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“[...] Sabemos que a violência acontece tanto no campo quanto nas cidades, e tanto
nas cidades grandes como nas pequenas. Assim, é importante entender o destaque
alcançado pela expressão ‘violência urbana’ a partir do final dos anos 1970, termo que
qualifica no senso comum a violência nas cidades, mas que também se relaciona com
os conceitos sociológicos de ‘criminalidade’, ‘segregação’ e ‘exclusão’. [...]” (página
316).
“[...] Ao longo do século XX, a Sociologia desenvolveu diferentes teorias para analisar
a situação de violência nas cidades – em especial entre jovens, faixa etária em que se
concentra a maioria das vítimas –, entre as quais estão: a da “Desorganização Social”,
de matriz evolucionista; a da “Frustração”, que atribuía à desigualdade de
oportunidades o envolvimento com a criminalidade; a do “Rótulo”, que criticava as
anteriores e atribuía às instituições governamentais uma ação discriminatória contra
jovens de minorias étnicas e pobres; e a “Crítica”, que apontava para a necessidade
de reforma do sistema penal, acabando com a própria ideia de prisão, a qual se
resume apenas [...]” (página 316).
“[...] Todas essas teorias, no entanto, eram incapazes de explicar como percentuais
tão significativos de pobres, negros e demais indivíduos pertencentes a minorias
étnicas seguiam uma carreira criminosa ou se dedicavam a práticas violentas. [...]”
(página 316).
“[...] Surgiram, então, teorias mais comprometidas com a explicação dos processos de
escolhas individuais, que atribuíam aos jovens comportamentos específicos, como se
a faixa etária tivesse características comuns, como o romantismo (o gosto pelo
imediato, à importância da experiência e da sensação) e o conformismo com o grupo
(no que diz respeito à socialização sexual, musical, de comportamento), além do
desvio tolerado diante de orientações contraditórias das gerações anteriores. [...]”
(página 317).
“[...] Os jovens das classes operárias europeias eram identificados nos anos 1960 pela
homogeneização de comportamentos por meio das roupas, da música, da sexualidade
e do uso de drogas. A partir de então, um conjunto de transformações culturais,
políticas e econômicas modificou o perfil dessa juventude, que, sem perder a ligação
com sua origem de classe, adquiriu múltiplas formas de expressão e contestação [...]”
(página 317).
“[...] Para entender o aumento dos casos de violência que acontecem no espaço
urbano e as mudanças da sua intensidade e letalidade, é necessário levar em conta os
meios pelos quais se constrói a coesão social, os valores que determinam os
comportamentos considerados desviantes e as possibilidades concretas disponíveis
para levar movimentos violentos às últimas consequências. [...]” (página 317).
Segregação socioespacial
“[...] Nos anos 1970 e 1980, os estudos sobre violência urbana se diversificaram e se
renovaram, buscando demonstrar que a “violência urbana” não se restringe aos
comportamentos contra a população mais pobre. A teoria da dominação, inspirada no
marxismo e em Weber, foi recuperada para pensar essas formas de violência
institucional. [...]” (página 318).
“[...] As diferenças que marcam nossas cidades são gritantes quando observamos os
bairros diversos, as formas de moradia e sua população, o grau de conservação dos
equipamentos públicos e de acesso aos meios de transporte. É possível ver nessas
diferenças um importante aspecto territorial do processo da formação social brasileira:
a segregação espacial urbana. [...]” (página 318).
“[...] O estopim dos confrontos foi à morte de Moushin, 15, e Larami, 16, que estavam
em uma moto quando se chocaram com um carro de polícia. [...]” (página 320).
“[...] As crianças e os jovens que nunca saem dos espaços nos quais foram criados,
sejam os bairros populares suburbanos, sejam os condomínios fechados das elites,
podem ser levadas a ver como naturais às distinções de classe socialmente
constituídas, o que pode impedir o surgimento de uma geração de cidadãos críticos
das desigualdades e dispostos a se esforçarem para combatê-las. [...]” (página 321).