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Norberto Bobbio

Vitória da Conquista-BA

2023
Trabalho da disciplina de Ciência Política e Teoria Geral do
Estado, ministrado pelo professor Edvaldo Ferreira Jr, a
respeito de Norberto Bobbio um filósofo, militante político,
abordado pelos alunos: Andreina Lima, Arthur Brito, Isadora
Oliveira, Jhosapha Henrique e Leonardo Meira da turma de
Direito/Matutino.

Vitória da Conquista-
BA
2023
Norberto Bobbio

Norberto Bobbio nasceu em Turim, em 18 de outubro de 1909, filho de uma família burguesa
tradicional. Seu pai, Luigi Bobbio, era médico-cirurgião e o avô, Antonio Bobbio, professor e diretor
de escola, um católico liberal que se interessava por filosofia e colaborava periodicamente com os
jornais. Iniciou-se na leitura de textos de Bernard Shaw, Balzac, Stendhal e Thomas Mann, dentre
outros. Foi amigo de infância do escritor Cesare Pavese, com quem lia os clássicos em inglês.

Em sua Autobiografia, diz: “Fui educado a considerar todos os homens iguais e a pensar que
não há nenhuma diferença entre quem é culto e quem não é culto, entre quem é rico e quem
não é rico.” E continua: “Recordei essa educação para um estilo de vida democrático, mas
confesso ter-me sentido pouco à vontade diante do espetáculo das diferenças entre ricos e
pobres, entre quem está por cima e quem está por baixo na escala social, enquanto o
populismo fascista tinha em mira arregimentar os italianos dentro de uma organização social
que cristalizasse as desigualdades”.
Considerado por muitos como a consciência democrática da política de seu país, participou
ativamente da resistência a Mussolini e ajudou a estruturar a política italiana do pós-guerra.
Norberto Bobbio praticamente viveu o século 20 por inteiro. Formou-se em Direito em 1931 e em
Filosofia em 1933, na Universidade de Turim, instituição da qual foi professor de Filosofia do
Direito, entre 1948 e 1972, e de Filosofia Política, de 1972 a 1979. Em 1935, tornou-se livre-
docente em Filosofia do Direito e, desse ano até o retorno à cidade natal, ensinou nas
universidades de Camerino, Siena e Pádua. Seu interesse pelo Direito e pela Filosofia e, ainda,
pela história das idéias levou-o a percorrer um trajeto acadêmico distinto do que era tradicional na
Itália. Assim, ao lecionar Ciência Política com Filosofia do Direito, inaugura em Turim,
paralelamente a Giovanni Sartori, em Florença, a primeira cátedra de Ciências Sociais da Itália.
Quando encerrou as atividades docentes, despediu-se com uma citação de Max Weber: “A cátedra
universitária não é nem para os demagogos, nem para os profetas.” Dedicou as décadas seguintes
à escrita, ao comentário político e ensaístico. Assumiu-se como observador e analista
independente, incapaz de se acomodar a uma militância partidária que julga inibidora e
desinteressante. Enfatizou sempre o compromisso dos homens de cultura com o diálogo.
Colaborou com jornais e revistas por meio de ensaios, alguns dos quais estão reunidos em As
ideologias e o poder em crise e no recente Cinquant’anni e non bastano. Scritti di Norberto Bobbio
sulla rivista “Il Ponte”.
Norberto Bobbio foi o filósofo da democracia e um insuperável combatente em favor dos direitos
humanos. É considerado um dos pensadores mais importantes do século passado. Manteve
íntegra sua independência intelectual, mas esteve sempre aberto ao diálogo com os adversários e
exerceu um importante papel de mediador, em nome da razão e da liberdade. Em 1984, em
reconhecimento à sua trajetória, foi declarado professor emérito da Universidade de Turim e
nomeado senador vitalício da Itália pelo presidente Sandro Pertini. Morreu no dia 9 de janeiro de
2004, em Turim, aos 94 anos. Deixou para o pensamento político e para a Filosofia do Direito uma
das maiores obras teóricas de caráter universal e um legado intelectual de aproximadamente cinco
mil títulos.
Política para Bobbio

Norberto Bobbio (1909-2004) foi um dos maiores politógos do século XX. Dentre sua extensa obra,
deixou uma importante contribuição à Ciência Política: seu livro Teoria Geral da Política: a filosofia
política e as lições dos Clássicos. Este texto tentará abordar ligeiramente algumas considerações
sobre o conceito de política na visão desse autor.
A palavra política deriva de politikós, do grego, e diz respeito àquilo que é da cidade, da pólis (na
Grécia Antiga), da sociedade, ou seja, que é de interesse do homem enquanto cidadão. Já na
Grécia Antiga, um dos primeiros a tratar da política como uma prática intrínseca aos homens foi
Aristóteles, com seu livro A Política.
Ao longo do tempo, o termo política deixou de ter o sentido de adjetivo (aquilo que é da cidade,
sociedade) e passou a ser um modo de “saber lidar” com as coisas da cidade, da sociedade.
Assim, fazer política pode estar associado às ações de governo e de administração do Estado. Por
outro lado, também diria respeito à forma como a sociedade civil se relaciona com o próprio
Estado.
Mas para Norberto Bobbio, falar em política enquanto prática humana conduz, consequentemente,
a se pensar no conceito de poder. O poder estaria ligado à ideia de posse dos meios para se obter
vantagem (ou para fazer valer a vontade) de um homem sobre outros. Assim, o poder político diria
respeito ao poder que um homem pode exercer sobre outros, a exemplo da relação entre
governante e governados (povo, sociedade). Contudo, ao falar em poder político, é preciso pensar
em sua legitimação. Podemos ter poderes políticos legitimados por vários motivos, como pela
tradição (poder de pai, paternalista), despótico (autoritário, exercido por um rei, uma ditadura) ou
aquele que é dado pelo consenso, sendo este último um modelo de governo esperado. O poder
exercido pelo governante em uma democracia, por exemplo, dá-se pelo consenso do povo, da
sociedade. No caso brasileiro, o poder da presidenta é garantido por que existe um consenso da
sociedade que o autoriza e, além disso, há uma Constituição Federal que formaliza e dá garantias
a esse consenso.

Um dos ensinamentos mais preciosos de Norberto Bobbio (1909-2004) no campo da teoria política
é saber ouvir as lições dos clássicos. Essas lições permitem estudar os temas recorrentes que se
colocam em relação aos grandes problemas, igualmente recorrentes, da reflexão política. O estudo
desses temas, que atravessam toda a história do pensamento político, tem como função, segundo
Bobbio, “individuar certas categorias que permitem fixar em conceitos gerais os fenômenos que
passam a fazer parte do universo político”. A primeira função, portanto, é a de determinar os
conceitos políticos fundamentais, enquanto a segunda consiste em estabelecer entre as diversas
teorias políticas, de diferentes épocas, as possíveis afinidades e diferenças.
E, no entanto, que confere a um autor a qualidade de clássico? Para Bobbio, clássico é o autor
que ao mesmo tempo é “intérprete autêntico de seu próprio tempo”, “sempre atual, de modo que
cada época, ou mesmo cada geração, sinta a necessidade de relê-lo e, relendo-o, de reinterpretá-
lo” e que tenha construído “teorias-modelo das quais nos servimos continuamente para
compreender a realidade”. Como aponta Michelangelo Bovero, essa definição levanta problemas
ao intérprete, pois como é possível que a obra de um intérprete autêntico de seu próprio tempo
possa ser reinterpretada continuamente?
A resposta parece estar na seguinte afirmação de Bobbio: “No estudo dos autores do
passado, jamais fui particularmente atraído pela miragem do chamado enquadramento
histórico, que eleva fontes a precedentes, as ocasiões e condições, detém-se por vezes nos
detalhes até perder o ponto de vista do todo: dediquei-me, ao contrário, com particular
interesse, ao delineamento de temas fundamentais, ao esclarecimento dos conceitos, à
análise dos argumentos, à reconstrução do sistema”. O que interessa identificar nos
clássicos não é tanto seu significado histórico, mas sim, nas palavras de Bobbio, “hipóteses
de pesquisa, temas para reflexão, idéias gerais”.
Os autores clássicos para Bobbio, em sua análise da teoria política, são, principalmente,
Emanuel Kant (1724-1804), Karl Marx (1818-1883) e Max Weber (1864-1920). No campo da
teoria política, Bobbio considera que nenhum estudioso do século 20 contribuiu de forma tão
significativa como Weber para o enriquecimento do léxico técnico da linguagem pertinente a
esse campo. Dentre as expressões herdadas deste autor, Bobbio lembra algumas que, pela
sua reconhecida importância, dispensam maiores comentários: poder tradicional e carisma,
poder legal e poder racional, direito formal e direito material, monopólio da força, ética da
convicção e ética da responsabilidade.
A pergunta fundamental que se coloca relativamente ao trabalho que Bobbio elabora, a partir
dos temas recorrentes e das lições dos clássicos, diz respeito a saber qual seria o tipo de
filosofia política desenvolvida por ele. Inserida nessa indagação está a questão de sua visão
acerca da relação existente entre fato e valor e da adoção de uma teoria descritiva ou
prescritiva. Segundo Bobbio, existem quatro significados possíveis para a noção de filosofia
política, que correspondem a quatro tipos de investigação. O primeiro consistiria na idéia da
filosofia política como busca da melhor forma de governo ou da ótima República; o segundo,
da investigação do fundamento do Estado, com a conseqüente justificação ou injustificação
da obrigação política, ou seja, da legitimidade do poder político; o terceiro tipo é aquele que
visa à determinação do conceito geral de política, ou da essência da categoria do político,
seja por meio da “autonomia da política” em relação à moral, seja por meio da delimitação de
seu campo em relação à economia ou ao direito; finalmente, a quarta concepção parte da
idéia da filosofia como metaciência, de modo que a filosofia política teria como tarefa a
investigação dos pressupostos e das condições da validade da ciência e a análise da
linguagem política.
Para Bobbio, a terceira definição seria a mais apropriada para sua teoria política. No entanto,
se partirmos dessa hipótese, o problema que teremos de enfrentar diz respeito à
inexistência, em uma teoria assim considerada, de uma dimensão valorativa presente nos
dois primeiros tipos. Como bem ponderou Bobbio, porém, “não há teoria tão asséptica que
não permita entrever elementos ideológicos que nenhuma pureza metodológica pode
eliminar totalmente”. Bobbio parece então oscilar entre uma filosofia política puramente
cognoscitiva e uma filosofia propositiva, mas, na verdade, apresenta em sua obra as duas
dimensões.
Apontando os temas reincidentes nas lições dos clássicos e suas teorias, Bobbio nos faz
perceber certa continuidade na história, continuidade essa que diz respeito também aos
problemas enfrentados por essas diversas teorias.
Sociedade Atual

No contexto atual, em que vemos um aumento da polarização política e da desigualdade social


em muitos países, as ideias de Bobbio podem ajudar a orientar os debates e ações políticas.
Sua defesa da democracia e dos direitos humanos pode inspirar movimentos e organizações
que lutam por uma sociedade mais justa e igualitária, enquanto sua crítica ao autoritarismo e à
violação dos direitos fundamentais pode ajudar a conscientizar as pessoas sobre os perigos
dessas práticas para a democracia e a liberdade.
Para Bobbio, a democracia é a melhor forma de governo porque permite a participação dos
cidadãos na tomada de decisões, garantindo assim a proteção dos direitos e interesses de
todos. Ele defendia a democracia representativa como o modelo mais adequado para a
sociedade contemporânea, mas também enfatizava a importância da participação popular, da
transparência e da responsabilidade dos governantes.
Ele acreditava que esses direitos são inalienáveis e universais, e que devem ser respeitados
por todos os governos e sociedades.
Além disso, Bobbio também se preocupava com a questão da desigualdade social e da
exclusão política. Ele acreditava que a luta contra a desigualdade era uma das principais
tarefas da política, e que os governos deveriam agir para garantir a igualdade de oportunidades
e justiça social.
No que se refere à democracia, a sociedade política atual enfrenta diversos desafios, como o
aumento da polarização política, a desconfiança nas instituições democráticas e a ascensão de
movimentos populistas que questionam a validade da representação. Nesse contexto, as ideias
de Bobbio sobre a importância da democracia representativa, da participação popular e da
transparência continuam sendo fundamentais para a construção de soluções políticas mais
eficazes e legítimas.
No que diz respeito aos direitos humanos, a sociedade política atual ainda enfrenta graves
violações desses direitos em muitos países, desde a repressão política e a censura até a
discriminação e a exclusão social. Nesse sentido, a defesa incansável de Bobbio pelos direitos
humanos e pela construção de uma cultura de respeito e tolerância continua sendo um farol
para a luta contra a injustiça e a opressão.
Por fim, a questão da desigualdade social continua sendo uma das principais preocupações da
sociedade política atual, com a concentração de renda e poder em poucas mãos e a exclusão
de grandes parcelas da população. As ideias de Bobbio sobre a necessidade de combater a
desigualdade e de garantir a justiça social são, portanto, muito relevantes para a busca de
soluções políticas mais justas e equitativas.
Em resumo, a relação entre o pensamento de Norberto Bobbio e a sociedade política atual é
muito estreita, uma vez que suas ideias continuam a inspirar muitos que lutam por uma
sociedade mais democrática, mais justa e mais humana.

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