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A ARTE DE PENSAR CLARAMENTE

ROLF DOBELLI

Por que você deveria visitar cemitérios

Buscar o sucesso é uma meta comum e não há problema nisso. Só que


podemos superestimar nossa chance de darmos certo graças ao “viés de
sobrevivência”, que acontece porque nos expomos mais ao sucesso do que ao
fracasso. Para um músico fazer sucesso, inúmeros outros fracassaram.

Não sabemos disso porque a popularidade vai apenas para os que fizeram,
dando a impressão de que é um caminho fácil. A sugestão do autor é visitar o “cemitério
dos fracassados”, ou seja, conhecer pessoas que enterraram seus sonhos para
desenvolver uma perspectiva mais realista. É um passeio saudável, ainda que triste.

Harvard deixa você mais inteligente?

Na busca por alcançar um objetivo, podemos confundir critério de seleção com


resultado. Essa é a “ilusão do corpo do nadador”. Muitas pessoas escolhem natação
como esporte por terem como inspiração os corpos torneados dos atletas e buscar ter
um similar. O que o autor percebeu é que os nadadores não tinham esse corpo por
causa do exercício.

Na verdade, o que acontecia era o contrário. O fato de terem corpos naturalmente


bem estruturados é o que fazia com que tivessem aptidão para a natação. Para o autor,
o mesmo acontece com Harvard. A universidade não deixa os alunos mais inteligentes,
mas o fato de já serem inteligentes faz com que sejam selecionados pela instituição.
Por que você superestima sistematicamente seu conhecimento e suas
capacidades

O autor acredita que devemos ser radicalmente céticos e pessimistas em relação


a todas as previsões, principalmente quando forem fruto dos especialistas. A razão é o
“efeito excesso de confiança”, quando superestimamos nosso conhecimento e nossa
capacidade de previsão. Isso vai desde o faturamento das empresas até as previsões de
ações.

O efeito excesso de confiança se funde à diferença entre o que sabemos e o que


achamos que sabemos. Quem mais sofre são os especialistas, que costumam presumir
que sabem muito sobre o assunto. Homens ainda costumam se superestimar mais do
que mulheres.

Quando 50 milhões de pessoas afirmam uma besteira, ela não deixa de ser uma
besteira por conta disso

O autor defende que tendemos a achar que algo é verdadeiro quando muitas
pessoas dizem o mesmo, por efeito da “prova social”. Só que uma ideia não se torna
mais verdadeira quanto mais pessoas acreditam nela. Se um grupo de pedestres olhar
para o céu aleatoriamente, provavelmente olharemos também.

Se os espectadores de um concerto aplaudirem em um momento específico, nos


sentiremos tentados a aplaudir igualmente. A prova social é o que origina o pânico nas
bolsas de valores. A publicidade também se aproveita sistematicamente desse efeito.
Por isso, devemos desconfiar dos produtos apontados como “os mais vendidos”.

Por que você deveria esquecer o passado

Se assistirmos a um filme ruim no cinema e quisermos desistir no meio, alguém


pode expressar uma resistência. Afinal, o ingresso já foi pago e ninguém quer jogar
dinheiro fora. O problema é que essa é a falácia do custo irrecuperável. Podemos nos
apegar a projetos ruins simplesmente porque demandaram muito dinheiro, energia ou
tempo, mesmo sabendo que provavelmente não darão certo.
Só que esse custo já não é mais recuperável e é um erro nos apegarmos a um
caminho pouco promissor apenas por isso. A guerra do Vietnã foi prolongada
justamente com essa mesma falácia, usando como justificativa os irrecuperáveis
soldados sacrificados.

Por que você não deve deixar que lhe paguem uma bebida

Algumas mulheres recusam bebidas pagas por homens porque não querem
sentir que têm a obrigação de ir para a cama com eles para retribuir a gentileza. Isso se
baseia no “efeito reciprocidade”, quando alguém dá algo gratuitamente, mas oferece nas
entrelinhas a mensagem de que você precisa retribuir de alguma forma.

É o caso das pessoas que abordam os outros nas ruas, dão um presente
simbólico e depois pedem uma doação. A oferta lida com nosso senso de culpa. O
conselho do autor é: se você for abordado para ganhar alguma coisa gratuitamente,
recuse.

Fique atento quando ouvir a expressão “caso especial”

Para o autor, a expressão caso especial precisa gerar desconfiança porque pode
ser um exemplo do “viés de confirmação”, quando consideramos apenas as evidências
convenientes para nosso ponto de vista e ignoramos o resto. O que sobra é chamado de
“caso especial” por ser desconsiderado como evidência desconfirmatória.

A gestão de uma empresa que aposta incessantemente em uma estratégia pode


comemorar os indícios de que ela funciona e presumir que as evidências contrárias são
meramente exceções. Por isso, é preciso ter em mente não a busca pela confirmação
da própria teoria, mas sua refutação.
Por que você não deve respeitar as autoridades

O “viés de autoridade” diz que acreditar cegamente em especialistas pode trazer


problemas. Isso acontece porque somos pouco críticos ao ouvir especialistas sem
considerar que erram com frequência. A dificuldade de economistas preverem as crises
financeiras e, ainda assim, se arriscarem em previsões são um exemplo.

Para o autor, a sociedade está confusa a ponto de autoridades de um assunto


orientarem as pessoas sobre outros completamente distintos. Por exemplo, quando um
ator de Hollywood como George Clooney recomenda uma máquina de café. O autor
defende que precisamos desafiar os especialistas e nunca abandonar o pensamento
crítico.

Nunca pague seu advogado por hora

Pagar um advogado, arquiteto, professor de autoescola ou consultor por hora


não faz o menor sentido para o autor. A razão é a tendência à hipersensibilidade ao
incentivo, quanto as pessoas prolongam o problema para que sejam pagas por mais
tempo. Na colônia francesa de Hanói, por exemplo, cada rato morto valia uma
recompensa.

O objetivo era controlar uma infestação. Mas as pessoas acabaram por cultivar
secretamente criações de ratos apenas para serem continuamente recompensadas. No
fim, as pessoas reagem aos incentivos, não às intenções. A dica do autor é simples:
estabeleça sempre um preço fixo de antemão.

A eficácia duvidosa de médicos, consultores e psicoterapeutas

O autor mostra como o fenômeno da regressão à média pode fazer com que nos
enganemos sobre a eficácia de uma ajuda profissional. Por exemplo, professores de
beisebol, médicos, terapeutas e consultores. A regressão à média diz que um período
extremo de alguma coisa tende a ser sucedido por um período médio.
Se tivermos uma dor nas costas mais forte do que a que costumamos ter em um
dia específico, no seguinte provavelmente teremos uma dor leve. Afinal, vai regredir à
média. Se procuramos atendimento quiroprático no mesmo dia, a melhoria que surge no
dia seguinte não tem necessariamente a ver com ele.

Não se apegue às coisas

Nos apegar às nossas próprias coisas pode ser um problema na hora de vender.
Isso se deve ao “efeito dotação”, quando damos mais valor ao que temos simplesmente
pelo fato de ser nosso. O resultado é colocarmos preços mais altos no que vendemos
do que os itens realmente valem.

O efeito é fácil de observar no mercado imobiliário. Os vendedores costumam


superestimar o valor das próprias casas em relação ao mercado. Há uma espécie de
mais-valia emocional, ligada ao apego. Isso também se aplica ao mercado financeiro.
Podemos perder oportunidades de lucro puramente por sermos apegados aos próprios
investimentos.

Por que você paga caro demais pelo risco zero

A busca por alcançar o risco zero pode ser um problema, chamado de “viés do
risco zero”. Geralmente, as pessoas investem uma quantia alta de dinheiro para reduzir
um risco residual muito pequeno, podendo até aumentar outros riscos no caminho. O
autor dá como exemplo a remoção de produtos cancerígenos dos alimentos, diminuindo
o risco de câncer para algo próximo de zero.

O problema é que isso estimulou os produtores a colocar outros produtos para


substituí-los, que podem trazer outros problemas de saúde, ainda que não câncer.
Abandone o risco zero e se acostume com o fato de que nada é, de fato, seguro.
Como desmascarar um charlatão

Para o autor, pseudociências como astrologia, grafologia, tarô, quiromancia e


sessões mediúnicas exigem desconfiança. A razão é o fato de se basearem no “efeito
Forer”. A ideia é fazer afirmações elogiosas e genéricas o suficiente a ponto de o
charlatão parecer que descobriu algo específico e secreto sobre você, quando na
verdade disse o que serviria para qualquer um.

Falas como “você duvida muito das próprias decisões de vez em quando” ou
“você se orgulha por ser um livre-pensador”. Normalmente, os charlatões não fazem
afirmações negativas. Só que isso não se aplica apenas aos esotéricos e mesmo
consultores de ações empregam o efeito Forer de vez em quando.

Como lucrar com o improvável

A lógica dos “cisnes negros”, como são chamados os eventos extremamente


imporváveis e chocantes, intriga os especialistas. A invenção da internet, a queda da
União Soviética, o surgimento do Facebook e a descoberta do ouro na Califórnia são
alguns exemplos.

Para o autor, os cisnes negros vão continuar acontecendo e, por isso, devemos
nos colocar em situações nas quais pegamos carona no improvável. Por exemplo, nos
tornando empreendedores, inventores ou artistas e produzindo itens com chance de
expansão. Mas se você vende seu tempo e é assalariado, o conselho é o inverso. Passe
longe dos cisnes e seja conservador.

Por que as listas de checagem enganam você

O grande cuidado que precisamos ter nas listas de checagem é o fato de


estarmos cegos ao que não está nela. Na ciência, isso é chamado de “efeito da
presença”. Se sentimos uma dor em alguma parte do corpo, ela só é relevante porque
está lá. Os momentos com ausência de dor não são notados.
Uma bela sinfonia pode ser incrível enquanto a ouvimos, mas não sentiríamos
falta se ela não existisse. Temos dificuldade de perceber um não evento, somos cegos
ao que inexiste. Isso faz com que não valorizemos coisas boas, como a ausência de
uma guerra ou de doenças.

Desenhando o alvo em torno da flecha

Na hora de escolher um hotel, um carro ou um imóvel, sabemos que as


propagandas fazem “escolhas a dedo”, ou seja, colocam apenas o que gostariam que
soubéssemos e escondem o resto. Nenhum comercial de carros japoneses diz que suas
peças são difíceis de achar e encarecem a manutenção.

No entanto, esquecemos que isso também acontece em outros contextos. Por


exemplo, em um relatório anual de uma empresa, cujas metas não batidas estão
ocultas. Essas são substituídas secretamente por objetivos muito fáceis de atingir. É
como lançar uma flecha e, após atingir um lugar qualquer, pintar o alvo ao redor.

A caça pré-histórica a bodes expiatórios

A “falácia de causa única” resume problemas complexos, como a guerra do


Iraque e a crise de 2008, a razões simples e únicas. Coisas como “retaliação ao 11 de
setembro” ou “a política monetária de Alan Greenspan”. Só que esses eventos se deram
a diversos fatores somados.

Se você tentou uma empreitada em alguma área da sua vida que fracassou, faça
uma longa lista de motivos potenciais e não se prenda a uma única causa. Em seguida,
destaque o que pode ser mudado, isole a variável e teste de forma empírica para
descobrir se é a causa principal.

Um erro de pensamento comum faz com que os motoristas apressadinhos


pareçam cuidadosos porque os que cometem acidentes demoram para chegar no
destino. Isso faz com que surja uma associação enganosa entre dirigir devagar e sofrer
acidentes. Nesse caso, a análise incorre no “erro de intenção de tratamento”, que
confunde correlação com causalidade.

O problema se aplica em vários contextos. Um empresário ao ver empresas


endividadas com lucro maior do que as sem dívidas, por exemplo, pode presumir
enganosamente que a receita para enriquecer é a dívida. Na verdade, essas empresas
são as únicas com receita para pegar empréstimos, mas não são bem-sucedidas por
causa deles.

Por que você não deve ler jornais

Para o autor, as notícias podem ser ilusórias porque os cérebros não absorvem
uniformemente as informações. Fatos chocantes e escandalosos são estimulantes,
enquanto informações complexas são ignoradas. Tudo que é sutil e parece pouco
interessante passa a ser filtrado.

Isso faz com que as notícias tenham uma curadoria ruim e muita coisa se perca.
As notícias ainda consomem uma imensa dose de tempo. O conselho do autor é trocar
as notícias pelos livros. É melhor ler longas páginas e usá-las para conhecer o mundo
em vez de se apegar ao sensacionalismo dos jornais.

Conclusão

Rolf Dobelli oferece conselhos práticos para melhorar nossa capacidade de


pensar. Ele nos ensina como evitar armadilhas cognitivas comuns, como pensar de
forma mais lógica e como adotar um pensamento estratégico. Também nos ensina
como evitar o excesso de informação, a procrastinação e o sentimento de sobrecarga.
Com essas dicas práticas, o livro nos ajuda a desenvolver habilidades mentais que nos
ajudam a tomar decisões mais acertadas e a viver de maneira mais satisfatória.

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