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Sumário
O Seu Primeiro Gerador de Funções.................................................................................................................. 5
Entendendo a Diferença Entre Valor Eficaz e Médio ...................................................................................... 13
Casos de Oficina (EP27): As Fontes de Energia do Rádio e suas Consequências ............................................ 17
Sirene de 2 Tons ............................................................................................................................................... 19
Demodulação QAM no LTspice ........................................................................................................................ 22

Diretor técnico: Wagner Rambo


Produção e diagramação: Wagner Rambo
Revisão técnica: Pio Rambo
Comercial: Ana Paula Strack
Distribuição: WR Kits Engenharia Eletrônica
Articulistas desta edição: Wagner Rambo, Gabriel Vigiano, Pio Rambo

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Aviso
Copyright WR Kits 2023 (todos os direitos reservados): Proibida reprodução total ou par-
cial sem autorização prévia por parte dos autores. Lei de Direitos Autorais LEI N° 9.610,
de 19 de fevereiro de 1998. O uso indevido dos artigos e projetos aqui apresentados não
é de nossa responsabilidade.
Edição de abril de 2023! Bem-vindo e boa leitura!
Um projeto completo e detalhado espera por você na categoria instru-
mentação eletrônica. Será demonstrado o projeto de um gerador de funções
para gerar os sinais senoidal, quadrado e triangular em uma boa faixa de fre-
quência. Várias dicas serão abordadas para você aperfeiçoar ainda mais esse
instrumento, que terá baixo custo e utiliza componentes simples!
Confira também um artigo do Gabriel Vigiano explicando as diferenças
entre valores eficaz e médio, conhecimento fundamental para você que quer
desenvolver equipamento de medidas! No Casos de Oficina, veja um pouco so-
bre como eram as fontes de alimentação em rádios antigos, histórias excelen-
tes contatas por Pio Rambo.
Para o iniciante, tem uma sirene de 2 tons completa, que vai incentivá-
lo a buscar mais conhecimento em eletrônica! Para concluir – na área de tele-
comunicações – aquele artigo que já estava prometido há algum tempo, sobre
demodulação de sinais QAM utilizando o software simulador LTspice.
WR

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Revista Eletrônica WR
O Seu Primeiro Gerador de Funções
Dr. Eng. Wagner Rambo
Introdução mais complexo, mas viabilizaria • Ajuste de amplitude de 0 a
ainda mais aplicações no seu labo- 20𝑉𝑃𝑃 (em carga de alta im-
Um dos objetivos desta re- pedância);
ratório. Esse gerador bem simples
vista é viabilizar a construção de • Ajuste de offset;
que desenvolvi apresenta as se-
diversos equipamentos úteis para • Impedância de saída de 50Ω;
guintes características:
a bancada eletrônica, seja você • Alimentação simétrica
iniciante ou um profissional da • Gera os sinais: senoidal, re- ±15𝑉;
área. Quando iniciei na eletrônica, tangular (quadrado, com ci- • Baixo consumo, da ordem de
construía meus próprios equipa- clo ativo de 50%) e triangu- 20𝑚𝐴.
mentos, o que era muito gratifi- lar;
• Sinal senoidal com faixa de (*) Convém destacar que pelo fato
cante, como já comentei algumas
frequência de 25𝐻𝑧 a de eu optar por uma faixa simples
vezes. Hoje tive a ideia de desen-
150𝑘𝐻𝑧; de ajuste (apenas dois valores de
volver um projeto de gerador de
• Sinal quadrado com faixa de capacitância), há uma lacuna en-
funções, que seja o mais simples
frequência de 25𝐻𝑧 a tre 1,5𝑘𝐻𝑧 e 3𝑘𝐻𝑧, no entanto, o
possível, de baixo custo, mas que 25𝑘𝐻𝑧; leitor interessado poderá adicio-
apresente uma boa faixa de apli- • Sinal triangular com faixa de nar faixas intermediárias para se-
cações práticas no laboratório. Ao frequência de 800𝐻𝑧 a leção dos capacitores do oscilador
final do presente artigo, o leitor 8,5𝑘𝐻𝑧; Wien ou substituir os capacitores
poderá confirmar que esse obje- • Ajuste de frequência em
de 100𝑛𝐹 por 10𝑛𝐹, reduzindo
tivo foi atingido. Um gerador de duas faixas* (com chave) e
um pouco mais a banda do instru-
funções é um equipamento utili- por potenciômetro;
mento.
zado no laboratório de eletrônica • Ajuste de amplitude de 0 a
para gerar os mais diversos sinais, 10𝑉𝑃𝑃 (em carga de 50Ω);
sendo os principais: sinal
senoidal, sinal retangular
e sinal triangular.
Utilizando a ele-
trônica analógica e pou-
cos componentes, já é
possível de desenvolver
tal instrumento. No de-
correr do texto você terá
muitas dicas para adicio-
nar implementos em seu
gerador, caso julgue ne-
cessário. Se for do seu in-
teresse, no futuro posso
desenvolver algum gera-
dor ainda mais completo,
trazer sinais PWM, ruído e
até mesmo varredura de
frequência, o que tornaria Figura 1 – Diagrama em Blocos do Gerador.
o instrumento um pouco
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Edição 0029, abril, 2023
Como você pode perceber, O Circuito ponte de Wien apresenta certa
o uso de poucos componentes e distorção quando o desenvolve-
Na Figura 1 você pode
baixo custo apresenta certas limi- mos para uma faixa de frequência
conferir o diagrama em blocos do
tações, como por exemplo a faixa mais ampla, mas nada que preju-
gerador, o que torna bem fácil a
de frequência nos sinais quadrado dique o funcionamento do cir-
compreensão do circuito. Desen-
e triangular. Também não tere- cuito. A saída do oscilador em
volvi um oscilador típico em ponte
mos ajuste de ciclo ativo do sinal ponte de Wien é aplicada a um es-
de Wien usando amplificador
quadrado e nem simetria do sinal tágio de alto ganho para gerar o
operacional, que é basicamente o
triangular para gerar rampas por sinal em onda quadrada. Por fim,
coração do circuito. Ali já temos
exemplo. Mas no geral, as carac- o sinal quadrado vai para um cir-
um sinal senoidal, que pode ser
terísticas do gerador são bastante cuito integrador, responsável por
ajustado em duas faixas de sele-
aceitáveis para utilização em mui- convertê-lo em um sinal triangu-
ção por capacitor para as frequên-
tas aplicações da Eletrônica. lar. A partir de uma chave de
cias baixas e altas. Um circuito em

Figura 2 – Diagrama esquemático completo do gerador de funções WR1.

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Revista Eletrônica WR
seleção, ou mesmo simples jum- circuito, sendo estes que determi- Para que os sinais do gera-
pers você poderá selecionar qual nam a faixa das frequências mais dor estejam em sincronismo, os
forma de onda deseja para a saída altas. Quando o usuário desejar sinais quadrado e retangular são
do circuito. Esse estágio consiste frequências mais baixas, deve li- gerados a partir do sinal senoidal
em um amplificador de potência gar os capacitores de 100𝑛𝐹 em do oscilador em ponte Wien. Pri-
que apresenta ajuste de ampli- paralelo com os de 1𝑛𝐹 e isso é meiro aplicamos o sinal senoidal
tude e offset para as formas de obtido através de uma DIP con- em um segundo estágio que, atra-
onda do gerador. tendo duas chaves. Se preferir, vés de 𝑅4 , 𝐷3 e 𝐷4 será ceifado
você poderá utilizar uma chave aos níveis de queda de diodo e
Agora que nos inteiramos
dupla para painel, é interessante essa resultante é aplicada na en-
dos principais blocos de funciona-
se for construir uma caixa de alo- trada não inversora de 𝑈2 : 𝐴, um
mento do gerador, chegou a hora
jamento para o seu gerador. A TL072 que está operando em ma-
de entrarmos no hardware em si e
ponte de Wien necessita de capa- lha aberta. Quando utilizamos um
conhecer todos os detalhes. Você
citores e resistores de mesmo va- OPAMP em malha aberta, o
pode conferir o diagrama esque-
lor, nesse caso, as chaves DIP mesmo estará com seu ganho má-
mático completo na Figura 2,
𝑆𝑊1 : 𝐴 e 𝑆𝑊1 : 𝐵 devem ser comu- ximo, pois desejamos um sinal to-
onde vou procurar lhe explicar a
tadas ao mesmo tempo, quando talmente quadrado na saída do
função de cada um dos compo-
você for alterar a faixa de fre- TL072. A amplitude máxima desse
nentes do circuito.
quência. Mais para frente nesse sinal é limitada por 𝑅5 , 𝐷5 e 𝐷6 em
O circuito integrado 𝑈1 é mesmo artigo trarei algumas ou- ±6,8𝑉, valor nominal da tensão
um amplificador operacional tras dicas de atualizações que desses diodos Zener. Teremos em
LF356N que apresenta JFETs em você poderá empregar no gerador square o sinal quadrado do nosso
sua construção, com altíssima im- para melhorar ainda mais a usabi- gerador, cuja a frequência seguirá
pedância de entrada e baixo con- lidade. o ajuste principal.
sumo elétrico. É ele o responsável
Como mencionado, o po- O sinal triangular é gerado
por implementar o oscilador em
tenciômetro 𝑃2 é duplo (você atua a partir do sinal quadrado utili-
ponte de Wien. A malha formada
em ambas as resistências com um zando o segundo OPAMP do
por 𝐷1 , 𝐷2 , 𝑃1 e 𝑅1 consiste na re-
único eixo) e esse será o ajuste TL072 para implementar um am-
alimentação negativa do OPAMP
fino de frequência. A frequência plificador integrador. Como reali-
e você utilizará 𝑃1 para ajustar o
máxima é estabelecida pelos re- zamos a integral de constantes
ganho do amplificador, encon-
sistores de 1𝑘Ω, caso em que o positivas e negativas, temos como
trando o ponto de oscilação na
potenciômetro apresentará 0Ω resultado retas ascendentes e
prática. Os diodos de sinal
em ambos os lados. Assim, consi- descentes que compõe o sinal tri-
1N4148 auxiliam no controle de
derando capacitores de 1𝑛𝐹 e re- angular. A desvantagem dessa
ganho e estabilidade do circuito.
sistores de 1𝑘Ω teremos técnica se dá no limite de fre-
Na realimentação positiva, temos
quência para o sinal triangular,
os capacitores 𝐶1 até 𝐶4 , os resis- 1
𝑓𝑚𝑎𝑥 = que é mais estreito em relação
tores 𝑅2 e 𝑅3 e o potenciômetro 2𝜋𝑅𝐶
aos demais. 𝑅6 , 𝑅7 e 𝐶5 são os
duplo 𝑃2 . Veja que as faixas de fre- 1
𝑓𝑚𝑎𝑥 = ≈ 159𝑘𝐻𝑧 componentes que compõe o
quência são selecionadas através 2𝜋 × 1𝑘 × 1𝑛 nosso integrador. Se tem inte-
dos capacitores. Optei por apenas
Na label chamada de sine, resse em projetar circuitos inte-
duas faixas, o que facilita a imple-
você terá o sinal senoidal gerado gradores e diferenciadores, reco-
mentação e ajuste de frequência
pelo circuito oscilador, devendo mendo nosso curso intermediário
por parte do usuário. Observe que
atuar em 𝑃1 para encontrar o de Amplificadores Operacionais.
os capacitores de 1𝑛𝐹 ficam cons-
ponto de oscilação do circuito. 𝑃3 é um trimpot multi-voltas para
tantemente conectados ao
ajustarmos o offset do sinal
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Edição 0029, abril, 2023
triangular, deixando-o em 0𝑉. Na forma, a polarização do estágio de compensam as divergências práti-
label ramp teremos o sinal trian- potência ocorre de forma auto- cas de ℎ𝐹𝐸 dos transistores. Os ca-
gular gerado. Como você pode mática. O potenciômetro 𝑃4 é o pacitores 𝐶7 a 𝐶12 são para desa-
perceber, outra vantagem do ajuste de amplitude do sinal de coplamento dos circuitos integra-
nosso gerador de funções é a de saída e o resistor 𝑅8 evita possí- dos e não devem ser omitidos do
ter apenas 2 pontos de calibração veis ruídos de GND nas baixas am- projeto, devendo situar-se bem
(𝑃1 e 𝑃3 ). plitudes. Os conectores 𝐽1 e 𝐽2 são próximos dos terminais de ali-
utilizados para selecionar qual mentação. 𝐶13 e 𝐶14 são filtros
O último estágio do cir-
forma de onda estará presente na para a fonte geral.
cuito consiste em um amplifica-
entrada do amplificador, na prá-
dor de potência utilizando transis- Montagem prática
tica utilizei jumpers comuns pa-
tores bipolares de junção TIP41 e
drão placa mãe. A malha com- Em um teste preliminar,
TIP42. O circuito opera em Classe
posta por 𝑃5 , 𝑅11 , 𝑅12 e 𝑅13 são montei o circuito em protoboard e
AB em uma polarização garantida
responsáveis pelo ajuste de offset após desenvolvi a placa de cir-
pelo amplificador operacional 𝑈3 ,
e ganho do amplificador e 𝐶6 li- cuito impresso para o gerador.
outro LF356N. Optei por este ar-
Consegui agrupar todos os com-
ponentes em uma pequena PCB
de 10x5cm e face simples, o que
facilita bastante a sua construção
artesanal. O leitor poderá desen-
volver sua própria PCB, montar o
circuito em placa universal ou uti-
lizar os arquivos Gerber, que
deixo para download nos materi-
ais desta edição na plataforma da
revista. Confira na Figura 3 o la-
Figura 3 – Face de cobre placa de circuito impresso do gerador.
yout da placa de circuito impresso
já espelhado para a sua confec-
ção.
Como a placa é em face
simples, poderá ser facilmente
construída com o método artesa-
nal de transferência térmica ou
silkscreen. Para auxiliar na locali-
zação dos componentes, você
pode analisar a Figura 4, onde os
Figura 4 – Imagem superior da placa de circuito impresso. mesmos estão dispostos na PCB
com as respectivas referências.
ranjo para simplificar ao máximo Existem alguns jumpers na
mita a banda do amplificador para
essa etapa de saída. Como esta- PCB para que fosse possível o de-
não desperdiçarmos energia com
mos com o LF356N operando em senvolvimento da mesma em face
frequências acima da faixa do ge-
malha fechada e realimentação simples, no entanto, nos arquivos
rador. A impedância de saída é
negativa, o mesmo gera a tensão Gerber, há o Top Copper, então se
obtida com o paralelo de 𝑅14 e
correta em sua saída de modo a você resolver mandar fabricar,
𝑅15 , situando-se bem próxima dos
igualar as tensões nas entradas in- poderá solicitar que a empresa
50Ω. Os resistores 𝑅9 e 𝑅10
versora e não inversora, dessa
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Revista Eletrônica WR
construa as placas em dupla face Alimente o gerador e observe o si- desejado. Depois, modifique para
com furos metalizados, nesse nal no osciloscópio. Não se as- o sinal quadrado e atue no range
caso não será necessário o uso suste se inicialmente não ver sinal de 25𝐻𝑧 a 25𝑘𝐻𝑧 para compro-
dos jumpers. Observe também o algum. O primeiro ponto de cali- var que este sinal está funcio-
plano de terra utilizado na face de bração é o trimpot 𝑃1 . Atue nele nando. Não há nenhuma calibra-
cobre inferior que está associ- até ver alguma oscilação aconte- ção a ser feita aqui, pois o circuito
ando ao GND do circuito, que cer na tela. Você poderá observar já foi dimensionado para enqua-
evite o uso de percloreto de ferro um sinal praticamente tendendo drar o sinal senoidal da ponte
em excesso no processo de corro- a uma onda quadrada, nesse caso Wien. Por fim, ajuste a frequência
são, além de auxiliar na blinda- atue pacientemente em 𝑃1 para para 1𝑘𝐻𝑧 e selecione o sinal tri-
gem e reforço da PCB. Outro deta- deixa-lo com aspecto senoidal. angular. Ajuste 𝑃3 para obter um
lhe da montagem prática é adotar Quando obtiver uma senoide, va- sinal triangular com zero de offset
pequenos dissipadores de calor rie a frequência do gerador com o na tela do osciloscópio. É impor-
para os transistores, em caso de potenciômetro duplo 𝑃2 e ob- tante manter o potenciômetro 𝑃5
deixar o circuito operando por serve se você terá uma senoide na posição central para zerar o
tempo prolongado, podem ser durante toda a faixa. Depois re- offset da saída também. Faça a va-
bem pequenos, pois o consumo pita o procedimento ligando a riação de 800𝐻𝑧 a 8,5𝑘𝐻𝑧 para
do circuito não é muito grande. chave 𝑆𝑊 para selecionar a faixa comprovar que o sinal triangular
Prova, uso e calibração
Agora que você montou o
seu primeiro gerador de funções,
deverá estar apto a calibrá-lo.
Para ligar o circuito, será necessá-
rio o uso de uma fonte simétrica
de ±15𝑉, que inicialmente você
poderá implementar com sua
fonte de bancada. Na próxima
edição vou apresentar um artigo
com uma fonte sob medida para o
gerador. Ligue um canal do osci- Figura 5 – Setup para teste e calibração.
loscópio na saída do circuito, uti-
lize dois resistores de 100Ω em
paralelo com a saída do gerador, das frequências mais altas. Se ob- está presente em toda essa faixa.
conforme sugere a Figura 5. Assim servar uma distorção nos picos do Se você chegou neste ponto e está
você estará casando a impedân- sinal, prossiga atuando em 𝑃1 tudo funcionando, parabéns, está
cia, de acordo com a impedância para torna-lo senoidal. Realize com um equipamento de labora-
de saída do gerador. Recomendo esse procedimento até constatar tório de eletrônica construído por
o uso de resistores de pelo menos que há um sinal senoidal em toda você! Agora é só desenvolver a
1𝑊 para esse teste. a faixa de frequência do equipa- fonte para o mesmo e inserir em
mento. uma caixa de alojamento. Apre-
Deixe os potenciômetros sento na Figura 6 as formas de
de frequência, amplitude e offset Quando concluir essa pri-
onda do gerador, capturadas no
na posição central, chave de sele- meira etapa, você poderá testar
osciloscópio.
ção de faixa de frequência desli- os potenciômetros 𝑃4 e 𝑃5 para
gada e chave de seleção de forma verificar se o ajuste de amplitude Fiz a captura dos 3 sinais
onda para o sinal senoidal. e offset estão funcionando como na frequência de 1𝑘𝐻𝑧, que é um

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Edição 0029, abril, 2023
Figura 6 – Formas de onda do gerador de funções WR1.

valor bastante utilizado em nos- mais sobre estas questões no pró- Distorção na senoide:
sos projetos e testes, (confira à es- ximo tópico desse artigo, onde como visto, o sinal senoidal apre-
querda da imagem). E à direita é trarei algumas dicas de melhorias senta certa distorção no cruza-
possível verificar as 3 formas de para aqueles que desejam um ins- mento, principalmente pelo fato
onda operando em suas frequên- trumento semiprofissional. de utilizarmos um circuito em
cias máximas: a senoide em ponte de Wien e também os dio-
Melhorias
150𝑘𝐻𝑧, a onda quadrada em dos 𝐷1 e 𝐷2 contribuem para esse
25𝑘𝐻𝑧 e o sinal triangular em Este projeto tem uma mar- feito. No entanto, se os diodos fo-
8,5𝑘𝐻𝑧. É perceptível que existe gem para muitas melhorias e atu- rem suprimidos, você terá dificul-
uma distorção na senoide pró- alizações. Procurei desenvolver o dades no controle de ganho do
xima ao cruzamento por zero, isso circuito de modo que fosse o mais amplificador, perdendo o critério
é algo comum em osciladores do simples, com o menor número de de oscilação dependendo da fre-
tipo ponte de Wien, especial- componentes, com o menor custo quência que estará atuando. Uma
mente quando os projetamos possível, mas que ainda seja um solução um tanto mais complexa
para atuar em uma faixa ampla de equipamento totalmente funcio- para o problema seria analisar a
frequência. Outro detalhe é que o nal e útil para o laboratório de ele- partir de uma FFT quais harmôni-
sinal quadrado apresenta tempos trônica. As formas de onda pre- cas do sinal estão somadas e ten-
de subida e descida bastante per- sentes na Figura 6 comprovam tar suprimi-las a partir de um filtro
ceptíveis nas frequências mais al- que esse objetivo foi alcançado. de ordem elevada. Talvez uma al-
tas. O sinal triangular, por sua vez, Agora, vamos para mais algumas ternativa mais simples seria o de-
apresenta um arredondamento dicas interessantes para aqueles senvolvimento de outra topologia
quando opera em sua frequência que desejam um instrumento um de oscilador, como Colpitts ou
máxima. Falaremos um pouco pouco mais sofisticado. Hartley.

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Revista Eletrônica WR
Sinal quadrado com tem- algum circuito integrado Schmitt também viabilizará a seleção de
pos de subida e descida altos: fo- Trigger por exemplo. forma de onda a partir de um mi-
ram obtidos rise e fall times da or- crocontrolador.
Ajuste fino de frequência:
dem de microssegundos, quando
um segundo potenciômetro duplo Gerador de varredura:
o desejado sempre é algo de no
de baixo valor (1𝑘Ω por exemplo) esse é um circuito relativamente
máximo dezenas de nanossegun-
poderá ser inserido em série com complexo de projetar com eletrô-
dos. O que poderia ser feito para
𝑃2 , viabilizando um ajuste fino de nica discreta, mas pretendo trazer
isso é projetar um estágio dife-
frequência. em algum artigo futuro. Um bom
rente para enquadrar o sinal se-
gerador deve ter a função sweep,
noidal, utilizando circuitos inte- Faixas de frequência:
para realizarmos a varredura au-
grados TTL. Porém isso aumenta- como vimos, utilizei apenas dois
tomática de frequência. Vá pen-
ria um pouco o consumo do cir- valores para os capacitores que
sando em como implementar isso
cuito e provavelmente o seu ta- definem as faixas de frequência
a partir de um oscilador contro-
manho físico. Outra possibilidade do projeto, priorizando o baixo
lado por tensão (VCO) e um sinal
é aplicar um disparador Schmitt custo e facilidade de implementa-
em formato de rampa.
Trigger com comparadores de ção do mesmo. Com uma única
tensão. chave dupla de painel, você po- Ajuste de ciclo ativo: outra
derá alterar facilmente entre as ideia interessante é implementar
Sinal triangular limitado: a
duas faixas, ou mesmo uma DIP circuitos que permitam o ajuste
menor faixa de frequência está no
switch, método adotado em do duty cycle do sinal quadrado, o
sinal triangular, pelo fato de utili-
nossa PCB. Como ponto negativo, que o tornará em um sinal PWM,
zarmos um integrador, que basi-
ocorre uma lacuna em que não bem como o ajuste de simetria do
camente consiste em um filtro
conseguimos ajustar as frequên- sinal triangular, tornando possível
passa-baixas para o sinal qua-
cias de 1,5𝑘𝐻𝑧 e 3𝑘𝐻𝑧. Você pro- gerar rampas ascendentes e des-
drado gerado no segundo estágio.
jetista poderá inserir outros capa- cendentes.
Em frequência muito baixas, o si-
citores intermediários como
nal tenderá a uma onda quadrada Circuito digital e interface
10𝑛𝐹 e 1𝜇𝐹, obtendo uma faixa
e em frequências muito altas o si- homem-máquina: se você desen-
completa. Além disso, utilize al-
nal será completamente atenu- volver métodos para seleção de
guma técnica de chave digital,
ado. Uma alternativa seria proje- faixa de frequência e forma de
como o circuito 4066, que possibi-
tar um gerador triangular através onda, totalmente digitais, poderá
lite a seleção de faixa de frequên-
de fontes de corrente para pro- utilizar um microcontrolador que
cia a partir de um microcontrola-
mover a carga e descarga de um faça esse papel. Através de botões
dor.
capacitor de forma rápida. e um display, você poderá seleci-
Seleção de formas de onar rapidamente as formas de
Saída de sincronismo TTL:
onda: os circuitos de geradores onda e faixas do seu gerador.
geradores semiprofissionais e
apresentados nos antigos periódi- Também será possível adicionar
profissionais geralmente apresen-
cos de eletrônica amiúde utilizam um frequencímetro e visualizar
tam uma saída a níveis TTL que
como solução o emprego de cha- em tempo real a frequência ajus-
terá a mesma frequência ajustada
ves rotativas para que o usuário tada. Pense nisso.
para as demais formas de onda.
trocasse entre uma forma de
Um sinal TTL é aquele sinal qua- Normalização das amplitu-
onda e outra, para a saída do
drado que varia de 0𝑉 a 5𝑉 bas- des: minha última dica é a adição
equipamento. Essas chaves são
tante utilizado em circuitos digi- de amplificadores/atenuadores
difíceis de encontrar e normal-
tais. Esse circuito pode ser apli- diretamente nos sinais gerados
mente apresentam desgaste com
cado diretamente na saída qua- (labels sine, square e ramp do dia-
o tempo. Minha sugestão é o uso
drada do gerador, utilizando grama esquemático), de modo a
de arranjos com relés, o que
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Edição 0029, abril, 2023
deixar a amplitude dos sinais simplificar o circuito ao máximo. offset desses sinais. As dicas de
iguais, isso evita novos ajustes a Se você leu o tópico sobre melho- melhoria são justamente para ins-
partir dos potenciômetros de am- rias, pode ter pensado que faltam pirar você a continuar estudando
plitude e offset do amplificador de muitos recursos no gerador aqui e desenvolvendo seus equipa-
saída. apresentado. Mas na verdade o mentos de laboratório. Aprende-
mesmo cumpre perfeitamente o se muito no processo e, o que é
Conclusão
seu papel, que é o de gerar os si- melhor, viabiliza que tenhamos
Como vimos, projetar um nais senoidal, quadrado e triangu- instrumentos projetados e cons-
equipamento de laboratório não lar em uma boa faixa de frequên- truídos por nós mesmos.
é uma tarefa muito simples, prin- cia e permitir ao usuário os ajus-
cipalmente quando visamos tes de frequência, amplitude e

Lista de Componentes Gerador de Funções WR1


QTD. REF. Componente OBS.
1 R1 Resistor 4,7kΩ 1/4W
2 R2, R3 Resistor 1kΩ 1/4W
2 R4, R6 Resistor 10kΩ 1/4W
1 R5 Resistor 910Ω 1/4W
1 R7 Resistor 180kΩ 1/4W
3 R8, R14, R15 Resistor 100Ω 1/4W
2 R9, R10 Resistor 2,2Ω 1/4W
1 R11 Resistor 2,7kΩ 1/4W
1 R12 Resistor 1,8kΩ 1/4W
1 R13 Resistor 270Ω 1/4W
2 P1, P3 Trimpot 20kΩ Multi-voltas
1 P2 Potenciômetro 50kΩ Linear duplo
2 P4, P5 Potenciômetro 100kΩ Linear simples
2 C1, C2 Capacitor 1nF Cerâmico 50V
2 C3, C4 Capacitor 100nF Poliéster 63V
1 C5 Capacitor 18nF Styroflex 50V
1 C6 Capacitor 470pF Cerâmico 50V
6 C7, C8, C9, C10, C11, C12 Capacitor 100nF Cerâmico 50V
2 C13, C14 Capacitor 100µF Eletrolítico 25V
4 D1, D2, D3, D4 Diodo 1N4148 Diodo de sinal
2 D5, D6 6V8BC Diodo Zener 6,8V
1 Q1 TIP41 Transistor NPN
1 Q2 TIP42 Transistor PNP
2 U1, U3 LF356N OPAMP
1 U2 TL072 OPAMP
1 SW1 DIP Switch Dupla
2 - Dissipador de calor TO-220 pequenos
Diversos PCB, fios e cabos, caixa para alojamento,
fonte simétrica, conectores.

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Revista Eletrônica WR
Entendendo a Diferença Entre Valor Eficaz e Médio
Esp. Eng. Gabriel Vigiano
Introdução: representa a intensidade média mencionado anteriormente,
do sinal, levando em consideração existe uma intensidade média
É comum quando estuda-
tanto as partes positivas quanto deste sinal aplicada a carga du-
mos eletrônica ou mesmo siste-
as negativas, mas essa intensi- rante um determinado tempo que
mas de potências deparamos com
dade não tem obrigatoriamente resulta em uma dissipação de po-
conceitos básicos até os mais
relação com a média do sinal, ou tência sobre o resistor, e é justa-
complexos, porém mesmo os con-
seja, sinas eficazes e médios em- mente para esta situação que de-
ceitos mais elementares podem
bora em situações específicas po- finimos o valor eficaz ou RMS. Os
acarretar dúvidas quanto o seu
dem apresentar os mesmos valo- valores eficazes são calculados
real significado e importância.
res de intensidade são conceitos tanto para a tensão quanto para
Neste artigo vamos estu- diferentes. corrente em uma análise AC, inde-
dar dois conceitos simples porém pendentemente das característi-
Para termos uma melhor
muito importantes no âmbito da cas das formas de onda em ques-
compreensão do valor RMS va-
eletrônica, que são os valores mé- tão, que podem ser senoidais,
mos considerar o exemplo apre-
dios e eficazes, sendo o último quadradas ou mesmo triangula-
sentado na Figura 1, onde temos
também conhecido como valor res.
uma carga resistiva conectada em
RMS.
O propósito deste traba-
lho será apresentar estes concei-
tos de forma simples para que
você leitor tenha a compreensão
deste tema sem análises matemá-
ticas avançadas.
O valor eficaz ou RMS:
O valor eficaz é um parâ-
metro utilizado em diversas áreas
Figura 1 – Circuito AC e DC para exemplo.
da ciência e da engenharia para
descrever a magnitude de um si-
nal variável no tempo, como uma uma tensão alternada AC e tam- Para um sinal puramente
onda elétrica ou sonora. É tam- bém uma segunda fonte de ten- senoidal o valor eficaz é facil-
bém conhecido como valor RMS são contínua DC ligado em outra mente calculado dividindo o valor
(Root Mean Square), que é a raiz carga resistiva de mesmo valor, de pico positivo por 1,414213
quadrada da média dos valores neste exemplo 10 Ohms. (constante do resultado da raiz
quadrados do sinal em um deter- quadrada de dois), portanto neste
Analisando inicialmente o
minado período de tempo. exemplo o valor eficaz para ten-
circuito AC da Figura 1, sabemos
são AC é de 220V é o valor de pico
Essencialmente o valor efi- que a tensão aplicada a carga
positivo de 311,12V aproximada-
caz é útil para descrever sinais que apresenta uma característica se-
mente. Diante deste dado pode-
apresentam variações rápidas e noidal com valores positivos e ne-
mos agora calcular também a cor-
frequentes, como sinais elétricos gativos simétricos de pico, por-
rente eficaz utilizando a lei de
alternados. Ele permite que se ob- tanto a média deste sinal resul-
tenha um valor único que tará em zero, contudo como
13
Edição 0029, abril, 2023
valor eficaz para uma aná-
lise AC quando desejamos
encontrar potências e valo-
res médios em circuitos DC.
Contudo isso não quer di-
zer que não utilizamos valo-
res médios para análises AC,
os valores médios podem
ser úteis em análises de cir-
cuitos alternados quando
trabalhamos com compo-
Figura 2 – Potência Circuito AC e DC. nentes que apresentam va-
lores médios não nulos,
como capacitores e induto-
Ohm que resultará em 22A e as- em um determinado período de
res. Outros exemplos de aplicação
sim obter também a potência so- tempo e dividindo pelo número
de valores médios são encontra-
bre o resistor que é de 4,84kW. total destes valores. Ainda consi-
dos em circuitos retificadores, no
derando o exemplo da Figura 1, se
Analisando o circuito DC caso de retificadores é impor-
calcularmos o valor médio da ten-
da Figura 1 temos a situação em tante calcular o valor médio da
são senoidal do circuito AC resul-
que a tensão aplicada ao resistor tensão de saída do circuito retifi-
tará em zero volts como mencio-
é contínua para todo instante de cador para entender o nível de
nado anteriormente, diferente-
tempo, resultando assim em uma tensão DC que pode ser obtido
mente da situação do circuito DC
corrente contínua e uma potência após o processo de retificação e
onde o valor médio será basica-
de dissipação constante de filtragem.
mente o mesmo valor da tensão
mesma intensidade comparado
contínua aplicada no circuito Indo além podemos en-
ao circuito AC, neste caso 4,84kW.
(220V DC). Por esta razão é fácil contrar também potências ativas
Podemos validar estas teorias em
entender porque utilizamos o de trabalhos através da média das
softwares de simulação de circui-
tos ou mesmo em testes reais de
bancada. A Figura 2 representa a
medição de potência para ambas
situações.
O valor médio (AVG):
O valor médio, do inglês
“average” ou apenas AVG, é uma
medida útil para entender o com-
portamento geral de um sinal. Por
exemplo, em um sinal de tempe-
ratura ao longo do dia, o sinal mé-
dio pode fornecer uma boa indica-
ção da temperatura média ao
longo desse período de tempo.
Matematicamente pode-
Figura 3 – Multímetro TRUE-RMS FLUKE.
mos calcular o valor médio so-
mando todos os valores do sinal
14
Revista Eletrônica WR
potências instantâneas de um cir- métodos de medição, para um si- os valores médios de componen-
cuito AC, assunto que é abordado nal senoidal puro os dois equipa- tes DC é sempre interessante ve-
com riquezas de detalhes no mentos apresentam as mesmas rificar se o sinal em questão ne-
curso “Medidores de Energia Inici- respostas de tensão e corrente, cessita de uma análise mais deta-
antes I”. porém quando a forma de onda lhada o que é possível apenas uti-
apresenta distorções o que acon- lizando osciloscópios, pois varia-
O valor eficaz e valor médio na
tece devido a características de ções abruptas ou mesmo varia-
prática:
cargas não lineares o valor eficaz ções de menores intensidades se-
Mesmo com o conheci- difere para os multímetros de res- rão visualizadas e não apenas me-
mento elementar entre a dife- posta média em comparação aos didas.
rença de um valor eficaz e médio, multímetros TRUE-RMS, onde
Mais detalhes sobre valo-
uma dúvida recorrente entre es- este apresenta o valor real eficaz
res médios, RMS e teorias são
tudantes e mesmo profissionais em comparação ao de resposta
apresentadas no canal WR Kits
da área são referentes as medi- média, por esta razão é sempre
nos vídeos “TRUE RMS! ENTENDA
ções destes valores na prática, di- preferível a utilização de equipa-
EM DEFINITIVO A VANTAGEM
ferenças entre multímetros TRUE- mentos TRUE-RMS para medição
DESSES MULTÍMETROS (EXEM-
RMS e multímetros de resposta AC em especial se cargas não line-
PLOS PRÁTICOS)”:

e “TRUE RMS vs RESPOSTA MÉ-


DIA COM STM32 NA PRÁTICA!”:

Figura 4 – Análise de medição RMS e AVG canal WR Kits.

média. Todas estas informações ares estiverem presentes no sis-


Conclusão:
podem causar dúvidas em análi- tema em questão.
ses mais complexas principal- Neste artigo estudamos a
Por fim os valores médios apre-
mente ao não utilizar um oscilos- diferença básica entre valores efi-
sentam o mesmo valor de tensão
cópio em nossos projetos. Mas cazes e médios apenas com teo-
DC tanto para os multímetros
não se preocupe caro leitor, isso é rias elementares, vimos que os va-
TRUE-RMS quanto para os multí-
mais simples do que realmente lores eficazes representam a mag-
metros de resposta média,
aparenta ser. nitude de um sinal variável no
mesmo que o sinal DC medido
tempo enquanto os valores mé-
Basicamente a diferença apresente variações significativas.
dios representam a média efetiva
entre um multímetro TRUE-RMS e
Portanto é importante en- de um sinal AC ou DC. Ambas as
de resposta média são os algorit-
tendermos que embora ambos medições têm suas importâncias
mos utilizados para análise AC e
multímetros medem igualmente
15
Edição 0029, abril, 2023
e finalidades a depender da utili- Sequencialmente direcio- apresentam a mesma reposta mé-
zação prática. nando para uma aplicação prática dia do sinal, contudo é recomen-
estudamos também a diferença dado visualizar através do oscilos-
Apresentou-se também
entre multímetros TRUE-RMS e de cópio as formas de ondas em
neste trabalho um exemplo para
resposta média. Em análises AC vi- questão para avaliar possíveis va-
validação das teorias de potência
mos que é recomendado a utiliza- riações destes sinais durante as
em circuito AC através de cálculos
ção de multímetro TRUE-RMS de- medições.
de valores eficazes comparando
vido a variação da forma de onda
com valores médios, no exemplo Assim caro leitor, agora
que possa ocorrer, que por muitas
demonstrado neste artigo é possí- você entendeu um pouco mais so-
vezes não apresenta uma carate-
vel perceber que as tensões e cor- bre valores eficazes e médios de
rística senoidal pura o que repre-
rentes eficazes podem ser repre- um sinal, portanto poderá desen-
sentará uma medição errônea ao
senteadas também pela equiva- volver seus projetos com um em-
utilizarmos multímetros de res-
lência de um circuito DC para esta basamento teórico maior nesses
posta média convencional. Já na
situação específica. valiosos conceitos.
análise DC ambos os multímetros

16
Revista Eletrônica WR
Casos de Oficina (EP27): As Fontes de Energia do
Rádio e suas Consequências
Pio Rambo
Já houve o tempo em que todo o interior e 6,3 Volts. E esta é a explicação do motivo de os fi-
até arredores de centros de vilas eram completa- lamentos das válvulas serem de 6,3 V e não 6 V cra-
mente no escuro. A eletricidade era algo muito vados.
caro para instalar e nem os colonos mais abastados
Estes rádios, necessitavam de recarga
tinham condições de bancar uma rede elétrica até
quando a bateria enfraquecia. Então, o agricultor
sua casa, pois geralmente ficava no meio da fa-
trazia a bateria até a vila mais próxima, onde geral-
zenda há quilômetros do primeiro poste de luz.
mente no armazém o proprietário também ofere-
Aliás, entre os moradores do interior e até cia este serviço mediante pagamento dessa carga.
os moradores das vilas, naquela época possuir um
As emissoras, visando lucro e vendo que os
rádio era como hoje em dia ter um carro: eram ca-
comerciais davam um belo faturamento a cada
ríssimos, de montagem artesanal e a grande maio-
mês, começaram gradativamente a minar a progra-
ria dos rádios era importado da Europa ou dos Es-
mação de comerciais e geralmente no suspense
tados Unidos, onde o custo de vida era bem mais
das novelas apresentadas ao vivo na emissora,
elevado e, portanto, os rádios seguiam o padrão
dava aquela pausa para os reclames (como chama-
destes custos.
vam os anúncios na época). Aquilo incomodava
No início dos anos 50 a Philips já fabricava muita gente, afinal, antes não era tão saturado.
rádios no Brasil, produzindo suas próprias válvulas
Então, certo sábado de manhã, parou uma
- as famosas IBRAPE - mas, devido à baixa de-
carroça de um colono abastado na frente do arma-
manda, a empresa inovou, criando os famosos
zém e o mesmo tirou a bateria e levou até o comer-
'rabo quente' que eram rádios sem transformador
ciante. Colocou sobre o balcão e pediu para dar
de entrada, eliminando esta peça cara. Os filamen-
uma carga para ele ter o rádio funcionando no fim-
tos em série somavam os 220 V e a retificação era
de-semana. Mas, disse:
feita diretamente a partir da rede elétrica. Para evi-
tar choques já que os aparelhos trabalhavam com - Olha, pode até cobrar mais para esta carga. Mas,
a tensão presente até no chassis, eles eram com- eu quero que coloque mais músicas na carga. Na
pletamente isolados através de uma caixa de ba- última vez, carregaste reclames demais.
quelite, knobs de baquelite e tampa traseira com
Um caso semelhante aconteceu comigo na
trava com segredo, que só o técnico conseguia des-
oficina. Chegou uma senhora idosa trazendo seu
travar.
rádio Mitsubishi de 4 pilhas dos anos 70 para con-
Eu cheguei a pegar algumas destas peças ra- serto. Este modelo de rádio sempre me fascinou e
ras e me lembro que para decifrar como deslacrava os pegava com gosto para consertar.
a tampa traseira me tomou algum tempo.
Ficha feita, a senhora devolveu o rádio para
Mas, antes disso, por falta de energia lá no a sacola, me alcançou ele e disse:
interiorzão, vários rádios foram criados alimenta-
- Eu tirei as pilhas lá em casa. Quero que ponha no-
dos por baterias, as mesmas dos automóveis, onde
vas.
um vibrador trocava a corrente contínua para alter-
nada e depois, um transformador inversor subia a Eu respondi:
tensão para 90 Volts. Os filamentos eram alimenta-
- Claro, ponho sim.
dos diretamente, já que a tensão da bateria era de
17
Edição 0029, abril, 2023
E ela já saindo pela porta ainda disse: Panasonic. Quem sabe daí vão tocar Cafiaspirina
que é o que eu tomo.
- Ah, vê se não põe Rayovac porque estas pilhas só
tocam Melhoral, Melhoral. Isso me incomoda. Bota

18
Revista Eletrônica WR
Sirene de 2 Tons
Dr. Eng. Wagner Rambo
Introdução onde utilizamos um oscilador de baixa frequência,
que implementa o controle responsável por modi-
Entre os iniciantes, os circuitos mais procu-
ficar a frequência do segundo oscilador, cuja saída
rados sempre são os de efeitos luminosos e sono-
é aplicada em um estágio de potência e por fim aci-
ros. Certamente pelo fato de já apresentarem um
onará um pequeno alto-falante, conforme o dia-
resultado prático imediato e palatável até mesmo
grama em blocos da Figura 1.
para leigos. Pensando nisso, sempre que possível
procuro trazer projetos com essa
pegada iniciante, que permitem
uma montagem simples para prati-
car os conceitos fundamentais da
eletrônica sem muitos obstáculos.
Há algumas semanas apresentei
esse projeto de sirene de 2 tons no
YouTube WR Kits e foi bastante
elogiado por todos. Dado esse su-
cesso, resolvi escrever esse artigo
incluindo uma placa de circuito im- Figura 1 – Diagrama em blocos da sirene de 2 tons.
presso e lista de componentes, que
sem dúvida vai inspirar muitos iniciantes a começa- O Circuito
rem no mundo da eletrônica. Futuramente pode-
Utilizando o circuito integrado 4093, que
mos até desenvolver um kit didático a partir desse
tem uma infinidade de aplicações, implementei
circuito, se você tiver interesse, por favor envie um
dois osciladores. Um oscilador será o responsável
e-mail comentando que vou considerar incluir em
por gerar as frequências da nossa sirene e o outro
nossa loja online.
será o responsável por alterar a frequência do pri-
Funcionamento meiro. Logo, a técnica consiste em modificar a fre-
quência a partir de um oscilador de frequência mais
Uma sirene de 2 tons é aquela que apre-
baixa, produzindo assim o som alternado de dois
senta duas frequências diferentes, que são alterna-
tons. O diagrama esquemático completo da sirene
das por um sinal modulante. Para gerar sinais sono-
de 2 tons está explícito na Figura 2 e vou detalhar
ros com eletrônica, tudo o que precisamos é de um
o seu funcionamento.
oscilador na faixa de frequência audível pelo ser
humano que é de aproximadamente 20𝐻𝑧 a As portas lógicas 𝑈1 : 𝐴 e 𝑈1 : 𝐵 implemen-
20𝑘𝐻𝑧. Normalmente selecionamos frequências tam o circuito controlador de baixa frequência, uti-
intermediárias, dos 400𝐻𝑧 até uns 4𝑘𝐻𝑧 para im- lizando o tradicional arranjo de oscilador com porta
plementar estas sirenes. A partir do sinal do oscila- Schmitt Trigger. Veja que ligamos as entradas das
dor, você utiliza uma etapa de potência para con- portas NAND em curto, transformando-as em por-
seguir acionar um alto-falante através dele e terá o tas NOT. Ao ligar o circuito, o capacitor 𝐶1 estará
sinal de 1 tom. descarregado, a porta 𝑈1 : 𝐴 vai ler um nível lógico
baixo em suas entradas, que será invertido na sa-
Fica claro que, podemos ter dois osciladores
ída, portanto teremos nível alto no pino 3. Com
em frequências diferentes, ou mesmo modificar a
esse nível alto, iniciamos a carga de 𝐶1 através de
frequência do oscilador atual para produzir, tons
𝑅1 até que atinja o limiar de tensão da porta lógica,
diferentes. Esse circuito se baseia nessa técnica,
19
Edição 0029, abril, 2023
capacitor de 100𝑛𝐹
no circuito e ora terá
o paralelo de 𝐶2 com
𝐶3 , 147𝑛𝐹 portanto.
Aí está a mudança de
frequência e os dois
tons obtidos, que
será de 1𝑘𝐻𝑧 para o
valor de 100𝑛𝐹 e
700𝐻𝑧 para o valor
de 147𝑛𝐹.
Para o estágio
de potência utilizei
um transistor Dar-
lington TIP122, que é
polarizado através de
𝑅6 . O acionamento
do alto-falante se dá
através do coletor do
transistor. O resistor
𝑅7 reduz um pouco a
intensidade sonora,
para que a sirene não
Figura 2 – Diagrama esquemático completo da sirene de 2 tons.
fique muito estri-
dente. O alto-falante
nesse instante, será lido um nível lógico alto nas en-
utilizado é um pequeno de 8Ω e 500𝑚𝑊.
tradas e a saída (pino 3) vai para nível baixo. Assim
ocorre a descarga de 𝐶1 através de 𝑅1 e o ciclo se A alimentação do circuito é feita com 6𝑉 o
reinicia. O processa de carga e descarga do capaci- que viabiliza o uso de 4 pilhas comuns, porém você
tor gera a oscilação desejada, em baixa frequência, pode optar pelo uso de alcalinas, para maior dura-
que dependerá de 𝐶1 e 𝑅1 . A porta 𝑈1 : 𝐵 atua como bilidade. Essa sirene é bem interessante para ser in-
reforça do sinal (buffer) e observe que temos dois serida em brinquedos como carrinhos ou robôs e
LEDs conectados em sua entrada e saída, para até mesmo agregar um efeito sonoro diferente em
efeito visual, pois vão piscar alternadamente junto projetos com microcontroladores.
com o efeito sonoro.
Montagem prática
O sinal do controlador é aplicado a um
A placa de circuito impresso para o circuito
MOSFET de baixa potência modelo 2N7000, sendo
ficou bem compacta (aproximadamente
ligado e desligado com essa frequência baixa. Veja
4,5x4,2cm) e eu realmente recomendo que o inici-
que o estágio formado por 𝑈1 : 𝐷 e 𝑈1 : 𝐶 consiste
ante tente construí-la em casa. Ela foi toda desen-
no oscilador que envia o sinal para o alto-falante. A
volvida em face simples e não necessitou de ne-
explicação é semelhante para o estágio de con-
nhum jumper. Já apresentamos técnicas artesanais
trole, com a diferença de que agora o capacitor 𝐶2
de construção de PCBs em nosso YouTube, que po-
é quem se carrega e descarrega através de 𝑅5 . Veja
derão lhe auxiliar com o passo a passo. Veja na Fi-
que alternadamente, a partir do sinal de controle,
gura 3 a sugestão de placa de circuito impresso
colocamos 𝐶2 em paralelo com 𝐶3 . Em outras pala-
vras, o oscilador de faixa de áudio ora terá um
20
Revista Eletrônica WR
para o circuito. Os arquivos Gerber estão dispo-
níveis nos arquivos de download na própria pla-
taforma da revista. Utilize um suporte para 4 pi-
lhas e uma chave liga/desliga para o circuito. A
(Face de cobre) caixa para alojamento poderá ser de plástico
contendo furos para os alto-falante e para os
LEDs.
Você também poderá desenvolver vá-
rios testes, como troca de valores de compo-
nentes para obter uma modulação diferente e
frequências diferentes para a sirene, o que é to-
talmente recomendável. Explore bastante o cir-
cuito e observe os efeitos práticos do mesmo,
(Silkscreen)
esse aprendizado é muito bom. Para estes tes-
tes iniciais, recomendo a montagem do circuito
em uma protoboard, o que facilita demais a
troca de valores de componentes.
Figura 3 – Placa de circuito impresso da sirene de 2 tons.

Lista de Componentes Sirene de 2 Tons


QTD. REF. Componente OBS.
1 R1 Resistor 100kΩ 1/4W
1 R2 Resistor 1,5kΩ 1/4W
1 R3 Resistor 470Ω 1/4W
1 R4 Resistor 10Ω 1/4W
1 R5 Resistor 15kΩ 1/4W
1 R6 Resistor 2,2kΩ 1/4W
1 R7 Resistor 22Ω 1/4W
1 C1 Capacitor 22µF Eletrolítico 16V
2 C2, C4 Capacitor 100nF Poliéster 63V
1 C3 Capacitor 47nF Poliéster 63V
1 D1 LED Vermelho Comum 3mm
1 D2 LED Verde Comum 3mm
1 Q1 2N7000 MOSFET canal N
1 Q2 TIP122 Transistor Darlington NPN
1 SP Alto-Falante Pequeno 8Ω 500mW
- Diversos PCB, fios e cabos, caixa para aloja-
mento, dissipador de calor TO-220, su-
porte de pilhas, etc.

21
Edição 0029, abril, 2023
Demodulação QAM no LTspice
Dr. Eng. Wagner Rambo
é uma técnica utilizada
para transmitirmos dois
sinais completamente di-
ferentes utilizando uma
única portadora. Como
vimos, sinais que estão
com defasagem de 90°
não têm correlação, por
esse motivo podemos
aproveitar a senoide e a
cossenoide de uma
mesma portadora na
transmissão de dois si-
nais completamente di-
ferentes. Em nosso ar-
tigo sobre modulação,
paramos exatamente no
ponto apresentado na Fi-
gura 1, com um processo
completo de transmissão
de 2 sinais em uma única
portadora.
Olhando para a
Figura 1, podemos per-
Figura 1 – Modulador QAM no LTspice. ceber que implementa-
mos todo o modulador
Em nossa edição de número 25, de dezem- com fontes de tensão, trabalhando em um nível
bro de 2022, entendemos como funciona o pro- alto de abstração, isso facilita bastante a compre-
cesso de modulação QAM e apresentamos um ensão de como se dá o tratamento dos sinais de RF.
exemplo de modulador que os leitores puderam si- No gráfico ao centro temos a forma de onda QAM
mular facilmente no LTspice para estudar teleco- (saída da fonte B3) no domínio do tempo, que não
municações. Na ocasião prometemos apresentar o nos apresenta muitas informações úteis. Quando
complemento daquele artigo, onde apresentaría- visualizamos a FFT (domínio frequência, gráfico de
mos o método para recuperar o sinal transmitido. baixo), podemos perceber que ao centro temos
Pois bem, chegou o dia, vamos entender como se 400𝑘𝐻𝑧 da nossa portadora, que está suprimida.
dá a demodulação QAM, simulando um sistema de Em torno da portadora temos as nossas informa-
transmissão e recepção completa no excelente si- ções na soma e na subtração. Não por acaso a dife-
mulador LTspice. rença é exatamente o valor dos sinais sig1 e sig2,
respectivamente 1𝑘𝐻𝑧 e 2,5𝑘𝐻𝑧, que foram sinais
De uma forma resumida (para maiores in- determinísticos na faixa de áudio que desejamos
formações leia o artigo da referida edição), a mo- transmitir.
dulação QAM (quadrature amplitude modulation)

22
Revista Eletrônica WR
1
𝑓=
2𝜋 × 15𝑘 × 1𝑛
𝑓 = 10,6𝑘𝐻𝑧
Optei por um corte em fre-
quência mais baixa para ilus-
trar bem a recepção dos sinais
e poder utilizar um filtro bas-
tante simples de primeira or-
dem. Os sinais demodulados
podem ser vistos na Figura 3.
Os gráficos na parte
Figura 2 – Demodulador QAM no LTspice. superior da Figura 3 consis-
tem no domínio do tempo. É

Para realizar a demodulação e re-


cuperar esses dois sinais transmitidos, é
necessário um oscilador local que apre-
sente a mesma frequência, amplitude,
fase que o sinal da portadora, assim pode-
mos aplicar o sinal QAM recebido por uma
antena em um mixer. Em outras palavras
multiplicamos o sinal QAM pelo sinal do
oscilador local. Além disso, o mesmo sinal
QAM recebido é multiplicado pelo sinal do
oscilador local em quadratura, ou seja,
precisamos também ter uma cópia do sinal
do oscilador local defasada em 90°. Na sa-
ída desses mixers teremos os sinais demo-
dulados, mas ainda contendo modulação
em alta frequência, agora na soma da por-
tadora com o oscilador local (resultando
em 800𝑘𝐻𝑧) em nosso exemplo. Para eli-
minar isso aplicamos filtros passa-baixas
nas saídas dos mixers, obtendo os sinais
que foram originalmente transmitidos. O
demodulador QAM pode ser visto na Fi-
gura 2, novamente utilizei fontes de ten-
são e fontes de comportamento arbitrário.
Para os filtros, utilizei um arranjo
muito simples e conhecido de primeira or-
dem: o passa-baixas RC, que terá um corte Figura 3 – Sinais demodulados.
em
interessante observar como as informações no do-
1 mínio do tempo são confusas e bastante abstratas.
𝑓=
2𝜋𝑅𝐶 Já no domínio da frequência, a FFT de cada sinal

23
Edição 0029, abril, 2023
do tempo, compro-
vando que os sinais ori-
ginalmente transmiti-
dos foram recupera-
dos.
E finalmente,
na Figura 6, vemos o
espectro desses sinais,
onde os filtros remove-
ram aquela intermodu-
Figura 4 – Intermodulação de alta frequência. lação de alta frequên-
cia preservando ape-
nas os sinais de interesse.
nos revela aquilo que estávamos esperando. Te-
mos a presença dos sinais de 1𝑘𝐻𝑧 e 2,5𝑘𝐻𝑧 po- Recomendo que você reproduza a simula-
rém ainda há uma intermodulação de alta frequên- ção apresentada no LTspice para fazer diversos tes-
cia em volta do valor de 800𝑘𝐻𝑧, pois a frequência tes de transmissão e recepção com a modulação
da portadora em QAM se somou com a do oscila- QAM. Utilize sinais mais complexos, como a soma
dor local (400𝑘 + 400𝑘) devido às propriedades de senoides, além de utilizar sinais de áudio reais,
do mixer. Na Figura 4 você pode conferir a imagem pois o LTspice possibilita isso. Aproveite, que con-
ampliada, comprovando que esses sinais de alta siste em um simulador de excelente qualidade e
frequência situam-se em volta de 800𝑘𝐻𝑧 de fato. 100% gratuito.
Observe que ao centro temos 800𝑘𝐻𝑧 e Não posso deixar de sugerir nossos cursos
existem as bandas laterais das informações origi- Básico, Intermediário e o recente Avançado de LTs-
nalmente transmitidas que estavam no sinal QAM pice, todos disponíveis para você se aprofundar
e foram mixadas junto com o sinal do oscilador lo- ainda mais no software.
cal. A Figura 5 são nossas informações no domínio

Figura 5 – Sinais recuperados (domínio do tempo).

24
Revista Eletrônica WR
Figura 6 – Sinais recuperados (domínio da frequência).

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Revista Eletrônica WR

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