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21/03/2021 A força do Mago - Clube do Tarô - Tarot

O Recipiendário (O Iniciado)
Eliphas Levi

Esse texto ajuda a estabelecer correlações simbólicas entre a antiga arte-ciência da Magia e o
caráter operativo do personagem do Arcano I do Tarô, o Mago.
Trata-se da transcrição do 1º capitulo, Vol. I, de Dogma e Ritual da Alta Magia, traduzido do
original francês por Rosabis Camaysar e publicado pela Editora Pensamento, pags. 71-81.
Na revisão dessa versão ao português tomamos a liberdade, em algumas passagens, de
atualizar o tratamento verbal e adicionar ilustrações para dar mais fluídez à leitura. [C.K.R.]

1. A
Disciplina - Ensoph - Kether

Quando um filósofo tomou para base de uma nova revelação da sabedoria humana este
raciocínio: "Penso, logo existo", ele mudou de algum modo e à sua vontade, conforme a
revelação cristã, a noção antiga do Ente supremo. Moisés faz dizer ao Ente dos entes: "Eu sou
quem sou". Descartes [filósofo, físico e matemático francês, 1596-1651] faz dizer ao homem: "Eu sou
aquele que pensa", e como pensar é falar interiormente, o homem de Descartes pode dizer
como o Deus de S. João Evangelista: "Eu sou aquele em quem está e por quem se manifesta
o Verbo". In princípio erat verbum.
Que é um princípio? É uma base de palavra, é uma razão de ser do verbo. A essência do
verbo está no princípio: o princípio é o que é; a inteligência é um princípio que fala.
Que é a luz intelectual? É a palavra. Que é a revelação? É a palavra; o ente é o princípio, a
palavra é o meio e a plenitude ou o desenvolvimento, e a perfeição do ente é o fim: falar é
criar.
Porém, dizer "Eu penso, logo existo", é concluir da consequência ao princípio, e recentes
contradições levantadas pelo grande escritor Lamennais [filósofo e escritor político francês, 1782-1854]a
imperfeição filosófica deste método. Eu sou logo existe alguma coisa, nos parece uma base
mais primitiva e mais simples da filosofia experimental.
Eu sou logo o ente existe.
Ego sum qui sum: eis aí a revelação primordial de Deus no homem e do homem no mundo, e
é também o primeiro axioma da filosofia oculta.

O ser é o ser

Esta filosofia tem, pois, por princípio o que existe, e nada tem de hipotético nem de casual.
Mercúrio Trismegisto [ou Hermes Trismegistus, personagem mítico da Antiguidade greco-egípcia] inicia o seu
admirável símbolo, conhecido sob o nome de Tábua de Esmeralda, por esta tríplice afirmação:
"É verdade, é certo sem erro, é absolutamente verdade". Assim, a verdade confirmada pela
experiência em física, a certeza desembaraçada de qualquer mistura de erro em filosofia, a
verdade absoluta, indicada, pela analogia, no domínio da religião ou do infinito, tais são as
primeiras necessidades da verdadeira ciência, e é o que só a magia pode dar aos seus
adeptos.
Mas, antes de tudo, quem é você que tem este livro
entre as suas mãos e o começou a ler?...
No frontispício de um templo que a antiguidade
dedicara ao deus da luz, lia-se esta inscrição em duas
palavras: "Conhece-te a ti mesmo".
Tenho o mesmo conselho a dar a qualquer homem
que queira aproximar-se da ciência.
A magia, que os antigos chamavam o sanctum
regnum, o santo reino, ou o reino de Deus, regnum
Dei, só é feita para os reis e padres; você é padre?
você é rei? O sacerdócio da magia não é um
sacerdócio vulgar e a sua realeza nada tem que
debater com os príncipes deste mundo. Os reis da
ciência são os sacerdotes da verdade, e o seu reino
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fica oculto para a multidão, como os seus sacrifícios e


as suas preces. Os reis da ciência são os homens que
conhecem a verdade e que a verdade os tornou livres,
conforme a promessa formal do mais poderoso dos
iniciadores.
O homem que é escravo das suas paixões ou dos
preconceitos deste mundo não poderia ser um
iniciado; ele nunca se elevará, enquanto não se
reformar; não poderia, pois, ser um adepto, porque a
palavra adepto significa aquele que se elevou por sua
vontade e por suas obras.

Mercurius Trismegistus
www.s273.photobucket.com

O homem que ama suas ideias e que tem medo de perdê-las, aquele que teme as verdades e
que não está disposto a duvidar de tudo, antes do que admitir qualquer coisa ao acaso, esse
deve fechar este livro, que lhe é inútil e perigoso; ele o compreenderia mal e ficaria
perturbado, mas ficaria muito mais se por acaso o compreendesse bem.
Se você está preso por alguma coisa ao mundo, mais que à razão, à verdade e à justiça; se a
sua vontade é incerta e vacilante, quer no bem, quer no mal; se a lógica o espanta, se a
verdade nua o faz corar; se você se sente ofendido, quando apontam seus erros, condene
imediatamente este livro, e, não o lendo, faça como se ele não existisse para você. Porém não
o difame como perigoso: os segredos que ele revela serão compreendidos por um pequeno
número e aqueles que o compreenderem não o revelarão. Mostrar à noite a luz aos pássaros,
é ocultá-la, pois que ela os cega e torna-se para eles mais obscura do que as trevas. Falarei,
pois, claramente; direi tudo e tenho a firme confiança de que só os iniciados ou os que são
dignos de o ser, lerão tudo e compreenderão alguma coisa.
Há uma verdadeira e uma falsa ciência, a magia divina e a magia infernal, isto é, mentirosa e
tenebrosa. Temos que revelar uma e desvendar outra; temos de distinguir o mago do
feiticeiro e o adepto do charlatão.
O mago dispõe de uma força que conhece, o feiticeiro procura abusar do que ignora.
O diabo — se é permitido num livro de ciência empregar esta palavra desacreditada e vulgar
— o diabo se dá ao mago e o feiticeiro se dá ao diabo.
O mago é o soberano pontífice da natureza, o feiticeiro não passa de um profanador.
O feiticeiro é para o mago o que o supersticioso e o fanático são para o homem
verdadeiramente religioso.
Antes de ir mais longe, definamos claramente a magia. A magia é a ciência tradicional dos
segredos da natureza que nos vem dos magos. Por meio desta ciência, o adepto se acha
investido de uma espécie de onipotência relativa e pode agir de modo que ultrapassa a
capacidade comum dos homens.
É assim que vários adeptos célebres, tais como Hermes
Trismegisto, Osíris, Orfeu, Apolônio de Thyana, e outros
que poderia ser perigoso ou inconveniente mencionar,
puderam ser adorados ou invocados depois da sua morte
como deuses.
É assim que outros, conforme o fluxo e o refluxo da
opinião, que faz os caprichos do êxito, tornaram-se
agentes do inferno ou aventureiros suspeitos, como é
caso do imperador Juliano, de Apuleio, do encantador

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Merlin e do arquifeiticeiro, como o chamavam no seu


tempo, o ilustre e infeliz Cornélio Agripa.
Para chegar ao sanctum regnum, isto é, à ciência e ao
poder dos magos, quatro coisas são indispensáveis: uma
inteligência esclarecida pelo estudo, uma audácia que
nada faz parar, uma vontade que nada quebra e uma
discrição que nada pode corromper ou embebedar.
Saber, ousar, querer, calar — eis os quatro verbos do
mago que estão escritos nas quatro formas simbólicas ela
esfinge. Estes quatro verbos podem se combinar
mutuamente de quatro modos e se explicam quatro
vezes uns pelos outros, tal como se pode ver no jogo do
Tarô.

O Alquimista
www.img.wikinut.com/The-Alchemist.jpeg

Na primeira página do livro de Hermes, o adepto é representado coberto com um largo


chapéu, cuja aba, sendo dobrada, pode ocultar a sua cabeça inteira. Ele tem uma das mãos
elevadas para o céu, ao qual parece governar com sua baqueta, e a outra mão no seu peito;
tem diante de si os principais símbolos ou instrumentos da ciência, e esconde outros numa
algibeira de escamoteador. O seu corpo e os seus braços formam a letra Aleph, a primeira do
alfabeto, que os hebreus tiraram dos egípcios; porém, mais tarde, teremos ocasião de voltar
novamente a este símbolo.
O mago é verdadeiramente o que os cabalistas hebreus chamam o microprosopo, isto é, o
criador do mundo pequeno. Como primeira ciência mágica é o conhecimento de si mesmo,
também a primeira de todas as obras da ciência, a que contém todas as outras e que é o
princípio da grande obra, é a criação de si mesmo; este termo tem necessidade de ser
explicado.
Por ser a razão suprema o único princípio invariável e, por conseguinte, imperecível, pois que
a mudança é o que chamamos a morte, a inteligência que adere fortemente e de algum modo
se identifica com este princípio, se torna, por isso mesmo, invariável, e, por conseguinte,
imortal. Compreende-se que, para aderir invariavelmente à razão, é preciso ter-se tornado
independente de todas as forças que produzem, pelo movimento fatal e necessário, as
alternativas da vida e da morte. Saber sofrer, absterse e morrer, tais são, pois, os primeiros
segredos que nos põem acima da dor, dos desejos sensuais e do temor do nada. O homem
que procura e acha uma gloriosa morte tem fé na imortalidade, e a humanidade inteira crê
nela com ele e por ele, porque ela lhe eleva altares ou estátuas, em sinal de vida imortal.
O homem torna-se rei dos animais, somente se os dominar ou prender; de outro modo, seria
sua vítima ou seu escravo. Os animais são a figura das nossas paixões, são as forças
instintivas da natureza.
O mundo é um campo de batalha que a liberdade disputa à força da inércia, opondo-lhe a
força ativa. As liberdades físicas são as moendas de que você será o grão, se não souber ser
o moleiro.
Somos chamados a ser o rei do ar, da água, da terra e do
fogo; mas, para reinar sobre estes quatro animais do
simbolismo, é preciso vencê-los e encadeá-los.
Aquele que aspira a ser um sábio e a saber o grande
enigma de natureza deve ser o herdeiro e o espoliador da
esfinge; deve ter a sua cabeça humana para possuir a
palavra, as asas de águia para conquistar as alturas, os
flancos de touro para cavar as profundezas, e as garras
de leão para preparar lugar para si à direita e à
esquerda, adiante e atrás.
Você, pois, que quer ser iniciado, é tão sábio como
Fausto? É impassível como Jó? Não, não é verdade? Mas
você poderá ser se quiser. Venceu os turbilhões dos
pensamentos vagos? Não tem indecisões e caprichos?
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Não aceita o prazer só quando o quer, e não o quer só


quando o deve? Não, não é verdade? Não é sempre
assim? Mas isso pode ser, se você quiser.
A esfinge não tem somente uma cabeça de homem, ela
tem também seios de mulher. E você? Sabe resistir às
atrações da mulher? Não sabe; não é verdade?! Você ri

Pentáculo de Pitágoras e Ezequiel


ao responder e se vangloria de sua fraqueza moral para glorificar em si próprio a força vital e
material. Que seja, permito que você faça essa homenagem ao asno de Sterno e de Apuleio;
que o asno tenha seu mérito, dissonão discordo, pois era consagrado a Príapo, assim como o
bode ao deus de Mendes. Mas vamos deixar pelo que é, e saibamos somente se é ele é o seu
senhor ou você pode ser senhor dele. Pode verdadeiramente possuir a voluptuosidade do
amor, somente quem venceu o amor pela voluptuosidade. Poder usar e se abster, é poder
duas vezes. A mulher prende a você pelos seus desejos: seja senhor dos seus dos seus
próprios desejos e prenderá a mulher.
A maior injúria que se possa fazer a um homem é chamá-lo de covarde. Ora, que é um
covarde? Um covarde é aquele que negligencia o cuidado da sua dignidade moral, para
obedecer cegamente aos instintos da natureza.
Em presença do perigo é, com efeito, natural ter medo e procurar fugir: por que, então, é
uma vergonha? Porque a honra nos dá a lei de preferir nosso dever às nossas atrações e aos
nossos temores. O que é, deste ponto de vista, a honra? É o pressentimento universal da
imortalidade e a avaliação dos meios que podem levar a ela. A última vitória que o homem
pode obter sobre a morte, é triunfar do gosto da vida, não pelo desespero, mas por uma
esperança maior, que está contida na fé, por tudo o que é belo, honesto e do consentimento
de todos.
Aprender a vencer a si próprio é, pois, aprender a viver, e as austeridades do estoicismo não
eram uma vã ostentação de liberdade!
Ceder às forças da natureza é seguir a corrente da vida coletiva,
é ser escravo das causas segundas.
Resistir à natureza e dominá-la é fazer para si uma vida pessoal
e imperecível, é libertar-se das vicissitudes da vida e da morte.
Todo homem que está pronto a morrer ao invés de abjurar a
verdade e a justiça, é verdadeiramente vivente, porque é imortal
na sua alma.
Todas as iniciações antigas tinham por fim achar ou formar tais
homens.
Pitágoras exercitava seus discípulos pelo silêncio e as
abstinências de todo gênero; no Egito, os praticantes eram
experimentados pelos quatro elementos; na Índia, é sabido a
que prodigiosas austeridades os faquires e brâmanes se
condenavam, para chegar ao reino da vontade livre e da
independência divina.
Todas as macerações do ascetismo são tiradas das iniciações aos
antigos mistérios e elas cessaram, porque os iniciáveis, não
achando mais iniciadores, e os diretores de consciência tendo-se
tornado, com o tempo, tão ignorantes como o vulgo, os cegos
cansaram-se de seguir os cegos, e ninguém quis passar provas
que só levavam à dúvida e ao desespero: o caminho da luz Pitágoras
estava perdido. www.fineartamerica.com

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Para fazer alguma coisa é preciso saber o que se vai fazer, ou, ao menos, ter fé em alguém
que o sabe.
Mas como arriscarei a minha vida à aventura e seguirei ao acaso aquele que nem mesmo
sabe aonde vai?
No caminho das altas ciências, não convém empenhar-se temerariamente, mas, uma vez no
caminho, é preciso chegar ou perecer. Duvidar é ficar louco; parar é cair; voltar para trás é
precipitar-se num abismo.
Você, pois, que começou a leitura deste livro, se o compreendeis e quer ler até o fim, ele fará
de você um monarca ou um insensato. Quanto a você, faça deste volume o que quiser, não
poderá nem desprezá-lo nem esquecê-lo. Se você é puro, este livro será uma luz; se você é
forte, ele será sua arma; se você é santo, será a sua religião; se você é sábio, ele regulará a
vossa sabedoria.
Mas, se você for malvado, este livro será como que uma tocha infernal; ele despedaçará o
seu peito, rasgando-o como um punhal; ficará na sua memória como um remorso; ele
encherá a sua imaginação de quimeras e o levará pela loucura ao desespero. Se você
procurar rir dele, só poderá ranger os dentes, porque este livro será para você como a lima da
fábula que uma serpente tentou morder e que lhe quebrou todos os dentes.
Comecemos, agora, a série das iniciações.

Gravura representando a Tábua de Esmeralda gravada sobre um rochedo


Edição de Amphitheatrum Sapientiae Eternae (1610), versão latina do alquimista alemão Heinrich Khunrath.
www.fr.wikipedia.org/wiki/Table_d'émeraude

Disse que a revelação é o verbo. Com efeito, o verbo ou a palavra é o véu do ente e o sinal
característico da vida. Toda forma é véu de um verbo, porque a ideia, mãe do verbo, é a única
razão de ser das formas. Toda figura é um caractere, todo caractere pertence e volta a um
verbo. É por isso que os antigos sábios, cujo chefe é Trismegisto, formularam o seu dogma
nestes termos:
"O que está em cima é como o que está em baixo, e o que está em baixo é como o que está
em cima."
Em outros termos, a forma é proporcional à ideia, a sombra é a medida do corpo calculada
em sua relação ao raio. A bainha é tão profunda quanto o comprimento da espada, a negação
é proporcional à afirmação contrária, a produção é igual à destruição, no movimento que
conserva a vida, e não há um ponto no espaço infinito que não seja centro de um círculo cuja
circunferência se engrandece e se estende indefinidamente no espaço.

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Toda individualidade é, pois, indefinidamente perfectível, porque o moral é análogo à ordem


física, e porque não é possível conceber um ponto que não se possa dilatar, engrandecer e
lançar raios num círculo filosoficamente infinito.
O que se pode dizer da alma inteira, deve-se dizer de cada faculdade da alma.
A inteligência e a vontade do homem são instrumentos de um valor e de uma força
incalculáveis.
Mas a inteligência e a vontade têm por auxiliar e por instrumento uma faculdade muito pouco
conhecida e cuja onipotência pertence exclusivamente ao domínio da magia: quero falar da
imaginação, que os cabalistas chamam o diáfano ou o translúcido. Efetivamente, a
imaginação é como que o olho da alma, e é nela que as formas se desenham e se conservam,
é por ela que vemos os reflexos do mundo invisível, ela é o espelho das visões e o aparelho
da vida mágica: é por ela que curamos as doenças, que influímos sobre as estações, que
afastamos a morte dos vivos e que ressuscitamos os mortos, porque é ela que exalta a
vontade e que lhe dá domínio sobre o agente universal.
A imaginação determina a forma da criança no ventre materno e fixa o destino dos homens;
ela dá asas ao contágio e dirige as armas na guerra. Você está em perigo numa batalha?
Acredite-se invulnerável como Aquiles e será como ele, diz Paracelso. O medo atrai as peças
de artilharia e a coragem faz as balas retrocederem. É sabido que os amputados muitas vezes
se queixam de incômodos nos membros que não têm. Paracelso operava no sangue vivo,
medicamentando o produto de uma sangria; curava as dores de cabeça à distância,
operando em cabelos cortados; ele tinha
excedido muito, pela ciência da unidade
imaginária e da solidariedade do todo e das
partes, todas as teorias, ou antes, todas as
experiências dos nossos mais célebres
magnetizadores. Por isso, as suas curas eram
milagrosas, e ele mereceu que ajuntassem ao
seu nome de Filipe Teofrasto Bombast o de
Auréolo Paracelso, acrescentando-lhe ainda o
epíteto de divino!

Paracelso, médico, alquimista, físico, astrólogo e


ocultista suíço-alemão, nasceu em 1493, em
Einsiedeln, perto de Zurique, e morreu em 1541, no
hospital de Salzburgo, com apenas 47 anos. Seu pai,
que era médico instruído, lhe ensinou o latim, a
medicina e alquimia, e depois o mandou concluir seus
estudos com Trithemo, que lhe ensinou a magia e a
astrologia. Viajou quase toda a sua vida e visitou
numerosos países, observando e estudando. A causa
de sua morte não foi esclarecida. Uma hipótese é que
teria sido assassinato por seus inimigos. (N. do T.)
Xilogravura de Astronomica et Astrologica, 1567.

A imaginação é o instrumento da adaptação do verbo.


A imaginação aplicada à razão é o gênio.
A razão é una, como o gênio é uno na multiplicidade das suas obras.
Há um princípio, há uma verdade, há uma razão, há uma filosofia absoluta e universal.
O que está na unidade considerada como princípio, volta à unidade considerada como fim.
Um está em um, isto é, tudo está em tudo.
A unidade é o princípio dos números, é também o princípio do movimento e, por conseguinte,
da vida.
Todo o corpo humano se resume na unidade de um só órgão, que é o cérebro.
Todas as religiões se resumem na unidade de um só dogma, que é a afirmação do ser e da
sua igualdade a si mesmo, o que constitui o seu valor matemático.
Não há mais do que um dogma em magia: o visível é a manifestação do invisível, ou, em
outros termos, o verbo perfeito está nas coisas apreciáveis e visíveis, em proporção exata
com as coisas inapreciáveis aos nossos sentidos e invisíveis aos nossos olhos.
O mago eleva uma das mãos para o céu e abaixa a outra para a terra, e diz: Lá em cima a
imensidade! lá em baixo a imensidade ainda; a imensidade é igual à imensidade. Isto é
verídico nas coisas visíveis, como nas coisas invisíveis.

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Aleph, a primeira letra do alfabeto da língua sagrada, representa um homem que eleva
uma das mãos ao céu, e abaixa a outra para a terra.
É a expressão do princípio ativo de todas as coisas, é a criação no céu, corresponde à
onipotência do verbo aqui. Esta letra é, por si só, um pentáculo, isto é, um caractere que
exprime a ciência universal.
A letra Alleph pode suprir aos signos sagrados do macrocosmo e do microcosmo, ela explica o
duplo triângulo maçônico e a estrela brilhante de cinco pontas; porque o verbo é um e a
revelação é uma. Deus, dando ao homem a razão, deu-lhe a palavra; e a revelação, múltipla
nas suas formas, mas una no seu princípio, está inteira no verbo universal, intérprete da
razão absoluta.
É o que quer dizer a palavra tão mal compreendida de catolicismo, que, na língua hierárquica
moderna, significa infalibilidade.
O universal em razão é o absoluto, e o absoluto é o infalível.
Se a razão absoluta leva a sociedade inteira a crer irresistivelmente na palavra de uma
criança, esta criança será infalível, da parte de Deus e da parte da humanidade inteira.
A fé não é outra coisa senão a confiança razoável nesta unidade do verbo.
Crer é concordar com o que não se sabe ainda, mas que a razão nos certifica
antecipadamente de saber ou ao menos reconhecer um dia.
São, pois, absurdos os pretensos filósofos que dizem: "Não creio no que não sei".
Pobres homens! Se soubessem, haveria necessidade de crer? Mas posso eu crer ao acaso e
sem razão?
— Não, certamente! A crença cega e ousada é a superstição e a loucura. É preciso crer nas
coisas cuja existência a razão nos força a admitir conforme o testemunho dos efeitos
conhecidos e apreciados pela ciência.
A ciência! Grande vocábulo e grande problema! Que é a ciência?...
Responderemos a esta pergunta no segundo capítulo deste livro.

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