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coruja.
Como não era muito de conversas, a coruja tentava entender o que ali ocorria sem
perguntar à revoada.
Entretanto, num belo dia, um pequeno pirilampo pousou bem próximo dela e puxou
conversa:
— Sra. Coruja, me perdoe, mas porque vive aqui sozinha se poderia estar ali
mais adiante com suas amigas?
A coruja, embora preferisse continuar calada, também tinha uma pergunta sem
resposta e resolveu falar:
— Para não viver sozinha. Para voar em bando como faço com meus irmãos.
— Hummmmm. Não sei se gosto desta algazarra. Prefiro ficar aqui com meus
pensamentos. E tenho receio de ser pesada demais para ir muito adiante.
— Mas, com estas asas enormes, poderia voar para onde quisesse. Elas aguentam.
E o peso sempre pode diminuir. Posso ajudar-te. Quer tentar?
— Dia destes, respondeu sem convicção. Mas, diga-me uma coisa: porque vocês
brilham quando voam?
— Não sei bem o porquê. Mas, isto deixa-nos muito felizes. E quanto mais felizes
ficamos, aquecemos por dentro e mais brilhamos.
— Mas, alguns de vocês brilham tanto que explodem. Não tens medo?
— Medo? Porque teríamos medo se nascemos assim, para fazermos isto? Não
podemos ter medo do que somos. A Sra. tem medo de tomar conta da mata?
— De onde tirou essa ideia?
— Bem, a Sra. vive neste canto parada, observando tudo com esses olhos enormes
e quando vê um intruso aproximar-se, devora-o. É a nossa protetora!
— Mas, poderia alimentar-se de outra forma. Porque faz exatamente igual às suas
amigas do outro lado do campo sem sequer conhecê-las?
A coruja sem saber o que responder, silenciou-se. Ali, quieta no seu canto,
analisando tudo e todos, faltava-lhe uma informação essencial: a consciência de si
mesmo. Quem era? O que fazia ali?
— Muito parecidas. A única diferença é que elas conversam entre si. Quer ver? Eu
te levo lá.
Até que um dia, ela finalmente tomou coragem e pediu que ensinasse o caminho
para encontrar suas iguais. A viagem não era longa, mas custosa para quem tinha
tanto medo de voar.
Eternamente grata, a coruja foi viver a sua vida, inspirada por seus amigos
pirilampos , que mesmo sabendo o que aconteceria, não puderam – ou quiseram –
evitar o que são.
E, para honrar o que havia vivido e aprendido, trocou a sabedoria arrogante pela
busca humilde e assim pode aproveitar melhor “novas folhas, novas flores na
infinita bênção do recomeço” (Chico Xavier)