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PLANEJAMENTO NO TURISMO
O turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em
lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com
finalidade de lazer, negócios e outras (OMT, 2001). Para ser bem-sucedido, o turismo exige uma
abordagem de planejamento sistematizada e com visão de longo prazo, é uma atividade que envolve
o setor público (infra-estrutura básica e parte da organização) e privado (empresas de vários ramos)
(PETROCCHI, 1998) e outras organizações como: cooperativas, Ongs, fundações e institutos. Esta
complexidade de atividades exige ações planejadas, gestão e principalmente controle e avaliação
permanentes.
Numa visão sistêmica Beni (2000) relaciona uma série de funções inerentes à natureza da atividade
turística, fatores que geram as motivações de viagens e a escolha das áreas de destinação turística; o
deslocamento de indivíduos; os equipamentos de transporte oferecido ao tráfego de pessoas; o tempo
de permanência na área receptora; a disponibilidade e a solicitação de hospedagens, alimentação;
equipamentos de recreação e entretenimento; a fruição de bens turísticos; o turista e a comunidade
receptora.
De acordo com OMT (2003), o planejamento turístico precisa ser executado de forma sistemática, com
base em passos seqüenciais de identificação, exame, análise e viabilidade, financiamento,
implementação e gerenciamento. “Planejar é organizar o futuro de forma a atingir certos objetivos. O
planejamento oferece um guia para a tomada de decisões futuras oportunas.” (idem, p.41).
A finalidade do planejamento turístico consiste em ordenar as ações humanas sobre o território e
ocupa-se em direcionar os equipamentos e facilidades de forma adequada às necessidades dos
turistas. Entende-se como um processo que consiste em determinar os objetivos de trabalho, ordenar
recursos materiais e humanos disponíveis, determinar métodos e técnicas aplicáveis, estabelecer as
formas de organização e expor com precisão as especificações necessárias para a conduta dos que
atuarão na execução dos trabalhos e a comunidade (RUSCHMANN, 1999).
Uma das metodologias adotadas para planejamento turístico é o ZOPP (Planejamento de Projetos
Orientado por Objetivos). Neste método as pessoas trabalham em grupos reduzidos sem hierarquia,
mais flexíveis, e desenvolvem comportamentos mais criativos (DENCKER, 2002). As equipes
equacionam: indivíduos, interesses articulados e especialistas de áreas relevantes em um enfoque
participativo, com o objetivo de aproveitar o conhecimento e a experiência dos envolvidos com o
planejamento. “O objetivo principal é a melhoria do processo de planejamento no âmbito da
cooperação técnica, permitindo a cada um a visão do impacto do seu trabalho, aprender com os erros
e agir com responsabilidade e autonomia.” ( idem, p.87).
Ruschmann (1999) apresenta outra metodologia para planejamento turístico, um conjunto de
medidas, tarefas e atividades por meio das quais pretende atingir as metas e os objetivos, seguindo
(resumidamente) as seguintes etapas:
Identificação do problema – definir a meta final e os objetivos;
Caracterização geral – delimitar e identificar a área de estudo;
Análise e avaliação da oferta e da demanda;
Diagnostico – descrever a situação atual da destinação;
Prognostico – previsão e projeção do comportamento esperado para o fenômeno turístico;
Diretrizes para o desenvolvimento, as responsabilidades e os prazos;
Instrumentos necessários para viabilizar as diretrizes propostas;
Programas de ação - elaboração dos projetos a fim de atingir a execução das ações.
Na visão da mesma autora, a comunidade residente no local onde se pretende implantar as ações
para o desenvolvimento turístico deverá ser consultada e sua opinião sobre o plano, avaliada e
respeitada. “Um plano turístico só terá aprovação e o apoio da população das destinações se essa
população for esclarecida sobre os benefícios do turismo para a coletividade.” (idem, p.162).
Numa visão de desenvolvimento local, de acordo com Almeida; Reidl (2000) as iniciativas promovidas
a partir de um planejamento, devem considerar na utilização, em primeiro lugar, os recursos ociosos a
recuperação de oportunidades de criação de atividades produtivas realmente existentes (factíveis),
porém nunca utilizadas, a reorganização dos processos produtivos, a mudança das demandas, a
melhoria das comunicações, o acesso a novos mercados e outras iniciativas. Consiste também em
descobrir essas possibilidades em localidades sem experiência técnica, identificando, estimulando os
atores capazes de conduzir as atividades através de decisões orientadas para o desenvolvimento local.
MODELO PROPOSTO
O modelo proposto oferece uma estrutura simples que facilita o entendimento, valoriza a integração
dos participantes e incentiva o envolvimento da comunidade (emissiva, do deslocamento e receptiva)
já no inicio das atividades. Além de enfatizar o treinamento dos participantes sobre o processo de
planejamento e condutas ambientalmente responsáveis. Estas particularidades são fundamentais para
o planejamento em áreas não urbanas, pois estimula a participação e resulta em compromisso com a
manutenção e continuidade dos trabalhos propostos. A estrutura e/ou seqüência do roteiro sugerido
pode ser adaptada à realidade do local, contudo, todas as etapas são essenciais na operacionalização
do planejamento. Roteiro de ações do planejamento:
Para assegurar o cumprimento dos programas rumo à missão do planejamento, as equipes devem
estar entrosadas e cientes das suas responsabilidades, e os trabalhos precisam ser coordenados e
controlados. Para tanto, é essencial criar parâmetros para avaliar e controlar constantemente as ações
de todo o processo. Os parâmetros são importantes também para correção dos erros e desvios em
função do que foi estipulado nos objetivos, metas e programas, dificilmente se alcançará os mesmos
sem monitorá-los ao longo do tempo.
Na organização dos encontros de trabalho é essencial que haja um processo integrado baseado na
cooperação. Todos os envolvidos devem participar deste processo para conhecer os assuntos relativos
aos trabalhos e principalmente as decisões tomadas. Sugere-se então, que nos encontros de trabalho
sejam utilizados métodos para facilitar o entendimento e participação de todos.
Um dos métodos propostos é o dos “5Ws e 2Hs” apresentado por Petrocchi (1998) como ferramentas
de qualidade total usada em controles de planejamento. Após a definição das equipes e prioridades,
deve-se fixar (num quadro visível a todos) para cada ação as seguintes orientações, a serem
discutidas por etapas, a saber: what - o que deve ser feito; how – como fazer; who - quem é o
encarregado; when – quando será executado; were -local de execução; why – razão da realização;
how much – quanto custará. Esta seqüência de informações resultará na especificação e
entendimento detalhados de cada iniciativa e servirá também como uma forma de coordenar e
controlar os trabalhos das equipes. Salienta-se que para a maior participação e comprometimento dos
envolvidos com os trabalhos é fundamental que o objetivo geral e/ou missão seja claro e sirva
permanentemente como orientação.
À medida que os planejadores atingirem cada resultado, eles poderão comparar com os objetivos
propostos para se certificarem de que o plano está adequado a realidade do local. Então poderão
utilizar sua experiência para tomar decisões quanto às etapas seguintes. Neste contexto, poderão
mapear a seqüência das novas ações. Obviamente, cada local e comunidade possuem particularidades
que podem limitar ou avançar as decisões que devem ser tomadas na implantação das ações do
plano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Iniciar um planejamento que envolva a comunidade não é tarefa fácil, principalmente quando a equipe
de profissionais ainda não está entrosada com a comunidade e desconhece os espaços que o trabalho
será desenvolvido. Com certeza esta experiência poderá ser testada apenas na prática, quando os
planejadores iniciam o trabalho.
Nesse caso, é essencial que o método de trabalho adotado esteja a favor destas dificuldades e
contemple passos mais simplificados e acessíveis a todos. O modelo que se propõe neste artigo, se
comparado a algumas literaturas existentes, em termos de conteúdo contempla os passos geralmente
indicados por outros autores. Contudo, a intenção da proposta é justamente auxiliar na interpretação
das ações e inserir como diferencial a participação da comunidade deste o inicio dos trabalhos, na
etapa de levantamento dos espaços e da articulação e, o objetivo é prosseguir com esta participação
até a conclusão do planejamento.
Obviamente, as ações propostas num plano devem ser concluídas no prazo estipulado, nesse
momento, normalmente, a equipe de profissionais se retira do local. Este com certeza é o maior
problema enfrentado pela maioria dos destinos não urbanos, porque muitas vezes devido a esta
retirada a comunidade abandona a seqüência do trabalho. Embora, como a comunidade deve
participar de todas as etapas, acredita-se que a continuidade das ações pode ocorrer sem a
participação direta dos profissionais, ou seja, a comunidade deve tornar-se apta para prosseguir
sozinha. Esta autonomia geralmente é um problema, pois a comunidade acostuma-se com os
coordenadores do processo e muitas vezes prefere que as cobranças e o controle das ações seja
realizado por “alguém de fora”. Contudo, a contribuição dos planejadores poderá acontecer de forma
mais superficial quando necessário.
O ideal seria conduzir o processo incentivando, desde o começo, a comunidade a buscar alternativas
de atualização das informações e até mesmo de organização de equipes de trabalhos locais, já que é
previsto numa das etapas propostas, o treinamento dos envolvidos. Sugere-se então, que a própria
comunidade tome decisões para prosseguir, ou redirecionar as ações durante o planejamento e não
após sua conclusão. Esta iniciativa ajuda a evitar erros e fornece subsídios coerentes com o que já
está em andamento, podendo resultar no prosseguimento e até a melhoria do que esta sendo
proposto.
Em suma, recomenda-se que os planejadores adotem os seguintes procedimentos de integração e
preparação da comunidade em prol do desenvolvimento turístico:
1. Identificação de líderes e equipes locais que possuam conhecimento e interesse em continuar
o processo,
2. Apresentação do roteiro simplificado (proposto acima) para trabalhos em equipes,
3. Determinação de eventos de avaliação e controle das ações planejadas e/ou dos
acontecimentos turísticos,
4. Estabelecimento de benefícios para resultados obtidos pelos participantes,
5. Desenvolvimento de instrumentos de valorização do planejamento como uma iniciativa de
controle e melhoria do turismo local.
Finalmente, de certa forma, o modelo proposto é um roteiro que considera nos passos a necessidade
de buscar alternativas para o enfrentamento das dificuldades em planejar um destino. Não se
considera esta sugestão como “salvadora” das dificuldades, visto que cada caso é um caso. A intenção
é apenas colaborar com o problema da complexidade que envolve o desenvolvimento turístico de uma
localidade não urbana, que envolve além dos aspectos organizacionais a necessidade de maior
entrosamento com a comunidade e ainda a conservação ambiental.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J. A.e RIEDL, M. Turismo rural: ecologia, lazer e desenvolvimento. Bauru, SP: EDUSC,
2000.
BENI, Mário Carlos. Análise Estrutural do Turismo. 6. ed. São Paulo: Editora SENAC, 2000.
CRUZ, Rita de Cássia. Introdução à geografia do turismo. São Paulo: Roca, 2001.
DENCKER, Ada F. M. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. 6. ed. São Paulo: Futura,
2002.
FENNEL, David. Ecoturismo: uma introdução.Trad. Inês Lohbauer – São Paulo: Contexto, 2002.
OMT - Organização Mundial Do Turismo. Guia de desenvolvimento do turismo sustentável.
Trad. Sandra Netz - Porto Alegre: Bookman, 2003.
PETROCCHI, Mario. Turismo planejamento e gestão.São Paulo: Futura, 1998.
RUSCHMANN, Doris V M. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente. 3.
ed. São Paulo, 1999.