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Lucas Alfano - Síntese 11

O artigo Quando os Humanos Começaram a Alterar o Clima, de William F. Ruddiman, discute a


hipótese do autor de que práticas agrícolas milenares acarretaram no aquecimento global, bem
antes do início da queima de carvão e dos automóveis. Desde a década de 1970 é sabido que
três ciclos orbitais da Terra em volta do Sol controlam o clima a longo prazo há milhões de anos,
com duração de 100 mil, 41 mil e 22 mil anos, diferindo a quantidade de radiação solar que chega
em diferentes partes do planeta em mais de 10%, e por três milhões de anos essas mudanças
têm produzido uma série de eras glaciais separadas por períodos interglaciais curtos e quentes.
Testemunhos de gelo das calotas polares da Antártida e da Groelândia forneceram pistas sobre
como era o clima na época que as camadas de gelo se depositaram e suas mudanças nas
concentrações de gases do efeito estufa, confirmando que as concentrações de CO2 e metano
variaram regularmente durante os últimos 400 mil anos. Por exemplo, quando os continentes
setentrionais ficam mais perto do sol durante o verão principalmente com a variação do ciclo
orbital de 22 mil anos, há em seguida um grande aporte de metano na atmosfera através de
decomposição da matéria vegetal em áreas alagadas, e que surge aceleradamente com o
derretimento de áreas boreais no extremo norte da Europa e da Ásia e também com injeções de
ar úmido em regiões antes secas no sul da Ásia, através do oceano Índico. Sabe-se a partir
desses fatores que estamos em um período interglacial, e para equivaler-se a períodos como esse
anteriores, deveríamos estar com concentrações de metano diminuindo para próximo de 450 ppb,
no entanto, essa tendência se inverteu há cerca de 5 mil anos e retornou gradualmente para
700ppb pouco antes da revolução industrial. O CO2 igualmente se comportou de maneira
inesperada nos últimos milhares de anos: mesmo que uma combinação dos três ciclos orbitais
controle sua variação, existe uma tendência padrão nos períodos interglaciais anteriores, onde
inicialmente o pico se encontrava em 275 a 300 ppm e caía gradativamente para uma média de
245ppm nos 15 mil anos seguintes. No interglacial atual as concentrações tiveram o pico inicial
esperado 10.500 anos atrás e como se esperava começaram a declinar, porém a tendência
inverteu-se há 8 mil anos e no começo da era industrial a concentração atingiu 285 ppm, 40 ppm a
mais do que o normal. O autor a partir dessas constatações concluiu que um elemento novo
deveria estar operando no sistema climático para explicar essas mudanças em relação aos 4
interglaciais anteriores, e este seria a agricultura, que se originou há cerca de 11 mil anos a leste
da bacia do Mediterrâneo. Muitas atividades agropecuárias produzem metano, como os terraços
de arroz alagados, por exemplo, onde a vegetação se decompõe na água parada. O gás também
é liberado quando lavradores queimam a vegetação, além dos homens e animais domésticos que
emitem o gás nas fezes e nos gases intestinais. No entanto, um processo pode ter sido o
responsável pela reversão abrupta há 5 mil anos, com o metano indo de um declínio contínuo a
um aumento súbito, e este seria o início da agricultura de irrigação no sul da Ásia, onde
agricultores do sul da China passaram a alagar extensas planícies de inundação ao redor de
grandes rios para plantar variedades de arroz, o que aconteceu no tempo certo para explicar as
mudanças do metano, assim como grandes quantidades de areia e argila provenientes de colinas
desmatadas foram depositadas em rios, sendo testemunhas do desmatamento muito associado à
agricultura e que explica as anomalias na curva do CO2. Baseado em modelos climáticos o efeito
combinado dessas anomalias possivelmente causadas pelos agricultores foi o aumento de 0,8°C
nas temperaturas globais um pouco antes da era industrial, que é mais alto que o aumento de
0,6°C medido no último século. A razão de um efeito tão dramático não ter sido percebida antes é
que ele acabou sendo mascarado pelos ciclos orbitais da terra que estão tendendo a um
resfriamento. Um modelo que simula o estado médio do clima na Terra desconsiderando os gases
de efeito estufa produzidos pela agricultura e emissões industriais resultou que a Terra seria
quase 2°C mais fria do que é hoje, e como consequência o planeta estaria a caminho de uma
nova era glacial, com provavelmente partes do nordeste do Canadá já cobertas de gelo. O
aquecimento rápidos dos últimos anos durará pelo menos 200 anos, que é o tempo que se prevê
para os combustíveis fósseis entrarem em declínio e então o clima no planeta deve começar a
resfriar à medida que os oceanos absorvem o CO2 em excesso, agora, o quanto e em quanto
tempo não se sabe.

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