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A campanha de prevenção ao câncer de mama organizada anualmente em outubro

tem como foco o autocuidado a partir do exame do toque realizado pelas mulheres nas
mamas. Prevê, ainda, a realização de exames preventivos. Ambos os cuidados buscam
a detecção precoce do surgimento de manifestação da doença. Essas são estratégias
válidas e importantes. Contudo, a prevenção do câncer de mama deve ter suas ações
ampliadas de modo a considerar que os cuidados à saúde extrapolem a realização de
exames e a auto-observação de partes do corpo.

A Psicologia entende que o corpo físico não pode ser visto isoladamente da
experiência de vida das pessoas e dos determinantes sociais da saúde. Por isso,
a abordagem preventiva não pode ser apenas focada no biológico. Afinal, saúde
não é apenas a ausência de doença, mas estado de bem-estar biopsicossocial
produzido a partir da interação entre os eixos biológico, psicológico e social,
conforme preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Por isso, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) aproveita a mobilização do


Outubro Rosa refletir sobre alguns aspectos que, geralmente, são esquecidos
durante a campanha.

O primeiro remete ao fato de que o incentivo à realização de exames, muitas


vezes, não é acompanhado do oferecimento desse serviço em larga escala em
algumas regiões do país para a população mais vulnerável. Ou seja, além de
estimular as mulheres a buscar o acompanhamento de um profissional de
saúde, é importante cobrar que o poder público, nas esferas federal, estadual e
municipal, ofereça as condições para que esta mulher seja efetivamente
assistida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Outro aspecto preocupante refere-se ao perigo do entendimento equivocado de


que o cuidado com a saúde dependa apenas de uma decisão individual da
pessoa. Essa concepção acaba por desconsiderar as condições econômicas e
sociais que podem facilitar ou não determinados tipos de adoecimento. A ideia
alardeada de que a doença decorre apenas da falta de autocuidado, pode
promover um sentimento de culpa da pessoa pelo próprio adoecimento.
O câncer de mama está entre os tipos da doença com mais incidência no
Brasil: 15,3% do total de novos casos, segundo o Cancer Country Profile (Perfil
do Câncer por País, em tradução livre) de 2020 da Organização Mundial da
Saúde (OMS). De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), este é o
câncer mais presente na população feminina e, como estima a OMS, está
longe de diminuir em sua relevância, pois o número de casos anuais deve saltar de
85 mil (em 2018) para 133 mil em 2040.

Por ser uma doença que acarreta diversas mudanças – físicas e emocionais –, reconhece-
se a importância de tratar a enfermidade em uma dimensão biopsicossocial. Desde 1998,
a partir da publicação da Portaria nº 3.535, o Ministério da Saúde reconhece a
necessidade de disponibilizar uma equipe multidisciplinar que inclua Psicólogas(os)
para as(os) pacientes em tratamento oncológico em Unidades e Centros de Assistência
de Alta Complexidade em Oncologia. Esse entendimento foi renovado com a Portaria
SAES/MS nº 1399, de 2019, que estipula como requisito básico a Psicologia Clínica nos
quadros de serviços desses locais.

Efeitos da doença e benefícios do acompanhamento psicológico


Os efeitos físicos e emocionais decorrentes do câncer de mama e seus tratamentos
geram, nas mulheres – público-alvo da campanha anual Outubro Rosa – uma série de
sentimentos, como ansiedade, tristeza, desespero, susto e estado de choque. A
constatação é de um estudo realizado pela Psicóloga Amanda Braz Ramirez (CRP-
08/28197), que realizou uma pesquisa sobre a autoestima de mulheres em tratamento
oncológico — em especial, aquelas que paaram pelo procedimento da mastectomia, ou
seja, a retirada parcial ou total das mamas. Além disso, mais da metade das participantes
da pesquisa relataram ter sentido medo da morte ao receberem o diagnóstico da doença.

Na visão de Laura Domingos Alves Machado (CRP-08/20662), Psicóloga voluntária


na Associação das Amigas da Mama (AAMA) há sete anos, o acompanhamento
psicológico é fundamental para a adaptação das pacientes ao cenário posterior ao
diagnóstico – início do tratamento, cirurgias, quimioterapia, exames, radioterapia. Isso
porque, por diversas razões como a perda dos cabelos e da própria mama, possíveis
efeitos colaterais do tratamento, a nova rotina desgasta física e emocionalmente.

A Psicóloga e pesquisadora Amanda Ramirez confirma que a mastectomia, por


exemplo, impacta  na visão que a paciente tem dela mesma e também em sua
produtividade: “algumas relatam que se sentem inferiores a outras mulheres, pois não
conseguem mais trabalhar, fazer o serviço de casa que antes era comum”, explica. Para
a profissional, é neste contexto de mudanças que o acompanhamento psicológico pode
trazer benefícios, em especial no processo de ressignificação dessa experiência.

Alguns destes benefícios são percebidos no dia a dia do trabalho de Laura: maior bem-
estar emocional, melhor adesão ao tratamento e atenuação significativa dos riscos
de desenvolvimento de quadros depressivos ou de ansiedade. Ademais, a voluntária
afirma que o trabalho terapêutico promove a participação mais ativa e positiva da
paciente durante o tratamento: “à medida que esse trabalho vai acontecendo é
muito bonito de ver o quanto essa mulher vai se reencontrando e vai fazendo
as pazes com a sua feminilidade, com a sua identidade enquanto mulher
mesmo diante de uma nova imagem corporal”, conta.
https://crppr.org.br/reflexoes-outubro-rosa/

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1998/prt3535_02_09_1998_revog.html

https://www.americasamigas.org.br/blog/mitos-e-verdades?
gclid=EAIaIQobChMIi4eb6s_8-gIVbU9IAB0SdgK0EAAYAiAAEgKxyvD_BwE

https://danielgehlen.com.br/cancer-de-mama-e-autoestima-feminina/

http://www.oncoguia.org.br/conteudo/cancer-de-mama-o-autocuidado-e-agora
%E2%80%A6-e-sempre/15004/7/

https://www.youtube.com/watch?v=sKYAWbeF4O0

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