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Harlan Lane - A Máscara Da Benevolencia
Harlan Lane - A Máscara Da Benevolencia
A MÁSCARA DA BENEVOLÊNCIA
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PREFÁCIO
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Actualmente, na América, qualquer escritor, e principalmente aquele
que defende alterações no vocabulário a fim de debater a questão
das preocupações de uma minoria, tem de se confrontar com a
questão dos pronomes e gêneros em inglês. Não acho aceitável
nenhuma das alternativas: neologismos; pronomes com duas formas;
o uso da passiva ou do plural quando a activa ou o singular é mais
acessível, o uso de «she»(ela) quando não se pretende nenhum dos
gêneros em especial; ou continuar com a velha prática do uso de
«he»(ele) enquanto forma não marcada, como se a questão não
tivesse sido já fortemente debatida. Preferi seguir o caminho da
clareza, com o risco de perder alguns aliados preciosos.
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AGRADECIMENTOS
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UM MUNDO DIFERENTE
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A maioria das pessoas que nasceu surda ou que ficou surda muito
cedo, como a June e que cresceu sofrendo de surdez, integrando-se
na comunidade dos surdos têm um ponto de vista diferente. Estas
pessoas consideram-se essencialmente visuais, com uma linguagem
visual, uma organização social, uma história e com valores morais
que lhes são próprios, ou seja, estas pessoas têm a sua própria
maneira de ser e possuem uma linguagem e cultura próprias. A
investigação que tem sido levada a cabo neste campo desde os anos
1970, bem como a linguística, a antropologia, a sociologia e a história
apoia-os nestas suas considerações. Sem qualquer dúvida a criança
surda enfrenta muitos obstáculos durante toda a sua vida, mas a
falta de comunicação em casa, a educação de nível inferior nas
escolas, a discriminação no emprego são obstáculos colocados no seu
caminho por pessoas ouvintes, que caso conhecessem a comunidade
dos surdos, os retirariam de imediato.
Carol Padden e Tom Humphries, escritores surdos, afirmam no seu
livro American Deaf Culture que os profissionais ouvintes que
trabalham com pessoas surdas têm um «mundo» diferente do dos
seus clientes. A seguinte observação ilustra bem essa diferença de
mundos: de acordo com as pessoas ouvintes, é melhor ser-se duro
de ouvido do que surdo; aquele que é «um pouco duro de ouvido» é
muito menos surdo do que aquele que é «muito duro de ouvido».
Quem é surdo vê as coisas de outra maneira. Quando afirmam que
uma pessoa é um Pouco-Dura-De-
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REPRESENTAÇÕES DO SURDO
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associados a uma mente simples. Porque a linguagem e a
inteligência estão muito interligadas, quando tentamos classificar
uma pessoa (ficamos surpreendidos ao ouvir uma inteligência
superior manifesta - a não ser que tal aconteça de livre vontade -
numa linguagem lenta, arrastada ou em frases gramaticalmente
incorrectas), a surdez surge como uma deficiência do intelecto. O
«mudo» do «surdo e mudo» surge não só para fazer referência à
mudez, como também à fraqueza da mente. O casal surdo em In This
Sign, de Joanne Greenberg, é ignorante mesmo em assuntos
respeitantes ao nascimento de uma criança. Paradoxalmente, a
surdez pode parecer digna: a tão simplicidade da mente e a inocência
de uma criança revelam uma alma pura, sem os artifícios da
civilização. Sophy de Dicken parece que veio do paraíso; Gargan de
Maupassant não consegue falar, é um pastor ignorante mas forte,
honesto e íntegro na sua miséria.
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No desenrolar da convenção do estado podem ocorrer programas de
diversão que os clubes dos surdos das cidades de toda a nação
tradicionalmente apresentam: uma actuação teatral, um sorteio,
jogos, uma dança ou um desafio desportivo. A convenção estatal
termina com a atribuição de inúmeros prêmios em reconhecimento do
serviço prestado à comunidade do surdo. O líder das cerimônias (o
último de que me recordo foi B. J. Wood, que dirige a Commission for
Deaf and Hard of Hearing) relembra os muitos êxitos de cada
ganhador, a quem é dada uma placa comemorativa e a quem se pede
que profira algumas palavras; normalmente são palavras sobre o que
ele ou ela não poderiam ter feito (organização de um torneio com
êxito, a realização de espectáculos, gestão de fundos, gestão de um
campo de férias para crianças surdas e a publicação do jornal da
comunidade) sem o auxílio de A, B e C. O reconhecimento da
prestação de serviços e as felicitações calorosas a todos os presentes
prosseguem durante horas, até que os amigos desejem,
involuntariamente, boa noite uns aos outros.
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Quais são alguns dos valores notáveis desta cultura? Os laços entre
as escolas de bairro são extremamente importantes, sendo muito
provável que antigos graduados a elas compareçam frequentemente
para reuniões de convívio. Quando lhes é perguntado de onde são, os
surdos normalmente respondem recorrendo ao nome da escola do
bairro a qual foi por eles freqüentada; esta questão surge sempre nas
apresentações. Entrevistada num clube de surdos, uma octogenária
testemunhou eloquentemente a importância dos laços daquelas
escolas: «Está a ver aquelas pessoas que estão ali sentadas? São os
meus colegas de turma da Berkeley School. Quando eu
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O que faz com que a comunidade americana dos surdos seja mais
parecida com a comunidade dos hispano-americanos do que com os
americanos incapacitados é, sem dúvida nenhuma, a sua cultura,
incluindo a sua linguagem. A adesão de novos membros à
comunidade dos surdos não é decidida por diagnóstico; de facto não
é decidida de modo algum, tal como acontece com o processo de
adesão à comunidade hispânica. Os diversos comportamentos
culturais e principalmente a língua-
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em branco
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Pensei que nesse dia estava apenas a realizar uma tarefa de difícil
gestão, assunto familiar para um antigo administrador acadêmico. Na
verdade, estava a começar uma viagem que me levaria a perceber os
grandes pontos comuns entre a opressão cultural sofrida pelos povos
colonizados de África e a sofrida pelas comunidades surdas. Iria
aprender que a resposta à pergunta «Que espécie de pessoa é um
burundês?» ou «Que espécie de pessoa é um surdo?» é um princípio
e um fim. Um princípio porque todas as nossas relações com os
africanos e com a comunidade surda estão pautadas na nossa
representação dos seus membros, na maneira como apreendemos a
sua maneira de ser. Um fim porque o próprio acto de fazer a
pergunta, e os meios utilizados para avaliar o africano ou o surdo
reflectem um desequilíbrio de forças que no final dita a resposta à
pergunta.
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Fim da tabela 1
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Fim da tabela 2
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DENUNCIANDO O PATERNALISMO
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çada. No entanto, outros audistas seriam afectados de forma mais
crucial: este grupo inclui professores de crianças surdas,
administradores e psicólogos escolares e especialistas em
reabilitação.
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adulto surdo tem de fazer com o teste que tem à sua frente. Mas a
pantomima desses examinadores não é segura; frequentemente é
confusa e incompleta. Quando pessoas ouvintes dão instruções para
testes de avaliação do QI usando a pantomima perdem-se 5 pontos,
por isso, alguns investigadores sugeriram que se acrescentassem 5
pontos a toda pontuação QI dos surdos. O psicólogo ouvinte com um
cliente surdo é prejudicado de qualquer maneira: se usar a
pantomima, a pontuação será erradamente baixa; se usar o inglês,
provavelmente não será entendido e a pontuação será até menos
válida. A forma de realizar testes de inteligência às crianças surdas
pode afectar o QI «avaliado» em pelo menos trinta pontos.
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tas, então, ambos os testes não podem ser válidos como medidas de
impulsividade; visto que se um afirma que os resultados sobre o
desenho da linha são medidas de impulsividade válidas; os resultados
dos borrões, sem relação com os outros, não podem sê-lo e vice-
versa.
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maneira de pensar das crianças surdas. Por outro lado, McCay Vemon
suspeita que a causa dos distúrbios comportamentais e emocionais
das crianças surdas, bem como a sua dificuldade em aprender a
«língua» (isto é, inglês), possa resultar de lesões não detectáveis no
sistema nervoso central e que acompanham a perda da audição.
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REPRESENTAÇÃO E PODER
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Por isso, em 1800, imediatamente após o início da educação especial
para os surdos, no iluminismo francês, o Abade Sicard, reitor na
escola de Paris e autor do primeiro manual para a educação das
crianças nascidas surdas, escreveu: «Estas crianças não são
entidades na sociedade, são máquinas vivas, estátuas... Não
possuem sequer instintos animais... As suas mentes são vazias...
Para elas o mundo moral não existe. Os vícios e as virtudes são
irreais.» Para as crianças surdas a vida começa quando a instituição
audista deles se encarrega: Só com a tutela dos ouvintes é que «o
mundo, as pessoas, a duração, a vida e o tempo... começam».
Quando a educação da criança surda é dada por completa, ela é
integrada na sociedade: «ela era um animal selvagem e má; agora já
pode ser considerada como um ser humano.» O fundador da otologia,
autor do primeiro livro sobre as doenças do ouvido e as deficiências
da audição, Jean-Marc Itard, descreveu a surdez congênita, a
adquirida nos primeiros anos de vida, segundo os seguintes termos:
«ela condena a vítima ao isolamento moral, à incapacidade da fala e
a um desenvolvimento intelectual incompleto. O surdo-mudo parece
um homem civilizado, mas no seu íntimo existe a barbaridade e a
ignorância de um selvagem. Na realidade, um selvagem, que possua
uma linguagem, ainda que seja muito limitada, é-lhe superior.» As
experiências médicas de Itard nas crianças surdas da escola de Paris
tinham como objectivo fornecer-lhes alguma audição e
consequentemente a oportunidade para adquirir a fala e a
«linguagem», tornando-as cidadãos completamente civilizados.
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cias para o audista. Visto que este não reconhece a história dos
surdos, a sua cultura e a sua linguagem não pode participar nelas.
Em qualquer dos casos, ele está mais ligado à cultura dos ouvintes, à
linguagem oral e aos valores do mundo ouvinte, por isso não
consegue comunicar com as pessoas, no seio das quais, ele escolheu
passar a sua vida profissional. Naturalmente, ele sente uma certa
falta de gratidão pelos os seus esforços. Não respeitou ele sempre a
dignidade e os direitos dos surdos, não trabalhou ele sempre para ter
a certeza que os outros também procediam da mesma maneira?
Então, concerteza, que gostaria de ser um pouco melhor
recompensado. Mas um direito tem de ser merecido; não existe
qualquer razão para mostrar gratidão se o esforço feito tiver sido de
livre vontade, só há motivo para indignação caso tal não se verifique.
Se o audista se aperceber que se está a apoderar do papel da pessoa
surda, se vê que no seu relacionamento com os surdos é do tipo
opressor e oprimido, talvez se possa ofender com as pessoas cuja
existência o coloca em tal situação. «Sobretudo os professores
daqueles com deficiências auditivas não estão satisfeitos com o
ensino», concluiu um estudo que avaliou as atitudes de cerca de 200
professores de crianças surdas. Estes professores, em relação aos
colegas do ensino geral, expressam uma maior insatisfação
respeitante à sua quantidade de trabalho e em relação às opressões
criadas pelas expectativas da comunidade. Os audistas queixam-se
frequentemente de «interrupções súbitas» e Kthryn Meadow
considera este facto um grave problema entre os educadores das
crianças surdas, de acordo com o seu estudo. Curiosamente, o «tom»
principal para prevenção e tratamento, segundo sua sugestão,
consiste no facto de profissionais ouvintes desenvolverem as suas
próprias redes de apoio. Recordo-me dos obstáculos dos antigos
colonizadores que visitei, juntos no meio da confusão da bonomia
alcoólica em Dakar ou Ouagadougou.
Para mostrar que as relações institucionalizadas entre os dois grupos
são opressivas é revelar modos segundo os quais certas estruturas
sociais agem em detrimento de ambas as partes. Existem muitas
vítimas mas poucos são os que as provocaram. Quando analisamos a
força matriz das relações em tais instituições, escreveu Foucault, «a
lógica é perfeitamente clara, os propósitos decifráveis e é ainda
freqüente o caso de que não foi preciso ninguém para os ter
inventado e pode mesmo afirmar-se que foram poucos os que os
formularam.» Os participantes não podem controlar essas relações e
raramente se apercebem delas. «As pessoas sabem o que fazem;
normalmente sabem a razão pela qual o fazem, mas não sabem as
conseqüências do que fazem.» Obviamente existem indivíduos que
tentam pelas suas acções e declarações assumir um comportamento
paternal ou então opressivo, mas faz parte da natureza dos factos
que estes apenas possam ter um sucesso parcial. Num âmbito de
referência, a um nível muito pequeno, podemos distinguir o
paternalismo intencional e o paternalismo não intencional e os
diferentes graus de paternalismo - nem todos os indíviduos e grupos
são intencionalmente paternalistas, nem o nível de paternalismo é o
mesmo. Contudo a uma maior distância, a um nível bastante elevado,
podemos observar que não existem vilões nem heróis. As relações
estruturais opressivas são o resultado de forças históricas, tais como
a apropriação do corpo por parte do Estado; o crescente poder da
medicina, o darwinismo social/a
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O PAPEL DO OPRIMIDO
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dos está dirigida horizontalmente, como Jeff McWhinney, um líder
britânico dos surdos explica «assume geralmente a forma de
bisbilhotice, traição, e escárnio dos líderes dos surdos». Estão aqui
presentes alguns dos termos empregues pelos surdos após terem
interiorizado os valores dos audistas, para humilharem outros surdos,
segundo Ben Bahan, um autor surdo: nível-inferior, cérebro-de-
ervilha, FRACO-EM-INGLÊS, ASL-FORTE, CLUBE-DOS-SURDOS, NÃO-
É-INTELIGENTE-MAS-É-BOM- -no-trabalho, FRACA-GRAMÁTICA, M-L-
S (minimal language skills (Nota 1), uma designação audista).
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A OPRESSÃO DA ASL
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- O aluno, apesar de surdo e mudo, tinha, tal como nós, uma ideia de
passado, presente e futuro antes de ser colocado sob a nossa tutela,
mas eram incapazes de fazer os sinais para exprimir as diferenças.
Se quisesse exprimir uma acção presente? Fazia
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Embora o fracasso do francês gestual e do inglês gestual fosse
definitivo, um grupo resistente da linha de Sicard faz nova tentativa
nos Estados Unidos, Alemanha e outros locais. Numa perspectiva
histórica, não seremos enganados pelos seus objectivos primordiais -
nomeadamente, a introdução de novas e melhores formas de ensinar
a língua oral nacional às crianças surdas.
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O meu cão perde e o céu escurece. Diz-se que «o sol está atrás das
nuvens». Quando o sol surge saindo de trás das nuvens, será que
está então à frente das nuvens? É claro que não! Por isso o sol está
sempre atrás das nuvens. Na verdade, o sol só está atrás das nuvens
quando não está sol.
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trando como arrumar os móveis nesta casa de dois andares. Havia
um sofá, uma TV, uma aparelhagem de som, uma mesa de
piquenique e duas cadeiras, um grelhador. Um assistente formado e
eu pedimos a casais falantes de inglês que nos ajudassem da
seguinte maneira: com a casa já montada e o mobiliário empilhado
em frente da mesma, um dos casais olharia para a fotografia e diria
ao outro onde colocar cada peça do mobiliário, esforçando-se por
reproduzir a arrumação apresentada na fotografia da caixa. Pedimos
aos que arrumavam os móveis que não falassem, e gravámos os que
davam as instruções. Colocar normalmente sete peças de mobiliário:
devia ser fácil. Aqui têm uma transcrição típica, influências e tudo, do
falante nativo de inglês:
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ela não precisa de ser restabelecida para se referir a ela. Quando pedi
a casais de expressão gestual para fazerem a minha experiência, eles
foram não só mais rápidos que os falantes de inglês, mas também
seguiram uma estratégia diferente: criaram um mapa verbal da casa
de bonecas dando nomes às partes fixas da casa e localizando essas
partes no espaço. Depois deram nomes às peças móveis que tinham
de ser colocadas pelos parceiros e posicionaram-nas no espaço verbal
que tinham acabado de criar. Efectivamente não sei como traduzir as
suas frases espaciais para uma língua não espacial como o inglês,
mas tentei fazê-lo usando as palavras here (aqui) e there (ali) para
traduzir a localização de um objecto numa posição em relação aos
outros:
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tempo de estudo dos estudantes). Experimente o caro leitor ligar a
televisão para ver o telejornal da noite sem som e veja o quanto
pode ser difícil ver televisão deste modo. Neste momento a criança,
sem qualquer receio, tem algo a dizer; ela levanta a mão e se for de
um dos muitos países onde lhe é pedido para falar na sala de aula,
esforça-se por articular de um modo claro algumas palavras da língua
nacional que lhe tem sido ensinada. Os papéis inverteram-se: o
professor não consegue compreender a criança; dois terços dos quais
consideram os seus próprios alunos surdos, difíceis de perceber ou
totalmente impossível compreendê-los*. A aprendizagem da leitura
dos lábios e da fala, falha geralmente com as crianças que nunca
ouviram alguém falar e, hoje, a maioria das crianças surdas nas
escolas nunca ouviu alguém falar. Durante os anos 1980, visitei
escolas para crianças surdas em quatro continentes; e na realidade
conheci crianças que, com dificuldade, conseguiam ler os meus lábios
e a quem, com dificuldade, eu (ou o meu intérprete) podia
compreender. Em quase todos os casos eram crianças que tinham
ficado surdas após terem aprendido a linguagem oral ou que tinham
simplesmente deficiências auditivas.
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estudante surdo de 16 anos lia tão mal como uma criança ouvinte de
8 anos. Mesmo na sua disciplina preferida, aritmética, ela estava
quatro níveis abaixo*. Os mesmos resultados atrozes foram
encontrados em Inglaterra: um estudo levado a cabo em quase todas
as crianças surdas de 16 anos, demonstrou que apesar dos 10 anos
de uma educação estritamente oral, saíam da escola aos 16 anos a
ler como as crianças de 8 anos. Apesar de terem sido oralmente
treinadas e ensinadas, estas crianças, nem sequer possuem boas
capacidades orais. Se nos questionarmos sobre a percentagem de
estudantes surdos que no final da sua educação escolar consegue ler
matérias complexas, a resposta é 4 por cento, ou seja, uma em cada
25. Quase metade da população dos surdos britânicos não consegue
ler a um nível funcional; os estudantes surdos têm apenas um quinto
das possibilidades dos estudantes ouvintes para serem aprovados nos
testes de avaliação nacionais realizados quando os estudantes têm 15
ou 16 anos. De igual modo, a média japonesa mostra que os
estudantes surdos daquele país, durante toda a sua vida lerão como
uma criança de 9 anos ouvinte.
Tal facto verifica-se em todo o mundo, onde quer que a educação da
criança surda seja, exclusivamente, realizada na língua nacional.
Estes níveis de sucesso incrivelmente baixos são médias;
aproximadamente 50 por cento das crianças têm ainda menos
instrução. Por exemplo, 35 por cento dos alunos surdos americanos
que saem das escolas secundárias não conseguem ler como as
crianças que frequentam o segundo nível. Infelizmente, trata-se
agora de verdadeiras crianças e, não apenas de meras estatísticas, as
quais muito em breve se tomarão em adultos analfabetos. Se
considerarmos a capacidade de leitura de uma média de crianças
ouvintes com 11 anos em ler um jornal vulgar, verificamos que 75
por cento surdos que abandonam a escola não consegue ler um
jornal, e que 85 por cento dos finalistas profundamente surdos não
consegue fazê-lo.
Vivemos num mundo cada vez mais tecnológico. Hoje em dia, quase
três quartos de todo o tipo de emprego requer uma instrução
tecnológica para além do diploma adquirido na escola secundária. Os
projectos para o ano 2000 - a menos de um decênio - mostram que
para os novos empregos será exigida uma mão-de-obra que tenha
pelo menos, em média, uma educação de 14 anos. Tal significa que,
em média, os empregados que ocuparão aqueles postos de trabalho
terão de ter alguma instrução de nível universitário só para poderem
levar para casa o seu salário ; não necessariamente para serem
patrões.
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momento a ser substituída por trabalhos que exigem níveis
superiores de matemática, linguagem e capacidade de raciocínio*.
Para além disto, as escolas avaliam os números significativos de
estudantes surdos que são incapazes de atingir os resultados, mesmo
os mais baixos, estabelecidos para eles pelas escolas, as quais
colocam estes estudantes nos chamados programas de vivência
prática, que não são mais do que um eufemismo para a sua vivência
quotidiana. Na Grã-Bretanha, metade de todos os estudantes surdos
acaba a escola sem nenhumas habilitações acadêmicas; dois terços
estão em empregos que exigem muito poucas ou nenhumas
habilitações. Muitos professores americanos crêem que o nível
secundário é o nível mais elevado que os surdos são capazes de
atingir; para os professores franceses, mesmo este parece ser
impossível de atingir; por fim os professores do Burundi duvidam que
as crianças surdas sejam capazes de tirar algum proveito da
educação primária. O sistema da educação especial determina aquilo
de que a criança é capaz; a criança não o faz. A juventude surda não
só está vocacionalmente mal preparada pelo sistema audista, como
também é privada do seu próprio desenvolvimento pessoal normal e
da aculturação que lhe permitiria prosperar no casamento, na
comunidade, na recreação e em todos os aspectos de uma vida bem
estruturada.
Com a maioria das crianças surdas nas escolas que ficaram surdas
antes dos três anos, o esforço para as ensinar a falar de um modo
que fosse perceptível e a ler os lábios era inevitavelmente inútil e, a
criança treinada sob o ponto de vista oral, estava certa de ser de
facto deficiente. Uma grande parte da sala de aula era responsável
por tentar fazer com que a criança conseguisse falar. De facto,
muitas escolas tornaram-se em clínicas da fala. Os professores
ouvintes de alunos surdos, normalmente não tinham instrução em
determinadas áreas acadêmicas porque nenhuma
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A OPRESSÃO DA ASL
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em cima-em baixo. Suponhamos que estou a dar uma palestra e
observo na plateia duas pessoas lado a lado - Will e a sua mulher. Em
inglês poderia dizer-se, «Will está à esquerda da mulher», mas neste
caso também posso dizer que ele está do lado direito da mulher - ou
seja, «Will está à direita da mulher». Por conseguinte não fui
suficientemente claro. De que lado está ele? Will está à esquerda ou à
direita da mulher? A resposta é: está dos dois lados. Anna, que está
sentada atrás deles, não concorda comigo; Will nunca esteve à
esquerda da esposa. Se acompanhou este raciocínio e acha que o
inglês é claro embora complicado em relação à esquerda e direita,
tente o seguinte: coloque Will, a mulher, e Anna por forma a que Will
fique à esquerda da mulher, que esta fique à esquerda de Arma e que
Will fique à direita de Anna.
O meu cão perde e o céu escurece. Diz-se que «o sol está atrás das
nuvens». Quando o sol surge saindo de trás das nuvens, será que
está então à frente das nuvens? É claro que não! Por isso o sol está
sempre atrás das nuvens. Na verdade, o sol só está atrás das nuvens
quando não está sol.
Comprei dois balões para o piquenique e amarrei-os num ramo de
modo a que o vermelho ficasse por cima do verde. No entanto, você
está deitado sobre a relva olhando para a abóbada celeste, e o
vermelho está à esquerda do verde - ou à direita do verde,
dependendo do lado em que você estiver deitado. A menos que
consiga ver o horizonte, caso em que o vermelho está por cima do
verde. Eu digo-lhe, «Olha amigo, está uma aranha a balançar por
cima da tua cabeça». Você vai enxotá-la, mas de que lado sacudir?
Ela estará perto ou longe? Estará junto à face ou junto ao topo da
cabeça? Quem sabe?
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Com a maioria das crianças surdas nas escolas que ficaram surdas
antes dos três anos, o esforço para as ensinar a falar de um modo
que fosse perceptível e a ler os lábios era inevitavelmente inútil e, a
criança treinada sob o ponto de vista oral,< estava certa de ser de
facto deficiente. Uma grande parte da sala de aula era responsável
por tentar fazer com que a criança conseguisse falar. De facto,
muitas escolas tornaram-se em clínicas da fala. Os professores
ouvintes de alunos surdos, normalmente não tinham instrução em
determinadas áreas acadêmicas porque nenhuma
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Quando Susan Dutton, que é surda, se mudou com o seu filho surdo,
Mark para Harveys Lake, Pensilvânia, o rapaz foi colocado numa
escola local, numa classe de crianças com necessidades especiais, de
idades compreendidas entre os 8 anos e os 18 anos. Mark era fluente
na ASL, mas nenhum dos professores ou alunos era capaz de
gesticular. Existia um «intérprete auxiliar» presente, que tinha
completado um ano de estudos sobre a linguagem gestual. Quando a
escola organizou uma conferência para formular o Plano Educacional
Individualizado de Mark, a Sr.a Dutton não tinha na sua companhia
um intérprete e foi-lhe dito que «apesar dos meus desejos, do meu
direito na qualidade de pai para decidir o que é melhor para o meu
filho, Mark deveria permanecer na escola local e ser integrado nas
turmas do quarto nível, juntamente com os estudantes ouvintes dois
anos mais novos do que ele». A Sr.a Dutton recusou assinar o PEI,
visto que naquela escola faltavam colegas surdos, cultura e papéis
padrão relativos à surdez e a comunicação não era eficaz. Foi
organizada uma conferência de ouvintes para que a Sr.a Dutton
expusesse o seu problema perante o superintendente assistente da
escola: «Nenhum intérprete estava presente, não houve nenhum
debate, o superintendente assistente compareceu nesta conferência
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O Burundi fornece uma lição objecto sobre o que acontece aos surdos
quando estão isolados na sociedade, quando não conseguem conviver
nas escolas, nos clubes, em casa, nas associações e instruirem-se
mutuamente usando a linguagem um do outro. Existem cinco tipos de
instrução, consoante a fonte de mensagens educativas, que
transformam a criança num adulto instruído. Existem certas coisas
que aprendemos por nós próprios, aquelas que aprendemos com os
nossos colegas, pais, com a comunidade e com a escola. No mundo,
existem muitas crianças que não recebem este último tipo de
instrução, instrução formal, simplesmente porque não tiveram um
acesso físico a ela, ou porque - devido às mesmas razões - não têm
um acesso linguístico, uma vez que aquela instrução é efectuada
numa linguagem, a qual eles não conseguem compreender. Uma
criança sem instrução formal, geralmente, desenvolve-se para se
tornar num adulto opressivo, sob o ponto de vista econômico, mas
não no que é considerado débil mental. Tal criança recebe instrução
informal dos seus amigos, pais, da sua família e dos seus vizinhos.
Com sorte e talento, a criança pode tornar-se num líder da sua
comunidade, seja ela uma comunidade de ouvintes ou uma
comunidade de surdos.
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outras crianças quando a sua surdez foi diagnosticada, ele não estava
ainda completamente surdo. A Sr.a Umuvyeyi reparou que o seu
primeiro filho aos dois anos, ao contrário das outras crianças, ainda
não conseguia falar e, por conseguinte testou a audição do seu filho
com vários tipos de barulho e chegou à triste e inesperada conclusão
(o seu marido e todos os seus parentes eram ouvintes) que a sua
criança era surda. O seu segundo filho, aos dois anos já falava
fluentemente, mas subitamente, deixou de responder aos sons e,
gradualmente, foi perdendo as suas capacidades da fala. A mãe
estava desesperada.
«Quando vemos uma pessoa surda a andar pela rua», disse a mãe de
Jeanne a Assumpta, «pensamos que é perfeitamente normal, alguém
igual aos outros, mas, na
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«Porque é que não lhe conta a história dos pássaros e das abelhas?»,
perguntou Assumpta.
«Mas como é que eu posso conversar com alguém que não fala?»,
replicou a mãe. «Diga-me, como é que se explica tudo isso a alguém
que parece viver noutro mundo?» Já é difícil com pessoas normais
que utilizam a mesma linguagem que nós, a quem se pode dizer o
que não presta, o que é muito mau e o que é bom e que, mesmo
assim, conseguem meter-se em problemas. Quanto mais com alguém
sem ouvidos nem inteligência...
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Estava com receio, porque achei que ele não iria ser capaz de fazê-lo,
mas fincou o pé e conseguiu fazer bastante dinheiro. Se as outras
pessoas percebessem que ele pode fazer o mesmo que elas, se lhe
dessem trabalho, o Vincent poderia sair-se muito bem na vida».
Certamente que o Vincent vai ter uma vida melhor do que Surdinha,
a mulher surda da geração anterior. Vincent encontrou pessoas com
as quais pode comunicar. A linguagem gestual do Vincent, permite-
lhe aprender coisas elementares como comprar e vender com
dinheiro.
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A provação dos Rue começa no dia em que descobrem que o seu filho
Sam é surdo. Talvez da mesma maneira narrada por Thomas e James
Spradley no seu relato da vida com uma criança surda, Deaf Like Me,
Thomas e a sua mulher, Louise,
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tinham ido ver uma barulhenta parada com a sua filha de três meses,
Lynn: «Só alguns segundos mais tarde», escreveu o pai, «é que me
ocorreu que Lynn poderia assustar-se com a ruidosa dissonância que
provocava uma onda de excitação entre a multidão. Quando reparei
que ela se mantinha acordada, quieta e imperturbável, olhando para
o olmeiro acima como se ninguém ali estivesse, senti-me aliviado. Foi
então que o instinto me fez olhar para ela com mais atenção. Não
titubeava nem se virava; não havia nela qualquer movimento ou
reacção que sugerisse que estava a ouvir aqueles sons que vibravam
no ar com tanta força... Senti algo de estranho no fundo do
estômago, como que a pressentir que algo de terrível estava para
acontecer, e não consegui evitá-lo. Pensei então que ela poderia ser
surda.»
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perante o ónus de terem de aprender uma nova linguagem? Irão
fingir que não há nada para aprender e pensar que podem educá-lo
tal como educaram os vossos outros filhos?
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Não se trata só de Sammy não vir a ser uma pessoa ouvinte; trata-se
também de não vir a ser sequer uma pessoa surda instruída. Não lhe
é possível captar mensagens sobre história, aritmética ou geografia a
partir de alguns movimentos evanescentes dos lábios do seu
professor; mais do que isso, e antes de mais, esses movimentos nem
sequer exprimem tais mensagens. Isto porque a educação oral para
crianças surdas, na sua desesperada tentativa de integrar a criança
surda na comunidade dos falantes da língua inglesa, põe de parte
toda a outra instrução. Segundo as palavras de um importante
compêndio sobre a educação para surdos: «Pelo facto de se esperar
que os professores ensinem a língua e a fala, mesmo a carga horária
destinada às disciplinas acadêmicas era muitas vezes inteiramente
dedicada à recuperação da fala e da língua. Uma vez que a maioria
dos professores de surdos não tem formação em áreas acadêmicas
específicas, a tendência para sacrificar o conteúdo acadêmico da
educação é crescente.»
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O tempo passa. Sammy torna-se adolescente, mas não sabe ler nem
escrever; na verdade, nunca o fará fluentemente. Já fiz referência às
tristes estatísticas. Desesperada com a falta de progressos de
Sammy, a Sr.a Rue vai falar com o director da escola de educação
oral. Conta-lhe então que Sammy tem «aprendido sinais» junto de
outros surdos seus conhecidos e que começa a pensar se não seria
melhor para Sammy inseri-lo num dos programas de comunicação
total, os quais empregam todas as formas de comunicação - voz,
sinais, ortografia, gestos. O director aconselha-a a ponderar bem a
situação: será que ela quer mesmo adoptar a linguagem gestual,
condenar o seu filho ao mundo dos surdos, no qual casará com uma
mulher surda e executará trabalhos manuais? A Sr.a Rue ouviu falar
na adaptação ao sistema. Porque não meter Sammy numa escola
pública normal? Não seria pior para Sammy, pois estaria entre
crianças falantes do inglês, e pouparia muito dinheiro com isso. Isso
é um absurdo, responde o director. Se ele não consegue apresentar
resultados palpáveis numa escola especializada com professores
altamente qualificados, como o conseguirá fazer no banco dos surdos
da escola da sua área?
Contudo, sendo a Sr.a Rue uma pessoa dita normal, o contacto que
manteve com o casal de surdos limitou-se a confirmar as suas
convicções anteriores. O casal não
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A Lei sobre o Ensino Bilingue afirma que muitas crianças dos E.U.A.
têm apenas uma proficiência limitada em inglês porque possuem uma
herança cultural distinta, e que o governo federal tem obrigação de
assistir as crianças de minorias linguísticas na aquisição de igual
acesso a educação e no domínio do inglês. A lei prossegue afirmando
que as crianças aprendem usando em primeiro lugar a sua língua
nativa e a sua herança cultural e que o ensino bilingue é portanto
necessário para muitas crianças americanas.
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Dez anos depois da Lei sobre os Direitos Civis, o Congresso aprovou a
Lei sobre a Igualdade de Oportunidades Educativas, que
explicitamente exige que as autoridades locais tomem «as medidas
adequadas para ultrapassar as barreiras linguísticas que impedem
uma participação igual nos programas de instrução». Falando em
nome desta legislação, o presidente Nixon dizia: «Esta lei vai criar
novos projectos de lei sobre os direitos dos americanos de origem
mexicana, porto-riquenhos, índios e outros cuja educação começa
com insuficiências linguísticas para que tenham a certeza de que eles,
também, terão a mesma oportunidade.»
Num outro caso relativo aos testes das crianças com proficiência
limitada em inglês, Rios versus Read, o Tribunal decretou que a Lei
sobre os Direitos Civis e a Lei sobre a Igualdade de Oportunidades
Educativas e outras leis «obrigam que as matérias leccionadas a
essas crianças sejam na sua língua nativa (quando houver exigência)
e por professores competentes...e (sugere fortemente) a exigência de
uma componente bicultural como apoio psicológico à instrução». O
Tribunal considerou que a escola da zona não estava apenas a
proporcionar aos estudantes uma preparação intensiva em inglês
enquanto ficavam atrasados em disciplinas que exigiam um
conhecimento de inglês. O Tribunal ordenou que as autoridades da
escola acrescentassem três aspectos ao programa educativo: educar
os professores em relação às bases culturais especiais das crianças
provenientes de minorias linguísticas; formar todos os professores no
sentido de ensinarem o inglês como uma segunda língua; procurar
activamente e empregar professores pertencentes ao mesmo grupo
minoritário que os alunos.
A cenoura e o pau têm por base uma única ideia. Nós, americanos,
queremos que os nossos filhos sejam educados e que dominem o
inglês. Reconhecemos que para alcançar este objectivo, se a língua
em que são mais fluentes não for o inglês, a sua escolaridade deverá
ser conduzida na língua em que são mais fluentes até que tenham
um domínio suficiente do inglês. Isto é verídico para as crianças que
podem ouvir os professores e é igualmente verídico para as crianças
que não podem ouvir os professores. Mais de vinte estados têm
legislação que promove um determinado tipo de ensino bilingue, e,
em 1985, só em Nova Iorque havia trezentos programas bilingues. O
relatório da UNESCO sobre a educação de surdos atesta como um
princípio que «temos de reconhecer a legitimidade das linguagens
gestuais como sistemas linguísticos a quem devem ser concedidos o
mesmo estatuto que as outras línguas... já não se admite que sejam
omitidas ou que não se incentive a sua integração na educação de
surdos». O Parlamento Europeu fez uma declaração semelhante em
1987. Porém, o ensino bilingue para as crianças que utilizam a ASL
virtualmente nunca se ouviu nos Estados Unidos. Os tribunais
decretaram que as barreiras linguísticas abrangidas pela Lei sobre a
Igualdade de Oportunidades Educativas não necessitavam de integrar
uma língua estrangeira mas podiam integrar línguas indígenas da
América (Guadalupe versus Temple Elementary School District) ou
um dialecto inglês que substancialmente tivesse origem no inglês
padrão americano (Martin Luther King Elementary School Children
versus Michigan Board of Education). Por isso, parece razoável
acreditar que a protecção das línguas minoritárias estipulada por
estes estatutos e casos afins devia ser e é extensiva às crianças
pertencentes à minoria
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dos publicados que servem de base aos programas para crianças que
não falam a língua da maioria, e identificou as propriedades de um
programa com êxito:
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APÓS A REVOLUÇÃO
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O estudo dos surdos sabe agora que esta análise crítica dos papéis
deve ser conduzida dentro de uma perspectiva social, histórica e
política mais ampla da educação de surdos. Os líderes americanos
surdos estão mais cientes que nunca de que têm de travar uma luta
pelo poder se quiserem ver melhorias na comunidade surda, em
áreas que as pessoas ouvintes delimitaram um conflito de interesses.
Em resumo, na América, a área de estudos dos surdos cresceu e
perdeu o gosto pelos contos de fadas.
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Numa visita a escola desse tipo mais antiga na Suécia, fundada por
um contemporâneo do Abade Siccard, fiquei surpreendido e
emocionado ao ver a verdadeira troca de ideias entre professor e
alunos numa aula do 5.° grau acerca de um poema sueco. (Eu fazia-
me acompanhar de um intérprete, mas podemos sentir quando duas
pessoas estão envolvidas numa conversa mesmo que não
compreendamos o que estão a dizer). Os professores ouvintes com
quem me encontrei disseram-me que valorizam os seus colegas
surdos não só por serem uma fonte de instrução na linguagem e
cultura da comunidade surda, mas também como exemplos de novas
formas de ensinar várias matérias. Um professor deu-me o exemplo
de uma abordagem espacial de um colega surdo para ensinar
álgebra, que se comprovou ter mais êxito do que o método baseado
na noção que ele utilizava. No entanto, disseram-me que muitos
professores consideram a aprendizagem da SSL onerosa e que a
mudança radical das políticas da educação de surdos desorientam e
atrapalham, pelo menos inicialmente.
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Aquilo que uma sociedade considera uma doença pode não ser visto
assim por outra. Muitas das sociedades em que o álcool e o tabaco
são consumidos em massa, os óculos são triviais, os dentes se
perdem normalmente com a idade, um corpo adi- poso é mais bem
visto que um esbelto e a menor infestação de um verme intestinal
propaga-se facilmente, muitas dessas sociedades rejeitariam a ideia
de que a maioria da população sofria de doenças como o alcoolismo,
o tabagismo, a presbiopia, a periodontite, a obesidade ou a
parasitose. Atribuir a doença significa tornar implícita a existência de
outro estado mais desejável. Assim, se uma condição física for
suficientemente divulgada no seio de uma comunidade e não
interferir substancialmente com as metas por ela prosseguidas, só
será vista como uma doença por membros marginais, cujos
enquadramento ou referências culturais e objectivos sejam
divergentes.
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Humana, apresentada à Academia Nacional de Ciências. Escreveu
então que, uma vez que existem padrões familiares de surdez, «deve
recear-se que do casamento entre tais pessoas e da respectiva
descendência derivem resultados calamitosos». Os surdos congênitos
sem parentes surdos também representariam um risco se casassem,
tal como as pessoas que ensurdecessem acidentalmente e tivessem
parentes surdos. Se estas pessoas casassem, concluiu Bell, e alguns
dos seus filhos casassem com surdos congênitos, e os filhos destes
fizessem o mesmo, e assim sucessivamente, a proporção de crianças
surdas nascidas de tais casamentos cresceria de geração em geração,
até uma fase em que praticamente todos os seus filhos nasceriam
surdos. Estas famílias «constituiriam então uma variedade da raça
humana na qual a surdez seria a regra e não a excepção».
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Uma vez que a maior parte das criança surdas já o são antes de
atingirem a idade escolar e que essas crianças são habitualmente
incapazes de entenderem a fala com a ajuda de um implante, tal
situação constitui um mau augúrio para o seu domínio da língua
inglesa, especialmente se esta lhes for ensinada através da oralidade.
Um domínio deficiente do inglês acarreta um domínio deficiente de
todas as outras disciplinas, se estas forem ensinadas em inglês.
Mesmo que, em casos particulares, o implante fosse de tal modo bem
sucedido em termos audiológicos, que permitisse a uma criança
completamente surda obter resultados, ao nível da diferenciação da
fala, típicos de crianças com perdas graves de audição usando
aparelhos auditivos, as perspectivas educacionais da criança seriam
pouco melhores, visto que
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Uma das causas do stress, de acordo com as palavras dos pais, era
ensinar à criança algumas técnicas de oralidade iniciais (no caso
desta não as dominar previamente) para que ela pudesse ser
considerada candidata ao implante. Em seguida, viam-se
confrontados com o desgastante desafio de arranjar o dinheiro que
pudesse suportar os muitos serviços de assistência médica e
paramédica necessários à criança. Embora o seguro pagasse
frequentemente uma boa parte desses encargos, o restante tinha de
vir das poupanças pessoais, das rifas, da venda de gelados, do apelo
à generosidade dos vizinhos e familiares, e de muitas outras fontes.
Particularmente desgastantes, afirmavam os pais, eram os esforços
que tinham de despender para conseguirem a revisão do Plano
Educacional Individualizado da criança, para que esta pudesse
complementar o implante com os exercícos da audição e da fala,
antes e depois da operação.
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O ERRO DA FDA
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Uma vez que a criança é menor, não sendo, por isso, competente
para decidir se quer ou não receber o implante, o seu progenitor age
como seu tutor. Porém, é necessário cumprir várias condições para
que os pais tomem uma decisão tutelar moralmente válida. O tutor
deve conhecer de forma efectiva o paciente e os seus valores.
Normalmente, esta condição não é satisfeita devido à prolongada
falta de comunicação entre o progenitor e a criança. Se a criança
tiver convivido com outros surdos, quer crianças quer adultos, e tiver
aprendido a ASL, poderá ser possível, dependendo da idade da
criança, discutir com ela as implicações ligadas ao implante: Se não
fizermos nada, vais crescer e ficar como os adultos surdos que
conheces; se formos para a frente com a operação, eis o que
pensamos que poderá acontecer. É óbvio que é uma situação
arriscada. A criança pode não aproveitar as alternativas ou ser
indevidamente influenciada pela vontade dos pais ou do médico. Mas,
pelo menos, foi consultada. Contudo, se os pais tiverem mantido a
criança afastada de qualquer tipo de linguagem, ser-lhe-á impossível
participar no processo, os pais não terão conhecimento dos seus
valores e o fardo que lhes incumbe de tomarem uma decisão tutelar
responsável será mais pesado do que nunca.
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NOTAS
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(Nota asterisco página 24) «na sua miséria.» Charles Dickens' Dr.
Marigold e Guy de Maupassant's The deaf-mute são reeditadas em
Angels and Outcasts: An Anthology of Deaf Characters in Literature,
3“ edição, Washington, DC: Gallaudet University Press. «Pig
Outdoors» H. Kisor (1990). What's that Pig Outdoors? Nova Iorque;
Hill e Wang.
(Nota asterisco da página 24)«do que a dos ouvintes.» J.G. Kyle e G.
Pullen (1988). Convívio de culturas: sociedade surda e a ouvinte.
Disability, Handicap and Society, 3, 49-61, p. 56. «mais exigências.»
E. Goffman (1963). Stigma: Notes on the management ofspoi- led
ldentity. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, p. 121.
Página 217
Página 218
(Nota asterisco da página 34) «da sua raça.» Larry p. v. Riles, 495F,
Supp. 926 (N.D. Cal. 1979), afirmou 793F 2. ° 969 (9.° Cir. 1984).
Página 219
(Nota asterisco da página 41) «pela qual nós passámos.» Citado por
J. Grémion (1990). La Planète des sourds. Paris: Messinger, p. 79.
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Página 226
(Nota asterisco da página 60)«a partir deles.» J.H. Kahn, ed. (1969).
Psychiatry and the Deaf Child. Londres: Lewis.
Página 227
Página 228
(Nota asterisco da página 62) «desenvolver esquizofrenia.» F.p.
Lebuffe e L.A. Lebuffe (1979). Aspectos psi-quiátricos da doença.
Primary Care, 6,295-310, p. 299.
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(Nota asterisco da página 65)«95 por cento das vezes.» Obtive este
método simples e práctico da seguinte forma. É sabido que testar a
reabilitação deveria reflectir um acordo nas notas dos testes
excedendo uma correlação de 0,8. No caso de duas variáveis dicotô-
micas, nomeadamente, o avaliador 1 e o avaliador 2 e perturbar ou
não per-turbar, a proporção de concordância para a discordância tem
de exceder 15 para um valor estimado de r para ser 0,8, baseado o
método de co-seno de Pearson. Para uma amostra com 100
avaliações têm de existir pelo menos 93,75 de concordâncias e 6,25
de discordâncias. Ver A. Edwards (1967). Statistical Methods. Nova
Iorque: Holt, Rinehart & Winston, p. 131.
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(Nota asterisco da página 122) Em 1979, as descobertas de Conrad
(ver lista, p. 157) estavem de acordo com os estudos americanos
mostrando que crianças sem problemas da audição desempenhavam
tão ou melhor que as crianças surdas. L. Evans (1981). Perspectivas
psicolinguísticas na comunicação visual. Em B. Woll, J. Kyle e M.
Deuchar, eds., Perspectives on British Sign Language and Deafness.
Londres: Croom Helm.
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(Nota asterisco da página 127) Em A. N. Schildroth e M. A. Karchmer,
eds., Deaf. Em A. N. Schildroth e M. A. Karchmer, eds., Children in
America, (pp. 1-32). San Diego, CA: College-Hill, p. 22. T. E. Allen e
T. I. Osborn (1984). Integração acadêmica de estudantes com
deficiências auditivas: factores demográficos, impeditivos e de êxito.
American Annals of the Deaf, 129,100-13; Convention of American
Instrutors of the Deaf (1990). Escolas e turmas para os surdos nos
Estados Unidos. American Annals ofthe Deaf, 135, p. 135.
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(Nota asterisco da página 203) «sem o implante.» O nome da criança
e a caracterização da anamnese foram alterados, para que qualquer
semelhança com um caso verídico seja uma mera coincidência.
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ÍNDICE
PREFÁCIO: Página 11
AGRADECIMENTOS: Página 17
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