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A Revolução Verde e a biologia molecular

The Green Revolution and the molecular biology

FERNANDO SANTOS HENRIQUES*

Homenagem a Norman Ernest Borlaug, Prémio Nobel da Paz, mentor e impulsionador da chamada
“Revolução Verde”, no seu nonagésimo quinto aniversário.
Norman Borlaug faleceu no passado dia 12 de Setembro, após doença prolongada. Será recordado
pelos seus familiares e pelos amigos que com ele conviveram, mas também por milhões de pessoas,
homens e mulheres, em todo o mundo, pelo seu contributo decisivo para minorar os problemas da fome
e da miséria nos países menos desenvolvidos, particularmente na Ásia.
Até sempre, Norman.

RESUMO tos, sob a pressão de uma expansão contínua


de culturas para produção de energia.
No virar deste século foram identificados
os genes responsáveis pela redução da esta- Palavras-chave: Auxinas, genes do nanismo,
tura das variedades de trigo e de arroz que giberelinas, Revolução Verde, transgénicos.
possibilitaram a chamada Revolução Verde
dos anos sessenta. Mais recentemente, foi
demonstrado que esta alteração da arquitec- Abstract
tura das plantas resulta da ausência da acção
das giberelinas, as hormonas responsáveis At the turn of this century, the genes res-
pelo alongamento dos entre-nós dos caules, ponsible for the height reduction of the wheat
mas enquanto que no trigo a redução da es- and rice varieties that made possible the so-
tatura das plantas foi o produto de mutações called Green Revolution of the 1960s were
com ganho de função que interferem com a identified. More recently, it has been shown
sequência de transdução das giberelinas, no that this change in plant architecture results
caso do arroz resultou de uma mutação com from a lack of gibberellin effects, the hor-
perda de função que impede a síntese daque- mones that cause the internode elongation of
las hormonas. Embora as giberelinas sejam stems, but whereas in wheat the reduction in
por excelência as hormonas responsáveis size was accounted for by a gain of function
pelo alongamento dos caules das plantas, é mutation that interfere with the signalling pa-
referido o caso de um mutante de milho em thway of the gibberellins, in the rice resulted
que a redução de altura é provocada por uma from a loss of function mutation that prevents
diminuição na disponibilidade de auxinas. the synthesis of those hormones. Although
Estas e outras descobertas da biologia gibberellins are the major hormones respon-
molecular vêm municiar a nova revolução sible for stem elongation, it is discussed a
requerida na agricultura para que possa satis- maize mutant in which the height reduction
fazer a procura mundial crescente de alimen- is caused by a decrease in auxin availability.
These and other discoveries in molecular
biology provide the new revolution required
*
 ecção de Biologia Vegetal, Departamento de
S in agriculture with new tools in order to fulfil
Ciências da Vida, Faculdade de Ciências e Tecno- the global demand for increased food pro-
logia da Universidade Nova de Lisboa, Quinta da
duction, under the pressure of a continuous
Torre, 2829-516 Caparica.
E-mail: ffh@fct.unl.pt expansion of crops for energy production.

Recepção/Reception: 2009.07.08 Key-words: Auxins, gibberellins, Green Re-


Aceitação/Acception: 2009.08.13 volution, semi-dwarfing genes, transgenics.
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INTRODUÇÂO tendo-se visto obrigada a importar dez mi-


lhões de toneladas deste cereal dos Estados
Em meados dos anos sessenta, uma revolu- Unidos, num esforço financeiro enorme que
ção invulgar tentava vingar nalguns países da agravou a sua balança de pagamentos e o seu
Ásia, particularmente na Índia. Como outras endividamento externo. Era, assim, uma can-
revoluções, era feita em nome do desenvol- didata natural para um ensaio deste novo tipo
vimento e do progresso e reclamava mudan- de assistência e, apesar de resistências inter-
ças políticas e socioeconómicas; porém, ao nas, o espectro de novos episódios de fome
contrário de outras, o seu sucesso não impli- com o risco inerente de desordens sociais le-
cava o levantamento de massas populares, vou o governo indiano a aceitar a introdução
derramamento de sangue nem perda de vidas das variedades de alto rendimento.
humanas. Exigia, antes, um empenhamento Nos anos cinquenta, sob a orientação e o
activo dos governos envolvidos para realizar impulso do cientista e melhorador Norman
reformas profundas nas economias nacionais Borlaug, que viria a ser distinguido com o
de forma a poder concretizar-se o seu objec- Prémio Nobel da Paz em 1970 por este seu
tivo impar: aumentar a produção alimentar trabalho, investigadores da Fundação Rocke-
para erradicar o espectro da fome e da mi- feller tinham desenvolvido no México novas
séria nos países mais pobres e populosos do variedades de trigo, de porte mais reduzido e
mundo. Não eram feitos prisioneiros, antes com um potencial produtivo superior ao do-
pelo contrário, pretendia-se libertar centenas bro do das variedades tradicionais. Estas va-
de milhões de pessoas das grilhetas da des- riedades anãs não só concentravam os ganhos
nutrição e do subdesenvolvimento e restituir- de biomassa na produção de grão (maior ín-
lhes a dignidade humana. Era essencialmente dice de colheita), em vez do crescimento do
uma revolução tecnológica e viria a ser co- caule e formação de folhas adicionais, como
nhecida por Revolução Verde 1(Gaud, 1968). também suportavam e respondiam melhor a
Naquela época, a maioria dos países dos elevadas doses de fertilizantes sem risco de
continentes asiático e africano debatia-se acama, o que conjuntamente tornava possí-
com graves problemas de fome crónica gene- vel as suas altas produtividades. Mais tarde,
ralizada e a ajuda internacional revelava-se nas Filipinas, investigadores da mesma Fun-
não só incapaz de ultrapassar o problema de dação, juntamente com colegas da Funda-
forma definitiva, como era por vezes mesmo ção Ford, criaram igualmente variedades de
contraproducente por baixar os preços dos arroz de palha curta, também com resposta
produtos alimentares locais, desincentivan- acentuada aos fertilizantes e com produções
do a produção agrícola. Tornava-se urgente de grão espectaculares2 (Khush, 2001). Fo-
encontrar vias para os próprios países bene- ram estas variedades de palha curta de tri-
ficiários garantirem uma segurança alimentar go e arroz que foram introduzidas na Índia
mínima e, se possível, mesmo a auto-sufici- e noutras regiões da Ásia nos anos sessenta
ência. Foi então que os Estados Unidos se e cujo cultivo intensivo permitiu o aumento
propuseram enfrentar este enorme desafio de imediato da produção alimentar, aliviando
forma inovadora, promovendo e apoiando, a fome de milhões de pessoas e reduzindo
técnica e financeiramente, a introdução na- a necessidade de importação de cereais. Na
queles países de novas variedades de arroz e Índia, entre 1965 e 1983 - em menos de vinte
de trigo de elevada produtividade, com forte anos, portanto - a produção de trigo mais do
resposta aos fertilizantes químicos, com o que triplicou e o país passou de deficitário
potencial, portanto, de reduzir ou mesmo eli- a auto-suficiente, chegando mesmo a dispor
minar os défices crónicos de alimentos nessas de stocks por vezes importantes. Na América
partes do mundo. A Índia tinha obtido baixís- Latina, onde a Revolução Verde tivera iní-
simas produções de trigo nos anos de 1965 e cio ainda nos anos cinquenta, alguns países,
1966, devido a atraso das chuvas de monção, como o México, por exemplo, quadruplica-
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ram a produção de trigo entre 1950 e 1980 bram-se novas oportunidades de aumentos
e passaram de importadores a exportadores significativos da produção e produtividade
de cereais3! No cômputo geral dos países em agrícolas globais, através da conjugação de
desenvolvimento, graças à Revolução Verde, programas clássicos de melhoramento com
a produção cerealífera aumentou 33% entre a engenharia genética para a criação mais
1972 e 1982, quase o dobro do acréscimo de rápida de novas variedades com as caracte-
18% verificado no mesmo período de tempo rísticas agronómicas desejadas, capazes de
nos países industrializados. conseguir aquele objectivo por métodos de
Este êxito inicial da Revolução Verde criou produção mais sustentáveis, não poluido-
as maiores expectativas entre os países dado- res do solo e da água. De facto, não deve
res e levou o norte-americano Lester Brown, escamotear-se que a Revolução Verde, com
então responsável pela assistência técnica e a utilização intensiva de fertilizantes, pestici-
ajuda alimentar aos países do terceiro mundo das e herbicidas sintéticos, bem como com as
e um dos grandes apoiantes desta experiên- copiosas irrigações que requeriam os ganhos
cia, num livro publicado em 1970 – Seeds de produção conseguidos com as variedades
of Change. The Green Revolution and De- de alto rendimento, tiveram elevados custos
velopment in the 1970’s – (Brown, 1970) a para o ambiente, da degradação dos solos à
expressar uma grande esperança num futuro poluição das águas subterrâneas, e tal deve
sem fome, baseado na melhoria das culturas estar presente em futuros programas de au-
agrícolas pelas modernas tecnologias e mu- mento da produção agrícola. Além disso, a
danças nas estratégias dos governos, com adopção generalizada de um reduzido núme-
políticas orientadas para o crescimento do ro de variedades de alto rendimento levou ao
sector agrícola e aumento da qualidade de desaparecimento de milhares de variedades
vida das suas populações. Esperança vã. tradicionais e, consequentemente, à redução
Apesar dos notáveis aumentos de produção da diversidade genética destas culturas, numa
de alimentos que possibilitou, particularmen- perda irreversível. Finalmente, note-se ainda
te durante o período de explosão demográfi- que dum ponto de vista socioeconómico a
ca dos anos sessenta e setenta, a Revolução Revolução Verde causou um aumento das
Verde não resolveu os problemas de fome desigualdades sociais, agravou o fosso entre
e de miséria do mundo; infelizmente, estes pobres e ricos e originou migrações maciças
problemas não só continuam actuais como se para as cidades (Evenson and Gollin, 2003).
têm agravado mesmo nalguns países onde as Em contraposição, Kesavan e Swaminathan
necessidades alimentares cresceram mais do (2006) fazem notar que se não se tivessem
que a produção devido ao aumento popula- verificado os aumentos de produtividade das
cional ou a conflitos internos. A FAO calcula culturas de trigo e de arroz possibilitadas pela
que nos países em desenvolvimento mais de Revolução Verde, a Índia teria sido obrigada
950 milhões de pobres sofrem de fome cró- a converter cerca de 80 milhões de hectares
nica ou aguda (Sanchez, 2009), grande parte de floresta para conseguir as produções de
na Ásia – 200 milhões, pelo menos, na Índia cereais obtidas em 2006!
- e, a nível mundial, cerca de um terço da po- As variedades de palha curta de trigo e
pulação não dispõe de uma nutrição mínima de arroz que tornaram possível a Revolução
adequada a levar uma vida activa saudável! Verde foram fruto de um trabalho árduo e
A ultrapassagem desta situação requer mo- longo de melhoramento genético conven-
dificações profundas em diversos domínios, cional. Nos recuados anos cinquenta, o pro-
principalmente na política de distribuição e cesso de produção de uma nova variedade
acesso aos alimentos e no controlo do cres- combinando as características agronómicas
cimento populacional, mas requer também, desejadas era realizado pelo cruzamento de
naturalmente, a continuação do aumento da linhas parentais apropriadas, seguida de uma
produção de alimentos. Felizmente, vislum- cuidadosa e paciente selecção da descendên-
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cia, num processo geralmente demorado e de serem ortólogos dos genes GAI (Gibberellic
resultados imprevisíveis; por vezes, no final Acid Insensitive) de Arabidopsis (Koorneef
de muitos anos e cruzamentos, não se obti- et al., 1985) e dos genes D8 (Dwarf8) do
nham variedades com desempenho superior milho (Fujioka et al., 1988), previamente
aos progenitores. De facto, durante muitas caracterizados, para os quais também eram
décadas, a prática de melhoramento genético conhecidas mutações que produziam plantas
era um processo largamente empírico, pois de porte reduzido insensíveis às giberelinas5.
desconhecíamos não só os genes responsá- Sabe-se que em todos os casos, as regiões
veis pelas características procuradas como amino-terminal das proteínas produzidas
desconhecíamos os mecanismos de controlo (gai, rht-D1 e d8), exibem alterações na sua
da sua expressão. Ultimamente, porém, esta estrutura, principalmente num domínio al-
situação tem vindo a alterar-se progressiva- tamente conservado designado DELLA6,
mente. que está envolvido na sinalização das gibe-
relinas (Fig. 1). As mutações de Rht-B1b e
Identificação dos genes do nanismo do Rht-D1b são muito semelhantes, envolvendo
trigo e do arroz. ambas substituições de nucleótidos que ori-
ginam codões de paragem que conduzem à
Passaram várias décadas até se perceber a formação de proteínas truncadas na região
base genética da redução do porte das plantas DELLA, mas que são ainda assim activas.
de trigo e de arroz que fizeram a Revolução As proteínas DELLA funcionam como re-
Verde. Há cerca de dez anos, a ciência fez pressores intracelulares (localizados princi-
um progresso significativo nesta área com a palmente no núcleo) da acção das GA, isto
identificação dos genes reguladores da altu- é, são responsáveis pela repressão da trans-
ra do trigo que permitiram a produção das crição dos genes de resposta às GA na ausên-
plantas semi-anãs - os genes Rht (de Redu- cia da hormona. Quando esta está presente,
ced height), localizados nos cromossomas a ligação ao seu receptor promove a interac-
4B (Rht-B1b) e 4D (Rht-D1b) do genoma da ção das proteínas DELLA com o complexo
planta (Peng et al., 1999). Cada gene provo- GA-receptor e induz a sua degradação, pelo
ca uma redução semelhante na estatura da que a repressão é suprimida (Fig. 2). De fac-
planta, mas os seus efeitos são aditivos. É to, a associação das proteínas DELLA com o
importante fazer notar que os alelos Rht não complexo GA-receptor provoca a ubiquitina-
afectam o crescimento dos entre-nós das es- ção daquelas proteínas e o seu subsequente
pigas no período da sua expansão, de modo reconhecimento e degradação pelo complexo
que o crescimento final destas é idêntico ao proteossómico7. Os domínios DELLA são
das plantas de estatura normal, permitindo essenciais para a interacção destas proteínas
assim as elevadas produções das plantas de com o receptor das GA na presença da hor-
altura reduzida. Estas plantas possuem muta- mona e, portanto, são suficientes para inacti-
ções com ganho de função (semidominantes) var a função repressora destas proteínas. No
naqueles genes, que se demonstrou codifica- caso das mutações Rht, as proteínas trunca-
rem proteínas alteradas que provocam uma das na região DELLA continuam a ser capa-
ausência de resposta às hormonas promotoras zes de exercer a acção repressora dos efeitos
do alongamento dos entre-nós, as giberelinas das GA na ausência destas, mas como aquela
(GA)4; mutações em qualquer dos seus loci alteração impede a sua interacção com o re-
alteram a intensidade da resposta da planta ceptor da hormona quando esta está presente,
àquela hormona e produzem graus variáveis não são degradadas, continuando a inibir a
de nanismo. transdução do sinal GA, funcionando assim
Esta foi a primeira vez que foram identi- como repressores constitutivos da acção des-
ficados tais genes no trigo, que se verificou tas hormonas (V. nota 6 e figura 2).
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Figura 1 – Representação esquemática das proteínas DELLA, com indicação dos dois domínios da região
N-terminal (DELLA e VHYNP) responsáveis pela sua acção repressora na sequência de
transdução das giberelinas. Na região C-terminal localizam-se os domínios típicos da família
GRAS, a que pertencem as proteínas DELLA.

O mecanismo pelo qual as proteínas com GA no interior da bolsa, julga-se que a


DELLA reprimem a expressão dos genes de parte exterior da “tampa”, hidrofóbica, intera-
respostas às GA não foi ainda exactamen- ja com as proteínas DELLA, indo determinar
te determinado, sendo possível que o façam a sua degradação (Fig. 2). O mecanismo que
por via múltiplas e, possivelmente, indirectas, leva à ubiquitinação das proteínas DELLA e
por exemplo interagindo com activadores de sua subsequente degradação não está escla-
transcrição desses genes que são assim retidos recido, sendo possível que envolva uma alte-
em complexos inactivos (Feng, 2008) (Fig. 2). ração conformacional no domínio GRAS da
Só em 2008 foi revelada a base estrutural do proteína, situado na região C-terminal (Fig.
reconhecimento das GA pelo seu receptor e da 2). Nalgumas plantas, as proteínas DELLA
interacção das DELLA com o complexo GA- estão fosforiladas, mas o significado – se al-
receptor, em plantas de arroz (Shimada et al., gum – desta fosforilação para o mecanismo
2008). No arroz, o receptor é uma proteína nu- de acção/degradação das proteínas permanece
clear, GID1 (GIBBERELLIN INSENSITIVE desconhecido (Schwechheimer et al., 2009).
DWARF1)8 (Ueguchi-Tanaka et al., 2005), que Mais recentemente, foi proposto que a glico-
forma uma cavidade na sua região N-terminal, silação das proteínas DELLA é requerida para
coberta por uma “tampa” amovível, onde se a sua acção, por estar envolvida na interacção
vai ligar a hormona GA, que é aí retida por da proteína com o receptor da hormona, mas
interacções polares e não polares com amino- falta suporte bioquímico para esta proposta
ácidos de GID1. Quando a “tampa” se fecha, (Schwechheimer et al., 2009).

Figura 2 – Proposta do mecanismo de sinalização das giberelinas. Na ausência das GA (lado esquerdo da
figura), as proteínas DELLA reprimem a expressão dos genes de resposta àquelas hormonas, possivelmente
ligando-se a factores de transcrição (FT) desses genes e retendo-os em complexos inactivos; quando as GA se
acumulam (lado direito da figura), as proteínas DELLA associam-se ao complexo GA-Receptor (representado
na figura por GID1, receptor nuclear das GA no arroz) através de vários motivos do domínio DELLA e
essa interacção vai desencadear a degradação das proteínas DELLA, eliminando a sua acção repressora e
promovendo a expressão dos genes de resposta às GA.
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No arroz, são também conhecidos casos de que esteve no início da Revolução Verde para
nanismo, como gid1, gid2 e slr1, por exem- a cultura do arroz neste país. IR8 foi desig-
plo, em que os mutantes são insensíveis às nado o “arroz maravilha” e serviu de base a
GA. Contudo, a origem do nanismo das cul- muitas cultivares semi-anãs de arroz indica
tivares de arroz utilizadas na Revolução Ver- cultivadas nas áreas tropicais e semitropicais
de resulta da mutação recessiva semi-dwarf1 da Ásia, mas também de arroz japonica, para
(sd1 ou OsGA20ox-2) que causa a perda da cultivo nas regiões mais temperadas da Re-
capacidade de produção da enzima GA20- pública da Coreia e da Califórnia9. Contudo,
oxidase (GA-20ox) que catalisa a parte fi- IR8 não era perfeito: era atacado por algumas
nal da síntese da GA20 (Monna et al., 2002; doenças e pragas e o grão exibia uma apa-
Sasaki et al., 2002). O gene, localizado no rência que não era do agrado geral do consu-
braço comprido do cromossoma 1, exibe midor. Além disso, porque continha um alto
uma ausência de 383 pares de bases que in- teor de amilose, endurecia depois de cozido.
viabiliza a síntese da enzima normal. Note- Por isso, logo a seguir ao seu aparecimen-
se que o genoma do arroz contém um outro to, começaram os esforços por criar novas
gene que codifica igualmente uma GA20ox cultivares sem estes inconvenientes. Surgiu
(GA20-ox1), mas este está preferencialmen- primeiro IR36, uma variedade semi-anã com
te expresso nas partes reprodutivas da planta, elevada resistência a um grande número de
ao contrário do que sucede com sd1, que se pragas e doenças e um ciclo de vida muito
localiza principalmente nos caules e lâmina mais curto do que o de IR8 e, em 1990, foi
das folhas. A mutação sd1 é a responsável criado o IR72 com uma produtividade supe-
pela redução da altura do arroz, enquanto o rior à de IR36.
gene GA20ox-1 deve explicar a ausência de Note-se que embora a ausência dos efei-
efeitos na produção de grão pelas plantas de tos das GA esteja na origem dos fenótipos
estatura reduzida (Sasaki et al, 2002). As de baixa estatura nas duas principais cultu-
plântulas sd1 são, portanto, capazes de res- ras da Revolução Verde, a base genética e a
ponder à aplicação exógena de GA com au- função bioquímica dos genes envolvidos são
mentos da sua altura, podendo mesmo atingir completamente distintas num e noutro caso.
o tamanho das plantas normais. O gene sd1 Lembre-se, a propósito, que o trigo tem um
foi originalmente introduzido de uma va- genoma hexaplóide, pelo que a presença de
riedade chinesa Dee-geo-woo-gen, que foi um alelo recessivo num só dos seus cromos-
cruzada com uma variedade de palha alta da somas dificilmente se reflectiria numa alte-
Indonésia, Peta, em 1962. Deste cruzamen- ração visível do porte da planta, o que já é
to, na sequência de um programa cuidado de possível no arroz.
melhoramento, foi produzida no IRRI a nova Os aumentos de produtividade consegui-
cultivar IR8, disponibilizada aos agriculto- dos com a Revolução Verde envolveram
res em 1966, que permitiu que a produção principalmente as culturas do trigo e do arroz.
de arroz duplicasse nas Filipinas no período Contudo, há um terceiro cereal de enorme
de duas décadas! Sob condições óptimas de importância agrícola e económica, o milho,
fertilização e irrigação, IR8 chegava a exibir sobre o qual iremos adicionar uma pequena
uma produtividade mais de dez vezes supe- nota. Estes três cereais, no seu conjunto, são
rior às das variedades tradicionais, tendo vin- responsáveis, de forma directa ou indirecta,
do a ser utilizado não só na Ásia, mas tam- por mais de 50% das calorias que ingerimos
bém na África e América Latina. Refira-se, diariamente. Já se referiu acima que a mu-
contudo, que anteriormente a Índia já criara tação Dwarf8 (D8) do milho é muito seme-
uma nova variedade, ADT-27, que também lhante à Rht-1 do trigo, sendo ambas muta-
produzia bastante melhor que as tradicionais ções semidominantes insensíveis às GA, mas
e que estava bem adaptada às condições des- estão igualmente caracterizadas mutações
te subcontinente, tendo sido esta variedade sensíveis às GA, designadamente d1, d2, d3
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e d5. Não há dúvida de que as giberelinas são plantas (Khush, 2001).


as principais hormonas determinantes da al- Até muito recentemente, as opções que
tura da planta, mas há outras hormonas que se ofereciam para um necessário aumento
podem conduzir a um fenótipo semelhante. da produção alimentar a nível global eram
Recentemente, por exemplo, foi descoberto essencialmente duas, a saber: a expansão
um mecanismo pelo qual as auxinas reduzem da área sob cultivo agrícola, feita à custa da
a altura do milho (Multani et al., 2003) nos ocupação de terrenos de floresta ou outros
mutantes br2 (brachytic2). Esta hormona é que desempenham funções essenciais à con-
única no sentido em que o seu transporte na servação da Natureza e, consequentemente, à
planta é polar, mediado principalmente por preservação do frágil equilíbrio ecológico do
um conjunto de proteínas de efluxo localiza- nosso Planeta, ou o aumento de produtivida-
das assimetricamente na membrana plásmi- de das áreas já sob cultivo agrícola, intensi-
ca, designadas PIN. Foi demonstrado que o ficando o recurso a fertilizantes, pesticidas e
transporte basipetal (em direcção à base, des- herbicidas, com os consequentes custos am-
cendente) das auxinas no caule do milho de bientais. No futuro, os ganhos de produção
br2 é reduzido e a deficiência da hormona na têm de ser conseguidos fundamentalmente
parte inferior do caule causa o encurtamento por aumentos da produtividade das culturas,
dos entre-nós e o consequente nanismo da pois não existe grande reserva de terra por
planta. Plantas de milho br2 transportam uma cultivar, devendo ter-se o cuidado, no entan-
mutação em genes responsáveis pela produ- to, de salvaguardar a qualidade do ambiente.
ção de P-glicoproteínas10, que se encontram A biologia molecular, ao possibilitar a
associadas com as proteínas PIN e, possivel- compreensão da base genética da produtivi-
mente, envolvidas no transporte vectorial da dade das plantas e a regulação da expressão
hormona. Br2 é ortólogo do gene AtPGP1, dos genes envolvidos, vem abrir uma terceira
cuja mutação causa igualmente alterações opção que não pode ser ignorada se quiser-
no transporte da auxina e redução do cres- mos satisfazer, de forma sustentável, a pro-
cimento em Arabidopsis thaliana (Geisler et cura global crescente de alimentos. Mesmo
al., 2005). sob condições favoráveis de crescimento, os
ganhos de produtividade de muitas das prin-
Perspectivas para o melhoramento cipais culturas estão a aproximar-se do seu
das plantas possibilitadas pela biologia máximo e novos ganhos serão cada vez mais
molecular difíceis de conseguir. Também por isso, é es-
sencial uma abordagem nova da problemáti-
A descoberta dos genes moduladores da ca de como alimentar mais de 9 mil milhões
resposta às giberelinas nas plantas de trigo e de pessoas em meados do corrente século. A
do gene responsável pelo bloqueio na sínte- selecção empírica de características agronó-
se da hormona nas plantas de arroz, teve um micas de interesse, praticada durante milé-
enorme significado simbólico pelo papel de- nios e que permitiu os impressionantes au-
sempenhado pelas variedades de palha cur- mentos de produtividade de muitas culturas
ta destas duas culturas na Revolução Verde, nos últimos 50 anos, deve ser agora combi-
mas é particularmente importante pelas no- nada com as técnicas de engenharia genética,
vas e promissoras perspectivas que abriu de entre outras, que permitam a introdução de
inserção dos genes do nanismo nos genomas modificações específicas nas culturas, com
de outras espécies de interesse económico. maior eficiência e rapidez.
Estes genes foram já experimentalmente in- Para isso, é fundamental a identificação
troduzidos noutras culturas, provocando a re- dos genes responsáveis pelas características
dução de altura e o aumento de produtivida- agronómicas de interesse, sejam da redução
de esperados, confirmando o potencial desta da estatura da planta, como se discutiu acima,
nova tecnologia de modificação genética das do aumento da produtividade fotossintética,
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da resistência a stresses bióticos ou abióticos espécies diferentes, até provenientes de or-


até à melhoria da utilização da água – apa- ganismos de outros reinos, criando espécies
rentemente, pelo menos, o mais complexo e transgénicas.
difícil dos problemas em termos de biologia O número destas espécies tem estado em
e o de maior relevância em termos práticos. constante crescimento e poderá, em breve,
Há alguns anos atrás, o então Secretário-Ge- incluir muitas das principais culturas agríco-
ral da ONU reclamou uma nova revolução las, à medida que avançam as metodologias
na agricultura, que designou de Revolução para inserção de genes. O sucesso desta tec-
Azul – “more crop per drop” - para realçar a nologia poderá ser avaliado, em parte, pela
grande importância do problema da escassez expansão da sua área de cultivo, que subiu de
crescente da água para a produção agrícola. cerca de 3 milhões de ha em 1996 para qua-
O arroz foi o primeiro cereal cujo genoma se 30 milhões em 1998 - um aumento de 10
foi completamente sequenciado, em 2005, vezes nos três primeiros anos de comerciali-
tendo-se seguido o do sorgo (Sorghum bico- zação – e atingiu em 2008, a nível mundial,
lor), em 2009 – e sem dúvida que em breve mais de 125 milhões de ha. Há uma “guerra”
conheceremos o de outros, como os do mi- em curso entre opositores e defensores dos
lho e trigo – mas entretanto conheceu-se o de organismos transgénicos, mas é inquestioná-
algumas outras plantas, o que veio permitir vel que estes têm o potencial de aumentar a
análises genómicas comparativas que irão produtividade das culturas sem a utilização
acelerar o conhecimento das funções e inte- de agroquímicos poluentes, por um lado,
racções dos genes. O desafio que se coloca mas também o de melhorar o valor nutritivo
agora é o de saber tirar partido da informa- dos alimentos. Esta tecnologia pode oferecer
ção fornecida pela sequenciação dos geno- novas oportunidades para se conseguir uma
mas das culturas para identificar os genes indispensável segurança alimentar a nível
responsáveis pelas características desejadas mundial que não se devem desperdiçar, sem
para se conseguir uma maior e melhor pro- prejuízo de se dever estar atento e alerta a
dução de alimentos. É expectável que muitas eventuais perigos que transportem consigo.
das características agronómicas relevantes Muitas vezes a oposição aos transgénicos
sejam controladas por múltiplos genes, mas, tem a ver com procedimentos de multina-
surpreendentemente, tem vindo a verificar-se cionais que inviabilizam a possibilidade de
que tal não é necessariamente o caso e que estender a cultura destas plantas aos mais
a resistência a alguns importantes stresses necessitados, os países mais pobres, ao esta-
é controlada por um só ou por um pequeno belecerem preços das suas sementes que as
número de genes. Para dar apenas dois exem- tornam inacessíveis. Há outras preocupações
plos, a resistência ao encharcamento no ar- válidas, como a possibilidade de cruzamento
roz parece ser principalmente controlada por das culturas transgénicas com as indígenas e
um só gene (Surridge, 2002) e a resistência à é importante que antes da generalização des-
seca no sorgo é explicada, em grande parte, ta revolução biotecnológica na agricultura
pela existência de cópias adicionais de pou- seja inequivocamente demonstrado que não
cos genes da planta (Pennisi, 2009). Repare- comporta riscos inaceitáveis, nomeadamente
se, portanto, que alguns importantes desafios para a saúde humana e para o ambiente. Seria
colocados à alteração das plantas podem ser desastroso trocarmos os perigos conhecidos
resolvidos, pelo menos em parte, manipulan- de poluição provocados pelo uso e abuso de
do de forma correcta o seu próprio genoma, fertilizantes e pesticidas no passado por ris-
sem necessidade da introdução de genes de cos desconhecidos e de dimensão imprevisí-
outras espécies. Sem dúvida que a engenha- vel eventualmente causados pela utilização
ria genética permite eliminar a dependência comercial de plantas transgénicas. Permane-
da variabilidade genética existente na espé- cerá sempre um grau de risco variável e cada
cie em causa, pela transferência de genes de caso requererá um estudo particular; na deci-
A Revolução Verde e a biologia molecular 253

são final terão de ser ponderados os riscos e Kesavan, P.C. & Swaminathan, M. S. (2006)
benefícios e optar-se pelo mal menor ou pelo - From Green revolution to Evergreen re-
bem maior, consoante as circunstâncias. volution: pathways and terminologies. Cur.
Infelizmente, a discussão das aplicações Sci. 90: 145-146.
da biologia molecular à agricultura têm-se Khush, Gurdev (2001) - Green revolution: the
centrado, quase exclusivamente, na proble- way forward. Nat. Rev. Gen. 2: 615-622.
mática dos transgénicos, mas é chegada a Koorneef, M.; Elgersma, A.; Hanhart, C.J.;
altura de olhar com outra abrangência para van LOenen- Martinet, E.P.; van Rij. L.
esta nova área do conhecimento e certamente & Zeevaart, J.A.D. (1985) - A gibberellin
que os resultados para a humanidade serão insensitive mutant of Arabidopsis thaliana.
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1
 expressão Revolução Verde (Green Revolu-
A zamentos, Norin 10-Brevor 14 (NB14), foi enviado
tion) foi utilizada pela primeira vez em 1968, por para Norman Borlaug, no CIMMYT, onde foi uti-
William Gaud, então Director da USAID, numa lizado para cruzamentos com variedades adaptadas
comunicação à Sociedade Internacional para o às regiões tropicais e subtropicais para originar os
Desenvolvimento, em Washington, DC. trigos utilizados na Revolução Verde (Hedden),
2
Em 1960, as Fundações Rockefeller e Ford cria- sendo igualmente a origem do nanismo de muitas
ram, conjuntamente, o International Rice Research variedades de trigo comerciais.
Institute (IRRI), em Los Banos, nas Filipinas, com
6
As proteínas que partilham este domínio altamente
o objectivo de desenvolver novas variedades de conservado na região amino-terminal são designa-
arroz que pudessem aumentar a produção deste das DELLA (das iniciais dos 5 primeiros aminoáci-
cereal em países como a Índia e o sudeste asiático; dos do domínio) e constituem um subgrupo da fa-
muitas dessas variedades, porém, viriam também a mília de proteínas GRAS (de GAI, RGA e SCR, os
ser utilizadas na África e América Latina. nomes dos três primeiros membros da família iden-
3
Em 1943, o México importava metade do trigo que tificados), única das plantas, que funciona como im-
consumia; em 1956 tornou-se auto-suficiente e, em portante reguladora de diversos processos celulares,
1964, exportou meio milhão de toneladas deste ce- designadamente da sinalização de hormonas.
real! As variedades de trigo de alto rendimento uti-
7
O proteossoma é um complexo proteolítico que de-
lizadas para se conseguirem estes aumentos de pro- grada proteínas marcadas pela ubiquitina. Os substra-
dução foram desenvolvidas no Centro Internacional tos marcados são reconhecidos por um componente
de Mejoramiento de Maiz e Trigo (CIMMYT), sob do complexo (RP) e depois transferidos para uma câ-
a orientação de N. Borlaug. mara central (CP) onde são degradados em pequenos
4
As GA formam uma enorme família de diterpenói- péptidos, num processo dependente do ATP.
des tetracíclicos, de que se conhecem mais de 130
8
Em Arabidopsis, por exemplo, foram já identifi-
membros, mas apenas algumas são biologicamente cados três genes ortólogos de GID1 – AtGID1a,
activas, designadamente as GA1, GA3 e GA4. AtGID1b e AtGID1c – que desempenham funções
5
As plantas mutantes que exibem uma redução da al- redundantes na recepção das giberelinas.
tura podem ser agrupados em duas classes, (1) mu-
9
O arroz (Oryza sativa L.) é normalmente dividido
tantes sensíveis às GA, em que o nanismo resulta de em dois subgrupos (por vezes, também referidos
uma interferência na síntese destas hormonas, sendo como sub-espécies), indica e japonica, comercial-
possível restaurar o tamanho normal por aplicação mente conhecidos como arroz do tipo agulha e ca-
exógena das mesmas; (2) mutantes insensíveis às rolino, respectivamente.
GA, em que a aplicação da hormona não causa ne-
10
P-glicoproteínas são proteínas transmembranares
nhum ou apenas um reduzido efeito no crescimento com actividade transportadora da família ABC
da planta. As plantas de trigo com mutações de Rht (ATP-Binding Cassette), que nos animais tem
pertencem a esta última categoria e acumulam mes- sido demonstrado estarem envolvidas no efluxo
mo, muitas vezes, altos níveis de giberelinas bioac- de drogas utilizadas no combate a tumores e, por-
tivas. Rht-1 e Rht-2 foram originalmente introdu- tanto, responsáveis por resistência ao tratamento
zidos a partir de uma variedade de trigo japonesa desta doença. É interessante que nas plantas a pre-
semi-anã, Daruma, que foi cruzada com variedades sença destes transportadores aumenta igualmente
norte-americanas de alto rendimento para produzir a resistência a herbicidas e outros compostos
a cultivar Norin 10. Norin 10 foi depois utilizada químicos tóxicos, sugerindo uma função idêntica
em programas de melhoramento e um dos seus cru- à já conhecida nos animais.

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