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É importante considerar que os ambientes online e off-line compõem uma realidade

complexa e ligada, a virtualidade também faz parte da realidade e da cotidianidade.


Bem como, essa virtualidade não é neutra, mas é modelada pelo contexto sociocultural.
Segundo Block (2020), os discursos dentro desse espaço são estruturados, a partir das
perspectivas culturais do usuário e do desenvolvedor.

Consequentemente, as redes sociais aparecem como potencial para a


conversação e troca de informações, e nesse sentido, Recuero e Zago (2009), apontam
que o Twitter vem construindo um campo social importante, apesar de ser uma
ferramenta relativamente recente. Pois a presença da internet impactou a dinâmica das
relações sociais e por conseguinte os processos de disseminação da informação,
constituindo canais de valores, discursos e vínculos sociais.

Com isso, o Twitter e as demais redes sociais promovem a interação entre


diferentes atores que podem ou não pertencer ao seu círculo de relacionamento,
agregando, partilhando interesses, debatendo temas variados, construindo relações entre
seus “eus”. Busco, a partir dessas colocações, trabalhar com a plataforma Twitter que
em 2020 no Brasil registrou um crescimento no número de usuários, ocupando o
segundo lugar com 41 milhões de contas, atrás apenas dos Estados Unidos1.

O Twitter, a grosso modo, tem como objetivo buscar informações, acompanhar


eventos, personalidades e diferentes cotidianos. É utilizado também para comentar
premiações, jogos, discursos, reality’s shows que acontecem na televisão. Por vezes, o
Twitter funciona como uma espécie de segunda tela, em que acontecimentos que não
tiveram origem dentro desse ambiente passam a ser discutidos dentro dele. É importante
lembrar que as informações circulam sempre de forma rápida.

É preciso levar em consideração que a transformação tecnológica nos afetou, foi


adicionada uma sincronicidade de conteúdos comentados em tempo real que
enriquecem a experiência televisiva. O espectador passa a adotar então, atividades
simultâneas, como assistir TV para comentar o programa e interagir com outras pessoas.
Ou seja, se estabelece uma relação de aproximação midiática em torno de um assunto.

Essa relação entre televisão e tecnologias digitais, a TV tem um papel


fundamental como meio de comunicação de massa. O que as tecnologias digitais fazem,
segundo Drumond (2014), é reconfigurar as dinâmicas, através do acoplamento,
reorganizando formas de interação existentes.

Esse câmbio relaciona-se tanto à pluralização das telas como às novas


interfaces geradas pelas configurações em rede, por sua vez, geradoras de
espaços interacionais cada vez mais acessíveis a diferentes telespectadores,
capazes de lhes permitir novas agências sobre os processos midiáticos aos
quais integram [...] (DRUMOND, 2014, p. 5).

1
 acesso em maio de 2021: http://ecmetrics.com/pt/o-brasil-e-o-segundo-colocado-em-numero-de-
usuarios-do-twitter/
Quando alguém assiste um programa ao vivo e comenta em tempo real, pode
estabelecer conversações a respeito do tema, isso faz com que o Twitter assuma um
papel de “termômetro” da programação televisiva. Reconfigurando as formas de se
assistir TV e de usar a rede digital, fornecendo outras possibilidades, inclusive, para o
“assistir junto” mesmo estando em casas separadas.

O Twitter é uma ferramenta de microblogging e rede social lançada em 2006 nos


Estados Unidos. Na página inicial do usuário, a caixa de diálogo pergunta “O que está
acontecendo?”, uma especificidade é que as respostas não podem ultrapassar atualmente
280 caracteres, no entanto, na época de seu lançamento, o limite de caracteres era de
140.  Hoje, a rede conta com outras ferramentas como, gravação de áudio, inclusão de
fotos, Gifs, enquetes, localização, além da ferramenta de adicionar tweet que permite a
realização de “fios” uma espécie de sequência de comentários feitos pelo mesmo
usuário.

Estruturalmente, o Twitter presta-se a comunicações mais objetivas, podemos


perceber isso, pela quantidade de limite de caracteres. Existe um interesse pelo
dinamismo e praticidade no processo de emitir e receber informações. Esse dinamismo
associado ao engajamento dos usuários na rede, geram a lista dos TrendingTopics que
são os assuntos mais comentados no Twitter naquele momento. O usuário pode filtrar os
assuntos escolhendo se quer ver os assuntos do momento no mundo todo, em um
determinado país ou em uma cidade específica.

A ferramenta TrendingTopics será importante para a pesquisa, pois é através


dela que as hashtags REDEBBB, BBB21 e BBB serão mapeadas. Essas são formas de
acompanhar o fluxo das discussões nestes ambientes em busca de observar os processos
e os movimentos dentro do mesmo.
Além de circular pelas hashtags a partir de uma primeira postagem,
acompanhando o fluxo da conversa, é possível chegar a elas por meio de
mecanismos de busca. Esse instrumento permite aglutinar e identificar
informação pelo seu conteúdo, e não apenas pela data de postagem ou pelo
perfil/conta do emissor da mensagem. Desde 2009 existe no Twitter o menu
Trending Topics, no qual as tags mais utilizadas ficam agrupadas e visíveis a
quem quiser consultá-las. (GOMES; LEITÃO 2017 p.47)

Outro fluxo próprio da plataforma e da sua temporalidade é o que as autoras


chamam de “ciberacontecimento” (GOMES; LEITÃO. 2017), que seria a propagação
rápida e massiva de um material audiovisual, sonoro ou visual. Este tipo de evento é
chamado pela linguagem da internet como “viral”. Estes são só alguns pontos iniciais
que ajudam a pensar o ambiente digital do Twitter e as possibilidades de formas de
análise que este universo particular, e em rede, pode proporcionar a minha pesquisa.

Ainda me inspiro no trabalho de Cefaï (2004), no tocante à questão das afeições


por situações. Por exemplo, o autor explica que o mal-estar, a euforia, o entusiasmo,
assim como o sentido do “bem”, do direito, da justiça, a honra e a paixão, são antes de
tudo sentimentos morais. Esses sentimentos e até mesmo as experiências são definidas
in situ (Goffman, 2012), isto é, em situações elaboradas de acordo com os princípios de
organização coletiva e coordenada que regem determinada situação.

“O indivíduo influencia o modo que os outros o verão pelas suas ações. Por
vezes, agirá de forma teatral para dar uma determinada impressão para obter
dos observadores respostas que lhe interesse, mas outras vezes poderá também
estar atuando sem ter consciência disso. Muitas vezes não será ele que moldará
seu comportamento, e sim seu grupo social ou tradição na qual pertence.
(Goffman, 2007, p. 67)”

Os indivíduos redefinem seus horizontes a partir das suas experiências públicas,


resultantes da realidade na qual estão inseridos. A compreensão não se exerce em
atitudes e opiniões que os atores operariam em seu foro interior, mas em justificações,
em releituras ou em anúncios que organizam a experiência que os atores têm da situação
e de suas “intenções” respectivas. Os motivos são atos de enunciação em público que
reordenam a ordem da interação. (Cefaï, 2004 p.)

Portanto, segundo Turner (2008), dramas sociais representam o processo


escalonado dos seus embates. Quando os interesses e atitudes de grupos e indivíduos
encontram-se em óbvia oposição, os dramas sociais parecem constituir unidades do
processo social isoláveis e passíveis de uma descrição pormenorizada. Embora no
drama social sejam tomadas decisões de meios e fins e afiliação social, a ênfase recaem
predominantemente sobre a lealdade e a obrigação, e, dessa forma, o curso dos eventos
pode adquirir uma qualidade trágica.

Segundo Gomes e Leitão (2017), tratar as plataformas digitais como


“ambientes” está associado à própria ideia de vida, é pensar que outros modos
particulares de vida se tornam possíveis. Nesse sentido, esses ambientes virtuais são
buscados como “outros espaços”, em que sem roteiro definido pode ser apropriado
como “regiões morais''.

A cidade e as plataformas digitais, além de possuírem um caráter técnico de


artefato, procuram engendrar modos de vida aos seus habitantes através de um processo
de naturalização. A partir do paralelo traçado pelas autoras, podemos pensar em como
estes ambientes digitais podem naturalizar ou não moralidades, por exemplo.

Na medida em que conseguimos identificar os diferentes ritmos, trânsitos e


deslocamentos ocorridos nas plataformas digitais por aqueles que nelas habitam.
Conseguimos compreender que as plataformas não existem em isolamento, mas como
constelações ou ecossistemas (Stirling, 2016). Seja por interconexão do trânsito dos
sujeitos, cuja sociabilidade pode passar por mais de uma plataforma, transformando-se
em um ambiente digital, seja os agenciamentos da própria tecnologia que cria um
alinhamento entre plataformas complementares, no caso dos streamings. 

Um ambiente que produz menos em termos de determinações e mais como


condição de possibilidade, e por isso, há a questão de como situar a coleta de dados em
campo dentro de um ambiente público - e digital - de intensa circulação de conteúdo.

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