Você está na página 1de 5

UTILIZAÇÃO DE TC’S E INSTRUMENTOS TIPO ALICATE – MEDIÇÃO DE CORRENTE E

DE POTÊNCIA

Douglas Carlos Ferreira de Araújo, 201022060104,Lucas Galvão Oliveira, 201012060314

CEFET/MG, Belo Horizonte, Brasil, galvones@gmail.com, 11/06/2015

Resumo: O presente relatório dá conta da prática realizada envolver o fio condutor no qual se deseja fazer a medição:
com o objetivo de estudar a utilização de transformadores de as linhas de fluxo geradas pela corrente alternada que circula
corrente e de instrumentos tipo alicate na medição de pelo fio induzem no secundário uma corrente proporcional à
correntes e potências. Para tal, foi feita uma comparação corrente do fio. Tal esquema pode ser observado na figura 2.
entre medições nas quais se utilizou os instrumentos
adequados e outras nas quais se valeu de transformadores de
corrente para o condicionamento do sinal, assim como de
instrumentos tipo alicate.

1. INTRODUÇÃO

Os transformadores de corrente são definidos como


instrumentos cujo enrolamento primário é ligado em série
com um determinado circuito elétrico, ao passo que ao
enrolamento secundário conectam-se bobinas pertencentes a
instrumentos de medição ou proteção. Dessa forma, são
muito utilizados para a medição de altas correntes, visto que,
como o número de espiras no secundário é maior que no
primário, a corrente na bobina dos instrumentos passa a ser Figura 2 –Esquema de funcionamento de medidor tipo alicate.
menor que no circuito do primário. O esquema comunmente
usado para a medição de altas correntes se encontra disposto Habitualmente as incertezas apresentadas pelos
na figura 1. medidores tipo alicate são maiores do que aquelas dos
instrumentos usuais. Apesar disso, tais instrumentos têm a
vantagem de não requererem a interrupção do circuito para a
realização da medição. A própria lógica exposta dos
medidores tipo alicate exposta acima faz com que eles se
prestem sobretudo à função de amperímetros,mas há ainda
wattímetros tipo alicate, nos quais, para além da pinça
eletromagnética, há terminais para a medição da tensão, do
que a potência é obtida pela multiplicação das grandezas
medidas, sendo possível ainda a obtenção do vator de
potência com tais aparelhos.
Amperímetros do tipo alicate possuem faixa de operação
entre 0 e 1000 A, e como não há conexão entre o
Figura 1–TC usado para medição de altas correntes
instrumento e o circuito, a isolação elétrica se dá de maneira
natural.
A construção de transformadores de corrente se dá de
Se faz necessário ainda descerver outrosinstrumentos
modo a haver a padronização da corrente secundária
usadosna medição de correntes, como o amperímetro
nominal em 5 ampéres, podendo a primária nominal ser de
comum e o resistor shunt.
200, 500 ou 1000 ampéres de acordo com o valor da
No amperímetro comum analógico, a medição é feita com
corrente do circuito ao qual se liga o transformador.
base na corrente que circula pela bobina interna do aparelho
O fato do circuito no primário ser conectado em série com
e que induz um campo magnético cuja força movimenta o
o enrolamento torna necessária a interrupção do mesmo para
ponteiro do display proporcionalmente à corrente em
a realização da medição. Por outro lado, os dois circuitos
questão. Sendo conectado em série, se faz necessária a
que compõe o TC se encontram isolados, não sendo
interrupção do circuito para sua introdução e consequente
necesária nenhuma medida nesse sentido. A incerteza do TC
medição. Sua incerteza associada deve ser informada pelo
tem por base a incerteza do amperímetro usado para
fabricante e no seu uso não há uma isolação elétrica entre
medição no secundário, devendo o valor de leitura deste ser
seus circuitos, do que há certo efeito de carga. Sua faixa de
multiplicado em função da relação do transformador, o que
operação está geralmente situada em correntes de até 10
produz uma incerteza associada.
ampéres.
Já os instrumentos tipo alicate, por sua vez,
O resistor shunt, por sua vez, é um resistor introduzido no
caracterizam-se por possuir um enrolamento secundário
sistema que, com um voltímetro conectado em paralelo,
conectado a uma pinça de material ferromagnético que deve

1
permite a obtenção da corrente através da equação 𝑑𝐼𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
𝐼=
𝑉𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜
. Como o amperímetro comum, sua conexão é
𝐶2 = 𝑑𝑅1
𝑅𝑠ℎ𝑢𝑛𝑡
feita em série e por isso o circuito deve ser interrompido
para efetuar a medição. Obviamente não há isolamento 𝑑𝐼𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
elétrico, havendo assim certo efeito de carga junto ao 𝐶3 =
voltímetro que pode ser minimizado pela construção do 𝑑𝑅2
shunt utilizando material de baixa resistência. Tal método
possui uma incerteza associada à tolerância do resistor shunt
𝑑𝐼𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
assim como à incerteza do voltímetro utilizado em paralelo.
Este método permite medir correntes de até 500 ampéres, 𝐶4 = 𝑑𝑅𝐿
conforme a corrente nominal que atravessa o shunt.
Feito isso, debruçemo-nos sobre as questões propostas no
roteiro. Nos foi pedido o modelo para a medição da corrente 𝑑𝐼𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
total do circuito exposto da figura 3. 𝐶5 = 𝑑𝐿

𝑑𝐼𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
𝐶6 = 𝑑𝑓

Dessa forma, pode-se chegar à incerteza combinada:

𝑢𝑐 = (𝐶1𝑢(𝑉𝑓𝑓))2 + (𝐶2𝑢(𝑅1))2 + (𝐶3𝑢(𝑅2))2 + (𝐶4𝑢(𝑅𝐿))2

No caso desse circuito, calcula-se a potência consumida


por ele:
|
𝑃 = 𝑉𝑓𝑓 𝐼 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 |

E, com base na impedância equivalente, pode-se


Figura 3–Circuito monofásico encontrar seu ângulo para chegar ao fator de potência:

Pela lei de Kirchhoff das correntes, temos:

(
𝐹𝑃 = cos 𝑐𝑜𝑠 ⦟𝑍𝑒𝑞 )
É necessário falar ainda dos métodos de medição de
potência, para além do wattímetro tipo alicate, já citado
quando se falou dos instrumentos tipo alicate de maneira
geral logo na introdução do presente relatório.
O wattímetro comum permite medir potência com base
em uma conexão série e paralela num dado circuito. Sua
Com base em tal corrente, é possível estimar os utilização exige a interrupção do circuito em questão em
coeficientes de sensibilidade: função da conexão série, assim como reflete em um efeito
𝑑𝐼𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 de carga nesse circuito.
𝐶1 = 𝑑𝑉𝑓𝑓 Por vezes, transformadores de corrente são utilizados para
condicionar uma corrente alta de maneira que ela possa se
mostrar adequada para a utilização do wattímetro, de
maneira a assim reduzir o efeito de carga que seria gerado

2
por este último em função de seu isolamento do circuito, um valor alto em relação a entrada nos fornecendo um
ainda que assim se aumente a incerteza da medição e se gere ganho de modo comum de 0,004 pode ser muito prejudicial
um erro de relação e de fase. dependendo do tipo de grandeza que necessitasse realizar a
medição.
Para se obter um ganho de modo comum menor
2. MATERIAIS UTILIZADOS normalmente é utilizado um amplificador de instrumentação
como o INA114 que iremos simular e realizar a montagem
● 1 multímetro digital com o próprio.
● 1 shunt de corrente Para o amplificador de instrumentação temos que o ganho
● 1 transformador de corrente (TC) diferencial é dado pela Equação 12:
● 1 alicate amperímetro / wattímetro digital 𝐴𝑑 = 1 + 𝑅
50𝑘 (12)
● 1 wattímetro convencional 𝐺

● 1 carga monofásica onde a Equação 12 é obtida através da Equação 6 e os dados


● Cabos condutores do datasheet do INA114.
Para obtermos um ganho diferencial de 20 neste
3. METODOLOGIA E PARTE EXPERIMENTAL caso temos que utilizar um resistor de aproximadamente
2.63 kΩ que é obtido através da substituição de 𝐴𝑑 igual a
Primeiramente, mediu-se todos os parâmetros do circuito. 20 na Equação 12.
Feito isso, foram determinadas suas respectivas incertezas. Com isso obtemos o circuito da figura 6:
No caso das resistências e da fonte de tensão, a incerteza foi
determinada com base na especificada no multímetro
utilizado: 0,5% de leitura + 8 dígitos para uma resolução de
100m. Deve-se lembrar que as especificações dos
instrumentos são para um nível de confiança de 95% com k
igual a 2, sendo que para a incerteza padrão com k igual a
um, os valores devem ser divididos por dois. Já no caso da
indutância e da freqüência, onde não houve medição e
tomou-se os valores informados no componente e pela
distribuidora de energia, a incerteza combinada foi obtida
através de uma distribuição uniforme considerando um
desvio máximo de 5%. Os dados relativos a tais aferições
encontram-se disponíveis na tabela 1.
Figura 6–Amplificador de Instrumentação com ganho
Valor Incerteza diferencial igual a 20
R1 99,1 Ω Observamos na Figura 6 que a saída do
R2 100,4 Ω amplificador de instrumentação quase 2,5 menor que a saída
RL 12,5 Ω do amplificador de diferenças no caso do circuito com
Vff 223,4 V resistências perfeitamente casadas.
L 185 mH 0,0053404 Agora simularemos o amplificador de diferenças
f 60 Hz 1,732 com um descasamento de 5% a mais na resistência 𝑅3 e 5%
Tabela 1–Valores e incertezas. a menos na resistência 𝑅4 do circuito mostrado na Figura 1.
Nesta simulação obtivemos o circuito apresentado na Figura
Deseja-se simular em softwares as configurações 7:
amplificadoras de amplificador diferencial (utilizando o
741) e de amplificador de instrumentação (utilizando o
INA114) com ganhos diferenciais de 20 vezes.
Utilizando a Equação 2 para calcular os resistores da
configuração diferencial e admitindo que o valor de R1=5
kΩ obtemos pela Equação 11:
𝑅2
𝐴𝑑 = 𝑅1
→ 𝑅2 = 𝐴𝑑 * 𝑅1 = 20 * 5𝑘 = 100𝑘 (11)

Com isso temos o seguinte circuito apresentado na Figura


5: Figura 5–Amplificador Diferencial com ganho diferencial
Figura 5–Amplificador Diferencial com ganho diferencial igual a 20 e descasamento
igual a 20 Podemos observar que o ganho de modo comum subiu
Observamos que idealmente o valor de saída neste caso em quase 25 vezes em relação ao mesmo circuito com as
deveria ser igual a 0, entretanto com a modelagem do 741 no resistências casadas. Isso demostra que para uso que
Multisim obtivemos uma saída 20 mV. Apesar de não ser necessita de uma CMRR altíssima não é recomendável

3
montar um amplificador de diferenças com um AmpOp traçar a relação de rejeição de modo comum para diferentes
comum e resistências com tolerâncias altas, pois com o medidas, dado que foram efetuadas um total de 7 medidas.
descasamento das resistências e a influência do amplificador
operacional a CMRR poderá ser aquém da desejada. Em V1 (V) V2 (V) Vin (V) Vout(V)
operações que exige uma CMRR é altamente indicado o uso 1,998 4,996 -2,998 3,001
de um amplificador de instrumentação. 3,002 4,996 -1,994 2,020
4,021 4,996 -0,975 1,003
Circuito Saida Ganho de MC 4,991 4,996 -0,005 0,036
Amp. Dif. Casado 20 mV 0,004 5,996 4,996 1,000 -0,968
Amp. De Instrumentação -8,133 mV 0,0016 6,996 4,996 2,000 -1,966
Amp. Dif. Descasado 476 mV 0,0952 8,024 4,996 3,028 -2,992
Tabela1–Resultados das Simulações. Tabela 4 – Medidas para o amplificador diferencial com
Na Tabela 1 podemos observar os resultados obtidos nas resistores tolerância de 1%.
simulações realizadas com os valores de saída e a relação
entre a saída e a entrada em modo comum. De forma de minimizar o erro do calculo do Ad e do Acm
Para a parte prática serão utilizados o amplificador foi realizado calculo desses ganhos através de sistemas com
operacional LM741 e o amplificado de instrumentação os valores da Tabela 4 associando através do Matlab e
INA114. Consultando os respectivos DataSheets, pôde-se calculando a média dos valores da Tabela 5 obtivemos
chegar às seguintes especificações dispostas na Tabela 2 [6] Ad=-0,9983 e Amc=0,0075 com isso temos um
e 3 [7]: CMRR=97,823 dB
LM741 De maneira análoga, foram realizados os mesmos passos
Parâmetros Valores típicos anteriores, agora para o amplificador de instrumentação
Tensão de offset 1 mV INA-144, com a diferença que não foi utilizada uma
Impedância de entrada 2 MΩ resistência variável para controlar o ganho e sim um resistor
Ganho em malha aberta 200 V/mV fixo de 100 kΩ que gerou um ganho de 1,5 V/V. Os dados
CMRR 90 dB encontrados se encontram dispostos nas tabelas 6.
Faixa de tensão de entrada ±13 V
Slew-rate 0,5 V/µs V1 (V) V2 (V) Vin (V) Vout (V)
Corrente de polarização 80 nA 1,976 4,975 -2,999 3,028
Faixa de passagem 1,5 MHz 2,970 4,975 -2,005 2,032
Tabela2–Parâmetros do LM741. 3,971 4,975 -1,004 1,003
INA114 4,979 4,975 0,004 0,036
Parâmetros Valores típicos 6,001 4,975 1,026 -0,968
Tensão de offset 50 µV 6,981 4,975 2,006 -1,966
Impedância de entrada 600 Ω/6 pF 7,989 4,975 3,014 -2,992
Ganho em malha aberta 10kV/mV Tabela 6 – Medidas para o amplificador de instrumentação.
CMRR 115 dB
Faixa de tensão de entrada ±40 V Utilizando o mesmo processo do calculo amplificador
diferencial obtivemos atraves dos dados da Tabela 6
Slew-rate 0,3 V/µs
Ad=-1,0011 e Amc=0,0097 com isso temos um
Corrente de polarização 2 pA
CMRR=92,7346 dB
Faixa de passagem 1 MHz
Tabela3 – Parâmetros do INA114.
Foram implementados em laboratório dois circuitos
4. CONCLUSÃO
diferentes com o objetivo de testar o que se acontece quando
se aplicam sinais de modo comum e sinais diferenciais.
No experimento realizado o que se observou foi um
O primeiro tratou-se de uma ponte de
ganho em modo comum foi diferente de 0 como idealmente
Wheatstoneconectada ao amplificador diferencial
deveria ser devido ao descasamento e a problemas dos
LM741.Na ponte, 3 dos resistores tinham o valor de 220 Ωe
amplificadores diferenciais, o ganho diferencial baixo
o outro era um resistor variável, sendo esse ajustado até que
observasse que o ganho de modo comum não é desprezível
se obtivesse o equilíbrio, e o amplificador operacional
com isso nos resultados temos que a saída tem um erro
tivesse seu offset ajustado pra zero e devidamente
considerável em relação ao valor desejado.
direcionado para o ganho de 1. Desta maneira, um sinal
Observamos que o CMRR do amplificador diferencial
comum foi aplicado do que foram obtidos os resultados
foi maior devido que a tolerância baixa dos resistores que
apresentados na tabela 4.
deve ter ocorrido um casamento de resistências com valor
Feito isso, efetuou-se a imposição de diferentes valores ao
desejável, entretanto através da simulação podemos observar
resistor variável presente na ponte de Wheatstone, de modo
que o efeito do mal casamento pode ocasionar um ganho de
a causar certo desequilíbrio no circuito e com isso uma
modo comum alto que interfere na medição
conseqüente diferença de tensão. Tal sinal passa a ser
Portanto pode-se dizer que, num quadro geral, os
portanto diferencial, de modo que sua análise permitirá
objetivos da prática foram cumpridos.

4
REFERÊNCIAS

[1] Slides da disciplina teórica “Sistemas de medição”;


Rafael Alípio.
[2] Laboratório de Garagem, Desenvolvedores
independentes de Ciência e Tecnologia. Disponível em:
<http://labdegaragem.com/forum/topics/c-lculo-de-amp
lificador-para-termopar-tipo-k>Acesso em 20 de maio
de 2015.
[3] A.Sedra, K. Smith.  Microeletrônica.  Pearson Prentice
Hall, 5ª edição, 2007.;
[4] Condicionamento de Sinais Analógicos e Sensores.
Disponível em:
<http://www.smar.com/brasil/artigo-tecnico/condiciona
mento-de-sinais-analogicos-sensores> Acesso em 20 de
maio de 2015.
[5] Scaling analog signal before ADC: A low cost, low pin
and component count solution, Electrical Engineering.
Disponível em:
<http://electronics.stackexchange.com/questions/15292/
scaling-analog-signal-before-adc-a-low-cost-low-pin-an
d-component-count-soluti> Acesso em 20 de maio de
2015.
[6] LM741 Operational Amplifier. Disponível em:
<http://www.ti.com/lit/ds/symlink/lm741.pdf> Acesso
em 20 de maio de 2015.
[7] INA114 Precision Instrumentation Amplifier.
Disponíveem:
<http://www.ti.com/lit/ds/symlink/ina114.pdf> Acesso
em 20 de maio de 2015.

Você também pode gostar