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Antiga Cadeia da Relação do Porto

Em pleno centro do Porto, a uns meros duzentos metros da Torre dos Clérigos,
fica um vasto edifício que encerra uma grande carga simbólica. Trata-se de um
exemplar único da arquitetura prisional do Antigo Regime – onde o escritor Camilo
Castelo Branco esteve preso e escreveu a sua obra-prima, o Amor de Perdição – e
que hoje conserva as obras dos pioneiros da fotografia em Portugal.

O local escolhido foi o, então chamado, campo do Olival, decorrendo as obras sob
a direção do corregedor Manuel Sequeira Novais. A construção do enorme edifício
consumiu tantos recursos financeiros que todas as outras obras da cidade tiveram
de ser suspensas até à sua conclusão. Apesar disso, como se veio a comprovar, a
qualidade da construção estava longe de ser a melhor...
Estamos perante um edifício de três andares, de planta poligonal irregular e aspeto
austero. Apresenta duas fachadas nobres: uma voltada a nascente, para a rua de
São Bento da Vitória, e outra – que hoje é a principal – voltada para a Cordoaria,
mais concretamente para o atual largo do Amor de Perdição.
Construído de acordo com as conceções punitivas que vigoravam na época, a área
prisional estava disposta em três pisos. No piso superior, ficavam as prisões
individuais. Eram conhecidas como os quartos da malta – alegadamente, pelo facto
de, em tempos recuados, a Ordem de Malta ter aí detido um quarto para alojamento
dos irmãos – e estavam reservadas a pessoas de estrato social e económico
elevado. Aqui os presos podiam circular livremente, sendo as portas encerradas
apenas durante a noite. No segundo piso, situavam-se os salões de Nossa Senhora
do Carmo e de São José e a sala das mulheres, espaços igualmente coletivos, mas
menos insalubres. Ao nível térreo, situavam-se as seis enxovias, batizadas com
nomes de santos: Santo António, São Vítor, Santa Rita, Senhor de Matosinhos,
Santa Ana e Santa Teresa (esta última para mulheres). Escuras, húmidas e muito
frias, as enxovias eram lajeadas a granito e só tinham acesso por alçapões
colocados no teto. Estavam sistematicamente superlotadas com presos de baixa
condição.
A Cadeia da Relação do Porto acolheu assassinos, malfeitores, falsários,
vagabundos, larápios de ocasião, políticos em desgraça, revolucionários falhados,
entre muitos outros. Por aqui passaram, também, presos famosos. O primeiro duque
da Terceira (1792-1860) esteve no número 8 dos quartos da malta; no número 13
esteve Vicente Urbino de Freitas (1849-1913), o médico acusado de envenenar os
sobrinhos. Mas os presos mais famosos foram, sem dúvida, os escritores Camilo
Castelo Branco e Ana Plácido (1831-1895), ele detido no quarto número 12 e ela na
sala das mulheres, do segundo piso. Diz-se que Camilo escreveu o Amor de
perdição na prisão em apenas quinze dias. O salteador Zé do Telhado (1818-1875),
o caudilho miguelista João Pita Bezerra (1789-1835), assim como o jornalista e
político João Chagas (1863-1925), também conheceram as celas da velha cadeia.

Trabalho realizado por:


Diogo Rodrigues nº8
Rodrigo Botto nº20
Gabriel Lopes nº9

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