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SUSPENSÃO DE TUTELA PROVISÓRIA 916 SÃO PAULO

REGISTRADO : MINISTRA PRESIDENTE


REQTE.(S) : MUNICIPIO DE BOTUCATU
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE
BOTUCATU
REQDO.(A/S) : RELATOR DO AI Nº 2198094-88.2022.8.26.0000
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO
PAULO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
INTDO.(A/S) : DANILO FERREIRA BORTOLI
ADV.(A/S) : DANILO FERREIRA BORTOLI

SUSPENSÃO DE TUTELA PROVISÓRIA.


EXPOSIÇÃO ACONTECEU EM 22, REALIZADA
NA PINACOTECA FÓRUM DAS ARTES DO
MUNICÍPIO DE BOTUCATU. PROIBIÇÃO DA
EXIBIÇÃO DA OBRA DEVILMAN DE AUTORIA DE
JOVEM ARTISTA DA REDE DE ENSINO
ESTADUAL. ATO DE CENSURA À LIBERDADE
ARTÍSTICA E INTOLERÂNCIA ÀS OPINIÕES
DIVERGENTES.PEDIDO FORMULADO PELO
MUNICÍPIO DE BOTUCATU VISANDO AO
RESTABELECIMENTO DA ORDEM DE RETIRADA
DO QUADRO DA EXPOSIÇÃO, SUSTADA POR
DECISÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PEDIDO
MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE.
ENCERRAMENTO DA EXPOSIÇÃO. PERDA
SUPERVENIENTE DO OBJETO.

1. Insurge-se o Município de Botucatu


contra decisão do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo que ordenou o fim da
censura à obra Devilman, cuja exibição na
Pinacoteca Fórum das Artes de Botucatu foi
vedada pela Administração Pública

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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municipal.

2. Assente nesta Corte que o Sistema de


Classificação Indicativa brasileiro (Classind)
não se presta a justificar a prática da
censura estatal ou da submissão dos
espetáculos e diversões públicas a
autorização prévia (ADI 2.404, Rel. Min.
Dias Toffoli). Trata-se de instrumento
meramente informativo, destinado ao
esclarecimento dos pais e responsáveis
quanto ao conteúdo dos espetáculos
públicos e a idade recomendada para a
audiência, de modo a auxiliá-los na tomada
de decisão consciente e informada em
relação à educação dos menores.

3. A liberdade de expressão artística tutela


não apenas conteúdos que — segundo o
entendimento das autoridades públicas ou
o pensamento majoritário — ajustam-se aos
padrões morais vigentes e aos bons
costumes. Sob a égide de um sistema
constitucional plural e democrático, o
respeito à diversidade e à pluralidade das
ideias impõe às pessoas em geral — e em
especial aos gestores públicos — o dever de
tolerância com as opiniões divergentes,
mesmo quando polêmicas, subversivas ou
hostis aos senso comum. Precedentes.

4. A censura praticada contra a jovem


artista, no caso, traduz manifestação da
intolerância e do preconceito, além de
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constituir injusta agressão à sua esfera de


liberdade de expressão artística (CF, art. 5º,
IX), ao seu direito fundamental à
manifestação da opinião e pensamento (CF,
art. 5º, IV), ao exercício dos seus direitos
culturais (CF, art. 215) e educativos (CF, art.
205), retratando situação de inadmissível
opressão estatal e abuso institucional
praticado contra a menor (CF, art. 227,
caput).

5. Diante do encerramento da exposição


municipal e não subsistindo mais o quadro
existente à época do ajuizamento, impõe-se
reconhecer a perda superveniente do objeto
da ação.

6. Suspensão de tutela provisória


prejudicada.

Vistos etc.
1. Trata-se de suspensão de liminar ajuizada pelo Município de
Botucatu/SP visando a sustar os efeitos da decisão proferida pelo
Desembargador Relator do Agravo de Instrumento nº 2198094-
88.2022.8.26.0000, em curso perante o Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo, pela qual ordenado o fim da censura à obra Devilman, cuja
exibição na Pinacoteca Fórum das Artes de Botucatu foi vedada por ato
da Administração Pública municipal.
2. Consta dos autos que a Pinacoteca Fórum das Artes, do Município
de Botucatu, realizou a exposição Aconteceu em 22, em comemoração ao
centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. O evento apresentou os
trabalhos artísticos de estudantes das escolas da rede estadual de
educação.
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3. Antes mesmo da inauguração, no entanto, a Administração


Pública municipal, por ato do Ouvidor-Geral, acolhendo reclamação
popular, ordenou aos organizadores da Exposição a retirada da obra
Devilman, da autoria de aluna do ensino médio, a qual retrata a
representação da figura de um demônio, inspirado na história em
quadrinhos e na série televisiva conhecidas internacionalmente (Devilman
CryBaby).
4. As razões subjacentes à ordem de retirada, veiculada por e-mail
oficial, foram manifestadas pelo Ouvidor-Geral nos seguintes termos:

“[...] não é adequado para esse momento que vivemos de


muito stress psicológico que inclusive possa atingir a mente de
crianças com imagem forte simbolizando um diabo podendo
trazer alguns transtornos aos mesmo de perturbação de seus
sonos com pesadelos.”

5. Afirma o Município de Botucatu, em sua inicial, não se tratar de


censura moral ou religiosa, mas de “limitação de acesso” fundada na
classificação indicativa, pois “O desenho intitulado de ‘Devilman’ faz alusão a
um anime (desenho animado) conhecido no mundo todo por ‘Devilman CryBaby’
cujo conteúdo trabalha com a erotização adulta, sexo e terror, o qual remete a
cenas quanto ao uso de drogas, de carnificina, chacinas, decapitações, tripas, e
outros membros expostos”.
6. Sustenta, nessa linha, que a classificação indicativa é um
instrumento fundamental para a proteção da criança e do adolescente e
que o art. 74 do ECA incumbe os Poder Públicos da tarefa de regular as
diversões e espaços públicos, informando a natureza deles e as faixas
etárias a que não se recomendem, e os locais e horários em que sua
apresentação se mostra inadequada.
7. Postula-se, desse modo, a suspensão dos efeitos da liminar
concedida nos autos do Agravo de Instrumento nº 2198094-
88.2022.8.26.0000, restabelecendo-se, em consequência, a proibição

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imposta pelo Ouvidor-Geral à exibição da obra Devilmen.


8. Ao manifestar-se nos autos, na condição de interessado, o
Advogado Danilo Ferreira Bortoli, autor da ação popular ajuizada contra
o ato proibitivo, formulou as seguintes considerações:

EMENTA DA MANIFESTAÇÃO
1. Pedido de suspensão de tutela provisória veiculado por
Municipalidade que objetiva cassar os efeitos de liminar, de
lavra do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que barrou
censura prévia determinada pelo Ouvidor-Geral de Botucatu,
interior de São Paulo.
2. Obra “Devilman”, de autoria de uma aluna do Ensino
Médio, retirada da exposição Aconteceu em 22, designada para
ocorrer na Pinacoteca Fórum das Artes, em Botucatu, entre 05
de agosto e 27 de novembro de 2022, sob os argumentos de que
a pintura “causaria stress” em que a visse e que o quadro é
inspirado numa série televisiva com classificação indicativa
para maiores de dezoito anos.
3. Aforada ação popular requerendo o levantamento da
censura, o Juízo de primeira instância entendeu não haver
urgência e determinou, antes, a instauração do contraditório.
Interposto agravo de instrumento, por decisão do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo foram antecipados os efeitos da
tutela recursal para reintegrar a obra censurada ao acervo da
exposição artística.
4. Pedido de suspensão da liminar ajuizado pelo
Município de Botucatu em que argui violação ao dever de
proteção integral a crianças e adolescentes, previsto no art. 227
da Constituição Federal.
5. Argumentação do Município que resvala mais na
criação de verdadeiro pânico moral do que em critérios técnico-
jurídicos. Isso porque a pintura censurada exibe, em seu
conteúdo, simplesmente um personagem de série televisiva,
não se reportando ao conteúdo da série verdadeiramente. Não

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há conteúdo pornográfico ou discurso de ódio veiculado na


obra, ou qualquer outro elemento, que possa causar danos ao
desenvolvimento de crianças e adolescentes.
6. Defesa do não conhecimento do pedido de suspensão
diante da defendida inconvencionalidade da utilização de
mecanismos, tais como a suspensão de segurança, suspensão de
tutela provisória e suspensão de liminar, formulados com base
nos conceitos de ordem pública, social, ou moral pública, como
maneira de impor restrição à liberdade de expressão, dada a
interpretação da Corte IDH ao artigo 13, da Convenção
Americana.
7. Pedido de indeferimento da suspensão veiculada diante
da ausência de violação à ordem pública, social e moral pública,
conceitos esses demasiadamente abertos, na exibição de quadro
que tão somente retrata um personagem bíblico.

9. O Procurador-Geral da República pronunciou-se pelo


indeferimento do pedido de contracautela, consoante ementa do parecer:

SUSPENSÃO DE TUTELA PROVISÓRIA.


CONSTITUCIONAL. REMOÇÃO DE OBRA ARTÍSTICA DA
PINACOTECA FÓRUM DAS ARTES DE BOTUCATU/SP.
DIREITO FUNDAMENTAL À LIBERDADE DE EXPRESSÃO
ARTÍSTICA. TENSÃO COM OUTROS DIREITOS
FUNDAMENTAIS. RISCO DE LESÃO À ORDEM PÚBLICA.
INEXISTÊNCIA. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE
CONTRACAUTELA.
1. É competente o Supremo Tribunal Federal para
examinar o pedido de suspensão de decisão mediante a qual foi
determinada a reinclusão de obra de arte ao acervo de
exposição artística em pinacoteca municipal, uma vez que
ostenta natureza constitucional, envolvendo o exame do
preceito constitucional relacionado à liberdade de expressão
(arts. 5º, IX, e 220 da CF) em confronto com a proteção integral

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dos direitos da criança e do adolescente (art. 227 da CF).


2. A liberdade de expressão goza de uma posição
preferente em razão da função estratégica que desenvolve no
ordenamento democrático, mas sua restrição pode ser
excepcionalmente necessária para o amparo de outros direitos
fundamentais.
3. A restrição à liberdade de expressão há de ser exercida
com ponderação, de forma equilibrada e prudente, sendo a
censura prévia o mais severo meio de cerceá-la.
4. O deferimento dos pedidos de suspensão de segurança,
de liminar e de tutela provisória tem caráter notoriamente
excepcional, sendo imprescindível perquirir a potencialidade de
a decisão concessiva ocasionar lesão à ordem, à segurança, à
saúde e à economia públicas.
5. Revela risco de dano inverso à ordem pública o
deferimento de contracautela para a retirada de obra artística,
de aluna do ensino médio, de evento específico, sem elementos
que fundamentem essa decisão, a afrontar o Estatuto da Criança
e do Adolescente (art. 58) e a Convenção Internacional sobre os
Direitos da Criança da ONU (art. 31).
— Parecer pelo indeferimento da medida de
contracautela.

10. Logo após, a municipalidade comunicou o encerramento da


Exposição Aconteceu em 22 e pleiteia, em consequência, a extinção do feito,
por perda superveniente do objeto.

É o relatório.
Aprecio a admissibilidade da ação.

Questões preliminares

11. A via eleita – suspensão de liminar – consubstancia meio


processual autônomo à disposição exclusiva das pessoas jurídicas de
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direito público e do Ministério Público, destinada à sustação de decisões


judiciais que potencialmente provoquem grave lesão à ordem, à saúde, à
segurança e à economia públicas.
Destina-se o incidente de contracautela apenas a obstar a execução
imediata de decisões judiciais proferidas contra a Fazenda Pública e seus
agentes. Reveste-se, por isso mesmo, de absoluta excepcionalidade,
motivo pelo qual comporta exegese estrita, a nortear e balizar o conteúdo
e o alcance das respectivas normas de regência (SL 933-AgR-Segundo/PA,
Red. p/ acórdão Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJe 17.8.2017; SL
1.214-AgR/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe 26.11.2019; SS
5.026-AgR/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, DJe
29.10.2015, v.g.), tendo em vista a própria singularidade dos requisitos que dão
ensejo a pedido dessa natureza (ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo:
tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. 7 ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2017, p. 80).
Inadmissível, desse modo, o uso do instrumento de contracautela
como mero sucedâneo das vias recursais, achando-se condicionado o seu
manejo, exclusivamente, à prevenção contra o risco de grave lesão ao
interesse público primário (SL 56-AgR/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, Tribunal
Pleno, DJ 23.6.2006; SL 1.234-AgR/PI, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal
Pleno, DJe 26.11.2019; SS 3.450-AgR/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes,
Tribunal Pleno, DJe 12.3.2010; STA 512-AgR/PI, Rel. Min. Cezar Peluso,
Tribunal Pleno, DJe 08.11.2011, v.g.).
Nessa linha, imprescindível a causa de pedir das ações suspensivas
estar vinculada à potencialidade de violação da ordem, da saúde, da
segurança ou da economia públicas, sendo, ainda, indispensável, para o
cabimento de tal medida, perante o Supremo Tribunal Federal, que o
processo subjacente esteja fundado em matéria de natureza constitucional
direta (SS 3.075-AgR/AM, Rel. Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, DJ
29.6.2007; SS 5.353-AgR/BA, Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, DJe
17.12.2020; STA 782-AgR/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe
18.12.2019, v.g.).
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Registro, por fim, que a análise do pedido de contracautela cinge-se


à presença dos requisitos previstos em lei, não havendo, portanto, falar
em apreciação do mérito do processo subjacente. De todo indispensável,
contudo, que a tese sustentada tenha um mínimo de plausibilidade
(CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. 15 ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2018. p. 657-8), num juízo sumário de cognição (SL
1.165-AgR/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe 13.02.2020; SS
1.918-AgR/DF, Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ 30.4.2004; SS
3.023-AgR/AM, Rel. Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno DJ 25.4.2008; SS
3.717-AgR/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, DJe
18.11.2014, v.g.).
12. Assentadas tais premissas, constato que o encerramento da
exposição “Aconteceu em 22”, realizada no período de 05.8.2022 a
27.9.2022 (conforme informações do site oficial do evento) torna
prejudicada a análise do mérito desta ação.
13. Antes de apreciar esse aspecto processual, no entanto,
compreendo ser necessário fazer algumas considerações quanto à
controvérsia constitucional em apreço.

Classificação indicativa

14. Como dito, a Administração Pública municipal de Botucatu


valeu-se de dois argumentos para justificar a chamada “limitação do
acesso” à obra retirada da exposição: de um lado, a advertência do
Ouvidor-Geral no sentido de que a imagem retratada ostentava caráter
“perturbador” e inapropriado e, de outro, a motivação constante do Ofício
da Administração Municipal fundada em suposto dever de observância
da classificação Indicativa dos espetáculos públicos.
15. Já tive o ensejo de assinalar, ao exame da ADI 5.418, Rel. Min.
Dias Toffoli, que, nos termos do art. 220, caput, da Constituição, nenhuma
outra restrição, além daquelas previstas no próprio texto constitucional,
poderá ser imposta à liberdade de manifestação do pensamento (CF, art.
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5º, IV) e ao direito de expressão artística (CF, art. 5º, IX), vedada toda e
qualquer forma de censura de natureza política, ideológica e artística
(CF, art. 220, § 2º).
No Estado Democrático de Direito, a liberdade de expressão é a
regra, admitida a sua restrição somente em situações excepcionais e nos
termos da lei que, em qualquer caso, deverá observar os limites materiais
emanados da Constituição.
16. Por isso mesmo, diante da necessidade de garantir a liberdade de
expressão e, ao mesmo tempo, tutelar as crianças e os adolescentes em
face de sua condição especial de pessoas em desenvolvimento, a
Constituição Federal outorgou à União Federal, com absoluta
privatividade, a atribuição de dispor, mediante lei federal, sobre a
classificação indicativa das diversos e espetáculos públicos e
programações de rádio e televisão (CF, art. 220, § 3º, I):

“Art. 220. (...)


.......................................................................................................
§ 3º Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao
Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias
a que não se recomendem, locais e horários em que sua
apresentação se mostre inadequada;

17. Com base nessas premissas, o Plenário desta Corte assentou que
o Sistema de Classificação Indicativa brasileiro (Classind) é o modelo
adotado pela Constituição para oferecer aos telespectadores das diversões
públicas e de programas de rádio e televisão as indicações, as
informações e as recomendações necessárias acerca do conteúdo
veiculado (CF, art. 220, § 3º, I e II, c/c o art. 221, I a V). Confira-se a ementa
do acórdão da lavra do eminente Min. Dias Toffoli:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


EXPRESSÃO “EM
HORÁRIO DIVERSO DO AUTORIZADO”, CONTIDA NO ART. 254 DA LEI

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Nº 8.069/90 (ESTATUTO CRIANÇA E


DA DO ADOLESCENTE).
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA. EXPRESSÃO QUE TIPIFICA COMO
INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA A TRANSMISSÃO, VIA RÁDIO OU
TELEVISÃO, DE PROGRAMAÇÃO EM HORÁRIO DIVERSO DO
AUTORIZADO, COM PENA DE MULTA E SUSPENSÃO DA
PROGRAMAÇÃO DA EMISSORA POR ATÉ DOIS DIAS, NO CASO DE
REINCIDÊNCIA. OFENSA AOS ARTS. 5º, INCISO IX; 21, INCISO XVI; E
220, CAPUT E PARÁGRAFOS, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
INCONSTITUCIONALIDADE.
1. A própria Constituição da República delineou as regras
de sopesamento entre os valores da liberdade de expressão dos
meios de comunicação e da proteção da criança e do
adolescente. Apesar da garantia constitucional da liberdade de
expressão, livre de censura ou licença, a própria Carta de 1988
conferiu à União, com exclusividade, no art. 21, inciso XVI, o
desempenho da atividade material de “exercer a classificação,
para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e
televisão”. A Constituição Federal estabeleceu mecanismo apto a
oferecer aos telespectadores das diversões públicas e de
programas de rádio e televisão as indicações, as informações e
as recomendações necessárias acerca do conteúdo veiculado. É
o sistema de classificação indicativa esse ponto de equilíbrio
tênue, e ao mesmo tempo tenso, adotado pela Carta da
República para compatibilizar esses dois axiomas, velando pela
integridade das crianças e dos adolescentes sem deixar de lado
a preocupação com a garantia da liberdade de expressão.
2. A classificação dos produtos audiovisuais busca
esclarecer, informar, indicar aos pais a existência de conteúdo
inadequado para as crianças e os adolescentes. O exercício da
liberdade de programação pelas emissoras impede que a
exibição de determinado espetáculo dependa de ação estatal
prévia. A submissão ao Ministério da Justiça ocorre,
exclusivamente, para que a União exerça sua competência
administrativa prevista no inciso XVI do art. 21 da Constituição,
qual seja, classificar, para efeito indicativo, as diversões
públicas e os programas de rádio e televisão, o que não se
confunde com autorização. Entretanto, essa atividade não pode
ser confundida com um ato de licença, nem confere poder à

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União para determinar que a exibição da programação somente


se dê nos horários determinados pelo Ministério da Justiça, de
forma a caracterizar uma imposição, e não uma recomendação.
Não há horário autorizado, mas horário recomendado. Esse
caráter autorizativo, vinculativo e compulsório conferido pela
norma questionada ao sistema de classificação, data venia, não
se harmoniza com os arts. 5º, IX; 21, inciso XVI; e 220, § 3º, I, da
Constituição da República.
3. Permanece o dever das emissoras de rádio e de televisão
de exibir ao público o aviso de classificação etária, antes e no
decorrer da veiculação do conteúdo, regra essa prevista no
parágrafo único do art. 76 do ECA, sendo seu descumprimento
tipificado como infração administrativa pelo art. 254, ora
questionado (não sendo essa parte objeto de impugnação). Essa,
sim, é uma importante área de atuação do Estado. É importante
que se faça, portanto, um apelo aos órgãos competentes para
que reforcem a necessidade de exibição destacada da
informação sobre a faixa etária especificada, no início e durante
a exibição da programação, e em intervalos de tempo não muito
distantes (a cada quinze minutos, por exemplo), inclusive,
quanto às chamadas da programação, de forma que as crianças
e os adolescentes não sejam estimulados a assistir programas
inadequados para sua faixa etária. Deve o Estado, ainda,
conferir maior publicidade aos avisos de classificação, bem
como desenvolver programas educativos acerca do sistema de
classificação indicativa, divulgando, para toda a sociedade, a
importância de se fazer uma escolha refletida acerca da
programação ofertada ao público infanto-juvenil.
4. Sempre será possível a responsabilização judicial das
emissoras de radiodifusão por abusos ou eventuais danos à
integridade das crianças e dos adolescentes, levando-se em
conta, inclusive, a recomendação do Ministério da Justiça
quanto aos horários em que a referida programação se mostre
inadequada. Afinal, a Constituição Federal também atribuiu à
lei federal a competência para“estabelecer meios legais que
garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de
programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o
disposto no art. 221”(art. 220, § 3º, II, CF/88).

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5. Ação direta julgada procedente, com a declaração de


inconstitucionalidade da expressão “em horário diverso do
autorizado” contida no art. 254 da Lei nº 8.069/90.
(ADI 2404, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno,
julgado em 31/08/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-168
DIVULG 31-07-2017 PUBLIC 01-08-2017)

18. Trata-se, como se vê, de atribuição meramente indicativa,


revestida de caráter estritamente informativo, destinada ao
esclarecimento dos pais e responsáveis quanto ao conteúdo dos
espetáculos públicos e a idade recomendada para a audiência, de modo a
auxiliá-los na tomada de decisão consciente e informada em relação à
educação dos menores.
19. Incumbe aos pais e responsáveis, portanto, no contexto da nossa
sociedade democrática e pluralista, “o dever de assistir, criar e educar os
filhos menores” (CF, art. 229, caput). É no seio da família, base da sociedade
(CF, art. 226, caput) e no contexto das relações familiares, fundadas nos
vínculos de confiança e de afeto, que os pais exercem, em conformidade
com os preceitos da paternidade responsável (CF, 226, § 7º), a educação
moral, cultural, religiosa e sentimental da criança e do adolescente, sem
prejuízo do dever da família, da sociedade e do Estado de assegurar à
criança e ao adolescente o acesso prioritário a seus direitos fundamentais,
além de colocá-los a salvo de toda forma de opressão (CF, art. 227, caput).
20. Nada justifica, desse modo, a inadequada invocação pelo
Município de Botucatu das normas regentes do Sistema de Classificação
Indicativa brasileiro (Classind) para autorizar a pratica da censura em
relação a obra artística que, segundo a visão de mundo individual e
particular do Ouvidor-Geral do município, não se mostra adequada à
exibição pública.
21. Não cabe aos Poderes Públicos sub-rogarem-se no papel
reservado aos pais e à família na educação moral, cultural e religiosa da
criança e do adolescente.
22. De modo algum, como já decidido por esta Corte (ADIs 2.404,
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Rel. Min. Dias Toffoli), a Classificação Indicativa poder ser utilizada pela
Administração Pública como pretexto para a submissão da liberdade
intelectual, artística ou científica ao controle prévio por meio de censura
ou licença estatal (CF, art. 5º, IX).
23. Somente se autoriza a retirada de circulação de veículos de
manifestação do pensamento quando, excepcionalmente, a ponderação
entre a liberdade de expressão e outros valores constitucionais evidenciar
o abuso de direito e a prática ilícita de incitação à violência ou à
discriminação, bem como de propagação de discurso de ódio:

Reclamação. 2. Liberdade de expressão. 3. Decisões


reclamadas que restringem difusão de conteúdo audiovisual
em que formuladas sátiras a elementos religiosos inerentes ao
Cristianismo. 4. Ofensa à autoridade de decisão proferida pelo
Supremo Tribunal Federal nos julgamentos da ADPF 130 e da
ADI 2.404. 5. Limites da liberdade artística. 6. Importância da
livre circulação de ideias em um Estado democrático. Proibição
de divulgação de determinado conteúdo deve-se dar apenas em
casos excepcionalíssimos, como na hipótese de configurar
ocorrência de prática ilícita, de incitação à violência ou à
discriminação, bem como de propagação de discurso de ódio. 7.
Distinção entre intolerância religiosa e crítica religiosa. Obra
que não incita violência contra grupos religiosos, mas constitui
mera crítica, realizada por meio de sátira, a elementos caros ao
Cristianismo. 8. Reclamação julgada procedente.
(Rcl 38782, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda
Turma, julgado em 03/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
034 DIVULG 23-02-2021 PUBLIC 24-02-2021)

24. Ausente, no caso, situação de discriminação ou incitação à


violência, inadmissível o acolhimento da pretensão manifestada pelo
Município de Botucatu no sentido de restabelecer o ato de censura
praticado pelo Ouvidor-Geral municipal.

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25. Afirma-se, de outro lado — não é demasiado repetir —, que o


conteúdo da obra censurada “[...] não é adequado para esse momento que
vivemos de muito stress psicológico que inclusive possa atingir a mente de
crianças com imagem forte simbolizando um diabo podendo trazer alguns
transtornos aos mesmo de perturbação de seus sonos com pesadelos”.
26. Como se vê, o juízo de censura praticado pelo Ouvidor-Geral
não encontra suporte em nenhuma referência técnica ou científica. Cinge-
se apenas à expressão de sua própria opinião pessoal e preconceituosa
quanto ao valor e ao significado da obra de autoria da jovem artista do
ensino médio que a criou.
27. Arrogando para si o papel (há muito extinto) de censor público, o
Ouvidor-Geral do Município valeu-se de seus poderes institucionais para,
com base em suas próprias crenças, privar a jovem artista da
oportunidade de expor sua obra e subtrair dos pais e cidadãos em geral a
prerrogativa de decidirem, por si mesmos, o valor artístico e cultural da
tela pintada pela menor.
28. Vale enfatizar, a liberdade de expressão artística tutela não
apenas aqueles conteúdos que — segundo o entendimento das
autoridades públicas ou o pensamento majoritário — ajustam-se aos
padrões morais vigentes e aos bons costumes. Sob a égide de um sistema
constitucional plural e democrático, o respeito à diversidade e à
pluralidade das ideias impõe às pessoas em geral — e em especial aos
gestores públicos — a tolerância com as opiniões divergentes, mesmo
quando polêmicas, subversivas ou hostis ao senso comum:

“(...) TOLERÂNCIA COMO EXPRESSÃO DA


“HARMONIA NA DIFERENÇA” E O RESPEITO PELA
DIVERSIDADE DAS PESSOAS E PELA
MULTICULTURALIDADE DOS POVOS. A PROTEÇÃO
CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO
DO PENSAMENTO, POR REVESTIR-SE DE CARÁTER
ABRANGENTE, ESTENDE-SE, TAMBÉM, ÀS IDEIAS QUE

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CAUSEM PROFUNDA DISCORDÂNCIA OU QUE SUSCITEM


INTENSO CLAMOR PÚBLICO OU QUE PROVOQUEM
GRAVE REJEIÇÃO POR PARTE DE CORRENTES
MAJORITÁRIAS OU HEGEMÔNICAS EM UMA DADA
COLETIVIDADE
– As ideias, nestas compreendidas as mensagens, inclusive
as pregações de cunho religioso, podem ser fecundas,
libertadoras, transformadoras ou, até mesmo, revolucionárias e
subversivas, provocando mudanças, superando imobilismos e
rompendo paradigmas até então estabelecidos nas formações
sociais. O verdadeiro sentido da proteção constitucional à
liberdade de expressão consiste não apenas em garantir o
direito daqueles que pensam como nós, mas, igualmente, em
proteger o direito dos que sustentam ideias (mesmo que se
cuide de ideias ou de manifestações religiosas) que causem
discordância ou que provoquem, até mesmo, o repúdio por
parte da maioria existente em uma dada coletividade. O caso
“United States v. Schwimmer” (279 U.S. 644, 1929): o célebre voto
vencido (“dissenting opinion”) do Justice OLIVER WENDELL
HOLMES JR.. É por isso que se impõe construir espaços de
liberdade, em tudo compatíveis com o sentido democrático que
anima nossas instituições políticas, jurídicas e sociais, para que
o pensamento – e, particularmente, o pensamento religioso –
não seja reprimido e, o que se mostra fundamental, para que as
ideias, especialmente as de natureza confessional, possam
florescer, sem indevidas restrições, em um ambiente de plena
tolerância, que, longe de sufocar opiniões divergentes, legitime
a instauração do dissenso e viabilize, pelo conteúdo
argumentativo do discurso fundado em convicções
antagônicas, a concretização de valores essenciais à
configuração do Estado Democrático de Direito: o respeito ao
pluralismo e à tolerância. – O discurso de ódio, assim
entendidas aquelas exteriorizações e manifestações que incitem
a discriminação, que estimulem a hostilidade ou que
provoquem a violência (física ou moral) contra pessoas em
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razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero,


não encontra amparo na liberdade constitucional de expressão
nem na Convenção Americana de Direitos Humanos (Artigo 13,
§ 5º), que expressamente o repele.
.......................................................................................................
(ADO 26, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno,
julgado em 13/06/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-243
DIVULG 05-10-2020 PUBLIC 06-10-2020)

29. A censura praticada contra a jovem artista, no caso, traduz


manifestação da intolerância e do preconceito, além de constituir injusta
agressão à sua esfera de liberdade de expressão artística (CF, art. 5º, IX),
ao seu direito fundamental à manifestação da opinião e pensamento (CF,
art. 5º, IV), ao exercício dos seus direitos culturais (CF, art. 215) e
educativos (CF, art. 205), retratando situação de inadmissível opressão
estatal e abuso institucional praticado contra a menor (CF, art. 227,
caput).
28. Diante desse quadro, tenderia a julgar manifestamente
improcedente a pretensão do Município de Botucatu de restabelecer o ato
de censura praticado contra a jovem artista do ensino médio.
29. Considerado, no entanto, o encerramento da Exposição
“Aconteceu em 22”, já não subsiste mais, como dito, a situação motivadora
do ajuizamento desta ação.
30. Ante o exposto, assento o prejuízo do pedido.
Publique-se.
Brasília, 28 de abril de 2023.

Ministra ROSA WEBER


Presidente
Documento assinado digitalmente

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