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Ventilação mecânica de edifícios de habitação

Technical Report · January 2006

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Armando Pinto
National Laboratory for Civil Engineering
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MINISTÉRIO DAS OBRAS PÚBLICAS, TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES

LABORATÓRIO NACIONAL DE ENGENHARIA CIVIL

DEPARTAMENTO DE EDIFÍCIOS
NÚCLEO DE COMPONENTES E INSTALAÇÕES

Procº 0808/11/16210

VENTILAÇÃO MECÂNICA DE EDIFÍCIOS DE HABITAÇÃO

Relatório 01/2006 - NCI

Lisboa, Janeiro de 2006

Estudo integrado no Plano de Investigação Programada do LNEC

I&D
EDIFÍCIOS
VENTILAÇÃO MECÂNICA DE EDIFÍCIOS DE HABITAÇÃO

RESUMO

Neste relatório apresenta-se uma síntese de recomendações aplicáveis a sistemas de


ventilação mecânica centralizada de edifícios de habitação. Nesse âmbito são apresentadas
recomendações para os caudais de ventilação, é discutido o risco de desconforto associado à
admissão directa de ar exterior e a importância de limitar a permeabilidade ao ar da
envolvente. No final do texto são apresentados exemplos de aplicação dessas regras ao
dimensionamento de uma instalação VMC e são apresentados resultados de casos de estudo.
Em anexo, são apresentadas algumas recomendações para a concepção de um sistema de
ventilação mecânica descentralizado.

LNEC - Procº 0808/11/16210 i


ii LNEC - Procº 0808/11/16210
VENTILAÇÃO MECÂNICA DE EDIFÍCIOS DE HABITAÇÃO

Índice

1 - Introdução ............................................................................................................................. 1
2- Exigências aplicáveis a sistemas de ventilação de edifícios de Habitação .................... 2
2.1 - Directiva Comunitária relativa ao desempenho energético dos edifícios -
Directiva 2002/91/CE............................................................................................................. 2
2.2 - Certificação energética e da qualidade do ar interior, RCCTE e RSECE.................. 3
2.3 - Regulamentos do ruído e de segurança contra incêndio ........................................ 4
2.3.1 - Regulamento ruído.................................................................................................. 4
2.3.2 - Segurança contra incêndio ...................................................................................... 5
2.4 - Normalização Portuguesa .............................................................................................. 5
2.5 - Objectivos fundamentais................................................................................................ 5
3 - Aspectos gerais de sistemas de ventilação............................................................................ 7
3.1 - Ventilação Mecânica, Ventilação Natural e Ventilação híbrida .................................... 7
3.2 - Ventilação mecânica VMC ............................................................................................ 9
3.3 - Os sistemas VMC em Portugal .................................................................................... 13
4 - Regras de concepção e manutenção.................................................................................... 16
4.1 - Princípios gerais de concepção de sistemas de ventilação VMC ................................ 16
4.2 - Regras específicas de concepção do sistema VMC de fluxo simples.......................... 17
4.3 - Manutenção.................................................................................................................. 19
5 - Caudais de ventilação ......................................................................................................... 20
5.1 - Princípios para a definição dos caudais de ventilação ................................................. 20
5.1.1 - Aspectos gerais ..................................................................................................... 20
5.1.2 - Compartimentos principais ................................................................................... 24
5.1.3 - Compartimentos de serviço................................................................................... 27
5.1.4 - Apreciação dos caudais de ventilação................................................................... 29
5.2 - Síntese .......................................................................................................................... 31
6 - Dimensionamento da instalação VMC ............................................................................... 33
6.1 - Aberturas de admissão de ar e Permeabilidade ao ar da envolvente ........................... 33
6.1.1 - Aspectos gerais ..................................................................................................... 33

LNEC - Procº 0808/11/16210 iii


6.1.2 - Dimensionamento ................................................................................................. 40
6.2 - Passagens de ar interiores ............................................................................................ 45
6.3 - Bocas de extracção de ar.............................................................................................. 45
6.3.1 - Aspectos gerais ..................................................................................................... 45
6.3.2 - Dimensionamento ................................................................................................. 48
6.4 - Sistema de condutas colectivas.................................................................................... 49
6.4.1 - Aspectos gerais ..................................................................................................... 49
6.4.2 - Dimensionamento ................................................................................................. 54
6.5 - Ventilador de extracção e conduta de exaustão ........................................................... 56
6.5.1 - Aspectos gerais ..................................................................................................... 56
6.5.2 - Dimensionamento ................................................................................................. 59
6.6 - Dimensionamento do sistema VMC ............................................................................ 60
6.7 - Segurança contra incêndio ........................................................................................... 61
6.8 - Concepção acústica...................................................................................................... 64
6.8.1 - Aspectos gerais ..................................................................................................... 64
6.8.2 - Dimensionamento ................................................................................................. 65
7 - Caso de estudo .................................................................................................................... 73
7.1 - Exemplo do dimensionamento de uma instalação ....................................................... 73
7.1.1 - Descrição............................................................................................................... 73
7.1.2 - Informação complementar .................................................................................... 77
7.2 - Estudo realizado num edifício com VMC ................................................................... 79
7.2.1 - Apreciação do comportamento acústico ............................................................... 79
7.2.2 - Apreciação dos ocupantes..................................................................................... 81
7.3 - Comparação do desempenho térmico e energético de edifício com
VMC/ventilação natural ....................................................................................................... 83
8 - Conclusões .......................................................................................................................... 85
Bibliografia............................................................................................................................... 86
Anexo A - Sistemas de ventilação descentralizados .................................................................. 1
1 - Aspectos gerais ..................................................................................................................... 1
2 - Aparelhos a gás do tipo B ..................................................................................................... 1
3 - Caudais de ventilação ........................................................................................................... 2
4 - Implementação do sistema de ventilação.............................................................................. 2
4.1 - Caudal base .................................................................................................................... 2
4.2 - Caudal máximo .............................................................................................................. 3

iv LNEC - Procº 0808/11/16210


4.3 - Admissão de ar............................................................................................................... 4
4.4 - Passagens de ar interiores .............................................................................................. 4
4.5 - Condutas de evacuação .................................................................................................. 5
5 - Exemplo de aplicação - Sem aparelhos a gás do tipo B ....................................................... 6
5.1 - Aberturas de admissão de ar .......................................................................................... 6
5.1.1 - Caudal base ............................................................................................................. 6
5.1.2 - Caudal máximo ....................................................................................................... 7
5.2 - Passagens de ar interior.................................................................................................. 7
5.3 - Conduta de extracção e extractor - Hote fogão.............................................................. 8
5.4 - Conduta de extracção e extractor - Instalação sanitária................................................. 9
5.5 - Comparação com sistema VMC .................................................................................. 11
Anexo B - Perdas de carga de singularidades da rede de condutas............................................ 1
1 - Expansões ............................................................................................................................. 1
2 - Curvas ................................................................................................................................... 1
3 - Derivações - Confluências .................................................................................................... 2
4 - Ramal de ligação................................................................................................................... 4
5 - Topo de prumada .................................................................................................................. 4

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vi LNEC - Procº 0808/11/16210
VENTILAÇÃO MECÂNICA DE EDIFÍCIOS DE HABITAÇÃO

Índice de Figuras

Figura 1 - Principio geral de funcionamento da ventilação de uma habitação .......................... 7


Figura 2 - Princípio geral de funcionamento de sistema de ventilação VMC com admissão de
ar na fachada..................................................................................................................... 10
Figura 3 - Sistema VMC de duplo fluxo (sistema equilibrado) ............................................... 11
Figura 4 - Condutas colectivas de ventilação natural/ventilação mecânica ............................. 12
Figura 5 - Exemplos de recirculação de ar [33] e [44]............................................................. 15
Figura 6 - Estimativa das taxas de ventilação correspondente ao caudal base ........................ 21
Figura 7 - Estimativa das taxas de ventilação correspondente ao caudal máximo .................. 21
Figura 8 - Evolução da humidade relativa interior do quarto com dois ocupantes para
Text=10ºC, HR=95%, Tint=18ºC e Qar=5 l/s.ocupante .................................................. 25
Figura 9 - Evolução da humidade relativa interior da sala com 4 ocupantes para Text=10ºC,
HR=95%, Tint=18ºC e Qar=6 l/s.ocupante (1.6 ren/h).................................................... 26
Figura 10 - Evolução da humidade relativa interior da sala com 4 ocupantes para Text=10ºC,
HR=95%, Tint=18ºC e Qar= 0.5 renovações/hora........................................................... 26
Figura 11 - Evolução da humidade relativa interior da sala com 4 ocupantes para Text=10ºC,
HR=95%, Tint=18ºC e Qar= 1.0 renovações/hora........................................................... 26
Figura 12 - Planta do caso 2 ..................................................................................................... 30
Figura 13 - Planta do caso 3 .................................................................................................... 31
Figura 14 - Curva pressão-caudal para abertura fixa e abertura auto-regulável ...................... 33
Figura 15 - Localização das aberturas de admissão de ar ........................................................ 34
Figura 16 - Apreciação do comportamento do jacto de uma grelha de admissão de ar [48] ... 35
Figura 17 - Apreciação do comportamento do jacto de uma grelha de admissão de ar [48] ... 36
Figura 18 - Comparação da medição experimental com a modelação..................................... 37
Figura 19 - Modelação do escoamento com abertura situada na verga do vão (caixa de estore)
.......................................................................................................................................... 38
Figura 20 - Modelação do escoamento com abertura situada na parede por cima da janela ... 39
Figura 21 - Escala de temperatura do ar................................................................................... 39
Figura 22 - Permeabilidade ao ar (n50) de 23 edifícios Portugueses....................................... 42
Figura 23 - Boca de extracção de regulação fixa ..................................................................... 46
Figura 24 - Boca de extracção de auto-regulável..................................................................... 46

LNEC - Procº 0808/11/16210 vii


Figura 25 - Boca de extracção higro-regulável 10-45 m3/h ..................................................... 47
Figura 26 - Hote de fogão de recirculação de ar [43]............................................................... 48
Figura 27 - Drenagem da água de condensação na caldeira de condensação e pendente no
ramal de ligação para assegurar a drenagem da água de condensação [31]..................... 52
Figura 28 - Cuidado a ter na instalação de condutas obtidas por dobragem em espiral para
evitar a retenção de água de condensação [31] ................................................................ 52
Figura 29 - Exemplo da rede de condutas horizontais para assegurar a drenagem da água de
condensação [31].............................................................................................................. 53
Figura 30 - Ligação da conduta................................................................................................ 53
Figura 31 - Drenagem da água de condensação na base da conduta colectora vertical [31] ... 53
Figura 32 - Pormenor de fixação das condutas [31]................................................................. 54
Figura 33 - Curva de um ventilador de um sistema VMC ....................................................... 57
Figura 34 - Rejeição do ar para o exterior................................................................................ 58
Figura 35 - Regra de cálculo das distâncias mínimas entre o orifício de rejeição e os
obstáculos existentes na cobertura [31]............................................................................ 58
Figura 36 - Instalação da unidade de extracção [31]................................................................ 59
Figura 37 - Curva PVMC de uma caixa de ventilação............................................................. 60
Figura 38 - Apenas uma conduta ligada à caixa de ventilação [2]........................................... 63
Figura 39 - Várias condutas ligadas à caixa de ventilação [2] ................................................. 63
Figura 40 - Espectro da nível sonoro de ventiladores centrífugos [54] ................................... 65
Figura 41 - Exemplos de singularidades com menor geração de ruído [54]............................ 66
Figura 42 - Representação do T ............................................................................................... 67
Figura 43 - Atenuação em dois topo de prumada [60] ............................................................. 68
Figura 44 - Potência sonora de uma boca de extracção para caudal de 45 m3/h...................... 69
Figura 45 - Atenuação acústica de uma boca de extracção para caudal de 45 m3/h ................ 69
Figura 46 - Atenuação acústica de condutas flexíveis com isolamento sonoro, com 1 m de
comprimento..................................................................................................................... 70
Figura 47 - Exemplo de aplicação............................................................................................ 70
Figura 48 - Apreciação da atenuação do ruído na instalação sanitária .................................... 71
Figura 49 - Esquema de princípio da ventilação do edifício.................................................... 74
Figura 50 - Representação esquemática da rede de condutas horizontal ................................. 75
Figura 51 - Curva do ventilador [61] ...................................................................................... 77
Figura 52 - Resultado do ensaio na cozinha............................................................................. 79
Figura 53 - Resultado do ensaio na instalação sanitária comum.............................................. 80

viii LNEC - Procº 0808/11/16210


Figura 54 - Resultado da medição no interior da caixa de ventilação...................................... 81
Figura 55 - Representação da curva característica de aberturas de admissão de ar ................... 3
Figura 56 - Representação esquemática da conduta de evacuação da hote ............................... 8
Figura 57 -Curva da Instalação e do ventilador ......................................................................... 9
Figura 58 - Representação esquemática da conduta de evacuação da Instalação sanitária...... 10
Figura 59 - Curva da Instalação e do ventilador ...................................................................... 11
Figura 60 - Curva ....................................................................................................................... 2
Figura 61 - Confluência.............................................................................................................. 2
Figura 62 - Dimensões do topo de prumada .............................................................................. 4

LNEC - Procº 0808/11/16210 ix


x LNEC - Procº 0808/11/16210
VENTILAÇÃO MECÂNICA DE EDIFÍCIOS DE HABITAÇÃO

Índice de Quadros

Quadro 1 - Dimensões das diferentes tipologias consideradas nos gráficos............................ 20


Quadro 2 - Concentrações máximas admissíveis de poluentes no interior dos edifícios......... 23
Quadro 3 - Taxa de ocupação de referência dos compartimentos principais por tipologia ..... 25
Quadro 4 - Caudal base de ventilação para três casos reais (h-1) ............................................. 30
Quadro 5 - Permeabilidade ao ar de base da envolvente.......................................................... 41
Quadro 6 - Limite para a permeabilidade ao ar da envolvente n50 (h-1) ................................. 43
Quadro 7 - Necessidades nominais de aquecimento em (kWh)............................................... 43
Quadro 8 - Termo de adaptação do índice Dn,e,w ...................................................................... 44
Quadro 9 - Dimensão típica das passagens de ar interiores ..................................................... 45
Quadro 10 - Exemplo de ruído gerado numa boca de extracção para diferentes diferenças de
pressão.............................................................................................................................. 48
Quadro 11 - Condições para a utilização de condutas de chapa de aço galvanizado............... 51
Quadro 12 - Espessura mínima das condutas........................................................................... 51
Quadro 13 - Caudal máximo recomendado função do diâmetro da conduta ........................... 55
Quadro 14 - Atenuação acústica em ligações T (∆Lw1) ........................................................... 67
Quadro 15 - Atenuação acústica no topo de prumada.............................................................. 67
Quadro 16 - Valor da correcção A para atenuação entre a conduta colectora e a saída na boca
.......................................................................................................................................... 69
Quadro 17 - Estimativa do nível de pressão sonora na instalação sanitária............................. 71
Quadro 18 - Caudais de ventilação (m3/h) ............................................................................... 73
Quadro 19 - Dimensão dos ramais e condutas colectoras verticais ......................................... 75
Quadro 20 - Perdas de carga para as bocas mais favorecidas e mais desfavorecidas (Pa) ...... 76
Quadro 21 - Comparação da dimensão das condutas colectivas ventilação natural vs VMC . 78
Quadro 22 - Características de isolamento térmico do caso de estudo .................................... 83
Quadro 23 - Necessidades nominais de aquecimento .............................................................. 84
Quadro 24 - Secção da abertura de admissão de ar para caudal de 100 m3/h ............................ 4
Quadro 25 - Valores de ζ ........................................................................................................... 1
Quadro 26 - Valores de A .......................................................................................................... 3

LNEC - Procº 0808/11/16210 xi


VENTILAÇÃO MECÂNICA DE EDIFÍCIOS DE HABITAÇÃO

1 - Introdução
Este documento foi elaborado no âmbito de uma acção de divulgação sobre sistemas
de ventilação mecânica em edifícios de habitação.
No capítulo 2 deste documento sintetizam-se algumas das exigências regulamentares
aplicáveis aos sistemas de ventilação mecânica de habitações. No capitulo 3 referem-se os
aspectos gerais de sistemas de ventilação aplicáveis a edifícios de habitação e nos capítulos 4
a 6 referem-se os aspectos da concepção, manutenção e dimensionamento de um sistema de
ventilação mecânica centralizada (VMC). Algumas das recomendações apresentadas baseiam-
se em normas Francesas [30] e [31] e no projecto de norma NP 1037-2, que está a ser
preparada no âmbito da Comissão Técnica Adhoc CTA 17 - Ventilação e evacuação dos
produtos da combustão dos locais com vista à instalação dos aparelhos a gás. Contudo,
existem alguns aspectos que ainda não foram discutidos na CTA-17 e, portanto,
correspondem à opinião do autor quanto à concepção de um sistema VMC.
No capítulo 7 são apresentados caso de estudo de forma a ilustrar alguns dos
princípios de dimensionamento da instalação VMC, bem como os resultados da apreciação do
desempenho de uma instalação, principalmente do seu desempenho acústico.
No capítulo 8 são apresentadas as conclusões desta trabalho.
No anexo A, são apresentadas algumas recomendações para a concepção de sistemas
de ventilação mecânica descentralizados, os quais apresentam algumas limitações que podem
colocar em causa a segurança dos ocupantes, quando indevidamente concebidos e instalados.
No anexo B são apresentados os coeficientes de perda de carga das singularidades mais
correntes em sistemas VMC.

LNEC - Procº 0808/11/16210 1


2 - Exigências aplicáveis a sistemas de ventilação de
edifícios de Habitação
A concepção e a instalação dos sistemas de ventilação para edifícios de habitação
encontram-se enquadradas por diversos regulamentos e normas, nomeadamente os que a
seguir são referidos.

2.1 - Directiva Comunitária relativa ao desempenho energético dos edifícios


- Directiva 2002/91/CE
Esta directiva comunitária visa promover a eficiência energética nos edifícios e aplica-
se de uma forma geral a todos os edifícios novos e a edifícios existentes, com mais de
1000 m2, quando submetidos a importantes trabalhos de renovação. A directiva fornece
diversas recomendações a serem adoptadas pelos diferentes Estados membros de forma a
cumprir o objectivo de reduzir o consumo de energia no sector dos edifícios, alertando para a
necessidades de esses requisitos atenderem às especificidades do clima exterior e à
rendibilidade de algumas soluções inovadoras. Com a directiva e a certificação energética
pretende-se informar o público sobre o desempenho energético dos edifícios e fornecer
recomendações relativas à melhoria desse desempenho.
No artigo 3 da directiva prevê-se a utilização de métodos de cálculo normalizados para
as necessidades energéticas dos edifícios as quais devem contemplar diferentes aspectos que
são referidos no anexo da directiva e que incluem a ventilação. Os métodos de cálculo
normalizados estão a ser desenvolvidos no CEN ao abrigo de mandato da Comissão
envolvendo as seguintes comissões técnicas:
- CEN/TC 89-Desempenho térmico de edifícios e componentes de edifícios
- CEN/TC 156-Ventilação de edifícios
- CEN/TC 169-Luz e iluminação
- CEN/TC 228-Sistemas de aquecimento de edifícios
- CEN/TC 247-Automação de edifícios, controlo e gestão de edifícios

2 LNEC - Procº 0808/11/16210


Durante o ano de 2005, foram submetidos a inquérito vários projectos de norma
elaborados pelas comissões técnicas, sendo previsível que todo o processo de aprovação das
diferentes normas fique concluído durante os anos de 2006 e 2007 [57].
No que se refere aos sistemas de ventilação, no âmbito da CEN/CT 156 estão a ser
desenvolvidos métodos de cálculo normalizados para determinar as taxas de ventilação e as
necessidades térmicas em função da diferença de temperatura e da velocidade do vento e
tendo em conta as propriedades da envolvente dos edifícios e as características dos
componentes do sistema de ventilação (prEN 15241 e prEN 15242). No entanto, não existe
ainda consenso no que concerne ao método de cálculo das caudais de ventilação para
assegurar a qualidade do ar interior (QAI) e minimizar os consumos de energia.
Nos métodos de cálculo das necessidades energéticas são considerados os consumos
de energia associados às trocas de calor devidas à renovação do ar bem como ao consumo de
energia dos ventiladores mecânicos.

2.2 - Certificação energética e da qualidade do ar interior, RCCTE e


RSECE
De acordo com o previsto na Directiva Comunitária, em Portugal será implementado
um sistema de certificação energética de edifícios que se baseará na comprovação do
Regulamento das Características de Comportamento Térmico de Edifícios - RCCTE [5] e do
Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização de Edifícios - RSECE [6] na fase de
projecto e após a conclusão da obra [46]. Além disso, dependendo do tipo de edifício,
existirão revalidações periódicas do certificado e inspecções periódicas de caldeiras e dos
sistemas de climatização.
Tendo em conta que o RCCTE data de 1990 e com o objectivo de actualizar os
métodos de cálculo de acordo com as propostas existentes no CEN, foi iniciado o processo de
revisão do RCCTE e do RSECE, encontrando-se nesta data a aguardar aprovação os projectos
finai destes regulamentos que culminaram o referido processo de revisão.
Para os edifícios de habitação o regulamento aplicável é o RCCTE, com excepção dos
edifícios com sistemas centralizados de climatização que devem satisfazer aos requisitos do
RSECE.
Em termos resumidos as implicações destes regulamentos repercutem-se num
incentivo a sistemas de ventilação que minimizem os consumos de energia associados às
trocas de calor e ao consumo de energia nos ventiladores. Além disso, no RCCTE é

LNEC - Procº 0808/11/16210 3


recomendada uma taxa de ventilação mínima de 0.6 renovações de ar por hora para assegurar
a qualidade do ar interior e no RSECE é recomendada uma taxa de ventilação de
30 m3/h.ocupante.

2.3 - Regulamentos do ruído e de segurança contra incêndio


2.3.1 - Regulamento ruído
Para além dos regulamentos associados ao desempenho energético, na concepção dos
sistemas de ventilação devem ser respeitados os requisitos regulamentares de conforto e
segurança.
O ruído constitui um dos principais factores de queixa dos utilizadores de edifícios de
habitação com sistemas de ventilação mecânica. O Regulamento dos Requisitos Acústicos dos
Edifícios [11], contempla no artigo 5º h) requisitos específicos associados aos sistemas de
ventilação mecânica, referindo que no interior dos quartos e zonas de estar o nível de
avaliação LAr deve ser:
LAr ≤ 35 dB (A) no caso de ventilação com funcionamento intermitente
LAr ≤ 30 dB (A) no caso de ventilação com funcionamento contínuo

LAr é o nível sonoro contínuo equivalente, ponderado A, durante um intervalo de


tempo, adicionado das características tonais e impulsivas do som.
Em relação aos compartimentos de serviço não existem requisitos específicos. Em
regulamentos de outros países são referidos valores para o nível de pressão sonora de
35 dB(A) a 45 dB(A), devendo ser cumpridos os requisitos para os compartimentos principais
quando as portas interiores dos compartimentos de serviço se encontram fechadas.
Em relação às aberturas de admissão de ar, quando estas estão integradas na fachada,
devem permitir assegurar o nível de isolamento sonoro previsto regulamentarmente para a
envolvente. No regulamento do ruído, para as fachadas, é requerido um isolamento sonoro a
sons de condução aérea normalizado D2 m,n,w superior a 33 dB em zonas mistas e 28 dB em
zonas sensíveis.
Além destes requisitos também é relevante acautelar o isolamento sonoro entre fogos,
devido à eventual ligação criada pelas condutas.

4 LNEC - Procº 0808/11/16210


2.3.2 - Segurança contra incêndio
Na concepção dos sistemas de ventilação mecânica devem ser cumpridos os requisitos
da Regulamentação de segurança contra incêndio (decreto-lei 64/90), que no artigo 44º refere
que “as instalações de ventilação e evacuação de fumos devem ser realizadas de maneira a
não constituírem causa de incêndio e a não contribuírem para a sua propagação”. Além disso,
na concepção dos sistemas de ventilação deve ser minimizada a transmissão de fumos e gazes
da combustão de um local em incêndio para outros locais e o refluxo dos referidos fumos e
gases através das bocas de extracção.

2.4 - Normalização Portuguesa


Em Portugal a norma aplicável aos sistemas de ventilação de edifícios de habitação é a
NP 1037 - “Ventilação e evacuação dos produtos da combustão dos locais com aparelhos a
gás”, preparada pela comissão técnica CTA-17, que é constituída por 4 partes:
Parte 1 - Edifícios de habitação. Ventilação natural. NP 1037-1: 2002.
Parte 2 - Edifícios de habitação. Ventilação mecânica. NP 1037-2 (em preparação).
Parte 3 - Volume dos locais. Posicionamento dos aparelhos. NP 1037-3: 2002.
Parte 4 - Instalação e ventilação das cozinhas profissionais. NP 1037-4: 2001.

De uma forma geral, na parte 1 da norma NP 1037-1 e no projecto da parte 2 da norma


NP 1037-2, cria-se um documento com requisitos aplicáveis desde a fase de concepção até à
fase de utilização do sistema de ventilação, de forma a assegurar os objectivos fundamentais
da ventilação.

2.5 - Objectivos fundamentais


Os sistemas de ventilação destinam-se no essencial a assegurar a qualidade do ar
interior, fornecer ar novo para os aparelhos de combustão e assegurar a extracção dos
produtos da combustão. Esta ventilação deve ser assegurada em condições de conforto,
segurança e minimizando os consumos (necessidades) energéticos.
A implementação dos sistemas de ventilação também tem por finalidade o controlo da
humidade do ar interior de forma a minimizar o risco de ocorrência de condensações e o
consequente desenvolvimento de fungos, bolores e microorganismos.

LNEC - Procº 0808/11/16210 5


Nos capítulos seguintes deste documento, são referidos alguns dos aspectos mais
relevantes para a concepção de sistemas de ventilação VMC, que segue os princípios
definidos nas normas francesas [30] e [31] e os requisitos definidos no projecto de norma NP
1037-2.

6 LNEC - Procº 0808/11/16210


3 - Aspectos gerais de sistemas de ventilação

3.1 - Ventilação Mecânica, Ventilação Natural e Ventilação híbrida


De forma a assegurar a habitabilidade dos edifícios o ar interior não deve ser causa de
doença para os ocupantes e deve proporcionar uma sensação de fresco e agradável. Para
assegurar a qualidade do ar interior preconiza-se normalmente a adopção de três estratégias: i)
minimizar as fontes de poluição no interior, ii) extracção local do ar junto de fontes poluentes
iii) diluição dos poluentes gerados pelos ocupantes e fontes difusas por renovação do ar
interior.
O principio de funcionamento da ventilação de uma habitação consiste na admissão de
ar novo em todos os compartimentos principais (quartos e salas), no escoamento desse ar para
os compartimentos de serviço (cozinha e instalações sanitárias) através de passagens de ar
interiores e na extracção do ar em todos os compartimentos de serviço, Figura 1. Este
principio de funcionamento tenta minimizar o risco de difusão de cheiros e poluentes dos
compartimentos de serviço para os compartimentos principais.

Compartimento
principal

Compartimento
de serviço

Figura 1 - Principio geral de funcionamento da ventilação de uma habitação

A ventilação deve ser assegurada em permanência independentemente das janelas e


portas se encontrarem fechadas.
Os sistemas destinados a assegurar esse escoamento do ar subdividem-se em sistemas
de ventilação natural, sistemas de ventilação mecânica e sistemas de ventilação híbridos.

LNEC - Procº 0808/11/16210 7


Nos sistemas de ventilação natural, os fluxos de ar são induzidos pelas acção do vento
no edifício e do efeito de chaminé gerado pela diferença de temperatura entre o interior e o
exterior. A concepção deste tipo de sistemas de ventilação encontra-se descrita na norma
NP 1037-1.
Como ordem de grandeza para as acções que promovem o escoamento do ar por meios
naturais, refere-se que para a velocidade do vento média na zona de Lisboa à cota de 10 m,
que é de 3.6 m/s, é estimada uma pressão dinâmica do vento de cerca de 8 Pa, enquanto se for
considerada uma diferença de temperatura entre o interior e exterior de 10ºC e uma diferença
de cotas de 10 m para o efeito de chaminé é estimado um efeito de chaminé de 4 Pa. Deste
modo, os sistemas de ventilação natural devem ter uma baixa perda de carga (da ordem de
10 Pa) de forma a assegurar os caudais de ventilação requeridos.
Nos sistemas de ventilação mecânica os fluxos de ar são gerados com ventiladores,
existindo vários sistemas: sistema centralizado com extracção mecânica de ar (sistemas de
fluxo simples), sistema centralizado com extracção e insuflação de ar (sistemas equilibrados,
duplo fluxo), sistema centralizado apenas com insuflação mecânica de ar e sistemas de
ventilação descentralizados com extractores individuais.
Nos sistemas descentralizados, nos quais são utilizados ventiladores individuais,
usualmente é efectuada a extracção mecânica na hote do fogão e nas instalações sanitárias,
tendo os ventiladores um funcionamento intermitente.
Tendo em conta o facto dos caudais de ventilação dos sistemas de ventilação natural
estarem dependentes das condições climáticas exteriores, recentemente têm vindo a ser
estudados sistemas de ventilação híbridos, nos quais o sistema de ventilação natural é dotado
de ventiladores mecânicos que funcionam apenas durante os períodos de tempo nos quais as
acções naturais são insuficientes para promover o escoamento do ar pretendido. Salienta-se
que no clima Português, esta situação de insuficiência da ventilação natural pode corresponder
a períodos do ano significativos.
Se numa primeira abordagem a selecção do sistema natural/mecânico poderá ser
condicionada pela tradição, existem alguns aspectos objectivos que devem ser ponderados na
selecção do tipo de sistema de ventilação:
− Qualidade do ambiente exterior, em termos de qualidade do ar e de nível de ruído elevado;
− Capacidade dos sistemas de ventilação natural em assegurarem os caudais de
ventilação pretendidos durante um período de tempo razoável compatível com a QAI;
− Controlabilidade dos caudais de ventilação;

8 LNEC - Procº 0808/11/16210


− Espaço, custos de investimento e exploração da instalação.

Efectivamente, se a qualidade do ar exterior não for classificada como boa [26] e


precisar de tratamento (por exemplo filtragem) deve optar-se pela ventilação mecânica, dado
as diferenças de pressão existentes nos sistemas de ventilação natural serem insuficientes para
vencer a perda de carga do filtro. Se o nível de ruído exterior for elevado e inviabilizar a
introdução de grelhas de ventilação nas fachadas, mesmo com atenuação acústica, poder-se-á
optar por um sistema de ventilação mecânica equilibrado, evitando criar essas aberturas na
fachada.
A ventilação mecânica poderá ser o sistema a adoptar para assegurar a qualidade do ar
interior nas situações em que a diferença de pressão disponível pelos meios naturais é
insuficiente para assegurar os caudais de ar pretendidos durante um período de tempo
razoável (por exemplo, 50% do tempo da estação de aquecimento, na situação das janelas e
portas se encontram fechadas) ou então requereriam a existência de aberturas de grandes
dimensões (face às definidas na norma [33]), que seriam causa de elevadas taxas de ventilação
nos períodos de vento mais forte. Com efeito, com sistemas de ventilação mecânica é possível
assegurar os caudais de ventilação pretendidos e minimizar o efeito das infiltrações de ar pela
envolvente associados a condições climáticas adversas.
Além disso, os sistemas de ventilação mecânica permitem assegurar a controlabilidade
dos caudais, entre o caudal base para assegurar a QAI na ausência de actividades poluentes e
o caudal máximo nos períodos durante os quais são desenvolvidas essas actividades.

3.2 - Ventilação mecânica VMC


A ventilação mecânica centralizada (VMC) é um sistema de ventilação no qual os
fluxos de ar são induzidos através de ventiladores mecânicos. Nos sistemas VMC mais
correntes, a admissão do ar é efectuada através de aberturas na fachada directas para o
exterior e a exaustão de ar por condutas colectivas, que no topo do edifício se ligam à caixa de
ventilação através de condutas horizontais, Figura 2.

LNEC - Procº 0808/11/16210 9


Conduta colectora horizontal
Caixa de ventilação Topo de prumada

Conduta colectiva
vertical

Abertura
admissão de ar

Ramal de ligação
Boca extracção
Passagem de ar
interior

Quarto Cozinha Instalação Sala


sanitária
Figura 2 - Princípio geral de funcionamento de sistema de ventilação VMC com admissão de
ar na fachada

De uma forma geral um sistema de ventilação VMC, quando devidamente


dimensionado e instalado, permite assegurar em contínuo as taxas de ventilação pretendidas,
quer em condições nominais (ausência de actividade nos compartimentos de serviço), quer em
condições de caudal máximo (utilização das instalações sanitárias, fogão ou esquentador,
caldeira, etc).
De acordo com a terminologia francesa, o sistema de ventilação representado na
Figura 2 designa-se por sistema VMC de fluxo simples. Em locais com condições exteriores
adversas, por exemplo devido ao ruído exterior ou à poluição do ar, poderá ser necessário
recorrer ao sistemas VMC de duplo fluxo, no qual, além da extracção mecânica do ar também
é realizada a insuflação mecânica de ar em todos os compartimentos principais, Figura 3.
Com este sistema de duplo fluxo é possível efectuar a filtragem do ar novo e eventualmente o
seu pré-condicionamento (aquecimento/arrefecimento) e recuperar calor no ar de extracção.

10 LNEC - Procº 0808/11/16210


Figura 3 - Sistema VMC de duplo fluxo (sistema equilibrado)

Além destes dois sistemas também existe o sistema de ventilação de simples fluxo
apenas com insuflação de ar, o qual é uma solução raramente utilizada em edifícios de
habitação.
Na caracterização dos tipos de sistema de ventilação usualmente também se utilizam
as designações:
− VMC-gás: que significa um sistema de ventilação VMC no qual é possível ligar
aparelhos a gás do tipo B1;
− VMC-higro: que significa um sistema de ventilação VMC no qual as bocas de
extracção são sensíveis à humidade do ar interior, fazendo variar os caudais em função
da humidade relativa do ar interior;

1
Aparelhos a gás do tipo B, são aparelhos de combustão concebidos para serem ligados a condutas de evacuação
dos produtos de combustão para o exterior, sendo o ar comburente captado directamente no local de instalação

LNEC - Procº 0808/11/16210 11


− VMC-higrogás: que significa um sistema de ventilação VMC no qual se combinam as
duas propriedades anteriores.

Os sistemas de ventilação VMC caracterizam-se por ter funcionamento contínuo, de


forma a assegurar os caudais de ar novo pretendidos, nomeadamente o ar para a combustão
nos aparelhos a gás e para prevenir a migração de cheiros e poluentes entre compartimentos
ou entre fogos.
No caso de paragem do ventilador, no sistema VMC pode ocorrer refluxos de ar entre
pisos, devido aos diferenciais de pressão existentes e ao facto da perda de carga entre a
ligação do ramal e o interior poder ser inferior à perda de carga desde esse ponto de ligação
do ramal até ao exterior. No caso dos sistemas de ventilação natural, mesmo com condutas
colectivas, esta inversão do escoamento é menos provável devido ao efeito de chaminé ter
tendência a promover a exaustão do ar pela conduta colectora, em vez de criar a inversão no
ramal, Figura 4. Conforme é referido no capitulo 7.2.2, quando o sistema VMC se encontra
desligado pode haver a migração de cheiros e poluentes entre fogos.

Conduta colectiva tipo “shunt” de ventilação Conduta colectiva VMC


natural

Figura 4 - Condutas colectivas de ventilação natural/ventilação mecânica

12 LNEC - Procº 0808/11/16210


Dado o risco para os ocupantes decorrente da paragem do ventilador no sistema de
ventilação VMC-gás, este deve estar dotado de dispositivos de alarme e de corte do
abastecimento de gás aos aparelhos a gás ligados ao sistema VMC, quando for detectada uma
paragem do ventilador. Quando o sistema VMC de um edifício for constituído por mais de um
ventilador, estes devem ter funcionamento simultâneo para minimizar o risco de inversão do
escoamento do ar e a paragem de um dos ventiladores deve conduzir à paragem dos restantes
ventiladores do sistema.

3.3 - Os sistemas VMC em Portugal


Em Portugal, para a concepção e dimensionamento dos sistemas VMC existem
recomendações do LNEC [56].
A implantação dos sistemas de ventilação VMC em Portugal é ainda limitada, quando
comparada com outros países da Europa nos quais a utilização deste tipo de sistemas no
sector doméstico pode chegar a cerca de 90% na construção nova [42].
Os sistemas de ventilação mecânica instalados em Portugal frequentemente
baseiam-se em dois ventiladores, um para extrair o ar das instalações sanitárias e outro para a
extracção do ar das cozinhas e dos aparelhos de combustão do tipo B. Tendo em conta o ruído
gerado nestes sistemas, os ventiladores normalmente são controlados por um relógio, que
desliga o sistema durante o período nocturno. Esta situação permite a migração de cheiros e
poluentes entre fogos, sendo perigosa, pois em algumas circunstâncias o efeito de chaminé
existente nas condutas colectoras verticais pode permitir o funcionamento de aparelhos a gás
do tipo B dos pisos inferiores do edifício e a infiltração dos respectivos produtos da
combustão e gases tóxicos como o CO nos pisos superiores. Além dos problemas de
segurança relacionados com o desligar do sistema VMC, existem também incómodos para os
ocupantes, pois é condicionada a utilização de aparelhos gás tipo B para produção de águas
quentes sanitárias ou aquecimento ambiente, bem como é condicionada a preparação de
refeições devido à falta de exaustão2.

2
Existem casos em que estas condicionantes são ultrapassadas pelos ocupantes, que adulteram o princípio de
funcionamento do sistema VMC, aplicando hotes de fogão com ventilador e aparelhos a gás do tipo B com
ventilação mecânica.

LNEC - Procº 0808/11/16210 13


Entre os vários problemas que podem estar associados a este tipo de sistema
salientam-se os seguintes:
− inadequada regulação inicial do sistema para equilíbrio dos caudais nos diferentes fogos,
− ausência de aberturas para admissão de ar;
− inadequada selecção da capacidade do ventilador, quer por excesso, quer por defeito;
− inadequada instalação das condutas e caixas de ventilação, sem isolamento de vibrações e
transmissão de ruído à estrutura de suporte;
− ausência de dispositivos de segurança e alarme para o caso de interrupção do sistema
VMC;
− ausência de dispositivos de segurança contra incêndio;
− inadequado dimensionamento do sistema de condutas, com várias mudanças de secção;
− aplicação de componentes de baixa qualidade, com elevada produção de ruído.

Por vezes na ventilação de edifícios de habitação multifamiliares efectua-se uma


mistura de sistemas, que pode passar pela extracção individual com hotes de fogão com
ventilador e extracção centralizada nas instalações sanitárias.
A coexistência de hotes de fogão com ventilador e aparelhos a gás do tipo B é uma
situação perigosa, pois o extractor mecânico pode gerar uma importante depressão na cozinha
e inverter o sentido do escoamento na conduta de evacuação dos produtos da combustão
daquele aparelho. A ligação do aparelho a gás do tipo B à mesma conduta é uma situação
ainda mais perigosa, pois o ventilador mecânico cria uma depressão no interior da cozinha e
uma sobrepressão na conduta, o que pode causar uma recirculação dos produtos da combustão
do aparelho a gás do tipo B [62] e ser causa de intoxicação por monóxido de carbono. No
anexo A, são apresentadas algumas recomendações para a aplicação de hotes de fogão com
ventilador.

14 LNEC - Procº 0808/11/16210


Sobrepressão
conduta

Depressão
compartimento

Figura 5 - Exemplos de recirculação de ar [33] e [44]

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4 - Regras de concepção e manutenção

4.1 - Princípios gerais de concepção de sistemas de ventilação VMC


A ventilação do fogo deve ser geral e permanente, mesmo nos períodos em que a
temperatura do ar exterior obrigue a manter as janelas fechadas. A ventilação deve ser
assegurada em condições de conforto e segurança.
Para assegurar a qualidade do ar interior preconiza-se normalmente a adopção de três
estratégias: i) minimizar as fontes de poluição no interior, ii) extracção local junto de fontes
poluentes; iii) diluição dos poluentes gerados pelos ocupantes e fontes difusas por renovação
do ar interior.
Deste modo, os sistemas de ventilação de habitações devem compreender a admissão
de ar novo nos compartimentos principais, o escoamento desse ar para os compartimentos de
serviço e a extracção do ar em todos os compartimentos de serviço. Para assegurar a
qualidade do ar interior e minimizar a dispersão de poluentes estes devem ser captados na
fonte, por exemplo através da utilização de hote adequada sobre o fogão e da ligação ao
sistema dos aparelhos a gás do tipo B.
O sistema de ventilação do fogo deve compreender os seguintes componentes (Figura
2 ou Figura 3):
− Admissões de ar em todos os compartimentos principais, realizadas através de aberturas
directas para o exterior, praticadas na envolvente exterior, ou através de aberturas servidas
por condutas de comunicação com o exterior;
− Passagens de ar dos compartimentos principais para os compartimentos de serviço,
realizadas através de aberturas especialmente previstas para o efeito;
− Saídas de ar em todos os compartimentos de serviço, integradas num sistema de extracção
mecânica;
− Condutas de ventilação;
− Ventilador de extracção;
− Conduta para a exaustão do ar da caixa de ventilação.

O sistema de ventilação VMC deve ter funcionamento independente de sistemas de


ventilação de outros espaços do edifícios (arrecadações, garagens, zonas de circulação, etc).

16 LNEC - Procº 0808/11/16210


4.2 - Regras específicas de concepção do sistema VMC de fluxo simples
O sistema de ventilação deve ser concebido e dimensionado de forma a assegurar o
escoamento dos caudais base e máximo em condições de conforto acústico compatíveis com a
regulamentação sobre o ruído em vigor.
Por razões de economia de energia e conforto, recomenda-se que a concepção da
instalação preveja a possibilidade de existir regulação do caudal nas aberturas de extracção
(entre os caudais base e máximo). Nesse sentido, recomenda-se a utilização de aberturas de
regulação automática ou de controlo manual.
Quando os compartimentos de serviço estão a ser utilizados deve adoptar-se o caudal
máximo de ventilação.
No dimensionamento da instalação deve-se evitar que a regulação do caudal pelo
utilizador numa boca conduza a variações de caudal significativas nas bocas que servem os
outros compartimentos do mesmo fogo ou de outros fogos.
Quando é prevista a regulação do caudal pelo utilizador (por exemplo, através do
ajustamento manual) não é permitida a obturação total das aberturas de ventilação, excepto
quando se tratar de admissões para o ar de compensação.
Quando o caudal máximo de extracção na cozinha obriga a caudais de ventilação
superiores ao caudal base nos compartimentos principais é recomendável a previsão de
aberturas de admissão de ar especificas nas cozinhas, as quais devem ser dimensionadas para
a admissão do ar de compensação. Caso existam aparelhos a gás do tipo B, o adequado
funcionamento destes deve estar assegurado independentemente da actuação desta abertura
especifica.
Tendo em conta a distribuição dos espaços das habitações, podem ser considerados os
seguintes esquemas de ventilação: (i) ventilação conjunta de toda a habitação e (ii) ventilação
separada de compartimentos individuais da habitação. São condições necessárias para a
implementação da ventilação separada de compartimentos individuais a existência de (i)
aberturas de admissão de ar novo, (ii) aberturas de extracção e (iii) comunicações de reduzida
permeabilidade ao ar com outros sectores de ventilação ou com o exterior (ver NP 1037-1).
Este princípio pode ser adoptado para compatibilizar a ventilação mecânica da habitação com
a exaustão natural por condutas individuais dos produtos da combustão dos aparelhos a gás do
tipo B quando estes se encontram num compartimento com ventilação separada, por exemplo
lavandaria ou engomadoria. A adopção desta solução é recomendável pela sua simplicidade e
segurança que oferece no funcionamento dos aparelhos a gás do tipo B.

LNEC - Procº 0808/11/16210 17


Um compartimento que possa servir simultaneamente como compartimento principal
e compartimento de serviço, nomeadamente através da existência de equipamento de cozinha
(kitchenete, por exemplo), deve estar provido de admissões e extracções de ar em
conformidade com os requisitos para os compartimentos principais e compartimentos de
serviço.
Deve ser evitada a coexistência de uma instalação de ventilação mecânica controlada e
de condutas de evacuação por tiragem natural, uma vez que a depressão causada pelo sistema
VMC pode provocar a inversão da tiragem nas condutas de ventilação natural. Esta situação
só é admissível em casos especiais e se não existir interferência entre esses sistemas.
Do posicionamento e das características das aberturas de admissão de ar não pode
resultar desconforto para os ocupantes do fogo nem degradação da construção ou deficiências
no funcionamento dos equipamentos. As bocas de extracção do ar ligadas à instalação de
VMC (bocas de extracção, cúpula de evacuação de um aparelho ligado, hote de cozinha não
equipada de ventilador, etc.) devem ser dispostas de forma a que a cota da abertura de
evacuação mais elevada posicionada no mesmo compartimento não seja inferior a 1,80 m.
As bocas de extracção que servem o mesmo sector de ventilação não devem estar
ligadas a extractores distintos, a menos que o funcionamento de todos esses extractores seja
interrompido automaticamente em caso de paragem acidental de um deles.
As condutas que servem os compartimentos de serviço não podem servir
compartimentos principais.
Não é permitido o recurso, nos fogos servidos por sistemas VMC, a dispositivos
autónomos de extracção (por exemplo hote de cozinha motorizada, ventiladores autónomos
aplicados nas instalações sanitárias, etc.), pois as pressões geradas por estes equipamentos
podem afectar o bom funcionamento do sistema VMC.
Os aparelhos do tipo B ligados ao sistema VMC devem estar sincronizados com o
funcionamento deste, parando a combustão em caso de paragem do extractor. Para esse fim
são utilizados dispositivos de corte do gás aos aparelhos ligados, podendo este dispositivo
estar no aparelho ou na rede que o alimenta. De forma alternativa, a interrupção do
funcionamento da extracção mecânica dos produtos da combustão deve promover a
interrupção do funcionamento da instalação VMC dos locais e a evacuação dos produtos da
combustão deve ser realizada por tiragem natural, respeitando as regras estabelecidas na
norma NP 1037-1.

18 LNEC - Procº 0808/11/16210


A instalação com caldeiras de condensação deve ser concebida de forma a permitir a
evacuação da água de condensação. É conveniente posicionar as evacuações de água na
proximidade das respectivas fontes (aparelhos a gás, etc.).
Deve ser assegurada a coordenação entre os projectistas das diferentes especialidades,
de forma a minimizar alterações ao projecto no decurso da execução, como por exemplo a
existência de elementos estruturais que interceptem a rede de condutas.

4.3 - Manutenção
Na concepção dos sistema de ventilação devem seleccionar-se materiais e componentes
duráveis e prever-se o acesso a estes para a sua limpeza, manutenção e eventual substituição
em caso de falha.
De forma a minimizar os tempos de paragem da instalação, a empresa de manutenção
deve dispor de um motor de reserva. Se a transmissão for efectuada por correia, deve existir
junto das caixas de ventilação uma correia de reserva.
As bocas de extracção devem poder ser desmontadas pelos utilizadores e laváveis.
Em França, nas instalações VMC e VMC-gás prevêem-se as seguintes tarefas de
manutenção a serem realizadas por profissionais qualificados:

Anualmente:
- Limpeza da caixa de ventilação
- Substituição da correia do ventilador
- Verificação de:
− tambores;
− ligações eléctricas, funcionamento dos alarmes de segurança;
− caudais evacuados;
− estado das bocas de extracção e demais componentes da instalação;
− verificação da ausência de ligação ao sistema VMC de hotes com
ventilador e outros dispositivos mecânicos.;
Todos os 5 anos:
- Controlo e regulação global da instalação.

Informação mais específica sobre a inspecção das instalações pode ser consultada no
documento [63].

LNEC - Procº 0808/11/16210 19


5 - Caudais de ventilação

5.1 - Princípios para a definição dos caudais de ventilação


5.1.1 - Aspectos gerais
Os caudais de ventilação devem ser os suficientes para promover a admissão de ar
novo para a respiração humana, para a diluição de poluentes gerados pelas fontes interiores
para o controlo da humidade interior e para o ar de combustão dos aparelhos de queima.
Por razões de conforto e de consumo de energia, na definição das taxas de ventilação
consideram-se duas situações, uma correspondente ao caudal base e outra ao caudal máximo:
• Caudal base, caudal necessário para assegurar a qualidade do ar interior satisfatória e
minimizar o risco de ocorrência de condensações, na ausência de actividades
particularmente poluidoras e de sobre-ocupação dos espaços.
• Caudal máximo, caudal de valor superior ao base que é momentaneamente imposto,
principalmente para assegurar a remoção ou a diluição de poluentes gerados em algumas
actividades como cozinhar, banhos nas instalações sanitárias e o funcionamento dos
aparelhos de combustão.
Actualmente não existe consenso quanto ao método de cálculo das taxas de ventilação
mínimas destinadas a assegurar a QAI e a minimizar os consumos de energia. Na Figura 6,
encontra-se uma síntese dos caudais de ventilação recomendados em vários países para várias
tipologias com as dimensões indicadas no Quadro 1. Para as situações de caudal máximo, são
estimados os caudais indicados na Figura 7.
Quadro 1 - Dimensões das diferentes tipologias consideradas nos gráficos
Tipologia T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6
Dados de base
área de pavimento total m2 37 55 67 86 108 132 154
área compartimentos principais m2 20 34 46 58 80 97 114
área cozinha m2 10 10 10 10 10 10 10
área casas de banho m2 5 5 5 10 10 15 20
área da sala m2 20 20 20 20 30 35 40
área dos quartos m2 0 14 26 38 50 62 74
número de quartos - 1 1 2 3 4 5 6
número de compartimentos principais - 1 2 3 4 5 6 7
número de casas de banho - 1 1 1 2 2 3 4
volume dos compartimentos principais m3 48 82 110 139 192 233 274
volume das casas de banho m3 12 12 12 24 24 36 48
volume da cozinha m3 24 24 24 24 24 24 24
volume total m3 89 133 162 207 259 316 369

20 LNEC - Procº 0808/11/16210


CAUDAL BASE
1.6

1.4

1.2
Renovações por hora (h-1)

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0
T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6
Proposta NP-1037 ASHRAE
França Bélgica Alemanha
Dinamarca, Noruega, Suécia Finlândia Holanda

Figura 6 - Estimativa das taxas de ventilação correspondente ao caudal base

CAUDAL MÁXIMO
4.0

3.5
Renovações por hora (h )
-1

3.0

2.5

2.0

1.5

1.0

0.5

0.0
T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6

Caudal Ponta Hotte Caudal Ponta Hotte+GAS B NP-1037


ASHRAE França Bélgica
Alemanha Dinamarca Finlândia
Holanda Noruega Suécia

Figura 7 - Estimativa das taxas de ventilação correspondente ao caudal máximo

LNEC - Procº 0808/11/16210 21


Nas figuras anteriores a legenda tem o seguinte significado:
− NP 1037, caudal determinado de acordo com a norma NP 1037-1 [33];
− ASHRAE, caudal determinado de acordo com a norma ASHRAE 62.2 [12];
− França, caudal determinado de acordo com o regulamento Francês [1];
− Bélgica, caudal determinado de acordo com a norma belga e fórmulas indicadas no
documento [42];
− Dinamarca, caudal determinado de acordo com a norma dinamarquesa e fórmulas
indicadas no documento [42];
− Finlândia, caudal determinado de acordo com a norma da Finlândia e fórmulas indicadas
no documento [42];
− Alemanha, caudal determinado de acordo com a norma alemã e fórmulas indicadas no
documento [42];
− Holanda, caudal determinado de acordo com a norma holandesa e fórmulas indicadas no
documento [42];
− Noruega, caudal determinado de acordo com a norma norueguesa e fórmulas indicadas no
documento [42];
− Suécia, caudal determinado de acordo com a norma sueca e fórmulas indicadas no
documento [42];
− Caudal total mínimo 2005, caudal determinado de acordo com a proposta apresentada
neste texto.
Pelos gráficos anteriores verifica-se que existe uma discrepância significativa entre os
caudais de ventilação recomendados em diferentes países. Nesse sentido, optou-se por
efectuar uma análise aos caudais de ventilação necessários para assegurar a QAI para
Portugal.
No estudo dos caudais de ventilação foram consideradas as recomendações existentes
sobre a ventilação de edifícios de habitação e as recomendações relacionadas com a qualidade
do ar interior, Quadro 2.

22 LNEC - Procº 0808/11/16210


Quadro 2 - Concentrações máximas admissíveis de poluentes no interior dos edifícios

Poluente Concentração Duração Fonte


Dióxido de azoto (NO2) 200 µg/m3 (106 ppb) 1 hora
WHO [65]
40 µg/m3 (21 ppb) Média anual
Dióxido de enxofre 500 µg/m3 (175 ppb) 10 minutos
WHO [65]
(SO2) 50 µg/m3 (17 ppb) Média diária
Monóxido de carbono 100 mg/m3 (90 ppm) 15 minutos
(CO) 60 mg/m3 (50 ppm) 30 minutos
3
WHO [65]
30 mg/m (25 ppm) 1 hora
10 mg/m3 (10 ppm) 8 horas
Dióxido de carbono 3500 ppm (saúde) Canada [40]
(CO2) 700 ppm acima da ASHRAE [12] e
concentração exterior classe B de [41]
(conforto)*
Formaldeído (HCHO) 0,1 mg/m3 (0,08 ppm) 30 minutos WHO [65]
Compostos orgânicos
300 µg/m3 8 horas ECA [50]
voláteis totais (TCOV )
Ozono (O3) 0,12 mg/m3 (0,06 ppm) 8 horas WHO [65]
Chumbo (Pb) 0,5 µg/m3 Média anual WHO [65]
Humidade relativa ≤ 70% **
Partículas (PM10)3 0,15 mg/m3 Média diária
EPA [49]
0,05 mg/m3 Média anual
Partículas (PM2,5)4 0,06 mg/m3 Média diária
EPA [49]
0,015 mg/m3 Média anual
* Aplicável para o CO2 como indicador dos bioefluentes resultantes dos ocupantes,
usualmente também é considerado um valor absoluto de 1000 ppm, pois a concentração
do ar exterior é de sensivelmente 350 ppm.
** É admissível ter humidade relativa superior a 70% em apenas 2 horas, em períodos de 12
horas e superior a 90% em apenas 1 horas, em períodos de 12 horas.

Na determinação dos caudais de ventilação foi considerado o regime transiente


associado à emissão dos poluentes/ocupação dos espaços. Em relação à variação dos caudais

3
PM10 corresponde às partículas cujo diâmetro aerodinâmico mássico médio é inferior a 10 µm
4
PM2,5 corresponde às partículas cujo diâmetro aerodinâmico mássico médio é inferior a 2,5 µm

LNEC - Procº 0808/11/16210 23


foi considerado que nos sistemas de ventilação do sector doméstico o controlo dos caudais é
efectuado essencialmente pela alteração da perda de carga nas bocas de extracção. Por esse
facto, neste tipo de sistemas, a variação dos caudais de ventilação nos compartimentos de
serviço é relativamente simples e viável através, por exemplo, da abertura da hote do fogão e
uso de bocas termo-reguláveis ou higro-reguláveis. Por sua vez, nos compartimentos
principais, o controlo dos caudais é pouco viável, pois tal requer a actuação/sincronização da
regulação das aberturas de admissão de ar do(s) compartimento(s) e a actuação de uma das
bocas de extracção para a evacuação desse acréscimo de caudal.
Nesse sentido, na apreciação dos caudais de ventilação considerou-se a ventilação em
regime permanente nos compartimentos principais, enquanto nos compartimentos de serviço
considerou-se o funcionamento da ventilação em regime variável.
Caso sejam adoptados sistemas que permitam apreciar a QAI dos diferentes
compartimentos principais e modelar os caudais de ventilação desses compartimentos, os
valores a seguir recomendados para os compartimentos principais poderão ser reduzidos para
metade durante os períodos de não ocupação.

5.1.2 - Compartimentos principais


Para determinar a taxa de ventilação dos compartimentos principais teve-se em conta a
taxa de ocupação referida no Quadro 3 e a emissão de CO2 e vapor de água associada ao
metabolismo humano, bem como a taxa de emissão de poluentes de materiais de construção
de 0,1 olf/m2 [41], [51] e [52]5. Como critérios de qualidade do ar interior foram adoptados os
seguintes limites:
a) concentração de CO2 a 3500 ppm (critério de saúde);
b) concentração de CO2 com origem no metabolismo humano a 1000 ppm;
c) humidade relativa do ar interior a 70% para uma temperatura interior de 18ºC,
temperatura do ar exterior de 10ºC e humidade relativa de 95%;
d) percepção da qualidade do ar interior de 1.4 dp6 [41], [51] e [52].

5
1 olf é definido como a taxa de emissão de poluentes (bioefluentes) de uma pessoa de referência. Esta é uma
unidade subjectiva, baseada na apreciação da qualidade do ar por um conjunto de pessoas (painel de
observadores), com a qual outras fontes de poluição podem ser comparadas.
6
1 dp é a intensidade da percepção da poluição do ar causada por uma pessoa de referência (olf) submetida a
uma taxa de ventilação de 10 l/s, a qual é avaliada por um painel de observadores.

24 LNEC - Procº 0808/11/16210


A utilização dos critérios sensoriais em edifícios de habitação ainda não está
fundamentada; todavia, constituiu uma forma aproximada de caracterizar os poluentes
emitidos pelos materiais de construção (VOC, formaldeído, etc).
Nos quartos assumiu-se um período de ocupação de 10 horas por dia e na sala de 6
horas. Nos quartos, o critério de limitação da concentração de CO2 conduz a um caudal de
aproximadamente 1 l/s.ocupante. Em relação à diluição do vapor de água, verifica-se ser
necessário um caudal de ar de 5 l/s.ocupante, Figura 8. Quanto à limitação dos poluentes com
origem nos materiais pouco poluentes, considera-se necessária uma taxa de ventilação de 1
renovação de ar por hora.

Quadro 3 - Taxa de ocupação de referência dos compartimentos principais por tipologia

Tipologia Sala Quarto 1 Quarto 2 Quarto 3 Quarto 4 Quarto 5


T0 2 - - - - -
T1 2 2 - - - -
T2 3 2 1 - - -
T3 4 2 1 1 - -
T4 5 2 1 1 1
T5 6 2 1 1 1 1

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Figura 8 - Evolução da humidade relativa interior do quarto com dois ocupantes para
Text=10ºC, HR=95%, Tint=18ºC e Qar=5 l/s.ocupante

LNEC - Procº 0808/11/16210 25


Com base nestes pressupostos obtém-se a seguinte fórmula de cálculo para o caudal de
ventilação:

(
Q quarto (l / s ) = MAX Vol / 3,6 ; 5 × n ocup ) eq. 1

Em que:
- Vol é o volume do compartimento em m3;
- nocup é o número de ocupantes.

Na sala considera-se a permanência de todos os ocupantes do fogo, por um período de


6 horas e uma actividade (metabolismo) superior à dos quartos. Com base nestes dados são
estimadas necessidades de ventilação de 1,6 l/s.ocupante para limitar a concentração de CO2,
de 6 l/s.ocupante para limitar o vapor de água (Figura 9 a Figura 11) e 1 renovação do ar por
hora para limitar a concentração dos poluentes com origem nos materiais pouco poluentes.

80%
100%
70%
90%
60% 80%
50% 70%

40% 60%
50%
30%
40%
20%
30%
10% 20%
0% 10%
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0%
h 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
h
Figura 9 - Evolução da humidade relativa interior da Figura 10 - Evolução da humidade relativa interior da
sala com 4 ocupantes para Text=10ºC, HR=95%, sala com 4 ocupantes para Text=10ºC, HR=95%,
Tint=18ºC e Qar=6 l/s.ocupante (1.6 ren/h) Tint=18ºC e Qar= 0.5 renovações/hora
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
h

Figura 11 - Evolução da humidade relativa interior da sala com 4 ocupantes para Text=10ºC, HR=95%,
Tint=18ºC e Qar= 1.0 renovações/hora

26 LNEC - Procº 0808/11/16210


Com base nestes pressupostos obtém-se a seguinte fórmula de cálculo:

(
Q sala (l / s ) = MAX Vol / 3,6 ; 6 × n ocup ) eq. 2

Em que:
- Vol é o volume do compartimento em m3;
- nocup é o número de ocupantes.

Foi também apreciado o impacte da utilização de um aparelho de aquecimento a gás


do tipo A7 na sala, com uma produção de CO2 de 0.033 l/s.kW e H2O de 0.036 g/s.kW. Nessa
condição, para limitar a concentração de poluentes, o caudal de ventilação deve ser acrescido
do valor de 17 l/s.kW do aparelho de aquecimento; ou seja conduz a uma taxa de ventilação
da sala de 4 a 6 renovações/hora. Deste modo, considera-se que deve ser restringida a
utilização de aparelhos de aquecimento a gás do tipo A no interior de edifícios de habitação,
devido ao elevado vapor de água libertado.

5.1.3 - Compartimentos de serviço


Em relação às instalações sanitárias, como critério para a definição da taxa de
ventilação considerou-se o caudal que permite que a concentração de odores e vapor de água
seja reduzida para 40% do seu valor inicial ao fim de 15 minutos, o que conduz a uma taxa de
ventilação de 4 renovações de ar por hora. Tendo em conta as dimensões reduzidas das
instalações sanitárias, este caudal corresponde a cerca de 30 m3/h (Apav ≈ 3 m2). Deste modo,
considera-se aceitável que nas instalações sanitárias seja assegurado este caudal em
permanência, não fazendo muito sentido a adopção de um caudal reduzido.

Q instalação sanitária (l / s ) = MAX(4 × Vol / 3,6;8,3) eq. 3

Em que:
- Vol é o volume do compartimento em m3;
- nocup é o número de ocupantes.

LNEC - Procº 0808/11/16210 27


Em relação ao caudal de ventilação das cozinhas considera-se a situação de utilização
do fogão e do aparelho a gás do tipo B e o período durante o qual não são utilizados esses
aparelhos.
Em relação aos caudais a extrair na hote do fogão preconiza-se o valor de 50 l/s
3
(180 m /h) ou 60 l/s.m de largura do fogão, conforme recomendado pela ASHRAE [12] para
o sector doméstico. Estes valores demonstraram ser razoáveis para remover os cheiros e o
vapor de água gerado durante a cocção dos alimentos, quando a hote tem uma dimensão pelo
menos igual ao da base do fogão. Em relação à evacuação dos produtos da combustão dos
aparelhos a gás do tipo B, consideram-se as recomendações da norma NP 1037-1. Na
ausência da utilização do fogão e do aparelho a gás do tipo B, para a ventilação permanente
da cozinha admite-se um caudal mínimo correspondente à redução de 40% da concentração
dos poluentes ao fim de 30 minutos (pois os odores existentes na cozinha são menos
desagradáveis do que os das instalações sanitárias), ou seja uma taxa de ventilação de 2
renovações de ar por hora da cozinha. Para as cozinhas a proposta é a seguinte:
Caudal base:
Cozinha sem aparelhos a gás do tipo B:
Q cozinha (l / s ) = 2 × Vol / 3,6
Cozinha com aparelhos a gás do tipo B:
(
Q cozinha (l / s ) = MAX 2 × Vol / 3,6; Q aparelho gás )
Caudal máximo:
Cozinha sem aparelhos a gás do tipo B:
(
Q cozinha (l / s ) = MAX 2 × Vol / 3,6 ; 50 ; 60 × L fogão )
Cozinha com aparelhos a gás do tipo B:
⎛ 2 × Vol / 3,6 ; 50 + Q aparelho gás ; ⎞
Q cozinha (l / s ) = MAX⎜ ⎟
⎜ 60 × L fogão + Q aparelho gás ⎟
⎝ ⎠

Qaparelho gas = 1,2 × Qn (l/s) aparelhos a gás do tipo B (exceptuando caldeiras)


Qaparelho gas = 1,4 × Qn (l/s) caldeiras
Qn é a potência útil nominal do aparelho a gás do tipo B em kW.

7
Aparelho a gás do tipo A são aparelhos concebidos para não serem ligados a condutas ou dispositivos de
evacuação dos produtos de combustão para o exterior do local de instalação.

28 LNEC - Procº 0808/11/16210


Com base nas fórmulas anteriores deve ser calculado o caudal base de cada um dos
compartimentos principais e de serviço.
Para o caudal base, caso os caudais totais a extrair nos compartimentos de serviço
sejam diferentes dos caudais totais a admitir nos compartimentos principais (no fogo, ou em
cada sector de ventilação), o menor desses valores deve ser corrigido, incrementando a
admissão de ar nos compartimentos principais ou a extracção nos compartimentos de serviço.
Sempre que o caudal máximo na cozinha seja superior ao seu caudal base (corrigido
da eventual compensação), admite-se que essa diferença de caudais possa ser compensada por
aberturas de compensação especificas situadas na cozinha.

5.1.4 - Apreciação dos caudais de ventilação


Os caudais obtidos com este método encontram-se representados na Figura 6 e na
Figura 7. Em relação aos caudais máximos não existe discordância significativa entre este
método e os preconizados noutras normas, na ausência do funcionamento do aparelho a gás
do tipo B. Em relação ao caudal base nota-se que este método, de uma forma geral, conduz a
valores da taxa de ventilação superiores aos preconizados noutros países (0,9 ren/hora), com
excepção da Bélgica. Este acréscimo encontra-se relacionado no essencial com o caudal de
ventilação da sala (6 l/s.ocupante). Por esse facto, no estudo foi considerada a condição de se
impor uma taxa de ventilação de 1 renovação por hora e 0,5 renovações por hora na sala, o
que permitia baixar a taxa de ventilação para 0,8 e 0,6 renovações por hora, respectivamente.
No entanto, pelas Figura 9 a Figura 11, verifica-se que tal pode conduzir a um aumento
excessivo da humidade relativa do ar interior em algumas circunstâncias, pelo que se
considerou manter a condição de um caudal de 6 l/s.pessoa. Além disso, o incremento da taxa
de ventilação em 0,1 renovações de ar por hora traduz-se num incremento do eventual
consumo de energia de aquecimento de 2,3 kWh/ano.100m3 de volume de ar interior na zona
climática I1 e 7,0 kWh/ano.100m3 de volume de ar interior na zona climática I3, o qual se
considera aceitável.
A título de exemplo aplica-se o método agora proposto a 3 edifícios (Figura 12 e
Figura 13), Quadro 4.
Dos resultados apresentados verifica-se que os caudais propostos satisfazem aos
requisitos dos caudais mínimos indicado no RSECE [6] para salas de estar e quartos, estando
de acordo com a regulamentação.

LNEC - Procº 0808/11/16210 29


Quadro 4 - Caudal base de ventilação para três casos reais (h-1)

Taxa de ventilação Caso 1 Caso 2 Caso 3


Tipologia T3 T3 T2
Aútil (m2) 93 97 66
Caudal base
Proposta 0,70 0,73 0,81
Caudal máximo
Hotte 0,96 0,97 1,42
Hotte+Aparelho gás tipo B de 23kW 1,39 1,35 2,05

Figura 12 - Planta do caso 2

30 LNEC - Procº 0808/11/16210


Figura 13 - Planta do caso 3

5.2 - Síntese

Caudal base

(
Q quarto (l / s ) = MAX Vol / 3,6 ; 5 × n ocup )
(
Q sala (l / s ) = MAX Vol / 3,6 ; 6 × n ocup )
Q instalação sanitária (l / s ) = MAX(4 × Vol / 3,6 ; 8,3)

Cozinha sem aparelhos a gás do tipo B:


Q cozinha (l / s ) = 2 × Vol / 3,6
Cozinha com aparelhos a gás do tipo B:
(
Q cozinha (l / s ) = MAX 2 × Vol / 3,6 ; Q aparelho gás )
Salienta-se que a utilização de aparelhos de aquecimento a gás do tipo A não está
considerada nos caudais definidos para os compartimentos principais, uma vez que a
utilização deste tipo de aparelhos pode conduzir a níveis de vapor de água interior
consideravelmente superiores aos admissíveis, não sendo por isso recomendada a sua
utilização no interior de edifícios de habitação.
Caso os caudais totais a extrair nos compartimentos de serviço sejam diferentes dos
caudais totais a admitir nos compartimentos principais (no fogo, ou em cada sector de

LNEC - Procº 0808/11/16210 31


ventilação), o menor desses valores deve ser corrigido, incrementado a admissão de ar nos
compartimentos principais ou a extracção nos compartimentos de serviço.

Caudal máximo
Cozinha sem aparelhos a gás do tipo B:
(
Q cozinha (l / s ) = MAX 2 × Vol / 3,6 ; 50 ; 60 × L fogão )
Cozinha com aparelhos a gás do tipo B:
(
Q cozinha (l / s ) = MAX 2 × Vol / 3,6 ; 50 + Q aparelho gás ; 60 × L fogão + Q aparelho gás )
Qaparelho gas = 1,2 × Qn (l/s) aparelhos a gás do tipo B (exceptuando caldeiras)
Qaparelho gas = 1,4 × Qn (l/s) caldeiras
Qn é a potência útil nominal do aparelho a gás do tipo B em kW.

As exigências quanto à ventilação dos compartimentos principais e instalações


sanitárias são as indicadas na secção anterior.
Os aparelhos a gás do tipo C8, uma vez que têm admissão e evacuação independente
da ventilação dos locais, não são considerados na determinação dos caudais.

8
Os aparelho a gás do tipo são aparelhos concebidos de modo a que o circuito de combustão (admissão do ar
comburente, câmara de combustão, permutador de calor e evacuação dos produtos de combustão) seja estanque
relativamente ao local de instalação.

32 LNEC - Procº 0808/11/16210


6 - Dimensionamento da instalação VMC

6.1 - Aberturas de admissão de ar e Permeabilidade ao ar da envolvente


6.1.1 - Aspectos gerais
As aberturas de admissão de ar são caracterizadas com os ensaios previstos na norma
EN 13141-1 [18], no qual são determinadas as seguintes propriedades:
− relação diferença de pressão-caudal;
− permeabilidade no caso de ser possível o fecho total da abertura;
− difusão de ar na zona ocupada e apreciação do seu impacte nas condições de conforto térmico;
− isolamento sonoro;
− estanquidade à água.

As aberturas de admissão dos sistemas de ventilação mecânica usualmente são


caracterizadas pelo seu caudal nominal (em m3/h) para uma diferença de pressão de
referência, que se designa por módulo da abertura (M) [32].
Em relação às aberturas de admissão de ar estas podem ser classificadas em (Figura 14):
- aberturas de dimensão fixa, nas quais o caudal varia tipicamente com a raiz quadrada da
diferença de pressão;
- aberturas de admissão de ar auto-reguláveis, nas quais o caudal de ar admitido se mantém
aproximadamente constante para diferenças de pressão superiores à pressão de referência
(usualmente 20 Pa), devendo a curva do caudal medido satisfazer à condição de ser
superior a 0,7× M e de ser inferior a M×(0,6×∆P/80+92/80) [32].
100
Abertura 30 cm2
90 VM 30

80

70

60
(m3/h)

50

40

30

20

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
DP (Pa)

Figura 14 - Curva pressão-caudal para abertura fixa e abertura auto-regulável

LNEC - Procº 0808/11/16210 33


Nos sistemas VMC preconiza-se que sejam adoptadas aberturas de admissão
auto-reguláveis atendendo ao seu baixo custo e à limitação do caudal de ar admitido para
diferenças de pressão superiores a 20 Pa. Existem grelhas que permitem regular a admissão de
ar para diferenças de pressão diferentes dos 20 Pa.
As aberturas de admissão de ar, conforme foi referido, são colocadas de forma a
realizar a admissão directa do ar exterior, podendo ser aplicadas nas janelas, nas caixas de
estore ou nas paredes da envolvente. O seu posicionamento deve ser escolhido de forma a que
não exista a possibilidade de virem a ser obstruídas por mobiliário e devem ser situadas de
forma a não serem causa de desconforto para os ocupantes, nem serem responsáveis por
infiltrações de água.

Figura 15 - Localização das aberturas de admissão de ar

O aspecto do conforto térmico [29] pode ser apreciado com base nos resultados dos
ensaios de acordo com a norma de ensaio EN 13141-1 [18]. Para apreciar as condições de
conforto, além de assegurar que a temperatura operativa se encontra na gama de conforto
(22ºC±2ºC [29]), deve ser verificado que a diferença de temperatura do ar entre o nível dos
pés e da cabeça não excede 3ºC e que o risco de corrente de ar (draught risk-DR, eq. 6) deve
ser inferior a 15%.

DR = (34 − Tar )× (v − 0,05)0,62 × (0,37.v.Tu + 3,14) eq. 4

em que:
− DR é percentagem previsível de insatisfeitos devido ao desconforto associado a
corrente de ar, em %;

34 LNEC - Procº 0808/11/16210


− Tar é a temperatura do ar em (ºC);
− v é a velocidade média do ar local, em (m/s);
− Tu é a intensidade de turbulência local, em (%).

Estas condições de conforto devem ser satisfeitas na zona de ocupação, que pode ser
assumida como a zona delimitada por um afastamento às paredes exterior superior a 1,0 m; às
paredes interiores superior a 0,5 m e um afastamento ao pavimento superior a 0,1 m e inferior
a 1,8 m [26].
De acordo com resultados de estudos realizados em laboratório [48] o problema de
conforto [29] não é significativo para distâncias à parede superiores a 0,5 m, se as aberturas
de admissão de ar se situarem fora da zona de ocupação (acima de 1,8 m) e se for privilegiado
o desenvolvimento de um jacto de parede, Figura 16 e Figura 17. A aplicação de cortinas em
frente da abertura ou a utilização de unidades de aquecimento ambiente por baixo das grelhas
permite minimizar o risco de desconforto. Nas figuras, os valores apresentados correspondem
ao risco de corrente de ar (DR).

Janela

Altura
(m) Pavimento
aquecido

Distância (m)

Jacto simples

Figura 16 - Apreciação do comportamento do jacto de uma grelha de admissão de ar [48]

LNEC - Procº 0808/11/16210 35


Janela

Altura
(m) Pavimento
aquecido

Distância (m)

Jacto de parede

Figura 17 - Apreciação do comportamento do jacto de uma grelha de admissão de ar [48]

No trabalho [48] (Figura 16 e Figura 17) é referido que as condições de ensaio


correspondem à admissão de ar à temperatura de 1 a 2ºC, a temperatura da parede exterior era
de 19ºC e a da janela 15ºC. Para aquecimento do ambiente interior era utilizado pavimento
radiante. Dado este sistema de aquecimento ser pouco utilizado em Portugal (apesar de ser o
que cria um ambiente interior mais homogéneo), foram realizadas simulações CFD [39] para
aferir do impacto da posição de um radiador nas condições de conforto para várias posições
da abertura de admissão de ar.
Numa primeira fase foi recriada uma situação aproximada à medição experimental,
Figura 18. Dos resultados obtidos, e face à incerteza quanto às características da grelha e do
caudal de ar em presença na medição experimental, considera-se existir uma concordância
razoável no desenvolvimento do jacto e na estimativa da zona com valor elevado do
coeficiente DR.

36 LNEC - Procº 0808/11/16210


Figura 18 - Comparação da medição experimental com a modelação

Tendo em conta a concordância referida anteriormente, foram incorporados no modelo


radiadores, para analisar qualitativamente as condições de conforto. As condições adoptadas
na modelação foram as seguintes:
− Compartimento representando um quarto com 12 m2 (3 m × 4 m × 2,5 m);
− Janela de 1,4 m × 1,0 m, com vidro duplo (Ug=2,9 W/m2K);
− Admissão de um caudal de ar de 30 m3/h à temperatura de 0 ºC, através de uma abertura
com secção de 25 cm × 1,5 cm. Foi considerada uma velocidade uniforme de 2,22 m/s na
saída da grelha;
− Abertura para saída do ar de 80 cm × 1 cm, situada junto do pavimento na parede oposta;
− Temperatura média do ar interior de 20 ºC, controlada através do ajuste da temperatura da
superfície do radiador;
− Todas as paredes são consideradas adiabáticas, sendo a transmissão de calor através do
vidro calculada assumindo uma temperatura do ar exterior de 0 ºC;
− Radiador simulado com as seguintes dimensões: 60 cm × 10 cm × 60 cm, afastado 10 cm
do pavimento e da parede.

Na Figura 19, são apresentados os resultados referentes à aplicação da grelha de


admissão de ar na verga do vão (caixa de estore), na Figura 20 são apresentados os resultados
referentes a considerar a grelha aplicada no plano da parede por cima da janela. Nas figuras,
as linhas a vermelho correspondem às isolinhas da temperatura do ar de 19ºC e de 21 ºC; a
linha a azul corresponde à isolinha da velocidade do ar de 0,2 m/s e a linha a preto
corresponde à isolinha do DR de 15%. Na Figura 21 apresenta-se a escala de temperatura em
(K).

LNEC - Procº 0808/11/16210 37


Ar insuflado ar na direcção da janela

Ar insuflado ar na direcção do interior

Figura 19 - Modelação do escoamento com abertura situada na verga do vão (caixa de estore)

38 LNEC - Procº 0808/11/16210


Ar a insuflado ar na direcção do interior

Ar insuflado na direcção do tecto

Ar insuflado na direcção do pavimento

Figura 20 - Modelação do escoamento com abertura situada na parede por cima da janela

11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 ºC

Figura 21 - Escala de temperatura do ar

LNEC - Procº 0808/11/16210 39


Com estes resultados, constata-se que quando as grelhas são aplicadas na verga do vão
(caixa de estore) é aconselhável direccionar o jacto para a janela em vez de voltar a abertura
para o interior.
Quando são colocadas abertura na parede, verifica-se a vantagem de gerar um jacto de
parede, pois a abertura voltada para o interior corresponde à modelação com maior zona de
desconforto na zona de ocupação.
Destas modelações também se pode observar a importância de uma adequada
localização dos radiadores para aquecimento ambiente, devendo ser dada preferência à
instalação junto da parede exterior e na zona situada por baixo da janela e da admissão de ar.
Efectivamente, com o radiador situado nessa posição existe um maior mistura e aquecimento
do ar admitido, existindo um escoamento do tipo mistura mais uniforme, do que quando a
unidade de aquecimento se situa na parede oposta.
Das várias configurações estudadas, as que minimizam o desconforto na zona de
ocupação correspondem à aplicação da abertura na caixa de estore e voltada para a janela ou à
aplicação na parede e volta para cima ou para baixo, bem como à aplicação de um radiador
por baixo dessa grelha de admissão de ar. Com esta solução, mesmo na condição da admissão
de ar exterior a 0ºC e na ausência de cortinas, verifica-se que são satisfeitos os requisitos de
conforto na generalidade da zona de ocupação do compartimento.

6.1.2 - Dimensionamento
De forma a minimizar o impacte das infiltrações de ar pela envolvente o
dimensionamento das bocas de admissão de ar deve ser efectuado de forma a que o caudal
admitido para uma diferença de pressão de 20 Pa (módulo a 20 Pa) seja igual ao caudal base
de ventilação de cada compartimento.
Tendo em conta que os edifícios não são totalmente estanques, admite-se que o
número de grelhas seja reduzido de forma proporcional à permeabilidade ao ar da envolvente
para uma diferença de pressão de 20 Pa, que poderá ser obtida com base na permeabilidade
das janelas acrescido de uma permeabilidade não associada às janelas de 0,27 vezes o volume
interior, Quadro 5. Em qualquer dos casos de permeabilidade ao ar da envolvente, deve ser
assegurada a existência de pelo menos uma grelha de módulo 15 m3/h para uma diferença de
pressão de 20 Pa em cada compartimento principal. Deste modo, o caudal de ar a admitir
pelas aberturas de admissão de ar (grelhas auto-regulaveis) pode ser obtido pela eq. 5.

40 LNEC - Procº 0808/11/16210


( ) (
Q grelha m 3 / h = MAX Q ventilacao − (Q fjanelas × A janelas + 0,27 * Vol ) ; 15 ) eq. 5

em que:

− Qgrelha, é o caudal da abertura de admissão de ar para a diferença de pressão de 20 Pa


(m3/h);
− Qventilação, é o caudal de admissão de ar requerido para o compartimento (m3/h);
− Qfjanelas, valor da permeabilidade ao ar das janelas, função da sua classe para uma
diferença de pressão de 20 Pa (Quadro 5)
− Ajanelas é a área móvel das janelas (m2);
− Vol é o volume interior do compartimento em (m3).

Quadro 5 - Permeabilidade ao ar de base da envolvente

Classe de permeabilidade ao ar Valor de Qf janelas Valor de Qf não-janelas


das janelas [16] ∆P=20 Pa [m³/h.m²] ∆P=20 Pa [m³/h]
1 16,7
2 9,2
0,27×Volume int (m3)
3 3,1
4 1,0

Efectivamente, a permeabilidade ao ar da envolvente dos edifícios Portugueses é


significativa (Figura 22) e em alguns casos poder-se-ia dispensar a existência de aberturas de
admissão de ar. No entanto esta é uma situação tecnicamente incorrecta, pois a
permeabilidade ao ar elevada é responsável por perdas térmicas excessivas e, no decurso da
utilização dos edifícios, algumas dessas frinchas podem ser seladas pelos utilizadores o que
iria provocar uma alteração importante no funcionamento do sistema de ventilação.

LNEC - Procº 0808/11/16210 41


7

0
0a2 2a4 4a6 6a8 8 a 10 > 10
n50 (rph)

Figura 22 - Permeabilidade ao ar (n50) de 23 edifícios Portugueses

A permeabilidade ao ar de um edifícios expressa por n50, corresponde ao caudal


escoado através das frinchas existentes na envolvente do edifício a dividir pelo seu volume
interior, sendo determinado experimentalmente através do ensaio de pressurização [27].
Deste modo, tendo em conta que existem sempre infiltrações de ar pela envolvente do
edifício, considera-se aceitável deduzir a permeabilidade ao ar associada às juntas das janelas
e uma parcela correspondente às outras infiltrações de 0,27 vezes o volume interior. Ou seja,
admite-se, que as infiltrações de ar não associadas às janelas correspondem a um valor n50 de
0,5 (h-1).
De forma complementar ao dimensionamento das aberturas de admissão de ar, para
minimizar as infiltrações incontroladas de ar e as consequentes perdas energéticas,
recomenda-se que a permeabilidade ao ar da envolvente seja limitada aos valores máximos
indicados no Quadro 6 em função da cota de referência do edifício e do tipo de terreno onde
este se encontra situado, admitindo uma taxa de ventilação base de 0,7 renovações de ar por
hora. Na selecção do tipo de terreno dever-se-á seleccionar a situação mais desfavorável
aplicável em função do rumo do vento. Para taxas de ventilação diferentes poder-se-á adoptar
o critério definido no artigo [58].

42 LNEC - Procº 0808/11/16210


Quadro 6 - Limite para a permeabilidade ao ar da envolvente n50 (h-1)
Terreno 2 fachadas expostas ao vento 4 fachadas expostas ao vento
Terreno Urbano Cidade Terreno Urbano Cidade
Hedifício (m) Plano Plano
5 2,8 7,0 7,0 4,0 10 10
10 2,4 4,4 7,0 3,4 6,3 10
18 2,1 4,4 7,0 3,0 6,3 10
28 1,9 3,4 4,4 2,7 4,8 6,3
60 1,7 2,4 3,4 2,5 3,4 4,8

Os valores do Quadro 6 foram obtidos de forma a limitar o caudal de infiltrações de ar


ao valor do caudal base para uma acção do vento cuja probabilidade de ocorrência é inferior a
5% do tempo durante um ano. Com base nestes valores, verifica-se que é possível
compatibilizar o sistema de VMC com a construção típica portuguesa, com excepção de
locais mais expostos onde é requerida uma permeabilidade ao ar (n50) inferior a 3 (h-1), onde
poderá ser necessários adoptar cuidados acrescidos para limitar a permeabilidade ao ar da
envolvente.
No Quadro 7 encontram-se indicadas as necessidades de aquecimento (para uma
temperatura interior de 20ºC) de um edifício com uma altura de referência de 10 m, situado
em Lisboa, admitindo terreno plano, com grelhas com módulo total de 60 m3/h para 20 Pa no
apartamento e 300 m3/h na moradia unifamiliar [58]. Para a permeabilidade ao ar da
envolvente foram consideradas cinco situações: caso 1 - envolvente estanque; caso 2 -
permeabilidade ao ar da envolvente igual ao caudal base a 20 Pa; caso 3 - permeabilidade de
acordo com Quadro 6; caso 4 - um valor superior para n50; caso 5 - critério do Quadro 6
considerando edifício situado numa cidade9. O apartamento tem duas fachadas expostas ao
vento e a moradia 4 fachadas expostas ao vento.

Quadro 7 - Necessidades nominais de aquecimento em (kWh)


Caso Apartamento Moradia
n50 (kWh) n50 (kWh)
1 0 90 0 3 554
2 1.2 103 1.0 3 607
3 2.2 115 3.8 3 920
4 5.1 220 9.2 4 986
5 6.4 105 11.3 3 644

9
A taxa de ventilação nominal do apartamento e da moradia estudada é de 0,64 (h-1) e 0,84 (h-1),
respectivamente. Pelo que os valores de n50 considerados no estudo são ligeiramente diferentes dos valores
indicados no Quadro 6, no qual é considerada uma taxa de ventilação de 0,7 (h-1).

LNEC - Procº 0808/11/16210 43


Dos resultados do Quadro 7 verifica-se que o critério obtido do Quadro 6 conduz a
necessidades de aquecimento relativamente próximas do edifício estanque (n50=0), sendo que
essa diferença será menor se as aberturas de admissão de ar forem reduzidas de forma
proporcional à permeabilidade da envolvente. A comparação do caso 4 com o caso 3 mostra a
importância de limitar a permeabilidade ao ar da envolvente, pois, no caso de edifícios com
uma permeabilidade ao ar excessiva para a sua exposição ao vento, existe um acréscimo
importante das necessidades térmicas associadas às infiltrações de ar. A comparação do caso
5 com o caso 3 mostra que em edifícios mais abrigados é admissível ter uma permeabilidade
ao ar superior à requerida para edifícios mais expostos, sem comprometer o desempenho
térmico do edifício.
Da comparação do caso 2 com o caso 3, também se mostra que o valor limite do
Quadro 6 deve ser encarado como um limite máximo devendo a permeabilidade ser tanto
menor quanto possível.
Em relação às características de isolamento sonoro, as grelhas a aplicar devem
permitir satisfazer aos requisitos do regulamento do ruído. Deste modo, se as grelhas a aplicar
tiverem um isolamento sonoro Dn,e,w [38] superior a 28 dB para edifícios localizados em
zonas sensíveis e superior a 33 dB em zonas mistas. Caso o seu isolamento seja inferior aos
valores referidos, será necessário um estudo mais detalhado. No isolamento sonoro deve ser
considerada a fonte de ruído exterior, devendo ser adoptado o termo de adaptação indicado no
Quadro 8 [55].

Quadro 8 - Termo de adaptação do índice Dn,e,w

Fonte de ruído Termo de adaptação

C Ctr
Recreio infantil X
Actividades domésticas (vozes, música, rádio, TV) X
Discotecas X
Tráfego rodoviário rápido, com V > 80 Km/h X
Tráfego rodoviário lento ou urbano X
Tráfego ferroviário com velocidade média ou rápida X
Tráfego ferroviário lento X
Indústrias com ruídos de médias e altas frequências X
Indústrias com ruídos de médias e baixas frequências X

44 LNEC - Procº 0808/11/16210


6.2 - Passagens de ar interiores
As passagens de ar interiores destinam-se a permitir o escoamento do ar dos
compartimentos principais para os compartimentos de serviço com uma perda de carga
limitada, mesmo na situação das portas interiores se encontrarem fechadas.
Em termos de dimensionamento considera-se que a perda de carga nas portas dos
compartimentos de serviço deve ser inferior a 5 Pa para os caudais máximos de extracção nas
bocas (deduzido o caudal proveniente de aberturas de ar de compensação), enquanto nos
compartimentos principais essa perda de carga deve estar limitada a 2,5 Pa.
Usualmente as passagens de ar interiores são implementadas deixando uma folga na
parte inferior das portas interiores, ou introduzindo grelhas nas paredes adjacentes. No
Quadro 9 encontram-se indicadas as folgas típicas para alguns caudais de ventilação.
Quadro 9 - Dimensão típica das passagens de ar interiores
3
Q (m /h) Compartimentos principais Compartimentos de serviço
A (cm2) h* (cm) A (cm2) h* (cm)
30 68 1
45 102 1 72 1
60 136 2 96 1
90 204 3 144 2
180 290 4
* admitindo porta com 80 cm de largura

6.3 - Bocas de extracção de ar


6.3.1 - Aspectos gerais
As bocas de extracção de ar são caracterizadas com os ensaios previstos na norma
EN 13141-2 [19], sendo determinadas as seguintes propriedades:
− relação diferença de pressão-caudal;
− permeabilidade no caso de ser possível o fecho total da abertura;
− produção de ruído no componente;
− isolamento sonoro.

As bocas de extracção de ar podem ser classificadas em:


• Boca de extracção de regulação fixa (abertura permanente) - Boca de extracção cuja
secção de passagem do ar é regulada manualmente apenas por um operador munido da
ferramenta adequada (Figura 23).

LNEC - Procº 0808/11/16210 45


• Boca de extracção auto-regulável (ou regulável automaticamente) - Boca de extracção
cuja secção de passagem de ar se modifica automaticamente para manter o caudal de ar
que a atravessa constante e independente da diferença de pressão (Figura 24).
• Boca de extracção termo-regulável - Boca de extracção cuja secção de passagem de ar se
modifica automaticamente para manter o caudal de ar que a atravessa constante e
independente da sua temperatura.
• Boca de extracção termomodulante - Boca de extracção cuja secção de passagem de ar se
modifica automaticamente para variar o caudal de ar que a atravessa em função da sua
temperatura.
• Boca de extracção higro-regulável - Boca de extracção cuja secção de passagem de ar se
modifica automaticamente para variar o caudal de ar que a atravessa em função da sua
humidade (Figura 25).
300
50%
250 75%
100%
200
Q (m3/h)

150

100

50

0
30 80 130 180
DP (Pa)

Figura 23 - Boca de extracção de regulação fixa

160
M 20
140 M 30
M 45
120 M 75
M 90
100 M 105
Q (m3/h)

80

60

40

20

0
0 50 100 150 200
DP (Pa)

Figura 24 - Boca de extracção de auto-regulável

46 LNEC - Procº 0808/11/16210


70

60

Q (m3/h) 50

40

30

20

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70
HR (%)

Figura 25 - Boca de extracção higro-regulável 10-45 m3/h

Do ponto de vista do dimensionamento, da regulação inicial da instalação e do


funcionamento da mesma, deve ser dada preferência às bocas de extracção auto-reguláveis em
detrimento das bocas de regulação fixa, devido às vantagens que apresentam.
As hotes de cozinha são caracterizadas de acordo com as normas EN 13141-2 [19] e
EN 13141-3 [20]. Na norma EN 13141-3 estão previstos ensaios para determinar a retenção
de gorduras e a captação de odores. As hotes de cozinha devem estar equipadas de filtro
metálico para gorduras.
Relembra-se que a ligação de dispositivos mecânicos individuais equipados de um
ventilador (nomeadamente exaustores e secadores de roupa) à conduta de extracção é interdita
nos sistemas VMC.
Em alternativa às hotes que promovem a extracção de ar, podem ser adoptadas hotes
de recirculação de ar (Figura 26), que não se encontram ligadas aos sistema VMC [43]. Estas
hotes estão equipadas de filtros de carvão activo e ventiladores para promover a circulação do
ar na hote removendo os odores e poluentes resultantes da cocção dos alimentos. Esta solução
tem a vantagem de não incrementar os caudais de ventilação, no entanto requer uma
substituição periódica dos filtros.

LNEC - Procº 0808/11/16210 47


Figura 26 - Hote de fogão de recirculação de ar [43]

As bocas de extracção e hotes são ligadas às condutas do sistema de ventilação através


de ramais de ligação, que devem ter uma secção pelo menos igual à secção de ligação destes
dispositivos.

6.3.2 - Dimensionamento
O dimensionamento das bocas de extracção é efectuado conjuntamente com a restante
rede de extracção de forma a satisfazer ao princípio de funcionamento do sistema VMC.
De uma forma geral as bocas de extracção auto-reguláveis permitem assegurar uma
extracção de ar aproximadamente constante para diferenças de pressão de 50 Pa a 160 Pa. No
entanto, o ruído gerado na boca de extracção é tanto mais elevado quanto maior a diferença de
pressão de funcionamento, pelo que deve ser dada atenção especial ao ruído gerado, de forma
a não ser causa de desconforto, Quadro 10.

Quadro 10 - Exemplo de ruído gerado numa boca de extracção para diferentes diferenças de
pressão
Caudal Sem modulo acústico Com módulo acústico
3
(m /h) Lw dB(A) Dn,e,w Lw dB(A) Dn,e,w
70 Pa 100 Pa 130 Pa 160 Pa (C) dB 70 Pa 100 Pa 130 Pa 160 Pa (C) dB
15 19 27 31 34 60 19 27 31 34 64
30 27 30 33 36 59 27 30 33 36 64
15/30 27 30 33 36 59 27 30 33 36 64
20/75 24 27 30 33 56 26 30 32 34 64
30/90 25 31 34 36 56 27 31 34 37 63
45/135 27 33 34 37 55 28 31 34 36 62

48 LNEC - Procº 0808/11/16210


O nível de pressão sonoro gerado pela boca de extracção pode ser obtido através da
potência sonora da boca pela eq. 6, admitindo um tempo de reverberação de 0.5 s nos
compartimentos de serviço:

Lp = Lw-10 log (V/12.5) eq. 6

− Lp é o nível de pressão sonora em dB(A)


− Lw é a potência sonora da boca dB(A)
− V é o volume do compartimento em m3

Deste modo, para uma boca com Lw de 37 dB(A), obtém-se um nível de pressão
sonora de 33 dB(A), admitindo um volume interior de 30 m3. Este valor é inferior a 35 dB(A)
recomendado para cozinhas com porta, pelo que se consideraria a boca satisfatória10.

6.4 - Sistema de condutas colectivas


6.4.1 - Aspectos gerais
O sistema de condutas é composto pelos ramais de ligação, pelas condutas colectoras
verticais, pelas condutas colectoras horizontais e pelos plenos no topo das condutas colectoras
verticais adiante designados por topos de prumada, (Figura 2).

Traçado da rede de condutas


Os ramais de ligação destinam-se a realizar a ligação das bocas de extracção à rede
colectora vertical.
O mesmo ramal pode servir várias bocas de extracção na condição de estas estarem
implantadas no mesmo compartimento.
O traçado previsto para os ramais deve permitir as operações de verificação da
depressão e medição do caudal e a inspecção do seu interior. Esta disposição tem em vista,
nomeadamente, a situação em que o compartimento servido está afastado da conduta
colectora vertical.

10
De acordo com a regulamentação francesa, em cozinhas com porta são admissíveis bocas de extracção com
Lw inferior ou igual a 36 dB(A) e uma atenuação acústica superior ou igual a 56 dB(A).

LNEC - Procº 0808/11/16210 49


O traçado da rede de condutas colectoras deve ser o mais rectilíneo possível e ter o
menor número de singularidades possível, de forma a minimizar as perdas de carga, a geração
de ruído e a permitir a fácil limpeza do interior da rede de condutas.
Com a finalidade de assegurar a limpeza e a manutenção de todos os componentes do
sistema de ventilação, devem ser instaladas porta de visita acessíveis das partes comuns do
edifício, uma na base de cada conduta colectora vertical, outra no topo da conduta colectora
vertical. Na rede de condutas horizontais da cobertura devem ser instaladas as portas de visita
necessárias que assegurem o aceso ao interior de todo o comprimento das condutas e dos
componentes instalados. Quando o comprimento do ramal de ligação situado na base da
conduta vertical for inferior a 30 cm, a porta de visita pode ser posicionada nesse ramal, na
condição do fundo da conduta vertical estar situado à distância de 30 ± 10 cm abaixo da
inserção desse ramal na conduta colectora vertical.
O topo de prumada, no topo das condutas colectoras verticais, destina-se a assegurar o
acesso ao interior dessa conduta, mas também (e essencialmente) a atenuar o ruído
proveniente do ventilador.
No caso de instalações numa cobertura em terraço, a distância mínima entre os
ventiladores de extracção e outros componentes da rede relativamente a quaisquer elementos
emergentes na cobertura deve ser de 1 m.

Materiais das condutas


As condutas de evacuação devem ser realizadas de modo a satisfazer às exigências de
estanquidade, de resistência à corrosão, de resistência à temperatura e de isolamento térmico
adequadas aos fins a que se destinam: evacuação do ar, evacuação dos produtos da combustão
do gás e evacuação dos produtos da combustão de outros combustíveis. O material das
condutas deve ser incombustível.
As condutas do sistema de ventilação são rígidas, com excepção dos ramais de ligação
que podem ser flexíveis. Nos ramais de ligação de caldeiras de condensação e quando o
comprimento do ramal é superior a 2 m devem ser utilizadas condutas rígidas. Se o traçado
dos ramais incluir mais de um desvio, devem ser utilizadas curvas e condutas rígidas, com
uma ou várias portas de visita se o comprimento for superior a 2,0 m. Em qualquer dos casos,
o comprimento total do ramal com condutas rígidas não deve exceder 10 m, em que cada
curva a 90º equivale a 2 m.
As condutas e ramais de ligação podem ser de aço galvanizado, alumínio (ligas A5,
AM1) ou aço inoxidável (AISI 304 ou 430). Tendo em conta os eventuais problemas de

50 LNEC - Procº 0808/11/16210


corrosão associados à evacuação dos produtos da combustão de aparelhos tipo B, a utilização
de condutas de chapa de aço galvanizado é condicionada de acordo com o Quadro 11 [31].
Poderão ser adoptados outros materiais ou ligas na condição de apresentarem características
de resistência mecânica e de resistência à corrosão iguais ou superiores às referidas, tendo em
conta a composição e a temperatura dos produtos evacuados no sistema VMC.

Quadro 11 - Condições para a utilização de condutas de chapa de aço galvanizado


Condutas horizontais Condutas verticais Ramais de ligação
Sem aparelhos a gás Sim Sim Sim
ligados
Com aparelhos a gás Sim (sob telhado e Não Não
ligados isolada termicamente)

Com aparelhos a gás de Não Não Não


condensação ligados

A espessura das paredes das condutas deve ser igual ou superior aos valores indicados
no Quadro 12.

Quadro 12 - Espessura mínima das condutas


Ramais de ligação flexíveis: Ramais de ligação e condutas rígidas:
- Alumínio: - Alumínio:
0,3 mm para aparelho de condensação; 0,6 mm diâmetro 125 a 315 mm;
0,12 mm para outros aparelhos/ligações. 0,8 mm diâmetro superior a 315 mm.

- Aço inoxidável: 0,1 mm. Espessura compatível com resistência


mecânica.

A dimensão das condutas rígidas deve estar de acordo com as normas aplicáveis [37] e
[36].
Os materiais utilizados para garantir a estanquidade ao ar das condutas e componentes
devem obedecer às seguintes especificações:
- Resistência às temperaturas susceptíveis de ser atingidas quando existem aparelhos a gás
ligados (120ºC);

LNEC - Procº 0808/11/16210 51


- Resistência química à água condensada, no caso dos aparelhos de condensação;
- Resistência aos agentes atmosféricos, no caso dos materiais expostos ao exterior;
- Resistência ao envelhecimento.

Água de condensação

As zonas da rede de condutas colectivas susceptíveis de entrarem em contacto com


água de condensação devem ser estanques à água e assegurar a sua drenagem para o exterior
através dos pontos previstos para o efeito. Usualmente as partes susceptíveis da rede são:

a) as condutas e elementos que servem os aparelhos de condensação;


b) as condutas sem isolamento térmico que atravessam locais não aquecidos e não isolados,
excluindo as condutas em terraço que não servem aparelhos de condensação;
c) as condutas e elementos que podem receber a água de condensação proveniente dos dois
tipos referidos nas alíneas a) e b).

No caso de sistemas VMC nos quais possam ser instaladas caldeiras de condensação,
deve ser assegurada a drenagem da água de condensação, junto do aparelho, na base da
conduta colectora vertical, bem como ao longo da rede de condutas horizontais introduzindo
declives na rede superiores a 3%, Figura 27 a Figura 31. A drenagem de água deve
igualmente ser assegurada nos locais da rede susceptíveis de ocorrência de condensações ou
para onde essa água possa escoar.

Figura 27 - Drenagem da água de condensação na Figura 28 - Cuidado a ter na instalação de condutas


caldeira de condensação e pendente no ramal de ligação obtidas por dobragem em espiral para evitar a retenção
para assegurar a drenagem da água de condensação [31] de água de condensação [31]

52 LNEC - Procº 0808/11/16210


Figura 29 - Exemplo da rede de condutas horizontais para assegurar a drenagem da água de
condensação [31]

Figura 30 - Ligação da conduta Figura 31 - Drenagem da água de condensação na


horizontal ao topo de prumada [31] base da conduta colectora vertical [31]

Outras características
Para optimizar o funcionamento do sistema de ventilação a permeabilidade ao ar da
rede de condutas deve ser tão baixa quanto possível, devendo desejavelmente pertencer no
mínimo à classe A, (EN 12237 [17]).
Nos sistemas VMC não é permitida a utilização de dispositivos de equilíbrio ao longo
do escoamento dos produtos da combustão, com exclusão dos incluídos nas bocas de
extracção. Poderão ser utilizados dispositivos de equilíbrio nas restantes condutas da
instalação, na condição de apenas serem instalados na rede colectora horizontal.
Para minimizar os problemas de transmissão de ruído e vibrações as condutas devem
estar isoladas do elemento de suporte (Figura 32).

LNEC - Procº 0808/11/16210 53


Figura 32 - Pormenor de fixação das condutas [31]

6.4.2 - Dimensionamento
O dimensionamento da rede de condutas é efectuado conjuntamente com a restante
rede de extracção de forma a satisfazer ao princípio de funcionamento do sistema VMC.
Para minimizar os problemas de ruído a velocidade média do escoamento do ar nas
condutas deve ser inferior a:
- Condutas verticais: 5 m/s;
- Condutas horizontais na cobertura: 6 m/s.
De forma complementar o dimensionamento das condutas é realizado para uma perda
de carga de 0,7 Pa/m.
No Quadro 13 indica-se o caudal máximo recomendado para diferentes diâmetros
normalizados, que pode ser utilizado como ponto de partida para o dimensionamento da rede,
com base no critério de limitar a perda de carga a 0,7 Pa/m. Para os diâmetros típicos dos ramais
de ligação, o caudal apresentado corresponde a limitar a velocidade média do escoamento a
4 m/s.

54 LNEC - Procº 0808/11/16210


Quadro 13 - Caudal máximo recomendado função do diâmetro da conduta

Diâmetro nominal (mm) Caudal máximo (m3/h)


80
70*
100
110*
125
180* (107**)
160
200
180
280
200
370
225
500
250
660
280
900
315
1200
355
1650
400
2250***
450
2860***
500
3530***
560
4430***
630
5610***
* valores correspondente ao limite com base na velocidade média não exceder 4 m/s
** valor correspondente a limitar a perda de carga a 0,7 Pa/m.
*** valores correspondente ao limite com base na velocidade média não exceder 5 m/s

Para assegurar um adequado isolamento sonoro, o topo de prumada deve ter cerca do
dobro do diâmetro da conduta colectora.
Na norma Francesa NF XP 50-410 [30] são apresentadas fórmulas para os coeficientes
de perda de carga das singularidades típicas de um sistema VMC, ver anexo B.
A perda de carga em linha das condutas circulares rígidas pode ser calculada pela eq. 7.

Q1,9
∆P = 3 ×10 6 L eq. 7
D5

Para condutas rectangulares o diâmetro equivalente é dado pela eq. 8.

D = 1,3
(a × b )0,625
eq. 8
(a + b )0,25

LNEC - Procº 0808/11/16210 55


As perdas de carga singulares, nas confluências, curvas e outras transições ou
componentes, são calculadas pela eq. 9 (ver anexo B).
2
1 ⎛ Q / 3600 ⎞
∆P = ζ ρ⎜ ⎟ eq. 9
2 ⎝ A ⎠

Nas equações anteriores:


− ∆P é a diferença de pressão total, expressa em Pa;
− Q é o caudal de ar, expresso em m3/h;
− A é a secção da conduta, expressa em m2;
− D é o diâmetro da conduta, expresso em mm;
− a e b, dimensão do lado maior e do lado menor da conduta rectangular, expresso em
mm;
− L é o comprimento da conduta, expresso em m;
− ζ é o coeficiente de perda de carga.

6.5 - Ventilador de extracção e conduta de exaustão


6.5.1 - Aspectos gerais
O ventilador de extracção é o responsável por assegurar os fluxos de ar em todo o
sistema VMC. Os ventiladores dos sistemas VMC são ensaiados de acordo com a norma
EN 13141-4 [21], sendo determinadas as seguintes propriedades:
− Relação diferença de pressão-caudal;
− Determinação da potência sonora.

Os ventiladores destinados aos sistemas VMC são normalmente ventiladores


centrífugos de pás voltadas para a frente, de forma a terem uma zona “plana” de
funcionamento para assegurar uma diferença de pressão constante para a gama de caudais de
funcionamento da instalação, Figura 33.

56 LNEC - Procº 0808/11/16210


Figura 33 - Curva de um ventilador de um sistema VMC

Deste modo, com um ventilador a funcionar com uma velocidade de funcionamento


constante é possível modelar os caudais de ventilação da instalação, não sendo necessário o
recurso a sistemas mais sofisticados com variadores electrónicos de velocidade, por exemplo.
O ar de extracção deve ser rejeitado no exterior do edifício, quer seja directamente a
partir do ventilador de extracção, quer seja através de uma conduta de exaustão.
Quando o ar for evacuado através de uma conduta de exaustão, esta deve ser
concebida de forma a assegurar que, em caso de defeito de estanquidade, não possa ocorrer o
refluxo do ar para o interior do edifício.
A rejeição do ar deve ser realizada de forma a que o vento não crie uma pressão
positiva na instalação. Esta exigência é considerada satisfeita se a abertura de rejeição
(conduta de exaustão ou abertura do ventilador de extracção) estiver situada num plano
horizontal com o jacto dirigido para cima ou que seja independente da direcção do vento,
Figura 34. Se puderem ocorrer pressões positivas na abertura de exaustão devidas à acção do
vento, devem ser previstas no dimensionamento do sistema VMC.

LNEC - Procº 0808/11/16210 57


Figura 34 - Rejeição do ar para o exterior

A localização da rejeição do ar deve evitar que esse ar seja admitido através das
aberturas de admissões de ar e não deve causar incomodo na vizinhança. Regra geral, deve
procurar-se assegurar que a exaustão seja efectuada com um ângulo α (Figura 35) inferior a
15º para os obstáculos fronteiros a menos de 10 m. Consideram-se obstáculos aqueles que
apresentam um ângulo β superior a 30º (Figura 35). Caso sejam utilizados “chapéus” na
conduta de exaustão, a secção de evacuação deve situar-se pelo menos 0,5 m acima dos
obstáculos referidos anteriormente. No caso de exaustão de produtos tóxicos ou com forte
odor, recomenda-se que a abertura de exaustão se situe num plano que assegure o
desenvolvimento da pluma (jacto) fora das zonas de recirculação da cobertura, por exemplo
respeitando os critérios definidos na norma NP 1037-1 [33].

Vista em planta Corte vertical

Figura 35 - Regra de cálculo das distâncias mínimas entre o orifício de rejeição e os


obstáculos existentes na cobertura [31]

58 LNEC - Procº 0808/11/16210


Para minimizar problemas de ruído e vibrações deve evitar-se a instalação das
unidades de extracção sobre os fogos, privilegiando-se a sua instalação sobre as zonas comuns
do edifício. A instalação do ventilador deve ser efectuada sobre elemento maciço e com
isolamento para as vibrações (Figura 36). Na ligação das condutas à caixa de ventilação
devem ser utilizadas juntas flexíveis.

Figura 36 - Instalação da unidade de extracção [31]

6.5.2 - Dimensionamento
O dimensionamento do ventilador de extracção é efectuado conjuntamente com a
restante rede de extracção de forma a satisfazer ao princípio de funcionamento do sistema
VMC.
No dimensionamento dos sistemas VMC, em França utiliza-se a curva PVMC, a qual
traduz a diferença de pressão estática disponível na ligação das condutas à caixa de
ventilação, Figura 37. Este valor é inferior ao valor da pressão total do ventilador, pois inclui
a parcela referente à perda de carga da caixa de ventilação,

LNEC - Procº 0808/11/16210 59


Figura 37 - Curva PVMC de uma caixa de ventilação

De forma a minimizar o potencial risco de produção excessiva de ruído pelo


ventilador de extracção de acção a velocidade periférica da turbina deve ser inferior a
12,5 m/s ou a pressão total deve ser inferior a 220 Pa.

6.6 - Dimensionamento do sistema VMC


Nas secções anteriores foram referidos os vários elementos que constituem o sistema
VMC e algumas das suas características de desempenho de forma a assegurar um adequado
funcionamento do sistema de ventilação.
Para se assegurar um adequado funcionamento da instalação, no dimensionamento da
rede de extracção e na selecção do tipo de ventilador, para cada tipo de boca de extracção
deve ser efectuada a verificação de duas condições limites de funcionamento:
− Boca de extracção mais favorecida (mais próxima do ventilador): verificar que a
depressão não excede a diferença de pressão máxima de funcionamento das bocas de
extracção. Neste cálculo não se considera a perda de carga das aberturas de admissão de
ar nem das passagens de ar interiores e consideram-se todas as bocas a extrair o caudal
base.
− Boca de extracção mais desfavorecida (mais longe do ventilador): verificar que a
depressão na boca é superior ao valor mínimo da diferença de pressão para assegurar a
extracção do caudal de ar máximo pretendido. Neste cálculo considera-se a perda de

60 LNEC - Procº 0808/11/16210


carga das aberturas de admissão de ar e das passagens de ar interiores e consideram-se
todas as bocas a extrair o caudal máximo.

A verificação destas duas condições limites para cada tipo de boca de extracção
assegura que são extraídos os caudais de ar pretendidos nas condições nominais e de caudal
máximo e que a potência sonora das bocas de extracção é compatível com o nível de conforto
acústico pretendido.
Para o cálculo, na ausência de informação acerca da permeabilidade ao ar da rede de
condutas, considera-se uma taxa de fugas igual a 10% do valor do caudal máximo de cada
boca de extracção. Para efeitos de dimensionamento considera-se esse caudal situado junto às
bocas de extracção.
O dimensionamento da instalação é normalmente um processo iterativo, que pode
envolver a perda de carga nas condutas, a curva pressão-caudal característica do ventilador e
as características das bocas de extracção.
De forma a minimizar o risco de migração de produtos da combustão da conduta
colectora para o interior dos fogos quando o ventilador pára acidentalmente, a perda de carga
da boca de extracção e do ramal de ligação deve ser superior em 50 Pa à perda de carga desde
a ligação do último ramal da conduta colectora até à evacuação do ar para o exterior, para os
caudais máximos extraídos.

6.7 - Segurança contra incêndio


As instalações de ventilação mecânica devem ser realizadas de maneira a: não
constituírem causa de incêndio; não contribuírem para a sua propagação; minimizar a
transmissão de fumos e produtos da combustão de um local sinistrado para outros locais e a
minimizar o seu refluxo através das bocas de extracção.
Em relação aos sistemas VMC a regulamentação nacional [5] remete para as
recomendações [56], as quais se encontram desactualizadas face às exigências regulamentares
francesas nas quais se basearam. Nesse sentido, preconiza-se a adopção das estratégias
previstas em [2], que estão de acordo com os princípios definidos para a segurança contra
incêndio em edifícios de habitação.
De acordo com a legislação francesa as condutas colectivas de ventilação mecânica
devem ser realizadas em materiais incombustíveis, devendo o conjunto da conduta e da sua
eventual envolvente (isolamento térmico e ducto) ter uma classe de resistência ao fogo CF 30

LNEC - Procº 0808/11/16210 61


nos edifícios unifamiliares e edifícios multifamiliares de altura não superior a 28 metros e ter
uma classe de resistência ao fogo CF 60 em edifícios multifamiliares de altura superior a 28
metros. Prevê-se que o controlo de fumos em caso de incêndio possa ser realizado de três
formas, ou simultaneamente por mais de uma delas, de acordo com os princípios definidos no
regulamento francês [2]. As duas soluções mais frequentes para garantir a segurança contra
incêndio nos sistemas VMC são referidas seguidamente.

1. É assegurado o funcionamento em permanência do ventilador, mesmo em caso de


incêndio. Esta condição verifica-se quando:
a. A alimentação eléctrica do ventilador é protegida de forma a não ser afectada por
incidentes verificados nos outros circuitos e não atravessa locais apresentando
riscos especiais de incêndio, devendo ser feita a partir do quadro de colunas ou do
quadro geral do edifício.
b. Em alternativa à alínea a), a alimentação eléctrica do ventilador pode ser
assegurada por um grupo electrogéneo de emergência cuja entrada em
funcionamento é automática em caso de falha da alimentação de energia eléctrica
normal (neste caso, o funcionamento do grupo electrogéneo e do sistema de
arranque automático deve ser verificado, pelo menos, uma vez por mês),
c. O ventilador deve ter resistência à temperatura (Categoria) adequada à taxa de
diluição da instalação (R). Para este efeito o ventilador deve ser de:
• Categoria 1, para R > 3,5 ;
• Categoria 2, para 1,6 < R ≤ 3,5 ;
• Categoria 3, para 1 < R ≤ 1,6 ;
• Categoria 4, para R ≤ 1 .
2. Cada ramal ou conduta de ligação a uma conduta colectiva deve ser equipada com um
registo pára-chamas 15 minutos, nos edifícios unifamiliares ou multifamiliares de altura
não superior a 28 metros e pára-chamas 30 minutos nos edifícios multifamiliares de altura
superior a 28 metros. Estes registos devem ser accionados por fusível térmico
funcionando a 70ºC e devem ser facilmente acessíveis para limpeza, verificação ou
substituição. Esta solução não é aplicável a sistemas de ventilação que promovem a
evacuação dos produtos da combustão de aparelhos ligados (VMC-gás).

62 LNEC - Procº 0808/11/16210


A taxa de diluição, R, é definida como a razão entre o caudal de ar, q, extraído pelo
conjunto das bocas de extracção ou outras aberturas de extracção ligadas e o caudal de ar, q’,
susceptível de ser extraído através da boca sinistrada (valores calculados em funcionamento
normal a frio).
Se os vários ramais da rede colectora horizontal se juntam antes da aspiração do
ventilador de extracção, o caudal, q, a considerar é a soma dos caudais de todos os ramais
(Figura 38). Se o ventilador é instalado numa caixa à qual se ligam directamente os vários
ramais da rede colectora horizontal, a taxa de diluição a considerar é a mais baixa de todos os
ramais calculados separadamente (Figura 39).

Figura 38 - Apenas uma conduta ligada à Figura 39 - Várias condutas ligadas à caixa
caixa de ventilação [2] de ventilação [2]

Se existirem bocas de extracção, ou outros dispositivos, reguláveis para vários


caudais, estes serão considerados na sua posição de caudal mínimo.
O caudal de ar a considerar na boca sinistrada (q’) será função do diâmetro nominal do
respectivo ramal de ligação:
• 75 l/s (270m3/h), para ∅100 mm;
• 120l/s (432m3/h), para ∅125 mm;
• 180 l/s (648m3/h), para ∅160 mm.

LNEC - Procº 0808/11/16210 63


Se as bocas ligadas ao ramal são de tipos diferentes, o caudal, q’, a considerar será o
maior dos caudais das diferentes bocas. Se por outro lado no compartimento sinistrado
existirem dois ramais de ligação, deve-se considerar a soma dos caudais correspondentes a
esses dois ramais.
Os ventiladores são classificados em função da sua resistência à temperatura do ar
EN 12101-3 [15], devendo ser capazes de manter as suas características de funcionamento
durante 30 minutos para as seguintes temperaturas:

Categoria 1
A temperatura dos gases extraídos é inferior a 120ºC.

Categoria 2
A temperatura dos gases extraídos situa-se entre 120ºC e 200ºC.

Categoria 3
A temperatura dos gases extraídos situa-se entre 200ºC e 300ºC.

Categoria 4
A temperatura dos gases extraídos é superior a 300ºC.
A caixa moto-ventilador deve resistir, sem alterações sensíveis do seu regime de
funcionamento, à passagem de fumos a uma temperatura de 400ºC, durante meia hora,
comportamento que deve ser verificado em ensaio, de acordo com o procedimento
especificado no anexo C da norma EN 12101-3:2002.

6.8 - Concepção acústica


6.8.1 - Aspectos gerais
O sistema VMC quando devidamente dimensionado e regulado permite satisfazer aos
requisitos de conforto acústico. As regras preconizadas anteriormente têm em vista assegurar
o respeito das exigências regulamentares em termos de conforto acústico sem ser necessário o
recurso a atenuadores acústicos. Contudo, tais dispositivos podem ser utilizados para
satisfazer a certos casos especiais.
Tendo em conta o risco de transmissão de ruído entre compartimentos ligados à
mesma conduta colectora, a ligação num mesmo piso e numa mesma conduta colectora

64 LNEC - Procº 0808/11/16210


vertical de dois ramais servindo compartimentos diferentes é admissível desde que a distância
vertical entre as ligações seja superior a 1,20 m e desde que sejam respeitadas as exigências
regulamentares de isolamento acústico entre compartimentos.

6.8.2 - Dimensionamento
O potencial nível sonoro associado à instalação VMC pode ser previsto
aproximadamente com base em métodos simplificados [60].
Em relação às aberturas de admissão de ar, estas são condicionadas essencialmente
pelo isolamento sonoro requerido para a envolvente conforme referido na secção 2.3.1, não
sendo normalmente geradoras de ruído associado ao fluxo de ar que as atravessa.
Em relação à instalação de extracção de ar há que considerar:
- Ruído gerado pelo ventilador e propagado ao longo das condutas;
- Ruído atenuado ao longo do sistema de condutas bem como o ruído gerado pelo fluxo de ar;
- Ruído gerado e atenuado pelas bocas de extracção.

Ruído gerado pelo ventilador


A potência sonora (Lw) no ponto óptimo de funcionamento de um ventilador pode ser
obtido pela eq. 10, em que Q é o caudal volúmico de ar (m3/h) e Ptot (Pa) é a diferença de
pressão total no ventilador.

L w = 1 ± 4 + 10 log(Q ) + 20 log(Ptot )(dB) eq. 10

Os ventiladores centrífugos de acção apresentam uma potência sonora com um


espectro aproximadamente constante, com valor máximo nas médias frequências, Figura 40.

Figura 40 - Espectro da nível sonoro de ventiladores centrífugos [54]

LNEC - Procº 0808/11/16210 65


Ruído gerado e atenuado ao longo do sistema de condutas
O ruído gerado no ventilador é transmitido através da rede de condutas até ao interior
do edifício. A rede de condutas promove uma ligeira atenuação do ruído (0,1 a 0,8 dB/m
condutas rectangulares; 0,05 a 0,4 dB/m circulares), com valores que dependem do material
das condutas, da sua dimensão (menor atenuação em condutas de maior diâmetro) e das
singularidades. Nas singularidades de elevada perda de carga, a atenuação conseguida pode
ser anulada devido ao ruído gerado associado à turbulência induzida no escoamento, sendo
preferível optar por transições mais suaves e com maiores raios de concordância, em
detrimento de ângulos rectos, Figura 41.

Figura 41 - Exemplos de singularidades com menor geração de ruído [54]

A atenuação nas curvas é pequena (curva a 90º composta por quatro segmentos) e será
negligenciada.
Nas ligações T a atenuação acústica pode ser obtida pela eq. 11, em que ∆Lw1 é obtido
do Quadro 14, Figura 42.

Sentrada eq. 11
∆L w = ∆L w1 − 10 log
Ssaida

66 LNEC - Procº 0808/11/16210


Quadro 14 - Atenuação acústica em ligações T (∆Lw1)
Conduta Saída f(Hz)
entrada 125 250 500 1000 2000 4000
∅ 250 A 1 1 1 5 5 4
B 1 2 4 14 9 8
∅ 315 A 1 1 1 3 5 6
B 2 3 5 11 10 8
∅ 400 A 1 1 5 5 5 7
B 1 4 13 10 9 9
∅ 500 A 1 1 5 5 4 -
B 2 5 14 9 8 -
∅ 630 A 1 5 3 5 6 -
B 3 13 11 10 8 -

Figura 42 - Representação do T

Se no topo das condutas colectoras for aplicado um pleno (topo de prumada), em vez
de uma curva, tal traduz-se numa atenuação de ruído, Quadro 14, Figura 43.

Quadro 15 - Atenuação acústica no topo de prumada


f(Hz) 125 250 500 1000 2000 4000
Conduta colectora
∅ 250 0 4 12 9 5 4
∅ 315 2 6 11 11 6 4
∅ 400 3 12 4 10 4 3
∅ 500 4 12 9 5 4 -
∅ 630 6 11 11 6 3 -

LNEC - Procº 0808/11/16210 67


Pleno 1
Pleno 2

Figura 43 - Atenuação em dois topo de prumada [60]

Ruído gerado e atenuado pelas bocas de extracção

O ruído gerado na boca de extracção é caracterizado experimentalmente de acordo


com [19]. Na Figura 44 encontra-se representada a potência sonora de uma boca de extracção
função da diferença de pressão e na Figura 45 apresenta-se a atenuação acústica. O isolamento
sonoro promovido pelas bocas de extracção é determinado experimentalmente de acordo com
a norma [19]. A atenuação sonora provocada pela boca de extracção e pela derivação do piso
no sistema VMC pode ser obtida pela eq. 12, a qual permite obter a diferença entre a potência
sonora na conduta colectora vertical no piso e o nível de potência acústico radiado na boca de
extracção para o local. A constante A é obtida do Quadro 16, por banda de oitava.

∆L w = D n ,e,w (C) / 2 + A eq. 12

68 LNEC - Procº 0808/11/16210


35
DP= 70 Pa, LAW=27 dB(A)
DP= 100 Pa, LAW=33 dB(A)
30 DP= 130 Pa, LAW=34 dB(A)

25

20
Lw (dB)

15

10

0
100 1000 10000
f (hz)

Figura 44 - Potência sonora de uma boca de extracção para caudal de 45 m3/h

80

70

60

50
Dn,e (dB)

40

30

20
Boca simples, Dn,e,w(C)=58 dB
10
Boca com atenuador, Dn,e,w(C)=59 dB
0
100 1000 10000
f (hz)

Figura 45 - Atenuação acústica de uma boca de extracção para caudal de 45 m3/h

Quadro 16 - Valor da correcção A para atenuação entre a conduta colectora e a saída na boca
f(Hz) 125 250 500 1000 2000 4000
Conduta colectora
∅ 250 0 -3 -6 -10 -10 -10
∅ 315 0 -3 -6 -9 -9 -9
∅ 400 0 -3 -6 -8 -8 -8
∅ 500 0 -3 -7 -7 -7 -7
∅ 630 0 -3 -6 -6 -6 -6

LNEC - Procº 0808/11/16210 69


Para incrementar o isolamento sonoro poder-se-ão aplicar condutas flexíveis com
isolamento acústico, as quais permitem isolar o ruído radiado pela conduta, bem como
permitem introduzir uma atenuação adicional ao ruído proveniente da conduta colectora,
Figura 46.

45

40 100 mm (Dn,e,w=20 dB)


125 mm (Dn,e,w=23 dB)
35 160 mm (Dn,e,w=17 dB)
30
Dn,e (dB)

25

20

15

10

0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500
f(Hz)

Figura 46 - Atenuação acústica de condutas flexíveis com isolamento sonoro, com 1 m de


comprimento

Exemplo
Admita-se uma instalação com o ventilador a extrair um caudal de 1500 m3/h e com
uma pressão total de 250 Pa.

Figura 47 - Exemplo de aplicação

70 LNEC - Procº 0808/11/16210


Com base na eq. 10 pode-se estimar a potência sonora de 80 dB associada ao
ventilador, admitindo funcionamento na condição de rendimento óptimo.
80

70

60

Lw ventilador
DL lig T
50 DL T-souche
DL Boca
LW eq vent
dB

40 Lw Boca
Lw total
Lp dB(A)
30

20

10

0
100 1000 10000
f(hz)

Figura 48 - Apreciação da atenuação do ruído na instalação sanitária

Quadro 17 - Estimativa do nível de pressão sonora na instalação sanitária

f (Hz) 125 250 500 1000 2000 4000


Lw ventilador (dB) 70 72 73 73 68 69
∆L lig T (dB) 8 8 8 10 12 13
∆L topo de prumada (dB) 0 4 12 9 5 4
∆L Boca (dB) 24 26 23 20 19 19
Lw eq vent (dB) 38 34 31 34 33 33
Lw Boca (dB) 27 30 24 25 23 24
Lw Total (dB) 38 35 31 34 33 33
Lp dB(A) 23 27 29 35 35 35

Com base neste modelo simplificado estimam-se as potências sonoras e atenuação


acústica indicadas no Quadro 17 e na Figura 46 e uma pressão sonora nas instalações
sanitárias de 41 dB(A). Caso não fosse aplicado o topo de prumada era estimada uma pressão
sonora de 47 dB(A). No caso da cozinha, estima-se uma pressão sonora de 36 dB(A),
enquanto na ausência do topo de prumada esse nível seria de 42 dB(A). Em qualquer dos dois
casos o topo de prumada com atenuação permite reduzir o nível de pressão sonora em cerca
de 6 dB(A), ou seja reduz para cerca de ¼ o ruído sentido pelos ocupantes.

LNEC - Procº 0808/11/16210 71


Tendo em conta que nas instalações sanitárias o nível de ruído se encontra no limiar
do recomendado em França, eventualmente poder-se-ia aplicar de modo complementar uma
conduta flexível com atenuação acústica, sendo neste caso estimada uma pressão sonora de
32 dB(A).

72 LNEC - Procº 0808/11/16210


7 - Caso de estudo

7.1 - Exemplo do dimensionamento de uma instalação


7.1.1 - Descrição
Na Figura 49 encontra-se representado um edifício com quatro pisos, com dois
apartamentos por piso, um T2 e outro T3.
Tendo em conta as tipologias dos fogos e a taxa de ocupação prevista (capítulo 5) são
preconizados os caudais de ventilação indicados no Quadro 18. É considerado um caudal de
180 m3/h na hote do fogão e um caudal de 90 m3/h para o aparelho a gás do tipo B.

Quadro 18 - Caudais de ventilação (m3/h)

Fogo Sala Quarto Quarto Quarto Inst. Cozinha Cozinha Base Máximo
1 2 3 Sanit Qbase Qmáximo
T2 60 45 30 45 90 270 135 325
T3 90 45 30 30 45 150 270 180 325

Para estes caudais de ventilação por fogo, a gama de caudais totais do sistema é de
1450 m3/h para o caudal base e de 2770 m3/h para o caudal máximo, admitindo uma
permeabilidade ao ar das condutas de 10%.
Regista-se que nas condições nominais existe equilíbrio entre os caudais admitidos
nos compartimentos principais e o caudal extraído nos compartimentos de serviço. Para as
condições de caudal máximo, quando da utilização do fogão, será necessário actuar as
aberturas de compensações.

LNEC - Procº 0808/11/16210 73


30 m3/h 45 m3/h 45 m3/h 30 m3/h 30 m3/h

45 m3/h
45 m3/h

Esq 90 m3/h Esq 90 m3/h


Hotte 0/180 m3/h Hotte 60/180 m3/h

2*30 m3/h 2*45 m3/h

Abertura compensa. Abertura compensa


180 m3/h 120 m3/h

Figura 49 - Esquema de princípio da ventilação do edifício

Tendo em conta o principio de dimensionamento definido na secção 6.6, para um


adequado funcionamento da instalação de ventilação mecânica é-se conduzido a condutas
com as dimensões indicadas no Quadro 19 e na Figura 50. As perdas de carga na rede de
condutas estão indicadas no Quadro 20 para a boca de extracção mais favorecida e para a
situação mais desfavorecida.

74 LNEC - Procº 0808/11/16210


Quadro 19 - Dimensão dos ramais e condutas colectoras verticais
Fogão Esquentador IS
∅160 ∅125 ∅125
∅ Ramal ligação (mm)
vmax=3,1 m/s vmax=2,2 m/s vmax=1,1 m/s
∅355 ∅160
∅ Conduta colectora vertical (mm)
vmax=3,3 m/s vmax=3,1 m/s

Figura 50 - Representação esquemática da rede de condutas horizontal

LNEC - Procº 0808/11/16210 75


Quadro 20 - Perdas de carga para as bocas mais favorecidas e mais desfavorecidas (Pa)
Piso Fogo T2 Fogo T3
Fogão Esquenta. IS Fogão Esquenta. IS

Cobertura

3º ∆Pmin=0 ∆Pmin=14 ∆Pmin=15 ∆Pmin=25 ∆Pmin=19 ∆Pmin=15

∆Pmax=
RC ∆Pmax=53 ∆Pmax=45 ∆Pmax=56 ∆Pmax=61 ∆Pmax=46
54

Admitindo que as bocas de extracção têm uma gama de funcionamento de 50 Pa a


140 Pa, o ventilador seleccionado deve ter uma diferença de pressão na abertura (PVMC) de:
- superior a 111 Pa (50+61) para o caudal de 2770 m3/h;
- inferior a 154 Pa (140+14) para o caudal de 1450 m3/h.

O valor 50 Pa corresponde ao limite mínimo de funcionamento da boca mais


desfavorecida e 61 Pa ao valor da perda de carga nessa boca para a condição de extracção do
caudal máximo. O valor 140 Pa corresponde ao limite máximo de funcionamento da boca
mais favorecida e 14 Pa ao valor da perda de carga nessa boca para a condição de extracção
do caudal base. Com base neste cálculo verifica-se que as restantes bocas de extracção terão
uma diferença de pressão dentro da sua gama de funcionamento.
Na Figura 51 encontra-se representada uma curva de um ventilador que permite
satisfazer aos requisitos de funcionamento.

76 LNEC - Procº 0808/11/16210


Figura 51 - Curva do ventilador [61]

7.1.2 - Informação complementar

a) Segurança contra incêndio - caixa de ventilação


Tendo em conta que na cozinha se preconiza um ramal de ∅ 160 mm para a hote do
fogão e ∅ 125 mm para o esquentador, isso traduz-se num caudal total de 1080 m3/h nas
bocas de extracção do local sinistrado. Tendo em conta que o caudal total mínimo das
restantes bocas de extracção do sistema VMC é de 1125 m3/h, obtém-se uma taxa de diluição
de 0,96. Deste modo, para assegurar a estratégia de segurança contra incêndio (1) indicada na
secção 6.7, a caixa de ventilação deve pertencer à categoria 4 (resistente a 400ºC durante meia
hora).

b) Consumo de energia
O consumo de energia associado à ventilação mecânica pode ser obtido pela equação:

Consumo (kWh ) =
( )
Q m 3 / s × Ptotal (Pa )
× horas funcionamento / 1000
ηaerodinamico × ηmotor
Se forem admitidos a extracção do caudal máximo durante 3 horas por dia e do caudal
base no restante período, uma pressão total de 220 Pa e rendimentos aerodinâmico do
ventilador de 80% e do motor de 80%, obtém-se um consumo energético mensal por
apartamento de 14 kWh, o que a preços actuais corresponde a um custo mensal de
sensivelmente € 1,50 por fogo.

LNEC - Procº 0808/11/16210 77


c) Comparação da dimensão das condutas VMC vs ventilação natural
De acordo com o dimensionamento efectuado, para assegurar a extracção dos caudais
de ar pretendidos em condições de conforto, a conduta colectora vertical das cozinhas deve ter
um diâmetro de ∅355 mm e a das instalações sanitárias de ∅160 mm.
Caso a ventilação deste edifício fosse efectuada por meios naturais e admitindo a
extracção nas cozinhas com condutas colectivas e nas instalações sanitárias com condutas
individuais obtinham-se condutas com as dimensões indicadas seguidamente [33]:
- Condutas individuais das instalações sanitárias: ∅ 110 mm;
- Condutas colectivas das cozinhas: 770 cm2, 25 cm × 31 cm;
- Ramal do fogão: 150 cm2, 8 cm × 18 cm;
- Ramal do esquentador: 250 cm2, 14 cm × 18 cm.

No Quadro 21 encontram-se representadas na mesma escala as diferentes condutas


verticais do sistema VMC e de ventilação natural. Desta comparação verifica-se que para
edifícios até 4 pisos não existe uma diferença significativa na área ocupada pelas condutas
nestes dois tipos de sistemas.

Quadro 21 - Comparação da dimensão das condutas colectivas ventilação natural vs VMC

78 LNEC - Procº 0808/11/16210


7.2 - Estudo realizado num edifício com VMC
7.2.1 - Apreciação do comportamento acústico
No decurso do estudo de um edifício com um sistema de ventilação VMC foi
apreciado o conforto acústico em compartimentos de uma habitação, situada no penúltimo
piso.
A instalação objecto do estudo apresenta algumas não-conformidades com as regras
de concepção e instalação de sistemas VMC, nomeadamente a ausência de topos de prumada.
Os ensaios para determinar o nível de pressão sonoro foram realizados durante o
período diurno, existindo algum ruído exterior. No entanto os resultado obtidos permitem
apreciar alguns aspectos de componentes do sistema VMC.

a) Medições realizadas na cozinha


1 - Hote do fogão fechada e esquentador: LAeq=40,5 dB(A)
2 - Hote do fogão aberta e esquentador: LAeq=45,5 dB(A)

COZINHA
60.0
L dB/oit.

55.0

50.0

45.0

40.0

35.0

30.0

25.0
Hote aberta
20.0
Hote fechada
15.0

10.0
125 250 500 1000 2000 4000
Freq. (Hz)

Figura 52 - Resultado do ensaio na cozinha

LNEC - Procº 0808/11/16210 79


b) Medições realizadas na instalação sanitária comum
3 - Grelha com regulação fixa, DP=90 Pa: LAeq=41,9 dB(A)
4 - Grelha auto-regulável (45 m3/h): LAeq=40,3 dB(A)
5 - Grelha auto-regulável (45 m3/h) com módulo acústico: LAeq=37,8 dB(A)

IS COMUNS
60.0
L dB/oit.

55.0

50.0

45.0

40.0

35.0

30.0

25.0
Fixa
20.0 Autorregulavel
Autorregulavel c/ Mod Acustico
15.0

10.0
125 250 500 1000 2000 4000
Freq. (Hz)

Figura 53 - Resultado do ensaio na instalação sanitária comum

c) Medições realizadas na instalação sanitária quarto


6 - Grelha com regulação fixa: LAeq=45,3 dB(A)
7 - Grelha auto-regulável (45 m3/h) com módulo acústico: LAeq=43,3 dB(A)
8 - Medição no quarto, porta da IS aberta LAeq=31,0 dB(A)
9- Medição no quarto, porta da IS fechada LAeq=28,0 dB(A)

De acordo com os requisitos para o isolamento sonoro aplicáveis a quartos e salas


verifica-se que o sistema VMC ensaiado permite satisfazer aos requisitos de isolamento
sonoro actualmente exigidos na regulamentação (ensaio 9). Além disso verifica-se que o ruído
do sistema VMC neste caso não carece de correcção tonal.
Em relação à aplicação de bocas de extracção com módulo acústico verifica-se que
este é eficaz, permitindo reduzir o nível sonoro em 2,5 dB(A). Nestes ensaios também se
verificou que a aplicação de grelhas auto-reguláveis face a bocas de regulação fixa permitiu
reduzir o nível de pressão sonoro.

80 LNEC - Procº 0808/11/16210


Em relação aos ensaios da cozinha verifica-se que quando é actuada a hote do fogão
existe um incremento importante do nível de pressão sonoro na cozinha, principalmente
devido à transmissão das frequências mais baixas provenientes do ventilador e que não são
atenuadas devido à ausência do topo de prumada e ao ruído gerado na hote. O nível de ruído
da cozinha foi atenuado posteriormente aplicando condutas flexíveis com lã mineral
envolvida por alumínio, o que permitiu reduzir a transmissão de ruído pelas paredes dos
ramais de ligação e atenuar algum ruído proveniente da instalação.

Medição no interior da caixa de ventilação


100.0
L dB/oit.

90.0

80.0

70.0

60.0

50.0

40.0

30.0

20.0

10.0
125 250 500 1000 2000 4000
Freq. (Hz)

Figura 54 - Resultado da medição no interior da caixa de ventilação

Apesar do nível de ruído na cozinha com a hote aberta ser de 45,5 dB(A), salienta-se
que a utilização de exaustores pode conduzir a níveis de pressão sonora superiores a
56 dB(A), constituindo assim os sistemas VMC uma melhoria substancial relativamente ao
uso de exaustores autónomos.

7.2.2 - Apreciação dos ocupantes


No decurso deste trabalho foi elaborado um inquérito destinado a obter a opinião dos
habitantes deste edifício, constituído por 16 apartamentos. Dos 16 apartamentos inquiridos
apenas se obteve resposta em 50%.

LNEC - Procº 0808/11/16210 81


O inquérito foi distribuído passado pouco tempo (2 semanas) de o sistema VMC
passar a ter funcionamento contínuo, pois até esse momento este era controlado por um
relógio, que desligava o sistema VMC durante o período nocturno e durante alguns períodos
do dia.
O inquérito visava obter a opinião dos ocupantes quanto aos caudais de ventilação e ao
ruído gerado pelo sistema VMC.
Em relação ao funcionamento do sistema VMC na cozinha foi possível concluir que
88% dos ocupantes consideravam o caudal extraído na hote do fogão suficiente (caudal de
aproximadamente 180 m3/h). Em relação ao ruído gerado pelo sistema na cozinha quando a
hote do fogão se encontra fechada, 75% dos ocupantes consideraram-no tolerável. Em relação
ao funcionamento do esquentador todos os ocupantes consideraram não ter problemas de
funcionamento.
Em relação ao funcionamento do sistema VMC nas instalações sanitárias (2
instalações sanitárias por fogo) em 20% dos casos o caudal de extracção de ar é considerado
insuficiente, sendo que em 25% das instalações sanitárias é considerado que o ruído gerado
pelo sistema VMC é forte ou muito forte.
Para apreciar o sistema de ventilação na sala e nos quartos foi perguntada a opinião
em relação ao ruído gerado pelo sistema VMC com as portas dos compartimentos de serviço
fechadas, se foram obturadas frinchas na envolvente e a opinião quanto à existência de cheiros
nesses compartimentos.
É curioso registar que em 75% dos casos os ocupantes selaram as frinchas existentes
na envolvente, por exemplo as frinchas das caixas de estore. Em relação a odores estes são
referidos em 25% dos casos. Em relação ao ruído provocado pelo sistema VMC este é
considerado tolerável em 88% dos casos, sendo apenas num caso reportado ruído forte. Este
caso corresponde a um RC, no qual os caudais de ventilação são relativamente mais baixos do
que seria desejável, pelo que poderão existir outras origens para a incomodidade reportada.
Tendo em conta que durante uma fase inicial de ocupação do edifício o sistema VMC
era desligado durante alguns períodos de tempo foi perguntado aos ocupantes se com o
sistema VMC desligado estes sentiam odores (cheiro a fumo de tabaco, produtos da
combustão, cheiro a cozinhado, etc) e se constatavam a existência de condensações mais
frequentes. Das respostas obtidas verifica-se que em 75% dos casos é identificada a existência
de cheiros e em 63% a ocorrência de condensações mais frequentes.
Com este inquérito, de representatividade limitada, pode-se concluir que deixar a
admissão do ar através apenas da envolvente é um risco elevado, pois é possível que os

82 LNEC - Procº 0808/11/16210


ocupantes venham a selar as zonas de infiltração de ar mais perceptíveis. Por este facto, no
dimensionamento das aberturas de admissão de ar considera-se a possibilidade de redução das
aberturas de admissão salvaguardando sempre a existência de pelos menos uma abertura de
módulo 15 m3/h para 20 Pa em cada compartimento principal.
Em relação ao ruído gerado pelo sistema VMC nos compartimentos principais, apesar
de perceptível, de uma forma geral este é considerado tolerável, estando de acordo com as
recomendações regulamentares e as medições referidas na secção 7.2.1.
Em relação aos caudais de extracção de ar na cozinha e nas instalações sanitárias este
é considerado satisfatório, com a excepção de um apartamento situado no RC onde foi
possível verificar que o caudal extraído era substancialmente inferior ao valor pretendido. No
caso das instalações sanitárias, essa insuficiência de caudal devia-se a uma inadequada
regulação da boca de extracção fixa, a qual se encontrava excessivamente fechada e também
devido ao facto da secção de passagem de ar estar parcialmente obstruído com bolores, devido
à ausência de limpeza. Apesar de serem reportados problemas de extracção na hote do fogão,
salienta-se que não são referidos problemas no funcionamento do esquentador, pelo que essa
opinião deve estar associada a um maior grau de exigência ou a uma menor tiragem pelo facto
de ser a boca de extracção mais desfavorecida em termos aerodinâmicos.
No decurso deste inquérito também foi possível confirmar que durante a interrupção
do funcionamento do ventilador existe a migração de cheiros e poluentes entre apartamentos,
o que não é aceitável pelos riscos que envolve.

7.3 - Comparação do desempenho térmico e energético de edifício com


VMC/ventilação natural

Para apreciar o comportamento de um sistema com VMC face a um sistema de


ventilação natural foi considerado um apartamento de tipologia T1 com um caudal de
ventilação de base de 86 m3/h (0,64 renovações de ar por hora). O edifício tem as
características indicadas no Quadro 22.

Quadro 22 - Características de isolamento térmico do caso de estudo

Autil Volume Qb Uparedes Ujanelas Awin/Afloor


(m2) (m3) (m3/h) (W/m2K) (W/m2K)
53 135 86 0,78 3,5 20%

LNEC - Procº 0808/11/16210 83


Para a comparação do desempenho energético do apartamento, o número de grelhas de
admissão de ar do sistema de ventilação natural foi ajustado face ao recomendado na norma
NP 1037-1 [33], de forma a assegurar o caudal de ventilação base durante 50% do tempo da
estação de aquecimento de Lisboa, sendo consideradas 3 aberturas de admissão de ar com
módulo 30 m3/h para 20 Pa para o sistema VMC e 14 aberturas para o sistema de ventilação
natural. Em ambos os casos foi admitida uma permeabilidade ao ar da envolvente de
n50=2,2 (h-1). Os resultados obtidos são indicados no Quadro 24.

Quadro 23 - Necessidades nominais de aquecimento

Sistema de ventilação Necessidades nominais de aquecimento


Sistema VMC 115 kWh.ano
Sistema de ventilação natural 265 kWh.ano

Admitindo um consumo específico de energia para ventilação de 0,1 W/(m3/h), para


assegurar o funcionamento do sistema VMC é estimado um consumo anual de energia de
106 kWh.ano, o que significa que neste caso o sistema VMC permite conservar cerca de
44 kWh.ano se for considerado aquecimento por efeito de Joule nas habitações.
Este resultado destina-se a mostrar que a noção de que a ventilação natural é
energeticamente mais eficiente que a ventilação mecânica não é imediata e depende do nível
de desempenho requerido ao sistema de ventilação natural (aceitação de maiores períodos de
tempo com caudal de ventilação base inferior ao recomendado).
Salienta-se contudo, que no período de Verão a ventilação natural pode desempenhar
um papel importante para assegurar as condições de conforto, mesmo nos edifícios com
VMC, através do arrefecimento interior promovido pela ventilação intensiva obtida com a
abertura das janelas durante a noite.

84 LNEC - Procº 0808/11/16210


8 - Conclusões
Neste relatório foram resumidos os aspectos a considerar na concepção de um sistema
de ventilação mecânica centralizado para edifícios de habitação e em anexo são apresentadas
recomendações para os sistemas descentralizados.
Conclui-se que os sistemas VMC quando devidamente instalados permitem satisfazer
aos diferentes requisitos aplicáveis de segurança, conforto e de eficiência energética.
São mencionadas diversas recomendações quanto ao funcionamento do sistema e à
sua manutenção.
O autor agradece ao Técnico Especialista Principal Fernando Mateus a realização dos
ensaios de acústica, ao Técnico Especialista José Martins a colaboração na realização dos
ensaios aerodinâmicos e de medição da potência de ventilação e à Engª Odete Domingues a
colaboração na revisão do texto nos aspectos relacionados com a componente acústica.

Lisboa e Laboratório Nacional de Engenharia Civil em Janeiro de 2006.

VISTOS AUTORIA

O Chefe do Núcleo de
de Componentes e Instalações

João C. Viegas
Armando Teófilo Pinto
Mestre em Engª Mecânica
O Director do Departamento de
Assistente de Investigação
Edifícios

José A. Vasconcelos de Paiva

LNEC - Procº 0808/11/16210 85


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90 LNEC - Procº 0808/11/16210


Anexo A - Sistemas de ventilação descentralizados
1 - Aspectos gerais
Em diversos países é usual a utilização de dispositivos autónomos para a extracção de
ar nas cozinhas e nas instalações sanitárias.
Em Portugal este tipo de solução não se encontra normalizado e frequentemente é
indevidamente implementada, dando origem a problemas de recirculação de ar dos produtos
da combustão de aparelhos a gás do tipo B, refluxos de ar das condutas das instalações
sanitárias para o interior do edifícios e escoamento de ar entre fogos, Figura 5.
Os sistemas descentralizados são usualmente sistemas de funcionamento intermitente,
permitindo assegurar os caudais de ventilação pretendidos (caudal máximo) em períodos
limitados de tempo, não assegurando a ventilação de base necessária para o controlo da
qualidade do ar interior. Efectivamente, quando os extractores individuais não estão em
funcionamento, a ventilação é assegurada normalmente apenas com base nas infiltrações de ar
ou pela abertura de janelas, podendo não estar assegurado um dos princípios fundamentais da
ventilação que é assegurar a QAI mesmo nas situações em que as janelas e portas devem
permanecer fechadas.
A utilização de sistemas descentralizados em edifícios multifamileares apresenta
algumas dificuldades para prevenir refluxos de ar nas condutas (quando apenas um extractor
está em funcionamento, por exemplo o extractor da hote está a funcionar e os das instalações
sanitárias estão desligados), escoamento de ar entre fogos.
Tendo em conta estas limitações reconhecidas a este tipo de sistemas, sintetizam-se
seguidamente as recomendações aplicáveis a sistemas descentralizados existentes em alguns
países [13], [43] e [45].

2 - Aparelhos a gás do tipo B


Um dos maiores riscos associados a sistemas individuais de extracção de ar está
relacionado com a coexistência no mesmo compartimento ou sector de ventilação de uma
unidade de extracção e de um aparelho a gás do tipo B, devido à possível inversão na
evacuação dos produtos da combustão do aparelho a gás tipo B, Figura 5.
Para minimizar esse risco, para a produção de água quente (sanitária ou para
aquecimento ambiente) recomenda-se a adopção de aparelhos a gás do tipo estanque (tipo C)
ou que os aparelhos a gás do tipo B sejam instalados em local com ventilação separada do

LNEC - Procº 0808/11/16210 A.1


fogo e dotados de extracção independente dos produtos da combustão, satisfazendo aos
requisitos da norma [33].
Caso os aparelhos a gás do tipo B sejam instalados na cozinha, deve ser assegurado
que, na condição de extracção do caudal máximo em todas as unidades de extracção do fogo,
a depressão criada no interior é inferior a 5 Pa [43]. Esta condição usualmente conduz à
implantação de aberturas especificas na cozinha, as quais não podem ser obturáveis. De forma
complementar, é recomendável dotar a hote e o aparelho a gás do tipo B de dispositivos que
impeçam o funcionamento simultâneo dos dois equipamentos.
As condutas de evacuação de cada aparelho e de cada compartimento devem ser
independentes, de forma a que as sobrepressões nas condutas causadas pelo funcionamento
dos ventiladores não favoreçam a ocorrência de refluxos, Figura 5.
Em Inglaterra e nos Estados Unidos são requeridos ensaios destinados a assegurar as
condições de segurança de funcionamento e da evacuação dos produtos da combustão dos
aparelhos do tipo B [12] e [45]

3 - Caudais de ventilação
Os caudais de ventilação a assegurar pelo sistema de ventilação devem ser os
compatíveis com os apresentados no capítulo 5.

4 - Implementação do sistema de ventilação

4.1 - Caudal base


Num edifício dotado de sistema de ventilação descentralizado e com funcionamento
intermitente, o caudal base deve ser assegurado pelas acções naturais, nomeadamente através
da ventilação transversal associada ao efeito da acção do vento, pois as condutas de evacuação
estarão parcialmente obstruídas com os ventiladores mecânicos.
Para realizar um dimensionamento mais correcto das aberturas de admissão de ar
recomenda-se a utilização de modelos nodais [39] ou de modelos simplificados [13] e que
sejam considerados os coeficientes de pressão e a velocidade do vento mais adequadas para o
edifício em estudo. Conforme foi referido na secção 6.1, a dimensão das aberturas de
admissão de ar pode ser reduzida tendo em conta o valor mínimo de referência da
permeabilidade ao ar da envolvente indicado no Quadro 5.

A.2 LNEC - Procº 0808/11/16210


A titulo de exemplo refere-se que a norma inglesa [13] preconiza a aplicação das
seguintes aberturas na envolvente:
Compartimentos principais: 80 cm2;
Compartimentos de serviço: 40 cm2.
Na normalização belga [44], preconiza-se que sejam adoptadas aberturas de admissão
de ar, que assegurem a admissão do caudal base para uma diferença de pressão de 2 Pa. Na
Bélgica [44] são adoptadas grelhas auto-reguláveis, que limitam a admissão do caudal para
diferenças de pressão superiores a 2 Pa. Na Figura 55, encontram-se representadas as curvas
pressão-caudal, para uma abertura fixa, uma grelha auto-regulável que permite a admissão de
um caudal de ar de 30 m3/h para uma diferença de pressão de 20 Pa (30 m3/h a 20 Pa) e outra
grelha auto-regulável que permite a admissão desse caudal para uma diferença de pressão de
2 Pa (30 m3/h a 2 Pa), bem como um aspecto geral desse tipo de grelhas.
70
Abertura 30 cm2
30 m3/h a 20 Pa
60 30 m3/h a 2 Pa

50

40
(m3/h)

30

20

10

0
0 10 20 30 40 50 60
DP (Pa)

Figura 55 - Representação da curva característica de aberturas de admissão de ar

4.2 - Caudal máximo


O caudal máximo será assegurado pelo dispositivo mecânico autónomo. O
dimensionamento dos extractores e da rede de condutas é efectuada pelos métodos usuais,
calculando a perda de carga de cada conduta de evacuação, da admissão de ar e das passagens
de ar interiores.

LNEC - Procº 0808/11/16210 A.3


4.3 - Admissão de ar
Caso existam aparelhos a gás do tipo B no interior da habitação (situação não
recomendada), para prevenir o refluxo de produtos da combustão, recomenda-se que a perda
de carga para a admissão de ar para o compartimento de serviço seja inferior a 5 Pa [43]. Se
não forem utilizados aparelhos a gás do tipo B será admissível ter uma depressão até 10 Pa no
interior. Caso seja necessário, deve-se prever uma abertura para compensação do ar, a qual
não pode ser obturável.
No Quadro 24 é indicada a área útil da secção da abertura de admissão de ar para um
caudal de 100 m3/h. Para valores diferentes de caudal, a secção pode ser obtida de forma
proporcional ao valor indicado no Quadro 24, eq. 13.

Quadro 24 - Secção da abertura de admissão de ar para caudal de 100 m3/h

Depressão Secção da abertura de admissão de ar para


100 m3/h
5 Pa 160 cm2
10 Pa 110 cm2

Q / 0,36 eq. 13
A=
C d 2∆P / ρ
em que:
− A, é a secção da abertura, em (cm2)
− Q, é o caudal base, em (m3/h)
− ∆P, é a diferença de pressão, em (Pa)
− Cd, é o coeficiente de descarga da abertura que usualmente toma o valor 0,61
− ρ, é a massa volúmica do ar, em (kg/m3)

4.4 - Passagens de ar interiores


As passagens de ar interiores devem ser implantadas e dimensionadas de acordo com
o referido na secção 6.2 para o caudal máximo.

A.4 LNEC - Procº 0808/11/16210


4.5 - Condutas de evacuação
As condutas de evacuação podem ser rígidas ou flexíveis. Os materiais a adoptar
devem estar de acordo com o referido nas secções 6.4.1 e 6.7.
Tendo em conta a sobrepressão nas condutas gerada pelo funcionamento das unidades
de extracção individuais, para prevenir o escoamento de ar entre fogos recomenda-se que seja
adoptada uma das seguintes estratégias [43]:
i) adoptar condutas individuais para cada unidade de extracção e para cada fogo;
ii) caso sejam adoptadas condutas colectivas devem ser introduzidos registos anti-refluxo
na ligação de cada ramal à conduta colectiva, mesmo na situação em que são
adoptadas condutas do tipo “shunt”11. Salienta-se que para os aparelhos a gás do tipo
B, aplicam-se as regras indicadas na secção 2 deste anexo.

Apesar de serem cumpridos estes requisitos, quando a hote mecânica entrar em


funcionamento, devido à depressão criada no interior do fogo, pode ocorrer o refluxo de
cheiros provenientes da instalação sanitária, pelo que devem ser previstos registos anti-refluxo
para estas instalações.
Para evitar a propagação de fumos e fogo em caso de incêndio, nos ramais de ligação
às condutas colectivas devem ser aplicados registos para-chamas em conformidade com o
preconizado na secção 6.7, assim como o conjunto conduta e ducto deve pertencer à classe de
resistência ao fogo referido nessa secção.
Tendo em conta que as condutas de evacuação se encontram pressurizadas, estas
devem ter uma permeabilidade ao ar limitada (pertencer no mínimo à classe A [17]) e devem
ser instaladas em ductos. Os ductos devem ter aberturas nos dois extremos para que, em caso
de fuga de poluentes, estes tenham tendência a ser evacuados para o exterior e a não refluir
para o interior das habitações.
Na concepção da instalação devem ser previstos acessos para limpeza e manutenção.

11
A utilização deste tipo de solução deve ser evitada, pois devido à eventual sujidade que se acumular no interior
do registo anti-refluxo poder-se-á verificar a ausência da sua obturação total.

LNEC - Procº 0808/11/16210 A.5


5 - Exemplo de aplicação - Sem aparelhos a gás do tipo B
De forma a exemplificar o princípio de dimensionamento da evacuação, considera-se
novamente o exemplo do apartamento T2 apresentado na secção 7.1, considerando-se que a
produção de água quente é efectuada com um aparelho a gás do tipo C.
Para o caudal base considera-se um valor total de 135 m3/h e para o caudal máximo
225 m3/h, correspondentes à extracção de 45 m3/h na instalação sanitária e 180 m3/h na hote.
Na concepção deste sistema considera-se que a extracção é efectuada por condutas
individuais.

5.1 - Aberturas de admissão de ar


5.1.1 - Caudal base
De forma a assegurar a taxa de ventilação base em cerca de 50% do tempo, com base
na ventilação transversal, considera-se a velocidade do vento com uma probabilidade de
ocorrência de 50%. Com base na informação meteorológica para a região de Lisboa, para a
cota de 10 m, pode-se considerar um valor de 3.6 m/s.
Se for admitido que as perdas de carga no interior do fogo são negligenciáveis, uma
diferença de coeficientes de pressão unitária entre as fachadas opostas e aberturas de igual
dimensão em ambas as fachadas, pode-se estimar a dimensão das aberturas de cada fachada
com base na eq. 14 [13].

Q / 0,36 eq. 14
A=
C pb − C ps
Cd v
2

em que:
− A, é a secção da abertura, em (cm2)
− Q, é o caudal base, em (m3/h)
− Cd, é o coeficiente de descarga da abertura que usualmente toma o valor 0,61
− v, é a velocidade do vento, em (m/s)
− Cpb, é o coeficiente de pressão na fachada a barlavento
− Cps, é o coeficiente de pressão na fachada a sotavento

A.6 LNEC - Procº 0808/11/16210


Desta forma, devem ser implementadas aberturas com uma dimensão de 245 cm2, em
cada uma das fachadas, ou seja um valor total de 490 cm2. Se fosse considerado o efeito da
permeabilidade ao ar da envolvente (caixilharia da classe 2, Quadro 5) o valor total poderia
ser reduzido para sensivelmente 400 cm2. Este valor total é superior ao valor de 320 cm2, que
seria obtido com base nas recomendações inglesas referidas na secção 4.3.

5.1.2 - Caudal máximo


Para assegurar um adequado funcionamento da hote de cozinha, a depressão máxima
deve estar limitada a 10 Pa, para a extracção do caudal máximo de 225 m3/h. Tendo em conta
que as passagens de ar interiores podem introduzir uma perda de carga máxima de 7,5 Pa (ver
secção 6.2), para essa condição máxima de depressão, é considerada uma diferença de pressão
na envolvente de 2,5 Pa, sendo estimada a admissão de um caudal de ar de 220 m3/h através
das aberturas de admissão de ar (490 cm2), eq. 15.

Q = 0,36C d A 2∆P / ρ eq. 15

Em que:
− Q, é o caudal de ar, em (m3/h)
− Cd, é o coeficiente de descarga da abertura que usualmente toma o valor 0,61
− A, é a secção da abertura, em (cm2)
− ∆P, é a diferença de pressão, em (Pa)
− ρ, é a massa volúmica do ar, em (kg/m3)

Deste modo, a abertura de compensação a colocar na cozinha deve ter uma dimensão
compatível com a admissão de um caudal de 15 m3/h (235-220 m3/h), para uma diferença de
pressão de 10 Pa, ou seja uma abertura de sensivelmente 17 cm2, eq. 13.

5.2 - Passagens de ar interior


As passagens de ar interiores são dimensionadas de acordo com a secção 6.2, sendo
prevista uma frincha de 1 cm na porta dos compartimentos principais, 1 cm na porta das
instalações sanitárias e uma grelha na porta interior da cozinha com uma área de 290 cm2.

LNEC - Procº 0808/11/16210 A.7


5.3 - Conduta de extracção e extractor - Hote fogão
Na hote do fogão deve ser extraído o caudal de 180 m3/h. A perda de carga máxima na
admissão de ar é de 10 Pa.
O cálculo é efectuado para a situação mais desfavorável do RC e para a situação mais
favorável do 3º piso. Considera-se que a conduta individual é efectuada com conduta rígida e
possui uma curva a 90º na base. A ligação da hote à conduta rígida é efectuada com uma
conduta flexível. O comprimento da conduta flexível é inferior a 1 m e a conduta rígida tem
um comprimento de 12 m para o RC e 4 m para o 3º piso, Figura 56.

4m

12 m

Figura 56 - Representação esquemática da conduta de evacuação da hote

Como primeira aproximação, para determinar o diâmetro das condutas individuais,


considera-se o critério da velocidade média na conduta não exceder 5 m/s (Quadro 13), o que
se traduz num diâmetro de ∅125 mm.
No cálculo da perda de carga consideraram-se as fórmulas da norma [31]. Para o
coeficiente de perda de carga considera-se um valor total de 4, correspondente a duas curvas a
90º (ζ=1,2), à perda de carga estática no ventilador estático na cobertura de 0,6 e à dissipação
de energia cinética. Deste modo, é estimada uma perda de carga na conduta de exaustão de 46

A.8 LNEC - Procº 0808/11/16210


Pa para o 3º piso e 63 Pa para o RC. A este valor acresce a perda de carga de 10 Pa para a
admissão do ar.
Na Figura 57 encontram-se representadas as curvas das duas instalações (RC e 3º piso)
e a curva de um ventilador que permite assegurar a extracção do caudal de ar pretendido na
cozinha. Na curva do ventilador considera-se incluída a perda de carga do filtro e da ligação à
conduta de evacuação.

300.0
RC
3º Andar
250.0 Ventilador (70 W)

200.0
DP (Pa)

150.0 Caudal 180 m3/h

100.0

50.0

0.0
0 50 100 150 200 250 300
Q (m3/h)

Figura 57 -Curva da Instalação e do ventilador

Caso a conduta de evacuação fosse constituída por uma conduta flexível, a perda de
carga é cerca de 4 a 8 vezes superior à das condutas rígidas (cerca de 100 Pa), pelo que não é
aconselhável a sua utilização neste tipo de sistemas, recomendando-se que o seu
comprimento seja limitado a 2 m.
Refere-se que, de acordo com a informação fornecida pelo fabricante do ventilador
considerado na Figura 57, é estimado um nível de pressão sonora de 56 dB(A).

5.4 - Conduta de extracção e extractor - Instalação sanitária


Na instalação sanitária, deve ser extraído o caudal de 45 m3/h. A perda de carga
máxima na admissão de ar é de 10 Pa.

LNEC - Procº 0808/11/16210 A.9


O cálculo é efectuado para a situação mais desfavorável do RC e para a situação mais
favorável do 3º piso. Considera-se que a conduta individual é efectuada com conduta rígida,
possui uma curva a 90º na base e que o extractor se encontra ligado directamente à conduta
rígida. O comprimento da conduta rígida é de 12 m para o RC e 4 m para o 3º andar, Figura
58.

4m

12 m

Figura 58 - Representação esquemática da conduta de evacuação da Instalação sanitária

Como primeira aproximação, para determinar o diâmetro das condutas individuais,


considera-se o critério da velocidade média na conduta não exceder 5 m/s, o que se traduz
num diâmetro excessivamente pequeno, sendo considerado o valor mínimo de 80 mm.
No cálculo da perda de carga consideraram-se as fórmulas da norma [31]. Para o
coeficiente de perda de carga considera-se um valor total de 2,8, correspondente a uma curva
a 90º (ζ=1,2), à perda de carga no ventilador estático na cobertura de 0,6 e à dissipação de
energia cinética. Deste modo, é estimada uma perda de carga na conduta de exaustão de 15 Pa
para o 3º andar e 26 Pa para o RC. A este valor acresce a perda de carga de 10 Pa para a
admissão do ar.

A.10 LNEC - Procº 0808/11/16210


Na Figura 59 encontram-se representadas as curvas das duas instalações (RC e 3º
Andar) e as curvas de dois ventiladores que permitem assegurar a extracção do caudal de ar
pretendido na instalação sanitária.

100
RC
90
Caudal 45 m3/h 3º Andar
80 Ventilador (25 W)
Ventilador (13 W)
70
60
DP (Pa)

50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120
Q (m3/h)

Figura 59 - Curva da Instalação e do ventilador

Neste caso verifica-se ser necessário instalar um ventilador de 25 W de potência, de


forma a assegurar a extracção do ar pretendida. De forma alternativa, poder-se-ia incrementar
o diâmetro das condutas de forma a reduzir a perda de carga.
De acordo com o fabricante do ventilador, é estimado um nível de pressão sonora na
instalação sanitária de 46 dB(A).

5.5 - Comparação com sistema VMC


Apesar de neste sistema descentralizado não ser efectuada a extracção dos produtos da
combustão, verifica-se que a potência de ventilação instalada por fogo (95 W) é semelhante à
do sistema VMC (93 W), o qual também assegura a extracção dos produtos da combustão dos
aparelhos a gás do tipo B.
Em relação ao consumo de energia, o sistema descentralizado terá um consumo
proporcional às horas de funcionamento, pelo que, se for considerado um funcionamento de
3 h diárias, isso conduzirá a um consumo mensal da ordem de sensivelmente 9 kWh. Este é
um valor que se traduz numa economia de energia face ao sistema VMC. Contudo, tendo em
conta que para assegurar a qualidade do ar interior em períodos em que os extractores não

LNEC - Procº 0808/11/16210 A.11


estão em funcionamento é necessário um maior número de aberturas de admissão de ar do que
no sistema VMC, em termos globais o sistema descentralizado poderá ter um desempenho
sensivelmente pior, devido às maiores perdas térmicas associadas às infiltrações de ar em
condições de vento forte.
Em relação ao conforto acústico, o sistema descentralizado, quando em
funcionamento, conduz a níveis de pressão sonora superiores aos que em principio serão
obtidos no sistema VMC, tendo um comportamento acústico melhor durante o período de
tempo em que os ventiladores de encontram desligados.
Em relação à qualidade do ar interior, este sistema não compromete a segurança dos
ocupantes; contudo tem a limitação de poderem ocorrer refluxos de ar na instalação sanitária
(caso não sejam adoptados registos anti-refluxo), bem como de o caudal base ser função das
condições climáticas.

A.12 LNEC - Procº 0808/11/16210


Anexo B - Perdas de carga de singularidades da rede de
condutas
Para todas as fórmulas deste parágrafo o valor de ζ encontra-se limitado, ou seja:
- se o valor de ζ é superior a 10, adopta-se o valor ζ=10;
- se o valor de ζ é inferior a −5, adopta-se o valor ζ=−5.

1 - Expansões

2
⎡ ⎛ D ⎞2 ⎤
ζ = ⎢1 − ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ⎥
⎢ ⎝ D2 ⎠ ⎥
⎣ ⎦

2
⎡ ⎛ D ⎞2 ⎤
ζ = 1,12 × ⎢1 − ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ⎥
⎢ ⎝ D2 ⎠ ⎥
⎣ ⎦

2 - Curvas

Quadro 25 - Valores de ζ

θ (º)
r/D 30 45 60 75 90
0,5 0,54 0,73 0,95 1,09 1,22
0,7 0,25 0,33 0,43 0,50 0,57
1 0,12 0,17 0,22 0,25 0,29

LNEC - Procº 0808/11/16210 B.1


Figura 60 - Curva

Os coeficientes de perda de carga das curvas podem variar significativamente


em função da natureza da curva e dos fabricantes.

3 - Derivações - Confluências
As perdas de carga em confluências são dadas para o caso em que os dois ramos a
montante fazem um ângulo de 90º ou de 45º. As confluências nas quais o escoamentos a
montante tem a mesma direcção, mas sentidos opostos, apresentam perdas de carga muito
elevadas e não são aqui tratadas.

Figura 61 - Confluência

O coeficiente de perda de carga ζ exprime-se em função do quociente (a) dos caudais


numa das condutas a montante (1 ou 2) e na conduta a jusante (Q).

B.2 LNEC - Procº 0808/11/16210


Q1
a=
Q

Confluência a 90º:

- Escoamento do ar no troço rectilíneo:

ζ = 1,55 × a − a 2

- Escoamento do ar do ramo lateral para o troço rectilíneo:


⎧ ⎡⎛ ⎞ 4 ⎤ ⎫
⎪ D ⎪
ζ = A ⎨a 2 ⎢⎜⎜ ⎟⎟ − 2⎥ + 4a − 1⎬
⎪⎩ ⎢⎣⎝ D1 ⎠ ⎥
⎦ ⎪⎭

Quadro 26 - Valores de A

D1/D < 0,5 0,5 a 0,75 > 0,75


A 1 0,75 0,65

Confluência a 45º:

- Escoamento do ar no troço rectilíneo:


⎡ ⎛ D⎞
4⎤
2⎢ ⎥ + 2a
ζ = a − 1 − 1,41⎜⎜ ⎟⎟
⎢ ⎝ D1 ⎠ ⎥
⎣ ⎦

- Escoamento do ar do ramo lateral para o troço rectilíneo:


⎡ D ⎞4 2 ⎤
2 ⎢⎛ ⎛ D⎞
ζ = a ⎜⎜ ⎟⎟ − 1,4⎜⎜ ⎟⎟ − 2⎥ + 4a − 1
⎢⎝ D1 ⎠ ⎝ D1 ⎠ ⎥
⎣ ⎦

LNEC - Procº 0808/11/16210 B.3


4 - Ramal de ligação
A perda de carga é calculada pela aplicação do indicado em 8.1.
No caso de condutas rígidas, se a conduta não comportar curvas e o seu comprimento
não exceder 2 m, pode-se desprezar a perda de carga.
No caso de condutas de ligação flexíveis, a perda de carga é desprezada se a conduta
tiver um comprimento inferior a 1 m. Caso contrário, deve ser considerada a perda de carga
na conduta de ligação. Na ausência de processo de resultados de ensaio, deve ser considerado
como majorante da perda de carga na conduta o valor obtido pela expressão:

Q1,9
∆P = 10 7 L
D5

Nesta expressão, D é o diâmetro interior da conduta em mm e L é o seu comprimento,


aumentado de 2 m por cada curva.

5 - Topo de prumada

Coeficiente de perda de carga: ζ = 2.


Este valor corresponde ao topo de prumada de fabrico corrente, para os quais o
diâmetro D3 é superior em pelo menos 100 mm ao diâmetro D2 e ao caso em que o diâmetro
D4 é superior ou igual ao diâmetro D2.

Figura 62 - Dimensões do topo de prumada

B.4 LNEC - Procº 0808/11/16210

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