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A fim de resguardar as prerrogativas, não somente das advogadas custodiadas, mas de toda a
classe da advocacia, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção do Espírito Santo
–, dirigiram-se ao Centro Prisional Feminino de Cariacica (CPFC) com o intuito de elaborar um
relatório atual e avaliativo do local em que se encontram segregadas as referidas causídicas.
Dessa forma, no dia 07 de novembro de 2022 (segunda-feira), a OAB/ES, através de sua Diretoria
Seccional de Prerrogativas, representada pelo Dr. Rodrigo Carlos de Souza, inscritos na OAB/ES
nº 7.933, e a Comissão Seccional de Direitos e Prerrogativas, por intermédio de seu Presidente,
Dr. Caio de Sá Dell’Col, inscrito na OAB/ES nº 21.936, do Coordenador Criminal da Comissão
Seccional de Prerrogativas, Dr. Rodrigo Bandeira de Mello, inscrito OAB/ES 34.316, e do membro
Drª Anna Caroline Dias, inscrita OAB/ES 36761, em conjunto com a 11ª Subseção da OAB/ES, de
Cariacica/ES, representada por sua Presidente, Drª Kelly Andrade, inscrita OAB/ES 14.589, e a
Comissão de Direitos e Prerrogativas da 11ª Subseção da OAB/ES, representada por seu
Presidente, Dr. Carlos Bermudes, inscrito OAB/ES 22.965, e seu Vice-Presidente, Dr. Rômulo
Almeida Delai, inscrito OAB/ES 32.418, no uso de suas atribuições, promoveram diligências junto
a Penitenciária Feminina de Cariacica, a fim de garantir as PRERROGATIVAS profissionais das
advogadas MAILA HERING - OAB/ES 32890, THATIANE DOS SANTOS SILVA - OAB/ES 31164,
BARBARA MARCARINI VON RANDOW - OAB/ES 20487 E ESTER MORAIS DIAS - OAB/ES 30009.
Nessa ocasião, as advogadas presas relataram uma série de fatores que atestam as irregularidades
as quais estão submetidas, além do tratamento desumano e indigno, sobretudo, por se tratar de
advogadas, cujas prerrogativas merecem ser amplamente asseguradas.
Destarte, após entrevista pessoal com as advogadas presas, foi realizada uma minuciosa inspeção
para vistoriar a cela onde estão encarceradas, além de fotos que constam neste relatório, segue
também link de vídeos da unidade prisional, a fim de que sejam verificadas as condições atuais do
local da custódia, no que tange à salubridade, higiene e segurança.
• As advogadas estão custodiadas em Galeria que era destinada a visitas íntimas (da penitenciária de
regime semiaberto feminino), a qual contém 03 celas, 01 cela de convivência e 01 sala de
atendimento.
• O local em que as advogadas estão encarceradas é uma cela COMUM, com porta de ferro,
cama de alvenaria e uma ventana. As refeições e itens de higiene são entregues às advogadas
através da portinhola, que é um pequeno buraco na porta.
• Não há janelas, apenas ventanas, inclusive por essas frestas passam insetos.
• O banheiro da cela exala um forte odor de esgoto, sendo impossível ficar muito tempo
naquele espaço, tampouco se alimentar em razão do cheiro de fossa.
• O banho de sol acontece durante os dias úteis, na parte da tarde e somente com a advogada.
Não sabendo dizer quanto tempo dura o banho de sol, até porque a advogada está optando
por não ir, por conta do procedimento constrangedor.
• A caneca e a colher de plástico possuem cheiro estranho, razão pela qual não consegue
utilizar tais utensílios e, portanto, come com as mãos.
• A advogada se sente constrangida com o procedimento de ter que ficar completamente nua,
na frente da inspetora, agachar e tossir, toda vez que precisa sair da cela. Sendo referida
situação extremamente humilhante, vexatória e degradante não compatível com a
dignidade da pessoa humana, muito menos a prerrogativa de advogada, inclusive está se
recusando ao banho de sol por causa do procedimento.
• Para abrir o chuveiro é preciso subir no vaso sanitário, já que o registro do chuveiro fica no
mesmo cano deste, faz-se necessário se arriscar subindo no vaso, que por vezes fica
escorregadio, em função de estar abaixo do local para se ensaboar.
• Mencionou que diariamente é feita a contagem nas celas e que algumas inspetoras batem
nas portas e gritam nos corredores para que as presas se façam visíveis pela portinhola,
sendo que o ato de bater nas portas, gritarem muitas das vezes assusta a advogada presa,
sendo gatilho de suas crises de pânico.
• Observamos algumas infiltrações na parede, principalmente na parede em que fica a cama.
Ponderamos que as advogadas estão em cela de visita íntima (na Penitenciária Feminina de
Cariacica), de modo que a lei não está sendo atendida, uma vez que não se trata de “Sala de Estado
Maior”, com instalações e comodidades condignas, conforme determina o inciso V do art. 7º da Lei
nº 8.906/94.
Trataremos sobre a realidade vivida das advogadas segregadas provisoriamente mediante registro
de vídeo1.
1
O registro em vídeo foi lançado num canal privado na plataforma do www.youtube.com de domínio desta comissão
a fim de gerar QR CODE e facilitar o acesso. Este vídeo somente conseguirá ser acessado por aqueles que possuírem os
referidos QR CODE’s, de modo a resguardar o sigilo e direitos fundamentais dos envolvidos.
3. IMPRESSÕES DA VISTORIA:
Inicialmente, cumpre destacar que, apesar das advogadas fazerem jus às prerrogativas da
advocacia, uma vez que ainda não há o trânsito em julgado do processo, encontram-se custodiadas
na Unidade de reclusão destinada a PRESAS CONDENADAS, para cumprir determinação de prisão
provisória.
Ao ingressarmos nas dependências da Penitenciária, fomos conduzidos pela Diretora até a galeria
em que se encontram as Advogadas, onde constatamos que, no conjunto arquitetônico em que
estão, existem duas alas, sendo que há uma interseção entre essas, onde fica o pátio para banho
de sol e por onde passam as presas. Deste modo, as advogadas presas mantêm contato visual
com as demais reclusas, além de receberem a alimentação da mão delas.
A impressão que tivemos antes de adentrarmos na galeria é de que, verdadeiramente, estaríamos entrando
na ala das demais presas, porquanto se percebe nitidamente tudo que elas falam, além de ter contato
visual, compartilhando do mesmo espaço com as demais detentas (corredor, pátio de banho de sol,
parlatório). Inclusive, quando a advogada sai para atendimento de saúde, divide a enfermaria com outras
presas.
No interior da cela, a insalubridade e afronta à dignidade humana saltaram aos olhos, haja vista
que o odor de esgoto e/ou fossa é extremamente forte, (imagine conviver 24 horas diárias
naquele ambiente).
Isso fica muito perceptível quando avistamos que o vaso sanitário está tampado com uma
tampa, na tentativa de reduzir um pouco daquele odor.
As paredes apresentam infiltrações notórias, nas fotos percebem-se manchas em razão da água
que escoou para o interior da cela.
Ainda no que tange à questão de salubridade, há relatos (com muita propriedade) de que, no
período da noite, insetos, larvas e até rã já ingressaram na cela.
3.3 DA SEGURANÇA:
O chuveiro, de fato, fica situado acima do vaso sanitário e o registro para abrir o chuveiro, localiza-
se na mesma tubulação deste, de tal modo que necessário se faz a subida no vaso, tanto para abrir
quanto para fechar e que, em uma dessas ocasiões alega a presa que quase se acidentou, porque
escorregou ao subir no vaso, para fechar a válvula, e o vaso encontrava-se com resquícios de sabão,
demonstrando a situação de risco a integridade física e, assim a segurança da presa.
Além do mais, observou que a água é disponibilizada pela abertura dos seus registros (pia, vaso e
chuveiro) somente duas vezes ao dia, pela manhã e a noite, estando todo o resto do dia fechada,
isso que acontece em todas as galerias/celas da Unidade. Portanto, clarividente a exposição
das presas a uma possível desidratação, face às condições degradantes pelo cerceamento da água e
não fornecimento de água potável para ingestão.
As imagens falam por si só. A porta é totalmente fechada e a única entrada de luz é através das
ventanas.
Percebemos que os procedimentos carcerários foram impostos às advogadas presas com tanta
veemência que, a todo momento, em que estamos em sua presença, elas parecem estar sob
condição de procedimento, já que elas ficam o tempo todo de cabeça baixa e com as mãos para
trás. Nesse sentido, as advogada nos relataram que toda vez que retornam para a cela são
submetidas a procedimento nuas e de agachamentos, como tratamento destinado a qualquer
outra presa da Unidade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Ante o exposto, com fulcro no artigo 133 da CF, na qual aduz que o Advogado é essencial à
Administração da Justiça, conclui-se que:
a) Ao final da inspeção, foi possível verificar que as advogadas se encontram em local inadequado e
com condições insalubres, localizado na referida Penitenciária, onde não há SALA DE ESTADO
MAIOR que faça as suas vezes, tão pouco, o equivalente a descrição do voto do Ministro Dias
Tofolli, na Reclamação nº 5.826/PR, em que consta que:
b) Destaca-se ainda que entre o presente relatório e os demais já realizados, não se observou
nenhuma mudança estrutural que permita concluir de forma diversa.
Diante do exposto, conclui-se que as prerrogativas das advogadas estão sendo duramente violadas,
tendo em vista a previsão de prisão domiciliar. Considerando a seriedade da questão, finaliza-se o
presente relatório para a adoção das medidas cabíveis na defesa e proteção dos direitos e garantias
da advocacia.