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VIABILIDADE ECONÔMICA DA GERAÇÃO ELÉTRICA

ATRAVÉS DO USO DA BIOMASSA DO LIXO DA CIDADE DE


CAMPO GRANDE - MS1

Larissa Neckel Abreu2

Gabriel C. de Arruda3

Walter P. Valle Neto4

Nadya Kalache5

RESUMO
A busca por recursos energéticos renováveis, pouco poluentes e de boa
eficiência tornou-se necessária devido aos problemas ambientais recorrentes que a
humanidade têm vivenciado e devido à grande dependência das matrizes
energéticas/elétricas atuais (petróleo, gás natural, hidroelétricas – como no Brasil
etc.). Além disso, a produção de resíduos pelo homem tem crescido a níveis
alarmantes, Campo Grande – MS por exemplo, produzia em 1985 cerca de 70 mil
toneladas de resíduos e passou a produzir mais de 170 mil toneladas em 2005.
Apenas 8% dos resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil são destinados a
reciclagem e cerca de 40% dos lixos urbanos são destinados a áreas inadequadas,
como lixões por exemplo. É evidente a necessidade do homem em reciclar seus
resíduos, visto o tamanho impacto ambiental que decorre da geração de resíduo sem
reaproveitamento.

Palavras-chave: recursos energéticos renováveis, problemas ambientais, matriz


energética/elétrica, resíduos sólidos urbanos.

1 Artigo apresentado à Fundação Universidade de Mato Grosso do Sul – UFMS, como parte dos
requisitos para obtenção de nota da disciplina de Fontes Alternativas de Energia.
2 Graduanda em Engenharia de Produção pela UFMS - neckellarissa@gmail.com
3 Graduando em Engenharia de Produção pela UFMS – gabriel.chaves@ufms.br
4 Graduando em Engenharia Civil pela UFMS - wvalle900@gmail.com
5 Professora e orientadora. Doutora em Engenharia Elétrica pela UNESP, mestre em Engenharia

Elétrica pela UFMS, graduada em Engenharia Mecatrônica pela UCDB e atual professora ajunta II da
UFMS.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
2. REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................... 4
2.1 CONTEXTO DA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ........................................ 4
2.2 GERAÇÃO POR BIOMASSA ................................................................................ 5
2.2.1 Biomassa oriunda de rejeitos urbanos ............................................................... 6
2.2.2 Rejeitos Sólidos Urbanos (RSU) em Campo Grande - MS ................................ 7
2.3 BIODIGESTOR ..................................................................................................... 8
2.3.1 Modelo Indiano ................................................................................................... 9
2.3.2 Modelo Chinês ................................................................................................. 10
2.3.3 Modelo Canadense .......................................................................................... 12
2.4 FERMENTAÇÃO ANAERÓBICA ........................................................................ 13
2.5 BIOGÁS............................................................................................................... 13
2.5.1 Formação do biogás ......................................................................................... 14
2.6 CONDIÇÕES OPERACIONAIS .......................................................................... 14
2.6.1 Concentração dos nutrientes............................................................................ 15
2.6.2 Condições de pH .............................................................................................. 15
2.6.3 Condições de temperatura ............................................................................... 15
3. METODOLOGIA .................................................................................................... 15
3.1 PARÂMETROS OPERACIONAIS ....................................................................... 18
3.1.1 Tempo de detenção hidráulica ......................................................................... 18
3.1.2 Carga orgânica volumétrica.............................................................................. 19
3.1.3 Taxa de produção de gás (Gas Production Rate – GPR)................................. 19
3.2 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................ 19
3.2.1 Geração de Resíduos da Cidade de Campo Grande – MS.............................. 19
3.2.2 Avaliação do potencial de geração do gás metano e potencial energético
gerado ....................................................................................................................... 22
3.2.3 Dimensionamento do Biodigestor ..................................................................... 25
4. CONCLUSÃO........................................................................................................ 28
5. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 29
1. INTRODUÇÃO
Segundo site Toda Matéria a biomassa é toda matéria orgânica, de origem
vegetal ou animal, utilizada na produção de energia. Ela é obtida através da
decomposição de uma variedade de recursos renováveis, como plantas, madeira,
resíduos agrícolas, restos de alimentos, excrementos e até do lixo.
Os impactos do uso da lenha nas antigas civilizações. Apesar de a lenha ser
uma fonte renovável de energia, os estoques utilizados nem sempre são repostos. A
expansão da civilização desde a época greco-romana induziu ao consumo de grandes
quantidades de lenha para produzir calor e para construir edifícios, embarcações,
armamentos e outros bens. A devastação foi tal que hoje praticamente não há
florestas virgens na região do Mediterrâneo. Como não havia preocupação com a
capacidade do ambiente em repor os recursos naturais, algumas regiões foram
devastadas. Quando os recursos se tornavam escassos, a questão se resolvia pelo
abandono da região ou disputando-se as melhores terras. Algumas vezes isso não
era possível e populações inteiras foram dizimadas pela fome.
Muita energia vem do Sol para a Terra, uma parte é incorporada nos vegetais
através da fotossíntese e serve para sustentar toda a cadeia alimentar do planeta. A
biomassa é uma fonte renovável de energia e engloba diversas subcategorias, desde
as mais tradicionais (como a lenha e os resíduos animais e vegetais) até as mais
modernas (como o etanol para automóveis, biodiesel, bagaço de cana para cogeração
energética e gás de aterros sanitários utilizados para a geração de eletricidade).
No tratamento anaeróbio, em condições de ausência de oxigênio, o processo
de degradação biológica da matéria orgânica presente no esgoto gera uma mistura
de gases que denominamos de biogás. Formado por diferentes substâncias, o biogás
é composto principalmente por metano, nitrogênio e gás carbônico, apresentando,
ainda, em pequenas proporções, oxigênio, hidrogênio, gás sulfídrico, monóxido de
carbono, amônia, siloxanos, água e material particulado.
O biogás, devido ao seu alto teor de metano, constituinte com elevado poder
calorífico, pode ser coletado e convertido em energia. Por outro lado, o metano é
considerado o mais importante gás de efeito estufa (GEE), por apresentar um
potencial de aquecimento global (Global Warming Potential – GWP) 28 vezes maior,
no horizonte de 100 anos, quando comparado ao gás carbônico.
O conteúdo energético do biogás pode ser recuperado e utilizado para geração
de eletricidade e como combustível alternativo, alguns locais inclusive discutem a
utilização de biogás nos transportes públicos. Uma maneira ecologicamente viável de
reaproveitar esse subproduto do tratamento de esgoto.
Segundo o Físico José Goldemberg, Revista Energias Renováveis: Um Futuro
Sustentável, USP fev. 2007, as fontes fósseis de energia predominam até hoje na
matriz energética mundial. Em 2001, o mundo consumiu quase 80% de energias
fósseis em um total de 10,2 bilhões de toneladas equivalentes de petróleo.
A principal delas é o petróleo (35% do total), mas as parcelas de carvão (23%)
e gás natural (22%) também são bastante significativas. A energia nuclear, também
não renovável, contribuiu com cerca de 7%.
As fontes renováveis contribuíram com os 13% restantes. Apenas 4% da matriz
energética mundial foi suprida com a energia hidrelétrica e com as outras opções
“modernas” (2%), como eólica, solar e biocombustíveis.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 CONTEXTO DA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
Segundo LEZAMA, FELTRIN (2008), a geração de energia elétrica de forma
distribuída ou geração distribuída são expressões usadas para descrever a geração
elétrica realizada junta ou próxima aos consumidores.
A ideia de fomentar a geração de energia elétrica de forma distribuída visa
propiciar o crescimento da oferta de energia elétrica, com a possibilidade de o
consumidor ter sua própria produção e, inclusive vender o excedente à
concessionária. A produção geralmente é realizada através de fontes renováveis
(painéis solares, turbinas eólicas, biomassa etc.).
Utiliza-se essa geração para seu consumo diário (na ausência de baterias) e
quando a necessidade for atendida, o excedente é injetado na rede para a utilização
de outros consumidores. Esse mesmo consumidor (que gera a energia) permanece
conectado na rede elétrica, pois quando sua geração não consiga suprir suas
necessidades, ele utilizará a energia proveniente da rede elétrica.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mais de 80% da
energia elétrica consumida no Brasil vem de fontes renováveis. Esse cenário é
mostrado na Figura 1.
Figura 1 – Consumo final de energia elétrica por fonte.

Fonte: EPE, 2019 - Acesso em 18/02/2021.

2.2 GERAÇÃO POR BIOMASSA


A utilização de fontes renováveis de energia é indispensável. Segundo relatório
da ANEEL, em 2019 houve um incremento de 7.246,41 megawatts (MW) de
capacidade instalada no Brasil, ultrapassando a meta de 5.781 MW. O país fechou o
ano com potência fiscalizada de 170.071 MW, sendo mais de 75% a partir de fontes
renováveis. Segundo o relatório BEN 2020, a geração a biomassa cresce
gradativamente, como observado na figura 2.

Figura 2 – Evolução das Gerações

Fonte: EPE, 2019 - Acesso em 18/02/2021.


A biomassa é classificada como fonte energética limpa e renovável, por isso
tem sido uma boa alternativa para diversificação da matriz energética. Sua utilização
é vantajosa pelo aproveitamento direto da combustão e pelos pequenos impactos
socioambientais, e sua desvantagem é possuir baixa eficiência (CARDOSO, 2012).
A utilização da biomassa para gerar energia pode ocorrer envolvendo
transformação bioquímica, termoquímica e físico-química, para obtenção de um
produto intermediário (biogás) que será utilizado em uma máquina motriz, que
produzirá a energia mecânica responsável por produzir energia elétrica destinada ao
consumo ou distribuição (PRETO; MORTOZA, 2011).

2.2.1 Biomassa oriunda de rejeitos urbanos


A biomassa presente nos resíduos sólidos e líquidos têm origens diversas e
são encontradas no lixo e no esgoto. O lixo urbano é composto por vários materiais:
metais, plásticos, vidros, resíduos vegetais e matéria orgânica. O aproveitamento
energético pode ser através da: combustão direta, gaseificação (pela via
termoquímica, após a separação dos materiais recicláveis) e a digestão anaeróbica
pela via biológica, que resulta na produção de biogás.
No Brasil, o lixo é geralmente coletado por empresas contratadas pelas
prefeituras e é transportado para lixões ou aterros sanitários. Há um enorme impacto
ambiental nisso, desde ao mau cheiro e doenças, até possíveis vazamentos de
chorume no lençol freático, rios e lagos. O chorume é um líquido poluente, gerado
através de processos biológicos, químicos e físicos da decomposição de resíduos
orgânicos contidos no lixo.
De acordo com a ABELPRE (2020) o brasileiro gera cerca 1,03kg de resíduos
sólidos por dia, sendo que segundo as estimativas cerca de 0,95kg são coletados. As
figuras 3 e 4 ilustram os fatos:

Figura 3 – geração de resíduos sólidos por habitante.


Fonte: Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, ABELPRE 2020.

Figura 4 – coleta de resíduos sólidos gerados por habitante.

Fonte: Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, ABELPRE 2020.

2.2.2 Rejeitos Sólidos Urbanos (RSU) em Campo Grande - MS


De acordo com a avaliação preliminar do aproveitamento energético dos
resíduos sólidos urbanos de Campo Grande MS (2008), feito pela CETESB em
parceria com a EPE, Secretaria de Meio Ambiente de Campo Grande e da Financial
Construtora Industrial Ltda., a produção média per capita de RSU (Rejeitos Sólidos
Urbanos) na cidade foi de 0,737kg/dia, com um desvio padrão de 0,039kg/dia.
Além disso, destaca-se no estudo que cerca de 60% do material analisado era
não reciclável e principalmente composta pela matéria orgânica putrescível (restos de
alimentos, frutas etc.). Enquanto cerca de 35% do material coletado é reciclável
(composto majoritariamente por papel/papelão e plástico). Vale ressaltar que, embora
Campo Grande seja amplamente arborizada, no período do estudo relatado não
houve coleta de resíduos de jardinagem. Além disso, tais resíduos não são destinados
à aterros.

Quadro 1 – análise gravimétrica do RSU em Campo Grande MS

Fonte: Aproveitamento Energético dos RSU de Campo Grande, MS. CETESB, EPE etc. 2008.

2.3 BIODIGESTOR
Segundo SHUBEITA, biodigestor é constituído por um ou mais recipientes onde
a biomassa é guardada e passa por um processo de fermentação anaeróbica que tem
como resultado o biogás e biofertilizantes. O biodigestor anaeróbio é um sistema
fechado onde é feita a degradação da matéria orgânica por ação microbiológica, que
geralmente conta com um sistema de entrada de matéria orgânica, um tanque onde
ocorre a digestão e um mecanismo para retirada de subprodutos (REIS, 2012).
Há diferentes tipos de biomassas para produção de biogás e para o
processamento, pode-se usar um único tipo ou realizar uma mistura. Em relação ao
abastecimento de biomassa há também classificação, pode ser de forma temporal ou
por demanda. (SHUBEITA et al.,).
Os tipos de biodigestores mais conhecidos são o modelo indiano, o modelo
chinês e o modelo canadense (SOUZA, 2010).
2.3.1 Modelo Indiano
O modelo de biodigestor indiano caracteriza-se por possuir uma campanula
flutuante como gasômetro que pode estar mergulhada sobre a biomassa em
fermentação ou em um selo de água externo, o que reduz as perdas durante o
processo de produção de gás. Possui ainda uma parede central, fazendo do tanque
de fermentação um tanque de câmara dupla, como pode ser visto na figura 5. À
medida que o volume de gás produzido não é imediatamente consumido, o gasômetro
tende a deslocar-se verticalmente, aumentando seu volume e mantendo a pressão de
operação constante. (DEGANUTTI et al, 2002).

Figura 5 – Vista frontal do biodigestor Indiano

Fonte: Bianca Xavier (2017)


Figura 6 – Representação tridimensional em corte do biodigestor modelo indiano

Fonte: Deganutti et al, 2002.

No modelo indiano há uma cúpula armazenadora de gás com a parte inferior


móvel e enterrada no solo, que se movimenta à medida que a quantidade de gás
muda. Dessa maneira, o sistema opera com pressão constante onde a fermentação
ocorre de maneira rápida devido a temperatura do solo (o qual permite uma menor
variação). No tanque há uma divisão que separa o novo dejeto daquele que já foi
fermentado e a passagem de uma divisória à outra ocorre devido à pressão.
(SHUBEITA et al.,).
O abastecimento é contínuo, e o substrato utilizado deve conter uma
concentração de sólidos totais (ST) de até 8%, para que a circulação dos resíduos
seja facilitada a fim de evitar entupimentos dos canos de entrada e saída do material
(Deganutti et al, 2002).

2.3.2 Modelo Chinês


É composto por uma câmara de fermentação, feita de alvenaria, uma cúpula
de gás e um fermentador como mostra na figura 7. Na qual, o dejeto de entrada é
fermentado em uma câmara enterrada no solo, e ao final do processo é levado ao
reservatório de biofertilizantes. Dessa maneira o modelo trabalha sob altas pressões
que podem variar conforme a quantidade de gás produzida (SOUZA, 2010).
Figura 7 – Vista frontal do biodigestor Chinês.

Fonte: Ana Paula Caixeta Araújo (2017)

Neste tipo de biodigestor parte do gás formado na caixa de saída é liberado


para a atmosfera, o que reduz parcialmente a pressão interna do gás, por este motivo,
este tipo de biodigestor não é utilizado em instalações de grande porte. Como no
modelo indiano, o modelo chinês necessita de um substrato com teor de ST em torno
de 8% para evitar entupimentos no sistema de entrada e facilitar a circulação do
material, e a alimentação deve ser contínua (DEGANUTTI et al, 2002).

Figura 8 – Representação tridimensional em corte do biodigestor modelo chinês

Fonte: Deganutti et al, 2002.


2.3.3 Modelo Canadense
Diferente dos modelos anteriores, o biodigestor canadense apresenta uma
tecnologia mais moderna e de simples construção. Composto por uma lagoa de
biomassa onde possui uma cúpula de lona que cobre a lagoa e infla de acordo com a
quantidade de biogás. A um reservatório de entrada para biomassa e um sistema para
duas saídas o gás e o biofertilizantes. (SHUBEITA et al.,). Como mostra na figura 9.

Figura 9 – Vista frontal do Biodigestor Canadense.

Fonte: Bianca Xavier (2017)

Figura 10 – Biodigestor modelo canadense

Fonte: Manual de Treinamento em Biodigestão (2008).

O uso do modelo é indicado para períodos mais longos e sua instalação pode
ser feita por apenas um tanque anaeróbio ou vários em serie e por último seu
abastecimento é feito de uma única vez, mantendo a fermentação por um período que
seja conveniente. (SOUZA, 2010).
2.4 FERMENTAÇÃO ANAERÓBICA
A digestão anaeróbica é um processo de fermentação simples que ocorre na
presença de matéria orgânica sob ação de microrganismos, ou seja, é um processo
biológico que ocorre em diferentes fases de maneira simbiótica (Kelleher et al., 2002).
Os microrganismos são hidrolíticos, acidogênicos, acetogênicos e
metanogênicos. As bactérias acidogênicas e as arqueas metanogênicas apresentam
diferentes características, principalmente em relação à nutrição, a fisiologia, ao pH, o
crescimento e a sensibilidade quanto a variações de temperatura.

2.5 BIOGÁS
Segundo COLDEBELLA, 2006, o biogás é um gás natural resultante da
fermentação anaeróbia de resíduos orgânicos como dejetos de animais, resíduos
vegetais, lixo industrial ou residencial em condições adequadas. É um combustível
gasoso com alto potencial energético e pode ser utilizado para geração de energia
elétrica, térmica ou mecânica (SOUZA, 2004).
O biogás é constituído por uma mistura de gases como mostra no (Quadro 2),
sendo que a fração de cada gás presente é determinada pelas características do
resíduo e as condições de operação do processo de digestão, sendo basicamente
composto por metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), apresentando em torno de
65% de metano (COLDEBELLA, 2006). Em linhas gerais, a constituição típica do
biogás é a seguinte:

Quadro 2 - Composição típica do biogás

Fonte: Coldebella, 2006 apud La Farge, 1979

Segundo reis 2012, além do aproveitamento do biogás como fonte de energia,


a utilização dos resíduos sólidos orgânicos como fonte de biogás apresenta grande
importância na redução dos impactos ambientais antrópicos, uma vez que contribui
para o controle das emissões de metano na atmosfera, já que este possui o potencial
de aquecimento global vinte e cinco vezes maior que o gás carbônico.

2.5.1 Formação do biogás


A formação do metano ocorre espontaneamente em ambientes isentos de ar
(condição anaeróbica), quando a biomassa é composta por carboidratos, lipídeos,
proteínas entre outros nutrientes, as bactérias decompõem-vos em metano e
impurezas.
O processo anaeróbico passa por quatro fases a nível bacteriano, sendo elas
a hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese, onde o biogás é gerado na
última etapa. As etapas devem acontecer simultaneamente conforme descrito na
figura 11.
Figura 11 – Etapas de produção do biogás

Fonte: <<http://www.ecycle.com.br>> Acesso em 01/03/2021

2.6 CONDIÇÕES OPERACIONAIS


Características como temperatura, tipo de substrato e tipo do digestor são
extremamente relevantes pois trata-se de um processo bioquímico realizado por
milhares de bactérias. O controle dessas variáveis é fundamental para obter-se um
maior rendimento.
2.6.1 Concentração dos nutrientes
Os macroelementos presentes (carbono, nitrogênio, potássio, fósforo e
enxofre) e alguns micronutrientes (vitaminas, minerais e aminoácidos) são
necessários para o desenvolvimento das arqueas metanogênicas, ou seja, o controle
da composição química e o tipo de biomassa utilizada são importantes. Caso seja
necessário, há a possibilidade de dosagem de nutrientes e ativadores químicos para
que ocorra uma boa fermentação da biomassa (Filho, 1981).

2.6.2 Condições de pH
As variações de acidez seguem o mesmo princípio da temperatura, ou seja,
cada grupo de bactérias possui seu ponto ideal de acidez. Nas fases de hidrólise e
acidogênese o pH ideal deve ser em torno de 5,2 à 6,3.
Na acetogênese e metanogênese o pH ideal fica entre 6,5 à 8. Abaixo do pH
crítico pode haver precipitação de íons metálicos, bem como inibição da ação
bacteriana, devido à produção de ácidos. Acima do pH crítico, a partir do qual a
concentração de íons carbonatos disponíveis é elevada, os metais passam a ser
precipitados na forma de carbonatos, e neste caso é acentuada a influência do pH.

2.6.3 Condições de temperatura


A fermentação anaeróbica é diretamente influenciada pela temperatura, com a
possibilidade de ser agilizada e, consequentemente, diminui-se o tempo de retenção
da massa no interior do biodigestor (ideal para sistemas contínuos). A porcentagem
de metano constituído no biogás é maior quando o processo de fermentação ocorre a
temperaturas mais elevadas.
Barrera (2003) indica que o mais importante é que o processo seja feito a uma
temperatura constante, pois as arqueas metanogênicas (responsáveis pela produção
do biogás) são mais sensíveis a variações bruscas de temperatura, além de que a
temperaturas inferiores a 35ºC o processo de digestão é menor e, para temperaturas
inferiores a 15ºC a produção é muito reduzida, podendo ser cessada.

3. METODOLOGIA
Busca-se identificar a viabilidade da implementação da geração de energia
elétrica através da biomassa, visto que o ser humano hoje produz muito lixo
diariamente e é composto majoritariamente por matéria orgânica.
O processo de geração de energia por meio da biomassa é detalhado na figura
12. A biomassa é colocada no tanque de decantação e separação, uma parte é
utilizada como biofertilizante e a outra vai para o biodigestor para se transformar em
biogás.

Figura 12 – Processo de transformação da biomassa em energia.

Fonte: Detalhamento do Projeto para Estudo de Caso

Com os dados da análise gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos de Campo


Grande – MS pela CETESB, EPE, MME (2008), nota-se a presença majoritária de
materiais não recicláveis e, principalmente, de matéria orgânica putrescível. Com isso,
busca-se identificar o biodigestor mais adequado à essa situação.
Neste caso, tem-se preferência pelo uso de biodigestor de digestão úmida e
contínua (CSTR). A digestão úmida apresenta, em geral, maior taxa de produção de
biogás e uma maior estabilidade do processo, além do maior controle das emissões
de metano e a possibilidade de se utilizar o material digerido na agricultura como
fertilizante.
Todavia, a digestão úmida requer que o substrato seja previamente tratado
(umidificação) de modo que atinja um teor de sólidos totais (ST) menor que 15%, além
de uma homogeneização importante para a mistura e transporte pelo reator
(PROBIOGÁS, 2015).
O sistema contínuo (CSTR) geralmente é composto por duas fases nos
digestores, que tem início com uma hidrólise, com detenção hidráulica de 2 a 5 dias,
seguidas dos processos restantes. Essa divisão é adotada quando se há uma
flutuação na quantidade de substrato que alimenta o biodigestor (PROSAB, 2003),
como é no caso da coleta em Campo Grande – MS, representado na figura 13.
Figura 13 – Distribuição semanal do peso de RSU coletado (% do peso total coletado em uma
semana)

Fonte: Aproveitamento Energético dos RSU de Campo Grande, MS. CETESB, EPE etc. 2008.

Diante das observações e pesquisas bibliográficas realizadas, adotou-se como


proposta o sistema descrito a seguir:
• Câmara de entrada: um reservatório anterior aos tanques biodigestores
onde é realizado o pré-tratamento do substrato. A biomassa será diluída para que se
atinja o percentual de no máximo 10% de ST em sua composição, além de ser
triturada e equalizada para alimentar o tanque de digestão de maneira ordenada e
contínua.
• Tanque digestor: trata-se do biodigestor e será composto por duas
câmaras. A primeira será responsável pela hidrólise e outra para o restante do
processo. Foi escolhido um biodigestor de duas câmaras pois conforme PROSAB
(2003) é o mais adequado quando há mudança na quantidade de biomassa inserida.
• Armazenamento de gases: será utilizado um gasômetro do tipo
membrana dupla.
• Descarga de fundo: serão instaladas tubulações acopladas na lateral da
primeira câmara do tanque digestor e na parte inferior da segunda câmara do tanque
digestor. A descarga de fundo da primeira câmara deve ser feita a cada 30 dias para
evitar o entupimento do sistema (NAZARO E NOGUEIRA, 2016), pode-se assim
retirar os sólidos e colocá-los novamente ao sistema. A tubulação de descarga de
fundo da segunda câmara poderá levar a um pós-tratamento onde separa-se sólido-
líquido para posterior uso do biossólido gerado como fertilizante. O sistema de
biodigestão descrito acima é representado através da figura 14.

Figura 14 – Fluxograma do sistema de digestão.

Fonte: Autores (2021).

3.1 PARÂMETROS OPERACIONAIS


A descrição do processo de digestão anaeróbica geralmente utiliza os
seguintes parâmetros (REIS, 2012).

3.1.1 Tempo de detenção hidráulica


Descreve a razão entre o volume útil do reator e a vazão de entrada (substrato
afluente), conforme a equação 1 abaixo.

Equação (1)
Onde: TDH = tempo de detenção hidráulico;
V = volume útil do reator (m³);
Q = vazão (m³/dia).
3.1.2 Carga orgânica volumétrica
Trata-se da quantidade de substrato afluente introduzido por volume de reator
em determinado tempo. A medida do substrato pode ser quantificada pela DQO, ST
ou STV.

Equação (2)
Onde: COV = carga orgânica volumétrica (kg substrato/m³ . dia);
Q = vazão afluente de substrato (m³/dia);
S = concentração do substrato no afluente (kg/m³);
V = volume útil do reator (m³).

3.1.3 Taxa de produção de gás (Gas Production Rate – GPR)


Descreve a razão entre o gás produzido, por unidade de volume de reator, em
um determinado tempo.

Equação (3)
Onde: GPR = taxa de produção de gás (m³ gás/m³ reator . dia);
Qgás = vazão de gás (m³/dia);
V = volume útil do reator (m³).

3.2 RESULTADOS E DISCUSSÕES


3.2.1 Geração de Resíduos da Cidade de Campo Grande – MS
A quantidade de resíduos sólidos urbanos (RSU) coletados em Campo Grande
têm crescido a taxas elevadas nos últimos 20 anos. O quadro 3 resume a quantidade
de RSU coletada em Campo Grande entre 1985 e 2005, recuperada por Oliveira e
Peixoto Filho (2007).
Quadro 3 – Quantidade de RSU coletados em Campo Grande

Fonte: PLANURB (2006) apud Oliveira e Peixoto Filho (2007) em valores arredondados.

Com base no percentual indicado no quadro 1 anteriormente citado, temos que


cerca de 60% do RSU coletado é composto de matéria orgânica, e conforme a figura
13 temos uma variação diária no peso coletado. Com isso, temos as seguintes
estimativas anuais de matéria orgânica coletada ilustradas no gráfico 1.

Gráfico 1 – Matéria orgânica coletada e previsão até 2025.

MATÉRIA ORGÂNICA (ton)


160000,00

140000,00

120000,00

100000,00

80000,00

60000,00

40000,00

20000,00

0,00
1995

2009

2023
1985
1987
1989
1991
1993

1997
1999
2001
2003
2005
2007

2011
2013
2015
2017
2019
2021

2025

Fonte: Autores (2021).

A estimativa realizada tem como base nos dados do estudo “Aproveitamento


Energético dos Resíduos Sólidos Urbanos de Campo Grande, MS – EPE, MME,
CETESB” e nota-se que se não houver aproveitamento dos RSU gerados na cidade,
a estimativa é de que haja produção de quase 140.000,00 toneladas de matéria
orgânica em 2025.
Diariamente, temos as seguintes estimativas de geração de matéria orgânica,
conforme ilustrado no gráfico 2.

Gráfico 2 – Coleta diária de matéria orgânica em Campo Grande - MS

MATÉRIA ORGÂNICA DIÁRIA (ton)


90

80

70

60

50

40

30

20

10

0
1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021 2023 2025

segunda terça quarta quinta sexta sabado

Fonte: Autores (2021)

Considerando a estimativa acima e, para fins de cálculos, considerar-se-á o


ano de 2021. A coleta de matéria orgânica nos RSU será, aproximadamente,
conforme o quadro 3.
Quadro 3 – Estimativa da matéria orgânica coletada em 2021.
DIA DA MATÉRIA ORGÂNICA
SEMANA (ton).
SEGUNDA-
FEIRA 75
TERÇA-FEIRA 68
QUARTA-FEIRA 48
QUINTA-FEIRA 42
SEXTA-FEIRA 53
SÁBADO 55
Fonte: Autores (2021).

Trazendo os valores para uma média diária, temos que diariamente são
coletadas, aproximadamente, 57 toneladas de matéria orgânica presentes no RSU da
cidade.

3.2.2 Avaliação do potencial de geração do gás metano e potencial energético


gerado
Para avaliar o potencial de geração de biogás no biodigestor e seu
aproveitamento energético baseia-se nas etapas a seguir:

1. Estimativa da quantidade de gás metano produzida a partir do teor de


degradabilidade do substrato afluente
Diversos autores sugerem que a porcentagem de sólidos totais voláteis (SV)
que compõem os resíduos alimentares varia conforme o quadro 4.

Quadro 4 – Composição de SV característica dos resíduos alimentares

Fonte: Camila Marçal Rocha (2016).

Segundo Ferreira (2015), uma tonelada de sólidos voláteis produz em média


um volume de 400m³ de metano (CH4).
A partir do Quadro 4, tem-se que resíduos alimentares possuem em média 23%
de sólidos voláteis em sua composição e considerando a média diária coletada de
matéria orgânica (57 toneladas), a quantidade de sólidos voláteis é igual a:

13,11 ton. SV/dia

E a quantidade média de metano produzida diariamente será de


aproximadamente:

5244 m³/dia

2. Estimativa da quantidade de gás metano produzida a partir de uma certa


quantidade do substrato afluente
O metano proveniente de efluentes domésticos pode ser calculado através da
metodologia indicada pelo Intergovernmental Panel Of Climate Change (IPCC, 2006),
para Tratamento Biológico de Resíduos Sólidos (Biological Treatment Of Solid Waste).
A equação 4 ilustra o cálculo a ser realizado.

Equação (4)
Onde: CH4emissões = emissões de CH4 (kgCH4);
Mi = massa de resíduo orgânico do tipo i (no caso, comercial) tratado
biologicamente (kg);
EFi = fator de emissão para o tratamento i (no caso, anaeróbico) (g CH 4/kg
resíduo tratado).

Segundo a metodologia IPCC, o fator de emissão para o tratamento anaeróbio


dos RSU pode variar de 0 a 8 g CH4/kg resíduo tratado (que depende de fatores como
tipo, quantidade, consistência, temperatura que ocorrerá o processo, dentre outros).
No caso de não ser possível a determinação desse fator, utilizar-se-á o fator de
emissão igual a 0,8.
Utilizando então o fator de emissão igual a 0,8 e com base nos dados
analisados e estimados, temos que a quantidade de gás metano produzido a partir da
quantidade de resíduo a ser degradada é de:
45,6 kg

O gás metano tem densidade igual a 0,656 kg/m³, em CNTP, portanto tem-se
a produção de aproximadamente:

69,51 m³/dia

Nota-se uma grande diferença entre o potencial obtido anteriormente


(5244m³/dia), e isso se deve ao fato de que o fator de emissão para o tratamento
apresenta valores variáveis (conforme caracterizado anteriormente). A metodologia
do IPCC (2006) recomenda que deve se utilizar os valores condizentes com a
realidade local. Com isso, chega-se ao fator de emissão aproximado de 92g CH4/kg
de resíduo orgânico tratado.

3. Estimativa do potencial energético do gás metano produzido


Segundo Coldbella et al., 2006, o metano, em condições normais de
temperatura e pressão (CNTP), tem o poder calorífico inferior (CPI) de 9,9 kWh/m³, o
biogás terá um poder calorífico entre 4,95 e 7,92 kWh/m³ se o seu teor de metano
variar entre 50% a 80%. A eficiência de conversão do biogás em energia elétrica com
grupos de geradores (motores ciclo Otto) é de aproximadamente 25% (CCE, 2000).
Com isso, temos que a produção energética produzida deva ser inferior a,
aproximadamente:

51.915,6 kWh/dia

Entretanto, como a eficiência de conversão do biogás em energia elétrica com


grupos geradores (ciclo Otto) é de aproximadamente 25%, a produção real será de
aproximadamente:

12.978,9 kWh/dia
De acordo com a Resenha Mensal do Mercado de Energia divulgada pela EPE,
em janeiro de 2016, o consumo médio mensal residencial de energia por unidade
consumidora no período de dezembro de 2014 a dezembro de 2015 foi de 161,8 kWh
(EPE, 2016). Com a produção estimada de 389.367 kWh por mês, seria possível suprir
a demanda de 2400 residências.

3.2.3 Dimensionamento do Biodigestor


Para realizar o dimensionamento do biodigestor adotou-se parâmetros de
projeto estimando-se que serão tratados os resíduos orgânicos provenientes da coleta
de lixo da cidade de Campo Grande – MS.

• Cálculo do volume de água necessário


Como discutido anteriormente, sugere-se a utilização de um biodigestor de
digestão úmida e contínua. Para isso, o substrato deve passar por uma umidificação
de modo que contenha no máximo 10% de sólidos totais. Diversos autores sugerem
que a porcentagem presente nos resíduos alimentares (matéria orgânica putrescível)
varia na faixa de 30,9 a 18%, conforme o quadro 5.

Quadro 5 – Composição de ST característica dos resíduos alimentares.

Fonte: Camila Marçal Rocha (2016).

A determinação da carga de sólidos totais adicionadas diariamente no


biodigestor terá como base a média dos valores citados no quadro 5 (25% ST) e, como
a média diária de matéria orgânica coletada é de 57 toneladas, tem-se que:

Equação (5)
Onde: CST = carga de sólidos totais adicionada diariamente no biodigestor
(kg/dia);
Pd = produção diária de resíduos (kg/dia);
STi = fração sólida do substrato inicial (%).

CST = 14.250 kg/dia ou 14,2 toneladas/dia

De acordo com esses parâmetros conclui-se que diariamente são adicionados


3306 kg de sólidos totais ao tanque de digestão. Como é necessário que o substrato
entre no tanque com 10% de sólidos totais diluído, a massa total de alimentação diária
deve ser de:

Equação (6)
Onde: Mt = massa total de alimentação diária (kg/dia);
CST = carga de sólidos totais adicionadas diariamente no biodigestor (kg/dia);
STF = fração sólida do substrato final (%);

Mt = 142.500 kg/dia ou aproximadamente 142 toneladas/dia

Devem ser adicionados ao tanque de digestão 142.500 kg de resíduo por dia.


Como deste montante 52.000 kg são resíduos orgânicos, o restante deve ser água.
Sendo a densidade da água = 1000 kg/m³, o volume final de água a ser adicionado é
calculado como:

Peso de água a ser adicionado = (142.500 kg/dia) – (52.000 kg/dia)


= 90.500 kg/dia
Volume de água a ser adicionado = 90,5 m³ = 90.500 L

• Cálculo do volume do biodigestor


De acordo com Tchobanoglous e Vigil (1993) a massa específica do resíduo
orgânico varia entre 131,0 kg/m³ e 481,0 kg/m³, sendo 291,0 kg/m³ o valor típico. Os
estudos de Tavares (2018) indicaram 504,70 kg/m³ enquanto Albertoni (2013) indica
a massa específica em 481,56 kg/m³. A fim de realizar os cálculos necessários, adota-
se o valor de 430 kg/m³. Outra variável importante para o dimensionamento é o tempo
de detenção hidráulica (TDH).
Sasse (1998) traz que o aumento do tempo de detenção hidráulica resulta em
elevação de temperatura, além do tempo, para ocorrência das reações de digestão
anaeróbia que propicia maior ganho líquido de energia, devido a maior produção de
biogás. Por outro lado, reatores com TDH elevados requerem grande capacidade de
armazenamento. Deste modo, é fundamental ter-se o tempo de detenção hidráulica
ideal do substrato, levando-se em conta a produção necessária de biogás que viabilize
o projeto e a área disponível para implantação do biodigestor.
Para que a digestão anaeróbia ocorra dentro da faixa de digestão mesofílica
(20 a 35ºC), o TDH deve ser maior que 20 dias (SASSE, 1998). Com isso, adota-se
para este estudo o tempo de detenção hidráulica de 30 dias, sendo 4 dias destinados
para a hidrólise, desta forma o volume do tanque digestor é definido como:
Como adota-se a massa específica igual a 430 kg/m³, e tem-se 57 toneladas:

132,55 m³ de resíduo alimentar ou matéria orgânica putrescível.

A vasão de água a ser adicionada para que o substrato possua no máximo 10%
de sólidos totais é de 90,5 m³, a vazão total de entrada é igual a:

223,05 m³

Com isso, tem-se:

Vdigestor câmara 1 = 223,05 m³/dia * 5 dias = 1.115,25 m³


Vdigestor câmara 2 = 223,05 m³/dia * 25 dias = 8.3825 m³
4. CONCLUSÃO
O estudo mostrou resultados extremamente satisfatórios, de acordo com a
metodologia IPCC (2006) chega-se a um potencial de manter-se mais de 2000
residências (EPE, 2016) em pleno funcionamento mensalmente. Todavia, como
identificado nos resultados, o volume necessário para os digestores é muito alto.
Todavia esse não deve ser um empecilho, visto que segundo estimativas com
os dados coletados, em 2025 produzir-se-á cerca de 140 mil toneladas de matéria
orgânica por ano. Trata-se de um enorme potencial energético desperdiçado e que
contribui para o aumento da poluição dos lençóis freáticos, bem como a
consequências socioambientais (transmissão de doenças, vulnerabilidade de parte da
população etc.).
Além disso, há outras variáveis que devem ser analisadas em próximos
estudos, tais como utilização de mecanismos para acelerar o processo de biodigestão
(utilização de enzimas, reaproveitamento de parte do material já fermentado – que
pode acelerar a digestão pelas bactérias, controle da temperatura etc.). Além do
fracionamento da utilização dessa matéria orgânica, dividindo a produção em mais
tanques biodigestores e a produção de biofertilizantes com o substrato que sobra.
É fundamental que haja mais estudos sobre como utilizar de maneira adequada
os resíduos sólidos urbanos e industriais, visto que com o passar dos anos o ser
humano tem aumentado a produção de lixo em níveis alarmantes, bem como a
poluição do meio ambiente tem-se evoluído muito rapidamente.
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