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Terminologia
Já "antrópico" é referente àquilo que diz respeito ou procede do ser humano e suas
ações, de maneira mais genérica (do grego anthropikos, humano).[7][8] O dicionário
Michaelis define como "pertencente ou relativo ao homem ou ao período de existência
do homem na Terra".[9] O dicionário Houaiss traz até mesmo, em uma de suas
definições deste verbete, como "relativo às modificações provocadas pelo homem no
meio ambiente" — daí a preferência pelo termo "antrópico", neste artigo, para designar
as mudanças causadas pela influência humana.
HISTÓRIA DO CLIMA
A Terra, em sua longa história, já sofreu muitas mudanças climáticas globais de grande
amplitude. Isso é demonstrado por uma série de evidências físicas e por reconstruções
teóricas. Já houve épocas em que o clima era muito mais quente do que o de hoje, com
vários graus acima da temperatura média atual, tão quente que em certos períodos o
planeta deve ter ficado completamente livre de gelo. Entretanto, isso aconteceu há
milhões de anos, e suas causas foram naturais.
Cada uma das quatro últimas décadas têm sido mais quente do que a década anterior,
[12]
recordes de temperatura têm sido batidos a cada ano nos últimos anos, e evidências
recentes apontam para uma tendência de aceleração na velocidade do aquecimento nos
últimos 15 anos.[15] Esse aumento não pode ser explicado satisfatoriamente sem
levarmos em conta a influência humana. De fato, há fortes evidências indicando que o
aquecimento antrópico tem sido tão importante que reverteu uma tendência natural dos
últimos 5 mil anos de resfriamento do planeta.[14]
A atmosfera, por sua vez, é aquecida em parte pela radiação direta do Sol, mas
principalmente pelo calor refletido pela superfície da Terra, mas por virtude do efeito
estufa, ali fica retido e não se dissipa para o espaço.[17]
Causas básicas
A emissão aumentada dos gases estufa decorre de uma série de mudanças introduzidas
pela sociedade contemporânea. O fator básico é a explosão populacional, que
desencadeou a exploração dos recursos naturais em escala cada vez maior e mais rápida
a fim de atender às crescentes necessidades de energia, alimento, transporte, educação,
saúde e materiais para construção de habitações e infraestruturas e para a produção de
uma série infindável de bens de consumo e mesmo luxos supérfluos, criando-se uma
civilização que prima pelo desrespeito à natureza, pelo consumismo,
pela insustentabilidade, pelos elevados índices de desperdícios e pela vasta produção
de lixo e poluição.
Esses dados dão provas materiais seguras de que o clima está realmente esquentando.
Sensibilidade climática
Mudanças nas concentrações de gases estufa e aerossóis, na cobertura dos solos e outros
fatores interferem no equilíbrio energético do clima e provocam mudanças climáticas.
Essas interferências afetam as trocas energéticas entre o Sol, a atmosfera e a superfície
da Terra.
Modelos climáticos
Clima
Projeção das mudanças no regime anual de chuvas até o fim do século XXI. As zonas
mais azuis devem receber mais chuvas, e as mais alaranjadas devem experimentar a
maior redução.
Mais umidade (vapor de água) no ar pode também significar uma presença de mais
nuvens na atmosfera, o que, na média, poderia causar um efeito de arrefecimento. As
nuvens têm um papel importante no equilíbrio energético porque controlam a energia
que entra e a que sai do sistema. Podem arrefecer a Terra ao refletirem a luz solar para o
espaço, e podem aquecê-la por absorção da radiação infravermelha radiada pela
superfície, de um modo análogo ao dos gases estufa.
Ecossistemas e biodiversidade
Algumas espécies podem ser obrigadas a migrar até mil quilômetros ou mais em
questão de décadas a fim de encontrar zonas em que o clima seja semelhante ao da sua
região original. Poucas espécies terrestres não-voadoras terão capacidade de
mobilização tão ampla em tão exíguo intervalo de tempo, especialmente as plantas,
cujos indivíduos são imóveis e cujas espécies só migram através da dispersão de
sementes. A capacidade de mobilização das plantas é consideravelmente inferior à atual
velocidade das mudanças ambientais, e os problemas aumentam porque elas são a base
das cadeias alimentares e oferecem locais de descanso, nidificação e abrigo para
inúmeras outras espécies. Mesmo que as espécies possuam uma capacidade intrínseca
de migração rápida, em grande parte dos casos ela não ocorrerá porque os ecossistemas
mundiais foram largamente fragmentados e muitos corredores ecológicos até as zonas
mais favoráveis desapareceram pela própria mudança no clima ou
pelo desmatamento, urbanização e outras intervenções humanas, condenando
irremediavelmente as espécies que ficaram ilhadas ao declínio ou eventual extinção.[146]
Quando chegam a ocorrer, as migrações tornam as espécies migrantes invasoras de
[147]
Na região do Ártico, a que está aquecendo mais rápido,[36] com os últimos anos batendo
recordes de temperatura,[149] já foi observada uma migração de espécies
exóticas arbóreas e arbustivas perenes para uma faixa de 4ª a 7º de latitude em direção
ao norte nos últimos 30 anos, equivalendo a 9 milhões de km², invadindo sistemas
de tundra e redefinindo as características e a biodiversidade de toda essa região. Dos 26
milhões de km² de área vegetada do Ártico, de 32% a 39% já sofreram um aumento nos
índices de crescimento de vegetais no mesmo período. Prevê-se que uma faixa adicional
de 20º possa ser invadida até o fim do século por causa do aquecimento global, se a
tendência continuar.[34][36][140][150][151] O maior calor no Ártico também tem aumentado o
número e a gravidade dos incêndios na tundra e nas florestas boreais, que lançam
grandes quantidades de gases estufa na atmosfera, destroem ecossistemas e derretem
o permafrost, o solo permanentemente congelado que existe em vastas áreas do
Hemisfério Norte (e também, em menor extensão, no Sul).[152] Entre as décadas de 1950
e 1990 a espessura do gelo flutuante do oceano Ártico diminuiu em média de 1 a 3
metros, desde a década de 1970 a dimensão da sua área (km²) no período de verão
diminui em média de 3 a 4% por década, e desde 2002, com a exceção de quatro anos,
em todos os anos a redução anual na área têm batido o recorde do ano anterior. Muitas
espécies dependem deste gelo flutuante para sua sobrevivência, como as morsas,
as focas e os ursos-polares.[153] O derretimento da camada superficial do gelo continental
da Groelândia no verão também se acelera e em 2016 seus níveis se aproximam do
recorde de 2012.[149][154]
Ao mesmo tempo, são previstos alguns benefícios menores para as regiões temperadas,
como a provável redução no número de mortes devido à exposição ao frio. [22] Outro
efeito positivo possível deriva do fato de que aumentos de temperaturas e aumento de
concentrações de CO2 podem aprimorar a produtividade de certos ecossistemas, já que o
CO2 estimula a fotossíntese, o crescimento vegetal e o melhor aproveitamento da água
pelas plantas.[171][172][173] Mas os resultados das pesquisas sobre este aspecto têm sido
contraditórios. Alguns apontam um significativo aumento na produtividade, outros
indicam um aumento que depois é revertido, e outros ainda apontam para um declínio.
Por exemplo, um estudo que avaliou 47 hot-spots de florestas tropicais
[174][175][176][177][178]
de altitude em todo o mundo, indicou que a produtividade vegetal era ascendente até
meados dos anos 90, quando a tendência se inverteu de repente, sendo desde lá
registrada a diminuição na sua atividade fotossintética e no total da biomassa produzida.
Acredita-se que o fator limitante tenha sido a precipitação reduzida que acompanhou a
elevação de temperatura.[179][180] Os estudos que indicam aumento da produtividade por
causa do aumento do CO2, embora autênticos, são feitos em geral em ambiente
laboratorial controlado, analisando o efeito isolado do gás sobre as plantas, [181][182] mas
na natureza os fatores não podem ser tomados isoladamente, havendo sempre múltiplas
interações que ainda não foram bem consideradas, de modo que os efeitos positivos da
elevação de CO2 são duvidosos.[174][178][181][182][183] Pesquisas feitas em condições mais
próximas do ambiente natural atestam um índice de produtividade 50% menor do que o
acusado em ambientes controlados.[182] Outros trabalhos analisaram a produtividade de
gramíneas consumidas por bovinos no Brasil e nos Estados Unidos, revelando que a
produtividade aumentou, mas sua qualidade nutricional baixou, as folhas se tornaram
mais fibrosas e continham mais componentes indigeríveis para os animais. Previu-se
que os animais terão tendência a desenvolver menor tamanho e menos peso e serão
necessários mais investimentos para compensar as perdas.[184][185] Mesmo existindo
alguns efeitos positivos localizados, a quantidade e gravidade dos efeitos negativos em
outros domínios os torna, no balanço geral, irrelevantes.[171][174][175][178][181][182][186]
Uma outra causa de grande preocupação é a subida do nível do mar. Entre 1901 e 2010
o nível médio do mar subiu cerca de 19 centímetros, com uma faixa de variação entre
17 e 21 cm. A elevação está acelerando. Entre 1901 e 2010 o nível subiu cerca de 1,7
milímetros por ano [variação de 1,5 a 1,9 mm], 2,0 mm por ano [variação de 1,7 a
2,3 mm] entre 1971 e 2010, e 3,2 mm por ano [variação de 2,8 a 3,6 mm] entre 1993 e
2010.[187] O nível dos mares é sujeito a muitas variáveis naturais e, ao contrário do que
se poderia imaginar, é bastante desigual nas diferentes regiões oceânicas. Foi preciso ter
em conta muitos fatores para se chegar a uma estimativa do aumento do nível do mar e
o cálculo que levou à conclusão não foi simples de fazer, porque este nível é
influenciado pela constante movimentação natural da crosta terrestre, que eleva algumas
regiões enquanto outras afundam.[188][189][190]
O aquecimento global provoca subida dos mares através de dois fatores principais: o
primeiro é a expansão térmica das águas, um mecanismo pelo qual as águas se
expandem ao aquecer, ocupando maior volume. Os oceanos absorvem cerca de 90% do
calor gerado pelo efeito estufa, e por isso aquecem e se expandem.[191] Segundo informa
o IPCC, calcula-se que a expansão térmica contribua atualmente com pelo menos 0,4
(±0,1) mm de elevação anual.[76] A expansão térmica da água tem sido responsável até
agora por cerca de 50% da elevação total,[12] mas essa proporção poderá mudar
futuramente com a variação da contribuição do derretimento dos gelos.[192] Um estudo
de 2012 de Levitus et al. encontrou que se todo o calor armazenado nos oceanos desde
1995 fosse liberado de uma só vez para a atmosfera inferior (10 km), esta camada teria
sua temperatura elevada em 36 °C. Isso não vai ocorrer desta maneira, mas dá uma
medida do grande papel dos mares na dinâmica da temperatura mundial, e evidencia o
quanto eles têm retardado o aumento do aquecimento atmosférico geral. Porém, este
importante armazenamento de calor tem gerado efeitos negativos de grande amplitude
para a vida marinha. O aquecimento tem sido observado de forma consistente em todas
as bacias oceânicas do mundo, mesmo levando em conta a variabilidade regional ou
multidecadal que ocorre naturalmente, como o fenômeno do El Niño e a Oscilação do
Atlântico Norte.[193]
O segundo fator importante é o derretimento das calotas polares e dos glaciares de
montanha, que acrescenta água líquida aos mares.[76] As perdas totais de gelo mundial
entre 2005 e 2009 foram calculadas pelo 5º Relatório do IPCC em 301 gigatoneladas
por ano em média. As perdas vão continuar grandes no futuro próximo mesmo se as
temperaturas se estabilizarem imediatamente. Não há garantia de que a tendência será
reversível.[14] Dados da NASA revelam que o gelo perdido nas geleiras e calotas polares
entre 2003 e 2010 totalizou cerca de 4,3 trilhões de toneladas, adicionando cerca de 12
milímetros ao nível do mar.[194]
de metodologias novas que não foram utilizadas pelo IPCC, e que apontam para uma
aceleração no ritmo de elevação das águas.[205]
Mesmo nos cenários mais otimistas os impactos sobre o homem serão seguramente
vastos.[202][211][212][213] Muitas ilhas e regiões litorâneas baixas, onde se concentra uma
parte expressiva da população mundial e onde hoje florescem muitas megacidades,
como Hong Kong, Nova Iorque, Rio de Janeiro, Buenos Aires, serão inundadas em
graus variáveis, o que causará perdas materiais e culturais incalculáveis e provocará
migrações em massa para regiões mais elevadas, gerando novos transtornos e despesas
em larga escala.[76][132][214][215] Pelo menos oito megacidades litorâneas são construídas
sobre terrenos frágeis que estão afundando, aumentando ainda mais a rapidez do
processo de inundação.[213][216] Um estudo avaliou os custos para os Estados Unidos de
uma elevação de um metro no nível do mar: isso inundaria até 30 mil km² de costas, e
cada proprietário de terreno habitacional típico junto à costa deveria gastar de mil a dois
mil dólares em medidas de contenção das águas. No total, junto com outros custos,
seriam gastos de 270 a 475 bilhões de dólares. Isso poderia ser viável economicamente,
mas o estudo concluiu que as perturbações ambientais que a movimentação e alteração
maciça do terreno costeiro causariam poderiam ser inaceitáveis.[217] Outra pesquisa,
analisando o caso do Senegal, calculou que a elevação de um metro significaria a
inundação de 6 mil km² de terra da região mais populosa do país, provocando um êxodo
de até 180 mil pessoas e danos a propriedades que chegariam a 700 milhões de dólares,
o que equivalia, na data do estudo, a 17% do PIB nacional.[218] A elevação do nível do
mar também compromete a estrutura de internet como redes de fibra ótica e centros de
processamento de dados que foram projetados e construídos na década de 1990, quando
o aquecimento global não era tão preocupante.[219]
Bairro de New Orleans, nos Estados Unidos, com casas com água até o teto após a
passagem do furacão Katrina
deve gastar mais algumas centenas de milhões, e mesmo assim, em função do terreno
permeável onde se assenta, seu destino é incerto.[223][224] Tais obras geralmente
desencadeiam impactos ambientais sérios pela escala monumental das intervenções na
geografia e nos ecossistemas litorâneos, baixam o valor das propriedades costeiras e
limitam seu uso recreativo. O muralhamento costeiro em escala mundial, por sua vez,
além de ser em si mesmo indesejável, seria impraticável, especialmente se as previsões
mais pessimistas se confirmarem. Assim, para muitos cientistas e administradores,
tentar conter o avanço do mar na maior parte dos casos já mostrou ser uma batalha
perdida, produzindo apenas benefícios efêmeros e ilusórios, valendo mais a pena iniciar
uma retirada estratégica para o interior em larga escala em uma perspectiva de longo
prazo, a qual, para ser bem sucedida, deve ser feita com muito planejamento. Porém, o
tempo para isso está diminuindo, enquanto que a ameaça está aumentando. [213][214][215][217]
Mesmo se adotada, a solução da retirada deve enfrentar sérias dificuldades.
[225][226][227]
Poluição
Poluição atmosférica
Chuva ácida
Índice de qualidade do ar
CFC
Escurecimento global
Destilação global
Aquecimento global
Qualidade do ar interior
Buraco do ozono
PM10
Smog
Poluição da água
Eutrofização
Hipóxia (Ambiente)
Poluição marinha
Detritos marinhos
Acidificação oceânica
Maré negra
Poluição térmica
Águas residuais
Qualidade da água
Contaminação do solo
Poluição do solo
Biorremediação
Herbicida
Pesticida
Contaminação radioactiva
Radioatividade ambiental
Produtos da fissão
Cinza nuclear
Plutónio no ambiente
Envenenamento radioativo
Rádio no ambiente
Urânio no ambiente
Poluição luminosa
Poluição sonora
Radiação electromagnética
Poluição visual
v
d
e
Todos esses efeitos são agravados pela pesca excessiva. Cerca de 50% de todas as
espécies de valor comercial já estão com suas populações no limite máximo de
exploração, e cerca de 30% delas, incluindo a maioria das dez mais importantes, estão
superexploradas e em declínio rápido, devendo estar completamente esgotadas em
meados do século XXI se o declínio não for revertido.[270] Por causa dos impactos
combinados os oceanos estão sob o grave risco de sofrerem uma extinção em massa e se
tornarem ambientes muito simplificados, com uma diversidade biológica extremamente
reduzida, composta em sua grande maioria de seres microscópicos e de pequeno
tamanho.[112][252][271][272] Em 2008 haviam sido identificadas mais de 400 "zonas mortas"
em mares de todo o mundo.[268] Desde a década de 1960 o seu número tem duplicado a
cada dez anos, e prevê-se que o aparecimento de novas se acelere.[252]
Abastecimento
Saúde
O mosquito transmissor de malária tem sua multiplicação e dispersão favorecidas pelo
aumento de temperatura
Outras doenças que estão tendo condições mais favoráveis de difusão em virtude do
aquecimento são as zoonoses, aquelas que são típicas de animais mas podem
contaminar o homem. A degradação ambiental generalizada que ocorre hoje força
migrações de populações selvagens e muitas vezes elas invadem áreas habitadas pelo
homem em busca de novos locais de abrigo e alimento, facilitando as infecções. Outros
fatores colaboram ativamente neste processo, como o crescente comércio de espécies
selvagens exóticas e mudanças no uso da terra. Epidemias recentes de gripe
aviária, Vírus Ebola e síndrome respiratória aguda grave, que custaram muitas vidas e
enormes recursos financeiros, são exemplo dramáticos de zoonoses que provavelmente
se tornarão mais frequentes, e sob certas circunstâncias podem degenerar em
perigosas pandemias.[281]
A saúde geral das populações e sua capacidade de responder às novas doenças também
devem ser afetadas pelo aquecimento. O aumento nas concentrações atmosféricas de
CO2 deve favorecer a disseminação de diversos vegetais que provocam grandes
incômodos para o homem na forma de alergias, e o gás estimula a produção de pólen,
outro alérgeno importante.[168] As populações urbanas, os mais pobres, os excluídos, os
idosos, as crianças e os que já são doentes são os grupos cuja saúde é mais vulnerável às
alterações do clima,[282][283] o aquecimento é uma das principais causas do surgimento de
novas doenças,[281] e prevê-se que os problemas derivados do aquecimento sejam o
principal desafio na área da saúde no século XXI.[282][284]
Outro aspecto desafiador que vem sendo levantado recentemente é o impacto dos
problemas gerados pelo aquecimento sobre a saúde emocional e mental das populações
afetadas por desastres ambientais. Tem sido demonstrado que eventos deste tipo podem
desencadear sérias perturbações, tais como crises de ansiedade, distúrbios do
sono, depressão, estresse, risco aumentado de suicídio, de surtos de violência social e de
consumo de drogas, que se assemelham à síndrome pós-traumática, estado clínico
severo que pode levar vários anos para ser superado após um evento concreto
desencadeante, como uma inundação. A simples expectativa de que possam acontecer
desastres, por outro lado, tem gerado efeitos similares à síndrome pré-traumática, um
estado de preocupação difusa e desalento ante a possibilidade de catástrofes ou outras
perdas graves. Segundo Elizabeth Haase, professora de psiquiatria na Universidade de
Colúmbia, somente nos Estados Unidos espera-se que até 200 milhões de pessoas
desenvolvam algum tipo de problema mental em decorrência das mudanças climáticas,
e os autores de um estudo publicado na revista científica Lancet consideram que
as doenças mentais estão entre as mais perigosas ameaças indiretas do aquecimento
global.[295] O mesmo tipo de ameaça foi apontado por José Marengo, que colaborou na
elaboração do Primeiro Relatório de Avaliação Nacional sobre Mudanças Climáticas:
Outro exemplo impactante vem da Índia, que no início de 2016 experimentou uma das
mais intensas e prolongadas secas de sua história, com ondas de calor cujas
temperaturas chegaram a 51 °C, estabelecendo um novo recorde nacional. Além de
provocar a morte direta de centenas de pessoas, devastar as colheitas e causar um
grande êxodo populacional das regiões mais criticamente afetadas, o desespero diante
da calamidade climática fez com que somente na região de Maharashtra mais de 400
agricultores cometessem suicídio.[297]
uma população de 9 bilhões, e recente relatório da ONU prevê para este século um
aumento de 300 a 900% no consumo global, aumentando proporcionalmente a pressão
sobre recursos naturais cada vez mais escassos.[325]
Por causa disso, é esperada também uma escalada nas migrações populacionais, nas
guerras civis e nos conflitos internacionais violentos.[327][328] Suzana Kahn, uma das vice-
presidentes do Grupo de Trabalho III do IPCC, explica: "A alteração no ambiente
aumentará o fosso entre nações. Fugindo da seca e/ou de inundações, populações
inteiras, com muito pouco a perder, se transformarão em refugiados climáticos. Eles
serão recebidos com hostilidade, principalmente nos países mais ricos, que em sua
maioria já sofrem com o aumento da densidade demográfica nas cidades". [328] Na
primeira metade de 2019, 70% das migrações internas registradas nos países foram
causadas por desastres climáticos.[329] Em 2011 o Conselho de Segurança da
ONU reconheceu por unanimidade que as mudanças climáticas podem ser uma ameaça
para a paz e a estabilidade mundial,[330] e o tema tem recebido crescente atenção
da diplomacia internacional em função de suas múltiplas consequências econômicas,
sociais e políticas e seu caráter transnacional. Conflitos violentos como os que ocorrem
na Síria, por exemplo, que desencadeiam êxodos populacionais importantes e atritos
internacionais, têm sido em parte causados por problemas locais derivados do
aquecimento global.[331][332] Estudos recentes que analisam o desempenho das políticas
climáticas das nações vêm indicando que sociedades instáveis e violentas e com
problemas de governança crônicos tendem notoriamente a ser incapazes de gerir suas
políticas de maneira eficiente e atender às crescentes demandas de suas populações num
cenário climático em modificação, multiplicando as chances da ocorrência de falhas
críticas em sistemas vitais.[168] O último relatório do IPCC pela primeira vez reconheceu
que a instabilidade social gerada pelas mudanças climáticas tende a fortalecer os
governos de extrema-direita,[333] e o aumento nos níveis de tensão política em um mundo
de recursos em declínio e economias em erosão onde aumentem a fome e a pobreza
pode também problematizar os debates sobre a mitigação e adaptação e a assinatura de
acordos de cooperação internacional justamente quando seriam mais necessários.[334] Em
2016 o Fórum Econômico Mundial apontou o fracasso no combate ao aquecimento
como a principal ameaça global pelas suas consequências negativas sobre o ambiente, a
segurança, a geopolítica, a economia e a sociedade.[335]
"A vasta maioria dos cientistas que estudam as interações entre as pessoas e o resto da
biosfera concordam em uma conclusão central: as cinco tendências perigosas citadas
acima estão produzindo efeitos negativos, e, se continuarem, os efeitos negativos já
aparentes sobre a qualidade de vida do homem se tornarão muito piores dentro de
poucas décadas. A abundância de evidências científicas sólidas substanciando os
prejuízos foi sumarizada em muitos estudos individuais e em declarações de consenso
[...] e foi documentada em centenas de artigos publicados na literatura científica sujeita
à revisão por pares. [...] Assegurar um futuro para nossos filhos e netos que seja tão
desejável para ser vivido como a vida que levamos hoje exigirá aceitarmos que já
fizemos inadvertidamente o ecossistema global rumar em direções perigosas, e que
temos o conhecimento e o poder de colocá-lo de volta em seus eixos — mas se agirmos
agora. Esperar mais somente tornará mais difícil, se não impossível, termos sucesso, e
produzirá custos substancialmente maiores, tanto em termos monetários como em
sofrimento humano".[324]
Em geral se considera que uma ampliação do problema e as suas piores sequelas ainda
podem ser evitadas, desde que medidas radicais sejam tomadas nesta direção sem
demora.[16][160][311][312][324][337][338][339] Refletindo esse consenso, disse Paul Ehrlich que a raiz
de todo este problema planetário é cultural:
"Enquanto que a mudança climática já está na agenda política, a maior parte dos outros
desafios não está, e o entendimento do público sobre o que produz a degradação
ambiental, ou dos fenômenos naturais em geral, é mínimo. Poucos leigos estão
familiarizados com a ideia fundamental de que a degradação do ambiente é um produto
do tamanho da população humana, do consumo per capita, e dos tipos de tecnologias e
sistemas econômicos e sociais que suprem o consumo. No último século,
aproximadamente, criou-se um vasto hiato cultural entre o que a sociedade como um
todo sabe e o que cada indivíduo sabe — um hiato que se provou especialmente
problemático no caso dos representantes eleitos e outros líderes que não possuem quase
nenhum conhecimento de ciência.
"Infelizmente, levará muitas décadas até que as ações humanas produzam mudanças
significativas na atual trajetória da população. Mesmo assim, sabemos que padrões de
consumo mudam virtualmente da noite para o dia, como foi demonstrado pelas
mobilizações e desmobilizações durante a Segunda Guerra Mundial. Mudanças enormes
na produção e no consumo aconteceram nos Estados Unidos em quatro ou cinco anos, e,
durante esses anos, os americanos aceitaram racionamentos de gasolina, de açúcar e de
carne. Se são dados incentivos adequados, a economia pode se transformar muito
rapidamente. [...] É o comportamento humano, das próprias pessoas entre si e em
relação ao planeta que sustenta a todos, o que requer modificação rápida".[340]
As medições do gás carbônico atmosférico realizadas diariamente pelo Observatório de
Mauna Loa no Havaí mostram não apenas uma elevação constante nos níveis mas uma
tendência à aceleração. Note-se que a linha média não é uma reta, mas uma leve curva
ascendente. Dados do período de 1958-2015. Em 2016 já foram ultrapassadas as 409
ppm
Com o avanço nas pesquisas nos últimos anos veio a se considerar imprudente e
perigosa demais a meta de redução na emissão de gases que levaria a um aumento
máximo de 2 °C na temperatura média, meta que vigorou por muitos anos,[341] e as
comunidades científica e ambientalista conseguiram que o Acordo de Paris, celebrado
em 2015, a reduzisse para 1,5 °C.[342] De acordo com o IPCC, este nível de aquecimento,
se as tendências continuarem inalteradas, deve ser atingido antes de c. 2050 como uma
média global, mas algumas regiões podem atingi-lo antes.[343] Isso não significa que este
aquecimento possa ser atingido despreocupadamente, ao contrário, o IPCC afirma que
não existe nenhum "nível seguro" de aquecimento,[344] e qualquer elevação adicional aos
níveis atuais deveria ser evitada, pois a elevação já observada, de menos de 1 °C, já
provoca consequências de ampla repercussão, e elevações ainda maiores só podem
piorar o quadro altamente preocupante que se vive no presente.[345]
É importante lembrar outra vez que diversos efeitos dos gases estufa só se manifestam
muitos anos depois de ocorrerem as emissões, e outros são de longa duração. Os gases
estufa podem levar mais de trinta anos para produzirem efeitos em termos de
temperatura. Ou seja, o aquecimento experimentado atualmente é o resultado dos gases
emitidos até a década de 1980. Por isso, é inevitável um aquecimento adicional mesmo
se as emissões cessassem hoje totalmente, pois os gases emitidos entre os anos 80 e a
atualidade só produzirão seus efeitos daqui a algumas décadas.[80] Porém, desde então as
emissões só cresceram, e evidências recentes indicam que a tendência é não apenas
continuarem crescendo, mas também que o crescimento deve se acelerar.[15]
A acidificação do oceano, por exemplo, levará milênios para ser revertida pelos
processos naturais, e o nível do mar continuará a se elevar por séculos, podendo chegar
a vários metros acima dos níveis atuais.[207][209][317][337] Alguns gases, além disso, têm um
longo ciclo de vida, permanecendo ativos por muito tempo. De acordo com o IPCC, o
ciclo de vida dos hidrofluorocarbonetos importantes industrialmente varia de 1,4 a 270
anos. O gás carbônico, o principal gás estufa antropogênico, pode permanecer ativo na
atmosfera por até centenas de anos, e o óxido nitroso, até 114 anos. Outros gases, como
os compostos perfluorados e o hexafluoreto de enxofre, embora em menores
quantidades no total, mas muito potentes, têm ciclos ainda mais longos, que variam de
mil a 50 mil anos.[14][352]
Queimada para abertura de novas áreas para agricultura, uma prática comum que
provoca grande degradação ambiental e emite grandes quantidades de gases estufa
Não há nenhuma garantia de que todos os efeitos serão reversíveis se esta crise for
superada, nem que uma eventual recuperação levará os ecossistemas a um estado
semelhante ao que eram antes, sendo, ao contrário, virtualmente certo que eles
reemergirão transformados de maneira substancial e provavelmente muito
empobrecidos. Assim, se eles terão capacidade de sustentar a população futura
adequadamente, é questão muito duvidosa e preocupante. Além disso, as perdas na
biodiversidade por extinção são obviamente irreversíveis. O aquecimento, com seu
longo elenco de efeitos diretos e indiretos, é um dos principais agentes do declínio
contemporâneo da biodiversidade mundial, e se as tendências não mudarem levarão a
uma extinção em massa em escala global, que acarretaria resultados catastróficos para o
ambiente e também para a humanidade.[312][336][338][339][353] A atual biodiversidade da Terra
é o resultado de 3,5 bilhões de anos de evolução. Após as grandes extinções em massa
de tempos pré-históricos, uma recuperação significativa da variedade biológica sempre
exigiu muitos milhões de anos para acontecer.[354][355]
Todos esses dados apontam para a vasta magnitude do problema e indicam que muitos
efeitos persistirão para além dos horizontes da presente civilização, mesmo se as
emissões cessarem hoje, o que enfatiza a necessidade de sua redução drástica e
imediata. O Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica foi enfático ao
analisar as perspectivas de futuro:
"A maioria dos cenários futuros projeta altos índices contínuos de extinções e perda de
habitats ao longo deste século. [...] As medidas tomadas durante as duas próximas
décadas e a direção traçada no âmbito da Convenção sobre a Biodiversidade,
determinarão se as condições ambientais relativamente estáveis das quais a civilização
humana tem dependido durante os últimos 10 mil anos continuarão para além deste
século. Se não formos capazes de aproveitar essa oportunidade, muitos ecossistemas do
planeta se transformarão em novos ecossistemas, com novos arranjos sem precedentes,
nos quais a capacidade de suprir as necessidades das gerações presentes e futuras é
extremamente incerta".[353]
Porém, por mais que os resultados dos relatórios do IPCC sejam preocupantes, eles não
estão livres de críticas, e há vários anos uma expressiva quantidade de trabalhos
independentes vêm indicando que eles são excessivamente conservadores em vários
aspectos importantes, em parte devido ao fato de que as conclusões do IPCC são
adotadas no sistema do consenso, onde participam da tomada de decisão representantes
políticos das nações, que têm a tendência de minimizar as previsões mais alarmantes.
Esses estudos mostram que as mudanças climáticas estão se agravando bem mais rápido
do que o IPCC previu e que os piores cenários estimados ficam cada vez mais perto de
se concretizarem.[212][324][365][366][367][368][369][370] Além disso, Stefan Rahmstorf, pesquisador
da Universidade de Potsdam, assinalou que os cientistas em geral são muito cautelosos
no momento de fazer declarações extraordinárias e temem ser acusados de alarmismo, e
em parte a isso se deve o conservadorismo do IPCC, mas acrescenta que quando existe
uma ameaça da magnitude daquela representada pelo aquecimento global, seria mais
prudente superestimar os riscos do que subestimá-los.[367] Vários outros cientistas,
incluindo colaboradores do IPCC, além de concordarem com essas críticas, reivindicam
que os relatórios sejam mais eficientes em veicular uma mensagem de alerta
suficientemente clara para a população leiga e os criadores de políticas. [371][372] Outro
fator que colabora para justificar as críticas é o longo tempo necessário para que se
façam todas as revisões antes da publicação, o que torna os relatórios ultrapassados em
alguns aspectos assim que são divulgados, deixando de considerar muitos estudos mais
recentes.[372]
À parte essas críticas, como já foi mencionado, o próprio IPCC reconhece que à medida
que as temperaturas se elevam inevitavelmente aumentam os riscos de mudanças súbitas
e dramáticas nos efeitos do aquecimento global, [14] um risco que foi reconhecido
também por várias outras autoridades.[72][312][373][374][375] Evidências em registros
paleoclimáticos atestam que mudanças abruptas radicais no sistema do clima são não
apenas possíveis, mas já aconteceram no passado, às vezes em questão de apenas uma
década ou menos.[376][377]
Mantido o atual ritmo de emissões, diz o IPCC que a temperatura atingirá 1,5 °C entre
2030 e 2052 como uma média global, mas algumas regiões podem atingi-la antes,[343] e
até 2100, conforme as diferentes projeções, deve alcançar de 4 a 6 °C.[14] Se houver
muita demora na redução, em algum momento a quantidade de gases lançados na
atmosfera ultrapassará um ponto crítico, após o qual serão inevitáveis e irreversíveis
efeitos cumulativos devastadores.[378][379][380][381] Adicionalmente, considerando que os
esforços para combate ao aquecimento e outros agravos à natureza que atuam
em sinergia têm sido até o momento pouco efetivos, o cenário futuro não pode ser senão
sombrio.[16][311][312][317][324]
NASA projetou que "sob condições que se aproximam de perto da realidade vivida
atualmente o colapso futuro é difícil de evitar",[383] e nas palavras de Ban Ki-Moon, ex-
secretário-geral da ONU, "as tendências atuais estão nos levando cada vez mais perto de
potenciais pontos de ruptura, que reduziriam de maneira catastrófica a capacidade dos
ecossistemas de prestarem seus serviços essenciais. Os pobres, que tendem a depender
mais imediatamente deles, sofreriam primeiro e mais severamente. Estão em jogo os
principais objetivos delineados nas Metas de Desenvolvimento do Milênio: segurança
alimentar, erradicação da pobreza e uma população mais saudável".[312] Em 2018 o novo
secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que se as tendências de emissão não
mudarem radicalmente a partir de 2020 [quando entra em vigor o Acordo de Paris], "nos
arriscaremos a perder a ocasião de evitar um aquecimento descontrolado, com
consequências desastrosas para as pessoas e os sistemas naturais que nos sustentam".[387]
Alguns poucos cientistas, como Stephen Hawking, temem que o descontrole do sistema
climático possa chegar ao extremo de levar o planeta a uma condição semelhante à
de Vênus, sufocado por um efeito estufa extremo e com uma temperatura superficial de
480 °C.[388] A maioria dos cientistas, contudo, considera esse cenário impossível de se
materializar, embora considerem possível uma grande elevação da temperatura. [389] Um
aquecimento de 11 ou 12 °C pode tornar o planeta praticamente inabitável,[390] e se
projetarmos o futuro para além do limite de 2100, e considerarmos a queima de todas as
reservas conhecidas de combustíveis fósseis, projeta-se aquecimento dos continentes de
até 20 °C.[377]
Impactos no Brasil