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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO - UNEMAT

FACULDADE DE LETRAS, CIÊNCIAS SOCIAIS E TECNOLÓGICAS


CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS

THAMIRES RAMIRES BARBOSA TENÓRIO DE ALBUQUERQUE RODRIGUES

O SOCIAL E O LÚDICO NA LITERATURA INFANTOJUVENIL

ALTO ARAGUAIA
2023
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO - UNEMAT
FACULDADE DE LETRAS, CIÊNCIAS SOCIAIS E TECNOLÓGICAS
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS

THAMIRES RAMIRES BARBOSA TENÓRIO DE ALBUQUERQUE RODRIGUES

O SOCIAL E O LÚDICO NA LITERATURA INFANTOJUVENIL

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como


requisito para obtenção dos créditos da disciplina de
TCC II, sob a responsabilidade do Professor Dr.
Paulo César Tafarello, para o curso de Licenciatura
Plena em Letras da Universidade do Estado de Mato
Grosso, Unemat.

Orientador: Prof. Dr. Isaac Newton Almeida Ramos

ALTO ARAGUAIA

2023
THAMIRES RAMIRES BARBOSA TENÓRIO DE ALBUQUERQUE RODRIGUES

O SOCIAL E O LÚDICO NA LITERATURA INFANTOJUVENIL

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Coordenação do Curso de


Licenciatura em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT,
Campus Universitário de Alto Araguaia, como parte dos requisitos necessários para
a obtenção do título de Licenciada em Letras.

Examinado por:

___________________________________________________
Prof. Dr. Isaac Newton Almeida Ramos- (Orientador-Presidente)
(Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT)

___________________________________________________
Profª.M° Paulo Sérgio Borges David Mudeh (Membro)
(Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT)

___________________________________________________
Profª.M.a. Simoni Rodrigues dos Santos (Membro)
(Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT)
Aos meus filhos, por serem meu porto seguro e a razão
de tudo, por alegrarem e colorirem minha vida.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, pela vida e saúde, por me sustentar nos dias
tempestuosos e por colocar todas essas pessoas em meu caminho.
Ao Prof. Dr. Isaac Newton Almeida Ramos, pela orientação, pela paciência, pela
autonomia, e por acreditar em mim, mais do que eu mesma. A minha admiração e
respeito! Gratidão!
À Universidade do Estado de Mato Grosso, pelas oportunidades que tantas vezes
hesitei.
A todos os professores, que direta ou indiretamente contribuíram para minha
formação.
Aos amigos e familiares, pelo incentivo e paciência devido à ausência.
Às pessoas com quem convivi ao longo desses anos de curso, que me incentivaram
e que certamente tiveram impacto na minha formação acadêmica.
RODRIGUES, Thamires Ramires Barbosa Tenório de Albuquerque. O social e o
lúdico na Literatura Infantojuvenil. Trabalho de Conclusão do Curso de
Licenciatura em Letras. ALTO ARAGUAIA: UNEMAT, 2023.
RESUMO
O presente trabalho busca analisar poemas da obra Apesar do Amor de Marli
Walker, e poemas do livro Kyvaverá de Ivens Cuiabano Scaff, com o seguinte
questionamento: “O social e o lúdico podem coabitar no poema infantojuvenil?”. De
modo geral, objetiva-se analisar a literatura infantojuvenil de Mato Grosso, com
destaque nos elementos sociais, lúdico, sons e imagem, com base na teoria da lírica
e nos estudos críticos. Especificamente, analisar o elemento social e o lúdico, a
sonoridade e as imagens dos poemas, comparar os dois poemas e as
características que definem o estilo de cada autor estudado. A presente pesquisa
justifica-se por abordar a Literatura brasileira infanto-juvenil produzida em Mato
Grosso, tão pouco estudada. O conteúdo escolhido abrange a importância do lúdico
e o social na poesia infantojuvenil. Entretanto tenta-se explicar a importância da de
tal poesia num contexto social e lúdico. Na questão social são questionados a
situação socioeconômica de uma sociedade explorada, onde a fome e a
desigualdade se tornam presente, famílias com situações fragilizadas. E o lúdico
demonstra a simplicidade e uma reflexão de ser criança, na qual se cria a imagem e
o som que se refere a imaginação pueril. Por fim, pretende-se por meio deste
trabalho trazer à luz que o social e o lúdico devem andar juntos, pois a junção dos
dois simplifica uma forma de ensino que devem ser exploradas nas escolas, onde
ajuda no processo de aprendizagem de nossas crianças e facilita o ensino de
valores. Contudo conseguindo promover um olhar crítico em nossa sociedade
através de nossas crianças.

Palavras-Chave: Lúdico, Social, Infantojuvenil.


SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................8
REFERENCIAL TEÓRICO..........................................................................................10
A POÉTICA DE MARLI WALKER...............................................................................18
1.1 Sementes...........................................................................................................18
1.2 Comunhão..........................................................................................................19
1.3 Fome..................................................................................................................20
1.4 Crítica social.......................................................................................................22
A POÉTICA DE IVENS CUIABANO SCAFF..............................................................27
1.1 Casa...................................................................................................................27
1.2 Terra Azul...........................................................................................................28
1.3 Conversa De Avó...............................................................................................29
1.4 Crítica Social......................................................................................................30
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................34
REFERÊNCIAS...........................................................................................................35
8

INTRODUÇÃO

Este trabalho de TCC iniciou -se com a escolha do tema. À princípio o


primeiro tema foi escolhido na área da prosa da Literatura Contemporânea. Com
algumas reuniões com orientador, Prof. O Dr. Isaac Ramos, solicitei-lhe ler poemas
na área de infanto-juvenil. Dentre alguns livros lidos, identifiquei-me com o livro
Apesar do Amor de Marli Walker, e Kyvaverá de Ivens Cuiabano Scaff.
Ivens Cuiabano Scaff é natural de Cuiabá. Nasceu no dia 30 de junho de
1951. A escolaridade superior foi cursada na Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo feito com destaque a residência
médica no Hospital da Lagoa no Rio de Janeiro e em sequência o curso de Pós-
graduação na área da saúde na UFMT. Entre as inúmeras obras publicadas
destacam-se na categoria infanto-juvenil: Uma maneira simples de Voar, O menino
órfão e o Menino Rei, e na poesia destaca Mil Mangueira e Kyvaverá.
Marli Walker é natural de Santa Catarina, mas vive em Mato Grosso há mais
de 30 anos. Doutora em Literatura e Práticas Sociais leciona no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – Campus Cuiabá e no Programa
de Mestrado Acadêmico em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso.
Publicou os livros Pó de serra (2006) e Águas de encantação (2009), ambos de
poesia. Acredita que a educação formal é o único caminho para transformar a vida
das pessoas.
O livro de poemas Apesar do Amor de Marli Walker enuncia em 50 poemas
curtos um ser humano que sobrevive à margem da vida, que germina nos campos.
As sementes, a terra, a mãe, o menino e seus destinos incertos são as imagens de
desalento e fome, apesar do amor. A autora convida o leitor a refletir sobre
contrastes que coexistem no Brasil propiciando aos estudantes uma leitura crítica do
lugar onde vivemos e da realidade vivida.
O intuito é analisar poemas dos livros dos autores mencionados acima. Do
livro Apesar do Amor de Marli Walker, analisarei o poema “Semente”, e do livro
Kyvaverá de Ivens Cuiabano Scaff, o poema “Casa”. A hipótese inicial era: “o social
e o lúdico podem coabitar no poema infanto-juvenil?”. A nossa discussão da
literatura infanto-juvenil de Mato Grosso, ocorre a partir de dois livros de poemas:
9

Apesar do Amor de Marli Walker e Kyvaverá de Ivens Cuiabano Scaff, com destaque
para os elementos social, lúdico, sons e imagem, com base na teoria da lírica e nos
estudos críticos sobre os autores. Quanto aos específicos, analisar o elemento
social e o lúdico, a sonoridade e as imagens dos poemas, comparar os dois poemas
e as características que definem o estilo de cada autor analisado.
A presente pesquisa se justifica por abordar a Literatura brasileira infanto-
juvenil produzida em Mato Grosso, tão pouco estudada. Acredito que está na hora
de investir em autores mato-grossenses, não apenas pela quantidade quanto pela
qualidade.
Percebo que poucas crianças têm acesso a livros de poesias nas escolas,
ficando apenas no livro didático, muitas vezes em recortes de poema infantil.
Analisaremos comparativamente o poema “Semente” de Marli Walker, e o poema
“Casa” de Ivens Cuiabano Scaff. Em muitos livros direcionados às crianças
encontramos um teor grande de imagens e sons, que dialogam com a questão
lúdica do poema.
Alfredo Bosi em O ser e o tempo da poesia afirma que a imagem é a
sensação visual que o ser humano tem a partir dos olhos, contudo a imagem pode
ser retida na realidade ou sonho. A imagem é afim à sensação visual. O ser vivo tem
a partir do olho as formas do sol, do mar, do céu. O perfil é a dimensão da cor. A
imagem é um modo da presença que tende a suprir o contato direto e a manter
juntos a realidade do objeto em si e a sua existência em nós. (BOSI, Alfredo, 1997,
p. 19).
Nos pressupostos teóricos, pretendemos utilizar autores que estudam a lírica
como Alfredo Bosi, Norma Goldstein, Antônio Cândido. O livro de Norma Goldstein
aborda que como toda obra de arte o poema tem uma unidade fruto característico.
Ao analisar um poema, é possível isolar alguns de seus aspectos num procedimento
didático, artificial e provisório. Nos textos não literários o autor seleciona e combina
as palavras geralmente pela sua significação. Na elaboração do texto literário ocorre
outra operação, tão importante quanto a primeira: a seleção e a combinação de
palavras se fazem muitas vezes por parentesco sonoro.
10

REFERENCIAL TEÓRICO
Cabe ao leitor ler, reler, analisar e interpretar. Ao analisar os mais simples
começar pelos aspectos mais palpáveis do poema, aqueles que saltam aos olhos ou
aos ouvidos. A seguir é preciso estabelecer relações entre diversos aspectos do
texto para tentar interpretá-lo. (BOSI, Alfredo, 1997, p. 1)
Antonio Candido em seu livro Na Sala de Aula apresenta análises de poemas
que sugerem ao professor maneiras de trabalhar o texto, cada poema requer uma
maneira de trabalhar o texto. As análises focalizam os aspectos relevantes do
poema. (CANDIDO, Antonio,1993, p.5).
Os livros Leitura de Literatura na escola de Maria Amélia Dalvi, Neide Luzia
de Resende, Rita Jover Faleiros e A Percepção do Mundo na sala de aula: Leitura e
Literatura de Robson Coelho Tinoco, abordam a questão da Leitura e Literatura e os
desafios educacionais pós-modernos que enfrentam a questão de cansaço,
desestímulo e desorientação:
Assim o tempo contemporâneo é, como já observavam Leopardi e Hegel –
ainda que como filosofia aposta – hostis à literatura, que só é tolerada como
atividade ilhada, abstraída da prática social corrente e daí retificada ou
monopolizada (BAKHTIN, 2003).

O ensino da leitura da literatura nas escolas brasileiras está com um objetivo


de reconstruir sobre o escombro da cibernetização em relação ao professor e ao
aluno. Está desgastada pelo fato de que o aluno não ouve a mensagem do
professor.
Geralmente os alunos estão sendo orientados com leituras dos autores
canônicos e não canônicos. Nas escolas os professores e alunos e agentes
administrativos se adaptam à realidade contemporânea que está fadada a perder o
rumo da história.
No programa de leitura do governo Federal tem um novo contexto que
crianças e jovens dos países menos desenvolvidos possam ingressar de maneira
produtiva à nova sociedade globalizada.
Na pós-modernidade contemporânea a ética social assume formas de
desintegração da educação. O papel das escolas e dos professores continua sendo
11

fundamental para a realidade depositada em nossas mãos, não é possível pensar


numa educação ética e estética e conservadora em alunos desinteressados.
A intenção da linguagem literária é transformar pessoas em leitores
conscientes e ler de maneira produtiva englobando as informações culturais, sociais
e políticas.
Em relação ao texto literário não podemos deixar de acentuar a importância
da leitura afetiva. O desenvolvimento desta leitura é essencial para avaliar a obra
escrita mostrando mundo.
Nenhuma leitura é definitiva e neste sentido, cada leitura sem excluir a do
autor é um acidente do texto. Soberania do texto sobre seu autor e seus
sucessivos leitores. O texto permanece resistente às mudanças de cada
leitura. Resiste a história. Ao mesmo tempo, o texto só é realizado através
dessas mudanças. [...] o texto é a condição das leituras e as leituras
realizam o texto, inserem-no transcorrer (PAZ, 1990, p.43).

Fiorin (1997) fala que a leitura produtiva se torna um prazer quando a


produtividade do leitor se manifesta quando os textos oferecem a possibilidade de
exercer a capacidade dialógica de apreensão do mundo do texto e da sociedade.
O objetivo da leitura dialógica é desenvolver a conscientização
socioeducacional que se estrutura em atividades escolares e com elementos
inseridos, com textos em sua própria realidade.
No livro Poesia na sala de aula de Hélder Pinheiro traz em pauta sugestões
direta ou indiretamente a abordagens de poemas no contexto escolar, instiga o leitor
professor a realizar sua própria experiência, e acreditando em sua potencialidade.
A poesia é a menos prestigiada no fazer pedagógico, como aponta Aguiar
(1987). O autor mostra que a poesia fica sempre em terceiro ou quarto lugar, na
ordem de interesse dos leitores.
Uma pesquisa realizada nos livros didáticos aponta um aumento de poetas
contemporâneos, por outro lado prende mais às questões formais, tipos de versos,
rimas, favorecendo pouco a aproximação lúdica o texto que estimule a percepção da
fantasia musicalidade.
Por outro lado, a pouca indicação de livros de poemas nas escolas causam
problemas para as editoras. Observamos que temos um acervo significativo de
poemas infantis, que podem ser usados em sala de aula.
Podemos sim trabalhar poesia em sala de aula, obedecendo o critério de
escolha para cada idade. Quando falamos nos anos iniciais, é fundamental escolher
12

poemas com musicalidade e humor. Um dos principais aspectos encontrados nos


livros de poesia é o humor.
José Paulo Paes (2008) e de Sérgio Caparelle 2003. O achado que nos leva
ao riso enriquece muitos poemas, mas a insistência de alguns poetas em provocar o
riso torna esse procedimento por demais corriqueiro.
Observamos que as temáticas sociais costumam ter uma boa recepção. Os
textos que abordam os preconceitos sociais éticos e econômicos contribuem para a
formação humana. A função social da poesia nos faz refletir sobre o alcance da
poesia na formação de leitores, essa experiência nos permite e aguça as emoções e
a sensibilidade.
A poesia tem a ver fundamentalmente com a expressão do sentimento e da
emoção, e esse sentimento e emoção são particulares, ao passo que o
pensamento é geral o mais fácil pensar do que sentir uma língua estrangeira
(ELIOT, 1991, p.30).

A função social da poesia não pode ser medida no âmbito escolar, ela é uma
experiência única, nela podemos ver o brilho no olhar na hora da leitura. Thomson
afirma que a poesia é um ato social que se pode fazer o uso tanto o poeta como o
povo.
O artista conduz os outros homens a um mundo de fantasia, onde seus
anseios se libertam, afirmando desse modo a recusa da consciência
humana em aceitar o condicionamento do meio mobiliza-se assim um
potencial de energias submersos que, por sua vez, regressam ao mundo
real para transformar a fantasia em realidade (THOMSON, 1997, p.118).

A leitura de textos em prosa e a leitura de textos poéticos tem sua


particularidade, não se trata de valorizar mais um gênero do que o outro, trata de ter
cuidado específico com cada gênero. É aconselhável criar o universo para a leitura e
mostrar a eles todo o tipo de temas, logo depois é indispensável criar um ambiente,
para ambos exporem sua experiência.
Nunca será demais repetir que os hábitos só se formam através da
atividade regular mais importante do que toda atividade baseada em livros,
mais importante do que a melhor discussão e a própria leitura. É preciso se
tornar um princípio o pensamento de que é melhor ler por quinze minutos
todos os dias do que meia hora um dia sim, outro não, do que ler uma hora
por semana, e assim por diante. A prática regular é a precondição para a
formação do hábito. (BAMBERGER, 1986, p.70).

A dificuldade que muitas pessoas têm em ler em voz alta podem afastar as
pessoas da poesia, pois na poesia há uma riqueza expressiva como a descoberta de
ritmo, mas também há poemas que quando lidos em silêncio te transportam a ter mil
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sensações. O fato é que nem o livro de poesia é acessível e nem a maioria dos
alunos estão aptos para apreciar de forma proveitosa.
O interessante é que determinado tema conhecido por alunos tem chance de
gerar trabalhos agradáveis que aquecem a participação e o envolvimento dos
alunos. Poemas musicalizados tem a importância e a qualidade e a força da cultura
em massa, e tem um grau de aceitabilidade dos seus alunos. É possível trabalhar
com muros grafitados, varal, painéis.
É comum que muitos universitários de letras chegam no curso, sem ter lidos
de poemas. Num determinado período, conforme Pinheiro as universidades
organizavam seus vestibulares, indicavam livros de poemas e boa parte dos alunos
lia.
Por mais que sejam mudadas a forma dos procedimentos didáticos e
diversificadas as abordagens chegará um momento em que teremos que repetir. É
preciso debater o ponto de vista de cada um e ter em ponto de vista a discordância,
quando a aula se torna um espaço de aprendizagem os alunos perdem o medo de
ser rotulados.
Entre cinco métodos de abordagem textual estudos, chamam a atenção para
a importância do debate na efetivação do método recepcional. “O processo de
trabalho apoia-se no debate constante em todas as suas formas, oral ou escrito
consigo mesmo, com os colegas, com o professor e com os membros da
comunidade”.
Quando se fala de jogo dramático infantil, ele nasce com aspectos da
narração de um barulho de uma brincadeira e também pode ser maturado por textos
poéticos. Essa concepção do jogo dramático pode contribuir para a vivência corporal
do texto literário.
[...] o eu total é usado. Ele se caracteriza por movimento e caracterização, e
notamos a dança entrando e a experiência de ser coisas ou pessoas. No
drama pessoal, a criança perambula pelo local e toma sobre si a
responsabilidade de representar um papel. (SLADE, 1978:19).

A pessoa foi conceituada como jogo da linguagem através do jogo sonoro


com aliterações, assonâncias, rimas, entretanto joga com a tensão entre som e
sentido, mas nem todo poema pode ser adequado a um jogral ou uma ilustração.
Enfrenta-se a dura realidade da ausência de poesia na escola, não só a poesia mas
também a prosa. A leitura pode nos ajudar a nos aproximar dos textos poéticos.
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Na leitura literária, Crítica e Ensino de Goiandira Ortiz de Camargo e Nismária


de Alves David no capítulo O difícil elogio à Poesia nos desafia a refletir sobre o
elogio da literatura em meios a tantas novidades midiáticas.
Antônio Cândido (2012) ressalta que entre os bens compreensíveis e
incompressíveis a literatura pertence ao segundo grupo, o qual não se justifica como
argumentos racionais, mas que não se justifica como argumentos racionais, mas
que não pode ser suprimido. A arte está inscrita no campo dos bens simbólicos da
cidadania cultural. Assim, o direito à literatura não deve ser ignorado como o direito
à escola e à saúde, a comida ou a felicidade (CANDIDO, 2012).
A leitura da poesia é considerada escorregadia. Alunos e professores
deveriam se aventurar sem o risco das insatisfações de ambas as partes. É preciso
admitir que a falta de gosto pela leitura dos textos poéticos causa este efeito. Elogiar
e defender a leitura do texto poético, aparentemente, é uma tarefa totalmente
complicada, haja vista que o programa oficial de ensino não dá o espaço necessário
em sala de aula. A leitura deveria ser um dever de todos, mesmo que não seja
cumprido. Com a poesia sendo deixada de lado, perde-se a oportunidade da
formação humana. A leitura de poesia pode exercitar áreas desconhecidas do nosso
cérebro, e pode criar valores.
Por outro lado, países como o nosso estampam a fome, injustiças, a
intolerância e pensamentos atrasados, acredita que a exploração dos menos
favorecidos, possa ter lucro na vida social e pessoal. Ser leitor nos tempos atuais é
um ato de resistência ao tempo político, que está sendo banido das nossas práticas
sociais. A leitura de literatura na escola costuma ser pensada com cores sem graça,
pela simples realidade apresentada acima.
O gênero poético se diferencia dos demais por expor da própria linguagem a
potência de criação. São muitos equívocos que se expõem na sala de aula. Todos
passam pela dificuldade de ler texto literário. A escola deveria ter algo para alimentar
e não estancar.
Segundo Silvina Rodrigues Lopes (2012), não é só a cultura que precisa do
poema para se enriquecer dele, é o poema que precisa de uma cultura de
valorização do poético, do reconhecimento de que cada indivíduo é uma matriz
única, mas que se recompõe cada vez que confronta sua dessemelhança com outro.
Ensinar poesia é um ato político que levanta a bandeira da educação como
15

formação integral do ser humano em que ética e estética formam o desenho


simbólico de uma sociedade livre e responsável pelo legado que vai deixar como
herança.
Danglei de Castro Pereira, na obra Nas linhas de Ariadne: Literatura e ensino
em debate, e Maria Amélia Dalvi no texto Uma aproximação Dialética Memórias
Poéticas da Escolarização, aborta a crítica literária dialética que visa recuperar
aspectos no trabalho. Crítica abordada abrange a discussão ideológica no ensino de
literatura e leitura literária, essa crítica não é apenas para descrever e compreender
é também para questionar todo o processo.
No que diz respeito a literatura poética a poesia abrange uma visão de mundo
que fratura e torna problemática a ideia de progresso no tempo e a identificação
afetiva com o objeto do passado.
[...] a poesia coloca em questão a temporalidade historicista, recuperando
elementos desprezados pelo processo histórico. Ao reorganizar os fatos de
forma não linear, o texto poético se contrapõe a uma concepção que vê a
história linear [...] A poesia [...] busca uma verdade que corresponda ao não
esquecimento social e histórico [...] Assim, ao recuperar informações
perdidas a poesia teria a função de falar a verdade que fora esquecida.
(SOUZA, 2007, p. 127).

A memória é entendida como elaboração subjetiva do processo para a


realidade sociocultural e histórica, o sujeito autor de uma elaboração discursiva ao
domínio literário é uma construção social. Certeau (2011) compreende e interpreta a
dinâmica da educação musical na escola, a partir da relação de sujeitos formais e
informais. Opta por trabalhar com noções conceituais de estratégia e táticas. Os
poemas evidenciam que não há apenas rendição à relação de sujeito e instituição
como escola. Parece ser de submissão, o sujeito resiste taticamente à escola para
sobreviver a ela.
Na obra A leitura literatura e escola: Idealizações Revisitadas, Rildo Cosson
desenvolve um programa que busca formar nas escolas públicas e periferias
urbanas leitores de clássicos da literatura mundial, que trata de uma valorização da
leitura que termina por transformá-la em uma espécie panaceia porque tudo pode
acontecer se algo precisa ser consertado. Faça a leitura, invista nela, em especial a
leitura literária.
Para enfrentar a idealização da leitura, o importante é ter a leitura como
processo e não como processo social, que é o que define a ideia de letramento. As
discussões em torno do cânone levam a várias revisitações feitas pela crítica, em
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relação à inclusão e a exclusão de mulheres no panteão dos escritores nacionais.


Observamos que a escola é quem deve ser apresentada e consumida pelos alunos,
no processo de formação escolar.
No livro “Literatura na escola: contexto e práticas em sala de aula de Ana
Paula Franco Nobile Brandileone e Vanderleia da Silva Oliveira”, destacamos o
capítulo denominado, “Tendência da Literatura Infantil Brasileira Contemporânea”.
Eliane Santana Dias Debus abrange a literatura infantil na década de 1970. A
mesma afirma que a produção literária que circula nos dá a permissão de construir o
repertório junto com o leitor que dialogue com o presente, porém essa demarcação
já foi realizada por outras estudiosas, entre elas Marisa Lajolo e Regina Zilberman
(1987). Nesse sentido, Rosa Maria Cuba Riche (1999), Maria Zaira Turchi (2008),
apontaram algumas transformações para a infância.
Lajolo e Zilberman (ano 1987), ao apontarem as tendências e os escritores na
década 70/80, destacam as críticas da sociedade brasileira com a representação
social de forma realista. A representação de personagem criança, sua voz e as
ações abrangem a criatividade da criança, inserção do gênero e temas para a
infância como gráficos, a metalinguagem e intertextualidade.
No artigo denominado Literatura Infanto-Juvenil Contemporânea, de Riche
(1999), a autora sintetiza a produção literária infantojuvenil com a heterogeneidade e
a diversidade voltada para discussão de aspectos existenciais.
Na obra Literatura Infantil Brasileira, as autoras Lajolo e Zilberman (1987),
focam no olhar e na produção literária e que nos últimos 30 anos afirma ser difícil.
Destacam que ela dialoga por meio de tendências no mercado, abrigando algumas
especificidades no campo educacional e editorial.
As diretrizes e bases para o ensino do nível médio ampliam o nível de
escolaridade no processo da produção e recomendam a leitura de autores
nacionais. A universidade começa a inserir em sua grade curricular a literatura
infantil a partir de uma disciplina específica em 1969, com a experiência da
professora Maria Antonieta Cunha na UFMG.
Em 1968, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) vai exercer
a fomentação da produção literária para a infância e juventude, que se estende por
todo o país a partir da década de 1980.
Hoje, quando eu olho em conjunto essa parte de minha produção nesse
período, vejo que esses contos falam de exílio, de reafirmação de rebeldia
17

frente ao poder de confiança na capacidade de auto construção da


personagem, da solidariedade, de esperança, de respeito ao indivíduo e de
valorização do que é brasileiro. (MACHADO, 1980, p. 31).

O grande avanço se dá pelo gênero, pela diversidade temática e formal. Não


se coloca a criança num cercado como um ser ingênuo. Nos tempos democráticos,
Lajolo e Zilberman (1987) focalizam o período de produção e circulação de livros
para infância e juventude, cercado pela ditadura militar e vários documentos são
acionados para manter a democracia.
Em 1970, uma profusão de títulos introduz temas e publicações para a
infância a temática da cultura africana afro-brasileira, sem a representação do negro.
Isso irá se tornar realidade, somente na década de 1980, pelas mãos de Joel Rufino
dos Santos e Rogério Andrade Barbosa, seguido por Júlio Emilio Braz. Outra
temática, a indígena, passou a ter representação na infância. E foi ocorrer a partir do
título Apenas um Curumin (1970) de Werner Zotz, e Cão Vivo Leão Morto (1980) de
Ary Quintella.
A intertextualidade marca em particular as narrativas de alguns estudiosos
que denominam os contos de fadas modernos, como Chapeuzinho Amarelo (1979)
de Chico Buarque. A fada que tinha ideias em 1979 de Fernando Lopes de Almeida
etc.
[...] a leitura de um livro de imagem reconfigura e transforma os dispositivos
habituais da leitura das palavras já que instigam o leitor para conduzir o
olhar de forma não linear, pois a literatura de uma imagem não dá como a
leitura de um texto verbal ocidental (de cima para baixo da esquerda pra
direita). A imagem pode ser percebida a parir da percepção de seus maiores
diversos elementos independentemente da ordem que aconteça.
(SPENGLER, DEBUS 2018).

A poética rítmica e sonora é elaborada de forma brincante, na década de 60,


com Isso e Aquilo de Cecília Meireles e A arca de Noé de Vinicius de Moraes. O
Livro Brinquedo destaca-se pela construção por meio de estratégia de feitura pelos
desdobramentos de papel Avoada (2014) de Marilia Pirello, Monstro Do Cinema
(2016) de Augusto Massi e Daniel Kondo, livro de Brinquedo (2016) de Sig Schaitel,
Ciclope (2017) de Peter o Sagae e Casa de papel (2017) de Glaucia de Souza.
Outra forma de publicação são os livros digitais, materializados por ilustrações
impressas com um novo artefato, denominado e-book.
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A POÉTICA DE MARLI WALKER


No livro Apesar do amor (2016) de Marli Walker observamos os valores
significativos dos poemas de cunho social. Num processo de derrubada de mata,
que produziu muita riqueza como grãos e gado que utilizaram a mão de obra
exploratória. Vivemos em um país tão rico e com uma realidade tão triste sendo que
a produção nacional de alimentos é suficiente, mas a desigualdade de renda e o
desperdício faz com que muitas pessoas sejam afetadas. O desperdício contribui
para afetar a questão da fome, dando ênfase na fome que deixa à margem uma
população de meninos e meninas famintos para enriquecer grandes produtores de
grãos e gado com a mão de obra barata.
Podemos observar que, de modo geral, há uma grande presença da
desigualdade social. Já na estrutura dos poemas, observamos que os versos são
livres e não seguem determinados esquemas métricos e rímicos. Os poemas são
escritos com versos em branco. Outra coisa que notamos, do ponto de vista
estrutural, é a ausência de letras maiúsculas, inclusive no título, e sem ponto final.
Essa opção parece querer dar uma ideia de continuidade desse lugar poético.

1.1 Sementes
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Começamos por “Sementes”. Trata-se de um poema que questiona o que


está baseado no valor social e socioeconômico, em uma sociedade tão explorada,
cujo destaque está no desperdício de alimentos em um país onde a fome e a
desigualdade se fazem presente. Lugar em que famílias desamparadas e com a
situação econômica fragilizada perecem. A partir dessa situação, que remete a um
paradoxo, posto que a semente que deveria servir para plantar é a mesma semente
da miséria coletiva. Em face disso, o eu lírico faz uma pergunta no poema. E a
poesia brota nessa árida paisagem social.

sementes

quantos grãos são necessários


pra abastecer os armários
das casas que não tem chão?
tantos grãos desperdiçados
tantos meninos ilhados
no mar inglório de grãos

Imediatamente nos remete à questão de meninos e meninas, que estão


nessa situação precária, sendo que a produção nacional de alimentos é ou, pelo
menos, deveria ser o suficiente. Tem a questão da desigualdade de renda e o
desperdício de grãos, principalmente durante o transporte em carretas, que alarga o
abismo das famílias que não têm uma casa para ser chamada de sua. O contraste
se manifesta pelo paradoxo, posto que há "tantos meninos ilhados / no mar inglório
de grãos".
A leitura dos poemas do livro Apesar do Amor de Marli Walker leva-nos a
refletir sobre os valores, a sede do lucro do agronegócio e o abismo social instalado
a ponto de separar as pessoas do próprio convívio social. É um espelho da realidade
do lado inverso.
Os poemas deste livro lidam com elementos importantes para a compreensão
do real de dois fatores: a história que o poema vai contar e a decodificação da
leitura. Na história que vai sendo contada, através dos versos, percebemos a
relação vivida entre a realidade e a poesia. E, a partir da leitura, pode proporcionar
uma expansão crítica da criança e do mundo.
20

1.2 Comunhão

O poema “comunhão” apresenta uma liturgia poética. Narrada em fatias de


versos, o poema adquire uma dimensão sagrada, que denota a fome e celebra o
pão da poesia a ser repartida. A fome, encaixada em um metáfora maldita, corta
como foice e é fera que devora, pouco a pouco, a dimensão humana. A poesia
bendita celebra as palavras, que são postas na boca, como se fosse uma hóstia. Em
comunhão dos versos, o eu lírico assume um lado: o papel do poeta ou da poetisa,
se preferir. Há uma intenção declarada em denunciar a situação ali colocada. O
sagrado e o humano são faces diferentes da mesma moeda. Resta jogar para cima
e torcer para que não caia em pé. No chão do poema, ergue-se a crítica social.

comunhão

por sobre a face da terra


faminta e farta de fome
choram menino e o homem

por entre foices e feras


sentem saudade deveras
do amor e seus derivados
cansados filhos de deus
em comunhão se consomem
(amém)

Na primeira estrofe trata-se, de modo geral, da fome no mundo. Esta é uma


das contradições mais tristes da vida. Mas essa conta não diz respeito apenas ao
setor agropecuário ou econômico. Esse problema é também uma questão cultural
que envolve toda a sociedade.
Notamos que, na segunda estrofe, há uma referência à questão da
agricultura. Isso é notado pelas palavras “foices e feras”, cujo valor comum se
engloba na relação socioeconômica. A fera é a própria fome, que devora o ser
humano. A comunhão, que deveria ser o alimento para a alma, acaba por ser um ato
de enterro da própria esperança. O paradoxo da primeira estrofe, "faminta e farta de
fome", se estende às lágrimas em que "choram menino e o homem". Estes
"cansados filhos de deus / em comunhão se consomem", como uma espécia de
antropofagia poética. E o último verso, carregado de ironia, expele um "(amém)". A
21

cegueira secular da igreja está posta. Afinal todos são filhos de Deus, ainda que
muitos estejam "cansados" de sofrer.

1.3 Fome

O poema “Fome” de Marli Walker nos traz à tona da memória, que anos se
passaram e a falta de comida e água não mudou nada. No entanto, cabe ressaltar
que essa condição da pobreza e desigualdade vem se aprofundando cada vez mais.
Há grande quantidade de pessoas que vivem e convivem com este problema, o
poema põe o dedo na ferida social, cuja dor aumenta conforme os anos passam.

fome

miséria pouca é bobagem


dizia de si para si
o homem indiferente

a mãe com uma renca de filhos famintos


olhava com vagar aquele mar de grãos
passava ao largo daquela fatura
daquela comida madura
com sua renca de filhos da mãe

Neste poema a crítica social está fundamentada através de cada verso.


Podemos enxergar que em seus poemas há uma situação tão falada que, na mídia e
em todos os meios de comunicação, é tão pouco ouvida.
Na primeira estrofe o eu lírico aborda a questão da indiferença. Infelizmente
há um grande número de pessoas que vivem essa desigualdade cruel. Essa
desumanização é tão prejudicial para nós quanto as outras pessoas. Todo mundo
perde. Ele parte de um ditado popular: "miséria pouca é bobagem". E, a partir deste,
há um acomodamento. Parece que as forças acabaram.
Podemos observar que, na segunda estrofe, a imagem da mãe "com sua
renca de filhos famintos" naquele mar de grãos remete à crueldade dessa diferença
social. Há certo distanciamento dessa mulher que sofre, pois "olhava com vagar
aquele mar de grãos". O lugar geográfico parece ser a terra dos agronegócios, que
propaga ser o celeiro do mundo que todavia não atende à miséria coletiva. É a
22

poesia soltando seu grito de alguém que "passava ao largo daquela fartura" e que,
muito provavelmente, era uma mãe solo pois trazia consigo "sua renca de filhos da
mãe".
A escritora Marli Walker teve sua obra selecionada pelo Ministério de
Educação para aplicação em todo o território nacional. Podemos afirmar que a
natureza, neste livro, não é protagonista. Salvo se estivermos nos referindo à
natureza humana. Aí, inclusive, o título Apesar do amor se encaixaria melhor. A
ironia está presente na capa de uma maneira geral. Pois nela consta a figura de um
coração de terra, de onde brotam flores e deixa cair sementes pelo espaço da capa
e contracapa. Trata-se de uma ironia ao romantismo costumeiro. A palavra "apesar"
já alerta para isso. Esse coração é a própria mata que caiu para erguer as cidades
que sustentam o agronegócio. É uma desilusão do imagético mato-grossense e do
crescimento desordenado e a desertificação do cerrado. Essa mulher que se
avizinha, às vezes como personagem principal, roteiriza a destruição da floresta
derrubada. Esse é o estilo marcante dos seus poemas e que mostra o papel e a
contradição social presente nos tantos versos desse livro.

1.4 Crítica social


Reconhecer a importância do social na literatura é o caminho que leva
incentivar a formação crítica da infância. Ao longo dos anos os educadores se
preocuparam em contribuir para a formação do indivíduo crítico, responsável e
atuante na sociedade.
Quando se lê mais se adquire consciência do mundo atual. É capaz de
comentar, indagar e discutir sobre ela e é sempre bom os poemas terem sempre um
caráter coletivo social. O leitor crítico é a partir dos 12/13 anos, pois é nessa fase
que o indivíduo tem o domínio da leitura e da linguagem.
Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, que
começa em casa. O primeiro e mais importante é determinado pela atmosfera
literária. Os professores oferecem pequenas doses diárias de leitura que
desenvolvem com naturalidade.
Temos que oferecer poemas, fábulas, poesias com teor social e lúdico e
assim as condições necessárias ao desenvolvimento da criança e do adolescente e
23

que, sobretudo, tenham acesso aos livros e oportunidades várias para lê-los de
todas as formas possíveis.
Em Signos em Rotação (1972), Octavio Paz menciona que o ritmo não só é o
elemento mais antigo da linguagem. Assim, todas as expressões verbais são ritmo,
sem exclusão das formas mais abstratas ou didáticas da prosa. Ele aborda a
diferença entre prosa e poema, e enfatiza que o ritmo se dá em toda forma verbal
mas só no poema se manifesta plenamente. A linguagem tende a ser ritmo, e as
palavras recobram a poesia com grande espontaneidade.
Enquanto o poema se apresenta como uma ordem fechada, a prosa tende a
manifestar-se como uma construção aberta. Afirma que Valéry comparou a prosa
com a marcha e a poesia com a dança. E o poema como uma esfera que se fecha e
o fim também é o princípio que se volta, repete, e se recria. Observa que a poesia
de nossa língua é mais um exemplo das relações entre prosa e verso, ritmo e o
ritmo e imagem são inseparáveis. A imagem possui diversas significações. As
imagens são produtos imaginários e toda forma verbal de conjuntos de frases que
unidas compõem um poema.
Pontua que a palavra imagem tem diversas significações, por exemplo: vulto,
representação, figura real ou irreal que evocamos ou produzimos com a imaginação.
Neste sentido, o possui valor psicológico, as imagens são de aspectos imaginários,
a palavra imagem tem toda forma verbal, o poeta diz e que unidas compõem um
poema. Segundo Aristóteles:

O poema não diz o que é e sim o que poderia ser. Seu reino não é o do ser,
' mas o do "impossível verossímil" de Aristóteles (p.38)

A imagem recolhe e exalta todos os valores das palavras, sem excluir os


significados primários e secundários, portanto as imagens do poeta têm sentido
diversos e possuem autenticidade: o poeta viu e ouviu, são a expressão de visão e
experiência do mundo. Ainda que pareça impossível, é uma constante verdade
psicológica.

As imagens poéticas tem a sua própria lógica e ninguém se escandaliza de


que o poeta diga que a água é cristal ou que "el pirú es primo del sauce"
(PELLICER, 1996, p.45)

No poema a imagem se sustenta entre si, as imagens de um poema são


irredutíveis a qualquer explicação e interpretação. O poema não se explica nem
24

representa, ele apresenta e, às vezes, se recria; portanto a poesia é um estar na


realidade.
A imagem não é meio; sustentada em si mesma, ela é seu sentido. Nela
acaba e nela começa. O sentido do poema é o próprio poema. As imagens
são irredutíveis a qualquer explicação e · interpretação. (PAZ, 1996, p.48)

O poema é um conjunto de palavras que antecipa a história social do eu lírico


é um conjunto de expressão de uma sociedade, uma condição de existência de uma
comunidade que se vai ao princípio de toda sua história social.

O poema é um tecido de palavras perfeitamente datáveis e um ato anterior


a todas as datas: o ato original com que principia toda história social ou
individual; expressão de uma sociedade e, simultaneamente, fundamento
dessa sociedade, condição de sua existência. Sem palavra comum não há
poema; sem palavra poética, tampouco há sociedade, Estado, Igreja ou
comunidade alguma. A palavra poética é histórica em dois sentidos
complementares, inseparáveis e contraditórios: no de constituir um produto
social e no de ser uma condição prévia à existência de toda sociedade.
(PAZ, 1996, p.52)

Como toda a criação do homem, o poema é algo que contém sua


historicidade que transcende de princípio a princípio, filho de um tempo e lugar. As
relações entre poema e história não apresentam fissura, pois o mesmo é um produto
social. O poema não escapa à história. Continua sendo, em sua própria solidão, com
uma confirmação histórica.

Como toda criação humana, o poema é um produto histórico, filho de um


tempo e de um lugar; mas também é algo que transcende o histórico e se
situa em um tempo anterior a toda história, no princípio do princípio. Antes
da história, mas não fora dela. Antes, por ser realidade arquetípica,
impossível de datar, começo absoluto, tempo total e autossuficiente. Dentro
da história e ainda mais: história - porque só vive encarnado, engendrando-
se, repetindo-se no instante de comunhão poética. (PAZ, 1996, p.54)

A condição poética é formada por duas partes natureza do homem, ser


temporal e relativo, mas sempre lançado ao absoluto. Esse conflito cria a história,
dessa forma a essência da história consiste apenas em um instante suceder a outro,
um homem a outro, uma civilização a outra. Não tem como escapar da condição
temporal do poema, a única condição é unir no tempo.
.
Para escapar de sua condição temporal não tem outro remédio a não ser
fundir-se mais plenamente no tempo. A única maneira que tem de vencê-lo
é fundir-se com ele. Não alcança a vida eterna, mas cria :um instante único
e irrepetível e assim dá origem à história. (PAZ, 1996, p.56)
25

Octavio Paz (1972) interpreta que todo poema qualquer que seja a sua índole
manifesta a realidade histórica e determina sua função na sociedade e o sentido
em relação a poesia é o social seu tema central é a liberdade, a poesia moderna
compõe, como romance, outra exceção pela primeira vez a poesia deixa de servir a
outros e quer refazer o mundo a sua imagem.

Todo poema, qualquer que seja a sua índole lírica, épica ou dramática,
manifesta um modo peculiar de ser histórico. Mas, para apreender
realmente está singularidade não basta enunciá-la na forma abstrata pela
qual o fizemos até agora, mas sim aproximarmo-nos do poema em sua
realidade histórica e ver de maneira mais concreta qual é a sua função
dentro de uma determinada sociedade. Assim os capítulos que se seguem
terão por tema a tragédia e a épica grega, o romance e a poesia lírica da
idade moderna. Não é casual essa eleição de épocas e gêneros, Nos heróis
do mito grego e, em outro sentido, nós do teatro espanhol e elisabetano, é
possível perceber as relações entre a palavra poética e a social, a história e
o homem. Em todos eles o tema central é a liberdade humana. (PAZ, 1996,
p p.59)

A poesia revela a condição humana com a experiência da história concreta.


Os caminhos da lírica foram diversos. O poeta canta e seu canto é a comunicação.
A poética não será consagrada na história. Será a história da vida.

A poesia é a revelação da condição humana e consagração de uma


experiência histórica concreta. O romance e o teatro modernos se apoiam
em sua época, inclusive quando a negam. Ao negá-la, consagram-na. O
destino da lírica foi diverso. Mortas as antigas deidades e a própria
realidade objetiva negada, o poema não tem mais nada que cantar, exceto o
seu próprio ser. O poeta canta o canto. Mas o canto é comunicação. Ao
monólogo não pode suceder-se outra coisa que o silêncio, ou uma aventura
entre toda s desesperada e extrema: a poesia não mais se encarnar na
palavra e sim na vida. A palavra poética não consagrará a história, mas será
história, vida. (PAZ, 1996, p.74)

A poesia se iniciou com um acordo, porém a poesia tenta integrar-se ao


próprio homem e ao abordar a diferença da escritura poética com as escrituras
sagradas traz a referência da escritura poética fazendo menção e revelação de si
mesmo que o homem faz.

Esta descrição seria incompleta caso se omitisse que a oposição entre o


espírito moderno e a poesia inicia-se com um acordo: Com a mesma
decisão do pensamento filosófico a poesia tenta fundar a palavra poética no
próprio homem. O poeta não vê em suas imagens a revelação de um poder
estranho. À diferença das Sagradas escrituras, a escritura poética é a
revelação de si mesmo que o homem se faz a si mesmo. (PAZ, 1996, p.77)
26

Coleridge, um poeta alemão aborda a poesia e filosofia atravessa o mito pois


experiência poética e a filosófica confundem com a religião, a religião não é uma
revelação é um estado de alma, uma espécie de acordo com ser do homem com o
ser do universo, um poder divino pode ser uma verdade absoluta.

Coleridge despoja a religião de sua qualidade construtiva: o ser revelação


de um poder divino, e a reduz a intuição de uma verdade absoluta, que o
homem exprime através de Formas míticas e poéticas. Por outro lado, a
religião is the poetry of Mankind. Assim, funda a verdade poético religiosa
no homem e converte-a em uma forma histórica. Pois a frase "a religião é a
poesia da humanidade" quer dizer efetivamente: a forma que a poesia tem
de encarnar- se nos homens e fazer-se rito e história, é a religião. (PAZ,
1996, p.78)

Shelley afirma que o poeta moderno ocupa o seu lugar que foi tomado pelo
sacerdote que por sua vez voltará a ser a voz de uma sociedade sem monarcas.
Novalis adverte que a religião é a poesia prática encarnada e vivida e o poeta
Coleridge afirma que a poesia é a religião original da humanidade.

Para Shelley o poeta moderno ocupará o seu antigo lugar, usurpado pelo
sacerdote, e voltará a ser a voz de uma sociedade sem monarcas. Heine
reclama para o seu túmulo a espada do guerreiro. Todos vêem na grande
rebelião do espírito crítico o prólogo de um acontecimento ainda mais
decisivo: o advento de uma sociedade fundada na palavra poética. Novalis
adverte que "a religião não é senão poesia prática", isto é, poesia
encarnada e vivida. Mais ousado que Coleridge, o poeta alemão afirma: "A
poesia é a religião original da humanidade". Restabelecer a palavra original,
missão do poeta, equivale a restabelecer a religião, anterior aos dogmas
das Igrejas e dos Estados. (PAZ, 1996, p.79)

Segundo Blake o poeta tem a missão de restabelecer o que foi desviado pelo
sacerdote, Blake canta a revolução americana e francesa retirando Deus das igrejas
a verdade não procede da razão e sim da percepção poética ambos são limitados na
verdade ao contrário dos desejos.

A missão do poeta é restabelecer a palavra original, desviada pelos


sacerdotes e pelos filósofos. As prisões são construídas com as pedras da
Lei; os bordéis, como os ladrilhos da Religião. " Blake canta a Revolução
americana e a francesa, que destroçam as prisões e retiram Deus das
igrejas. Mas a sociedade que a palavra do poeta profetiza não pode
confundir-se com a utopia política. A razão cria cárceres mais escuros que a
teologia. O inimigo do homem se chama Urizel (a Razão), o "deus dos
sistemas", o prisioneiro de si mesmo. A verdade, não procede da razão e
sim da percepção poética, Isto é, da imaginação. O órgão natural do
conhecimento não são os sentidos nem o raciocínio: Ambos, são limitados e
na verdade contrários à nossa essência última, que é desejo infinito: "Menos
do que tudo não pode satisfazer o homem". O homem imaginação e desejo.
(PAZ, 1996, p.80)
27

Blake limpa os erros dos livros sagrados e escreve inocência onde era
pecado o homem se torna livre com suas asas e o desejo está ao alcance de suas
mãos e por onde a sociedade se liberta aos poucos da religião e a poesia entra em
ação.
A poesia moderna não fala de "coisas reais" porque previamente se decidiu
abolir toda uma parte da realidade: precisamente aquela que, desde o nascimento
dos tempos, tem sido o manancial da poesia. "O admirável do fantástico- diz Breton -
é que não é fantástico e sim real. Ninguém se reconhece na poesia moderna porque
fomos mutilados e já nos esquecemos de como éramos antes desta operação
cirúrgica. Em um mundo de coxos, aquele que diz que há seres com duas pernas e
um visionário, um homem que se evade da realidade. Ao reduzir o mundo aos dados
da consciência e todas as obras ao valor trabalho-mercado, automaticamente
expulsou-se da esfera da realidade o poeta e suas obras.

A POÉTICA DE IVENS CUIABANO SCAFF


O livro Kyvaverá de Ivens Cuiabano Scaff observamos o amor de um menino
do Porto, que fica às margens do rio Cuiabá. Neste livro observa-se que existe uma
aproximação dos elementos da natureza fundamentais como: a água, o céu, a terra,
a seca e o verde.
Nesse sentido há um entendimento imaginário e busca uma reflexão do ser
criança na infância. A leitura dos poemas deste livro promove e aflora a imaginação
do leitor. Encontramos uma grande presença e convivência com a natureza: como a
chuva, o céu, os animais e os sons e a imagem que o leitor pode criar em sua
28

imaginação. Nenhum dos poemas do livro termina com ponto final. E mínima
presença de vírgulas, como uma das marcas sintáticas dos poemas do livro.

1.1 Casa

Encontramos no poema “Casa” de Ivens Cuiabano Scaff, a extrema


convivência do eu Lírico com a natureza e o habitat. A simplicidade do poema
começa pelo título, que traz um substantivo feminino. Este presente na primeira e
última estrofes, em situação de adjunto adverbial de lugar: "Na minha casa". Outra
palavra-chave que aparece no início é o substantivo "chuva" e se repete em quatro
estrofes. O poema se apresenta com cinco estrofes de versos livres e brancos.

Casa

Na minha casa
As crianças olham o céu
E pedem chuva

Já na segunda estrofe, o eu lírico aborda a questão cronológica de tempo,


observamos uma situação climática.

Da manhã até à tardinha


Das nuvens cinzentas
A rota vigiam

Na terceira e quarta estrofes encontramos a questão lúdica, a qual o leitor


pode criar em sua imaginação. A questão da imagens e sons estão presentes como
também a presença da prosopopeia ou personificação, que é uma figura de
linguagem que consiste em atribuir características humanas aos seres inanimados
ou irracionais. Igualmente, a sinestesia que é a fusão de impressões sensoriais
diferentes que está abordada na quarta estrofe. Variações do fonema "c" e "ch"
chamam a atenção, como em "chova", "chuva", "calha", "caindo", "correndo", "clara",
que dá uma ideia do movimento e da quantidade da água que cai.

Tomara que chova


Chuva bem grande
Lavando o telhado
29

Correndo na calha
Caindo no pátio
já todo molhado

Chuva bem grossa


de pingos graúdos
Correndo nas telhas
caindo na gente
embaixo da calha
sentindo a água
tão fria e clara

Na última estrofe há uma inversão do pedido do eu lírico, em relação à


primeira estrofe: "Na minha casa / as crianças olham o céu / e pedem chuva" // (...)
Na minha casa / as crianças olham para o alto / e pedem o céu". A chuva parece
ser uma metonímia de prece. O céu parece ser uma metonímia da chuva. Também
há a questão do simbolismo: o céu como algo infinito igual à imaginação do leitor. E
as crianças se elevam com a poesia. Ainda há a questão da "casa" como lugar
sagrado que serve como um pedido feito por crianças inocentes.

1.2 Terra Azul

Outro poema que analisamos é “Terra Azul”. Estruturado em quatro pequenas


estrofes, com três dísticos e uma com um verso só. Notamos uma grande
importância na educação infanto-juvenil, pois dá espaço para criar e inventar usando
a imaginação. Neste poema notamos um período de desenvolvimento e
aprendizagem do próprio poema, como se fosse um habitat de palavras.

Terra azul

O céu me chega
em forma de silêncio pelos ouvidos

azul pelos olhos

Em pesado calor
sobre meus ombros

A terra é multicor
embrulhada de azul
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O poema "Terra azul" está em plena sintonia com a imaginação. Novamente,


"O céu me chega", / em forma de silêncio pelos ouvidos", que está presente no
poema anterior. E aqui há uma relação sinestésica que envolve o ver/ ouvir. No meio
do segundo verso o "silêncio". E o "azul pelos olhos" faz parecer como se fosse uma
extensão do "céu". No último dístico, "A terra é multicor / embrulhada de azul", faz
parecer que é um presente da natureza e, por que não dizer, do próprio poeta ao
leitor, que cria um fantástico mundo na sua imaginação. Há uma constante
referência do som e da imagem, pois o simbolismo está com grande ênfase nos
versos.

1.3 Conversa De Avó

Sintetizando o poema “Conversa de Avó” a imagem lúdica está apresentada


em todo o poema. O eu lírico compara o som da borboleta com uma cantiga de
ciranda. Só que há uma pequena contradição, pois o eu lírico volta atrás, pois essa
cantiga é parecida com o assovio dos mosquitos, só que mais bonita.
Conversa de Avó

Não, as borboletas não são mudas


é que cantam muito baixinho
Quem já ouviu diz
que é uma espécie de ciranda
cantiga das mais singelas
parecidas com o assobio dos mosquitos
só que mais bonita
Composto por uma única estrofe, com sete versos, o poema começa com
uma negação: "Não, as borboletas não são mudas / é que cantam muito baixinho".
Esse possível estranhamento aguça o sentido do leitor a ponto de questionar se isso
poderia ser verdade. Na "Conversa de avó" há uma metáfora ensaiada, a das
borboletas que cantam e encantam. Para segurar a atenção das crianças, é preciso
contar alguma novidade. Essa novidade é o lúdico da poesia no poema. Alma e
corpo que se transforma da larva e chega ao estado de poema. É dança "de
ciranda", é música "cantiga das mais singelas / parecida com o assobio dos
mosquitos". Ocorre aqui uma preparação para a poesia: do zumbido (que incomoda)
para o assobio (que encanta), mais apropriado para uma lírica "Conversa de avó". E
essa cantiga "só que mais bonita" irradia pelo espaço da página em branco.
31

1.4 Crítica Social

O escritor Ivens Cuiabano Scaff, no livro Kyvaverá, a maioria dos poemas


dele traz nomes usados pelos indígenas para identificar o rio que banha a antiga Vila
Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. É curto, mas há alguns mais longos. O livro é
dividido em quatro partes: "Kyvaverá", "Os meses", "Arredores" e "Árvores" - escrito
assim mesmo, do jeito que as crianças falam. Kyvaverá nasce como um canto de
amor e de dor a Cuiabá. É um livro que acrescenta valor à literatura e à cultura
mato-grossense e brasileira. A característica que melhor define esse livro, como
temos afirmado, é a questão lúdica.
A importância do lúdico na educação infantil no cenário contemporâneo não é
um tema explorado por muitos pais, já que na maioria das escolas ainda impera a
forma de ensino tradicional. Essa modalidade, que não é trabalhada na maioria das
escolas, ajuda no processo de aprendizagem e ainda a desenvolver múltiplas
habilidades tais como atenção, concentração, memorização e imaginação.
Atualmente podemos definir o lúdico como uma forma de expressar liberdade,
espontaneidade por meio de ferramentas como poemas, dinâmicas, ebook, tablet.
No caso do tablet, momento em que as crianças têm acesso a recursos
tecnológicos, funciona como importante ferramenta de aprendizagem.
No cenário contemporâneo refletir acerca da ilustração é um desafio,
sobretudo ao se observar a quantidade de imagens que disposta em cartoons,
desenhos animados da tv, histórias em quadrinhos, outdoors, painéis, série animada
entre outros, as quais invadem diariamente o olhar infantil. A questão que se coloca
é a do encantamento da memória e da imaginação dos pequenos leitores.
Uma das funções da ilustração, conforme é a de criar a memória afetiva e
feliz da criança. Partindo desse pressuposto, buscou-se eleger livros
ilustrados de poesia que permitissem a constituição dessa memória e a
desautomatização do olhar em relação à imagem. OLIVEIRA (2008, p.44)

Além disso, o método de ensino baseado em poemas, cantigas, entre muitos


outros facilita o desenvolvimento cognitivo. A palavra “lúdico” vem do latim lud e um
termo masculino, apesar dessa definição o conceito está inicialmente relacionado a
jogos, mas a palavra ganhou novo sentido que vai além desse tipo de palavra.
No livro Poesia infantil e juvenil brasileira – Uma ciranda sem fim de Vera
Teixeira de Aguiar e João Luiz Ceccantini como organizadores, os estudos sobre a
poesia para crianças no Brasil têm a presença do caráter pedagógico com o teor
32

transmissor de normas e regras de boa conduta de comportamento, dando espaço


tipo de versos, ritmos, jogos de linguagem, efeito de sentido.
A poesia infantil brasileira até a década de 50 caracterizava-se pelo
conservadorismo formal e pelo compromisso com a pedagogia. Na
exaltação de deveres cívicos e familiares mantenha-se vivo o modelo
parnasiano de Olavo Bilac. O sujeito de enunciação do lírico era o adulto
que se colocava num plano superior ao da criança para ensinar-lhe valores
morais. (TIVICHI, 1995, p.155,).

A poesia voltada ao público infantil tem sua tradição e especialidade.


No caso da poesia voltada ao público infantil a tradição da lírica vem ao
encontro das especificadas do termo “infantil”, o que implica acrescentar ao
vasto universo da poesia elementos peculiares do público por ela focados,
elementos ressaltados de modo sintético por (CORTEZ E RODRIGUES
2009, p. 80-81).

Na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Lisboa classifica


a seguinte categorização para poesia voltada ao público infantil. Juan Cervera
(1991) distingue três grandes grupos na poesia para crianças lírica, narrativa e
lúdica.
A poesia lírica caracteriza-se sobretudo pela expressão de sentimento e
juízo do sujeito poético perante situações e objetos. Na poesia narrativa
embora o elemento lírico não esteja totalmente ausente a atenção incide
sobretudo nos factos e na ação o que conduz a um maior dinamismo e
objetividade. Quanto à poesia lúdica, campo particularmente fértil na escrita
para os mais novos caracteriza-se por um reforço do poder de comunicação
sonora o que resulta numa menor atenção ao significado das palavras e
uma maior incidência no efeito de jogo das sonoridades construído pelo
poema. (CERVERA, 1991)

Lajolo, Zilberman (2004) afirma que no Brasil a poesia lírica e lúdica tem
marcado a capacidade novas propostas de modernismo dialogando com formas
clássica e popular.
No Brasil, a poesia lírica e ou lúdica tem se marcado nas últimas décadas,
por sua capacidade de inventiva de absorver as novas propostas estética
advindas do modernismo dialogando tanto com as formas clássica quanto
com o repertório popular (LAJOLO, ZILBERMAN, 2004, p.146).

Nos anos 60 a poesia infantil é marcada pelo conservadorismo formal e com


valores ideológicos. Até a década de 60 a poesia infantil brasileira guardava
resquício parnasiano quer pelo conservadorismo formal, quer pelo seu compromisso
com a pedagogia. A crença no poder comunicativo dos versos é tão forte que ao
longo da tradição da poesia brasileira valores ideológicos emergentes foram sempre
confinados à força persuasiva de poemas. Foi o que sucedeu com Olavo Bilac e
Francisca Júlia, contemporâneos do esforço de preservação do acervo folclórico
33

mais tradicional (submetido embora a adaptações pedagógicas) empreendido por


Alexânia de Magalhães Pinto.
Em 1980 Turchi (1995) opta por três modalidades o poema que se realiza
de maneira mais lírica e lúdica o narrativo que é a história contada em verso
com ritmo e rima a prosa poética sem estar presa ao verso, se constrói a
partir de imagem poéticas” (TURCHI, 2008, p. 156).

Ramos e Panozzo (2010, p.165) afirmam que nos últimos vinte anos de
valorização do lúdico esta fonte está na cultura popular, como brincadeira verbal
com parâmetro para a linguagem poética.
O lúdico está presente na elaboração do verbo, no desenvolvimento do
tema e na expressão de um estado de espírito, como também no
movimento que o leitor executa seja no deslocamento de seu olhar de uma
linha para outra, seja no processo desencadeado para apreender o texto,
pois cada verso anuncia o seguinte ou oculta-o reportando-se ao anterior
para confirmá-lo ou para rejeitá-lo. (RAMOS E PANOZZO, 2010, p.165)

A poesia infantil contemporânea e modernista é trabalhada com tema


cotidiano com relação entre criança e mundo real.
A poesia infantil contemporânea assim incorpora bem outra lição
modernista: a de que o lirismo mais profundo pode ser trabalhado através
dos temas mais prosaicos e mais cotidianos” (LAJOLO, ZULBERMAN,
2004, p.152).

Goldstein aborda que o verso livre permite que o tema se aproxime da forma
com o ritmo irregular com este recurso deixa evidente as rimas e o jogo verbal.
O verso livre permite que o prosaico do tema se aproxime do prosaico da
forma fazendo uso abundante do engajamento – “o verso livre modernista
tem um ritmo irregular cujo efeito dá uma espécie de vertigem”
(GOLDSTEIN, 1991, p.37).

A poesia infantil encontra-se em campo fértil junto com a tecnologia se


reinventam e sempre se renovam.
Assim tanto a poesia em geral como a infantil recuperam o ludismo sonoro
que envolve o receptor, e encontra apoio em outros níveis do discurso
articulado como as figuras de linguagem as construções gramaticais e
mesmo a visualidade do texto proposta pela disposição das palavras no
verso e nas estrofes papel. A poesia nesse aspecto consolida-se como uma
possibilidade de jogo com a linguagem. (RAMOS; PANOZZO, 2010, p.165)

Retratar sobre a ilustração é um desafio e tanto, pois a quantidade de


imagens cartoons, desenhos animados da televisão e quadrinhos, invadem o olhar
infantil. Rui de Oliveira (2008, p.41) aborda essa questão e nos perguntam: Será que
essa imagem pode compor a memória afetiva dos nossos pequenos leitores?
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Uma das funções da ilustração, conforme Oliveira, é a de criar a memória


afetiva e feliz da criança. Partindo desse pressuposto, buscou-se eleger
livros ilustrados de poesias que permitissem a constituição dessa memória e
a desautomação do olhar em relação a imagem. (OLIVEIRA, 2008, p.44)

Em meados do século XIX, segundo Borelli (1996, p.89), e neste período que
as transformações formam a imagem que passa de sociedade rural a urbana, e há a
ascensão da classe média quer escolaridade aos seus filhos. Acredita-se que o livro
ilustrado promove um olhar crítico pois questiona as certezas ao mostrar que não há
só uma verdade e pode produzir nas crianças o efeito de verdade ou falso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho pretendeu entender “O social e o lúdico na literatura
infantojuvenil” para analisar os poemas de Marli Walker, e Ivens Cuiabano Scaff com
o intuito é analisar poemas dos livros dos autores mencionados acima. A presente
pesquisa aborda a literatura brasileira infantojuvenil produzida em Mato Grosso tão
pouco estudada, o conteúdo abrange o lúdico e o social na poesia. O trabalho
contribui e descreve o procedimento poético nele explica a importância da poesia
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infantojuvenil abrangendo o contesto lúdico e social com leituras teóricas sugerido


pelo orientador.
Para atingir uma compreensão foram analisados o poema do livro Apesar do
Amor (2016) de Marli Walker, e do livro Kyvaverá (ano 2011) de Ivens Cuiabano
Scaff, com o destaque no social e o lúdico com base nos elementos dos estudos da
teoria lírica e nos estudos críticos.
Com isso, a hipótese “O social e o Lúdico podem coabitar no poema
infantojuvenil”, sim devem se coabitar pois os dois elementos estudados são
indispensáveis, reconhecer a importância do social e o lúdico na literatura
incentivaremos a formação critica na infância contribuindo com a formação do
indivíduo responsável ingresso numa sociedade. Sendo assim o instrumento de
coleta de dados permitiram a avaliação presente no texto.
E por fim proponhamos que os futuros professores ingressem os livros de
poemas de autores mato-grossense nas escolas e abordem em seu plano de aula o
lúdico e o social para contribuição crítica dos nossos futuros leitores.

REFERÊNCIAS
AGUIAR; Vera Teixeira de/ CECCANTINI; João Luís (Org.) Poesia Infantil E Juvenil
Brasileira Uma Ciranda sem Fim/ São Paulo: Editora Cultura Acadêmica 2012.
BOSI; Alfredo. O Ser e o Tempo da Poesia. São Paulo: Cultrix, 1997.

CAMARGO; Goiandira Ortiz de. / DAVID, Nismária Alves (Org.) Leitura Literária
Critica e Ensino/ Campinas, SP: Pontes Editores,2019- 1° edição.
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CANDIDO; Antônio. Na Sala de Aula. 4. ed. São Paulo: Ática,2006

COCCO. Marta Helena. O Ensino da literatura Produzida em Mato Grosso;


regionalismo e identidade.2006

DALVI; Maria Amélia/REZENDE; Neide Luzia de/ FALEIROS; Rita Jover. (Org.).
Leitura de Literatura na Escola/São Paulo SP: Parábola Editorial, Junho de 2013.

GOLDSTEIN; Norma. Versos, sons, ritmos. 14. ed. São Paulo: Ática,2006

LEITE, Mário Cesar Silva. Mapas da Mina: Estudos de literatura de Mato


Grosso.2005.

MAGALHAES, Hilda Gomes Dutra. História da Literatura de Mato Grosso.2001

PEREIRA; Danglei de Castro. Na Linhas de Ariadne: Literatura e Ensino em


Debate/Campinas SP: Pontes Editores,2017.

PINHEIRO; Helder, 1959.Poesia na Sala de Aula/São Paulo SP: Parábola


Editorial,2018-1°edicao.

SCAFF; Ivens Cuiabano.Kyvaverá.1° edição:Cuiabá-MT:Entrelinhas,2011

WALKER; Marli. Apesar do Amor. Cuiabá-MT: Carlini & Carniato Editorial:2016

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