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Capítulo 1: Uma Crônica em

Andamento

icolai havia escolhido uma cadeira próxima à lareira. Naquele dia frio de outono e

prestes a participar de uma reunião que prometia ser tensa, o halfling precisava desse

pequeno conforto. Claro, o conforto que aqueles móveis gigantescos poderiam

proporcionar a alguém do seu tamanho.

À esquerda do bardo sentava-se a pessoa que ele mais admirava no mundo: Casimir Faendil,

Príncipe de Sulster e herdeiro do trono alberionês. Casimir parecia tenso, o que não era incomum nos

últimos meses. O príncipe estava convencido de que a continuação da guerra contra Salésia seria a

ruína de Alberion, e há algum tempo havia decidido agir para reverter o curso do conflito. Aquela

reunião clandestina fazia parte de seus planos.

Do outro lado de Casimir estava Esegar Powell. O velho duque de Calerfold parecia estar

cochilando, mas Nicolai já havia percebido que a senilidade que ele exibia era em grande parte fingida.

Um truque inteligente, que fazia muitos subestimarem um dos políticos mais astutos do reino.

A mesa era completada por um jovem franzino. Aethelwine Lancaster era o filho mais velho

do marquês de Balceter, um dos vassalos mais importantes de Godomir III. Mas a presença de

Aethelwine naquela reunião não representava o apoio de sua casa ao príncipe: ao contrário, o marquês

Wynfrid era um aliado fiel do duque de Ergana, e nunca tivera boas relações com o filho. Mais um

motivo para Nicolai gostar do rapaz…

De repente, ouviu-se um toque ritmado na porta – a senha combinada para anunciar a chegada

do último membro do grupo. Mesmo ali, no alto da Torre do Príncipe, era importante ter certos
cuidados: Casimir acreditava que, se seu plano desse certo, ele poderia convencer seu pai a apoiar um

acordo de paz. Mas, até que isso acontecesse, o que eles faziam ali era alta traição.

Casimir se levantou e abriu a porta, deixando entrar o enorme draconato dourado. Enorme da

perspectiva de Nicolai, claro: o halfling vira poucos daquela espécie em sua vida, mas pelo que lera a

respeito o embaixador Idrig Naxxaros era até relativamente pequeno para um dos seus.

“E então?”, perguntou o príncipe, visivelmente ansioso. “Recebemos as notícias que

aguardávamos?”.

Idrig assentiu com a cabeça e tomou um lugar à mesa, enquanto passava a carta que trazia à

mão a Casimir, que começou a lê-la avidamente. O interesse do embaixador naquelas reuniões

permanecia um mistério para Nicolai. As relações entre o Antigo Império e Alberion eram

praticamente nulas, e era difícil entender por que ele arriscava um incidente diplomático tomando

parte naquilo. Contudo, com o cerco a Salésia e o bloqueio naval a Ebenfeld, os canais diplomáticos

a que ele tinha acesso eram um dos poucos mecanismos para trocar correspondências entre as duas

nações. Em todo caso, o príncipe parecia confiar no embaixador, e Nicolai havia aprendido a acreditar

nos instintos dele.

“Então os rumores que havíamos ouvido são verdade”, disse Casimir, lendo a carta. “Varonese

está morto. Isso muda tudo”.

Aqueles boatos circulavam na corte já havia alguns dias, mas com as atuais dificuldades na

comunicação eles ainda não haviam sido confirmados. Mas agora era oficial: o velho Leonic Varonese,

Primeiro Cidadão de Salésia, havia morrido, e com isso o Senado salesiano teria que eleger um novo

chefe para o executivo da república pouco mais de um ano antes do originalmente previsto.

“Vallee menciona alguma expectativa sobre as eleições?”, perguntou o duque Esegar, que

agora não aparentava mais nenhum sinal de debilidade.


O senador Anfalen Vallee era o principal contato do grupo em Salésia. Ele liderava a facção

do Senado conhecida como as Gaivotas, que representava as guildas mais favoráveis ao fim das

hostilidades. Cerca de três anos atrás, na primeira eleição após a guerra contra Alberion começar,

Vallee disputara o cargo de Primeiro Cidadão com o senador Tolomeo Fior, líder dos Tritões, a facção

que defendia a continuidade do conflito. Como nenhum dos dois grupos tinha a maioria absoluta dos

votos, o moderado Varonese acabou surgindo como solução de consenso – em grande parte porque

todos imaginavam que, com sua idade avançada, ele não duraria muito no cargo. De fato, três anos

depois, ele finalmente deixava o posto vago.

“Ele diz que a disputa continua apertada”, respondeu Naxxaros. O draconato falava um

alberionês perfeito, praticamente sem sotaque. “No entanto, há cada vez menos indecisos no Senado.

Depois de quatro anos de conflito, quase todas as guildas foram afetadas, positiva ou negativamente,

pela guerra. Desta vez, é improvável que haja um nome consensual: ou Vallee ou Fior irão triunfar”.

O plano de Casimir envolvia ajudar o senador Vallee a eleger-se Primeiro Cidadão. Depois, de

acordo com as tratativas que eles vinham mantendo, Salésia proporia uma “paz branca” a Alberion,

retornando a situação ao status quo ante. Com isso, o príncipe acreditava que conseguiria convencer o

pai a aceitar o acordo.

Nicolai anotava com avidez cada palavra. A história, fosse como fosse, estava sendo escrita

ali: ou o príncipe conseguiria acabar com uma guerra que se prolongava de maneira catastrófica, ou

cavaria a própria cova. De qualquer forma, aquele episódio certamente mereceria várias páginas em

suas Crônicas.

“Nenhum registro desta vez, Nico”, disse Casimir, ao ver que o bardo escrevia. “Estamos

entrando em um terreno extremamente traiçoeiro”.

***
reunião prosseguiu por cerca de uma hora, sem que os participantes chegassem a

alguma conclusão sobre como poderiam ajudar na eleição de Vallee. No entanto, eles

precisavam se retirar: Godomir III havia marcado, de última hora, um banquete para a

corte.

Nem mesmo Casimir parecia saber o que o pai planejava, mas a julgar pela pressa com que o

convite havia sido feito, e por seu tom incisivo, algum anúncio importante aconteceria naquela noite.

Nicolai, naturalmente, não havia sido convidado. Com a exceção dos presentes naquela

reunião, que haviam se tornado seus amigos, o halfling era na melhor das hipóteses ignorado pela

aristocracia de Ebenfeld. Na verdade, ele ainda tinha dificuldades para entender por que o príncipe o

tratava como conselheiro e amigo.

Neste momento, tanto melhor que fosse assim. O bardo conseguia pensar em formas

melhores de passar a noite do que tolerando as indiretas de Sir Goswell, os olhares de desprezo do

conde Duorgar ou os lamentos da baronesa Fynwell. Ele poderia se debruçar sobre seu livro e escrever

mais alguns capítulos. Ou, melhor ainda, visitar alguma de suas tavernas preferidas.

***

Grifo Azul era uma das estalagens favoritas de Nicolai em Ebenfeld. Relativamente

próxima ao castelo de Ebenhold, tinha boa comida e bebida e, o mais importante,

uma clientela que era ao mesmo tempo boêmia e qualificada. Era ali que costumavam

se apresentar alguns dos melhores músicos da cidade – e o halfing era um deles.

“Nico!”, gritou Marla, a estalajadeira, ao vê-lo entrar, enquanto equilibrava uma quantidade

absurda de canecas de cerveja nas mãos. “Teremos o prazer de ouvi-lo hoje?”.


“Não sei, Marla. Acho que não estou muito inspirado hoje”.

Era charme, obviamente. Nicolai Eromir Sabino estava sempre preparado. Ademais, ele não

teria trazido sua flauta caso não fosse sua intenção tocá-la naquela noite.

No momento, o pequeno palco do Grifo Azul já estava ocupado por outro menestrel. Travyen

era bom com seu alaúde, mas não chegava aos pés do halfling – cuja música, e as reações que ela

despertava na plateia, tinham algo de sobrenatural. E no fundo todos ali sabiam disso: ao avistar o

companheiro em uma das mesas, Travyen, sem parar de dedilhar seu instrumento, gesticulou para que

ele se juntasse à melodia.

O bardo rejeitou apenas o suficiente para afetar uma falsa modéstia, e então começou a tocar

sua flauta. Em instantes, a atmosfera da taverna tornou-se ainda mais vibrante, e os clientes começaram

a cantar junto com os dois músicos, frequentemente subindo em mesas e cadeiras. Como Nicolai

gostava daquela algazarra!

O clima de festa, no entanto, foi interrompido quando um homem entrou aos berros na

estalagem.

“O rei está morto!”, gritava ele. “O príncipe o matou, e foi preso!”

O bardo reconheceu o homem. Ele era um serviçal no castelo, e frequentemente servia as

mesas nos banquetes reais. A expressão de pânico dele não deixava dúvidas: ele falava a verdade,

Godomir III fora morto e Casamir estava preso. No entanto, Nicolai recusava-se a acreditar que Sua

Alteza fosse responsável por um regicídio e parricídio. Havia algo de muito errado naquela história, e

o halfling tinha apenas uma certeza: desta vez, era ele que precisaria ajudar seu amigo.
Relações com Outros Personagens

 Casimir: Casimir é mais que um amigo para Nico. Ele demonstrou confiança no bardo

quando ninguém mais estava disposto a fazê-lo, e com isso deu um propósito para sua vida. Assim, o

halfling está disposto a tudo para salvá-lo.

 Aethelwine: pode-se dizer que a relação entre Nico e Aethelwine não teve o melhor

começo. O mago é um tanto sisudo e, francamente, infeliz, e demorou para aceitar o jeito leve do

bardo. Além disso, ele parecia acreditar que o halfling era um aproveitador que queria se aproximar

do príncipe para obter vantagens. Mas, francamente, com tantas pessoas assim no mundo, pode-se

culpa-lo por ser cauteloso? A verdade é que, com o passar do tempo, os dois se tornaram amigos

próximos, e Nicolai sabe que poderá contar com ele para missão que se avizinha.

 Alana: extremamente bela e habilidosa, a elfa é certamente uma personagem que merece

várias poesias. E Nico, obviamente, deseja toda a felicidade para o amigo. Mas ela precisava entrar na

vida de Casimir em um momento tão conturbado? Provavelmente o bardo não é tão hostil à monja

que veio para Ebenfeld para se tornar professora de artes marciais do príncipe e acabou se tornando

sua amante quanto Aethelwine é. Mesmo assim, ele se preocupa com os problemas que podem advir

desse relacionamento.

 Liarieth: não conhece.

 Tanner: não conhece.

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