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CEI-DELEGADO

DE POLÍCIA CIVIL
2ª EDIÇÃO

ESPELHO DE CORREÇÃO DA 8ª RODADA

CEI-DELEGADO
DE POLÍCIA CIVIL
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 8ª RODADA

DURAÇÃO

22/02/2016 A 22/05/2016

MATERIAL ÚNICO
Questões Totalmente Inéditas.

ACESSÍVEL
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36 QUESTÕES OBJETIVAS
Por rodada.

2 QUESTÕES DISSERTATIVAS
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1 PEÇA PRÁTICA
Por rodada.

IMPORTANTE: é proibida a reprodução deste material, ainda que sem fins lucrativos. O CEI CEI-DEPOL
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O descumprimento dessa orientação acarretará na sua exclusão do Curso. Agradecemos pela 2016
sua gentileza de adquirir honestamente o curso e permitir que o CEI continue existindo.

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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 8ª RODADA

PROFESSORES
Henrique Hoffmann Monteiro de Castro – Coordenador do Curso e Professor de Legislação Penal Especial
Delegado de Polícia Civil do Paraná. Ex-Delegado de Polícia Civil do Mato Grosso. Professor Coordenador da Pós-Graduação em
Ciências Criminais da FACNOPAR. Professor Convidado da Escola Nacional de Polícia Judiciária, Escola Superior de
Polícia Civil do Paraná, Escola da Magistratura do Paraná, Escola do Ministério Público do Paraná e Curso
de Formação de Defensores Públicos de Santa Catarina. Colunista do Conjur. Mestrando em Direito
pela UENP. Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela UGF. Especialista em Segurança
Pública pela UNIESP. Bacharel em Direito pela UFMG. Membro do Instituto Brasileiro de Direito
Processual Penal e da Associação Internacional de Direito Penal. Assessor Jurídico da Federação
Nacional dos Delegados de Polícia Civil. Facebook, Instagram, Twitter e Periscope: profhenriqueh.

facebook.com/profhenriquehoffmann

Bruno Taufner Zanotti – Professor de Direito Constitucional e Direito Civil


Delegado de Polícia Civil do Espírito Santo. Doutorando e Mestre em Direitos e Garantias Fundamentais
pela FDV. Especialista em Direito Público pela FDV. Professor da Especialização em Direito Público da
Faculdade Estácio de Sá. Professor da Especialização da Associação Espírito-Santense do Ministério
Público. Professor de cursos preparatórios para concurso público. Cofundador do site www.pensodireito.
com.br. Colunista do site www.delegados.com.br.

Elisa Moreira Caetano – Professora de Direito Administrativo


Delegada de Polícia Civil de Minas Gerais. Professora Convidada da Academia de Polícia Civil de
Minas Gerais e da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais. Professora da Pós-graduação em
Ciências Criminais da FACNOPAR. Professor do Supremo TV. Cofundadora do Canal EM DELTA.
Especialista em Ciências Penais pela UFJF. Bacharel em Direito pelo IBMEC. Facebook e Instagram:
elisaemurillodelta / Periscope: emdelta.

facebook.com/elisaemurillodelta

Leonardo Marcondes Machado – Professor de Direito Processual Penal


Delegado de Polícia Civil de Santa Catarina. Examinador Titular da Fase Oral do Concurso para Delegado de Polícia Civil
de Santa Catarina. Colunista do Conjur. Professor Convidado da Academia de Polícia Civil de Santa Catarina, da
Secretaria Nacional de Segurança Pública, da Academia Brasileira de Direito Constitucional, da Faculdade
Cenecista de Joinville, do Centro Universitário Católica de Santa Catarina e do Complexo de Ensino
Superior de Santa Catarina. Mestrando em Direito pela UFPR. Especialista em Direito Penal e
Criminologia pelo ICPC/ULCA/UNINTER. Especialista em Ciências Penais pela UNISUL/IPAN/LFG.
Bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Página no Facebook: facebook.
com/leonardomarcondesmachado.

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Murillo Ribeiro de Lima – Professor de Direito Administrativo


Delegado de Polícia Civil de Minas Gerais. Professor Convidado da UEMG. Professor da Pós-
graduação em Ciências Criminais da FACNOPAR. Professor do Supremo TV. Cofundador do Canal
EM DELTA. Especializando em Ciências Criminais pela UNESA. Bacharel em Direito pela UEM.
Facebook e Instagram: elisaemurillodelta / Periscope: emdelta.

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Rodolfo Queiroz Laterza - Professor de Medicina Legal e Língua Portuguesa


Delegado de Polícia Civil do Espírito Santo. Coautor do livro “Manual do Delegado – Teoria e Prática”.
Professor Convidado da Academia de Polícia Civil do Espírito Santo, da Universidade de Vila Velha e
da FINAC. Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Espírito Santo. Mestrando em
Segurança Pública pela UVV. Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela UNESA. Bacharel
em Direito pela UFRJ.

Ruchester Marreiros Barbosa – Professor de Direito Penal


Delegado de Polícia Civil do Rio de Janeiro. Colunista do Conjur. Coautor do livro “As novas fronteiras
do Direito”. Professor Convidado da Fundação de Apoio ao Ensino e Pesquisa da Polícia Civil, da
Escola da Magistratura do Rio de Janeiro, da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro
e da Universidade Estácio de Sá. Doutorando em Direito pela UNLZ. Especialista em Direito
Penal e Processo Penal pela UCAM. Bacharel em Direito pela UCAM. Facebook: facebook.com/
ruchestermarreiros / Instagram e Twitter: ruchestermb / Periscope: rmarreiros.

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QUESTÕES DISSERTATIVAS

ORIENTAÇÃO: responder em no máximo 15 linhas. Procure responder com consulta tão somente
à legislação seca e com agilidade, a fim de simular a situação encontrada em prova.

ATENÇÃO: é obrigatória a utilização da Folha de Resposta disponibilizada na “Área do Aluno”,


em arquivo .doc. Se desejar redigir a sua resposta à mão, utilize o arquivo .pdf, cuja formatação
inclui as linhas para orientar melhor a escrita.

PROFESSOR: BRUNO TAUFNER ZANOTTI


E-mail: profcei.brunozanotti@gmail.com

DIREITO CONSTITUCIONAL

1. Disserte acerca da independência ou autonomia funcional do Delegado de Polícia, de


modo a apontar o seu fundamento constitucional e analisar a possibilidade de instauração de
procedimento administrativo de caráter disciplinar por órgão correcional que tenha por objetivo
único questionar decisão de natureza exclusivamente jurídica adotada pelo Delegado de Polícia
(limite de 15 linhas).

RESPOSTA

A investigação criminal no Brasil pode ser vista como uma garantia do cidadão contra imputações criminais
infundadas. É nesse contexto que se verifica a independência funcional dos Delegados de Polícia no
exercício da atividade policial, a qual possui dois fundamentos constitucionais: o princípio da separação
de poderes, no sentido da necessária autonomia do inquérito policial em relação ao processo, e o  144,
§ 4º, da Constituição Federal, por somente ser possível a Autoridade Policial cumprir a sua incumbência
funcional de apurar as infrações penais, se tiver meios de fazê-lo de forma autônoma e independente.
E isso tem impacto na atuação da Corregedoria da Polícia. As corregedorias dos Tribunais de Justiça e a
Corregedoria Nacional de Justiça não adentram no poder decisório de um magistrado; e nem poderiam,
uma vez que o magistrado possui independência funcional em relação aos demais órgãos do Poder
Judiciário. O processo penal mostrará o caminho em caso de equívoco do magistrado, sem interferência
da Corregedoria no poder decisório. Igual entendimento deve ser adotado para o Delegado de Polícia,
salvo quando existirem indícios de crimes, como corrupção ou prevaricação, que influenciaram a decisão.
Ressalta-se, por fim, que esse entendimento foi sumulado no Seminário Integrado da Polícia Judiciária da
União e do Estado de São Paulo.

COMENTÁRIO

A investigação criminal no Brasil, desde a Constituição Federal de 1988, tem ganhado importância, em

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especial por se traduzir como uma garantia do cidadão contra imputações criminais infundadas, sem
provas suficientes de autoria e materialidade para eventual ação penal.

É nesse contexto que se verifica a independência funcional dos Delegados de Polícia no exercício da
atividade policial (função de Polícia Judiciária). Apesar de existir uma lacuna constitucional sobre o tema, a
independência funcional, como fundamento da atividade do Delegado de Polícia, decorre implicitamente
do sistema constitucional vigente:

A leitura constitucional do tema indica que se a instituição Polícia Judiciária não tem autonomia orgânica,
e dificilmente irá a tê-la, a função de Polícia Judiciária exercida pela Autoridade Policial na condução
das investigações desfruta de autonomia como um imperativo decorrente de princípios constitucionais
de maior envergadura. (GOMES, Luiz Flávio e SCILAR, Fábio.Investigação preliminar, polícia judiciária e
autonomia. 2008. Disponível em <www.lfg.com.br>.)

Os autores citam como principal fundamento constitucional o princípio da separação de poderes, no


sentido da necessária autonomia do inquérito policial em relação ao processo (o que se traduz, portanto,
numa autonomia em relação ao Poder Judiciário e ao Ministério Público):

Portanto, a investigação criminal se autonomiza diante do processo, cabendo dizer ainda que em grande
parte dos casos existe inquérito policial sem a fase processual posterior, quando há arquivamento dos
autos sem oferecimento de denúncia. Por isso, o inquérito policial embora possa ser um procedimento
pré-processual, nem sempre tem essa natureza, e mesmo sendo, esta função não terá sido a única, o
que confirma a autonomia do inquérito policial em relação ao processo criminal e, por conseguinte, a
autonomia da Polícia Judiciária em relação àquela condição de mera auxiliar do Poder Judiciário. (GOMES,
Luiz Flávio e SCILAR, Fábio. Investigação preliminar, polícia judiciária e autonomia. 2008. Disponível em
<www.lfg.com.br>.)

É possível citar outro fundamento constitucional: o art. 144, § 4º, da Constituição Federal. Pela leitura
do artigo, verifica-se que somente é possível a Autoridade Policial cumprir a sua incumbência funcional
de apurar as infrações penais, se tiver meios de fazê-lo de forma autônoma e independente, o que se
traduz, portanto, na necessidade de lhe conferir essa prerrogativa em estudo.

A Lei nº 12.830/13 trazia em seu corpo a independência funcional, nos seguintes termos: “O delegado de
polícia conduzirá a investigação criminal de acordo com seu livre convencimento técnico-jurídico, com
isenção e imparcialidade.”. Contudo, o dispositivo foi vetado ao argumento de que o seu conteúdo “poderia
sugerir um conflito com as atribuições investigativas de outras instituições, previstas na Constituição
Federal e no Código de Processo Penal”.

Ora, como analisado, a independência funcional dos Delegados de Polícia decorre implicitamente do
sistema constitucional vigente e o dispositivo vetado somente tornaria expresso algo que já consta do
ordenamento jurídico. Na verdade, o veto decorreu de pressão do Ministério Público, ao argumento de
que, na forma como redigido, o dispositivo autorizaria os Delegados de Polícia a negarem cumprimento

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às requisições do Parquet.

Em razão dessa autonomia funcional da Autoridade Policial, faz-se necessário analisar a atuação da
Corregedoria da Polícia. A Corregedoria consiste em um órgão da Polícia Civil que tem por objetivo
orientar e fiscalizar as atividades funcionais e as condutas dos membros da instituição. Note-se que
as corregedorias dos Tribunais de Justiça e a Corregedoria Nacional de Justiça – órgão vinculado ao
Conselho Nacional de Justiça – não adentram no poder decisório de um magistrado; e nem poderiam,
uma vez que o magistrado possui independência funcional em relação aos demais órgãos do Poder
Judiciário.

Pelo mesmo fundamento, não cabe à Corregedoria de Polícia adentrar no poder decisório da Autoridade
Policial. É também no mesmo sentido o teor da Súmula nº 9, aprovada no I Seminário Integrado da
Polícia Judiciária da União e do Estado de São Paulo: Repercussões da Lei 12.830/13 na Investigação
Criminal, realizado na Academia de Polícia Coriolano Nogueira Cobra, em 26 de setembro de 2013, com
a participação de Delegados da Polícia Civil do Estado de São Paulo e da Polícia Federal:

Súmula nº 9: Descabe instauração de procedimento administrativo de caráter disciplinar que tenha por
objetivo único a análise relativa à decisão de natureza exclusivamente jurídica adotada pelo Delegado
de Polícia e fundada em sua livre convicção jurídica motivada, subsistindo, todavia, a exigibilidade de
explicitação da motivação fática e jurídica informadora daquele convencimento.

Ao contrário, nos casos em que algum magistrado, promotor de justiça, advogado ou pessoa do povo
informe à Corregedoria acerca de uma suposta decisão tomada pelo Delegado de Polícia que não se
mostrou como a mais adequada, cabe a esse órgão da Polícia Civil atuar ativamente no sentido de
garantir o respeito às prerrogativas funcionais do Delegado de Polícia e instruir essas pessoas acerca da
autonomia funcional da Autoridade Policial.

Quando um magistrado se equivoca na tomada de uma decisão, as regras processuais utilizam como
instrumento de revisão o recurso, medida processual sem qualquer ingerência da respectiva corregedoria.
Do mesmo modo, quando uma decisão do Delegado de Polícia não se mostrar a mais adequada ao caso
concreto, caberá à legislação em vigor demonstrar o melhor caminho para a revisão da decisão, sem
qualquer ingerência da Corregedoria de Polícia.

Nada obsta, e assim deve ser feito, que as Corregedorias de Polícia analisem eventuais desvios de
conduta do Delegado de Polícia, que são as questões exteriores ao seu poder decisório (mas que podem
influenciar nesse poder), por exemplo, corrupção, prevaricação e favorecimento de pessoas decorrentes
de amizade, fatos que devem ser materialmente comprovados para eventual punição.

Observação final: Muitos Estados trazem nas respectivas Constituições Estaduais a garantia da
independência funcional nos atos de decisão do Delegado de Polícia. Verifique a Constituição do
Estado que você prestará o concurso.

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MELHORES RESPOSTAS

IVAN ARAÚJO
Em que pese não exista previsão expressa, a independência funcional do Delegado de Polícia encontra
fundamento constitucional especialmente no princípio da separação de poderes e no texto do quarto
parágrafo do artigo 144 da Carta Magna. Entende-se que só é possível o cumprimento de seus deveres
funcionais caso a Autoridade Policial tenha meios de fazê-los de forma autônoma e independente.

No tocante a atuação das Corregedorias de Polícia, uma análise paralela ao poder judiciário mostra-se
muito útil. As corregedorias dos Tribunais de Justiça, por exemplo, não adentram no poder decisório de
um magistrado. Quando este erra em uma decisão, o caminho legal para rever este ato é o recurso.
Entendemos ser o mesmo caso com os Delegados de Policia e suas respectivas Corregedorias. 

Com base da independência funcional já mencionada, caso uma decisão de natureza exclusivamente


jurídica seja considerada equivocada, esta deverá ser atacada pelos meios previstos na legislação existente
no respectivo ente federativo. Ressalte-se que, esta visão refere-se a decisões exclusivamente jurídicas,
excluindo-se portanto, casos de desvio de conduta da Autoridade Policial que serão sim, analisadas
pelos respectivos órgãos correcionais.

FELIPE OLIVEIRA FREITAS


Entendimento mais abalizado é no sentido de o Delegado de Polícia ser a primeira autoridade pública
a preservar os direitos fundamentais das vítimas e dos investigados, sendo o primeiro garantidor da
legalidade e da justiça. É consabido que a Autoridade Policial tem a incumbência de presidir a devida
investigação criminal, de cunho constitucional, consoante artigo 144, § 4.º, da Magna Carta, conduzindo-a
com autonomia, isenção e imparcialidade, em busca da verdade real. Nesse viés, a independência
funcional do Delegado de Polícia, além de ser uma prerrogativa do cargo, acarreta segurança a toda a
coletividade, no sentido de haver uma investigação hígida.

Entretanto, ainda não há amparo constitucional conferindo aos Delegados de Polícia as garantias
da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios, o que garantia a tais autoridades
independência funcional. As Autoridades Policiais para que possam exercer suas atribuições constitucionais
de forma autônoma, livre e independente carecem dessas prerrogativas. Nessa esteira, porém, não
encontra respaldo constitucional procedimento correcional que questione unicamente decisão de natureza
exclusivamente jurídica adotada por Delegado de Polícia, haja vista o livre convencimento motivado, ser
intrínseco ao atuar da Autoridade Policial.

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CAROLINA NEVES

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PROFESSOR: LEONARDO MARCONDES MACHADO


E-mail: profcei.leonardomarcondes@gmail.com

DIREITO PROCESSUAL PENAL

2. Disserte sobre o conceito, as espécies, a natureza e a disciplina da captação ambiental de sinais


eletromagnéticos, ópticos ou acústicos na nova lei de organizações criminosas.

RESPOSTA

A interceptação de comunicação entre pessoas presentes é definida como “atividade de captação e


registro de comunicação entre pessoas presentes de caráter reservado, por um terceiro, com o emprego
de meios técnicos, utilizados em operação oculta e simultânea à comunicação, sem o conhecimento dos
interlocutores ou com o conhecimento de um ou de alguns deles”.

Nesse sentido, pode ser enquadrada no gênero interceptação e subdividida em interceptação domiciliar
e ambiental. Sempre lembrando que a noção de domicílio deve ser tomada na amplitude emprestada
pela legislação penal. Já por “ambiental” entende-se qualquer lugar fora do domicílio, podendo ser
recinto público ou privado. Cite-se, por exemplo, a conversa direta entre duas ou mais pessoas em praça
pública ou pátio de empresa particular.

Por fim, quanto à sua disciplina na Lei n. 12.850/13, cabe esclarecer que inserida junto aos demais “meios
de obtenção de prova” ou “meios de investigação de prova”, o que, aliás, é a sua natureza jurídica.

Ademais, conforme expressa previsão legal, os aludidos meios de investigação de prova poderiam ser
utilizados em “qualquer fase da persecução penal”, ou seja, tanto na etapa investigatória preliminar quanto
na etapa processual. No que concerne ao termo captação, equivoca-se a lei quando assim nomeia
este mecanismo probatório; o correto mesmo seria falar em interceptação. A captação é, na verdade,
uma fase ou elemento do procedimento de interceptação. No tocante ao significante ambiental, o seu
uso aqui parece equivocado, uma vez que ambiental é apenas uma das espécies de interceptação de
comunicação entre pessoas presentes. Por fim, ao se referir a sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos,
permite, segundo Nucci, “ampla possibilidade de gravar a voz, filmar, foto

COMENTÁRIO

Origem Legal. A interceptação de comunicação entre pessoas presentes foi inserida no ordenamento
jurídico brasileiro, sob o nome de “captação e interceptação ambiental”, pela Lei n. 10.217, de 11 de abril
de 2001, que alterou a doravante revogada Lei 9.034/95 ao acrescentar o inciso IV ao seu artigo 2o, com
a seguinte redação:

Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já previstos em

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lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de provas: (...) IV – a captação e


a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos, e o seu registro e
análise, mediante circunstanciada autorização judicial.

Atual Previsão. A nova Lei de Organizações Criminosas – Lei n. 12.850, de 02 de agosto de 2013 – manteve
o instituto, com pequenas alterações, conforme se depreende de seu art. 3o, inc. II, que ficou consagrado
da seguinte forma:

Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já
previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova: (...) II - captação ambiental de
sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos.

Noção Geral. A “interceptação de comunicação entre pessoas presentes” também é chamada de


“interceptação entre pessoas presentes” ou, simplesmente, “interceptação entre presentes”.

Conceito. Segundo Arantes Filho, consiste em “atividade de captação e registro de comunicação entre
pessoas presentes de caráter reservado, por um terceiro, com o emprego de meios técnicos, utilizados
em operação oculta e simultânea à comunicação, sem o conhecimento dos interlocutores ou com o
conhecimento de um ou de alguns deles” (ARANTES FILHO, Marcio Geraldo Britto. A Interceptação de
Comunicação entre Pessoas Presentes. 01 ed. Brasília: Gazeta Jurídica, 2013, p. 157).

Espécies. Trata-se de espécie do gênero interceptação, que pode ser ainda subdividida em interceptação
ambiental e interceptação domiciliar (classificação proposta por Marcio Geraldo Britto Arantes Filho)
(ARANTES FILHO, Marcio Geraldo Britto. A Interceptação de Comunicação entre Pessoas Presentes. 01 ed.
Brasília: Gazeta Jurídica, 2013, p. 153).

Interceptação Domiciliar. Trata-se de espécie de interceptação de comunicação entre pessoas presentes


realizada em domicílio, o qual deve ser entendido como “todo local, delimitado e separado, que alguém
ocupa com exclusividade, a qualquer título, inclusive profissionalmente” (MORAES, Alexandre de. Direito
Constitucional. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 55).

Interceptação Ambiental. Diz respeito à espécie de interceptação de comunicação entre pessoas presentes
que se realize em lugar diverso do domicílio, podendo ser recinto público ou privado. Cite-se, por
exemplo, a conversa direta entre duas ou mais pessoas em praça pública ou pátio de empresa particular.

Distinção. Não se confunde com a interceptação telefônica (art. 3o, inciso V, da Lei n. 12.850/13 –
“interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica”) ou
gravação clandestina de comunicação entre pessoas presentes (a jurisprudência dos Tribunais superiores
tem admitido a gravação de conversa por um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro, em
diversos julgados, desde que não haja causa legal específica de sigilo nem reserva de conversação).
Nesse sentido: STF – Segunda Turma – HC n. 91613/MG – Rel. Min. Gilmar Mendes – j. em 15.05.12 – Dje
182 de 14.09.12; STF – Segunda Turma – RE n. 402717/PR – Rel. Min. Cezar Peluso – j. em 02.05.08 – Dje
030 de 12.02.09; STJ – Primeira Turma – AgRg no AREsp n. 135384/RS – Rel. Min. Napoleão Nunes Maia

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Filho – j. em 03.04.14 – Dje de 15.04.14.

Análise Pontual da “Previsão Legal” na Lei de Organização Criminosa (art. 3o, inciso II, da Lei n. 12.850/13)

A partir da (simplista e perigosa) redação do art. 3o, inciso II, da Lei n. 12.850/13, que rege o instituto em
questão, algumas observações são absolutamente necessárias.

O dispositivo trata dos “meios de obtenção de prova” ou “meios de investigação de prova”. Essa é,
portanto, a natureza jurídica da chamada “captação ambiental”, conforme expressa previsão legal e
abalizada lição da doutrina especializada no tema.

A segunda é que, também por regramento legal explícito, os aludidos meios de investigação de prova
poderiam ser utilizados em “qualquer fase da persecução penal”, ou seja, tanto na etapa investigatória
preliminar (uso esperado) quanto na etapa processual (uso normalmente não esperado). Vale lembrar
que o seu uso na fase do processo penal constitui medida para além da regra.

No que concerne ao termo captação, equivoca-se a lei quando assim nomeia este mecanismo probatório;
o correto mesmo seria falar em interceptação. A captação é, na verdade, uma fase ou elemento do
procedimento de interceptação (procedimento complexo, que inclui captação, registro, acesso etc).

No tocante ao significante ambiental, o seu uso aqui parece equivocado, uma vez que ambiental é
apenas uma das espécies de interceptação de comunicação entre pessoas presentes.

Por fim, ao se referir a sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, permite “ampla possibilidade de
gravar a voz, filmar, fotografar e registrar por qualquer aparelho, de sofisticada tecnologia, imagens e
sons” (NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 07. ed. v. 2. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2013, p. 90).

MELHORES RESPOSTAS

EDUARDO LARANGEIRA
A captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos é meio de obtenção de prova
conforme artigo 3º, II da Lei 12.850/13. Contudo, a referida lei não regulamentou esse procedimento.
A captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos pode ser enquadrada como
interceptação, quando uma terceira pessoa capta os sinais sem o conhecimento entre os comunicantes;
escuta: no momento que um 3º com o assentimento de um dos interlocutores capta os sinais; ou ainda
como gravação na hipótese de um dos interlocutores captar. Pela interpretação histórica, como a Lei
9034/95 exigia a autorização judicial e a atual nada dispõe, entende-se que não é exigível autorização
judicial nesses casos, até porque os sinais não são abrangidos pela Lei das Interceptações Telefônicas.
O limite da captação é a intimidade individual como bem constitucionalmente protegido. Assim, não
será lícita a captação de sinais que contenham intimidades de particulares. Contudo, pode ser admitido
quando, a despeito disso, houver prática de crime. É que de acordo com o princípio da proporcionalidade
aceito pelo STF os bens jurídicos fundamentais não podem ser protegidos para praticar de crimes,

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havendo a ponderação entre os direitos constitucionais colidentes que deve recair em prol a sociedade
em detrimento do particular.

LUÍS FERNANDO RIBEIRO


Conforme mencionado na própria Lei nº 12.850/13 (em seu art. 3º, inciso II), a captação ambiental
possui natureza jurídica de meio de obtenção de prova, sendo uma importante ferramenta colocada à
disposição dos órgãos da persecução penal a fim de investigarem os crimes relacionados à organização
criminosa, às infrações transnacionais e às organizações terroristas internacionais. Captação ambiental é o
termo genérico utilizado para expressar uma de suas três modalidades, consistentes em: a) interceptação
ambiental (consiste na captação de sons ou imagens, realizada por terceira pessoa, de dois ou mais
indivíduos, sem que estes saibam que estão sendo monitorados); b) escuta ambiental (terceira pessoa
capta sons ou imagens provenientes de duas ou mais pessoas, tendo uma delas conhecimento da atitude
do interceptante); e c) gravação ambiental (a captação de sons ou imagens é feita por uma pessoa, sem
que a outra pessoa comunicante saiba do seu intento).

Embora se reconheça a eficácia jurídica e a constitucionalidade do inciso II do art. 3º da Lei 12.850, deve-
se atentar para a ausência de uma lei que discipline o procedimento formal da medida de investigação
da captação ambiental. Sendo assim, coadunando-se com um tratamento mais garantista, enquanto
não houver uma lei que discipline o procedimento de investigação através da captação ambiental, deve-
se, por analogia, aplicar os dispositivos da Lei 9.296/96, que trata do procedimento da interceptação e
escuta telefônicas, no que couber, uma vez que as interceptações ambientais e telefônicas em muito se
assemelham, distinguindo-se ambas pelo fato de ser a interceptação telefônica a captação por meio
telefônico.

WILKSON VASCO
A lei 12.850/13 veio regulamentar as investigações diante das organizações criminosas, verdadeiras
empresas organizadas para cometimento de infrações penais. Seu art. 3º elenca vários meios de obtenção
de prova, sendo um deles a captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos. Ocorre
que o procedimento de tal meio não foi regulado pela lei, existindo um vácuo legal, cabendo as doutrina
e jurisprudência elencar os requisitos. De início, afirme-se essa captação não está regulada pela lei de
interceptação telefônica (lei 9.296/96), visto que não se confundem. Segundo a doutrina majoritária, a
captação ambiental prescinde de autorização judicial, desde que a conversa seja em ambiente público ou
acessível ao público (praça de alimentação de shoppings, por exemplo) e não seja sigilosa (a exemplo do
diálogo entre advogado e cliente). Sendo conversa dotada de sigilo ou em local não acessível ao público,
exige-se a autorização judicial, sob pena de gerar prova ilegal. Ressalte-se que a gravação “clandestina”,
realizada por um dos interlocutores da conversa, é prova lícita, conforme o STF, seja gravação telefônica

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ou ambiental. Em suma, somente necessita de autorização judicial, a priori, a interceptação e escuta


telefônica ou em captações ambientais em locais reservados ou de conversas reservadas.

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PEÇA PROFISSIONAL

ORIENTAÇÃO: responder em no máximo 20 linhas. Não se identifique no corpo da resposta,


procure responder com consulta tão somente à legislação seca e com agilidade, a fim de simular
a situação encontrada em prova.

ATENÇÃO: é obrigatória a utilização da Folha de Resposta disponibilizada na “Área do Aluno”,


em arquivo .doc. Se desejar redigir a sua resposta à mão, utilize o arquivo .pdf, cuja formatação
inclui as linhas para orientar melhor a escrita.

PROFESSOR: HENRIQUE HOFFMANN MONTEIRO DE CASTRO


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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

A vítima “A” o procurou na Delegacia de Polícia para informar que teve seu veículo roubado por
um indivíduo encapuzado, que portava uma faca. Ao entrar no carro para subtraí-lo, o criminoso
deixou cair do bolso um aparelho celular, que a ofendida pegou e entregou na Unidade Policial.
Instaurado o inquérito policial por portaria, na condição de Delegado de Polícia que precisa
direcionar as investigações, confeccione a peça profissional para obter a qualificação do suspeito
diretamente da concessionária de telefonia celular, abordando a questão da reserva de jurisdição.

RESPOSTA

A Polícia Civil do Estado XXXX, por intermédio do Delegado de Polícia que esta subscreve, no uso das
atribuições conferidas pelo art. 144 da Constituição Federal, e do poder requisitório estabelecido no art.
6º, III do Código de Processo Penal e art. 2º da Lei 12.830/13, vem por meio deste formular a presente

REQUISIÇÃO DE DADOS CADASTRAIS

Em relação ao portador do aparelho celular número (XX) XXXX-XXXX, a fim de qualifica-lo.

Tramita nesta Delegacia de Polícia inquérito policial com o desiderato de apurar o crime de roubo
circunstanciado (art. 157, §2º, I do CP), sendo necessária a obtenção de tais dados para a investigação
criminal.

Sabe-se que dados cadastrais não desvelam quaisquer aspectos da vida privada ou da intimidade do
indivíduo. Trata-se de dados objetivos, que não permitem qualquer juízo de valor sobre a pessoa. São
informações de caráter meramente identificatório, e não de conteúdo.

Também não se desconhece que o poder requisitório do Delegado de Polícia encontra-se amparado

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no CPP (art. 6º, III), Lei de Investigação Criminal (art. 2º, §2º da Lei 12.850/13), Lei de Organização
Criminosa (art. 15 da Lei 12.850/13) e Lei de Lavagem de Capitais (art. 17-B da Lei 9.613/98), facultando ao
Delegado de Polícia a obtenção direta dos dados cadastrais, independentemente de decisão judicial. Em
outras palavras, inexiste cláusula constitucional de reserva de jurisdição para o acesso a tais dados pela
Autoridade Policial.

Esse entendimento é compartilhado pelo Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e pela
doutrina.

Destarte, sirvo-me deste para requisitar o envio, no prazo de 10 dias, dos dados cadastrais do titular do
serviço móvel pessoal indicado.

Local e data / Nome e assinatura

COMENTÁRIO

A questão enuncia um caso de roubo circunstanciado (art. 157, §2º, I do CP), com a instauração de
inquérito policial e apreensão de aparelho celular pertencente ao suspeito ainda não identificado. O
Delegado de Polícia que precisa direcionar as investigações, sendo que o enunciado facilitou ao indicar
que o objetivo com a peça profissional é obter a qualificação do suspeito diretamente da concessionária
de telefonia celular.

A qualificação do suspeito pode ser obtida por meio de seus dados cadastrais registrados junto à
operadora de telefonia. Isso porque dados cadastrais são as informações objetivas armazenadas em
banco de dados de pessoas jurídicas de direito público e privado. Os elementos componentes dos dados
cadastrais geralmente são nome completo, CPF, RG, endereço e número de telefone, não abrangendo
comunicações ou movimentações bancárias.

De outro lado, o poder requisitório do Delegado de Polícia não surgiu recentemente. Já estava previsto
pelo próprio CPP, listado no rol de diligências discricionárias da Autoridade Policial, sendo chamado
também de poder geral de polícia:

Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:

III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;

A Lei de Investigação Criminal (Lei 12.830/13) veio reforçar esse poder requisitório, ao dispor que:

Art. 2º. §2o Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia,
informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos.

Apesar de desnecessário, o poder requisitório do Delegado de Polícia foi reiterado na Lei 12.850/13 (Lei
de Organização Criminosa) e na Lei 9.613/98 (Lei de Lavagem de Capitais) – alterada pela Lei 12.683/12:

Lei 12.850/13. Art. 15. O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso,

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independentemente de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que


informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça
Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras
de cartão de crédito.

Lei 9.613/98, Art. 17-B. A autoridade policial e o Ministério Público terão acesso, exclusivamente,
aos dados cadastrais do investigado que informam qualificação pessoal, filiação e endereço,
independentemente de autorização judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas
telefônicas, pelas instituições financeiras, pelos provedores de internet e pelas administradoras
de cartão de crédito

Pois bem. Os dados cadastrais não desvelam quaisquer aspectos da vida privada ou da intimidade do
indivíduo. Trata-se de dados objetivos, que não permitem qualquer juízo de valor sobre a pessoa. São
informações de caráter meramente identificatório, e não de conteúdo. Explica a doutrina:

Nesse contexto – das restrições ao direito à proteção dos dados pessoais – assume relevo a
distinção entre dados considerados sensíveis, que dizem mais de perto com aspectos da vida
íntima (dados sobre a orientação sexual, religiosa, a opção política, vida familiar, entre outros) e
dados mais “distantes” desse núcleo mais sensível, como é o caso de informações sobre nome,
filiação, endereço, CPF, etc. (SARLET, Ingo; Luiz Guilherme MARINONI; Daniel MITIDIERO. Curso
de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 421).

Pelo sentido inexoravelmente comunicacional da convivência, a vida privada compõe, porém,


um conjunto de situações que, usualmente, são informadas sem constrangimento. São dados
que, embora privativos — como o nome, endereço, profissão, idade, estado civil, filiação, número
de registro público oficial, etc., condicionam o próprio intercâmbio humano em sociedade, pois
constituem elementos de identificação que tornam a comunicação possível, corrente e segura.
Por isso, a proteção desses dados em si, pelo sigilo, não faz sentido. (...) Em consequência,
simples cadastros de elementos identificadores (nome, endereço, RG, filiação, etc.) não são
protegidos. (FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Sigilo de Dados: o Direito à Privacidade e os
Limites à Função Fiscalizadora do Estado. In PIZOLIO, Reinaldo e GAVALDÃO JR, Jayr Viégas
(coord.). Sigilo Fiscal e Bancário. São Paulo. Quartier Latin. 2005. p. 28-29.)

Por essa razão, a obtenção de tais informações não se submete à reserva de jurisdição, e a obtenção
desses dados para a investigação criminal diretamente pelo Delegado de Polícia, independentemente de
ordem judicial, não fere o direito à intimidade ou à vida privada.

Trata-se de medida que, a despeito de conter alguma relativização do direito à privacidade, não lhe atinge
o núcleo essencial, e simultaneamente garante que o interesse público exteriorizado na investigação
criminal seja observado de maneira célere e eficaz.

O Supremo Tribunal Federal entende que os dados cadastrais não são protegidos pelo sigilo imposto

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pelo art. 5º da CF. Senão vejamos:

A proteção a que se refere o art. 5º, XII, da Constituição, é da comunicação ‘de dados’ e não dos
‘dados em si mesmos’ (STF, RE 418.416, Rel. Min. Sepúlveda pertence, DJ 19/12/2006).

De igual forma a doutrina:

Preferimos, no entanto, entender que esses dados cadastrais não estão protegidos pela garantia
constitucional da intimidade (CF, art. 5, X). Afinal, se empresas de concessão de crédito ou
mesmo pessoas jurídicas que assinam determinados serviços a elas disponibilizados têm fácil
acesso aos dados cadastrais de clientes ou potenciais clientes, não se pode negar este mesmo
acesso às autoridades públicas, independentemente de prévia autorização judicial. (...) É possível
que a Polícia e o Ministério Público tenham acesso exclusivamente aos dados cadastrais do
investigado contendo as seguintes informações: a) qualificação pessoal: é composta pelo nome,
nacionalidade, naturalidade, data de nascimento, estado civil, profissão, número de carteira de
identidade e número de registro no cadastro de pessoas físicas da Receita Federal; b) filiação:
consiste na indicação do nome do pai e da mãe; c) endereço: local de residência e de trabalho.
(LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada. Salvador: Juspodivm,
2014, p. 579).

Pensamos que a exigência constitucional de ordem judicial somente deve ser aplicada àquelas
hipóteses ali expressamente previstas. É dizer: somente para a quebra da inviolabilidade
de domicílio e das comunicações telefônicas é que haveria o condicionamento expresso do
legislador ordinário. (...) Nas demais, a lei poderá atribuir a outras autoridades do Poder
Público a flexibilização da intimidade/privacidade, desde que preenchidos os requisitos da
indispensabilidade da medida, do sigilo quanto ao procedimento e da finalidade pública
reservada à providência (OLIVEIRA, Eugenio Pacelli de. Curso de processo penal. São Paulo:
Atlas, 2014, p. 357).

Como destaquei em artigo no Conjur:

Facultar à Autoridade de Polícia Judiciária o poder de requisitar informações que não estejam
sob o manto da cláusula de reserva de jurisdição, para que possa desvendar um caso, não
significa dar conhecimento amplo e irrestrito daqueles dados a quem quer que seja. Em outras
palavras, o conhecimento do Estado-Investigação não configura a publicização dos elementos,
que continuarão longe dos olhos de curiosos. A obtenção da informação não configura mero
capricho estatal, mas do cumprimento do dever de garantia do direito à segurança pública, sem
olvidar dos direitos fundamentais.

Ademais, o acesso a essas informações por vezes evita a adoção de providências mais severas,
tais como a interceptação telefônica e a busca e apreensão domiciliar, eventualmente atingindo
terceiros não envolvidos e movimentando inutilmente a máquina judiciária.

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No que concerne ao prazo para atendimento da requisição de dados cadastrais, como não há
previsão legal específica para o atendimento à ordem, pode-se utilizar por analogia o lapso
temporal de 10 dias preconizado para a requisição em ação civil pública (art. 8º, parágrafo
único da Lei 7.347/85).

O desatendimento à ordem do Delegado de Polícia sujeita o recalcitrante à responsabilização


pessoal pelo crime de desobediência (art. 330 do CP ou art. 21 da Lei 12.850/13) ou prevaricação
(art. 319 do CP). (CASTRO, Henrique Hoffmann Monteiro de. Requisição de dados é
imprescindível na busca do delegado pela verdade. Revista Consultor Jurídico, fev. 2016.
Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2016-fev-02/academia-policia-poder-requisitorio-
delegado-essencial-busca-verdade>. Acesso em: 02 fev. 2016).

MELHORES RESPOSTAS

JOANA MOTTA
A Polícia Civil do Estado XXX, por intermédio do Delegado de Polícia que esta subscreve, no uso das
atribuições conferidas pelo art. 144 da Constituição Federal, e do poder requisitório estabelecido pelo art.
6o, III do Código de Processo Penal e art. 2o da Lei 12. 830/13, vem por meio deste formular a presente
REQUISIÇÃO DE DADOS CADASTRAIS em relação ao portador do aparelho celular número (XX) XXXX-
XXXX, a fim de qualifica-lo.

Tramita nesta Delegacia Inquérito Policial com o desiderato de apurar o crime previsto no art. 157 do
Código Penal, sendo necessária a obtenção de tais dados para a investigação criminal.

Sabe-se que dados cadastrais não desvelam quaisquer aspectos da vida privada ou da intimidade do
individuo. Trata-se de dados objetivos, que não permitem qualquer juízo de valor sobre a pessoa. São
informações de caráter meramente identificatório, e não de conteúdo.

Também não se desconhece que o poder requisitório do Delegado de Polícia encontra-se amparado
no CPP (art. 6o, III), Lei de Investigação Criminal (art. 2o, paragrafo 2o da Lei 12.850/13), entre outras
leis, facultando ao Delegado de Polícia a obtenção direta dos dados cadastrais, independentemente de
decisão judicial. Em outras palavras, inexiste clausula constitucional de reserva de jurisdição para o acesso
a tais dados pela Autoridade Policial.

Esse entendimento é o mesmo defendido pelo Supremo Tribunal Federal, pelo Superior Tribunal de
Justiça e pela doutrina.

Ademais, sirvo-me deste para requisitar o envio, no prazo de 72 horas, dos dados cadastrais do titular do
serviço móvel pessoal indicado.

Local e data/Nome e assinatura.

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JULIANA LOPES
Ofício n. _____. Cidade/Estado, __/___/___.

DELEGACIA DA COMARCA ________.

Referente aos autos do Inquérito Policial n. _______.

AO REPRESENTANTE LEGAL DA CONCESSIONÁRIA DE TELEFONIA.

DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL DA COMARCA DE ___, no uso do poder geral de polícia art. 6 do CPP,
com supedâneo nos art. 2º, § 2º, da Lei 12830/2013 cumulados com art. 17-B da Lei 9613/1998, vem,
perante V.Sa, REQUISITAR os dados cadastrais (nome completo, RG e CPF) do número xxxxxxx, dados
imprescindíveis para a continuação das investigações.

Frise-se que os dados cadastrais de usuário que está sendo investigado criminalmente não são protegidos
por sigilo, pois a intimidade do indivíduo não está sendo atingida com a divulgação. Isso porque, conforme
entendimentos do STF e do STJ, o disposto no artigo 5º, XII, da CF não impede o acesso aos dados em
si, ou seja, o objeto protegido pelo direito à inviolabilidade do sigilo não são os dados em si, mas tão
somente a comunicação desses dados, sendo prescindível autorização judicial para obtenção desses
dados por parte do Delegado.

Por fim, fica V.Sa. notificado que a recusa em fornecer os dados requisitados, em tempo razoável poderá
dar ensejo a instauração de procedimento criminal para apurar crime de Desobediência (art. 330, CP).

DELEGADO DE POLÍCIA

LUIS FERNANDO
Ofício nº XXX/ano – Referência: IP nº XXX/ano – ___ Unidade Policial/local

Ao Ilmo. Sr. Representante Legal da Empresa de Telefonia X

Fulano de Tal, delegado de polícia civil, no uso de suas atribuições legais e constitucionais previstas no art.
144, IV e §4º, da CF/88 e art. 6º, III, do CPP, vem, respeitosamente, à presença de V. Sa., com fulcro no art.
2º, §2º, da Lei nº 12.830/13, requisitar o fornecimento dos dados cadastrais do investigado Beltrano de Tal.

Trata-se de Inquérito Policial instaurado mediante portaria para investigar Beltrano de Tal pela suposta
prática do crime previsto no art. 157, do CP. Segundo relatado pela vítima “A”, o investigado, ao roubar
seu veículo deixou cair um aparelho celular, cujo número de chamada é XXX e o número de IMEI é XXX.

Sabe-se que a Autoridade Policial, no exercício de suas atribuições legais e constitucionais, possui o
chamado poder geral de requisição (ou cláusula geral de polícia), previsto de forma genérica no art.
6º, III, do CPP e art. 2, §2º, da Lei 12.830/13, e que consiste nas diligências mínimas a serem realizadas
pelo delegado de polícia para colher, de forma célere e eficaz, todas os elementos necessários para o

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esclarecimento do fato e suas circunstâncias, satisfazendo, assim, o interesse coletivo de esclarecer a


verdade na investigação criminal.

Cumpre ressaltar que tais informações não se encontram protegidos pelo art. 5º, incisos X e XII, da
CF/88, e, em consequência, não estão acobertadas pela cláusula de reserva de jurisdição, vez que não
revelam a vida privada ou a intimidade do cidadão, sendo apenas dados meramente identificatórios e,
em consequência, dotados de certa publicidade.

Dessarte, REQUISITO a Vossa Senhoria que, no PRAZO de 10 (dez) dias úteis, formalize o envio e a entrega
dos DADOS CADASTRAIS do INVESTIGADO Beltrano de Tal, sob pena de, descumprindo tal requisição,
ser responsabilizando criminalmente pela prática dos crimes de prevaricação e/ou desobediência, arts.
319 e 330, do Código Penal, respectivamente.

Local e data.

Respeitosamente, Fulano de Tal, Delegado de Polícia, Matrícula nº: XXX.

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