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PRÁTICAS PARA UMA


AGROFLORESTA
AGROFLORESTA
PRODUTIVA
PRODUTIVA
O conhecimento técnico que gera abundância!

MURILO ARANTES, PEDRO FARIA E


ANDREI OLIVEIRA

1ª Edição
POR UMA AGRICULTURA DE PAZ!

AUTORIA: Murilo Arantes, Andrei Oliveira e Pedro Faria


SUPERVISÃO: Murilo Arantes
ILUSTRAÇÕES: Pedro Faria
ILUSTRAÇÃO DA CAPA: Renata Siegmann
REVISÃO: Pedro Faria
REVISÃO TÉCNICA: Murilo Arantes

_____________________________________________________________
Arantes, Murilo
9 Práticas para uma Agrofloresta Produtiva / Murilo de Lima
Arantes, Pedro Faria Lopes e Andrei Pereira Oliveira –
Aparecida de Goiânia, GO: 2023. – (9 Práticas para uma
Agrofloresta Produtiva)
_____________________________________________________________

1ª Edição
Publicado Originalmente em Março de 2023
www.agrosintropia.com.br

Copyright 2023
Todos os direitos reservados. Todos os textos, ilustrações e
outros materiais desta publicação estão legalmente
protegidos por direitos autorais e não podem ser utilizados,
reproduzidos, modificados ou atribuídos sem o
consentimento por escrito dos autores.
SUMÁRIO
Apresentação……………………………………………………………………………….....1

Prática 1 - Observe e Respeite a vida……………............................4

Prática 2 - Plante com Biodiversidade e Densidade…….15

Prática 3 - Planeje bem seu plantio……………………………………..21

Prática 4 - Conheça bem seu solo……………………………………….27

Prática 5 - Prepare bem seu solo…………………………...................32

Prática 6 - Plante com sabedoria……………………………….............41

Prática 7 - Cubra bem o solo………………………………………………….59

Prática 8 - Maneje com precisão……………………………………...….66

Prática 9 - Maneje com Sucessão e Estratificação………...71

Conclusão………………………………………………………………………..……….……77

Conheça a Agrosintropia…….............................................................78

Bônus: Máquina, equipamentos e Ferramentas…............82


APRESENTAÇÃO
Com a intenção de facilitar o acesso aos
conhecimentos teóricos e práticos dos sistemas
agroflorestais, através de uma linguagem simples
e objetiva. A Agrosintropia elaborou este E-book
em busca de desenvolver um material de consulta
aplicável, por quem deseja iniciar um Sistema
Agroflorestal (SAF) produtivo, ou por quem já
possui a sua agrofloresta e/ou trabalha com SAF e
deseja aprimorar os seus plantios.

Os princípios apresentados nesse E-book podem


ser aplicados desde vasos, em apartamentos, até
grandes áreas de dezenas de hectares. Quando
aplicados em conjunto, adaptando a realidade de
cada contexto, ampliam as possibilidades de sua
agrofloresta ser produtiva, com o solo se
conservando e regenerando, com uma boa
capacidade de retenção de água no local e com
um uso racional do espaço produtivo.

01
A base do conteúdo deste E-
book é dada pelo conhecimento
de nosso professor, o agricultor e
pesquisador suíço Ernst Götsch,
em quem temos como a maior
referência em trabalhos com
sistemas agroflorestais, além de
tantos outros professores que nos ensinam e
inspiram a trabalhar com sistemas agroflorestais,
dando continuidade na missão de difundir esse
conhecimento a quem temos a gratidão pelo
conhecimento que nos foi transmitido.

Sobre a Agrosintropia:

Somos uma empresa de consultoria especializada


em Sistemas Agroflorestais e Agricultura
Sintrópica, um Hub de negócios agroflorestais.
Fundada em 2016, somos a primeira empresa de
consultoria especializada no plantio de
agroflorestas regenerativas e replicáveis do Brasil.
Nossa missão é Promover a vida e auxiliar
verdadeiramente nossos clientes com
profissionalismo através do cultivo de sistemas
agroflorestais regenerativos; Trabalhar em
projetos de produção de alimentos saudáveis, de
baixa emissão de carbono, conservando a água e
regenerando solos; Popularizar o acesso ao
conhecimento da agricultura sintrópica,
capacitando pessoas para trabalharem
profissionalmente com Sistemas Agroflorestais.

02
Sobre os autores:

Murilo Arantes é agroflorestor, possui formação


acadêmica na área de Ciências Biológicas -
Licenciatura (UEG), com Mestrado em Ecologia e
Meio Ambiente (INPA), possui prática na
implantação e manejo de Sistemas Agroflorestais
no Cerrado, Floresta Amazônica e Mata Atlântica.
Começou a estudar e colocar em prática os
princípios da Agrofloresta ensinados por Ernst
Götsch em 2008. Com experiência em consultoria
internacional, é produtor rural, palestrante, CEO e
co-fundador da Agrosintropia.

Pedro Faria é agroflorestor, engenheiro florestal


(UnB) e Mestre em Engenharia Agronômica
(UEG), conheceu Ernst Götsch em 2009 e trabalha
com implantação de sistemas agroflorestais desde
2011. Auxiliou na implantação de SAFs em diversos
biomas brasileiros e desde 2018 em diversos
projetos na Colômbia. É produtor rural do
município de Pirenópolis - GO, e atualmente é
Diretor de Projetos de Agrosintropia.

Andrei Oliveira é agroflorestor, Engenheiro


Agrônomo, mestrando em Agricultura Orgânica
(UFRRJ). Começou a estudar sistemas
agroflorestais em 2016, em 2018 trabalhou por um
ano na 'Chino's Farm', uma fazenda de hortaliças
orgânicas na cidade de San Diego, Califórnia.
Trabalhou na assistência técnica para produção e
comercialização de hortaliças em diversos sítios.
Já trabalhou na implantação de modelos de SAFs
em alguns biomas brasileiros. Atua como
Coordenador Técnico.
03
PRÁTICA 1
OBSERVE E RESPEITE A VIDA
Devemos ter sempre o olhar de aprendiz... Decifrar
as leis e os padrões que expressam a grande
inteligência da natureza. Observar e estudar as
coisas da natureza, pois afinal, se somos natureza,
também estudamos de nós, na nossa natureza.
Importante observar como as espécies se
desenvolvem, interagem, se adaptam às variações
ambientais e co-criam o local em que vivem.
Através da observação podemos escolher melhor
o local, a melhor forma, a melhor época e as
espécies mais adequadas em que plantaremos
nossos sistemas agroflorestais.

A fonte de inspiração dos nossos plantios é a


floresta! É preciso conhecer os mecanismos de
funcionamento das florestas. Como a floresta se
comporta como um organismo? Quais são os
processos físicos e químicos associados? Como
traduzir, e aplicar, o mecanismo de
funcionamento das florestas na agricultura?

04
Essas perguntas podem ser respondidas
adotando uma simples prática: a observação.
Observando o ambiente em que estamos
inseridos, podemos comparar com os processos
que ocorrem na floresta, e aplicar esses processos
em nossas agroflorestas, de maneira respeitosa.

Para simplificar, é como copiar o “dever de casa”


que é feito pela natureza nas florestas e aplicar em
seus plantios, respeitando a vida que já está no
ambiente em que você está inserido e co-criando
a sua realidade de solo, de clima e outros fatores
biológicos ou não.

05
A amplitude da observação vai desde as
macroestruturas das florestas, até os menores
detalhes de cada local, como a fauna do solo.
Observando a área em que vamos trabalhar é
possível realizar algumas perguntas, que
apresentamos a seguir:

COMO É A LUMINOSIDADE NO LOCAL AO


LONGO DO DIA?

QUAL A POSIÇÃO DO TERRENO COM


RELAÇÃO AO “CAMINHO” DO SOL?

06
QUAL A DIREÇÃO PREDOMINANTE
DO VENTO?

O SOLO ESTÁ COMPACTADO?

07
QUAIS AS ESPÉCIES QUE
JÁ ESTÃO NO LOCAL?

DAS ESPÉCIES QUE ESTÃO


NO LOCAL, QUAIS ESTÃO
MAIS VIGOROSAS?

O SOLO ESTÁ VIVO? POSSUI


MINHOCAS, BESOUROS E
OUTROS INSETOS?

08
Esta prática será fundamental para que você
consiga realizar as outras 9 práticas seguintes, é
um norte para te direcionar no seu objetivo de ter
uma agrofloresta produtiva.

Um exemplo básico que será mais detalhado


neste E-book, é o de cobertura de solo na maior
quantidade possível, pois o solo de uma floresta
possui uma grande camada de matéria orgânica,
que o protege da erosão e mantém mais água no
local. A partir disso, buscamos produzir a maior
quantidade possível de material para cobrir o solo,
no próprio local.

Estudando as florestas conseguimos perceber que


elas não são um sistema estático, parado e sim
um sistema dinâmico e vivo! Esse estudo fica
ainda mais claro quando observamos uma clareira
na floresta, onde algumas árvores caem e o Sol
ilumina com mais intensidade, fazendo a vida
brotar em resposta.

09
Com a intensidade da luz mais presente, novas
plantas que ali estavam começam a nascer, de
diferentes espécies e com diferentes necessidades
elas crescem juntas e companheiras com novas
plantas trazidas pelo vento e pelos animais para
renovar a vida naquele ponto da floresta. Esse
processo é similar a um pulso do coração, ou uma
respiração no corpo do organismo “FLORESTA”.

Na clareira podemos observar uma grande


camada de folhas, galhos e troncos sobre o solo e
o pulsar da vida em diferentes níveis, cada um
cumprindo sua função dentro daquele ambiente,
fazendo o “dever de casa” e contribuindo para a
complexificação do nível de vida naquele local.

O que citamos acima são algumas, da infinidade


de aprendizados que podemos ter a partir da
prática da observação. Como o nosso professor
Ernst diz: “somos parte de um sistema inteligente
e não os seres inteligentes”, nós podemos
observar e aprender com o livro da natureza, e
10
assim, acertar mais em nossos plantios e obter
como resultado boas colheitas com maior geração
de vida.

Além da observação, o Respeito é indispensável


para uma boa prática agroflorestal. Devemos
respeitar todas as formas de vida deste planeta,
onde todos os elementos se relacionam e, de
maneira interdependente, cumprem suas funções
ecológicas contribuindo para o aumento da
dinâmica de vida nos ambientes.

Todos, inclusive as “Ervas daninhas” e “pragas e


doenças” têm uma função a cumprir no equilíbrio
dos sistemas, a nós cabe estudar e compreender
quais as fragilidades que elas indicam nos nossos
plantios, e nos antecipar realizando o trabalho que
seria delas por natureza.

Estes organismos, chamados assim, são na


verdade nossos professores e professoras, pois
indicam que a planta não está bem. É quando nos
é dada a oportunidade de aprender o que é
preciso para deixar as plantas bem naquele local.
Mudando o nosso olhar, eles passam para a nobre
função de serem bioindicadores da qualidade do
sistema vivo daquele local.

Nós, seres humanos, podemos compreender os


"porquês" das interações que os insetos e fungos
têm na natureza e em nossas plantações.

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Deixando o medo de lado e respeitando o
trabalho destes seres vivos, nós temos a condição
de trabalhar junto, e não contra eles, contando
assim com um batalhão de “técnicos agrícolas”
altamente sábio e constante nos deveres.

Um exemplo clássico que nosso olhar pode


mudar é o seguinte: Lagartas aparecem de forma
sistemática em um pé de couve na sacada do
prédio, ou área aberta pequena em uma
residência urbana. Geralmente o primeiro
pensamento é: “Como eu vou matar a lagarta?”
quando na verdade deveríamos pensar: “Porque
essa largarta apareceu na minha couve?”.
Possivelmente a couve descrita no exemplo não
está bem de saúde por alguns motivos:

Vive com uma quantidade de luz , que não é a


mais adequada para a sua espécie;
Excesso, ou falta, de nutrientes que são
necessários para a sua espécie;
Falta de vida ativa no solo;
Excesso, ou falta de água.

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A teoria da trofobiose de Francis Chaboussou fala
que as plantas com nutrição equilibrada atraem
menos insetos predadores, pois elas conseguem
ter moléculas maiores de aminoácidos, enquanto
os insetos predadores preferem se alimentar das
móleculas pequenas. Em resumo: A “alimentação”,
ou nutrição das plantas reflete no seu
crescimento, na qualidade de seus frutos e na
saúde geral da planta.

Portanto, o “combate frio” e sem reflexão do


“sentido maior” da existência dos insetos, fungos e
outros seres do solo reflete um pensamento de
Guerra. Precisamos reconhecer que só com a Paz
nós poderemos alcançar a riqueza verdadeira e,
nesse sentido, o respeito é fundamental.

Cada planta teve origem em um lugar deste


planeta, e esse conhecimento chamado origem
ecossistêmica é fundamental para nos dar o norte
de qual a melhor direção o nosso trabalho deve
seguir para que aquela planta esteja sadia e se
sinta bem, ou ainda, saber onde não é inteligente
plantá-la.

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Cada planta tem suas necessidades de luz, água,
elementos e nutrientes do solo e características
próprias que possibilitam que ela expresse o
máximo da sua genética. Quando buscamos
reproduzir as características ambientais do local
de origem das plantas no planeta é uma ação de
respeito à vida daquele ser.

Neste e-book você vai compreender como


podemos identificar estas características para
poder respeitá-las em nossos plantios.

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PRÁTICA 2
PLANTE COM BIODIVERSIDADE
E DENSIDADE
A natureza só planta floresta com biodiversidade.
A biodiversidade é a chave para o equilíbrio dos
ecossistemas. Além do aumento da resiliência, a
alta diversidade com densidade, permite que a
competição seja o motor do grandioso processo
de cooperação que existe nas florestas.

Se observarmos com atenção uma floresta,


veremos que centenas ou milhares de espécies se
desenvolvem juntas de tal modo, que é possível
afirmar, que formam um “corpo florestal". O uso
da palavra “corpo” neste contexto é proposital e
exige de nós uma profunda reflexão. Este corpo é
formado por células, órgãos e sistemas, que
dependem uns dos outros mesmo cada um
fazendo o seu próprio trabalho. Plantios de uma
só espécie de planta (monoculturas) não formam
um “corpo”.

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A renovação constante das florestas e seu
desenvolvimento é realizada por plantas que têm
cada uma: um tempo de vida (estágio de
sucessão) e uma necessidade de luz (estratos)
diferentes umas das outras.

De maneira simplificada podemos dizer que as


plantas que vivem menos “preparam o terreno”
para as que vivem mais, em um ciclo que sempre
fica mais vivo e complexo.
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A densidade é a quantidade de plantas em
determinado espaço (1m² de floresta, por
exemplo). As florestas naturais se formam com
alta densidade de plantas e seres vivos para
garantir o máximo aproveitamento da luz do Sol e
da capacidade de expressão genética em todos os
momentos.

A densidade reflete a expressão da Natureza de


sempre buscar otimizar a fotossíntese, com várias
plantas captando a luz do sol e traduzindo em
matéria e água.

Por isso, sempre fazemos um plantio com


densidade de plantas muito maior do que aquela
que desejamos obter, permitindo que a
característica genética de cada semente e muda
se expresse, e elas escolham entre si quais são as
melhores plantas para reflorestar aquele lugar,
naquele momento.

Uma das vantagens de se plantar em alta


densidade é ter segurança de, caso algumas
plantas morram por ação de insetos ou outras
“doenças”, não faltem elementos para formar um
corpo florestal no local.

Um exemplo simples é um plantio de eucalipto


em monocultura: Uma das etapas mais sensíveis
na operação é o controle de formigas, pois quando
elas encontram a terra completamente

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desprotegida e revirada pelas máquinas, o
primeiro trabalho delas é trazer matéria orgânica
para o solo para permitir o início da regeneração…
acontece que a única fonte de material que elas
encontram são as próprias mudas de eucalipto,
porque todo o resto foi retirado.

Se as formigas cortadeiras podam o eucalipto e


ele não rebrota, tem-se que replantar aquela para
evitar falhas no plantio. E para evitar isso são
usados inseticidas altamente tóxicos para todas as
formas de vida, inclusive as pessoas que estão no
local aplicando.

Sob o pensamento de uma agricultura de Paz


podem ser plantadas outras espécies junto do
eucalipto, como por exemplo: mogno africano,
jatobá, caju, e espécies de adubação verde, entre
outras. Isso é respeitar o ímpeto e a necessidade
das plantas de crescerem juntas com
companheiras diferentes, o que aumenta a
chance de que o organismo florestal prospera
naquele local.
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Quando utilizamos esse princípio em sistemas
agrícolas, essa biodiversidade se reflete em
Segurança alimentar pois ao se diversificar a
produção agrícola de um local, se reduz o risco de
grandes perdas agrícolas frente às mudanças
climáticas, pois mesmo que determinada cultura
morra, se tem às demais culturas que foram
plantadas juntas.

Ter o direito de escolher o que manejar é uma


prática que é conquistada quando trabalhamos
com biodiversidade em nossos SAFs. Para que
esse princípio funcione em plantio agrícolas é
necessário um bom planejamento e um
calendário anual de manejo, que inclua capinas
seletivas bem feitas e podas de elementos do
sistema de acordo com a necessidade e a
expressão vegetal daquele local. Os manejos são
feitos após minuciosa observação do
desenvolvimento do sistema, com objetivo
acelerar a formação do “corpo florestal” e a
restauração da vida do solo.
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Quando plantamos em alta densidade e com
biodiversidade os benefícios refletem no solo. As
raízes de diferentes plantas abrem caminhos para
passar a água e ar, o que melhora a porosidade e
também propicia um ambiente mais favorável
para que a vida possa prosperar no solo.

Uma prática que podemos ter diante do que foi


abordado é que para cada árvore que queremos
ter naquele local, nós plantamos no mínimo 10
vezes mais árvores para garantir e permitir a
seleção natural, onde

“A que melhor pode, possa!”


Ernst Götsch

Para que essa prática seja incentivada, e mais


viável do ponto de vista econômico, é altamente
recomendado que a maior parte das árvores
sejam plantadas por sementes em técnica de
plantio direto, o que representa um custo inferior
ao plantio de mudas.

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PRÁTICA 3
PLANEJE BEM SEU PLANTIO
Um bom planejamento de plantio envolve muitas
variáveis ligadas às características ambientais,
histórico de uso, estrutura disponível e foco de
produção do plantio, que são específicos de cada
local.

Mostraremos aqui alguns pontos que podem


facilitar o seu planejamento de um sistema
agroflorestal:

A busca pelo conhecimento qualificado sobre os


sistemas agroflorestais é um passo importante
para que o agroflorestor(a) possa fazer o seu
planejamento de forma adequada. Como o Ernst
diz “o conhecimento é o principal insumo”,
portanto buscar este conhecimento passa a ser
indispensável para compreender os motivos dos
passos que serão trilhados.

21
Conhecer o calendário agrícola de sua região: ano
agrícola normalmente se inicia com a chegada
das chuvas em locais onde esse período maior
definição de sazonalidade no período chuvoso
anualmente.

No Brasil, na maior parte do território, temos a


chegada das chuvas em meados do mês de
outubro, na primavera. Todo o planejamento deve
ser pensado e alinhado para que o plantio
agroflorestal seja feito no momento mais
adequado do ano na sua região.

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Ter todos os materiais necessários para um bom
plantio de uma agrofloresta produtiva e biodiversa
é um grande desafio, principalmente quando se
está plantando a primeira agrofloresta. Se sua
intenção é plantar no início das chuvas, a
preparação deve começar com, pelo menos, seis
meses de antecedência. Aqui vão algumas dicas
de materiais e atividades que precisará:

Coleta de Sementes

Durante a seca (estiagem), principalmente no seu


final, muitas árvores lançam anualmente
toneladas de sementes de forma gratuita. Neste
período devemos nos organizar e estar
preparados para coletar sementes no campo e na
cidade. Dê preferência por sementes de espécies
nativas e exóticas adaptadas ao ambiente que
você está querendo plantar;

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Compra de Mudas

Faça uma lista com os contatos dos


viveiros da sua região e até de
outras regiões, caso o frete seja
viável, para solicitar orçamento das
mudas que precisará adquirir.
Quando encomendadas com
antecedência é possível conseguir
valores com desconto e garantir
mudas selecionadas em melhor
condição. Mudas de qualidade são
essenciais para uma boa
agrofloresta e mudas velhas, com
raiz enovelada e sem procedência
sanitária adequada devem ser
evitadas ao máximo. Priorize
plantar mudas de tubete ou
paperpots biodegradáveis

Compra de Insumos

Da mesma forma que as


mudas, compre insumos
autorizados pela agricultura
orgânica, com resultados de
eficiência comprovados.
Principalmente, observe a
qualidade dos pós de rocha e
dos estercos. Utilize esterco curtido, procure saber
se o esterco possui sementes de plantas
espontâneas indesejadas como a tiririca, para
evitar retrabalho posterior;
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Aquisição ou aluguel de maquinário

Ao realizar o planejamento de sua agrofloresta,


coloque no papel as atividades necessárias de
preparo e manejo da área e faça as contas se é
melhor comprar ou alugar máquinas e
implementos para a sua SAF. Tenha atenção na
qualidade do maquinário e nas manutenções
necessárias para o bom funcionamento. Lembre-
se que se for alugar, procure reservar o aluguel
previamente, pois na época de plantio outras
pessoas podem alugar as máquinas primeiro e
estar sujeito à contratempos no planejamento.

Mão de obra

Contar com mão de obra capacitada é um dos


principais limitantes do trabalho com SAF's. Nesse
sentido é importante buscar colaboradores que
estejam abertos a receberem treinamentos, ou
seja, que queiram se capacitar de acordo com as
necessidades de plantio e manejo que virão.
Primeiro, capacite-se, e procure conhecer mais das
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técnicas agroflorestais, por meio de livros, cursos e
também da prática de campo, isso facilitará na
transmissão do conhecimento para as pessoas
que vão trabalhar com você. Saiba que as
agroflorestas são feitas por pessoas e que
demandam muito trabalho manual e semi-
mecanizado, tanto na implantação, quanto no
manejo. Isso pode ser um problema para alguns,
mas pode muito bem ser a solução, gerando
emprego, renda e sentido de pertencimento ao
território.

Essas atividades são importantíssimas de serem


feitas de forma adequada e no tempo certo. Faça
um bom planejamento prévio para quantificar o
número de pessoas necessárias para implantar e
manejar o seu sistema ao longo dos anos.
Sabemos que a agrofloresta precisa ser visitada,
observada constantemente e que o entendimento
do sistema se dá com o tempo e a prática
agroflorestal.

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PRÁTICA 4
CONHEÇA BEM SEU SOLO
O solo é a base dos nossos plantios. Através do
solo temos a sustentação de nossos plantios.
Quando observamos o solo podemos vê-lo apenas
como terra, um substrato onde as plantas vivem,
que somente adubar as plantas e assim elas
crescem e produzem. Mas será que o solo é
somente um substrato onde colocamos adubo e
pronto as plantas crescem?

Quando observamos um solo de floresta, vemos


que ele é muito mais do que um simples suporte
das plantas ele é vivo e uma parte indissociável do
“corpo” da floresta. Trabalhar a favor da natureza e
construir um solo vivo é nosso objetivo.

Em geral, o solo é composto pelos aspectos físicos,


químicos e biológicos. A parte física do solo refere-
se de modo simplificado à textura do solo e isso
resulta se o solo é de textura argilosa, média ou
arenosa.
27
Conhecer essa característica é importante para
tomada de decisão nas atividades de preparo da
área a ser trabalhada.

A composição química do solo diz respeito à


composição mineralógica que varia de acordo
com o material de origem da rocha que aquele
solo foi originado. Essa composição de minerais, a
quantidade de elementos químicos que o solo
contém e a disponibilidade varia muda conforme
o tipo de solo, se é mais arenoso ou argiloso, se é
de baixada ou topo de morro, com a região e o
histórico de uso da área.

Cada solo é único, heterogêneo e suas


características podem variar em poucos metros.
Ele está coberto? Qual a quantidade e tipo de
matéria orgânica cobre o solo? Qual a cor das
diferentes camadas? Qual textura seco e qual a
textura molhado? Possui rochas e/ou pedras? Ele
se compacta facilmente? Fica alagado ou
encharcado em alguma época do ano?

Depois de conhecer e analisar o solo vem a


importante pergunta: Qual a relação deste solo
com a vegetação que está presente? e a principal:
O que eu posso fazer para melhorar a qualidade
deste solo?

Essas observações servem de base para tomada


de decisão no planejamento de sua agrofloresta.

28
Na decisão do local mais adequado, da escolha
dos insumos, das etapas de preparo de solo e na
escolha das melhores espécies, por exemplo.

Uma ferramenta muito importante na tomada de


decisão de um agricultor é a análise de solo que
auxilia em conhecer melhor as características dos
solos e fugir das receitas genéricas de adubação.
Aplicar insumos de maneira inadequada pode
gerar percalços no desenvolvimento de seu
plantio, que resultam em gastos desnecessários
para corrigir os erros e dificultando resultados
satisfatórios.

Saber a quantidade recomendada de esterco, pós


de rocha, calcário, gesso e outros possíveis
insumos facilita o planejamento e a obtenção de
bons resultados econômicos. É importante
lembrar que o trabalho de SAFs sintrópicos
propostos por Ernst tem como objetivo reduzir a
dependência e a utilização de adubos e insumos
externos. Isso só é possível pela estruturação de
um solo vivo, com alta ciclagem de nutrientes por
meio de podas e roçagens sistemáticas e
planejadas.

Podemos entender que as plantas são um


espelho do solo, e nós podemos olhar nesse
espelho e enxergar como as nossas ações como
agricultores são refletidas naquele momento.

29
Sabemos que cada ser tem uma função no
sentido de melhorar aquele ambiente,
conhecendo sua função podemos utilizá-las como
bioindicadores. Mas como podemos aplicar isso na
prática?

Por exemplo, existe uma planta conhecida como


guanxuma (Sida rhombifolia L.) que geralmente
cresce em solos compactados, e a sua raiz possui a
capacidade de atravessar camadas de solo duro. A
partir disso, podemos compreender que uma de
suas funções é a de melhorar a porosidade do
solo, descompactá-lo para que no futuro plantas
que exigem solo aerado possam crescer bem na
área. Então, quando estamos em uma área com
guaxuma, podemos supor que existe uma alta
possibilidade daquele solo estar compactado,
porque as plantas não aparecem sem uma “razão”
e devemos estar alertas para que essa operação
no preparo de solo seja adequada.

Outros exemplos de plantas bioindicadoras


indicam níveis de fertilidade do solo, faixa de
acidez, compactação subsuperficial, excesso de
nitrogênio, solos alagados, e/ou solos pedregosos.
Também podemos observar sinais de deficiência
nutricional, por meio de sintomas nas folhas, nos
caule e no desenvolvimento. Insetos também
podem ser bioindicadores, por exemplo os cupins
da terra e formigas cortadeiras significam que o
solo está compactado e com pH ácido.

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Sabemos que existem plantas consideradas como
“exigentes”, isso significa que elas só se
estabelecem e produzem adequadamente em
locais de alta fertilidade relativa. Quando nos
encontramos com plantas exigentes produtivas
em um local, podemos presumir que o solo tem
uma fertilidade alta.

Observe, observe de novo, estude e avalie um


pouco mais para conhecer bem o seu solo!! O
sistema é o inteligente, ele é o reflexo do solo.

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PRÁTICA 5
PREPARE BEM SEU SOLO
Atenção com o solo é fundamental. Algumas dicas
podem fazer a diferença na condução do seu
plantio. Como abordado na prática anterior,
conhecer bem o seu solo auxiliará nesta prática de
preparo de solo. Mas o que é preparar o solo?
Preparar o solo para receber o plantio que será
feito, para receber as sementes, estacas e mudas
que serão plantadas nas linhas, um plantio novo
precisa de cuidados equivalentes à um bebê
recém nascido: atenção, cuidado e amor!

Em geral, SAFs são implantados em áreas abertas


e, muitas vezes, com algum nível de degradação
do solo. Solos nesta condição apresentam baixos
teores de matéria orgânica, pH baixo e alguns
nutrientes pouco disponíveis ou até indisponíveis,
estão compactados e com pouca atividade
biológica. Por outro lado as principais culturas
utilizadas em sistemas agroflorestais no Brasil são
plantas plantas de sistema de abundância com
alta quantidade de matéria orgânica, com grande
quantidade de nutrientes disponíveis devido a alta
atividade biológica (minhoca, insetos, fungos,
bactérias…) e a terra está fofa, descompactada,
onde a água pode infiltrar e as raízes crescerem.

Então como vamos produzir nossas hortaliças e


frutas exigentes em um contextos de solo
degradado? Um dos passos é realizar um preparo

32
adequado do solo, com o objetivo principal de
fornecer as condições mínimas para que a
biologia do solo possa prosperar e cumprir sua
função dentro daquele ambiente e, assim,
diminuir a necessidade de adubação ao longo dos
anos.

Ao verificar que a terra está dura, densa, que a


água não infiltra com facilidade e que as raízes das
plantas terão dificuldade para penetrar e
aprofundar nas camadas do solo, podemos
constatar que existe um nível de compactação
(em geral isso ocorre mais em solos argilosos,
porém também pode acontecer com solos
arenosos). Em terras que anteriormente foram
utilizadas como pastagem por muitos anos e/ou
como local de movimentação de grandes
máquinas agrícolas é de se esperar que o solo
esteja compactado, principalmente nos primeiros
20 cm de profundidade.

Descompactar o solo significa quebrar essas


camadas mais duras para facilitar a infiltração de
água e ar. A compactação do solo impede que a
água infiltre e permeie camadas mais profundas e
por consequência atrapalha o desenvolvimento
das raízes que podem demorar anos para romper
camadas duras e isso pode atrasar os resultados
da produção de sua agrofloresta. É possível
descompactar o seu solo de maneira natural,
utilizando plantas que possuem raiz pivotante
capaz de quebrar as camadas compactadas,

33
porém este trabalho é lento e, nem sempre, tão
eficiente como realizar a descompactação de
forma mecânica.

A descompactação mecânica, pode ser feita


manualmente com o uso de ferramentas como
enxadão e picareta. Normalmente nos SAFs esse
tipo de atividade é realizada somente nas linhas
de plantio e se dá seguindo se seguintes etapas:

1.Demarcação das linhas de plantio e da largura


dos canteiros;

2.Retirada de alguma palhada ou matéria


orgânica que está sobre a linha demarcada, para
evitar que essa seja incorporada no solo;

34
3.Bater o enxadão sobre o solo no sentido da
linha, puxar a camada de terra superficial
quebrada para trás de forma organizada.
Aprofundar até 40 cm de profundidade é o ideal;

4. Evitar misturar a terra do horizonte A (camada)


de 0 a 20 cm com o horizonte B de 20 a 40 cm de
profundidade;

5.Se possível realizar essa descompactação na


largura total dos canteiros;

6.Caso necessário utilize a picareta ou chibanca


para facilitar o processo;

7.Se houver pedras grandes retire-as da linha de


plantio.

Esse tipo de descompactação utilizando enxadão


e picareta é mais utilizado em áreas menores,
como em quintais, pomares e hortas
agroflorestais. Pois é uma atividade praticamente
inviável de se realizar em áreas um pouco maiores.

35
Quando aumentamos um pouco o tamanho da
área, podemos realizar a descompactação da
camada superficial utilizando o tratorito ou
microtrator com uma enxada rotativa.

A enxada rotativa consegue descompactar essa


camada de 0 a 20 cm muito bem em solos
arenosos, para solos argilosos essa
descompactação é mais dificultosa. Então se
possível utilize um microtrator (tobata) que
possua uma potência maior.

Um ponto interessante é que essas máquinas são


ótimas para realizar a demarcação das linhas de
plantio, porém a sua área útil de descompactação
é pouca, se fazendo necessário o uso de enxadão
ou picareta para aprofundar mais.

Também é possível realizar essa com máquinas


maiores, como trator acoplados com uma haste
subsoladora, e existem alguns implementos atuais
que reuniram uma haste subsoladora acoplada a
uma enxada rotativa. Em alguns casos é possível
realizar uma gradagem inicial para descompactar

36
a área total, plantando as linhas e entrelinhas no
mesmo momento. Normalmente a
descompactação é feita apenas uma vez, no
momento da implantação, evitando o
revolvimento do solo novamente.

Queremos que o nosso solo se estruture a partir


do bom manejo e do aporte constante de matéria
orgânica, até formar uma estrutura de agregados
grumosos, poroso, com alta atividade biológica.
Após a descompactação é o momento de realizar
a adubação e aplicação de calcário, gesso outro
remineralizadores com base nas quantidades
estimadas pela interpretação da análise de solo

Após a aplicação é feita a incorporação desse


material, que pode ser com enxada ou com uso de
maquinários.

37
A utilização de calcário para elevar o pH e diminuir
a acidez, principalmente em solos com pH abaixo
de 5, é importantíssima para um bom resultado,
pois solos ácidos possuem uma alta quantidade
de alumínio disponível para as plantas. O alumínio
inibe o crescimento das raízes, e torna alguns
nutrientes indisponíveis para a absorção, como o
fósforo, por exemplo.

O calcário necessariamente precisa ser


incorporado em camadas de 0-20 cm, se ele for
aplicado e não incorporado, o material ficará sob a
superfície do solo e sua dosagem será excessiva, já
que os cálculos são para uma camada de 20 cm.

Após todos esses passos o local está pronto para


receber o plantio e em seguida receber a
cobertura de solo. Caso você não vá plantar logo
em seguida, recomendamos cobrir o solo com
matéria orgânica, pois o solo exposto está sujeito à
compactação por ação de chuvas, ressecamento
pela luz direta do Sol e por ventos e também
perda da adubação que foi utilizada por lavagem
(lixiviação) ou por volatilização (estercos).
38
Uma prática interessante no preparo de solo é a
utilização de insumos enriquecidos com
microrganismos, como é o caso dos compostos
bokashi, que são compostos orgânicos inoculados
com microrganismos benéficos. Como o nosso
objetivo é reestruturar a vida do solo, a inoculação
de microrganismos acelera ainda mais esse
processo de construção de biologia do solo. Essa
aplicação também pode ser feita com
microrganismos isolados logo após o plantio.

A seguir temos dicas importantes para o bom


preparo de solo:

Tenha atenção à declividade da área! Quando


necessário, realize o preparo das linhas
seguindo as curvas de nível do terreno;

Evite entrar com máquinas logo após fortes


chuvas (principalmente em solos argilosos),
nesse momentos é inviável realizar alguns
processos de descompactação e a combinação
de solo úmido com o peso das máquinas pode
resultar em uma compactação no local onde
as rodas do trator passam;

Observe se a aplicação dos insumos está sendo


feita de maneira uniforme, sem excessos em
alguns pontos e falta em outro ponto da área;

Anote o planejamento do passo a passo


necessário para um bom preparo de solo,
colocando previsão de datas para cada
atividade;
39
Em solos muito degradados, um bom preparo
de solo consiste em realizar uma adubação
verde prévia e deixar o solo “descansando” e
criando condições de biologia por no mínimo
um ano, antes de realizar o plantio;

Seja criterioso na utilização dos insumos, saiba


que o excesso ou a falta compromete o bom
desenvolvimento das suas plantas. E que o
objetivo da Agricultura Sintrópica é diminuir o
seu uso ao longo dos anos, usando no
momento do plantio e focando no incremento
da biologia do seu solo.

Retire algumas plantas espontâneas


indesejadas que possam brotar em cima dos
canteiros, como é o caso de tiririca, trapoeraba,
raízes de brachiaria, pois mesmo com o solo
coberto elas têm uma alta capacidade de
rebrota e de enraizamento. Após capinar ou
passar a enxada rotativa, rastele o material e
coloque-o sobre uma lona para secar para que
posteriormente possa ser utilizado como
cobertura de solo.

Prepare o solo com o pensamento que o seu


sistema será implantado, receberá mudas,
sementes e estacas, similar a um berço e deve
ser o mais bem feito possível para não precisar
fazer novamente.

40
PRÁTICA 6
PLANTE COM SABEDORIA
Quando buscamos entender e replicar os
processos que ocorrem na floresta, estamos
usando melhor o que a natureza nos ensina. Esses
processos naturais são o próprio fluxo da vida
neste planeta e tem um porquê de existirem em
conjunto. Como já mencionado anteriormente, o
plantio em biodiversidade e densidade traz
muitos benefícios.

Normalmente no primeiro contato com Sistemas


Agroflorestais muitas pessoas pensam que um
sistema denso e cheio de plantas é
“desorganizado”, e nesta prática vamos mostrar
que tudo tem uma ordem e uma razão dentro do
nosso planejamento, começando pela forma de
preparo dos canteiros, das estacas, organização
das sementes e das mudas e, principalmente o
posicionamento das plantas de forma a direcionar
o crescimento em um design que faça sentido.
A seguir apresentamos alguns exemplos de como
plantar com sabedoria:

41
Formato do canteiro:

Após o preparo do solo, a descompactação das


linhas de plantio e uso de insumos, existe uma
etapa importante que é a delimitação da largura e
formato dos canteiros. Nessa etapa utilize trena,
linha e estacas para que os seus canteiros de
plantio sejam da mesma largura e retos. Você
também pode fazer uma marcação na enxada
para utilizá-la como régua durante os trabalhos.

Um ponto de observação importante é o formato


dos canteiros. Quando pensamos em canteiros,
normalmente pensamos em hortas convencionais
com canteiros retangulares e altos, ou ainda
convexos (formato de morro). Quando os canteiros
estão nesses formatos citados, observamos
dissipação e perda de parte da energia, pois a
água de irrigação ou das chuvas tende a ir para as
laterais e não em direção às raízes das plantas,
levando junto parte dos nutrientes.

42
Os canteiros Agroflorestais, na maior parte dos
casos, são côncavos (em formato de bacia), onde
as laterais são levemente mais altas do que o
centro do canteiro. Esse formato direciona a água
para o centro do canteiro, onde estão as raízes das
plantas. É uma forma de concentração de energia.
Quando são plantadas hortaliças, principalmente
raízes como cenoura e beterraba, esse canteiro
pode ser um pouco mais alto, mas mantendo o
formato côncavo.

Esses detalhes vêm da observação, e não


significam que uma forma de canteiro é melhor
que a outra, na imensa maioria dos lugares os
canteiros são côncavos porque queremos
concentrando água e recursos nas raízes das
plantas, a única exceção são em áreas
encharcadas e brejosas onde priorizamos
canteiros convexos (em formato de morro),
justamente para que sequem e as raízes das
árvores não fiquem submersas. Esse é um
exemplo de como a identificação de padrões
naturais, e sua aplicação, pode acelerar nossos
resultados nos SAFs.

Preparo e plantio de ramas de mandioca:

Um ponto que merece destaque é o preparo e


plantio de ramas de mandioca. Na agricultura
convencional as ramas são plantadas deitadas e
no tamanho médio de 15 cm. Para nossa
agrofloresta, que é um sistema biodiverso, é
necessário considerar alguns detalhes: Quando
plantamos as ramas deitadas nas linhas, para qual
direção as raízes da mandioca vão crescer? E no
momento da colheita qual o efeito desse
crescimento?
43
Quando for colher as raízes elas ficam muito
juntas das raízes das outras plantas da linha?
Podemos fazer diferente?

Conhecer as características das ramas é um bom


passo. Cada rama, possui a parte inferior (pé) que
é mais próxima da raiz e geralmente é grossa e
possui os “nós” (espaço entre as gemas de
brotação) mais distantes. A parte superior (cabeça)
é mais fina e próxima das folhas da mandioca,
possui um espaçamento menor entre os “nós”.
Também existe a parte que refere-se ao terço
médio, onde existe um espaço médio entre “nós”
e um diâmetro mediano.

Dê preferência ao terço médio das ramas para


realizar os plantios, escolha ramas que foram
retiradas a pouco tempo, evite ramas ressecadas e
finas. Ao obter suas ramas, organize um espaço
para que possa prepará-las.

Quando o corte for feito de


facão, recomendamos bater
ele levemente de um lado da
rama e em seguida do outro
lado para quebrá-la sem
rachar. A melhor forma de
evitar rachaduras é realizar
um corte reto com um
serrote de poda.
As ramas devem ter um tamanho médio de 20 a
25 cm e em média de 6 a 8 gemas. Quando a área
for grande por ser utilizada uma serra circular ou
similar para realizar o corte com mais rapidez.
44
Após cortar as ramas, fazemos de 3 a 4 batidas
com o facão na parte inferior da rama que foi
cortada para expor o meristema e aumentar os
pontos de enraizamento da rama. Mas como
podemos identificar qual é a parte inferior?

Observe as gemas de brotação, elas ficam


localizadas logo acima de onde existia uma folha
que foi destacada da planta ao longo tempo, que
é marcada por uma cicatriz redonda e bem
evidente na rama. O lado que as gema de
brotação estão direcionadas é a “cabeça” e o lado
das cicatrizes de folhas é o “pé” da rama.

O preparo das ramas deve ser feito o mais


próximo do plantio possível para evitar que as
ramas sequem. Ernst nos ensinou uma forma de
direcionar o crescimento das raízes para fora do
canteiro, o que facilita e diminui a chance de
arrancar as mudas de árvores na colheita da
mandioca.

Nessa técnica as ramas são plantadas em um


ângulo de 45º na diagonal em relação ao solo e
com o pé direcionado para “fora do canteiro”, nas
bordas. Dessa forma as folhas da mandioca
crescerão para o centro e servirão de “sombrite”,
criando as outras espécies do canteiro com uma
45
leve sombra, e que podemos considerar um
viveiro no campo. Já as raízes crescerão para fora
dos canteiro, se afastando das mudas e sementes,
e quando é chegada o momento da colheita é
possível arrancar as raízes sem danificar as árvores
plantadas junto.

Existe uma outra técnica utilizada para proteger


mudas sensíveis do pleno sol rápido, chamamos
aqui de plantio “guarda-sol”. Nessa técnica são
plantadas 2 ou 3 ramas de no mínimo 1m de altura
que se encontram no topo formando uma
“cabaninha” na muda que se quer proteger
(abacateiro por exemplo),
46
com poucos dias as estacas brotam e começam a
fornecer sombra para a muda. É possível colher a
mandioca nessa técnica, mas não é
necessariamente o objetivo principal.

Plantio de bananeira:

A bananeira é uma espécie “chave” para a maioria


das agroflorestas. Por ter crescimento rápido,
aceitar podas drásticas no manejo, produzir
bananas que são frutos de boa aceitação no
mercado e produzir um material orgânico de alta
qualidade a partir dos cortes de seu pseudocaule.
A bananeira está presente em diversos SAFs nos
mais diferentes biomas. Para isso existem alguns
detalhes que precisam ser considerados no
plantio das mudas de bananeira.

Existem dois tipos de mudas de bananeira, as


tradicionais feitas a partir de rizoma de separado
da touceira “mãe”.

47
E mudas micropropagadas que são uma
alternativa moderna desenvolvidas em laboratório
e aclimatadas em viveiros.

As mudas micropropagadas são recomendadas


para plantios comerciais, por terem um padrão
genético controlado que resulta em um
crescimento e produção mais uniformes. Quando
escolhemos mudas micropropagadas podemos
optar por variedades com resistência ou tolerância
a doenças como sigatoka negra, amarela e mal do
Panamá.

As mudas micropropagadas ainda são produzidas


em poucos viveiros especializados no Brasil e
precisam ser encomendadas com uma boa
antecedência e, mesmo leves, resultam em um
custo com frete que pode ser inviável para
localidades muito distantes.

48
As mudas de rizomas são provenientes de brotos
de tamanho médio a pequeno que são separados
fisicamente da touceira de banana com o uso de
uma ferramenta cortante, normalmente uma
barra de ferro ou uma vanga. Elas terão a força
genética da touceira que foram retiradas, sendo
muito importante retirar mudas de touceiras que
são conhecidamente produtivas e saudáveis, pois
está sujeito de compartilharem também doenças
caso a mãe as apresente.

Como mencionamos anteriormente, é muito


importante utilizar mudas de boa qualidade e
procedência no plantio de nossos SAFs, e como a
bananeira é uma cultura sensível e exigente isso
se faz ainda mais necessário. Um dos pontos
importantes de observação quando se utilizam
mudas de rizomas é a presença de “broca”. A
broca, também conhecida como moleque-da-
bananeira (Cosmopolites sordidus) é um besouro
comum nos bananais que se alimenta dos
rizomas das bananeiras, prejudicando a produção
do cacho, tornando os pseudocaules finos e
fragilizando a planta de maneira geral.

A presença de broca pode ser verificado durante


os manejos e no momento da retirada da muda.

49
Quando esse inseto está presente podem ser
observados no rizoma pequenos canais pretos
(galerias) onde o besouro cavou. Caso você
encontre, o ideal é não utilizar essa muda, mas
caso não haja outra alternativa elas podem ser
colocadas em imersão em uma solução com água
e hipoclorito de sódio (1%) por 24 horas para matar
os besouros.

Antes do plantio as mudas precisam ser limpas.


Com cuidado retire as raízes velhas sem danificar
o rizoma. Em seguida é feito um corte de 45º para
retirar o pseudocaule, esse corte é feito 5cm a
partir do local onde ela estava ligada na “mãe”.

É recomendado que o berço tenha 40cm de


diâmetro x 4cm de profundidade, ao abrir o berço
separe a terra em duas partes: A primeira parte de

50
0-20 cm de profundidade (normalmente mais
escura e fértil) é separada da terra de 20-40 cm de
profundidade (normalmente menos escura e
menos fértil). Nesse momento podem ser
utilizados insumos como estercos e
remineralizadores de solo (pós de rocha). Parte
dos insumos vai para o fundo do berço e a outra
parte é misturada na terra de 0-20 cm.

Volte um pouco do solo de 0-20 cm misturado


com os insumos e selecione a muda a muda de
bananeira e observe ela. A região em que a muda
estava ligada à touceira não possui raízes, por isso
essa parte é colocada virada para cima, ou seja,
com as raízes para baixo e o local onde as folhas
saem ficará em um ângulo de 45 graus para baixo.

Se possível direcione a saída das folhas para a face


com maior insolação ao longo do ano, que no caso
do Brasil é a face Norte.

Com a muda corretamente posicionada dentro do


berço, inicialmente cubra-a com o solo adubado
de 0-20 cm, e pressione levemente a terra para
retirar o ar nas laterais do berço. Um detalhe é a
profundidade que a muda será plantada, isso varia
de acordo com a textura do solo, em solos
arenosos você pode plantar as mudas de 25 a 30
cm de profundidade abaixo da superfície do solo,
para que quando a planta estiver produzindo
cacho, diminua a possibilidade de tombamento.
Para solos argilosos você pode plantar as mudas a
uma profundidade de 15 a 25 cm.

51
Molhe bem o berço após o plantio, quando cobrir
a muda com terra organize a terra para que o
berço fique no formato côncavo de uma bacia
para que acumule água. Nesse tipo de plantio é
importante marcar o local com uma estaca para
saber o posicionamento, pois ela só vai emergir de
28 a 45 dias. A estaca de marcação pode ser de
uma espécie que vai se desenvolver como estacas
de amora, gliricídia, junteira, ou outras.

52
53
IRRIGUE COM PLANTAS

No planejamento de sua agrofloresta considere


plantas que possuem uma alta capacidade de
armazenar água em sua estrutura, pois elas
mantém o sistema mais úmido e diminuem a
necessidade de irrigação. Quando os SAFs são
feitos sem irrigação essas espécies passam a ser
imprescindíveis. Dentre essas espécies temos
como exemplo: Bananeira, sisal, palma forrageira,
cactos, cajazeiros, seriguela, moringa, e árvores
como paineiras, dentre outras que são resistentes
à seca e armazenam água em suas raízes.

O pseudocaule das bananeiras quando cortado ao


meio em formato de telha, pode ficar sobre o solo
por meses, fornecendo água e nutrientes
lentamente para o solo. Quando utilizar esse
material, se possível, cubra-o com palha ou outro
material orgânico para que ele fique na sombra e
demore mais para secar.

Nos sistemas sem irrigação em locais com poucas


chuvas, a palma forrageira, sisal ou piteira e cactos
podem ser utilizados cortados e acondicionados
no berços de plantio, funcionando como uma
espécie de biogel ou uma “irrigação verde”, pois
eles armazenam água com o menor aumento de
umidade relativa e depois liberam ela no solo
pouco a pouco.

54
Algumas plantas possuem uma característica
botânica conhecida como “xilopódio” que é a
capacidade de armazenar água em suas raízes
formando uma estrutura como se fosse uma
batata cheia de água, que nos momentos de seca
libera essa água para o solo e em alguns casos elas
exsudam gotículas pelas folhas no período
noturno, beneficiando as plantas ao redor.
Exemplos de plantas que formam xilopódio são os
cajazeiros, seriguela, moringa e paineiras. Dessa
forma o sistema para a seca com folhas verdes,
com maiores incidências de orvalho noturno e
com maiores associações de fungos e micorrizas
nas raízes, o que resulta em um sistema
higroscópico, que atrai água do ar e do solo.

55
PLANTANDO AS SEMENTES

O plantio de sementes precisa ser feito a partir de


um conhecimento prévio das características de
cada tipo de semente. Elas podem ser
classificadas como sementes ortodoxas e
recalcitrantes.

SEMENTES ORTODOXAS

São sementes que podem ser armazenadas por


períodos mais longos. Algumas possuem como
característica a dormência que precisa ser
quebrada para que a semente germine. A quebra
da dormência pode ser feita por meio de
raspagem, choque térmico, imersão em meio
ácido, embebição em água, dentre outras
técnicas. Então, procure saber se alguma das
espécies que vai utilizar vai precisar da quebra de
dormência. Algumas espécies que precisam de
quebrar a dormência são o guapuruvu, jatobá,
copaíba e grandiúva.

56
SEMENTES RECALCITRANTES

São sementes que não devem ser armazenadas


por um longo prazo e necessitam serem
plantadas o quanto antes. Isso acontece por
possuírem um embrião pequeno com pouca
reserva de energia ou por não serem tolerantes ao
ressecamento, por exemplo: ipê, jacarandá
mimoso, manga, cacau, seringueira e abacate.

Um detalhe no plantio de sementes: escolha


sementes com boa taxa de germinação. Algumas
sementes naturalmente possuem uma taxa de
germinação baixa como é o caso do cajá, então
plante mais sementes para que tenha a garantia
de ter o cajá no seu plantio. Observe a
profundidade da semeadura. Em regra para solos
argilosos é de 2 a 3 vezes o tamanho da semente e
para solos arenosos 3 a 4 vezes o tamanho da
semente.

57
Você pode criar organizar as sementes em grupos
de plantas para biomassa e árvores do futuro por
exemplo, ou ainda separar por tamanho de
semente para plantar em profundidades distintas.
Escolha bem as espécies, evite colocar espécies
que não vai conseguir manejar depois ou que não
faça sentido no seu plantio.

Sementes com alta taxa de germinação não


precisam ser plantadas em grandes quantidades
de cada espécie para diminuir o trabalho de
raleamento. Lembrando que o plantio em alta
diversidade e densidade de sementes reduz os
custos de plantio, quando comparado com o
plantio por mudas, especialmente para nativas.
Priorizando selecionadas mudas no caso das
espécies frutíferas e madeireiras de foco
comercial.

58
PRÁTICA 7
CUBRA BEM O SOLO
A natureza se esforça para manter o solo sempre
coberto. A vegetação e a matéria orgânica são
como a “pele” da terra. A cobertura do solo é
fundamental para a conservação de água no solo
e sua disponibilização para as plantas. Todo o
material de cobertura do solo, também servirá de
adubo para as plantas à medida que ele é
transformado pela ação dos micro e
macrorganismos que ali vivem.

Quando o solo está descoberto ele resseca mais


facilmente e a ação direta da luz solar aquece ele a
temperaturas que minhocas e outros organismos
não conseguem sobreviver. Como um dos nossos
professores diz “solo descoberto é mangueira
furada”, ou seja, se o solo estiver descoberto
estamos perdendo água do local.

59
Quando o solo está coberto ele está protegido da
ação direta da luz solar e do vento e tem uma
melhor retenção de umidade pois a matéria
orgânica é capaz de armazenar até 600% o seu
próprio peso em água . A temperatura amena e a
umidade são fundamentais para o
estabelecimento de fungos benéficos, por
exemplo as micorrizas. As micorrizas servem como
“pontes” entre as raízes de plantas diferentes e
auxiliam no trabalho de “comunicação” entre as
plantas, criando uma grande teia no solo.

O solo vivo é onde existem condições de insetos e


minhocas sobreviverem e trabalharem, trazendo
um maior equilíbrio para o ambiente. As minhocas
indicam um solo vivo e realizam um belíssimo
trabalho de melhorar a estrutura do solo criando
microcanais entre os poros do solo, fertilizando o
solo com o húmus e tornando-o grumoso e fértil.

60
Com a biologia do solo ativa e com diferentes
processos de vida ocorrendo, acontece a ciclagem
de nutrientes. Os microrganismos e
macrorganismos decompõem a matéria orgânica
e biodisponibilizam para as plantas sob forma de
moléculas diferentes e mais complexas. Quando
realizamos manejos de podas, colocamos a
matéria orgânica sob o solo organizada da forma
que se decomponha o mais rápido possível e
passe a ser o “alimento” das plantas.

Quanto mais cobertura de solo melhor, desde que


seja de diferentes tipos de material como: palhada
de capins e gramas, folhas de árvores, troncos de
madeira macia, troncos de madeira dura e/ou
material triturado. Materiais com menos carbono
e mais nitrogênio (folhas com muita água, cascas
e madeiras macias) se transformam mais rápido,
fertilizando rápido o local, mas por outro lado
cobrem o solo por menos tempo,
consequentemente. Os materiais com muito car-

61
bono demoram mais para serem transformados,
no entanto eles permanecem por períodos
maiores cobrindo o solo e oferecendo abrigo para
besouros, insetos e minhocas.

A chave está no equilíbrio entre esses materiais


para conseguir manter o solo sempre coberto e
com uma grande atividade biológica, já que cada
material demandará um tipo específico de
microorganismo para decompor. Assim
chegaremos no aumento da quantidade e
qualidade da vida que está habitando aquele solo
aumentando a diversidade de matéria orgânica
que agregamos no solo.

As madeiras são fundamentais para a construção


de solo fértil, por isso os desenhos Sintrópicos
consideram no planejamento grupos de árvores
que serão podadas com o objetivo de agregar
madeira ao solo, para fertilizar o solo com foco nas
outras culturas chave. Quanto mais cobrirmos o
solo com material lignificado (madeira), melhor
para o nosso solo e por conseguinte para as
plantas. Para decompor esse material é necessário
que a vida do solo esteja bem ativa.

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Sabemos que a cobertura do solo pode ser um
desafio para muitos agroflorestores, mas manter o
solo coberto sempre é o nosso objetivo. Conseguir
uma camada acima de 10 cm é outro objetivo.

Para iniciar o seu plantio, procure cobrir bem os


canteiros, mas bem mesmo! Quando achar que
está bom, cubra um pouco mais.

O material deve ser posicionado de maneira


organizada, dividindo o canteiro em duas leiras
que se encontram no centro do canteiro.
Seguindo a mesma lógica do canteiro côncavo,
para que a água e os minerais sejam direcionados
para o centro, como uma espiral. Também cubra o
centro do canteiro.

O solo coberto tem um outro aspecto: Diminui de


maneira drástica a necessidade de realizar o
manejo de capina seletiva das plantas
espontâneas. A cobertura de solo é uma prática
que aumenta o trabalho de implantação dos SAFs,
63
levando algumas pessoas a pensarem que é um
processo caro, porém em pouco tempo já
podemos ver a diminuição da mão-de-obra
necessária com capina dos canteiros.

Isso acontece porque o trabalho das ervas e


arbustos chamados de “pragas” é justamente
cobrir o solo, eles precisam de solo descoberto
para nascer. Quando tem uma grande camada de
matéria orgânica de cobertura a sua semente
nasce mas não enraíza com facilidade, tornando o
processo de capina bem mais fácil e, por vezes,
desnecessário.

Um solo saudável gera plantas saudáveis e a


floresta já faz esse trabalho de cobrir o solo há
milhares e milhares de anos. Podemos ver o
resultado de solos com “baixa fertilidade” natural
como os da amazônia com árvores gigantes como
samaúma, castanheiras, jequitibás e produzindo
alimentos, o que sustenta todo esse equilíbrio é a
altíssima ciclagem de nutriente por conta do
grande aporte de matéria orgânica proveniente
de folhas, galhos e troncos que caem anu

Como as práticas estão ligadas umas nas outras


podemos perceber que para conseguir cobrir o
solo sem a necessidade de trazer material externo,
você precisa plantar em alta diversidade e
biodiversidade para ter material que possa ser
podado.
64
Procure compreender a ligação de uma prática na
outra e se precisar, e for viável, trazer matéria
orgânica de fora no início e for viável, faça isso!

Sempre lembrando que o objetivo é produzir todo


o material necessário no próprio local, buscando a
Sintropia. Em casos extremos onde não há
nenhum material para começar é recomendado
realizar uma adubação verde com espécies de
ciclo rápido e esperá-las crescer, de um ano para
outro, para então iniciar o plantio do SAF.

Em grande parte das cidades, a prefeitura realiza a


manutenção de gramados e áreas verdes,
gerando um material da grama cortada, folhas
varridas e madeira cortada que pode ser solicitado
junto aos órgãos competentes. Em alguns casos
as prefeituras dispõem inclusive de trituradores de
grande porte para produzir material triturado de
altíssima qualidade. Nos casos mais extremos até
papelão industrial pode ser utilizado para iniciar
um sistema. Sejamos criativos! A restauração
ambiental não pode esperar!

Quando mudamos o nosso olhar, aquelas plantas


algumas vezes chamadas de pragas, passam a ser
potenciais aliadas: o margaridão (Tithonia
diversifolia) é um exemplo de planta que poucas
pessoas querem bem e que, quando bem
manejado, é um aliado muito eficaz na construção
de solo vivo e fértil. Cobrir bem o solo está ligado
diretamente na boa produção de sua agrofloresta.

.Lembre-se disso!!

65
PRÁTICA 8
MANEJE COM PRECISÃO
Manejar é preciso! Com muita biodiversidade e
densidade a capina seletiva, o raleamento e as
podas passam a fazer parte das atividades
rotineiras dos agroflorestores. Para manejar bem
os sistemas e conduzi-los de forma adequada é
preciso conhecimento, sensibilidade e técnica.
Conhecer bem sobre estratificação e sucessão dos
sistemas florestais é fundamental. Manejar é a arte
de colher Luz.

O sucesso de nossas agroflorestas se dá por meio


de um bom manejo, no momento certo, e da
maneira adequada para cada planta. Para realizar
essa prática, voltamos à primeira prática: a
Observação. Quando estamos dispostos a
observar o sistema, entender a dinâmica e os
processos que estão ocorrendo e percebemos que
todos os seres vivos estão trabalhando ali,
podemos nos inserir de forma harmônica e
trabalhar no mesmo sentido para atender às
nossas necessidades também. Por isso é
importante aprender a utilizar e realizar a
manutenção das ferramentas de trabalho, assim
como qual ferramenta é mais adequada para
determinado tipo de trabalho.

A capina seletiva é a primeira prática de manejo


que aprendemos nos SAFs. A capina tradicional

66
consiste em eliminar todas as plantas e ervas que
estão no local, deixando o solo “limpo”. A diferença
da capina seletiva é que nós retiramos somente
aquelas plantas que não desejamos no momento,
selecionando aquelas que podem ficar, por isso o
nome Capina Seletiva.

Isso requer conhecimento, porque para selecionar


o que fica, é preciso conhecer as plantas, qual a
função que essas plantas estão cumprindo no
sistema, o que elas estão indicando e por quanto
tempo podemos deixá-las no sistema, se elas
aceitam podas ou não. Em resumo: É preciso se
perguntar: Porque estou capinando essa planta? E
se faz sentido deixar essa planta aqui, neste
momento? Exige uma reflexão do agricultor!

Ao realizar a capina seletiva, tenha cuidado ao


retirar plantas que rebrotam com muita facilidade
como a trapoeraba, procure arrancar as plantas
pela raiz. Se retirar ela do canteiro e colocar ao
lado, ela volta a crescer com mais força. Raízes de
capins como a brachiaria também devem ser reti-

67
radas da área ou viradas para cima fora do contato
direto com o solo.

O manejo deve ser feito pensando no sistema


como um todo, pensando sempre no “corpo” da
floresta e não nas “células”. Como a nossa ação
pode beneficiar aquela área como um todo.

Existem diferentes tipos de podas: de formação de


copa das plantas, podas de limpeza, podas para
abertura de clareira, podas de renovação do
sistema, podas de estratificação e podas de
frutificação. Elas podem acontecer juntas em um
mesmo manejo, por isso é preciso conhecer a
característica de cada planta, para melhor definir
qual o tipo de poda necessária em cada
intervenção.

No momento da poda o tipo do corte que será


feito nas plantas vai refletir na regeneração
daquela ferida e na brotação da planta. Procure
realizar as podas de maneira adequada, realizando
o corte da maneira mais limpa e precisa possível e
sempre com o pensamento de querer bem ao
sistema e de renovação.

Após o manejo, o material podado, raleado ou


capinado deve ser organizado sob o solo. Quanto
menor o material mais rápido ele irá se
transformar e mais fácil é organizá-lo no local.

68
Normalmente quando pensam no resultado das
podas, as pessoas pensam em uma pilha de
galhos secos e sem utilidade, um monte de “lixo”.
Isso não existe nos SAFs sintrópicos, o material é
sempre cortado e organizado de forma que não
deixe pontas aparentes e nem buracos que
possam ser moradas de animais indesejados.

Cada planta tem a sua forma de crescimento e a


poda é a arte de como potencializar essa
expressão natural dela, seja para a produção de
frutos ou de biomassa. Conheça as características
de cada planta, se elas rebrotam bem, se podem
ser podadas de maneira drástica retirando 100%
da copa, ou não. Se podem receber poda apical ou
não. No caso das fruteiras estude bem as
necessidades de manejo e poda de cada uma
delas, existe muito material de consulta
disponível.

Os maiores manejos devem ser agendados para


épocas específicas do ano como no início e no
final das chuvas, mas também podem ser feitos
pontualmente de acordo com a fase de produção
e as necessidades de cada espécie.

Observe e respeite cada planta para realizar o


manejo de podas!

Mantenha o sistema verde e otimize a


fotossíntese!

69
Como diz o Ernst: “Pergunte à planta o que você
pode fazer para que ela se sinta bem”

Espere também o sistema acumular um certo


nível de biomassa para realizar primeiras podas e
aguarde ele rebrotar e recuperar seu vigor
vegetativo para realizar o próximo manejo e gerar
o pulso e salto de crescimento no sistema.

70
PRÁTICA 9
MANEJE COM SUCESSÃO E
ESTRATIFICAÇÃO
Na agrofloresta a maior parte das espécies são
plantadas juntas, com biodiversidade e densidade,
e cada uma desenvolve no seu tempo e ocupa o
seu espaço em busca da Luz do Sol. Portanto são
plantadas espécies de ciclo de vida curto, médio e
longo, e que ocupam todos os “andares” de uma
floresta (rasteiro, baixo, médio, alto e emergente).
Se respeitarmos estes princípios naturais e
fizermos um bom manejo agroflorestal,
otimizaremos o aproveitamento da luz do sol, dos
recursos hídricos e teremos plantios agrícolas
mais produtivos e ambientalmente equilibrados.

71
Para fazer um bom manejo é imprescindível que o
agroflorestor(a) conheça um pouco das
características de Sucessão e Estratificação das
plantas que compõem seu sistema. Para
avançarmos neste estudo é importante que se
tenha uma noção clara destes conceitos:

Sucessão Ecológica ou Natural: Sequência de


grupos de espécies (consórcios) que se
estabelecem e dominam um determinado espaço
de tempo daquele ambiente. Mecanismo pelo
qual a vida flui através do tempo, um grupo de
seres vivos cria as condições para que outro grupo
mais complexo e mais exigente em fertilidade se
estabeleça, e assim sucessivamente.

Estratificação

Organização vertical das espécies no perfil da


floresta ou de um plantio, formando “andares” ou
“estratos”, de acordo com as necessidades de luz
de cada espécie. Mecanismo natural que possibili-

72
ta o máximo aproveitamento da luz solar
incidente, onde cada andar se especializa em
captar uma faixa diferente do espectro da Luz do
Sol.

Mesmo de posse dos conceitos básicos, são


conceitos que exigem tempo e observação para
serem verdadeiramente compreendidos. A seguir
apresentamos duas tabelas com informações a
respeito deste tema, com o intuito de clarear e
auxiliar na identificação das características de
sucessão e estratificação de algumas espécies.

Quando começamos o estudo de agrofloresta, um


erro comum é pensar que a estratificação está
ligada somente à altura das plantas. Parece um
pouco estranho o Alface ser estrato alto e um café
ser baixo, por exemplo. Como foi explicado o
estrato diz respeito à necessidade de luz, e para
saber qual a quantidade ideal de luz de cada
espécie devemos estudar como é o “corpo” flores-

73
tal de seu lugar de origem no planeta e comparar
ela com as outras plantas que vivem no mesmo
espaço e no mesmo momento da sucessão
(mesmo tempo).

Ou seja, o alface é alto porque ele é uma planta


que apareceu naturalmente em clareiras de
florestas na Europa central, bem do início do
sistema quando ele é a planta mais “alta”. O café
por exemplo é uma árvore que cresce no sub
bosque de formações florestais da áfrica sub-
saariana onde naquele “corpo” florestal , existem
outras árvores que são maiores e ele está
ocupando o estrato “baixo”. Saber que o estrato é
a necessidade correta de luz de cada planta
facilita e amplia o entendimento dos Sistemas
Agroflorestais.

Quando conhecemos a estratificação e a fase da


sucessão de cada espécie que queremos
trabalhar, fica mais claro a sequência e lógica dos
manejos florestais. Aquelas espécies de ciclo
rápido que são, por conhecidas como placenta
(órgão que permite a formação de um novo
“corpo”). Elas cumprem essa função de criar as
outras espécies, mas quando é chegado o
momento que elas claramente diminuem o
crescimento e começam ficar velhas e secas
(estado de senescência) é preciso realizar o
manejo de retirada delas para que o próximo
grupo de plantas dê sequência na sucessão

74
natural, como exemplo a mandioca que após 10
meses pode ser colhida:

Nesse período ela cresceu mais rápido que todas


as árvores e cumpriu a função de sombrear e
também descompactar e melhorar a qualidade do
solo. Imaginem o que aconteceria se essa
mandioca não fosse colhida?

Ela continuaria crescendo, mas em uma


velocidade mais lenta até o ponto que começaria
a secar suas ramas e suas raízes se forneceriam
alimento para alguns seres vivos e o que sobrasse
viraria matéria orgânica para o solo. Quanto
tempo isso levaria? Um ano e meio? dois? três
anos?

Quando colhemos a mandioca ela continua


cumprindo a sua função de placenta, fornece,
suas raízes, seu terço médio são ramas para
futuros plantios e todo o material restante é
cortado e vira matéria orgânica para o solo em 10
ou 11 meses. Ou seja, nós podemos antecipar o
ciclo natural de uma planta com manejo!

A mesma linha de pensamento é utilizada para


todas as espécies dentro de um desenho
agroflorestal. Qual a velocidade de crescimento?
Qual o estrato? Quanto tempo ela vive? com
quantos anos produz frutos? Por quanto tempo se
mantém produtiva? A madeira pode ser utilizada
para outros objetivos? Como ela responde às po-
75
das?... Todas essas perguntas são fundamentais
para entender como e quando manejar nosso
sistema.

Outro exemplo: um mamoeiro, que é uma planta


do estrato emergente de ciclo de vida rápido
(placenta 2), está sombreado por outras árvores. O
que fazer? Devemos observar alguns pontos: o
mamoeiro está dentro da janela de produção
esperada para a espécie, ou está velho?Essas
árvores que estão sombreando aceitam podas?
Qual espécie é mais importante para o objetivo do
meu SAF nesse momento, o mamão ou as
árvores?

Existem, no mínimo, duas respostas para esse


exemplo:

1.Agradecer o trabalho realizado pelo mamoeiro,


cortá-lo, organizar a matéria orgânica dele no solo
para favorecer as árvores.

2.Podar e/ou cortar algumas árvores para que o


mamoeiro ocupe o estrato emergente
característico de sua espécie e produza frutos de
qualidade por mais tempo.

Neste exemplo fica claro que os SAFs não


possuem uma “receita de bolo” para ser seguida.

76
Eles exigem a nossa constante observação, exame
crítico e aperfeiçoamento para decidir qual o
melhor passo para chegar em um local com mais
vida, alimento e água.

Então, repetimos outra vez:


“O melhor insumo é o conhecimento”
Ernst Götsch

É preciso conhecer bem a sucessão e a


estratificação para nortear o nosso planejamento
de plantio, para poder acertar cada vez mais nos
consórcios também e facilitar nossas decisões de
manejo.

O resultado do manejo é um sistema com o


mínimo de hormônio de senescência, onde a
fotossíntese está sempre no seu máximo,
aumentando a quantidade de água no sistema.

CONCLUSÃO
Plante sua área experimental! Crie o seu
“laboratório” para que possa experimentar este
fantástico método de plantio, que traz muitos
aprendizados para todos aqueles que decidem
colocar em práticas o conhecimento apresentado
neste e-book. Nós da Agrosintropia desejamos
que possa ter sempre boas colheitas na sua
Agrofloresta Produtiva! Se precisar de auxílio
técnico nós estaremos aqui, prontos para te
auxiliar com os nossos serviços.

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NOSSA LOJA
A Agrosintropia Shop é um portal de vendas de
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internet. Por este motivo decidimos criar esta loja
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e a melhoria dos tratos no manejo em campo.
Pronta assistência e bom atendimento fazem
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BÔNUS
MÁQUINA, EQUIPAMENTOS E
FERRAMENTAS
Este conteúdo é um conteúdo complementar que
pode facilitar no processo de planejamento de sua
agrofloresta. Os SAF’s são feitos pelas nossas
mãos, mas as máquinas, equipamentos e
ferramentas adequadas utilizadas de maneira
correta podem influenciar muito no resultado das
atividades de preparo de solo, plantio e manejo. O
bom uso desses materiais aceleram o tempo
necessário para realizar algumas operações e
garantem que as plantas respondam bem às
nossas intervenções. Apresentaremos alguns
exemplos de máquinas, equipamentos e
ferramentas e um breve resumo de seu uso:

Tesoura de poda

É comum as pessoas realizarem podas de árvore


usando facão, podão, serrote de marcenaria e até
quebrando com a mão. No entanto, essas técnicas
não são as mais adequadas para a realização de
podas de planta, especialmente galhos finos. A
tesoura de poda é uma ferramenta essencial para
realizar um bom manejo de sua agrofloresta.
Quando se trabalha com essa ferramenta é mais
fácil de podar as plantas com um corte limpo, que
não deixe “lascas”, facilitando a cicatrização por
parte da planta. Isso está diretamente ligado à
qualidade da tesoura, no que diz respeito ao aço e
ao fio de corte.
82
Tesouras que ao realizar o corte
“mascam” e “mordem” o galho
travando, machucam a planta.
No mercado existem diferentes
modelos de tesoura de poda,
saiba escolher uma tesoura de
qualidade, com boa durabilidade,
onde a lâmina não perde o corte
facilmente, com molas
resistentes e esteja dentro da
faixa que você pode investir.
O investimento em tesoura de poda de qualidade
com certeza vai refletir na qualidade e na
velocidade do manejo, no que diz o corte nas
plantas. Claro que além de possuir uma tesoura
de qualidade, você precisa observar e estudar
bastante!
Serrote de poda

Para podar galhos de diâmetro maior também


não recomendamos usar o facão ou podão. Para
galhos que a tesoura de poda já não corta, o mais
indicado são os serrotes de poda, que são bem
diferentes do serote de marcenaria.
A principal diferença é que o corte
dos principais serrotes de poda é
na puxada, ao contrário dos
serrotes de marcenaria. Fique
atento a esse detalhe. Eles podem
ser dobráveis ou não, deve ter uma boa lâmina
para que não enferruje ou quebre facilmente.
É muito importante estar atento para realizar um
corte limpo nas plantas. Temos alguns exemplos
de vídeo no canal da Agrosintropia de como usar
o serrote de poda.
83
Coldre

O coldre é uma bainha específica para


colocar o serrote de poda, tesoura de
poda e um canivete. Usar o coldre é
opcional, porém traz uma grande
facilidade no trabalho em campo, pois
permite ter três das principais
ferramentas sempre ao nosso alcance
e inclusive trocar de uma ferramenta para outra
com grande agilidade. Também diminui a
possibilidade de perder ou esquecer as
ferramentas no campo.
Roçadeira costal

A roçadeira costal é bem utilizada em Sistemas


Agroflorestais principalmente em escalas
menores. Para SAF's recomendamos trabalhar
com roçadeiras com potência (CV) maior das que
são usadas em jardinagem em geral. Não é
recomendado usar o fio de nylon para realizar o
corte, pois o ideal é utilizar a faca que deve estar
sempre bem amolada. Se possível tenha facas, e a
cada abastecimento troque a faca ou inverta o
sentido da lâmina para mantê-las equilibradas e
com o máximo de produtividade.

84
Um corte limpo do capim resultará em brotação
vigorosa e mais rápida, estimulando o
crescimento do capim.O calendário de
manutenção da roçadeira inclui atividades que
devem ser feitas todas as vezes antes de dar
partida, atividades antes de guardar, atividades
mensais e outras de acordo com as horas
trabalhadas. Para saber mais detalhes lembre
sempre de ler atentamente o manual de sua
máquina e conversar com os mecânicos de sua
confiança para mais detalhes.

Motosserra

Uma das ferramentas mais utilizadas na


agrofloresta é a motosserra. Ela pode auxiliar e
acelerar o processo de manejo de poda e retirada
de árvores, principalmente de grandes diâmetros.
Também facilita no trabalho de picar o material
podado. A motosserra é uma ferramenta que
exige muita atenção, nós recomendamos que
tenha cuidado ao utilizar essa máquina, se
capacite, faça um curso e treinamentos
adequados para uso de motosserra. Fique ligado
nas pessoas que estão trabalhando com ela, se o
trabalho está sendo feito de forma segura, isole a
área de trabalho e trabalhe sempre com
equipamentos de proteção individual. Atualmente

85
Facão

Uma das ferramentas mais utilizadas pelos


agroflorestores é o facão. O facão é usado no
momento do plantio para preparar as mudas de
bananeira; cortar o saquinho das mudas; plantar
sementes; preparar e plantar as ramas de
mandioca, dentre outras atividades. O manejo das
bananeiras é, em grande parte, feito com facão.
Picar e organizar o material podado, seja ele por
tesoura de poda, serrote de poda e/ou motosserra
também é feito normalmente com o facão.

Também existem diversas marcas, modelos e


tamanhos de facão. O ideal é usar um facão que
tenha o tamanho aproximado da medida do seu
cotovelo até a ponta de seus dedos, quando
analisamos do ponto de vista da ergonomia de
trabalho. Mas podem ser usados facões maiores
ou menores de acordo com o trabalho a ser
realizado ergonomicamente. Existem também
facões de ponta fina e larga. É sempre importante
manter o seu facão limpo, seco e amolado para
isso é recomendado o uso de uma bainha para
manter o facão sempre ao alcance e protegido.
86
Triturador de galhos

Triturar o material podado resulta facilita no


transporte e na distribuição da matéria orgânica
nas linhas; acelera o processo de decomposição
da madeira e otimiza a atividade de manejo. No
entanto, a aquisição de um triturador depende do
tamanho da sua área de plantio. Por vezes ele
pode ficar subutilizado e o valor do investimento é
bem superior quando comparado a outras
máquinas como roçadeira, motosserra, tratorito, e
outros equipamentos com maior demanda de
uso. É preciso fazer um estudo de viabilidade de
compra do triturador.

Neste estudo você deve considerar o diâmetro de


galho que aquele triturador consegue trabalhar; o
tipo alimentação (diesel, gasolina, tomada de
força do trator ou elétrico) mais adequado para a
sua realidade.

87
Enxada rotativa + subsolador no mesmo
implemento

A enxada rotativa é um implemento amplamente


utilizado pelos agricultores na produção de
hortaliças para preparo de canteiros. É um
conjunto de facas fixas em um eixo central que
gira em alta velocidade. Com o giro e a rotação, as
facas quebram as camadas do solo
superficialmente e assim preparam os canteiros.

As enxadas rotativas comuns têm largura mínima


de trabalho de 1m e necessitam de um trator
pequeno para movê-las. Alguns modelos de
microtrator (tobata) e tratoritos também possuem
enxada rotativa com largura de trabalho mais
estreitas.

O subsolador é um implemento com hastes que


entram no solo e “rasgam” o solo em
profundidade, quebrando as camadas abaixo de
40 cm. Existem diferentes modelos de subsolador,
com diferentes quantidades, tipos e tamanhos de
hastes.
88
Conhecendo as necessidades específicas do
preparo dos canteiros para SAFs, Ernst
desenvolveu um implemento que une a enxada
rotativa com o subsolador de 3 hastes tornando
possível realizar com apenas uma operação de
trator, algo que anteriormente necessitava duas
operações com dois implementos diferentes. As 3
hastes do implemento rasgam o solo em
profundidade e também levantam levemente o
solo que será quebrado pela enxada rotativa. O
resultado é um canteiro fofo, descompactado no
mínimo a 40 cm de profundidade em toda a
largura do canteiro.

Trincha ecológica

Para plantios em grandes áreas é comum utilizar


os capins nas entrelinhas de plantio como fonte
de matéria orgânica. Nesses desenhos
agroflorestais o capim é roçado em média 4 a 5
vezes no ano e a biomassa será utilizada para
cobrir os canteiros. É possível realizar a roçada do
capim utilizando roçadeira costal com a faca bem
amolada para que o corte seja limpo e facilite a
rebrota do capim.

No entanto, após a roçada do capim, é preciso


rapidamente rastelar o material roçado e
organizá-lo nas linhas de plantio. Essa é uma
operação demorada e trabalhosa de ser realizada
manualmente. Além disso, não é bom para a
touceira que fique capim abafando-a pois ela
necessita desta entrada de luz na touceira para
rebrotar.

89
Em grandes áreas realizar essa roçada do capim
com roçadeira costal e rastelamento manual é
inviável do ponto de vista logístico e de custos
operacionais. São necessários muitos dias e mão
de obra. Podem ser utilizados as roçadeira central
e de arrasto de tratores e/ou microtratores, no
entanto esses implementos não realizam um bom
corte do capim, e não resolvem o principal ponto
que demanda mão de obra: rastelar e enleirar o
material cortado. Para resolver esse ponto foi
utilizado em algumas iniciativas agroflorestais
ancinhos de rastelar arroz movidos à trator, no
entanto eles são muito frágeis quando trabalham
em áreas de capins tipo Panicum e de qualquer
forma requerem duas operações

Atualmente os equipamentos mais indicados para


grandes áreas são as trinchas ecológicas. Esses
equipamentos foram inicialmente desenvolvidos
para manejos de entrelinhas de café, são
acopladas ao trator e seu funcionamento consiste
em cortar, triturar e posicionar o capim para um
dos lados. Tudo em uma mesma operação,
reduzindo muito tempo e mão de obra
necessários para essa etapa do manejo
agroflorestal. Exigindo apenas uma inspeção e
ajustes para que o capim fique bem acomodado e
não cubra mudas nos primeiros meses de plantio.
90
ILUSTRAÇÃO DA CAPA: Renata Siegmann
Ilustradora e agroflorestora

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