e não flutuante aqui e ali) vós não reconhecereis a
mínima mutação em todos os efeitos nomeados, nem nenhum deles poderá saber se a nave se
move ou está parada.” (Galileu, Dialogue Concerning the Two Chief World Systems, Second
Day). Sendo que a ideia fundamental da explicação de Galileu, como inicialmente foi dito, é
que nenhum fenómeno ou experiência pode permitir distinguir os estados de repouso e de
movimento retilíneo uniforme do referencial próprio do obsrvador.
Vejamos, agora, como exprimir todos os pontos desse corpo no sistema S’.
Evidentemente que o faremos através das suas coordenadas cartesianas (x’, y’, z’). As
fórmulas de transformação das coordenadas espaciais (x, y, z), no sistema S, em (x’, y’, z’), no
sistema S’, e vice versa, estabelecem-se com facilidade desde que se conheçam os sistemas
em questão.
ur r
Figura 2: Determinação geométrica de r ' em função de r .
10
Tópicos da Teoria da Relatividade
ur ur ur ur uur
r ' = r − v t com v = v e , (2.1)
x
donde se obtém
x ' = x − vt
y ' = y , (2.2)
z ' = z
uur
sendo x’, y’ e z’ as componentes do vetor r ´ .
Interessa, neste momento, verificar o que acontece relativamente ao tempo, isto é qual
a relação entre o tempo t, em que um acontecimento se dá no referencial inercial S, e o tempo
t’, em que o mesmo acontecimento se dá em S’.
x ' = x − vt
y' = y
(2.3)
z ' = z
t ' = t
11
Tópicos da Teoria da Relatividade
x = x ' + vt '
y = y'
. (2.4)
= z'
z
t = t '
velocidade deste mesmo corpo relativamente ao referencial S’. Ora, como sabemos, por
definição
r
ur dr '
u'= (2.5)
dt '
isto é,
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Tópicos da Teoria da Relatividade
sendo que
dx ' d dx dt
u 'x = = ( x − vt ) = − v = ux − v (2.8)
dt ' dt dt dt
dy ' dy
u 'y = = = uy (2.9)
dt ' dt
dz ' dz
u 'z = = =u . (2.10)
dt ' dt z
ur
Generalizando para qualquer v constante, temos
ur ur ur
u' = u − v (2.11)
e, consequentemente,
ur uur ur
u = u' + v . (2.12)
pelo que, o vetor velocidade não é invariante face às transformações de Galileu, uma vez que
ur ur r
u resulta da adição vetorial da velocidade relativa ao referencial S’, u ' , com a velocidade v ,
velocidade de S’ relativamente a S.
13
Tópicos da Teoria da Relatividade
relativamente a S’.
ur
ur d2r '
a'= (2.13)
dt ' 2
donde
e, consequentemente,
d 2 x ' d 2 ( x − vt ) d 2 x d 2t
a 'x = = = − v = ax − v × 0 = ax (2.16)
dt '2 dt 2 dt 2 dt 2
d2y' d2y
a 'y = = 2 = ay (2.17)
dt '2 dt
d 2z ' d 2z
a 'z = = 2 = az (2.18)
dt '2 dt
ur ur
a = a ', (2.19)
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Tópicos da Teoria da Relatividade
Uma das leis fundamentais da Mecânica, conhecida por Lei Fundamental da Dinâmica
(segunda lei de Newton), na sua versão atual, afirma que a “variação da quantidade de
movimento é proporcional à intensidade da força motriz aplicada, sendo a sua direção igual
àquela em que atua a força”. Matematicamente, esta lei traduz-se, presentemente, por
ur ur uur
d
dt
( )
mv = ma = F . (2.20)
ur ur ur ur
m a = m a ' ⇔ m a = m'a ' . (2.21)
Não havendo razão em contrário para as forças conhecidas na altura, pois estas só dependiam
das distâncias e estas são invariantes, vem
uur uur
F = F '. (2.22)
Vejamos, a título de exemplo, a lei da atração universal de Newton que afirma que
“duas partículas materiais atraem-se ou gravitam, reciprocamente, com uma força diretamente
proporcional às suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que as
separa”. Matematicamente, esta lei exprime-se por
mM
F =G , (2.23)
r2
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Tópicos da Teoria da Relatividade
m'M '
F' = G . (2.24)
r '2
Pois G é uma constante e, portanto, assume o mesmo valor em qualquer referencial inercial
que se considere, as massas das partículas são invariantes, isto é, m ' = m e M ' = M e
r ' = r , pois para dois acontecimentos simultâneos ( ∆t ' = ∆t ), vem da primeira equação de
(2.3) que ∆x ' = ∆x . Concluímos, assim, que a força de atração universal entre duas partículas
medida por observadores pertencentes a diferentes referenciais inerciais é a mesma.
uur
Para determinarmos o momento linear de uma partícula p , temos de conhecer a sua
ur
massa m e a sua velocidade u , sendo que o mesmo nos é dado por
r
uur dr ur
p =m = mu (2.25)
dt
Por sua vez a energia cinética de um corpo, E, é também função da sua massa e da sua
r
velocidade u , relacionando-se da seguinte forma
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Tópicos da Teoria da Relatividade
1 ur 2 1
E= m u = mu 2 . (2.27)
2 2
No referencial S’, tendo em conta (2.11), esta energia será obtida por
m u 2 + m ( v 2 − 2uv ) = E + m ( v 2 − 2uv )
1 1 1
=
2 2 2
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Tópicos da Teoria da Relatividade
3. A relatividade de Einstein
“Equações são mais importantes para mim (…) uma equação é algo para a eternidade.”
Albert Einstein
Nos finais do século XIX existiam duas teorias físicas fundamentais, consistentes e
solidamente confirmadas pela experiência: a Mecânica Newtoniana e o Eletromagnetismo de
Ampère, Faraday e Maxwell.
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Tópicos da Teoria da Relatividade
ur
Consideremos uma partícula de carga q e massa m, movendo-se a uma velocidade v ,
uur uur
consideremos, também, um campo elétrico E e um campo magnético B . A equação que nos
dá a força total da partícula é da forma (equação de Lorentz)
Veio-se a descobrir que o grupo das transformações de Lorentz, que logo à partida,
mantinham as equações de Maxwell do Eletromagnetismo covariantes, não permitiam a
covariâncias das leis da Mecânica, pelo que se revelou necessário rever estas últimas.
19
Tópicos da Teoria da Relatividade
Atendendo a que o sinal luminoso partiu da origem quando t = t ' = 0 , e como a luz
se propaga através de ondas esféricas, com uma velocidade c, para um observador de S, ao
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Tópicos da Teoria da Relatividade
fim de um certo tempo t, a região iluminada será uma superfície esférica de centro em O e
raio ct, isto é, o conjunto dos pontos iluminados obedece à equação
x 2 + y 2 + z 2 = ( c t ) ⇔ x 2 + y 2 + z 2 − c 2t 2 = 0 .
2
(3.2)
s 2 = x 2 + y 2 + z 2 − c 2t 2 ou s 2 = c 2t 2 − x 2 − y 2 − z 2 (3.4)
Como consideramos que o espaço e o tempo são homogéneos, isto é, têm as mesmas
propriedades em todos os seus pontos e em todos os instantes, a transformação dos mesmos
tem de ser linear. Podemos escrever então
isto é,
Aqui, todos os coeficientes considerados são funções da velocidade relativa dos dois
referenciais.
21
Tópicos da Teoria da Relatividade
Para além disso, atendendo à posição relativa dos eixos coordenados escolhidos e à
admissão que O e O’ coincidem na origem dos tempos, podemos reduzir o número de
coeficientes entre as coordenadas de um acontecimento em S e S’.
e, portanto,
Donde o sistema (3.6), após estas considerações de simetria, é-nos dado por
22
Tópicos da Teoria da Relatividade
Ainda por razões de simetria, atendendo a que por hipótese o espaço é isotrópico, isto é,
equivalente em todas as suas direções, t’, à semelhança de x’, só poderá depender de x e de t,
pelo que a42 = a43 = 0 e, portanto, temos que
a22 = f ( v ) , (3.15)
donde segue,
y = f ( −v ) y ' , (3.17)
uma vez que supomos que S se desloca relativamente a S’ com uma velocidade uniforme e
ur
constante − v .
f ( v ) = f ( −v ) . (3.18)
23
Tópicos da Teoria da Relatividade
donde, por (3.16) e (3.19) se conclui que f ( v ) = 1 , pois nas condições restritas das
De forma análoga, dada a necessária simetria entre eixos coordenados, concluímos que
a33 = 1 . E portanto,
e consequentemente,
Substituindo em (3.22) x’, y’, z’ e t’ pelas relações obtidas em (3.20), vem que
x 2 − c 2t 2 = x 2 ( a112 − c 2 a41
2
) + t 2 ( a112 v 2 − c 2 a442 ) − 2 xt ( a112 v + a41a44c 2 ) . (3.24)
Concluindo-se, assim, que
a112 − c 2 a41
2
=1
2 2
c a44 − a11v = c .
2 2 2
(3.25)
2
a11v + a41a44c = 0
2
24
Tópicos da Teoria da Relatividade
2
Resolvendo a primeira equação do sistema (3.25) em ordem a a41 e a terceira em ordem a a41 ,
vem
a112 − 1 a112 v
a =
2
41 ∧ a41 = − , (3.26)
c2 a44 c 2
a114 v 2 a112 − 1
2 4
= (3.27)
a44 c c2
a114 v 2
2
a44 = . (3.28)
c 2 ( a112 − 1)
a114 v 2
c2 − a112 v 2 = c 2 (3.29)
c ( a11 − 1)
2 2
c
a11 = . (3.31)
c − v2
2
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Tópicos da Teoria da Relatividade
1
a11 = . (3.32)
v2
1− 2
c
4
1
1 v2 2
v2 v2
1− 2 1 − 2
c v2 c
a44 =
2
=
2
c 2
1
−1
v2
1− 2
c 2 − 1
1
2 c
1 − v 2
c
, (3.33)
1
2
v2
1 −
v2 c2 v2 1
= 2 2
= 2 2
c v c v2 v2
1−1+ 2
c 1 − 2 2
2 c c
v
1− 2
c
1
2
a44 = (3.34)
v2
1− 2
c
e consequentemente
1
a44 = . (3.35)
v2
1− 2
c
26
Tópicos da Teoria da Relatividade
1 1
2
v + a41 c2 = 0 (3.36)
v v 2
1− 2 1− 2
c c
v2
−v 1 −
a41 = c2 ⇔ a = − v 1
. (3.37)
41
2 v
2 2
c v 2
c 1 − 2 1− 2
c c
1 v
x ' = 2
x−
2
t
v v
1− 2 1− 2
c c
y ' = y
(3.38)
z ' = z
v 1 1
t ' = − 2 x+ t
c v 2
v 2
1− 2 1− 2
c c
e usando a abreviatura
1
=γ, (3.39)
v2
1− 2
c
x ' = γ ( x − vt )
y ' = y
z ' = z . (3.40)
t ' = γ t − v x
2
c
27
Tópicos da Teoria da Relatividade
y, z, t), em S, relativamente às coordenadas do mesmo corpo em S’, (x’, y’, z’, t’), através das
transformações
x = γ ( x ' + vt ')
y = y '
z = z ' . (3.41)
t = γ t '+ v x '
c2
28
Tópicos da Teoria da Relatividade
tB − t A = t 'A − t B , (3.42)
ou seja, o intervalo de tempo que o sinal luminoso demora a ir de A a B é igual, por hipótese,
ao intervalo de tempo que o sinal luminoso demora a ir de B a A, depois de refletido em B.
d AB
∆t = t B − t A = . (3.43)
c
Esta definição de sincronismo pode ser aplicada a um número arbitrário de pontos, isto
é, se o relógio em A é síncrono com o relógio em B e este, por sua vez, é síncrono com um
relógio em C, então os relógios A e C são síncronos entre si, e assim sucessivamente.
29
Tópicos da Teoria da Relatividade
onde, (x, y, z, t) e (x’, y’, z’, t’) são as coordenadas de um mesmo acontecimento visto para um
observador inercial de S e de S’, respetivamente.
∆s 2 = ∆x 2 + ∆y 2 + ∆z 2 (3.45)
∆s 2 = ∆x 2 + ∆y 2 + ∆z 2 − c 2 ∆t 2 ou ∆s 2 = c 2 ∆t 2 − ∆x 2 − ∆y 2 − ∆z 2 (3.46)
que traduz a invariância da velocidade da luz no vácuo e que, também, é interpretado como a
“distância” entre dois acontecimentos no espaço-tempo e, por isso, é designado de intervalo
do universo ou intervalo relativista. Esta métrica por ter assinatura (+, +, +, -), também
poderia ter assinatura oposta (-, +, +, +), diz-se uma métrica pseudo-euclidiana e, ao contrário
do que acontece para a métrica euclidiana, poderá levar a resultados negativos.
31
Tópicos da Teoria da Relatividade
Como já foi visto, todo e qualquer acontecimento fica completamente definido à custa
ur
do seu vetor posição r , de componentes x, y e z e pelo instante t, em que esse acontecimento
se deu. Sendo assim, fica definido pelo quadrivetor de componentes (x, y, z, t) ou (t, x, y, z).
Para além disso, vimos para intervalos do tipo luz ( s = s ' = 0 ) que o quadrado da distância
entre dois quaisquer acontecimentos, no espaço-tempo quadrimensional ou universo de
Minkowski é dado por,
s 2 = x 2 + y 2 + z 2 − c 2t 2 (3.48)
s 2 = s '2 . (3.49)
32
Tópicos da Teoria da Relatividade
Estas conclusões são válidas, como visto anteriormente, para uma onda luminosa
ligando dois acontecimentos (“emissão” e “receção” num ponto dessa onda). Verifiquemos,
agora, que a invariância se mantém para qualquer tipo de intervalo entre dois acontecimentos
quaisquer.
s 2 = x 2 + y 2 + z 2 − c 2t 2 , (3.50)
2
v
s ' = γ ( x − vt ) + y + z − c γ t − 2
2 2 2 2 2
x , (3.52)
c
v2 2
s '2 = γ 2 x 2 + γ 2 v 2t 2 − γ 2 c 2t 2 − γ 2 2
x + y2 + z2 , (3.53)
c
x2 v2 v2
s '2 = c 2 γ 2 2 1 − 2 − t 2 1 − 2 + y 2 + z 2 . (3.54)
c c c
Atendendo a que
v2
1 − 2 = ( γ ) ,
−1 2
(3.55)
c
33
Tópicos da Teoria da Relatividade
Considere-se, agora, uma partícula que se move ao longo do eixo das abcissas, Ox,
com uma velocidade constante de módulo v, consequentemente, a sua linha do universo é-nos
dada por,
v 1 v
x = vt = ( ct ) ⇔ x = β ct ⇔ ct = x , com β = (3.57)
c β c
34
Tópicos da Teoria da Relatividade
que é uma reta oblíqua relativamente a Ox. Esta partícula poderá ser associada a um sistema
inercial S’ que se desloca relativamente a S com uma velocidade constante e uniforme de
módulo v.
1
A reta de equação ct = x , que se observa na figura anterior, representa a linha do
β
universo da partícula dada por um relógio do observador da mesma, em S’. Consideremos que
todos os acontecimentos sobre esta linha ocorrem para x ' = 0 e, consequentemente, a mesma
representa o eixo O’ct’. Para calibrar este eixo desenhemos a hipérbole definida por
x 2 − c 2t 2 = 1 . Uma vez que o intervalo relativista é invariante, todos os pontos pertencentes
a esta verificam a condição x '2 − c 2t '2 = 1 . Da interseção do ramo positivo da hipérbole
com o eixo O’ct’, resulta o ponto de coordenadas x ' = 0 e ct ' = 1 . Por sua vez, para
35
Tópicos da Teoria da Relatividade
traçarmos o eixo O’x’,, temos de determinar os pontos onde os acontecimentos têm t ' = 0 . A
partir das transformações de Lorentz sabemos que
v
t ' = γ t − 2 x (3.58)
c
v v v
γ t − x = 0 ⇔ t − 2 x = 0 ⇔ c 2t = vx ⇔ ct = x ⇔ ct = β x (3.59)
c2 c c
Note-se
se que todos os acontecimentos simultâneos em S,, isto é que ocorrem ao mesmo
tempo, estão sobre retas paralelas ao eixo Ox,, por sua vez acontecimentos simultâneos em S’
deverão estar sobre retas paralelas a O’x’.
36
Tópicos da Teoria da Relatividade
37
Tópicos da Teoria da Relatividade
Os acontecimentos
mentos que se encontram sobre retas paralelas a Oct estão sobre a mesma
linha do universo, relativamente, a S, enquanto acontecimentos sobre a mesma reta paralela a
O’ct’ se encontram na mesma linha do universo face a S’
S’.
Figura 7: Os acontecimentos A e B estão sobre a mesma linha do universo em S, x = x 1 (reta paralela a Ot), no
entanto não se encontram na mesma linha do universo em S’. Os acontecimentos B e C encontram-se na mesma
linha do universo em S’, x ' = x '1 (reta paralela a O’t’), mas, por sua vez, tal não se verifica em S.
Por sua vez, um observador de S’ observa comprimentos superiores aos que observa
um observador de S,, fenómeno designado por contração do espaço como se pode observar
ob no
diagrama de Minkowski seguinte.
38
Tópicos da Teoria da Relatividade
O acontecimento B,, do ponto de vista de S’,, ocorreu numa posição x 'B = 1 , sendo que
do ponto de vista geométrico este acontecimento pertence à hipérbole de equação
39
Tópicos da Teoria da Relatividade
∆s 2 = 0
Fronteira do Cone de
(A distância entre os dois acontecimentos v=c Tipo luz
Luz
é exatamente percorrida pela luz no
intervalo de tempo que os separa.)
∆s 2 < 0
Interior do Cone de
(A distância entre os dois acontecimentos é v<c Tipo tempo
Luz
menor que o espaço percorrido pela luz no
intervalo de tempo que os separa.)
40
Tópicos da Teoria da Relatividade
∆s 2 > 0
Exterior do Cone de
(No intervalo de tempo que separa os dois v>c Tipo espaço
Luz
acontecimentos a luz não pode percorrer a
distância que os separa.)
Figura 10: Cone de luz de um acontecimento O, origem das coordenadas onde o cone de luz está definido.
41
Tópicos da Teoria da Relatividade
Determinemos o tempo necessário para que a luz faça a viagem de ida e volta, após a
reflexão do espelho, no referencial do autocarro, S’, tempo este medido pelo observador O’, e
representemo-lo por ∆t ' .
42
Tópicos da Teoria da Relatividade
2h
∆t ' = , (3.60)
c
Determinemos, por sua vez, o tempo necessário para que a luz faça a viagem de ida e
volta, após a reflexão do espelho, no referencial do observador O, isto é no referencial do
exterior do autocarro, S, tempo este medido pelo observador O, e representemos este tempo
por ∆t . Ora, para este observador a situação é diferente da observada pelo observador O’,
pois ele observará os momentos de emissão e receção do raio luminoso em pontos diferentes
distanciados um do outro d = v ∆t , como se pode observar na figura 12.
2
v ∆t
s = 2l = 2 h + 2
, (3.61)
2
pois,
2
v ∆t
l 2 = h2 + (3.62)
2
e o tempo necessário para o raio luminoso percorrer esta distância é-nos dado por
43
Tópicos da Teoria da Relatividade
2
v∆t
2 h +2
2
∆t = , (3.63)
c
uma vez que, de acordo com os postulados de Einstein, a luz percorre aquelas duas
hipotenusas à velocidade c (que é comum a todos os referenciais).
c∆t v 2 ∆t 2
= h2 + ⇒ c 2 ∆t 2 = 4h 2 + v 2 ∆t 2 (3.64)
2 4
e, consequentemente, de (3.64)
∆t 2 ( c 2 − v 2 ) = 4 h 2 ⇒ ∆t =
2h
. (3.65)
c2 − v2
Dividindo por c, ambos os termos da fração presente no segundo membro da equação (3.65),
e tendo por base (3.60), vem
2h
c 2h ∆t '
∆t = ⇔ ∆t = ⇔ ∆t = . (3.66)
c −v
2 2
v2 v2
c 1− 2 1− 2
c2 c c
v2
Atendendo a que v < c , segue que 1− < 1 e em consequência disso ∆t > ∆t ' , isto
c2
significa que o intervalo de tempo ∆ t ' , medido no referencial próprio S’ e observado por um
observador O’, que decorre entre o instante de emissão e o instante de receção do raio
luminoso, e que se designa por tempo próprio, é inferior ao intervalo de tempo ∆ t , necessário
para a ocorrência deste mesmo fenómeno, para um observador O que se encontre num
referencial inercial S que vê o referencial S’ deslocar-se em relação a si por uma velocidade
de módulo v. Em jeito de conclusão, podemos dizer que a diferença temporal entre dois
acontecimentos que ocorrem num determinado referencial inercial, num mesmo ponto, é
inferior à que ocorre noutro referencial inercial que se mova relativamente ao primeiro e no
qual, em consequência desse movimento, os dois acontecimentos ocorrem em pontos
distintos.
44
Tópicos da Teoria da Relatividade
Para tal, realizemos a experiência que consiste em colocar uma fonte luminosa numa
extremidade da régua e um espelho na outra extremidade e medir o tempo necessário para que
o feixe luminoso vá da fonte até ao espelho e regresse à fonte, como se pode observar na
figura 13.
Figura 13: Trajeto do raio luminoso entre a fonte, o espelho e novamente a fonte, no referencial próprio da régua.
2 ∆l ' c ∆t '
∆t ' = ⇔ ∆l ' = . (3.67)
c 2
∆l + v ∆t A ∆l
∆t A = ⇔ ∆t A = , (3.68)
c c−v
45
Tópicos da Teoria da Relatividade
sendo ∆l o comprimento da régua no referencial S. Por sua vez, o tempo necessário para o
raio luminoso regressar, após a reflexão no espelho, à extremidade onde se encontra a fonte
luminosa ∆t B é
∆l − v ∆t B ∆l
∆t B = ⇔ ∆t B = . (3.69)
c c+v
Em consequência dos dois resultados obtidos em (3.68) e (3.69), segue que o tempo ∆t ,
necessário para o raio luminoso realizar o percurso definido anteriormente, relativamente ao
referencial S, ser-nos-á dado por
∆l ∆l 2 c ∆l
∆t = ∆t A + ∆t B = + = 2 (3.70)
c − v c + v c − v2
∆t ( c 2 − v 2 ) c ∆t v2
∆l = ⇔ ∆l = 1 − 2 . (3.71)
2c 2 c
v2
c∆t ' 1 − 2
c v2
∆l = ⇔ ∆l = ∆l ' 1 − 2 (3.72)
v2 c
2 1− 2
c
v2
e, consequentemente, ∆l < ∆l ' , pois se v < c então 1 − 2 < 1 . A esta contração do
c
espaço chamamos contração de Lorentz – Fitzgerald, de acordo com a qual os comprimentos
“observados” são máximos no referencial próprio dos corpos.
46
Tópicos da Teoria da Relatividade
ur
Vamos considerar um corpo em movimento com velocidade u = ( u x , u y , u z ) ,
uur
relativamente ao referencial S e velocidade u ' = ( u ' x , u ' y , u 'z ) , relativamente a S’, sendo que
ur
S’ se desloca, relativamente a S, com velocidade retilínea e uniforme v = ( vx , v y , vz ) .
ur ur
Vejamos então como escrever u ' em função de u . Para tal, comecemos por diferenciar as
transformações de Lorentz,
dx dt
γ ( dx − vdt ) −v
u 'x =
dx '
= = dt dt = u x − v (3.75)
dt ' v dt − v dx 1 − v u
γ dt − 2 dx 2 x
c dt c dt c2
dy
dy ' dy dt uy
u 'y = = = = (3.76)
dt ' v dt v dx v
γ dt − 2 dx γ − 2 γ 1 − 2 ux
c dt c dt c
dz
dz ' dz dt uz
u 'z = = = = . (3.77)
dt ' v dt v dx v
γ dt − 2 dx γ − 2 γ 1 − 2 ux
c dt c dt c
47
Tópicos da Teoria da Relatividade
Pelo que a lei de composição das velocidades, segundo a relatividade restrita, é-nos dada por
u 'x = u x − v
1 −
v
ux
c2
uy
u ' y = . (3.77)
v
γ 1 − 2 ux
c
u 'z = uz
v
γ 1 − 2 ux
c
ux − v
u 'x = (3.78)
v
1 − 2 ux
c
v v
u ' x 1 − 2 u x = u x − v ⇔ u x 1 + 2 u ' x = u 'x + v
c c
. (3.79)
u 'x + v
⇔ ux =
v
1 + 2 u 'x
c
uy
u 'y = (3.80)
v
γ 1 − 2 ux
c
48
Tópicos da Teoria da Relatividade
u 'x + v
ux = , (3.81)
v
1 + 2 u 'x
c
obtemos,
c2 − v2
u ' y 2
v v2 c + v u 'x
u ' y 1 − 2 u x = 1 − 2 uy ⇔ uy =
c c v2
1− 2 (3.82)
c
c c2 − v2
⇔ u y = u 'y 2
c + v u 'x
dividindo ambos os termos da fração do segundo membro da equação (3.82) por c 2 e fazendo
alguns cálculos deduz-se que
u 'y
uy = . (3.83)
v
γ 1 + 2 u 'x
c
u 'z
uz = . (3.84)
v
γ 1 + 2 u 'x
c
Donde
u x = u 'x + v
v
1 + 2 u 'x
c
u 'y
u y = (3.85)
v
γ 1 + 2 u 'x
c
u z = u 'z
v
γ 1 + 2 u 'x
c
49
Tópicos da Teoria da Relatividade
u' v
Se u' < c e v<c então <1 ∧ <1 e, consequentemente,
c c
u' v u' v u 'v u' v u' + v
− 1 < 0 ∧ − 1 < 0 , donde − 1 − 1 > 0 ⇔ 2 + 1 > + ⇔ <c
c c c c c c c u 'v
1+ 2
c
c+v c (c + v)
u= = =c
v
1+ 2c c + v
c
Consideremos uma nave espacial que se desloca com velocidade constante igual a
quatro quintos da velocidade da luz, relativamente ao referencial inercial Terra. Consideremos
que esta mesma nave dispara uma munição na direção e sentido do movimento da nave com
uma velocidade, também, de quatro quintos da velocidade da luz, relativamente à nave.
Determinemos a velocidade da munição relativamente à Terra, não considerando qualquer
movimento desta última.
50
Tópicos da Teoria da Relatividade
Figura 14: Nave espacial que se desloca face à Terra com uma velocidade constante e dispara uma munição que
se desloca relativamente a ela, na mesma direção e sentido, também, com uma velocidade constante e uniforme.
4 4 8
c+ c c
5 5 5 40
u= = = c < c.
4 16 41
c 1+
4
1 + 52 × c 25
c 5
51
Tópicos da Teoria da Relatividade
r
2 dt dr
partir deste, construa-se o quadrivetor m0 c , cm0 , sendo m0 a massa de um corpo
dτ dτ
em repouso e dτ o diferencial do tempo no referencial próprio do corpo. Podemos garantir
que este último é um quadrivetor, pois foi obtido através do anterior multiplicando-se cada
m0 c
componente pela grandeza invariante . Sabemos que o escalar anterior é uma invariante
dτ
porque a massa de um corpo em repouso é invariante, os lapsos de tempo no referencial
próprio do corpo são invariantes e, ainda, como proclama o segundo postulado da Teoria da
Relatividade Restrita de Einstein, a velocidade da luz é constante no vácuo.
uur
Definamos, agora, as grandezas energia própria, E, e momento linear, p , de um corpo
em movimento e massa em repouso, m0, através das igualdades
r
dt ur dr
E = m0 c ∧ c p = cm0
2
. (3.86)
dτ dτ
dt
Podemos admiti-lo, pois m0 c 2 tem dimensão de energia (visto termos um produto entre a
dτ
r
dr
massa de um corpo e o quadrado de uma velocidade) e m0 tem dimensão de momento,
dτ
uma vez que se tem um produto entre a massa de um corpo e uma velocidade. Sendo assim,
ur ur
( )
fica definido o quadrivetor E , c p e, consequentemente, o quadrado da sua norma é
ur
( E, c p )
2
= E 2 − cp 2 (3.87)
uur r
E ' = m0 c 2 ∧ c p ' = 0 (3.88)
52
Tópicos da Teoria da Relatividade
uur
( E ', c p ') = ( m0c 2 ) − 02 = m0 2 c 4 = E '2 = E02 ,
2 2
(3.89)
dt
E = m0 c 2 = mc 2 , (3.90)
dτ
dt m0
m = m0 = γ m0 = , (3.91)
dτ v2
1− 2
c
pois, no referencial próprio do corpo, S’, dx ' = 0 e assim das transformações de Lorentz
tem-se
v dt
dt = γ dτ + 2 dx ' ⇒ γ = . (3.92)
c dτ
A m chama-se massa relativista do corpo, não sendo esta constante, (ao contrário da
massa própria do corpo m0 ) dependendo, como tal, do módulo da velocidade de S’
relativamente a S, v.
m0
E = mc 2 = γ m0 c 2 = c2 . (3.93)
2
v
1− 2
c
1 v2 3 v4
E = m0 c 2 + c 2m0 + m0 + ...
2 c2 4 c2
(3.94)
1 3 v4
= m0 c 2 + m0 v 2 + m0 2 + ...
2 4 c
53
Tópicos da Teoria da Relatividade
E = m0 c 2 . (3.95)
ur
( )
Atendendo a que E , c p é um quadrivetor, o mesmo satisfaz as transformações de
m0 c
Assim, multiplicando o quadrivetor fundamental ( cdt , dx, dy, dz ) por , vem de
dτ
ur m c mc
( )
dτ
mc
dτ
mc
(3.86) E , c p = 0 cdt , 0 dx, 0 dy, 0 dz , donde se obtém
dτ dτ
2 dt
E = m c
dτ
0
p = m dx
x 0
dτ
. (3.96)
p = m dy
y 0
dτ
dz
pz = m0
dτ
v
dt ' = γ dt − c 2 dx
dx ' = γ ( dx − vdt ) . (3.97)
dy ' = dy
dz ' = dz
54
Tópicos da Teoria da Relatividade
v
cdt ' = γ cdt − c dx
v
dx ' = γ dx − cdt , (3.98)
c
dy ' = dy
dz ' = dz
m0 c
multiplicando, agora, ambos os termos das equações do sistema (3.98) por , ficamos com
dτ
m0 c m0 c m0 c v
dτ cdt ' = γ dτ cdt − dτ c dx
m0 c m c v m0 c
dx ' = γ 0 dx − cdt
dτ dτ c dτ .
(3.99)
m0 c m0 c
dτ dy ' = dτ dy
m0 c dz ' = m0 c dz
dτ dτ
E'
E ' = γ ( E − vpx ) E = γ + vpx
p' = γ p − v E
x x v E'
c 2 ⇔ p ' x = γ px − 2 + vpx
p' = p c γ
y y
py = p 'y
p 'z = p z
p z = p 'z
55
Tópicos da Teoria da Relatividade
E'
E = γ + vpx −2 v 2
E = γ E ' γ + 2 + γ vp 'x
v c
p' + E'
p = 1 x c2
⇔ px = γ p 'x + 2 E '
v
⇔ x (3.101)
γ v2 c
1−
c2 py = p 'y
p = p'
y y
pz = p ' z
pz = p ' z
E = γ E ' + vp ' x
v
px = γ p 'x + c 2 E ' . (3.102)
py = p 'y
pz = p 'z
uur ur ur
F =
d
dt
( )
mv = m a , (3.103)
56
Tópicos da Teoria da Relatividade
Mostremos, então, que a segunda lei de Newton, tal como a conhecemos, não é
covariante face às transformações de Lorentz. Como é do nosso conhecimento, no referencial
inercial S’, o vetor força é-nos dado por
e, do mesmo modo,
dp ' y dp 'z
F 'y = ∧ F 'z = . (3.106)
dt ' dt '
dE ur r
= F⋅u, (3.107)
dt
uur ur dE
onde F será a força aplicada a um corpo que se move à velocidade u e a sua taxa
dt
uur
temporal de variação de energia. De facto, o elemento de trabalho de uma força F
uur ur
deslocando um corpo de uma distância elementar dl , à velocidade instantânea u , é dado
pelo produto interno
dw uur ur
= F.u , (3.109)
dt
57
Tópicos da Teoria da Relatividade
como escrevemos atrás. Além disso, dw = dE , por conservação de energia, uma vez que o
trabalho dw realizado é convertido na energia dE.
v
d γ px − 2 E dp − v dE
c
=
dp 'x x
c2
F 'x = =
dt ' v v
dt − 2 dx
d γ t − 2 x
c c
(3.110)
v ur r
dpx v dE
− 2 Fx − 2 F ⋅ u ( )
= dt c dt = c
dt v dx v
− 2 1 − 2 ux
dt c dt c
e, do mesmo modo, a
dp y
dp ' y dp y dt Fy
F 'y = = = = (3.111)
dt ' v dt v dx v
γ dt − 2 dx γ − 2 γ 1 − 2 ux
c dt c dt c
ea
dpz
dp 'z dpz dt Fz
F 'z = = = = . (3.112)
dt ' v dt v dx v
γ dt − 2 dx γ − 2 γ 1 − 2 u x
c dt c dt c
uur
Estas serão, então, as regras da transformação relativista das componentes de uma força F ,
medidas num referencial inercial S’. Consequentemente, a segunda lei de Newton, em
Relatividade Restrita, não é covariante face às transformações de Lorentz, uma vez que sendo
uur uur
uur d p uuur d p '
F = , não se verifica F ' = .
dt dt '
58
Tópicos da Teoria da Relatividade
dp '
( )
dE ' uur ur
uur ur dE γ d E ' + vp ' x
F.u = = = dt '
+v x
dt ' = (
F '. u ' + vF '
x,) (3.113)
dt v dt '
+
v dx '
1+
v
u'
γ d t ' + x ' dt ' c 2 dt ' 2 x
c 2 c
uur ur
( )
v F '. u ' + vF 'x
Fx − 2
c 1 + v u'
x
F 'x = c2 . (3.114)
v u 'x + v
1− 2
c 1 + v u '
x
c2
v uur ur
1 +
v
2
u '
F
x x − 2 ( )
F '. u ' + vF 'x
F 'x =
c c
v v
1 + 2 u 'x − 2 ( u 'x + v )
c c
, (3.115)
v uur ur
( )
2
v v
1 + 2 u 'x Fx − 2 F '. u ' − 2 F 'x
⇔ F 'x =
c c c
2
v
1− 2
c
pelo que
v uur ur
F 'x +
c2
(
F '. u ' )
Fx = . (3.116)
v
1 + 2 u 'x
c
59
Tópicos da Teoria da Relatividade
v
Fy 1 + 2 u 'x
Fy v2 c
F 'y = ⇔ F ' y 1 − 2 =
c γ
v u 'x + v
γ 1 − 2
c 1 + v u ' . (3.117)
x
c2
Fy '
⇔ Fy =
v
γ 1 + 2 u 'x
c
Fz '
Fz = . (3.118)
v
γ 1 + 2 u 'x
c
uur uur
Ao contrário do que acontecia face às transformações de Galileu, onde F ' = F ,
constata-se, a partir dos resultados anteriores, que face às transformações de Lorentz a força
não é uma grandeza invariante.
Transformações
60
Tópicos da Teoria da Relatividade
ux − v u 'x + v
u 'x = ux =
v v
1 − 2 ux 1 + 2 u 'x
c c
uy u 'y
u 'y = uy =
Velocidade v v
γ 1 − 2 ux γ 1 + 2 u 'x
c c
uz u 'z
u 'z = uz =
γ 1 − 2 u x γ 1 + 2 u 'x
v v
c c
v v
p 'x = γ px − 2 E px = γ p 'x + 2 E '
c c
Momento e energia p 'y = py py = p 'y
p 'z = pz pz = p 'z
E ' = γ ( E − vpx ) E = γ ( E ' + vp 'x )
v ur r v uur ur
Fx −
c 2 (F⋅u ) F 'x +
c 2 (F '⋅ u ' )
F 'x = Fx =
v v
1 − 2 ux 1 + 2 u 'x
c c
Fy Fy '
Força F 'y = Fy =
v v
γ 1 − 2 ux γ 1 + 2 u 'x
c c
Fz Fz '
F 'z = Fz =
v v
γ 1 − 2 ux γ 1 + 2 u 'x
c c
61
Tópicos da Teoria da Relatividade
encerram) vários paradoxos, alguns deles permanecendo até aos nossos dias. Um dos mais
conhecidos e controversos ficou conhecido por “Paradoxo” dos Gémeos, sendo apresentado
pelo físico francês Paul Langevin (1872 – 1946) e discutido pela primeira vez na Primeira
Conferência Solvay, realizada em Bruxelas em 1911. Langevin baseou-se numa simples
experiência de pensamento, onde dois gémeos se separam num determinado instante,
sincronizados os seus relógios, realizando um deles uma viagem numa nave, que se desloca a
uma velocidade próxima da luz de forma retilínea e uniforme até uma determinada estrela,
regressando, logo em seguida, à Terra, onde reencontra o gémeo que não efetuou a viagem. A
questão que se colocava era qual as idades relativas dos dois gémeos, após o reencontro.
Ora atendendo à dilatação temporal, o gémeo que permaneceu na Terra considera que
o tempo para o gémeo viajante passa de forma mais lenta, pelo que concluirá que tem uma
idade mais elevada, contudo o gémeo que embarcou na nave, encontrando-se, por isso, em
repouso no seu referencial próprio, vê o gémeo que ficou na Terra a afastar-se de si, pelo que,
pela mesma razão, considera que o tempo passa mais rapidamente para si, estando, assim,
mais velho que o gémeo que ficou na Terra. Verificando-se, portanto, uma contradição.
Todavia, na realidade, após a chegada à Terra o gémeo viajante constata, tal como
iremos verificar a seguir, que se encontra mais jovem que o seu irmão, significando, portanto,
que o tempo anda mais lentamente para o gémeo que realiza a viagem. Assim sendo, o gémeo
viajante perceberá que foi ele que efetuou a viagem identificando, claramente, em que
referencial se encontrava, o que contraria, claramente, os princípios da relatividade restrita,
uma vez que o seu primeiro postulado afirma que todos os referenciais inerciais são
equivalentes e, portanto, indistinguíveis.
62
Tópicos da Teoria da Relatividade
em que iniciou
ou e terminou a viagem, acontecimentos A e C,, respetivamente, e no momento de
inversão da mesma, acontecimento B,, só assim foi possível que os dois gémeos se
reencontrassem. Caso ambos estivessem em referenciais inerciais eles jamais se poderiam
reencontrar.
r. Assim sendo, não estamos realmente perante um paradoxo.
Figura 16: Linha do universo do gémeo viajante, atingindo instantaneamente uma velocidade uniforme, em A,
continuando a sua viagem até B onde inverte instantaneamente o sentido da mesma e regressa à Terra com a
mesma velocidade uniforme até parar instantaneamente em C.. O gémeo que permaneceu na Terra tem a sua
linha do universo coincidente com o eixo dos tempos.
63
Tópicos da Teoria da Relatividade
referencial em repouso. Ao longo da linha AC, tem-se que x = 0 , qualquer que seja o
instante, pelo que
ds 2 = c 2 dt 2 − dx 2 = cdt 2 , (3.119)
C C C
∫ ds = ∫ cdt = c ∫ dt = c ( tC − t A ) = ct . (3.120)
A A A
Por sua vez, ao longo da linha AB, tem-se que dx = vdt , donde
B B B B
∫A
ds = ∫
A
c 2 dt 2 − v 2 dt 2 = ∫
A
c 2 − v 2 dt = c 2 − v 2 ∫ dt
A
(3.121)
t 2 v2 t c t
= c −v = c 1 − 2 =
2 2
2 c 2 γ 2
C C C c t
∫ ∫ c 2 dt 2 − ( −vdt ) = c 2 − v 2 ∫ dt =
2
ds = . (3.122)
B B B γ 2
B C c t t
∫A
ds + ∫
B
ds = 2
γ 2
=c .
γ
(3.123)
Vamos, agora, concretizar o que foi dito a partir de um exemplo. Admitamos que o
gémeo viajante parte em direção a uma estrela distante a uma velocidade v = 0,8 c . Se este
gémeo se afasta da Terra durante 6 anos, no seu tempo próprio, ∆t’, então, do ponto de vista
do gémeo que permaneceu na Terra, a viagem de ida ocorre num tempo ∆t, dado por
64
Tópicos da Teoria da Relatividade
6 6
∆t = = = 10 anos.
v 2
1 − 0,82
1− 2
c
Assim, para o gémeo que permaneceu na Terra, o gémeo viajante demorou 10 anos a executar
o percurso de ida até à estrela em questão, tendo percorrido uma distância de 8 anos-luz.
Note-se, também, que para o gémeo viajante o espaço por si percorrido é uma contração do
espaço medido pelo gémeo da Terra, tendo sido este
0,82 c 2
∆x ' = 1− × 8 = 0, 6 × 8 = 4,8 anos-luz.
c2
O que está de acordo com o tempo medido pelo relógio do gémeo viajante, pois
∆x ' 4,8
∆t ' = = = 6 anos.
v 0,8
Admitindo que o gémeo volta imediatamente à Terra, com a mesma velocidade (em módulo),
considerando que a desaceleração e aceleração para a inversão do sentido se fazem de forma
instantâneas e, portanto, desprezíveis para o cálculo, os dois gémeos voltam a encontrar-se, do
ponto de vista do gémeo terrestre, 20 anos depois, tempo medido pelo seu relógio, enquanto
para o gémeo viajante este reencontro deu-se passados apenas 12 anos medidos pelo seu
relógio. Assim sendo, os dois gémeos têm uma diferença de 8 anos.
A diferença de idades verificada entre os gémeos irá diminuir tanto quanto menor for a
velocidade do gémeo viajante e para velocidades muito baixas pode-se considerar que a
diferença de idades entre os dois não se verifica. Por sua vez, quanto maior for a velocidade
do gémeo viajante maior será a diferença de idades verificada entre eles.
65
Tópicos da Teoria da Relatividade
4. Eletromagnetismo relativista
“Nada é tão maravilhoso que não possa existir, se admitido pelas leis.”
Michael Faraday
Como já foi dito no capítulo anterior, a relatividade restrita surgiu do facto de ser
necessário compatibilizar a teoria da Mecânica Clássica com o Eletromagnetismo, admitindo
o axioma da covariância de todas as leis da Física. Tal compatibilidade só se mostrou eficaz
com recurso às transformações de Lorentz, pois estas possibilitavam a covariância das
equações do Eletromagnetismo. Contudo foi necessário reformular as leis da Mecânica, tendo
em conta estas mesmas transformações. Neste capítulo, iremos debruçar-nos na demonstração
da covariância destas equações, nomeadamente na covariância das equações de Maxwell.
uur ρ
∇⋅ E = (4.1)
ε0
uur
uur ∂B
∇× E = − (4.2)
∂t
uur
∇⋅B = 0 (4.3)
uur
uur uur ∂E
∇× B = µ0 J + µ0ε 0 (4.4)
∂t
66
Tópicos da Teoria da Relatividade
uur uur
sendo que E e B representam, respetivamente, o campo elétrico e o campo magnético, µ0 e
uur ur
ε 0 a permeabilidade magnética do vácuo e a permitividade elétrica e J = ρ u a densidade de
corrente. A primeira equação, divergência do campo elétrico, é conhecida por Lei de Gauss, a
segunda equação (contendo o rotacional do campo elétrico) é conhecida por Lei de Faraday e
a quarta por Lei de Ampère generalizada, ou Lei de Ampère-Maxwell.
Consideremos um corpo com cargas elétricas, figura 17, com a forma cilíndrica, com
um determinado volume, V, contendo uma determinada carga total, q, que se desloca a uma
ur
velocidade u . Para um observador em S, referencial próprio do corpo (de corrente), a
densidade de carga elétrica, ρ, é dada por
q
ρ= (4.5)
V
uur
e a densidade de corrente, J , é dada, onde existirem cargas, por
uur ur
J = ρu . (4.6)
S
y
ur
q u
A
l
O
x
Figura 17: Corpo eletrificado. q é a carga, A a área da base do corpo e l o comprimento do corpo.
67
Tópicos da Teoria da Relatividade
Por sua vez, para um observador de S’, que se desloca relativamente a S com uma
r
velocidade constante e uniforme v paralelamente ao eixo Ox, a densidade de carga elétrica,
uur
ρ’, e a densidade de corrente, J ' , serão dadas, respetivamente, por
q = q' (4.8)
ρl
ρ' = , (4.10)
l'
pois, como y = y ' e z = z ' , então, A = A ' . Atendendo a que se dá uma contração do espaço
no sentido do deslocamento, de (4.10) somos levados a escrever
ρ
ρ'= , (4.11)
v2
1− 2
c
v2
pois l ' = l 1 − .
c2
volume próprio V0 . A sua densidade de carga elétrica, tal como já foi visto, no seu próprio
q0
referencial será ρ 0 = . Mas se considerarmos dois outros referenciais inerciais, S e S’, onde
V0
ur ur
esse corpo se desloca com velocidades u e u ' ao longo dos eixos Ox e O’x’, respetivamente,
68
Tópicos da Teoria da Relatividade
como se pode visualizar na figura 18, vem que a densidade de carga elétrica desse mesmo
corpo vista de S será
q0 ρ0
ρ= = , (4.12)
u2 u2
V0 1 − 2 1− 2
c c
visto que o volume do corpo diminui por contração da sua dimensão paralela ao movimento.
Por sua vez, visto de S’ também temos
q0 ρ0
ρ' = = , (4.13)
u '2 u '2
V0 1 − 2 1− 2
c c
S S’
y y’
r
v C ur
u
uur
u'
O O’ x ≡ x’
r ur
Figura 18: Corpo C de carga q0 e volume V0 deslocando-se com velocidade u e u ' relativamente a S e a S’,
respetivamente.
u2
1− 2
ρ' c .
= (4.14)
ρ u '2
1− 2
c
69
Tópicos da Teoria da Relatividade
ur ur
u '2 = u '. u ' = ( u 'x ) + ( u ' y ) + ( u 'z ) .
2 2 2
(4.15)
2 2
2
ur ur u − v uy uz
u '. u ' = x + +
1 − v2 u x
γ 1 − 2 ux
v v
γ 1 − 2 ux
c c
c
γ 2 u x − v + γ ( u y + u z )
−2 2 2
= 2 . (4.16)
γ v
2
1 − 2 ux
c
v2
(ux − v ) + ( u y 2 + u z 2 ) 1 − 2
2
c
2
v
1 − 2 ux
c
u y 2 + uz 2 = u 2 − ux 2 , (4.17)
v2
(ux − v ) + ( u 2 − ux 2 ) 1 − 2
2
ur ur c
u '. u ' = 2
. (4.18)
v
1 − 2 u x
c
2
ux − v u − ux v2
2 2
+
2 1 −
u '2 c c c2
1− 2 =1− 2
(4.19)
c v
1 − u x
c2
70
Tópicos da Teoria da Relatividade
v 2 u 2 u 2v 2 v 2 u2
1− 2 − 2 + 4 1 − 1 −
u' 2
c c c u '2 c 2 c2
1− 2 = 2
⇔ 1 − = 2
. (4.20)
c v c2 v
1 − 2 u x 1 − 2 ux
c c
u2 v
ρ' 1− 1 − 2 u x
= c2 = c (4.21)
ρ v 2 u2 v 2
1 − c 2 1 − c 2 1− 2
c
2
v
1 − 2 ux
c
v
1 − 2 ux
ρ' = ρ
c ⇔ ρ ' = ρ γ 1 − v u
x
v 2
c2
1− 2 , (4.22)
c
v
⇔ ρ ' = γ ρ − 2 Jx
c
com J x = ρ ux .
uur
De (4.7) podemos verificar que as componentes do vetor J ' são-nos dadas,
respetivamente, por
J 'x = ρ ' u ' ∧ J ' y = ρ ' u ' ∧ J 'z = ρ ' u 'z (4.23)
x y
v ux − v
J 'x = γ ρ − 2 J x . (4.24)
c 1 − v u
x
c2
71
Tópicos da Teoria da Relatividade
v v2
ρu − ρv 2
J xu x + 2 J x
J 'x = γ x
− c c
1− uv v
x 1 − 2 ux
c2 c
Jx v
Jx − u v − 2
J x ( ux − v )
c
=γ x
. (4.25)
v
1− ux
c2
v2 v v
γ Jx 2
− 2 ux + 1 −
c c ux
=
v
1 − 2 ux
c
De (4.25) vem
v Jx v
J x 1 − 2 ux v 1 − 2 u x
J 'x = γ
c − γ ux c
(4.26)
v v
1 − 2 ux 1 − 2 ux
c c
J
J 'x = γ J x − x v ⇔ J 'x = γ ( J x − ρ v ) . (4.27)
ux
v uy
J 'y = γ ρ − 2 J x . (4.28)
c γ 1 − v u
x
c 2
72
Tópicos da Teoria da Relatividade
Jx Jy
Colocando em evidência o fator ρ u e atendendo a que =ρ ∧ = ρ , vem
y u uy
x
v
ρ u y 1 − ux
c2
J 'y = ⇔ J 'y = J y . (4.29)
v
1 − 2 ux
c
J 'z = J z . (4.30)
uur
( )
De (4.22), (4.27), (4.29) e (4.30) concluímos que c ρ , J é o quadrivetor densidade
J x = γ ( J 'x + v ρ ' )
J y = J 'y
J z = J 'z . (4.31)
ρ = γ ρ ' + v J '
x
c2
r
Sabe-se que uma partícula, de carga q e massa m, move-se com velocidade u na
uur r
presença de um campo elétrico E e de um campo magnético B . Com base nas
transformações do momento e da energia que ocorrem de um referencial inercial S para outro
referencial inercial S’, vamos deduzir as transformações das componentes que formam cada
um dos campos acima referidos.
73
Tópicos da Teoria da Relatividade
v
p 'x = γ px − c 2 E
p' = p
y y (4.32)
p' = p
z z
E ' = γ ( E − vpx )
uur
uur uur ur uur
F =
dp
dt
(
= qE + q u × B . ) (4.33)
uur ur uur
Onde, como vimos, p é o momento linear, q a carga da partícula, u a sua velocidade e E e
uur
B os campos elétrico e magnético, respetivamente, que sobre ela atuam. A sua componente
na direção do eixo Ox é-nos dada por
dpx
= qEx + q ( u y Bz − u z By ) . (4.34)
dt
dE uur ur
Para além disso, sendo E a energia da partícula, = F . u conduz, a partir de (4.33), a
dt
uur ur
dE
dt
( )
= q E ⋅ u = q ( E xu x + E y u y + Ez u z ) . (4.35)
Derivando a primeira equação de (4.32) em ordem ao intervalo relativista, que como já vimos
é invariante, vem
dp 'x dp v dE dt
=γ x − 2 . (4.36)
ds dt c dt ds
74
Tópicos da Teoria da Relatividade
dp '
x
ds
(4.37)
dt
= γ qE + q u B − u B −
v
q E u + E u + E u
x y z z y
c2
x x y y z z ds
dp '
x
ds
(4.38)
v v v dt
= γ q E 1 − 2 u + u B − 2 E − u B + 2 E
x c x y z c y z y c z ds
dt dx dt dx
u = = (4.39)
x ds dt ds ds
dt dy dt dy
u = = (4.40)
y ds dt ds ds
dt dz dt dz
u = = . (4.41)
z ds dt ds ds
dp '
x
ds
. (4.42)
dt v dx v dy v dz
= γ q E −E 2 + B − 2 E − B + 2 E
x ds x c ds z c y ds y c z ds
v
t ' = γ t − 2 x (4.43)
c
dt ' dt v dx
=γ − 2 , (4.44)
ds ds c ds
75
Tópicos da Teoria da Relatividade
pelo que
dt dt ' v dx dt 1 dt ' v dx
γ = +γ 2 ⇔ = + 2 . (4.45)
ds ds c ds ds γ ds c ds
dp '
x
ds
1 dt ' v dx v dx v dy v dz
= γ q E + 2 −E 2 + B − 2 E − B + 2 E
x γ ds c ds x c ds z c y ds y c z ds
1 dt ' v dy v dz
= γ q E + B − 2 E − B + 2 E
x γ ds z c y ds y c z ds
(4.46)
Sabemos, ainda, a partir das transformações de Lorentz, que y = y ' e que z = z ' , então,
podemos também afirmar que
dy dy ' dz dz '
= ∧ = , (4.47)
ds ds ds ds
dp '
x = q E dt ' + γ B − v E dy ' − γ B + v E dz ' . (4.48)
x ds z
ds c 2 y ds y c z ds
2
dp '
x = q E ' + u' B' − u' B' .
x z y
(4.49)
dt ' y z
76
Tópicos da Teoria da Relatividade
dp '
x = q E ' + u ' B ' − u ' B ' dt '
x z y ds
ds y z
(4.51)
dp '
⇔ x = q E ' dt ' + u ' dt ' B ' − u ' dt ' B '
x y ds z z ds y
ds ds
dp '
x = q E ' dt ' + B ' dy ' − B ' dz ' . (4.55)
x z ds y ds
ds ds
E' = E (4.56)
x x
v
B' = γ B − 2 E (4.57)
z z c y
v
B' = γ B + 2 E . (4.58)
y y c z
dp
dt
y
y z x (
= qE + q u B − u B .
x z ) (4.59)
dp ' dp
y y
= (4.60)
ds ds
77
Tópicos da Teoria da Relatividade
dp '
= q E + u B − u B
y dt
ds y z x x z ds
. (4.61)
dt dt dt
= q E +u B −u B
y ds z ds x x ds z
dp '
y dt dz dx
= q E + B − B . (4.62)
ds y ds ds x ds z
Para além disso, sabemos, através das transformações inversas de Lorentz, que
v
x = γ ( x ' + vt ') ∧ t = γ t ' + 2 x ' (4.63)
c
dp '
y dt ' v dx ' dz ' dx ' dt '
=q E yγ ds + c 2 ds + ds Bx − Bz γ ds + v ds
ds . (4.65)
dx '
= q γ E − vB
dt ' dz ' v
+B − γ B − 2 E
y z ds x ds z c y ds
dp '
= q E ' + u ' B ' − u ' B '
y
(4.66)
dt ' y z x x z
e, como tal
78
Tópicos da Teoria da Relatividade
dp '
y dt ' dt ' dt '
= q E ' + u' B' − u' B' , (4.67)
ds y ds z ds x x ds z
dp '
y dt ' dz ' dx '
= q E ' + B' − B' (4.68)
ds y ds x ds z ds
B' = B (4.69)
x x
E ' = γ E − vB . (4.70)
y y z
Sabemos, ainda, que a Força de Lorentz, exercida na direção do eixo Oz, é-nos dada
por
dp
z = q Ez + u B − u B .
y x
(4.71)
dt x y
dp dp '
z = z. (4.72)
ds ds
e como tal,
dp '
z = q E + u B − u B dt
z y x ds
ds x y
. (4.73)
dp ' dt dt dt
⇔ z =q E +u B −u B
z x ds y y ds x
ds ds
dp '
z = q E dt + B dx − B dy (4.74)
z y ds x ds
ds ds
e, tendo em consideração as igualdades dadas por (4.47) e (4.64), deduzimos de (4.74) que
79
Tópicos da Teoria da Relatividade
dp '
z = q γ E dt ' + v dx ' + γ B dx ' + v dt ' − B dy '
z ds c 2 ds y ds x ds
ds ds
. (4.75)
dt ' v dx ' dy '
= q γ E + vB + γ B + 2 E −B
z y ds y c z ds x ds
dp '
z = q E ' + u ' B' − u ' B'
z y x
(4.76)
dt ' x y
e, assim sendo,
dp '
z = q E ' dt ' + u ' dt ' B ' − u ' dt ' B ' (4.77)
z x ds y y ds x
ds ds
dp '
z = q E ' dt ' + B ' dx ' − B ' dy ' . (4.78)
z y ds x ds
ds ds
E ' = γ E + vB . (4.79)
z z y
E 'x = Ex B ' = B
x x
v
E ' y = γ E y − v Bz ∧ B ' y = γ B y + 2 E z . (4.80)
c
v
E 'z = γ Ez + v By B ' z = γ Bz − 2 E y
c
80
Tópicos da Teoria da Relatividade
x
E = E ' B = B '
x x x
v
E y = γ E ' y + v B 'z ∧ B y = γ B ' y − 2 E ' z . (4.81)
c
v
Ez = γ E 'z − v B ' y Bz = γ B ' z + 2 E ' y
c
x ' = γ ( x − vt )
y ' = y
z ' = z , (4.82)
t ' = γ t − v x
2
c
∂ ∂ x' ∂ ∂t' ∂ ∂ v ∂
= + =γ − 2 (4.83)
∂ x ∂ x ∂ x' ∂ x ∂t ' ∂ x' c ∂t'
∂ ∂
= (4.84)
∂ y ∂ y'
∂ ∂
= (4.85)
∂ z ∂ z'
∂ ∂t' ∂ ∂ x' ∂ ∂ ∂
= + =γ −v . (4.86)
∂t ∂t ∂t' ∂t ∂ x' ∂t ' ∂ x'
81
Tópicos da Teoria da Relatividade
uur ∂ V ∂ Vy ∂ Vz
∇ ⋅V = x
+ + (4.87)
∂x ∂y ∂z
e e e
x y z
uur ∂ ∂ ∂
∇ ×V =
∂x ∂y ∂z
Vx Vy Vz
. (4.88)
∂V ∂ Vy ∂ Vx ∂ Vz ∂ Vy ∂ Vx
= eˆx z − + eˆy − + eˆz −
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y
∂ Ez ∂ E y ∂ Bx
− =− (4.89)
∂y ∂z ∂t
∂ E x ∂ Ez ∂ By
− =− (4.90)
∂z ∂x ∂t
∂ Ey ∂ Ex ∂B
− =− z . (4.91)
∂x ∂y ∂t
∂ Ez ∂ E y ∂ Bx
− =−
∂y ∂z ∂t
. (4.92)
∂ ∂ ∂ ∂
⇔ Ez − E y = − γ −v Bx
∂ y' ∂ z' ∂ t ' ∂ x '
∂ ∂ ∂ ∂
γ ( E 'z − v B ' y ) − γ ( E ' y + v B 'z ) = − γ B 'x + γ B 'x (4.93)
∂ y' ∂ z' ∂t ' ∂ x'
82
Tópicos da Teoria da Relatividade
agrupando os termos que nos interessam em (4.93), e atendendo à covariância das equações
de Maxwell, segue
∂ Ex ∂ E z ∂ By
− =−
∂z ∂x ∂t
∂ Ex ∂ v ∂ ∂ ∂
⇔ −γ − 2 Ez = − γ −v By . (4.95)
∂ z' ∂ x' c ∂t ' ∂t ' ∂ x'
∂ Ex ∂ Ez ∂ By ∂ By v ∂ Ez
⇔ −γ −γv = −γ −γ 2
∂ z' ∂ x' ∂ x' ∂t ' c ∂t '
∂ E 'x ∂ ∂
γ ( Ez + v By ) = −
v
− γ By + 2 Ez
∂ z' ∂ x' ∂t ' c
. (4.96)
∂ E 'x ∂ ∂
⇔ − E 'z = − B 'y
∂z' ∂ x' ∂t'
uur
uur ∂B
Das deduções (4.94), (4.96) e (4.97) fica demonstrado que se ∇× E = − então
∂t
uur
uur ∂ B'
∇ '× E ' = − e, consequentemente, a covariância da lei de Faraday.
∂t '
83
Tópicos da Teoria da Relatividade
∂ ∂x ∂ ∂t ∂ ∂ v ∂
= + =γ + 2 , (4.99)
∂ x' ∂ x' ∂ x ∂ x' ∂t ∂ x c ∂t
uur ∂ v ∂ ∂ ∂
∇ '⋅ B ' = γ + 2 B 'x + B 'y + B 'z . (4.100)
∂ x c ∂t ∂y ∂z
uur
∇ '⋅ B '
∂ v ∂ ∂ v ∂ v (4.101)
=γ Bx + γ 2 Bx + γ By + 2 Ez + γ Bz − 2 E y
∂x c ∂t ∂y c ∂ z c
uur ∂B ∂ By ∂ Bz v ∂ Bx ∂ Ez ∂ E y
∇ '⋅ B ' = γ x + + +γ 2 + − . (4.102)
∂x ∂y ∂z c ∂t ∂y ∂z
uur ∂ B ∂ By ∂ Bz
∇⋅ B = x
+ + =0 (4.103)
∂x ∂y ∂z
uur v ∂B ∂ Bx
∇ '⋅ B ' = γ 2 x − =0 (4.104)
c ∂t ∂t
84
Tópicos da Teoria da Relatividade
∂ Ex ∂ E y ∂ E z 1
+ + = ρ. (4.105)
∂x ∂y ∂z ε0
uur
Calculando o rotacional do campo magnético B , e com base na equação de Maxwell (4.4),
somos levados às seguintes igualdades
∂ Bz ∂ By ∂ Ex
− = µ0 J x + µ0ε 0 (4.108)
∂y ∂z ∂t
∂ Bx ∂ Bz ∂ Ey
− = µ0 J y + µ0ε 0 (4.109)
∂z ∂x ∂t
∂ By ∂ Bx ∂ Ez
− = µ0 J z + µ0ε 0 . (4.110)
∂x ∂y ∂t
85
Tópicos da Teoria da Relatividade
1
e simplificando a igualdade (4.114), atendendo a que µ0 ε 0 = , chegamos a
c2
uur 1
γ ∇ ' ⋅ E ' + γ v µ0 J 'x = ρ. (4.115)
ε0
uur 1 v 1
γ ∇ ' ⋅ E ' + γ v µ0 J ' x − γ J 'x = γ ρ ' , (4.116)
ε0 c 2
ε0
1
pois µ0 = e, portanto, de (4.116) concluímos que
ε 0 c2
uur 1
∇ '⋅ E ' = ρ ', (4.117)
ε
0
Com base em (4.83), (4.85), (4.86), na transformação das componentes dos campos
∂B ∂B ∂E
x − z =µ J +µε y
elétrico e magnético e (4.31), temos de (4.109) que se 0 0 0 ,
∂z ∂x y ∂t
então
∂ ∂ v ∂ ∂ ∂
B 'x − γ − 2 Bz = µ0 J ' y + µ 0 ε 0 γ −v Ey (4.118)
∂ z' ∂ x' c ∂t ' ∂t ' ∂ x'
86
Tópicos da Teoria da Relatividade
∂ ∂
B 'x − γ ( Bz − µ0 ε 0 v E y )
∂ z' ∂ x'
. (4.119)
∂ 1 v
= µ0 J ' y + µ0 ε 0 γ E y − Bz
∂t' µ0 ε 0 c 2
1
µ0 = (4.120)
ε 0 c2
e, consequentemente,
1 1
= µ0 ε 0 v ∧ c 2 = . (4.121)
c 2
µ0 ε 0
∂ ∂ v
B 'x − γ Bz − 2 E y
∂ z' ∂ x' c
, (4.122)
∂
= µ0 J ' y + µ 0 ε 0 γ ( E y − v Bz )
∂t '
∂ ∂ ∂
B 'x − B 'z = µ0 J ' y + µ 0 ε 0 E 'y , (4.123)
∂ z' ∂ x' ∂t'
87
Tópicos da Teoria da Relatividade
∂ v ∂ ∂
γ − 2 By − B 'x
∂ x' c ∂t ' ∂ y'
. (4.124)
∂ ∂
= µ0 J 'z + µ0 ε 0 γ −v Ez
∂t' ∂ x'
∂ v ∂
γ By + 2 E z − B 'x
∂ x' c ∂ y '
. (4.125)
∂
= µ0 J ' y + µ0 ε 0 γ ( Ez + v By )
∂t'
∂ ∂ ∂
B 'y − B 'x = µ 0 J 'z + µ0 ε 0 E 'z , (4.126)
∂ x' ∂ y' ∂t '
∂ Bz ∂ By ∂ Ex
Sabemos, também, de (4.108) que − = µ0 J x + µ0ε 0 e tendo em conta
∂y ∂z ∂t
(4.31), (4.84), (4.85) e (4.86) vem
∂ ∂
Bz − By
∂ y' ∂z'
(4.127)
∂ ∂
= µ 0 γ ( J ' x + v ρ ' ) + µ 0ε 0 γ −v Ex
∂t ' ∂ x'
88
Tópicos da Teoria da Relatividade
∂ v ∂ v
γ B 'z + 2 E ' y − γ B ' y − 2 E 'z
∂ y' c ∂ z' c
(4.128)
∂ ∂
= µ0 γ ( J 'x + v ρ ') + µ0ε 0 γ −v E 'x
∂t ' ∂ x'
∂ ∂ v ∂ ∂ ∂
B 'z − B 'y + 2 E 'x + E 'y + E 'z − µ0 v ρ '
∂ y' ∂ z' c ∂ x' ∂ y' ∂ z'
. (4.129)
∂
= µ 0 J ' x + µ 0ε 0 E 'x
∂t '
1
pois µ0ε 0 = .
c2
∂ ∂ uur
∂ y'
B 'z −
∂z' c
v
( )
B ' y + 2 ∇ ' ⋅ E ' − µ0 v ρ '
(4.130)
∂
= µ 0 J ' x + µ0ε 0 E 'x
∂t'
∂ ∂ ∂
B 'z − B ' y = µ 0 J ' x + µ 0ε 0 E 'x (4.131)
∂ y' ∂ z' ∂t '
uur
uur uur ∂E'
∇ ' × B ' = µ0 J ' + µ0 ε 0 (4.132)
∂t '
89
Tópicos da Teoria da Relatividade
ur
Uma partícula de carga q que se movimenta a uma velocidade u sob influência de um
campo eletromagnético num referencial inercial S, é submetida a uma força que nos é dada
pela equação
uur ur
a nossa já conhecida Força de Lorentz, F , onde q é a carga da partícula, u é a velocidade da
uur uur
partícula e E e B são, respetivamente, os campos elétrico e magnético que atuam sobre a
partícula (recordar (4.33), página 74).
Fx = qEx + q ( u y Bz − u z By ) 4.134)
Fy = qE y + q ( u z Bx − ux Bz ) (4.135)
Fz = qEz + q ( u x By − u y Bx ) . (4.136)
Iremos, de seguida, confirmar a covariância desta força, isto é, iremos provar que
relativamente a um referencial inercial S’, que se desloca em relação a S com uma velocidade
constante e uniforme de módulo v, se tem
90
Tópicos da Teoria da Relatividade
v uur ur
F 'x +
c2
(
F '. u ' )
v
1 + 2 u 'x
c
u'
y v u 'z v
= qE 'x + q γ B 'z + 2 E ' y − γ B ' y − 2 E 'z
γ 1 + v u ' c γ 1 + v u ' c
c 2 x
c 2 x
(4.138)
Atendendo a que
ur uur ur
( )
pois a força magnética não provoca trabalho, ou seja, u ' × B ' . u ' = 0 . Assim, de (4.139) e
ficando, assim demonstrada a covariância da força para a sua componente segundo a direção
do eixo O’x’.
91
Tópicos da Teoria da Relatividade
F 'y
v
γ 1 + 2 u 'x
c
(4.142)
u 'x + v
= qγ ( E ' y + vB 'z )
u 'z v
+ q B' − γ
z
B ' + E ' y
γ 1 + v u ' x 1 + v u ' c2
c2
x
c2
x
v2 v2
F ' y = qγ 2 1 − 2 E ' y + q u 'z B 'x − γ 2 1 − 2 u 'x B ' z . (4.143)
c c
v2 1
1− = 2, (4.144)
c 2
γ
92
Tópicos da Teoria da Relatividade
Transformações
E' = E E = E'
x x x x
E ' = γ E − v B E = γ E ' + v B '
y y z y y z
Figura 19: Transformações do quadrivetor densidade de corrente e dos campos elétrico e magnético, face às
transformações de Lorentz.
93
Tópicos da Teoria da Relatividade
5. “Relatividade fraca”
“Tu pensas que eu olho para o trabalho da minha vida com uma calma e satisfação. Mas de
perto a coisa parece bem diferente. Não existe um só conceito que eu esteja convencido de
que possa resistir estavelmente.”
Albert Einstein
Para o físico teórico italiano Franco Selleri o primeiro postulado poderá revelar-se
demasiado exigente considerando-o como a formulação forte de toda a teoria. Numa
formulação mais fraca da relatividade do movimento, seria, somente, impossível revelar
movimentos absolutos relativamente a um hipotético referencial privilegiado. Já o segundo
postulado encerra em si muitas incertezas, uma vez que a constância da velocidade da luz no
vácuo só foi provada experimentalmente em percursos de ida e volta (tendo por base um
processo de sincronização de relógios), nunca tendo sido medida em apenas percursos de ida.
Tal impossibilidade deve-se a obstáculos de natureza conceptual ligados ao velho problema
da sincronização dos relógios. Colocar em causa o segundo postulado terá grandes
implicações para a Teoria da Relatividade Restrita, como veremos no desenvolvimento deste
capítulo. É, neste momento, importante realçar que é possível distinguir, de acordo com
Selleri, pelo menos duas formulações do princípio da relatividade a que chamaremos
relatividade forte e “relatividade fraca” e que se enunciam da seguinte forma:
- “Relatividade forte, segundo o qual as leis da física devem ser as mesmas em todos os
referenciais inerciais. Deste postulado, passando pelas equações de Maxwell, chega-se
necessariamente à constância da velocidade da luz e às transformações de Lorentz.” (Selleri,
2004, p. 121).
94
Tópicos da Teoria da Relatividade
O objetivo deste tópico é estudar as leis mais gerais de transformação das coordenadas
espaciais e da componente temporal de um determinado acontecimento, relativamente a dois
referenciais inerciais em que um se desloca face ao outro de forma retilínea e uniforme. Para
procedermos a tal estudo, é necessário ter em atenção que o espaço vazio é homogéneo, isto é,
tem as mesmas propriedades em todos os seus pontos, e é isótropo, ou seja, todas as suas
direções são equivalentes e, para além disso, o tempo é homogéneo, isto é, todas as suas
propriedades permanecem inalteráveis com o passar do tempo.
Consideremos, tal como até aqui, dois referenciais inerciais S e S’. Todo e qualquer
acontecimento de S será definido por (x, y, z, t) e, por sua vez, qualquer acontecimento de S’
será definido por (x’, y’, z’, t’). Assim sendo, a relação entre as coordenadas de um
acontecimento na passagem do primeiro referencial inercial para o segundo ser-nos-á dada
por
x ' = f ( x, y , z , t )
y ' = g ( x, y , z , t )
, (5.1)
z ' = h ( x, y , z , t )
t ' = i ( x, y , z , t )
95
Tópicos da Teoria da Relatividade
Vamos começar por supor que existe, pelo menos, um referencial inercial no qual
sejam válidas as equações de Maxwell, sendo este S. Designá-lo-emos por referencial
estacionário e imporemos que a velocidade da luz nele é c em todas as direções, consequência
imediata das equações de Maxwell. Suponhamos, agora, que uma régua de comprimento ∆x,
paralela ao eixo Ox de S, sofre uma variação de posição que tem o mesmo efeito em S’ sobre
as coordenadas espaciais x’, y’ e z’ e sobre a coordenada temporal t’, quaisquer que sejam os
pontos e os instantes em que a régua se encontre em S. Tal consequência, deve-se ao facto do
espaço e tempo serem homogéneos. Assim sendo, de (5.1) vem que
x ' + ∆ x ' = f ( x + ∆ x, y , z , t )
y ' + ∆ y ' = g ( x + ∆ x, y , z , t )
. (5.2)
z ' + ∆ z ' = h ( x + ∆ x, y , z , t )
t ' + ∆ t ' = i ( x + ∆ x, y , z , t )
∆ x ' = f ( x + ∆ x, y , z , t ) − f ( x, y , z , t )
∆ y ' = g ( x + ∆ x, y , z , t ) − g ( x , y , z , t )
. (5.3)
∆ z ' = f ( x + ∆ x, y , z , t ) − f ( x, y , z , t )
∆ t ' = i ( x + ∆ x, y , z , t ) − i ( x, y , z , t )
Nas equações (5.3) o primeiro membro não depende de x, y, z e t, implicando que o mesmo
acontece com o segundo membro. Assim, se dividirmos ambos os membros por ∆x, em todas
as equações, e fizermos ∆x a tender para zero, continuaremos a obter a independência de x, y,
z e t. Consequentemente, temos que
∂ f ∂ g ∂h ∂i
, , , são independentes de x, y, z e t, (5.4)
∂x ∂x ∂x ∂x
96
Tópicos da Teoria da Relatividade
∂f ∂f ∂f ∂f
f1 = ; f2 = ; f3 = ; f4 =
∂x ∂y ∂z ∂t
∂g ∂g ∂g ∂g
g1 = ; g2 = ; g3 = ; g4 =
∂x ∂y ∂z ∂t
. (5.5)
∂h ∂h ∂h ∂h
h1 = ; h2 = ; h3 = ; h4 =
∂x ∂y ∂z ∂t
∂i ∂i ∂i ∂i
i1 = ; i2 = ; i3 = ; i4 =
∂x ∂y ∂z ∂t
∂f
⇒ x ' = f1 x + ϕ1( y, z , t )
f1 =
∂x
∂f
f2 = ⇒ y ' = f 2 y + ϕ 2 ( x, z , t )
∂y
, (5.6)
∂f
f3 = ⇒ z ' = f 3 z + ϕ3 ( x , y , t )
∂z
∂f
⇒ t ' = f 4 t + ϕ4 ( x, y, z )
f4 =
∂t
onde cada uma das quatro equações de (5.6) obtiveram-se integrando sobre x, y, z e t,
respetivamente. As funções ϕi , com i = 1, …, 4, são as constantes de integração em relação à
variável sobre a qual se integra. Conclusões idênticas serão obtidas para y’, z’ e t’, bastando,
para tal, repetir o processo que se efetuou para x’. Atendendo à linearidade das funções f, g, h
e i e, consequentemente, de x’, y’, z’ e t’ é-nos permitido concluir que
97
Tópicos da Teoria da Relatividade
x ' = f1 x + f 2 y + f 3 z + f 4 t + f 5
y ' = g1 x + g 2 y + g3 z + g 4 t + g5
. (5.7)
z ' = h x + h y + h z + h t + h
1 2 3 4 5
t ' = i1 x + i2 y + i3 z + i4 t + i5
Em (5.7)
.7) temos transformações lineares que contêm 20 coeficientes, constantes em
r
relação às variáveis, mas que podem depender da velocidade v do referencial inercial S’ em
relação a S. Determinemos,, a partir deste momento, o valor de cadaa um destes coeficientes.
Figura 20: O referencial inercial S’,, com coordenadas cartesianas ortogonais, desloca-se
desloca paralelamente ao eixo
ur
Ox do referencial inercial S com velocidade v .
De (5.8) e (5.7)
.7) concluímos
concluímos, imediatamente, que
98
Tópicos da Teoria da Relatividade
f 5 = 0 ∧ g 5 = 0 ∧ h5 = 0 ∧ i5 = 0 . (5.9)
z = 0 ⇒ z' = 0. (5.10)
h1 x + h2 y + h4 t = 0 , ∀ x, y, t (5.11)
h1 = 0 ∧ h2 = 0 ∧ h4 = 0 . (5.12)
Imponhamos, agora, que o plano xOz coincide com o plano x’O’z’ para qualquer valor
de t, ou seja
y = 0 ⇒ y' = 0 , (5.13)
g1 x + g3 z + g 4 t = 0 , ∀ x, z , t (5.14)
e, portanto,
g1 = 0 ∧ g 3 = 0 ∧ g 4 = 0 . (5.15)
Admitamos, ainda, que no instante t = 0 o plano yOz coincide com o plano y’O’z’,
donde se obtém a condição
x = 0 ∧ t = 0 ⇒ x' = 0, (5.16)
pois com o passar do tempo os planos yOz e y’O’z’ permanecerão paralelos. Atendendo às
condições obtidas em (5.16) e substituindo na primeira equação de (5.7) obtemos
f 2 y + f3 z = 0 , ∀ y, z (5.17)
99
Tópicos da Teoria da Relatividade
f 2 = 0 ∧ f3 = 0 . (5.18)
r
Vamos impor, também, que a origem de S’ se move com velocidade v , constante,
uniforme e de módulo v, paralelamente ao eixo Ox de S, temos, portanto, que
x ' = 0 ∧ x = vt ∧ y = 0 ∧ z = 0 , (5.19)
f1 ( vt ) + f 4 t = 0 (5.20)
f 4 = − f1 v . (5.21)
x ' = f x − ( f1 v ) t
1
y ' = g2 y
. (5.22)
z ' = h3 z
t ' = i1 x + i2 y + i3 z + i4 t
Se considerarmos que os eixos coordenados são ortogonais, algo não imposto até
agora, e atendendo a que a velocidade com que o referencial S´ se move relativamente a S é
paralela ao eixo Ox, então os eixos Oy e Oz são equivalentes, uma vez que são escolhidos
arbitrariamente e, como tal, não poderão ser distinguidos fisicamente, uma vez que o espaço é
isótropo. Assim sendo, temos que
g 2 = h3 ∧ i2 = i3 . (5.23)
100
Tópicos da Teoria da Relatividade
r
Para além disso, como a velocidade v é paralela a Ox, o tempo t’ não pode depender de y e
de z, teremos
i2 = 0 . (5.24)
x ' = f1 ( x − vt )
y ' = g2 y
, (5.25)
z ' = g2 z
t ' = i1 x + i4 t
1 1
y= y' ∧ z = z '. (5.26)
g2 g2
Por sua vez, a partir da primeira equação de (5.25) podemos escrever, resolvendo esta
equação em ordem a x, que
x ' + f1 vt
x= . (5.27)
f1
x ' + f1 vt
t ' = i1 + i4 t . (5.28)
f1
i1
t ( i1 v + i4 ) = t ' − x' (5.29)
f1
101
Tópicos da Teoria da Relatividade
1 i1
t= t ' − x ' . (5.30)
i1v + i4 f1
i4 x ' + f1 vt '
x= . (5.32)
f1 ( i1v + i4 )
1
Colocando em evidência em (5.32) o fator concluímos que
i1v + i4
1 i4
x= x ' + v t ' . (5.33)
i1v + i4 f1
1 i4
x= f x ' + v t '
i1v + i4 1
1
y= y'
g2
. (5.34)
1
z= z'
g2
1 i1
t= t ' − f x '
i1v + i4 1
102
Tópicos da Teoria da Relatividade
S’, x’1 e x’2, tais que x '2 > x '1 , extremos de uma régua em repouso relativamente ao
referencial inercial S’, de acordo com a primeira equação de (5.25) temos que
x '2 − x '1 = f1 ( x2 − vt ) − f1 ( x1 − vt )
. (5.36)
= f1 x2 − f1 vt − f1 x1 + f1 vt = f1 ( x2 − x1 )
De (5.36) conclui-se que f1 > 0 , pois x '2 − x '1 e x2 − x1 têm de ter o mesmo sinal, para além
evidentemente g 2 > 0 pois y '2 − y '1 e y2 − y1 têm o mesmo sinal e g 2−1 é o fator de
contração transversal de (5.25).
Vamos, ainda, considerar t’1 e t’2 como dois instantes distintos de ocorrência,
relativamente ao referencial S’, de dois acontecimentos num ponto de coordenada espacial x,
sendo que t’2 ocorre depois de t’1. Assim sendo, de (5.25) temos que
103
Tópicos da Teoria da Relatividade
Atendendo a que se t’2 ocorre depois de t’1, então, t2 também ocorre depois de t1, pois
acontecimentos que têm lugar no mesmo local são vistos pela mesma ordem nos vários
referenciais inerciais que se considere. Portanto, e tendo por base o resultado de (5.40),
podemos afirmar que i4 é positivo pois t2 − t1 e t '2 − t '1 têm o mesmo sinal. Contudo, e
apesar de i4 ser o fator de atraso de um relógio em repouso no referencial S, visto de S’, tal não
significa que i4−1 seja o fator de atraso de um relógio em repouso em S’, visto de S. Para tal,
teremos de recorrer às transformações gerais inversas obtidas em (5.34). Atendendo a que a
origem do referencial S’ em S satisfaz a condição x = 0 , da primeira equação de (5.34) vem
1 i4 i4 vf
0= x ' + v t ' ⇒ x' + vt ' = 0 ⇔ x' = − 1 t ' . (5.41)
i1v + i4 f1 f1 i4
Obtendo-se, assim, a equação que nos dá a velocidade da origem de S vista de S’, podendo-se
concluir que a velocidade de S relativamente a S’, v*, é-nos dada por
vf
v* = − 1 . (5.42)
i4
i i
t '1 − 1 x ' t '2 − 1 x '
t1 = f1 ∧ t2 = f1 (5.43)
i4 + i1v i4 + i1v
104
Tópicos da Teoria da Relatividade
i i
t '2 − 1 x ' t '1 − 1 x '
t2 − t1 = f1 − f1
i4 + i1v i4 + i1v
(5.44)
i i
t '2 − t '1 − 1 x ' + 1 x '
= f1 f1 = t '2 − t '1
i4 + i1v i4 + i1v
e, atendendo a que t '2 − t '1 e t2 − t1 têm o mesmo sinal, obtém-se que i4 + i1v > 0 , sendo
iv) a origem de S’, quando observada de S, tem uma velocidade x = vt , sendo que
v < c;
105
Tópicos da Teoria da Relatividade
v2 1
vi) o atraso dos relógios em movimento é-nos dado por = 1 − 2 .
γ c
Atendendo às condições impostas i) e vi) e aos resultados obtidos em (5.36), (5.38) e (5.44),
concluímos que
1
f1 = =γ (5.45)
v2
1− 2
c
g2 = 1 (5.46)
1 1
i4 + i1v = ⇔ i4 = − i1v (5.47)
γ γ
x ' = γ ( x − vt )
y' = y
, (5.48)
z' = z
1 1
t ' = i1x + − i1v t ⇔ t ' = i1 ( x − vt ) + t
γ γ
v
i1 = − γ. (5.49)
c2
Para verificarmos a afirmação feita, vamos substituir (5.49) na quarta equação de (5.48).
2
v v
t' = 1 − 2 t + − ( x − vt )
c 2 v 2
c 1− 2
c
106
Tópicos da Teoria da Relatividade
v2 v v2
⇔ t' = 1 − t− x+ t
c2 v2 v2
c2 1− 2 c2 1− 2
c c
v2 v2 v
⇔ t' = 1 − 2 + t − x, (5.50)
c v2 v2
c 1− 2
2
c 1− 2
2
c c
x'
x= + vt . (5.51)
γ
1
t ' − i1 x = t − i1v (5.52)
γ
t ' − i1 x
t= . (5.53)
1
− i1v
γ
1 1 1
x − i1v = x ' − i1v + v ( t ' − i1 x ) . (5.54)
γ γ γ
107
Tópicos da Teoria da Relatividade
1
x = − i1v x ' + γ vt . (5.55)
γ
Por sua vez, a partir da quarta equação de (5.48) deduz-se a transformação inversa
equivalente da componente temporal de um dado acontecimento. Para tal, comecemos por
colocar no primeiro membro da igualdade os termos em t, colocando este fator em evidência,
donde se obtém
1
t − i1v = t ' − i1 x . (5.57)
γ
1 1
t − i1v = t ' − i1 − i1v x ' + γ vt ' . (5.58)
γ γ
1
Multiplicando todos os termos da equação (5.58) por vem
γ
1 1 1 1 1
t − i1v = t ' − i1 − i1v x ' + vt ' , (5.59)
γ γ γ γ γ
1
t ' − i1vt '
γ
t= − i1 x ' . (5.60)
11
− i1v
γ γ
108
Tópicos da Teoria da Relatividade
1
x = − i1v x ' + γ vt '
γ
y = y' . (5.62)
z = z '
t = γ t ' − i1 x '
t' − t =
1 1
t + i1 ( x − vt ) − t ⇔ t ' − t = t − 1 + i1
( x − vt ) 1
γ γ 1 γ
γ (5.63)
1 1
⇔ t ' − t = − 1 t + i1 x '
γ γ
1
t' = ( t + i1 x ') . (5.64)
γ
109
Tópicos da Teoria da Relatividade
Assim sendo, para um determinado tempo t, de S, os relógios fixos nos pontos x’1 e x’2, de S’,
deverão indicar
1 1
t '1 = ( t + i1 x '1 ) ∧ t '2 = ( t + i1 x '2 ) (5.65)
γ γ
e, consequentemente, obtemos
1 1 1
t '2 − t '1 = ( t + i1 x '2 ) − ( t + i1 x '1 ) ⇔ t '2 − t '1 = i1 ( x '2 − x '1 ) . (5.66)
γ γ γ
Neste momento, se considerarmos que para além de i1 < 0 , se verifica que x '2 > x '1 , então
concluímos que t '2 < t '1 , pois nestas condições i1 ( x '2 − x '1 ) < 0 . Em jeito de conclusão,
somos levados a dizer que simultaneidade retardada significa que os relógios de S’ mostram
um tempo decrescente t’ com o aumento do valor espacial x’, para um mesmo tempo t de S. A
v
relatividade restrita de Einstein, na qual, como já foi dito, i = − γ 2 , é o exemplo mais
1 c
conhecido de simultaneidade retardada.
x = ut , (5.67)
x ' = γ (u − v ) t , (5.68)
condição x por (5.67), facilmente obtemos (5.68). Assim, se considerarmos um valor x’1,
marcado no semieixo positivo de O’x’, este é atingido pelo sinal no instante t1, medido no
referencial S, dado por
110
Tópicos da Teoria da Relatividade
x '1
x1 ' = γ ( u − v ) t1 ⇔ t1 = . (5.69)
γ (u − v )
u x '1
x1 = , (5.70)
γ (u − v )
x '1
pois de (5.67) sabemos que x1 = u t1 e de (5.69) que t1 = , portanto
γ (u − v )
u x '1
x1 = u t1 ⇒ x1 = . (5.71)
γ (u − v )
Por sua vez, o sinal emitido atinge o ponto x’1 no tempo, medido no referencial S’, t’1 dado,
1
de acordo com (5.48) por t1 ' = i1 ( x1 − vt1 ) + t1 . Atendendo a (5.69) e (5.70), somos levados
γ
a escrever
1 1
t '1 = x '1 + i1 . (5.75)
γ γ (u − v )
111
Tópicos da Teoria da Relatividade
Obviamente que se considerarmos que um observador viaja com o sinal vamos considerar que
este não pode observar, nos relógios de S’, um tempo constante ou decrescente, assim t’1 terá
de ser positivo, donde de (5.75) se conclui que
1 1
t '1 > 0 ⇒ + i1 > 0 ⇔ i1 > − , (5.76)
γ (u − v ) γ (u − v )
x = − ut (5.77)
do sinal, vista do referencial S’, é-nos dada a partir de (4.48) por x ' = γ ( x − vt ) e atendendo
a (5.77) vem
Assim um ponto x’1 colocado no semi-eixo negativo de O’x’, x '1 < 0 , é atingido pelo sinal no
instante t1, medido pelos relógios de S, dado por
x '1
x1 ' = − γ t1 ( u + v ) ⇔ t1 = − . (5.79)
γ (u + v )
Neste mesmo instante e atendendo a (5.77), o sinal terá uma posição x1, do ponto de vista do
referencial S, dada por
x '1 u x '1
x1 = − u t1 = − u − = . (5.80)
γ (u + v ) γ (u + v )
112
Tópicos da Teoria da Relatividade
Quando o ponto x’1 é atingido pelo sinal, o relógio em repouso em S’ marcará um tempo t’1
que, tendo por base os resultados obtidos em (5.79) e (5.80) e a transformação do tempo dada
por (5.48), é-nos dado por
1
t '1 = t1 + i1 ( x1 − vt1 )
γ
(5.81)
γ −1 x '1 γ −1 u x '1 γ −1v x '1
⇔ t '1 = γ − −1
+
1i +
u+v u+v u+v
1 1
t' = x '1 i1 − . (5.82)
1 γ γ ( u + v )
1
i1 − <0 (4.83)
γ (u + v )
e, portanto
1
i1 < . (5.84)
γ (u + v)
1 1
− < i1 < . (5.85)
γ (u − v ) γ (u + v )
v 1
Atendendo a que β = ∧ = 1 − β 2 , podemos escrever (5.85) na forma
c γ
1 − β2 1 − β2
− <i < (5.86)
u−v 1 u+v
113
Tópicos da Teoria da Relatividade
e, portanto,
−
(1 − β )(1 + β ) <i <
(1 − β )(1 + β ) . (5.87)
(u − v) 1 (u + v)
2 2
(1 − β )(1 + β ) (1 − β )(1 + β )
2
− c <i < c2 , (5.88)
u v u v 1 u v u v
− − + +
c c c c c c c c
1 1+ β 1 1− β
− < i1 < . (5.89)
c 1− β c 1+ β
Vamos considerar uma régua em repouso sobre o eixo O’x’ do referencial inercial S’,
sendo os seus extremos dados pelos pontos x’1 e x’2. Vamos, ainda, considerar que
114
Tópicos da Teoria da Relatividade
observadores em S marcam os extremos da régua no eixo Ox, sendo estes x1 e x2 num mesmo
instante t. De acordo com as transformações equivalentes obtidas em (5.48), podemos
escrever
donde
1
x2 − x1 = ( x '2 − x '1 ) . (5.92)
γ
De (5.92) constata-se que uma régua em repouso em S’ parece mais pequena se observada de
S. Atendendo à isotropia do espaço, isto é ao facto de o mesmo ser equivalente em todas as
direções, esta conclusão não depende da direção do movimento.
1 1
x1 = − i1v x '1 + γ vt ' ∧ x2 = − i1v x '2 + γ vt ' , (5.93)
γ γ
1 1
x2 − x1 = − i1v x '2 + γ vt ' − − i1v x '1 + γ vt '
γ γ (5.94)
1
= − i1v ( x '2 − x '1 )
γ
115
Tópicos da Teoria da Relatividade
x2 − x1
x '2 − x '1 = . (5.95)
1
− iv
γ 1
v2 2
( x2 − x1 ) 1 − 2 c
x2 − x1 c
x '2 − x '1 = =
1 v2 v2
+γ 2 c 2 1 − 2 + v 2
γ c c
v2 x − x1
⇔ x '2 − x '1 = ( x2 − x1 ) 1 − = 2 (5.96)
c 2
γ
ou seja, a contração espacial da régua em movimento, como era esperado. Por sua vez se em
(5.95) considerarmos i1 = 0 , sincronização absoluta, como adiante se verá, obtemos
e, neste caso, obtém-se uma dilatação do objeto em movimento. Assim, verifica-se que os
métodos de sincronização escolhidos nos levam a resultados incompatíveis e, portanto, será
impossível escolher experimentalmente o resultado mais acertado, uma vez que estes
resultados dependerão, sempre, do método de sincronização entre relógios selecionado.
116
Tópicos da Teoria da Relatividade
sendo as abcissas dos seus pontos x1 e x2, respetivamente, e que estes marcam os tempos t1 e t2
dados pelos seus relógios quando o relógio R’ lhes passa imediatamente à frente, mostrando
R’ os tempos x’1 e x’2. Atendendo a que o relógio R’ se mantém imóvel relativamente ao
referencial S’ e se desloca face a S com uma velocidade constante e uniforme de módulo v,
temos, portanto que
x2 − x1 = v ( t2 − t1 ) . (5.99)
Com base na quarta equação das transformações equivalentes expressas em (5.48), somos
levados a escrever que
1 1
t '1 = t1 + i1 ( x1 − vt1 ) ∧ t '2 = t2 + i1 ( x2 − vt2 ) , (5.100)
γ γ
1 1
t '2 − t '1 = t2 + i1 ( x2 − vt2 ) − t1 + i1 ( x1 − vt1 ) . (5.101)
γ γ
1
Pondo em evidência em (5.101) os fatores , i1 e v deduz-se
γ
1
t '2 − t '1 = ( t2 − t1 ) + i1 x2 − x1 + v ( t2 − t1 ) (5.102)
γ
Assim sendo, e com base no resultado de (5.103), concluímos que visto de S o relógio
R’, fixo em S’, parece atrasado. Como o espaço é isotrópico este resultado não depende da
direção do movimento.
117
Tópicos da Teoria da Relatividade
1 1
xR = − i1v x '1 + γ vt '1 ∧ xR = − i1v x '2 + γ vt '2 . (5.104)
γ γ
γ v ( t '2 − t '1 )
x '2 − x '1 = − , (5.105)
1
γ − i1v
expressão esta que nos dá informação sobre a variação da posição do relógio R face ao
referencial inercial S’.
Ainda a partir das equações das transformações inversas equivalentes (5.62), podemos
escrever que
t2 − t1 + i1 ( x '2 − x '1 )
t '2 − t '1 = . (5.108)
γ
118
Tópicos da Teoria da Relatividade
1 1 t − t1
( t '2 − t '1 ) = − i1v 2 . (5.110)
γ γ γ
1
t '2 − t '1 = − i1v ( t2 − t1 ) , (5.111)
γ
1 v2
t '2 − t '1 = + 2 γ ( t2 − t1 ) (5.112)
γ c
1 v2
e como = 1− , de (5.112) conclui-se que
γ c2
v2
c 2 1 − 2 + v 2
c
t '2 − t '1 = ( t2 − t1 ) , (5.113)
2
v
c2 1 − 2
c
pelo que
119
Tópicos da Teoria da Relatividade
tal como seria de esperar, uma vez que na teoria da relatividade restrita se verifica a dilatação
do tempo para “objetos” em movimento. Por sua vez, se considerarmos que i1 = 0
(sincronização absoluta), constatamos, de (5.111), que
1
t '2 − t '1 = ( t2 − t1 ) (5.115)
γ
e, neste caso, obtém-se o efeito oposto. Tal como aconteceu para o espaço, verifica-se,
também, que para o tempo o método de sincronização escolhido pode levar a resultados
opostos. De facto, tal como diz Franco Selleri, todas as diferenças observáveis dependem da
convenção adotada para a sincronização dos relógios e não têm base física objetiva.
1
i1 ( x − v.0 ) + .0 = 0 ⇒ i1 = 0 (5.116)
γ
120
Tópicos da Teoria da Relatividade
x ' = γ ( x − vt )
y' = y
. (5.117)
z' = z
1
t' = t
γ
c v
c1 (φ ) = , com β = , (5.118)
1 c
1 + β + i1c cos φ
γ
c
c1 (φ ) = . (5.119)
1 + β cos φ
c c
c1 ( 0 ) = < c ∧ c1 (π ) = > c, (5.120)
1+ β 1− β
sinal luminoso que se propaga na direção do referencial inercial S, para um observador que,
também, se encontre no referencial inercial S’. Assim, de (5.120), pode-se afirmar que
c c
≤ c1 (φ ) ≤ . (5.121)
1+ β 1− β
121
Tópicos da Teoria da Relatividade
1
x= x ' + γ vt '
γ
y = y'
. (5.122)
z = z'
t = γ t'
1 vt '
x ' + γ vt ' = 0 ⇔ x ' = − γ 2 vt ' ⇔ x ' = − . (5.123)
γ 1 − β2
v βc
com uma velocidade de módulo − = que pode ser maior do que c, pois do
1− β 2
1 − β2
c
c1 ( π ) = . (5.124)
1− β
Atendendo a que
cβ c β β
= ∧ < 1, (5.125)
1− β 2
1− β 1 + β 1+ β
c cβ
c1 (π ) = > . (5.126)
1 − β 1 − β2
Assim sendo, apesar de podermos obter velocidades superiores a c, estas, por (5.126), nunca
poderão ser superluminais, pois não são superiores à velocidade da luz no referencial em
questão.
122
Tópicos da Teoria da Relatividade
v
−
1 − β2
Uma das consequências mais importante das transformações inerciais é que podemos
ter velocidades relativas a referenciais em movimento a aumentarem indefinidamente, pois se
βc
v → c , então β → 1− e, consequentemente
consequentemente, → + ∞ . Contudo ass velocidades absolutas de
1 − β2
objetos
tos materiais não podem nunca superar c.
1 x
Figura 22: Representação gráfica das funções f e g, definidas por f ( x ) = e g ( x) = , que representam,
1− x 1− x 2
respetivamente, a velocidade do raio de luz visto de S’ e a velocidade do referencial S face a S’. Tal como
deduzido anteriormente, vê-se
se que a velocidade de S face a S’, dada por g,, pode ser superior a c (pois c = 1), mas
que não é superluminal,, pois nunca ultrapassa a velocidade do raio de luz dada por f.
123
Tópicos da Teoria da Relatividade
Uma das diferenças visíveis no que diz respeito às transformações inerciais face às
transformações de Lorentz, prende-se com o facto de as primeiras não permitirem a existência
de um intervalo relativista de norma invariante, isto é, c 2 ∆t 2 − ∆x 2 ≠ c 2 ∆t '2 − ∆x '2 .
Tal como fizemos para as transformações equivalentes, vamos começar por supor que
uma régua se encontra em repouso sobre o eixo O’x’, sendo os seus extremos dados por x’1 e
x’2, respetivamente. Suponhamos, também, que dois observadores em S marcam os extremos
da régua sobre o eixo Ox, sendo estes dados por x1 e x2 num mesmo instante t. De (5.117)
podemos escrever
1
x2 − x1 = ( x '2 − x '1 ) (5.128)
γ
Vejamos, por sua vez, o que acontece se considerarmos que a régua se encontra em
repouso em S. Sejam, portanto, x1 e x2 as extremidades da régua marcadas sobre o eixo Ox.
Suponhamos que dois observadores fixos em S’ marcam os extremos da régua sobre o eixo
O’x’ num mesmo tempo t’, sendo estes extremos dados, respetivamente, por x’1 e x’2. De
acordo com as transformações inerciais inversas constantes em (5.122) temos que
124
Tópicos da Teoria da Relatividade
1 1
x1 = x '1 + γ vt ' ∧ x2 = x '2 + γ vt ' , (5.129)
γ γ
1 1 1
x2 − x1 = x '2 + γ vt ' − x '1 + γ vt ' = ( x '2 − x '1 ) (5.130)
γ γ γ
x2 − x1 = v ( t2 − t1 ) . (5.132)
Para além disso, a partir da quarta equação das transformações inerciais dadas por (5.117)
podemos escrever que
1 1
t '1 = t1 ∧ t '2 = t2 t (5.133)
γ γ
pelo que
125
Tópicos da Teoria da Relatividade
1
t '2 − t '1 = ( t2 − t1 ) (5.134)
γ
Concluímos assim, que do ponto de vista de S, o relógio R’, em repouso em S’, parece
atrasado. Por este motivo, podemos afirmar que um relógio que se move com uma velocidade
uniforme e constante face ao referencial inercial privilegiado S sofre um atraso associado ao
parâmetro γ, dependente de v, qualquer que seja a direção do seu movimento, uma vez que o
espaço é isotrópico.
Vamos, agora, considerar um relógio R fixo sobre o eixo das abcissas do referencial
inercial S, no ponto de abcissa xR. Consideremos, também, dois observadores em repouso no
referencial S’ na posse, cada um deles, de um relógio e representados pelas abcissas x’1 e x’2,
controlando os instantes t’1 e t’2 que os seus relógios marcam quando o relógio R lhes passa
em frente, marcando por sua vez os tempos t1 e t2, de forma visível aos dois observadores.
Obviamente, e tendo por base a primeira equação das transformações inerciais inversas dadas
por (5.122), as posições ocupadas pelo relógio R, quando este está em frente aos dois
observadores, são definidas por
1 1
xR = x '1 + γ vt '1 ∧ xR = x '2 + γ vt '2 , (5.136)
γ γ
donde obtemos
1 1
x '2 + γ vt '2 − x '1 + γ vt '1 = 0 (5.137)
γ γ
126
Tópicos da Teoria da Relatividade
e assim
e por consequência
1
t '2 − t '1 = ( t2 − t1 ) . (5.141)
γ
Tal como se fez para a relatividade restrita de Einstein, vamos a partir das
transformações inerciais de Selleri verificar o que acontece para a transformação da
velocidade, momento linear e energia e força, com o intuito de verificarmos se existem
diferenças significativas ou, se pelo contrário, ambas as teoria nos levam às mesma
conclusões. Para tal, consideremos, como até aqui, dois referenciais inerciais S e S’, de modo
a que S’ de desloque paralelamente ao eixo Ox do referencial S com velocidade constante e
ur
uniforme v .
127
Tópicos da Teoria da Relatividade
dx ' = γ ( dx − vdt )
dy ' = dy
(5.142)
dz ' = dz
dt ' = 1 dt
γ
dx ' γ ( dx − vdt ) dx dt
u 'x = = =γ2 − v = γ 2 (ux − v ) (5.143)
dt ' 1 dt dt
dt
γ
dy ' dy dy
u 'y = = =γ = γ uy (5.144)
dt ' 1 dt dt
γ
dz ' dz dz
u 'z = = =γ = γ uz . (5.145)
dt ' 1 dt dt
γ
128
Tópicos da Teoria da Relatividade
u 'x = γ 2 ( ux − v )
u 'y = γ uy . (5.146)
u 'z = γ uz
u 'x + γ 2v u 'x
u 'x = γ 2
( ux − v ) ⇔ ux = ⇔ ux = +v (5.147)
γ 2
γ2
u 'y
uy = (5.148)
γ
u 'z
uz = , (5.149)
γ
u 'x
u x = γ 2 + v
u 'y
u y = . (5.150)
γ
u = u ' z
z γ
129
Tópicos da Teoria da Relatividade
uur ur
ur 1 uur ur 1 1 u'. v
u = u ' + v 1 + 2 − 2 (5.151)
γ γ γ v
pois, se
uur ur
ur ur uur ur 1 uur ur 1 1 u '. v
u = u x e1 + u y e2 + u z e3 = u ' + v 1 + 2 − 2 (5.152)
γ γ γ v
ur
com v = ( vx , 0, 0 ) = ( v, 0, 0 ) , então,
1 1 1 u 'x v 1 1 1
ux = u 'x + v 1 + γ 2 − γ v 2 = γ u 'x + v + γ 2 u 'x − γ u 'x (5.153)
γ
1
ux = u 'x + v . (5.154)
γ2
ur
Como o vetor velocidade v tem a direção do eixo Ox, as suas componentes segundo as
direções de Oy e Oz são nulas, pelo que é fácil constatar que de (5.151) se obtém
1 1
uy = u 'y ∧ uz = u 'z . (5.155)
γ γ
ur ur ur r
u .v 1 u '. v
Com base em (5.151), iremos demonstrar que 1 − 2 = 2 1 − 2 e que
c γ c
ur ur 2
u2 1 u '. v u '2
1− 2 = 1 − 2 − 2 . Temos
c γ c c
ur ur
1 ur ur
u.v
1− 2 =1− 2 u .v
c c
( ) (5.156)
130
Tópicos da Teoria da Relatividade
1 ur ur
1−
c2
(
u.v )
ur uur ur
v 1 uur ur 1 1 u ' . v
= 1 − 2 . u ' + v 1 + 2 − 2
c γ γ γ v
ur ur uur ur
1 v .u ' v2 v2 1 1 u '. v
=1− − 2 − 2 2 − 2
γ c2 c c γ γ v
uur ur
v2 1 u '. v
=1− 2 − 2 2
c γ c
uur ur
1
1 u '. v
= 2 − 2 2
γ γ c
uur ur
1 u '. v (5.157)
= 2 1 − 2
γ c
1 v2
pois =1− . Assim concluímos de (5.156) e (5.157) que
γ2 c2
ur ur ur r
u .v 1 u '. v
1− = 2 1 − 2 . (5.158)
c2 γ c
uur ur 2
ur ur 1 ur ur 1 1 u ' . v
u = u . u = u + v 1 + 2 − 2
2
(5.159)
γ γ γ v
131
Tópicos da Teoria da Relatividade
uur ur uur ur 2
ur u
r '.v
1
u 2 = 2 u '2 +
γ
2
γ
( ) 1 1 u ' . v
u '. v 1 + 2 − 2 + v 2 1 + 2 − 2
γ γ v γ
1 1 u
γ v
uur ur
uur ur uur ur
( )
2
2
1 2 2 ur ur 2 ur ur 1 1 u' . v u '.v
(
= 2 u ' + u '. v +
γ γ
) γ
( γ
)
u '. v 2 − 2 + v 2 1 + 2 2 − 2 + 2 −
γ v γ
1 1
γ v
u ' . v
γ
1 1
γ v4
uur ur 2
ur u
r 2 1 1 uur ur 1 1 uu
r ur 1 1
2
u '.v ( )
1 2
( ) ( )
2
= 2 u '2 + u '. v + 2 2 − u ' . v + v 2 + 2 2 − u ' . v + 2 −
γ γ v γ γ γ γ γ γ γ v2
uur ur 2
2 2 ur u
r 2 1 1 1 1
2
u '.v ( )
γ
1
γ γ
2
γ
( )
= 2 u '2 + + 2 − u '. v + 2 − + 2 −
γ
γ γ γ γ v 2
+ v2
(5.160)
2
2 1 1 1 1 1 1 2 1 1
2 − + 2 − = 2 − + 2 −
γ γ γ γ γ γ γ γ γ γ
. (5.161)
1 1 1 1 1 1 1 v2
= 2 − + 2 = 2 2 − 1 = − 2 2
γ γ γ γ γ γ γ c
ur ur
( )
2
ur u
r 2 u '. v
1 2 v 1
u 2 = 2 u '2 + 2 u '. v − 2 2
γ γ c γ
( v2
) + v2
ur ur
( )
2
ur u
r u '. v
1
γ
(
= 2 u '2 + 2 u '. v −
c2
) + v2
ur ur
( )
2
1 2 ur u
r u '. v
+ v2
= 2 u ' + c 2 −
γ (
c 2 − 2 u '. v +
c2
)
132
Tópicos da Teoria da Relatividade
ur ur
( ) 2
u '. v
1 2 c −
= 2 u ' + c 2 − +v
2
γ c
. (5.162)
ur ur 2
1 2 u '. v
= 2 u ' + c 2 − c 2 1 − 2 + v 2
γ c
ur ur 2
u2 1 u '2 u '. v v 2
1 − 2 = 1 − 2 2 + 1 − 1 − 2 − 2
c γ c c c
ur ur 2
v2 1 u '. v u '2
= 1 − 2 + 2 1 − 2 − 2 − 1 (5.163)
c γ c c
ur ur 2
1 1 u '. v u '2 1
= 2 + 2 1 −
− − 2
γ γ c2 c γ
2
ur ur 2
u2 1 u '. v u '2
1− 2 = 1 − 2 − 2 . (5.164)
c γ c c
u2
seguida, ambos os membros por 1− , assim obtemos
c2
Por outro lado, temos que, no que diz respeito ao referencial inercial privilegiado S, e sendo m
r
a massa em repouso de uma determinada partícula e u a sua velocidade, torna-se conveniente
definir a massa de um corpo em movimento por
133
Tópicos da Teoria da Relatividade
m
m (u ) = , (5.166)
u2
1− 2
c
consequentemente,
uur ur
p = m (u ) u (5.167)
e, ainda,
E = m (u ) c2 . (5.168)
ur
Do mesmo modo, sendo u ' a velocidade da mesma partícula relativamente ao referencial S’,
temos que
m
m ( u ') = . (5.169)
u '2
1− 2
c
1
ur ur 2 −
1 u '. v u '2
2
= 1 − 2 − 2 (5.170)
u2 c c
γ 1− 2
c
m mu ' y
uy = ur ur 2
u2 u '. v u '2
1−
c2 1 − 2 −
c c2
, (5.171)
m mu 'z
uz = ur ur 2
u2 u '. v u '2
1− 2
c 1 − 2 −
c c2
ou seja,
134
Tópicos da Teoria da Relatividade
mu ' y mu 'z
m (u ) u y = ur ur 2 ∧ m (u ) uz = ur ur 2 (4.172)
u '. v u' 2
u '. v u '2
1 − 2 − 2 1 − 2 − 2
c c c c
e, portanto,
pois,
m m
p 'y = ur ur 2 u ' y ∧ p 'z = ur ur 2 u 'z . (5.174)
u '. v u' 2
u '. v u' 2
1 − 2 − 2 1 − 2 − 2
c c c c
m 1 m m
ux = u 'x + v, (5.175)
u2 γ 2
u2 u2
1− 2 1− 2 1− 2
c c c
1
ur ur 2 −
1 u '. v u '2
2
v mc 2
m ( u ) u x = 1 −
− mu ' x + 2 (5.176)
γ c2
2
c c u2
1− 2
c
1
e, consequentemente, colocando em (5.176) em evidência, temos
γ
1 mu 'x γ 2v 1 mc 2
m ( u ) ux = + 2 . (5.177)
γ ur u
r
1
c γ u2
u '. v
2
u '2 2
1− 2
1 − − 2 c
c2 c
135
Tópicos da Teoria da Relatividade
mc 2 mc 2 mc 2
E= ∧ = 1
= E ', (5.178)
u2 u2 ur u
r
u '2
2
1− 2 γ 1− 2 u '. v
2
c c 1 − −
c2 c2
1 mu 'x γ 2v
px = + 2 E ' (5.179)
γ ur u
r
1
c
u '. v
2
u '2 2
1 − − 2
2
c c
mu 'x
p 'x = 1
, (5.180)
ur u
r
u '2
2
u '. v
2
1 − 2 − 2
c c
1 2 v
px = p 'x + γ 2 E ' . (5.181)
γ c
1
E = E' ⇔ E = γE'. (5.182)
γ
1 2 v
px = γ p 'x + γ c 2 E '
py = p 'y . (5.183)
p = p'
z z
E = γ E '
136
Tópicos da Teoria da Relatividade
v
p 'x = γ px − c 2 E
p 'y = py
, (5.184)
p
z ' = p z
1
E ' = E
γ
uur dp dE uur ur
Atendendo a que F = e a que = F . u , obviamente, e considerando a
dt dt
transformação inercial do momento e energia, a componente vetorial da força segundo a
direção do eixo Ox, Fx, na passagem de S para S’, é-nos dada por
v
d γ px − 2 E
c dp v dE
=
dp ' x
F 'x = = γ2 x − 2
dt ' 1 dt c dt
d t (5.185)
γ
v uur ur
= γ 2 Fx − 2 F . u
c
(
)
por sua vez, as componentes Fy e Fz do vetor força são-nos dadas, respetivamente, por
dp ' y dp y dp
F 'y = = = γ y = γ Fy (5.186)
dt ' 1 dt
dt
γ
F' = γF . (5.187)
z z
137
Tópicos da Teoria da Relatividade
v uuur uur
Fx =
F 'x
γ 2
+
c2
(F '. u ' ) (5.189)
1
Fy = F 'y (5.190)
γ
1
Fz = F 'z . (5.191)
γ
Transformações
x ' = γ ( x − vt ) 1
x= x '+ γ vt '
y' = y γ
Coordenadas z'= z y = y'
1 z = z'
t'= t
γ t = γt '
138
Tópicos da Teoria da Relatividade
u 'x
ux = +v
γ2
u 'x = γ 2
(ux − v )
u 'y
Velocidade u 'y = γ u y uy =
γ
u 'z = γ uz
u 'z
uz =
γ
v
p 'x = γ px − 2 E 1 2 v
c px = p 'x + γ 2 E '
γ c
p 'y = py
Momento e energia py = p 'y
p ' z = pz
pz = p 'z
1
E' = E E = γ E'
γ
v uuur uur
v uur ur
Fx =
F 'x
γ
+ (
F ' ⋅ u' )
( )
2
c2
F 'x = γ 2 Fx − 2 F ⋅ u
c 1
Força Fy = F 'y
F ' y = γ Fy γ
F 'z = γ Fz 1
Fz = F 'z
γ
139
Tópicos da Teoria da Relatividade
Como dito anteriormente, em S assume-se que a força de Lorentz é-nos dada por
v uur ur
F 'x
γ2
+
c2
( )
F '. u ' = q Ex + u y Bz − uz By . (6.2)
v ur r
qc
(
F 'x = q γ 2 Ex + u y Bz − uz By − 2 F . u . ) (6.3)
F ' y = γ q ( E y + uz Bx − ux Bz ) (6.4)
F 'z = γ q ( Ez + ux By − u y Bx ) . (6.5)
uur ur uur ur
F . u = qE . u , (6.6)
140
Tópicos da Teoria da Relatividade
ur uur ur
( )
pois u × B ⋅ u = 0 , uma vez que os três vetores envolvidos no produto misto anterior são
complanares, como já vimos. Assim, podemos reescrever (6.3), tendo em conta o resultado de
(6.6), na forma
F 'x = q γ 2 Ex + u y Bz − uz By − 2 ( Ex u x + E y u y + Ez u z )
qv
(6.7)
qc
v v v
F 'x = qγ 2 Ex 1 − 2 ux + u y Bz − 2 E y − uz By + 2 Ez . (6.8)
c c c
Substituindo em (6.8) ux, uy e uz pelas suas transformações inerciais inversas dadas por
(5.150) segue que
e, portanto,
v 2 v
2
v v
F 'x = qEx γ 2 − 2
u ' x − γ 2
+ qγ u ' y Bz − 2 E y − qγ u ' z By + 2 Ez
c c c c
. (6.10)
v2 v v v
= q Ex γ 2 1 − 2
− 2 u 'x + γ u ' y Bz − 2 E y − γ u 'z By + 2 Ez
c c c c
v2 1
Atendendo a que 1 − = 2 , podemos reescrever (6.10) na forma
c 2
γ
v v v
F 'x = q Ex 1 − 2 u ' x + u ' y γ Bz − 2 E y − u ' z γ By + 2 Ez . (6.11)
c c c
141
Tópicos da Teoria da Relatividade
Por sua vez, se considerarmos que a mesma partícula se encontra em repouso no seu
referencial próprio S’, sabemos que a força de Lorentz por ela sofrida dependerá apenas do
campo elétrico em que está inserida e, consequentemente,
E 'x = Ex . (6.14)
v v
B 'z = γ Bz − 2 E y ∧ B ' y = γ By + 2 Ez (6.15)
c c
F 'x = q 1 − 2 u 'x E 'x + q ( u ' y B ' z − u 'z B ' y ) ,
v
(6.16)
c
o que nos mostra que no sistema não privilegiado S’, a força de Lorentz apresenta uma forma
mais complexa do que seria à partida esperado, uma vez que a sua componente elétrica,
também, depende da velocidade da partícula.
As restantes componentes da força, F’y e F’z, do ponto de vista de S’, são obtidas
considerando as transformações inerciais inversas das componentes da velocidade, ux e uz,
dadas por (5.150). Assim, substituindo-as em (6.4) concluímos que
1 1
F ' y = γ q E y + u ' z Bx − 2 u ' x Bz − vBz (6.17)
γ γ
F ' y = q γ ( E y − vBz ) + q u 'z Bx − u 'x Bz .
1
(6.18)
γ
142
Tópicos da Teoria da Relatividade
1
F 'z = q γ ( Ez + vBy ) + q u 'x By − u ' y Bx . (6.19)
γ
Considerando, tal como se fez para a componente segundo a direção de O’x’, que a
partícula de carga q se encontra estática em S’, somos levados a admitir, a partir de (6.18) e
(6.19), que
e, portanto,
1
F ' y = qE ' y + q u 'z Bx − u ' x Bz (6.22)
γ
1
F 'z = qE 'z + q u 'x By − u ' y Bx . (6.23)
γ
Para cada uma das componentes dos campos elétrico e magnético dadas por (6.15) e (6.21),
podemos obter as respetivas componentes inversas, para tal basta resolver cada uma destas
equações em ordem às componentes referentes ao referencial inercial S e fazer as
substituições convenientes. Assim
B 'z v B' v
= Bz − E y ⇔ Bz = z + 2 E y , (6.24)
γ c 2
γ c
E 'y
E ' y = γ ( E y − vBz ) ⇔ E y = + vBz (6.25)
γ
143
Tópicos da Teoria da Relatividade
B 'zv E 'y
Bz = +
2
+ vBz
γ c γ
v 2
1 v
⇔ Bz − 2 Bz = B 'z + 2 E ' y
c γ c . (6.26)
1 1 v
⇔ 2 Bz = B 'z + 2 E ' y
γ γ c
v
⇔ Bz = γ B 'z + 2 E ' y
c
Do mesmo modo,
v B' v
B ' y = γ By + 2 Ez ⇔ By = y − 2 Ez (6.27)
c γ c
E 'z = γ ( Ez + vBy ) ⇔ Ez =
E 'z
− vBy , (6.28)
γ
v E 'z
B 'y
By = 2
− − vBy
γ c γ
2
v 1 v
⇔ By − 2 By = B ' y − 2 E 'z
c γ c . (6.29)
1 1 v
⇔ 2 By = B ' y − 2 E 'z
γ γ c
v
⇔ By = γ B ' y − 2 E 'z
c
Por outro lado, substituindo em (6.25) a condição dada por (6.26) vem, após alguns cálculos
elementares, que
1 v2
E y = γ E ' y 2 + 2 + vB 'z . (6.30)
γ c
144
Tópicos da Teoria da Relatividade
1 v2
Mas, atendendo a que =1− , de (6.30) segue que
γ2 c2
1 v
F ' y = qE ' y + q u ' z Bx − u 'x γ B 'z + 2 E ' y (6.33)
γ c
v
F ' y = q 1 − 2 u 'x E ' y + q ( u ' z Bx − u 'x B 'z ) . (6.34)
c
F 'z = q 1 − 2 u ' x E 'z + q ( u 'x B ' y − u ' y Bx ) .
v
(6.35)
c
A estrutura apresentada por (6.34) e (6.35) por comparação com (6.16) sugere-nos que
devemos ter
Bx = B 'x . (6.36)
145
Tópicos da Teoria da Relatividade
E ' x = Ex
E ' y = γ ( E y − vBz )
E 'z = γ ( Ez + vBy )
B 'x = Bx . (6.37)
v
B ' y = γ B y + 2 Ez
c
v
B 'z = γ Bz − 2 E y
c
Ex = E ' x
E y = γ ( E ' y + vB 'z )
Ez = γ ( E 'z − vB ' y )
Bx = B 'x . (6.38)
v
By = γ B ' y − 2 E 'z
c
v
Bz = γ B 'z + 2 E ' y
c
uur ρ
∇⋅ E = (6.39)
ε0
146
Tópicos da Teoria da Relatividade
uur
uur ∂B
∇× E = − (6.40)
∂t
uur
∇⋅B = 0 (6.41)
uur
uur uur ∂E
∇× B = µ0 J + µ0ε 0 , (6.42)
∂t
∂ ∂x ' ∂ ∂
= =γ (6.43)
∂x ∂x ∂x ' ∂x '
∂ ∂
= (6.44)
∂y ∂y '
∂ ∂
= (6.45)
∂z ∂z '
∂ ∂x ' ∂ ∂t ' ∂ 1 ∂ ∂
= + = − γv . (6.46)
∂t ∂t ∂x ' ∂t ∂t ' γ ∂t ' ∂x '
Para além disso, e tendo por base os trabalhos de Buonaura (2004) e Puccini (2003),
constata-te que o operador ∇ (nabla), referente ao referencial inercial S, se transforma a partir
de ∇ ' , referente ao referencial inercial S’, por
ur
v ur
∇ = ∇ ' + ( γ − 1) 2 v . ∇ ' (6.47)
v
e que
∂ 1 ∂ ur
= − γ v . ∇'. (6.48)
∂t γ ∂t '
Ainda tendo por base os estudos efetuados pelos autores acima citados, temos que as
transformações inversas dos campos são-nos dadas na sua forma vetorial, tendo em
147
Tópicos da Teoria da Relatividade
consideração (6.47), (6.48) e as transformações inversas das componentes dos campos dadas
por (6.38), por
ur uur
ur uur uur v . E ' ur
( )
E = γ E ' − v × B ' − ( γ − 1) 2 v
v
(6.49)
ur uur
ur uur uur v . B ' ur
( )
B = γ B ' + v × E ' − ( γ − 1) 2 v
v
uur uur
e, tendo em conta (6.49), definamos os campos E ∗ e B∗ da forma
Consequentemente, vem
uuur ρ
∇⋅ E ∗ = (6.51)
ε0
uuur
uur ∂ B∗
∇× E ' = − (6.52)
∂t
∇ . B∗ = 0 (6.53)
uuur
uur uur ∂ E∗
∇× B ' = µ0 J ' + µ0ε 0 , (6.54)
∂t
J 'x = γ ( J x − v ρ )
J 'y = J y
J 'z = J z , (6.55)
ρ ' = 1 ρ
γ
que, também, devem ser comparadas com as mesmas transformações face às transformações
de Lorentz.
148
Tópicos da Teoria da Relatividade
Todas as conclusões apresentadas neste subcapítulo 6.2 foram obtidas por Puccini
(2003) e Buonaura (2004) e estão demonstradas em [24] e [3]. Contudo, tais deduções,
embora pareçam matematicamente corretas, parecem-nos algo forçadas e parecem carecer,
também, de confirmação experimental.
149
Tópicos da Teoria da Relatividade
Alfred Whitehead
150
Tópicos da Teoria da Relatividade
Figura 243: Troca de sinais superluminais entre dois observadores inerciais A e B,, do ponto de vista da Teoria da
Relatividade Restrita. ct é a linha do universo do amigo A, aquele que se encontra na Terra e ct’ é a linha do
universo do amigo B,, aquele que partiu em viagem com uma velocidade cons
constante
tante inferior a c, percorrendo os
sucessivos pontos do eixo O’ct’.. Verifica-se que a resposta (B2) chega antes da pergunta ter sido realizada (B
( 1),
paradoxo causal.
3 v
β=
c
151
Tópicos da Teoria da Relatividade
Comecemos por verificar que ct = x é coincidente com ct ' = x ' . De (3.40) vem que
se ct ' = x ' , então
v v
cγ t − 2 x = γ ( x − vt ) ⇔ ct + vt = x + x
c c
(7.1)
v x
⇔ t ( c + v ) = x 1 + ⇔ t = ⇔ ct = x
c c
De seguida temos de ter em atenção que cada sinal superluminal se deve propagar em
direção ao seu futuro, assim sendo temos de garantir que t ' A1 > t 'B1 , o que acontece como
podemos observar no diagrama anterior. Para além disso t A 2 < t B 2 , o que também se verifica.
Nestas condições, conclui-se que se pode dar o caso de t 'B 2 < t 'B1 , como se observa no
diagrama da figura 24, e, portanto, o amigo B recebe a resposta do amigo A sem que tenha
efetuado a pergunta, verificando-se, assim, um loop temporal paradoxal. Podemos verificar na
figura 24, que os sinais emitidos por A e B são superluminais, pois encontram-se fora dos
seus cones de luz. Caso a emissão dos sinais superluminais se realizasse de modo a que
t A1 > t B1 , não se verificaria qualquer inversão causal. Reforcemos o que se acabou de dizer,
v
Através das transformações de Lorentz (3.40), sabemos que ∆ t ' = γ ∆ t − 2 ∆ x , a
c
v v
exigência ∆ t ' > 0 (A1 no futuro de B1, visto em S’) leva a ∆ t − 2
∆ x > 0 ⇒ ∆t > 2 ∆ x
c c
entre os mesmos dois acontecimentos (B1 e A1). Assim, tanto podemos escolher ∆ x > 0 como
∆ x < 0 , mas, ao escolhermos ∆ x > 0 , verificamos, necessariamente, que ∆ t > 0 . Por outro
lado, ao escolhermos ∆ x < 0 (sinal no sentido negativo do eixo Ox) temos, ∆ t > 0 ou
∆ t < 0 . Destas duas possíveis escolhas, tomemos ∆ t < 0 , ou seja, t A1 < t B1 . Quer isto dizer
que, em S, é possível que a receção do sinal em A1 ocorra antes da sua emissão (superluminal)
em B1, t A1 < t B1 , embora em S’, A1 seja posterior a B1 ( ∆ t ' = t ' A1 − t 'B1 > 0 ).
152
Tópicos da Teoria da Relatividade
Em conclusão, pode
pode-se dizer que em relatividade restrita
estrita, a existir sinais
superluminais, a resposta do amigo A chegaria ao amigo B antes, mesmo, que este último
tivesse efetuado a pergunta e, como tal, o sinal superluminal usado
o para a resposta pôde viajar
para o passado de B.. Como a Teoria da Relatividade não permite
permite,, na verdade, velocidades
superluminais dos sinais,, declara que tais fenómenos de inversões causais não são possíveis.
Contudo, veremos a seguir que as transformações inerciais permitem
item a resolução deste
problema, sem que ocorram inversões causais, isto é, permite
permitem
m a ocorrência de velocidades
superluminais,, sem que incorramos em absurdos causais.
Figura 254: Troca de sinais superluminais entre dois observadores inerciais A e B com base nas transformações
inerciais. ct é a linha do universo do amigo A, aquele que se encontra na Terra e ct’ é a linha do universo do
amigo B,, aquele que partiu em viagem com uma velocidade constante inferior a c.. Verifica-se
Verifica que a resposta (B2)
chegaa depois da pergunta ter sido realizada ((B1).
4
O facto dos eixos Ox e O’x’ serem coincidentes não quer dizer que as variações de tempo nos dois referenciais
sejam coincidentes. De facto os eixos estão sobrepostos mas as, respetivas, escalas não, como se verifica nas
equações das transformações inerciais
inerciais.
153
Tópicos da Teoria da Relatividade
1 1 v
ct = γ ( x − vt ) ⇔ ct = γ x − ct
γ γ c
, (7.2)
1 x v 1 v x
⇔ = − ⇔ 2 + =
γ 2
ct c γ c ct
1 v
x = ct 2 + . (7.3)
γ c
1 v2
=1− (7.4)
γ2 c2
v v2 1
x = ct 1 + − 2 ⇔ ct = x. (7.5)
c c v v
1 + 1 −
c c
v v v 1
Como 0 < 1 − < 1 , então, 1 + 1 − > 1 e, consequentemente, < 1.
c c c v v
1 + 1 −
c c
Tal como na figura anterior, as linhas ct e ct’ são as linhas de universo dos amigos A e
B, respetivamente. Contudo, considerando as transformações inerciais, os eixo Ox e O’x’ são
coincidentes, pois se ct = 0 , então, atendendo a estas transformações, também se verifica que
ct ' = 0 . Assim, a única condição que os sinais superluminais, correspondentes à pergunta e à
resposta, devem satisfazer é a de se propagarem em direção ao futuro de quem os emitiu, isto
é, t 'B1 < t ' A1 ∧ t A 2 < t B 2 e, consequentemente, o acontecimento B2 nunca poderá estar no
154
Tópicos da Teoria da Relatividade
portanto, se ∆ t ' > 0 então, necessariamente, ∆ t > 0 , pelo que já não ocorrem inversões
temporais e, como tal, o paradoxo causal, decorrente da possível existência de velocidades
superluminais, deixa de existir se considerarmos a teoria baseada nas transformações
inerciais.
Para Aristóteles (384 – 322 a. C.) o saber teórico constituía a ciência como
conhecimento da realidade. Consequentemente, toda a sua conceção do movimento teve
profundas consequências na forma como entendia o sentido físico do tempo. Para ele, o tempo
era o “número do movimento segundo o anterior e o posterior”, ou seja, o tempo era função
do movimento e, portanto, existia uma ligação íntima entre estes dois conceitos. Apesar disso,
não se deveria confundir tempo com movimento, pois ao passo que o movimento podia variar,
155
Tópicos da Teoria da Relatividade
o tempo não e, como tal, não existe tempo onde não há movimento. Em suma, “o tempo é
uma medida uniforme de movimentos multiformes e é o mesmo em todo o lugar e para todos
os homens” (Aristóteles, Física, IV, 10, 218b) e, portanto, só pode ser “medido” por alguém,
isto é, “é impossível haver tempo sem alma” (Puente, citado por Pereira, 2008, p. 64). Como
tal, Aristóteles coloca o tempo como algo que pertence à ordem dos acidentes, sendo um dos
modos pelos quais o Ser é, logo o tempo não define o Ser na sua essência, apenas o define
acidentalmente.
Newton, com base nos trabalhos de Johannes Kepler (1571 – 1630) e de Galileu,
estabeleceu as leis físicas que fundamentam as bases metodológicas e os elementos da Física
Moderna, generalizando as leis do movimento. Para tal, teve necessidade de desenvolver a
Matemática até então conhecida, sendo um dos fundadores do Cálculo Diferencial e Integral.
A partir destas novas ferramentas matemáticas foi capaz de descrever os movimentos
estudados por Kepler e Galileu, prevendo com precisão o movimento dos planetas em torno
do Sol e da Lua em torno da Terra. Em suma, a partir dos trabalhos de Newton, a ciência
passou a ser capaz de prever qualquer movimento e, consequentemente, o futuro do Universo
estaria fixado e, em princípio, poderia ser calculado. Como consequência das leis
estabelecidas, Newton considerava que o espaço e o tempo eram absolutos, ideias de grande
importância para a Filosofia. Do seu ponto de vista, o tempo é absoluto, verdadeiro e
matemático, fluindo de forma sempre igual e sem qualquer tipo de relação com fatores
externos a si mesmo e, consequentemente, para Newton o tempo é “duração”.
156
Tópicos da Teoria da Relatividade
Bergson defendia que o papel principal da Filosofia não era dar resposta aos
problemas que determinava, mas sim, a forma como colocava esses problemas. Isto porque as
respostas dadas aos problemas dependem de como estes são colocados. Para ele o problema
principal foi o de colocar o tempo no seu devido lugar.
157
Tópicos da Teoria da Relatividade
Um dos focos da atenção de Bergson foi saber o que acontece a um Ser quando é
atravessado, continuamente, pelo movimento e pelo tempo, assim seria “necessário resgatar o
tempo, como tempo puro, como duração” (Pereira, 2008, p. 22). O conceito de duração
baseia-se na ideia de que o tempo é uma espécie de tempo criador, isto é, não pode ser obtido
pela mera soma de partes, ou seja, não pode ser mensurável, como institui a ciência. Portanto,
a duração ou tempo real de Bergson depende da nossa consciência e não da nossa inteligência,
isto é, nós temos consciência de que o tempo existe, não necessitamos de recorrer à nossa
inteligência para sabermos da sua existência. Em suma, Bergson considera que o mundo é um
conjunto de diferentes durações que coexiste com diversas tendências e para se entenderem
estas durações é necessário utilizar o método da intuição e, portanto, o tempo é único,
universal e impessoal, capaz de dar conta do Todo do Universo e, consequentemente, todos os
corpos, vivos ou não, estão submetidos a uma única duração.
Para finalizar, resta-nos dizer que o conceito de tempo ainda hoje é alvo de diferentes
interpretações, vejamos o que diz Fiolhais [11], relativamente a esta questão. “Para Bergson, o
tempo é invenção ou não é absolutamente nada, querendo por invenção significar mudança,
158
Tópicos da Teoria da Relatividade
inovação, criação. Para Einstein, o tempo é ilusão, querendo significar com isso que a
distinção entre passado e futuro é espúria do ponto de vista da física dos processos
fundamentais. Reside aqui o verdadeiro problema do tempo, problema que ainda hoje persiste
e que é atacado embora de prismas diferentes, tanto por físicos como por filósofos.”
159
Tópicos da Teoria da Relatividade
8. Conclusão
“O único homem que está isento de erros é aquele que não arrisca acertar.”
Albert Einstein
Para Galileu o tempo era, tal como ainda hoje, uma grandeza que se podia medir com
um relógio e o espaço uma grandeza que se podia medir com uma régua. No decorrer dos seus
trabalhos, tentou descrever matematicamente os fenómenos naturais, tendo dito em
determinada altura que “o livro da natureza está escrito em carateres matemáticos”.
Galileu desenvolveu o princípio da relatividade que afirmava que todos os
observadores de referenciais inerciais viam da mesma maneira um determinado fenómeno
físico, isto significava que existia invariância ao se passar de um referencial para o outro e,
portanto, não seria possível distinguir os estados de repouso e de movimento retilíneo e
uniforme no referencial próprio de um observador.
Sabemos hoje, e desde finais do século XIX, princípios do século XX, que a Física de
Galileu e Newton não está totalmente correta, nomeadamente os seus conceitos de espaço e
tempo, contudo as suas ideias permanecem válidas se trabalharmos com velocidades baixas, o
160
Tópicos da Teoria da Relatividade
O conflito que se verificou nos finais do século XIX entre a Mecânica Clássica de
Galileu e Newton, que obedecia às transformações de Galileu, e o Eletromagnetismo de
Faraday e Maxwell, que obedecia às transformações de Lorentz, foi resolvido por Einstein a
partir da formulação dos postulados da relatividade que revolucionaram os conceitos de
espaço e de tempo, unidos no espaço-tempo de Minkowski. No essencial estes postulados
afirmavam que todas as leis da Física, e não apenas as da Mecânica, devem permanecer
inalteradas em todos os referenciais de inércia e que a velocidade da luz no vácuo é constante,
independentemente da velocidade a que o observador se encontra.
161
Tópicos da Teoria da Relatividade
A revisão dos conceitos de espaço e de tempo não foi facilmente aceite, tendo tido
várias dificuldades, do ponto de vista científico e até filosófico, para se impor. Um dos
exemplos mais populares destas dificuldades ficou conhecido por “Paradoxo” dos gémeos
que, apesar de hoje se encontrar resolvido, ilustra bem as dificuldades que a Teoria da
Relatividade Restrita representa para o senso comum. Einstein, como forma de dar resposta a
algumas questões que a teoria referida não conseguia responder, fez uma generalização da
mesma, ficando esta generalização conhecida por Teoria da Relatividade Geral, que se focava
em referenciais não inerciais. Esta generalização não foi objeto de estudo nesta dissertação.
As várias teorias que se obtêm, consoante a escolha de i1 , não levam a diferenças físicas nos
162
Tópicos da Teoria da Relatividade
testes habituais da relatividade restrita, contudo, implicam grandes alterações nas noções de
espaço e tempo para observadores de referenciais inerciais distintos. “De facto, todas as
diferenças observáveis dependem de i1 , da convenção adotada para sincronizar os relógios e
não têm, por isso, uma base física objetiva.” (Selleri, 2004, p. 155). Selleri adotou as
transformações inerciais, pois, fisicamente, “são as únicas que podem enquadrar corretamente
os fenómenos naturais” (Selleri, 2004, p. 159), de uma forma mais geral e que levam à
aceitação de sinais superluminais, isto é, com velocidade superior a c, sinais esses que,
aparentemente, já foram comprovados experimentalmente.
Do nosso ponto de vista a “relatividade fraca”, compilada por Selleri, com base nos
estudos de outros físicos, como referido anteriormente, aparenta ser uma alternativa credível
para a explicação dos conceitos físicos observáveis de referenciais inerciais distintos e
possibilita, até, tratar questões que a relatividade restrita não consegue. Contudo, parece-nos,
também, que a mesma não está, suficientemente, comprovada para que possa ser alternativa à
Teoria da Relatividade. Assim sendo, parece-nos que serão necessários mais
desenvolvimentos científicos e experimentais para que se possa encontrar uma melhor teoria
explicativa do Universo do que a Relatividade de Einstein. Porém, é necessário ter
consciência que a Física Clássica de Newton imperou durante cerca de dois séculos e que o
“reinado” da relatividade, ainda, vai em um! Relembremos o que escreveu Einstein, em 1949,
numa carta ao seu amigo Maurice Solovine. “Tu pensas que eu olho para o trabalho da
minha vida com uma calma satisfação. Mas de perto a coisa parece bem diferente. Não existe
um só conceito que eu esteja convencido de que possa resistir estavelmente”.
163
Tópicos da Teoria da Relatividade
Bibliografia
[1] Azenha, A. & Jerónimo, M. A., Elementos de Cálculo Diferencial e Integral em IR e IRn,
McGraw – Hill, 1995.
[2] Brotas, A., Relatividade e Física Clássica Continuidade e Ruptura, IST Press, 2010.
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