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Tópicos Especiais - Cidade, Arquitetura, Raça e Gênero: temas,

sujeitos e processos.
Prof. Dr. Glauco Bienenstein
Aluno: Felipe Sardenberg
Avaliação do caminho percorrido
Partindo-se do entendimento de que as Ciências Sociais Aplicadas
reúnem campos de conhecimento interdisciplinares, voltados para os aspectos
sociais das diversas realidades humanas e que tem como objetivo o
entendimento de quais são as necessidades da sociedade, bem como, quais
as consequências de viver em sociedade - e, considerando, também, que o
campo da Arquitetura e Urbanismo faz para dessas Ciências, urge
entendermos o contexto social contemporâneo, sobretudo considerando que
vivemos em tempos obscuros.
Neste sentido, a disciplina de Tópicos Especiais, trouxe à luz do debate
e da reflexão, temas fundamentalmente importantes o quais, sem eles, não há
possibilidade de espaço para a (re)construção de uma sociedade mais justa e
menos desigual, muito abalada sobremaneira desde o golpe de 2016. Tais
temas caracterizam, tristemente um recuo civilizatório e a “desumanização” dos
direitos humanos, em um momento em que o capitalismo financeiro e globalizado
vive uma fase crítica promovendo uma “cidade mercadoria” e a “não cidade” 1 em seu
entorno.
No caminho percorrido pela disciplina, foram trazidos a pauta, especialmente
pelo prisma da cidade, o racismo estrutural e a violência que o cerca; as políticas
urbanas num contexto neoliberal; o problema grave da crise hídrica; a abordagem sobre
o marxismo sob um ponto de vista técnico em tempos de ideologia e não informação; as
questões que cercam a globalização e o capitalismo; as questões das políticas
habitacionais e fundiárias; a proletarização do arquiteto na era digital financeira; a
diversidade de gênero no contexto neoliberal, com seus desafios; a importância dos
movimentos sociais e do direito à moradia. Enfim, pautas que passam sempre e
inevitavelmente pela desigualdade social em todos os seus aspectos.
Todas essas questões trazidas para discussão, provocam a necessidade
de se buscar o entendimento das razões as quais nos levam a um declínio e
não ao progresso do bem estar social, considerando, também, que esses
tempos de crise não são uma exclusividade do nosso país, pois estamos
entrando em um mundo cada vez mais frágil, volátil e sujeito a redes de crises
entrelaçadas. Atravessamos um cenário caótico, um verdadeiro colapso
ecológico e social, em escala mundial e de caráter (aparentemente) insolúvel,
uma verdadeira entropia.
1
Os termos “cidade mercadoria” e “não cidade” foram utilizados na palestra da professora Ermínia
Maricato no dia 27/06/22. O primeiro termo se refere a cidade como um grande negócio para poucos, já
o segundo é a parte esquecida pela cidade, a periferia, a ausência do poder púlbico.
A pandemia do Covid-19, que tanto abalou (e ainda abala) o mundo, em
pouco mais de dois anos, ou a guerra ainda em andamento, na Ucrânia seriam
apenas mais alguns episódios desse colapso sistêmico, ou melhor dizendo, um
colapso do próprio capitalismo. O tempo que tal processo pode levar não é
muito previsível, dada a probabilidade de que desencadeiem ciclos de
acontecimentos e as conhecidas acelerações da mudança histórica.
Vivemos um cenário de crise de crescimento, escassez progressiva,
intensificação das mudanças climáticas, fechamento em massa de empresas,
sobretudo as pequenas e medias, a consequente ampliação do desemprego,
as crises humanitárias, desintegração dos Estados de bem-estar social e das
classes médias, o aumento dos preços dos produtos básicos, commodities e
combustíveis, a potencial desestruturação do sistema financeiro globalizado, a
ruína das aposentadorias e um horizonte visível de retrocessos na saúde,
educação, alimentação, comércio internacional e turismo, dentre outros
setores.
A todos esses processos, temos que acrescentar a crise energética, o
rompimento das cadeias de abastecimento, a insegurança alimentar, o
progressivo aumento da desigualdade social, o conflito e a polarização em
todos os níveis, e riscos de novas pandemias, fruto da depredação
agroindustrial da natureza. Sem falar na precariedade trabalhista, na incerteza
vital para os mais jovens, no abandono dos mais pobres e frágeis, na expansão
das doenças mentais ligadas a estados depressivos ou na dependência de
drogas, bem como na proliferação de refugiados climáticos, econômicos e
políticos.
Todo este cenário caótico se estabelece dentro do contexto de maior
poder das grandes corporações, sobretudo tecnológicas, da “uberização” ou
“pejoticação” das profissões e ao avanço combinado do neoliberalismo com o
fascismo de uma nova extrema direita nacional-populista. Isso causa uma
atmosfera de volatilidade e instabilidade social, a corrosão da democracia, a
proliferação de violências de diversas ordens, os incêndios, a mineração e a
pesca ilegal, a extinção das espécies animais e vegetais resultando numa
degradação ambiental irreversível, produto das já referidas mudanças
climáticas.
O processo de buscar entender todo o caos contemporâneo torna-se
praticamente uma obrigação acadêmica, considerando ainda o progressivo
processo de sucateamento das instituições, a precarização do ensino e a
mercantilização do mesmo, por trás de interesses de grandes grupos
educacionais. Na era da “pós verdade” disseminada massivamente e em tempo
real pelas redes sociais, sobretudo na metade da última década, o fato de
investigar, pesquisar, debater e buscar soluções é, infelizmente, um ato de
resistência.

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