Você está na página 1de 3

Contos da Ratazana

Chovia fracamente aquela noite, fazia bastante frio naquele lugar inóspito a beira do cais de
Marselha. Era esquisito para mim me passar por mortal novamente, permitir que meus passos façam
barulho era mais desafiador do que ser um silêncio absoluto, ser absolutamente quieto passou a ser
a norma para minha vida, ou não-vida caso você queira chamar desta forma.
Tac, tac, tac faziam meus passos enquanto eu andava pelo píer de Marselha, aquilo me
incomodava profundamente, bem no fundo da minha alma, porém Terrence era somente um
humano, dar uma de ninja e aparecer sem fazer sequer o mínimo barulho seria incrivelmente
perturbador para ele, então preferi abandonar meus instintos que gritavam loucamente “volte para as
sombras!”, “Não apareça na luz”, “Ninguém vai te achar na escuridão” ao longe eu avistei Terrence,
um burocrata do ministério do trabalho que eu conheci dos meus tempos agente secreto, ele sempre
foi útil, sempre passou boa informação e agora ele me chama com urgência, ele é um dos poucos
que sabe como me encontrar, um e-mail com criptografia GPG que só é usado para marcar reuniões.
Ensinar um burocrata a criptografar suas mensagens de e-mail com tecnologia de ponta não foi nada
fácil, mas ele está convencido que esta é a melhor a forma de nos comunicarmos, quanto menos nos
verem juntos melhor será para ambos. Vou andando pela calçada e olho para meu reflexo na água
do píer, uma versão envelhecida e muito menos atraente de mim mesmo surgiu no reflexo turvo das
águas do mediterrâneo, me sento ao lado de Terrence, ele era um homem beirando seus 60 anos,
usava um óculos redondo, um casaco preto bem pesado, luvas e roupas de escritório, parecia que ele
estava trabalhando de terno e gravata e sentiu um frio e se agalhou pois o casaco não combinava
nada com o restante da roupa vestida. Um homem que não se prepara com antecedência. Isso dizia
muito sobre a sua personalidade.
- O tempo não foi gentil com você meu velho amigo – Falou Terrence em um tom baixo quase
como um condescendente.
- Por que você me chamou aqui Terrence? - Disse friamente cortando o papo nostálgico – Você sabe
que quanto menos nos encontrarmos melhor será para nós dois.
- Preciso que você faça algo para mim – disse Terrence meio apreensivo.
- Problemas com a esposa? - Falei sem rodeios.
- Como você sabe disso? - disse Terrence me olhando com uma cara assustada – Você anda me
espionando?
- Sua aliança está brilhando, sua roupa está amarrotada, seu sapato não está engraxado como
costuma ser, seu e-mail foi enviado de um quarto de hotel aqui de Marselha. - Disse olhando para as
águas do mediterrâneo – Me parece bem óbvio Terrence, não precisa ser um espião para adivinhar.
- O que tem a aliança brilhando com todo o resto? Só por curiosidade. - Perguntou Terrence com
genuína curiosidade.
- Você a tirou recentemente, casais com décadas de relacionamento não costumam mexer muito em
suas alianças, claro este fato isolado não significa nada, porém na conjuntura dos acontecimentos
significa muito. - Respondi secamente.
- Entendo, vocês devem ter umas vidas de merda não é mesmo? Sempre prestando a atenção em
tudo que acontece ao redor, não podendo relaxar um segundo, não podendo viver uma vida normal
– Disse Terrence
- O que você quer Terrence? Seja direto. - Disse friamente
- Quero que você hackeie a minha esposa, se tem outro homem na jogada eu preciso saber – Falou
Terrence
- Hackear alguém não é como mágica Terrence apesar de parecer as vezes, é preciso cumprir um
certo número de passos para se conseguir a coisa. Que tipo de sistema sua esposa usa? - Perguntei
- Ela usa um Blackberry e um Macbook – Disse Terrence.
- Entendi, qual o tipo de relacionamento você possui com ela no momento? - perguntei.
- Estou fora de casa no momento, mas consigo ir lá se for preciso. - Disse Terrence
- Bem a forma mais fácil de eu ter acesso ao computador de sua mulher é se você conseguir plugar
um pendrive nele, dai eu posso mandar um todo o conteúdo para um Palm. Isso estará no seu quarto
de hotel amanhã.- Disse isso me levantando e começando a sair.
- Eu preciso que você faça mais duas coisas para mim e aquela sua dívida estará paga. - Disse
Terrence antes que eu desse mais que 3 passos.
- Que duas coisas Terrence? - Completei
- Eu não tenho como provar que tem outro cara, mas eu tenho certeza que tem, preciso que você dê
um sumiço nesse cara e preciso que você alivie a minha barra com o Noah, to devendo uma grana
boa pra ele e bem, eu poderia pagar, mas com o divórcio acontecendo não será mais possível. -
Disse Terrence.
- Noah é um cara perigoso Terrence, eu posso tentar te livrar dessa, mas eu não tenho como garantir
que você sairá desta ileso. Até a próxima Terrence. - Disse colocando o capuz e me afastando no
frio de Marsseile.

Algumas noites depois

Não foi muito difícil conseguir hackear os aparelhos de uma mulher de quase 60 anos. As
suspeitas de Terrence estavam corretas, havia um outro homem na jogada a mais de um ano. Um
corretor de imóveis de bastante sucesso. O homem deve ganhar em torno de 9 a 10 vezes o que
Terrence ganha e olha que o salário de Terrence está muito longe de ser um salário baixo. O homem
tem uma casa bastante luxuosa em uma área nobre da cidade, andar pelas ruas vazias da cidade era
sempre libertador, chegando no endereço eu vejo uma casa murada com cachorros arremesso a
carne especialmente preparada pros caninos e espero uns 15 minutos, tempo o suficiente para fazer
os cachorros dormirem, dou a volta e vou para o fundo da casa, neste ponto eu tenho que tomar um
pouco de cuidado, pois há uma câmera para esta parte da casa. Pego meu Palm e remotamente eu
desligo o sistema de vigilância da casa e entro pelos fundos, arrombar uma fechadura residencial é
brincadeira de criança. Entro pelos fundos da casa, não há ninguém aqui no momento, o amante que
agora é oficial passará esta noite na casa da esposa de Terrence. Entro pela sala e vejo aquilo que
vim buscar o computador pessoal dele. Ligo o aparelho e com acesso físico ao dispositivo é muito
fácil invadir o sistema. Adivinhar a senha e entrar em seu Desktop. O infeliz tem todas suas senhas
gravadas no navegador o que torna minha vida muito mais fácil. Peguei meu Rubber Duck e
pluguei em seu computador. Os scripts que eu montei para hackear muitos sites do governo e da
polícia deixando mais rastros que joão e maria explorando a floresta rodou em menos de 3 minutos,
esse script fazia uma série de passos, como abrir contas no exterior e fazer uma série de fraudes no
nome do indivíduo, mas com um detalhe, sem nenhum cuidado. Não demorará muito para este
homem ser investigado e preso. Principalmente depois de uma denuncia anônima para o setor de
fraudes da policia federal.
O amor é sempre um risco.

Noah Karadyuman

Noah Karadyuman; este cara é perigoso, ouvi dizer que ele é extremamente proficiente em
uma série de habilidades de combate, existe uma história que ele derrubou um helicóptero da policia
na década de 80 atirando de um carro em movimento, colocando metade do corpo para fora do carro e
segurando um rifle de longo alcance, estava acontecendo uma intensa troca de tiros entre a policia e o
grupo de Noah na Espanha, estavam sendo perseguidos por carros de polícia e um helicóptero dava
apoio aéreo , o grupo de Noah estava com dois veículos sendo alvejados por todos os lados, quando o
helicóptero passou por eles e se adiantou para fazer uma manobra Noah preparou a arma e atirou
duas vezes matando o piloto com um tiro certeiro na testa e o atirador do helicóptero com um tiro na
garganta. A queda do helicóptero ficou na mídia por semanas mas o grupo de Noah já havia fugido. Se
esta história for verdade, esse cara é o melhor atirador que eu já ouvi falar em toda a minha vida.
Outra coisa que chama a atenção é o sobrenome “fumaça preta”, outros rumores apontam para um
nome inventado que esse nome foi escolhido para significar sua proficiência com motos, indicando que
é isso que seus oponentes veem quando tentam persegui-lo. Provavelmente todas histórias
espalhadas por ele próprio. Todas essas histórias passam pela minha cabeça enquanto eu caminho
pelas ruas de Marselha, capuz sobre a cabeça, sempre evitando ficar próximo de muita luz, luvas nas
mãos e elas pelo bolso de dentro do casaco, chego no bar/boate/inferninho que Noah reclama para sí,
na porta muitas pessoas bebendo e conversando, o tom moto clube predomina neste lugar, com
pessoas vestindo muito couro e símbolos de motos e caveiras, que preguiça, será que todo Brujah que
eu conhecer vai ser um puro esteriótipo de seu clã? Pergunta para outra noite.
Ando pelas ruas laterais procurando uma forma de entrar e vejo que há uma pequena viela que
dá acesso ao moto clube, há uma grade impedindo o acesso e nenhuma vigilância eletrônica,
provavelmente este é o caminho usado pra entrada e saída de coisas ilegais neste bar. Vencer a
fechadura é algo trivial, logo fecho a grade atrás de min, um pequeno corredor com lixo disposto em
seu caminho provavelmente esperando o dia da coleta. No fim do mesmo uma porta de acesso a
cozinha do estabelecimento. Consigo ouvir ao fundo os ruídos da musica estridente, as batidas
pesadas de rock, encosto meus ouvidos na porta e escuto barulhos de pessoas trabalhando, tiro a
gazua dos bolsos e facilmente abro a porta porém sem fazer o mínimo barulho. Ativo os poderes do
sangue de Cain, e abro a porta sem fazer barulho algum, olho pra dentro do estabelecimento e vejo
todos os trabalhadores olhando para o outro lado ocupados com o seu próprio trabalho. Atravesso a
cozinha e vou direto para a sala de Noah, a porta estava aberta e Noah estava lendo um livro de
anotações. Provavelmente um livro caixa de atividades ilegais. Me posiciono entre a estante direita e a
porta não ficando visível para o lado de fora e digo:
- Boa noite Noah - Digo sem rodeios
- PUTA QUIU PARIU NOSFERATU DE MERDA!!! QUE SUSTO CARALHO!!!! - disse Noah apontando
sua pistola pra enquanto falava, seu saque foi rápido como um raio, acho que as histórias tem um
fundo de verdade. - VOCÊ TEM A PORRA DE TRINTA SEGUNDOS PRA ME CONVENCER A NÃO
ENCHER ESSA TUA FUÇA CHEIA DE COCO DE RATO DE BALAS SEU FILHA DA PUTA!!!! - Disse
Noah espumando de raiva.
- Eu vim aqui por causa do Terrence, vim aqui negociar a dívida dele. - Disse calmamente.
- Que? Quem é a porra do Terrence? Ta doidão ratazana? - Disse Noah claramente confuso
- Alto, branco, óculos redondos, cabelos grisalhos e adora a companhia de suas garotas – Afirmei.
- Há, esse Terrence! Tu tá aqui por causa de um humano? Ta bem fodido ein ratão! Ele deve ser muito
importante pra você né? Tu até tá querendo morrer por ele! - Disse Noah
- São só negócios Sr Noah, nada pessoal – disse friamente
Noah abaixa a arma, coça a cabeça com o cano da arma e se senta em sua escrivaninha, pega um
caderno de anotações o abre e folheia algumas páginas, olha para mim e fala:
- Teu amiguinho tá devendo 47.536 mil euros em drogas, bebidas e putas… Nada mal…. Nada mal… -
Disse Noah depois de dar um alto e sonoro assobio
- É um valor bem alto pra se deixar um cliente dever não acha? - Disse
- Seu amigo é um cliente da casa de looooooonga data, ele tinha uma linha de crédito, digamos, bem
especial – Disse Noah – E ai, você vai pagar como?
- Eu não tenho esse dinheiro – Disse sem rodeios
- HA! A porra da ratazana invade a minha casa e não tem dinheiro, então pra que eu vou querer você
seu merda? - disse Noah segurando a pistola
- Apesar de eu não ter dinheiro Sr Noah eu tenho certeza que eu posso ser útil em uma ocasião futura
caso o senhor perdoe a dívida de Terrence.
- Hmmm – Disse Noah pensativo – Você então vai me dever um favor?
- É exatamente o que eu estou dizendo Sr Noah. - Disse
- Sim… acho que isso pode ser bom, afinal você é da porra do clã de ratos né? Já ví um de vocês
descobrir coisas escabrosas sobre um dos nossos inimigos. Eu aceito o acordo, deixa o número de
contato em cima da mesa e sai da porra da minha frente com essa cara horrorosa, volta pro teu esgoto
pra fuder com as tuas ratazanas. - Disse Noah em um tom bastante ameaçador.
Me aproximei da mesa e coloquei um número de contato, puxei o capuz mais para próximo do rosto e
sai do estabelecimento.

Você também pode gostar