1) O livro analisa a marginalidade avançada em Chicago e na França, mostrando similaridades e diferenças nas estruturas de exclusão urbana.
2) Wacquant argumenta que a marginalidade urbana deve ser entendida considerando o nexo entre raça, classe e Estado em cada sociedade.
3) Ele critica as políticas dos EUA de reduzir o bem-estar social e aumentar o controle penal, defendendo em vez disso expandir serviços públicos e minimizar desigualdades sociais.
1) O livro analisa a marginalidade avançada em Chicago e na França, mostrando similaridades e diferenças nas estruturas de exclusão urbana.
2) Wacquant argumenta que a marginalidade urbana deve ser entendida considerando o nexo entre raça, classe e Estado em cada sociedade.
3) Ele critica as políticas dos EUA de reduzir o bem-estar social e aumentar o controle penal, defendendo em vez disso expandir serviços públicos e minimizar desigualdades sociais.
1) O livro analisa a marginalidade avançada em Chicago e na França, mostrando similaridades e diferenças nas estruturas de exclusão urbana.
2) Wacquant argumenta que a marginalidade urbana deve ser entendida considerando o nexo entre raça, classe e Estado em cada sociedade.
3) Ele critica as políticas dos EUA de reduzir o bem-estar social e aumentar o controle penal, defendendo em vez disso expandir serviços públicos e minimizar desigualdades sociais.
WACQUANT, Loc. Os condenados da cidade: estudo da marginalidade
avanada. Rio de Janeiro: Revan: Fase, 2001. Passados os traumas da Segunda Grande Guerra, a euforia vivida em dcadas de crescimento nas ricas sociedades do ocidente capitalista fez com que a auto-imagem dessas sociedades pudesse ser definida em uma s palavra: civilizadas. Civilizadas porque coesas, pacficas e igualitrias e porque seguiam um caminho que inevitavelmente faria com que eliminassem as desigualdades sociais, sobretudo as herdadas, como classe, etnicidade ou raa. Mas nem tudo so flores. Um fenmeno que o socilogo francs Loc Wacquant denomina marginalidade avanada (ou regime de clausura excludente e exlio socioespacial) tem feito com que essa autoimagem sofra fissuras e tem impedido que as desigualdades sociais sejam analisadas como produto de deficincias individuais, de acordo com a noo de meritocracia, to cara sociologia americana. Os condenados da cidade, uma coletnea de artigos escritos nas dcadas de 1980 e 1990, aborda comparativamente fenmenos sociais provocados pela desigualdade social em duas metrpoles de dois diferentes continentes o gueto de Chicago (cinturo negro), no estado americano de Illinois, e os subrbios operrios franceses, ou banlieues (cinturo vermelho). Ao trabalhar comparativamente as estruturas e os mecanismos de excluso urbana em metrpoles desses dois pases, o autor chama a ateno para o fato de que semelhanas forjadas entre as duas realidades * Mestranda em Sociologia pela UFG, bolsista do CNPq. E-mail: franconde@02.net.br
em nada contribuiro para a compreenso ou soluo dos problemas.
Ao contrrio, s servem disseminao do estigma imposto s duas regies, estigma este que, associado pobreza e degradao moral (para a qual ele prprio contribui), afeta em todos os aspectos a vida dos habitantes destas reas (busca de emprego, envolvimento romntico, relao com a polcia etc.). O estudo, uma investigao emprica que abrange as dcadas de 1970 a 1990 com incurses aos anos 50 e 60,visando a uma concatenao histrica , pretende demonstrar que a marginalidade urbana no a mesma em todos os lugares. Seus mecanismos genricos e suas formas especficas tornam-se inteligveis se firmemente ligados matriz histrica de classe, de Estado e do sistema hierrquico caracterstico de cada sociedade, e sua anlise requer a apreenso do nexo existente entre raa (notadamente no caso americano), classe e Estado na cidade. Wacquant analisa a violncia sob dois ngulos: a) o da violncia vinda de baixo e sugere que as desordens verificadas principalmente no final dos anos 80, em propores diversas conforme o pas, combinaram duas lgicas, a do protesto contra a injustia racial (discriminao, no caso americano), contra a privao econmica e desigualdades sociais crescentes atravs da ruptura da vida civil pela fora; b) sob o ngulo da violncia vinda de cima, que se personifica na desproletarizao, ou no persistente desemprego em massa, segregao ou no exlio em bairros decadentes, de escassos recursos pblicos e na estigmatizao, tanto pelo discurso preponderante da mdia quanto pelo discurso das polticas pblicas. Ao trazer elementos de sociologia comparativa, o livro aponta as similaridades aparentes entre as duas regies: ambas so enclaves com forte concentrao de minorias (negros na Amrica e imigrantes no-europeus na Frana); com a desindustrializao, suas atividades econmicas se esvaziaram, e o desemprego entre seus habitantes, que sofrem as nefastas conseqncias do estigma que lhes imputado, tornouse permanente. Quanto s diferenas, demonstra a disparidade entre as ecologias sociais, entre a segregao racial do gueto americano e a heterogeneidade tnica do subrbio francs, entre taxas de pobreza e criminalidade e, sobretudo, entre as polticas pblicas desenvolvidas pelos dois pases. 172
CONDE, Michele Cunha Franco. Os condenados da cidade
O autor cumpre a promessa de efetuar uma concatenao
histrica aliada a uma anlise do nexo existente entre raa, classe e Estado para a compreenso da marginalidade avanada e vai alm, ao apresentar de forma minuciosa as variveis que compem o tema e, sobretudo, ao indicar caminhos que considera necessrios para a soluo do problema. Diante da euforia em torno da poltica de tolerncia zero, implantada em Nova York, criminalidade, uma das poucas vozes que se levantam contra a poltica adotada pelos Estados Unidos, desde o final da dcada de 1970, para reduzir o seu j miservel Estado do bemestar social e de hipertrofiar o Estado penal, sem, contudo, atacar as matrizes do problema. Ele enxerga nessa postura uma maneira de punir ainda mais os que se encontram margem das benesses das sociedades capitalistas e aponta o caminho inverso como soluo para o problema. Entende que, diante do modelo econmico ps-fordista em que a economia passa de um sistema fechado, integrado, centrado na fbrica e em um mercado fechado, para um sistema inverso, no qual as garantias de emprego/salrio so quase inexistentes, com um mercado aberto,intensivo em servios e que no ocupa a mo-de-obra desqualificada proveniente dessas zonas marginais , no faz mais sentido atribuir ao mercado a soluo dos problemas sociais. O Estado deve ser trazido de volta ao epicentro da sociologia comparada da marginalidade, e esse mesmo Estado deve expandir os servios pblicos visando a garantir provises iguais de bens pblicos bsicos nas zonas de excluso, para aliviar imediatamente a misria criada pelo desinvestimento social verificado nas ltimas dcadas. Deve tambm deixar claro, em suas polticas pblicas, que no ser atravs do mercado que se estabelecer uma segurana para as famlias marginais, cabendo-lhe, ento, assumir uma interferncia para minimizar as diferenas sociais. O livro fruto de pesquisas empricas realizadas nas duas reas e, para estabelecer propriedades distintivas da marginalidade avanada, Wacquant elaborou uma caracterizao tpico-ideal, dessa marginalidade in statu nascendi, contrastando-a com certos traos selecionados da pobreza urbana resultante do crescimento fordista no ps-guerra. Assim o fez por considerar que esses tipos ideais auxiliam no processo Sociedade e Cultura, Goinia, v. 4, n. 1, jan./jul. 2001, p. 171-174
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de formao e comparao de hipteses; oferecem uma linha mestra
para a identificao de variaes significativas e suas possveis causas. Por toda a obra, percebe-se um cuidado que o autor tem na formulao de conceitos, aliado a uma preocupao com a pesquisa. Ele alerta para o perigo de conceitos elaborados a partir dos pr-conceitos daqueles que o formulam, tal qual o conceito de underclass, que identifica os membros que vivem em zonas de excluso, no a partir da posio que lhes sobra na estrutura econmica, mas por comportamentos antisociais. Esse conceito passa, ento, a ser incorporado pelos gestores pblicos que obviamente, passam a interferir negativamente nas polticas destinadas a essas zonas. Alm de forte referencial emprico, de apresentar convincentes estatsticas e vasta bibliografia, merece ressalva a fluidez de sua escrita, bem como a sensibilidade com que trata a marginalidade. O leitor , ento, levado a refletir sobre os dilemas atuais do capitalismo, o que pode ser demonstrado atravs de uma frase do autor: A institucionalizao dos direitos de cidadania subsistncia e ao bem-estar social fora da tutela do mercado pode ser a bastilha do novo milnio.
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CONDE, Michele Cunha Franco. Os condenados da cidade