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Tribunal de Contas do Estado do Pará

R E S O L U Ç Ã O Nº 16.817
(Processo nº 2003/53060-8)

Assunto: Consulta formulada pelo Diretor do Departamento de Controle


Externo, Luiz Gonzaga de Moraes Neto, a respeito da
competência do controle externo a ser exercido sobre as
Organizações Sociais quando celebram contratos de gestão com
órgãos públicos.

EMENTA: A competência fiscalizadora do Tribunal de


Contas é constitucional e qualquer lei ou
norma deve obedecer a essas disposições
constitucionais;
O Decreto Estadual nº. 3.876, de
21/01/2000, que regulamenta a Lei nº.
5.980/1996, instituidora e disciplinadora do
Contrato de Gestão, deve ser retificado para
se adequar às normas legais e
constitucionais vigentes, bem como devem
ser efetivadas as auditorias pelo Tribunal de
Contas do Estado do Pará nos contratos de
gestão celebrados a partir do referido
decreto.
A edição do Decreto Estadual nº. 3876, de
21/01/2000, portanto, não desobriga as
Organizações Sociais da prestação de contas
ao Tribunal de Contas.

Relatório do Exmº. Sr. Conselheiro FERNANDO COUTINHO JORGE:


Processo nº. 2003/53060-8
Trata este processo de solicitação feita pelo Departamento de
Controle Externo deste Tribunal, requerendo esclarecimentos a respeito
da competência do controle externo a ser exercido sobre as Organizações
Sociais quando celebram contratos de gestão com órgãos públicos.
A solicitação firma-se em estudo elaborado pelo DCE, com
base na Lei nº 5.980/96 e suas alterações introduzidas pela Lei nº
6.079/97 e Decreto nº 3.876/2000.
A Consultoria Jurídica, às fls. 05, concorda com o
Tribunal de Contas do Estado do Pará

entendimento firmado pelo DCE no estudo submetido a apreciação, onde


compete as Organizações Sociais, assim qualificadas na forma da Lei, o
dever de prestar contas a este Tribunal da aplicação e da utilização dos
recursos orçamentários, materiais e bens públicos que receberem em
decorrência de contratos de gestão celebrados com o Estado, para a
execução dos fins nestes estabelecidos, sujeitando-se aos procedimentos
e exigências contidos no Regimento Interno e demais Instruções
normativas do TCE-PA.
É o relatório.

V O T O:

As Organizações Sociais são entidades privadas – pessoas


jurídicas de direito privado – sem fins lucrativos, destinadas ao exercício
de atividades dirigidas à prestação de serviços sociais, que atendam as
condições estabelecidas em lei própria. Integram, segundo a doutrina, um
terceiro gênero, submetidas a princípios privados e públicos, mas não
fazem parte da Administração Pública indireta. Este entendimento propõe
ser uma entidade privada prestadora de serviço privado de interesse
público.
Assim, esses organismos são declarados, de interesse social e
utilidade pública, podendo-lhes ser destinados recursos orçamentários e
bens públicos necessários aos contratos de gestão, que deverão prever o
cronograma de desembolso e as liberações financeiras. E em
conseqüência disto, submetidos as normas da legislação em vigor,
anteriormente citadas.
A Lei Estadual nº 5.980/96 que regulamenta as entidades
qualificadas como Organizações Sociais, em seu art. 11, parágrafo 2º,
“estabelece que a execução do Contrato de Gestão será fiscalizado pelo
Tribunal de Contas do Estado do Pará, onde verificará, especialmente, a
legalidade, legitimidade, operacionalidade e economicidade no
desenvolvimento das atividades e a conseqüente aplicação dos recursos
repassados à Organização Social, nos termos do respectivo contrato de
gestão.”
O parágrafo 1º do art. 115, assim como o inciso V do art. 116
de nossa Carta Estadual, determinam o seguinte:
Tribunal de Contas do Estado do Pará

Art. 115 - ...... .


Parágrafo 1º - Prestará contas qualquer pessoa
física ou jurídica, pública ou privada, que utilize,
arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros,
bens e valores públicos ou pelos quais o Estado
responda, ou que, em nome deste, assuma obrigações
de natureza pecuniária.
Art. 116 - ...... .
V - fiscalizar a aplicação de qualquer recursos
repassados pelo Estado, mediante convênio, acordo,
ajuste ou outros instrumentos congêneres.

Porém, a edição do Decreto Estadual nº 3.876, de 21 de


janeiro de 2000, que regulamenta a Lei nº 5.980/96, instituiu e
disciplinou o Contrato de Gestão, definindo os termos a serem firmados
nos referidos contratos, suprimiu a competência do Tribunal de Contas
pela fiscalização de sua execução.
A competência fiscalizadora deste Tribunal de Contas é
constitucional, e a referida Lei obedece essas disposições constitucionais,
com esse equívoco, ficou suprimido no Decreto a competência
fiscalizadora deste TCE, o que não vem caracterizar a desobrigação de
prestar contas a esta Egrégia Corte de Contas, o que leva a se propor a
retificação do Decreto Estadual nº 3.876, de 21 de janeiro de 2000, para
as adequações as normas legais e constitucionais vigentes, bem como,
seja efetivada as auditorias por este Tribunal nos contratos de gestão
celebrados a partir da edição do referido Decreto.

Voto do Exmº. Sr. Conselheiro NELSON LUIZ TEIXEIRA CHAVES: “Na


reunião passada, abordou-se a célebre frase atribuída a Napoleão
Bonaparte: “O Estado sou eu”. Então, também há de se recordar os anos
dos regimes de exceção e dos famosos decretos-leis, ou seja, que se
coloca abaixo uma lei por um simples decreto.
Quero louvar o voto do Conselheiro Coutinho Jorge, visto que
é uma oportunidade de mostrar a algumas pessoas que o Estado é
impessoal, embora por alguns momentos pensem que são donos do
Estado; e assim devam fazer cumprir a lei.
Este terra que tem assistido tantas a invenções ultimamente,
e penso já até, na dúvida, que não foi Castelo Branco que esteve por
estas plagas, fundando a cidade de Santa Maria de Belém do Grão-Pará,
já que todo mundo fundou isso, fundou aquilo; e restauraram um
Tribunal de Contas do Estado do Pará

decreto-lei. Suprime-se o decreto-lei, extingue-se a lei, não se presta


contas, e o Estado sou eu.
Chamo a atenção dos demais membros deste Tribunal da
apresentação do fato, ao qual considero ser de bastante gravidade, que é
o de se revogar uma lei, por causa de um decreto. O que está
estabelecido em lei, não cabe, o Poder Executivo, por decreto revogar.
Com louvor registro o voto do Conselheiro Fernando Coutinho
Jorge.”

Voto da Exmª. Sra. Conselheira MARIA DE LOURDES LIMA DE OLIVEIRA:


“Também me associo ao Conselheiro Coutinho Jorge na íntegra do seu
voto, manifestando apoio ao registro do Conselheiro Nelson Chaves.”

Voto do Exmº. Sr. Conselheiro Substituto EDILSON OLIVEIRA E SILVA:


“Voto de acordo com a manifestação do Conselheiro Fernando Coutinho
Jorge, afirmando ainda que se o decreto não tratou, então está regida a
obrigação da prestação de contas pela Constituição.”

Voto do Exmº. Sr. Conselheiro LAURO DE BELÉM SABBÁ - Presidente:


“Esta Presidência esclarece que esta situação vinha passando
despercebida, então mandou verificar através do Departamento de
Controle Externo e para que não se pedisse a prestação de contas
imediatamente, mandou que fosse encaminhado a um relator para que o
assunto ficasse esclarecido.
Assim, concordo integralmente com o voto do relator.”

R E S O L V E M os Conselheiros do Tribunal de Contas do


Estado do Pará, unanimemente, responder à consulta nos seguintes
termos:
I- A competência do Tribunal de Contas para fiscalizar os
contratos de gestão celebrados com Organizações Sociais é
constitucional, portanto, qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros,
bens e valores públicos ou pelos quais o Estado responda, ou que, em
nome deste, assuma obrigações de natureza pecuniária, deverá prestar
contas ao Tribunal de Contas pertinente;
Tribunal de Contas do Estado do Pará

II- O Decreto Estadual nº. 3.876, de 21 de janeiro de 2000,


deve ser retificado para se adequar às normas legais e constitucionais
vigentes, bem como deverão ser efetivadas auditorias nos contratos de
gestão celebrados a partir da sua edição.
Plenário “Conselheiro Emílio Martins”, em 11 de novembro de
2003.

LAURO DE BELÉM SABBÁ FERNANDO COUTINHO JORGE


Presidente Relator

NELSON LUIZ TEIXEIRA CHAVES MARIA DE LOURDES LIMA DE OLIVEIRA

EDILSON OLIVEIRA E SILVA


Conselheiro Substituto

Presente à sessão o Procurador-Geral do Ministério Público de Contas Dr.


Antonio Maria F. Cavalcante.
RC/0100455/

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