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O SURGIMENTO DA

MARGINALIDADE AVANÇADA
NOTAS SOBRE SUA NATUREZA E IMPLICAÇÕES1
Loic J. D. Wacquant
Universidade da Califórnia-Berkeley

RESUMO
O artigo examina o surgimento da “marginalidade avançada ” e de novas formas de exclusão social em
cidades do “Primeiro Mundo ”, resultantes de transformações desiguais e desarticuladas dos setores mais
avançados das sociedades e economias ocidentais. O autor preocupa-se também em avaliar as implicações
dessas novas formas de exclusão para a teoria e pesquisa urbanas.
PALAVRAS-CHAVE: marginalidade urbana; marginalidade “avançada”; política urbana.

I. UNDERCLASS E BANLIEUE: FACES DA Com o acelerado deslocamento e a degrada­


MARGINALIDADE AVANÇADA ção do núcleo metropolitano, os cientistas so­
A partir da última década, a auto-imagem ciais americanos e os especialistas em políticas
das sociedades de Primeiro Mundo, como cada públicas ficaram alarmados com o aparecimento
vez mais pacíficas, homogêneas, coesas e iguali­ e a consolidação da chamada “ subclasse ” negra
tárias — “democráticas” segundo a noção de confinada nas áreas mais decadentes da cidade
Tocqueville, “civilizadas” no léxico de Norbert e cada vez mais isolada da sociedade mais
Elias — vem sendo destruída por explosões ampla2 . Na França e em vários outros países da
espetaculares de desordem pública, crescentes Europa Ocidental, um verdadeiro pânico moral
tensões etnoraciais e o ressurgimento evidente surgiu com o aumento da “nova pobreza ”, com
da desigualdade e da marginalidade nas metró­ a formação de “guetos para imigrantes” e com
poles (WACQUANT, 1994a). Dois debates pa­ a conseqüente ameaça que estes representam pa­
ralelos surgiram desde então nos Estados Unidos ra a integração nacional e para a ordem pública.
e na Europa Ocidental sobre a interseção entre A medida que os bairros operários assistiram à
pobreza, “raça” (ou imigração) e decadência ur­ deterioração das condições sociais, aqueles “tra­
bana, enquanto o desemprego estrutural, a priva­ balhadores visitantes” e seus filhos tomaram-
ção social e os conflitos étnicos ou raciais au­ se um componente cada vez maior e permanente
mentam ao mesmo tempo nas grandes cidades de sua população3. Em ambos os lados do Atlân-
de ambos os lados do Atlântico.
2 Estudos sobre o assunto incluem GLASGOW
(1981), WILSON (1987) e (1993), HARRIS e
1 Uma versão preliminar deste artigo foi preparada WILKINS (1989), KATZ (1989), MASSEY e
para o Encontro de Especialistas em Áreas de Ci­ DENTON (1993), DEVINE e WRIGHT (1993),
dades e Subúrbios em Agonia, OECD, Paris (março FAINSTEIN (1993). Para uma análise da “invenção”
de 1994) e apresentado ao Seminário de Macrosso- do mito demoníaco da subclasse e de suas funções
ciologia Comparativa no Departamento de Socio­ ideológicas e políticas nas áreas intelectual e político-
logia, Universidade da Califórnia, Los Angeles (Ja­ jornalística, cf. WACQUANT (1992c). Discussões
neiro de 1995). Agradecemos os comentários críticos perceptivas acerca de seus elementos analíticos e po­
e reações de ambos os públicos. Traduzido do inglês líticos podem ser encontradas respectivamente em
por: Adriano Nervo Codato e Renato Monseff Peris- MARKS (1991) e GANS (1991).
sinotto. Revisão técnica: Marcos Lanna. 3 Por exemplo, DUBET (1987), LePUILL e
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tico, o tema da dualização ou da polarização das distintas, com heranças urbanas diferentes, pro­
cidades tomou-se a preocupação central das á- duzidas por lógicas diferentes de segregação e
reas de ponta tanto da pesquisa quanto da teoria agregação, inseridas em estruturas de previdên­
urbanas, enquanto os extremos “alta sociedade” cia social e de mercado distintas — tudo isso
e “gueto sombrio”, “riqueza suntuosa” e “desti­ resultando em níveis significativamente eleva­
tuição absoluta”, “burguesia cosmopolita” e “ex­ dos de destruição, segregação, isolamento e mi­
cluídos urbanos” floresceram e decaíram lado a séria. Em termos mais diretos, o “encerramento
lado4. excludente”, conforme a formulação de Parkin
Juntos, esses eventos pareciam indicar uma (1978), e a exclusão sócio-espacial operam no
convergência mundial notável dos padrões de Black Belt americano conforme uma lógica
marginalidade urbana. Contudo, uma análise mi­ “racial”5, amparados pelo Estado e com base
nuciosa da ecologia, da localização estrutural, nas diferenças de classe; já no Red Belt francês
da composição e do arranjo organizacional dos esses fenômenos fundam-se principalmente nas
territórios de exclusão que surgiram, seja há diferenças de classe e são parcialmente exacer­
muito tempo, seja recentemente no Antigo e No­ bados pelo status de imigrante colonial que as
vo Mundo, sugerem que as formas européias de pessoas possuem e parcialmente amenizados pe­
pobreza urbana não estão sendo “americani­ lo Estado (central e municipal). Portanto, o pri­
zadas”, isto é, não estão produzindo formações meiro é um universo racial e culturalmente mo­
sócio-espaciais racial e/ou culturalmente uni­ nótono, caracterizado pela baixa densidade or­
formes baseadas no banimento forçado de uma ganizacional e fraca penetração estatal (e, por­
população estereotipada negativamente em um tanto, um lugar de alta insegurança física e so­
território específico, no qual se desenvolve um cial), ao passo que o último é tipicamente hete­
conjunto de organizações específicas de grupo rogêneo em termos de recrutamento etnonacio-
e lugar que reproduzem, em um nível mais baixo nal e de classe, com uma presença comparati­
e incompleto, a estrutura institucional da socie­ vamente mais forte das instituições públicas e
dade mais ampla (WACQUANT, 1991). com uma penetração mais profunda do Estado
(WACQUANT, 1992b, 1992d).
Uma comparação entre os bairros de exclu­ A “trama” distinta de cor, classe e local de
são no “ Black Beií” de Chicago e no “Red Belt” ambos os lados do Atlântico não exclui, porém,
de Paris mostra que a decadente periferia metro­ a possibilidade de que as transformações re­
politana francesa e o gueto afro-americano são centes dos guetos nos Estados Unidos, do ban-
duas constelações sócio-espaciais nitidamente lieue (subúrbio) francês e das inner cities britâni­
cas e holandesas possam anunciar a cristalização
LePUILL (1990), PAUGAM (1991 e 1993), de uma nova e ainda incipiente, porém distinta
JAZOULI (1992), DUBET e LAPEYRONNIE forma de marginalidade urbana , diferente do
(1992), BODY-GENDROT (1993), LAPEY­ gueto americano tradicional (TROTTER, 1993)
RONNIE (1993). Veja WACQUANT (1992b, 1995) e do “bairro operário” do século vinte na Europa
para uma análise da difusão do “pânico moral” das (VERRET, 1979; THRIFT e WILLIAMS,
cidades-gueto na França e sua base e significado so­ 1987). Visto deste ângulo um tanto prospectivo,
ciais. Para um panorama das questões de frente do o “retomo das realidades recalcadas” de extrema
debate europeu mais amplo e uma comparação transa­ pobreza e destituição social, as divisões etnora-
tlântica, vejaREX (1988), DAHRENDORF (1989), ciais (ligadas ao seu passado colonial) e a vio-
NEGRI (1989), ALLEN e MACEY (1990),
LEIBFRIED (1991), HEISLER (1991), CROSS
(1992), ADRI (1992), GUIDICINI e PIERETTI 5“Raça” significa aqui a dicotomia peculiar da opo­
(1993), ENGBERSEN etallii. (1987,1993), SILVER sição “negro/branco” instituída nos Estados Unidos
(1993), GODARD (1993), HEIN (1993), MCFATE, como herança histórica da escravidão, uma divisão
LAWSON e WILSON (1995) e MINGIONE (1995). que não permite um termo mediador e que é única
4Por exemplo, v. DAVIS (1990), MOLLENKOPF e no mundo por sua rigidez e persistência (DAVIS,
CASTELLS (1991), FAINSTEIN et al. (1992); e, 1991), e com relação à qual os outros grupos definem
para advertências, MARCUSE (1993). a sua posição.
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lência pública, e a sua acumulação nas mesmas mente, uma caracterização típico-ideal dessa
áreas urbanas agonizantes, sugere que as cidades nova marginalidade in statu nascendi, contras-
de Primeiro Mundo estão agora enfrentando o tando-a com certos traços selecionados da po­
que podemos chamar de marginalidade avan­ breza urbana resultante do crescimento “fordis-
çada, isto é, novas formas de encerramento so­ ta” no pós-guerra (1945-1975). Deve-se lembrar
cial excludente e de marginalização que surgi­ que tipos ideais não são “constructos sintéticos”
ram — ou intensificaram-se — na cidade pós- puramente analíticos, mas abstrações sócio-his-
fordista como resultado não do atraso, mas das tóricas de exemplos reais de um fenômeno (WE-
transformações desiguais e desarticuladas dos BER, 1949: 86-92). Eles nos auxiliam no pro­
setores mais avançados das sociedades e eco­ cesso de formação e comparação de hipóteses;
nomias ocidentais, à medida em que estas reper­ oferecem uma linha mestra para a identificação
cutem nos extratos mais baixos da classe traba­ de variações significativas e suas possíveis cau­
lhadora e nas categorias etnoraciais dominadas, sas. Como dispositivos heurísticos, contudo, ti­
bem como nos territórios que estas ocupam na pos ideais não estão sujeitos a critérios de verda­
metrópole dividida (SASSEN, 1991; MIN- deiro ou falso.
GIONE, 1991; THRIFT, 1993). A caraterização resumida da “marginalidade
O termo “avançada” pretende indicar que avançada” que se segue é oferecida com reser­
aquelas formas de marginalidade não estão em vas, sabendo-se muito bem que, como Wittgens-
nosso passado , nem sendo absorvidas progres­ tein uma vez advertiu (1977: 55), “conceitos
sivamente seja pela expansão do “livre merca­ podem aliviar a má conduta ou podem piorá-la;
do” (isto é, por meio de um aprofundamento da alimentá-la ou coibi-la”. Oposições binárias co­
mercantilização da vida social), seja através dos mo as promovidas por tais exercícios conceituais
braços do Estado de bem-estar social, mas, mais estão propensas a exagerar as diferenças, con­
exatamente, colocam-se em nosso futuro. A fundir descrição e prescrição e estabelecer fortes
menos que novas formas de intervenção política dualismos que desconsideram continuidades, su­
sejam elaboradas para coibir ou re-direcionar bestimam contingências e exageram a coerência
as forças estruturais que as produzem — entre interna de formas sociais. Com essas precauções
outras: o crescimento econômico concentrado em mente, podem ser destacadas aqui seis cara-
e a dualização do mercado de trabalho; a casua­ terísticas distintas da marginalidade avançada
lidade do emprego e a autonomização da econo­ a fim.de serem minuciosamente examinadas.
mia de rua em áreas urbanas degradadas; o de­ (i) O trabalho assalariado como parte do
semprego em massa que conduz a uma completa problema', enquanto que nas décadas da ex­
desproletarização para grandes segmentos da pansão fordista ou do “capitalismo organizado”
classe trabalhadora, especialmente entre os jo­ (LASH e URRY, 1988), a relação trabalho-
vens; e políticas estatais de contenção de gastos salário foi uma solução eficiente para os dilemas
urbanos, quando não de total abandono — e da marginalidade urbana e da destituição social,
novos mecanismos de mediação social sejam parece que sob o regime em ascensão ela deve
postos em prática para reincorporar as popula­ ser considerada (também) como parte do pro­
ções excluídas, espera-se que a marginalidade blema.
urbana continue a aumentar e a difundir-se, e,
com ela, a violência de rua, a alienação política, Tornando-se “internamente” instável e
a desertificação organizacional e a informa- heterogêneo, diferenciado e diferenciador, o
lização da economia que infestam cada vez mais contrato de trabalho assalariado transformou-
os bairros de excluídos das metrópoles na socie­ se numa fonte de fragmentação e precariedade,
dade avançada. em vez de homogeneidade e segurança, para a-
II. ALGUMAS PROPRIEDADES DISTIN­ queles indivíduos mantidos na periferia do mer­
TIVAS DA “MARGINALIDADE AVAN­ cado formal. Vide, entre outros sinais, o cresci­
ÇADA” mento do meio-expediente, dos cargos com ho­
rários variáveis, “flexíveis”, com menos bene­
Pode-se tentar elaborar, ainda que provisoria­ fícios, cláusulas de benefícios e de prorrogação

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negociáveis e os vários caminhos seguidos para Chicago, aproximadamente 80% dos moradores
evitar os efeitos homogeneizantes do padrão da do gueto relataram uma deterioração de sua si­
regulamentação estatal do trabalho assalariado tuação financeira após quatro anos consecutivos
(por exemplo, a tentativa de criar um salário sub- de crescimento econômico durante a administra­
mínimo para jovens sem habilidades, malograda ção Reagan e a maioria sentiu que seu bairro
na França durante o governo Balladur). O ressur­ estava caminhando firmemente para uma maior
gimento dos sweatshops (estabelecimentos sem dilapidação (WACQUANT e WILSON, 1989:
o mínimo conforto para seus funcionários), do 21 - 22).
trabalho por empreitada e dos trabalhos desen­
volvidos em casa, o desenvolvimento do tele- porConsiderando
um lado, o
esta relação assimétrica entre,
desemprego agregado nacional
trabalho, a escala dupla de salário e a institucio­ e regional e, por outro, as condições dos bairros,
nalização do trabalho “permanentemente tempo­ e devido aos níveis atuais de aumento de pro­
rário”: todos esses fenômenos apontam para uma dutividade e formas emergentes de “aumento
excessiva dessocialização do trabalho assa­ do desemprego”, seriam necessárias taxas mila­
lariado . grosas de expansão econômica para reabsorver
Ao lado da erosão da capacidade integradora no mercado de trabalho aqueles que foram por
da relação trabalho-salário, cada um dos elemen­ muito tempo expulsos do mesmo. Isso significa
tos de segurança concedidos sob o contrato so­ que, longe de garantir realmente empregos, as
cial fordista-keynesiano (STANDING, 1993) políticas sociais baseadas na impulsão da capa­
têm sido enfraquecidos ou estão sendo atacados: cidade de absorção do mercado de trabalho são,
a segurança do mercado de trabalho (esforços na verdade, dispendiosas e ineficientes, pois os
do Estado para alcançar o pleno emprego), a ga­ novos excluídos são os últimos a serem atingidos
rantia de uma renda (através de provisões soci­ pelos seus benefícios, somente após todos os
ais, benefícios para os desempregados e perten- outros grupos mais privilegiados haverem sido
cimento a sindicatos) e a segurança no emprego beneficiados pelo crescimento econômico.
(a redução do controle capitalista sobre os ter­ (iii) Fixação e estigmatização territoriais :
mos de contratação e demissão)6. em vez de difundir-se por todas as áreas da classe
(ii) Desconexão funcional proveniente de trabalhadora, a marginalidade avançada tende
tendências macroeconômicas: a marginalidade a concentrar-se em territórios bem identificados,
avançada parece estar cada vez mais desligada demarcados e cada vez mais isolados, vistos por
das flutuações de curto prazo da economia, de pessoas de dentro e de fora como purgatórios
modo que as fases de expansão de emprego e sociais, infernos urbanos onde somente o refugo
consumo têm pouco efeito duradouro sobre ela. da sociedade aceita habitar. Um estigma refe­
Dessa forma, as condições sociais e as chances rente ao lugar sobrepõe-se assim ao já universal
de vida em bairros de excluídos na Europa e estigma da pobreza e (onde aplicável) da raça
nos Estados Unidos mudaram muito pouco, se ou da origem colonial-imigrante. Ao mesmo
é que mudaram, durante os anos de crescimento tempo, estes “espaços condenados” são, ou a-
entre a década de oitenta e o início da de noventa; meaçam tomar-se, instalações permanentes da
porém, pioraram sensivelmente durante as fases cidade e os discursos de difamação sobre os
de recessão. O desemprego entre os jovens con­ mesmos proliferam (WACQUANT, 1993a)7.
tinuou aumentando no Red Belt de Paris durante Em cada metrópole importante do Primeiro
a administração de Rocard, mesmo quando o Mundo, um distrito urbano ou município em par­
forte crescimento da economia havia contido o ticular tem se tomado famoso pelo fato de a de-
ataque violento do desemprego nacional. Em
7 Para uma análise mais detalhada do peso e dos
6 Sobre a “desorganização” do trabalho assalariado, efeitos da estigmatização territorial nas áreas de bani­
veja EBEL (1995), LASH e BAGGULEY (1988), mento na França, veja PÉTONNET (1982), AVERY
POLLERT (1988), BURTLESS (1990) e BEAUD e (1987), BACHMAN e BASIER (1989), PAUGAM
PIALOUX (1991). (1991) e DULONG e PAPERMAN (1992).

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sordem, a ruína e o perigo serem vistos como a- uma transformação marcante na organização e
contecimentos comuns do dia-a-dia. A lista cres­ na experiência do próprio espaço (veja especial­
ce a cada ano: o South Bronx e o Brownsville mente HARVEY, 1989; também SOJA, 1989 e
na cidade de Nova Iorque; Les Minguettes e SHIELDS, 1991). Isto encontra-se em conformi­
Vaulx-en-Velin perto de Lyon; Brixton e East dade com a modificação de ambos, o gueto e o
End, em Londres; Gutleutiviertel em Hamburgo; banlieue y que de “lugares” comunais plenos de
Rinkeby nos arredores de Estocolmo; e em Ams­ emoções compartilhadas, significados conjun­
terdã. tos, práticas e instituições de reciprocidade,
Morar em casas populares [os HLM], cons­ transformaram-se em “espaços” indiferentes de
truídas para o (sub)proletariado na periferia de mera sobrevivência e luta.
Paris, cria “um indizível sentimento de culpa e A distinção entre estas duas concepções ou
vergonha cujo peso não reconhecido perverte modos de apropriação do ambiente existente po­
as relações humanas” (PÉTONNET, 1982:148): de ser assim colocada: “‘Lugares’ são arenas
normalmente as pessoas escondem seu estáveis, ‘cheias’ e ‘fixas’, enquanto ‘espaços’
endereço, evitam receber familiares e amigos são ‘vácuos potenciais’, ‘ameaças possíveis’, á-
em casa ou sentem-se obrigadas a inventar reas que devem ser temidas, protegidas ou aban­
desculpas por morar em um local abominável, donadas” (SMITH, 1987: 297). Smith acrescen­
vivenciado como uma sensação profunda de ta que a mudança de uma política de lugar para
inferioridade e como uma mancha na auto- uma política de espaço é “encorajada pelo enfra­
imagem: “Eu mesmo não sou da cité ”, insiste quecimento das ligações comunais territorial­
uma jovem de Vitry-sur-Seine. “Eu agora moro mente situadas na cidade. Também é alimentada
aqui porque estou com problemas. Mas não sou pela tendência de retrair-se para um domicílio
daqui e não tenho nada a ver com as pessoas particular e pelo fortalecimento de sentimentos
daqui” (PÉTONNET, 1982:149). De forma de vulnerabilidade que emergem da busca de
similar, os habitantes do gueto em Chicago ne­ realização pessoal ou segurança” (1987:297).
gam que pertençam ao bairro (uma rede entrela­ Deve-se tomar cuidado para não romantizar
çada de conhecimento e de assistência mútua), as condições de vida nos bairros proletários e
e tentam distanciar-se de um lugar e de uma nos enclaves segregados
população que eles sabem que são universal­ ve uma “época dourada”donapassado. qual a
Nunca hou­
vida no gueto
mente ultrajados: “Pombas!, eu não sei o que as americano e no banlieue francês tenha sido doce
pessoas por aqui fazem, eu acho que estou e as relações sociais tenham sido harmoniosas
praticamente sozinho. Eu não me misturo com e gratificantes. Todavia, parece que a expe­
as pessoas do bairro” (WACQUANT, 1993a). riência da exclusão urbana vem se modificando,
Muitas vezes o senso de indignidade social só de maneira que hoje a situação está excep­
pode ser desviado empurrando o estigma para o cionalmente mais opressiva e aliénante.
outro — os vizinhos do andar de baixo, a família
de estrangeiros que mora em um prédio adjacen­ Para exemplificar rapidamente: até os anos
te, os jovens do outro lado da rua que “usam sessenta, o gueto negro americano ainda era um
drogas” ou os residentes da próxima quadra que “lugar”, um oekoumène coletivo, uma paisagem
são suspeitos de receber ilegalmente o seguro- urbana humanizada (embora opressiva) com a
desemprego ou a previdência social. qual os negros tinham uma forte identificação
(iv) A alienação territorial, ou a dissolução positiva, conforme expressa na retórica do
do “lugar”: o anverso desse processo de estig- desejava estabelecer um1968),
“ soul” (HANNERZ, e sobre o qual se
matização territorial é a dissolução do “lugar”, se foi um dos objetivoscontrole
do
coletivo — es­
movimento Black
isto é, a perda de um local com o qual as popula­ Power . Hoje, o gueto é um “espaço”, e, enquanto
ções urbanas marginalizadas identifiquem-se e tal, já não é mais um recurso comum que os
no qual sintam-se seguras. As teorias pós-fordis-
tas sugerem que a re-configuração atual do capi­ afro-americanos
opressão dos
podem usar para proteger-se da
brancos. Ele tomou-se, em vez
talismo envolve não somente uma vasta mistura disso, um vetor de divisão intra-comunal e um
de empresas, empregos e pessoas no espaço, mas
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instrumento para o aprisionamento virtual do de “Bronzeville” foram demitidos das fábricas
sub-proletariado urbano de cor, um território te­ e fundições, moinhos e revendedoras de auto­
mido e abominado do qual, como um informante móveis, onde trabalharam arduamente, depen­
do South Side de Chicago colocou sucintamente, deram do amparo dos familiares, dos amigos
“todo mundo está tentando escapar”. mais próximos e da igreja. A maioria dos resi­
Longe de proporcionar proteção às insegu­ dentes era assalariada e uma rede densamente
entrelaçada de organizações baseadas no bairro
ranças e às pressões do mundo exterior, o espaço ajudou a amenizar o choque da privação eco­
do “hipergueto” agora é um perigoso campo de nômica, enquanto “empreendimentos
batalha (WACQUANT, 1994b)i no qual uma sos” ramificando-se através da estrutura duvido­ de clas­
disputa de quatro-cantos é travada entre, de um se proporcionaram o precioso emprego temporá­
lado, os predadores de rua (gangues e especula­ rio (DRAKE e CAYTON, 1993). Em contraste,
dores), organizados e independentes, que pro­ a maioria dos residentes atuais do South Side
curam saquear quaisquer riquezas que por lá são desempregados; a área vem sendo virtual­
circulem, e, de outro, os moradores locais e suas mente esvaziada de seu meio de sustento cole­
organizações (tais como o MAD, “Mães Contra tivo; e os vínculos com o trabalho assalariado
Drogas”, no West Side de Chicago, ou clubes externo vêm sendo drasticamente diminuídos
de quarteirão e associações de comerciantes, pela desproletarização total de grandes segmen­
aonde ainda existam), que se empenham para tos da população local.
conservar o valor de uso e de troca de seu bairro,
postos de vigilância do Estado encarregados de Atualmente, os indivíduos há muito tempo
conter a violência e a desordem dentro do perí­ excluídos dos empregos remunerados em bairros
metro do núcleo urbano racialmente delimitado de excluídos não podem depender prontamente
e os predadores institucionais externos (especial­ do amparo coletivo informal enquanto aguardam
mente corretores de imóveis), para quem a con­ um trabalho posterior que pode, além disso, nun­
versão das seções das margens do Black Belt ca aparecer. Para sobreviver, eles têm de recorrer
para o uso da classe média pode render lucros a estratégias individuais de “auto-abasteci-
fenomenais8. mento”, “trabalho clandestino”, comércio (in­
(v) A perda do interior : relacionado ao des­ formal)
(GERSHUNY,
e a quase institucionalizada “hustling”9
1983; SMITH, 1986; INCHIES-
gaste do lugar está o desaparecimento de um TA, 1986; PAHL, 1987; EEC, 1989; WAC­
interior viável. Em fases anteriores da crise e QUANT, 1994b; BOURGOIS,
da reestruturação capitalista moderna, os tra­ co fazem para aliviar a situação de1995), que pou­
precariedade,
balhadores rejeitados temporariamente pelo
mercado de trabalho poderiam recorrer à sua co­ pois “as conseqüências relativas à distribuição
do padrão de trabalho informal nas sociedades
munidade de origem, fosse essa um bairro de industrializadas reforçam, em vez de reduzir ou
trabalhadores, um gueto comunal ou uma vila refletir, padrões contemporâneos
rural no interior ou no seu país de origem de” (PAHL, 1989: 249). O caráterdedadesigualda­ economia
(KORNBLUM, 1974; LIPSITZ, 1989: capítulos informal também vem mudando em muitas cida­
1 e3; SAYAD, 1991). des. Parece que ela está cada vez mais desligada
Quando, em função de uma queda cíclica da do setor comum do trabalho assalariado e seus
economia industrial de Chicago, os moradores circuitos paralelos oferecem poucos pontos de
entrada para o mundo de trabalho legal; assim,
jovens envolvidos em trabalhos ilegais fre­
8 Dois exemplos paradigmáticos de intromissões ex­ qüentemente têm mais chance de ficarem por
ternas no gueto visando lucro são as tentativas per­ longo tempo marginalizados.
manentes da cidade de Chicago de dispersar e con­
verter o projeto Cabrini Green no Near North Side, (vi) Fragmentação simbólica e social : a
bem perto da opulenta Gold Coast, e os esforços da
Universidade de Chicago para fechar e renovar os
núcleos habitacionais dilapidados na área adjacente 9 Entre aspas no original (nota dos tradutores).
a Oakland.

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marginalidade avançada também difere de suas salário-trabalho e quais são seus efeitos sobre
predecessoras por desenvolver-se dentro de um as estratégias de vida, e para quem (MINGIO-
contexto da decomposição de classe (AZÉMAR, NE, 1991; CASTEL, 1995)? Como o desgaste
1992) em vez da formação ou consolidação de do “trabalhador social” está relacionado com a
classe, e sob a pressão da <iesproletarização em diversificação interna da classe trabalhadora e
vez da proletarização. Está faltando, portanto, com a distribuição do desemprego socioeconô-
uma linguagem , um repertório de representação mico por grupos e áreas? Como as tendências
e sinais compartilhados através dos quais um agregadas do emprego, flexibilidade, produtivi­
destino coletivo é concebido e possíveis futuros dade, remuneração e benefícios (FREEMAN,
alternativos sejam projetados. A ausência de u- 1993) remodelam na prática os mercados de tra­
ma linguagem comum através da qual se unifi­ balho que os pobres urbanos têm de enfrentar?
quem simbolicamente, acentua a dispersão e a Seria pelo fato de o crescimento econômico não
fragmentação social dos novos pobres urbanos. ter quase repercussões nos bairros de exclusão
O instrumento organizacional permanente de e o estreitamento do mercado de trabalho, quan­
voz coletiva e das reivindicações do proletariado do ocorre, não “re-proletarizar” seus moradores
urbano, a saber, os sindicatos, é completamente (OSTERMAN, 1991; ENGBERSEN et a l .,
inadequado para enfrentar as questões que sur­ 1993)?
gem e estendem-se além da esfera convencional O estigma territorial é simplesmente uma
do trabalho assalariado regulamentado e suas modalidade sutil de discriminação racial disfar­
táticas tradicionais de defesa parecem somente çada, ou pode-se sustentar que ele exerce efeitos
agravar os dilemas enfrentados10 . reais — e letais — independente de e somado a
III. IMPLICAÇÕES PARA TEORIA E PES­ distinções etnoraciais ou etnonacionais, incluin­
QUISA URBANAS do as internas a um mesmo grupo (WILKIN-
Se uma forma de marginalidade avançada SON, 1992)? A perda de um sentido de lugar
“de terceiro tipo”, aproximada porém diferente em territórios de exclusão urbana é uma peça
daquela incorporada pelo histórico Black Belt de observação distante ou uma realidade profun­
americano e pelo tradicional Red Belt na França, damente sentida, e se assim for, como esta dife-
está de fato incubada na cidade pós-fordista, re-se da experiência de desligamento do meio,
surgem dois desafios, um intelectual e outro dos costumes, da tradição nas épocas anteriores
político, que exigem uma renovação tanto dos da formação e da transformação da classe traba­
modelos de análise social herdados , quanto da lhadora (THRIFT e WILLIAMS, 1987;
ação política, quando se trata de questões de SAYAD, 1995)? Que linguagens o novo
desigualdade urbana. (sub)proletariado da cidade dividida empresta
ou forja de novo para entender sua situação e
Para a pesquisa social, cada uma das cara- (re)articular uma identidade coletiva (BOUR-
terísticas típico-ideais da marginalidade avança­ DIEU etal ., 1993): uma linguagem que o religue
da esboçadas acima fornece um tópico para in­ à classe trabalhadora da qual eles escaparam,
vestigação empírica11 . De que maneira exa­ que o coloque em luta contra o Estado, ou ponha-
tamente vem mudando a natureza da relação os uns contra os outros? E como as estruturas,
políticas e ideologias do Estado agem sobre a
transformação social, espacial e simbólica da
10 Como quando os sindicatos renunciam a direitos qual resultam os bairros de exclusão?
coletivos conquistados duramente para evitar demis­ Uma das principais tarefas das futuras pes­
são em massa ou concedem a instituição de sistemas quisas sobre a marginalidade avançada será res­
duplos de salário como meio de proteger seu desgas­ tabelecer como cada uma destas variáveis ou
tado quadro de filiados. processos define-se de forma diferente em países
11 As poucas referências selecionadas que seguem diferentes e/ou em diferentes tipos de ambientes
servem para indicar os trabalhos existentes que forne­ urbanos. Observe-se que estas perguntas têm
cem modelos possíveis para outras análises ou linhas uma relevância política imediata, pois parece
básicas e pistas para comparações e críticas. difícil tratar muitas das manifestações concretas
137
0 SURGIMENTO DA MARGINALIDADE AVANÇADA
da nova marginalidade a menos que cheguemos, Finalmente, se a cidadania , e não a classe, a
antes, a uma avaliação empírica de suas carate- renda, o statns do emprego ou a “raça”, está se
rísticas distintas e das maneiras pelas quais estas tomando o pivô central do encerramento exclu-
caraterísticas tomam ineficientes e por vezes até dente e do direito às transferências de bens e
contraproducentes estilos tradicionais de solu­ serviços provenientes da coletividade nacional,
ções políticas. então necessitamos seriamente de um entendi­
Para os teóricos sociais, os dualismos urba­ mento sociológico adequado dessa instituição,
nos de fin-de-siècle levantam, de forma aguda, central para a modernidade e ainda marginal
a questão da adequação dos conceitos, das estru­ para a teoria e pesquisa sociais14 . Por sua vez,
turas teóricas e das abordagens herdadas de uma repensar os mecanismos que vinculam o perten-
era de organização capitalista que pode estar cimento a um gmpo e marginalidade avançada
chegando ao fim. Os “excluídos” franceses e a irá requerer um exame minucioso de quais “ins­
“subclasse” americana — na medida em que se tituições mediadoras” (LAMPHERE, 1992) ne­
possa afirmar que estas categorias pré-cons- cessitam ser inventadas para “re-solidarizar” a
truídas possuem quaisquer referências empíricas cidade e produzir a integração social que an­
estáveis12 —, ainda devem ser considerados teriormente originava-se da incorporação a uma
parte da “classe trabalhadora”, quando esta clas­ classe ou comunidade etnoracial compacta. Tu­
se encontra-se ela mesma em agonia, na verdade do isso sugere a necessidade de se ir além do
desaparecendo rapidamente na forma em que a paradigma rudimentar “Estado-mercado” que
conhecemos durante boa parte deste século? Ou implicitamente embasa muito do atual pensa­
os moradores dos bairros de excluídos devem mento nas Ciências Sociais e na política social.
ser considerados totalmente “fora” da estmtura IV. PARA UMA REVOLUÇÃO NA POLÍTI­
de classe, pois caem em uma zona de marginali­ CA DE ESTADO
dade na qual um tropismo social específico Politicamente, o início e a expansão da mar­
opera, isolando-os dos outros? De forma similar, ginalidade avançada apresentam formidáveis
não teriam as categorias de “raça” e de “imigran­ dilemas e exigem um questionamento radical
te” se tornado analiticamente problemáticas, dos modos tradicionais de intervenção estatal.
talvez até obsoletas na sua definição atual, pelo Se a inclusão no mercado de trabalho pode não
fato de seu conteúdo empírico ter se tornado ser mais uma medida segura para reduzir a po­
internamente diferenciado, instável e disperso, breza urbana — como demonstra claramente o
referido a extremamente diferentes grades de aumento contínuo das fileiras de “trabalhadores
classificação, posições sociais e experiências en­ pobres” nos Estados Unidos, enquanto a expan-
tre grupos e através do tempo?13
mar que: (i) eles são inúteis; (ii) as divisões de classes
12 Deve ficar claro que minha posição é a de que objetivas e as divisões etnoraciais repentinamente
elas não têm. Estas categorias, uma mistura de erudi­ dissiparam-se no ar; ou (iii) eles existam somente
ção com um pouco de bom senso, são o que Kenneth como conquistas “discursivas” locais, contínuas,
Burke chamou de terministic screens: elas escondem altamente maleáveis e quase fugitivas, como pensam
mais do que revelam e ainda constituem um obstáculo algumas abordagens construcionistas.
adicional ao entendimento adequado da reconfi­ 14 Veja, contudo, o marcante florescimento dos estu­
guração da marginalidade na cidade pós-fordista. dos sociológicos sobre cidadania durante os últimos
13 Com medo de que isto seja confundido com um anos, que têm contribuído para revisar o modelo ex­
chamado “pós-modernista” para rejeitar os instru­ cessivamente evolutivo, progressista e consensual
mentos indispensáveis de uma crítica e de uma “ciên­ herdado de T. H. Marshall: entre outros, HEISLER
cia concreta de realidade empírica” (WEBER, 1949), (1991), TURNER(1992), ROCHE (1992), BRUBA-
e com eles as menos imperfeitas armas intelectuais KER (1992), MORRIS (1993), JANOSKI (1993),
que temos à nossa disposição em nosso esforço para SOYSAL (1994) e os artigos apresentados na sessão
entender e modificar o mundo, sugiro que os concei­ de “Cidadania: Ligações Conceituais com o Racismo
tos de classe e raça devam ser detidamente examina­ e Conflito Étnico”, organizada por Czarina Wilpert
dos e até mesmo revisados e modificados para au­ no Congresso Mundial de Sociologia em Bremem,
mentar seu poder cognitivo. Isto é diferente de afir- 1994.
138
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 8 1997
são da força de trabalho atinge números recordes de (i) reduzir a oferta de trabalho e (ii) re-esta-
juntamente com o subemprego —, pois a própria bilizar o sistema de estratégias de reprodução e
relação salário-trabalho tomou-se uma fonte de subsistência domésticas.
insegurança econômica e de instabilidade social, Abandonando a suposição altamente discutí­
então os modelos francamente “social-demo- vel de que a grande maioria dos membros das
cratas” de intervenção estatal estão condenados sociedades desenvolvidas podem ou terão suas
a atolar, decepcionar e, eventualmente, decep­ necessidades básicas satisfeitas via emprego
cionar a si mesmos15. formal (ou pelo emprego de membros de suas
Se é verdade que as ligações funcionais entre famílias), as políticas públicas destinadas a con­
crescimento econômico e emprego, entre em­ ter a marginalidade avançada devem operar para
prego e estratégias de subsistência familiar e facilitar e suavizar o fim da subsistência através
individual via “salário-família55, têm sido subs­ do trabalho, a renda por trabalho pago e a parti­
tancialmente ineficazes e, mais do que isso, in­ cipação social proveniente de ganho salarial,
terrompidas (OFFE, 1993), então as políticas so­ fatos estes que já vem ocorrendo de maneira
ciais destinadas a combater a marginalidade desigual e casual: “caso o mercado de trabalho
avançada terão de ter um alcance “além do em­ não possa gerar segurança via renda, tal como
prego ” e fora do paradigma de mercado que as se presumia na criação do consenso social pós-
sustenta para dar apoio a soluções eficazes guerra, então, para permitir que o ‘mercado de
(OFFE e HEINZ, 1992). Devido às restrições trabalho5 opere com eficiência, a política social
crescentes da interdependência global, a “re- deve desvincular a segurança via renda do
flação” generalizada da economia está agora mercado de trabalho 55(STANDING, 1993: 57).
além do controle de qualquer país e as políticas Isso pode ser efetuado de uma só vez, ins­
de criação de emprego são claramente insufi­ tituindo-se a garantia de uma renda mínima ou
cientes para diminuir de forma consistente o de­ “um plano de renda básica 55, concedendo incon­
semprego estrutural e disfarçado (como a ex­ dicionalmente meios adequados de subsistência
periência da última década na França já nos en­ e participação social para todos os membros da
sinou). O caminho tomado pelos Estados Unidos sociedade individualmente. As sociedades capi­
(“low-level-service-jobs ”), assim como a flexi­ talistas ricas possuem meios para fazê-lo. Só lhes
bilização do trabalho estimulada pelos empre­ resta desenvolver vontade e inteligência política
gadores no todo mundo, promete somente espa­ paratanto16.
lhar a pobreza e generalizar a insegurança (FRE-
EMAN, 1993), por motivos óbvios. Se isso for feito de maneira crescente, seja
Parece restar somente uma solução viável: por expansão gradual do alcance dos programas
no curto prazo, restabelecer ou expandir os ser­ existentes de auxílio à renda, ou através de al­
viços públicos a fim de garantir provisões iguais guma criação “big bang 55ex nihilo de novíssimos
de bens públicos básicos a todas as áreas urbanas conjuntos de programas de redistribuição, ins­
e aliviar imediatamente a miséria criada pelo tituindo-se um “salário do cidadão55, será uma
desinvestimento social causado pelo corte par­
cial (na Europa Continental) e em grande escala 16 A excelente coleção de ensaios de VAN PARIJS
(nos Estados Unidos) nos gastos nas instituições (1992) apresenta argumentos a favor (e contra) a
públicas nos territórios de exclusão durante a renda mínima com base na liberdade, na igualdade,
última década (WACQUANT, 1993b); e, a lon­ na eficiência econômica (definida como a habilidade
go prazo, relaxar a obrigação de assalariamento para atingir objetivos ou promover crescimento) e
e aumentar a distribuição social com a intenção na comunidade. Veja-se também Theory andSociety
(1985), BRITTAN e WEBB (1990) e a pesquisa com­
pilada pela Citizens Income Study Centre de Londres;
15 Não precisamos discutir aqui as ciência políticas e compare-se com as avaliações dos primeiros três
conservadoras de laissezfaire et laissezpasser, pois anos do RMI da França, o plano nacional de renda
dificilmente elas levam em conta as causas da mar­ mínima garantida, feitas em CASTEL e LAÈ (1992)
ginalidade avançada na sua terapêutica. e em PAUGAM (1993).

139
O SURGIMENTO DA MARGINALIDADE AVANÇADA
medida ambiciosa que requer uma completa tar, as estratégias para o “governo da miséria”
revisão dos nossos conceitos, hoje aceitos, de (PROCACCI, 1993) terão que ser reorganizadas
trabalho, dinheiro, tempo, utilidade, previdência de modos tão drásticos que não podem ser hoje
e justiça. Van Parijs (1992: 07) acertadamente previstos. Antes da Revolução Francesa, a idéia
enxerga nisto “uma profunda reforma no mesmo de depor a monarquia era adequadamente in­
nível da abolição da escravidão ou da introdução concebível, pois como uma pessoa-criança po­
do sufrágio universal”. Ainda que possa parecer deria viver sem a orientação de seu rei-pai
impalatável, irreal e custosa, uma coisa é certa: (HUNT, 1992)? E ainda assim 1789 veio, e veio
como a persistente e crítica marginalidade do como uma tempestade. A institucionalização dos
tipo que vem contaminando cidades americanas direitos de cidadania à subsistência e ao bem-
e européias na última década continua a aumen­ estar social fora da tutela do mercado pode bem
ser a Bastilha do novo milênio.

Loic J. D. Wacquant (loic@uclink2.berkeley.edu) é Professor do Departamento de Sociologia da


Universidade da Califómia-Berkeley e Pesquisador do Centro de Sociologia Européia do Collège
de France.

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