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POLÍCIA MILITAR DA BAHIA

ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DA BAHIA


CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO ESTRATÉGICA
EM SEGURANÇA PÚBLICA

CLEDSON CONCEIÇÃO SOUSA – MAJ PM


EDSON RAMOS MASCARENHAS JUNIOR – MAJ PM
FABIANO QUEIROZ VIANA – MAJ PM
LUCIANO NASCIMENTO SILVA – MAJ PM

RESENHA – HISTÓRIA DAS PRISÕES NO BRASIL II

Salvador
2022
CLEDSON CONCEIÇÃO SOUSA – MAJ PM
EDSON RAMOS MASCARENHAS JUNIOR – MAJ PM
FABIANO QUEIROZ VIANA – MAJ PM 2
LUCIANO NASCIMENTO SILVA – MAJ PM

RESENHA – HISTÓRIA DAS PRISÕES NO BRASIL II

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em


Gestão Estratégica em Segurança Pública (CEGESP 2022),
da Academia de Policia Militar da Bahia, como avaliação
parcial da Disciplina PolíticaS Públicas de Segurança e
Defesa Social.

Professor: Cel PM Ref Adelson

Salvador
2022
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Análise da obra “História das prisões no Brasil”

O livro História das prisões no Brasil – Volume II é a continuação da obra que leva o mesmo
nome e que analisa o sistema carcerário no Brasil. É composto por nove artigos, sendo que o primeiro
deles, (artigo 9) intitulado “UMA PERIGOSÍSSIMA LIÇÃO: A CASA DE DETENÇÃO DO RIO DE
JANEIRO NA PRIMEIRA REPÚBLICA”, escrito por Amy Chazkel, nos mostra…..
O segundo artigo do livro e décimo da série é intitulado “INFERNAIS SEPULCROS
PROVISÓRIOS: PROJETOS CARCERÁRIOS E SISTEMAS NORMATIVO NO SÉCULO XIX NO
RIO GRANDE DO SUL”, por Paulo Roberto Staudt Moreira Caiuá Cardoso…….
O terceiro artigo do livro e décimo primeiro da série é intitulado “DA CADEIA À CASA DE
DETENÇÃO: A REFORMA PRISIONAL NO RECIFE EM MEADOS DO SÉCULO XIX”, por Flávio
de Sá Cavalcanti de Albuquerque Neto, relata o contexto do pós-independência no Brasil, quando da
organização do Estado Nacional, em que as elites brasileiras buscavam a reforma do aparato prisional do
Império, com a finalidade de cumprir uma dupla função: a de civilizar o criminoso e o dar um controle
social. Contextualiza o discurso a partir da reforma prisional no Recife.
O autor deixa claro que em todo o Império iniciou-se a construção de estabelecimentos prisionais,
onde seriam aplicadas as prisões simples e as com trabalho, num viés objetivo de correção moral e
ressocialização para o consequente retorno ao convívio em sociedade. As discussões a respeito da
construção da Casa de Detenção do Recife se deu em 1840, porém só em 1867 as obras foram finalizadas,
num momento histórico extremamente conturbado, tendo em vista que se enfrentava diversas rebeliões
sendo necessário o expediente do encarceramento como medida de contenção social.
Ao mesmo tempo, era verificado a adoção de medidas legislativas pelas Câmaras Municipais, com
o intuito de cercear a cultura do povo criminalizando hábitos e tradições. Percebe-se que existia uma
resistência da população em cumprir as leis pelo número de constantes reiterações de condutas municipais,
frente às ingerências exorbitantes por meio das posturas das Câmaras. Neste mote, foram se estruturando
aparatos policiais, que eram divididos em Militar e Civil (está com mais prepostos) para garantir a
vigilância da população e repressão às infrações.
O Estado reprimia, vigiava, ordenava, classificava a população, usando a força como instrumento
de manutenção da ordem e de difusão de uma civilização, embora o artigo dê ênfase aos aparatos
coercitivos. O cotidiano da cadeia no período colonial sempre foi caracterizado pela insegurança e
péssimas condições de higiene, que não foi alterada no pós-independência conforme se objetivava. Outro
problema era a alimentação dos presos, que era denunciada ano-a-ano pelo Conselho de Salubridade. O
Estado custeava apenas a alimentação dos presos pobres, sendo que aqueles que tinham condições de arcar
com a alimentação, deveriam fazer já que o Estado não provisionava. A Cadeia do Recife enfrentava
problemas nevrálgicos. Lotação e mistura indiscriminada eram singularidades do sistema, ausência de
ordem dentro do presídio, despreparo e negligência dos carcereiros, corrupção, etc.
O autor relata que a partir de 1850, houve a construção da Casa de Detenção do Recife e com ela a
materialização das idéias inicialmente concebidas para o novo período. Criada para ser uma penitenciária
modelo, numa tentativa de afastar as velhas práticas carcerárias e inserir o Brasil no rol das nações
civilizadas. Friza que nas duas vezes em que o tema penitenciária foi alçada a ordem do dia, o Legislativo
tinha administração conservadora, levando o autor a crer que o controle social a partir do modelo
penitenciário fazia parte de sua agenda (agenda conservadora).
Houve polêmica no projeto de construção da nova prisão no Recife e ela se deu justamente no
tocante à finalidade da casa: se apenas a detenção de indiciados em crimes ou se a prisão de condenados à
pena de restrição de liberdade, com ou sem trabalho. Também quanto a capacidade da mesma. O que fica
claro, é que buscava-se a “humanização” da Cadeia, com o fim de afastar os desvios que ocorria no
sistema, sugerindo que estes desvios aproximavam o tratamento do preso às masmorras da idade média e o
que se buscava era um aparelho que, efetivamente, ressocializasse o criminoso. Embora tenha ficado
decidido que a nova estrutura comportaria apenas uma cadeia de simples detenção, o que se observou com
o passar dos anos, depois de inaugurado, é que também comportou os condenados às penas de prisão
simples e com trabalho, além de outras penas que poderiam ser aplicadas juntamente com o
encarceramento, como os açoites de escravos.
A nova cadeia do Recife, tentava aliar uma combinação de arquitetura eficiente com um aparato
disciplinar rigoroso, o que para o jurista Jeremy Betham (responsável pelo sistema pan-óptico que aliava
estas duas características) servia para o bom funcionamento da instituição carcerária). A referida
penitenciária ainda constou de um regulamento para reger um código de condutas para presos e
funcionários. Estabelecendo as punições cabíveis em caso de detenção. Resumindo, com a inauguração
da Casa de Detenção do Recife, que, apesar de seu nome, serviria também, como se vê, para a correção
dos criminosos, inaugurava-se uma nova fase da história prisional da capital pernambucana, marcada pelo
discurso correcional, associado à necessidade de novos aparatos de controle social. No entanto, o que
estava previsto em lei ou no discurso jurídico não representava o cotidiano das prisões do Brasil Império.
O quarto artigo do livro e décimo segundo da série é intitulado “A CASA DE DETENÇÃO DO
RECIFE: CONTROLE E CONFLITOS (1855–1915)”, por Clarissa Nunes Maia, relata o período de
reforma prisional de 1855 à 1915, quando houve a adequação do sistema penitenciário ao novo Código
Criminal do Império tornando a pena de prisão um novo meio punitivo previsto como medida penal no
país. O momento era propício pois se tinha o planejamento de construir a penitenciária de Pernambuco
com inspiração liberal. Seria uma construção moderna, utilizando a tecnologia do pan-óptico radiante de
Jeremy Betham possuindo quatro raios (um para administração e outros três para os detentos que ficariam
separados em diferentes classes).
Os regulamentos de 1855 e de 1885 (durando até 1915), estabeleciam quatro classes de presos. os
que estavam sob custódia para averiguações, os indiciados em crimes, os condenados e os escravos.
Conforme a gravidade da pena, a classificação dos indivíduos estabelecia critérios adicionais de restições.
Os relatórios médicos dos primeiros dez anos da república indicavam as condições morais em que
se encontravam os detentos. Entre os preceitos regulamentares, existia a máxima da recuperação do preso
pelo silêncio (Sistema de Auburn). Para fazer valer as regras existentes, precisava-se da vigilância
contínua e de punições disciplinares, estas tinham uma gradação (que ia desde a advertência, passando pela
solitária, até a restrição de alimentação por 15 dias ou um mês, sem recair em dias contínuos). A vigilância
externa era realizada por soldado de 1ª linha (sugerinado que não se tratava de PM) ou por Policiais
Militares, já no interior era feita por guardas contratados.

O principal crítico da Casa de Detenção do Recife foi o administrador Rufino Augusto de


Almeida, que, igualmente, seria o primeiro a instituir nela o trabalho em oficinas montadas para os presos,
em relatório, mostra a preocupação a respeito da reincidência criminal, que já aparecia naquela época
como a evidência da falência da prisão. Vislumbrava-se a intenção do sistema ser voltado para corrigir o
índividuo, o que não vinha ocorrendo. Rufino de Almeida entendia quatro sistemas utilizados de forma
universal, o de Filadélfiia (que consistia na separação dos presos, trabalho forçado e visitas da família, de
religiosos e filantropos); o de Auburn (com o isolamento dos presos durante a noite e trabalho grupal
durante o dia sob completo silêncio); o Sistema da Servidão penal inglesa, ou das categorias, (conduzindo
o preso por grraus ou classes, até a liberdade condicional); e o Sistema irlandês, ou das prisões
intermediárias (fazendo passar o detento, antes da expiração do prazo da pena, por um estado de meia
liberdade). Ele também observava que o sistema adotado na penitenciária do Recife era original, por não
ter todas as caracteristicas de um dos sistemas universais.

A autora do artigo, ainda chama atenção para a quantidade de presos que, durante o período
republicano estudado (1889-1915), adentrou a carceragem sem nota de culpa, deixando transparecer uma
falta de controle e, mais, um continuísmo do arbitrio que já vinha ocorrendo desde os tempos da criação da
Secretaria de Polícia (período imperial), além de externar a preocupação com a superlotação da
carceragem, o que acabava fomentando não só a ausência de controle interno, como também a mistura dos
presos nas celas, inclusive de menores, e não separados como planejado inicialmente (cada um por classes
de crimes). A insalubridade naquele ambiente só aumentava, também, por conta desta superlotação e o
sentimento era de aumento da criminalidade, contrariando a expectativa quando da construção da Casa de
Detenção que era o de repressão tácita, haja vista a materialização do sistema punitivo.

A autora relata que no inicio do século XX e por conta da mistura que ocorria na Casa de
Detenção, juristas sugeriam que a ressocialização dos jovens deveriam ocorrer em um ambiente específico
e ser tratado como problema social. A educação dos presos era vista como uma forma de recuperar o
índividuo, porém esbarrava no custo, relegando o projeto a uma instância secundária do investimento.
Quaestionando-se se a Casa de Detenção era “um depósito de criminosos ou uma casa correicional”.

A pena tinha o caráter de vingança e passa a ter o sentido de ressocialização, dando sentido a
inserção do trabalho na aplicação da mesma ao condenado. O trabalho passa a ser visto como uma
ferramenta de ressocialização do preso, além de que diminuia os gastos públicos com a manutenção destes
e possibilitava a regeneração social do indivíduo. Em parte do período a Casa de Detenção se tornou uma
grande fábrica (com a criação das oficinas). E quando ocorreu, o autor registra que o regime correcional na
Casa de Detenção do Recife, apresentou melhoria na disciplina, no bem-estar físico e até na vigilância,
isso a partir da gestão de Rufino Augusto de Almeida.

As oficinas prisionais começaram a entrar em declínio em 1865, quando montada uma


sapataria no presídio de Fernando de Noronha, não se explica, conclusivamente, o motivo, mas deixa
transparecer que teria sido por conta do valor do produto ser comercializado a um preço mais módico, o
que afetaria o lucro dos artifices livres, bem como a crise comercial enfrentada naquele período, sendo
desativadas em 1869.

A partir da experiência do trabalho com os detentos, as oficinas eram sempre reclamadas na


ordem do dia pelos administradores da Casa de Detenção, como um meio de moralizar o preso, fazê-lo ser
aceito ao retornar à sociedade e diminuir os gastos do Estado, embora o Poder decisório tenha tratado com
descaso tal necessidade. Em 1874, Rufino de Almeida, em relatório, externou a preocupação com o ócio
dos presos que não agregava nada a sua ressocialização, muito menos a sociedade.

Por outro lado, foi percebido também uma exploração aos presos, por parte dos
administradores (trabalhos forçados, a ilegalidade das oficinas, expropriação de direitos dos presos, etc), o
Estado brasileiro, que desejava apresentar ao mundo o seu progresso moral, não se estimulou a ver os
apenados capazes de tornar-se cidadãos novamente e retornarem ao seio da sociedade.

A autora registra também problemas com o profissionalismo dos guardas (oferecimento de


bebidas alcoolicas, jogatina, empréstimos aos presos, além do descaso com o processo penal esperando o
julgamento, dentre outros desvios) e que isso corrompia as relações num ambiente que precisava ser
modelo para recuperação do apenado.

O isolamento, a higiene e o trabalho tornavam-se improfícuos como técnicas disciplinares


diante das condições materiais da Casa de Detenção e de seu pessoal. Soltos, a maioria voltaria ao crime.
Não àquela “ilegalidade fechada, separada e útil”, que tornava a sua prática “onerosa para o delinquente”,
tornando-a “restrita e controlável”, e, portanto, dominada. Ao contrário, fez surgir o delinquente que sabia
criar a ilegalidade em qualquer meio em que se encontrasse – livre ou na prisão.

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