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RESUMO
Este estudo analisa a influência da habilidade gerencial na agressividade tributária de empresas
brasileiras. Realizou-se pesquisa descritiva, documental e quantitativa, os dados foram
coletados da base de dados Refinitiv Eikon® e no site da B3, no período de 2017 a 2021, em
que a amostra final foi composta por 91 empresas, representando respectivamente, 455
observações. Os dados foram analisados a partir de análises descritivas, correlações e regressão
linear múltipla robusta. Os resultados do estudo indicam que a habilidade gerencial influencia
a agressividade tributária, ao analisar a métrica BTD, foi possível observar que a habilidade
gerencial influencia positivamente a agressividade nas organizações. Assim, pode-se
argumentar que os gestores mais habilidosos podem aumentar as práticas de elisão fiscal das
organizações. Os gerentes têm um papel importante e estratégico na tomada de decisões da
organização, dentre eles, as decisões sobre as práticas fiscais. Entretanto, ao observar os
resultados da regressão que utiliza a variável TRAV como métrica de agressividade, os
resultados são opostos, a habilidade gerencial diminui a agressividade tributária. Uma possível
explicação para habilidade diminuir a agressividade é que gestores podem escolher por decisões
menos agressivas devido ao impacto negativo que isso poderia causar em sua reputação caso
fossem descobertos. Gestores habilidosos que estão inseridos em grandes empresas sabem que
elas sofrerão grandes consequências se forem agressivas em relação aos impostos, com
pagamento de altas multas, perda de confiança dos investidores e até falência. Assim, quando
as empresas estão enfrentando incertezas ambientais, estes gestores podem tomar decisões
menos agressivas em relação aos impostos, escolhendo outras estratégias para diminuírem os
custos da organização. Assim, os resultados contribuem com a literatura sobre habilidade
gerencial e agressividade e apresenta oportunidades de pesquisas futuras aos pesquisadores.
Palavras-chave: Habilidade Gerencial; Agressividade Tributária; Empresas Brasileiras.
1 INTRODUÇÃO
A agressividade tributária tem se tornado uma característica cada vez mais presente no
cenário corporativo e tem recebido uma atenção considerável tanto da comunidade acadêmica
quanto dos formuladores de políticas. Pode ser definida como o esforço dos agentes para
minimizar a carga tributária da organização, seja por meio de planejamento tributário, prática
denominada como elisão fiscal, ou por meio de práticas abusivas que violam as regras fiscais,
classificadas como evasão fiscal (Armstrong et al., 2012; Alm et al., 2014; Khan et al., 2017).
Pode-se perceber um fluxo crescente de pesquisadores examinando determinantes da
agressividade fiscal (Armstrong et al., 2012; McGuire et al., 2014; Francis et al., 2014; Allen
et al., 2016; Francis et al., 2022).
Chi et al. (2017) apontam que a maioria dos estudos sobre agressividade tributária se
concentra apenas nas características de nível empresarial ou nos mecanismos de governança
corporativa e ignora amplamente características individuais de gestores, que podem impactar a
agressividade tributária nas empresas. Resultado considerado surpreendente, dado que as
decisões corporativas são tomadas por indivíduos e os ‘estilos’ dos gestores possuem um papel
significativo na tomada de decisões estratégicas e operacionais das organizações (Bertrand &
Schoar, 2003).
Para Dyreng et al. (2010), características e habilidades dos gestores são importantes
determinantes da agressividade tributária das empresas. Estudos anteriores mostraram que a
habilidade gerencial tem um impacto significativo em várias decisões corporativas, incluindo
investimentos e decisões contábeis (Rose & Shepard, 1997; Bertrand & Schoar, 2003;
Demerjian et al., 2013; Francis et al., 2019). Assim, investigar a influência das habilidades
gerenciais dos gestores pode fornecer evidências importantes para avançar na literatura sobre
agressividade tributária.
A habilidade gerencial pode ser definida como a capacidade de gerentes, CEO ou da
equipe da alta administração de compreender as economias da empresa e tomar decisões
econômicas prudentes e oportunas, que lhes permitam transformar de forma eficiente os
recursos corporativos em receitas (Demerjian et al. 2012; Hasan, 2017). Assim, a utilização
eficiente dos recursos da empresa representa boas decisões de investimento de capital e mão de
obra, atividades geradoras de receita e/ou iniciativas de redução de custos (Choi et al., 2015).
Gerentes com habilidade gerencial tendem a gerar mais benefícios econômicos para a
organização por meio das operações tradicionais, além de estratégias fiscais agressivas,
explorando assim, todas as oportunidades de elisão fiscal. No entanto, este argumento ignora
vários fatores importantes que podem levar a um comportamento oposto ao previsto da
realização de práticas fiscais agressivas, por exemplo, os custos reputacionais, políticos e
econômicos envolvidos, que podem ser considerados fatores importantes nas decisões dos
gestores dentro das organizações. Evidências indicam que os gestores sofrem perda de
reputação como resultado de atividades tributárias agressivas, assim, a literatura sugere que
preocupações com a reputação limitam empresas e gestores de se envolver em atividades de
elisão fiscal agressivas (Desai & Dharmapala, 2006; Hanlon & Slemrod, 2009; Chen et al.,
2012; Graham et al., 2014; Austin & Wilson, 2017).
Principalmente após o desenvolvimento da medida de habilidade gerencial por
Demerjian et al. (2012), pesquisas sobre características gerenciais ganharam maior atenção dos
pesquisadores, entretanto, os resultados encontrados até o momento não esgotaram a amplitude
do assunto abordado, principalmente em relação a agressividade tributária, foco desta pesquisa.
Portanto, torna-se relevante compreender como gestores com habilidade gerencial se
comportam em relação ao planejamento tributário das organizações, considerando que estes
incentivos fiscais podem apresentar impactos significativos para a organização. Diante do
exposto formulou-se a seguinte questão de pesquisa: qual a influência da habilidade
gerencial na agressividade tributária de empresas brasileiras? Assim, o objetivo deste
artigo é analisar a relação entre habilidade gerencial e a agressividade tributária de empresas
brasileiras.
A literatura (Park et al., 2016; Huang et al., 2017; Huang & Sun, 2017; Lee & Yoon,
2020) argumenta que gerentes com maior habilidade estão associados a menos atividades
agressivas de elisão fiscal porque podem converter recursos em benefícios econômicos com
mais eficiência por meio de operações tradicionais e, portanto, têm menos incentivo para se
envolver em atividades tributárias agressivas. Ainda, afirmam que gerentes com habilidades
têm reputações mais altas e, portanto, mais oportunidades nos mercados de trabalho gerenciais,
estando menos propensos a se envolver em atividades agressivas de elisão fiscal, devido ao
impacto negativo sobre sua reputação e possibilidades de crescimento na carreira, caso forem
descobertos (Doukas & Zhang, 2020; Demerjian et al., 2020; Haider et al., 2021).
Mas existe uma vertente de pesquisadores (Dyreng et al., 2010; Wu et al., 2012;
Armstrong et al., 2015; Koester et al., 2017; Tang et al., 2017; Saragih & Hendrawan, 2021),
que afirmam existir uma associação positiva entre a habilidade gerencial e a agressividade
tributária. No Brasil, pesquisas que envolveram as duas variáveis ainda podem ser consideras
incipientes. Assim, esta pesquisa busca suprir a lacuna de pesquisa existente no contexto
nacional, ao analisar a relação entre habilidade gerencial e a agressividade tributária de
empresas brasileiras. Ainda como diferencial, o estudo utiliza a métrica de habilidade gerencial
desenvolvida por Demerjian et al. (2012) pouco reconhecida no contexto nacional, mas muito
utilizada nas pesquisas internacionais.
O artigo justifica-se, pois contribui com a crescente pesquisa sobre a influência das
características de gestores, particularmente a habilidade gerencial sobre decisões empresariais.
A habilidade gerencial tem sido um tópico importante e de extensa pesquisa na literatura
gerencial e estudos mais recentes vem introduzindo este tópico em pesquisas da área financeira,
demonstrando que a habilidade gerencial é um fator importante que afeta, por exemplo, o
desempenho da empresa e as decisões contábeis corporativas, incluindo a qualidade dos lucros
e as previsões de lucros gerenciais (Baik et al., 2011; Demerjian et al., 2012; Francis, et al.,
2019). Neste sentido, esta pesquisa insere um novo tópico ao debate da influência da habilidade
gerencial em decisões tributárias corporativas (agressividade tributária), contribuindo assim,
com a literatura. Ademais, os resultados do estudo ainda têm importantes implicações práticas
para políticas públicas regulatórias e informações relevantes para usuários da informação.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Variável Independente
εit = resíduo da equação 2 (proxy para Refinitiv Demerjian et al.
HG Habilidade Gerencial
habilidade gerencial) Eikon® (2012)
Variáveis de Controle
Chen et al. (2010);
Ramalho e
Refinitiv
TAM Tamanho 𝐿𝑛(𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙𝑖𝑡 ) Martinez (2014);
Eikon®
Martinez et al.
(2014)
Chen et al. (2010);
Wu et al. (2012);
Retorno sobre os 𝐿𝐴𝐼𝑅𝑖𝑡 Refinitiv Ramalho e
ROA
ativos 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙𝑖,𝑡−1 Eikon® Martinez (2014);
Martinez et al.
(2014);
Martinez et al.
Firma de Auditoria Dummy igual a 1 se a firma de auditoria é Refinitiv
BIG4 (2014); Marzuki e
Big Four Big Four e 0 caso contrário Eikon®
Syukur (2021)
Notas: LAIR: Lucro antes do imposto de renda. Desp_trib = despesa total combinada (imposto de renda +
contribuição social sobre o lucro líquido). Des_trib_corr = despesa corrente combinada. Imp_dist = distribuição a
título de impostos, taxas e contribuições; Valor_adic_tot_a_dist = valor adicionado total a distribuir. DFP:
Demonstrações Financeiras Padronizadas disponíveis no website da B3; DRE: Demonstração do Resultado do
Exercício; BP: Balanço Patrimonial; DVA: Demonstração do Valor Adicionado. Fonte: Elaborada pelos autores.
𝑉𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠
𝑚𝑎𝑥𝑣 𝜃 =
𝑣1 𝐶𝑃𝑉 + 𝑣2 𝐷𝑉𝐴 + 𝑣3 𝐼𝑀𝑂 + 𝑣4 𝐿𝐸𝑂 + 𝑣5 𝑃&𝐷 + 𝑣6 𝐴𝐺𝐼 + 𝑣7𝑂𝐴𝐼𝑁
Equação 1
Em que:
Output:
Vendas
Input:
CPV: Custos dos produtos vendidos;
DVA: Despesas de vendas e administrativas;
IMO: Imobilizado;
LEO: Leasing operacional;
P&D: Despesas com pesquisa e desenvolvimento;
AGI: Ágio adquirido;
OAIN: Outros ativos intangíveis.
A matriz de correlação dos dados indica que a variável BTD possui correlação positiva
e significativa com a habilidade gerencial e o ROA correlação negativa e significativa com
endividamento no triangulo inferior e superior. Ainda, pode-se observar uma correlação
positiva e significativa entre habilidade gerencial e ROA e negativa e significativa com Big
Four no triangulo inferior e superior. Entretanto, são correlações fracas e significativas apenas
a 5%.
Tabela 7 - Resultado da regressão utilizando a BTD como proxy para a agressividade tributária
Variáveis Variável dependente: BTD
Coeficiente Estatística t. VIF
Constante 0,005 0.866
Habilidade Gerencial (HG) 0,040 0,043** 1,27
Tamanho -0,005 0,027** 1,34
ROA – Retorno sobre o ativo 1,593 0,000*** 1,55
Big Four 0,012 0,144 1,30
Endividamento 0,057 0,000*** 1,28
Significância do modelo 0,000***
R2 89,47
DW 2,051
N 455
Legenda: BTD: Book-Tax Differences. Níveis de significância: ** p<0,05; *** p<0,01.
Fonte: Dados da pesquisa.
Os resultados apontam que o modelo com base na BTD possui adequada significância
global (p-valor = 0,000) e um bom poder explicativo, haja vista o R2 de 89,47%. A estatística
de Durbin-Watson foi um pouco superior a 2, indicando que os resíduos não estão
autocorrelacionados.
A Tabela 7 indica um valor positivo e significativo para a variável HG (0,040),
sugerindo que a habilidade gerencial está positivamente associada à agressividade tributária, o
que confirma a H1, comprovando que a habilidade gerencial influencia a agressividade
tributária de empresas brasileiras, neste caso, aumentando a agressividade. O coeficiente da
variável ROA apresenta valor positivo e significativo (1,593), indicando que quanto maior o
retorno sobre o ativo maior a agressividade tributária. A tabela 7 ainda apresenta coeficiente
positivo e significativo (0,057) para a variável endividamento, indicando que quanto maior a
agressividade das organizações, maior é a tendência de elas recorrerem a recursos de terceiros
para financiarem suas atividades. Já a variável tamanho, apresenta coeficiente negativo e
significativo (-0.005), indicando que o tamanho da empresa está associado a uma menor
agressividade tributária.
O sinal positivo e significativo entre BTD e HG implica que a habilidade gerencial tem
um papel importante na determinação das práticas de elisão fiscal. Portanto, quanto maior a
capacidade, maior será a elisão fiscal. A pesquisa realizada por Lee & Yoon (2020) fornece
evidências de que os gestores exercem influência crucial e afetam o planejamento tributário das
organizações, estando fortemente relacionados às práticas de elisão fiscal. Este resultado do
estudo também corrobora com diversas pesquisas anteriores que afirmam que a habilidade
gerencial está positivamente associada à elisão fiscal, determinando o nível em que a
organização se envolve em práticas de elisão fiscal (Dyreng et al., 2010; Wu et al., 2012;
Armstrong et al., 2015; Koester et al., 2017; Tang et al., 2017; Saragih & Hendrawan, 2021).
Gerentes mais capazes estão associados a uma maior elisão fiscal porque eles têm uma
compreensão profunda do negócio, do ambiente e das oportunidades que sua empresa tem. Tais
condições permitem que os gestores conduzam estratégias de elisão fiscal mais eficazes
(Koester et al., 2017). Portanto, os resultados do estudo se alinham a visão tradicional sobre a
elisão fiscal e a habilidade gerencial, onde gestores mais capazes conseguem aumentar o valor
da empresa utilizando recursos limitados de forma eficiente em todas as operações da
organização, inclusive com planejamentos tributários mais agressivos (Demerjian et al., 2012).
De acordo com a teoria da agência, os acionistas desejam mais lucro, portanto, estão dispostos
a pagar mais aos gestores para agir de acordo com seus objetivos. Assim, o lucro que os
acionistas desejam pode ser obtido evitando impostos, por exemplo, quanto menos encargos
tributários forem pagos, mais participação nos lucros os acionistas terão.
Ainda podemos observar que o tamanho da empresa apresenta resultado negativo e
significativo, demonstrando que quanto maior a empresa menor é a agressividade tributária,
resultado similar ao apresentado por pesquisadores como Zimmerman (1983), que afirmam que
empresas com maior ativo total (maior TAM) tendem a evitar a elisão fiscal devido aos custos
sociais, políticos e econômicos envolvidos, assim o tamanho afeta negativamente a
agressividade tributária. Ainda, pode-se afirmar, que empresas maiores apresentam elementos
mais complexos, incluindo estruturas e hierarquias, bem como uma força de trabalho gerencial
maior (Brockman et al., 2016) e quanto maior o tamanho da empresa, mais consistente será a
habilidade gerencial que o gestor possui, bem como a remuneração que lhe é dada (Gabaix &
Landier, 2008) o que diminuiria a agressividade tributária da organização.
Além disso, a partir de estudos anteriores, verifica-se que quanto melhor o desempenho
da empresa, neste estudo representado pelo ROA, maior a probabilidade de ela estar envolvida
em planejamentos tributários agressivos (Saragih & Hendrawan, 2021). Ao observar a variável
ROA, pode-se perceber um resultado positivo e significativo, corroborando com resultados já
encontrado, como o de Chen et al. (2010) e Saragih e Hendrawan (2021), onde empresas com
maior ROA têm maiores incentivos para realizar atividades de planejamento tributário
agressivo. E pode-se afirmar, que para a amostra do estudo, quanto maior a agressividade, maior
é a tendência das empresas de recorrerem a recursos de terceiros para financiarem suas
atividades, corroborando com o estudo de Martinez e Martins (2016) ao afirmar que empresas
mais endividadas são mais agressivas.
Após efetuar a análise por meio da BTD, buscou-se realizar a regressão considerando
outra métrica de agressividade tributária, a TRAV. Ressalte-se que, em relação a essa regressão,
a interpretação dos sinais dos coeficientes deve ser feita de maneira invertida, uma vez que a
variável mensura a agressividade tributária de maneira inversa, ou seja, quanto maior a TRAV,
menor a agressividade tributária.
A Tabela 8 apresenta os resultados da regressão para a amostra vinculada à variável
TRAV. Ressalte-se que foram realizados testes para se verificar a autocorrelação dos resíduos
e de multicolinearidade entre as variáveis, os quais não apontaram problemas, conforme valores
do teste Durbin-Watson e dos VIF. Para a estimação dos coeficientes, foi utilizada a regressão
robusta com efeitos fixos de tempo e setor, haja vista que o Teste de White indicou a
heterocedasticidade dos dados.
Tabela 8 - Resultado da regressão utilizando a TRAV como proxy para a agressividade tributária
Variáveis Variável dependente: TRAV
Coeficiente Estatística t. VIF
Constante 0,302 0.001
Habilidade Gerencial (HG) 0,135 0,017** 1,27
Tamanho -0,016 0,007*** 1,34
ROA – Retorno sobre o ativo 0,087 0,554 1,55
Big Four 0,039 0,098 1,30
Endividamento 0,035 0,228 1,28
Significância do modelo 0,000***
R2 21,95
DW 2,186
N 455
Legenda: TRAV: tax rate on added value. Níveis de significância: ** p<0,05; *** p<0,01.
Fonte: Dados da pesquisa.
Os resultados apontam que o modelo com base no TRAV também possui adequada
significância global (p-valor = 0,000), com R2 de 21,95%. A Tabela 8 indica um valor positivo
e significativo para a variável de habilidade gerencial, indicando que ela está associada a uma
menor agressividade tributária, tendo em vista que quanto maior a TRAV, menor a
agressividade, confirmando então a H1, visto que existe uma influência da habilidade gerencial
na agressividade tributárias das empresas, mas neste caso, reduzindo a agressividade. O
coeficiente da variável tamanho foi negativo e significativo (-0,016), indicando que o tamanho
diminui a TRAV, o que significa que aumenta a agressividade tributária.
Assim, diferentemente do previsto, o tamanho da empresa aumenta as práticas de
agressividade tributária das empresas, mesmo com custos sociais, políticos e econômicos
envolvidos. Ressalta se que os resultados para a variável TRAV foram diferentes da variável
BTD, uma possível explicação para este resultado pode estar associada ao fato é que a variável
TRAV é uma métrica brasileira, que mensura a agressividade tributária com base na
Demonstração do Valor Adicionado (DVA).
Após analisar as duas variáveis que determinam a agressividade tributária das
organizações, observou-se que a variável BTD apresentou resultado positivo e significativo
com a variável de habilidade gerencial, implicando que gestores mais habilidosos tem um papel
importante na determinação das práticas de elisão fiscal. Portanto, quanto maior a capacidade,
maior será a elisão fiscal. No entanto, este resultado não está de acordo com as pesquisas
realizada por Park et al. (2016), Huang et al. (2017), Huang e Sun (2017) e Lee e Yoon (2020),
que encontraram a associação negativa entre habilidade gerencial e elisão fiscal. Pois um
gerente de alta habilidade tem mais informações sobre o ambiente de negócios da empresa,
assim podem maximizar a produção por meio da utilização eficiente dos recursos limitados da
empresa (Baik et al., 2013; Demerjian et al., 2013; Park, 2013) sem estratégias agressivas que
possuem custos reputacionais.
Assim, em termos de contribuições, ao observar a variável BTD, reconhecida e utilizada
internacionalmente, o estudo reforça os achados anteriores, que também utilizaram métricas
semelhantes, indicando que a habilidade gerencial pode aumentar comportamentos fiscais
agressivos nas organizações (Dyreng et al., 2010; Wu et al., 2012; Armstrong et al., 2015;
Koester et al., 2017; Tang et al., 2017; Saragih & Hendrawan, 2021).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo propôs analisar a influência da habilidade gerencial na agressividade
tributária de empresas brasileiras e procura oferecer uma contribuição para a literatura sobre os
determinantes da agressividade fiscal e habilidade gerencial. De acordo com a literatura sobre
teoria da agência, os acionistas desejam mais lucro, assim, estão dispostos a pagar mais aos
gestores para agir de acordo com seus objetivos. O lucro pretendido pode ser obtido evitando
impostos, quanto menos encargos tributários forem pagos, mais participação nos lucros será
obtida pelos acionistas. A existência de capacidade gerencial tem efeito sobre a sobrevivência
da empresa.
Gestores com maior habilidade são capazes de obter e tomar decisões mais relevantes
para a empresa com as informações que são fornecidas. Os resultados do estudo, utilizando a
variável BTD para mensurar a agressividade tributária, mostram que a habilidade gerencial
influencia positivamente a agressividade das organizações. Assim, pode-se argumentar que os
gestores mais habilidosos podem aumentar as práticas de elisão fiscal das organizações,
confirmando a Hipótese H1, de que a habilidade gerencial influencia a agressividade tributária.
Os gerentes têm um papel importante e estratégico na tomada de decisões da organização,
dentre eles, as decisões sobre as práticas fiscais. E nesta amostra, pode-se perceber que diferente
de muitos pesquisadores, a habilidade gerencial aumenta a agressividade tributária das
organizações, da mesma forma que o ROA está positivamente e significantemente associado a
agressividade tributária. Assim, empresas com um melhor desempenho estão envolvidas em
planejamentos tributários mais agressivos.
Outro resultado encontrado pelo estudo é que empresas mais endividadas são mais
agressivas. Ainda, os resultados do estudo demonstram que o tamanho da empresa tem uma
influência negativa e significativa sobre a agressividade tributária. Quanto maior o tamanho da
empresa, menos a empresa se envolve em elisão fiscal. Assim, pode-se argumentar que os
custos sociais, políticos e econômicos envolvidos nas práticas tributárias agressivas
influenciam as decisões das organizações, e quanto maior a empresa, maior seus custos, o que
pode influenciar a tomada de decisão em relação aos impostos. Autores ainda argumentam que
quanto maior o tamanho da empresa, maior será a habilidade que o gestor possui, bem como a
remuneração que lhe é dada (Gabaix & Landier, 2008).
Entretanto, ao observar os resultados da regressão que utiliza a variável TRAV como
métrica de agressividade, os resultados são opostos, a habilidade gerencial diminui a
agressividade tributária e o tamanho aumenta a agressividade. Um possível motivo para
habilidade diminuir a agressividade é que gestor podem escolher por decisões menos agressivas
devido ao impacto negativo que isso poderia causar em sua reputação caso fossem descobertos.
Gestores habilidosos que estão inseridos em grandes empresas sabem que elas sofrerão grandes
consequências se forem agressivas em relação aos impostos, com pagamento de altas multas,
perda de confiança dos investidores e até falência. Assim, quando as empresas estão
enfrentando incertezas ambientais, estes gestores tomarão decisões menos agressivas em
relação aos impostos, escolhendo outras estratégias para diminuírem os custos da organização.
Nesta pesquisa, indica-se como resultado final o observado pela variável BTD, visto a
abrangência internacional, o que pode corroborar com os estudos anteriores, que também
utilizaram métrica semelhante. Destaca-se então, que quanto maior a habilidade gerencial do
gestor maior seria o nível de agressividade tributária adotada pela empresa, por ser considerada
como técnica auxiliar para alavancar os negócios das empresas, melhorar o desempenho, sem,
entretanto, infringir leis, uma vez que a agressividade tributária é uma técnica de elisão fiscal.
Assim, o estudo ao demonstrar associação significativa entre os fenômenos e sinal positivo,
pela apresentação de evidências de empresas brasileiras, e que apresentam alta carga tributária,
contribui com a literatura nacional e internacional, corroborando com os estudos desta linha,
que indicam que gestores com habilidade gerencial adotam maiores níveis de técnicas para
agressividade tributária. Infere-se que em cenário de alta carga tributária, as empresas possuem
gestores habilidosos para adotar técnicas de elisão fiscal, como a agressividade tributária.
Apesar do rigor científico e dos cuidados metodológicos, a pesquisa apresenta
limitações. Em primeiro lugar, uma das destas limitações refere-se à métrica utilizada para
mensurar a habilidade gerencial, utilizou-se a metodologia desenvolvida por Demerjian et al.
(2012) já validado e adotado por outros estudos posteriores, entretanto, existem outras métricas
apontadas na literatura que poderiam ser utilizadas em pesquisas futuras. Outra limitação da
pesquisa se refere as métricas BTD e TRAV, utilizadas para mensurar a agressividade tributária,
visto que apresentaram resultados diferentes, estudos futuros podem replicar a pesquisa com
estas variáveis e acrescentar novas, como a ETR, para confirmar e comparar os resultados deste
estudo. Ainda pode-se destacar como limitação a utilização de dados no período da pandemia,
que podem ter influenciado os resultados pela variação que as empresas sofrerem neste período.
Recomenda-se, ainda, ampliar o número de empresas pesquisadas e utilizar outros
períodos de tempo, a fim de identificar tendências acerca da agressividade tributária das
organizações, bem como da habilidade gerencial. Ademais, seria interessante investigar a
influência da habilidade gerencial em outras variáveis como desempenho empresarial, ciclo de
vida, assimetria de custos, impacto dos contextos institucionais e afins.
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