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Gabriel C. de Arruda3
Nadya Kalache5
RESUMO
A busca por recursos energéticos renováveis, pouco poluentes e de boa
eficiência tornou-se necessária devido aos problemas ambientais recorrentes que a
humanidade têm vivenciado e devido à grande dependência das matrizes
energéticas/elétricas atuais (petróleo, gás natural, hidroelétricas – como no Brasil
etc.). Além disso, a produção de resíduos pelo homem tem crescido a níveis
alarmantes, Campo Grande – MS por exemplo, produzia em 1985 cerca de 70 mil
toneladas de resíduos e passou a produzir mais de 170 mil toneladas em 2005.
Apenas 8% dos resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil são destinados a
reciclagem e cerca de 40% dos lixos urbanos são destinados a áreas inadequadas,
como lixões por exemplo. É evidente a necessidade do homem em reciclar seus
resíduos, visto o tamanho impacto ambiental que decorre da geração de resíduo sem
reaproveitamento.
1 Artigo apresentado à Fundação Universidade de Mato Grosso do Sul – UFMS, como parte dos
requisitos para obtenção de nota da disciplina de Fontes Alternativas de Energia.
2 Graduanda em Engenharia de Produção pela UFMS - neckellarissa@gmail.com
3 Graduando em Engenharia de Produção pela UFMS – gabriel.chaves@ufms.br
4 Graduando em Engenharia Civil pela UFMS - wvalle900@gmail.com
5 Professora e orientadora. Doutora em Engenharia Elétrica pela UNESP, mestre em Engenharia
Elétrica pela UFMS, graduada em Engenharia Mecatrônica pela UCDB e atual professora ajunta II da
UFMS.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
2. REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................... 4
2.1 CONTEXTO DA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ........................................ 4
2.2 GERAÇÃO POR BIOMASSA ................................................................................ 5
2.2.1 Biomassa oriunda de rejeitos urbanos ............................................................... 6
2.2.2 Rejeitos Sólidos Urbanos (RSU) em Campo Grande - MS ................................ 7
2.3 BIODIGESTOR ..................................................................................................... 8
2.3.1 Modelo Indiano ................................................................................................... 9
2.3.2 Modelo Chinês ................................................................................................. 10
2.3.3 Modelo Canadense .......................................................................................... 12
2.4 FERMENTAÇÃO ANAERÓBICA ........................................................................ 13
2.5 BIOGÁS............................................................................................................... 13
2.5.1 Formação do biogás ......................................................................................... 14
2.6 CONDIÇÕES OPERACIONAIS .......................................................................... 14
2.6.1 Concentração dos nutrientes............................................................................ 15
2.6.2 Condições de pH .............................................................................................. 15
2.6.3 Condições de temperatura ............................................................................... 15
3. METODOLOGIA .................................................................................................... 15
3.1 PARÂMETROS OPERACIONAIS ....................................................................... 18
3.1.1 Tempo de detenção hidráulica ......................................................................... 18
3.1.2 Carga orgânica volumétrica.............................................................................. 19
3.1.3 Taxa de produção de gás (Gas Production Rate – GPR)................................. 19
3.2 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................ 19
3.2.1 Geração de Resíduos da Cidade de Campo Grande – MS.............................. 19
3.2.2 Avaliação do potencial de geração do gás metano e potencial energético
gerado ....................................................................................................................... 22
3.2.3 Dimensionamento do Biodigestor ..................................................................... 25
4. CONCLUSÃO........................................................................................................ 28
5. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 29
1. INTRODUÇÃO
Segundo site Toda Matéria a biomassa é toda matéria orgânica, de origem
vegetal ou animal, utilizada na produção de energia. Ela é obtida através da
decomposição de uma variedade de recursos renováveis, como plantas, madeira,
resíduos agrícolas, restos de alimentos, excrementos e até do lixo.
Os impactos do uso da lenha nas antigas civilizações. Apesar de a lenha ser
uma fonte renovável de energia, os estoques utilizados nem sempre são repostos. A
expansão da civilização desde a época greco-romana induziu ao consumo de grandes
quantidades de lenha para produzir calor e para construir edifícios, embarcações,
armamentos e outros bens. A devastação foi tal que hoje praticamente não há
florestas virgens na região do Mediterrâneo. Como não havia preocupação com a
capacidade do ambiente em repor os recursos naturais, algumas regiões foram
devastadas. Quando os recursos se tornavam escassos, a questão se resolvia pelo
abandono da região ou disputando-se as melhores terras. Algumas vezes isso não
era possível e populações inteiras foram dizimadas pela fome.
Muita energia vem do Sol para a Terra, uma parte é incorporada nos vegetais
através da fotossíntese e serve para sustentar toda a cadeia alimentar do planeta. A
biomassa é uma fonte renovável de energia e engloba diversas subcategorias, desde
as mais tradicionais (como a lenha e os resíduos animais e vegetais) até as mais
modernas (como o etanol para automóveis, biodiesel, bagaço de cana para cogeração
energética e gás de aterros sanitários utilizados para a geração de eletricidade).
No tratamento anaeróbio, em condições de ausência de oxigênio, o processo
de degradação biológica da matéria orgânica presente no esgoto gera uma mistura
de gases que denominamos de biogás. Formado por diferentes substâncias, o biogás
é composto principalmente por metano, nitrogênio e gás carbônico, apresentando,
ainda, em pequenas proporções, oxigênio, hidrogênio, gás sulfídrico, monóxido de
carbono, amônia, siloxanos, água e material particulado.
O biogás, devido ao seu alto teor de metano, constituinte com elevado poder
calorífico, pode ser coletado e convertido em energia. Por outro lado, o metano é
considerado o mais importante gás de efeito estufa (GEE), por apresentar um
potencial de aquecimento global (Global Warming Potential – GWP) 28 vezes maior,
no horizonte de 100 anos, quando comparado ao gás carbônico.
O conteúdo energético do biogás pode ser recuperado e utilizado para geração
de eletricidade e como combustível alternativo, alguns locais inclusive discutem a
utilização de biogás nos transportes públicos. Uma maneira ecologicamente viável de
reaproveitar esse subproduto do tratamento de esgoto.
Segundo o Físico José Goldemberg, Revista Energias Renováveis: Um Futuro
Sustentável, USP fev. 2007, as fontes fósseis de energia predominam até hoje na
matriz energética mundial. Em 2001, o mundo consumiu quase 80% de energias
fósseis em um total de 10,2 bilhões de toneladas equivalentes de petróleo.
A principal delas é o petróleo (35% do total), mas as parcelas de carvão (23%)
e gás natural (22%) também são bastante significativas. A energia nuclear, também
não renovável, contribuiu com cerca de 7%.
As fontes renováveis contribuíram com os 13% restantes. Apenas 4% da matriz
energética mundial foi suprida com a energia hidrelétrica e com as outras opções
“modernas” (2%), como eólica, solar e biocombustíveis.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 CONTEXTO DA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
Segundo LEZAMA, FELTRIN (2008), a geração de energia elétrica de forma
distribuída ou geração distribuída são expressões usadas para descrever a geração
elétrica realizada junta ou próxima aos consumidores.
A ideia de fomentar a geração de energia elétrica de forma distribuída visa
propiciar o crescimento da oferta de energia elétrica, com a possibilidade de o
consumidor ter sua própria produção e, inclusive vender o excedente à
concessionária. A produção geralmente é realizada através de fontes renováveis
(painéis solares, turbinas eólicas, biomassa etc.).
Utiliza-se essa geração para seu consumo diário (na ausência de baterias) e
quando a necessidade for atendida, o excedente é injetado na rede para a utilização
de outros consumidores. Esse mesmo consumidor (que gera a energia) permanece
conectado na rede elétrica, pois quando sua geração não consiga suprir suas
necessidades, ele utilizará a energia proveniente da rede elétrica.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mais de 80% da
energia elétrica consumida no Brasil vem de fontes renováveis. Esse cenário é
mostrado na Figura 1.
Figura 1 – Consumo final de energia elétrica por fonte.
Fonte: Aproveitamento Energético dos RSU de Campo Grande, MS. CETESB, EPE etc. 2008.
2.3 BIODIGESTOR
Segundo SHUBEITA, biodigestor é constituído por um ou mais recipientes onde
a biomassa é guardada e passa por um processo de fermentação anaeróbica que tem
como resultado o biogás e biofertilizantes. O biodigestor anaeróbio é um sistema
fechado onde é feita a degradação da matéria orgânica por ação microbiológica, que
geralmente conta com um sistema de entrada de matéria orgânica, um tanque onde
ocorre a digestão e um mecanismo para retirada de subprodutos (REIS, 2012).
Há diferentes tipos de biomassas para produção de biogás e para o
processamento, pode-se usar um único tipo ou realizar uma mistura. Em relação ao
abastecimento de biomassa há também classificação, pode ser de forma temporal ou
por demanda. (SHUBEITA et al.,).
Os tipos de biodigestores mais conhecidos são o modelo indiano, o modelo
chinês e o modelo canadense (SOUZA, 2010).
2.3.1 Modelo Indiano
O modelo de biodigestor indiano caracteriza-se por possuir uma campanula
flutuante como gasômetro que pode estar mergulhada sobre a biomassa em
fermentação ou em um selo de água externo, o que reduz as perdas durante o
processo de produção de gás. Possui ainda uma parede central, fazendo do tanque
de fermentação um tanque de câmara dupla, como pode ser visto na figura 5. À
medida que o volume de gás produzido não é imediatamente consumido, o gasômetro
tende a deslocar-se verticalmente, aumentando seu volume e mantendo a pressão de
operação constante. (DEGANUTTI et al, 2002).
O uso do modelo é indicado para períodos mais longos e sua instalação pode
ser feita por apenas um tanque anaeróbio ou vários em serie e por último seu
abastecimento é feito de uma única vez, mantendo a fermentação por um período que
seja conveniente. (SOUZA, 2010).
2.4 FERMENTAÇÃO ANAERÓBICA
A digestão anaeróbica é um processo de fermentação simples que ocorre na
presença de matéria orgânica sob ação de microrganismos, ou seja, é um processo
biológico que ocorre em diferentes fases de maneira simbiótica (Kelleher et al., 2002).
Os microrganismos são hidrolíticos, acidogênicos, acetogênicos e
metanogênicos. As bactérias acidogênicas e as arqueas metanogênicas apresentam
diferentes características, principalmente em relação à nutrição, a fisiologia, ao pH, o
crescimento e a sensibilidade quanto a variações de temperatura.
2.5 BIOGÁS
Segundo COLDEBELLA, 2006, o biogás é um gás natural resultante da
fermentação anaeróbia de resíduos orgânicos como dejetos de animais, resíduos
vegetais, lixo industrial ou residencial em condições adequadas. É um combustível
gasoso com alto potencial energético e pode ser utilizado para geração de energia
elétrica, térmica ou mecânica (SOUZA, 2004).
O biogás é constituído por uma mistura de gases como mostra no (Quadro 2),
sendo que a fração de cada gás presente é determinada pelas características do
resíduo e as condições de operação do processo de digestão, sendo basicamente
composto por metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), apresentando em torno de
65% de metano (COLDEBELLA, 2006). Em linhas gerais, a constituição típica do
biogás é a seguinte:
2.6.2 Condições de pH
As variações de acidez seguem o mesmo princípio da temperatura, ou seja,
cada grupo de bactérias possui seu ponto ideal de acidez. Nas fases de hidrólise e
acidogênese o pH ideal deve ser em torno de 5,2 à 6,3.
Na acetogênese e metanogênese o pH ideal fica entre 6,5 à 8. Abaixo do pH
crítico pode haver precipitação de íons metálicos, bem como inibição da ação
bacteriana, devido à produção de ácidos. Acima do pH crítico, a partir do qual a
concentração de íons carbonatos disponíveis é elevada, os metais passam a ser
precipitados na forma de carbonatos, e neste caso é acentuada a influência do pH.
3. METODOLOGIA
Busca-se identificar a viabilidade da implementação da geração de energia
elétrica através da biomassa, visto que o ser humano hoje produz muito lixo
diariamente e é composto majoritariamente por matéria orgânica.
O processo de geração de energia por meio da biomassa é detalhado na figura
12. A biomassa é colocada no tanque de decantação e separação, uma parte é
utilizada como biofertilizante e a outra vai para o biodigestor para se transformar em
biogás.
Fonte: Aproveitamento Energético dos RSU de Campo Grande, MS. CETESB, EPE etc. 2008.
Equação (1)
Onde: TDH = tempo de detenção hidráulico;
V = volume útil do reator (m³);
Q = vazão (m³/dia).
3.1.2 Carga orgânica volumétrica
Trata-se da quantidade de substrato afluente introduzido por volume de reator
em determinado tempo. A medida do substrato pode ser quantificada pela DQO, ST
ou STV.
Equação (2)
Onde: COV = carga orgânica volumétrica (kg substrato/m³ . dia);
Q = vazão afluente de substrato (m³/dia);
S = concentração do substrato no afluente (kg/m³);
V = volume útil do reator (m³).
Equação (3)
Onde: GPR = taxa de produção de gás (m³ gás/m³ reator . dia);
Qgás = vazão de gás (m³/dia);
V = volume útil do reator (m³).
Fonte: PLANURB (2006) apud Oliveira e Peixoto Filho (2007) em valores arredondados.
140000,00
120000,00
100000,00
80000,00
60000,00
40000,00
20000,00
0,00
1995
2009
2023
1985
1987
1989
1991
1993
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2011
2013
2015
2017
2019
2021
2025
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021 2023 2025
Trazendo os valores para uma média diária, temos que diariamente são
coletadas, aproximadamente, 57 toneladas de matéria orgânica presentes no RSU da
cidade.
5244 m³/dia
Equação (4)
Onde: CH4emissões = emissões de CH4 (kgCH4);
Mi = massa de resíduo orgânico do tipo i (no caso, comercial) tratado
biologicamente (kg);
EFi = fator de emissão para o tratamento i (no caso, anaeróbico) (g CH 4/kg
resíduo tratado).
O gás metano tem densidade igual a 0,656 kg/m³, em CNTP, portanto tem-se
a produção de aproximadamente:
69,51 m³/dia
51.915,6 kWh/dia
12.978,9 kWh/dia
De acordo com a Resenha Mensal do Mercado de Energia divulgada pela EPE,
em janeiro de 2016, o consumo médio mensal residencial de energia por unidade
consumidora no período de dezembro de 2014 a dezembro de 2015 foi de 161,8 kWh
(EPE, 2016). Com a produção estimada de 389.367 kWh por mês, seria possível suprir
a demanda de 2400 residências.
Equação (5)
Onde: CST = carga de sólidos totais adicionada diariamente no biodigestor
(kg/dia);
Pd = produção diária de resíduos (kg/dia);
STi = fração sólida do substrato inicial (%).
Equação (6)
Onde: Mt = massa total de alimentação diária (kg/dia);
CST = carga de sólidos totais adicionadas diariamente no biodigestor (kg/dia);
STF = fração sólida do substrato final (%);
A vasão de água a ser adicionada para que o substrato possua no máximo 10%
de sólidos totais é de 90,5 m³, a vazão total de entrada é igual a:
223,05 m³
CCE - Centro para Conservação de Energia. Guia Técnico do Biogás. Ed. JE92
Projectos de Marketing Ltda, Algés, Junho, 2000.