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Rio de Janeiro
2017
Pedro Emmanuel Zisels Machado Ramos
Rio de Janeiro
2017
CIP - Catalogação na Publicação
mulher incansável,
Resumo
Abstract
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem sua origem remota em um projeto de iniciação científica cujo
objetivo essencial era o estudo sistemático dos princípios da Grundgestalt e da variação
progressiva (concebidos por Arnold Schoenberg), sob as perspectivas analítica e
composicional. Para Schoenberg (1975), a Grundgestalt (traduzido por “forma básica”)
representava uma idéia.1
O que quer que aconteça em uma peça musical não passa de uma remodelação
infinita de uma forma básica [Grundgestalt]. Ou, em outras palavras, não há nada
em uma música, que não venha do tema, brote dele e possa ser rastreado até ele;
para colocar de maneira mais estrita, nada além do próprio tema. Ou, todas as
formas que aparecem em uma peça de música estão previstas no “tema”. 2(ibid., p.
290)
Ou seja, a acepção mais aproximada talvez seja a de um motivo simbólico, algo como uma
semente ideal, a partir da qual o compositor ramifica todo o restante das ideias que deseja
comunicar em uma obra.
A variação progressiva é um conceito que descreve uma técnica composicional
largamente utilizada pelos compositores austro-germânicos de música de concerto dos séculos
XIX e XX, e trata da transformação progressiva, ou seja, ao longo do tempo, de uma dada
ideia musical. O termo variação sugere, também, uma modificação tal que ainda guarde
características da ideia musical de partida. Este conceito, quando transportado para o universo
do choro, possibilita novas leituras e investigações sobre os procedimentos composicionais e a
prática interpretativa do gênero, que apresenta enorme parentesco com o conceito de variação,
já que é parte do idioma chorístico a variação das melodias nos respectivos ritornelos.
O projeto acima mencionado foi iniciado com a elaboração de um modelo analítico
voltado para o exame de obras compostas a partir de tais princípios, ou seja, que apresentam
construção orgânica, por crescimento gradual a partir de um núcleo básico de material (a
Grundgestalt), obtido por intermédio de processos derivativos (variação progressiva).
Os elementos conceituais, terminológicos e recursos gráficos elaborados para esse
modelo analítico serviram de base para uma nova abordagem, em sentido inverso: a
1 Schoenberg, em seus escritos, não definiu precisamente e de maneira técnica o que seria uma grundgestalt,
nem demonstrou exemplos na literatura musical. O conhecimento do conceito, hoje, se dá mais
objetivamente através de estudos elaborados por alunos de Schoenberg. Ver, por exemplo, RUFER (1954,
pgs.v-iv).
2 Whatever happens in a piece of music is nothing but the endless reshaping of a basic shape.’Or, in other
words, there is nothing in a piece of music but what comes from the theme, springs from it, and can be traced
back to it; to put it still more severely, nothing but the theme itself. Or, all the shapes appearing in a piece of
music are foreseen in the ‘theme’.
10
Objetivo
Objetivos específicos
Metodologia
5 A formalização propriamente dita acontece na etapa onde se propõe uma teoria de analise dos contracantos
(cap. 2, tópico 2.2).
12
Metodologia específica
Para a descrição do domínio rítmico nos apoiamos em David Temperley (2001), que
propõe um formalismo derivado do famoso trabalho proposto por Lerdahl e Jackendoff
(1983). Temperley aborda questões estruturais da música a partir de teorias da cognição
musical. Utiliza a modelagem computacional dessas estruturas para esquematizar seus
funcionamentos psicoacústicos.
Nesta pesquisa executamos uma adaptação de um conceito elaborado por Temperley
(ibid., p.28) para a descrição de estruturas rítmicas, o inter-onset interval. Essa descrição
serve aos propósitos de sistematização na medida em que possibilita a investigação de
estruturas rítmicas como tipos autônomos, fortalecendo o principal viés analítico do presente
trabalho, qual seja, o seccionamento dos elementos estruturais em partes menores.
O contorno foi tratado de maneira análoga ao ritmo e, dessa maneira, procuramos
desenvolver uma interpretação genérica dos movimentos melódicos. Uma abordagem foi de
especial valia para nossa proposta: a descrição do contorno em gestos. O trabalho de Jay
Dowling (1978) baseado em canções folclóricas e a consequente percepção das topografias
melódicas forneceu um formalismo instigante que será abordado na proposta teórica (tópico
2.2).
Estrutura da dissertação
O Capítulo 2 organiza toda a etapa analítica. Começa por esclarecer os critérios formais
adotados para a etapa de seleção dos contracantos. Depois estrutura a proposta teórica de
abordagem dos domínios enfocados no trabalho, esmiuçando suas particularidades e
formalizando suas descrições. Finaliza com o relato sobre o processo analítico, detalhando o
funcionamento das ferramentas computacionais construídas para o auxiliar a investigação.
1 REVISÃO DE CONCEITOS
1.1 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Figura 1: Exemplo de abordagem hierárquica: esquema gráfico simplificado representando os aspectos rítmico e
harmônico [níveis 1, 2 e 3] e melódico [nível 4] do modelo de choro pixinguiniano em seus cinco níveis de
formação (ZISELS; AVELLAR; ALMADA, 2014, p.5).
10 Formalmente “Uma Cadeia de Markov é um tipo especial de processo estocástico que possui a chamada
propriedade markoviana. Um processo estocástico tem a propriedade markoviana se os estados anteriores do
processo são irrelevantes para a predição dos próximos estados, desde que o estado atual seja conhecido.[…]
[ou seja] Onde as distribuições de probabilidade para o passos futuros do processo dependem somente do
estado presente, desconsiderando como o processo chegou a tal estado. Se o espaço de estados é discreto
(enumerável), então o modelo de Markov é denominado Cadeia de Markov.” (SILVA; JÚNIOR, 2011, p.1-2,
grifo nosso). Colocando de maneira prática, “Uma Cadeia de Markov modela o comportamento de uma
sequência de eventos que podem assumir estados. Mudanças de estados são chamadas de transições. Cada
transição ocorre de forma não-determinística, ou seja, existe uma probabilidade associada à transição entre
estados. (MEDEIROS; SANTOS; PITOMBEIRA, 2011, p.1880)
17
Naturalmente, então, surge a questão de a transição entre diferentes categorias poder ou não
ser caracterizada por probabilidades. Em particular, um modelo bem-sucedido pode estar apto
a reproduzir formalmente a expectativa de “o que acontece depois” de um ouvinte,
fornecendo probabilidades condicionadas e apropriadas para cada situação. As cadeias de
Markov são simples modelos em tempo discreto, definidos pelo condicionamento apenas no
passado imediato. A figura 2 exemplifica esse modelo com uma matriz de probabilidades
hipotética. Uma sequência de classes de altura é disposta na primeira linha e repetida na
primeira coluna. Todos os encontros dessas classes estão preenchidos com informações de
probabilidades. Isso quer dizer que as classes em questão apresentam probabilidades
diferentes em relação à seus possíveis movimentos em direção a outra classe, ou seja, a
probabilidade que um elemento x tem de se mover para o elemento y ou estacionar nele
mesmo (x). Assim, no caso de nosso exemplo, a probabilidade de a classe G se seguir a classe
A é de 0.9 (90%). Dessa forma pudemos, para o nosso trabalho, a partir de um mapa de
ocorrências para cada tempo nos choros analisados, estabelecer uma ordem de conexão – daí
o termo cadeia – entre os eventos musicais.
análise de maneira adjunta, sempre servindo à geração de informações que pudessem ser
avaliadas, inclusive, de modo subjetivo.
11 Uma palavra (em latim) para contraponto improvisado – especialmente para melodias floridas – adicionado a
um cantus prius factus, usado na Alemanha de 1500 até meados do século XVII. (BROWN, 1990)
12 De fato este crédito deve existir, claro, e nós também estaríamos seguros deste uso não fosse a profusão de
designações diferentes (ex: contraponto; contraponto popular; contraponto brasileiro; contracanto).
20
Contracanto, por outro lado, é um conceito que parece não ter dono. É muito difícil
achar quem foi (ou quem foram) os responsáveis pela criação e teorização do termo. Talvez
por isso seja um nome carente de unanimidade em relação a seu sentido. Encontramos
algumas definições e, honestamente, pouco elucidativas. Raphael Coelho Machado em seu
“Diccionário Musical” (1855, p.57) emprega contra canto (separado) para traduzir epodo, que
seria a terceira parte da ode grega, composta de estrofe, antístrofe e epodo. Encontramos ainda
a acepção da palavra contracanto como substituição do termo paródia, na literatura. Seria
difícil inferir que a palavra contracanto em uso no meio musical teria sua origem nessas
acepções. Dos significados originais citados acima temos a provável incorporação do sentido
figurado de contestação (uma idéia contrária à ode, par-ode). Vemos esse uso no vocabulário
italiano, que também incorpora o termo para o meio musical. Em italiano, controcanto tem a
definição de “motivo melódico secundário que se sobrepõe ou submete ao motivo melódico
principal”, segundo pesquisa online no Grande Dizionario Hoepli. Esta definição está
alinhada com a da palavra countermelody, em inglês. No Dicionário de termos e expressões
da música, Henrique Autran Dourado (2004, p.92) define contracanto como “melodia
secundária que dialoga com a primeira voz”, uma definição muito vaga, já que a referência ao
vocábulo diálogo precisaria, também, de uma explicação mais precisa.
Concluímos que a definição de contracanto é abrangente se comparada a de
contraponto. Desse modo todo contraponto seria uma espécie de contracanto, mas nem todo
contracanto resulta do sistema de regras definido pela arte do contraponto. Segundo esta
lógica poderíamos chamar os contrapontos de Palestrina de contracantos, mas não deveríamos
chamar as contramelodias ou contracantos de Pixinguinha de contrapontos.
Independentemente desta ou daquela escolha terminológica, atentamos para o que esta
dificuldade de intitulação pode revelar. O embaraço em nomear as referidas melodias
secundárias destaca a singularidade delas. Ressalta a importância em tratá-las como
particulares.
A criação de uma obra musical, ou a forma final de uma obra musical, enquanto está
sendo realizada. Pode envolver a composição imediata pelos performers, ou a
elaboração ou ajuste de uma estrutura existente, ou qualquer coisa intermediária [a
estes processos]. Até certo ponto, toda performance envolve elementos de
improvisação, embora seu grau varie de acordo com o período e o local e, em certa
medida, toda improvisação se baseia em uma série de convenções ou regras
implícitas. […] Devido à sua própria natureza – em que a improvisação é
essencialmente evanescente – ela é um dos assuntos menos passíveis de pesquisa
histórica.14 (NETTL, 1980, p. 96)
14 The creation of a musical work, or the final form of a musical work, as it is being performed. It may involve
the work's immediate composition by its performers, or the elaboration or adjustment of an existing
framework, or anything in between. To some extent every performance involves elements of improvisation,
although its degree varies according to period and place, and to some extent every improvisation rests on a
series of conventions or implicit rules. By its very nature – in that improvisation is essentially evanescent – it
is one of the subjects least amenable to historical research.
15 […] must be faschioned into an organized totality as far as in necessary to remain comprehensible and
interesting.
16 Ver, por exemplo, GEUS (2009, p.50 ) e VALENTE (2014, p.71 )
22
Está claro que o termo improvisação, quando utilizado no meio musical, tem
conotações diferentes em relação à cultura que o emprega. Aqui neste trabalho nos interessa a
acepção pela música de tradição européia e sua posterior incorporação pela cultura
panamericana. Faremos uma breve explanação histórica da prática improvisatória na cultura
européia para podermos construir um raciocínio lógico em relação aos significados de
improvisação e variação, e suas possíveis relações com a prática composicional de
Pixinguinha nos contracantos.
A evidência mais confiável de uma prática improvisatória na Idade Média está
representada pela criação espontânea do Jubilus, parte da liturgia cristã primitiva onde as
últimas sílabas de certas aleluias eram incrementadas com melismas, uma espécie
característica de entonação na qual a sílaba em questão era alongada com cinco ou mais notas.
(HORSLEY et. al., 1980) A partir do século IX passaram a surgir manuais de instrução para a
criação de vozes adicionais tendo como referência uma melodia pré-existente (vox
principalis) de um cântico. A esta voz criada para soar junto dava-se o nome vox organalis.
Era o começo da teoria da polifonia. Todavia Imogene Horseley (id., 1980) lembra que a
relação destes manuais com a prática improvisada não pode ser bem definida. O que pode ser
constatado, segundo Horseley, é que nos organa em partituras de manuscritos do século XII,
encontrados em Limoges e Santiago de Compostela, há indícios de que representem
transcrições de improvisos; além do fato de ser improvável que, à época, existisse a prática de
compor previamente através da escrita.
Depois do estabelecimento de uma escrita musical mais precisa, no século XIV, a
composição passou a ganhar autonomia e a depender cada vez menos da criação e elaboração
dos materiais melódicos por parte dos intérpretes. Com os primeiros tratados de contraponto a
distinção entre composição e improvisação começou a ser definida. Prosdocimus de
Beldemandis (1370- 1428) (apud HORSELEY et al., 1980) menciona a existência de dois
tipos de contraponto: cantado (improvisado) e escrito. E Johannes Tinctoris (1435- 1511)
(apud HORSELEY et al., 1980) em Liber de arte contrapuncti expõe as diferenças entre os
dois: enquanto o contraponto improvisado dava brechas à dissonâncias indesejáveis e ainda
teria a característica de mau acabamento – em termos construtivos –, o contraponto escrito
traria à peça um caráter distintivo, já que teria controle tanto da fluência rítmica quanto das
23
pontuações cadenciais. Esse pensamento de Tinctoris ilustra bem a gênese de uma mudança
de paradigma na Música, onde o controle composicional do autor, ou seja, a pré-composição,
se sobreporia à liberdade criativa disponível ao performer. Até a arte improvisada passaria a
ser sistematizada em manuais de instruções, como o Introdutione facilissima (1989 [1553]) de
Vicente Lusitano (1520- 1561), que apresentava padrões melódicos para serem encaixados em
notas longas de cantochões.
A ornamentação melódica era outra forma de improvisação corrente no século XVI.
Tratava-se de um preenchimento de notas longas, em melodias pré-compostas, por figuras
mais curtas. Por isso era também chamada de diminuição, segundo Horseley.
A habilidade nas diminuições pertencia ao intérprete e não ao compositor, e exigia
pouco conhecimento teórico, já que o artista precisava apenas encaixar padrões
floridos nas notas mais longas de uma peça já composta. […] Havia listas dos
inúmeros padrões melódicos que se encaixavam em cada intervalo melódico e
comprimento de nota comumente encontrados na música de então, e esses padrões
podiam ser transferidos diretamente para a linha melódica que o solista queria
enfeitar.(ibid., 1980, online)
A figura 3 ilustra essa forma de encaixe de padrões melódicos. A primeira linha representa a
melodia pré-composta e as linhas a), b) e c) correspondem às versões embelezadas. Essa
forma de improviso nos remete vagamente ao universo do choro, onde uma melodia fixa serve
de estrutura para a criação de ornamentações melódicas características.
Figura 3 – exemplo de ornamentação melódica característica do séc. XVI (HORSELEY et al., 1980, online)
ofertas de ornamentação para as repetições, revela uma preocupação por parte de editores e
compositores em desencorajar a prática livre e autônoma dessas improvisações por parte de
intérpretes. E que essa precaução, justamente, serve de respaldo para a dedução de ter sido, a
repetição variada, uma prática ampla e corrente. C.P.E.Bach (1714- 1788) no prefácio de
Sechs Sonaten für Clavier mit veränderten Reprisen (1785) deixa claro a idéia acima:
A variação em uma repetição é indispensável hoje. É esperado de todos os artistas. O
público exige que praticamente todas as idéias sejam repetidamente alteradas, às
vezes sem investigar se a estrutura da peça ou a habilidade do artista permite tal
alteração. É este embelezamento que, sozinho, – especialmente se é acoplado com
uma cadência longa e às vezes bizarramente ornamentada – muitas vezes extrai os
bravos da maioria dos ouvintes. Quão lamentáveis são estes adornos mal utilizados.
Já não há paciência para se tocar as notas que foram estabelecidas [pelo
compositor]; [ademais] a ausência muito longa de bravos é insuportável. Muitas
vezes, essas variações intempestivas, contrárias à configuração [musical], contrárias
ao caráter, e contrárias à relação entre as idéias [musicais], são uma questão
desagradável para muitos compositores. Considerando-se, no entanto, que um artista
tenha todas as qualidades necessárias para variar uma peça da maneira correta: ele
estará sempre pronto para fazer isso?; não há novas dificuldades levantadas em
peças que ele desconheça? Todavia, mesmo com essas dificuldades e com esses usos
indevidos, boas variações sempre terão seu valor. Ao escrever essas sonatas, eu tinha
em mente, principalmente, iniciantes e amadores que não dispõem de tempo e
paciência suficientes para praticar. Eu queria dar-lhes a satisfação de serem ouvidos
tocando variações sem ter que inventá-las eles mesmos. (BACH, C.P.E. apud
HORSELEY et al, 1980, online)
Figura 4 – variações compostas por C.P.E. Bach como alternativa à improvisação “indevida”. (apud HORSELEY
et al., 1980, online)
Mas nossa questão principal é técnica, e por isso cabe a discussão terminológica. A
intenção é confrontar as acepções de improvisação e variação para melhor avaliarmos o
procedimento composicional dos contracantos. Vimos que, assim como na relação
contraponto/contracanto, a palavra improvisação é abrangente e pouco definitiva quando
comparada ao termo variação. Melhor, vimos que variação é uma das muitas maneiras
observadas do estabelecimento de uma improvisação. Somado a isto está possivelmente o fato
mais urgente nesta discussão: o relacionamento do termo improvisação com o jazz. No Grove
o verbete improvisação é dividido em três grandes partes, a saber: 1) Conceitos e práticas; 2)
26
Música de arte (ou de concerto, ou clássica) ocidental; 3) Jazz. Ou seja, com o passar do
tempo o termo improvisação foi ganhando terreno em outras searas culturais a ponto de, no
jazz, representar nada menos que a prática mais icônica do gênero. Hoje a palavra
improvisação remete invariavelmente ao jazz e seu característico formato chorus, onde um
tema é apresentado ao inicio da música e, em seguida, cada integrante do conjunto improvisa
livremente em cima da mesma progressão harmônica do tema, por tantos ritornelos quantos
queira. Depois de saciada a necessidade individual de expressão – medida a partir do senso
estético da cada um e não, como pode parecer, apoiada em vaidade – do instrumentista em
questão, este, nos compassos finais da progressão, e num olhar acertivo ou com uma frase
conclusiva ao final do chorus, “diz” aos demais que sua atuação terminou. A partir desta
“deixa” a rodada de improvisação segue ao próximo da fila até que todos tenham deixado sua
expressão individual. Para finalizar a música o tema é tocado novamente. Ou seja, o tempo
dedicado à parte improvisada, via de regra, é bem maior que o tempo ocupado pela parte
temática.
Com base nessa prática cultural a técnica da improvisação passou a ser símbolo do
jazz, um traço indissociável do gênero. Nesse sentido tomamos como automático a analogia
da palavra improvisação, não só ao jazz, mas a esta aplicação técnica da liberdade criativa do
intérprete em detrimento de uma relação com os materiais musicais estabelecidos pelo tema.
No jazz, ao contrário do choro, não existe uma preocupação em se ater ao que foi composto
previamente, como a lógica de variações ao tema, onde seria possível identificar o parentesco
entre o improviso e o material primordial. Nas melodias de choro 17 a prática da criação livre
de solos improvisados não é idiomática. O que se percebe é a aplicação de uma variação
melódica, um improviso mais aos moldes da variação no período Barroco, onde a
preocupação com a afinidade entre variação e melodia pré-composta se faz presente
constantemente. No choro, a diversão entre os chorões reside, justamente, no grau de conexão
dos “comentários” ornamentais feitos na hora pelo solista. Os intérpretes de fato riem com
essa prática. Ao mesmo tempo se um solista cria uma melodia muito afastada da melodia
principal e, principalmente, sem as características estilísticas do gênero, imediatamente se
instaura um clima desanimador na roda do conjunto. Mário de Andrade (s/d) já havia
comentado sobre essa prática e a necessidade de reflexão sobre suas peculiaridades na música
brasileira:
17 Neste trabalho estamos sempre tratando do choro praticado na primeira metade do séc. XX. Em um artigo
muito interessante, Almir Côrtes (2012) fala sobre a prática do “formato chorus” no choro da atualidade.
Nesse caso é o choro sofrendo influências da característica improvisatória do jazz.
27
1.3.1 FORMA
fixas que “dominou a canção e poesia francesas entre os séculos XIV e XV” (WILKINS,
1980, online) Sua estrutura difere da, posterior, forma rondó na música de concerto.
Schoenberg (1975, p. 264-265) comenta sobre o caráter superficial e especulativo da intenção
em relacionar a origem do termo rondó com a forma medieval do rondeau. Ainda assim a
conexão parece bem plausível. A característica do rondeau é, como o nome diz, criar uma
estrutura cíclica, em roda, tendo a idéia principal sempre disposta de maneira intercalada aos
demais versos. No rondó essa identidade circular é a marca principal de sua estrutura. Todavia
essa relação de parentesco de fato não pode se dar de maneira segura e inequívoca.
No século XVII o termo rondeau foi utilizado para designar formas de músicas de
salão e ficou muito popular na França. Essa popularidade fez com que migrasse para a
Inglaterra, Alemanha, Itália, até o ponto de ter se estabelecido completamente na Música
europeia em meados do século XVIII. O rondó, como passaria a ser chamado, sofreu
inúmeras adaptações formais, à guisa de variedade estilística, e se amoldou em diversos meios
artísticos: balé, ópera, música de concerto, danças de salão.
No Brasil o rondó chegou através dessas danças que ganharam muito prestígio nos
salões aristocráticos cariocas. Entre elas estão a polca; valsa; schottische (que passaria por
corruptela para xótis); mazurca; quadrilha. Almada (2006, p. 9) fala da rápida incorporação da
polca pelos conjuntos de choro além das “irresistíveis interpretações”, uma clara menção ao
sotaque que viria a se tornar a particularidade inovadora dos regionais18 de choro.
A forma rondó é definida por uma maneira bem característica de organização das
partes que constituem uma peça musical. Nela a parte A, a principal seção, é intercalada por
partes intermediárias. Assim a disposição assume a seguinte lógica: A → B → A → C → A
→ D → A → … Esse eterno retorno ao tema principal, representado pela parte A, o identifica
também com o que se pode chamar de refrão.
No choro a aplicação da lógica acima se dá até a terceira parte (C). Somado a isto está
o fato de comumente toda a primeira apresentação de uma parte ser repetida com o sinal de
ritornelo. Então no contexto do choro poderíamos representar a forma rondó de maneira mais
específica, tipificada da seguinte forma: A :||: B :|| A ||: C :|| A || . Esta é a configuração
mais comum, no entanto não é difícil observar variações no que tange a repetição de cada
parte, podendo a peça aparecer na forma AA-B-A-CC-A; A-BB-A-CC-A; … e assim
sucessivamente, quantas forem as maneiras de arranjar as partes segundo a lógica de retorno
ao tema principal, sempre intercalada às partes intermediárias. Como curiosidade
apresentamos na figura 5 a relação estatística das configurações formais de combinatoriedade
18 Como são conhecidos os conjuntos de chorões.
29
de partes que foram aplicadas em 29 choros tocados pela dupla Pixinguinha & Lacerda. Essas
peças diferem das que serviram para as análises principais deste trabalho. Fizeram parte de
uma primeira triagem em relação aos critérios formais estabelecidos para a seleção dos choros
(esse ponto será melhor discutido no capítulo 2, tópico 2.3).
Ao analisarmos os resultados para as configurações formais, ou seja, a distribuição de
suas partes, notamos de pronto a superioridade da ocorrência de (1) AABBACCA. 48% dos
choros apresentaram este molde. As estatísticas seguem com 17% em (2) ABBACCA; 14%
em (3) AABBACCAA; 10% em (4) ABACCA; 7% em (5) AABACCA; 4% em (6)
ABBACA. A segunda característica a nos surpreender é a quase inexistência de partes C sem
ritornelo (apenas o choro Mariana de Irineu de Almeida apresentou essa rara característica).
Este fato está certamente conectado com a função contrastante da harmonia de C (este ponto
será detalhado no tópico a seguir: Harmonia). Podemos inferir que, nesse caso, seria o modelo
formal ancorando a função contrastante da terceira parte. Uma terceira ocorrência, ainda,
aguça nosso interesse, qual seja, a parte A sem repetição quando entremeando B e C. Essa
importante invariância parece informar que o papel do retorno à parte A tem dupla função:
equilíbrio formal-harmônico, reiterar o tema e a tonalidade principais; preparação climática,
fornecer condições para o poder de contraste de C. Sobre a não-repetição concluímos que a
parte A já dispõe de privilégios sobre as demais (ela aparece de 3 a 5 vezes em um choro),
repetí-la poderia incorrer em desequilíbrio formal.
30
1.3.2 HARMONIA
19 A pesquisa a que nos referimos gerou importantes resultados que estão representados por alguns artigos
publicados em anais de congressos nacionais e internacionais. As figuras 6; 7 e 8; foram construídas a partir
de uma série de análises de elementos estruturais de 26 choros de Pixinguinha, mas não estão publicadas em
nenhum dos artigos produzidos. Estamos levando em consideração essas informações sobre os choros de
Pixinguinha para fazer correspondências em relação à estrutura do choro enquanto gênero, ou seja, um
arquétipo da prática de Pixinguinha como representação do perfil de uma estrutura de choro.
31
Figura 7 - Frequência de ocorrência das configurações tonais em modo maior20: (1) T-sm-SD; (2) T-D-SD; (3)
T-T-SD.
Figura 8 - Frequência de ocorrência das configurações tonais em modo menor : (1) t-M-T; (2) t-M-SM.
20 Adotamos as siglas propostas por Schoenberg no livro Funções estruturais da harmonia (2004), onde é feita
uma explanação sobre o conceito de regiões tonais, servindo de adendo ao conceito de monotonalidade
abordado no livro Harmonia (id., 2001) . Schoenberg entende que as, comumente chamadas, modulações, na
verdade não passam de digressões harmônicas para regiões satélites à tonalidade principal. Nesse
entendimento essas passagens não estão senão confirmando a tonalidade principal. Daí o termo
monotonalidade, uma vez que não se abandona propriamente uma tonalidade (em uma conclusão
generalizante). (id., 2004, p. 37)
33
É interessante notar que o índice dos acordes V/II, V/V e V/VI se equipara ao
indicador da frequência do acorde II. As dominantes secundárias imprimem a sensação de
impulso posto que suas ocorrências pressupõem uma antecipação de acordes-alvo. Essa
impressão constitui uma identidade marcante do gênero.
Já em modo menor, embora teoricamente a configuração das diferentes escalas –
menor natural, melódica e harmônica – gere maior número de tipos de acordes, não
observamos a mesma variedade verificada em modo maior. Observamos (figura 10), por
exemplo, a marca de um emprego concentrado nos acordes tonais Im, V e IVm. Uma
aparência, por assim dizer, mais estática quando confrontada com a estrutura de acordes em
modo maior.
Não esmiuçaremos as configurações das progressões harmônicas de cada frase 21. Para
o presente trabalho cabe dizer que as frases estão dispostas em pares intercalados exercendo
função de proposta e resposta.
• A frase 1 propõe o tema estabelecendo a tonalidade;
• a frase 2 responde com variação do material harmônico (no primeiro segmento) e
movimento cadencial suspensivo apoiado na dominante, ou cadência à dominante (no
segundo segmento);
• a frase 3 difere na proposta para cada modo: caracteriza-se tanto pela variação da
harmonia através da polarização do acorde de VI (V/VI→VI), em modo maior, quanto
pelo reforço harmônico da mesma configuração proposta pela frase 1, em modo
menor;
• a frase 4 responde, no primeiro segmento, com contraste, através dos acordes de IV
grau em modo maior e IVm em modo menor. O segundo segmento reitera a tonalidade
e conclui por meio da progressão V→I, agora em caráter de desfecho.
A figura 11 esquematiza essa idéia.
Figura 11 - Esquema arquetípico dos pontos de maior importância na harmonia de uma parte de choro.
1.3.3 RITMO
21 Sobre este assunto duas referências podem ser muito elucidativas: ALMADA, 2006 e ZISELS, 2016.
36
cada estilo correlato ao universo do choro (modinha, lundu, valsa, polca, schottisch, tango
brasileiro, maxixe, choro, samba), como também de alguns hibridismos (samba-choro, choro
sambado, choro de gafieira). Para isso utiliza, no geral, a unidade de compasso como divisão
mínima na representação dos padrões. Listamos na figura 12 alguns protótipos dessa
abordagem.
Uma abordagem ligeiramente distinta foi proposta por Almada (2006; 2013c), onde a
unidade mínima de descrição rítmica é um (1) tempo de compasso. Almada estabelece letras
para representarem cada fórmula rítmica de uma unidade de tempo. O autor propõe a
combinatoriedade de tais letras para a formação de padrões. A figura 13 estabelece as
recorrências dessas letras em 26 choros de Pixinguinha.
Figura 13 - Frequência das letras rítmicas em 26 choros de Pixinguinha (in: ALMADA, 2013c, p.135)
37
A base reflexiva que fundamenta a elaboração de nossa teoria analítica do ritmo tem
viés cognitivo. Assim, estamos falando de teorias que basearam-se em inferências sobre a
percepção musical de forma generalizada, como notadamente aquela proposta por Lerdahl e
Jackendoff em Generative Theory of Tonal Music (1983). Este livro foi o marco da influência
da teoria linguística gerativa de Noam Chomsky (1965, 1972, 1975) na musicologia. Lerdahl
e Jackendoff sobre a influência do trabalho de Chomsky:
A teoria linguística gerativa é uma tentativa de caracterizar o que um ser humano
conhece quando sabe falar uma língua, permitindo que ele compreenda e crie um
número indefinido de frases, a maioria das quais nunca tenha ouvido antes. Este
conhecimento não está disponível para a introspecção consciente e, portanto, não
pode ter sido adquirido por instrução direta. A teoria lingüística modela este
conhecimento inconsciente através de um sistema formal de princípios ou regras,
chamado de gramática, que descreve (ou gera [daí gerativo]) as possíveis frases do
idioma.
Como muitas pessoas pensaram em usar a linguística gerativa como modelo para a
teoria da música, vale ressaltar o que consideramos ser o paralelo significativo: a
combinação de preocupações psicológicas e a natureza formal da teoria. O
formalismo por si só é para nós desinteressante, exceto na medida em que serve para
expressar generalizações musicais ou psicologicamente interessantes e para tornar as
questões empíricas mais precisas. Desenvolvemos o nosso formalismo com estes
objetivos em mente, evitando o excesso injustificado de formalismo. (ibid., p. 6,
tradução nossa)
Lerdahl e Jackendoff foram a principal influência para o trabalho The cognition of basic
musical structures (2001) de David Temperley. Nele Temperley modela a percepção musical
de elementos estruturais da música tonal através de regras de preferência, conceito baseado
em princípios da Gestalt (ibid., p.13). Procura explicar como a cognição atua na percepção da
música, por meio de um sistema que gera descrições estruturais a partir das superfícies
musicais. Essa noção de estrutura e superfície tem forte parentesco com a teoria de Chomsky
(2006), que baseia seu formalismo no paradigma de uma estrutura profunda (ibid., p.25), um
arquétipo psicológico inato. No entanto a busca por uma estrutura profunda na música não
começa com a influência de Chomsky, podemos citar sem demora o renomado trabalho de
Henrik Schenker (1977, 1994, 2004), que propõe a abstração de uma Ursatz (geralmente
traduzido como estrutura fundamental), representada por um padrão contrapontístico simples
e curto de duas linhas melódicas. Estabelece um conjunto restrito de padrões melódicos que
configuram a estrutura mais básica de obras musicais germânicas dos séculos XVIII e XIX;.
“Schenker mostra que, embora a música tonal seja ricamente complexa, pode ser entendida
como a elaboração de estruturas simples que se encontram sob a superfície” (PANKHURST,
38
2008, p. 5). Uma maneira de descrever a música em níveis estruturais, do mais superficial ao
mais basal. Nosso intento não é gerar uma comparação das teorias, que divergem
consideravelmente, inclusive em escopo, mas ilustrar a busca por explicações em estruturas.
Temperley (2001) é nossa referência para o desenvolvimento de uma teoria analítica
específica para o ritmo dos contracantos e melodias dos choros analisados. Como foi dito, em
seu trabalho ele aborda questões da teoria musical elementar sob o ponto de vista da cognição,
isto é, sua preocupação, em suma, é a de gerar modelos computacionais desses elementos
tendo como limitações os aspectos da percepção. Isso se dá na medida em que a inteligência
artificial se mostra como a melhor ferramenta disponível para emular o pensamento humano –
ainda que isso não garanta sua eficiência, posto que outros complicadores emergem desse
processo (ibid., p.1-8).
Sob o ponto de vista métrico Temperley principia sua argumentação com a
exemplificação de um experimento tradicional de percepção. Considerando-se a audição de
um movimento Allegro de uma dada sinfonia clássica por um grupo de pessoas (músicos e
não músicos) instruídas a simplesmente baterem palmas junto com a música, é possível
extrair conclusões interessantes. Ao baterem palmas em uma mesma velocidade e em
momentos determinados, o grupo denota uma percepção métrica em comum. Isso ilustra uma
característica estrutural da métrica, que “consiste em uma série de pontos no tempo, ou
batidas, que podem ou não coincidir sempre com eventos na música, embora certamente
estejam relacionados a eventos na música”(ibid., p.23).
A partir da noção de que a métrica cumpre uma função estrutural, um processo
descritivo passa a ser importante, especialmente para a modelagem algorítmica: o da
quantização.
A percepção do ritmo é, em grande medida, categórica: entendemos as notas como
pertencendo a uma categoria rítmica ou outra, em vez de simplesmente percebê-las
como continuamente variando. Este processo de classificação ou “quantização” de
notas também foi demonstrado experimentalmente; quando indivíduos são expostos
a padrões de notas alternadas cujas durações são relacionadas por razões complexas
(como 1,5:1 ou 2,5:1) e instruídos a reproduzirem o que ouviram, estes tendem a
ajustar as durações em relação a razões simples (como 2:1) (TEMPERLEY, 2001, p.
25).
Consequentemente os offsets (ponto em que a nota silencia) são irrelevantes. Essa forma (IOI)
de “explicar” o ritmo de uma melodia acaba por reduzir o número de variantes rítmicas,
justamente o que nos favorece.
No capítulo 2 estabeleceremos nossa apropriação do conceito de IOI para a descrição
do ritmo nos contracantos de Pixinguinha bem como das melodias que ele acompanha.
1.3.4 CONTORNO
Essa maneira de reduzir o contorno à sua topografia genérica abre caminho para
estratégias de agrupamento. As três configurações apresentadas na figura 14 compõem o
mesmo contorno relativo, dada a possibilidade de descrevê-las da mesma forma genérica.
Figura 14 – Forma prima da classe de contorno de três diferentes linhas melódicas (a, b, c) (In: ALMADA,
2013d, p.61)
40
22 Inflexão, aqui, aparece como termo alternativo para designar as, comumente chamadas, notas melódicas,
ornamentais, ou mesmo estranhas ao acorde.
41
padrão das ocorrências de fórmulas de inflexão no choro. Bem próximo está o emprego das
bordaduras descendentes, que no exemplo a seguir (figura 16) apresenta a característica nota
cromática.
Figura 16 - Exemplos das fórmulas de inflexão mais frequentes em 26 choros de Pixinhuinha, em pesquisa de
ALMADA . Notas em vermelho constituem as fórmulas.
23 Tese e artigos de Dowling publicados anteriormente ao utilizado pela presente pesquisa: DOWLING, 1968;
DOWLING; FUJITANI, 1971; DOWLING, 1972; DOWLING; HOLLOMBE, 1977.
42
real, pode ser lembrado independentemente das características intervalares. Isso é verificado
tanto para a memória de curto prazo quanto para a de longo prazo (Dowling,1978, p. 346).
Dentro da premissa de que o contorno ocupa um lugar específico, e isolado, na
percepção e memorização de uma melodia, procuramos, nos contracantos de Pixinguinha,
isolar seu funcionamento composicional. Assim, a descrição pode servir aos propósitos desta
pesquisa, de analisar a possibilidade de encontrar recorrências nas configurações do contorno.
Dowling (1978, p. 351) propõe, no final de seu artigo, a classificação dos movimentos
melódicos em três categorias,24 quais sejam:
a) movimento escalar (1 ou 2 semitons);
b) arpejo (3, 4, ou 5 semitons);
c) salto (maior que 5 semitons).
A essas acrescentamos ainda uma quarta categoria, que para a finalidade descritiva de
Dowling fica em segundo plano (embora ele não deixe de considerar):
d) uníssono.
Essas categorias apresentam uma possibilidade de reduzir o número absoluto de
unidades de contorno a uma quantidade consideravelmente menor sem com isso abolir todas
as informações intervalares, como é o caso das classes de contorno. Com isso os aspectos
intervalares assumem um sentido menos específico e passam a representar o que chamamos
gestos de contorno. A partir da figura 14 podemos dizer que essa maneira de abordar o
contorno melódico se situa em uma região intermediária entre os contornos específico e
relativo. Ao mesmo tempo alguns problemas foram observados com essa abordagem e serão
tratados no capítulo 3, onde se discutirá os resultados obtidos.
A figura 17 apresenta um exemplo esquemático desta abordagem em comparação com
os outros pontos de vista citados.
24 Dowling encontra essa estratégia de classificação para uma demanda específica e localizada de sua pesquisa.
É importante deixar claro que esse assunto ocupa um espaço muito pequeno nesse artigo de 1978, que visa a
discussão de outros conceitos. Coube a nós o interesse e a decisão de focar nessa maneira de classificação e
adotá-la como ponto de vista central para a descrição dos contracantos em questão.
43
Figura 17 – descrição do contorno do contracanto nos dois compassos iniciais de Acerta o passo em três
perspectivas: contorno específico, gestos de contorno e contorno relativo.
44
2 ANÁLISES
composicional. Ainda assim não poderíamos ter certeza de qual execução de cada parte foi
eleita a “melhor” pelos organizadores, se a primeira e, em tese, dona do gene principal, ou se
uma execução já em estado de variação. De toda forma e, mais uma vez, recorrendo às
próprias gravações, as variações criadas por Pixinguinha para os ritornelos são muito sutis e
por vezes imperceptíveis a ouvidos desatentos, o que pode explicar a decisão dos
organizadores em deixá-las de fora, já que aparentam (na maioria das vezes) quase uma
repetição literal.
Em verdade, mesmo com todas as questões técnicas e teóricas essas transcrições são a
melhor opção documentada em partitura dos referidos contracantos. Consideramos que elas
cumprem de maneira satisfatória a representação da identidade composicional de Pixinguinha.
Caso contrário precisaríamos empenhar outra natureza de trabalho: transcrição das peças
citadas.
2.1 CRITÉRIOS
Tabela 1: Total de 19 choros analisados dos quais 14 (74%) são de autoria ou co-autoria de Pixinguinha
2- Aguenta seu Fulgêncio Jacob do Bandolim 12- Os Oito Batutas Pixinguinha e Benedito Lacerda
3- Andre de sapato novo André Victor Correia 13- Proezas de Solon Pixinguinha e Benedito Lacerda
6- Descendo a serra Pixinguinha e Benedito Lacerda 16- Seu Lourenço Pixinguinha e Benedito Lacerda
9- Língua de preto Honorino Lopes 19- Vou vivendo Pixinguinha e Benedito Lacerda
25 Se uma peça em métrica 2/4 e com 3 partes em rondó apresentasse, no mínimo, uma de suas partes fora da
conformidade c), era desqualificada.
47
unidade de tempo, criando, dessa forma, outras janelas temporais como potenciais unidades
autônomas de significado próprio.
Considerando a razão de segmentação pela metade (½), cada frase produzirá dois
segmentos de dois compassos cada, que por sua vez produzirão mais quatro segmentos de um
compasso cada. Analogamente à nomenclatura frase, emprestada da linguística, os demais
termos podem ser denominados seguindo a mesma lógica de raciocínio. Sendo assim a
subdivisão da frase resulta em duas palavras (dois compassos cada); a subdivisão da palavra
constitui duas sílabas (1 compasso) e a subdivisão da sílaba gera duas letras (unidade de
tempo), a menor subdivisão convencionada. A figura 18 apresenta de forma esquemática a
lógica de segmentação métrico-formal de uma frase de choro.27 A arbitrariedade das janelas de
observação se apresenta como boa estratégia decompositiva sob o pretexto de uma
reconstrução algorítmica que siga um modelo igualmente arbitrário. Uma pesquisa afim que
gerou resultados musicais convincentes de corais de J. S. Bach é a de MEDEIROS, SANTOS,
PITOMBEIRA (2011).
27 Observe-se que a letra não corresponde a uma figura rítmica unitária, mas à unidade de tempo. Assim a
segunda letra no primeiro compasso é formada por duas colcheias e, no quarto compasso por quatro
semicolcheias.
49
Ritmo
28 A correspondência entre as classes e seus caracteres específicos será abordada detalhadamente mais a frente.
29 “A classificação de objetos musicais […] trata da determinação de classes de isomorfismo [Isomorfismo é um
conceito genérico que aparece em vários áreas da matemática. Formalmente, um isomorfismo é um
homomorfismo bijetivo. Informalmente, o isomorfismo é um mapa que preserva grupos e relações/operações
entre elementos (WEISSTEIN, 1999, p.933).] em categorias adequadas […]. Do ponto de vista musicológico,
este é um dos mais difíceis capítulos da teoria da música matemática, desde a relação entre classificação e
musicologia…” (MAZZOLA, 2002, p.24, grifo nosso) [“Classification of […] musical objects deals with the
determination of isomorphism classes in adequate categories […]. From the musicological point of view, this
is one of the most dificul chapters of mathematical music theory since the relation between classification and
musicology…”]
50
Figura 19 - Equivalência rítmica: os 4 exemplos para cada classe de letra são considerados equivalentes por
possuírem os mesmos intervalos entre ataques.
Figura 20 - Descrição dos tempos em classes de letras e suas ocorrências percentuais dentro do universo
analisado.
30 A classe de letra w representa uma unidade de tempo vazia, ou seja, sem ataques. A preocupação em
classificar um espaço “vazio” está justificada sob o ponto de vista fraseológico. Nesse sentido, uma frase
rítmica (no contracanto) não estaria completa sem seus ocasionais “respiros” ou silêncios, de maneira que
eles contribuem para uma caracterização composicional.
31 Em outras palavras realizamos uma taxonomia exaustiva dinâmica. Exaustiva pelo caráter da análise total das
amostras selecionadas e dinâmica por englobar um número limitado de peças dentro do universo de choros de
Pixinguinha. Um trabalho que levasse em conta outra amostra poderia resultar em outra configuração lexical.
Agradecemos ao Dr Liduino Pitombeira pelas informações a respeito deste assunto.
52
Figura 21 - Apresentação resumida das classes de letras mais recorrentes nos choros analisados.
Contorno
Para o domínio de contorno, embora a princípio tenha sido idealizada a mesma janela
de segmentação adotada para o ritmo, correspondendo à unidade de tempo (letra), o
desenvolvimento da pesquisa revelou a inviabilidade dessa abordagem. Considerando o fato
de que, no choro, os motivos são, em geral, confinados aos limites dos compassos, uma
discriminação de seus contornos tempo-a-tempo produziria, inevitavelmente, descrições
truncadas. A partir disto experimentamos a segmentação no nível subsequente (das sílabas),
que levou à superação do problema imediato. 32 Portanto estabelecemos que a menor medida
de segmentação para este domínio seria a janela da sílaba (1 compasso).
Formalmente, e de maneira análoga ao que foi feito no caso rítmico, a classe de sílaba
passa a ser a unidade mínima de descrição do contorno melódico para os contracantos. Para
descrever as topografias a partir do método de Dowling (1978) criamos uma forma de leitura
a partir dos semitons que constituíam os intervalos e adicionamos a informação da direção,
símbolo “+” para ascendente e “–” para descendente. Com isso, e apenas em um primeiro
momento, a descrição do contorno foi estipulada de maneira absoluta. Posteriormente tais
intervalos foram generalizados à maneira de Dowling, como esclarecido pela tabela 2.
32 Na verdade o problema foi apenas amenizado, pois as transições entre sílabas de contorno (i.e. nas mudanças
de compassos) não são cobertas no processo analítico. Essa limitação será retomada com mais detalhes ao
longo deste trabalho.
53
33 Neste trabalho não apresentamos todas as representações gráficas de classes de sílabas, apenas as
consideradas mais relevantes, quais sejam, as 26 mais recorrentes. Isso ocorre por conta da baixa frequência
estatística na maioria das classes observadas. A preferência pelas mais significativas está justificada pelo
caráter de sistematização do trabalho.Todavia o acesso ao total de classes listadas pode ser acessado em uma
pasta pública no link goo.gl/z4i1Rf . Nesta pasta estão contidas todas as descrições gráficas das classes de
sílabas e classes verticais (assuntos que ainda serão abordados).
54
Figura 22- Excertos ilustrando a aplicação da teoria a partir das cinco classes de sílabas mais utilizadas. Embaixo
de cada designação de classe está a representação gestual dos contornos.
Relações verticais
A classificação das classes a duas vozes no domínio rítmico é feita da mesma maneira
que a empenhada no léxico das classes de sílabas para o contorno melódico. Como os tipos
são numerosos, a ponto de extrapolarem a oferta de caracteres alfabéticos diferentes para a
identificação de cada um, escolhemos lançar mão do abecedário em módulo 26 e com a
contagem das repetições de cada ciclo (ou seja, através do recurso de classificação já
utilizado: A00, B00…Z00, A01, B01…)
A janela temporal mínima de referência para a descrição dessas classes verticais segue
a lógica de atuação das classes de letras. Assim como na especificação lexical para o ritmo de
uma única voz, usamos a unidade de tempo como base de segmentação para a abordagem
descritiva das duas vozes combinadas. Chamaremos essa categoria de classe verticais.
Para entendermos melhor como as classes de letras se coadunam para formar as
classes verticais, criamos o esquema representado pela figura 23.
Figura 23 - Esquema de formação das classes verticais a partir da junção perpendicular de classes de letras das
melodia e contracanto.
56
O que aqui relataremos de maneira organizada não se deu, como poderá parecer,
cronologicamente segundo a ordem estabelecida. O processo analítico ocorreu
simultaneamente à elaboração do que designamos proposta teórica. Na verdade o
procedimento de solidificar essa base teórica nutriu-se de eventos, acertados ou não, do fazer
analítico. As análises certamente serviram ao propósito mais imediato de coleta de dados
estruturais. Mas a função menos evidente, e talvez mais importante, foi a de esclarecer melhor
a eficácia de vieses traçados ao longo da pesquisa, ou seja, as escolhas metodológicas, fator
determinante para a eficiência de um trabalho de pesquisa.
Neste tópico elaboraremos, em forma de relato, como se deu a fase seguinte à etapa de
seleção dos contracantos. Ela se caracteriza como uma abordagem mais prática dos dados. E
foi essencialmente executada a partir de ferramentas computacionais. A exposição deste
processo evidenciará esta produção de softwares para diferentes objetivos de investigação.
Tanto o domínio rítmico quanto o de contorno melódico revelaram demandas analíticas
próprias.
Outra particularidade do processo que poderá ser observada ao longo deste tópico é a
numerosa criação de funções algorítmicas e softwares que poderiam estar inseridos, todos, em
uma só ferramenta. Todavia a descoberta dos melhores caminhos a serem percorridos apenas
se revela no fazer, no ato da exploração. Muitas vezes, no trabalho de pesquisa, o que foi
planejado em fase pré-analítica cai por terra com a descoberta de dados contraditórios ou que,
simplesmente, apontam vias mais proveitosas. Afinal, “o real não está na saída nem na
chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.”(ROSA, 1994, V.2, p.85)
Ritmo
34 Os códigos MATLAB dos softwares desenvolvidos para esta pesquisa estão dispostos no Anexo B, pgs. 117
- 140.
57
35 Aqui propomos uma reflexão que pode surgir no momento em que o pesquisador está diante de uma
limitação por parte do algoritmo. Estruturar e construir um bom algoritmo leva tempo e numerosos testes
antes que se consiga alcançar a eficiência que se esperava (principalmente quando este não é o principal
ofício de um pesquisador, como o nosso caso). Algumas funcionalidades, por outro lado, podem (e devem)
ser relativizadas quando o fator tempo de trabalho para melhorar um algoritmo for maior que o tempo
despendido por uma análise manual. No caso acima não faria sentido continuar melhorando a leitura de
FormAlfabeto, sem saber ao certo quanto tempo seria gasto, uma vez que essas fórmulas rítmicas sem leitura
constituíam exceção à regra.
58
Figura 25 – Exemplo da descrição rítmica em vetores. As letras correspondem às designações lexicais das
classes.
36 Segundo convenção ASCII (American Standard Code for Information Interchange). Trata-se de um código
binário que codifica um conjunto de 128 sinais: 95 sinais gráficos (letras do alfabeto latino, sinais de
pontuação e sinais matemáticos) e 33 sinais de controle, utilizando, portanto, apenas 7 bits para representar
todos esses símbolos. A codificação ASCII é muito útil para representar textos em ambiente de programação.
60
Tabela 3 – Matriz da frequência de ocorrência de ritmos: coluna amarela= codificação ASCII do alfabeto em
números (97=a, 98=b…118=v); coluna verde= frequência de ocorrência dos tipos; colunas cinzas= representação
vetorial dos tipos rítmicos.
Tendo estabelecido o léxico oficial para todas as classes de letras, passamos a outra
fase: mapeamento do ritmo tempo-a-tempo. Inserimos os MIDIs originais em outro programa:
CHORO_escreve_ritmo. A interface do software pode ser verificada na figura 27, os
círculos verdes com algarismos romanos enumeram o passo-a-passo da utilização do
programa. Em I, o usuário escolhe uma das três partes do choro a ser analisado, a voz
(melodia ou contracanto) que será enfocada e se esta apresenta anacruse ou não. Feito isso
prossegue-se com a abertura do arquivo MIDI em Abrir choro (II). O programa acusa a
leitura do arquivo relacionando seu título no campo da parte superior à esquerda, nesse
exemplo o choro Naquele tempo_contracanto_parteA. Clicando em ANALISAR (III), o
usuário se depara com a descrição do ritmo no léxico estabelecido previamente. Caso tenha
escolhido a leitura da melodia, a relação lexical aparecerá no campo IV. O campo V apresenta
as mesmas informações para o contracanto. Depois da análise efetuada, o usuário salva as
61
informações (II) que alimentarão uma matriz tempo-a-tempo com todas as informações de
classes de letras para o ritmo das melodias e contracantos.
Contorno
37 De toda forma, ao longo da pesquisa, todas as investidas investigativas se revelaram muito importantes e
válidas. Se um determinado viés não pareceu ser o mais adequado, precisou-se, para concluir assim, refletir o
porque de ele não se prestar a isto e de alguma maneira pode se entender melhor o problema. Nesse caso
entendemos que a abordagem do contorno precisaria tomar direções mais sistemáticas.
38 A partir de agora toda referência a contorno será tratando deste domínio exclusivamente para o contracanto.
63
Figura 29 – relevo dos contornos de melodia e contracanto da parte A do choro Acerta o passo.
O passo seguinte foi a análise do contorno apenas do contracanto, segundo o que foi
exposto no tópico 2.2.1 que discorreu sobre a segmentação de uma parte de choro. Elaborou-
se a função mapeia_contorno, que analisava o contorno dos contracantos de maneira
absoluta, ou seja, descrevendo as informações intervalares em semitons e apontando suas
direções (+ para ascendente e – para descendente). A função procedia a leitura para as quatro
janelas temporais resultantes da segmentação: letra (unidade de tempo); sílaba (compasso);
palavra (dois compassos); frase (quatro compassos). Com isso foram produzidas matrizes para
as ocorrências encontradas em cada janela citada. Todavia, como foi visto, isso serviu de
parâmetro para decidirmos pela janela temporal da sílaba, como representante da unidade
mínima de contorno.
A função dividiu as matrizes conforme as possibilidades de incidência total de
intervalos melódicos dentro de cada janela. Isso quer dizer que a descrição de uma letra (1
tempo) pode conter, no máximo, três gestos melódicos, considerando-se a quantidade máxima
de quatro ataques por letra39. Com essa análise foi detectada uma singularidade na composição
estrutural do contorno que não se verificou no ritmo: a segmentação de contorno elimina os
intervalos inseridos nas fronteiras da divisão. A figura 30 ajuda a ilustrar essa característica.
Quando seguimos para a descrição da próxima janela (sílaba) notamos que sua ocorrência não
é apenas produto da soma ou junção de duas letras. Um intervalo melódico está presente
39 O contracanto apresentou apenas uma ocorrência de letra com mais de 4 ataques – a letra l – o que não
constitui um padrão.
64
como uma espécie de conexão entre cada letra. Assim, a quantidade máxima de gestos
melódicos possíveis em uma janela temporal é igual a n +1, onde n é o dobro da quantidade
máxima de gestos possíveis na janela imediatamente anterior, e.g., a sílaba tem 7
possibilidades totais de gestos melódicos porque a letra possui, no máximo, três gestos.
Figura 30 – Descrição de gestos de contorno em três janelas temporais. Os quadrados em vermelho ilustram os
intervalos melódicos que “escapam” nas diferentes segmentações.
Tendo as matrizes dos contornos em forma pura, ou seja, com todos os perfis
intervalares em semitons e suas direções, uma nova função pode ser elaborada para efetuar a
tradução dessas informações específicas em gestos mais abrangentes. A traduz_contorno
atuou na redução das informações numéricas (semitons) em símbolos gestuais, e.g., e -, l+, s -,
… (DOWLING, 1978).
Como foi constatado no tópico 2.2.2 sobre a teoria específica para o domínio de
contorno melódico, a janela de uma unidade de tempo se mostrou pouco significativa em
termos de identidade própria. A segmentação mínima do contorno parece acontecer em uma
escala diferente da relativa ao ritmo. Somado a isto está o problema das conexões intervalares
que ficam de fora em uma descrição de contorno para a janela de um tempo. Fizemos a
escolha pelo estabelecimento da janela de um compasso para representar a unidade mínima
dos tipos de gestos de contorno. A função CHORO_processa_S-alfabeto foi gerada,
então, com o intuito de calcular as frequências das classes de sílabas no domínio contorno. O
output da função é uma matriz com 389 linhas, i.e., 389 classes de sílabas diferentes
organizadas de acordo com suas frequências.
Para finalizar o tratamento dos contornos uma nova função
(CHORO_processa_sílabas) atribuiu hierarquias às classes de sílabas a partir do léxico
alfabético-numérico exposto na teoria específica do contorno. A função, inclusive, executou a
plotagem dos gráficos que descrevem o comportamento de cada classe de sílaba.
65
Relações verticais
Resumo
Neste capítulo abordaremos alguns resultados obtidos a partir da análise das melodias
e contracantos. Verificaremos que alguns gráficos e matrizes lançarão luzes importantes no
estudo do tema ao mesmo tempo em que outras informações podem ser entendidas como
inconclusivas (em se tratando de padrões), devido à variedade de características observadas e
suas distribuições equânimes, o que deixa pouco espaço para a detecção de recorrências e/ou
preferências composicionais. Isso poderá ser melhor entendido com a explanação a seguir.
3.1 RITMO
Uma característica deste trabalho que já pode ter sido observada é a relativa ênfase que
se deu ao domínio rítmico. Este aspecto não é um mero acaso. Como foi dito na apresentação
do capítulo 2, não é raro que as etapas da pesquisa estejam cruzadas e se influenciem. Com
esses resultados não foi diferente. Encontramos no domínio rítmico muitas informações
relevantes para uma caracterização de estilo composicional e isso nos condicionou,
automaticamente, a dar importância e crédito para este domínio. Uma analogia seria a de um
garimpeiro que tenha encontrado uma região na mina onde estejam concentradas muitas
pepitas de ouro. Logicamente este profissional devotaria esforços a esta parte. Da mesma
forma aconteceu com a pesquisa. Observamos, inclusive, que este fato por si só já constitui
uma informação muito valiosa: o domínio rítmico atua mais consistentemente para uma
caracterização estilística/composicional se comparado ao domínio de contorno. Vejamos
alguns resultados e as discussões que seguem.
Classes de letras
Aqui apresentamos as classes de letras classificadas, como foi visto, a partir de suas
frequências. Este léxico foi formado considerando-se a atuação de ambas as vozes melódicas:
melodia e contracanto. Seguimos esta lógica segundo a premissa de que o contracanto
provavelmente se utilizaria de elementos da melodia. Sendo assim não faria sentido a criação
de “vocabulários” diferentes. O léxico é o mesmo, o que varia são as aplicações de seus
componentes. A relação de todas as classes encontradas pode ser apreciada a partir da figura a
seguir (31).
67
Figura 31 - Léxico das classes de letras em todos os choros considerando-se melodia e contracanto.
Estatística
A leitura estatística das classes de letras gerou gráficos de importância capital para a
dedução de padrões de recorrência. A figura 32 aponta para uma leitura mais localizada do
léxico das classes de letras. Tendo, agora, o conhecimento das correspondências musicais para
cada letra (demonstrado pela figura 31), poderemos inferir conclusões relevantes.
40 Uma vez que o percentual de utilização de determinada figura decresce à medida que o alfabeto progride.
41 Isso significa que a análise de um repertório diverso a este poderia culminar em uma relação lexical diferente,
embora provavelmente bastante aproximada.
68
Figura 32- Recorrência (em %) de classes de letras nos ritmos de melodias e contracantos nos choros analisados.
Este histograma (figura 32) demonstra mais claramente a relação de hierarquia entre as
classes de letras. Suas recorrências estão diretamente ligadas às suas importâncias estruturais.
Propomos, ainda, outra leitura mais localizada. Imagine a divisão desta relação de classes em
dois conjuntos: Ritmo1 (ou R1) = {a, b, c, d, e, f, g, h} e Ritmo2 (ou R2) = {i, j … v}. Os
elementos de R1 representam 95% das ocorrências rítmicas de todos os choros. Em uma
perspectiva de identificação de padrões poderíamos, sem demora, desconsiderar R2. Agora
imaginemos outra subdivisão da mesma relação de conjuntos. R1 ainda denota desproporções
na identidade quantitativa de seus elementos. Por exemplo, se dividirmos R1 em dois níveis:
R1.1 = {a, b, c, d} e R1.2 = {e, f, g, h} notaremos diferenças consideráveis. R1.1 contém
76,5% das incidências de classes contra 18,5% de R1.2. Arriscamos identificar funções para
cada nível. Em R1.1 está contido o caráter estilístico, R1.1 = {estilo}; já R1.2 contém a função
de variação, a criação de oposição de materiais, o conhecido recurso composicional de
contraste. Portanto, R1.2 = {variedade}. Propomos uma última subdivisão. Consideremos que
R1.1 possui um subconjunto: R1.1.1 = {a, b}. Esses dois elementos são responsáveis por,
sozinhos, 52% dos eventos rítmicos. Está neste conjunto o que podemos designar de padrão,
logo, R1.1.1 = {PADRÃO}.
A seguir abordaremos o comportamento das classes de letras em cada voz
individualmente. A figura 33 pode ser lida como a figura 32 menos os dados quantitativos
referente às de classes de letras dos contracantos. Essas figuras relacionam as ocorrências
absolutas de cada classe em quantidade de aparições.
69
b}, referente à 62,4% de toda atuação nos contracantos, e C1.2 = {c, d}, correspondente à
24,3% das unidades rítmicas.
Observando o ranking das classes nos contracantos (figura 34), e comparando com o
histograma das classes na melodia (figura 33), reparamos algumas diferenças a serem
consideradas. Primeiramente o que se mostra mais evidente é o comportamento de
complementaridade executado pelo contracanto. Ele exerce um contrapeso à rítmica da
melodia conforme atua, em certa medida, como espelho do que é praticado pela voz 1.
O segundo fator verificado indica outro atributo muito importante para uma
caracterização funcional da atuação rítmica dos contracantos, qual seja, o reforço estilístico
através do predomínio no uso das classes a, b, c, e d. Como vimos anteriormente, este bloco
de classes representa de maneira mais sólida o caráter estilístico do choro. A figura 35
apresenta uma comparação entre as atuações rítmicas de cada voz e inclui, também, a
informação da combinação das vozes.
De maneira correlata ao que foi inferido quanto às funções exercidas pelos conjuntos
R1.1 e R1.2 (ver p. 67), e à guisa de abstração teórica, incitamos uma reflexão em relação ao
que as vozes, individualmente, parecem manifestar. As características observadas até agora
anunciam uma distribuição, relativamente bem delimitada, de funções composicionais para
melodia e contracanto. Indicamos, com isso, que o conjunto M representa melhor a
característica de variedade. Notamos este fato pela particular distribuição horizontalizada de
suas classes de letras, i.e., na melodia detectamos maior emprego de classes diferentes. Já o
71
Classes verticais
Estatística
A figura a seguir (37) apresenta um histograma com as ocorrências absolutas das dez
classes verticais observadas anteriormente.
Figura 37- histograma com as porcentagens das 10 classes verticais mais frequentes.
73
43 O segundo segmento da frase 4 não recebeu valores por conta da eventual falta de contracanto, fazendo com
que o número de classes verticais fossem progressivamente escasseando ao longo destes tempos.
75
Agora, somando os três valores de cada tempo traçamos um perfil geral do coeficiente
de variedade considerando as três classes verticais mais empregadas por tempo. Feito isso
analisaremos a tabela decorrente desta simplificação. Todos os valores são o resultado da
soma dos coeficientes de variedade para cada tempo. A fim de se evitar imprecisões,
desconsideremos todos os valores intermediários. Os valores dos extremos, agora, podem
servir para apontar onde e como as classes verticais ocorrem de maneira mais estrutural
(tabela 6). Detectamos a partir desta elaboração 5 pontos de interesse. O 5º tempo das frases 1
e 2 aponta a característica estrutural de maior variedade em sua constituição rítmico-vertical,
enquanto o 2º tempo da frase 4 e o 3º tempo das frases 2 e 3 denotam apoios rítmicos mais
previsíveis.
Tabela 6 – soma dos coeficientes de variedade das ocorrências de classes verticais tempo-a-tempo
76
Uma última operação revela outra característica interessante. A soma horizontal dos
coeficientes (apresentados pela tabela 6) para cada segmento de frase indica um caráter
ligeiramente distinto em suas estruturas sob o ponto de vista da variedade de suas
constituições rítmico-verticais (ver tabela 7). Enquanto o primeiro segmento das frases
exprime maior previsibilidade, através da observação de maior recorrência de classes
verticais, os segundos segmentos sinalizam maior variedade na atuação das classes.
Novamente, chegamos a esta conclusão por conta dos valores de ocorrência das classes
verticais. Como exibido pela tabela 7, os valores maiores (em verde: 62, 61, 59, 65) informam
que ocorre maior concentração das frequências totais nas três classes mais empregadas,
enquanto os valores menores (em vermelho: 54, 55, 58), denotam menor concentração das
frequências totais nas três classes verticais mais recorrentes. Isso quer dizer que, no caso do
segundo segmento em comparação com o primeiro, o emprego das classes verticais é mais
distribuído entre todas as classes observadas. Desta reflexão propomos a oposição variedade
versus previsibilidade.
3.2 CONTORNO
adotada, gerou dados com muita variedade de tipos e, o mais importante, com a ocorrência
muito distribuída. Se executássemos uma abordagem de combinação vertical das classes de
sílabas encontraríamos números impressionantes de variedades. Tendo ciência da dificuldade
em sistematizar o contorno a partir da variedade resultante da descrição das classes de sílabas,
não faria sentido investir em uma abordagem que resultaria em dados muito menos
conclusivos que os já diversificados para as referidas classes.
De toda forma tínhamos consciência de que o resultado para as fórmulas de contorno
seriam bem mais variadas que as do ritmo. O primeiro agente que condiciona essa maior
gama de possibilidades é o fator maior quantidade de elementos se relacionando em
combinatoriedade, se comparado ao ritmo).
Classes de sílabas
Estatística
Para estes dados a lógica de agrupamento aplicada até agora de maneira razoavelmente
fácil, devido à relativa simplicidade de observação empírica por conta de um considerável
contraste entre as frequências das classes de letras, não se dá com a mesma clareza.
Precisamos lançar mão de operações analíticas mais precisas para não corrermos o risco de
empenhar uma interpretação equivocada. Segundo a partição em subconjuntos, dividiríamos
este conjunto Ciclo1 {A00,…Z00} em quatro subconjuntos, segundo a observação da diferença
de suas porcentagens. Esse cálculo simples revela o quão abrupta é a mudança de ocorrência
de uma classe à outra. Temos os seguintes resultados: de A 00 para B00 = 0,7 pontos
percentuais; B00 para C00 = 2,3; C00 para D00 = 1,4; D00 para E00 = 0,2; E00 para F00 = 0,8; F00
para Z00 ≈ 0,1. Podemos resumir com o conjunto diferençafrequências = {0,7; 2,3; 1,4; 0,2;
0,8; 0,1}. Observando estes valores podemos abstrair alguns comportamentos mais ou menos
seccionáveis. Assim o primeiro subconjunto compreende as duas primeiras classes, pois
notamos maior disparidade relativa entre B00 e C00. Seguindo a lógica temos o seguinte
resultado: Ciclo1.1 = {A00, B00}; Ciclo1.2 = {C00}; Ciclo1.3 = {D00, E00, F00} e Ciclo1.4 =
{G00, … Z00}. Suas ocorrências compreendem, respectivamente, 10,3%, 4%, 6,6% e 17,8%
do total.
80
44 O desvio padrão é um cálculo estatístico para investigar como cada elemento da amostra se comporta em
relação à média. Ele “indica a dispersão dos dados dentro da amostra, isto é, o quanto os dados em geral
diferem da média. Quanto menor o desvio padrão, mais parecidos são os valores da série estatística.”
81
4 APLICAÇÃO COMPOSICIONAL
45 O programa traz em seu nome a marca do que foi dito no capítulo 1 sobre a nomenclatura das linhas
melódicas enfocadas neste trabalho. Chamávamos os contracantos, à época da elaboração do software, de
contrapontos.
46 À luz do que foi dito sobre as Cadeias de Markov seguirem um modelo do comportamento de uma sequência
de eventos descritos através de transições probabilísticas (MEDEIROS; SANTOS; PITOMBEIRA, 2011,
p.1880), a matriz de transição nada mais é do que este mapeamento das probabilidades para as transições
dos eventos. Logo, a matriz de transição é um artefato imprescindível para a aplicação da lógica markoviana.
82
Em abrir melodia de choro (I) o usuário seleciona um arquivo MIDI com uma
melodia de parte de choro à escolha.47
Funcionamento algorítmico:
1) O programa procede a leitura do arquivo MIDI e, não havendo improcedência com
os critérios citados, desempenha a descrição tempo-a-tempo da melodia, a partir do conceito
de IOI. Efetua, em seguida, a designação dos tipos baseado no que foi estabelecido pelo
léxico das classes de letras, ou seja, nomeando, uma-a-uma, todas as classes de letras da
melodia introduzida.
2) O algoritmo analisa a primeira classe de letra da sequência e, a partir dos dados
estatísticos das classes verticais, sorteia, com favorecimento probabilístico (ou seja, com base
nos dados mapeados pela matriz de transição e pela operação da cadeia de markov), a classe
de letra no contracanto que serve para formar uma dupla com a classe de letra da melodia. No
caso da figura 40, a melodia inserida foi referente à parte A de Proezas de Solon. O primeiro
tempo da melodia é composto pela classe de letra e. O programa, então, sorteia uma classe de
letra para o contracanto levando em consideração a probabilidade de ocorrência de classes
verticais. Consideremos, a partir da classe de letra e, na melodia, a figura 41, que apresenta as
principais possibilidades de combinação vertical com o contracanto.
47 Evidentemente a melodia deve obedecer aos critérios de análise da pesquisa previamente estabelecidos. (ver
pgs. 46-47)
83
Figura 41- Probabilidade de classes de letras no contracanto tendo como parâmetro a classe e na melodia.
48 Aqui, as porcentagens que servem de indicadores de probabilidade são calculadas a partir do número total de
ocorrências de classes verticais que tenham, obrigatoriamente já que este é o parâmetro, a classe de letra e na
voz superior. E não, como pode confundir, com base no universo total de ocorrências para todas as classes
verticais. Se este fosse o caso, por exemplo, J 00 e T00 corresponderiam, respectivamente, à 2,5% e 1,3% do
total de possibilidades verticais catalogadas.
84
Figura 42 – Cadeia de Markov para o sorteio das classes de letras do contracanto (denominadores), as classes em
vermelho referem-se ao ritmo da melodia.
Figura 43 – Cadeia de Markov para a conformação das classes de sílabas aos parâmetros de ataque. As duplas de
classes de letras em vermelho representam o ritmo determinado para cada compasso.
É bom ressaltar que o output fornecido pelo programa (campos II e III figura 40)
constitui apenas uma das, virtualmente, infinitas alternativas possíveis para um dado input
(melodia de parte de choro). Caso lhe seja adequado, o usuário pode então seguir o modelo
proposto para compor contracantos com base em dados estatísticos do universo de
características rítmicas e de contorno da prática composicional de Pixinguinha. A adoção mais
ou menos estrita deste modelo, ou mesmo a possibilidade de aplicações, estão diretamente
relacionadas com a necessidade e/ou criatividade do usuário, como será apresentado na
aplicação prática que se segue.
86
1) Seguimos o modelo gerado de forma estrita, ou seja, sem abertura para decisões pessoais
sobre questões estéticas.
2) Caso fosse constatado uma contradição formal decorrente do emprego estrito tomava-se a
decisão mais aproximada do modelo.
49 Em anexo está disposta a partitura completa de Proezas de Solon com outros contracantos inéditos também
compostos a partir do software geraContraponto. Nesta partitura os contracantos inéditos estão
intercalados aos contracantos originais de Pixinguinha para fins de comparação. Os contracantos de
Pixinguinha são relativos às primeiras apresentações de cada tema ou parte, ou seja, compassos 1 a 16 (parte
A); 34 a 48 (parte B) e 82 a 98 (parte C) .
87
Figura 44 – Partitura da parte A de Proezas de Solon com contracanto inédito composto a partir do modelo da
figura 41.
88
50 A constatação de que a harmonia teve de ser, obrigatoriamente, abordada, seja na perspectiva prática da
composição a partir do modelo, seja na discussão que virá mais a frente sobre questões harmônicas, indica o
papel fundamental deste domínio e inescapável para nossos propósitos. Uma abordagem mais detalhada
sobre o grau de importância deste domínio para a presente pesquisa será tratada nas conclusões.
51 O restante dos pontos percentuais (4,6%) abrange as notas estranhas ao acorde, ou seja, aquelas que se
comportam como inflexões melódicas. Tais notas não são consideradas como possibilidades de escolha por
conta do que foi estabelecido sobre a sistematização das notas iniciais serem parte do acorde em questão.
89
Figura 45 – Estatística do emprego do primeiro ataque de notas-funções (fundamental, terça e quinta) em cada
compasso dos contracantos.
Vemos que as fundamentais (barras em vermelho) são decisivas para o começo das
frases 1, 2 e 3 (compassos 1, 5, 9) enquanto as terças (barras verdes) são as notas mais
empregadas nos compassos de meio de frase (compassos 2, 3, 4, 7, 8, 10, 11, 12). Notamos
também a característica utilização da quinta (barras azuis) no antepenúltimo compasso, um
arquétipo da prática tonal de, nas cadências de desfecho, anteceder o acorde de Dominante
pelo de Tônica em segunda inversão. Sobre este acorde cadencial temos uma interpretação
mais fidedigna nas palavras de Walter Piston (1959, p. 117):
de longe, o mais comum dos acordes nesta categoria [acorde 64] é o familiar “tônica
seis-quatro” encontrado em cadências. Este é, na verdade, um acorde dominante no
qual a sexta e a quarta formam apogiaturas em relação à quinta e terça,
respectivamente. […][Já que trata do] produto da coincidência vertical de vozes em
movimento. 52
52 By far the commonest of the chords in this category is the familiar “tonic six-four” found in cadences. This is
actually a dominant chord in which the sixth and fourth form appoggiature to the fifth and third respectively.
[…] product of vertical coincidence of moving voices.
90
3(ou 4)↑>, onde as qualidades dos intervalos (menor/maior/dim/aum) não estão determinadas.
A figura (46) a seguir demonstra as três possibilidades diatônicas de posicionamento em
relação às 3 escolhas de notas que iniciam o compasso e mais duas ramificações com
bordaduras cromáticas (a interpretação do modelo por segunda menor ao invés de segunda
maior).
A escolha referente à região das notas iniciais, Fá1 ou Fá2; Lá1 ou Lá2; etc, não
apresentou características que impossibilitassem o prosseguimento com a diretriz 1), ou seja,
notamos que essas escolhas para este compasso (figura 44), não manifestaram senão uma
decisão estética. No entanto, como veremos mais a frente, esta escolha pode ser condicionada
por circunstâncias formais.
Analisando a figura 46 chegamos às seguintes conclusões: se escolhemos a nota Fá
(situação I figura 46) e seguimos com a diretriz 1), produzimos um contorno forte em relação
ao reforço harmônico, mas uma bordadura incomum é gerada, com o Fá sustenido sucedendo
a inflexão melódica (o normal seria o retorno a Fá natural); ao experimentarmos a nota Lá (II
figura 46), todas as notas se afiguram coerentes em relação aos dois acordes, mas o contorno
gerado é ambíguo em uma caracterização harmônica, ou seja, não fica claro a mudança de
acorde de F para D7;53 em nova tentativa, agora com Dó, também conseguimos atacar as notas
estruturais dos acordes, mas no primeiro tempo as notas do contracanto reproduzem,
praticamente, as mesmas notas da melodia, resultando em redundância, característica que
enfraquece a função harmônico-estilística do contracanto. As outras duas ramificações dos
inícios com terça e quinta (II e III figura 46), oferecem a possibilidade de ornamentar com
bordaduras cromáticas. Este tipo de inflexão é muito comum no choro, no entanto percebemos
que no exemplo (figura 46) elas não mudam o caráter do que foi dito para a aplicações de suas
versões originas diatônicas. Em audição, a competição é prontamente decidida por Fá como
53 A percepção auditiva é influenciada pela inércia, as notas lá e dó fazem parte do acorde de F, então tendemos
a entendê-los como dentro deste contexto; para uma justa confirmação de mudança de acorde seria preciso a
apresentação de uma nota que não fizesse parte do acorde de F e, de preferência, em tempo forte.
91
nota inicial. Com isso tiramos uma conclusão importante: ainda que apresente uma bordadura
inusitada, a função de reforço harmônico se revela como o atributo mais importante dos
contracantos. Essa conclusão se reforça com a observação de que as variantes das aplicações
II e III não mudam o embasamento harmônico, estruturado nos tempos fortes. Ademais
notamos também que o emprego da configuração I está conforme a análise exibida pela figura
45, sobre as notas iniciais. O primeiro tempo da peça é crucial para a fundamentação tonal.
Agora consideremos o segundo compasso (figura 44, partitura), ele serve de exemplo
para todas as problemáticas encontradas e as estratégias adotadas para enfrentá-las.
Novamente precisamos decidir sobre a nota inicial. O contexto harmônico é de dominante
secundária, o acorde G7. Contamos, então, quatro possibilidades de altura: Sol, Si natural, Ré,
Fá. O ritmo modelado designou 6 ataques que serviram de parâmetro para a geração dos
gestos s- e- s- s- s-. Lemos este modelo como <3 (ou 4)↓ + 2↓ + 3(ou 4)↓ + 3(ou 4)↓ + 3(ou
4)↓>. O esquema topográfico da classe de sílaba gerada bem como as limitações tessiturais do
sax tenor impõem algumas condições. Não podemos escolher a nota inicial à revelia posto que
o modelo de gesto implica uma grande descida. Uma escolha despreocupada, como por
exemplo o Ré2, poderia incorrer em extrapolação dos limites de registro confortável para o
saxofone tenor. A figura (47) abaixo relaciona todas as possibilidades de leitura do modelo de
contorno para este compasso.
Figura 47- Possibilidades de interpretações a partir do modelo de contorno. Notas em vermelho referem-se às
escolhas das notas-funções iniciais para o acorde de G7. As ramificações de I ilustram as flexibilizações.
Iniciando o compasso com a nota Sol (situação I figura 47) deparamos com uma
inconsistência harmônica: a nota Dó2 não faz parte da tétrade básica e não se movimenta por
grau conjunto. Ainda que em música popular seja comum tratar a quarta como substituição da
92
terça em acordes dominantes, no choro este uso foge ao idioma. Podemos perceber essa
inconsistência em análise auditiva do trecho.
Com o emprego de Si (II figura 47) natural, embora seja possível construir a
configuração com notas dentro da harmonia, um intervalo dissonante é produzido em relação
a melodia e não resolvido. A nota Si2 forma uma 7ª com a voz principal e o contracanto salta
ao invés de movimenta-se por grau conjunto, não resolvendo a instabilidade gerada pelo
intervalo. Já com a aplicação da quinta (III figura 47) notamos que a nota Lá não faz parte do
acorde e nem movimenta-se por grau conjunto, resolvendo em nota estrutural. Esse evento
contraria a regra de que as inflexões melódicas são precedidas e sucedidas por grau conjunto,
o que nos compele, automaticamente, à interpretação da referida nota por tensão harmônica.
No choro as tensões harmônicas não são idiomáticas e todas as configurações de contorno que
possam sugerí-las não servem aos nossos propósitos. Finalmente a escolha pela 7ª (IV figura
47) incorre em mesmo erro já observado na situação I da mesma figura: a quarta do acorde
(nota Dó) sem resolução. Neste caso percebemos a quarta como uma inflexão sem resolução,
ou seja, ela soa como tensão.
Além do que foi esmiuçado para cada configuração de contorno percebemos que a
escolha feita para o compasso anterior condiciona o que esperamos ouvir no presente (c.02
figura 44). A apresentação de Fá sustenido (c.01 figura 44) sugere o aparecimento de Sol no
primeiro tempo do segundo compasso. E a partir desta premissa tomamos nossa decisão.
Escolhemos a configuração iniciando em Sol por conta de uma necessidade conectiva entre
compassos.54 Todavia, como foi apresentado para o emprego em I (figura 47), não poderíamos
seguir com a aplicação estrita. Para isso começamos a estabelecer ajustes de contorno com a
finalidade de filtrar os gestos segundo a diretriz 2), sobre a flexibilização do modelo proposto.
A primeira flexibilização é quanto à interpretação dos gestos. Consideramos que o
gesto s, que indica movimentos de arpejo, em contexto de acorde Dominante, pode ser
interpretado como o intervalo de segunda entre fundamental e sétima. Isso ameniza
consideravelmente o problema encontrado em I (figura 47). Todavia não resolve inteiramente
o problema. Vemos que, após flexibilizarmos a regra de s para dominantes e prosseguirmos
com a abordagem estrita, a configuração gerada (Ia figura 47) ainda contém uma tensão
harmônica (Mi2, a 13ª do acorde de G7 ).
A partir deste problema geramos uma segunda flexibilização para adequar possíveis
inconsistências. Depois de, sem sucesso, empenhados todos os passos para a tentativa do
estabelecimento estrito + flexibilização de leitura de s, definimos que a leitura intervalar pode
54 Essa observação expõe outra necessidade de reflexão metodológica, que também será tratada nas conclusões.
93
ser suprimida, ficando apenas a regra direcional: ascendente, descendente ou estático. Assim
chegamos ao perfil ideal exposto em Ib (figura 47). Apresentamos agora somente a parte do
contracanto com o detalhamento das diretrizes utilizadas para cada compasso (figura 48).
Figura 48 - Partitura comentada com diretrizes utilizadas em cada momento para cada domínio. Diretriz 1 em
verde e 2 em vermelho.
94
Conclusões primárias
a criação de outro contracanto, que por sua vez pode servir novamente para a criação
de outro e assim sucessivamente;
• Um contracanto composto a partir de melodia dodecafônica ou atonal;
• A utilização de apenas um dos parâmetros fornecidos pelo programa, ou seja, apenas o
modelo rítmico ou de contorno.
96
CONCLUSÕES
55 Isso justifica, por exemplo, uma aparente falta de informações biográficas. Acreditamos que a exploração
desse caminho teórico não serviria ao propósito central do trabalho.
97
Na discussão dos resultados elaboramos, a partir de uma livre associação dos dados,
um seccionamento, em conjuntos, dos elementos estruturais catalogados. Esse tratamento
serviu para facilitar uma interpretação dos tipos de cada domínio, com a inferência de
características funcionais para os conjuntos mais significativos.
A análise estatística como forma de abordagem para a investigação de estruturas
musicais pouco aparentes se mostrou profundamente proficiente. A partir da descoberta de
tipos musicais mais frequentes que outros, deduzimos importantes correlações com a prática
composicional de Pixinguinha, em stricto sensu, e – por que não – com a prática de
contracantos no choro, em lato sensu. Embora tenhamos abstraído conclusões interessantes a
partir dos resultados percentuais, a utilização dos operadores estatísticos precisa ser melhor
estudada. Pudemos concluir que o emprego das ferramentas estatísticas pode, em um
prosseguimento da pesquisa, ser incrementado com o uso de operações mais específicas do
campo da Estatística. Mesmo em uma aproximação tímida com a disciplina já pudemos entrar
em contato com uma grande quantidade de conceitos e abordagens promissoras para
finalidades diversas.
No capítulo das aplicações composicionais encaramos os contracantos de maneira
invertida. Utilizamos os tipos produzidos pela generalização para servirem de modelo
composicional de uma linha contracantista de acompanhamento para uma melodia existente.
Essa prática-teste revelou, também, características importantes dos contracantos. Ao
depararmos com o resultado pudemos avaliar melhor as relativas importâncias estilísticas de
determinados elementos. Como exemplo, a noção do idiossincrático movimento de descida no
contorno dos tempos fracos dos compassos. Esses tempos revelaram-se de especial valia,
também, para a movimentação rítmica. Os tempos secundários de cada compasso, então, são
os tempos de maior exibição do contracanto. Esse entendimento, por si só, já constitui uma
importante conclusão para o estabelecimento de uma marca composicional.
Iniciamos este trabalho de pesquisa em contracantos de Pixinguinha com a pretensão
de investigar possíveis recorrências de tipos estruturais produzidos a partir de um formalismo.
A estratégia fundamentada em conceitos generalizantes permitiu a redução da diversidade de
estruturas tipológicas que poderiam, como foi demonstrado, ser consideradas correlatas. Essa
simplificação do total de eventos à essência estrutural facilitou a interpretação dos dados e se
mostrou muito útil considerando-se a prática de data mining. A descrição quantitativa da
música de Pixinguinha possibilitou o conhecimento de estratégias composicionais de maneira
mais objetiva. Pudemos observar, a partir da recorrência de eventos, algumas características
marcantes de sua prática. Essa abordagem dos elementos musicais, com os consequentes
98
Ritmo
Contorno
56 Uma já clássica ferramenta em data mining, o APRIORI se baseia em regras de associação, conceito
apresentado por Rakesh Agrawal et al. em 1993. O objetivo desta formulação era a de “ encontrar relações de
associação entre um grande número de itens em um banco de dados. Foi usado [primordialmente] para
descrever os padrões de compra de clientes em supermercados.” (PRIYANKA; SHARMA, 2014) [Its main
purpose is to find the association relationship among the large number of database items. It is used to
describe the patterns of customers' purchase in the supermarket.]
99
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WEISSTEIN, Eric W. CRC Concise Encyclopedia of Mathematics. New York: CRC Press,
1999.
WILKINS, Nigel. “Ballade (i)”. Grove Music Online. Oxford Music Online, 1980.
ANEXOS
108
FormAlfabeto
Sequência básica de ações:
número MENU BOTÃO
1 Iniciar projeto -
2 Abrir choro
3 - Analisar
4 Salvar alfabeto provisório -
5 Salvar ALFABETO provisório
alfab=[0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0]
xlswrite('alfabeto_provisorio.xls',alfab)
alfab1=[alfab alfab]
xlswrite('ALFAB_provisorio.xls',alfab1)
% Coluna de ataques
n1=n(:,1)
% Em caso de anacruse
an=get(handles.ana,'value')
if an==1
n1(:)=n1(:)-2;
end
k=n1
prv=[];
for i=1:size(ind,2)
a=ind(:,i);
% Eliminação de zeros eventuais
x=find(a==0);
a(x)=[];
b=k(a);
prv(i,1:size(a,1))=b;
end
pM=prv
% Generalização
% Soma de uma unidade a todos os valores
for i=1:size(pM,1)
a=pM(i,:);
for j=1:size(a,2)
b=a(j);
if b~=0
pM(i,j)=pM(i,j)+1;
end
end
end
pM
prv=[];
for i=1:size(pM,1)
a=pM(i,:)-(i-1);
% eliminação de valores negativos
x=find(a<0);
a(x)=0;
prv=[prv;a];
end
pM=prv;
pM(:,1)=[];
if incons~=0
% Inconsistências no arquivo midi
msg ='Foram encontradas inconsistências nos seguintes
compassos.tempos do choro analisado: '
msgbox(msg);
% identificação dos compassos.tempos
prv=[];
for i=1:size(incons,1)
a=incons(i);
if mod(a,2)==0
a=a/2;
b=.2;
else
a=a/2+.5;
b=.1;
end
c=a+b;
prv=[prv;c];
end
loc=prv;
Loc=num2str(loc);
set(handles.inconsist,'string',Loc);
else
msg ='Não foram encontradas inconsistências rítmicas. Prossiga com a
análise '
msgbox(msg);
end
3. BOTÃO “ANALISAR”
function incorpora_Callback(hObject, eventdata, handles)
% hObject handle to incorpora (see GCBO)
% eventdata reserved - to be defined in a future version of MATLAB
% handles structure with handles and user data (see GUIDATA)
% Recuperação de dados
% ritmos tempo a tempo
p=get(handles.oculto,'string');
% inconsitências
i=get(handles.oculto1,'string');
pM=str2num(p)
incons=str2num(i);
for i=1:size(L,1)
a=str2num(L(i,:));
pM(size(pM,1)+1,1:size(a,2))=a;
end
120
pM
pM1=num2str(pM);
% ---------------------
% SALVAR A MATRIZ TEMPO A TEMPO DA MELODIA
voz=get(handles.popupmenu2,'value')
switch voz
case 1
set(handles.TTm,'string',pM1);
case 2
set(handles.TTc,'string',pM1);
end
% ---------------------
% Alfabeto provisório
d=freq(pM)
% Determinação do alfabeto
n=97;
prv=[];
for i=1:size(d,1)
prv=[prv;n];
n=n+1;
end
alfaP=prv;
v(8)=v(8)+1;
elseif b==1+2/3
v(9)=v(9)+1;
elseif b==1+3/4
v(10)=v(10)+1;
elseif b==1+5/6
v(11)=v(11)+1;
elseif b==1+7/8
v(12)=v(12)+1;
end
end
end
prv=[prv;v];
end
vet=prv
Vet=num2str(vet)
set(handles.vetores,'string',Vet);
% Recuperação de dados
v=get(handles.vetores,'string');
V=str2num(v);
fr=get(handles.freqO,'string');
Fr=str2num(fr);
p=get(handles.oculto,'string');
P=str2num(p)
i=get(handles.oculto1,'string');
I=str2num(i)
c=get(handles.correct, 'string')
C=str2num(c)
% % DESMEMBRAR FREQUÊNCIAS
prv=[];
for i=1:size(V,1)
a=V(i,:);
b=Fr(i);
c=repmat(a,b,1);
prv=[prv;c];
end
matriz=prv
mat=num2str(matriz);
% --------------------------------------------------------------------
% Transformação em vetores
% melodia
prv=[];
for i=1:size(V,1)
v=[0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0];
a=V(i,1:end);
if sum(a)==0
v=[0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0];
else
for j=1:size(a,2)
b=a(j);
if b==1
v(1)=v(1)+1;
elseif b==1+1/8
v(2)=v(2)+1;
elseif b==1+1/6
v(3)=v(3)+1;
elseif b==1+1/4
v(4)=v(4)+1;
elseif b==1+1/3
v(5)=v(5)+1;
elseif b==1+3/8
v(6)=v(6)+1;
elseif b==1+1/2
v(7)=v(7)+1;
elseif b==1+5/8
v(8)=v(8)+1;
elseif b==1+2/3
v(9)=v(9)+1;
elseif b==1+3/4
v(10)=v(10)+1;
elseif b==1+5/6
v(11)=v(11)+1;
elseif b==1+7/8
v(12)=v(12)+1;
end
end
end
prv=[prv;v];
end
Vm=prv
% contraponto
prv=[];
for i=1:size(V1,1)
v=[0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0];
123
a=V1(i,1:end);
if sum(a)==0
v=[0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0];
else
for j=1:size(a,2)
b=a(j);
if b==1
v(1)=v(1)+1;
elseif b==1+1/8
v(2)=v(2)+1;
elseif b==1+1/6
v(3)=v(3)+1;
elseif b==1+1/4
v(4)=v(4)+1;
elseif b==1+1/3
v(5)=v(5)+1;
elseif b==1+3/8
v(6)=v(6)+1;
elseif b==1+1/2
v(7)=v(7)+1;
elseif b==1+5/8
v(8)=v(8)+1;
elseif b==1+2/3
v(9)=v(9)+1;
elseif b==1+3/4
v(10)=v(10)+1;
elseif b==1+5/6
v(11)=v(11)+1;
elseif b==1+7/8
v(12)=v(12)+1;
end
end
end
prv=[prv;v];
end
Vc=prv
CK=[Vm Vc]
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
124
GeraContraponto.fig
===========
(1) matrizes de probabilidades de ocorrência de letras, de acordo com a
cardinalidade (p1-p7)
(2) LÉXICOS
SILA=[66 0 0 0 0 0 0 0
59 0 0 0 2 0 0 0
37 0 0 0 4 2 2 0
24 0 0 0 1 0 0 0
22 0 0 0 4 0 0 0
16 0 0 0 5 0 0 0
14 0 0 0 3 0 0 0
13 0 0 0 5 4 0 0
12 0 0 0 6 0 0 0
11 0 0 0 2 2 0 0
10 4 2 2 2 4 2 2
10 1 0 0 1 2 0 0
10 0 0 0 7 0 0 0
10 0 0 0 5 1 0 0
7 3 0 0 2 3 0 0
7 1 0 0 6 0 0 0
7 0 0 0 6 2 2 0
7 0 0 0 5 1 1 0
7 0 0 0 4 2 0 0
6 0 0 0 7 1 0 0
6 0 0 0 6 2 5 5
6 0 0 0 5 1 1 5
6 0 0 0 4 4 4 0
6 0 0 0 4 4 2 0
6 0 0 0 1 1 0 0
5 4 0 0 4 2 2 0
5 0 0 0 7 4 0 0
5 0 0 0 4 5 5 0
5 0 0 0 4 -1 0 0
5 -1 0 0 0 -1 0 0
4 6 2 0 2 2 2 2
4 6 0 0 2 2 5 5
4 4 4 4 1 4 4 4
4 4 4 0 5 2 5 5
4 4 4 0 2 5 5 5
4 4 1 0 2 7 0 0
4 3 0 0 1 3 0 0
4 0 0 0 6 5 5 5
4 0 0 0 2 1 1 0
4 0 0 0 1 4 4 4
4 0 0 0 1 2 2 0
4 0 0 0 1 -1 0 0
3 6 5 0 5 5 2 5
3 6 0 0 2 5 5 5
3 6 0 0 2 2 2 2
3 5 5 0 5 2 5 5
3 5 5 0 4 0 0 0
3 5 0 0 2 5 5 5
3 4 4 4 2 2 5 5
3 4 4 4 2 2 0 0
3 4 0 0 4 4 2 2
3 4 0 0 4 0 0 0
3 4 0 0 2 2 2 2
3 4 0 0 2 1 0 0
3 2 5 0 5 5 2 5
3 2 2 4 2 2 2 4
3 2 0 0 2 4 5 5
3 2 0 0 2 2 2 2
3 2 0 0 2 2 0 0
3 1 4 4 2 5 5 2
3 1 2 0 2 2 2 2
3 0 0 0 6 5 5 0
3 0 0 0 6 2 0 0
3 0 0 0 5 4 4 4
129
3 0 0 0 4 7 0 0
3 0 0 0 2 2 2 2
3 0 0 0 2 1 0 0
3 0 0 0 1 1 1 0
3 0 0 0 0 -1 0 0
2 6 5 5 5 5 5 2
2 6 5 0 5 5 5 2
2 6 5 0 2 2 2 2
2 6 2 2 5 5 2 2
2 6 2 2 2 2 2 2
2 6 2 0 5 5 5 2
2 6 2 0 2 5 5 5
2 6 1 5 4 2 5 5
2 6 0 0 5 5 4 0
2 6 0 0 5 4 0 0
2 6 0 0 4 5 5 5
2 6 0 0 1 2 5 5
2 5 5 5 2 0 0 0
2 5 5 0 2 2 2 2
2 5 2 0 2 0 0 0
2 5 1 1 1 5 4 2
2 5 0 0 5 5 5 6
2 5 0 0 5 5 2 2
2 5 0 0 4 5 0 0
2 5 0 0 1 0 0 0
2 4 5 0 5 5 2 5
2 4 5 0 5 2 1 0
2 4 5 0 2 2 2 2
2 4 4 4 2 5 5 2
2 4 4 2 5 5 5 2
2 4 4 0 4 4 2 2
2 4 4 0 4 2 2 0
2 4 4 0 2 2 5 5
2 4 4 0 2 0 0 0
2 4 2 0 5 5 5 5
2 4 0 0 5 4 0 0
2 4 0 0 2 5 5 5
2 4 0 0 2 2 2 0
2 3 3 0 2 3 0 0
2 3 1 0 1 1 1 1
2 3 0 0 7 4 4 4
2 3 0 0 5 4 4 4
2 3 0 0 4 3 0 0
2 2 2 2 4 2 2 0
2 2 2 2 2 2 2 2
2 2 1 0 1 1 1 1
2 2 0 0 2 3 0 0
2 1 4 0 2 2 2 2
2 1 2 0 7 4 0 0
2 1 1 1 1 1 1 1
2 1 1 0 1 5 4 0
2 1 1 0 1 5 0 0
2 1 1 0 1 2 2 2
2 1 1 0 1 0 0 0
2 1 0 0 1 2 2 2
2 1 0 0 1 1 1 0
2 0 0 0 7 6 0 0
2 0 0 0 7 1 1 0
2 0 0 0 6 7 0 0
2 0 0 0 6 1 0 0
2 0 0 0 5 6 5 5
2 0 0 0 5 4 4 2
2 0 0 0 5 2 2 0
2 0 0 0 5 1 1 1
2 0 0 0 4 4 4 4
2 0 0 0 4 2 5 0
2 0 0 0 4 2 2 2
2 0 0 0 4 1 1 0
130
2 0 0 0 3 2 2 0
2 0 0 0 2 5 5 0
2 0 0 0 2 2 2 0
2 0 0 0 2 -1 0 0
2 0 0 0 1 6 5 5
2 0 0 0 0 2 2 0
2 -1 0 0 5 5 4 7
1 7 4 4 4 0 0 0
1 7 4 4 1 4 2 4
1 7 4 0 4 5 5 5
1 7 2 0 6 0 0 0
1 7 0 0 4 6 0 0
1 7 0 0 4 0 0 0
1 6 7 0 3 0 0 0
1 6 5 5 5 5 2 2
1 6 5 5 2 2 2 2
1 6 5 0 5 5 5 1
1 6 5 0 5 5 2 6
1 6 5 0 5 5 2 1
1 6 5 0 5 2 2 2
1 6 5 0 5 0 0 0
1 6 5 0 2 5 2 2
1 6 5 0 2 1 2 5
1 6 4 4 5 4 2 4
1 6 4 0 4 2 2 2
1 6 2 5 5 5 2 5
1 6 2 2 2 6 2 2
1 6 2 2 2 5 5 6
1 6 2 2 2 5 2 0
1 6 2 0 5 5 6 2
1 6 2 0 2 5 5 2
1 6 2 0 2 2 5 5
1 6 2 0 2 0 0 0
1 6 1 0 1 5 0 0
1 6 0 0 7 5 4 2
1 6 0 0 7 1 1 0
1 6 0 0 5 5 5 2
1 6 0 0 5 2 5 2
1 6 0 0 2 2 2 5
1 6 0 0 2 1 0 0
1 6 0 0 1 4 2 4
1 5 6 2 2 2 2 2
1 5 5 5 5 6 1 1
1 5 5 2 5 5 6 2
1 5 5 2 2 5 0 0
1 5 5 0 5 4 2 2
1 5 5 0 2 5 2 4
1 5 5 0 2 5 2 2
1 5 4 2 5 5 5 1
1 5 4 0 4 2 2 2
1 5 4 0 2 5 5 1
1 5 2 0 5 5 2 6
1 5 2 0 2 4 5 2
1 5 1 1 1 1 1 1
1 5 0 0 7 0 0 0
1 5 0 0 6 -1 0 0
1 5 0 0 5 5 5 2
1 5 0 0 4 4 4 2
1 5 0 0 4 2 2 2
1 5 0 0 4 2 2 0
1 5 0 0 2 5 5 1
1 5 0 0 2 4 5 0
1 5 0 0 2 4 0 0
1 5 0 0 2 2 0 0
1 5 0 0 1 2 2 0
1 5 0 0 1 1 2 5
1 5 0 0 1 1 1 0
1 4 6 0 2 5 5 5
131
1 4 6 0 2 2 5 5
1 4 5 2 2 6 0 0
1 4 5 2 2 5 0 0
1 4 5 2 2 4 5 2
1 4 5 0 6 2 2 2
1 4 5 0 5 2 0 0
1 4 5 0 2 5 5 6
1 4 5 0 2 5 5 1
1 4 5 0 2 2 0 0
1 4 4 6 2 2 5 5
1 4 4 4 5 5 5 5
1 4 4 4 4 2 2 2
1 4 4 4 2 2 5 1
1 4 4 4 2 2 2 2
1 4 4 2 2 5 5 2
1 4 4 2 2 0 0 0
1 4 4 1 1 0 0 0
1 4 4 0 5 5 2 2
1 4 4 0 5 2 5 2
1 4 4 0 5 2 2 2
1 4 4 0 4 4 4 2
1 4 4 0 4 2 0 0
1 4 4 0 2 5 2 2
1 4 4 0 2 2 0 0
1 4 4 0 1 4 4 1
1 4 2 5 5 5 2 6
1 4 2 5 5 5 2 5
1 4 2 0 5 5 5 2
1 4 2 0 5 5 5 1
1 4 2 0 2 2 2 2
1 4 2 0 2 2 0 0
1 4 1 0 5 1 0 0
1 4 1 0 1 3 0 0
1 4 1 0 1 2 0 0
1 4 1 0 1 1 0 0
1 4 1 0 1 0 0 0
1 4 0 0 6 5 5 5
1 4 0 0 6 5 5 0
1 4 0 0 5 5 5 7
1 4 0 0 5 5 5 2
1 4 0 0 5 2 2 0
1 4 0 0 5 1 1 5
1 4 0 0 4 7 4 0
1 4 0 0 4 5 5 5
1 4 0 0 4 4 4 4
1 4 0 0 4 4 4 2
1 4 0 0 4 4 0 0
1 4 0 0 4 2 5 5
1 4 0 0 4 2 1 1
1 4 0 0 2 2 6 0
1 4 0 0 2 2 2 4
1 4 0 0 1 2 5 5
1 4 0 0 1 1 1 1
1 3 2 0 2 6 0 0
1 3 0 0 5 1 1 0
1 3 0 0 5 0 0 0
1 3 0 0 4 2 5 4
1 3 0 0 4 -1 0 0
1 3 0 0 2 2 0 0
1 3 0 0 2 1 1 0
1 2 5 5 5 2 5 6
1 2 5 5 5 2 5 2
1 2 5 0 5 5 1 1
1 2 5 0 5 4 4 2
1 2 5 0 5 2 2 2
1 2 5 0 5 0 0 0
1 2 5 0 4 2 5 5
1 2 5 0 2 6 0 0
132
1 2 5 0 2 2 0 0
1 2 4 2 2 5 2 2
1 2 4 0 2 5 5 5
1 2 4 0 2 2 2 4
1 2 2 5 5 5 2 5
1 2 2 5 2 5 5 5
1 2 2 2 5 5 2 2
1 2 2 2 4 2 5 5
1 2 2 2 2 5 5 5
1 2 2 2 2 1 1 0
1 2 2 2 1 1 1 0
1 2 2 0 4 7 0 0
1 2 2 0 4 2 2 2
1 2 2 0 2 6 5 5
1 2 2 0 2 5 5 5
1 2 2 0 2 2 5 5
1 2 2 0 2 0 0 0
1 2 1 1 1 2 2 2
1 2 1 0 2 6 2 2
1 2 1 0 2 2 1 2
1 2 0 0 7 0 0 0
1 2 0 0 6 0 0 0
1 2 0 0 5 5 5 5
1 2 0 0 5 5 5 2
1 2 0 0 4 4 4 4
1 2 0 0 3 4 2 5
1 2 0 0 2 6 5 5
1 2 0 0 2 5 5 5
1 2 0 0 2 2 5 5
1 2 0 0 2 2 1 1
1 2 0 0 2 1 1 1
1 2 0 0 2 1 0 0
1 2 0 0 2 0 0 0
1 2 0 0 1 2 1 1
1 1 7 0 1 0 0 0
1 1 4 4 4 4 0 0
1 1 4 0 7 0 0 0
1 1 3 0 1 0 0 0
1 1 2 2 2 1 0 0
1 1 2 0 5 0 0 0
1 1 2 0 2 1 2 0
1 1 1 4 4 1 0 0
1 1 1 0 5 4 7 0
1 1 1 0 1 5 4 2
1 1 1 0 1 4 0 0
1 1 1 0 1 3 0 0
1 1 1 0 1 2 1 1
1 1 0 0 6 5 5 0
1 1 0 0 2 5 5 1
1 1 0 0 2 2 2 2
1 1 0 0 1 7 1 1
1 1 0 0 1 6 5 5
1 1 0 0 1 5 5 5
1 1 0 0 1 2 2 0
1 1 0 0 1 2 1 1
1 1 0 0 1 1 2 2
1 1 0 0 1 0 0 0
1 0 0 0 7 6 5 5
1 0 0 0 7 4 5 5
1 0 0 0 7 4 4 4
1 0 0 0 7 2 2 0
1 0 0 0 7 1 1 4
1 0 0 0 7 1 1 2
1 0 0 0 6 6 0 0
1 0 0 0 6 5 5 4
1 0 0 0 6 5 5 2
1 0 0 0 6 5 2 5
1 0 0 0 6 5 0 0
133
1 0 0 0 6 4 5 5
1 0 0 0 6 4 4 2
1 0 0 0 6 4 2 0
1 0 0 0 6 2 5 0
1 0 0 0 6 1 1 0
1 0 0 0 5 6 2 0
1 0 0 0 5 5 5 0
1 0 0 0 5 5 4 0
1 0 0 0 5 4 5 5
1 0 0 0 5 2 5 2
1 0 0 0 5 2 2 2
1 0 0 0 5 2 0 0
1 0 0 0 4 7 1 1
1 0 0 0 4 5 0 0
1 0 0 0 4 4 5 5
1 0 0 0 4 4 4 2
1 0 0 0 4 4 2 2
1 0 0 0 4 4 1 0
1 0 0 0 4 4 0 0
1 0 0 0 4 1 2 2
1 0 0 0 4 1 2 0
1 0 0 0 4 1 1 5
1 0 0 0 4 1 0 0
1 0 0 0 3 2 2 2
1 0 0 0 3 2 0 0
1 0 0 0 3 1 1 0
1 0 0 0 3 -1 0 0
1 0 0 0 2 6 5 5
1 0 0 0 2 6 0 0
1 0 0 0 2 5 5 5
1 0 0 0 2 4 0 0
1 0 0 0 2 2 6 0
1 0 0 0 2 2 5 0
1 0 0 0 2 2 1 1
1 0 0 0 2 1 4 0
1 0 0 0 1 4 5 5
1 0 0 0 1 3 0 0
1 0 0 0 1 2 0 0
1 0 0 0 1 1 6 0
1 0 0 0 1 1 5 1
1 0 0 0 1 1 4 0
1 0 0 0 1 1 1 5
1 0 0 0 0 4 4 4
1 0 0 0 0 4 2 0
1 0 0 0 0 2 0 0
1 0 0 0 0 1 1 0
1 0 0 0 0 1 0 0
1 -1 0 0 6 5 5 4
1 -1 0 0 5 5 5 2
1 -1 0 0 4 0 0 0
1 -1 0 0 2 2 2 0
1 -1 0 0 1 1 1 0
1 -1 0 0 1 0 0 0];
134
R=
[97 996 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0
98 772 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
99 492 0 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0
100 338 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0
101 216 1 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0
102 168 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0
103 134 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0
104 105 1 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0
105 46 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0
106 42 1 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0
107 31 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0
108 16 1 0 0 1 0 0 1 0 1 0 1 0
109 13 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0
110 8 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0
111 6 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0
112 5 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0
113 4 1 0 0 1 0 0 1 1 0 1 0 0
114 3 0 0 0 1 0 0 1 1 0 1 0 1
115 3 0 0 0 1 0 0 1 1 0 1 0 0
116 2 1 0 0 1 0 0 1 1 0 1 0 1
117 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1
118 1 0 0 0 1 0 0 1 0 1 0 1 0];
3 MATRIZES DE TRANSIÇÃO
mt1=
[195 229 67 66 12 8 19 14 6 1 2 0 0 0 0 1 0 1 0
43 60 23 5 5 3 3 3 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
77 109 30 33 9 4 13 6 2 0 4 0 1 2 0 0 0 0 0
45 36 16 21 5 4 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
26 45 14 31 19 3 5 8 1 2 2 0 0 0 0 1 0 0 0
36 43 28 16 5 5 1 1 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0
35 19 6 9 0 0 4 6 2 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0
18 29 4 3 0 0 3 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
2 22 1 6 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
11 12 9 5 0 0 0 0 1 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0
4 2 2 3 4 3 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
3 7 0 2 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 3 0 8 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0];
mt2=
[0 1 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
135
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0];
MT=[mt1 mt2];
==========================
CORPO DO CÓDIGO
==========================
midi2nm;
nm=nm;
n=quantizar_01(nm)
% Coluna de ataques
n1=n(:,1)
% Em caso de anacruse
if n1(end)>30
n1(:)=n1(:)-2;
end
k=n1
n(:,1)=k;
% separar anacruse
x=find(n(:,1)<0)
if sum(x)>0
n(x,:)=[];
136
anacruse=n(x,:);
end
n;
% Generalização
% Soma de uma unidade a todos os valores
for i=1:size(pM,1)
a=pM(i,:);
for j=1:size(a,2)
b=a(j);
if b~=0
pM(i,j)=pM(i,j)+1;
end
end
end
pM;
prv=[];
for i=1:size(pM,1)
a=pM(i,:)-(i-1);
% eliminação de valores negativos
x=find(a<0);
a(x)=0;
prv=[prv;a];
end
pM=prv;
pM(:,1)=[];
137
Vet=num2str(vet);
vA=A(:,3:end)
% ======================
% TRANSCRIÇÃO VETORES - LETRAS/TEMPO
prv=[];
for i=1:size(Vet,1)
a=vet(i,:);
for j=1:size(vA,1)
b=vA(j,:)
if a==b;
k=j;
138
prv=[prv;k];
end
end
end
x=prv
seq=(A(x,1))'
s=size(seq,2)
% por frase
prv=[];
for i=1:8:size(seq,2)
a=seq(i:i+7);
prv=[prv;a];
end
frases=prv
% ===================
elseif ct==1
v=(p1(:,3))';
res=c_markov(v,1);
ind=p1(res,1);
elseif ct==2
v=(p2(:,3))';
res=c_markov(v,1);
ind=p2(res,1);
elseif ct==3
v=(p3(:,3))';
res=c_markov(v,1);
ind=p3(res,1);
elseif ct==4
v=(p4(:,3))';
res=c_markov(v,1);
ind=p4(res,1);
elseif ct==5
v=(p5(:,3))';
res=c_markov(v,1);
ind=p5(res,1);
elseif ct==6
v=(p6(:,3))';
res=c_markov(v,1);
ind=p6(res,1);
elseif ct==7
v=(p7(:,3))';
res=c_markov(v,1);
ind=p7(res,1);
end
cont=SILA(ind,2:end);
prv=[prv;cont];
prv1=[prv1;silR];
end
% RESULTANTES:
% estrutura rítmica
CP_r=prv1
% coluna de ataques
CA1=CP_r(:,1);
CA2=CP_r(:,2);
cpr=char(CP_r);
% estrutura de contorno
CP_c=CHORO_traduzContorno_v02(prv)
cod=1;
elseif x(j:j+1)==double('e+')
cod=2;
elseif x(j:j+1)==double('e-')
cod=-2;
elseif x(j:j+1)==double('s+')
cod=3;
elseif x(j:j+1)==double('s-')
cod=-3;
elseif x(j:j+1)==double('l+')
cod=4;
elseif x(j:j+1)==double('l-')
cod=-4;
end
prv1=[prv1;cod];
end
prv=[prv;prv1];
end
Matr=prv
prv=[];
for i=1:size(CP_c,1)
a0=CP_c(i,:);
x=find(a0=='0');
a0(x)=[];
prv(i,1:size(a0,2))=a0;
end
prv;
cont=char(prv);
set(handles.contorno,'string',cont);