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AQUECIMENTO GLOBAL

Aquecimento global é o processo de aumento da temperatura média dos oceanos e


da atmosfera da Terra causado por massivas emissões de gases que intensificam o efeito
estufa, originados de uma série de atividades humanas, especialmente a queima
de combustíveis fósseis e mudanças no uso da terra, como o desmatamento, bem como de
várias outras fontes secundárias.

Essas causas são um produto direto da explosão populacional, do crescimento econômico,


do uso de tecnologias e fontes de energia poluidoras e de um estilo de vida insustentável,
em que a natureza é vista como matéria-prima para exploração. Os principais gases do
efeito estufa emitidos pelo homem são o dióxido de carbono (ou gás carbônico, CO2) e
o metano (CH4). Esses e outros gases atuam obstruindo a dissipação do calor terrestre
para o espaço. O aumento de temperatura vem ocorrendo desde meados do século XIX e
deverá continuar enquanto as emissões continuarem elevadas.

O aumento nas temperaturas globais e a nova composição da atmosfera desencadeiam


alterações importantes em virtualmente todos os sistemas e ciclos naturais da Terra.

Afetam os mares, provocando a elevação do seu nível e mudanças nas correntes marinhas e


na composição química da água, verificandose acidificação, dessalinização e desoxigenação.

Interferem no ritmo das estações e nos ciclos da água, do carbono, do nitrogênio e outros


compostos. Causam o degelo das calotas polares, do solo congelado das regiões frias
(permafrost) e dos glaciares de montanha, modificando ecossistemas e reduzindo a
disponibilidade de água potável.

As mudanças produzidas pelo aquecimento global nos sistemas biológicos, químicos e


físicos do planeta são vastas, algumas são de longa duração e outras são irreversíveis, e
provocam uma grande redistribuição geográfica da biodiversidade, o declínio
populacional de grande número de espécies, modificam e desestruturam ecossistemas em
larga escala, e geram por consequência problemas sérios para a produção de alimentos, o
suprimento de água e a produção de bens diversos para a humanidade, benefícios que
dependem da estabilidade do clima e da integridade da biodiversidade. Esses efeitos são
intimamente inter-relacionados, influem uns sobre os outros amplificando seus impactos
negativos e produzindo novos fatores para a intensificação do aquecimento global. O
aquecimento e as suas consequências serão diferentes de região para região, e o Ártico é a
região que está aquecendo mais rápido. A natureza e o alcance dessas variações regionais
ainda são difíceis de prever de maneira exata, mas sabe-se que nenhuma região do mundo
será poupada de mudanças.

Muitas serão penalizadas pesadamente, especialmente as mais pobres e com menos


recursos para adaptação. Mesmo que as emissões de gases estufa cessem imediatamente,
a temperatura continuará a subir por mais algumas décadas, pois o efeito dos gases
emitidos não se manifesta de imediato e eles permanecem ativos por muito tempo. É
evidente que uma redução drástica das emissões não acontecerá logo, por isso haverá
necessidade de adaptação às consequências inevitáveis do aquecimento. Uma vez que as
consequências serão tão mais graves quanto maiores as emissões de gases estufa, é
importante que se inicie a diminuição destas emissões o mais rápido possível, a fim de
minimizar os impactos sobre esta e as futuras gerações.

A Organização das Nações Unidas publica um relatório periódico sintetizando os


estudos feitos sobre o aquecimento global em todo o mundo, através do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC

Terminologia

O termo "aquecimento global" é um tipo específico de mudança climática à escala


global. No uso comum, o termo se refere ao aquecimento ocorrido nas décadas recentes
devido à influência humana.[1] O termo "alteração climática antrópica" equivale às
mudanças no clima causadas pelo homem.

Já "antrópico" é referente àquilo que diz respeito ou procede do ser humano e suas
ações, de maneira mais genérica (do grego anthropikos, humano).[7][8] O dicionário
Michaelis define como "pertencente ou relativo ao homem ou ao período de existência
do homem na Terra".[9] O dicionário Houaiss traz até mesmo, em uma de suas
definições deste verbete, como "relativo às modificações provocadas pelo homem no
meio ambiente" — daí a preferência pelo termo "antrópico", neste artigo, para designar
as mudanças causadas pela influência humana.
HISTÓRIA DO CLIMA

Estimativas da variação da temperatura na Terra nos últimos 2000 anos

Variação da temperatura média global de 1880 até 2013

A Terra, em sua longa história, já sofreu muitas mudanças climáticas globais de grande
amplitude. Isso é demonstrado por uma série de evidências físicas e por reconstruções
teóricas. Já houve épocas em que o clima era muito mais quente do que o de hoje, com
vários graus acima da temperatura média atual, tão quente que em certos períodos o
planeta deve ter ficado completamente livre de gelo. Entretanto, isso aconteceu há
milhões de anos, e suas causas foram naturais.

Cada uma das quatro últimas décadas têm sido mais quente do que a década anterior,
[12]
 recordes de temperatura têm sido batidos a cada ano nos últimos anos, e evidências
recentes apontam para uma tendência de aceleração na velocidade do aquecimento nos
últimos 15 anos.[15] Esse aumento não pode ser explicado satisfatoriamente sem
levarmos em conta a influência humana. De fato, há fortes evidências indicando que o
aquecimento antrópico tem sido tão importante que reverteu uma tendência natural dos
últimos 5 mil anos de resfriamento do planeta.[14]

Emissões antrópicas de alguns poluentes — em especial aerossóis de sulfato — podem


gerar um efeito refrigerante através do aumento do reflexo da luz incidente. Isso explica
em parte o resfriamento observado no meio do século XX, embora isso possa também
ser atribuído em parte à variabilidade natural.[16]
O efeito estufa e o aquecimento global

Por efeito estufa entende-se a retenção de calor pela atmosfera, impedindo-o de se


dissipar no espaço. A origem primária deste calor é o Sol, que continuamente emite
imensas quantidades de radiação em vários comprimentos de onda, incluindo a luz
visível e a radiação térmica (calor), mas também em comprimentos não observáveis
pelo ser humano sem a ajuda de instrumentos, como o ultravioleta. Cerca de um terço
da radiação que a Terra recebe do Sol é refletida pela atmosfera de volta para o espaço,
mas dois terços dela chegam à superfície, sendo absorvida pelos continentes e oceanos,
fazendo com que aqueçam.

A atmosfera, por sua vez, é aquecida em parte pela radiação direta do Sol, mas
principalmente pelo calor refletido pela superfície da Terra, mas por virtude do efeito
estufa, ali fica retido e não se dissipa para o espaço.[17]

O efeito estufa é um mecanismo natural fundamental para a preservação da vida no


mundo e para a regulação e suavização do clima global, que oscilaria entre extremos
diariamente, caso ele não existisse. O efeito estufa funciona como um amortecedor de
extremos. Sem ele, a Terra seria cerca de 30 °C mais fria do que é hoje. Provavelmente
ainda poderia abrigar vida, mas ela seria muito diferente da que conhecemos e o planeta
seria um lugar bastante hostil para a espécie humana viver. [18] Porém, mudanças na
composição atmosférica podem desequilibrá-lo. O que ocorre hoje, em vista da
mudança na composição atmosférica provocada pela emissão continuada e massiva de
diversos gases, é sua intensificação, fazendo com que passe a abafar demais o planeta.
[16][19][20]

Vários gases obstruem a perda de calor da atmosfera, chamados em conjunto gases do


efeito estufa ou, abreviadamente, gases estufa. Eles têm a propriedade de serem
transparentes à radiação na faixa da luz visível, mas são retentores de radiação térmica.
Os mais importantes são o vapor d'água, o gás carbônico (dióxido de carbono ou CO2),
o metano (CH4), o óxido nitroso (NO2) e o ozônio (O3).[21] Apesar de em proporções
absolutas o vapor d'água e o gás carbônico serem os mais efetivos, por existirem em
maiores quantidades, a potência desses gases, comparada individualmente, é muito
distinta. O metano, por exemplo, é de 20 a 30 vezes mais potente que o gás carbônico.
[16]
 Não só os gases estufa vêm aumentando. O crescimento das concentrações de
poluentes aerossóis, que bloqueiam parte da radiação solar antes que atinja a superfície,
e tendem a provocar um resfriamento, contribuiu para retardar o processo de
aquecimento global.[16]

Causas básicas

A emissão aumentada dos gases estufa decorre de uma série de mudanças introduzidas
pela sociedade contemporânea. O fator básico é a explosão populacional, que
desencadeou a exploração dos recursos naturais em escala cada vez maior e mais rápida
a fim de atender às crescentes necessidades de energia, alimento, transporte, educação,
saúde e materiais para construção de habitações e infraestruturas e para a produção de
uma série infindável de bens de consumo e mesmo luxos supérfluos, criando-se uma
civilização que prima pelo desrespeito à natureza, pelo consumismo,
pela insustentabilidade, pelos elevados índices de desperdícios e pela vasta produção
de lixo e poluição.

Evidências do aquecimento global

Recuo do Glaciar McCarty entre 1909 e 2004

Que está em andamento um aquecimento generalizado do planeta é fato comprovado


por várias evidências concretas, e reconhecido como inequívoco pelo consenso dos
climatologistas. As evidências são recolhidas através de estações meteorológicas,
registros de paleoclima, batitermógrafos, satélites, entre outros métodos de
medição. Elas incluem:

 O aumento na temperatura da atmosfera sobre terras e mares. Cada uma das


quatro últimas décadas foi mais quente que a década anterior. Entre 2001 e 2020
a média global de aumento da temperatura foi de 0,99 °C maior que no período
de 1850-1900. Entre 2011 e 2021 a média de aumento foi de 1,09 °C. Os
continentes estão aquecendo mais rápido do que os oceanos. Nos continentes a
média de aumento foi de 1,59 °C e nos oceanos de 0,88 °C.[12]

 O aumento no nível de umidade atmosférica, possível graças à capacidade do ar


quente reter mais vapor de água do que o ar frio;

 A retração da vasta maioria das geleiras;


 A diminuição da área coberta por neve;[16][30][32]

 A retração do gelo oceânico global;[16][30][33]

 Migração de muitas espécies animais e vegetais de climas mais quentes em


direção aos pólos, ou a altitudes mais elevadas;[16][34][35][36]

 O aumento da temperatura do mar, com o resultado de elevar-se o seu


nível pela expansão térmica;[16][30]

 O adiantamento da ocorrência de eventos associados à primavera, como as


cheias de rios e lagos decorrentes de degelo, brotamento de plantas e migrações
de animais.[16]

Esses dados dão provas materiais seguras de que o clima está realmente esquentando.

Evidências da origem humana do aquecimento

Em tese, vários fatores poderiam ser responsáveis por um aquecimento do sistema


climático terrestre. Modificações na composição do ar por causas naturais já ocorreram
antes na história da Terra, produzindo mudanças climáticas e ecológicas às vezes em
larga escala.[37] O diferencial contemporâneo é que mudanças importantes estão sendo
agora induzidas pelo homem, cujas atividades geram gases estufa e os liberam na
atmosfera, aumentando a sua concentração e provocando finalmente um aumento na
retenção geral de calor.[38] As evidências observadas, sintetizadas principalmente
no Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas, apontam que o aquecimento é uma realidade inequívoca e que sua origem
deriva principalmente do efeito estufa intensificado pela atividade humana.[14] É
extremamente improvável que essas mudanças possam ser explicadas por causas
naturais, especialmente considerando que nos últimos 50 anos a tendência das causas
naturais sozinhas teria sido provavelmente resfriar o planeta.[39] A responsabilização das
atividades humanas por esta amplificação é apoiada por várias evidências:
Variação da concentração atmosférica de CO2 nos últimos 400 mil anos

Curvas de concentração na atmosfera de vários gases estufa no período 1976-2013:


CO2, N2O, CH4, CFC-12, CFC-11, HCFC-22 e HFC-134a. Apenas dois, dos menos
importantes, mostram declínio recente. Todos os outros, inclusive os mais potentes,
cresceram constantemente

 A composição isotópica do gás carbônico atmosférico (CO2) indica que tem


principalmente origem fóssil, derivando da combustão do petróleo, do gás
natural e do carvão mineral, combustíveis fósseis de uso generalizado na
sociedade moderna.

A quantidade de O2 também tem diminuído de forma consistente com a liberação de


CO2 por meio de combustão.[19][40] Nos últimos 800 mil anos a concentração de
CO2 atmosférico manteve-se relativamente estável, variando de 170 a 300 ppm (partes
por milhão). Contudo, desde a Revolução Industrial, iniciada em meados do século
XVIII, a concentração atmosférica aumentou aproximadamente 35%, ultrapassando as
410 ppm em 2011, resultado da emissão de cerca de 375 bilhões de toneladas de gás
desde 1750 até 2011 somente nas áreas de combustíveis fósseis e produção de cimento.
(Um bilhão de toneladas equivale a 1 gigatonelada). De 100 a 260 bilhões de toneladas
a mais foram emitidas no mesmo período por mudanças no uso da terra, principalmente
o desmatamento nas regiões tropicais.

Análise de hipóteses alternativas

Uma explicação "alternativa" popular é que o aquecimento recente poderia ser


originado por maior atividade solar. À luz das evidências, entretanto, esta hipótese não
se confirma. Neste caso, as temperaturas subiriam mais quando o sol está mais presente:
durante o verão, e durante o dia; não haveria aumento de retenção de energia na
atmosfera nas faixas de frequência dos gases estufa; e teria de haver aumento da
atividade solar que justificasse, quantitativamente, o aquecimento observado. Ao
contrário, não há tendência de aumento dessa atividade pelo menos nos últimos 60 anos.
É certo que, na história geológica de nosso planeta, variações de irradiância solar
tiveram consequências climáticas importantes. Todavia, o aquecimento das últimas
décadas não pode ser atribuído a isso.[19][53][54][55]
Distribuição geográfica

O aquecimento verificado não é globalmente uniforme, o que era previsto em teoria já


desde o trabalho seminal de Svante Arrhenius no fim do século XIX.[56] Os modelos
climáticos esperavam que as regiões polares fossem as mais afetadas,[16][57] que os
continentes aqueceriam mais do que os oceanos, e que o Hemisfério Norte aqueceria
mais que o Sul. Os registros confirmam a previsão e indicam que a região
do Ártico aumentou suas temperaturas duas vezes mais rápido do que a média mundial
nos últimos 100 anos.[16] Algumas partes do Ártico já se aqueceram 4 °C desde a década
de 1960, enquanto a média mundial elevou-se menos de 1 °C em todo o século XX.[60] A
maioria das projeções teóricas espera que o Ártico continue a experimentar os maiores
índices de aquecimento.

Perspectiva de aquecimento futuro

Por várias questões práticas, os modelos climáticos referenciados pelo IPCC


normalmente limitam suas projeções até o ano de 2100. São análises globais, e por isso
não oferecem grande definição de detalhes. Embora isso gere mais incerteza para
previsão das manifestações regionais e locais do fenômeno, as tendências globais já
foram bem estabelecidas e têm se provado confiáveis.[70] Os modelos usam para seus
cálculos diferentes possibilidades (cenários) de evolução futura das emissões de gases
estufa pela humanidade, de acordo com tendências de consumo, produção, crescimento
populacional, aproveitamento de recursos naturais, etc. Estes cenários são todos
igualmente plausíveis, mas não se pode ainda determinar qual deles se materializará,
uma vez que dependem de desdobramentos imprevisíveis, como a evolução tecnológica
e a adoção ou não de políticas de mitigação. Considerando estes vários cenários, em seu
5º Relatório o IPCC previu que até 2100 a temperatura média global deve ficar mais
provavelmente na faixa de 1,5 °C a 4 °C acima dos valores pré-industriais, com alguns
cenários indicando até 6 °C.[14] As estimativas mais recentes, contudo, apresentadas na
Conferência do Clima de 2019 pelo secretário-geral das Nações Unidas, apontam para
uma elevação de 3,4 °C a 3,9 °C até 2100.[71] Embora níveis mais elevados sejam
considerados menos prováveis, não está excluída a possibilidade de mudanças abruptas
e radicais imprevisíveis nos parâmetros do clima, e essa possibilidade aumenta à medida
que a temperatura aumenta.

Bases técnicas para medição e avaliação do aquecimento


Determinação da temperatura global à superfície

A determinação da temperatura global à superfície é feita a partir de dados recolhidos


em terra, sobretudo em estações de medição de temperatura em cidades, e nos oceanos,
por meio de navios e batitermógrafos. É feita uma seleção das estações a considerar, que
são as tidas como mais confiáveis, e é feita uma correção no caso de estas se
encontrarem perto de urbanizações, a fim de compensar o efeito de "ilha de calor"
criado nas cidades. As tendências de todas as seções são então combinadas para se
chegar a uma anomalia de temperatura global – o desvio apurado a partir de uma
determinada temperatura média de referência.

O método de cálculo varia segundo os procedimentos de cada instituição de pesquisa.


Por exemplo, no Met Office do Reino Unido, o globo é dividido em seções (por ex.,
quadriláteros de 5º latitude por 5º longitude) e é calculada uma média ponderada da
temperatura mensal média das estações escolhidas em cada seção. As seções para as
quais não existem dados são deixadas em branco, sem as estimar a partir das seções
vizinhas, e não entram nos cálculos.

Sensibilidade climática

Várias estimativas de sensibilidade climática, a partir de diferentes abordagens. O


círculo representa o valor mais provável de cada estimativa. A faixa representa a
margem de incerteza abrangendo mais de 66% da probabilidade

Mudanças nas concentrações de gases estufa e aerossóis, na cobertura dos solos e outros
fatores interferem no equilíbrio energético do clima e provocam mudanças climáticas.
Essas interferências afetam as trocas energéticas entre o Sol, a atmosfera e a superfície
da Terra.

Modelos climáticos

Um modelo climático é uma representação matemática de cinco componentes do


sistema climático: atmosfera, hidrosfera (águas), criosfera (ambientes gelados),
superfície continental e biosfera (seres vivos).  Estes modelos se baseiam em princípios
físicos que incluem dinâmica de fluidos, termodinâmica e transporte radiativo. Podem
incluir componentes que representam os padrões de ventos, temperatura do ar,
densidade e comportamento de nuvens, e outras propriedades atmosféricas; temperatura
Consequências

Clima

Projeção das mudanças no regime anual de chuvas até o fim do século XXI. As zonas
mais azuis devem receber mais chuvas, e as mais alaranjadas devem experimentar a
maior redução.

O mapa mostra que praticamente toda a área de produção agropecuária do Brasil, e


grandes biomas úmidos que dependem vitalmente de água e chuva abundantes, como
o Pantanal e a Mata Atlântica, estão sob ameaça de tornarem significativamente mais
secos. Outros que naturalmente têm menos precipitação, como o Cerrado e a Caatinga,
também devem ter seu equilíbrio afetado negativamente.

O aquecimento da atmosfera aumenta sua capacidade de reter vapor d'água, bem como


aumenta a evaporação das águas superficiais (oceanos, lagos e rios).

O ciclone Nargis. O aumento da ocorrência ou intensidade de fenômenos de clima


extremo como esses é uma consequência provável do aquecimento global

Também estão previstas mudanças no padrão dos ventos e o aumento na frequência e


intensidade das tempestades severas e das ondas de calor extremo. Mesmo os eventos
climáticos normais devem sofrer alguma intensificação, pois todo o sistema do clima
está mais quente e úmido.

Mais umidade (vapor de água) no ar pode também significar uma presença de mais
nuvens na atmosfera, o que, na média, poderia causar um efeito de arrefecimento. As
nuvens têm um papel importante no equilíbrio energético porque controlam a energia
que entra e a que sai do sistema. Podem arrefecer a Terra ao refletirem a luz solar para o
espaço, e podem aquecê-la por absorção da radiação infravermelha radiada pela
superfície, de um modo análogo ao dos gases estufa.
Ecossistemas e biodiversidade

Projeção do aquecimento global até meados do século XXI

O aumento da temperatura global, junto com seus efeitos secundários (diminuição da


cobertura de gelo, subida do nível do mar, mudanças dos padrões climáticos, etc.),
provocam importantes alterações nas condições que mantém estáveis os ecossistemas,
influindo negativamente, por extensão, nas atividades humanas.[16] Uma consequência
abrangente do aquecimento é a "contração latitudinal", na qual as zonas
climáticas tendem a se deslocar em direção aos polos e às altitudes mais elevadas. Este
fenômeno já tem sido observado há algumas décadas, e tem impacto grave na
estabilidade dos ecossistemas.

A mudança nas zonas climáticas provoca em todas as regiões um desarranjo no ciclo


das estações. No Hemisfério Norte a primavera tem chegado de seis a dez dias mais
cedo do que o fazia na década de 1950. Os eventos associados à chegada são, por
exemplo, a data da última geada de inverno e o aparecimento dos primeiros brotos
novos nas plantas depois do período de perda das folhas. Da mesma forma, os eventos
associados à chegada do outono têm sofrido atraso de cerca de seis dias. O degelo
antecipado das neves tem causado inundações, e o maior calor tem ressecado mais os
solos, de modo que no fim do verão os estoques de água se tornam mais escassos e têm
ocorrido mais incêndios florestais. Nas regiões de tundra os rios têm degelado mais
cedo e alguns já não congelam completamente, e a área coberta por neve reduziu
significativamente nas últimas décadas.[142][143] Essas mudanças têm gerado efeitos
variados sobre a biodiversidade. A disponibilidade de alimento e os ciclos de
reprodução e crescimento dos animais e plantas estão intimamente ligados às estações e
aos parâmetros do clima. As aves, por exemplo, podem se ajustar com alguma
facilidade às mudanças nas estações voando para regiões onde as condições são
adequadas para a época de nascimento dos filhotes, mas nos novos locais a oferta de
alimento não é a mesma que em suas regiões originais, e o período de sua maior
abundância nem sempre coincide com o período de alimentação das ninhadas.[143] O
degelo antecipado dos rios interfere de maneira semelhante nos ciclos reprodutivos de
espécies aquáticas e no das que dependem delas para sua própria alimentação, como
aves e mamíferos.[143] Todas as espécies devem ser prejudicadas em alguma medida,
mas as espécies das zonas tropicais e equatoriais são especialmente vulneráveis porque
de modo geral têm baixa tolerância a mudanças duradouras nos padrões de temperatura
e, por conseguinte, baixa capacidade adaptativa, habituadas a viver em zonas cujo clima
normalmente pouco varia ao longo do ano.[144][145] Também são sensíveis espécies que já
estão ameaçadas ou são raras, as migratórias, as polares, montanhosas e insulares, as
geneticamente empobrecidas e as muito especializadas.[141]

Algumas espécies podem ser obrigadas a migrar até mil quilômetros ou mais em
questão de décadas a fim de encontrar zonas em que o clima seja semelhante ao da sua
região original. Poucas espécies terrestres não-voadoras terão capacidade de
mobilização tão ampla em tão exíguo intervalo de tempo, especialmente as plantas,
cujos indivíduos são imóveis e cujas espécies só migram através da dispersão de
sementes. A capacidade de mobilização das plantas é consideravelmente inferior à atual
velocidade das mudanças ambientais, e os problemas aumentam porque elas são a base
das cadeias alimentares e oferecem locais de descanso, nidificação e abrigo para
inúmeras outras espécies. Mesmo que as espécies possuam uma capacidade intrínseca
de migração rápida, em grande parte dos casos ela não ocorrerá porque os ecossistemas
mundiais foram largamente fragmentados e muitos corredores ecológicos até as zonas
mais favoráveis desapareceram pela própria mudança no clima ou
pelo desmatamento, urbanização e outras intervenções humanas, condenando
irremediavelmente as espécies que ficaram ilhadas ao declínio ou eventual extinção.[146]
 Quando chegam a ocorrer, as migrações tornam as espécies migrantes invasoras de
[147]

ecossistemas diferentes, entrando em competição com as espécies nativas, podendo


levar estas últimas a um declínio populacional ou extinção, mas nem sempre as
invasoras se adaptam bem aos novos ambientes e podem da mesma maneira
desaparecer. Uma vasta redistribuição geográfica da biodiversidade está ora em
andamento por força do aquecimento global.[141][148]
Declínio na quantidade de gelo flutuante no oceano Ártico entre 2012 e 1984

O degelo do permafrost abalou as fundações desta casa na Sibéria

Na região do Ártico, a que está aquecendo mais rápido,[36] com os últimos anos batendo
recordes de temperatura,[149] já foi observada uma migração de espécies
exóticas arbóreas e arbustivas perenes para uma faixa de 4ª a 7º de latitude em direção
ao norte nos últimos 30 anos, equivalendo a 9 milhões de km², invadindo sistemas
de tundra e redefinindo as características e a biodiversidade de toda essa região. Dos 26
milhões de km² de área vegetada do Ártico, de 32% a 39% já sofreram um aumento nos
índices de crescimento de vegetais no mesmo período. Prevê-se que uma faixa adicional
de 20º possa ser invadida até o fim do século por causa do aquecimento global, se a
tendência continuar.[34][36][140][150][151] O maior calor no Ártico também tem aumentado o
número e a gravidade dos incêndios na tundra e nas florestas boreais, que lançam
grandes quantidades de gases estufa na atmosfera, destroem ecossistemas e derretem
o permafrost, o solo permanentemente congelado que existe em vastas áreas do
Hemisfério Norte (e também, em menor extensão, no Sul).[152] Entre as décadas de 1950
e 1990 a espessura do gelo flutuante do oceano Ártico diminuiu em média de 1 a 3
metros, desde a década de 1970 a dimensão da sua área (km²) no período de verão
diminui em média de 3 a 4% por década, e desde 2002, com a exceção de quatro anos,
em todos os anos a redução anual na área têm batido o recorde do ano anterior. Muitas
espécies dependem deste gelo flutuante para sua sobrevivência, como as morsas,
as focas e os ursos-polares.[153] O derretimento da camada superficial do gelo continental
da Groelândia no verão também se acelera e em 2016 seus níveis se aproximam do
recorde de 2012.[149][154]

Outro efeito preocupante nas regiões frias é o derretimento do permafrost. Cerca de


24% do solo exposto do Hemisfério Norte é de permafrost, que pode chegar a uma
profundidade de até 700 m.[14] Este solo preserva grandes quantidades de carbono fixado
na matéria orgânica, principalmente nas formas de gás carbônico e metano, até agora
congelados e inertes. Calcula-se que haja de 1 400 a 1 850 gigatoneladas de carbono
estocadas no permafrost global, concentradas, ao que parece, especialmente em seus 3
metros superficiais, exatamente onde fica mais exposto às variações do clima. A
liberação de todo esse gás congelado para a atmosfera amplificaria o efeito estufa de
maneira dramática, adicionando cerca de duas vezes mais carbono do que o encontrado
na atmosfera atualmente, que está em torno de 850 gigatoneladas. [72][155] Em várias
regiões já está sendo observado um rápido derretimento, que vem acelerando nos
últimos anos.[156][157] Outros efeitos do derretimento são estruturais. Este solo congelado
é frágil, é facilmente degradado pela erosão e pela intervenção humana, está sempre em
movimento naturalmente, seja pela expansão do gelo subterrâneo no inverno, seja pelos
derretimentos superficiais no verão, quando fica encharcado e fluido, e sua conservação
está ligada a muitas variáveis. De firmeza sempre um tanto precária, o derretimento
mais acelerado dos solos permafrost pode ter um impacto importante nas regiões onde
há estruturas humanas construídas sobre ele, como oleodutos, estradas, represas, linhas
de transmissão energética e cidades, como evidenciam diversos exemplos de
desabamentos já ocorridos. Entre os impactos ecossistêmicos previstos do derretimento
do permafrost estão a redistribuição e declínio de espécies, intensificação de incêndios
florestais, alterações nos sistemas hidrológicos, assoreamento e secura de rios e lagos e
erosão de suas margens.[158][159]
Esses efeitos se combinam e reforçam mutuamente, e têm um grande impacto no atual
ritmo de extinções; de fato, o aquecimento está entre as principais causas do declínio
recente da biodiversidade, e vem ganhando crescente importância relativa no total.[141]
 O progressivo declínio faz com que as cadeias alimentares se rompam, o ciclo
[160][161]

dos componentes inorgânicos se perturbe, e o processo entrópico se auto-reforce. Além


de certo ponto, os ecossistemas tendem a entrar em colapso irreversível. [132][162] Algumas
pesquisas servem de exemplo das vastas implicações do problema. Um estudo prevê
que 18% a 35% de 1 103 espécies de plantas e animais observadas serão extintas até
2050, baseado nas projeções do clima no futuro.[163] Outro estudo indica que 34% dos
animais e 57% das plantas do mundo devem perder cerca de metade de seus habitats até
2080 em virtude do aquecimento.[164] De acordo com o IPCC um aquecimento de 2 °C
exterminará mais de 99% dos corais de todo o mundo. [165] Os corais formam os mais
ricos ecossistemas marinhos e são a base de sustentação de um grande número de
espécies.[166] Uma revisão da bibliografia publicada em 2019 indicou que cerca de 40%
das espécies de insetos estão sofrendo um declínio dramático e podem estar extintas em
poucas décadas, sendo o aquecimento uma das causas, de especial relevo nas regiões
tropicais. Os insetos estão na base de muitos ciclos naturais e cadeias alimentares e são
os principais polinizadores das plantas com flores e das culturas agrícolas, e seu
desaparecimento em tal escala teria consequências catastróficas para a biodiversidade e
para a sociedade.[167] Já se tornou um consenso que o aquecimento provocará um grave
empobrecimento da biodiversidade.[168] A União Internacional para a Conservação da
Natureza indica que um aquecimento em níveis elevados, acima de 3,5 °C, causará uma
extinção provável de até 70% de todas as espécies conhecidas,[169] e segundo a
pesquisadora Rachel Warren, da Universidade de East Anglia, "a mudança climática
reduzirá em muito a biodiversidade, mesmo para animais e plantas comuns".
 Analisando volumosa bibliografia recente o IPCC em seu 5º Relatório admitiu pela
[164]

primeira vez "com alto grau de confiança" a extinção de "significativo" número de


espécies se a temperatura subir mais do que 2 °C, e se subir a 4 °C o número de
extinções deve ser "extenso", apontando que isso deve produzir efeitos negativos para o
homem em larga escala.[168] Além disso, as perdas de ecossistemas e biodiversidade
contribuem para aumentar o aquecimento global pela liberação para a atmosfera de
grandes quantidades de carbono estocado nas formas vivas e pelas mudanças que
induzem no equilíbrio entre biomassa e energia.[170]
O mapa à esquerda mostra a distribuição média do CO2 em 2011. Note-se como há
grande variação regional. Os dois mapas pequenos à direita mostram as variações
sazonais. O gráfico abaixo mostra a curva de elevação da concentração do
CO2 atmosférico

Ao mesmo tempo, são previstos alguns benefícios menores para as regiões temperadas,
como a provável redução no número de mortes devido à exposição ao frio. [22] Outro
efeito positivo possível deriva do fato de que aumentos de temperaturas e aumento de
concentrações de CO2 podem aprimorar a produtividade de certos ecossistemas, já que o
CO2 estimula a fotossíntese, o crescimento vegetal e o melhor aproveitamento da água
pelas plantas.[171][172][173] Mas os resultados das pesquisas sobre este aspecto têm sido
contraditórios. Alguns apontam um significativo aumento na produtividade, outros
indicam um aumento que depois é revertido, e outros ainda apontam para um declínio.
 Por exemplo, um estudo que avaliou 47 hot-spots de florestas tropicais
[174][175][176][177][178]

de altitude em todo o mundo, indicou que a produtividade vegetal era ascendente até
meados dos anos 90, quando a tendência se inverteu de repente, sendo desde lá
registrada a diminuição na sua atividade fotossintética e no total da biomassa produzida.
Acredita-se que o fator limitante tenha sido a precipitação reduzida que acompanhou a
elevação de temperatura.[179][180] Os estudos que indicam aumento da produtividade por
causa do aumento do CO2, embora autênticos, são feitos em geral em ambiente
laboratorial controlado, analisando o efeito isolado do gás sobre as plantas, [181][182] mas
na natureza os fatores não podem ser tomados isoladamente, havendo sempre múltiplas
interações que ainda não foram bem consideradas, de modo que os efeitos positivos da
elevação de CO2 são duvidosos.[174][178][181][182][183] Pesquisas feitas em condições mais
próximas do ambiente natural atestam um índice de produtividade 50% menor do que o
acusado em ambientes controlados.[182] Outros trabalhos analisaram a produtividade de
gramíneas consumidas por bovinos no Brasil e nos Estados Unidos, revelando que a
produtividade aumentou, mas sua qualidade nutricional baixou, as folhas se tornaram
mais fibrosas e continham mais componentes indigeríveis para os animais. Previu-se
que os animais terão tendência a desenvolver menor tamanho e menos peso e serão
necessários mais investimentos para compensar as perdas.[184][185] Mesmo existindo
alguns efeitos positivos localizados, a quantidade e gravidade dos efeitos negativos em
outros domínios os torna, no balanço geral, irrelevantes.[171][174][175][178][181][182][186]

Efeitos sobre o mar

Aquecimento das águas e elevação do nível do mar

Ver artigo principal: Subida do nível do mar, Aquecimento oceânico

Mapa indicando as variações regionais no nível do mar entre 1993 e 2010

Elevação recente do nível médio dos oceanos


Gráfico mostrando a taxa de aquecimento médio dos oceanos entre 1957 e 2013. O
gráfico aponta para uma aceleração na taxa de aquecimento no período mais recente

Uma outra causa de grande preocupação é a subida do nível do mar. Entre 1901 e 2010
o nível médio do mar subiu cerca de 19 centímetros, com uma faixa de variação entre
17 e 21 cm. A elevação está acelerando. Entre 1901 e 2010 o nível subiu cerca de 1,7
milímetros por ano [variação de 1,5 a 1,9 mm], 2,0 mm por ano [variação de 1,7 a
2,3 mm] entre 1971 e 2010, e 3,2 mm por ano [variação de 2,8 a 3,6 mm] entre 1993 e
2010.[187] O nível dos mares é sujeito a muitas variáveis naturais e, ao contrário do que
se poderia imaginar, é bastante desigual nas diferentes regiões oceânicas. Foi preciso ter
em conta muitos fatores para se chegar a uma estimativa do aumento do nível do mar e
o cálculo que levou à conclusão não foi simples de fazer, porque este nível é
influenciado pela constante movimentação natural da crosta terrestre, que eleva algumas
regiões enquanto outras afundam.[188][189][190]

O aquecimento global provoca subida dos mares através de dois fatores principais: o
primeiro é a expansão térmica das águas, um mecanismo pelo qual as águas se
expandem ao aquecer, ocupando maior volume. Os oceanos absorvem cerca de 90% do
calor gerado pelo efeito estufa, e por isso aquecem e se expandem.[191] Segundo informa
o IPCC, calcula-se que a expansão térmica contribua atualmente com pelo menos 0,4
(±0,1) mm de elevação anual.[76] A expansão térmica da água tem sido responsável até
agora por cerca de 50% da elevação total,[12] mas essa proporção poderá mudar
futuramente com a variação da contribuição do derretimento dos gelos.[192] Um estudo
de 2012 de Levitus et al. encontrou que se todo o calor armazenado nos oceanos desde
1995 fosse liberado de uma só vez para a atmosfera inferior (10 km), esta camada teria
sua temperatura elevada em 36 °C. Isso não vai ocorrer desta maneira, mas dá uma
medida do grande papel dos mares na dinâmica da temperatura mundial, e evidencia o
quanto eles têm retardado o aumento do aquecimento atmosférico geral. Porém, este
importante armazenamento de calor tem gerado efeitos negativos de grande amplitude
para a vida marinha. O aquecimento tem sido observado de forma consistente em todas
as bacias oceânicas do mundo, mesmo levando em conta a variabilidade regional ou
multidecadal que ocorre naturalmente, como o fenômeno do El Niño e a Oscilação do
Atlântico Norte.[193]
O segundo fator importante é o derretimento das calotas polares e dos glaciares de
montanha, que acrescenta água líquida aos mares.[76] As perdas totais de gelo mundial
entre 2005 e 2009 foram calculadas pelo 5º Relatório do IPCC em 301 gigatoneladas
por ano em média. As perdas vão continuar grandes no futuro próximo mesmo se as
temperaturas se estabilizarem imediatamente. Não há garantia de que a tendência será
reversível.[14] Dados da NASA revelam que o gelo perdido nas geleiras e calotas polares
entre 2003 e 2010 totalizou cerca de 4,3 trilhões de toneladas, adicionando cerca de 12
milímetros ao nível do mar.[194]

Colapso da banquisa antártica Larsen B em 2002, relacionado ao aquecimento global. O


gelo cobria uma área de c. 3 250 km².[195] O contorno do estado de Rhode Island, nos
Estados Unidos, foi sobreposto para comparação

Perda de terra firme na costa da Louisiana entre 1932 e 2011


Os modelos utilizados pelo IPCC dão resultados bastante divergentes, mas todos
apontam para uma elevação que até 2100 deve ficar entre 26 e 98 centímetros, e é
virtualmente certo que a elevação continuará depois de 2100. Essa continuidade é
inevitável porque o calor que penetra no oceano leva muito tempo para chegar às zonas
profundas e exercer seu efeito expansivo sobre toda a coluna de água. Ao mesmo
tempo, os gelos devem continuar derretendo até que se atinja um novo patamar estável
nas médias globais de temperatura.[76][192] Projeções independentes indicam níveis bem
maiores do que 98 cm. Se o gelo polar derreter significativamente, isso acarretaria um
grande aumento do nível das águas oceânicas. O IPCC calcula que se todo o gelo da
Groelândia derreter o nível do mar se elevaria em até 7 metros. [76] No entanto, em geral
não se espera um derretimento em tal proporção ao longo do século XXI, embora o
recuo dos gelos esteja ocorrendo inequivocamente em virtualmente todas as regiões
geladas do mundo, e esteja acelerando.[196][197][198] Avaliações realizadas nos últimos anos
provaram que a capa de gelo da Groelândia é muito mais instável do que se imaginava,
e a velocidade do seu derretimento aumentou em cerca de cinco vezes desde 1990. Na
Antártida essa velocidade duplicou nos últimos 15 anos.[199] Outros estudos recentes
apontam que várias grandes regiões da Antártida estão dando crescentes sinais de
instabilidade, e podem num prazo de 200 a 500 anos acrescentar vários metros ao nível
do mar.[200][201][202] Um estudo de 2011 realizado pela NASA confirmou que o
derretimento dos gelos polares está acontecendo muito mais rápido do que as projeções
teóricas, e três vezes mais rápido do que a taxa registrada nos glaciares de montanha.[203]
 Isso é confirmado também por medições do nível do mar realizas em 2015 através
[204]

de metodologias novas que não foram utilizadas pelo IPCC, e que apontam para uma
aceleração no ritmo de elevação das águas.[205]

As projeções não excluem a possibilidade de mudanças súbitas e imprevistas de grande


proporção no processo de elevação do mar, e o ritmo atual, já em aceleração, pode vir a
se tornar muito mais rápido.[206] Em 2015 uma equipe de pesquisadores publicou na
revista Science o resultado de 30 anos de trabalho. Analisando épocas da pré-história em
que a temperatura da Terra esteve apenas 1 °C ou 2 °C acima da média atual, foi
constatado que o mar subiu mais de seis metros,[207] e um estudo conduzido por James
Hansen em 2015 apontou que em alguns momentos críticos daqueles períodos
geológicos a elevação foi extremamente rápida, chegando a 2-3 metros em questão de
décadas.[208] Cabe lembrar que as estimativas mais recentes do IPCC preveem que até o
fim do século XXI a temperatura deve ficar na faixa de 3,4 °C a 3,9 °C acima dos
valores pré-industriais.[71] Se a situação presente repetir o efeito das épocas geológicas
passadas, mais de 375 milhões de pessoas em todo o mundo terão de se mudar por
terem suas terras inundadas. No Brasil, mais de 100 mil quilômetros quadrados de terra
ficariam debaixo d'água, e mais de 11 milhões de pessoas seriam desalojadas.[209][210]

Mesmo nos cenários mais otimistas os impactos sobre o homem serão seguramente
vastos.[202][211][212][213] Muitas ilhas e regiões litorâneas baixas, onde se concentra uma
parte expressiva da população mundial e onde hoje florescem muitas megacidades,
como Hong Kong, Nova Iorque, Rio de Janeiro, Buenos Aires, serão inundadas em
graus variáveis, o que causará perdas materiais e culturais incalculáveis e provocará
migrações em massa para regiões mais elevadas, gerando novos transtornos e despesas
em larga escala.[76][132][214][215] Pelo menos oito megacidades litorâneas são construídas
sobre terrenos frágeis que estão afundando, aumentando ainda mais a rapidez do
processo de inundação.[213][216] Um estudo avaliou os custos para os Estados Unidos de
uma elevação de um metro no nível do mar: isso inundaria até 30 mil km² de costas, e
cada proprietário de terreno habitacional típico junto à costa deveria gastar de mil a dois
mil dólares em medidas de contenção das águas. No total, junto com outros custos,
seriam gastos de 270 a 475 bilhões de dólares. Isso poderia ser viável economicamente,
mas o estudo concluiu que as perturbações ambientais que a movimentação e alteração
maciça do terreno costeiro causariam poderiam ser inaceitáveis.[217] Outra pesquisa,
analisando o caso do Senegal, calculou que a elevação de um metro significaria a
inundação de 6 mil km² de terra da região mais populosa do país, provocando um êxodo
de até 180 mil pessoas e danos a propriedades que chegariam a 700 milhões de dólares,
o que equivalia, na data do estudo, a 17% do PIB nacional.[218] A elevação do nível do
mar também compromete a estrutura de internet como redes de fibra ótica e centros de
processamento de dados que foram projetados e construídos na década de 1990, quando
o aquecimento global não era tão preocupante.[219]
Bairro de New Orleans, nos Estados Unidos, com casas com água até o teto após a
passagem do furacão Katrina

Já existem vários projetos destinados a obras de adaptação e a conter a subida do mar


em alguns locais críticos, construindo-se canais, comportas, diques, ilhas artificiais,
muros, estruturas flutuantes, terraços e outros métodos, como o reflorestamento costeiro
e fixação de dunas. Os Países Baixos, que possuem grande parte de seu território muitos
metros abaixo do nível do mar e construíram um eficiente sistema de grandes diques
para protegê-lo, são frequentemente apontados como um modelo bem sucedido de ação.
Mas os custos de erguer e manter obras desse tipo são altíssimos.[217][220] Os novos diques
para proteção apenas da cidade de Veneza, por exemplo, custaram mais de 5 bilhões de
euros.[221] Os planos para proteção de Nova Iorque têm um custo calculado em cerca de
20 bilhões de dólares.[222] Também é questionada a eficiência dessas proteções em
situações extremas, quando seriam especialmente importantes, e cita-se como exemplo
o caso de Nova Orleans, cujos sólidos e bem conservados diques de proteção foram
rompidos pelo furacão Katrina, alagando vários bairros da cidade com metros de água.
 Miami já gastou cerca de 100 milhões de dólares em proteção, no futuro próximo
[220]

deve gastar mais algumas centenas de milhões, e mesmo assim, em função do terreno
permeável onde se assenta, seu destino é incerto.[223][224] Tais obras geralmente
desencadeiam impactos ambientais sérios pela escala monumental das intervenções na
geografia e nos ecossistemas litorâneos, baixam o valor das propriedades costeiras e
limitam seu uso recreativo. O muralhamento costeiro em escala mundial, por sua vez,
além de ser em si mesmo indesejável, seria impraticável, especialmente se as previsões
mais pessimistas se confirmarem. Assim, para muitos cientistas e administradores,
tentar conter o avanço do mar na maior parte dos casos já mostrou ser uma batalha
perdida, produzindo apenas benefícios efêmeros e ilusórios, valendo mais a pena iniciar
uma retirada estratégica para o interior em larga escala em uma perspectiva de longo
prazo, a qual, para ser bem sucedida, deve ser feita com muito planejamento. Porém, o
tempo para isso está diminuindo, enquanto que a ameaça está aumentando. [213][214][215][217]
 Mesmo se adotada, a solução da retirada deve enfrentar sérias dificuldades.
[225][226][227]

Experimentos já realizados nos Estados Unidos em âmbito limitado mostraram que


mesmo com ajuda oficial e disponibilidade de recursos é extremamente difícil
operacionalizar a mudança, especialmente se ela envolve grandes grupos de pessoas. As
populações geralmente resistem em deixar seus locais habituais de residência, mesmo
diante de ameaças; os custos são sempre elevados, o processo costuma ser muito
moroso, e as complicações jurídicas, imobiliárias, securitárias e políticas provocadas
pelo reassentamento são desanimadoras, além de a mudança causar a desagregação de
comunidades e conflitos sociais difíceis de manejar.[228]

Estrada destruída pela erosão costeira na Baía Palliser, na Nova Zelândia

A elevação do nível do mar também afetará os ecossistemas costeiros, causando sua


degradação ou erradicação, com perdas ou modificações importantes na biodiversidade.
 Outro efeito direto é a erosão costeira, provocando o recuo da linha de areia
[132][214][229]

nas praias, mudanças no perfil dos litorais e destruição de infra-estruturas litorâneas


construídas pelo homem, como barragens, estradas e habitações, além de prejudicar o
lazer, o turismo e outras atividades econômicas e sociais.[230][231] Ao mesmo tempo, os
aquíferos costeiros subterrâneos de água doce tendem a ser invadidos por água salgada,
diminuindo a oferta de água potável para as populações humanas, gerando por extensão
problemas de saúde e inquietação social.[232]

O aquecimento da água, além de causar a elevação do nível do mar, produz vários


outros efeitos negativos. Altera as correntes marinhas, a salinidade, os níveis de
oxigênio e de evaporação, modifica a estratificação das camadas de água, e acelera as
taxas de derretimento do gelo flutuante, com variados efeitos secundários sobre a
biologia marinha e o clima de todo o planeta.[233] As reações químicas do metabolismo
animal e vegetal são diretamente influenciadas pela temperatura do meio em que vivem.
O aquecimento das águas provoca também um maior consumo de oxigênio, torna as
espécies mais vulneráveis a malformações congênitas e doenças, altera os padrões e
ritmos de crescimento e os ciclos de reprodução, e interfere na oferta de alimentos. [234]
[235][236][237][238]
Curva que mostra a relação entre a pressão e a temperatura na liberação do metano

Um outro efeito do aquecimento da água, que até recentemente era desconhecido, é a


liberação de metano estocado em sedimentos depositados no fundo do oceano, sob a
forma de hidratos de metano (ou clatratos), que resultam da sua combinação com as
moléculas de água em condições de baixa temperatura e/ou alta pressão, como as que
ocorrem nas regiões frias ou em águas profundas. Nesta combinação, o metano não
representa ameaça ambiental. Contudo, o atual aquecimento do oceano cria as
condições ideais para que esta combinação seja desfeita nas águas rasas e o metano
escape para a atmosfera, circunstância que tem sido chamada de "detonação da bomba
de clatratos".[239][240][241][242][243] O grande problema é que a quantidade de gás estocado
desta forma é imensa, calculada em até cerca de dez mil gigatoneladas (dez trilhões de
toneladas), uma quantidade maior do que todas as reservas conhecidas de combustíveis
fósseis juntas.[244] Além disso, o metano é até 36 vezes mais potente do que o gás
carbônico em sua capacidade de aumentar o efeito estufa.[245] Em condições normais,
cerca de 90% do metano liberado de águas profundas é oxidado em seu caminho até a
superfície e perde seu potencial de ameaça térmica, mas por outro lado contribui para a
maior acidificação e desoxigenação da água. Em águas rasas, como as que cobrem a
parte ocidental da plataforma continental da Sibéria, sua emergência não sofre
neutralização significativa e o metano acaba escapando para a atmosfera. Esta e outras
zonas de pouca profundidade são sujeitas a terremotos, aumentando o risco de
exposição direta de grandes quantidades de metano.[239][240][242][244][246][247] Segundo Archer,
"existe na Terra tanto metano na forma de hidratos que parece o ingrediente perfeito
para um cenário apocalíptico. [...] O reservatório de hidratos de metano tem o potencial
de aquecer o clima da Terra até um estado semelhante ao da 'estufa do Eoceno' num
intervalo de poucos anos. O potencial para uma devastação planetária colocado pelo
reservatório de hidratos de metano parece, portanto, comparável à destrutividade de
um inverno nuclear ou de um impacto de um meteorito".[240] Apesar do entendimento
desses mecanismos ainda ser incompleto e haver controvérsia, a maioria dos estudos
não considera provável uma liberação massiva de metano a partir dos hidratos dentro
dos próximos séculos, embora admitam que alguma quantidade, ainda incerta, deva ser
efetivamente liberada neste período. Se a mudança climática levar a uma grande
elevação das temperaturas, contudo, a longo prazo este metano pode vir a ser liberado
em vastas quantidades.[248]

Poluição e outros efeitos

Ver artigo principal: Poluição marinha, Acidificação oceânica, Desoxigenação


oceânica, Declínio das populações de peixes marinhos

Alteração do pH (índice de acidez) na superfície oceânica devido ao aumento de


CO2 entre 1700 e 1990. As zonas amarelas e vermelhas mostram onde a acidificação foi
mais intensa

Em experimentos laboratoriais a concha do pterópode Limacina helicina dissolveu-se


em 45 dias em condições de acidez marítima previstas para o ano 2100

Animais mortos por desoxigenação no fundo do mar Báltico, 2006

Já se sabe também que os gases atmosféricos em alteração estão mudando a composição


química dos oceanos, já que os gases se dissolvem nas águas a partir da atmosfera e
voltam para o ar em um processo ininterrupto de intercâmbio e equilíbrio mútuo. Todos
os ecossistemas marinhos dependem fortemente das condições do mar próximas da
superfície, entre outros motivos, porque ali se realiza a maior parte da oxigenação da
água e ali principalmente viceja o plâncton, que está na base das cadeias alimentares
marinhas, e nesta camada superficial as águas são mais sujeitas à influência da
atmosfera. O efeito é potencializado pelo aumento das temperaturas oceânicas e está
relacionado a muitos outros efeitos secundários físicos e biológicos que por sua vez
influem de volta sobre a atmosfera, sendo importantes reguladores naturais do clima. Os
oceanos são os maiores sequestradores de CO2 atmosférico. Esta impregnação excessiva
das águas pelo gás carbônico constitui uma forma de poluição química.[249][250]

A elevação da concentração de CO2 nos mares fez com que as águas se tornassem


26% mais ácidas do que eram no período pré-industrial.[187] Este fenômeno é
especialmente daninho para os animais que utilizam sais de cálcio para construir suas
conchas e estruturas corporais, destacando-se entre eles os corais, os moluscos e
crustáceos, bem como muitas espécies de plâncton, que têm essas estruturas dissolvidas
ou malformadas pela elevada acidez da água.[251][252] Segundo estudo publicado
pela Royal Society, mesmo que a poluição química dos mares cesse imediatamente, a
acidificação precisará de milênios para ser revertida por processos naturais, e não foi
provado que o homem poderá revertê-la artificialmente.[253] Paralelamente, baixaram as
concentrações de O2 (oxigênio), que é essencial para a preservação da vida. [249] O
conhecimento científico sobre as interações gasosas entre o ar e o mar ainda precisa ser
aprofundado, mas há um consenso de que deve haver mudanças biológicas negativas em
larga escala nos seres marinhos.[45] Observações em grupos específicos de criaturas
aquáticas indicaram que seu metabolismo já foi afetado em alguma medida em várias
regiões oceânicas, desde o plâncton, passando por corais e moluscos de concha, até
grandes peixes, fazendo com que apresentem distúrbios de comportamento e de
crescimento, ou diminuam suas populações, seja em função da acidez, da
desoxigenação, da combinação de ambas e/ou da influência de outros agravantes, como
os despejos de lixo e esgotos.[249][253][254][255][256][257]

Já existem vários indícios de que a salinidade está diminuindo em vários mares do


mundo, com impacto potencial mas indeterminado sobre a bioquímica marinha. Embora
as evidências não sejam suficientes para indicar uma causa com segurança, parece
provável a influência das mudanças climáticas globais, especialmente através do degelo
de glaciares e banquisas polares e mudanças nas chuvas e na umidade atmosférica.[258]
A combinação de aquecimento, mudança na salinidade, derretimento dos gelos e
elevação do nível do mar também modifica a circulação termoalina, as correntes
marinhas e a estratificação das camadas de água.[259] A Corrente do Atlântico Norte, por
exemplo, aparentemente está enfraquecendo à medida que a temperatura média global
aumenta. Isso significa que áreas como a Escandinávia e a Inglaterra, que são aquecidas
pela corrente, poderão apresentar climas mais frios a despeito do aumento do
aquecimento global. Evidências recentes mostram em alguns lugares, como na área
entre as Ilhas Canárias e a Flórida, uma redução de 25% a 30% na velocidade média e
mudanças anuais súbitas e irregulares na Circulação do Atlântico Meridional, parte do
sistema de circulação termoalina global, o que tende a fortalecer os furacões no
Atlântico e pode elevar em até 13 cm o nível do mar na costa norte-americana ao norte
de Nova Iorque.[260] Os giros do Pacífico Norte e do Pacífico Sul parecem ter se
expandido e reforçado desde 1993, e a Corrente Circumpolar Antártica parece ter se
deslocado cerca de 1º de latitude para o sul desde 1950, o que corresponde a cerca de
110 km.[14] Mudanças nas correntes marinhas e na estratificação também afetam a
biodiversidade de várias maneiras importantes, modificando os padrões de oxigenação
das águas e de trocas térmicas entre as camadas de água e entre o mar e o ar, alterando
rotas de migração e os ciclos reprodutivos e interferindo na oferta de alimento, fatores
que levam ao declínio das populações ou à sua redistribuição geográfica, e por fim
repercutem negativamente sobre os interesses humanos.[261][262][263]

Poluição

 Poluição atmosférica

 Chuva ácida

 Índice de qualidade do ar

 Modelização de dispersão atmosférica

 CFC

 Escurecimento global

 Destilação global
 Aquecimento global

 Qualidade do ar interior

 Buraco do ozono

 PM10

 Smog

 Poluição da água

 Eutrofização

 Hipóxia (Ambiente)

 Poluição marinha

 Detritos marinhos

 Acidificação oceânica

 Maré negra

 Poluição por barcos

 Poluição térmica

 Águas residuais

 Qualidade da água

 Contaminação do solo

 Poluição do solo

 Biorremediação

 Herbicida

 Pesticida

 Contaminação radioactiva
 Radioatividade ambiental

 Produtos da fissão

 Cinza nuclear

 Plutónio no ambiente

 Envenenamento radioativo

 Rádio no ambiente

 Urânio no ambiente

 Outros tipos de Poluição

 Poluição luminosa

 Poluição sonora

 Radiação electromagnética

 Poluição visual

 v

 d

 e

Muitas espécies marinhas de grande valor comercial e alimentício já mostram


acentuadas modificações regionais em suas populações por virtude de efeitos do
aquecimento global, e outras sofrem redistribuição geográfica, movendo-se para
latitudes mais altas e águas mais profundas.[264][265][266][267] Acrescentando-se a isso o
aumento da poluição marítima por outros contaminantes antrópicos, como o lixo
marinho, os agrotóxicos e os fertilizantes, descarregados no mar pelos rios e pelas
chuvas, espera-se que as mudanças sejam severas e venham a afetar virtualmente toda a
vida marinha no longo prazo.[249][253][257][268][269]

Todos esses efeitos são agravados pela pesca excessiva. Cerca de 50% de todas as
espécies de valor comercial já estão com suas populações no limite máximo de
exploração, e cerca de 30% delas, incluindo a maioria das dez mais importantes, estão
superexploradas e em declínio rápido, devendo estar completamente esgotadas em
meados do século XXI se o declínio não for revertido.[270] Por causa dos impactos
combinados os oceanos estão sob o grave risco de sofrerem uma extinção em massa e se
tornarem ambientes muito simplificados, com uma diversidade biológica extremamente
reduzida, composta em sua grande maioria de seres microscópicos e de pequeno
tamanho.[112][252][271][272] Em 2008 haviam sido identificadas mais de 400 "zonas mortas"
em mares de todo o mundo.[268] Desde a década de 1960 o seu número tem duplicado a
cada dez anos, e prevê-se que o aparecimento de novas se acelere.[252]

Abastecimento

Ver artigo principal: Mudança Climática e Terra

Uma consequência esperada do somatório de todos os efeitos do aquecimento global é o


sério comprometimento da produção de alimentos. Como foi assinalado, as mudanças
nos mares devem significar uma importante ameaça aos estoques de peixes, moluscos e
crustáceos para consumo, que constituem alimento básico ou importante para grande
parte da população mundial.[131][132][265][273] O aquecimento global também afeta a
produção de outros alimentos. A elevação das temperaturas, as mudanças nas chuvas, na
circulação de umidade atmosférica, no ritmo das estações, no ciclo do carbono, no ciclo
do nitrogênio e outros nutrientes, a redução da umidade do solo e dos mananciais de
água, o aumento nas taxas de evaporação superficial, a tendência à desertificação
subtropical, sem dúvida vão prejudicar a agricultura, a pecuária e a silvicultura de
grandes áreas produtoras em todo o mundo.[14][132][183] Todas essas atividades, que vêm
sendo desenvolvidas há milênios, e que dependem essencialmente de outros seres vivos,
dependem também das condições estáveis e previsíveis do clima às quais todas as
espécies foram acostumadas há muito tempo. As mudanças atuais são rápidas e grandes
demais para a natureza absorvê-las, e deverão alterar todo o conhecido equilíbrio das
forças naturais, desorganizando e desestruturando grande parte dos sistemas produtivos
da humanidade construídos sobre esse mesmo equilíbrio, cuja razoável estabilidade e
previsibilidade possibilitou o desenvolvimento de sistemas de alta produtividade em
larga escala como os que existem hoje, dos quais depende a humanidade para sua
sobrevivência e conforto. Em consequência, prevê-se que deverão crescer a pobreza, a
incidência de doenças e a fome, bem como os conflitos violentos derivados da
competição entre grupos e nações por recursos em declínio. Devem aumentar também o
uso de pesticidas e adubos nas culturas para compensar a queda na produtividade, o que
contaminará ainda mais o ambiente e elevará os custos de produção, gerando novos
prejuízos num efeito de cascata.[112][132][133][134][274]

Temperatura e umidade atmosférica mais altas e extremos climáticos mais frequentes e


intensos também afetam o metabolismo de animais e vegetais, tornando-os mais
propensos a epidemias e a distúrbios de crescimento e reprodução, e dificultam a
preservação da qualidade de grãos e outros alimentos armazenados, fatores que juntos
concorrem para reduzir ainda mais a produtividade geral e aumentar as perdas.[275] Um
estudo da UNEP publicado em 2016 alertou para um aspecto antes pouco conhecido,
referindo que mais do que prejudicar as colheitas, o aquecimento pode tornar algumas
das principais culturas agrícolas venenosas para o consumo, uma vez que plantas
submetidas a estresse prolongado, como o que ocorre sob temperaturas elevadas demais
ou na escassez de chuvas, ficam debilitadas e podem produzir substâncias químicas em
níveis tóxicos para o homem. São conhecidas cerca de 80 espécies de plantas que sob
circunstâncias adversas deixam de converter nitratos em aminoácidos e os acumulam
em seus tecidos em níveis tóxicos tanto para o homem como para animais que as
consomem, incluindo algumas das mais importantes culturas de grãos, como a cevada,
o milho, o sorgo, a soja e o trigo, que estão na base da alimentação humana e de uma
série de criações de animais. Além disso, se depois de um período de seca as plantas são
irrigadas, o seu rápido crescimento subsequente faz com que algumas espécies
acumulem uma outra substância tóxica, o ácido prússico, sendo incluídas nesta
categoria, por exemplo, o milho, a soja, algumas gramíneas consumidas pelo gado de
corte, o damasco, as peras e maçãs. Outra ameaça produzida pelo aquecimento é que
plantas em estresse impregnam-se mais facilmente de toxinas produzidas por fungos e
outros microrganismos invasores, um problema que em estimativa de 1998 afetava
cerca de 25% de todas as culturas de cereais e que tende a piorar.[275] Hoje quase um
bilhão de pessoas sofre de fome crônica. Sistemas produtivos cada vez mais fragilizados
por crescentes ameaças e perdas em várias frentes, associados ao rápido aumento
populacional, multiplicam os riscos para a segurança alimentar das nações.[26][276]

Saúde
O mosquito transmissor de malária tem sua multiplicação e dispersão favorecidas pelo
aumento de temperatura

É esperado o aumento na incidência e mudanças na distribuição geográfica de várias


doenças, especialmente as cardiorrespiratórias, as infecciosas e as ligadas à má nutrição,
elevando significativamente os custos com a assistência médica e social. [76][132] O
aquecimento deve provocar também a redistribuição geográfica de todas as doenças que
de alguma forma são influenciadas pelo clima e pelas condições do tempo. Doenças
como a malária e a dengue, que são veiculadas por mosquitos, ocorrem em regiões
quentes, onde o desenvolvimento do mosquito é favorecido. Com a elevação das
temperaturas globais, regiões mais frias, antes imunes a essas doenças, estão se
tornando novos focos epidêmicos, e onde elas já existiam, estão se agravando.[277][278]
 Segundo Barcellos et al., a malária é um dos principais problemas de saúde pública
[279]

na África, ao sul do deserto do Saara, no sudeste asiático e nos países amazônicos da


América do Sul, e a dengue é a principal doença reemergente nos países tropicais e
subtropicais. Várias outras moléstias influenciadas pelo clima, como
a leishmaniose, febre amarela, filariose, febre do oeste do Nilo, doença de
Lyme, ebola e várias arboviroses, provavelmente seguirão neste caminho. Outras
perturbações nos ecossistemas ou nos sistemas produtivos, que favoreçam a proliferação
de vetores dessas doenças ou diminuam a resistência humana às infecções, como a
subnutrição, a água potável de baixa qualidade, problemas de saneamento como ocorre
nas inundações, tendem a aumentar a gravidade e a incidência das epidemias.
Alterações de temperatura, umidade e chuva podem amplificar os efeitos das doenças
respiratórias, assim como alterar as condições de exposição aos poluentes atmosféricos.
[279][280]

Outras doenças que estão tendo condições mais favoráveis de difusão em virtude do
aquecimento são as zoonoses, aquelas que são típicas de animais mas podem
contaminar o homem. A degradação ambiental generalizada que ocorre hoje força
migrações de populações selvagens e muitas vezes elas invadem áreas habitadas pelo
homem em busca de novos locais de abrigo e alimento, facilitando as infecções. Outros
fatores colaboram ativamente neste processo, como o crescente comércio de espécies
selvagens exóticas e mudanças no uso da terra. Epidemias recentes de gripe
aviária, Vírus Ebola e síndrome respiratória aguda grave, que custaram muitas vidas e
enormes recursos financeiros, são exemplo dramáticos de zoonoses que provavelmente
se tornarão mais frequentes, e sob certas circunstâncias podem degenerar em
perigosas pandemias.[281]

A saúde geral das populações e sua capacidade de responder às novas doenças também
devem ser afetadas pelo aquecimento. O aumento nas concentrações atmosféricas de
CO2 deve favorecer a disseminação de diversos vegetais que provocam grandes
incômodos para o homem na forma de alergias, e o gás estimula a produção de pólen,
outro alérgeno importante.[168] As populações urbanas, os mais pobres, os excluídos, os
idosos, as crianças e os que já são doentes são os grupos cuja saúde é mais vulnerável às
alterações do clima,[282][283] o aquecimento é uma das principais causas do surgimento de
novas doenças,[281] e prevê-se que os problemas derivados do aquecimento sejam o
principal desafio na área da saúde no século XXI.[282][284]

Gráfico representando a onda de calor de 2015 na Europa

As ondas de calor extremo desencadeiam importantes problemas para a saúde humana,


e podem afetar as capacidades cognitivas das pessoas.[285] Nas últimas décadas sua
frequência e intensidade vêm aumentado. Segundo Lugber & McGeehin elas são
responsáveis por mais mortes anualmente do que os furacões, os raios, os tornados,
a enchentes e os terremotos combinados.[286] A onda de calor de 2003 na Europa matou
mais de 70 mil pessoas,[287] e estima-se que a onda de calor no Hemisfério Norte em
2010 tenha causado a morte de 55 mil pessoas apenas na parte ocidental da Rússia.
 Esses eventos costumam causar paralelamente grandes incêndios nas florestas,
[288]

crises no abastecimento de água e energia e sérios prejuízos econômicos, sociais e


agrícolas.[288][289][290] Também estão sendo estudados os possíveis efeitos do aquecimento
sobre a produtividade humana. Que temperaturas elevadas são inadequadas para a
realização de esforço físico é fato notório, mas esta interação em relação ao
aquecimento global somente há pouco vêm sendo estudada e não foi avaliada nos
relatórios do IPCC, e se torna cada vez mais um elemento importante a ser computado
nos planos de adaptação. Uma pesquisa publicada em 2013 pelo NOAA indica que o
aquecimento global deve aumentar em média até 50% os problemas de saúde
relacionados ao estresse térmico no trabalho, reduzindo a capacidade de operários da
construção civil, agricultores, esportistas e outros que exercem atividades físicas
intensas a céu aberto. Esse tipo de estresse pode levar a crises cardíacas, cãibras,
desconforto, desidratação e exaustão, entre outros efeitos, e se torna um agravante de
moléstias pré-existentes. Outros estudos fazem projeções similares. As regiões tropicais
devem ser as mais afetadas, com grande repercussão social e econômica provável, mas
efeitos sensíveis podem se verificar em outras áreas e afetar outras atividades, como o
turismo, o lazer e programas escolares.[291][292][293][294]

Desastres climáticos como chuvas torrenciais seguidas de deslizamentos de morros e


inundações causam perda de vidas, prejuízos materiais de grande monta e intenso
estresse nas populações atingidas, e ao mesmo tempo criam condições para o
surgimento de epidemias

Outro aspecto desafiador que vem sendo levantado recentemente é o impacto dos
problemas gerados pelo aquecimento sobre a saúde emocional e mental das populações
afetadas por desastres ambientais. Tem sido demonstrado que eventos deste tipo podem
desencadear sérias perturbações, tais como crises de ansiedade, distúrbios do
sono, depressão, estresse, risco aumentado de suicídio, de surtos de violência social e de
consumo de drogas, que se assemelham à síndrome pós-traumática, estado clínico
severo que pode levar vários anos para ser superado após um evento concreto
desencadeante, como uma inundação. A simples expectativa de que possam acontecer
desastres, por outro lado, tem gerado efeitos similares à síndrome pré-traumática, um
estado de preocupação difusa e desalento ante a possibilidade de catástrofes ou outras
perdas graves. Segundo Elizabeth Haase, professora de psiquiatria na Universidade de
Colúmbia, somente nos Estados Unidos espera-se que até 200 milhões de pessoas
desenvolvam algum tipo de problema mental em decorrência das mudanças climáticas,
e os autores de um estudo publicado na revista científica Lancet consideram que
as doenças mentais estão entre as mais perigosas ameaças indiretas do aquecimento
global.[295] O mesmo tipo de ameaça foi apontado por José Marengo, que colaborou na
elaboração do Primeiro Relatório de Avaliação Nacional sobre Mudanças Climáticas:

"Quando pensamos em problemas relacionados a extremos climáticos, pensamos em


qualidade da água, leptospirose, dengue, malária... Uma pesquisadora do painel nos
mostrou, no entanto, que não só problemas ditos ‘físicos’ devem nos preocupar, mas
também os problemas mentais e psicológicos que ocorrem como consequência da
alteração dos padrões climáticos. Aumento de infartos, acidentes vasculares cerebrais,
depressão. Isso foi realmente uma novidade. Foram feitas pesquisas em Blumenau,
estado de Santa Catarina, depois das fortes chuvas de 2008. Meses depois foram
registrados altos níveis de estresse na região – mesmo em pessoas que moram em áreas
rurais, distantes dos clássicos problemas urbanos".[296]

Outro exemplo impactante vem da Índia, que no início de 2016 experimentou uma das
mais intensas e prolongadas secas de sua história, com ondas de calor cujas
temperaturas chegaram a 51 °C, estabelecendo um novo recorde nacional. Além de
provocar a morte direta de centenas de pessoas, devastar as colheitas e causar um
grande êxodo populacional das regiões mais criticamente afetadas, o desespero diante
da calamidade climática fez com que somente na região de Maharashtra mais de 400
agricultores cometessem suicídio.[297]

Cultura e patrimônio histórico


Ver artigo principal: Impactos do aquecimento global sobre o patrimônio histórico e
cultural

Ruínas da Missão Jesuítica de Santa Ana, na Argentina, declaradas Patrimônio da


Humanidade, mostrando grande acúmulo de vegetais. Num clima mais quente e úmido
o crescimento de vegetação, líquens, fungos e musgos sobre patrimônio edificado se
acelera. Essas mudanças climáticas também impõem maior estresse físico às estruturas,
fatores que em conjunto aumentam os problemas de conservação[298]

Todos os impactos ambientais se conjugam para afetar negativamente vários aspectos


das culturas e sociedades mundiais e problematizam a conservação do seu patrimônio
histórico. As migrações e êxodos populacionais causados pela disrupção climática
tendem a desintegrar valores sociais, culturais, identitários, estéticos, afetivos,
psicológicos, linguísticos, políticos e religiosos das populações migrantes, que se
formam intimamente vinculados às suas regiões de origem. A chegada de grande afluxo
de populações em novas regiões tende a exacerbar os conflitos violentos, as
desigualdades e a competição por recursos entre os os recém-chegados e as populações
residentes, minando as bases das culturas autóctones e suas relações com a história e a
memória local.[299][300][301][302] Populações em movimento deixam para trás tanto suas
raízes culturais quanto seu patrimônio edificado e seus sítios históricos, que se
degradam pelo abandono.[299] As mudanças no clima prejudicam atividades culturais e
econômicas como o turismo,[303] as celebrações e festividades tradicionais e folclóricas,
e as culturas dos povos indígenas, que são essencialmente ligadas à terra e ao ambiente
onde vivem. O declínio ou desaparecimento de espécies associadas a valores culturais,
afetivos ou religiosos também acarreta danos à cultura e às tradições.[304][305] Declarou
a UNESCO que "a mudança climática produzirá impactos em aspectos sociais e
culturais, com comunidades mudando as maneiras como vivem, trabalham, cultuam e
socializam em seus edifícios, sítios e paisagens".[299]
Temperatura e umidade aumentadas implicam em aceleração na degradação de
patrimônio histórico edificado, sítios históricos e arqueológicos, e aumentam as
dificuldades de conservação de acervos de museus. Além disso, os diferentes materiais
nas diferentes regiões do mundo responderão a um clima modificado de formas novas,
às quais as populações locais que cuidam de sua conservação não estão acostumadas.
Alterações na biodiversidade das diferentes regiões decorrentes das mudanças
climáticas trazem consigo ameaças antes inexistentes para os patrimônios em função da
invasão por novas pragas biológicas.[298][306][307] A elevação do nível do mar inundará em
graus variáveis todos os litorais, onde se localiza vasto número de cidades históricas ou
culturalmente importantes.[308][309] Grande número de monumentos, sítios históricos e
paisagens culturais declarados Patrimônio da Humanidade pela UNESCO já sofrem
danos e estão sob séria ameaça, e os patrimônios nacionais, regionais e locais estão à
mercê das mesmas influências climáticas.[299][309] Com o progressivo agravamento dos
desafios econômicos e das carências de recursos, devem ser prejudicados também
aspectos de educação e preparação profissional de novos conservadores e a
disponibilidade e facilidade de aquisição de materiais de conservação, com impactos
desproporcionais nos países mais pobres. Mesmo em países ricos são previstas maiores
dificuldades de conservação patrimonial em um cenário de mudança climática.[306][307] O
cenário é tão grave que o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS)
desde 2007 admitiu que não será possível salvar todo o patrimônio ameaçado, e que será
necessário estabelecer prioridades, referindo que “a herança das mudanças climáticas
globais é uma herança de perda".[298]

Economia, política e sociedade


O aquecimento deve fazer aumentar a população que vive em condições sub-humanas.
Na imagem, detalhe da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, com uma população de
quase 70 mil habitantes, a maior favela do Brasil[310]

Levando em conta que mais de 40% da economia mundial depende diretamente de


produtos ou processos biológicos, e que todo ser humano precisa de sustento vindo
diretamente da natureza, os efeitos no longo prazo do aquecimento global para a
sociedade, combinados aos dos outros problemas ambientais que são associados ou
derivados, como a poluição e o desmatamento, seriam catastróficos.[311][312] Na realidade,
como disse Michael Cutajar, ex secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre a Mudança do Clima, já são: "A mudança climática não é só uma ameaça
distante, mas um perigo atual — já estamos sentindo o seu impacto econômico". Um
estudo recente desenvolvido por mais de 50 cientistas estimou que o aquecimento global
custa diretamente mais de 1,2 trilhão de dólares, com impacto maior sobre os países
pobres.[313] O sub-secretário-geral da ONU, Achim Steiner, afirmou que somente a perda
e degradação de florestas gera um prejuízo anual de cerca de 4,5 trilhões. [311] Os custos
derivados das invasões de espécies exóticas representam mais 1,4 trilhão, conforme
declaração do Secretariado da Convenção sobre a Biodiversidade.[314] Se nada for feito
para mitigá-lo significativamente, os custos do aquecimento podem corroer de 5 a 20%
do Produto Mundial Bruto por ano, ao passo que o custo de mitigação ficaria em torno
de apenas 1%, segundo informa o Relatório Stern.[315]
Some-se a isso prejuízos culturais e sociais, e patenteia-se o imenso impacto prático e
imediato dessas perturbações ecológicas para o homem. Um relatório produzido
pelo Banco Mundial em 2012, intitulado Reduzir o calor: por quê precisamos evitar um
mundo 4 ºC mais quente, causou surpresa pelo tom incomumente dramático para uma
organização caracterizada pela sisudez, juntando-se ao consenso dos cientistas e
ambientalistas e prevendo um cenário assustador para o mundo, em termos de disrupção
social e perturbações ambientais, se a temperatura média se elevar aos 4 °C, nível
esperado pela maioria dos estudos se nada for feito em contrário. As primeiras palavras
do presidente do Banco, Jim Yong Kim, na apresentação do estudo, foram: "Espero que
este relatório nos choque, levando-nos à ação".[316][317] Após considerar todos os riscos
que se colocam, o relatório encerrou com a declaração: "Um mundo 4 °C mais quente
apresentará para a humanidade desafios jamais vistos. E fica claro que danos e riscos
em escala local e global provavelmente acontecerão bem antes deste nível de
aquecimento ser atingido. [...] Simplesmente não podemos permitir que a projetada
elevação de 4 °C aconteça".[318] Em 2013 o presidente reiterou seu apelo a todas as
nações, dizendo que "as mudanças climáticas devem estar no topo da agenda
internacional, pois o aquecimento global põe em risco qualquer desenvolvimento que
for conseguido em outros setores, inclusive o econômico".[319] O Relatório de
Desenvolvimento Humano 2013, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), previu que o número de pessoas vivendo em pobreza
extrema em 2050 como consequência do problema ambiental aumentaria em 2,7
bilhões. No cenário mais grave, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) médio
global diminuiria 15% em 2050, mas os países mais pobres experimentariam índices de
declínio ainda maiores.[320] O Grupo de Trabalho de Economia da Adaptação às
Mudanças Climáticas do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) estimou perdas anuais no PIB das nações de 1 a 12% até 2030.
Em um cenário de mudanças mais radicais no clima, as perdas econômicas relacionadas
ao aquecimento podem chegar se elevar em 200% em 2030.[321] Um estudo mostrou que
em 2010 o aquecimento global causou a morte de 5 milhões de pessoas,[322] e Bekele
Geleta, secretário-geral da Federação Internacional da Cruz Vermelha, relatou que no
mesmo ano a organização fez mais de 30 milhões de atendimentos a vítimas de
desastres naturais derivados do aquecimento global. Maiores mudanças no clima devem
tornar a situação ainda pior.[323]
Para o equilíbrio e saúde da natureza em geral e para a biodiversidade em si, cujo valor
de existência ainda está para ser reconhecido, os danos são incalculáveis, e as espécies
que se extinguirem em função do aquecimento representam perdas irreversíveis, um
triste legado para as futuras gerações, que terão, se nada for feito em contrário, a difícil
tarefa de sustentar uma população bem maior com os recursos generalizadamente
empobrecidos de um planeta que terá, além de tudo, um clima bem mais imprevisível e
hostil, que complicará de maneira significativa o atendimento das crescentes demandas.
 Hoje vivem no mundo 7 bilhões de pessoas. Projeta-se para 2050
[76][132][141][311][312][313][324]

uma população de 9 bilhões, e recente relatório da ONU prevê para este século um
aumento de 300 a 900% no consumo global, aumentando proporcionalmente a pressão
sobre recursos naturais cada vez mais escassos.[325]

Crianças subnutridas em um orfanato da Nigéria na década de 1960. A fome, que


sempre assombrou a humanidade, e que hoje ainda aflige mais de 800 milhões de
pessoas,[326] deve piorar se o aquecimento global não for combatido

Por causa disso, é esperada também uma escalada nas migrações populacionais, nas
guerras civis e nos conflitos internacionais violentos.[327][328] Suzana Kahn, uma das vice-
presidentes do Grupo de Trabalho III do IPCC, explica: "A alteração no ambiente
aumentará o fosso entre nações. Fugindo da seca e/ou de inundações, populações
inteiras, com muito pouco a perder, se transformarão em refugiados climáticos. Eles
serão recebidos com hostilidade, principalmente nos países mais ricos, que em sua
maioria já sofrem com o aumento da densidade demográfica nas cidades". [328] Na
primeira metade de 2019, 70% das migrações internas registradas nos países foram
causadas por desastres climáticos.[329] Em 2011 o Conselho de Segurança da
ONU reconheceu por unanimidade que as mudanças climáticas podem ser uma ameaça
para a paz e a estabilidade mundial,[330] e o tema tem recebido crescente atenção
da diplomacia internacional em função de suas múltiplas consequências econômicas,
sociais e políticas e seu caráter transnacional. Conflitos violentos como os que ocorrem
na Síria, por exemplo, que desencadeiam êxodos populacionais importantes e atritos
internacionais, têm sido em parte causados por problemas locais derivados do
aquecimento global.[331][332] Estudos recentes que analisam o desempenho das políticas
climáticas das nações vêm indicando que sociedades instáveis e violentas e com
problemas de governança crônicos tendem notoriamente a ser incapazes de gerir suas
políticas de maneira eficiente e atender às crescentes demandas de suas populações num
cenário climático em modificação, multiplicando as chances da ocorrência de falhas
críticas em sistemas vitais.[168] O último relatório do IPCC pela primeira vez reconheceu
que a instabilidade social gerada pelas mudanças climáticas tende a fortalecer os
governos de extrema-direita,[333] e o aumento nos níveis de tensão política em um mundo
de recursos em declínio e economias em erosão onde aumentem a fome e a pobreza
pode também problematizar os debates sobre a mitigação e adaptação e a assinatura de
acordos de cooperação internacional justamente quando seriam mais necessários.[334] Em
2016 o Fórum Econômico Mundial apontou o fracasso no combate ao aquecimento
como a principal ameaça global pelas suas consequências negativas sobre o ambiente, a
segurança, a geopolítica, a economia e a sociedade.[335]

O recente progresso da humanidade gerou muitos benefícios, mas desencadeou efeitos


negativos que não haviam sido previstos e para os quais o mundo não estava preparado,
dada sua enorme amplitude e suas múltiplas consequências indiretas. O impacto
ambiental antrópico pode ser sumarizado em cinco grandes ameaças: desequilíbrio do
clima, declínio da biodiversidade, poluição, perda e degradação de ecossistemas e
a explosão demográfica, todas intimamente ligadas entre si.[324] Um estudo publicado em
março de 2013 por pesquisadores da Universidade de Stanford e ratificado por mais de
500 outros especialistas de todo o mundo,[336] afirmou:

"A vasta maioria dos cientistas que estudam as interações entre as pessoas e o resto da
biosfera concordam em uma conclusão central: as cinco tendências perigosas citadas
acima estão produzindo efeitos negativos, e, se continuarem, os efeitos negativos já
aparentes sobre a qualidade de vida do homem se tornarão muito piores dentro de
poucas décadas. A abundância de evidências científicas sólidas substanciando os
prejuízos foi sumarizada em muitos estudos individuais e em declarações de consenso
[...] e foi documentada em centenas de artigos publicados na literatura científica sujeita
à revisão por pares. [...] Assegurar um futuro para nossos filhos e netos que seja tão
desejável para ser vivido como a vida que levamos hoje exigirá aceitarmos que já
fizemos inadvertidamente o ecossistema global rumar em direções perigosas, e que
temos o conhecimento e o poder de colocá-lo de volta em seus eixos — mas se agirmos
agora. Esperar mais somente tornará mais difícil, se não impossível, termos sucesso, e
produzirá custos substancialmente maiores, tanto em termos monetários como em
sofrimento humano".[324]

Em geral se considera que uma ampliação do problema e as suas piores sequelas ainda
podem ser evitadas, desde que medidas radicais sejam tomadas nesta direção sem
demora.[16][160][311][312][324][337][338][339] Refletindo esse consenso, disse Paul Ehrlich que a raiz
de todo este problema planetário é cultural:

"Enquanto que a mudança climática já está na agenda política, a maior parte dos outros
desafios não está, e o entendimento do público sobre o que produz a degradação
ambiental, ou dos fenômenos naturais em geral, é mínimo. Poucos leigos estão
familiarizados com a ideia fundamental de que a degradação do ambiente é um produto
do tamanho da população humana, do consumo per capita, e dos tipos de tecnologias e
sistemas econômicos e sociais que suprem o consumo. No último século,
aproximadamente, criou-se um vasto hiato cultural entre o que a sociedade como um
todo sabe e o que cada indivíduo sabe — um hiato que se provou especialmente
problemático no caso dos representantes eleitos e outros líderes que não possuem quase
nenhum conhecimento de ciência.

"Infelizmente, levará muitas décadas até que as ações humanas produzam mudanças
significativas na atual trajetória da população. Mesmo assim, sabemos que padrões de
consumo mudam virtualmente da noite para o dia, como foi demonstrado pelas
mobilizações e desmobilizações durante a Segunda Guerra Mundial. Mudanças enormes
na produção e no consumo aconteceram nos Estados Unidos em quatro ou cinco anos, e,
durante esses anos, os americanos aceitaram racionamentos de gasolina, de açúcar e de
carne. Se são dados incentivos adequados, a economia pode se transformar muito
rapidamente. [...] É o comportamento humano, das próprias pessoas entre si e em
relação ao planeta que sustenta a todos, o que requer modificação rápida".[340]
As medições do gás carbônico atmosférico realizadas diariamente pelo Observatório de
Mauna Loa no Havaí mostram não apenas uma elevação constante nos níveis mas uma
tendência à aceleração. Note-se que a linha média não é uma reta, mas uma leve curva
ascendente. Dados do período de 1958-2015. Em 2016 já foram ultrapassadas as 409
ppm

Com o avanço nas pesquisas nos últimos anos veio a se considerar imprudente e
perigosa demais a meta de redução na emissão de gases que levaria a um aumento
máximo de 2 °C na temperatura média, meta que vigorou por muitos anos,[341] e as
comunidades científica e ambientalista conseguiram que o Acordo de Paris, celebrado
em 2015, a reduzisse para 1,5 °C.[342] De acordo com o IPCC, este nível de aquecimento,
se as tendências continuarem inalteradas, deve ser atingido antes de c. 2050 como uma
média global, mas algumas regiões podem atingi-lo antes.[343] Isso não significa que este
aquecimento possa ser atingido despreocupadamente, ao contrário, o IPCC afirma que
não existe nenhum "nível seguro" de aquecimento,[344] e qualquer elevação adicional aos
níveis atuais deveria ser evitada, pois a elevação já observada, de menos de 1 °C, já
provoca consequências de ampla repercussão, e elevações ainda maiores só podem
piorar o quadro altamente preocupante que se vive no presente.[345]

Ao mesmo tempo, surge o problema adicional de que os objetivos globais de emissão,


que antes já eram considerados na prática inalcançáveis por muitos cientistas, ficam
ainda mais difíceis de cumprir, e para que a nova meta possa ser atingida as medidas de
contenção de emissões precisam se tornar muito mais agressivas do que têm sido
planejadas até agora, o que possivelmente vá acirrar ainda mais, em vários setores da
economia e da sociedade, as resistências em relação às mudanças necessárias.[342][346]
 De acordo com o último relatório do IPCC, os cenários que produziriam uma
[347]
temperatura média global em torno de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais implicam
uma concentração atmosférica de CO2 de 430 ppm até 2100,[348] e exigiriam uma
redução de 45% no total de emissões de cerca até 2030, em relação às emissões de
2010, mas as metas do Acordo de Paris não são suficientes para alcançar esse objetivo.
 Para piorar, a reação da sociedade tem sido lenta demais, as emissões de
[349]

CO2 continuam a crescer e chegaram a um recorde em 2013, ultrapassando as 400 ppm.


De fato, os recordes têm sido quebrados continuamente, e em fevereiro de 2019 a
concentração ultrapassava as 414 ppm.[350] Outros gases do efeito estufa também estão
aumentando, como o metano e o óxido nitroso.[351]

A persistência dos efeitos do aquecimento

É importante lembrar outra vez que diversos efeitos dos gases estufa só se manifestam
muitos anos depois de ocorrerem as emissões, e outros são de longa duração. Os gases
estufa podem levar mais de trinta anos para produzirem efeitos em termos de
temperatura. Ou seja, o aquecimento experimentado atualmente é o resultado dos gases
emitidos até a década de 1980. Por isso, é inevitável um aquecimento adicional mesmo
se as emissões cessassem hoje totalmente, pois os gases emitidos entre os anos 80 e a
atualidade só produzirão seus efeitos daqui a algumas décadas.[80] Porém, desde então as
emissões só cresceram, e evidências recentes indicam que a tendência é não apenas
continuarem crescendo, mas também que o crescimento deve se acelerar.[15]

A acidificação do oceano, por exemplo, levará milênios para ser revertida pelos
processos naturais, e o nível do mar continuará a se elevar por séculos, podendo chegar
a vários metros acima dos níveis atuais.[207][209][317][337] Alguns gases, além disso, têm um
longo ciclo de vida, permanecendo ativos por muito tempo. De acordo com o IPCC, o
ciclo de vida dos hidrofluorocarbonetos importantes industrialmente varia de 1,4 a 270
anos. O gás carbônico, o principal gás estufa antropogênico, pode permanecer ativo na
atmosfera por até centenas de anos, e o óxido nitroso, até 114 anos. Outros gases, como
os compostos perfluorados e o hexafluoreto de enxofre, embora em menores
quantidades no total, mas muito potentes, têm ciclos ainda mais longos, que variam de
mil a 50 mil anos.[14][352]
Queimada para abertura de novas áreas para agricultura, uma prática comum que
provoca grande degradação ambiental e emite grandes quantidades de gases estufa

Não há nenhuma garantia de que todos os efeitos serão reversíveis se esta crise for
superada, nem que uma eventual recuperação levará os ecossistemas a um estado
semelhante ao que eram antes, sendo, ao contrário, virtualmente certo que eles
reemergirão transformados de maneira substancial e provavelmente muito
empobrecidos. Assim, se eles terão capacidade de sustentar a população futura
adequadamente, é questão muito duvidosa e preocupante. Além disso, as perdas na
biodiversidade por extinção são obviamente irreversíveis. O aquecimento, com seu
longo elenco de efeitos diretos e indiretos, é um dos principais agentes do declínio
contemporâneo da biodiversidade mundial, e se as tendências não mudarem levarão a
uma extinção em massa em escala global, que acarretaria resultados catastróficos para o
ambiente e também para a humanidade.[312][336][338][339][353] A atual biodiversidade da Terra
é o resultado de 3,5 bilhões de anos de evolução. Após as grandes extinções em massa
de tempos pré-históricos, uma recuperação significativa da variedade biológica sempre
exigiu muitos milhões de anos para acontecer.[354][355]

Todos esses dados apontam para a vasta magnitude do problema e indicam que muitos
efeitos persistirão para além dos horizontes da presente civilização, mesmo se as
emissões cessarem hoje, o que enfatiza a necessidade de sua redução drástica e
imediata. O Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica foi enfático ao
analisar as perspectivas de futuro:

"A maioria dos cenários futuros projeta altos índices contínuos de extinções e perda de
habitats ao longo deste século. [...] As medidas tomadas durante as duas próximas
décadas e a direção traçada no âmbito da Convenção sobre a Biodiversidade,
determinarão se as condições ambientais relativamente estáveis das quais a civilização
humana tem dependido durante os últimos 10 mil anos continuarão para além deste
século. Se não formos capazes de aproveitar essa oportunidade, muitos ecossistemas do
planeta se transformarão em novos ecossistemas, com novos arranjos sem precedentes,
nos quais a capacidade de suprir as necessidades das gerações presentes e futuras é
extremamente incerta".[353]

Potencial de impactos catastróficos

Ver artigos principais: Aquecimento global descontrolado e Estado de emergência


climática

O IPCC é largamente considerado a maior autoridade mundial em aquecimento global,


recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo seu trabalho,[356] e suas conclusões foram aceitas
por um largo leque de outras organizações e academias científicas de todo o mundo,
entre elas a Royal Meteorological Society do Reino Unido,[357] a Network of African
Science Academies, com a participação de academias nacionais de 13 países africanos,
 o Relatório Conjunto das academias científicas de 11 países,[359] a National Oceanic
[358]

and Atmospheric Administration dos Estados Unidos,[360] a European Geosciences


Union,[361] e o International Council for Science, representando 119 organizações
científicas nacionais e 30 organizações internacionais.".[110] Muitas outras importantes
sínteses científicas internacionais também aceitaram as conclusões do IPCC, entre elas
a Avaliação Ecossistêmica do Milênio, a série Global Environment Outlook, da UNEP,
e o Vital Forest Graphics da UNEP`/ FAO / UNFF, escritos e revisados por milhares de
especialistas.[362][363][364]

Porém, por mais que os resultados dos relatórios do IPCC sejam preocupantes, eles não
estão livres de críticas, e há vários anos uma expressiva quantidade de trabalhos
independentes vêm indicando que eles são excessivamente conservadores em vários
aspectos importantes, em parte devido ao fato de que as conclusões do IPCC são
adotadas no sistema do consenso, onde participam da tomada de decisão representantes
políticos das nações, que têm a tendência de minimizar as previsões mais alarmantes.
Esses estudos mostram que as mudanças climáticas estão se agravando bem mais rápido
do que o IPCC previu e que os piores cenários estimados ficam cada vez mais perto de
se concretizarem.[212][324][365][366][367][368][369][370] Além disso, Stefan Rahmstorf, pesquisador
da Universidade de Potsdam, assinalou que os cientistas em geral são muito cautelosos
no momento de fazer declarações extraordinárias e temem ser acusados de alarmismo, e
em parte a isso se deve o conservadorismo do IPCC, mas acrescenta que quando existe
uma ameaça da magnitude daquela representada pelo aquecimento global, seria mais
prudente superestimar os riscos do que subestimá-los.[367] Vários outros cientistas,
incluindo colaboradores do IPCC, além de concordarem com essas críticas, reivindicam
que os relatórios sejam mais eficientes em veicular uma mensagem de alerta
suficientemente clara para a população leiga e os criadores de políticas. [371][372] Outro
fator que colabora para justificar as críticas é o longo tempo necessário para que se
façam todas as revisões antes da publicação, o que torna os relatórios ultrapassados em
alguns aspectos assim que são divulgados, deixando de considerar muitos estudos mais
recentes.[372]

À parte essas críticas, como já foi mencionado, o próprio IPCC reconhece que à medida
que as temperaturas se elevam inevitavelmente aumentam os riscos de mudanças súbitas
e dramáticas nos efeitos do aquecimento global, [14] um risco que foi reconhecido
também por várias outras autoridades.[72][312][373][374][375] Evidências em registros
paleoclimáticos atestam que mudanças abruptas radicais no sistema do clima são não
apenas possíveis, mas já aconteceram no passado, às vezes em questão de apenas uma
década ou menos.[376][377]

A multidão nas ruas de Daca, Bangladesh. A superpopulação exerce crescente pressão


sobre o meio ambiente, alimentando as causas do aquecimento

Mantido o atual ritmo de emissões, diz o IPCC que a temperatura atingirá 1,5 °C entre
2030 e 2052 como uma média global, mas algumas regiões podem atingi-la antes,[343] e
até 2100, conforme as diferentes projeções, deve alcançar de 4 a 6 °C.[14] Se houver
muita demora na redução, em algum momento a quantidade de gases lançados na
atmosfera ultrapassará um ponto crítico, após o qual serão inevitáveis e irreversíveis
efeitos cumulativos devastadores.[378][379][380][381] Adicionalmente, considerando que os
esforços para combate ao aquecimento e outros agravos à natureza que atuam
em sinergia têm sido até o momento pouco efetivos, o cenário futuro não pode ser senão
sombrio.[16][311][312][317][324]

Um aquecimento descontrolado, que supere os 4 °C, desencadearia um vasto número de


extinções[168] e desestruturaria todos os sistemas produtivos humanos e as sociedades,
tornando as nações ingovernáveis. Vários cientistas de grande prestígio, deixando de
lado sua costumeira discrição, têm manifestado em palavras dramáticas o temor de que
os problemas ambientais se avolumem a ponto de levar a civilização como a
conhecemos à desintegração.[328][382][383][384][385] É um exemplo Paul Ehrlich, presidente do
Center for Conservation Biology da Universidade de Stanford e co-fundador do
projeto Millenium Alliance for Humanity and the Biosphere: "Hoje, pela primeira vez, a
civilização humana global [...] está ameaçada de colapso por uma massa de problemas
ambientais. A humanidade está engajada no que o príncipe Charles chamou de 'um ato
de suicídio em larga escala', enfrentando o que John Beddington, o principal conselheiro
científico do Reino Unido, chamou de 'a tempestade perfeita' de problemas ambientais".
 Um estudo patrocinado pela National Science Foundation dos Estados Unidos e pela
[386]

NASA projetou que "sob condições que se aproximam de perto da realidade vivida
atualmente o colapso futuro é difícil de evitar",[383] e nas palavras de Ban Ki-Moon, ex-
secretário-geral da ONU, "as tendências atuais estão nos levando cada vez mais perto de
potenciais pontos de ruptura, que reduziriam de maneira catastrófica a capacidade dos
ecossistemas de prestarem seus serviços essenciais. Os pobres, que tendem a depender
mais imediatamente deles, sofreriam primeiro e mais severamente. Estão em jogo os
principais objetivos delineados nas Metas de Desenvolvimento do Milênio: segurança
alimentar, erradicação da pobreza e uma população mais saudável".[312] Em 2018 o novo
secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que se as tendências de emissão não
mudarem radicalmente a partir de 2020 [quando entra em vigor o Acordo de Paris], "nos
arriscaremos a perder a ocasião de evitar um aquecimento descontrolado, com
consequências desastrosas para as pessoas e os sistemas naturais que nos sustentam".[387]
Alguns poucos cientistas, como Stephen Hawking, temem que o descontrole do sistema
climático possa chegar ao extremo de levar o planeta a uma condição semelhante à
de Vênus, sufocado por um efeito estufa extremo e com uma temperatura superficial de
480 °C.[388] A maioria dos cientistas, contudo, considera esse cenário impossível de se
materializar, embora considerem possível uma grande elevação da temperatura. [389] Um
aquecimento de 11 ou 12 °C pode tornar o planeta praticamente inabitável,[390] e se
projetarmos o futuro para além do limite de 2100, e considerarmos a queima de todas as
reservas conhecidas de combustíveis fósseis, projeta-se aquecimento dos continentes de
até 20 °C.[377]

O PNUMA, acompanhado de um crescente grupo de cientistas, acredita que a


oportunidade que a humanidade tinha de evitar um aquecimento catastrófico já pode ter
sido perdida pela excessiva demora na tomada de ações efetivas. [384][385][391][392][393][394]
 Um aquecimento descontrolado poderia colocar em risco a própria sobrevivência da
[395]

humanidade.[390][396] Reconhecendo a urgência e vastidão da ameaça, até julho de 2019


mais de 700 administrações estatais, regionais e locais de vários países, e mais de 7 mil
universidades, escolas técnicas e faculdades de todo o mundo declararam estado de
emergência climática, como forma de criar mecanismos e incentivos para uma redução
total das emissões até meados do século.[397][398]

Impactos no Brasil

Ver artigo principal: Impactos do aquecimento global no Brasil, Painel Brasileiro de


Mudanças Climáticas, Primeiro Relatório de Avaliação Nacional sobre Mudanças
Climáticas

O consenso científico e o negacionismo

Ver artigo principal: Opinião científica atual sobre as mudanças


climáticas, Negacionismo climático, Incerteza na
ciência, Ambientalismo, Antiambientalismo

Os principais aspectos do aquecimento global estão bem estabelecidos na ciência, como


a propriedade dos gases estufa de reterem radiação infravermelha, o aumento de
temperatura decorrente da maior concentração destes gases, a causa humana em sua
acumulação, e a importância deste aquecimento no clima. De fato, o consenso do meio
científico a este respeito é virtualmente unânime. Vários estudos atestam este consenso,
analisando milhares de trabalhos publicados nos últimos anos.[399][400][401][402] O
levantamento mais recente, que em 2015 analisou mais de 24 mil trabalhos sobre o
tema, indicou que 99,99% dos climatologistas concordam que o aquecimento é real e
produzido pelo homem.[403] De acordo com The National Academies, uma reunião de
academias científicas nacionais dos Estados Unidos, as principais dúvidas ainda
existentes dizem respeito apenas à velocidade deste aquecimento, a que níveis vai
chegar ao final, e como afetará localmente as diversas regiões do mundo.[109] Para a
maioria dos cientistas, o aquecimento é um dos maiores desafios do nosso tempo, se não
for o maior de todos.[404]

Protesto contra o uso do carvão, um combustível fóssil, diante do prédio do Legislativo


de Olympia, nos Estados Unidos.

Em contraste, a mídia não-científica, numa enganosa busca por equilíbrio e


imparcialidade, com frequência procura apresentar "os dois lados" da questão, dando o
mesmo espaço e a mesma importância a quem afirma a realidade do problema e a
aqueles que a negam. Isso é um erro, pois de um lado há argumentos muito fortes,
sustentados por uma maioria esmagadora de especialistas científicos, e do outro, muito
fracos, apoiados em geral por amadores, empresas, políticos e grupos de interesse.
Como o grande público obtém suas informações principalmente da mídia, esse
equilíbrio artificioso tem sido apontado como um importante fator para a pouca
importância que o público dá ao problema, o que se reflete na presente dificuldade de se
adotar em larga escala medidas preventivas e mitigadoras do aquecimento. Uma
pesquisa feita com alguns grandes e influentes jornais dos Estados Unidos, analisando 3
543 artigos que trataram do aquecimento no período de 1988 a 2002, encontrou que
52,65% dos artigos dava peso igual a quem negava e a quem afirmava que a atividade
humana tem impacto sobre o clima. Discutindo o que deveria ser feito, apenas 10,6%
acatavam o consenso científico e enfatizavam a necessidade de ação internacional
urgente e compulsória, enquanto 78,2% apresentavam um texto "equilibrado",
induzindo a opinião pública a tirar conclusões equivocadas. Analisando
cronologicamente o impacto do problema entre o público, a mesma pesquisa mostrou
que entre 1988 e 1989, quando o aquecimento começou a chamar grande atenção
internacional, os jornais diziam praticamente o mesmo que os cientistas, mas que desde
então vêm sendo impostas ao público dúvidas artificiais e a distância entre a opinião
científica e a popular vem se alargando.[108]

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