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FUNDAÇÕES

NA PRÁTICA
POR VINICIUS LORENZI

ANGE

FUNDAÇÕES
SEM COMPLICAÇÕES
Quem é Vinícius Lorenzi

A jornada do autor iniciou muito cedo, na


Fungeo, empresa da família que tem mais
de 30 anos no mercado.
Ainda jovem, com 14 anos, começou como
auxiliar da mãe, diretora financeira da
empresa, fazendo a rotina de idas a bancos,
clientes e fornecedores. Pouco a pouco, o

pai, geólogo, foi puxando o filho que tomou


gosto pela rotina de obras.
Optando pela escolha mais óbvia e
necessária para dar continuidade aos
negócio da família, em 2009 graduou-se
Engenheiro Civil pela UNIOESTE. Na
sequência, em 2012, concluiu o Mestrado
em Engenharia com ênfase em Fundações,
pela COPPE-UFRJ. Foi nessa época, que
retornou à Fungeo para atuar, agora não
mais como o "faz tudo", mas como
Engenheiro de Fundações, vindo a assumir
posteriormente o cargo de Sócio-Diretor de
Engenharia. Mesmo depois de concluir o
mestrado e com a vida agitada por obras

de todos os tipos, em 2014 Vinícius conclui


sua pós graduação em Gestão Empresarial
pela FGV e, em 2020 concluiu o doutorado,

defendendo sua tese pela Escola de


negócios PUC-PR.
Mais do que experiência prática, Vinícius
Lorenzi tem algo valioso para engenheiros
de todos os níveis:

Sede de aprender cada vez mais e uma


didática que torna simples o aprendizado,
mesmo para quem está começando na
área de fundações.
É hora de aprender
Fundações na Prática
com Vinícius Lorenzi

Graduação em engenharia civil, mestra


do, doutorado.
Sem falar em pós graduação e tantos
outros cursos.

Nada! Nada ensinou tanto, como a expe


riência prática.
Foi na Fungeo, empresa da família, que
tem mais de 30 anos de atuação, que
Vinícius Lorenzi, literalmente, cresceu.
Desde criança, acompanhando os pais
em obras e em tudo que a empresa fazia,
que a paixão por fundações nasceu, se
desenvolveu e ultrapassou as barreiras
do negócio físico, se tornando o maior
canal de fundações nas redes sociais do
mundo.

Hoje, depois de tantos anos, vivenciando


obras de todos os portes e ensinando
fundações, na prática, para milhares de
alunos de todos os cantos do país, esse
livro vem como uma ferramenta que vai
colocar aí, nas suas mãos, tudo que você
precisa para projetar e executar funda
ções, sem medo de errar.
Você terá acesso ao raciocínio técnico de
quem se fundamenta não apenas em
teoria, mas na experiência prática.
Esse livro é uma maneira que Vinícius
Lorenzi encontrou de transbordar o
conhecimento acumulado e disponibili
zar ele, de forma simples, didática e
muito prática, para te ajudar a dominar
fundações, onde estiver.

Bons estudos!
FUNDACÕES
SEM COMPLICAÇÕES

FUNDAÇÕES
NA PRÁTICA

Dr. Vinicius Lorenzi


Proteção de direitos

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Preparação e Edição do Texto Ilustração

Jéssica Pinangé Ivaly Triches, Rocha Arts,


Matheus Borges e Alexandre Rossa

Revisão Ortográfica Fotografia

Paula Craveiro Kauä Veronese

Capa Imagens

Jeffo Granetto Acervo do Autor

Projeto Gráfico Copywriter

Nara Azevedo Cláudia Justus

Diagramação e alização

Alexandre Rossa

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Angélica llacqua CRB-8/7057

L868F

Lorenzi, Vinicius

Fundações na Prática / Dr. Vinicius Lorenzi. - Cascavel, PR: FSC Treinamentos em Engenharia
Civil Ltda, 2022.

384 p.: il.

ISBN 978-65-997652-0-9

1. Engenharia Civil 3. Fundações (engenharia) I. Título

22-1748
CDD 624.15

Indices para catálogo sistemático:


1. Fundações (engenharia)

FUN
SEM
COMPLICAÇÕES

ÇÕES
Prefácio

A Engenharia brasileira tem um longo caminho a trilhar, quando comparamos a teoria vista
na faculdade e a prática do dia a dia. A verdade é que, independente disso, na obra, não se permite
erro. Não dá pra fazer de qualquer jeito, ser um profissional inconsistente, descuidado e esperar
bons resultados. Os frutos sempre mostrarão como é a árvore de verdade.

Trabalhamos com cálculos, com precisão, avaliando as melhores soluções técnicas que
atendam a complexidade cotidiana das obras. Para a Fungeo chegar a ser referência como é hoje,
foram anos de estudo, de trabalho, de planejamento e de bons resultados. No início, tínhamos
poucos recursos e um grande propósito, que nos trouxe até aqui. Pioneirismo, tradição e um
legado de honestidade, qualidade e compromisso com nossos clientes.

Nesse ambiente, Vinicius foi forjado.

O retorno do Vinicius para a Fungeo, após sua formação, foi como oxigênio: sempre ágil,
impetuoso e muito ligado às tendências, compartilhou uma nova visão e agregou muito à empresa,
conquistando dia após dia seu espaço. Nada foi fácil ou "de mão beijada". O olhar estratégico
para estudar os cenários atuais, a força para enfrentar os desafios e, posteriormente, o dinamis
mo para gerenciar os papéis de sócio-diretor, de engenheiro de fundações e de professor, foram
fundamentais nessa jornada de crescimento.

Vinícius sempre desejou ir além. Inconformado com a realidade do engenheiro recém


-formado, encontrou nas redes sociais um espaço para compartilhar sua vivência e experiência,
podendo, assim, contribuir com milhares de estudantes/engenheiros que buscam conhecimento
aliado à experiência. A partir disso, pôde aproximar a Ciência (por vezes tão distante) à prática
da profissão. O objetivo principal sempre foi de levar o saber formal e acadêmico, de um jeito
leve e acessível, para melhorar a qualidade das obras e popularizar boas práticas de engenharia
pelo Brasil.

Didático, claro e prático, o conteúdo dele demonstra a realidade do canteiro de obras, do


escritório e da gestão empresarial. Vinícius vive a Engenharia com paixão! Sua trajetória vem mos
trar que é possível ao engenheiro ser bem-sucedido e mais: feliz com a profissão. Que mesmo em
tempos de crise, é possível crescer fazendo a coisa certa, sem perder o entusiasmo e a vivacidade.

Com orgulho, afirmo que você terá nessa obra, caro leitor, um reflexo dessa atitude: de
entender que o conhecimento prático aliado ao conhecimento acadêmico amplia o campo de
visão e fundamenta as melhores decisões. Que a prática possibilita a evolução; fazer, ajustar e
refinar para, aí, fazer melhor. Por fim, que a busca pela excelência é o que vai te levar mais longe,
para grandes resultados.

Gerson Angelo Lorenzi


Dedicatória

Aos meus pais, Gerson e Elisete.

A minha amada esposa Poliana.

Aos meus filhos Benjamin e Olivia.


Apresentação

Recordo-me criança, com pouco mais de 10 anos de idade, sentado em frente ao meu pai,
ouvindo-o negociar obras de fundações. Recordo-me também das inúmeras idas ao banco, com
essa mesma idade, auxiliando minha mãe na gestão da empresa. Na hora do almoço, havia
apenas um único assunto à mesa de refeições: obras de fundações.
Tive o privilégio de respirar fundações por uma vida toda, afinal sou apenas 2 anos mais
velho do que a Fungeo, empresa familiar, responsável por grandes obras, algumas, inclusive, com
renome nacional, como as passarelas das Cataratas do Iguaçu e muitas outras.

Respirar fundações. Sempre estive imerso nesse universo e jamais me vi fazendo outra
atividade. O conhecimento prático, adquirido no escritório e nas obras da Fungeo, me trouxeram
até aqui.

Escrevi este livro como forma de agradecimento a todo conhecimento que recebi na minha
jornada profissional. Sempre senti a necessidade de compartilhar tudo o que sei, tudo o que tive
a oportunidade de aprender.

O que você encontrará neste livro é o meu conhecimento prático, é literalmente Fundações
na Prática, pois é a maneira como eu, enquanto profissional e baseado em normas e boas práticas,
enxergo e vivo o tema.

Esta obra não é para quem procura páginas e mais páginas de fórmulas infinitas que você
sequer vai usar no seu dia a dia profissional. O livro lhe ajudará a ter uma visão prática, cotidiana,
com aspectos e casos reais de obras, tornando o leitor alguém mais familiarizado com o assunto
e apto a atuar nesse mercado.

Nas redes sociais, o Fundações Sem Complicações nasceu como um canal para compar
tilhar conhecimento prático do meu dia a dia de obras e, agora, este livro traduz em palavras e
disponibiliza aí, nas suas mãos, a minha experiência prática.

Desejo a você, leitor e aluno, uma excelente leitura e que esta obra seja sua companheira
para ir para as obras seguro e confiante.

Vinicius Lorenzi
SUMÁRIO

PARTE1-CONHECIMENTOS PRÉVIOS NECESSÁRIOS PARA


FUNDAÇÕES.. 13

1. PARTINDO DO PRINCÍPIO. 14

1.1 A importância das fundações no dia a dia .14

1.2 Importância da norma... ..16

1.3 0 que não fazer na Engenharia?. .20

2. ENGENHARIA GEOTÉCNICA. 22

3. INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA 27

3.1 Situação prática.. 34

4. ENSAIOS DE CAMPO. 36
4.1 Standart Penetration Test (SPT). .39

4.2 Quanto custa uma sondagem SPT?.. .49

4.3 Problemas na execução das sondagens.. .51


4.4 CPT/CPTU... .54

4.5 Sondagem Rotativa. .58

4.6 Ensaio de placa. .63

4.7 Imprevistos de sondagens .68

4.8 Leitura e interpretação de um laudo de sondagem SPT. .73

PARTE 2 - EXECUÇÃO DAS FUNDAÇÕES. 91

5. INTRODUÇÃO À EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES.. 92

5.1 Observações práticas para boa execução de fundações. .93

5.2 Medidas para mitigar falhas na execução. .93

6. EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA.. 95


6.1 Fundações superficiais.. .95

6.2 Sapatas .95


6.3 Bloco. .106

6.4 Radier.. .106

116
6.5 Imprevistos durante a execução de fundações rasas...

7. EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS.. ..121

..123
7.1 Estaca escavada
.139
7.2 Estacas escavadas com alargamento de fuste
..142
7.3 Estaca hélice contínua monitorada
.164
7.4 Estaca hélice monitorada com trado segmentado.
.166
7.5 Estaca hélice de deslocamento (estaca ômega)
.170
7.6 Estaca raiz.
.179
7.7 Estaca raiz inclinada..
7.8 Estacas metálicas, de madeira e pré-moldadas em concreto.186
.203
7.9 Estacas Strauss.
..216
7.10 Estacas mega..
.224
7.11 Estacas Franki..
..233
7.12 Estacão e estaca barrete.
.244
7.13 Tubulão a céu aberto
7.14 Estacas helicoidais Por Incotep - Sistemas de Ancoragem...257
PARTE 3-DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES..........267
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS.... 268
8. 8.1 Tensões admissíveis das sapatas. .268

.270
8.2 Métodos Teóricos.
.277
8.3 Métodos Empíricos..
.280
8.4 Métodos Semiempíricos.
.282
8.5 Dimensionamento estrutural da sapata.
.298
8.6 Verificação à punção.
..303
8.7 Bloco de fundação superficial..

9. DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES PROFUNDAS.. 306

.307
9.1 Resistência de ponta.
9.2 Resistência lateral .307

9.3 Método Aoki-Velloso.. .309


9.4 Método Décourt-Quaresma.. 311

9.5 Dimensionamento estrutural. .315

10. CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES - CARGA DE


CATÁLOGO 325
10.1 Estacas Metálicas de Aço ..326

10.2 Estacas tubulares... ..326

10.3 Estaca raiz..... ..330

10.4 Estaca hélice contínua. .333

10.5 Estaca Strauss ..333

10.6 Estaca Franki 334

10.7 Estacas Escavadas. ..335

PARTE 4 - FUNDAÇÕES NA PRÁTICA. 339

11. O QUE FAZ UM PROJETISTA?. .340


11.1 Como projetar bem uma fundação? 344

11.2 Experiência prévia em campo .344

11.3 Domínio teórico e raciocínio técnico .346

11.4 Fatores limitantes de uma fundação.. .347

11.5 Checklist de projeto.. .349

11.6 Modelo de Projeto... .356

11.7 Modelo de proposta. .360

12. QUALIDADE EM FUNDAÇÕES. 362

12.1 Como eu uso o Fator de Segurança?. .365

12.2 Prova de carga estática. .370

12.3 Sistema de prova de carga. .373

13. INFORMAÇÕES ADICIONAIS 375

13.1 Considerações gerais sobre fundações em divisas.. .375

13.2 Escavações provisórias em obra. 377

13.3 Equipamento de fundações: qual comprar?. .378

13.4 Aprenda a vender Engenharia!. 379

13.5 Precificação de serviços de Engenharia 381


FUN
DACOMPLICAÇÕES
ÇÕES

PARTE 1

CONHECIMENTOS PRÉVIOS
NECESSÁRIOS PARA
FUNDAÇÕES
1. PARTINDO DO PRINCÍPIO
Objetivos do capítulo

Neste capítulo, entenderemos a importância do uso das normas


técnicas e das boas práticas de engenharia no cotidiano das obras de
fundações. Este capítulo também visa orientar quanto à importância
de o engenheiro seguir as normas técnicas; destacar práticas desacon
selháveis na profissão; e demonstrar a importância do conhecimento
sobre fundações no cotidiano.
1031
1.1 A importância das fundações no dia a dia
Já parou para pensar quais são as razões para o engenheiro
aprender fundações? Vamos analisar alguns pontos importantes para
compreender isso.

A primeira razão é básica: toda obra precisa de uma fundação!

Não importa se a obra é de pequeno, médio ou grande porte, ela


precisará de uma fundação que suporte as cargas da estrutura.

A segunda razão tem relação com os constantes erros em projeto


e execução na etapa de fundações na engenharia. Geralmente, ela é a
última etapa a ser projetada e a primeira a ser materializada na obra.

Precisamos ser práticos: é fundamental identificar a raiz dessas fa

Ihas, observar se são mais frequentes na etapa de projeto ou no processo


executivo de uma fundação e buscar mitigá-las. Na etapa de projeto,
ajustes são normais e precisam acontecer antes de ir para a obra. Nessa
etapa, o custo do retrabalho é baixo, mas quando o projeto é liberado
para execução, os erros podem custar caro.

Os problemas podem surgir desde a fase inicial, com um planeja


mento ineficiente, uma abordagem de projeto equivocada ou a definição
de premissas incorretas.

Você sabe qual é o impacto que o erro em uma fundação gera


em uma obra?

A correção de erros causados por uma falha de fundações é algo


complexo-totalmente complexo! Corrigir uma manifestação patológica
gerada a partir de uma falha de fundações leva a grandes transtornos
na obra para sua correção.
Vinicius Lorenzi

Os problemas de fundações geralmente não são aparentes, logo, são difíceis de se


identificar desde o início. Por isso, quando identificados, geralmente envolvem grande
complexidade para sua correção.

Na prática, o reforço de uma fundação pode resultar em quebra de piso, escavações,


custos adicionais, gasto de tempo e incômodos na obra pronta. Os erros mais comuns em
cada uma das etapas precisam ser identificados para que, em obras seguintes, não sejam
repetidos. E não importa se ocorrem no projeto ou na execução; no final das contas, são
erros que impactam a obra de forma global.

Dois erros muito comuns que ocorrem são:

1. não levar em conta o estudo do solo apropriado (o que ajudaria o engenheiro


a tomar decisões mais assertivas e seguras no projeto);

2. contratar material com qualidade ruim para a execução (por exemplo, con
creto com Fck inadequado para as fundações).

Outro motivo para aprender bem o assunto de fundação é o custo. Um bom projeto
e uma boa execução podem gerar economia na obra quanto a tempo, pessoal, materiais
e insumos (concreto, aço, escavação).

Uma variável muito importante, que por vezes é ignorada, é o tempo de obra. Ob
serve: um mês a mais de obra significa um custo muito elevado, pois demanda mais horas
de mão de obra, mais horas de equipamentos alugados e pode significar atraso na entrega.
Cada tipo de fundação possui um processo executivo específico, que pode demandar mais
tempo e insumos. Para evitar desperdícios, isso precisa ser analisado coerentemente.

No mercado atual, com elevados custos de insumos, de equipamentos e de mão de


obra, temos margens de lucros cada vez menores. Pode parecer simples equacionar essa
conta, afinal, se eu quero aumentar a minha margem de lucro, basta eu aumentar meu
preço de venda, certo? Talvez não seja bem assim, pois o preço final tem sido a variável
decisiva na compra de um produto ou uma contratação de serviço. Por isso, a redução de
custos é tão importante.

Dentro ou fora do canteiro de obras, o engenheiro enquanto empresário, consultor,


executor de obra, orçamentista, planejador ou investidor deve ter essa ciência. Na prática,
a redução inteligente de custos representa aumento significativo da margem de lucros.

Então, por que aprender fundações? Porque esse conhecimento permite tomadas de
decisões conscientes e bem-feitas. Essas escolhas podem reduzir custos globais, aumentar
a margem de lucros da obra, agregar valor e confiança ao engenheiro (projetista e exe
cutor) e, ainda, promover mais segurança estrutural e durabilidade ao sistema projetado.

É preciso desmistificar a ideia pré-concebida de que fundações podem ser feitas


de qualquer jeito sem que haja impacto para a obra. Há, ainda, outra visão que configura
a área de fundações como perigosa e complexa demais para se trabalhar, um verdadeiro
"monstro mitológico da Engenharia".

15
PARTINDO DO PRINCÍPIO

Quantas vezes você já recebeu um vizinho em obra "palpitando"


sobre as suas fundações?

- Ih, isso al é exagero! Para um sobrado, não precisa mais de


3 metros.

-Vão fazer uma casa ou o Burj Khalifa com essa fundação?


- Aqui na vizinhança, todos fizeram fundação em sapata. Por
que você está fazendo em estacas? Você está jogando dinheiro fora!
Complicado, não?

Nesse caso, vale lembrar ao vizinho de quem é a responsabili


dade por aquela obra - quem está assinando a Anotação de Respon
sabilidade Técnica (ART) da obra, quem vai arcar com as despesas
caso ocorram manifestações patológicas etc. Certamente não seria
responsabilidade dele...

1.2 Importância da norma

O projetista precisa entender o quanto é fundamental conhecer a fundo as normas


técnicas, saber utilizá-las e compreender o quanto pode ser perigoso e caro ignorá-las.
Essa é uma premissa básica para começar na área de fundações.

Mas o que é a efetivamente uma norma? Uma norma técnica é um documento ela
borado por um conjunto de especialistas da área e que reúne uma série de prerrogativas,
recomendações e orientações para o melhor desempenho dos serviços de engenharia
(como projeto e execução, entre outros), em termos de segurança e qualidade.

Os profissionais que normalmente estão por traz da elaboração da norma possuem


vivência em campo, expertise e buscam, em consenso, contribuir para a evolução da En
genharia, nesse caso específico, da engenharia de fundações.

Na prática, ela serve como um norte para todos os profissionais, seja para quem está
iniciando na área ou para aqueles que estão há mais tempo no mercado.

A norma é o conhecimento fundamental e básico que o engenheiro deve ter em


sua área de atuação.

A atual norma brasileira de fundações (ABNT NBR 6122:2019), por exemplo, detalha
os requisitos mínimos que devem ser observados pelos engenheiros de fundações nos
serviços de projeto e na execução no território nacional, abordando grande parte dos
tipos de fundações existentes.

O que não é contemplado na norma atual? A norma não contempla alguns tipos de
fundação com aplicação restrita, como sapatas estaqueadas, radier estaqueados, estacas
de compactação, estacas tubulares, entre outros. A norma de fundações também deixa
de fora as metodologias em desuso, como caixões pneumáticos. Para essas fundações,
Vinicius Lorenzi

são usadas adaptações a partir dos tipos trazidos pela norma atual ou, ainda, normativas
estrangeiras.

Com o passar do tempo, por conta das evoluções do mercado, da tecnologia e do


próprio conhecimento técnico-científico, as normas são revisadas, alteradas e até mesmo
canceladas ou substituídas não apenas para aprimorar o conteúdo teórico, como também
o aproximar cada vez mais da realidade enfrentada no cotidiano da Engenharia, ou seja,
no escritório e na obra.

Vejamos o que a norma ABNT NBR 6122:2019 fala:

Reconhecendo que a engenharia geotécnica não é uma ciência exata e que


riscos são inerentes a toda e qualquer atividade que envolva fenômenos ou
materiais da Natureza, os critérios e procedimentos constantes desta norma

procuram traduzir o equilibrio entre condicionantes técnicos, econômicos e

de segurança usualmente aceitos pela sociedade na data de sua publicação.


Nos projetos civis que envolvem mecânica dos solos e mecânica das rochas, o

profissional habilitado com notória competência é o profissional capacitado a


dar tratamento numérico ao equilibrio mencionado.

Novos estudos, novas pesquisas científicas e novas tecnologias de mercado levam


a alterações muito significativas nas normas e, por isso, as mudanças aprovadas pelo
corpo técnico na atualização da norma devem ser seguidas, pois caracterizam boas
práticas de engenharia.

Na prática, não existe fiscalização para o cumprimento das normas no cotidiano da


obra. Entretanto, sua não utilização caracteriza ferir a boa prática de engenharia e o que
rege o Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Você não será visitado por um fiscal com crachá da ABNT para ver se sua obra
está correta, seguindo as recomendações da norma.

- Mas se ninguém vai me fiscalizar, por que eu devo seguir as normas?


Imagine: você projeta e executa uma obra para um cliente e, em pouco tempo,
surge uma manifestação patológica, uma trinca, um recalque ou uma falha. Tenho uma
revelação a você: a amizade com seu cliente durará até surgir algum problema na obra dele
ou um custo extra por um erro seu - e você será cobrado por isso! Só que, às vezes, esse
erro teoricamente não foi seu; ele pode ter sido induzido por uma decisão dele. Vamos
analisar isso mais a fundo.

Por exemplo, você deve aprender que toda obra precisa de sondagem. A ABNT NBR
6122:2019 é muito clara! Mas tem um detalhe: há muita dificuldade em vender o serviço
de sondagem para o cliente, que muitas vezes o acha caro e desnecessário, a princípio.

17
PARTINDO DO PRINCÍPIO

Dica!

Para fugir desse problema, demonstre ao cliente que a investi


gação geotécnica pode, entre outras coisas, reduzir o custo da obra. O
custo da sondagem torna-se menor pois a fundação pode ficar mais
econômica com uso da sondagem. Sem ela, você corre dois riscos: o
primeiro é subdimensionar sua fundação (com o tempo, manifesta
ções patológicas ocorrerão), e a segunda é você superdimensionar sua
fundação (aumento desnecessário de custos).

Hipoteticamente, se o engenheiro faz uma obra e, por conta do pedido do cliente,


não executa a sondagem e depois surge uma manifestação patológica (como uma trin
ca) ou, pior, ocorre um sinistro na obra e ela colapsa, juridicamente, o engenheiro será
responsabilizado por não seguir o que preconizou a norma, mesmo que tenha feito isso
a pedido do cliente (que não aceitou pagar pela sondagem), afinal, quem assinou a ART
foi o engenheiro.

Em relação ao contrato de um serviço de engenharia, dois fatores precisam ficar


muito claros: o primeiro é que o engenheiro (contratado) possui a responsabilidade técnica
quanto ao serviço realizado, principalmente se houver algum problema posterior. Por isso,
ele deve atender integralmente às normas (atualizadas) relativas ao serviço que estiver
executando e observar constantemente as boas práticas e recomendações da literatura.
Além da responsabilidade profissional, o engenheiro possui um dever social a cumprir.
O segundo fator do contrato, obviamente, é o contratante. Este pode ser o proprietá
rio da obra ou um representante. Se for o proprietário, é interessante que ele tenha condi
ções de compreender a proposta e o teor técnico dos termos do contrato para autorizá-lo.
Caso não tenha esse entendimento, pode ser representado nas questões exigidas, desde
que o representante tenha domínio do assunto, observando o cunho técnico do contrato
e aceitando todo o rigor que o projeto deve ter.

Fuja de clientes que não querem que você siga as normas técnicas por questões
de custos!

Na prática, funciona assim: vamos imaginar uma obra na qual você tenha sido o
responsável técnico e que esta tenha gerado algum prejuízo ao contratante. Logo, esse
problema poderá levar a um processo judicial após uma tentativa amigável de resolução,
caso as partes entrem em desacordo. Cabe lembrar que a avaliação feita pelo juiz é con
sequente à análise dos assistentes técnicos e peritos judiciais, ou seja, se foi ou não foi
realizada a obra conforme o que preconizam as normas técnicas.
Não seguir o que estar na norma por manipulação do cliente, a fim de reduzir custos
para ele, é um grande risco: o mesmo cliente que lhe pedir isso é aquele que vai lhe pro
cessar por uma falha na obra dele - e ainda vai lhe dizer: "você deveria ter me alertado!".
Vinicius Lorenzi

Cuidado!

É fundamental lembrar que as tomadas de decisão que ocorrem


em qualquer etapa do projeto ou da obra resultarão em responsabilida
des presentes e futuras para ambas as partes, ou seja, para o cliente e
para o engenheiro. Assim, podemos fazer uma analogia da obra como
um casamento duradouro.

Após o problema, seu cliente pode afirmar desconhecimento técnico acerca da


necessidade, por exemplo, da sondagem ou de outra execução preconizada pela norma
que ele pediu para não ser executada. Em um processo judicial, em alguns casos é difícil
reverter a situação a seu favor, portanto, fique atento!

Outro ponto importante a ser analisado é: o engenheiro deve sempre estar atento
às alterações de norma. Uma mudança de mentalidade é necessária ao começar a projetar

fundações: não basta se graduar e especializar e achar que já sabe de tudo para sempre.
Não basta seguir as normas; é preciso seguir o que preconiza a última versão da norma
ou a mais atualizada.

Certo dia, um engenheiro me questionou:

- Eu não sigo integralmente a última revisão da norma, pois está pedindo um Fck 25 Mpa em
estacas hélice contínua. Isso é absurdo, visto que até a norma de 1996 eu usava Fck 15 Mpa?
Aqui, existem dois erros: o primeiro é que a opção de seguir parcialmente a norma
não basta, é preciso segui-la integralmente; a segunda é que as atualizações normativas
são evoluções do processo dentro da engenharia e, sim, é fundamental que você esteja
atento a isso e sempre utilize a que está mais recente em vigor.
Uma vez que uma norma técnica entra em vigor, passa a ser obrigatório usar a versão
mais recente, principalmente o que preconiza a ABNT NBR 15575:2013 com as premissas
de segurança, desempenho e durabilidade.

Fique ligado!

No caso de um imbróglio judicial em alguma obra sua, a perícia recorrerá às normas


Solitécnicas para verificar se a obra analisada foi realizada de acordo com o que todas as
normas técnicas atualizadas preconizam.

Para resumir, seguir a norma corretamente na sua obra significa, na prática, resguardo
quanto a complicações judiciais futuras.

19
PARTINDO DO PRINCÍPIO

1.3 0 que não fazer na Engenharia?


No Brasil, uma prática ilegal e antiética que deve ser abolida do cenário da engenharia
é a assinatura indevida de ART, seja de projeto ou de execução. É arriscado o engenheiro
assinar obras que não projetou ou não acompanhou, que foram realizadas por outras
pessoas. Além disso, é um comportamento irresponsável, reprovado pela classe.

Cuidado!

Principalmente se você é recém-formado, tome cuidado, pois


muita gente pode lhe pedir uma assinatura de ART seja para projeto
ou execução. Amigos, parentes e colegas, sem a noção real do perigo
dessa prática, podem lhe deixar em uma situação bastante delicada!

Em uma situação hipotética, na qual o engenheiro assine a obra sem acompanha


mento (indevidamente) e ocorra a venda desse imóvel ou, ainda, no caso de algum sinistro
ou manifestação patológica futura, ele é o responsável, e aí não adianta dizer para o juiz:
"Ah, eu só assinei a ART".

Para ficar mais claro, vou apresentar um exemplo: se o engenheiro assina por uma
obra simples de um barracão e, anos depois, o novo proprietário decide fazer uma mini-in
dústria e há acréscimos excepcionais de carga, se ocorrer um sinistro, a responsabilidade
civil e criminal é do engenheiro, inclusive em casos graves, como óbitos.
Outro caso muito recorrente de irresponsabilidade é de alterações nos projetos
arquitetônicos que ocorrem durante ou após a execução de obras pequenas.
A compreensão do peso e do forte caráter jurídico da ART é fundamental para a boa
engenharia. E se eximir dessa responsabilidade em uma assinatura ilegal é algo totalmente
inadequado e criminoso.
Infelizmente, para falar da responsabilidade que uma ART carrega, podemos lembrar
de algumas tragédias que ocorreram no cenário da engenharia brasileira, como a que
aconteceu em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019 e que foi um dos maiores crimes
ambientais (e geotécnicos) da mineração do País. Fatos como a ruptura da barragem, a
responsabilização dos engenheiros geotécnicos e, principalmente, a prisão desses profis
sionais são marcantes para qualquer engenheiro.

Recordando esse triste fato, a avaliação dos fluxos de água e da barragem de rejeitos,
que era a função específica do profissional da engenharia geotécnica, não foi feita adequa
damente. Logo, eu diria que este não foi desastre ambiental e, sim, um crime ambiental
por falha na obra. O caso de Brumadinho gerou grande comoção e mobilização social pelo
elevado número de mortos.

Lembre-se sempre: em caso de colapso, a responsabilidade é do engenheiro e,


por isso, ele deve ter consciência do que está assinando.

20
Vinicius Lorenzi

Muitas ARTS de obras executadas, para além do status, geram grandes respon
sabilidades. A assinatura com consciência e responsabilidade gera confiança e torna o
profissional melhor, trabalho após trabalho. Se o serviço for executado conforme as nor
mas e as boas práticas da engenharia, bem como com seriedade, o engenheiro pode ter
segurança e tranquilidade.

O mercado é seletivo e filtra os bons profissionais.

Se você faz engenharia com gambiarra (ajuste técnico permanente), sinto em lhe
informar: o porte de obras que você atrairá continuará pequeno e o número de serviços
captados, escasso.

Por outro lado, se faz um trabalho com seriedade e qualidade técnica, atrairá facil
mente novos clientes, negócios e indicações. Uma base teórica forte aliada à experiência
prática ajudam o profissional a se destacar e a atrair obras maiores na vida profissional.
Sempre tenha em mente que o principal é buscar qualidade, ter responsabilidade
e fazer a coisa certa.

as
Caso de obra!

Uma vez, um amigo estava querendo projetar a fundação de sua casa. Ao me procurar,
ele disse: "Para essa fundação, vou usar 5 barras de 8 mm, com diâmetro de 250 mm

e 3 metros de profundidade, pois lá o 'solo é firme"".

Perguntei a ele: "De onde você tirou que o solo é firme?" A resposta foi: "Um vizinho
daquela região me falou".

Vamos lá... Como saber se esse solo, de fato, é firme? De várias formas, menos da for
ma como meu amigo fez (há vários ensaios quantitativos para isso, que serão descritos

posteriormente). Então, a informação tomada como base por ele não veio de um estudo
de solo ou de uma avaliação geotécnica, mas partiu do que o vizinho orientou, ou seja,
do "achismo".

Com isso, podemos fazer uma reflexão importante: dados colhidos a partir de infor
mações de terceiros sobre o solo da região configuram parâmetros equivocados. Na
prática, muitas vezes o ajuste técnico da engenharia é falho, pouco refinado.

No caso citado, a informação preliminar partiu de uma premissa errada, o que levou
a

uma abordagem inicial de projeto equivocada. E qual é o motivo de estar errada? O fato
não ter vindo de ensaios geotécnicos, avaliações ou estudos de solo.
de

A consequência dessa atitude pode ser um projeto totalmente desconexo com o que
seria necessário na prática, sendo superdimensionado ou subdimensionado e trazendo
muitos prejuízos. Como as fundações ficam enterradas, às vezes se dá pouco valor a elas.
Por isso, em muitos casos são realizadas sem responsabilidade, senso crítico ou bom senso.

21
2. ENGENHARIA GEOTÉCNICA
Objetivos do capítulo

Neste capítulo, abordaremos as possibilidades e desafios dentro


da Engenharia Geotécnica.

O engenheiro civil, desde seu período de graduação, deve se


atentar às demandas práticas do mercado e, principalmente, às opor
tunidades. Na área geotécnica, ele pode investir em diversas frentes
de trabalho, desde fundações, barragens, contenções, investigações
geotécnicas, entre outras.

Dentro de cada uma dessas áreas, pode-se citar as diversas pos


sibilidades de atuação, como: projeto e execução de fundações, con
sultoria em fundações (realizando compatibilização e verificações de
projeto), consultoria para reforço e recuperação de estruturas, projeto
e execução de contenções, avaliação de estabilidade de encostas, es
tradas, barragens, diversos tipos de sondagens, área de patologia das
fundações, entre outros serviços.

Após escolher o caminho a ser percorrido, você precisa se


capacitar!

O conhecimento da geologia é muito importante para qualquer


obra geotécnica. Por isso, é importante que o profissional, desde a
graduação, busque por conhecimento geológico para compreender as
inúmeras possibilidades e os desafios desse elemento. Para os diversos
tipos de solos e rochas, há determinada solução geotécnica; por isso,
soluções genéricas nessa área são descartáveis.

Obras cada vez maiores, com maior número de pavimentos, em


muitas delas grandes escavações de subsolos. Isso tem sido uma forte
tendência nos centros urbanos, com o aumento constante do número de
veículos nas cidades, e tem levado a fundações cada vez mais robustas,
com necessidade de contenções para subsolos cada vez maiores.

O preparo dos profissionais na área geotécnica para lidar com


as mais distintas obras é fundamental. Muitos erros de projeto ainda
assombram a engenharia brasileira, seja na área de projetos ou de exe
cução de estruturas e geotecnia. Logo, há a necessidade no mercado
por especialistas que consigam compreender todas as etapas da obra,
além de conseguir resolver os problemas encontrados.
Vinicius Lorenzi

O profissional da Engenharia deve se diferenciar; deve aprimorar em uma área es


pecífica e aprofundar-se nela.

- Mas como faço isso, Vinicius?

Buscando bagagem teórica e, principalmente, conteúdos práticos, que agreguem


conhecimento real e resolutivo, que lhe ajudem a solucionar desafios do dia a dia do seu
trabalho, seja no escritório, seja no canteiro!

Cuidado!

O profissional se gradua e busca no software a resolução de to


dos os problemas, ele passa a ser um mero espectador da ferramenta.
Isso é um erro! Não somos pilotos de software!

Entenda: a supervalorização dos softwares hoje em dia pelos


profissionais, sem o respaldo do senso crítico do engenheiro, com
bases nas teorias fundamentais da engenharia e da entrada correta
de parâmetros com entendimento global do processo, faz com que
muitos erros ocorram!

Se o profissional não souber alimentar corretamente os progra


mas com os dados corretos, não vai adiantar nada!

As primeiras coisas que você precisa desenvolver enquanto engenheiro são o bom
senso e o raciocínio técnico que conduz ao senso crítico.

-Mas por que falar sobre bom senso e senso crítico dentro da engenharia geotécnica? Onde
isso se aplica?

Costumo receber diariamente muitos projetos os quais o profissional desenvolveu,


mas não tem o senso crítico de análise para entender se são exequíveis ou não; se vão ou
não ter um custo compatível com a obra, entre outras coisas.

Recordo-me de um projeto arquitetônico que previa 3 subsolos para uma edificação


residencial de 6 pavimentos. O cliente dizia que gostaria que cada unidade de apartamento
tivesse 4 vagas de garagem, por isso, o número elevado de subsolos. Quando fizemos a
sondagem do terreno, constatamos que ali existia um nível de água bastante elevado,
próximo a 4 metros e eu, então, indiquei que, para aquele porte de obra, a execução de
1 subsolo era mais aconselhável, pois indicaria soluções técnicas de contenção mais simples.

Negado! Meu cliente buscou, então, outro profissional, que argumentava que poderia
solucionar aquele projeto em parede diafragma e laje de supressão. Sim, é claro que seria
possível, mas e o custo? A obra poderia absorver aquele custo?
A resposta é não! O custo daquela solução geotécnica encareceria muito o valor final
dos apartamentos, que se tornariam pouco atrativos para a venda e deixaria as margens
de lucro daquele cliente extremamente reduzidas.

Aqui vai uma observação: ninguém faz obra porque é legal, porque contribui com o
caráter social (isso pode até acontecer, mas não é razão para se executar obras), mas, sim,

23
ENGENHARIA GEOTÉCNICA

porque traz resultado financeiro! Portanto, esse tipo de entendimento é premissa básica
daqueles que querem atuar nesse mercado.

Caso de obra!

Certa vez, eu estava em Porto Alegre (RS) prestando um serviço de consultoria.


Inicialmente, ao receber as informações das fundações para avaliação, levei um sus
to ao ver os diâmetros das estacas hélice contínua monitorada. Era uma obra de uns
6 pavimentos e possuía diâmetros de 1,20 metro, com profundidades adotadas entre
6 e 8 metros. Tudo muito estranho!

Olha que interessante: na cabeça do calculista que projetou a obra, se ele aumentasse ao
máximo o diâmetro (para o maior possível, por exemplo, de 1,20 metro), ele aumentaria
a resistência proporcionalmente. Foi fixado o diâmetro da estaca e trabalhou-se em
profundidades até encontrar a resistência necessária para aquela fundação.

Esse era, de fato, até então o maior diâmetro executado pelas máquinas atuais. Mas,
na prática, o mercado possui certa dificuldade em atender a esse tipo de diâmetro. Não
são todas as empresas que possuem equipamentos com diâmetros tão grandes, ou seja,
por ser um diâmetro incomum, apenas um número reduzido de empresas possuem e,
devido a esta escassez, consequentemente é maior o custo.

O calculista não tinha senso crítico e, muito menos, qualquer tato para fundações:
aumentou o diâmetro das estacas hélice contínua para, supostamente, aumentar a
resistência, o que é um erro em uma análise isolada! Além disso, apoiou a fundação em
material com resistência baixa (tensão admissível baixa). Um verdadeiro desastre! Cer
tamente, esse profissional não estava apto a atuar no mercado de projeto de fundações.
Como consultor, ao fazer a análise de custos da obra, logo percebi que se pudesse
reduzir o diâmetro da estaca e aumentar a profundidade chegando a cotas de maiores
resistências (ou seja, a t maior), teria uma redução de custos muito grande - o que,
de fato, concretizou-se.

Motivos da redução de custos: chegando uma cota com tensão admissível maior, foi
possível utilizar diâmetros menores, que custam menos e mais empresas conseguem
executar (têm mais equipamentos disponíveis que façam o trabalho). Além disso, é
menor o volume de concreto gasto, menor o volume de escavação e, ainda, menor of
consumo de aço.

Recentemente, eu estava fazendo uma prova de carga em uma obra e um colega


me disse:

- Vinicius, veja isso. O projetista locou o muro de arrimo invadindo o terreno do vizinho e
sugeriu fazer a casa no limite do terreno.

24
Vinicius Lorenzi

Como assim?! Não pode invadir o terreno do vizinho! Essa invasão é totalmente
inadequada. Falaremos sobre isso mais adiante.

O que percebo em situações como essa é que profissionais levam muito mais em
consideração o que um software está mostrando do que a experiência adquirida por um
profissional ou empresa.

Não é que o software não tenha valor, mas a solução não é ele quem deve entregar.
Você precisa alimentá-lo corretamente e, mais ainda, saber o que esperar dele como res
posta. O profissional que se forma hoje no Brasil já quer comprar seu primeiro software
para sair atuando na área. O caminho, acredite, não é esse. Nem sempre a solução do
software é a melhor. O papel aceita tudo! Se você não souber alimentar o software ou até
mesmo partir de premissas incorretas, a tendência é dar errado, independentemente de
toda tecnologia disponível. Software faz conta, mas não tem a capacidade de definir qual
é a melhor solução técnica para a sua obra.

Projetistas não devem se basear apenas no relatório do software, ignorando a boa


técnica de engenharia e as práticas corretas.

Outro caso bem interessante que aconteceu comigo foi em uma obra de concorrência
(nessa tipologia, diversas empresas estavam orçando essa obra). Recebi o quantitativo
das estacas, avaliei as metragens estimadas e os diâmetros - era uma obra em estaca
hélice - e, então, passei a proposta ao cliente.

Alguns meses depois, tendo vencido a concorrência, minha empresa poderia começar
a executar. Solicitei o último projeto de fundação da obra, na sua versão mais recente,
para poder analisar e avaliar se não havia nenhuma interferência e para entender qual
equipamento efetivamente deveria enviar para a obra.

O projeto chegou. Busquei as informações básicas de diâmetros, profundidades e


armaduras; era um projeto em estacas hélice com diâmetro de 60 cm e profundidade de
18 metros. Eis que me deparo com a ferragem das estacas: eram 20 barras de 25 mm e as
armaduras possuíam 18 metros de comprimento. 137.38
Fui conversar com o calculista para entender o que poderia ter acontecido. Ele me
explicou que o software que ele usava para o projeto estrutural não dimensionava a fer
ragem das estacas, logo, havia buscado no Google, um software alternativo e que, de
fato, não sabia se aquelas armaduras faziam sentido ou não, ou seja, sem qualquer senso
crítico de análise.

Trocando em miúdos, o projeto daquele jeito era completamente inexequível!

Assumimos o projeto e após novas análises e revisão de projeto, de 20 barras de


25 mm, o dimensionamento passou para 8 barras de 16 mm com 6 metros de comprimento.

Lição fundamental: o engenheiro deve saber com clareza o que está projetando
e não apenas confiar irresponsavelmente (e cegamente) em softwares!

Abra o olho! A responsabilidade técnica e jurídica é do engenheiro.


OBRAS DIFÍCEIS CRIAM
ENGENHEIROS FORTES.

ENGENHEIROS FORTES
CRIAM OBRAS FÁCEIS.

OBRAS FÁCEIS CRIAM


ENGENHEIROS FRACOS.

ENGENHEIROS FRACOS

CRIAM OBRAS DIFÍCEIS.

REFLITA!

A OBRA COMPLICADA É
UMA BÊNÇÃO:

ELA LHE PREPARA PARA A


JORNADA.
3. INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA
Objetivos do capítulo

Neste capítulo, entenderemos o que é uma investigação geotéc

nica e quais são os principais métodos de investigação geotécnica em


fundações. Veremos, também, a importância de uma sondagem; como
definir as etapas de uma investigação geotécnica; e como determinar as
profundidades a serem sondadas em uma campanha de investigação.

A informação solicitada nem sempre é a informação


necessária. A informação necessária nem sempre pode
ser obtida. A informação obtida nem sempre é suficiente.
A informação suficiente nem sempre é economicamente
viável.

(SCHNAID; ODEBRECHT, 2012)

Imagine a seguinte situação: você vai ao médico com a queixa


de dor abdominal. Daí o médico, sem realizar um exame físico, sem
praticamente olhar para você ou solicitar um exame de laboratório, diz:
"Vamos fazer a cirurgia amanhã! Repouse um pouco. Dará tudo certo!"

Em uma situação clínica, imediatamente diríamos que isso é um


absurdo, não aceitaríamos e até denunciaríamos o médico/clínica pela
conduta inadequada.

Então, por qual motivo isso acaba acontecendo na engenharia,


principalmente na engenharia de fundações, que trabalha com um
material totalmente variável e imprevisível? O SOLO!

Já viu que não dá para ser assim, não é?

Para começar, ao fazer uma fundação, você precisa conhecer


minimamente o solo que está abaixo dela.
INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

Figura 3.1-Retirada de amostra de ensaio SPT.

Entenda: os métodos de investigação geotécnica têm finalidade análoga aos "exa


mes" que o médico solicita. Por meio deles, você busca compreender um pouco mais
a fundo as particularidades do subsolo antes de iniciar o projeto de fundações. Assim,
corre-se menos riscos quanto à confiabilidade da fundação projetada.

Nesse sentido, Danziger e Lopes (2021, p. 10) observam:

O conhecimento da variabilidade do subsolo e de suas características, e a


preocupação com os controles executivos são indispensáveis a um bom
desempenho da fundação. Assim, quanto melhor o conhecimento do subsolo,
através de ensaios especificos, melhor a confiabilidade das previsões do
projetista e menores as incertezas. Quanto menores as incertezas, maior
economia pode ser alcançada no empreendimento.

A capacidade de suporte do solo, por exemplo, é um parâmetro muito relevante


para o dimensionamento correto da sua fundação. No Brasil, infelizmente, muitas obras
ainda são realizadas sem, ao menos, uma sondagem!

Além disso, obras ainda são construídas no País com fundações escolhidas generica
mente, até mesmo sem um projeto. Isso é uma grande irresponsabilidade! Uma fundação
não pode ser executada sem um projeto!

Não dá para simplesmente adotar uma sapata 80 cm x 80 cm e achar que isso é sufi
ciente porque se trata da construção de uma casa. Uma coisa não tem nada a ver com a outra!
Não se pode projetar uma fundação sem saber nada do solo, por mais simples que ela pareça!

28
Vinicius Lorenzi

Vale lembrar que, de acordo com a norma de fundações, realizar a investigação do

subsolo é algo obrigatório. Conforme a ABNT NBR 6122:2019, no item 4.3:

Para qualquer edificação deve ser feita uma campanha de investigação


geotécnica preliminar, constituída no mínimo por sondagens a percussão
(com SPT), visando a determinação da estratigrafia e classificação dos solos,
a posição do nível d'água e a medida do índice de resistência à penetração
N SPT, de acordo com a ABNT NBR 6484.

Memorize: toda obra precisa de investigação geotécnica!

Sobre o alcance da investigação do subsolo, Danziger e Lopes (2021, p. 9) mencio


nam que esta
(

de
a

das

camadas
espacial
de

variabilidade
caracterizar
capaz
)
...

ser
deve

solo
presentes no subsolo, e a posição do nivel d'água, bem como ser capaz de fornecer
as características de resistência ao cisalhamento e compressibilidade de cada uma
das camadas de interesse à previsão do comportamento das fundações.

A investigação geotécnica não acontece apenas em uma etapa. Perceba: são várias
as análises que devem ser contempladas em uma campanha.

- Vinicius, como você faz aí na sua empresa?

Eu divido a minha investigação geotécnica em 3 etapas. Veja: o trabalho de sonda


gem em si é apenas a última das etapas. A investigação geotécnica não se resume somente
à exploração do subsolo; ela acontece em 3 etapas distintas, como mostrarei a seguir.

Etapas da investigação geotécnica

Reunião de todas as informações da obra, referentes a localização,


1ª etapa
arquitetura, estrutura, topografia etc.

Busca por dados históricos de obras próximas a que será realizada a


2¹ etapa
sondagem.

3 etapa Sondagem.

Dica!

A metragem total a ser sondada dependerá diretamente da qua


lidade das informações que você conseguir nas duas primeiras etapas.
Obras de maior porte necessitarão de sondagens mais profundas, seja
em solo ou em rocha. Já obras de pequeno porte demandam sonda
gens com profundidades menores.

Pense comigo: uma casa com profundidades de sondagem de


35 metros? Não faz sentido em um primeiro momento...
INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

A primeira etapa normalmente acontece na elaboração da proposta de uma son


dagem. É nessa etapa que vamos entender o porte da obra que sondaremos. Por isso, o
projeto arquitetônico e estrutural aqui são muito importantes.

Dentro da Engenharia temos diversas soluções construtivas, por exemplo, uma edifi
cação de concreto armado convencional comparada a uma estrutura em parede de concreto.

São soluções construtivas que demandam técnicas distintas de fundações. Uma


possuirá pilares com cargas pontuais chegando à fundação, a outra, parede pilar com
carga distribuída, e isso impactará a campanha de investigação.

Obras em parede de concreto ou paredes de alvenaria estrutural (Figura 3.2) têm


utilizado a solução de radier para a fundação (obviamente não é a única solução para essa
técnica, mas é uma das soluções indicadas). Logo, uma campanha de sondagem em uma
obra dessas não demanda grandes profundidades.

PRET

Figura 3.2-Edificação em bloco de alvenaria estrutural.

30
Vinicius Lorenzi

Por isso, nessa etapa, o projeto arquitetônico é muito importante. Mas e o projeto
estrutural? Com o passar do tempo, você vai tendo condições de prever uma expectativa
de cargas da estrutura, por isso, o projeto arquitetônico nesse momento lhe mostrará
informações mais valiosas.

O projeto arquitetônico apresentará os limites da obra, que é o que você realmente


precisa sondar. Mas cuidado: você pode ter um terreno de 2.000 m² e uma área implantada
de obra de 400 m², ou seja, não é a área do terreno que importa, você precisará sondar
apenas a área implantada da obra.

- Vinicius, e se o projeto for em estrutura protendida e as cargas estruturais forem muito


maiores do que o previsto? Mesmo assim você considera menos valioso o projeto estrutural?

Quanto mais dados você tiver nessa primeira etapa, melhor! Então, se já for possível
obter o projeto estrutural, ótimo! Mas, na prática, isso pouco acontece. A investigação é feita
muitas vezes conjuntamente com o arquitetônico, ou até antes. Quando acontece depois
do estrutural, ótimo, temos tudo o que precisamos para poder realizar uma campanha
investigativa adequada.

A segunda etapa é a busca por dados históricos de obras próximas a que será reali
zada a sondagem. Aqui, mapas geológicos, dados de empresas de sondagem e fundações
locais, e informações de obras vizinhas podem ser úteis.

- Ah, então vou pegar essas informações com os vizinhos e, assim, nem preciso realizar a
minha sondagem!
NEGATIVO!

Nenhuma sondagem "do terreno ao lado" ou manual substituirá o resultado espe


cífico para o seu terreno. Cada caso é um caso! Até mesmo após a primeira campanha
de investigação pode ser necessário realizar uma complementar, a depender do grau de
incertezas e de divergências encontradas!
A norma ABNT NBR 6122:2019 diz:

Independentemente da extensão da investigação geotécnica preliminar


realizada, devem ser feitas investigações adicionais sempre que, em qualquer
etapa da execução da fundação, forem constatadas diferenças entre as
condições locais e as indicações fornecidas pela investigação preliminar, de
tal forma que as divergências fiquem completamente esclarecidas.

O vizinho lhe disse que pegaria rocha com 10 metros e só foi acontecer isso com
20 metros: e agora? Nada é o fim do mundo! A geologia pode, sim, ter esse comporta
mento variável. Se dentro de um mesmo terreno podemos ter uma variação, imagina em
uma obra vizinha.

Essa busca por informações iniciais pode conduzir uma expectativa de resultados,
mas o que você realmente utilizará na sua obra vem agora na terceira etapa.
INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

A terceira etapa é a sondagem. Várias sondagens podem ser realizadas no local,


assim como amostras de solo retiradas de várias profundidades, com critérios específicos,
para observação visual e uso em ensaios de laboratório.

Na Mecânica dos Solos, existem amplas possibilidades de trabalho, por exemplo, nas
áreas de fundações, escavações, contenções e taludes, barragens e aterros. A previsão do
comportamento dessas estruturas variará muito de acordo com o que está sendo estudado.

Cuidado!

Você pode contratar um serviço de investigação geotécnica que


não será adequado para você em sua necessidade, caso não conheça
para o que ele serve efetivamente. Contratar um ensaio triaxial para
dimensionamento de uma fundação profunda, por exemplo, não seria
o mais adequado!

A investigação mostra diversos parâmetros em diferentes tipos de ensaios. Cada


tipo entrega um tipo distinto de resposta. Lembre-se: para obras diferentes, investigações
diferentes!

Por isso, vamos tratar sobre os ensaios de campo fundamentais para um projeto de fun
dações, explicando sua finalidade básica, na busca pela previsão do comportamento do solo:
▶ Ensaios laboratoriais: trazem parâmetros de resistência, coesão, resistência
drenada e não drenada, módulos do solo (avaliação de contenção, escavação,
barragem).

Ensaios de campo: demonstram o comportamento real da estrutura, ou seja,


como está inserida de fato no local.

Vou lhe contar um segredo: não se usa ensaios de laboratório para dimensionar
fundações! Isso é muito raro. Por isso, para lhe levar direto ao objetivo, vamos focar nos
ensaios de campo.

O mais comum é a utilização dos ensaios de campo nas obras de fundações. Os


ensaios de laboratórios podem ser úteis? Podem, claro! Um CBR, por exemplo, para uma
fundação superficial pode trazer um resultado, mas um ensaio de placa (de campo) trará
resultados muito melhores.

Danziger e Lopes (2021) citam que, no caso de fundações profundas, que atravessam
várias camadas do subsolo, com perfis estratigráficos confusos/indefinidos, torna-se muito
complexo extrair amostras representativas/indeformadas. Além disso, o prazo disponível
à elaboração do ojeto costuma não ser suficiente para que se aguarde o cesso da
retirada de amostras até a execução do ensaio laboratorial.

Como nosso assunto aqui é a prática, no dia a dia de um escritório de fundações


são muito mais usados ensaios de campo do que ensaios de laboratório!

32
Vinicius Lorenzi

Tenho, às vezes, certa preocupação quanto aos ensaios de laboratório. Eles podem
não demonstrar fielmente a realidade do local. A retirada da amostra pode ser realizada
de maneira indevida (não indeformada) e gerar parâmetros incorretos. Já no ensaio de
campo, é diferente (quando bem executado). Usamos a previsão de comportamento real
do ponto analisado, por exemplo, em um furo de SPT ou de rotativa.

ES

Caso de obra!

Imagine uma situação bem comum: uma construção de residência, muito simples de
ser realizada, por ter uma estrutura com baixas cargas. Neste caso, sem projeto de
fundações. A frase que vem na sequência você já sabe: construtor com "experiência".
E agora chegamos ao problema: classificação do solo feita por ele indica SOLO MUITO

BOM! Nível d'água: BEM FUNDO!

O que percebemos disso? Que houve uma análise totalmente inadequada, inapropriada.

Veja: a classificação dos solos não é uma medida qualitativa (fofo, mole, duro, bom, ruim)
e, sim, uma medida quantitativa em termos de resistências e profundidades (por exemplo:
resistência aos 10 metros com NSPT de 10; tensão admissível de 3 kgf/cm²; 0,3 MPA).
Assim como outros materiais construtivos como concreto, aço são ensaiados e usa-se
Fck 20; Fck 30 no caso do concreto, por exemplo, o solo deve ser verificado quanto aos
seus parâmetros quantitativos. Mas que parâmetros são esses? Cito alguns:

resistência do solo;

resistência ao cisalhamento;

resistência ao torque;
>
resistência a compressão;

ângulo de atrito;

nível d'água;

estratigrafia do subsolo;

coeficiente de permeabilidade;
>
módulo de elasticidade, entre outros.
Observe: nenhum ensaio fornecerá todos os parâmetros ao mesmo tempo.
A informação solicitada nem sempre é a informação necessária. De repente, solicito
uma sondagem CPT em um caso em que não necessito dela, ou seja, gero um custo a
mais para meu cliente e não obtenho os parâmetros que preciso.
A informação necessária nem sempre pode ser obtida. Mesmo com uma ampla cam
panha, uma varredura completa do solo, algumas informações podem não ser detec
tadas ou ser obtidas de forma parcial. Apesar da investigação complexa, pode haver
surpresas inesperadas.

A informação obtida nem sempre é suficiente. A investigação geotécnica é represen


tativa, é uma noção básica. Ela representa uma possível realidade do terreno. Para
mitigar essas incertezas, servem os fatores de segurança. A informação suficiente nem
sempre é economicamente viável. Uma investigação pode levar a custos exorbitantes

33
INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

dependendo da região e das técnicas empregadas. Por exemplo, pense em um ensaio


que custe R$ 50 mil. Em um caso desses, seria melhor superdimensionar a fundação
comparando os custos da fundação mais robusta com o custo do ensaio.

3.1 Situação prática


Vamos definir juntos a profundidade a ser sondada de uma obra? Vamos traçar um
plano de ataque, para você escolher corretamente a melhor profundidade a ser sondada
no seu terreno.

O primeiro passo é entender que a sondagem será a base para o projeto de funda
ções, ou seja, ela precisa entregar informações completas do solo para que as melhores
decisões de fundação sejam tomadas. Uma sondagem incompleta é aquela que não dá
parâmetros suficientes para o projetista e que depois precisará sem complementada.
1. Avaliação do projeto arquitetônico
Vamos imaginar uma obra com dois pavimentos, um tipo de projeto muito comum
no nosso dia a dia, e que você precisaria, certamente, de uma boa investigação geotécnica.
=

Figura 3.3-Projeto arquitetônico.

2. Projeto estrutural

O cliente não enviou o projeto estrutural. Ele sequer contratou o projetista ainda, mas
precisa desse laudo de sondagem. Motivo para desespero? Não! Sabemos que a obra possui
dois pavimentos, logo, a carga estrutural não deve ultrapassar 80 a 100 toneladas por pilar.
3. Localização da obra

a) A obra se localiza no Oeste do Paraná, por exemplo.


b) Não existem quaisquer sondagens próximas ao local onde será executada a obra.
c) Na cidade da obra, foram feitas algumas sondagens, mas muito distantes do
local indicado.

d) Nos mapas geológicos, não há nenhuma informação que auxilie nesse processo.

34
Vinicius Lorenzi

e) Um vizinho comentou que ali é uma região em que o nível do lençol freático
é alto, em torno de 3 metros.

6. Possíveis soluções de fundação para a obra


a) A informação do alto nível de água foi interessante. Ela conduz muito possi
velmente ao uso de soluções profundas do tipo estaca pré-moldada ou esta
ca hélice, por exemplo.

b) O uso de fundações superficiais são outra tendência.


c) Caso a única solução de fundação fosse usar fundações superficiais, acredito
que sondar 6 metros fosse o suficiente para essa obra. Mas como temos a
possibilidade do uso de soluções de fundações profundas, o ideal é a realiza
ção de sondagens mais profundas.

4. Tipo de fundações mais utilizados nesse tipo de obra

a) Caso não tenha água (pois a informação do vizinho não é precisa), estacas
escavadas até 12 metros são comuns.

b) Caso tenha água, soluções em estaca hélice continua até 16 metros; estacas
pré-moldadas até 18 metros; estacas Strauss até 10 metros etc.

c) Essas profundidades são informações que você pode obter de executores locais.

Já temos vários cenários para a definição dessa profundidade de sondagem, e com base
nos diversos dados que temos, eu diria que sondar 20 metros seria bem-vindo nessa obra.
Será suficiente? Será que não é muito profundo? Não sei! Talvez seja. E se não for?
E se for muito? São perguntas que nós fazemos constantemente nesse tipo de definição.
Por isso se chama investigação geotécnica.
Caso seja pouco, uma sondagem complementar pode ser feita. Caso seja muito, você
poderá ter tido mais informações de profundidade do que o necessário, mas isso não trará
problemas, apenas gerou um pequeno custo maior.
- Vinicius, como você faz em suas campanhas?
Exatamente como mostrei aqui! A diferença é que o processo não termina quando
você define a profundidade. Ele continua na etapa da execução da sondagem, podendo
ser indicado quando uma sondagem pode terminar ou quando ela deve prosseguir.
O sondador precisa estar atento e deve informar sobre os resultados parciais da
campanha de investigação, para que o solicitante possa tomar a decisão final entre parar
a campanha ou dar sequência em profundidades maiores.

Por vezes, solicito uma sondagem de 15 metros, mas preciso prosseguir até
metros, por exemplo, pois o resultado aos 15 metros não satisfará as informações
necessárias para meu projeto.

Na Parte 3 deste livro, você aprenderá a projetar e, com alguns projetos dimensio
nados, você começará a ter senso crítico de análise.

35
4. ENSAIOS DE CAMPO

Objetivos do capítulo

Neste capítulo, abordaremos os ensaios de campo, destacando


aqueles que são mais importantes para a prática de fundações, usados
na previsão do comportamento do solo.

Em obras que envolvem o solo, existem diferentes soluções para


diferentes comportamentos. Há diversas soluções de ensaios, contrato
ou prestação de serviços para distintas necessidades.
- Na prática, como vou saber qual ensaio escolher para minha obra?
A seguir, apresentarei um breve resumo, que lhe ajudará a es
clarecer essa dúvida e a ter um melhor desempenho na sua escolha.

Para fundações, a sondagem SPT é o procedimento mais uti


lizado no Brasil, na maioria dos casos, por ser o mais convencional,
geralmente com mais equipamentos disponíveis nas cidades brasileiras.

Para avaliação de camadas rochosas, usa-se a sondagem ro


tativa, que já é um método mais sofisticado.

Nos casos de depósitos de argila mole, o CPT (Piezocone Pene


tration Test) é o mais indicado, por exemplo.

- Mas por quê?

Vou contextualizar: se eu usar um SPT em um depósito de solos


moles, quando cravar o amostrador, o NSPT dará zero (em número de
golpes), pois esse solo não tem resistência dinâmica e o amostrador
descerá quase de imediato. Ou seja, o resultado do ensaio não será útil!
Em casos como esse, o emprego de um CPT é mais indicado.

- Mas como você sabe disso, Vinicius?

A resposta é simples: já realizei esse ensaio milhares de vezes.


Além disso, o conhecimento técnico a respeito da mecânica dos solos
e da geologia permite uma percepção mais apurada sobre o compor
tamento do solo que estou analisando.

Outro exemplo: quando a SPT bate no material impenetrável.


Aí, o mais indicado é solicitar uma sondagem rotativa para avaliar a
camada rochosa.
Vinicius Lorenzi

Pode até parecer óbvio, mas não é bem assim. Você precisa conhecer os ensaios,
em termos de execução, mas também precisa saber quando os indicar ou contratar, se
for o caso.

Se seu interesse é por projetos de pavimentação de rodovias, outras soluções de


investigações são mais indicadas. Adianta, por exemplo, nesse caso, fazer um SPT com
15 metros? NÃO!

Em estradas, não é necessário fazer sondagem SPT com grandes profundidades se


você precisa entender profundidades rasas (2 a 4 metros em média). Por isso, geralmente
a Sondagem a Trado e outros ensaios como o CBR (California Bearing Ratio) ou ISC (Índice
de Suporte Califórnia) são mais indicados.

No caso da verificação da estabilidade de taludes, geralmente solicita-se ensaios


mais complexos, como os ensaios triaxiais para avaliar as diferentes ações de água no
maciço, avaliando, dessa maneira, o comportamento do solo com a presença de água.

Já para infraestrutura hídrica, uma alternativa é a realização do ensaio de permea


bilidade, por exemplo.

Para cada tipo de obra, há uma solução de investigação geotécnica!


O emprego de cada técnica fica bastante intuitivo depois de algum tempo de es
trada na profissão. As demandas diárias e as soluções desafiadoras cotidianas, apesar de
exigirem muito do engenheiro, agregam expertise em sua prática profissional e levam a
escolhas mais adequadas.
Mas, atenção: não é interessante, devido aos altos custos para o cliente, solicitar
ensaios mais elaborados logo no primeiro momento, sem ter avaliado pelos mais básicos
primeiro.

A recomendação é busque conhecer seu solo a partir do ensaio mais adequado


para o fim desejado, seguindo as orientações da norma de referência. Caso haja al
guma particularidade ou incerteza, amplie a campanha de investigação, buscando os
parâmetros que, de fato, necessita.

O Quadro 4.1 estabelece uma comparação entre os ensaios, demonstrando o grau


de aplicabilidade comparado entre eles e os parâmetros que fornecem.

37
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a
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G
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Fonte,R:LubrsPwl

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Ensaio

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Palheta
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PressiômetCr o
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A/B

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B

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DMT

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Dilatometro
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B

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Sísmicos
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A A / A
SCPT
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C

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CPTU

A
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A/B

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Pentrôme o
B
A
Piezocone
CPT
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B/C

A
C

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ENSAIOS DE CAMPO

A/B
Elétricos
C

Dinâmicos Mecânicos
B
C

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C
-

C
/

-
A
C

C
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Tipo solo
E
-
G

G₁

K₁

m₂

C₁

D₁

Grupo
Equipamento
OCR

Perfil
G
$
*

de
Parâmetros
Vinicius Lorenzi

SPT
CPT DMT PMT VST
Sondagem Ensaio Ensaio de
Ensaio Ensaio
de simples
de cone dilatométrico pressiométrico palheta
reconhecimento

Figura 4.1 - Ilustração dos diferentes tipos de sondagem..

4.1 Standart Penetration Test (SPT)


O Standart Penetration Test (SPT) consiste em uma medida de resistência dinâmica
e é normatizado pela ABNT NBR 6484:2020, que descreve detalhadamente a metodologia
dEnsaio de cone (CPT) materiais empregados.
1.
O SPT é o primeiro ensaio de campo a ser citado, por conta da sua importância
para a engenharia de fundações brasileira. Vou mostrar o porquê disso.
2.
É o método de investigação geotécnica mais utilizado no Brasil e no mundo.
Também o mais tradicional e mais importante método para o Sondagem de
simples reconhecimento (SPT) sobre investigações geotécnicas.
Esse ensaio é al pedra fundamental para entender a dinâmica da
das fundações mais adequadas para cada caso.

- Por que você diz isso, Vinicius?

39
ENSAIOS DE CAMPO

A resistência do solo, obtida na prática, por meio do NSPT é uma determinante para
a escolha da fundação, para decidir se será utilizada uma fundação rasa ou profunda e,
dentre elas, qual melhor solução técnica.

No caso da investigação para solução em fundação direta, a resistência do solo serve


como parámetro-base, primário, para calcular as dimensões do elemento. Por exemplo,
se tenho um solo com baixo NSPT nas primeiras profundidades, nos 3 primeiros metros,
não seria ideal adotar uma fundação em sapatas.

Você deve estar se perguntando a razão disso. O motivo é simples:

F
σ=
A

Tensão Admissível (do solo) é igual a Força (carga do pilar) divida pela área (da
sapata).

Nesse caso de baixa tensão admissível do solo, precisaríamos de uma sapata com
área de base enorme para equalizar a carga do pilar. Observe que, quanto maior é a tensão
admissível, menor é a área que vou precisar.

No caso das fundações profundas, precisamos desse ensaio para escolha do tipo
de fundação, dos diâmetros adequados das estacas e das profundidades de cada estaca,
utilizando para isso os métodos de capacidade de carga. O uso do NSPT leva a resultados
bastante satisfatórios, completos, permitindo boa avaliação do solo para dimensionamento.
Como é feito o ensaio? Conforme a norma ABNT NBR 6484:2020, o procedimento
do SPT consiste na perfuração e cravação dinâmica no terreno de um amostrador-padrão
com dimensões e energia de cravação normatizadas (pilão com massa 65 kg de massa
e altura de queda de 75 cm) a cada metro, resultando na determinação do tipo de solo e
de um indice de resistência, bem como na observação do nível d'água dentro do furo de
sondagem.

40
Vinicius Lorenzi

Roldana

Corda
Martelo de 65 kg ✓
cai de 75 cm
Operação
manual
repetidas vezes

Tripé

Guia

Haste

Furo de 2 1/2"

Amostrador

Martelo de 65 kg
cai de 75 cm Sequência executiva do ensaio SPT
repetidas vezes

Guia

Haste.

Amostrador

Acomodação 15 cm Trecho 1 N

N número 15 cm Trecho 2 N
de golpes ►
em 30 cm 15 cm Trecho 3 N
N=Nona + Ni

Figura 4.2- Ilustração da sondagem SPT.

O ensaio é realizado em três fases, com penetrações de 15 cm, respectivamente.


O número de golpes necessários para atingir a penetração de 30 cm (segunda e terceira
fases) define o valor de NSPT.

41
ENSAIOS DE CAMPO

De acordo com a norma, é o índice de resistência à penetração determinado pelo


número de golpes correspondente à cravação de 30 cm do amostrador-padrão, após a
cravação inicial de 15 cm, utilizando-se martelo de 65 kg de massa.
- Vinicius, não entendi nada.

Vou explicar como realizamos a sondagem em campo.


É necessário dispor de uma equipe de dois ou três colaboradores para operar o
Sistema Manual e, em média, dois colaboradores no Sistema Mecanizado. Normalmente,
a equipe é composta por um sondador e os demais são os auxiliares.

Para começar o ensaio, geralmente dois funcionários seguram a corda, levantam o


martelo ou o peso a 75 cm e vão soltar por queda livre sobre o amostrador o qual crava no solo.

Eles avaliarão dentro desse trabalho a quantidade de vezes que é necessário levantar
e soltar o martelo para atingir a resistência dinâmica.

Imagine três segmentos da haste: primeiro trecho, com 15 cm; segundo trecho, com
15 cm; e terceiro trecho, com 15 cm.

Com um martelo, bate-se o peso na composição de haste e anota-se quantos golpes


foram necessários para descer cada trecho de 15 cm que foi mencionado.

Levanta-se o peso, solta-se o peso e constata-se o número de golpes que foi ne


cessário para descer os 15 cm de cada segmento da haste. Por exemplo: 1 golpe para os
primeiros 15 cm; 2 golpes para os segundos 15 cm; 3 golpes, no terceiro segmento.

Dica!

ONSPT, desse modo, é a somatória dos últimos 30 cm de golpes


ou dos últimos 2 trechos de 15 cm ou do segundo e do terceiro segmen
tos, desconsiderando o primeiro. No exemplo, o NSPT foi de 5. Esse "5"
representa a resistência do primeiro metro sondado.

Ao fim dos 45 cm, o operador abre o amostrador, coleta o material retido e manda
para o laboratório a inspeção geotécnica com amostras realizadas de 1 metro em 1 metro,
separadamente.
Vinicius Lorenzi

Figura 4.3-Amostrador da sondagem SPT.

A diferença entre o Sistema Manual e a sondagem SPT Mecanizada é que não há


equipe fazendo o levantamento do martelo, pois esse sistema é automatizado. A medição
do número de golpes é a mesma.

Figura 4.4-Equipamento de SPT mecanizada.

43
ENSAIOS DE CAMPO

Afinal, qual sondagem é a melhor? Quais são as restrições para cada uma das técni
cas de sondagem? De acordo com a norma, não necessariamente fornecerão os mesmos
resultados de índice de resistência.

Isso ocorre pois as energias de queda do martelo podem ser diferentes. Mas, aqui,
deixo uma observação importante e escrachada da realidade: você realmente acredita

que uma equipe de sondagem consegue levantar e soltar o martelo na altura PRECISA de
75 cm das 8 horas às 18 horas? Seria muita ingenuidade acreditar que sim!

Recentemente, realizei uma coorientação de trabalho final de graduação, no


qual medimos efetivamente as alturas de queda do martelo, comparando as soluções
manuais e mecanizadas. Diante dos dados coletados, na ocasião observou-se que a altura
de queda do martelo até a cabeça de bater varia na ordem de centímetros e de formas
diferentes em cada método.

A Tabela 4.1 expõe as alturas de queda de cada golpe obtidas pelos ensaios mecânico
e manual. Observou-se grande variação no método manual, com uma amostragem de
amplitude de 22,81 cm, comparado a uma amplitude de 0,69 cm do método mecanizado.
Tabela 4.1- Dados obtidos por meio da análise do ensaio mecânico e manual.

Método Mecânico Método Manual

Queda Altura de queda (cm) Altura de queda (cm)

75,44
93.50
1

75,54 82,48
2

86,38
3 75,69
75,66 93,95
4

5 75,53
77,85

75,51
6 75,51
72,86
7 75,50

71,48
8 75,50

77,43
9 75,45

71,14
10 75,49

75,43 75,06
11

75,41
12 75,00

75,06 71,34
13

75,09 71,43
14

15 75,61 75,80

16 75,63 77,91

17 75,52 82,72

18 75,49 83,52

19 75,28 82,45

20 75,30 76,73

44
Vinicius Lorenzi

21 80,07
75,34

22 75.13 80,10

23 75,28 75,27

24 75.21 75,84

25 73,40
75,40

Desvio Padrão 0,191021814 6,217022412

Fonte: Cristoferi; Bergmann; Lorenzi (2018, p. 11).

https://fundacoessemcomplicacoes.com.br

Dessa maneira, é possível concluir que o Sistema Mecanizado conduz a resultados


mais homogêneos e confiáveis do que o Sistema Manual.
Veja: o NSPT fornece um parâmetro QUANTITATIVO.
- Na prática, o que isso significa?

Que um solo com NSPT 34 é muito mais resistente do que um com NSPT 5, por
exemplo. Ou seja, quanto maior é o NSPT, maior é a resistência dinâmica do solo.
Assim, tem-se uma análise mais acurada acerca desse solo, com um conhecimento
muito maior sobre as capacidades e tensões admissíveis.
Podemos citar, resumidamente, alguns passos recomendados para execução desse
tipo de sondagem:


sondar no primeiro metro (em 3 trechos de 15 cm, totalizando 45 cm):

coletar amostra;

recolher amostrador e colocar sistema de perfuração - lavagem com água
ou a trado;

avançar 55 cm, para chegar no segundo trecho ou segundo metro;

ao chegar ao segundo metro, recolher sistema de avanço e repetir o processo;

recolher amostras a cada metro e enviar ao laboratório;
preencher o diário de campo.
Após a sondagem, o material coletado do amostrador-padrão é levado ao laboratório
de solos para que geólogos e/ou engenheiros geotécnicos façam a classificação tátil-visual
do solo e o relatório de sondagem SPT.

Nessa classificação, será definido se o solo é arenoso, argiloso, argilo-siltoso, sil


to-arenoso, entre outros, dependendo da análise da coloração e da textura do material.

45
ENSAIOS DE CAMPO

Alguns passos devem ser seguidos para a correta classificação das amostras no
laboratório e realização de um relatório adequado.
▶ separar amostras SPT por furo e profundidades;


observar as camadas e marcar as transições no relatório de sondagem;

atentar-se às transições do solo pela mudança das características que podem
indicar mudanças na microestrutura e na composição mineralógica;
▶ notificar percolação, variações, seixos, amígdalas, solos com características
diferentes, entre outros;

▸ caso a amostra atinja o impenetrável, é importante buscar fragmentos.

Fique ligado!

Para registro das informações de campo, existe um documento chamado "diário de


campo", que é importante para registrar a máquina utilizada e os colaboradores res
ponsáveis pelo procedimento. É fundamental o registro das informações da sondagem
nesse diário.

Após a análise das amostras, é desenvolvido um relatório de sondagem.


O que você precisa saber na hora de ler e avaliar um laudo de sondagem?
Oprimeiro item a ser observado, ao ler um laudo de sondagem SPT, é o nível d'água.
Essa informação pode ser uma limitação para escolha de determinados tipos de fundações.
Veja a importância da avaliação do NA: no relatório, deve existir a indicação de NA
final e NA inicial pois a norma exige a verificação no nível d'água após o término da son
dagem e também 24 horas depois. E isso tem uma razão: o nível d'água pode variar entre
esse período, o que impacta sua solução de fundação! Por isso, é fundamental aguardar
o mínimo de 24 horas.

É uma boa prática verificar nível de lençol freático, considerando variações ao longo
das épocas do ano. Períodos seco e chuvoso possuem níveis diferentes de lençol freático,
o qual pode, por exemplo, subir na época chuvosa e interferir nas fundações a serem
executadas.

Vou contextualizar: às vezes, o intervalo que se tem entre a execução da sondagem


e o início da obra pode ser grande.

Vamos imaginar que o cliente comprou o terreno e resolveu fazer a sondagem para
entender o comportamento do solo e definir as soluções de fundação para o caso dele.

46
Vinicius Lorenzi

Na sequência, são realizados os projetos, as compatibilizações, as revisões... Muitas


vezes, esse tempo pode ser de meses, e nesse intervalo de tempo podemos ter variação
do nível do lençol freático.

Trago um caso de uma obra pequena, já locada e pronta para iniciar, com os equipa
mentos da fundação prestes a mobilizar para o canteiro de obras. Foram feitos três furos
de sondagem na época, em torno de 4 meses antes do início daquela fundação.

Na semana anterior ao início das fundações, foi realizada uma inspeção para verificar
o nível do lençol freático - basicamente, uma sondagem a trado, para verificar se o nível
d'água não havia sofrido alteração que pudesse impactar o projeto.
Recomendo que você faça essa validação com pelo menos uma semana de antece
dência. Esse período é importante por conta da margem de tempo para trabalhar caso haja
alguma alteração. É claro que, nesse caso, estamos falando de uma obra de menor porte,
no qual pequenas alterações não impactam em grandes mudanças. Em obras maiores,
isso precisa ser validado com maior antecedência.
No caso dessa obra, o nível da água variou de 10 metros para 8 metros de profun
didade (o nível da água subiu). Como a solução foi determinada em estacas escavadas
de 9 metros de profundidade, foi necessário rever o projeto e fazer as devidas alterações!
Solução prática

Uma dica nesses casos é rever os diâmetros das estacas utilizadas. Por exemplo:
estaca de 30 cm de diâmetro com 9 metros eu posso tentar validar (calculando, é claro)
para uma estaca de 40 cm de diâmetro com 8 metros.
Aqui temos seis pontos importantes:
O primeiro é a execução de uma sondagem a trado para verificação e validação desse
nível freático, e a segunda é deixar o furo de inspeção aberto (com uma tampa), para que,
assim que for começar a obra, possa medi-lo novamente. Claro que isso dependerá se o
solo é suficientemente coesivo para que tenha estabilidade; caso contrário, obviamente
você não conseguirá medir o nível de água.

O segundo, muito importante a ser avaliado na leitura do laudo de sondagem, é a


resistência dinâmica do solo, a partir do número de golpes final (somatória dos últimos
30 cm, geralmente presente em uma coluna separada no perfil de sondagem). Com esse
dado, realizamos o dimensionamento das fundações.

O terceiro é fundamental: a caracterização do subsolo, que é realizada por um geó


logo ou engenheiro geotécnico. Além do tipo de solo impactar a escolha da sua fundação,
outros levam à necessidade de soluções muito mais elaboradas, como é o caso de solos
expansivos e colapsíveis.

Solos expansivos são aqueles que, na presença de água, tendem a expandir de


volume, já os solos colapsíveis, quando em contato com a água, perdem completa
mente sua resistência.

47
ENSAIOS DE CAMPO

O quarto ponto é a locação correta (e, de preferência, gráfica) dos furos de sonda
gem. Essa informação é absolutamente relevante e mostra o local onde o furo de sondagem
foi realizado. É uma informação muito utilizada no momento do projeto de fundação.
Usualmente, em um projeto, busca-se compreender a distribuição das cargas na porção
onde o furo de sondagem foi realizado, o que torna fundamental esse tipo de locação.

Em obras de grande porte, como obras industriais, por exemplo, essa informação
é ainda mais relevante, pois posso ter diferentes obras dentro de uma mesma campanha

de sondagem.

es
Caso de obra!

Certa vez, fomos contratados para fazer uma grande campanha de sondagem SPT.
Tínhamos aproximadamente 120 furos para realizar a campanha! Era um parque indus
trial, com inúmeras obras dentro desse parque, e aquela sondagem estava caminhando
conjuntamente com a arquitetura. Isso é bom, não é? Nem tanto!

Estávamos na metade do trabalho e a locação das sondagens havia sido feito topo
graficamente, pois o terreno era muito extenso, em torno de 800 mil m², e então o
cliente oficializou uma mudança no layout da unidade, causando alteração na locação
de todos os furos de sondagem!

Aqui, vale lembrar que a quantidade de furos de sondagem não se dá pela área do
terreno, mas, sim, pela área implantada das edificações.

Pudemos aproveitar muito pouco daqueles furos já realizados; a maioria acabou ficando
fora das edificações, o que causou um custo não previsto naquela sondagem.
Nesses casos, quando você tem áreas muito extensas e projetos arquitetônicos ainda
não definidos, definitivamente não aconselho o início da campanha de investigação,
pois alterações podem realmente afetar o trabalho.

O quinto ponto diz respeito à cota topográfica, na qual a sondagem foi realizada. É
muito importante que seja sempre realizada a verificação da cota, com referência a algum
ponto escolhido na obra. Normalmente, adotamos o meio fio (quando obras urbanas)
como referência.

Essa informação eventualmente pode conduzir ao projetista a uma validação dos


níveis de projeto. Há alguma resistência por parte de construtores em realizar um laudo
topográfico do terreno (sim, há! E o valor é sempre muito baixo) e a existência dessa cota
na sondagem, pode indicar se na obra haverá um corte ou aterro.

Por vezes, o arquitetônico define uma cota de implantação da obra e não leva em
conta possíveis declives ou aclives, o que é é ajustado apenas in loco. Se a sondagem
trouxer essa informação, o projetista consegue ficar atento e dimensionar corretamente
a fundação a partir da cota correta.
Vinicius Lorenzi

O sexto ponto faz referência à cota de parada da sondagem (que pode ser impene
trável ou não). Observe sempre se aquela parada foi causada por um material impenetrável
(rocha ou matacão) ou se foi determinada pelo executor e/ou contratante.

A investigação geotécnica ideal é aquela que é realizada efetivamente até a


região necessária para estudo, até a cota que efetivamente preciso entender o com
portamento do solo.

Se temos uma obra de pequeno porte, 15 metros de sondagem podem satisfazer a


necessidade. Agora, outro caso completamente diferente é para um prédio de 40 andares
- será que esses mesmos 15 metros de profundidade sondados são suficientes? Podem
não ser. Talvez não se atinja nem perto das resistências necessárias.
O tipo e o porte de obra condicionam a escolha das profundidades sondadas.
Cada tipo de obra demandará uma profundidade necessária de investigação geotécnica.

Observe: no Brasil há uma heterogeneidade nos laudos, isto é, não há um padrão


e cada empresa faz o seu. Isso acaba sendo um desafio, pois nem todos os laudos são
claros ou completos o suficiente. Por isso, entender e buscar esses pontos indicados aqui
é importante para o sucesso da leitura da sua sondagem.

4.2 Quanto custa uma sondagem SPT?


Depois de tantas recomendações, você pode estar se perguntando se a sondagem
não é muito cara. NEGATIVO! A sondagem SPT nunca é cara! Ao longo da nossa discussão,
você entenderá a razão disso.

É uma realidade: a sondagem SPT não possui custo muito elevado, embora os valores
variem um pouco dependendo da região do país e da disponibilidade de equipamentos
em campo.

Em relação ao total da obra, o SPT possui um baixo custo (0,2-0,5% da obra)


ou menos. Se pegarmos o custo médio no Brasil, temos algo em torno de R$ 1 mil a
R$ 1,5 mil por furo, valor este que, convenhamos, não inviabiliza a execução de uma obra.
Os valores podem variar em termos de profundidade também.
Lembre-se que esse valor é uma média, podendo ter regiões com valores inferiores
ou superiores, pois há diferentes formas de se cobrar por uma sondagem (por metro, por
furo, por trabalho completo etc.).

Pense novamente no prédio de 40 andares citado anteriormente: uma edificação como


essa pode custar cerca de R$ 40 milhões e a sondagem SPT convencional (que possibilita os
parâmetros necessários), com 5 furos, por exemplo, custaria por volta de R$ 7.000,00. Nesse
caso, o valor da sondagem é insignificante!

Lembre-se: por norma, o subsolo deve ser investigado desde a obra mais simples
até a mais complexa!

49
ENSAIOS DE CAMPO

Mesmo em obras menores em que o valor da sondagem é proporcionalmente sig


nificativo, deve ser feita a investigação. Por exemplo, em uma obra popular de R$ 100 mil
cuja sondagem custe cerca de R$ 2 mil, o custo percentual fica muito mais alto! Mas aí há
de se avaliar a contribuição que essa sondagem pode causar, por exemplo, uma definição
mais eficiente da solução de fundação.

Em um caso como este, pode-se avaliar outras possibilidades de investigação geo


técnica, mas nunca deixar de realizar a prospecção do solo!

Vejo que há uma questão cultural a ser combatida no País: a cultura de não se fazer
sondagem por achar desnecessário. Pode ser realmente difícil vender uma sondagem para
determinados tipos de obras em certas regiões...

De todo modo, não tem jeito: é preciso prospectar o solo. O que não se pode fazer
é iniciar a obra sem ter noção nenhuma do material das camadas do solo.
Darei um exemplo bem comum do que ocorre na prática. O cliente adquire um
terreno, aparentemente plano, todo gramadinho... o terreno dos sonhos para edificar ali
seu lar. Mal sabe ele que, antes da sua aquisição, o antigo dono do terreno fez o aterro
sem nenhum cuidado, e mais: com um monte de entulho!

Nesse caso, a sondagem pode lhe contar muita coisa!


Materiais atípicos (concreto, pneus, brinquedos etc.) podem ser encontrados em
uma simples sondagem a trado e soam o alerta da presença de aterro com entulhos.
Em regiões com entulhos pode-se facilmente ser enganado, considerando que che
gou na laje quando, na realidade, bateu em outro material com grande rigidez.
- E qual é o problema disso, Vinicius?
O problema é que, com uma investigação ruim e a consideração equivocada da
resistência do solo, você pode apoiar sua fundação em um solo sem o suporte adequado,
além de fazer um dimensionamento totalmente fora da realidade!
Então, voltando ao porquê de a sondagem SPT não ser cara, o motivo é simples: a
sondagem assegura o engenheiro e evita problemas futuros muito mais onerosos. Além
disso, ela pode possibilitar outras soluções de fundações com menor custo!
Se eu faço uma sondagem que custe, por exemplo, R$ 3 mil e consigo economizar
na obra reduzindo a profundidade das minhas estacas de 10 metros para 7 metros, isso
por si só já seria uma grande vantagem.

Se após sondar, por outro lado, descubro que de 10 metros estimados inicialmente,
seriam necessários efetivamente 12 metros para a minha fundação, isso também é uma
grande vantagem! Nesse momento eu percebo que estou evitando uma fundação subdi
mensionada e um possível colapso futuro!

O SPT abate custos reduzindo profundidades, pois permite entender o comporta


mento do solo ou ainda evita subdimensionamentos das fundações e problemas futuros.

50
Vinicius Lorenzi

es
Caso de obra!

Em obras mais populares, como as obras financiadas pelo Governo Federal, os recursos
são escassos e é muito comum a execução de casas em série. Nesse caso, há sempre

uma grande resistência em se realizar uma sondagem em cada residência.

Como especialista, qual solução você adotaria para essa investigação geotécnica?

Uma solução possível em um caso como esse é fazer algumas sondagens SPT e com
plementar com sondagens a trado, a fim de ter uma noção se há uma variação na
caracterização do solo, no terreno onde será executada cada residência.

Como falamos anteriormente, faça o básico bem-feito, comece a compreender seu


solo e, caso tenha grandes incertezas/variações, não pense duas vezes: peça ensaios
mais sofisticados e amplie sua campanha de investigação.

4.3 Problemas na execução das sondagens


-0 processo de execução de uma sondagem pode ter muitos desafios?
Sim, vários!

Podemos destacar os mais recorrentes:


não cumprir a norma ABNT NBR 6484:2020, o que pode levar a resultados
falseados;
>
problema na retirada das amostras;

amostras retiradas de partes inadequadas do amostrador;

locação errada dos furos;

execução incorreta;

realização de furos em dias diferentes e sem observação correta;


>
equipamentos mal conservados, sem manutenções programadas;
operadores inexperientes, não treinados;

uso de máquina e operador distintos na mesma obra;
➤ equívocos no momento de determinar a cota topográfica;

investigação insuficiente (menos furos que o necessário);

▶ fraudes por parte da equipe executora;


▸ sondar profundidades insuficientes;

sondar profundidades para além do necessário, sem critério.

51
ENSAIOS DE CAMPO

(503)
Fique ligado!

É muito importante levar a sério a sondagem e a investigação geotécnica como um


todo, por ser um dos parâmetros para identificar quais soluções técnicas serão adotadas
para a fundação.

Cuidado!

Sondagem não é a única fonte de informação: pode-se chegar à


etapa executiva e ainda fazer modificações in loco, pois as condições
previstas na sondagem são divergentes das encontradas no local. Logo,
situações específicas obra podem levar a modificações nas soluções
executivas.

35 FATOS SOBRE O LAUDO DE SONDAGEM QUE VOCÊ NÃO PODE ESQUECER


A localização da obra é muito importante: em um laudo, o endereço, a cidade, o
municipio, a quadra, entre outros, devem estar claros. As vezes, o cliente dificulta essa
informação por não possuir.
A locação dos furos é fundamental. Não existe laudo de sondagem sem locação dos
2 furos. Se você receber um laudo sem ela refute, rejeite-o. Os furos podem variar muito
conforme a locação deles.

3
A quantidade de furos deve seguir, pelo menos, o mínimo da norma ABNT NBR
6484:2020, norma atualizada recentemente.

4
O laudo deve conter as descrições básicas de como é realizado o ensaio, conforme a
norma ABNT NBR 6484:2020.
A ABNT NBR 6484:2020 designa as informações edeverão ser inseridas no laudo.
5
Por exemplo: "pouco compacta", "muito compacta". São designações qualitativas, não
trazendo informações numéricas precisas. Essa designação precisa ser traduzida em
números. Para isso, utiliza-se o Ner

6 Desenhos anexos: planta de locação dos furos; perfil individual dos furos; conclusões.
Algumas empresas ainda trabalham com SPT manual, entretanto, hoje se utiliza
7 também SPT mecanizado. Aconselha-se sempre acompanhar a execução da sondagem
para garantir que o trabalho está sendo feito corretamente.
O SPT automatizado garante a altura de queda correta; no caso do manual, a equipe
não necessariamente conseguirá manter o dia inteiro a altura indicada de 75 cm.

52
Vinicius Lorenzi

Perfis de sondagem: com a experiência, o projetista começa a montar "um mapa


9 geológico" da região geográfica em que trabalha e aprende quais são os resultados
possíveis para aquele tipo de obra por conta da região.
10
A complexidade geológica pode levar a complexidades na obra.

11 Há algumas dificuldades em termos de mercado para "vender" sondagens para os clientes


efazer com que entendam a importância dos números de furos exigidos pela norma.
Quando o nível d'água é indicado no laudo, visualmente sua leitura é mais simples.
12
Pode ser colocado em cima, lateralmente, e também na parte de baixo; varia de
empresa para empresa.

O local em que a informação do indice N aparece no perfil pode variar de laudo para
13
laudo. Algumas empresas deixam a informação a cada 15 cm e na sequência a soma
dos últimos 30; outras só indicam o valor final. Fique atento!
A caracterização geológica do material influencia tudo! Cada material, cada composição
14
geológica se traduz em um tipo de fundação diferente e gera impacto nas tensões
admissíveis e resistência das fundações. É preciso entender se é areia ou argila ou silte.
15
Atrito lateral, resistência de ponta ou resistência lateral falam sobre a resistência do solo.
O resultado da sondagem SPT deve ser analisado de maneira integral. Devemos
16
entender o nível d'água, o índice de golpes SPT (resistència), o material (caracterização
geológica), as cotas, a locação dos furos e a localização na qual o trabalho foi feito.
17 É interessante separar as camadas (e onde elas estão) para observar as modificações
das características geológicas.

Tonalidades e consistências: não são usadas nos métodos de cálculo. São usadas
18
para, por exemplo, escavações de tubulões/contenções ou, ainda, para verificar a
estabilidade do material.

Algumas empresas descrevem de metro em metro o que ocorre no solo. Deve-se evitar
19
preciosismos desnecessários e informações confusas para o leitor/cliente, que muitas
vezes pode ser leigo.

20 Os laudos devem ser compreensiveis: é importante que apareça cada uma das
camadas (os materiais podem variar muito entre elas).

No Brasil, já se buscou uma padronização, o que não deu certo. Na prática, cada
21
empresa faz o seu laudo. O que é importante é que as informações básicas estejam
nele e se não estiverem, você precisa solicitar que sejam inclusas.
Picos de resistência precisam ser analisados com critério, pois podem representar
22
materiais que antes não compunham o perfil de solo e que não representam a
realidade do solo.

Aterros muito antigos e bem compactados podem não ser detectados pela geologia.

23
Na sondagem, por exemplo, aterros com 50 anos de compactação feitos com material
de qualidade podem gerar esses picos de resistência que não representam a realidade
geológica da região.

24
O uso ou não do revestimento, e o fato do processo ter sido feito com água ou tricone,
não influenciam na leitura do laudo; só explicitam como foi feita a perfuração.

25
Outras informações fundamentais: cotas que demonstram aclives, declives e demais
variações de níveis, devem ser mostradas na locação dos furos.

53
ENSAIOS DE CAMPO

É importante mostrar a cota de parada da sondagem e o porquê de ela ter sido


26
realizada. Caso tenha sido no impenetrável, talvez seja necessário avaliar futuramente
a presença de rocha ou a presença de matacões.

27
Conhecer previamente a geologia da região é interessante, no local em que será
realizada a investigação.

2
28
A locação do furo no perfil é uma boa prática, pois evita que o leitor tenha que voltar
na locação da sondagem para verificar onde foi realizado o furo.

2
É importante marcar a data de inicio de cada um dos furos. Isso pode ser importante
para avaliar se há variação em época de seca/chuva.

5
30
O parecer técnico não é obrigatório no laudo de sondagem, mas, para o cliente, é uma
informação muito importante.

5
31
Inserir o nome do profissional técnico responsável e que executou o laudo é
fundamental.

32
Não se recomenda lançar no laudo final as planilhas com resultados de capacidade de
carga sem observar outros critérios para a escolha das fundações.
O parecer técnico precisa ser bastante descritivo e demonstrar os resultados
33
encontrados para cada furo, além de outros detalhes da sondagem realizada.

34
No parecer técnico, pode haver a recomendação do tipo de obra a ser executada (em
termos de fundações, levando em consideração as restrições encontradas).
O laudo de sondagem sozinho não se traduz em resultado de fundação diretamente:
35 para projetar a fundação, deve-se entender as cargas estruturais e as limitações de
cada uma das possíveis técnicas de fundação.

4.4 CPT/CPTU

Chegamos agora a um tipo de sondagem muito interessante: a sondagem CPT (Cone


Penetration Test-Ensaio de Cone) e sua variante CPTU (Piezocone Penetration Test - Ensaio
de Piezocone), que, embora tecnológicas, são ainda pouco utilizadas no Brasil.
O ensaio CPT teve normatização no Brasil até 2015, por meio da ABNT NBR
12069:1991. A partir desse momento, viu-se que a norma já não se enquadrava aos equi
pamentos que até então eram considerados. Hoje, os equipamentos de sondagem CPT/
CPTU são modernos, com recursos computacionais e seguem as recomendações interna
cionais, especialmente a norma norte-americana ASTM D-344: Standard test method for
deep quasi-static, cone and friction-cone penetration tests of soils.
Vinicius Lorenzi

Figura 4.5-Equipamento CPT-Drillmine.

Basicamente, temos um ensaio com penetração quase estática, em que ocorre a


prensagem de uma ponteira cônica acoplada a um conjunto de hastes. A principal diferença
que aqui se destaca da sondagem SPT - além do fato de o SPT ser um ensaio dinâmico e
não estático-está no fato de que é um processo totalmente monitorado por computador,
no qual os resultados são verificados instantaneamente à sua cravação.
- Quando devo usar o ensaio CPT?

Quando buscamos parâmetros mais específicos, a sondagem SPT não traz a informa
ção necessária. Esse ensaio é muito utilizado em depósitos de argilas moles, por exemplo.
Os parâmetros geotécnicos nem sempre são obtidos pela sondagem SPT convencional;
nesses casos, outros ensaios como esse são necessários.

Vamos ao seguinte exemplo: imagine um solo muito mole, com característica de

resistência encontrada na sondagem SPT com golpes entre 0 e 1 ao longo de uma camada
de 10 metros. Um resultado como esse entrega uma informação muito vaga.

Nesses casos, o CPT cumpre uma função que eu acredito ser a mais interessante de
todas: ele permite, com a cravação do equipamento (cone) no solo, entender as resistências
laterais e de ponta, ou seja, nesse ensaio é possível verificar de forma separada as parcelas
de resistência de atrito lateral e de ponta.

55
ENSAIOS DE CAMPO

Para solos com baixas resistências e solos muito arenosos, o CPT é bastante indicado.
Já em solos com alta resistência, como argila muito rígida, por exemplo, ocorre uma difi
culdade muito maior para esse tipo de cravação e, nesses casos, ele não é recomendado.

Veja o que a norma de fundações, ABNT NBR 6122:2019, diz sobre o ensaio:

Definição de norma

Este ensaio consiste na cravação continua de uma ponteira composta de


cone e luva de atrito. É usado para determinação da estratigrafia e pode dar
indicação da classificação do solo. Propriedades dos materiais ensaiados
podem ser obtidas por correlações, sobretudo em depósitos de argilas moles e
areias sedimentares. (ABNT NBR 6122:2019)

O principio do ensaio:

realiza-se a cravação, com um equipamento de sondagem que pode ser elétrico


ou mecânico, de uma ponteira cônica de 60° de ápice e área de 10 cm² a uma
velocidade constante de 2 cm/s;

> com a célula de medição e o sensor, o ensaio mede a resistência de forma


contínua ao longo da profundidade para as duas parcelas:
»>

q=resistência de ponta;
» f = atrito lateral local.
e ainda a razão de atrito, definida por Rf, que é a relação entre fs / qc.
Nesse ensaio, é possível, ainda, inserir um transdutor de poropressões, obtendo mais
um parámetro geotécnico gerado durante a cravação, que é a poropressão (u).

Figura 4.6-Cone de penetração CPT.

O que precisa ficar claro é que um método mais automatizado, como o CPT, pode
gerar respostas melhores e mais precisas para determinados solos.

Em comparação com a sondagem SPT, a avaliação é mais minuciosa. Nela, avalia-se

a resistência a cada 1 metro. No CPT é diferente! A avaliação é integral ao longo de todo o

56
Vinicius Lorenzi

trecho sondado: cada avanço do cone permite avaliar cada trecho do solo e seu compor
tamento quanto à resistência de atrito e de ponta.
Por isso, normalmente os projetos de fundação, que usam a sondagem SPT, são
dimensionados de metro em metro. Por exemplo: estacas com 5 ou 6 ou 7 metros - não
é comum nem devem ser utilizados parâmetros quebrados, do tipo: 5,35 metros, pois
você não sabe o que acontece no intervalo para definir uma profundidade dessas. Já na
sondagem CPT, isso é possível, uma vez que o resultado integral ao longo da profundidade
permite entender as respostas do solo que a SPT não consegue fornecer.

Esse tipo de ensaio faz uso do equipamento automatizado que conta com sistema
de aquisição de dados e permite a entrega de um relatório completo do que foi sondado.

No gráfico do relatório, o tipo de solo é descrito. Os resultados precisos entregues


ao longo da profundidade possibilitam uma análise bastante assertiva do projetista. Mas
como isso é possível se esse ensaio não retira amostras do solo?
Nesse caso, são utilizadas as cartas de classificação dos solos. Heraldo L. Giacheti,
um dos maiores nomes do Brasil no ensaio, cita que a experiência no ensaio mostra que,
tipicamente, a resistência de ponta é alta em solos arenosos e baixa em solos argilosos,
enquanto a razão de atrito (Rf) é baixa em solos arenosos e alta em solos argilosos. Os solos
orgânicos como as turfas, segundo Cintra et al. (2013), tendem a apresentar resistências
de ponta muito baixas e razão de atrito muito elevada.
Existem muitas vantagens nesse tipo de ensaio, entretanto, ele ainda é muito menos
utilizado no Brasil do que em outros países, e percentualmente não deve chegar a 2%
dos ensaios realizados no País quando comparado à sondagem SPT e rotativa - que será
objeto de estudo mais adiante.

Qual é a razão disso? Algumas variáveis impactam a realização do ensaio, mas o alto
custo é a principal delas, uma vez que um número restrito de empresas possui os equipa
mentos e normalmente estão localizadas nos grandes centros urbanos, muito distantes de
cidades interioranas. Outra razão se dá pela cravação do cone, que, em argilas de maior
resistência, não consegue realizar o ensaio. Ou seja, há a necessidade de um conhecimento
prévio das condições geológicas locais para definir se esse tipo de sondagem pode ou não
ser empregado.

Mais uma razão para a baixa utilização desse ensaio é que há uma cultura nacional
que dá preferência aos resultados da sondagem SPT para o dimensionamento de fundações.
Pouco se aprende nas faculdades e pós-graduações acerca da utilização do CPT como
ensaio para dimensionamento de fundações.

Existem, sim, correlações entre os ensaios, principalmente para indicar as relações


entre o NSPT e o q, .Mas, apesar de vários estudos brasileiros e internacionais demons
trarem valores para estas, ainda assim são correlações, que foram apontadas por ensaios
realizados em locais que podem não traduzir a realidade local onde o ensaio foi realizado.
Dessa maneira, indico que se for para utilizar os resultados de parâmetros de solo no
cálculo de uma fundação, que seja por meio dos métodos direto de previsão de capacidade

57
ENSAIOS DE CAMPO

de carga de estacas, como os métodos indicados por Fernando Schnaid em seu livro Ensaios
de Campo e Suas Aplicações à Engenharia de Fundações:

▸ Método de Bustamante e Giasenelli (1982);

▸ Método de De Ruiter e Beringen (1979) - aceito como Método Europeu de


Projeto.

4.5 Sondagem Rotativa


A Sondagem Rotativa é um método de investigação que consiste no uso de um
conjunto motomecanizado, projetado para a obtenção de amostras de materiais rochosos,
contínuas e com formato cilindrico, a partir de ação perfurante dada basicamente por forças
de penetração e rotação que, conjugadas, atuam com poder cortante.

Figura 4.7-Sondagem Rotativa.

Normalmente, esse tipo de sondagem está vinculada a uma Sondagem SPT ou,
ainda, à indicação de Sondagem Mista, que consiste na realização de uma investigação
Vinicius Lorenzi

geotécnica que inicialmente é dada pela SPT, até a camada impenetrável e, partir dessa
camada, pela Sondagem Rotativa para investigação do material rochoso.

Cuidado!

Muita gente confunde Sondagem Rotativa com Estaca Rotativa,


mas elas não possuem quaisquer semelhanças! A Sondagem Rotativa
é uma investigação geotécnica em material rochoso, enquanto a Estaca
Rotativa é uma fundação.

Afinal, por qual razão eu precisaria utilizar uma sondagem rotativa? Qual seria o
motivo de eu avançar na investigação da rocha se eu sei que a Sondagem SPT não conse
guiu avançar além daquela camada?

Ao realizar uma investigação geotécnica, é ideal começar com métodos convencio


com menor custo e melhor relação custo-benefício. No caso, em uma obra qualquer,
começo com a sondagem SPT e depois, se houver a necessidade de uma compreensão
melhor daqueles resultados, dou a sequência com uma sondagem rotativa.
O uso da rotativa é indicado sempre que a Sondagem SPT ou CPT não consegue
avançar na perfuração: uma vez encontrado material rochoso cujo comportamento precisa
ser compreendido mais a fundo, parte-se para uma rotativa.
Como assim, Vinicius?

Se durante a Sondagem SPT eu encontro, por exemplo, uma região "impenetrável"


com pequenas profundidades e a solução de fundação do meu cliente, por exemplo, é
preferencialmente em sapatas, preciso entender se, de fato, realmente se chegou à rocha
ou se é apenas, por exemplo, um matacão.

Nesses casos, adotamos inicialmente a Sondagem Mista, que é uma sondagem


SPT com complemento de uma Sondagem Rotativa, ou seja, composta por uma etapa a
percussão e outra rotativa. A ABNT NBR 6122:2019 recomenda:

No caso de dúvida quanto à natureza do material impenetrável a percussão,


devem ser programadas sondagens mistas (percussão e rotativa).

Em se tratando de maciço rochoso, rocha alterada ou mesmo solo residual


jovem, as amostras coletadas devem indicar suas características principais,
incluindo-se eventuais descontinuidades, indicando: tipo de rocha, grau de
alteração, fraturamento, coerência, xistosidade, porcentagem de recuperação
e o índice de qualidade da rocha (ROD). Sempre que possível deve ser feita a
determinação do NSPT.

59
ENSAIOS DE CAMPO

Ao finalizar uma sondagem rotativa, são coletadas amostras desse material rochoso
em uma caixa de amostras cilíndricas enumerada, contendo as profundidades sondadas
organizadas em horizontes desde o solo até fragmentos de rocha să.

Figura 4.8-Amostras coletadas em uma Sondagem Rotativa.

- E como se lê uma amostra dessas?

É bem simples! Você precisa olhar metro a metro a qualidade da composição da rocha
em suas alterações até chegar no material são/integro. Passa, ao longo das profundidades,
desde o solo (rocha alterada), a blocos de rochas, matacões, pedregulhos e posteriormente
rocha sem fratura, sã, com RQD muito alto.
- Ok, Vinicius, mas o que é ROD?

RQD é a medida quantitativa usada para entender a resistência da rocha. Darei


alguns exemplos de seu uso:
▶ no cálculo de estaca raiz ou de estacas que avancem em material rochoso, o
RQD é usado para definir a capacidade de suporte da rocha;
▸ no dimensionamento de fundação superficial, é utilizado para definir a tensão
admissível do material no qual a fundação se apoiará.

Observe que em um material bem alterado (uma rocha muito fraturada), a tensão
admissível será muito menor do que em uma rocha sã. Uma rocha alterada pode possuir
uma tensão admissivel de 5 ou 6 kgf/cm², enquanto uma rocha sã pode ter tensões ad
missíveis de 20 a 25 kgf/cm².

60
Vinicius Lorenzi

Uma rocha não intemperizada, sem fraturas ou desagregações, tem muito maior
resistência que uma fraturada. Ou seja, capacidade de suporte muito maior.

Dica!

Usamos muito no dia a dia a expressão "taxa 5", "taxa 6", que se
refere à tensão admissível de 5 kgf/cm² ou 6 kgf/cm², respectivamente.

Voltando ao exemplo da sapata:

Como sabemos: Tensão = força/ área.

Se eu tenho uma TAXA DE SUPORTE ALTA = ÁREA DE SAPATA MENOR. O contrário


também acontece: TAXA DE SUPORTE BAIXA = ÁREA DE SAPATA MAIOR.

Em fundações superficiais de obras muito grandes, muitas vezes indica-se chegar


em um material rochoso de alta resistência, uma rocha sã, pois é preciso encontrar tensões
admissíveis muito altas para equalizar cargas muito elevadas.

AS

Caso de obra!

Sem dúvidas, sou um grande få da Sondagem Rotativa, especialmente pelo fato de


entregar respostas que a Sondagem SPT sozinha não traz. Mas é uma sondagem relati
vamente mais cara do que a SPT, logo, temos uma maior dificuldade para que o cliente
entenda sua necessidade.

Em uma obra, no interior do Paraná, foi solicitado um orçamento para a Fungeo executar
as fundações em estacas raiz. Era uma obra grande e havia um projeto de fundações,
com as definições claras acerca dos diâmetros e profundidades dessas estacas, em suas
parcelas de solo e rocha.

No mesmo momento que recebi o projeto, solicitei a sondagem rotativa da obra, pois
eu precisava entender o material que perfuraria, a dureza da rocha nesse caso é uma
variável importante na definição de preços da estaca raiz. Entretanto, o cliente negou
o meu pedido, falou que o projeto era claro e que se eu quisesse orçar a obra, deveria
orçar daquela maneira!
RECUSE!!

Sim, claro que recusei! E, por sinal, isso acontece praticamente todas as vezes que me

solicitam um orçamento sem sondagem. Não adianta: é preciso entender a geologia do


local que vou perfurar e, sem essa informação, eu não orço. E a obra era grande-estáva
mos falando de uma fundação, cuja perfuração de estacas, ultrapassava os R$ 500 mil.

61
ENSAIOS DE CAMPO

Questionei ainda como o projetista havia definido as profundidades em rocha sem


sequer saber qual era a característica daquela rocha, mas não teve jeito, minhas soli
citações de sondagem rotativa foram recusadas.

Talvez você esteja aí, indignado, pensando: Não é possível que uma obra desse
porte vá recusar a execução de uma Sondagem Rotativa que custa menos do que 3%
do valor da fundação. Mas, sim, isso é possível e foi assim que aconteceu.
Perdi a obra, claro! Passados mais ou menos dois meses, meu telefone tocou.
-Oi, Vinicius. Aqui é o Fulano da obra que você recusou em função de não ter uma rotativa.
Então, tivemos um problema lá na obra!

- Ah, sério que tiveram um problema?


[Imagine certo tom irônico na minha fala]
-Então, rapaz! Fomos perfurar as estacas e a Sondagem SPT estava furada. O projetista
da fundação acreditou que o impenetróvel da sondagem era rocha, mas, na verdade, era resto de
entulhos. Eu não sabia quando comprei o terreno, mas lá foi feito um grande aterro e muito entulho
foi jogado ló!

-Ah. sério? [A ironia estava em alta naquela oportunidade]


-Pois é! E o que aconteceu foi que tivemos que desmobilizar a estaca raiz. Jó tínhamos gas
todo um valor enorme com as ferragens dos estacas, que tiveram que ser todas revisadas em função
de um novo projeto de fundações que o projetista indicou. Inclusive, nós removemos todo o entulho do
local e, agora, a solução de fundação ficou até um pouco mais simples, em estacas hélice continua.
-E foi feita uma nova Sondagem SPT para entender os resultados encontrados abaixo da
camada de entulho?

-Foi sim, Vinicius. Inclusive vou te mandar a sondagem e o novo projeto de fundação para a
obra. Gostaria muito de, daqui para a frente, contratar sua empresa para nossas obras.
De fato, não apenas essa, mas acabamos realizando outras obras para essa empresa,
uma vez que houve a percepção de que aquela solicitação não era algo comercial com o
intuito de apresentar um serviço adicional de sondagem (isso porque a Fungeo também
realiza sondagens rotativas).

A maior lição neste caso é: você precisa entender o material que a fundação perfu
rará! Não se pode imaginar ou supor que a partir da profundidade que a sondagem não
alcançou, você tenha resultados esperados, do tipo: rocha!
Desconfie! Qual rocha? Qual é a resistência dela? É realmente uma rocha? Será que
não temos ali um matacão ou coisa parecida? Lembre-se: é com informação real que você
projeta uma fundação e não com suposições de resistência.

62
Vinicius Lorenzi

4.6 Ensaio de placa


O ensaio de placa, conforme a norma de fundações, "é uma prova de carga direta
sobre o terreno, com o objetivo de caracterizar a deformabilidade e resistência do solo sob
carregamento de fundações rasas". Esse ensaio é normatizado pela ABNT NBR 6489:2019
- Solo: Prova de carga estática em fundação direta.

O ensaio demonstra a capacidade de carga que aquele solo onde estou ensaiando
in loco, possui. Ou seja, a capacidade de suporte da cota específica.

Ele é feito a partir da aplicação de uma carga sobre uma placa rígida, de aço ou con
creto, que está apoiada sobre o solo. Para realizar o ensaio, podemos usar uma cargueira
ou tirantes, isto é, um sistema de reação (Figura 4.9).

Figura 4.9-Ensaio de placa

Para o desenvolvimento do ensaio, os materiais exigidos pela norma são:


placa metálica;

bomba hidráulica;
▸ macaco hidráulico;

conjunto de reação, que aqui pode ser divido em:
>>>
cargueira (na prática, é utilizado um caminhão ou equipamento com car
ga elevada, como uma escavadeira hidráulica como reação para a placa);
>>> tirantes no solo.

63
ENSAIOS DE CAMPO


deflectômetro/relógio comparador (utilizado para a leitura dos deslocamentos
da placa).

Legenda:
Carga de reação

(areia, ferro, etc.)


(1) Viga de referência
(2) Cavalete de apoio

(3) Solo

+2 (4) Deflectômetro

5 Placa Ø 80 cm

6 Viga de transição

7 Célula de carga

8 Macaco hidráulico

Legenda:

1 Viga de referência

(2) Tirante de reação

(3) Cavalete de apoio


+2)
(4) Deflectômetro

(5) Placa 80 cm

(6) Viga de transição


7 Célula de carga

(8) Macaco hidráulico


(9) Solo

(10) Estaca de reação

Figura 4.10-Ensaio de placa.

Veja: a placa ensaia o solo. Damos cargas no macaco; jogamos carga na bomba, de
5, 10, 15 toneladas; e lemos a deformação da placa. Sequencialmente, construímos um
gráfico carga deformação para analisar a capacidade de suporte do solo no elemento
onde apoia a fundação.

No caso dos tirantes, devem ser executados no solo e apoiar uma viga de reação
para que então haja uma reação no macaco e se possa executar o ensaio.

64
Vinicius Lorenzi

Os resultados são correlacionados com as relações de comportamento entre a placa


e a fundação que está analisando e é gerado um gráfico.

MINHAS ANOTAÇÕES

65
US S
SECT
ENGENHEIRO, ENTENDA!

SEUS PRIMEIROS R$ I MIL


VÊM DO TRABALHO DURO.
SEUS PRIMEIROS

R$ 100MIL VÊM DO
TRABALHO INTELIGENTE.

SEU PRIMEIRO

R$ I MILHÃO

VEM DO SEU TRABALHO


DE CONSTRUIR UM TIME

QUE TRABALHE DURO E DE


FORMA MAIS INTELIGENTE

DO QUE VOCÊ TRABALHAVA


SOZINHO.
ENSAIOS DE CAMPO

4.7 Imprevistos de sondagens


Se fez a sondagem, está resolvido seu problema, certo? Talvez sim, talvez não. Pre
cisamos falar aqui sobre algo que acontece no dia a dia, na prática em campo. Estamos
aqui para falar coisas que acontecem na nossa obra diariamente.

Nem sempre o resultado encontrado em uma sondagem traz a informação completa!


É possível que o resultado encontrado traga ainda mais dúvidas sobre o solo. Algumas ca
racterísticas geológicas não são possíveis de serem "decifradas" no primeiro ensaio de solo.

-Por quais surpresas devo esperar no meu solo na obra?

Muitos podem ser os imprevistos que ocorrem durante uma sondagem, desde ques
tões relativas ao próprio maquinário, a faltas e falhas dos operadores, imperícia, má-fé ou,
ainda, surpresas do próprio solo.

4.7.1 Problemas mais recorrentes

O primeiro imprevisto de sondagem que podemos destacar é a ocorrência de


matacões nas obras. Imagine que, ao chegar a uma obra para fazer 3 furos de sondagem,
você se depara com a situação:

▸ 1⁹ furo: impenetrável a 15 metros (alcançou o topo rochoso);


2º furo: impenetrável a 7 metros;

3⁰ furo: impenetrável a 5 metros.

Observe a conclusão inicial equivocada que pode se caracterizar como verdade: o


topo rochoso sobe em aclive em seu terreno. Você pode pensar que atingiu o topo rochoso
enquanto, na realidade, encontrou um matacão.
-Mas, afinal, o que são esses matacões? São um problema?

São alterações/fragmentos de rochas que foram sendo depositados e/ou sedimen


tados, intemperizados, no substrato de solo ao longo do tempo. Os matacões podem
ocorrer em diferentes camadas.

E podem, sim, ser um problema! Imagina você apoiar uma fundação de uma obra,
com cargas elevadas em cima de um material que está solto no maciço. A sondagem SPT
não o atravessa, mas uma carga elevada pode facilmente gerar um deslocamento acima
do admissível e causar danos a obra. Por isso, normalmente são um problema.
A conclusão real do caso apresentado: no segundo e terceiro furos, o equipamento
de sondagem SPT chegou em um matacão e o topo rochoso, na realidade, está em uma
camada diferente daquela imaginada inicialmente.

-Se minha solução de fundação for em estaca escavada com 10 metros de profundidade, o
que ocorre se eu tiver matacão no terreno?

Não necessariamente você terá problemas em sua obra, pois você pode ser uma
pessoa de muita sorte. Mas se não tiver muita sorte, em alguns pontos do terreno poderá

68
Vinicius Lorenzi

ter problemas com a escavação, podendo encontrar um matacão a 2 metros, outro a 7


metros e assim sucessivamente, tendo que interromper o trabalho ou, ainda, mudar a
solução técnica.

Em um mesmo terreno, pode haver regiões com ou sem matacões que podem
modificar as soluções de fundações e gerar problemas complexos em obras. Em uma
situação assim, talvez precisaríamos até mesmo adotar uma solução mais onerosa como a
estaca-raiz para atravessar esse material rochoso ou ainda tubulões manuais para escavar
e chegar até ele.

Moral da história: caso tenha dúvidas se na sondagem realizada o limite impenetrável é


uma rocha ou um matacão, realize uma sondagem rotativa! Não fique com dúvidas, pois elas
podem lhe causar um retrabalho enorme e isso certamente impactará os custos da sua obra.

O segundo imprevisto que podemos encontrar é o horizonte orgânico.


Nem sempre você encontrará solos homogêneos para trabalhar. É até mais provável
que isso não ocorra. Usualmente, temos situações em que há alguma variabilidade nos
solos.

Exemplo: seu terreno tem 20 metros x 40 metros, e a metade inicial dele constitui-se
de um solo siltoso até os 4 metros de profundidade. Em contrapartida, na metade final,
esse solo é caracterizado por um material orgânico nos primeiros dois metros.
- Vinicius, posso apoiar minha fundação nesse tipo de solo? Posso apoiar minha sapata?
NEGATIVO!

Na sondagem, é possível encontrar diversos tipos de materiais e alguns deles podem


ser completamente sem suporte, com muita matéria orgânica e até mesmo contaminados.
Exemplo: turfas.

Solos como esse não são interessantes para apoiar fundações. Um apoio como esse
para uma fundação direta, por exemplo, seria desastroso.

Caso de obra!

Uma aluna da pós-graduação certa vez me contou sobre uma obra na cidade dela na
qual essa caracterização ocorria.

O prédio contava com 2 torres de 20 pavimentos cada e com salão de festas entre
elas, ao fundo do terreno. A obra foi feita adequadamente, com todas as investigações
geotécnicas necessárias. A fundação para as torres foi bem projetada e bem executada,
em hélice contínua, com 27 metros de profundidade.

Mas havia o salão de festas...

- E o que tem, Vinicius?!

69
ENSAIOS DE CAMPO

Para quem está fazendo torres com esse número de pavimentos, fazer o salão de festa
seria "mamão com açúcar", pois não precisa nem de sondagem, certo?

E foi justamente esse o problema: nessa área do fundo do terreno havia muito material
orgânico (solo podre) em uma camada intermediaria, entre 2 e 5 metros de profundi
dade, sem a mínima resistência.

A obra das torres estava em fase de acabamento e logo chegou o momento de executar
o salão de festas. A estrutura foi definida em pré-moldado e a fundação ficou a cargo
do encarregado definir in loco (mais um erro). Ele especificou sapatas com dimensões
de 1 metro x 1 metro apoiadas a 1,5 metro de profundidade.

Resultado: fundação rasa sobre material sem resistência!

A estrutura pré-moldada foi montada, os pilares levantados, as vigas posicionadas, a


laje colocada no seu devido lugar. Ao iniciar o processo de execução da alvenaria, a
estrutura começou a recalcar, os cálices começaram a quebrar e a estrutura, a colapsar.
Cuidado: o "telefone sem fio" não perdoa. Nessa obra, espalharam pela cidade que as
torres estavam inclinadas e estavam com problemas estruturais. A empresa precisou
fazer um grande esforço para conscientizar o público sobre a qualidade do empreen
dimento contra a propaganda negativa.

Obviamente não havia nenhum problema nas torres, mas aquela falha foi terrível para
a imagem da empresa - "Poxa, os caras não sabem fazer sequer uma obra simples,
quem dirá uma edificação de 20 pavimentos!". Não era bem assim: o que faltou foi a
empresa ter mantido o padrão de qualidade adotado nas torres.
Moral da história: não importa a obra, faça bem feito! Faça uma sondagem adequada,
um bom projeto de fundação e uma correta execução.

Projetei e executei as fundações de uma obra no interior do Paraná. Duas torres.


Obra plena de ensaios geotécnicos, sendo realizadas Sondagem SPT, PIT e Prova de Carga
Estática nas fundações.

Divulgaram que todos esses ensaios estavam sendo feitos, pois as torres estavam
tortas, sem que, na realidade, houvesse problema algum! Aqueles ensaios eram tão inco
muns na região que alguém divulgou essa barbaridade pela cidade.
Estava eu fazendo uma palestra em uma universidade da cidade quando citaram
esse "recalque"! Disseram, inclusive, que havia japoneses fazendo congelamento das
estacas para recuperação estrutural (não me perguntem que processo é esse, porque eu
também não conheço).

Certamente, se existisse algum problema naquela obra, eu seria o primeiro a sa


ber, pois era minh a ART do jeto e da execução das fundações. Tive trabalho para
desmentir aquilo tudo, até o dia que descobriram que àconcorrente mal-intencionado
havia plantado a "sementinha do mal" para desqualificar a obra. No fim, tudo resolvido!

70
Vinicius Lorenzi

O terceiro imprevisto é uma sondagem realizada sem a profundidade devida. Esse


caso é um dos mais comuns que eu vejo no dia a dia como projetista de fundações.
É aquele caso comercial sabe? O mais terrível e abominável de todos! Muitas empre
sas de sondagem, para pegar o trabalho, fazem sondagem com uma profundidade abaixo
do mínimo necessário e sem seguir quaisquer critérios de paralização indicados na norma.
É fato: menos profundidade, menor custo da sondagem. Logo, se o meu valor é
menor, eu fico mais competitivo e conquisto o serviço.
Por isso, é fundamental que você esteja atento a isso e estabeleça os critérios de
paralização indicados na ABNT NBR 6484:2020.
1. Critério de paralização do ensaio
De acordo com a ABNT NBR 6484:2020, a cravação do amostrador-padrão pode
ser interrompida antes dos 45 cm de penetração sempre que ocorrer uma das seguintes
situações:

a)
Se o número de golpes ultrapassarem 30 golpes em qualquer dos três seg
mentos de 15 cm.

b)
Durante a aplicação de 5 golpes sucessivos do martelo, se não observar
avanço do amostrador-padrão. Nesse caso, após retirar o amostrador, deve
-se iniciar o ensaio de avanço da perfuração por circulação de água.
c)
O ensaio de avanço da perfuração por circulação de água deve ter duração
de 30 minutos, anotando os avanços do trépano obtidos em cada período
de 10 minutos.

4.
Critérios de paralisação da sondagem
De acordo com a ABNT NBR 6484:2020:

O critério de paralisação das sondagens é de responsabilidade técnica do con
tratante ou de seu preposto, e deve ser definida de acordo com as necessidades
específicas do projeto.

Na ausência do fornecimento do critério de paralisação por parte do contra
tante ou preposto, as sondagens devem avançar até que seja atingida uma
das seguintes condições:
a) avanço da sondagem até a profundidade na qual tenham sido
obtidos 10 metros de resultados consecutivos indicando N iguais

ou superiores a 25 golpes;

b) avanço da sondagem até a profundidade na qual tenham sido


obtidos 8 metros de resultados consecutivos indicando N iguais
ou superiores a 30 golpes;

c) avanço da sondagem até a profundidade na qual tenham sido


obtidos 6 metros de resultados consecutivos indicando N iguais

ou superiores a 35 golpes.

71
ENSAIOS DE CAMPO

A sondagem a percussão pode ser paralisada em solos de menor resistência à pe


netração dependendo do tipo de obra, das cargas a serem transmitidas às fundações e
da natureza do subsolo, porém deve haver uma justificativa geotécnica ou solicitação do
cliente.

Agora é com você!


1. Como definir a quantidade de furos de sondagem que devo fazer em obra?
2. Fiz a contratação de um laudo de Sondagem SPT até os 20 metros, entretan
to com 5 metros chegou ao limite impenetrável. O que fazer?

3. A Sondagem SPT não alcançou limite impenetrável. Devo me preocupar com


a segurança da minha obra?

4. Classifique em Verdadeiro ou Falso. Justifique quando for Falso.

() Em uma Sondagem SPT, a profundidade de execução dos furos independe do tipo de


obra, devendo sempre chegar ao limite impenetrável.

( ) A Sondagem Rotativa deve ser feita toda vez que alcançado o impenetrável em uma
sondagem SPT.

( ) A Sondagem CPT é sempre a melhor solução para uma obra, por isso é a mais utili
zada Brasil.

SOLUÇÕES SUGERIDAS
1. Na realidade, depende do tipo de obra e sua complexidade. Obras menores nor
malmente exigirão menos furos; em obras maiores, são necessárias uma quantidade
superior.

A ABNT NBR 8036:1983, no item 4.1.1.2, estabelece: "As sondagens devem ser, no
mínimo, de uma para cada 200 m² de área da projeção em planta do edifício, até
1.200 m² de área. Entre 1.200 m² e 2.400 m², deve-se fazer uma sondagem para cada
400 m² que excederem 1.200 m². Acima de 2.400 m², o número de sondagens deve
ser fixado de acordo com o plano particular da construção".
Em quaisquer circunstâncias, o número mínimo de sondagens deve ser:
a) dois para área da projeção em planta do edifício até 200 m²;
b) três para área entre 200 m² e 400 m².
Quanto à locação dos furos, a NBR 6484:2020 cita: "A locação dos furos de sondagem
em planta deve ser fornecida pelo contratante. Nesta planta, deve constar a referência de
nível (RN), com cota preferencialmente georreferenciada, adotada para o nivelamento
dos pontos de sondagem. Na falta de dados sobre a referência de nível, deve-se adotar
um RN arbitrário, fora do perímetro da obra (guia, calçada etc.)."

2. Realizar outro furo auxiliar para compreender o que está ocorrendo solo é
primeiro passo. Usualmente, faz-se um ou dois furos em um raio de 5 metros de onde
foi feito o primeiro furo para avaliar se aquela característica permanecerá. Também
pode ser necessária uma sondagem rotativa. Isso é mais comum do que parece! Você

72
Vinicius Lorenzi

viu neste livro que uma das variáveis para definir a profundidade euma sondagem é
o conhecimento geológico local, que nem sempre existe! Ora, eu posso projetar uma
fundação em uma região geologicamente desconhecida e a sondagem me mostrará a
caracterização daquele solo, mas como eu só tinha a informação do número de pavimen
tos da obra, solicitei uma sondagem até os 20 metros. Entretanto, a sondagem mostrou
um resultado divergente daquele idealizado inicialmente. O que não é um problema!

3. Devo me preocupar com a segurança da minha obra? Sempre! Mas, neste caso, a
pergunta não é essa. O fato de não alcançar o impenetrável (rocha) não necessariamente
é um problema! Isso dependerá do tipo de obra e da resistência necessária. Em muitos
casos, as fundações não são apoiadas em material rochosos, logo, não necessariamente
é obrigatório que uma sondagem chegue até essa camada.
4.

a) (F) Depende sim do tipo de obra e do que é necessário/suficiente.


b) (F) Se as condições de cálculo são satisfeitas antes do impenetrável, não é necessário
entender o comportamento do material (rocha). Depende do dimensionamento e da
profundidade da fundação adotada.

c) (F) Não é o tipo de sondagem mais realizado no Brasil. Além disso, não necessaria
mente será a solução ideal para a obra. Depende de uma série de fatores.

4.8 Leitura e interpretação de um laudo de sondagem SPT


Vamos fazer juntos a leitura e interpretação de alguns laudos de sondagem?
Obra 1) Esta primeira obra traz um desafio interessante, pois estamos diante de
um conjunto de edifícios residenciais de 3 pavimentos. Separei dois laudos, um de cada
lado da edificação. Você pode observar a locação dos furos no canto inferior direito das
imagens a seguir.

73
)
m
( ENSAIOS DE CAMPO

/
m
)
(
Relatório de Sondagem N° 030921
de

30
Cota relação R.N.

fi
c
Final

30 cm finals
Cota Inicial

S
98,700
Perfuração

Fure SPT 02

n
m
Revestimento

Pa
NA

30 cm iniciais

T
Processo

Cota Final 83,250

India
1.00

SPT- Standart Penetration Test


10 20 30 40 50 60 70 80 90 10
Camadas-Classificação dos solos

0 0 0

1 1 1 2

1 2 3

1 2 2 4

2 2 3 5

ARGILA A ARGILA SILTOSA, COR MARROM


2 2 35
AVERMELHADA, SEM TEXTURA INTERNA
CONSISTENCIA MUITO MOLE A MUITO REA
2 3

4
2 3 7

3 3 5 8

Perf.C.A.
3 5 7 12

5 9 11 20
10,12
11

5 8 13 21

12
5 8 10 18
13,45
13
13,45
5 8 8 16
14 ARGILA SILTOSA, TONALIDADE ROKA A ROXA
7 10 10 20 ESCURA, ALTERAÇÕES AMARELADAS E EN
8 9 15 24
115,45 PONTUAIS ESBRANQUICADAS, PERCOLAÇÕES
16
COM CORES ESCURAS, CONSISTENCIA RIJA A
MUITO REA
15,45
..
17

18

20

..

22

123

124

NIVEL D'ÁGUA: 10,12m

SONDAGEM LIMITADA: 1545


DA

.......
SPT 09 SPT 08 SPT 07 SP1 06 SPT 05 SPT 04 SPT 03 SPT 02 SPT OF WIDE
SE

SPT 19
33

●●
SPT 10 SPT 11 SPT 12 SP1 13 SPT 14 SPT 15 SPT 16 SPT 17
SPT 180

Figura 4.12-Furo de Sondagem SPT-02.

74
Vinicius Lorenzi

/
/
Relatório de Sondagem N° 030921

Perfuração )
m
)m

)
(

m
(
30cm

(
Final
Cota relação RN.

Camadas

finalSs
Revstimento
peneg
93,350 30 cm finais
de Fure SPT 10 Cota Inicial

torl

PT
apde
isc
€1,900 30 cm Inicial
N.A. Cota Final
Proces o
-

SPT- Standart Penetration Test


de
|
Indian Camadas Classificação dos solos
10 20 30 40 50 60 70 80 90 10

18 0 0 0 0

1 1 1 2

1 1 1
2

1 2 2 4
ARGILA SILTOSA, COR MARROM AVERMELHADA,
2 2 2 4 SEM TEXTURA INTERNA, CONSISTENCIA MUITO
MOLE AMÉDIA
2 2 2 4

2 3 3 6

3 3 4 7
8,45

fineferr
.
6 6 7 8,45
13

Perf.C.A. 9 16
ARGILA SILTOSA, TONALIDADE ROXA,
23 9,45
39
ALTERAÇÕES AMARELADAS, PERCOLAÇÕES COM
14 22 35 57
10
CORES MESCLADAS, CONSISTÈNCIA REA
9,45
20 11
34 58 11,45
92

ARGILA SILTOSA, TONALIDADE AMARELADA,


ALTERAÇÕES ESBRANQUIÇADAS E
13
ESVERDEADAS, PERCOLAÇÕES COM CORES
MESCLADAS, CONSISTENCIA DURA
11,45
15

ENCOTRADO 17

NÃO
N.A.
22

23

|મ

NA NÃO ENCONTRADO

SONDAGEM LIMITADA POR ROCHA OU

MATACÃO, NA CIRCULAÇÃO DAGUA: 11.45

.....
SPT 09 SPT OB SPT OF SPT 06 SPT 05 SPT 04 SPT 03 SP1 02 SPT 01

SPT 19

.........
SPT 10 SPT 11 SPT 12 SPT 13 SPT 14 SPT 15 SPT 16 SPT 17

SPT 18

Figura 4.13-Furo de Sondagem SPT-10.

75
ENSAIOS DE CAMPO

Descrição da sondagem

Na primeira camada perfurada, a argila siltosa apresenta cor marrom avermelhada


e ausência de textura interna. A consistência varia de muito mole a muito rija.

Na segunda camada perfurada, a argila siltosa apresenta tonalidade roxa roxa


escura, alterações amareladas e pontuais esbranquiçadas e percolações com cores escuras
a mescladas. A consistência varia de mole a dura.

A terceira camada foi encontrada apenas no furo SPT 10, onde a argila siltosa apre
senta tonalidade amarelada, alterações esbranquiçadas e esverdeadas e percolações com
cores mescladas. A consistência é dura.

Quanto aos Estados de Compacidade e Consistência, eles são obtidos da última


revisão da NBR 6484:2020.

Tabela 4.2-Estados de compacidade e de consistência.

Indice de resistência à
Solo Designação
penetração (N)

<4 Fofa(o)

5a8 Pouco compacta(o)

Areias e siltes arenosos 9 a 18 Mediamente compacta(o)

19 a 40 Compacta(o)

> 40 Muito compacta(o)

<2 Muito mole

Mole
3a5

Média(o)
6 a 10
Argilas e siltes argilosos
11 a 19 Rija(o)

20 a 30 Muito rija(o)

> 30 Dura(o)

O que deve ser analisado em uma sondagem? Primeiramente, as informações básicas


de resistência do solo (Índice NSPT). Além disso, é possível verificar que nessa obra os
furos têm uma distinção de resultados.

No primeiro furo, que foi limitado até os 15 metros, há uma resistência abaixo de
25 golpes nos 15 metros da sondagem. Já no segundo furo, a resistência ultrapassa os
50 golpes aos 10 metros e alcançou-se material impenetrável aos 11,45 metros! Ou seja, em
termos de capacidade de resistência do solo, você tem, em um mesmo terreno, diferentes
capacidades de suporte!

Quanto ao nível do lençol freático, referência básica para a tomada de decisões acerca

do tipo de fundação escolhido, no primeiro furo com 10 metros foi encontrada água, já no
segundo não foi encontrado NA.

76
Vinicius Lorenzi

Ou seja, você pode ter a necessidade de projetar mais de uma solução de fundação
em uma obra dessas (o que é perfeitamente normal) dada a diferença de altura do NA
em diferentes regiões da obra.

Vamos explorar alguns detalhes.

Primeiramente, por que na primeira sondagem houve a paralização da mesma aos


15 metros? Ora, temos ali uma obra de 3 pavimentos! A metragem sondada já era mais do
que suficiente para projetar uma fundação!
Mas não seria mais prudente fazer todos os furos até o impenetrável?
Sempre tem uma questão financeira envolvida! Quanto mais sondar, mais oneroso
fica, e nem sempre o cliente está disposto a isso.
Segundo: o objetivo da sondagem é muito claro. Ela deve fornecer os parámetros
para que se possa projetar uma fundação. Se atingiu esse objetivo, pronto! Ninguém vai
sondar 60 metros só porque é "bonito" ou porque se quer ver o comportamento do solo.
Vamos em frente! O que mais podemos observar nessa sondagem? Observe a cota
em relação ao RN, que se encontra na parte superior, ao centro. Ela indica uma diferença
grande entre os dois furos!

Isso explica um pouco a diferença de resultados dos dois furos e mostra também
que, quanto maior for a diferença que eu tenho, mais sondagens eu preciso fazer para
entender integralmente o comportamento do meu solo.
Por fim, completo que em relação ao tipo de material encontrado e caracterizado,
há um solo predominantemente com argila siltosa, do início ao fim do perfil.
Possíveis soluções de fundações para a obra: estacas escavadas até o nível do
lençol freático.

Vamos para a próxima sondagem?

Obra 2) Esta é interessante! Obra em rodovia, com soluções a serem desenvolvidas


ao longo de um trecho de 2 km. Se dentro de um terreno temos variação de solo, imagina
neste caso. Trouxe 2 furos distantes um do outro para discutirmos.

77
)
m
( ENSAIOS DE CAMPO

/
/

)
)

m
m
N° 081921

(
(
Relatório de Sondagem

Perfuração

30
Cota relação R.N

Camadas
Pure SPT 01

fi
30 cm finais

cS
Cota Inicial 1870,000

penet

nP
FinalNA

Lat: 7.195.075,916

gr

a
m
oa
de
Revestimento

lc
30 cm inicials

pi

l
eo

Ts
s
Long: 452.856,466 Cota Final 1062,400
Processo

Indice
Prof. SPT- Standart Penetration Test
1,00

de 10 20 30
d

Camadas Classificação dos solos

7³1 0 0 0

ARGILA A ARGILA SILTOSA, COR MARROM

HT + + 45 39 HE 60 0
2 4 5 9

TH 4 H 1
AVERMELHADA, SEM TEXTURA INTERNA,
CONSISTENCIA MOLE A MEDIA
:

4 9 Alterações acinzentadas
3 4 9 em 5,45m.

Perf.C.A.
5
6,45
2

6,45
10 10 20
00NWww

7
7,60
11 60/09 SILTE ARGILOSO, TONALIDADE MARROM CLARA,
.
ALTERAÇÕES AMARELADAS E ACINZENTADAS,
.
PERCOLACÕES COM CORES MESCLADAS,
CONSISTENCIA MUITO RIJA A DURA
10

Ocorrência de grânulos
11
e seixos em 6,45m e 7,45m.
7,60

Figura 4.14a-Furo de Sondagem SPT-01.


/
)
m
/

(
)
m

N° 081921
)
m
(

Relatório de Sondagem
(

30fc

Fure SPT 06 Cota relação R.N.


de

30 cm finals
Revestimento

Cota Inicial 1074,600


i

CamadPa
SnP
penetr

Lat: 7.194.967,918
FinalNA

30 am Inicials
m
al
Perfuração

Cota Final 1060,300


Ts

ro

Long: 452.882,580
E
ga

sf.
ol
ç
d p
ã

Indice
e

SPT- Standart Penetration Test


Proces o
eo
s

10 20 30

Camadas-Classificação dos solos

1⁹1 0 0 0 0

3 4
4
ARGILA A ARGILA SILTOSA, COR MARROM
4 5 6 11 AVERMELHADA, SEM TEXTURA INTERNA
CONSISTENCIA MÉDIA A RIJA
5 6 6 12

5.45
4 5 5 10

SAS
5 9
3 4
ARGILASILTOSA, TONALIDADE ROXA,
ALTERAÇÕES PONTUAIS ESBRANQUICADAS,
.

2 4 5 9
77.45 PERCOLAÇÕES COM CORES MESCLADAS,
7,40
3 4 5 9 CONSISTENCIA MÉDIA 7.45
.

PerfC.A
5
S 4 5 9

5 7 7 14 SILTE ARGILOSO, TONALIDADE MARROM CLARA


ALTERAÇÕES AMARELADAS E ACINZENTADAS,
PERCOLAÇÕES COM CORES MESCLADAS,
.

6 7 13
5
11 CONSISTENCIA MÉDIA A DURA
5 6 5 11

12 Ocorrência de grânulos
4 6 11 17
13
e seixos em 14,30m.
7 10 15 25 14,30
14 14,30
53 60/11

Figura 4.14b-Furo de Sondagem SPT 06..

78
Vinicius Lorenzi

Descrição da sondagem
a)
Na primeira camada perfurada, a argila siltosa apresenta tonalidades marrom
avermelhada e ausência de textura interna. A consistência varia de mole a rija.

b)
Na segunda camada, a argila siltosa apresenta tonalidade roxa, alterações
pontuais esbranquiçadas e percolações com cores mescladas. A consistência
varia de média a rija.
c)
Na terceira e última camada, o silte argiloso apresenta tonalidade marrom
clara, alterações amareladas e acinzentadas e percolações com cores mes
cladas. A consistência varia de mole a dura.
O tipo de solo encontrado variou pouco nas duas sondagens. O que houve foi a
variação de nível de água; no primeiro furo não foi encontrada água e, no segundo, há a
presença aos 7,40 metros.

O detalhe é que nesta obra, as cargas são elevadas (diferentemente dos 3 pavimen
tos da obra anterior), ou seja, temos que pensar que soluções que suportam pequenas
capacidades de carga não são indicadas.
- Se a cargo é alta, não deveríamos executar uma sondagem rotativa na primeira sondagem
para entender melhor se temos ali um matacão ou uma rocha?
Com certeza! Nesse caso, seria fundamental uma sondagem rotativa que definiria
o tipo de material impenetrável. Caso seja uma rocha, a solução é mais simples de ser
idealizada. Já no caso de um matacão, ou algum material inapropriado para o apoio da
fundação, outro tipo de solução de fundação precisaria ser previsto.
Possíveis soluções de fundações para a obra: estacas escavadas de grande diâ
metro; ou ainda um tubulão a céu aberto, no primeiro furo (tomando como base que o
material é rochoso na sua base) onde não foi encontrada água; estacas hélice contínua ou
estacas pré-moldadas de concreto no segundo furo.
Obra 3) Nesta terceira obra, estamos diante de outro desafio: o das obras de silos de
armazenamento de grãos. Trata-se de uma unidade de armazenamento completa, onde
serão implantados diversos silos de grande porte, além de estruturas menor carga, como
balanças, tombadores, silos pulmão etc.

Assim, é uma obra com magnitudes de cargas distintas - obras maiores, com cargas
elevadas; obras menores, com cargas baixas.

79
ENSAIOS DE CAMPO

/
)
m

m)
(
N° 081721

(
Relatório de Sondagem
de

30fc
Cota relação R.N.
30 cm finais

sep d
Revestimento

i
S
Cota Inicial 459.500

nP
Fure SPT 02
Final

m
al
Perfuração

30 cm inicials

Ts
Cota Final 439,050
NA
Processo

ndice
SPT- Standart Penetration Test
10 20 30

Camadas-Classificação dos solos

7⁹1 0
0 0 0

1 1 1 2


1 1 1 2

1 1 1 2

TH 2 3 3 6

AREIAFINA ARGILOSA, COR MARROM


3 3 3 6
AVERMELHADA, SEM TEXTURA INTERNA, FOFA A
MEDIANAMENTE COMPACTA
4 4 5 9

4 5 6 11

5 5 5 10

5 5 10
4
10

6 6 12
5

12,45
3 4 7
3

1212,45
3 4 5 9

5 6 11
13
ARGILA SILTOSA, COR MARROM AVERMELHADA,
5
SEM TEXTURA INTERNA, CONSISTENCIA MEDIA

PerfC.A
3,40 14

6 6 12 ARDA
6
15
16,45
6 7 9 16
.

16
16,45
6 8 11 19
17 ARGILA SILTOSA, TONALIDADE ROXA
6 8 12 20 ALTERAÇÕES PONTUAIS ESBRANQUICADAS,
18
7
PERCOLAÇÕES COM CORES MESCLADAS,
6 9 11 20
19
CONSISTENCIA RDA A MUITO RUA
7 8 11 19
" Ocorrência de grânulos

11 19
2020,45 de quartzo em 20,45m.
8 8
20,45
21

23

25

NIVEL D'ÁGUA: 13,40m


SONDAGEM LIMITADA 20,45m

Figura 4.15-Furo de Sondagem SPT-02..

Descrição da sondagem

a) Na primeira camada perfurada, a areia fina argilosa apresenta cor marrom


avermelhada e ausência de textura interna. A compacidade varia de fofa a
medianamente compacta.

b) Na segunda camada, a argila siltosa apresenta cor marrom avermelhada e


ausência de textura interna. A consistência varia de média a rija.
c) Na terceira camada perfurada, a argila siltosa apresenta tonalidade roxa a
roxa escura, alterações pontuais esbranquiçadas e percolações com cores

80
Vinicius Lorenzi

mescladas. A consistência varia de rija a dura.


Importante observar que até os 14 metros, o NSPT ficou abaixo de 12 golpes! Isso é
uma resistência muito baixa em grandes profundidades.
Fica evidente que, se até os 14 metros a resistência é baixa, e o nível d'água está
em 13,40 metros, uma solução convencional, como estaca escavada, talvez não seja uma
boa alternativa.

Outro detalhe importante quanto ao tipo de solo encontrado: temos uma areia fina
argilosa nas primeiras camadas. Eu avaliaria ser um tipo de solo que pode, sim, ter possi
bilidade de desbarrancamento em uma solução de Estacas Escavadas.
-Vinicius, porque em cada uma das sondagens apresentadas até agora as cotas topográficas
são completamente distintas?

Na realidade, cada obra tem a sua referência! Em uma obra, o 0.0 é a cota 100; na
outra é a cota 500. Então, depende do que cada um considera como referência.
A estaca pré-moldada, neste caso, talvez não seja tão interessante, uma vez que,
mesmo aos 20 metros, não há garantia de que a estaca encontre o impenetrável e conse
quentemente sua nega (veremos isso mais adiante).
Possível solução ideal de fundações para a obra: estacas hélice contínua.
Obra 4) Edificação de uso misto, com 14 pavimentos, sendo que na Sondagem SPT,
foi encontrado material impenetrável próximo aos 9 metros. Uma Sondagem Rotativa
apresentou o laudo a seguir:
ENSAIOS DE CAMPO

SONDAGEM SR N 01

CARACTERIZAÇÃO E

% DE RECUPERAÇÃO CLASSIFICAÇÃO DO MATERIAL

Nivel do terreno (0.00)


20 40 60 80 100
99,700

Solo Residual
SEM RECUPERAÇÃO Tonalidade amarelada
Sem recuperação

(9.40)
90.300

Rocha basáltica (Diabósio)


Cor cinzo
Textura faneritica
equigranular fina
91X
Estrutura maciça
Ocorrência de veios
de quartzo
Fraturas preenchidas
por quartzo

(12,85)
86,850

Limite da Sondagem 12,85m


NA 7,60m

Figura 4.16-Perfil de Sondagem Rotativa.

82
Vinicius Lorenzi

Descrição da sondagem
Após o solo residual, ocorre rocha basáltica să (diabásio), cor cinza, muito coerente,
textura fanerítica equigranular fina, estrutura maciça, ocorrência de veios de quartzo, pouco
fraturada com fraturas eventualmente preenchidas por óxidos e/ou quartzo. O índice de
recuperação dessa rocha é muito alto e, segundo seu RQD (Índice de Qualidade da Rocha
ou Rock Quality Designation), a qualidade varia de boa a excelente.
No perfil de Sondagem Rotativa, buscamos informações sobre a qualidade da rocha,
seja ela uma rocha fraturada ou sã, bem como sua rocha matriz. Nos gráficos da Sondagem
Rotativa temos a representação da recuperação simples (IRS) e do RQD.
Basicamente, em fundações, estamos sempre falando em tensões admissíveis, e uma
rocha fraturada, ou uma alteração de rocha, não possui características tão boas quanto
uma rocha să.

Além disso, em fundações, não buscamos apoiá-las em matacões ou pequenos


blocos de rocha.

Na sondagem em questão, temos uma porcentagem de recuperação da amostra


de 91%. Isso nos mostra uma rocha basáltica de excelente qualidade. Neste caso especifi
co, há uma mesma amostra rochosa até a interrupção da sondagem nos mostrando que
podemos apoiar nossa fundação no material, uma vez que ali temos uma rocha com alta
tensão admissível.

Aqui, é interessante também avaliar as amostras que são coletadas na sondagem


(Figura 4.17).

83
ENSAIOS DE CAMPO

Me

4.40

Foto 01: Furo SR 01. Foto 02: SR 02

Figura 4.17-Amostras coletadas na sondagem.

Poderíamos até pensar em uma solução de tubulão neste caso, aproveitando o


melhor da tensão admissível da rocha. Mas como temos NA a 7,60 metros, essa solução
é descartada.

Uma solução muito interessante para a obra seria a estaca Franki, pois como ela
gera um alargamento na sua base, teríamos um aproveitamento muito interessante desse
material rochoso, dessa alta tensão admissível, apoiando a fundação em um material de
qualidade gerando uma fundação com alta capacidade de carga.

84
Vinicius Lorenzi

Possível solução ideal de fundações para a obra: estacas Franki (com a ressalva
de observar o entorno da obra).

Obra 5) Edificação comercial, 1 pavimento.


Talvez aqui você até fique na dúvida: precisa de sondagem? Minha resposta: COM
CERTEZA, SIM! Lembrando que a norma é clara: para todo tipo de obra é necessária uma
Sondagem SPT.

Para corroborar com isso, apresento o laudo de sondagem rotativa desta obra. E
agora você que tinha dito que uma SPT era sequer necessária, imagina uma Rotativa? Pois
é, o que aconteceu na obra foi que a SPT não ultrapassou poucos metros e havia uma dúvida
muito grande sobre o material existente abaixo dessa camada impenetrável. Vamos ver!
SONDAGEM SR N 06
An

CARACTERIZAÇÃO E
% DE RECUPERAÇÃO CLASSIFICAÇÃO DO MATERIAL

60
80 100
16,70 (0.00) Nivel do terreno

Scio Residual
Tonalidade amarelada

Sem recuperação

93.25 (345)

NA

Rocha basáltica
Cor cinza amarelada
Textura afanitico

29,16

Rocha bosdifica

Cor cinza
Textura afanitica

Estrutura maciça
Fraturas preenchidos
por quartzo e óxidos

47.10 (9.60)

Limite do Sondagem: 9,60m


NA 3,90m

Figura 4.18 - Perfil de Sondagem Rotativa

85
ENSAIOS DE CAMPO

Descrição da sondagem
O material encontrado inicialmente foi solo residual de tonalidade amarelada, sem
recuperação. Após o solo residual, ocorre rocha basáltica sã, cor cinza, muito coerente,
textura afanítica, estrutura maciça, pouco a extremamente fraturada com fraturas preen
chidas por quartzo e óxidos. O índice de recuperação dessa rocha varia de médio a muito
alto e, segundo seu RQD, a qualidade varia de muito pobre a boa.

Intercalada à rocha basáltica să ocorre rocha basáltica medianamente alterada a


muito alterada, cor cinza amarelada, pouco coerente a coerente, textura afanítica, extrema
mente fraturada. O índice de recuperação dessa rocha varia de baixo a médio e, segundo
seu RQD, a qualidade é muito pobre.

Observe a amostra:

A
RT

Foto 05: Furo SR 05 Foto 06: Furo SR 06

Figura 4.19-Amostras coletadas na sondagem.

86
Vinicius Lorenzi

De uma sondagem rotativa para a outra, da obra 4 para a obra 5, mudou tudo! Neste
caso, você tem uma pequena parcela de solo e aí começa uma alteração de rocha, que tem
uma tensão admissível muito baixa!

-Certo, Vinicius! Já vi que é uma rocha muito ruim, o que eu faço agora? Estaca Raiz?
Não necessariamente!

Aqui temos um caso clássico para o uso de uma fundação direta, não apoiando a
fundação nesse material rochoso de baixa qualidade.
Poderia ser proposto, por exemplo, um radier! Ou, ainda, uma sapata apoiada na
cota -1,5 metro. Claro que a tensão admissível da cota de apoio precisaria ser avaliada pela
sondagem SPT (que não foi demonstrada neste exercício), mas certamente é uma solução
interessante para essa obra.

radier.
Possível solução ideal de fundações para a obra: fundação direta por sapata ou

MINHAS ANOTAÇÕES

87
A PIOR COISA QUE VOCÊ
PODE ENCONTRAR EM UMA
OBRA:

GENTE NEGATIVA.

PESSOAS POSITIVAS

ENCONTRAM SOLUÇÃO
LAVERO
PARA QUALQUER
PROBLEMA.

FUNGSC

PESSOAS NEGATIVAS

ENCONTRAM VÁRIOS
PROBLEMAS, MESMO
QUANDO VOCÊ APRESENTA
A MELHOR SOLUÇÃO.
ENSAIOS DE CAMPO

MINHAS ANOTAÇÕES

90
FUN
DACOMPLICAÇÕES
ÇÕES

PARTE 2

EXECUÇÃO DAS FUNDAÇÕES


5. INTRODUÇÃO À EXECUÇÃO DE
FUNDAÇÕES
Objetivos do capítulo

Na parte 2, veremos os principais tipos de fundações diretas e de


fundações profundas. Conheceremos as vantagens e desvantagens de
cada método, bem como as melhores tomadas de decisão para cada tipo
de fundação. Pretende-se, com essas informações, garantir a confiança
para execução das fundações.

A execução de fundações pode guardar muito segredos e detalhes


que você precisa conhecer antes de projetar e propriamente executar a
sua obra. Você precisa estar atento aos detalhes para conseguir executar
bem uma fundação, que, como estudamos anteriormente, é a base de
uma boa obra de engenharia.

Nessa etapa, é materializado tudo o que se planejou e idealizou no


projeto de fundações e, desse modo, exige do responsável técnico exper
tise, raciocínio técnico e grande capacidade de resolução de problemas.

Você pode se surpreender com o que encontrará em campo.

PROJETO NOVO PARA FAZER E

TENHO! É SÓ PERGUNTAR AOS


CAIO. CERTEZA QUE
VIZINHOS COMO ELES FIZERAM
NÃO PRECISAMOS FAZER A
AS FUNDAÇÕES E FAZERA
SONDAGEM NO TERRENO?
NOSSA IGUAL!

GENG MATHEUS BORGES

PODE CONFIAR

66

Figura 5.1-Os perigos de uma fundação sem sondagem. Crédito: Matheus Borges.
Vinicius Lorenzi

5.1 Observações práticas para boa execução de fundações


No caso da execução, deve-se conhecer:

o solo em questão e suas características (sondagem), podendo informar ao pro


jetista algo inesperado ocorrido in loco que precise de modificação em projeto;
o contexto ambiental e a vizinhança - antes de iniciar a obra, é interessante
que seja feito um estudo de impacto de vizinhança para se assegurar quanto
às obras vizinhas;


cada uma das metodologias executivas detalhadamente;
▶ as exigências de cada técnica para sua adequada execução, evitando erros
na execução;

▶ os problemas que podem ser gerados por cada método em situações normais;

os projetos anteriores e principalmente o de fundações, buscando sempre


avaliar criticamente (principalmente se não foi você quem o fez);

o orçamento prévio do serviço prestado;

▶ os detalhes logísticos para cada método;

a organização do canteiro e os ajustes necessários por conta da operação de


determinado equipamento (realização dos acessos, criação de diferentes níveis
de trabalho);

a ordem de execução adequada das escavações, tendo em vista as condições


do terreno ou plano de trabalho previamente determinado;

▶ a forma de realizar a marcação do local dos elementos;


os cuidados ao findar cada escavação;

a gestão adequada da equipe e conferência dos serviços executados;


▶ a melhor forma de realizar as built e os registros diários da obra;
os mecanismos de controle de qualidade do serviço executado para garantia
de desempenho;
▶ a execução correta dos ensaios que visam validar a execução realizada.

5.2 Medidas para mitigar falhas na execução


Falhas na execução das fundações constituem um item extremamente complexo e
que pode ser minimizado com algumas precauções, como:
▶ conhecimento integral sobre o projeto que será realizado, entendendo suas
particularidades e especificidades;
▶ contratação de mão de obra especializada, com experiência comprovada na
execução de obras similares e com equipamentos apropriados para os serviços;

93
INTRODUÇÃO À EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES

▶ acompanhamento técnico sistemático por parte da empreiteira, por encarre


gados e engenheiros, bem como por engenheiro consultor de solos;

utilização de materiais compatíveis com a especificação do projeto;
➤ controle de qualidade da mão de obra no que se refere à geometria das fun
dações e aplicação dos materiais;

▶ execução de ensaios complementares, tais como provas de carga, ensaio de


integridade etc.

Nos próximos capítulos, entenderemos um pouco mais sobre cada tipo de fundação.

94
6. EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES
SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

Objetivos do capítulo

Neste capítulo, abordaremos as fundações rasas ou superficiais


e sua execução. Por mais simples que pareça essa tipologia, existem
detalhes fundamentais que precisam ser observados.

6.1 Fundações superficiais


De acordo com a ABNT NBR 6122:2019, fundação rasa consiste em:

(...) elemento de fundação cuja base está assentada em


profundidade inferior a duas vezes a menor dimensão

da fundação, recebendo aí as tensões distribuídas que


equilibram a carga aplicada; para esta definição adota-se
a menor profundidade, caso esta não seja constante em
todo o perímetro da fundação.

Existe uma quantidade menor de tipos de fundações rasas ou


superficiais em relação às profundas. São eles: sapata, bloco e radie.
Discutiremos, a seguir, sobre cada um deles.

6.2 Sapatas
"Sapatas são estruturas de volume usadas para transmitir ao ter
reno as cargas de fundação, no caso de fundação direta" (ABNT NBR
6118:2014).

Tipo mais utilizado, a sapata, na prática, é um elemento de fun


dação em concreto armado que transmite as cargas ao terreno exclu
sivamente pela sua base (Figura 6.1).
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

Figura 6.1-Sapata de fundação

Existem basicamente três tipos de sapatas:

Sapatas isoladas: são aquelas em que um único pilar descarrega em apenas uma

única sapata. A carga total vinda do pilar descarrega sobre a sapata em questão. Geral
mente, uma carga axial pontual está envolvida. A sapata pode ter diversos formatos, entre
eles, retangular, piramidal, circular, que seguem a geometria do pilar.
Vinicius Lorenzi

Figura 6.2- Sapata isolada.

Sapatas corridas: temos uma carga distribuída sobre essa sapata. Por exemplo:
edificações com blocos de concreto e distribuição da carga ao longo das paredes. Observe:
a fundação sempre corresponde à estrutura; a fundação é responsiva ao projeto estrutural.

7777
777

Figura 6.3 - Sapata corrida.

97
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

Sapatas associadas: ocorrem quando dois ou mais pilares são descarregados em


uma sapata. Isso normalmente ocorre por conta da proximidade dos pilares. Não é pos
sível isolar algumas sapatas. Nesse caso, faz-se necessária a conjugação em uma única
sapata. Principal detalhe: o centro de gravidade. Em alguns casos, trabalha-se com di
ferentes seções e cargas de pilares nessa sapata, o que leva à maior complexidade no
dimensionamento.

Į²

Figura 6.4-Sapata associada

Segundo Rebello (2008), as fundações em sapatas são práticas e econômicas para


NSPT maiores ou iguais a 8 e profundidades até 2 metros. No primeiro caso, esse seria
um "limite" ou uma resistência mínima adequada para a execução de uma fundação rasa
(não é uma obrigatoriedade). A segunda questão, da profundidade, tem relação com os
custos do processo de escavação e reaterro.

A definição de grandes profundidades em projetos de sapatas traz ainda grandes


riscos à equipe que está executando, por conta de instabilidades no solo adjacente à cava.

TO
Fique ligado!

Isso não é uma regra! Não deixe de avaliar sua fundação em sapata apenas porque não
possui o Nr indicado ou porque ultrapassa a profundidade mencionada.. O que ocorre
é que, na maioria das vezes, as fundações diretas que são projetadas abaixo desse limite
tornam-se inviáveis financeira ou tecnicamente.
Vinicius Lorenzi

Para Alonso (1983), a escolha por sapatas somente é viável técnica e economica
mente se a área ocupada pela fundação for entre 50 e 70% da área disponível. O autor
não recomenda o uso dessas fundações nos seguintes casos:
aterro não compactado;
▶ argila mole;

▶ areia fofa e muito fofa;



solos colapsíveis;

existência de água onde o rebaixamento do lençol freático não se justifica
economicamente.

Muitos profissionais acreditam que a fundação superficial é a primeira opção a ser


avaliada, por ser mais simples de se executar e por ser a econômica, mas isso nem sempre
faz sentido. Se, por algum motivo, ela não puder ser executada (caso o solo não possibilite,
ou pelas grandes dimensões e custos), deve-se partir para a busca de uma solução em
fundação profunda.

Fundações em sapatas não são sempre mais econômicas. Há a necessidade de uma


estimativa de custos. Se superdimensionada, ao invés de ser econômica, pode causar um
grande prejuízo, sendo, então, mais viável outra tipologia.

SUPERDIMENSIONAMENTO

SAPATA
SUPERDIMENSIONADA

SAPATA DIMENSIONADA
CORRETAMENTE

Figura 6.5-Sapata superdimensionada. Crédito: Matheus Borges.

99
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

Agora que mencionamos as definições básicas de sapatas, vamos tratar da execução.


A referência normativa que temos para execução das sapatas é o Anexo A da ABNT NBR
6122:2019, que trata dos procedimentos executivos.

Temos 4 etapas básicas para a execução de uma sapata: escavação, execução da


caixaria, posicionamento da armadura de aço e concretagem.

Além das recomendações da norma, na sequência acrescentamos passos detalhados


que são fundamentais para a boa execução das sapatas.

6.2.1 Conferência da locação dos pilares


É fundamental ter certeza que sua sapata "nascerá" no local exato, correto, conforme
eixos de projeto para, assim, evitar problemas futuros, como excentricidades e incongruên
cias entre o centro de carga da sapata e centro de carga do pilar.

6.2.2 Escavação das cavas


A escavação da cava pode ser feita de duas formas: manual ou com equipamentos.
Observe a Figura 6.6.

Figura 6.6-Escavação das valas das sapatas com uso de equipamento.

Em obras de menor porte, cujas cargas são provavelmente menores, geralmente é


realizada a escavação manual, pois temos sapatas menores e, em algumas situações, não
é preciso aprofundar muito mais do que 1,5 metro.

100
Vinicius Lorenzi

- Qual é a razão do "provavelmente"?

Respondo: as cargas de uma edificação podem ser maiores ou menores de acordo


com a complexidade arquitetônica e o arranjo estrutural realizado pelo calculista. Logo,
é simplista afirmar que toda casa/sobrado precisará de sapatas isoladas, de dimensões
mínimas, em pequenas profundidades.

Imagine um sobrado de altíssimo padrão, com uma estética arrojada, grandes vãos
e balanços. Será que, nesse caso, as cargas serão pequenas? Quem contará isso será a
tabela de cargas, mas posso antecipar que há uma tendência de que as cargas não sejam
tão pequenas assim.

Uma realidade: uma vez determinado que o tipo de fundação será em sapata,
dependendo da magnitude das cargas, pode ser que sua obra tenha sapatas enormes,
o que talvez não seja nada interessante.

No caso de edifícios altos, isto é, com grandes cargas, que exigem sapatas de grandes
dimensões, que obviamente levam a maiores escavações, estas são feitas por meio de
equipamentos mecânicos. Mesmo assim, é fundamental que durante a limpeza final, na
cota de assentamento prevista, o solo seja retirado manualmente, para garantir a qualidade
da base, sem deixar material solto no fundo da cava.

Dica!

Material solto no fundo da cava prejudica a tensão admissível da


fundação. Ou seja, caso você não limpe corretamente, há uma tendência
de que a sua base não tenha a tensão admissível desejada.

Mas é preciso parar e fazer outra ponderação: a cota de assentamento da sua funda
ção direta. Na verdade, a capacidade de suporte do seu solo é quem definirá a necessidade
de aprofundar mais ou menos a escavação, lembrando que, no mínimo, ela precisa estar
assente a 1,5 metro. Salvo casos específicos em que não se consegue avançar em função
de materiais rochosos.

Outro detalhe importante em escavação em rocha, ou alterações rochosas, é que,


nesses casos, são necessários marteletes, rompedores e/ou explosivos para a realização
do trabalho. Explosivos precisam ser analisados criteriosamente, pois possuem maior
tendência a gerar impactos em obras vizinhas.

101
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

6.2.3 Conferência da escavação

O engenheiro precisa conferir a cava realizada, sua limpeza e verificar como está
o solo de apoio da sua fundação superficial. É fundamental ver se existe coesão naquele
solo e se há estabilidade e segurança para a equipe trabalhar, e se não há riscos de des
barrancamentos. Nesse sentido, a ABNT NBR 6122:2019 diz:
Antes da concretagem, o solo ou rocha de apoio das sapatas, isento de material
solto, deve ser vistoriado por profissional habilitado, que confirma in loco a ca
pacidade de suporte do material. Esta inspeção pode ser feita com penetrômetro
de barra manual ou outros ensaios expeditos de campo.

Alguns solos, como os solos arenosos, podem apresentar baixa coesão e, por isso,
dificultam a escavação sem um bom escoramento das paredes.

6.2.4 Conferência das armaduras

É fortemente recomendável que você veja a qualidade da montagem das armaduras


e confira as bitolas utilizadas para checar se tudo está de acordo com o projeto.
A armadura das sapatas é feita em malha, ou seja, com barras em duas direções,
geralmente perpendiculares. O dimensionamento das sapatas pode ser realizado tanto
por engenheiros calculistas quanto por engenheiros geotécnicos, os quais realizam as
verificações de flexão, cisalhamento, entre outras relativas ao cálculo de estruturas em
concreto armado.

Figura 6.7-Armaduras de uma sapata.

102
Vinicius Lorenzi

es

Caso de obra!

Uma vez, um cliente contratou nosso escritório para desenvolver o projeto e a execução
das sapatas de um prédio. A variação das cargas dos pilares era pequena, sendo 30
toneladas a menor e 38 toneladas a maior. Todas as fundações superficiais naquela
oportunidade foram dimensionadas em sapatas quadradas, 100 cm x 100 cm - até
então, algo muito simples.

Para a execução da sapata, era necessária a realização da escavação até a cota de


assentamento e, posteriormente a isso, realizar a caixaria (formas de madeira) para,
então, inserir a armadura e concretar as sapatas.
Quando cheguei em campo, fui realizar uma inspeção visual inicial, acompanhado do
encarregado da obra. Eis que, de repente, olho para uma sapata e vejo que não está
quadrada. Como assim?! Pedi ao encarregado uma trena para aferir a medida e voilá:
100 cm x 90 cm.

Ao verificar com o encarregado, ele relatou que fez uso das tábuas de 90 cm, pois as de
1 metro haviam acabado. Questionei sobre as ferragens e recebi uma resposta inusitada:
- A ferragem foi mantida 90 cm x 90 com.

A caixaria ficou com 90 cm x 100 cm e a ferragem, com 90 cm x 90 cm! Muito errado!


Questionei o encarregado sobre o cobrimento:

-0 cobrimento da ferragem será a tábua!

Fique ligado!

Acontece muito em obras: alterações executivas in loco sem consultar o pro


djetista! Há profissionais bons e ruins no nosso ramo. Por isso, o engenheiro
deve sempre estar lá para conferir tudo.

Quanto tempo demorará para essa sapata sem cobrimento da armadura começar a
oxidar e sofrer ruptura? Principalmente em regiões litorâneas... Não dá para "vacilar"!
Assim, aproveite uma das principais vantagens que uma fundação superficial pos
sui: você pode inspecioná-la e garantir que o que está em projeto seja efetivamente
executado.

103
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

TO

Fique ligado!

Se você projeta fundação superficial,jamais libere uma concretagem sem antes realizar
essa inspeção in loco, validando as características finais de sua sapata.

6.2.5 Lastro

A norma recomenda que deve haver regularização do fundo da cava antes da con
cretagem do elemento com lastro de concreto magro, isto é, não estrutural, com espessura
mínima de 5 cm, de modo que se tenha ao final uma superfície em um plano horizontal.
Aqui, é importante que fique claro que é um lastro de concreto e não de brita!
6.2.6 Concretagem

Deve ser realizada conforme especificado em projeto, com concreto de boa quali
dade (dentro das recomendações da norma) e dentro do prazo de validade adequado. O
caimento desse concreto deve permitir a concretagem das abas da sapata.
O lançamento do concreto normalmente é feito manualmente, entretanto, se houver
profundidades superiores a 1,5 metro, não é recomendado que seja lançado dessa forma,
pois pode haver segregação do concreto. Nesses casos, indica-se que seja lançado por
uma bomba de concreto.

6.2.7 Reaterro

Quando a sapata estiver adequadamente curada e impermeabilizada, deve ser rea


lizado o reaterro, com recompactação do solo.

Aqui, nós temos duas situações. Você pode ter projetado e estar executando essa
fundação; nesse caso, vendo um problema em campo, o projeto deverá ser revisado em
busca da melhor solução técnica.

Em outra situação, você pode apenas executar o projeto de outra empresa. Se for
este o caso, cuidado! Não faça alterações ou tome decisões precipitadas sem informar ao
projetista.

104
Vinicius Lorenzi

Quadro 6.1 - Principais vantagens e desvantagens das sapatas.

Vantagens Desvantagens

Facilidade de inspeção do solo de apoio e Dificuldades na avaliação das tensões ad


formato final do elemento: ao engenheiro, missíveis in loco. As técnicas existentes
é possível ver e inspecionar como ficou o para essa avaliação nem sempre são viáveis
apoio, o solo e a fundação, garantindo sua ou, ainda, em um caso mais critico, nem
qualidade executiva. Em fundações profun sempre são verificadas.
das não é possível inspecionar visualmente
.
Não é todo tipo de solo que suporta a exe
a ponta das estacas.
cução de uma fundação do tipo sapata. Em
Controle de qualidade do material (concre
alguns casos, como na presença de água, a
to e aço) utilizado na execução.
dificuldade executiva pode ser tão elevada
No aspecto técnico-econômico, não faz uso
que inviabilize esse tipo de solução técnica.
de grandes equipamentos e mão de obra
especial. Isso é uma grande vantagem. Controle inadequado dos materiais. Não
Nas escavações, pode ser utilizado uma podemos afirmar que o controle dos ma
miniescavadeira/retroescavadeira. Podem teriais (concreto e aço) seja inferior ao de
também ser feitas manualmente. uma fundação profunda, entretanto, há

Em algumas regiões do país com logística maior tendência que nesse tipo de funda

desfavorável, com dificuldades para trans ção, que em boa parte dos casos é mais

portar equipamentos maiores, esse tipo de simples e não possui equipe técnica espe
fundação é muito bem-vinda! cializada, algumas validações não sejam

Maior rapidez de execução quando com realizadas.

parada à maioria dos tipos de fundação


profunda.

Por fim, há a necessidade de deixar registrado algo muito importante: não é o ta


manho da obra que definirá se a fundação será em sapata ou não! Uma série de fatores
está envolvida. É importante destacar isso, pois convencionalmente se idealiza a seguinte
situação:


Obras menores →→sapatas.
▶ Obras maiores estacas.

E não há qualquer relação direta! Existem edificações de múltiplos pavimentos em


sapatas e pequenas residências em estacas.

Cito aqui um exemplo muito relevante na engenharia de fundações brasileira,


cujas fundações foram projetadas e executadas em sapatas: o edificio Órion Business &
Health, em Goiânia (GO). Com 191,48 metros de altura e 50 pavimentos, dos quais 10 têm pé
direito duplo, é atualmente (em 2022), considerado o edifício comercial mais alto do Brasil.

Portanto, jamais condicione o porte da obra com a solução de fundação.

105
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

6.3 Bloco

O bloco de fundação é uma estrutura rígida, com dimensões inferiores a 60 cm.


E indicado para obras com cargas muito leves, tendo em vista que não é armado. Esse
elemento precisa possuir altura suficiente tal que os esforços de tração sejam resistidos
integralmente pelo concreto.

Fique ligado!

Não se pode confundir bloco de fundação superficial com bloco de coroamento de


estacas. São coisas distintas!

Conforme a ABNT NBR 6122:2019:

Bloco

Elemento de fundação rasa de concreto ou outros materiais tais como alvena


ria ou pedras, dimensionado de modo que as tensões de tração nele resultan
tes sejam resistidas pelo material, sem necessidade de armadura.

Bloco de coroamento

Bloco estrutural que transfere a carga dos pilares para os elementos da fun
dação profunda.

A execução do bloco de fundação superficial é semelhante à de uma sapata, entre


tanto, pode ser realizado sem armadura.
O bloco pode ser feito na geometria de um prisma de base retangular ou, ainda,
para economia de concreto, pode ser feito de forma escalonada.

6.4 Radier

O radier é uma estrutura monolítica, isto é, um pano de laje em que todas as cargas
ou todos os pilares da obra descarregam em uma única fundação, em um único elemento.
Conforme a definição da norma ABNT NBR 6122:2019, é um elemento de fundação rígido
o suficiente para receber e distribuir mais que 70% das cargas da estrutura.
No Brasil, mais recentemente, o uso da fundação em placa ou radier tem sido as
sociado a obras populares. Podemos citar que o radier é uma das soluções de fundação
recomendada para solos com baixa capacidade de carga e estruturas de pequeno porte.

106
Vinicius Lorenzi

É importante destacar que a solução em radier não é exclusiva para obras de pequeno
porte. Há edificações com grandes cargas executadas, por exemplo, em radier Estaqueados,
para melhor distribuição/equalização das cargas.

Existem grandes obras pelo mundo com essa solução. Entre elas, por exemplo, estão
o icônico Burj Khalifa, em Dubai, e o edifício mais alto da América Latina, o Yachthouse
Residence, em Balneário Camboriú (SC).

Você precisa se lembrar: a escolha do tipo de fundação deve ser fruto da análise
de diversas alternativas, e não se deve deixar levar pelas imposições do sistema que se
apresente no mercado em determinada época. Tudo precisa ser analisado, estudado...
Não existe norma brasileira específica para a fundação em radier em que sejam es
tabelecidos os critérios de dimensionamento e as recomendações construtivas, carecendo
de rotinas sistematizadas que facilitem o trabalho do engenheiro projetista.

Figura 6.8-Exemplo de Radier.

O uso do radier deve estar embasado em uma compreensão ampla tanto da questão

estrutural quanto geotécnica. Usualmente, não é especificado para estruturas em que as


cargas se concentrem em pontos de apoio isolados.

107
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

Figura 6.9-Exemplo de radier.

Existem, no Brasil, vários mitos sobre o uso de Radier e uma crença de que o sistema
tradicional, composto por estacas e vigas baldrames é mais econômico (DÓRIA; LIMA,
2008).

Eu lhe digo que depende: por exemplo, da região de sua obra e da disponibilidade
do concreto usinado no local. Com a evolução da Ciência de Materiais e da Tecnologia do
Concreto, atualmente, a realidade é outra.

É possível, sim, projetar e executar, hoje, um radier com qualidade, economia, fun
cionalidade e segurança...

6.4.1 Geometria do Radier

Velloso e Lopes (2014) classificam o radier em 4 tipos principais de acordo com a


geometria: liso, com pedestais ou cogumelos, nervurado e em caixão.

108
Vinicius Lorenzi


Radier liso: mais comum, de fácil execução. Consiste em uma laje lisa.

↓P ↓²

Ih

Radier liso

Pilar ou parede

Radier

Figura 6.10-Radier liso.

Radier com pedestais ou cogumelos: aumenta a espessura sob os pilares e


melhora a resistência a flexão e ao esforço cortante.

Ih₂

Radier com pedestais Radier com cogumelos

Pedestral

пуп
Pilar ou parede

Radier

Figura 6.11-Radier com pedestais ou cogumelos.


Radier nervurado: vigamentos, nervuras principais e secundárias, colocadas
sob os pilares.

↓P

I h

Radier nervurado

109
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

Nervedura Nervedura
Pilar ou parede
Principal Secundária

Radier
4

Figura 6.12- Radier nervurado.

▶ Radier em caixão: aumento considerável da rigidez, pode ser executado com


vários pisos.

↓² ↓²

Radier em caixão

Pilar ou parede

Radier

Figura 6.13-Radier em caixão.

Quanto à rigidez, pode ser flexível ou rígido. De acordo com Albuquerque e Garcia
(2020), o emprego do radier flexível em obras de edificações térreas tem sido mais co
mum devido à sua execução mais prática e simples. Já o radier rígido necessita de uma
quantidade maior de materiais (aço e concreto).

Quanto à forma de suporte, pode ser:

➤ apoiado diretamente sobre solo;

> apoiado em estacas;

> caixão flutuante.

6.4.2 Armação do radier

Quanto à armação, podem ser classificados como: radier de concreto armado e


radier protendido.

110
Vinicius Lorenzi


Radier de concreto armado: estrutura composta por uma malha de aço envolta
por uma camada de concreto. Nesse tipo de radier, temos armaduras passivas.

Radier protendido: consta sistema de pós-tração não aderente com cordoalhas (fios
de aço de alta resistência enrolados entre si) engraxadas e plastificadas. A protensão
tem a finalidade de diminuir a espessura ou os esforços de tração no concreto.

6.4.3 Armaduras no radier

A escolha das armaduras decorre do cálculo estrutural, que determina a quantidade


ideal de aço (e as bitolas) para resistir aos esforços.
Para correto dimensionamento estrutural do radier é preciso considerar tanto os
parâmetros de resistência quanto de deformabilidade do solo.
O intuito da escolha por radier é distribuir de forma homogênea as cargas da es
trutura para o solo.

Quadro 6.2- Principais vantagens e desvantagens da fundação em radier.

Vantagens Desvantagens

Baixo custo em relação às sapatas corridas.. Riscos de patologias quando executa


das em solos com características muito
Tempo de execução reduzido.
heterogêneas.
Redução na mão de obra. Se for necessário aumentar a resistência do

radier devido às cargas atuantes na laje, é

preciso aumentar o volume de concreto, o

que acaba tornando esse tipo de fundação

mais cara.

6.4.4 Adoção de fundação em radier


A fundação em radier pode ser adotada quando:

há uma aproximação ou sobreposição dos elementos no projeto pré-concebido
em sapatas;

há baixa capacidade de suporte do solo;

é preciso tornar os recalques uniformes;
existem camadas irregulares e compressíveis no interior do solo, o que dificulta
a previsão correta dos recalques diferenciais.
> o solo tem capacidade de carga tão baixa que é preciso remover parte dele, e
o peso da superestrutura é propositalmente usado para equilibrar o peso da
camada de solo removida (fundação em caixão flutuante);

> há uma maior sensibilidade a recalques diferenciais.

m
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

6.4.5 Tipo de solo

Para projetar e executar uma fundação em radier, é preciso, antes de mais nada,
que se conheça o terreno em que se está trabalhando (capacidade de carga, possíveis
alterações no subsolo, entre outros).

Nesse sentido, uma boa investigação para entender o comportamento do material


é essencial para evitar complexidades, como solos porosos, expansivos ou colapsíveis que
podem levar a grandes recalques e falhas da estrutura.

Compreender a classificação do solo e os principais parâmetros físicos e mecânicos


dele (de deformabilidade e resistência, por exemplo) é fundamental para o dimensio
namento correto do radier. A uniformidade do suporte da base impacta diretamente o
comportamento estrutural do elemento.

6.4.6 Execução da fundação em radier

Quando pensamos na execução do radier precisamos pensar também no desem


penho estrutural da laje.

Muito além de cálculos corretos no dimensionamento, o desempenho estrutural


do radier está diretamente ligado à qualidade final dessa laje de concreto, considerando
todos os processos envolvidos: a escolha dos materiais, a dosagem, a aplicação e a cura.

Ou seja, não adianta nada um projeto bem feito e uma execução ruim.

Como o radier fica diretamente em contato com o solo, alguns passos são impor
tantes para a sua execução correta:

▸ limpeza do terreno;


escavação até a cota de implantação;

▶ nivelamento e compactação adequados;

água do concreto para o solo);


colocação de lona específica (evita perda de
execução de lastro de brita para proteção das armaduras (a espessura varia
entre 5 a 10);


fechamento lateral da área a ser concretada, de acordo com projeto, com

formas (de madeira ou aço);



inserção das armaduras (com dimensões e espaçamentos definidos de acordo
com o projeto);

posicionamento das instalações hidrossanitárias e elétricas. Deve haver cuidado
nessa etapa para evitar furos e cortes posteriores à execução;

▶ concretagem e cura (corretamente realizadas a fim de evitar manifestações


patológicas).

112
Vinicius Lorenzi

As Figuras 6.15 a 6.17 demonstram algumas dessas etapas.

Figura 6.15- Terreno nivelado para execução do radier.

113
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

Figura 6.16-Lona no radier.

114
Vinicius Lorenzi

Figura 6.17 - Instalações hidrossanitárias.

Quadro 6.3-Etapas de execução do radier.

Topografia no terreno;

Corte ou aterro;

Compactação do solo;

Forma do radier;

Gabarito:

. Tubulações;

Nivelamento básico;

.
Ferragem;

Concretagem.

115
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

Há etapas que demandam mais atenção nesse sistema, são elas: a cobertura das
valas das instalações; a execução das vigas de borda e o nivelamento final do concreto em
toda laje (esta deve ter a mesma espessura em todos os pontos).

Tanto a concepção quanto a construção de radiers de concreto devem obedecer aos


requisitos da ABNT NBR 6122:2019, que trata do projeto e execução de fundações, apesar
de não haver recomendações específicas.

Como podemos perceber, a execução de uma fundação superficial é relativamente


simples, não exigindo grandes mobilizações de equipamentos ou procedimentos com
plexos. Mas, observe: não necessariamente por isso a obra está blindada de imprevistos
ou grandes desafios.

6.5 Imprevistos durante a execução de fundações rasas


Diversos imprevistos podem ocorrer durante a execução desse tipo de obra. O en
genheiro deve estar preparado para solucionar o problema da maneira mais assertiva e
economicamente viável. Vamos citar alguns desses problemas:
1. Cotas (profundidades) ou tensões de assentamento (capacidade de su
porte do solo) diferentes das indicadas em projeto

Problema: projeto de fundações indica uma profundidade de 2 metros para


apoiar as fundações. Além disso, indica que a tensão admissível do solo te
nha 2 kgf/cm² (capacidade de suporte do solo de apoio). Entretanto, in loco,
as condições são distintas. Nessa camada de 2 metros, não há a tensão ad
missível solicitada em projeto.

Possibilidades de solução:

▶ Aumentar área da sapata; pode ser uma solução adequada, uma vez que quan
to maior for a área da sapata, mais resistência ela terá com uma capacidade
de suporte de solo inferior a solicitada.
▶ Escavar profundidades maiores até encontrar a tensão admissível solicitada.
Essa solução é interessante, uma vez que seria mantida a área da sapata, apenas
a profundidade escavada seria maior.

2. Heterogeneidade da camada de solo de apoio


Problema: solos distintos na cota de apoio da fundação. Idealize a seguinte
situação: uma fundação em Radier apoiada em uma ponta em um solo ar
giloso e no outro extremo, em solo argilo-siltoso. Esse tipo de situação gera
coeficientes de recalque distintos na fundação.

Possibilidades de solução:

▸ Melhoramento de solo; dependerá de custo para optar pelo melhoramento,


algumas técnicas podem ser onerosas.

116
Vinicius Lorenzi

▶ Substituição de solo; seria preciso entender se o volume de solo envolvido é


viável ou não. É importante levantar custos: hora máquina, hora de equipa
mento, entre outros.

Uso de sapatas isoladas com tensões admissíveis distintas. Dessa forma, não
temos exatamente um problema quando isso ocorre, desde que se use os
coeficientes de forma diferente. É importante que se trabalhe com capacidades
de suporte do solo reais e distintas.

3. Presença de matacões ou blocos de rocha

Problema: em alguns terrenos, não encontramos apenas solo ou uma rocha


aflorando na superfície. Podemos encontrar matacões ou blocos de rocha em
profundidades distintas. Se você tiver "sorte", pode pegar um matacão só
em metade da sua sapata! Primeiro... qual é o tamanho do matacão?

Temos algumas questões a serem consideradas:



É possível retirar ou remover esses materiais com o uso de equipamentos como
uma miniescavadeira? Se sim, já temos uma solução.

Apoiar a fundação superficial sobre matacões não é uma solução! Isso pode
ser um grande risco: matacões zonas de risco da obra. Apoiar sapata sobre

matacão não é garantia de tensões admissíveis corretas, como efetivamente


se projetou.

▸ Evitar modificações maiores, como na locação dos pilares da obra ou outras


soluções que interfiram muito no projeto estrutural e nos outros projetos an
teriormente realizados. Devemos trabalhar nos adaptando aos outros projetos
preliminares (arquitetônico e estrutural) a não ser que gere um custo muito
alto ao cliente.

Possibilidade de solução:


Uso de soluções de fundação profunda que ultrapassem essas camadas, como
estaca raiz.

4.
Percolação de água para a base da fundação (influência do lençol freático
nas fundações diretas)

Problema: água! Definitivamente, dentro da Engenharia, a água é um dos


grandes causadores de problemas nas obras. Eu diria até que a água é a
"bactéria" da engenharia. Mas vamos ao nosso caso: no momento da exe
cução das fundações, encontrou-se água na cava, o que dificulta que a es
cavação chegue à sua cota final e, mais ainda, que seja feita corretamente a
concretagem da sapata.

Possibilidades de solução:

Rebaixamento de lençol freático: normalmente, é uma solução complexa e cara;


deve ser muito bem avaliada. Caso não exista nenhuma outra solução, o uso

117
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS NA PRÁTICA

dessa técnica passa a ser solução. O uso de técnicas como ponteiras filtrantes
ou rebaixamento direto nem sempre é viável, e muitas vezes só é executado
por empresas especializadas.

▶ Como seria esse processo? Indicado apenas no momento da execução da sapa


ta: rebaixa-se o nível de água, ligando as bombas de rebaixamento; escava-se
a sapata até a cota definitiva; executa-se a sapata; e desliga-se o rebaixamento
após alguns dias. Veja que deixar o rebaixamento de forma definitiva não é
uma boa solução.

▶ Drenar a água: essa solução é indicada de forma definitiva, fazendo com que
a água não tenha contato com a base da fundação direta.

Fique ligado!

Não é permitido que seja concretada a sapata dentro d'água. Caso essa condição esteja
presente, é interessante colocar uma bomba submersa para drenar a água ou realizar
alguma concretagem ascendente, em que a água seja retirada por gravidade pelo con
creto (mais denso que a água). Não concrete a sapata com água lançando concreto de
forma inadequada.

Impermeabilização das fundações superficiais: impermeabilize tudo que tiver


em contato com o solo e que possa sofrer alguma interferência com a água.
A solução de fundações superficiais é indicada para manter a qualidade do
concreto e consequentemente o cobrimento da armadura.
5. Rochas alteradas ou em decomposição

Problema: apoiar a fundação em uma rocha alterada ou em decomposição.


Precisamos entender que uma rocha em decomposição é um estágio pre
liminar de decomposição de um solo, em um processo que pode demorar
centenas de milhares de anos.

Então, será que isso é um problema? Outro questionamento: você prefere


apoiar sua sapata em um solo ou em uma rocha alterada?

É fato: uma rocha alterada ou em decomposição tem muito mais resistência


do que um solo, logo, pode ser usada sem problemas, desde que você adap
te as tensões admissíveis do seu projeto para esse tipo de rocha. Não se pode
utilizar a tensão admissível de uma rocha sã para uma alterada/fraturada;
elas terão capacidades de suporte distintas.

6. Solos expansivos (levantamento da fundação) ou solos colapsíveis (re


dução drástica da resistência do solo)

118
Vinicius Lorenzi

Problema: foi detectado que na região de execução da obra há a ocorrência de solos


colapsíveis ou expansivos.

Condição básica: jamais apoie sua fundação em um material desses.


Possibilidades de solução:

A substituição do solo é uma das primeiras alternativas a serem analisadas.
> Caso a substituição não se mostre viável, certamente o uso de fundação pro
funda passa a ser mais interessante.

Agora é com você!

1. Classifique em Verdadeiro ou Falso. Justifique quando for Falso.


a)( ) Os principais tipos de fundações rasas (de acordo com a ABNT NBR 6122:2019) são:
bloco, sapata, baldrame, radier.

b)( ) A sapata é um tipo de fundação bastante utilizada na construção civil por não haver ne
cessidade de armá-la, sendo o concreto capaz de resistir a todos os esforços de tração.
c)() Sapatas são soluções exclusivas para obras de pequeno porte, não podendo ser
utilizadas para grandes obras.

d) ( ) O projeto de fundação de sapatas depende, além das cargas estruturais e do tipo


de estrutura a ser realizada, da resistência e característica do solo.
SOLUÇÕES SUGERIDAS

a) (FALSO) De acordo com a ABNT NBR 6122:2019, baldrame não é um tipo de fundação.
b) (FALSO) Há, sim, a necessidade de armação de sapatas. O único tipo de fundação
superficial em que há a possibilidade da não armação são os blocos.
C) (FALSO) Em materiais de alta capacidade de suporte, como as rochas sã, o uso de
fundações superficiais é indicado inclusive em grandes torres de múltiplos pavimentos.
d) (VERDADEIRO).

119
PRÁTICA NÃO LEVA À
PERFEIÇÃO.

PRÁTICA LEVAÀ EVOLUÇÃO.


PERNAMA

HOJE, MELHOR QUE ONTEM;


AMANHÃ, MELHOR QUE HOJE.

CADA DIA UM APRENDIZADO.

FUNGEO
7. EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES
PROFUNDAS

Objetivos do capítulo
Neste capítulo, veremos as tipologias mais usuais de fundações
profundas e a execução delas.

As fundações profundas podem ser definidas como aquelas ca


pazes de transmitir a carga ao terreno por duas parcelas de resistência
- de ponta ou por atrito lateral -, diferentemente das fundações rasas,

cuja distribuição ocorre apenas pela base.

RESISTENCIA
DE
BASE/PONTA ATRITO
LATERAL

111 111

RASA 111110

PROFUNDA

Figura 7.1- Tipos de fundação. Crédito: Matheus Borges.

A resistência pode ser dada por apenas uma das parcelas ou, ainda,
por uma combinação destas, sendo que sua ponta ou base deve estar

apoiada em uma profundidade superior a 8 vezes a sua menor dimensão


em planta e, no mínimo, 3 metros, conforme a ABNT NBR 6122:2019.

Nesse grupo de fundações estão as estacas e os tubulões, cujo


emprego ideal volta-se aos solos que possuem baixa capacidade de carga

superficial e/ou elevada compressibilidade, o que torna inviável o emprego


de fundações rasas.

Nesse sentido, as cargas estruturais são transferidas ao subsolo


em maiores profundidades, por meio das fundações profundas, que,
na atualidade, são alternativas muito viáveis ao projeto de fundações, principalmente as estacas por
suas vantagens (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).
-Que vantagens são essas, Vinicius?

A seguir, apresento alguns desses benefícios:



função estrutural, quando a estaca é a responsável por transferir a carga da edificação
para o solo em determinada profundidade;
▶ função de contenção de cortinas, isto é, de empuxos laterais, que pode ser feita por estacas
justapostas, por estacas pranchas ou por paredes de estacas diafragma;

função de limitar os recalques aos valores admissíveis;
▶ função de melhoramento do solo (com a finalidade de conseguir um solo mais resistente)
com o uso, por exemplo, de estacas de compactação;

função de reforço estrutural, como podemos ver na utilização das estacas mega.

Percebe como as estacas são diversas? E não apenas em termos de finalidade. Em termos de
tipologia, deparamo-nos com várias metodologias, que serão tratadas ao longo deste capítulo.
A seguir, são apresentados os tipos de estacas mais utilizados na prática de fundações, os quais
serão detalhados ao longo deste capítulo:

▶ estaca escavada mecanicamente;

>
estaca hélice contínua monitorada, hélice segmentada monitorada e hélice de desloca
mento monitorada;

> estaca raiz;

estacas metálicas, de madeira e pré-moldadas em concreto;

➤ estaca tipo Strauss;

▸ estaca mega;

estaca Franki standard;


estacão e estaca barrete;

► estacas helicoidais.

As estacas podem ser subdivididas em dois tipos: estacas de deslocamento e estacas de subs
tituição. O próprio nome já indica o processo: na primeira, há apenas o deslocamento do solo e, na
segunda, há substituição do solo.

Nas estacas de deslocamento, a abertura do diámetro da estaca pós-execução acontece por


meio do deslocamento lateral do solo sem a retirada dele e, sim, por uma compressão lateral. É o caso
das estacas cravadas pré-moldadas de concreto/aço e das estacas tipo Franki.

As estacas de deslocamento podem ser separadas, ainda, em (1) grande deslocamento, que
seriam as pré-moldadas de concreto, os tubos de aço de ponta fechada e as estacas tipo
Franki; e (II) pequeno deslocamento, que seriam as estacas de aço constituídas por perfis
ou tubos cravados de ponta aberta, ou, ainda, estacas pré-moldadas de concreto cravadas
em pré-furos de diâmetro um pouco menor. (DANZIGER; LOPES, 2021, p. 15)
Vinicius Lorenzi

Por sua vez, nas estacas de substituição, o processo é realizado pela remoção do
solo no momento da escavação e preenchimento com o elemento concreto. Exemplos
dessa tipologia são as estacas escavadas em geral e as estacas tipos raiz e hélice contínua.

Na prática, diferenciamos as estacas cravadas das escavadas pela diferença óbvia


de execução e equipamento empregado, que também, pelo próprio nome, já é possível
detectar a técnica utilizada no processo. Por exemplo: 1) bate estaca; 2) perfuratriz.

ESTACAS

1.CRAVADA

ESTACA
L

2.ESCAVADA

ESTACA

Figura 7.2-Estacas: 1) cravada; 2) escavada.

Agora que você já conhece as classificações básicas das estacas, trataremos das
especificidades de cada uma delas.

Cabe ressaltar, que além das estacas, abordaremos neste capítulo a execução dos
tubulões a céu aberto, que também pertencem à categoria das fundações profundas.

7.1 Estaca escavada

Esse é o tipo de fundação mais executado no Brasil. Em razão de sua versatilidade,


sua simplicidade, disponibilidade, entre outros aspectos, é o tipo de fundação mais con
vencional do nosso país.

123
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Conhecida como escavada, broca ou estaca trado, a estaca escavada possui diversas
nomenclaturas nas distintas regiões do Brasil, entretanto, todas possuem uma mesma
técnica executiva. A norma ABNT NBR 6122:2019 define que:

São estacas moldadas in loco, por meio da concretagem de um furo executado


por trado espiral, que são empregadas onde o perfil do subsolo tem caracteris
ticas tais que o furo se mantenha estável sem necessidade de revestimento ou
de fluido estabilizante. A profundidade é limitada à ausência de água durante
todo o processo executivo, da perfuração à concretagem.

O processo de execução de estacas escavadas é relativamente simples, sendo que


o tempo de execução de cada estaca está vinculado ao diâmetro e à profundidade dela.
Quanto maior é o diâmetro ou a profundidade, maior é o tempo da perfuração.
O tempo total de execução de uma estaca escavada é o tempo para posicionamento
do equipamento em cima do ponto a ser escavado, execução da perfuração do solo e a
retirada do equipamento para outro ponto do estaqueamento.

Nessa técnica, a concretagem e a colocação da armadura não precisam ser necessa


riamente realizadas simultaneamente à perfuração (que veremos mais adiante).
Em estacas de pequenos diâmetros e pequenas profundidades, o tempo de movi
mentação do equipamento, por vezes, pode ser superior ao tempo gasto na escavação
da estaca.

es

Caso de obra!

Recentemente, executei uma fundação em uma rodovia, com estacas escavadas com
300 mm de diâmetro e 3 metros de profundidade. A execução da perfuração levou
2 minutos e a movimentação do equipamento, de um ponto ao outro, outros 4 minutos.
O tipo de trado utilizado na confecção dessa estaca é diferente dos trados usados em
outros tipos, como na hélice contínua.

No caso das estacas escavadas, é utilizado um pequeno segmento de trado, o que


leva a um processo executivo diferente: perfura-se 1 metro, retira-se o solo, perfura-se mais
1 metro, retira-se o solo e assim sucessivamente, gerando um fuste completamente
escavado.

A principal restrição da estaca escavada é o nível de água. Sugere-se sua utiliza


ção somente quando não há presença de água considerando a profundidade prevista no
projeto de fundação.

124
Vinicius Lorenzi

Isso se dá pois, se houver água, esta adentrará a perfuração, levando o solo a des
barrancar ou desprender-se para dentro do furo. Consequentemente, não se tem a garantia
da estabilidade e do formato final da estaca.
Se o solo não tiver uma boa coesão, ou coesão suficiente para a escavação sem que
ocorra o desbarrancamento, também não é interessante adotar uma estaca escavada,
como é o caso das areias.

Fique ligado!

As estacas escavadas com lama e/ou polímero são outras soluções que serão discutidas
nos próximos capítulos.

Por ser um processo de fundação mais simples, é possível dispor de várias frentes
de trabalho em campo, ou seja, várias máquinas em obra simultaneamente, conforme a
urgência e necessidade do contratante.

Figura 7.3-Equipamentos de estacas escavadas trabalhando em linha.

Na prática, para execução desse tipo de estaca, pode-se utilizar tanto o trado manual
quanto diversas adaptações a equipamentos como:

perfuratriz acoplada em miniescavadeira (o trado é acoplado na ponta, o qual


facilita a mobilidade em obras pequenas);

125
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

> perfuratriz acoplada a caminhão munck (é interessante em obras de difícil


acesso, pois o braço do munck alcança maiores distâncias);
> tratores, caminhões, retros e escavadeiras (dependendo do porte da obra, do
acesso e da disponibilidade dos equipamentos para a execução).

Figura 7.4-Retro perfuratriz para estaca escavada.

Em grandes obras, nas quais temos um número elevado de estacas, os equipamentos


de maior porte são mais indicados, tanto para atender prazos, pois possuem maior produti
vidade do que pequenos equipamentos, quanto para atender demandas de profundidades
e diâmetros maiores, típico dessas obras.
Equipamentos menores, como os acoplados em caminhão munck ou em miniesca
vadeira, possuem menor torque para a escavação do solo, por isso devem ser utilizados
somente em casos nos quais as profundidades são menores e não há a necessidade de
avanço em solos de alta resistência.
Há inúmeros casos de obras nos quais o operador do equipamento de menor porte
relata que alcançou uma camada impenetrável, por não conseguir avançar em um solo
com resistência, não alcançando a profundidade de projeto.

Fique ligado!

Há uma tendência de que o problema esteja no torque do equipamento!

126
Vinicius Lorenzi

Nos casos em que a perfuração não alcança as profundidades de projeto, indica-se


a utilização de um equipamento de maior porte para que faça um furo teste e valide se
essas profundidades são realmente impenetráveis (na maioria das vezes não são).
Militisky (1988) relaciona alguns fatores que devem ser observados no uso de estacas
escavadas:

verticalidade da escavação;

comprimento e diâmetros reais;
limpeza do furo de escavação;
possíveis desmoronamentos do fuste durante a escavação;

tempo decorrido entre o fim da escavação e a concretagem;

irregularidades na concretagem;

volume de concreto utilizado;

horário de início e fim de cada etapa de concretagem.


7.1.1 Etapas de execução

Quanto à execução, basicamente a realizamos em três etapas: perfuração, posicio


namento da armadura e posteriormente, concretagem. Vamos ver um pouco mais sobre
cada uma dessas etapas.
1. Perfuração

Realiza-se a perfuração com trado curto acoplado a uma haste até atingir a profun
didade determinada em projeto. Esse processo é realizado por diversas vezes até atingir
a cota final da estaca. Isso porque, nesse tipo de perfuração, não temos uma escavação
contínua, mas, sim, um segmento de trado que é inserido diversas vezes no fuste para a
perfuração do solo.

É fundamental confirmar as características do solo por meio de sondagem para


garantir a estabilidade da perfuração desde o início da perfuração até a ponta, garantindo
a qualidade final da estaca.

Se especificado pelo projetista, o fundo da perfuração deve passar por apiloamento


com soquete para que não haja solo solto que possa interferir na resistência de ponta da
estaca.

Nesse contexto, é importante que a retirada do solo preso ao trado não seja feita
em cima da escavação, mas ao lado da mesma. Alguns equipamentos não realizam a mo
vimentação lateral para que esse processo ocorra. Nesses casos, pode ser feita a remoção
do solo colocando-se uma proteção (uma tábua, um madeirite) para que não caia material
solto no fundo da estaca.

127
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Figura 7.6-Perfuração da estaca escavada

2. Colocação da armadura

A inserção da armadura é iniciada com a perfuração da estaca já concluída até a cota


final. O processo, na maioria das vezes, é realizado de forma manual para as armaduras
menores e com o auxílio de equipamentos (como um munck) para as armaduras maiores.

Figura 7.7-Inserção da armadura na estaca escavada.

128
Vinicius Lorenzi

Nas estacas escavadas, não é necessária a armadura integral no estaqueamento,


por isso, é fundamental que ela seja devidamente amarrada na cota do terreno para que
não caia no fundo da escavação.

Figura 7.8-Armaduras de estaca escavadas amarradas na cota do terreno.

Considerando estacas submetidas a esforços de tração, esforços horizontais ou


momentos fletores, há a necessidade de que o projetista avalie os comprimentos das
armaduras.

Para estacas que não recebam esforços de tração ou flexão, a armadura é apenas de
arranque sem função estrutural, conforme a Tabela 4 da ABNT NBR 6122:2019.

129
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Tabela 7.1- Tabela 4 da ABNT NBR 6122:2019.

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EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

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NBR

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Anexo
compressão
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de
Tensão
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Classe
Classe
Vinicius Lorenzi

3. Concretagem

Depois de inserida a ferragem na estaca, é recomendado que a concretagem desse


tipo de fundação seja feita no mesmo dia da perfuração. O processo de concretagem nor
malmente é feito diretamente da bica do caminhão de concreto (ou no processo manual,
direto da betoneira). Entretanto, esse processo pode acarretar segregação do concreto.

Quando a profundidade escavada for elevada, é recomendado que seja feita a con
cretagem utilizando-se o bombeamento de concreto, com colocação do mangote dentro
da escavação, reduzindo, assim, a segregação. Outra solução que pode ser feita é por meio
de funil (tubo tremonha) a fim de orientar o fluxo de concreto.

Na prática, após realizada a perfuração das estacas, é importante cuidar para que
sejam removidas as grandes quantidades de solo adjacentes aos furos (da própria esca
vação das estacas), para que esses volumes de solo não atrapalhem a concretagem das
mesmas e que não se misturem ao concreto lançado.

Nos casos em que há a necessidade de concretar as estacas no dia seguinte à perfura

ção, os furos devem ser protegidos, isto é, cobertos para evitar acidentes e para minimizar a
contaminação da estaca com solo solto, o que seria prejudicial à sua qualidade e resistência.

FO3
Fique ligado!

Você só pode deixar para concretar estaca no dia seguinte, quando ela apresenta
coesão suficiente para que a perfuração permaneça estável. Caso contrário, o ideal é
que essa concretagem seja praticamente simultânea à perfuração.

Veja a definição da norma:

O concreto deve atender ao disposto na Tabela 4 quanto à classe de agressivi


dade I, II, III e IV e observar as seguintes características:
a) para a C25, abatimento entre 100 mm e 160 mm S 100, diâmetro de agregado
de 9,5 mm a 25 mm e teor de exsudação inferior a 4%;
b) para o C40, abatimento entre 100 mm e 160 mm S 100, diâmetro de agregado
de 9,5 mm a 25 mm e teor de exsudação inferior a 4%.
Recomendações para dosagem destes concretos:

a)para o C25, consumo minimo de cimento de 280 kg/m³ e fator a/c ≤ 0,6;

b) para o C40, consumo mínimo de cimento de 360 kg/m³ e fator a/c ≤ 0,45.

131
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Fique ligado!

Para os elementos em concreto, devemos observar que, além da ABNT NBR 6122:2019,
é preciso ter zelo com o controle, a qualidade e o recebimento do material, devendo
seguir as orientações das normas vigentes:

ABNT NBR 12655:2015-Concreto de cimento Portland - Preparo, controle, rece


bimento e aceitação - Procedimento;

ABNT NBR 7212:2021-Concreto dosado em central - Preparo, fornecimento e


controle;

ABNT NBR NM 67:1998- Concreto - Determinação da consistência pelo abati


mento do tronco de cone;

ABNT NBR 5738:2015-Concreto - Procedimento para moldagem e cura de corpos


de prova;

ABNT NBR 5739:2018 - Concreto - Ensaio de compressão de corpos de prova


cilíndricos.

7.1.2 Detalhes importantes da execução

É recomendado que não se execute estacas com espaçamento inferior a três diâme
tros em período inferior a 12 horas, referindo-se à estaca de maior diâmetro. Nesse caso,
o intervalo deve ser respeitado a partir da concretagem da estaca.
Outro ponto importante: ao menos 1% das estacas, e pelo menos uma por obra,
obrigatoriamente, deve ser exposta abaixo da cota de arrasamento para que sua integridade
e a qualidade do fuste sejam verificadas.

A cota de arrasamento e o comprimento das esperas (arranques), definidos em


projeto, devem ser observados cuidadosamente para a ligação correta da estaca com o
bloco de coroamento. O trecho acima da cota de arrasamento é demolido, deixando o topo
em seção plana e perpendicular ao eixo da estaca, sem danificá-la.

Se abaixo da cota de arrasamento for observado concreto de má qualidade, deve


-se demolir e recompor o trecho com material de qualidade que não seja inferior ao do
restante da estaca.

Se o comprimento de arranque for inferior ao estabelecido em projeto, uma emenda


deve ser realizada por transpasse ou transpasse e solda, conforme a ABNT NBR 6118:2014.
Se isso não for possível, a estaca pode ser demolida e recomposta de modo que o com
primento da emenda seja respeitado.

132
Vinicius Lorenzi

7.1.3 Boletim de controle de execução


A execução deve ser adequadamente registrada por meio de um boletim, que deve
ser diariamente preenchido para cada estaca, contendo as seguintes informações:
dados gerais (obra, local, nome do operador, executor, contratante);

data da execução;
▶ identificação da estaca (diâmetro, nome ou número conforme projeto de
fundação);

comprimento perfurado;

comprimento concretado;

desvio de locação (se houver);

consumo médio de concreto por estaca, com base no volume de concreto do
caminhão betoneira;

características da perfuratriz;

horários de início e fim da perfuração;

horários de início e fim da concretagem;

posicionamento da armação;
observações relevantes;

nome e assinatura do executor;
nome e assinatura da fiscalização e contratante.

O boletim de execução é imprescindível! É ele que servirá como documento de


consulta caso ocorra alguma necessidade futura de análise da execução das estacas. É
seu as built de obra, pois indica como a estaca foi efetivamente realizada. Acompanhado
do projeto final de fundação, torna-se um documento muito importante, que precisa ser
armazenado caso ocorra a necessidade de consultas futuras.

Esse boletim, obviamente, não serve apenas para a estaca escavada, mas também
para os mais diversos tipos de fundações.

7.1.4 Dicas práticas para execução das estacas escavadas


1. Verificar se a locação da sua obra está correta
A locação da obra precisa ser conferida. Ela deve estar no ponto exato da execução.
Quaisquer excentricidades futuras podem estar correlacionadas a uma locação incorreta.
A marcação das estacas, feita com cal, geralmente é realizada para que as estacas sejam
feitas no local iso.

Um tipo de locação que não funciona: quando ela não possibilita que o equipamento
acesse o local para realizar o trabalho, principalmente nos limites da obra, próximo aos
taludes.

133
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Por isso, é importante que o profissional da fundação vá até a obra para fazer uma
verificação da locação e entendê-la como um todo, observando se alguma alteração precisa
ser realizada (por exemplo, escavar mais algum talude), idealmente antes de o equipa
mento chegar em obra.

Por fim, devemos confirmar se todas as estacas de projeto estão devidamente lo


cadas, se as suas medidas coincidem com as de projeto, se os diâmetros e a quantidade
de estaca por bloco estão corretos, enfim, que tudo o que foi previsto em projeto esteja
ocorrendo in loco.

Juan

Figura 7.9-Conferência da locaçãoda obra in loco..

2. Certificar-se de que o NA esteja abaixo da cota de perfuração


Estacas escavadas não devem ser executadas abaixo do nível do lençol freático. Isso
prejudica principalmente a sua resistência de ponta. Portanto, uma dica importante é que
você realize uma perfuração teste, em outras palavras, uma sondagem a trado.
Essa sondagem a trado tem a função de validar se as profundidades de projeto serão
alcançadas e se não há a ocorrência de água na escavação.

Caso você encontre água, é importante avisar ao projetista para que ele adote as
soluções pertinentes - seja alteração de diâmetro, profundidade e, em último caso, de
alteração do tipo de fundação.

Esses casos podem ocorrer principalmente quando a sondagem foi realizada em


um período seco e a execução esteja ocorrendo em um período de chuvas, que é quando
há uma elevação no NA.

134
Vinicius Lorenzi

3. Conferir o prumo na hora da execução

Estacas fora de prumo são um problema! Tecnicamente, elas passam a sofrer esfor
ços para os quais não foram projetadas. Portanto, é fundamental a conferência com nível
constantemente nas perfurações das estacas escavadas.

Equipamentos acoplados a caminhões munck tendem a perder o prumo da perfura


ção já nas primeiras profundidades, pois não há uma torre guia que auxilie na perfuração.
Nesses casos, é fundamental um controle por parte da equipe para que as estacas sejam
executadas corretamente.

4. Confirmar o diâmetro do trado

Confirme se o diâmetro do trado é o diâmetro de projeto. É mais comum do que


parece encontrar trados desgastados, com dimensões inferiores àquelas previstas.

O operador pode até "garantir" que aquele é um trado de 30 cm de diâmetro, mas


não custa nada você pegar uma trena e conferir. Nesses casos, peque pelo excesso de
cuidado. Já estive em obras nas quais os operadores que se confundiram com os diâme
tros e executaram as fundações com trados diferentes dos previstos e, aí, foi uma grande
confusão para corrigir o problema!

Figura 7.10- Trado da estaca escavada.

5. Medir a profundidade final da estaca

Estacas escavadas não possuem controle ou monitoramento de profundidade, como


uma estaca hélice, por exemplo. Por isso, a conferência é realizada na trena mesmo.

135
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Nunca deixe de conferir isso! Estacas com menores profundidades tendem a apre
sentar menor atrito lateral e, ainda, serem apoiadas em cotas não previstas em projeto.
Dessa forma, acabam ficando com capacidades de carga diferentes, o que não é desejado.

Quadro 7.1 - Vantagens e desvantagens da solução em estaca escavada.


Vantagens Desvantagens

É muito versátil, servindo tanto para pequenas obras .


Utilizadas em solos com boa resistência para que a esca
quanto para obras de grande porte, possuindo trados vação permaneça estável durante a colocação da arma
de diversos diâmetros. É importante observar que a dura e a concretagem; em solos sem estabilidade, não é
mobilização de grandes máquinas é mais complexa, um tipo de fundação adequada. Não se pode garantir as
logo, equipamentos maiores são indicados para obras resistências de atrito e de ponta nesses casos.
com maiores espaços físico disponíveis. Seu uso é restrito às profundidades acima do nível do len
Baixo custo de execução de perfuração, comparada çol freático; abaixo deste, a escavação do fuste e a base da
outras técnicas (geralmente a mais barata dentre estaca ficam comprometidas.

. Abaixo do lençol freático, o uso de lama bentonitica ou


furação deve ser observado, como também o volu lama polimérica gera alto custo, embora essas estacas pos
me de concreto e as armaduras em uma avaliação sam absorver grandes capacidades de carga.
global de custos da obra. Cuidados especiais com a limpeza do fundo da estaca, não
Alta mobilidade e produtividade. Várias máquinas deixando material solto na ponta para não haver perda da
podem trabalhar juntas no canteiro; não são resistência de ponta da estaca. Durante a concretagem veri
necessários equipamentos sofisticados e o concreto ficar a estabilidade do fuste e a possível existência de água
pode ser rodado na obra, na betoneira, diferentemente (deve ser retirada por meio de bombeamento).
da estaca hélice contínua, por exemplo. .

Limitação quanto ao Nspr


Conhecimento imediato das camadas atravessadas . Equipamentos menores, como miniescavadeiras,
(escava, tira solo, escava tira solo, logo é possível ver retroperfuratrizes): Nrmáx. = 30.
a camada de solo que está sendo perfurada). Equipamentos maiores, como caminhões perfuratriz:
Ausência de vibrações. Npr máx. = 50.
Grande variedade de diâmetros de perfuração. Al Equipamentos de grande porte, como grandes esca
guns equipamentos que fazem uso de estacas com vadeiras (Figura 7.11): Npr máx. = 50.
trado mecanizado podem ultrapassar diâmetros de . Alguns equipamentos, inclusive, fazem o engastamento em
4,50 metros e profundidades superiores a 70 metros alteração de rocha.

(Figura 7.11), possibilitando fundações complexas. Dificuldade de limpeza do fundo da estaca. Com solo solto
com cargas muito maiores. Essa variação faz com no fundo da estaca, não se garante a resistência de ponta.
que a solução seja indicada desde pequenas resi Nesses casos, deve-se voltar ao dimensionamento pelos
dências até grandes edificações. métodos de previsão de capacidade de carga e eliminar
essa parcela de resistência. Soluções como o apiloamento,
que garantem essa ponta, não são tão convencionais.

136
Vinicius Lorenzi

Figura 7.11 - Equipamento executa estacas escavadas com 4,6 metros de diâmetro e 76,2 metros de profundidade.
Crédito: CZM Foundation and Mobil Equipament.

es
Caso de obra!

Produtividade em muitas obras, esta é a palavra de ordem!


Isso me faz lembrar de uma obra muito grande que projetei e executei no interior do
Paraná. Uma obra com 12 silos de armazenamento de grãos, moegas, tombadores, silos
de expedição, pulmão, entre outros, ou seja, uma unidade completa de armazenamento.
Nessa obra, muitas estacas precisavam ser executadas e o cliente tinha muita pressa.
objede

o cliente, não: o grão. Quando falamos sobre silos de armazenamento de grãos, é este
elemento que dita o ritmo da obra, porque, uma vez que o grão está plantado e começa
seu processo de colheita, a obra precisa estar pronta para receber seu "morador".
!

Para resolver isso , foi preciso mobilizar 5 máquinas em obra ao mesmo tempo
Em uma obra de estaca escavada, isso é muito mais simples. Cada equipamento pode

executar muitas estacas e outra equipe pode, na sequência, ir colocando as armaduras


e concretar no outro dia. Isso significa, na prática, um processo muito mais simples e
rápido. Outras soluções de fundação profunda, como uma hélice contínua, demandariam
5 bombas de concreto, pois cada equipamento teria de ter sua bomba de concreto,
6 a 7 caminhões betoneira, entre outras dificuldades logísticas.

Dependendo da altura de queda do concreto, pode ser lançado pelo próprio caminhão
betoneira, sem necessitar de tremonha ou bombeamento ascendente com mangote.

137
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Como tudo na Engenharia, depende.


Recentemente, estive em uma obra em uma cidade pequena. Como dizem "por af", uma
obra que tradicionalmente faz o uso de estaca escavada "pois sempre foi feito assim".
O cliente mandou-me o projeto estrutural e o projeto arquitetônico, e como eu tinha
a sondagem em mãos - feita anteriormente para esse cliente-, parti para a avaliação
dessa fundação.

Cheguei para o meu cliente e falei: "Vai sair mais barato nós fazermos a fundação em
estaca hélice contínua".

Naquela obra específica, o custo para executar as perfurações da estaca hélice contínua
seriam de R$ 60 mil - já o custo para executar a fundação em estaca escavada seria
de R$ 30 mil.

- Vinicius, você não tinha falado que a fundação ficaria mais econômica em hélice?
Sim. Explico: naquele caso, a estaca hélice contínua teria maior capacidade de carga,
isto é, capacidade de resistência das estacas ficava muito superior às estacas esca
vadas, porque chegavam em profundidades maiores e atingiam materiais de maior
capacidade de suporte.

Vamos pensar assim: minha estaca hélice contínua tinha capacidade de suporte de
50 toneladas em um diâmetro de 40 cm; já na estaca escavada, no mesmo diâmetro,
a capacidade ficava em torno de 20 toneladas. As estacas escavadas tinham limitação
de profundidade em função do nível do lençol freático, enquanto as estacas hélice
podiam ultrapassá-lo.

Para ficar mais claro: imagine um pilar com 50 toneladas. Nesse caso, uma opção seria
a utilização de 1 estaca hélice (que suporta, nesse caso, as mesmas 50 toneladas), en
quanto, com estaca escavada, eu teria que colocar no mínimo três estacas para absorver
essa carga. Dessa forma, os volumes de concreto tanto das estacas quanto dos blocos
acabariam ficando muito maiores na estaca escavada.

Então, inicialmente, o custo da escavada, que era de R$ 30 mil (aparentemente muito


mais econômico), quando feita a avaliação de preço global da fundação, considerando
a perfuração, o concreto e o aço das estacas, bem como a escavação dos blocos, o
concreto e o aço dos blocos, o valor global ficaria superior a R$ 190 mil.
Quando realizada a conta da estaca hélice, com 1 estaca por pilar, o valor global da
fundação ficou em R$ 160 mil!

Fique ligado!

Sempre que falarem "Esse tipo de fundação será mais barato, não tem erro!", não
acredite logo de cara! Faça as contas antes!

Em fundações, é importante a análise caso a caso. Não adianta você querer tomar
uma solução como definitiva para sempre. Para uma obra uma solução foi escavada;
para outra, do mesmo porte, mas em outro tipo de solo, com outras características,

138
Vinicius Lorenzi

a solução mais econômica pode ser outra. Assim, você pode tomar a melhor decisão
possível para sua obra.

7.2 Estacas escavadas com alargamento de fuste

A metodologia de execução de estacas escavadas com alargamento de fuste vem


sendo adotada no Brasil desde meados dos anos 1980 pela empresa AGM Geotécnica Ltda.,
de Maceió (AL). A empresa iniciou esse processo de execução visando reduzir custos com
as atuais soluções empregadas no mercado da região.

Figura 7.12-Estaca com alargamento de fuste, extraída em Maceió (AL). Crédito: AGM Geotécnica Ltda.

Inicialmente, foram executados bulbos por meio de circulação de lama estabilizadora


em estacas raiz. Alguns anos depois, foi introduzida a técnica de alargamento de fuste
nas estacas escavadas.

139
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

7.2.1 Execução das estacas

O processo de execução das estacas escavadas com alargamento é bastante simples;


são executadas as mesmas etapas da estaca convencional, sendo que, posteriormente, é
realizado o alargamento do fuste por meio de ponteira instalada no trado.
Para melhor compreensão, a sequência resume a execução desse tipo de estaca:
> perfuração tradicional da estaca escavada com trado;
▶ retirada do trado e instalação da ponteira;
▶ descida do trado no furo já perfurado, posicionando-o até a cota desejada;
rotação do trado para confecção do alargamento;
descida do trado até a próxima cota em que o próximo alargamento está pre
visto e conseguinte rotação;

▶ terminada a execução dos alargamentos, há a elevação do trado e retirada


(manual) da ponteira;
▶ posicionamento do trado, já sem a ponteira, novamente no furo, e realização
da limpeza do material que ficou no fundo da estaca devido à execução do
alargamento;

após a limpeza do furo, a estaca está pronta para posicionamento de ferragem


(se existir) e posterior concretagem.

Figura 7.13 -Posicionamento do trado com a ponteira no fuste já perfurado.

140
Vinicius Lorenzi

Figura 7.14-Ponteira instalada no trado de perfuração..

Diversos estudos foram realizados sobre o comportamento dessa fundação, e as


conclusões foram de que a ruptura lateral e da base ocorrem simultaneamente, e que a
ruptura lateral desenvolve-se ao longo de uma superfície cilíndrica de diâmetro igual ao
espaçamento entre os bulbos.

Figura 7.14-Inspeção da estaca dentro do poço.

141
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

O estudo apresentado agora foi realizado com auxílio de provas de carga estática
na cidade de Cascavel (PR) e a partir de simulações numéricas realizadas pelo Método
dos Elementos Finitos (programa PLAXIS), além de cálculos de capacidade de carga por
métodos semiempíricos.

No Gráfico 7.1, é possível verificar a diferença de capacidade de carga (em uma prova
de carga) de uma estaca lisa e de uma estaca com alargamento de fuste.

Carga (kN)
0,00 +

200 250
0 50 100 150
-2,00
)(

-4,00

-6,00
mm

-8,00
Recalque

-10,00

-12,00

-14,00 +

-16,00
+ +

-18,00

-20,00

--PCE E3-Lisa ---NBR-6122


--PCE E4-Alargada

Gráfico 7.1-PCE E3 e PCE E4

O método de alargamento de fuste é um método vantajoso, pois é de fácil execução,


e pode apresentar uma melhoria da ordem de 20% na capacidade de carga total da estaca,
devido ao ganho de capacidade de carga no fuste. Em estacas trabalhando predominan
temente por atrito (fuste), essa técnica é claramente vantajosa.
Na cidade de Maceió, os resultados indicavam ganhos de mais de 40% de capacidade
utilizando essa solução.

Como não há uma metodologia de cálculo de capacidade de carga consagrada para


determinar o ganho de capacidade de carga provocado pelo alargamento, indica-se a
realização de ensaios, como esses que foram realizados (PCE) em campo para atestar e
validar essa solução.

Com isso, é possível determinar a quantidade de alargamentos e tamanho destes


em função do aumento de capacidade de carga desejado.

7.3 Estaca hélice contínua monitorada

Sem falsas impressões, ela é, sim, o tipo de fundação preferido do autor. Listarei
neste capítulo uma série de razões para isso. É a solução ideal para os casos em que a sua
fundação precise ultrapassar o nível do lençol freático.

142
Vinicius Lorenzi

O nome "hélice contínua" tem relação com o fato de ela possuir uma hélice continua
ou um trado contínuo na composição do equipamento de perfuração. A estaca hélice tam
bém poderia ser chamada de estaca trado contínua (Figura 7.15). Já o termo "monitorada"
está relacionado a um sistema controlado (monitorado) por computador.

Figura 7.15-Perfuratriz hélice continua Top Drive CZM EK300, a maior já fabricada nas Américas! Com 40 metros
de profundidade máxima e 1200mm de diámetro máximo. Crédito: CZM Foundation Equipament
A definição da norma diz:

É uma estaca de concreto moldada in loco, executada mediante a introdução no terreno,


por rotação, de um trado helicoidal continuo de diâmetro constante. A injeção de concreto é feita
pela haste central do trado simultaneamente à sua retirada. A armadura é sempre colocada após
a concretagem da estaca.

Outras variantes da técnica podem existir, como Estaca Hélice Segmentada, que
será discutida no próximo capítulo.
No contexto das fundações profundas, a Hélice Contínua Monitorada (HCM) é uma
das técnicas que mais evoluiu no Brasil nas últimas décadas.

143
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Por possuir um equipamento de maior porte e mais complexo, é uma solução para
obras maiores devido à logística difícil para mobilização. Logo, não é o tipo de solução
mais adequada para obras de pequeno porte ou sem acesso apropriado. Certo?
Mais ou menos! Por isso cito que é um tipo de estaca que evoluiu tanto no mercado.
Com o tempo, as mini-hélices começaram a atender esse tipo de mercado, que até então
era solução apenas utilizada em obras maiores.

CARA

Figura 7.16-Mini-hélice continua EM500, da CZM

Essa mini-hélice (Figura 7.16) é um equipamento que a Fungeo adquiriu, sob fabri
cação da empresa CZM, inclusive esse equipamento foi o primeiro do Brasil nesse formato.
Qual é a profundidade e o diâmetro máximo que a HCM executa, isto é, a máxima profundidade
e o máximo diâmetro que podem ser considerados em projeto?
Para esta pergunta, a resposta é: depende.
-Depende do quê?

144
Vinicius Lorenzi

Da máquina em questão! E esse ponto é extremante importante na hora de projetar


uma fundação em HCM, pois o projetista precisa entender como são os equipamentos,
quais são as disponibilidades regionais e, a partir disso, elaborar seus projetos.
Máquinas como a EM500 (mini-hélice) chegam a diâmetros de 50 cm com profun
didades máximas de 18 metros. Já máquinas maiores, mais robustas, podem executar
diâmetros de até 1,20 metro e chegar a 30 a 40 metros de profundidade.

Hoje, no Brasil, existem máquinas que podem atingir essas profundidades e diâ
metros, ou até mais do que isso, mas é claro que estamos falando de equipamentos com
torques elevadíssimos, de maior robustez, acopladas sobre escavadeiras maiores, com
peso de transporte muito mais elevado. O que se tem de mais comum hoje no País é uma
gama de máquinas que executam estacas até 80 cm com 20 a 24 metros de profundidade.

A diferença entre uma máquina grande e uma máquina menor tem relação direta
com o custo de transporte e o tempo de montagem: uma máquina mini pode levar apenas
algumas horas para ser montada, enquanto as maiores levam até 2 dias, o que impacta
diretamente o cronograma da obra e logística dos projetos da empresa.
A escolha de profundidade é uma consideração muito importante quando se projeta
uma fundação em HCM. É preciso conhecer o equipamento que está disponível na região.
Não adianta projetar uma fundação muito profunda se o equipamento mais pró
ximo, que possibilita o feito, está em uma localidade muito distante do local da obra
projetada.

7.3.1 Fases de execução


1. Fase preliminar - Montagem do equipamento
Como citado anteriormente, a depender do porte do equipamento, o prazo de mon
tagem do equipamento pode chegar até a 2 dias.

Nessa fase, eu e a equipe de Engenharia da Fungeo estávamos acompanhando a


montagem desse equipamento (EM 800/24 - Fabricante CZM).
Aqui, a equipe prepara o equipamento para o início dos trabalhos, acopla o trado que
será utilizado inicialmente, monta prolonga, e faz os ajustes entre a perfuratriz e a bomba
de concreto (compatibilizando mangotes e ajustando a pressão de concreto).

145
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

FUNGED

Figura 7.17-Montagem do equipamento de estaca hélice

2. Primeira fase - Perfuração da estaca

A perfuração é feita de forma contínua até a cota final da perfuração, ou seja, o trado
é inserido integralmente no terreno até sua profundidade final. Não se recomenda perfurar
e aliviar, pois isso pode gerar descompressão do solo.

Nem sempre será perfurado o tamanho integral do trado; isso varia com a carga
da obra, o diâmetro, o tipo de perfuração, entre outras variáveis. Perfura-se até certa
profundidade, conforme a necessidade.

A ABNT NBR 6122:2019 observa que o equipamento deve possuir características


mínimas, estabelecidas pelo projetista e pelo executor, as quais assegurem a capacidade
de atingir a profundidade especificada no projeto, além do torque e força de arranque
adequados à resistência do solo a ser perfurado e ao diâmetro da estaca.
A especificação consensual do equipamento tem o objetivo de reduzir a possibilidade
de desconfinamento do solo durante a perfuração, garantindo-se, assim, a resistência
geotécnica prevista em projeto para a estaca.

146
R

NA CARREIRA DE

ENGENHEIRO, PREPARE-SE
PARA:

1. ERRAR MUITO ANTES DE


ACERTAR;

2. TRABALHAR MUITO ANTES


DE PODER DESCANSAR;
3. FAZER DE TUDO ATÉ
PODER FAZER "SÓ O QUE
GOSTA":

4."ENGOLIR MUITO SAPO"


ANTES DE PODER
DELEGAR.
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Quadro 7.2 - Perfuração passo a passo, segundo a ABNT NBR 6122:2019.


▸ Verificação do diâmetro do trado, observando as premissas de projeto.
▶ Análise dos componentes do equipamento e da tampa metálica recupe
rável (descartando falhas nos componentes ou irregularidades).
Posicionamento e nivelamento da perfuratriz para garantir centralização
e verticalidade da estaca.

Observação da tubulação - antes da execução da primeira estaca de cada


dia de trabalho (ou após limpeza da tubulação), é fundamental garantir que a
tubulação da concretagem, entre o cocho e o trado da hélice contínua, esteja
completamente cheia de concreto. Para isso, com a tampa metálica da haste
interna do trado removida, deve-se expurgar toda a calda de lubrificação
que é lançada antes do concreto.

Introdução do trado, por rotação contínua, até a cota prevista em projeto,


com mínimo desconfinamento do solo. Nessa etapa, a monitoração eletrô
nica, que é parte inerente ao processo e indispensável, deve registrar ao
menos a profundidade, a velocidade de rotação do trado, a velocidade de
avanço e a pressão do torque.

Observação: para estacas com comprimento superior a 18 metros, executada com


perfuratriz equipada com trado mínimo de 18 metros, é aceitável uso de prolonga de
até 6 metros. Com trado inferior a 18 metros, limita-se a prolonga a 10% do compri
mento total da estaca.

Um detalhe importante que não pode ser ignorado é que, com o equipamento de
perfuração de estaca, há a necessidade de um equipamento auxiliar, como uma retroes
cavadeira ou uma miniescavadeira, que tem por objetivo retirar o excesso de material
escavado oriundo da perfuração. Por exemplo: uma estaca com diâmetro de 80 cm e 20 m
de profundidade terá volumes escavados superiores a 10 m³, ou seja, não haveria qualquer
viabilidade de remover isso com uma tropa de auxiliares. O equipamento auxiliar atende
justamente a esses casos.

É fundamental que nas composições orçamentárias sejam contabilizados o equi


pamento de apoio.

O acúmulo de material escavado na obra restringe a mobilidade do equipamento.


Você precisa instruir sua equipe quanto a isso! O equipamento de hélice contínua é grande
e pesado. Não pode transitar em qualquer local (risco de tombamento), o que pode gerar
problemas de mobilidade no canteiro caso essa remoção não ocorra adequadamente.
A função do operador do equipamento, nessa etapa, é controlar as profundidades
perfuradas até o estabelecido em projeto, o torque do equipamento, a dificuldade e a
velocidade de avanço do trado. Não é função do operador definir cota de parada de es
taca; não é ele quem definirá se a profundidade alcançada é suficiente e, sim, o projetista
responsável por aquela fundação.

148
Vinicius Lorenzi

Dica!

Sempre acompanhe a primeira estaca da sua obra. Avalie as re


sistências da perfuração (torque), acompanhe a concretagem e tudo o
que puder para garantir que as previsões de projeto sejam cumpridas
em obra.

3. Segunda fase-Concretagem
Aqui, eu diria que uma HCM não inicia sua perfuração antes que a bomba de con
creto esteja em obra, com os mangotes conectados aos mangotes da perfuratriz e que o
caminhão betoneira também esteja no local. Não se recomenda iniciar a perfuração antes
de toda estrutura estar devidamente montada (Figura 7.18).
Outro detalhe importante: a bomba de concreto deve permanecer em tempo integral
na obra, durante o período da perfuração, ou seja, uma vez iniciada a perfuração, esse
equipamento de bombeamento só é liberado da obra quando se encerra a perfuração
das estacas.

Figura 7.18-Perfuratriz, bomba de concreto e caminhão betoneira.

A concretagem se dá por meio do mangote, o qual está ligado à bomba de concreto


(apoiado pelo caminhão betoneira). Ele é acoplado à hélice pela ponteira e desce por dentro
do trado oco, por onde passará o concreto.

149
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Após atingir a cota de ponta prevista no projeto, o operador inicia a concretagem


da estaca, tendo garantido antes dessa etapa que a tubulação esteja cheia de concreto.
À medida que o trado sobe, simultaneamente a concretagem ocorre, de forma con
trolada e monitorada, lembrando que essa estaca deve ser concretada até o limite superior,
ou seja, até a superfície do terreno!

Destacam-se alguns detalhes: o operador da hélice contínua e o responsável pela


bomba do concreto devem possuir coordenação e sincronismo total em suas ações.
Por meio de sinal sonoro, o operador do equipamento avisa ao operador da bomba
para promover o lançamento do concreto. Simultaneamente, deve ocorrer o levantamento
do trado da hélice contínua para a expulsão da tampa e início da concretagem.

Figura 7.19-Tampa do trado por onde deve passar o concreto injetado sobre alta pressão.

O trado da hélice não pode sair da posição (ser levantado) para expulsar a tampa
antes do início do lançamento do concreto. Outro ponto importante: a pressão do concreto
precisa ser positiva para que não haja interrupção do fuste, devendo ser controlada pelo
operador em todo período da concretagem.

A norma ABNT NBR 6122:2019 menciona que "se a concretagem da estaca for feita
com o trado girando, este deve girar no sentido da perfuração", ou seja, não é adequado
inverter o sentido de rotação para concretar durante a subida do trado.

150
Vinicius Lorenzi

A HCM é uma excelente solução para quando se tem nível d'água e solos arenosos
não coesivos que podem desbarrancar (o furo não permanece estável nesses casos), uma
vez que essa metodologia executiva faz com que não fiquem vazios no solo, pois ora a
perfuração está preenchida pelo trado, ora pelo concreto.

Assim como na estaca escavada, as normas relativas ao controle, à qualidade e ao


recebimento do concreto devem ser observadas.

Recomendação da norma para dosagem do concreto, segundo a ABNT NBR


6122:2019/Em1:2022.

-C30, consumo mínimo de cimento de 350 kg/m³ e fator a/c ≤ 0,6 para ambien
tes de agressividade le ll;

- C40, consumo mínimo de cimento de 350 kg/m³ e fator a/c ≤ 0,45 para am
bientes de agressividade III e IV.
4.
Terceira fase-Colocação da ferragem
A inserção da ferragem/armadura se dá imediatamente após a concretagem. Por
essa razão prática, exige-se um slump alto do concreto (abatimento entre 220 mm e
260 mm), o qual deve ser bem fluido para que a ferragem adentre corretamente no
concreto.

Para ferragens maiores, isto é, maiores profundidades (por exemplo: armaduras com
18 metros), pode ser usado um slump superior a 260 mm, bem mais fluido, a fim de facilitar
a execução e garantir que a ferragem adentre o concreto, tornando o processo exequível.

Estacas submetidas apenas a esforços de compressão, ou com baixas cargas de


momento fletor e/ou tração, possuem armaduras menores, em geral variando entre
4 metros e 6 metros de comprimento. Para estacas submetidas à ação de esforços horizon
tais e momentos fletores, o comprimento da armadura será indicado até a profundidade
da estaca onde atua o diagrama do momento.

151
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Dica!

A cada nova amostra de concreto que chega em uma obra, ou


seja, a cada caminhão betoneira, deve ser promovido um novo ensaio de
abatimento do concreto (slump test). Esse ensaio é realizado para veri
ficar a trabalhabilidade do concreto em seu estado plástico, buscando
medir sua consistência e avaliar se está adequado para o uso na estaca.
A equipe de operação precisa erguer a ferragem, logo, depen
dendo de sua extensão e peso, pode ser necessário um guincho auxiliar
para isso.

Um detalhe executivo prático: espaçadores/roletes devem ser


usados para garantir cobrimento mínimo da armadura e assegurar que
a ferragem não encoste no solo (se ela encostar no solo, pode trazer
material de solo para dentro da estaca e assim reduzir sua qualidade).
Além disso, os roletes apoiados nos estribos auxiliam a descida
da armadura. Outra solução interessante para facilitar a descida dessa
armadura é o afunilamento da armadura na ponta da mesma. Indica-se
um afunilamento de 0,5x o diâmetro da armadura nos primeiros 50 cm.

ALLEELEY laluuauc
ans

Canal

Figura 7.20-Roletes e afunilamento da armadura.

Os roletes, ou centralizadores, caso utilizados, devem ser colocados aproximada


mente 1 metro do topo e 1 metros da ponta da armação.

152
Vinicius Lorenzi

O desejável é que a armadura desça facilmente no concreto. Para isso, as armaduras


precisam ser dimensionadas levando em consideração o comprimento e diâmetros das
estacas. Para auxiliar projetistas nesse processo, faço aqui uma sugestão de escolha de
armaduras em função do comprimento das mesmas.

Tabela 7.1 - Tabela sugestiva de diâmetro das armaduras de estaca tipo hélice contínua.

Diametro da Comprimento da armadura


estaca (mm) Até 4 m Entre 5 e 6 m Entre 8 e 12 m Entre 13 e 16 m Acima de 17 m

300/400 Mínimo 12,5 mm Mínimo 16 mm Mínimo 16 mm


Mínimo 12,5 mm Mínimo $20 mm
500/600 Mínimo 20 mm
Mínimo 16 mm Mínimo 20 mm
700/800
Mínimo 16 mm Mínimo 25 mm Mínimo 25 mm
Acima de 900
Mínimo 20 mm Mínimo 25 mm

Armaduras que não descem o previsto em projeto precisam, muitas vezes, de um


"empurrãozinho". Isso é feito pela própria equipe em obra, pelo equipamento auxiliar
(miniescavadeira ou retroescavadeira) ou, ainda, pelo próprio trado da HCM.
5. Monitoramento de estaca hélice contínua

O monitoramento ocorre de dentro da cabine da escavadeira hidráulica. Ela permite


a precisão, o controle e a qualidade desde a perfuração até a concretagem.

O saci 3 0

000000
000000

Figura 7.21-Tela de monitoramento do operador da HCM.

O operador possui no r a bordo do equipamento a tela de perfuração


e a tela de concretagem. A profundidade no qual se encontra o trado, tanto na descida
(perfuração) quanto na subida (concretagem), são as informações fundamentais para o
controle do operador. Além disso, tem-se na tela as seguintes informações de perfuração:

153
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

a) Torque: é a dificuldade necessária para o equipamento avançar na perfura


ção. Ocorre na fase de perfuração, quando o trado está descendo, perfuran
do a estaca.

b) Rotação do trado: esse parâmetro demonstra como o trado rotaciona em


rotações por minuto (RPM).

c) Velocidade do trado: é a velocidade com que o trado está descendo; não se


pode descer de uma vez, pois não "limpará" a estaca corretamente. A desci
da não pode ser rápida o suficiente para não deixar vazios.
d) Inclinação: um dos mais importantes da técnica; o equipamento não pode
sair do prumo e, se sair, a responsabilidade é única e exclusivamente do ope
rador, tendo em vista que ele possui o controle da angulação da máquina.
Em síntese, quando está tudo pronto (equipamento e tubulação ajustados, cami
nhão de concreto na obra, armaduras prontas e equipe a postos) e o trado chegou na
profundidade, ele pausa.

O operador sinaliza para o caminhão betoneira e inicia-se a concretagem: a bomba


de concreto é acionada, a betoneira descarrega concreto no cocho e começa a concreta
gem da estaca.

O operador consegue observar como a concretagem ocorre e o perfil que está sendo
formado na concretagem da estaca, ou seja, "a cara da estaca" pois esta aparece na tela
do computador. Variações de consumo de concreto ficam visíveis na tela, tornando o
operador do equipamento a figura chave para garantir a correta concretagem da estaca.
Na tela de concretagem da perfuratriz aparecem as seguintes informações:
a) Pressão de concreto: é a pressão de injeção que sai da bomba e chega até
a perfuração. Quanto maior for a pressão, a tendência é termos maior con
sumo de concreto.

b) Superconsumo: é possível ver a porcentagem de superconsumo da estaca,


ou seja, o excedente de concreto que vai na estaca excedente ao diâmetro
nominal. Esse valor representa o acréscimo que tenho na estaca por causa
da pressão sob injeção.

c) Velocidade de subida do trado: é recomendado que o operador suba o tra


do de modo controlado.

d) Inclinação de subida do trado: se a inclinação for modificada, posso ter


como resultado uma estaca totalmente fora de prumo.

O sobreconsumo na hélice é bom ou ruim? Antes de responder isso, faço aqui uma

afirmação: ele é NECESSÁRIO! Sim, esse tipo de estaca possui uma vantagem perante
as outras fundações, que é o ganho de atrito lateral causado pela pressão de injeção de
concreto! Caso a fundação tenha um consumo menor do que o diâmetro nominal, temos

154
Vinicius Lorenzi

um problema! Possivelmente, pode ter ocorrido algum vazio, algum estrangulamento do


fuste, enfim, alguma patologia na execução que causou uma redução do consumo nominal.

- O que é o consumo nominal?

É simples! Vamos calcular juntos uma estaca de 50 cm com 10 metros de


profundidade.

Volume nominal da estaca = x raio da estaca²x comprimento da estaca

Volume nominal da estaca = x 0,25 m² x 10m = 1,96 m³

Portanto, para a estaca indicada, temos 1,96 m³ de consumo nominal na estaca.

Agora, vamos supor que a estaca tenha 20% de sobreconsumo de concreto, logo,
esse consumo passará para:

Volume total da estaca: 1,96 m³ + 20% = 2,35 m³

Parece pouco, mas vamos supor que a obra tenha 100 estacas. Logo, teríamos algo
em torno de 43 m³ a mais na fundação, o que é bem significativo.
Agora, vamos entender se isso é bom ou ruim. Eu diria: depende. Se for para o cliente,
que pagará o excedente em concreto, é ruim; se for para o projetista, o qual quer garantir
uma boa resistência da estaca, é bom.

Cabe salientar que se deve projetar pensando no melhor custo-benefício para o


cliente com a maior resistência possível.
Uma das variáveis da HCM, o superconsumo, por um lado, gera um acréscimo do
volume de concreto e isso tem impacto resistência da estaca, impacto no atrito lateral, isto
é, as ranhuras geradas pela injeção de concreto e ainda com o ganho de concreto geram
um atrito lateral muito importante.

Alguns projetistas levam em conta que a hélice contínua não possui resistência de
ponta, pois não podem garantir uma ponta na estaca; entretanto, isso precisa que ser
tratado com muita cautela.

A mobilização por atrito na HCM tem a tendência a ser a maior parcela de resistência
na fundação. Como mobiliza muito atrito lateral, quando a resistência chega lá embaixo na
ponta, a tendência é que carga de trabalho já tenha sido atingida, ou seja, não foi necessário
considerar a ponta. Obviamente isso não é regra, mas é uma tendência.

Raramente deixo de considerar resistência de ponta nas minhas HCM; isso depende
muito da qualidade da empresa executora. Projetos que saem da minha empresa, cuja
qualidade de execução é duvidosa, pode apostar que não vou levar em consideração a
resistência de ponta da estaca.

-Qual é a quantidade e o valor do sobreconsumo no concreto da hélice?

155
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS


Em toda obra que eu inicio, me fazem esta pergunta. De fato, isso é muito
relativo, pois depende de uma série de fatores:


pressão de injeção na bomba de concreto;

>
resistência do solo (solo com menor resistência maior sobre consumo);
> diâmetro da estaca;

▶ velocidade de subida do trado;

>
slump do concreto.

Para não ficar "em cima do muro", eu diria que é, sim, bom o aumento de concreto,
mas precisa estar dentro de um limite, apesar do aumento de custo.
Quanto ao sobreconsumo adequado, não existe um valor fixado. Isso varia de acor
do com os fatores citados, mas vamos colocar uma média de 15%. Em solos moles, há a
tendência de aumento desse sobreconsumo.

-Vinicius, sou orçamentista e não posso errar. Qual sobreconsumo eu coloco?


Eu gosto de indicar aos meus clientes que considerem até 30% nesses casos e que
tentem ajustar in loco essas porcentagens

Vou listar aqui algumas sugestões:

▶ Ajuste da pressão da bomba de concreto para o diâmetro perfurado. A pres


são de injeção de concreto pode ser superior a velocidade de subida do trado.
Isso faz com que haja uma expansão do volume de concreto.
Observe os Gráficos 7.2 e 7.3. A linha verde é a velocidade de subida ideal
do trado, enquanto a linha vermelha é a velocidade que o trado foi extraído.
No Gráfico 7.2, o operador do equipamento uma subida lenta, menor do
que o recomendado (linha verde), enquanto no Gráfico 7.3 a velocidade esteve
o tempo todo próxima ao recomendado.
Resultado? No primeiro caso, incríveis (e totalmente fora do normal) 76,06%
de sobreconsumo nessa estaca de 50 cm.

No segundo caso, fazendo um ajuste entre a bomba e a perfuratriz, realizando


uma velocidade de subida compatível com a bomba, o sobreconsumo de foi
de 11,87%.

156
Vinicius Lorenzi

V. Extração (m/h) ↑ Perfil Estimado


V. Extração (m/h) ↑ Perfil Estimado

25%
0 200 400 25% 25% 0 200 400 25%

HI

10 10
9

11 11
10
10

12 12
11
11
13 13

12
12
14

13
13
15

14 14 16 16

15 17
15

18
16 16

19

17 17

18 18

19 19

Gráfico 7.2 - Velocidade lenta de subida do trado e alto Gráfico 7.3- Velocidade adequada de subida do

sobreconsumo. trado e sobreconsumo normal.

157
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Ajuste no slump do concreto. Caso seu concreto esteja com um slump muito alto.

por exemplo, 26, é possível que isso esteja interferindo no sobreconsumo. Realize
uma redução desse slump para amenizar as porcentagens.
E o que não fazer?

Jamais faça uma consideração de cálculo que leve em consideração que a sua estaca
terá determinado sobreconsumo e, assim, reduzirá diâmetros e/ou profundidades

Isso porque você não pode GARANTIR que sua estaca terá aquele sobreconsumo!
Uma estaca pode ter, a outra não, e aí? O que você vai fazer se a estaca não tiver o
sobreconsumo solicitado? Ajustar in loco? Talvez você precise do acompanhamento
integral do projetista de fundações nesse caso, mas não sei se isso é viável...
Ao final do estaqueamento, é possível solicitar os gráficos e um relatório completo
à empresa executora da fundação: com a profundidade da estaca, o volume de
concreto, o superconsumo, o perfil da estaca.... Desse modo, o cliente entenderá
se a fundação foi realizada conforme foi projetada ou não.

O método gera confiança para o cliente tanto no estaqueamento quanto na em


presa. Entrega confiança, resistência de estaca e agilidade dentro das obras.
Veja a definição da norma ABNT NBR 6122:2019:

Todas as fases de execução da estaca devem ser monitoradas eletronicamente a


partir de sensores instalados na perfuratriz, registrando-se:
a) nivelamento do equipamento e prumo do trado:
b) pressão no torque;
c) velocidade de avanço do trado:

d) rotação do trado;

e) cota de ponta do trado;

f) pressão de concreto durante a concretagem;


q) sobreconsumo de concreto;

h) velocidade de extração do trado.

Pelo menos 1% das estacas, e no mínimo uma por obra, deve ser exposta abaixo
da cota de arrasamento e, se possível, até o nivel d'água, para verificação da sua
integridade e qualidade do fuste.

158
Vinicius Lorenzi

Gráficos da Estaca GeoDigitus-SoftSaci V7.0.10-www.geodigitus.com.br licenciado para fungeo


Serviço executado por:

GD
Cliente:

Estaca: P18.D Obra: EDIFIO Compr. Estaca(m): 22.08


Vol. Conc. (m3): 4,85
Data: 13/01/22 Diametro (m): 0,500
Inicio Perfuração: 13/01/22 14:47 Fim Estaca: 13/01/22 15:32 Superconsumo: 11,87%
Inclinação XY 2,0
Inic Concretagem: 13/01/22 15:26 Contrato: L2M ENGEN

P. Hidráulico (bars) Rotação (RPM) Velocidade m/h ↓ P. Concreto (bars) ↑ V. Extração (m/h) ↑ Perfil Estimado

160 400 25% 25%


320 0 20 40 0 100 0 200

Acc
A

ww
Bay

17

19

20

mw
A

21

Gráfico 7.4-Gráficos emitidos pela HCM.

159
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Registros da execução segundo a norma ABNT NBR 6122:2019:


Deve ser preenchido o boletim de controle de execução diariamente para cada
estaca, devendo constar as seguintes informações:
a) identificações gerais: obra, local, nome do operador, executor, contratante;
b) características do equipamento:
c) identificação da estaca: diâmetro, nome ou número conforme projeto de
fundação;

d) cota do terreno na posição da estaca;


e) comprimento executado da estaca;

f) comprimento concretado da estaca;

g) data e horário de início e fim da execução da estaca:

h) data e horário de início e fim da concretagem;


i) desvio de locação (se houver);

j) inclinação do trado;

k) volume de concreto real e teórico por estaca, com base no volume de con
creto do caminhão betoneira;

1) pressão de torque durante perfuração;


m) rotação do trado;

n) velocidade de avanço do trado;

o) pressão de injeção do concreto;


p) velocidade de extração do trado;
q) posicionamento da armação;
r) observações relevantes;
s) nome e assinatura do executor;

t) nome e assinatura da fiscalização e do contratante.


Falando um pouco sobre o transporte de uma máquina de HCM, essa é uma etapa
importante do processo, porque ele pode ser caro, não ser simples ou rápido, e exige
grandes instrumentos de transporte como carretas com 3, 4 eixos, por exemplo. Pode ser
necessário o controle dos órgãos municipais de trânsito, deslocamento, batedores etc.
Dependendo das carretas que transportam esse tipo de máquina, será necessário
auxílio. Em alguns locais, a mobilização deve ser feita no período noturno ou finais de
semana por parar o trânsito.

Uma observação: a máquina não é transportada com o trado já montado.


> Não se pode começar a HCM sem que a ferragem esteja toda armada em obra.
Terminada a concretagem, já se inicia o processo de colocação da armadura que
deve estar na obra, senão não será possível inserir a armadura nem concluir
a estaca.

160
Vinicius Lorenzi


A locação das estacas, os piquetes de marcação, devem estar enterrados em
aproximadamente 50 cm de profundidade e colocado um material com cal ou
Areia, para encontrar os piquetes. Esse processo é feito para que os piquetes
não se percam com a movimentação do equipamento de grande porte.

Se a equipe não conseguir inserir a armadura, deve-se passar ao projetista/
calculista imediatamente a fim de que ele avalie a melhor solução técnica a ser
tomada. Essa estaca pode até ser eliminada em um caso como este.

O processo executivo da HCM deve ser muito rápido para que o concreto não dê
pega (tecnicamente inicie as reações químicas no concreto) e torne inexequível
a colocação da armadura.

Quadro 7.3 - Vantagens e desvantagens da metodologia.

Vantagens Desvantagens

Por produzir baixo ruído e vibrações, são indicadas em A logística para a execução da estaca hélice é grande.
áreas densamente ocupadas, não gerando patologias Há a necessidade do acompanhamento em tempo
nas obras vizinhas como a Estaca Franki por exemplo. integral de bomba de concreto, caminhões betoneira,
Tendo o concreto bombeado para o interior da além de equipamento para deslocamento da
retirada da estaca; exige grande planejamento.
perfuração durante a retirada do trado, as estacas
hélice trabalham abaixo do nível do lençol freático (é Entretanto, uma vez que a logística está perfeitamente
ajustada, planejada, a produtividade é muito grande e
a principal vantagem frente a soluções sem coesão na
torna-se uma solução interessante.
escavação como as estacas escavadas convencionais).
Limitação quanto ao comprimento das ferragens:
Dica! como a ferragem é adentrada posteriormente à
concretagem, há certa dificuldade na colocação de
Se não há água no subso
armaduras de aço com grandes comprimentos. Dessa
lo, talvez a HCM não seja a op
forma, o controle do slump do concreto é fundamental.
ção mais viável, tendo em vista

o maior custo de perfuração em Nos casos em que as ferragens são muito grandes (15
comparação com as outras solu -18 metros) e exigem concreto bastante fluido e com

ções de execução de fundações controle tecnológico, indica-se preferencialmente que a


como uma estaca escavada. obra possua um consultor especializado em concretos.

Alta produtividade quando comparada a soluções


cravadas: é possível fazer 15 a 20 estacas em média,
diariamente, desde que com a logística esteja Fique ligado!
adequada dentro da obra, com toda a equipe
Quem define o traço é a norma. Concreteiras
trabalhando e o equipamento sem apresentar falhas,
que não são sérias podem entregar concretos
para que tudo ocorra dentro do esperado.
com menor quantidade de cimento - mínimo
350 kg/m³ (e resistência)- e reduzir o custo do
concreto, sem os critérios mínimos.

161
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Utilizada em diversos tipos de solo (exceto perfuração. Há a necessidade de que o terreno esteja em perfeitas
em rocha).
condições, pois os equipamentos são de grande porte e
geram ações consideráveis no solo, que deve suportar
para garantir a estabilidade do equipamento.
Dica! Em casos em que a obra tenha vários patamares
de execução: trabalhar com taludes e platos para
Tendo uma camada em rocha
garantir a estabilidade, inclusive do centro de carga do
não é possível continuar com a hé
equipamento.
lice contínua, deve-se buscar outra
solução técnica, como estaca raiz. Capacidade de carga das estacas pode ser inferior a
outros sistemas disponíveis no mercado. Estaca raiz,
tubulão e estacão podem absorver maiores cargas. A
HCM é limitada quando ao diâmetro e à profundidade
Dados da execução da HCM, acoplados em um sistema

de armazenamento em nuvem, podem ser consultados


do equipamento, o que limita também as suas cargas
admissíveis.
anos depois.

Sistema via satélite, monitorado; garantia de boa

execução e segurança.

162
Vinicius Lorenzi

Checklist para Execução de Uma Fundação em Estaca Hélice Continua Monitorada

Passos já percorridos para o início de uma fundação em hélice:


Sondagem avaliada.

Projeto de fundações já foi desenvolvido.

Projeto estrutural já está compatibilizado.


Projeto arquitetônico definitivo.
Para iniciar a nossa fundação em hélice:

Entender o equipamento que irá para a sua obra:
O equipamento atende as condições de projeto?
.

Atende aos diâmetros de projeto?


Atende as profundidades necessárias?
Torque mínimo necessário?

A manutenção preventiva desse equipamento foi realizada?

Se não há PREVENTIVA, a chance de termos CORRETIVA na obra é muito grande!

Manutenções corretivas normalmente geram atrasos em obra!


Como que está o contrato com a empresa?
.

Como será cobrado pelo serviço?

Por metro (linear) por diâmetro ou preço fechado na obra?


.

Hora parada?

Diária mínima do equipamento?


Cobra pela colocação da armadura?
.
Alojamento/alimentação equipe?
Custos extras?

Custo de mobilização do equipamento?

Exemplo de obra com preço fechado

35 estacas 300 mm - 600 mx R$ 40,00/m = R$ 24.000,00

45 estacas 400 mm - 800 m x R$ 50,00/m= R$ 40.00000

Taxa de mobilização do equipamento = R$ 20.000,00

Preço fechado para execução R$ 84.000,00

➤ Vamos para a obra!

Armaduras já estão devidamente armadas?

Obra está locada?

Antes de iniciar, eu indico uma verificação por parte do engenheiro responsável acerca da

locação da obra!

163
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Obs.: locação de obra se faz pelo projeto estrutural!

Contratação da concreteira que fornecerá o elemento concreto!


.
Passar para a concreteira as especificações do concreto, após questionar se a empresa já
executou concreto de hélice:

.
30 mpa;

400 kg cimento por m³;

slump 22 +3;

estimativa básica de consumo de concreto diário (fornecido pela empresa executora


da fundação);

equipamento bomba deve permanecer na obra integralmente.


Gargalo da alta produtividade da hélice: concreto.

➤ Qual é o principal problema de um concreto ruim entregue na obra?


.
Não descida da armadura!

.
Entupimento de mangote!

.
Erros em resistência finais (28 dias) do concreto!

▸ Contratação do equipamento auxiliar.

Retro:
.
Miniescavadeira;

.
Escavadeira hidráulica;

Pá carregadeira;

.
Ou... 8 serventes! Não dá, não é?

Hora de descarregar o equipamento em obra!


> Como está o acesso à sua obra?

.
Rampas de acesso.

Fiação de energia.

Descarregamento da máquina - da prancha - está muito distante do acesso da obra?


.
Horário do descarregamento.

Contate a empresa executora anteriormente! Peça para que vá à obra verificar o acesso!
➤ Contratação de empresa de controle tecnológico
.
Contra prova da concreteira.

7.4 Estaca hélice monitorada com trado segmentado


No caso da segmentada, ao invés do trado ser contínuo, há segmentos menores de
trados. São produzidas com menor equipamento e utilizada em obras de menor porte.

164
Vinicius Lorenzi

Definição da norma:

É uma estaca de concreto moldada in loco, executada mediante a introdução


no terreno, por rotação, segmentos de trado helicoidal de diâmetro constante.
A injeção de concreto é feita pela haste central do trado simultaneamente à
sua retirada. A armadura é sempre colocada após a concretagem da estaca.

A hélice segmentada difere da HCM quanto aos valores de torque tendo em vista
que estes devem ser compatíveis com o peso reduzido do equipamento, com mínimo
de 30 kN.m. Os diâmetros das estacas hélice monitorada com trado segmentado são:
250 mm, 300 mm, 350 mm, 400 mm e 500 mm.

Quanto à perfuração, segue o mesmo rigor quanto ao nivelamento e posicionamento.


Contudo, há pequenas distinções na execução:

insere-se um segmento de trado no solo (geralmente medindo 4,5 metros ou


6 metros de comprimento);

desacopla-se a mesa rotativa do trado já inserido no terreno; acopla-se um
novo segmento de trado;

acopla-se a mesa rotativa no topo desse novo segmento de trado. Há repetição
desse processo até a ponta do trado atingir a cota prevista de projeto. Não é
admitido o uso de prolongador.
Na concretagem, a retirada do trado é feita em etapas, cuidando para que se man
tenha a pressão positiva do concreto:

retira-se um segmento de trado do solo, bombeando concreto concomitante
mente; para-se a concretagem;

levanta-se o trado suficientemente para que o concreto de dentro da haste
desça e esvazie apenas o segmento de trado a ser retirado, confirmando que
o trado imediatamente inferior está totalmente preenchido de concreto;

desacopla-se o cabeçote de injeção;

▶ desacopla-se o segmento de trado; acopla-se o cabeçote de injeção no trado


ainda inserido do terreno. Repete-se o processo até a retirada de todos os
segmentos de trado e a concretagem da estaca até a superfície do terreno.

A colocação da armadura segue o mesmo padrão da HCM, já discutido anteriormente,


e a sequência executiva também, não se devendo executar estacas com espaçamento
menor que cinco diâmetros em intervalo inferior a 12 horas, considerando a estaca de
maior diâmetro.

165
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

FOUNDATION EQUIPMEN

Figura 7.22-Equipamento de estaca segmentada da fabricante CZM Foundation Equipament..

7.5 Estaca hélice de deslocamento (estaca ômega)


Essa tipologia é pouco utilizada no Brasil. Como o sistema foi patenteado e pouco
expandido, não se tornou muito popular.

No País, outras técnicas são mais recorrentes, embora possua uma metodologia exe
cutiva interessante. São encontradas pouquíssimas máquinas no País, não representando
a maioria dos processos, que é em HCM.

Nessa estaca, não se faz a retirada do cavaç cavar, faz-se uma


compactação e, à medida que se escava, o solo ao redor é compactado (isto é, o solo
passa a tornar-se muito mais rígido em suas camadas) e é reduzido o número de vazios.

166
Vinicius Lorenzi

neheld

FAY A
me

b)

Figura 7.23 - Ilustração do funcionamento da estaca ómega.

167
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Veja a definição da norma:

É uma estaca de deslocamento, de concreto moldado in loco, mediante a in


trodução no terreno, por rotação, de um trado com características tais que
ocasionem um deslocamento do solo junto ao fuste e à ponta, não havendo

retirada de solo. A injeção de concreto é feita pelo interior do tubo central.


(ABNT NBR 6122:2019)

Nessa estaca, há grande resistência desenvolvida durante a perfuração. Logo, o


equipamento precisa de um torque compatível com o diâmetro da estacas e características
do terreno, sendo, por norma, de no mínimo de 200 kN.m. Os diâmetros da estaca de
deslocamento vão de 310 mm a 610 mm.

A perfuração e a concretagem seguem a mesma padronização da HCM, assim como


o controle tecnológico do concreto.

Quanto à colocação da armadura, a estaca hélice de deslocamento possibilita que a


armadura seja inserida pelo tubo central do trado antes da concretagem e, nessa situação,
a tampa metálica será perdida.

Reflita!

Você é responsável técnico por uma área edificação de


6 pavimentos.

Você contratou bons projetistas, compatibilizou projetos, investiu


para que sua obra tivesse o mínimo de retrabalhos, gerando melhor
resultado. Mas essa não é a sua única obra...

Na etapa de execução da fundação, você delegou a tarefa a uma


pessoa com experiência para controlar o processo - obra em estacas
hélice contínua.

A obra foi rápida (apenas 10 dias de trabalho), serviço finalizado,


equipamento desmobilizado. Começa, então, a etapa de arrasamento
das estacas.

Você começa a escavação e depara-se com inúmeras situações


como essa: estacas e armaduras fora de prumo, descentralizadas.
O erro? Bem, os erros são: falta de acompanhamento adequado
na execução, erros de topografia na locação das estacas, falta de espa
çador, erro na inserção da armadura, até na escolha do aço...

Mas agora eu pergunto: o que você faria, como responsável


técnico, nesse momento da obra?

Convido você a visitar meu perfil no Instagram


@fundacoessemcomplicacoes e contar quais soluções você adotaria.

168
QUER APRENDER A
PROJETAR?

TREINE.

QUER APRENDER A FECHAR


MAIS OBRAS?

TREINE.

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EM UM SOFTWARE?

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SUCESSO É SINÔNIMO DE
TREINO.

TREINO É FAZER 2 MIL


VEZES 2 COISAS
EM500

E NÃO 2 MIL COISAS 2


VEZES.
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

7.6 Estaca raiz

Estacas escavadas são utilizadas quando não temos água na escavação. Estaca hélice
é interessante, pois ultrapassa o nível do lençol freático. Mas e a estaca raiz? Por que usar
um tipo de fundação cujos valores unitários de escavação são elevados?
A estaca raiz é um processo de execução muito interessante e muito apropriado
quando temos que ultrapassar perfis rochosos, como matacões, alterações de rocha ou
rochas fraturadas (ou, ainda, uma rocha sã), para apoiar/engastar a fundação.
Veja a definição da ABNT NBR 6122:2019):

A estaca raiz é uma estaca moldada in loco, em que a perfuração é revestida


integralmente, em solo, por meio de segmentos de tubos metálicos (revesti
mento) de 1,0 m a 1,5 m, que vão sendo rosqueados à medida que a perfuração
é executada. O revestimento é recuperado. A estaca raiz é armada em todo o
seu comprimento e a perfuração é preenchida por uma argamassa de cimento
e areia.

Geralmente usamos estaca raiz quando as condições do terreno não estão aptas
a utilização de metodologias convencionais e quando outras soluções não atendem ao
problema, inclusive em limitação de altura, visto que esses equipamentos normalmente
são de porte menor.

Historicamente, essa estaca "nasceu" com o nome de microestaca injetada. Inicial


mente, eram utilizadas máquinas de pequeno porte para injeção de argamassa. Observa-se
uma evolução do processo ao longo do tempo.

Aestaca raiz tem a vantagem de perfurar tanto o solo quanto a rocha. Na etapa de
solo, trabalha-se na perfuração com revestimento. Basicamente, temos a perfuração com
injeção de água e/ou tricone.

Já na etapa em rocha, é utilizado o martelo de fundo, com uso de golpes pneumá


ticos (golpes de ar no conjunto martelo + bits) e isso faz com que se consiga avançar na
perfuração.

Após a perfuração, a armadura (que deve ser integral) é inserida e sequencialmente


ocorre a injeção da argamassa sob alta pressão, havendo um "enraizamento" dessa arga
massa nos veios da rocha, o que leva a uma grande qualidade.

Enraizamento da argamassa! É daí que vem o termo estaca raiz.

Por que não se usa concreto? Porque a brita impediria que a mistura avançasse em
fraturas, alterações de rochas etc.

170
Vinicius Lorenzi

7.6.1 Processo executivo prático


1. Perfuração - parte em solo

Figura 7.24 - Equipamento de estaca raiz.



Perfurar camada de solo com uso do revestimento. O revestimento só é remo
vido durante a injeção da argamassa.

O revestimento é fundamental em função do nível de água, para não gerar
desbarrancamento, para o momento da perfuração com martelo de fundo e
para a vibração não causar o desmoronamento das paredes.

Também é fundamental o revestimento para ultrapassar camadas sem
estabilidade.

Observação: o uso do revestimento é obrigatório nas camadas de solo.



A rotação é imposta com perfuratriz rotativa ou rotopercussiva ao revestimento.

A perfuratriz desce com o uso de circulação direta de água injetada com pressão
pelo seu interior.


Polímero pode ser adicionado, principalmente em casos em que o avanço do
revestimento é complexo e não há estabilidade na perfuração.

Características da água usada na perfuração:
>>>
limpa, podendo ser utilizada água de reúso, inclusive água reciclada
proveniente da perfuração;

pH da água entre 7 e 11 (aparelho: medidor de pH);

densidade menor que 1,05 g/cm³ (aparelho: densimetro);

teor de areia menor que 3% (aparelho: baroid sand content ou similar).

171
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS


Para estacas de diâmetro acabado iguais ou inferiores a 250 mm, a bomba
deve ter em sua curva características mínimas de vazão de 15 m³/h a pressão
de 120 mca.

Para diâmetros acabados iguais ou superiores a 310 mm, a bomba deve ter em
sua curva características mínimas de vazão de 25 m³/h a pressão de 150 mca.
▸ Em solos muito duros ou muito compactos, o uso do tricone é indicado dentro
do revestimento.

Diâmetro nominal é o diâmetro acabado do trecho em solo. É esse valor que


serve como designação para projeto de fundação.

Os diâmetros externos, em milímetros, dos tubos de revestimento utilizados na


perfuração para obtenção dos diâmetros nominais:

Diâmetro nominal
mm 150 160 200 250 310 400 450
da estaca

Diâmetro mínimo externo


mm 127 141 168 220 273 355 406
do tudo de revestimento

Tabela 7.3-Diâmetros nominais e diámetros dos revestimentos.

Como a injeção de argamassa na estaca raiz provoca uma grande pressão, o diâmetro
mínimo do revestimento externo é inferior ao diâmetro nominal da estaca, pois há uma
tendência de que, com a pressão de injeção, essa estaca sofra aumento da sua seção.
O procedimento deve ser repetido até encontrar matacão ou topo rochoso. Em se
quência, a perfuração continua só que por dentro do revestimento utilizando o conjunto
martelo/bits que permita a perfuração na rocha.

2. Perfuração - parte da rocha (matacões ou embutimento em rocha)


Para triturar a rocha, é utilizado o conjunto martelo e bits, além do compressor de
ar de alta (diâmetros acima de 310 mm) ou baixa pressão (diâmetros abaixo de 310 mm).

Figura 7.25 - Conjunto martelo e bits de perfuração.

172
Vinicius Lorenzi

Os bits são usados com os martelos para a perfuração de diferentes tipos de solos e
rochas. Existem diversos tamanhos e tipos de bits, que variam de acordo com o diâmetro
do furo desejado e, também, do tipo de solo/rocha encontrado.

Ao chegar na rocha, bate-se martelo e bits na rocha e tritura-se a rocha, com um


compressor de ar em linha, para avançar na perfuração da estaca raiz.

Essa solução de perfuração de fundação pode gerar uma quantidade grande de lama
em obra, pela sua perfuração com circulação com água. Por isso, é importante destinar uma
área específica da obra para jogar essa lama e, assim, organizar a obra. Essa vala pode ser
criada e ali você terá a sedimentação do material, podendo reutilizar a água da perfuração.

Ao atravessar o matacão ou embutir a estaca na rocha, é usual que ocorra redução


do diâmetro da estaca, e isso deve estar previsto no dimensionamento. A Tabela 7.4 indica
os diâmetros desse tipo de fundação.

BUNDER

Figura 7.26 - Lama em obra.

Tabela 7.4 - Diâmetros da estaca raiz.

Solo Rocha
Mínimo externo
Bits Interno do tubo
Nominal da do tubo

mm
estaca Polegadas

14" 355,6 406 381


450

12" 304,8 355 330


400

83/4" 222,3 273 248


310

63/4" 171,5 220 195


250

43/4" 120,7 168 146


200

173
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

3. Colocação da ferragem


Depois de perfurar e antes de injetar a argamassa, o furo deve ser limpo
com a composição de lavagem e, depois, a armadura deve ser colocada
até a cota de apoio (fundo do furo).
▸ A armadura pode ser montada em feixe ou gaiola.

Após preparada, a armadura deve: colocada integralmente na estaca

independentemente de sua extensão (por exemplo: 50 metros de estaca,


50 metros de armadura), conforme a Tabela 4 da norma.

> Essa estaca possui altíssima capacidade de carga em relação ao seu


diâmetro e é uma estaca esbelta: geralmente de diâmetros relativamen
te pequenos (por exemplo: 30 cm) com profundidades altas e cargas
elevadas.


Combate-se as consequências de uma grande esbeltez com a armadura
integral na estaca.

4. Argamassa

▶ Preenchimento da estaca

A norma recomenda que seja com argamassa com Fck ≥ 20 MPa e deve satisfazer
as seguintes exigências:

a) consumo de cimento igual ou superior a 600 kg/m³;

b) fator água/cimento entre 0,5 e 0,6;

c) agregado: areia.

▸ A mistura pode ser in loco, na obra; geralmente é feito in loco no misturador,


pois os volumes de concretagem costumam ser menores.

>>> Em alguns casos, em que há um número maior de máquinas em obra,


passa a justificar o uso de argamassa usinada. Nesses casos, é possível
trabalhar inclusive com argamassas de maior resistência, como 30 Mpa.
▸ O uso de misturadores, no caso das misturas realizadas em obra, é recomen
dado. A argamassa é lançada para a bomba de injeção, que faz o processo de
injeção por meio dos mangotes no fundo da estaca.
▶ A injeção é realizada no sentido ascendente (de baixo para cima) com o objetivo
de retirar completamente a água que estava no interior do revestimento; a
argamassa mais densa que a água faz com que os materiais excedentes sejam
retirados no topo da estaca.

>>> Não se recomenda parar a injeção na cota de arrasamento da estaca,


pois, dessa forma, não se terá a garantia da qualidade do material. A
injeção deve sempre ir até a cota do terreno e sua qualidade deve ser
verificada pelo responsável da injeção.

174
Vinicius Lorenzi


Deve ser retirado corpo de prova com argamassa da mangueira de injeção, na
boca da estaca que está sendo executada, para posteriormente ser ensaiada.

Não se recomenda a retirada de argamassa de misturadores, nem argamassas


de início de injeção da mangueira de injeção, nem argamassas retiradas do
transbordamento de injeção de uma estaca, sob pena de se obter resultados
de resistência não representativos da argamassa utilizada. Retirar quatro cor
pos de prova a cada cinco estacas, sendo ensaiados à compressão simples aos
7 e 28 dias. (ABNT NBR 6122:2019)

Quando o furo é completamente preenchido, o revestimento pode ser sacado. É ideal


que, em trechos de no máximo 1,5 metro de tubo de revestimento retirado, seja verificado
o nível de argamassa e, se necessário, que seja preenchido.

7.6.2 Como saber se está perfurando a rocha sã?


Essa técnica de perfuração de estacas não é monitorada como uma HCM a ponto
de eu avaliar a dificuldade de avanço (torque) ou uma avaliação do tipo de material que
está sendo perfurado.

Na maioria das vezes, é a experiência do operador que entenderá o material que


está sendo escavado.

Exemplo:

Na perfuração de rochas basálticas, é possível ver um pó branco saindo da estaca. E


o que isso significa? Que se atingiu a rocha em um estado menos fraturado, mais próximo
da rocha sã, com resistências e capacidades de suporte maiores.
O espaçamento para perfuração dessas estacas não pode ser inferior a cinco diâme
tros e o intervalo de, no mínimo, 12 horas, isso considerando a estaca de maior diâmetro.
Sempre que você for ligar a estaca com o bloco de coroamento, é preciso conferir
a cota de arrasamento e o comprimento das esperas (arranques). Tudo isso deve estar
especificado no projeto.

Boletim de controle de execução

a) identificações gerais: obra, local, nome do operador, executor, contratante:


b) características dos equipamentos de perfuração e injeção;
c) identificação da estaca: diâmetro, nome ou número conforme projeto de
fundação;

d) data e horário de início e fim da execução da estaca;

data e horário de início e fi injeção da argamassa;


f) diâmetro do revestimento e nominal da estaca executada;

g) cota do terreno na posição da estaca;

h) comprimento executado da estaca;

175
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

i) comprimento injetado da estaca;


j) desaprumo e desvio de locação (se houver)
k) consumo de materiais (armadura e argamassa) por estaca:

1) pressão aplicada sobre a argamassa;


m) observações relevantes;
n) nome e assinatura do executor;

o) nome e assinatura da fiscalização e do contratante.

(es

Caso - prova de carga estática em estaca raiz

Certa vez, fiz uma PCE em uma estaca raiz de 200 mm de diâmetro, com apenas
2 metros de embutimento em rocha. O trecho em solo era curto, em torno de 3 metros,
ou seja, era uma estaca com 5 metros de profundidade.

Figura 7.27-Local da execução da PCE

O projeto da fundação não era meu, mas a execução era. E, naquela oportunidade, eu
acreditava que as cargas indicadas no projeto eram "arrojadas". Até por isso o ensaio
foi muito bem-vindo para provar as cargas indicadas.

A carga de trabalho naquela oportunidade foi de 50 toneladas para a estaca. Em estaca


raiz, é muito comum o uso da carga estrutural nas fundações, uma vez que ela se apoia
em uma base rochosa (veremos isso no capítulo sobre projeto de fundações).

176
Vinicius Lorenzi

O resultado foi impecável: a estaca rompeu estruturalmente com 100 toneladas! O dobro
da carga de trabalho. Foi muito "emocionante" aquele ensaio!

É sério! Cem toneladas equivalem a carga de 3 máquinas de HCM de grande porte em


cima de uma estaca de 200 mm com 5 metros.

Isso mostra que essa estaca possui uma ótima relação carga x diâmetro quando com
parada às outras. Se fosse uma estaca escavada de 200 mm, apoiada em solo com

5 metros (pois é um tipo de fundação no qual você não consegue embutir o elemento
em rocha), não garantiria mais do que 20 toneladas de carga de trabalho.

es

Caso - Grande profundidade estaca raiz


Qual é o limite de profundidade de uma estaca raiz? Na realidade, o sistema faz uso
de hastes, normalmente de 1 ou 3 metros de comprimento. Com isso, é possível fazer
estacas em grandes profundidades.

Certa vez, fui contratado para executar umas estacas de 40 metros de profundidade no
diâmetro de 410 mm em uma barragem. Parecia insana aquela profundidade.

Após a Sondagem Rotativa, encontrou-se a profundidade da rocha, que estava em


torno de 20 metros! Uau, mas 20 metros em rocha?! Qual é a razão!

Era um pilar geodésico, que precisava ser muito preciso e não podia sofrer quaisquer
recalques.

Em grandes profundidades, o maior problema desse tipo de perfuração é com relação


à limpeza dos detritos rochosos que ficam na perfuração, pois o jato de ar para limpar
a estaca precisa ser muito forte para gerar a limpeza.

Acabamos por colocar 2 compressores de ar em linha para a execução da atividade,


o que solucionou o problema. Foi uma obra pequena, de apenas 4 estacas, mas que
representou um grande desafio.

177
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Quadro 7.4-Vantagens e desvantagens da estaca raiz.

Vantagens Desvantagens

As estacas raiz suportam grandes cargas . Alto custo de perfuração das estacas; o maior custo dessa estaca
de compressão e de tração em relação ao está na perfuração. Mas não necessariamente esse tipo de estaca
diâmetro. tem o maior custo global de uma fundação.
Não possuem restrições quanto à Exemplo

profundidade. Pilar com uma carga de 200 toneladas.


São executadas tanto em solo quanto Tomando como base a carga estrutural de uma estaca raiz, uma
em rocha; nas camadas de solo, é obri estaca de 300 mm absorve 100 toneladas.
gatória a utilização de revestimento para Vamos supor que eu conseguisse solucionar em estacas escava
que a concretagem da estaca seja feita das: uma estaca de 800 mm absorveria as mesmas 100 toneladas
sem desmoronamento do fuste. O uso (estimando uma capacidade de carga).
de revestimento permite que a mesma Se fosse uma fundação em HCM: uma estaca de 600 mm ab
seja executada abaixo do nível do lençol sorveria as 100 toneladas (estimando também uma capacidade
freático. de carga).

Podem ser executadas estacas inclinadas Nesses 3 casos, eu teria 2 estacas no meu bloco de coroamento,
(muito comum em obras de viadutos e entretanto, na estaca raiz, esse bloco seria muito menor (2 de
pontes); isso faz com que esse tipo de 300mm).

equipamento trabalhe tranquilamente. Alto consumo de cimento e aço (devem ser armadas integral
em terrenos acidentados. mente no seu comprimento); consumo de cimento: 600 kg/m3
Boas soluções para reforço de fundações, de argamassa.

. A logística deve ser eficiente. Compressores de ar, bombas de in


pois equipamentos
exemplo
: máquinas
por
de de
menor
3 porte
metros
)(podem jeção, misturadores de argamassa devem estar presentes durante
chegar a lugares de difícil acesso/aciden a execução, além de estar com ferragens prontas.
tados. Um equipamento desse conse- . Quando perfuradas em rocha, o volume de poeira pode ser gran
gue, por exemplo, entrar dentro de um de e deve ser controlado para não afetar a saúde dos trabalhado
local com pé direito limitado, como uma res e da vizinhança.

garagem. Processo de execução extremamente complexo devido ao uso de


ar comprimido de alta ou baixa pressão. Avaliação quanto a pres
são de injeção da argamassa, pois seu valor é variável importante
no cálculo da capacidade de carga.

Fique ligado!

A composição de custo de uma fundação não pode ser realizada apenas levando em
consideração o custo da perfuração. Precisa ser avaliado o volume de concreto, a questão
dos blocos, a quantidade de aço utilizada, entre outros. A análise precisa ser global!

178
Vinicius Lorenzi

Caso - Orçamento de obra

Fui a uma reunião que era para fechar um contrato de execução de fundação para uma
edificação com pouco mais de 20 pavimentos.
Naquela oportunidade, eu havia proposto uma solução de fundação mista, na qual as
fundações da torre seriam em estaca raiz e do embasamento, em estacas hélice.
Havíamos feito várias simulações geométricas das possíveis soluções de fundação da
torre, mas não chegamos, naquela etapa, a calcular todos os custos envolvidos com os
blocos de coroamento. Isso acontece pois o cálculo do bloco de coroamento não era
feito pelo nosso escritório, então, eu não conseguia ter precisão dos resultados para
gerar uma planilha de custos.

Quando cheguei à reunião, estava confiante de que a minha solução era totalmente
viável. O gestor do contrato (que não era engenheiro, mas, sim, administrador) con
vidou o projetista dos blocos para participar da reunião e, assim que eu apresentei
meus resultados, ele pegou a HP 12C dele e começou a fazer contas com o calculista.
Ele só me olhava e falava: Não acredito que essa solução é a mais econômica!
De fato, ele tinha uma solução alternativa, cujo custo de perfuração das estacas era
realmente bem menor do que a minha solução.
E eu ali, sem demonstrar, estava suando frio, pois naquele momento nem eu tinha
certeza mais!

Conta de escavação, de armação, de concreto, de equipe, de rompedor... Enfim, ficaram


mais de 30 minutos analisando e questionando todas as etapas, até que eu vi no papel
dele os dois números.

Um era da solução alternativa à minha: R$ 1,4 milhão

O outro, a minha solução: R$ 1,180 milhão

Aliviado, olhei para ele firme e disse: "Meu papel como projetista é sempre encontrar
a melhor solução para a sua obra!"

Só recebi um belíssimo aperto de mãos e uma frase:

- Negócio fechado!

7.7 Estaca raiz inclinada

- Quando eu uso esse tipo de estaca, Vinicius?

Quando há esforços horizontais muito grandes na estaca. Isso é comum em pontes;

dependendo dos pontos de apoio e sua posição, há grandes esforços horizontais devido
à carga dinâmica.

179
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

A transferência dos esforços atinge as estacas que, por sua vez, devem equilibrar o
esforço horizontal. Nesse tipo de caso, essa solução inclinada é interessante.

INCAY

Figura 7.28-Estacas raiz inclinadas em obra de viaduto..

7.7.1 Análise - fundação de uma ponte

Vamos analisar a solução de fundação para uma ponte que, por definição é um
elemento estrutural que atravessa curso d'água. Essa é realmente uma curiosidade muito
grande das pessoas. Muitos me questionaram isso nessa longa caminhada na área de
fundações.

- Vinicius, como é que faz fundações em um rio?

No método PPE: Planejamento - Projeto - Execução.

É importante sempre entendermos a necessidade de planejamento do projeto, para


qualquer tipo de obra.

180
Vinicius Lorenzi

O trabalho começa com o planejamento, ou seja, o anteprojeto, que é o resultado


das primeiras análises. A segunda etapa é o projeto propriamente dito e suas concepções.
E a terceira, a execução da fundação.

Na concepção estrutural, são realizadas as definições de soluções. Nessa etapa,


buscam-se alternativas menos onerosas e mais resolutivas. E é importante que haja uma
boa parceria entre estrutura/fundação para chegar à solução com melhor custo-benefício,
além de segura.

Em todo tipo de fundações, além da sondagem, devem ser avaliados os projetos


básicos: arquitetônico, estrutural, planialtimétrico.

No caso de pontes, como geralmente nos deparamos com muito material rochoso,
alterado, indicamos sondagem mista. E é bem interessante a gente pensar, desde o início,
como é que se desenvolve um projeto de uma fundação de leito de rio.

Para dimensionar a fundação dessa ponte, o primeiro item muito importante é a


sondagem desse local. E aí, existe sondagem dentro de rio?
Se tiver, obviamente terá complexidade...

As sondagens que executamos dentro de rio são feitas com balsa, desde a sonda
gem SPT até a execução de Sondagem Rotativa, necessária quando a gente vai avaliar o
material rochoso do local.

O procedimento pode ser feito nas margens, mas, nesse caso, é importante entender
onde os pilares da ponte se encontram. Recomenda-se a execução de uma sondagem por
apoio de ponte.

Uma vez sondada a obra, temos algumas possibilidades de escolha de fundação


no leito de rio.

Destacarei aqui possíveis soluções para pontes - lembrando que estamos avaliando
o PPE e ainda estamos na primeira fase, o planejamento.
1. Tubulão a ar comprimido

Em desuso. Esse tipo de solução foi utilizado em pontes por muitos anos em
todo o país, entretanto, a NR-18 tornará esse tipo de fundação proibida no
Brasil, dado seu alto risco.

▶ Devido aos riscos desse tipo de solução e as exigências da norma regulamen


tadora, o custo ficou absolutamente elevado.

▶ Do ponto de vista da qualidade final, sem dúvidas, esse tipo de solução de


fundação para uma ponte é interessante, mas sua forma de execução acabou
tornando inviável essa solução.

▶ Sua maior vantagem é que torna possível apenas uma fundação por pilar,
eliminando blocos de coroamento.

Solução não atende.

181
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

2. Estaca hélice contínua



A solução em si é interessante somente nos casos em que não há a ocor
rência de material rochoso, o que é muito comum nesse tipo de obra. Caso
sua solução seja adotada, pode haver grandes variações de solo e não se ter
profundidades úteis.
▶ Outra dificuldade é com relação a armação. Estacas hélice possuem limita
ção quanto ao comprimento da armadura e, nesse tipo de fundação, há uma
tendência para que os esforços horizontais sejam elevados, indicando uma
armadura integral.
▸ No caso de estacas no leito do rio, grandes equipamentos, como os de hélice,
precisariam de uma estrutura muito rígida. A balsa precisaria de um travamento
tamanho, que tornaria o processo muito complexo.
▶ A concretagem de uma HCM não seria possível no leito do rio.
Solução não atende.

3. Estacão com Wirth

➤ O uso dos grandes equipamentos perfuratriz tipo Wirth só se justifica em


grandes pontes, principalmente naquelas onde a fundação é executada no
leito do Rio.

▶ Vantagem de atravessar a camada rochosa com grandes diâmetros, o que


normalmente gera apenas uma fundação por pilar, eliminando blocos de co
roamento, facilitando essa etapa.

▶ Por ter tubos de revestimentos, torna-se possível a execução no leito do rio.


▶ No caso de fundações nas margens dos rios, talvez esse tipo de solução não
se justifique, uma vez que outras alternativas podem ser mais econômicas.
Solução atende em grandes pontes.

4. Estaca raiz

▶ Atravessa o material rochoso com diâmetros máximos de 500 mm - o que


indica a necessidade de um bloco de coroamento de estacas.
▶ Equipamentos leves indicam a facilidade de locomoção dentro da obra com a
possibilidade de execução das fundações em terrenos acidentados; caso haja
a necessidade de balsas, essas têm menores dimensões do que as de outros
equipamentos, dado seu menor peso operacional.
> Diâmetros menores normalmente geram volumes de concreto menores também.
▶ O fato de a estaca ser revestida torna possível essa execução em leito de rio,
deixando o revestimento perdido na lâmina d'água.

▶ Possibilidade de execução de estacas inclinadas.old obrnimile

Solução atende em pontes de diversos tamanhos. obrate

182
Vinicius Lorenzi

Lembre-se que essa estaca é integralmente armada e absorve os esforços nas di


versas direções muito bem.

Concluímos a primeira fase do nosso PPE escolhendo, nesse caso, a solução de


fundação em estaca raiz para a ponte.
Na segunda fase, temos o projeto em si e partimos para a análise de cargas/esforços.
Geralmente, na prática, nesse tipo de obra, utilizamos como mínimo o bloco de 4 estacas
para melhor absorção de esforços em todas as direções. A compreensão do comportamento
deve ser quanto ao bloco em totalidade e não quanto à estaca isoladamente.
No dia a dia de projeto: a definição principal é entender o comportamento das cargas
fletoras atuando no bloco de coroamento e posteriormente sua transferência às estacas,
em termos de dissipação de esforços. Entender, a partir daí esforços de compressão e de
tração na estaca.

É muito importante que a linguagem de projeto seja facilitada para que todos os
profissionais compreendam bem. Nos meus projetos, sempre indico a profundidade mínima
em rocha sã para uma fundação em estaca raiz. A estaca deve efetivamente ser engastada
em material de alta resistência.

A estaca raiz possui maior variação de profundidade que nos outros tipos de fun
dação, por isso, o trecho em rocha deve ser indicado com clareza: cravar 4 metros em
rocha sã, por exemplo.

Como comentado, também podemos ter estaca raiz com estacas inclinadas (princi
palmente nas cabeceiras das pontes, por conta da irregularidade do terreno). A finalidade
disso é combater esforços horizontais Fx e Fy. Quanto maiores forem os esforços horizontais,
menor será a probabilidade de uma estaca vertical absorver todos esses esforços.
- Mas Vinicius, além das apresentadas, existe outra possibilidade?
Sim, afinal, fundação não é uma ciência exata. Deve ser analisada caso a caso. Posso,
por exemplo, cravar um perfil metálico. Na realidade, é uma ótima solução.
Descobrir qual é a melhor solução para sua obra vai depender de uma série de
variáveis, como custo, prazo, disponibilidade de equipamentos na região... e a gente tem
que avaliar o todo para definir o tipo de fundação.

Em obras de pontes, geralmente a concorrência se dá por licitação. Normalmente, a


empresa de fundação é terceirizada pela obra ganhadora do certame, enquanto executora
da fundação.

Após a análise, é definida a melhor tipologia de fundação para o projeto específico


em questão (levando em conta suas particularidades). A partir daí, após aprovado, po
de-se dar início à terceira parte do nosso PPE, que é a execução das estacas, conforme o
cronograma do cliente.

183
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Falando em execução, destaco alguns pontos chave:

>
acesso normalmente pouco adequado - a terraplanagem é necessária para
trazer o terreno a um patamar exequível;


a logística local da equipe e de equipamentos, normalmente em obras afastadas
de centros urbanos, deve ser bem planejada;

há a necessidade de avaliação da produtividade e estabelecimento claro do


cronograma, em termos de dias úteis;
> utilização do Diagrama de Gantt - etapa de fundação pode ser executada
conjuntamente com a execução de blocos (uma vez que a fundação do bloco
é finalizada). Outro exemplo é o levantamento de pilares de um lado da obra,
enquanto se faze as fundações da outra cabeceira.

Assim, concluímos o processo, desde a escolha da fundação até sua execução. Na Fi


gura 7.29, é apresentada uma fundação em estaca raiz executada com 2 equipamentos. Vale
observar que foi feita uma ensecadeira no local para evitar a necessidade do uso de balsa.

Figura 7.29-Fundação em estaca raiz para uma ponte. Crédito: Fungeo Fundações

7.7.2 Compressor de ar na estaca raiz

O uso do compressor de ar em uma fundação em estaca é item obrigatório quando


da perfuração em material de alta resistência, seja um matacão, uma rocha alterada ou
uma rocha să.

184
Vinicius Lorenzi

MY
*

Figura 7.30-Compressor de ar na estaca raiz.

A escolha desse compressor leva em consideração alguns fatores, como o diâmetro


da estaca, tipo de martelo e bits utilizado e profundidade das estacas.

Compressores maiores tendem a promover maior produtividade, ou seja, perfuraram


maiores metragens em rocha em menor tempo, e como tempo é dinheiro, tornam-se
grandes influenciadores de prazo em obra.

No Gráfico 7.5, é possível analisar a diferença de produtividade para uma estaca


raiz de 310 mm. A linha vermelha reflete o consumo de ar em pcm, a linha azul a taxa de
penetração do conjunto em material rochoso.

2000 pcm
60 m/h

56 m/h
1800 pcm

1801 pcm
50 m/h
1600 pcm

1400 pcm
40 m/h

1200 pcm

32 m/h

1000 pcm 30 m/h


26 m/h
989 pcm

800 pcm
812 pcm
20 m/h
16 m/h.
600 pcm

400 pcm
8 m/h
459 pcm 10 m/h

200 pcm
212 pcm

0 pcm 0 m/h

7,0 bar 10,0 bar 14,0 bar 16,0 bar 25,0 bar

175%

123% 215%

163% 200% 350%

200% 325% 400% 700%

Gráfico 7.5-Compressão x produtividade.

185
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Um compressor pequeno, por exemplo, de 10 bar por 400 pcm, produzirá algo em
torno de 16 metros de estaca por hora, enquanto um compressor de ar de 16 bar por 1.000
pcm produzirá 32 metros por hora.

É claro que esse gráfico é apenas genérico e há a necessidade de uma avaliação


do tipo de rocha, do tipo de martelo e bits utilizado e de diversos outros fatores. Ele serve
apenas para o entendimento que, quanto maior for seu compressor de ar, a tendência é
que melhor seja a produtividade da sua estaca.

7.7.3 Microestaca injetada


Apenas citando a norma de fundações acerca desse tipo de fundação, que é uma
derivação da estaca raiz para pequenos diâmetros:

A microestaca é uma estaca moldada in loco, executada através de perfuração


rotativa com tubos metálicos (revestimento) ou rotopercussiva por dentro dos
tubos, no caso de matacão ou rocha. Esta estaca é armada e injetada com cal
da de cimento ou argamassa, através de tubo "manchete", visando aumentar a
resistência do atrito lateral. Este tipo de estaca comporta duas variantes com
relação à armadura: na primeira delas introduz-se um tubo metálico com fun
ção estrutural, dotado de manchetes para a injeção e na segunda, a armadura
é constituída de barras (ou gaiola) e a injeção é feita através de um tubo de
PVC, também dotado de manchetes. (ABNT NBR 6122:2019)

7.8 Estacas metálicas, de madeira e pré-moldadas em


concreto

A esse grupo pertencem as estacas cravadas, que são aquelas que não são moldadas
in loco, mas já estão prontas para serem introduzidas no solo, podendo ser metálicas,
pré-moldadas em concreto ou em madeira (em menor proporção na atualidade).
De acordo com a ABNT NBR 6122:2019, a cravação de estacas pode ser feita por
percussão, por prensagem ou por vibração.

O equipamento mais comum usado para cravação dessas estacas é o bate-estaca.


Certamente, é uma das técnicas mais antigas de fundação não apenas no Brasil.

186
Vinicius Lorenzi

Fe

SCAC

Figura 7.31 - Bate-estacas em 1960. Fonte: Scac Engenharia.

* Fique ligado!

É muito comum a utilização do termo bate-estaca para designar quaisquer tipos de


equipamentos de fundação. Sem dúvida, é o termo mais difundido, mas nem todo
0636 equipamento de fundação se chama bate-estaca. Uma estaca escavada, por exemplo,
25 perfura o solo, não crava no solo, logo, é uma perfuratriz e não um bate-estaca.

O bate-estaca serve somente para cravar estacas já pré-fabricadas anteriormente à


etapa de cravação da fundação. O bate-estaca, convencional, de queda livre, é um equipa
mento que hoje pode ser considerado ultrapassado, mas que ainda perdura no país. Esse
equipamento faz a cravação das estacas por queda livre (golpes do martelo).
Alguns cuidados devem ser tomados no que tange às estacas cravadas, de modo
geral, antes, durante e após a execução. Deve-se escolher cuidadosamente o equipamento,
com dimensionamento correto, perfeita e periodicamente ajustado de modo que este
permita a cravação até a profundidade desejada sem que ocorra a "quebra" da estaca.

187
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Veja o que a norma diz, por exemplo, sobre o equipamento das estacas metálicas:
Quando a cravação for executada com martelo de queda livre, devem ser ob
servadas as seguintes condições:
a) peso do martelo igual ou superior a 10 kN;

b) peso do martelo igual ou superior a 30 kN para estacas com carga de traba


Iho entre 0,7 MN e 1,3 MN;

c) para estacas cuja carga de trabalho seja superior a 1,3 MN, a escolha do
sistema de cravação
deve ser previamente analisada.
No uso de martelos automáticos ou vibratórios, deve-se seguir as recomenda

ções dos fabricantes.


Além disso, a carga transmitida deve ser centrada. Conforme a norma, deve-se
verificar a nega e o repique em todas as estacas e elaborar o diagrama de cravação em
totalidade.

▶ Nega: durante o processo de cravação de uma estaca, ao atingir um material


impenetrável, como um solo de alta resistência, uma alteração de rocha, uma

rocha să etc., e não é mais possível avançar com a cravação da estaca, inicia-se
o processo de obtenção da NEGA", que basicamente é o deslocamento per
manente da estaca para 10 golpes do martelo com a mesma altura de queda.
Nesses 10 golpes consecutivos, caso a estaca não sofra recalques, diz-se que

ela atingiu a nega.

É importante observar se o comprimento da estaca é o comprimento previsto


em projeto, para que não se tenha uma "falsa nega". Caso haja alterações de
profundidade ou, ainda a quebra da estaca, o projetista precisa ser informado.
Repique: repique é a parcela elástica do deslocamento máximo de uma seção
da estaca, decorrente da aplicação de um golpe de pilão. A verificação do
repique é feita por meio de um gráfico traçado no final da cravação para os
últimos 10 golpes na estaca.

O gráfico é traçado em uma folha de papel colada na superfície da estaca com


um lápis que desliza horizontalmente sobre uma régua no momento da cravação,
medindo-se, assim, a cada golpe do martelo o deslocamento vertical da estaca.
Basicamente, o repique é quanto à estaca retorna após a aplicação do golpe.

Segundo a ABNT NBR 6122:2019, o emprego de martelos mais pesados e com menor
altura de queda possui maior eficiência do que o uso de martelos mais leves e com maior

altura.. Principalmente para maiores profundidades solicitadas em projeto ou solos mais


resistentes, é interessante usar martelos mais pesados.

Ao longo dos últimos anos, a solução de martelos de queda livre (Figura 7.32) vem
sendo substituída pelos martelos hidráulicos (Figura 7.33). Uma das grandes preocupações
com uso de cravação de estacas é com a vibração excessiva e geração de ruídos, a qual
pode afetar todo entorno acaba sendo aliviada por essa técnica.

188
Vinicius Lorenzi

No caso do martelo hidráulico, gera-se menores vibrações e é possível maior con


trole do estaqueamento. Além disso, tem reduzido a percentagem de quebra de peças, de
elementos, o que é uma preocupação real no caso das estacas cravadas. Principalmente
as peças de concreto são mais susceptíveis a quebra. Perfis de aço são menos susceptíveis
a esse tipo de intercorrência.

ESTAO

Figura 7.32-Martelo hidráulico da ESTAQ Sondagens e Figura 7.33-Bate-estaca de queda livre-movimentação

Fundações de Porto Alegre (RS). por rolo.

O método hidráulico tem gerado resultados melhores quanto à produtividade e


à redução de quebras de estacas, por exemplo. Enquanto na queda livre crava-se uma
média de 5 estacas por dia, no martelo hidráulico, essa média pode subir para 15 estacas/
dia. Equipamentos de queda livre antigos perdem muito tempo na movimentação entre
estacas, exceto se o equipamento estiver acoplado sobre esteiras.

Entretanto, há uma diferença muito significativa de custos entre as duas máqui


nas. Os equipamentos de queda livre são antigos e é possível comprar um por menos de
R$ 100 mil. Já um martelo hidráulico, com esteira e sistema, pode custar cerca de R$ 1,5
milhão.

189
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Por essa razão, ainda hoje, o número de equipamentos de queda livre é superior aos
martelos. Empresas que buscam adquirir uma máquina como essa devem ter uma grande
demanda por esse tipo de solução.
Além das duas soluções citadas de cravação de estacas, outro processo vem se

consolidando, que é o martelo vibratório (Figura 7.33), especificamente para as estacas


metálicas, estacas prancha metálicas, perfis, trilhos e tubos metálicos.

Figura 7.34-Martelo vibratório. Crédito: CZM Foundation Equipament.

O método de vibração é rápido e eficaz. Consiste em vencer o atrito lateral das


peças com o solo por meio da vibração. Ele produz baixíssimo ruído e, com isso, reduz
a possibilidade de as obras vizinhas serem danificadas, permitindo que essa operação
seja executada em centros urbanos, sem incômodos à vizinhança. Permite, ainda, que as
estacas prancha e/ou perfis sejam cravados bem próximos a outras estruturas existentes.

190
Vinicius Lorenzi

Assim como qualquer estaca, é fundamental que na cravação da primeira estaca da


obra o projetista e/ou consultor de fundações esteja presente para validar as condições
de projeto, nesse caso, tanto em função do comprimento da estaca, quanto da nega e do
repique da mesma.

Boletim de execução genérico das estacas cravadas

a) identificação: obra, local, nome do operador, executor, contratante:


b) características básicas do equipamento (com peso do martelo);
c) identificação da estaca: nome ou número conforme projeto de fundação;
d) identificação da seção da estaca (e fabricante/fornecedor)
e) data da cravação (ou recravação)
f) início e término de cravação:
g) cota do terreno na posição da estaca:
h) comprimento cravado da estaca (medida a partir da cota do terreno)
i) composição dos elementos utilizados (em ordem e da ponta para o topo)

j) diagrama de cravação da estaca, de metro em metro ou conforme especifi


cação de projeto. Indicar a altura de queda do martelo ou similar no caso de
outros tipos de equipamento;
k) negas e repiques de final de cravação ou de recravação com indicação
explícita da altura de queda utilizada, ou similar no caso de outros tipos de
equipamento;

1) observações relevantes: eventual pré-furo (tipo, diâmetro e profundidade),


eventual suplemento
(características e comprimento cravado com uso da peça), eventual efeito da
cravação em estacas

e estruturas próximas (levantamento, trincas), eventual desaprumo, desvio ou


torção na cravação;
m) nome e assinatura do executor;

n) nome e assinatura da fiscalização e do contratante.


Voltando aos tipos de estacas que temos nesse processo, vamos abordar separada
mente os três tipos de estacas citadas, para melhor compreensão.

7.8.1 Estacas metálicas

Quando falamos sobre estacas de aço, pensamos em perfis, que podem ser lamina
dos ou soldados (de forma isolada ou associada) nos tubos e nos trilhos (que, inclusive,
historicamente são reaproveitados de ferrovias).

Veja a definição da norma de fundações:

Elemento estrutural produzido industrialmente, podendo ser constituido por


perfis laminados ou soldados, simples ou múltiplos, tubos de chapa dobrada
ou calandrada, tubos (com ou sem costura) e trilhos.

191
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Quanto à escolha do equipamento, esta deve ser feita de acordo com o tipo de es
taca, dimensão da estaca, características do solo, condições de vizinhança, características
do projeto e peculiaridades do local, como a própria regionalidade e disponibilidade de
equipamentos.

- Mas o que isso tem a ver?

Tudo! Tenha algo em mente: toda vez que um processo executivo gerar grandes
impactos e vibrações, ele deve ser avaliado com cautela. Você precisa entender como é
sua vizinhança, os tipos de obras ali presentes, se não há nenhuma em condição precária
ou, ainda, algum monumento público.

Quanto aos materiais, quais aços são mais comuns no país para esse fim? Geralmente,
aços ASTM A36 (tensão de escoamento 250 MPa), A572 Grau 50 (tensão de escoamento
345 MPa) e aços com resistência à corrosão atmosférica (tipo SAC ou CORTEN).

É preciso destacar que o projetista deve definir o aço a ser utilizado em projeto e, se
necessárias emendas e outros procedimentos de soldagem especiais, devem ser detalhados.
A cravação de uma estaca metálica pode ser realizada em diversos tipos de solos,
para diferentes cargas admissíveis. Para alguns casos, podemos citar como uma solução
interessante:

▶ Alteração de rocha: nesses casos, estacas de concreto sofrem mais perdas por
quebras, o que não ocorre na estaca metálica.
▶ Solos sedimentar: onde a estaca precisa ultrapassar horizontes de argila dura
ou materiais de alta resistência.

▶ Solos com resistências muito baixas ou solos orgânicos: onde soluções como
a HCM provocam grandes sobreconsumos de concreto. Essa solução resulta
em racionalização de material.

192
Vinicius Lorenzi

Quadro 7.6 - Vantagens e desvantagens da solução.

Vantagens Desvantagens

Seção transversal com vários formatos e


Alta nos valores do aço nos últimos anos,
dimensões, gerando várias possibilidades,
principalmente no período da pandemia de
conforme especificidade da obra (das dis
Covid-19.
posições construtivas e cargas).
Alto custo do material quando comparado
Esbeltez dos perfis e leveza pela carga rela
a estacas pré-moldadas de concreto, por
tivamente baixa.
exemplo.
Alta resistência mecânica (a qual pode ser
Em argilas moles, há a tendência da flamba
facilmente aumentada caso necessário, es
gem durante a cravação das peças (quando
colhendo perfil de maior seção transversal).
não corretamente dimensionadas).
Elevada capacidade de carga.
Podem perder a verticalidade quando em
Fácil transporte e manipulação;
contato com matacões ou blocos de rocha,
Capacidade de ultrapassar camadas rijas de
ou ainda entulhos;
solo (muito compactas), permitindo crava
Corrosão, se em contato com água, ar,
ção em muitos tipos de terreno, inclusive
agentes agressivos e não houver prote
em solos mais resistentes com o emprego
ção mecânica (pintura) ou eletroquímica
de pré-perfurações.
(catódica).
Facilidade de ajustes na própria obra: cor
.
Espessura adicional de sacrifício e em
tes, emendas com soldas e luvas.
prego de aços patináveis podem ser
Facilidade na cravação e resistência à
soluções interessantes também.
quebra.
Essa preocupação se aplica mais aos
Resistência ao empuxo lateral do solo.
pilares metálicos do que propriamente
Reaproveitamento de sobras do material
às fundações. No caso das fundações,
recortado.
quando cravadas, praticamente não
Podem servir como escoras, contenções e
há oxigênio para que se perpetue e
ainda como reforço de fundação.
intensifique a corrosão.
.
Podem ser executadas abaixo do NA.

Quanto aos cuidados relativos à corrosão nas estacas metálicas, podemos ainda
observar:

Estacas de aço com trecho desenterrado, no ar ou na água, exigem uma pro


teção. A opção mais comum é o encamisamento, desde a cota de erosão até o
bloco de coroamento. Quando a estaca é constituída por perfis I, H, ou trilhos,
faz-se um encamisamento com concreto, preferencialmente, armado; quando
a estaca é tubular, arma-se o trecho acima da cota de erosão, para os esforços
previstos, desprezando-se, totalmente, o tubo de aço (que funcionará, apenas,
como forma). (DANZIGER; LOPES, 2021, p. 15)

193
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

7.8.2 Estacas pré-moldadas em concreto

As estacas pré-moldadas em concreto, assim como as metálicas, são executadas por


cravação, que pode ser por prensagem ou percussão. A ABNT NBR 9062:2017 versa sobre
os requisitos para projeto, execução e controle das estruturas de concreto pré-moldado.
Sua particularidade está na sua confecção: podem ser produzidas de forma usinada
(fora) ou no próprio canteiro de obras, com concreto vibrado, concreto centrifugado e por
extrusão. Podem ser de concreto armado ou protendido.

Quanto à seção transversal, os formatos mais comuns são: circular (maciço ou vaza
do), quadrado, hexagonal e octogonal. Além das características geométricas, o projetista
de fundações deve definir, a partir das cargas do projeto estrutural, os diâmetros e com
primentos das estacas que serão fabricadas.

A norma ABNT NBR 6122:2019 destaca que, independentemente do estilo de con


fecção e da forma geométrica da estaca, deve "apresentar resistência compatível com os
esforços de projeto e decorrentes do transporte, manuseio, cravação e eventuais solos
agressivos".

Isso significa que a estaca deve ser capaz de resistir a todas as intempéries, ou seja,
todos os esforços e danos que pode sofrer desde o momento que sai do local de fabricação
até a hora em que é cravada. Esses esforços podem ser pensados em termos de tensões,
considerando a relação Força/Área.

-Mas, na prática, a tensão suportada por essa estaca é influenciada por quais fatores?
A resposta é simples: pela qualidade dela, principalmente, e pela execução adequada.
- Como assim, Vinicius?

Para um bom desempenho dessa tipologia de estaca, é preciso ter cuidado com
algumas coisas. Destaco aqui o controle de fabricação e o controle de cravação.
Pensando primeiramente no controle de fabricação, isto é, na qualidade propria
mente dita da estaca: no caso das pré-fabricadas, cujo processo é usinado (ou seja, você
vai contratar outra empresa fabricante para lhe fornecer a estaca), deve-se buscar uma
empresa fornecedora séria, criteriosa no processo de fabricação, no controle de insumos,
na dosagem correta do concreto, conforme o que a norma exige, a fim de adquirir estacas
que atinjam a resistência mecânica esperada.
Além disso, é importante observar se há um registro de provas e contraprovas para
que, posteriormente, os corpos de prova sejam ensaiados e a resistência à compressão
(em várias idades) seja verificada e atestada pelo ensaio.

Os resultados dos ensaios compõem o critério de aceitação da estaca e devem ser


apresentados pelo fabricante. Deve estar presente em todas as estacas a data de moldagem
de cada uma, segundo a norma de fundações.

194
Vinicius Lorenzi

No caso do concreto fabricado in loco, ou seja, estacas feitas pela equipe local, é
importante seguir adequadamente o traço proposto em projeto, respeitando as proporções
dos constituintes (dosagem) e controlar a qualidade dos materiais empregados, além da
cura e do armazenamento das peças.

O concreto, por exemplo, deve ser de boa qualidade - isso significa concreto com
materiais dentro das especificações técnicas.

O cimento deve ser de boa procedência, além de ser bem armazenado e protegido
contra umidade em local adequado.

Os agregados (graúdo e miúdo) devem estar livres de contaminantes (físicos, quí


micos, biológicos), sujidades e estar na umidade ideal. A água de amassamento deve ser
limpa e com pH adequado. Por fim, o aço deve estar limpo e sem presença de oxidação
(ferrugem).

O controle rigoroso dos materiais tem por objetivo evitar manifestações patológi
cas do concreto/aço, que podem comprometer as propriedades da sua estaca. Claro que
aqui abordamos a questão dos materiais de forma bastante resumida, sem a intenção de
explanar profundamente o assunto, o que cabe à Engenharia de Materiais.
Em todo tipo de estaca em que a concretagem é local, o engenheiro responsável
pela execução deve sempre estar atento, instruir sua equipe sobre as boas práticas (e
sobre as reprováveis), monitorar a concretagem e observar se após a cura não há avarias
ou defeitos de concretagem em sua estaca pré-fabricada.

Para confeccionar uma estaca pré-fabricada in loco, é fundamental possuir uma


estrutura adequada no canteiro de obras.

Dica!

Para sua estaca pré-moldada em concreto atender aos requisitos


de projeto, esta deve ser capaz de suportar não apenas as tensões
próprias do carregamento (provenientes da utilização) como também
as tensões de cravação.

A cravação é um momento delicado: a estaca pode sofrer ruptura ou danos que


inviabilizem sua utilização. As tensões de cravação precisam sempre ser menores do que
a tensão característica do concreto.

Recomenda-se valores inferiores a 0,85 Fck. "O sistema de cravação deve ser di
mensionado de modo que as tensões de compressão durante a cravação sejam limitadas
a 85 % da resistência nominal do concreto" (ABNT NBR 6122:2019), podendo variar em
algumas outras situações.

195
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Para que você entenda melhor essa recomendação, matematicamente: se hipoteti


camente tivéssemos um Fck de 20 MPa, logo, teríamos 17 Mpa como a máxima tensão de
cravação permitida. Reitero que este é um exemplo meramente numérico.

(...) as tensões variam desde 7 MPa, adotadas em estacas de concreto armado


com controles usuais de fabricação e sem controle de cravação por ensaios
estáticos ou dinâmicos, até 14 MPa, adotadas em estacas de concreto proten
dido com controles rigorosos de fabricação e com controle de cravação por
ensaios. (DANZIGER: LOPES, 2021, p. 19)

Para as estacas protendidas, as tensões de tração limitam-se a 90% do valor da pro


tensão, somados a 50% da resistência nominal do concreto à tração. Nas estacas armadas,
as tensões de tração restringem-se a 70% da tensão de escoamento do aço da armadura.
A norma diz que esses limites podem ser aumentados em 10%, se realizadas medições
das tensões durante a cravação.

Destaco: os valores das cargas de trabalho usuais dos elementos só são conhecidos,
de fato, na prática. As empresas que executam esse tipo de fundação diariamente possuem
expertise e propriedade para fornecer dados confiáveis sobre as dimensões, tensões de
trabalho e cargas máximas suportadas na execução da estaca.

Observe que a norma diz claramente: "O armazenamento e o içamento de estacas


pré-moldadas na obra devem obedecer às prescrições do fabricante, que deve disponibi
lizar todas as informações necessárias para evitar fissuramento excessivo ou quebra das
estacas" (ABNT NBR 6122:2019).

As estacas pré-moldadas são içadas pelo cabo do equipamento por um ponto espe
cífico na estaca, no qual é previamente instalado (na fabricação) um gancho, uma vez que a
armação é dimensionada para essa condição. Ao ser levantada a estaca, o posicionamento
e o prumo devem ser verificados.

Quanto ao equipamento (martelo de queda livre) para as pré-fabricadas em concreto:


a) peso do martelo igual ou superior a 20 kN;
b) peso do martelo no mínimo igual a 75% peso total da estaca ou análise de
crovabilidade para o caso em estudo;
c) peso do martelo igual ou superior a 40 kN para estacas com carga de traba
Iho entre 0,7 MN e 1,3 MN:

d) para estacas cuja carga de trabalho seja superior a 1,3 MN, a escolha do
sistema de cravação deve ser previamente analisada.
No uso de martelos automáticos, devem ser seguidas as recomendações dos
fabricantes.

No caso das estacas pré-moldadas em concreto, justifica-se o uso de alturas de que


das menores por conta do impacto gerado na cabeça da estaca no momento da cravação,
o qual pode levar até mesmo a quebras nessa região. Recomenda-se o uso de coxim ou

amortecedor para mitigar danos.

196
Vinicius Lorenzi

Em terrenos mais compactos, é possível utilizar pré-perfurações que inclusive podem


ser auxiliadas por jato d'água. Além disso, ponteiras especiais soldadas, constituídas por
tubos ou perfis de aço, podem ser acopladas para facilitar o processo de cravação em sua
obra, apontam Danziger e Lopes (2021).

Outro detalhe preconizado pela norma: a nega e o repique devem ser medidos em
todas as estacas e o diagrama de cravação deve ser realizado em 100% das estacas, assim
como nas estacas metálicas.

Um detalhe importante: dependendo do comportamento do seu solo, pode ser


necessário recravar a estaca pré-moldada.
- Como assim, Vinicius?

Explico: em alguns terrenos, ocorre um comportamento de relaxação e em outros,


de cicatrização.

De modo simplificado, no caso da cicatrização, ou efeito de "setup" e/ou efeito de


"soil freeze", ocorre um acréscimo de resistência no solo, ou seja, um ganho. A relaxação
é o oposto. Nesse caso, o solo sofre queda de resistência e pressões negativas podem ser
apresentadas, como é o caso de solos muito densos.

Como esses processos dependem das pressões do solo e podem demorar de horas
(nos solos não coesivos) até dias (nos solos coesivos), é preciso determinar a nega des
cansada, alguns dias após o término da cravação.
Se a nova nega for superior à obtida no final da cravação, as estacas devem ser
recravadas; se for inferior à obtida ao final da cravação, limita-se o número de golpes a
fim de evitar danos à estaca.

197
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Quadro 7.7- Vantagens e desvantagens da solução.

Vantagens Desvantagens

Concreto de boa qualidade (em muitos casos com controle


A resistência final dessas estacas está inti
tecnológico). mamente ligada à qualidade de sua confec
Peças padronizadas (escala industrial). ção e do controle de sua cravação.
Conseguem ultrapassar solos moles.
Deve haver muito cuidado nas operações
Resistência previsível e elevada aos esforços. de içamento das peças. Há riscos, nessas
Boa durabilidade em ambientes agressivos. operações, à segurança dos trabalhadores.
Possibilidade de execuções de grande porte em termos de diâ .
Transporte e estocagem de grandes peças
metros e profundidades. que envolvem uma logística precisa e cui
Reutilização de sobras, desde que atendidas as solicitações da dadosa para não danificar as peças.
norma (possua corte ortogonal em relação ao eixo longitudinal; Necessita de grandes veículos para trans
comprimento mínimo de 2 metros; uso de apenas um segmento porte, geralmente.
de sobra por estaca; seja o primeiro elemento a ser cravado).
.
Perdas em terrenos com grande variabili
Podem ser emendadas por solda, luva ou anéis de aço acoplados. dade horizontal (se o terreno varia muito
A emenda deve suportar todos os esforços sofridos pela em termos de profundidades, pode haver a
estaca-compressão, tração, flexão. necessidade de emendas e cortes, os quais
A emenda deve ainda ser perfeitamente axial, assim como são onerosos ao processo).

a peça composta e não apresentar falhas ou folgas.


O uso das luvas de encaixe restringe-se a estacas sujeitas
apenas à compressão axial, respeitando o dimensionamen
to sugerido pela norma para esse tipo de emenda.
Se a estaca for muito comprida (20 ou 30 metros por exem
plo), não se recomenda o uso da luva. Qualquer descentra
lização da cravação, pode gerar um deslocamento e a luva
não aguentar. A solda possui maior rigidez. Recomenda-se,
então, que para fundações em grandes comprimentos, fa
ça-se uso da solda.

O valor da luva/solda: pode ser uma das variáveis do


processo de escolha do tipo de fundação. Fundação sem
emendas torna a solução mais interessante. Emenda (luva/
solda) custa tanto do ponto de vista do material quanto do
ponto de vista de tempo. Geralmente, a solda demanda um
tempo maior. A luva demanda apenas o tempo de encaixe.

198
Vinicius Lorenzi

7.8.3 Estacas de madeira

Chegamos, por fim, ao tipo mais antigo de estaca cravada: a estaca de madeira.
Essa tipologia, hoje em menor uso, consiste na cravação de elementos de madeira pre
viamente preparados (que passam por tratamentos químicos, como: creosoto ou sais de
zinco, cobre, mercúrio).

O uso desse material remonta aos primórdios da humanidade, por se tratar de uma
matéria-prima abundante na natureza, e era realizado de forma rudimentar, com a cravação
de troncos de árvores sem grandes preparos.
Por muito tempo, a madeira utilizada foi a chamada "madeira de lei", o que cha
mamos na Teoria das Estruturas de Madeira como madeiras duras, de maior qualidade
estrutural e valor. São elas: mogno, aroeira, carvalho, ipê, entre outras.
Veja: a discussão da problemática ambiental sobre desmatamento e práticas sus
tentáveis, como o reflorestamento, entre outras, datam do final do século XX. O termo
"desenvolvimento sustentável", por exemplo, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, da Organizações das Nações Unidas (ONU), data de 1987.
Quanto às fundações, o uso da madeira foi empregado em todo mundo tanto em
obras civis como em obras de arte especial (pontes, por exemplo). O Teatro Municipal do
Rio de Janeiro, cuja construção data de 1905, é uma das mais importantes obras do Brasil
com fundações de estaca de madeira. Foram utilizadas, à época, 1.180 estacas de madeira
de lei em sua fundação (SILVA, 2019).

Na atualidade, são empregadas madeiras de reflorestamento dos gêneros Pinus e


Eucalyptus, provenientes de coníferas e classificados como madeiras macias. Geralmente,
emprega-se o material apenas para processos provisórios das obras, como aponta a ABNT
NBR 6122:2019.

Quanto às peças usadas para a confecção das estacas, a norma de fundações orienta
que ponta e o topo devem ter diâmetros superiores a 15 cm e 25 cm, respectivamente, e
apresentar eixo de topo a ponta dentro do perímetro da estaca.

Quanto à cravação, a fim de reduzir danos, deve-se proteger a região que terá con
tato com o bate-estaca com um capacete. Se na execução houver algum dano na cabeça
da estaca, a norma recomenda corte da parte afetada. A ponta, por sua vez, deve ser
protegida por ponteiras de aço.

Em 100% das estacas deve ser feita medição da nega e em, ao menos 10%, feito o
diagrama de cravação (lembre-se: as estacas escolhidas devem ser as mais próximas aos
furos de sondagem).

Se ao final do processo restar alguma dúvida quanto ao desempenho da sua estaca,

faça uma prova de carga!

199
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Quadro 7.8-Vantagens e desvantagens das estacas de madeira.

Vantagens Desvantagens

Capazes de ultrapassar o nível da água. Dificuldade para obter boas madeiras


atualmente.
Boa resistência à compressão axial e outros esforços.
Podem durar séculos abaixo do solo, quando não su . Defeitos na madeira como nós, grelhas,

jeitas à grandes variações de umidade, contato com.


fendilhamentos, abaulamentos, arquea

oxigênio e contaminantes. mentos, empenamentos, entre outros in

Exemplo clássico presente na literatura técnica em viabilizam sua utilização.

geral: a reconstrução do Campanário da Igreja de São . Opodem ser sujeitas à ciclos de molha
Marcos, em Veneza, em 1902, revelou estacas que, após gem esecagem.

aproximadamente 1.000 anos de serviço, ainda se en


. Sem o tratamento adequado, podem sofrer
contravam em ótimo estado e capazes de continuarem
ataques de espécies xilófagas e ataques
a suportar as cargas atuantes. Foram cravadas em 900 microbiológicos (fungos e bactérias), o que
d.C. e reutilizadas (TSCHEBOTARIOFF, 1978; ALBU compromete a durabilidade da estaca.
QUERQUE; GARCIA, 2020).
O tamanho da estaca é limitado ao tama

Podem ser usadas em leitos d'água desde que haja tra


do tronco da árvore (em comprimento

tamento adequado das peças e monitoramento/manu e diâmetro).

tenção programados.

200
Vinicius Lorenzi

Quadro 7.9 - Observações gerais sobre as estacas cravadas.

O material da estaca pode ser inspecionado antes da . Barulhos, vibrações e ruídos são as princi
cravação, ou seja, maior controle sobre o material cra pais desvantagens dessa solução. Em áreas
vado; você consegue inspecionar a qualidade do ele densamente ocupadas, soluções com uso
mento que será cravado. do martelo de queda livre não são indica
Seu uso é indicado para fundações abaixo do nível do das. Talvez seja melhor optar por outras
lençol freático; não há descompressão do solo e pos opções com martelo hidráulico.
sibilidade de desbarrancamento. O solo é compactado. Antes de optar por essa fundação, há a
lateralmente. necessidade de avaliação da vizinhança
Em solos moles, onde soluções moldadas in loco geram para que possíveis abalos estruturais sejam
aumento dos consumos de material, as estacas crava evitados.

das provocam menor custo relativo; não há variações. Caso seja impreterível utilizar o método de
por sobreconsumo; pode ocorrer de a estaca atingir a queda livre, é fundamental realizar o relató
nega antes do previsto em projeto (por exemplo: com rio de vizinhança. Deve-se compreender o
prou uma estaca de 12 e atingiu a nega com 10 metros). estado da arte para corrigir apenas as pos

Pode ser cravada em grandes comprimentos, sob uso síveis avarias que seu equipamento venha a
de emendas. ter gerado na obra vizinha.
Estava lecionando em Belém (PA) certa vez e os . Dependendo das dimensões das peças,

alunos comentaram que, em um depósito muito os equipamentos de grande porte devem


grande de argila mole na região, a empresa de acompanhar o levantamento das mesmas;

go cravação de estacas pré-moldadas estava reali pode ser necessário guindaste e um plano
zando cravações com 60 metros de profundidade. de rigging para o içamento.

Observe: não se pré-fabrica estacas desse compri-. Equipamentos de cravação dotados de

mento. As estacas pré-fabricadas têm 4, 6, 10 ou 12 martelo-hidráulico têm resolvido os pro


metros. Trabalha-se com o uso de emendas ou luvas. blemas com produtividade dessa solução,

Tem grande capacidade de suporte de cargas. Muito embora sejam equipamentos caros e ainda
utilizadas quando há grandes cargas de flexão em todo escassos no país.
o comprimento da estaca.

Utilizada em diversos tipos de solo (exceto cravação


em material rochoso).

Fique ligado!

Cuidados redobrados com a energia de queda do martelo! A energia de queda pode ser tão
grande que a estaca não suporte e comece a gerar trincas/fissuras devido à energia de queda
incompatível com o elemento que está sendo cravado. Cuidados redobrados com a tensão de
compressão ou tração em excesso durante a cravação.

201
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

MINHAS ANOTAÇÕES

202
Vinicius Lorenzi

7.9 Estacas Strauss

Chegamos à estaca Strauss, que pode ser considerada uma estaca "à moda antiga".
Muita gente me pergunta-se ainda tem mercado para Strauss. E com certeza tem! Até
porque, se a gente for pensar no tipo de obra em que vamos usar a metodologia, vemos
que é um tipo de solução para obras menores, com difícil acesso.

Além disso, e principalmente em obras em que temos o nível de água elevado e não
conseguimos usar outras soluções que exijam grandes equipamentos, como uma HCM ou
um bate-estaca.

Nesses casos, como o equipamento da Strauss (o tripé) é menor, podemos utilizar a


solução técnica, pois conseguimos uma maior mobilidade com o equipamento.

- Mas Vinicius, a estaca Strauss pode ser executada abaixo do NA?

Claro que sim! Para isso, é adotado um tubo de revestimento. Se executado corre
tamente, não há problema.

Então, a Strauss é um tipo de solução que ainda sobrevive e ainda viabiliza pequenas
obras. Para obras muito grandes e grandes cargas, não faz sentido utilizar uma estaca
Strauss.

É fundamental que você observe a logística de acesso de equipamentos na sua


obra e todas as interferências que pode causar na hora de definir um tipo ou outro de
fundação.

É uma realidade: o método Strauss tem perdido mercado desde a criação da HCM.
Hoje em dia, poucas empresas o executam, pois se tornou pouco competitivo frente a outras
soluções. Até pouco tempo atrás, a Strauss ainda reinava absoluta em obras de pequeno
porte, mas com a entrada das mini-hélices no mercado, com baixo custo de mobilização
e alta produtividade, a solução acabou perdendo mercado.

7.9.1 Metodologia executiva

A estaca Strauss é uma estava escavada, moldada in loco, sem necessidade de gran
des equipamentos (como nas outras soluções que utilizam trator, caminhão, escavadeira...).

Na Strauss, usa-se o tripé, que é o convencional. Basicamente, o tripé é composto


pela sonda ou piteira, dois guinchos e tubo de revestimento. Alguns equipamentos um
pouco mais modernos já fazem uso de esteiras, acelerando o processo de movimentação
entre uma estaca e outra (Figura 7.35).

203
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Figura 7.35-Equipamento Strauss

Veja a definição da ABNT NBR 6122:2019:

A estaca Strauss é uma estaca de concreto moldada in loco, executada através

da escavação, mediante emprego de uma sonda (também denominada piteira),


com a simultânea introdução de revestimento metálico, com guincho mecô
nico, em segmentos rosqueados, até que se atinja a profundidade projetada.

A execução da Strauss, resumidamente, ocorre da seguinte forma: inicia-se a per


furação e insere-se o revestimento. Em seguida, perfura-se com a sonda e insere-se con
tinuamente água.

204
Vinicius Lorenzi

Depois disso, são inseridos 75 cm a 100 cm de concreto, que pode ser apiloado ou
não à medida que o revestimento vai sendo sacado, repetindo o processo até acima da
cota de arrasamento para garantir uma concretagem de qualidade em toda a extensão da
estaca. Ao final, a ligação entre bloco e estaca é feita pela armadura.

Obviamente, os diâmetros são limitados nessa tipologia, que é uma das mais de
pendentes do operador, por ser bastante manual.

A qualidade da sua estaca Strauss está diretamente ligada à qualidade da sua equipe
de operação (se segue a norma, se faz o trabalho bem-feito e se segue as boas práticas
ou não).

Passo a passo prático da execução

1. Perfuração


Equipamento: posicionado a prumo de modo a garantir centralização e ver
ticalidade da estaca.

Execução: começa com os golpes com o pilão ou a piteira para formar um
pré-furo com profundidade de 1 metro a 2 metro. Nesse furo, é inserido um
segmento curto de revestimento com coroa na ponta.

Perfura-se com repetidos golpes da sonda e adição de água para remoção
do solo.


À proporção em que o furo é formado, os tubos de revestimento são colocados
até a cota prevista.

Finalizada a perfuração, os tubos devem ser limpos. A água e a lama devem
ser retirados pela piteira e o soquete é lavado. O processo deve ser repetido
até que os tubos desçam sem dificuldade.

2.
Concretagem

Concreto: lançado dentro do revestimento, até atingir coluna de aproximada


mente 1 metro, apiloado, para formar a ponta da estaca.

Execução: o concreto é lançado e apiloado simultaneamente à retirada do
revestimento.


A norma é clara: "A retirada do revestimento deve ser feita com guincho ma
nual de forma lenta, para evitar a subida da armadura, quando existente, e a
formação de vazios, garantindo-se que o concreto esteja acima da ponta do
revestimento".


A concretagem deve terminar no nível do terreno.

Um cuidado que deve ser tomado em relação à Strauss é relativo à qualidade do


concreto empregado. Como disse anteriormente, essa solução é muito empregada em obras
de pequeno porte. Nessas obras, é comum o uso de concreto rodado na betoneira in loco.

205
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Não é um problema o concreto ser fabricado na própria obra, na betoneira... desde


que siga criteriosamente as recomendações técnicas e exigências preconizadas por norma:
▶ consumo de cimento igual ou superior a 300 kg/m³;
▶ abatimento entre 8 cm e 12 cm em estacas não armadas e de 12 cm a 14 cm
em estacas armadas (ABNT NBR NM 67:1998);
▶ agregados com diâmetro entre 12,5 mm e 25 mm;
▸ Fck ≥ 20 MPa aos 28 dias.

3. Colocação da armadura

▶ Estacas que não estão submetidas à tração ou flexão necessitam somente de


armadura de arranque, ou seja, sem função estrutural, como versa a Tabela
4 da norma.

▶ Podemos posicionar as barras de aço no concreto, uma a uma, sem estribos,


logo depois da concretagem, deixando a espera prevista em projeto.

No caso de estacas armadas, a gaiola de armadura é inserida no revestimento
de forma prévia à concretagem. Nessa situação, o soquete precisa ter diâmetro
menor que o da armadura para que o processo seja exequível.
A norma evidencia:

Nas estacas dimensionadas para suportar tração ou flexão, o projeto da arma


dura deve obedecer aos seguintes critérios:
a) o diâmetro mínimo para execução de estacas armadas é de 32 cm;
b) os estribos podem ser individuais ou em espiral com passo entre 15 cm e 30 cm.

SO

Fique ligado!

Você não pode concretar estacas com espaçamento inferior a cinco diâmetros em in
tervalo menor que 12 horas, considerando a estaca de maior diâmetro. E, ao final, ao
menos 1% das estacas e, no mínimo, uma por obra, precisa ser observada abaixo da
cota de arrasamento e, se possível for até o NA para conferência da sua integridade e
da qualidade do fuste.

Quando falamos em Strauss, duas falhas são muito comuns no dia a dia de obra. A
primeira é relativa à qualidade desse concreto, que deveria ser como especificado ante
riormente, mas nem sempre é feito de maneira adequada no canteiro e pode apresentar
resistência insuficiente após a cura.

A segunda falha tem relação com o revestimento ou, nesse caso, a falta dele. Se essa
etapa for realizada de modo inadequado, pode gerar grandes problemas.

- Vinicius, como é esse problema com o revestimento?

206
Vinicius Lorenzi

Explico: quando você está executando, se o revestimento não for colocado até a
cota adequada, ou seja, o fundo da perfuração, e você concretar, pode ocorrer uma falha
nessa concretagem.

Quando não se coloca o revestimento ao longo de todo comprimento, acreditan


do-se na coesão do solo, ocorre o problema: estrangulamento do fuste.

Essa é uma das principais causas de manifestações patológicas em Strauss. Veja,


então, algumas finalidades do revestimento:

▶ garantir a estabilidade da perfuração;


evitar mistura de concreto e solo (e, consequentemente, estrangulamento do fuste);

permitir execução e concretagem abaixo do NA.

Na sua estaca, dentro do furo, não pode ter água e barro no momento da con

cretagem, pois isso reduz a qualidade da estaca.

Fique ligado!

Esse tipo de estaca não pode ser utilizado em areias submersas ou em argilas muito
moles saturadas. A ponta da estaca deve estar em material de baixa permeabilidade
para permitir as condições necessárias para limpeza e concretagem.

Quadro 7.10-Vantagens e desvantagens da estaca Strauss.

Vantagens Desvantagens

Pode ser utilizada em locais de acessibilida-. O tubo de revestimento deve ser minucio
de reduzida. samente colocado e retirado: o revestimen

Equipamento simples e facilmente mobili to incorreto pode levar à patológicas como


zado pelos operadores. estrangulamento do fuste.
Pode ser utilizada em locais com NA elevado.. Muita água dentro do furo pode prejudicar
Não gera grandes vibrações. a resistência de ponta da estaca.

Pode ser feita próximo à divisa. É contraindicada em terrenos com argilas


muito moles e areias submersas.

A qualidade do concreto pode alterar com


pletamente o resultado da sua estaca.

Boletim de execução

a) identificações gerais: obra, local, nome do operador, executor e contratante;

b) características do equipamento;
c) identificação da estaca: diâmetro, nome ou número conforme projeto de

fundação;

207
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

d) data de execução da estaca;

e) comprimentos escavado e útil;


f) consumo de materiais por estaca;
g) cotas do terreno e cota de arrasamento;

h) especificação dos materiais e insumos utilizados;


i) observações relevantes;
j) nome e assinatura do executor;
k) nome e assinatura da fiscalização e do contratante.

Engenheiro, esse recado é para você!

Imagine em sua obra: você não acompanhou a fundação, não estava lá na hora da
perfuração ou na escavação... você não viu a concretagem nem a centralização da armadura
e a fundação ficou super mal feita!

Bom, o que acontece é o seguinte: a gente tem que entender que a fundação tem
a função de equilibrar, equalizar as cargas do edifício e, para isso, precisa ter capacidade
de suporte, da carga do seu projeto.

Enfim, o grande impacto disso na sua obra é que não acontecerá nos primeiros
momentos e, sim, quando as cargas máximas se instalarem, por exemplo.
Resultado Manifestação patológica

Trincas, fissuras, infiltrações, recalques... Por isso, é fundamental que você tenha total
domínio de fundações. Ou você sabe ou não sabe! Não tem meio-termo.
Por mais que sua equipe seja qualificada, esteja em obra (e atento!) nas datas de
realização das frentes críticas de serviço. Sabemos como é o cotidiano do escritório e
das obras. Mesmo assim, o olhar do profissional faz toda diferença na qualidade final do
produto. No nosso caso, esse produto é a obra.

Caso - Prédio que recalcou 28 cm

Cheguei ao meu escritório para mais um dia de atividades e recebi, às 8 horas, uma
pessoa totalmente em desespero, falando que o prédio dela iria cair. Como vez ou outra
alguém me fala isso (e, às vezes, é apenas um problema no paver da calçada), pedi para
marcarmos um dia para visitar a obra.

- Não, o senhor não está entendendo! A Defesa Civil interditou a obra, todas as emissoras
de TV estão em frente ao prédio, que vai cair, e eu preciso que o senhor me ajude!

De fato, não era algo simples. Cheguei ao local e aproveitei para levar comigo um
perito para avaliar conjuntamente a situação, pois a edificação possuía manifestações
patológicas graves, muitas trincas e fissuras por todo lado, para fazer um laudo técnico.
Sim! Laudo técnico é um serviço que pode ser prestado pelo profissional de engenharia.

208
Vinicius Lorenzi

O problema era que a edificação começou a estralar e os pilares acabaram "sendo


engolidos". Os recalques eram assustadores.

Figura 7.36-Pilares sofrendo recalques


>>>
Quais erros gerariam tamanhos recalques? O prédio era de um único
proprietário e todos os imóveis estavam locados. O mesmo foi embar
gado pela Defesa Civil para avaliação. Trouxemos uma estação total para
entender o que estava ocorrendo: recalque diferencial. Um lado estável
e o outro recalcou muito. Era preciso avaliar o porquê dos incríveis 28
cm de recalque.

>>>
Na realidade, o primeiro insight que se teve nessa obra pela maioria dos
presentes: a obra vai cair. O que poderíamos fazer, então? Em primeiro
lugar, o escoramento para garantir a segurança de todos!
Escorar o prédio seria suficiente? No caso foi. O prédio estava pronto para tombar em di
reção ao sentido do talude. A estrutura precisava ser travada o quanto antes! Escorou-se
todo o lado da obra que estava sofrendo deformação, isto é, todos os pilares desse lado.

209
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Figura 7.37 - Escoramento da edificação.

Em uma situação como essa, uma perícia em que haja o risco de queda, o primeiro
ponto a ser resolvido é como trabalhar nessa edificação mitigando o risco de quem
está no local! Não se arrisque, profissional!

Após escoramento, no dia seguinte, entrei com a sondagem SPT mecanizada. Está
vamos na fase de planejamento, entendendo o que aconteceu (lembra-se do método
PPE-planejamento, projeto e execução? Pois bem). Buscamos, então, nesse momento
da perícia, encontrar informações do projeto, das memoriais técnicos da obra, enfim,
qualquer tipo de informação para tentar compreender a situação e ainda conseguir
elaborar o laudo técnico.

Uma equipe multidisciplinar foi formada para verificar as diversas possibilidades encon
tradas na obra: verificamos que não havia trincas e fissuras nos pavimentos superiores;
o prédio havia inclinado como um todo. Tínhamos ali uma situação clara de um recalque
diferencial de 28 cm para uma das direções.

Ficou muito claro, após a análise da equipe, que o problema era a fundação.

210
Vinicius Lorenzi

Figura 7.38-Ilustração do recalque diferencial. Crédito: Matheus Borges.

Em algum momento da obra, houve deformação nos pilares (espécie de afundamento)


e foi "jogado" um concreto ou argamassa para "resolver o problema" (ou melhor,
camuflar o problema).

É possível que, em determinado momento, tenha ocorrido um recalque, entretanto,


por conta de profissional pouco hábil que atuou, obviamente, adotando uma medida
não assertiva.

Aposto com você, leitor, o que ele falou para o cliente:

- Fique tranquilo. Sempre fiz assim e dá sempre certo!

Fomos a fundo buscando por mais informações sobre a fundação, até que encontramos
o projeto e o tipo de fundação utilizada: fundação em estacas Strauss.

Com o resultado da nova sondagem SPT em mãos, fizemos com um projetista estrutural
uma retroanálise para entender se as cargas estruturais e as soluções de fundações
estavam de acordo ou se ali havia um subdimensionamento. Por incrível que pareça,
não havia! As estacas aparentemente tinham sido dimensionadas corretamente.

Os problemas identificados foram:

.
falta de SPT-o ensaio permitiria compreender as capacidades de suporte do solo;
à época, não foi executada sondagem;

não houve acesso à empresa executora de fundação; foi necessário fazer uma
retroanálise para compreender de fato o que teria acontecido;

o diário de obra (as built) não existia.

211
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

O projeto mostrava que as estacas eram de 25 cm até 12 m. No recálculo, observou-se


que elas estavam no limite das cargas, mas estavam de acordo, pelo que estava indicado
no projeto - profundidades, armaduras etc.

Embora não houvesse sondagem e não tivesse considerado de fato as condições do


solo, entendeu-se que o projeto de fundação estava em acordo. Falha de projeto não
foi identificada.

.
Execução: só poderia estar ali o erro. Ninguém que acompanhou a execução das
fundações conseguiu ser contactado.

Buscando a solução do caso, primeiro abrimos um poço de inspeção para avaliar


pontualmente o que poderia ter ocorrido nos pilares. Abriu-se apenas um poço
em um dos pilares que sofreu maior recalque. Abrimos uma vala nesse pilar (com
a estrutura devidamente escorada). Não se abriu todos os pilares, pois gerarial
grandes riscos de maiores deformações.

Resultado: as estacas Strauss estavam completamente danificadas.


Escavamos mais ao redor para verificar e foi possível observar que dentro do con
creto da estaca havia um saco de cimento. Ao escarificar as estacas, observou-se
que não havia estribos.

A concretagem da Strauss é in loco. Provavelmente a qualidade desse concreto era


péssima! Não houve qualquer controle da execução. As estacas estavam uma farofa,
esfarelando.

As armaduras não foram avançadas além do corpo do aterro. Logo, as estacas estavam
sofrendo mais impactos do que poderiam suportar: execução incorreta e desconside
ração do aterro.

Dica!

A patologia das fundações geralmente está ligada a


problemas no projeto ou na execução das fundações. Nesse
caso específico, projeto!

No caso das estacas Strauss moldadas in loco, como já citado, a falta de controle de
qualidade dos elementos e execução inadequada (fator água/cimento inadequado,
traço crítico, entre outros) pode levar a problemas sérios!

Inicialmente, a estrutura deu sinais, deformando-se. Entretanto, estes foram masca


rados. O aterro foi se deformando ao longo do tempo e a estaca foi "apodrecendo".
Observamos concreto muito poroso e grande influência da água nesse processo.

212
Vinicius Lorenzi

Quando se fala em controle de concretagem e da execução como um todo, pensa-se


na durabilidade e nos 50 anos preconizados pela norma. Importante ter sempre em
mente o que diz a Norma de Desempenho sobre Durabilidade.

Se houvesse uma concretagem mais adequada, poderia ter sido evitado esse tipo de
problema gravíssimo!

Recapitulação dos passos realizados

1.
Escoramento para mitigar riscos.

2. Análise dos projetos/documentos de obras.

3. Identificação do problema - péssima qualidade do concreto.

4. Reforço de fundação - toda região dos pilares danificados da edificação.

Alternativas técnicas:

Cravação de perfis metálicos colocando equipamento de cravação de pequeno


porte-perfis de meio metro.

Risco: gerar impacto dinâmico, e efetivamente gerar impacto na estrutura


existente, o que poderia levar a consequências e danos na estrutura existente.

Tubulão manual

O nível d'água estava muito próximo, em torno de 3 metros. Metodologias


manuais não seriam interessantes.
.

Estaca broca manual também não (aterro de 6 metros, que precisaria ser
ultrapassado).

Estaca mega - solução adotada na obra.

Solução que não gera impacto na obra;


Cravação por prensagem com macaco - sem impacto de um martelo.
Estaca raiz

Solução viável do ponto de vista técnico - seria possível colocar um equipa


.

mento de menor porte e executar uma estaca com maiores profundidades.


Do ponto de vista financeiro, a solução nessa obra não se viabilizou.

Nesse caso, não foi indicado um reforço de fundação. Na verdade, foi necessária uma
nova fundação para a obra.

Nos pilares em que foi observado um dano muito grande nas estacas, substituiu-se a
fundação; outros pilares foram inspecionados e não houve problema. O concreto das
estacas da região de aterro estava muito mais danificado do que do outro lado da obra.

Só foi reforçada a região do aterro onde se deu a deformação principal. O custo de todo
processo ficou em cerca de R$ 150 mil. Barato! O prédio de 4 pavimentos poderia ter
ido abaixo!

213
VOCÊ É A MÉDIA DOS
ENGENHEIROS COM OS

QUAIS CONVIVE.

PROCURE ENGENHEIROS
QUE ESTUDAM.

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QUE QUESTIONAM.

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Spe REFERÊNCIAS!
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

7.10 Estacas mega


Anteriormente, comentamos que a estaca mega pode ser utilizada no reforço de
uma fundação, o que, basicamente, é sua primeira e principal finalidade.
Oprimeiro registro do uso dessa metodologia no Brasil data de novembro de 1935,
pelo engenheiro Edgard Frankinoul. À época, foram usados tubos de aço recuperáveis, os
quais Frankinoul chamou de "estacas mega" (JUNQUEIRA, 1995).

Essa solução funciona da seguinte maneira: as estacas mega, ou "estacas de reação"


ou, ainda, "estacas prensadas", são aquelas compostas por elementos pré-moldados em
concreto ou metálicos, que são segmentos encaixáveis, ou seja, solidarizáveis.
A estaca mega de concreto é composta por segmentos pré-fabricados de concreto,
curtos, ligados no centro por um elemento de aço. Pode também ser feita uma armadu
ra externa ao redor do fuste da estaca. Já as mega metálicas são compostas por tubos
rosqueáveis.

Figura 7.39-Estacas mega de concreto.

Observe que nas estacas mega de concreto há uma armadura de ligação na ponta
da estaca. Nesse tipo de fundação, a única ligação que existe entre um elemento e outro
é essa barra. Na parte da frente, uma barra de aço e, na parte de trás da estaca, um furo
para a inserção dessa armadura de ligação.

216
Vinicius Lorenzi

Normalmente, não se usa qualquer outro elemento de ligação. No caso das estacas
mega metálicas, a rosca é a ligação entre elas.

Figura 7.40-Mega metálica.

- Qual é a diferença básica entre elas?

As estacas de concreto possuem menor resistência aos esforços solicitantes de


tração e de flexão. No caso de situações em que não ocorra compressão axial pura, é
mais interessante que seja utilizada a mega metálica. A escolha de uma ou de outra é de
responsabilidade do projetista.

Se estiver trabalhando à tração, claramente a estaca mega metálica terá um de


sempenho melhor do que a de concreto, por exemplo. Em relação a custos, sem dúvidas,
a estaca mega de concreto é mais econômica do que a mega metálica, mas, em alguns
casos, não tem saída, a solução acaba sendo mais onerosa.

CO

Fique ligado!

A escolha da fundação sempre deve ser cuidadosamente realizada, caso a caso, bus
cando a melhor solução técnica.

217
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Quanto ao "funcionamento" dessas estacas, ele se dá por reação a outro sistema


rígido e, por isso, ela também é chamada de estaca de reação.

- Como assim, Vinicius?

Dizer que essas estacas são prensadas significa, na prática, que temos uma prensa
por meio do conjunto macaco hidráulico-bomba, o qual gera uma carga e faz com que
elas reajam contra a estrutura pré-existente ou contra outros elementos, como tirantes e
cargueiras. Veja o que diz a norma de fundações:

A principal característica deste tipo de estaca é a sua cravação estática atra


vés de macaco hidráulico, reagindo contra estrutura existente e compatível à
resistência dos esforços que serão aplicados. Também podem reagir contra
cargueira ou tirantes ancorados no solo ou no estrutura.

Algo deve ficar claro: quando pensamos em mega estacas no dia a dia, pensamos
em reforço, ou seja, executar um novo elemento em uma estrutura já existente e, por isso,
devemos ter cuidado com essa estrutura antiga. Como as mega são prensadas, ou seja,
não há golpes de cravação, não são transmitidos impactos ou vibrações que gerem danos
obra ou à vizinhança.

Figura 7.41- Estaca mega aplicada.

Por isso, a mega é tão interessante: além de possibilitar a efetivação do reforço sem
danos a estruturas pré-existentes, permite ainda acesso a locais restritos ou de difícil acesso

218
Vinicius Lorenzi

quando comparamos com outras soluções, tendo em vista as grandes dimensões comuns
aos equipamentos de fundação, o que não é o caso das estacas de reação.

A estaca mega é muito utilizada em obras de reforço no país, principalmente por


possibilitar um trabalho seguro e eficaz em edificações com patologias.

Observe: a estaca mega também pode ser utilizada como uma fundação do princípio
e não somente como reforço, como é mais comum. No final da década de 1930, em São
Paulo e no Rio de Janeiro, algumas edificações tiveram a estaca prensada como solução
de fundação desde o projeto: em meados de 1939, as Indústrias Matarazzo, em São Paulo,
tiveram suas fundações em 255 estacas prensadas com diâmetro de 300 mm e 60 toneladas
de carga de trabalho. A reação dos macacos ocorreu, nessa obra, na própria estrutura do
prédio que estava sendo executada (JUNQUEIRA, 1995).

- Mas qual é o motivo de isso não ser usual hoje?

A resposta é simples: há soluções mais interessantes e menos onerosas. Cada caso


é um caso, mas, hoje, o mercado de fundações conta com uma grande quantidade de
metodologias, capaz de atender as demandas atuais das obras.

Pensando nisso, cabe destacar que podemos realizar a cravação dessas estacas de

duas formas: ou com uma plataforma com sobrecarga ou com uso da própria estrutura
para reação, conforme vemos na Figura 7.42.

Pórtico

Macaco

Bloco
Peso

a) b)

219
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Segunda
concretagem

Furo cônico Primeira

concretagem

Figura 7.42-llustração de um sistema de reação de estaca mega.

Ainda abordando o sistema de reação, em algumas situações, é ele o limitante para


o uso de estacas mega. Em alguns casos, a solução não viabiliza em função da obra não
ter qualquer reação, ou uma reação que não suporta a carga necessária.

es

Caso-Obra residencial
Citarei um caso de uma obra residencial muito simples, que quase entrou em colapso
por fundações mal projetadas.

A residência em questão havia tido uma série de recalques e a empresa responsável


não estava prestando a assistência necessária. O proprietário, então, entrou com uma
ação e no meio do processo teve que sair da casa a mesma ser escorada) para não
entrar em colapso.
Após as ações jurídicas, a empresa foi condenada a realizar o trabalho de maneira
adequada, realizando os possíveis reforços. Fomos, então, contratados para um projeto
e orçamento da execução do reforço das fundações.
Osolo do local era muito ruim, com ocorrência de nível d'água já nos primeiros metros. A
fundação da casa havia sido feita em estacas escavadas convencionais (primeira solução
equivocada para a residência) e a execução não foi acompanhada por nenhum respon
sável. Enfim, existiam ali estacas que não possuíam qualquer qualidade e desempenho.
A primeira opção que tínhamos em mente era o uso de estacas mega e fomos entender

a fundação existente para validar a solução.


Esse ponto é importante: sempre que vamos avaliar um reforço de fundação, temos que
entender o que há na fundação existente! Soluções distintas para problemas diferentes!
Por exemplo: se a fundação for em sapatas, uma solução de reforço é o aumento da seção
da sapata! Agora, se a fundação é em estacas, a solução pode vir a ser em estacas mega.

220
Vinicius Lorenzi

Olha que interessante: nessa obra, as estacas nasciam diretamente no baldrame, ou


seja, não havia um bloco de coroamento nas estacas. Isso dificultava muito a execução
da solução em mega, pois a reação teria que ser contra o baldrame. Calculamos a carga
necessária nas estacas e a capacidade de suporte das vigas baldrames e ficávamos no
limite para aquela ação.
Como as reações não poderiam sofrer muita carga, a solução foi utilizar mais estacas e
menor carga em cada uma delas, ou seja, uma estaca mega que poderia ser carregada
até 10 toneladas, só foi utilizada até 5 toneladas.
Como resultado dessa verificação, a solução de estaca mega não se viabilizava! O custo
ficou absurdo! Naquela oportunidade foi verificado que o valor do reforço de fundação
era próximo ao valor da própria residência.
Uma fundação convencional, em estacas escavadas por exemplo, custa R$ 10 o metro
para perfurar. Uma estaca mega custa R$ 500. Ou seja, melhor fazer bem feito da
primeira vez não é mesmo?

7.10.1 Sequência executiva

1.
Acesso ao local da execução da mega
Por incrível que pareça, essa pode ser a parte mais complexa do processo. É onde você
escavará para chegar no ponto da aplicação do reforço. Nesse momento, é preciso tomar
alguns cuidados com a segurança da obra e sempre realizar o escoramento da estrutura.

Figura 7.43-Acesso ao local para realização do reforço.

221
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

2.
Cravação por prensagem
▶ É feita usando um conjunto de macaco hidráulico acionado por bomba elétrica
ou manual dotada de manômetro.


Aferição do conjunto: o conjunto macaco hidráulico-bomba-manômetro deve
ter data inferior a um ano, contado do início da obra.

► O projeto é quem manda: a carga aplicada será verificada no macaco hidráulico


e a escala do manômetro devem ser determinados pelo projetista mediante
carga de cravação e detalhes do local.


O macaco hidráulico: sua capacidade deve exceder pelo menos 20% a carga
prevista de cravação.

▶ Gráfico de cravação: realizado durante o procedimento, anota a carga aplicada


à estaca a cada metro e cravação.

▶ Carga de cravação: o projeto deve conter as cargas de cravação e de encunha


mento, que devem ser no limite inferior de 1,5 vez a carga de trabalho.
3. Aceitação da carga

Os recalques residuais devem, nos carregamentos aplicados, atender à indicação


do projetista. A estaca deve ser submetida a dois tipos de carga: a primeira até a carga
máxima (1,5 vez a carga de trabalho) mantida durante 5 minutos e com recalques elástico
e residual medidos nesse estágio. A segunda carga, semelhante à carga de trabalho, deve
ser sustentada 10 minutos e o recalque residual é medido sequencialmente.
4. Processos executivos especiais

Sua função é auxiliar a cravação. Podem ser vários, dentre eles, a inundação do
solo, jatos d'agua pelo interior dos segmentos, retirada do solo embuchado nas estacas
metálicas tubulares, vibrações e outros.

5. Encunhamento

Essa etapa é realizada após a cravação. São colocados o cabeçote de concreto arma
do, tijolinhos e cunhas, coerente com as cargas impostas e com que for mais interessante
para obra, como, ainda, solidarizando diretamente à estrutura.

Casos de obras

Já tivemos várias obras nas quais o uso da mega foi a solução. Inclusive, vou citar alguns:

.
Residência de altíssimo padrão, cuja fundação tinha sido absurdamente subdi

mensionada com apenas uma estaca por pilar. Nessa obra, a deficiência de carga
de cada fundação estava em torno de 30 toneladas por pilar. Tivemos que fazer
4 estacas mega por pilar como reforço.

222
Vinicius Lorenzi

.
Ampliação de um hotel. Nesse caso, não havia patologias a serem resolvidas, mas,
sim, uma carga adicional a fundação existente. O hotel havia s vendido e, na
reforma e ampliação, foi adicionado uma sobrecarga grande a estrutura existente
e os pilares precisaram ser reforçados.

.
Estruturação de uma concessionária de veículos novos. Pegamos um barracão
antigo para fazer esse trabalho. Não tínhamos quaisquer informações sobre as fun
dações, e tivemos que fazer uma verificação in loco. Seria instalado um mezanino
na estrutura e os apoios precisavam ser nos pilares existentes, sobre carregando
os mesmos. As estacas mega foram a solução.

Quadro 7.11 Vantagens e desvantagens da estaca mega.

Vantagens Desvantagens

Possibilita reforços e substituição de funda .


Alto custo.

ções em obras com estruturas pré-existen


Complexidade do conjunto.
tes e em operação.

.
Cuidados com a aferição.
Pode ter a função de atenuador dinâmico
de vibrações. Tempo de execução, uma vez que uma

estaca pode levar alguns dias de trabalho.


Podem ser executadas em obras de cons
trução civil e em obras de arte especial (por
exemplo: pontes).

Execução em locais de difícil acesso.

.. Ausência de vibrações.

Execução de procedimento semelhante à


prova de carga em todas as estacas.

Praticamente não gera resíduos em sua


execução.

Boletim de execução

a) identificação da obra, local, número da estaca e nome do contratante e


executor;

b) data da cravação;

c) tipo de estaca e características geométricas;

d) ensaios de resistência do concreto, quando for o caso;

e) comprimento cravado da estaca;

f) gráfico de cravação e registro dos recalques elásticos e residuais para a


carga máxima de cravação e para a carga de trabalho;

223
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

g) quantidade de segmentos utilizados;


h) carga de encunhamento;

i) características do cabeçote e da estrutura de reação;


j) desaprumo e desvio de locação;
k) características e identificação do equipamento de cravação;
1) número e dimensão de calços;

m) número e dimensão de cunhas:

n) características da calda ou argamassa de preenchimento quando empregadas;


o) anormalidades de execução;

p) observações pertinentes;
q) nome e assinatura do executor;
r) nome e assinatura da fiscalização e do contratante.

7.11 Estacas Franki


A estaca Franki surgiu no início do século XX e sua descoberta é atribuída a Edgard
Frankignoul, de quem deriva o nome.
É um tipo de estaca que possui elevada capacidade de carga em função de dois
fatores: o primeiro é o atrito lateral, causado pela compactação lateral do solo, uma vez
que, nesse tipo de estaca, não há remoção do solo, mas, sim, o deslocamento do mesmo.
O segundo fator é a base alargadacaracterística dessa fundação.
Poucas soluções de fundação conseguem atravessar terrenos com entulhos e/ou
pequenos blocos de rocha, e a estaca Franki é uma delas. Isso porque o pilão pesado a
uma altura de queda grande provoca uma energia de queda considerável.
A execução da Franki é feita utilizando um revestimento e uma bucha seca de brita
e areia no nível do terreno. Na prática, bate-se essa bucha por dentro do revestimento
com um pilão: o revestimento, por atrito, vai descendo e finaliza-se criando um bulbo na
base (ou uma base alargada).

Depois disso, colocamos a armadura, fazemos a concretagem (que é executada sem


que a água ou o solo se misturem ao concreto); após a concretagem, o revestimento é sacado.
Veja a definição da norma:

As estacas Franki são executadas através da cravação de um tubo por meio


de sucessivos golpes de um pilão em uma bucha seca de pedra e areia aderida
ao tubo. Atingida a cota de apoio, procede-se à expulsão da bucha, execução
de base alargada, instalação da armadura e execução do fuste de concreto
apiloado com a simultânea retirada do revestimento. (ABNT NBR 6122:2019)

224
Vinicius Lorenzi

a) b) c) d)

Figura 7.44-Sequência executiva da estaca Franki.

7.11.1 Sequência executiva da estaca Franki Standart (método


convencional)

1. Cravação do tubo

É realizada com golpes do pilão na bucha seca. A adesão da bucha ao tubo ocorre
por atrito até atingir a nega.
Há duas formas de obter as negas de cravação do tubo: para 10 golpes de 1 metro de
altura de queda do pilão; para 1 golpe de 5 metros de altura de queda do pilão, conforme
Tabela 7.6 (Tabela H.1 da norma ABNT NBR 6122:2019).

225
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Tabela 7.6 - Peso e diâmetro dos pilões, segundo a norma ABNT NBR 6122:2019.

Diâmetro da estaca m Peso KN Diâmetro

0,30 10 0,18

0,35 15 0,18

0,40 20 0,25

0,45 25 0,28

0,52 28 0,31

0,60 30 0,38

0,70 34 0,43

2.
Execução da base alargada
A norma ABNT NBR 6122:2019 orienta:

Atingida a cota de projeto e obtida a nega especificada, expulsa-se a bucha


através de golpes do pilão com o tubo preso à torre. A seguir introduz-se um
volume de concreto seco (fator água/cimento = 0,18), formando assim a base.

Uma energia mínima deve ser utilizada para os diferentes diâmetros nos últimos
0,15 m³. Veja a Tabela 7.7.

Tabela 7.7- A energia de cravação e o diâmetro das estacas.

Energia mínima Diámetro das estacas

2,5 MN x m Igual ou inferior a 450 mm

5 MN x m 450 mm a 600 mm

9 MN xm 700 mm (últimos 0,25 m³ nesse caso)


Volume diferente Proporcional ao volume
Fonte: Elaborada pelo autor.
,

-
"

se
e

de

controlando
golpes
pelo

número
de

queda
altura
pela
do

pilão
peso
do
produto
pelo
obtida
A

é
energia

o
volume injetado pela marca do cabo do pilão em relação ao topo do tubo.

3. Colocação da armadura
▶ A armadura deve ser colocada ao final da execução da base e deve ser anco
rada nesta.

▶ A armadura é integral nessa estaca.


▶ Armadura mínima: arras de aço CA-50 de acordo com a Tabela 4 da norma.
A extremidade inferior da ferragem deve ser feita com aço CA-25 (em forma
de cruzeta) soldado à armadura principal.

226
Vinicius Lorenzi

4.
Concretagem do fuste

São lançadas, uma após a outra, pequenas camadas de concreto seco. A se
quência é essa: lança-se o concreto, apiloa-se, retira-se o revestimento.

Em casos normais, o fator água/cimento é igual a 0,36. Se o fuste for vibrado,
o a/c deve ser ajustado conforme o caso.

Deve-se concretar até 30 cm acima da cota de arrasamento.
O concreto dessa estaca é seco e deve possuir as seguintes características:


consumo de cimento igual ou superior a 350 kg/m³;

Fck ≥ 20 MPa aos 28 dias.

No final do processo, lembre-se que ao menos 1% das estacas, e no mínimo
1 por obra, você precisa ver a estaca abaixo da cota de arrasamento e, se
possível, até o NA para conferência da sua integridade e da qualidade do fuste.
Boletim de execução

a) identificações gerais: obra, local, nome do operador, executor, contratante;


b) características do equipamento;
c) data da execução;

d) comprimento do tubo e peso do pilão;


e) identificação da estaca: diâmetro, nome ou número conforme projeto de
fundação;

f) data da cravação e/ou recravação, quando houver;


g) características do pré-furo ou furo de alívio, quando houver;
h) comprimento cravado e útil da estaca;

i) nega para 10 golpes com altura de queda de 1,0 m;


j) nega para 1 golpe com altura de queda de 5,0 m;

k) registro do volume e energia da base;

1) volume de concreto para ancoragem da armação na base;


m) levantamento da estaca e encurtamento da armadura;

n) diagrama de cravação em pelo menos 10% das estacas, sendo obrigatoria


mente incluidas aquelas mais próximas aos furos de sondagem;
o) especificações dos materiais e insumos utilizados;
p) traço do concreto utilizado;

q) observações relevantes;
r) nome e assinatura do executor;

s) nome e assinatura da fiscalização e do contratante.

227
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Perceba que, até o momento, em grande parte das técnicas citadas, o solo deveria
ser retirado primeiro, escavado e, a partir daí, concretava-se a estaca. Nesse caso, o pro
cesso é diferente.

No caso da Franki, não há retirada do solo: a estaca vai compactando lateralmente


o solo, o que gera um atrito lateral muito interessante e altíssima resistência tanto de
atrito quanto de ponta.

Observe um detalhe: o atrito lateral se dá pois há uma compressão lateral do solo,


já a resistência de ponta ocorre por conta do bulbo inferior formado. Isso é muito positivo
para essa estaca, de modo geral!

- Nossa, Vinicius... Só vi vantagens nessa solução!

Sim, são muitas! Ela tem uma grande capacidade de carga, tem uma ponta maravi
lhosa por conta do bulbo, atinge bons comprimentos, tem boa rugosidade... eu diria até
que, em termos de qualidade final da estaca, é uma das melhores soluções que existem!

Veja uma estaca Franki que fica em exposição no Shopping Tijuca, no Rio de Janeiro.
Olha a rugosidade lateral da estaca! Incrível, não?

ESTACA FRANKI DIAM. 520 mm ORIGINAL


MANTIDA COMO TESTEMUNHA
DA OBRA DE EXPANSÃO DO SHOPPING TIJUCA
29 DE ABRIL DE 2007

Figura 7.45-#Estaca Franki em exposição. Figura 7.46-Detalhe da estaca

A estaca Franki costuma "ganhar" umas obras por sua capacidade de carga ser muito
alta. Por exemplo: se uma HCM de 400 mm suporta 50 toneladas de carga, uma Franki,
com mesmo diâmetro, suporta 70 toneladas.

Mas cuidado! Nem tudo é bônus: o ônus desse método gera muito impacto de vizi
nhança. Eu diria que é a metodologia que mais gera impacto nas obras vizinhas.

228
Vinicius Lorenzi

Nessa metodologia executiva, os golpes na bucha geram muita vibração, pois pra
ticamente toda energia é dissipada abruptamente no solo.

Quando se crava uma estaca metálica ou uma pré-moldada de concreto, pense


comigo: tenho um martelo e esse martelo baterá na estaca. Então, a energia de queda
dele dissipará ao longo da minha estaca e estaca dissipará para o solo.

Na estaca Franki, isso não acontece: nela, eu já bato diretamente no solo, ou seja,
na hora que bato no solo, toda energia de queda do martelo libera a energia para o solo.

A estaca Franki, em algumas cidades do país, é proibida nos centros urbanos.


São Paulo é uma delas.

No caso dessa estaca, é fundamental que você veja o entorno e faça um relatório
de impacto de vizinhança antes de iniciar sua obra.

Uma vez, uma aluna minha da pós-graduação em Fundações Profundas contou em


sala de aula que estava com uma obra no Nordeste e que esta seria executada em Franki.
Segundo ela, a obra estava ao lado de um museu, que era tombado pelo Patrimônio
Histórico.

Na aula, ela questionou se havia algum problema nisso, demonstrando que não
possuía conhecimento profundo acerca da metodologia que em poucas semanas come
çaria a executar! No início, até achei que ela estivesse brincando, mas não, ela falava sério!

Esse é o reflexo de grande parte das graduações em Engenharia no país. Muitos


conteúdos genéricos e pouco conhecimento prático (e específico) daquilo que os alunos
enfrentarão no mundo real da Engenharia.

Reflita!

Qual é a probabilidade de a obra dela dar certo, sem gerar ne


nhum impacto à obra histórica?

Se você disse nenhuma, acertou!

Se você está em um local afastado ou um local em que não gere interferência em


nenhuma obra, esse tipo de estaca é uma solução muito boa. Por exemplo, fazer um silo
em uma área rural (sem obras próximas). Nesse caso, seria uma ótima solução.

Talvez você se pergunte: como que o projetista indicou um projeto de fundações


com essa técnica? A resposta é simples: por total desconhecimento do local e das possíveis
interferências. É aquele tipo de projeto que só se pega a carga, faz uma análise básica da

229
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

sondagem e vai para a etapa de projeto. Faltou, obviamente, nesse caso, uma análise mais
aprofundada do local.

A produtividade da Franki também é relativamente baixa: por dia, em média, exe


cuta-se 3 a 5 estacas, dependendo do sistema de movimentação. Sistemas com esteiras
até melhoram a produtividade, embora o mais comum sejam os sistemas com rolos de
movimentação.

Se sua necessidade, em termos de prazo, é de uma estaca mais produtiva, escolher


outra solução seria melhor para atender as condições de projeto.

A grande vibração gerada interfere até na própria metodologia: no caso da Franki,


você não pode concretar uma nova estaca se as demais, dentro de um círculo de cinco
diâmetros, foram cravadas e concretadas em intervalo menor que 12 horas.

-Qual é o motivo para esperar esse tempo, na prática?


Então... corre o risco, se você não esperar o tempo correto, de, na cravação de uma
nova estaca, você levantar a que foi cravada antes por conta da vibração excessiva. Para
reduzir as chances de isso acontecer, a norma. conselha fazer um pré-furo ou furo de alívio.
Cabe salientar que há também algumas alternativas à execução padrão dessa estaca,
conforme a norma:

▶ perfuração interna ("cravação à tração"),


▶ fuste pré-moldado;
▶ fuste encamisado com tubo metálico perdido;
▶ fuste executado com concreto plástico vibrado ou sem execução de base
alargada.

As variantes tubadas e mistas, isto é, com fuste pré-moldado e bucha estanque, são
aplicadas em obras em regiões com leitos d'água: pontes e obras marítimas. As mistas
podem ainda ser usadas em ambientes agressivos, para maior controle do desempenho
do concreto do fuste.

A variante com fuste vibrado tem aplicação em terrenos com argilas muito moles
e sua finalidade é otimizar o processo. Entretanto, as estacas Franki não são indicadas
também em terrenos com camadas de argila mole saturadas, pois, dependendo de como
a concretagem é feita, pode ocorrer estrangulamento do fuste ao sacar revestimento.
Por fim, a variante de ponta aberta, que conta com escavação do fuste no processo,
pode ser aplicada quando se tem no entorno obras que apresentem grandes fragilidades.
Isso pode ser feito? Sim! Mas é preciso reconhecer que há outras soluções viáveis mais
interessantes para casos como esse.

230
Vinicius Lorenzi

Quando vamos montar um processo de escolha de um tipo de fundação, são muitas


as variáveis a serem analisadas. Desde quando começamos a tratar de execução, falamos
sobre produtividade, mobilidade, custos, prazos....
Por isso, em fundações, não adianta vir com soluções prontas sem raciocinar tecni
camente, tampouco ficar refém de software, por mais moderno que seja!

Não é também só chegar com método de cálculo e achar que vai resolver. NÃO VAI!

O verdadeiro dimensionamento de uma fundação está aqui: no entendimento de


todas as etapas do processo executivo das fundações! É assim que você encontrará o
menor custo na sua obra, a maior produtividade e a solução mais inteligente!

Entenda que a avaliação, o processo em si de escolha da fundação leva em conta


muitos itens de suma importância. E a cada caso trazido pelo cliente ao seu escritório,
conforme suas restrições, aplica-se melhor a um tipo de metodologia!

Quadro 7.12 - Vantagens e desvantagens da metodologia.


Vantagens Desvantagens
Podem atingir grandes comprimentos. Seu processo executivo causa muita vibração, podendo
danificar construções vizinhas, por isso não é interessan
.

Grande estabilidade pela base alargada,


te em centros urbanos com obras antigas.
boa verticalidade e superfície do fuste
bastante rugosa em contato com o terreno Baixa produtividade.
bastante comprimido.
É proibida em algumas cidades do país!
Alta capacidade de carga.
Na Franki, toda a energia de queda do martelo gera vi
Capaz de ultrapassar o NA. bração diretamente no solo.

O local onde executará a estaca é de fundamentalimpor


tância; por exemplo: obras isoladas, obras rurais, obras
de

silos, sem interferências.

Fique ligado!

Deve-se ter cuidado com as transições de cama


das de solos moles.

Limitação quanto ao NSPT: 8< n ≤ 40.

231
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Fique ligado!

Como falamos repetidamente ao longo desta obra, a avaliação do processo de escolha


leva em conta diversas variáveis, incluindo detalhes executivos das fundações e da
variável mais importante no momento (preço, produtividade, qualidade, local, acesso,
disponibilidade de equipamento).

MINHAS ANOTAÇÕES

232
Vinicius Lorenzi

7.12 Estacão e estaca barrete

Abordaremos o que chamo de "estacas especiais". Entre elas, estão as estacas es


cavadas, com uso de fluido estabilizante, isto é, os estacões e as estacas barrete. Vamos
começar!

Esse tipo de fundação tem sido relevante no Brasil em obras de grande porte, princi

palmente pelo fato de esse tipo de fundação absorver grandes capacidades de cargas em
grandes diâmetros. Os equipamentos utilizados para essa solução normalmente também
são de grande porte, como os da Figura 7.47:

Figura 7.47-Equipamento de estacão. Crédito: Pretech Fundações.

Na rdade, temos entender inicialmente que isso não é nem água nem barro,
mas um fluido estabilizante, que pode ser lama bentonítica ou, ainda, polímero. Vamos
falar desta última logo mais.

233
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

A lama bentonitica é, na realidade, uma dispersão de um argilomineral, que apre


senta uma propriedade gelatinosa. Ele tem uma característica peculiar, que é de formar
géis tixotrópicos.

- O que isso significa, Vinicius?

Sob a ótica da Ciência de Materiais, um material tixotrópico é aquele que, em dis


persão, pode alterar seu estado físico, em repouso e em agitação. Em agitação, o material
é fluido e, em repouso, apresenta característica gelatinosa.

A bentonita é um argilomineral que vem de uma rocha vulcânica. O mineral que


predomina ali é a montimorilonita. Há, no Brasil, jazidas do mineral na região Nordeste.

Para obter a lama em si, é preciso adicionar água com baixo teor de dureza e pH
neutro por meio de equipamentos de alta turbulência.

- Para que serve, na prática, colocar isso na estaca?

A escavação executada com o estabilizante tem a função de evitar que ocorra o


desmoronamento da parte interna da escavação, que, nessa estaca, geralmente possui
uma grande dimensão. Não se costuma fazer estacas como essas para pequenos diâmetros
e profundidades.

A característica principal desse material é expandir várias vezes seu volume e, em


contato com a água, formar os géis tixotrópicos com propriedade gelatinosa. A ação
anti-infiltrante do material é a responsável pela estabilidade da perfuração: com ela, o solo
não desmoronará para dentro do furo.

Fisicamente, o processo só funciona se o estabilizante exercer uma pressão hidros


tática maior que as pressões da água (do lençol freático) e do solo, o que evita o desmo
ronamento das partículas.

Nas paredes internas do furo, é formada uma película impermeável, que chamamos
de "cake", e, por isso, essa solução não precisa de revestimentos. Assim, concluímos que
a função do fluido é substituir o revestimento.

Pense comigo: uma estaca de 2 metros de diâmetro com 30 metros de profundidade,


REVESTIDA? Complicado, hein? Como que um equipamento conseguiria remover esse
revestimento ou até cravá-lo?

TO
Fique ligado!

Nessa estaca, a perfuração ocorre simultaneamente ao preenchimento com lama bento


nítica. Outra propriedade importante da lama bentonítica é que ela mantém suspensas
impurezas decorrentes da escavação, permitindo a limpeza da ponta da estaca.

234
Vinicius Lorenzi

- Mas qual é a razão de usar uma metodologia complexa como essa?

A indicação básica para essas estacas é suportar grandes cargas de pilares muito
carregados.

Eu lhe garanto: esse método não só é possível, como também é incrível!


Você pode fazer estacas imensas com alta capacidade de carga, capazes de atender
obras gigantescas.

Figura 7.48-Estacão de 1,8 metro de diámetro com uso de fluido estabilizante. Fundação utilizada em uma
edificação de 35 pavimentos.

Veja a definição da norma ABNT NBR 6122:2019:

São estacas escavadas com uso de fluido estabilizante, que pode ser lama
bentonitica para perfuração ou polímeros sintéticos, naturais ou naturais
modificados para sustentação das paredes da escavação. A concretagem é
submersa, com o concreto deslocando o fluido estabilizante em direção as
cendente para fora do furo.

Primeiro, é importante distinguir um tipo de fundação do outro, já que temos o


estacão e a estaca barrete. A norma pontua que as estacas com fluido estabilizante di
ferem-se por conta da geometria: aquelas que possuem seções circulares são chamadas
de estacões; as que possuem formatos retangulares, são chamadas de barretes. Há ainda
aquelas com seções compostas.

235
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Figura 7.49-Estaca barrete-seção retangular. Crédito: Tecnogeo Ground

Quanto ao equipamento, existe uma diferença: os estacões são executados com


um equipamento rotativo (Figura 7.50), enquanto a estaca barrete é executada com um
equipamento Clamshell (por isso, ficam retangulares).

Figura 7.50-Equipamento rotativo-estacão.

236
Vinicius Lorenzi

Outro detalhe importante a ser destacado é que essa solução, assim como a HCM,
exige um preparo mais elaborado do canteiro para que a execução seja possível. O preparo
da lama bentonítica é feito em uma instalação específica, a central de lama (Figura 7.51).

15 so oce

Figura 7.51-Central de lama no estacão. Crédito: Pretech Fundações.

7.12.1 Sequência executiva

1. Escavação

Alguns cuidados precisam ser tomados nesse momento da sua execução. Antes dessa
etapa, é preciso cravar uma camisa metálica ou fazer uma mureta-guia para conduzir a
ferramenta de escavação. Sua finalidade é garantir uma boa locação.

As guias devem ser cerca de 5 cm maiores do que a estaca projetada; precisam ser
embutidas no terreno com um comprimento de pelo menos 1 metro.

O lançamento do fluido ocorre ao mesmo tempo que a escavação é realizada e,


por isso, é preciso cuidar para que seu nível esteja pelo menos 2 metros acima do lençol
freático. A perfuração deve ser contínua até sua conclusão. A cota da ponta da estaca é
aferida usando um cabo de medida graduado.

2. Características do fluido estabilizante

Existem algumas propriedades físico-químicas da bentonita necessárias para es


tabilização das paredes e limpeza da estaca: densidade, viscosidade e reboco ("cake").

237
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Fique ligado!

A lama bentonítica, depois de misturada, deve ficar em repouso por 12 horas para
hidratação completa. Motivo? Ela apresenta um inchamento muito acentuado quando
na presença de água.

No caso dos polímeros, a especificidade é maior. Por isso, é uma boa prática observar
o tipo de solo a ser escavado para indicação correta do fluido polimérico, que pode ser
composto de vários polímeros.

Alguns exemplos de polímeros que a norma cita são a PHPA (poliacrilamida), goma
xantana, PAC (celulose polianiônica) e CMC (carboximetilcelulose).

Alguns cuidados devem ser tomados também quanto à água a ser utilizada no
preparo: o pH precisa estar entre 7 e 11 (a medição pode ser realizada em campo por meio
de indicadores de pH); a dureza da água (excesso Ca+/Mg+) precisa estar no intervalo
de 0 a 120 ppm. Caso não esteja, pode ser corrigida com carbonato de sódio antes do
preparo do fluido.

Quadro 7.13-Lama bentonítica para perfuração.

Propriedades Valores Equipamentos para ensaio

Densidade 1,025 g/cm³ a 1,10 g/cm³ Densímetro

Viscosidade 30 s/st a 90 s/st Funil Marsh

7 all Indicador de pH
pH

Teor de areia Até 3% Baroid sand content ou similar

Quadro 7.14 - Polímeros para perfuração.

Propriedades Valores Equipamentos para ensaio


Densidade 1,005 g/cm³ a 1,10 g/cm³ Densímetro

Viscosidade 35 s/st a 120 s/st Funil Marsh

pH 9 a 12 Indicador de pH

Teor de areia Até 4,5% Baroid sand content ou similar

- Mas Vinicius, como eu verifico todas essas características da lama ou do polímero?

Por meio de ensaios, como peso específico, viscosidade, pH e teor de areia, entre
outros. A amostra é coletada do fundo da escavação.

238
Vinicius Lorenzi

3. Colocação da armadura

> É feita antes do início da concretagem, após a coleta da amostra de lama.


▸ Espaçadores devem ser usados para garantir o cobrimento de projeto e sua
centralização.

4. Concretagem

▶ Nas estacas especiais, a concretagem é submersa e contínua.


É usado tubo tremonha para evitar segregação do material.
Nessa estaca, a concretagem também não pode ser interrompida (assim como
a HCM) e é preciso ter cuidado com a validade do concreto.


A concretagem imediatamente feita após as outras operações.

▶ Deve ser feita com pelo menos 50 cm acima da cota de arrasamento.



Dosagem destes concretos(conforme ABNT NBR 6122:2019/Em1:2022)
>>> C30: consumo mínimo de cimento de 350 kg/m³ e fator a/c ≤0,6.
>>>
C40: consumo mínimo de cimento de 350 kg/m³ e fator a/c ≤ 0,45.

Abatimento entre 220 mm e 260 mm S 220, diâmetro de agregado de


9,5 mm a 25 mm e teor de exsudação inferior a 4%.
>>>
O concreto deve ter características que possibilitem a expulsão da lama
da perfuração. Por isso, avaliar a densidade dele é importante.

CO

Fique ligado!

Você também não pode executar uma nova estaca com espaçamento inferior a cinco
diâmetros em intervalo inferior a 12 horas, considerando a estaca de maior diâmetro.

7.12.2 Controles executivos

Precisamos controlar muitos fatores em uma estaca escavada com uso de fluido
estabilizante:


a ferramenta de escavação (caçamba ou clamshell) quanto a folgas e dimensões
para evitar quaisquer desvios executivos durante a escavação;

▶ o nivelamento e o prumo do equipamento de escavação;

▶ o nível do fluido em relação ao nível do lençol freático;

▶ as características do fluido antes da retagem;

▶ as características do concreto;

▶ planejamento e organização do canteiro e dos insumos para perfeita execução


de todas as etapas;

239
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

➤ descarte adequado dos resíduos.

7.12.3 Estaca barrete

Essa estaca passa pelo mesmo processo do estacão. Basicamente, o equipamento


é o mesmo, o que muda é a ferramenta de trabalho.

No estacão, a ferramenta é retangular, já na estaca barrete, a ferramenta é retangular


e chama-se clamshell (Figura 7.52).

Figura 7.52-Equipamento de perfuração de estacas barrete. Crédito: Brasfond.

Na realidade, existem outros formatos para a estaca barrete, como o formado pela
associação de duas ou mais estacas, podendo formar um L ou, ainda, um T. Enfim, essa
definição passa também pela avaliação da geometria do pilar.

Vamos falar das três etapas primordiais da execução, agora para a estaca barrete

apontando algumas dicas práticas da execução.

240
Vinicius Lorenzi

1. Perfuração com o clamshell



Conforme a estaca vai perfurando, ela vai injetando a lama guardada nos tan
ques de armazenagem e esta vai subindo. Ao longo da perfuração está cheio
de lama, que vai sendo injetada durante o processo.

Fique atento, pois a lama é guardada nos tanques de armazenamento e é
inserida gradativamente conforme ocorre a perfuração.

Um detalhe a mais é que não há diferença nenhuma entre o equipamento que
executa uma parede diafragma e uma estaca barrete.
2. Colocação da armadura

O preparo da base é feito com escavadeira hidráulica.

Grande quantidade de operários é necessária para o processo.

É importante ter no trajeto material pedregulhoso para poder transitar, pois o
canteiro fica com muitos resíduos da lama.

Estamos falando aqui de grandes armaduras.

As ferragens são colocadas, estando a estaca completamente preenchida de
lama (por exemplo: estaca de 20 metros, 20 metros de coluna de lama).

Deve-se colocar os elementos, fazer o transpasse, descer com a armadura.

A armadura pode não descer de primeira e ser necessário perfurar mais.
3.
Concretagem

Colocação do tubo tremonha.

Concretagem submersa - concreta-se de baixo para cima (lembre-se de que a


diferença de densidade dos materiais é fundamental nessa solução).



O concreto mais denso que a lama faz com que, na hora que esteja concretando
a estaca, a lama que estava dentro da perfuração comece a retornar para os
tanques de armazenagem.
O concreto entra e a lama retorna para os tanques.
Outros equipamentos necessários, além dos de perfuração, são tambores de esca
vação e a própria central de armazenagem de lama.

7.12.4 Qualidade x estacas com fluido estabilizante

Nas estacas com fluido estabilizante, é fundamental ter um bom controle de quali
dade. Na fase de perfuração, qualquer indício de desaprumo deve ser verificado e corrigido
para que a verticalidade seja perfeita.

Previamente à concretagem, como já mencionamos, temos que ver se o fundo está


limpo. Isso é verificado retirando-se uma amostra da lama (retirada a 15 cm do fundo).

241
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

O lançamento do concreto deve ser realizado cuidadosamente por meio do conjunto


funil + tremonha, sem pausas. O material deve estar em perfeitas condições de utilização
e dosado corretamente.

SO

Fique ligado!

Você deve ser muito cuidadoso na etapa de subida desse concreto na sua estaca. A
ponta do tubo tremonha sempre deve estar totalmente imersa no concreto. O concreto
e a lama não devem se misturar.

Reutilizar é vida! Para o reúso da lama, é necessário que esta passe por um processo
de reciclagem. Reutilizar é uma vantagem, pois diminui o custo final da lama (que é usada
mais vezes) e diminui resíduos a serem descartados.

- Vinicius, como é esse processo de reciclagem?

É a separação da lama bentonitica das impurezas incorporadas na escavação (areia,


argila, silte) e na concretagem da estaca. É preciso usar um reciclador.
A lama "contaminada" passa por duas peneiras vibratórias e por um ciclone até
tornar-se limpa o suficiente.

Limpa = voltar ao estado natural

Depois de reciclar a lama, a parte que será reutilizada volta aos tanques de arma
zenamento enquanto as impurezas retiradas são descartadas.
Em termos ambientais, é um processo muito interessante também.
- E os polímeros?

São uma tecnologia resultante do cerco, cada vez mais fechado dos órgãos ambien
tais em relação ao uso da bentonita. Diferentemente da lama bentonítica, os polímeros
são um produto biodegradável.

Além disso, não precisam de tempo longo de maturação como a lama - enquanto
ela precisa de 12 horas, o polímero precisa de 15 minutos após preparar a mistura para
inserção na perfuração.

Como se trata de um produto decorrente de processo industrial e automatizado,


com grande tecnologia envolvida, há produtos muito eficientes e que inclusive podem
ser utilizados juntos, interagindo com água.

242
Vinicius Lorenzi

Quadro 7.15- Parâmetros importantes.


Qualidade da água (salinidade, matéria orgânica e pH).

Viscosidade e densidade do fluido (podem impactar a estabilidade do furo).

Deposição de material no fundo da escavação. É o principal indicador de
desmoronamentos e por isso é preciso monitorar continuamente.
Indicador do pH.

Controle da perda de lama por infiltração no terreno. Esse parâmetro indica


necessidade de ajuste de traço. Com a aferição, são produzidos gráficos de
acompanhamento.

7.12.5 Polímero x bentonita. Qual escolher?

Se a escolha estivesse na minha mão, certamente eu escolheria o polímero, mesmo


ele tendo o valor unitário mais alto.

A quantidade de pontos positivos do uso do polímero em relação a lama bentonitica


proporciona:

melhor biodegradabilidade - em alguns lugares, existem restrições em relação


à bentonita;


menor dificuldade e custo de descarte, que pode ser em um bota-fora comum;
preparo e dispersão em água mais simples;


aplicação imediata (após 15 minutos do preparo);
grande reaproveitamento;

menor desgaste dos equipamentos e ferramentas.

Dica!

Algumas empresas fornecem o produto junto com o acompanha


mento técnico de profissional que verificará/controlará se o produto
está de acordo com as especificações técnicas.

Boletim de execução

a) identificações gerais: obra, local, nome do operador, executor, contratante;

b) características do equipamento;

c) identificação da estaca: diâmetro, nome ou número conforme projeto de


fundação;

243
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

d) comprimento real da estaca abaixo da cota de arrasamento;

e) cota da parede guia ou camisa, cota do fundo e de arrasamento;

f) controle de posicionamento da armadura durante a concretagem;

g) desaprumo e desvio de locação;

h) especificação dos materiais e insumos utilizados;

i) consumo de materiais por estaca e comparação trecho a trecho do consumo


real em relação ao teórico;

j) anotação dos horários de início e fim de cada etapa da escavação;


k) anotação dos horários de início e fim de cada etapa de concretagem;
1) resultados dos ensaios do fluido;

m) observações relevantes;
n) nome e assinatura do executor,

o) nome e assinatura da fiscalização e do contratante.

7.13 Tubulão a céu aberto

Agora vamos falar sobre um método muito tradiciona Engenharia de Fundações:


o tubulão. Considerado por muitos o melhor tipo de fundação que existe por conta da
limpeza adequada da base, da alta capacidade de carga e versatilidade, além de questões
logísticas, quando se tem dificuldades para acesso com equipamentos.

Entretanto, há algumas desvantagens envolvidas no processo de tubulões a céu


aberto, que veremos neste capítulo - o que não abordaremos aqui são os tubulões a ar
comprimido, uma vez que esse tipo de fundação teve seu uso proibido pela NR-18.
O método executivo de fundação em tubulão é um dos primeiros métodos de fun
dações para apoio das estruturas no solo. O tubulão a céu aberto consiste em que pelo
menos uma parte do processo seja realizada de forma manual.
Veja a definição da norma:

Trata-se de uma fundação profunda, escavada manual ou mecanicamente, em


que, pelo menos na sua etapa final, há descida de pessoal para alargamento
da base ou limpeza do fundo quando não há base.

Para ser considerado tubulão, a ABNT NBR 6122:2019 preconiza que deve haver a
descida de um operário, o poceiro, o qual realizará a limpeza da base ou alargamento da
base do tubulão (a saia).

Fique ligado!

Muita gente confunde estaca escavada de grande diâmetro com tubulão.


Não, não é a mesma coisa.

244
Vinicius Lorenzi

- Vinicius, e se eu alargar a base mecanicamente, com um equipamento?

Isso também não é considerado um tubulão; é uma estaca escavada de grande


diâmetro com alargamento de base. Explicarei por que essa questão de nomenclatura
influencia tanto.

Basicamente, esses processos mecanizados:

▶ não garantem a limpeza adequada do fundo da perfuração da escavação;


▶ não garante a execução do rodapé (essencial no tubulão).

Há outras diferenças impactantes também. O processo de dimensionamento comple


tamente distinto. No tubulão, fala-se em tensões admissíveis da base; na estaca escavada
de grande diâmetro, atrito lateral e resistência de ponta.

O tubulão é uma fundação profunda, entretanto, sua distribuição de carga é feita


de forma direta: as cargas são transmitidas essencialmente pela base ao solo da sua cota
de assentamento. Podem ter sua base com formato circular (Figura 7.53 - Tubulão 1) ou
em formato ovalado (Figura 7.53- Tubulão 2).

A execução de um tubulão se dá da seguinte forma:


▶ abertura do fuste até a cota de apoio do tubulão;

descida do poceiro;
abertura manual da base/saia;

verificação da base por profissional competente;
▶ inserção da armadura;

▶ concretagem.

Abordaremos essa sequência executiva de forma detalhada desse tipo de fundação.

245
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Vista em corte Bloco de coroamento Vista em planta


(quando necessário)

Td1

Revestimento

(quando necessário)

Fuste

Base

Tubulão 2

Tubulão 1

P₂

Folga

5₁

Figura 7.53-Tubulão a céuaberto.

7.13.1 Sequência executiva

1. Escavação do fuste do tubulão

A escavação do fuste pode ocorrer de forma manual pelo trabalho dos poceiros ou
ainda com auxílio de perfuratriz até a cota de projeto. Equipamentos perfuratrizes são
indicados nos casos em que não haja dificuldade logística de acesso (Figura 7.54).

246
Vinicius Lorenzi

Figura 7.54-Equipamentos perfuratriz podem realizar a escavação do fuste.

Nesses casos em que a perfuratriz pode realizar a atividade de escavação do fuste,


torna-se interessante a execução para ganhar agilidade no processo. Um fuste de 10 me
tros, por exemplo, realizado mecanicamente é feito em menos de 1 hora, enquanto em
um trabalho manual pode levar até mais de um dia. Na escavação manual, o prumo e a
geometria desse fuste devem ser conferidos durante a escavação.
2. Alargamento da base

O alargamento da base pode ser feito de forma manual ou mecanicamente. Quando


mecanicamente, é obrigatória a descida de poceiro para realização do rodapé do tubulão
e remoção do solo solto que o equipamento não consegue retirar.

Para ser efetivamente um tubulão, em alguma parte do processo, é necessário a


descida do poceiro para a realização correta da atividade.

247
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Figura 7.55-Escavação manual do tubulão.

Fique ligado!

O mínimo diâmetro que um tubulão pode ter é de 90 cm. Além disso, precisam estar
revestidos ao longo de todo o fuste.

O equipamento de descida e içamento de trabalhadores e materiais utilizados no pro


cesso de escavação manual de tubulão deve:

> dispor de sistema de sarilho, projetado por profissional legalmente habilitado,


fixado no terreno, fabricado em material resistente e com rodapé de 20 cm em
sua base, dimensionado conforme a carga e apoiado com, no mínimo, 50 cm de
afastamento em relação à borda do tubulão;

ser dotado de sistema de segurança com travamento;


> possuir dupla trava de segurança no sarilho, sendo uma de cada lado;
> possuir corda de cabo de fibra sintética;
▸ utilizar corda de sustentação do balde;

ter gancho com trava de segurança na extremidade da corda do balde.


É exigência que não acaba mais! E não para por aí.
A operação do equipamento de descida e içamento de trabalhadores e materiais utili
zados no processo de escavação manual de tubulão deve atender às seguintes medidas:
> liberar o serviço em cada etapa, registrada no livro de registro diário de escavação;
> dispor de sistema de ventilação por insuflação de ar por duto, captado em local isen
to de fontes de poluição, ou, em caso contrário, adotar processo de filtragem do ar;

▸ depositar materiais longe da borda do tubulão, com distância determinada pelo


estudo geotécnico;

248
Vinicius Lorenzi

ter cobertura quando o serviço for executado a céu aberto;

▶ isolar, sinalizar e fechar os poços nos intervalos e no término da jornada de


trabalho;

impedir o trânsito de veículos nos locais de trabalho;



paralisar imediatamente as atividades de escavação no início de chuvas quando
o serviço for executado a céu aberto;

utilizar iluminação blindada e à prova de explosão.

É um número enorme de exigências que vamos discutir na sequência.


3. Inspeção da base do tubulão

Você já teve interesse (ou oportunidade) de descer em um tubulão? Se não, vou te


contar: É INCRIVEL!

- Como assim, é incrível? Você descer em um lugar apertado, com risco de queda?
Não é bem assim...

Figura 7.56-Descida de profissional para inspeção da base do tubulão.

Primeiro, é importante que fique claro que a solução em tubulão só pode ser realizada
em um tipo de solo que comporte esse tipo de solução, ou seja, não pode ser projetada
sem que o solo tenha coesão e/ou sem a resistência adequada para a descida do poceiro
e do profissional que fiscalizará a base.

Além disso, hoje, a NR-18 indica uma série de normativas, de especificações que
precisam ser seguidas para garantir a segurança de todos!

249
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

E agora? O que você acharia da oportunidade de descer inspecionar um tubulão?

Antes de concretar essa fundação, é fundamental que um profissional com habili


tação (e, presume-se, competência) desça para fazer a inspeção, para averiguar, atestar a
qualidade desse serviço e só então liberar a próxima etapa, da concretagem.

Basicamente, nessa etapa, é feita:

a verificação da geometria do tubulão, checando suas medidas, se estão de


acordo com o especificado em projeto;

a comprovação da realização do rodapé (fundamental para a correta concreta


gem do tubulão) e também da limpeza da base para que a concretagem seja
feita em uma base livre de sujeira;
▸ atestar a tensão admissível do solo de apoio.

4. Colocação da armadura

Deve ser feita de forma controlada, para que não ocorram desprendimentos de
solo dentro do seu tubulão e consequentemente deixem sujeira na base (já vistoriada).
É uma boa prática usar espaçadores (roletes) para garantir o cobrimento adequado.
Além disso, a armadura deve permitir a correta distribuição do concreto sem reter os
agregados graúdos.

5. Concretagem

A norma recomenda fortemente que seja feita a concretagem imediatamente após


à conclusão da escavação/inspeção.

E qual é o motivo disso?

Se o fuste ficar aberto ao tempo, sem concretar, pode ocorrer desprendimento de solo
para o seu interior. Além disso, se chover, o furo pode ficar cheio de água e comprometer
todo um trabalho já realizado.

Quanto ao concreto, há alguns detalhes:


▸ C25: abatimento entre 100 mm e 160 mm, diâmetro de agregado de 9,5 mm
a 25 mm e teor de exsudação inferior a 4%; consumo mínimo de cimento de
280 kg/m³ e fator a/c ≤ 0,6;

▸ C40: abatimento entre 100 mm e 160 mm, diâmetro de agregado de 9,5 mm


a 25 mm e teor de exsudação inferior a 4%; consumo mínimo de cimento de
360 kg/m³ e fator a/c ≤ 0,45.

O concreto é lançado por meio de funil e não é preciso utilizar vibrador. Por isso,
cuidado: seu concreto precisa ter uma consistência que permita a ocupação total do seu
tubulão, sem deixar vazios de concretagem.

É proibida a utilização de sistema de tubulão escavado manualmente com profun


didade superior a 15 metros. O tubulão escavado manualmente deve:

250
Vinicius Lorenzi


ser encamisado em toda a sua extensão;

ser executado após sondagem ou estudo geotécnico local, para profundidade
superior a 3 metros;
▶ possuir diâmetro mínimo de 90 cm.

No tubulão escavado manualmente, são proibidos:



o trabalho simultâneo em bases alargadas em tubulões adjacentes, sejam esses
trabalhos de escavação e/ou de concretagem;

a abertura simultânea de bases tangentes.
Boletim de execução

a) identificações gerais: obra, local, executor, contratante;


b) data e horário do início e fim da escavação e da concretagem;
c) identificação ou número do tubulão;
d) cota do terreno;
e) cota de arrasamento;

f) dimensões do fuste e da base;


g) profundidade ou cota de apoio da base;
h) desaprumo e desvio de locação;
i) especificação dos materiais e insumos utilizados;
j) consumo de materiais por tubulão;
k) volume de concreto real e teórico;
1) anormalidades de execução;
m) observações relevantes;
n) nome e assinatura do executor;

o) nome e assinatura da fiscalização e do contratante.

251
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Fique ligado!

É possível que você tenha cotas distintas de assentamento dos seus tubulões. Se isso
acontecer, comece pelos mais profundos e só então parta para a execução dos mais
rasos. As bases devem ter distância, de centro a centro, ao menos 2,5 vezes o diâmetro
da maior base.

P1 P2 P3 P4

Cota de apoio inicial

das fundações

AH

ΔΗ,
ΔΗ,
AH₂

Figura 7.57-Tubulóes apoiados em cotas distintas.

Trago uma discussão sobre a situação atual do uso dessa solução no Brasil: é fato
que o tubulão vem caindo em desuso. Talvez você se pergunte a razão disso.

Para começar, na prática, além de fatores limitantes, como a boa coesão do solo ou
a inexistência de água (você pode fazer tubulão abaixo do NA, com as ressalvas: desde
que seja possível retirar a água e mais, se não existir riscos de desmoronamentos), existem
uma série de fatores que causam essa situação atual.

252
Vinicius Lorenzi

Quadro 7.16 Motivos do desuso do tubulão.


As equipes podem estar trabalhando em condições insalubres.

Dificuldade de acesso à mão de obra. Profissional difícil de se encontrar no

mercado (o poceiro deve se sujeitar a trabalhar em condições desfavoráveis,


Bodo que é cada vez mais raro de encontrar).
▶ Necessidade de certificação dos colaboradores, com uma série de exames
e cursos que desestimulam esses trabalhadores.

Trabalho com alto risco; se não houver coesão no solo, pode haver
desbarrancamento.

Aumento constante da fiscalização do Ministério do Trabalho gerando prazos
executivos cada vez mais alongados.
Custo desenvolver a execução de tubulões seguindo todas as novas reco
mendações que são preconizadas pelas normas, tornou o sistema inviável.

Com a necessidade atual de seguir uma quantidade enorme de exigências, a viabi


lidade desse sistema é cada vez menor. O fato de o diâmetro mínimo exigido ter passado
para 90 cm, por exemplo, já causou um impacto enorme de custos, tanto de escavação,
concreto e aço.

Agora, vamos pensar nas inúmeras exigências indicadas na nova NR-18. São exi
gências que tiveram a intenção de extinguir essa técnica, pois tornam o sistema cada vez
mais complexo de se executar.

É certo que muitas vidas foram retiradas com essa técnica, principalmente quando
nenhuma das normas eram seguidas e quando o solo não era o indicado para essa técnica.
Se por um lado as novas prerrogativas normativas vêm para garantir a segurança dos
trabalhadores, por outro lado poderá, sim, levar ao desuso do método devido aos altos
custos para seguir essa normativas.

Não sejamos inocentes em achar que todas as empresas fazem uso dessas normas,
porque isso não é verdade. Ainda há muitas execuções fora de norma e que colocam em
risco as atividades exercidas.

CO

Fique ligado!

Se houver a morte de um funcionário em uma obra sua e o funcionário não estiver

utilizando todos os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) necessários, nem es


r seguindo todas as normas, a responsabilização será do responsável pela obra
(empresa/engenheiro).

253
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Dica!

O tubulão vai acabar?

Não! Para determinadas situações, ele sempre será uma boa


solução.

O processo de escolha de fundação leva em consideração a disponibilidade de


equipamentos e seu acesso na obra. O tubulão tem indicação especialmente nesses
casos em que esses são os maiores desafios da obra.

Exemplo:

Em obras em linhas de transmissão, nas quais se têm dificuldade de acesso de


equipamentos e variabilidade dos locais de instalação das torres, o tubulão é uma solução
viável, apesar dos riscos.

Quadro 7.17- Vantagens e desvantagens do tubulão a céu aberto.


Vantagens Desvantagens

Permite acesso a locais que grandes equipamentos não Solução de alto risco para os trabalhadores,
alcançam. possibilidade de soterramento, infecções,
asfixia, intoxicação com gases etc.
.

Permite observação simultânea ao material escavado e


controle preciso das previsões de projeto. Baixa produtividade.

Suas dimensões podem ser alteradas durante a escava Necessidade de mão de obra disposta a tra
ção para compensar condições de subsolos diferentes as
balhar sob condições desfavoráveis.
previstas.
O controle da limpeza da base deve ser ri
Exemplo:
goroso e, para isso, um profissional técnico
Fundação dimensionada para ser apoiada em um solo
deve estar sempre presente para liberar os
com tensão admissível de 5 kgf/cm² em 12 metros de pro
tubulões.
fundidade. Mas em campo não se concretizou a tensão

admissível esperada. Como solução, é possível alterar as .


As recomendações das normas de seguran
dimensões da base para atender a carga ou ainda escavar ça devem ser utilizadas em plenitude, pois
em cotas mais profundas para encontrar um solo com a
os riscos são eminentes.
competência necessária.

Possibilidade de eliminação de bloco de coroamento de

estacas, onde um único tubulão recebe a carga provenien


te do pilar.

O pilar pode nascer diretamente sobre o tubulão (pilar,


cálice, tubulão sem bloco de coroamento), o que reduz

tempo de execução e custo em comparação com a solu

ção em estacas que necessitem de bloco de coroamento.

254
Vinicius Lorenzi

(es
Caso de obra!

Vou compartilhar aquela que foi a minha obra derradeira de tubulão! Não que eu ainda
não faça e/ou não venha a executar obras com esse método, mas foi a partir dessa obra
que eu disse: Chega!

Apresentarei alguns dados da obra:

edificação residencial com 22 pavimentos;


.

cargas nos pilares principais da ordem de 1.500 toneladas;


.

obra em centro urbano, com várias edificações ao redor;


.

solo argiloso em toda sua extensão sondada (até os 19 metros - limite


.

impenetrável);

execução em 2015 (anterior a última regulamentação da NR-18);


tubulões com previsão de 13 metros;
tensão admissível do solo de apoio - 5 kgf/cm²;
não havia previsão de água no fundo da escavação.
.

Pois bem! Iniciadas as escavações mecanizadas, deparamo-nos com o seguinte pro


blema: as cotas previstas para os tubulões (13 metros) não atingiam a tensão mínima
esperada de 5 kgf/cm².

Um solo para atender essa característica precisa de uma resistência alta! A sondagem
SPT mostrava um número de golpes que atendia a essa resistência, sin loco isso
acabou não se concretizando.

Uma das possibilidades seria aumentar a geometria da base dos tubulões, por exemplo,
passando de 2 metros de diâmetro para 2,5 metros, mas isso não era possível, pois os
mesmos já estavam muito próximos uns dos outros, o que impedia um aumento da
área da base.

A segunda alternativa seria aumentar a profundidade até encontrar a tensão admissível


esperada. Problema: nível d'água aos 14 metros. De fato, é possível realizar esse tipo de
fundação abaixo do NA; o problema é que isso demanda bombas em tempo integral e
o processo é muito mais complicado do que sem água - fora o risco.
Uma terceira alternativa fora descartada naquela oportunidade, que seria alterar o tipo
de fundação. O cliente não tinha qualquer intenção de fazer uma hélice, um estacão
ou cravar uma estaca.

Por fim, tomou-se a decisão de descer mais a profundidade até encontrar a tensão
admissível esperada. A mesma encontrava-se em 17 metros-4 metros a mais de per
furação, sendo que pelo menos 3 metros abaixo do NA. Era um perrengue e tanto!

- Vinicius, mas a norma não permite abaixo de 15 metros.

Sim, como eu disse, essa obra foi feita antes das novas recomendações; até então, esse

limite não era de 15 metros. Mas tínhamos técnico/engenheiro de Segurança em tempo


integral no local, descendo duas a três vezes por dia no tubulão para verificar pressão,
temperatura, gases, umidade.

255
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Resultado: 9 meses na execução da fundação da obra!


Isso é um tempo absurdo para um edifício residencial! Hoje em dia, 1 mês de fundação
em uma obra desse porte é mais do que suficiente para diversas metodologias. Agora,
imagine: o que são 8 meses a mais em uma etapa? Bom... cliente desesperado!
Custo? Oito meses a mais de mestre de obra, encarregado, equipe de Engenharia, ser
ventes... e tudo mais que envolve uma obra e as variáveis capazes de impactar aquela
obra.

O cliente só enxergava o custo da escavação! De fato, ele era mais econômico naquela
oportunidade, mas e a variável tempo de execução? Ela precisa estar em nossas pla
nilhas orçamentárias!

Agora, trago em números o motivo de eu acreditar que o tubulão vem perdendo mer
cado e cada vez mais viabilidade (custo-benefício): essa obra teve preço estimado de
escavação da fundação em tubulão de R$ 70 mil. Estamos falando somente de mão
de obra, sem material. Naquela oportunidade, o orçamento da estaca hélice contínua
tinha ficado em R$ 120 mil.

Se essa obra fosse orçada hoje em dia, os custos de mão de obra do tubulão, devido à
indisponibilidade de equipes e, ainda, às novas exigências da NR-18, subiriam 100%,
ou seja, a obra custaria R$ 140 mil. Já a HCM não sofreu a mesma incidência de reajuste
e não sairia por mais de R$ 150 mil.

Veja que, lá atrás, havia uma diferença financeira que até poderia justificar a opção por
uma ou outra técnica; entretanto, hoje em dia isso não acontece mais! Principalmente
se eu colocar uma diferença de 8 meses de trabalho. Ou seja, faça sempre conta!

MINHAS ANOTAÇÕES

256
Vinicius Lorenzi

7.14 Estacas helicoidais

Por Incotep-Sistemas de Ancoragem

As estacas helicoidais possuem registro de utilização desde a primeira metade do


século XIX, quando foram utilizadas em uma serie de estruturas costeiras no Reino Unido.
Desde então, os métodos de dimensionamento, fabricação e instalação sofreram grande
evolução, o que permitiu a popularização desse tipo de solução e a ampliação de sua
utilização para os mais diversos tipos de obra.

A estaca helicoidal, de maneira sucinta, é um tipo de fundação metálica profunda,


instaladas no solo por meio de torque e composta por uma haste central (normalmente
tubular), dotada de diversos helicoides soldados ao longo de sua extensão, que são os
elementos responsáveis por absorver os esforços transmitidos à fundação.

Figura 7.58-Estaca helicoidal.

As estacas helicoidais podem ser utilizadas como elementos individuais e, portanto,


responsáveis por absorver todo o esforço transmitido, ou em conjuntos de múltiplas es
tacas - nesse caso, deve haver um elemento de distribuição dos esforços entre as estacas
para garantir o equilíbrio do conjunto.

No Brasil, por se demandar equipe reduzida para sua instalação, possuir uma logística
simplificada e ser uma solução com alto grau de confiabilidade, a estaca helicoidal tornou
-se uma candidata natural para obras de linha de transmissão, em especial por se tratar

de obras com poucos dados de sondagem e com alta índice de complexidade logística.

257
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Entretanto, nos últimos anos, sua utilização no Brasil tem se disseminado entre os
mais diversos tipos de obra, de maneira similar ao que aconteceu em outras regiões do
mundo. Essa popularização ocorre ao se observar os benefícios dessa solução e os ganhos
que podem ser obtidos na obra com sua utilização, como:

▶ possibilidade de absorção de esforços variados com a mesma configuração, o


que confere flexibilidade para o projeto;
▶ alta performance nos mais diversos tipos de solos, possibilitando sua utilização
em regiões de solo de menor capacidade portante;

possibilidade de utilização em solos com NA elevado, sendo uma solução ex


tremamente eficaz para regiões que possuem NA, inclusive, aflorado;

possibilidade de reutilização das peças, reduzindo o custo de seu emprego
em obras temporárias;


correlação entre torque de instalação e capacidade real de carga, aumentando
a confiabilidade da solução e validando os ensaios de investigação de solo,
previamente realizados;

solução industrializada, retirando todas as incertezas de campo de sua
fabricação;


equipamento simples, necessário para sua instalação, permitindo sua utilização
em qualquer região e com ágil deslocamento entre os pontos de instalação;

equipe reduzida necessária para a instalação, reduzindo custo de mobilização
e execução da solução;

▶ alta produtividade, sendo demandado em torno de 40 minutos para a execução


de cada estaca;

possibilidade de carregamento imediato, por se tratar de uma solução 100%


metálica, não sendo, portanto, necessário aguardar período de cura do con
creto, reduzindo custos com atividades prévias (escavação, armação, forma,
concretagem) e posteriores (vibração, cura, desforma, nivelamento) ao ponto
de instalação;

▶ simplificada conexão às estruturas, em geral parafusada, sendo possível, in


clusive, desenvolvimento de terminações especificas para projetos complexos;
solução de baixo impacto ambiental, por não gerar elevados ruídos, rejeitos
ou vibrações no campo.

7.14.1 Partes da estaca helicoidal

As estacas helicoidais são compostas basicamente por quatro partes:

1. Seção guia: é o primeiro elemento a ser instalado no solo. Possui sua ponta
cortada em ângulo para facilitar a penetração e possui diversos helicoides

258
Vinicius Lorenzi

soldados ao longo de sua extensão. Esses helicoides são os responsáveis por


absorver os esforços transmitidos à fundação pela estrutura e, ao final da
instalação, estarão no solo mais profundo, onde tendem a encontrar solos
com maior capacidade de absorção de cargas.

2. Seção intermediária ou extensão com hélices: esse elemento é instalado

quando se precisa aumentar a quantidade de hélices no conjunto, ampliando


sua capacidade de absorção de esforços. Além disso, esse componente natu
ralmente adiciona profundidade ao conjunto.
3.
Seção lisa ou extensão lisa: esse elemento não possui hélices e tem por
finalidade, apenas, aumentar a profundidade da estaca, para incluir peso de
solo sobre ela e/ou conduzir as hélices das seções anteriores até camadas
mais profundas de solo.

Figura 7.59-Partes de uma estaca helicoidal..


4.
Terminações: são os elementos responsáveis por transmitir os esforços da
estrutura até à estaca helicoidal. Essas terminações podem ser dimensiona
das para receber esforços de tração, compressão ou mesmo uma serie com
binada de esforços.

999

Figura 7.60-Terminações da estaca helicoidal

259
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Importante ressaltar que todas estas partes, devem ser conectadas entre si de ma
neira a garantir a completa transmissão dos esforços entre elas.

7.14.2 Dimensionamento

Ao se fazer o dimensionamento desse tipo de fundação, deve-se dividir a análise


em duas partes.

A primeira delas é o dimensionamento mecânico, que possui normativa mais abran


gente, como a NBR 8800, que orienta os aspectos mínimos que devem ser verificados, com
destaque para os seguintes pontos, que devem ser verificados tanto para o momento da
instalação, quanto para as cargas posteriores que serão transmitidas à fundação:
>
capacidade de carga estrutural dos elementos, ou seja, verificar se cada ele
mento previsto para esse projeto possui capacidade individual para absorver
os esforços para qual estão sendo dimensionados;

capacidade de carga estrutural das ligações, verificando se a conexão entre
cada uma das partes e a solda da hélice com a haste possui capacidade de

absorver os esforços que serão aplicados;


corrosão- nessa etapa do projeto deve ser validada também a durabilidade
da solução proposta em função do meio em que a mesma será instalada e, se
necessário, propor soluções para mitigar esta corrosão (por exemplo: proteção
catódica, proteção anódica, composição química do aço empregado, revesti
mento com PVC, pintura, estabelecimento de sobre espessura de aço etc.).

O outro dimensionamento que deve ser realizado é o geotécnico, e para este existem
poucas normas vigentes no mundo. Por isso, utilizamos teorias aplicadas para outros tipos
de fundações - as normas técnicas nos pontos em que se aplicam e artigos científicos de
reconhecida relevância sobre o tema, além de conhecimentos gerais de mecânica dos solos,
geotecnia e afins. Esse dimensionamento deve observar minimamente os seguintes pontos:

▶ dimensionamento das hélices, em que deverá ser analisada a abertura, o passo e


a área útil da mesma, de modo que essas três grandezas, em conjunto, garantam
facilidade de penetração, perturbação mínima do solo e performance adequada;

distanciamento entre as hélices, garantindo que área de distribuição das ten


sões de cada hélice no solo não sobreporá a área da hélice subsequente. Para
essa análise, o método mais comum aplicado são as equações de Boussinesq;

▶ a capacidade de carga do conjunto deve ser definida a partir do uso de fórmulas


consagradas para esse tipo de aplicação. A mais comum delas é a fórmula de
Terzaghi, admitindo para tal que a capacidade do conjunto é definida por meio
da somatória da capacidade de carga de cada hélice. Outra fórmula ampla
mente utilizada é a do cilindro de cisalhamento;

260
Vinicius Lorenzi

▶ profundidade mínima - esse quesito deve ser definido com base em equações
de distribuição de tensões no solo e nos parâmetros imputados nas fórmulas
de cálculo da capacidade de carga;
▶ comprimento de flambagem, em especial, para estacas à compressão - deve
se verificar a possibilidade de flambagem da estaca, quando ocorrer longos
trechos sem contenção lateral;

▶ posicionamento - o dimensionamento geotécnico deve contemplar também o


posicionamento da estaca para receber os esforços, ou seja, a angulação dela em

relação à carga aplicada e em relação às demais estacas que compõe esse sistema;

capacidade de carga pelo torque é outra metodologia de verificação da ca


pacidade de carga da estaca e deve ser analisada conjuntamente às análises
anteriores. Para isso, devem ser utilizados como base dados empíricos para
estacas com a mesma configuração, do mesmo fabricante e em solos similares.

Finalizadas ambas as análises, você poderá recomendar a exata estaca que será
necessária para esse projeto.

7.14.3 Instalação

Como comentado anteriormente, uma das grandes vantagens das estacas helicoidais
está relacionada à velocidade e praticidade de sua instalação.
Uma equipe de instalação de estacas helicoidais, em geral, é composta por 4 a5
profissionais e um equipamento hidráulico (por exemplo: retroescavadeira, escavadeira
etc.) acompanhado de um rotor, capaz de transformar a potência do equipamento em
torque, e um torquímetro, que mensurará o torque que está sendo aplicado na estaca
instantaneamente.

261
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Figura 7.61- Instalaçãoda estaca.

De todos esses itens, o mais crítico, sem dúvidas, é o torquímetro, pois ele é res
ponsável pela leitura que proporcionará o monitoramento da instalação, garantindo que o
avanço do torque seja condizente com as premissas e limitações estabelecidas em projeto.
Por esse motivo, é fundamental buscar um equipamento de qualidade e calibrado.

Existem, basicamente, dois tipos de torquímetro. O mais comum no Brasil é dotado


de um visor LED, por onde se faz a leitura à medida que o equipamento gira. Entretanto,
já existem equipamentos mais modernos que apresentam os dados da instalação em um
aplicativo por meio de transmissão wi-fi (sem necessidade de conexão à internet), o que
aumenta a segurança da instalação (reduzindo a movimentação de pessoas ao lado da ins
talação) e, ainda, gera relatório completo de instalação, garantindo dados sem possibilidade
de erro humano no registro e, portanto, com maior confiabilidade e consequentemente
incrementando a segurança das fundações do empreendimento.

262
Vinicius Lorenzi

Figura 7.62-Torquímetro acoplado à retroescavadeira.

7.14.4 Limitações

De maneira similar a qualquer outra solução, as estacas helicoidais possuem algumas


restrições de utilização, que impossibilitam sua utilização em algumas situações.
A principal limitação da aplicação desse tipo de solução é relacionada à existência
de rochas ou matacões no solo onde se deseja instalar a mesma, pois esse tipo de solução
não consegue atravessá-las, e essas formações podem, ainda, danificar as hélices.

Outra limitação diz respeito a solos muito compactos, onde pode haver dificuldade
na penetração das estacas helicoidais, em função de suas limitações geométricas.

Agora que estamos mais familiarizados com os diversos tipos de execução de fun
dações, vamos para o cálculo?

Na Parte 3 deste livro, será abordado o dimensionamento das fundações na prática,

com o intuito de tornar mais compreensíveis e aplicáveis, no seu cotidiano, as teorias


complexas de fundações e os principais cálculos.

263
ଓ ରବିନ୍ଦୁ ହଳଦ ଦେବବର
2 TIPOS DE ENGENHEIROS

QUE NÃO AVANÇAM NA


CARREIRA:

1. O QUE NÃO FAZ O QUE É


PEDIDO;

2.0 QUE SÓ FAZ O QUE É

Camera Anaal PEDIDO.


EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

MINHAS ANOTAÇÕES

266
FUN
DASEM
COMPLICAÇÕES
ÇÕES

PARTE 3
DIMENSIONAMENTO DAS

FUNDAÇÕES
ALERTA: Caso você tenha vindo diretamente a essa parte, sem ter concluído as duas
anteriores, recomendo que retorne a elas! Isso porque a etapa de dimensionamento só fará
sentido se o conhecimento adquirido nos outros capítulos tenha sido pleno! Boa Leitura.
8. DIMENSIONAMENTO DAS
FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS
Objetivos do capítulo

Neste capítulo, compreenderemos as possibilidades de defini


ção das tensões, das capacidades de suporte do solo e algumas das
técnicas mais usuais para dimensionamento das fundações superfi
ciais, usados no cotidiano do engenheiro defundações. Para falar em
dimensionamento de fundações superficiais, é fundamental pensar
em duas coisas: tensão admissível do solo (Capacidade geotécnica)
e dimensionamento estrutural.

8.1 Tensões admissíveis das sapatas


Definir corretamente as tensões admissíveis nas sapatas é funda
mental, tendo em vista que sua capacidade de suporte está totalmente
vinculada ao apoio realizado pelo elemento na base.
Esse item corresponde a um elementos mais importantes do
dimensionamento de uma fundação superficial: é o elementos-chave.
A pergunta que eu sempre me faço ao idealizar uma fundação
profunda é: quanto é que o solo/rocha suporta para aquela fundação?
Em outros termos, qual é a capacidade de suporte que determinado
solo me entregará para que eu equalize as tensões solicitantes na minha
fundação? É isso que significa na prática.

Você, que é calculista de fundação, tem a informação da carga do


pilar e precisa equilibrá-lo na fundação, para isso você precisa compreen
der qual é capacidade do elemento onde sua fundação ficará assentada.

Fique ligado!

Quando se fala em cálculo de fundação superficial, isso significa


capacidade de suporte do solo na base. Se é fundação profunda,
fala-se em capacidade de carga do elemento Estaca. Olha como

tem diferença! As definições são totalmente distintas.


Vinicius Lorenzi

De acordo com a norma de fundações, a tensão admissível pode ser assim definida:

Máxima tensão que, aplicada ao terreno pela fundação rasa ou pela base de
tubulão, atende, com fatores de segurança predeterminados, aos estados limites
últimos (ruptura) e de serviço (recalques, vibrações etc.).

oque
adm
FS

Inicialmente, podemos definir a capacidade de carga de um solo (o) como a tensão


que pode causar ruptura no solo, quando assentamos a nossa fundação direta. Se atingir
mos essa tensão, a ruptura é caracterizada por recalques incessantes, sem que haja novo
aumento da tensão aplicada.

Já a tensão admissível (dm) de um solo é obtida dividindo-se a capacidade de


carga (o) por um Fator de Segurança (FS) adequado a cada caso.
Para se estimar a tensão admissível do solo, é comum o uso de fórmulas empíricas
que utilizam correlações do resultado de ensaios de campo (SPT, CPT, DMT) ou fórmulas que
calculam a tensão de ruptura da sapata usando a resistência ao cisalhamento do solo de apoio
como método desenvolvido por Terzaghi e por Skempton. Abordaremos o tema mais adiante.
Vinicius, o que eu preciso considerar para encontrar a minha tensão admissível ou tensão
resistente de cálculo?

Basicamente, você precisa pensar nos seguintes fatores:



características geomecânicas do subsolo;

profundidade da fundação;

dimensões e forma dos elementos de fundação;

influência do lençol d'água;

eventual alteração das características do solo (expansivos, colapsíveis etc.)
devido a agentes externos (encharcamento, contaminação, agressividade etc.);
▶ alívio de tensões;


características ou peculiaridades da obra;

sobrecargas externas;
▸ inclinação da carga;
inclinação do terreno;

▶ estratigrafia do terreno;
▶ recalques.

Sempre que for projetar uma sapata, deve-se encontrar a tensão admissível do seu
solo. Veja o que a norma diz: "As sapatas devem ser calculadas considerando-se diagra
mas de tensão na base representativos e compatíveis com as características do terreno
de apoio (solo ou rocha)".

269
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Traduzindo em números: buscamos a referência de capacidade de suporte do solo:


podendo variar, por exemplo de 1 kgf/cm² até 10 kgf/cm² para solos ou, ainda, capacidades
de suporte maiores no caso de rochas.

Existem 4 formas básicas para se determinar a capacidade de suporte dos solos:


▶ ;

▶ Métodos Empíricos;
▶ Métodos Semiempíricos;
▶ Prova de carga sobre placas.

Vamos abordá-los a seguir, exceto a prova de carga sobre placas, que já foi objeto
de estudo no Capítulo 4, no item 4.4.

8.2 Métodos Teóricos

Os Métodos Teóricos - como os de Terzaghi (1943), Meyerhof (1963) e Vésic (1974)


- são métodos cujos resultados são correlações entre as propriedades de resistência ao
cisalhamento e compressibilidade dos solos. Esses métodos fornecem a tensão de ruptura.
Indico a utilização desses métodos quando você fizer ensaios de laboratório para
encontrar os parâmetros de resistência. Que tipo de ensaio? Ensaio triaxial, ensaio de
adensamento, entre outros.

Após os resultados dos ensaios, tendo os parâmetros do solo em questão, você


estará apto à realização dos cálculos. Nesse sentido, usar esses métodos pode ser uma
ótima alternativa.

O"problema" é que esse tipo de ensaio de laboratório é pouco realizado, pegando


-se, assim, parâmetros de tabelas, o que certamente não é recomendado.
▶ Terzaghi (1943) - Ruptura geral (areias compactas e argilas duras)
Grup C-S.N+q.S.N +0,5-y-B-S, - N
Em que:

G é o acréscimo efetivo de tensões

C.S. N é a parcela relativa à coesão do solo

q.S. N é a parcela relativa à profundidade

0,5-y-B-S N é a função do peso próprio do solo

9 é a tensão efetiva na cota de apoio da fundação (yz)

S.S.S são fatores de forma (shape)

NNN são fatores de carga da ruptura geral (função de ângulo de atrito do solo)

B é o menor lado da fundação (para sapata circular é igual a 6)

270
Vinicius Lorenzi

7 é o peso específico do solo dentro da zona de ruptura

q=y-h é a tensão efetiva na cota de apoio da sapata

Caso o terreno seja submerso y=Y caso contrário y = Y

Fonte: Adaptada de Albuquerque e Garcia (2021).

Na equação apresentada a seguir, o que temos são 3 parcelas somadas, as quais


representam, respectivamente, a coesão do solo, a sobrecarga tendo em vista a profun
didade e a questão do atrito.

Fórmula geral de Meyerhof (1963)

os di(c-N) + sdi (y-d-N) + s-d₁·i· B-N

Na consideração de Meyerhof, temos o efeito do embutimento da sapata e, no terceiro


termo, uma consideração sobre a carga inclinada.

Tabela 8.1-Coeficiente de capacidade de carga para ruptura geral.


$(°) N N N (°)
N N₂ N
0 5,70 1,00 0,00 26 27,09 14,21 9,84
1 6,00 1,10 0,01 27 29,24 15,90 11,60
2 6,30 1,22 0,04 28 31,61 17,81 13,70
3 6,62 1,35 0,06 29 34,24 19,98 16,18
4 6,97 1,49 0,10 30 37,16 22,46 19,13
5 7,34 1,64 0,14 31 25,28
40,41 22,65

6 7,73 1,81 0,20 32 44,04 28,52 26,87


7 8,15 2,00 0,27 33 48.09 32,23 31,94

8 8,60 2,21 0,35 34 52,64 36,50 38,04

9 9,09 2,44 0,44 35 57,75 41,44 45,41

10 9,61 2,69 0,56 36 63,53 47,16 54,36

11 10,16 2.98 0,69 37 70,01 53,80 65,27

12 10,76 3,29 0,85 38 77,50 61,55 78,61

13 11,41 3,63 1,04 39 85,97 70,61 95,03

14 12,11 4,02 1,26 40 95,66 81,27 115,31

15 12,86 4.45 1,52 41 106,81 93,85 140,51

16 13,68 4,92 1,82 42 119,67 108.75 171,99

17 14,60 5,45 2,18 43 134,58 126,50 211.56

271
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

18 15.12 6,04 2,59 44 151,95 147,74 261,60

16,57 45 172,28 173,28 325,34


19 6,70 3,07

17,69 46 196,22 204,19 407,11


20 7,44 3,64

241,80 512,84
21 18,92 8,26 4,31 47 224,55

22 20,27 9,19 5,09 48 258,28 287,85 650,67

831,99
23 21,75 10,23 6,00 49 298,71 344,63

24 23,36 11,40 7,08 50 347,50 415,14 1072,80

25 25.13 12,72 8,34

Fonte: Adaptada de Albuquerque e Garcia (2021)

Os fatores de forma são apresentados na Tabela 8.1.

Tabela 8.2- Coeficiente de capacidade de carga para ruptura geral.

Fatores de forma
Forma da sapata
S
S

1,0
Corrida 1,0

0,8
Quadrada 1,3

0,6
Circular 1.3

Retangulares 0,9
1,1
(L> Bel<5B)

Fonte: Adaptada de Terzaghi (1943).

Em sua teoria, Vésic (1975) propõe os seguintes fatores de forma, que variam de
acordo com o formato da sua sapata.

Quanto à dimensão, as sapatas podem ser:

▶ circulares quando B=;

quadradas quando L = B;

▶ retangulares quando L> Be L≤5B;


► corridas quando L >>> Bel> 5B.

272
Vinicius Lorenzi

Tabela 8.3- Sapatas: formas e fatores.

Fatores de forma
Forma da sapata
S Sy
S₁
Corrida 1,0 1,0 1,0

N
Quadrada ou circular 1+ 1+tano 0,6
N

0.4.-(-:-)
Retangulares

¹000.
B 'N B
1+ 1+ 1+0,4
tand
(L> Bel<5B)
L N L L

Fonte: Adaptada de Vésic (1975).

Para a determinação do S, no caso de ruptura intermediária, utilizar o va


lor médio do ângulo de atrito (6) para o caso de ruptura geral (tan) e ruptura local
tand' = tan conforme a expressão a seguir:
3

2
tand + tand
tand = 3 tand
5

2 6


Ruptura local (areias fofas e argilas moles)
Op CS₂N+q-S-N +0,5-y-B-S₂ - N

Em que: N N N são fatores de carga para ruptura local (função de ângulo de


atrito do solo). Sendo:

2 2
C' = ce tand' = tand
3 3

273
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Tabela 8.4-Coeficiente de capacidade de carga para ruptura geral.

$(°) N' N'. $(°) N' N'. N',


y

0 5,70 1,00 0,00 26 15,53 6,05 2,59

16,03 6,54 2,88


1 5,90 1,07 0,005 27

2 6,10 1,14 0,02 28 17,13 7,07 3,29

6,30 29 18,03 7,66 3,76


3 1,22 0,04

4 6,51 1,30 30 18.99 8,31 4,39


0,055

20,03 9,03 4,83


5 6,74 1,39 0,074 31

21,16 9,82 5,51


6 6,97 1,49 0,10 32

22,39 10,69 6,32


7 7,22 1,59 0,128 33

23,72 11,67 7,22


8 7,47 1,70 0,16 34

35 25,18 12,75 8,35


9 7,74 1,82 0,20

10 8,02 1,94 0,24 36 26,77 13,97 9,41

37 28,51 15,32 10,90


11 8,32 2,08 0,30

30,43 16,85 12,75


12 8,63 2,22 0,35 38

18.56 14,71
13 8,96 2,38 0,42 39 32,53

34,87 20,50 17,22


14 9,31 2,55 0,48 40

37,45 22,70 19,75


15 9,67 2,73 0,57 41

25,21 22,50
16 10,06 2,92 0,67 42 40,33

43 43,54 28,06 26,25


17 10,47 3,13 0,76

44 47,13 31,34 30,40


18 10,90 3,36 0,88

1,03 45 51,17 35,11 36,00


19 11,36 3,61

46 55,73 39,48 41,70


20 11,85 3,88 1,12

47 60,91 44,54 49,30


21 12,37 4,17 1,35

48 66,80 50,46 59,25


22 12,92 4,48 1,55

49 73,55 57,41 71,45


23 13,51 4,82 1,74

24 14,14 1,97 50 81,31 65.60 85,75


5,20

25 14,80 5,60 2,25

Fonte: Adaptada de Albuquerque e Garcia (2021).

> Ruptura intermediária (areias medianamente compactas e argilas médias)

up CS-N+q-S-N +0,5-y-B-S, N

Em que: N N N são fatores de carga para ruptura intermediária (função do


ângulo de atrito do solo), e o valor médio entre N´e N.

C+C' 5 N+N'
-C N'=
2 6 2
274
Vinicius Lorenzi

Os casos extremos, descritos por Terzaghi (1943) como de ruptura geral e ruptura
local, são mostrados no Gráfico 8.1.

Tensões

Recalque

Geral

Recalque

Recalque Local

Gráfico 8.1-Ruptura Geral e ruptura local.

▸ Teoria de Skempton (1951) - Argilas (argilas saturadas, p = 0)

Argilas saturadas (= 0), resistência constante com a profundidade:

up=C-N₂+y-H

em que:

C
é a coesão da argila

N é o coeficiente de capacidade de carga

H H
N₁ = f( ), considera a relação (conforme abaixo)
B B

H é a profundidade de embutimento da sapata em planta

B é a menor dimensão da sapata em planta

Sapatas corridas:

H H
N=51+0,2. limitando N = 7,5 para >2,5
B B

▸ Sapatas quadradas ou circulares:

4-6-(1-02.)
H H
N , limitando N = 9 para >2,5
B B

275
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

▶ Sapatas regulares:

>>> Para
H

B
<2,5 N=51+0,2 -(1-a2 +)-(1.02 ) B

H
Para >2,5 N = 7,51+0,2
B

Se sua carga for inclinada, é preciso fazer os devidos ajustes utilizando fatores para
correção:

Tabela 8.5-Fatores de correção para cargas inclinadas.

Inclinação da carga em relação à vertical (a)


Fator
20° 30° 45° 60°
0° 10°

0 1,0 0,5 0,2 0,00

B 0,25 0,15 0,05


N,e N 1,0 0,6 0,4

0,40 0,25 0,15


OaB 1,0 0,8 0,6

Fazendo esses cálculos encontramos uma tensão ruptura. A partir dela, utilizando
o Fator de Segurança estipulado pela norma, encontramos nossa tensão admissível.
Tabela 8.6 - Fundações rasas: fatores de segurança e coeficientes de ponderação para
solitações de compressão.

Métodos para determinação Coeficiente de ponderação Fator de segurança global

da resistência última de resistência última (ym) (FS)

Valores propostos no próprio Valores propostos no próprio


Semiempíricos
processo e no mínimo 2,15 processo e no mínimo 3,00

Analíticos 2,15 3,00

Semiempíricos ou analíticos
acrescidos de duas ou
mais provas de carga, 1,40 2,00

necessariamente executadas na

fase de projeto, conforme 7.3.1

a Atendendo ao domínio de validade para o terreno local.

b Sem aplicação de coeficientes de ponderação aos parámetros de resistência do terreno.

cEm todas as situações, ym=yf=1,4 (majoração) para o esforço atuante, se disponível apenas seu valor
característico; se já fornecido o valor de cálculo, nenhum coeficiente de ponderação deve ser aplicado a ele.

276
Vinicius Lorenzi

8.3 Métodos Empíricos


Nos Métodos Empíricos, a capacidade de carga é obtida por meio das condições do
terreno com a utilização de tabelas de tensões básicas.

Fique ligado!

Usar tabela de tensões básicas pode ser um problema. Você pode partir de uma in
formação incorreta, que o levará a um resultado totalmente divergente da realidade!

Antigamente, foi muito utilizada a tabela de capacidade de solos da ABNT NBR


6122:1996 (primeira norma de fundações - a versão inicial foi criada em 1996, atualizada
em 2010 e, por fim, revisada em 2019), que foi retirada da norma.
).

Classe
Descrição Valores (MPa)

1
Rocha să, maciça, sem laminação ou sinal de decomposição 3,0

2
Rochas laminadas, com pequenas fissuras, estratificadas 1.5

3
Rochas alteradas ou em decomposição (ver nota c)

4
Solos granulares concrecionados - conglomerados 1,0

5
Solos pedregulhosos compactos a muito compactos 0,6

6
Solos pedregulhosos fofos 0,3

7
Areias muito compactas 0,5

8
Areias compactas 0,4

9
Areias mediamente compactas 0,2

10
Argilas duras 0,3

11
Argilas rijas 0,2

12
Argilas médias 0,1

13 Siltes duros (muito compactos) 0,3

14
Siltes rijos (compactados) 0,2

15 0,1
Siltes médios (mediamente compactos)

Fonte: Adaptada da Tabela 4 da norma ABNT NBR 6122:1996

Isso aconteceu, pois era muito comum buscar a tabela para retirar dados de resis
tência por informações muito básicas, como:

271
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

- Na minha região, tem uma argila dura, logo, vou utilizar uma tensão admissível prevista em
norma de 3 kgf/cm. Não tem erro!"

Opa, tem erro, sim! Isso porque, na maioria das vezes, sequer existe uma sondagem.
Compartilho diversos casos nos quais esse tipo de informação acerca da característica
do solo, era indicada pelo proprietário do terreno,como:

-Aqui no meu terreno tem uma argila dura, muito dura! Pode usar uma tensão admissível de
3 kgf/cm², que eu garanto!

E aí, quando o SPT era realizado, tinha uma sequência de golpes menores do que
5 ao longo de todo o comprimento do perfil de solo, ou seja, uma capacidade admissível
bem inferior.

Fique ligado!

Usar dados tabelados que não condizem com a realidade encontrada em campo não
faz senti

Outra maneira empírica está ligada à avaliação in loco por parte de um geólogo/
geotécnico. Esse processo ainda é muito comum e está ligado diretamente à experiência
por parte do profissional, por isso que o nome "empírico", nesse caso, é bem utilizado.
Lembrando que o significado de empírico é algo baseado na experiência e na ob
servação, metódica ou não. Ou seja, é extremamente interessante esse tipo de análise
profissional, desde que essa análise seja feita por um profissional habilitado e com signi
ficativa experiência.

Esse processo utiliza técnicas e ferramentas que auxiliam o profissional a validar as


premissas de capacidade de solo, ou seja, nesse processo há uma avaliação tátil visual,
em que há uma estimativa de capacidade de suporte do solo.
Quando já há uma pré-determinação da capacidade de suporte do solo, esse pro
fissional valida (ou não) se aquela cota de apoio da fundação superficial tem a tensão
admissível solicitada em projeto (Figura 8.2).

278
Vinicius Lorenzi

Figura 8.2- Profissional avalia tensão admissível da cota de apoio da fundação superficial.

Uma das ferramentas utilizadas em campo é o pressiômetro, equipamento usado


com finalidade prática por geólogos, que gera uma pressão no solo e mede de forma bá
sica as tensões do solo. Seu resultado deve sempre ser analisado com cautela, pois mede
apenas superficialmente o resultado.

Observe: o geólogo/geotécnico está habilitado a avaliar visual e tatilmente, a com


preender o comportamento do material e avaliar suas tendências de tensão admissível,
dependendo do tipo de material.

Quando avaliamos a rocha, esse tipo de trabalho se torna até mais interessante, pois
o profissional consegue entender o comportamento da rocha e a partir disso determinar
suas tensões admissíveis.

É claro que a Sondagem Rotativa pode ser interessante nesse caso, uma vez que
gerará amostras que trazem o RQD da rocha, o qual pode ser correlacionado com as resis
tências da rocha. Uma rocha sã, integra, pode chegar a 30 kgf/cm². Uma rocha fraturada,
em decomposição, terá resistências menores, da ordem de 10 a 15 kgf/cm².
As diferentes tensões admissíveis do solo/rocha devem ser minuciosamente avaliadas
a fim de que se apoie as fundações superficiais com:

279
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Tabela 8.8-Índice de Qualidade da Rocha (RQD).

ROD Qualidade do maciço rochoso

0-25% Muito fraco

25-50% Fraco

50-75% Regular

75-90% Bom

90-100% Excelente

8.4 Métodos Semiempíricos


- Na prática, Vinicius, como encontramos a tensão admissível?

No cotidiano de um escritório, usa-se o NSPT para isso. Há uma relação básica de


resistência para dimensionamento da fundação superficial: a possibilidade de avaliação
da tensão a partir do NSPT. É uma forma prática, rápida, quantitativa e mais confiável.
Nos métodos semiempíricos, as propriedades dos materiais são estimadas por meio
de correlações e utilizadas em teorias básicas de mecânica dos solos. Mas observe: tam
bém é importante analisar as propriedades do solo que advém dos resultados de ensaios.
Tabela 8.9-Tensão admissível e NSPT.

Meyerhof (1956)

NSPT
Areia σ= para N≤16
4

Nepr
Argila σ₁ =
6

NSPT
Solos intermediários
5

Valores em (kgf/mc²)

280
Vinicius Lorenzi

Tabela 8.10 - Tensão admissível e N

Valores em (MPa)

NSPT
o = +q para 5 ≤N 20 Skempton (1951) para argilas
50

a = 0,1 - (VNspr - 1) para 4 ≤ Npr 16 Mello (1975) para qualquer solo

NSPT
o= 0,05+ (1+0,4B) - Teixeira (1996) para areias
100

Observe que cada fórmula possui uma limitação quanto ao N


PT
e, além disso, deve-se
ter cuidado com a unidade (MPA ou kgf/cm²).
Veja o quanto é simples encontrar sua tensão admissível por esse método. Por
exemplo:

Sapata apoiada a-3 metros (cota alta). A sondagem detectou capacidade dinâmica,
com índice NPT 10, aos 3 metros.
RADM = NSPT/5

RADM = 10/5= 2 kgf/cm²

RADM = 2 kgf/cm²

É uma noção básica para quem está em campo e que se baseia em fatores de segu
rança significativos para que o resultado esteja dentro do esperado.
Na relação acima, indica-se utilização em solos com Nor máximo = 30.

Dica!

Métodos Teóricos: a partir dos parâmetros do solo.

Métodos Empíricos: tabelas e expertise do profissional.

Métodos Semiempíricos: a partir do Ensaio SPT (cálculo da ten


são admissível).

Você pode se perguntar: qual é uma tensão boa para apoiar minha sapata?

Não existe uma tensão boa ou ruim. Lembre: tensão = força/área. Se sua tensão
é alta, a área da sua fundação diminui. Tensão boa é aquela que não leva a áreas muito
grandes de sapata, que não leva ao consumo elevado de concreto e, portanto, que tenha
um bom custo-benefício.

281
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

8.5 Dimensionamento estrutural da sapata


A norma é clara: "O dimensionamento estrutural de sapatas de concreto deve atender
à ABNT NBR 6118". Ou seja, não tem "jeitinho", não tem estaca embaixo da sapata para
reforçar a mesma; o que tem é dimensionamento calculado.

- Se é casa popular, dá para fazer sapata 60 cm x 60 cm com ferro de 10. Dá certo!

Nada disso! Não interessa se é prédio, se é sobrado ou se é casa... Você precisa fazer
a conta! A sapata é um elemento estrutural em concreto!

O dimensionamento dos elementos de fundação deve ser feito com base nas solici

tações obtidas a partir das combinações de ações, atendendo os requisitos da ABNT NBR
8681:2004, já contemplando todos os seus efeitos de primeira e segunda ordens globais.
Ou seja: o projetista de fundações recebe do calculista esforços combinados!

8.5.1 Dimensionamento da base da sapata


A

Pilar

B ·b·

CA a C₁

Figura 8.3 a/b-Dimensões da sapata.

Fonte: Crédito: adaptada de Bastos (2019).

A maior dimensão da sapata em planta

B menor dimensão da sapata em planta

cec, balanços da sapata

a maior dimensão do pilar

b₁ menor dimensão do pilar

282
Vinicius Lorenzi

Cálculo da base da sapata (área de apoio S):

KN+N

adm

Em que:

carga vertical devida às ações permanentes, valor característico

N₁ carga vertical devida às ações variáveis, valor característico

K coeficiente majorador da carga vertical das ações permanentes


maj

Gadm tensão admissível do solo

A norma diz que a carga vertical deve ser majorada em 5%, o que, por vezes, pode
ser feito já sobre a carga total:

1,05 N
g+ak

Su
adm

Por questão de economia, recomenda-se que os balanços da sapata sejam iguais,


ou seja, C = C₂.

Fazendo c Ac B tem-se:

A-a, =B-b₂

A-B=a-b

Recomendação prática:

A≤ 2,5B

Considerando a geometria da minha base, posso fazer o cálculo dessa área por
intermédio das dimensões:

Ssap= Ax B
A = S/B

Se C₁ C₂, logo, temos:


Ssap
A-B=a-b→ - b=a₁-b₁
B

Manipulando a equação, Sp
S, - B² =B (a - b)

283
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

E, por fim,

1
1
Em que: B =
2 (a-b)+√ (b-a)² + Sap
4

S área de apoio da sapata


sap

B uma das dimensões

dimensões do pilar

Recomendações:

A e B precisam ser múltiplos de 5 para que seja exequível em obra;

a dimensão mínima recomendada pela norma é que os lados tenham 60 cm.

Lembre-se!

É recomendado que o centro de gravidade (cg) do pilar seja coincidente com o centro
de gravidade da base da sapata, para qualquer forma do pilar. Geralmente, se o pilar é
retangular, a sapata também é retangular, seguindo a geometria.

8.5.2 Verificação da rigidez

A-a
h2
3

Em que:

h é a altura da sapata

A é a dimensão da sapata na maior direção

a é a dimensão do pilar na mesma direção

Avaliar a rigidez é importante por dois motivos:

1. pois se relaciona à distribuição de tensões na interface base da sapata/


solo;

2. devido à possibilidade de punção na sapata flexível.

284
Vinicius Lorenzi

TO
Fique ligado!
Comportamento estrutural.

O item 22.6.2 da ABNT NBR 6118:2014 traz informações relevantes sobre a distinção do
comportamento de uma sapata flexível e uma sapata rígida.

8.5.2.1 Sapatas rígidas


O comportamento estrutural pode ser caracterizado por:

Trabalho à flexão nas duas direções, admitindo-se que, para cada uma delas, a
tração na flexão seja uniformemente distribuída na largura correspondente da
sapata. Essa hipótese não se aplica à compressão na flexão, que se concentra
mais na região do pilar que se apoia na sapata e não se aplica também ao caso
de sapatas muito alongadas em relação à forma do pilar;
Trabalho ao cisalhamento também em duas direções, não apresentando ruptura
portração diagonal, e sim por compressão diagonal verificada conforme 19.5.3.1.
Isso ocorre porque a sapata rígida fica inteiramente dentro do cone hipotético
de punção, não havendo, portanto, possibilidade física de punção. (ABNT NBR
6118:2014).

8.5.2.2 Sapatas flexíveis

Embora de uso mais raro, essas


sapatas são utilizadas para fundação de cargas pequenas
e solos relativamente fracos. Seu comportamento caracteriza-se por:
Trabalho à flexão nas duas direções, não sendo possível admitir tração na flexão
uniformemente distribuída na largura correspondente da sapata. A concentração
de flexão junto ao pilar deve ser, em principio, avaliada;
Trabalho ao cisalhamento, que pode ser descrito pelo fenômeno da punção.
A distribuição plana de tensões no contato sapata-solo deve ser verificada.
(ABNT NBR 6118:2014)

a) b)

e)
d)
Figura 8.5-Distribuição de pressão no solo em sapata sob carga centrada: a) sapata flexivel sobre argila; b) sapata
flexivel sobre areia; c) sapata rígida sobre argila; d) sapata flexivel sobre areia; e) distribuição simplificada.

285
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Montoya (1971) considera uma sapata rígida com ângulo ß igual ou superior a 45°.

Pilar
a

Balanço

Figura 8.6-Angulo Be balanço c. Crédito: adaptada de Bastos (2019). Crédito: adaptada de Bastos (2019).
▸ Ângulo B (tg B=h/c)

Por sua vez, a CEB-70 considera os limites:

0,5≤tg B≤1,5

(26,6° ≤B≤56,3°)

Se tg ß<0,5 Sapata flexível;

Se tg ß>1,5---- Bloco de fundação


▶ Altura mínima:

dzl


Rodapé da sapata:

hz 3

15cm

-O que eu faço com esse tanto de informação?

Tenha calma...Dimensionamento é um processo! Até aqui, encontramos as dimen


sões da sua estrutura de concreto. No caso das dimensões, você precisa encontrar a área
da sua base, a altura H, considerando geralmente a sapata rígida, o rodapé H, e o ângulo ß.

Em resumo, para os esforços que chegam ao seu pilar, você encontra todas as di
mensões da sapata, as quais garantem tanto segurança quanto economia e, ainda, a área
de aço suficiente para resistir a esses esforços sem que haja falha.

286
Vinicius Lorenzi

Bastos (2019) define, de modo genial, os itens a serem observados no projeto da


sapata isolada. São elas: a estimativa das dimensões da sapata, o dimensionamento das
armaduras de flexão, e as verificações: das tensões de compressão diagonais, da punção
(para as sapatas flexíveis), da aderência da armadura de flexão e do equilíbrio referente
ao tombamento e ao deslizamento.

Vamos traduzir tudo isso em exemplos.

Veja o que o dimensionamento inadequado pode causar, as Figuras 8.7 e 8.8 de


monstram rupturas, respectivamente por flexão e por cisalhamento.

Figura 8.7-Ruptura por Flexão. Crédito: Bastos (2019). Figura 8.8-Ruptura por cisalhamento.. Crédito: Bastos (2019).

- Nossa, mas antes de me mostrar como são os cálculos da flexão, já me mostrou a peça
rompida!?

SIM! Isso é um baita alerta, não?


Por mais que hoje utilizemos muitas planilhas no escritório, você precisa saber o que
está fazendo e, para isso, é preciso ter domínio acerca dos processos manuais de cálculo.
Vou apresentar dois métodos para o projeto de sapatas. O método CEB-70 e o
método das bielas comprimidas.

8.5.3 Método CEB-70

1.
Características geométricas necessárias

Os balanços (abas) "c" precisam estar dentro dos intervalos apresentados a seguir:

h 1 C
≤C≤2h (ou S ≤2)
2 2 2h

Em que:

C balanço

h altura da sapata

287
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Para:

c>2h a sapata pode ser considerada como viga ou como placa


c<h/2 bloco de fundação (teoria não se aplica)

2. Seções de referência

A seção de referência (Sou S) plana, perpendicular à superfície de apoio, ao longo


da sapata e situada internamente ao pilar, distante da face do pilar de 0,15 a.

Em que: a, é a dimensão do pilar normal à seção de referência.


▸ Altura útil

A altura útil d da seção de referência é tomada na seção paralela à S, e situada na


face do pilar e não pode ser superior a 1,5 c.

ds1,5c

C₁

0,15 a

P
SIA

A₁A

Figura 8.9-Seção de referência S 1A, relativa à dimensão A da sapata. Crédito: adaptada de Bastos (2019).

▸ Balanços

A-a B-b
C₁ = C=
2 2

▸ Reação no solo (decorrente da pressão da sapata no solo)

N
p=
A-B

▶ Distâncias

X=C+0,15a

X=C+0,15b

288
Vinicius Lorenzi

Fique ligado

Essas distâncias "x" são medidas da seção S (S₁ e S) até a face da sapata (tanto na
dimensão A quanto na B).


Momentos fletores relativos às seções de referência S₁ e S
x₂²
M₁A = P B
M₁ = P 22/ A

M₁A momento fletor na dimensão "A", na seção S


M₁8 momento fletor na dimensão "B", na seção S
Р pressão que a sapata exerce sobre o solo

x₂ ex distâncias

Cálculo da armadura

M₁
A₂=
0,85d-fd

A área de aço

M₁ momento fletor

289
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Logo:

M₁Ad MIBO
A=
AA 0,85d-fd 0,85d-fyd

Armadura por metro: A/m = A/A e A/m = A/B

8.5.4 Métodos das bielas

Esse método baseia-se no fato de que há uma transferência da carga do pilar para
a base da sapata por meio de bielas de concreto comprimido, os quais induzem tensões
de tração na base da sapata.

POR ENGMATHEUSBORGES

COMO CALCULAMOS COMO EXECUTAMOS

CONCRETO
BIELA COMPRIMIDO

TIRANTE ARMADURA
TRACIONADA

Figura 8.10-Método das bielas e tirantes em sapatas. Crédito: Matheus Borges.

▶ Limite para a altura útil

A-a,
dz
4

TOB
Fique ligado!

Você só pode utilizar o método se a altura útil da sua sapata atender à condição indicada.

290
Vinicius Lorenzi

Forças de tração na base da sapata

P (A-a) P (B-b)
T₁ = T₁=
8 d 8 d

▶ Armadura

Txd
Asx=A₁A= A = A=
fyd

Agora, precisamos encontrar a área de aço por metro. Para isso, basta dividir a área
de aço por cada uma das dimensões:

A/m=A₁/A
e

A/m = A/B

Tendo a área de aço por metro, é possível chegar às bitolas adequadas das arma
duras longitudinais.

Tabela 8.11 - Área de armadura por metro de largura (cm²/m).


Diâmetro nominal (mm)
Espaçamento (cm)
4,20 5,00 6,30 8,00 10,00 12,50

5,0 2,77 4,00 6,30 10.00 16,00 25,00

5,5 2,52 3,64 5,73 9,09 14,55 22,73

6,0 2,31 3,33 5,25 8.33 13,33 20,83

6,5 2,13 3,08 4,85 7,69 12,31 19,23

7,0 1,98 2,86 4,50 7,14 11,43 17,86

7,5 1,85 2,67 4,20 6,67 10,67 16,67

8,0 1,73 2,50 3,94 6,25 10,00 15,63

8,5 1,63 2,35 3,71 5,88 9,41 14,71

9,0 1,54 2,22 3,50 5,56 8,89 13,89

9,5 1,46 2,11 3,32 5,26 8,42 13,16

10,0 1,39 2,00 3,15 5,00 8.00 H 12,50

11,0 1,26 1,82 2,86 4,55 7,27 11,36

12,0 1,15 1,67 2,62 4,17 6,67 10,42

12,5 1,11 1,60 2,52 4,00 6,40 10,00

13,0 1,07 1,54 2,42 3,85 6.15 H 9,62

14,0 0,99 1.43 2,25 3.57 5,71 8.93

15,0 0,92 1.33 2.10 3,33


H 5.33 8.33

291
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

16,0 0,87 1,25 1,97 3,13 5,00 7,81

17,0 0,81 1,18 1,85 2,94 4,71 7,35

17,5 0,79 1,14 1,80 2,86 4,57 7,14

18,0 0,77 1,11 1,75 2,78 4,44 6,94

1,05 1,66 2,63 4,21 6,58


19,0 0,73

20,0 0,69 1,00 1,58 2,50 4,00 6,25

22,0 0,91 1,43 2,27 3,64 5,68


0,63

24,0 0,58 0,83 1,31 2,08 3,33 5,21

25,0 0,55 0,80 1,26 2,00 3,20 5,00

26,0 0,53 0,77 1,21 1,92 3,08 4,81

1,12 1,79 2,86 4,46


28,0 0,49 0,71

0,46 0,67 1,05 1,67 2,67 4,17


30,0

0.61 0.95 1,52 2,42 3,79


33,0 042

8.5.5 Verificação da tensão resistente de compressão diagonal do


concreto na superfície crítica C
Em sapatas rígidas, não se tem ruptura por punção. Por isso, faz-se a verificação
da diagonal comprimida:

Tsd TR2= 0,27 a, fed


em que:
fo
a₁ = (1 -), com fem megapascal.
250

Ou seja, a tensão solicitante deve ser menor que a tensão resistente, considerando
que essa verificação deve ser feita no contorno C.

A tensão de cisalhamento solicitante é (ABNT NBR 6118:2014, item 19.5.2.1):


F

sa
ud

com:

F₁ força solicitante de cálculo

U₁ perímetro de contorno crítico C

u 2(a+b)

ud área de superficie crítica C

d altura útil ao longo do contorno crítico C

292
Vinicius Lorenzi

Eu sei que você deve estar se perguntando como é que, na prática, a gente verifica
tudo isso e o que é esse tanto de informação. Então, chegou a hora do exemplo para
você entender de verdade o que está fazendo.

8.5.6 Exemplos

EXEMPLO 1-MÉTODO CEB-70

Sapata isolada rígida com carga centrada


Dimensione uma sapata de fundação superficial para um pilar com dimensões
30 cm x 70 cm, que transfere à sapata uma carga vertical centrada total de 1.000
KN (NK= valor característico), com armadura vertical no pilar composta por barras
de 16 mm, tensão admissível do solo (o) de 0,2 MPa (2 kgf/cm²).
Os momentos fletores solicitantes externos são M = M, = 0. Os coeficientes de
ponderação da segurança: y c=yf=1,4;ys=1,15.
Concreto C25, aço CA-50 (fyd = 43,48 kN/cm²);
Cobrimento de concreto: c = 4 cm.

KN +N
1. Sap
adm

1.000

S = 1,1-1 -= 55.000 cm²


0,02

2.
Fazendo os balanços iguais
1
B=
1
2 (b-a) + √ -(b₁-a₂)² + Sap
4

1
B= x (30-70)+( x (30-70)² +55.000)"
2 4

B=20+235,37 = 215,37 ------ adotado 220 cm

A-B=a₁-b₂
A-220= 70-30

A = 260,00

Sap=220 x 260 = 57.200 cm² > 55.000 cm²


Sabemos que nossa sapata terá A = 2,60 me B= 2,20 m.

293
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Como os balanços foram considerados iguais, temos:

A-a,
C₁=CB=
2

70
Ca=Cb=260-- -= 95 cm
2

3. Supondo a sapata rígida

A-a
h>
3

h≥260-70/3

h≥63,33

A altura útil d deve ser superior ao comprimento de ancoragem (lb) da ar


madura do pilar:

dz4

▶ Região de boa aderência

> C25 e CA-50

> =10 mm

$
yo
.

b=
4 fod

f=0,15-fck2/5= 0,15-252/3

f=1,25 MPa ou 12,8 kgf/cm²

1₁-1₂-11, -2,25 Barra nervurada


n₁=1,0 Zona de boa aderência
n₁=1,0 Diâmetro < 32 mm

fbd = (0,15.25/5)-2,25-1-1=28,8 kgf/cm²

Lb=(1,6/4) × (5.000/1,15)/28,8 = 0,4 × 150,96 = 60,38

Adotando h = 70 cm, a sapata é classificada como rígida (> 63,33 cm), e para
a altura útil d pode-se considerar:

d=h-(c+1)

d=h-(4+1)

294
Vinicius Lorenzi

d= 70-5 cm 65 cm

d> b

65 > 60,38 cm

Altura do rodapé

n
70 = 23.3

h3 3 cm

15 cm

h = 25 cm (valor múltiplo de 5)

Ângulo da superfície inclinada da sapata


h-h
tg a = -=(70-25)/95= 25,35°
с

d>4

Figura 8.11- Altura útil mínima para a sapata e outras notações. Crédito: adaptada de Bastos (2019).
4.
Cálculo dos momentos fletores internos solicitantes.

Pressão no solo

N₂
P₁=
A-B

P=1,4-1.000/260-220=1.400/57.200=0,024475 kN/cm²

h/2≤c≤2

35 < 95<140

▶ As distâncias das seções de referência S1 às extremidad da sapata são

XA=C₁ +0,15a = 95 + 0,15-70 = 105,5 cm


X=C+0,15b = 95 +0,15-30 = 99,5 cm

295
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

▶ Momentos fletores nas seções de referência S₁A eS₁B:

B = 0,024475 (105,5)² - 220/2= 29.965,42 kN.cm


M₁Ad Pa 2

X₂²
M18.d = Pa A = 0,024475 (99,5)² - 260/2 = 31.500,12 kN.cm
2

▸ Armaduras

M₁Ad
ASA = 29.965,42 / (0,85 x 65 x 43,48) = 12,47 cm²
0,85d-f

Mad
31.500,12/ (0,85 x 65 x 43,48) = 13,112 cm²
0,85d-f

Dimensão A: 12,47/2,20 = 5,668 cm²/m

10 mm c/14 cm (5,71 cm²/m)

Dimensão B: 13,112/2,60 = 5,043 cm²/m

10 mm c/15 cm (5,33 cm²/m)

▶ Verificação da diagonal comprimida

u=2. (30+70)=200 cm (perímetro da superfície crítica C = perímetro do pilar)

▶ Cálculo da força aplicada no solo

Fsd =Nd=y, N=
F=1,4 x 1.000=1.400 KN

▶ Tensão de cisalhamento atuante

Fsd
sa=
ud

= 1.400/(200 x 65)

= 0,10769 kN/cm² = 1,0769 MPa

296
Vinicius Lorenzi

▶ Tensão de cisalhamento resistente


25 2,5

Tsd = 0,27a, f = 0,27 1 250


= 0,434 kN/cm² = 4,34 MPa
1,4

Tsd = 1,08 MPa <TRd.2 = 4,34 MPa


A tensão atuante é menor que tensão resistente. Isso significa que não haverá es
magamento da biela comprimida.

EXEMPLO 2 - MÉTODO DAS BIELAS E TIRANTES

Sapata isolada rígida sob carga centrada

Retomando o exemplo anterior, calcule as armaduras de flexão pelo Método das Bie
las. Dados: a = 70 cm; Nk = P = 1.000 kN; A = 260 cm; B = 220 cm; h = 70cm; d= 65 cm;
yf=1,4; y s = 1,15; CA-50.


Critério de verificação do método

A-a
dz
4

d> (260-70)/4

d≥ 47,5

Como d = 65 que é maior que 47,5, podemos prosseguir com o método.



Forças de tração na base da sapata

P (A-a)
T₁ =
8 d

Tx=1.000 (260-70)/8 × 65

Tx = 365,38 KN

P (B-b)

8 d

T = 1.000 (220-30)/ 8 × 65

T,= 365,38 KN
▶ Armaduras

A₁ =A₁A=
fvd
A = 365,38/43,37
A = 8,40 cm² = Asy (balanços iguais levam a esforços de tração iguais)
297
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

▶ Armadura/m

Dimensão A: 8,40/2,20 = 3,81 cm²/m

$8 mm c/13 cm (3,85 cm²/m)

Dimensão B: 8,40/2,60 = 3,23 cm²/m

$8 mm c/15 cm (3,33 cm²/m)

Fique ligado!

Com o Método das Bielas foram encontradas armaduras de flexão com bitolas meno

res que o CEB-70, nesse caso, sendo, portanto, uma solução mais econômica e arro
jada. Entretanto, sempre é preciso conferir se seus cálculos estão corretos e se não
há uma divergência muito grande entre os métodos. Para esse método, a ABNT NBR
6118:2014 também solicita a verificação da diagonal comprimida, como foi feito no
primeiro exemplo.

8.6 Verificação à punção


A norma de estruturas de concreto armado da ABNT NBR 6118:2014, no item 19.5
"Dimensionamento de lajes à punção", observa que precisamos realizar o dimensiona
mento à punção.

tg a= fazendo a = 27°
X

d d

tg 27⁰ = →X= 2d
X 0,51

-Pilar

Limite do cone
de punção

-Sapata
Figura 8.12- Llimite do cone de punção. Crédito: adaptada de Bastos (2019).

Dispensa-se a armadura transversal para a punção quando + Sd ≤ t Rd2.


298
Vinicius Lorenzi

Paulo Bastos (2019) traz as seguintes considerações, relativas ao dimensionamento


e as verificações:

Punção: nas sapatas flexíveis a punção deve ser obrigatoriamente verificada.


Nas sapatas rígidas deve ser verificada a tensão de compressão diagonal, na
superficie crítica C.

Força cortante: as forças cortantes determinadas segundo a direção longitu


dinal devem ser verificadas como laje se B≥ 5d, e como viga se B<5d. Estribos
com 2, 4, 6, ou mais ramos podem ser aplicados.

Momentos fletores - armaduras de flexão: na direção longitudinal a arma


dura de flexão deve ser dimensionada conforme os momentos fletores solici
tantes, e posicionadas de acordo com o sinal do momento fletor, ou seja, onde
ocorrem as tensões de tração oriundas dos momentos fletores. Na direção
transversal pode-se determinar uma viga sob cada pilar, com largura d/2 além
das faces do pilar.

Na prática, não se recomenda fazer sapata flexível por conta da punção. No dia a
dia, sempre que se faz uma sapata, busca-se fazer sapata rígida; se ela não for classificada
como tal, aumentamos as suas dimensões de modo que passe a ser. Depois, obtemos as
armaduras e verificamos a diagonal comprimida, como mostrada no no exemplo.

A avaliação básica de onde a sapata será apoiada faz parte de uma grande definição
da etapa de projeto.

Caso de obra!

Pode ser que, ao chegar à obra, você descubra que há tensões no solo diferentes do
que aquelas que haviam sido programadas.

Por exemplo: pode ser que a obra foi projetada com tensões admissíveis de 4 kgf/
cm² e, ao chegar na hora de realizar a obra, escavou a sapata e com 1,5 metro os
4 kgf/cm² atendiam.

Em outra sapata, ao ser feita a verificação in loco, ao 1,5 metro de profundidade, a


tensão adm foi menor do que 3 kgf/cm², tornando necessária a escavação em maiores
profundidades, a fim de atender a tensão admissível de projeto.

Como solução para isso, poderia ser realizado um aumento da área da sapata a fim de
equ pela equação tensão = força/área, absorvendo a mesma força com uma área
r

maior de sapata após alargar a base.

299
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Entretanto, pode ocorrer de não haver espaço físico para aumentar essa sapata,
havendo uma limitação espacial. Em alguns casos, desse modo, é preciso aumentar a
escavação, aprofundar a sapata e, então, chegar a tensões ou capacidades de suporte do
solo que atendam satisfatoriamente às condições de projeto.

Detalhe: sapatas em alturas diferentes (fundações em cotas diferentes) podem levar


a sobreposições de bulbos de tensões.

OLHA AÍ COMO FUNCIONAM OS

BULBOS DE TENSÕES
DIFÍCIL DE ENTENDER..... AGORA SIM. PROFESSOR!

-SOLO ESCURO

FUNDAÇÃO LANTERNA

"BULBOS" DE
BULBOS DE
LUZ
TENSÕES

Figura 8.13- Funcionamento dos bulbos de tensões. Crédito: Matheus Borges.

Sapatas apoiadas em solos resistentes terão, cada uma, seu bulbo de tensão. Isso
significa que o elemento de fundação recebe todas as cargas vindas da edificação. E fun
dação descarrega onde? No solo.

O solo recebe ou absorve todas as cargas da obra. Um solo de altíssima capacidade


de suporte (como uma rocha) terá tendência de que uma pequena área de fundação
naquele material, absorva a tensão solicitante. Se, ao invés disso, tiver um solo de baixa
resistência (podre), será necessário um grande volume de solo para absorver aquela ca
pacidade de carga.

Solo pouco resistente = área da fundação elevada


Solo muito resistente = área da fundação reduzida

Considerando fundações de profundidades diferentes, pode levar a encontros


de bulbos de tensões e sobreposições de bulbos de tensões. A superfícies de ruptura

300
Vinicius Lorenzi

- dimensionada e calculada - jamais pode se encontrar com a superfície de ruptura de


outra fundação.

Circular ou
Retangular Corrida
quadrada
L=de 2 a 48 L258
L=B

Vista em corte

↓P

Figura 8.14-0 formato da sapata e o bulbo de tensões.

Em linhas gerais, é como se ela "roubasse" carga da outra, o que pode gerar recal
que. Sobreposição de bulbos de tensões pode gerar recalque na obra, portanto, é preciso
avaliar cuidadosamente.

Recomendações - fundações em cotas diferentes


a) solos pouco resistentes: a ≥ 60%;

b) solos resistentes: a ≥ 45°; e

c) rochas: a ≥ 30°.

Figura 8.15-Fundações próximas, mas em cotas diferentes.

301
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Fique ligado!

A fundação em cota mais baixa sempre precisa ser executada primeiro!

Outras recomendações:

Na obra não se pode simplesmente apoiar uma sapata colada na outra em cotas
diferentes. Em caso de pilares muito próximos, há duas opções:

▸ não fazer sapatas isoladas e, sim, uma sapata associada;



trabalhar com seções diferentes de sapatas onde é possível espaçá-las um
pouco mais e, ao fazer o rebaixamento para encontrar cotas de apoio melhores,
respeitar as indicações de sapatas em cotas diferentes.
Pensar nisso é fundamental e pode evitar grandes manifestações patológicas na
sua fundação superficial.

CO

Fique ligado!

As cotas de assentamento da sua fundação não podem ser muito profundas, evitando
escavações muito grandes (de 4 ou 5 metros), as quais podem gerar riscos na sua obra.

Para grandes escavações, a pergunta que sempre fica: será que isso realmente é
interessante? A relação custo-benefício pode não ser atendida e, além disso, pode não ser
uma situação segura para os colaboradores que estão lá embaixo executando a limpeza
da sapata, apoiando as ferragens e as caixarias.

Tudo isso deve ser avaliado na hora de projetar e definir a cota de apoio de uma
sapata.

CO3

Fique ligado!

Em seu projeto, as sapatas deverão ter a sua cota de apoio definidas. O embutimento
no terreno deve ter a capacidade de carga compatível com a do projeto. Isso deve ser
verificado por meio de sondagens e inspeção local. Também devemos levar em consi
deração as cotas de apoio das sapatas anexas a sapata em análise.

302
Vinicius Lorenzi

8.7 Bloco de fundação superficial


Resumidamente, falarei sobre o dimensionamento do bloco de fundação, que não
é a mesma coisa que o bloco de coroamento das estacas. No caso da fundação chamada
bloco, você precisa estar ciente de que a altura dela deve ser grande o suficiente a ponto
de que o próprio concreto resista aos esforços de tração, sem utilizar aço.

Como sabemos, o concreto não resiste bem a esforços de tração; por isso, com uma
maior altura do elemento, temos tensões de tração mais baixas, as quais ele consegue
resistir.

- Pilar

-Bloco

Reação
do solo

Figura 8.16-Bloco de fundação. Crédito: adaptada de Bastos (2019).

tg p adm
> +1
В fa

Em que:

Gadm tensão admissível do terreno, em MPa

fat 0,4f 0,8 MPa, em que fé a tensão de tração no concreto


resistência característica à tração do concreto

Vista em corte Vista em planta

↓P L

Mesa
2,5 cm

Figura 8.17-Vistas da sapata.


303
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

A fim de economizar material, o bloco pode ser escalonado ao invés de ser retangular.

Não pretendo com este livro, e neste conteúdo, esgotar todas as possibilidades de
cálculos de sapatas (e de estacas), com os mais diversos tópicos, solicitações e possibili
dades. Isto é, dentro do dimensionamento de fundações, há uma série de possibilidades
e não abordaremos todas elas.

Recomendo a leitura de um grande livro, fonte de inspiração e com muito cálculo, do


professor José Carlos de Campos, intitulado Elementos de Fundações em Concreto (2015

Oficina de Textos). A partir dessa obra, é possível dimensionar sapatas isoladas e corridas
submetidas à aplicação de momento, à flexão composta oblíqua, sapatas associadas, em
divisa, alavancadas, entre outros.

MINHAS ANOTAÇÕES

304
T

UM ENGENHEIRO É O QUE É
POR CONTA:

• DOS OBSTÁCULOS QUE


SUPEROU;


DOS PROBLEMAS QUE
RESOLVEU;

DAS SOLUÇÕES QUE


ENCONTROU.

VOCÊ SE CONSTRÓI AO
LONGO DO CAMINHO.

VALORIZE SUA JORNADA.


9. DIMENSIONAMENTO DAS
FUNDAÇÕES PROFUNDAS
Objetivos do capítulo
Neste capítulo, veremos os papéis do engenheiro estrutural e do
engenheiro de fundações. O primeiro deverá fornecer dados relativos às
características da obra, como a rigidez da estrutura e também as cargas
e recalques admissíveis. O engenheiro de fundações, por sua vez, deverá
possuir as informações relativas a características das camadas de solo, o
nível do lençol freático, das capacidade de carga das suas fundações e dos
seus recalques gerados.

Enquanto nas sapatas é fundamental analisar a capacidade de


suporte do solo, nas estacas é preciso observar a capacidade de carga
do elemento estaca.

Há algumas maneiras de se analisar um elemento de fundação


pela sua capacidade de carga:
➤ resistência estrutural do material que compõe o elemento
de fundação;

▶ resistência do solo que dá suporte ao elemento (também


chamada de resistência geotécnica).

No caso da resistência geotécnica, temos as parcelas:


▶ resistência de ponta;

▶ resistência lateral.

Fique ligado!

É preciso diferenciar, nas estacas, o dimensionamento geotécnico


do dimensionamento estrutural.

R SR
adm (geotécnica) adim (estrutural)

Em que:

Radm(geotecnica) carga admissível geotécnica

R carga estrutural do elemento de fundação


adm (estrutural)
Vinicius Lorenzi

Na prática, o que nos interessa é utilizar a resistência limite, ou o menor dos dois
valores de resistência, seja:

do elemento estrutural estaca;


do solo no qual a estaca está inserida.

É preciso deixar claro que é muito mais provável que uma fundação profunda venha
a sofrer ruptura por falha geotécnica do que por falha estrutural.

Por isso, estruturalmente, nosso elemento precisa ter a resistência adequada aos
esforços e ser dimensionado corretamente. O que é certo é que você precisa dominar tanto
uma quanto a outra metodologia.

9.1 Resistência de ponta


É a resistência da base da fundação profunda. A resistência de ponta é gerada quando
a resistência de atrito lateral do solo é ultrapassada, ou seja, sua solicitação ocorre no mo
mento em que os limites de capacidade de suporte lateral atingem o máximo de resistência.

Matematicamente falando, para determinar essa parcela de resistência, utiliza-se


a seguinte expressão:

R₁ = r,-A,

Em que:

Tp resistência de ponta da estaca, em kN

A₁ é a área da seção transversal da ponta ou base da estaca em m²

9.2 Resistência lateral

Uma vez solicitada, a estaca passa a descarregar suas tensões por atrito lateral. É a
primeira parcela de resistência que uma estaca suporta (por menor que seja esse atrito).

É a ligação do contato do solo e da estaca ao longo de todo o comprimento da


mesma. Pensando em frações verticais, em que cada fração suporta uma parte do atrito
lateral em função da sua capacidade de suporte geotécnico, podemos determinar a parcela
de atrito lateral a partir da seguinte expressão.

R₁ = U. (₁-4) (2) i=0

Em que:

U perímetro do fuste (m)

r₁ resistência lateral fracionada

o comprimento de cada fração (m)

307
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Do ponto de vista geotécnico, basicamente, a capacidade de carga de uma estaca,


considerando o elemento isolado, se dá pela consideração de esta, em uma estaca iso
lada, ter como resistência ou capacidade de carga a soma da resistência de ponta com a
resistência lateral.

R=R₁+R₂

Em que:

R capacidade de carga da estaca isolada (carga de ruptura)


R₂ resistência de ponta

R₁ resistência lateral

Por sua vez, a carga admissível sempre é obtida considerando a razão com o Fator
de segurança (FS):

R₂ R₁
Radn = +

FS FS₁

Podemos obter de várias formas a capacidade de carga de uma estaca, seja por meio
de fórmulas estáticas (teóricas e semiempíricas), fórmulas dinâmicas, provas de carga e,
por fim, modelos numéricos.

Aoki e Cintra (2010) salientam a confiabilidade da aplicação das fórmulas teóricas,


que são baseadas na Mecânica dos Solos. Segundo os autores, tais fórmulas não oferecem
confiança na previsão da capacidade de carga das fundações. E qual é o motivo disso? A
qualidade dos parámetros, diretamente ligada à qualidade dos ensaios laboratoriais dos
quais são obtidos.

Nesse interim, correlações empíricas com base em resultados de ensaios in situ,


ajustados por provas de carga, podem trazer maior fidedignidade.
Por isso, pensando no que se faz na prática, vamos falar dos métodos semiempíricos,
os quais se baseiam na expertise de seus autores, com anos de estrada na área de funda
ções e, principalmente, baseados nos resultados de ensaios de campo e correlações reais.
Nesta obra, como nosso interesse é abordar as fundações na prática, citaremos aqui
dois consagrados métodos, muito usados em escritórios, para previsão da capacidade
de carga de uma fundação profunda. São eles: o Método Décourt-Quaresma e o Método
Aoki-Velloso.

Não tenho, aqui, a pretensão de mencionar todas as teorias e os procedimentos ou,


ainda, esgotar o amplo assunto relativo ao dimensionamento de fundações.

308
Vinicius Lorenzi

Meu interesse é que você aprenda a calcular sua fundação de forma correta, práti
ca, aplicada e útil em seu cotidiano, o qual exigirá, para além de habilidades de cálculo,
agilidade e coerência nos resultados para o sucesso das fundações projetadas por você.

Fique ligado!

O mercado competitivo que temos hoje exige de você muito mais do que apenas
fazer cálculos. Você, como engenheiro, precisa entregar soluções ágeis, coerentes,
estratégicas e com o menor custo para o seu cliente.

9.3 Método Aoki-Velloso

Nesse método, encontramos a carga de ruptura das estacas. Os autores, para a


formulação, basearam-se em dados de CPT (e em parâmetros correlacionados de NSPT) e
resultados de provas de carga. A tipologia de estaca é utilizada para as análises foi Franki.
Na realidade, é bem simples calcular isso: você tem a formulação teórica e para
calcular vai precisar do SPT e da classificação básica do seu solo por conta dos parámetros.
9.3.1 Carga de ruptura
Capacidade de carga:
a K-N K-N₂
Radm=U-E A₂
F₁

Observe: na fórmula de capacidade de carga, o que temos é o seguinte: a primeira


parcela do cálculo tem relação com a resistência lateral e a segunda, com a resistência de
ponta. A fórmula é estranha, mas é simples e lógica.
P≤R +R

R₁ = ₁₂A₁
R₂=1, A₂
Em que:

A₁ é a área lateral

A₁ é a área de ponta (base)

r é a resistència lateral unitária

é a resistência de ponta unitária

B é a menor dimensão da fundação


p
Figura 9.1-Resistência lateral e de ).
309
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Veja o que significa cada variável dessa equação:


▶ Carga de atrito lateral - primeira parcela

U perímetro da seção transversal da estaca


(2
parâmetro em função do solo

4₁
área lateral (perímetro da seção transversal da estacax comprimento)

F₂ fator em função do tipo de estaca

K em função do solo (kN/m²)

▶ Carga resistida pela ponta-segunda parcela

N ensaio SPT

K em função do solo (kN/m²)

A, área de ponta

F₁ fator em função do tipo de estaca

Tabela 9.1- Parâmetros.

Tabela 9.2-INCLUIR TÍTULO.

Tipo de solo K av (KN/m²) c (%)

1.000 1,4%
Areia

600 3,0%
Areia argilosa

Areia argilo-siltosa 500 2,8%

700 2,4%
Areia silto-argilosa

Areia siltosa 800 2,0%

Argila 200 6,0%

350 2,4%
Argila arenosa

Argila areno-siltosa 300 2,8%

Argila silto-arenosa 330 3,0%

Argila siltosa 220 4,0%

Silte 400 3,0%

Silte areno-argiloso 450 2,8%

Silte arenoso 550 2,2%

Silte argilo-arenoso 250 3,0%

Silte argiloso 230 3,4%

310
Vinicius Lorenzi

Tipo de estaca F₁ F₂

Escavada com lama bentonitica 3,5 2F₁

Escavada 3,0 2F,

Franki 2,5 2F₁

Hélice contínua 2,0 2F,

Metálica 1,75 2F₁

Pré-moldada 1+D/0,80 2F₁

Raiz 2,0 2F₁

Strauss 4,2 2F₁

Há quem queira fazer fundação semfsondagem, mas, matematicamente, fica evi


dente que não dá para calcular uma fundação sem ela, seja ela rasa ou profunda!

9.4 Método Décourt-Quaresma

O método foi inicialmente desenvolvido para estacas pré-moldadas de concreto e


depois adaptado com fatores a e B, a fim de se estender para outras estacas. É baseado
exclusivamente no SPT.

Na formulação, também temos uma parcela relativa ao atrito lateral e outra à re


sistência de ponta:

Carga de ruptura

Nor
Rup=B-U-L-10 +1 +a-C-N₂-Ap
3

▶ Atrito lateral unitário

U perímetro da seção transversal da estaca

В parâmetro de adaptação

qs atrito lateral unitário

As área lateral

▶ Tensão de ruptura de ponta

Em que:

N ensaio SPT

C C-Fator de correlação, dependente do tipo de solo

311
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES PROFUNDAS

a parámetro de adaptação

área de ponta

Observação:

NSPTI+ NSPT2+ NSPT.3


N₂=
3

In
Solo Fundação produnda
(estaca)

SPT1(anterior)

NSPT2(ponta)
Nepr
3 (posterior)

Figura 9.2-NSPT,1, NSPT,2, NSPT.3. Crédito: Adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Tabela 9.3- Valores de C.

Solo C (kPa)

120
Argilas

Silites argilosos 200

Silites arenosos 250

Areias 400

Solos residuais.

312
Vinicius Lorenzi

Tabela 9.4 - Valores típicos de a..

Tipo de estaca

Hélice
Solo
Escavada Escavada continua Injetadas
Raiz
em geral (betonita) / hélice sob pressão
deslocamento

Argilas 0,85 0,85 0,30* 0,85* 1,00*

Solos intermediários 0,60 0,60 0,30* 0,60* 1,00*

Areias 0,50 0,50 0,30* 0,50* 1,00*

*Valores apenas orientativos diante do reduzido número de dados disponíveis.

Fonte: Adaptada de Décourt (2016).

Tabela 9.5 - Valor do fator ß em função do tipo de estaca e do tipo de solo.

Tipo de estaca

Hélice

Tipo de Solo Escavada Escavada continua


Injetadas
Raiz
em geral (betonita) / hélice sob pressão
deslocamento

Argilas 0,80* 0,90* 1,0° 1,5* 3,0*

Solos intermediários 0,65* 0,75* 1,0* 1,5* 3,0*

Areias 0,50* 0,60* 1,0* 1,5* 3,0*

*Valores apenas orientativos diante do reduzido número de dados disponíveis.


Fonte: Adaptada de Décourt (2016).

- Depois de descobrir a capacidade de carga, o que eu faço com esse dado?


Agora, com a capacidade de carga de uma estaca em mãos, você deve ir em busca
do número de estacas que conseguirá dissipar a carga proveniente do pilar. Isso é mais
simples do que você imagina!

Depois achar a carga de ruptura geotécnica, esta deve ser dividida pelo Fator de
Segurança (FS). Após isso, para achar o número de estacas, você precisa dividir a carga
do pilar pela carga admissível da estaca.

Vamos supor que, a partir de um dos métodos de capacidade de carga, você encontre
a capacidade de suporte de 20 toneladas. Para uma estaca escavada de 300 mm com
12 metros. Além disso, você sabe que o pilar que você está buscando solucionar a fundação
possui 78 toneladas de carga.

313
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Logo, se eu utilizar 4 estacas nesse meu pilar, elas suportarão, a carga máxima de
80 toneladas. Valor esse superior a carga do pilar.

Basicamente, o que buscamos no dia a dia é a somatória de capacidades de carga


de um estaqueamento que seja superior à tensão solicitante no pilar. Satisfazendo essa
condição básica, você tem uma fundação que atende aos esforços necessários.
Quando o centro de carga do pilar coincide com o centro de carga do estaqueamento
e a estaca não está sujeita a momentos em x e y, a mesma pode ser calculada como:

PPILAR
N=
P

Em que:

N número de estacas constituinte do bloco

PPILAR carga do pilar

carga admissível da estaca, determinada como a menor carga


P
necessária para provocar a ruptura do solo, ou do elemento estrutura.

9.4.1 Estaqueamento submetido à carga vertical e momentos segundo


as direções X e Y
Nesse caso, a carga em cada estaca precisa ser calculada considerando, separada
mente, os efeitos da carga vertical e dos momentos. Veja a equação:

PPILAR MX, My,


+ +
P₁= N Ey?

Em que:

Pi carga atuante na estaca i

PPILAR carga vertical do pilar

N número de estacas do estaqueamento

M momento transmitido pelo pilar na direção x

M₁ momento transmitido pelo pilar na direção y

x, ey, coordenadas da estaca i, segundo as direções x e y, respectivamente.

314
Vinicius Lorenzi

9.5 Dimensionamento estrutural

Assim como em qualquer outro dimensionamento de elementos em concreto arma


do, é preciso realizar verificações de flexo-compressão, tração e cisalhamento para, então,
armar corretamente nossa estaca.

Destaco que o dimensionamento estrutural das estacas é realizado de acordo com


as recomendações da ABNR NBR 6118:2014.

Antes de mais nada, a norma traz considerações sobre as tensões médias limites
para as quais não há necessidade de armar (considerando a tipologia da sua estaca) e
respectivos comprimentos das armaduras mínimas.

MINHAS ANOTAÇÕES

315
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Tabela 9.6-Estacas moldadas in loco e tubulões: parâmetros para dimensionamento.

P
/O
e
qm

concreto
defin dos argmas
ue
se

/
1 J G H x M
3 -

Anexo
L

N
encontram

com(
n
de

)

arma r
liga
)
e
Tensão

compressão

(
bclo simples
atuante

abaixo
u
dao
al
é
necessário

eçxc
ã eo
to

MPa
bloco
6,0 5,0 6,0 5,0 5,0 III

Compriento Integral Integral Integral Integral


mín

4,0 2,0 4,0 2,0 3,0


incluindo

oc
útil
ar

m ligação
i
mínimo

do
m
d

%
a
m

e
d
e
comprimento
u
a

Armadura
ra

0,4
trecho

0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4


%

Y₁ 2,7 3,6 3,1 5,0 2,7 3,6 2,5 1,8 2,2 3,6 1,6 1,8 1,8
ou
/

resitênca car teísica


concreto
de

concreto C30 MPa


argamassa
Classe

C25 C40 C30 C40 C25 C40


20
20

20

C40
20

MPa
da

MPa

PMa
MPa

20
:

,I,V
,I,V
,I,V
,I,V
)(

agresivdae ambiental
2014

,
ABNT

,IV

III
de

III
,IV

III
III
conforme

,11

,11
Classe

IVHI

I ,IV
CAA

1,11 1,11 1,11


6118

III

I
,I
I
III

1 1
,
I

,I
,

I
I

I
I
NBR

I
d/
/

não

Microestac .e Estaca segmntado


com
de

sem
e
hélice

fluído

fluído
hélice

encamisdo
trado
trado

vazado

Straus Franki Tub lões Raiz.c


estaca

deslocamento
segmentadco

Escavds Escavdas
Hélice
Tipo

om
Vinicius Lorenzi

a) Nessas estacas, o comprimento máximo da armadura é limitado devido ao


processo executivo.

b) Nesse tipo de estaca, o diâmetro a ser considerado no dimensionamento é o


diâmetro externo do revestimento.

c)
O espaçamento entre face de barras deve ser de um diâmetro da barra e, no
mínimo, 20 mm. As taxas máximas de armadura são de 8 % A, para diâme
tros menores ou iguais a 310, e de 6% A, para diâmetros iguais ou superiores
a 400 mm. As taxas máximas devem ser verificadas na seção de maior con
centração de aço (considerando inclusive as emendas por transpasse). Em
situações críticas, o dimensionamento pode ser feito em função da área de
aço (f=500 MPa; A = área de aço), conforme a seguir:
>>>
quando A, ≤ 6% A, o dimensionamento deve ser feito considerando
a estaca trabalhando como pilar de concreto (a resistência da estaca é
formada pela parcela do concreto e pela parcela do aço);
quando A, 26% A, o dimensionamento deve ser feito considerando que
todo o esforço solicitante deve ser resistido apenas pelo aço da seção
da estaca (a parcela resistente do concreto é desprezada).

d) Argamassa.
e) Calda de cimento.

Vamos discutir, nessa sequência, um anseio de muitos alunos, que é o dimensiona


mento da estaca à compressão quando as tensões ultrapassam o limite da norma.

Tendo em mãos os esforços característicos, buscamos encontrar a área de aço que


possibilite resisti-los. Observe as equações utilizadas para isso:

Nd=y, N

Md=Y,M

fcd= 0,85 fcd/Y

fyd = fyj/Y,
A-fcd
As p
fyd

- Vinicius, o que eu faço com esse tanto de fórmulas?

Primeiro, com a carga axial, N, você majora usando o yf (1,4) e encontra o Nd. Com
o momento M, você faz o mesmo e acha o Md. Na sequência, calcula o fcd e o fyd.
Depois, para achar sua área de aço, você precisa encontrar o "p", que é obtido no
cruzamento do valor "m" e "n" contidos nos ábacos apresentados adiante.
Só falando assim, parece que foi a mesma coisa que não dizer NADA! Por isso, logo
na sequência é apresentado um exemplo para você ver como tudo se encaixa.
317
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES PROFUNDAS

EXEMPLO

Estaca escavada →→ Fck = 25 MPa

Aço CA-50 fyk = 500 MPa

Estaca de 50 cm

Nk máx - Carga axial = 35 tf (compressão) (característico)

Mk máximo 8,5 tf.m

Área de concreto

Act-502/4=1.963,5 cm²

Esforço axial

Nd = Nk 1,435-1,4 = 49 tf = 490 KN

Momento

Md 8,5-1,4 11,9 tf.M = 119 kN.m = 11.900 kN.cm

Resistência de cálculo do concreto

fcd= (0,85 25)/3,1=6,855 Mpa = 0,6.855 kN/cm²

Resistência de cálculo do aço

fyd = 500/1,15=434,78 MPa = 43,48 kN/cm²

n= 490 / (50² x 0,6855) = 0,2859

m= 11.900/(60³x0,6855) = 0,1388

No caso de seções circulares maciças, usamos os ábacos existentes para determinar


a área de aço necessária (Gráficos 9.1 a 9.4).

318
Vinicius Lorenzi

Cruzando os valores de m (abscissa) en (ordenada), temos:


2,4
CA-50 B
2,2
d₂ dd/d = 0,80
2,0

1,8 Nd=y, N

1,6 M₁=Y, M
fcd = 0,85 fcd/Yc
1,4

Compresão 1,2

1,0
fyd = fyk / Y₁

As-p
A-fcd

fyd
0,8
N
0,6
n=

0,4 db² x fcd

0,2 M₂
n m=
0,0 db³ x fcd
-0,2

-0,4

-0,6

-0,8

Tração -1.0

-1,2

-1,4

-1,6

-1,8

0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50

Gráfico 9.1- Ábaco para o dimensionamento de estacas. Fonte: Alonso (2012).

p = 0,38 (aproximadamente)

A-fcd

A₂ =P fyd
As = 0,38 (1.963,5-0,6855)/43,48 = 11,763 cm²

Amin=0,4% Ac = 0,004-1.963,5 = 7,854 cm²

319
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Barras de 10 mm → A = 0,7853 cm²

N° de barras de 10 mm: 11,763/ 0,7853= 15 barras

Barras de 12,5 mm →→ A = 1,227 cm²

N° de barras de 12,5 mm: 11,763/1,227 = 10 barras

Barras de 16,0 mm → A = 2,01 cm²

N° de barras de 16 mm: 11,763/2,01 = 6 barras

Escolha adotada: 10012, 5=> longitudinal (a escolha depende, para além da questão

estrutural, das questões de fornecimento e custo do material na região).

ANEXO:

Outros ábacos que podem ser usados (considerando a relação entre os diâmetros):

2,6

2,4

22

2,0

1,8

CA-50 B
1,6
dd/d=0,85
1,4

Nd=y, N
1,2

M=Y, M
1.0

fcd = 0,85 fcd/Y


fyd = fyk/Y₂
0.8

0.6 A-fcd
A=p.
Compr

0,4 fyd

No
0.2

0
Te

n=
rs

0,0
db² x fcd
0.4
asção

-0,2 as
06 M₂
-0,4
XD m=
db³ x fcd
-0.6 +

16
-0.8
1.87
-1,0 x

-1,2
922
-1,4

-1,6

-1,8

0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50

).

320
Vinicius Lorenzi

CA-50 B

2.6
d₂ d d/d=0,90
2.4
Nd=y, N
2.2 M=Y,M
fcd = 0,85 fcd/Y
2,0
fyd = fyk/Y₁
1,8 A-fcd
A=p.
1,6
fyd
N
1,4
n=
db² x fcd
1,2

M₂
1,0
m=
db³ x fcd
0,8

Compresão 0,6

0.4

0,2

0,0
n
0,0
02
OF
-0,2
6.0
-0,4
0,8
10
-0,6 £2

Tração -0.8
1.4

1,8
-1.0

27
-1.2
p=22
-1,4

-1,6

-1,8

0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50

Gráfico 9.3. Fonte: Alonso (2012).

321
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES PROFUNDAS

2,4

2.2

CA-50 B
2,0

.. dd/d=0,95
1,8

1.6 Nd=y, N

1,4
M=Y, M
/Y
1,2
fcdfyd
==
0,85
fcdfyk/Ys
1,0
A-fcd
0.8
A=p.
fyd
0.6
N₁

Compresão 0,4

0,2
n=
db2x fcd
M
0.0
0.0
de m=
db³ x fcd
4

-0.2
n
0.0
-0,4
8

10
-0,6

1.4
-0,8

Tração -1,0 1,8


25
-1,2
P22
-1,4

-1,6

-1.8

0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60

Gráfico 9.4. Fonte: Alonso (2012).

Para saber até qual profundidade você deverá armar sua estaca, é preciso lançar
mão de uma modelagem. Você precisa compreender como os esforços se estendem no
longo eixo de sua estaca e, conforme recomendação da norma, há necessidade de armar
seu elemento até a profundidade em que esse valor não ultrapasse a tensão limite.
Exemplo: para estacas escavadas, deve se armar até profundidades em que a tensão
ultrapasse 5 MPa.

Isso vai depender, por exemplo, das solicitações: momentos e esforços laterais. Se sua
estaca está sujeita a grandes cargas e solicitações, tenderá a ter armaduras mais robustas
e de grandes comprimentos.

Por outro lado, é importante entender aspectos básicos na hora de indicar a pro
fundidade das armaduras das suas estacas e aqui vou indicar algumas premissas básicas.

322
Vinicius Lorenzi

Detalhes práticos dos comprimentos das armaduras em estacas

1. Verificação do solo

O primeiro ponto de atenção está na análise do solo onde sua armadura será apoiada.

Veja que o problema do dimensionamento estrutural de estacas é que ele leva em consi
deração somente aspectos estruturais e não geotécnicos.

O solo é fundamental nesse momento de avaliação do comprimento da armadura.


Um solo de baixa resistência no apoio da armadura fará com que essa estaca seja arrancada
por inteiro caso ocorra uma tração acima dos limites.

Apoiar a sua armadura em solos com SPT abaixo de 5 não é recomendado quando
há esforços de tração na sua fundação.

Imagineagina essa estaca sendo submetida à tração. O que acontecerá é que no


trecho onde ela está armada, ela resistirá aos esforços de tração pela armadura, mas não
suportará no contato entre o solo e a estaca.

Caso sua estaca esteja armada em solos de maior competência, no momento do


tracionamento, a estaca estará resistindo. Além do trecho da armadura de maior compri
mento, ela estará resistindo por atrito, no contato do ocom a estaca.

Observe que no trecho que não há armadura não ocorrerá o suporte a tração do ele
mento. Uma estaca armada com 3 metros suportará esses esforços até essa profundidade.
Parece óbvio, mas aprendi isso na prática. Vou contar a história de uma estaca
minha que foi integralmente arrancada. Em uma Prova de Carga, eu analisei os aspectos
estruturais da estaca, avaliei a profundidade que deveria inserir a armadura e assim o fiz.
Mas em momento nenhum analisei a profundidade de armadura por meio dos aspectos
geotécnicos e apoiei a minha armadura em uma cota com NSPT relativamente baixo frente
à tração que a estaca sofreria.

Pois bem, quando o ensaio iniciou, a estaca começou a ser arrancada, foi quase um
tapa na minha cara: "Não acredito que eu armei essa estaca nessa cota!"

A estaca foi arrancada por inteiro no trecho onde tinha sido armada!

Portanto, quando nos referimos à armação de uma estaca, pense sempre na cota
de apoio dela, qual é o solo que você tem? Qual é a capacidade de suporte à tração desse
solo? São informações importantes que precisam ser entendidas.

2. Verificação da capacidade de tração do elemento

No seu dia a dia de dimensionamento de uma fundação a tração, você precisa calcular
a capacidade estimada na cota de apoio.

A maneira mais prática para você fazer isso é calcular a capacidade de carga a com
pressão da sua estaca por atrito lateral. Nesse caso, a ponta não precisa ser dimensionada,
uma vez que, no tracionamento, a ponta da estaca não é solicitada.

323
DIMENSIONAMENTO DAS FUNDAÇÕES PROFUNDAS

A capacidade de carga à tração por atrito lateral é muito menor do que a sua capa
cidade a compressão. Por isso, usamos um fator redutor da ordem de 30%.

Vamos supor que o cálculo da sua estaca á compressão, por atrito (sem a considera
ção de ponta), tenha chegado a 15 toneladas para uma estaca de 300 mm com 9 metros.
Logo, a sua capacidade estimada à tração será de 4,5 toneladas.

É claro que essa porcentagem é um valor estimado; inclusive, há diversos estudos


sobre a capacidade resistente das estacas à tração, entre eles Danzinger (1983), Campelo
(1995) e Velloso e Lopes (2010).
3. Compreensão do tipo de fundação que está sendo utilizado

Aqui, o cuidado é redobrado! Algumas estacas simplesmente não aceitam armaduras


de grandes comprimentos, como é o caso da gélice contínua.

Como no processo da hélice, a armadura é inserida após a colocação da ferragem. É


fundamental que ela tenha um comprimento que torne possível sua inserção, caso contrário,
corre-se o risco de parte da armadura não adentrar no concreto.

Tabela 9.6- Diâmetros das armaduras de estaca tipo hélice contínua.

Diametro da Comprimento da armadura

) Até 4 m Entre 5 e 9 m Entre 8 e 12 m Entre 13 e 16 m Acima de 17 m

300/400 Mínimo $ 12,5 mm Mínimo 16 mm Mínimo 16 mm


Mínimo 12,5 mm Mínimo 20 mm
500/600 Mínimo 20 mm
Mínimo 16 mm Mínimo 20 mm
700/800
Mínimo 16 mm Mínimo 25 mm Mínimo 25 mm
Acima de 900 Mínimo 20 mm Mínimo 625 mm

A realidade é que, em fundações, cada caso é um caso,é que como venho demons
trando desde o início. Por isso, o trabalho do calculista e do projetista de fundações deve
ser, no mínimo, colaborativo.

324
10. CAPACIDADE DE CARGA DE
FUNDAÇÕES - CARGA DE CATÁLOGO

Objetivos do capítulo

Neste capítulo, veremos que a carga de tabela é uma referência


direta da capacidade de carga estrutural de um elemento estaca. Nesse
processo de análise, não há a consideração das capacidades de carga
geotécnicas, muito menos uma verificação da sondagem do terreno.

Chegamos a um porto muito importante e extremamente prático


no dimensionamento de uma fundação, que é a carga de catálogo ou
carga de tabela, ou tecnicamente a carga característica do elemento.

Basicamente, o que encontramos nessas tabelas são as capaci


dades de suporte do elemento estaca, variando nos seus mais diversos
diâmetros e tipos.

A pergunta principal é: em que momento eu utilizo esse tipo de


capacidade de carga?

Sua utilização está diretamente ligada à cota de apoio da estaca.


A indicação do uso desse tipo de relação é nos casos em que a sua fun
dação atinge um limite impenetrável, isto é, a perfuração (ou cravação)
não consegue mais avançar além desse limite.

No caso de uma estaca cravada, quando a mesma atinge a nega,


esse elemento passa a ser dimensionado através da sua carga de cata
logo. Por essa razão, inúmeros projetos de estacas pré-moldadas cra
vadas, sequer fazem uso dos métodos geotécnicos de cálculo, partindo
diretamente para as considerações de tabela e indicando no projeto que
as estacas devem ser cravadas até o limite.

Com estacas perfuradas, tipo escavada ou hélice, a recomendação


para utilização desse tipo de carga é que as mesmas sejam perfuradas
até o limite impenetrável, desde que o equipamento seja adequado e
que essa impenetrabilidade seja decorrente de solos de alta resistência
e não de equipamentos de baixo torque.

Alternativamente ao uso de uma tabela, é possível fazer o dimen

sionamento estrutural de um elemento fundação a partir do seu diâme

tro e resistência do concreto, similar ao dimensionamento de um pilar.


CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES-CARGA DE CATÁLOGO

10.1 Estacas Metálicas de Aço


A Tabela 10.1 demonstra as características dos perfis metálicos e sua carga máxima:
Tabela 10.1 Características de estacas metálicas.

Dominação Área reduzida


Tipo de perfil Carga máxima
Peso (N/m)
(mm) (cm²) (kN)

I (203x102) 34,8 274 300


Perfis laminados 1-H (A36) 1(254x117) 48,1 374 400

max=f/2= 120 MPa 1(305 x 133) 77,3 607 700

H (152x152) 47,3 371 550

1 (150) 6,5 130 130


Perfis laminados I-H
(A572)
H (150) 15,7 225 320

H (360) 129,8 122 2.700


max=f/2=175 MPa
I (610) 185,6 174 3.700

TR 25 22,9 250 250 (200)


Trilhos (A36)
TR 32 30,25 320 350 (250)

omax = f, /2 = 120 MPa TR 37 35,42 370 400 (300)

TR 45 = 40,62 450 450 (350)


(o=0,6 f/2=80MPa)
TR 68 61,46 680 700 (500)

Para trilhos usados (valores entre parênteses), recomenda-se considerar uma redução máxima de peso da
ordem de 20% e de capacidede de carga da ordem de 40%. Em nenhuma circunstância deve-se utilizar

perfis com redução de área maior do que 40 %. Para calcular a carga de estacas com perfis compostos, basta

multiplicar a carga da tabela pelo número de perfis que compõe a estaca.

Fonte: Adaptado de Gerdau (2006) e Velloso e Lopes (2010).

Nas estacas metálicas, é fundamental entender a capacidade de carga com o fabri


cante do elemento metálico. Inclusive, nesses casos, o projeto precisa destacar qual é o
perfil necessário e de qual empresa.

Isso ocorre pois diferentes fabricantes podem usar aços distintos na fabricação de
peças de uma mesma seção. Recorra sempre aos catálogos atualizados das fabricantes
como Gerdau ou ArcelorMittal.

10.2 Estacas tubulares

Estacas tubulares possuem um excelente comportamento estrutural. Destacam-se


as estacas tubulares Tuper.

A seguir, apresenta-se a Tabela 10.2, de capacidade de carga estrutural considerando


espessura de sacrificio de corrosão de 1 mm, sendo esta a ser utilizada para classes de solos
em estado natural e aterros compactados.

326
.
)
(
Vinicius Lorenzi

Tabela 10.2 - Capacidade de carga estrutural da estaca tubular..

2d
+
+
+
+

0
186

Tu
190
198
Concreto

194
334 355

202
278 305

100,9
251

64,9

90,7
77,5
52,2

2
339
ep
:
+

2er
+93
MPa

Adaptado
+98

+
+

+
MPa

90
96
101
206 221
$

148 167 186

64,4
55,1
46,3

71,5
310 37,3
244

Fonte
40

metálico
+

+71
+80

+73
75
41,2+78 159

63,7
125 142 176 190
$

49,2

57,4
Tubo
33,3
219

+
+
+
+

186
Concreto
198

1990
202

194
$

215 243 271 300 322

100,9
64,9

0,7
77,5
52,2
339
+
MPa

+98

+93
+

+
+96

MPa
90
$

1031

130 150 169 189 205


64,4
46,3

310
71,5
55,1
7,3

244
30

metálico
+80

+75

+71
+78

+73
$

110 128 145 163


Tubo 177
33,3

63,7
41,2

49,2

57,4
219

104 52,2 134 64,9 164 77,5 195 90,7 219 100,9
MPa
339
310=
Fy

74 37,3 95 46,3 116 55,2 138 64,4 155 71,5

metálico,
244

Tubo 33,3 41,5 104 49,2 123 57,4 138 63,7


$

66 85
219

)
m
/(
kg

admis ível
teórico

6,35 8,00 9,50 11,20 12,50


Carga Peso
CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES-CARGA DE CATÁLOGO

Novamente se faz necessária uma validação das capacidades máximas estruturais


com cada um dos fabricantes da estaca. Além disso, é fundamental uma avaliação se a
estaca pré-fabricada é do tipo maciça, vazada, protendida etc. A Tabela 10.3, a seguir,
demonstra características relevantes das estacas de concreto pré-fabricadas:
Tabela 10.3-Cargas características das estacas de concreto pré-fabricadas.

Carga
Distância
máxima
Diâmetro Massa Perimetro minima
estrutural Área (cm²)
(cm) (kg/m) (cm) entre eixos
admissível*
(cm)
(KN)

15 180 42 177 47 60

18 260 61 255 60
57

23 470 100 416 72 60

28 700 148 88 70
616

33 1.000 104 85
205 855

38 1.200 272 1.134 119 95

42 1.300 332 1.385 132 105

Fonte: Adaptado de Benapar (2020)

328
.
)
.
)
(
.
)
Vinicius Lorenzi

(
(
20
T

T
Tração

)t(f

d2e
Tração

)tf
5,3 7,9 7,9 8,7 11,1 16,3 11,5 12,1 13,9

Proten
:
)t(f

)
2
Compres ão Compresão

)tf

Ad
( (

d
47 66 80 97 127 158 162 194 224

ap
N.

i
N.

Fonte tat
do
c)
)(
cm
Mapc

vaz
min
m
4,9 5,6 6,2 6,8 7,7 8,5 9,9 11,4 13
min
)

cm
cm²
(

6.960 12.049 17.806 25.415 41.096 6.3111 8.4123 13.0875 19.2 71


(
pra

min Imin
rq

o
he
oi
)(

)(
u

tx
ta

Wmin 1.236 1.656 2.163 3.102 4.279 Wmin


cm³

819 4.856 6.715 8.878


cm³
d
ea
e
ç
p

p
ng
dn

)
m
a

m
a
a
do
r

/
d
a

/
d

d
i

Mas a
air

71 93 113 135 172 213 215 250 282


kg
Esta1c

k(
r
s
d
(

g
Estacas -
d
Massa


d
s

a
ã
)
io
a
ao
Perimetro

s
)

)
0a s
()

Perímetro
.4

c(

c(

68 78 86 94 106 118
m

120 135 150


10.5
s-

m
Tabela

cm²

Tabela
cm²
(

289 380 462 552 702 870 1.040 1.316 1.625


Acheia

Acheia
)
c
(

cm²
(

289 380 462 552 702 870 863 1.002 1.134


Aconc Aconc
×

Estaca 17x17 19,5x19,5 21,5x21,5 23,5x23,5 26,5x26,5 Estaca 4520


29,5

50
40
%

%
29,5

M
)
CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES - CARGA DE CATÁLOGO

(
Tabela 10.6 - Especificações técnicas.


)(
)
)

de
mínimo

c(
m
)
(

m
cm
tf

DMSA
seção

cm²
(
de
Comprientos

eixos
Capcidae estrutural
con reto Afastmeno

eixd
Área

oe
entre
16x16 28 64 256 64 30 40 6810

18x18 40 81 324 72 30 45 6 8 10 12

20x20 50 100 400 80 30 50 6 8 10 12

23x23 70 132 92 35 60 6 8 10 12
529

26*26 90 104 40 65 6 8 10 12
169 676

30x30 120 225 900 120 45 74 681012

33x33 150 273 1.089 132 45 85 6 8 1012

Fonte: Adaptado de Cassol (2022)

10.3 Estaca raiz

Um dos métodos que mais se utiliza da informação da carga característica para of


seu dimensionamento é o tipo estaca raiz.

Nessa técnica, preponderantemente, há o apoio da fundação no material rochoso,


seja engatando a parte da estaca na rocha (caso mais comum) ou, ainda, simplesmente
apoiando no material. Para esses, há a indicação do uso da carga característica.
A Tabela 10.7 é orientativa para determinação da carga da estaca em função do
diâmetro e da armadura da estaca.

330
Vinicius Lorenzi

Tabela 10.7- Carga da estaca em função do diâmetro e da armadura.

Carga tf 150 $ 120 100


$450 $410 $310 $250 $200 160

Diâmetro mm

200

104 20

180
Argamassa
8 + 20
¥c=1,6

160

Aço CA-50
6 $20 7622
fyd = 420 MPa
140

4620 6420

120

4 $20

100

64 20

90

5420

6616
80

5616

70

6 16

60
4616
5 16
616
50

5416

40
4616 3620

4616 3620
30
4616 3 20

4 16 6616
20
3616 3616 do

1625
10 1625

ESTRIBOS $6.3 c/20 63 c/20 $6.3 c/20 6.3 c/20 5c/20 $50/20 45120 451/20 45c/20

331
CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES - CARGA DE CATÁLOGO

Observe, neste caso, que uma estaca Ø410 mm, por exemplo, pode ser dimensionada
desde 100 toneladas até 150 toneladas em função de uma armadura maior (de 6 barras
de Ø16mm até 7 barras de Ø22 mm).

Além disso, na estaca raiz, algumas informações são importantes na hora do projeto.
Observe que os diâmetros de Ø450 mm/0410 mm/0310 mm são diâmetros comerciais,
mas que não são efetivamente o diâmetro dos tubos de revestimento, como na Tabela 10.8.

Tabela 10.8 Dimensões importantes na estaca raiz.

Diâmetro da
450 410 310 250 200 160 150 120 100
estaca (mm)

Diâmetro externo
406 355 275 220 168 140 127 102 80
do tudo (mm)

Área de secção
1590 1320 755 491 380 201 177 113 79
transversão (cm²)

Perímetro da
141 126 98 79 63 50 47 38 31
estaca (cm)

Distância mínima entre


135 130 100 80 70 60 60 60 60
eixos (cm)

Distância mínima
40 30 30 30 30 30 30
30 30
eixo-divisa (cm)

Diametro externo do
330 280 200 155 110
estribo (mm)

Diametro interno da
323 235 180 133 120 105 72 60
374
coroa (mm)

Diâmetro da estaca
355 305 228 178 127 101 76 .

em rocha (mm)
co

Cimento (kg) 163 135 70 50 30 20 15 10 8


A

Área (L) 272 113 75 47 30 27 17 12


226

Armação long.
10 20 620 620 6616 516 416 3416 1625 1625
mínima CA-50 (mm)

Estribo CA-25 (mm) $6,3 $ 6,3 $6,3 $6,3 $5

Uma estaca de Ø450 mm possui, na verdade, Ø355 mm no embutimento em rocha,


e Ø406 mm no tubo de revestimento na parte em solo.

Muita confusão tem sido criada acerca desses diâmetros, mas é importante que no
projeto esteja claro o diâmetro nominal da estaca, pois a partir desses diâmetros nominais
tem-se as indicações desta tabela.

332
Vinicius Lorenzi

10.4 Estaca hélice contínua

A estaca HC teve na última revisão da norma alterações quanto à resistência do


concreto. Até então, utilizando-se Fck 20 Mpa havia uma capacidade estrutural das estacas.

A partir da revisão da 6122 em 2019, quando se indicou o uso de 30 Mpa, as capa


cidades estruturais se elevaram.

A Tabela 10.9 mostra as capacidades mínimas e máximas no uso da hélice. Uma

dica prática do uso dessas cargas mínimas e máximas tem a ver com o comprimento da
estaca. Exemplo: para curtas < 10 metros indica-se cargas mínimas, para estacas maiores,
indica-se cargas maiores.

Lembrando que, em quaisquer casos, há a necessidade de que a estaca alcance os


limites impenetráveis para que essa consideração seja feita.

Tabela 10.9 - Capacidades mínimas e máximas no uso da hélice.

Espaçamento
Estaca hélice 8
recomendado entre Carga minima (ton) Carga máxima (ton)
(mm)
eixos (mm)

250 650 a 750 mm 20 27

300 800 a 900 mm 30 45

400 1.000 a 1.200 mm 50 70

500 1.250 a 1.500 mm 80 120

600 1.500 a 1.800 mm 120 160

700 1.750 a 2.100 mm 170 210

800 2.000 a 2.400 mm 220 290

900 2.250 a 2.700 mm 270 360

1.000 2.500 a 3.000 mm 340 4.510

10.5 Estaca Strauss

A Tabela 10.10 apresenta as capacidades de carga para os diâmetros da estaca Strauss.

Tabela 10.10-Capacidade de carga.

Strauss (cm) Carga usual (kN) Carga máxima (kN) Observação


|

150 200
25
Não indicadas para
250 350
32
argilas moles e abaixo
350 450
38
do NA
45

500 650

Tensões na estaca da ordem de 3 MPa a 4 MPa.

Fonte: Velloso e Lopes (2010).

333
CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES-CARGA DE CATÁLOGO

10.6 Estaca Franki

A Tabela 10.11 apresenta as características geométricas e estruturais das estacas


Franki.

Tabela 10.11-Dados gerais para projeto de estacas Franki.

Simbolo
Designação Valores
Unidade

1 Diâmetro mm 300 350 400 450 520 600 700

2 Área da seção A cm² 709 962


1257 1590 2124 2827 3848
3 Perímetro U cm 94 110 126 141 163 188 220

Momento de
4 I cm
inércia 39.761 73.662 125.664 201.289 358.908 636.172 1.178.588
Momento
5 W cm³ 2.651 4.209 5.283 8.946 13.804 21.206 33.674
resistente

Distância entre
6 em 1,00 1,20 1,30 1,40 1,50 1,70
eixos 2,00

Comprimento
7 Lm 15 18 23 27 40 40 40
máximo

8 Carga usual N KN 450 650 850 1.100 1.500 1.950 2.600

Armadura
9
CA-50 A 4612,5 4 12,5 416 4616 4+20 4 $20 4+25
mínima

10 Carga máxima N KN 800 1.200 1.600 200 2.600 3.100 4.500

Armadura
11 CA-50 A 6 16 8 20 8620 8 22,5 8 25 8 $25 6632
mínima

12 Carga tração TKN 100 150 200 250 300 400 500

13 Força horizontal V KN 23 30 40 60 80 100 150

14 Volume Vm³ 0,07 0,10 0,13 0,16 0,22 0,29 0.39 2

15 Cimento Saco 50kg 0,50 0,70 1,00 1,25 1,50 2,00 3,00

16

17
Pedra

Areia
FUSTE APILOADO m³


0,07

0,05
0,10

0,06
0,13

0,08
0,16

0,11
0,22

0,14
0,30

0,19
0,40

0,26

18 Estribo 6,3 CA-25 kg 1,30 1,50 1,70 1,80 2,00 2,30 2,70 11
19 Arame kg 0,09 0,10 0,12 0,13 0,15 0,20 0,25

Esses dados podem ser modificados de acordo com as condições do solo

Fonte: adaptado de Campos (2015).

334
Vinicius Lorenzi

10.7 Estacas Escavadas


A Tabela 10.12 demonstra as cargas recomendadas, conforme os respectivos diâ

metros das estacas:

Tabela 10.12 - Cargas recomendadas para estacas escavadas.

Espaçamento recomendado
Estaca escavada Ø (mm) Carga recomendada (ton)
entre eixos (mm)

250 65 20

300 75 30

400 100 50

500 125 80

600 150 130

800 200 240

1.000 250 320

1.200 300 450

1.400 350 600

1.600 400 800

1.800 450 1.000

2.000 500 1.250

Fonte: autor

335
ENGENHEIRO:

CONHECIMENTO NUNCA VAI

TE DEIXAR NA MÃO.

SUA DEDICAÇÃO NUNCA VAI


SER DESPERDIÇADA.

É A PERSISTÊNCIA QUE
MANTÉM SEU TALENTO
FIRME.

É O PROGRESSO QUE
CONSTRÓI SUA CONFIANÇA.

ALLER
CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES - CARGA DE CATÁLOGO

MINHAS ANOTAÇÕES

338
FUN
DACOMPLICAÇÕES
ÇÕES

PARTE 4

FUNDAÇÕES NA PRÁTICA
11. O QUE FAZ UM PROJETISTA?

Objetivos do capítulo

Existe uma linha de raciocínio obrigatória para fundações. Por


isso, é fundamental entender as etapas que devem ser seguidas pelo
projetista. Neste capítulo, você aprenderá, na prática, como os grandes
projetistas performam no dia a dia e o passo a passo usado para fazer
um bom projeto.

Equilíbrio. Traduzindo em uma palavra, é o que faz um projetista


de fundações: busca o equilíbrio entre as tensões solicitantes e as ten
sões resistentes. Em outros termos, ele equaliza as cargas da estrutura
com as capacidades de suporte do solo.

Aqui já vai o primeiro alerta: saber calcular e mexer com softwares


NÃO é o suficiente para você ser um bom projetista de qualquer coisa,
quanto mais de uma fundação.

Nesse sentido, João Carlos de Campos (2015, p. 22) diz:

É importante destacar que, se os sistemas computacio


nais fizessem projetos estruturais, não seriam necessários
engenheiros. Logo, os softwares apenas funcionam como
ferramentas de trabalho a serviço do engenheiro, ajudan
do-o na produção de projetos.

Como assim, Vinicius?! O engenheiro passa 5 anos estudando cálculo e,


agora, você me diz que não é cálculo que ele precisa saber?

Calcular faz parte do processo, planilhas são necessárias, mas


apenas isso não basta. Essa parcela do conhecimento, sozinha, não leva
você a lugar nenhum. Há muito mais a ser aprendido: conhecimento do
solo, entendimento da estrutura, experiência prévia em campo, conheci
mento das metodologias executivas, domínio teórico e raciocínio técnico
fazem parte de uma ciência que de exata, na verdade tem muito pouco.

Cálculos, isoladamente - sem contexto, sem entender o com


portamento do solo e das cargas - não fazem o menor sentido.

Inclusive, o cálculo, sem considerar essas variáveis, é feito no escuro.


É quase como o médico operar o paciente para fazer uma cirurgia sem
Vinicius Lorenzi

saber a doença que ele tem, sem sequer ter feito um exame antes. Não tem condições! Você
precisa saber o que está calculando e o motivo disso!
Entenda:

A fundação é o primeiro E na fundação que tudo Ela suporta toda a


→>> →>>
passo
começa carga de uma obra

E a fundação adequada garante que sua obra durará 50, 70, 100 anos sem manifes
tações patológicas, sem "dor de cabeça".

Por outro lado, também é na fundação que mora o perigo. Sem dominar funda
ções você pode viver o pesadelo de ter seu nome associado a um - além do admissível
- ou até mesmo a queda de uma obra.

O projetista de fundações é o profissional responsável por conceber um projeto que


reúna tudo aquilo que foi idealizado previamente pelas partes interessadas no projeto
(cliente, arquiteto, engenheiro estrutural). O projeto deve ser feito de modo que garanta
segurança estrutural, economia e durabilidade do sistema de fundações projetado, que
é responsável por receber os carregamentos da superestrutura e mesoestrutura e, ainda,
transferí-los ao solo adequadamente.

O projeto de fundações é, geralmente, o último a ser realizado e o primeiro a ser


executado. O início dessa etapa ocorre no contato com o cliente. É fundamental conhecer
quem está contratando você, entender suas necessidades e seus anseios - relativos ao
empreendimento - e, o mais importante, manter com seu contratante um canal de comu
nicação efetivo, sempre aberto.

Afinal, por que há tanto medo e insegurança em se projetar uma fundação? A razão
é simples: o solo é uma das variáveis mais importantes no processo e o conhecimento
das suas características é fundamental no projeto. Entretanto, esse solo passou por um
processo natural, no qual sua caracterização não seguiu um processo industrial, ou seja, há
uma complexidade envolvida pelo simples fato de estarmos trabalhando com uma variável
produzida pela natureza (com várias transformações físico-químicas de seus minerais
ocorrendo constantemente no processo de intemperização).

Nesse caso, quanto maior for a complexidade do solo, maior será o desafio.

Após contato inicial com o contratante, ao receber as informações, o engenheiro


de fundações deve avaliar minuciosamente todos os outros projetos (arquitetônico,
estrutural, planialtimétrico), buscando possíveis incompatibilidades ou desafios.

Deve verificar, ainda, se foi realizada a sondagem do terreno e, caso não tenha sido,

deve propor uma campanha de investigação geotécnica (lembrando que, como a norma
preconiza, não existe projeto de fundação sem sondagem).

Com as informações, os projetos e o laudo de sondagem SPT em mãos, desenvol


ve-se uma espécie de pré-projeto: conhecendo as cargas e as profundidades de cada

341
O QUE FAZ UM PROJETISTA?

camada de solo (e suas respectivas resistências, nível da água, entre outros), mensura-se,
como vimos, a partir dos métodos semiempíricos de capacidade de carga, os diâmetros,
o número de estacas, as profundidades e determina-se o melhor tipo de fundação para
o projeto em questão.

Lembre-se, no caso de fundações superficiais, o resultado da sondagem é usado, na


prática, para definir as tensões admissíveis dos solos e indicar a melhor geometria para
essas fundações.

Para otimização do trabalho do projetista, geralmente são usadas planilhas de cálculo


para o dimensionamento e a composição de custos. Alguns dados específicos compõem
a planilha, por exemplo: tipo de fundação, diâmetro, Fck (conforme a norma preconiza),
coeficiente de segurança, parâmetros e cálculos de resistência de acordo com os métodos.
Os dados a serem lançados nas planilhas geralmente são encontrados na sondagem,
como o tipo de solo, o nível d'água, as profundidades das fundações, entre outros.
A verdade é que a planilha é o de menos. Quando você entende o raciocínio técnico
de fundações como um todo, a planilha é apenas uma ferramenta a mais para você. Posso
dizer até que uma boa planilha na mão de quem não entende o raciocínio como um todo
também é perigosa.

É fato: planilhas e softwares não substituem a análise crítica do engenheiro e o


domínio técnico. Você precisa saber o que está fazendo!

Berberian (2015) afirma que, por mais refinados que sejam os métodos de capacidade
de carga, as análises laboratoriais para obtenção de parâmetros geotécnicos e os ensaios
in situ, o bom senso do engenheiro geotécnico é determinante para um bom projeto de
fundações.

Além disso, a a observação dos resultados de obras vizinhas e a comparação dos


métodos utilizados, segundo Berberian (2015), auxiliam no desenvolvimento de um projeto
melhor.

Ou seja: mesmo com dados apurados, métodos refinados e tecnologia de ponta,


ainda assim o engenheiro precisa raciocinar de forma técnica e inteligente!
Para um projetista, existem basicamente duas etapas a serem cumpridas. A primeira
está ligada a encontrar a solução mais viável (dentre as várias possíveis) e propor uma
oferta ao cliente. Essa fase inicial é o momento em que o projetista calcula o orçamento
para o projeto, que pode ser fechado ou não.
Na segunda fase, uma vez contratado o projeto, outras tarefas precisam ser de
senvolvidas. São elas: dimensionamento e cálculos finais, desenhos e detalhamentos,
adequações conforme necessidade do contratante e, por fim, as revisões de projeto para
entrega do trabalho concluído.
O conjunto pré-projeto e orçamento configura uma proposta comercial. Nesse caso,
o cliente ainda não fechou o contrato com o escritório. Tendo isso em vista, deve-se realizar

342
Vinicius Lorenzi

uma proposta competitiva e com alto valor agregado, atrativa aos olhos do principal ator
desse cenário, nessa fase: o cliente.
Uma boa prática dos grandes escritórios de projeto de fundações é a agilidade na
etapa da proposta, por conta da grande demanda diária de novos projetos. Nessa fase,
as propostas que chegam são realizadas com maior rapidez e nível de detalhamento su
ficientes para realizar o orçamento e o fechamento.
Após o contrato estar fechado, o pré-projeto é reavaliado, recalculado e detalhado,
evoluindo, assim, a um projeto final de fundações. Tudo isso tem o objetivo de tornar o
fluxo de trabalho mais eficiente e as entregas possíveis, em tempo hábil.
E mais: muitas vezes, o cliente está na expectativa de que você entregue a solução
que ele deseja para a obra, mas nem sempre a solução que ele quer é definitivamente
a melhor para a obra dele. Aí entra a sua expertise.
Vamos pensar em um caso hipotético: o cliente quer fazer a fundação em estacas
escavadas por conta do custo, mas na hora do arranjo das estacas da fundação não é pos
sível executar dessa maneira, pois há conflito de estacas na planta, ou, ainda, observa-se
alto nível do lençol freático (o que inviabiliza a metodologia). A solução para resolver o
conflito é, então, toda pensada em hélice . adivinha? Cliente insatisfeito! Por quê? As
expectativas dele não foram alinhadas inicialmente!

Recomendação: alinhe sempre as expectativas (o quanto antes)! Mostre ao cliente


que existem diversas possibilidades!

Importante observar também se seu cliente possui um nível de maturidade e enten


dimento suficientes para compreender as propostas analisadas com clareza, sem que haja
a necessidade de um terceiro que faça a mediação do diálogo. No contrato, é importante
definir os papéis do contratante e da contratada para evitar transtornos futuros.

Outro detalhe fundamental no escritório: respeitar o cronograma. As equipes sempre


devem estar alinhadas quanto às tarefas a serem executadas no dia, na semana e no mês.
As datas de entrega e as responsabilidades de cada integrante devem ser claras para não
impactar outros setores e, principalmente, a execução. Vale lembrar que, apesar de o pro
jeto de fundações ser o último a ser desenvolvido, é o primeiro a ser executado, podendo
configurar um gargalo para a obra e gerar grandes transtornos caso ocorram atrasos.

A logística deve ser realizada de modo cirúrgico tanto para os escritórios que
trabalham apenas com projetos quanto para aqueles que trabalham com projetos e
execução.

No primeiro caso, a demora para entrega dos projetos pode desencadear atrasos
no início da execução, que será realizada por outra empresa, impactando o cronograma
global da obra e gerando ônus a outrem (e até mesmo prejuízos financeiros).

custo!
Tempo de obra B

343
O QUE FAZ UM PROJETISTA?

No segundo caso, projetos em atraso significam, na prática, máquinas paradas no


pátio e acúmulos de obras fechadas em seu escritório para a mesma máquina (no pior
cenário, isso leva a empresa a perdas de novos orçamentos, insatisfação dos clientes e
redução de faturamento).

11.1 Como projetar bem uma fundação?


Para projetar bem uma fundação, é preciso ter algumas habilidades, como:

▶ experiência prévia em campo e conhecimento das metodologias executivas;


>
domínio teórico e raciocínio técnico;
▶ checklist de projeto.

11.2 Experiência prévia em campo


Para compreensão sistêmica do processo, é recomendável que o projetista conheça
as metodologias executivas e os detalhes que estas guardam para que não cometa falhas
no projeto, que podem levar a erros futuros graves na execução.

Projeto e execução devem sempre estar perfeitamente alinhados!


A Engenharia de Fundações é aquela que mais exige vivência e experiência do
profissional. A vivência é adquirida a partir da participação em uma grande quantidade
de projetos/execução de obras de fundação. A experiência, por sua vez, decorre de toda
observação e análise das situações vivenciadas pelo profissional ao longo do tempo - solos
diferentes, obras com bons comportamentos ou não, fatos inusitados em obra, desafios
em projetos, entre outros (VELLOSO; LOPES, 2010; DANZIGER; LOPES, 2021).
A experiência prévia em campo pode ser um fator primordial quando se fala, por
exemplo, em uma fundação profunda, na qual há a necessidade do uso de equipamentos.
Um erro comum, consequente da falta de experiência prática do projetista, é igno
rar os diâmetros e as profundidades máximas que equipamento executa, ou ignorar
a distância mínima que o equipamento necessita para a perfuração, quando se trata de
divisa. Nesses casos, ele pode adotar soluções absurdas que não são condizentes com a
realidade dos equipamentos disponíveis ou da obra!

Na Tabela 11.1, podemos ver que diferentes equipamentos possuem distintas dis
tâncias características:

344
Vinicius Lorenzi

Tabela 11.1- Equipamentos e distâncias divisa-eixo estaca.

Equipamento Ø (mm) Prof. máx (m) Dist. divisa-eixo estaca (m)

Hélice

EM400/16 300-500 16 0,22

EM600/17 300-600 17 0,75

EM800/23 300-800 23 0,75

EM800/24 300-800 24 0,90

EM1000/30 400-800 30 1,10

Escavadas

Retro perfuratriz 250-500 10 0,35

Caminhão perfuratriz 250-1.500 20 0,40

Veja na Figura 11.1 como o equipamento trabalha em uma divisa.

Figura 11.1-Equipamento CZM-EM 400 trabalhando em divisa.

345
O QUE FAZ UM PROJETISTA?

Outro ponto importante: você precisa saber se a obra comporta os equipamentos que
você usará para executar a fundação escolhida. Tem espaço para colocar um equipamento
de estação? Ou uma hélice contínua?

Estamos falando sobre equipamentos imensos, pesados, de algumas toneladas...


Alguns que, inclusive, são deslocados com guindastes ou até desmontados, ou seja, alocar
um equipamento de fundações não é tão simples como é transportar uma betoneira.
Sem falar que a obra precisa ter acesso a esses equipamentos.

Imagine a situação: você faz um projeto de fundações completo em estaca barrete.


Asondagem foi realizada, você dimensionou corretamente a fundação, o cliente comprou
o aço, fez a locação da obra, mas... quando chegou no momento de descarregar o equipa
mento, o veículo de transporte do equipamento não conseguia acessar a obra (por alguma
razão, a via era estreita demais ou com acesso muito íngreme). Aí, você só descobriu isso
no momento da mobilização do equipamento.

O que faltou? Experiência prévia em campo. Mas calma, temos uma caminhada pela
frente e exploraremos o máximo possível de casos para levar essa experiência para você.

11.3 Domínio teórico e raciocínio técnico

Vimos que o projetista de fundações precisa dominar conhecimentos básicos da


Engenharia relativos ao cálculo estrutural, ao cálculo geotécnico e às ferramentas gerais
de projeto (normas técnicas e programas computacionais), ou seja, os conteúdos que viu
na faculdade. Como informado anteriormente, esse conhecimento é apenas uma parcela
de tudo que é necessário no cotidiano.

A partir daí, caso a caso, obra a obra, é preciso refinar e sistematizar toda essa teo
ria, agregar conhecimentos práticos e construir o raciocínio técnico de fundações. É esse
raciocínio que permitirá a melhor tomada de decisão quando algum caso difícil chegar à
mão e precisar de uma solução inovadora.

Fique ligado!

O processo de escolha do tipo de fundação envolve variáveis que você não pode
esquecer!

▶ Topografia do terreno;

avaliação de taludes e encostas;

▶ dados geológicos-geotécnicos;

▸ investigação do subsolo;
levantamento de mapas e fotos aéreas;

▶ dados da estrutura a ser construída;

346
Vinicius Lorenzi

▶ tipologia e utilização da estrutura;

cargas nos pilares;


▶ sistema estrutural adotado;

▶ existência de subsolos (avaliação dos cortes), principalmente em áreas urbanas;



informações sobre obras vizinhas;


tipo de estrutura e fundações executadas;

▶ análise da arquitetura e das cotas;


avaliação das consequências de escavações ou aterros;

▶ equipamentos disponíveis na região.

11.4 Fatores limitantes de uma fundação

Para a boa escolha de um tipo de fundação, você tem que observar, inicialmente,
as restrições apresentadas, isto é, os fatores limitantes encontrados ao analisar a obra
como um todo.

A sondagem do terreno, as condições de acesso do equipamento, o porte da obra,


o prazo, o custo... são variáveis que impactam diretamente na escolha e que, de cara, já
limitam uma ou outra solução. Por exemplo, em um terreno com nível de água elevado,
não é interessante utilizar estaca escavada tendo em vista a possibilidade de desbarran
camento do solo.

Atendida a limitação do terreno e retiradas as restrições, é possível existir mais de


uma solução viável para a sua fundação. Nesse ponto, é fundamental a análise crítica do
projetista para escolha mais assertiva, segura e que gere maior satisfação para o cliente.

José Carlos A. Cintra e Nelson Aoki afirmam que "a análise dos dados da edificação
e do terreno permite delimitar os tipos de fundações tecnicamente viáveis, recaindo a
escolha final sobre os fatores custo e prazo de execução" (CINTRA;AOKI, p. 47, 2010).

Eu diria que preços e prazos são as condições mais críticas de projeto. Isso porque
nem estamos falando de questões técnicas.

Frente aos desafios do cenário econômico do país, conhecer bem cada metodo
logia e realizar uma comparação precisa entre os prazos e custos das soluções viáveis
- para cada caso - é fundamental!

Por acaso, alguma vez você já viu uma obra que não tenha pressa? Bom, por aqui,
é tudo para ontem!

Cada solução tem sua característica e, claro, umas demoram mais que outras para
serem executadas. Então, o prazo precisa ser avaliado. Afinal, atrasos podem custar muito
caro. Imagine uma farmácia ou um grande supermercado que abrirá na cidade: uma semanal

347
O QUE FAZ UM PROJETISTA?

de atraso na inauguração do negócio significa muito faturamento perdido. Faturamento


importa, meu caro!

E no prazo, você também avalia a disponibilidade de cada equipamento. Nem sempre


a obra é dentro da mesma cidade. A logística de equipamentos precisa ser bem planejada
e, inclusive, considerada na hora de montar o orçamento.

Se sua próxima obra fica a 100 km de distância do local atual onde estão as máquinas,

esse custo precisa entrar em algum lugar do seu cálculo.

es
Caso da obra!

Tivemos uma obra de um silo de armazenagem de grãos, na qual o cliente tinha muita
pressa na execução. Sim, eu sei que todo cliente tem pressa, mas quando se trata de
armazenamento de grãos o prazo vem do próprio grão. Isso porque o grão que está
sendo produzido não espera! É um fato: quando ele está pronto, deve ser colhido, e se
o silo não estiver pronto, o prejuízo é certo.

Iniciamos o projeto de fundações dessa obra. Eis que o cliente, ao acertar o projeto de
fundação conosco, indicou que a escolha do tipo de fundação deveria levar em conta
a única variável que para ele impactava naquele momento: o prazo!

Em um primeiro momento eu argumentei:

- Podemos trabalhar com a solução técnica de fundação que trará maior velocidade de
execução, mas certamente isso impactará em um aumento do custo total da fundação.
Ele respondeu, seguramente:

- Vinicius, isso não é problema para mim. Se você me entregar essa obra dentro do prazo, o
meu resultado financeiro vai ser 20 vezes superior ao acréscimo de custos que me causará
essa escolha de fundação.

Decisão tomada! Eu sabia que, para aquela obra, uma estaca pré-moldada seria muito
mais interessante, mas na região onde ela seria executada, os únicos equipamentos
disponíveis eram martelos de queda livre, e esse equipamento tem uma produtividade
muito baixa quando comparada a outras soluções.

ob A escolha final de fundação foi em hélice contínua e o resultado atendeu perfeitamente


as expectativas do cliente. Com alta produção, a fundação ficou realmente mais cara,
entretanto a obra foi entregue dentro do prazo e o cliente finalizou o contrato satisfeito.

É um fato que o raciocínio técnico não surge da noite para o dia: ao contrário, de
manda tempo e experiência com os mais diversos tipos de obra.

348
Vinicius Lorenzi

Uma vez que você domina o raciocínio técnico como um todo, de forma ampla,
isso muda o jogo! Muda tudo! Dessa forma, você compreende cada vez mais a fundação,
respeitando início, meio e fim do processo.
É como quando uma criança está aprendendo a falar. No começo, ela só falará pa
lavras soltas, mas, pouco a pouco, aprenderá a criar frases e, aí, quando tudo se encaixa,
sai falando com segurança, naturalmente.

Ao dominar o raciocínio técnico, você não está ali apenas fazendo o que te mandam
fazer; você fica seguro para pensar, criar e visualizar a fundação como uma solução com
pleta para a obra. Você passa a enxergar as fundações de forma global.

Independentemente se é você que projeta ou apenas acompanha a etapa de funda


ção, você se torna capaz de avaliar e ter senso crítico sobre o que está sendo feito.

Aliás, isso é algo que muita gente me pergunta:

- Vinicius, como eu vou saber se o tipo de fundação escolhida para uma obra é o melhor, o
mais econômico, o mais seguro?

A verdade é que isso depende da sua capacidade de compreender fundações como


um todo. Porque, quanto mais você compreende o raciocínio técnico, mais rápido e assertivo
você é para avaliar qualquer coisa relacionada às fundações.

FO
Fique ligado!

A fundação deve ser analisada caso a caso, observando as especificidades de cada


obra. Cada projeto é único!

Muitas vezes, o cliente me pergunta:

- Vinicius, como você identificou esse problema, fazendo a leitura da sondagem tão
rapidamente?

E a resposta é simples: raciocínio técnico, prática, experiência. É isso que muda o jogo.

11.5 Checklist de projeto


O checklist (lista de verificação ou lista de checagem) é uma ferramenta auxiliar
que otimiza o seu trabalho. Adotar um checklist padronizado ajuda a reduzir erros no dia
a dia do escritório de projetos, seja por falhas de memória ou de atenção, ou seja, falhas
potencialmente humanas fáceis de acontecer em qualque quipe.

Ao concluir a versão mais atualizada do projeto, o engenheiro pode, com auxílio


dessa ferramenta, observar se todos os requisitos foram cumpridos ou se há algo a ser
corrigido ou acrescido no documento, antes do envio.

349
O QUE FAZ UM PROJETISTA?

A presença de um checklist padrão pode ajudar, por exemplo, quando você está
iniciando em um emprego novo na área de projeto e não sabe bem por onde começar.
É um norte. Também pode ajudar a otimizar a rotina diária do projetista experiente, que
geralmente tem muitos projetos sendo executados ao mesmo tempo.

Em um terceiro caso, se você é o líder do time, é uma ferramenta simples e assertiva


que pode auxiliar novos projetistas na fase de adaptação pós-contratação.

A seguir, apresento um modelo de checklist que você pode usar nos seus projetos.

Checklist - PROJETOS DE FUNDAÇÃO

Obra: XXXX

Local: XXXX

Proprietário: XXXX

CONCEPÇÃO DO PROJETO

Conferência da planta de cargas com a planilha

1 Combinações de cargas

Cargas de tração

Verificação do nível de implantação da obra/condições terreno


2 Corte/aterro

Necessidade de contenção

Conformidade da solução técnica adotada


3
Avaliar presença de material não coesivo, NA etc. para o tipo de fundação
4 Situação das divisas

5 Avaliar proximidade entre as estacas dos diferentes blocos


ELABORAÇÃO DAS PRANCHAS
Planta baixa

Conferência das legendas dos pilares


Número do pilar
1
Diâmetro e quantidade de estacas

Profundidade das estacas

2 Identificação das estacas (A, B, C etc.) nos blocos com mais de 2 estacas
Desenho dos contornos do terreno e identificações

Divisas
3
Alinhamento predial

Rua xxx

350
Vinicius Lorenzi

Identificação do nível de implantação da obra na planta

Em caso de vigas de equilibrio:


Identificação VE
5

Cotas entre eixo do pilar e eixo do bloco

Cotar estaca de tração quando esta for proposta no projeto de fundação

Verificação dos layers


Contorno terreno

Textos na planta baixa

Cotas e leaders (setas com notas)


6

Indicação de elementos de outros projetos (paredes, vagas de garagem etc.)

Estacas de outras etapas/estruturas existentes que interferem na fundação


Eixos

Pilares

Boa apresentação visual

Textos não devem estar sob linhas de eixo ou linhas mais grossas

Textos próximos dos pilares e alinhados, quando possível

Textos todos do mesmo tamanho (e condizentes com a escala)

Escala adequada (planta baixa deve se destacar em relação aos detalhes)

INFORMAÇÕES DA PRANCHA

Verificar se constam todos os detalhes


Detalhe, corte e preparo da cabeça das estacas

Detalhe genérico das estacas (conforme projeto, se escavadas, hélice, raiz etc.)

Verificar se constam todas as notas

Notais gerais de projeto


2

Notas relativas aos tipos de estacas do projeto (se sapatas, estacas escavadas,
estacas hélice, estacas raiz etc.)

Conferir informações das notas:

ATERRO: se não consta, deixar nota padrão; se foi considerado aterro, especificar
considerações

ARQUIVOS DE REFERÊNCIA: identificar corretamente sondagem, projeto


arquitetônico e projeto estrutural

NÍVEIS DE IMPLANTAÇÃO: (térreo, subsolos) conforme arquitetônico

PCE: analisar tipo de obra e ABNT NBR 6122 (considerando sempre a versão mais atual)

351
O QUE FAZ UM PROJETISTA?

Tabela dos blocos e ferragem

Identificação correta do tipo de estaca no título da tabela (se escavada, hélice ou raiz)
Verificação dos nomes dos pilares para cada tipo de bloco

Blocos cotados conforme distâncias utilizadas em projeto

Quantidade e diâmetro das barras conforme planilha

Comprimento das barras (L1 e L2) conforme planilha

Estribos-diâmetro das barras

05 mm - quando armadura longitudinal até 12,5 mm

06,3 mm-quando armadura longitudinal de 16 mm ou maior


Quantitativo de estacas

5 Conferir com a planilha

Conferir se a planilha está fazendo a soma de todas as células


Revisões

Indicar datas e respectivas alterações de cada revisão na tabela (não apagar histórico)
6

Verificar canto inferior da folha-se indica a revisão correspondente correta (ROO,


R01, R02 etc.)

7 Legenda (indicar somente o que consta na planta baixa)

Conferir informações

Proprietário

8 Obra

Endereço

Conteúdo da prancha

Boa apresentação visual da prancha

Textos (notas) alinhados

Detalhes e textos bem distribuídos na folha


Sem muitos espaços "vazios" na folha
10 Limpar arquivo antes de salvar em PDF para enviar para o cliente

Depois de tudo o que foi analisado até aqui, elencamos algumas das principais falhas
observadas em projetos de fundações.

Falhas em projetos de fundações

Interpretação equivocada das sondagens e ensaios complementares devido


a erro na execução do ensaio ou na adoção inconsistente dos parâmetros de
resistência do solo.

Escolha inadequada da solução técnica do tipo de fundações gerando proble


mas executivos (desbarrancamentos, comprimento de estacas insuficientes,
entre outros).

352
Vinicius Lorenzi

Dimensionamento errado das fundações no que se refere à capacidade de carga


dos elementos projetados, falta de análise dos recalques e projeto estrutural
das fundações deficiente.

▶ Detalhamento ineficiente do projeto de fundações gerando dúvidas e erros


na execução.

▶ Capacidade de carga incorreta adotada nos elementos de fundações (cargas


e tensões admissíveis).


Previsão malfeita das cotas de apoio das fundações superficiais.

▶ Especificações ruins de materiais a serem utilizados no que se refere a resis


tência, consumo mínimo de cimento, fator a/c, trabalhabilidade etc.

▶ Especificações técnicas e construtivas incompletas que não abrangem todas


as etapas executivas (cada fase da obra).

es
Caso de obra!

O papel do projetista de fundações às vezes pode ser mal interpretado.

Uma vez, atendi a um cliente que era um grande empresário, com diversos engenheiros
dentro da construtora. Eu, como projetista, tive acesso somente a esses engenheiros.
Situação da obra: 4 meses de projeto e diversas revisões solicitadas pela equipe de
engenharia da construtora. Quando o projeto chegou às mãos do proprietário, ele não
gostou! Ele não participou dos 4 meses da etapa de elaboração do projeto e, no fim,
entendeu que estávamos querendo impor uma solução, quando, na verdade, o que
fizemos foi realizar todas as alterações conforme solicitações da própria equipe dele!
Fizemos uma reunião para destacar que as soluções que tomamos tinham o objetivo de
otimizar o projeto em função das demandas que vieram até nós. Além disso, todas as
revisões foram realizadas por conta de solicitações da equipe dele e não por imposição
da nossa empresa.

Reflexão sobre esse fato: é preciso informar corretamente ao tomador de decisão do


projeto, etapa após etapa, o motivo pelo qual tomou as decisões naquele momento
específico. Se você deixar para que a informação simplesmente seja dita por um ou
outro, pode ser que ela se desvirtue no meio do caminho, transforme-se e você acabe
se passando pelo profissional que quis tomar uma decisão unilateral ou que agiu de
forma antiprofissional.

Algumas empresas podem, sim, querer impor a condição que melhor atenda aos seus
equipamentos (quando ela é a projetista da fundação), do tipo: só tem equipamento
de Estaca Franki e em toda obra a solução é a mesma, em Estaca Franki.

Nesse caso, visivelmente não está sendo buscada a melhor solução técnica para a obra,
mas, sim, a que atende melhor à empresa de fundação. Por isso, olho aberto sempre!

353
O QUE FAZ UM PROJETISTA?

AS

Caso - Edificio residencial com 32 pavimentos e 3 subsolos

Este case é do projeto de uma grande edificação com 3 subsolos em um centro urbano.
Em um projeto como esse, um grau de compatibilização muito grande deve existir. E
no caso dessa obra, em específico, os projetistas não tinham trabalhado juntos ante
riormente. Quando se conhece os outros projetistas, já se tem uma noção da forma de
trabalho das equipes e do trabalho de cada integrante.
Em situações como a desse projeto, uma primeira reunião de alinhamento das expecta
tivas e compatibilização inicial entre todos os projetistas e o incorporador interessado
é fundamental. No caso, o projetista estrutural pediu ensaios, entre eles uma prova de
carga estática na fundação e um ensaio em túnel de vento para avaliação da estrutura.

O cliente questionou se isso seria realmente necessário, pois não queria pagar pelos

ensaios que aparentemente sairiam caros, mas queria que continuasse a ser o prédio
mais alto da região.

Em uma obra como essa, pequenos detalhes fazem a diferença. O que o projetista de
fundações precisa fazer? Buscar entender melhor o solo com mais ensaios para embasar
as melhores soluções técnicas de fundações. Nesse tipo de obra, não há espaço para
achismos e amadorismo. Logo, é preciso o maior número de dados possíveis para que
a solução técnica seja eficiente.

É preciso trazer as análises geotécnicas para o campo quantitativo: tomar os resultados


dos ensaios, aliando à experiência para analisar de forma crítica seus dados em relação
ao que está ocorrendo na prática naquele solo. Dessa forma, também é fundamental
que os ensaios sejam de qualidade.

Dentro do processo de escolha da fundação, é imperativo entender os resultados das


cargas, fornecidos pelo projeto estrutural, e das condições do solo, fornecidas nas
sondagens; pensando na magnitude dos esforços e definindo a solução técnica a ser
utilizada.

solução definida dessa obra foi em estaca raiz, com 6 metros de embutimento em
rocha. Havia 14 metros de camada de solo até chegar no impenetrável. Foram neces
sárias sondagens SPT e Rotativa para solucionar essa fundação.
Em síntese, a solução da fundação foi um grande desafio, pois tinha cargas muito ele
vadas nessa obra. As normas brasileiras trazem alguns artifícios facilitadores para veri
ficação tanto da estrutura quanto da fundação: no caso das estacas, com a realização do
ensaio de prova estática (PCE) e no caso das estruturas, com a análise no túnel de vento.
Nesse caso, o cliente queria fazer o melhor e estava decidido a investir tempo em projeto
a fim de otimizar sua fundação. Quanto maior for o número de informações que se tem
para projetar, mais assertivo será o projeto.

No caso dessa obra, a prova de carga foi realizada antes do projeto de fundação: mobilizou
-se o equipamento, elaborou-se as estacas teste e a partir do resultado da prova de carga,
a fundação foi projetada. A própria ABNT NBR 6122:2019 indica que uma prova de carga
ensaiada a priori de um projeto de fundação torna viável a redução do Fator de Segurança.

354
Vinicius Lorenzi

Isso se torna possível pois nesse tipo depensaio-de PCE - conseguimos resultados
reais do comportamento da estaca (o que talvez seja uma das suas maiores vantagens).
Entretanto, os resultados precisam ser confirmados e analisados com senso crítico,
principalmente em obras mais complexas.
Com isso, o cliente desse empreendimento economizou em torno de R$ 500 mil com a
otimização do projeto de fundação (economia com estacas, blocos, aço, concreto etc.).
Os ensaios, nesse caso, foram fundamentais para essa economia.
Para concluir: a obra foi projetada e executada em estacas hélice e estacas raiz

embutidas em rocha.

-Vinicius, mas eu posso adotar dois tipos de fundações em uma obra?


Aqui, indico que o uso de soluções mistas de fundação é, sim, possível, desde que seja
feita uma análise das deformações e recalques dessas fundações. Uma solução bastante
eficaz, no caso dessa obra, foi a realização de estaca raiz na torre principal e estacas
hélice contínua no embasamento.

Em síntese, a estaca raiz possui um custo unitário de perfuração maior, porém possui uma
ótima relação carga x diâmetro, algo que foi decisivo nessa grande obra urbana. Com
pilares muito carregados, uma solução que tenha essa boa relação carga x diâmetro torna
os blocos de fundação menores, o que significa melhor execução e redução de custos.

Dica!

A solução mista de fundações é indicada quando há uma di


latação entre as estruturas da obra, mas muito cuidado: ao misturar
fundações superficiais com fundações profundas, você corre o risco
de ter deformações muito diferentes e isso pode acarretar o temido
recalque diferencial na sua obra!

Viu como se tornar um bom projetista de fundações não é nada fácil? Mas garanto
que é totalmente possível com prática, dedicação e trabalho duro!

355
O QUE FAZ UM PROJETISTA?

11.6 Modelo de Projeto

MATE

5¹1²

SUPERCR
11

%
M 33
*

2000
Le 50
147
F
0

So

20 BLA
??
so

201

300m

ip
AM
MA 15

24 So 15

430

PLANTA BAIXA FUNDAÇÃO


ESCALA 175

356
Vinicius Lorenzi

CORTE E PREPARO DA CABEÇA DAS ESTACAS


SEM ESCALA

TOPO DO BLOCO
MÁ POSIÇÃO

COTA DE IMPLANTAÇÃO ARMAÇÃO DESEMPENADA

UN AMORETUR VITET199
CONCRETO
A CORTAR
BOA
POSIÇÃO
COTA DE ARRASAMENTO POSIÇÃO
PREFERIVEL
BASE DO BLOCO

LASTRO DE CONCRETO
COTA DE ESCAVAÇÃO
MAGRO

DETALHE GENÉRICO DAS ESTACAS ESCAVADAS


SEM ESCALA
)
COTA DE IMPLANTAÇÃO
(TOPO DO BLOCO)

ARMADURA
(BLOCO) LONGITUDINAL
TAV
DA

COTA DE ARRASAMENTO
BE

(BASE DO BLOCO)
EL

OLO
RA(
ESTA

Ø FUSTE

ESTAC 7.5
ESC

(FUSTE)
CAV

ESTRIBO
DA
A
ÚTIL

(VER TABELA)
ADO
COMPRIMENTO

ESTRIBO

=
COMPRIMENTO

Lu
L1 COMPRIMENTO DA FERRAGEM NO FUSTE DA ESTACA
L2 O COMPRIMENTO DE ANCORAGEM DEVERÁ SER
VERIFICADO PELO CALCULISTA DA ESTRUTURA

H=A ALTURA DO BLOCO DEVERÁ SER VERIFICADA NO


PROJETO ESTRUTURAL PARA ALTURA MAIOR QUE
100cm,ACRESCENTAR O VALOR EXCEDENTE AO
40

COMPRIMENTO ESCAVADO DA ESTACA

357
O QUE FAZ UM PROJETISTA?

ESTACAS ESCAVADAS TABELA DE FERRAGENS


Ø FERRAGEM LONGITUDINAL ESTRIBO
FUSTE NOME PILAR BLOCO
QUANT. DE L1 L2 Ø ESPAÇO
(cm) BARRAS
(m) (m) (cm) (cm)
ESTRIBO 05,0mm
P1, P24, P27, P51, P52, P53,
E1, E2, E3, E4, E5, E6, E7, B 4012,5mm 3,4 0,6 20 15
E8, E9, E10, E11, E12, E13,
E14.

ESTRIBO Ø5,0mm

P2, P3, P5, P6, P8, P10, P16,

P19, P20, P21, P23. 4012,5mm 3,4 0,6 20 15

40 40

30 ESTRIBO Ø5,0mm
80
+ 4

P25, P26. 4012,5mm 5,4 0,6 20 15

ESTRIBO Ø5,0mm)
a •
80
e
P4, P11, P14, P15, P17, P18, 15
40 4 Ø12,5mm 3,4 0,6 20
P22.

80

ESTRIBO Ø5,0mm

0,6 30 15
P7. 65 65 5012,5mm 3,4

130

ESTRIBO Ø5,0mm

P9.
50 50 5012,5mm 5,4 0.6 30 15

100
40

ESTRIBO Ø5,0mm

3,4 0,6 30 5
15
5012,5mm
P12, P13.
50 50

100

358
Vinicius Lorenzi

QUANTITATIVO ESTACAS LEGENDA


DIAMETRO QUANTIDADE COMPRIMENTO
ESTACA (cm) (un) TOTAL (m) POO NOME PILAR

ESCAVADA 30 74 511.00 1000cm QUANTIDADE/DIAMETRO DA ESTACA

40 12 106,00
0,00m COMPRIMENTO ESCAVADO DA ESTACA (L)
ESCAVADA

REVISÕES
REVISÃO DATA ALTERAÇÃO
ROO 07/06/21 EMISSÃO INICIAL

ADICIONADAS ESTACAS E13 e E14;

R01 23/06/21 REVISÃO PROFUNDIDADE E


ARMADURA P25 e P26

FUNGEOVGL
FUNDAÇÕES E GEOLOGIA LTDA. PROJETOS E CONSULTORIA
EM GEOTECNIA

VGLGEOTECNIA@GMAIL.COM

www.fungeo.com.br-fungeo@fungeo.com.br

PROJETO DE FUNDAÇÃO
PROPRIETÁRIO/CONTRATANTE:

OBRA:

LOCAL:

CONTEÚDO: PLANTA BAIXA DA FUNDAÇÃO DESENHO:

DETALHE GENÉRICO DAS ESTACAS ESCALA INDICADA

RESPONSÁVEIS TÉCNICOS PELO PROJETO:

VINÍCIUS LORENZI
ENG CIVIL CREA-PR 107.361-D

PRANCHA
ASSUNTO:

01/R01
FUNDAÇÃO

359
O QUE FAZ UM PROJETISTA?

11.7 Modelo de proposta


Para melhor compreensão sobre a proposta comercial de que falamos, demons
tramos, a seguir, um tipo que pode ser utilizado na prática. Nossa pretensão não é, aqui,
afirmar que esse seja o único modo de desenvolver um orçamento para o seu cliente.

Cada empresa, em suas práticas comerciais, define uma padronização própria de


modelos e processos que melhor atendam sua necessidade cotidiana.

PROPOSTA COMERCIAL

A/C

Eng. Master

Ref.: Projeto que você vai elaborar

Data e cidade.

Cliente: Construtora

Obra: Obra

Prezados senhores,

Viemos apresentar nossa proposta de projeto para a obra, discriminada a seguir..


1. Descrição técnica dos serviços O

O projeto conterá...

2. Responsabilidade da contratada

2.1. Assistência técnica por engenheiro e/ou técnico especializado desde a


elaboração do projeto até a conclusão dos serviços.
2.2. Anotação de Responsabilidade Técnica (ART).
3. Responsabilidade da contratante
3.1. Fornecimento do projeto arquitetônico, identificando divisas, corte, aterro
e/ou outros detalhes pertinentes à elaboração do projeto de fundação e
blocos.

3.2. Fornecimento do projeto estrutural com locaçãode pilares e cargas, e


indicação da cota de arrasamento das estacas.
3.3. Fornecimento do projeto planialtimétrico.
3.4. Fornecimento do relatório de sondagem do terreno.

360
Vinicius Lorenzi

4. Preço

4.1 Tipo de serviço

O projeto...
4.2 Valor

R$ XXX

5.
Condições de pagamento: na entrega.
6. Prazos

6.1. Prazo de execução: dentro do prazo.


6.2. Validade da proposta: dentro do esperado.

DE ACORDO.

EMPRESA MASTER EM PROJETOS

CONTRATADA-CNPJ: XXXXXX

CONTRATANTE

CNPJ: XXXXXX

361
12.
QUALIDADE EM FUNDAÇÕES
Objetivo do capítulo

Neste capítulo, abordaremos a qualidade em fundações.


Qualidade é um parâmetro subjetivo. Seja no ramo de bens ou
serviços, todo mundo que vende alguma coisa diz que tem qualidade,
só que as vezes sem fornecer qualidade, de fato! A qualidade depende
de uma série de fatores.

Em relação aos elementos de concreto, a ABNT NBR 6118:2014


trata de alguns requisitos para considerar a qualidade dos elementos
estruturais. Essa norma considera:

▶ capacidade resistente a qual tem relação com a segurança


à ruptura;

desempenho em serviço - tem relação com "a capacida
de da estrutura manter-se em condições plenas de utilização
durante sua vida útil, não podendo apresentar danos que
comprometam em parte ou totalmente o uso para o qual
foi projetada";
▶ durabilidade que "consiste na capacidade de a estrutura
resistir às influências ambientais previstas e definidas em
conjunto pelo autor do projeto estrutural e pelo contratante,
no início dos trabalhos de elaboração do projeto".

Semelhantemente, em obras de fundação, assim como qualquer


outro tipo de estrutura, devem ser atendidas algumas condições míni
mas relativas à qualidade:

segurança atendendo por exemplo aos fatores de segu


rança do solo;

▶ funcionabilidade - considerando deslocamentos e deforma


ções compatíveis com o tipo e a finalidade a que se destinal
a estrutura;

durabilidade observando os materiais empregados dentro


da vida útil da obra.

Estes são extremamente necessários quando o assunto


s

é fundação!

Qualidade é um valor! Todo time deve ser orientado, envolvido

e integrado buscando a qualidade do serviço prestado. Uma obra de


engenharia precisa ter qualidade!
Vinicius Lorenzi

Se o profissional aluga máquinas, deve fornecer equipamentos em boas condições


de uso e operação e, dentro do previsto, sem atrasos no cronograma.
Se faz projetos, deve buscar aprimorar sua técnica e ofertar projetos com bom
layout, claros para leitura em obra e exequíveis (além de econômicos e conforme as normas
técnicas, obviamente).
Se o profissional executa obras, deve buscar o alinhamento das equipes para execu
ção dos serviços conforme as boas práticas (e normas) e, além disso, priorizar a utilização
de materiais de distribuidores confiáveis e com qualidade reconhecida.
O primeiro item a ser avaliado é a SEGURANÇA. Quanto à segurança, o que é
preciso avaliar em fundações?
Supostamente, a área de fundações é a área de engenharia que tem um maior Fator
de Segurança (dependendo do caso 2 ou 3).
Muita gente me pergunta algumas coisas como:
- Mas para que avaliar segurança em fundações se eu tenho o maior fator de segurança da
Engenharia?

Já que o fator de segurança é 2, eu posso fazer a fundação e depois subir o dobro de


pavimentos?

Calma! Primeiramente, é preciso entender o motivo desse fator de segurança "tão alto".
Imagine que você tem um terreno na sua cidade e resolveu comprar um outro terreno
a 500 metros da área da primeira propriedade, onde você tinha construído um barracão...
- Vinicius, vou fazer uma nova obra. Na época, fiz uma sondagem SPT no outro terreno,
que fica a 500 metros de distância um do outro. Podemos usar a sondagem antiga para essa nova
construção? É tão pertinho.

A resposta é não! Não se pode usar a mesma sondagem para solos vizinhos (apesar
de muitas vezes o cliente insistir nisso)!
O solo é um material que pode ter uma variabilidade muito grande. Em um mesmo
terreno, pode haver uma variação drástica de materiais e resistências de suporte. Em
terrenos vizinhos pode não haver semelhança alguma entre eles.
Por que avaliar a segurança? Por conta da heterogeneidade, principalmente em
terrenos maiores, é necessário maior investigação do solo. A engenharia geotécnica é, na
realidade, um trabalho dentro de um campo de incertezas.
O solo desse cliente, mesmo com uma pequena distância entre os terrenos, pode
ser completamente diferente de um ponto para outro!

Caso de obra!

Uma vez, acompanhei uma obra em que tínhamos duas torres de múltiplos pavimentos

em um grande terreno, algo em torno de 100 metros x 40 metros. O solo desse terreno,
desde o resultado da sondagem (foram feitas sondagens SPT e Rotativa), já mostrava
uma grande variação.

363
QUALIDADE EM FUNDAÇÕES

A primeira torre foi idealizada em estacas hélice, pois, pela sondagem, a camada rochosa
apresentava-se a uma profundidade que tornava possível essa solução. A segunda torre
foi dimensionada em estaca raiz (a sondagem mostrou que a fundação dessa torre não
atingiria grandes profundidades em função da camada rochosa).

Analisando o projeto de fundação e tomando a investigação geotécnica realizada, foi


possível observar que essa solução estava realmente adequada. Entretanto, ao se iniciar
a torre 1, o material estava completamente heterogêneo, sem linearidade das camadas
de solo, com camadas em desarranjo dentro do solo.

A sondagem estava errada? Não! É um erro pensar que a sondagem do solo é igual ao
raio-x da Medicina! Ela não faz a varredura no solo, mas, sim, traz resultados repre
sentativos do terreno. O diâmetro de um ensaio de solo é de 100 mm. Mesmo que eu
faça 30 furos nesse terreno (impossível o cliente aceitar uma quantidade dessas em
obra!) de 4.000 m², ainda assim, proporcionalmente, eu estou longe de realizar uma
varredura no solo.

Olha só que interessante: a solução foi, dentro do mesmo edifício, técnicas distintas
de fundações (modificando a sugestão inicial mesmo após a campanha/investigação
de sondagem) por uma situação ocorrida in loco, que exigiu a alteração de projeto.
Para alguns pode parecer um absurdo, porém, dentro da Engenharia de Fundações, a
alteração de projeto conforme condição real de campo é algo perfeitamente normal,
mas que exige o acompanhamento constante do projetista.

No caso dessa obra, o comportamento do solo era completamente incerto!

Quando se fala em Fator de Segurança 2 em uma fundação, tenta-se mitigar tais


incertezas. Cabe ressaltar que uma mesma estaca/sapata/elemento pode ter diferentes
capacidades de carga dentro de um mesmo terreno, com uma mesma seção.

Por exemplo, uma estaca com diâmetro de 40 cm com 10 metros de profundidade


pode ter uma capacidade de suporte diferente de outra estaca com as mesmas dimen
sões dentro do mesmo terreno. Digamos que, em uma extremidade, essa estaca teria,
teoricamente, capacidade de suporte de 40 toneladas e, em outro ponto, 30 toneladas.
Isso pode demonstrar uma investigação mal feita? Não necessariamente. Por vezes,
o que temos é uma dificuldade real de investigação daquele solo, de compreensão do
mesmo, ainda que tenhamos 10 furos de SPT, ou seja, a incerteza pode ser muito grande.

Diferentemente de outras áreas da engenharia, a variável "solo" é complexa,


incerta e merece o devido cuidado e respeito no seu tratamento. Estamos falando de
um material natural e não de um material usinado!

Você já parou para pensar por que o Fator de Segurança de fundação é o mais alto
da Engenharia? Para explicar, vamos pensar em uma produção industrial, controlada,
monitorada, na qual todas as etapas do processo estão dentro das condições perfeitas de
temperatura e pressão.

364
Vinicius Lorenzi

Imagine uma indústria siderúrgica produzindo barras de aço. Qual é a probabilidade


dessa indústria entregar uma barra com tensões menores do que as de catálogo? Mínimas!
Por essa razão, quando estamos projetando uma estrutura metálica, o Fator de Segurança
é de 1,15, uma vez que há um controle muito grande do processo.

Agora, vamos pensar em uma usina de concreto. Você lembra do Fator de Segurança
de estruturas de concreto? 1,4. E por que esse valor? Pois também se trata de um processo
em que o controle é muito maior.

Quando estamos falando de fundações, a variável solo de controlada não tem nada!
A geologia pode ser totalmente imprevisível. As camadas nem sempre são lineares, não
necessariamente seguem as previsões das investigações, ou seja, temos uma variável que
pode se apresentar diferente de quando sondada.

Por isso, o tal do Fator de Segurança em fundações não foi idealizado para você
subir um ou dois pavimentos a mais em sua obra, mas, sim, para possibilitar que, mesmo
tendo variações de capacidade de suporte no seu solo, você ainda assim tenha a segurança
necessária para a sua obra não ter problemas.

12.1 Como eu uso o Fator de Segurança?


Vamos imaginar que você precisa definir a capacidade de suporte de uma estaca
e que você faça inicialmente as previsões pelos métodos consagrados semiempíricos de
capacidade de carga (Decourt-Quaresma, Aoki-Velloso, entre outros) e encontre que a
carga de ruptura da sua fundação é de 100 toneladas.

LIMITE SEGURO

FAIXA DE
SEGURANÇA

LIMITE REAL

ABISMO
DA
RUPTURA

Figura 12.1-Fator de segurança. Crédito: Matheus Borges.

365
QUALIDADE EM FUNDAÇÕES

Mas você não está convencido dessa carga e resolve solicitar uma prova de carga
estática para confirmar o resultado. O ensaio é feito, então, até a carga de ruptura da es
taca e para sua surpresa: suas estimativas estavam corretas e a estaca realmente rompeu
a 100 toneladas.

Qual é a carga que efetivamente você vai usar? A carga de 50 toneladas, pois você
está usando o Fator de Segurança = 2, que significa que você utilizará a metade da carga
de ruptura da estaca.

Aqui vai uma dica importante: caso você faça uma prova de carga antes de realizar
o projeto de fundação da sua obra, você pode reduzir o fator para 1,6. Nesse caso hipoté
tico, de 50 toneladas, passaria a utilizar como carga de projeto o valor de 62,5 toneladas.
Isso teria impacto na sua obra? Com certeza!

Imagine agora um pilar com 185 toneladas. você fosse utilizar a carga de
50 toneladas/estaca, você precisaria de, no mínimo, 4 estacas para suportar a carga do
pilar. Com as 62,5 toneladas, apenas 3 estacas suportariam a carga desse pilar.

Lembre-se sempre de que a somatória das capacidades de carga da sua fundação


precisa ser maior que a carga solicitante no pilar.

O segundo item a ser analisado é a FUNCIONALIDADE. Uma obra pode recalcar? NÃO!

-Mas, Vinicius, uma obra realmente não pode recalcar?

Ela não pode, ela VAI RECALCAR! É um fato: toda obra, mesmo que minimamente,
recalca. Por menores que sejam essas deformações podem ser até milimétricas -, a
obra vai recalcar.

Berberian (2015, p. 790) destaca: "Todos os tipos de solos, quando submetidos a


uma carga, sofrem recalques, inevitavelmente, em maior ou menor grau, dependendo das
propriedades de cada solo e da intensidade do carregamento".

As pessoas correlacionam recalque com patologia, trinca, fissura...


-Mas o que é, de fato, um recalque?

É o deslocamento vertical, ou inclinado, que uma edificação sofre em função das


cargas as quais ela está sendo submetida, gerando assim uma deformação no maciço em
que ela foi apoiada.

O recalque, na prática, pode ser entendido como uma movimentação da sua fun
dação, uma translação ou rotação.

Não entenda o recalque como algo ruim, pois não é! Quando dentro dos valores
admissíveis, não há qualquer problema nisso!

Os tipos principais de recalques são: total ou absoluto, diferencial e distorcional.


O recalque absoluto é a soma de todos os recalques em um ponto da edificação. Já
o diferencial, consiste na diferença dos recalques totais entre dois pontos em análise. Por

366
Vinicius Lorenzi

sua vez, o recalque distorcional é aquele que consiste na razão entre o recalque diferencial
e o vão "L" considerado (BERBERIAN, 2015).

Toda obra recalca. Essa afirmação fundamental, que talvez tenha lhe deixado em
choque, deve ser interpretada da seguinte forma: desde que as deformações e os recal
ques sejam compatíveis com a estrutura/obra e se o recalque estiver dentro dos recalques
admissíveis, não há problema.
A prova de carga evidencia isso: desde os primeiros carregamentos de carga, a
fundação já começa a absorver essa carga e começa a gerar deformação e por conse
quência, recalca.

Isso significa que a obra não é totalmente rígida. Haverá o recalque.

Danziger e Lopes (2021, p. 110) observam que "considerando-se a interação solo-es


trutura, tanto o recalque absoluto máximo quanto o recalque diferencial máximo diminuem
com o aumento da rigidez relativa entre a estrutura e o solo". O seja, "a distribuição dos
recalques se torna mais suave com o aumento da rigidez".

Uma pergunta: 0,5 mm de afundamento é relevante? É um problema?

Ao fazer uma prova de carga, mesmo com acréscimos de carga pequenos, de 10 ou


20 toneladas, mesmo para diâmetros maiores, ainda assim podemos ter recalque míni
mos, da ordem de 0,05 mm, por exemplo, o que é muito pouco, mas significa que ela está
sofrendo alguma deformação.

Se a obra tem um recalque diferencial já é outra história! Recalque diferencial, de


modo bem simples, ocorre quando um lado da estrutura recalca mais que o outro.

Na cidade de Santos (SP), por exemplo, há camadas profundas de solo compostas


com sucessões de areia, seguidas de argila mole e depois de grandes profundidades areia

novamente, de modo que o material impenetrável rochoso é muito profundo (o que levaria
à necessidade de uma estaca de 50, 55 metros de profundidade).

Massad (2009) observa que os grandes desafios das obras da orla de Santos têm

relação com a presença de grandes áreas de manguezais, que levam a problemas de


recalques excessivos e de ruptura de aterros; à necessidade de execução demasiada de
fundações profundas, com grande valor agregado; a grandes custos em materiais para
aterros de solos argilosos e para produção de concreto (areias e materiais pedregosos).

Em Santos, acontecem muitos recalques diferenciais. Pensando em soluções em


fundações superficiais, especificamente sapatas, comuns na região, um lado das sapatas
tende a descer mais que outro.

Hoje existem em Santos cerca de 55 prédios tortos. E grande parte das patologias
geradas lá são por fundações insuficientes.

Entretanto, um detalhe bem legal sobre a orla santista, que é que alguns dos prédios,
mesmo tendo esse recalque diferencial, não apresentam problemas estruturais.

367
QUALIDADE EM FUNDAÇÕES

Por exemplo: um lado recalcou 15 cm e o outro não, mas está estável.

O recalque diferencial causa uma série de outros incômodos aos usuários. Imagine
um reservatório de água com fundação feita em Radier, que é uma fundação superficial. O
Radier, por algum motivo, recalca mais de um lado do que de outro, por heterogeneidade
do solo, por incompatibilidade do solo, por taxa de recalque diferente nas extremidades
do Radier, o que leva uma parte desse reservatório ter um afundamento e outra parte não.

Esse reservatório pode vir a ter um problema estrutural, levando à perda de funcio
nalidade, por conta do recalque.

Viu como é importante que a deformação ou o recalque estejam dentro de um


limite, dentro de uma tensão máxima? Se ele for maior que o admissível, pode haver uma
série de problemas, como nas tubulações, na parte hidráulica, entre outras. Uma série de
manifestações patológicas pode acontecer.

Um recalque que é pior que o diferencial é o recalque distorcional, o qual tende a


torcer a estrutura.

Observamos no dia a dia de obra que as estruturas têm sofrido muitos recalques por
projetos inadequados ou execuções mal feitas. Muitas vezes, estão diretamente ligados à
falta de entendimento da heterogeneidade do solo. O projetista/executor não levou em
consideração as camadas do solo e suas distinções/resistências.

Diferentes resistências do solo levam a índices diferentes de recalque.

Por exemplo: imagine um projeto de sapatas 1 metro x 1 metro, feito sem nenhum
cálculo. Na obra, na realidade, podem facilmente haver pontos/regiões com menor resis
tência e capacidade de suporte que outros que não foram estudados. Ou seja, a sapata
tenderá a sofrer um recalque maior na região onde a capacidade de suporte é menor.

É fundamental que o engenheiro entenda exatamente aquilo que ele está fazendo
em suas obras. Por isso, toda obra de fundação precisa ter sondagem e projeto específico!

No cotidiano, muitas vezes, o mesmo projeto é feito para regiões distintas sem
considerar as peculiaridades do solo. O construtor "adota" Sapata 80×80 ou 60x60 desde
que atenda a uma tensão admissível de 2 kgf/cm² (em nota no pseudoprojeto).

Por vezes, quem executa a obra não sabe o que significa isso na prática. O operador
apoia a sapata no solo sem observar a capacidade indicada no projeto. E isso gera graves
problemas.

Exemplo clássico: projeto padrão de Unidades Básicas de Saúde (UBS), no Brasil.


Projetos genéricos, feitos do Oiapoque ao Chuí, sem respeitar as peculiaridades de cada
região do País. O executor faz a obra como se fosse o mesmo solo, desrespeitando as

heterogeneidades em termos de solos e tensões admissíveis.

Logo, há uma alta probabilidade de esse tipo de obra ter uma patologia/recalque.

368
Vinicius Lorenzi

Em síntese, aprendemos que todas as obras vão recalcar e que i é permitido


desde que recalquem dentro de um limite máximo indicado em projeto, considerando as
tensões admissíveis.

Uma vez que recalquem acima desse limite ou de forma diferencial, grandes proble
mas podem ser gerados, além de grandes possibilidades de manifestações patológicas.

O terceiro ponto a ser analisado aqui é a DURABILIDADE.

Nesse quesito, não tem como não citar a nova norma de desempenho, isto é, a
norma ABNT NBR 15575:2013!

Essa norma fala sobre o tempo de vida útil nas obras. Com a criação dela, a res
ponsabilidade do engenheiro que já era muito grande, fica ainda maior, tendo em vista o
tempo em que ele é responsável por suas obras.

Desse modo, como falamos anteriormente, assinar ARTS de forma irresponsável é


um grande equívoco.

e
Caso de obra!

Uma vez, visitando a obra de um colega, ao observar a concretagem feita na betoneira,


observei que era realizada de modo bastante irresponsável. A inserção da água do
traço do concreto era feita com mangueira! Isso mesmo! Sem nenhum controle... Isso
algo muito mais sério do que pode parecer. Fator água/cimento? Nunca ouviu falar.

Para piorar a situação, o engenheiro não rompia os corpos de prova, pois sabia que não
dariam resistência adequada, por conta da forma como o concreto era misturado. Olha
o tamanho do risco que ele estava correndo.

Você deve estar se perguntando...

Mas isso deve dar um problemão, não é?

E como! Em uma situação como essa, sua relação água/cimento fica diferente do que
foi considerado no projeto. Uma relação A/C desequilibrada significa alta porosidade,
concreto menos resistente no tempo e possíveis manifestações patológicas decorrentes.
No caso de fundações, como não são aparentes, é pior ainda! É muito mais grave colocar
um concreto mal executado. A anomalia demorará a aparecer, mas ela dará muita dor
de cabeça para ser resolvida depois, além de grandes gastos!

Por isso, deve haver um rigoroso controle desde os materiais até a qualidade executiva
da obra (sempre buscando cumprir o que as próprias normas técnicas indicam, tanto
para o controle dos materiais quanto para a execução das técnicas).

Na fundação, de uma forma prática, se o elemento que executamos não for visível, não

tem como avaliar o comportamento dele ao longo do tempo. A anomalia pode progredir
e a falha ocorrer sem uma percepção prévia.

369
QUALIDADE EM FUNDAÇÕES

Os 50 anos de responsabilidade nos levam à reflexão de que as etapas construtivas ou

projetadas precisam ser bem feitas. Em qualquer serviço!

Oengenheiro que não está no campo não pode verificar se, na obra, o processo está
sendo bem executado e a sua qualidade. Entretanto, ele deve controlar os fatores de
segurança.

Certa vez, recebi uma pesquisa de graduação que perguntava a encarregados/mestres


de obras se alguma vez eles já tomaram alguma decisão em obra sem consultar o
projetista.

Da amostra realizada, 100% citaram que sim, que já haviam tomado decisões por conta
própria e modificaram informações preconizadas em projeto. Por mais experiente que
possa ser o construtor, isso não pode ser feito, pois a responsabilidade técnica da obra
fica na mão do profissional que assinou a ART do projeto.

Isso leva a uma redução do fator de segurança. É algo muito grave realizar modifica
ções no projeto sem informar ao projetista!

A equipe deve estar ciente da gravidade de uma mudança como essa e das consequên
cias, como a ruptura da estrutura. Eu resumiria que qualidade envolve controlar todas
as etapas da obra. Aí, a probabilidade de ruína será muito menor.

Qualidade: bom projeto; controle. Execução: assegurar que todas as etapas do processo
executivo da obra sejam corretamente desenvolvidas. Se dentro dessa etapa uma delas
falhar, pode haver ruptura.

Se o controle é uma das premissas básicas de qualidade, falaremos agora sobre o me


lhor ensaio para análise das capacidades de cargas de uma fundação, a Prova de Carga
Estática (PCE).

12.2 Prova de carga estática

Uma prova de carga consiste em aplicar esforços estáticos crescentes à estaca, com
registro dos deslocamentos correspondentes (Figura 12.2).
É nesse ensaio que buscamos elementos para avaliar o comportamento carga x
deslocamento de uma fundação. Podem-se obter (após a devida interpretação) recalques
e a capacidade de carga da estaca.

370
Vinicius Lorenzi

Figura 12.2-Realização de uma prova de carga estática na cidade de Toledo (PR).

As provas de carga por vezes são realizadas com intuito de refinar o cálculo das
fundações, além de conferir se as capacidades de carga previstas no pré-projeto são, de
fato, as encontradas em campo.

A norma de fundações prevê uma redução nos fatores de segurança das obras de
fundação quando do uso de provas de carga, assim, a execução de prova de carga estática
pode gerar redução nos custos de fundações.

As metodologias de carregamento das estacas nos ensaios podem ser separadas


em quatro grupos:

1.
Carregamento lento com carga mantida - SM ou SML (Slow Maintained
Load Test): o carregamento é feito em incrementos iguais até determinado
nível de carga, maior do que a carga de trabalho.
2.
Carregamento rápido com carga mantida - QM ou QML (Quick Maintained
Load Test): são aplicados incrementos iguais de carga, até determinado
nível de carregamento, maior do que a carga de trabalho prevista para a
estaca.

3. Carregamento sob velocidade constante de penetração - CRP (Constant


Rate of Penetration): a carga é ajustada para manter constante a velocida
de de recalque do topo da estaca. A prova de carga é levada até certo nível
de deslocamento.

371
QUALIDADE EM FUNDAÇÕES

4. Carregamento cíclico - CLT ou SCT (Cyclic Load Test ou Swedish Cyclic


Test): a estaca é carregada até um terço da carga de trabalho e descarre
gada para a metade dessa carga, repetindo-se esse ciclo 20 vezes. Poste
riormente, a carga superior do ciclo é aumentada 50% e repete-se o proce
dimento. Continua-se até atingir a ruptura.
A escolha do tipo de ensaio a ser adotado leva em conta fatores como: tipo do

solo, padrão de carregamento, magnitude de recalques etc. No Brasil, o mais comum é a


utilização do ensaio de carregamento lento com carga mantida.

Nas provas de carga, dificilmente chega-se à ruptura estrutural das estacas e, sim,
à uma ruptura geotécnica.

Os resultados das provas de carga são dados na forma de curvas carga x recalque, e
sua interpretação deve respeitar alguns critérios estabelecidos em norma. Atualmente, a
metodologia de Van der Veen (1953) e a previsão da curva dada pela ABNT NBR 6122:2019
são as melhores formas de avaliação das curvas.

O Gráfico 12.1 e a Figura 12.3 ilustram um sistema de prova de carga a compressão.

Carga (Ton)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
0,00
)(

-0,50

-1,00
mm

-1,50

-2,00
Recalque

-2,50

-3,00

-3,50

-4,00

-4,50

-5,00

-PCE 01

Gráfico 12.1-Representação gráfica típica de uma PCE.

372
Vinicius Lorenzi

Figura 12.3-Sistema de prova de carga.

12.3 Sistema de prova de carga


O sistema de provas de carga à compressão (Figura 12.4) é composto por:
▶ macaco hidráulico;

▶ bomba hidráulica;


relógio comparador (extensômetros analógicos);
vigas e tirantes de reação, bem como porcas, contraporcas e chapas de aço
de travamento;

vigas de referência;

estaca de compressão;

▶ estacas de tração com tirantes.

Nas estacas testadas à compressão, são aplicadas cargas por macaco hidráulico
apoiado sobre o bloco de coroamento da estaca, sendo que o sistema bomba/macaco
hidráulico deve estar devidamente calibrado.

As cargas aplicadas no macaco reagem tracionando as barras de aço posicionadas


nas estacas de reação e comprimindo o sistema de vigas metálicas apoiadas sobre o bloco
da estaca central.

373
QUALIDADE EM FUNDAÇÕES

Sistema de reação
- Rótula
Célula de carga

Macaco
Extensometro Bomba

Viga de
referência

L
Bloco

Estaca

Figura 12.4 - Detalhe do esquema de medição e conjunto macaco-bomba.

Os carregamentos devem ser verticais, centrados, praticamente estáticos (consi


derando o tempo total do ensaio), sendo feitos registros dos deslocamentos verticais
correspondentes, conforme prescrito na norma brasileira citada anteriormente.

Os deslocamentos verticais provocados durante os carregamentos são medidos,


simultaneamente, no topo do bloco de coroamento, por meio de extensômetros analógi
cos, com leituras diretas. Esses instrumentos devem ser instalados em vigas de referência,
independentes da estrutura de reação, em locais isentos de movimentação.

Outros tipos de ensaios podem ser realizados em fundações, como o PIT (Ensaio
de Integridade de Estacas) ou o PDA (Prova de Carga Dinâmica) e também pode trazer
benefícios ao entendimento das fundações.

374
13. INFORMAÇÕES ADICIONAIS

13.1 Considerações gerais sobre fundações em


divisas

Primeiramente, precisamos definir o que é uma fundação de divisa.


Imagine que você construirá uma nova edificação, em um centro urbano,
e ao lado da sua obra está seu vizinho (e, consequentemente, a fundação
dele). Ou seja, há uma divisa física que precisa ser respeitada para que a sua
obra não venha a interferir na obra dele e nem em obras vizinhas futuras

O que dizem as normas acerca de execução de fundações na


divisa? Praticamente nada. Na realidade, existe uma única informação:
não invada os limites territoriais do seu vizinho.

Situação real: pilar na divisa e sapata centrada. Isso é algo básico,


mas que ainda é visto nos projetos de fundações. Obviamente que, nessas
condições, a fundação está invadindo os limites territoriais da sua obra, o que
certamente não deve ser feito. Qual é a solução? Trabalhar com fundações
excêntricas e aíavaliar a necessidade ou não de uma viga de equilíbrio.

Na boa prática executiva, recomenda-se o afastamento da sua


fundação em direção a divisa de pelo menos três vezes o diâmetro
da estaca ou da menor dimensão da sapata. Mas, de fato, o que é
essa relação? Basicamente está relacionada à dissipação dos bulbos
de tensão. Mas calma: antes de tudo, é preciso avaliar a situação real
da fundação da obra vizinha.
É preciso entender qual é a fundação do seu vizinho. Vamos supor
que o vizinho tem uma edificação de 6 pavimentos e a fundação é em
tubulão. Nesse caso, os bulbos de tensão estão mais profundos, pois
uma fundação em tubulão dissipa cargas preponderantemente pela
sua base. Logo, se for escolhida uma fundação mais superficial, não
necessariamente impactará a fundação dele.
Por sua vez, se a fundação dele for em sapata e você decide adotar
a mesma solução em um cota muito próxima à fundação vizinha, aí sim
pode ocorrer uma coincidência dos bulbos de tensão e haver um problema
chamado sobreposição de bulbos de tensão, que pode vir a gerar recalques.
Regras prontas sobre os espaçamentos a serem adotados não
levam em consideração a realidade local. Cada caso deve ser analisado,
na prática, compreendendo qual é a fundação vizinha e como as tensões
se dissipam no solo por conta delas.
A solução é sempre afastar a fundação do vizinho? Não! Isso porque uma fundação de divisas
pode gerar vigas de equilíbrio e isso certamente acarretará custos. Logo, não faz sentido realizar uma
fundação que não esteja no limite do terreno, quando isso realmente não for necessário.

Lembre-se que excentricidades entre o centro de carga do pilar e o centro de carga da fundação
geram a necessidade de vigas de equilíbrio, o que gera custos adicionais. Quanto maior for a excentri
cidade, maior será o desequilíbrio gerado e mais onerosa será a solução para "equilibrar" esse sistema,
com uma viga de equilíbrio mais reforçada.

Vamos desde o início: o que não se pode fazer é invadir o terreno do vizinho (seja sapata, seja
tubulão, seja o bloco de coroamento das estacas). Quando se faz, por exemplo, um bloco no limite
do terreno, com grandes diâmetros, pode haver uma necessidade real de utilizar vigas de equilíbrio
para equilibrar as cargas por não se conseguir centralizar o bloco com o centro de gravidade do pilar.
Aí se justifica a utilização de uma VE.

Se não houver presença de vizinhos até o momento da obra, o engenheiro pode escolher a fun

dação que lhe for mais conveniente. Futuramente, caso o novo vizinho que adquirir o lote ao lado deseje
construir, ele deverá observar a obra já executada e as fundações preexistentes a fim de não gerar danos.
Regras genéricas não existem na área de fundações. O importante é compreender os mecanis
mos de trabalho da estrutura e do solo. Por que não se pode, por exemplo, fazer uma fundação nova
na divisa se o vizinho já tem uma fundação? A fundação do vizinho já está trabalhando, distribuindo
tensões no solo e sua fundação nova competirá com a dele, isto é, as duas disputarão cargas uma
com a outra e poderá haver recalque.

Em obras que sejam solucionadas em fundações profundas, as quais demandam grandes


equipamentos, chegar até a divisa física pode ser um fator limitante. Existe uma distância mínima
que cada equipamento exige para realizar o trabalho. Portanto, algumas máquinas não conseguirão
executar uma fundação "colada" à divisa, o que levará a possibilidade de a fundação precisar de VE

pela limitação do equipamento.

Existem equipamentos de hélice contínua, por exemplo, que se distanciam até


1,20 metro da parede (eixo da estaca até a face da parede) no mínimo, o que se torna uma solução
muito ruim para uma fundação de divisa, distanciando muito o centro de gravidade da fundação com
um pilar locado na divisa da obra.

É nesse momento que entra a capacidade técnica do projetista de fundação: escolher a solução mais
viável e adequada. É fundamental que o projetista de fundações conheça os equipamentos disponíveis
na região onde será executada a obra, para entender as limitações destes com relação às faces de divisa.

Caso de obra!

Vou contar uma pequena história: um cliente me chamou até o escritório dele, falou que os próximos
projetos dele demandavam 3 subsolos, mas que não poderíamos perder mais do que 40 ou 50 cm
(dependendo da obra) nas paredes de divisa!
Vinicius Lorenzi

E aí ele me provocou:

- Como as suas hélices não conseguem fazer estaca na divisa, vamos ter que fazer em diafragma!
- Nem pensar! - eu falei. - Vou dar um jeito!

Ligamos para uma empresa parceira na época, expusemos a situação e ela falou:
deixa comigo!

Eis que a empresa em questão criou um equipamento quase sob medida para nós, que
hoje é o maior sucesso de vendas, os equipamentos EM500.

Sabe o que eu tenho dentro de mim que gera isso? É a indignação! Sim, eu não me
deixo acomodar com a situação. Eu me indigno, vou atrás, não fico sentado esperando
as coisas acontecerem!

Como você é? Inquieto assim como eu sou? Ou acomodado?

Engenheiros são forjados sob pressão para resolverem problemas! E aqueles que se
destacam estão anos-luz à frente da concorrência!

13.2 Escavações provisórias em obra


Fui à uma obra interessante, onde foi feita uma escavação provisória, em uma região
com uma cota inferior, em dois patamares, com cota 0,00 e cota -3,00.

Apesarda diferença de cotas, não foi necessário fazer uma contenção na cota inferior,
no corte. E qual foi o motivo disso? O fato de a escavação ser provisória na obra e de haver
muita coesão do solo.

Depois, os pilares de extremidade da cota inferior serviriam como pilares de arrimo,

encostando o solo, o que garantiria a estabilidade.


Sempre que se pensa em contenções, é importante entender o que é preciso conter.
Você tem que se perguntar: é necessário proteger algo? No caso dessa obra não havia
dois patamares: superior e inferior. Mas não há um risco de queda nesses casos? E existe
um risco de tombamento?

Nesse caso não, pois esse solo era extremamente coesivo, argiloso. Quando é per
cebido risco de tombamento ou escorregamento da região, uma solução pode ser fazer
reduzir sua altura e fazer um talude menos íngreme.
Esses casos em obras são muito comuns, isto é, ter que trabalhar com níveis dife
rentes na etapa de fundações. Faz-se um corte ou uma escavação provisória - nesse caso,
a prumo, o que pode ser feito pois, como o solo é muito coesivo, o risco é muito pequeno.

Além disso, rapidamente, quando forem feitas as fundações e for levantada a es


trutura (e os pilares), a parte superior estará devidamente contida e a obra prossegue.

13.3 Equipamento de fundações: qual comprar?


Será que vale a pena investir em um equipamento novo ou em um equipamento
usado?

371
INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Quando falamos em equipamentos de fundações usados, temos alguns detalhes


importantes que devemos analisar:

▶ Será que esse equipamento foi utilizado corretamente quanto ao consumo


de combustível?

▶ Ele está com todas as manutenções preventivas em dias?



Ele foi usado em situações críticas ou sofreu algum incidente (tombamento,
quebra de peças etc.)?
Você precisa avaliá-lo de forma minuciosa para evitar a máxima do "barato que sai
caro". Por vezes, adquirir um equipamento novo, de uma empresa séria, com todas as
garantias do fornecedor, pode ser um bom negócio!

- Mas Vinicius, e se eu só conseguir comprar uma usada?

Veja... é importante começar, de um jeito ou de outro. Se sua empresa é jovem ou


seu recurso é escasso, comece do melhor modo que puder!

De todo jeito, tente buscar a melhor máquina possível, observando o estado do bem
e, além disso, o histórico de manutenções.

- Quando eu tiver a máquina, de quanto em quanto tempo deve ser feita uma manutenção?

Não existe uma regra! Quando meus operadores indicam que há uma possível falha,
que pode ter algo que não está bem, providenciamos uma manutenção preventiva. Mas

alguns cuidados básicos devem ser regulares!

Prevenir é sempre melhor do que remediar!

13.4 Aprenda a vender Engenharia!

O começo da carreira de engenheiro não é fácil. Aliás, de nenhuma profissão é. No


início, poucas pessoas sabem efetivamente o que você faz, com o que você trabalha ou,
ainda, quais são as suas especialidades.

Me diga uma coisa: você está no início da carreira de engenharia, pegando alguns
projetos iniciais, buscando algumas obras? Aqui vai uma dica, que de tão simples parece
até bobeira: comunique-se.

Qual é o objetivo? Que as pessoas e as empresas lhe conheçam, conheçam seu tra
balho, seus projetos, as obras que você executa. Hoje, é imperativo aprender a "vender"
os seus serviços, usar as redes sociais e começar! Não estou dizendo para expor seus
clientes ou algo assim - se pensar em divulgar os clientes, converse com eles antes! Mas
é importante mostrar para o mundo suas capacidades.

O mercado precisa de pessoas determinadas, que tenham foco, que não procras
tinem, que tenham convicção do que querem. O profissional que não se empenha, não
estuda, não se atualiza e que faz um trabalho "meia boca", ou seja, que desperdiça seu

378
Vinicius Lorenzi

tempo e recursos (além do tempo e dos recursos dos seus clientes), está fadado ao insu
cesso enquanto continuar com essa postura.

Se quer estar entre os melhores do seu nicho de atuação, você tem que fazer valer
cada centavo de sua formação, do investimento (em livros, em extensões, em palestras,
em pós-graduações...). O mercado reconhece a pessoa que tem vontade de vencer e
trabalha para isso. Que tem desejo, vontade de fazer diferente e fazer melhor. Está no
brilho dos olhos, na força de vontade, no interesse.... O mercado valoriza esse profissional
e geralmente paga muito bem para tê-lo por perto.

Quando realmente se busca a excelência, o mercado vê seu trabalho com outros


olhos. O que determina se você fechará mais projetos, fechará mais obras, mais consulto
rias? Sua atitude. A ambição, a vontade de conquistar e capacidade de antecipação (que
é o oposto da procrastinação, do "deixa para depois"), que resultam em uma postura ativa
e muito desejada pelos clientes e investidores.

É fato: cliente satisfeito é aquele que tem seus anseios atendidos do melhor modo
possível e com o melhor custo-benefício. O que seu cliente deseja é um produto ou serviço
inovador, exclusivo e de qualidade.

Apesar de os cursos de Engenharia, em sua maioria, prepararem futuros engenheiros


com muito rigor teórico e competências técnico-científicas sólidas, por vezes falta desenvol
ver em seus alunos habilidades práticas, exigidas diariamente no trabalho, como a interação
interpessoal, a comunicação e a capacidade de se "vender", ou seja, de demonstrar o valor
do seu produto, com foco nos benefícios gerados.

Aqui vai uma verdade dura de engolir:

O mercado não quer saber de onde é o seu diploma!


O mercado quer saber se você sabe ou não sabe, se você tem conhecimento e sabe
vender esse conhecimento. Seu cliente não pagará a mais na obra por você ter se formado
nessa ou naquela instituição de Ensino Superior. Ele quer saber se você consegue ou não
resolver o problema dele.

Por isso, é importante, além de saber projetar e executar, saber se comunicar. Eu


não estou falando para você se tornar um palestrante renomado, mas, sim, que você saiba
mostrar aos outros as suas capacidades, o seu conhecimento.

379
INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Dica!

Vou dar uma dica importantíssima para quem está começando:


imagina você, graduado, sem emprego, buscando uma carreira solo na
Engenheira. Você decide que trabalhará com projetos estruturais e de
fundação, mas, no início, ninguém lhe contrata. Então, como você vai
fazer para que as pessoas saibam o que você faz?

Faça um projeto "fantasma". Sim! Faça um projeto de uma obra


fictícia. Solicite a um colega arquiteto, ou faça você mesmo um projeto
arquitetônico, e inicie esse projeto por conta própria.

-Mas sem sondagem? Sem saber a localização da obra? Como eu vou


saber se o projeto vai ficar correto ou não?

Ninguém precisa saber que é um projeto fictício; a grande sacada


é você conseguir comunicar, compartilhar seu conhecimento.

A seguir, apresentarei 3 passos para que você comunique o seu


projeto fictício. Sempre que perguntarem de onde é o projeto, responda
que é de um cliente que ainda não pode ser identificado por questões
sigilosas (fica melhor ainda o suspense). Essa dica vale, inclusive, para
clientes reais que não querem ser identificados, ou para aqueles a quem
você não pediu autorização para divulgar.

1. Envie o projeto para seus colegas, aqueles que se formaram com


você, e discuta com eles sobre seu projeto. Peça conselhos, fale que
precisa otimizar ao máximo o projeto, pois o cliente é muito rigoroso
e deseja a melhor solução técnica para a obra.
2. Use as redes sociais. Se você ainda não tem uma, crie! Se você já tem,
use e abuse dela. Mostre a todos o seu projeto. Apresente as etapas,
porque você pensou em cada situação, como foi o processo de esco
Iha. A tão sonhada autoridade começa assim: quanto mais projetos
você fizer e expuser, maior a sua rede será e, consequentemente,
mais facilmente você começará a efetivamente fechar projetos.

3. Crie um banco de imagens de projeto e visite alguns profissionais


de outras áreas, principalmente arquitetos que possam indicar seu
trabalho. Se você não conhece arquitetos, frequente associações que
promovam o encontro entre profissionais. Nesses locais, o networ
king é o ponto forte.

13.5 Precificação de serviços de Engenharia

O mercado atual, altamente competitivo, tem modificado a formação de preços.


Em um passado recente, a formação de preços estava diretamente ligada à avalição dos
custos com o incremento de valor correspondente de margem de lucro. Em um cenário

380
Vinicius Lorenzi

em que há elevada concorrência e baixa percepção de diferenciação, tem prevalecido o


preço, que muitas vezes é determinado pelo próprio mercado.

A definição de preço depende de uma série de fatores, desde a análise básica de


custos, avaliação do poder aquisitivo de quem consumirá aquele serviço, até um enten
dimento da concorrência daquele mercado. Quanto mais competitivo for um mercado,
maior será a tendência de preços baixos. Fazer uma análise desses fatores é fundamental
antes de precificar algum serviço.

O uso de preços que não estejam de acordo com a realidade da empresa ou do


mercado poderá levá-la a falência.

Cada empresa possui sua estrutura, seu tamanho e sua capacidade. Cada empresa
atua em certo ambiente e isso precisa ser entendido nessa etapa. Comparar seu custo com
o custo de outra empresa, sem entender a realidade daquela, pode ser um grande "tiro no
pé". A complexidade da avaliação de preços está em entender que cada gestor possui seu
arsenal de ferramentas para desenvolver a solução de cada problema.

O mesmo ocorre com os métodos de precificação, com cada um gerando algum tipo
de resultado, que dependerá principalmente do objetivo organizacional.
Precificar é, além de tudo, entender as margens de resultados desejadas. Seja para
uma empresa de capital aberto ou de capital fechado, o objetivo é o lucro. A decisão pre
cisa estar calcada em fatores como: crescimento no mercado, aumento do marketshare,
bloqueio de ações de concorrentes e novos entrantes, além do preço dos concorrentes,
liderança em preços (ou o contrário), estratégia de marketing da organização, tudo isso
buscando garantir a sustentabilidade e sobrevivência da empresa.

É função de cada empresa compreender e analisar individualmente a sua rea


lidade e necessidade. Uma forma de atuação que funciona bem para a empresa pode
não funcionar adequadamente para outra. Por isso, quando for escolher um método de
precificação, analise algo que faça sentido especificamente para seus serviços.

No setor da construção civil, em geral, as empresas conseguem orçar somente após


o desenvolvimento de todos os projetos, o que pode tornar a conclusão de alguns deles
demorada e negligenciada. Muitas vezes, a definição do preço de venda decorre de uma
expectativa de custo gerada com uso de informações precárias e insuficientes.

O problema é que cada projeto pode ter dependência técnica de outro e, caso al
gum venha a demorar para ser elaborado, o processo de precificação da atividade gera
insatisfação no cliente.

Na maioria das vezes, o que temos é apenas uma expectativa de custo a partir de
informações precárias e insuficientes.

Problema maior ainda está quando uma empresa desconsidera seus custos reais e
as despesas indiretas na precificação dos seus serviços de engenharia e trabalham com
valores agressivos, sem considerar todos os riscos envolvidos no processo.

381
INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Especificamente em fundações, desenvolver estratégias de precificação vinculadas


às incertezas dos custos e das variáveis não controláveis existentes no processo pode
contribuir para a obtenção de maior assertividade nas escolhas dos tomadores de decisão.

Na precificação de fundações, é preciso estar atento ao impacto das horas ociosas


no canteiro de obras quando comparadas com as horas totais, trazendo à tona a questão
da produtividade baixa.

Para aumentar a produtividade, fatores como capacitação dos funcionários e elabo


ração de um plano de manutenção preventiva regular devem ser levados em consideração
por afetarem profundamente o andamento das tarefas na obra.

De modo geral, para empresas do setor de engenharia, sobretudo da área de fun


dações, a análise estatística de dados favorece a compreensão da estrutura de custos,
mostrando cenários e caminhos que poderão adotar. Em face desses cenários, o gestor
terá capacidade de escolher com mais precisão o risco que deseja correr em cada obra.
O risco dependerá da possibilidade de perder dinheiro, do cliente, do tipo de serviço, dos
perigos da execução, entre outros fatores.

Por isso, para precificar serviços não possui fórmula mágica!

REFERÊNCIAS

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mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro: ABNT, 2008.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações habitacionais - Desempenho,


Rio de Janeiro, ABNT -Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2013.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: projeto de estruturas de concreto -


Procedimentos. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: projeto e execução de fundação. Rio de
Janeiro: ABNT, 2019.

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Vinicius Lorenzi

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VESIC, A. S. Principles of pile foundation design. Duke University Pratt School of Engineering, Soil
Mechanics, series n. 38, 1975.

383
FUNDAÇÕES
NA PRÁTICA

ACESSE O QRCODE E SAIBA COMO VOCÊ PODE DOMINAR FUNDAÇÕES.

https://fundacoessemcomplicacoes.com.br

FUNDACÕES
SEM COMPLICAÇÕES

Fundações Sem Complicações @fundacoesC

O @fundacoessemcomplicacoes. in Vinícius Lorenzi

/fundacoessemcomplicacoes
O maior canal de fundações do mundo.

As redes sociais deram mais do que visibilidade para um engenheiro, profes


sor e à sua empresa de fundações. Elas possibilitaram que engenheiros de
todos os lugares e de todos os níveis de conhecimento, tenham acesso às
obras que talvez jamais poderiam ter.

Mais do que nunca, o conhecimento está à disposição. E, não apenas aquele


conhecimento teórico, restrito aos meios acadêmicos mas, sim, o conheci
mento da vida real de obras, do dia a dia de um engenheiro que respira funda
ções e sabe, de fato, como lidar com cada situação. O tipo de conhecimento
que você só aprende com quem faz: prático, real, verdadeiro.

Esse é o motivo de persistir nas redes sociais, dia após dia, há quase 5 anos
compartilhando obras, problemas, soluções, situações inusitadas e até emoções.
Afinal, quem nunca foi do zero ao céu na mesma obra, não é mesmo?!

Fato é que as redes sociais democratizaram o conhecimento e não é à toa que


inúmeros engenheiros enviam depoimentos dizendo que aprenderam mais
sobre fundações ali, numa rede social, do que na graduação (ou pós gradua
ção) inteira.

O canal Fundações Sem Complicações cumpre o seu papel quando


descomplica assuntos técnicos e torna fácil temas complexos. Quando ensina
com seriedade fazendo graça, com responsabilidade ser deixar de ser descon
traído, respeitando todas as normas mas entendendo a realidade do profis
sional na obra e, principalmente, oferecendo aquilo que diferencia os grandes
engenheiros: a segurança e confiança para atuar com fundações.

Fica aqui o convite para seguir, se inscrever, compartilhar e, claro:


aprender!

Fundações Sem Complicações @fundacoesC

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Parceiros: ISBN 978-659976520-9

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SONDAGENS E FUNDAÇÕES Sistemas de Ancoragem I 9786599765209

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