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AGRICULTURA CONTEMPORÂNEA: DESAFIOS

ECOLÓGICOS E EVOLUTIVOS

Jayme Vita Roso


vitaroso@vitaroso.com.br

A revista Science (de 9 de Dezembro de 2022, vol. 378, n. 6624, p.1079-


85) abordou, em seu corpo de artigos, uma matéria interessante sobre certos
desafios que a agricultura norte americana enfrenta atualmente.

É sabido, desde o século XVIII, que a prática da agricultura sofreu


grandes transformações, até essenciais, para seu desenvolvimento, galgando,
paulatinamente, seu percurso: desde 1800, as terras de cultivo se expandiu de
8 milhões para 200 milhões hectares no Canadá e nos EUA. Desde 1900, pelo
menos, este desenvolvimento permitiu o cultivo de plantações cada vez mais
complexas e com mais eficiência: como soja, milho e trigo.

Para que este avanço seja possível, o uso abundante de novos


pesticidas fez-se necessário, junto da utilização, em larga escala, de
fertilizantes, somados à mecanização global e altamente tecnológica. esta
transformação da agricultura ficou conhecida como Green Revolution.

Contudo, há aí um problema: o uso indiscriminado de pesticidas


encontrou, há alguns anos, seu limite. Lidando diretamente com a terra, isto é,
a Natureza de modo geral, têm de lidar com um problema historicamente
grafado e cientificamente provado: a evolução das espécies.

É notável que a resistência de algumas pragas tem aumentado no


decorrer dos anos. Inúmeras espécies conseguiram sobreviver aos novos
reagentes químicos, demonstrando impressionante faculdade adaptativa. O
ambiente extremo e nocivo a elas se provou local propício para sua rápida
adaptação, ilustrando, assim, ainda que em menor escala, as consequências
evolucionárias das mudanças antropogênicas no mundo.

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O caso que foi ressaltado pelo excelente exemplar da Science é o do
cânhamo Amaranthus tuberculatus. Em pouco tempo, esta erva (que pertence
à espécie Cannabis Sativa I), que existe, naturalmente, em ribeirinhos nos
EUA, se tornou um dos maiores problemas já enfrentados pela indústria
agrícola norte americana, pois, em função de sua composição biocelular, esta
erva se mostrou particularmente adaptativa, absorvendo a maioria dos
herbicidas disponíveis no mercado hoje em dia, além de possuir uma
capacidade rara de se manter viva em todas as estações do ano, competindo
em pé de igualdade com a soja e o milho.

Sabe-se, então, na era do antropoceno, que esta erva A. tuberculatus,


só se mutacionou deste modo, nesta escala, e com este risco ao plantio,
graças à ação do homem na natureza, de modo descontrolado, por quase dois
séculos. De modo inteiramente natural (se é que algo assim é possível), a
tuberculatus não teria se tornado o perigo que se tornou.

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