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Revista Diálogos Interdisciplinares

2017 VOL. 6 N° 2 - ISSN 2317-3793

TECNOLOGIA ULTRASSÔNICA PARA REMOÇÃO DE IMPUREZAS


Bruno Felipe Sousa1; Lucas Machado Valinhos1; Matheus de Almeida Lima1; Antônio Carlos da Cunha
Migliano2

Resumo: Neste trabalho são apresentadas as etapas de desenvolvimento de um limpador ultrassônico, empregando-se
um sensor piezoelétrico comercial, e discutindo-se a eficiência e o custo de sua implantação. As aplicações dos
materiais piezoelétricos são variadas, tais como: sensores para estacionamento, transdutores ultrassônicos empregados
em sistemas de radares e sonares, etc. A área que os materiais piezoelétricos se mostram mais presentes é a médica,
sendo que sua utilização foi fundamental para o desenvolvimento de equipamentos de investigação por imagem, como o
equipamento de ultrassonografia. O projeto eletroeletrônico do equipamento de limpeza ultrassônica foi desenvolvido
com o auxílio de ferramentas computacionais CAE (Engenharia Auxiliado por computador), que auxiliam em projetos
de circuitos eletrônicos. A placa de circuito impresso foi confeccionada por método de transferência térmica. No
projeto foi empregada uma cerâmica piezoelétrica, do tipo eletroestritivo de corpo cilíndrico de 50 mm, operacional na
frequência de 40 kHz e potência de 35 W. Testes foram realizados para analisar se o limpador está atuando de acordo
com os objetivos iniciais, entre eles o processo de cavitação ampliada, que foi verificado pelos testes da folha de
alumínio e da ampola sonocheck. Também foram realizadas avaliações visuais da superfície de amostras, após serem
submetidas à limpeza por 15 minutos, por meio de lupa e Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV). Todos os
ensaios corroboraram a eficiência do processo de limpeza ultrassônica com o dispositivo desenvolvido.

Palavras-Chaves: piezoeletricidade, limpador ultrassônico, transformação de energia, cristais piezoelétricos.

1 Introdução

Com o avanço tecnológico, os materiais piezoelétricos passaram a ser observados como uma
fonte de energia alternativa. Seu maior emprego é como fonte geradora de ondas sonoras,
aplicando-se pulsos elétricos alternados na faixa do ultrassom (acima de 20KHz). Desta forma, o
objetivo deste trabalho é, após analisar um cristal PZT (Titanato Zirconato de Chumbo), aplicar
suas características para desenvolver um limpador ultrassônico por meio do modo reverso, onde se
aplica uma tensão na cerâmica piezoelétrica, para gerar uma frequência ultrassônica.
A limpeza ultrassônica é realizada pela cavitação, que é a formação rápida de bolhas,
seguida pelo seu colapso abrupto, formando cavidades no líquido de limpeza (Figura1). Esta
agitação por incontáveis pequenas bolhas implodindo de forma intensa cria uma lavagem altamente
eficaz, tanto das partes expostas como das ocultas, imersas na solução de limpeza. Frequências mais
baixas, de 20 a 30 kHz, são geralmente escolhidas para aplicações difíceis, onde níveis de tensões
mais intensos são necessários para remover sujeiras e assegure que os danos nas peças sejam
desprezíveis. Tais frequências são frequentemente usadas para a limpeza de peças grandes e
pesadas, ou de peças menores de alta densidade. Já as frequências mais altas são usadas para limpar
peças menores e mais delicadas, ou em circunstâncias onde pequenas partículas devem ser
removidas. Sendo este segunda característica, a escolhida para a elaboração do protótipo proposto.

1 Graduandos em Engenharia Elétrica, Universidade Braz Cubas.


2 Pós-Doutorado em Filmes Finos e Nanotecnologia (IFUSP-2015).
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Figura 1 – Crescimento e colapso (implosão) de uma bolha de vácuo de cavitação


Fonte: Imagem autoral

O transdutor é o componente de maior importância em um sistema de limpeza ultrassônico.


Atualmente, há dois tipos de transdutores oferecidos, que são os eletroestritivos, feitos de titanato
zirconato de chumbo ou outras cerâmicas, e o magnetoestritivo, feitos de níquel ou de suas ligas.
Para a montagem do limpador ultrassônico foi utilizado o transdutor eletroestritivo. Por suas
características, os materiais eletroestritivos, quando colocados em um campo elétrico de corrente
alternada (AC), suas dimensões físicas (parâmetros de rede) são variantes com a mesma frequência.
O parâmetro crítico de eficiência do equipamento pode ser avaliado em função da sua
capacidade de produção de cavitação. A Figura 2 ilustra os efeitos da energia ultrassônica sobre a
superfície do material sob teste, produzindo uma série de pontos de pressão, ou mesmo, uma série
de compressões e rarefações.

Figura 2 – Gráfico de pontos de pressão, compressão e rarefações, extraído de [1].

O liquido será afastado no estágio de rarefação, produzindo pequenas bolhas se a energia


sonora for de intensidade suficiente, seguido pelos estágios de compressão, fazendo com que as
bolhas colapsem ou implodam no líquido, criando tensões eficazes que são adequadas para a
limpeza superficial de amostras.
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2 Metodologia

Para desenvolver o Limpador Ultrassônico, analisou-se o comportamento de um cristal PZT


(titanato zirconato de chumbo), extraindo-se sua curva de impedância e definindo sua frequência
ótima de operação (Figura 3). Para a realização do projeto foi necessário ter conhecimento sobre a
pressão exercida e sofrida pelo sistema físico utilizado. A pressão exercida sobre o material gera
um campo elétrico, sendo possível medir a grandeza desse campo nas extremidades do cristal, essa
grandeza é conhecida como diferença de potencial elétrico.

Figura 3 - Curva de indicação de fator de qualidade (azul) e curva de capacitância (amarela) do PZT 4.
Fonte: Imagem Autoral

Quando o cristal piezoelétrico é submetido a uma pressão, ele responde com uma carga
proporcional. Devido à alta impedância do cristal, amplifica-se a carga com um circuito ou um
amplificador de carga para sensores. Neste modo, usa-se dentro da caixa do sensor um MOSFET
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como amplificador, que converte a carga de alta impedância em um sinal de tensão com baixa
impedância.
Após o projeto eletrônico ser desenvolvido (Figura 4), a etapa seguinte foi a impressão em
tamanho real do circuito e com a imagem invertida, pois depois de transferido, ele assume a sua
orientação correta. Para transferência do layout para a placa, foi impresso em papel de transferência
e recortou-se a placa do tamanho ideal para se acoplar os componentes.

Figura 4A – Projeto eletrônico da placa de circuito desenvolvido com auxílio de ferramenta CAE.
Fonte: Imagem autoral
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Figura 4B – Projeto eletrônico da placa de circuito desenvolvido com auxílio de ferramenta CAE. Alguns componentes
não trazem sua representação real (TRAFO1, TRAFO DE AÚDIO, FUSÍVEL 1A, RESISTOR CERÂMICO 5W2.2ΩJ
E INDUTOR TOROIDAL 22uH), sendo assim, os mesmos foram substituídos por componentes com pinagem
semelhantes. Fonte: Imagem autoral

Para finalizar o processo, utilizou-se transferência térmica do projeto seguida pelo processo
de soldagem dos componentes na placa de circuito impresso. Foi desenvolvida outra placa para
alojar o circuito temporizador (função de timer), para que assim seja possível ter um controle do
processo no painel de controle do equipamento. Para o desenvolvimento desse timer foi utilizado
como componente principal um CI analógico, do tipo LM555.
Após a confecção da placa, acoplou-se a cerâmica piezoelétrica do tipo PZT de corpo
cilíndrico de 50 mm, 40 kHz e 35 W (Figura 5), na cuba de aço inoxidável (Figura 6), e utilizou-se
Loctite EA E -20NS para a fixação. Optou-se por este adesivo em função de suas especificações
serem compatíveis com as áreas a serem cavitadas e resistir a uma variação de temperatura entre
-20ºC e 100ºC. A etapa seguinte foi confecção de uma estrutura à base de MDF.
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Figura 5 – Cerâmica pieozoelétrica do tipo PZT Figura 6 – Cerâmica piezoelétrica acoplada a


de corpo cilíndrico de 50 mm, 40 kHz e 35 W. cuba de aço inoxidável. Fonte: Imagem Autoral
Fonte: Imagem Autoral

Para a montagem da base e estrutura do limpador ultrassônico foi utilizado uma caixa para
circuito eletrônico de material plástico ABS, pois facilita o manuseio e pelo fato de ser um
protótipo, apresenta uma condição inicial adequada para a realização dos testes e experimentos. Por
fim, foi fixado a placa de circuito em sua parte interna, e logo acima a cuba de inox.

3 Resultados e Discussão

Após a montagem, foram realizados testes para verificar se o produto executava as funções
como especificado nos objetivos iniciais. Colocou-se 200 ml de água na cuba de inox com objetos
pessoais, tais como óculos, aliança e moeda, e pressionou-se o botão LIGAR do equipamento,
acendendo o LED sinalizador e ao mesmo tempo acionando o timer programado para 15 minutos.
Após o timer indicar o término do processo de limpeza, notou-se visualmente, comparando os
objetos antes e depois de passarem pelo processo de cavitação, que foram superficialmente tratados
ou beneficiados. Ou seja, o limpador está atuando de acordo com os objetivos iniciais.

3.1 Teste com Alumínio


Colocou-se amostra de folha de alumínio nas dimensões de 50 x 50 mm 2 na cuba do
limpador ultrassônico e, após 2 minutos de limpeza, retirou-se o alumínio que teve sua superfície
perfurada e corroída. Significando que o processo de cavitação está ocorrendo perfeitamente, pois o
alumínio quando submetido a uma frequência superior a 20 kHz, começa a alterar sua estrutura
(Figura 7) e, no caso da folha, a sua superfície sofre perfurações.
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Figura 7 – Aspecto do papel alumínio após o teste. Observe as perfurações e marcas deixadas pela cavitação na parte
inferior da folha.

3.2 Teste com Ampola SONOCHECK


Mesmo após a certificação de eficácia do limpador através do teste com folha de alumínio,
encontrou-se outra maneira de analisar se o processo de limpeza estava em conformidade. Um novo
ensaio foi realizado com a utilização da ampola Sonocheck. O teste SonoCheck consiste em uma
reação química desencadeada pelo processo de cavitação, onde cloro ou ácido clorídrico é libertado
de uma molécula orgânica, e assim há uma transformação no conteúdo da ampola, mudando as
esferas dentro do involucro de amarelo para a cor verde. Isto indica que o nível de potência das
ondas é suficiente para o fenômeno de cavitação. Este teste foi escolhido por estar em
conformidade com a norma EM ISO 15883.
De acordo, com especificações dadas pelo fornecedor, deve-se mergulhar a ampola no
líquido reagente por um período de 5 a 10 minutos. Ao realizar os testes foi verificado que a
mudança no estado das cores ocorreu conforme o previsto em norma, onde foi observado que não
foi necessário aguardar o período de 5 minutos imposto pelo fabricante.

3.3 Teste com Lupa

No laboratório da Universidade Braz Cubas, um óculos foi utilizado como um objeto para
verificação da eficácia da limpeza ultrassônica com o auxilio de uma Lupa. Após 2 minutos de
limpeza o objeto foi exposto à lente de aumento a fim de obter imagens ampliadas. Visualmente
notou-se que a limpeza ocorreu, porém concluímos que este não é o equipamento adequado para
analisar, visando que buscou-se dados comprovatórios da eficácia.

3.4 Teste Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV)


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Um novo procedimento foi realizado para analisar uma amostra em um Microscópio


eletrônico de Varredura (MEV), disponibilizado pelo Professor Antônio Carlos da Cunha Migliano.
Neste caso utilizamos como amostra uma cerâmica de Co-Ba-Fe (Cobalto, Bário e Ferro) e após 15
minutos de limpeza, verificando o estado inicial da amostra (Figura 8A), e o estado final, após
submetê-lo ao processo (Figura 8B), notou-se que a limpeza ocorreu de acordo com os objetivos
iniciais, comprovando a eficácia do limpador ultrassônico.)

(A) (B)

Figura 8 - Imagens obtidas em Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) de amostra de cerâmica de Co-Ba-Fe. A
imagem (A) corresponde a imagem superficial sem o tratamento no limpador ultrassônico. Após 15 minutos de
tratamento, a amostra se mostrou livre de artefatos, conforme observa-se na imagem (B).

4 Conclusão
O limpador ultrassônico, desenvolvido ao longo do processo de pesquisa, passou por
diversas modificações que levassem a melhor eficiência, tendo em vista que não há circuitos open
source que realizassem o proposto. Foram encontrados diversos empecilhos para se chegar a um
circuito funcional, porém isto serviu como um fator importante, pois foram aprimorados diversos
conceitos, como elaboração de layout eletrônico, utilização de engenharia reversa sobre múltiplos
aparelhos e estudo das normas exigidas para certificação do limpador.
Antes de projetar qualquer circuito, foi necessário realizar estudos minuciosos sobre o
comportamento das cerâmicas piezoelétricas, pois assim se encontrou o modelo mais adequado para
desenvolver o limpador.
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Após as realizações dos testes de eficiência, conclui-se que o teste mais adequado para a
análise da limpeza ultrassônica foi com o auxilio do Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV),
pois nele foi possível obter dados referentes à taxa de limpeza das amostras utilizadas.
O intuito com relação ao limpador é emprega-lo em um procedimento automatizado, onde
fará parte de um sistema de limpeza de objetos, além desenvolver outros estágios, como o processo
de secagem automatizado.

5 Referências

1. Site Emerson Industrial, Teoria de Cavitação: <http://www.emersonindustrial.com/pt-br/bran-


son/Products/precision-cleaning/industrial-cleaning/aqueous-systems/Flexline/ Pages/de-
fault.aspx > acessado em 21 de Outubro de 2017 às 17h15.
2. F.G. Baptista and J. Vieira Filho, A New Impedance Measurement System for PZT-Based
Structural Health Monitoring, IEEE Transaction on Instrumentation and Measurements, 58(10),
(2009), 3602.
3. M. Schmid, E. Benes and R. Sedlaczek, A computer-controlled system for the measurement of
the complete admittance spectra of piezoelectric resonators, Measurement Science and Technol-
ogy, 1, (1990), 970
4. S. Doerner, T. Schneider and P. Hauptmann, Wideband impedance spectrum analyzer for
process automation applications, Review of Scientific Instruments, 78, (2007), 105101.
5. F. J. Arnolda , R. L. Ximenesa , R. Arthura , S. S. Mühlen, A driver for piezoelectric transduc -
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6. MCQUEEN, D.H.; Frequency dependence of ultrasonic cleaning, Ultrasonics, 1986 vol 24
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7. GALLEGO, J.; Piezoelectric ceramics and ultrasonic transducers, J. Phys. E: Sci. Instrum.,
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8. NEPPIRAS, E.A.; Acoustic Cavitation, Physics Reports (1980) 61 159-251.
9. EDMONDS, P.E.; Methods of Experimental Physics: Ultrasonics, Volume 19, Academic Press
1981.
10. FREDERICK, J.; Ultrasonic Engineering: John Wiley & Sons, Inc. - 1965.

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