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PRIMEIRO CENTENÁRIO DA PASSAGEM DE RUI

BARBOSA

Jayme Vita Roso


vitaroso@vitaroso.com.br

I - Perfil Biográfico

1. Rui Barbosa de Oliveira, advogado, jornalista, jurista, político,


diplomata, ensaísta e orador, nasceu em Salvador, em 05/11/1849 e faleceu
em Petrópolis, em 10/03/1923. Ajunte-se também que foi membro fundador da
Academia Brasileira de Letras tendo escolhido Evaristo da Veiga como patrono
da cadeira número dez.

2. Ressalto que, como era costume na época, transferiu-se para São


Paulo e cursou a Faculdade de Direito de São Paulo.

3. Opôs-se ao governo ditatorial de Floriano Peixoto e isso o obrigou ao


autoexílio, primeiramente para Buenos Aires e, posteriormente, para Lisboa e,
finalmente, Londres. De lá escreveu as famosas Cartas da Inglaterra e foi a
primeira voz a levantar-se no mundo contra o “Processo Dreyfus”.

Voltou ao Brasil em 1895 e dedicou-se à elaboração do Primeiro Código


Civil. A redação desta importante peça jurídica, foi realizada às pressas por
Clóvis Beviláqua. Polemizou com ele ao emitir o seu famoso Parecer e depois
escreveu a afamada “Réplica”, que originou a “Tréplica”. Ambos encantaram a
minha geração.

Sempre polêmico, participou da segunda conferencia da Paz de Haia, na


qual teve grande importância na defesa pelo princípio da igualdade jurídica das
nações soberanas. Destacou-se tanto, até ser nomeado Presidente de Honra
da sua Primeira Comissão e teve seu nome entre os Sete Sábios de Haia
(como sexto até hoje lembrado).

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Voltou ao Brasil e, novamente, polemizou com todos os políticos,
sobretudo com o Marechal Hermes da Fonseca.

Quero dar realce que, em 1921, foi eleito jurista da Corte Internacional
de Justiça, tendo proferido, pouco tempo antes da comemoração do seu jubileu
político, como paraninfo dos bacharelandos de São Paulo, a imortal “Oração
aos moços”. Disso, por muitos anos, os acadêmicos do Largo São Francisco,
sempre recordavam com muito carinho e com as cópias da magistral peça, que
serviram de conduta na sua vida pessoal e profissional.

4. Um parêntese importante para dar destaque às obras de Rui Barbosa.

O notável paulista José Carlos de Macedo Soares teve a sua biblioteca


adquirida pela Assembleia Legislativa de São Paulo, 1965. E nela estava
incluída toda a bibliografia de Rui Barbosa. Foi um ato solene, quando ainda
ministro das Relações Exteriores (1958).

II

A liberdade não é um luxo dos


tempos de bonança; é o maior
elemento da estabilidade

Nas idas e vindas, ressalto um fato comprovado por Max Fleiuss, em


sua clássica obra História Administrativa do Brasil (FLEIUSS, M. História
Administrativa do Brasil. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 2ª ed., 1925).
O autor, de forma clara e indiscutível, se ateve às descrições dos atos
administrativos de nossa história que ocorreram na gestão de Rui como
Ministro da Fazenda entre 1889 e 1891. Ele foi o primeiro responsável pela
crise do encilhamento, ou seja, a causa matriz para uma grave crise econômica
na Primeira República (e, lamentavelmente, ainda perdura ao longo desses
anos). Que foi o encilhamento? Foi a desmesurada emissão, sem qualquer
controle, de moeda pelo governos e ações sem lastro pelas empresas criadas
neste período, tendo provocado alta inflação e especulação financeira.

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À época, os jornais, não sem ironia, publicaram diversas charges
retratando Rui Barbosa, Ministro da Fazenda e seus “requebras” para fazer
equilibrar as finanças do país.

O período que abrange o Governo do Marechal Deodoro da Fonseca,


que teve Rui como Ministro da Fazenda, para a Convocação da Constituinte
(Governo Provisório), foi turbulento, causando também forte contração
econômica, aumentado da dívida externa (em libras), acréscimo consentido
das despesas com militares, criação de novas empresas públicas, distribuição
de comissões, aqui e fora, introdução de imigrantes para substituir os
beneficiados com a Lei Áurea etc..

Enfim, esse Brasil do qual participou Rui Barbosa, como foi narrado e
comprovado por Fleiuss e descreve e atesta com todas as “Atas da instalação
do Governo Provisório – Pelo Decreto n.1, de 15 de novembro de 1889” (1925,
p. 444-5).

III

Na última fase de sua vida, Rui fez seu testamento político na forma de
um provável epitáfio que ele mesmo escreveu em sua pedra funerária:

“Estremeceu a justiça; viveu no trabalho e não perdeu o ideal”

E ele mesmo compôs esse outro epitáfio precedido de uma frase muito
bem moldada para os dias correntes nesta terra de Santa Cruz:

“Quem não luta pelos seus direitos não é digno deles”, mesmo porque
“Eu não troco a justiça pela soberba, eu não deixo o direito pela força, eu não
esqueço a fraternidade pela tolerância. Eu não substituo a fé pela superstição,
a realidade pelo ídolo”.

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