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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MATO GROSSO DO SUL

UNIDADE CAMPO GRANDE


CURSO GEOGRAFIA (LICENCIATURA)
DISCENTE: ISAIAS MARTINS DAS NEVES RGM:46855
DOCENTE: PROFESSORA DOUTORA MIRTES ROSE MENEZES DA CONCEIÇÃO

Trabalho referente à disciplina Economia do Território

Campo Grande, MS
2023
O bairro Santa Mônica fica localizado entre a Indubrasil e ao bairro popular, na periferia
da região do Imbirussu do município de Campo Grande – MS.

Sua criação nos remete como um fruto da segregação sócioespacial pois segundo Côrrea
(1989) ela é um fenômeno que está intrinsecamente ligado à dinâmica das cidades
contemporâneas, especialmente nas grandes áreas urbanas.

As cidades são espaços de desigualdades e contradições, onde diferentes grupos sociais


ocupam áreas distintas, criando uma fragmentação espacial da sociedade.

Inicialmente o Santa Mônica I surgiu como uma forma de escoamento da população que
vivia em condições precárias com o projeto de Cohab, á cerca de três décadas atrás. Logo após
a prefeitura conduzir essa população que viviam em Favelas até ás Cohab que se formou o Santa
Mônica II que surgiu após a venda de uma grande fazenda nos entornos urbanos de Campo
Grande.

Esse loteamento de cunho privado acabou acarretando a expansão do bairro, que teve
seu crescimento econômico promovido por ações de cunho exógeno. Pois nesse mesmo período
se instalavam as grandes indústrias na Indubrasil que acabava utilizando dessa mão de obra que
acabava residindo nos entornos do mesmo, isso vale igualmente para os residentes do Núcleo
Industrial e Vila Romana.

Com a instauração dessas indústrias conseguimos visualizar de forma plena a lógica


urbana capitalista contemporânea que articula sua influência e poder sobre o estado gerindo a
segregação com o objetivo de facilitar seu acesso a mão de obra barata.

Após o estado promover essa locomoção dessa população suas medidas soam como um
esquecimento absoluto, sendo evidente a forma de “organização” urbana que acaba apenas
transportando seus problemas para as distantes regiões periféricas.

Esse “desenvolvimento” que foi proveniente dessa segregação ocorreu de forma


extremamente artificial e acelerada.
Um exemplo disso são os indicadores socioeconômicos do bairro:

Fonte: SISGRAN PLANURB (2010)

Fonte: SISGRAN PLANURB (2010)

Isso é extremamente notável ao se observar que o desenvolvimento comercial de


serviço á população não foi da mesma forma, pois o bairro não é bem servido até hoje em
relação aos seus comércios, sendo servido com apenas dois mercados de pequeno porte.
A infraestrutura mínima só começou a chegar no bairro por volta de 2010, quando lhe
foi licitado a construção de uma unidade de pronto atendimento já que o bairro nunca contou
com a existência de uma UBS em seu território. A população que desejava atendimento
hospitalar tinha que se descolar até o outro bairro para chegar em uma UBS, fato que ocorre até
os dias de hoje, porém até 2016 quando se tratava de algo mais grave a UPA mais próxima era
a do Vila Almeida que se encontra a 10km de distância.

Em conjunto com toda essa sensação de desamparo e abandono, a pavimentação e o


serviço de esgoto sempre foram uma das principais reinvindicações da população, direito esse
que até hoje não foi entregue.

O acesso a educação também sempre foi uma luta dos seus moradores pois o bairro em
si não possuí uma escola em seu território até os dias de hoje, então todos os jovens da região
buscavam seu ensino nos bairros mais pertos possíveis, porém esses entornos também são
regiões de extrema fragilidade socioeconômica.

Tudo isso acaba acarretando em uma drástica queda na qualidade do ensino absorvido
por esses alunos, tanto em defasagem de ensino como em problemas socioeconômicos dessas
mesmas famílias fragilizadas pela falta de amparo estatal.

Podendo se citado como parte disso também o racismo ambiental presente ali de forma
bem ampla onde as indústrias descartam de forma extremamente irregular seus dejetos. Um
fator extremamente preocupante que nunca é pautado pelo poder hegemônico também é a
questão da atmosfera local.

As industrias do entorno além de descartarem seus desejos no solo também poluem e


prejudicam muito a qualidade do ar da região que possuí um enorme teor de amônia (substância
extremamente tóxica), teor esse facilmente notado as manhãs e tarde.

Esse cheiro é tão forte que causa enjoo em uma parcela considerável da população que
convive com isso no seu dia a dia, fora a fumaça com outras substância que causam diversos
problemas respiratórios para a população ao entorno dessas indústrias.

A segurança da região também sempre foi uma situação complicada, pois a presença
policial (quando tinha) agia apenas com cunho de opressão e repressão aos seus residentes.
Fomentando que “violência” do bairro seja controlada por forças ilegais de forma brutal e sem
o devido raciocínio imparcial da situação, emborra essa parte também seja um traço do sistema
judiciário Brasileiro.
Outra questão muito importante naquele território são os espaços vazios que foram
invadidos pelos indígenas e pela população local, invasão indígena essa que se impõe como
símbolo de resistência ao desamparo estatal que ocorre diariamente naquele espaço onde
instauraram uma aldeia urbana na periferia de Campo Grande-MS.

Essa aldeia acaba dando uma outra dinâmica ao uso da propriedade residencial ao oeste
do bairro que acaba apresentando características culturais distintas como a cultura paraguaia
sendo extremamente presente na produção desse espaço.

Mesmo estando em território urbanístico sua cultura e forma de sociedade acaba sendo
aplicado ali ao seu meio social, desde relacionamentos, organização social e atividades
econômicas.

Essa cultura acaba sendo integrada á setores como econômico, um belo exemplo disso
são as comidas e atividades de serviços que serviriam a região, como a forte presença de casas
de venda de erva mate a granel.

Por fim é possível concluir que toda estrutura do bairro é adjacente do sistema
urbanístico capitalista unido a industrialização e do poder hegemônico que acaba formando esse
espaço urbano segregado e estigmatizado como uma “quebrada”, como um lugar de violência,
droga, ilegalidade e a pobreza.

E ao falar da estigmatização, no contexto urbano, Lefebvre (2006) observou que certas


áreas ou bairros são frequentemente estigmatizados, considerados perigosos, problemáticos ou
"marginais" devido às condições socioeconômicas desfavoráveis, concentração de pobreza,
criminalidade ou outros fatores negativos atribuídos a eles. Essa estigmatização pode levar a
um ciclo vicioso de marginalização, onde a própria estigmatização contribui para a perpetuação
das desigualdades sociais e espaciais.

Entretanto, este é um espaço de luta! Um espaço que liga diversas lutas e evidência de
forma ampla a luta de classes que vivenciamos no dia a dia onde o poder estatal e a classe
dominante se articulam e organizam-se em prol do lucro.
BIBLIOGRAFIA

ROBERTO LOBATO CORRÊA. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1989.

ENCARNAÇÃOM. Capitalismo e urbanização. São Paulo: Contexto, 2012.

MOYSÉS RODRIGUES, Arlete. Estatuto da Cidade: função social da cidade e da


propriedade. Alguns aspectos sobre população urbana e espaço. CADERNOS METRÓPOLE,
São Paulo, 2004.

LEFEBVRE , HENRI. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO. Tradução: DORALICE BARROS


PEREIRA, SÉRGIO MARTINS. 1. ed. Paris: Éditions Anthropos, 2006.

CARLOS PERRONI GAMA DE OLIVEIRA, Gevaci. Desenvolvimento Local e


Desenvolvimento Endógeno: redes de cooperação. Orientador: Dr. Adelar Fochezatto. 2007.
Dissertação (Mestrado em economia) - PUC-RS, Porto Alegre.

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